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Poesia de Carlos Drummond de Andrade Profª Neusa

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Page 1: Poesia de Carlos Drummond de Andrade Profª Neusa

Poesia de Carlos Drummond de Andrade

Profª Neusa

Page 2: Poesia de Carlos Drummond de Andrade Profª Neusa

REUNIÃOREUNIÃO O indivíduoO indivíduo A terra natalA terra natal A famíliaA família Os amigosOs amigos O choque socialO choque social O amorO amor A poesiaA poesia O lúdicoO lúdico A visão da existência humana, do A visão da existência humana, do

mundo e das coisasmundo e das coisas

Page 3: Poesia de Carlos Drummond de Andrade Profª Neusa

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedratinha uma pedra no meio do caminhotinha uma pedrano meio do caminho tinha uma pedra.Nunca me esquecerei desse acontecimentona vida de minhas retinas tão fatigadas.Nunca me esquecerei que no meio do caminhotinha uma pedratinha uma pedra no meio do caminhono meio do caminho tinha uma pedra.

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Quadrilha João amava Teresa que amava Raimundoque amava Maria que amava Joaquim que amava Lilique não amava ninguém.João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandesque não tinha entrado na história.

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Cidadezinha qualquer

Casas entre bananeirasMulheres entre laranjeiraspomar amor cantar.Um homem vai devagar.Um cachorro vai devagar.Um burro vai devagar.Devagar... as janelas olham.Eta vida besta, meu Deus.

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Poema do jornal

O fato ainda não acabou de acontecere já a mão nervosa do repórtero transforma em notícia.O marido está matando a mulher.A mulher ensangüentada grita.Ladrões arrombam o cofre.A polícia dissolve o meeting.A pena escreve.

Vem da sala de linotipos a doce música mecânica.

(Alguma poesia)

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1ª fase – Ideário de 22

Antilirismo, irreverência Humor, ironia Coloquialismo Versos livres Poema-piada, poema-pílula Prosaísmo

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Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.Também não cantarei o mundo futuro.Estou preso à vida e olho meus companheiros.Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.Entre eles, considero a enorme realidade.O presente é tão grande, não nos afastemos.Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente. (Sentimento do mundo)

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JoséE agora, José?A festa acabou,a luz apagou,o povo sumiu,a noite esfriou,e agora, José?e agora, você?você que é sem nome,que zomba dos outros,você que faz versos,que ama, protesta?e agora, José?

Está sem mulher,está sem discurso,está sem carinho,já não pode beber,já não pode fumar,cuspir já não pode,a noite esfriou,o dia não veio,o bonde não veio,o riso não veio,não veio a utopiae tudo acaboue tudo fugiue tudo mofou,e agora, José?

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E agora, José?Sua doce palavra,seu instante de febre,sua gula e jejum,sua biblioteca,sua lavra de ouro,seu terno de vidro,sua incoerência,seu ódio – e agora?

Com a chave na mãoquer abrir a porta,não existe porta;quer morrer no mar,mas o mar secou;

quer ir para Minas,Minas não há mais.José, e agora?

Se você gritasse,se você gemesse,se você tocassea valsa vienense,se você dormisse,se você cansasse,se você morresse...Mas você não morre,você é duro, José!

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Sozinho no escuroqual bicho-do-mato,sem teogonia,sem parede nuapara se encostar,sem cavalo pretoque fuja a galope,você marcha, José!José, para onde?

(José)

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A Flor e a Náusea

Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta.Melancolias, mercadorias espreitam-me.Devo seguir até o enjôo?Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:Não, o tempo não chegou de completa justiça.O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.Sob a pele das palavras há cifras e códigos.O sol consola os doentes e não os renova.As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

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Vomitar esse tédio sobre a cidade.Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado.Nenhuma carta escrita nem recebida.Todos os homens voltam para casa.Estão menos livres mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem (...)

Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfaltoFaçam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu.Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem.Seu nome não está nos livros. É feia.Mas é realmente uma flor.

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Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura.Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico. É feia.Mas é uma flor.Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

(A rosa do povo)

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2ª fase – Poesia social

Estado novo / II Guerra mundial Inquietação Engajamento : solidariedade Modernismo + Classicismo Preocupação com o indivíduo e com a

sociedade Consciência da debilidade do mundo =

necessidade de transformação

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Especulações em torno da palavra homem

Mas que coisa é homem,que há sob o nome: uma geografia?Um ser metafísico?Uma fábula semsigno que a desmonte?Como pode o homemsentir-se a si mesmo,quando o mundo some?Como vai o homemjunto de outro homem,sem perder o nome?

(...)Nem lhe subtraida doação do pai?Como se faz o homem?Apenas deitar,copular, à esperade que do abdômen(...)

Quanto vale o homem?Menos, mais que o peso?Hoje mais que ontem?Vale menos, velho?

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Vale menos, morto?

menos um que outro,

se o valor do homem

é medida de homem?

Como morre o homem,

como começa a?

Sua morte é fome

que a si mesma come?

Morre a cada passo?

Quando dorme, morre?

Quando morre, morre?

A morte do homem

(...)

Por que mente o homem?

mente mente mente

desesperadamente?

Por que não se cala,

se a mentira fala,

em tudo que sente?

Por que chora o homem?

Que choro compensa

o mal de ser homem?

Mas que dor é homem?

Homem como pode

descobrir que dói?

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Há alma no homem?E quem pôs na almaalgo que a destrói?Como sabe o homemo que é sua almae o que é alma anônima?Para que serve o homem?Para estrumar flores,para tecer contos?Para servir o homem?Para criar Deus?Sabe Deus do homem?

E sabe o demônio?como quer o homemSer destino, fonte?Que milagre é o homem?Que sonho, que sombra?Mas existe o homem?

(Fazendeiro do ar)

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3ª fase – Poesia reflexiva

HermetismoTom de pessimismo e desencantoAbordagem filosófica e

existencialistaSintaxe clássica + modernismo

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IO fácil o fóssilo míssil o físsila arte o infarteo ocre o canopoa urna o farnientea foice o fascículoa lex o judexo maiô o avôa ave o mocotóo só o sambaqui

IIo gás o nefaso muro a rêmorao suicida o ciboa litotes Aristótelesa paz o puso licantropo o liceuo flit o flatoa víbora o heléboroo êmbolo o boloo boliche o relincho(...)

Isso e aquilo

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Os materiais da vida

Drls? Faço o meu amor em vidrotilnossos coitos são de modernfoldaté que a lança de interflexvipax nos separeem claviluxcamabel camabel o vale ecoasobre o vazio de ondalità noite asfálticaplks

A vida passada a limpo

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4ª fase – retorno aos poemas curtos e de humor

Concretismo = abandono da sintaxe Palavra = objeto a ser pesquisado Sugestões visuais Neologismos Aliterações