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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Versão Preliminar de Dissertação de Mestrado apresentado por RENATO DE CASTILHO GOMIDES Título A INTUIÇÃO NA FORMAÇÃO ACADÊMICA DO ADMINISTRADOR. Professor Orientador Acadêmico SYLVIA CONSTANT VERGARA Versão Preliminar aceita, de acordo com o Projeto aprovado em: DATA DA ACEITAÇÃO: ______/_____/_____ ________________________________________________ ASSINATURA DO PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO

Dissertação Renato de Castilho Gomides

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Page 1: Dissertação Renato de Castilho Gomides

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMP RESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Versão Preliminar de Dissertação de Mestrado apresentado por

RENATO DE CASTILHO GOMIDES

Título

A INTUIÇÃO NA FORMAÇÃO ACADÊMICA DO ADMINISTRADOR.

Professor Orientador Acadêmico

SYLVIA CONSTANT VERGARA Versão Preliminar aceita, de acordo com o Projeto aprovado em: DATA DA ACEITAÇÃO: ______/_____/_____

________________________________________________

ASSINATURA DO PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO

Page 2: Dissertação Renato de Castilho Gomides

Dedico Ao meu filho, Felipe Diego, pelas incontáveis horas que deixei de ser pai e amigo, mas de quem sempre obtive inegáveis apoio, carinho e compreensão. Ao meu saudoso pai, Olavo – in memoriam – que sempre está presente na minha vida. À minha querida professora Sylvia Constant Vergara pela orientação e apoio precioso e, acima de tudo, pela compreensão nesta minha jornada acadêmica. A todos que compartilharam comigo as angústias e as conquistas do Mestrado.

Page 3: Dissertação Renato de Castilho Gomides

Agradecimentos

Ao final de mais esta etapa, gostaria de demonstrar minha gratidão a todos aqueles que,

direta ou indiretamente, contribuíram para que eu concluísse meu mestrado.

Ao Vice-Almirante (EN) César Pinto Corrêa, Diretor do Arsenal de Marinha do Rio de

Janeiro e ao Capitão-de-Mar-e-Guerra (EN) Francisco Roberto Portella Deiana, Vice-diretor, pela

autorização e incentivo inicial, sabedores que os conhecimentos adquiridos no mestrado

contribuiriam para meu engrandecimento pessoal e profissional e, por conseguinte, para o da

Marinha do Brasil.

À minha querida e amada orientadora, Professora Sylvia Constant Vergara: sua orientação

me provocou reflexões e facilitou minha aprendizagem, permitindo meu desenvolvimento

emocional, intelectual e espiritual. Nas nossas inúmeras idas-e-vindas, provou-me que a vida não

é um processo linear. Sinto-me enormemente gratificado e honrado com a nossa convivência e

por todo apoio, compreensão, paciência e amizade que proporcionou e que me proporciona

diariamente.

Ao meu saudoso pai, Olavo – in memoriam – à minha mãe Maria Tereza e aos meus

irmãos Cássio e Leonardo e todos os meus oito sobrinhos, que mesmo não estando perto em

corpo, sempre me confortam em espírito, meu muito obrigado pelo carinho e afeto.

Aos meus colegas e amigos da Marinha, que acompanharam minha jornada: servidores

civis e militares da Divisão de Gestorias de Material, do Departamento de Controle Financeiro e

do Departamento de Subsistência, meu obrigado e meu pedido de desculpas. Realizar um

mestrado não é fácil e, por vezes, meu pensamento estava voltado para meus estudos em

detrimento do meu trabalho. Todos tiveram a percepção e a paciência em compreender minhas

falhas e omissões. Agradeço e retribuo este apreço: Jaqueline, Beth, Dirceu, Teixeira, Cristina,

Creuza, Márcio, Ingrid, Alexandre, Govasky, Marcos, Júlio, Arcanjo, Alyne e Carol Niquini, meu

muito obrigado.

Aos colegas e amigos da minha turma do mestrado, pelo tão enriquecedor período em que

estivemos juntos. Um agradecimento especial ao Alessandro (e Ana), Alexandre, André (e

Carla), Fabiana, Flávio, Israel, Jean, Leandro, Leonardos, Luiz Henrique, Marcelo Mello (e

Page 4: Dissertação Renato de Castilho Gomides

2

Patrícia), Marcelo Pimenta (e Janaína), Márcio, Marco Aurélio, Roberto (e Adélia), Robson,

Rosa Marina e às meninas superpoderosas, Alexandra, Ana Paula, Gabriela e Luciana. O meu

muito obrigado a vocês pelos momentos que compartilhamos e pelo privilégio indescritível de

desfrutar da amizade que construímos em tão pouco tempo de convivência e que será eterna.

Aos funcionários da Ebape, que dignificam o nome da instituição, e que em muitas

situações se mostraram muito mais como amigos do que como funcionários da FGV. Agradeço,

especialmente, ao Joarez, José Paulo, Georgina, Cordélia, Joaquim, Ronaldo, Vera Lúcia, Vânia,

Aline e Denise, bem como a todos os funcionários da biblioteca pelo constante apoio.

Aos 44 professores da Ebape que responderam o questionário e que gentilmente

concederam um pouco de seu precioso tempo na realização da pesquisa de campo: todos foram

extremamente atenciosos e receptivos. Não posso deixar, no entanto, de prestar especial

agradecimento aos professores Alketa Peci, Bianor Cavalcanti, Eduardo Ayrosa e Marcelo

Milano, que não mediram esforços e souberam me valorizar como aluno e pessoa.

Ao meu filho, Felipe Diego Murta Gomides: obrigado por tudo. Você é a fonte de minha

inspiração e a razão da minha existência.

Ao meu time do coração, Clube Atlético Mineiro, que me traz tantas alegrias. Vivas ao

Galo!

A todas as pessoas que não citei diretamente, mas que certamente também caberiam

perfeitamente nesse agradecimento.

E, a Deus, que iluminou meu caminho e a cada obstáculo me faz acreditar Nele e

agradecer o dom da vida.

A todos vocês, o meu mais sincero muito obrigado!

Page 5: Dissertação Renato de Castilho Gomides

O que realmente vale é a intuição.

Albert Einstein

Page 6: Dissertação Renato de Castilho Gomides

Apresentação

Este estudo foi motivado pela percepção de que conhecimentos mais subjetivos não estão sendo

contemplados na formação acadêmica do administrador, entre eles a intuição. Ao mesmo tempo

em que se constata que a ciência positivista e a racionalidade instrumental permeiam o ensino

administrativo, espaços para novas formas de conhecimento estão se abrindo, embora as críticas

ao ensino da Administração sejam cada vez mais contundentes.

Temos, assim, um paradoxo: de um lado, uma faculdade subjetiva negligenciada e pouco

desenvolvida – a intuição – e, do outro, a formação acadêmica do administrador, objetiva e

racional.

A problemática investigada por essa dissertação examina esse hiato no sentido de responder às

seguintes perguntas: sendo a intuição um importante componente das decisões administrativas,

seu desenvolvimento está presente na formação acadêmica dos administradores? Se está, como o

desenvolvimento da intuição se manifesta nesse contexto? Responder a essas questões é o

objetivo final do presente trabalho.

O estudo está estruturado em cinco capítulos. O primeiro explicita seus objetivos, as suposições

que nortearam a dissertação, a delimitação e a relevância do estudo, bem como a metodologia

empregada. No segundo investiga-se a intuição pelas dimensões filosófica, psicológica e

administrativa. É apresentada, também, uma crítica ao processo intuitivo, a partir dos

pensamentos de Simon e Bazerman, bem como o resultado de estudos sobre intuição

desenvolvidos por Parikh, Neubauer e Lank; Vergara e Vergara e Branco. No terceiro capítulo é

discutida a formação acadêmica do administrador, contextualizando-se as racionalidades

instrumental e substantiva e os caminhos empreendidos pelas escolas de administração. Uma

Page 7: Dissertação Renato de Castilho Gomides

2

visão filosófica sobre o tema é apresentada a partir dos pensamentos de MacIntyre. O quarto

apresenta a análise dos resultados da pesquisa de campo, a partir do questionário aplicado aos

professores da EBAPE/FGV. O quinto e último capítulo consolida as conclusões do estudo e

apresenta algumas sugestões e recomendações para uma agenda de futuros estudos sobre o tema.

Page 8: Dissertação Renato de Castilho Gomides

Resumo

A presente dissertação procura identificar se a intuição, sendo um importante componente das

decisões administrativas, está presente na formação acadêmica dos administradores e como ela se

manifestaria nesse contexto. Para o estudo foi realizada pesquisa de campo, por meio de 44

questionários mistos com os professores da EBAPE/FGV. Os dados foram tratados

quantitativamente, com a construção de tabelas que nos permitiram inferir sobre o assunto, e

qualitativamente, utilizando o método de análise do conteúdo. O estudo identifica que a intuição

está presente no processo decisório e na tomada de decisão gerencial, porém sem ter seu

desenvolvimento consubstanciado na formação acadêmica do administrador. Desse modo, é

necessário um repensar na construção do conhecimento e no ensino administrativo, possibilitando

uma formação acadêmica mais holística, que atenda aos anseios e as necessidades da sociedade,

com rigor e relevância.

Abstract

This dissertation present search to identify the intuition, being a component important of the

administrative decisions, always present in the academic formation of the managers and as it

would be manifested in that context. For the study was carried out field work, by means of 44

mixed questionnaires with the EBAPE/FGV professors. The facts were treated quantitative, with

the construction of tables that permitted us infer about the matter, and qualitative, utilizing the

approach of analysis of the content. The study identifies that the intuition is present in the

decisive trial and in the managerial decision-making, however with this development have not

been consubstantiality in the academic formation of the manager. Of that way, it is necessary a

new way think in the construction of the knowledge and in the administrative education, enabling

an academic formation more holistic, that attend to the yearnings and the needs of the society,

with severity and relevance.

Page 9: Dissertação Renato de Castilho Gomides

Lista de ilustrações

Lista de tabelas: Tabela 1 – Síntese estatística das respostas à pergunta “As decisões administrativas são

tomadas com base...” 70

Tabela 2 – Síntese estatística das respostas à pergunta “Na sua opinião, o que é intuição?”

74

Tabela 3 – Síntese estatística das respostas à pergunta “Caso a resposta anterior seja

positiva [o desenvolvimento da intuição está presente na formação acadêmica do administrador?],

como ela se manifesta no contexto acadêmico?” 77

Lista de figuras: Figura 1 – Correlação entre os elementos constitutivos de racionalidade e a natureza de

cada processo organizacional 55

Figura 2 – Os três vértices da gerência 60

Page 10: Dissertação Renato de Castilho Gomides

SUMÁRIO

1 O PROBLEMA E A METODOLOGIA...................................................................12

1.1 AS QUESTÕES DESENCADEADORAS DA PESQUISA ...............................12

1.2 SUPOSIÇÕES ......................................................................................................13

1.2.1 Da racionalidade administrativa ...................................................................14

1.2.2 Da tomada de decisão...................................................................................14

1.2.3 Da intuição....................................................................................................15

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO...........................................................................16

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO.............................................................................16

1.5 TIPOS DE PESQUISA.........................................................................................17

1.6 UNIVERSO E AMOSTRA..................................................................................17

1.7 COLETA DE DADOS .........................................................................................18

1.8 TRATAMENTO DOS DADOS...........................................................................18

1.9 LIMITAÇÕES DO MÉTODO.............................................................................20

2 INTUIÇÃO: INVESTIGANDO SEU SIGNIFICADO ............. ..............................21

2.1 A DIMENSÃO FILOSÓFICA DA INTUIÇÃO..................................................23

2.2 A DIMENSÃO PSICOLÓGICA DA INTUIÇÃO...............................................27

2.3 A DIMENSÃO ADMINISTRATIVA DA INTUIÇÃO ......................................31

2.3.1 O processo decisório e a tomada de decisão gerencial.................................31

2.3.2 A intuição na administração .........................................................................33

2.4 UMA CRÍTICA AO PROCESSO INTUITIVO: OS PENSAMENTOS DE HERBERT

ALEXANDER SIMON E DE MAX BAZERMAN ........................................................37

2.5 RESULTADOS DE ESTUDOS SOBRE INTUIÇÃO: A PESQUISA DE PARIKH,

NEUBAUER E LANK (1998), VERGARA (1993) E DE VERGARA E BRANCO (1994)

..............................................................................................................................41

3 A FORMAÇÃO ACADÊMICA DO ADMINISTRADOR.............. .......................48

3.1 A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E SUAS CARACTERÍSTICAS:

CONTEXTUALIZANDO O CENÁRIO ATUAL...........................................................48

3.2 A RACIONALIDADE INSTRUMENTAL: ÚNICO VIÉS ACADÊMICO? .....50

3.3 A RACIONALIDADE SUBSTANTIVA: UM VIÉS ALTERNATIVO À

REALIDADE VIGENTE.................................................................................................53

Page 11: Dissertação Renato de Castilho Gomides

11

3.4 O CAMINHO DAS ESCOLAS DE ADMINISTRAÇÃO ..................................56

3.4.1 Uma visão filosófica sobre o tema: o pensamento de Alasdair MacIntyre ..60

3.5 O ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL.............................................63

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ...............................................................................69

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA UMA NOVA AGENDA DE PESQUISA79

5.1 CONCLUSÕES....................................................................................................79

5.2 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES ...............................................................87

REFERÊNCIAS........................................................................................................89 APÊNDICE – QUESTIONÁRIO APLICADO......................................................95 ANEXO A – RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 300 DO CFA ..............................97 ANEXO B – RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 301 DO CFA ..............................99

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1 O PROBLEMA E A METODOLOGIA

Este capítulo apresenta as questões que nortearam a pesquisa, introduz o papel da intuição

no campo organizacional e a sua relação na formação acadêmica do administrador, tema da

dissertação, as suposições que a direcionaram, a delimitação e a relevância da pesquisa, bem

como a metodologia empregada, isto é, os tipos de pesquisa realizada, o universo, a amostra e os

sujeitos da pesquisa, as formas de coleta e tratamento de dados que foram utilizados e as

limitações que tais escolhas apresentaram.

1.1 AS QUESTÕES DESENCADEADORAS DA PESQUISA

Embora a ciência positivista e a racionalidade instrumental da Administração tratem a

intuição com descrédito, ultimamente, os espaços para esse conceito estão se abrindo. Assim

como há novos caminhos e formas alternativas de conhecimento da realidade social, como remete

o assunto que é tratado na dissertação, as críticas ao ensino da Administração são cada vez mais

contundentes ao não vislumbrar esses caminhos alternativos de conhecimento.

Do ponto de vista da realidade atual brasileira no campo da Administração, questionam-se

as Resoluções Normativas 300 e 301 do Conselho Federal de Administração (CFA), que

restringem a área de atuação de profissionais nos cursos de Administração.1

Entretanto, as críticas aos cursos de Administração têm respaldo tanto no contexto

brasileiro quanto no internacional. Sobre o assunto, já trataram Ackoff (1992), Mintzberg (2004),

1 As Resoluções Normativas 300 e 301 estão nos Anexos A e B, respectivamente.

Page 13: Dissertação Renato de Castilho Gomides

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Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), Peters e Waterman (1986), Rowan (1986), entre outros.

Na visão brasileira, destacam-se Andrade e Amboni (2004), Braga (1987), Fischer (1993), Fleury

(1983), Guerreiro Ramos (1983a, 1983b, 1989), Kliksberg (1988, 1993), Leitão (1993a, 1993b,

1993c), Motta (1988, 1999), Möller, Oliveira e Fonte Filho (1993), Prestes Motta (1983), Semler

(1988), Silva (1971), Vergara (1991, 1993) e Vergara e Branco (1993, 1994), entre outros.

Vivemos em uma sociedade complexa em que as mudanças são cada vez mais aceleradas.

Os decisores organizacionais estão diante de inúmeras informações com respaldo de toda ordem

tecnológica. Números, planilhas e cálculos matriciais inundam a organização.

Até que ponto ter mais informações contribui para a tomada de uma adequada decisão?

Será que não existem outras formas de se decidir? Estará o curso de Administração contribuindo

para a formação de decisores organizacionais?

Temos, assim, um paradoxo: de um lado, uma faculdade subjetiva negligenciada e pouco

desenvolvida – a intuição – e, do outro, a formação acadêmica do administrador, objetiva e

racional.

A problemática investigada por essa dissertação examina esse hiato no sentido de

responder às seguintes perguntas: sendo a intuição um importante componente das decisões

administrativas, seu desenvolvimento está presente na formação acadêmica dos administradores?

Se está, como o desenvolvimento da intuição se manifesta nesse contexto? Responder a essas

questões é o objetivo final do presente trabalho.

1.2 SUPOSIÇÕES

Nesta seção, são indicadas as suposições que direcionaram a dissertação.

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14

Vergara (2004, p. 28) ensina que “[...] suposições, são a antecipação da resposta ao

problema. [...] A investigação é realizada de modo que se possa confirmar ou, ao contrário,

refutar a [...] suposição.” Nesse sentido, parte-se três suposições:

1.2.1 Da racionalidade administrativa

A Administração Científica exerce ainda grande influência nas organizações. A visão

mecanicista, limitada tão-somente pela produtividade e pelo desempenho, é uma realidade.

Organizações caracterizadas como máquinas são uma constante, bem como o são as suas

estruturas altamente hierarquizadas e com pouca ou nenhuma autonomia das pessoas.

O princípio da racionalidade foi importado para o ensino e a prática da Administração

fundamentando seu estudo na ordem, no controle, na coordenação, no rigor e na uniformidade.

No entanto, o ambiente organizacional é imprevisível, improbabilíssimo e descontínuo.

Assim, a primeira suposição foi: a racionalidade administrativa está influenciando a

formação acadêmica dos administradores, sendo-lhes negadas formas alternativas de

conhecimento e de tomada de decisão.

1.2.2 Da tomada de decisão

O elemento fundamental da prática gerencial é a tomada de decisão. E é a informação

disponível aos decisores organizacionais que lhes possibilitará decidir.

Vergara (1993, p. 137) afirma que “no processo decisório a informação assume capital

relevância, na medida em que, se adequada, diminui a incerteza provocada pelo ambiente.”

Page 15: Dissertação Renato de Castilho Gomides

15

Contudo, as decisões não são tomadas baseadas somente na racionalidade das

informações. Outros conteúdos subjetivos interferem no processo decisório, entre os quais se

destaca a intuição.

Mediante um mundo cada vez mais complexo e acelerado, há necessidade do estilo de

decisão gerencial passar por um redirecionamento, indo do racional e objetivo para o extra-

racional e subjetivo.

Nesse sentido, a segunda suposição foi: o uso da intuição está sendo negligenciado nas

tomadas de decisão dos administradores nas organizações.

1.2.3 Da intuição

Ao se estudar a intuição, não se deve desvalorizar a racionalidade, a razão. É importante

ao indivíduo alcançar o equilíbrio entre a intuição e a razão.

Entretanto, no processo decisório, pode-se não seguir as regras formais da lógica por

ausência ou insuficiência de informações, recorrendo-se a conexões intuitivas.

Assim, a intuição é imprescindível em qualquer prática gerencial.

Portanto, a terceira suposição foi: a intuição é um importante componente das decisões

administrativas, mas seu desenvolvimento não está presente na formação acadêmica dos

administradores.

Page 16: Dissertação Renato de Castilho Gomides

16

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

Embora o termo intuição remeta a diversos campos do conhecimento, abrangendo, entre

outros, a Filosofia, a Psicologia e a própria Administração, o presente estudo se concentra em

discutir o termo intuição conectada a uma dimensão filosófica (intuição bergsoniana) e a uma

dimensão psicológica (intuição junguiana); em conectar a intuição ao processo decisório na

prática administrativa; e a discutir se o desenvolvimento da intuição está presente nos cursos de

formação acadêmica dos administradores.

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Em função do que já foi explanado até aqui, é necessário um novo repensar do campo

administrativo e da formação do futuro administrador.

Frente ao novo contexto que se configura, as decisões gerenciais devem buscar um

equilíbrio entre a razão e a intuição. Assim, esta dissertação visa contribuir para essa

reformulação que se faz necessária.

Além disso, seus resultados poderão servir como insumos para as práticas gerenciais no

dia-a-dia, bem como para a reconfiguração da formação acadêmica do administrador.

Para o administrador e os estudantes de administração nos níveis de graduação e pós-

graduação, este estudo procurará desvelar alguns caminhos e instigar outros a serem trilhados.

A comunidade acadêmica terá um estudo que contribuirá para a crítica das práticas

docentes que se desenvolvem e que poderão ser aperfeiçoadas, adequando-se o perfil do futuro

administrador com as práticas gerenciais vigentes.

Page 17: Dissertação Renato de Castilho Gomides

17

1.5 TIPOS DE PESQUISA

A definição dos tipos de pesquisa que foram utilizados segue a taxonomia proposta por

Vergara (2004), estando a seguir relacionados segundo seus fins e seus meios.

Quanto aos fins, a pesquisa é descritiva, buscando estabelecer correlações entre a tomada

de decisão, a intuição e a formação dos administradores; e explicativa, pois se propõe a esclarecer

o uso da intuição como importante componente na formação acadêmica dos administradores,

pressupondo-se a pesquisa descritiva como base para as explicações advindas.

No que se refere aos meios de investigação, foi realizada uma pesquisa de campo, com

profissionais vinculados a um específico curso de formação do administrador (professores da

Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas – EBAPE – da Fundação Getulio

Vargas – FGV) e uma pesquisa bibliográfica, fazendo-se uma revisão da literatura de várias áreas

do conhecimento, como a Filosofia, a Física, a Psicologia, a Administração e a Educação,

buscando-se diferentes interpretações sobre o tema proposto, bem como para direcionar o estudo

e suportar as conclusões a que se chegou.

1.6 UNIVERSO E AMOSTRA

O universo da pesquisa de campo foram os 68 professores da EBAPE – FGV, sediada na

cidade do Rio de Janeiro – RJ.

Adotou-se o método de seleção da amostra por acessibilidade, que não considera a

validade estatística dos resultados. Tal amostragem é compatível com a presente dissertação, pois

nesse método, de acordo com Gil (1987, p. 97), “o pesquisador seleciona os elementos a que tem

Page 18: Dissertação Renato de Castilho Gomides

18

acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo.” No caso, teve-se

44 respondentes.

1.7 COLETA DE DADOS

Tendo em vista a correlação dos objetivos aos meios para serem alcançados, os dados

foram, assim, coletados:

a) pesquisa bibliográfica em livros, dicionários, revistas especializadas, jornais, teses e

dissertações com dados pertinentes ao assunto; e

b) pesquisa de campo, realizada por meio de questionários mistos (ver apêndice) com os

ocupantes dos cargos indicados na seção 1.6.

Com base nas conclusões alcançadas pelas pesquisas bibliográfica e de campo, procurou-

se estabelecer a existência ou não de uma relação entre a formação acadêmica do administrador e

o desenvolvimento da intuição.

1.8 TRATAMENTO DOS DADOS

Como tratamento de dados, dois foram os escolhidos: um, quantitativo e outro,

qualitativo.

As perguntas fechadas do questionário aplicado foram tratadas estatisticamente,

indicando-se o percentual de respostas apresentado.

Page 19: Dissertação Renato de Castilho Gomides

19

Para as perguntas abertas foi utilizada a análise de conteúdo. Conforme ensina Vergara

(2005, p. 15) “a análise de conteúdo é considerada uma técnica para o tratamento de dados que

visa a identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema.”

Segundo Bardin (1977, p. 9):

[...] a análise de conteúdo oscila entre os dois pólos do rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade. Absolve e cauciona o investigador por esta atração pelo escondido, o latente, o não-aparente, o potencial de inédito (do não-dito), retido em qualquer mensagem.

Assim, considerou-se este método o mais indicado, pois se buscou com o estudo

identificar no curso de Administração se a intuição é vista como componente da prática gerencial,

bem como evidenciar a intuição como importante faculdade na busca do conhecimento

organizacional como um todo. Contudo, navega-se em mares pouco desvendados e em múltiplos

campos do saber.

Além disso, a abordagem pela análise de conteúdo presta-se aos fins descritivos e

explicativos e aos de verificação formulados no problema proposto.

No que tange aos procedimentos da pesquisa, seguiu-se as seguintes etapas: revisão da

literatura existente, visando dar suporte ao estudo; coleta de dados, por meio dos questionários

mistos; definição do tipo de grade para a análise de conteúdo, que, no caso, foi o de uma grade

mista, admitindo-se a flexibilidade de inclusão de categorias pertinentes no decorrer do processo

de análise; análise de conteúdo, confrontando-se os resultados obtidos com a teoria que dá

suporte à investigação e, finalmente, a formulação da conclusão.

Page 20: Dissertação Renato de Castilho Gomides

20

1.9 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

Como o tratamento de dados foi por meio da análise de conteúdo para as perguntas

abertas do questionário aplicado, ele pode ter sido influenciado pela interpretação do pesquisador.

Ressalta-se, contudo, que não existe neutralidade científica.

Com relação ao questionário, embora seja uma importante técnica de obtenção de dados,

possibilitando atingir um grande número de pessoas, ele apresenta algumas limitações. A grande

limitação no presente estudo é que o questionário não ofereceu a garantia de devolução,

implicando diminuição da representatividade da amostra. Outras limitações são a falta de

entendimento correto do que o pesquisador propõe e a objetividade, uma vez que as questões

formuladas podem ter significados diferentes para os sujeitos da amostra. Buscou-se minimizar

tais limitações com um pré-teste. Alerta-se que a realização de entrevistas poderiam enriquecer

ainda mais a dissertação, minimizando as limitações dos questionários.

Embora o autor dessa dissertação tenha partido do pressuposto básico que a EBAPE –

FGV representa uma elite estratégica do ensino em Administração, como o questionário foi

aplicado apenas aos professores dessa instituição, os resultados podem estar enviesados, uma vez

que representam a opinião de apenas uma instituição de ensino superior. Pesquisas em outras

instituições de ensino poderiam minimizar tal limitação.

Este capítulo tratou da apresentação da dissertação, o objetivo da pesquisa e das questões

a serem respondidas, das suposições que direcionaram a investigação, da delimitação e da

relevância do estudo. Foi apresentada também a metodologia da pesquisa: os tipos de pesquisa, o

universo, a amostra e os sujeitos, a coleta e o tratamento de dados, bem como as limitações dos

métodos utilizados.

Page 21: Dissertação Renato de Castilho Gomides

21

2 INTUIÇÃO: INVESTIGANDO SEU SIGNIFICADO

Neste capítulo investiga-se o termo intuição sob três dimensões – a filosófica, a

psicológica e a administrativa –, recorrendo-se a diversos autores, visando a esclarecer o seu

significado. A seguir, são apresentados os pensamentos de Simon e Bazerman que criticam o

processo intuitivo. Também são discutidos os resultados de vários estudos sobre intuição.

O filósofo Henri Bergson (apud VERGARA, 1993, p. 151) afirma que “não é fácil

explicar o que é intuição. Ela está no campo da vivência, não da explicação.” Goldberg (1992, p.

19) comenta: “no que se refere à intuição, os obstáculos têm sua raiz em conjecturas

epistemológicas arraigadas, perpetuadas pelas instituições que nos ensinam como usar nossa

mente.” Já Westcott (1968 apud GOLDBERG, 1992, p. 15) escreve que “a palavra final sobre

intuição se encontra tão distante quanto a primeira está num passado remoto.” Burden (1993)

confirma os pensamentos aludidos ao explanar que os esforços para se descrever verbalmente a

significação, natureza e função da intuição estão fadados ao fracasso, pela simples razão de que a

intuição deve ser compreendida pela própria intuição.

Diante dessas constatações, buscou-se respaldo em autores consagrados pela suas

experiências pessoais no campo do saber que já tenham tratado deste assunto tão controverso.

Vergara e Branco (1994, p. 132) dizem:

Apesar de cada vez mais citada no mundo da administração, a intuição parece não encontrar aí elementos consistentes que ajudem a clarificar seu significado, natureza ou mesmo seus momentos de manifestação. Tornou-se indispensável, portanto, buscar a contribuição de outras áreas do saber.

Sintetizando Bergson (1946), Grof (1987), Jung (1987) e Kant (1966), pode-se dizer que intuição é faculdade do ser que acessa o conhecimento sem mediações, sem

Page 22: Dissertação Renato de Castilho Gomides

22

explicação e sem o estabelecimento de relações lineares de causa e efeito. Tem sua origem na consciência vital, segundo o sentido filosófico, ou no inconsciente individual e coletivo, segundo o sentido da psicologia transpessoal.

Corroborando com os autores mencionados, Fisher (1989) afirma que a intuição embora

amplamente usada por pessoas bem sucedidas, é tratada com descrédito, como um “artigo de

mercado paralelo”, pois ela é raramente discutida ou mesmo reconhecida. Para o autor, desde a

“idade da razão”, a intuição caiu em desuso e a maioria das pessoas sente-se envergonhada em

usá-la e mesmo em admitir isso para si mesmas.

Fisher (1989) define intuição como saber algo sem ter consciência disso, uma percepção

súbita, ou seja, um insight sem uma evidência racional ou mesmo lógica. Já Burden (1993),

embora afirme que não é possível rotular o termo intuição, a identifica como uma ordem de

inteligência superior que o homem tem acessibilidade no seu estado de sensibilidade aguda.

Penna (1987) afirma que Popper, embora faça uma crítica à intuição intelectual (que será

abordada na próxima seção), não a rejeita. Popper (1974 apud PENNA, 1987, p. 42) diz:

Minha opinião é que podemos prontamente admitir a posse de algo que pode ser descrito como intuição intelectual, ou, mais precisamente, que certas de nossas experiências intelectuais podem assim ser descritas. Qualquer pessoa que compreende uma idéia ou um ponto de vista, ou um método aritmético, por exemplo, a multiplicação, no sentido de que apanhou aquilo, pode dizer que compreendeu tal coisa intuitivamente, e são sem conta as conseqüências intelectuais desse tipo. Insisto, porém, de outra parte, em que tais experiências, por importantes que possam ser para os nossos empreendimentos científicos, não podem servir para estabelecer a verdade de qualquer idéia ou teoria, por maior que seja a força com que possamos sentir intuitivamente que ela deva ser verdadeira, ou que é evidente por si mesma. Tais intuições nem podem servir como argumentos, embora possam encorajar a buscar argumentos. De fato, outra pessoa pode ter uma intuição igualmente forte de que a mesma teoria é falsa. O caminho da ciência é calçado de teorias abandonadas que, certa vez, foram consideradas evidentes por si mesmas. Francis Bacon, por exemplo, zombou daqueles que negavam a verdade evidente por si mesma, de que o sol e as estrelas giravam em torno da terra, coisa óbvia para todos os demais. A intuição indubitavelmente desempenha grande parte na vida de um cientista, assim como o faz na vida de um poeta. Leva-o a descobertas. Mas pode, também, levá-lo a seus fracassos. E sempre permanece assunto privado seu, por assim dizer. A ciência não indaga como ele conseguiu suas idéias, interessa-se, apenas, por argumentos que possam ser submetidos à prova de todos.

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23

Persistem, de fato, posturas conservadoras da ciência empírica tradicional como a de

Popper. Ela continua presa a aplicações tecnológicas ou à função do experimento como elemento

de verificação de fatos. Mas nem os defensores mais ferrenhos da suposta objetividade científica

podem descartar as teorias resultantes da Física Quântica. Wilber (1991) nos alerta para a

realidade holográfica oferecida por cientistas como os físicos David Bohm e Fritjof Capra e o

neurocientista Karl Pribram, dentre outros.

Diante da encruzilhada que se apresenta, não há como negar a intuição.

Conforme aduz Wilber (1991, p. 7):

Os fatos reais da ciência, diziam [os cientistas de várias áreas do conhecimento – físicos, biólogos, fisiológicos e neurocirurgiões], os dados efetivos (da física à fisiologia) só parecem fazer sentido se presumimos algum tipo de fundamento implícito, ou verificador ou transcendental subjacente aos dados explícitos.

Se a ciência experimental começa pela intuição, pode-se concluir que o intuitivismo é a

base fundamental de todos os conhecimentos humanos oriundos das ciências empíricas.

Visando uma adequada categorização da intuição, ela será dividida em três dimensões: a

dimensão filosófica, a dimensão psicológica e a dimensão administrativa.

2.1 A DIMENSÃO FILOSÓFICA DA INTUIÇÃO

Morente (1980) afirma que a filosofia é o estudo do conhecimento universal. Embora a

filosofia, como aponta o autor, possua vários métodos investigativos da verdade, como, por

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exemplo, a ontologia e a gnosiologia, esta seção tratará, especificamente, da intuição, que permite

ao homem penetrar na essência da verdade, e, particularmente, da intuição bergsoniana.

Para Morente (1980) a intuição é o método fundamental da filosofia moderna. O autor

afirma que a intuição:

Consiste num único ato do espírito que, de repente, subitamente, lança-se sobre o objeto, apreende-o, fixa-o, determina-o como uma só visão da alma. Por isso a palavra ‘intuição’ tem relação com a palavra ‘intuir’, a qual significa, em latim, ‘ver’. Intuição vale tanto como visão, como contemplação. A intuição vai diretamente ao objeto. (MORENTE, 1980, p. 48)

Morente enumera dois tipos de intuições. A primeira é a intuição sensível que é a

comunicação direta entre o eu e o objeto, caracterizada como uma intuição de caráter mais

formal. A segunda é a intuição espiritual, que é aquela intuída diretamente pelo espírito, sem

necessidade de demonstração, sendo essa intuição, a observada pelos filósofos. Será por meio da

intuição espiritual que se toma contato com a realidade essencial e existencial dos objetos

(MORENTE, 1980).

A intuição espiritual se divide em três classes: intelectual, emotiva e volitiva. Morente

assim as denomina:

Por meio da intuição intelectual, propende o pensador filosófico a desentranhar aquilo que o objeto é. Por meio da intuição emotiva, propende a desentranhar aquilo que o objeto vale, o valor do objeto. Por meio da intuição volitiva, desentranha, não aquilo que é, senão que é, que existe, que está aí, que é algo distinto de mim. A existência do ser manifesta-se ao homem mediante um tipo de intuição predominantemente volitiva. (MORENTE, 1980, p. 51)

O autor comenta que existem três modalidades clássicas de se explicar a intuição: a

intuição de Bergson, a intuição de Dilthey e a de Husserl.

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Bergson, segundo Morente (1980), diz que a filosofia não pode ter outro método que o da

intuição, uma vez que para aquele autor a atividade intuitiva se contrapõe à atividade intelectual,

essa estudada pelos cientistas, denotando um aspecto superficial e falho da realidade. Já a

atividade intuitiva se detém ao aspecto profundo e real do pensamento, que é o movimento e a

continuidade do fluir e do mudar, ao qual só com a intuição se pode chegar.

A intuição de Dilthey é caracterizada como volitiva. Morente (1980) comenta que tanto

para Dilthey como para Bergson, o intelectualismo, o idealismo, o racionalismo, ou seja, todos

aqueles sistemas filosóficos para os quais a última e mais profunda realidade é o intelecto, o

pensamento, a razão, são falsas e insuficientes. Para Dilthey, não é a razão que nos descortina a

realidade das coisas. Será por meio da utilização da intuição que, como agentes, se descobrirá a

existência das coisas.

Já a intuição de Husserl, chamada de intuição fenomenológica:

[...] consiste em olhar para uma representação qualquer, prescindindo de sua singularidade, prescindindo do seu caráter psicológico particular, colocando entre parênteses a existência singular da coisa; e então, afastando de si essa existência singular da coisa, para não procurar na representação senão aquilo que tem essencial, procurar a essência geral, universal, na representação particular. (MORENTE, 1980, p. 56)

A intuição bergsoniana será particularizada, uma vez que o autor dessa dissertação,

constatou que essa linha de pensamento é a que mais se identifica com o escopo do trabalho, pois

Bergson ao perscrutar os caminhos da intuição, o faz criticamente, na tentativa de pesquisar o

verdadeiro conhecimento humano, em oposição ao domínio do pensamento mecânico e imediato

da ciência.

Contudo, cabe o alerta de Robson Alves (2003) de que a intuição filosófica, e

especialmente a bergsoniana, não é uma antecipação de conhecimento, ou uma antevisão, que

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reforça o caráter de magia que o termo pode remeter. A intuição é vista como um impulso que

estabelece um contato direto com o mundo exterior, ou seja, uma manifestação imediata de uma

condição interior da existência.

Bergson (1971, p. 264) utiliza-se de uma metáfora na sua tentativa de dizer o que é

intuição:

A intuição é uma luz quase apagada, que somente de quando em quando se reaviva, por alguns instantes apenas. Mas reaviva-se, realmente, quando está em causa um interesse vital. Sobre a nossa personalidade, sobre a nossa liberdade, sobre o lugar que ocupamos no conjunto da natureza, sobre a nossa origem e talvez também sobre o nosso destino, a intuição projeta uma luz vacilante e débil, mas que devassa não obstante a obscuridade da noite em que nos deixa a inteligência.

Destaca-se que o filósofo separa inteligência de intuição. Para ele, o papel da intuição é

emanar o espírito para a superfície, para que nela, se apresente como inteligência, alcançando-se

uma ciência livre de seu mecanicismo e pragmatismo. Bergson (apud ALVES, Robson, 2003)

afirma, assim, que a intuição só será comunicada por meio da inteligência.

Para Robson Alves (2003) intuir filosoficamente é conseqüência do aprendizado da

realidade na forma da consciência de penetrar na vida, como realidade individual e universal,

evidenciando ao ser humano que a função do “eu profundo” é a interação com a vida em sua

plenitude.

Ao expender sobre as observações de Bergson sobre a ciência moderna, Robson Alves

(2003) comenta que, ao se utilizar a intuição, o filósofo procura libertar a vida do domínio de um

pensamento exato e regrado, ou seja, de uma lógica que impõe ao pensamento o hábito de ser

mecânico, de uma inteligência pragmática que privilegia somente a matéria. Para o autor

enquanto na filosofia é o espírito que dá a direção, na ciência é a matéria, ou seja, na filosofia, o

real e sua apreensão são o modo de se conhecer o ser; na ciência o que se faz é uma interpretação

mais imediata.

Page 27: Dissertação Renato de Castilho Gomides

27

Bergson não confere à intuição um caráter vago e abstrato, pois para ele não há a

necessidade para se chegar à intuição de se transportar para fora dos domínios do sentido e da

consciência (BERGSON, 1974). A intuição bergsoniana articula-se com a ciência numa relação

em que o desenvolvimento desta última não pressupõe a depreciação da primeira, ou seja, a

intuição está atrelada à noção de movimento em direção ao reencontro da ciência.

Já Kant (1966) ao questionar a razão pura, advoga que a intuição é a relação imediata

entre o conhecimento e o objeto podendo-se empregar a faculdade cognoscitiva humana como

receptora de impressões e criadora de idéias.

Assim, tanto para Bergson como para Kant, a intuição é uma percepção simultânea de

objetos cuja origem está na consciência vital.

2.2 A DIMENSÃO PSICOLÓGICA DA INTUIÇÃO

No campo da psicologia moderna, Carl Jung foi, talvez, o que mais se referiu à intuição.

A presente seção se concentra nos ensinamentos junguianos, corroborados pela depuração de

Goldberg (1992), Schultz (1998) e Vergara (1991).

Jung (1991, p. 36) define intuição como:

A intuição decorre de um processo inconsciente, dado que o seu resultado é uma idéia súbita, a irrupção de um conteúdo inconsciente na consciência. A intuição é, portanto, um processo de percepção, mas ao contrário da atividade consciente dos sentidos e da introspecção, é uma percepção inconsciente. Por isso, é que, na linguagem comum, nos referimos à intuição, como sendo um ato ‘instintivo’ de apreensão, porque a intuição é um processo análogo ao instinto, apenas com a diferença de que, enquanto o instinto é um impulso predeterminado que leva a uma atividade extremamente complicada, a intuição é a apreensão teleológica de uma situação, também extremamente complicada. Em certo sentido, portanto, a intuição é o reverso do instinto, nem mais nem menos maravilhoso do que ele.

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Schultz (1998), decantando o conceito de Jung para intuição assevera que para este a

intuição é uma capacidade inconsciente de se perceber possibilidades, de se ver o quadro geral ao

mesmo tempo em que se volta para a situação local.

Segundo a teoria dos tipos psicológicos de Jung (1987) a personalidade e o

comportamento podem ser entendidos em termos de quatro funções primordiais da mente:

pensamento, sentimento, sensação e intuição. Ele resume as quatro funções da seguinte maneira:

o pensamento é a função de cognição intelectual e formação de conclusões lógicas; o sentimento

é a função de avaliação subjetiva, que informa, por meio das cargas emocionais que cria, o valor

das coisas; na sensação estão todas as percepções feitas pelos órgãos dos cinco sentidos; e como

intuição, considera-se a percepção por meio do inconsciente ou a percepção de conteúdo

inconsciente, ou seja, uma forma de percepção indireta por meio do inconsciente, incorporando

idéias e associações que o inconsciente acrescenta às percepções do mundo exterior. Na sua

teoria, enquanto sensação e intuição são funções da percepção, pensamento e sentimento são

funções de julgamento, ou seja, a percepção determina o que sabemos, o processo de tomada de

consciência das coisas e o julgamento determina o que fazemos em relação ao que sabemos, ou

seja, envolve os processos por meio dos quais chegamos a conclusões a respeito do que foi

percebido.

Jung escreve que qualquer tipo isoladamente não é suficiente para que se tenha um

conhecimento acerca de si mesmo ou do mundo externo. Ele diz que:

Para que haja uma perfeita orientação, as quatro funções devem contribuir igualmente: o pensamento deve facilitar a cognição e o julgamento; o sentimento deve nos dizer como e em que grau uma coisa é ou não importante para nós; a sensação deve nos transmitir a realidade concreta através da visão, da audição, do paladar, etc.; e a intuição deve capacitar-nos a pressentir as possibilidades ocultas, que se encontram em segundo plano, já que estas também fazem parte do quadro completo de uma determinada situação. (JUNG, 1987, p. 551-552)

Page 29: Dissertação Renato de Castilho Gomides

29

Vergara (1991) nos esclarece que, segundo Jung, o pensamento e a sensação são

conscientes; já o sentimento pode ser consciente ou inconsciente, enquanto a intuição é

inconsciente. Para a autora, a consciência é a referência dos conteúdos psíquicos do ‘eu’,

entendido este como o complexo de representações que constitui o centro do campo consciente

do indivíduo, enquanto inconsciente são as referências do ‘eu’ não percebidas como tal. Enquanto

o pensamento e o sentimento são funções racionais, a sensação e a intuição são irracionais,

porque se baseiam não em juízos racionais, mas na intensidade da percepção.

Jung (1987) também introduz os conceitos de introversão e extroversão na sua

investigação sobre o homem como indivíduo e ser social. Esses conceitos falam do movimento

do interesse no sentido do objeto para o sujeito e o interesse deste em seus próprios processos

psicológicos e, no outro caso, do movimento do interesse no sentido do objeto. Por conseguinte,

cada indivíduo pode ser caracterizado como sendo primeiramente orientado ou para o seu interior

ou para o exterior. Enquanto que a energia dos introvertidos segue na direção do mundo interno

do sujeito, a energia dos extrovertidos é mais focalizada no mundo externo. Para o autor,

ninguém é absolutamente introvertido ou extrovertido. Cada pessoa tende a favorecer uma ou

outra atitude de acordo com a sua adeqüabilidade com as situações que ocorrem. Essas situações

são mutuamente exclusivas, não sendo possível adotar ambas ao mesmo tempo. Não há uma

maneira melhor do que a outra, e o ideal é ser flexível, utilizando-as quando se fizer necessário.

Jung (1977, p. 92) sustenta que “imaginação e intuição são auxiliares indispensáveis ao

nosso entendimento [...] [exercendo na ciência] um papel de importância sempre crescente que

suplementa o da inteligência racional na sua aplicação a problemas específicos.” Contudo, o

psicólogo salienta que apesar da intuição agir por meio do inconsciente, torna-se possível mais

tarde reconstruir o processo lógico pelo qual se teria chegado aos mesmos resultados alcançados

por seu intermédio, ou, nas suas palavras, “só se pode verdadeiramente conhecer e explicar

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quando se reduzem as intuições a uma apreciação exata dos fatos e das suas conexões lógicas”

(JUNG, 1977, p. 92).

Entretanto, Jung (apud GOLDBERG, 1992) comenta sobre a dificuldade de se explicar a

intuição, uma vez que nela, um conteúdo se apresenta todo e completo, sem termos a capacidade

de explicar ou descobrir como esse conteúdo veio à existência, sendo uma espécie de apreensão

instintiva, não importando qual o seu conteúdo.

Vergara (1991) coaduna dessa interpretação, pois para a autora tanto Bergson como Jung

acreditam que é difícil definir a essência da intuição. No entanto, eles sustentam que a intuição é

uma visão do todo que apreende e configura o objeto, que fornece referências e relações

impossíveis de serem obtidas pelas outras funções e que aspira à apreensão das possibilidades

máximas.

Schultz (1998) faz uma analogia do pensamento junguiano com o de Kant e Bergson:

enquanto Kant pensava que a intuição sintetizava o conhecimento passado e o presente e Bergson

a revelava como uma imagem total, Jung dizia que a intuição não era somente uma manifestação

metafísica, mas também, um processo ativo de se perceber no mundo físico. Vergara (1991) tem

o mesmo pensamento ao observar que termos como representações e visão do todo, presentes em

Kant e Bergson, também são encontrados em Jung, que acrescenta a eles o conceito de

inconsciente coletivo.

Page 31: Dissertação Renato de Castilho Gomides

31

2.3 A DIMENSÃO ADMINISTRATIVA DA INTUIÇÃO

Para uma adequada análise da dimensão administrativa intuitiva, se faz mister, a

princípio, investigar o processo decisório e a tomada de decisão gerencial. Feito esse exame, será

desenvolvida a dimensão proposta na seção.

2.3.1 O processo decisório e a tomada de decisão gerencial

Um processo clássico de tomada de decisão estende-se da identificação de um problema

até a concretização de uma proposta de solução encontrada. Pode-se dividi-la em quatro fases: a

primeira é a identificação de um problema, ou seja, a análise e avaliação de uma situação, o

esclarecimento e definição do conteúdo exato do problema e a determinação do objetivo

preliminar; a segunda fase é a busca por alternativas de ação e a coleta de informações sobre os

objetivos e parâmetros de decisão, com a devida projeção das conseqüências; a fase seguinte é a

tomada de decisão, por meio da análise das conexões e relações entre os vários problemas e

variáveis, construindo-se um plano apropriado, e na escolha dos níveis de ação das alternativas; a

última fase é a concretização, ou seja, a execução das alternativas escolhidas com a posterior

coleta das informações implementadas. O objetivo finalístico desse processo decisório é a

capacidade de se decidir certo num contexto de incertezas. Contudo, nem sempre se chega à

convicção da certeza pelo caminho lógico e racional.

Leitão (1993a) preconiza que a Teoria da Decisão tornou-se preponderantemente

prescritiva e normativa, sob a influência da Teoria Clássica da Administração, e dominada por

uma racionalidade econômica, procurando-se estabelecer regras e modelos para que um decisor

Page 32: Dissertação Renato de Castilho Gomides

32

racional escolha, entre as alternativas possíveis, o melhor curso de ação com o objetivo de

melhorar a eficiência, ampliando-se, dessa maneira, a racionalidade.

Para Motta (1988, p. 88):

O processo decisório gerencial é normalmente retratado como fluido, variado, fragmentado, de curto prazo e não-programável. Essas conclusões, que coincidem também com as perspectivas desenvolvidas em pesquisas sobre o processo decisório, contradizem a maioria dos textos acadêmicos, oriundos das perspectivas funcionalistas de planejamento organizacional que descrevem a função gerencial como racionalmente programável, no sentido da definição de objetivos e do controle para obtenção de resultados.

Motta (1988), ao perscrutar esse processo conclui que ele é fragmentado e as ligações

entre os problemas e as soluções são assimétricos. Além disso, o autor afirma que o trabalho do

administrador é muito mais diversificado do que a mera dedução de formulação de políticas,

planejamentos e estratégias organizacionais.

A decisão é a base de todo o processo organizacional. No entanto, teóricos e

pesquisadores ainda sugerem a inexistência de uma teoria articulada que apresente uma

abordagem global sobre a questão do processo decisório nas organizações.

O que se pode afirmar é que as decisões não são baseadas apenas no seu aspecto racional

e objetivo envolvendo múltiplas dimensões. Tal concepção abre espaços para a irracionalidade,

ou seja, a emoção, o instinto, o impulso e para o não-racional.

Gladwell (2005) comenta que a tomada de decisão bem-sucedida depende de um

equilíbrio entre o pensamento deliberado e o instintivo e que para aquelas serem acertadas

depende-se da frugalidade, uma vez que o autor defende que “até mesmo [...] os problemas mais

complexos possuem um padrão inerente identificável”, ou seja, “sobrecarregar os tomadores de

decisões com informações dificulta a identificação desse padrão, ao invés de facilitá-la. Para

tomar decisões de sucesso, precisamos editar.” (GLADWELL, 2005, p. 142).

Page 33: Dissertação Renato de Castilho Gomides

33

Admite-se, assim, no estudo ora empreendido, que variadas conexões – racionais ou não –

possam interagir no processo de tomada de decisão, ou, como afirma Leitão (1993a), que a

capacidade decisória de uma pessoa envolve coração, mente, emoção, intuição e intelecto. Os

processos que envolvem a tomada de decisão são, portanto, mais relacionais e holísticos do que

ordenados e seqüenciais, e mais intuitivos que intelectuais.

Infere-se, desse modo, que para a capacidade gerencial ser entendida em sua totalidade, há

a necessidade de se perscrutar tanto a dimensão racional como a cognitiva e a afetiva dos

indivíduos, pois são, indubitavelmente, indissociáveis.

É o que comenta Gladwell (2005) ao afirmar que a qualidade das decisões irá melhorar se

aceitarmos a natureza misteriosa dos julgamentos instantâneos.

Cabe, no entanto, deixar o alerta de Goldberg (1992, p. 28-29):

Uma abordagem exclusivamente racional-empírica à resolução de problemas e a tomada de decisões não nos possibilitará tratar adequadamente de considerações essenciais, porém não mensuráveis, como valores, princípios morais e vontade humana. Também encoraja uma mentalidade rasa que não consegue ver além de benefícios estreitos e mensuráveis. [...] Nós reduzimos a incerteza ao desconsiderar o imprevisível e espremer variáveis com múltiplos significados e nuanças sutis em compartimentos definidos, porém artificiais. E muitas vezes tendemos demais a analisar o passado porque o passado é mais fácil de quantificar.

2.3.2 A intuição na administração

Inicialmente, é necessário evidenciar o que, realmente, é a atividade gerencial.

Mintzberg (1990, p. 223) diz que “[...] ao se perguntar a um gerente o que ele faz, ele

prontamente responderá que: planeja, organiza, coordena e controla. Logo a seguir, passe a

observar o que ele faz. Não se surpreenda se você não conseguir encontrar nada do que ele

falou.”

Page 34: Dissertação Renato de Castilho Gomides

34

Rowan (1986) afirma que o gerenciamento não é uma ciência exata, definida como a arte

de se tomar decisões sem ter informações suficientes, pois para o autor até o empresário mais

ponderado às vezes se vê obrigado a agir rapidamente, baseado em impressões íntimas e

nebulosas.

Segundo Motta (1999, p. 26):

A gerência é a arte de pensar, de decidir e de agir; é a arte de fazer acontecer, de obter resultados. Resultados que podem ser definidos, previstos, analisados e avaliados, mas que têm de ser alcançados através das pessoas e numa interação humana constante.

De um lado, pode-se tratar a gerência como algo científico, racional, enfatizando as análises e as relações de causa e efeito, para se prever e antecipar ações de forma mais conseqüente e eficiente. De outro, tem-se de aceitar a existência, na gestão, de uma face de imprevisibilidade e de interação humana que lhe conferem a dimensão do ilógico, do intuitivo, do emocional e espontâneo e do irracional. Dirigentes devem entender a gestão moderna em ambos os sentidos.

Desenvolver e adquirir habilidades tanto para enfrentar o ambiente que o cerca quanto os

seus conflitos internos parece ser a rotina de quem opta pela tarefa de gerenciar. Há de se criar

formas para lidar-se com as novas solicitações organizacionais e do indivíduo. As pessoas estão

exigindo serem tratadas como sujeitos em seu próprio desejo e realização. O trabalho começa a

apresentar a perspectiva de ser um espaço onde se possa externalizar os valores pessoais, as

potencialidades, a criatividade, bem como o descontentamento, a insatisfação e a angústia por

situações vivenciadas, em prol do aprimoramento da tão comprometida relação indivíduo–

organização. De acordo com Motta (1999) as habilidades gerenciais contemporâneas têm que ser

desenvolvidas dentro de uma perspectiva de frugalidade, com base tanto na arte de julgamento

quanto na ciência dos fatos.

O grande problema de se falar sobre intuição na administração pode ser sintetizado pelo

estudo de Isenberg apresentado por Schultz (1998, p. 26):

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35

O objetivo declarado de Isenberg era levar aos administradores algo que aliviasse o ônus da discrepância entre o modo como se ‘esperava’ que pensassem e a maneira como de fato processavam informações. Ele descobriu que a maioria dos administradores favorecia antes as abordagens intuitivas do que as mais analíticas, embora grande parte deles acreditasse que não era assim que as coisas normalmente se passavam.

Goldberg (1992), coadunando o pensamento de Schultz, assevera que apesar das

evidências, nos círculos acadêmicos e científicos existem muitos que insistem que a intuição não

tem nenhuma participação significativa no processo da descoberta ou da tomada de decisões: para

essas pessoas, o processo de conhecer é mecânico e os cientistas e executivos que elogiam a

intuição estão sendo indulgentes num sentido poético e romântico, talvez para contrabalançar sua

imagem pública de insensíveis.

Contudo, Goldberg (1992) afirma que existe um forte movimento na atualidade que

reconhece a intuição como uma faculdade mental natural e um elemento-chave na resolução de

problemas e na tomada de decisões.

Segundo Möller, Oliveira e Fonte Filho (1993) é a partir da constatação que o modelo

racional-analítico aplicado ao processo decisório não consegue abarcar a complexidade dos

fenômenos contemporâneos que se inicia a assimilação do conceito de intuição.

Para Motta (1988, p. 78):

A teoria contemporânea de decisão gerencial procura demonstrar o valor do senso comum, da simplicidade e do juízo das pessoas, através do uso ativo dos instintos e percepções individuais. Refere-se muito à decisão intuitiva, isto é, àquela que não se baseia ou mesmo contradiz a lógica dos fatos explicitamente conhecidos e sistematizados. A intuição é vista como um impulso para ação em que não se faz uso do raciocínio lógico.

É nessa mesma linha de pensamento que Möller, Oliveira e Fonte Filho (1993) afirmam

que o interesse no estudo da intuição se intensifica com a observação da falência dos modelos

racionais de tomadas de decisão em face das complexidades e ambigüidades da realidade

Page 36: Dissertação Renato de Castilho Gomides

36

organizacional. Esses autores conceituam a intuição da moderna teoria gerencial como uma

faculdade humana capaz de permitir o alcance dos objetivos de eficiência e eficácia, sem a

mediação de processos reflexivos ou discursivos, ou seja, as decisões tomadas sob sua égide

caracterizam-se justamente por ignorar, ou mesmo subverter, a estrutura lógica que sustenta as

teorias e os modelos de decisão dominantes.

Motta (1988, 1999) diz que a intuição proporciona uma visão global para os dirigentes,

capacitando-os a produzir idéias que se sobrepõem à lógica dos fatos, sendo uma força reativa a

imprevisibilidade e as contradições das empresas modernas.

Estudos já realizados por diversos autores, como Kotter (1982 apud KLIKSBERG, 1993),

Leitão (1993a), Mintzberg (2004), Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), Parikh, Neubauer e

Lank (1998), Rowan (1986), Schultz (1998), Vergara (1993), Vergara e Branco (1994), entre

outros, já demonstraram que a intuição faz parte do cotidiano das decisões organizacionais.

Utilizar-se da intuição não deve constituir-se em desvalorização da racionalidade ou da

ciência empírica, considerando que é importante para o indivíduo alcançar um equilíbrio entre a

intuição e a racionalidade. Vivemos numa sociedade em busca do sentido da evolução. Isso

significa dizer que todos deveriam ter acesso a um desenvolvimento harmonioso de suas

faculdades na sua totalidade onde cada uma suplementaria e ampararia as forças da outra. A

intuição pode contribuir para o desenvolvimento de um senso de estabilidade interna do

administrador, que pode lhe permitir lidar mais facilmente com as incertezas e conflitos que

surgem. A integração entre a dinâmica interna do sujeito e a dinâmica externa do ambiente pode

ser alcançada por meio da intuição, a qual forneceria uma visão mais abrangente do todo.

É o que nos confirmam Parikh, Neubauer e Lank (1998, p. 71):

Situados entre as necessidades da pessoa e as necessidades do projeto, os administradores do século XXI precisam, mais do que nunca, saber aproveitar os

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37

diversos tipos de energia física e mental e direcioná-las rumo às metas da organização. Para isso, os administradores vão precisar de algo mais do que cálculos e análises. Eles precisarão ser pessoas intuitivas que possam interpretar seus sentimentos e palpites de uma forma mais clara e apropriada à determinação dos rumos da empresa.

Motta (1999) alerta que há necessidade do questionamento do óbvio e que devemos

procurar alternativas para uma visão do futuro, sob novas bases para as tomadas de decisão e de

ação.

Kuhn (2003) afirma que a transição de um paradigma em crise para um novo está longe

de ser um processo cumulativo obtido por meio de uma articulação do velho paradigma. É uma

reconstrução da área de estudo, a partir de novos princípios, reconstrução essa que altera algumas

das generalizações teóricas mais basilares do paradigma, bem como muitos de seus métodos e

aplicações. Para o autor, durante esse período de transição, haverá uma grande coincidência entre

os problemas que podem ser resolvidos pelo antigo paradigma e os que podem ser resolvidos pelo

novo.

A partir do pensamento de Kuhn, talvez seja o momento de construirmos uma nova teoria

gerencial que absorva os conceitos de intuição, formulando-se um quadro teórico-conceitual mais

amplo sob uma perspectiva mais crítica que amenize as angústias e incertezas que cercam os

administradores contemporâneos.

2.4 UMA CRÍTICA AO PROCESSO INTUITIVO: OS PENSAMENTOS DE HERBERT

ALEXANDER SIMON E DE MAX BAZERMAN

Herbert Simon, o mais importante e influente representante do racionalismo

organizacional, classifica como infrutíferos os esforços no sentido de se explicar os

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38

comportamentos administrativos por variáveis não-lógicas. Para Simon (1979) o comportamento

do indivíduo no ambiente organizacional é dotado de uma racionalidade própria e as variáveis

não-lógicas são obstáculos ao alcance dos objetivos de uma organização. Para o autor, tais

variáveis representam ruídos que devem ser neutralizados em benefício do atendimento dos

objetivos organizacionais .

Simon (1979, p. 78) pontua que “a racionalidade ocupa-se da seleção de alternativas de

comportamento preferidas de acordo com algum sistema de valores que permite avaliar as

conseqüências desse comportamento.” Especificando mais a racionalidade, ele diz que “a decisão

é objetivamente racional se representa de fato o comportamento correto para maximizar certos

valores numa dada situação” (SIMON, 1979, p. 79).

Para evitar interpretações dúbias, e adequar o conceito de racionalidade às diversas

situações que possam existir, o autor acrescenta cinco advérbios à palavra “racional”. Ele afirma

que uma decisão é subjetivamente racional, se ela maximiza a realização com referência ao

conhecimento real do assunto; é conscientemente racional na medida em que o ajustamento dos

meios aos fins visados constitui um processo consciente; é deliberadamente racional na medida

em que a adequação dos meios aos fins tenha sido deliberadamente provocada (pelo indivíduo ou

pela organização); é organizativamente racional se for orientada no sentido dos objetivos da

organização; e, é pessoalmente racional se visar aos objetivos dos indivíduos (SIMON, 1979)

Simon (1979) diferencia o homem econômico do homem administrativo: aquele, ao

decidir, maximiza seus esforços, selecionando a melhor opção entre as apresentadas, enquanto

que esse contemporiza, buscando um curso de ação satisfatório. Enquanto o homem econômico

acredita lidar com o mundo real, o homem administrativo percebe um modelo simplificado do

mundo real.

Page 39: Dissertação Renato de Castilho Gomides

39

Embora o autor classifique as decisões como programadas e não-programadas, estas

imprevisíveis e variáveis, enquanto que aquelas rotineiras e repetitivas, afirma que no futuro, os

computadores irão programar a maioria das decisões consideradas não-programáveis.

Motta (1988, p. 81-82) ao descrever sobre a linha de pensamento de Simon, sintetiza:

O ganhador do prêmio Nobel, Herbert Simon, que desenvolveu a visão de que o indivíduo racional é organizado e institucionalizado, dedicou a maior parte de sua obra á procura da explicação e conciliação de princípios de racionalidade econômica que influenciaram as teorias clássicas de organização e os limites da racionalidade nas escolhas humanas. Construiu, assim, uma teoria administrativa baseada na racionalidade limitada do ‘homem administrativo’ que se opõe à racionalidade do ‘homem econômico’, retratado pela eficiência máxima no alcance dos objetivos organizacionais. Em seus trabalhos, Simon é insistente no fato de serem as organizações influenciadas pelos limites humanos no ato de processar informações. Segundo ele, os indivíduos não maximizam ou otimizam as informações mas satisfazem-se em função do número de informações que suas mentes podem alcançar e processar. Assim, ninguém decide por um processo racional de considerar todas as alternativas possíveis, mas através de simplificações da realidade ajustáveis à mente humana.

Simon (1979) observa que as Ciências Sociais padecem de uma esquizofrenia aguda no

tratamento da racionalidade. Em um extremo, os economistas atribuem uma absurda

racionalidade onisciente ao homem econômico. No outro extremo, os psicólogos sociais tentam

reduzir toda a cognição, a afeto.

Ao realizar novos comentários sobre seu livro, Simon (1997) apregoa que embora se

difunda a noção de que o julgamento intuitivo tem diferentes propriedades do julgamento lógico,

ele ressalta que as evidências indicam que as habilidades intuitivas dos administradores carreiam

uma quantidade considerável de conhecimento absorvida pela experiência e pela participação em

treinamentos. Esse conhecimento é organizado na memória em termos de padrões reconhecíveis e

informações associadas, cuja recuperação ocorre quando o indivíduo reconhece possíveis opções

para um determinado problema. Esse mesmo conhecimento aliado com algumas capacidades

dedutivas do indivíduo, como é o caso da análise meio-fim, permite soluções rápidas e

satisfatórias.

Page 40: Dissertação Renato de Castilho Gomides

40

Simon (1997) afirma que ao invés de existirem dois tipos de gerentes – o intuitivo e o

racional – o mais plausível é a existência de uma série de estilos de resolução de problemas e de

tomada de decisão como resultado da combinação dos dois tipos de habilidades. O que vai

determinar qual estilo usar na resolução de problemas e tomadas de decisão é a natureza do

problema. O autor frisa ainda que não se pode desconsiderar os modelos analíticos, por se

acreditar que a intuição seja um processo separado deles.

Já Bazerman (2004) aborda a questão do processo decisório sob o ponto de vista dos

vieses cognitivos e como eles influenciam o julgamento dos tomadores de decisão, alertando que

as decisões irracionais refletem a confiança em vieses intuitivos que desprezam as possíveis

conseqüências das ações tomadas deliberadamente. O autor é um crítico contundente da

heurística, pois para ele, esse mecanismo conduz as pessoas a se desviarem de um processo de

decisão racional, levando os administradores a cometerem erros sistematicamente induzidos por

vieses. Bazerman identifica treze vieses cognitivos que influenciam as decisões: facilidade de

lembrança (eventos mais facilmente recuperados da memória são considerados mais numerosos

com base na sua recentidade e vividez); recuperabilidade (a avaliação que os indivíduos fazem da

freqüência de eventos sofre um viés no processo de busca da informação na memória);

associações pressupostas (os indivíduos tendem a superestimar a probabilidade de dois eventos

ocorrerem concomitantemente); insensibilidade aos índices básicos (qualquer informação, mesmo

que irrelevante, influencia os indivíduos na sua avaliação da probabilidade de eventos);

insensibilidade ao tamanho da amostra (ao avaliar a confiabilidade de informações amostrais, os

indivíduos freqüentemente falham na avaliação do papel do tamanho da amostra); interpretações

erradas da chance (uma seqüência de dados gerada por um processo aleatório parecerá “aleatória”

mesmo não sendo estatisticamente válida); regressão à média (indivíduos são propensos a ignorar

o fato de que eventos extremos tendem a regredir à média em tentativas subseqüentes); falácia da

Page 41: Dissertação Renato de Castilho Gomides

41

conjunção (dois eventos ocorrendo concomitantemente – a conjunção – são mais prováveis de

ocorrer do que um conjunto mais global de ocorrências); ajuste insuficiente da âncora (tendência

da mente de ancorar os pensamentos irracionalmente, contra dados e informações que possam ser

relevantes); vieses de eventos conjuntivos e disjuntivos (indivíduos exibem um viés em relação à

superestimação da probabilidade de eventos conjuntivos e à subestimação da probabilidade de

eventos disjuntivos); excesso de confiança (indivíduos tendem a demonstrar excesso de confiança

quanto à infalibilidade de seus julgamentos ao responder a perguntas moderadas ou

extremamente difíceis); armadilha da confirmação (indivíduos tendem a buscar informações

confirmatórias para o que eles acham que é verdadeiro e deixam de procurar evidências

desconfirmatórias); previsão retrospectiva e maldição do conhecimento (superestimar o grau de

previsão de um resultado após o seu prévio conhecimento e não ignorar as informações que

possuem, mas que os outros não possuem, ao prever o comportamento dos outros).

Para o autor as decisões de alto risco não podem ser confiadas na intuição, havendo

necessidade de se reduzir o efeito das distorções provocadas pelos vieses cognitivos, por meio de

decisões baseadas na racionalidade.

2.5 RESULTADOS DE ESTUDOS SOBRE INTUIÇÃO: A PESQUISA DE PARIKH,

NEUBAUER E LANK (1998), VERGARA (1993) E DE VERGARA E BRANCO (1994)

Parikh, Neubauer e Lank (1998) realizaram um levantamento internacional sobre a

intuição. A pesquisa desenvolvida pelos autores foi realizada em nove países (Áustria, Brasil,

Estados Unidos, França, Holanda, Índia, Japão, Reino Unido e Suécia) com 1.312

administradores da alta hierarquia de empresas privadas da área industrial e de prestação de

Page 42: Dissertação Renato de Castilho Gomides

42

serviços. Para os autores, uma questão fundamental é a revitalização das organizações para que

elas possam sobreviver às alterações que estão sendo demandadas pelo atual contexto e sob esse

pensamento o trabalho realizado por eles pretende contribuir para aqueles que estão interessados

em investigar a intuição, a sua aplicabilidade e a sua validade no cenário organizacional.

O resultado global da pesquisa (PARIKH, NEUBAUER e LANK, 1998, p. 101-139)

revelou que a intuição é vista como um atributo positivo entre os gerentes mais maduros (idade

superior a 45 anos). Os executivos nos cargos mais elevados das empresas consideram-se

extremamente intuitivos (73,4%). Ressalta-se que no levantamento realizado, 39,4% dos

administradores entrevistados pertencem à área industrial e os demais ao setor de prestação de

serviços.

Pela orientação intuitiva, os administradores acreditam que se obtém: inovação (79%),

idéias (70,8%), criatividade (67,5%), visão (60%), imaginação (53,3%) e espontaneidade

(52,7%). A orientação racional contribuiria para as questões de: concretude (65,5%), realização

(53,8%), prática (48,8%) e sensibilidade (48,4%).

Na descrição do que seria intuição, a resposta mais freqüente (23,4%) diz que ela é uma

decisão/percepção sem a utilização dos métodos lógicos-racionais, seguida pelas respostas que a

intuição é uma percepção inerente; compreensão inexplicável; sensação que vem de dentro com

17,1% e que ela é a integração de experiência anterior; processamento de informações

acumuladas com 16,8%. Assim, a percepção dominante é a de que a intuição é algo como uma

antítese da lógica/raciocínio. Há também conotação com conceitos populares como

pressentimento (12%), sexto sentido (7,4%), percepção/visão espontâneas (7,3%), introvisão

(6,7%), processo subconsciente (6,1%) e instinto (5,7%).

Page 43: Dissertação Renato de Castilho Gomides

43

A área de estratégia e planejamento indicou um maior interesse pela intuição (79,9%),

seguida pela de desenvolvimento de recursos humanos (78,6%), marketing (76,8%), pesquisa e

desenvolvimento (71,6%) e de relações públicas (64,3%).

A intuição foi associada a um forte sentimento interior, emoção para 16,4%; incapacidade

para explicar a conclusão com base nos fatos disponíveis para 14%, tomada de decisões pouco

influenciadas pelo raciocínio lógico para 13,1% e percepção/visão espontâneas para 6,9%.

Apenas 7,5% dos administradores afirmaram que usam mais a intuição do que a

lógica/razão em sua vida profissional, contra 38,9% que usam mais a segunda do que a primeira.

Os outros 53,6% usam a intuição e a lógica/racioncínio mais ou menos na mesma medida.

A porcentagem de administradores que apóiam a inclusão da intuição no currículo escolar

aumenta progressivamente com o grau das instituições: escola primária (38,5%), escola

secundária (42,9%), faculdade/universidade (53,6%), chegando a 64,9% nos estudos do nível

pós-graduação.

A avaliação da pesquisa permitiu a seus autores concluir que a intuição faz parte do

cotidiano dos administradores, mas com muitas restrições para a sua utilização. O aspecto

idiossincrático da palavra intuição tem dificultado a sua aceitação de uma maneira geral. Todavia,

verifica-se que os estudos e práticas referentes à intuição nas organizações estão tendo o

compromisso de desmistificá-la, lidando com o preconceito das pessoas para falar e responder

sobre este assunto, explorando-a em aspectos que possam melhorar e contribuir para a atividade

de gerenciamento.

Os pesquisadores acreditam que para a gestão moderna, uma das possibilidades para não

se sucumbir aos múltiplos problemas gerados pelas sucessivas mudanças, é fazer uso da intuição

como uma das bases principais para se estabelecer as estratégias que resolverão os conflitos

Page 44: Dissertação Renato de Castilho Gomides

44

manifestados. Cultivar as habilidades intuitivas ajuda na investigação, favorece perscrutar o

mesmo problema sob diversos ângulos.

Com relação à pesquisa realizada especificamente no Brasil, Parikh, Neubauer e Lank

(1998, p. 250-267) a realizaram com uma amostra de 204 administradores, representando os

cerca de 80.400 administradores que atenderam às especificações do levantamento.

A orientação intuitiva revela que os administradores brasileiros acreditam que se obtém:

inovação (85,3%), criatividade (84,9%), visão (73,4%) e espontaneidade (72,9%). A orientação

racional contribui para as questões de: concretude (75,2%), sensibilidade (70,2%), prática

(66,2%) e realização (59,4%).

Na descrição do que seria intuição, a resposta mais freqüente (29,4%) diz que ela é uma

decisão/percepção sem a utilização dos métodos lógicos-racionais, seguida pelas respostas que a

intuição é uma previsão com 23,3%, percepção inerente; compreensão inexplicável; sensação que

vem de dentro com 18,3% e que ela é a integração de experiência anterior; processamento de

informações acumuladas com 15,1%. Assim, a percepção dominante, seguindo o quadro do

levantamento global é a de que a intuição é algo como uma antítese da lógica/raciocínio. Há

também conotação com conceitos populares, com uma pequena variação do obtido no

levantamento global: percepção/visão espontâneas (9,3%), processo subconsciente (8,8%), sexto

sentido (7,5%), premonição (6,4%) e decisão/solução de problemas sem dados/fatos completos

(6%).

A área de estratégia e planejamento indicou um maior interesse pela intuição (81,8%),

seguida pelo marketing (76,7%), desenvolvimento de recursos humanos (70,7%),

investimento/diversificação (69,8%) e pesquisa e desenvolvimento (64,6%).

No quesito sobre como a intuição poderia ser identificada os resultados da pesquisa

formam: associada a tomada de decisões pouco influenciadas pelo raciocínio lógico para 15,4%,

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45

percepção/visão espontâneas para 14,6%, um forte sentimento interior, emoção para 13,2%; forte

impulso de tomar uma decisão específica com 11,7%, incapacidade para explicar a conclusão

com base nos fatos disponíveis com 7,8% e sentimento de certeza para 5,9%.

A maioria (53,5%) dos administradores brasileiros afirma que usam mais lógica/razão do

que a intuição a em sua vida profissional; a proporção dos que usam mais a intuição é quase

desprezível (4,4%).

A porcentagem de administradores que apóiam a inclusão da intuição no currículo escolar

aumenta progressivamente, com uma mínima diferença entre faculdade/universidade para o nível

de pós-graduação (diferença de 0,1%): escola primária (23,1%), escola secundária (29,5%),

faculdade/universidade (54,6%), estudos no nível de pós-graduação (54,5%).

Vergara (1993, p. 130-157) também promoveu uma pesquisa sobre a intuição na tomada

de decisão, quando foram ouvidos depoimentos de 57 gestores do 1º, 2º, e 3º escalões da

hierarquia organizacional de organizações públicas e privadas, de pequeno e médio porte e 13

profissionais autônomos como parapsicólogos, médicos, astrólogos, professores de práticas

orientais, artistas plásticos e estudantes.

No campo dos gestores, 23% demonstraram não terem dúvidas quanto ao significado de

intuição, afirmando que “a intuição não tem base lógica, não tem explicação, é percepção extra-

sensorial” (VERGARA, 1993, p.151).

Para a questão “decisões tomadas intuitivamente conduzem a resultados esperados?”

(VERGARA, 1993, p. 153) os resultados forma: 2% dos gestores não souberam dizer; 23%

responderam que sim; 26% comentaram que nem sempre e o restante, 49%, nada declarou.

Somente um gestor, das 70 pessoas entrevistadas afirmou não acreditar em intuição.

Apenas 9% dizem acreditar, mas não tomam decisões intuitivas e 89% asseguram tomar decisões

intuitivas. Para Vergara (1993, p. 150-151) parece que os gestores têm pouca clareza quanto ao

Page 46: Dissertação Renato de Castilho Gomides

46

que é intuição; o termo lhes é confuso. De acordo com a autora, a pouca clareza com que a

maioria dos gestores define intuição está relacionada com a dificuldade de se explicar o sentido

da própria palavra e, também, pode ser atribuída à confusão que muitos fazem entre racionalidade

nas suas múltiplas formas, sentimento e a intuição.

Ao se comparar as duas pesquisas, os dados confirmam essa dificuldade, dado o grau de

subjetividade que o termo remete, uma vez que na pesquisa de Parikh, Neubauer e Lank (1998)

53,5% dos administradores brasileiros afirmam que usam mais lógica/razão do que a intuição em

sua vida profissional, em contraste com a de Vergara (1993), onde 89% dos entrevistados

afirmam que utilizam a intuição na tomada de decisão.

Já o estudo de Vergara e Branco (1994) com 323 profissionais vinculados a várias

empresas (227 atuavam no setor de serviços, 33 no de comércio e 63 no da indústria) de porte

pequeno, médio e grande, sediadas no Rio de Janeiro, e de entrevistas realizadas em seis

empresas de grande porte situadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, permitiu evidenciar que

entre as empresas pesquisadas, assuntos relacionados com a dimensão intuitiva são tratados com

certa compatibilidade com o mundo dos negócios, fazendo parte do dia-a-dia das organizações,

definindo, muitas das vezes, o sucesso de decisões estratégicas (notadamente, foi constatado que

as empresas de grande porte são mais receptivas à intuição), embora a intuição praticamente não

esteja sendo privilegiada nos programas de treinamento e desenvolvimento das empresas como

dimensão a ser desenvolvida.

Contudo, o que se verifica é que tanto no estudo promovido por Parikh, Neubauer e Lank

(1998) quanto no de Vergara (1993) e de Vergara e Branco (1994), a estatística demonstra que a

intuição está presente na cultura gerencial, talvez, ainda com muitas restrições e resistências para

se discutir a sua aplicabilidade e o seu sentido. Entretanto, apesar da complexidade do tema, a

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47

confirmação da intuição permeando o processo decisório já pode prognosticar sua utilização nas

organizações, o resgate de seu significado e o seu desenvolvimento no ensino administrativo.

Este capítulo apresentou o termo intuição sob as dimensões filosófica, psicológica e

administrativa visando esclarecer o seu significado. O capítulo também trouxe uma visão crítica

do processo intuitivo, um contraponto às teorias apresentadas, bem como evidenciou os

resultados de estudos sobre a intuição a partir das pesquisas de alguns autores.

Page 48: Dissertação Renato de Castilho Gomides

48

3 A FORMAÇÃO ACADÊMICA DO ADMINISTRADOR

Neste capítulo, são abordadas a racionalidade instrumental e a racionalidade substantiva,

bem como contextualizado o cenário da sociedade contemporânea, questões necessárias para a

compreensão da atual formação acadêmica do administrador. Privilegia-se também no capítulo, o

caminho adotado pelas escolas de administração e o ensino administrativo brasileiro.

3.1 A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E SUAS CARACTERÍSTICAS:

CONTEXTUALIZANDO O CENÁRIO ATUAL

Investigar a lógica que nos cerca e, ao mesmo tempo, que nos cerceia, pode abrir

caminhos para a compreensão (e a dimensão) dos problemas e das aflições às quais estamos

submetidos e em busca de soluções.

Se o lucro é o motor da sociedade capitalista, é bastante desanimadora a realidade vigente.

Pode-se abordar, como ponto de partida, o avanço tecnológico, da informatização e a intensa

programação do cotidiano, das variadas opções de compra existentes e da própria globalização.

Com a sociedade globalizada que se vive, novos valores se concretizam e, ainda, estão

emergindo. E, a despeito do desenvolvimento tecnológico e econômico, mais problemas surgem

como a miséria, a fome e a exclusão social.

Novas formas de expressão vão surgindo, rotuladas sob o termo de “pós-modernismo”

(HARVEY, [s.d.]), configurando comportamentos sociais adversos. Assim, marcam o sistema de

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49

mentalidades atual: o individualismo radical, o hedonismo, o pragmatismo e a rejeição de teorias

holísticas.

Por conseguinte, as modificações socioeconômicas, políticas e culturais que ora se

estabelecem não propiciam um pensamento do indivíduo em prol de valores mais profundos,

conectados com questões éticas e da vida humana per si, bem como pela busca por um

conhecimento mais completo e abrangente.

Estamos inseridos hoje, no que Anderson (1995) chama de pós-modernidade. Estar nessa

era significa ser o produto de um tempo informatizado, em que a velocidade do saber o torna

volátil, inviabilizando seu aprendizado integral, valorizando o imediatismo, sem uma reflexão

mais profunda do conhecimento.

Nesse contexto de extremada diferenciação, com ausência de unidades, os indivíduos

procuram posicionar-se de maneira pragmática. Evangelista (2002) afirma que a crise das

estruturas ideológicas que procuravam explicá-lo, que davam um sentido completo à vida, faz o

futuro imprevisível. Se pensar gera angústia, em face da superposição de perspectivas voláteis,

qual a finalidade de reflexão filosófica acerca de temas administrativos mais profundos?

O homem atual prefere viver intensamente o presente, o prazer de hoje: a sociedade lhe

diz, incansavelmente, que ele tem que ser feliz, mesmo que isso lhe cause infelicidade. E, como o

mundo é funcionalmente competitivo, ele precisa enfocar somente a si próprio.

Assim, a via atual é a do neo-individualismo ou individualismo narcisista: um

egocentrismo agudo que supervaloriza o privado e ignora o público. Carreado por este

pensamento, novas formas de conhecimento são ignoradas, pois o que importa é o sucesso

individual de curto prazo, mesmo pagando-se um alto preço por ele.

Agravando o cenário, o indivíduo, ao trazer para si todas as tendências pós-modernas,

sente-se vazio e vive, nas palavras de Dumont (1985) a crise da pós-modernidade.

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50

A escola, sustentáculo de sua formação acadêmica, co-formadora de seu caráter e

importante parcela no processo de socialização humana, que poderia socorrê-lo, não o faz. Ela

também está impregnada dos valores presentes na atual sociedade. É sujeito e objeto da nova

ordem e utiliza-se da racionalidade contemporânea para se legitimar e manter o pensamento

dominante, imbricada que está com a centralização da sociedade no mercado e não no homem.

Essa racionalidade, fruto da contextualização da realidade vigente, é a única via possível,

ou seremos capazes de nos emancipar em busca de um pleno conhecimento, mais adequado, não

só de nós mesmos, como da sociedade que nos cerca?

Nas próximas duas seções serão abordadas as racionalidades instrumental e substantiva:

enquanto a primeira legitima o pensamento atual, a segunda busca resgatar o ser humano

dialeticamente.

3.2 A RACIONALIDADE INSTRUMENTAL: ÚNICO VIÉS ACADÊMICO?

A racionalidade instrumental é a racionalidade construída pela sociedade contemporânea.

Para Enriquez (1997) a racionalidade ocidental triunfou no mundo moderno em sua forma

perversa por meio da racionalidade instrumental dissociando-se de toda e qualquer subjetividade.

Chanlat (1992) diz que as regras que tiveram curso nas relações dentro das organizações foram

amplamente inspiradas em valores econômicos, e que esta “economização” das relações humanas

sob uma ética utilitária não tem amparo perante a complexidade do comportamento humano.

Berger e Luckmann (2004) mostram que as “explicações funcionalistas nas ciências

sociais” são uma “prestidigitação teórica” por meio da aplicação da teoria das instituições, da

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51

legitimação, da socialização e do processo dialético entre a realidade objetiva e subjetiva, com

franca preponderância da primeira sobre a segunda.

Motta (1988) afirma que a racionalidade organizacional insinua a pretensa possibilidade

de domínio de fatores incontroláveis e uma maneira de se eliminar riscos e incertezas.

Segundo Tenório (2004, p. 33):

A racionalidade instrumental ou funcional é o processo organizacional que visa alcançar objetivos prefixados, ou seja, é uma razão com relação a fins na qual vai predominar a instrumentalização da ação social dentro das organizações, predomínio este centralizado na formalização mecanicista das relações sociais em que a divisão do trabalho é um imperativo categórico, através do qual se procura justificar a prática administrativa dentro dos sistemas sociais organizados.

Já Barros e Passos (2000) ao expender sobre a racionalidade instrumental e a sociedade

capitalista, afirmam que aquela legitima essa, uma vez que a lógica do funcionamento da

civilização contemporânea está baseada na preponderância dos valores econômicos como

critérios fundamentais de regulação da vida em sociedade. Assim, na visão desses autores, a atual

“hegemonização” do racionalismo econômico leva o homem contemporâneo a acreditar que o

modelo capitalista é “único e universal”.

Não se pode negar que esse modelo garantiu a sobrevivência do homem. O que se

questiona, é o custo dessa sobrevivência, uma vez que, conforme aduzem Barros e Passos (2000)

o arranjo do mundo de organizações associado à lógica de reprodução do capital contribuiu para a

perpetuação e contaminação de todos os aspectos da vida humana pela racionalidade

instrumental. Não é outro o pensamento de Enriquez (1997) ao afirmar que nas empresas o

“principal objetivo é o alcance de resultados contábeis” introduzindo a “medida como único

elemento de diferenciação dos seres” tendo como conseqüências: 1- a transformação de seres

“humanos” em seres “técnicos”, ou dito de outro modo, em puros produtores e consumidores,

transformando as relações sociais em relações entre mercadorias; 2- mobilização dos indivíduos

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por meio da satisfação de seu narcisismo, ou seja, “edificação de uma cultura de empresa” pela

socialização; e 3- paradoxalmente, como o movimento da sociedade em direção à racionalidade,

deixa os indivíduos insatisfeitos, os desperta para “exigências éticas”, podendo-se suscitar entre

seus membros a vontade e a necessidade de se instituir certas condições de vida, onde a

idiossincrasia de cada um seria reconhecida em sua plenitude.

Guerreiro Ramos (1989, p. 8) coaduna os pensamentos dos autores mencionados, ao

comentar:

[...] na sociedade moderna, a racionalidade se transformou num instrumento disfarçado de perpetuação da repressão social, em vez de ser sinônimo de razão verdadeira. [...] na sociedade moderna, as forças produtoras haviam conquistado seu próprio impulso institucional independente, assim subordinando toda a vida humana a metas que nada tem a ver com a emancipação humana.

Enriquez (1997) expõe que a razão instrumental é o reflexo do modelo institucionalizado

presente nas organizações, uma vez que as empresas impõem uma visão tecnicista do futuro

humano.

Por conseguinte, torna-se pertinente a pergunta do título desta seção: a racionalidade

instrumental é o único viés acadêmico possível, uma vez que ela legitima a sociedade e o modelo

capitalista? E, não seria por essas razões, que outras formas de conhecimento não estariam sendo

desenvolvidas na formação do administrador, uma vez que, para que sejam utilizadas, há

necessidade de uma reflexão mais profunda e verdadeira?

Espera-se que as próximas seções tragam luz às presentes indagações.

Page 53: Dissertação Renato de Castilho Gomides

53

3.3 A RACIONALIDADE SUBSTANTIVA: UM VIÉS ALTERNATIVO À REALIDADE

VIGENTE

Se estivermos buscando um ensino que privilegie uma visão mais holística tanto dos

indivíduos quanto dos processos organizacionais, a racionalidade substantiva é uma alternativa à

visão reducionista do binômio indivíduo–organização que é proporcionada pela racionalidade

instrumental.

Partindo-se do pressuposto que a intuição é uma ferramenta até então relegada ao segundo

plano, o viés alternativo que nos proporcionará uma maior liberdade na busca do conhecimento

pleno é a razão substantiva.

Sintetizando Guerreiro Ramos (1983a) e Tenório (2004), define-se a racionalidade

substantiva como um ato intrinsecamente inteligente, uma percepção individual–racional da

interação entre fatos em determinado momento, que busca proporcionar a transcendência do ser

humano e em resguardar a sua liberdade. A razão substantiva é um atributo do sujeito, contida em

sua psique como recurso potencial.

Já para Barros e Passos (2000) a razão substantiva está relacionada com uma visão

dialética do ser humano contextualizado e em suas relações. O indivíduo, assim, é o elemento

fundamental de mediação em todas as condições sociais que está inserido.

Chanlat (1992), embora não trate especificamente sobre a racionalidade substantiva em

seu artigo, nos leva a inferir que será por meio dela que “surgirá nova estética que permitirá ao

ser humano fazer de sua vida uma obra de arte, segundo a bela expressão de Foucault, e também

permitirá às nossas organizações deixar desabrochar a poesia, o imaginário, e a criatividade

humana, para estarem, daqui para frente, no centro da dinâmica social.” (CHANLAT, 1992, p.

73).

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54

A razão substantiva é a forma de se alcançar uma relação plena do administrador com a

organização na qual ele está inserido, ou, de acordo com Lodi (1970) a mudança organizacional

depende da forma e da habilidade que o homem tenha para manejar as mudanças da sociedade.

Barreto (1993) e Serva (1997) traçam um paralelo entre as abordagens de Guerreiro

Ramos – abordagem substantiva – e a de Habermas – teoria da ação comunicativa –

evidenciando-as como complementares. Para a presente dissertação, as conclusões dos estudos

empreendidos pelos autores revelam que a noção de racionalidade deve emergir da

intersubjetividade e do senso comum convergindo na intensificação de estudos e reflexões mais

holísticos e na dimensão relacional entre a razão e a intuição.

Serva (1997) relaciona diversos elementos constitutivos de racionalidade com a natureza

de 11 processos organizacionais, para afirmar que não há exclusividade de um só tipo de

racionalidade nas ações de indivíduos que compõem as organizações. Sua posição conceitual diz

que a dinâmica do cotidiano das organizações implica na presença tanto da razão substantiva

quanto da razão instrumental e que os comportamentos das pessoas nas organizações é

caracterizado por avanços e retrocessos nas direções substantiva e instrumental, gerando

contradições e estabelecendo-se contrapontos. À medida que as contradições e os contrapontos

são enfrentados, pode-se conduzir a novos pensamentos e atitudes, assumindo-se, por

conseguinte, que ambas as racionalidades podem estar presentes em todos os processos

organizacionais. A figura 1 sintetiza a correlação realizada por Serva (1997).

Serva (1997) advoga ainda que inexistem evidências de concretização da razão

substantiva nas práticas administrativas. Desse modo, pode-se inferir que a intuição é um tema

relevante, uma vez que ela subverte a lógica vigente, sendo necessário seu aprofundamento nas

organizações e no ensino administrativo.

Page 55: Dissertação Renato de Castilho Gomides

55

Assim, por meio do reconhecimento que a racionalidade instrumental não é onipresente

nas organizações, pode-se promover o uso de formas alternativas de conhecimento, o que pode

deflagrar a constatação do uso da intuição nas organizações.

Figura 1 – Correlação entre os elementos constitutivos de racionalidade e a natureza de cada

processo organizacional

Tipo de racionalidade x

Processos organizacionais Racionalidade Substantiva Racionalidade Instrumental

Hierarquia e normas Entendimento Julgamento ético

Fins Desempenho

Estratégia interpessoal Valores e objetivos Auto-realização

Valores emancipatórios Julgamento ético

Utilidade Fins

Rentabilidade Tomada de decisão Entendimento

Julgamento ético Cálculo

Utilidade Maximização de recursos

Controle Entendimento Maximização de recursos Desempenho

Estratégia interpessoal Divisão do trabalho Auto-realização

Entendimento Autonomia

Maximização de recursos Desempenho

Cálculo Comunicação e relações

interpessoais Autenticidade

Valores emancipatórios Autonomia

Desempenho Êxito/resultados

Estratégia interpessoal Ação social e relações

ambientais Valores emancipatórios Fins

Êxito/resultados Reflexão sobre a organização Julgamento ético

Valores emancipatórios Desempenho

Fins Rentabilidade

Conflitos Julgamento ético Autenticidade

Autonomia

Cálculo Fins

Estratégia interpessoal Satisfação individual Auto-realização

Autonomia Fins Êxito

Desempenho Dimensão simbólica Auto-realização

Valores emancipatórios Utilidade

Êxito/resultados Desempenho

Fonte: Serva (1997, p. 126)

Page 56: Dissertação Renato de Castilho Gomides

56

O ensino de administração está facilitando o alcance do pleno conhecimento

administrativo? Buscar-se-á respostas a essa pergunta nas próximas seções.

3.4 O CAMINHO DAS ESCOLAS DE ADMINISTRAÇÃO

Burrel e Morgan (1979) afirmam que o paradigma funcionalista fornece o quadro de

referência dominante para o estudo das organizações. Os autores aduzem que a abordagem à

ciência social característica do funcionalismo está baseada na tradição do positivismo, aplicando-

se os modelos e métodos das ciências naturais para os estudos dos assuntos humanos.

Vergara e Branco (1993, p. 25) interpretam que esse paradigma, ao comprometer-se com

a ordem e o controle, “enseja uma imobilidade em relação à busca e a aceitação de outras visões

do mundo, o que emprobece e limita a nossa apreensão da complexidade da qual somos parte.”

O que se pode depreender, coadunando a linha de pensamento dos autores referidos, é que

o estudo científico da Administração, ao basear-se na abordagem instrumentalista e racional,

busca a resolução de problemas baseados na lógica positivista, na relação causa-efeito, no meio-

fim.

Ao se buscar uma explicação para tal racionalidade, o que se pode inferir é que,

historicamente, a maior preocupação que as organizações de outrora possuíam era ter em seus

quadros, profissionais aptos a atenderem ao processo de industrialização e das grandes unidades

de produção. Entretanto, tal mentalidade ainda contamina a atual teoria organizacional em sua

plenitude.

Na opinião do autor desta dissertação, é inevitável se retomar o rumo das escolas de

administração: elas não estão promovendo uma aprendizagem emancipadora de seus educandos e

Page 57: Dissertação Renato de Castilho Gomides

57

sim, legitimando a racionalidade instrumental que contamina a sociedade como um todo. Tal

constatação é evidente. Aktouf (2001), chegando a extremos, afirma que para se alcançar uma

renovação da administração é indispensável a adoção de uma visão global da humanidade, por

meio da contribuição do humanismo radical. O autor argumenta sobre a necessidade de um

embasamento teórico nas idéias em administração, elencando que os trabalhos que aprofundam a

questão que envolve o ser humano nas organizações abordam temas relacionados com: o “poder

unilateral” das empresas e a concepção instrumental do empregado; a luta contra a “fragmentação

do trabalho”; a dotação do “homem como ser de palavra”, isto é, da sua possibilidade de dialogar

e de se expressar de maneira crítica e reflexiva; do reconhecimento de que as concepções e

práticas administrativas representam um obstáculo ao homem como sujeito, “ator que interpela”;

da ausência de ética para com os empregados; do questionamento sobre o “economismo e o

utilitarismo” das teorias e práticas administrativas dominantes; e, o apelo a um tipo de

“radicalismo epistemológico e metodológico” priorizando a natureza complexa, sistêmica e

multidimensional do homem e dos grupos sociais. Pode-se concluir que o ensino nas escolas de

administração pouco privilegiam os temas apontados pelo autor como relevantes.

Por outro lado, Bennis e O’Toole (2005), Mintzberg (2006) e outros autores têm criticado

contundentemente os cursos de MBA desenvolvidos nas escolas de administração.

Embora o foco desta dissertação esteja dirigido para os cursos de graduação, muitos

insights podem ser desencadeados pelos comentários desses autores.

Livingston (1971) já identificava nos programas de educação em administração a ênfase

no desenvolvimento de habilidades de capacitação analítica dos indivíduos em detrimento de

habilidades mais subjetivas, como capacitação para agir ou capacidade de se colocar planos em

prática.

Page 58: Dissertação Renato de Castilho Gomides

58

Para Bennis e O’Toole (2005) as escolas de administração adotaram um modelo de

ciência que usa abstratas análises financeiras e econômicas, regressões estatísticas múltiplas e

psicologia de laboratório que, quando aplicada aos negócios – essencialmente uma atividade

humana na qual decisões são tomadas com base em dados confusos, incompletos, incoerentes –,

implica em mais desordem (estatística e metodológica) do que capacidade de percepção.

Outra questão levantada pelos autores é a dissonância entre a teoria e a prática no

desenvolvimento do ensino administrativo. Essa dissonância, pode-se inferir, também é

encontrada nos cursos de graduação. Bennis e O’Toole (2005, p. 5-7) afirmam que:

A maioria das questões enfrentadas por dirigentes empresariais envolve, em última análise, puro discernimento. [...] Na pesquisa administrativa, porém, fatores rotineiramente ignorados por acadêmicos sob o pretexto de que não são mensuráveis – o grosso dos fatores humanos e toda questão relativa a discernimento, ética e moralidade – são exatamente o que faz a diferença entre boas e más decisões de negócios. [...] E o que é pior, a integração do conhecimento específico a uma disciplina às demandas da prática empresarial é deixada ao aluno.

Bennis e O’Toole (2005), ao apontarem rumos para o resgate da relevância do ensino de

administração, sugerem que há necessidade de se aceitar que a administração não é uma

disciplina científica e, sim, uma profissão. Nas palavras dos autores:

Acreditamos [...] que um passo útil para reconhecer que a administração é uma profissão seria admitir que tanto imaginação como experiência são vitais e deveriam, portanto, estar no cerne da educação administrativa. [....] Nada vai melhorar enquanto os professores não notarem que são responsáveis tanto por educar profissionais que tomam decisões práticas como por fazer avançar o conhecimento científico [...] O problema não é a escola de administração ter adotado o rigor científico, mas ter abandonado outras formas de conhecimento. (grifo meu) (Bennis e O’Toole, 2005, p. 7-9).

Pode-se identificar aqui, o âmago do nosso problema inicialmente proposto. Na visão do

autor desta dissertação, tanto os cursos de graduação quanto os cursos subseqüentes, estão

negligenciando outros caminhos de conhecimento, tendo em vista a contextualização do

pensamento vigente, extremamente pragmático e instrumental. Como a academia tem se

Page 59: Dissertação Renato de Castilho Gomides

59

respaldado no positivismo e na influência das ciências naturais no trato de uma ciência social, o

dito “rigor científico” não dá margens a outras interpretações mais amplas, como é o caso do uso

da intuição.

Mintzberg (2006) é ainda mais enfático nas suas críticas ao ensino da administração. Para

o autor, a administração não é uma ciência (“a ciência trata de desenvolvimento de conhecimento

sistemático por meio de pesquisa. Não se pode dizer que seja essa a finalidade da administração.

[...] A administração eficiente [...] acontece quando arte, habilidade e ciência se encontram.”

MINTZBERG, 2006, p. 21). Para este autor, em oposição aos pensamentos de Bennis e O’Toole

(2005), administração também não é uma profissão: “Pouco de sua prática foi codificada de

forma confiável, muito menos certificado quanto à sua efetividade. Assim, a administração não

pode ser denominada profissão ou ser ministrada como tal.” (MINTZBERG, 2006, p. 22).

O autor é mais contundente ao afirmar que: “É hora de encarar um fato: depois de quase

um século de tentativas, em qualquer avaliação razoável a administração não pode ser

considerada uma ciência ou uma profissão. Ela permanece profundamente incrustada nas práticas

da vida diária.” (MINTZBERG, 2006, p. 22).

A maior parte da crítica de Mintzberg (2006) está relacionada à ênfase dada nos

programas de MBA às habilidades analíticas desvirtuando as práticas mais reflexivas, como

competências cognitivas e um pensamento mais crítico. Tais óbices também estão presentes nos

cursos de graduação.

Mintzberg (2006, p. 96) nos apresenta os três vértices da gerência (conforme a figura 2).

Utilizando-se de suas metáforas, pode-se concluir que tanto na gerência quanto no ensino de

administração deve-se procurar um equilíbrio entre os vértices para que seja possível uma maior

efetividade de ambos.

Page 60: Dissertação Renato de Castilho Gomides

60

Figura 2 – Os três vértices da gerência

CIÊNCIA (science) ARTE (art) HABILIDADE PRÁTICA

(craft)

Baseado em Lógica (verbal) Imaginação (visual) Experiência (visceral)

Confia em Fatos científicos Intuições criativas Experiências práticas

Preocupa-se com Replicabilidade Novidade Utilidade

Toma decisões Dedutivamente Indutivamente Iterativamente

Cria estratégia Planejando Tendo visões,

imaginando

Arriscando

Metáfora A terra (racional);

portanto, pode ficar preso

O ar (espiritual);

portanto, pode ficar

perdido

O mar (sensual); portanto,

pode ficar à deriva

Contribuição A ciência como análise

sistemática, na forma de

insumos e avaliações.

A arte como síntese

abrangente, na forma de

intuições (insights) e

visões.

A habilidade prática como

aprendizagem dinâmica,

na forma de ações e

experimentos.

Fonte: Mintzberg (2006, p. 96)

3.4.1 Uma visão filosófica sobre o tema: o pensamento de Alasdair MacIntyre

MacIntyre (2001) ao realizar uma reflexão sobre a filosofia moral como área de pesquisa

independente e isolável, mostra-se insatisfeito, pois acredita que o mero estudo reflexivo do

conceito de moralidade é uma atividade acadêmica estéril. Ao expender sobre o tema central de

Page 61: Dissertação Renato de Castilho Gomides

61

seu livro, enuncia, assim, um dos capítulos: “O caráter das generalizações nas Ciências Sociais e

sua carência de poder de previsão.” (MACINTYRE, 2001, cap. 8, p. 155-187). Esta seção

discorrerá sobre as indagações do autor e da sua correlação com o ensino de administração.

MacIntyre (2001, p. 155) comenta que:

O que a competência administrativa exige para a sua validação é uma concepção justificada das ciências sociais como portadora de um estoque de generalizações legiformes com forte poder de previsão. [...] Foi precisamente esse conceito de ciências sociais que dominou a filosofia das ciências sociais durante duzentos anos. Segundo essa explicação convencional – do Iluminismo, passando por Comte e Mill, até Hempel – o objetivo das ciências sociais é explicar, especificamente os fenômenos sociais, por meio de generalizações legiformes que não diferem em forma lógica das aplicáveis aos fenômenos naturais em geral, precisamente o tipo de generalizações legiformes às quais o especialista em administração apelaria. Essa explicação, porém, parece concluir – o que, com certeza, não é o caso – que as ciências sociais são quase, ou talvez totalmente, destituídas de realizações. Isso porque o fato que se destaca com relação a essas ciências é a ausência da descoberta de quaisquer generalizações legiformes.

Para o autor há quatro fontes de imprevisibilidade sistemática nos assuntos humanos:

natureza da inovação conceitual radical (e conseqüente imprevisibilidade do futuro da ciência);

imprevisibilidade de se prever o resultado de suas próprias decisões ainda não tomadas

(imprevisibilidade do agente gera imprevisibilidade no mundo social); o caráter complexo da

teoria dos jogos na vida social; e a última fonte, que é denominada como pura contingência

(vulnerabilidade a contingências externas).

MacIntyre (2001) afirma que não perceber o caráter indefinido das situações na vida real

pode afetar o poder de previsão de muitas simulações computadorizadas que pretendem transferir

análises de determinadas situações do passado à previsão de situações indeterminadas no futuro.

Há, porém, segundo o autor, situações previsíveis da vida social: necessidade de

programar e coordenar nossas atividades sociais; regularidades estatísticas; conhecimentos de

regularidades causais da natureza (terremotos, epidemias, etc.); e, conhecimento de regularidades

causais na vida social. Para MacIntyre (2001) assim como a imprevisibilidade não implica

Page 62: Dissertação Renato de Castilho Gomides

62

impossibilidade de explicação, a previsibilidade também não implica na possibilidade de

explicação.

O autor ao concluir o capítulo aduz:

O conceito da eficiência administrativa é, afinal, mais uma ficção moral contemporânea e, talvez, a mais importante de todas. [...] Por conseguinte, o administrador, como personagem, não é o que parece ser à primeira vista: o realismo obstinado, prático, pragmático e direto do mundo social cotidiano que é o ambiente da administração, é um mundo que, para sustentar sua existência, depende da perpetuação sistemática dos mal-entendidos e da crença em ficções. [...] o domínio da competência administrativa é aquele no qual se faz passar por afirmações objetivamente fundamentadas funciona, de fato, como expressões de vontade e preferência arbitrárias, porém disfarçadas. [...] É o êxito histriônico que concede poder e autoridade na nossa cultura. O burocrata mais eficiente é o melhor ator. [...] Os talentos histriônicos do figurante em suas pequenas aparições são tão necessários ao drama burocrático quanto as contribuições dos grandes atores que representam os personagens administradores. (MACINTYRE, 2001, 185-187).

Guerreiro Ramos (1989) coaduna os pensamentos de MacIntyre, ao afirmar que o poder

de previsão da ciência social só existirá na medida em que o círculo de causalidade permanecer

sem qualquer perturbação. Contudo, como o comportamento humano não é isento de conceitos de

valor, surge uma resistência psicológica que enfraquece esse poder de previsão.

Claro está que, ao se revisar os pensamentos dos autores aqui aludidos, na tentativa de se

impor à Administração os conceitos trazidos das ciências naturais e do positivismo, perdeu-se o

rumo do ensino administrativo. Reduzir a Administração a meros cálculos matemáticos é um erro

crasso. Não se pode negar a utilidade dos fatos científicos, mas se apropriar dos mesmos para sua

completa aplicação a uma ciência social é um reducionismo simplório. A realidade é muito mais

complexa, uma vez que a organização, sujeito e objeto da atuação do administrador, é cercada de

um dinamismo social descontínuo, ou, de acordo com Morgan (1996), as organizações se

apresentam nas mais variadas formas e a sofisticação do nosso pensamento não é comparável à

complexidade e à sofisticação das realidades com as quais é necessário lidar.

Page 63: Dissertação Renato de Castilho Gomides

63

Serva (1993) nos alerta que insistir em velhos paradigmas é permanecer no

obscurantismo. Para o autor é imprescindível uma ciência do devir.

3.5 O ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL

De acordo com Fischer (1986, 2001), Serva (1990), Barros e Passos (2000), Rodrigues e

Carrieri (2001) e Andrade e Amboni (2004), o ensino formal de administração no Brasil, iniciou-

se na década de 50, caracterizado pela americanização curricular, racionalidade técnica,

eficientização das organizações e pela lógica funcionalista, formando administradores aptos para

atenderem ao processo produtivo industrial da época.

Tais características, comprovam os mesmos autores, continuam a estar presentes nos

atuais cursos de formação dos administradores. Por conseguinte, as críticas ao ensino

administrativo brasileiro não são poucas.

Para Serva (1990) formam-se administradores muito menos no “domínio do pensar” do

que no “domínio do fazer”, pois o ensino é por demais “tecnicista” e grande parte dos enfoques

teóricos ensinados é de cunho normativo, tendo como conseqüência a transmissão de prescrições

antigas para os novos e desafiantes problemas que o administrador enfrenta na sua vida cotidiana.

Fischer (1986, p. 170) é ainda mais contundente:

Os modelos de desenvolvimento de pessoal para a administração pública (outrora transplantados) estão esgotados. Reeditar o passado será incorrer nos mesmos erros. Outras propostas em novas bases devem ser estabelecidas com novas formas de investigar, ensinar e aprender adequadas á especialidade cultural da organização pública brasileira.

Page 64: Dissertação Renato de Castilho Gomides

64

Guerreiro Ramos (1983b) em conferência realizada em 1970, já chamava a atenção para a

contextualização do ensino de administração à realidade na América Latina. Para o autor, há um

flagrante processo de dissonância cognitiva para os administradores, ao se tentar trazer soluções

estrangeiras para problemas domésticos, exigindo-se, portanto, um estilo administrativo

humanístico, suscitando-se o debate entre a legitimidade e a eficácia administrativa.

Para Barros e Passos (2000) a própria sociedade capitalista influencia a formação

acadêmica do administrador: ela é carreada de uma base filosófica instrumental que sustenta o

projeto pedagógico como um todo. Os autores sustentam que a formação do administrador é

fundamentalmente baseada nas práticas administrativas instrumentais, na perpetuação de sua

análise e de seu uso, enquanto ação transformadora das organizações, da sociedade e do homem.

Covre (1991) ao expender sobre a formação e a ideologia do administrador nos confirma

que a ideologia neocapitalista, a produtividade e a eficiência são realidades que acompanham e

influenciam o administrador no seu processo de desenvolvimento intelectual, alertando, ainda

que: “se mantido esse tipo de formação mais técnica, está se criando seres humanos–máquinas,

instrumentos passivos ao processo capitalista (selvagem)” (COVRE, 1991, p. 195-196). Para a

autora há necessidade de uma formação acadêmica equilibrada – técnica e humana – que deve

exigir muita reflexão por parte de todos os atores envolvidos (alunos, professores e demais

elementos inseridos no processo formativo).

O panorama acadêmico pouco mudou no decorrer dos anos. A influência estrangeira ainda

é uma constante, o que implica um reforço da racionalidade e do imediatismo. Tais constatações

já foram objeto de estudo de vários autores, destacando-se os de Vergara e Carvalho Jr. (1995),

Vergara e Pinto (2001) e Rodrigues e Carrieri (2001), embora Fischer (2003) afirme que a

influência americana começou a ser contestada por radicais críticos como Maurício Tregtemberg

e culturalistas como Alberto Guerreiro Ramos na década de 70, sem todavia, alertar que essa

Page 65: Dissertação Renato de Castilho Gomides

65

influência não teve respaldo nos cursos de graduação e sua incorporação foi pontual e efêmera.

Vergara e Peci (2003) atestam que os métodos tradicionais de orientação positivista (originário da

concepção funcionalista) têm prevalecido nos estudos organizacionais.

Uma possível explicação para tais fatos, pode ser encontrada no estudo realizado por

Cabral-Cardoso (2001, p. 145-146) ao afirmar que:

O horizonte temporal da gestão é consideravelmente mais curto do que no meio acadêmico. As atividades desenvolvidas por todos os colaboradores, cientistas e engenheiros incluídos, devem, em última análise, traduzir-se na comercialização de produtos ou serviços, o que sublinha a importância da unidade de esforços e do empenhamento na organização. Ou seja, a cultura empresarial não atribui valor particular ao conhecimento em si, se este não for traduzível em bens ou serviços negociáveis no mercado.

A partir da destacada importância na racionalidade, os programas de educação para a

Administração são orientados mais para a formação de pretensos analistas e solucionadores de

problemas do que para estrategistas e profissionais de visão a longo prazo, habilidades

necessárias aos tomadores de decisões gerenciais.

Interessante ressaltar a posição de Motta (1988) que constata uma dicotomia existente: de

um lado, se intensifica o estudo da Administração academicamente e, do outro, que a formação

advinda desses cursos mostra-se pouco útil para a capacitação gerencial.

Nesse sentido, os cursos de Administração continuam formadores, predominantemente, de

técnicos em Administração.

Em conseqüência disso, o educando em Administração vive dentro de um ambiente

completamente adverso ao crescimento de sua capacidade intuitiva, limitando-se a reproduzir os

conhecimentos que lhe são transmitidos.

Page 66: Dissertação Renato de Castilho Gomides

66

Por conseguinte, as palavras de Guerreiro Ramos (1989) são mais do que válidas; servem

para que possamos suplantar a realidade vigente, buscando um caminho mais reflexivo no ensino

da administração:

A teoria da organização, tal como tem prevalecido, é ingênua. Assume esse caráter porque se baseia na racionalidade instrumental inerente à ciência social dominante no Ocidente. Na realidade, até agora essa ingenuidade tem sido o fator fundamental de seu sucesso prático. Todavia, cumpre reconhecer agora que esse sucesso tem sido unidimensional e, [...] exerce um impacto desfigurador sobre a vida humana associada. [...] hoje haverá algumas pessoas que prefiram suspender a crítica à teoria organizacional corrente, porque, embora sendo pobre em sofisticação, ela funciona. Contudo, para fazer isso, é preciso que se finja que a ingenuidade é o certo, enquanto a sofisticação teórica é o errado. [...] A palavra ingenuidade é usada aqui no sentido em que a empregou Husserl, que reconheceu que a essência do sucesso tecnológico e econômico das sociedades industriais desenvolvidas tem sido uma conseqüência da intensiva aplicação das ciências naturais. No entanto, a capacidade manipuladora de tais ciências não constitui, necessariamente, uma indicação de sua sofisticação teórica. [...] No fim de contas, as ciências naturais podem ser perdoadas por sua ingênua objetividade, em razão de sua produtividade. Mas essa tolerância não pode ter vez no domínio social, onde premissas epistemológicas errôneas passam a ser um fenômeno cripto-político – quer dizer, uma dimensão normativa disfarçada imposta pela configuração de poder estabelecida. (GUERREIRO RAMOS, 1989, p. 1-2).

Barros e Passos (2001) ao concluírem seu artigo concordam com o pensamento de

Guerreiro Ramos ao revelarem que a lógica capitalista que vem subjugando todos os pressupostos

de orientação da vida humana, sob a égide de um racionalismo comprometido com o modo de

reprodução e com o discurso hegemônico do capital, constitui-se na grande “maré” da sociedade

ocidental, cabendo aos educadores a promoção de alternativas ao modelo de educação vigente na

sociedade capitalista, uma vez que os seres humanos têm uma racionalidade plena que lhes é

inerente, substantiva e emocional.

Porém, nos alertam Vergara e Branco (1994, p. 131):

Em várias áreas do conhecimento, o processo de mudança conquista espaço em debates, como os travados na administração. Em comum, verifica-se a constatação de que, se de um lado se compreende e aceita intelectualmente que é ilusório enfocar o mundo à sua volta a partir de lentes forjadas no reducionismo e nas limitações da casualidade linear que caracterizam a visão mecanicista, por outro só se dispõe de uma formação que sempre privilegiou a compartimentalização e a fragmentação do saber.

Page 67: Dissertação Renato de Castilho Gomides

67

Na presente dissertação, prefere-se acreditar que as movimentações em busca de uma

melhor forma de se decidir já se fazem presentes. Não seria outra a opinião do autor desta

dissertação se não acreditasse em mudanças, pelo próprio fato de se desenvolver o estudo em

lide.

Vergara (1991) privilegia a questão da racionalidade cartesiana ao alegar que acadêmicos

e administradores vêm fazendo críticas contundentes ao ensino de Administração, uma vez que a

realidade organizacional já é caracterizada pela falta de programação racional e linearidade e que

as tomadas de decisões organizacionais estão baseadas tanto em múltiplas racionalidades quanto

na intuição.

O curso de Administração e o papel do Administrador profissional são elementos

sustentadores do crescimento econômico e do aprimoramento social de qualquer país. Influências

de natureza ideológica quanto à educação dos administradores, entretanto, têm reduzido a

utilidade e a abrangência do seu papel como impulsionador do desenvolvimento.

O profissional da Administração tem muito mais a contribuir. Entretanto, sua formação

necessita ser estudada sob novas perspectivas e sob um novo ideário. Necessita-se de estudos que

aprofundem reflexões e conseqüentes ajustes para que o Administrador exerça, com plenitude, o

seu poder de influenciar e promover o desenvolvimento integral da sociedade.

Contudo, o CFA parece ir de encontro às necessidades que se fazem prementes. As suas

últimas Resoluções Normativas realmente possibilitarão um ensino melhor ou fragmentará ainda

mais a visão do futuro administrador?

Page 68: Dissertação Renato de Castilho Gomides

68

A qualidade que Fedro buscou na sua jornada em Pirsig (2000) espelha que o processo de

ensino em Administração necessita mais de reflexões, interações e críticas do que a pretensa

reserva de mercado que é sinalizada pelo CFA.

Vergara (2003, p. 132) comenta que “a relação ensino–aprendizagem em administração

não pode estar dissociada da realidade das organizações”, defendendo que o espaço pedagógico

deve ser caracterizado pela desconstrução, construção e reconstrução do conhecimento.

O que se procurou neste capítulo foi justamente isso. Cada abordagem foram momentos

de desconstrução, construção e reconstrução da compreensão da Administração como área de

conhecimento. A partir da contextualização da realidade vigente e da identificação da

preponderância da racionalidade instrumental como característica intrínseca da organização nos

suscita a tentativa de desconstruir um conceito arraigado. A partir da verificação que a

racionalidade substantiva é capaz de proporcionar uma emancipação do homem dialeticamente,

(re)construiu-se um novo conhecimento. Ao se apontar críticas ao ensino em administração,

espera-se que no processo dinâmico que envolve o conhecimento, que abarca todos os atores

envolvidos, seja privilegiado o autoconhecimento, ampliando-se novas formas do pensar,

valorizando-se, sobretudo, a intuição como capital intelectual aplicável na administração.

Page 69: Dissertação Renato de Castilho Gomides

69

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

No presente capítulo são apresentados resultados e análises para cada uma das questões

do questionário aplicado.

O questionário foi aplicado aos 68 professores da EBAPE/FGV. Deste total, obteve-se 44

respostas, ou seja, 65% dos professores responderam ao questionário. Pode-se deduzir que o

número de respondentes atinge ao objetivo proposto, uma vez que Bauer e Gaskell (2004),

admitem um limite máximo no número de respostas numa pesquisa entre 15 e 25 respondentes.

No presente estudo considera-se que o limite estabelecido para um referencial representativo

deveria ser, de no mínimo, 30 questionários respondidos.

Nas três questões fechadas (vide o apêndice) foi realizado tratamento por meio do método

estatístico. A primeira questão fechada foi “As decisões administrativas são tomadas com base:

(a) mais pela lógica/raciocínio; (b) mais pela intuição e (c) por ambas, em quase igual

proporção.” Os resultados foram: 34% dos respondentes (15 professores) responderam que as

decisões são tomadas com base mais pela lógica/raciocínio; 11% dos respondentes (cinco

professores) responderam que as decisões são baseadas mais pela intuição e 55% (24 professores)

acreditam que as decisões estão baseadas tanto na lógica/raciocínio quanto na intuição.

Entretanto, relevante é ressaltar que oito dos 24 professores que optaram pela resposta (c)

observaram que a proporcionalidade depende do conhecimento e das informações de cada caso

em particular e que essa proporção pode não ser necessariamente igual.

Page 70: Dissertação Renato de Castilho Gomides

70

Confrontando-se as respostas da primeira pergunta com o arcabouço teórico

desenvolvido, pode-se deduzir que o processo decisório é caracterizado por dimensões de base

racional e intuitiva, conforme preconizam Goldberg (1993), Motta (1988, 1999), Parikh,

Neubauer e Lank (1998) e Vergara (1991, 1993).

Os resultados de estudos sobre a intuição de Parikh, Neubauer e Lank (1998), Vergara

(1993) e Vergara e Branco (1994) confirmam o uso da intuição nas tomadas de decisões

organizacionais.

A tabela 1 sumariza a primeira pergunta fechada.

Tabela 1 – Síntese estatística das respostas à pergunta “As decisões administrativas são tomadas

com base...”

As decisões administrativas são

tomadas com base:

RESPONDENTES

(Quantidade numérica de

professores)

PERCENTUAL

(%)

(a) mais pela lógica/raciocínio 15 34

(b) mais pela intuição 5 11

(c) por ambas, em quase igual

proporção

24 55

TOTAL 44 100

Page 71: Dissertação Renato de Castilho Gomides

71

Para a pergunta “A formação acadêmica do administrador se baseia mais pela

racionalidade instrumental?” obteve-se relativo consenso: 91% dos respondentes (40 professores)

acreditam que sim, enquanto 9% (quatro professores) acreditam no contrário.

Tal resultado vem ao encontro da crença do autor desta dissertação: a racionalidade

instrumental permeia e influencia a formação do administrador, implicando a falha ou

desinteresse da academia em proporcionar outras formas de construção do conhecimento aos

estudantes. Tal constatação é corroborada por Motta (1988), Guerreiro Ramos (1989), Enriquez

(1997), Barros e Passos (2000) e Tenório (2004). É inegável a influência da racionalidade

instrumental na formação acadêmica do administrador. É nessa linha de pensamento que surgem

as críticas ao ensino da administração: atualmente é privilegiada mais a capacitação analítica do

que a capacidade subjetiva, aqui incluída a intuição. Cabe evocar-se o pensamento de MacIntyre

(2001) sobre a imprevisibilidade nas relações humanas e a equivocada generalização legiforme

que a ciência social pretende assumir para a sua legitimização.

Para a última questão fechada “O desenvolvimento da intuição está presente na formação

acadêmica do administrador?”, a opinião dominante, embora não consensual, é que ela não está

presente para 59% (26 professores) dos respondentes, enquanto 18 professores (41%) acreditam

que a intuição se faz presente na formação do administrador.

Para as duas questões abertas, foi utilizada a análise de conteúdo. Enquanto que na

primeira pergunta as categorias foram previamente estabelecidas, porém admitindo-se a inclusão

ou exclusão de categorias, na segunda as categorias foram criadas a partir das respostas obtidas.

Tal critério foi adotado por opção metodológica do autor da pesquisa.

Page 72: Dissertação Renato de Castilho Gomides

72

Na primeira pergunta foram definidas sete categorias: 1- decisão/percepção sem recurso a

métodos lógicos/racionais ou sem dados/fatos completos; 2- previsão; pressentimento; 3-

percepção inerente; compreensão inexplicável; sensação/sentimento que vem de dentro,

caracterizada pelo imediatismo e pela espontaneidade; 4- integração de experiência anterior;

processamento de informações acumuladas subjetivamente; 5- processo subconsciente; 6-

premonição e 7- sexto sentido. Destas, as três últimas foram descartadas – processo

subconsciente, premonição e sexto sentido –, pois não se obteve respostas que se enquadrassem

nelas. A não definição da intuição como premonição ou sexto sentido é um ponto positivo, pois

se afasta o caráter de misticismo que o termo pode erroneamente induzir.

Importante é ressaltar o alerta de Bauer e Gaskell (2004): como a análise de conteúdo é

uma construção social, ela é permanentemente um ato de interpretação. Assim, o autor desta

dissertação está cônscio de que as opiniões dos respondentes estão fortemente influenciadas pela

interpretação e análise do pesquisador. Contudo, permanece o que já foi dito: não existe

neutralidade científica.

A primeira pergunta foi: “Na sua opinião, o que é intuição?”

Para essa pergunta, utilizaram-se três definições prévias, sintetizadas de Santos (1964) e

Cabral (1971), que nortearam as categorias:

1- Percepção: formação da noção do mundo exterior pelo homem; capacidade de

compreensão; ordenação das sensações pela consciência; processo pelo qual o

indivíduo se torna consciente dos objetos e relações no mundo.

2- Pressentimento: ação ou ato de pressentir, de sentir com antecedência um fato

futuro;

Page 73: Dissertação Renato de Castilho Gomides

73

3- Previsão: ação ou ato de prever, de ver com antecedência; antecipação mental

de fatos que podem ocorrer; antevisão; declaração sobre um acontecimento

ainda não observado, subtendendo-se considerável soma de conhecimentos

factuais pertinentes a esse acontecimento e de princípios gerais que nele podem

influir.

Para as quatro categorias que foram empregadas no enquadramento das respostas

procedeu-se à análise de conteúdo, apoiando-se em um procedimento estatístico, após a devida

interpretação e adequação das mesmas.

Na primeira categoria definiu-se intuição como: decisão/percepção sem recurso a métodos

lógicos/racionais ou sem dados/fatos completos. Dos 44 respondentes, 10 definiram intuição

dessa maneira, ou seja, 23%.

A definição de intuição da segunda categoria foi: previsão; pressentimento. Nove

professores acreditam que intuição está enquadrada nessa categoria, o que corresponde a 20% dos

respondentes.

Definiram intuição como percepção inerente; compreensão inexplicável;

sensação/sentimento que vem de dentro, caracterizada pelo imediatismo e pela espontaneidade,

25% dos respondentes, correspondendo a 11 professores.

A última categoria definiu intuição como a integração de experiência anterior;

processamento de informações acumuladas subjetivamente. Treze professores, ou seja, 30%,

tiveram suas respostas incluídas nessa categoria.

Um único respondente não definiu intuição, o que corresponde a 2% da amostra.

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74

A tabela 2 busca sintetizar o exposto.

Tabela 2 – Síntese estatística das respostas à pergunta “Na sua opinião, o que é intuição?”

CATEGORIA RESPONDENTES

(Quantidade numérica de

professores)

PERCENTUAL

(%)

Decisão/percepção sem recurso a

métodos lógicos/racionais ou

sem dados/fatos completos

10 23

Previsão

Pressentimento

9 20

Percepção inerente

Compreensão inexplicável

Sensação/sentimento que vem de

dentro

(caracterizada pelo imediatismo e

pela espontaneidade)

11 25

Integração de experiência

anterior

Processamento de informações

acumuladas subjetivamente

13 30

Não respondeu à pergunta 1 2

TOTAL 44 100

Pode-se perceber que a intuição é um assunto controverso. As respostas estão quase que

equilibradas, com uma mínima predominância da quarta categoria. A dificuldade sobre o

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75

significado da intuição já foi anteriormente mencionada por Westcott (1968), Vergara (1991,

1993), Goldberg (1992) e Burden (1993).

Os resultados da pesquisa confirmam que as dimensões anteriormente mencionadas –

filosófica, psicológica e administrativa – estão presentes nas definições dos respondentes, seja

por meio do conceito bergsoniano, que evoca o imediatismo e a espontaneidade, seja pelo

conceito junguiano que a traduz como a percepção inconsciente. “Instinto da razão” foi como

definiu a intuição um dos respondentes. Um outro professor a definiu como “uma forma de

conhecimento acumulado adaptado a partir de experiências sucessivas de ‘serendipidade’

(tradução livre do inglês Serendipity)”.

A noção de que a intuição é vista como uma antítese da lógica/raciocínio confirma a

pesquisa de Parikh, Neubauer e Lank (1998). Contudo, ao contrário da pesquisa desses autores

realizada no Brasil com os administradores, que afirmam o uso mais da lógica/razão (53,5%), os

professores da Ebape acreditam que a intuição está presente no processo decisório (66%),

corroborando a pesquisa desenvolvida por Vergara (1993) no seu estudo (89% dos gestores

asseguram tomar decisões intuitivas).

Porém, claro está para os respondentes, que a intuição é um importante componente das

decisões administrativas. Seria a dificuldade de se definir a intuição, o motivo do seu desuso na

formação acadêmica, uma vez demonstrada sua capilaridade no resultado da pesquisa

desenvolvida?

A segunda pergunta aberta foi: “Caso a resposta anterior seja positiva [o desenvolvimento

da intuição está presente na formação acadêmica do administrador?], como ela se manifesta no

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76

contexto acadêmico?”. Dos 44 respondentes, 18 afirmaram que a intuição está presente na

formação acadêmica do administrador (41%).

Para essa pergunta foram criadas três categorias, com base nas respostas dos professores.

A primeira categoria foi: esforço comunicacional nas interações acadêmicas entre docentes,

discentes e instituições. Três respondentes foram incluídos nessa categoria, o que corresponde a

17% dos 18 professores.

A segunda categoria estabelecida foi: estudos de casos; análises de realidades distintas;

trabalhos de grupos; estágios; análises, simulações e exercícios diversos. Dez professores

responderam que a intuição se manifesta por meio da categoria, o que corresponde a 55% dos

respondentes.

A terceira categoria abarcou as respostas que sugeriram disciplinas mais subjetivas. Cinco

professores foram enquadrados na categoria, o que equivale a 28%.

Assim, a maioria dos professores acredita que por meio da aplicação de estudos de caso,

análises e exercícios, a intuição se faz presente na formação acadêmica.

A tabela 3 sumariza o exposto.

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Tabela 3 – Síntese estatística das respostas à pergunta “Caso a resposta anterior seja positiva [o

desenvolvimento da intuição está presente na formação acadêmica do administrador?], como ela se

manifesta no contexto acadêmico?”

CATEGORIA RESPONDENTES

(Quantidade numérica de

professores)

PERCENTUAL

(%)

Esforço comunicacional nas

interações acadêmicas entre

docentes, discentes e instituições

3 17

Estudos de caso; análises de

realidades distintas; trabalhos de

grupos; estágios; análises,

simulações e exercícios diversos

10 55

Disciplinas mais subjetivas 5 28

TOTAL 18 100

A realidade, porém, requer mais profundidade do que a apresentada. O autor desta

dissertação não acredita que a segunda categoria por si só desenvolverá a intuição. Conforme

observa um dos professores: “os ‘curricula’ dos cursos de Administração precisam ser revistos

radicalmente para a formação de verdadeiros administradores”. É este o pensamento da maioria

dos professores (59%) ao afirmarem que a intuição não está presente na formação acadêmica do

administrador.

Um outro professor observou que a intuição “inconscientemente adotada ou

conscientemente assumida, é indispensável à viabilização da decisão e da ação administrativa de

boa qualidade, [...] salvando [o administrador] de dois perigos sempre muito presentes: a

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arrogância da razão pura, que conduz à simplificação do mundo social e ao ingênuo e autoritário

encontro de pretensas verdades ‘irrefutáveis’ ou à impotência decisória face situações

complexas”. Esse mesmo professor acredita que “não exploramos sistemática e conscientemente,

para não dizer ‘racionalmente’, os aspectos teóricos e práticos da intuição, de forma a dominar

seus correspondentes valores, conhecimentos, atitudes e habilidades de aplicação.” Ele faz um

alerta: “Há, no entanto, muita estrada a percorrer, se desejarmos evoluir com racionalidade e

intuição neste caminho, driblando tanto o racionalismo preconceituoso quanto o misticismo

barato dos mais afoitos.”

Assim, permanecem as críticas de Guerreiro Ramos (1983a, 1983b, 1989), Serva (1990),

Covre (1991), Fischer (1986, 1993, 2001, 2003) que advogam a ineficácia da atual formação

acadêmica do administrador.

Este capítulo apresentou os resultados e as análises, confrontando-se aqueles com o

arcabouço teórico desenvolvido. A opção metodológica do autor da pesquisa foi utilizar-se do

método estatístico para as questões fechadas e da análise de conteúdo para as questões abertas.

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79

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA UMA NOVA AGENDA DE PESQUISA

O último capítulo é o resultado da reflexão do autor da dissertação a respeito do que foi

discutido anteriormente. Será resgatada a pergunta-problema que desencadeou o estudo e

realizado um resumo do que foi apresentado nos capítulos anteriores, para, a seguir, oferecer a

resposta à pergunta-problema, fruto de uma interpretação crítica do autor.

5.1 CONCLUSÕES

Deve-se, a princípio, resgatar o problema que suscitou a investigação, ou seja, sendo a

intuição um importante componente das decisões administrativas, seu desenvolvimento está

presente na formação acadêmica dos administradores? Se está, como o desenvolvimento da

intuição se manifesta nesse contexto?

Deve-se, também, relembrar as três suposições que direcionaram esta dissertação:

1- A racionalidade administrativa está influenciando a formação acadêmica dos

administradores, sendo-lhes negadas formas alternativas de conhecimento e de

tomada de decisão;

2- O uso da intuição está sendo negligenciado nas tomadas de decisão dos

administradores nas organizações;

3- A intuição é um importante componente das decisões administrativas, mas seu

desenvolvimento não está presente na formação acadêmica dos

administradores.

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Sumarizando o que foi discutido nos capítulos anteriores, argumenta-se que a intuição é

um tema relevante, mas extremamente difícil de ser tratado no contexto das ciências sociais,

frente à predominância da epistemologia–metodologia positivista na qual elas estão inseridas.

A intuição foi tratada como uma faculdade implícita do ser humano que acessa o

conhecimento sem mediações. Foram desenvolvidas três dimensões da intuição: a filosófica, na

qual tem-se Bergson como maior expoente, que a define como uma percepção simultânea de

objetos cuja origem está na consciência vital; a psicológica, com Jung, definindo-a como uma

percepção inconsciente; e a administrativa, que a denomina como uma faculdade humana capaz

de permitir o alcance dos objetivos de eficiência e eficácia por meio da subversão da estrutura

lógica que sustenta as teorias e os modelos de decisão dominantes, sendo a intuição um

componente do processo decisório e da tomada de decisão gerencial. Procurou-se argumentar que

não se pode dissociar o aspecto racional, nem se negligenciar o aspecto intuitivo na

Administração: o equilíbrio entre ambos se faz necessário.

Os resultados de estudos sobre intuição dos autores mencionados no capítulo dois revelam

a importância da intuição na cultura gerencial, embora se encontrem muitas resistências e

restrições quanto ao seu uso ou à sua manifestação explícita.

Evidenciou-se que a racionalidade instrumental é a forma de legitimização da sociedade

vigente e a mantenedora do pensamento centralizado na lógica do mercado, caracterizado pelo

imediatismo e pelo utilitarismo.

Foi discutido que as escolas de administração pouco promovem uma aprendizagem

emancipadora dos discentes, pois se baseia na ciência positivista e na racionalidade funcional,

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81

afastando-se da plena capacitação individual, que poderia ser proporcionada pelo incremento de

habilidades e ensino mais subjetivos, pela racionalidade substantiva, tendo em vista o dinamismo

social descontínuo e complexo.

A partir da pesquisa de campo levada a efeito e até onde os dados coletados permitiram

inferir, algumas conclusões foram admitidas.

A primeira conclusão que se pode alcançar é que a intuição é um importante componente

nos processos decisórios e faz parte da atividade administrativa, uma vez que 66% dos

professores acreditam que a intuição está presente na tomada de decisão.

A segunda conclusão permite inferir que a racionalidade funcional oblitera a subjetividade

e esboroa a racionalidade substantiva, tão necessária para novos conhecimentos e outras formas

de pensar, arraigada que está, na formação acadêmica do administrador.

Conclui-se, da terceira questão proposta na pesquisa de campo, que há a necessidade de se

introduzir no ensino administrativo a intuição de maneira mais clara, seja por meio de uma

disciplina mais específica que trate do tema, seja por outros mecanismos mais lapidares.

Diante das três respostas obtidas das questões fechadas, argumenta-se que a intuição faz

parte da tomada de decisão, mas a racionalidade instrumental é uma prímula que pouco permite o

seu desenvolvimento na academia. No presente momento, a intuição é apenas um indicador da

possibilidade de se sair de uma visão positivista para uma visão mais subjetiva, mais generalista,

implicando, talvez, num futuro próximo, em uma intervenção social mais contundente.

Ao se confrontar os resultados obtidos dos questionários aplicados aos professores da

EBAPE/FGV com o referencial teórico que deu suporte à investigação, constata-se que embora

os docentes acreditem que a intuição seja um importante componente da decisão administrativa,

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seu desenvolvimento não está presente na formação acadêmica do administrador, e, para aqueles

que acreditam que esteja, o contexto de sua manifestação está enviesado, muito provavelmente,

pela racionalidade instrumental que permeia o ensino administrativo. A manifestação da intuição

é tímida e incipiente.

O desenvolvimento da intuição está presente na formação acadêmica do administrador?

Ficou evidenciado que não. Tanto pelas críticas que são apresentadas no arcabouço teórico que

sustenta esta dissertação quanto pela opinião da maioria dos professores respondentes à pesquisa

realizada. Acredita-se que ela pode ser desenvolvida com a gradual substituição da racionalidade

instrumental pela racionalidade substantiva, por meio de disciplinas que contemplem a

subjetividade tão necessária ao ensino na Administração.

A primeira suposição foi confirmada, seja por meio do referencial teórico, seja por meio

do questionário aplicado. Não se pode pensar em novos conhecimentos sem se afastar da

racionalidade instrumental. Se a academia tem plena consciência que a racionalidade

instrumental permeia a formação acadêmica, é chegado o momento de confrontá-la. Deve-se

anelar novos ares e ser menos cautelosos.

A segunda suposição requer uma maior pormenorização. A intuição faz parte da tomada

de decisão. O referencial teórico e as pesquisas dos autores mencionados e a desta dissertação

comprovam tal fato. A negligência está no fato de não explicitarmos que a usamos, talvez, por

estarmos inseridos numa sociedade positivista e numa (de)formação acadêmica que não a

privilegie de maneira mais contundente.

Assim, temos um paradoxo na segunda suposição: enquanto tomou-se conhecimento que

as decisões são baseadas tanto na intuição quanto na razão, ou seja, a intuição não é

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negligenciada nas tomadas de decisão, tal uso não consegue ter respaldo na formação acadêmica

do administrador. Provavelmente, as estruturas cognitivas que nos transpassam, não permitem se

chegar ao seu real significado e ao contexto de seu uso.

A terceira suposição já foi tratada anteriormente. Constatou-se que a intuição não está

presente na formação acadêmica do administrador, e, quando se acredita que esteja, tal

desenvolvimento é por demais tênue.

Se as escolas administrativas “perderam o rumo”, talvez este deva ser recuperado, em

princípio, por meio de uma maior comunicação da academia com o meio externo (formandos e

demais instituições). Na medida em que as escolas de administração proporcionarem aos seus

estudantes novas formas de conhecimento, o gap entre a teoria e a prática será diminuído. Pode-

se inferir que a intuição é uma importante ferramenta para a construção de uma ponte entre as

empresas e a academia: a leitura dos interesses do jogo de poderes dos sistemas educacionais e

empresariais passa, necessariamente, pela intuição. Não obstante, cabe o alerta: enquanto nas

empresas busca-se o imediatismo e o utilitarismo, na academia a construção do conhecimento é

em longo prazo. Essa dicotomia precisa ser mais discutida, até mesmo, para que sejam

promovidas novas formas de aprendizagem e de ensino.

Na trilha de uma demanda de revisões conceituais, a Administração não deve se furtar de

pensar sobre outros caminhos, pois, sem dúvida, pensar é um devir coletivo onde homens e

objetos formam uma amálgama. Mesmo que os administradores tenham todo o tempo e espaço

para acessar qualquer tipo de informação relevante, eles precisam refletir sobre seus atos. O

passado é imutável e o futuro será criado pelo impacto das decisões aceitas e colocadas em

prática no presente.

Page 84: Dissertação Renato de Castilho Gomides

84

Os povos antigos falavam que as novas idéias não eram reveladas a um homem, enquanto

este não demonstrasse estar suficientemente preparado para recebê-las. Eles sabiam que para que

cada nova idéia fosse recebida se exigia uma preparação especial, compreendendo que uma idéia

apreendida de passagem, poderia facilmente ser vista a uma luz errônea ou recebida de maneira

equivocada.

Considerando esse pensar, a proposta desta dissertação foi a de promover uma reflexão

sobre a possibilidade de novas formas de conhecimento e de ensino administrativo. A prática

administrativa está embasada nos princípios da racionalidade e, atualmente, diante das demandas

de mudança, se abrem possibilidades para que as antigas formas de pensar – e ensinar – sejam

modificadas. As soluções que serão adotadas requerem muito mais do que o conteúdo bruto dos

dados, o humor do momento e a maneira pela qual são apresentados os problemas.

O conhecimento racional tomado apriorísticamente é vicioso, pois lhe falta o mais

profundo papel criador, que só se alcança pela intuição, ao desvelar súbita e instantaneamente

uma possibilidade, uma descoberta, que aclara e torna compreensível o que não nos parecia

iluminado.

Assim, o processo intelectual em si prevê um misto de atividades subjetivas e objetivas,

caracterizando uma situação dialética. Às vezes, a ansiedade gerada por um sistema dialético

tende a privilegiar a idéia confeccionada em detrimento da idéia estudada: ficar atento para essa

tendência é necessário.

Por outro lado, o termo intuição assim como qualquer termo da linguagem humana tem o

inconveniente de empobrecer e deformar, singularmente, a realização que representa, e para

designar um conceito novo, apesar de definir estritamente o sentido e delimitar rigorosamente o

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85

seu uso, sempre produz uma espécie de ressonância dos significados ou das antigas acepções da

palavra, e a maioria dos indivíduos logo reduz o termo ao seu significado comum. Opta-se pelo

confeccionado ao invés do estudado. O sentido de um termo se define quase sempre pelo uso que

se faz dele, do mesmo modo que o alcance de um método se manifesta, não pela definição que

lhe é dada, mas pela aplicação que dele são feitas. É, portanto, contrário a todas as regras da

lógica e da razão fazer um juízo de um método intuitivo sem antes ter estudado suas aplicações.

Geralmente, se define intuição como um processo místico, irracional, ilógico, e que

escapa a todo controle. A intuição é, então, reduzida a algo dependente da própria palavra que a

designa e que é tomada em seu sentido ordinário. Ela é vista com um caráter de adivinhação

instintiva, de pressentimento vago, e, principalmente, carente de razão definida. Tal situação está

distante da investigação necessária para que se incorpore ou se rejeite um termo técnico referente

a uma determinada ciência, arte ou habilidade prática. Porque se a palavra ainda não é usada,

enquanto termo cientificamente aceitável, o procedimento para avaliá-la deverá sê-lo.

A intuição não rejeita o processo intelectual, muito pelo contrário, pois ela se encontra

associada à atividade subjetiva deste mesmo processo. Nessa perspectiva, ela também é

responsável pelo aperfeiçoamento do processo intelectual, do raciocinar, sobretudo na sua

dimensão qualitativa.

Uma Administração de melhor qualidade seria aquela que consideraria a intuição tanto

quanto outros referenciais no processo decisório. Aqui, a intuição é vista como um nível mais

profundo de consciência que pode favorecer o acesso a outra maneira de pensar e de ordenar as

informações recebidas, estando mais próxima da apreensão, enquanto um processo que vem de

dentro, a partir do inconsciente para o consciente. O aperfeiçoamento da intuição favoreceria a

Page 86: Dissertação Renato de Castilho Gomides

86

criatividade, assim como uma melhor integração entre a dinâmica interna do sujeito e a dinâmica

externa do ambiente.

A formação acadêmica do administrador precisa expandir e aperfeiçoar a atividade de

pesquisa para que possa enfrentar a crise que se apresenta não como uma oportunidade de

promover reformas que sejam apenas aparentes e sem coerência com a sua essência, mas, sim,

que lhe permitam experimentar uma nova direção que signifique de fato um amadurecimento e

evolução de conteúdo.

É interessante que um repensar sobre a formação acadêmica do administrador faça parte

deste movimento de pesquisa. A intuição é uma personagem deste cenário e torna-se pertinente

considerá-la em atuação. Os resultados da restrita pesquisa de campo realizada nesta dissertação

assinalaram que a intuição está presente na terminologia empregada pelos professores da

instituição de ensino estudada.

Kant, em sua obra Crítica da razão pura, lembrou que pensamentos sem conteúdo são

vazios e intuições sem conceitos são cegos, será, talvez, pertinente para todos os atores

envolvidos no ensino de Administração, na atual época de transição, praticar uma construção do

sábio pensar.

O Brasil, assim como a construção do conhecimento administrativo brasileiro, está em

formação. Talvez, por isso, tem-se uma visão otimista: temos tempo para efetuar uma mudança,

pois se acredita que o atual problema brasileiro seja, fundamentalmente, de gestão, o que implica

dizer que um ensino forte gerará um país forte.

Cabe ser realizada a pergunta: quem nós somos e quem gostaríamos de ser? Nenhuma

atividade humana terá sucesso se não estiver voltada para os anseios e as necessidades da

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87

sociedade. Se quisermos que a produção científica em gestão seja relevante, devemos abandonar

o status quo e promover novos conhecimentos, entre eles a intuição.

Estamos preparados para esse novo caminho?

5.2 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES

Por ser um tema tão controverso, no decorrer do desenvolvimento da dissertação foi-se

descobrindo a enormidade de outros assuntos relacionados com a pesquisa.

Um trabalho de pesquisa não se esgota em si mesmo. Além de procurar responder a um

questionamento, abre-se espaço para outros trabalhos e estudos.

Esta dissertação está inserida nesse contexto. As limitações impostas ao autor desta

dissertação impediram a exploração de outras dimensões relevantes ao objeto do estudo. Várias

lacunas se apresentaram, mas não puderam ser devidamente preenchidas. A realização de

entrevistas ao invés da aplicação de questionários bem como um maior alcance do universo da

pesquisa em outras instituições de ensino podem enriquecer ainda mais o estudo ora

empreendido.

Nesse contexto, vislumbram-se algumas sugestões e recomendações para futuras

pesquisas:

• O fator risco na tomada de decisão influencia o uso da intuição e da razão?

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• Devem-se construir novas teorias com valor mais preditivo sobre a interação entre

a intuição e a razão nas decisões e julgamentos humanos?

• Por que existe o gap entre a teoria e a prática acadêmica? Qual seria o atalho entre

esses dois mundos e quais seriam as outras formas de construção do conhecimento

acadêmico?

• A formação dos estudantes em administração atende ao mercado de trabalho?

Esta dissertação, bem como as questões sugeridas, sinalizam para a possibilidade de

trilhar caminhos ainda não esclarecidos. Outras possibilidades de estudo certamente foram

percebidas pelo leitor. Espera-se que essas possibilidades despertem no estudioso a paixão que a

pesquisa trouxe ao autor desta dissertação.

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APÊNDICE – QUESTIONÁRIO APLICADO

Senhor(a) Professor(a):

Nas últimas décadas, foi edificada no campo da Administração uma impressionante estrutura de

conhecimentos, a qual foi auxiliada pelo advento da informática e pelo desenvolvimento de

diversas disciplinas.

Entretanto, há uma forte percepção de que a ciência positivista e a tecnologia não são tudo:

existem diversos fenômenos que aguardam uma explicação satisfatória, fora do domínio das

teorias/práticas racionais, dentre eles o papel desempenhado pela Intuição.

É neste contexto que o mestrando Renato de Castilho Gomides, sob orientação da professora

Sylvia Constant Vergara, desenvolverá sua dissertação que tem como título: “A intuição na

formação acadêmica do administrador”.

Como parte do esforço acadêmico, foi elaborado um questionário para colher respostas dos(as)

professores(as) da EBAPE/Fundação Getulio Vargas, instituição que representa uma elite

acadêmica estratégica no ensino superior brasileiro.

Ficaremos gratos se V.Sa. puder reservar um pouco do seu valioso tempo para preencher o

questionário. A sua cooperação para esse esforço significará uma importante contribuição para o

avanço da teoria e da prática da Administração.

Assim, esperamos, sinceramente, que V.Sa. dê a este questionário a importância e a urgência que

ele merece.

Cordialmente,

Renato de Castilho Gomides.

Mestrando em Administração Pública.

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Instruções para o preenchimento:

1. Favor responder as questões na mesma seqüência em que elas são apresentadas;

2. Não há respostas certas ou erradas. Sinta-se livre para registrar suas palavras só com base

nas suas percepções;

3. Sugestões/Observações serão sempre bem-vindas. Solicita-se que as faça no final do

questionário.

1- Na sua opinião, o que é intuição?

2- As decisões administrativas são tomadas com base:

a) Mais pela lógica/raciocínio;

b) Mais pela intuição;

c) Por ambas, em quase igual proporção.

3- A formação acadêmica do administrador se baseia mais pela racionalidade

instrumental?

a) Sim;

b) Não.

4- O desenvolvimento da intuição está presente na formação acadêmica do

administrador?

a) Sim;

b) Não.

5- Caso a resposta anterior seja positiva, como ela se manifesta no contexto

acadêmico?

6- Sugestões/Observações julgadas relevantes.

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ANEXO A – RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 300 DO CFA

Publicada no D.O.U. n.º 11, de 17/01/2005, Seção 1 – Página 105 RESOLUÇÃO NORMATIVA CFA Nº 300, DE 10 DE JANEIRO DE 2005 Dispõe sobre o registro profissional de Coordenador de Curso de Administração (Bacharelado), e dá outras providências. O CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO, no uso da competência que lhe conferem a Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965, o Regulamento aprovado pelo Decreto nº 61.934, de 22 de dezembro de 1967, e seu Regimento, aprovado pela Resolução Normativa CFA nº 298, de 8 de dezembro de 2004; CONSIDERANDO que se constitui em uma das finalidades do CFA orientar e disciplinar o exercício da profissão de Administrador, nos termos da alínea “b” do art. 7º da Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965; CONSIDERANDO que o art. 3º, alínea “e”, do Regulamento aprovado pelo Decreto 61.934, destina como atividade privativa do Administrador o magistério em matérias técnicas do campo da Administração e Organização; CONSIDERANDO as disposições da Resolução n° 1, de 2 de fevereiro de 2004, do Ministério da Educação, instituindo as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Administração (Bacharelado), que em seu art. 5°, inciso II, define os Conteúdos de Formação Profissional; CONSIDERANDO, finalmente, a decisão do Plenário do CFA na sua 20ª reunião, realizada no dia 9 de dezembro de 2004, RESOLVE: Art. 1º Só poderá exercer as atribuições do cargo de Coordenador de Curso de Administração (Bacharelado) o Administrador com registro profissional em Conselho Regional de Administração. Art. 2º A falta do registro torna ilegal, punível, o exercício do cargo a que se refere o artigo anterior, nos termos dos arts. 14 da Lei nº 4.769 e 51 do Regulamento aprovado pelo Decreto n° 61.934.

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Art. 3º O Conselho Regional de Administração, conforme lhe faculta o art. 8º, alínea “b”, da Lei nº 4.769, poderá solicitar da Instituição de Ensino Superior as informações necessárias para a comprovação da habilitação legal do Coordenador de Curso de Administração (Bacharelado). Art. 4° Esta Resolução Normativa entrará em vigor na data de sua publicação.

Adm. Rui Otávio Bernardes de Andrade

Presidente

CRA/RJ Nº 0104720-5

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ANEXO B – RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 301 DO CFA

Publicada no D.O.U. n.º 11, de 17/01/2005, Seção 1 – Página 105 RESOLUÇÃO NORMATIVA CFA Nº 301, DE 10 DE JANEIRO DE 2005 Dispõe sobre o registro profissional de Professor que leciona matérias técnicas dos campos da Administração e Organização nos cursos de Graduação (Bacharelado), e dá outras providências. O CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO, no uso da competência que lhe conferem a Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965, o Regulamento aprovado pelo Decreto nº 61.934, de 22 de dezembro de 196, e o seu Regimento, aprovado pela Resolução Normativa CFA nº 298, de 8 de dezembro de 2004; CONSIDERANDO que se constitui em uma das finalidades do CFA orientar e disciplinar o exercício da profissão de Administrador, nos termos da alínea “b” do art. 7º da Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965; CONSIDERANDO que o art. 3º, alínea “e”, do Regulamento aprovado pelo Decreto 61.934, destina como atividade privativa do Administrador o magistério em matérias técnicas do campo da Administração e Organização; CONSIDERANDO as disposições da Resolução n° 1, de 2 de fevereiro de 2004, do Ministério da Educação, instituindo as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Administração (Bacharelado), que em seu art. 5°, inciso II, define os Conteúdos de Formação Profissional; CONSIDERANDO, finalmente, a decisão do Plenário do CFA na sua 20ª reunião, realizada no dia 9 de dezembro de 2004, RESOLVE: Art. 1º Cabe ao Administrador exercer o magistério das matérias técnicas dos campos da Administração e Organização, existentes nos currículos dos Cursos de Graduação (Bacharelado), tanto em Administração como em currículos de cursos referentes a outros campos do conhecimento, nos termos do art. 2°, alínea “b”, da Lei n° 4.769, combinado com a Resolução nº 1, de 2 de fevereiro de 2004, do Ministério da Educação, relacionadas com as áreas específicas e que envolvam teorias da administração e das organizações e a administração de recursos humanos, mercadologia e marketing, materiais, produção e logística, administração financeira e orçamentária, sistemas de informações, planejamento estratégico e serviços.

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Art. 2º A falta do registro torna ilegal, punível, o exercício do cargo a que se refere o artigo anterior, nos termos dos arts. 14 da Lei n 4.769 e 51 do Regulamento aprovado pelo Decreto n° 61.934. Art. 3º O Conselho Regional de Administração poderá solicitar da Instituição de Ensino Superior as ementas e os programas, objetivando a identificação das matérias com aquelas previstas no art. 1° desta Resolução Normativa, conforme lhe faculta o art. 8º, alínea “b”, da Lei nº 4.769. Art. 4° Esta Resolução Normativa entrará em vigor na data de sua publicação.

Adm. Rui Otávio Bernardes de Andrade

Presidente

CRA/RJ Nº 0104720-5