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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA Distribuição das microlagoas intermitentes no Conjunto Jardim Cidade Verde, no Bairro de Mangabeira, na cidade de João Pessoa-PB Elvis de Almeida Jácome JOÃO PESSOA 2006

Distribuição das microlagoas intermitentes no Conjunto ...paulorosa/gema/images/stories/monografias/... · Ao Prof. Paulo Rosa, pela indicação e incentivo para ... Água que nasce

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

Distribuição das microlagoas intermitentes no Conjunto Jardim Cidade Verde, no Bairro de

Mangabeira, na cidade de João Pessoa-PB Elvis de Almeida Jácome

JOÃO PESSOA 2006

Elvis de Almeida Jácome

Distribuição das microlagoas intermitentes no Conjunto Jardim Cidade Verde, no Bairro de

Mangabeira, na cidade de João Pessoa-PB

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba como requisito para obtenção grau de bacharel em Geografia.

Orientador Paulo Roberto de Oliveira Rosa

Co-orientador

Maria Odete Teixeira do Nascimento

João Pessoa Julho/2006

Autor

JÁCOME, Elvis de Almeida.

Ficha catalográfica (fazer na biblioteca central)

Elvis de Almeida Jácome

Distribuição das microlagoas intermitentes no Conjunto Jardim Cidade Verde, no Bairro de Mangabeira, na

cidade de João Pessoa-PB

Monografia aprovada pelo Curso de Graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba como requisito para obtenção grau de bacharel em Geografia pela seguinte banca examinadora:

__________________________________________ .Ms. Paulo Roberto de Oliveira Rosa

__________________________________________________

Ms. Maria José Vicente de Barros

________________________________________________________ Dr. Rômulo Paz Silveira

João Pessoa - PB,____/____/2006

A meus pais Elias e Lúcia que

sempre me apoiaram em todas

decisões tomadas em minha vida, e

a meus irmãos, Elias e Elis, que

embora tendo nossas discordâncias

permanecemos sempre unidos,

demonstrando o grande valor

significativo de uma família, com

amor, dedico.

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Agradecimentos

A Deus, pela presença em cada parte da minha vida e por me guiar em todas as

decisões que tomei conduzindo-me sempre para o melhor caminho;

Ao Prof. Paulo Rosa, pela indicação e incentivo para que realizasse essa pesquisa,

quando ainda estava indeciso sobre o que fazer na monografia, bem como pela orientação e

contribuições que foram importantes para a realização deste trabalho;

A Odete pelas contribuições na revisão e formatação do trabalho;

A Professores Rômulo Paz e Maria Barros, por terem aceitado fazer parte da banca

avaliadora;

A Rany pela companhia nas minhas idas e vindas à Universidade;

A Cunha, Pablo, Conrad, Liése, Maria, Ana Claúdia, Janaína, Ivonaldo, Anísio,

Michel e Allison, Liése e Marcel equipe que contribui, seja em coleta de campo ou em

discussões acerca do trabalho;

A minha família e meus amigos pela compreensão da minha ausência durante o

período em que estava trabalhando para conclusão deste trabalho;

Enfim a todos os colegas de curso, pela amizade, apoio, alegrias, tristezas e frustrações

compartilhadas durante o curso.

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Planeta Água

Água que nasce na fonte serena do mundo

E que abre um profundo grotão Água que faz inocente riacho e deságua na corrente do ribeirão

Águas escuras dos rios que levam a fertilidade ao sertão Águas que banham aldeias e matam a sede da população

Águas que caem das pedras no véu das cascatas, ronco de trovão E depois dormem tranqüilas no leito dos lagos, no leito dos lagos Água dos igarapés, onde Iara, a mãe d'água é misteriosa canção

Água que o sol evapora, pro céu vai embora, virar nuvens de algodão

Gotas de água da chuva, alegre arco-íris sobre a plantação Gotas de água da chuva, tão tristes, são lágrimas na inundação

Águas que movem moinhos são as mesmas águas que encharcam o chão

E sempre voltam humildes pro fundo da terra, pro fundo da terra

Terra, planeta água Terra, planeta água Terra, planeta água

Água que nasce na fonte serena do mundo

E que abre um profundo grotão Água que faz inocente riacho e deságua na corrente do ribeirão

Águas escuras dos rios que levam a fertilidade ao sertão Águas que banham aldeias e matam a sede da população

Águas que movem moinhos são as mesmas águas que encharcam o chão

E sempre voltam humildes pro fundo da terra, pro fundo da terra

Terra, planeta água Terra, planeta água Terra, planeta água

(Planeta Água – Guilherme Arantes)

Resumo

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Os problemas ocasionados por inundações nas grandes cidades vêm se tornando cada vez mais constantes devido a uma série de fatores, ocasionando grandes transtornos para a população residente nessas áreas. O objetivo desse trabalho foi verificar os pontos de alagamento no Conjunto Jardim Cidade Verde na cidade de João Pessoa-PB. Para tanto o trabalho foi dividido em etapas, onde consta trabalho de gabinete utilizando material cartográfico e trabalho de campo onde foram conferidas algumas informações e localizadas as áreas de ocorrência de inundação. O bairro Jardim Cidade Verde é recente e ocupa uma área no relevo referente aos Baixos Planaltos Costeiros sobre a litologia do Grupo Barreiras. A vegetação que recobre essa área é regionalmente denominada de “tabuleiro” que foi aos poucos sendo retirada para diversos fins e no local foi instalado o conjunto residencial do tipo popular. No tocante às precipitações pluviais que se abatem sobre o litoral paraibano são em alguns momentos de alta magnitude, ocorrendo principalmente no período de inverno, podendo apresentar volumes superiores a 30 mm em menos de 30 minutos. As implantações das edificações referentes às residências proporcionaram a impermeabilização na área edificada forçando a concentração da água oriunda da precipitação a escoar pelos drenos, o que acaba por acarretar a saturação na camada edáfica, e quando ocorre essa saturação a água fica acumulada na superfície principalmente nas vias de circulação que embora não estejam pavimentadas, possuem um alto grau de compactação. Nessas vias existem pontos mais frágeis, que em decorrência do tráfego de veículos formam uma leve depressão compactada. Nesse sentido, com as precipitações sobre essas depressões, que já estão compactadas pelo tráfego estabelecido, elas acabam por acumular água e assim transformam-se em micro-lagoas intermitentes, distribuídas de forma mais adensadas nas vias secundárias, exatamente nas áreas residenciais. O efeito dessas micro-lagoas na vida da população do bairro resulta na diminuição da qualidade de vida, pois além do transtorno das águas empossadas há também um forte nicho para a propagação das colônias de insetos vetores de doenças.

14

Lista de Figuras Figura 01: Localização da Área de Estudo e Microlagoas................................................... 15

Figura 02: Croqui de localização do polígono onde estão concentradas as Microlagoas.... 16

Figura 03: Coleta de dados da batimetria............................................................................. 17

Figura 04: Desenho da Batimetria........................................................................................ 17

Figura 05: Desenho do Infiltrômetro.................................................................................... 18

Figura 06: Microlagoa após um intervalo de dias sem recarga pluvial................................ 19

Figura 07: Imagem da Microlagoa....................................................................................... 20

Figura 08: Batimetria da Microlagoa.................................................................................... 20

Figura 09: Perfil da Microlagoa............................................................................................ 20

Figura 10: Desenho da área das Microlagoas no relevo....................................................... 21

Figura 11: Gráfico de Precipitação....................................................................................... 21

Figura 12: Gráfico do Infiltrômetro...................................................................................... 22

Figura 13: Vale do Riacho Sonhava..................................................................................... 23

Figura 14: Riacho Cabelo.................................................................................................... 23

Figura 15: Transtornos gerados pela permanência das microlagoas.................................... 23

Figura 16: Transtornos gerados pela permanência das microlagoas.................................... 23

Figura 17: Transtornos gerados pela permanência das microlagoas................................... 23

15

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................................

10

REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL.................................................................... 11

MÉTODOS E TÉCNICAS................................................................................................... 15

RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................... 19

CONSIDERAÇÕES ........................................................................................................... 23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................. 25

16

Introdução

Os problemas ocasionados por inundações nas grandes cidades vêm se tornando

cada vez mais constantes devido a uma série de fatores, ocasionando grandes transtornos para

a população residente nessas áreas. O Conjunto Jardim Cidade Verde em João Pessoa-PB é

recente, fazendo parte da extensão do Bairro de Mangabeira, no que diz respeito a expansão

urbana da cidade na direção sul, e ocupa uma área no relevo referente aos Baixos Planaltos

Costeiros sobre a litologia do Grupo Barreiras. No que se refere ao solo dessa área, a camada

edáfica é constituída especificamente de material sedimentar. Esse pacote litológico é

constituído de sedimentos variados com aproximadamente 50 metros de profundidade

chegando até a camada do calcário. Inicialmente a área era ocupada por uma vegetação

savanóide, tipo cerrado com forte presença de mangabeiras. Essa vegetação regionalmente

denominada de “vegetação de tabuleiro” foi aos poucos sendo retirada para diversos fins e no

local ocorreu a instalação do conjunto residencial do tipo popular.

A Compactação do solo provocada pelo tráfego sobre as vias de circulação ainda

não pavimentadas molda em vários pontos o formato do relevo. Essa compactação, somada às

características do solo com sedimentos variados, torna-se responsável por dificultar a

infiltração da água derivada das precipitações no solo. Desta forma se observa que as áreas

susceptíveis à inundação estão localizadas entre as cotas 35 e 40 m, numa vertente de

extensão relativamente ampla e assim acaba por permitir a acumulação das águas das chuvas.

Esse relevo, a partir da elevada precipitação, propicia a formação das microlagoas

intermitentes dispostas nas vias de circulação do bairro. Desta maneira é possível verificar

que apenas estarão dispostas à formação dessas microlagoas as áreas em que recebem um

fluxo pluviométrico superior a 5 mm por 30”.

O tempo de permanência dessas microlagoas e as densidades delas em relação ao

Conjunto Jardim Cidade Verde são fatores que colaboram para o surgimento de problemas

relacionados ao acúmulo de água parada e aos transtornos dessa água nas vias de tráfego,

transforma-se num berçário para a proliferação de insetos, o que inevitavelmente diminui de

forma acentuada a qualidade de vida das pessoas que vivem no entorno desses ambientes.

Desta forma o objetivo desse trabalho foi verificar a distribuição dos pontos de alagamento,

doravante considerados como microlagoas intermitentes no Conjunto Jardim Cidade Verde na

cidade de João Pessoa - PB

17

Referencial Teórico-Conceitual

A originalidade de um trabalho pode estar inserida num fato considerado banal.

Neste sentido, Olivier Dolfuss (1973, p.56) nos expõe que “Entre as formas existe, portanto,

uma banalidade cuja análise apresenta tanto interesse quanto à de sua singularidade”. Em se

tratando de singularidade essa se apresenta em fenômenos que ocorrem pontualmente num

dado espaço. O autor ainda considera que a banalidade das formas pode ser encarada sob um

duplo aspecto, podendo ser consideradas “banais na medida da freqüência com que aparecem

distribuídas sobre a superfície do mundo... ou são banais quando representativas de uma

paisagem determinada” (idem).

A partir desta conceituação partimos para a investigação do fenômeno nas áreas

que alagam no do Conjunto Jardim Cidade Verde em João Pessoa na Paraíba e que passamos

a considerar esses estoques d’água que acabam por recarregar o lençol freático como sendo

microlagoas intermitentes, pois são áreas relativamente extensas e que não infiltram no solo

com a devida rapidez dada às características do substrato sedimentar, e por outro lado devido

à ação do intemperismo físico que não se mostra tão atuante como é o caso do vento como

agente mecânico na evaporação real. Esses fatores nos levaram a considerar que a áreas que

ficam alagadas por vários dias, possam assim ser denominadas de microlagoas intermitentes,

pois somente ocorrem em períodos de precipitação pluviométrica.

Para trabalhar a questão de microlagoas partimos do conceito de lagoa, empregado

por Guerra o qual define como “depressão de formas variadas... tendendo a formas

circulares... de profundidades pequenas e cheia de água doce ou salgada”. E frisa ainda esse

autor que a questão da intermitência de alguns casos onde descreve a questão de que “algumas

lagoas são temporárias e existem apenas na estação das águas” (1987, p.253) podendo ser de

tamanho e profundidade variados.

Apesar de não ser mais referência em trabalhos geográficos, atentou-se para a

relação do fenômeno com um dos os princípios da Geografia postulados por De Martonne na

obra Tratado de Geografia e Jean Brunhes em Geografia Humana. Por isso ao delimitarmos a

área de estudo nos reportamos à questão do princípio de extensão, postulado por Ratzel,

onde “se procura determinar sua área de extensão”.

A existência das microlagoas no conjunto Jardim Cidade Verde não ocorre de

forma isolada existem outros elementos que influenciam, tendo desta forma relevâncias em

18

diversos outros lugares no mundo, e nos remetem ao que Hitter e Vidal de La Blache tratam

sobre o princípio da geografia geral, de forma que “O estudo geográfico de um fenômeno

implica a preocupação constante dos fenômenos análogos que podem apresentar-se em outros

pontos do globo” (De Martonne, 1953, p.18).

Na busca pela compreensão desse fenômeno é conveniente acrescentar o que

Humboldt esclarece sobre “o principio de a causalidade onde faz referência que o geógrafo

“nunca deve se contentar com o exame de um fenômeno sem tentar remontar as causas que

determinam a sua extensão e procurar as suas conseqüências...” (idem). Dessa forma pode-se

elencar que as precipitações aliadas às ruas sem pavimentação favorecem a existência de

pontos de alagamentos.

Para a compreensão da integração das unidades do ambiente na interação do

fenômeno das microlagoas partimos do conceito de sistemas o qual se refere David Drew

(1986) que considera como sendo “um conjunto de componentes ligados por fluxos de energia

e funcionando como uma unidade”. Posto isto então podemos inferir que a classificação dos

componentes que envolvem o fenômeno das microlagoas intermitentes em um sistema aberto,

já que ele opera de forma a realizar transferências de energia.

Desta forma então é necessário conhecer o funcionamento desse sistema

observando os fatores que se interligam e influenciam na sua evolução, assim no “decorrer do

estudo do circuito da água sobre uma determinada porção da superfície terrestre, terá de

observar a importância das precipitações, seu ritmo, freqüência e intensidade”. (Dolfuss,

1973, p.64). Portanto a quantificação do fenômeno das microlagoas intermitentes lançou-se

mão de conceitos como Densidade e Intensidade de Dolfuss, onde trata a questão da

densidade como “o conhecimento da carga de uma população por uma unidade de superfície

tomada como referência”.(idem, p.95) e da intensidade como sendo o “grau de força, de

atividade ou de potência de um fenômeno ou de um processo que se exprime por unidade de

tempo e de superfície” (idem, ibidem).

Segundo Drew, “Todos os sistemas naturais possuem um elo fraco na cadeia de

causa e efeito: um ponto em que o mínimo acréscimo de tensão (ímpeto de mudar) trás

consigo alterações no conjunto do sistema” (Drew, 1983, p.26) Desta forma então entendemos

a fragilidade que um ambiente possui na questão da fácil alteração de seu estado, após uma

mudança ou interferência ligada a um determinado fator.

No que se refere às alterações dos solos David Drew relata que “Os solos vivem

em equilíbrio dinâmico com os fatores que determinam as suas características: o clima, os

materiais de origem, a topografia, a biota e o tempo. Qualquer mudança em uma dessas

19

variantes afetará o solo” (1983, p.45), que nos remete ao caso de desestabilização de um

sistema exemplificado pelo caso das trilhas por pedestres que ocasionam a compactação do

solo, excedendo sua capacidade de recuperação, desestabilizando desta forma o sistema, que

nos leva a compreender o que vem ocorrendo com a intervenção humana no contexto espacial

das vias de circulação do conjunto Jardim Cidade Verde ligados ao fenômeno das

microlagoas.

Levando em consideração o processo de compactação do solo, para a compreensão

do trabalho, se faz necessário nos remetermos a questão da infiltração da água no solo, a qual

Segundo Guerra relata que “a Infiltração é o movimento da água dentro do solo [...]

considerando que a viagem da água sobre a superfície é mais rápida, tornando-se cada vez

mais lenta em profundidade” dessa forma facilitando o seu acúmulo sobre a superfície.

Com base em Carvalho, pudemos verificar que a área de estudo situa-se sobre o

compartimento geomorfológico denominado de Baixo Planalto Costeiro, o qual junto com as

planícies aluviais e algumas chapadas, pois estas

constituem as formas modeladas em terrenos sedimentares de origem continental que aparecem no Setor Oriental Úmido e Subúmido”. Sua formação provém da “deposição levada a efeito no Terciário, depois do Oligoceno e até o Pleistoceno médio, a partir da erosão do material desagregado do Maciço da Borborema, em fases repetidas de resistasia, constitui, geologicamente o Grupo Barreiras, que repousa sobre o pré-cambriano ou sobre o Cretáceo.

(Carvalho,1982,p.26) De acordo com Carvalho, foi possível observar que inicialmente a área era

ocupada por uma “vegetação herbáceo-arbustiva, o cerrado, regionalmente conhecida como

‘tabuleiro’”. A vegetação de mata da área de estudo ao passar dos tempos aos poucos foi

sendo retirada para diversos fins e no local ocorreu a instalação do conjunto residencial do

tipo popular, o que Carvalho observara quando relatou uma

diminuição das áreas de mata com avanço das espécies de cerrado sobre elas, em vista do acentuado e contínuo desmatamento, que trás em conseqüência a degradação do solo e este, sem condições de auto-reconstituir-se, impede o desenvolvimento de uma vegetação de grande porte. (idem: p.30).

No tocante a constituição dos solos Guerra .(1994, p.114) nos põe que:

os solos são constituídos por milhões de partículas de diferentes composições mineralógicas e diversos tamanhos, entre cascalhos, areias, siltes ou argilas, parte das quais podem estar como grãos simples ou agregados por matéria

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orgânica ou argilas. Os espaços vazios entre as partículas de solos são chamados de poros e podem estar parcial ou totalmente preenchidos com água.

O que se refere respectivamente a solos não-saturados e saturados. Desta forma,

levando em consideração o processo de compactação do solo, e que para a compreensão do

trabalho, se faz necessário nos remetermos a questão da infiltração da água no solo, a qual

Segundo este mesmo autor (id:ibidem) relata que “a Infiltração é o movimento da água dentro

do solo [...] considerando que a viagem da água sobre a superfície é mais rápida, tornando-se

cada vez mais lenta em profundidade” dessa forma facilitando o seu acúmulo sobre a

superfície. Esse mesmo autor ainda aponta que:

a viagem da água sobre a superfície é mais rápida, tornando-se cada vez mais lenta em profundidade, pode-se dizer que os solos determinam o volume do escoamento da chuva, a sua distribuição temporal e as descargas-máximas, tanto em superfície como em subsuperficie. A água infiltrada e estocada no solo torna-se disponível a absorção pelas plantas e também ao retorno para a atmosfera por evapotranspiração. A água que não retorna a atmosfera recarrega o reservatório de água subsuperficial ou subterrânea. (Guerra, 1994, p.114)

21

Métodos e Técnicas

Para localizar e caracterizar a área de estudo se fez necessário a aquisição da

planta base da cidade de João Pessoa em meio digital, fornecida pela SEPLAN – Secretaria de

Planejamento, onde verificamos os limites do município, divisão de bairros e principais vias

de fluxo. Para apurar a distribuição e caracterização das microlagoas no conjunto Jardim

Cidade Verde fez-se necessário plotagem, para maior aproximação, dos pontos de alagamento

através de GPS de navegação - GARMIN III. Após a coleta dos pontos estes foram inseridos

na planta base da cidade de João Pessoa excluindo os diversos bairros que a formam deixando

apenas o bairro da área em questão, conforme pode ser observado na Figura 01.

Figura 01: Localização da Área de Estudo e Microlagoas Fonte da Imagem: Google Harth

Para um melhor aprofundamento a respeito da ocupação da área, responsável

pelos efeitos modeladores locais do relevo, se fez necessário a pesquisa em acervos

bibliográficos sobre o histórico da evolução e extensão do bairro de Mangabeira.

Para uma maior compreensão da área de atuação e extensão do fenômeno, e

inclusive para ampliar o conhecimento da geometria do relevo, foi necessária a visualização

do relevo, a partir da carta topográfica em escala 1:25000, enquadrando a área de estudo e a

sobreposição dos pontos plotados através de GPS na carta, nos possibilitando a observação da

localização do fenômeno e a direção de escoamento das águas (Figura 02).

16

Figura 02: Croqui de localização do polígono onde estão concentradas as Microlagoas.

17

Para a caracterização do fenômeno das microlagoas partimos do conceito de

lagoa citado por Guerra (idem), e por tratar-se de pontos de alagamento de maior proporção se

fez jus ao termo empregado de microlagoas intermitentes, já que o período de permanência

delas é temporário. No que se refere à forma, verificamos tal característica através da técnica

de batimetria que se refere à medição de uma área topologicamente submersa, e se dá no

trabalho através da coleta de pontos que circundam a área alagada medindo suas distâncias

através de trena e seus posicionamentos através de uma bússola.

Após essa etapa são colhidos novos

pontos, desta vez pontos internos na área

alagada, medindo a profundidade e distância

entre dois pontos circundantes da microlagoa

(Figura 03) Após esse trabalho vem à

transposição dos dados para o meio visual

através da montagem dos pontos circundantes e

interpolação dos dados de profundidade

adquiridos para a montagem da batimetria das

áreas alagadas. Para traçar as curvas de nível optamos pela montagem intervalar de 5cm

levando em conta que a profundidade delas em nenhuma das microlagoas trabalhadas

superava 50cm. A partir desta batimetria foi possível fazer a montagem do perfil topográfico

da lagoa que foi tomada como parâmetro para os demais pontos de alagamento (Figura 04).

Figura 04: Desenho da Batimetria

Figura 03: Coleta de dados da batimetria

18

Para verificar os períodos de maior concentração das microlagoas foi necessária

a aquisição de dados de precipitação referentes ao período de janeiro a maio de 2006. A coleta

de dados climáticos de precipitação realizou-se através de dados coletados apor meio de um

pluviômetro, fixo na estação analógica localizada no Laboratório de Energia Solar – LES na

UFPB, desta forma foi possível fazer uma análise dos dados coletados indicando os períodos

de maior probabilidade de ocorrer pontos de alagamento na área de estudo.

Para verificar o grau de compactação do solo na área das microlagoas, foi

utilizada a técnica de tradagem a partir de um trado modelo holandês, bem como a técnica de

teste de infiltração a partir de infiltrômetro artesanal construído com base na metodologia

proposta por Guerra (idem, ibidem) sendo utilizado para medir a taxa de infiltração de água

no solo, que nos permitiu medir a velocidade com que a água da chuva percola no solo,

durante um intervalo de tempo. O instrumento foi construído com um tubo de PVC graduado

de 15 cm de diâmetro e 30cm de altura, sendo utilizada apenas 15cm deste total, o qual foi

instalado a 10 cm acima do solo sendo enterrado 1/3 da sua capacidade que corresponde a

5cm e após enchê-lo com água se observou a altura desta a cada minuto, através de uma régua

graduada instalada no interior do infiltrômetro verificou-se a total infiltração da água. A

quantidade de água colocada no interior do instrumento foi devidamente calculada

proporcionalmente a capacidade do instrumento. Repetimos esse experimento em vários

pontos do conjunto para que nos possibilitassem fazer uma análise comparativa e entender

melhor os pontos de alagamento. Para a tabulação dos dados e a construção dos gráficos se

fez uso do programa excel (Figura 05).

Figura 5: Desenho do Infiltrômetro

19

Resultados e Discussão

O Conjunto Jardim Cidade Verde é oriundo da expansão urbana da cidade de João

Pessoa em direção sul, através do bairro Mangabeira que foi fundado em 1983, e tem como

objetivo resolver a problemática habitacional da população de baixa renda. Como o

crescimento populacional de Mangabeira não foi compatível com o numero de residências

existentes, além da formação de aglomerados subnormais, como citado na monografia de

Alessandra, o bairro tendeu a uma expansão em direção leste com a formação desse novo

conjunto denominado Jardim Cidade Verde.

Conforme foi verificado em campo, as microlagoas intermitentes são oriundas de

uma desatenção das autoridades no sentido de ocupar uma área de solo com sedimentos

variados, estando distribuídas por praticamente todas as ruas do conjunto, entretanto elas

possuem maior profundidade nas ruas principais, onde alcançam em média 40 cm. (Figura 06)

Figura 06: Microlagoa após um intervalo de dias sem recarga pluvial.

Através da Batmetria nos foi possível avaliar o comportamento das microlagoas

em seu caráter estrutural (forma), tendo todas elas apresentando forma côncava, sendo que o

direcionamento da água acumulada procurava um ponto mais frágil e aprofundada, do relevo

disposto que a abriga. (Fig 07, 08 e 09)

20

Figura 07: Imagem da Microlagoa

Figura 08: Batimetria da Microlagoa

Figura 09: Perfil da Microlagoa

21

Um dos motivos que nos chamou a atenção é que as edificações acabaram por

confinar a água pluvial, pois não foi observado o caminho natural das águas, que buscam os

níveis de menor energia no sentido de relevo. As microlagoas concentram-se, portanto numa

área plana cujas cotas estão entre 35 e 40m. (Figura 10) Esse fato pode ser observado nas

Figuras 03, 04 e 05.

Figura 10: Desenho da área das Microlagoas no relevo.

Sem dúvidas, os períodos de maior concentração das microlagoas no lugar são nos

meses de abril, maio, junho e julho, tendo em vista que como são intermitentes, e se originam

de maneira dependente da precipitação efetiva que se abate sobre o lugar. Esses meses são

considerados de precipitação intensa na região da Zona da Mata paraibana. (Figura 11)

Figura 11: Gráfico de Precipitação.

22

Como a ampliação da cidade se deu na direção Sul, área que ainda se apresentava

com certa aparência natural, a retirada da população vegetal que já tinha um caráter diverso

do que foi outrora (Mata Atlântica), permitiu que a superfície edáfica ficasse descoberta,

apresentando um solo, com predominância de material arenoso, possuindo logo abaixo o silte

e a argila, entretanto em menor quantidade.

Conforme já foi realçada, a ocupação das edificações não observou o caminho das

águas, ou seja, interrompeu o fluxo hídrico, assim com o trafego, havendo a compactação do

solo permitindo a concavidade nas áreas que eram de superfície mais frágil, logo essas se

tornaram áreas propícias à acumulação de água formando as microlagoas. Desta forma a água

acumulada não tendo como escoar apenas terá como opção evaporar ou infiltrar no solo, que

neste caso ocorre de maneira muito lenta. Isto pôde ser comprovado através do experimento

do infiltrômetro, que nos comprovou a dificuldade de percolação da água no solo da área das

microlagoas. (Figura 12)

Figura 12: Gráfico do Infiltrômetro

23

Considerações

A expansão da cidade requer uma observação geográfica mais apurada, pois apesar

da existência de recarga das águas sub-superficiais que abastecem o lençol freático, pelo

estoques de água na superfície, há de se convir que seja uma situação totalmente artificial, e

que se essas microlagoas estiverem em áreas que recebem resíduos com metais pesados

(oriundos de pilhas, por exemplo), ou mesmo resíduos de amianto de pastilhas de freio

(produto altamente cancerígeno) de veículos que passam pelas microlagoas, onde

inevitavelmente essa água será o condutor desses minerais para o lençol freático e também

para os estoques do aqüífero, já que a área tem em seu entorno nascentes do rio cabelo e

riacho sonhava. (Figura 13 e 14)

Figura 13: Vale do Riacho Sonhava Figura 14: Riacho Cabelo

E num outro sentido podemos observar que para a população local há o forte

inconveniente da locomoção no conjunto, podendo-se dizer num sentido mais conotativo, que

se vive ilhado nos períodos de chuva, pois “há água por todos os lados”. (Figura 15, 16, 17)

Figura 15, 16, 17: Transtornos gerados pela permanência das microlagoas.

24

O efeito dessas microlagoas na vida da população do conjunto resulta na

diminuição da qualidade de vida, pois além do transtorno das águas empossadas há também

um forte nicho para a propagação das colônias de insetos vetores de doenças. Além desse

inconveniente, o grande contingente de insetos que se propaga no local ainda denota o

excessivo gasto de energia pelos moradores do lugar, tendo em vista que mesmo no período

das chuvas, quando a temperatura é mais amena, precisam estar com os ventiladores de suas

residências ligados o tempo todo, pois é o único paliativo para distanciar as nuvens de

mosquitos.

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Referências Bibliográficas

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