65
ENCONTRO DA INDÚSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE DIVERSIFICAÇÃO E DIFERENCIAIS SUSTENTÁVEIS DA MATRIZ ELÉTRICA BRASILEIRA Indústria de Energia

dIvErsIFIcação E dIFErEncIaIs sustEntÁvEIs da MatrIz ElÉtrIca … · cni Confederação Nacional da Indústria fMase Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico sede Setor bancário

  • Upload
    dothien

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Encontro da IndstrIa para a sustEntabIlIdadE

dIvErsIFIcao E dIFErEncIaIs sustEntvEIs

da MatrIz EltrIca brasIlEIra

Indstria de Energia

confeDerao nacional Da inDstria cni

Robson Braga de AndradePresidente

Diretoria De eDucao e tecnoloGia Diret

Rafael Esmeraldo Lucchesi RamacciottiDiretor de Educao e Tecnologia

fruM De Meio aMBiente Do setor eltrico fMase

Marcelo MoraesCoordenador

Luiz Fernando Leone ViannaVice-Coordenador

Antnio Fonseca dos SantosConselheiro

Adriana Coli Pedreira Assessoria Tcnico-Jurdica

Alacir Silva BorgesAssessoria Jurdica

Dcio Michellis JniorAssessoria Tcnica

Enio Marcus Brando FonsecaAssessoria Tcnica

Tuane Zancope Assessoria de Relaes Institucionais

Pilar lvares da Silva Campos Miranda Secretaria Executiva

Diversificao e Diferenciais sustentveis

Da Matriz eltrica Brasileira

bRASlIA2012

cniConfederao Nacional da Indstria

fMaseFrum de Meio Ambiente do Setor Eltrico

sedeSetor bancrio NorteQuadra 1 bloco CEdifcio Roberto Simonsen70040-903 braslia DFTel.: (61) 3317-9000Fax: (61) 3317-9994www.cni.org.br

Setor Comercial Norte Quadra 4Ed. Centro Empresarial Varig, Sala 102 70714-900 braslia DFTel.: (61) 3327-6042 Fax: (61) 3326-2940www.fmase.com.br

2012. cni confederao nacional da indstriaQualquer parte desta obra poder ser reproduzida, desde que citada a fonte.

C748d

Confederao Nacional da Indstria. Frum de Meio Ambiente do Setor Eltrico.

Diversificao e diferenciais sustentveis da matriz eltrica brasileira / Confederao Nacional da Indstria. Frum de Meio Ambiente do Setor Eltrico. braslia : CNI, 2012.

63 p. (Cadernos setoriais Rio+20)

1. Sustentabilidade 2. Conferncia das Naes Unidas sobre Desenvolvimento Sustentvel I. Ttulo II. Srie

CDU: 502.14 (063)

lISTA DE FIgURAS

Figura 1. Usina Hidreltrica Itaipu binacional, Foz do Iguau, Paran ................. 15

Figura 2. Implantao do Parque Elico Morro dos Ventos Joo Cmara, Rio grande do Norte .................................................... 17

Figura 3. PCH buriti, no Mato grosso do Sul ........................................................ 18

Figura 4. Subestao e linha de transmisso da Copel, Paran .......................... 24

Figura 5. Reassentamento da Usina Hidreltrica de Salto Caxias, Paran .......... 30

Figura 6. Audincia pblica Usina Termeltrica So Joo de Itabapoana, Rio de Janeiro ............................................... 38

Figura 7. Plano de gesto Ambiental da Usina belo Monte ................................. 44

Figura 8. Usina Elica do Mucuripe Fortaleza .................................................... 55

Figura 9. Implantao do Parque Elico Morro dos Ventos Joo Cmara, Rio grande do Norte .................................................... 56

Figura 10. Programa de eletrificao rural, Paran ................................................. 61

Quadro 1. Proinfa empreendimentos .................................................................... 18

Quadro 2. Nmero total de consumidores por regio geogrfica .......................... 20

Quadro 3. Consumo residencial mdio por regio geogrfica (kWh/ms) ............ 20

Quadro 4. Consumo por regio geogrfica (gWh) ................................................. 20

Quadro 5. Consumo por classe (gWh) ................................................................... 21

Quadro 6. Empreendimentos em operao ............................................................ 22

Quadro 7. Programa luz para todos: nmero de ligaes ..................................... 26

Quadro 8. Evoluo da capacidade instalada de gerao no brasil (MW) ........... 27

Quadro 9. SIN: Estimativa da evoluo do sistema de transmisso linhas de transmisso (km) ................................................................ 27

Quadro 10. SIN: Estimativa da evoluo do sistema de transmisso Transformao (MVA) ......................................................................... 27

Quadro 11. Previso de investimentos comparativamente a outros energticos ... 28

Quadro 12. Principais entidades que influenciam o setor eltrico brasileiro ........... 36

Quadro 13. Consumo de energia eltrica e eficincia eltrica (gWh) ..................... 61

grfico 1. Crescimento da potncia hdrica instalada em comparao ao crescimento dos reservatrios .............................. 55

grfico 2. Complementaridade regional e sazonal das fontes renovveis com a energia hidreltrica ................................................... 56

grfico 3. Reservas provadas de petrleo e gs natural ....................................... 57

SUMRIo

Apresentao CNI

Apresentao setorial

1 Introduo ............................................................................................................. 13

2 Caracterizao econmica e socioambiental do setor ........................................ 15

2.1 Caracterizao econmica ......................................................................... 16

2.2 Caracterizao socioambiental .................................................................. 28

3 Regulaes econmicas e socioambientais que afetam o setor ........................ 35

3.1 Papis institucionais no setor eltrico ......................................................... 35

3.2 Detalhamento dos principais pontos da legislao afetos ao setor eltrico brasileiro ......................................... 38

3.2.1 Unidades de conservao e reas protegidas .............................. 38

3.2.2 Resduos slidos ............................................................................ 39

3.2.3 Cadastro socioeconmico ............................................................. 40

3.2.4 Educao ambiental ...................................................................... 41

3.2.5 Segurana de barragens ............................................................... 41

3.2.6 Macrozoneamento ecolgico-econmico da Amaznia legal ....... 41

3.2.7 Mudanas climticas ..................................................................... 42

4 Prticas empresariais para o desenvolvimento sustentvel ................................ 43

4.1 Prticas para tratamento de impactos socioambientais ............................ 43

4.2 Principais transformaes tecnolgicas e de gesto incorporadas pelo setor .......................................................... 45

4.3 Prticas relacionadas utilizao de energias renovveis ........................ 46

4.4 Prticas para tratamento de impactos socioambientais dos processos e instalaes ........................................... 47

4.5 Prticas de desenvolvimento de fornecedores .......................................... 47

4.6 Iniciativas de certificao e autorregulao adotadas pelo setor .............. 47

5 Desafios e oportunidades para o setor no caminho da sustentabilidade ........... 49

5.1 Desafios e oportunidades do setor eltrico brasileiro no contexto da Rio+20 ................................................................... 51

5.1.1 Mudanas climticas ..................................................................... 51

5.1.2 Expanso da gerao .................................................................... 54

5.1.3 Matriz eltrica limpa ........................................................................ 59

5.1.4 licenciamento ambiental ............................................................... 59

5.1.5 Marco regulatrio ........................................................................... 60

5.1.6 Eficincia energtica ...................................................................... 60

Referncias ................................................................................................................ 63

APRESENTAo CNI

A diversidade da indstria nacional e a disponibilidade de recursos naturais do ao pas excelentes oportunidades para se desenvolver de forma sustentvel, combinan-do crescimento econmico, incluso social e conservao ambiental. A emergncia das preocupaes com a sustentabilidade na agenda estratgica das empresas e dos governos uma realidade. Para alm de casos isolados de sucesso, as re-percusses dessa atitude so sentidas em setores inteiros da economia. Avanos ainda so necessrios, mas o caminho j est identificado e no h retorno possvel.

Aps coordenar um processo indito de reflexo com 16 associaes setoriais sobre a sustentabilidade, a Confederao Nacional da Indstria (CNI) entrega sociedade brasileira uma ampla gama de informaes sobre os avanos alcan-ados, os desafios e as oportunidades que esto por vir. o resultado aqui apre-sentado talvez no retrate a riqueza da discusso vivenciada pelo setor industrial na preparao desses documentos. Desdobramentos desse processo devem se seguir para alm da Conferncia Rio+20, sendo incorporados definitivamente no cotidiano das empresas.

o tema da sustentabilidade vivido de forma diferenciada em cada um dos seg-mentos industriais. Entretanto, alguns elementos so comuns. A constante busca da eficincia no uso de recursos e a necessidade de aumentar a competitividade industrial esto na pauta de todas as reas. Incentivos inovao e ao desenvol-vimento cientfico e tecnolgico so estratgicos para a transio a modelos mais sustentveis de produo.

No menos importantes so as estratgias para aprofundar as aes coordenadas internamente na indstria nacional e desta com os governos e as organizaes da sociedade civil. A disseminao de prticas sustentveis por meio das cadeias de suprimento e o incentivo para que as empresas assumam o protagonismo de inicia-tivas de gesto integrada dos territrios so ferramentas poderosas.

os fascculos elaborados pelas associaes setoriais so contribuies valiosas para pensar a sustentabilidade e a competitividade da indstria nacional. Um dos mais representativos resultados desse processo certamente ser a o fortalecimento de programas de ao estruturados para promover a sustentabilidade na produo. Essas iniciativas sero matria-prima para que os setores envolvidos e a CNI publi-quem sistematicamente documentos apresentando os avanos da indstria nacio-nal em direo aos objetivos da produo sustentvel.

os documentos aqui apresentados pretendem ser uma valiosa contribuio para qualificar o debate sobre a sustentabilidade. Cada uma das associaes setoriais est de parabns pelo esforo realizado.

robson Braga de andrade Presidente da Confederao Nacional da Indstria (CNI)

APRESENTAo SEToRIAl

Este fascculo, elaborado pelo grupo de Trabalho Rio+20 do Frum de Meio Am-biente do Setor Eltrico FMASE, tem a importante misso de retratar o posiciona-mento do setor eltrico brasileiro (SEb) nos temas que consideramos mais relevan-tes, para o nosso segmento, a serem debatidos na Conferncia das Naes Unidas sobre Desenvolvimento Sustentvel Rio+20.

Com o presente fascculo, o FMASE reconhecido como o principal interlocutor do SEb na proposio de solues conjuntas em prol do desenvolvimento sustentvel pretende:

Reforar as premissas da atuao do SEb, que so: (i) proporcionar seguran-a energtica; e (ii) prover competitividade, sustentabilidade e universalizao do acesso energia.

Destacar a contribuio do SEb na promoo da nova economia, uma vez que a energia eltrica insumo fundamental para o estmulo para produo e para a incluso social, bem como na concepo e implementao de polticas e progra-mas socioambientais na histria recente do brasil.

Abordar os desafios e oportunidades que j fazem parte da realidade do SEb na construo de uma realidade sustentvel.

Reforar a posio do SEb como benchmark mundial na constituio de uma ma-triz energtica renovvel e, sobretudo, sustentvel, apoiada em boas prticas na gesto socioambiental.

lembrar que a matriz eltrica brasileira 7,5 vezes mais limpa que a mundial, e que o desafio manter essa caracterstica.

A cadeia produtiva da energia eltrica um dos temas de maior visibilidade em qual-quer ambiente em que se discute a sustentabilidade. E deve ser tratado com par-metros tcnicos e ao largo de questes ideolgicas. esse esprito que esperamos encontrar na Rio +20.

Marcelo Moraes Coordenador

Frum de Meio Ambiente do Setor Eltrico

DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA 13

o frum de Meio ambiente do setor eltrico fMase rene 19 entidades seto-riais do setor eltrico brasileiro que buscam o aprimoramento das questes ambientais relativas ao segmento. reconhecido como o principal interlocutor do setor eltrico na proposio de solues conjuntas e sustentveis para as questes relacionadas ao meio ambiente.

No incio de 2005, tomou-se a iniciativa da criao do Frum, de modo a que as as-sociaes do setor atuassem perante o governo e a sociedade civil de forma conjunta e estruturada. Desde ento o FMASE vem ampliando sua atuao e se consolidando no papel de interlocutor do setor eltrico, e a partir de 2010 passou a integrar o Coe-ma Conselho de Meio Ambiente da CNI. Hoje formado pelas seguintes entidades:

1. Associao brasileira de Alumnio Abal;

2. Associao brasileira de Companhias de Energia Eltrica AbCE;

3. Associao brasileira de Carvo Mineral AbCM;

4. Associao brasileira de Energia Elica Abeelica;

5. Associao brasileira das Empresas de Energia Renovvel Abeer;

6. Associao brasileira dos Investidores em Autoproduo de Energia Abiape;

7. Associao brasileira de grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores livres Abrace;

8. Associao brasileira dos Agentes Comercializadores de Energia Eltrica Abraceel;

9. Associao brasileira de Distribuidores de Energia Eltrica - Abradee

10. Associao brasileira das Empresas geradoras de Energia Eltrica Abrage;

11. Associao brasileira de gerao Flexvel Abragef;

1 INTRoDUo

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE14

12. Associao brasileira de gerao de Energia limpa Abragel;

13. Associao brasileira de geradoras Termeltricas Abraget;

14. Associao brasileira das grandes Empresas de Transmisso de Energia Eltrica Abrate;

15. Associao brasileira dos Produtores Independentes de Energia Eltrica Apine;

16. Associao Nacional dos Consumidores de Energia Anace;

17. Fundao Comit de gesto Empresarial Funcoge;

18. Subcomit de Meio Ambiente das Empresas Eletrobras SCMA; e

19. Centro Nacional de Referncia em Pequenas Centrais Hidreltricas CERPCH.

complexo dimensionar a representatividade do FMASE, pois, como se pode obser-var na relao dos componentes, o Frum congrega entidades de todas as modali-dades de agentes: gerao, transmisso, distribuio, comercializao e consumo. Pode-se dizer que representam praticamente a totalidade da cadeia produtiva e de consumo da energia eltrica que circula no Sistema Interligado Nacional SIN.

Com o presente fascculo, o FMASE pretende:

alinhado ao Documento de Contribuio Brasileira Conferncia Rio+20, reiterar as premissas da atuao do setor eltrico, que so: (i) proporcionar segurana energtica; e (ii) prover competitividade, sustentabilidade e universalizao do acesso energia em suporte aos programas pblicos brasileiros de incluso so-cial e combate pobreza;

apresentar os avanos na implementao das iniciativas propostas para o setor eltrico nas cpulas sobre desenvolvimento sustentvel, em particular abrangendo o perodo compreendido entre a Conferncia Rio-92 e o presente;

destacar a contribuio do setor eltrico brasileiro na promoo da nova economia, uma vez que a energia eltrica insumo fundamental para o estmulo para produo e incluso social, neste caso, inclusive, mediante aes diretas de combate pobreza;

destacar a contribuio do setor na concepo e implementao de polticas e programas socioambientais pioneiros na histria recente do brasil, mostrando o comprometimento do setor eltrico com a continuidade dessas aes;

abordar, como protagonistas, os desafios e oportunidades que j fazem parte da realidade do setor eltrico na construo de uma realidade sustentvel;

reforar a posio do setor eltrico brasileiro como benchmark mundial na consti-tuio de uma matriz energtica renovvel e, sobretudo, sustentvel, apoiada por boas prticas na gesto socioambiental dos empreendimentos do setor; e

destacar que a matriz eltrica brasileira 7,5 vezes mais limpa que a mundial, e que o desafio manter essa caracterstica.

DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA 15

2 CARACTERIzAo ECoNMICA E

SoCIoAMbIENTAl Do SEToR

importante ressaltar que o setor eltrico foi planejado e constitudo de acordo com as caractersticas ambientais do brasil, marcadas pela grande diversidade de paisagens e biomas, alm de condies climticas muito particulares ao longo dos seus 8,5 milhes km de extenso. o setor eltrico, dessa forma, equaciona e reflete a complexidade ambiental do pas na busca de aproveitamentos energti-cos compatveis com as suas caractersticas.

Figura 1. usina Hidreltrica itaipu Binacional, Foz do iguau, paran

Fonte: Acervo Itaipu binacional.

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE16

2.1 Caracterizao econmica

No h como negar que o setor energtico uma das principais molas propulsoras do desenvolvimento. Na histria mais recente, a energia eltrica passou, por razes tcnicas, ambientais e econmicas, a desempenhar papel mais importante na matriz energtica. Tudo leva a crer que a tendncia irreversvel a migrao de uma matriz predominantemente fssil para uma matriz eletroenergtica mais equilibrada, com maior predominncia de fontes limpas e renovveis.

Fazendo um breve retrospecto, nos anos 1970, o setor eltrico brasileiro foi es-timulado por um grande salto desenvolvimentista promovido e sustentado pelo governo. Nos anos 1980, a legislao ambiental brasileira foi toda reformulada, atravs da lei Nacional de Meio Ambiente (lei n 6.983/1981), das resolues do Conselho Nacional de Meio Ambiente Conama e da promulgao da nova Constituio da Repblica Federativa do brasil (1988), que instituram a obrigato-riedade de licenciamento para todos os empreendimentos que pudessem causar significativo impacto ambiental.

Nos anos 1990, comeou um perodo de mudanas profundas com vistas deses-tatizao e incluso gradual de caractersticas de livre mercado ao setor. Em 1996, o Ministrio de Minas e Energia implantou o Projeto de Reestruturao do Setor Eltrico brasileiro (RE-SEb), resultando na desverticalizao da cadeia produtiva: gerao, transmisso, distribuio e comercializao de energia eltrica tornaram--se, ento, reas de negcio independentes. A gerao e a comercializao fo-ram progressivamente desreguladas a fim de incentivar a competio; transmisso e distribuio, que constituem monoplios naturais, continuaram sendo tratadas como servios pblicos regulados.

Diante dessa nova configurao, o governo Federal criou a Agncia Nacional de Energia Eltrica Aneel, cuja funo regular e fiscalizar as atividades do setor, conforme abordado adiante. outras mudanas foram implantadas com o objetivo de organizar o mercado e a estrutura da matriz energtica brasileira, com desta-que para a criao do Sistema Nacional de gerenciamento de Recursos Hdricos, em 1997, e do Mercado Atacadista de Energia MAE e do operador Nacional do Sistema oNS, em 1998.

Com a entrada da dcada de 2000, lastreado em um modelo de gerao essen-cialmente hidreltrico e sem a expanso necessria, o brasil se viu em situao de emergncia ao atravessar um perodo de chuvas escassas que baixou consideravel-mente os reservatrios das usinas. Em maio de 2001, o governo foi obrigado a adotar medidas emergenciais para evitar um colapso na oferta de energia.

A crise alertou para a necessidade de introduzir novas fontes de gerao na matriz energtica nacional. ganharam destaque as termeltricas que operam com combus-tveis como o gs natural e o bagao de cana (biomassa). o governo adotou tambm medidas que apoiavam o desenvolvimento de projetos de pequenas centrais hidrel-tricas (PCHs), fontes no convencionais e conservao de energia.

17DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA

Esta tendncia culminou com o Programa de Incentivo s Fontes Alternativas de Energia Eltrica (Proinfa), implantado pelo Decreto n 5.025/2004 com o objetivo de aumentar a participao da energia eltrica produzida por empreendimentos con-cebidos com base em fontes elicas, biomassa e PCHs, bem como desenvolver a cadeia produtiva dessas fontes. o Proinfa consistiu na contratao de energia a partir dessas fontes a uma tarifa-prmio, ou feed-in tariff, a exemplo da poltica adotada na Alemanha. Esta tarifa, equivalente a at 90% da tarifa final paga pelos consumidores, permitiu diminuir os riscos associados ao investimento em fontes ainda no difundidas comercialmente. Para tanto, foi estabelecido que o valor pago pela energia eltrica adquirida fosse rateado entre todas as classes de consumi-dores finais, com exceo dos consumidores da subclasse residencial baixa renda (consumo igual ou inferior a 80 kWh/ms).

Figura 2. implantao do parque elico morro dos Ventos Joo cmara, rio grande do norte

Fonte: Arquivo.

o programa contratou 144 usinas, totalizando 3.299,4 MW de capacidade instalada, sendo 1.191,24 MW provenientes de 63 PCHs, 1.422,92 MW de 54 usinas elicas e 685,24 MW de 27 usinas base de biomassa, espalhadas por todo o territrio nacio-nal. Toda essa energia tem garantia de contratao por 20 anos pela estatal Centrais Eltricas brasileiras S.A. Eletrobras. No quadro a seguir tem-se uma dimenso do programa e de sua abrangncia.

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE18

quadro 1. proinFa empreendimentos

em operao em construo construo ainda no iniciada total contratado

Biomassa21 usinas - 6 usinas 27 usinas

530,2 MW - 155,0 MW 685,2 MW

PCH60 usinas 2 usinas 1 usina 63 usinas

1.159,2 MW 22,0 MW 10,0 MW 1.191,2 MW

Elica52 usinas 1 usina 1 usina 54 usinas

1.187,1 MW 100,8 MW 135,0 MW 1.422,9 MW

total133 usinas 3 usinas 7 usinas 144 usinas

2.876,5 mW 122,8 mW 282,0 mW 3.299,4 mWFonte: Abeelica, 2011.

o Proinfa foi essencial para o desenvolvimento da energia elica no brasil. Alm do acesso ao financiamento de 80% dos projetos pelo banco Nacional de Desenvol-vimento Econmico e Social (bNDES), foi estabelecida tambm a exigncia de um mnimo de 60% de contedo nacional nos projetos contratados pelo programa, o que permitiu o surgimento de uma cadeia de fornecimento de equipamentos e servios que hoje tm extrema importncia na reduo dos preos da energia elica observa-da nos ltimos anos.

Figura 3. pcH Buriti, no mato grosso do sul

Fonte: Acervo Atiaia Energia.

19DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA

Concomitantemente, entre 2003 e 2004, o governo deu mais alguns importantes passos no sentido de tornar menos vulnervel o setor eltrico nacional. Foram criados: a Empresa de Pesquisa Energtica EPE, que retomou o planejamento do setor no longo prazo; o Comit de Monitoramento do Setor Eltrico CMSE, responsvel por avaliar permanentemente a segurana do suprimento de energia eltrica do pas; e a Cmara de Comercializao de Energia Eltrica CCEE, que substituiu o MAE, com a atribuio de organizar as atividades de comercializao de energia no pas.

Segundo o Plano Decenal de Expanso de Energia PDE 2011/2020, elaborado pela EPE e detalhado posteriormente, ao longo de 2010 consolidou-se a recupe-rao da indstria nacional, confirmada tanto pela volta a patamares de produo pr-crise quanto por movimentos de investimento em novos projetos que haviam sido temporariamente suspensos. Adicionalmente, o cenrio econmico conside-rado como referncia contempla forte demanda domstica por insumos bsicos industriais, como ao e alumnio, em funo da melhoria da renda da populao e, sobretudo, da necessidade de dotar o pas de uma infraestrutura moderna e eficiente. Esta demanda por insumos bsicos tende a apresentar expanso signifi-cativa no somente no brasil, mas tambm em outros pases em desenvolvimento, como China e ndia.

Ainda com base no PDE 2011/2020, possvel afirmar que, alm do crescimento demogrfico verificado no brasil, o aumento do consumo de energia tambm est associado ao crescimento na renda da populao e no consequente reflexo no consumo de bens e servios. Mais de 10 milhes de brasileiros saram da classe mais pobre nos ltimos dez anos e com isso o governo se v diante de novos de-safios, na medida em que precisa garantir o atendimento s demandas de novos consumidores. preciso manter em expanso a oferta de bens de consumo, ha-bitao, saneamento, educao, servios de sade, lazer e, como condio para o crescimento econmico, a oferta de energia, principalmente eltrica. Esses 10 milhes so parte de um contingente bem maior de pessoas com acesso recente ao mercado de bens durveis e a confortos tpicos da classe mdia.

Uma das consequncias da incorporao de um novo grupo de consumidores ao mercado foi o rpido crescimento do consumo de eletricidade. o consumo per capita de energia eltrica aumentou 11,3% entre 2006 e 2010, quase o dobro da expanso populacional no perodo. Entre 2006 e 2010, o consumo total de eletri-cidade aumentou 16,8%. No mesmo perodo, o consumo industrial cresceu 11%, enquanto o residencial se expandiu 26,4%. Isso corresponde a uma taxa mdia anual de cerca de 6%.

Em 2010, os brasileiros consumiram em mdia 2.246 quilowatt/hora/habitante. Mesmo assim, permaneceu inferior mdia mundial de 2009, de cerca de 2.730 kWh/hab. No mesmo ano, os argentinos consumiram em mdia 2.744 kWh/hab; os chilenos, 3.288; os chineses, 2.631; e os sul-africanos, 4.532, para citar s alguns exemplos. No Reino Unido, o consumo chegou a 5.693 kWh/hab; e nos Estados Unidos, a 12.884.

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE20

Para se ter uma noo do crescimento do setor, importante analisar o aumento da demanda. Apresentamos as tabelas abaixo, com a evoluo do nmero de consumidores e o aumento do consumo residencial nos ltimos anos:

quadro 2. nmero total de consumidores por regio geogrFica

2006 2007 2008 2009 2010part. % (2010)

Brasil 58.979.698 61.072.066 63.367.452 65.528.441 67.906.964 100,0

Norte 3.116.534 3.318.080 3.461.508 3.665.313 3.868.873 5,7

Nordeste 14.437.696 15.111.861 15.929.425 16.748.559 17.614.793 25,9

Sudeste 27.915.466 28.720.595 29.619.534 30.308.025 31.063.194 45,7

Sul 9.200.591 9.448.603 9.672.495 9.911.542 10.267.916 15,1

Centro-Oeste 4.309.411 4.472.927 4.684.490 4.895.002 5.092.188 7,5Nota: dezembro de cada ano. Fonte: EPE, 2011.

quadro 3. consumo residencial mdio por regio geogrFica (kWH/ms)

2006 2007 2008 2009 2010

Total/Brasil 142,1 143,9 145,8 150,1 154,0

Norte 140,2 140,6 145,4 146,2 156,5

Nordeste 93,9 94,1 95,9 99,5 105,7

Sudeste 160,0 162,3 165,0 170,3 173,0

Sul 159,9 165,5 166,2 171,9 174,0

Centro-Oeste 151,4 152,4 152,6 157,8 164,8Fonte: EPE, 2011.

Para complementar, apresentamos o consumo dividido por regio geogrfica e por classe de consumidores:

quadro 4. consumo por regio geogrFica (gWH)

2006 2007 2008 2009 2010 part. % (2010)

Brasil 356.129 377.030 388.472 384.306 415.277 100,0

Norte 21.552 22.850 23.873 24.083 26.237 6,3

Nordeste 59.060 62.367 65.103 65.244 71.190 17,1

Sudeste 195.131 206.785 209.944 204.555 221.976 53,5

Sul 59.694 62.996 65.900 65.528 69.563 16,8

Centro-Oeste 20.692 22.031 23.652 24.896 26.310 6,3Nota: consumo cativo mais livre. Fonte: EPE, 2011.

21DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA

quadro 5. consumo por classe (gWH)

2006 2007 2008 2009 2010part. % (2010)

Brasil 356.129 377.030 388.472 384.306 415.277 100,0

Residencial 85.784 89.885 94.746 100.776 107.215 25,8

Industrial 163.180 174.369 175.834 161.799 179.478 43,2

Comercial 55.369 58.647 61.813 65.255 69.170 16,7

Rural 16.022 17.269 17.941 17.304 18.500 4,5

Poder pblico 10.648 11.178 11.585 12.176 12.817 3,1

Iluminao pblica 10.975 11.083 11.429 11.782 12.051 2,9

Servio pblico 12.164 12.441 12.853 12.898 13.589 3,3

Prprio 1.987 2.158 2.270 2.319 2.456 0,6

Nota: consumo cativo mais livre. Fonte: EPE, 2011.

gERAo

o modelo brasileiro de gerao de energia eltrica essencialmente hidreltrico. Cerca de 70% da capacidade de produo nacional composta por usinas hidre-ltricas de grande e mdio porte e PCHs. A opo por este modelo se justifica pela existncia de grandes rios de planalto, alimentados por chuvas tropicais abundan-tes que constituem uma das maiores reservas de gua doce do mundo. Alm disso, a energia hidreltrica demanda, em geral, menores custos no aspecto operacional. Hoje, porm, os aproveitamentos hidrulicos para grandes e mdias usinas locali-zam-se cada vez mais distantes dos grandes centros, com impactos significativos nos custos de transmisso, por isso a importncia da interligao dos sistemas de transmisso e da diversificao da matriz eletroenergtica.

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE22

o quadro a seguir apresenta o cenrio atual da matriz eletroenergtica brasileira (incluindo importaes)

quadro 6. empreendimentos em operao

tipo

capacidade instalada

%

total

%n de usinas

(kW)n de usinas

(kW)

HidroUHEs 180 78.277.779 62,56

966 82.318.681 65,79PCHs 418 3.829.007 3,06

CGHs 368 211.895 0,17

gsNatural 102 11.424.053 9,13

140 13.213.236 10,56Processo 38 1.789.183 1,43

petrleo

leo diesel 890 3.895.920 3,11

917 7.028.127 5,62leo residual

32 3.132.207 2,50

Biomassa

Bagao de cana

346 7.259.243 5,80

419 8.986.128 7,18

Licor negro 14 1.245.198 1,00

Madeira 44 378.177 0,30

Biogs 16 70.902 0,06

Casca de arroz

8 32.608 0,03

nuclear 2 2.007.000 1,60 2 2.007.000 1,60

carvo mineral

Carvo mineral

10 1.944.054 1,55 10 1.944.054 1,55

elica 72 1.450.792 1,16 72 1.450.792 1,16

importao

Paraguai 5.650.000 4,52

8.170.000 6,53Argentina 2.250.000 1,80

Venezuela 200.000 0,16

Uruguai 70.000 0,06

total 2.540 125.118.018 100 2.540 125.118.018 100

Fonte: ANEEl, 2012.

http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/OperacaoGeracaoTipo.asp?tipo=1&ger=Hidro&principal=Hidrohttp://www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/OperacaoGeracaoTipo.asp?tipo=3&ger=Combustivel&principal=Petr%F3leohttp://www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/OperacaoGeracaoTipo.asp?tipo=5&ger=Combustivel&principal=Biomassahttp://www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/OperacaoGeracaoTipo.asp?tipo=9&ger=Outros&principal=Nuclearhttp://www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/OperacaoGeracaoTipo.asp?tipo=4&ger=Combustivel&principal=Carv%E3o%20Mineralhttp://www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/OperacaoGeracaoTipo.asp?tipo=4&ger=Combustivel&principal=Carv%E3o%20Mineralhttp://www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/OperacaoGeracaoTipo.asp?tipo=7&ger=Outros&principal=E%F3lica

23DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA

Em 2009, o brasil produziu 2% de toda a eletricidade do mundo, numa lista onde os Estados Unidos responderam por mais de 20% da produo. A caracterstica renov-vel da nossa matriz nos situa como um dos lderes na produo de energia advinda de fonte no fssil, uma situao nica, que coloca o brasil em posio de modelo mundial de uma matriz energtica limpa.

Se for considerada apenas a hidreletricidade, a fonte renovvel mais importante, o bra-sil ocupa a segunda colocao (12%) entre os pases produtores no mundo. A China est em primeiro, com 15%. o dado impressionante que apenas seis pases (China, brasil, Canad, Estados Unidos, Rssia e Noruega) detm quase 60% dessa forma de produo. Mesmo entre estes seis grandes produtores de hidreletricidade, h ou-tras caractersticas que diferenciam o brasil, como a capacidade de armazenar gua em quantidades significativas em relao ao consumo. o Canad possui reservatrios capazes de guardar quase 700 km e o brasil figura em segundo lugar, com 500 km. ocorre que o Canad no tem seu sistema completamente interligado. o brasil, com seu sistema interligado, guarda cinco meses de carga em seus reservatrios.

A nova fronteira da gerao de energia hidreltrica no brasil est na Amaznia, com destaque para trs hidreltricas de grande porte que j esto em construo na re-gio, incentivadas pelo Programa de Acelerao de Crescimento (PAC) do governo Federal. Duas delas, Santo Antnio (3.150 MW) e Jirau (3.750 MW), no rio Madeira, em Rondnia. A terceira, belo Monte (11.233 MW), no rio Xingu, no Par. o brasil dispe de uma rigorosa legislao de proteo ambiental, que impe aos projetos de novas hidreltricas exigncias minuciosas para reduzir ao mximo os efeitos negativos sobre a natureza e as comunidades impactadas, bem como propiciar medidas compensa-trias e mitigadoras que, aliadas s prticas avanadas de gesto socioambiental do setor eltrico brasileiro, proporcionam o desenvolvimento sustentvel das regies onde se inserem, habilitando-o a implantar esses empreendimentos.

TRANSMISSo

o sistema de transmisso brasileiro formado por uma rede de linhas e subestaes que atuam em tenses superiores a 230 kV, definidas como Rede bsica. Ele se espalha por todo o territrio nacional com a funo de transportar a energia eltrica das fontes geradoras at as empresas de distribuio e grandes consumidores co-nectados diretamente na transmisso. Com grandes distncias a serem percorridas entre as usinas e os centros consumidores (principalmente em funo de os grandes aproveitamentos hidreltricos se situarem longe dos centros de carga), o brasil alcan-ou, em 2011, um total de 99.649 km de linhas de transmisso.

A otimizao eltrica-energtica o fator motivador de tamanha interligao, uma vez que neste sistema as diferentes regies permutam energia entre si, aproveitando a di-versidade hidrolgica de um pas que tem dimenses continentais. Uma regio que se encontra em perodo de estiagem, quando h escassez de energia devido queda nos volumes dos reservatrios das suas hidreltricas, recebe energia de outras regies.

De modo geral, as interligaes buscam garantir, ao menor custo, a confiabilidade do sistema, a qualidade e a quantidade de energia requerida pelo mercado consumidor.

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE24

Figura 4. suBestao e linHa de transmisso da copel, paran

Fonte: Acervo Copel.

DISTRIbUIo

o sistema de distribuio brasileiro composto por 64 concessionrias de servios pbli-cos, responsveis pela entrega da energia em baixa tenso para os consumidores finais.

As distribuidoras atendem a cerca de 63 milhes de unidades consumidoras, das quais 85,38% so residenciais. 99% dos municpios brasileiros so atendidos por redes de distribuio. Existem programas ainda em andamento no sentido de uni-versalizar o acesso energia no pas, dentre os quais se destaca o luz para Todos (detalhado a seguir).

As distribuidoras so concessionrias de servios pblicos, estatais ou privadas. Mui-tas fizeram parte do Programa Nacional de Desestatizao nos anos 1990 e hoje so controladas por grupos formados por grandes empresas brasileiras, norte-america-nas, espanholas e portuguesas, entre outras.

A Aneel responsvel, entre outras atividades, por determinar normas e procedimentos tcnicos relativos regulamentao e fiscalizao da gerao, transmisso, distribui-o e comercializao de energia eltrica, alm de disciplinar a expanso e a operao das redes de distribuio, sempre visando melhoria dos indicadores de desempe-nho, preservando a segurana, a eficincia e a confiabilidade dos sistemas eltricos. responsvel pela regulao econmica, na medida em que define as tarifas a serem aplicadas ao consumidor final, por meio de processos peridicos de reviso tarifria.

As distribuidoras, como agentes do setor, so fundamentais para o desenvolvimento, viabilizao e implementao de programas pblicos e sociais de incluso social, resgate de cidadania e combate pobreza, como veremos a seguir.

25DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA

luz para todos o governo brasileiro lanou, em novembro de 2003, o desafio de acabar com a excluso eltrica no pas. o programa luz para Todos nasceu com a meta de levar energia eltrica para mais de 10 milhes de pessoas do meio rural. coordenado pelo Ministrio de Minas e Energia, operacionalizado pela Eletrobras e executado pelas concessionrias de energia eltrica e cooperativas de eletrificao rural em todo o territrio nacional.

o mapa da excluso eltrica no pas revela que as famlias sem acesso energia esto majoritariamente nas localidades de menor ndice de Desenvolvimento Hu-mano (IDH) e nas famlias de baixa renda. o objetivo do governo com o programa utilizar a energia como vetor de desenvolvimento social e econmico destas co-munidades, contribuindo para a reduo da pobreza e aumento da renda familiar. A chegada da energia eltrica vem facilitando a integrao dos programas sociais do governo Federal, alm do acesso a servios de sade, educao, abasteci-mento de gua e saneamento.

o programa observa, sempre que possvel, as seguintes prioridades:

projetos de eletrificao rural paralisados, por falta de recursos, que atendam co-munidades e povoados rurais;

municpios com ndice de Atendimento a Domiclios inferior a 85%;

municpios com IDH inferior mdia estadual;

comunidades atingidas por barragens de usinas hidreltricas ou por obras do sis-tema eltrico;

escolas pblicas, postos de sade e poos de abastecimento de gua;

assentamentos rurais e projetos para desenvolvimento da agricultura familiar ou de atividades de artesanato de base familiar;

atendimento de pequenos e mdios agricultores;

populaes do entorno de Unidades de Conservao da Natureza; e

populaes em reas de uso especfico de comunidades especiais, tais como minorias raciais, comunidades remanescentes de quilombos e comunidades extrativistas.

o luz para Todos de importncia mpar na incluso social e na erradicao da misria. At setembro de 2011, 14,2 milhes de pessoas foram beneficiadas pelo programa. Segundo o PDE 2011-2020, em 2011 a populao brasileira atingiu 191,6 milhes de habitantes. Isso significa que, de 2004 a 2011, o programa alcanou cerca de 7,4% da populao do brasil.

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE26

Na tabela abaixo se observa o desenvolvimento do programa desde a sua implanta-o com base no nmero de unidades ligadas.

quadro 7. programa luz para todos: nmero de ligaes

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 total

Brasil 69.999 378.046 590.013 397.877 441.427 357.970 291.431 2.526.763

Norte 8.265 41.009 90.067 77.220 99.547 86.205 65.086 467.399

Nordeste 27.157 200.853 271.529 201.141 235.381 180.790 147.247 1.264.098

Sudeste 24.229 67.342 151.457 59.817 39.413 38.593 44.801 425.652

Sul 4.218 36.913 42.896 33.743 33.563 28.410 15.499 195.242

Centro-Oeste 6.130 31.929 34.064 25.956 33.523 23.972 18.798 174.372

Fonte: EPE, 2011.

CoMERCIAlIzAo

No mbito da nova configurao do modelo comercial do setor eltrico, a partir de 2004, a relao de compra e venda no mercado de energia se faz basicamente em dois ambientes de contratao: o ambiente de contratao livre (ACl) e o ambiente de contratao regulada (ACR).

o rgo responsvel por gerenciar as relaes comerciais no mercado atacadista de energia eltrica a Cmara de Comercializao de Energia Eltrica CCEE, regulamentada pelo Decreto n 5.177/2004 como a associao civil integrada pelos agentes de gerao, distribuio e comercializao. A instituio desempenha pa-pel estratgico para viabilizar as operaes de compra e venda de energia eltrica, registrando e administrando contratos firmados entre os agentes.

A CCEE registra e contabiliza a agregao dos montantes lquidos de energia me-dida, gerada e/ou consumida. As diferenas so liquidadas no Mercado de Curto Prazo e integradas ao clculo do Preo de liquidao das Diferenas PlD, o qual formado semanalmente.

As comercializadoras promovem a racionalizao no rateio das sobras e dficits de energia atravs da incorporao das leis da oferta e procura, assumem o risco de preo, quantidade e prazo e aumentam a liquidez do mercado livre e do mercado de liquidao de diferenas.

PlANo DECENAl DE EXPANSo DE ENERgIA (PDE)

o PDE incorpora uma viso integrada da expanso da demanda e da oferta, no pas, de diversos energticos no perodo de dez anos. elaborado pela EPE contando com as diretrizes da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energtico e da Secretaria de Petrleo, gs Natural e Combustveis Renovveis do MME. Cada ciclo do plano, depois de elaborado, passa por um processo de audincia pblica antes de ser formalizado.

27DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA

o mais recente ciclo do PDE (2011/2020) apresenta uma matriz energtica brasileira com um expressivo aumento da participao das fontes renovveis na prxima dca-da. As chamadas novas fontes renovveis ou renovveis no convencionais (elica, biomassa e pequenas hidreltricas) dobraro a sua participao no setor eltrico at 2020. A presena desses recursos nos leiles de energia (em potncia instalada), que somou 44,8% em 2010, chegar a 46,3% em 2020.

No que diz respeito especificamente conservao, o PDE considera que a eletrici-dade economizada nos prximos 10 anos no brasil ser equivalente produo de uma hidreltrica de 7.000 MW.

Nos quadros a seguir, um resumo da expanso planejada para o setor energtico brasileiro, em dados fsicos:

quadro 8. eVoluo da capacidade instalada de gerao no Brasil (mW)

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

109.578 115.467 123.192 132.763 135.182 140.853 148.441 155.430 161.887 165.779 171.138

quadro 9. sin: estimatiVa da eVoluo do sistema de transmisso linHas de transmisso (km)

tenso 750 kV 600 kV 500 kV 440 kV 345 kV 230 kV total

Existente em 2010 2.698 1.612 34.190 6.809 9.991 44.349 99.649

Perodo 2011-2015 - 7.050 15.474 9 252 9.512 32.297

Perodo 2016-2020 - 3.750 6.176 - - 330 10.256

Total 2011-2020 - 10.800 21.650 9 252 9.842 42.553

Estimativa 2020 2.698 12.412 55.840 6.818 10.243 54.191 142.202

quadro 10. sin: estimatiVa da eVoluo do sistema de transmisso transFormao (mVa)

tenso 750 kV 500 kV 440 kV 345 kV 230 kV total

Existente em 2010 222.119

Perodo 2011-2015 1500 24.830 3.733 9.072 18.295 57.430

Perodo 2016-2020 0 9.497 0 100 2.224 11.821

Total 2011-2020 1.500 34.327 3.733 9.172 20.519 69.251

Estimativa 2020 291.370

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE28

E em investimentos, comparativamente a outros energticos:

quadro 11. preViso de inVestimentos comparatiVamente a outros energticos

r$ bilhes (perodo 2010-2020)

%

oferta de energia eltrica 236 23

Gerao 190 18

Transmisso 46 5

petrleo e gs natural 686 67

Explorao e produo de petrleo e gs natural 510 50

Oferta de derivados de petrleo 167 16

Oferta de gs natural 9 1

oferta de biocombustveis lquidos 97 10

Etanol usinas de produo 90 9

Etanol infraestrutura dutoviria e porturia 7 0,9

Biodiesel usinas de produo 0,2 0,1

total 1.019 100

PlANo NACIoNAl DE ENERgIA (PNE 2030)

Elaborado em 2007, trata-se de um estudo pioneiro no brasil de planejamento integrado dos recursos energticos realizado no mbito do governo brasileiro. Nele, todas as fontes e formas de energia foram contempladas, destacando-se a hidreletricidade, o petrleo e seus derivados, o gs natural e os derivados da cana-de-acar, alm da eficincia energtica e da inovao tecnolgica. Foram consideradas para expanso da oferta de energia eltrica as seguintes fontes: potencial hidreltrico, nuclear, carvo mineral, gs natural, biomassa de cana-de--acar, elica, solar, resduo slido urbano e outras fontes renovveis. o docu-mento fornece subsdios para a formulao de uma estratgia de expanso da oferta de energia econmica e sustentvel, atendendo evoluo da demanda e baseada em uma perspectiva de longo prazo.

2.2 Caracterizao socioambiental

o tratamento das questes socioambientais sempre fez parte dos procedimentos das empresas do setor eltrico, sobretudo quando se tratava de componentes dos siste-mas fsico-biticos, num enfoque que se poderia caracterizar como de correo de problemas acarretados pela implantao de empreendimentos especficos. A expan-so do setor visando atender s necessidades de energia do pas, e em especial os empreendimentos de grande porte implantados nas dcadas de 1970 e 1980, fez

29DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA

com que os empreendedores tivessem que lidar com as questes socioambientais em uma magnitude e com um grau de complexidade maior, em um contexto de uma sociedade passando por profundas transformaes.

Seguindo uma tendncia mundial de institucionalizao de polticas pblicas para o gerenciamento das questes relacionadas ao meio ambiente e impactos na qua-lidade de vida das populaes, nos ltimos 30 anos a questo socioambiental tem se colocado para o setor eltrico brasileiro com especial importncia. No brasil, este processo possui dois marcos importantes: a lei Federal n 6.938/1981, que insti-tuiu a Poltica Nacional do Meio Ambiente, e as Resolues do Conama 001/1986 e 006/1987, que regulamentam a obrigatoriedade do licenciamento ambiental de ativi-dades causadoras de impacto sobre o meio ambiente, sendo esta ltima especfica para os empreendimentos do setor eltrico. A legislao ambiental reflete, por um lado, a crescente e ampla ateno que o uso adequado dos recursos naturais passou a ter para a sociedade brasileira. Por outro, expressa um novo quadro poltico e insti-tucional que se consolida com a promulgao da Constituio Federal em 1988, que dedica um captulo ao meio ambiente. A Constituio ampara e consagra a aplicao dos princpios da mitigao e da compensao por danos causados ao meio ambien-te e a grupos sociais e, de modo geral, a reviso do papel e do processo decisrio do setor pblico, que passam a demandar uma discusso aberta das caractersticas e justificativas dos grandes projetos de infraestrutura.

Diversos instrumentos normativos foram promulgados nos ltimos anos, resultan-do em um arcabouo legal complexo e abrangente regulando as relaes entre a sociedade e o meio ambiente. Nesse contexto, e dentro de um processo evolutivo, hoje os estudos e o ciclo de desenvolvimento dos projetos de empreendimentos do setor eltrico incorporam plenamente estudos ambientais em todas as suas etapas, integrados aos estudos de engenharia. Alm de subsidiar as decises relativas viabilidade econmico-financeira dos empreendimentos, os estudos ambientais tambm devem atender aos requerimentos dos respectivos processos de licenciamento ambiental.

o pas adota um licenciamento ambiental trifsico, que compreende as licenas Pr-via, de Instalao e de operao, que, por sua vez, guardam correspondncia com as etapas de viabilidade, projeto bsico e executivo do ciclo de projetos praticado pelo setor, devidamente aprovados pelos rgos ambientais competentes.

Tendo em vista que os aspectos socioambientais mais relevantes a serem tratados pelo setor dizem respeito gerao de energia eltrica, os temas abordados a seguir trazem um vis dessa modalidade de empreendimento. importante ressaltar que os estudos socioambientais no constituem apenas uma etapa do processo decisrio, mas devem estar presentes em todas as etapas do empreendimento, tornando-se cada vez mais detalhados na medida em que o projeto se desenvolve. os estudos so uma premissa no s da autorizao e implantao do empreendimento, como tambm da viabilizao dos necessrios recursos de financiamento.

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE30

REMANEJAMENTo DE gRUPoS PoPUlACIoNAIS

At a dcada de 1980, as aes do setor se pautavam pelo objetivo predominante de liberar, ao menor custo possvel e dentro do cronograma de obras, as terras ne-cessrias para formao do reservatrio e implantao da infraestrutura de apoio ao empreendimento. A aquisio dessas reas, seja por via de negociao, seja por via de indenizao judicial, em geral baseava-se em critrios de avaliao unila-terais, de cuja elaborao os proprietrios no participavam. o atendimento estrito letra da lei vedava aos no proprietrios, mesmo aos que detinham a posse da terra e a exploravam para seu sustento, qualquer indenizao pela sua perda, com-putando-se apenas o valor das benfeitorias nela implantadas. No se reconhecia aos trabalhadores rurais direito a qualquer compensao pela perda dos empregos decorrentes da inundao das terras, eximindo-se as concessionrias de qualquer responsabilidade formal nesse sentido.

Figura 5. reassentamento da usina Hidreltrica de salto caxias, paran

Fonte: Antnio Fonseca dos Santos.

A partir da dcada de 1980, com o advento do novo ordenamento institucional pro-piciado pela Constituio de 1988 e reforado pela obrigatoriedade de elaborao de Estudos de Impacto Ambiental e Relatrios de Impacto Ambiental (EIA/Rima) em empreendimentos superiores a 10 MW, houve uma mudana de postura do setor na conduo dos processos de remanejamento de populaes, pautada no reconheci-mento de direitos e obrigaes e amparada em complexos processos de dilogo e negociao. Um dos marcos desse processo a instituio, pela Resoluo Conama 009/1987, das audincias pblicas para a discusso dos programas ambientais de compensao e mitigao pelos danos causados pelos empreendimentos.

31DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA

outro marco importante da evoluo do tratamento deste tema a recente instituio do Cadastro Socioeconmico das populaes atingidas por empreendimentos de gerao de energia eltrica (Decreto n 7.342/2010). o Cadastro o instrumento de identificao, qualificao e registro pblico da populao atingida que permite de-finir os beneficirios dos programas de remanejamento que vierem a ser formulados e aprovados durante o processo de licenciamento ambiental dos empreendimentos. Alm dos critrios de incluso, definido o tempo de validade e a competncia relati-va sua gesto. Se, por um lado, procura-se assegurar aos atingidos e cadastrados o direito a uma anlise e definio de seus benefcios, por outro, definidos os benefi-cirios, proporcionam aos empreendedores segurana jurdica e maior confiabilidade na previso dos custos correspondentes.

PoPUlAES INDgENAS

o setor eltrico parte do reconhecimento de que estes grupos populacionais so peculiares e etnicamente distintos. Considera que os aspectos relativos sua es-pecificidade cultural, adaptao ao habitat e viso de mundo so elementos que necessitam de estudos especficos, frequentemente demorados. Por outro lado, percebe-se tambm que os aspectos de relacionamento com os rgos governa-mentais envolvidos com a questo indgena demandam arranjos institucionais. A Fundao Nacional do ndio (Funai) o rgo responsvel pela tutela das naes indgenas e pela administrao das respectivas reservas. Regula as interferncias de empreendimentos sobre os territrios indgenas atravs da lei n 6.001/1973, que dispe sobre o Estatuto do ndio.

Nos casos de interferncias de empreendimentos em comunidades indgenas, alm do atendimento a todos os requerimentos do processo de licenciamento ambiental, so desenvolvidos estudos especficos e formulados programas contendo aes de mitigao e compensao de impactos, que passam por processos de negociao e aprovao perante as comunidades em questo e a Funai.

ASPECToS bITICoS E QUAlIDADE DA gUA

Dentre os impactos ambientais causados por empreendimentos hidreltricos, desta-cam-se os relacionados flora, fauna e qualidade da gua. Dos anos 1980 para hoje, passou-se por uma etapa de evoluo do processo que procura notadamente ampliar o conhecimento sobre os ambientes especficos em que se inserem os em-preendimentos. Como consequncia, os estudos de flora, de fauna e do ambiente aqutico passam a ser mais detalhados e diversificados. Esses estudos ganham ten-dncias nitidamente quantitativas e, incorporando a previso de impactos, passam a auxiliar a reviso das atividades de praxe e a busca de novas proposies quanto a aes de mitigao e de compensao dos impactos causados.

Procurando caracterizar a evoluo no tratamento destas questes, possvel identi-ficar algumas principais linhas de atuao:

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE32

Proteo da ictiofauna A conservao da fauna fluvial comeou a ser promovida a partir do primeiro Cdigo de Pesca do pas, o Decreto-lei n 794/1938. A implantao de estaes de piscicultura, na dcada de 1960, pode ser considerada como marco inicial dos trabalhos sistemticos com a ictiofauna no setor eltrico buscava-se basi-camente o aproveitamento do potencial de produo dos reservatrios.

Na dcada de 1970, estabeleceu-se oficialmente a prtica da construo de escadas para a livre subida de peixes em guas represadas estruturas associadas s barra-gens visando transposio de peixes reoflicos. No mesmo perodo, em decorrncia das estaes instaladas e das novas construes, incrementou-se o peixamento de reservatrios e o fomento piscicultura, inicialmente atravs da utilizao de espcies exticas e daquelas cujas tcnicas de reproduo j estivessem dominadas.

Na dcada de 1980, com o surgimento de reservatrios de porte, progressivamente algumas empresas passaram a investir na reproduo de espcies nativas e, na d-cada de 1990, com a maturidade dos centros de ictiologia associados aos empreen-dimentos e das pesquisas reprodutivas, a prtica de peixamento exclusivamente com espcies nativas foi institucionalizada.

resgate da fauna Para restringir a expulso ou perecimento de animais, por afo-gamento ou inanio, durante as operaes de enchimento dos reservatrios pas-sou-se a retir-los, atravs de programas de salvamento da fauna. No princpio, enfatizou-se principalmente a captura de mamferos, para soltura nas margens ou eventual destino a zoolgicos, e de serpentes para extrao de peonha em insti-tuies especializadas. Atualmente, busca-se abranger a maior quantidade de es-pcies possvel, com soltura em reas previamente selecionadas por apresentarem condies adequadas a receber os animais resgatados.

Qualidade da gua No final da dcada de 1980, o setor eltrico enfrentou alguns problemas em seus reservatrios, principalmente em empreendimentos em bacias hidro-grficas cuja ocupao dos solos comprometia a qualidade da gua e em regies tropi-cais nas quais o alagamento de florestas e o dinamismo dos ecossistemas determinam a ocorrncia de fenmenos que comprometiam tanto as instalaes da usina quanto o meio ambiente. Esses fatos levaram o setor adoo de novos enfoques para o trata-mento destas questes.

A ateno aos estudos de caracterizao das condies que vigoram antes da im-plantao do empreendimento e seu posterior acompanhamento foi possibilitada pelo fato de que, paralelamente s iniciativas do setor eltrico, os rgos ambientais estaduais intensificaram, neste perodo, os levantamentos das condies dos corpos hdricos. Estes dados permitiram verificar os padres de qualidade da gua, j razo-avelmente alterada pelo seu uso e pela ocupao do solo nas bacias hidrogrficas.

reflorestamento A partir da dcada de 1980, hortos florestais passaram a ser im-plantados, associados a hidreltricas, por recomendao dos EIA/Rima, com nfase crescente na reproduo de espcies nativas a serem usadas no reflorestamento das margens dos reservatrios e na recuperao de reas degradadas em seu entorno, passando a servir de base ao desenvolvimento e sustentao da fauna nativa, prote-o das margens e tambm purificao da gua.

33DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA

UNIDADES DE CoNSERVAo

A lei n 9.985/2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza SNUC, estabelece critrios e normas para criao, implantao e ges-to das unidades de conservao. Com isso, objetiva a preservao, manuteno, utilizao sustentvel, restaurao e recuperao do ambiente natural, de modo que se possa produzir o maior benefcio, em bases sustentveis, s atuais geraes e s geraes futuras, e garantindo a sobrevivncia dos seres vivos em geral.

Aps a instituio do licenciamento ambiental, duas prticas foram observadas nas aes compensatrias atribudas ao setor eltrico quando da implantao de empre-endimentos: a implantao de novas unidades de conservao ou apoio tcnico e financeiro a unidades de conservao j existentes. o tipo de ao era definido caso a caso e resultava de negociaes entre o rgo ambiental e o empreendedor no processo de licenciamento.

Cabe mencionar, tambm, que em 2009 foram regulamentados, por meio do Decreto n 6.848, o percentual e o critrio para cobrana de taxa devida pelas empresas a ttu-lo de compensao ambiental por danos causados ao meio ambiente. Esta taxa cal-culada com base nas informaes contidas no EIA/Rima quando do licenciamento do empreendimento, e foi estabelecida em 0,5% do montante previsto de investimento.

CoMPENSAo FINANCEIRA

Instituda pela lei n 7.990/1989, regulamentada pelo Decreto n 3.739/2001 e pela Resoluo Aneel n 67/2001, a Compensao Financeira pela Utilizao de Recursos Hdricos (CFURH) paga mensalmente a estados e municpios que tiveram reas alagadas ou foram afetados por reservatrios de usinas hidreltricas. os concessio-nrios e autorizados para a produo de energia hidreltrica recolhem mensalmente 6,75% do valor da energia produzida por suas hidreltricas.

os valores da Compensao Financeira acabam repercutindo positivamente nos oramentos dos municpios atingidos, destinando investimentos a reas como edu-cao, sade, segurana e infraestrutura urbana. No pode ser usado para abater dvidas, a no ser que o credor seja a Unio, nem para o pagamento de pessoal. ou seja, influencia diretamente na melhoria nas condies sociais da populao quando bem aplicados.

Em 2010, 663 municpios de 21 estados e o Distrito Federal receberam R$ 1,21 bilho a ttulo de CFURH, enquanto a transferncia de royalties Usina Itaipu bina-cional, no valor de R$ 337,47 milhes, chegou a 341 municpios de cinco estados e do Distrito Federal. o total recebido (compensao e royalties) foi R$ 1,515 bilho.

A soma de CFURH e royalties destinados Unio foi de R$ 340,5 milhes, dos quais R$ 37,5 milhes a ttulo de royalties e R$ 303 milhes por compensao financeira. Esses recursos so distribudos Agncia Nacional de guas (ANA), ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (FNDCT) e aos ministrios do Meio Ambiente e de Minas e Energia. A arrecadao e a distribuio da compensa-o e dos royalties cabem Aneel.

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE34

RESgATE ARQUEolgICo

A lei n 3924/1961 estabelece que toda rea a ser afetada por obras de implantao de empreendimentos deve ser submetida a estudos arqueolgicos que determina-ro as aes pertinentes a cada caso, de forma a contribuir para o conhecimento do patrimnio arqueolgico histrico e cultural do pas. os estudos arqueolgicos fazem parte do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e so executados por especia-listas, vinculados a instituies acadmicas que ficam com a guarda do material recolhido, de acordo com a lei.

Em alguns casos, recomendado o salvamento, que compreende a retirada e ca-talogao do material ltico, cermico, fauna, ossos, fogueiras, esqueletos comple-tos e sedimentos identificados nos stios. Esse material passa por catalogao e transferido para o acervo de museus e de instituies acadmicas, sendo que, em alguns casos, o prprio EIA/Rima recomendou a construo de museus especficos para os empreendimentos, como o Museu de Xing (Sergipe) e o Museu Regional do Iguau (Paran), e diversos outros que so mantidos pelas empresas respons-veis pelos empreendimentos.

DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA 35

3 REgUlAES ECoNMICAS E SoCIoAMbIENTAIS QUE

AFETAM o SEToR

Dentre os desafios atuais para as empresas (estatais e privadas) que atuam no plane-jamento, na implantao e na operao de empreendimentos eltricos est a adapta-o de suas aes e atividades conjuntura poltica e econmica, da qual se destaca a preocupao com o meio ambiente e os aspectos socioeconmicos. importante ressaltar que atualmente a gesto ambiental no setor eltrico vai alm do simples cumprimento de leis, j que nos ltimos anos est pautada de maneira abrangente e proativa pelos princpios da sustentabilidade.

o atendimento legislao ambiental tem sido uma preocupao constante das em-presas que compem o setor eltrico brasileiro. Com a reestruturao do setor e a consequente incluso de novos parceiros, cresceu a demanda por informaes que viessem esclarecer as regras a serem observadas em relao proteo ambiental, bem como a oferecer a segurana jurdica pertinente.

As informaes apresentadas a seguir agregam temas de interesse especfico do setor, escolhidos por sua relevncia nas atividades desenvolvidas pelas empresas e instituies que o compem.

3.1 Papis institucionais no setor eltrico

No ordenamento institucional brasileiro existem, alm do federal, dois outros nveis de poder: estadual e municipal, com competncia para estabelecer marcos legais prprios, desde que subordinados e no conflitantes com o nvel federal.

No quadro a seguir esto listados os principais rgos ou entidades institucionais que influenciam a atuao do setor eltrico brasileiro, agrupados por tema:

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE36

quadro 12. principais entidades que inFluenciam o setor eltrico Brasileiro

polticas e diretrizes regulao ambiental

Congresso Nacional (Comisso de Minas e Energia CME)

Conselho Nacional de Poltica Energtica CNPE

Comit de Monitoramento do Setor Eltrico CMSE

Comit de Polticas de Infraestrutura do Conselho de Governo

Ministrio de Minas e Energia MMEConselho Interministerial de

Mudana do Clima CIMAgncias reguladoras estaduais

ou secretarias estaduais de energia e de meio ambiente

Ministrio do Meio Ambiente, Recursos Hdricos e Amaznia Legal MMA

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis Ibama

Conselho Nacional de Meio Ambiente Conama

Ministrio Pblico Federalrgos ambientais estaduais e municipaisComisso de Meio Ambiente e

Desenvolvimento Sustentvel CMADS, do Congresso Nacional

rgo regulador e delegado do poder concedente

planejamento e estudos

Agncia Nacional de Energia Eltrica Aneel

Empresa de Pesquisa Energtica EPE, subordinada ao MME

superviso, controle e operao do sistema eltrico

contabilizao e liquidao do mercado de energia eltrica

Operador Nacional do Sistema Eltrico ONS

Cmara de Comercializao de Energia Eltrica CCEE

regulao de atividades correlatas ao setor eltrico

Agncia Nacional do Petrleo ANPAgncia Nacional de Minerao ANMConselhos regionais de engenharia,

arquitetura e agronomia (Creas)

Agncia Nacional de guas ANAConselho Nacional de

Recursos Hdricos CNRHrgos estaduais, municipais

e comits de bacia

Dentre os temas recentes objetos de regulao destacam-se:

a promulgao, aps mais de dez anos de tramitao no Congresso, da Polti-ca Nacional de Resduos Slidos (lei n 12.305/2010) e de seu decreto regula-mentador (Decreto n 7.404/10);

a instituio do cadastro socioeconmico para identificao, qualificao e registro pblico da populao atingida por empreendimentos de gerao de energia hidreltrica;

o estabelecimento da Poltica Nacional de Segurana de barragens (lei n 12.334/2010) destinada acumulao de gua para quaisquer usos, a includa a gerao hidreltrica;

37DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA

a sistematizao da atuao dos rgos pblicos federais na autorizao e realiza-o de estudos de aproveitamentos de potenciais de energia eltrica no interior de unidades de conservao e na autorizao da instalao de sistemas de transmisso e distribuio de energia eltrica em unidades de conservao de uso sustentvel;

a institucionalizao do tema mudanas climticas, por meio da lei n 12.187/2009 e Decreto regulamentador n 7.390/2010;

o estabelecimento, pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente Conama, de diretri-zes para as campanhas, aes e projetos de educao ambiental (lei n 9.795/1999);

a Poltica Nacional de Recursos Hdricos e o Sistema Nacional de gerenciamento de Recursos Hdricos, institudos pela lei n 9.433/1997; e

a publicao do Macrozoneamento Ecolgico-Econmico da Amaznia-legal (Decreto n 7.378/10), entre outros.

PolTICA NACIoNAl DE MEIo AMbIENTE

A norma bsica do pas em matria ambiental a lei 6.938/1981, e tem por objetivo a preservao, melhoria e recuperao da qualidade ambiental propcia vida, visando assegurar, no pas, condies ao desenvolvimento socioeconmico, aos interesses da segurana e proteo da dignidade da vida humana.

Dentre as atividades efetiva ou potencialmente poluidoras ou degradadoras do meio ambiente incluem-se os empreendimentos do setor eltrico, cuja construo, instala-o, ampliao e funcionamento ficam, em consequncia, sujeitos a licenciamento por rgo ambiental competente.

o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras faz parte do rol de instrumentos da Poltica Nacional do Meio Ambiente, estabelecidos na lei 6.938/1981 (art. 9), que foi alterada pela lei 7.804/1989 (art. 10) e pelo Decreto 99.274/1990 (art. 19). A Resoluo Conama 001/1986 estabelece os requisitos necessrios avalia-o de impactos e ao licenciamento das atividades modificadoras do meio ambiente, como as obras de engenharia dos setores de minerao, transportes, energia e ou-tros. Em certos casos dentre os quais se incluem as usinas de gerao de eletrici-dade, qualquer que seja a fonte de energia primria, acima de 10 MW e as linhas de transmisso acima de 230 kV exigida a elaborao de dois documentos:

Estudo de Impacto Ambiental (EIA): uma anlise de carter eminentemente tcni-co, detalhada e abrangente;

Relatrio de Impacto Ambiental (Rima): que reflete as concluses do EIA, com o objetivo de constituir uma base para discusso, com entidades governamentais ou privadas, com a populao potencialmente afetada e com a sociedade em geral, a respeito dos objetivos de projeto, suas caractersticas e impactos, e as medidas mitigadoras antevistas.

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE38

Figura 6. audincia pBlica usina termeltrica so Joo de itaBapoana, rio de Janeiro

Fonte: Noel Jnior.

A Resoluo Conama n 006/1987, por sua vez, contextualiza o processo de licencia-mento ao setor eltrico.

o licenciamento ambiental , em suma, um procedimento administrativo atravs do qual o poder pblico, federal, estadual ou municipal, no desempenho de poder de polcia administrativa, exige dos interessados em desenvolver atividade potencial ou efetivamente poluidora a elaborao dos estudos de impacto ambiental. Em contra-partida, entendendo os rgos licenciadores que a obra no causar substanciais desequilbrios ecolgicos, outorgar ao interessado as licenas ambientais cabveis.

3.2 Detalhamento dos principais pontos da legislao afetos ao setor eltrico brasileiro

3.2.1 unidades de conservao e reas protegidas

lei federal n 9.985/2000 Esta lei institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza SNUC, estabelecendo critrios para a criao, implantao e gesto das unidades de conservao. o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza SNUC constitudo pelo conjunto das unidades de conservao federais, estaduais e municipais. As unidades de con-servao integrantes do SNUC, criadas por ato do poder pblico, dividem-se em dois grupos distintos, com caractersticas especficas: Unidades de Proteo Integral e Unidades de Uso Sustentvel. A Reserva da biosfera um modelo, adotado internacionalmente, de gesto integrada, participativa e sustentvel dos

39DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA

recursos naturais, com os objetivos bsicos de preservao da diversidade bio-lgica, de desenvolvimento de atividades de pesquisa, de monitoramento e edu-cao ambiental, de desenvolvimento sustentvel e melhoria da qualidade de vida das populaes. Institui a cobrana de 0,5% do montante do investimento previsto nos empreendimentos sujeitos ao licenciamento a ttulo de compensa-o ambiental. A cobrana foi regulamentada pelo Decreto n 6.848/2009.

resoluo conama n 302/2002 Tem como objetivo o estabelecimento de parmetros, definies e limites para as reas de Preservao Permanente (APPs) de reservatrios artificiais e a instituio da elaborao obrigatria de plano ambiental de conservao e uso do seu entorno. Constitui APP a rea com largura mnima, em projeo horizontal, no entorno dos reservatrios artificiais, medida a partir do nvel mximo normal de 30 metros para os reservatrios arti-ficiais situados em reas urbanas consolidadas e 100 metros para reas rurais. o empreendedor, no mbito do procedimento de licenciamento ambiental, deve elaborar o Plano Ambiental de Conservao e Uso do Entorno de Reservatrio Artificial (Pacuera), em conformidade com o termo de referncia expedido pelo rgo ambiental competente, para os reservatrios artificiais destinado gera-o de energia e abastecimento pblico.

Decreto n 7.154/2010 objetiva sistematizar e regulamentar a atuao de r-gos pblicos federais, estabelecendo procedimentos a serem observados para autorizar e realizar estudos de aproveitamento de potenciais de energia hidruli-ca, sistemas de transmisso e distribuio de energia eltrica no interior de uni-dades de conservao, bem como para instalao dos sistemas associados em unidades de conservao de uso sustentvel. A autorizao para a realizao dos estudos tcnicos ser expedida pelo Instituto Chico Mendes de Conservao da biodiversidade, mediante processo administrativo prprio, devendo o interessado comprovar que detm registro ativo na Aneel.

CDIgo FloRESTAl

o primeiro Cdigo Florestal brasileiro foi formalizado pelo Decreto n 23.793/1934. Em 2009, reiniciaram-se as discusses em funo do Decreto n 6.514/2008, que estipu-lava o prazo para at dezembro de 2009, para averbao reservas legais.

importante destacar que as aes estipuladas pelo novo Cdigo Florestal brasileiro, no que diz respeito preservao ambiental, j vm sendo desenvolvidas ou pratica-das pelo setor eltrico.

3.2.2 resduos slidos

lei n 12.305/2010 e Decreto n 7.404/2010 A Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS) recente e austera, mas o setor eltrico est preparado para aten-der aos pontos que a lei contempla. A lei n 12.305/2010 instituiu a poltica e foi regulamentada pelo Decreto n 7.404/2010. Esses dispositivos legais tm como

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE40

meta principal regular princpios, objetivos e instrumentos, bem como as diretrizes relativas gesto integrada e ao gerenciamento de resduos slidos, includos os perigosos, s responsabilidades dos geradores e do poder pblico e aos instru-mentos econmicos aplicveis. Em princpio, todas as empresas, as administra-es pblicas (federais, estaduais e municipais) e os cidados esto obrigados a observar o disposto nestas normas.

Entre os principais instrumentos para efetivao da PNRS vale ressaltar a coleta seletiva, o sistema de logstica reversa, o incentivo criao e a legalizao de cooperativas ou associaes de catadores de materiais reciclveis.

importante ressaltar o conceito que institui esta legislao, da responsabi-lidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, definindo-a como a responsabilidade a ser implementada de forma individualizada e encadeada, abrangendo os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos servios pblicos de limpeza urbana e de ma-nejo de resduos slidos.

As normas preveem ainda, alm da obrigao civil de reparar eventuais danos ao meio ambiente decorrentes da no observncia do disposto em seu texto, sanes administrativas e penais aos responsveis pelo gerenciamento de res-duos slidos.

resoluo conama n 428/2010 Regulamenta os procedimentos de licen-ciamento de empreendimentos de significativo impacto ambiental que afetem as Unidades de Conservao especficas ou suas zonas de Amortecimento. Deter-mina que o licenciamento de empreendimentos que possam afetar Unidade de Conservao (UC) especfica ou sua zona de Amortecimento (zA) assim con-siderados pelo rgo ambiental licenciador, com fundamento em EIA/Rima s poder ser concedido aps autorizao do rgo responsvel pela administra-o da UC ou, no caso das Reservas Particulares de Patrimnio Natural (RPPN), pelo rgo responsvel pela sua criao.

3.2.3 cadastro socioeconmico

Decreto n 7.342/2010 Institucionaliza o cadastro socioeconmico como instru-mento de identificao, qualificao e registro pblico da populao atingida por empreendimentos de gerao de energia hidreltrica. Elenca o rol de integrantes que devem ser contemplados no cadastro, considerando no apenas aqueles que venham a perder a posse ou propriedade de imvel, mas tambm todos aqueles que de algum modo possam ter sua renda, subsistncia ou modo de vida afeta-dos. Cria o Comit Interministerial do Cadastro Socioeconmico, com a funo de apresentar, durante o licenciamento ambiental, os requisitos para a elaborao do cadastro, bem como acompanh-lo.

41DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA

3.2.4 educao ambiental

resoluo conama n 422/2010 Considerando o estabelecimento da Poltica Nacional de Educao Ambiental PNEA pela lei n 9.795/1999, esta resoluo visa estabelecer diretrizes para contedos e procedimentos em aes, projetos, campanhas e programas de informao, comunicao e educao ambiental no mbito da educao formal e no formal, realizadas por instituies pblicas, pri-vadas e da sociedade civil.

Define como diretrizes a utilizao de uma linguagem adequada e tambm a con-textualizao das questes socioambientais nas dimenses histrica, econmica, cultural, poltica e ecolgica do pblico envolvido.

Entende que campanhas de educao ambiental so instrumentos de fortaleci-mento da cidadania e devem apoiar os processos de transformao de valores, hbitos, atitudes e comportamentos para a melhoria da qualidade de vida das pessoas em relao ao meio ambiente.

3.2.5 segurana de barragens

lei n 12.334/2010 Estabelece a Poltica Nacional de Segurana de barragens, a includas as destinadas acumulao de gua para quaisquer usos, disposi-o final ou temporria de rejeitos e acumulao de resduos industriais, e cria o Sistema Nacional de Informaes sobre Segurana de barragens. Define que a segurana de barragens consiste em manter a integridade estrutural e operacional e a preservao da vida, da sade, da propriedade e do meio ambiente, de manei-ra a reduzir a possibilidade de acidentes e suas consequncias.

3.2.6 macrozoneamento ecolgico-econmico da amaznia legal

Decreto n 7.378/2010 Aprova o Macrozoneamento Ecolgico-Econmico da Amaznia legal com o objetivo de assegurar a sustentabilidade do desenvolvimento regional, indicando estratgias produtivas e de gesto ambiental e territorial em con-formidade com a diversidade ecolgica, econmica, cultural e social da Amaznia.

o macrozoneamento foi elaborado mediante um amplo processo de discusso nos mbitos da Comisso Coordenadora do zoneamento Ecolgico-Econmico do Territrio Nacional, composta por 13 ministrios e pela Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica, e do grupo de Trabalho para a Elabora-o do Macrozoneamento Ecolgico-Econmico da Amaznia legal, constitudo por representantes dos nove estados da regio e pelas instituies do Consrcio zEE brasil. Durante sua elaborao, foram realizadas reunies com representantes de vrios segmentos da sociedade civil, notadamente dos setores da agropecu-ria, indstria, academia, oNgs e movimentos sociais.

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE42

3.2.7 mudanas climticas

lei n 12.187/2009 Instituiu a Poltica Nacional sobre Mudana do Clima PNMC.

Decreto n 7.343/2010 o decreto regulamenta a lei 12.114/2009, que criou o Fundo Nacional sobre Mudanas do Clima (FNMC), que visa assegurar recursos para apoio a projetos e estudos e tambm para financiamento de empreendimen-tos que tendem mitigao das mudanas climticas e adaptao mudana do clima e seus efeitos. A aplicao dos recursos do FNMC poder ser destinada a educao, capacitao, treinamento e mobilizao na rea de mudanas clim-ticas. Ter como agente financeiro, no que se refere aos recursos reembolsveis, o banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social bNDES.

instruo normativa ibama n 12/2010 Revoga a Instruo Normativa n 7/2009 e determina que a diretoria de licenciamento do Ibama avalie, no processo de licenciamento de atividades capazes de emitir gases de efeito estufa, as me-didas propostas pelo empreendedor com o objetivo de mitigar esses impactos ambientais, em atendimento aos compromissos assumidos pelo brasil na Con-veno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudanas do Clima. Determina que os termos de referncia elaborados pelo Ibama contemplem medidas para mitigar ou compensar esses impactos ambientais em consonncia com o PNMC.

Decreto n 7.390/2010 A principal abrangncia do decreto a integrao do PNMC pelos planos de ao para a preveno e controle do desmatamento nos biomas e pelos planos setoriais de mitigao e de adaptao s mudanas cli-mticas. No regulamento so considerados os seguintes planos de ao, planos setoriais de mitigao e de adaptao s mudanas climticas: Preveno e Con-trole do Desmatamento na Amaznia legal PPCDAm; Preveno e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado PPCerrado; Plano Decenal de Ex-panso de Energia PDE; Plano para a Consolidao de uma Economia de baixa Emisso de Carbono na Agricultura; e Plano de Reduo de Emisses de Siderur-gia. Por determinao deste decreto esto sendo elaborados os planos setoriais de mitigao e de adaptao s mudanas climticas visando consolidao de uma economia de baixa emisso de carbono, no transporte pblico urbano e nos sistemas modais de transporte interestadual de cargas e passageiros, na indstria de transformao e na de bens de consumo durveis, nas indstrias qumicas fina e de base, na indstria de papel e celulose, na minerao, na indstria da construo civil, nos servios de sade e na agropecuria, com vistas a atender s metas gradativas de reduo de emisses antrpicas quantificveis e verificveis, considerando as especificidades de cada setor, inclusive por meio do Mecanismo de Desenvolvimento limpo MDl e das Namas Nationally Appropriate Mitigation Actions (Aes de Mitigao Adequadas ao Pas).

DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA 43

4 PRTICAS EMPRESARIAIS PARA o DESENVolVIMENTo

SUSTENTVEl

os conceitos de sustentabilidade, responsabilidade social e governana corpora-tiva j esto consolidados nas empresas que compem o setor eltrico brasilei-ro. os aspectos e impactos ambientais e sociais so identificados e analisados atravs de reas formais institudas ou de grupos de trabalhos interdisciplinares compostos por representantes das reas de meio ambiente, fundiria, jurdica, auditoria interna e operacional.

A partir desses diagnsticos so implementadas aes de manuteno da qualida-de nos meios fsico, biolgico e socioeconmico das reas direta e indiretamente afetadas pelas empresas, empreendimentos e pelos negcios em si.

4.1 Prticas para tratamento de impactos socioambientais

Para cada tipo de negcio do setor, h prticas diferenciadas e consolidadas. Tudo que resultado de licenciamento est disponvel nas pginas da internet dos rgos ambientais para consulta por qualquer cidado interessado. o setor faz a gesto dos impactos ambientais a partir do que determinado nos processos de licenciamento, na negociao com as partes envolvidas e sempre atendendo aos princpios de miti-gao, compensao e responsabilidade socioambiental.

A situao mais complexa se d na implantao de grandes aproveitamentos hi-dreltricos, onde natural que ajam as maiores discusses e interaes com as diversas partes interessadas. Esse dilogo inicia-se j na fase de viabilidade, onde se desenvolve o EIA/Rima, instrumento essencial para embasar as discusses tcni-cas acerca da viabilidade socioambiental de um aproveitamento hidreltrico. o EIA realiza um diagnstico das interferncias nos meios fsico, bitico e socioeconmi-co, faz um prognstico do que poder ocorrer nesses meios com a implantao do

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE44

empreendimento e prope um conjunto de aes para minimizar e compensar es-sas interferncias, alm de buscar melhorar as condies socioeconmicas locais e regionais, potencializando as aes positivas. So os planos, programas e projetos ambientais que devem ser colocados em prtica nas etapas de estudos e projetos, construo, enchimento do reservatrio e operao. Todas so de responsabilidade do empreendedor. Para muitas delas, o empreendedor deve se responsabilizar por fazer contatos e parcerias com vrias instituies, como universidades, oNgs e, principalmente, as prefeituras municipais e mesmo o governo estadual e o governo Federal. Algumas devem ser mantidas por toda a vida til do empreendimento.

A ttulo de exemplo, a figura abaixo mostra um resumo dos aspectos compreendidos pelo Plano de gesto Ambiental da Usina belo Monte:

Figura 7. plano de gesto amBiental da usina Belo monte

45DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA

4.2 Principais transformaes tecnolgicas e de gesto incorporadas pelo setor

Programa de regularizao de risco em redes Executa seccionamento e aterramento de cercas rurais e aterramento de transformadores para evitar aciden-tes sob as redes de distribuio rurais.

Programa de preveno de acidentes com energia com a populao Pa-lestras proferidas por empregados voluntrios com foco na preveno de aci-dentes e uso seguro e eficiente da energia, segundo cronograma anual, com prioridade para alunos do ensino bsico, trabalhadores da construo civil e fornecedores terceirizados.

os potenciais acidentes e situaes de risco fazem parte do macroprocesso am-biental, onde so estabelecidos controles e medidas mitigadoras de impactos ne-gativos. Esses controles passam por auditorias visando avaliao de sua eficcia e submetidos a medidas de controle para preveno ou mitigao de potenciais impactos ambientais.

tarifa social de baixa renda Estabelecida pela Aneel, possibilita descon-tos de at 65% no valor da fatura de energia aos consumidores que cumprem, cumulativamente, os requisitos estabelecidos, como consumo de at 220 kW/ms, atendimento monofsico e estar inscrito em qualquer dos programas so-ciais do governo Federal.

tarifa social para entidades assistenciais Amplia o benefcio da tarifa resi-dencial baixa renda para entidades assistenciais sem fins lucrativos, tais como creches, asilos, abrigos, albergues, orfanatos etc.

luz legal Resgate da cidadania pela regularizao de ligaes clandestinas em reas crticas (invases, favelas e vilas margem de reas urbanas), evitando instalaes precrias e inseguras.

luz fraterna Quitao da fatura de famlias carentes de consumo at 100 kWh/ms, inscritas em programas sociais do governo Federal ou em cadastros sociais.

Programa irrigao noturna Tarifa reduzida de 60 a 70% no perodo das 21h30 s 6h, para incentivar a produo agrcola e o acionamento de sistemas de irriga-o. Incrementa a renda e a qualidade de vida dos agricultores enquadrados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar Pronaf.

Programa avicultura noturna Para incentivo avicultura, por meio de 60% de desconto na tarifa no perodo das 21h30 s 6h. Minimiza custos e incrementa a produo e exportao de produtos avcolas.

Programa de eficincia energtica (Pee) Conjunto de medidas e prticas para aumentar a eficincia da energia em entidades beneficiadas (instalaes mu-nicipais, escolas e entidades assistenciais e de pesquisa), a fim de evitar ou adiar impactos ambientais associados construo e manuteno de novas usinas, subestaes, linhas de transmisso e redes de distribuio.

ENCoNTRo DA INDSTRIA PARA A SUSTENTAbIlIDADE46

Procel o Selo Procel, implantado em 1993, foi desenvolvido e concedido pelo Programa Nacional de Conservao de Energia Eltrica (Procel), coordenado pelo Ministrio de Minas e Energia. Tem por objetivo orientar o consumidor no ato da compra, indicando os produtos que apresentam os melhores nveis de eficincia energtica dentro de cada categoria, proporcionando, assim, economia na sua conta de energia eltrica. Tambm estimula a fabricao e a comercializao de produtos mais eficientes, contribuindo para o desenvolvimento tecnolgico e a preservao do meio ambiente. Para ser contemplado com o Selo Procel, o produ-to deve ser submetido a ensaios especficos em laboratrio idneo, indicado pelo Procel. A adeso das empresas ao Selo Procel voluntria.

Programas de gesto corporativa de resduos Visa, alm de prover a gesto e o correto manejo de resduos nas empresas do setor, viabilizar aes para mini-mizao do consumo de recursos por meio da reciclagem e reaproveitamento de resduos, da otimizao de sua utilizao nos processos produtivos e pela substi-tuio da utilizao de recursos no renovveis por renovveis.

regenerao de oMi Recuperao e reutilizao de leo mineral isolante, re-duzindo o seu consumo.

estudos para utilizao de leo vegetal isolante Substituio, nos transfor-madores da rede de distribuio, do leo mineral (insumo no renovvel) por leo isolante de origem vegetal (insumo renovvel).

4.3 Prticas relacionadas utilizao de energias renovveis

energia solar Estudo do aproveitamento da energia solar para eletrificao de residncias por clulas fotovoltaicas e gerao de energia eltrica em usinas tr-micas solares. Devido ao alto volume de investimentos em pesquisa e desenvol-vimento, as tecnologias solares de gerao de eletricidade vm tendo seu custo reduzido, e provvel que nos prximos anos esta fonte ganhe ainda maior repre-sentatividade mundial e competitividade. Por sua vez, o uso da energia solar para aquecimento de gua (buscando a substituio de chuveiros eltricos) possui tec-nologia economicamente vivel e amplamente utilizada.

clulas a combustvel Converso de hidrognio e oxignio em eletricidade, ca-lor e gua, sem carregamento e continuamente. uma tecnologia ainda incipiente, sendo necessrios investimentos para seu desenvolvimento para uso comercial. o melhor combustvel para o funcionamento da clula o hidrognio puro. Porm, ainda h altos custos para produo, armazenamento e transporte deste gs, sen-do possvel a utilizao de outros combustveis, como o gs natural e o etanol.

Gerao distribuda com saneamento ambiental gerao de energia eltrica em biodigestores, utilizando-se o biogs oriundo de dejetos orgnicos de suinoculturas. Alm de oferecer sociedade uma alternativa sustentvel que promove a fixao do homem no campo, ampliando as ofertas de emprego e renda, esta ao promove o saneamento ambiental por evitar que tais dejetos sejam lanados ao meio ambiente.

47DIVERSIFICAo E DIFERENCIAIS SUSTENTVEIS DA MATRIz ElTRICA bRASIlEIRA

4.4 Prticas para tratamento de impactos socioambientais dos processos e instalaes rede subterrnea e subestaes abrigadas Aliam alta confiabilidade e baixo

impacto socioambiental.

redes ecolgicas Em reas densamente arborizadas, as redes nuas so subs-titudas por redes compactas ou isoladas.

Gesto da arborizao urbana Visa maximizar os benefcios da arborizao e minimizar os impactos das redes urbanas areas.

Boas prticas na construo Aes sociais junto s comunidades locais prxi-mas aos empreendimentos de gerao de energia durante o perodo de construo, como, por exemplo, campanhas de vacinao, de educao ambiental e reforma de praas e locais pblicos, alm de promover a regularizao de propriedades.

4.5 Prticas de desenvolvimento de fornecedores Dilogo com fornecedoras Encontros de discusso (tica e sustentabilidade)

nos padres da AA1000 e participao de fornecedores em eventos e atividades relacionadas sustentabilidade empresarial.

clusulas socioambientais Clusulas de proteo ao meio ambiente, preven-o de trabalho escravo e infantil e de no discriminao no ambiente de trabalho inseridas nos contratos e licitaes, estimulando boas prticas dos fornecedores.

Palestras sobre poda e roada Palestra prvia ao incio dos trabalhos de roa-da e poda sobre segurana no trabalho, especificada em contrat