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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
Da Trama à Trama
Anteprojeto de uma Escola de circo
ALINE DE HOLANDA SATTLER
NATAL, Novembro de 2016
ALINE DE HOLANDA SATTLER
Da Trama à Trama
Anteprojeto de uma Escola de circo
Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no semestre letivo de 2016.2, como requisito para obtenção de título de arquiteta e urbanista.
Orientadora: Prof.ª. Dr.ª Eunádia Silva Cavalcante
Natal, Novembro de 2016
Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do
Norte / Biblioteca Setorial de Arquitetura.
Sattler, Aline de Holanda.
Da trama à trama: anteprojeto de uma escola de circo / Aline de
Holanda Sattler. – Natal, RN, 2016.
86f. : il.
Orientadora: Eunádia Silva Cavalcante.
Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura.
1. Projeto arquitetônico – Monografia. 2. Escola de Circo –
Monografia. 3. Desconstrutivismo – Monografia. I. Cavalcante, Eunádia
Silva. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/UF/BSE15 CDU 72.012.1
AGRADECIMENTOS
São muitos os motivos e as pessoas que me enchem de gratidão. Palavras
não são suficientes para agradecer a todos que contribuíram direta ou indiretamente
para a realização desse trabalho e, mais do que isso, que contribuíram para minha
formação como arquiteta e urbanista e como pessoa.
Agradeço então primeiramente a Deus, o arquiteto maior, por derramar sobre
mim seus dons e bênçãos e por ser minha fortaleza nos momentos difíceis.
À minha mãe, Gisela de Holanda Sattler, e a minha vó Matildes Antônia de
Souza que não só me apoiaram em todas as minhas decisões, mas estiveram ao
meu lado em todos os momentos, abdicando muitas vezes de desejos pessoais para
garantirem a minha formação e verem a minha felicidade.
Agradeço a minha família como um todo, a de sangue e a de coração, por ser
meu lugar de refúgio e por sempre estar ao meu lado em tudo o que eu faço e sou.
Agradeço ainda aos mestres que participaram da minha jornada acadêmica
em especial ao Professor Natercio Holanda que ainda no IFRN, me incentivou e
apoiou a buscar meu sonho, além de ser exemplo de profissional e de ser humano
maravilhoso, ao querido Professor Eugênio Mariano, por toda amorosidade e
disponibilidade, dentro e fora da sala de aula, durante toda a graduação e a
Professora Eunádia Cavalcante, por ter sido a melhor orientadora de todos os
tempos.
Alguns profissionais da área também foram de extrema importância para meu
crescimento como arquiteta, a eles minha gratidão. De forma especial agradeço a
Fernando Castro, Chayenne Melo e Nicholas Carvalho, que cada um a seu modo
moldaram minha forma de lidar com essa profissão, que vai além de projetos e
prazos. Me ensinaram sobre ética e sobre respeito, independente de cargo na
empresa.
Sou grata também, aos amigos que dividiram todos os momentos bons e
também as angustias dessa jornada acadêmica. Foram oito anos de dedicação
vividos em duas universidades e um intercambio, dez anos de estudos na área se
contabilizarmos o IFRN, que me fizeram crescer em conhecimento e também em
amizades. E que amizades!
Agradeço à Chaveirinho, amiga que me incentivou desde sempre a seguir
nessa profissão tão linda e aos “Biras”, que foram meus primeiros companheiros
nesse sonho. Sou grata ainda de maneira muito especial aos queridos: Cintia Vieira,
Lucas Menezes, Renata de Oliveira, Antônia Verônica, Maria Helena, Jadson Silva,
Lara Cavalcante, Linisa Carvalho, Clidenor Patricio, Gabriela Soska, Leonardo
Gianni, Jordana Montalvão e Bianca Niemezewski. Cada um de vocês tem um
espaço bem lindo no meu coração! Obrigada por todo apoio e amizade
compartilhada nessa trajetória. Foi muito poder contar com vocês.
Aos amigos e companheiros de trabalho da INFRA, sou grata por terem
aturado minhas crises e me incentivado durante esse ano. Agradecimento especial a
Manuela Carvalho, Emílio Sabry e seu “sundae bloody Sunday” e a minha chefinha
Dominique Barros, por ter me apoiado da melhor forma possível nessa reta final.
Não poderia deixar de mencionar com muito carinho os amigos e artistas
circenses que fizeram da minha jornada um pouco mais leve: agradeço então a Tom
Oliver, Hórus, Bisteca e Dadá por todos os momentos de descontração e pelo apoio
na arte e na vida.
Por fim, agradeço, de coração, a todos que contribuíram para minha formação
acadêmica, artística e pessoal de forma direta ou indireta. Sem vocês, isso tudo não
faria sentido e essa alegria não seria tamanha.
“I don't think that architecture is only
about shelter, is only about a very simple
enclosure. It should be able to excite you, to
calm you, to make you think.” - Zaha Hadid
“Eu não acho que arquitetura seja
apenas abrigo ou um simples invólucro. Ela
deve ser capaz de excitar, acalmar e te fazer
pensar.” – Tradução livre
RESUMO
O presente trabalho consiste em um anteprojeto de uma Escola de Circo com
espaço para apresentações circenses e de outras vertentes culturais. Teve como
objetivos de pesquisa entender como se deu a evolução espacial do circo/escola
desde os primeiros registros até os dias atuais, bem como estudar conceitos da
arquitetura desconstrutivista da arquiteta Zaha Hadid, analisando algumas de suas
obras quanto ao seu funcionamento e emprego de materiais. Para isso foram feitas
pesquisas em bibliografia especializada e estudos de referência indiretos e diretos
com base em visita à escola de circo local, além do uso da parametrização em
softwares especializados para se alcançar a forma desejada. O projeto final é uma
arquitetura com apelo estético e artístico que, assim como a arte circense, estimula o
imaginário dos usuários e o aprendizado, revelando ainda sua contemporaneidade
através da utilização de uma cobertura em estrutura curvilínea suportada por uma
trama em madeira e metal, a qual envolve todas as áreas propostas no programa
arquitetônico, que por sua vez reflete a história dessa arte milenar.
Palavras-Chave: Projeto de arquitetura. Escola de Circo. Desconstrutivismo.
ABSTRACT
The present work consists of a preliminary design of a Circus School with space for
circus presentations and other cultural aspects. The aim of the research was to
understand how circus / school evolution occurred from the earliest records to the
present day, as well as to study the concepts of the deconstructivist architecture of
the architect Zaha Hadid, analyzing some of her works in relation to their operation
and use of materials. For this purpose, research was done in specialized bibliography
and both indirect and direct reference studies based on visits to the local circus
school, in addition to the use of parameterization in specialized software to achieve
the desired form. The final project is an architecture with an aesthetic and artistic
appeal that, like circus art, stimulates the users' imagination and learning, revealing
their contemporaneity through the use of a curvilinear structure covering supported
by a wood and a metal frame, which involves all the areas proposed in the
architectural program and reflects the history of this ancient art.
Key Words: Architectural design; Circus School; Deconstructivism.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Circo Massimo ..................................................................................................... 17
Figura 2 – Ilustração do anfiteatro de Astley ..................................................................... 19
Figura 3 – Palco Cirque du Soleil ........................................................................................ 22
Figura 4 - The Peak em Hong Kong, 1983 – Primeiro concurso vencido por Zaha
Hadid ........................................................................................................................................ 25
Figura 5 - Estação do Corpo de Bombeiros de Vitra ....................................................... 25
Figura 6 - Centro Aquático dos Jogos Olímpicos de Londres 2012 .............................. 26
Figura 7 - Espaço Tropa Trupe ........................................................................................... 29
Figura 8 – Área de treinamento de acrobacias na La Grainerie .................................... 32
Figura 9 – Espaços Escola de circo La Grainerie ............................................................ 32
Figura 10 - Moscow Circus School. .................................................................................... 33
Figura 11 - Serpentine Sackler Gallery .............................................................................. 34
Figura 12 – Detalhe do Sistema construtivo ..................................................................... 35
Figura 13 - Fachada posterior da Serpentine Sackler Gallery, onde podemos
observar os pontos de apoio da viga perimetral. .............................................................. 36
Figura 14 - Fachada Pompidou de Metz ............................................................................ 36
Figura 15 - Pompidou de Metz vista noturna .................................................................... 38
Figura 16 - Pompidou de Metz vista interna ...................................................................... 38
Figura 17 – Detalhe pilar ...................................................................................................... 39
Figura 18 – Detalhe dos encaixes da cobertura ............................................................... 39
Figura 19 – Corte longitudinal das visuais ZET 03 a partir do Ponto 01 ...................... 43
Figura 20 - Situação do terreno ........................................................................................... 46
Figura 21 – Equipamentos de destaque ............................................................................ 46
Figura 22 – Criação do Prolongamento da Rua 03 de Outubro e da Rua do Vietnã . 47
Figura 23 – Movimentação de Terra ................................................................................... 49
Figura 24 - Rosa dos Ventos Natal/RN. ............................................................................. 50
Figura 25 – Ventos e Insolação ........................................................................................... 51
Figura 26 – Programa de necessidades ............................................................................ 52
Figura 27 - Fluxograma. ....................................................................................................... 54
Figura 28 - Zoneamento. ...................................................................................................... 55
Figura 29 - Zoneamento. ...................................................................................................... 55
Figura 30 – Primeiras ideias. ............................................................................................... 58
Figura 31 – Croqui inicial ..................................................................................................... 58
Figura 32 – Cortes esquemáticos do Teatro, apresentados na pré-banca. ................. 60
Figura 33 – Volumetria esquemática, apresentada na pré-banca. ................................ 60
Figura 34 – Volumetria esquemática no Rhino, apresentada na pré-banca. .............. 61
Figura 35 – Plantas baixas esquemáticas antes e após estudo no Rhino,
apresentadas na pré-banca. ................................................................................................ 62
Figura 36 – Modelagem trama da cobertura no Grasshopper ....................................... 63
Figura 37 – Modelagem trama da cobertura no Grasshopper ....................................... 63
Figura 38 – Divisão da Planta Baixa em Grupos para facilitar compreensão ............. 66
Figura 39 – Perspectiva explodida do Sistema construtivo e materiais dos grupos A,
B e C ........................................................................................................................................ 69
Figura 40 – Esquadria tipo Camarão com folhas de tabicão e moldura metálica ....... 70
Figura 41 – Perspectiva explodida do Sistema construtivo e materiais do Teatro ..... 71
Figura 42 – Estrutura metálica Strauss .............................................................................. 72
Figura 43 – Estrutura em madeira laminada e anéis metálicos ..................................... 72
Figura 44 – Detalhe da montagem da cobertura .............................................................. 73
Figura 45 – Cobertura em membrana têxtil em fibra de vidro e teflon PTFE .............. 73
Figura 46 – Detalhe das aberturas da cobertura .............................................................. 74
Figura 47 – Perspectiva fachada Sul .................................................................................. 76
Figura 48 – Perspectiva fachada Norte .............................................................................. 77
Figura 49 – Perspectiva Interna com vista da Arena para o Teatro .............................. 78
Figura 50 – Perspectiva Interna com vista a partir do palco para a escola ................. 79
Figura 51 – Visuais ZET 03 Ponto 01 ................................................................................. 85
Figura 52 – Visuais ZET 03 Ponto 02 ................................................................................. 86
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Índices urbanísticos e quadro de áreas ......................................................... 43
Tabela 2 – Resumo das classificações .............................................................................. 45
Tabela 3 - Programa de necessidades e pré-dimensionamento. .................................. 53
Tabela 4 – Resumo Índices urbanísticos e quadro de áreas ......................................... 68
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 13
1 HISTÓRIA DO CIRCO ...................................................................................................... 16
1.1 Das praças à lona ................................................................................................................ 16
1.2 O circo no Brasil ................................................................................................................. 20
1.3 Transferência do saber e o circo contemporâneo ............................................................... 21
2 ARQUITETURA DESCONSTRUTIVISTA DE ZAHA HADID ................................... 24
3 REFERÊNCIAS PROJETUAIS ........................................................................................ 29
3.1 REFERÊNCIAS DIRETAS ............................................................................................... 29
3.1.1 Tropa Trupe (Natal, RN) ................................................................................... 29
3.2 REFERÊNCIA INDIRETA ................................................................................................ 30
3.2.1 Escola de Circo - La Grainerie (Balma, França) ............................................... 30
3.3 REFERÊNCIAS FORMAIS .............................................................................................. 33
3.3.1 Moscow Circus School (Concurso de Arquitetura) .......................................... 33
3.3.2 Serpentine Sackler Gallery (Londres, Inglaterra).............................................. 34
3.3.3 Centre Pompidou (Metz, França) ...................................................................... 36
4 CONDICIONANTES DO PROJETO ARQUITETÔNICO ........................................... 42
4.1 CONDICIONANTES LEGAIS .......................................................................................... 42
4.1.1 Plano Diretor de Natal ....................................................................................... 42
4.1.2 Código de Obras de Natal ................................................................................. 43
4.1.3 Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos –
NBR 9050/2015 ........................................................................................................................ 44
4.1.4 Código de segurança contra incêndio e pânico do Rio Grande do Norte .......... 44
4.1.5 Quanto as vagas de estacionamento .................................................................. 45
4.2 CONDICIONANTES FÍSICO AMBIENTAIS ................................................................. 45
4.2.1 Sobre o Entorno ................................................................................................. 46
4.2.2 Sobre o Terreno ................................................................................................. 47
4.2.2.1 Topografia ....................................................................................... 48
4.2.2.2 Insolação ......................................................................................... 50
4.2.2.3 Ventos .............................................................................................. 50
4.3 CONDICIONANTES FUNCIONAIS ................................................................................ 51
4.3.1 Público alvo ....................................................................................................... 51
4.3.2 Programa de necessidades e pré-dimensionamento .......................................... 52
4.3.3 Fluxograma ........................................................................................................ 54
4.3.4 Zoneamento ....................................................................................................... 54
5 DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA ........................................................................ 57
5.1 O CONCEITO .................................................................................................................... 57
5.2 SOLUÇÃO FORMAL ........................................................................................................ 57
5.3 PARTIDO ARQUITETÔNICO E EVOLUÇÃO DA PROPOSTA................................... 59
6 MEMORIAL DESCRITIVO ............................................................................................. 65
6.1 GENERALIDADES ........................................................................................................... 65
6.2 O EDIFÍCIO ....................................................................................................................... 65
6.3 SISTEMA CONSTRUTIVO E MATERIAIS .................................................................... 69
6.3.1 Grupos A, B e C ................................................................................................ 69
6.3.2 Grupo D ............................................................................................................. 70
6.3.3 Grupo E ............................................................................................................. 72
6.3.4 Cobertura ........................................................................................................... 72
6.4 QUANTO AO CONFORTO .............................................................................................. 74
6.5 RESULTADO FORMAL ................................................................................................... 75
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 80
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 81
APÊNDICES ........................................................................................................................... 85
Introdução
13
INTRODUÇÃO
A arte circense existe há alguns milênios, mas seu ensino só se popularizou
nos últimos 50 anos, a princípio como forma de preservação desse conhecimento e
técnicas e agora também como meio de renovação não só no modo de transferir
esse saber, mas na forma como ele ou o mesmo é apresentado. Dessa forma, o
trabalho a seguir se propõe a entender como se deu a evolução espacial do
circo/escola desde os primeiros registros até os dias atuais e aplicar esse
conhecimento em um produto arquitetônico.
Esse produto consistirá em uma proposta de anteprojeto de uma escola de
circo que englobará dois programas complementares, porém distintos. O primeiro
voltado ao ensino da arte e acomodação de estudantes e o segundo voltado para o
circo propriamente dito, que será palco de apresentações dos alunos da sede,
oficinas e difusão da arte circense, bem como servirá de espaço cultural para
demais apresentações artísticas.
A escolha de fazer a escola fixa e junto a ela acomodações estudantis veio da
constatação que o aprendizado da arte circense exige muito treino e treino de forma
integral e contínua. Sendo assim, fazer uma escola itinerante não proporcionaria aos
alunos essa continuidade, suporte e qualidade de ensino.
Seguindo a tendência atual de englobar outras artes no espetáculo circense,
como dança, música e até teatro, os espaços destinados a escola também serão
abertos para demonstrações artísticas diversas como shows e exposições, para
usufruto da população como espaço de lazer e convivência.
Por se tratar de um projeto totalmente voltado a arte, fugir das formas
tradicionais tornou-se um dos principais pontos de partida da proposta. Para
alcançar esse resultado formal foram utilizados os conceitos da arquitetura
descontrutivista da arquiteta Zaha Hadid como base e referência. Essa tipologia
arquitetônica, como citado por MALARD (2003), faz apelo à imaginação, uma vez
que foge as linhas retas e ortogonais.
Os pilares se desmodulam, as vigas fogem dos apoios, as paredes resistem à verticalidade, as lajes se dobram e desdobram para não serem mais planas e a ortogonalidade dos espaços é radicalmente banida. Os eixos, esses são explícitas referências ante-cartesianas e sempre estão presentes na composição arquitetônica, em alguma direção tomada somente para assegurar que nada combine a 90º. Aplicadas com gosto, essas regras
Introdução
14
produzem edifícios desconcertantes e de grande apelo à imaginação. (MALARD, 2003, p. 8)
Assim, as principais áreas de conhecimento contempladas nessa proposta
serão Projeto de Arquitetura, e Tecnologia da Construção, sendo a segunda
relacionada às técnicas construtivas e materiais até então pouco ou nunca
trabalhados na graduação, o que exigiu estudos e cautela nas suas aplicações.
Para realização desse anteprojeto os primeiros estudos foram alcançados ou
feitos por meio de pesquisa bibliográfica com o intuito de levantar e analisar
produções relacionadas com o tema, no caso o circo e sua evolução. Para isso,
foram feitas pesquisas em bibliografia especializada, trabalhos finais de graduação,
periódicos e artigos na internet.
Como forma de entender a funcionalidade e o programa de uma escola de
circo, a pesquisa bibliográfica foi complementada por estudos de referência feitos
com base em pesquisa virtual e em visita a uma escola de circo em Natal/RN, onde
foram observados seu funcionamento e suas necessidades, por meio de fotografias,
anotações e entrevista com a professora de tecido acrobático.
Nessa fase a observação dos materiais e técnicas construtivas também foi
levada em consideração e serviu de base para mais pesquisas bibliográficas com
enfoque na estrutura e nos materiais.
Já com a ideia do resultado formal que se queria alcançar, surgiu a
necessidade do estudo e aprendizagem de novos softwares, que permitissem a
parametrização e modelagem de formas fluídas. Foram esses o Rhino e seu plug-in
Grasshopper.
Portanto, o trabalho fica organizado em três etapas: a primeira abrangendo o
referencial teórico, que traz um estudo sobre a origem e evolução do espaço
circense, bem como uma breve explanação sobre arquitetura desconstrutivista e
seus conceitos. A segunda trata dos estudos diretos e indiretos que serviram de
referências funcionais e/ou estéticas de projeto e a terceira consiste no produto final:
um anteprojeto de uma escola de circo, com todos os estudos e condicionantes
físicos e legais que nortearam a sua criação.
16 Capítulo 1 – História do Circo
1 HISTÓRIA DO CIRCO
1.1 Das praças à lona
A arte circense é uma das mais antigas existentes e surgiu há mais de dois
mil anos. Por esse motivo, já sofreu muitas modificações no que diz respeito à
estrutura dos espetáculos, a seu público alvo e consequentemente ao espaço físico.
Esse capítulo tem como objetivo entender como se deu essa evolução através de
um levantamento desses espaços circenses desde seus primeiros registros até os
dias atuais.
A data e local de surgimento dessa arte são incertos, mas os registros mais
antigos conhecidos apontam para o Extremo Oriente e Egito, por volta do século
XXV a.C. (ANDRADE, 2006). São pinturas em cerâmicas, paredes e vasos e
retratam habilidades de contorcionismo, malabares e equilibrismo diante de uma
grande plateia.
Essas habilidades também eram demonstradas em desfiles de vitorias bélicas
onde se expunham os tesouros, escravos e animais exóticos adestrados trazidos
pelos militares. Esses desfiles aconteciam, geralmente, no formato elíptico ou
circular para que as pessoas ao redor pudessem vê-los por vários ângulos e por
várias vezes.
Na Grécia, essas habilidades se desvincularam um pouco dos desfiles, sendo
apresentadas também em praças e dando origem as Olimpíadas, onde os
artistas/atletas demostravam sua força e equilíbrio através de paradas de mão,
pirâmides humanas e contorcionismo. Foi também ali que surgiram as primeiras
apresentações com trapézios, argolas e barras.
Na península itálica, essa arte aparece primeiramente atrelada às festas
públicas religiosas, na forma de corridas equestres e demonstrações atléticas e,
mais tarde, absorve da Grécia e do Egito as exposições pós-missões bélicas. Os
romanos foram os primeiros a criarem um espaço físico próprio para essas
apresentações: o circo romano, sendo um dos primeiros o circo Massimo (Figura 1).
17 Capítulo 1 – História do Circo
Figura 1 - Circo Massimo
Fonte: Reconstrução de autoria desconhecida
Esse circo fazia referência ao planeta, onde o centro de tudo seria Roma.
Estruturava-se, portanto, da seguinte maneira: uma arena (representando a Terra)
onde se colocava um obelisco (representava o sol) trazido de batalhas em outras
terras, esse espaço era circundado por um fosso (representando os oceanos), que
impedia os espectadores de adentrarem a arena. Os espectadores ficavam em
arquibancadas que eram a princípio de madeira, mas que com a consolidação desse
espaço passava à pedra e por fim ao mármore, podendo ter detalhes em ouro.
O Coliseu foi outro exemplo dessa arquitetura, construído em 40 a.C.
exatamente onde era o circo Massimo, que foi totalmente destruído anos antes em
um incêndio. Com a mesma configuração espacial e com o mesmo fim, o Coliseu
tinha capacidade para 87 mil espectadores e foi palco de apresentações circenses
até os séculos IV e V d.C. quando foi perdendo força e deixando de ser apreciado,
por influência da Igreja que via essas apresentações como antro pecaminoso
(ANDRADE, 2006).
Na Idade Média, os artistas começam então a buscar outros lugares para
suas apresentações, tornando-se cada vez mais nômades e viajando sempre em
grupos. Formavam caravanas de saltimbancos e apresentavam-se em feiras, praças
ou qualquer lugar aberto que possibilitasse os números e uma plateia. Quando
18 Capítulo 1 – História do Circo
essas apresentações se destacavam, esses artistas eram chamados a se
apresentar nas festas da nobreza.
Esses nobres vieram a financiar os primeiros circos fixos e estáveis no início
do que conhecemos como Renascença. Nesse momento, surgiu a tenda coberta
que delimitava um espaço circular que lembrava o espaço nas feiras e praças e que
ao redor do qual se posicionavam as cadeiras. Foi também nesse período que
surgiram no circo as apresentações equestres, que nada tinham de popular e que
reforçavam esse novo momento do circo, totalmente voltado à aristocracia.
O circo renascentista torna-se estável e, não mais voltado para o público das ruas, atenderá agora ao gosto mais refinado da nobreza. (...) Os cômicos tornaram-se mais comedidos em suas graças e provocações, assim como desaparecem por completo as anomalias das barracas de feira. Os figurinos ganham agora em luxo e riqueza, (...). (ANDRADE, 2006, p. 35).
No século XVII já havia uma quantidade notável de companhias circenses
fazendo suas exibições e pequenas expedições, mas foi apenas no século XVIII que
essa arte se popularizou novamente e se caracterizou como itinerante, através de
apresentações de grupos saltimbancos em praças públicas e feiras populares por
toda Europa, trazendo também os cavalos, herança do circo renascentista.
Inspirado por tudo isso, Philip Astley, ex-militar inglês criou o primeiro
anfiteatro (Figura 2) para demonstrações das técnicas militares de equilíbrio e
destreza com esses animais agora não mais com finalidades bélicas mas para
deslumbramento da população. Por também dominarem essas técnicas, alguns
circenses foram contratados por Astley, que posteriormente viu nas demais
habilidades dos artistas uma ótima oportunidade de deixar seu show mais fluido,
preenchendo os intervalos com palhaços, malabaristas e demais artistas, trazendo
assim a magia do circo para o anfiteatro.
A concepção posta em prática por Astley teve como foco de intenção a fusão de dois pólos contrários da teatralidade: o notadamente cômico e o acentuadamente dramático. Em um espaço único, debaixo do mesmo teto, a pantomima mesclou-se à participação do palhaço que, por sua vez deu acolhida ao acrobata e ao equilibrista, que abriram as portas para uma infinidade de outras expressões cênicas. (ANDRADE, 2006, p. 51).
19 Capítulo 1 – História do Circo
Os espetáculos de Astley chamaram tanta atenção que logo surgiram outros
anfiteatros copiando o mesmo modelo de apresentação, mas o primeiro a utilizar o
nome “circus” foi o Royal Circus de Londres criado por Charles Dibdin Hughes, que
trouxe um ar mais dramático aos shows equestres.
Figura 2 – Ilustração do anfiteatro de Astley
Fonte: Victoria and Albert Museum - London, 2016
Apesar desses espetáculos acontecerem em anfiteatros, o espaço destinado
a eles continuava a ser uma arena circular, geralmente com 13m de diâmetro. Essa
forma só sofreu modificações anos mais tarde através de Antônio Franconi, artista
circense italiano que trabalhava para Astley tomando conta de seus espetáculos na
França. Franconi afastou-se do centro francês e fundou seu próprio circo, que
contava com a arena tradicional e destinava o espaço de ¼ da plateia para criação
de um pequeno palco, ao que damos o nome de circo-teatro (ANDRADE,2006).
Assim, com Franconi, muitos outros artistas se desvincularam dos circos
maiores e criaram seus próprios circos, geralmente em família e quando não tinham
capital para seguir os mesmos padrões refinados, aderiam a um modelo mais prático
e estruturas ambulantes.
20 Capítulo 1 – História do Circo
Dessa forma, surgiu as dinastias circenses, e o chamado “circo moderno” se
instaurou de vez. Onde se apreciava a música, indumentárias, habilidades corporais
e dramáticas, além da presença do mestre de cerimonias. (ARAUJO, 2005). O
espaço continua sendo circular e em sua maioria com estruturas de madeira ao ar
livre, no caso dos circos ambulantes, ou mais requintados e cobertos em anfiteatros
ou teatros adaptados (DUPRAT, 2007, apud PINES JUNIOR, 2013)
O circo moderno é resultado da conjunção de dois universos espetaculares até então distintos: de um lado, a arte equestre inglesa, que era desenvolvida nos quartéis; de outro, as proezas dos saltimbancos (BOLOGNESI, 2002, p.1).
A tenda, como conhecemos hoje, com mastro central ou duplo surgiu já no
século XIX nos Estados Unidos, através de Purdy Brown juntamente com os irmãos
Nathan e Seth, que tiveram a ideia de cobrir a arena dessa forma criando os moldes
do “circo de lona” (PINES JUNIOR, 2013).
1.2 O circo no Brasil
No Brasil, a arte circense chega no século XVIII, através das famílias
circenses europeias (SILVA, 1996), que ficaram conhecidas como “famílias
tradicionais” e que não só demostraram suas habilidades por onde passaram, mas
também se instalaram e transmitiram todo o conhecimento para seus descendentes,
que ainda hoje continuam a disseminar essa arte através de suas quintas e sextas
gerações.
Quanto ao espaço utilizado para esses espetáculos, não houve muita
modernização e adequações, apenas se utilizaram do formato do circo moderno
trazido da Europa e logo depois aderiram ao modelo do circo de lona americano.
Sempre com a ideia do picadeiro tradicional e, em alguns casos, usando o palco
convencional pensado por Franconi.
A modernização do circo brasileiro, ao contrário do que ocorreu em outros países, não é notável no que diz respeito aos espaços utilizados para as representações, ou aos equipamentos empregados como suporte técnico do espetáculo. O circo brasileiro, por tradição, valoriza e investe no elemento humano, pondo em evidência suas destrezas, habilidades e, acima de tudo, a inquestionável criatividade nacional. (ANDRADE,2006).
21 Capítulo 1 – História do Circo
Assim, o que se observa no Brasil é a evolução no que diz respeito ao
elemento humano e sua destreza, tanto no picadeiro como na elaboração dos
espetáculos, deixando a arquitetura em segundo plano, seguindo o formato
tradicional e com pouca ou nenhuma inovação estética.
1.3 Transferência do saber e o circo contemporâneo
Como visto anteriormente, o ensino dessa arte sempre se deu entre gerações
circenses ou entre pessoas seletas que resolviam encarar a vida nômade e criavam
algum tipo de laço com as famílias ou caravanas de saltimbancos. No Brasil não foi
diferente e até hoje há grupos que continuam a propagar seus saberes dessa forma.
Com a crise que os circenses enfrentaram nas décadas de 50 e 60 e a
incerteza de um futuro estável nessa área, muitas das famílias circenses acabaram
ou não propagaram mais o ensino aos mais jovens, incentivando-os a procurar
escolas tradicionais ou outras profissões (SILVA,1996). Quase vinte anos depois, na
década de 80, começam a surgir no Brasil e no mundo escolas especializadas no
ensino dessa arte, como tentativa de preservação e difusão dessa arte milenar.
A essa nova fase, Torres (1998 apud SILVA,1996) dá o nome de “circo-
contemporâneo”. No qual se vê um maior alcance do ensino, que agora se expande
dos núcleos familiares incorporando pessoas de todas as classes sociais, culturas e
idades, bem como outros artistas como bailarinos, atores e músicos. Como
consequência, podemos observar também mudanças na arquitetura do espaço que
abriga esta nova configuração de circo.
Tais modificações podem ser dar em pequena ou grande escala, de modo
que o circo/escola de lona tradicional continua, mas aparecem também adaptações
em galpões, criação de espaços fixos, ou ainda pavilhões e estruturas gigantescas
com diversos palcos, como é o caso do Cirque du Soleil1 (
Figura 3).
1 Companhia circense sediada em Quebec, reconhecida mundialmente por seu entretenimento artístico de alta qualidade, com mais de 4.000 funcionários e artistas de mais de quarenta países.
22 Capítulo 1 – História do Circo
Figura 3 – Palco Cirque du Soleil
Fonte: Cirque du Soleil, 2016.
Assim, a proposta desse trabalho será um edifício fixo que conte a história da
evolução circense através de sua arquitetura, trazendo todas as fases do circo em
um único equipamento, que contará com espaços em formato de praça, arena, semi-
arena e palco italiano.
24
Capítulo 2 – Arquitetura Desconstrutivista de Zaha Hadid
2 ARQUITETURA DESCONSTRUTIVISTA DE ZAHA HADID
A arquitetura desde seus primórdios foi pensada e posta em prática com base
na forma pura, formas geométricas simples como cubos, pirâmides e cilindros que
eram combinadas afim de um resultado funcional e formalmente estável. Qualquer
desvio dessa unidade era visto pela arquitetura conservadora como mero enfeite ou
impureza (COLIN, 2010). Esse pensamento começou a ser rebatido a menos de 50
anos e o resultado dessa ruptura são projetos formidáveis intitulados
desconstrutivistas.
A cristalização desse novo modo de se pensar arquitetura se deu em 1988
na exposição “Arquitetura Desconstrutivista”, que aconteceu no Museu de Arte
Moderna de Nova Iorque e que foi encabeçada pelos arquitetos Bernard Tschumi,
Coop Himmelblau, Daniel Libeskind, Frank Gehry, Peter Eisenman, Rem Koolhaas e
Zaha Hadid (LUCENA, 2010 apud PEREIRA, 2013).
Zaha Hadid é um dos nomes que mais se destacaram mundialmente nas
últimas décadas, resultado de suas obras que desafiam a lógica ortogonal e as leis
da física, uma vez que as estruturas sólidas dos seus edifícios são exploradas até
seus limites, onde vigas e colunas se confundem entre si e a cobertura muitas vezes
se estende em movimentos irregulares e fluidos, dando a ideia de instabilidade,
como se o edifício flutuasse no espaço.
Os primeiros desenhos de sua carreira já refletiam essa ânsia por mudança e
ilustram bem o início desconstrutivista. Em seu design para o The Peak Leisure Club
de Hong Kong (Figura 4), em 1983, através do qual ganhou seu primeiro concurso,
ela utilizou-se de planos fragmentados e um desenho não linear que causa
inquietação. Essas características estiveram presentes em todas as suas obras.
Porém, pode-se observar a evolução na fluidez e complexidade dessas formas a
medida que a experiência e a tecnologia se encontram.
25
Capítulo 2 – Arquitetura Desconstrutivista de Zaha Hadid
Figura 4 - The Peak em Hong Kong, 1983 – Primeiro concurso vencido por Zaha Hadid
Fonte: Zaha Hadid Architects, 1983.
Na Estação do Corpo de Bombeiros de Vitra (Figura 5), 1993, onde pela
primeira vez seus traços viraram realidade, Zaha ainda traz uma forma linear bem
arraigada, apesar da quebra com o ortogonal. As paredes, nesse projeto foram
projetadas em camadas e foram inclinadas e quebradas de forma que parecem
imprensar o programa, mas sem pecar na funcionalidade do mesmo (KROLL, 2016).
Enquanto os planos deslizam uns nos outros e começam a ser manipulados de acordo com o programa, os visitantes estão sujeitos a ilusões óticas que os ângulos e vislumbres de cores conformam (KROLL,2016).
Figura 5 - Estação do Corpo de Bombeiros de Vitra
Fonte: KROLL, 2016
26
Capítulo 2 – Arquitetura Desconstrutivista de Zaha Hadid
As últimas obras da arquiteta refletem o amadurecimento tanto profissional
como dos conceitos desconstrutivistas. Isso fica evidenciado, por exemplo, no
Centro Aquático dos Jogos Olímpicos de Londres 2012 (Figura 6), onde a estrutura
se confunde com a arquitetura em formas fluidas que se complementam.
Figura 6 - Centro Aquático dos Jogos Olímpicos de Londres 2012
Fonte: HELM, 2016
Apesar de não seguir a ideia tradicional de estruturação de um edifício:
fundação/coluna/viga/cobertura, os projetos desconstrutivistas são extremamente
estruturais e a sua funcionalidade não é esquecida, apesar do processo projetual ser
bem diferenciado. Segundo Colin (2010), diferente da lógica modernista onde a
forma segue a função e resulta necessariamente em uma geometria pura, nesse
novo jeito de se pensar a arquitetura é a função que segue a forma, ou melhor, a
deformação.
Na arquitetura desconstrutivista, não obstante, a ruptura da forma pura resulta em uma complexidade dinâmica de condições concretas que é mais afinada com a complexidade funcional. E além disso, as formas são alteradas antes, e só então dotadas de um programa funcional. A forma não segue a função, mas a função segue a deformação. (COLIN, 2010)
Essa deformação ou autonomia formal desconstrutivista permitiu a
estetização da arquitetura de forma nunca antes vista e essa inovação, somada a
quebra com a lógica estrutural racionalizada, estimulou e foi facilitada pela evolução
27
Capítulo 2 – Arquitetura Desconstrutivista de Zaha Hadid
dos computadores e criação de softwares especializados. Alguns criados pelos
próprios arquitetos.
Talvez a computação gráfica esteja para o desconstrutivismo assim como a geometria plana esteve para o Renascimento, e o desenho projetivo para o neoclassicismo. (MALARD, 2003).
Assim, vemos que essa arquitetura veio quebrar com a linearidade e rigidez
da arquitetura e tecnologias tradicionais. Enquanto aquela era regrada pela
linearidade, racionalidade e amarrada aos eixos ortogonais do plano cartesiano,
essa vem, como o próprio nome sugere, desconstruir essa ideia trazendo formas
mais fluidas, poéticas, que estimulam a imaginação e instigam uma maior relação do
usuário com o espaço, que não é meramente funcional, mas interage com o entorno
e com o humano.
Essa ideia inspirou o conceito e deu embasamento para o projeto da escola
de circo, um edifício que foge a rigidez tradicional e garante total interação com o
entorno e com o usuário.
29
Capítulo 3 – Referências Projetuais
3 REFERÊNCIAS PROJETUAIS
Este capítulo apresenta os projetos escolhidos como referências para o
projeto arquitetônico, que auxiliaram no desenvolvimento do programa de
necessidades e do partido arquitetônico. Foram analisados aspectos relacionados à
funcionalidade, bem como qualidade estética e formal que se deseja alcançar na
escola de circo.
3.1 REFERÊNCIAS DIRETAS
3.1.1 Tropa Trupe (Natal, RN)
O grupo potiguar surgiu no ano de 2006 e vem se destacando não só pelo
belíssimo trabalho em cena como também pelas oficinas que oferecem. Locados na
Av. Campos Sales em Petrópolis – Natal, o Tropa Trupe é o que mais se aproxima
de uma escola de circo em Natal.
A companhia oferece, em seu galpão, oficinas regulares para pessoas de
todas as idades interessadas em se desafiar, sair da rotina e exercitar o corpo
através das técnicas circenses e outras atividades lúdicas e corporais. Dentre os
cursos oferecidos se destacam o tecido aéreo, acrobacias e clown.
Figura 7 - Espaço Tropa Trupe
Fonte: Acervo pessoal, 2016
30
Capítulo 3 – Referências Projetuais
As oficinas acontecem todas no mesmo espaço (Figura 7): um galpão aberto
com dimensões de 8,00x7,70m e altura de 6,00m, adaptado para as diversas
funções. Ora com chão livre para treino e ensino de acrobacias de solo, malabares
ou clown, ora com colchões para acrobacias aéreas.
Por não ter sido projetada para abrigar uma escola de circo, a edificação não
contribuiu como referência arquitetônica, porém a conversa com a Professora de
Tecido Aéreo e artista Circense Luísa Guedes, esclareceu muitas dúvidas acerca
das alturas necessárias para as diversas atividades, bem como auxiliou no
embasamento e direcionamento do estudo indireto.
3.2 REFERÊNCIA INDIRETA
3.2.1 Escola de Circo - La Grainerie (Balma, França)
La Grainerie é uma escola de artes circenses que se dedica ao fortalecimento
da indústria do circo e ao apoio de seus atuantes, através do aluguel de salas e
aparelhos de treinamento por uma taxa anual ou semestral.
Ela está localizada em Balma, região metropolitana de Toulouse, França. O
edifício tem área de 3200m² dentro de um terreno de 11500m². Sua estrutura é
complexa, visto que consegue abranger todas as áreas de funcionamento de um
circo, como espaços para desenvolvimento de designers, técnicos e
administradores, além de um trabalho social que envolve a relação de artistas com a
sociedade.
A edificação passou por três reformas: 2010, 2011 e 2012. Cuja última
modificação tratou-se de uma expansão com a construção de alojamentos e
cozinha, para atender à demanda do local.
Este estudo de referência mostrou-se relevante para a compreensão da
demanda da programação arquitetônica necessária para uma escola de circo. Na
edificação em questão, os espaços são divididos da seguinte forma:
2 salas de criação equipadas, onde uma delas é capaz de tornar-se palco com
espaço para 260 espectadores com possibilidade de 2 layouts (versão frontal ou
bi-frontal);
31
Capítulo 3 – Referências Projetuais
5 estúdios de criação;
1 ateliê de fabricação e pequenos ajustes de cenografia, pintura, reparação e
costura;
2 espaços de treino equipados para acrobacia, trampolim e trapézio;
10 escritórios;
1 centro de pesquisa com biblioteca e sala de reuniões;
1 grande saguão de recepção com bar e cozinha capaz de receber até 300
pessoas;
1 rua interna de 80m que permite a existência de mais de 120m lineares de
exposição artística;
1 pátio arborizado para eventos sociais e espetáculos ao ar livre;
1 praça de 3000m² capaz de atender a uma tenda para 1500 pessoas ou tendas
menores de menor capacidade;
1 espaço de acampamento para caravanas;
19 contêineres de 6x12m para estocagem de equipamentos artísticos ou
aparelhagem.
A partir da organização dos ambientes da La Grainerie, foi possível entender
as relações espaciais necessárias em uma escola de circo, além das dimensões dos
espaços necessárias para cada tipo de atividade, sobretudo quanto às alturas do pé
direito, visto que algumas atividades, como a acrobacia, necessitam de ambientes
altos (Figura 8).
32
Capítulo 3 – Referências Projetuais
Figura 8 – Área de treinamento de acrobacias na La Grainerie
Fonte: Sideshow Circus Magazine, 2016.
No entanto, algumas características do projeto não se mostraram
interessantes para o desenvolvimento do projeto em questão. Tal como a estética
apresentada e o excesso de circulação em planta (Figura 9) representada pela
mancha azul, o que causa uma compartimentação indesejada entre os ambientes e
perda de espaço útil.
Figura 9 – Espaços Escola de circo La Grainerie
Fonte: La Grainerie, 2016
33
Capítulo 3 – Referências Projetuais
3.3 REFERÊNCIAS FORMAIS
3.3.1 Moscow Circus School (Concurso de Arquitetura)
As Arquitetas Belinda Ercan e Maryam Fazel do escritório HLM’s Sheffield
office do Reino Unido venceram o concurso internacional promovido pela Concours
d’Architecture com uma proposta para Escola de Circo de Moscou, Rússia (Figura
10). O projeto pensado por elas visou proporcionar um novo ambiente que
permitisse conectar visitantes e artistas através de um design contemporâneo que
inspira a criatividade.
Figura 10 - Moscow Circus School.
Fonte: WAN AWARDS, 2016.
O conceito baseou-se nas asas dianteiras de um inseto que se abrem para
criar um escudo de proteção que auxilia no voo. Os panos de vidro trazem leveza e
permitem a transparência das atividades que acontecem tanto dentro como fora do
edifício. O acesso do público aos telhados permite ainda mais esse vislumbre das
atividades no interior e o anfiteatro ao ar livre reforça essa ideia da ligação do
público com os artistas.
34
Capítulo 3 – Referências Projetuais
O projeto também oferece um espaço flexível que pode ser usado como
exposição ou espaço de eventos diversos, como espetáculos de teatro, dança e
música e foi exatamente essa característica que tentará ser alcançada na proposta
final: um edifício que não serve apenas como abrigo do programa de necessidades,
mas é flexível e funciona como praça e convida o público a usos diversos e
simultâneos.
3.3.2 Serpentine Sackler Gallery (Londres, Inglaterra)
Localizado em Kensignton Gardens, em Londres, o projeto consiste na
intervenção em um edifício já existente, onde a edificação original em pedra (Figura
11) do século XIX recebeu novo uso e foi complementado pela estrutura
contemporânea tensionada, retrato da arquitetura do escritório Zaha Hadid
Architects.
Antes construído para ser um paiol de pólvora, o edifício Magazine agora
funciona como galeria de arte. Para chegar nesse objetivo, ele sofreu algumas
modificações espaciais, sempre respeitando a condição de patrimônio. Essas
adequações e qualidade dos novos espaços são excepcionais, mas como o foco do
trabalho é o estudo do anexo contemporâneo, as adaptações não serão
comentadas.
Figura 11 - Serpentine Sackler Gallery
Fonte: LUKE HAYES, 2016.
35
Capítulo 3 – Referências Projetuais
O anexo complementa a edificação original de forma equilibrada e fluida,
apesar de trazer características físicas totalmente contrastantes. Ele consiste em um
espaço dinâmico e leve, com presença de transparência que confere uma maior
integração com o ambiente externo e torna o edifício mais convidativo, já que sua
principal função é ser um espaço de convivência e destino cultural e gastronômico.
Apesar de parecer uma construção efêmera, ela é permanente e fruto de
uma pesquisa sobre superfícies estruturais curvilíneas. A solução para conferir papel
estrutural a essa membrana têxtil foi produzi-la em fibra de vidro tecida. Essa se
estica conectando uma viga, que percorre todo o perímetro do edifício, aos cinco
pilares interiores, os quais articulam os pontos mais altos da cobertura (Figura 12).
Figura 12 – Detalhe do Sistema construtivo
Fonte: LUKE HAYES, 2013.
Essa viga perimetral é uma treliça metálica dupla que se apoia diretamente no
solo em três pontos nas fachadas posterior, anterior e oeste e compõe a própria
cobertura da ampliação (Figura 13). Na fachada leste, onde essa intervenção se liga
ao edifício antigo, a viga/cobertura parece flutuar, uma vez que não toca o edifício
vizinho. Os panos de vidro reforçam essa ideia de leveza e delicadeza do projeto.
36
Capítulo 3 – Referências Projetuais
Figura 13 - Fachada posterior da Serpentine Sackler Gallery, onde podemos observar os pontos de
apoio da viga perimetral.
Fonte: LUKE HAYES, 2016.
3.3.3 Centre Pompidou (Metz, França)
Desenvolvido para ser um forte marco turístico da cidade de Metz, França, e
servir de estímulo à divulgação dos setores artísticos contemporâneos, o Pompidou -
Centro artístico francês de Metz (Figura 14), museu de arte moderna e
contemporânea, foi projetado pelo renomado arquiteto japonês Shigeru Ban,
desenvolvedor de ideias inovadoras a partir de conhecimentos convencionais, onde
utiliza de sua habilidade criativa para desenvolver uma estrutura caracterizada pela
sofisticação estrutural, beleza artística e uso de técnicas e materiais pouco usuais.
Figura 14 - Fachada Pompidou de Metz
Fonte: SBEGHEN, 2014
37
Capítulo 3 – Referências Projetuais
Sua composição estrutural é formada por três grandes estruturas retangulares
empilhadas verticalmente, as quais dão origem às galerias-tubo. Seguido de um
volume redondo conectado a um dos tubos, contendo o estúdio de criação e um
restaurante. E ainda possui um volume quadrado para o auditório e um conjunto de
escritórios. Todo o intrincado complexo foi montado em concreto e aço,
diferentemente da fascinante cobertura hexagonal.
A fim de criar espaços funcionais, eu desenvolvi o programa em volumes simples, com uma circulação clara entre eles. Eles foram dispostos em três dimensões para simplificar a sua relação funcional. As galerias gerais com distintos requisitos para comprimentos foram baseadas em um módulo de 15m de largura para criar três tubos quadrados simples com volumes longos e retangulares de 90m de profundidade no interior. Os três tubos são empilhados verticalmente e colocados em torno de uma torre de estrutura em aço hexagonal que contém as escadas e elevadores. O espaço criado sob as coberturas, de três camadas, se transformou de Galeria-Tubos para formar a Galeria Grande Nef. (SBEGHEN, 2014)
Sua marcante cobertura estende-se por uma superfície com área de oito mil
metros quadrados (8.000 m²), cobrindo todo o complexo, a fim de unificar os
variados volumes em um todo coeso. A estrutura é formada por dezesseis mil
metros (16.000 m) de uma intrincada trama de madeira laminada colada, que se
cruzam para formar unidades de madeira hexagonais e triangulo-equilaterais,
remetendo ao trançado de cestos de bambu e ao formato geográfico em hexágono
da França.
A inspiração para o formato veio do chapéu tradicional chinês, e a partir dele
como base, foi desenvolvida uma estrutura geométrica irregular, com curvas e
contracurvas a compor sua extensão, a qual é coberta por uma membrana de fibra
de vidro e um revestimento branco de teflon. Tal revestimento ainda possui as
particularidades de autolimpeza, proteção da luz solar direta durante o dia e uma
leve translucidez durante a noite (Figura 15).
38
Capítulo 3 – Referências Projetuais
Figura 15 - Pompidou de Metz vista noturna
Fonte: SBEGHEN, 2014
Seu design interno foi pensado de forma que obtivesse a melhor acomodação
para exposição das artes, considerando o olhar do visitante e seu acesso
descomplicado as exposições, de modo a tornar-se marcante em sua memória.
Assim, na pretensão de criar um edifício com espaços funcionais, tomou como base
formal volumes simples e de fácil circulação entre seus ambientes.
Figura 16 - Pompidou de Metz vista interna
Fonte: SBEGHEN, 2014
39
Capítulo 3 – Referências Projetuais
Quanto aos detalhes da trama pode-se observar na Figura 17 como se dá o
entrelaçamento das vigas de madeira laminada colada, bem como o momento que
as mesmas se curvam transformando-se em pilar. Está ainda ilustrado nessa
imagem o acabamento com o anel metálico na finalização da cobertura em
membrana de fibra de vidro e revestimento de teflon.
Figura 17 – Detalhe pilar
Fonte: SBEGHEN, 2014
Fica ainda mais claro na Figura 18, como se dá o encaixe das vigas de
madeira com os anéis metálicos e a amarração entre uma viga e outra por meio de
espaçadores, também de madeira e parafusos metálicos.
Figura 18 – Detalhe dos encaixes da cobertura
Fonte: FRANK KALTENBACH, 2010.
40
Capítulo 3 – Referências Projetuais
Os estudos de referência apresentados nesse capítulo serviram como
embasamento para questões de funcionalidade, de fechamento do programa de
necessidades e principalmente para estudo de forma e técnicas/materiais
construtivos que a viabilizasse. Assim, as principais características observadas
foram:
- Programa de necessidades;
- Alturas e dimensões favoráveis para ensino e treino das diversas atividades
circenses;
- Plasticidade formal;
- Ideia de edifício praça;
- Permeabilidade e flexibilidade dos ambientes;
-Técnicas construtivas
42
Capítulo 4 – Condicionantes do Projeto Arquitetônico
4 CONDICIONANTES DO PROJETO ARQUITETÔNICO
Neste capítulo serão abordados os condicionantes legais e ambientais
incidentes sobre o terreno escolhido para a implantação do anteprojeto. Aspectos
esses que influenciaram as decisões iniciais do projeto, por tratarem dos índices
urbanísticos que estarão rebatidos na implantação, zoneamento, volumetria,
acessos, e distribuição do programa de necessidades.
4.1 CONDICIONANTES LEGAIS
4.1.1 Plano Diretor de Natal
O terreno escolhido para elaboração do anteprojeto está localizado no Bairro
de Santos Reis, no limite com o bairro Rocas e, segundo o macrozoneamento
proposto pelo Plano Diretor do Município de Natal (2007), se encontra em uma área
adensável, ou seja, dispõe de infraestrutura urbana como: sistema de abastecimento
de água e esgotamento sanitário; sistema de drenagem de águas pluviais; sistema
de energia elétrica e sistema viário.
Ainda conforme essa lei, o terreno encontra-se em uma área cujo coeficiente
de aproveitamento é de 2,5 e, por também fazer parte de uma AEIS (Área Especial
de Interesse Social) não regulamentada, fica vetado seu desmembramento ou
remembramento, bem como uso de gabarito superior a 7,5m (exceto para usos
institucionais e/ou áreas verdes).
Entendendo o projeto como um edifício praça que abriga uma escola, o
terreno foi desmembrado para criação de uma rua auxiliar que divide o terreno em
dois. Sendo só uma parte dele usado no projeto propriamente dito.
Além disso, essa área está inserida na ZET 03 (Zona Especial Turística), a
qual prevê um ângulo de proteção visual que limita o gabarito entre 4 e 18m de
altura, dependendo da locação no terreno – ver Apêndices 1 e 2. Por esse motivo e
para garantir um gabarito elevado na região do urdimento do teatro do circo, optou-
se por uma pequena movimentação de terra, deixando grande parte do terreno na
cota 10 o que, seguindo todas as restrições legais, permitiria nesse ponto específico
a construção de até 17,82m de altura (ver Figura 19).
43
Capítulo 4 – Condicionantes do Projeto Arquitetônico
Figura 19 – Corte longitudinal das visuais ZET 03 a partir do Ponto 01
Fonte: Acervo Pessoal com base na Lei nº 3.639/87
Todas as restrições citadas acima foram consideradas e o resumo desses
dados estão ilustrados na Tabela 1 – Índices urbanísticos e quadro de áreasTabela 1 junto
com as dimensões e taxas adotadas no projeto.
Tabela 1 – Índices urbanísticos e quadro de áreas
PRESCRIÇÕES URBANÍSTICAS PERMITIDAS ADOTADAS
RECUOS FRONTAL: 3,0m > 30m
RECUOS LATERAL E DE FUNDO: 1,5m > 30m
COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO 2,5 0,32
GABARITO MÁXIMO: de 4 a 18m* de 6 a
16,30m
TAXA DE OCUPAÇÃO: 80% 24%
TAXA DE ÁREA PERMEÁVEL: 20% 46%
*Em conformidade com as restrições da ZET 03 - Lei nº 3.639/87
QUADRO DE ÁREAS:
ÁREA TOTAL DO TERRENO: 31171,82 m²
ÁREA CONSTRUÍDA TÉRREO: 7.780,00 m²
ÁREA CONSTRUÍDA 2 PAVMENTO: 1.697,20 m²
ÁREA CONSTRUÍDA 3 PAVIMENTO: 522,80 m²
ÁREA TOTAL CONSTRUÍDA: 10.000,00 m² Fonte: Acervo Pessoal com base na Lei no 3.639/87
4.1.2 Código de Obras de Natal
Somadas a essas restrições legais especificas do Plano Diretor, foram
consultadas as normativas do Código de Obras, quanto as condições gerais
relativas às edificações, presentes no capítulo V desse documento. Condições essas
que tratam das espessuras das alvenarias, proporção das aberturas das esquadrias,
dimensões mínimas nas escadas e altura dos pés direitos. Diretrizes para garantir o
mínimo de conforto quanto à dimensão dos ambientes e sua iluminação e ventilação
naturais.
44
Capítulo 4 – Condicionantes do Projeto Arquitetônico
4.1.3 Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos – NBR 9050/2015
Para garantir o acesso ao edifício à maior quantidade possível de pessoas,
independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção, as
diretrizes presentes na NBR 9050 foram consideradas na elaboração da proposta.
Não foi feito projeto detalhado de acessibilidade, já que estamos tratando de um
anteprojeto, mas as dimensões, áreas de manobra, inclinações e materiais foram
pensados para atender a norma, tanto no edifício como em seu entorno.
4.1.4 Código de segurança contra incêndio e pânico do Rio Grande do Norte
Com o objetivo de assegurar a segurança e facilitar a ação em situação de
risco, esse código foi estudado e colocado em prática no desenvolvimento do
projeto. Como o produto desse trabalho é uma escola de circo cuja principal
característica é o espaço aberto para apresentações diversas, o ambiente mais
crítico quanto a risco de incêndio é o teatro.
Assim, para fim de cálculos junto a esse código considerou-se a classificação
quanto à ocupação como sendo Teatro (área cênica e auditório). O edifício ainda foi
classificado quanto à altura: tipo IV, quanto a carga de incêndio: Moderado
(600MJ/m²) e quanto ao risco: B (ver tabela 2).
Baseado nessas informações calculou-se a reserva técnica necessária para a
caixa d’água que seguiu o cálculo abaixo e teve como resultado 15.000L. Somando
a quantidade necessária para abastecer o edifico por três dias temos: 40.000L que
serão distribuídos em 4 caixas d’água de 10.000L.
45
Capítulo 4 – Condicionantes do Projeto Arquitetônico
Além da reserva técnica o código prevê as seguintes medidas de segurança
contra incêndio: controle de materiais de acabamento, saídas de emergência,
Iluminação de emergência, sinalização de emergência, extintores e Brigada de
Incêndio.
Tabela 2 – Resumo das classificações
RERSUMO DAS CLASSIFICAÇÕES
QUANTO À OCUPAÇÃO: ÁREA CÊNICA E AUDITÓRIO
QUANTO À ALTURA: TIPO IV (MÉDIA ALTURA)
QUANTO À CARGA DE INCÊNDIO: 600MJ/m² (RISCO B)
RESERVA DE INCENDIO PARA DOIS HIDRANTES: 15.000 L
Fonte: Acervo Pessoal com base no código de segurança contra incêndio e pânico do Rio Grande do Norte
4.1.5 Quanto as vagas de estacionamento
O cálculo da quantidade de vagas de estacionamento foi feito considerando o
empreendimento como fazendo parte da categoria 13 do anexo III do o Código de
Obras do município, que está relacionado ao serviço de educação em geral,
incluindo escolas de arte, dança, idiomas, academia de ginástica e de esportes.
Esse código estabelece um total de 1 vaga para cada 60 m² para ruas locais. Assim,
considerando toda a área construída do edifício para superdimensionamento das
vagas, teríamos: 10.000,00 / 60 = 166 vagas.
No projeto foram locadas 165 vagas, das quais foram reservadas 2% para
pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida e 5% para cidadãos
com idade igual ou superior a 60 anos, conforme Resoluções do CONTRAN.
4.2 CONDICIONANTES FÍSICO AMBIENTAIS
Como já citado, o terreno escolhido (Figura 20) está inserido em uma área
urbanizada de Natal, região administrativa Leste e situado no bairro de Santos Reis
na Rua Décio Fonseca. Com 31.171,82 m², ele corresponde a uma parcela da antiga
área de tancagem da Petrobras, que hoje constitui um espaço vazio e sem uso, em
46
Capítulo 4 – Condicionantes do Projeto Arquitetônico
cujo entorno imediato se concentra o maior adensamento do bairro que se
caracteriza por ser residencial e predominantemente térreo.
Figura 20 - Situação do terreno
Fonte: Acervo Pessoal
4.2.1 Sobre o Entorno
O terreno encontra-se em uma área predominantemente habitacional e em
sua maioria térrea, atingindo em alguns poucos lugares gabarito com 3 pavimentos.
Como mostra a Figura 21, seu entorno não apresenta diversidade de equipamentos
para lazer ou serviços, observando-se apenas igrejas, uma escola e uma pequena
praça.
Figura 21 – Equipamentos de destaque
Fonte: Acervo Pessoal
47
Capítulo 4 – Condicionantes do Projeto Arquitetônico
As vias de acesso que contornam a parcela do terreno escolhida são três: a
Rua Décio Fonseca, a Rua Campos Pinto e a Rua da Esperança, que em certo
momento vira a Travessa do Vietnã. Essa última é muito estreita e assim como as
demais não favorece o fluxo continuo de carros. Por esse motivo, optou-se pelo
alargamento dessa via e pela criação de uma quarta rua, que foi projetada na parte
norte do terreno como um prolongamento da Rua 3 de outubro, onde foram locadas
as vagas de estacionamento (ver Figura 22).
Figura 22 – Criação do Prolongamento da Rua 03 de Outubro e da Rua do Vietnã
Fonte: Acervo Pessoal
4.2.2 Sobre o Terreno
A escolha do terreno foi motivada primeiramente pela localização e tamanho
do mesmo. Depois de estudar o entorno e história do local, essa escolha se
reafirmou, pois trata-se de um espaço que foi ponto de distribuição e
armazenamento de combustíveis da Petrobras S/A por mais de 50 anos.
Por esse motivo, essa área foi mapeada através de relatório da SEMURB em
Julho de 2011 como área suspeita de contaminação, dado o risco de vazamento dos
combustíveis armazenados ali. Segundo o mesmo relatório existe Termo de
compromisso acordado entre a Petrobras e o Governo do Estado, onde a empresa
48
Capítulo 4 – Condicionantes do Projeto Arquitetônico
se compromete a retirar seus equipamentos e remediar os danos ambientais
causados, deixando o terreno limpo e apto ao reuso (DIOGENES, 2013).
Assim, repensar esse espaço torna-se não só viável como também uma
forma de recompensar a população do entorno, que não viverá mais em situação de
risco e contaminação, mas ganhará um espaço capaz de abrigar diversos
equipamentos e intervenções para usufruto e melhoria da comunidade.
4.2.2.1 Topografia
Quanto a topografia do terreno, ela não é muito acidentada, com desnível
total de 7 metros em uma extensão de 300m. Porém, optou-se por uma
movimentação de terra (ver Figura 23) para que as cotas de nível ficassem mais
espaçadas e para garantir que a locação do edifício estivesse na cota 10, evitando
assim a necessidade de escadas ou rampas para acesso a ele e para garantir um
gabarito de 16,30m no urdimento do teatro, obedecendo às restrições do código de
obras, conforme citado anteriormente.
50
Capítulo 4 – Condicionantes do Projeto Arquitetônico
Fonte: Acervo Pessoal
4.2.2.2 Insolação
Em decorrência do baixo gabarito das edificações do entorno, o terreno não
sofre influência das sombras dos mesmos, recebendo incidência direta do sol em
todas as épocas do ano. Assim, faz-se necessário arborização de todo o terreno,
para garantir sombras e o uso continuo não só do edifício, mas de toda a praça que
será criada ao seu redor.
4.2.2.3 Ventos
Como se pode observar na Figura 24, os ventos variam a intensidade e
direção, durante o dia, mas sua predominância é no sentido sudeste, direção essa
que coincide com a esquina principal do terreno, favorecendo a distribuição dos
ventos por todo ele. Assim, para maior aproveitamento dos ventos e para proteção
do edifício contra a maior incidência de insolação (Figura 25), o mesmo foi locado
com as maiores fachadas voltadas para Norte/ Sul.
Figura 24 - Rosa dos Ventos Natal/RN.
Fonte: Acervo Pessoal
51
Capítulo 4 – Condicionantes do Projeto Arquitetônico
Figura 25 – Ventos e Insolação
Fonte: Acervo Pessoal
Após todas as análises físico-ambientais, o terreno foi considerado como ideal
para implantação do equipamento, que consistirá na inserção não só de uma escola
de circo, mas em áreas diversas para demonstrações artísticas e para encontros
que contribuirá para revitalização desse espaço, além de proporcionar cultura e lazer
não só para os moradores do bairro, mas para toda cidade.
4.3 CONDICIONANTES FUNCIONAIS
Os condicionantes funcionais são aqueles que definem o projeto arquitetônico
quanto ao público alvo, ao programa de necessidades, pré-dimensionamentos,
fluxogramas e zoneamento.
4.3.1 Público alvo
Para iniciar o programa de necessidades se faz necessário que se estabeleça
quem será o público alvo. Como a proposta é um edifício praça, que comporta uma
escola de circo, o público esperado é qualquer pessoa que queira aprender, ensinar,
assistir as apresentações ou ainda utilizar o espaço para outros fins.
52
Capítulo 4 – Condicionantes do Projeto Arquitetônico
4.3.2 Programa de necessidades e pré-dimensionamento
Para facilitar a organização espacial, zoneamento e setorização dos
ambientes a serem incorporados no programa de necessidades, optou-se por dividi-
los em cinco grupos (Figura 26).
Figura 26 – Programa de necessidades
Fonte: Acervo Pessoal
A zona administrativa será responsável em atender questões relacionadas
às matriculas, reuniões, reserva de espaços, bilheteria, e área para
professores/funcionários.
Já a parcela destinada ao ensino será composta por salas flexíveis para
abrigar tanto as aulas específicas circenses como: história do circo, prática em
malabares, contorcionismo, clown, mágica, equilibrismo, mas também aulas e
oficinas que podem servir à comunidade como: costura (confecção de figurinos),
maquiagem, marcenaria.
O espaço de treinamento consistirá em treliças espaciais que permitam o
treino em altura para atividades como trapézio, tecido acrobático e qualquer
atividade que exija altura.
53
Capítulo 4 – Condicionantes do Projeto Arquitetônico
Para dar suporte aos alunos e artistas que porventura não morem na cidade,
haverá uma área reservada para alojamento, com cozinha e banheiros
independentes. Existirá nas áreas livres possibilidade para montagem de quiosques
de lanche/ café, para dar suporte à escola e as apresentações.
Há ainda a área para espetáculos, que consistirá em espaços diversos que
remetam a evolução circense, fazendo referência às praças, arenas, meia arenas
finalizando no palco italiano do teatro.
O pré-dimensionamento destes ambientes foi embasado nos estudos de
referência, em experiência própria adquirida na vivência de espaços semelhantes e
na elaboração de esquemas em AutoCAD2 com layout apropriado. O resultado
encontra-se conforme a Tabela 3 a seguir:
Tabela 3 - Programa de necessidades e pré-dimensionamento.
LOTAÇÃO ÁREA QUANT. TOTAL
unidade m² unidade m²
1 DIRETORIA 1.00 25.00 1.00 25.00 MESA, CADEIRA, ARMÁRIOS
2 SECRETARIA/TESOURARIA 2.00 25.00 1.00 25.00 MESA, CADEIRA, ARMÁRIOS
3 SALA PROFESSORES 20.00 25.00 1.00 25.00 MESA, CADEIRA, ARMÁRIOS
4 SALA REUNIÕES 20.00 25.00 1.00 25.00 MESA, CADEIRA, ARMÁRIOS
-
5 SALA OFICINA 20.00 50.00 3.00 150.00 AULAS DIVERSAS
6 SALA TEORICA 20.00 50.00 1.00 50.00 AULAS DIVERSAS
7 SALA DANÇA 20.00 50.00 1.00 50.00 PISO DE MADEIRA COM BARRAS NAS PAREDES
8 SALA DE MÚSICA 20.00 50.00 1.00 50.00 TRATAMENTO ACUSTICO, MINI PALCO
9 SALA MAQUIAGEM 20.00 50.00 1.00 50.00 PENTEADEIRAS, CADEIRAS E ESPEHOS
10 SALA INFORMATICA 20.00 50.00 1.00 50.00 21 COMPUTADORES, PROJETOR
11 ACROBACIAS AÉREAS/SOLO 50.00 150.00 2.00 300.00 COLCHÕES, BARRAS, EQUIPAMENTOS
12 BANHEIROS ACESSIVEIS - 3.00 2.00 6.00 BACIAS SANITARIAS, LAVATÓRIOS, MICTORIOS
13 BANHEIROS - 15.00 2.00 30.00 BACIAS SANITARIAS, LAVATÓRIOS, MICTORIOS
14 BIBILIOTECA 50.00 100.00 1.00 100.00 PRATELEIRAS, MESAS, COMPUTADORES
15 ACADEMIA 50.00 100.00 1.00 100.00 APARELHOS, ARMÁRIOS
-
16 ANTE CAMARA -
17 PICADEIRO/PALCO 20.00 150.00 1.00 150.00 EQUIPAMENTOS E CENARIOS
18 PLATEIA 400.00 400.00 1.00 400.00 ASSENTOS+CIRCULAÇÃO
19 COXIAS - 80.00 2.00 160.00 EQUIPAMENTOS E CENARIOS
21 CAMARINS 10.00 50.00 4.00 200.00 PENTEADRIRAS, ESPELHOS, CADEIRAS, CABIDEIROS
22 DEPOSITO FIGURINOS 2.00 50.00 1.00 50.00 CABIDEIROS E ARMÁRIOS
23 DEPOSITO EQUIPAMENTOS 3.00 50.00 1.00 50.00 PRATELEIRAS E ARMÁRIOS
24 CABINE DE LUZ E SOM 2.00 15.00 1.00 15.00 MESA DE CONTROLE DE LUZ E SOM CADEIRAS
ZO
NA
ES
PE
TÁ
CU
LO
S
ZO
NA
AD
M
ZONAS
ZO
NA
ED
UC
AC
ION
AL
PRÉ-DIMENSIONAMENTO
OBSERVAÇÕESITEM AMBIENTE
Fonte: Acervo Pessoal
2 software do tipo CAD — computer aided design ou desenho auxiliado por computador - criado e
comercializado pela Autodesk, Inc.
54
Capítulo 4 – Condicionantes do Projeto Arquitetônico
4.3.3 Fluxograma
Para facilitar o desenvolvimento do zoneamento e futuro projeto se faz
necessário compreender os fluxos e relações entre os ambientes dimensionados
anteriormente. O fluxograma abaixo (Figura 27) ilustra os estudos iniciais acerca
dessas ligações e do funcionamento dos ambientes em conjunto.
Figura 27 - Fluxograma.
Fonte: Acervo Pessoal
4.3.4 Zoneamento
O primeiro zoneamento foi feito conforme a Figura 28, onde a administração
foi colocada de forma central, já que atenderá a todas as outras áreas do programa.
Ficando o teatro à sua direita e as salas de aula à esquerda e na porção superior do
desenho. Os alojamentos que segundo esse zoneamento ficou na parte esquerda,
foi relocado, ficando agora sobre as salas de aula centrais, no segundo pavimento,
para garantir mais privacidade.
55
Capítulo 4 – Condicionantes do Projeto Arquitetônico
Figura 28 - Zoneamento.
Fonte: Acervo Pessoal
No terreno (Figura 29), a ideia foi centralizar o edifício de forma que esse
ficasse circundado por áreas verdes, de forma que o lote inteiro seja uma grande
praça.
Figura 29 - Zoneamento.
Fonte: Acervo Pessoal
Com base nesses estudos, as disposições das zonas e de seus ambientes
foram evoluindo e se ajustando tanto às normas quanto ao programa de
necessidades e função. Essa evolução pode, portanto, ser observada no capítulo
seguinte que tratará do desenvolvimento da proposta.
57
Capítulo 5 – Desenvolvimento da Proposta
5 DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA
Neste capítulo, serão apresentadas as etapas percorridas desde as primeiras
ideias, mostrando o conceito, o partido arquitetônico, a evolução da forma, os
estudos de implantação e todo o processo que culminou no anteprojeto, que será
detalhado no memorial justificativo.
5.1 O CONCEITO
O espaço do circo, enquanto local de manifestações culturais e de uma arte
milenar, traz ao público e aos próprios artistas uma fuga da realidade, mesmo que
momentânea, na qual tudo se faz possível e envolto de magia e encantamento. A
arquitetura, nesse caso, pode desempenhar um papel muito além do abrigo e da
funcionalidade do espetáculo, pode intensificar essa experiência através da
percepção diferenciada do espaço. O conceito adotado, portanto, foi o próprio circo
com toda fluidez, flexibilidade, movimento e encanto que ele traz.
5.2 SOLUÇÃO FORMAL
Com o propósito de sair do formato convencional da lona circense e da
arquitetura convencional trabalhada durante toda a graduação, resolveu-se buscar
na arquitetura contemporânea e desconstrutivista ideias e inspirações para esse
anteprojeto. Assim, com base nas referências formais explanadas no capitulo 3,
iniciou-se uma lista com as características que se gostaria de trabalhar na proposta
(Figura 30).
A primeira delas seria o pé direito diferenciado, para dar movimento e
dinamicidade ao prédio, além de favorecer a diversidade de atividades. A segunda
estaria relacionada à permeabilidade e flexibilidade dos ambientes, para garantir que
o edifício seja usado a todo momento e seja uma extensão da praça. A terceira seria
uma consequência dessa última: que os ambientes externos também sejam
utilizados como áreas de aulas/apresentações. Por fim, a ideia é que a cobertura
abrace todo o projeto e sua estrutura se confunda a ponto de não se definir o que é
viga, pilar ou fechamento.
58
Capítulo 5 – Desenvolvimento da Proposta
Figura 30 – Primeiras ideias.
Fonte: Acervo Pessoal
Dessa forma, após vários croquis e tentativas a forma que mais se aproximou
do desejo final é a encontrada na Figura 31, onde a parte mais alongada seria para
as salas de uso flexíveis e de uso conjunto com a comunidade; e as partes mais
altas destinadas ao alojamento, área administrativa, salas de treino, foyer e teatro.
Figura 31 – Croqui inicial
Fonte: Acervo Pessoal
59
Capítulo 5 – Desenvolvimento da Proposta
5.3 PARTIDO ARQUITETÔNICO E EVOLUÇÃO DA PROPOSTA
Um dos objetivos mais importantes é que o edifício seja um retrato da história
circense, com ambientes que façam referência a sua evolução e que sejam
interligados, dando fluidez ao projeto. Para garantir a unidade desses espaços
diferentes e complementares, optou-se pela utilização de uma cobertura que
abraçasse todo o programa e trouxesse para a arquitetura a mesma sensação de
encantamento e movimento que uma apresentação circense traz.
Dessa forma, o partido arquitetônico foi a própria cobertura e como esta se
relacionaria com os ambientes. Assim, o maior desafio desse projeto foi encontrar
meios que tornassem essa cobertura possível. Foram feitos então diversos estudos
para se descobrir desde os materiais que permitissem essa forma ousada, até quais
os softwares que poderiam auxiliar na representação e no planejamento dessa
estrutura.
Descobriu-se então que os programas de computador mais utilizados para
esse fim, nos melhores escritórios de arquitetura do mundo, são o Rhino da
Autodesk e o Grasshopper, que é um plug-in do primeiro. São essas ferramentas
que permitem a parametrização e posterior confecção das peças para montagem na
obra. Exemplos disso são as obras de Zaha Hadid e de Shigeru Ban estudadas no
tópico 3.3 Referências Formais. Com essas informações em mente, foram feitos dois
cursos para domínio dos softwares e a proposta pôde então evoluir.
Como o ambiente mais complexo a se projetar era o teatro, esse foi o ponto
de partida para os primeiros traços, que seguiram as recomendações do corpo de
bombeiros, quanto a segurança, bem como a metodologia de Jhonson Mehta (1999,
apud SOLER, 2005), quanto a relação da profundidade da plateia abaixo do balcão
e sua altura, para evitar a sombra acústica e quanto a linha de visibilidade (Figura
32).
60
Capítulo 5 – Desenvolvimento da Proposta
Figura 32 – Cortes esquemáticos do Teatro, apresentados na pré-banca.
Fonte: Acervo Pessoal
Com as principais alturas definidas, foi feito um estudo volumétrico no
Sketchup3 (Figura 33) para zoneamento e locação das aberturas da cobertura, para
assim poder modela-la no Rhino.
Figura 33 – Volumetria esquemática, apresentada na pré-banca.
Fonte: Acervo Pessoal
3 Software CAD, que opera em ambiente 3D.
61
Capítulo 5 – Desenvolvimento da Proposta
Uma vez modelado no Rhino (Figura 34), a cobertura foi sendo melhorada e
suas curvas suavizadas através de algoritmos dentro do plug-in Grasshopper.
Figura 34 – Volumetria esquemática no Rhino, apresentada na pré-banca.
Fonte: Acervo Pessoal
Nesse momento a planta baixa foi reformulada e se aproximou muito do
resultado final, que será apresentado no próximo capítulo. Pode-se constatar que a
disposição dos blocos ficou mais fluida e que há ligação visual entre os diferentes
ambientes (Figura 35).
62
Capítulo 5 – Desenvolvimento da Proposta
Figura 35 – Plantas baixas esquemáticas antes e após estudo no Rhino, apresentadas na pré-banca.
Fonte: Acervo Pessoal
Com a planta baixa ajustada e as aberturas da cobertura decididas, voltou-se
ao Rhino para adequações e para criação da estrutura de suporte da cobertura: a
trama em madeira laminada colada (Figura 36).
63
Capítulo 5 – Desenvolvimento da Proposta
Figura 36 – Modelagem trama da cobertura no Grasshopper
Fonte: Acervo Pessoal
Figura 37 – Modelagem trama da cobertura no Grasshopper
Fonte: Acervo Pessoal
Assim, o projeto pode ser finalizado a partir do detalhamento das plantas e
elaboração dos cortes, fachadas e detalhes. Os resultados e pormenores podem ser
observados no capitulo que segue, que tratará do memorial justificativo.
65
Capítulo 6 – Memorial Descritivo
6 MEMORIAL DESCRITIVO
6.1 GENERALIDADES
O memorial descritivo tem por objetivo descrever a proposta arquitetônica
desenvolvida no anteprojeto de uma Escola de Circo de forma a fomentar a cultura e
a arte, através da criação de um lugar que mistura lazer e aprendizagem tornando-
se mais um atrativo cultural para a cidade.
O partido arquitetônico considerou a criação de espaços flexíveis e funcionais
que atendessem o programa de necessidades diferenciado, e utilizasse uma
linguagem moderna e inovadora da arquitetura com conceitos contemporâneos e
desconstrutivistas.
Esta proposta culminou em um edifício singular de grande força expressiva,
cuja própria arquitetura convida à livre apropriação dos espaços e à diversidade de
manifestações artísticas.
Para garantir qualidade técnica o anteprojeto foi elaborado ainda seguindo as
recomendações da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, do Código
de Obras da Prefeitura Municipal de Natal-RN, do Corpo de Bombeiro e Meio
Ambiente, respeitando os padrões de segurança e as recomendações dos
fabricantes dos equipamentos e materiais que serão aplicados na obra, bem como
as normas nacionais vigentes quanto à promoção da acessibilidade. A área
construída obedeceu aos recuos, taxa de ocupação, taxa permeável, e demais
parâmetros determinados no código de obras e no plano diretor vigentes.
6.2 O EDIFÍCIO
O edifício foi projetado em um terreno localizado entre a Rua Décio Fonseca,
a Rua Campos Pinto, a Rua da Esperança e a Rua projetada como prolongamento
da Rua 03 de Outubro, no bairro de Santos Reis, zona administrativa Leste da
cidade de Natal. Por se tratar de um edifico praça, não há uma entrada principal,
podendo o acesso ser feito por qualquer rua. O estacionamento, no entanto, está
posicionado na rua projetada na porção norte do terreno.
66
Capítulo 6 – Memorial Descritivo
A edificação possui uma área construída de 10.000,00 m² e abriga quatro
espaços distintos para apresentações, a escola propriamente dita e o alojamento.
Para facilitar a descrição detalhada de materiais, e especificidades elas foram
divididas da seguinte forma (Figura 38):
Figura 38 – Divisão da Planta Baixa em Grupos para facilitar compreensão
Fonte: Acervo Pessoal
GRUPO A (298,34 m²), onde se concentra a zona administrativa:
A1 - Informações e bilheteria;
A2 - Secretaria;
A3 - Direção;
A4 - Sala dos professores;
A5 - Sala de Reuniões e
A6 – Biblioteca
67
Capítulo 6 – Memorial Descritivo
GRUPO B (399,10 m²), onde se concentra a parte da zona de ensino
B1 - Oficinas 1, 2 e 3
B2 - Studio de Música
B3 - Banheiros
B4 - Sala de Dança
B5 - Academia
GRUPO C (507,50 m²), onde se concentra parte da zona de ensino e a zona
de alojamento.
o Térreo (253,75 m²)
C1 - Salas 1, 2, 3 e 4
C2 - Depósito
o 1 Andar (253,75 m²)
C3 - Dormitórios 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7
C4 - Banheiro
C5 – Cozinha/ Sala de Estar/Jantar
GRUPO D, que corresponde a Zona de Espetáculos (6828,81 m²)
D1 - Arena
D2 - Meia Arena
D3 - Teatro
D4 - Praças cobertas
GRUPO E, que corresponde a área de treino e praças cobertas (951,19 m²)
E1 - Treino
E2 – Praças cobertas
68
Capítulo 6 – Memorial Descritivo
As praças cobertas, ou seja, toda a área de circulação compreendida embaixo
da cobertura foi projetada para servir não apenas de passagem, mas para ser local
de encontro e de uso comum, podendo haver exposições, apresentações, feiras,
quiosques para venda de lanches ou qualquer atividade que se enquadre no espaço.
As áreas e índices urbanísticos referentes ao empreendimento estão
organizadas na a seguir:
Tabela 4 – Resumo Índices urbanísticos e quadro de áreas
PRESCRIÇÕES URBANÍSTICAS ADOTADAS
RECUOS FRONTAL: > 30m
RECUOS LATERAL E DE FUNDO: > 30m
COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO 0,32
GABARITO MÁXIMO: de 6 a 16,30m
TAXA DE OCUPAÇÃO: 24%
TAXA DE ÁREA PERMEÁVEL: 46%
*Em conformidade com as restrições da ZET 03 - Lei nº 3.639/87
QUADRO DE ÁREAS:
ÁREA TOTAL DO TERRENO: 31171,82 m²
ÁREA CONSTRUÍDA TÉRREO: 7.780,00 m²
ÁREA CONSTRUÍDA 2 PAVMENTO: 1.697,20 m²
ÁREA CONSTRUÍDA 3 PAVIMENTO: 522,80 m²
ÁREA TOTAL CONSTRUÍDA: 10.000,00 m² Fonte: Acervo Pessoal com base na Lei no 3.639/87
69
Capítulo 6 – Memorial Descritivo
6.3 SISTEMA CONSTRUTIVO E MATERIAIS
6.3.1 Grupos A, B e C
O sistema construtivo designado para a construção dos grupos A, B e C
(Figura 39) é composto, no térreo, por sistema de pórticos em estrutura metálica
perfil I, com fechamento das extremidades em Alvenaria de tijolo aparente, divisórias
acústicas para separação entre ambientes e vedação com esquadrias.
O piso assim como as lajes serão em concreto pré-moldado com altura
aproximada de 10 cm de altura.
Figura 39 – Perspectiva explodida do Sistema construtivo e materiais dos grupos A, B e C
Fonte: Acervo Pessoal
70
Capítulo 6 – Memorial Descritivo
No segundo andar, que acontece apenas no grupo C, o sistema construtivo
seguirá o mesmo padrão do térreo acrescentando-se apenas as paredes em drywall
que receberão preenchimento termo acústico para garantir conforto aos dormitórios.
A característica mais marcante do sistema estrutural escolhido é a
flexibilidade da planta baixa, já que as vedações não desempenham papel estrutural
e podem ser removidas de acordo com a necessidade do momento. Como ilustrado
na Figura 39 as esquadrias que fazem o papel de vedação serão do tipo camarão
com folhas de tabicão e moldura metálica, permitindo ajuste da entrada de luz
natural e vento de acordo com o desejo do usuário.
Esse tipo de esquadria (Figura 40) também permitirá total integração dos
ambientes com o exterior caso sejam 100% abertas ou total privacidade se 100%
fechadas, dando autonomia e se adequando aos diversos formatos de
aulas/atividades que possam vir a acontecer na escola.
Figura 40 – Esquadria tipo Camarão com folhas de tabicão e moldura metálica
Fonte: Acervo Pessoal
6.3.2 Grupo D
No teatro o sistema construtivo escolhido foi em pórtico composto por vigas e
colunas de concreto armado. Os pilares terão dimensão aproximada de 0,20 x 0,40
m para a estrutura nas paredes do Urdimento e 0,20 x 0,20 m para as demais áreas;
as vigas terão altura aproximada de 0,60m em razão do vão médio de 6 m; e as
lajes serão de concreto pré-moldado com altura aproximada de 10 cm de altura.
71
Capítulo 6 – Memorial Descritivo
Assim como em toda a escola a vedação não terá papel estrutural, sendo no
teatro utilizados dois tipos de vedação: Na área destinada a plateia serão utilizados
sistema de viga e pilar metálicos (perfil I) com fechamento em cortina de vidro
laminada e insulada seguida de divisórias acústicas (Figura 41), que só serão
fechadas no momento das apresentações. As demais vedações serão em concreto
aparente, dispensando outras etapas de obra como chapisco emboço e reboco.
Figura 41 – Perspectiva explodida do Sistema construtivo e materiais do Teatro
Fonte: Acervo Pessoal
72
Capítulo 6 – Memorial Descritivo
6.3.3 Grupo E
O Grupo E compreende a área de treinos e a praça coberta. A primeira
consiste em uma estrutura metálica de pilares e vigas circulares do tipo Strauss que
receberão revestimento intumescente na cor branca (Figura 42). Serão fixadas no
piso das praças que será em cimento polimérico, que apesar de não exigir contará
com juntas de dilatação em madeira, seguindo o mesmo padrão da trama da
cobertura.
Figura 42 – Estrutura metálica Strauss
Fonte: Acervo Pessoal
6.3.4 Cobertura
A cobertura é resultado de uma estrutura complexa de madeira que consiste
em vigas de madeira laminada colada produzidas em máquinas de CNC avançadas,
através de leitura digital. Essas vigas se confundem, pois ora se desdobram em
pilares, ora tocam o chão e ora são cobertura (Figura 43).
Figura 43 – Estrutura em madeira laminada e anéis metálicos
Fonte: Acervo Pessoal
73
Capítulo 6 – Memorial Descritivo
A dimensões nesse projeto foram estimadas com base na obra Pompidou de
Shigeru Ban em Metz na França, para a qual foram usadas, em sua maioria, vigas
com seção transversal de 14x44cm e comprimento máximo de até 14 m. Esse
sistema construtivo funciona como ilustrado no esquema da Figura 44, onde as
peças são entrelaçadas com auxílio de espaçadores, também em madeira colada e
parafusadas. Para melhor acabamento na superfície os parafusos serão cobertos
cor mistura de pó de madeira e cola e lixado.
Figura 44 – Detalhe da montagem da cobertura
Fonte: Acervo Pessoal
Essa trama de madeira é coberta por membrana têxtil em fibra de vidro e
teflon politetrafluoroetileno (PTFE), que receberá tratamento termo acústico para
minimizar a entrada de calor e a saída do som (Figura 45). Esse tratamento acústico
será em camadas de lã de PET 10mm, Lã de Rocha 10mm e finalizadas com
membrana perfurada Tensoflex na área do teatro.
Há ainda uma viga perimetral e outras sete vigas circulares metálicas com
revestimento intumescente na cor branca que dão acabamento ao conjunto.
Figura 45 – Cobertura em membrana têxtil em fibra de vidro e teflon PTFE
Fonte: Acervo Pessoal
74
Capítulo 6 – Memorial Descritivo
6.4 QUANTO AO CONFORTO
Além do tratamento termo acústico presente na cobertura, o edifício foi
projetado para receber os ventos predominantes que vem de sudeste e sul. Os
blocos internos à cobertura também foram pensados de forma escalonada para
facilitar a passagem dos ventos que se comportam de forma cruzada por todo o
edifício.
Há ainda, nas aberturas da cobertura a possibilidade de exaustão do ar
quente e entrada da iluminação natural, como pode ser observado na Figura 46.
Figura 46 – Detalhe das aberturas da cobertura
Fonte: Acervo Pessoal
75
Capítulo 6 – Memorial Descritivo
6.5 RESULTADO FORMAL
O resultado formal do anteprojeto é uma arquitetura de planta simples,
circulações claras e envoltória escultórica, que abraça o programa do edifício e
convida ao uso. Outro aspecto importante a se destacar é a relação entre os
espaços, sua continuidade visual e a relação com o exterior. As próximas figuras
(Figuras 47,48,49 e 50) ilustrarão essas relações.
A primeira imagem (Figura 47) mostra uma vista a partir da esquina entre a
Rua Campos Pinto e a Rua da Esperança, mostrando a entrada para o Teatro, a
Praça coberta e parte do bloco administrativo.
A fachada Norte pode ser vista na Figura 48, onde pode-se observar da
esquerda para a direita: a meia arena (parede com grafitti), o bloco de aulas/
acomodação e o bloco que abriga as oficinas e salas de música, dança e academia.
Já o interior do edifício pode ser analisado a partir do olhar de um observador
que se encontra próximo a arena (Figura 49). Nessa posição conseguimos ver como
os diversos blocos se relacionam e como se dá o uso das áreas de convivência, as
quais podem ser utilizadas por atividades diferentes e simultâneas.
Na Figura 50 tem-se uma visão do interior do teatro, mostrando a interligação
visual do mesmo com a escola a partir da utilização de divisórias retráteis com
tratamento acústico, que na imagem aparecem abertas.
Figura 47 – Perspectiva fachada Sul
Fonte: Modelagem feita pela autora/ Render por Cintia Vieira / Pós-produção por Lucas Menezes
Figura 48 – Perspectiva fachada Norte
Fonte: Modelagem feita pela autora/ Render por Cintia Vieira / Pós-produção por Lucas Menezes
Figura 49 – Perspectiva Interna com vista da Arena para o Teatro
Fonte: Modelagem feita pela autora/ Render por Cintia Vieira / Pós-produção por Lucas Menezes
Figura 50 – Perspectiva Interna com vista a partir do palco para a escola
Fonte: Modelagem feita pela autora/ Render por Cintia Vieira / Pós-produção por Lucas Menezes
80
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho buscou unir duas paixões pessoais: o circo e a arquitetura. O
objetivo maior era alcançar com minha arquitetura a mesma sensação que tenho ao
ver uma demonstração circense de qualidade, ao apresentar meus números de
mágica ou ainda vivenciar uma obra de arquitetura que foge ao convencional.
Aquela sensação de espanto e encantamento, sempre seguida da pergunta: “Como
é que ele/ela fez isso? ”. Assim, com o propósito de entender um pouco mais do
processo de projeto e ferramentas que esses artistas e arquitetos utilizam, me
dediquei a este estudo durante esse ano.
Esse processo de pesquisa foi árduo e repleto de dificuldades, mas são
exatamente as horas de dificuldades, dedicação, repetição e treino que fazem um
bom artista, um bom circense e um bom arquiteto. Ainda tenho muito o que aprender
e muito o que praticar para chegar no nível que almejo, mas o ponta pé inicial foi
dado e o resultado alcançado nesse anteprojeto de Escola de Circo já me enche de
orgulho e me estimula a continuar.
O produto apresentado aqui é, portanto, resultado dessa entrega, que uniu o
desejo por sair do convencional à toda a bagagem adquirida na graduação, que me
permitiu analisar a evolução arquitetônica e histórica do tema escolhido, bem como
utilizar todas as normas e recomendações legais que estão envolvidas na
elaboração de um anteprojeto e na sua representação.
Considero, portanto, que alcancei os objetivos iniciais aqui expostos e espero
que esse trabalho sirva de incentivo para fuga da arquitetura convencional que visa
apenas a função de abrigo. A arquitetura, nos dias de hoje, precisa ser flexível e
mais que isso, precisa ser vivida.
REFERÊNCIAS
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APÊNDICES
Abaixo, segue os mapas esquemáticos das restrições de gabarito na Zona
Especial Turística 03, através dos visuais dos Ponto 01 (Figura 51) e do Ponto 02
(Figura 52) presentes na Lei nº 3.607 de 18 de novembro de 1987.
Figura 51 – Visuais ZET 03 Ponto 01
Fonte: SEMURB, 2016