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DJALMA FERREIRA PELEGRINI

TRANSFORMAÇÕES NA SUINOCULTURA BRASILEIRA: o programa de integração da Rezende Alimentos/Sadia no Triângulo

Mineiro/Alto Paranaíba

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós - Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito à obtenção

do título de Mestre em Geografia.

Área de concentração: Análise e Planejamento Sócio-Ambiental

Orientador: Prof. Dr. João Cleps Júnior

Uberlândia (MG)

Instituto de Geografia 2001

v

AGRADECIMENTOS

Somos imensamente gratos ao Prof. Dr. João Cleps Júnior, pela

competência e disposição com que orientou este trabalho, não medindo

esforços para sua realização, como também pelas inúmeras

manifestações de confiança e amizade transmitidas ao longo destes

dois anos.

Devemos sinceros agradecimentos à Prof.ª Dra. Vera Lúcia

Salazar Pessôa, que, durante a defesa do projeto de pesquisa e exame

de qualificação, colaborou grandemente conosco, oferendo sugestões,

e, posteriormente, na fase final de redação, dispôs-se prontamente a

corrigir o texto original. Também pela boa vontade, sempre manifesta,

na solução de dúvidas, especialmente com relação às normas técnicas.

De forma semelhante, agradecemos ao Prof. Dr. Antônio César

Ortega, que também desde o início contribuiu de forma marcante para

o êxito deste trabalho, levantando questões centrais para o

equacionamento do nosso tema, dentro e fora das salas de aula.

Da Prof.ª Dra. Vânia Rúbia Farias Vlach e do Prof. PhD. Shigeo

Shiki recebemos valiosas contribuições para a execução deste estudo,

pelo que externamos nossa gratidão.

Gostaríamos também de estender os agradecimentos ao Prof. Dr.

Bento Itamar Borges, e, igualmente, ao Prof. PhD. David George

Francis, tanto pelo bom exemplo de consciência crítica, como pelo

estímulo e amizade.

Também expressamos nosso reconhecimento ao Prof. Dr.

Antônio Giacomini Ribeiro, ao Prof. Rosselvelt José Santos e à Profª

Dra. Marlene Teresinha de Muno Colesanti.

Aos colegas, contemporâneos do curso de Pós-Graduação em

Geografia e do Laboratório de Geografia Agrária, agradecemos pela

agradável oportunidade de conciliar debate acadêmico e convívio

amistoso.

vi

Agradecemos também a todos os produtores rurais que nos

receberam de bom grado, disponibilizando parte do exíguo tempo para

responder às nossas indagações.

A pesquisa de campo tornou-se possível a partir do acesso a

informações importantes, obtidas por intermédio da Associação dos

Suinocultores do Triângulo (AST), da Associação dos Suinocultores

do Triângulo e Alto Paranaíba (ASTAP) e da Federação das Indústrias

do Estado de Minas Gerais (FIEMG). A essas entidades, nossos

agradecimentos, especialmente dirigidos à José Antônio de Sousa

(Camon), Jeane Leandro Guarnieri, Guilherme Queiroz, Rúbio

Andrade e Ceres Migliozi Cima.

A Celso Antônio Siqueira somos particularmente gratos pela

digitalização dos mapas e a Ione Mercedes Miranda Vieira, pela

revisão da ortografia e gramática.

De forma especial devemos a todas as pessoas da família, o

apoio e incentivo; ao Jairo, partícipe em muitas dificuldades e

experiências enriquecedoras, do ponto de vista da compreensão da

realidade rural; aos queridos filhos, por compreenderem a nossa

“quase ausência”, e principalmente, à Renata Noemi, pelo

companheirismo e amor.

vii

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . v

LISTA DE FIGURAS... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ix

LISTA DE TABELAS... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . x

LISTA DE SIGLAS... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xii

RESUMO.... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiii

ABSTRACT... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiv

INTRODUÇÃO... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01

1. O SISTEMA AGROALIMENTAR E A EVOLUÇÃO RECENTE

DA SUINOCULTURA BRASILEIRA NO CONTEXTO DAS

TENDÊNCIAS MUNDIAIS DA ECONOMIA... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05

1.1. As transformações políticas e econômicas do capitalismo

no final do século XX e o setor agroalimentar.. . . . . . . . . . . . . . . . 05

1.2. A reestruturação do segmento agroindustrial de carne

suína.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

1.3. O novo padrão de integração indústria-produtor na

suinocultura.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2. A CADEIA DA SUINOCULTURA REGIONAL... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

2.1. A suinocultura no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.. . . . . . 30

2.2. O programa de integração da Rezende Alimentos/Sadia.. . . 35

2.3. A suinocultura em regime de integração.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

2.4. Os Tipos de produtores integrados.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

2.5. Os produtores integrados à Rezende Alimentos/Sadia.. . . . . . 58

viii

3. TRANSFORMAÇÕES NAS RELAÇÕES AGROINDÚSTRIA–

PRODUTORES

RURAIS... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

3.1. Redes organizacionais e contratualização na agricultura.. . 70

3.2. As abordagens sobre o relacionamento agricultura-

indústria.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

3.3. Integração, eficiência produtiva e conflito de interesses.. . 78

3.4. Resistência e subordinação dos produtores aos interesses

industriais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

3.5. As associações de suinocultores no Triângulo

Mineiro/Alto Paranaíba.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

CONSIDERAÇÕES FINAIS... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

ANEXOS... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

ANEXO 1 – Perfil dos produtores integrados entrevistados.. . . . . . . . . . . . . . 112

ANEXO 2 – Perfil dos produtores integrados associados à AST... . . . . . . 115

ANEXO 3– Roteiro de entrevistas – Produtores Integrados.. . . . . . . . . . . . . 117

xii

LISTA DE SIGLAS

ABCS - Associação Brasileira dos Criadores de Suínos

ABIPECS - Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora

de Carne Suína

ASEMG - Associação dos Suinocultores de Minas Gerais

AST - Associação dos Suinocultores do Triângulo

ASTAP - Associação dos Suinocultores do Triângulo e Alto

Paranaíba

BDMG - Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FED - Federal Reserve

FIEMG - Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

FCO - Fundo Constitucional do Centro-Oeste

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICEPA - Instituto de Planejamento e Economia Agrícola de Santa

Catarina

OCDE - Organização de Cooperação e Desenvolvimento

Econômico

xiii

RESUMO

Este trabalho procurou avaliar o sistema de integração de suínos da

Rezende Alimentos/ Sadia, no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, que

vem se transformando numa das principais regiões produtoras de Minas

Gerais. Seguindo as abordagens sobre o setor agroalimentar, buscou-se

compreender as novas configurações na suinocultura, o processo

produtivo, padrões tecnológicos, mão-de-obra e, particularmente, as

relações agroindústria e produtores integrados. Neste estudo de caso

empírico, apresentaram-se os diversos tipos de produtores integrados na

suinocultura, em que se identificam os novos formatos de integração e

renda na atividade. Constatou-se que a maioria dos produtores integrados

podem ser caracterizados como empresários e investidores urbanos, que

praticam outras atividades. Discutiram-se também, as relações

conflituosas desse sistema na região. Finalmente, levantaram-se as

possibilidades de reestruturação desse programa de integração, face aos

problemas enfrentados pelos produtores na região, e as alternativas de

organização da produção.

PALAVRAS-CHAVE: Geografia Rural – Agroindústria – Produtores

Integrados – Suinocultura – Conflitos de Interesses.

xiv

ABSTRACT The objective of this work was to evaluate the Rezende Alimentos /

Sadia swine integration system in the area of the Triângulo Mineiro/Alto

Paranaíba, which is becoming one of the main producing regions of the

state of Minas Gerais. Following the approach on the agro-food system,

understanding of the new configurations in pig breeding, producing

process, technological standards, labor and especially the relation

between agroindustry and integrated producers was sought. This

empirical case study shows the various types of pig breeding integrated

producers in whom the new formats of integration and activity income

are identified. It was observed that the majority of integrated producers

could be characterized as businesspeople and urban investors who

practice other activities as well. The conflicting relations of this system

in the region were also discussed. Finally, the possibilities of

restructuring this integration program were considered, in view of the

problems faced by the producers in the region and production

organization alternatives available.

Key Words: Rural Geography – Agroindustry – Integrated Producers

- Pig Breeding - Interest Conflict

1

INTRODUÇÃO

A produção familiar tem sido, tradicionalmente, responsável

pelo desenvolvimento de diversas atividades rurais, a exemplo da

avicultura, fumicultura, vitivinicultura e suinocultura, em pequenas

propriedades, sob regime de integração com as agroindústrias. Desde o

início dos anos 1960, especialmente nos estados do Sul do Brasil,

essas atividades têm sido praticadas sob um modo de produzir em que

as atenções dos agricultores dirigem-se, fundamentalmente, para a

manutenção e sobrevivência da família e não especificamente para a

acumulação.

No modelo de integração baseado na pequena propriedade, com

mão-de-obra familiar e produção complementar, parte da renda da

terra transfere-se para o capital industrial, em razão do baixo preço

das matérias-primas e da elevação dos valores dos produtos

industrializados, o que tem possibilitado a ascensão de diversos

grupos agroindustriais, principalmente do setor de carnes, a exemplo

da Perdigão Agroindustrial, Sadia S.A. etc.

As transformações econômicas e políticas ocorridas nos centros

mais dinâmicos do capitalismo, no final do século XX, desencadearam

um profundo processo de reestruturação em todos os setores

produtivos, desviando o centro de coordenação das decisões para

agências e corporações que operam em escala mundial, controlando os

fluxos de bens e recursos, utilizando para isso a ciência, a tecnologia e

a informação.

2

Esse processo de reestruturação e globalização, juntamente com

o aumento da preocupação com os problemas ambientais nos países da

Europa e América do Norte, tem provocado repercussões em diversos

segmentos do setor rural brasileiro, dentre os quais, a produção de

carne suína, sobre o qual se concentra a nossa discussão.

Nos últimos anos, tem-se destacado o potencial das áreas dos

cerrados brasileiros (recentemente incorporadas para o cultivo de soja

e milho) para o desenvolvimento de uma suinocultura moderna e

eficiente, sob um novo padrão organizacional, que preconiza,

sobretudo, a produção em grande escala.

O surgimento de novos modelos de integração no Centro-Oeste e

Triângulo Mineiro, com base na produção patronal em grande escala

de produção, não só reduz as possibilidades de incremento da

produção familiar na suinocultura, como também promove a

concentração da produção. Apesar disso, esse novo padrão de

integração tem sido interpretado por alguns estudiosos como o

“sentido único”, que passa a tomar a produção de suínos e aves no

Brasil, necessário para a melhoria da eficiência produtiva, em

conseqüência do esgotamento do sistema tradicional de integração,

baseado na pequena produção familiar. A ênfase deste argumento

consiste em que os novos padrões tecnológicos e o crescimento da

escala de produção tornam possível a conjugação de interesses de

produtores e indústria, cuja solidariedade produtiva permite

incrementos de competitividade num mercado cada vez mais

mundializado.

A eclosão de dúvidas a respeito da continuidade desse novo

padrão de integração dá origem à nossa problemática de estudo, ao

questionarmos as possibilidades de que as modernas granjas de

integração, construídas em grandes dimensões, possam ser palco de

acordos duradouros entre indústria e produtores.

Nossa pesquisa sobre o programa de integração da Rezende

Alimentos/Sadia objetiva captar o sentido da expansão da suinocultura

3

em direção à região central do país nos anos recentes; discutir a

viabilidade da produção integrada, sob o ponto de vista dos

produtores; e apresentar o perfil dos suinocultores participantes e suas

relações com a agroindústria, face às novas configurações produtivas.

A questão central fundamenta-se na posição crítica de diversos

autores, que entendem a produção integrada como um esquema de

subordinação e expropriação de produtores familiares pela indústria,

um caso clássico de exploração do trabalho pelo capital. Como pode

ser legitimado o novo relacionamento, à medida que se amplia o grau

de interdependência entre indústria e produtores capitalistas? Como o

capital industrial submete o capital “rural”?

Se nos anos 70 a discussão acadêmica em torno das relações

indústria-agricultura atinha-se à dissonância entre a persistência e

reprodução de um modo de vida não capitalista (representado pela

produção familiar integrada) num contexto capitalista de produção

(TAVARES DOS SANTOS, 1978), no debate atual, a questão é

colocada de uma forma exatamente oposta, quando são questionadas a

persistência e a reprodução do modo capitalista de produção na

agricultura, no âmbito de suas relações com a indústria.

Além disso, o estabelecimento desse modelo de integração numa

conjuntura desfavorável, face à carência de linhas de crédito é uma

questão que merece ser explorada, já que exige dos produtores um

significativo montante de capital.

Seguindo as abordagens sobre o setor agroalimentar, analisamos

as novas configurações produtivas na suinocultura, a mão-de-obra

utilizada, os padrões tecnológicos e, particularmente, as relações

agroindústria e produtores integrados.

No primeiro capítulo, abordamos a expansão da suinocultura em

direção ao centro do país, sob uma perspectiva que contempla também

as alterações econômicas e políticas ocorridas no ocidente, no final do

século XX.

4

O segundo capítulo trata, especialmente, da suinocultura no

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, enfocando aspectos da produção

independente. Apresenta também os resultados da pesquisa realizada com

trinta produtores integrados, que participam do programa de integração

da Rezende Alimentos/Sadia. Neste capítulo apresentamos o mapa

político da região onde se concentram as granjas de suínos.

No capítulo terceiro, a discussão centra-se, fundamentalmente, nas

relações dos produtores com a agroindústria integradora, no caso da

Rezende Alimentos/Sadia. Este tema é tratado com base na abordagem de

“redes organizacionais”, como principal tendência de configuração

empresarial no sistema agroalimentar. Porém, o posicionamento dos

produtores na “rede” é estudado com base nas particularidades dos

processos de produção agrícola, que segundo a interpretação de

GOODMAN et al. (1990), estão na raiz da intratabilidade deste setor

para com a lógica capitalista. Por fim, procuramos indagar, de forma

breve, a respeito das formas atuais de organização de produtores, via

associações, condomínios etc, que possam conduzir a um maior grau de

independência dos suinocultores em relação às agroindústrias.

5

1. O SISTEMA AGROALIMENTAR E A EVOLUÇÃO RECENTE

DA SUINOCULTURA BRASILEIRA NO CONTEXTO DAS

TENDÊNCIAS MUNDIAIS DA ECONOMIA

1.1. As transformações políticas e econômicas do capitalismo no

final do século XX e o setor agroalimentar

O processo de reestruturação econômica e tecnológica, nos centros

mundiais do capitalismo, foi um tema amplamente explorado pela

li teratura geo-econômica do final do século XX. Diversos autores que

descreveram esse processo têm em comum a idéia de que essas

transformações surgiram em decorrência da crise econômica do início

dos anos setenta. Além das concepções conservadoras, sob roupagens

neoliberais, surgiram muitas outras idéias e argumentos para explicar e

caracterizar essa crise.

Os trabalhos de BENKO (1996) e HARVEY (1996), incluindo

elementos sócio-culturais e aspectos da geopolítica norte-americana, são

representativos da corrente que procura explicar a crise dos anos setenta

como uma crise no regime de acumulação capitalista, ou seja, uma crise

do fordismo, segundo a ótica regulacionista. Como conseqüência, o

ocaso do fordismo deu lugar a um regime de acumulação, que se orienta

pela inovação, flexibilidade e competitividade.

Outros autores, a exemplo de GOLDENSTEIN (1994), l igam

diretamente a “revolução” pela qual passou o capitalismo internacional

6

ao processo de globalização e integração dos mercados de bens, de

serviços e de capital. CHESNAIS (1996), embora se referindo ao mesmo

processo, denomina-o de “mundialização”, seguindo uma tendência

francesa.

TAVARES (1997), ao tratar do processo de globalização,

caracteriza-o, especialmente, como decorrente da tentativa norte-

americana de reafirmar-se no centro do poder geopolítico mundial,

posição que se encontrava ameaçada devido à emergência de novas

potências. COUTINHO (1992) alude a uma coalização deliberada dos

Estados capitalistas como o evento responsável pelo retorno ao

crescimento econômico das principais economias industriais, a partir de

1983. Para esse autor, as transformações referidas assumem os contornos

de uma suposta “terceira revolução industrial e tecnológica”.

Diante da variedade de explicações para um mesmo fenômeno, é

inegável que haja discordância a respeito das razões que têm conduzido a

esse turbilhão de transformações. Diversos autores têm trabalhado no

sentido de teorizar a mudança, no “olho do furacão do capitalismo”, de

um regime de acumulação caracterizado pela rigidez, para um, no qual a

flexibilidade, a competitividade, a informação e a mobilidade assumem

importância central. Para HARVEY (1996), parece estar claro que:

“.. .no período de 1965 a 1973 tornou cada vez mais evidente a incapacidade do fordismo e do Keynesianismo de conter as contradições inerentes ao capitalismo. Na superfície, essas dificuldades podem ser melhor apreendidas por uma palavra: rigidez. Havia problemas com a rigidez dos investimentos de capital fixo de larga escala e de longo prazo em sistemas de produção em massa que impediam muita flexibilidade de planejamento e presumiam crescimento estável em mercados de consumo invariantes. Havia problemas de rigidez nos mercados, na alocação e nos contratos de trabalho . . .” (HARVEY, 1996: 135).

Segundo HARVEY (1996), na origem da crise do fordismo,

podemos identificar o longo período de superacumulação implementado

após a Segunda Guerra Mundial no ocidente. Fases periódicas de

7

superacumulação são resultantes da dinamicidade tecnológica e

organizacional dos sistemas produtivos. O capitalismo, por natureza, é

orientado para o crescimento. Esse longo período de acumulação

conduziu a um inchaço do setor financeiro e a um excesso de fundos, o

que se traduziu em inflação.

No início dos anos 70, a estagnação da produção de bens, a alta

inflação de preços e o aumento do desemprego compunham o quadro

econômico nos países capitalistas avançados (HARVEY, 1996; BENKO,

1996). A forte deflação que se seguiu, a partir de 1973, indicou que as

finanças do Estado norte-americano “estavam muito além dos recursos,

criando uma profunda crise fiscal e de legitimação” (HARVEY, 1996:

137). O choque do petróleo, em 1973, provocou significativos aumentos

no custo de utilização da energia, além de exacerbar a forte instabilidade

dos mercados financeiros, em razão da reciclagem dos petrodólares e:

“.. .retirou o mundo capitalista do sufocante torpor da ‘estagflação’ e pôs em movimento um conjunto de processos que solaparam o compromisso fordista. Em conseqüência, as décadas de 70 e 80 foram um conturbado período de reestruturação econômica e de reajustamento social e polít ico.” (HARVEY, 1996: 140).

No período imediato, além da busca de alternativas para

economizar energia, intensificou-se a competição entre as corporações.

Reestruturação tecnológica e racionalização do trabalho passaram a ser

as palavras de ordem:

“A mudança tecnológica, a automação, a busca de novas linhas de produto e nichos de mercado, a dispersão geográfica para zonas de controle do trabalho mais fácil, as fusões e medidas para acelerar o tempo de giro de capital passaram ao primeiro plano das estratégias corporativas de sobrevivência em condições gerais de deflação.” (HARVEY, 1996: 140).

A crise do fordismo marcou o nascimento de um novo regime de

acumulação capitalista, freqüentemente denominado “pós-fordismo”,

“produção flexível”, ou, ainda, “acumulação flexível”. Todavia, segundo

8

BENKO (1996), esses conceitos constituem antes interpretações

adaptadas ao período atual do que descrições dele. Esse novo regime

emergente apóia-se na flexibilidade dos processos de trabalho, de

insumos industriais, de produtos e de padrões de consumo e confronta

diretamente a rigidez do fordismo. A acumulação flexível, também

caracteriza-se:

“pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional.” (HARVEY, 1996: 140).

Essas transformações podem ser diretamente relacionadas ao

processo de internacionalização do capital e do crédito, em alta nas duas

últimas décadas. CHESNAIS (1996) refere-se aos incrementos no volume

de negócios nos mercados de câmbio e ao crescimento dos ativos

financeiros como indicativos da hipertrofia da esfera financeira.

Num contexto de crise e instabilidade, segundo BENKO (1996), as

direções nas quais se desenvolvem as relações sociais e a utilização das

novas tecnologias dependem das lutas entre as diferentes forças sociais e

políticas. A flexibilidade conseguida na produção, nos mercados de

trabalho e no consumo, parece ser resultante da busca de soluções

financeiras para as tendências de crise do capitalismo. Desta forma, o

colapso do fordismo-keynesianismo conduziu ao fortalecimento do

capital financeiro.

O emergente modelo de acumulação capitalista assume, mais do

que nunca, proporções mundiais. Seu funcionamento é direcionado

sobretudo por formas de capital financeiro mais concentradas e

centralizadas do que em qualquer período anterior do capitalismo

(CHESNAIS, 1997). À ascensão do capital financeiro atribui-se o

ressurgimento de formas agressivas e brutais de aumentar a

produtividade de capital em nível microeconômico (CHESNAIS, 1996),

conduzindo a uma exacerbação da avidez pelos ganhos em dinheiro, o

que parece ser uma característica do nosso tempo.

9

TAVARES e MELIN (1997) fazem distinção entre a

transnacionalização produtiva que vem ocorrendo, especialmente após a

Segunda Guerra Mundial, e a reação oligopolística das grandes empresas,

decorrente da mudança de cenário provocada pelas políticas de

globalização financeira. Para esses autores:

“.. .deveria estar claro que foi esta segunda, e não a primeira, que reforçou a assimetria de crescimento e de poder em favor dos EUA, ao promover uma reversão da liquidez internacional e induzir consistemente a adoção de políticas deflacionistas e inibidoras do crescimento, que têm recebido a designação geral de neoliberalismo”. (TAVARES e MELIN, 1997:73-74).

Com razão, TAVARES e FIORI (1997) ligam o sentido do termo

“globalização” às transformações da economia e da política no final do

século XX. Em virtude das resistências a que esteve submetido o regime

fordista, o processo de internacionalização foi redelineado, a partir de

novos instrumentos, não se restringindo apenas a uma “revolução

tecnológica”:

“A mundialização é o resultado de dois movimentos conjuntos, estreitamente interligados, mas distintos. O primeiro pode ser caracterizado como a mais longa fase de acumulação ininterrupta do capital que o capitalismo conheceu desde 1914. O segundo diz respeito às políticas de liberalização, de privatização, de desregulamentação e de desmantelamento de conquistas sociais e democráticas, que foram aplicadas desde o início da década de 1980, sob o impulso dos governos Thatcher e Reagan.” (CHESNAIS, 1996: 34).

As políticas neoliberais, vistas por essa ótica, não visam, em

princípio, garantir o pleno funcionamento dos mercados, com base em

parâmetros como eficiência e competitividade, mas fazem parte de um

conjunto de medidas deliberadas, destinadas a reverter a tendência de

decadência da hegemonia mundial por parte dos Estados Unidos,

mediante “um controle rigoroso do FED1 sobre o juro e o câmbio,

1 FED – Federal Reserve, o banco central norte-americano.

10

praticando abertamente uma política monetária violentamente

intervencionista, independentemente do ciclo de negócios”. (TAVARES

e MELIN, 1997: 68).

Segundo COUTINHO (1992), após dez anos de crise – entre 1973 e

1983-, as principais economias industriais do ocidente reencontraram o

caminho do crescimento, com a retomada firme dos fluxos privados de

acumulação de capital , acompanhados de uma sensível recuperação do

incremento de produtividade e de uma aceleração crescente de inovações

técnicas, organizacionais e financeiras. O retorno ao crescimento deve-

se, em grande medida, à “sucessão exitosa de encontros de cúpula entre

as lideranças da OCDE2, caracterizando uma fase de intensa

coordenação política e de política cambial e financeira entre os Estados

capitalistas.. .” (COUTINHO,1992: 70).

O retorno ao crescimento, porém, não ocorreu de forma simétrica

entre os diversos países. Mesmo se considerarmos apenas os países

membros da OCDE, Alemanha e Japão apresentaram taxas de

crescimento menores desde a crise de 1982, voltando a entrar em crise

em 1993. A assimetria torna-se visível “ quando se toma como parâmetro

a expansão quase ininterrupta dos EUA a partir de 1983 com uma taxa

média semelhante à de sua trajetória no após-guerra”; crescimento,

aliás, superior aos demais países da OCDE (TAVARES e MELIN,

1997:71).

Para esses autores, à medida que ocorreu a generalização das

políticas neoliberais por todo o globo, as vantagens competitivas e de

crescimento da Europa e da América Latina só fizeram diminuir em favor

da economia americana e de alguns países asiáticos:

2 Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

11

“É de se destacar, igualmente, que a adesão dos Estados Unidos ao neoliberalismo restringiu-se ao terreno do discurso, pois, na prática, a potência hegemônica adotou, de início, um Keynesianismo bélico clássico, sucedido por investimentos em reestruturação industrial e atração de capitais estrangeiros – e seguiu financiando seu consumo doméstico e seu gasto público por meio de um vultoso endividamento amparado na posição cardeal de sua moeda nos mercados financeiros internacionais.” (TAVARES e MELIN, 1997: 74).

Tavares e Melin ressaltam a centralização da coordenação das

decisões relevantes relativas aos mercados, que agora passam ao

comando restrito de empresas e bancos dos países centrais, “cuja

estratégia é efetivamente global, enquanto que os países periféricos

aparecem, em princípio, apenas como receptores de padrões de consumo

globais difundidos a partir do centro.. .” (TAVARES e MELIN,

1997:77).

Neste sentido, o termo globalização diz respeito à imposição

mundial de regras de dominação econômica e política, sob coordenação

dos Estados Unidos, por intermédio de agências e corporações, que

controlam os fluxos de bens e recursos, utilizando para isso a ciência, a

tecnologia e a informação.

A reestruturação que vem se processando em todos os setores da

economia deve-se ao surgimento de uma diversidade de novas

tecnologias, que atestam a configuração de um novo paradigma

tecnológico. HAHN (1992) utiliza a expressão terceira revolução

industrial para designar o surgimento de um conjunto de tecnologias

emergentes, cujos três principais componentes são a microeletrônica, a

biotecnologia e os novos materiais.

Para CASTELLS (1999), a revolução da tecnologia da informação

foi essencial para a implementação de um importante processo de

reestruturação do sistema capitalista, a partir da década de 80. A

interconexão dos mercados cambiais, financeiros e de aplicações,

promovida por fluxos maciços e continuados de capitais, entre as

principais praças do globo, tornou-se possível graças aos tremendos

12

avanços atingidos no domínio da microeletrônica e telecomunicações

(COUTINHO, 1992). Segundo MAZZALI (1995), a sofisticação dos

sistemas de informação e de comunicação possibilita o processamento,

armazenamento e transmissão de um grande volume de dados,

favorecendo a integração e globalização dos mercados financeiros.

A utilização das novas tecnologias na área da microeletrônica não

está concentrada nos setores de informação e telecomunicações.

Especialmente devido à sua capacidade de promover interações entre os

agentes econômicos, a aplicação dessas tecnologias tem viabilizado a

operação de máquinas-robôs sob controle computadorizado e a

automação completa de processos de produção industrial. A criação de

máquinas-ferramentas de menor porte possibilita a produção diferenciada

de produtos, adequada à demanda de mercados segmentados.

COUTINHO (1992) chama a atenção para a emergência de sistemas

integrados de automação flexível fundamentados na interligação

informatizada, que permite o controle automático e integrado da

produção. Sistemas flexíveis integrados possibilitam a coordenação dos

fluxos de produção fabril e de distribuição. Por sua via, a coordenação

dessas funções é viabilizada pela mesma rede que interliga o marketing,

a comercialização e as finanças. RIZZI (1993) observa que a

flexibilização das plantas industriais possibilita dotar as empresas de

capacidade tecnológica de adaptação às mudanças do ambiente

econômico.

O processo de automação industrial com base em novas tecnologias

não se restringe à esfera da produção, implicando também a criação de

novas formas organizacionais, tanto no trabalho, como na distribuição e

comercialização de produtos. A informatização também abriu caminho

para a flexibilização administrativa, atingida pela redução dos níveis de

chefia, controle e comando, permitindo uma diminuição acentuada dos

postos de trabalho.

As transformações econômicas dos anos 80 e 90 ampliaram, em

todos os setores produtivos, a noção de competitividade entre as

13

empresas e nações, mediante a intensificação do ritmo de progresso

tecnológico, diretamente relacionado ao aumento da capacidade de

inovar produtos e processos.

Entre os efeitos imediatos do acirramento da concorrência

internacional entre capitais e empresas podemos destacar a intensificação

dos processos de internacionalização e adoção de estratégias de

diversificação, concentração, fusões e aquisições.

Segundo MARTINELLI JÚNIOR (1999), a intensificação da

concorrência promove a valorização das estratégias concorrenciais

dentro das empresas, que passam de uma “estratégia doméstica” para

uma “estratégia global”. As operações de fusões e aquisições

possibilitam às empresas adquirentes a transposição de barreiras à

entrada e o acesso de forma rápida e segura aos mercados estratégicos.

Nesse ambiente, a conquista de posições centrais no horizonte

tecnológico, produtivo e econômico assume papel essencial na

redefinição espacial da produção e dos mercados.

O vertiginoso desenvolvimento de tecnologias ligadas à biologia

celular, vegetal e animal, corresponde a uma outra vertente responsável

pela alteração do paradigma tecnológico nas últimas duas décadas,

similarmente aos progressos alcançados na microeletrônica. Essa questão

foi discutida por WILKINSON (1989), atestando um profundo processo

de transformação do sistema alimentar mundial, tanto na base

tecnológica como nos padrões de consumo. No âmbito da indústria,

inovações e capacitação tecnológica têm se tornado temas centrais,

paralelos a uma onda de fusões. Pelo lado da agricultura, o autor revela

uma tendência à ampliação da disponibilidade de produtos agrícolas, por

meio do incremento da produtividade. Além disso, o aumento da

“intercambialidade” tem provocado intensificação da concorrência entre

os diversos produtos, num quadro geral de superprodução e estagnação

de demanda para os principais produtos agrícolas.

Nesse contexto, o domínio das biotecnologias, da microeletrôncia,

da automação e das tecnologias da informação vem provocando um

14

impacto fundamental tanto na reestruturação industrial, como na

produção vegetal e animal.

1.2. A reestruturação do segmento agroindustrial de carne suína

O final da década de 80 marca uma nova fase na agricultura

brasileira, caracterizada, principalmente, pela significativa diminuição

dos recursos oficiais destinados ao crédito agrícola, com a redução

considerável da intervenção do Estado, e pela intensificação da

dependência da agricultura frente aos setores mais organizados da

economia: financeiro, industrial e comercial. A agricultura persiste,

porém, como atividade de base na rede alimentar, ainda que não

preponderante na produção de valor e de poder de decisão.

A abertura comercial empreendida a partir do governo Collor

provocou o rebaixamento dos preços dos produtos agrícolas no mercado

interno e a conseqüente redução da receita dos produtores brasileiros.

Segundo SHIKI et al. (2000), a intensificação da base técnica do

processo produtivo agrícola tornou-se uma necessidade para os

agricultores interessados em se manterem na atividade, diante da queda

da rentabilidade.

A face mais modernizada da agricultura brasileira incorpora, hoje,

práticas como irrigação, plantio direto, intensa mecanização e util ização

de insumos modernos. Aplicando as modernas tecnologias de informação

e imagens de satélite, mais recentemente, vem se difundindo a

agricultura de precisão, especialmente na região dos cerrados .

A intensificação das atividades de várias empresas multinacionais

do setor agroalimentar dos segmentos de biotecnologia e química

agrícola, a exemplo da Monsanto e Novartis e, do segmento de laticínios,

Parmalat e Nestlé, é vista por SHIKI et al. (2000) como um dos sinais

15

das transformações ocorridas no campo político e econômico, que

colocaram essas grandes corporações transnacionais no centro do

processo de determinação das mudanças na agricultura.

A suinocultura3 coloca-se entre os setores mais dinâmicos da

produção alimentar. Pela forte articulação com a indústria de carnes,

neste setor verifica-se uma constante incorporação de novas tecnologias

e uma incessante reorganização nos sistemas de produção, com vistas a

acompanhar o progresso industrial.

O setor agroindustrial, paralelamente às políticas públicas, vem

direcionando as transformações dos processos produtivos rurais. Para

WILKINSON (1989), o progresso técnico na produção alimentar tem

sido, geralmente, o resultado de transferências de outros setores

industriais. Assim, as indústrias do setor alimentar, ressalvadas as suas

peculiaridades, aparentemente vêm operando nas mesmas bases

tecnológicas e organizacionais pelas quais operam os demais setores

industriais (BELIK, 1995).

Para VELOSO (1998), um pequeno número de empresas domina o

setor industrial de carne suína no Brasil, impondo o padrão de entrada,

em razão do alto volume de capital necessário para investimentos, acesso

a informações estratégicas e sofisticação gerencial. Dentre as empresas

líderes, podem ser citadas o Grupo Sadia S/A, Perdigão Agroindustrial

S/A, Cooperativa Central Oeste Catarinense Ltda e a Seara Alimentos.

Segundo VEGRO (2000), as empresas líderes do setor têm conseguido

aumentar o faturamento, por meio da redução de custos e aumento da

escala produtiva. Apesar disso, existe um numeroso grupo de médios e

pequenos frigoríficos atuando no setor de abate e processamento de carne

suína no país. A tabela 1 apresenta uma relação das maiores empresas do

setor de abates de suínos no Brasil , conforme o número de animais

abatidos em 1999.

3 Suinocultura aqui se enquadra no conceito clássico de agricultura, como sendo o da utilização da terra mediante o cultivo de plantas e criação de animais domésticos.

16

A crescente preocupação com a poluição causada pelos dejetos

vem desestimulando a criação de suínos em países desenvolvidos de

clima frio. Nessas regiões, as baixas temperaturas, impedem a

decomposição dos dejetos, acumulando-se em grandes volumes durante

o inverno, causando, além da poluição do ar, sérios riscos de

contaminação da água e dos solos. Face a esses problemas, diversos

países, principalmente europeus, vêm criando leis limitando ou

diminuindo a população de suínos. Em razão disso, alguns especialistas

prevêem aumentos do volume de produção de suínos nos países “em

desenvolvimento” de clima tropical, concomitante à redução nos países

“desenvolvidos”.

Existe a expectativa de um crescimento tendencial das exportações

brasileiras de carcaças de suínos para processamento industrial no

exterior, a fim de manter ativas as indústrias dos países “desenvolvidos”.

Tabela 1 - Brasil: maiores empresas do setor de abate de suínos -1999.

Empresas Suínos abatidos

cabeças Sadia S/A 2.763.987 Perdigão Agroindustrial S/A 1.694.173 Coop. Central Oeste Catarinense – Aurora 1.521.993 Seara Alimentos 1.404.275 AVIPAL S/A Avicultura e Agropecuária 436.473 Doux – Frangosul S/A Avícola Industrial 387.937 Coop. Trit ícola Erechin Ltda 325.939 Coop. Central Agrop. Sudoeste – SUDCOOP 300.994 Batavia S/A / Frigoríf ico Pamplona 292.407 Rezende Alimentos 224.323 Palmali Industr ial de Alimentos Ltda 211.663 Frigumz Alimentos S/A 200.160 COOPERJACUÍ 146.166 Suifrig Industrial e Comercial de Suínos Ltda 126.205 Chapecó Cia. Industrial de Alimentos 118.864 Coop. Trit ícola de Getúlio Vargas 116.293 Coop. Regional Agropecuária Languirú Ltda 70.162 Baumhardt Irmãos S/A 57.984 Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS PRODUTORAS e EXPORTADORAS de CARNE SUÍNA (2000)

17

O problema ambiental relacionado à contaminação dos cursos

d’água e do solo por dejetos vem sendo considerado como um grande

entrave à expansão da suinocultura na região Sul do Brasil,

especialmente, no oeste de Santa Catarina, onde se concentra o maior

número de granjas de criação. Nessa região, a declividade dos terrenos e

a localização das granjas próximas aos cursos d’água contribuem para a

contaminação dos mananciais. Alguns especialistas entendem que uma

solução para o problema ambiental do Oeste Catarinense passa pela

adoção de um caminho contrário à concentração ocorrida na década de

1980, ao propor a desconcentração da produção de suínos na região

(TAKITANE e SOUZA, 2000).

Os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e o oeste

de Minas Gerais apresentam características muito propícias ao

desenvolvimento da suinocultura, em razão da grande produção de grãos,

espaço para distribuição de dejetos e alguns estímulos governamentais,

que vêm atraindo investimentos vultosos, inclusive, de grupos

transnacionais.

Embora se trate de um movimento recente, o estabelecimento de

novas unidades de produção nessas áreas indica a direção que está

tomando a expansão da produção suína no Brasil. As grandes dimensões

adotadas nas modernas unidades de produção e a adoção de elevado

padrão tecnológico estão entre as principais características dos novos

projetos de criação.

O mega-projeto da Carrol’s Foods planeja alojar 51.400 matrizes

suínas, até o ano 2005, no município de Diamantino, no Estado do Mato

Grosso. A Carrol’s Foods pertence ao grupo americano Smithfield Foods

Inc., a maior produtora e processadora mundial de carne suína.

A ação governamental, estimulando a implantação desses novos

projetos, pode ser comprovada pela abertura de linhas de crédito para

financiamento dessas unidades. No caso da Carrol’ Foods, o BNDES4

está disponibilizando, mediante financiamentos, um montante de US$ 5,7

4 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

18

milhões para investimentos em construção das granjas de produção

(DURÃO, 1999 e SUINOCULTURA INDUSTRIAL, 2000).

A tabela 2 apresenta um quadro dos principais projetos de criação

de suínos em fase de implantação no Brasil, indicando um alojamento

previsto de 233.000 matrizes até 2005. Deste total, 178.000 matrizes,

correspondendo a 76,39 %, estão sendo alojadas em granjas da Região

Centro-Oeste e Triângulo Mineiro, que concentram também os maiores

projetos de criação. A figura 1 apresenta a localização dos maiores

projetos de criação de suínos em implantação nos Estados de Mato

Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.

Tabela 2 - Brasil: Maiores projetos de criação de suínos em 2000.

Grupo/Empresa Alojamento previsto

- N.º de matrizes - Localização

Carrol’s Food’s 51.400 Diamantino – MTRezende Alimentos 50.000 Uberlândia - MGPerdigão Agroindustrial 35.000 Rio Verde – GOAVIPAL 15.000 Porto Alegre – RS INTERCOOP

13.600 Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Rondonópolis e

Sorriso - MTCOPAVEL 10.000 Cascavel – PRFRANGOSUL 10.000 Caxias do Sul – RSGLOBOAVES 10.000 Toledo – PRGrupo Hofig Jr . 10.000 Brasilândia – MSParmalat 10.000 Castro – PRPif Paf 10.000 Patrocínio – MGCOOPERSUÍNOS 8.000 Varjão-GOTotal de matrizes 233.000Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE SUÍNOS (2000),

TALAMINI (2000) e SUINOCULTURA INDUSTRIAL (2000).

As perspectivas de incremento da produção no interior do país têm

sido percebidas pelas principais empresas do setor industrial de carne

suína, as quais estão liderando esses investimentos, orientando-se não

somente pelas potencialidades dessas regiões como produtoras grãos e

suínos, como também pela nova dinâmica industrial.

19

Figura 1 – Localização dos maiores projetos de criação de suínos

instalados nos estados de Mato .. .

20

As mudanças no ambiente econômico, ocorridas nas últimas

décadas, aceleraram o processo de concentração industrial e estimularam

o aumento da escala de produção e a adoção rápida de modernas

tecnologias ligadas ao abate, processamento e distribuição. A redução de

gastos com administração e transporte também torna-se ingrediente

essencial num plano de redução de custos dentro das empresas.

O estabelecimento de novas plantas industriais abre possibilidades

de estruturação das unidades produtivas sob bases completamente novas,

de acordo com os atuais padrões produtivos, não só no que diz respeito à

industria, mas também no setor de produção rural.

Além disso, a proximidade dos crescentes mercados consumidores

do Sudeste e Nordeste ajuda a compor o quadro de atração dessas

empresas para o centro do país. Assim se pode compreender a

estruturação dos novos empreendimentos, a exemplo do Projeto Buriti ,

da Perdigão, em Rio Verde (GO), a implantação do Frigorífico Pif Paf,

em Patrocínio (MG), e a aquisição da Rezende Alimentos pelo Grupo

Sadia, em Uberlândia, Minas Gerais.

A instalação de grandes plantas industriais, tanto de abate como de

produção de embutidos, demanda um grande volume de matérias-primas,

determinando a forma de organização do setor de produção. Nesse setor,

o padrão adotado conduz à construção de granjas de grandes dimensões,

de forma a comportar maior número de animais. A melhoria dos índices

zootécnicos também é condição indispensável para o aumento da

produção e redução dos gastos com rações, instalações e mão-de-obra5.

Segundo DESCHAMPS et al. (1998: 241-242), uma tendência de

concentração e especialização na produção suína vem ocorrendo em nível

internacional. Nos EUA, o número de propriedades dedicadas à

suinocultura declinou 50% no período de 1989 a 1997, enquanto crescia

o tamanho médio das propriedades. “A especialização ocorre em função

da necessidade de maior eficiência da produção, visando a redução de

custos e aumento das receitas” . VEGRO (2000), faz referência ao

21

crescimento de escala nas granjas de suínos nos EUA, onde o patamar

atual de viabilidade econômica requer o confinamento mínimo de 2000

matrizes.

De acordo com DESCHAMPS et al. (1998), essas tendências

apontam para a consolidação de um mercado cada vez mais competitivo,

em que as estratégias de redução de custos de produção passam a ser

fundamentais para a sobrevivência no mercado.

É oportuno acrescentar que as transformações em curso repercutem

no setor de produção, exigindo adequação dos padrões de carcaças aos

quesitos industriais, segundo especificações de peso, percentagem de

gordura e qualidade da carne.

De forma similar, a alteração nos padrões de consumo tem

conduzido à redução do teor de gorduras nas carcaças suínas, um

ponto importante na conquista de novos mercados, e que vem se

tornando possível mediante um grande esforço na melhoria do padrão

genético dos animais.

O Brasil possui um rebanho suíno estimado em 38,3 milhões de

cabeças, sendo que os três estados do Sul (Rio Grande do Sul, Santa

Catarina e Paraná) respondem por aproximadamente 80 % da produção

industrializada no país (ABCS, 2000). A tabela 3 apresenta os dados

relativos à evolução do rebanho suíno brasileiro nos últimos anos, como

também o número de abates, consumo per capita , produção, importações

e exportações de carne.

Tabela 3 - Brasil: evolução do rebanho, abate e produção de suínos: 1980/2000 5 Os índices de desempenho animal que mais interferem na lucratividade estão associados à fertilidade do rebanho, à taxa de conversão alimentar e ganho de peso.

22

Discriminação

1980 1985 1990 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Rebanho* 32,5 32,2 30,0 34,0 35,7 35,8 36,5 37,0 38,3Abate* 17,7 14,0 16,0 19,2 20,4 20,0 22,4 33,5 24,7Consumo per capita (kg)

9,67 7,00 7,05 8,78 9,11 9,31 10,09 10,41 10,9

Produção de carne**

1150 966 1040 1037 1490 1540 1699 1780 1807

Importação** 1,0 2,0 2,0 9,0 5,0 5,01 1,0 5,0 1,0Exportação** 0,2 5,2 13,1 38,5 64,3 63,8 81,5 87,3 122

Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE SUÍNOS (2000)

*Milhões de cabeças; ** Milhões de toneladas

Os dados acima apresentados revelam não só um expressivo

crescimento do rebanho suíno nos últimos anos, mas também da

produção de carne e das exportações, o que reafirma as posições de

CANEVER et al. (2000), para os quais a suinocultura brasileira vem

apresentando uma tendência de crescimento nas quantidades produzidas,

nos tamanhos das criações e melhorias nos índices de produção.

O aumento do plantel de suínos sob o impacto dos grandes projetos

vem gerando apreensão entre os pequenos e médios produtores, que

temem o excesso de oferta de carne no mercado e o conseqüente

rebaixamento de preços (CORREA, 2000 a e b). O alojamento previsto

de 233.000 matrizes no Brasil, até o ano 2005, provocará a entrada no

mercado de 360.000 toneladas de carne suína por ano, conforme dados da

Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS).

Em condições de preços baixos e margens reduzidas, somente os

produtores que obtêm baixos custos de produção, especialmente mediante

o aumento da escala de produção, conseguem suportar longos períodos de

crise, fato que conduz à concentração da produção verificada nos últimos

anos. Supõe-se que o dimensionamento das granjas por meio da adoção

de grandes escalas conduz ao melhor aproveitamento dos recursos e à

obtenção de vantagens na compra de insumos, resultando em redução dos

custos de produção.

O temor de que sobrevenha uma crise semelhante à enfrentada pelo

setor de avicultura no primeiro semestre do ano de 2000 (ROCHA, 2000)

23

justifica-se também, pelo fato de que o consumo interno tem sido

pequeno nos últimos anos, face à concorrência dos cortes de bovinos e de

aves e à timidez das campanhas promocionais, preocupadas

especialmente em estimular o consumo de alimentos industrializados,

que atingem apenas as camadas mais favorecidas da população

(QUEVEDO, 2001). Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria

Produtora e Exportadora de Carne Suína - ABIPECS (2000) -, 66% da

produção brasileira de carne suína é dirigida para o mercado sob a forma

de produtos industrializados.

Além disso, as expectativas de incremento das exportações podem

não se confirmar, face às dificuldades de penetração nos mercados

europeu e o norte-americano, que apresentam as maiores taxas de

consumo (tabela 4). Os principais entraves à conquista desses mercados

são constituídos pelas barreiras sanitárias e pela proteção à produção

interna.

Tabela 4 - Principais países produtores de carne suína, em 1999.

Ranking Países Produção

Milhões de toneladas Consumo

Kg/hab/ano 1º China 36,93 30,002º Estados Unidos 8,52 30,603º Alemanha 3,50 58,104º Espanha 2,52 58,505º França 2,30 37,006º Polônia 1,81 41,407º Dinamarca 1,70 70,208º Brasil 1,69 10,099º Holanda 1,61 44,3010º Rússia 1,40 11,80outros - 24,42 -- - 86,40 14,52Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE SUÍNOS (2000)

A tabela 4 também apresenta a relação dos principais países

produtores de carne suína, volume de produção e o consumo médio por

habitante. A dinâmica da evolução da suinocultura, nos próximos anos,

seguramente, está na dependência da capacidade do mercado interno em

absorver a produção, do comportamento do mercado externo, e, por

24

conseguinte, das exportações. De fato, existem reais possibilidades de

ampliação da participação brasileira no mercado mundial de carne suína,

face à elevada média de consumo mundial, que atingiu 14,52 kg/hab/ano

(tabela 4), e às vantagens comparativas apresentadas pela suinocultura

nacional, conforme pode ser visualizado na tabela 5, que apresenta uma

comparação de custos de produção de suínos em alguns países.

Tabela 5 - Custos de produção de suínos em países selecionados - 1998 - em US$/kg

Países Custos de produção US$/Kg

Polônia 1,21

Dinamarca 1,19 França 1,04 Estados Unidos 0,86 Canadá 0,79 Brasil 0,64

Fonte: FIEMG/PROJETO CRESCE MINAS (2000)

Em função do baixo custo de produção, o Brasil, que dentre outros

países possui os custos mais baixos, tem conseguido aumentar o volume

de exportações, no âmbito do Mercosul e, principalmente, por meio da

entrada no mercado russo. O maior volume de vendas do país vem sendo

realizado para Hong Kong e Argentina..

Por outro lado, o setor poderá beneficiar-se do surgimento de

focos de febre aftosa e dos casos de encefalopatia espongiforme bovina

(doença da vaca louca) na Europa, que abrem espaço para a disputa por

fatias do mercado, já que alguns países, a exemplo do Japão, vêm

limitando a entrada de carne suína européia (INSTITUTO CEPA, 2001) 6.

Nesse sentido, o êxito dos programas de controle sanitários,

essenciais para obtenção de certificações de área livre de aftosa e peste

suína, passam a ser fundamentais na conquista de novos mercados

externos. Para esse fim, é também crescente a necessidade de

implementação de medidas de controle que garantam a rastreabilidade

dos rebanhos, não apenas como razões sanitárias, mas também como pré-

condição de competitividade (WILKINSON, 2000).

25

1.3. O novo padrão de integração indústria-produtores na

suinocultura

Há um relativo consenso entre os autores que abordam o

desenvolvimento da agricultura no capitalismo, segundo o qual o

progresso técnico na agricultura, e, por conseguinte, a modernização da

agricultura, têm sido determinados pela dinâmica dos setores comerciais

e industriais. Em alguns segmentos, a modernização tem conduzido à

maior articulação entre indústria e agricultura, por meio de mecanismos

de contratualização. Neste sentido, a criação intensiva de aves e suínos

sob bases modernas foi incrementada no Brasil , a partir da adoção de

sistemas de integração, primeiramente, nos estados da Região Sul e, nos

últimos anos, em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul.

Na Região Sul, o modelo de integração estabelecido pelas

indústrias do setor de carnes, que permitiu durante décadas o aumento da

produção animal e o crescimento industrial de diversas empresas,

baseou-se, fundamentalmente, no binômio pequena propriedade

diversificada e mão-de-obra familiar.

Nos últimos anos, nas regiões onde foi estabelecido, esse modelo

tradicional de integração vem apresentando sinais de esgotamento.

Existem evidências de que a integração entre indústria - agricultura,

conforme os padrões até então em vigor, especialmente nos setores de

aves e suínos, já não atende às novas e prementes necessidades do setor

industrial de carnes. O fornecimento de matéria-prima a custo baixo, de

forma regular e uniforme, que motivou a implantação dos primeiros

programas de integração, não é hoje o único objetivo almejado pelas

empresas do setor.

Alguns pesquisadores alegam que o esgotamento desse padrão

tradicional deve-se a diversos fatores, entre eles, a necessidade de

6 Instituto CEPA: Instituto de Pesquisa Agrícola de Santa Catarina

26

redução de custos logísticos e de gerenciamento da integração. “Levar

ração, coletar animais, prestar assistência técnica e supervisionar os

contratos de milhares de pequenos integrados – tudo isso é fonte de

custos pouco compatíveis com um negócio de margens reduzidas” . De

outro lado, “o reduzido tamanho médio das granjas na Região sul e o seu

crescimento incremental constituem hoje obstáculos à adoção de

tecnologias mais modernas e produtivas”. (FAVERET FILHO e

PAULA,1998:128-129).

Por essas razões, é questionada na nova conjuntura, a persistência

do modelo de integração adotado no sul do Brasil, que se baseia na

pequena propriedade e na mão-de-obra familiar.

Desde o final dos anos 80, novos modelos de integração vêm sendo

experimentados no Brasil. De acordo com ESPÍNDOLA (1999), uma das

primeiras tentativas de reestruturação do sistema tradicional de

integração deve-se ao Grupo Sadia, mediante a criação do Projeto XXI,

concebido em 1988. Nesse processo, procurou-se selecionar produtores

rurais com área mínima a partir de 20 ha, para a implantação desse

programa visando à difusão de um novo padrão tecnológico e produtivo

entre os produtores, oferecendo-lhes treinamento técnico intensivo com o

objetivo de “transformar o integrado num empresário”. Dentre as

medidas adotadas, incluem-se: aprimoramento da política de

remuneração aos fornecedores de matérias-primas; fornecimento de

material genético diferenciado aos integrados; utilização de mão-de-obra

contratada; construção de granjas para testes e seleção de linhas puras

para multiplicação e hibridação; além do desenvolvimento de um

programa de pesquisas em várias áreas do setor agropecuário.

FAVERET FILHO e PAULA (1998) relacionam a instalação de

novos projetos à marcha das empresas avícolas e suinícolas da Região

Sul em direção ao cerrado, baseada na proximidade com as áreas

fornecedoras de matérias-primas a baixo custo, especialmente milho para

rações, a exemplo da CEVAL, em Barreiras (BA), da Avipal, em Feira de

Santana (BA) e o Projeto Buriti , da Perdigão, em Rio Verde (GO).

27

Discutindo essa questão, HELFAND e REZENDE (1999:266)

afirmam não haver evidência de um êxodo em massa da produção de aves

e suínos do Sul para o Centro-Oeste. Além disso, para o caso do Sul, “a

redução do custo da ração é insuficiente para compensar o maior custo

de transporte entre o Centro-Oeste e os mercados consumidores do

Sudeste”. Para esses autores, embora de forma não conclusiva, “as

possibilidades de instalação de economias de escala na produção e

abate de animais, e de redução de custos de transação mediante a

reorganização das instituições de integração” podem estar favorecendo a

localização da agroindústria no Centro-Oeste.

De fato, a análise dos dados sobre abates de suínos nos estados dos

sul do Brasil, expressos na tabela 6, revelam um crescimento da

produção nos últimos anos. Nesse sentido, pode-se falar de uma

“expansão” e não de um “êxodo” da produção, embora esteja evidente

que as possibilidades de crescimento são maiores no Centro-Oeste.

Tabela 6 - Abates totais de suínos em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná – 1998 a 2000 – em mil cabeças

Estado

1998 1999 2000

Santa Catarina 7.066,2 7.415,2 7.789,5 Rio Grande do Sul 4.132,9 4.177,3 4.340,5 Paraná 3.247,0 3.385,9 3.450,0

Fonte: INSTITUTO de PLANEJAMENTO e ECONOMIA AGRÍCOLA DE SANTA CATARINA – ICEPA - (2000)

O Projeto Buriti , do grupo Perdigão, constitui um exemplo de

projeto de grande escala envolvendo um programa de integração com

produtores. Sua implantação, iniciada em 1998, prevê a montagem de

810 módulos de integração de suínos e aves, para dar suporte ao

funcionamento de um frigorífico de aves com capacidade para abater 281

mil cabeças e um frigorífico de suínos para 3.500 cabeças/dia. Trata-se

de um projeto de alta tecnicidade, exigindo um forte aporte financeiro e

a contratação de mão-de-obra para manejo dos animais nos galpões.

28

Além de condição financeira capaz de arcar com o investimento inicial, a

empresa procura produtores com marcada visão empresarial.

Nesse programa, porém, ocorre a provisão de fundos para

financiamento dos produtores por intermédio do Fundo Constitucional do

Centro Oeste – FCO-, oferecendo condições de crédito especiais, que têm

provocado, inclusive, o interesse de produtores de outros estados. A fim

de viabilizar este programa, os recursos têm sido repassados nas

seguintes condições: taxa de juros fixos em torno de 14% ao ano, com

rebate de 20%, quatro anos de carência, prazo de até 12 anos para

pagamento. Além disso, o valor do financiamento poderá chegar até a

90% do orçamento. O programa encontra-se ainda em fase de

implantação7.

As principais tendências do setor agroindustrial de carnes tem se

reproduzido nos sistemas de integração que vem sendo instalados na

região central do Brasil. A reestruturação econômico-tecnológica tem

conduzido a transformações tais que as empresas integradoras

organizam-se com vistas ao aumento de competitividade no mercado,

buscando a obtenção de ganhos ligados a economias de escala, custos de

transação e de logística de suprimentos e distribuição.

As ações das empresas integradoras direcionam-se no sentido de

viabilizar a adoção de tecnologias de fronteira nos sistemas de produção,

como alimentação automatizada, galpões climatizados e seleção genética

dos animais8. O programa de integração da Rezende Alimentos, assim

como o Projeto Buriti , da Perdigão, são exemplos dessa tendência.

Por outro lado, o modelo de integração adotado nos novos projetos

de suinocultura em instalação no Brasil Central, apresenta algumas

questões abertas ao debate, lançando dúvidas sobre sua continuidade. Os

termos do debate atual podem ser assim definidos:

7 Dados relativos ao mês de janeiro de 2001. 8 A atenção das empresas integradoras para com o melhoramento genético dos animais de criação pode ser observada desde quando se estabeleceram os primeiros programas. Nota-se, porém, nos últimos anos, a intensificação de ações nesta área, mediante a criação de programas próprios de melhoramento genético. Neste sentido, pode-se enumerar programas de diversas empresas como Agroceres-PIC, Chapecó, Sadia (ESPÍNDOLA, 1999), e o da própria Rezende Alimentos/Sadia.

29

“Se por um lado a estrutura agrária do Centro-Oeste, baseada na média e grande propriedades, poderá facili tar essas transformações técnicas, de outro impossibilita que as relações agroindustriais organizem-se nos moldes do sul, onde predomina a propriedade familiar. Na verdade, ainda não se conseguiu estabelecer um modelo de integração da agroindústria com o setor agrícola nos cerrados.. .” (HELFAND e REZENDE, 1999:223).

A viabilização das estratégias que conduzam à produção

integrada em grande escala requer um perfil de produtor rural

diferenciado. Visão empresarial, abertura para adoção de inovações

tecnológicas, capacidade de investimento e de assunção de débitos

passam a ser características essenciais para a implantação e condução

de grandes projetos de criação. Neste caso, talvez, o perfil dos

“parceiros” requerido pelas agroindústrias pode ser melhor definido

pelo termo produtores - empresários.

A preferência dada a este novo perfil de produtor, pelas

empresas integradoras, que antes selecionavam propriedades que

dispunham de abundante trabalho familiar (PAULILO, 1990 e SHIKI,

1999), representa uma alteração profunda nas relações agricultura-

indústria, condizente com os novos padrões de produção impostos pela

reestruturação produtiva.

30

2. A CADEIA PRODUTIVA DA SUINOCULTURA REGIONAL

2.1. A suinocultura no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba

A criação de suínos em Minas Gerais teve início com a fixação das

famílias vindas de São Paulo e Bahia, no rastro das primeiras migrações.

Dentre os animais domésticos, o suíno caracteriza-se pela extrema

adaptabilidade a diversos ambientes e sistemas de criação. Nas fazendas

antigas, os animais eram criados soltos nas pastagens, presos em

“mangueiros” ou em pequenos cercados denominados “chiqueiros”,

alimentando-se de milho, abóboras, tubérculos, soro de leite e de toda a

variedade de frutas e vegetais. Diversas raças de suínos “caipira”

desenvolveram-se nesses ambientes, algumas já extintas ou em processo

acelerado de extinção. Dentre as mais criadas no passado, podem ser

citadas as seguintes: Piau, Nilo e Caruncho, notáveis pela rusticidade e

elevado teor de gordura na carcaça.

Ao longo de décadas, a criação desses animais constituiu

importante suprimento de gordura e carne às populações rurais, enquanto

que os excedentes eram comercializados nos núcleos urbanos. Com a

intensificação do processo de modernização da agricultura e do êxodo

rural nos anos 1970, gradativamente, essas criações perderam a

importância, ao mesmo tempo em que outras fontes de proteínas

tornaram-se mais presentes na cozinha dos mineiros. A mudança dos

hábitos alimentares ficou evidente com a adoção de óleos vegetais

(principalmente óleo de soja), determinando a drástica diminuição da

criação de porcos do tipo banha.

31

O Alto Paranaíba é uma das regiões pioneiras em Minas Gerais na

criação intensiva de suínos com base em técnicas modernas, visando à

produção de carne. A Associação Mineira de Criadores de Suínos,

primeira entidade de representação de interesses da suinocultura mineira,

nasceu em Patos de Minas, em 1972, sendo, posteriormente,

transformada na atual Associação dos Suinocultores de Minas Gerais –

ASEMG - e transferida para Belo Horizonte (FIEMG/PROJETO CRESCE

MINAS, 2000).

Apesar de apresentar um quadro bastante homogêneo em relação ao

meio físico, estrutura agrária e práticas tecnológicas na agricultura, na

mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, a suinocultura tem se

desenvolvido de maneira diversa, cabendo uma diferenciação em nível

microrregional e local.

Em toda a mesorregião, a suinocultura é praticada, principalmente,

em propriedades grandes ou médias, em escala empresarial, juntamente

com outras atividades agrícolas. Nas microrregiões de Uberlândia,

Uberaba e Ituiutaba, malgrado a existência de algumas granjas antigas de

“ciclo completo”, a criação de suínos somente veio a expandir-se a partir

da criação do programa de integração da Rezende Alimentos.

Porém, nas microrregiões de Patrocínio e Patos de Minas, essa é

uma atividade mais antiga, que se estruturou independente da

interferência das agroindústrias e livre dos contratos de integração.

Neste caso, a articulação dos produtores com a indústria restringe-se a

vendas pontuais nas condições de mercado corrente, havendo mesmo uma

resistência dos produtores pelo sistema de integração (FIEMG/PROJETO

CRESCE MINAS , 2000). Como exemplo, o frigorífico Pif Paf, instalado

há 2 anos no município de Patrocínio, apesar dos esforços, não obteve

êxito no estabelecimento de contratos de integração com os criadores. A

tabela 7 apresenta os dados relativos ao plantel de matrizes suínas de

produtores independentes e sob regime de integração, nos diversos

municípios do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.

32

A recente pesquisa, desenvolvida pela FIEMG/PROJETO CRESCE

MINAS (2000) levantou que o grande diferencial da suinocultura

regional assenta-se na elevada produção de grãos (com destaque para

milho e soja), na presença completa da cadeia produtiva e na qualidade

da plataforma empresarial. A produção de milho, inclusive, é suficiente

para o abastecimento regional, restando ainda um excedente para venda

para outras regiões. Além disso, a região detém a maior capacidade de

armazenagem de grãos do Estado, embora subutilizada.

Tabela 7 - Plantel de matrizes suínas, por município produtor doTriângulo

Mineiro/Alto Paranaíba em 2000

Município Matrizes – Integração

Rezende Alimentos

Matrizes – Produtores

Independentes Abadia dos Dourados - 10 Araguari 1.500 522 Araxá - 60 Capinópolis - 25 Carmo do Paranaíba - 1.364 Coromandel - 500 Guimarânia - 220 Ibiá - 136 Iraí de Minas - 152 Ituiutaba 2.400 - Lagoa Formosa - 190 Patos de Minas - 8.665 Patrocínio - 5.316 Pirajuba 1.500 - Presidente Olegário - 680 Romaria - 45 Santa Juliana 2.400 - Santa Vitória - 625 São Gotardo - 210 Serra do Salitre - 520 Uberlândia 16.600 - Uberaba - 713 TOTAL PARCIAL 24.400 19.953

Fonte: FIEMG/PROJETO CRESCE MINAS(2000) - Produtores independentes Dados pesquisa de campo, nov 2000 a jan 2001 -Produtores in tegrados

Tomando-se a relação entre o preço pago pela arroba de suíno e o

preço da saca de milho como parâmetro de referência da viabilidade da

33

produção suinícola, segundo FIEMG/PROJETO CRESCE MINAS (2000),

o ponto de equilíbrio econômico (quando as receitas eqüivalem às

despesas) é obtido quando uma arroba de suíno paga duas sacas de

milho, numa relação de troca de 1:2. Neste caso, quando os produtores

recebem o equivalente a mais de 2 sacas por arroba de suíno, a atividade

apresenta lucro econômico. Este critério serve para avaliar a

competitividade na suinocultura entre os estados produtores, incluindo-

se a mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, cujos resultados

são apresentados na tabela 8.

Tabela 8 - Relação de troca (arroba de suíno/saca de milho de 60 Kg) –

estados selecionados e mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto

Paranaíba: 1995 a 1999. Estado/Região 1995 1996 1997 1998 1999 Média no

períodoGoiás 3,07 2,63 3,34 2,99 2,44 2,89Minas Gerais 2,64 2,14 2,67 2,36 2,16 2,39São Paulo - - - - 2,16 2,16Paraná 2,71 1,97 2,83 2,13 1,98 2,32Rio Grande do Sul 2,19 1,38 2,33 1,96 1,71 1,91Santa Catarina 1,92 1,44 2,13 1,72 1,62 1,77Triângulo/AltoParanaíba 2,66 2,16 2,59 2,33 2,34 2,42

Fonte: FIEMG/PROJETO CRESCE MINAS(2000)

A análise dos dados, embora de forma generalizante, revela que o

Triângulo/Alto Paranaíba, e, principalmente Goiás, no Centro-Oeste,

apresentam significativas vantagens competitivas se comparadas aos

estados da Região Sul, quando se levam em conta os preços dos grãos.

Tabela 9 - Comparativos de índices zootécnicos na suinocultura – países selecionados -1999

34

Parâmetros USA* Canadá* Brasil* Média regional**

Leitões nascidos totais/porca 11,70 11,70 11,20 11,20Leitões nascidos mortos/porca 0,77 0,65 0,51 0,30Leitões desmamados/porca 9,6 9,71 9,7 9,6Leitões desmamados/porca/ano 21,8 23,0 22,1 22,57Partos/porca/ano 2,27 2,37 2,28 2,35

Fonte: FIEMG/PROJETO CRESCE MINAS(2000)

* Média dos melhores rebanhos, correspondentes a 10% do to tal ** Média regional : Dados da ASTAP, no Alto Paranaíba

A suinocultura regional praticada por produtores independentes

tem apresentado índices de produtividade comparáveis aos rebanhos de

países desenvolvidos, como decorrência do uso de tecnologias modernas,

como mostra a tabela 9. Este, freqüentemente, tem sido um argumento

utilizado pelos produtores independentes contra a produção integrada,

como veremos na parte posterior deste trabalho.

A tabela 10 apresenta um quadro dos projetos de criação de suínos

em ampliação e implantação na região.

Tabela 10 - Principais projetos de suinocultura em implantação ou ampliação na mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba no ano de 2001

Município Matrizes Características

Araguari 800 Ampliação/Integração Romaria 3.700 Implantação/Independente Uberlândia 1.200 Ampliação/Integração TOTAL 5.700 -

Fonte: Dados pesquisa de campo, nov. de 2000 a jan. 2001

Os principais frigoríficos destinatários da produção de suínos da

região operam ainda com capacidade de abate ociosa, mostrando que, por

um lado, o crescimento da produção não encontrará entraves na

industrialização, a curto prazo, mas, por outro, revela a carência de

matérias-primas para suprir o setor de abates, o que implica uma

lucratividade abaixo da planejada. A tabela 11 apresenta a relação dos

principais frigoríficos receptores da produção suína da região,

localização e as respectivas capacidades de abate e o abate atual.

35

Tabela 11 - Localização e capacidade de abate de suínos dos principais frigoríficos em operação. Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba- 2000

Frigoríficos Município Capacidade de Abate/cab/dia

Abate atual cab/dia

Frigorífico Pacheco Araxá 50 15 Frigorífico Diamante do Pontal

I tuiutaba 160 30

Frigorífico Real Uberlândia 120 40 Frigorífico Salermo Belo Horizonte 1.300 800 Frigorífico Triângulo Uberlândia 350 175 Pif Paf Patrocínio 1.200 360 Rezende Alimentos Uberlândia 4.000 1.700 Total - 7.180 3.120

Fonte: FIEMG/PROJETO CRESCE MINAS (2000)

No município de Patos de Minas, estão localizadas três das

principais empresas de material genético suíno do país, que, juntas,

respondem por cerca de 40% do mercado nacional, a saber: Agroceres

PIC, Seghers Hybrids do Brasil e DB-Danbred Melhoramento suíno.

Além destas, a Rezende Alimentos também desenvolve uma linhagem

genética própria de suínos, viabilizada pela importação de animais de

linhas puras das raças Landrace, Large White e Pietran.

2.2. O Programa de Integração da Rezende Alimentos/Sadia

A incorporação das áreas de cerrado para a agricultura tornou-se

possível na década de 1970, a partir de novas possibilidades dadas pelos

avanços tecnológicos e pelas inovações advindas da “Revolução Verde”,

entre as quais, as tecnologias de correção e adubação de solos e a

adaptação de novas espécies e variedades de grãos aos solos de cerrados.

Tendo como centro de difusão das novas tecnologias os programas

iniciais de incentivos, principalmente, com o POLOCENTRO (Programa

36

de Desenvolvimento dos Cerrados) e o PRODECER (Programa de

Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados),

imensas áreas de chapadas dos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato

Grosso e Mato Grosso do Sul, tornaram-se produtoras, principalmente de

soja, milho, café e algodão, atraindo agroindústrias processadoras de

diversos produtos.

A implantação de agroindústrias no Triângulo Mineiro tem uma

relação direta com a expansão agrícola nas áreas de cerrados, a partir dos

anos 1970. Com a criação dos distritos industriais, diversas

agroindústrias foram instaladas na região. O parque agroindustrial da

Rezende Alimentos, localizado em Uberlândia, surge nesse contexto.

Segundo MARTINS (1997:58), as primeiras indústrias do

Triângulo Mineiro desenvolveram-se tendo como suporte os capitais

acumulados nos centros urbanos, utilizando a base manufatureira que

havia se constituído para o beneficiamento e processamento de vários

produtos voltados para a comercialização: “a atividade comercial e a

estrutura urbana que se desenvolviam geraram as bases e o estímulo ao

processo de industrialização”.

Em Uberlândia, gradativamente, as atividades industriais passaram

a assumir uma importância fundamental na economia local, como

destinatário das matérias-primas agrícolas e como suprimento da

demanda regional por produtos industrializados. Para o referido autor:

“O desenvolvimento industrial de Uberlândia, desde seus primórdios, apresentou um forte vínculo com as atividades agrícolas e comerciais. Ainda hoje, com toda a diversificação que marca sua estrutura, a indústria de Uberlândia mantém-se articulada a esses dois setores.” (MARTINS, 1997:58).

Com a instalação em Uberlândia de duas indústrias, além da

Rezende Alimentos (ABC-Inco e Cargill) , com plantas destinadas ao

processamento de soja e milho e fabricação de rações, a região

converteu-se, também, em um polo de produção de aves e suínos.

37

Segundo CLEPS JUNIOR (1998), a Rezende Alimentos tornou-se

conhecida no segmento genético-avícola nacional a partir dos anos 1960,

ao obter a exclusividade de importação de duas linhagens “avós” 9 de

frangos de corte – Hubbard e Peterson -, passando à produção e

distribuição de aves de um dia e praticando vendas para empresas

importantes no segmento de carnes, como a Chapecó, Frangosul,

Perdigão e Sadia. Atuando, inicialmente, apenas como produtora de

matrizes para avicultura de corte, a Rezende Alimentos desenvolveu-se,

tornando-se líder neste segmento. A partir de 1982, a empresa passou por

um processo de reestruturação, concentrando-se na produção de matrizes,

pintos e ovos SPF10. Em 1995, a empresa respondia por 50% do mercado

brasileiro de matrizes de corte (FRANÇA, 1995). A partir de 1997, a

empresa já controlava o funcionamento uma indústria de processamento

de soja, um incubatório moderno, uma fábrica de rações, um abatedouro

de aves, um frigorífico para abate de suínos e bovinos e uma indústria de

carnes e embutidos, instalados em Uberlândia, no Estado de Minas

Gerais.

O parque industrial da Rezende Alimentos/Sadia está entre as mais

modernas indústrias do setor de carnes da América do Sul, sendo

composto de um abatedouro de aves, um frigorífico de suínos e a

indústria de embutidos (GUIMARÃES, 2000). Possui capacidade para

abate de 4.000 suínos por dia, capacidade anual de abate de 32,3 milhões

de frangos e produção de 97 mil toneladas de industrializados.

Inicialmente, planejou-se o programa de produção integrada de

suínos com base nas granjas com capacidade de alojamento em torno de

cem animais. Contudo, ficou demonstrado que as pequenas granjas não

apresentariam a capacidade de pagamento necessária para cumprir com o

cronograma de amortização dos financiamentos. A orientação escolhida

9 As aves importadas são denominadas “avós”, que, ao se reproduzirem, darão origem às matrizes. Os frangos comerciais que se destinam ao abate resultam da postura das matrizes. Segundo RIZZI (1993), as “avós” correspondem a uma geração posterior à das “bisavós”, as quais resultam de cruzamento de raças puras, de onde se extraem as linhagens. 10 SPF – Specific Pathogen Free – utilizados na fabricação de vacinas veterinárias e humanas.

38

foi no sentido de fomentar a implantação de granjas com grande

capacidade de alojamento.

No modelo implantado, verifica-se alto dispêndio de capital na

montagem da estrutura produtiva, a utilização intensiva de tecnologia e a

rápida incorporação de inovações ao esquema produtivo, próprio de um

programa gestado temporalmente e em conformidade com a recente

reestruturação tecnológica e industrial, seguindo as tendências da

moderna indústria de carnes, o que pode ser visualizado na qualidade e

no nível tecnológico do parque industrial da empresa. Pode ser

verificado, também, nos galpões de criação, construídos segundo

avançado padrão tecnológico e em grandes dimensões, tendo em vista

tanto a padronização e a otimização da qualidade dos produtos, assim

como observando-se vantagens de escala que oportunizam economias no

transporte de rações e animais, e maiores ganhos industriais, que

refletirão favoravelmente na competitividade da empresa no mercado. Da

mesma forma, sua logística de transportes e distribuição enquadra-se no

novo padrão administrativo e organizacional.

A constante adoção de inovações tecnológicas em seus diversos

segmentos produtivos, presente, inclusive, nos galpões dos integrados,

expressa sua conformidade com o padrão de produção integrada, que vem

sendo adotado, de forma recente, pelas principais empresas integradoras

do setor de carnes. Essas características distinguem tal programa de

outros anteriormente implantados no sul do Brasil , por algumas empresas

e cooperativas.

Outra característica diz respeito à especialização dos produtores,

em criadores de leitões, recriadores e terminadores, de acordo com a

seguinte subdivisão:

• Sítio I – destinados à fase de produção de leitões. O projeto mínimo

destina-se ao alojamento de 1.040 matrizes;

• Sítio II – destina-se à criação dos leitões na fase de creche;

• Sítio III – Fase de terminação. Com projeto mínimo destinado a 1.000

suínos em engorda.

39

A existência de um padrão que define o tamanho mínimo e

especificações técnicas próprias, exigindo um volumoso dispêndio de

capital, restringiu a adesão de um número maior de produtores ao

programa, que, ainda hoje, se encontra em fase de implantação.

Os produtores são remunerados pela integradora com base nos

desempenhos dos lotes de animais entregues de acordo com a fase da

criação. Pelos dados de fertilidade do rebanho (Sítio I), ganho diário de

peso, viabilidade e conversão alimentar (Sítio II e Sítio III), compõe-se

um índice matemático denominado “fator de produção”11. O fator de

produção do lote é comparado ao fator de produção médio dos últimos 10

(dez) lotes de animais entregues à integradora por outros produtores,

compondo-se um “ranking” entre os produtores. Isso resulta no fato de

que a remuneração paga aos produtores é sempre uma expressão do seu

diferencial de produção em relação aos outros produtores.

O programa de integração da Rezende Alimentos teve início em

meados da década de 1990, a partir da assinatura de contratos com vistas

à produção de frangos. Em seguida, em 1996, foram assinados os

primeiros contratos de integração para produção e engorda de suínos.

Atualmente, o número de produtores que participam do programa atinge

algo em torno de 250, envolvendo a criação de frangos, suínos e perus.

A perda de fatias de mercado de pintos de um dia e um foco de

leucose aviária desencadeou uma crise nas contas da empresa, desde

1996. Além disso, uma disputa judicial de origem familiar, acirrada a

partir de 1997, retirou seu fundador e diretor-presidente do controle

11 O fator de produção (FP) do lote é o produto do ganho diário de peso (GPD) pela viabilidade (V) dividido pela conversão alimentar. Sua unidade é g/dia. O fator de produção é expresso pela seguinte fórmula: FP= GPD x V CA O GDP é definido como o ganho de peso do lote dividido pelo tempo de terminação (idade média do terminado menos a idade inicial) e pelo número de suínos entregues, expresso em gramas por dia. A viabilidade é a quantidade de terminados entregue dividida pela quantidade inicial do lote recebido. A conversão alimentar é a quantidade total de ração consumida pelo lote dividida pelo ganho de peso do lote.

40

administrativo da empresa, o que abalou sua credibilidade, prejudicando

a rolagem de débitos da empresa perante as agências de crédito bancário.

A crise interna culminou com a transferência do controle acionário

da empresa, no final de 1999, para o grupo Sadia, que assumiu débitos

perante instituições financeiras no valor de U$116 milhões, além do

pagamento de R$ 134 milhões aos sócios cotistas.

Entre as razões que despertaram o interesse pela aquisição da

Rezende Alimentos, conta-se a qualidade do seu parque industrial , a

ótima localização geográfica (tanto para o suprimento de grãos, como

pela proximidade dos principais mercados consumidores) e a

disponibilidade de mão-de-obra especializada. Com a aquisição, a Sadia

aumentou sua capacidade de produção em 8% no abate de frangos, 20%

no abate de suínos e 7% na fabricação de industrializados (MURAT

JÚNIOR, 1999).

Antes da transferência para o grupo Sadia, a Rezende Alimentos

util izava apenas 30% de sua capacidade de abate de frangos e suínos. A

partir de então, as estratégias adotadas pela empresa concentram-se

especialmente na viabilização do parque industrial , uma vez que o

frigorífico e a indústria de carnes trabalham com capacidade ociosa,

mesmo havendo transcorrido três anos desde o início do funcionamento.

A operação do frigorífico, cuja capacidade instalada de abate é de 4.000

suínos/dia, gera custos elevados, os quais não vêm sendo cobertos pelo

abate em níveis atualmente praticados, em torno de 1.700 suínos/dia.

O rebanho de matrizes pertencente à empresa está hoje em torno de

10.000 matrizes. Somando-se às 16.400 matrizes dos produtores

integrados, o total chega a 26.400 matrizes, número bem abaixo do

programado, que é de 50.000 matrizes, conforme pesquisa de campo.

A empresa vem adotando algumas estratégias como forma de

aumentar rapidamente a oferta de matérias-primas para a indústria. A

primeira diz respeito à flexibilização dos padrões técnicos, abrindo

espaço para adaptação de granjas antigas de ciclo completo existentes na

região, para alojamento de animais no regime de integração. A aceitação

41

de um padrão tecnológico menos rigoroso do que o original tem ampliado

o número de produtores envolvidos, especialmente, nas granjas de

matrizes, onde é maior a carência de produtores integrados. Com isso,

foi expandida a área de atuação do programa, que hoje abrange os

municípios de Araguari, Estrela do Sul, Indianópolis, Ituiutaba, Monte

Carmelo, Monte Alegre de Minas, Nova Ponte, Pedrinópolis, Perdizes,

Pirajuba, Prata, Romaria, Santa Juliana, Tupaciguara, Uberaba e

Uberlândia na Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. No

município de Ipameri, no Estado de Goiás, adaptou-se uma antiga granja

de ciclo completo com a finalidade de produzir leitões. A figura 2

apresenta o mapa político da região, e a figura 3 apresenta a localização

das granjas de integração, nos diversos municípios dos Estados de Minas

Gerais e Goiás.

O fomento à criação de perus faz parte da estratégia de

diversificação e aumento do faturamento da empresa, aproveitando-se a

estrutura de criação de aves, como incubatório, abatedouro e granjas de

integrados (CORREIO, 2000). Além disso, o incentivo à criação de perus

teve um componente estratégico, já que diminuiu a importância relativa

da suinocultura e avicultura, reduzindo o poder de barganha dos

produtores concomitante à renegociação de preços de remuneração.

Contudo, a receptividade para com a nova opção de criação não foi

muito positiva entre os produtores, em razão da baixa remuneração

oferecida e dos altos custos para conversão das granjas de frangos para

granjas de perus. A criação de perus exige comedouros especiais, mais

resistentes ao impacto do que os comedouros utilizados para frangos. No

início de 2001, a empresa propôs um reajuste de preços de remuneração

para perus, com a finalidade de atrair mais produtores para a integração.

42

Figura 2 – Mesorregião do Triângulo/alto Paranaíba (MG) e Sul do Estado

de Goiás. Divisão Polít ica

43

Figura 3 - Municípios onde se localizam as granjas de integração da

Rezende Alimentos

44

No programa da Rezende Alimentos, buscou-se, inicialmente, uma

elevada eficiência tecnológica associada ao pagamento de uma melhor

remuneração aos produtores integrados. A remuneração proposta não foi

mantida, ao mesmo tempo em que aparecem sinais de redução do padrão

tecnológico, particularmente, no manejo sanitário das granjas.

O quadro que prevalece atualmente, é de uma indústria que possui

muitos recursos tecnológicos, mas que continua operando com grande

ociosidade, devido à carência de matérias-primas. Ao mesmo tempo,

surgem especulações sobre uma entrada mais agressiva da empresa no

mercado de suínos para abate, a fim de suprir o deficiente abastecimento

da indústria.

É inegável que as condições locais propiciaram o surgimento de

uma articulação entre indústria e produtores-empresários integrados, com

benefícios mútuos, embora não na mesma medida para todos os

produtores. Porém, também parece estar claro que, no momento, falta

atratividade ao programa, além da carência de recursos, condições

necessárias para assegurar a continuidade dos investimentos na

construção de granjas. Por último, existem poucas possibilidades de

surgimento de linhas de crédito a taxas atrativas, a exemplo do FCO na

região Centro-Oeste. Desta forma, poucas alternativas restam para a

integradora no sentido de equacionar a falta de matérias-primas para a

indústria.

Abrir espaço para a participação de produtores familiares,

provocando uma reorientação do programa, apresenta-se como uma

alternativa pouco exeqüível, em função da dinamicidade tecnológica e do

aumento de escala requeridos no atual estágio de competitividade entre

as empresas do setor. Da mesma forma, o aumento do valor básico de

remuneração dos produtores integrados, que poderia atrair novos

investimentos, parece contrariar a orientação que vem seguindo o grupo

Sadia, pois acarretaria a redução imediata de sua lucratividade.

45

Diante do exposto, as especulações que apontam para uma entrada

efetiva da empresa no crescente mercado de suínos para abate apresenta-

se como a alternativa mais provável no momento.

2.3. A suinocultura regional em regime de integração

A caracterização da produção bem como dos produtores de suínos

integrados à Rezende Alimentos é uma etapa fundamental antes de

discutirmos o relacionamento entre os produtores e a indústria

integradora. Por essa razão, a busca de informações a respeito dos

produtores rurais que participam do programa, mereceu atenção especial

nesta pesquisa. Cerca de 100 produtores estão envolvidos no programa

de integração de suínos da Rezende Alimentos, conforme informações da

gerência de integração da empresa.

Nesta pesquisa, foram considerados os dados sobre grau de

escolaridade, atividades no setor urbano, tamanho das propriedades,

volume de investimentos na atualidade, dentre outros, assim como os

objetivos e expectativas dos produtores em relação ao empreendimento

na caracterização do perfil desses agentes.

A pesquisa de campo abrangeu 30 produtores, que foram

entrevistados durante o período de novembro de 2000 a janeiro de 2001.

Além disso, por intermédio da AST (Associação dos Suinocultores do

Triângulo) obtivemos dados de área das propriedades, capacidade de

alojamento e município de localização das granjas de outros 16

produtores, que não foram entrevistados diretamente durante a pesquisa

de campo.

No anexo 3, são apresentados o modelo do roteiro de entrevistas e,

no anexo 1, um quadro geral sobre as informações básicas levantadas,

tais como os dados de escolaridade, local de residência, atividade

urbana, outras atividades rurais, município de localização da granja,

46

distância do frigorífico, valor dos investimentos totais, valor dos

recursos próprios, percentual e valor dos recursos advindos de

financiamentos, número de funcionários por granja e área das

propriedades dos 30 produtores entrevistados.

As propriedades dos produtores integrados estão situadas num raio

140 km de Uberlândia, embora a distância das granjas dos produtores

entrevistados até o abatedouro da Rezende Alimentos seja em média de

55,62 Km. As granjas dos produtores entrevistados estão localizadas nos

municípios de Araguari, Indianópolis, Ituiutaba, Monte Carmelo, Monte

Alegre de Minas, Pirajuba, Prata, Tupaciguara, Uberaba e Uberlândia, no

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. A tabela 12 apresenta os dados

relativos à área das propriedades, tipo de granjas, capacidade de

alojamento, distância das granjas até o frigorífico e localização das

granjas dos produtores de suínos entrevistados.

A área média das propriedades dos produtores entrevistados, com

base na tabela 12, é de 368,61 ha. Este valor é inferior à média calculada

das áreas dos estabelecimentos de 37 produtores integrados à Rezende

Alimentos e associados da AST. Com base no anexo 2, a média das

propriedades dos associados da AST é de 495,35 ha. Esta diferença pode

ser, em parte, justificada pelo fato de que um único produtor associado

da AST possui 3.458 ha no município de Uberaba, elevando

substancialmente a média geral.

Uberlândia foi o município com o maior número de granjas

visitadas. As 17 propriedades visitadas neste município apresentam área

média de 250 ha, portanto, inferior à média geral das propriedades.

47

Tabela 12-Área da propriedade, t ipo de granja, capacidade de alojamento , distância do frigorífico e município de localização das granjas dos produtores de suínos.

N.º Área das propriedades

(ha)

Tipo de granja

Capacidade alojamento

(cab.)

Distância do frigorífico -

km

Localização da granja - município

01 500,00 Terminação 6.000 11 Uberlândia02 96,80 Terminação 2.500 12 Uberlândia03 48,40 Terminação 3.300 17 Uberlândia04 114,00 Terminação 3.200 22 Uberlândia05 48,00 Terminação 2.800 140 Ituiutaba06 96,80 Creche 1.400 35 Uberlândia07 1.866,00 Creche

Terminação3.5002.000

20 Uberlândia

08 1.452,00 Terminação 2.200 60 Indianópolis09 25,00

72,00 Creche

Terminação2.4001.700

65 UberlândiaTupaciguara

10 261,00 Matrizes 2.400 30 Uberlândia11 193,60 Creche 5.000 25 Uberlândia12 58,00 Terminação 2.300 12 Uberlândia13 150,00 Creche 11.000 10 Uberlândia14 100,00 Terminação 1.000 15 Uberlândia15 155,00 Terminação 3.400 70 M. Alegre

Minas16 480,00 Matrizes 2.400 30 Uberlândia17 410,00 Matrizes 3.000 50 Araguari18 87,12 Creche

Terminação4.6003.260

35 Uberlândia

19 700,00 Creche 2.600 40 M. Alegre Minas

20 338,00 Terminação 1.700 50 Prata21 26,00 Creche 4.500 30 Uberlândia22 80,00 Terminação 2.100 130 Ituiutaba23 484,00 Terminação 2.800 148 Ituiutaba24 96,90 Terminação 2.750 135 Ituiutaba25 34,00 Creche 8.000 40 Uberlândia26 121,00 Terminação 4.000 129 Monte

Carmelo27 1.200,00 Terminação 8.000 120 Monte

Carmelo28 755,04 Matrizes 1.500 n.d. Pirajuba29 1.258,40 Creche 6.000 120 Uberaba30 120,00 Matrizes 3.200 20 Uberlândia

Fonte: Dados de pesquisa de campo, nov. 2000 a jan. 2001

A figura 4 permite-nos observar que a faixa de 50 a 99 ha destaca-

se como a de maior concentração de propriedades - 24%, e que 50% dos

48

produtores entrevistados possuem menos de 150 ha, embora haja grandes

proprietários envolvidos na atividade.

Figura 4 – Área média das propriedades dos produtores integrados, em ha

Fonte: Dados de pesquisa de campo, nov. 2000 a jan. 2001.

Foram encontradas granjas em propriedades de tamanhos variados,

desde pequenas propriedades, com 26 ha, até propriedades medindo mais

de 1.800 ha, demonstrando que a área da propriedade não é um elemento

fundamental para a entrada dos produtores no empreendimento, embora

os maiores investimentos se localizem nas propriedades médias e

grandes.

A construção dos galpões obedece a um planejamento prévio,

escolhendo-se os pontos mais altos das propriedades, onde ocorre melhor

circulação de ar. Os galpões são sempre posicionados no sentido leste-

oeste, evitando-se a exposição direta dos animais aos raios solares.

As granjas de suínos, no regime de integração com a Rezende

Alimentos, em geral, util izam equipamentos modernos e apresentam

estrutura física muito bem construída, numa perspectiva a longo prazo de

permanência no negócio. Este ponto é sempre lembrado na fala dos

produtores e, freqüentemente, utilizado como argumento em favor de

melhor remuneração. Nas palavras de um produtor: “nosso espírito aqui

no Triângulo é de fazer as coisas bem feitas. Nossa realidade é diferente

13%

24%

13%10%17%

10%13%

< 49

50 a 99

100 a 149

150 a 249

250 a 499

500 a 999

> 1.000

49

da realidade do sul. Temos investimentos e custos a mais. A

remuneração tem que ser maior.. .”

Figura 5 - Granja de terminação de suínos. Vista externa Foto do autor , jan . 2001.

Apesar disso, muitos produtores queixam-se por obterem baixos

rendimentos no lotes de animais. A adoção da grande escala de produção

e utilização de equipamentos modernos não garante a obtenção de

elevados índices de produtividade, que, inclusive, podem sofrer

profundas alterações em função de variações no manejo, doenças, atrasos

na entrega de rações e falhas de execução nas diversas fases do processo

de produção.

As granjas de matrizes apresentam os custos mais elevados de

implantação e por unidade de animal alojado, quando comparadas às

granjas de creche e terminação. Os dados relativos a investimentos

totais, capacidade de alojamento média por granja, custo médio de

alojamento por animal e número de granjas pesquisadas estão expressos

na tabela 13.

50

Tabela 13 - Investimentos totais médios, capacidade de alojamento e número de granjas.

Tipo de granja12

N.º de granjas

Investimento total médio por

granja - R$

Capacidade alojamento

média - cab.

Custo médio de alojamento por

animal - R$ Terminação 18 203.094,12 3.056 65,10

Creche 10 219.450,00 4.900 43,37 Matrizes 5 1.923.600,00 2.500 772,68

Fonte: Dados de pesquisa de campo, nov. 2000 a jan.2001

Figura 6 - Granja de terminação de suínos. Vista interna, destacando-se a tubulação destinada à distribuição automática da ração e a “lâmina d’ água’, embaixo, à direita Foto do autor , jan . 2001.

Os galpões de creche, em geral, são construídos tomando-se por

base as dimensões mínimas de 12 x 90 metros. As dimensões mínimas

encontradas para os galpões de terminação são de 12 x 100 metros. As

12 Os 3 tipos de granjas correspondem a: (1) Granjas de matrizes, onde são alojadas as matrizes destinadas à produção de leitões. (2) Granjas de creche: destinam-se à criação dos leitões, alojados após a desmama, após essa fase os animais são conduzidos às (3) granjas de terminação, onde os animais completam o crescimento e a engorda.

51

instalações para granjas de matrizes são constituídas de vários

galpões, cada um destinado a uma fase ou estágio do ciclo

reprodutivo, constando de baias13 de recria de leitoas, gaiolas de

gestação e baias de parição.

Figura 7 - Granja “creche”. No detalhe, a campânula, para aquecimento dos le itões. Foto do autor , jan . 2001.

Por meio de entrevistas com alguns técnicos da Rezende

Alimentos/Sadia, concluímos que a adoção de tais dimensões para

construção das granjas fundamenta-se na necessidade de diluição de

custos de instalação de rede elétrica e de água, sistema de

aproveitamento de dejetos e utilização de mão-de-obra. A adoção de uma

escala menor certamente comprometeria a capacidade de pagamento dos

financiamentos e a rentabilidade do empreendimento para os produtores.

Evidentemente, a adoção de tal escala objetiva também a redução dos

custos de transporte de rações e de animais.

13 Os galpões, em geral, são subdivididos em baias, onde são alojados os animais, podendo ainda conter um corredor central ou lateral.

52

Segundo a pesquisa, constatamos que a Rezende Alimentos/Sadia

recusa projetos de construção de granjas com dimensões muito

superiores ao padrão proposto, especialmente, para o setor de matrizes,

evitando a dependência da empresa diante de um só produtor e o aumento

do seu poder de negociação.

Figura 8 - Granja de matrizes. Baias para alojamento de leitoas de Reposição. Foto do autor , jan . 2001. Os materiais utilizados na construção dos galpões, em geral, são de

grande durabilidade. Em 93,33% dos galpões visitados, as colunas de

sustentação são de aço, concreto ou premoldados; 80% dos galpões

possuem estrutura metálica para cobertura, cujas telhas, em 46,66% dos

casos, são metálicas, enquanto que, em 43,33% dos galpões, foram

encontradas telhas de amianto e apenas 10% possuem telhas de barro.

Objetivando reduzir a utilização de mão-de-obra, em 72,4 % dos

galpões visitados, são utilizados mecanismos automatizados de condução

da ração dos silos até os comedouros, os quais, em 86,6 % das granjas,

são metálicos e automatizados.

53

A grande maioria dos produtores utiliza os dejetos dos suínos na

adubação do solo empregando bombas elétricas para retirada dos dejetos

dos reservatórios e aplicação direta através de aspersores sobre as

pastagens ou áreas de cultivo. Apesar de considerarem os custos de

equipamentos e energia relativamente elevados, os produtores

entrevistados mostram-se otimistas com a utilização dos dejetos para

adubação, em que alguns resultados promissores vem sendo observados,

verificando-se aumento significativo na capacidade de suporte das

pastagens fertilizadas, principalmente, devido à escassez de nitrogênio,

fósforo e potássio nos solos da região, elementos presentes de forma

abundante nos dejetos de suínos.

Figura 9 - Granja de matrizes. Gaiolas de gestação. Foto do autor , jan .2001

Provavelmente em função dessas medidas, como também do

isolamento de tanques e lagoas de decantação, utilizando-se concreto ou

lona plástica, durante as visitas às granjas de criação não foram

54

observados problemas ambientais devido à destinação inadequada de

dejetos suínos.

Sob uma primeira análise, as propriedades rurais onde se localizam

as granjas possuem áreas suficientes para a distribuição dos dejetos. A

topografia plana e a profundidade dos solos favorecem a distribuição

homogênea e a infiltração da fração líquida dos dejetos, evitando

contaminação dos cursos d’água. Além disso, verifica-se uma rápida

decomposição dos dejetos no solo, sob as condições de temperaturas

elevadas na região na maior parte do ano (a temperatura média anual

situa-se entre 20 e 24º C). A época mais propícia para distribuição dos

dejetos no solo inicia-se em abril-maio, prolongando-se até outubro-

novembro, em função da existência de uma estação seca acentuada no

inverno. A precipitação média anual na região, situa-se entre 1.250 e

1.700 mm.

Figura 10 - Granja de matrizes. Baia de parição.

Foto do autor , jan. 2001.

55

Apesar disso, o grande volume de dejetos produzido poderá

constituir-se num problema futuro, se considerarmos a necessidade de

expansão do programa, a fim de viabilizar a operação da indústria.

Regiões que possuem grande concentração de suínos, a exemplo do oeste

de Santa Catarina, vêm enfrentando problemas de contaminação dos

solos, cursos d’água e lençóis freáticos, além da poluição dos ar.

2.4. Os tipos de produtores integrados

Com base nas entrevistas realizadas com os produtores, foi

possível elaborar uma tipologia de classificação, com o objetivo de

melhor caracterizar o perfil dos produtores integrados e facilitar as

análises das estratégias e expectativas de cada grupo. Essa proposta de

classificação baseia-se na constatação de que apesar da diversidade de

tipos de produtores e das propriedades, “é possível reunir os produtores

em categorias e em grupos distintos, dentro dos quais as condições

sócio-econômicas e as estratégias são semelhantes.. .” (PCT

INCRA/FAO, 1999:22).

Tomando como parâmetros o nível de investimentos, o porte dos

empreendimentos, o desenvolvimento de atividades remuneradas no setor

urbano e a participação da renda advinda da suinocultura na composição

da renda total, chegamos a três tipos básicos de produtores de suínos

integrados.

O primeiro grupo corresponde aos produtores-empresários, que

praticam uma suinocultura de grande porte. O segundo grupo

corresponde aos produtores com renda urbana, cuja suinocultura tem

caráter de complementação de renda. O terceiro grupo diz respeito aos

produtores que desenvolvem atividades exclusivamente rurais, cuja

suinocultura apresenta-se como uma diversificação de atividades dentro

56

da propriedades. A classificação pode ser melhor entendida, observando-

se os tópicos e as considerações seguintes:

Grupo 1 . Produtores-empresários. Possuem empreendimentos com

elevado investimento em capital. Do total dos entrevistados, seis

produtores enquadram-se nesta classificação. Conforme a tabela 14, a

característica predominante neste grupo de produtores é o grande volume

de investimento.

Tabela 14 - Produtores do tipo 1 – atividades rurais e urbanas, área da propriedade, investimento total e percentagem de recursos f inanciados.

N.º Fonte de receita urbana

Outras at iv idades

rurais

Área (ha)

Escolaridade

Invest imento

total R$

% recursos f inanciados

01 Car tór io, a luguel de

imóveis

Pecuár ia de le i te e cor te ,

avicul tura

500,00 Super ior incompleto

700.000,00 0

10 Indústr ia Pecuár ia de le i te e cor te ,

avicul tura

261,00 Super ior 1.918.000,00 0

16 Funcionár io público

Avicul tura, pecuár ia de cor te , café

480,00 Super ior 1.800.000,00 90,00

17 Construtora , imobil iár ia

Pecuár ia de cor te , café

410,00 Super ior 2.200.000,00 0

28 Não possui Soja 755,04 2º grau 1.200.000,00 41,6630 Não possui Pecuária

corte120,00 Superior 2.500.000,00 0

Fonte: Dados de pesquisa de campo, nov. 2000 a jan. 2001

Grupo 2 . Produtores com renda urbana e suinocultura como atividade

complementar. Possuem receitas de origem urbana em diversos setores.

As principais atividades rurais praticadas: pecuária de leite e corte,

suinocultura, avicultura, café. Neste grupo, dezenove produtores, dentre

os entrevistados, enquadram-se nesta classificação. Os dados são

apresentados na tabela 15.

57

Tabela 15 - Produtores do tipo 2 - atividades urbanas e rurais, área da propriedade, investimento total e percentagem de recursos f inanciados. N.º Fonte de

receita urbana Outras

atividades rurais

Área (ha)

Grau de escolari-

dade

Investimento total

R$

% recursos f inanc.

02 Bancário aposentado

Pecuária de lei te

96,80 Superior 170.000,00 52,94

03 Aposentadoria alug. imóveis

Pecuária corte

48,40 2º grau 100.000,00 0

04 Representante comercial

Pecuária corte

114,00 2º grau 186.000,00 38,70

05 Representante comercial

Pecuária de lei te

48,00 Superior 144.694,36 61,67

07 Construtora Pecuária, avicultura

1.866,00 Superior 330.000,00 12,12

09 Açougue Pecuária, avicultura

97,00 2º grau 145.000,00 0

11 Diversos Avicultura,pecuária

193,60 - 178.000,00 0

13 Emp. Turismo Pecuária 150,00 Sup.Incomp.

600.000,00 0

14 Comércio armarinhos

Pecuária 100,00 1º grau 40.000,00 0

18 Cerealista, Representação

Avicultura, pecuária

87,12 2º grau 350.000,00 0

19 Bancário aposentado

Soja,milho, pecuária

700,00 2º grau 147.500,00 38,98

20 Imobiliária Pecuária 338,00 Superior 100.000,00 021 Funcionário

empr. Atacad. Não pratica 26,00 Superior 234.000,00 0

22 Comércio sem. Fert i l iz.

Pecuária 80,00 1º grau 220.000,00 30,00

23 Magistério, comérc. Eletro

Pecuária, avicultura

484,00 2º grau 180.000,00 58,33

24 Medicina Pecuária 96,90 Superior 160.000,00 40,0025 Assistência

técnica rural Não pratica 34,00 Superior 350.000,00 0

27 Indústr ia cerâmica

Pecuária de corte, café

1.200,00 2º grau 450.000,00 60,00

29 Academia Pecuária 1.258,40 Superior 240.000,00 40,00 Fonte: Dados de pesquisa de campo, nov. 2000 a jan.2001

Grupo 3 . Produtores rurais com renda exclusivamente rural. Praticam a

suinocultura como diversificação de atividades. Principais atividades

rurais: Pecuária de leite e corte, suinocultura, avicultura, mandioca, café.

58

Dentre os produtores entrevistados, cinco enquadram-se nesta

classificação. Destes, nenhum recorreu a empréstimos para construção de

granjas. Os dados estão apresentados na tabela 16.

Tabela 16 - Produtores do tipo 3 – atividades rurais, área da propriedade, investimento total e percentagem de recursos financiados.

N.º Outras atividades rurais

Área (ha)

Grau de escolaridade

Investimento total R$

% recursos f inanc.

06 Pecuária de lei te, café, maracujá

96,80 2º grau 60.000,00 0

08 Pecuária de corte e lei te, avicultura

1.452,00 1º grau 100.000,00 0

12 Frango caipira 58,00 Superior 250.000,00 0 15 soja, pecuária,

avicultura 155,00 Superior 120.000,00 0

26 Avicultura, café 121,00 1º grau 230.000,00 0 Fonte: Dados de pesquisa de campo, nov. 2000 a jan. 2001

2.5. Os produtores integrados à Rezende Alimentos/Sadia

Dentre as características comuns aos diversos produtores, a

utilização de mão-de-obra contratada é, provavelmente, a que mais se

destaca. Todos os produtores de suínos entrevistados, que participam do

programa de integração da Rezende Alimentos, contratam mão-de-obra

para o manejo e alimentação dos animais nas granjas. No entanto, essa

não é uma variável diferenciadora dos grupos de produtores, embora seja

um ponto fundamental na distinção entre o modelo de integração da

Rezende Alimentos e os tradicionais programas do sul do Brasil.

PAULILO (1990) relata que a suinocultura integrada no sul do

Estado de Santa Catarina é praticada especialmente por produtores que

utilizam mão-de-obra familiar. Para FERREIRA (1993), a suinocultura

59

integrada relaciona-se quase exclusivamente a agricultores familiares. As

explorações agrícolas familiares satisfazem às exigências das maiores

agroindústrias do país, disciplinando o trabalho e os cuidados na

condução do produto. Além disso, produzem com menor custo porque

utilizam sobretudo mão-de-obra familiar, não remunerada.

ABRAMOVAY (1998a) vê no crescimento da agricultura patronal

no Brasil um ponto revelador do quadro de atraso de nossa agricultura,

diante da preeminência da agricultura familiar nos países capitalistas

avançados. Visto por este ângulo, o modelo de produção agropecuária

integrada da Rezende Alimentos, ao apoiar-se basicamente na agricultura

patronal, caminha em sentido contrário à tendência da moderna

agricultura capitalista.

A utilização de equipamentos automatizados e determinadas

inovações aplicadas na construção dos galpões seguramente reduzem a

utilização de mão-de-obra para distribuição de ração e limpeza das

instalações. São técnicas que oneram os custos de implantação,

economicamente viáveis apenas em galpões de grande escala. Ao optar

pela construção de granjas de grandes dimensões, a Rezende Alimentos

previamente definiu o perfil dos produtores que tomariam parte no

programa de integração, assim como da mão-de-obra a ser utilizada.

Pela tabela 17, observamos que as granjas que alojam matrizes

empregam o maior número de pessoas, em média, 25,8. As granjas de

creche empregam, em média, 2,1, e as de terminação, 1,72 funcionários.

Os empregados são contratados em caráter permanente e residem dentro

das propriedades, porém, nas granjas de matrizes, onde se emprega maior

número de funcionários, estes residem nos núcleos urbanos, sendo

conduzidos pela manhã e à tarde por de veículos dos produtores.

O emprego da mão-de-obra familiar limita-se a tarefas

administrativas e, eventualmente, por ocasião de embargue e

desembarque de animais.

60

Tabela 17- Número médio de empregados, segundo os tipos de granjas de suínos.

Características Granjas de matrizes

Granjas de creche

Granjas de terminação

N.º médio de trabalhadores 25,8 2,1 1,72Animais/ trabalhador 96,89 2.333,3 1.774,5

Fonte: Dados de pesquisa de campo, nov. 2000 a jan.2001

Dentre os 30 produtores entrevistados, apenas um reside

atualmente na propriedade rural, enquanto os demais residem nos

centros urbanos da região.

Com relação ao grau de escolaridade, os dados de 20 produtores

revelam que 44,82 % concluíram algum curso superior, 10,34%

possuem superior incompleto, 31,03% concluíram o 2º grau e 13,79%

dos produtores concluíram o 1º grau, conforme a tabela 18. Estes

índices revelam-se superiores quando comparados a dados de outros

produtores rurais da região14.

Tabela 18 - Grau de escolaridade dos produtores integrados

Grau de escolaridade15

N.º de produtores %

1º grau 4 13,80 2º grau 9 31,04 Superior incompleto 3 10,34 Superior completo 13 44,82 Total 29 100,00

Fonte: Dados de pesquisa de campo, nov. 2000 a jan. 2001

A pesquisa também demonstra que 23 produtores dentre os

entrevistados (76,66% do total) possuem alguma fonte de receita

financeira de origem urbana, e apenas 7 produtores (23,33%)

dependem exclusivamente das atividades de produção agrícola como

fonte de recursos. Estes dados são apresentados na tabela 19.

14 Numa pesquisa com produtores de tomate no município de Araguari – MG, CUSTÓDIO (2.000) -, constatou que 10% dos produtores não chegaram a concluir o curso primário, 52,5% dos produtores concluíram o 1º grau, 15% possuem primário incompleto, 7,5 % possuem ginásio completo, 2,5% possuem colegial incompleto, 7,5% colegial completo e apenas 5% possuem instrução superior. 15 O 1º grau corresponde atualmente ao ensino fundamental, e o 2º grau, ao ensino médio.

61

A freqüência elevada de produtores com atividades no meio urbano

manifesta-se como decorrência da busca por novas oportunidades de

negócios no setor rural. Segundo GRAZIANO DA SILVA (1997:78-

79),“milhares de profissionais liberais urbanos, atraídos pelas

facilidades decorrentes dos novos serviços disponíveis para apoio das

atividades agropecuárias, passaram a olhar os campos como uma

oportunidade também para novos negócios”.

Tabela 19 - Origem das fontes de receitas urbanas dos produtores integrados na suinocultura Fonte de receita urbana

N.º de produtores

Comércio 7 Indústr ia 2 Construção civil 2 Serviços 5 Profissionais l iberais 1 Aposentadoria 3 Funcionário empresa atacadista/ funcionário público

2

Diversas 1 Subtotal 23 (77,66%) Produtores sem receita urbana 7 (23,33%) Total 30 (100,00%)

Fonte: Dados de pesquisa de campo, nov. 2000 a jan. 2001

É importante lembrar que a urbanização processou-se com maior

intensidade na região durante os últimos 50 anos, o que faz com que a

memória rural esteja ainda muito presente nos habitantes das cidades.

A maioria dos produtores integrados entrevistados - 79,16% (anexo

1) - nasceram em famílias que residiam no meio rural. Na verdade,

grande parte dos produtores já possuíam as propriedades rurais antes de

se decidirem pela integração. Para estes, essa era mais uma opção para

diversificar as atividades. O sonho de desenvolver alguma atividade no

campo, em muitos casos, corrobora decisivamente a tomada de decisão

de investir no meio rural.

A diversificação de atividades reduz a dependência financeira dos

produtores diante da empresa integradora, permitindo que o sustento da

62

família seja garantido pelas demais fontes de renda em períodos de crise.

Para a maioria dos produtores, a receita advinda das granjas cumpre

papel apenas de complementação de renda, não sendo fundamental na

composição da renda familiar.

Nesta análise, é importante relacionar o crescimento comercial,

industrial e urbano das principais cidades da região, e, especialmente a

cidade de Uberlândia, à capacidade de investimento dos produtores

integrados em estudo, pois é um procedimento útil para a compreensão

da dinâmica das transformações nesse setor da agricultura.

A idéia central é a de que o vigor da economia urbana do

município interfere na dinâmica da produção agropecuária local e

condiciona o surgimento de novas configurações no espaço agrário

regional. É crucial, portanto, o papel dos centros urbanos na dinamização

das regiões rurais. “O meio rural só pode ser compreendido em suas

relações com as cidades, com as regiões metropolitanas e também com

os pequenos centros em torno dos quais se organiza a vida local

(ABRAMOVAY, 1998b:27) .

Contando com uma população total de 500.095 habitantes, de

acordo com os dados do Censo Demográfico do IBGE (2000), a área de

influência de Uberlândia estende-se não apenas além das fronteiras do

município, em decorrência da penetração de empresas locais dos setores

atacadista e industrial, em vários estados da federação. Também no meio

rural, os efeitos da intensa atividade comercial e industrial de Uberlândia

e de outras cidades do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, podem ser

percebidos.

Apesar da importância da indústria no contexto local, o dinamismo

econômico de Uberlândia, a maior cidade da região, decorre sobretudo

do setor comercial e de serviços, como atestam os dados do PIB do

município, apresentados na tabela 20, relativos a preços correntes de

1997.

63

Tabela 20 - Uberlândia - Produto Interno Bruto (PIB), segundo os setores de atividades econômicas – 1997.

Especificação Município de Uberlândia

Percentual (%)

PIB agropecuário

115.167.841 4,12

PIB industrial 1.226.341.980 43,95PIB serviços 1.449.102.220 51,93PIB total 2.790.612.041 100,00

Fonte: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP), Centro de Estat ís t ica e Informações (CEI) (2000)

Para GUIMARÃES (1996), o desenvolvimento do comércio,

especialmente a partir dos anos 1960, possibilitou o aproveitamento da

renda mercantil e a polarização do comércio regional e inter-regional em

torno dos núcleos urbanos do Triângulo Mineiro, com destaque para o

município de Uberlândia.

A aptidão natural do Triângulo Mineiro para o comércio, deve-se

às especificidades próprias, como sua posição estratégica e “sua

capacitação para desempenhar o papel de ponto de interseção de ativos

e substanciosos fluxos inter-regionais de mercadorias” (BRANDÃO,

1989:173), atrelando-a, desde sua ocupação, a importantes circuitos

mercantis nacionais.

Nos últimos anos, pequenas e médias propriedades rurais -sítios e

chácaras- vêm sendo adquiridas por empresários, profissionais

aposentados, enfim, pessoas oriundas do meio urbano, destinando-as às

funções de lazer e produção agrícola.

A aquisição de propriedades rurais por novos produtores de origem

urbana, seguida de investimentos em estrutura produtiva e/ou finalidade

de lazer, e de contratação de mão-de-obra assalariada (processo

verificado principalmente no município de Uberlândia, denominado

também de “efeito urbano”) responde não só pelo crescimento da

produção patronal no município, mas também, em grande medida, pelo

afluxo de novos investimentos ao setor rural, direcionados, inclusive,

para a construção de granjas de integração de aves e suínos. Além disso,

64

como veremos adiante, a elevada participação de produtores que

possuem, paralelamente, atividades urbanas confirma a existência de um

fluxo de recursos de capital no sentido do campo.

Tal efeito tem se tornado possível em razão da concentração de capitais

em torno dos setores mais dinâmicos da economia urbana local e

regional, colocando-se na origem do aporte dos recursos que

viabilizaram a participação dos produtores no programa de integração da

Rezende Alimentos desde meados dos anos 90.

Uma fração menor do grupo de produtores concentraram investimentos

de tal forma que o montante dos recursos canalizados na atividade de

produção suína supera os demais, em investimento e receita

(correspondente ao grupo 1, na classificação proposta). Apesar de

constituir-se no grupo mais dependente em relação à Rezende Alimentos,

são esses os mais dinâmicos e especializados entre os produtores

integrados, cujos negócios envolvem milhões de reais. Em tais

condições, a produção integrada é vista pelos produtores como uma

atividade sumamente empresarial.

Devido ao montante do investimento e à capacidade produtiva instalada,

para esse grupo de produtores, aparentemente, a integração não é a única

possibilidade de inserção no sistema produtivo. Em sua maioria, esses

produtores montaram granjas de matrizes, que correspondem à fase que

demanda mais investimentos em instalações e capacitação técnica. Para

eles, em caso de necessidade, a continuação do ciclo de produção não

seria uma barreira intransponível. Além disso, especula-se a respeito de

um mercado demandante, em ascensão, por leitões desmamados em todo

o Brasil Central, em decorrência da recente instalação de diversos

frigoríficos para abate de suínos, que operam atualmente com capacidade

ociosa16.

16 Além do frigorífico da Rezende Alimentos/Sadia em Uberlândia, dois outros frigoríficos recentemente iniciaram os abates de suínos: Pif-Paf em Patrocínio – MG, e Perdigão, em Rio Verde – GO.

65

Ao considerar o conjunto dos produtores que se enquadram nos

grupos 1 e 2, correspondentes aos produtores empresários e investidores

urbanos, veremos que estes totalizam 83,33% do total dos produtores

integrados entrevistados, o que pode ser assinalado como uma das

principais características do modelo de integração pesquisado. Se

adotarmos a tipologia proposta por GRAZIANO DA SILVA (1999), este

conjunto de produtores integrados agrupa-se na categoria dos grandes

proprietários e capitalistas agrários. Nesse grupo, a orientação dos

investimentos pela taxa de lucro é uma das principais características.

A tabela 21 apresenta os custos totais de implantação de 30 granjas

de produtores integrados de suínos, sendo possível observar valores

monetários expressivos, despendidos, na maioria dos casos, sem apoio

bancário. Os valores investidos na construção de granjas dão a idéia do

poder de mobilização de recursos de alguns setores econômicos da

região, especialmente, os ligados às atividades urbanas.

Conforme ficou demonstrado pelos dados anteriores, na faixa de

classificação de produtores do grupo 3, ou seja, produtores que praticam

exclusivamente atividades rurais, nenhum dos entrevistados tomou

empréstimo bancário para aplicação na suinocultura. Tais produtores

canalizaram recursos de outras atividades, como pecuária e cafeicultura

ou mediante a venda de parte dos seus imóveis. Entretanto, esse fato

pode indicar uma retração da procura por crédito em função de

experiências negativas anteriores. Por outro lado, a concentração dos

créditos bancários nas categorias de investidores urbanos pode ser

indicativa de maior facilidade de articulação desses produtores com o

sistema financeiro, quando se trata de obtenção de recursos de crédito,

ou ainda, de maior disposição para a assunção de riscos, com vistas à

viabilização do investimento.

Pode-se observar que todos os produtores que possuem granjas em

propriedades menores do que 58 ha possuem também outras fontes de

recursos oriundas de atividades nos centros urbanos, expondo a ausência,

no programa de pequenos e mini-produtores (que praticam

66

exclusivamente atividades rurais), diante da carência de recursos

próprios e de linhas de créditos. Mais do que isso, o fato deixa claro que

os produtores familiares não foram incluídos nas linhas de crédito

bancárias destinadas a investimentos em granjas.

Tabela 21 - Total dos investimentos realizados pelos produtores integrados

N.º Investimento total R$

Recursos próprios

R$

Financiamento R$

% de recursos

de financ.

Área da proprieda

de (ha) 01 700.000,00 700.000,00 - 0 500,0002 170.000,00 80.000,00 90.000,00 52,94 96,8003 100.000,00 100.000,00 - 0 48,4004 186.000,00 114.000,00 72.000,00 38,70 114,0005 144.694,36 55.453,15 89.241,21 61,67 48,0006 60.000,00 60.000,00 - 0 96,8007 330.000,00 290.000,00 40.000,00 12,12 1.866,0008 100.000,00 165.000,00 - 0 1.452,0009 145.000,00 145.000,00 - 0 97,0010 1.918.000,00 1.918.000,00 - 0 261,0011 178.000,00 178.000,00 - 0 193,6012 250.000,00 250.000,00 - 0 58,0013 600.000,00 600.000,00 - 0 150,0014 40.000,00 40.000,00 - 0 100,0015 120.000,00 120.000,00 - 0 155,0016 1.800.000,00 180.000,00 1.620.000,00 90,00 480,0017 2.200.000,00 2.200.000,00 - 0 410,0018 350.000,00 350.000,00 - 0 87,1219 147.500,00 90.000,00 57.500,00 38,98 700,0020 100.000,00 100.000,00 - 0 338,0021 234.000,00 234.000,00 - 0 26,0022 220.000,00 154.000,00 66.000,00 30,00 80,0023 180.000,00 75.000,00 105.000,00 58,33 484,0024 160.000,00 96.000,00 64.000,00 40,00 96,9025 350.000,00 350.000,00 - 0 34,0026 230.000,00 230.000,00 - 0 121,0027 450.000,00 180.000,00 270.000,00 60,00 1.200,0028 1.200.000,00 700.000,00 500.000,00 41,66 755,0429 240.000,00 144.000,00 96.000,00 40,00 1.258,4030 2.500.000,00 2.500.000,00 - 0 120,00

TOTAL 15.468.194,35 12.398.453,15 3.069.741,20 24,76 - Fonte: Dados de pesquisa de campo, nov. 2000 a jan. 2001

O Banco do Brasil é a instituição financeira que liberou a maior

proporção dos valores de empréstimo, como mostra a tabela 22. As taxas

de juros oscilaram entre 8,5 % ao ano e 12,0 % mais TJLP. Os prazos de

67

pagamento variaram entre 3 e 8 anos, e os prazos de carência mínimo

foram de 6 meses e máximo de 2 anos.

Tabela 22 - Fonte dos recursos e condições dos empréstimos destinados à aplicação na construção de granjas de suínos. *

N.º

Fonte Recursos Juros anuais Prazo Carência

02 Banco do Brasil 6% + TJLP 8 anos 6 meses04 Banco do Brasi l 8,9% 4 anos 1 ano05 Banco do Brasi l 12% + TJLP 6 anos 1 ano07 Banco Real 10% 4 anos 1 ano16 Banco do Brasi l 8,75% 5 anos 2 anos19 Banco do Brasil 8,75%, 6%+ TJLP 3 e 6anos 6 meses22 Banco do Brasi l 8,75% + TJLP 6 anos 1 ano23 Banco do Brasi l 8,75%; 6%+ TJLP 5 anos 1 ano24 Banco do Brasi l 8,75 5 anos 1 ano27 BNDES 12% 3 anos 1 ano28 BDMG 6% + TJLP 6 anos 1 ano29 Banco Real 8,75% 5 anos 1 ano

Fonte: Dados de pesquisa de campo, nov. 2000 a jan. 2001 *Refere-se apenas aos produtores que recorreram aos f inanciamentos bancár ios.

Apenas 40% dos produtores integrados tomaram empréstimos

bancários para construção das granjas de criação de suínos. Entre os

produtores que contraíram empréstimos, a porcentagem média calculada

dos recursos provenientes de crédito bancário sobre o investimento total

foi de 47,03%. No cômputo geral, a participação percentual dos valores

de crédito liberados pelas agências bancárias para investimentos em

granjas foi de 24,76 %, cabendo aos recursos próprios a maior fração dos

recursos utilizados, evidenciando que a implantação do programa de

integração da Rezende Alimentos dependeu, em grande medida, da

capacidade de investimento dos produtores.

A participação dos produtores no programa de integração é

condicionada pela disponibilidade de capital para a efetivação dos

investimentos. Na verdade, essa escolha é feita fundamentalmente, com

base no nível de capitalização. CLEPS JÚNIOR(1998: 215), chama a

atenção para o aumento da seletividade dos produtores rurais nesse

programa de integração, à medida que ocorre a exclusão “dos pequenos

68

agricultores familiares e seleciona parceiros-produtores, fortemente

capitalizados , constituídos basicamente de grandes empresários.”

As razões da inserção dos agricultores no sistema de produção

integrada tem sido levantadas por diversos autores, não havendo, porém,

consenso sobre essa questão, sobretudo porque os motivos são vários.

TEDESCO (1999:124), pesquisando produtores familiares, ressaltou que,

em geral, “o que está em jogo é a necessidade de reprodução da unidade

familiar e o ethos de colono: o colono luta, diversifica a sua produção

para continuar a ser colono” .

A motivação dos produtores de suínos integrados à Rezende

Alimentos, em princípio, prende-se ainda a outros fatores: atribui-se às

condições de remuneração inicialmente propostas; às possibilidades de

diversificação de atividades nas propriedades rurais mediante a

utilização dos dejetos; à garantia de escoamento dos produtos; à

valorização das propriedades e às potencialidades de crescimento da

suinocultura num contexto nacional a atratividade para o investimento,

que estimulou a participação de empresários urbanos e profissionais

liberais. Nesse caso, a motivação fundamental orienta-se para a obtenção

de lucros e “ fazer crescer o patrimônio”.

A previsão inicial de retorno do capital investido na construção

das granjas, num prazo de 3 anos, e a garantia de 100% de reajuste da

inflação sobre os preços de remuneração dos suínos (com base num

índice composto pela variação de preços da energia elétrica e salário

mínimo) tornava o investimento atrativo do ponto de vista financeiro.

Para isso, contribuiu muito a credibilidade da Granja Rezende, uma

empresa tida como exemplo no contexto regional, até então. Em alguns

casos, a própria empresa participou como avalista frente ao sistema

financeiro na liberação de créditos aos produtores.

Acredita-se que uma maior disponibilidade de capital para

investimentos, por meio de recursos próprios ou linhas de crédito,

especialmente na fase inicial de implantação do programa, teria

estimulado a construção de um maior número de granjas de suínos. A

69

construção dos galpões, nos padrões e dimensões requeridas, demanda

valores monetários freqüentemente elevados, superando, por vezes, os

valores da “terra nua” dos imóveis rurais onde se localizam as granjas.

Um breve exame das principais características da integração

suinícola da Rezende Alimentos/Sadia, necessariamente, inclui a

utilização de mão-de-obra contratada, a predominância de um grau de

escolaridade relativamente elevado entre os produtores, a baixa

participação de recursos de crédito bancário em empreendimentos com

grande aporte de capital, a freqüência elevada de empresários urbanos,

profissionais liberais e capitalistas agrários, os quais conduzem seus

negócios seguindo princípios de administração empresarial.

70

3. TRANSFORMAÇÕES NAS RELAÇÕES AGROINDÚSTRIA-

PRODUTORES RURAIS

3.1. Redes organizacionais e contratualização na agricultura

O estudo da contratualização na agricultura, vista como tendência

atual, oferece a possibilidade de crescimento na compreensão da

moderna agricultura capitalista, não só de seus aspectos técnicos,

organizacionais e mercadológicos, como também dos desajustes e

contradições que se manifestam no meio rural e que se expandem para o

conjunto da sociedade.

A agricultura contratualizada teve seu início em países capitalistas

avançados na avicultura e suinocultura, estando, porém, restrita à

produção de alguns gêneros como carnes, legumes, leite e frutas.

O processo de reorganização das cadeias agroalimentares tem

conduzido a discussões e contestações a respeito dos modelos

explicativos “complexo” e “cadeia”, tidos por alguns como

demasiadamente estáticos. Para captação da dinâmica atual de

organização da produção alimentar e sua articulação com o mercado, a

noção de “rede” tem sido vista como mais adequada por incorporar

também o conceito de flexíbilidade (MALUF e WILKINSON, 1999).

Segundo WILKINSON (1999:42), um sistema alimentar orientado

para a demanda “está em vias de ser implantado, e seu perfil vai

depender muito mais dos padrões de consenso do consumidor do que

imposições por parte das estruturas rígidas da oferta” . Para esse autor,

71

a forma mais atual de conecção da agricultura com os outros setores da

economia diz respeito às configurações em rede. Nessa nova

configuração, um maior poder de coordenação, provavelmente, será

atribuído à grande distribuição. Os dados apresentados por MALUF

(1999:64-65) demonstram, porém, o poder que as empresas líderes

industriais ainda detêm na determinação de preços, ao lado da grande

distribuição.

Para FERREIRA (1993), há uma tendência para o desenvolvimento

de articulações contratualizadas entre agricultura e indústria, devido às

condições atuais do mercado alimentar internacional, em que: “Le

développement d’une économie contractuelle répondrait à de nouveaux

paramètres productifs marqués par la flexibilité et par l’interaction

adaptative, ou ‘solidarité’, entre les di fférents acteurs de la

production”. 17(FERREIRA, 1993:159).

A emergência de um novo formato organizacional, nos anos 80,

“compatibilizou grandes escalas com a possibilidade de diferenciar e

sofisticar produtos”, com base na cooperação. “Dentro das unidades

fabris, a cooperação com e entre a força de trabalho” materializou-se

“em uma nova atitude gerencial” e entre empresas, pela “formação de

sistemas de cooperação entre fornecedores e produtores, entre

produtores-usuários-consumidores e até entre empresas rivais em torno

de projetos pré-comerciais de desenvolvimento tecnológico”

(COUTINHO e FERRAZ, 1995:185).

As redes configuram-se com base em estruturas organizacionais

sinérgicas, comandadas pela indústria ou pelo setor de distribuição, que

articulam relações interempresariais sob a ótica da flexibilidade, da

demanda volátil , da terceirização de serviços etc., “formando uma

complexa rede de relações contratuais que objetivam maximizar fatores

de produção, competitividade, reduzir custos, produzir e dinamizar

nichos de mercados e organizar-se oligopólica e oligopsonicamente”

17 Segundo a autora: “O desenvolvimento de uma economia contratualizada responderá por novos parâmetros marcados pela flexibilidade e pela interação adaptativa ou ‘solidariedade’, entre os diferentes atores da produção”.

72

(TEDESCO, 1999:118). Por meio da contratualização, a produção rural

acopla-se à rede, cujo carro-chefe é a agroindústria, que determina o

ritmo do processo de adoção de inovações, o plano de ações e as

condições de remuneração dos produtores integrados.

Para SORJ et al. (1982:64), o elemento básico para a explicação da

formação da agricultura de integração, seja contratual ou não, está nas

condições macrossociais e históricas, de onde emanam as condições

concretas e imediatas para as diferentes estratégias e arranjos entre

integradoras e integrados. Desta forma: “Frente às condições técnicas à

disposição do capital e às condições naturais da produção agropecuária,

o capital integrador possui uma gama de alternativas estratégicas,

dependentes do contexto de uma dada estrutura social no campo”.

As agroindústrias optam pelo processo de integração como maneira

de obter matéria-prima a um custo menor do que a produção própria, em

que há investimentos em terras, instalações, máquinas, além dos custos

de administração e de mão-de-obra. Por este meio, tais empresas obtêm

as matérias-primas em quantidade, qualidade e tempo adequado ao ritmo

do processo produtivo, possibilitando a adaptação às condições instáveis

de mercado (FERREIRA, 1993). Segundo essa autora, os agricultores

decidem pela integração motivados pela garantia de escoamento do

produto, produção ininterrupta, maior facilidade de acesso ao crédito e

incorporação mais rápida de inovações tecnológicas. Acredita-se que

uma das principais vantagens oferecidas aos agricultores pela

contratualização está na redução de risco, tanto em nível de preço como

em nível de escoamento da produção, além de implicar uma maior

facilidade de acesso ao crédito.

3.2. As abordagens sobre o relacionamento agricultura-indústria

Algumas abordagens sobre o setor de produção agrícola, a exemplo

do agribusiness, que consideram a cadeia produtiva como um todo, sem

73

levar em conta os diversos segmentos (produtores, indústria e comércio),

contribuem pouco para o estudo das relações entre indústria e

produtores, uma vez que não distingue os interesses dos diversos agentes

e terminam por defender os interesses dos setores comerciais e

industriais.

Diversos autores dedicam-se ao estudo do surgimento e

desenvolvimento da indústria de carnes no Brasil , utilizando, para isso, a

noção de “Complexo Agroindustrial”, entendido não somente como etapa

e via do processo de modernização da agricultura, mas também como

instrumental de análise.

Para MÜLLER (1989), o “Complexo Agroindustrial” – CAI - pode

ser definido como o conjunto de segmentos da economia nacional, cuja

dinâmica liga-se às atividades agrárias, constituindo-se numa unidade de

análise. Tal unidade de análise leva em conta os três segmentos que

compõem o “Complexo Agroindustrial” na explicação dos processos

econômicos, sociais e políticos envolvidos nessa temática. Nesse

enfoque, os problemas agrários são identificados e analisados com base

nas relações sociais. Assim, as relações econômicas são definidas a

partir do embate das forças sociais e políticas. O trecho seguinte, tomado

a MÜLLER (1989:134), esclarece bem esta observação:

“.. . assim como o preço de uma mercadoria é a expressão monetária da força dos grupos em concorrência, assim também o são, os lucros e superlucros obtidos sob a moderna base industrial. Mudanças nestas expressões monetárias das relações sociais só são possíveis com alterações no campo das forças sociais. Desta feita, os aspectos negativos da modernização caberiam ser buscados não tanto em fatores exógenos mas sobretudo na incapacidade de se criar um novo campo de confronto entre os grupos sociais no país”.

As transformações ocorridas na agricultura também são analisadas

por GRAZIANO DA SILVA (1996:1) e entendidas como resultantes do

aprofundamento da divisão social do trabalho, fato que provocou a

74

destruição da economia natural, criando as bases para o desenvolvimento

do modo capitalista de produção:

“O processo fundamental da criação do mercado interno é a divisão social do trabalho. Apoia-se em que da agricultura se separam, um após outro, diferentes tipos de transformação das matérias-primas e formam-se ramos industriais com existência própria, que trocam seus produtos por produtos da agricultura. Dessa maneira, a própria agricultura se transforma em indústria e nela se opera idêntico processo de especialização”.

Na concepção desse autor, porém, a industrialização da agricultura

não representa apenas mudanças nas relações do homem com a natureza,

mas também nas relações de produção e com seus instrumentos de

trabalho (GRAZIANO DA SILVA, 1996).

A partir da internalização das indústrias químicas e mecânicas,

fabricantes de insumos e máquinas agrícolas no país, torna-se possível

aprofundar o processo de modernização com a industrialização da

agricultura. “Assim, a própria agricultura se transforma e no seu

interior se opera idêntico processo de especialização”. O

estabelecimento de relações específicas da agricultura “para trás”, com

tais indústrias, e “adiante”, com as agroindústrias processadoras,

determina a constituição dos vários Complexos Agroindustriais nos anos

70. “Tem-se assim o CAI carnes, o CAI sucro-alcooleiro, o CAI laranja,

etc”. (GRAZIANO DA SILVA, 1996:86-87).

Para Ângela Kageyama, a constituição dos Complexos

Agroindustriais concretiza-se por duas vias, a partir da industrialização

da agricultura: 1) com a implantação no país de um parque industrial

destinado a processar a produção agrícola (à jusante), e, 2), pela

internalização no país de um setor industrial responsável pelo

fornecimento de bens de produção e insumos para a agricultura (à

montante). A ação do Estado é fundamental nesse processo, não só como

gestor da modernização, como também por fornecer um aparato de

crédito (Sistema Nacional de Crédito Rural) e de pesquisa agropecuária

oficial, especialmente mediante a criação da EMBRAPA. Para essa

75

autora, a consolidação dos Complexos Agroindustriais concretizou-se por

meio do processo de fusão/integração de capitais intersetoriais pelo

capital financeiro. “A partir da constituição dos CAIs o desenvolvimento

da agricultura passa a depender da dinâmica da indústria.. .”

(KAGEYAMA, 1990:125).

Apesar de admitir que o “Complexo Agroindustrial” seja útil como

ferramenta de estudo, SALLES FILHO e SILVEIRA (1991) consideram

que a liberdade conceitual dificulta sua aplicação. O caráter ambíguo da

noção de CAI fica evidenciado pela sua utilização tanto nos estudos

setoriais da agricultura, aplicáveis na melhoria do desempenho de

empresas industriais e comerciais, como também nas análises críticas de

cunho marxista. Segundo esses autores, o CAI é um conceito de

aplicação restrita, em razão das características específicas devidas à

variedade de produtos. Não há como afirmar a formação de um complexo

em torno de produtos como tomate-mesa, arroz, feijão, frutas etc.

Para MIRANDA COSTA e MAZZALI (1995), a noção de

Complexo Agroindustrial é colocada em xeque como aparato conceitual

para apreensão da dinâmica do setor, a partir do final dos anos 80, uma

vez que os elementos básicos que lhe deram sustentação – um padrão de

desenvolvimento tecnológico, um estilo de inserção da agricultura no

mercado internacional e um determinado perfil de intervenção do Estado

– sofreram profundas alterações.

A aplicação do conceito de Complexo Agroindustrial contribui

pouco para o estudo das relações entre produtores e agroindústria,

porquanto pressupõe uma aliança entre o capital industrial e os

produtores. É verdade que não ocorre contratualização sem que haja

concordância entre as partes, pelo menos em alguns pontos essenciais, e

até mesmo solidariedade entre os elos da cadeia produtiva, porém não há

como negar a constante tensão entre produtores e indústria em torno dos

preços de remuneração e do plano de ações. A utilização do “Complexo

Agroindustrial” no estudo dessas relações, em geral, retira da agricultura

a centralidade como foco de análise, desviando-a para o setor industrial .

76

Numa corrente de interpretação da modernização da agricultura,

divergente da acima apresentada, GOODMAN et al. (1990) rejeitam tanto

as abordagens teóricas e ideológicas advindas do marxismo clássico, das

quais se deriva a tese do “Complexo Agroindustrial”, como as

contribuições da economia neoclássica. Nessa abordagem, a chave para

compreender o caráter único da agricultura reside no fato de que esta

confronta o capitalismo com um processo de produção diretamente

dependente da natureza e dos sistemas biológicos. Como resultado, a

agricultura não poderia ser diretamente transformada num ramo da

produção industrial.

As principais limitações são “representadas pela natureza

enquanto conversão biológica de energia, enquanto tempo biológico no

crescimento das plantas e na gestação animal, e enquanto espaço nas

atividades rurais baseadas na terra” (GOODMAN et al. , 1990:1), as

quais estão na raiz da intratabilidade e da incompatibilidade da

agricultura para com os processos de produção capitalistas.

Diante da impossibilidade de transformação da agricultura

diretamente num ramo da produção industrial, setores capitalistas

industriais, apoiados pelo Estado, esforçam-se por incorporar aspectos

típicos da produção agrícola, transformando-os em setores específicos da

atividade industrial. Segundo o raciocínio de GOODMAN et al. (1990:5-

6):

“Os capitais industriais têm-se restringido a apropriações parciais do processo de trabalho rural, conduzindo em diferentes conjunturas históricas à mecanização da agricultura e a inovações químicas e genéticas (. . .) À medida em que certos elementos do processo de produção rural tornam-se suscetíveis de reprodução industrial, eles são apropriados pelos capitais industriais e reincorporados na agricultura como insumos ou meios de produção. O desenvolvimento capitalista da agricultura é assim caracterizado pela apropriação industrial de atividades discretas, em marcante contraste com a transformação da produção artesanal doméstica e rural. A produção capitalista no caso da agricultura localiza-se na cidade, não no campo”.

77

O desenvolvimento capitalista da agricultura, na interpretação de

GOODMAN et al. (1990:06), relaciona-se ao “movimento competitivo

dos capitais industriais a fim de criar setores de acumulação através da

reestruturação do processo recebido de produção rural pré-industrial”.

Diversas atividades relacionadas com a produção e o processamento, que,

em conjunturas passadas, eram encaradas como elementos integrais do

processo de produção rural, foram gradativamente apropriadas e

substituídas por atividades industriais. Tal desenvolvimento deu-se a

partir da apropriação das atividades relacionadas com a produção rural:

“É precisamente nesta fase, nos setores industriais constituídos por

estas apropriações, que atividades previamente ‘rurais’ são

subordinadas ao capital, removendo as barreiras à acumulação”.

A apropriação desses setores específicos da produção rural pelo

capital industrial foi motivada pela necessidade intrínseca ao próprio

capitalismo, de estabelecimento de novos setores de acumulação. As

estratégias industriais de apropriação e a consolidação de grandes

capitais oligopolísticos no processamento e distribuição de alimentos

revolucionaram a agricultura nos últimos 50 anos. Houve um processo de

integração de capitais industrial, comercial e financeiro, concomitante à

diminuição da significância da produção agrícola nos sistemas de

alimentos e fibras (GOODMAN et al . , 1990), trazendo como

conseqüências sociais a diminuição da renda agrícola, concentração

fundiária, êxodo rural etc.

A agricultura assume, por essa ótica, um caráter residual,

l imitando-se à fração que resistiu à transformação em processos

industriais. A dinâmica das estruturas sociais é determinada pelo grau de

apropriação e substituição dos processos naturais de produção. “As

relações sociais rurais, mesmo reproduzidas pelo capitalismo, são

permanentemente erodidas e reconstituídas à medida em que a

tecnologia reproduz a natureza em um quadro industrial” (GOODMAN

et al. , 1990:137). Assim, as relações sociais são vistas como efeito, ao

invés de causa, como nas análises do “Complexo Agroindustrial”.

78

Desta forma, o setor de produção agrícola não segue exatamente as

mesmas regras dos outros setores da economia, o que significa dizer que

esse setor não está perfeitamente enquadrado no capitalismo. “A

agricultura confronta o capitalismo com um processo de produção

natural” (GOODMAN et al. , 1990:01), incompatível com a produção

capitalista. O fato de que a propriedade da terra e dos meios de produção

agrícola pertence aos agricultores, cria a ilusão contrária. A estrutura de

comercialização dos produtos agrícolas, baseada na livre negociação,

também favorece a crença na falsa idéia de que a agricultura é apenas

mais um setor da economia. Proliferam, no meio rural, os agricultores

que também se dedicam a atividades comerciais: negociantes de gado,

cereais, verduras etc. Sem dúvida, a lógica econômica dominante está

presente na vida dos agricultores, porém a atividade de produção a que

se dedicam é aversa a essa lógica, visto que se fundamenta em processos

biológicos/naturais incompatíveis com o mercado.

3.3. Integração, eficiência produtiva e conflitos de interesses

A produção agropecuária, integrando indústria e produtores, vem

sendo adotada há vários anos em países capitalistas desenvolvidos. No

Brasil, há exemplos de programas de integração implantados na Região

Sul desde a década de 1960, com desdobramentos para o Centro-Oeste e

Sudeste, concomitantes ao rápido crescimento da indústria de carnes,

especialmente, de aves e suínos. Para ESPÍNDOLA (1999:104):

“a adoção do sistema de integração faz parte do projeto modernizante da agricultura brasileira, com o objetivo explícito do aumento da produção e da produtividade agrícola; do estabelecimento de novas relações de produção e da dissolução da estrutura produtiva rural auto-suficiente, mediante a utilização de métodos, técnicas, equipamentos e insumos modernos.. .”

79

Diversos autores têm se preocupado em estudar e caracterizar o

relacionamento dos produtores com a agroindústria, particularmente, no

que diz respeito a projetos instalados no sul do Brasil. DELGADO

(1985) denomina de produtores associados aos fornecedores da grande

agroindústria nos ramos de avicultura, fumicultura, vitivinicultura,

suinocultura, fruticultura e outros, incluindo-os no grupo dos pequenos

produtores tecnificados. Esse autor argumenta que as agroindústrias

expropriam dos produtores parte da renda da terra e dos lucros, mediante

a imposição de condições de monopólio na determinação de preços

industriais, que terminam por deteriorar os termos de troca da

agricultura, e observa que o grau de autonomia formal desse grupo de

produtores é ainda menor que o dos cooperados , pois àqueles não resta

nenhuma possibilidade de participar da estratégia de crescimento da

empresa ou do grupo econômico a que se ligam como fornecedores.

Os autores que se dedicam a essa questão têm caracterizado a

produção integrada no sul do Brasil como sendo uma atividade típica de

pequenos produtores, os quais util izam mão-de-obra familiar, e cuja

decisão de ligar-se às agroindústrias justifica-se meramente pelas

necessidades de sobrevivência, diante de uma conjuntura econômica

desfavorável à pequena produção. Tal condição, ao mesmo tempo em que

lhes garante a regularidade de escoamento de produção, mostra-se

freqüentemente desfavorável a esses pequenos produtores.

De acordo com PAULILO (1990), produzir para uma empresa não

foi a única modificação na vida de seus entrevistados nas últimas três

décadas. Eles passaram a tomar emprestado sistematicamente dinheiro do

sistema financeiro, a usar insumos modernos e a trabalhar com máquinas.

Produzir individualmente, numa situação em que os insumos e os

produtos circulam no mercado internacional, é quase impossível para

pequenos proprietários. É por isso que por mais crítico que o produtor

seja com relação às agroindústrias, ele nunca propõe o desaparecimento

da produção integrada, mas o aumento do poder de barganha dos

fornecedores de matéria-prima.

80

Para SORJ et al. (1982), o ramo da produção avícola é a atividade

na qual os contratos de integração da agroindústria com os produtores

ocorrem de maneira mais formalizada, com a subordinação dos últimos

às condições de regulação das margens de lucro por parte da indústria.

Numa outra análise, MATOS (1996), comparando sistemas de integração

em duas regiões, com produtores integrados à Sadia, Perdigão, CEVAL e

COOAGRI relata que essas empresas vêm difundindo entre os seus

parceiros a idéia da diversificação da atividade produtiva na propriedade,

a fim de que a renda do produtor rural não se restrinja unicamente àquela

obtida com a avicultura, que, embora tenha se constituído em uma

alternativa ao desemprego e sub-emprego urbanos, evitando sua saída da

propriedade, é uma atividade suficiente apenas para a sobrevivência

familiar, principalmente, durante o período de amortização da dívida do

financiamento. Esse autor concluiu ser muito arriscada e não muito

compensadora a atividade de criação, o que corrobora a decisão das

agroindústrias pela integração, e ainda detectou indícios de que os

produtores estavam sendo remunerados apenas pelo custo de mão-de-obra

e de que algumas atividades não necessariamente integradas subsidiariam

aquelas dedicadas à integração.

Para SORJ et al. (1982), existe uma tensão básica na relação entre

produtores, agroindústrias e as empresas de distribuição, pois quanto

menor o preço pago aos produtores, maiores serão os lucros das empresas

e a sua competitividade no mercado.

Se podemos falar de uma submissão da produção integrada ao

capital industrial, esta se dá pelo estabelecimento de um mercado

monopsônico. Neste caso específico, os produtos sequer pertencem aos

produtores e não podem ser livremente comercializados. Isolados do

mercado real, os produtores comportam-se como prestadores de serviços,

seguindo as determinações do plano de ações da empresa integradora.

Nas relações contratuais, a solidariedade econômica é paralela às

relações de conflito, negociação e dominação e traduzem-se por

diferentes estratégias de confrontação e/ou de acomodação, segundo

81

FERREIRA (1993). Nesse contexto, no confronto com as agroindústrias e

as grandes redes de distribuição, as desvantagens recaem em maior

número sobre os produtores, traduzindo-se em diminuição da capacidade

de gestão do empreendimento, riscos de rescisões contratuais, além do

fato de que a contratualização não implica necessariamente a melhoria

das condições sócio-econômicas. Porém, para eles, a possibilidade de

interferência sobre o sistema, em princípio, não é fechada, podendo

constituir grupos de negociação e de pressão e, assim, provocar

alterações nos preços de produtos e mesmo nas cláusulas contratuais.

No estados do sul do Brasil, a partir da década de 1980, verificou-

se uma intensificação do processo de integração, observando-se, no

plano das agroindústrias, o aumento no volume de matérias-primas

processadas e na escala de produção relativamente a um menor número

de produtores. Essa modernização, porém, implicou um intenso processo

de concentração da produção e exclusão dos pequenos suinocultores, ao

provocar a transformação de pequenas criações extensivas em sistemas

de criação intensiva e confinada (TAKITANE e SOUZA, 2000).

Esse fenômeno tem sido observado no Estado de Santa Catarina,

pelo acompanhamento da evolução do rebanho e da redução no número

de suinocultores, como mostra a tabela 23.

A análise da tabela 23, além de evidenciar o crescimento do

rebanho e a evolução dos índices de produção, em razão da adoção de

modernas práticas tecnológicas, também mostra que os interesses da

indústria nem sempre são compartilhados pelos produtores. Em 11 anos,

55% dos produtores foram excluídos do processo de produção, enquanto

o rebanho aumentou em 86,6%. Ao mesmo tempo, houve elevado

incremento de produtividade, paralelo à melhoria dos índices

zootécnicos.

Porém, as causas dessa concentração não podem ser creditadas

apenas ao regime de integração, quando se sabe que este é um fenômeno

que vem ocorrendo também entre os produtores independentes. Contudo,

a reflexão em torno de alguns pontos pode evidenciar o conflito de

82

interesses entre indústria e produtores integrados, ainda que

modernizados.

Tabela 23 - Evolução do rebanho suíno catarinense e variação no contingente de produtores-1985/1996. Parâmetros 1985 1996Rebanho (cabeças) 1.815.000 3.388.000Número de produtores 54.176 24.382Suínos produzidos 2.324.740 6.515.000N.º de matrizes 213.807 330.860Nascidos/matriz/ano 13,10 21,30Terminados/matriz 10,90 19,70Mortalidade % 10,00 6,40Taxa de abate % 128 192

Fonte: INSTITUTO de PLANEJAMENTO e ECONOMIA AGRÍCOLA DE SANTA CATARINA – ICEPA - (2000)

As posições de VELOSO (1998), ao discutir o suprimento de

matéria-prima industrial, demonstram que a integração é uma das

principais estratégias adotadas pelas agroindústrias com vistas ao

aumento da competitividade, ao afirmar que:

“As grandes empresas do setor (carnes), ( . . .) consolidaram-se como líderes no mercado por meio de estratégias como integração vertical, diversificação horizontal, ou seja, outros ramos de atividade, e desenvolvimento de novas tecnologias de manejo, de controle sanitário, etc. Esse sistema de integração gerou economia de recursos às primeiras empresas que o adotaram, mediante processo de aquisições e aumento de escala. Em poucos anos, essas empresas suplantaram as demais que atuavam como organização independente”. (VELOSO, 1998:43).

Adiante, o mesmo autor conclui que:

“é fundamental que se estabeleçam incentivos à produção da carcaça de suínos dentro de um raio de ação dos frigoríficos, e que haja uma aproximação da indústria de abate e processamento e o produtor, mediante o estabelecimento de contratos tipo integração, de forma que estes possibilitem a redução do custo de produção”. (VELOSO, 1998:67-68).

83

Para FARINA e ZYLBERSZTAYN (1998), a competitividade dos

sistemas agroindustriais resulta das relações entre ambiente competitivo,

estratégias empresariais adotadas e estruturas de governança, em que o

ambiente competitivo é constituído pela estrutura do mercado

(concentração, economias de escala, grau de diferenciação dos produtos,

barreiras técnicas de entrada e saída); pelos padrões de concorrência

vigentes; pelas características do consumidor/cliente; e pelo ciclo de

vida da indústria.

Para esses autores, a coordenação é uma característica que deve

ser construída pelos agentes econômicos, fazendo uso de mecanismos

apropriados com a finalidade de reduzir os custos de transação18. Tais

mecanismos são denominados de “estruturas de governança”, entre os

quais se enquadram os contratos de suprimentos regular, contratos de

longo prazo com cláusulas de monitoramento, integração vertical etc.

Parece evidente que, para as agroindústrias, a verticalização

mantém-se como estratégia de inserção competitiva no mercado, embora,

durante o processo de reestruturação, algumas alterações tenham sido

requeridas, como forma de adequação à nova conjuntura econômica.

A necessidade de reunir esforços no sentido de ampliar a relação

entre indústria e produtores, objetivando competitividade, estabilidade e

planejamento, é destacada pelo relatório FIEMG/PROJETO CRESCE

MINAS (2000), mesmo admitindo que a indústria processadora, como

regra, controla a produção e limita a atuação no mercado e os lucros do

suinocultor. Neste caso, o argumento presente é de que a flexibilização

dos modelos de integração é fundamental para a sobrevivência

competitiva das indústrias e para o crescimento da produção suína,

apontando como caminho o estabelecimento e a ampliação de relações

“ganha-ganha” entre os dois segmentos. Por essa ótica, o centro da

questão não é o avanço ou não da integração produtor-indústria, mas

18 Segundo FARINA E ZYLBERSZTAYN (1998:28), os custos de transação podem ser definidos como os custos de: elaboração e negociação de contratos, mensuração e fiscalização de direitos de propriedade, monitoramento do desempenho, organização de atividades e problemas de adaptação.

84

qual o tipo de integração será o mais adequado para a estruturação da

cadeia produtiva.

Entretanto, entre os produtores, a concepção de que a integração se

constitua na melhor forma de relacionamento com a indústria ou de que

seja uma etapa fundamental para o desenvolvimento da suinocultura não

é um ponto de consenso. Se admitirmos os benefícios gerados pelo

sistema de integração, em contrapartida haveremos de considerar as

evidências de que apenas uma parte dos produtores integrados desfrutam

dessas vantagens. Para a outra parcela dos produtores, a relação com a

integradora é do tipo “perde-ganha”. Diante disso, torna-se necessário

distinguir os interesses dos produtores, separando-os dos interesses dos

setores industriais.

Se, de um lado, a adoção de sistemas de integração pode tornar as

indústrias mais competitivas, de outro, no setor de criação, existem

evidências de redução da eficiência (econômica e tecnológica) dos

sistemas de produção sob integração. A eficiência do sistema de

integração tem sido questionada, especialmente, por grandes produtores

independentes, ao comparar os dados das empresas integradoras com os

custos de produção por kg de suíno em suas granjas de ciclo completo.

Os grandes produtores de suínos, em geral, produzem os grãos

necessários à fabricação das rações utilizadas, ou os compram a bons

preços. Em tais condições, a ração é produzida dentro das propriedades,

dispensando-se gastos com transporte de rações. Dispensam-se também

os custos de transporte de animais antes do ponto de abate, lembrando-se

que, no regime de integração, a cada mudança de fase de criação, os

animais são transportados para outras granjas. Em razão desses motivos,

sustenta-se que, na verdade, o custo de produção dos suínos é menor nas

grandes granjas de produtores independentes e não no sistema de

integração.

Sob regime de integração, os produtores não têm autonomia para

solucionar problemas com relação a atrasos na entrega de rações,

doenças, genética inadequada etc, impossibilitando-os de tomar decisões

85

que poderiam resultar em ganhos localizados. A eficiência de um sistema

de integração é determinada pelo funcionamento conjunto e sincronizado

de diversos setores atrelados à produção. A quebra de uma simples

engrenagem na fábrica de rações, assim como uma falha no setor de

transportes ou um foco de infecções em uma granja de matrizes podem

interferir na produtividade de todo o sistema. Sob esse aspecto, a

integração funciona como um sistema rígido, “engessado”.

A comparação dos índices zootécnicos dos rebanhos suínos, pode-

nos oferecer outros parâmetros de análise. Os dados expressos na tabela

24, comparando médias de rebanhos, embora restritos apenas à fase de

cria, indicam a maior eficiência produtiva dos rebanhos de criadores

independentes associados à ASTAP19 em relação ao rebanho de

integração da Rezende Alimentos.

Tabela 24 - Comparação dos índices zootécnicos – Rebanho Rezende e produtores independentes associados à ASTAP

Índice

Produtores independentes ASTAP

Rezende Alimentos

Leitões nascidos vivos/porca 11,2 10,0Leitões desmamados/porca 9,6 9,1Leitões desmamados/porca/ano 22,57 22,3

Fonte: FIEMG/PROJETO CRESCE MINAS (2000) REZENDE ALIMENTOS/SADIA (2000)

Para muitos produtores independentes as empresas integradoras

tornam público um custo de produção abaixo do real, com a intenção de

provocar um constante rebaixamento do preço no mercado. Procedendo

desta forma, tais empresas não correm o risco de que seja solicitada a

elas a elevação dos preços de remuneração para os integrados, já que, na

fórmula de cálculo, é pouco relevante o preço de mercado.

Conforme a interpretação desses produtores, o sistema de

integração “provoca um constante rebaixamento de preços dos suínos no

19 ASTAP – Associação dos Suinocultores do Triângulo e Alto Paranaíba

86

mercado”, sendo por isso considerado nocivo ao setor de produção de

suínos.

Além disso, como o suprimento industrial de matérias-primas não

está restrito à produção integrada, as agroindústrias recorrem ao mercado

para efetuar compras de suínos, quando os preços se tornam

interessantes. Em nossas entrevistas, pudemos contatar produtores de

suínos independentes que já realizaram vendas de animais para a

Rezende Alimentos.

Um outro ponto importante diz respeito às evidências de

apropriação de parte da renda devida aos produtores integrados pela

integradora. Para VELOSO (1998:4), o estabelecimento de contratos de

integração é uma das formas de aumentar a eficiência econômica das

empresas, “evitando-se custos associados ao mecanismo de preços de

mercado e permitindo à própria firma apropriar-se de ganhos que, de

outra forma, seriam auferidos por outros intermediários”. Por meio da

integração, a matéria-prima chega às integradoras por um custo abaixo

do mercado.

Num trabalho a respeito da indústria de frangos no Brasil, RIZZI

encontrou fortes evidências de que:

“. . .a competitividade da indústria nacional e em particular da indústria de frangos (. . .) foi fortemente apoiada pela existência de recursos naturais (. . .) e principalmente, pela baixa remuneração da força de trabalho, tanto a utilizada nos processos produtivos das firmas como o trabalhador rural integrado.” (RIZZI, 1993: 153).

Em resumo, o que se argumenta é que, se a matéria-prima chega

até à agroindústria integradora por um preço menor do que o de mercado,

tal não ocorre em função da maior eficiência do sistema de integração,

mas sim em razão da baixa remuneração paga aos produtores integrados.

87

3.4. Resistência e subordinação dos produtores aos interesses

industriais

A partir de 1996, quando a Rezende Alimentos iniciou o programa

de integração de suínos, diversos produtores passaram a concentrar

investimentos na construção de granjas. Além dos investimentos

necessários, formaliza-se a adesão dos produtores pela assinatura de um

contrato, o que, em linguagem jurídica, é denominado de “contrato de

adesão”.

O conteúdo dos contratos consta basicamente da garantia de

exclusividade da produção para a empresa integradora, obrigações dos

produtores quanto ao manejo e alimentação dos animais, procedimento

de cálculo das remunerações e as obrigações da integradora quanto às

condições de pagamento. O contrato tem prazo de validade

indeterminado, podendo ser rescindido num prazo mínimo de 90 dias,

desde que a outra parte seja comunicada com antecedência. De outra

forma, o não cumprimento das obrigações estipuladas no contrato dá à

outra parte o direito de rescisão.

Diversos produtores revelaram nas entrevistas que os orçamentos

apresentados pela Rezende Alimentos foram amplamente superados pelos

custos reais de construção dos galpões, observando que, em tais

orçamentos, não eram previstos custos de implantação de infra-estrutura

de energia elétrica, poços artesianos, terraplenagem, lagoas de

decantação etc, expondo o fato de que a “maquiagem” do orçamento faz

parte da estratégia de atração de produtores para o programa. “O projeto

é apenas para o produtor entrar . . .”, como relatou um produtor.

Os pontos acordados em contrato vêm sendo, gradativamente,

modificados, por meio de alterações impostas pela Rezende Alimentos

aos produtores, apesar da discordância e resistência de alguns, ainda que

de forma isolada. Durante o ano de 1997, foi apresentada aos produtores

uma alteração contratual, que propunha a redução do índice de correção

88

do preço de remuneração dos suínos, passando de 100% da inflação

calculada, para 62%. A maioria dos produtores integrados concordou

com a alteração, porém, mesmo os que se negaram a assinar o novo

contrato tiveram a fração de correção diminuída. Além disso, a

discordância com a alteração criou um impasse entre os produtores

reticentes e a indústria, que passou a pressioná-los e ameaçá-los de

rescisão contratual.

Simultaneamente, uma crise interna, motivada pelo controle

acionário da empresa, impossibilitou a rolagem de débitos frente a

instituições financeiras, ocasionando atrasos nos pagamentos das

participações dos produtores, o que gerou um clima de instabilidade e

insegurança quanto à continuidade do programa de integração. A criação

da Associação dos Suinocultores do Triângulo - AST-, no final de 1999,

objetivava unir os produtores e discutir idéias propostas que

contribuíssem para a solução do problema.

A crise interna na direção da Rezende Alimentos culminou com a

transferência de 90% de seus ativos para o Grupo Sadia, no final de

1999. A nova direção da empresa, além de não cumprir o cronograma de

reajustes dos preços pagos, procurou reduzir os preços anteriormente

fixados, estabelecendo alterações radicais nos itens contratuais

previamente estabelecidos. Essas determinações dadas pela nova empresa

encontraram uma forte resistência, ao confrontar diretamente os

interesses dos produtores, já organizados por intermédio da AST, em

torno de alguns objetivos comuns, dando origem a um embate de forças

em torno da mesa de negociações.

A solução do impasse, mediante uma via negociada, desenrolou-se

de forma lenta, malgrado a experiência e a habilidade dos dirigentes da

empresa, face à resistência apresentada pelo grupo de produtores.

Apesar disso, diante do impasse gerado em torno dos preços de

remuneração, os produtores cederam às pressões da empresa. As

estratégias de negociação planejadas pela AST foram desarticuladas pelo

não reconhecimento de sua legitimidade por parte da empresa

89

integradora, que insistia em fazer as negociações separadamente com

cada produtor. Aliás, o grupo Sadia mantém uma tradição de se negar a

negociar com grupos de produtores. Mesmo nas integrações localizadas

no sul do Brasil , as negociações são sempre feitas “caso a caso”,

conforme relato de um ex-funcionário da empresa.

O fracionamento do grupo de produtores, de acordo com a fase de

criação (matrizes, creche e terminação) - característico do modelo da

Rezende Alimentos - concorreu também de forma negativa para com os

interesses dos produtores. Criou-se um ambiente de discussão entre os

produtores, em que cada sub-grupo esforçava-se em garantir para si uma

redução menor, o que claramente desmobilizou o grupo. Enquanto isso,

os negociadores da empresa integradora cuidavam em estimular a

rivalidade, usando a estratégia de “dividir para governar”.

A capacidade apresentada pelos produtores de oferecer resistência

por meio da negociação, sem dúvida, reside em suas características

próprias, como a experiência comercial e a relativa independência

financeira conquistada mediante atividades empresariais em outros

setores. Essa resistência, porém, manifestou-se de forma individualizada

e dispersa, impossibilitando a continuidade da resistência conjunta.

Ao final das negociações, o preço médio de remuneração dos

leitões egressos das granjas de matrizes foi reduzido em 6,5%, enquanto

que o preço médio dos leitões de creche foi reduzido em 22,0%. Para os

suínos terminados, manteve-se o preço básico de remuneração, porém, o

período de permanência dos animais nas granjas foi prolongado,

significando redução do número de lotes de animais retirados por ano,

ainda que com a manutenção dos valores recebidos por lote. Com isso,

observou-se a sujeição dos interesses dos produtores às determinações da

empresa, malgrado as potencialidades de uma negociação favorável aos

primeiros por meio da AST.

Apesar da garantia oferecida pela integradora de recepção da

produção e da assistência técnica, muitos produtores mostram-se

insatisfeitos com a remuneração recebida. Acredita-se que essa

90

insatisfação constitua-se hoje na principal causa de desestímulo para

novos investimentos por parte dos produtores.

Entretanto, para os produtores mais otimistas, a variação na

remuneração dos suínos não foi tão expressiva quando se compara o

ganho atual por animal com o valor inicialmente proposto pela empresa.

As perdas no valor de remuneração vêm sendo sentidas de forma

gradativa, pela redução do valor recebido por animal e pelo

prolongamento do tempo de permanência dos lotes nas granjas de

terminação. Assim afirmou um produtor durante uma entrevista: “o

negócio já foi melhor, mas ainda é bom quando comparado à pecuária

de leite, lavouras etc.. .”

Conforme constatou MATOS (1996), em seu estudo comparativo

de alguns programas de integração do Sul e do Centro-Oeste do Brasil ,

as agroindústrias exigem dos produtores uma completa subordinação ao

programa de ações elaborado pela empresa. Embora garantindo a

absorção de toda produção, verifica-se que essa relação, ao ser

contratualizada, desnuda uma imensa vantagem do segmento agro-

industrial representada pelo poder das empresas integradoras sobre os

integrados.

Esse fato acende a discussão sobre as razões pelas quais, mesmo

variando-se o nível tecnológico adotado entre os diversos programas de

integração no Brasil, continua prevalecendo um quadro de dominação e

conflitos entre indústria e produtores.

No caso em estudo, em que significativos avanços tecnológicos

foram incorporados, visando a uma adequação aos novos padrões da

moderna indústria, as condições em que se estabelecem a harmonização

dos interesses da empresa integradora e os interesses dos produtores

integrados, em princípio conflitantes, uma vez que ambos visam a

maximização dos lucros, merece uma discussão à parte.

Na realidade, não se espera que um relacionamento harmônico de

fato possa existir entre indústria e produtores. Conforme ressaltou

91

FERREIRA (1993), é uma relação de confrontos e admiração,

dependência e solidariedade.

Quando indagados a respeito do relacionamento com a integradora,

em geral, os produtores manifestam a opinião de que a relação de

parceria da qual participam é mais favorável à empresa: “a Rezende

controla do jeito que quer, os produtores não têm autonomia”, conforme

relatou um produtor, “ traz a gente no cabresto.. .”

A reduzida autonomia influi negativamente na lucratividade do

negócio. A capacidade de alojamento, por vezes, é diminuída, e o

período de vazio sanitário é prolongado sem que os produtores sejam

consultados20. Além disso, os produtores não têm influência sobre a

qualidade dos leitões recebidos. Freqüentemente, são alojados leitões

com sintomas de infecções, o que ocasiona contaminação do lote,

resultando numa menor remuneração para os produtores.

A formula de cálculo adotada pela integradora não leva em conta a

qualidade dos leitões, para remuneração do produtores. Assim, esses

produtores recebem o mesmo valor por animal entregue, independente da

qualidade do lote. Além da redução da eficiência produtiva de todo o

sistema, os produtores responsáveis pela fases seguintes (recria e

engorda), inevitavelmente, sofrem os prejuízos. “Desgraça para alguns,

alegria para outros”, tem sido uma frase corrente na fala de muitos

produtores.

Os produtores integrados detentores dos empreendimentos mais

vultosos (correspondentes ao grupo 1, segundo a tipologia apresentada

no capítulo 2), em geral, sustentam a asserção de que participam de uma

relação empresário-empresário, acreditando na possibilidade de

realização de negociações, garantindo-se a autonomia de decisão. Nesse

grupo, estão presentes os produtores que ainda continuam investindo na

atividade, entendendo que os empreendimentos são viabilizados pela

adoção de maiores escalas de produção, e explicam que “quem está no

20 Vazio sanitário é o período de tempo que uma granja permanece vazia, a fim de reduzir a população de microrganismos, após a limpeza e desinfecção.

92

ramo, deve aumentar o negócio ou sair da atividade, pois ganha-se na

escala”.

Sobre esse assunto, FERREIRA (1993) assinala que, para garantir

as margens de benefícios, os produtores investem no aumento da

produção. Aqueles que param de investir ou não aumentam seus

rebanhos, gradativamente, passam a receber uma remuneração menor.

Frente aos problemas de renda dos produtores, a solução

usualmente apresentada consiste no aumento da produção e da

produtividade. “Tornar-se competitivo” é a saída proposta, sendo

necessária, para isso, a constante aplicação de investimentos para

adequar-se à escala cada vez maior de produção. Essa receita capitalista,

que vem constantemente sendo colocada em prática, induz fatalmente à

mudança do patamar técnico de produção e aumentos de oferta, com a

conseqüente redução dos preços (VEIGA, 1991).

A utilização de conhecimentos e equipamentos avançados e a

adoção da produção em grande escala tornam viável a “parceria” com a

indústria, pelo menos para a fração dos produtores integrados que

operam com as maiores escalas de produção, no atual patamar de preços.

Especula-se, entre os produtores, sobre a continuidade do processo de

rebaixamento dos preços de remuneração, uma vez que estes são menores

para os produtores integrados no sul do Brasil. Se porventura esse temor

vier a se confirmar, os produtores-empresários ainda têm a opção de

buscar uma inserção no mercado.

Os produtores que praticam uma suinocultura em escala menor, por

enquanto, podem dispor da alternativa de aumentar o volume de

produção, como condição de permanência no negócio. Caso não optem

por essa via, resta a alternativa de paralisar o funcionamento das granjas,

o que, aparentemente, não compromete a sobrevivência de suas famílias.

Aliás, é este o grande trunfo desses produtores. Assim apontou um

produtor: “a Sadia não vai conseguir tudo que quer conosco. O estilo

nosso, aqui, não é de tolerar ser pisado no pé durante muito tempo...”

93

Entretanto, é questionável a possibilidade de que uma paralisação

de atividades de fato venha a ocorrer entre os produtores integrados,

diante da pequena utilização de capital de giro numa granja já

estabelecida, onde os recursos já foram imobilizados. Porém, é inegável

que essa possibilidade constitui-se numa poderosa arma de pressão.

A procura de alternativas que conduzam ao aumento da

participação dos produtores nas decisões sobre preços e condições de

produção, por meio do associativismo, poderá trazer bons frutos, ainda

que não imediatos. Mais do que isso, a organização dos produtores pode

ser vista como uma questão de sobrevivência, em uma sociedade com

interesses organizados: “ou se façam leis eficientes que coíbam a

criação de poder de mercado para todos os setores, como no caso das

leis anti-truste, ou a agricultura terá que se organizar. Estamos longe de

uma sociedade justa”. (LOPES, 1996:404).

Dificilmente, sem a ação política de classe, os produtores poderão

inserir maior valor aos “contratos de parceria”, assinados com a

integradora, e que constituem motivos de insegurança para a categoria.

Alguns autores referem-se a esses contratos como um meio de ajustar a

atividade do agricultor a uma economia dominada pela indústria

(TEDESCO, 1999).

Lembrando o fato de que os contratos dos produtores com a

Rezende Alimentos vêm sendo, paulatinamente, alterados pela empresa

integradora, desconsiderando-se o que previamente havia sido acordado,

um produtor declarou numa assembléia da AST: “contrato não garante

nada, não dá certeza e pode ser rescindido a qualquer hora”.

Faz-se necessária uma reflexão mais abrangente para se chegar a

uma compreensão mais acurada sobre as razões da inaplicabilidade

desses contratos como mecanismo de proteção dos interesses dos

produtores frente à indústria, o que, evidentemente extrapola os limites

deste trabalho. Mas um ponto parece claro: a lentidão na tramitação dos

processos judiciais desestimula as ações por parte dos produtores, ao

mesmo tempo em que encoraja seu descumprimento por parte da

94

integradora. Além disso, uma disputa judiciária para um produtor isolado

significa sua exclusão como produtor integrado.

Para muitos, o fator de produção é um cálculo fictício, que

incorpora também critérios subjetivos, aplicados de maneira heterogênea

entre os produtores, permanecendo a suspeita de que os valores de

remuneração são definidos de maneira arbitrária, considerando mais a

posição do caixa da empresa do que os desempenhos dos lotes.

A organização dos produtores integrados poderá conduzi-los a

novas formas de organização da produção, a exemplo dos condomínios

de produtores rurais, que vêm sendo organizados no Rio Grande do Sul,

Santa Catarina e Paraná (GARCIA, 2001). Nesse sistema, que também é

denominado de “parceria escalonada”, cada produtor-parceiro atua em

uma fase da cadeia produtiva ou em cada setor de atividade, recebendo

as correspondentes porcentagens. Essas idéias são manifestadas por

alguns produtores integrados, ainda que em formas embrionárias: “pra

que vamos continuar trabalhando barato para a Rezende, se nós temos a

faca e o queijo na mão?”

Para DESCHAMPS et al. (1998), existem alternativas para os

produtores que não queiram participar de programas de integração,

citando como exemplo as alianças estratégicas implementadas nos EUA,

onde produtores independentes de pequeno e médio porte associaram-se

para viabilizar sua permanência no mercado. A expansão dos sistemas de

desmame precoce possibilita a segmentação dos produtores em

produtores de leitões, recriadores (creches) e terminadores. Nesse

sistema, as creches são preenchidas em semanas diferentes com leitões

vindos de um mesmo rebanho de reprodução. Após a recria, os leitões

são transportados para as granjas de terminação.

Em países europeus, vêm sendo utilizados os “contratos de

fornecimento” ou “contratos de compra e venda” entre produtores e

indústrias, os quais garantem maior autonomia na gestão das criações.

Nessa modalidade, os compradores não exercem o controle sobre as

95

técnicas e os processos de produção, apenas são especificadas

previamente as condições de entrega e preço.

Acredita-se que, à medida em haja aumento do grau de organização

e mobilização dos produtores integrados, como também da experiência e

visão sobre as potencialidades do negócio que têm em mãos, as

discussões a respeito destes e de outros novos temas serão estimuladas, o

que poderá conduzir a alterações nas relações com a indústria

integradora.

A iniciativa de 52 suinocultores da Zona da Mata de Minas Gerais,

ao se organizarem em torno da implantação do Frigorífico Industrial do

Vale do Piranga (FRIVAP/SAUDALI), em Ponte Nova, constitui um

exemplo de busca de alternativas com grande possibilidade de êxito, por

meio da qual os criadores industrializam os próprios produtos sem a

interferência e participação de agroindústrias (MOURÃO, 2000). Nesse

sentido, a criação do Frigorífico SAUDALI vem contribuindo para o

fortalecimento da suinocultura naquela região.

Com base no capital integralizado com recursos próprios,

estabeleceram-se as cotas de abate por produtor. O restante do capital

necessário para viabilização do empreendimento foi conseguido mediante

linhas de crédito do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais

(BDMG), e do Banco do Brasil . A empresa é gerida por uma diretoria

executiva subordinada a um conselho de produtores.

O frigorífico começou a operar em fevereiro de 2000, com

capacidade de abate de 2.000 suínos/dia. Atualmente, procura-se uma

melhor inserção no mercado regional, por meio do aumento da

disponibilidade de animais para abate e da abertura de novas frentes de

comercialização. A maior parte dos produtos ofertados são colocados no

mercado na forma de carne in natura, resfriada ou congelada, e cortes,

sendo que uma pequena parcela da produção tem sido industrializada.

96

3.5. As associações de suinocultores no Triângulo Mineiro/Alto

Paranaíba

A partir das discussões de um grupo de produtores em torno da

crise financeira da Rezende Alimentos, que provocou a interrupção de

suas parcelas de remuneração, foi fundada a AST (Associação dos

Suinocultores do Triângulo), no final do ano de 1999, a fim de

representar os interesses dos produtores de suínos integrados. A AST

conta hoje com, aproximadamente, 50 membros, correspondendo a cerca

de 50% do total dos produtores integrados à Rezende Alimentos.

Frente à iminência de um desfecho desfavorável devido à

inadimplência da integradora e diante do risco de paralisação das

atividades produtivas, muitos produtores associaram-se e compareceram

às assembléias conclamadas pela associação, quando se discutiam as

alternativas possíveis para os produtores.

Com a assunção do controle da Rezende Alimentos pelo Grupo

Sadia, teve início a atuação da AST, a partir do enfrentamento das

propostas de rebaixamento dos preços de remuneração aos produtores.

A busca de uma “solução de momento” para essa crise demandou a

maior parte do tempo das reuniões entre direção da AST e os produtores.

Para muitos destes, a AST não teve infância, “faltou conversa”, razão

pela qual não foram discutidos muitos pontos necessários para sua

continuidade.

A estratégia da nova diretoria da Rezende Alimentos, de não

reconhecimento de sua legitimidade como canal de diálogo e negociação

impediu a operacionalização de um movimento de resistência e

reivindicação dos produtores por intermédio da AST. Além disso, a AST

encontrou, na barreira da baixa taxa de mobilização dos produtores

integrados, o seu ponto mais vulnerável. Muitos produtores delegaram à

97

AST poderes de negociação diante da empresa integradora, mas, em

seguida, assinaram os novos contratos.

Essa derrocada inicial deixou um saldo de desânimo entre os

produtores, com relação à associação, e a certeza de que a integradora

conseguiu desmobilizar o grupo. O número de associados vem caindo nos

últimos meses, outros continuam associados, porém, sem ver muitas

perspectivas.

Ideologicamente identificados com a ordem econômica e social em

vigor, os produtores integrados mostram-se, em geral, indispostos a

ações coletivas, descartando a possibilidade de realização de movimentos

de pressão, por se assemelharem a movimentos sindicais de trabalhadores

ou de partidos políticos de esquerda . “Vamos agir sem exagero, sem

radicalizar...” Mesmo entre os membros da diretoria da AST, as opiniões

não são francamente favoráveis a um acirramento de posições, o que

confere vantagens na condução das negociações à empresa integradora,

que se mostra bem mais articulada.

Apesar disso, um grupo significativo de produtores ainda acredita

na união por intermédio da AST, dispondo-se a rediscuti-la em novas

bases. Essa discussão, sem dúvida, passa pela definição de seu caráter de

atuação. Percebe-se, entre os produtores, a existência de duas

concepções distintas acerca da associação que planejam. De um lado,

aqueles que preferem estruturar uma associação de base política, de

defesa dos interesses da classe, em moldes sindicais, e, de outro, os que

propugnam por uma agremiação apenas de caráter informativo e

promocional.

A representação de interesses dos produtores integrados à Rezende

Alimentos segue uma tendência já registrada, no Brasil , por ORTEGA

(1996:18), “de diversificação dos interesses agrários e da obsolescência

da representação de caráter geral”, quando os interesses específicos dos

produtores são reunidos em torno de associações setoriais por produto.

No caso em estudo, a AST reúne apenas os produtores integrados, não

somente devido à existência da ASTAP (Associação dos Suinocultores do

98

Triângulo e Alto Paranaíba), que atua na mesma região, mas também em

razão das particularidades da produção integrada.

O Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba é área de atuação da ASTAP,

com sede em Patrocínio, MG, uma entidade atuante que representa os

interesses de 63 suinocultores (a quase totalidade atua como produtores

independentes). A ASTAP juntamente com as demais associações

regionais do Estado de Minas estão ligadas à ASEMG (Associação dos

Suinocultores de Minas Gerais), que por sua vez, é fi liada à ABCS

(Associação Brasileira dos Criadores de Suínos).

Os produtores de suínos independentes estão diretamente

envolvidos com o mercado de insumos e suínos. Diferentemente, os

problemas enfrentados pelos produtores integrados são vivenciados

dentro do círculo da integração, no contato com a agroindústria, uma das

razões pelas quais a AST, desde seu início, nasceu desarticulada da rede

de associações regionais, estudais e nacional de suinocultores. Uma

maior articulação entre a AST, ASTAP e as demais associações,

provavelmente, provocaria o enriquecimento das discussões no tocante à

suinocultura regional, com benefícios tanto para os produtores

integrados como para os produtores independentes.

99

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sob os vários tratamentos dados às transformações do capitalismo

em nível internacional, ocorre a convergência de opiniões de diversos

autores, pelo menos em um ponto: houve uma real transformação nos

padrões tecnológicos e organizacionais, tanto em nível das empresas

como dos sistemas produtivos, nos países centrais, com reflexos sobre os

países periféricos, durante as últimas décadas.

Essas mudanças estão na origem da reestruturação do sistema

agroalimentar mundial, devida tanto aos avanços tecnológicos e

organizacionais como à alteração nos padrões de consumo. No segmento

agroindustrial , verifica-se, principalmente, um intenso processo de

concentração (por meio de fusões e aquisições) e a intensificação das

atividades de empresas transnacionais, que assumem, cada vez mais, um

papel fundamental na coordenação das mudanças na agricultura.

Por outro lado, observa-se na agricultura, também, uma tendência

à concentração da produção e incrementos nos índices de produtividade,

com reflexos positivos na oferta dos principais produtos.

Essa reestruturação encontra eco no setor de produção de carne

suína, que também passa por diversas transformações nos últimos anos.

Trata-se de alterações no âmbito da organização dos sistemas produtivos

e nas formas de parceria com os produtores, e da elevação do patamar

tecnológico.

Estas transformações podem ser visualizadas não só pela expansão

da criação e industrialização de suínos em direção às novas regiões

produtoras de grãos, a exemplo do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba,

100

Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, como também nas

tradicionais regiões produtoras do sul do país, onde a reestruturação tem

provocado efeitos como o aumento e concentração da produção.

Sob o impacto dos novos projetos, verifica-se a tendência de que a

suinocultura cresça a taxas expressivas nos próximos anos, seguindo uma

orientação empresarial forte, gerenciamento eficiente e intensa utilização

de tecnologia.

Sob o ponto de vista da indústria, a integração continua uma

estratégia interessante, ao possibilitar a obtenção de matérias-primas a

custo baixo, o que se reverte em melhor competitividade. Nas

configurações “em rede”, as empresas que coordenam o processo de

produção, adoção de inovações tecnológicas e fixação dos preços obtêm

significativas vantagens em relação aos outros agentes da cadeia

produtiva. O modelo de produção integrada atualmente adotado pelas

grandes empresas do setor, apoia-se, fundamentalmente, em estratégias

de redução de custos e otimização de resultados, por meio do uso

intensivo de tecnologia e da produção em grande escala, da qual

participam produtores com um novo perfil , mais capitalizado,

qualificado e com visão empresarial.

Um breve exame das principais características da integração

suinícola da Rezende Alimentos/Sadia, necessariamente, inclui a

utilização de mão-de-obra contratada, a predominância de um grau de

escolaridade relativamente elevado entre os produtores, a baixa

participação de recursos de crédito bancário em empreendimentos com

grande aporte de capital. Além disso, a maioria dos suinocultores

integrados podem ser caracterizados como investidores urbanos e

produtores-empresários, que conduzem suas atividades de produção rural

de forma empresarial.

Essas características apontam para um especial arranjo local, que

possibilitou o estabelecimento de granjas de criação de suínos em regime

de integração com a Rezende Alimentos/Sadia a partir da transferência

101

de capitais de origem urbana para o setor rural, em condições de baixa

oferta de recursos bancários.

Não está provado que o sistema de integração na suinocultura

apresenta maior eficiência produtiva, quando comparado à produção

independente. Ao contrário, a produção independente pode apresentar

melhores índices de desempenho e maior flexibilidade, além de estar

livre de alguns gastos com administração e transporte de rações e

animais. Desta forma, é possível atribuir à retenção de parte da renda dos

produtores integrados a maior competitividade das empresas integradoras

no mercado de carnes.

Sob o ponto de vista dos produtores, a baixa lucratividade, a

reduzida autonomia de gestão e a menor eficiência produtiva, quando

comparada à produção independente, são argumentos que pesam

negativamente contra o sistema de produção integrada, embora esteja

evidente que, no momento, há um determinado grupo de produtores que

se beneficia com este tipo de articulação com a indústria. Os autores que

propugnam pelo estabelecimento de programas de integração, em geral,

consideram superficialmente os interesses dos produtores, terminando

por defender os interesses das indústrias.

Diante dos conflitos de interesses entre produtores e indústria,

podemos deduzir que a opção feita pela integradora, ao realizar parcerias

com empresários rurais e investidores urbanos, poderá conduzir à

intensificação dos conflitos referidos, à medida que a concentração de

atividades que vem ocorrendo seleciona os agricultores mais

competitivos do ponto de vista da produtividade e da escala de produção,

os quais têm à disposição outras formas de organização e

industrialização da produção.

A disposição dos produtores integrados em aceitar os baixos

valores de remuneração impostos pelas integradoras (como tem sido a

praxe nos relacionamentos entre indústria e produtores familiares nas

integrações no sul do Brasil), em princípio, depende de uma avaliação

que considera a margem de lucro, o risco e a liquidez do investimento.

102

O sistema econômico vigente beneficia os indivíduos com maior

habilidade comercial e de negociação. Sob o ponto de vista da empresa

integradora, os produtores tidos como possuidores do perfil ideal são

justamente os que mais podem oferecer resistência às ações da empresa,

em razão da independência financeira adquirida. A Rezende

Alimentos/Sadia, ao dar preferência aos produtores-empresários, com

capital disponível para um empreendimento de alto custo, e com

capacidade de reinvestimento, preterindo os pequenos produtores,

encontra também um grupo com maiores possibilidades de confrontar

suas imposições.

As possibilidades de organização dos produtores, via associações,

condomínios ou sociedades anônimas, representam um grande potencial a

ser explorado, com enormes possibilidades de êxito. Como bons

exemplos, pudemos verificar o papel exercido pela ASTAP, no Alto

Paranaíba, a criação dos condomínios de produtores na Região Sul e a

organização dos produtores que deu origem à criação do Frigorífico

SAUDALI, em Ponte Nova (MG), cuja configuração estabelecida afina-se

melhor com o perfil de produtores-empresários do que a adoção de um

sistema de integração “empresarial”.

Parece pouco provável, pelo menos num curto espaço de tempo,

que haja um retorno (desejável ou não) ao “modelo clássico” de

integração, baseado na produção familiar. Por outro lado, não está

assegurada a permanência do atual padrão de integração, viabilizável, em

hipótese, pelos sonhados acordos “ganha-ganha” entre indústria e

produtores. Há claros sinais de que os contratos que hora estão em vigor

têm caráter apenas provisório. Por esses motivos, o programa de

integração da Rezende Alimentos/Sadia apresenta diversos aspectos

ainda passíveis de mudança, antes mesmo de ser concretizada sua

implantação.

103

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