Djalma Moita Argollo - O sermão do monte

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O SERMO DO MONTE Djalma Moita Argollo De: "Haroldo Murilo Pinto da Cunha Jnior" Para: Assunto: Livro Data: sexta-feira, 6 de julho de 2001 10:23 O Sermo do Monte, o maior e mais completo cdigo de tica existente no mundo, considerado por muitos como a essncia do Evangelho de Jesus, nunca esteve to necessrio ao homem, como nos dias atuais. Gandhy, o grande lder indiano, teria afirmado que, se extinguissem do planeta todos os livros sagrados e ficasse apenas o Sermo da Montanha, a humanidade nada perderia. Traduzido diretamente do grego, o autor Djalma Argollo presta valiosa contribuio sociedade, trazendo a lume esta maravilhosa obra. Vale a pena ser lido, estudado, discutido, explicado, difundido, comentado e dissecado como sugere Richard Smonetti. OUTROS LIVROS DA EDITORA MNMIO TULIO Djalma Motta Argollo Encontro com Jesus O Sermo do Monte O Novo Testamento Possibilidades Evolutivas Espiritismo e Transcomunicao Quando o Amor Veio Terra Ademar Faria Jr. Mecanismo dos Sonhos Bete Freitas Voltei para Te Amar Celso Martins Antes que Me Esquea Carlos Bernardo Loureiro O Tnel e a Luz Fenmenos Espritas no Mundo Animal A Mediunidade Segundo o Espiritismo A Obsesso e Seus Mistdrios Lcia Loureiro Colnias Espirituais Carlos de Brito Iinbassahy As Aparies e os Fantasmas Co de Favela Nazareno Tourinho Crticas e Reflexes em Tomo da Moral Esprita Luiz Rarreto Vieira Planejamento Familiar PRXIMOS LANAMENTOS Nazareno Tourinho/ Carlos Imbassahy O Poder F4antstico da Mente Carlos de Brito Jmbassahy E Deus, Existe? Ary Quadros Teixeira Sim! (Romance) Izilda Carvalho de Pina EstAgio em 4 Dimenso (Romance) Bete Freitas Caminho Para Uma Nova Vida (Romance) DJALMA MOiTA ARGOLLO O SERMO DO MONTE Traduzido do grego e comentado versculo a versculo EDITORA MNMIO JLIO Rua Dr. Carneiro Maia, 100 gua Funda 04155-050 So Paulo - SP Fone: (011) 577-7638 Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) O Sermo do Monte traduo e comentrios 1 Djalma Motta Argollo. Ilhus, BA: Livraria Editora Mnmio Tlio, 1993. Bibliografia. 1. Bblia e espiritismo 2. Espiritismo Filosofia 1. Argollo, Djalma Motta. 1 -4 93-3276 CDD-133.91 ndices para catlogo sistemtico: 1. Sermo do Monte : Ponto de vista esprita 133.91 1 DEDICATRIA A nsio de Brito Neves Incansvel divulgador da mensagem esprita, que ps a Bahia no calendrio nacional de eventos doutrinrios, toda minha gratido e amizade. 1 1 1 Muitos pontos do Evangelho, da Bblia e dos autores sacros em geral, no so inteligveis, muitos mesmo parecem irracionais por falta da chave para compreenso do verdadeiro sentido. Esta chave est toda

inteira no Espiritismo, como j se convenceram a melhor ainda, mais tarde. (L vangile selon le Spiritisme - Introduo -, 1958, 2~ edio da L U.S.K.B. - Blgica - traduo nossa) 1 1 1 NDICE Abreviaturas 11 OBSERVAES Critrios de Transliterao do Grego 13 Apresentao do Texto 14 Referncias Bblicas 14 Legenda 15 Antelquio 17 Prefacio 21 INTRODUO Os Espritos e os Ensinos de Jesus 27 O Sermo do Monte: sntese dos ensinos de Jesus 29 O Sermo do Monte e a Crtica Neo-testanzentria 30 O Sermo do Monte: texto bsico da vida crist 39 O Grande Paradoxo 41 Concluso 45 O SERMAO DO MONTE CONSEQONCIAS DA ADESO AO EVANGELHO 49 O SIGNIFICADo DE SER DISCPULO DE Jasus 56 NECESSIDADE DA PR11G4 EVANGLICA 58 AMPLIAO DOS MANDAMENIDS MoIsMcos 60 VIOLNCIA E RECONCILIAO 60 ADULTRIO E DIVRCIO 63 REUDQ NO FALAR 66 NO VIOLNCIA 67 CARIDADE E DESPRENDIMENTO 68 AMOR E 0Db 69 CONDUTA CRISTA AES NOBRES E CARIDADE ORAO JEJUM O PROBLEMA DA POSSE DEFINIO ENTRE O BEM E O MAL JULGAMENTOS PORQUE NO SE DEVE JULGAR NO PERDER TEMPO COM PESSOAS REFRATRIAS RESPOSTA ORAO EQIDADE NO AGIR ADVERTNCIAS SENDEIRO DA ESPIRITUALIZAO Os FALSOS PROFETAS E CoMo RECONHEC-LOS CONHECIMENTO E PRnCA DOS ENSINOS DE JESUS CONCLUSO ANEXO 1 EVANGELHO SEGUNDO LUCAS O SERMO DA PLANCIE 73 74 80 81 83 87 88 88 89 89 89 90 93 93 95 Posfiicio 105 4 Bibliografia 109 1 1 1 Abreviaturas AAo e Reao - Xavier, Francisco Cndido (mdium) BEC A Bblia Estava Certa Schonfield, Hugh J. BG Bagavad Gita Lorenz, Francisco Valdomiro (trad.) C O Consolador - Xavier, Francisco Cndido (mdium)

CI O Cu e o Inferno - Kardec, Allan CW Caminho Verdade e Vida Xavier, Francisco Cndido (mdium) DI Devassando o Invisvel Pereira, Yvonne (mdium) ESE O Evangelho segundo o Espiritismo Kardec, Allan ESM Estudos no Sermo do Monte - Lloyd-Jones, Martyn ETC Entre a Terra e o Cu - Xavier, Francisco Cndido (mdium) FV Fonte Viva - Xavier, Francisco Cndido (mdium) G A Gnese - Kardec, Allan GS A Grande Sntese - Ubaldi, Pietro HI O Homem Integral - Franco, Divaldo Pereira (mdium) LE O Livro dos Espritos - Kardec, Allan LM O Livro dos Mdiuns - Kardec, Allan 12 DIALMA MOTA ARGOLLO M Os Mensageiros - Xavier, Francisco Cndido (mdium) MM Mecanismos da Mediunidade - Xavier, Francisco Cndido (mdium) NBO Nos Bastidores da Obsesso - Franco, Divaldo Pereira (mdium) NDM Nos Domnios da Mediunidade Xavier, Francisco Cndido (mdium) NFL Nas Fronteiras da Loucura, Divaldo Pereira (mdium) OP Obras Pstumas - Kardec, Allan 1 OVE Obreiros da Vida Eterna - Xavier, Francisco Cndido (mdium) 1 PDE Palavras de Vida Eterna - Xavier, Francisco Cndido (mdium) PN Po Nosso - Xavier, Francisco Cndido (mdium) QE O que o Espiritismo - Kardec, Allan 1 SE Sabedoria do Evangelho - Pastorino, Carlos Torres Vida de Cristo - Ricciotti, Giuseppe VL Vinha de Luz - Xavier, Francisco Cndido (mdium) 1 OBSERVAES Critrios de Transliterao do Grego Na transliterao do grego koin usamos o seguinte critrio: - O esprito rude (aspa para a direita sobre a letra), que um sinal que torna spera a vogal sobre a qual colocado, como h aspirado, o qual deve ser lido como no ingls house. - A letra mega, como a letra (a vogal o com acento circunflexo). - A letra eta (H), como a vogal e, o mesmo acontecendo com a letra psilon. - A letra zeta, como o encontro consonantal dz. - A letra upsilon, como y. - Os ditongos com iota subscrito, que mudo, como a vogal i, final. - A letra gama, pela consoante g. Optamos, nos casos que julgamos necessrio, por incluir a vogal u aps o g, para manter a pronncia dura da letra grega, evitando o som de jota, que a nossa consoante adquire em certos vocbulos. Nos encontros consonantais: gama-gama, gama-kapa, gama-qui ou gama-quisi, transformamos gama em n, de acordo com a pronncia grega. - As letras qui e kapa, indiferentemente, pela consoante k. 14 DJALMA MOTFA ARGOLLO - A letra quisi, como z no incio de uma palavra, ou ks nas demais posies. Apresentao do Texto Os versculos so seguidos, quando julgamos necessrio, das palavras em grego que traduzimos de forma diferente da tradicional, seguidas dos significados apresentados por vrios lxicos e estudiosos do assunto que reconhecemos como os mais lcidos. Segue-se uma interpretao onde

procuramos fazer uma 1 exegese de acordo com os princpios doutrinrios do Espiritismo. 1 Finalmente apresentamos sugestes de leituras que sirvam para ampliar a compreenso do assunto em foco. Referncias Bblicas 1 As Citaes da Bblia so feitas da seguinte forma: Abreviaturas do livro, n2 do capftulo, vfrgula, flQ do(s) versculo(s) (separados por vrgulas ou hffen para indicar de/at) Ex: Me 10, 21 (Marcos, captulo dez, versculo vinte e um). Jo 15, 1, 3, 8; 17, 1-20 (Joo captulo quinze, versculos um, trs, oito e captulo 17, versculos de um a vinte). No caso de citaes de livros diferentes e/ou captulos de um mesmo livro, apenas a abreviatura do livro e os nmeros dos captulos, separados por ponto e vrgula ou hfen para abranger captulos contguos. Quando o incio da citao seja a partir de um versculo de determinado captulo, indo at captulo(s) subseqente(s), indicamos o intervalo com um ponto seguido de hfen. t*1 O SERMO DO MONTE 15 Ex: Mt 7; Jo 20 (Mateus capftulo sete e Joo captulo vinte Mc 8, 1-2; At 10, 16-20 (Marcos captulo oito, versculos 1 a 2 e Atos captulo dez, versculos dezesseis a vinte. Lc 12; 16 (Lucas captulos doze e dezesseis). Mt 1-15 (Mateus captulos 1 a 15). Mc 3, 6.-6, 2 (Marcos captulo trs versculo seis ao capftulo seis versculo 2. Legenda: As notas de comentrio ao texto so colocadas sob o(s) versculo(s). ** aponta sugesto de leitura sobre o assunto. 1 1 1 1 Antelquio A Doutrina Espfrita est indissoluvelmente vinculada s lies de Jesus pela sua prpria caracterstica fundamental de parcleto, prometido pelo Mestre, conforme podemos verificar pelos captulos 14 a 16 do Evangelho segundo Joo. Vejamos o que diz Allan Kardec sobre o assunto: (O Espiritismo) como moral essencialmente cristo, porque a doutrina que ensina nada mais que o desenvolvimento e a prtica daquela do Cristo, a mais pura dentre todas, cuja superioridade ningum contesta, prova evidente de que a expresso da lei de Deus (O Espiritismo em sua mais simples expresso, dcima segunda edio, 1990, Edicel, Sobradinho - DF. Destaque nosso), e ainda: Graas s comunicaes estabelecidas doravante de uma maneira permanente entre os homens e o mundo invisvel, a lei evanglica, ensinada a todas as naes pelos prprios Espritos, no ser mais letra morta, porque cada um a compreender, e ser incessantemente solicitado de a por em prtica por conselho de seus guias espirituais. As instrues dos Espfritos so, verdadeiramente, as vozes do cu que vm esclarecer os homens e os convidar prtica do Evangelho (Lvangile Selon le Spritisme,1866, troisieme 18 DJALMA MOTrA ARGOLLO edition, (reproduo fotomecnica), FEB, 1979, pag. VI). Nos eximimos de mais citaes pois estas so suficientes, porque comprovadas pela prtica Esprita, desde ento. Desde o lanamento do nosso primeiro livro, Encontro com Jesus, resolvemos empreender um estudo sobre os textos bsicos do Cristianismo, o que iniciamos com O Novo Testamento: um enfoque Esprita, e damos prosseguimento com esta obra. Ela representa um ensaio de exegese Esprita, abrangendo o Sermo do Monte, do Evangelho segundo Mateus e o seu similar do Evangelho segundo Lucas, O Sermo da Plancie. Para atingir o fim proposto

procuramos, num esforo autodidata, aprender alguma coisa do grego Koin, bem 1 como consultar os trabalhos dos mais importantes crticos neo-testamentarios do momento. Sem duvida, o livro se ressente de uma formao acadmica especializada, j que nossa formao universitria de Estatstica, Anlise de 1 Sistemas, alm de estudoi de Sociologia e Histria. Ao mesmo tempo, o no compromisso universitrio com a rea nos pe a distncia do academicismo, geralmente to prejudicial criatividade pelos preconceitos e prejuzos cristalizados, alm da vinculao a um sistema cultural ortodoxamente limitador. Os estudos de crtica e exegese Bblicos esto constringidos por frreos modos de expresso, consolidados ao longo desses dois mil anos de Cristianismo. Os especialistas pensam de acordo com padres predeterminados, comprometidos com tradicionalismos sufocantes. Isto muito natural, pois o pensamento religioso 6 sempre ultra-conservador, e mudanas nele s ocorrem de forma mnima, requerendo sculos para se realizarem. De uma forma geral, os crticos partem de premissas O SERMO DO MONTE 19 que prejudicam suas anlises. Negam a existncia de quaisquer fato psquico, acoimando-os de mitos, lendas piedosas, supersties, alucinaes ou, simplesmente, invenes, como se poder ver em nosso livro O Novo Testamento: um enfoque esprita, publicado por esta editora em outubro de 1992. Allan Kardec, coordenado pelos Espritos Codificadores, utilizou o dinamismo heraclitiano do Espiritismo para iniciar uma renovao no campo da hermenutica e exegese Bblica. Criticando a verdades crist, tanto do Antigo como do Novo Testamento, promoveu uma abertura para a criao de uma crtica escriturstica independente e baseada nas premissas comprovadas da existncia do Espfrito, do Mundo Espiritual, da Reencarnao e da Comunicabilidade dos mortos. A mediunidade se apresenta como uma ferramenta preciosa na busca da verdade residente por detrs dos textos sagrados, alm de outros procedimentos surgidos graas Doutrina Esprita como, por exemplo, a regresso de memria, que j utilizada como recurso teraputico no campo da Psicologia. Ao empreendermos este trabalho, procuramos, dentro de critrios lgicos, proceder a uma leitura dos textos originais, totalmente descompromissada com o ortodoxo e tradicional. E isto, graas liberdade de pensamento facultada pelo Espiritismo. Nossa ambio chegar a uma traduo completa do Novo Testamento, absolutamente liberta do rano escolstico, vinculado a interesses religiosos nem sempre nobres. Os livros Cristianismo: A mensagem esquecida e O Evangelho de Tom, do erudito irmo Hermnio Miranda, nos trouxeram grande alegria, pois verificamos que vai surgindo uma nova perspectiva de anlise e compreenso do 20 DXALMA MOflA ARGOLLO Cristianismo e seus textos fundamentais. J hora do Movimento Esprita se atualizar no que de mais novo existe sobre o Novo Testamento e seu contexto histrico e lingtistico, pois o que se vinha fazendo at ento era repetir o pensamento tradicional, buscando compatibiliz-lo com os princpios doutrinrios. Na verdade, o de que carecemos da elaborao de uma hermenutica, uma exegese e uma teologia esprita, sem que venham a se tomar dogmticas e constringentes, mas que respeitem o livre exame que somente a Doutrina Esprita conseguiu implantar nos domnios da religio. 1 1 1 1 1 Prefcio Duas figuras revolucionrias no mundo ocidental, marcaram

indelevelmente suas presenas no campo do desenvolvimento moral e espiritual de seus povos, no decurso dos ltimos milnios. Moiss travando a grande batalha para a retirada dos seus contemporneos, do caos das primeiras civilizaes vividas pelo povo Hebreu, marcadas por um politesmo ingnuo, e um descabido pretensiosismo no pretender atrair o Senhor Deus, como aliado, em suas disputas pessoais sobre questinculas do seu pequenino universo. Conseguiu, o predestinado Patriarca, especialmente, dois tentos dignos de registro: por seus dotes medianmicos, trazer aos homens o Declogo - uma base de princpios morais da Lei divina; e implantar, no corao do seu povo, a receptividade para o Monotesmo. Na seqncia histrica, surge Jesus na condio de Emissrio Especial do Pai Eterno, vindo ao nosso mundo assentar as balizas para uma nova civilizao - a Civilizao Espiritualista -, um marco decisivo para o verdadeiro progresso da humanidade terrena. Sim, a era do Espiritualismo que est sendo trabalhada j h dois milnios, confiada ao Mestre Galileu, com vistas Fraternidade Universal. 22 DJALMA MorrA ARGOLLO Com efeito, a predominncia materialista chega ao fim e o materialismo selvagem h de ser batido da face da Terra. E sabido que o Cristianismo do Cristo (1) desfraldar a bandeira da Fraternidade sobre os homens, abrigando gregos e troianos sob a gide da Paz e do Amor. Em seu Evangelho, o Mestre nos d a Mensagem Salvadora que estremece os homens, na proporo em que vo percebendo a excelncia dos seus ensinos. Ali est traada a diretriz que conduzir a humanidade aos nveis mais altos de sua ascenso. Pensadores ilustres, daqui e dAlm, manifestam-se compreensivos ante a Boa Nova do Cristo: O Evangelho no o livro de um povo apenas, mas 1 o Cdigo de Princpios Morais do Universo, adaptvel a todas as ptrias, a todas as comunidades, a todas as raas e a todas as criaturas, porque representa, acima de tudo, a carta de conduta para a ascenso da conscincia 1 imortalidade - Andr Lpiz - Mecanismos da Mediunidade - cap. XXVI. O Evangelho o mtodo de harmonizao universal; nele, como em nenhuma outra parte, transparece a Divindade na poesia sublime do Seu Amor - Pietro Ubaldi - Ascese Mstica - cap. VIII. O Evangelho de Jesus , portanto, o aprendizado na Terra, para se atingir os planos superiores do cu. Divulg-lo, levando-o ao palcio ou palhoa, ao crente ou ao ateu tarefa nobre de solidariedade humana. Nesse mister encontra-se o nosso estimado companheiro e ilustre confrade Djalma Motta Argollo, com este trabalho de aprofundamento na apreciao da Mensagem do Cristo, intitulado - O Sermo do Monte. Uma esplndida contribuio de estudioso e pesquisador na busca da gua Viva em seu esplendor. 1 O SERMO DO MONTE 23 Amparado em abalizados subsdios histricos e literrios, o Autor revela ao seu pblico os critrios e caminhos utilizados para o trazimento da Boa Nova at ns. Nisso ele se aprimora, como mestre no conhecimento da histria, da significao e da gra Ao explanar sobre o Sermo do Monte, Djalma transmite-nos com limpidez a sabedoria dos conceitos ali emitidos e interpreta-o muito bem quando afirma com segurana e oportunidade: O Sermo do Monte o documento bsico da Nova Civilizao que Jesus veio implantar na Terra. Essa uma demonstrao da ntida viso das Leis Superiores, de quem confia na evoluo e no progresso dos povos e do mundo. O Autor admite a Nova Civilizao como fruto da Doutrina Crist, mas observa sensatamente:

Ela s ser possvel, quando assimilarmos e vivermos o seu contedo integralmente. E refora a lgica do seu pensamento quando menciona: Todas as mensagens da Espiritualidade Maior, desde Hydesville at Uberaba, tm instado para que faamos a integrao perfeita entre os conceitos crsticos e nossa vida cotidiana, como algo urgente. Reala portanto, sabiamente, a necessidade de participao do homem no processo de sua evoluo e progresso moral e espiritual, ou seja, na construo do seu futuro maior, o que, em termos ortodoxos, considerar-se-ia como sendo a sua salvao. No caso em pauta, no de graa pela Graa, todavia, pelo esforo prprio, pelo mrito de sua auto-renovao, por fora de suas virtudes, o que condiz plenamente com os princpios evanglicos, expressos em vrias passagens da Boa Nova do Cristo, especialmente em as Bem-aventuranas com que Jesus iniciou o portentoso Sermo do Monte (Mt 5, 1-12). Em sua posio de cristo consciente e, por isso 24 DJALMA MOA ARGOLLO mesmo, de Esprita convicto, o ilustre confrade destaca, em seu bem elaborado trabalho, conceito defendido pelo Cristianismo Redivivo luz do bom senso, afirmando: A Doutrina Esprita, resgatando os Evangelhos, afirma, com o Cristo, que ningum sa a cada instante, os ensinos que ali se encontram, numa luta incessante e corajosa. E assim, sustenta, consciente, que argumentos defensores da lavagem dos pecados com o sangue do Mrtir do Calvrio, tanto quanto da teoria da Salvao pela , graa , no possuem qualquer fundamento lgico Tudo isso, efetivamente, concorda com o necessrio cultivo das virtudes, observado por Jesus: Se a vossa virtude no sobrepujar a dos escribas e fariseus, no entrareis no Reino dos Cus (Mt 5, 20). E ainda quando encarece a necessidade do esforo prprio, quando adverte: Entrai pela porta estreita, porque larga a porta e espaosa a via que leva perdio. (Mt 6, 13). Um agudo senso conclusivo revela Djalma, ao deduzir: Tudo isto ininteligvel para quem s se preocupa com a felicidade possvel de ser fruda neste mundo, a qualquer preo, atarrachado a um materialismo sufocante e egosta. Aprecivel, pois, este O Sermo do Monte , fruto do estudo, da pesquisa e do bom senso, um trabalho de difuso de luzes sobre um mundo castigado ainda pelas trevas. Parabns a Djalma Motta Argollo. Parabns. Saul Quadros Vitria da Conquista, outubro de 1992 1 1 1 O SERMO DO MONTE 25 (1) A sutileza da colocao do estimado irmo Saul Quadros sublinha o paradoxo fundamental que vivemos: o Cristianismo em voga nada tem haver com o Cristo, a no ser a derivao do nome. De resto, seu nome, cones, palavras e aes so includos, de mo da simplicidade, pureza e estatura espiritual do Rabi Galileu. Iluberto Rohden (1894-1981), o notvel espiritualista catarinense, afirmava que, se o Cristo voltasse Terra, sua primeira atitude seria reunir a imprensa mundial para uma entrevista coletiva. Nela faria a seguinte e nica afirmativa: Quero esclarecer a todos que eu no sou cristo. A funo precpua do Espiritismo resgatar o Cristo Galileu, na beleza dos seus ensinos, completamente desataviado dos perfunctrios e dispensveis cessrios criados por homens ambiciosos e fanticos, para referendarem suas paixes indignas e degradantes. 1 1 1 Introduo Os Espritos e os ensinos de Jesus Desde os primrdios do movimento medinico atual, que teve seu marco zero em 31 de maro de 1848, os Espritos repetem e divulgam os ensinos

de Jesus. Arthur Conan Doyle, na sua The History of Spiritualism (publicado pela Editora Pensamento sob o tt produzidos por Espritos que, em 1837, comearam a se manifestar durante o culto nas comunidades Shakers, dos EEUU. Os Espfritos anunciavam sua chegada com batidas porta, que eram abertas por dois presbteros, tendo incio a incorporao dos mdiuns da comunidade. Os visitantes principais eram ndios Peles Vermelhas, que se apresentavam em grupos ou tribos. Passaram a ser evangelizados (hoje dizemos doutrinados), em suas lnguas originais. Esse intercmbio durou at 1844, quando os Espfritos anunciaram que no mais se comunicariam, mas que voltariam em breve, invadindo o mundo e tanto entrariam nas choupanas quanto nos palcios. Quando, quatro anos depois, comearam os fenmenos com as irms Fox, Elder Evans e 28 outro membro dos Shakers foram visit-las em Rochester, sendo recebidos por ruidosa multiplicidade de raps. Por comunicao tiptolgica, lhes disseram que ali se iniciava o trabalho que haviam predito (cap. II). Portanto, os indgenas que se tornariam depois guias dos grandes mdiuns de efeitos fsicos, e inteligentes, dos EEUU e Europa, tiveram uma preparao evanglica prvia. Desde ento, todos os Espritos que se tm comunicado conosco trazem uma mensagem de fundo absolutamente cristo, incentivando os homens prtica dos princpios ensinados pelo Mestre Galileu (ver sobre o assunto o nosso livro O Novo Testamento: um enfoque esprita - Livraria, Editora e Distribuidora Mnmio Tlio - onde estudamos os motivos sociolgicos, psicolgicos e histricos desta situao). A Doutrina Esprita, que se iniciou em 18 de abril de 1857 com a publicao de O Livro dos Espritos, foi anunciada, desde o inciQ do trabalho de Allan Kardec, como o Consolador prometido por Jesus (segundo anotaes de Joo Evangelista nos caps. 14, 15 e 16 do seu Evangelho). O coordenador da equipe codificadora no mundo espiritual se apresentou sob o nome de Espfrito da Verdade, como Jesus prognosticara. No Brasil, onde o Espiritismo encontrou o seu leito natural de desenvolvimento, consolidou-se a estruturao evanglica da Doutrina, que comeara com a publicao de O Evangelho Segundo o Espiritismo, em 1864. Graas a isso, a comunidade brasileira conheceu apstolos da mensagem crist, cuja grandeza rivaliza com os mais notveis do Cristianismo primitivo. Com o advento de Francisco Cndido Xavier, o mais profcuo mdium de todos os tempos, a palavra do Mestre 1 1 1 O SRMO DO MONTE 29 instalou-se definitivamente no edifcio da Nova Revelao, dando-lhe a caracterstica de Cristianismo Redivivo. Emmanuel, a nobre entidade que dirige os trabalhos do interexistente mineiro, o responsvel por este posicionamento, o que lhe vale o Quando comearam a se projetar no mundo os trabalhos de Transcomunicao Instrumental, muitos cientificistas apressados julgaram poder afastar, definitivamente, a religiosidade dos arraiais Doutrinrios. Hoje, contudo, que comeam a chegar ao Brasil, com o costumeiro atraso, as publicaes dos mais importantes experts da nova modalidade de comunicao medinica, vemos os Espfritos encarregados do assunto, no mundo espiritual, repetirem o que o Espiritismo vem dizendo h mais de um sculo, no respeitante postura mental e tica dos que se entregam a tais experincias - que, se conduzidas sem o necessrio respeito, recolhimento e prece, levam obsesso e mistificao (veja-se Transcomunicao de Theo Locher e Maggy Harsch - Editora Pensamento -, e Transcomunicao Instrumental de Karl W. Goldstein - pseudnimo de Hernani Guimares Andrade - Coleo Folha Esprita). Nos livros citados vem-se, igualmente, que os Espfritos transcomunicantes defendem a aplicao dos princpios morais

do Cristo, apontando-os, como sempre fizeram os mentores espirituais pelos mdiuns, como nico caminho para conduzir a Humanidade a um futuro de harmonia, fraternidade e paz. 30 DJALMA MOrtA ARGOLLO O Sermo do Monte: sntese dos ensinos de Jesus O Sermo do Monte a espinha dorsal do Cristianismo. Representa uma sntese magistral dos ensinos de Jesus, a Carta Magna da Civilizao Crist que um dia ser implantada na Terra. Sua exegese abrange dois grandes momentos: o formal, quando se estudam suas caractersticas exteriores e modo de composio, e o substancial, que busca o significado real de cada sentena e a maneira de transform-lo em ato no cotidiano da existncia. Para melhor compreender esse monumento de tica religiosa empreendemos sua traduo, partindo do texto grego e aplicando-lhe os conhecimentos trazidos pela Doutrina Esprita, chave necessria para se entender Jesus e seus ensinamentos. 1 Dos evangelistas, somente Mateus e Lucas se referem, especificamente, ao Sermo do Monte. Os outros trazem os seus ensinos distribudos ao longo da exposio, sem destac-os de forma concisa e agregada. Por que Marcos e Joo deixaram de mencionar esta pregao de Jesus no o sabemos. Talvez no achassem necessrio aos fins que tinham em vista ou, simplesmente, no tenham querido repetir o que outros j haviam escrito. S o saberemos no futuro, quando uma pesquisa sobre a poca de Jesus, utilizando os recursos da regresso de memria ou da clarividncia no passado (psicometria), permitir um levantamento detalhado, sistemtico e completo do processo de formao dos Evangelhos. O Sermo do Monte e a Crtica Neo-testamentria O Sermo do Monte, tanto em Mateus como em Lucas, no representa a copia fiel de um discurso feito por 31 Jesus num determinado dia e local. Ele formado por um ncleo original representado principalmente pelas Felicidades, ao qual foram agregados, pelos evangelistas, uma srie de frases e sentenas ditas pelo Mestre em diversas ocasies e locais. Os elementos formadores do sermo, tanto no atual Evangelho segundo Mateus como no segundo Lucas, parecem provir de fontes muito antigas e de comunidades crists primitivas diversas como Q (do alemo quelle=fonte), tudo que comum aos dois, M, o que prprio de Mateus e L, o que exclusivo de Lucas. Comparando as duas narrativas encontramos que, dos 107 versculos do Sermo de Mateus, Lucas possui apenas 30. Das oito felicidades de Mateus, Lucas reproduz s quatro. Lucas insere quatro ais, em oposio s felicidades, que no so mencionados por Mateus. O Pai Nosso, colocado por Mateus no Sermo, em Lucas faz parte de um contexto diferente e por ele, igualmente, resumido. Os outros elementos adicionados por Mateus encontram-se dispersos por todo o Evangelho segundo Lucas. Cada um dos dois evangelistas trabalhou suas fontes de acordo com critrios especficos, para atender objetivos doutrinrios diferentes. Isto deve ser levado em conta quando se analisa os Evangelhos em geral, e o Sermo do Monte em particular. As diferenas entre os discursos so devidos aos fins intentados pelos dois escritores do Cristianismo nascente. Deixando de lado o estudo formal do texto, que tem sua importncia, passemos anlise do que ele representa. Telogos das diversas denominaes oriundas do Cristianismo (Igreja Ortodoxa

Grega, Catlica Romana, O SERMO DO MONTE 32 DJALMA MOA ARGOLLO Maronita, Copta, Ortodoxa Russa), se vem em grande apuro para, dentro do contexto dogmtico a que esto agrilhoados, definirem o sentido do Sermo do Monte. Subordinados que esto ao constringente dogma da graa, segundo o qual a salvao s se d com o apelo de auto-aperfeioamento, explicitado nele. Joachim Jeremias, no seu esclarecedor livreto O Sermo da Montanha, publicado pelas Edies Paulinas, faz um resumo das tentativas dos pensadores cristos para explicar o sentido do Sermo, em trs argumentaes principais: a perfeccionista, a do ideal inatingvel e a de uma tica de emergncia. A concepo perfeccionista, exposta, segundo Jeremias, por Hans Windisch, professor de exegese neotestamentria de Halle, em seu livro Der sinn der Bergpredigt (O sentido 41o Sermo da Montanha), diz que, havendo Jesus dado simples mandamentos, no sermo, aos seus discpulos, esperando que fossem obedecidos e cumpridos, isto caracterizaria perfeccionismo moral e um conceito legalista. Windisch o aceita, convidando seus leitores a se libertarem da exegese paulinizante a que todas as correntes crists esto escravizadas. ...seremos forados a admitir que a tica do Sermo da Montanha uma tica de obedincia, como a do Antigo Testamento. No Sermo, nada se diz da incapacidade do homem de fazer o bem, nem se fala da funo medianeira de Jesu da redeno por seu sangue. Mais ainda, do ponto de vista de So Paulo, de Lutero e de Calvino, seu contedo abertamente hertico, pois se trata de um perfeccionismo, duma justia mediante as obras. Isto Lei e no Evangelho 1 1 1 (J. Jeremias, op. cit., pags. 6 e 7)(os destaques neste e nos outros pontos, so nossos). Apreciando esta posio j vemos o quanto os cristos se distanciaram do Cristo. Mais valem as elucubraes dos seguidores do Mestre, do que os ensinos dele prpri Porque Paulo e outros discpulos, dentro dos seus bias e condicionamentos, inventaram uma srie de conceitos sobre a salvao mediante uma vampiresca lavagem de pecados com o sangue do Mrtir do Calvrio, ou pela vontade arbitrria de um Deus prepotente e arrogante, seus ensinamentos passam a ser heresias, assim se acham desobrigados da vivncias de sua pregao. No Sermo, nada se diz da incapacidade do homem de fazer o bem, simplesmente porque no existe tal incapacidade, como demonstram os exemplos maravilhosos contidos na histria da humanidade, em todos os povos e em todas as pocas. Ser bom e fazer o bem uma imposio para o crescimento espiritual. Naturalmente isto se d gradualmente, num perene exerccio psicolgico, onde a repetio termina por gerar um automatismo de atos e pensamentos, cada vez mais aprimorados. E um processo cheio de idas e vindas, de quedas e soerguimentos, pois se trata de modificar reflexos condicionados adquiridos em longos milnios de milnios. E a construo de novos instintos; impulsos inconscientes de tolerncia, fraternidade, perdo, altrusmo, f, renuncia e amor. Quando Jesus diz: Sede perfeitos, portanto, como o vosso Pai celestial perfeito (Mt 5, 48), est indicando a necessidade de um esforo continuado de auto-aperfeioamento, pois oferece um modelo logicamente inatingvel, mas cuja perfeio deve ser o paradigma fundamental de todos ns. O ideal inatingvel (lJnerfllbarkeitstheorie), a O SERMO DO MONTE 33 34 DJALMA MOTFA , resposta apresentada pela ortodoxia luterana que nao apenas teve lugar de destaque nos ltimos sculos, mas encontra ainda hoje numerosos partidrios. No podemos ler com seriedade o Sermo da Montanha - diz

esta segunda teoria - sem ficarmos desesperados. Jesus exige que nos libertemos de toda clera: uma simples palavra ofensiva merece a pena de morte. Jesus exige uma castidade que evite at mesmo o olhar impuro. Jesus exige a veracidade absoluta, o amor ao inimigo. Quem vive assim? Quem consegue viver assim? Quem pode satisfazer tais exigncias?. Em continuao: um grande 1 erro - diz ela - julgar realizvel o Sermo da Montanha. O que Jesus prega impossvel de se praticar e ele bem 1 o sabe. Logo, Jesus quis dar a entender a seus ouvintes que, por suas prprias foras no podiam satisfazer s exigncias de Deus. Tencionava lev-los, pela experincia de sua incapacidade, a desesperar de si mesmos. Suas exigncias 1 tendiam a quebrar a nossa auto-suficincia e nada mais do que isso visavam (op. cit. pags. 12 a 14). Realmente, Jesus teria, ento, sido um grande embusteiro. Mentia, inclusive, quando afirmava: Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, ser comparado a um homem sensato... (Mt 7, 24). Era apenas uma brincadeirinha, queria que todos se frustrassem para ai sim, descobrire para a salvao por vias ritualsticas. Segundo tais idelogos, o Evangelho no passa de uma grosseira mistificao... Quanto tica de emergncia: Esta interpretao foi exposta no fim do sculo passado por Johannes Weiss em seu livro Die Predigt vom Reich Gottes (A Pregao do Reino de Deus), publicado em 1892, bem como nas O SERMO DO MONTE 35 obras de Albert Schweitzer, quando era moda o protestantismo cultural (Kulturprotestantismus). O que Jesus prega - dizem - se funda na terrvel gravidade do momento. iminente a crise suprema: o tempo presente a hora da opo (op. cit. pags. 16 e acontecer, mas que acabou no acontecendo. Mais um escamoteamento da verdade, como no houve o tal juzo, o Sermo do Monte perdeu toda a validade, e ns no temos obrigao de seguir os ensinamentos de Jesus. imensamente triste verificar o quanto ns, cristos, nos afastamos do Rabi Galileu. Dogmas e supersties so mais importantes do que sua mensagem. A Doutrina Espfrita, resgatando os Evangelhos, afirma, com o Cristo, que ningum salvo, mas cada um que promove a prpria salvao, se esforando por viver a cada instante os ensinos evanglicos, numa luta incessante e corajosa. Que isto possvel o provam as biografias de centenas de ldimos seguidores de Jesus, tanto do passado quanto do presente: Paulo, Pedro, Joo, Maria de Magdala, os milhares de mrtires, annimos ou no, Francisco de Assis, Clara de Assis, Bernardo de Quintavale, Egdio, Pedro de Cattani, Junpero, Antonio de Pdua, e vrios outros discpulos do Poverello, Tereza dAvila, Allan Kardec, Eurpedes Barsanulfo, Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, Francisco Cndido Xavier, e tantos outros, so a prova cabal da possibilidade de uma vida nos moldes preconizados e exemplificados pelo Nazareno. Questionamentos pessimistas como os retro-mencionados, so culpados pela degenerao dos ideais cristos em tribunais de inquisio, com seus processos 36 DJALMA MOTA ARGOLLO criminosos e inquos, em guerras cruis como as cruzadas, em massacres covardes como os das populaes Aztecas e Incas, em sangrentas matanas como a da Noite de So Bartolomeu, em absurdos como a aniquilao dos Albigenses, em assassinatos coletivos de Calvino em Genebra e episdios similares, de que a Histria est repleta. As cartas paulinas, principalmente, forneceram elementos para a formao da estrutura dogmtica das religies ditas crists. Ao escrev-las, o Apstolo dos Gentios criou

o vocabulrio e os conceitos bsicos da teologia crist, para resolver problemas no elucidados, diretamente, da mensagem de Jesus por territrios nao judeus: homens e pela palavra do Cristo e que haviam surgido com a difuso mulheres que se tomavam crists, mas os cnjuges continuavam politeistas; comer carne de animais que haviam sido sacrificados aos dolos, o homossexualismo, o adultrio ritualstico, a permissividade sexual, a superstio idoltrica, o uso dos carismas (faculdades medinicas), a existncia do corpo espiritual (perisprito), a personalidade de Jesus e seu significado espiritual para os homens, suas relaes com Deus, sua sobrevivncia morte e o significado desta morte, etc. No caso dos carismas, que ocorriam nas reunies da comunidade crist, Paulo classificou-os, traando normas disciplinares para exerccio e correta realizao do intercmbios espiritual (ver PCor 12-14). Paulo, contudo, foi, seno o criador, pelo menos o divulgador da Teoria da Graa, causadora maior das distores ideolgicas sofridas pelo Cristianismo. Ela nasceu da incapacidade do Grande Divulgador de entender o que se passou consigo prprio que, perseguidor 37 e assassino dos seguidores do Mestre, foi por ele chamado para o apostolado. Isto o levou a magnificar o conceito veterotestamentrio de que s a vontade divina prevalecnte, e no o esforo do homem, ou seja, ningum se transforma por deciso e vontade desejo individual. J a anedota bblica de Caim e Abel (Gn 4, 1-16) coloca Deus como um arbitrrio e suscetvel reitelete oriental, aceitando ou rejeitando as homenagens de seus sditos conforme o humor do momento, o que incompatvel com a imagem Dele feita por Jesus, quando O afirma Pai Misericordioso, Justo e Bom. Paulo ficou desnorteado com o que lhe aconteceu: perseguidor implacvel dos cristos, cmplice de um assassinato e culpado da tortura de inmeras pessoas (Eu, de minha parte, julgara-me um dia no dever de fazer a maior oposio ao nome de Jesus Nazareno. E o fiz em Jerusalm, onde encarcerei muitos santos com o poder que tinha dos prncipes dos sacerdotes. E quando se tratava de execut-los, dava o meu voto. Muitas vezes, de sinagoga em sinagoga, eu os obrigava, por fora de castigos, a blasfemar e, louco de furor, os persegui at em cidades estrangeiras. At 26, 9-11), foi, apesar de tudo, convocado pelo Mestre, s portas de Damasco, para uma misso grandiosa, que cumpriu fielmente. No h no episdio, todavia, nenhuma gratuidade. Ele possua as necessrias qualidades de carter e conhecimento para o trabalho, bem como enfibratura moral. Havia se colocado, por natural erro de educao, na defesa de idias e ideais que pressupunham a violncia como mtodo normal de auto-preservao (Se algum outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda O SERMO DO MONTE 38 DJALMA MOTTA ARGOLLO mais: circuncidado ao oitavo dia, da raa de Israel, da tribo de Benjamin, hebreu filho de hebreus; quanto ao zelo, perseguidor da Comunidade; quanto a retido que h na Lei, irrepreensvel (Fil 3, 4-6). Alm do mais, as criminosas arbitrariedades qu segundo suas prprias palavras: Muitas vezes, vi-me em perigo de morte. Dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um. Trs vezes fui flagelado. Uma vez, apedrejado. Trs vezes naufraguei. Passei um dia e uma noite em alto mar. Fiz numerosas viagens. Sofri perigos nos rios, perigos por parte dos ladres, perigos por parte dos meus irmos de

estirpe, perigo por parte dos gentios, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos por parte dos falsos irmos! (2ECor 11, 23-26). Alis o Cristo j o antecipara a Ananias:Eu mesmo lhe mostrarei quanto lhe preciso sofrer em favor do meu nome (At 9, 16). Paulo foi chamado para o servio cristo como o foram Mateus e Zaqueu, defraudadores dos seus irmos como cobradores de impostos, Maria de Magdala, cortes (segundo a tradio) e obsediada, Simo, que participava do partido dos zelotas, terroristas fanticos, e tantos outros em igual ou pior situao. Vemos, pois, que, sem muitos artifcios e sofismas teolgicos, a concepo da graa no possui qualquer fundamento lgico. O Dr. Martyn Lloyd-Jones, pastor de Westminster Chapel, Londres, faz uma crtica honesta das posies encontradas em sua rea, escrevendo ser possvel se exagerar tanto a importncia da graa divina, em prejuzo da lei, que da resulte que no seja o Evangelho do Novo Testamento. 1 1 1 Assim, quando se diz que, por se estar debaixo da graa no se tem mais nada com a lei, podendo esquec-la, no corresponde s doutrinas bblicas. Sem dvida, admite o ex-cardiologista, no se est mais debaixo da lei, mas sim, sob a graa. Isso, contudo, no implica que no se necessite observar seus princpios. No se permanece mais sob a lei, dentro do sentido dela proferir juzos condenatrios a nosso respeito. Entretanto nos compete viver os princpios bsicos da lei, devendo mesmo super-los. Prossegue, salientando que Jesus guardou a lei, vivendo de conformidade com ela. Mas, como ressalta o prprio Sermo do Monte, a nossa retido deve superar as dos escribas e dos fariseus, pois Jesus no veio aboli-la, a lei; tudo o que nela est precisa ser vivido e aperfeioado. Muitos, todavia, tm esquecido isso, ao tentar criar uma anttese entre a lei e a graa; o resultado que, geralmente, homens e mulheres ignoram, absolutamente, a lei (ESM, pags. 11-12). , pois, algum do ramo, que aceita o dogma absurdo da graa, quem explicita os imensos prejuzos que ela vem causando ao Cristianismo, no s de hoje, mais de todos os tempos. O Sermo do Monte: texto bsico da vida crist O Sermo inicia estabelecendo, em axiomas fundamentais, as diferenas inconciliveis entre o modo de vida cristo e o vigente no mundo, desde os prdromos da Civilizao at os nossos dias. As felicidades colocam como boas, situaes que na forma de ver e sentir da Humanidade sempre foram consideradas ruins, negativas e, muitas vezes, como um desfavor dos cus: feliz aquele que no tem apego s O SERMO DO MONTE 39 40 coisas e sentimentos do mundo; o que sofre perseguio porque correto; o humilde; o que sofre aflies; o pacificador; o que busca a retido com todo o empenho; o vilipendiado e caluniado por causa da vinculao com Jesus. Tudo isto ininteligvel para quem s se preocupa com a felicidade possvel de ser fruda neste mundo, a qualquer preo, atarrachado a um materialismo sufocante e egosta. Marx, bem como os idelogos do materialismo em geral, vem nas promessas de recompensas futuras uma simples manobra classista, para inibir as massas carentes, um pio do povo. Com a Doutrina Esprita, que no apenas 1 afirma, mas sobretudo prova a imortalidade pessoal, tais conceitos entram no domnio das coisas simples e naturais. Mundo Espiritual, comprovados cientificamente, demonstram A reencarnao, a Lei de Causa e Efeito e a existncia do que Jesus estatua, simplesmente, realidades naturais: Quem sofre est resgatando e expungindo erros pretritos, ou 1 atuais e, se bem sabe s portar diante das dores e aflies, galga estados de alegria e felicidade interiores, tanto neste, como no Mundo

dos Espfritos. Isto dentro de uma justa aferio do que foi sofrido e vivido durante a encarnaao. Esta aferio no est subordinada a tribunais e comisses inquisitoriais, mas feita pelo nico juzo irretorquvel: a prpria conscincia. Em continuidade, fala-nos, o Sermo, da posio do discpulo do Evangelho, perante o mundo. Cabe-lhe dar contnuos exemplos de abnegao, caridade, pureza interior e de virtudes indiscutveis, no apenas para proveito pessoal, no processo de aperfeioamento que lhe cabe, mas para ser uma demonstrao viva do valor e da sabedoria das Leis Divinas. Quanto ao comportamento, induz-nos fraternidade 42 O Esprito, nas diversas etapas do caminho evolutivo, est subordinado ao automatismo da Lei. impelido cineticamente pelas foras do meio ambiente que, atuando de fora para dentro, impem a transformao interior por meio de presses dolorosas. O Esp para superar os obstculos e dificuldades postos ao seu redor. Na luta pela vida interagindo ferozmente com o ecossistema onde estagia, o Espfrito forado a responder aos desafios imediatos da sobrevivncia. Em todos os nveis do processo, tem a ajuda dos instintos bsicos, impulsos automticos impressos em seu interior pela Lei, os quais resolvem um largo espectro de dificuldades. Existem, contudo, situaes que requisitam solues no padronizadas, para alm da programao instintiva. Situaoes inesperadas, que se multiplicam no transcurso da existncia, impondo um esforo extra, pois a dor e a morte fsica so as conseqncias inevitveis, quando no encontrada uma resposta imediata e eficaz. Gradativamente, ao longo de eras interminveis, o Esprito vai conseguindo desenvolver sua capacidade psquica de responder a uma maior gama de problemas, pela incorporao de novos reflexos mentais, fruto das vivncias difceis exercitadas nas vidas anteriores. Sua capacidade de adaptao desenvolvida, bem como a condio de fazer face a situaes inesperadas. Suas faculdades de anlise, raciocnio e concluses inovadoras, se aprimoram gradativamente, sendolhe cada vez mais fcil solucionar os complicados enigmas que a Natureza lhe prope. Do Reino Mineral ao Vegetal e deste ao animal, o ser espiritual obrigado a ampliar, paulatinamente, sua forma de expresso e interao dialtica com o meio onde vive. A Lei de Progresso e a Lei de Destruio (LE, a parte), ii 1 43 agem imperiosamente sobre ele, coagindo-o ao aperfeioamento constante. Atingida a ego-conscincia, o Esprito conquista a mentao contnua, utilizando a Inteligncia e a Razo de forma ampla, deixando de ser dirigido, em regime imperativo, pelos impulsos reflexos, na quase exclusiva tarefa de sobrevivncia. Passa a agir sobre o meio onde vive, modificando-o para que atenda suas necessidades, de forma fcil e agradvel, e passa a trabalhar no aperfeioamento dos seus centros emotivos, conquistando o livre arbtrio -limitado ainda - a estesia e a faculdade de amar. Continua, naturalmente, subordinado Lei de Causa e Efeito, da qual s se libertar quando atingir a condio de Esprito Puro, pois a liberdade de ao pressupe responsabilidade das conseqncias dos atos praticados. Sem dvida, continua sob o condicionamento do meio ambiente e das foras naturais, mas agora est melhor aparelhado para lhes fazer face, resolvendo com maior acerto, e melhor, seus desafios. A evoluo automtica deixou de existir para o Esprito. Para alcanar o prximo nvel, o Espiritual, ter de fazer uma

opo pessoal, consciente. O Paraiso dos reflexos e instintos puros, foi perdido, o crescimento espiritual agora requer esforo consciente e determinado. Ser preciso ganh-lo com o suor do rosto, ou seja, com trabalho de auto-aprimoramento, reestruturando a mente para modificar a forma de atuao estmulo-resposta, herana das eras primitivas do processo. Os instintos individualizantes e egocntricos precisam ser revistos e aperfeioados, para se adequarem Lei de Amor, Justia e Caridade (LE, IIP parte), fundamento da prpria criao. Instintos novos devem ser criados, instintos discntricos, ou seja, respostas altrustas aos desafios da violncia e do egosmo. Isto requer uma O 44 metania, completa reformulao de toda estrutura mental. Os mtodos e Leis desta reeducao tm sido proclamados pelos Mensageiros do Bem, em todas as pocas da Histria. Os Evangelhos, e em particular o Sermo do Monte, sumarizam e sistematizam os e O processo de modificao absoluta do psiquismo no poderia deixar de produzir dor, pois esta requerida em todo e qualquer esforo de conquista em nossa vida. O estudante que fica trancado em seu quarto, ou cmodo escolar, sendo obrigado a repetir lies, fazer exerccios, assimilar currculos que no lhe agradam, perdendo a oportunidade de se divertir, dando vazo ao desejo de satisfao e alegria, est sofrendo, contudo, o faz 1 prazerosamente, pois sabe que o sofrimento momentneo avalista de uma vida de realizaes futuras, na qual ser amplamente recompensado pelo desprazer atual. Todo sofrimento nascido do esforo espiritualizante 1 uma transio para conuistas incalculveis. Quando Jesus nos convida a carregarmos nossa cruz, a renunciarmos a ns mesmos, abdicao do apego, mesmo aos sentimentos de parentesco e doao absoluta ao prximo, est traando os exerccios necessrios para a mudana de nvel evolutivo, pois no novo as condies de vida sero marcadas pela felicidade e pela alegria. A dor inerente ao processo, como de qualquer esforo para melhoria de posio social, ou mudana eugnica do corpo. No Sermo do Monte, o paradoxal reside no que ele significa: um rompimento absoluto com o modelo scio-psquico vigente na Terra, para que se possa construir nela um novo tipo de sociedade e de mente. No existem caminhos alternativos para isso. O mundo, como chamava Jesus, incompatvel com o Reino, so mutuamente 45 excludentes. A adeso a um, pressupe afastamento radical do outro. Concluso O Sermo do Monte o documento bsico da Nova Civilizao que Jesus veio implantar na Terra. Ela s ser possvel, quando assimilarmos e vivermos o seu contedo integralmente. Claro est que o Mestre sabia que, exceto raras excees, s o poderemos fa de um Francisco de Assis, tero coragem e fora de vontade para se impor uma transformao brusca e radical. No podemos, todavia, transigir com acomodaes cnicas e sofismticas dos axiomas do Sermo do Monte. Pode parecer impossvel a Lutero e seguidores, mergulhados em seus conflitos internos e externos, amar os inimigos ou manter a necessria vigilncia da libido para assumir, na ntegra, seus postulados, mas da a se concluir pela impossibilidade de algum o fazer, existe um imenso e perigoso abismo. Os heris da vivncia evanglica esto a, em nossas tradies, nesses dois mil anos de Cristianismo, provando justamente o contrrio. Apesar do peso dos erros prstinos e atuais, imprescindvel um esforo sincero para fazer da mensagem do Cristo uma realidade em nossos hbitos e

pensamentos. Todas as comunicaes da Espiritualidade maior, desde Hydesville at Uberaba, tm instado para que faamos a integrao perfeita entre os conceitos crsticos e nossa vida cotidiana, como algo urgente. No Livro dos Espritos, questo 301 da edio de 18 de abril de 1857, lemos: Quel est le type le plus parfait O SERMO DO MONTE 46 que Deu ait offert lhomme pour lui servir de guide et modele? Ao que os Espritos Codificadores responderam direta e objetivamente: Voyez Jsus. Kardec fez, ento o seguinte comentrio: Jsus est pour 1 homme le type de la perfection morale le plus parfait modele, et la doctrine quil a enseigne est la plus pure expression de sa loi, parce quil tai anim de lesprit divin, et ltre le plus pur qui ait paru sur la terre. Na edio definitiva de 1860, ela passou a ter o numero 625, e ao comentario anterior, Allan Kardec acrescentou: Si quelques-uns de ceux qui ont prtendu instruire lhomme dans la bis de Dieu lont quelque fois gar par de faux principes, cest pour stre 1 laiss dominer eux-mmes par des sentiments trop terrestres, et pour avoir confondu les bis qui rgissent les conditions de la vie de lme avec celles qui rgissent la vie du corps. Plusieurs ont donn comme bis divines ce qui ntait que 1. des bois humaines cres pour servir les passions et dominer les hommes. Desde o incio da Codificao, Jesus e sua mensagem esto presentes na Doutrina Esprita, dela sendo inseparveis, mesmo que a discutvel arrogncia de alguns intelectuais e cientificistas espritas pretendam o contrrio. O Movimento Espfrita est a exigir, com urgncia, que se faam congressos, seminrios, painis, mesas redondas, e demais recursos do gnero, para se discutir em profundidade a evangelizao dos espritas e a difuso dos ensinos do Mestre, de acordo com a amplitude e esclarecimento que os postulados do Espiritismo proporcionam. A Doutrina Esprita, como o Consolador prometido pelo Cristo, promove seu retorno, sua parusia, colocando-o 47 diante do homem moderno despojado dos perfunctrios e cedios ranos que a mediocridade dos cristos lhe agregou, nestes vinte sculos de desvios e obscurantismos dogmticos, totalmente dispensveis. Sobre isto, escreve Emmanuel, ao nosso ver o maior e brevirio para o genuflexrio. roteiro imprescindvel para a legislao e administrao, para o servio e para a obedincia. O Cristo no estabelece linhas divisrias entre o templo e a oficina. Toda a Terra seu altar de orao e seu campo de trabalho, ao mesmo tempo. Por louv-lo nas igrejas e menoscab-bo nas ruas que temos naufragado mil vezes, por nossa prpria culpa. Todos os lugares, portanto, podem ser consagrados ao servio divino. Muitos discpulos, nas vrias escolas crists, entregaram-se a perquiries teolgicas, transformando os ensinos do Senhor em relquia morta dos altares de pedra; no entanto, espera o Cristo venhamos todos a converter-lhe o Evangelho de Amor e Sabedoria em companheiro da prece, em livro escolar no aprendizado de cada dia, em fonte inspiradora de nossas mais humildes aes no trabalho comum e em cdigo de boas maneiras no intercmbio fraternal (Caminho, Verdade e Vida, psicografado por Francisco Cndido Xavier, Interpretao dos Textos Sagrados, dcima terceira edio, FEB). 1 1

CONSEQNCIAS DA ADESO AO EVANGELHO

5. - 1 - Vendo a multido, ele subiu a colina e, assentando-se, aproximaram-se seus seguidores. ros significa: colina, monte, altura, montanha. Escolhemos colina, pois na regio onde foi proferido o Sermo no existem montanhas, na acepo do termo. Mathetai tem como significados: seguidores, discpulos, alunos, aprendizes, estudantes. No se pode precisar o local onde Jesus pronunciou o discurso. Uma tradio o coloca numa colina de 150 m. de altura, que tem o nome rabe de Jebel Hatim (os Chifres de Hatim - pelo seu formato peculiar), perto da moderna Tabgha (corruptela do bizantino Heptapegon - sete fontes, antiga fonte termal que Flvio Josefo chama de Cafarnaum), enseada formada em Khan Minij eh. Ali foi erguida a Igreja das Bem-aventuranas. A ligao de Tabgha com o Sermo remonta ao sculo IV. ** Ler ML, cap. 17 e FV, cap. 194. 50 - 2 - E abrindo a boca se ps a ensin-los, dizendo: A estrutura do Sermo do Monte, bem como as diferenas entre Mateus e Lucas, estudaremos mais adiante, no anexo 1. - 3 - Felizes os pobres em esprito, pois deles o Reino dos ceus. Makrioi, plural de makrios, pode ser traduzido por: felizes, bem-aventurados, benditos, ricos, opulentos, ditosos, dignos de todo o louvor. lle Basilea tn ourann, o Reino dos cus, significa as diversas hipstases do Mundo Espiritual Superior, onde vivem os Espritos que j se libertaram da Ronda das Reencarnaes, ou melhor dizendo com Kardec, da Erraticidade. Ptco, plural de pts, significa: que se oculta, mendigo, relativo ao mendigo, pobre, miservel, impotente. A expresso hoi ptouco tou pnemati, no pode ser traduzida, como se fazia antigamente, por pobre de esprito, ou baldo de inteligncia, mas pobre, ou mendigo, em, ou no, esprito, estando a pobreza localizada no ntimo do ser, como qualidade intrnseca de liberao dos laos inferiores da posse. Ptcs, precisa Pastorino em SE, vol. II, ...significa exatamente aquele que caminha humilde a mendigar. Sua construo normal com acusativo de relao poderia significar o que costumam dar as tradues correntes: mendigos (pobres, humildes) no (quanto ao) esprito. Acontece, porm, que a aparece construdo com dativo.... Portento justifica-se a traduo que preferimos. A pobreza em esprito tem o sentido de desapego dos r 1 E 1 1 51 sentimentos e coisas materiais; assim liberado, o Espfrito pode galgar outras, e elevadas, dimenses do Mundo Fspirifual. Livre dos vnculos das aes o homem que, mediante o Conhecimento Espiritual, cortou os ns que o ligavam aos frutos das aes, (BG, Cap. IV, v. 41). ** Sobre o assunto: LE, questes 100 a 131, 304 a 319, 913 a 917; ESE, cap. VII; CI, primeira parte, cap. III. - 4 - Felizes os que esto aflitos, porque eles sero consolados. Penthountes, significa: deploram, choraram, esto de luto, esto triste, esto aflitos, esto chateados. Jesus direcionou sua afirmativa para os afligidos por circunstncias dolorosas, as quais se abatem sobre eles com a fora terrvel, mas justa, da Le Efeito. A consolao nasce, diretamente, do profundo sentimento de alegria e alvio pelo cumprimento integral do resgate. ** ler ESE, cap. V. - 5 - Felizes os humildes, pois eles herdaro a Terra. Praus, tem como significados: gentil, humilde, bondoso, amvel, doce, suave, indulgente. Todos eles se enquadram no espfrito da mensagem crist, mas humildade a caracterstica fundamental do Homem Novo em

Cristo, como demonstrou Francisco de Assis Humildade, todavia, no significa desconhecimento do O SERMO DO MONTE 52 prprio valor, nem subestimao da prpria capacidade, mas uma justa anlise daquilo de que se capaz, reconhecendo-se, por outro lado, o valor e a capacidade dos outros. Da mesma forma, ela radicalmente contrria a qualquer tipo de autopromoo ou de relevo ou destaque, quando se tenha condies para tanto, o que denotaria, simplesmente, uma fuga ao dever. Notemos, ainda, que Jesus fala aqui em herdar a Terra (Ideronomsousin ten gn), ou seja, quando for implantada a Civilizao Crist em nosso planeta, a humildade ser condio prevalecente da ascenso social e da conduta administrativa em qualquer nvel. 1 ** Ler ESE, cap. LX. - 6 - Felizes os que tm fome e sede de retido, porque 1. sero saciados. -4 Dikaiosynen tem o sentido de retido, honradez, justia, fazer o que direito. Pastorino (op. cit.), escreve sobre Dikaiosynen: ... derivado de dikaios que exprime precisamente o observador da regra, o justo, o reto, o honesto, ou, numa expressao mais exata ainda o que se adapta s regras e convenincias, pois o termo primitivo dik, donde todos os outros derivam, significa REGRA. ...o sentido (para coadunar-se com a bem-aventurana seguinte) s pode referir-se aos que aspiram ardente e sequiosamente PERFEIO, ao AJUSTAMENTO de si mesmos s Leis divinas. Ento justia no sentido de JUSTEZA (tal como o francs justice, no sentido de JUSTESSE). 53 A Doutrina Esprita confirma que o homem que se entrega com empenho ao cultivo da ao correta nos nveis fisico, mental e espiritual, consegue evoluir num tempo relativamente curto, pois as Foras do Bem que dirigem e controlam os Universos apoiam, in demonstram as vidas dos que se entregaram, obstinadamente, ao cultivo da virtude. - 7 - Felizes os misericordiosos, pois eles encontraro misericrdia. Elemones traduz-se por: misericordiosos, compassivos. A toda e qualquer ao corresponde uma ao igual e contrria. Ao atuarmos misericordiosamente, a Lei de Causa e Efeito far com que sejamos objeto de misericrdia, ou de proteo em nossa vida atua futuras. ** Ler ESE, cap. XI. - 8 - Felizes os puros de corao, porque eles entendero Deus. Nos parece que a traduo de psontai, futuro de hor (ver, ter olhos, olhar, observar, entender, advertir) como entender, mais precisa do que ver, pois nem sempre o ato de ver significa entendimento do que visto. O simples ato de ver Deus poderia deslumbrar o vidente, mas o entendimento do que Deus , preencher aquele que atingir esta compreenso. Para se chegar a tanto, necessrio escoimar o sentimento das impurezas do orgulho, da vaidade, do dio, da ambio, e semelhantes. O LE, 54 questo 10, nos adverte que no podemos compreender a natureza ntima de Deus porque nos falta, para isto, um sentido. Claro est que ai se refere compreenso intelectual, pois no temos nenhum sentido de analogia para tanto. Sendo uma realidade que de dimenso, no temos condies de promover, a seu respeito, qualquer analogia esclarecedora. Contudo, a intuio direta possvel, como o tm provado os msticos de todas as pocas. ** Ler LE, livro 1, cap. 1, e ESE, cap. VIII. 9 - Felizes os pacificadores, pois eles sero chamados filhos de Deus. Quem pacifica constri a fraternidade e o entendimento o seu redor. A

vibrao da Paz faculta o intercmbio com da nossos lares, parentela e meio social onde vivemos, s Espritos do Bem, encategados do processo evolutivo Terra. Na medida em que consigamos realizar a harmonia estaremos agindo como legtimos filhos de Deus, assim como Jesus o foi, e . ** Ler ESE, cap. IX. - 10 - Felizes os que so perseguidos por causa da retido, porque deles o Reino dos cus. Sobre retido, ver comentrio ao vers. 6. Sobre Reino dos cus, ver comentrio ao vers. 3. A conduta reta a qualidade normal da existncia do Espfrito, contudo, num mundo de expiaes e provas, como 1 o nosso, toma-se exceo. A deficincia de carter, regra de vida. Nesse clima de valores distorcidos a virtude e a retido so perseguidas como anomalias. No obstante, os mrtires do Cristianismo mostraram que a fidelidade aos valores nobres deve s Foi este o exemplo dado pelo Cristo, ao se deixar imolar, em suprema renncia, sem transigir com as foras do mal, por ns geradas e mantidas. - 11 - Felizes sois vs quando vos ultrajarem, perseguirem e, mentindo, disserem qualquer tipo de maldade contra vs, por causa de mim. Poderamos concluir que aqueles colocados nesta categoria esto resgatando dvidas morais, o que em muitas circunstncias expressa a verdade, todavia o Esprito que no possua dbitos nessa faixa vive, em nosso mundo, tal tipo de sofrimento (veja-se o a afirmao mentirosa e distorcida, fazem parte da psicologia dos espfritos em estado de falncia moral, os quais existem em nmero expressivo em nosso planeta. Para o ser nesta situao difcil admitir que possa haver algum que atue sem pr-juzos interesseiros e maldosos, porque ele incapaz de aes altrustas. Tende sempre a projetar nos outros as distores mentais e emocionais que lhe so prprias. So felizes, pois, os que passam por tais provaes, porque esto sofrendo pelo fato de terem aderido ao Bem, esto pagando o preo da evoluo moral que buscam. O 55 ** Ler ESE, cap. XVII. 56 DJALMA MorrA ARGOLLO * * Ler LE, livro II, cap. X, ESE, cap. V, C, terceira parte, cap. V, e AR, cap. XIX. - 12 - Alegrai-vos e exultai, pois grande a vossa recompensa nos cus, porque dessa forma perseguiram os profetas que foram antes de vs. Tois ouranois, nos cus, nas dimenses espirituais superiores. Confirma-se, dessa maneira, o que afirmamos acima. 1 A perseguio tem como causa o Bem, logo a recompensa pela manuteno da fidelidade a ele, no obstante as 1 tribulaes, tem como conseqncia um salto evolutivo, uma ascenso espiritual de grande porte, o que motivar uma alegria intraduzvel. 1 ** Ler LE, livro IV, cap. II. -4 O SIGNIFICADO DE SER DISCPULO DE JESUS - 13 - Vs sois o sal da terra: porm se o sal se tomar insulso, com o que ser salgado? para nada mais serve, a no ser para se jogar fora e ser pisoteado pelos homens. O indivduo que procura viver a mensagem do Cristo um fator de transformaes no lugar onde esteja. semelhana do sal, torna o ambiente positivo, melhorando sua qualidade nos diversos nveis existenciais. Se deixar o processo de transformao moral, ombreando com as atitudes e maneiras de viver dos que ainda no conhecem a mensagem

58 Sobre cus, ver comentrio ao vers. 12. No meio da escurido moral da sociedade humana, o discpulo do Evangelho ressalta como uma luz, como algo colocado em situao de visibilidade impossvel de ser obstada. Uma cidade no pode ser escondida, quanto mais se est sobre um monte, da mesma forma o cristo encontra-se fatalmente exposto, queira ou no. O esprita, como seguidor do Evangelho, no o para, somente, cuidar de sua evoluo espiritual, mas para difundir a Mensagem entre os outros homens, atravs do exemplo. , pois, disseminador dos princpios cristos, um anncio vivo da munificncia, bondade e amor de Deus. ** Ler ESE, cap. XXIV, CVV, cap. 180 e VL, cap. 159. NECESSIDADE DA PRATICA EVANGLICA -4 - 17 - No penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas; eu no vim abolir, mas completar. Ton nmon, a Lei lorah), a regra, o princpio, a norma. Tous proftas, profeta, classe de mdiuns instituda por Moiss, sgundo instruo dos Espritos que o guiavam (Dt 18, 15-22). - 18 - Em verdade vos digo: at que cheguem ao fim o cu e a terra, um jota ou um til no ser invalidado na Lei, at que tudo seja realizado. ho ouranos, o cu, tem o sentido, aqui, de firmamento, t 1 1 1 O SERMO DO MONTE 59 abboda celeste. O jota, letra grega semelhante ao nosso representa no texto o yod hebraico, e Keraa (projeo, gancho como parte de uma letra, trao fino de uma letra, coisa pontiaguda, sinais grficos), que traduzimos como til, um prolongamento de algumas letras hebraicas, para distingu-las de outras com formato idntico. Os Espritos Superiores nunca destrem, sempre aprimoram ou transformam de uma maneira harmoniosa e edificante. Esta a grande lio que devemos aprender: promover o progresso fsico e espiritual sem combater, destrutivamente, o que existe. A Lei Moisaica em sua dimenso espiritual, expressa no declogo, no foi abolida por Jesus, mas sim completada, aprimorada, aprofundada em seu sentido. Da mesma forma, os ensinos espiritualizantes de todos os mensageiros de Deus, anteriores ao Cristo. A Lei Divina ou Natural, que se acha insculpida na conscincia humana, foi verbalizada pelos Mensageiros de Jesus em todas as pocas. Tanto Moiss no Declogo, quanto os Profetas de Israel, participaram da construo de um cdigo de espiritualidade que no ser derrudo na menor parcela, porque significa o fundamento do Bem, cuja essncia o prprio Deus. O Espiritismo nos desvela o conjunto da Lei Divina em toda sua magnffica amplitude. ** Ler LE, livro III e ESE, cap. 1. - 19 - Qualquer um que desfaa de um desses mandamentos, por menor que seja, e assim ensine aos homens, ser chamado insignificante no Reino dos cus; mas aquele que os pratique e ensine, ser chamado grande no Reino dos cus. 60 No Mundo Espiritual Superior, a importncia do Espfrito est na razo direta da sua adeso aos princpios da Lei Divina ou Natural e, por via de conseqncia, sua insignificncia se patenteia na inversa do seu distanciamento deles. Sobre Reino dos cus, ver comentrio ao vers. 3. - 20 - Pois eu vos digo que: a menos que a vossa retido ultrapasse a dos escribas e fariseus, de modo algum entrareis no Reino dos cus. Sobre retido, ver comentrio ao vers. 6. Sobre Reino dos cus, ver comentrio ao vers. 3. No adianta ao espfrita o simples conhecimento doutrinrio e do Evangelho sem a respectiva prtica, pois

L

muitas pessoas, tanto no passado quanto no presente, apresentam vasta erudio no campo dos ensinos transcendentes, mantendo, todavia, uma conduta incompatvel com o seu saber. Somente a vivncia dos princpios superiores destaca o crente da massa amorfa dos seres de pequena evoluo moral. ** Consultar LE, livro III, ESE, cap. 1, G, cap. 1 e VL, cap. 161. AMPLIAO DOS MANDAMENTOS MOISAICOS VIOLNCIA E RECONCILIAO - 21 - Ouvistes o que foi dito aos antigos: No matars; e aquele que matar estar sujeito a julgamento. 1 1 1 61 Antigos (arkaois), os que ouviram a Lei quando promulgada, os hebreus para os quais Moiss leu o declogo, grafado por escrita direta em pedra, ao descer do Monte Sinai. A segunda parte (aquele que matar...), foi um acrscimo das autoridades hebraicas posteriores, especificando a conseqncia do ato de matar. - 22 - Eu, todavia, vos digo: todo aquele que se irar contra seu irmo, ser passvel de julgamento; e quem lhe disser: Raca, ser ru ante o sindrio; e quem lhe chamar tolo, ser ru do fogo do Vale do Hinnm. Raka, transliterao para o grego do termo aramaico reiqah, tem como tradues possveis: estulto, burro, cabea vazia. Geena, transliterao para o grego do hebraico GI-Hinnm (vale do Hinnm) era a denominao do vale localizado no lado ocidental e da Bblia hebraica referem-se vrias vezes ao gei ben-Hinnm (vale dos filhos de Hinnm). No tempo dos Juzes era a fronteira entre as tribos de Jud e Benjamin. Durante o reinado de Josias (640-609a.C.) em Jud, aps a diviso das tribos, foi realizada uma purificao religiosa e, no vale, onde se queimavam crianas em homenagem a Moloch, foi criado o depsito de lixo da cidade. Este depsito vivia em chamas, por causa do gaz metano oriundo da decomposio das matrias orgnicas. A pena mais severa aplicada aos rus de determinados crimes era a de, aps a execuo, terem seus corpos lanados ao fogo eterno, que crepitava no Gi-Hinnm, para serem queimados. O Direito Divino nao aplica seus cnones apenas a violncia fsica, mas estende-os a todo e qualquer tipo de agresso, pois , em qualquer circunstncia, um atentado Lei do Amor, fundamento da criao. Dos pequenos atos de violncia do cotidiano individual, nascem os terrveis flagelos sociais como os crimes de morte, o terrorismo, as revolues sangrentas e as guerras. - 23 - Se, pois, ao apresentares tua oferenda ante o altar, lembrares que teu irmo tem alguma coisa contra ti, - 24 - deixa ali tua oferenda, diante do altar, e vai primeiro, te reconciliar com o teu irmo, e depois vem apresentar tua 1 oferta. - 25 - Reconcilia-te, depressa, com o teu adversrio, enquanto ests no caminho com ele, para no acontecer que o teu 1 adversrio te entregue ao. Juiz, e o Juiz aos soldados, e estes te lancem na priso. - 26 - Em verdade te digo que dali no sairs, enquanto no pagares o ltimo centavo. Drn, significa presente, oferta, oferenda, dom. Os hebreus ofereciam presentes, ou ofertas, a Deus, que os sacerdotes recebiam e colocavam no altar, retirando sua parte. Kodrnten era a penltima frao de moeda dos romanos, semelhante ao lepton judaico, que Lucas usa no seu evangelho (Lc 12, 59). Aqui, est implcita a Lei de Causa e Efeito, onde ao erro se segue o resgate, com a conseqente libertao. 63 Todos ns estamos presos s conseqncias dos nossos atos, e no nos

liberamos sem a devida quitao. No que se refere convivncia social, o fato de se cultivar a inimizade indica uma aplicao defeituosa da Lei de Amor. No cabe ao Esprita cultivar primordial. ** Ler ESE, cap. IX e X, C, terceira parte, questes 332 a 341 e PN, cap. 120.. ADULTERIO E DIVRCIO - 27 - Ouvistes o que foi dito: No adulterars. - 28 - Eu, porm, vos digo que: qualquer um que olhe para uma mulher, desejando-a, j cometeu adultrio com ela em seu corao. Todo ato, antes de se realizar, existe como potencialidade na mente de quem o pratica. Sua implementao concretiza o que j foi feito em pensamento. Muitas vezes, a no concretizao do pensado pode ser fruto de circunstncias inibidoras, alheias vo debitado como tendo sido realizado. A projeo mental atrai companhias espirituais de igual vibrao, as quais se alimentam do magnetismo, e estimulam a manuteno do estado mental de quem pensa. Naturalmente ningum est livre de emitir um pensamento indigno. O reconhecimento do fato, e uma atitude imediata de repulsa, sinal de crescimento espiritual. 64 ** Ler LE, livro II, questes 459 a 472, ESE, cap. MIII e M, cap 5.. - 29 - Se o teu olho direito motivo de tropeo, arranca-o e lana-o de ti; pois melhor que seja perdido um dos teus membros, a ser o teu corpo inteiro jogado ao vale do Hinnm. Skandalzei, significa fazer tropear, servir de pedra de tropeo, levar a tropear, fazer cair, rechaar, desconfiar, ofender, chocar, irar. 1 Sobre vale do Hinnm, ver comentrio supra ao v ers. 22. 1 30 - E, se a tua mo direita te faz tropear, corta-a e atira-a de ti; porque te convm que se perca um dos teus membros, do que v todo o teu corpo para o vale do 1 Hinnm. Sobre vale do Hinnm, ver comentrio supra ao vers. 22. A deficincia fsica, exprime uma opo do esprito, antes da encarnao, de entrar na vida em regime de expiao, evitando a reincidncia nos erros cometidos, pela ausncia dos membros ou funes utilizados para cometer os equvocos que lhe oprimem a conscincia. As restries sociais, culturais e econmicas so tambm provaes solicitadas, as quais servem para ensinar aos espritos encamantes o valor dos bens perdidos, dos quais abusaram inconseqentemente na(s) vida(s) anterior(es) Em casos extremos, a Lei impe limitaes aos espritos contumazes no erro, quando da reencarnao. o ** Sobre os versculos acima ler LE, questes 258 a 273, ESE, cap. VIII e CI, primeira parte, caps. LV a VII e segunda parte, cap. VIII. - 31 - Igualmente foi dito: quem despedir sua mulher, d-lhe o documento de divrcio. - 32 - Eu, porm, vos digo que todo aquele que repudia sua mulher, a no ser em caso de adultrio, a faz adltera; e quem se casar com a repudiada, comete adultrio. Na anlise do problema do divrcio temos de levar em considerao os objetivos do matrimnio que, quase sempre, instrumento de reajuste. O Espiritismo nos orienta para a manuteno dos laos esponsalcios, pela aplicao das lies evanglicas na vid atinge as raias do insuportvel. Mas no se torna conivente com a fuga aos compromissos assumidos por simples irresponsabilidade. Leiamos, a este respeito, esta esclarecedora passagem, escrita por Joanna de Angelis: A soluo, para os relacionamentos perturbadores, no a separao, como supem muitos. Rompendo-se com algum, no pode o indivduo crer-se livre para um outro tentame, que lhe resultaria feliz, porquanto o problema no da

relao em si, mas do seu estado ntimo, psicolgico. Para tanto, como forma de equacionamento, s a adoo do amor com toda a sua estrutura renovadora, saudvel, de plenificao, consegue o xito almejado, porquanto, para onde ou para quem o indivduo se transfira, conduzir toda a sua memria social, o seu comportamento e o que . Desse modo, O 65 66 DJALMA MOTrA transferir-se no resolve problemas. Antes, deve solucionar-se para trasladar-se, se for o caso, depois (LII, cap. 7). ** Ler ESE, cap. XXII. RETIDO NO FALAR - 33 Da mesma forma, ouvistes o que foi dito aos antigos: No jurars falso, mas cumprirs teus juramentos para com o Senhor - 34 - Eu, todavia, vos digo que de nenhuma maneira jureis; nem pelo cu, pois o trono de Deus; Ti ourani, pelo cu, ou seja pelo firmamento. - 35 - nem pela Terra, porque o estrado de seus ps; nem por Jerusalm, pois a4 cidade do Grande Rei; - 36 - nem jures por tua cabea, pois no podes mudar um s cabelo branco ou preto. 1 1 1 - 37 - Seja, contudo, o vosso falar sim, sim, no, no, porque o que da passa origina-se do mal. O Esprita, portanto o cristo, deve buscar viver, num nvel tico que o coloque num clima de veracidade natural, sem que precise reforar suas afirmaes com juramentos, a fim de ser crido. Sua maneira de viver deve bastar para corroborar suas palavra ** Ler PN, cap. 80. 1~ 67 NO VIOLNCIA - 38 - Ouvistes o que foi dito: Olho por olho e dente por dente. - 39 - Eu, contudo, vos digo no resistais ao perverso, mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe tambm a outra. Joachim Jeremias, exegeta e ex-professor da Universidade de Gttingem, no seu O Sermo da Montanha, traduzido do alemo: Die Bergpredigt, pelo pe. Jos Raimundo Vidigal, Ed. Paulinas, sexta edio, prope a seguinte verso dessas passagens, com com Ouvistes o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porm, vos digo: No deveis entrar em demanda ( a traduo correta) com aquele que vos ofende (literalmente: com quem mau); mas se algum te bater na face direita, apresenta-lhe tambm a outra). ** Ler ML, cap. 62 e 63. - 40 - E ao que pleitear contigo, para tomar-te a tnica, cede-lhe tambm a capa. Krithenai tem como sentidos: julgar, decidir, condenar, sentenciar, pleitear em juzo. - 41 - E se algum te obrigar a andar mil passos, vai com ele dois mil. 68 DJALMA MorrA ARGOLLO MIion, milha romana, media mil passos, ou seja, cerca de 1478 metros. Jesus indica a no-violncia como o antdoto para a violncia exercida contra ns. O revide e a vingana nos coloca no mesmo nvel dos agressores. O Mahatma Gandhi demonstrou como a no-violncia extrapola o individual e se torna vitoriosa, quando aplicada aos movimentos polticos e sociais, promovendo revolues em clima de harmonia e paz. Ela muda completamente as teorias do marxismo, mostrando que se pode transformar as estruturas scio-econmicas pacificamente. Ser prefervel sofrer uma perda, do que manter um conflito cujas conseqncias podem se desdobrar por inmeras vidas. Jesus deu o exemplo

quando, 1 defrontado por uma acusao injusta - o que lhe dava pleno direito de se defender, apelando para as normas legais ante o procurador romano -, preferiu sofrer a pena inqua, a contender pela manuteno da existncia ffsica. 1 ** Ler ESE, cap. XII. CARIDADE E DESPRENDIMENTO - 42 - D ao que te implora, e no voltes as costas ao que quiser que lhe emprestes. Aitount, ait, significa pedir para si, implorar, pedir, rogar. Optamos por implorar, pois o texto aponta para a caridade da esmola. Sou dansasthai, tomar emprestado para si (dinheiro). Aluso, provavelmente, a agiotagem que, embora condenada pela le na atualidade. 69 A caridade representa a materializao do sentimento fraterno, devendo ser exercida em qualquer circunstncia, desde a simples esmola at os atos mais nobres. O desprendimento significa abdicao dos grilhes da posse. Alm do mais, ela atua decisivame como exemplo leia-se NFL, cap. 21, e captulo 13 da l5Epstola de Paulo aos Corntios. Jesus tambm, neste versculo, condena a prtica da usura, indiretamente. No pode o Esprita se aproveitar da necessidade alheia para auferir lucro, emprestando a juros. E uma pratica imoral, um roubo, pois o agiota se aproveita da dificuldade, ou irresponsabilidade, para roubar o infeliz que lhe caia nas garras. O Espfrita tem obrigao de socorrer quem esteja em necessidade real, mesmo que possa no receber de volta o emprstimo. ** Ler ESE, cap. XII. AMOR E DIO - 43 - Ouvistes o que foi dito: Amars o teu prximo e odiars o teu inimigo. Misseis tem como sentido odiar, detestar. Pleson significa prximos, como parentes ou amigos. - 44 - Eu, todavia, vos digo: Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. - 45 - A fim de que vos tomeis filhos do vosso Pai, que est nos cus; pois ele faz nascer o seu sol sobre bons e 70 maus, e chover sobre justos e injustos. Tou en ouranois, nos cus, nas dimenses espirituais superiores. A orao pelos que nos perseguem tem a vantagem de nos colocar numa posio vibratria superior deles. Acontecendo isto, suas vibraes negativas no podero nos atingir e, em conseqncia, retomaro fonte emissora. Paralelamente a isto, um ato de perdo, o qual igualmente nos livra de uma interao causal com os nosso adversrios. E, finalmente, significa uma submisso Lei do Amor, que estabelece a necessidade da harmonia entre todos os seres. - 46 - Pois, se amardes aos que vos amam, qual a vossa recompensa? no fazem assim os coletores de impostos? Telounai,, em grego: coletor de impostos, publicano. Apesar de publicano ser -.um termo consagrado pelo uso, optamos por coletor de impostos, por ser mais explcito. Os romanos recolhiam impostos de dois tipos: o fiscus - imposto de natureza fundiria, pessoal, ou de rendimento -, recolhido ao tesouro imperial. Este era aplicado na Judia, por ser uma provncia imperial. E o Aerarium, imposto recolhido ao caixa do Senado, por ser recolhido nas provncias senatoriais. Estes impostos eram cobrados por delegados estveis, com a proteo das autoridades locais. Os impostos alfandegrios, de peagem, de aluguis de

locais pblicos - como mercados, denominados gabelas, eram empreitados a ricos concessionrios, os publicanos, que pagavam ao procurador uma soma previamente estipulada, e se ressarciam arrecadando uma parte a mais para si. Seus empregado eram chamados exactores ou 1 1 1 1 71 portiores. O sistema ensejava extorses perversas. ** Ver ESE, Introduo, LII - Notcias Histricas, VL, cap. 41 e FV, cap. %. - 47 - E se saudardes apenas aos vossos irmos, que fazeis demais? no fazem assim os no judeus? Ethnikoi tem o sentido de no judeu, o que se convencionou chamar gentio. Jesus pe o amor incondicional como norma de vida. Se Deus nos ama, apesar de nossa renitncia no mal, no se justifica qualquer atitude discriminatria de nossa parte, face aos nossos irmos em humanidade. At o simples ato de saudar algum no deve restringir-se retribuio, pois a excluso de qualquer um significaria um ato antifratemo. No podemos esquecer que o Evangelho do Cristo um convite permanente ao rompimento com as estruturas psicolgicas vigentes na Terra. Se as nossas aes no diferirem das reinantes na sociedade, em nada teremos mudado e estaremos no mesmo plano comportamental da maioria. Jesus recomenda, em vrias oportunidades, que devemos nos diferenar do padro de relacionamento indi-vidual e social que impera na humanidade, agindo de acordo com os mais altos ditames morais que a nossa evoluo nos permita alcanar, e buscando superar, com esforo, este nvel, numa busca constante de aprimoramento espiritual. ** Ler VL, cap. 60. - 48 - Sede perfeitos, portanto, como o vosso Pai celestial perfeito. 72 DJALMA MOflA ARGOLLO Tleii, tleis, tem o significado de maduro, perfeito, plenamente desenvolvido. A perfeio, resultante do pleno desenvolvimento intelectual e moral, meta a ser perseguida tenaz e perseverantemente. Quando Jesus pe Deus como modelo a ser imitado, est a nos convidar a um progresso contnuo e infinito, pois, como adverte o LE, entre o Criador e a criatura existe uma distncia impossvel de transpor, mas, proporo que evolumos, o nosso conhecimento da divindade cresce, igualmente. Vale ressaltar que a busca da perfeiao nao implica perfeccionismo, o qual significa um desvio psquico 1 que deve ser evitado, ou corrigido, pois , alm de preju-dicial, profundamente antiptico e gerador de dissenses e atritos. 1 ** Ler LE, questes 86 a 889 e ESE, cap. XII. 1 CONDUTA CRISTA AES NOBRES E CARIDADE 6. - 1 - Tende cuidado de no praticar vossas aes caridosas diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outro modo no tereis vossa recompensa da parte de vosso Pai, que est nos cus. Aqui, preferimos para dikaiosynen (ver comentrio ao cap. 5, vers. 6) a traduo de aes caridosas, pois o contexto assim o indica. Giuseppe Ricciotti, cnego de So Joo de Latro e autoridade em Histria do Oriente Prximo, diz o seguinte sobre a tr que significava justia mas, no tempo de Jesus, tambm, esmola, que era uma obra prpria do justo. Contudo, neste passo, tem um sentido mais amplo, e refere-se genericamente boa-obra(sic), ao passo que a esmola e nomeada especificamente no versculo seguinte (VC, pag 349). Nos cus, ver comentrio ao cap. 5, vers. 12. - 2 - Quando, pois, praticares teu ato de caridade, no faas tocar

trombeta diante de ti; como fazem os hipcritas nas 74 DIALMA MOrrA ARGOLLO sinagogas e nas ruas, a fim de serem prestigiados pelos homens. Em verdade vos digo que eles j foram recompensados. - 3 - Ao praticares portanto o teu ato de caridade, no saiba a tua esquerda o que faz a tua direita, - 4 - para que o teu ato caridoso fique em segredo, e teu Pai, que v o que secreto, te recompensar. Ato de Caridade, ver explicao supra. Jesus ressalta a necessidade da ao caridosa ser atitude ntima e natural do indivduo. A ostentao implica hipocrisia, estando a recompensa no aplauso buscado e extinguindo-se aps ter sido este conseguido. ** Ler ESE, cap. XIII. -4 ORAO - 5 - E quando orardes, no faais como os hipcritas, os quais gostam de orar em p nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para que os homens os vejam. Em verdade, em verdade vos digo que j receberam a sua recompensa. - 6 - Tu, todavia, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que est oculto; e teu Pai, que v o secreto, te recompensar. Tamein tinha como significado a dispensa da casa, qual s o ainiiiistraor nim auessti, witqLti ki u!I. no interior da casa. Utilizamos quarto por ser mais entendvel, 1 1 1 O SERMO Do MONTE 75 em nosso tempo. A orao um ato de ligao do ser com as foras sublimes da existncia. Requer, pois, intimidade e silncio, para que a concentrao se faa mais fcil. Qualquer ostentao tem a finalidade do elogio fcil, do reconhecimento gratuito, atingido este objetivo o ostentador j est devidamente satisfeito, tendo, assim, dispensado o auxilio superior que a prece faculta. A orao o vnculo entre o Criador e a criatura, O indivduo que ora, abre os canais inter-dimensionajs que o relacionam com as foras bsicas da criao. Experincias de laboratrio, com o uso de eletroencefalgrafos e outros recursos para medir a tenso eltrica do crebro, em pessoas concentradas em prece, meditao, xtase, etc., levaram descoberta do estado alfa, que um estado especfico para situaes mentais de cunho religioso. A prece pode ser classificada em trs tipos, de acordo com o seu contedo: a) para louvar, b) para pedir e, c) para agradecer. Pela conjugao destes, se estruturam as diversas formas de orao existentes, O Pai Nosso representa a prece tpica, completa, pois reune, harmoniosamente, as trs condies citadas. O cristo tem na prece o instrumento bsico para sua ao na vida. A orao deve se tomar um hbito to arraigado, que termine por se transformar em atitude habitual de nossa mente. Todo e qualquer ato da vida, deve estar envolvido nas vibraes suaves e poderosas da Prece. - 7 - E, ao orar, no utilizeis de repeties sem sentido, como um no judeu, pois pensam que por muito falar sero ouvidos. 76 DJALMA MorrA ARGOLLO Sobre no judeu, ver nota ao cap. 5, versculo 47. Battalogusete significa gagueira, repeties sem sentido. - 8 - No imiteis, pois, a eles, porque vosso Pai sabe o de que necessitais, antes de lho pedirdes. O fato de Deus saber nossas necessidades no nos exime do ato de rogar auxilio. Este significa, acima de tudo, uma atitude de humildade. Todo aquele que se louva neste versculo para no pedir amparo e socorro em

suas dificuldades, demonstra um alto n adivinhar e atender suas necessidades. O que Jesus ressalta o fato de no serem necessrias longas preces, ou frmulas cabalsticas, para que Deus nos atenda. Hoje vemos se espalhar o hbito das oraes em outras lnguas, como o japons e o snscrito, que so repetidas como axiomas mgicos que, pela simples recitao peridica produz a satisfao de desejos. Nada mais falso. Se, na maioria dos casos, os que isto praticam tm dificuldades com o nosso vernculo, imagine-se as que tero para pronunciar frases e sentenas em lnguas completamente estranhas nossa tradio. Como tal repetio mecnica, sem nenhum sentido mental produzido pela pronncia, poderia produzir um efeito positivo em ns ou em nossas vidas? Esses ritos esto, na sua quase totalidade, vinculados a processos de extorquir dinheiro dos ignorantes e baldos de senso, idealizados por mentes corruptas e gananciosas do nosso, e de outros pases. No entra nessa linha de cogitao o mantra hind, que uma teoria e prtica do som, com objetivos psquicos. Ele requer um conhecimento do significado da palavra ou 1 1 1 O SERMO DO MONTE 77 frase pronunciada, para que possa ser acompanhada com intensidade pela mente em concentrao e pela emotividade que se exacerba, dinamizada pelo contedo afetivo que ela possui e transmite. No cristianismo o mantra tem sido utilizado, de forma empfrica do nome de Jesus - 9 - Portanto, orai dessa maneira: Pai nosso que ests nos cus, venerado seja o teu nome; Nos cus, ver comentrio ao cap. 5, vers. 12. Aguiasthth tem como significados: santificado, consagrado, purificado, venerado, honrado. Optamos por venerado, pois o nome de Deus j santificado em si mesmo. ** Ler FV, cap. 77 e cap. 164. -10-Venha o teu reino; faa-se tua vontade na Terra, assim como no ceu. Ev ourani, no cu, no conjunto do Mundo Espiritual. - 11 - O po nosso, necessrio existncia, d-nos hoje; Epiosion tem seu significado como motivo de disputa entre os crticos: diariamente, necessrio para a existncia, para o dia seguinte, para o futuro, para o dia corrente. Preferimos necessrio existncia, por ser mais conforme, ao nosso ver, aos e vida. 78 DJALMA MOrrA ARGOLLO - 12 - E perdoa as nossas dvidas, assim como temos perdoado aos nossos devedores; 13 - E no nos deixes entrar em tentao, mas livra-nos do mal. A afirmao: Porque teu o reino, o poder e a glria, para sempre. Assim seja, um acrscimo posterior, concluso da imensa maioria dos pesquisadores atuais, pois no consta dos documentos mais antigos. Lemos no cap. XXVIII de O Evangelho segundo o Espiritismo, no sub cap. Preces Gerais: Os Espfritos recomendaram colocar a Orao Dominical no incio desta coletnea, no apenas como prece, mais como um smbolo. De todas as preces, aquela que eles colocam no primeiro plano, seja porque tem origem no prprio Jesus (Mt 6, 9-13), seja porque pode substituir a todas, segundo o sentido que se lhe atribua; o nais perfeito modelo de conciso, verdadeira obra prima de sublimidade, em sua simplicidade. Com efeito, sob forma a mais concisa, ela resume todos os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o prximo; ela contm uma profisso de f, um ato de adorao e de submisso; a solicitao das coisas necessrias vida, e o princpio da caridade. Todavia, em razo mesmo de sua brevidade, o sentido profundo, oculto nas poucas palavras que a compem, escapa maioria;

eis porque dita, geralmente, sem que se dirija o pensamento sobre a aplicao de cada uma de suas partes. recitada como uma frmula, cuja eficcia proporcional ao nmero de vezes que repetida; o qual , quase sempre, uma quantidade cabalstica: trs, sete ou nove, tirada de antiga crena supersticiosa sobre a virtude dos nmeros, e em uso 1 1 1 nas operaes mgicas. ** Ler VL, cap. 57. - 14 - Porque se perdoardes aos homens suas ofensas, igualmente vos perdoar vosso Pai celestial. ** ler FV, cap. 135. - 15 - Se, contudo, no perdoardes aos homens, da mesma forma vosso Pai no poder perdoar vossas ofensas. Joachim Jeremias, op. cit., diz o seguinte, sobre a traduo deste vers.: Se no perdoardes aos homens, tambm vosso Pai celeste no pode (assim se deve traduzir aqui o imperfeito aramaico original) vos perdoar. Acolhemos esta traduo, em vez da tra nao perdoar vossas ofensas. O problema do perdo est vinculado a uma lgica natural: como eu posso querer receber perdo, ser tratado com bondade, ser tolerado em meus momentos infelizes, se no procedo assim com os outros? A traduo de Joachim Jeremias ressalta um fator decisivo: se no relevamos as aes infelizes dos nossos irmos, para conosco, Deus fica, tambm, impossibilitado de exercer a misericrdia em nosso favor, deixando-nos entregue ao rigor automtico da Justia, ou seja da Lei de Causa e Efeito. A diferena entre a traduo ortodoxa e a de Jeremias, que aquela coloca o no perdo como um ato volitivo de Deus. ** ESE, caps. X, XXVII e XXVIII, E.T.C, cap. 1, MM, cap. XXV O SERMO DO MONTE 79 80 DIALMA MOTtA ARGOLLO JEJUM - 16 - Quando jejuardes, no vos mostreis como os hipcritas, porque desfiguram seus que os homens vejam que esto jejuando. Em digo que j foram recompensados. contristados rostos, para verdade vos O exibicionismo piedoso esgota-se no prprio ato da exibio. - 17 - Tu, porm, quando jejuares, unge a tua cabea e lava o teu rosto. - 18 - Para no parecer aos homens que ests jejuando, mas sim a teu Pai, que est oculto. E teu Pai, que v o secreto, te recompensar. O Judeu usava o jejum como penitncia, uma forma de conseguir o perdo de Deus. A Doutrina Esprita no adota a mortificao como meio de expungir a conscincia. A melhor forma de conseguirmos a paz interior o cultivo de atitudes corretas e da carida que exerccios espirituais so salutares. A escolha de dias e horrios para o cultivo de emoes elevadas produz resultados positivos. A busca de um contato mais estreito e profundo com os planos superiores da Vida, um mergulho nas regies mais puras do nosso ser, repetido periodicamente, cria reflexos permanentes de espiritualidade. ** Ler LE, questes 720 a 727 e ESE, cap. V. 9 1 1 O SERMO Do MONTE 81 O PROBLEMA DA POSSE - 19 - No acumuleis, para vs, tesouros na Terra, onde a traa e a ferrugem os corri e onde os ladres arrombam e roubam. Dioryssousin, significa furar a parede, entrar a fora, penetrar cavando. - 20 - Ajuntai para vs, todavia, tesouros no cu, onde nem a traa nem a ferrugem os corri, e onde os ladres no arrombam nem roubam. No cu, ver comentrio ao vers. 10 supra. ** Ler FV, cap. 177 e PN, cap. 156.

- 21 - Porque, onde estiver o teu tesouro, a estar tambm o teu corao. Scrates e Plato j acentuavam a necessidade do homem cultivar a virtude e se preocupar com os problemas mais nobres da existncia, pois assim alcanar um progressivo grau de espiritualizao, libertando-se, dos laos da matria. A peocupao desmed das percepes mais sutis, terminando por gerar angstia e frustrao, pois o hedonismo atua sobre o sistema nervoso e o psiquismo da mesma forma que as drogas viciantes, exigindo, por efeito cumulativo, sempre um maior grau de satisfao, terminando por