43
Centro de Estudos da União Europeia (CEUNEUROP) Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Av. Dias da Silva, 165-3004-512 COIMBRA – PORTUGAL e-mail: [email protected] website: www4.fe.uc.pt/ceue Alfredo Marques e Ana Abrunhosa DO MODELO LINEAR DE INOVAÇÃO À ABORDAGEM SISTÉMICA Aspectos teóricos e de política económica DOCUMENTO DE TRABALHO/DISCUSSION PAPER (JUNE) 33 Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma ou processo, electrónico, mecânico ou fotográfico, incluindo fotocópia, xerocópia ou gravação, sem autorização PRÉVIA. COIMBRA 2005 Impresso na Secção de Textos da FEUC 1

DOCUMENTO DE TRABALHO/DISCUSSION PAPER (J 33 · conhecimento da fase de aplicação comercial), ... Numa última etapa (ponto 5) procuraremos tirar as ilações de cada um destes

  • Upload
    lyminh

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Centro de Estudos da União Europeia (CEUNEUROP) Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Av. Dias da Silva, 165-3004-512 COIMBRA – PORTUGAL e-mail: [email protected] website: www4.fe.uc.pt/ceue

Alfredo Marques e Ana Abrunhosa

DO MODELO LINEAR DE INOVAÇÃO À ABORDAGEM SISTÉMICA Aspectos teóricos e de política económica

DOCUMENTO DE TRABALHO/DISCUSSION PAPER (JUNE) Nº 33

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma ou processo, electrónico, mecânico ou fotográfico, incluindo fotocópia, xerocópia ou gravação, sem autorização PRÉVIA.

COIMBRA — 2005

Impresso na Secção de Textos da FEUC

1

From the linear model to the innovation systems approach

- Theoretical and economic policy aspects –

Alfredo Marques and Ana Abrunhosa

Faculty of Economics, University of Coimbra

[email protected]

Over the last two decades there have been important developments in theoretical

analysis of technological innovation, as well as in public policies directed to this field in

OECD countries. A particularly remarkable feature of this evolution is the growing

influence of innovation theory over innovation policy, or to put it in other words the

increasing dependence of the latter on the former.

After the World War II, the technological innovation process was viewed through a

linear model in which technology was assumed to start with basic research and move to

applied research, invention, commercial market testing, and finally to diffusion.

Innovation appears in this context as the result of a process made up of different and

independent stages that take place in a sequential, hierarchical and one-way order.

Within this model, usually adopted by neoclassical authors, there is a problem with

R&D efforts made by private companies. Since it is not possible to protect the results of

R&D activity completely by means of property rights (patents) there is a case for public

support to knowledge production, in order to compensate for this lack of

appropriability, either through subsidies or tax exemptions, or trough own production in

public organisations such as universities. Compensation for this market failure

(externalities) is at the same time the unique role for innovation policy.

However, recent contributions coming from structuralist-evolutionary theories show

that technological innovation is a much more complex process. These theories identify

four core elements (stylised facts) in innovative activity: 1- Innovation is a two-way

process where there are feedback loops and interaction among the distinct stages; 2 –

The innovative activity has a systemic nature and depends on the participation of

different and interdependent kinds of agents: firms, education and science organisations,

2

interface agents, etc.; 3 – The positioning of a firm in innovative networks is crucial for

its performance; 4 –There are systemic differences between countries and regions in

terms of organisational forms and social context, that is to say national systems of

innovation do different things and do them differently.

This new theoretical approach to innovation activity is a useful guide to innovation

policy in two ways. First, it identifies a much larger set of spillovers (market failures)

than neoclassical theory. Second, it shows that there is no optimal policy with respect to

technological change because there is not a unique optimal allocation of resources in the

economy. Public intervention becomes consequently more complex but also, at the

same time, more realistic.

The aim of this paper is to explore these new theoretical developments and their

implications in innovation policy.

Keywords: technological innovation, innovation policy.

JEL Classification: O3.

3

DO MODELO LINEAR DE INOVAÇÃO À ABORDAGEM SISTÉMICA

Aspectos teóricos e de política económica

Introdução

Desde a Revolução Industrial que as inovações no domínio tecnológico e no

campo organizacional têm conduzido a uma melhoria sem precedentes dos níveis de

vida e de bem-estar social, embora muitos países e muitas pessoas tenham sido

excluídos dos seus benefícios. No contexto económico actual, a inovação, ou seja, a

capacidade de criar e/ou aplicar novo conhecimento ou de recombinar conhecimento

existente, assume, contudo, uma importância especialmente elevada para o

desenvolvimento económico, pois constitui o motor do crescimento da produtividade,

no qual assenta o crescimento económico sustentado. Ao mesmo tempo, essa

capacidade revela-se essencial para assegurar a competitividade das empresas, dos

países e das regiões.

O que mudou, contudo, na economia e na sociedade contemporâneas para

falarmos de uma «nova economia» ou de uma «economia baseada no conhecimento»?

A este propósito, ainda há poucos anos atrás, Conceição et al. (1998a: 143) escreviam:

«a ideia das economias baseadas no conhecimento é ainda um conceito, mais do que

uma realidade caracterizável». Contudo, a transição para esta forma de economia tem-se

realizado a um ritmo acelerado, tornando os seus contornos cada vez mais claros.

Segundo Rodrigues (2002: 2-3; 2003: 23-24), o que caracteriza a economia baseda no

conhecimento, em síntese, é um novo modo de criação, difusão e utilização do

conhecimento, assente em três pilares principais: um processo de aceleração gerado

pelas TIC (tecnologias da informação e da comunicação); processos de codificação, de

aprendizagem e de gestão do conhecimento cada vez mais sofisticados; e a percepção

social do conhecimento enquanto activo estratégico das empresas, das nações e das

pessoas.

Atendendo a que o conhecimento não é um input económico como o capital

físico ou o trabalho, os indicadores económicos tradicionais só muito indirectamente

permitem avaliar a sua importância para o crescimento económico. Além disso,

enquanto output, o conhecimento é um bem económico com características particulares,

4

que dificultam a sua transacção no mercado e, consequentemente, a sua valorização em

termos monetários. Apesar de o mercado ter um papel crescente na afectação dos

recursos tecnológicos, através da transacção de direitos de patentes e dos contratos de

licença, não existe um mercado pleno do conhecimento e das inovações. Uma das

dificuldades com que se depara a compra de conhecimento/inovação encontra-se no

facto de, por definição, a informação sobre as características do que está a ser

transaccionado estar assimetricamente distribuída entre o vendedor e o comprador. Esta

assimetria implica que um comprador potencial dificilmente pode avaliar o valor duma

inovação sem conhecer o respectivo conteúdo. Ora uma vez conhecido esse conteúdo, o

comprador deixa de ter razões para pagar o acesso a esse conhecimento, pois este último

(pelo menos na sua forma codificada) apresenta a propriedade de não rivalidade na

utilização. Só a existência de um mercado onde as inovações fossem na sua totalidade

transaccionadas antes de serem incorporadas na produção de outros bens, poderia,

assim, permitir-nos saber qual a contribuição exacta da tecnologia para o valor final de

cada bem (Guellec, 1999).

Apesar destas limitações, existe a percepção generalizada de que o stock de

conhecimento tem tido um crescimento sem precedentes. Tal convicção deve-se não só

ao facto de vivermos um tempo de mudanças aceleradas, onde o ritmo de ocorrência de

inovações é elevado (diminuição do tempo que separa a fase de produção do

conhecimento da fase de aplicação comercial), mas também ao surgimento simultâneo

de um elevado número de inovações. Além disso, o conhecimento é cada vez mais

acessível, pois dissemina-se mais rápida e amplamente do que antes. Esta mudança nas

condições de produção e de distribuição do conhecimento deve-se, em grande medida,

aos rápidos avanços nas tecnologias da informação e da comunicação (Foray e

Lundvall, 1996: 14). Por outro lado, têm-se verificado fortes reduções nos custos da

codificação, da difusão e do processamento da informação (Foray, 2000).

No plano teórico, a concepção de inovação tem repousado, desde o início da

segunda metade do século XX, em modelos muito diferentes entre si. Propomo-nos

neste trabalho revisitar esses modelos, procurando compreender como explicam o

processo de inovação e que papel reservam para a intervenção dos poderes públicos

nesse processo. Esta última preocupação resulta da constatação de que a política de

inovação ocupa, nos países avançados, um lugar de relevo crescente entre as políticas

públicas, tornando, assim, necessário discutir os seus fundamentos teóricos.

5

Para o desenvolvimento do tema, começaremos (ponto 1) por uma breve

incursão no conceito de inovação, descrevendo a evolução que o conceito sofreu ao

longo do tempo. Nos três pontos seguintes, abordaremos, sucintamente, os modelos

linear (ponto 2), interactivo (ponto 3) e sistémico (ponto 4). Numa última etapa (ponto

5) procuraremos tirar as ilações de cada um destes modelos quanto ao papel dos poderes

públicos no processo de inovação.

1. O conceito de Inovação

1.1. A evolução do conceito

O conceito de inovação tem-se alterado ao longo do tempo, a par da evolução da

própria concepção da inovação. Assim, a ênfase que inicialmente se dava ao acto

inovador isolado, realizado pelo inventor individual ou pela grande empresa, deslocou-

se para os mecanismos sociais complexos subjacentes à produção de novos produtos e à

introdução de novos processos de produção. Deste modo, passaram a utilizar-se as

expressões “processos de inovação” ou “actividades de inovação” para indicar que as

distinções tradicionais entre descoberta, invenção, inovação e difusão deixaram de fazer

sentido.

Até à década de 70, considerava-se que o conhecimento que permitia as

inovações tecnológicas era gerado externamente à economia. Segundo Caraça (1993:

78), a «tecnologia caía do Céu (ou […] emergia do Inferno, consoante o caso)»,

originava invenções que, posteriormente, entravam no sistema económico, dando lugar

a uma inovação.

É a esta luz que surgem os conceitos clássicos de invenção, inovação e difusão

descritos por Schumpeter (1951: 88-89) e inspiradores dos modelos lineares de

inovação. Na concepção Schumpeteriana, distingue-se claramente a invenção da

inovação, estando a difusão implícita nesta última. A inovação é concebida, neste

quadro, como uma nova combinação de conhecimento e competências existentes,

podendo assumir diversas formas: inovação de produto, de processo, inovação

organizacional, acesso a novos mercados e descoberta de novas fontes de matérias-

primas. Contudo, foram as duas primeiras modalidades que mais retiveram a atenção

dos investigadores, falando-se neste caso de inovação tecnológica. Para Schumpeter, a

6

inovação, em qualquer uma das suas formas, era resultante da actividade criativa do

“empresário heróico” e era promovida pela grande empresa.

Uma invenção, por sua vez, é uma ideia, um esboço ou um modelo para um

produto, um processo ou um sistema novo ou melhorado. Mesmo que patenteada, a

invenção pode não conduzir necessariamente à inovação. Pode mesmo afirmar-se que,

na maior parte dos casos, não conduz (Freeman e Soete, 1997: 6). Ela é apenas um acto

de criação de novo conhecimento.

Uma inovação, por sua vez, permite a aplicação económica e social da invenção,

traduzindo-se pela incorporação de novo conhecimento em novos processos ou

produtos. A inovação converte, deste modo, em realidade aquilo que na invenção se

mantinha em estado de potência. Com ela, o bem passa de vendável a vendido (Dosi,

1984: 73), pois uma inovação é concretizada apenas com a primeira transacção

comercial, isto é, com a chegada ao mercado do novo produto ou do novo processo de

produção (Freeman e Soete, 1997: 6).

A difusão, por seu turno, consiste na introdução e adopção da inovação por

concorrentes ou outros utilizadores.

A partir dos anos 80, passa, contudo, a considerar-se a inovação como um

processo que se desenvolve de forma endógena. O conhecimento subjacente às novas

tecnologias não nasce fora do sistema económico para depois aí penetrar. A inovação

passa a ser o resultado de interacções entre as actividades desenvolvidas dentro da

empresa e de interacções entre esta última e actividades a jusante (ligadas ao mercado) e

a montante (ligadas à criação de conhecimento, aos fornecedores de bens, serviços e

tecnologias). As empresas desempenham, assim, um papel determinante no processo de

inovação, o qual é visto como uma actividade complexa e incerta.

Existe, actualmente, um apreciável consenso entre os estudiosos do tema quanto

ao conceito de inovação. Esta é considerada uma criação com significado económico,

normalmente levada a cabo por empresas e, por vezes, por indivíduos. Podem ser

criações novas, mas o mais frequente é serem novas combinações de elementos de

conhecimento já existentes.

De acordo com Dosi et al. (1988), Lundvall (1992), OECD (1997) e Edquist

(1997), entre outros, as inovações podem classificar-se do seguinte modo:

• Inovação tecnológica: diz respeito ao produto (bens ou serviços), ou ao

processo;

7

• Inovação não tecnológica: diz respeito ao modo de organização, ao mercado

ou a outros elementos ou aspectos inovadores da actividade económica.

Segundo a definição da OECD (1997: 21), «on entend par innovation

technologique de produit la mise au point/commercialisation d’un produit plus

perfomant dans le but de fournir au consommateur des services objectivement nouveaux

ou améliorés. Par innovation technologique de procédé, on entend la mise au

point/adoption de méthodes de production ou de distribution nouvelles ou notablement

améliorées. Elle peut faire intervenir des changement affectant – séparément ou

simultanément – les matériels, les resources humaines ou les méthodes de travail».

As inovações de produto têm, assim, a ver com o que é produzido, isto é, com a

introdução de novos produtos ou com a melhoria de produtos existentes. As inovações

de processo, por sua vez, referem-se ao modo como os bens e serviços são produzidos,

ou seja, verificam-se quando o conhecimento torna possível produzir um maior volume

de produto ou um produto qualitativamente superior a partir de um dado volume de

recursos.

As inovações organizacionais ou administrativas, por seu turno, incluem: a

adopção de técnicas avançadas de gestão (por exemplo, gestão pa qualidade total, gestão

“participativa”, just in time na produção, etc.); novas formas de organização do

trabalho; a modificação das estruturas organizacionais (como, por exemplo, a passagem

de estruturas funcionais para estruturas em rede); a adopção de orientações estratégicas

inteiramente novas ou sensivelmente modificadas. Estas inovações são, frequentemente,

um requisito para que as inovações tecnológicas e as outras formas de inovação tenham

sucesso (OECD, 1997; CEC, 1995).

A capacidade das empresas para “interpretar” o mercado é um dos ingredientes

fundamentais da inovação comercial. Corresponde à possibilidade de identificar os bens

e/ou serviços desejados pelos clientes actuais e potenciais, e a sua evolução futura, bem

como o melhor processo de os fornecer. Esta capacidade permite que as empresas se

adaptem melhor à mudança, respondendo mais adequada e rapidamente às necessidades

do mercado e compreendendo cada vez melhor essas necessidades. São definidas como

inovações comerciais as que respeitam a (Simões, 1997):

• novas formas de relacionamento com os clientes, incluindo nomeadamente:

o fabrico de produtos à medida, isto é, a adaptação dos produtos às

necessidades de clientes específicos (customization);

8

a “resposta rápida”, através de ligações estreitas com os clientes,

recorrendo às tecnologias da informação;

novos sistemas de distribuição;

o lançamento de marcas próprias ou licenciadas1;

• novas formas de promoção comercial (telemarketing, por exemplo);

• novas formas de relacionamento com potenciais concorrentes (alianças

estratégicas), etc.

Para Nelson e Rosenberg (1993), o conceito de inovação inclui não só a primeira

utilização de uma dada tecnologia num dado ponto do sistema económico, mas também

a sua difusão. Ou seja, uma empresa que utiliza pela primeira vez um dado processo

produtivo ou que fabrica pela primeira vez um determinado produto é considerada uma

empresa inovadora, independentemente de o processo ou produto ser ou não novo para

os seus concorrentes e para os utilizadores. Nas suas palavras: «we interpret the term

rather broadly, to encompass the process by which firms master and get into practice

product designs and manufacturing processes that are new to them, whether or not they

are new to the universe, or even to the nation» (ibidem: 4). Também Ernst, Ganiatsos e

Mytelka (1998) e Mytelka e Farinalli (2000) encaram a inovação neste sentido e

sustentam ainda que ela vai para além das actividades de I&D, para incluir melhorias

contínuas na concepção e qualidade dos produtos, mudanças na organização e nas

rotinas de gestão, criatividade no marketing e ainda modificações nos processos de

produção que diminuam os custos, melhorem a eficiência e assegurem o crescimento

sustentado.

Por sua vez, nos Inquéritos Comunitários à Inovação realizados periodicamente

nos países da União Europeia, considera-se empresa inovadora aquela que realizou com

sucesso inovações durante o período em análise. Estas inovações são novidades ou

melhorias pelo menos para a própria empresa (OECD, 1997).

Tendo em conta estes diferentes contributos conceptuais, o conceito de inovação

que adoptaremos neste trabalho refere-se à capacidade de criar e aplicar novo

1 A marca tem relação, ao mesmo tempo, com a inovação comercial e com a inovação tecnológica. A concepção da marca pode constituir, ela própria, uma inovação comercial, no sentido em que é susceptível de reconfigurar a relação entre a empresa e o mercado. Ela torna produtos anónimos em produtos diferenciados, acrescentando-lhes, assim, valor comercial. Além disso, a política de marca pode conduzir a acções de inovação tecnológica, quer no domínio da qualidade, quer no sentido de estimular a liderança, através da ligação, mais ou menos explícita, entre a imagem de marca e o lançamento de novos produtos. Ao estabelecer uma relação com os clientes, diferenciando os produtos da empresa, a marca registada como que gera a obrigação de inovar, de modo a acompanhar a evolução das necessidades e gostos do segmento de mercado a que se dirige.

9

conhecimento ou de recombinar conhecimento já existente, de modo a melhorar a

produtividade e a criar novos produtos, processos, mercados e formas de organização.

1.2. Inovações radicais e inovações incrementais

Podem ocorrer inovações radicais e inovações incrementais. As primeiras,

também chamadas de «primeira ordem», resultam, em geral, de I&D e assumem a

forma de novos produtos e/ou processos, abrindo caminho a novos mercados e criando

novas oportunidades de investimento. Distinguem-se das inovações incrementais, ou de

«segunda ordem», pois estas últimas têm lugar de uma forma contínua em todos os

sectores e, principalmente, nas actividades de produção, de gestão e de consumo, em

resultado de sugestões dos técnicos e dos trabalhadores ligados à produção, dos

técnicos de manutenção, dos gestores, dos utilizadores, etc. As inovações incrementais,

resultam, assim, de processos de learning by doing, learning by using ou learning by

interacting e, embora individualmente não tenham um grande impacto económico,

quando combinadas podem ter uma grande influência sobre os ganhos de produtividade

(Salavisa Lança, 2001: 14).

O processo de learning by doing (Arrow, 1962) é uma forma de aprendizagem

que ocorre durante a actividade de produção, depois da fase de I&D e da concepção do

produto. Esta aprendizagem resulta da repetição de tarefas e da familiarização com o

processo produtivo, as quais permitem o desenvolvimento de competências cada vez

maiores na produção e, assim, a melhoria da produtividade.

O processo de learning by using (Rosenberg, 1982), por sua vez, começa só após

a utilização dos novos bens pelo utilizador final. No caso de novos produtos

constituídos por componentes ou materiais complexos, nomeadamente de bens de

equipamento ou de consumo duradouro, a sua performance real só é conhecida pelo seu

uso continuado, o qual vai permitir melhoramentos materiais no produto, assim como

no modo de utilização e manutenção. Esta forma de aprendizagem não só permite

alterações na utilização dos bens, como permite ainda o aumento da sua vida útil, bem

como a diminuição dos custos de funcionamento/utilização desses bens.

Para além dos dois processos anteriores, a utilização de novos métodos de

produção ou de novos produtos origina ainda um processo de interacção utilizador-

produtor. A importância desta interacção, designada por Lundvall (1985, 1992) por

learning by interacting, conduz à ideia de que o êxito da inovação depende, em grande

10

medida, dos contactos que a empresa estabelece com outras empresas, sejam estas

fontes de informação ou fornecedoras de equipamentos ou componentes, ou utilizadoras

do output inovador. Esta forma de aprendizagem, implicando a cooperação da empresa

com outras empresas, quer na cadeia de valor, quer fora dela, é exterior à empresa, ao

contrário das duas anteriores (learning by doing e learning by using) que se desenrolam

internamente.

A maioria das empresas não realiza inovações radicais; contudo, todas podem

fazer inovações incrementais. Estas últimas, como se acaba de ver, podem resultar da

aprendizagem informal realizada nas actividades quotidianas. Para além disso, as

inovações incrementais também podem ocorrer quando as empresas adoptam e utilizam

novos produtos, novos processos ou novas formas de organização desenvolvidos por

terceiros, que elas adaptam às suas necessidades. Esta segunda forma de inovação

incremental mostra a importância da difusão do conhecimento no processo global de

inovação.

1.3. O processo de difusão

O processo de difusão pode ser descrito como a propagação (por intermédio de

mecanismos de mercado ou outros) de uma inovação desde a fonte onde foi criada até

aos seus utilizadores. Este processo tem uma grande importância na actividade

económica, pois não é o momento do aparecimento de inovações radicais que marca a

emergência de um paradigma técnico-económico2, mas sim a utilização generalizada de

certas tecnologias, produtos ou formas organizacionais radicalmente novas.

A criação da inovação, só por si, pode ter um impacto muito pouco significativo

na economia. De facto, quando se criam novos produtos, novos processos de produção

ou novas formas de organização e de comercialização, a sua importância económica e

social vai depender da sua aceitação pelos potenciais utilizadores e do maior ou menor

grau em que é imitado pelos concorrentes. Tal significa que só à medida que a inovação

é introduzida e aceite na economia é que se farão sentir os respectivos benefícios. Por

outras palavras, só à medida que há difusão e adopção generalizada da inovação é que

se fazem sentir as suas consequências no sistema económico.

2 Um paradigma técnico-económico, ou melhor, científico-técnico-económico (ou “revolução científica e tecnológica”), define-se como uma situação em que o impacto da inovação tecnológica na economia se reflecte de uma forma particularmente «avassaladora», representando uma ruptura total.

11

A difusão da inovação a partir das empresas inovadoras para as outras empresas

não é, contudo, um simples processo de imitação. Geralmente, a difusão é acompanhada

por inovações incrementais, ou seja, pela introdução de melhorias e modificações nos

produtos, nos processos e nos modelos organizacionais e de comercialização adoptados

pelas empresas receptoras. Estes aperfeiçoamentos são necessários em todas as

empresas e são-lhes proporcionados pela experiência acumulada. O processo de difusão

envolve, por conseguinte, aprendizagem, modificação na organização da produção

existente e, até mesmo, modificações nos produtos, ou seja, a difusão implica inovação

para o utilizador.

A ultrapassagem da visão linear de inovação coloca, deste modo, em evidência a

interacção constante entre emissor e receptor, bem como o facto de as inovações

sofrerem transformações durante a fase de difusão e absorção. Tendo em conta as

interacções que se acabam de descrever, a criação e a difusão de inovações,

consideradas distintas pelo modelo linear, confundem-se agora. Segundo a expressão de

Jacobs (1990), são «deux faces de la même médaille»: a inovação conduz à difusão, a

qual, por sua vez, contribui para o processo global de inovação.

Uma dimensão importante da difusão das inovações diz respeito à capacidade de

absorção, por parte das empresas receptoras, do conhecimento gerado externamente

(Cohen e Levinthal, 1989, 1990). Entende-se por capacidade de absorção a faculdade de

as empresas reconhecerem o valor do conhecimento externo, para depois o adquirirem,

assimilarem e explorarem, ou seja, lhe darem uma aplicação comercial. A capacidade de

absorção tem, assim, duas faces: o acesso ao conhecimento externo e a utilização desse

conhecimento. O primeiro tem por pré-requisitos a abertura da empresa à partilha de

conhecimentos e o conhecimento prévio nela existente. A sua abertura à partilha de

conhecimento traduz-se na vontade de participação em alianças estratégicas ou de

estabelecimento de acordos de cooperação com outras empresas para o desenvolvimento

de processos de inovação. O conhecimento prévio existente na empresa, por sua vez, é

fundamental, não só para reconhecer e assimilar o conhecimento externo à empresa,

mas também para poder utilizá-o eficientemente. Esse conhecimento prévio inclui

competências básicas e uma linguagem comum, assim como também informação acerca

dos mais recentes desenvolvimentos científicos e tecnológicos. A absorção do

conhecimento externo envolve também, por parte da empresa receptora, a realização de

alguns investimentos, em particular de carácter imaterial (I&D, formação, mudanças

organizativas, etc.).

12

Cohen e Levinthal (1990: 131) consideram ainda que «an organization’s

absorptive capacity will depend on the absorptive capacity of its individual members

[but] a firm’s absorptive capacity is not, however, simply the sum of the apbsorptive

capacities of its employees». Há, por conseguinte, que ter em linha de conta os factores

organizacionais. Por outras palavras, o mero acesso ao conhecimento não é suficiente,

sendo também necessário que esse conhecimento seja transferido (circule) entre os

membros da empresa. Assim, o processo de absorção envolve não só interacções entre a

empresa e o meio envolvente, mas também interacções dentro da organização.

Convém ainda salientar que esta capacidade de absorção é não só importante

para a difusão da inovação, mas também para o próprio processo de criação desta

última, pois qualquer inovação inicial depende já, em parte, de fontes externas de

conhecimento e requer a circulação desse conhecimento a nível interno da empresa

iniciadora da inovação.

2. O Modelo Linear de Inovação

Desde a década de 50 até à década de 80, a reflexão sobre a natureza e as

características do processo de inovação foi dominada por uma visão linear desta

realidade. No quadro deste paradigma, a inovação era entendida como um processo

sequencial e hierárquico, onde se passava, de uma forma sucessiva, como mostra o

esquema abaixo, da investigação fundamental para a investigação aplicada, e desta para

o desenvolvimento do produto e consequente produção e comercialização. Nesta relação

de causalidade partindo da ciência (investigação fundamental) para a tecnologia

(investigação aplicada), esta última é considerada como aplicação de conhecimento

científico previamente disponível. Nesta perspectiva, a investigação científica é

considerada exógena ao mercado 3.

3 A ciência pode entender-se como o conjunto organizado de conhecimentos sobre os mecanismos de causalidade dos factos observáveis, obtido através do estudo empírico dos fenómenos observáveis; a tecnologia, por sua vez, é o conjunto de conhecimentos científicos ou empíricos directamente aplicáveis à produção, à melhoria ou à utilização de bens ou serviços (UNESCO, 1979). As actividades de ciência e de tecnologia subdividem-se em: investigação e desenvolvimento (I&D) e outras actividades científicas e técnicas (OAC&T). Segundo o Manual de Frascati (OECD, 1993), as actividades de I&D englobam os trabalhos criativos prosseguidos de forma sistemática com vista a ampliar o conjunto de conhecimentos, incluindo o conhecimento do homem, da cultura e da sociedade, bem como a utilização desse conjunto de conhecimentos em novas aplicações. A I&D divide-se, do ponto de vista funcional, em três categorias de actividades: investigação fundamental (ou de base), investigação aplicada e desenvolvimento experimental. A maioria dos autores, faz uma clara associação entre, por um lado, ciência e investigação fundamental e, por outro, tecnologia e investigação aplicada e desenvolvimento.

13

No modelo linear, a inovação tem a sua origem, sobretudo, na descoberta

científica resultante de actividades de investigação e desenvolvimento (I&D), as quais

são tipicamente realizadas em instituições públicas de investigação e de ensino superior,

e só de um modo secundário pelas próprias empresas. Embora teoricamente

ultrapassada, esta concepção convencional de inovação, como escreve Godinho (2003),

«na prática […] continua inconscientemente presente em muitos espíritos, senda ela

muitas vezes detectada em medidas e programas direccionados para a C&T e

inovação». A adopção deste conceito linear de inovação poderia, assim, levar-nos a

concluir que elevados investimentos em investigação fundamental reflectir-se-iam

positivamente no crescimento económico. Veremos mais à frente exemplos concretos

da presença desta filosofia na política pública direccionada para a inovação.

Investigação básica/fundamental

Investigação aplicada

Desenvolvimento experimental Comercialização Produção

Descoberta Científica

I&D: invenção Inovação

Figura 1. O Modelo Linear de Inovação

Rosenberg (1982) e Kline e Rosenberg (1986) apresentam uma crítica

sistemática do modelo linear, mostrando que este modelo distorce a realidade do

processo de inovação em diversos aspectos:

a) Considera que o processo de inovação é desencadeado pela investigação

fundamental, ou seja, pela criação de ciência. No entanto, para Kline e Rosenberg

(1986: 288), «the notion that innovation is initiated by research is wrong most of the

time». Não querem com isto os autores dizer que a ciência não seja importante, mas

sustentam que a maioria das inovações surgem da utilização e recombinação do

conhecimento já disponível. Quando este último se revela insuficiente para a resolução

dos problemas que surgem durante o processo de produção/inovação, há, então,

14

necessidade de investigação. É certo que, em certas circunstâncias, a investigação

desencadeia a inovação; contudo, mesmo nestes casos, a inovação tem que passar por

uma fase de projecto e tem que ser conjugada com as necessidades do mercado, para

poder ter sucesso comercial.

b) Ignora o facto de o conhecimento tecnológico preceder frequentemente o

conhecimento científico. Desde sempre, o conhecimento tecnológico permitiu que

muitas actividades produtivas existissem e se desenvolvessem, sem que existisse um

conhecimento científico a sustentá-lo directamente. Isto significa que, ao contrário

daquilo que o modelo linear advoga, a inovação tecnológica acontece mesmo que não

haja uma percepção clara dos princípios científicos básicos subjacentes. A este

propósito, Rosenberg (1982: 143) afirma: «if the human race had been confined to

technologies that were understood in a scientific sense, it would have passed from the

scene long ago». Defende, assim, este autor, que é o progresso da tecnologia que facilita

o desenvolvimento da própria ciência, fazendo com que ela elabore modelos que

sistematizem e apreendam o conhecimento tecnológico existente.

Por outro lado, são muitas vezes os problemas concretos levantados pela

concepção e teste de novos produtos ou novos processos (isto é, a tecnologia) que

geram ciência, ao criarem a necessidade de investigação fundamental para lhes dar

resposta. A este propósito, Rosenberg (1982: 142) refere o exemplo do desenvolvimento

por Pasteur da ciência bacteriológica, o qual surgiu da sua tentativa de resolver os

problemas de fermentação e putrefacção na indústria francesa do vinho. Muitas vezes,

mesmo quando a ciência precede a tecnologia, é a demonstração de que o novo

conhecimento poderá ter aplicação tecnológica com sucesso comercial, que leva a que

se mobilizem os recursos necessários ao desenvolvimento da ciência.

Há ainda uma outra via através da qual a tecnologia influencia a ciência: muito

frequentemente, os avanços da ciência estão dependentes do desenvolvimento de

instrumentos e procedimentos tecnológicos (técnicas de observação, teste, medida,

calibração, etc.).

Em suma, as interacções entre ciência e tecnologia são muito fortes, não

podendo aceitar-se a ideia implícita no modelo linear de que a “technology is merely

applied science” (Kline e Rosenberg, 1986: 287).

c) Não inclui os efeitos de feedback ou retroacção que ocorrem durante o

processo de desenvolvimento da inovação. Mesmo quando esta última é desencadeada

pelo surgimento de novo conhecimento científico, o modelo linear ignora que o próprio

15

avanço científico requer experimentação, desvirtuando, assim, o carácter interactivo do

processo. Também não considera a informação de feedback proveniente das vendas e

dos utilizadores individuais. Ora, esta retroacção constitui uma fonte essencial de

informação, que permite à empresa corrigir erros e responder às expectativas dos

destinatários.

Em suma, o processo de inovação não é unívoco nem hierárquico. A

interactividade é uma das suas características essenciais.

3. O Modelo Interactivo ou Modelo das “Ligações em Cadeia”

Numa outra geração de modelos encara-se a inovação como um processo

complexo de interacções entre os agentes envolvidos nas diferentes etapas do processo

de inovação, e entre estes e as universidades, os laboratórios e o mercado. Nestes

modelos, as actividades de inovação determinam e são determinadas pelo mercado.

O modelo de Kline e Rosenberg (1986) ilustra esta nova concepção da inovação.

Neste modelo existem cinco vias possíveis de inovação (ver Figura 2):

1. A primeira via é a chamada cadeia central de inovação (representada pelas

ligações C). O ponto de partida da inovação encontra-se na detecção de um mercado

potencial para uma invenção (um novo conceito) ou para um projecto analítico

(reorganização de conhecimentos pré-existentes) de um produto, a que se seguem as

fases de desenvolvimento (projecto de detalhe, testes, apuramento dos pormenores,

novo projecto), de produção e de comercialização. Esta cadeia central, em si mesma,

remete para uma visão linear, embora, aqui, a inovação tenha por ponto de partida e de

chegada o mercado.

Quando é detectada uma necessidade de mercado, esta só será satisfeita se os

conhecimentos científicos e tecnológicos existentes lhe puderem dar resposta. Por outro

lado, um novo projecto só será posto em prática se se verificar a existência de um

mercado para essa inovação, ou seja, se a possibilidade de sucesso comercial for real.

Contudo, muitas vezes é a existência de uma nova tecnologia que cria o seu próprio

mercado Deste modo, a inovação é determinada por dois conjuntos distintos de forças

que interagem: as de mercado e as científicas e tecnológicas.

16

INVESTIGAÇÃO

I I I

CONHECIMENTO DISPONÍVEL

KK

Mercado Potencial Mercado Potencial Mercado Potencial

Comercialização

Mercado Potencial

Invenção e/ou realização

de projecto analítico

f f f f

CC C C Projecto de detalhe e

testes

Revisão do projecto e produção

F f

f

D

1 2 1 2 1 2

K

3 4 3 4 3 4

M S

Figura 2. Modelo Interactivo de Inovação (modelo de ligações em cadeia) Legenda: C=cadeia central de inovação; f=efeitos de feedback ou de retroacção entre fase contíguas; F=efeito particularmente importante de retroacção, entre necessidades do mercado e utilizadores e as fases a montante do processo de inovação; D=ligação directa entre a investigação e a fase inicial da invenção/realização do projecto analítico; M=apoio à investigação científica proveniente de instrumentos, máquinas, ferramentas e procedimentos da tecnologia; S=apoio à investigação científica através de programas públicos de investigação, que pretendem responder às necessidades da sociedade/mercado; K-I= ligações entre conhecimento (K) e investigação (I) nos dois sentidos. Fonte: Kline e Rosenberg, 1986: 290.

2. Entre todas as fases desta cadeia central podem verificar-se efeitos de

feedback ou retroacção (ligações f e F). Esta é a segunda via de inovação. Estes efeitos

implicam a interligação entre as actividades de especificação do produto e de

desenvolvimento e os processos de produção e de comercialização.

3. A terceira via de inovação resulta das múltiplas ligações entre a cadeia central,

C, os domínios do conhecimento acumulado ao longo do tempo, K, e a investigação ou

conhecimento novo, I. Em geral, a empresa inova utilizando os conhecimentos

acumulados ao longo do tempo (ligações 1 e 2). Quando se verifica um problema no

processo de inovação, recorre-se primeiro ao stock de conhecimento disponível (ligação

1). Se, mesmo assim, o problema não se resolve, como frequentemente acontece,

recorre-se à investigação (ligação 3). Contudo, pode ser mais difícil obter uma solução

através da investigação do que utilizando o stock de conhecimento existente. Deste

modo, o retorno da investigação para a aplicação prática é problemático, daí que a

ligação 4 venha a tracejado. Assim, a ligação da ciência à inovação não se faz somente

17

ou preponderantemente no início do processo de inovação, mas ao longo de toda a

cadeia central, à medida das necessidades. Estas ligações ao longo da cadeia central,

entre os elementos desta cadeia e a ciência e o conhecimento disponível, permitiram dar

ao modelo o nome de “modelo de ligações em cadeia”.

4. A quarta via representa o avanço do conhecimento científico na origem das

inovações radicais (ligação D). Estas inovações radicais são raras, mas, quando

ocorrem, provocam, quase sempre, grandes mudanças que, geralmente, se encontram na

origem de novas indústrias. São exemplos recentes de inovações radicais, os

semicondutores, os novos materiais, o laser, a engenharia genética e a biotecnologia.

5. A quinta via (ligação M) representa o feedback dos produtos da inovação

(máquinas, instrumentos e procedimentos tecnológicos) para a ciência.

Com este modelo os autores relativizam também a importância que a

sofisticação tecnológica tem para o sucesso de uma inovação. Neste sentido, dão

exemplos de algumas inovações que foram um sucesso em termos tecnológicos, mas

que acabaram por ser um fracasso em termos comerciais (o Concorde é um desses

exemplos). Referem ainda que outras inovações, apesar de simples em termos

tecnológicos, tiveram um impacto importante na produtividade das empresas, como foi

o caso da contentorização.

Este modelo de ligações em cadeia permite, assim, reavaliar a importância da

ciência e da investigação no processo de inovação, atribuindo às empresas uma posição

central neste processo. Além disso, considera-se aqui que é o projecto e não a

investigação que está na origem da maioria das inovações. Este modelo, por outro lado,

dá ênfase aos efeitos de retroacção entre as fases do modelo linear anteriormente

descrito, bem como às numerosas interacções que a cada etapa do processo de inovação

se estabelecem entre as empresas inovadoras e outras empresas(concorrentes e

fornecedores), ou entre as primeiras e os utilizadores industriais, os consumidores finais

(Von Hippel, 1988) e as organizações do sistema educativo e do sistema científico e

tecnológico4. Considera-se ainda, neste quadro analítico, que as actividades de inovação

influenciam e são influenciadas pelo mercado.

4 O sistema científico e tecnológico (SCT) define-se como o conjunto articulado dos recursos científicos e tecnológicos (recursos humanos, financeiros e de informação) e das actividades organizadas com vista à descoberta, invenção, transferência e fomento da aplicação de conhecimentos científicos e tecnológicos, a fim de se alcançarem os objectivos nacionais no domínio económico e social (UNESCO, 1979). Assim, os SCT são sistemas que geram fundamentamente conhecimentos para o mercado. Os elementos constituintes de um SCT são os laboratórios e institutos do Estado, as unidades de produção de

18

O modelo descrito procura, assim, representar o processo de inovação das

empresas, cuja capacidade de inovação reside nelas próprias. O modo como este

processo se desencadeia e desenrola é, contudo, diverso. Assim, numas empresas, o

impulso da inovação vem das necessidades existentes no mercado, detectadas pelas

áreas de marketing e distribuição. Noutras, o processo de inovação depende sobretudo

do conhecimento acumulado pela via da experiência na área da produção. Noutras

ainda, emerge da área de projectos. Por último, há empresas em que a I&D, gerada

interna ou externamente, é fulcral.

Qualquer modelo que descreva a inovação como um processo simples e únivoco,

ou atribua a sua origem a uma única fonte, distorcerá, deste modo, a realidade. Em

termos de implicações de política de inovação deste modelo, pode sublinhar-se desde já

que esta política, na sua acepção lata, deve integrar várias políticas parcelares (de I&D,

de educação, industrial, etc.) que, no quadro do modelo linear, ou não existem como

políticas de inovação propriamente ditas ou têm uma existência separada. Como referem

Conceição, Heitor, Gibson e Shariq (1988b), a política de inovação inclui aqui um

«policy portfolio».

4. Os Sistemas de Inovação

Existe, actualmente, um amplo consenso entre os estudiosos da inovação no

sentido de considerar a abordagem sistémica das actividades de inovação como uma

representação mais completa e mais apropriada da realidade e como um suporte mais

útil para guiar o decisor político do que o modelo linear de inovação. Esta abordagem

(sistemas de inovação) repousa actualmente em contributos de vários autores, entre os

quais são de realçar: Lundvall (1985), Freeman (1987), Dosi et al. (eds.) (1988) (veja-se

Freeman, 1988; Lundvall, 1988; Nelson, 1988; Pelikan, 1988), Niosi et al. (eds.)

(1993), Nelson (ed.) (1993), Lundvall (ed.) (1992) (veja Lundvall, 1992; Johnson, 1992;

Andersen, 1992; Gelsing, 1992; Gregerson, 1992; Christensen, 1992), Edquist (ed.)

(1997) (veja-se Edquist, 1997; Edquist e Johnson, 1997; Foray, 1997; Saviotti, 1997;

McKelvey, 1997), Edquist (2001b), Lundvall, Johnson, Andersen e Dalum (2002).

conhecimento ligadas ao ensino superior, as instituições privadas sem fins lucrativos com este última vocação, e as empresas.

19

Para Edquist (1997: 14; 2001: 2), os sistemas de inovação (SI) são definidos

como “all important economic, social, political, organizational, institutional, and other

factors that influence the development, diffusion, and use of innovations”. Quanto ao

seu âmbito, estes sistemas podem ser supranacionais, nacionais, regionais, sectoriais ou

sistemas tecnológicos de inovação. O conceito de Sistema Nacional de Inovação (SNI),

em que se centra frequentemente a discussão do tema, refere-se, assim, a uma parte da

realidade dos SI. Será, contudo, em torno desta parte que aqui abordaremos os SI, pois

trata-se, porventura, da dimensão mais representativa destes sistemas.

Desde o seu surgimento, na segunda metade dos anos 80, a abordagem dos SNI

teve uma rápida aceitação, quer no meio académico, quer no meio político. Contudo, a

noção de SNI é, nas palavras de Edquist (1997: 26), «conceptually diffuse». Freeman

(1987), por exemplo, deu originalmente a seguinte definição de um sistema desta

natureza: “network of institutions in the public and private sectors whose activities and

interactions initiate, import, modify and diffuse new technologies”. Lundvall (1992),

por outro lado, define um SNI como “the elements and relationships which interact in

the production, diffusion and use of new, and economically useful knowledge (…) and

are either located within or rooted inside the borders of a nation state”. Metcalfe (1998),

por sua vez, descreve um SNI como “that set of distinct institutions which jointly and

individually contribute to the development and diffusion of new technologies and which

provides the framework within which governments form and implement policies to

influence the innovation process. As such it is a system of interconnect institutions to

create, store and transfer the knowledge, skills and artifacts which define new

technologies”.

A distinção entre organizações e instituições nem sempre é muito clara nos

diversos estudos sobre inovação. Esta ambiguidade está, aliás, patente nas definições de

SNI acima transcritas. Trata-se, no entanto, de uma distinção importante, para decrever

as principais componentes do SNI. De acordo com Edquist e Johnson (1997: 47),

considera-se que «organizations are formal structures with an explicit purpose and they

are consciously created. They are players or actors». São exemplos de organizações as

empresas, as universidades, as sociedades de capital de risco e as agências públicas

(Edquist, 2001: 5).

Por outro lado, e ainda de acordo com Edquist e Johnson (1997: 46), as

instituições são “sets of common habits, routines, established practices, rules, or laws

that regulate the relations and interactions between individuals, groups and

20

organisations”. Assim, as instituições são regras do jogo (North, 1990), que regulam os

comportamentos e as relações entre as pessoas, entre grupos de pessoas dentro das

organizações e entre as próprias organizações. Isto significa que os padrões de

interacção numa economia são afectados pelo contexto institucional. Por outro lado, a

própria estrutura económica dos países, como por exemplo a sua composição em termos

de sectores e tecnologias, condiciona o próprio contexto institucional. Assim, o

comportamento dos indivíduos e das organizações e as interacções entre os primeiros e

entre os segundos são influenciados e influenciam, por sua vez, as instituições.

As instituições assim definidas apresentam duas propriedades:

Não são estáticas, isto é, evoluem, o que implica a não existência de um

contexto institucional óptimo.

De acordo com Edquist (2001a: 226), os processos de inovação «have evolutionay

characteristics, that is, the processes are often path-dependent over time and —still—

open ended». Isto significa que há sempre uma elevada incerteza relativamente ao

resultado final de qualquer processo de inovação. Para além disso, a história e a cultura

de um país determinam a performance económica, social e política e, portanto,

influenciam o percurso dos processos de inovação (path dependence). O conhecimento

e a aprendizagem desenvolvem-se cumulativamente, o que implica que os países e as

empresas tenham “trajectórias tecnológicas” específicas (Sharp e Pavitt, 1993). Este

carácter cumulativo implica que a própria capacidade de aprendizagem vai depender

daquilo que já se aprendeu no passado. Assim, esta “herança” de competências e

conhecimentos acaba por limitar o caminho que as empresas e as economias seguem.

Como já se referiu atrás, a maioria das empresas não se envolve em processos de

inovação radicais, antes realizam inovações incrementais quando adoptam e utilizam

inovações desenvolvidas por terceiros. Portanto, estas subsequentes inovações

dependem e complementam a inovação original. Isto implica que as trajectórias

tecnológicas do passado influenciam a direcção das do presente.

É certo que a ocorrência de novas descobertas científicas pode eliminar a

influência da herança tecnológica na performance futura das empresas. Contudo, de

acordo com Rosenberg (1994: 18), «this is, at best, only partially true», pois a

exploração comercial do novo conhecimento científico vai depender das capacidades

tecnológicas existentes na economia. Assim, enfatizando a natureza path-depent dos

processos de inovação e a importância da história para a compreensão das determinantes

e consequências da inovação, Rosenberg (1994: 10) escreve: «[t]he most probable

21

directions for future knowledge can only be understood within the context of the

particular sequence of events, which constitutes the history of the system».

Diferem de país para país, uma vez que dependem do contexto histórico,

social, político, cultural e económico. Como consequência, é difícil transpor

experiências institucionais de um país para o outro.

Estas duas propriedades têm de ser tidas em conta para compreender o processo

de inovação e para a adopção de políticas públicas de apoio à inovação.

Apesar da sua diversidade, há na literatura dos SI três pontos comuns sobre as

dimensões essenciais da inovação:

A interdependência

A maioria das inovações ocorre nas empresas. Contudo, a inovação é um

processo complexo que envolve não só as empresas inovadoras, mas também um

sistema de interacções e interdependências no qual elas estão envolvidas. Estas

interacções verificam-se, antes de mais, ao nível interno nas empresas inovadoras, entre

os seus diversos departamentos, entre colegas de trabalho, entre gestores e

trabalhadores. Verificam-se, igualmente, entre as empresas e a comunidade de

investigação, os fornecedores de bens, serviços e tecnologias, as empresas concorrentes,

os clientes, os consumidores finais, etc. Podem ser apontadas várias razões para o facto

de as empresas cooperarem com outras organizações quando inovam. Muitas vezes, a

inovação depende de alianças estratégicas, mais ou menos formais, que permitem às

empresas complementar o conhecimento que possuem com o conhecimento de outras

organizações. A cooperação é ainda mais importante quando se verifica que as

inovações tendem a ser cada vez mais complexas, envolvendo, por vezes, um conjunto

de tecnologias, conhecimentos e competências existentes noutros sectores. Nestas

situações, as empresas têm de obter o conhecimento e as competências complementares

através de parceiros e têm de coordenar as diferentes actividades que conduzirão ao

produto final. A inovação também envolve sempre um certo grau de risco. Deste modo,

a cooperação com outras organizações poderá permitir que as empresas partilhem este

risco com os seus parceiros.

Em suma, e utilizando as palavras de Andersen, Lundvall and Sorrn-Friese

(2002: 187), «innovation is rooted in processes of interactive learning». A

aprendizagem interactiva é um processo que tem lugar quando os agentes interagem

com outros agentes para criar, desenvolver e trocar conhecimento, informação e outros

22

recursos. Lembremos que esta interdependência/interacção estava já presente no modelo

das ligações em cadeia de Kline e Rosenberg (1986).

O carácter sistémico da inovação

A inovação é não linear e envolve não só interacções entre as organizações, mas

também entre estas e as instituições. A abordagem dos SNI vem realçar sobretudo o

facto de o contexto institucional, a cultura e a história dos países e locais de produção

terem um papel crucial nos processos de inovação. Como já referimos atrás, as

instituições influenciam e moldam a conduta dos indivíduos e organizações, e as

interacções que entre eles se estabelecem. Sendo a inovação um processo interactivo,

estará, por conseguinte, fortemente dependente do contexto institucional. É este

contexto institucional que, muitas vezes, explica o facto de países com estruturas

produtivas semelhantes terem performances inovadoras diferentes.

A estrutura produtiva da economia

A capacidade de um SI fomentar e difundir inovações depende da sua estrutura

produtiva, uma vez que são as empresas que constituem o elemento central de qualquer

sistema de inovação. Esta estrutura condiciona o que é produzido e as vantagens

competitivas do sistema. Como a estrutura económica e o padrão de especialização de

um sistema reflectem processos cumulativos de aprendizagem, eles determinarão, no

futuro, a criação de conhecimento e a aprendizagem e, portanto, a inovação.

Embora se encontrem nesta literatura diversas tipologias de actores do SNI, há

cinco grupos principais que estão geralmente presentes (Simões, 2003):

Empresas;

Entidades de ensino, de formação e de I&D. No contexto português,

correspondem a estas organizações as universidades e institutos politécnicos, o

ensino secundário, as escolas tecnológicas e profissionais, os centros de

formação, as unidades de investigação universitárias, as unidades de interface

(ancoradas na universidade), os laboratórios públicos, etc.;

Organizações de interface e apoio tecnológico: centros tecnológicos, centros de

transferência de tecnologia, parques de ciência e tecnologia, incubadoras,

institutos de novas tecnologias, unidades de apoio empresarial, empresas de

consultoria, associações empresariais e sindicais, etc.;

23

Sistema financeiro: bancos e seguros, mercados financeiros, empresas de capital

de risco, “business angels”, sociedades de investimento, sociedades de garantia

mútua, etc.;

Instituições públicas, a que correspondem, no caso português: Ministério da

Economia, Ministério da Ciência e da Tecnologia, Ministério da Educação,

Ministério da Finanças, agências estatais (IAPMEI, ICEP, OCT, ANCCT—

Ciência Viva, ...), etc.

A abordagem dos SNI mostra também que estes sistemas comunicam uns com

os outros, sendo, assim, sistemas abertos. Esta comunicação é particularmente

importante para as pequenas economias abertas ao exterior, pois permite-lhes absorver

novo conhecimento e novas tecnologias provenientes de sistemas mais avançados.

A Figura 3 ilustra esquematicamente o conceito de SNI.

Contexto Institucional

Contexto Institucional

Subsistema de I&D

Organizações de Interface e Apoio

Tecnológico

Subsistema Financeiro

Subsistema Empresarial

Empresas

Relações Empresariais

Fontes Externas

de Conhecimento

Subsistema Político

Subsistema de Ensino e Formação

Capacidade Nacional de

Inovação

Desempenho dos países em termos de produtividade, competitividade,

emprego e crescimento

Figura 3. O Sistema Nacional de Inovação.

Adaptado de OECD (1999a) e Salavisa (2001).

24

5. O papel do Estado na inovação

5.1. A política de inovação baseada no modelo linear

No âmbito do modelo linear, a questão da necessidade de uma política de

inovação e do seu modo de acção tem de ser equacionada a partir dos postulados gerais

da teoria neoclássica sobre a intervenção do Estado na economia. Neste quadro teórico,

a justificação para uma tal intervenção, seja qual for o domínio e o problema em causa,

encontra-se (só pode encontrar-se) na existência de falhas de mercado, ou seja, de

circunstâncias em que não se atinge a posição de equilíbrio que permite maximizar a

eficiência económica. Há, neste caso, distorções na afectação dos recursos produtivos

que levam a uma situação de suboptimalidade.

De acordo com Stiglitz (1991), podem distinguir-se dois níveis de falhas de

mercado. A um primeiro nível, encontram-se falhas sob a forma de externalidades, bens

públicos e indivisibilidades (estando estas últimas associadas aos monopólios naturais),

as quais, segundo o autor, são pouco frequentes e requerem uma intervenção pública

limitada para serem corrigidas. As falhas do segundo nível, por sua vez, onde se

encontram a informação imperfeita, a concorrência imperfeita e os mercados

incompletos, são omnipresentes e requerem uma intervenção pública sistemática e mais

complexa.

No domínio da inovação, as falhas de mercado mais consensualmente

reconhecidas na literatura de inspiração neoclássica são as relativas a externalidades,

embora nas abordagens mais abrangentes do tema da inovação sejam também referidas

e analisadas outras falhas da tipologia enunciada. Tendo em conta que o nosso

objectivo, neste ponto, é o de identificar as recomendações de política económica típicas

da visão linear/neoclássica do processo de inovação, a fim de contrapô-las, a seguir, às

prescrições do modelo interactivo e da abordagem em termos de SI, limitar-nos-emos

aqui à discussão das implicações das externalidades na política de inovação.

Na sua formulação neoclássica, as externalidades existentes no processo de

inovação, em regra, dizem apenas respeito à tecnologia (progresso técnico), pois este é

praticamente o único domínio do conhecimento considerado relevante para tal processo.

Estas externalidades irradiam da actividade de I&D, pois esta actividade é, por sua vez,

considerada a única fonte de conhecimento tecnológico. Encontram-se surveys muito

completos dos estudos empíricos realizados desde há várias décadas sobre as

25

externalidades geradas pela I&D em Mairesse e Mohnen (1990), Mairesse e Sassenou

(1991) e Griliches (1992). Estes estudos têm, em geral, por leitmotiv a produtividade,

pois, através destas externalidades, umas empresas, ou uns sectores, podem obter

ganhos de produtividade em resultado dos esforços em matéria de inovação realizados

por outras empresas ou noutros sectores.

Nesta literatura encontram-se, por um lado, estudos de caso ao nível da empresa,

do sector ou de tecnologias particulares e, por outro lado, estudos agregados. Entre uns

e outros, o modelo neoclássico privilegia estes últimos, pois, como explica Griliches

(1992) sobre os primeiros, «such case studies suffer from the objection that they are not

“representative”, that they have concentrated on the calculation of social rates of return

or spillovers only for “successful” inventions or fields. They are also much more

difficult to do, requiring usually significant data collection, familiarity with the topic or

event being analysed and expose one, potentially, to criticism by those who actually

know something about the subject». Para além destes inconvenientes dos estudos a nível

microeconómico, a opção por uma abordagem de carácter geral é ainda determinada,

segundo o autor, pela crescente disponibilidade de meios informáticos.

Há, assim, neste conjunto de razões, um misto de restrições de ordem técnica e

de motivações de outra ordem não totalmente convincentes. Em particular, a

necessidade de abstracção e de uma visão sintética do problema a tratar não dispensa o

investigador do conhecimento detalhado dos aspectos concretos desse problema. Por

outro lado, também o argumento dos meios informáticos disponíveis não pode explicar

totalmente a opção pela generalidade, pois este argumento só é aplicável à fase mais

recente dos estudos em questão (no máximo, desde os anos 80), quando, na verdade, a

tendência para condensar toda a realidade do conhecimento tecnológico na função de

produção agregada se encontra nestes estudos desde os anos 605.

No que diz respeito ao modo como tais externalidades ocorrem, como mostram

Griliches (1979), Griliches e Lichtenberg (1984) e Griliches (1992), há dois tipos de

fenómenos distintos a ter em conta a este propósito. O mais frequentemente referido na

literatura é o das externalidades que não se encontram incorporadas em bens ou serviços

particulares. Trata-se aqui de um fenómeno extra-mercado, isto é, com uma natureza

não pecuniária, cuja fonte reside na incompletude dos direitos de propriedade em

5 A formulação neoclássica das externalidades tecnológicas tem por ponto de partida o trabalho de Arrow (1962), no qual o autor propõe um tratamento «endógeno» destas externalidades através da função de produção de Solow.

26

matéria de conhecimento. Grossman (1989) descreve-o nos seguintes termos: «… firms

that have devoted resources to generating new knowledge may be unable to prevent

others from making use of it. In other words, it may be difficult for the originator of

some technological advance to protect his or her property rights, even though patent or

copyright laws have been devised exactly for this purpose».

As externalidades deste tipo, em geral, beneficiam empresas que operam no

mesmo sector da que se encontra na origem da inovação, ou seja, empresas que utilizam

a mesma tecnologia que esta última e que são suas concorrentes. Contudo, em certos

casos, podem também beneficiar empresas de outros sectores, onde a mesma tecnologia

é directa ou indirectamente aplicável. De acordo com McFetridge (1995), há cinco

fontes distintas de spillovers (externalidades) no domínio do conhecimento: a imitação

(geralmente no mesmo sector); as complementaridades ou interdependências existentes

entre diferentes indústrias (ou sectores); a dependência das inovações realizadas no

presente em relação ao stock de conhecimento disponível, isto é, em relação a inovações

do passado; a aprendizagem, a experiência e a incubação (dando esta última azo à

transferência de competências através da mobilidade dos trabalhadores ou à criação de

novas empresas); e, por último, os efeitos de demonstração, onde se encontram

externalidades geradas no processo de difusão.

O segundo fenómeno a ter em conta é o das externalidades que ocorrem através

do sistema de preços, tratando-se aqui, por conseguinte, de um fenómeno imanente ao

mercado. Se o preço de um produto novo ou melhorado não reflectir integralmente

(proporcionalmente) o acréscimo do seu valor de uso para os utilizadores (empresas ou

consumidores finais), há um benefício para estes últimos, em resultado da inovação

introduzida nesse produto pelo seu produtor. Se o produto em causa for um bem

intermédio ou de capital e, por conseguinte, o utilizador for uma empresa, esta última

beneficia de um ganho de produtividade (se não baixar o preço do seu output em

proporção da redução de custo). Encontra-se um bom exemplo deste fenómeno na

queda vertiginosa dos preços, ajustados pela qualidade, dos computadores (hardware e

software) e do material informático periférico, ocorrida desde a introdução destes

produtos na esfera comercial (cf. Bresnahan, 1986; Triplett, 1999; Colecchia and

Schreyer, 2001). Estas externalidades, ao contrário das primeiras, têm, assim, uma

natureza pecuniária e encontram-se incorporadas nos fluxos de bens e serviços entre

diferentes indústrias ou entre produtores e consumidores (veja-se uma explicação

detalhada destas externalidades em Marques, 2003a).

27

Os dois problemas de apropriabilidade referidos (resultantes de direitos de

propriedade incompletos sobre activos intangíveis ou da subavaliação de incrementos de

qualidade dos produtos) levam a admitir que a produção de conhecimento e a inovação

tecnológica ficam, na economia, espontaneamente aquém do nível teoricamente

alcançável (nível óptimo). Admitindo que os poderes públicos estão em condições de

contribuir para a resolução destes problemas (pode haver igualmente falhas a este nível,

que desaconselhem a intervenção pública6), justifica-se a existência de uma política de

inovação.

Como referem McFetridge (1995) e Lipsey e Carlaw (1998), há três meios

principais através dos quais esta política pode actuar. O primeiro é o da adopção de

legislação sobre patentes mais abrangente e mais eficaz, de modo a garantir um maior

retorno para os agentes inventores/inovadores. O segundo é o do apoio financeiro

directo à I&D, através de subsídios ou de benefícios fiscais. O terceiro passa pelos

mercados públicos (encomendas do Estado) de bens ou serviços onde seja incorporada

inovação. A política pública de incentivo à inovação tanto opera, assim, através da

redução dos custos de produção da inovação, em compensação de uma receita potencial

não arrecadada (segundo caso referido), como através da garantia de uma remuneração

mais elevada dessa inovação (nos dois outros casos).

No modelo linear de inovação estabelece-se, contudo, uma distinção entre os

agentes intervenientes em cada etapa do processo inovador. Assim, a investigação de

base (ou fundamental) cabe, essencialmente, às universidades ou aos centros ou

laboratórios públicos, pois assume-se que o conhecimento resultante desta actividade

não tem aplicação comercial directa, pelo que não existe incentivo para os agentes

privados se envolverem na sua realização. Ao mesmo tempo, é difícil definir e aplicar

direitos de propriedade sobre este tipo de conhecimento, pelo que também não seria

possível garantir um retorno mínimo aos investidores. O conhecimento resultante da

investigação de base é, assim, concebido como um bem público puro, o que implica

uma forte subsidiação desta actividade para garantir a sua existência. Encontra-se uma

boa ilustração desta filosofia nas regras europeias aplicáveis aos subsídios à I&D (CEC,

1996), nas quais os subsídios à investigação «fundamental» não são considerados

6 Como sublinha Edquist (2001: 220-222), a existência de um problema não resolvido pelos agentes privados constitui uma condição necessária à intervenção do Estado, mas não uma condição suficiente, pois este só deve intervir se tiver capacidade para resolver o problema em questão ou para contribuir para a sua resolução.

28

«auxílios de Estado», podendo, por isso, atingir níveis muito elevados em percentagem

dos custos elegíveis (até 100%).

Por sua vez, a investigação aplicada e o desenvolvimento do produto são

concebidos, no quadro do modelo linear, como actividades com possível aplicação

comercial directa e em relação a cujos resultados é possível definir e aplicar direitos de

propriedade. Como estes direitos garantem (algum) retorno aos investidores, existe

agora incentivo para as empresas se envolverem nestas actividades, pelo que o papel

reservado aos poderes públicos é muito mais modesto ou inexistente. Esta visão

encontra igualmente reflexo nas regras europeias referidas, pois, em primeiro lugar, os

subsídios (ou outras formas de apoio: benefícios fiscais, bonificações de juros, garantias

públicas em condições favoráveis, etc.) quer à investigação aplicada (aí designada por

«industrial»), quer ao desenvolvimento «pré-concorrencial», já são agora considerados

«auxílios de Estado» (abrangidos pelos artigos 87º e 88º do Tratado CE), encontrando-

se, a este título, sujeitos à disciplina das regras de concorrência definida para estes

auxílios. Em segundo lugar, no âmbito destas regras, há uma vincada diferenciação dos

níveis de auxílio permitidos, por um lado, para a investigação industrial, por outro, para

o desenvolvimento do produto. Assim, para a primeira, o nível máximo de auxílio, em

percentagem dos custos elegíveis, é (em condições ideais de elegibilidade) de 75%,

enquanto para o segundo este nível é de 50%.

Em suma, como escreve McFetridge (1995: 79), «the linear model implies not

only a progression from basic to applied science and then to development and

commercialization but also a progression from direct government support at the early

stages to limited direct support at the later stages». Esta última progressão acaba por ser

um corolário da primeira, tendo em conta a independência presumida de cada fase do

processo de inovação em relação às outras e a separação entre os agentes envolvidos em

cada uma destas fases.

No que diz respeito ao grau de selectividade da política de inovação em termos

de sectores e agentes elegíveis, considera-se, no quadro do modelo linear, que as

medidas de carácter geral (aplicáveis a todos os sectores e todos os agentes) constituem

uma solução de first best, pois, como se viu atrás, assume-se que não é possível ou

desejável tratar as externalidades sector a sector, empresa a empresa ou inovação a

inovação. Tudo se passa como se existisse apenas uma externalidade, associada a um

factor (conhecimento) único. Ao mesmo tempo, considera-se que as medidas selectivas,

focalizadas em sectores ou agentes particulares (ou em grupos particulares de uns ou de

29

outros), teriam efeitos nefastos a uma afectação eficiente dos recursos produtivos, por

distorcerem de um modo diferenciado os preços e os lucros (cf. Lipsey e Carlaw, 1998:

23-29).

Esta preferência por políticas genéricas está igualmente presente nas regras

europeias aplicáveis aos auxílios à I&D (como, de resto, também nas regras aplicáveis

aos auxílios ao investimento produtivo – cf., para estas últimas, CEC, 1998), no âmbito

das quais os subsídios (ou qualquer outro tipo de apoio) de base sectorial ou de carácter

pontual são supostos terem efeitos muito mais nocivos à concorrência do que as

medidas gerais e indiferenciadas. Os auxílios sectoriais e os auxílios ad hoc são, por

esta razão, proibidos7. Importa, contudo, salientar a contradição existente entre, por um

lado, estas regras, que exprimem a prática da União no domínio da concorrência (e

onde, como se caba de ver, se impõem restrições às políticas selectivas de carácter

sectorial) e, por outro, as orientações presentes noutras políticas comunitárias

igualmente com incidência na inovação, no âmbito das quais a própria União adopta

medidas sectorialmente discriminatórias. Assim, nos anos 80 e 90, no quadro da política

comunitária de I&D, foram adoptados vários programas de apoio a tecnologias e

sectores específicos, ao mesmo tempo que, no âmbito da política comercial, estes

mesmos sectores eram especialmente protegidos da concorrência externa8.

5.2. A política de inovação baseada no modelo interactivo e no conceito de SI

Em contraste com a visão linear da inovação, no modelo interactivo, como se

viu, existe interacção e interdependência entre a actividade desenvolvida pelos agentes

nas diferentes etapas do processo de inovação, sendo este processo determinado,

tipicamente, pelo mercado, através das iniciativas dos produtores (fornecedores ou

utilizadores) ou dos consumidores. Uma primeira implicação desta abordagem é, assim,

a de que, como a investigação de base tem aplicação comercial potencial (dada a sua

ligação aos estádios a jusante), existe incentivo para a participação directa dos agentes

7 Importa ter em conta que a probição é a regra de base (consignada no nº 1 do artigo 87º CE) aplicável a qualquer tipo de auxílio. Porém, dentro das derrogações admitidas pelo nº 3 do mesmo artigo, as regras adoptadas pela Comissão Europeia para a aplicação destas derrogações excluem expressamente a possibilidade de existência de auxílios sectoriais ou de carácter pontual. 8 Cf., a este respeito, Sharp e Pavitt (1993: 135-139). São exemplos dos programas referidos: ESPRIT (electrónica); RACE (telecomunicações); BRITE/EURAM (novos materiais); BAP, BRIDGE e BIOTECH (biotecnologia). Veja-se também, sobre as contradições (para além do aspecto referido) entre a política comunitária de concorrência, por um lado, e as políticas industrial e comercial, por outro, Buigues, Jacquemin e Sapir (ed.) (1995).

30

privados nesta actividade. Contudo, as externalidades permanecem elevadas, pois a

ligação referida não elimina completamente o carácter de bem público do conhecimento

gerado a este nível. Assim, a intervenção pública continua a ser necessária e a ter de

assentar em níveis de apoio elevados. Ao mesmo tempo, estes apoios devem agora

alargar-se aos agentes privados, uma vez que estes aparecem como protagonistas de

primeiro plano da actividade em questão.

Por outro lado, a inovação não resulta apenas do processo formal de I&D, mas

ocorre também nas actividades rotineiras (learning by doing, learning by using e

learning by interacting) e através da difusão do conhecimento. Como há,

frequentemente, estrangulamentos nestas actividades e falhas de mercado no domínio da

informação que limitam a difusão do conhecimento, a política de inovação deve

também alargar o seu campo de actuação às actividades de rotina geradoras de

conhecimento produtivo, assim como ao processo de difusão da inovação.

Como também se viu, a abordagem sistémica mostra que as interdependências e

interacções que concorrem para a ocorrência de inovação não têm lugar apenas entre as

diferentes fases do processo de concepção e entre estas e os estádios a montante e a

jusante, mas também entre um vasto conjunto de agentes e elementos que vão para além

das empresas e ultrapassam os limites do mercado. Este conjunto de factores que

influenciam a concepção, o desenvolvimento, a difusão e a utilização da inovação

compõe o sistema de inovação (SI). Ora, para os teorizadores do SI, este sistema

apresenta, frequentemente, problemas quer de estrutura (falta ou

insuficiência/inadequação de um ou outro elemento), quer de funcionamento (embora a

estrutura possa ser completa e adequada, as relações entre os agentes podem ser

insuficientes). Trata-se, assim, de «falhas de sistema», que ultrapassam o âmbito das

simples falhas de mercado. Neste quadro de raciocínio, o papel dos poderes públicos

ganha uma maior amplitude, pois consiste em corrigir todas as falhas do sistema, e não

apenas as falhas do mercado9.

Ao mesmo tempo, o papel da política de inovação torna-se também mais

complexo do que no quadro do modelo linear. De facto, enquanto no âmbito deste

último, como se viu, as externalidades são tratadas de forma agregada, dando azo a uma

política uniforme, a abordagem da inovação em termos de SI alarga, por um lado, o

objecto de análise, e obriga, por outro, à identificação precisa e concreta das falhas

9 Sobre o carácter abrangente das políticas implicadas pela abordagem em causa, ver Rodrigues (2003: 29; 2005).

31

sistémicas. Desta dupla exigência metodológica resultam recomendações de política de

inovação que apontam, por um lado, para políticas de enquadramento (ou seja, de

carácter geral) e, por outro, para políticas específicas.

Tendo em conta que as falhas sistémicas tanto podem ocorrer na estrutura como

no funcionamento do sistema, a missão da política de inovação pode equacionar-se

tendo por referência estes dois aspectos essenciais do SI. Este modo de definir tal

política à luz do modelo interactivo e dos SI, independentemente das formulações

adoptadas e da maior ou menor explicitação destes referenciais, encontra-se em diversos

estudos sobre a matéria, nomeadamente, em OECD (1999a), OECD (1999b) e OECD

(2001), e em Edquist (2001a) e outras contribuições para Archibugi e Lundvall (eds.)

(2001).

Assim, na perspectiva da estrutura do SI, cabe à política de inovação, em linhas

gerais, nomeadamente:

Criar ou suscitar a criação de organizações no domínio do ensino, da formação,

da I&D, da transferência de conhecimento e do apoio tecnológico, a fim de

colmatar as falhas sistémicas existentes nestes domínios;

Suscitar a criação de empresas inovadoras, seja em sectores ou domínios

específicos e com critérios selectivos (tecnologia, organização,

comercialização/internacionalização, etc.), seja com base em critérios de

inovação indiferenciados, de modo a colmatar as falhas ou suprir as

insuficiências do tecido empresarial, mantendo (ou reforçando) a ancoragem do

sistema de inovação nos agentes privados e nos mecanismos do mercado.

Por sua vez, na óptica do funcionamento do SI, a missão de uma tal política

inclui, nomeadamente:

A adopção de regras do jogo (instituições) incentivadoras da inovação,

nomeadamente, em matéria de direitos de propriedade intelectual, regras de

concorrência e normas técnicas. Estas instituições devem, por um lado, ser

potenciadoras das iniciativas individuais, garantindo o retorno dos

investimentos, e devem, por outro lado, ser estimuladoras da cooperação, da

partilha de factores e de outras formas de aproximação entre os agentes;

O estímulo à circulação da informação dentro do SI, de modo a corrigir as

imperfeições do mercado neste domínio e a alargar esta circulação aos agentes

extra-mercado.

32

Neste enunciado de tarefas encontram-se, ao mesmo tempo, elementos que a UE

já integrou em algumas das suas políticas e elementos que apontam em sentido oposto a

orientações que têm prevalecido noutras políticas. Assim, por exemplo, a realização de

I&D em cooperação e a transmissão do conhecimento entre empresas ou entre centros

de I&D e empresas constituem, desde há muito tempo, uma prioridade adoptada no

âmbito dos programas-quadro de I&D (cf., nomeadamente, Sharp e Pavitt, 1993).

Também as próprias regras dos auxílios de Estado discriminam positivamente certas

formas de cooperação em projectos de I&D. Contudo, estas regras não permitem, como

já se viu, políticas selectivas em termos sectoriais. Também excluem ou são fortemente

restritivas em relação a medidas relacionadas com a internacionalização das empresas.

Tendo em conta, porém, que, como se referiu atrás, os SI podem ter um âmbito

territorial mais ou menos alargado, as linhas gerais de actuação da política de inovação

enunciadas têm, naturalmente, de ser adaptadas, nos seus diferentes aspectos, ao nível

geográfico a que se aplicam. Assim, no que concerne, em particular, à última linha de

orientação referida (correcção das falhas ou insuficiências no domínio da informação), a

literatura sobre SI mostra que existe uma relação muito estreita entre a circulação da

informação e a proximidade física entre os agentes emissores e receptores. Esta relação

tem alimentado uma abundante literatura sobre clusters e processos de clusterização à

escala regional, pois os clusters regionais (que podem ser concebidos como SI a esta

escala geográfica) são cada vez mais olhados como forças estimuladoras da

competitividade (cf., nomeadamente: Porter, 1990; OECD, 1999b e 2001) e assentam,

geralmente, numa elevada densidade de fluxos de conhecimento entre as empresas e

entre estas e as outras organizações que compõem o cluster/SI (cf., a este propósito,

nomeadamente, Porter, 1990: 154-157).

Numa parte da literatura existente neste último domínio sublinha-se, contudo,

que para determinar com rigor a relação entre circulação da informação e proximidade

geográfica entre os agentes é necessário decompor o conhecimento em dois elementos

distintos: o conhecimento codificado e o conhecimento tácito. O primeiro é aquele que

pode ser fixado em textos escritos ou outros suportes e é patenteado (ou patenteável);

pode ser facilmente transmitido e assimilado à distância, sendo esta transmissão

efectuada, no essencial, através do mercado por meio da venda de patentes e licenças. O

segundo, em contrapartida, não é facilmente (ou de todo) comunicável sob as formas

referidas; circula de umas empresas para as outras num mesmo local, através da

33

mobilidade dos quadros técnicos e dos contactos informais entre quadros de diferentes

empresas. É, assim, para alguns estudiosos do tema, sobretudo este segundo tipo de

conhecimento que determina a clusterização regional da actividade de inovação (cf., a

propósito do cluster «paradigmático» de Silicon Valley, Saxenian, 1994)10.

A esta luz, a política de inovação deveria adoptar como quadro de referência

privilegiado os SI regionais, pois, a esta escala e para uma parte dos elementos

constituintes dos SI, parecem existir factores potenciadores da constituição destes

sistemas. É esta a recomendação que se encontra, por exemplo, em OECD (1999b) e

OECD (2001).

Conclusão

O conceito de inovação tem sofrido transformações ao longo do tempo, a par da

evolução dos modelos que tentam apreender e explicar o processo de inovação.

Inicialmente, pensava-se que a inovação era fruto de um processo puramente

linear e hierárquico, que se iniciava na investigação fundamental, passando a seguir, de

etapa em etapa, para a investigação aplicada e o desenvolvimento e, por último, para a

produção e para a comercialização. No quadro deste modelo, o papel do Estado na

inovação resume-se à correcção das falhas existentes no mercado sob a forma de

externalidades tecnológicas. Como a frequência e a intensidade destas falhas variam

consoante o nível a que nos situemos, a política de inovação deve ser modulada em

conformidade. A intervenção pública deve, assim, ter uma maior presença e intensidade

nos níveis «superiores» (onde se encontram, tipicamente, as universidades ou outras

organizações públicas) e deve ser menos frequente e mais moderada (ou inexistente) nos

níveis «inferiores» (onde se encontram as empresas).

Ao contrário do anterior, o modelo das ligações em cadeia considera que o

processo de inovação se desenrola através de um conjunto de interdependências e

interacções. Estas ocorrem dentro das empresas, entre estas e as actividades a montante

(organizações do sistema científico e tecnológico e fornecedores de bens, serviços,

equipamentos e tecnologias, etc.) e a jusante (distribuição, clientes industriais,

consumidores finais, etc.). Por outro lado, o processo não é hierárquico, pois os

impulsos inovadores tanto podem ter a sua origem em novos conhecimentos científicos

10 Veja-se uma discussão detalhada do tema da clusterização baseada na circulação desta forma de conhecimento, em McFetridge (1995) e Marques (2003b).

34

e tecnológicos como ao nível do mercado. No quadro deste modelo, a intervenção

pública é diferente da anterior, pois torna-se menos diferenciada de uns «estádios» para

outros e não comporta uma distinção formal entre empresas e outros intervenientes.

A abordagem sistémica, por sua vez, mostra a necessidade de uma visão mais

alargada do processo de inovação, situando este processo no quadro de um «sistema de

inovação». Este último é composto por uma estrutura (formada por um conjunto de

actores, ou organizações, interdependentes) e um contexto institucional (regras do jogo)

preciso, que molda o comportamento dos actores e determina o funcionamento do

sistema. Como há, frequentemente, falhas quer na estrutura, quer no funcionamento do

sistema, o papel dos poderes públicos torna-se mais vasto e mais complexo, pois

consiste na correcção de todas as falhas ou insuficiências do sistema, incluindo nestas as

«clássicas» falhas de mercado.

35

Referências Bibliográficas Andersen, E.S., B.-Å Lundvall e H. Sorrn-Friese (2002), “Editorial”, Research Policy, 31 (2), pp. 185-190. Archibugi, D. e B.-Å. Lundvall (ed.) (2001), The Globalizing Learning Economy, Nova Iorque: Oxford University Press. Arrow, K. J. (1962), “The economic implications of learning by doing”, Review of Economic Studies, Vol. 29 (3), Nº 80, pp. 155-173. Bresnahan, T. F. (1986), “Measuring the spillovers from technical advance: mainframe computers in financial services”, The American Economic Review, Vol. 76 (4), pp. 742-755. Buigues, P., A. Jacquemin e A. Sapir (ed.) (1995), European Policies on Competition, Trade and Industry: Conflict and Complementarities, Edward Elgar, Aldershot. Caraça, J.M.G. (1993), Do Saber ao Fazer: Porquê Organizar a Ciência, Lisboa: Gradiva. CEC (Commission of the European Community) (1995), Green Paper on Innovation, Bruxelas. CEC (1998), “Guidelines on National Regional Aid”, OJ No C 74, 1998.03.10. CEC (1996), “Community Framework for Sate Aid for Research and Development”, OJ No C 45, 1996.02.17. Cohen, W.M. e D.A. Levinthal (1990), “Absorptive capacity: a new perspective on learning and innovation”, Administrative Science Quarterly, 35, pp. 128-152. Cohen, W.M. e D.A. Levinthal (1989), “Innovation and learning: the two faces of R&D”, Economic Journal, 99 (Setembro), pp. 569-596. Colecchia, A. e P. Schreyer (2001), “ICT investment and economic growth in the 1990s: is the United States a unique case? – A comparison study of nine OECD countries”, STI Working Papers, No 7, Paris: OCDE. Commissariat General Du Plan (2003), Les aides publiques aux entreprises: une gouvernance, une stratégie, Outubro, Paris. Conceição, P. e M.V. Heitor (1999), “On the role of the university in the knowledge economy”, Science and Public Policy, 26, Nº 1, pp. 37-51. Conceição, P., D. Durão, M.V. Heitor e F. Santos (1998a), Novas Ideias para a Universidade, Lisboa: IST Press. Conceição, P., M. V.Heitor, D. Gibson e S. Shariq (1998b), “The emerging importance of knowledge for development: management and policy implications”, Technological Forecasting and Social Change, 58, pp. 181-202. Dosi, G. (1984), Technical Change and Industrial Transformation, Londres: MacMillan. Dosi, G., C. Freeman, R. Nelson, G. Silverberg e L. Soete (eds.) (1988), Technical Change and Economic Theory, Londres: Pinter Publishers, 2ª edição.

36

Edquist, C. (2001a), “Innovation Policy – A Systemic Approach”, in Archibugi e Lundvall (eds.) (2001), pp. 219-238. Edquist, C. (2001b), “The systems of innovation approach and innovation policy: an account of the state of the art”, paper apresentado na DRUID Conference, Aalborg, Junho 12-15. Edquist, C. (ed.) (1997), Systems of Innovation – Technologies, Institutions and Organizations, London and Washington: Printer Publishers. Edquist, C. e B. Johnson (1997), “Institutions and organizations in systems of innovation”, in C. Edquist (ed.) (1997). Ernst, D., T. Ganiatsos e L. Mytelka (eds.) (1998), Technological Capabilities and Export Success in Asia, U.K. Routledge. Foray, D. (2000), L’Économie de la Connaissance, Paris: La Découverte, Collection Repères. Foray, D. e B.-Å. Lundvall (1996), “The knowledge-based economy: from the economics of knowledge to the learning economy”, in D. Foray e B.-Å. Lundvall (eds.) (1996). Foray, D. e B.-Å. Lundvall (eds.) (1996), Employment and Growth in the Knowledge-Based Economy, Paris: OECD. Freeman, C. (1987), Technology and Economic Performance: Lessons from Japan, London: Pinter Publishers. Freeman, C. e L. Soete (1997), The Economics of Industrial Innovation, Londres e Washington: Pinter Publishers, 3ª edição. Godinho, M.M. (2003), “Inovação: conceitos e perspectivas fundamentais”, in Maria João Rodrigues, A. Neves e M.M. Godinho (eds.) (2003), pp. 27-51. Griliches, Z. (1992), “The search for R&D spillovers”, The Scandinavian Journal of Economics, Vol. 94, pp. 29-47. Griliches, Z. (1979), “Issues in assessing the contribution of research and development to productivity growth”, Bell Journal of Economics, Vol. 10 (1), pp. 92-116. Griliches, Z. e F. Lichtenberg (1984), “Interindustry technology flows and productivity growth: a reexamination”, The Review of Economics and Statistics, Vol. 66 (2), pp. 324-329. Grossman, G. (1989), “Promoting new industrial activities: a survey of recent arguments and evidence”, Papers, Nº 147, Princeton University (New Jersey). Guellec, D. (1999), Économie de l’Innovation, Paris: La Découverte, Collection Repères. Jacobs, D. (1990), “The policy relevance of diffusion”, Policy Studies on Technology and Economy, Ministry of Economic Affairs of the Netherlands, La Haye. Kline, J. e N. Rosenberg (1986), “An overview of innovation”, in R. Landau. e N. Rosenberg (eds.) (1986), pp. 275-305. Krugman, P. (1991), Geography and Trade, Cambridge MA: MIT Press.

37

Landau, R. e N. Rosenberg (eds.) (1986), The Positive Sum Strategy: Harnessing Technology for Economic Growth, Washington D.C.: The National Academy Press. Lipsey, R. G. e K. Carlaw (1998), “A structuralist assessment of technology policies – taking Schumpeter seriously on policy», Working Paper, No 25, Industry Canada, Research Publications Program, Ontario. Lundvall, B.-Å. (ed.) (1992), National Systems of Innovation – Towards a Theory of Innovation and Interactive Learning, London and New York: Pinter Publishers. Lundvall, B.-Å. (1992), “User-producer relationships, National Systems of innovation and internationalisation”, in B.-Å. Lundvall (ed.) (1992), pp. 45-67. Lundvall, B.-Å. (1988), “Innovation as an interactive process: from user-producer interaction to the national system of innovation”, in G. Dosi et al. (eds.) (1988), pp. 349-369. Lundvall, B.-Å. (1985), Product Innovation and User-Producer Interaction, Aalborg University Press, Aalborg. Lundvall, B.-Å., B. Johnson, E. S. Andersen and B. Dalum (2002), “National systems of production, innovation and competence building”, Research Policy, Vol. 31 (2), pp. 213-231. Lundvall, B.-Å. e S. Borrás (1999), The Globalising Learning Economy: Implications for Innovation Policy, European Commission (Directorate-General Science, Research and Development), Brussels.

Lundvall, B.-Å. et al. (ed.) (2002), The New Knowledge Economy in Europe – A Strategy for International Competitiveness and Social Cohesion, Cheltenham: Edward Elgar. Mairesse, J. e M. Sassenou (1991), “R&D and productivity: a survey of econometric studies at the firm level”, STI Review, Nº 8, pp. 9-43, Paris: OCDE. Mairesse, J. e P. Mohnen (1990), «Recherche-développement et productivité: un survol de la littérature économétrique», Economie et Statistique, Nº 237, Agosto, pp. 99-108. Marques, A. (2003a), “A política industrial face às regras de concorrência na União Europeia – A questão da promoção de sectores específicos”, Discussion Paper, Nº 21, CEUNEUROP (Centro de Estudos da União Europeia), Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Marques, A. (2003b), “Clusters e inovação”, in Maria João Rodrigues, A. Neves e M.M. Godinho (eds.) (2003), pp. 63-88. McFetridge, D. G. (1995), “Science and technology: perspectives for public policy”, Industry Canada, Occasional Paper, No 9, Ontario. Metcalfe, J. S. (1998), “The Economic foundations of technology policy. Equilibrium and evolutionary perspectives, in P. Stoneman (ed.) (1998), pp. 409-512. Mytelka, L. e F. Farinelli (2000), “Local Innovations Systems and Sustained Competitiveness”, UN/INTECH DPS 2005. Navarro, L. (2003), “Industrial policy in the economic literature: recent theoretical developments and implications for EU policy», Enterprise Papers, No 12, European Commission (Enterprise Directorate-General), Brussels.

38

Nelson, R. R. (ed.) (1993), National Systems of Innovation: A Comparative Study, Oxford: Oxford University Press. Nelson, R.R. e N. Rosenberg (1993), Technical Innovation and National Systems, in R. Nelson (ed.) (1993), Capítulo introdutório. Niosi, J., P. Saviotti, B. Belon, W. Crow (1993), “Natural Systems of Innovators: In Search of a Workable Concept”, Technology in Society, 15(3), 207-227. OECD (2002), Dynamising National Innovation Systems, Paris: OECD. OECD (2001), Innovative Clusters – Drivers of National Innovation Systems, OECD Proceedings, Paris. OECD (1999a), Managing National Innovation Systems, Paris: OECD. OECD (1999b), Boosting Innovation – The Clusters Approach, OECD Proceedings, Paris. OECD (1997), Manuel d’Oslo, 2ª edição, Paris: OECD/CE/Eurostat. OECD (1996), Employment and Growth in the Knowledge-Based Economy, Paris: OECD. OECD (1993), Manuel de Frascati, Paris: OECD. OECD (1992), Technology and Economy – The Key Relationships, Paris: OECD. OECD (1991), Technology in a Changing World, Paris: OECD. Porter, M. (1990), The Competitive Advantage of Nations, Londres: MacMillan. Rodrigues, Maria João (2003), A Agenda Económica e Social da União Europeia – A Estratégia de Lisboa, Lisboa: Dom Quixote. Rodrigues, Maria João (2005), «For the National Strategies of Transition to a Knowledge Economy in the Europen Union – on the implementation of the Lisbon Agenda», Seminário “A Sociedade em Rede e a Economia do Conhecimento: Portugal numa Perspectiva Global”, Presidência da República, Lisboa, Março de 2005. Rodrigues, Maria João (ed.) (2002), The New Knowledge Economy in Europe – A Strategy for International Competitiveness and Social Cohesion, Cheltenham: Edward Elgar. Rodrigues, Maria João, A. Neves e M.M. Godinho (eds.) (2003), Para uma Política de Inovação em Portugal, Lisboa: Dom Quixote. Rosenberg, N. (1994), Exploring the Black Box, Cambridge University Press. Rosenberg, N. (ed.) (1982), Inside the Black Box: Technology and Economics, Londres: Cambridge University Press. Rosenberg, N. (1991), “Critical issues in science policy research”, Opening Address to the SPRU 25th Anniversary Conference, Science and Public Policy, Vol. 18, nº 6.

39

Rosenbloom, R.S. e W.J. Spencer (eds.) (1996), Engines of Innovation, Cambridge MA: Harvard Business School Press. Salavisa Lança, I. (2001), Mudança Tecnológica e Economia: Crescimento, Competitividade e Indústria Portuguesa, Oeiras: Celta. Saxenian, A. (1994), Regional Advantage: Culture and Competition in Silicon Valley and Route 128, Cambridge MA: Harvard University Press. Schmookler, J. (1966), Invention and Economic Growth, Cambridge MA.: Harvard University Press. Schumpeter, Joseph (1951), Capitalism, Socialism et Démocratie, Paris: Payot. Sharp, M. e K. Pavitt (1993), “Technology policy in the 1990’s: old trends and new realities”, Journal of Common Market Studies, Vol. 31 (2), pp. 129-151. Simões, Vítor Corado (1997), Inovação e Gestão em PME, Lisboa: GEPEME. Simões, Vítor Corado (2003), O Sistema Nacional de Inovação em Portugal: Diagnóstico e Prioridades, in Maria João Rodrigues, A. Neves e M.M. Godinho (eds.) (2003), pp. 53-62. Stoneman, P. (ed.) (1998), Handbook of the Economics of Innovation and Technological Change, Oxford e Cambridge: Blackwell, 3ª edição. Smith, K. (1994), New directions in research and technology policy: identifying the key issues”, STEP report R-01. Stiglitz, J. E. (1991), “The invisible hand and modern welfare economics”, Working Paper, No 3641, NBER, Cambridge MA. Triplett, J. E. (1999), “The Solow productivity paradox: what do computers do to productivity?”, Canadian Journal of Economics, Vol. 32 (2), pp. 309-334. UNESCO (1979), «An Introduction to policy analysis in science and technology”, Science Policy Studies and Documents, 46, Paris, UNESCO.

Von Hippel, E. (1988), The Sources of Innovation, Oxford, Oxford University Press.

40

List of the Discussion Papers published by CEUNEUROP Year 2000 Alfredo Marques - Elias Soukiazis (2000). “Per capita income convergence across countries and across regions in the European Union. Some new evidence”. Discussion Paper Nº1, January. Elias Soukiazis (2000). “What have we learnt about convergence in Europe? Some theoretical and empirical considerations”. Discussion Paper Nº2, March. Elias Soukiazis (2000). “ Are living standards converging in the EU? Empirical evidence from time series analysis”. Discussion Paper Nº3, March. Elias Soukiazis (2000). “Productivity convergence in the EU. Evidence from cross-section and time-series analyses”. Discussion Paper Nº4, March. Rogério Leitão (2000). “ A jurisdicionalização da política de defesa do sector têxtil da economia portuguesa no seio da Comunidade Europeia: ambiguidades e contradições”. Discussion Paper Nº5, July. Pedro Cerqueira (2000). “ Assimetria de choques entre Portugal e a União Europeia”. Discussion Paper Nº6, December. Year 2001

Helena Marques (2001). “A Nova Geografia Económica na Perspectiva de Krugman: Uma Aplicação às Regiões Europeias”. Discussion Paper Nº7, January. Isabel Marques (2001). “Fundamentos Teóricos da Política Industrial Europeia”. Discussion Paper Nº8, March. Sara Rute Sousa (2001). “O Alargamento da União Europeia aos Países da Europa Central e Oriental: Um Desafio para a Política Regional Comunitária”. Discussion Paper Nº9, May. Year 2002

Elias Soukiazis e Vitor Martinho (2002). “Polarização versus Aglomeração: Fenómenos iguais, Mecanismos diferentes”. Discussion Paper Nº10, February. Alfredo Marques (2002). “Crescimento, Produtividade e Competitividade. Problemas de desempenho da economia Portuguesa” . Discussion Paper Nº 11, April. Elias Soukiazis (2002). “Some perspectives on the new enlargement and the convergence process in Europe”. Discussion Paper Nº 12, September. Vitor Martinho (2002). “ O Processo de Aglomeração nas Regiões Portuguesas”. Discussion Paper, Nº 13, November.

41

Year 2003 Elias Soukiazis (2003). “Regional convergence in Portugal”. Discussion Paper, Nº 14, May. Elias Soukiazis and Vítor Castro (2003). “The Impact of the Maastricht Criteria and the Stability Pact on Growth and Unemployment in Europe” Discussion Paper, Nº 15, July. Stuart Holland (2003a). “Financial Instruments and European Recovery – Current Realities and Implications for the New European Constitution”. Discussion Paper, Nº 16, July. Stuart Holland (2003b). “How to Decide on Europe - The Proposal for an Enabling Majority Voting Procedure in the New European Constitution”. Discussion Paper, Nº 17, July. Elias R. Silva (2003). “Análise Estrutural da Indústria Transformadora de Metais não Ferrosos Portuguesa”, Discussion Paper, Nº 18, September. Catarina Cardoso and Elias Soukiazis (2003). “What can Portugal learn from Ireland? An empirical approach searching for the sources of growth”, Discussion Paper, Nº 19, October. Luis Peres Lopes (2003). “Border Effect and Effective Transport Cost”. Discussion Paper, Nº 20, November. Alfredo Marques (2003). “A política industrial face às regras de concorrência na União Europeia: A questão da promoção de sectores específicos” Discussion Paper, Nº 21, December. Year 2004

Pedro André Cerqueira (2004). “How Pervasive is the World Business Cycle?” Discussion Paper, Nº 22, April. Helena Marques and Hugh Metcalf (2004). “Immigration of skilled workers from the new EU members: Who stands to lose?” Discussion Paper, Nº 23, April.

Elias Soukiazis and Vítor Castro (2004). “How the Maastricht rules affected the convergence process in the European Union. A panel data analysis”. Discussion Paper, Nº 24, May.

Elias Soukiazis and Micaela Antunes (2004). “The evolution of real disparities in Portugal among the Nuts III regions. An empirical analysis based on the convergence approach”. Discussion Paper, Nº 25, June.

42

Catarina Cardoso and Elias Soukiazis (2004). “What can Portugal learn from Ireland and to a less extent from Greece? A comparative analysis searching for the sources of growth”. Discussion Paper, Nº 26, July. Sara Riscado (2004), “Fusões e Aquisições na perspectiva internacional: consequências económicas e implicações para as regras de concorrência”. Documento de trabalho, Nº 27, Outubro. Year 2005 Micaela Antunes and Elias Soukiazis (2005). “Two speed regional convergence in Portugal and the importance of structural funds on growth”. Discussion Paper, Nº 28, February. Sara Proença and Elias Soukiazis (2005). “Demand for tourism in Portugal. A panel data approach”. Discussion Paper, Nº 29, February. Vitor João Pereira Martinho (2005). “Análise dos Efeitos Espaciais na Produtividade Sectorial entre as Regiões Portuguesas”. Discussion Paper, Nº 30, Abril. Tânia Constâncio(2005). “Efeitos dinâmicos de integração de Portugal na UE” Discussion Paper, Nº 31, Março. Catarina Cardoso and Elias Soukiazis (2005). “Explaining the Uneven Economic Performance of the Cohesion Countries. An Export-led Growth Approach.” Discussion Paper, Nº 32, April. Alfredo Marques e Ana Abrunhosa (2005). “Do Modelo Linear de Inovação à Abordagem Sistémica - Aspectos Teóricos e de Política Económica” Documento de trabalho, Nº 33, Junho.

43