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RITOS XAM

Aloha!

Existem muito meios de se iniciar no xamanismo. Existem vises fortes ou acontecimentos incomuns que marcam algum e revelam a um xam j iniciado que a Fonte de Tudo est apontando aquela pessoa para ser um aprendiz. Este mtodo considerado o mais adequado pois evita que preferncias pessoais interfiram no processo e garantem que a continuidade do conhecimento est sendo determinada por um estncia de fora superior, que vai portanto cuidar e auxiliar o aprendiz.

Outra forma comum de se aproximar da senda do xamanismo chamado de doena do xam. Sem nenhuma causa detectvel uma pessoa adoece ou cai em depresso profunda, perde a vontade de viver. Ento descobre-se que ela tem a doena do xam. Ela encontra um xam e ento este tem algum sinal que deve, no apenas curar, mas tambm fazer daquela pessoa herdeira e continuadora de seus conhecimentos. Um processo inicitico tem incio ento e um ser humano vai comear a fascinante aventura de abandonar os limites da condio humana e partilhar com entes e deuses, com seres de outras linhagens de evoluo vivncias que o levaro a ser de fato alm do humano. Um xam pode ser um curador, um contador de histria, um guerreiro ou um caador. Pode danar para expressar o poder, cantar e tantos outros aspectos da arte, alguns inclusive impossveis de serem descritos ao ocidental civilizado que desconhece a riqueza do mundo no qual os nativos viviam.

A morte est sempre presente nos ritos iniciticos de um aprendiz. Quando isso ocorre durante as cerimnias nativas, significa que o nosso antigo ser est morrendo e, a partir daquele momento, atravs do renascimento do aprendiz ele est apto a percorrer um caminho luminoso e vibrante como a vida. Morrendo nessas cerimnias voc est morrendo para o seu antigo mundo, repleto de condicionamentos e definies. Rompendo essas barreiras voc renasce das cinzas tal com a Fnix para comear a trilhar um caminho rduo com um sorriso nos lbios e com sua viso aberta. Assim o xamanismo, um caminho que visa a expandir a sua conscincia, mostrando outras dimenses de realidade.

Por isso percebemos que todo trabalho inicitico, quando profundo e no apenas formal, tem a fase da morte para a antiga vida e do renascimento para um novo ciclo. O ser que nasceu dentro deste contexto que chamamos realidade, tem um script pronto, um papel a desempenhar na realidade da vida. Nas cerimnias xamnicas de morte, elas so encaradas como um sacrifcio, onde sacrificamos o desequilbrio e a angstia que o mundo dito civilizado nos deu. So essas cerimnias que fazem nos encontrarmos com nosso verdadeiro Ser, fazendo-nos acordar do sonho social.

A iniciao do xam sempre um caminho no qual ele se desintegra, se desfaz de tudo que o fizeram e ento reconstrudo pela fora da Me Natureza e redivivo comea outra vida, no mais presa as antigas formas, mas nascido de si, por si vai agora trilhar um caminho que qui, ir leva-lo h muito, muito longe.

Uma vez chamado, o futuro xam nada mais fez do que entrar num caminho que ir reduzi-lo metodicamente, numa compreenso substancialmente perfeita, a um verdadeiro xam. A iniciao pelos espritos Ancestrais de natureza ntima e subjetiva, mas subtende sempre a morte simblica do candidato e sua ressurreio. A iniciao ritual, que sucede, praticada por um mestre Xam ou pelo cl, no intuito de preparar o futuro Xam para sua tarefa. Diferentes ritos de entronizao encerram publicamente o perodo inicitico, ritos durante os quais o candidato dever prestar juramento diante de todos.

A iniciao deve permitir ao nefito ultrapassar sua condio humana. Capturado pelos Espritos, ele vai encontrar-se subitamente num universo desconhecido, onde receber instruo severa, sem apelar para nenhum critrio de saber anterior. Ainda fraco, ter de afrontar sozinho, isolado do mundo pelo xtase, entidades mais ou menos demonacas, que no o pouparo. Pois para renascer, ele ter de morrer. Sua carne e seus ossos devem ser purificados ou substitudos. Seu corpo ser retalhado, sua alma torturada, antes de ser-lhe infligida a morte.

No mundo xamnico, o esquema desse primeiro contato com o sagrado em toda parte o mesmo e passa necessariamente pelo rito inicitico da morte. O candidato siberiano permanece trs a nove dias num local isolado, sem falar comer e quase sem respirar. Ao regressar de sua viagem, ele conta que foi retalhado, que sua carne foi raspada, seus ossos enbranquecidos e seus olhos arrancados. Alguns so postos para cozinhar, outros recebem um corpo novo e sangue fresco. Entre os iacutes, a cabea decepada, o corpo dividido em quadradinhos e distribudos aos Espritos das diferentes enfermidades; ou ento o crnio transpassado por uma lana e a mandbula deslocada. Entre os altaicos, os Ancestrais participam do banquete comendo a carne e bebendo o sangue do candidato. Um jovem tungue foi crivado de flechas pelos Ancestrais para depois ser esfolado; seus ossos foram arrancados e contados um a um. Se faltasse um s, ele no seria digno de tornar-se Xam.

Convm lembrar que, no decorrer desse rito inicitico, o futuro Xam mergulhado num profundo sono letrgico, que dura vrios dias ou semanas. Sua imobilidade e a diminuio de sua respirao podem faz-lo passar por morto at o seu regresso. o coma inicitico.

A experincia de retalhamento do corpo e da mudana de pele vivida de igual modo entre os australianos: o doente torturado, deslocado e decapitado, posto para cozinhar, seus ossos so lavados e revestidos de uma nova carne. Depois so introduzidos em seus corpo substncias mgicas (cristais de quartzo) que lhe conferem seu poder.

A insero, pelos Espritos ou pelos mestres, de elementos mgicos no novo corpo do Xam praticamente no ocorre na Sibria. Mas caracterstica do xamanismo da Austrlia e da Amrica do Sul, onde os cristais de rocha so portadores de um simbolismo bastante peculiar.

Em compensao, no raro, entre os siberianos, a interveno do ferro na operao de retalhamento corporal; foi o que aconteceu com o Xam iacute, cujo os membros foram separados com a ajuda de um gancho de ferro e cujo esqueleto foi reconstitudo e mantido por cavilhas de ferro. Sucede com freqncia que as cabeas, um vez decepadas, seja fixadas em estacas de ferro, metal que tem o poder de afastar os maus espritos.

Encontramos o tema da morte ritual e da ressurreio do candidato entre os araucanos na Amrica do Sul, para os quais a vocao se manifesta geralmente atravs de uma sbita enfermidade. Durante a soberba viso, em que foi instrudo pelos Ancestrais, o sioux Alce Negro ficou estendido como morto por doze dias e foi reconduzido vida por um Xam do seu cl; este ltimo revelou em seguida ao pai de Alce Negro que vira uma luz emanando do corpo dele e que em breve seu filho seria chamado para cumprir uma tarefa especial. Alce Negro contava ento com nove anos.

Entre os esquims, a reverso do candidato a Xam ao estado de esqueleto e a contemplao deste constitui uma etapa necessria da iniciao. O candidato permanece inanimado por trs dias e trs noites, durante os quais se far devorar cru por um enorme urso polar, que dele s deixar o esqueleto. E por vezes acontece que, sobre os ossos intactos, uma nova pele comea a crescer.

Aps essa srie de ritos iniciticos da morte aqui demonstrado, podemos agora falar do valor simblico de seu contedo.

O futuro xam deve morrer para seu corpo terrestre a fim de renascer no seu corpo astral. Entre os povos caadores, os ossos simbolizam a essncia da vida, a partir da qual nascem os animais e os homens. Se esto cercados de carne enquanto homem vivo, os ossos se perpetuam na morte e concentram em si suficiente potncia vital para renascer novamente, e assim por diante. A carne no passa de mscara passageira, da qual o Xam deve desembaraar-se antes dos outros para ascender aos planos superiores. A carne, diz Alce Negro, representa a ignorncia e, assim, quando realizamos a cerimnia da Dana do Sol e nossa carne dilacerada se desprende das correias, como se nos libertssemos dos laos da carne. No necessrio desenvolver mais a idia, presente em todas as religies, da natureza perecvel e portanto acessria da carne, esteja ela associada ao pecado, iluso, ignorncia, etc.

Assim, na iniciao xamnica dos povos caadores, no h retorno do corpo terra, mas a ressurreio do esqueleto. Os nativos americanos no enterram seus mortos: colocam-nos sobre um estrado especial, envolvidos por uma coberta, oferecendo-os aos ventos e chuva at que a Natureza os receba. Essa concepo mgica ope-se dos povos agricultores, para que a Me-Terra a fonte de toda vida; eis porque, nos ritos xamnicos, o corpo do candidato volta simbolicamente ao ventre da Terra para depois renascer dela.

Os esqueletos de pessoas ou de pssaros so os ornamentos favoritos entre os xams siberianos. Simbolizam a um tempo o nascimento do Xam meio homem, meio guia, sua aventura inicitica morte e renascimento e seus poderes o vo do pssaro e sua ascenso as regies superiores. No rito buriata de ascenso ao Cu, os nove animais sacrificados so posteriormente comidos pela tribo, e seus olhos, cercados de palha, so pendurados nos galhos das btulas para captar os Espritos errantes.

A famosa cerimnia da Dana do Sol entre os nativos americanos descreve simbolicamente o percurso de uma iniciao coletiva com mortificaes. a mais antiga e a mais solene das celebraes indgenas. Antes do gradual desaparecimento (extermnio) das tribos ela durava doze dias, quatro dos quais destinados preparao e recepo das tribos disseminadas, quatro iniciao dos candidatos e quatro a cerimnia propriamente dita. Os danarinos, postados no centro de um Crculo Sagrado, vo, um aps outro, declarar qual sacrifcio escolheram suportar: uns, amarrados por correias de couro evocam o repelo da ignorncia, danaro at que as correias lhes penetrem a carne; outros, com garras de guias enterradas no peito, danaro at que sua pele se desprenda; outros, ainda escolhero oferecer um ou vrio pedaos de carne ao Grande Esprito, que sero cortados sobre eles enquanto sopram um apito de osso de guia. Todos podem participar do sacrifcio: mulheres, velhos, etc., cortando a carne de seus braos e pernas.

Aprendi junto aos Paqos andinos, nos Andes peruanos, que cada iniciao dura semanas e at meses, no qual caminhamos pelas altas montanhas e vamos a locais sagrados. Em cada nvel participamos de rituais para nos conectarmos com Pachamama e os espritos dos Apus. Por exemplo, no incio temos que passar noites nas montanhas, tendo somente o cu sobre ns e meditando com o Cosmo. Temos que tomar banho em lagoas muito frias nas montanhas para nos purificar. Assim, as salas de aula dos Paqos so as montanhas, as lagoas e toda a natureza. Esse o templo onde as pessoas conhecem as suas vocaes. H muitos testes durssimos e cheios de sofrimento. Estes so testes de fogo. Estes testes so para determinar as aptides fsicas, a preparao dos seus coraes, suas habilidades para serem compassivos, amar e venerar o conhecimento. O caminho rduo. s vezes a pessoa se sente caminhando sobre a lmina de uma espada.

Na iniciao, ns removemos os paradigmas que j no nos servem, e quebramos com as convenes que nos foram impostas desde nosso nascimento, mas nunca concordamos. Para os Paqos, renunciando um passado que no nos serve, que nunca pode nos servir, no uma destruio desses pedaos um por um, mas sim destru-lo de vez, agindo como um ato de amor e como um ato de poder. Na Roda da Medicina dos Ventos isto simbolizado pela energia da serpente arquetpica, Sachamama. A serpente que troca sua pele completamente em um s movimento, como uma afirmao de vida.

Quando se faz o Trabalho do Oeste, necessrio que passemos por uma morte ritual, uma morte simblica de tudo que fomos antes.

Para os Paqos, a primeira prtica xamnica o Rito da Morte. Os ritos de morte so uma srie de rituais nos quais trabalhamos o Wiracocha que, para os Paqos, tem um desdobramento que significa a existncia. Primeiro o corpo luminoso, o corpo de energia pessoal que informa o fsico. E o modelo para o fsico o ego psicolgico. Tendo acesso ao nosso Wiracocha pessoal, podemos limpar nosso ego, podemos mudar as incrustaes culturais que influem na nossa vida fsica e psquica. Em um contexto maior, o Wiracocha uma energia universal que forma o Cosmo. Limpando nosso Wiracocha pessoal, podemos forjar laos mais fortes para o Wiracocha universal. Os ritos de morte, ao contrrio do nome, so ritos de passagem que acontecem sempre que h uma transio na nossa vida; uma passagem do velho para o novo, de quem voc era para quem voc est se tornando. Eles tambm so rituais que auxiliam voc a enfrentar seus medos, raivas e agressividades. Para os Paqos, o medo comparado com a agressividade. O oposto da ordem, no o caos, mas sim a agressividade. At que voc ultrapasse a agressividade em seu trabalho pessoal ao redor da Roda da Medicina, voc incapaz de limpar o Wiracocha completamente e empenhar-se no que voc est se tornando.

Os Paqos vem duas linhagens do passado que devem ser reconciliadas: a biolgica e a reencarnatria. Essas duas linhagens se cruzam no tempo em que vivemos neste mundo, no momento presente. Estas duas linhagens enchem seu corpo de energia. O biolgico sua herana fsica, gentica. O psico-espiritual; na linha encarnatria do que voc foi, por outro lado, energiza seu presente e o predispe para certos eventos e experincias. No Ocidente, lidamos principalmente com nossa herana gentica. Buscamos superar nossas fraquezas biolgicas e nosso lado psico-espiritual, buscamos melhorar o dano causado por nossa famlia e pela histria ancestral. Porm, os Paqos comeam buscando remover o impulso negativo de qualquer reencarnao, limpando e se despindo destes rastros. Os Paqos dizem que, ao nascermos, fantasmas famintos do passado vieram nos convidar para alimentarmos das sucatas do outono de seu prato. Esses fantasmas alimentam-se do presente; eles se alimentam de sua energia vital. Assim os ritos de morte, e muitos outros rituais dos Paqos, so projetados para exorcizar e se livrar destes fantasmas famintos, de forma que o presente no esteja sendo reivindicado pelo passado.

Em algumas tradies xamnicas da sia, alguns xams partem de barco procura da alma do doente e servem-se de uma omoplata para remar; outros utilizam a omoplata de um carneiro ou a de uma foca como instrumento de adivinhao. Como o esqueleto o receptculo da alma, os ossos dos animais so considerados igualmente sagrados. Por vezes, os altaicos reconstituem cuidadosamente o esqueleto da caa que acabam de comer. Na Lapnia e na Sibria, o urso abatido enterrado segundo o mesmo rito funerrio dos homens, ou ento seu esqueleto exposto em plena floresta, orientado para o oeste, o Pas dos Mortos, para que ressuscite. Mas esse culto do esqueleto animal aos poucos foram suplantados pelos crnios. A mesma venerao se observa entre os pescadores lapes, que lanam no lago a ossatura do peixe, no mesmo lugar onde o pescaram. Pois os ossos e as arestas dever ser integralmente restitudos natureza para que ocorra a ressureio.

Resumindo, so os diferentes episdios de Ritos Iniciticos da Morte:

- As torturas infligidas pelos demnios ou pelos Espritos dos Ancestrais, indispensveis transformao espiritual do candidato.

- A morte simblica, que passa pelo retalhamento e esquartejamento do corpo.

- O renascimento numa nova carne e a ressurreio para uma personalidade inteiramente nova, de psiquismo poderoso, j familiarizada com um modo de percepo e uma intuio fora do comum.

Ao candidato ento, s resta aprender, junto aos velhos mestres, o ensino tradicional das tcnicas, os direitos e o deveres do xam.

INICIAO

Aparentemente, homens e mulheres apresentam potencial para a prtica xamnica, mas, nas culturas em que as exigncias da vida diria so grandes e continuas para as mulheres, os homens podem simplesmente ter mais tempo livre para dedicar-se a um treinamento xamnico prolongado. O conhecimento pessoal e o poder do xam so obtidos em muitas viagens aos outros reinos da conscincia e anos de experincias xamnica so habitualmente necessrios para alcanar um Alto grau de conhecimento do quebra-cabea csmico. Assim, a motivao, a disposio e o tempo para se comprometer com um longo perodo de aprendizado so pr-requisitos para ingressar no xamanismo.

A prtica do xamanismo sempre considerada repleta de graves riscos para a vida e o bem-estar do praticante e, em certos casos, as mulheres podem estar mais capacitadas ou dispostas a percorrer o territrio do sobrenatural. Na China, o despertar da alma, aspecto particularmente perigoso do xamanismo, quase sempre praticado por mulheres. No xamanismo asitico, observa que as mulheres das periferias da famlia chinesa eram as nicas que ousavam mediar com os ancestrais, pois tinham muito pouco a perder ao se entregarem a uma tarefa to temvel. Quando as circunstncias econmicas levavam-nas a ter de contar com seus prprios recursos, elas usavam capacidades intuitivas, em uma aplicao sobrenatural, para esquivar-se das vicissitudes de uma sociedade dominada pelo homem. Isso tambm acontecia na Europa, onde as oportunidades econmicas, para mulheres que no fossem bem-nascidas, iam do escasso ao inexistente, at o sculo passado.

Os requisitos bsicos para criar uma atmosfera de referncia, poder espiritual e oniscincia, e resistncia para manter um desempenho que exige concentrao durante horas e at mesmo semanas. A inclinao para o xamanismo demonstrada pelo relato de ocorrncias sobrenaturais durante a busca da viso, sonhos repletos de mensagens e premonio ou talentos como clarividncia. Os comportamentos presumveis do candidato tendem a indicar uma capacidade imaginativa maior do que a habitual e/ou uma milagrosa capacidade para recuperar-se de uma doena significativa, da as noes de doena divina e do curador ferido que prevalecem em toda a literatura sobre xamanismo.

A doena tem pelo menos dois papis na escolha xamnica da vocao pelo caminho do xamanismo. Primeiro, ser acometido por certas doenas pode automaticamente incluir algum nas fileiras dos xams potenciais. Na Sibria, por exemplo, ter epilepsia ou outras doenas nervosas uma clara indicao de talento xamnico. Em segundo lugar, o chamado inicitico, em que a vocao revelada, pode sobrevir durante uma crise fsica ou mental aguda. Essa questo abordada por Joan Halifax, que conta que a iniciao sobrevm, com freqncia, da crise provocada por uma doena grave que envolve em encontro com foras da decadncia e da destruio. A doena torna-se, assim, o veculo para um plano mais elevado de conscincia. Ela se refere ao xam Matsuwa, que no recebeu o xamanismo at perder a mo direita e mutilar o p. S perante a crise iminente que ele reconheceu seus poderes.

H um relato da iniciao de um xam, um homem atacado por varola, que permaneceu inconsciente por trs dias. No terceiro dia, ele parecia to inerte que quase foi enterrado. Ele teve vises em que descia a um mundo profundo no interior da Terra, onde foi carregado para uma ilha sobre a qual se erguia a rvore do Senhor da Terra. O Senhor deu-lhe um galho da rvore para com ele fazer um tambor. Prosseguindo, ele chegou a uma montanha. Entrando em uma caverna, viu um homem nu, que o agarrou, decepou-lhe a cabea, cortou seu corpo em muitos pedaos e cozinhou-o em uma caarola durante trs anos. Decorrido esse tempo, seu corpo foi reconstitudo e revestido de carne. Durante suas aventuras, ele encontrou xams malvados e senhores das epidemias, que lhe transmitiram instrues sobre a natureza da doena. Ele foi fortalecido na terra das mulheres xams, que lhe ensinaram a ler dentro de sua cabea, a ver misticamente sem seus olhos normais e a entender a linguagem das plantas. Quando, finalmente, despertou ou, melhor, foi ressuscitado, pode comear a praticar o xamanismo.

At mesmo na avaliao da medicina e da cincia contemporneas os xams escolhidos por causa da doena fsica tinham poderes especiais. Uma pessoa que sobreviveu varola, a mais temida de todas as pragas, conseguia caminhar entre os doentes e trat-los sem receio de contrair a infeco. Qualquer contato com a morte, por mais breve que fosse e do qual a pessoa emergisse tendo conhecimento daquele encontro, bem como uma imunidade especializada, deveria ser considerado um claro chamado para curar. um pressuposto razovel o de que os xams tinham um magnfico conjunto de clulas brancas no sangue.

Relatos de iniciaes assustadoras no so incomuns. Estas provaes ocorrem, sobretudo, durante as buscas rituais da viso, quando se procura uma vocao, aps dias de jejum e isolamento. Dessa forma, o brio e a motivao dos futuros xams so testados. O tema subjacente , repetidas vezes, o da morte e renascimento, em vises bastante comuns de desmembramento e reconstituio fsica.

Jilek relata um exemplo contemporneo do mito de morte e renascimento ocorrido no ritual de iniciao dos ndios salish. Esses ndios acreditam que o poder xamnico de cura acessvel a todos, sendo uma compensao divina pelos avanos tecnolgicos da civilizao branca. Os escolhidos para exercer o poder so chamados de danarinos do esprito e so iniciados por um perodo que se estende por mais de uma semana. Durante esse tempo, de acordo com um relato, chama-se um novo danarino de beb, porque ele est comeando a viver ele indefeso. De acordo com outro testemunho, eles (os iniciadores) te matam como uma pessoa m, eles te revivem para ser uma nova criatura, por isso que te do uma cacetada e voc desmaia, mas volta.

A iniciao xamnica dos salish inclui, primeiramente, um perodo de tortura e privaes: levar cacetadas, ser mordido, jogado de um lado para outro, imobilizado, ter os olhos vendados, ser objeto de caoadas, passar fome. Quando o iniciado aprende bem a lio ou quando a lousa de sua mente inteiramente apagada, o esprito guardio ou animal de poder aparece. Esta segunda fase da iniciao acompanhada de uma atividade fsica significativa: correr descalo na neve, nadar em guas glidas, danar e tocar tambor at a exausto. Durante o perodo de doutrinao, os ndios narram a entrada em estados de transe ou bem-aventurana, que alguns comparam com a embriaguez pelo lcool ou com o uso da herona. Outros declaram: Eu dava saltos de dez metros de altura e tive tamanha emoo, foi um sentimento fantstico, como se estivesse flutuando, com o se estivesse no ar, Parece-me que este poder como a eletricidade. por isso que eu no deixaria ningum danar atrs de mim uma fora que faz voc danar, algo como um choque voc ouve apenas cano e os tambores.