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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O Orientador Educacional no Ensino Médio
Por: Flávia Moraes de Souza
Professor Orientador: Flávia Cavalcante
Rio de Janeiro
2015
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O Orientador Educacional no Ensino Médio
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em Orientador Educacional e Pedagógico
Por: Flávia Moraes
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por este momento, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que muito me ajudaram a concretizar este desejo antigo. Pessoas como: meus irmãos Fábio e Flávio, minhas diretoras e colegas de trabalho, meus Professores da AVM que, com sua capacidade de ensinar e, principalmente, envolver, permitiram que eu continuasse até o fim, aos meus colegas de classe, principalmente Vanda Trovão que trouxe o seu exemplo de força e superação e ao meu namorado José Paulo que, incansavelmente, esteve junto comigo nesta jornada do início ao fim.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia ao meu pai Ademas Fernando de
Souza e a minha mãe Maria Stella Morais de Souza.
Meus maiores exemplos de vida!
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RESUMO
O presente trabalho teve por finalidade enfocar diversas particularidades do
âmbito educacional sob o prisma do Orientador Educacional diante das dificuldades
comuns ao ensino médio, em particular, a violência que acomete o cotidiano escolar,
concebe-se diagnosticar as dificuldades encontradas e traçar estratégias que
promovam entrosamento e o respeito.
Esse estudo interessa porque é preciso discutir os problemas de
relacionamento entre os alunos, assim como, a violência gerada por essas
divergências e suas causas sendo a atuação dos profissionais nesta área, como
também, estudar os melhores métodos, formas de trabalho, os melhores resultados,
colaborando para aprimoramento das práticas docentes que tiveram melhor
aceitação nos alunos com dificuldades. A pesquisa buscou também situar o
orientador educacional nesse contexto e apontar as principais concepções teóricas a
cerca da violência simbólica segundo Kupfer e Bourdieu e por fim situar o trabalho
do orientador educacional em meio a essas duas teorias. Buscou-se por meio da
mesma criar subsídios teóricos para a atuação do orientador educacional tendo em
vista a violência nos dias atuais no ambiente escolar.
O desenvolvimento das reflexões sobre a atuação deste profissional junto à
gestão escolar, professores, alunos e a comunidade escolar, assim como, um plano
de ação preventivo, pode ser uma via para transposição desses conflitos. Neste
sentido, este trabalho apresenta a existência desse profissional no Ensino Médio
brasileiro, além de uma discussão crítica sobre a especificidade do trabalho do
orientador educacional, apontando para a necessidade de sua presença em todas
as escolas de ensino médio do Brasil.
O objetivo de falar deste tema é apresentar e desenvolver alternativas de
como o orientador poderá ajudar no cotidiano escolar junto a este seguimento, no
que se refere às dificuldades dos alunos e professores no âmbito das relações,
como também nos problemas escola e comunidade/família, usando o diálogo como
a ferramenta principal, descobrir os motivos e as intervenções necessárias para
melhorar.
6
METODOLOGIA
A metodologia adotada para a investigação teve como referência os
fundamentos da pesquisa qualitativa, mais especificamente, as bases da pesquisa
oral. A entrevista foi realizada de forma aberta e não dirigida, isto é, sem questões
rigidamente prefixadas, privilegiando a pesquisada. Nenhum roteiro foi seguido
sistematicamente.
O diálogo foi realizado no campo específico da informante e para isto ocorrer
formulou-se uma questão abrangente: Como é o trabalho do Orientador Educacional
no Ensino Médio? Essa questão desencadeou, de maneira espontânea, o discurso
articulado e encaminhou o depoimento dentro de uma ordem sequencial que em
grande parte foi dirigida por ela. Eu estava ciente de que para a qualidade d
pesquisa e a escolha da profissional que seria envolvida, seria de importância
valorosa, não porque ela testemunha fatos e acontecimentos, mas também porque
atesta relações implícitas, tensões, conflitos, sentimentos, ideologias que refletem
com dignidade os traços de uma época e de uma prática profissional.
Todos os dados obtidos na entrevista foram relevantes. Tentei ao formar a
pergunta inicial, não induzir. A narrativa obtida definiu-se por sua própria lógica. O
documento resultante é mais do que uma simples memória, opiniões e dados
informativos, porque revela o contexto da prática do Orientador na atualidade.
“O Orientador Educacional não usufruía de imunidades profissionais
preservadas, pois ocupava uma posição que não foi nada cômoda, vivenciou o
movimento duplo de pesquisadora/pesquisada, o que provocou mais do que
compartilhar valores, conflitos e convicções” (Camargo Nunes, 1977).
Também foi construído um distanciamento/ aproximação para entender de
forma sistemática e criteriosa o próprio trabalho, com a finalidade de problematizar
questões, trazendo às discussões temas relegados em sua memória. Foi também
orientada no sentido de evitar dispersões ou dissociações durante a entrevista,
assim como se responsabilizaram pela decisão acerca da mudança quando as
questões anteriores já tinham sido exaustiva e satisfatoriamente respondidas.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL CONCEITO 10
CAPÍTULO II - O ORIENTADOR EDUCACIONAL NO ENSINO MÉDIO 19
CAPÍTULO III – OS PROCESSOS DE VIOLÊNCIA E A ORIENTAÇÃO
EDUCACIONAL 27
CONCLUSÃO 33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 34
8
INTRODUÇÃO
Segundo (GRINSPUN, 2005), além do processo ensino-aprendizagem a
concepção mais relevantes para a Orientação Educacional é estar comprometida
com a formação do cidadão. Perguntas frequentes e nem por isso fáceis de
responder, são as que se referem as causas que levam o aluno do Ensino Médio a
se deteriorarem em meio a violência no cotidiano escolar, e o principal, como a
Orientação Educacional se posiciona em meio a esse contexto? A resposta de que o
faz para satisfazer suas necessidades não resolve a questão, pois encerra outra
pergunta: Quais são as estratégias pertinentes?
Os desafios enfrentados pelos profissionais da educação sempre foram
inúmeros. Hoje, porém, novos elementos vieram tornar o trabalho docente ainda
mais difícil. A indisciplina parece ter se tornado particularmente a maior
problemática, tanto pela falta de mecanismos legais para cerceá-la, quanto pela falta
de preparo dos profissionais da educação para lidar com ela. Essas questões muitas
vezes apresentam em seu cerne dificuldades familiares, ambientes de
vulnerabilidade e o descaso social. Analisar as causas do problema é a preocupação
da qual, hoje, se debruçam todos os que estão envolvidos com a educação e que
desejam uma escola de qualidade.
Entre as diversas relações estabelecidas no âmbito escolar, o Orientador
Educacional é o elo entre educadores, pais e estudantes. Esse profissional, em sua
diversidade, atua para administrar diferentes pontos de vista que acontecem no
ambiente escolar, atuando nos problemas de dificuldades de aprendizagem e
conflitos decorrentes entre alunos, professores e escola, além de contribui para o
desenvolvimento pessoal do aluno e na organização e realização da proposta
pedagógica. Também trabalha em parceria com o professor para compreender o
comportamento dos alunos, analisando e estudando como agir de maneira
adequada em relação a eles e em seus conflitos e dificuldades. Ouve, dialoga e dá
orientações.
O Orientador Educacional atua em todos os segmentos da escola, mas o
principal alvo de seus esforços é o aluno. Partindo desse princípio, toda e qualquer
9
forma de intervenção no cotidiano do alunado deve primeiramente ser estruturado e
planejado, assim como todos os seus objetivos afim de que suas ações não se
percam no improviso e seu trabalho seja preventivo.
10
CAPÍTULO I
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
CONCEITO
Podemos dar diversos conceitos para definir a orientação educacional. Um
deles, de (GRINSPUN, 2002): “A Orientação Educacional, hoje, caracteriza-se por
um trabalho muito mais abrangente, no sentido de sua dimensão pedagógica.
Possui caráter mediador junto aos demais educadores, atuando com todos os
protagonistas da escola no resgate de uma ação mais efetiva e de uma educação de
qualidade nas escolas”.
Outra, mais diretamente relacionado com a motivação no trabalho, conforme
(Piletti 2004), diz que:
“Na instituição escolar, o orientador educacional é um dos
profissionais da equipe de gestão. Mediador entre o aluno e o
meio social, a orientação educacional discute problemas atuais
escolar, que fazem parte do contexto sociopolítico, econômico e
cultural em que vivemos dentro do ambiente escolar, ajudando o
corpo docente a compreender o comportamento do alunado
residente daquela unidade, assim como com o próprio corpo
discente. Assim, por meio da reflexão, pode levar o aluno ao
estabelecimento de relações e ao desenvolvimento da
consciência crítica, além de ser o principal elo de comunicação
da família com a escola e vice e versa”.
1.2 – Origens da orientação educacional
Historicamente, a orientação educacional tem sido uma das funções
exercidas pelo profissional da educação denominado pedagogo. Segundo
Pimenta (1988), a orientação educacional teve origem durante a década de 30, a
partir de uma orientação vocacional que se fazia nos EUA. No Brasil, a orientação
educacional mostrou-se válida a partir da década de 40 contribuindo ao adolescente
11
em suas escolhas profissionais. A autora mostra que a primeira menção a cargos de
orientador nas escolas de Ensino Médio se deu pelo Decreto n. 17.698, de 1947,
referente às Escolas Técnicas e Industriais.
Em 1958, o MEC regulamentou provisoriamente o exercício da função e o
registro de Orientador Educacional, pela Portaria n. 105, de março de 1958, tendo
ela permanecido provisória até 1961, quando a LDB 4.024 veio regulamentar a
formação do Orientador Educacional.
Art. 1º A Orientação Educacional se destina a assistir ao educando,
individualmente ou em grupo, no âmbito das escolas e sistemas escolares de nível
médio e primário, visando o desenvolvimento integral e harmonioso de sua
personalidade, ordenando e integrando os elementos que exercem influência em
sua formação e preparando-o para o exercício das opções básicas.
A Lei 5.564, de 21/12/68, já demonstrava, preocupação com a formação
integral do adolescente, embora traga orientações também referentes ao ensino
primário, como era naquela época designado o ensino fundamental. Em dezembro
de 1968, em Brasília, foi aprovada a Lei nº 5564 que provê sobre o exercício da
profissão do Orientador Educacional. A promulgação da Lei em 21 de dezembro de
1968 significou um avanço na definição e profissionalização do Orientador
Educacional. . A LDB que veio a seguir, a 5.692/71, diz, no artigo 10: "será instituída
obrigatoriamente a Orientação Educacional, incluindo aconselhamento vocacional
em cooperação com os professores, a família e a comunidade".
Um olhar mais crítico da legislação que regulamenta o profissional orientador
educacional nos permite relacioná-las aos contextos histórico/sociais em que foram
promulgadas, podendo nos levar a entender o contexto atual no Brasil.
1.3– Atribuições da Orientação Educacional
A principal atribuição do Orientador Educacional dentro contexto sócio
educativo concretiza-se através da capacidade de desenvolver estratégias para
“orientar”, o que significa na verdade exercer a prática de encaminhar e examinar os
12
vários aspectos relativamente ao processo de ensino e aprendizagem. Por isso,
antes de mais, é preciso esclarecer o conceito de Orientador Educacional e
Orientação Educacional.
Nas palavras da autora (GRINSPUN, 2005) “O papel da Orientação numa
escola comprometida com seu projeto político pedagógico onde além do processo
ensino-aprendizagem ou, a partir processo ensino aprendizagem é estar
comprometida com a formação do sujeito, com a formação da cidadania”.
Nos diferentes estados brasileiros e nas diferentes redes escolares, este
profissional, se existente, recebe variadas denominações e exerce atividades
também variadas. Além disso, Os referenciais teóricos confusos têm contribuído
para a colocação contemporânea da função do orientador como um mero “apagador
de incêndios” ou “fiscalizador de alunos faltosos”.
Tais variações de papel descaracteriza a real dimensão de seu fazer
profissional e gera um conflito entre os diversos papéis desempenhados pelos
diferentes profissionais da educação.
A partir do Decreto nº 72.826/76 foi regulamentado as atribuições do
Orientador Educacional.
DECRETO Nº 72.826 – DE 26 DE SETEMBRO DE 1973
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 81, item III
da Constituição, decreta:
Art. 1º - Constitui o objeto da Orientação Educacional a assistência ao educando,
individualmente ou em grupo, no âmbito do ensino de 1º e 2º graus, visando o
desenvolvimento integral e harmonioso de sua personalidade, ordenando e
integrando os elementos que exercem influência em sua formação e preparando-o
para o exercício das opções básicas.
O Orientador educacional contribui para o ajustamento pessoal e social dos
envolvidos no processo de ensino-aprendizagem fora e dentro da escola. Esse
13
profissional trabalha juntamente com pais e professores na busca de alternativas
para minimizar dificuldades pedagógicas, investigando fatores de ordem social,
cognitiva e emocional do alunado. Além desse trabalho, o Serviço de Orientação
Educacional também promove projetos de Orientação Vocacional no ensino médio,
que nada mais é, não perder a origem da função, ajudando jovens e adolescentes a
discernirem sobre suas competências e habilidades.
Para conseguir realizar o trabalho proposto, o profissional que ocupa esse
cargo não pode ficar isolado em sua sala de atendimento, recebendo alunos
expulsos da aula ou que desrespeitaram um colega ou um professor. Ele só
consegue saber o que está acontecendo na escola e, propor encaminhamentos
adequados quando circula pelos espaços se conviver com os estudantes dentro e
fora de sala.
Pode-se dizer que o campo de atuação do orientador educacional era,
inicialmente, um atendimento ao aluno em seus "desajustes" familiares e escolares.
Pouco ou quase nada voltado à consciência autônoma do aluno e à sua
contextualização como cidadão. Mesmo com algumas mudanças de paradigmas,
sua função acompanhou sempre o objetivo de ajustamento ou prevenção.
Durante a década de 70, falou-se muito sobre a falta de compromisso da
escola e de sua equipe pedagógica. Grinspun(2003) diz que, nesse período "Tenta-
se resgatar a importância da escolaridade para as estratégias de vida das camadas
populares, chamando a atenção para a estrutura interna da escola como um dado
significativo para o desempenho dos alunos. A Orientação estava dentro da escola,
mas sem conceber o seu papel.
A Orientação Educacional ao promover um clima de confiança e respeito
mútuo, a procura ao seu serviço será espontânea. Para isso, é necessário envolver
todas as pessoas no processo de educação, como diretor, professores, pais, entre
outros, para que todos cooperem, no sentido de ajudá-la a melhorar o educando.
Esse serviço deve ter uma continuidade, sendo um trabalho planejado e de comum
acordo com a direção, professores e coordenadores. No entanto, evitar o
envolvimento em conflitos particulares entre professores e alunos, evitando o
declínio natural em ser um "órgão disciplinador".
14
O sucesso da OE se consiste em criar na escola um clima de sensibilidade a
todos, quanto à necessidade de cooperação em suas atividades, com entusiasmo,
respeito e solidariedade, não se esquecendo de estimular ao máximo a iniciativa do
educando.
1.4– A conduta da Orientação Educacional
O código de ética dos orientadores é um código publicado e institucionalizado
na década de 80, portanto, mais de duas gerações de alunos, já passaram por
várias escolas, com suas dificuldades e necessidades atendidas ou não, devido à
demanda de alunos, ser maior do que o número de orientadores. Toda ação do OE
merece uma reflexão sobre a realidade que o cerca, dando-lhe, assim, condições de
uma análise mais coerente, fazendo uso dos princípios que servem de base ao
processo de orientação, para que assim o levem a uma ação mais segura e eficaz.
O OE deve procurar entender o educando em sua realidade biopsicossocial, para
que a partir disso, possa-se estabelecer uma personalidade segura de si dentro de
sua própria realidade.
Como o profissional abrange aspectos particulares da vida do aluno, o sigilo
profissional é essencial, tendo em vista que a privacidade é direito fundamental
segundo a Constituição Federal, a não ser quando se tratar de um alto perigo, tanto
para o aluno, quanto para o orientando ou para terceiros. O OE deve lidar com a
sistemática de seus alunos com atitudes decorosas, interferindo apenas se for
solicitado.
O orientador deve manter um bom relacionamento com os outros profissionais
em sua prática, e quanto à instituição empregadora, deve respeitar sua filosofia de
ensino. Respeitar os direitos da família na educação do orientando é a forma de
aceitar as diferenças culturais dos alunos, assim como seus valores que, muitas
vezes divergem de valores pessoais ou aqueles aceitos pela sociedade, já que o
foco principal nas atividades e observações do orientador é a comunidade e o
educando.
15
1.5– Suas contribuições ao processo ensino-aprendizagem
Segundo Placco (1994) A orientação educacional é um processo social
desencadeado dentro da escola, que mobiliza todos os educadores que nela atuam -
especialmente os professores para que, na formação do homem coletivo, auxiliem
cada aluno a se construir, a identificar o processo de escolha por que passam, os
fatores socioeconômico-político-ideológicos e éticos que o permeiam e os
mecanismos por meio dos quais ele possa superar a alienação proveniente de
nossa organização social[...] tornando-se, assim, um elemento consciente e atuante
dentro da organização social, contribuindo para sua transformação.
O Orientador Educacional ajuda os alunos a desenvolverem o hábito da
leitura e do raciocínio lógico, que contribuem para a resolução dos problemas que
afetam a qualidade do ensino e da aprendizagem, assim como das relações sociais
vividas na escola, fora dela, aplicando estratégias e dinâmicas que levam os alunos
a vivenciarem a inter-e-transdisciplinares, visando a integração de conhecimentos
adquiridos. Como define Piletti:
“O orientador educacional presta um serviço de assistência e auxílio ao aluno
no processo de aprendizagem. Ao orientador educacional, cabe conversar com os
alunos que enfrentam inúmeras dificuldades de aprendizagem em uma matéria
determinada, ou em várias no geral. Além de resolver problemas de aprendizagem,
o orientador tem como trabalho evitar a ocorrência desses problemas” (Piletti, 2004).
Os novos pressupostos teóricos sobre orientação educacional apontam para
o aluno como centro da ação pedagógica, cabendo ao orientador atender a todos os
alunos em suas solicitações e expectativas, não restringindo a sua atenção apenas
aos alunos que apresentam problemas ditos problemáticos da escola. Dificuldades
no processo ensino-aprendizagem existem e devem ser sempre questionadas e
avaliadas, visando sempre a eficácia no processo.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), encontram-se afirmações
sobre a prática do professor a qual deve pressupor uma concepção de ensino e
aprendizagem que o leva a compreender os papéis do professor e do aluno, além da
função social da escola, da metodologia e dos conteúdos a serem trabalhados e,
16
dentre os fatores que interferem neste processo de conhecimento incluem a
formação do professor e sua vida profissional, na qual se inclui sua experiência
escolar (Brasil, 1998).
Essas afirmações devem ser inseridas nas reflexões diárias da práxis, pois
explicitam os pressupostos pedagógicos que devem reger as atividades do ensino,
na busca da coerência entre o que se pensa fazer e o que realmente se faz. Assim,
o professor deve procurar se conscientizar de suas funções, conhecer seu ambiente
de trabalho, conhecer o perfil do público atendido, visando um planejamento de
atividades que possam contemplar as expectativas do alunado e que sejam
significativas, possibilitando a construção de conhecimentos. Portanto, alunos e
professores devem se conhecer, conhecerem seus interesses e se comprometerem
com atitudes de acordo com suas necessidades.
Na pedagogia tradicional, o ator principal da educação era o professor, que
transmitia os conhecimentos de forma vertical e o aluno, mero espectador da ação
educacional. Os autores Saviani (1980) e Libâneo (1989) afirmam que hoje, nas
sociedades atuais a escola contemplativa torna-se insuficiente. Os alunos devem
participar ativamente, integrar-se nas aulas, discutir, analisar e refletir, inclusive
sobre sua própria existência e, o professor quanto mais propiciar isto mais estará
favorecendo a construção de seu próprio conhecimento. A esta, concebemos como
pedagogia interdisciplinar.
Conforme Luck (1994), o objetivo da pedagogia interdisciplinar é, portanto, o
de “promover a superação da visão restrita de mundo e a compreensão da
complexidade da realidade de modo a permitir ao mesmo tempo uma melhor
compreensão da realidade e do homem como ser determinante e determinado”. A
interdisciplinaridade, portanto, surge a partir da relação teoria e prática, de modo que
ambas se enriquecem de forma recíproca, não consistindo numa depreciação das
disciplinas e nem dos conhecimentos produzido por elas. Nessa direção, ela
corresponde a um contexto de ensino, que leva à construção do cidadão
humanizado pela visão globalizadora, daí o porquê de sua importância. Para a
referida autora, “a orientação pelo enfoque interdisciplinar para orientar a prática
17
pedagógica implica em romper hábitos e acomodações, em buscar algo novo e
desconhecido” (LÜCK, 1994).
A orientação, hoje, está mobilizada com outros fatores que não apenas e
unicamente cuidar e ajudar os necessitados de atenção diferenciada. Faz-se
necessário a inserção em uma nova abordagem de Orientação, voltada para a
construção de um cidadão que esteja mais comprometido com seu tempo e sua
gente. Desloca-se, significativamente, o 'onde chegar', neste momento da
Orientação Educacional, em termos do trabalho com os alunos.
“Pretende-se trabalhar o aluno no desenvolvimento do seu processo de cidadania,
trabalhando a subjetividade e a intersubjetividade, obtidas através do diálogo nas
relações estabelecidas“ (GRINSPUN, 1994).
A condição da educação depende, portanto, sobremaneira do cotidiano
praticado na escola. O cotidiano tem uma lógica própria em cada escola, e essa
lógica é pontuada pelos sujeitos que participam desse processo. Esses sujeitos e
suas histórias são elementos únicos, e daí também, é única cotidianidade de cada
escola, onde a sinergia aplicada ao trabalho na escola direciona seus esforços e
seus objetivos. Esse cotidiano é definido como cultura organizacional da escola.
Para se conhecer o clima e a cultura organizacional da escola é preciso
debruçar-se sobre como esses sujeitos se percebem e percebem sua atuação na
escola no cotidiano; o que determina essa percepção e quais as maiores influências
externas e internas nas práticas regulares que ocorrem no interior do
estabelecimento de ensino. O papel da Orientação Educacional na Educação,
evidenciando essas contribuições ao processo ensino-aprendizagem.
A orientação educacional tem como função dentro da escola mediar os
conflitos educacionais e prezar pela aprendizagem e desenvolvimento do educando,
visando o seu sucesso escolar. Para tal, é preciso reconhecer que existe certo grau
de violência no processo escolar que se faz necessária, mas ao mesmo tempo é
esta mesma violência que se torna um dos problemas educacionais e que
colaboram para os atos de violência ditos como reais, ou seja, os atos de pura
agressão e vandalismo. Sendo assim, chegamos a seguinte problemática: como a
18
orientação educacional pode trabalhar neste espaço, considerando estas duas
perspectivas da violência simbólica, sendo ela, por um lado, necessária e, por outro,
contendo um caráter perverso.
19
CAPÍTULO II
O Orientador educacional no Ensino Médio
Nos anos iniciais ao ensino médio, a entrada do orientador em sala pode ser
o momento da rotina para tratar de temas sensíveis ao grupo. Esse momento pode,
e deve ser aproveitado para se perceber o clima organizacional daquele ambiente.
As conversas mais comuns geralmente giram em torno de acontecimentos que
mobilizam os alunos.
No Ensino Médio, o esforço do orientador concentra-se no desenvolvimento e
na promoção de atividades que auxiliem os alunos a fazer o uso adequado dos
recursos disponíveis na escola, além de estimular discussões sobre temas da
atualidade, elabora estratégias de estudo e de investigação que facilitem a
aprendizagem, promovam a autonomia e desenvolve o espírito critico e reflexivo do
aluno. Assim, o Orientador contribui para a formação do aluno, discutindo a gestão
dos conflitos do dia-a-dia, levando-os, a refletir sobre os problemas que interferem
na aprendizagem individual, os riscos nas relações interpessoais, o descuido com o
patrimônio escolar, os espaços individuais e coletivos e o desrespeito entre os
alunos.
O Ensino Médio tem por objetivo proporcionar ao educando a formação
necessária ao desenvolvimento de suas habilidades e competências pela realização
pessoal, preparando-o para o trabalho e o exercício consciente da cidadania, além
de orientá-lo numa formação profissional. Porém, diversas mazelas sociais ocupam
espaço no dia-a-dia escolar, resultando em diversos tipos de conflitos com
consequência física e emocional.
Segundo Porto (2009) uma das grandes dificuldades da educação encontra-
se na distância existente entre as ideias inovadora e ação pedagógica em si,
efetivada pelo professor, uma vez que o espaço próprio para a efetivação das
mudanças à sala de aula continua pleno de ações conservadoras, muitas vezes
instintivas ou com protestos diante das perspectivas frustradas e das dificuldades
encontradas pelo professor.
20
2.1 – O contexto educacional do Ensino Médio
São inúmeros os elementos que concorrem para a atual situação educacional
brasileira. Desde alguns anos atrás, instala-se em nossa sociedade, e de maneira
especial em nossas escolas à convicção de que os estudantes vão sendo cada vez
mais indisciplinados e mal-educados, mostrando comportamentos que interrompem
o clima acadêmico da escola, quando não protagonizam agressões verbais e físicas,
furtos e destruição do mobiliário, entre outros.
É necessário e essencial à educação saber estabelecer limites e valorizar a
disciplina, e para isso é necessária à presença de uma autoridade que lhes
permitam refletir sobre seus atos. Isso é o que difere autoritarismo do
comportamento de autoridade adotado para que outra pessoa torne-se mais
educada ou disciplinada. Seria dever dos pais, transmitir aos filhos a diferença entre
o que é aceitável ou não na sociedade em que estão inseridos mas percebe-se na
atualidade é o descaso familiar ocasionado pela falta de compreensão da relevância
da transmissão desses valores.
Quando o limite é apresentado respeitando a autoestima do aluno, a
consciência do indivíduo tende-se a desenvolver de forma sadia. Além da família,
cabe à escola este papel, pois os educadores continuam a deter parte considerável
da responsabilidade pela formação do indivíduo. Porém, os professores de certa
forma não são preparados em sua formação para lidar com alguns problemas que
por vezes foge a rotina de educador.
“A relação pedagógica não pode ser limitada às relações especificamente
escolares existe em toda a sociedade no seu complexo, para cada indivíduo na sua
relação com outros indivíduos”. (ANTONIO GRAMSCI, MACCAREILLO,2005 )
Além dos assuntos de foro curricular, é importante que o Orientador trate
também com os alunos assuntos extracurriculares subjacentes ao processo de
desenvolvimento, a globalização, o uso das novas tecnologias, entre outros males
sociais inerentes a sua condição de adolescente e que é preciso refletir para melhor
posicionar de forma crítica e até ajudar a solucionar determinados problemas
através de ações concretas que visam o desenvolvimento de valores visando uma
sociedade melhor e mais igualitária.
21
Em um país que se alinha às principais economias emergentes do mundo,
com influência crescente no panorama político e econômico internacional, os
problemas sociais só se explicam pelos ainda altos níveis de desigualdade. Nenhum
outro fator influencia tanto essa questão quanto a Escolaridade, que guarda relação
direta com as condições de emprego e renda, o que por sua vez implica
oportunidades educacionais de mais baixa qualidade para as novas gerações,
alimentando um processo de reprodução da pobreza e da desigualdade. Romper
esse círculo vicioso requer políticas que garantam, ao filho do pobre, condições para
que conclua sua Educação Básica, pré-requisito essencial para a inserção no
moderno mercado de trabalho.
2.2 A violência no ensino médio
As causas da violência são inúmeras, não sendo fácil fazer um levantamento
de todas. Não existem dados estatísticos precisos, acerca do número de jovens
atores e alvos de violência, no entanto, o Instituto Nacional de Estatística (INE),
apresenta alguns dados, no quais são identificadas as problemáticas em crianças e
jovens, bem como as medidas tutelares aplicadas nos processos analisados.
Desde de 1998 foram acompanhados crianças e jovens em risco, todavia, em
2000 o total de crianças e jovens adolescentes aumentou consideravelmente.
Algumas causas são ainda apontadas, como situações de risco como por exemplo:
o abandono por parte da família, a negligência, abandono escolar, absentismo
escolar, maus tratos, abuso sexual, trabalho infantil, exercício abusivo de autoridade
por parte dos pais, bem como outras situações identificadas como condutas
desviantes observadas nos menores, são também apontadas a prática de atos
qualificados como crime, o uso de entorpecentes, a ingestão de bebidas alcoólicas e
outras condutas desviantes. Ressaltando que, em 2000 houve um grande aumento
destes casos. Judicialmente falando, os processos finalizados e as medidas
tutelares mais aplicadas foram de acompanhamento educacional, social, médico e
psicológico.
22
O papel da Orientação Educacional hoje, como aponta Grinspun (2003) é o
de mediação na escola, pois ela se reveste de mais um campo na escola, não como
tom preventivo, corretivo, mas com um olhar pedagógico, fazendo um trabalho de
interdisciplinaridade entre fatos /situações, ações /razões e emoções que levam o
indivíduo a agir de determinada maneira. Ele também tem um papel dinamizador,
valorizando a dinâmica das relações.
Dessa forma, afirma ele, precisamos recorrer aos estudos do que se
convencionou chamar pós-modernidade, que se caracteriza pela “indeterminação,
descontinuidade e pluralismos”. Assim, a Orientação Educacional procura ajudar a
escola a compreender e buscar sua verdadeira missão, mesmo num mundo repleto
de contradições e desafios.
Segundo a autora, indisciplina, agressividade, desinteresse, dificuldades de
aprendizagem, queixas mais comuns dos professores, não podem e não devem ser
tratadas isoladamente e, sim, a partir de um estudo das relações entre os sujeitos
desse ambiente e suas relações com os objetos. A autora alerta ainda para o caráter
político da atuação do orientador educacional que "ultrapassa os limites dos muros
da escola" e se envolve com a comunidade. Origina-se aí uma nova visão de
orientação educacional. Segundo GRINSPUN (2006, p. 55) “O orientador
educacional dialetiza as relações e vê o aluno como um ser real, concreto e
histórico”. Dessa forma, ele assume uma postura política, percebendo que a
educação faz parte de um contexto sócio-econômico-político-cultural e que o aluno é
o principal sujeito desse contexto onde, o mesmo está inserido em uma determinada
sociedade.
2.3 - A teoria de KUPFER: Violência Simbólica
Dentro da escola a pessoa responsável por mediar os conflitos e intervir nos
casos de violência é o orientador educacional, que busca, através de estratégias
planejadas, tornar o ambiente de ensino pacífico e produtivo, visando o sucesso dos
educandos. É evidente que o trabalho do orientador é imprescindível e que é ele
quem vai trabalhar todas essas situações conflitivas na escola.
23
Baseado nessa ideia, começamos a estudar sobre as formas de resolver
esses problemas de violência, iniciando pela convicção de que, para resolvê-los, não
basta apenas solucioná-los no momento em que eles ocorrem, mas deve-se buscar
a raiz, as causas, isto é, sua real origem.
Ao estudar as teorias dos autores Kupfer e Bourdieu, bem como, de outros
autores, identifica-se que há entre eles um consenso quanto à existência de uma
violência própria da educação. Esse processo educacional recebe o qualificativo de
violento por impor aos educandos uma ordem, uma restrição, ou seja, um
enquadramento nos padrões estabelecidos. Trata-se de uma violência de nível
simbólico.
Essa violência é inerente ao processo escolar e inevitável, sendo
praticamente imperceptível, pois ela é tida como algo normal. Segundo a autora
(KUPFER, 2007), a violência simbólica é necessária e estruturante. Para essa
autora que lê a violência sobre as lentes da psicanálise, o aluno precisa encontrar no
professor uma referência, um ideal, o professor precisa impor a este a ordem, as
leis, bem como, o limite o não, pois caso contrário, se este não tiver recebido esta
imposição facilmente resultará em agressividade e violência real, já que lhe falta a
violência simbólica.
A autora inicia com a ideia de que existe uma violência própria da educação.
Segundo a mesma, educar exige um esforço de humanização. Esse esforço é
chamado de violento, pois impõe a essas crianças e jovens certa força, ou seja, uma
regulação que faz com que estes sejam moldados pela cultura criada pela
sociedade. Essa impõe a forma como devem se comportar, a linguagem, a cultura,
bem como, as leis, impedindo assim que outras significações venham a se
manifestar.
Não há escolha e não tem nada de natural como afirma Kupfer, porém essa
imposição não é arbitrária, pois aquele que a exerce também está submetido a essa
ordem. Trata-se de uma violência simbólica, que, ao impor a cultura e as normas,
impede que a criança desenvolva outras formas de interpretação para as sensações
que a cercam. No entanto, ao fazer isso, torna-se plausível a possibilidade de tornar
existentes e compartilhadas por um código comum as suas necessidades e anseios.
24
No meio de tudo isto, surgem de maior ou menor escala, atos de violência
reais, talvez resultantes justamente de ordem simbólica. Alguns alunos, além da
troca de insultos, têm partido para os atos de agressão e depredação. Sem
nenhuma razão ou motivação específica, simplesmente partem para a agressão e
vandalismo. Kupfer faz uma comparação desses alunos com psicóticos, afirmando
que estas: “Essas ações se aproximam muito do modo como agem algumas
crianças psicóticas. Para essas, o Outro tão pouco esta barrado, e por isso esse
Outro as ameaça constantemente com seu desejo invasivo, voraz, não castrado.
Então, a criança psicótica da um jeito de castrar o outro “na marra” (um lacaniano
diria, no real do corpo). Busca tirar-lhe pedaços, numa ação “escavadora”, como se
ela pudesse, com isso, inaugurar a ordem simbólica que, justamente, lhe falta.
(KUPFER, 2007)”.
Dessa forma, o aluno depredador está na verdade buscando de uma forma
desesperada instaurar a violência simbólica que justamente lhe falta. Ou seja, a
razão de o aluno depredador se parecer com o psicótico está no fato dele buscar na
violência real a violência simbólica. Isso é bem ilustrado na citação de Kupfer do
autor Calligaris: “quando a socialização é para o sujeito sustentada pelo real ela irá
produzir delinquência na tentativa de instaurar valores simbólicos” (KUPFER, 2007).
Em síntese, segundo a teoria de Kupfer, o jovem agressor e depredador, não
é apenas um reflexo das injustiças sociais, mas está buscando no real recuperar
pontos de identificação e de referências. A autora remete ao fato de que na infância
algumas marcas são inscritas nesses jovens e que mais tarde na adolescência
precisam ser reformuladas. Se caso não forem bem formuladas, se na infância
esses jovens não encontrarem no professor esses pontos de referência que os
ajudem a se constituírem, todos esses inscritos desde a infância podem vir a se
perder. Portanto, se o professor não oferecer a esses jovens imagens ideais, pontos
de referência, várias consequências virão à tona. Ao não acreditar nas regras da
sociedade, os jovens acabam deixando a escola e caem na delinquência.
2.4 - A violência simbólica em Bourdieu
A violência simbólica é uma teoria desenvolvida por Pierre Bourdieu,
sociólogo francês, que foi fortemente influenciado por autores como Marx, Durkheim
e Weber. Seus estudos sobre a sociologia da educação e da cultura influenciaram
grandes pensadores nacionais e internacionais ao longo dos anos. Em seus
25
estudos, que contemplavam a sociedade contemporânea, Bourdieu analisou as
relações sociais existentes e como tais grupos sociais se mantinham, elaborando
assim a teoria da reprodução baseada no conceito de violência simbólica.
Para o autor, a escola é a principal responsável pela reprodução das classes
sociais. Pode-se perceber nas instituições de ensino a sua função de legitimadora
de um sistema de ideias, seja de cunho político ou cultural. Bourdieu, em seus
escritos, deixa claro a sua inconformidade com toda a forma de imposição e
dominação que ocorrem de maneira dissimulada na sociedade. No livro “A
Reprodução” (1970) de Bourdieu e de Passeron, é dada grande ênfase à forma
como as escolas francesas tem impedido às classes dominadas a ascensão social e
contribuído para que as relações de classes se reproduzam.
As instituições de ensino não têm levado em conta as diferenças existentes
na sociedade e acabam por privilegiar e legitimar em suas práticas os preceitos da
cultura dominante. Dessa maneira, a escola está dando maior vantagem para as
crianças que já nasceram inseridas nessa cultura e dominam tais preceitos culturais.
Para esses, a escola será a continuidade de sua prática social e familiar. No entanto,
para as crianças das classes dominadas é preciso despir-se de sua cultura para
assimilar esses novos preceitos culturais das classes dominantes.
A teoria da reprodução criada por Bourdieu e Passeron está vinculada a ideia
de violência simbólica. Para eles, a ação pedagógica é objetivamente uma violência
simbólica, pois impõe um poder arbitrário. Esta arbitrariedade se refere como tal,
pelo fato da cultura das classes dominantes ser imposta como cultura legítima e
oficial para todos, desconsiderando a cultura das classes dominadas. Já o nome
poder arbitrário é pela razão da sociedade estar dividida em classes.
A ação pedagógica através de suas práticas acaba por reproduzir a cultura
dominante e a sociedade de classes. Dessa forma, para os alunos oriundos das
classes populares, a escola representa uma expulsão de sua cultura, pois
desconsidera os seus saberes, suas práticas, suas formas de pensar e sua
essência. Não só desconsidera, como despreza, menospreza, desvaloriza e ignora.
Dentro dessa perspectiva, fica evidente que para os alunos oriundos das classes
dominantes, que já possuem essa cultura desde o nascimento, é muito mais fácil
obter o êxito escolar, do que para aqueles vindos das classes dominadas, que
necessitam despir-se de sua cultura materna e aprender uma nova cultura, novos
hábitos, nova linguagem, novo vocabulário, nova maneira de se portar entre tantas
26
outras regras imputadas pela cultura dominante. Sendo assim, o sujeito só será bem
visto pela sociedade se dominar esses preceitos eleitos como legítimos.
“A ação pedagógica é objetivamente uma violência simbólica, num primeiro sentido,
enquanto que as relações de força entre os grupos ou as classes constitutivas de
uma formação social estão na base do poder arbitrário que é a condição da
instauração de uma relação de comunicação pedagógica, isto é, da imposição e da
inculcação de um arbitrário cultural segundo um modo arbitrário de imposição e de
inculcação educação”. (BOURDIEU; PASSERON, 1970).
27
CAPÍTULO III
OS PROCESSOS DE VIOLÊNCIA E A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
Estudar a violência é algo muito complexo, sem dúvidas ela se manifesta de
várias maneiras e advém de muitos fatores. Ela sempre existiu na sociedade e nos
últimos anos vem aumentando, principalmente no que diz respeito à educação.
Antigamente a escola não sofria tanto com problemas de violência como nos dias
atuais, talvez seja, por isso, que muitos estudiosos têm investigado esse fenômeno
com tanta intensidade.
A Escola, hoje, tem um papel muito mais complexo do que antes, pois tem
que educar com as novas formas de educação impostas pela prática social, como a
questão da mídia e a questão das representações sociais e do imaginário, que estão
presentes quando se fala em educar o sujeito. A Orientação Educacional, hoje,
também passa por esse processo de atuação, pois, atua diretamente com
professores, alunos e comunidade escolar.
Para o Setor de Orientação Educacional é de fundamental importância que o
Orientador Educacional elabore um Plano Anual de Ação. Este Plano Anual de Ação
em Orientação Educacional deve estabelecer o âmbito da ação, bem como suas
linhas gerais de trabalho:
• a Orientação Educacional no processo educativo proposto no Projeto
Pedagógico da Unidade Educacional;
• enfoque de ação: modo preventivo, desenvolvimentista, direto, indireto,
individual, em grupo;
• identificação das demandas;
• possibilidades de atendimento às necessidades.
Para tanto, o plano anual em Orientação Educacional deve ser flexível, pois
desse modo atenderá a diversidade de necessidades existentes na escola e as
características das condições de trabalho e dos educadores. Enfim, o Plano Anual
de Ação em Orientação Educacional deve ser avaliado e registrado periodicamente.
28
Esse plano de ação precisa ser pautado numa análise da realidade escolar do ano
de referência.
Um trabalho executado de modo planejado, aprofundado, constantemente
avaliado e direcionado para o desenvolvimento do grupo necessita ser prioritário na
lista de tarefas do Orientador Educacional, pois é no grupo que um indivíduo tem
mais oportunidades de desenvolver “certos instrumentos que só vivem e têm valor
através das pessoas” (MEIRIEU, 1998, p. 85).
Segundo Vitor Henrique Paro (2008), enquanto “atividade adequada a um fim,
o processo pedagógico de ensino/aprendizagem constitui verdadeiro trabalho
humano, que supõe a existência de um objeto de trabalho que, no caso, é o próprio
educando.” O produto do trabalho é, pois, o aluno educado. Por isso, não pode
haver boa aula se não houve aprendizado por parte do educando. A produtividade
da escola mede-se, portanto, pela realização de seu produto, ou seja, pela
proporção de seus alunos que ela consegue levar a se apropriar do saber produzido
historicamente. Isto supõe dizer que a boa escola envolve ensino e aprendizagem,
ou melhor, supõe considerar que só há ensino quando há aprendizagem.
Além de pensar criticamente, o jovem deve ter a oportunidade de intervir
sobre as manifestações que o afetam. Nesse sentido, entra o segundo aspecto
curricular, em todas as etapas da escolaridade, que é o desenvolvimento de
dispositivos de mediação de conflitos ou de ações que estimulem o protagonismo
estudantil, a fim de ensinar como gerenciar as diversas situações de forma
democrática.
A prática de assembleias envolvendo pais, alunos e docentes, a criação de
um grêmio estudantil, o desenvolvimento de campanhas de conscientização ou
mesmo a manifestação pública em redes sociais são algumas possibilidades que
permitem ao aluno participar ativamente de ações de combate à violência.
É importante ainda segundo as palavras de PIMENTA (1991), que a
orientação educacional esteja trabalhando de acordo com o projeto político
pedagógico da instituição. Que o mesmo verifique se a escola está conseguindo
atingir os objetivos propostos, como estão se dando os processos avaliativos e se a
cultura dos alunos está sendo levada em consideração. Para conhecer melhor a
cultura de seus alunos o orientador educacional juntamente com os educadores
29
pode promover entrevistas e atividades envolvendo o grupo. Enfim para concluir o
trabalho do orientador educacional na escola pode se usar das palavras de
PIMENTA onde a mesma diz que:
Muito das teorias e práticas específicas da orientação educacional podem ser
úteis desde que redirecionadas na perspectiva de tornar a escola não seletiva. Junto
com o professor e o supervisor, tendo sempre uma contribuição específica, o OE
pode trabalhar em situações como: na chegada das crianças, na organização das
turmas, no período preparatório, no método de alfabetização, nas classes fracas, na
relação da escola com a família e comunidade. (PIMENTA).
3.2 - Estratégias da Orientação Educacional
Com base nos estudos de Lück (1986) verificamos que o planejamento em
Orientação Educacional, “é um processo de estruturação e organização da ação
intencional realizado mediante análises de informação, determinação de estados
entre outros”. Nessa direção, o planejamento é o processo que exerce a função de
estruturar, e organizar o funcionamento e o desenvolvimento das ações
intencionalizadas. De acordo com a mesma autora, a importância do planejamento
em Orientação Educacional reside nas mais variadas situações, pois o orientador
realiza múltiplas tarefas, desde o controle de disciplinas até as situações
emergenciais.
O orientador deve trabalhar numa perspectiva preventiva, garantindo a
elaboração e operacionalização de projetos de intervenção, de acordo com cada
realidade escolar. Quando o educando é orientado previamente será menos
provável que algum problema venha a acontecer a não ser que seja por vontade
própria ou por adversidades no seu percurso. Acredita-se ser melhor prevenir do que
futuramente encontrar soluções para os problemas, depois destes já terem ocorrido.
Para tanto, insere-se neste contexto a ação integrada da Orientação Educacional,
bem como a utilização de uma pedagogia interdisciplinar, almejando o bom
desempenho de suas funções e, consequentemente, um relevante sucesso no
processo ensino-aprendizagem. Fundamentadas em Lück (1994, p. 88) vimos que “o
30
estabelecimento de um trabalho de sentido interdisciplinar provoca, como toda ação
a que não se está habituado uma sobrecarga de trabalho, um certo medo de errar,
de perder privilégios e direitos estabelecidos”.
Assim, a orientação por este enfoque implica em romper hábitos e
acomodações, implica em buscar algo novo e desconhecido, devendo ser encarada
como um grande desafio. Sem dúvidas todo e qualquer trabalho realizado no meio
educacional além da interdisciplinaridade e da ação integrada, deve ser realizado
com um prévio planejamento. Aliás, esta necessidade de planejar é inerente ao ser
humano em tudo que ele faz.
Não fugindo a regra, o orientador educacional tem por obrigação planejar o
que será desenvolvido por ele e sua equipe pedagógica. Lück (1986, p.16), adverte:
”O planejamento cuidadoso e acurado de suas ações permite ao orientador
educacional obter maior e melhor controle de circunstâncias e situações, em vez de
ser controlado por elas”. A afirmativa cabe a todo e qualquer profissional, mas em se
tratando da Orientação Educacional, e educação como um todo, devemos ter o
planejamento como tarefa essencial, pois trabalhamos em meio a subjetividades.
Uma atividade previamente pensada e elaborada tem demasiadas chances de ser
efetivada com sucesso, se compararmos a trabalhos desenvolvidos a partir da
improvisação.
Antigamente, os educadores utilizavam sempre de uma vara de vidoeiro em
seu dia a dia como uma forma de impor respeito e autoridade perante os alunos.
Estes não ousavam levantar a voz ou desobedecer aos mestres que tinham a vara
como um meio eficaz para impor a lei.
Nos dias atuais, tal autoridade antes fácil obtida pelos educadores por meio
da vara, já não produz mais efeito, pois os alunos não se amedrontam mais diante
do olhar mais firme do educador, nem tão pouco das ameaças. Além do mais, é
proibida tal façanha, e de modo justo. No entanto, será que o respeito que os alunos
devotavam aos professores em tempos idos eram de fato respeito e reconhecimento
de sua autoridade, ou era apenas reflexo do medo e da imposição feita por meio das
ameaças com a vara? Kupfer em seu artigo por uma vara de vidoeiro simbólica nos
31
remete às ideias de Freud sobre a questão da autoridade, levando-nos a olhar para
a figura paterna e a sua função nesse processo. Segundo Kupfer,
Dessa constituição, deverá emergir um sujeito desejante, que deseja, porém
porque está castrado; está castrado pelo Pai sem o saber, e não sabe por que se
encontra dividido em relação a esse saber. Separado dele pelo recalque. Desejante
porque castrado e dividido. Eis como se opera, para a psicanálise, a relação entre lei
e o desejo. Desse modo, a Lei do Pai, princípio do qual emana a autoridade dos pais
e professores, é esteio da civilização e do exercício do desejo. (AQUINO, 1999).
O pai constitui sua autoridade através de um discurso de mestre, ou seja, ele
é um educador. Sendo este um educador, os professores podem ser considerados
como um “pai substituto”, pois eles herdam a relação existente entre pais e filhos.
Por meio dessa constatação é possível explicar os conflitos existentes entre
professores e alunos. A autoridade em si é baseada na legitimação por parte dos
sujeitos em relação à lei, sendo que quando esta é imposta por meio de coação.
Está sendo, na verdade, respeitada por meio do autoritarismo, o que não significa
autoridade e respeito à lei, ou seja, sua legitimação.
Há casos em que há legitimidade por meio da persuasão, onde somos
convencidos por outrem a fazer ou deixar de fazer algo. Também há o fato de que
aquele que está submetido a uma autoridade, pensa não possuir nenhuma
autonomia. Dessa forma, percebe-se que nem sempre a submissão e a obediência
significam respeito e autoridade, pois elas podem estar sendo resultado de uma
coerção e imposição. Sendo assim, nem sempre o fato de alguns educadores
conseguirem a obediência dos educandos significa que esses tem autoridade sobre
os mesmos. Pois este pode estar sendo respeitado apenas por usufruir de
instrumentos punitivos e de coerção.
De acordo com AQUINO (1999), é de suma importância para que se
estabeleça a autoridade dos educadores e sua legitimidade que a família legitime o
poder a escola e aos educadores. Segundo ele a maior parte dos conflitos
educacionais são causados pela falta de autoridade e pelo autoritarismo. Ou seja,
falta na escola autoridade de fato, a lei, a violência simbólica necessária e
32
estruturante. Diante desses pressupostos, o professor responde com autoritarismo já
que lhe falta autoridade de fato.
33
CONCLUSÃO
O Orientador Educacional, como colaborador do processo pedagógico,
necessita trabalhar de forma integrada com a Coordenação Pedagógica e Direção,
buscando desenvolver suas funções junto aos alunos, em prol do desenvolvimento
de aprendizagens significativas, que façam da escola um espaço democrático
desconstrução de saberes necessários à formação humana.
A grande estratégia do mundo moderno é ensinar, aprendendo. Mais do que
ensinar conteúdos, é estar comprometido na abertura de caminhos. Não se
transmite conhecimento, mas, sim, sinais deste, para que o outro possa fazer uso
dele e transformá-lo de forma subjetiva. Para abrir estes caminhos é preciso que
seja levado em conta o que se deseja ensinar, para quê e para quem se ensina. A
reflexão constante destas questões deve permear toda a práxis docente,
estimulando o diálogo com os sujeitos desse processo, os discentes, de forma a dar
significados ao que se aprende na escola. Eis aí a importância do trabalho integrado
com a Orientação Educacional.
Nesta reflexão, conteúdos, competências e habilidades de um currículo
devem ser analisados e selecionados de acordo com a realidade dos sujeitos
aprendentes, para que possam apropriar-se destes conceitos e transformá-los de
forma a suprir suas necessidades e superar suas dificuldades, ainda que sejam no
campo familiar. Para isso acontecer efetivamente é preciso identificar e conhecer
estes sujeitos, através de uma relação vincular entre o ensinante e o aprendente,
abrindo-se uma via de diálogo, afim de que esta perpasse até mesmo pela violência,
alcançando a essência do ser humano dentro do sujeito.
Para que o sujeito modifique seus, é necessário conectar-se com suas
próprias mazelas, mostrar seu conhecimento, autorizar-se a abrir ao outro e, assim,
incorporar seus ensinamentos. Ensinar não é apenas transmitir conhecimentos
obedecendo a determinadas metodologias, ensinar é de encontro consigo mesmo
através da relação com o outro. Cabe ao Orientador Educacional pesquisar e
estudar estratégias diversificadas de ensino/aprendizagem, visando a busca de
caminhos possíveis para a motivação de professores e de alunos, de forma que o
aprender/ensinar/aprender aconteça harmoniosamente, e assim, alcancemos o
sucesso escolar.
34
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