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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS- GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
BIOTECNOLOGIA NOS PROCESSOS DE CULTIVOS
ORGÂNICOS
Por: Tania Mara dos Anjos Chagas
Orientadora
Profª. Drª. Maria Esther de Araújo
Rio de Janeiro
2013
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
BIOTECNOLOGIA NOS PROCESSOS DE CULTIVOS
ORGÂNICOS
Apresentação de monografia à Universidade Cândido
Mendes como condição prévia para a conclusão do
Curso de Pós- Graduação “Lato Sensu” em Gestão
Ambiental.
Por: Tania Mara dos Anjos Chagas
3
AGRADECIMENTOS
... A Deus, pelo dom da vida e aos amigos que
colaboradores para a realização do presente trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, minhas filhas e minha irmã Maiara pelo
seu inigualável apoio aos meus projetos de vida.
5
METODOLOGIA
A metodologia adotada submete o trabalho presente ao conjunto de
fontes que fundamentam a problemática abordada, fornecendo bases teóricas,
informes históricos, acadêmicos, e de ações articuladoras à expansão dos
cultivos orgânicos.
A busca de subsídios efetuou- se em pesquisas bibliográficas nas
justificativas conservacionistas de manejo e controles adequados e ao
desenvolvimento crítico circundante das etapas de produção orgânica.
A proposta almejada requer a construção de uma identidade social que
valorize o teor nutricional dos alimentos e a qualidade de vida.
6
RESUMO
As alternativas ofertadas ao modelo convencional dos processos
agrícolas descrevem na sociedade movimentos importantes ditados por
cientistas e literários de caráter conservacionista. Toda gama de conhecimento
concretiza possibilidades produtivas paralelas a adoções de medidas
sustentáveis, embora, perpetuem desafios na organização estrutural de
lavouras orgânicas e nas estratégias que estreitam a relação entre produtores
e consumidores e suas respectivas interferências nos agroecossistemas. O
trabalho apresentado traduz o entendimento efetivo das riquezas da biosfera
para a manutenção física e cultural de todos os segmentos da sociedade civil.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................8
CAPÍTULO I- CULTIVO ORGÂNICO................................................................10
CAPÍTULO II- SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E AMBIENTAL NA
AGRICULTURA.................................................................................................16
CAPÍTULO III- OS AVANÇOS DA AGRICULTURA
ORGÂNICA........................................................................................................27
CONCLUSÃO....................................................................................................41
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA........................................................................42
WEBGRAFIA.....................................................................................................43
ÍNDICE..............................................................................................................44
8
INTRODUÇÃO
O Homem, ao perceber suas capacidades e habilidades na produção de
alimentos, desenvolve processos e ferramentas que possibilitam abastecer o
seu consumo e, posteriormente, o interesse capitalista. O domínio humano
implementado sobre valoroso elemento natural, o solo, ampliou- se com o
desenvolvimento industrial, gerador de insumos relevantes à produtividade no
campo, como máquinas e fertilizantes. Todavia, a modernização, na
agricultura, revelada pela nossa história econômica e denominada Agricultura
Convencional legou ao Brasil e ao mundo alarmantes danos ambientais
agravados pelo modelo excludente sociocultural adotado na ocupação do
espaço. A partir de contestações e novas propostas de trabalho alternativas
nos processos agrícolas, emerge de preocupações e pesquisas norteadas pela
sustentabilidade e qualidade de vida: agricultura orgânica.
A escolha do presente tema justifica-se, sobretudo, pelas propostas de
um paradigma de coexistência pacífica entre produção agrícola e equilíbrio
ecológico. Essas ferramentas biotecnológicas constituem valores e
conhecimentos aplicados aos segmentos produtivos no campo, à
sustentabilidade, e à acessibilidade a uma alimentação saudável, logo, a uma
qualidade de vida da sociedade civil.
O primeiro capítulo abordará um breve histórico da agricultura orgânica
no Brasil, concomitante, as análises conceituais de Ambiente e Economia e a
percepção socioambiental inerente as propostas de transformação tecnológicas
aplicadas as práticas agrícolas e a qualidade de vida.
O capítulo subsequente elucidará acerca das práticas sustentáveis nas
fronteiras agrícolas do Brasil, expressando manejos biotecnológicos na
conservação solo, da água, e no controle de pragas e doenças. E enfocar a
relevância da agricultura familiar na democratização do consumo alimentar
saudável.
9
Mais adiante, constataremos a evolução dos cultivos no Brasil
assinalados pela fragilidade da Cultura Convencional, contaminação química,
degradação dos solos, a qualidade dos alimentos orgânicos e, principalmente,
pela expansão do consumo consciente nas práticas comerciais e sociais.
As considerações gerais evidenciarão o papel irrevogável da
humanidade: adequar às necessidades individuais ou coletivas, os processos
de demanda diversificada de energia e insumos em todos os setores
produtivos, a fim de atender a sobrevida atual e das futuras gerações.
10
CAPÍTULO I
CULTIVO ORGÂNICO
As referências históricas pautadas nos exemplos de melhor convivência
com os recursos naturais são baseadas no conhecimento científico utilizado,
então disponível (Khatounian, 2001), registram-se:
No período entre 1920e 1940, nas conferências de Rudolf Steiner, na Alemanha, constituiram as bases da Agricultura Biodinâmica, publicação “de um testamento agrícola”, do inglês Albut Howard, que reunia os princípios da agricultura orgânica...(www.incaper.es.gov.br, acessado em 21 de janeiro de 2013).
Da Antiguidade até o século XIX, o conhecimento agrônomo era
essencialmente desprovido de estudos científicos, tanto que os experimentos
de Saussure e outros estudiosos marcam, no século XX, o início de uma fase
de avanços tecnológicos e científicos, controversos à teoria do Húmus e
difusores de fertilizantes artificiais.
Na Segunda Revolução Agrícola, manejos mecanizados, apropriados pelo
setor industrial, desenvolveram e expandiram rapidamente a rentabilidade das
culturas. Essas inovações foram financiadas por capitais públicos e privados e,
apoiados pelo modelo tecnológico em áreas rurais.
Não obstante, na década de 1960, indícios de degradação ambiental
surgem, tais como: erosão, perda da fertilidade dos solos, e contaminação de
recursos hídricos e dos agricultores por agrotóxicos. Nesse ínterim,
precisamente em 1962, nos Estados Unidos, Rachel Carson publica o livro
“Primavera Silenciosa”, abordando questionamentos ambientais do modelo
convencional agrícola, obra que embasou posturas ambientalistas globais.
No início dos anos 70 eclodiram significativamente as propostas
“alternativas” para o modelo agrícola vigente, chamada de Agricultura
11
Alternativa e, mais adiante, em 1972, ocorreu na França a Primeira
Organização Internacional, criada para fomentar o movimento supracitado,
decorrente da ideologia capitalista e seus impactos ambientais.
Na fase seguinte, década de 1980, a denominação Agricultura Alternativa
foi substituída por Agricultura Ecológica, identificada como parte da
Agroecologia, um novo campo de estudos aglutinador de diversas disciplinas:
Agronomia, Sociologia Rural, Ecologia e Antropologia. Os enfoques científicos
correlacionados aos aspectos sociais contribuíram para a difusão da
Agroecologia nos Estados Unidos e na América Latina.
Em 1992, na Conferencia Mundial da ECO- 92, no Rio de Janeiro, surge
o termo Sustentabilidade, visando integrar o desenvolvimento econômico e o
meio ambiente. O período também apresentou princípios para a certificação
ambiental para produtos, técnicas e processos não agressores ao meio
ambiente. Posteriormente, essas certificações foram institucionalizadas,
possibilitando produtos agroecológicos, inseridos em diferentes redes de
distribuição e nos seus diferentes níveis de abrangência, oportunidades
dependentes da demanda produtiva organizada e articulada.
O grande desafio atual para a agroecologia consiste na democratização
de tecnologias sustentáveis e economias que precisam reestruturar suas
políticas públicas.
12
1.1- AGRICULTURA ORGÂNICA NO BRASIL
No Brasil, mais especificadamente, do processo colonial de exploração,
até a década de 1930, inexistiam preocupações relativas ao meio ambiente,
exceto, algumas normatizações de proteção ambiental.
Entre as décadas de 1940 e 1960 o processo agrícola tornou- se
mecanizado através do Capitalismo Industrial com emprego de máquinas,
produtos agroquímicos para potencializar a produção e consumo de grãos.
Nesse período emergiram sérios problemas ambientais e também soluções
alternativas para contorná- los.
Na década de 1970 as propostas alternativas sugerem mudanças no
padrão produtivo agrícola convencional, em face às questões ambientais
vigentes e à exclusão histórico- político-social dos agricultores.
No Brasil, pesquisadores como Adilson Paschoal e Ana Maria Primavesi,
precursores das criticas ás praticas de cultivos tradicionais e contribuíram para
o despertar de novos métodos nas vidas acadêmicas, parâmetros profissionais
e na construção da opinião pública em geral, absorvendo propostas
alternativas interessadas na questão ambiental do país.
Durante a década de 1980 ocorreram reuniões nos âmbitos nacional e
regional a respeito de críticas aos modelos tecnológicos, gerindo degradações
ambientais e de incorporações de aspectos sócio-econômicos na produção de
alimentos. Também no período surgiram desdobramentos importantes sobre os
métodos convencionais pautados na busca de fundamentação científica e
resolução dos problemas da sustentabilidade nos sistemas agrícolas.
Concomitante aos movimentos, o mercado ecológico, nas últimas
décadas, ampliou-se a partir da agricultura familiar, abrigando as propostas
alternativas e a necessidade de normatizar e certificar a produção,
posteriormente, denominada Agricultura Orgânica.
13
1.2- ANÁLISE CONCEITUAL
A Agricultura Orgânica é um sistema de práticas que potencializa a
biodiversidade dos manejos do solo. A produção coexiste com medidas
conservacionistas do solo, aumentando a capacidade produtiva da terra,
evitando degradações e ações erosivas, perpetuando uma agricultura rentável
e mais saudável ao ambiente, ao produtor e ao consumidor.
A agricultura surgiu à cerca de 10 mil anos em terrenos aluviais e férteis, às
margens de cursos de água. À medida que o Homem apropria-se do espaço
geográfico e amplia a ocupação e povoamento do mesmo, passa a gerir outros
ecossistemas para obtenção de alimentos.
A química, ao ser introduzida na prática agrícola, há menos de dois
séculos, paralela ao desenvolvimento industrial, ocasionou o modelo agrícola
dependente de fontes energéticas e centrado nos insumos sintéticos e
aparatos mecanizados, denominando A gricultura Convencional.
A produção agrícola não- convencional implementa métodos biológicos,
otimizando a disponibilidade dos recursos naturais e sócio-econômicos. Nesses
parâmetros, estão inseridas diferentes propostas de atuações: Agricultura
Biodinâmica (interação entre produção e preparos biodinâmicos); Agricultura
Biológica (norteada pela teoria da Trofobiose, em que, o equilíbrio nutricional
torna o plantio mais resistente às pragas e doenças); Agricultura Natural
(minimiza a ação antrópica nos agroecossistemas e a preconização ao uso de
microrganismos eficazes e inóculos ao meio natural)
14
1.3- PERCEPÇÃO SÓCIOAMBIENTAL
A palavra perceber origina- se do latim (per = bem, como
intensidade + cápere = apanhar, pegar, captar). Nessa semântica, perceber
é adquirir conhecimento de um fato, um fenômeno ou uma realidade pelos
sentidos; Percepção primorosa e abrangente deve nortear as análises e
diagnósticos ambientais.
No processo de conhecimento, percepção constitui teorias e
práticas. Essas precisam conter experiências e raciocínios claros e
objetivos que conduzem a conclusões irrefutáveis a todas as áreas da
ciência e da vida humana. Por isso, ao ambiente como um todo, são
oportunos e conscientes esforços em percepção de fenômenos naturais e
das ações antrópicas que neles atuam. Segundo Reigota:
A sociedade tem suas representações sociais sobre o meio ambiente que traduzem o modo de ver ou opinião corrente sobre a realidade ambiental. Sabe-se que essas representações variam segundo as diferentes regiões e os estacamentos sociais, porém, estão ligadas à cultura dominante. (Reigota M. Meio ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 1995).
Com efeito, a relação da sociedade com o meio ambiente difere
segundo sua localização geográfica e suas características históricas,
naturais e culturais bem como, incumbem- se as convicções religiosas, a
organização política, e modelos econômicos implementados.
É importante salientar a história de domínio colonial em algumas
partes do mundo. No Brasil, por exemplo, o dominante cultural apropriou-se
dos recursos naturais para a expansão dos modelos de desenvolvimento e
padrões de consumo. Essa realidade tornou a maior parte da população
excluída do progresso e da consciência ecológica, fruto da ignorância e da
ganância industrial.
15
As questões ambientais podem sensibilizar as representações
sociais e melhorar a percepção das mesmas sobre meio ambiente. Tais
transformações dependem de ações, ideias e sentimentos equilibrados de
uma população educada nos contextos éticos e sociais, constituindo uma
cidadania a partir da formação de consciência crítica e da responsabilidade
do bem comum.
16
CAPÍTULO II
SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E AMBIENTAL NA
AGRICULTURA
A sustentabilidade aplicada à agricultura decorre de recursos não
degradantes do meio natural em suas diversas funções. Nesses termos, a
definição mais famosa:
Satisfazer as necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades (Informe Brundtland, 1987).
Os recursos naturais utilizados no crescimento econômico nas
décadas de 1950, 1960 e início de 1970 não foram considerados nos
processos produtivos, cedendo espaço para o papel aglutinador e imponente e
da terra, capital e trabalho. A impossibilidade de um nível sustentável na
agricultura produz nos ecossistemas alterações que afetam a sobrevida no
planeta a potencializa catástrofes de dimensões incalculáveis.
A agricultura industrializada é um marco tecnológico potencializador
de plantações, irrigações, fertilizantes sintéticos com êxitos econômicos,
privilegiando subsídios de insumos e apropriando- se de extensos e complexos
ecossistemas, como recursos hídricos e fontes enérgicas. Todavia, os reais
retornos da agricultura mecanizada estão diminuindo e sinalizam problemas na
produção, cada vez mais sérios, nos extratos superiores do solo com perdas
importantes de compostos orgânicos causadores de erosões, perdas de
produtividade e preocupações para o sustento da humanidade.
Os intensos processos de degradação ecológica, muitas vezes
mascarados pela produção intensiva, salientam os perigos em ignorar a biota
do solo, a utilização dos agrotóxicos e os danos severos ao planeta. O
comprometimento biológico do alicerce da lavoura aumenta à medida que se
expandem os conhecimentos especializados na aplicação agroquímica, na
diversidade genética dos ciclos reprodutivos, dos habitats vivos. As soluções
17
emergenciais exigem ações conjuntas de agricultores orgânicos,
consumidores, e grupos de interesse público que visem incorporar a ciência da
ecologia no sistema agrícola. Por razões econômicas, de saúde, e ambientais
os métodos atuais precisam ser rompidos e substituídos por manejos
sustentáveis e absorvidos por fluxos de alimentos diversificados e saudáveis.
18
2.1- SOLO: PRODUTIVIDADE E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL
O ciclo biológico do solo decorre da ação de microorganismos que
transformam tudo quando cai ou nasce no chão em nutrientes. Na metáfora de
Evan Eisenberg:
O solo é menos uma fábrica e uma feira livre, uma casbá, um mercado de pulgas, um vale- tudo econômico, no qual, todo comprador e todo vendedor defende seu interesse e no qual cada migalha de mercadoria- de segunda mão, de sétima mão, quebrada, resgatada, remendada- é explorada até o último grama. A decomposição é um bom negocio porque dela se podem extrair os nutrientes e a energia gerados pela ruptura das combinações químicas. Se o efeito liquido da atividade da biota do solo é incrivelmente útil- aliás, essencial- à vida, não é porque a natureza assim o ordenou, mas porque as diversas formas de vida acima e abaixo do solo coevoluíram. (Eisenberg, 1998, pp. 23, 29)
A afirmação suscita empregos futuros da engenharia genética, nos
conhecimentos biológicos do solo, revelando ao trabalhador agrícola os
organismos que preservam a integridade e a estabilidade do solo, processos
ecológicos, complexos que necessitam de intensas pesquisas e restaurações.
A degradação dos solos no mundo, segundo a Organização das
Nações Unidas (ONU), calcula-se mais de dois bilhões de hectares a área total.
Os principais vilões devastam matérias- primas utilizadas para sobrevivência e
a evolução, através de queimadas, extensos pastos e insumos sintéticos. As
suas dinâmicas exigem cuidados de acordo com suas especificidades e a
proteção das mesmas constituem um dos principais desafios da humanidade.
É salutar que o agricultor possua conhecimentos do sistema
complexo do solo de sua propriedade, na certeza de um valoroso sistema vivo
que sustenta plantas com nutrientes e matérias orgânicas e capacidade de
retenção de umidade para infiltração da água em seus horizontes. A fertilidade
do mesmo expressa- se pelo seu potencial máximo de produtividade através de
suas propriedades químicas, físicas e biológicas.
19
2.2- PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS
As práticas sustentáveis apresentam o uso adequado dos recursos
naturais, permitem, na pratica agrícola, a interação da produtividade, dinâmicas
ambientais e qualidade de vida. De acordo cãs as orientações da Sociedade
Nacional de Agricultura, o sistema de gerenciamento total da agricultura
orgânica, promove e realça a saúde do meio ambiente, preserva a
biodiversidade, os ciclos, as atividades biológicas do solo e excluem
substâncias estranhas às desempenhadas pelos agroecossistemas.
A erosão é mais eminente em áreas tropicais e propícia em lugares
de solos desprotegidos de cobertura vegetal. Portanto, evitar queimadas
protege a matéria orgânica e preserva a capacidade produtiva da terra. Os
plantios e curvas de nível utilizam- se de aparelhos simples e eficazes nas
encostas com declives, minimizando o escoamento de terra, adubos, sementes
e plantas e, conduzindo fluxo para as margens do cultivo e para infiltração no
solo.
A rotação de culturas permite o produtor alcançar melhoras físicas,
químicas e biológicas para o alicerce agrícola, um plantio direto, eficiente, por
meio do qual, gera equilíbrio entre espécies cultivadas e a biodinâmica ao
redor, além de ajudar no controle de pragas e plantas daninhas, que podem
prejudicar a lavoura. Logo, reduzindo a utilização de pesticidas.
A aplicação da cobertura morta fortalece a vida do solo, melhora seu a
microclima e aumenta a fertilidade, conserva umidade, reduz a proliferação de
ervas invasoras e reduz impactos térmicos e pluviométricos e a necessidade de
aração, a partir da utilização de camadas de capim seco, restos de culturas e
matérias orgânicas frescas de árvores, arbustos e ervas invasoras.
O preparo do solo depende do planejamento e dos métodos adotados
com práticas de degradação e contaminação ou com características que
conservam o ambiente e se adequam às condições de terreno e clima locais.
20
Essas últimas, intensivamente aplicadas, em pequenas áreas propiciam o
aumento das produções e mantém a produtividade perpetuadas pelo tempo.
2.2.1- Métodos de Manejo
No tocante à preocupação, ao manejo da fertilização e adubação em
áreas de cultivos é oportuno que ações de produtores especialistas certifiquem-
se de todos os fatores que interferem nos processos de cultivo. A partir de
diagnósticos corretos das condições reais do solo cultivado, conhecimentos e
deficiências levantados possibilitam planos de ação com dinâmicas orgânicas e
sustentáveis.
A agricultura orgânica recomenda lavouras desenvolvidas sem aditivos
químicos e a introdução de espécies e variedades de plantas adaptadas às
condições ambientais, visando a manutenção da fertilidade do solo. A
recomendação inserida na realidade agro ecológica conduz os cultivos a uma
proximidade máxima possível da sua condição sob vegetação natural.
Quantas atividades conservacionistas do solo e da água os agricultores
devem evitar o uso de implementos que desestruturem o solo, evitar aplicações
de insumos contaminantes e poluentes, minimizar a destruição vegetal
protetora de mananciais e margens de rios e submeter suas propriedades a
análises hídricas , eventualmente contaminadas pela presença agroquímica de
média e alta solubilidade e concentração.
Em decorrência da presença de pragas e doenças é salutar a
diversificação dos sistemas produtivos isentos de esterilizantes, transgênicos e
de compostos inorgânicos sintéticos à base de metais e a introdução de
práticas biológicas que permitam o aumento da população de inimigos naturais
que protegem a produção, assim como, a utilização de feromônios,
biofertilizantes, caldas fitoprotetoras, exemplos de controle racional de
estabilização do agroecosistema.
As estratégias de controle alusivas à presença de plantas invasoras
baseiam- se na convivência aceitável entre as plantas cultivadas e a
21
comunidade infestante, dependentes de fatores físicos, químicos, biológicos e
culturais, provocando o mínimo de impacto ambiental sem comprometer a
economia agrícola, alheias à utilização de herbicidas químicos derivados de
petróleo e hormônios sintéticos.
22
2.3- NOVAS TÉCNICAS E PRODUTIVIDADE Nos últimos anos, agricultores começaram a perceber atraentes
oportunidades, juntamente com a necessidade de gerir gastos e recursos
mediante adoções de propostas tecnológicas.
O esgotamento dos nutrientes e a erosão diminui a fertilidade e
produz o desafio urgente de manter a produtividade e diminuir os prejuízos ao
ambiente e à saúde. Há muitos anos, o Brasil explora seus recursos naturais,
promove crescimentos urbanos e industriais e estimula a interferência humana
cada vez maior sobre a natureza, resultando em intensos aprendizados nas
soluções de impactos ambientais e garantias de sustentabilidade.
A adoção de práticas mais adequadas a conservação do solo tem
representado experiências importantes, em Ponta Grossa, estado do Paraná,
tanto de proteção ao ambiente quanto no incremento da produtividade. Método
chamado plantio direto na palha alcança no país 50% da área plantada com
grãos e consiste basicamente em não movimentar a terra, servindo para
minimizar o impacto pluvial e poupar umidade para as plantas em épocas de
estiagem, logo, aumentando índices de fertilidade.
As despesas com insumos reduziram e aumentou a fertilidade.
Ademais, os agricultores aplicaram a rotação de culturas, o que contribuiu para
inibir a presença de algumas pragas e doenças. Também, áreas de pastagens
degradadas recebem técnicas de recuperação, juntamente com as lavouras.
Para os especialistas, as boas práticas agrícolas simbolizam
segurança contra novas barreiras protecionistas ao comércio de alimentos,
exigências atuais da comunidade internacional que atesta a qualidade do
sistema produtivo, no tocante aos aspectos socioambientais. Essa realidade
caracteriza lavouras cafeeiras do sul de Minas, que utilizam manejo integrado
de pragas com objetivo de reduzir o consumo de agrotóxicos e minimizar os
23
impactos ambientais. O sistema requer análises periódicas e tem sido utilizado
em culturas temporárias e permanentes, como de laranja, cana-de-açúcar e
áreas de reflorestamento.
Os métodos biológicos de controle de pragas estão presentes na
produção da palma do dendê, que é polinizada por alguns besouros africanos,
viabilização econômica que exige grandes cuidados para afastar inimigos
naturais, como várias espécies de moscas, percevejos e vespas. Em Acará,
município paraense, insetos nocivos às plantações são capturados em
armadilhas feitas de sacos plásticos.
Em Goiás, além de sistemas de rotação, há pulverizadores
eletrostáticos na irrigação das lavouras, visando o melhor aproveitamento da
água, gerando economia no total gasto e melhor dispersão do líquido. O
exemplo tecnológico a favor da produção adapta a mecanização aos benefícios
do cultivo.
Os campos, na região do Médio Paranapanema, tem apresentado
resultados satisfatórios, revezando as sementes forrageiras com as produções
de soja, milho e pecuária. A semente alimenta o gado e ajuda na alimentação
do solo, com menos erosão e maior teor de matéria orgânica, melhorando sua
fertilidade.
Os benefícios gerados com a diminuição do impacto da degradação
do solo norteiam- se a partir da valorização dos recursos naturais e do
interesse econômico em remediar os estragos causados e garantir o
abastecimento para o futuro. A consciência para conservação ambiental reflete
a preocupação nas estatísticas alarmantes de perdas de fertilidade em áreas
cultivadas.
A produtividade não visa economizar somente recursos e gastos, mas
também, melhorar a qualidade de vida. Muitas vantagens significativas
fornecem embasamentos para o crescimento de atividades empresariais e
24
sociais, conjunto de estratégias rentáveis para a manutenção da biosfera,
evitando perdas dos sistemas vivos indispensáveis e da coesão social.
Com efeito, a difusão de conhecimentos técnicos associada aos
princípios biológicos desenvolvem soluções inteligentes e estabelecem o
aperfeiçoamento contínuo de controles eficientes de produtos bioquímicos
inseridos no meio natural. A cultura empresarial agrícola deve ministrar em
suas organizações a medição, a monitoração, a inovação e, principalmente, o
pensamento crítico.
25
2.4- AGRICULTURA FAMILIAR
O termo “Agricultura Familiar” surge mais amplamente no início dos
anos 90, contrapondo-se às diversas denominações desqualificativas,
pejorativas, desta classe especial de agricultores. Para uma melhor
contextualização, serão vistos alguns conceitos de Agricultura Familiar:
a)“Agricultor familiar é todo aquele que tem na agricultura sua principal fonte de
renda (mais de 80%) e cuja força de trabalho utilizada no estabelecimento
venha fundamentalmente de membros da família. É permitido o emprego de
terceiros, temporariamente, quando a atividade agrícola assim necessitar. Em
caso de contratação de mão-de-obra, a familiar deve ser igual ou superior a
75% do total utilizado no estabelecimento” (FAO/INCRA, 1996). Este foi o
conceito que determinou os padrões para fins de acesso dos agricultores
familiares às linhas de crédito rural do PRONAF(Programa Nacional para
Fortalecimento da Agricultura Familiar). O Ministério da Agricultura, para efeito
do PRONAF, considera como familiares todos os agricultores que contratam
até dois empregados permanentes e detém área inferior a quatro módulos
fiscais.
b) A CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais) considera
como familiares todos os agricultores que trabalham em menos de quatro
módulos fiscais e que não contratem mão-de-obra permanente. O cultivo
familiar corresponde à produção em pequenas e médias propriedades com
mão - de- obra sem rendas elevadas, e infraestrutura de investimentos.
Embora, essa prática figure na estatística responsável por 70% da produção
alimentícia, abrigando milhões de trabalhadores.
O artigo presente assinala as dificuldades que a agricultura familiar
enfrenta:
menores indicadores de escolaridade, dificuldade de acesso à energia elétrica e aos meios de comunicação, descompensada a forma de acesso à terra... (www.ceplac.gov.br)
26
Os limites físicos e financeiros retratam o modelo de
desenvolvimento concentrador de terra e renda, fator determinante para os
fluxos de êxodo rural nas décadas de 1970 e 1980 para os centros urbanos,
causando a hipertrofia e áreas periféricas nos grandes centros, repercutindo
negativamente em suas práticas.
O domínio da modernização processou a Revolução Verde,
subjugando o meio rural aos interesses econômicos da indústria química, bem
como, as necessidades ambientais e sociais, desconsiderando também
anseios familiares. O contexto enfatiza a sustentabilidade a partir da relevância
à adversidade e a valores tradicionais na agricultura, sobre as esferas das
políticas públicas.
A certeza de uma agricultura sustentável familiar é a grande
esperança de um incremento rural preservado e potencializador de
agronegócio. Contudo, muitos desafios são cruciais para este setor econômico,
tais como: elevar a instrução sistemática dos agricultores; diversificar os
cultivos para diminuir custos; ampliar a renda e disponibilizar a mão- de – obra.
A elevação da renda efetiva maior inserção do trabalhador ao mercado através
do desenvolvimento tecnológico e a condições políticas e institucionais.
O processo de adaptação e organização do sistema produtivo a partir
das tecnologias disponíveis desafiam as prática familiares na agricultura
fundamentada, principalmente, pela diversidade de situações que a envolvem,
particularidades como: distanciamentos territoriais, degradações de terras
produtivas e exigências em qualidade. Nas evidências de sucesso verificam- se
objetivos alcançados, como por exemplo, aquisição de linhas de crédito e a
qualificação da força de trabalho.
A dinamização dos processos e serviços para desenvolver a
agricultura familiar necessita de uma transformação rápida, segura e altamente
competitiva com o mercado mundial, a fim de alcançar mercado consistente e
reflexos importantes na qualidade de vida dos grandes centros urbanos.
27
CAPÍTULO III
OS AVANÇOS DA AGRICULTURA ORGÂNICA
Pesquisam recentes nos revelam a contínua expansão do cultivo
orgânico, em áreas plantadas e possibilidade de consumo, exigido pelas
propostas de conservação ambiental e porções populacionais voltadas para
uma alimentação mais saudável. A difusão de conhecimentos biodinâmicos,
aliados ao despertar da consciência ambiental, incrementaram práticas
sustentáveis no agronegócio.
No Brasil, a partir do final da década de 1970, organismos
importantes processaram técnicas sustentáveis que forma fomentadas na
década de 1990, quando manejos convencionais e os seus efeitos
apresentaram degradações em agroecossistemas em varias partes do mundo,
movimentando cifras importantes no mercado.
28
3.1- DESAFIOS DA AGRICULTURA CONVENCIONAL
A modernidade agrícola, inquestionavelmente, propiciou relevantes
progressos na produção rural. No entanto, no século XX, evidências de
problemas na produtividade, reveladas, estimularam conhecimentos ecológicos
para estabelecer produções de alimentos, acompanhando o crescimento
populacional do mundo.
Em consonância ao Manual de Horticultura Orgânica, o modelo
tecnológico desenvolvido baseou- se na junção de aplicação de insumos
sintéticos, consumos de energia e impactos ambientais e sociais. Esse quadro
tem fragilizado a riqueza genética da produção alimentar de grandes parcelas
populacionais com efeitos sérios na saúde humana.
Ao longo de sucessivas décadas a agricultura permitiu grandes
progressos, um destes exemplos mais contundentes refere-se ao surgimento
dos agrotóxicos empregados na agricultura, com substâncias derivadas de
sementes da mostarda como uma poderosa arma usada na Primeira Guerra
Mundial para cegar soldados inimigos. Um marco da indústria de armas e da
agroquímica, a qual, movimenta muitos dólares por ano no complexo industrial-
militar- agroquímico.
Os pesticidas são composições sintéticas classificadas em:
inseticidas, fungicidas, herbicidas, rodenticidas, moluscicidas e nematicidas,
compostos organoclorados que são absorvidos pela derme por inalação ou por
ingestão, afetando o sistema nervoso com atos de desequilíbrio, vômitos,
convulsões e insônia, por exemplo. Os efeitos de produtos recalcitrantes
infestam o código genético e comprometem a reprodução humana.
Alguns agrotóxicos em altas dosagens inibem o crescimento vegetal,
formação de cascas dos ovos, impossibilitando a incubação. Também, podem
surgir solos esterilizados quanto a processos de fixação de nitrogênio, expondo
29
os mesmos as ações do intemperismo, dos intemperismos físico e químico,
vulneráveis a erosões graves e à perda dos ciclos biodinâmicos que o mantem
produtivo.
A utilização de agrotóxicos contribui para o aumento significativo dos
problemas ambientais, pois, suas composições tóxicas provocam diversidades
patológicas, afetando formações e imunidades nas diversas formas de vida. O
contato no solo tem diminuído a presença de seus nutrientes e a eficácia de
recursos hídricos com graus alarmantes de contaminação e perdas de
eficiência produtiva, que podem ser irreversíveis.
Estudos intensos alertam sobre problemas de contaminação com
agrotóxicos sobre a segurança e a saúde do produtor, agricultura,
agroecossistema, e o próprio consumidor de alimentos. Muitas intoxicações
são agudas, principalmente em países em desenvolvimento, que perecem nas
ausências de legislações e fiscalizações.
A realidade da produção agrícola dependente do capitalismo industrial
exclui muitos produtores, tornando- os dependentes de instituições financeiras
e da política agrícola para obtenção de insumos e inserção no mercado. Além
de privilegiar a concentração de terras esvazia a área rural, expulsando mão-
de –obra para centros urbanos, espelhando a falta de integração de aspectos
ambientais, sociais e culturais.
O gerenciamento de recursos hídricos na agricultura é uma postura
desafiadora atual, composta por atitudes controladoras de desperdícios e
preservadoras de esgotamento de lençóis freáticos, uma vez que, a prática
agrícola representa a atividade econômica de maior consumo d’água. Medidas
exemplares poupadoras de água figuram dentre as inovações tecnológicas e
na consciência de custo, principalmente, para irrigação superficial, voltada para
o aumento da produção alimentícia.
A cultura industrial depende da demanda enérgica, principalmente, de
fontes contaminantes de gás carbônico, os hidrocarbonetos fósseis. O uso
30
eficiente de energia na produção sustentável disponibiliza os insumos
biológicos, não agressores à saúde dos ecossistemas nas áreas rurais e
urbanas, melhorando o aproveitamento e ciclagem de nutrientes e energia,
diminuindo os impactos ambientais. As conversões energéticas desenvolvem a
sustentabilidade e capacita a renovação de metas de eficiência.
31
3.2- CONSCIÊNCIA AMBIENTAL
Na década de 1960, estudiosos, abordaram aspectos importantes
sobre os possíveis impactos dos agroquímicos à saúde do homem, dos
animais de estimação e de todo o processo biodinâmico dos ecossistemas.
A consciência ambiental tem aumentado desde a divulgação de
pesquisas realizadas nos Estados Unidos, em 1965 e em 1984. Análises
estatísticas dos problemas e a compreensão de uma dieta orgânica tem
transformado rapidamente o perfil dos consumidores em várias partes do
mundo. Cada vez mais exigentes quanto às garantias ecológicas da
composição dos produtos alimentares.
A urgência nas estratégias de sustentabilidade surge na escassez,
adicionadas ao crescimento demográfico e aos degradantes impactos
ambientais, percepções e entendimentos do real valor da natureza.
Recentes literaturas destacam os efeitos dos agrotóxicos nos
acúmulos da cadeia alimentar nas ameaças à saúde e a reprodução do ser
humano, assim como distúrbios hormonais, infertilidade, manifestações
cancerígenas e outros problemas graves relacionados às composições
químicas. Todavia, os esclarecimentos e opiniões sobre as questões
mencionadas encontram empecilhos para o desenvolvimento do mercado em
áreas mais pobres, provenientes de escassas disponibilidades de produtos
orgânicos e de elevados preços na distribuição desses.
32
3.3- ATRIBUTOS DA ALIMENTAÇÃO ORGÂNICA
A sociedade atual preza por alimentos in natura, atitudes diferentes
das sugeridas pelos processos científicos. A presença da bioquímica na
produção compromete a qualidade da oferta de alimentos. Na essência
alimentar destacamos a produção saudável de plantas e a inexistência de
insumos químicos na composição do alimento altamente maléficos ao
organismo humano.
Os valores dos produtos associados à qualidade motivam atitudes
de compra e o consumo dos mesmos, muitas vezes, mudando hábitos e
combinações de características do produto e de valores emocionais. Os
motivos para a compra são norteados, principalmente, com as qualidades
organolépticas do alimento.
As evidências dos desastres ambientais, contaminando culturas
alimentares tem alertado a consciência de consumo saudável, ricos em energia
vital. As características das produções orgânicas apresentam em todo o
processo produtivo técnicas e controles não degradantes do meio natural,
como ausência de agrotóxicos e adubos químicos e outros insumos que podem
gerar resíduos nos alimentos ou degradar o solo, o sistema hídrico e demais
elementos do ambiente.
No sistema orgânico, a produção vincula-se a normatização rigorosa
na preservação integral da composição do produto, inclusive, nas interações
sociais e culturais. Ações empregadas em métodos naturais visam o equilíbrio
ecológico, sem aditivos e conservantes e proteções contra contaminações
desde a colheita até a distribuição do produto.
Estudos científicos a respeito do valor nutricional de alimentos
produzidos pelo sistema orgânico, comparado aos do sistema convencional
constataram ao ingerir alimentos orgânicos o consumidor absorve uma rica
dieta de composição química mais diversificada que permite uma perfeita
nutrição.
33
3.4- MERCADOS ORGÂNICOS
O aumento de unidades produtivas orgânicas são crescentes em
vários países do mundo, destacando o Brasil numa vertiginosa expansão,
contudo, a participação efetiva da prática revela uma grande concentração
regional do mercado na América do Norte e na Europa, um caráter de grande
injustiça social.
Na América Latina e no Brasil, os parâmetros deste mercado ainda
são escassos, principalmente, pela legislação deficiente, que normatiza desde
o plantio à distribuição, se comparado as existentes em países europeus cujas
normas exigem aparatos trabalhistas e ambientais na certificação de um
produto considerado orgânico.
O mercado internacional exige a certificação que reconheça a
biodinâmica no desenvolvimento rural. No Brasil, as ofertas são realizadas
através de feiras livres, lojas especializadas em produtos orgânicos e stands de
mercados.
A maior parte da produção orgânica destina-se ao exterior e é
certificada pelos países desenvolvidos devido ao alto custo da certificação. A
expansão do mercado interno possui iminentes potenciais de plantação,
transformação, distribuição, fornecimento e consumo.
No mercado orgânico, organismos credenciados atestam a
credibilidade do acesso aos produtos orgânicos que garantem a sua real
qualidade. Essas garantias orientam o consumo protegido de venenos desde o
seu processamento ate é a comercialização, sempre passiveis de avaliações
metódicas do controle social agrícola.
O empenho das diversas organizações certificadoras não
governamentais, institutos, programas de governo e iniciativas privadas em
aprimorar suas estruturas proporcionará estímulos importantes ao setor
produtivo orgânico e abrangerá cada vez mais expansões territoriais no
34
planeta. Não obstante, políticas precisam incentivar a conversão dos
produtores convencionais em orgânicos além de valorizar e investir em
instituições acadêmicas, visando conhecimentos para incrementar
permanentemente o sistema.
3.4.1- Certificação
O produto orgânico não apresenta diferenças aparentes em relação ao
produto convencional. A sua principal diferenciação está na forma como foi
produzido, além de não conter resíduos de produtos químicos e sintéticos ou
agrotóxicos e não serem organismos geneticamente modificados,
características que podem ser identificadas através de análises específicas,
não sendo visíveis porém, para o comprador na hora da compra. Portanto, os
produtos orgânicos incorporam um elemento de confiança como principal
atributo de qualidade. A qualidade diz respeito a confiabilidade da forma de
produção, do respeito ao ambiente no processo de produção e das
características buscadas pelo consumidor de produtos orgânicos.
Na negociação direta entre consumidor e produtor (mesmo que
através de cooperativas), o produtor garante ao seu cliente que a mercadoria
foi obtida por processos de manejo orgânico, e este aceita a garantia, por
confiar na fonte de informação, influenciado pela proximidade ou pelo ambiente
negocial como no caso das cooperativas.
Os novos canais de distribuição e comercialização possibilitaram que
os produtos orgânicos alcançassem maior número de consumidores, a maiores
distâncias e em conseqüência um contato mais impessoal entre produtores e
consumidores, criando a necessidade de um terceiro elemento que assegure
ao distribuidor e consumidor a veracidade sobre os processos de produção, de
forma a restabelecer a confiança no produto adquirido. Isso se dá pela emissão
de um certificado por empresa habilitada com credibilidade, atestando a
adequação dos procedimentos de produção e pela aposição de um selo de
garantia na embalagem do produto.
35
No Brasil, a certificação teve origem informal, através do trabalho
desenvolvido por organizações não-governamentais (associações e
cooperativas de produtores e consumidores), que estabeleceram padrões e
normas internas para a produção e comercialização e criaram selos de garantia
para seus produtos (selos de certificação), direcionados principalmente para o
mercado interno.
À medida que os produtores passaram a ter interesse no mercado
exportador, surgiu a necessidade de certificação dos produtos por instituições
de reconhecimento internacional. Para que isso fosse possível, a produção, o
armazenamento e o transporte teriam que obedecer aos padrões internacionais
e, preferencialmente, formais.
A IFOAM (International Federation of Organic Movements) estabeleceu,
em 1980, seus primeiros padrões para produção orgânica, e alguns de seus
países membros também desenvolveram detalhados padrões nacionais. Em
1991, o Codex Alimentarius, comissão criada em 1963, que elabora um
conjunto de normas alimentares enfocando aspectos relacionados com a
higiene, nutrição, aditivos, resíduos de pesticidas, etc., inicia o desenvolvimento
de orientações para o alimento produzido organicamente. Nesta comissão há a
participação da indústria, dos consumidores, cientistas, órgãos certificadores e
outras instituições afins.
Para que um produto seja comercializado como orgânico, na União
Européia, é necessário que ele seja certificado em algum país membro, o que
permite a sua comercialização nos demais países da Comunidade. Atualmente,
existem cerca de 130 organizações que atuam como certificadoras,
credenciadas pela Comissão Européia. A França foi o primeiro país europeu a
criar um certificado oficial para agricultura orgânica. Na América Latina, a
Argentina adota uma regulamentação para produção de orgânicos baseada
nas normas internacionais da IFOAM.
36
No Brasil, os principais órgãos certificadores são o IBD (Instituto
Biodinâmico) em Botucatu, avalizado pelo IFOAM e cujo selo é aceito em
mercados internacionais, e a AAO (Associação de Agricultura Orgânica de São
Paulo), cujo selo é aceito apenas nacionalmente. Existem outras certificadoras
de menor expressão. Atualmente, o governo brasileiro está incentivando a
criação de comissões técnicas para a elaboração de normas que regulem a
atuação de outras entidades ou empresas certificadoras que possam surgir.
Várias entidades discordaram do processo de certificação defendido pelo
IBD. Entre estas, citamos a COOLMÉIA, de Porto Alegre, baseada em uma
experiência de organização que articula produtores e consumidores de
produtos orgânicos, não acredita na necessidade da certificação, pois para ela,
a relação entre produtores e consumidores, está baseada em uma rede de
credibilidade.
As novas normas nacionais, para produtos orgânicos, exigem que o produto
seja identificado, contendo um “selo de qualidade” registrado no órgão
colegiado nacional, que será específico para cada certificadora e deverá
conter: a denominação de produto orgânico; nome e número da entidade
certificadora.
A certificação e o controle da qualidade orgânica serão realizadas por
instituições certificadoras credenciadas nacionalmente pelo órgão coligado
nacional, deverão ser pessoas jurídicas, sem fins lucrativos e com sede no
país. Os órgãos coligados estadual e nacionalmente serão formados por dez
representantes, sendo cinco do poder público e 5 das organizações-não-
governamentais, que tenham reconhecida atuação junto a sociedade no âmbito
da agricultura orgânica.
As normas nacionais citam que as instituições certificadoras adotarão o
processo de certificação mais adequado às características da região em que
atuam, desde que observadas as exigências legais. Estas definições sobre o
processo de certificação representam um avanço, pois permitem dois
37
processos distintos de certificação. São únicas no cenário internacional e só
foram possíveis graças à esta normatização nacional.
Os custos da certificação é uma das mais importantes barreiras à entrada
de mais produtores na cadeia produtiva de orgânicos. O acesso normalmente
tem sido viabilizado por organizações ligadas a comercialização, como
atacadistas de produtos orgânicos ou cooperativas, levando a uma
dependência de comercialização em relação a estas. O custo do processo de
certificação varia de acordo com os critérios adotados pela certificadora,
levando-se em consideração os seguintes itens: taxa de filiação, tamanho da
área a ser certificada, despesas com inspeção (transporte, alimentação e
hospedagem), elaboração de relatórios, análise laboratorial do solo e da água,
visitas de inspeção e acompanhamento e emissão de certificado.
38
3.5- A CREDIBILIDADE NO CONSUMO ORGÂNICO
No Brasil, muitos estudiosos dedicam suas pesquisas às analises das
relações de sociabilidade e confiança na alimentação orgânica. Especialistas
como Fátima Portilho pronuncia:
...este artigo pretende enfatizar um outro aspecto que considero relevante para melhor compreensão deste nicho de consumo: as relações de sociabilidade e confiança, base da constituição do sujeito adepto à alimentação orgânica, construídas na prática cotidiana de frequentar e consumir os produtos de uma feira certificada, onde é possível comprar “direto com o produtor”. (Portilho, Fátima, 2009, p. 63)
As relevantes motivações para as pesquisas apontam perfis de
consumidores preocupados com a saúde pessoal e familiar, reduções de
impactos ambientais nos processos de produção e o acesso à qualidade de
vida de pequenos agricultores. Apesar da expansão do consumo alimentar
orgânico existe a necessidade de democratizar os seus acessos, oriundos de
práticas cotidianas e escolhas éticas de consumo.
O enfoque principal das pesquisas reflete acerca de ações políticas
nos limites e possibilidades de consumo, bem como, as percepções do valor
nutricional na dieta do consumidor. Além disso, posturas éticas justificam
escolhas alimentares que expressam a identidade e o status de um individuo
ou grupo social, pertinentes aos estilos de vida adotados e, assumindo uma
responsabilidade pelas escolhas na esfera pública.
Os diferentes graus de organização de movimentos sociais e escolhas
individuais buscam uma coerência entre as indicações nutricionais e valores
éticos, ideológicos e políticos praticados nas opções de consumo. As feiras
orgânicas são exemplos de sociabilidade, permitindo fluxos desses valores e
contribuem para buscas de alternativas à produção agroindustrial.
Os frequentadores assíduos de feiras orgânicas, objetivam manter o
bem- estar e a saúde, manifestar contestações com a indústria de alimentos,
39
absorvendo, constantemente, informações sobre as possíveis melhores
escolhas. Apesar disso, existem conflitos e restrições alusivas à totalidade de
uma dieta orgânica em todas as refeições e o acesso a determinados produtos,
tais como elevados preços fixados. Algumas pessoas, que desconhecem ou
desconsideram os impactos ambientais e sociais nas escolhas de seus
alimentos, afirmam seus apoios a esse tipo de produto em nosso cotidiano.
Feiras orgânicas são organizações físicas, políticas, afetivas e morais;
locais que primam por sociabilidade e convivência; palcos de fortalecimento
social, circulações, relacionamentos, conversas, trocas de informações,
encontros de amigos enfim freqüentadores com interesses comuns em torno de
alimentos inóculos de venenos e contaminações, que reforçam, mutuamente,
seus estilos de vida, ideais, valores e formas de participação na esfera pública
comum.
O alimento ideal não atende apenas as necessidades fisiológicas, mas
também, funções simbólicas e sociais referentes a qualidades e propriedades
das escolhas da sociedade, implicando numa ideologia alimentar. Tais
representações são formas de resistência aos processos de industrialização da
produção agrícola e de valorização dos produtos locais, surgindo como
resposta aos conflitos e temores com relação a alimentação moderna.
Segundo pesquisas realizadas, a ideologia alimentar é capaz de
estruturar a vida de pessoas sobre uma ótica lógica e coerente que associa
ocorrências as escolhas acertadas. Assim, a opção pelo consumo decorre de
uma socialização circundada pela negação aos aditivos químicos, preocupada
com os insumos largamente utilizados pela agroindústria e temerosa pelas
experiências trágicas com doenças provenientes da Revolução Verde.
Os relatos dos consumidores orgânicos consideram suas escolhas,
pautados nas afirmações científicas dos riscos da agricultura industrializada,
convergidos para uma crítica ao modelo vigente, entremeada de relações
sociais convenientes, formados por comportamentos de solidariedade com a
sobrevida do pequeno agricultor.
40
Nas relações de sociabilidade dos movimentos e fluxos em feiras
orgânicas, interações de confiança são efetivadas entre consumidores e
produtores um contínuo aprendizado que fortalece laços e trocas sociais,
favorecendo identidades não apenas através de objetos de consumo
escolhidos, mas também, através das práticas de aquisição como forças
reguladoras.
O consumo político observado surge como uma ação política inovadora e
não institucionalizada, analisado como uma extensão da política que vai além
dos limites de mercados, de lojas especializadas e da rotina diária da vida.
41
CONCLUSÃO
A humanidade, ao construir domínios espaciais e poderes econômicos,
apropriou- se da natureza, força de trabalho e dos meios de produção
concentradores de terras e com grandes desigualdades entre ricos e pobres.
O quadro excludente, próprio do modelo capitalista, objetivou
produções em larga escala, lucros incessantes e difusões de estilos de vida
consumistas, sacrificando os elementos da Biosfera. Nesse paradigma, incluiu-
se também a agricultura mecanizada que conquistou importantes e extensas
áreas dos agroecossistemas através da adoção de insumos sintéticos,
subsídios e opressões de instituições financeiras, em detrimento das práticas
do pequeno agricultor e da certeza dos possíveis efeitos de seus
empreendimentos sobre todas as formas de vida.
Com a evolução da história humana problemas ambientais foram
detectados e expandidos, causando preocupações a comunidade internacional,
acompanhados de perdas de produtividade e detecções de danos graves e
irreversíveis nos ciclos biológicos.
Com efeito, abordagens acerca do capitalismo natural e os entraves
para perpetuação da espécie humana e de outros seres tornaram- se evidentes
nas pesquisas científicas e nas propostas alternativas de desenvolvimento. A
coexistência pacífica entre produtividade e conservação da natureza
necessitam constituir o gerenciamento de todos os processos produtivos
antrópicos.
42
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
HAWKEN, Paul; LOVINS, Amory; LOVINS, L. Hunter. Capitalismo
Natural: Criando a Próxima Revolução Industrial. Editora Cultrix. São Paulo,
1999.
Manual Horta Orgânica- Básico. Sociedade Nacional de Agricultura.
BARBOSA, Lívia; PORTILHO, Fátima; VELOSO, Letícia. Consumo:
Cosmologias e sociabilidades. 2009.
PHILIPPI JR. Arlindo; ROMERO, Marcelo de Andrade; BRUNA, Gilda
Collet. Curso de Gestão Ambiental. USP, 2009.
RESENDE, Patrícia; SOUZA, Jacimar Luis de. Manual de Horticultura
Orgânica. 2ª Edição atual. e ampl. Editora Aprenda Fácil. 2006.
43
WEBGRAFIA
Disponível em www.mundoorganico.com.br. História da agricultura
orgânica. 20 de janeiro de 2013.
Disponível em www.incaper.es.gov.br. História da Agricultura Orgânica
no Brasil. 21 de janeiro de 2013.
Disponível em www.embrapa.br. Agricultura Familiar. 31 de janeiro de
2013.
44
ÍNDICE
INTRODUÇÃO.....................................................................................................8
CAPÍTULO I- CULTIVO ORGÂNICO................................................................10
1.1- AGRICULTURA ORGÂNICA NO BRASIL..............................................12
1.2- ANÁLISE CONCEITUAL.........................................................................13
1.3- PERCEPÇAO SÓCIO- AMBIENTAL......................................................14
CAPÍTULO II- SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E AMBIENTAL NA
AGRICULTURA.................................................................................................16
2.1- SOLO: PRODUTIVIDADE E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL....................18
2.2- PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS.........................................................19
2.2.1- Métodos de Manejo.................................................................................20
2.3- NOVAS TÉCNICAS DE PRODUTIVIDADE...............................................22
2.4- AGRICULTURA FAMILIAR........................................................................25
CAPÍTULO III- OS AVANÇOS DA AGRICULTURA
ORGÂNICA........................................................................................................27
3.1- DESAFIOS DA AGRICULTURA CONVENCIONAL...................................28
3.2- CONSCIÊNCIA AMBIENTAL.....................................................................31
3.3- ATRIBUTOS DA ALIMENTAÇÃO ORGÂNICA..........................................32
3.4- MERCADOS ORGÂNICOS........................................................................33
3.4.1- Certificação..............................................................................................34
3.5- A CREDIBILIDADE DO CONSUMO ORGÂNICO......................................38
CONCLUSÃO....................................................................................................41
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA........................................................................42
45
WEBGRAFIA.....................................................................................................43