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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA A INTEGRAÇÃO FAMÍLIA X ESCOLA NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM DOS ALUNOS DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NELSILENE ELIAS DA SILVA ORIENTADORAS: PROF(a). NARCISA CASTILHO DE MELO PROF(a). FABIANE MUNIZ TAPAUÁ/AM 2012 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · a integraÇÃo famÍlia x escola no processo ensino aprendizagem dos alunos das sÉries iniciais do ensino fundamental nelsilene

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM FACULDADE INTEGRADA

A INTEGRAÇÃO FAMÍLIA X ESCOLA NO PROCESSO ENSINO

APRENDIZAGEM DOS ALUNOS DAS SÉRIES INICIAIS DO

ENSINO FUNDAMENTAL

NELSILENE ELIAS DA SILVA

ORIENTADORAS:

PROF(a). NARCISA CASTILHO DE MELO

PROF(a). FABIANE MUNIZ

TAPAUÁ/AM

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM FACULDADE INTEGRADA

A INTEGRAÇÃO FAMÍLIA X ESCOLA NO PROCESSO ENSINO

APRENDIZAGEM DOS ALUNOS DAS SÉRIES INICIAIS DO

ENSINO FUNDAMENTAL

NELSILENE ELIAS DA SILVA

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Psicopedagogia Institucional.

Orientadoras: Prof(a). Narcisa Castilho de Melo e Prof(a): Fabiane Muniz

TAPAUÁ/AM

2012

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus pela oportunidade de

estar realizando este sonho, pela saúde e por me ajudar a

vencer todos os obstáculos. Agradeço também a minha

família pelo amor e compreensão, à minha irmã Lília Souza e

a minha amiga Laíde Bezerra por terem colaborado muito,

para que este sonho se tornasse realidade. Agradeço também

a minha orientadora Narcisa Castilho de Mello que me

auxiliou na conclusão deste trabalho. À gestora e os

professores da escola que não mediram esforços para

prestarem esclarecimentos no momento de pesquisa,

trocando idéias e experiências com relação à temática em

questão. E ao meu esposo Jocenir de Alencar Santos, que

colaborou com a parte financeira, para que eu me pós-

graduasse e sempre me deu forças para eu não desistir nos

momentos difíceis. Portanto, quero estender meus

agradecimentos a todos àqueles que de um modo ou de outro

estiveram ao meu lado me ajudando a superar as dificuldades

e realizar todo este trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho especialmente a Deus, pela vida, saúde

e oportunidade concedida. À minha família, à minha filha Ana

Beatriz e ao meu esposo Jocenir Alencar pelo apoio nessa

grande conquista e a minha irmã que muito contribuiu na

digitação de todos os meus trabalhos e a minha amiga Laíde

Bezerra que me deu também grande ajuda nos momentos

mais difíceis.

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EPÍGRAFE

Bendito seja o Senhor Deus, o Deus de Israel, que só

ele faz maravilhas. (Salmos 72. 18)

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RESUMO

A presente monografia tem como objetivo principal investigar sobre a

importância da participação dos pais no processo educativo de seus filhos e

conhecer projetos e ações que podem ser realizados para conquistar a

participação efetiva da família no desenvolvimento do processo ensino-

aprendizagem de seus filhos. Nesta ótica, esta pesquisa também proporciona

estudos e pesquisas de psicólogos, pedagogos, psicopedagogos e mestres em

educação que indicam caminhos para superar os conflitos que surgem na

prática educativa, analisando especialmente a ausência da família na escola e

suas implicações. Os quais revelam estratégias que podem ser utilizadas pelos

psicopedagogos e equipe pedagógica da escola na busca da integração da

parceria entre família x escola. E também na conquista de um relacionamento

respeitoso, acolhedor e democrático entre família x escola, onde cada membro

sinta-se estimulado a participar de forma ativa das ações da escola e tome

posse de suas responsabilidades com a educação de seus educandos. Desse

modo, enfatizamos neste trabalho a relevância do psicopedagogo exercer sua

função de assessor e mediador, promovendo encontros da escola com a

família, assessorando e apoiando esse relacionamento de forma harmoniosa,

democrática e participativa. Portanto, concluímos que somente a partir de uma

relação harmoniosa com a família é que a escola poderá promover ações e

projetos que visem superar as barreiras que impedem a participação das

famílias no processo educacional de seus filhos. E assim, em cumplicidade,

escola x família coopere para a promoção de uma educação significativa e

eficaz capaz de formar cidadãos críticos e conscientes, capacitados para atuar

ativamente na sociedade em que vivem, usufruindo assim dos benefícios da

educação como a tão sonhada emancipação social e um futuro promissor que

lhes permita o gozo da realização pessoal e da vida em família.

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METODOLOGIA

A pesquisa bibliográfica foi realizada através de estudos teóricos onde

os principais instrumentos foram: livros, revistas, artigos eletrônicos, artigos de

jornais, sites da Internet e etc. A aplicação da Pesquisa Bibliográfica contou

com a análise de propostas e contribuições teóricas de autores, pesquisadores

e especialistas no assunto como: Jean Piaget, Maslow, Vigostysky, Célestin

Freneit, Paulo Freire, Claudino Piletti, Eulália Basseadas, Isabel Solé, Nádia

Bossa, Ruth Caribé, entre outros, e autores da atualidade como Augusto Cury

e Gabriel Chalita.

Este estudo em questão está inserido na linha didática e seu método de

abordagem enquadra-se no âmbito crítico-dialético, que defende a importância

de conhecer a realidade em sua concreticidade contextualizando

historicamente, compreendendo as interações entre os sujeitos em processos

de ação-reflexão-ação.

Assim sendo, esta pesquisa se preocupou em apresentar as possíveis

contribuições que a participação das famílias pode trazer para melhorar o

processo ensino-aprendizagem de nossos educandos e apresentar sugestões

de ações e projetos educativos que podem ser realizados nas escolas com o

intuito de efetivar a integração da família x escola.

“A cada geração o seu destino e as suas dores. Devemos armar os

nossos filhos para a luta heróica e difícil que os espera e eles vencerão.”

(CÉLESTIN FREINET)

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................. 09

CAPÍTULO I – A FAMÍLIA E SUA FUNÇÃO EDUCATIVA NUM OLHAR

PSICOPEDAGÓGICO...................................................................................... 12

1.1- A escola frente à Família Contemporânea: novos arranjos, novos

papéis, novo cenário..................................................................................... 12

1.2- A indisciplina dos educandos como reflexo da ausência dos pais no

acompanhamento do processo educativo de seus filhos............................. 15

CAPÍTULO II - A INFLUÊNCIA DA REALIDADE SOCIAL E ECONÔMICA DAS

FAMÍLIAS NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DE SEUS

FILHOS............................................................................................................. 25

CAPÍTULO III- O PSICOPEDAGOGO X ESCOLA X FAMÍLIA JUNTOS NA

MISSÃO DE EDUCAR COM AMOR E AFETIVIDADE FORMANDO

EDUCANDOS COM INTELIGÊNCIA EMOCIONAL......................................... 34

CAPÍTULO IV- O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO FRENTE ÀS DUAS

INSTITUIÇÕES SOCIAIS, A ESCOLA E A FAMÍLIA, DO ACOLHIMENTO ÀS

INTERVENÇÕES.............................................................................................. 45

CONCLUSÃO................................................................................................... 52

BIBLIOGRAFIA................................................................................................. 54

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INTRODUÇÃO

O tema desta monografia é “A integração Família x Escola no processo

Ensino Aprendizagem dos alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental”.

Nesta pesquisa enfocamos a questão da participação das famílias na escola,

estabelecendo como parâmetro a interação das duas instituições, escola e

família, cuja integração serve de alicerce em prol da conquista do sucesso

escolar do educando.

O foco central deste trabalho é pesquisar ações, estratégias, medidas

de prevenção e intervenção que são capazes de motivar a efetivação da

participação da família na vida escolar de seus filhos.

Diante do problema encontrado e da análise da situação que dificultam

o envolvimento das famílias no processo de aprendizagem de seus filhos,

sentimos a necessidade de buscar subsídios para sensibilizar aos pais quanto

à necessidade de sua presença e seu envolvimento ser tão importante na

escola e no desenvolvimento educativo de seus filhos.

Refletindo na relevância desta participação que é de vital importância

para o sucesso escolar de nossos alunos é que nos propomos a conhecer com

mais profundidade a temática e buscar subsídios teóricos. E conhecer

experiências de autores, escritores e especialistas no assunto, para que

através deste trabalho possamos promover ações e desenvolver projetos

educativos que venham intervir de forma eficaz na problemática, com intuito de

conquistarmos a integração e parceria da família no processo ensino-

aprendizagem de nossos alunos.

Visto que, nossa função como especialistas em psicopedagogia é

intermediar e facilitar essa inter-relação família x escola e juntamente com a

equipe de gestor, professores, conselho escolar, funcionários, pais e alunos,

buscar estratégias, meios e ações que venham garantir uma aprendizagem

eficaz e de qualidade para nossos educandos.

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Logo, entendemos que a parceria e um bom relacionamento da família x

escola é de extrema relevância para alcançarmos nossa missão maior que é

efetivar uma aprendizagem duradora e qualitativa em nossos educandos e, por

conseguinte, melhorar os índices de desenvolvimento da educação básica de

nosso país.

São, portanto, objetivos desta pesquisa: Identificar as principais

dificuldades encontradas pelos pais de nossos educandos em adotar em sua

prática a participação na vida escolar de seus filhos; Refletir sobre a relevância

da participação da família no processo ensino aprendizagem de seus filhos;

Pesquisar ações, estratégias, medidas de prevenção e intervenção que são

capazes de motivar a efetivação da participação da família na vida escolar de

seus filhos e verificar os direitos e deveres dos pais na vida educacional de

seus filhos, analisando o porquê, pra quê e como eles podem auxiliar os seus

filhos no seu processo de aprendizagem.

No primeiro capítulo, nos propomos a refletir sobre a relevância da

participação da família e sua função educativa no processo ensino-

aprendizagem de seus filhos. Como a escola deve oferecer o ensino diante da

família contemporânea com seus novos modelos de família e realidades sociais

e culturais diversificadas. Também analisamos a indisciplina no educando

como reflexo da ausência da família e os prejuízos que acarretam na vida dos

mesmos. Neste capítulo, nos embasamos nos estudos de Augusto Cury,

Claudino Pilleti, Gabriel Chalita, Içami Tiba, Paulo Freire, entre outros.

No segundo capítulo, abordamos o tema: A influência da realidade social

e econômica das famílias no processo ensino-aprendizagem de seus filhos.

Onde analisamos as implicâncias da realidade social e econômica das famílias

e quais os prejuízos que estes fatores causam no processo educativo de seus

filhos. Adotamos como embasamento os estudos de Claudino Pilleti, Papalia e

Olds, Rute Caribé Drouet, entre outros.

No terceiro capítulo, discutimos sobre a importância da família e da

escola educarem com amor e a afetividade para desenvolver no aluno a

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capacidade de superar os desafios da vida com competência emocional sem

perder a fé e a motivação. Neste sentido, tomamos como base teórica os

estudos de Piaget, Vigostysky, Maslow, Augusto Cury, Daniel Goleman, Gabriel

Chalita, Smith e Strick, entre outros.

No quarto capítulo refletimos sobre: O papel do psicopedagogo frente

às duas instituições sociais, a escola e a família, do acolhimento às

intervenções. Neste capítulo nos embasamos nas reflexões e estudos de Alícia

Fernandes, Eulália Basseadas et. al, Smith e Strick, Beatriz Scoz, Gabriel

Chalita, Isabel Solé, entre outros. Onde Chalita 2004, afirma, que “por melhor

que seja uma escola, por mais bem preparados que estejam seus professores,

nunca vai suprir a carência deixada por uma família ausente”.

Enfim, neste trabalho buscamos compreender esta relação tão delicada

que é a família x escola. Conscientes de que sem a integração destas duas

instituições é impossível alcançar o sucesso no processo educativo de nossos

educandos. Procuramos assim, investigar no campo da psicopedagogia, com o

intuito de analisar ações educativas de prevenção e intervenção que visem

superar as dificuldades que surgem no contexto educacional. E em especial,

conhecer ações e projetos que visem estreitar o relacionamento entre escola e

família, para que em parceria juntos venhamos efetivar a oferta de um ensino

de qualidade capaz de transformar a realidade social de nossos educandos.

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CAPÍTULO I

A FAMÍLIA E SUA FUNÇÃO EDUCATIVA NUM OLHAR

PSICOPEDAGÓGICO

A família desempenha um papel decisivo na educação formal e

informal dos filhos, além disso, no seu interior são absorvidos os valores éticos

e humanitários, e onde se aprofundam os laços de solidariedade e afetividade.

É também em seu interior que se constroem as marcas entre as gerações e

são observados valores culturais e criados os valores morais.

1.1- A escola frente à Família Contemporânea: novos arranjos,

novos papéis, novo cenário.

Nos últimos vinte anos, várias mudanças ocorridas na sociedade atual

relacionadas ao processo de globalização da economia capitalista vêm

interferindo na dinâmica e estrutura familiar e possibilitando mudanças em seu

padrão tradicional de organização. Devido à queda da taxa de fecundidade, o

declínio no número de casamentos, o aumento de famílias onde os pais não

vivem juntos, entre outros aspectos, tornam as famílias dos dias atuais bem

diversificadas.

No passado era possível definir a família como pais, filhos e outros

parentes vivendo num mesmo ambiente, hoje em dia isto mudou, além de

muitos pais viverem separados, existem outros aspectos, como destaca Dias

(2005, p. 210):

A família é um grupo aparentado responsável principalmente pela socialização de suas crianças e pela satisfação de necessidades básicas Ela consiste em um aglomerado de pessoas relacionadas entre si pelo sangue, casamento, aliança ou adoção, vivendo juntas ou não por um período de tempo indefinido.

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De acordo com Pereira (1995), as várias mudanças ocorridas no plano

sócio-político-econômico relacionado ao processo de globalização da economia

capitalista vêm interferindo na dinâmica e estrutura familiar, causando

mudanças em seu padrão tradicional de organização.

Segundo o autor, as mudanças mais evidentes são: a queda da taxa de

fecundidade, devido ao acesso aos métodos contraceptivos e de esterilização;

tendências de envelhecimento populacional; declínio do número de

casamentos e aumento da dissolução dos vínculos matrimoniais constituídos,

com crescimento das taxas de pessoas vivendo sozinhas; aumento da taxa de

coabitações (casal que vive junto de maneira informal). Essas mudanças,

segundo o autor, têm permitido que as crianças recebam outros valores, menos

tradicionais, como aumento do número de famílias chefiadas por uma só

pessoa, principalmente por mulheres que trabalham fora e têm menos tempo

para cuidar da casa e dos filhos.

O mesmo autor afirma que, o trabalho na vida contemporânea tem se

tornado prioridade na vida familiar, o consumo e a necessidade em possuir,

fazem com que se trabalhe muito e se viva pouco. O modelo vigente atual

valoriza o individual e o desejo próprio, por isso, laços familiares são anulados,

bem como a construção de uma família, no caso o casamento. Todas essas

mudanças tornam-se uma conspiração a favor do desfortalecimento do grupo,

e a valorização do prazer imediato e individual, e neste novo contexto

ideológico o papel de mãe tão valorizado na família tradicional perde o seu

prestigio diante do desejo individual da mulher de ser independente do marido,

fazer carreira e conquistar a valorização profissional.

Mediante esse novo contexto cultural e familiar, a escola, o

psicopedagogo, professores e demais agentes da educação ao elaborar um

projeto, ao realizar suas ações de prevenção e intervenção precisam

compreender e considerar essas mudanças. Também não devem encará-las

como tendências negativas, ou sintomas de "crise". Pois, a aparente

desorganização da família é um dos aspectos da reestruturação que ela vem

sofrendo, os papéis sociais atribuídos entre o homem e a mulher tendem a se

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modificar não só no lar, mas também no trabalho, na rua, no lazer e em outras

esferas da atividade humana. Conforme Drouet, 2002:

Assim como os alunos são diferentes entre si, eles também provêm de lares diferentes. Seus pais têm pensamentos, atitudes, modos de encarar a vida, a escola e sobretudo a educação, completamente diversos. Seu grau de instrução, seus comportamentos e papéis sociais são diferentes, e eles ocupam diferentes posições na sociedade. (DROUET, 2002, P. 219).

Logo, não se pode mais falar de família, mas de “famílias”, para que se

possa tentar entender a diversidade de relações que convivem em nossa

sociedade. A família é o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e

da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do

arranjo familiar ou da forma como vêm se estruturando. Conforme Aranha,

1996:

A família é a primeira instituição social na qual o ser humano é introduzido. A pressão que este grupo exerce se faz tanto no nível legal, quanto psicológico. Crenças, hábitos, tabus, esperanças etc., nascem em primeiro lugar, dentro dela. A mesma é uma instância importante no processo de socialização da criança, bem como no desenvolvimento da subjetividade autônoma, ensinando informalmente o que as crianças devem fazer, dizer ou pensar. A educação dada pela família proporciona “o solo”, esta é o local ideal e privilegiado para o desenvolvimento humano, do ponto de vista biológico o homem é o mais frágil dos animais e não sobrevive sozinho, psicologicamente são importantes as relações afetivas para sua saúde mental, socialmente a presença de adultos de sua confiança e a atividade da autoridade garantem a solidariedade necessária para o convívio democrático. O homem não possui aparelhamento instintivo como o dos animais, e por isso precisa ser socializado para sobreviver o que é feito mediante a educação recebida das pessoas que o circundam, a partir dos modelos sociais do grupo a que pertence. “Desde que nasce o homem é submetido a um intenso processo de aprendizagem que não termina senão com a morte”. (ARANHA, 1996, p. 62).

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1.2- A indisciplina dos educandos como reflexo da ausência

dos pais no acompanhamento do processo educativo de seus

filhos.

Ao longo da história, a família tem formado a base da sociedade.

Entretanto, ela não atende mais ao modelo tradicional onde antes era

constituída por pai e mãe e filhos. E muitos são os fatores que contribuem para

essa situação como as condições socioeconômicas, a mídia, o desajuste

familiar, declínio do número de casamentos e aumento da dissolução dos

vínculos matrimoniais constituídos, crescimento das taxas de pessoas vivendo

sozinhas, aumento do número de famílias chefiadas por uma só pessoa,

principalmente por mulheres que trabalham fora e têm menos tempo para

cuidar da casa e dos filhos, avós que são pai e mãe ao mesmo tempo, todos

esses fatores dificultam o acompanhamento dos pais no desenvolvimento

escolar de seus filhos. Conforme Bock (2008), as mudanças mais evidentes

nas famílias são:

Atualmente, é impossível não enxergar – vários estudos antropológicos e mesmo reportagens em revista, jornais e TV mostram – que existem muitas e inúmeras formas de estrutura familiar: a famílias de pais separados que realizam novas uniões das quais resulta uma convivência entre os filhos dos casamentos anteriores de ambos e os novos filhos do casal, a família chefiada por mulher (em todas as classes sociais), a nuclear, a extensa, a homossexual. Enfim, observa-se uma infinidade de tipos que a cultura e os novos padrões de relações humanas vão produzindo. (Bock, 2008, p.247.)

Muitos casais não estão preparados para formar uma família, por esse

motivo quando surgem os momentos difíceis acabam se divorciando. Segundo

Pilleti (2003, p.17) “A falta de preparo de muitos pais para exercer

integralmente essa função, é o principal problema”. Adolescentes, sem

estabilidade financeira nem estrutura familiar, sem formação psíquica, sem as

mínimas condições psicológicas de orientar seus membros para valorizar a

aprendizagem.

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Com a falta de tempo dos pais para educarem seus filhos, muitos

deixam por conta das babás, os de classe pobres ficam por conta dos irmãos

mais velhos, onde passam o dia na frente da TV ou na rua, acarretando assim,

enormes prejuízos para a educação destas crianças, pois os pais não têm mais

tempo para se relacionarem com seus filhos. Enfim, ninguém mais além da

mãe e do pai é capaz de com muito carinho e responsabilidade ensinarem

limites aos seus filhos, conforme explica Chalita, 2004:

“Nada substitui esse carinho. A mãe que pega na mão do filho e, com o maior carinho, mas com a responsabilidade de quem precisa mostrar os limites, faz com que ele recolha os brinquedos que esparramou pela casa. O "cheirinho", o cobertor se arrastando pelo chão para deitar no meio dos pais. A vontade de ficar de mãos dadas com o papai ou a mamãe...” (Chalita, 2004, p. 28).

As crianças sentem falta desse tempo tão precioso, onde através do

diálogo os pais podem ensinar aos filhos os valores como respeito mútuo,

solidariedade, fraternidade, companheirismo, bondade e justiça, entre outros

valores, tão importantes para o convívio em sociedade. E como conseqüências

dessa ausência surgem nas escolas crianças indisciplinadas, rebeldes,

desatentas e desinteressadas pelas atividades da escola. De acordo com Cury

2003:

O diálogo desenvolve a solidariedade, companheirismo, prazer de viver, otimismo, inteligência interpessoal, pois bons pais conversam, pais brilhantes dialogam. Entre conversar e dialogar há um grande vale. Conversar é falar sobre o mundo que nos cerca, dialogar é falar sobre o mundo que somos (CURY, 2003, p.42).

É necessário que o limite comece a ser trabalhado desde a formação

da personalidade da criança, uma vez que os valores estão sendo formados

junto com o seu desenvolvimento. Quando os pais permitem que os filhos, por

menores que sejam, façam tudo o que desejam, não estão lhes ensinando

noções de limites individuais e relacionais, não estão lhes passando noções do

que podem ou não podem fazer. Cada vez que os pais aceitam uma

contrariedade, um desrespeito, uma quebra de limites, os mesmos estão

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fazendo com que seus filhos não compreendam e rompam o limite natural para

seu comportamento em família e em sociedade.

A ausência de normas e padrões de comportamento impede a criança

de organizar seu próprio espaço de trabalho considerando que a escola é o

espaço da própria aprendizagem, desempenhando seu papel na parte

orientadora das normas, regras e limites. Neste sentido Mindé (2000) afirma:

“O ser humano é um animal social - precisa viver junto com outros seres humanos para assegurar a sua sobrevivência. Essa sobrevivência em conjunto exige uma organização, visto que, diferentemente, dos outros animais, nossos comportamentos não são determinados somente pela natureza”. (Mindé, 2000, p. 56)

Percebemos facilmente que a criança proveniente de um ambiente

familiar extremamente desorganizado carrega grandes dificuldades para

adaptar-se e obter o sucesso na sua aprendizagem. Se a criança não tem

possibilidade de desenvolver atividades que levem a organizar-se no tempo e

no espaço, provavelmente terá dificuldades de estabelecer relações entre os

projetos que a rodeiam, de se organizar e participar de atividades com o seu

grupo de colegas e até de se concentrar para realizar suas atividades

escolares.

Segundo Pelti (1996), é nas relações humanas que a criança irá formar

o seu caráter e através das relações afetivas com os pais aprende padrões de

disciplinas que irão prepará-la para a vida em sociedade.

Na verdade, os tempos mudaram, mas não as relações humanas que constituem as raízes da formação do caráter. Os filhos ainda precisam dos pais, porque as relações afetivas que mantém com eles desde o nascimento permitem que adquiram padrões que os tornarão seres normais. As crianças precisam de direção, disciplina, apoio e ânimo para crescer, amadurecer e tornar-se pessoas independentes (...) (PELTI, 1996, p. 14).

Do mesmo modo, tanto na família, quanto na escola, as ausências de

disciplina e de limites são fortes fatores de interferência no desenvolvimento da

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aprendizagem da criança. Na tentativa de resolver a questão, muitos pais e

educadores cometem erros, por não saberem como lidar diante desta situação.

Segundo os especialistas em educação, a melhor forma de ajudar a

criança indisciplinada é levá-la a repensar suas atitudes, analisando seus atos

e comportamentos e ao mesmo tempo, tentando fazer com que saiba se

colocar no lugar do outro. Estamos convencidos de que a prática desta

educação estará desenvolvendo na criança uma personalidade de liderança,

ponderação e segurança nos momentos turbulentos. E para ilustrar de forma

brilhante nosso pensamento: “A maturidade de uma pessoa é revelada pela

forma inteligente com que corrige alguém”. (CURY, 2003, p. 95).

Quando pensamos em ensinar normas e impor limites, exige-se

também a reflexão no sentido de identificar formas mais eficientes de

comunicação. Reprovar atitudes negativas é uma forma de dar limites, porém a

contradição deseduca. Como por exemplo: Pede-se gritando, que a criança

não grite, dizendo que isto é errado. Pede-se que ela não faça, fazendo

exatamente aquilo que se está tentando proibir. Estamos diante de uma

mensagem contraditória.

A falta de coerência, regras e limites, deixa a criança à mercê de seus

impulsos. E assim, ela cresce tentando viver sempre em nome do prazer e da

satisfação imediata de seus desejos. Não aprende a considerar a realidade,

não aprende a tolerar as frustrações da vida. Tornam-se pessoas folgadas,

desregradas e rebeldes que não aceitam viver conforme os padrões

estabelecidos pela sociedade.

É dentro de casa, na socialização familiar, que um filho adquire e

aprende a disciplina para um futuro próximo. Tiba (1996) explica:

A violência é uma semente colocada na criança pela própria família, que, encontrando terreno fértil dentro de casa, se tornará uma planta rebelde na escola, expandindo-se depois em direção a sociedade. Quando os pais deixam o filho fazer tudo o que deseja, sem impor-lhe regras ou limites, ele acredita que suas vontades são leis que todos devem acatar. Então, se um dia alguém o contraria, esse filho pode tornar-se, num primeiro momento agressivo, mas depois partir para a

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violência, exigindo que se faça aquilo que ele quer. É o filho supermimado. (p. 152).

Infelizmente em outro extremo, existem os pais violentos. Na verdade,

esses pais não estão educando seus filhos, mas ensinando-os a serem

violentos. O filho não conhece os níveis normais de agressividade. Para ele, a

violência é o recurso para vencer qualquer contrariedade, seu corpo acostuma-

se a reagir automaticamente de modo violento. Segundo Tiba (1998), “Os pais,

de tanto querer agradar e poupar os filhos, não desenvolvem neles limites,

disciplina e responsabilidade. São os erros de amor dos pais que acabam

aleijando os filhos”. (p. 160).

Inúmeras dificuldades podem ser encontradas na educação familiar

devido os reflexos que a sociedade emana. Como destaca Cury (2003, p. 28):

“Hoje, bons pais estão produzindo filhos ansiosos, alienados, autoritários,

indisciplinados e angustiados”.

Nesta perspectiva, destaca o mesmo autor, que além de não adotarem

um tempo para educar os filhos a enfrentar os problemas sociais, a própria

sociedade é responsável em “deseducá-los” devido à quantidade de estímulos

que exercem na criança. Dentre eles, encontram-se os apelos para o consumo

desenfreado, para a violência, para o sexo sem limites que para o autor são:

“Estímulos sedutores que se infiltram nas matrizes de sua memória (...), os pais

ensinam os filhos a serem solidários e a consumirem o necessário, mas o

sistema ensina o individualismo e a consumir sem necessidade”.

Segundo Cury, nas relações familiares as crianças registram as

imagens positivas ou negativas, as quais são arquivadas diariamente na

memória.

O que gera os vínculos inconscientes não é só o que você diz, mas também o que eles vêem em você. Muitos pais falam coisas, mas tem péssimas relações na frente delas: são intolerantes, agressivos, parciais, dissimulados... Tudo que é registrado não pode mais ser deletado, apenas reeditado através de novas experiências antigas. (CURY, 2003, p. 23).

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Conforme Chalita (2004), a família tem a responsabilidade de: “formar

o caráter, de educar para os desafios da vida, de perpetuar valores éticos e

morais. A família é um espaço em que as máscaras devem dar lugar à face

transparente, sem disfarces. O diálogo não tem preço”.

A família tem a responsabilidade de formar o caráter, de educar para os desafios da vida, de perpetuar valores éticos e morais. Os filhos se espelhando nos pais e os pais desenvolvendo a cumplicidade com os filhos. Não é exemplo de família aquele em que o filho assiste à mãe pegar na feira 14 laranjas e não 12, e pagar uma dúzia. Não é exemplo de família aquele em que o filho é testemunha involuntária dos desentendimentos entre os pais; ou aquele em que os pais, frustrados com a própria infância e adolescência, projetam na prole toda a energia negativa, agressiva e cruel. Não é exemplo de família aquele em que o pai chega embriagado, em que a mãe foge da responsabilidade, em que os filhos têm horror a estar à mesa para a refeição conjunta. Não é exemplo na família o ódio, a violência, a tolerância apática. Não é exemplo de família aquele em que o pai exige que o filho seja um "macho", namore o maior número de garotas e, se necessário, procure profissionais do sexo. Não é exemplo de família criar a filha de uma forma absolutamente recatada e incentivar o filho a desfrutar das filhas dos outros. O machismo, o preconceito, a discriminação e os medos tantos nascem todos dentro do lar. A família é uma instituição em que as máscaras devem dar lugar à face transparente, sem disfarces. O diálogo é necessário. (Chalita 2004, p. 20, 21)

Assim sendo, é na família e através do diálogo que os pais podem

passar para seus filhos conhecimentos voltados para a atuação na sociedade,

como o respeito a si e ao outro, os princípios éticos e valores humanos e os

princípios de conduta, para que os mesmos possam se comportar e viver

dignamente no ambiente social.

Entretanto, professores e gestores cometem graves erros ao acusar a

família como única responsável pela indisciplina do educando, quando na

verdade, muitas vezes a atitude indisciplinada dos alunos em sala de aula é um

ato de repúdio contra as imposições de regras e abuso de autoridade dos

professores, que muitas vezes confundem autoridade com autoritarismo e

arrogância. Estes impõem sobre os alunos seus ensinamentos como verdade

absoluta e ainda exigem que eles aprendam de forma tradicional e mecanicista.

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São professores que não se preocupam em preparar um bom planejamento de

aula, nem com seu método de ensino se desagrada ou desmotiva seu aluno.

Freire (2006) critica a atitude deste tipo de educador quando ele adverte:

Outra qualidade indispensável à autoridade em suas relações com liberdade é a generosidade. Não há nada que mais inferiorize a tarefa formadora da autoridade do que a mesquinhez com que se comporte. A arrogância, farisaica, malvada, com que julga os outros e a indulgência macia com que se julga ou com que julga os seus. A arrogância que nega a generosidade nega também a humildade, que não é virtude dos que ofendem nem tampouco dos que se regozijam com sua humilhação. O clima de respeito que nasce de relações justas, sérias, humildes e generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos se assumem eticamente, autentica o caráter formador do espaço pedagógico. (FREIRE, 2006, p. 92).

Atualmente, ainda existem professores que tratam o aluno como um

depósito bancário. Que tolhem a liberdade do mesmo de opinar, de expressar

suas idéias e de participar ativamente das aulas, não levam em conta a leitura

de mundo de seus alunos, impondo assim, sua própria cultura, normas e

regras, que para o aluno são injustas e fogem de sua realidade familiar e sócio-

cultural. E como conseqüência disso surge os alunos indisciplinados e

rebeldes. Neste sentido Freire, 2006, afirma:

Como educador preciso de ir “lendo” cada vez melhor a leitura do mundo que os grupos populares com quem trabalho fazem de seu contexto imediato e do maior de que o seu é parte. O que quero dizer é o seguinte: não posso de maneira alguma, nas minhas relações político-pedagógicas com os grupos populares, desconsiderar seu saber de experiência feito. Sua explicação do mundo de que faz parte a compreensão de sua própria presença no mundo. E isso tudo vem explicitado ou sugerido ou escondido no que chamo “leitura do mundo” que precede a “leitura da palavra”. (Freire, 2006, p. 81).

Conforme Freire, 2006, em seu livro pedagogia da autonomia, educar

exige competência profissional, rigorosidade metódica e muita pesquisa. Pois

segundo o autor, o educador que não se planeja, que não se prepara para

exercer sua prática com seriedade e compromisso, que não leva a sério sua

formação, que não estude, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa

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não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. A esse

respeito o autor também revela:

“Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que - fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino, continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (2006, p.29).

Freire, 2006, em seu livro: Pedagogia da esperança um reencontro

com a Pedagogia do Oprimido, afirma que, não há educação sem ensino

sistemático ou não, de certo conteúdo, pois ensinar é um verbo transitivo-

relativo, quem ensina, ensina alguma coisa (conteúdo), ensina a alguém, que

nesse caso é o aluno. O autor, também enfatiza a responsabilidade do

educador e da escola de democratizar o ensino e defende a presença dos pais,

alunos, cozinheiras, zeladores e toda comunidade escolar para participarem

dos estudos que resulte na programação dos conteúdos da escola. Quanto à

importância de o professor utilizar os métodos e as técnicas de ensino numa

perspectiva democrática, Freire ainda ressalta:

“A prática educativa implica ainda processos, técnicas, fins, expectativas, desejos, frustrações, a tensão permanente entre prática e teoria, entre liberdade e autoridade, cuja exacerbação, não importa de qual delas, não pode ser aceita numa perspectiva democrática, avessa tanto autoritarismo quanto à licenciosidade.O educador ou a educadora crítica, exigente, coerente, no exercício de sua reflexão sobre a prática educativa ou no exercício da própria prática, sempre entende em sua totalidade.Não centra a prática educativa, por exemplo, nem no educando, nem no educador, nem no conteúdo, nem nos métodos, mas a compreende nas relações de seus vários componentes, no uso coerente por parte do educador ou da educadora dos materiais, dos métodos e das técnicas”. (Freire, 2006, p. 109, 110).

O autor deixa bem claro, que o educador democrata e progressista

deve educar seus alunos numa prática dialógica, onde o educador valorize o

saber do educando e lhes ensine a pensar certo. Essa relação dialógica, que

Freire tanto defende, é criticada por professores autoritários, por acreditarem

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que no ato dialógico estarão se igualando ao aluno e que a prática democrática

é espontaneísta e licenciosa ou pouco séria. Todavia, Freire afirma que quando

o educador autoritário não permite que o educando expresse seu pensamento

acaba gerando no educando a rebeldia. Quanto a esta temática, Freire 2006,

ainda assegura:

Não há diálogo no espontaneísmo como no todo-poderosismo do professor ou da professora. A relação dialógica, porém, não anula, como às vezes se pensa, a possibilidade do ato de ensinar. Pelo contrário, ela funda este ato, que se completa e se sela no outro, o de aprender, e ambos só se tornam verdadeiramente possíveis quando o pensamento crítico, inquieto, do educador ou da educadora não freia a capacidade de criticamente também pensar ou começar a pensar do educando. Pelo contrário, quando o pensamento crítico do educador ou da educadora se entrega à curiosidade do educando. Se o pensamento do educador ou da educadora anula, esmaga, dificulta o desenvolvimento do pensamento dos educandos, então o pensar do educador, autoritário, tende a gerar nos educandos sobre quem incide, um pensar tímido, inautêntico ou, às vezes puramente rebelde. (Freire, 2006, p. 118).

Freire também adverte, que o educador não deve também assumir

uma prática espontaneísta, onde o diálogo se torne um bate-papo entre

educador e educando ou os educando fiquem “entregues a si mesmos”, onde

fazem ou desfazem “ao seu próprio gosto”, numa prática liberal, onde o

educando não tem limites, onde educador e educando ficam perdidos num “faz-

de-conta” pedagógico. Pelo contrário, segundo o autor, o educador ou

educadora democrata e progressista precisa ajudar o aluno a criar um

disciplina séria e honesta nos estudos, o que não significa tomar uma atitude

tradicionalista. E sim, lutar incessantemente em favor da democratização da

escola, de um lado da programação dos conteúdos, de outro, da programação

de seu ensino.

“(...) A escola de que precisamos urgentemente [dizia eu em 1960], é uma escola em que realmente se estude e se trabalhe. Quando criticamos, ao lado de outros educadores, o intelectualismo de nossa escola, não pretendemos defender a posição para a escola em que se diluíssem disciplinas de estudo e uma disciplina de estudar. Talvez nunca tenhamos

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tido em nossa história necessidade tão grande de ensinar, de estudar, de aprender mais do que hoje. De aprender a ler, a escrever, a contar. De estudar história, geografia. De compreender a situação ou as situações do país. O intelectualismo combatido é precisamente esse palavreado oco, vazio, sonoro, sem relação com a realidade circundante, em que nascemos e crescemos, e de que ainda hoje, em grande parte, nutrimos. Temos de nos resguardar deste tipo de intelectualismo como também de uma posição chamada antitradicionalista que reduz o trabalho escolar em meras experiências disso ou daquilo e a que falta o exercício duro, pesado do estudo sério, honesto, de que resulta uma disciplina intelectual”. (Freire, 2006, p. 114, 115).

De acordo com Lino Macedo (2005) apud Benevides (2011), a escola

pode trabalhar a disciplina numa ótica construtivista através do envolvimento

de todos, no trabalho em equipe, num ambiente de cooperação, autonomia e

responsabilidade, onde todos envolvidos no contexto educativo possam unir

forças para solucionar o problema da indisciplina.

O autor ainda recomenda que, se trabalhe na escola projetos

educativos que permitam que os alunos criem regras e normas de organização

da rotina em sala de aula e proporcione trabalhos em equipe que promova a

diversão, interação e cooperação entre os alunos. E assim, ao longo do tempo

os alunos vão adquirir a autonomia necessária para realizar suas atividades de

forma disciplinada e independente.

Logo, de acordo com os especialistas em educação, família e escola

devem unir-se, para que juntas num clima de colaboração e co-

responsabilidade somem esforços e busquem caminhos e alternativas com o

intuito de resolver o problema da indisciplina na escola. Para que este mal não

venha impedir a aprendizagem dos educandos, acarretando assim em graves

prejuízos na vida escolar dos mesmos. Enfim, sendo a escola e a família as

maiores responsáveis pela educação de suas crianças caberá ao

psicopedagogo promover ações e projetos que viabilizem esta união, pois

somente através desta parceria os conflitos que surgem na escola serão

superados e o sucesso do processo educativo de seus educandos garantido.

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CAPÍTULO II

A INFLUÊNCIA DA REALIDADE SOCIAL E ECONÔMICA

DAS FAMÍLIAS NO PROCESSO ENSINO-

APRENDIZAGEM DE SEUS FILHOS

A família é a chave principal para a garantia de um bom

desenvolvimento físico, cognitivo e social da criança. De modo que, se a família

não possui boas condições econômicas para proporcionar a seus filhos as

condições básicas para seu desenvolvimento como: alimentação adequada,

boa moradia, condições adequadas de higiene, tratamento da saúde,

segurança física e psicológica, entre outras, com certeza seus filhos terão seu

desenvolvimento lento e prejudicado. E como conseqüência o rendimento

escolar dos mesmos não ocorrerá no mesmo ritmo das crianças afortunadas,

que têm uma boa alimentação, saúde, moradia, segurança e o carinho e

acompanhamento dos pais em seu processo educativo, e assim sendo, o futuro

das crianças pobres e desnutridas fica comprometido mediante suas condições

de pobreza, fome e miséria.

Segundo PAPALIA e OLDS, 2000, os problemas das crianças pobres,

começam antes mesmo de nascerem.

“Os problemas das crianças pobres começam antes do nascimento. As mães pobres muitas vezes não comem bem ou não recebem assistência pré-natal adequada, e seus bebês têm probabilidade de serem nati-mortos, ou de morrerem logo após o nascimento (ver figura 6-2). As crianças pobres muitas vezes não comem nem crescem adequadamente, tornando-se fracas e suscetíveis às doenças. Elas também têm alto risco de acidentes. Muitas famílias pobres vivem em habitações inadequadas e precárias, e as crianças podem carecer de supervisão adequada, principalmente quando os pais estão no trabalho. Elas têm mais chance de sofrerem envenenamentos por chumbo, perda de visão e audição, e anemia por deficiência de ferro, bem como doenças ligadas ao estresse, como asma, cefaléia, insônia e irritações intestinais. Elas também tendem a ter mais problemas de comportamento, distúrbios psicológicos e dificuldades de aprendizagem” (J.L.

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Brown, 1997; Egbuono & Starfield, 1982; Santer e Stocking, 1991 apud PAPALIA e OLDS, 2000, p. 191).

A alimentação e a saúde física da criança são cuidados indispensáveis

que não podem ser negligenciados pelos pais, pois a crianças fracas e mal

alimentadas além de ficarem mais vulneráveis as enfermidades estão mais

sujeitas a sofrerem com dificuldades de aprendizagens. Conforme os autores

Smith e Strick, 2001:

Também é muito importante estar consciente da influência das questões cotidianas quanto à saúde têm sobre o desempenho escolar. Crianças que saltam refeições sofrem de resfriados freqüentes ou não obtêm horas de sono suficientes raramente dão o melhor de si na escola. O impacto de hábitos de saúde não saudáveis sobre crianças que também sofrem deficiências pode ser devastador. Refeições equilibradas, exercícios saudáveis, repouso adequado e cuidados médicos e dentários regulares são, assim, uma parte crucial para o tratamento bem- sucedido de dificuldades de aprendizagens. (Smith & Strick, 2001, p.99).

Chalita (2004) afirma que a escola também precisa formar educandos

críticos, conscientes de sua condição social, com o intuito de libertá-los da

escravidão da alienação social e política, ensinando-os a acreditar que são

capazes de superar sua condição e transformar sua realidade social. Porque

muitas vezes a escola e a família por não querer "agredir" a criança com

assuntos polêmicos, para não lhe tirar o sono e não querer lhe revelar que o

mundo não é cor-de-rosa acaba contribuindo na formação de cidadãos

alienados e escravos da sorte, que se acostuma com a situação de miséria,

fome, drogas e violência.

Não há como construir muros, mas há como construir pontes unindo indivíduos que a historia separou. Pessoas que já nascem escravas da própria sorte porque não tem acesso à alimentação, saúde, cuidados básicos para seu desenvolvimento. Padecem de falta de afeto e de oportunidade, de falta de lazer, o que termina também por faltar o sorriso estampado no rosto de cada criança. No Natal, olham as vitrines e sonham. Enquanto isso, em casa, tomam água com açúcar para espantar a fome, porque comida não há. Como continuar a sonhar? (Chalita, 2004, p. 80).

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A pobreza, a fome e a miséria, são realidades na vida de grande parte

da população brasileira. Diante desta realidade tão cruel, as famílias agarram-

se a esperança de que a escola é um instrumento capaz de promover a

ascensão social tão urgente e necessária para seus filhos pobres. Desse

modo, as famílias menos favorecida se conscientizam de que a educação é um

direito garantido por Lei e que sem ela o caminho para superação do estado de

pobreza é quase impossível. Conforme CRUANHES, 2000 apud Costa, et. al.,

2006:

A Educação deve formar cidadãos. Não há dúvidas de que educar é crescer. Uma melhor situação na educação dos brasileiros é fundamental, não apenas do ponto de vista do crescimento como é também a maneira mais eficaz de aperfeiçoar a distribuição de renda no Brasil. Um dos grandes problemas da desigualdade, no Brasil, é o fato de que existem grandes diferenças educacionais que se transformam em grandes abismos de salário. (CRUANHES, 2000, p. 83 apud Costa, et. al., 2006, p.26).

De acordo com Chalita 2004, a Constituição Federal de 1988 é, sem

dúvida, o grande instrumento de cidadania e dignidade da pessoa humana.

Sua promulgação foi à reconquista da liberdade sem medo e, por meio dela, a

educação ganhou um lugar de notável importância.

O autor ainda afirma, que de nada adiantaria todo esse elenco de

salvaguardas se não houvesse a obrigatoriedade da educação, que se constitui

como garantia de que o cidadão terá consciência de seus direitos a partir da

aquisição do conhecimento e da instrução. Se assim não fosse, tudo ficaria

apenas no papel.

No artigo 205 da Constituição Federal, se estabelece na Lei que:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (citado por Chalita, 2004, p.104).

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Chalita 2004, explica que podemos analisar que esse artigo

textualmente determina: a educação é direito de todos - ricos e pobres, negros

e brancos, mulheres e homens, índios e filhos de estrangeiros, habitantes da

cidade ou da zona rural. E que o Estado brasileiro, que se atribuiu essa

obrigatoriedade, é também o responsável por fazê-la valer. A colaboração da

sociedade tem o sentido de assegurar que o ensino seja compartilhado, que os

projetos educacionais sejam desenvolvidos de forma consensual e

participativa.

Para o autor, apesar da importância da preparação para o mercado de

trabalho, a Constituição deu primazia ao preparo do cidadão para o exercício

da cidadania. A consciência de direitos e deveres, a possibilidade de participar

de pleitos decisórios, o direito à voz, à manifestação do próprio pensamento, o

preparo para a autonomia, para a independência, é a grande meta da

educação. O autor ainda explica que, todo conteúdo a ser ensinado só se

justifica se esse objetivo for mantido. Pois, sem esse norte amplo e irrestrito, a

educação seria um instrumento de poder nas mãos de uma elite que

determinaria o que a classe dos subjugados deveria saber ou deixar de saber.

Chalita, 2004, assegura que a Democracia constituída pela

Constituição Federal, garante às escolas o dever de formar cidadãos críticos,

conscientes de seus diretos e deveres, capazes de agir ativamente a favor de

sua liberdade e autonomia para lutar por uma educação libertadora capaz de

promover seu desenvolvimento integral. Sendo que, a escola tem o dever não

somente de preparar o educando para o mercado de trabalho, mas, capacitá-lo

para exercer sua cidadania com dignidade e autonomia.

O autor, explica que muitos desses direitos como a erradicação da

pobreza, a educação de qualidade, entre outros, não são respeitados por culpa

do próprio cidadão que não fiscaliza e não exige que seus administradores

apliquem as verbas públicas para o fim que lhe é determinado como é de

direito. Enfim, se o dinheiro está sendo bem gasto e se o padrão de qualidade

estipulado legalmente está sendo implementado, só poderá ser detectado pelo

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destinatário final dos benefícios garantidos no papel, ou seja, pelo cidadão.

Assim, Chalita, 2004, protesta:

Um estrangeiro desavisado, ao ler a Constituição ou a LDB, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código de Defesa do Consumidor ou o estatuto da maioria dos partidos políticos do Brasil, certamente ficaria encantado com o país perfeito que se criou. A Lei brasileira é um exemplo para o mundo. Isso significa que na forma o país conseguiu uma profunda evolução que não pode nem deve ser desprezada. Entretanto, surge um novo desafio: o de passar da democracia formal para a democracia real, o de fazer com que os princípios constitucionais sejam respeitados e aplicados, que as garantias previstas no texto constitucional e na legislação infraconstitucional saiam do papel e se convertam em direitos concretos, para que o bem-estar da população se dê em todos os níveis sociais e regionais. Evidentemente, há leis com problemas, há algumas antiquadas, mas no geral, o problema não está na lei, está na conduta do cidadão. (Chalita, 2004, p.111)

A cidadania, efetivada no Estado democrático de direito, oferece aos

cidadãos, com iguais condições, o gozo atual de direitos, todos assistidos das

garantias que permitem a sua eficácia, e a obrigação do cumprimento de

deveres como apresenta Rozicki (2000) apud Costa, et. al., (2006, p.36):

1. Os direitos de liberdade, como por exemplo, a liberdade de consciência, de

propriedade, de manifestação do pensamento, de associação, etc;

2. Os direitos de participação política, tais como a igualdade de sufrágio, o

direito de voto e de elegibilidade, o direito de petição, entre outros, tais como os

de iniciativa popular, iniciativa de leis que cabe aos cidadãos (v.g., o 2º

parágrafo do artigo 61 da Constituição da República brasileira);

3. Os direitos sociais, que abrangem os direitos de natureza econômica, como

por exemplo, o direito ao trabalho, de assistência à saúde, à educação, etc;

4. Os direitos chamados de quarta geração, por exemplo, o direito ao meio

ambiente preservado (obviamente, ao mesmo corresponde à obrigação de

preservação dos bens que a natureza do planeta concedeu aos homens) e à

qualidade de vida.

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Nos artigos 22 e 28 da Declaração Universal dos Direitos do Homem

apresentam como direitos sociais: o direito à segurança social e à satisfação

dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à dignidade da

pessoa humana e ao livre desenvolvimento de sua personalidade; direito ao

trabalho e à escolha do mesmo, às satisfatórias condições de trabalho e de

proteção ao desemprego, a um salário digno que seja capaz de suprir as

necessidades essenciais do trabalhador e as de sua família, o direito à

liberdade sindical, o direito a uma jornada de trabalho justa; o direito a férias,

descanso remunerado e lazer, previdência e seguridade social; direito à cultura

e educação, além de instrução técnica e profissional; direito à efetivação plena

dos direitos fundamentais.

Logo, os direitos sociais são uma das dimensões que os direitos

fundamentais do homem podem assumir. Seu objetivo é concretizar melhores

condições de vida ao povo e aos trabalhadores demarcando os princípios que

viabilizarão a “igualdade social e econômica”, no que concerne a iguais

oportunidades e efetivo exercício de direitos.

Sendo a Educação um direito garantido constitucionalmente e uma

arma poderosa de erradicação da pobreza e da miséria, considerada como um

bem indispensável nos dias modernos de uma sociedade capitalista como a

nossa, todavia, nos deparamos com a distribuição desigual dos bens da

educação, fica nitidamente claro que hoje existe a escola do pobre e a escola

do rico. É bem verdade que, quanto mais dinheiro e poder tem as famílias ricas

mais têm acesso aos bens da educação. Cria-se, portanto, uma educação

injusta e desigual retrato da má distribuição de renda tão evidente em nosso

país. De acordo com Brandão et. al. (1984, p. 33):

1) As disponibilidades econômicas do país ou de algumas regiões não

permitem investimentos suficientes para que todos recebam toda a educação

devida, por enquanto;

2) Outros problemas que não os “ de educação” impedem ou dificultam a

presença regular de crianças pobres ou de meio rural na escola;

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3) Famílias com história crônica de baixo índice de escolaridade, dificuldade de

trabalho e, conseqüentemente, de carência de nutricional, de saúde e de

estabilidade econômica, não possuem um interesse persistente pela educação

de seus filhos.

Contudo, esses direitos sociais precisam ser respeitados. É direito

constitucional que as famílias de baixa renda gozem da igualdade social e

econômica, tendo um trabalho digno com salário justo e suficiente para

alimentar os seus filhos, para mantê-los na escola e investir na educação dos

mesmos com o intuito de garantir a eles um futuro melhor.

Entretanto, para que esses direitos se efetivem na prática é preciso que

cada cidadão brasileiro tenha o conhecimento de seus direitos e como cidadão

no exercício de sua cidadania saiba reivindicar o cumprimento destas leis.

Enfim, esse discernimento o indivíduo só pode alcançar através de uma

formação educativa, crítica, reflexiva e de qualidade.

Todo esse quadro de mudança social pelo qual passa a humanidade,

onde ao mesmo tempo em que se abrem as possibilidades, através do mundo

globalizado, caracterizado pela rapidez da informação, na chamada era digital,

também fecham-se as portas para formas de convivência tranqüila, para a

liberdade de sair às ruas, por causa do medo e da insegurança, resultado da

superlotação das cidades, levando a escola a assumir mais este novo papel: o

espaço, na maioria das vezes, único, de expressão do indivíduo, o único lugar

seguro, onde os pais podem deixar seus filhos enquanto vão trabalhar e lutar

pela sobrevivência diária.

Enquanto, para muitos familiares a escola representa um lugar seguro

para se deixar os filhos e uma oportunidade de superação da pobreza, para

alguns alunos, representa apenas um espaço de referencia existencial, o ponto

de encontro com um grupo que é seu, de modo que, crianças e jovens, podem

não possuir casa própria, desconhecer o pai ou até mesmo a mãe, ou ambos,

não praticar efetivamente uma religião, não pertencer a nenhuma associação

recreativa, não usar as roupas ditas da “moda” ou não ter acesso à internet,

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não ter orkut, etc., mas todos, amparados pela universalização do ensino

fundamental, pertencem a essa ou àquela escola. Se perguntados sobre onde

estudam, o dizem com tranqüilidade e segurança.

Assim sendo, a escola assume uma função ainda maior a de

responsabilidade social, onde muitos dos alunos encontram as suas únicas

oportunidades, de convivência, de alimentação, de segurança. Neste sentido,

Arroyo apud GENTILI, 2001, p. 272, afirma que: “... possivelmente, muitos

jovens, crianças e adultos que freqüentam as escolas o que procuram é

recuperar a humanidade que lhes foi roubada. Encontrar na escola um espaço

onde sejam tratados como humanos”.

O’Sullivan ( 2004), também analisa a responsabilidade da escola como

espaço que vai além de transmissora de conhecimentos e sim espaço de

referência e identidade social, e neste sentido ele explica:

Embora os seres humanos pareçam incrivelmente flexíveis em seu modo de vida, precisamos de um lugar que satisfaça nossa necessidade de proteção, de afeto, de compreensão, de participação, de ócio, de criação de identidade e de liberdade. Para satisfazê-las hoje em dia, é preciso achar uma alternativa à globalização irrestrita, que ajude no senso de comunidade e de ter um lugar no mundo, que atenda algumas necessidades fundamentais tolhidas pela presente economia mundial. As instituições educacionais de todos os níveis precisam desempenhar um papel crucial no sentido de alimentar o senso de comunidade e de ter um lugar no mundo. (O’Sullivan, 2004, p.356)

Os especialistas da educação, psicologia e sociologia advertem que a

escola precisa ser parceira da família, no sentido de acolher, dar segurança e

proteção, ser um espaço de identidade social e cidadania, entre outras

funções. Entretanto, a escola jamais poderá assumir as responsabilidades da

família. Pois, a ausência familiar acarreta em sérios prejuízos na formação do

caráter e personalidade de seus filhos.

Desse modo, família e escola devem buscar uma sintonia, pois ambas,

simultaneamente estão imprimindo marcas nas crianças. É preciso dialogar na

busca de conciliar as necessidades de uma proposta educacional que prepare

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o individuo para interagir na sociedade atual, uma educação que proporcione

aos seus educandos os saberes e as competências necessárias para superar

as mudanças e desafios deste século, sem perder sua essência, seus valores

morais, “sua humanidade”. Mas, que seja capaz de agir de forma consciente,

ética e responsável consigo mesmo e com o seu semelhante.

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CAPÍTULO III

O PSICOPEDAGOGO X ESCOLA X FAMÍLIA JUNTOS

NA MISSÃO DE EDUCAR COM AMOR E AFETIVIDADE

FORMANDO EDUCANDOS COM INTELIGÊNCIA

EMOCIONAL.

Especialistas em educação, pedagogos, psicólogos, sociólogos,

assistentes sociais, médicos e cientistas já comprovaram que as emoções

acompanham todas as fases da vida do ser humano. E que para uma criança

se desenvolver de forma saudável psicologicamente, emocionalmente,

fisicamente, cognitivamente e espiritualmente, o ambiente em que ela é criada

precisa oferecer as condições necessárias, para que este processo ocorra de

forma natural, sem hostilidade e com todos os elementos necessários como

cuidados básicos, disciplina, carinho e muito afeto.

A qualidade das interações familiares são extremamente importantes

nas primeiras aprendizagens da criança, para que se sinta amada, aceita,

valorizada e respeitada, adquirindo autonomia e confiança, desenvolvendo

maiores condições de aprender.

Para Vygotsky (2000), a afetividade e a mediação da família estão

relacionadas, uma vez que o ser humano se constrói na relação com o outro,

ou seja, na sua interação com meio. Sendo assim, Vygotsky afirma que toda

função psicológica superior evidencia-se em dois momentos: primeiro no social

e depois no individual, por meio de uma apropriação que ocorre desde seu

nascimento, marcando diferenças individuais.

A apropriação é o processo de internalização das experiências

oferecidas através das relações, no social. É a passagem do interpsicológico

para o intrapsicológico, significando que toda função existente no sujeito

decorre das trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a vida entre o

indivíduo e o meio, cada aspecto influindo sobre o outro.

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Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social, e, depois, no nível individual; primeiro, entre pessoas (interpsicológica), e, depois, no interior da criança (intrapsicológica) [...]. A transformação de um processo interpessoal num processo intrapessoal é o resultado de uma longa série de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento. (VYGOTSKY, 2000, p. 75)

Smith e Strick 2001, afirmam que o “desenvolvimento social e

emocional é igualmente importante para o bom desenvolvimento do indivíduo”.

As autoras também asseguram que a família tem a influência mais poderosa no

desenvolvimento social e emocional de uma criança e à medida que as

mesmas crescem as atitudes e as expectativas dos pais e demais membros da

família continuam tendo um imenso efeito sobre como as crianças interagem

com os outros, abordam tarefas difíceis e vêem suas próprias capacidades.

Uma parcela impressionante do desenvolvimento social e emocional ocorre durante os primeiros três anos de vida. É durante esse período crítico, por exemplo, que as crianças descobrem se é seguro ou não explorar seu ambiente e confiar em outras pessoas. A qualidade dos relacionamentos de uma criança, nesse estágio, pode ter um impacto significativo sobre sua perspectiva emocional. Em geral, as crianças que tem relacionamentos seguros e estáveis com seus responsáveis adultos estão mais propensas a ser atentas, motivadas e a responder aos desafios. Mesmo aos três ou quatro anos, essas crianças afortunadas parecem ter expectativas otimistas e uma certa autoconfiança. As crianças que não têm cuidados e carinho suficientes de adultos, por outro lado, estão mais propensas a serem passivas, facilmente desencorajadas, retraídas e/ou temerosas de novas situações. As pesquisas indicam que essas atitudes precoces podem ser muito persistentes, persistindo durante todos os anos de escola e até mesmo na idade adulta. (Smith e Strick 2001, p.197,198).

Conforme Piaget, 1964, a afetividade é a força propulsora do

desenvolvimento. Pois ela atribui valor as atividades, regulando energias. Para

o autor, a vida afetiva e a vida intelectual são adaptações contínuas, paralelas

e independentes. Neste sentido, a afetividade está presente, no interesse, no

prazer, na dor, na alegria e na tristeza, no sucesso ou no insucesso. Deste

modo, todos esses sentimentos fundamentais intervêm como reguladores da

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ação da qual a inteligência determina a estrutura sendo a afetividade o motor

do comportamento.

Piaget, 1983, explica que a afetividade pode intervir nos processos de

inteligência, causando comportamentos, podendo provocar aceleração ou

atrasos no desenvolvimento cognitivo. O autor explica que a afetividade é

indissociada, irredutível e complementar a inteligência. Neste sentido, Piaget,

1983, afirma:

Os sentimentos e as operações intelectuais não constituem duas realidades separadas e sim dois aspectos complementares de toda a realidade psíquica, pois, o pensamento é sempre acompanhado de uma tonalidade e significado afetivo. Portanto, a afetividade e a cognição são indissociáveis na sua origem e evolução, constituindo os dois aspectos complementares de qualquer conduta humana, já que em toda atividade a um aspecto afetivo e um aspecto cognitivo ou inteligente. (Piaget, 1983, p. 234).

Assim sendo, ao analisarmos as teorias de Piaget, é correto afirmar

que as emoções afetam e influenciam na construção e na aquisição dos

conhecimentos e nos processos de aprendizagem dos educandos. Portanto, a

relação dialógica estabelecida pelo aprendiz e o ensinante precisa ser calorosa

e afetiva, pois, a forma como a família trata seus filhos na hora de lhes ensinar

se com carinho ou com arrogância, também o modo como o professor

apresenta suas aulas, se de forma motivadora ou mecanicista, poderá

determinar o grau de aprendizagem dos educandos.

O psicólogo Abraham Harold Maslow (1908-1970), estudou a

motivação para a compreensão do homem na dimensão social e não no

aspecto da vida laboral como comumente é citado. O autor queria saber o que

constituía a saúde mental positiva. E utilizando a Psicologia Humanista,

corrente impulsionada por ele. O mesmo deu origem a diferentes formas de

psicoterapia, todas guiadas pela idéia de que as pessoas possuem todos os

recursos internos necessários ao crescimento e à cura e o objetivo da terapia é

remover os obstáculos para que o indivíduo consiga isso.

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De acordo com a Teoria das Necessidades criada por Maslow (1935),

existem 5 (cinco) níveis de necessidades:

• As necessidades fisiológicas (ar, água, comida, sexo, etc.);

• As necessidades de segurança e estabilidade;

• Necessidades de amor e pertencimento;

• As necessidades de estima;

• A necessidade de auto-realização.

Maslow, considera as quatro primeiras necessidades como

necessidades básicas e a última como uma necessidade diferenciada, voltada

para a auto-realização do indivíduo. Algo pessoal e de imensa importância para

a saúde do Ser. Logo, para o autor a afetividade é uma necessidade

indispensável para o desenvolvimento integral do ser humano.

Conceituaremos abaixo cada necessidade de acordo com a teoria de

Maslow:

• As necessidades fisiológicas: Essas incluem as necessidades que temos

de oxigênio, água, proteínas, sais, açúcares, cálcio e outros minerais e

vitaminas. Também incluem a necessidade de manutenção do pH do

organismo (uma acidez excessiva ou muito baixa pode matar você) e da

temperatura (36ºC ou próximo disso). Além disso, há necessidade de ter

atividades, de descansar, dormir, livrar-se de substâncias tóxicas ou inúteis

(CO2, suor, urina, fezes), de evitar dor e de fazer sexo. Maslow, afirmava e

suas pesquisas comprovaram que uma falta das necessidades fisiológicas faz

com que o organismo deseje supri-la. Um exemplo seria dormir após um longo

período de atividades físicas, laborais ou intelectuais.

• As necessidades de segurança e estabilidade: Quando as necessidades

fisiológicas são resolvidas de um modo geral, o segundo nível de necessidades

entra em jogo. O indivíduo se torna gradualmente mais interessado em

encontrar circunstâncias seguras, de estabilidade e proteção. O indivíduo

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passa a se preocupar mais com seus medos e ansiedades. Desejo de ter um

lar seguro, um emprego, um plano de saúde, etc.

• As necessidades de amor e pertencimento: Quando se consegue suprir,

de modo geral, às necessidades fisiológicas e de segurança, surge o terceiro

nível. O indivíduo sente necessidade de ter amigos, um namorado ou

namorada, filhos, bons relacionamentos em geral, e mesmo um senso de

comunidade. Torna-se gradualmente mais sensível à solidão e às ansiedades

sociais.

• As necessidades de estima: Maslow percebeu duas versões das

necessidades de estima: uma inferior e uma superior. A inferior é o desejo de

ter o respeito dos outros, a necessidade de status, fama, glória,

reconhecimento, atenção, reputação, apreciação, dignidade e mesmo

dominância. A versão superior envolve a necessidade de auto-respeito,

incluindo sentimentos como confiança, competência, capacidade de realização,

mestria, independência e liberdade. A falta de satisfação dessas necessidades

são o que geram a baixa auto-estima e os complexos de inferioridade.

• A necessidade de auto-realização: As necessidades desse nível não se

referem à busca de equilíbrio ou homeostase. Uma vez que essas

necessidades são acionadas, elas continuam a ser sentidas indefinidamente, e

não há como atendê-las plenamente. Elas se referem ao contínuo desejo de

desenvolver potencialidades, de "ser tudo que você pode ser". Elas o impelem

a se tornar o mais completo "você" que só você pode ser. Daí o termo auto-

realização.

Portanto, tendo com base a teoria de Maslow, todas as necessidades e

aprendizagens humanas estão inter-relacionadas às emoções e sentimentos.

Como poderá então um educador transmitir ensinamentos aos seus educandos

se não considera seu estado emocional, seus sonhos e expectativas, seus

interesses, sentimentos e emoções! Como manteremos nossos educandos

motivados a aprender se não respeitamos suas opiniões, suas idéias, seu

estado emocional!

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Maslow, entendia a motivação como “uma força interior que se modifica

a cada momento durante toda a vida, onde direciona e intensifica os objetivos

de um indivíduo.” (MASLOW, 1968).

De acordo com o mesmo autor, a motivação é gerada por fatores

intrínsecos e por fatores extrínsecos:

Os fatores intrínsecos: são internos à pessoa (colecionar quadros por prazer,

fazer caridade porque isso é a coisa certa, aprender filosofia pela satisfação

que isso traz como, torcer por um time pelas alegrias que isso pode me

proporcionar ou jogar cartas pelo prazer de ganhar, etc.).

Os fatores extrínsecos: são ligados a compensações externas (receber

prêmio ou evitar sanção: como voar por uma companhia ruim para acumular

milhas, escolher uma carreira profissional para agradar o pai, usar um tipo de

roupas para ser aceito por um grupo, entre outros).

Conforme Maslow, se desejamos motivar às pessoas que temos ao

nosso ao redor devemos conhecer que necessidades têm satisfeitas e tentar

facilitar a consecução do degrau superior imediatamente.

Daniel Goleman, 2001, em seu livro “Inteligência Emocional”, afirma

que a emoção x razão são indissociáveis, ou seja, que os sentimentos estão no

pensamento. E essa teoria já foi reconhecida pelos psicólogos e pela ciência,

pelo fato de que essa verdade tem sido confirmada na prática da sala de aula e

nas relações familiares.

O autor ainda ressalta que, os sentimentos e emoções acompanham o

indivíduo em todas as fases e áreas da vida. Também assegura que as duas

instituições mais importantes na vida da criança como a escola e a família

precisam reconhecer a necessidade de educar as emoções das crianças

treinando-lhes a inteligência emocional.

Goleman indica às escolas e famílias um Programa que treine a

inteligência emocional de seus educandos, o que ele denomina de

“Alfabetização emocional”, onde as crianças desde cedo recebem lições e

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treinamentos, com o intuito de proporcioná-las ensinamentos essenciais para a

vida, onde as mesmas aprenderão a transformar momentos de crise pessoal

em lições de competência emocional.

Em muitos programas de alfabetização emocional incluem aulas

especiais para os pais, a fim de transmitir a eles o que seus filhos estão

aprendendo, para ajudar os pais que querem participar melhor da vida

emocional de seus filhos. Resumindo, as crianças que freqüentam este

programa aprendem estratégias de autoconsciência, autocontrole e

automotivação, para que assim recebam capacitação emocional para

vencerem os desafios da vida e força para persistirem na busca de sua

autorealização.

Apresentamos abaixo uma lista dos benefícios trazidos pelos

programas de alfabetização emocional para a vida de nossas crianças e para o

sistema educacional segundo Goleman (2001) p. 298, 299:

AUTOCONSCIÊNCIA EMOCIONAL

• Melhora no reconhecimento e designação das próprias emoções.

• Maior capacidade de entender as causas dos sentimentos.

• Diferenciar sentimentos e atos.

CONTROLE DE EMOÇÕES

• Melhor tolerância à frustração e controle da raiva.

• Menos ofensas verbais, brigas e perturbação na sala de aula.

• Maior capacidade de expressar adequadamente a raiva, sem brigar.

• Menos suspensões e expulsões.

• Menos comportamento agressivo ou autodestrutivo.

• Mais sentimentos positivos sobre si mesmos, a escola e a família.

• Melhor no lidar com a tensão.

• Menos solidão e ansiedade social.

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CANALIZAR PRODUTIVAMENTE AS EMOÇÕES

• Maior comunicabilidade.

• Maior capacidade e se concentrar na tarefa imediata e prestar atenção.

• Menor impulsividade; mais autocontrole.

• Melhores notas nas provas

EMPATIA: LER EMOÇÕES

• Maior capacidade de adotar a perspectiva do outro.

• Melhor empatia e sensibilidade em relação aos sentimentos dos outros.

• Melhor no ouvir os outros.

LIDAR COM RELACIONAMENTOS

• Maior capacidade de analisar e compreender relacionamentos.

• Melhor na solução de conflitos e negociação de desacordos.

• Melhor na solução de problemas em relacionamentos.

• Mais assertivo e hábil ao comunicar-se.

• Mais benquisto; amistoso e envolvido com os colegas.

• Mais procurado pelos colegas.

• Mais preocupado e atencioso.

• Mais “pró-social” e harmonioso em grupos.

• Maior partilhamento, cooperação e prestatividade.

• Mais democrático no lidar com os outros.

Conforme Goleman (2001), os programas de alfabetização emocional

melhoram as notas de aproveitamento acadêmico das crianças e o

desempenho na escola. Principalmente, nesta época em que um grande

número de crianças não é capaz de lidar com suas perturbações, de ouvir ou

de se concentrar, frear um impulso, sentir-se responsável por seu trabalho ou

se ligar na aprendizagem, qualquer coisa que reforce essas aptidões ajudará

na educação delas.

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Neste sentido, a alfabetização emocional aumenta a aptidão da escola

para dar ensinamentos. E além dessas vantagens educacionais, os cursos

parecem ajudar às crianças a melhor desempenhar seus papéis na vida,

tornando-se melhores amigos, alunos, filhos e filhas e no futuro têm mais

probabilidade de serem melhores maridos e esposas, trabalhadores e chefes,

pais e cidadãos. Onde não apenas os garotos com problemas, mas todos os

garotos podem lucrar com essas aptidões, pois o treinamento das inteligências

emocionais como afirma Goleman 2001: “São uma vacinação para toda a vida”.

Segundo Dalgalarrondo (2000), “a vida afetiva é a dimensão psíquica

que dá cor, brilho e calor a todas as vivências humanas.” De tal modo, a

afetividade passa a ser um conceito abrangente no qual se inserem várias

manifestações, diferentemente das emoções, sentimentos e desejos. O autor

ainda afirma que, os sentimentos são estados ou configurações afetivas

estáveis e em relação às emoções, são mais atenuados em sua intensidade e

menos reativos a estímulos passageiros. E são associados a conteúdos

intelectuais e constituem fenômeno mais mental que somático.

As emoções podem ser definidas como reações afetivas agudas, momentâneas, desencadeadas por estímulos significativos. Assim, a emoção é um estado afetivo intenso, de curta duração, originado geralmente como uma reação do indivíduo a certas excitações internas ou externas, conscientes ou inconscientes. (DALGALARRONDO, 2000. p. 100).

No contexto da construção coletiva do saber, ou seja, na interação do

educador com o educando, ocorre a valorização do saber e a relação de troca

educacional, tornando o momento de aprendizagem algo enriquecedor para

ambas as partes. Essa troca não acontece de forma potencial sem a

afetividade. Pois, quando o educando é tratado com carinho e afeto ele sente-

se valorizado e passa a se envolver mais nas aulas e atividades oferecidas por

seu mestre.

Segundo o psicólogo e psiquiatra Doutor Augusto Cury (2003), para

alcançar os arquivos da memória do educando é precisamos conquistar

primeiro suas emoções. O autor também assegura, que os nossos educandos

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precisam de uma educação surpreendente, que lhes ensine a tratar suas

emoções, não podemos esperar que os mesmos fiquem doentes para poder

tratá-los, pelo contrário, precisamos ensiná-los a resolverem os problemas da

vida, assim eles ficarão prevenidos contra as doenças emocionais.

“As escolas em todo mundo ensinam os alunos a dirigir empresas e máquinas, mas não os preparam para serem diretores do script dos seus pensamentos. É incontável a quantidade de pessoas que têm sucesso profissional, mas são escravas de seus pensamentos. Sua vida emocional é miserável. Enfrentam o mundo, mas não sabem remover o entulho da sua mente. (...) Na minha opinião, gerenciar os pensamentos é uma das mais importantes descobertas da ciência atual, e com grande aplicabilidade na educação e na psicologia. Mas a educação, as escolas de pedagogia e as faculdades de psicologia ainda dormitam nesta área. Somos especialistas em formar pessoas passivas. De que adianta aprender equacionar problemas de matemática se nossos jovens não aprenderem a resolver os problemas da vida, de que adianta aprender línguas se não souberem falar de si mesmos? Já é tempo de produzirmos autores e não vítimas da própria história. Já é tempo de prevenirmos doenças emocionais entre os jovens, em vez de esperar para tratá-las depois que elas afloram. Os jovens precisam de uma educação surpreendente.” ( Cury, 2003, pp.148, 149,150 ).

Portanto, é tarefa do psicopedagogo em conjunto com o docente e

equipe pedagógica realizar projetos educativos que venham conscientizar as

famílias quanto à relevância da educação emocional. Pois, as famílias

precisam compreender o quanto é importante que elas busquem junto à escola

recursos e estratégias que possam suscitar a motivação em seus educandos.

Enfim, a escola deve orientar os pais quanto à necessidade que a

criança tem do afeto e do carinho dos pais e irmãos, para que se sintam

apoiados e fortalecidos emocionalmente e afetivamente para enfrentarem os

desafios propostos pela escola e pela vida. Desse modo, com certeza estarão

mais bem preparados e assim, terão mais chances de vencer na vida. Neste

sentido, Chalita (2004), afirma “A solução está no afeto”.

O aluno precisa do humano. Em um mundo onde a violência grassa cada vez mais, onde a agressividade é absolutamente assustadora, a solução não está em mais agressividade nem em armamentos modernos. A solução está no afeto. Em um

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mundo onde a criança, o jovem, o idoso são desrespeitados, onde a liberdade dá lugar à escravidão, onde milhões passam fome e vivem à mercê da caridade de outros, a solução está no afeto. Em um mundo onde se atingiram patamares de excelência na robótica e na ciência, na evolução cibernética e na revolução da informação, mas não se conseguiu entender o humano, a solução está no afeto. (Chalita, 2004, p. 260)

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CAPÍTULO IV

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO FRENTE ÀS

DUAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS, A ESCOLA E A FAMÍLIA

DO ACOLHIMENTO ÀS INTERVENÇÕES.

As famílias brasileiras vêem sofrendo muito com os problemas

relacionados ao fracasso escolar, que segundo os especialistas em educação

não se justificam só pelas questões relacionadas ou interligadas aos

indivíduos, mas a todo um sistema de causas que passam, como por exemplo:

pela formação dos professores, estrutura das escolas, baixo nível de

investimento dos governos, enfim, um rol de ordem econômica e social, as

quais impedem ou travam todo o sistema educacional, trazendo assim graves

prejuízos na vida de nosso educando que é a maior vítima desse sistema.

E neste contexto, surgem salas superlotadas, professores estressados

e saturados pela falta de respeito da classe política e administrativa que

gerenciam os recursos públicos destinados à educação e como conseqüência

de um sistema educacional precário aumentam de uma forma alarmante o

número de alunos com problemas de aprendizagem e fracasso escolar. Alunos

estes que antes mesmo de concluir o primeiro grau adquirem um histórico

enorme de reprovação e repetência, o que causa traumas emocionais terríveis

na vida destes educandos.

E em meio a estes conflitos educacionais surge a Psicopedagogia para

atender à patologia da aprendizagem, acreditando que muitas dificuldades de

aprendizagem se devem a inadequada Pedagogia institucional e familiar. De

acordo com Kiguel(1991) apud Bossa, 2007, esclarece que, o estudo da

psicopedagogia se estrutura em torno do processo de aprendizagem humana,

seus padrões evolutivos normais e patológicos que em seu desenvolvimento

sofrem as influências do meio como a família, a escola e sociedade.

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Para Golbert (1995) apud Bossa, 2007, o objeto de estudo da

psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois enfoques o preventivo e o

terapêutico:

O enfoque preventivo: Considera o objeto de estudo da

psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento, enquanto educável. Seu

objeto de estudo é a pessoa a ser educada, seus processos de

desenvolvimento e as alterações de tais processos. Focaliza as possibilidades

do aprender, num sentido amplo. Não deve se restringir a uma só agência com

a escola, mais ir também à família e à comunidade. Poderá esclarecer de

forma mais ou menos assistemática, a professores, pais e administradores

sobre as características das diferentes etapas do desenvolvimento, sobre os

progressos nos processos de aprendizagem, sobre as condições

psicodinâmicas da aprendizagem, sobre as condições determinantes de

dificuldades de aprendizagem.

O enfoque terapêutico: Considera o objeto de estudo da

psicopedagogia a identificação, análise, elaboração de uma metodologia de

diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem.

A proposta da Psicopedagogia, numa ação preventiva, é adotar uma

postura crítica frente ao fracasso escolar, numa concepção mais totalizante,

visando propor alternativas de ação voltadas para a melhoria da prática

pedagógica das escolas.

“Numa primeira abordagem (...), podemos caracterizar o campo profissional da psicopedagogia como aquele para o qual conflui um conjunto de profissionais – basicamente psicólogos, pedagogos e psicopedagogos -, cuja atividade fundamental tem a ver com a maneira como as pessoas aprendem e se desenvolvem, com as dificuldades e os problemas que encontram quando levam a cabo novas aprendizagens, com as intervenções dirigidas a ajudá-las a superar estas dificuldades e, em geral, com as atividades especialmente pensadas, planejadas e executadas para que elas aprendam mais e melhor. De um ponto de vista genérico, podemos dizer que o trabalho psicopedagógico está intimamente vinculado à análise, ao planejamento, ao desenvolvimento e à modificação de processos educacionais”.(Coll, l996 p. 33. apud Solé, 2001, p. 27).

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A prática psicopedagógica se desenvolve em dois níveis; a clínica e a

institucional. A primeira refere-se às questões terapêuticas, trabalhadas nos

consultórios e a institucional, trabalhada nas instituições, quais sejam escolas,

hospitais, creches, empresas, etc., trata das questões preventivas das

dificuldades de aprendizagem. O foco da psicopedagogia está voltado

primordialmente para as relações que cercam as questões da aprendizagem,

sendo observadas todas as variáveis que dela fazem parte. Nesta ótica, o

indivíduo faz parte do todo social e sofre suas influências, diferentemente do

passado quando era visto como o causador dessas deficiências.

A psicopedagogia chega ao processo de ensino-aprendizagem com

uma nova visão para a solução dos problemas gerados a partir da inter-relação

professor e aluno. Faz parte da prática do psicopedagogo promover

intervenções baseadas na multidisciplinaridade que a questão envolve. Como

afirma BOSSA, 2007:

Em uma enumeração certamente incompleta, podemos dizer que atualmente as disciplinas que fundamentam a prática psicopedagógica são: a psicologia do desenvolvimento, as teorias da aprendizagem, as teorias da educação, a teoria psicanalítica, a psicologia psicodinâmica, a psicologia social e organizacional, a sociologia, as neurociências, a didática, as disciplinas que tratam do currículo, a epistemologia. (BOSSA, 2007, pag. 122).

Segundo Neves (1991) apud Bossa, 2007, a psicopedagogia estuda o

ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades internas e

externas da aprendizagem, tomadas em conjunto. O autor explica que o

psicopedagogo deve estudar a construção do conhecimento em toda a sua

complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos,

afetivos, sociais que lhe estão implícitos.

De tal modo que, para o psicopedagogo compreender os fatores que

determinam o êxito ou fracasso escolar precisa conhecer o contexto social que

o aluno está inserido. Analisando todos estes condicionantes que acompanham

a realidade da família contemporânea e a condição social em que as famílias

vivem permitirá uma analise sociológica que possibilitará a compreensão das

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dificuldades dos alunos no processo de aprendizagem. A escola atualmente

leva em consideração a importância da participação da família na vida escolar

de seus filhos, realizando assim um trabalho em conjunto para obtenção do

êxito escolar de seus educandos.

De acordo com Kramer (1992) apud Bossa, 2007, O psicopedagogo

em sua metodologia de trabalho deve reconhecer e considerar as interferências

dos elementos que surgem das circunstâncias e contexto de vida do educando,

ou seja, a família, escola e comunidade. Neste sentido, Kramer (1992), afirma:

Os estudos antropológicos exigem que levemos em conta o contexto de vida imediato das crianças e as próprias características específicas dos professores e da escola como instituição. Isso significa reconhecer que as crianças são diferentes e têm especificidades, não só por pertencerem a classes diversas ou por estarem em momentos diversos em termos de desenvolvimento psicológico [...]. Também os hábitos, costumes e valores presentes na sua família e na localidade mais próxima interferem na sua percepção de mundo e na sua inserção, e ainda também os hábitos, valores e costumes dos profissionais com que eles convivem no contexto escolar (professores, serventes, supervisores, etc.) precisam ser considerados e discutidos. (Kramer, 1992, p. 22, apud Bossa, 2007, p.85).

Basseadas, et. al., 1996, enfatizam que escola e família são dois

sistemas, que tradicionalmente, tem estado bastante afastado ultimamente,

apesar de possuírem freqüentes relações e interações, seja em nível

institucional, como nas reuniões da associação de pais, dos conselhos

escolares e em níveis individuais como na relação professor x família. Segundo

os autores, a escola tem tomada para si, de forma exagerada, o papel de

educadora, sem considerar a função educativa da família. E para os mesmos, a

colaboração entre essas duas instituições facilitaria o alcance de determinados

objetivos comuns. Os autores também asseguram:

Para que a criança tenha uma boa adaptação na escola, sentindo-se cada vez mais segura e dando um sentido às atividades que realiza, é importante que a família tenha e mostre uma certa confiança na escola, sinta tranqüilidade quando deixa o seu filho, demonstre interesse e curiosidade e

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valorize as suas aquisições e avanços. (Basseadas, et. al., 1996, p. 35).

Conforme Basseadas, et. al., 1996, quando os filhos passam a sofrer

com os problemas de aprendizagem essa confiança fica mais difícil e tende a

desaparecer, nesses casos escola e família às vezes agem contraditoriamente

deixando a criança confusa e insegura, pois a angústia e a ansiedade por parte

de pais e professores interferem na relação e a criança sente-se prejudicada.

Segundo os autores, são nestes momentos que nós psicopedagogos

que estamos um pouco afastados do que acontece na sala de aula, podemos

ajudar as partes implicadas a se despirem de toda culpa e a analisarem de

forma mais objetiva o que está acontecendo. E realizarmos um trabalho de

aproximação dos dois sistemas escola e família, auxiliando-os na busca de

canais de comunicação e colaboração com eles, para planejar e estabelecer

compromissos e acordos mínimos que levem a resolver os problemas criados

pela situação.

Neste viés, faz-se necessário a busca de um olhar sistêmico do

psicopedagogo, o qual precisa compreender todo o processo de transformação

familiar ao longo dos séculos, e ter propriedade quanto à função da escola. A

intervenção psicopedagógica, tem como foco a criança, tendo subsídios para

esta leitura global do meio que ela está inserida, tanto no contexto escolar

quanto familiar. Estas análises do psicopedagogo fornecem um histórico a ser

estudado e busca da identificação para diagnosticar ou prevenir a dificuldade

de aprendizagem. Assim, o psicopedagogo pode unir as duas forças

institucionais, a familiar e a escolar, pois ambas desempenham tarefas comuns

que é o desenvolvimento integral da criança. Cabe então ao psicopedagogo

construir estratégias de acolhimento em busca de intervenções.

Para Fernandes e Páin apud Bossa 2007, o problema de

aprendizagem pode ser gerado por causas internas ou externas à estrutura

familiar e individual, ainda que sobrepostas. Segundo as autoras, os problemas

ocasionados pelas causas externas são chamados de problemas de

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aprendizagem reativos, e aqueles cujas causas são internas à estrutura de

personalidade ou familiar do sujeito denominam-se inibição ou sintoma –

ambos os termos emprestados da Psicanálise. As autoras, ainda explicam que,

quando se atuam as causas externas, o trabalho é preventivo. Já na

intervenção em problemas cujas causas estão ligadas à estrutura individual e

familiar da criança, o trabalho é terapêutico. Conforme Alicia Fernandes (1990)

apud Bossa, 2007:

Para resolver o problema de aprendizagem reativo necessitamos recorrer principalmente a planos de prevenção nas escolas (batalhar para que o professor possa ensinar com prazer para que, por isso, seu aluno possa aprender com prazer, tender a denunciar a violência encoberta e aberta, instalada no sistema educativo, entre outros objetivos), porém, uma vez gerado o fracasso e conforme o tempo de sua permanência, o psicopedagogo deverá também intervir, ajudando através de indicações adequadas (assessoramento à escola, mudança de escola, orientação a uma ajuda extra-escolar mais pautada, a um espaço de aprendizagem extra-escolar expressivo, etc.), para que o fracasso do ensinante, encontrando um terreno fértil na criança e sua família, não se constitua em sintoma neurótico. Para resolver o fracasso escolar, quando provém de causas ligadas à estrutura individual e familiar da criança (problema de aprendizagem – sintoma ou inibição), vai ser requerida uma intervenção psicopedagógica especializada. (...) Para procurar a remissão desta problemática, deveremos apelar a um tratamento psicopedagógico clínico que busque libertar a inteligência e mobilizar a circulação patológica do conhecimento em seu grupo familiar. (Alicia Fernandes, 1990, p. 81-82 apud Bossa, 2007, p. 86).

Conforme Solé, 2001, o ensino de qualidade é, entre outras coisas um

empreendimento coletivo. As decisões educacionais importantes exigem

posturas colegiadas que privilegiem a corresponsabilização e a colaboração

entre os seus protagonistas. As mudanças, profundas ou leves que se

produzirem nas instituições, são realmente mudanças quando os responsáveis

se sentem atingidos e concernidos por elas. Segundo a autora, a intervenção

psicopedagógica capaz de contribuir para que essas mudanças se produzam

está condicionada, entre outros aspectos, pela capacidade de colaborar dos

coletivos ou dos grupos aos quais se dirigem a intervenção.

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A autora também esclarece que, não se trata de ter ou não ter essa

capacidade, mas do grau em que ela existe e da natureza das tarefas às quais

se aplica. E que todos os estabelecimentos de ensino tomam as decisões em

conjunto, mas em alguns essas decisões são em maior número e de maior

importância. E nestes casos espera-se que as tarefas nas quais o

psicopedagogo colaborará já tenham sido assimiladas pelo grupo e exista uma

maior tradição de discussão, elaboração conjunta e consenso.

Portanto, para os profissionais da psicopedagogia que visam garantir a

qualidade e eficácia no ensino, precisam efetivar a integração da escola e

família que precisam ser parceiras e cúmplices. Entretanto, devem firmar uma

relação respeitosa, democrática e dialógica, onde cada uma assuma suas

responsabilidades e com seriedade e compromisso possam contribuir de forma

ativa na resolução dos conflitos que surgem nos processo educativo de seus

educandos.

Enfim, escola e família precisam estar sempre em comunhão, num

clima de respeito e confiança, para que possam discutir, planejar, decidir e

intervir com ações, estratégias e projetos educativos que visem superar as

dificuldades de aprendizagem e promover um ensino eficaz, significativo e

duradouro capaz de formar educandos críticos, confiantes e capazes de

transpor as barreiras e entraves educacionais, e assim, alcançarem os

benefícios da educação, como a tão sonhada emancipação social e um futuro

promissor.

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CONCLUSÃO

A realização desta pesquisa nos trouxe a comprovação da relevância

da participação e acompanhamento da família no processo educacional de

seus filhos, para garantia do sucesso do processo ensino-aprendizagem dos

mesmos. Neste sentido, os especialistas da educação afirmam e comprovam

em suas pesquisas que a família é decisiva para manter ou superar as

dificuldades que surgem no processo educativo de seus filhos e que sem esta

parceria nossos educandos estarão entregues ao fracasso escolar.

Ao analisarmos essa relação família x escola, compreendemos a

importância de toda equipe escolar conhecer a família de seus alunos, pois

cada família tem uma história, seus costumes, crenças, valores e cultura, que

são passados de pais para filhos. E estas famílias recebem influências de suas

condições socioeconômicas que muitas vezes lhes são impostas e os leva a

criar diversos tipos de organização e arranjos familiares, as quais sofrem com o

descaso, o preconceito e até mesmo a discriminação por parte da própria

sociedade em que vivem. Desse modo, a escola ao compreender as famílias e

suas particularidades e ao analisar suas condições sociais poderá

conscientizar a família quanto à importância dos pais assumirem suas reais

responsabilidades e auxiliá-los no cumprimento das tarefas que lhe forem

solicitadas.

Esta pesquisa também proporciona estudos e pesquisas de psicólogos,

pedagogos, psicopedagogos e mestres em educação que indicam caminhos

para superar os conflitos que surgem na prática educativa, entre eles a

ausência da família e suas implicações. Estes revelam estratégias que podem

ser utilizadas pelos psicopedagogos e equipe pedagógica da escola na busca

da integração da parceria entre família x escola. E também na conquista de um

relacionamento respeitoso, acolhedor e democrático entre família x escola,

onde cada membro sinta-se estimulado a participar de forma ativa das ações

da escola e tome posse de suas responsabilidades com a educação de seus

educandos.

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E neste espaço de convivência o psicopedagogo assumirá o papel de

assessor e mediador desta parceria, pois o mesmo orientará tanto a escola

como a família na superação de suas fraquezas e conflitos, com intuito de

fortalecer esta relação, afim de que estas duas instituições trabalhem juntas em

prol da formação e em defesa dos direitos de seus educandos.

Portanto, somente a partir de uma relação harmoniosa com a família é

que a escola poderá promover ações e projetos que visem superar as barreiras

que impedem a participação das famílias no processo educacional de seus

filhos. E apenas dessa maneira, em comunhão e parceria escola x família

poderão contribuir para a promoção de uma educação mais justa e igualitária

para seus educandos.

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