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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA INCLUSÃO DO ALUNO AUTISTA Por: Daniela Marques da Silva Cardoso Orientador Prof. Gisele Borger Brand Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Com base nesse questionamento delimitou-se como objetivo geral ... O conceito do autismo infantil, portanto, se modificou desde

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA INCLUSÃO

DO ALUNO AUTISTA

Por: Daniela Marques da Silva Cardoso

Orientador

Prof. Gisele Borger Brand

Rio de Janeiro

2013

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA INCLUSÃO

DO ALUNO AUTISTA

Apresentação de monografia ao Conjunto

Universitário Candido Mendes como condição

prévia para a conclusão do Curso de Pós-

Graduação “Lato Sensu” em Psicomotricidade.

Por: Daniela Marques da Silva Cardoso

3

DEDICATÓRIA

No decorrer da minha vida profissional e pessoal, muitas pessoas

importantes passaram pelo meu caminho. Pessoas que me ensinaram com o seu

exemplo, pessoas que ensinaram com a sua gratidão, pessoas que me ensinaram

com a sua rigidez e o seu radicalismo.

Porém quem mais me ensinou foi a própria vida, que me fez ver através

de situações diversas, que somos como o tempo e como o nosso próprio corpo,

flexíveis e passíveis de mudanças.

Nos moldamos nas situações diárias e de tempos em tempos nos

tornamos outras pessoas, valorizando outras coisas, apreciando outros sabores e

adquirindo novas verdades.

Dedicar este trabalho a apenas uma pessoa seria esquecer de tantas

que me moldaram, então dedico a cada criança por mim atendida, a cada familiar por

mim orientado e até mesmo aos impecílios que em alguns momentos me desviaram

do caminho que eu achava ser o certo e me levaram aqueles que realmente

precisavam de mim.

4

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS, causa primária de todas as

coisas.

Meus pais , que com seu exemplo me

inspiraram no caminho que leva as pessoas

com deficiência.

6

RESUMO

O autismo é uma síndrome comportamental caracterizada por déficit na

interação social, ou seja, dificuldade em se relacionar com o outro, déficit de

linguagem e alterações de comportamento. A inclusão educacional dos alunos com

autismo merece muitas reflexões, pois para haver inclusão é necessário que haja

aprendizagem. A psicomotricidade é a área que se ocupa do corpo em movimento e

assume grande importância na inclusão do aluno autista, por permitir a criança

autista uma apropriação do seu corpo (que está no centro das capacidades

cognitivas), possibilitando a aquisição das noções de tempo e espaço. O objetivo

deste estudo é apresentar uma revisão de literatura sobre o que se refere ao

autismo e sua relação com a psicomotricidade na educação inclusiva. Busca-se com

esta pesquisa demonstrar que a psicomotricidade, no trabalho em educação,

contempla a criança além das suas necessidades especiais, buscando na integração

de pensamento e ação novas formas de comunicação, desenvolvimento emocional e

interação social.

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METODOLOGIA

A metodologia adotada é a pesquisa bibliográfica, utilizando-se como

fonte de consulta livros, monografias, artigos e publicações eletrônicas que abordam

o assunto analisado, através de sites de busca na internet e na biblioteca da

Universidade Cândido Mendes.

Através da uma pesquisa bibliográfica foram consultados autores com

títulos que correspondem às ideias e conceitos propostos na fundamentação teórica

da pesquisa. As informações foram coletadas nas obras de Claudio Roberto Baptista

e Cleonice Bosa, “Autismo e educação: reflexões e propostas de intervenção”; José

Salomão Scwartzman, “Autismo infantil”; Jean Claude Coste, “A psicomotricidade”;

Vítor da Fonseca, “Psicomotricidade”; Suzana Veloso Cabral, “Psicomotricidade

relacional: prática clínica e escolar”, entre outros autores, assim como um estudo

exploratório através de sites de internet, artigos e publicações eletrônica, entre

outros, que guardem relação com o assunto investigado.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................. 08

CAPÍTULO I

CONSIDERAÇÕES SOBRE O AUTISMO INFANTIL..................................... 10

CAPÍTULO II

A PSICOMOTRICIDADE................................................................................. 18

CAPÍTULO III

CONTRIBUIÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE NA INCLUSÃO DA CRIANÇA

AUTISTA..........................................................................................................

30

CONCLUSÃO.................................................................................................. 38

BIBLIOGRAFIA................................................................................................ 40

ÍNDICE............................................................................................................. 44

FOLHA DE AVALIAÇÃO ................................................................................ 46

9

INTRODUÇÃO

O autismo é definido como um transtorno do desenvolvimento que

geralmente está associado a outras síndromes e é facilmente confundido com

deficiência intelectual. É descrito como uma síndrome comportamental com causas

múltiplas e caracterizado por déficit na interação social, ou seja, dificuldade em se

relacionar com o outro, déficit de linguagem e alterações de comportamento.

Crianças com esses sintomas costumam se isolar, evitam contato com

os demais por meio do olhar e apresentam, com o passar do tempo, dificuldades na

comunicação oral. A inclusão educacional dos alunos com autismo merece muitas

reflexões, pois para haver inclusão é necessário que haja algum tipo de

aprendizagem.

Para muitas escolas, o fato de receber o aluno autista e matriculá-lo

representa uma forma de inclusão, quando de fato não é assim que pode ser

denominada, pois é necessário saber se as necessidades dessas crianças estão

sendo desenvolvidas para que obtenham avanços junto aos alunos normais em sua

comunicação, interação social e desenvolvimento cognitivo.

A psicomotricidade assume a sua importância neste âmbito, sendo

através do gesto e dos movimentos que o individuo expressa os sentimentos e

emoções, e nos quais se baseiam as interações sociais e comunicação, fatores

estes, como já mencionado, dificultados nas crianças autistas.

Diante dessas considerações busca-se com este estudo investigar a

seguinte problemática: de que forma a psicomotricidade pode contribuir para a

inclusão do aluno autista em escolas regulares?

Com base nesse questionamento delimitou-se como objetivo geral

apresentar uma revisão de literatura sobre o que se refere ao autismo e sua relação

com a psicomotricidade na educação inclusiva. Os objetivos específicos consistem

10

em: apresentar o conceito de autismo, sua etiologia e as terminologias associadas

ao quadro; abordar o conceito de psicomotricidade, sua evolução histórica,

elementos psicomotores, especificidades, campos de atuação e benefícios

adquiridos por meio de sua utilização; verificar e analisar como a psicomotricidade

pode ser aplicada na inclusão do aluno autista em escolas regulares.

Busca-se com este estudo demonstrar que a psicomotricidade, no

trabalho em educação, contempla a criança além das suas necessidades especiais,

buscando na integração de pensamento e ação novas formas de comunicação,

desenvolvimento emocional e interação social.

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CAPÍTULO I

CONSIDERAÇÕES SOBRE O AUTISMO INFANTIL

1.1 Conceito e aspectos históricos

O termo “autismo” é originário da palavra grega “autos”, que significa

próprio, e “ismo”, que traduz uma orientação ou estado. Deste significado resultou o

termo “autismo”, que parece ser um estado de alguém que está absorvido de si

próprio e abstraído de tudo mais que o rodeia.

O termo autismo infantil foi introduzido na literatura médica, em 1943,

por Leo Kanner, quando ele observou um conjunto de características comuns em um

grupo de 11 crianças avaliadas no Centro Médico Johns Hopkins. Elas possuíam

uma incomum incapacidade de se relacionar com as pessoas. Não interagiam com

seus pais, desde a primeira infância apresentavam olhar distante, ecolalia, inversão

pronominal, repetições de sons e/ou expressões verbais, comportamentos motores

repetitivos, necessidade de manter uma uniformidade das suas atividades, entre

outras características. A principal característica observada por Kanner foi um

extremo isolamento social, o qual chamou de “solidão autística”. Ele acreditava que

o autismo era devido a uma incapacidade inata da criança de se relacionar e

descrevia esta condição como uma psicose (ZAMPIROLI; SOUZA, 2012).

Em 1976, Ritvo e colaboradores relacionaram o autismo a uma

deficiência cognitiva, contrapondo-se à teoria de Kanner, considerando o quadro

como um transtorno do desenvolvimento e não uma psicose (ZAMPIROLI; SOUZA,

2012). Em 1978, Michael Rutter propôs uma definição do autismo com base em

quatro critérios: 1) atraso e desvio sociais não só como função de retardo mental; 2)

problemas de comunicação, novamente, não só em função de retardo mental

associado; 3) comportamentos incomuns, tais como movimentos estereotipados e

maneirismos; e 4) início antes dos 30 meses de idade. Em 1980 o autismo colocado

12

em uma nova classe de transtornos, os transtornos invasivos do desenvolvimento

(TIDs). O termo TID foi escolhido para refletir o fato de que múltiplas áreas de

funcionamento são afetadas no autismo e nas condições a ele relacionadas (KLIN,

2006).

Quando de sua descrição por Kanner, o autismo infantil foi inicialmente

denominado Distúrbio Autístico do Contato Afetivo, como uma condição com

características comportamentais bastante específicas, tais como: perturbações das

relações afetivas com o meio, solidão autística extrema, inabilidade no uso da

linguagem para comunicação, presença de boas potencialidades cognitivas, aspecto

físico aparentemente, normal, comportamentos ritualísticos, início precoce e

incidência predominante no sexo masculino (TAMANAHA et al., 2008).

Segundo Gillberg (apud SOUZA et al., 2004), o autismo é considerado

uma síndrome comportamental, caracterizado por um déficit social visualizado pela

inabilidade em relacionar-se com o outro, usualmente combinado com déficit de

linguagem e alterações de comportamento.

No conceito apresentado por Oliveira (2009, p. 278), o termo autismo

“refere-se a uma disfunção neurológica, que clinicamente se manifesta por atraso ou

desvio nas aquisições do neurodesenvolvimento e por alterações do

comportamento.”

Na classificação do Manual de Diagnóstico Estatística das

Perturbações Mentais - DSM IV, o autismo infantil está localizado dentro dos

Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, sendo, portanto, um transtorno do

desenvolvimento da pessoa.

Na décima revisão da Classificação Internacional de Doenças - CID 10

o autismo é considerado um transtorno global do desenvolvimento. Segundo

Tamanaha et al. (2008, p. 04):

(...) os Transtornos Globais do Desenvolvimento foram classificados

como um grupo de alterações, caracterizadas por alterações

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qualitativas da interação social e modalidades de comunicação, e por

um repertório de interesses e atividades restrito e estereotipado.

Essas anomalias qualitativas constituem uma característica global do

funcionamento do indivíduo.

O conceito do autismo infantil, portanto, se modificou desde sua

descrição inicial, passando a ser agrupado em um contínuo de condições com as

quais guarda várias similaridades, que passaram a ser denominadas de Transtornos

Globais (ou Invasivos) do Desenvolvimento.

1.2 Incidência

A incidência do autismo corresponde a aproximadamente 1 a 5 casos

em cada 10.000 crianças, sendo muito mais frequente em homens, com uma

proporção de 2 a 3 no sexo masculino para 1 no sexo feminino, sendo que as

mulheres, quando afetadas, costumam ter comprometimento mais grave

(ASSUMPÇÃO; PIMENTEL, 2000).

Com a inclusão de casos atípicos, principalmente aqueles associados a

deficiência mental profunda, a incidência do autismo pode atingir 10 a 20 casos por

10 mil, com redução do desvio da razão de sexo (STEINER et al., 1999).

No Primeiro Encontro Brasileiro para Pesquisa em Autismo (EBPA - htt

p://www6.ufrgs.br/ebpa2010/), foi estimada uma prevalência de aproximadamente

500 mil pessoas com autismo em âmbito nacional, baseando-se no Censo de 2000.

1.3 Etiologia

As primeiras teorias sobre as causas do autismo postulavam que ele

resultava de déficits específicos no cuidado e na interação dos pais com a criança, o

que deu origem às chamadas “disfunções do ego”. No entanto, a maior frequência

do autismo em indivíduos do sexo masculino, bem como sua associação com o

14

retardamento mental indicam possíveis bases neurobiológicas para essa condição,

não mais considerada como puramente psicogênica, mas sim como um distúrbio do

desenvolvimento neuropsicológico (STEINER et al., 1999).

A etiologia do autismo permanece desconhecida. Existem descrições

tanto de fatores ambientais, como infecções virais, exposição a substâncias

químicas e/ou complicações obstétricas, quanto de fatores genéticos, cujas

evidências são a recorrência familial (da ordem de 2% a 3% para a irmandade), a

maior concordância em gêmeos monozigóticos do que em dizigóticos e a

associação a anomalias cromossômicas ou doenças gênicas. Entretanto, o mais

provável é que o autismo seja uma condição decorrente de mecanismo multifatorial,

ou seja, determinado pela associação de fatores genéticos (poligênicos) a fatores

não genéticos (STEINER et al., 1999).

1.4 Características clínicas

O autista apresentam perturbações em três diferentes áreas de

domínio, a saber: Área Social, da Linguagem e Comunicação e a do Comportamento

e Pensamento.

Na Área Social a pessoa tem dificuldade de relacionamento, pois não

consegue interagir para compreender as regras sociais. As principais características

da pessoa autista relacionadas a essa área são: não se relacionar com contato

visual, expressões faciais, relação com os pares, primar pela rotina, sendo que a

criança autista pode tanto isolar-se como também interagir de forma estranha aos

padrões habituais.

Conforme relatam Steiner et al. (1999, p. 01):

Autistas podem esbarrar ou passar por outras pessoas como se não

as vissem. Podem não se virar quando chamados e não olhar para a

pessoa que está tentando estabelecer contato com eles,

especialmente se estiverem entretidos com um brinquedo ou outra

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atividade de seu interesse. (...) As crianças autistas, quando

frustradas ou em face de um objeto que desperta temores, em geral

são incapazes de olhar para o rosto de um adulto para buscar

informações de como interpretar o que está acontecendo ou, ainda,

para decidir que atitude tomar. (...) Eles parecem ignorar seu próprio

sentimento ou o dos outros e costumam interpretar de maneira

inadequada o tom de voz e a expressão facial. Ainda enquanto

crianças não sabem fazer amizades e, quando jovens, parecem não

se incomodar com seu isolamento social (...)

No entanto, “nem todos os autistas mostram aversão ao toque ou

isolamento, alguns ao contrário, podem buscar o contato físico, inclusive de uma

forma intensa, quando não ‘pegajosa’, segundo pais e professores” (BAPTISTA;

BOSSA, 2002, p. 34).

As perturbações na área social relacionam-se à dificuldade do autista

de entender o pensamento, os sentimentos e a reação das outras pessoas. A

capacidade do autista de compartilhar sentimentos é comprometida, havendo uma

dificuldade em entender o ponto de vista alheio, compreendendo que as outras

pessoas apresentam sentimentos, ideias e pensamentos diferentes.

Segundo Baptista e Bosa (2002, p. 32):

Muitas vezes ausência de respostas das crianças deve-se a falta de

compreensão do que esta sendo exigido e não de uma atitude de

isolamento e recusa proposital. A contínua falta de compreensão do

que se passa ao redor, aliada à escassa oportunidade de interagir

com crianças “normais” é que conduziria ao isolamento, criando,

assim, um circulo vicioso.

Na Área de Comunicação e Linguagem, o autista apresenta uma

linguagem repetitiva e estereotipada, não conseguindo iniciar e manter uma

conversa. Nos casos em que a fala é adequada, existe um acentuado

comprometimento da capacidade de iniciar ou manter uma conversação. O autista

consegue pronunciar algumas palavras, e aqueles que não verbalizam,

16

compreendem algumas palavras faladas pelos outros, porém somente palavras

como substantivos e verbos (SOUZA et al., 2004). No entanto,

Há ainda crianças que falam precoce e corretamente, mas de forma

incessante ou em tom de voz constante, monotônico e monocórdio,

ou "cantado", podendo centralizar o assunto durante horas em um

único tema, desinteressante para quem está ouvindo. Podem mostrar

perseverança e repetir uma mesma pergunta várias vezes ou recitar

frases lidas ou ouvidas de outra pessoa, frequentemente imitando

com perfeição o tom de voz e o ritmo de quem as pronunciou

primeiro (STEINER et al., 1999, p. 01).

A comunicação da criança autista é caracterizada por falta de

verbalização ou por ecolalia, podendo ser encontrados autistas que falam

normalmente. Mais da metade das crianças autistas apresentam ecolalia. A ecolalia

pode ser imediata e mediata. Na ecolalia imediata, a criança autista repete quase

que imediatamente aquilo que acaba de escutar após a verbalização de outra

pessoa. Na ecolalia mediata, a criança demora certo tempo para repetir o que

escutou.

Acerca desse domínio, que se encontra afetado na maioria dos

indivíduos autistas, Steiner et al. (1999, p. 01) relatam que:

A comunicação não verbal (linguagem pragmática) também está

deficiente no autista. Quando incapazes de se comunicar

verbalmente, é raro que crianças autistas apontem objetos ou

utilizem gestos para chegar ao ponto de seu interesse. Enquanto as

crianças normais aprendem o poder da comunicação por volta de um

ano de idade, como apontar e sacudir a cabeça para indicar "não",

muitos autistas parecem incapazes disso. Em vez de apontar eles

vão pegar objetos por si mesmos, ou usam a mão de suas mães

para pegá-los para si. Quando não o fazem podem chorar

incessantemente, até que os pais descubram, por tentativa e erro, o

que desejam.

17

A perturbação na Área do Comportamento e Pensamento é

caracterizada pela rigidez do comportamento e do pensamento, e também pela

precária imaginação. Destaca-se também o comportamento ritualista e muitas vezes

obsessivo; a ausência dos jogos de faz de conta, pois não percebem o objeto inteiro,

mas só uma parte, um detalhe, e não entendem para que serve o brinquedo; o

atraso intelectual e a dependência de rotinas.

O autismo tem seu início, na maioria das vezes, até os três anos de

idade. Para a maioria das crianças, o aparecimento dos sintomas do autismo é

gradual. Ao nascimento a criança pode apresentar grande variação de

comportamento; os pais geralmente relatam que há algo “errado” com seu bebê, que

muitas vezes não chora em momento nenhum ou chora demais. Geralmente as

crianças autistas apresentam indiferença à afeição ou contato físico, tornando-se

rígidas ou extremamente flácidas quando levantadas; podem apresentar, também,

falta de contato visual direto, de sorrisos sociais e, muitas vezes, ausência de

“interação” com a voz dos pais (ZAMPIROLI; SOUZA, 2012).

Aos 4-5 meses essas crianças não apresentam movimentos

antecipatórios com os braços, quando se vai pegá-las no colo. Aos oito meses as

reações de balbucio comunicativo podem estar alteradas ou não existir; podem

também não apresentar medo a estranhos, o que nessa idade não seria comum

acontecer. Nesse período elas geralmente possuem grande dificuldade de interagir

socialmente, não apresentando qualquer interesse em brincar com o outro, ou seja,

sua curiosidade em relação ao mundo exterior permanece quase nula. O

desenvolvimento da criança em relação ao sentar, engatinhar, ficar em pé,

geralmente está atrasado, embora, em alguns casos, possa estar normal ou até

adiantado (STEINER et al., 1999; ZAMPIROLI; SOUZA, 2012).

Aos 12 meses, geralmente, não há “habilidade” de mostrar objetos de

interesse para outras pessoas. Por volta dos dois anos, período em que tem-se o

início da linguagem na maioria das crianças, no autismo percebe-se um atraso

nessa aquisição inicial; além disso, essas crianças geralmente não conseguem

associar sentimentos a símbolos verbais. Com isso, podem reagir da mesma forma

diante de uma pessoa com a feição de alegria ou de raiva, demonstrando uma falta

18

ou dificuldade em apresentar e/ou demonstrar empatia pelas emoções dos outros

(ZAMPIROLI; SOUZA, 2012).

Aos três anos de idade a capacidade de “fantasiar” se torna

prejudicada ou ausente; com isso se percebe a incapacidade delas em iniciar uma

atividade lúdica. Os brinquedos geralmente são manipulados de forma não criativa,

sem a verdadeira finalidade para a qual foram feitas. Quando conseguem utilizá-los

com sua verdadeira finalidade, focam o interesse em um brinquedo específico ou em

uma determinada forma de utilizá-lo (podem ficar durante horas girando a roda de

um carrinho). Detém uma “necessidade” em manter uma rotina em sua vida, tanto

em seus comportamentos inflexíveis como em seus rituais. Pequenas mudanças do

cotidiano, como, por exemplo, retirar um livro da estante, pode provocar crises de

choro, gritos, pânico, automutilação ou até mesmo reações emocionais ausentes,

que podem durar horas. Essas crianças podem não demonstrar medo diante de

perigos reais, como atravessar a rua com tráfego aberto, em outros momentos

podem sentir-se assustadas e/ou amedrontadas com acontecimentos inofensivos,

como ouvir o toque de uma campanhia ou o barulho de um brinquedo (STEINER et

al., 1999; ZAMPIROLI; SOUZA, 2012).

Por volta dos 5-6 anos os sintomas tendem a se estabilizar,

principalmente aqueles relacionados ao campo comportamental e social. Entretanto,

em relação à linguagem se observam características peculiares, como o não uso

das palavras “eu” e “sim”; a criança passa a “conversar” em 3ª pessoa, como se não

existisse, tornando o “diálogo” ainda mais difícil (STEINER et al., 1999; ZAMPIROLI;

SOUZA, 2012).

Um dos grandes problemas que pais e educadores encontram é

encontrar estratégias para remediar o atraso no desenvolvimento social do autista,

que consequentemente trás prejuízos no relacionamento com outras pessoas e nas

habilidades de comunicação.

19

CAPÍTULO II

A PSICOMOTRICIDADE

2.1 Conceito e finalidade

O termo psicomotricidade surgiu na França no final do século XIX e

início do século XX, consolidando-se na década de 1960, e teve por importante

contribuição os estudos de neuropsicologia de Drupé e de outros autores que

colocaram concepções sobre corpo, afeto e movimento como elementos para

estudos e reflexões.

De acordo com Lapierre (2002, p. 13):

Dupré, ao criar o termo e a noção de psicomotricidade, sublinha o

paralelismo do desenvolvimento motor e intelectual. Schilder, a partir

dos seus trabalhos sobre as noções do corpo maternal e do

esquema corporal, estabelece um elo entre percepções corporais e a

organização espaço-temporal. Ajuriaguerra, por seus trabalhos sobre

o tônus, enfatiza as estreitas relações entre tônus e afetividade.

Wallon (do ato ao pensamento) situa a atividade motora como base

do desenvolvimento intelectual e psicológico. Piaget, com a

epistemologia genética situa o corpo, a atividade motora, a

exploração sensório - motora e perceptivo - motora como bases

primeiras e fundamentais da inteligência.

A psicomotricidade, em seus primórdios, compreendia o corpo nos

seus aspectos neurofisiológicos, anatômicos e locomotores, coordenando-se e

sincronizando-se no espaço e no tempo, para emitir e receber significados.

Atualmente, a psicomotricidade é o relacionar-se através da ação, como um meio de

tomada de consciência que une o ser corpo, o ser mente, o ser espírito, o ser

natureza e o ser sociedade. A psicomotricidade está associada à afetividade e à

20

personalidade, porque o indivíduo utiliza seu corpo para demonstrar o que sente, e

uma pessoa com problemas motores passa a apresentar problemas de expressão.

Diversos autores apresentaram conceitos relacionados à

psicomotricidade. Segundo De Meur e Staes (1991), a psicomotricidade é uma

ciência que visa destacar a relação existência entre a motricidade, a mente e a

afetividade, de maneira a facilitar uma abordagem global da criança por meio de

uma técnica.

Para Vidal (1994), a psicomotricidade é a técnica ou grupo de técnicas

que tendem a interferir no ato intencional significativo, para estimular ou modificá-lo,

usando como mediadores a atividade corporal e sua expressão simbólica. O objetivo

é aumentar a capacidade de interação do sujeito com o ambiente.

Segundo Berruezo (1995), a psicomotricidade é um foco da

intervenção educacional ou terapia cujo objetivo é o desenvolvimento da capacidade

motriz, expressivas e criativas a partir do corpo

A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade a conceitua como:

a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu

corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo,

bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro,

com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de

maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas,

afetivas e orgânicas (SBP, 2013, p. 01).

Para Fonseca (2005) a psicomotricidade pode ser compreendida como

o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e influências, recíprocas

e sistêmicas, entre o psiquismo e a motricidade. O psiquismo é constituído pelas

sensações, percepções, imagens, emoções, afetos, projeções, aspirações,

representações, simbolizações, ideias, construções mentais, etc., bem como pelos

processos relacionais e sociais. A motricidade, conjunto de expressões mentais e

21

corporais, engloba funções tônicas, posturais, somatognósicas e praxicas. Tais

expressões corporais podem ser não verbais ou verbais.

Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma

concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências

vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e

sua socialização.

A psicomotricidade trabalha as qualidades físicas e mentais do ser

humano por meio do movimento consciente, de forma global e lúdica. Seu principal

objetivo é o desenvolvimento da interação e integração humana (mente-corpo-meio

ambiente), tendo por finalidade: a) mobilizar e reorganizar as funções psíquicas

emocionais e relacionais ao indivíduo em toda a sua dimensão experiencial, desde o

bebê até a velhice; b) aperfeiçoar a conduta do ato mental onde emerge a ela

renovação e a execução do ato motor; c) aumentar as percepções e as sensações

para a conscientização, simbolização e conceituação; d) melhorar o potencial motor

e harmonizá-lo, afetivo-relacional e cognitivo, desenvolvendo a personalidade, a

adaptação social e o processamento da informação; e) promover a adaptação a

novas situações através da esfera do psíquico e a esfera do motor, para que a

consciência se edifique e se manifeste.

2.2 Elementos psicomotores

Os principais elementos da psicomotricidade são: esquema corporal;

imagem corporal; coordenações: ampla e fina; organização: espacial e temporal;

ritmo; lateralidade; equilíbrio.

O esquema corporal é o processo pelo qual o indivíduo adquire

consciência de seu próprio corpo e das possibilidades de se expressar através dele,

aprendendo a controlá-lo. Segundo Wallon (apud De MEUR; STAES, 1991, p. 09)

trata-se de “um elemento para a formação da personalidade da criança. É a

22

representação relativamente global, científica e diferente que criança tem o seu

próprio corpo”, e, em consequência, passa a indicar e a nomear as partes dele.

A imagem corporal diz respeito a percepção e ao sentimento que o

indivíduo tem de seu próprio corpo, ou seja, a impressão que a pessoa tem de si

própria. A formação da imagem corporal se inicia na infância e é transformada e

modificada constantemente pelo indivíduo. Sendo assim,

a imagem corporal é contínua e representativa do esquema postural

e acompanha o indivíduo desde o seu nascimento e até o último

suspiro, sofrendo adaptações e transformações globais de acordo

com o momento vivido (MATARUNA, 2004, p. 03).

O desenvolvimento da imagem corporal ocorre paralelamente no

desenvolvimento da identidade do próprio corpo, sendo um processo que ocorre

durante toda a vida, embora a sua estruturação seja facilitada nos primeiros anos de

vida devida às condições fisiológicas, afetivas e sociais dessa época (TAVARES,

2003).

Para Freitas e Israel (2008, p. 1.028) a organização do corpo ocorre a

partir de três pontos:

Imagem Corporal: sentimentos e atitudes que uma pessoa tem em

relação ao seu próprio corpo. Esquema Corporal: imagem

esquemática do próprio corpo, que só se constrói a partir da

experiência do espaço, do tempo e do movimento. Consciência

Corporal: reconhecimento, identificação e diferenciação da

localização do movimento e dos inter-relacionamentos das partes

corporais e do todo.

Portanto, a imagem corporal é um processo contínuo de construção e

desconstrução, formado sobre o esquema corporal, sendo, portanto o conceito e a

vivência/experiência adquiridos importantes para esta análise.

23

Coordenação motora diz respeito ao controle temporal, espacial e

muscular de movimentos. A coordenação global, ou motricidade ampla, segundo

Lopes (2010, p. 67):

(...) diz respeito à atividade dos grandes músculos e depende da

capacidade de equilíbrio postural do indivíduo (...). Através da

movimentação e da experimentação, o indivíduo procura seu eixo

corporal, adaptando-se e buscando um equilíbrio cada vez melhor,

(...) consequentemente, vai coordenando seus movimentos e se

conscientizando de seu corpo e das posturas.

Para Le Boulch (1982, p. 120), a motricidade ampla

(...) consiste em colocar a criança na frente de uma tarefa bem

definida, em que deverá encontrar uma resposta através de

ajustamentos progressivos, permitindo-lhes assim a descoberta de

uma nova práxis. A finalidade é a plasticidade do ajustamento,

alcançando um certo desempenho motor. O que importa é a

pesquisa efetuada pela criança no plano da descoberta, mais do que

a realização do gesto propriamente dito.

A coordenação motora fina, ou motricidade fina, faz referência a

capacidade de realizar movimentos coordenados utilizando pequenos grupos

musculares das extremidades. Significa a habilidade e destreza manual.

A organização espaço-temporal é a capacidade de orientar-se

adequadamente no espaço e no tempo. Oliveira (2009, p. 75), define a organização

espacial como:

A tomada de consciência da situação de seu próprio corpo em um

meio ambiente, isto é, do lugar e da orientação que pode ter em

relação às pessoas e coisas. A tomada de consciência da situação

das coisas entre si, a possibilidade, para o sujeito, de organizar-se

perante o mundo que o cerca, de organizar entre si, de colocá-las em

um lugar, de movimentá-las.

24

A organização temporal, segundo De Meur e Staes (1991, p.15), é “a

sucessão dos acontecimentos antes, após, durante, da duração dos intervalos, da

renovação cíclica de certos períodos e do caráter irreversível do tempo”.

Ritmo é a ordenação constante e periódica de um ato motor. Segundo

Le Bouch (1982), o ritmo é a organização ou estruturação de fenômenos temporais.

Bueno (1996) refere-se ao ritmo como uma cadência, sendo uma sucessão regular

de fenômenos temporais.

Na visão de Alves (2008, p. 76):

O ritmo é considerado um dos conceitos mais importantes da

orientação temporal. Ele não envolve apenas noções de tempo, mas

está ligado ao espaço também. Toda criança tem um ritmo natural,

espontâneo. As manifestações do bebê são ritmadas. Tem hora de

repouso e horas de impulsos e se manifesta através delas.

Cande (apud ARTAXO; MONTEIRO, 2000, p. 7) coloca que “o ritmo

nos é tão necessário, que o nosso espírito tende a ritmar tudo o que é precisamente

regular: os passos de um caminhante, o barulho do comboio nos trilhos, os

batimentos do coração”.

A lateralidade, na definição apresentada por Lopes (2010, p. 77):

É a manifestação de um lado preferencial na ação, vinculada a um

hemisfério cerebral, ou seja, é a propensão que o ser humano possui

de utilizar preferencialmente mais um lado do corpo que o outro, em

três níveis: mão, pé, olho (em nível de força e de precisão).

De acordo com este autor, há quatro tipo de lateralidade:

Lateralidade contrariada: é como se caracterizam pessoas,

geralmente canhotas, que foram obrigadas a mudar a preferência de

um dos lados.

25

Lateralidade indefinida: caracteriza crianças que ainda não decidiram

pelo uso preferencial de um dos lados do corpo.

Lateralidade cruzada: além da dominância da mão, existe a do pé e a

do olho. Quando essas dominâncias não se apresentam do mesmo

lado, dizemos que o indivíduo tem lateralidade cruzada.

Ambidestra: caracteriza-se pela dominância espontânea dos dois

lados do corpo, o que não é muito comum (LOPES, 2010, p. 79).

Por equilíbrio, tem-se a capacidade de manter-se sobre uma base

reduzida de sustentação do corpo utilizando uma combinação adequada de ações

musculares, parado ou em movimento.

2.3 Campos de atuação da Psicomotricidade

Educativo – a psicomotricidade é uma atividade pedagógica preventiva

que propicia o desenvolvimento das capacidades básicas, sensoriais, perceptivas e

motoras, utilizando o corpo para atingir um fim, ou seja, a formação do indivíduo.

Para Le Boulch (1987, p. 11):

A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação

de base na escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados

pré-escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da

lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir

habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos. A

educação psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra idade

(...).

Segundo Alves (2008), é tarefa da educação psicomotora na educação

básica, formar desde a infância, o desenvolvimento da capacidade, rendimento de

forma eficiente e adequada aos diferentes níveis de habilidade e mobilidade,

levando em consideração a personalidade e a vontade da criança, bem como sua

motivação. Seus objetivos concretos são: favorecer o desenvolvimento dos gestos e

movimentos, a capacidade de percepção; desenvolver o equilíbrio; aprimorar e

desenvolver a percepção do corpo e permitir à criança adquirir o sentimento de

26

segurança; favorecer e melhorar a coordenação global e fina, e sobretudo a

grafomotricidade por meio da manipulação; revelar e reforçar o predomínio manual;

estimular a confiança em si; atenuar os bloqueios que interferem na aprendizagem

escolar; sensibilizar o ambiente envolvendo, família, escola, em face das

dificuldades da criança.

A autora complementa que:

A psicomotricidade favorece a aprendizagem quando reconhece que

diferentes fatores de ordem física, psíquica e sociocultural atuam em

conjunto para que se dê a aprendizagem. Trabalhando no ser

humano, cada uma das etapas, possibilitando trabalhar a consciência

corporal, a consciência do mundo que o cerca, o relacionamento

deste com o seu corpo e com o que está ao seu redor. Proporcionar

ao indivíduo a capacidade de ser, ter, aprender a fazer e a fazer, na

medida que se reconhece por inteiro, alcançando a organização e o

equilíbrio das relações com os diferentes meios e a sua distinção.

Relacionam-se com o mundo de forma equilibrada (ALVES, 2008, p.

87)

A educação psicomotora, portanto, visa o desenvolvimento global do

indivíduo por meio dos movimentos, auxiliando na prevenção de distúrbios de

aprendizagem, exercitando a estimulação precoce e proporcionando as vivências

corporais, desafiando zonas de desenvolvimento do esquema corporal. Nessa

dimensão, a Psicomotricidade atua com objetivo de favorecer avanços nos

processos de comunicação, expressão corporal e de vivências simbólicas.

Reeducativo – a psicomotricidade atua nas funções prejudicadas e,

através do movimento, tem o objetivo de superar, reduzir ou aliviar os sintomas e/ou

alterações do desenvolvimento psicomotor para a sua reabilitação. Resgata, assim,

o que teve de se perder ou o que não foi bem desenvolvido. Segundo Silva (2009, p.

11), a reeducação psicomotora:

É a ação desenvolvida em indivíduos com perturbações e distúrbios

psicomotores. A reeducação psicomotora tem como objetivo retomar

27

as vivências anteriores com falhas ou as fases de educação

ultrapassadas inadequadamente. Em termos gerais, reeducar

significa educar o que o indivíduo não assimilou adequadamente em

etapas anteriores. Deve começar em tempo hábil em razão da

instalação das condutas psicomotoras, diagnosticando as

dificuldades a fim de traçar o programa de reeducação.

A reeducação psicomotora, segundo De Muer e Staes (1991, p. 23), deve

começar o mais cedo possível, pois

É relativamente fácil fazer com que uma criança bem nova adquira

as estruturas motoras ou intelectuais corretas; mas se a criança já

assimilou esquemas errados, o reeducador deverá primeiro fazer

com que os esqueça, antes de poder inculcar-lhe os esquemas

corretos.

Terapêutico – a psicomotricidade através da ação terapêutica que

utiliza o corpo, seus movimentos e suas possibilidades expressivas, que revelam

conflitos e dificuldades do indivíduo, atuará nas emoções e na afetividade através de

práticas corporais que o ajudarão em sua inscrição em seu meio. Destina-se a

crianças que apresentam dificuldades aparentes de comunicação, de expressão

corporal e de vivências simbólicas, estejam elas com desenvolvimento neurológico

normal ou alterado, portadoras de deficiências físicas ou mentais de qualquer

ordem.

2.4 Vertentes da psicomotricidade na educação

A educação psicomotora divide-se em dois eixos que se diferenciam

pelas origens, objetivos nas estratégias de intervenção pedagógicas e nas formas de

entender o desenvolvimento psicomotriz.

A psicomotricidade funcional tem o treino como premissa básica, ou

seja, a estratégia pedagógica baseia-se em exercícios funcionais como forma de

28

proporcionar a aquisição de certas competências ou habilidades motrizes como:

equilíbrio, coordenação geral e viso-manual e as condutas sensório-motrizes ligadas

à consciência e à memória, ou seja, à organização no espaço e no tempo. Essa

concepção apresenta uma postura mais diretiva, sendo o trabalho desenvolvido

sobre as inabilidades do individuo, priorizando o que o individuo não consegue fazer,

utilizando o seu corpo como instrumento para aprender (NEGRINE, 2002).

A psicomotricidade relacional considera o individuo em suas variadas

formas de manifestação: seu corpo, suas emoções, sua fantasia, sua inteligência,

englobando “uma série de estratégias de intervenções e de ações pedagógicas que

servem como meio de ajuda à evolução dos processos de desenvolvimento e de

aprendizagem da criança” (NEGRINE, 2002, p. 62).

Segundo Moro (2007, p. 10) a prática da psicomotricidade relacional

“envolve o autoconhecimento (físico e emocional), a socialização, a afetividade, a

cognição, gerando indivíduos capazes de se articular intra e interpessoalmente.”

Assim, pode-se dizer que o principal objetivo da psicomotricidade relacional é

promover o desenvolvimento integral das crianças, envolvendo os aspectos:

cognitivo, social, psicoafetivo e psicomotor.

Nesse sentido, Guerra (2006, p. 12) aponta como objetivos do trabalho

com a psicomotricidade relacional nas escolas:

promover a ação espontânea da criança através do jogo simbólico;

estimular a criação de vínculos afetivos entre as crianças; enriquecer

as experiências psicomotoras; prevenir dificuldades de expressão

motora, verbal e gráfica; desenvolver a espontaneidade e a

criatividade; colaborar no processo de construção dos limites;

desenvolver as potencialidades individuais e do grupo; despertar a

criança para o desejo de aprender contribuindo para o

desenvolvimento dos processos de aprendizagem; propiciar à

criança o prazer no brincar espontaneamente; estimular a percepção

corporal; promover a afirmação do eu; descobrir o corpo, através dos

movimentos, como unidade de prazer; promover a autonomia;

29

estimular o ajuste positivo da agressividade; elevar a qualidade das

relações interpessoais entre as crianças promovendo a socialização.

Crianças com necessidades educacionais especiais, por exemplo,

apresentam dificuldades para expressarem-se em psicoterapias clássicas, pois, a

maioria das técnicas psicoterápicas utiliza-se de mediadores como fantoches,

desenhos, pinturas, jogo etc., para então estabelecer um diálogo interpretativo. Para

tanto a criança deverá ter algum nível de comunicação por meio da linguagem,

verbal ou plástica, o que em muitos casos não acontece. Por exemplo, a criança

autista, possui dificuldades comunicacionais, pode beneficiar-se de uma prática

terapêutica não verbal, como a psicomotricidade relacional.

Nesse sentido, Lapierre (2002, p. 171) coloca que:

Uma intervenção direta junto à criança é desejável e possível e tem

por objetivo permitir que ela exprima suas carências e seus conflitos

no plano relacional. Com efeito, à medida que descobre o mundo dos

objetos, a criança descobre o mundo dos outros, com seus desejos,

suas proibições, suas seduções, sua agressividade, seus próprios

desejos, suas próprias ambivalências, podendo então estruturar

pouco a pouco os modos de ação e de reação que lhe serão

pessoais. Todas as crianças são confortadas com esse problema.

Algumas o resolvem melhor que outras, o que faz com cada uma vá

constituir uma personalidade mais ou menos normal ou mais ou

menos patológica. Isto depende da qualidade e da clareza das

relações que ela terá podido estabelecer com seu ambiente, seus

pais e também todos os adultos com os quais vai ter uma relação

contínua.

Para a psicomotricidade relacional a aprendizagem e o

desenvolvimento se produzem pelas formas de relação afetiva com o outro, de

acordo com as possibilidades e limites de cada um, em comum acordo, visando, de

um lado, o desenvolvimento das potencialidades individuais e do grupo, e, de outro,

à elevação da qualidade das relações interpessoais entre as crianças promovendo a

socialização.

30

Assim, observa-se que a educação psicomotora funcional vislumbra

sanar problemas motores, melhorando as aprendizagens cognitivas e o

comportamento da criança, enquanto que a educação psicomotora relacional busca

promover, através de uma ação pedagógica, o desenvolvimento de todas as

potencialidades da criança.

31

CAPÍTULO III

CONTRIBUIÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE NA INCLUSÃO

DA CRIANÇA AUTISTA

3.1 Inclusão de autistas em escolas regulares

A Lei nº 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional,

em seu Capítulo V, trata da Educação Especial, definida por uma modalidade de

educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para

pessoas com necessidades educacionais especiais.

A Política Nacional de Educação Especial define o aluno com

necessidades educacionais especiais como sendo aquele que “por apresentar

necessidades próprias e diferentes dos demais alunos no domínio das

aprendizagens curriculares correspondentes à sua idade, requer recursos

pedagógicos e metodologias educacionais específicas.”

De acordo com Rocha (2009, p. 129-131):

A educação inclusiva pressupõe que os alunos com deficiência estejam em classes comuns do ensino regular participando das atividades com os demais alunos, com apoio pedagógico às suas necessidades educacionais especiais, com ambiente e estrutura escolar modificadas para receber esses alunos com acessibilidade física (arquitetônica) e de comunicação. Como também que os professores revejam suas práticas educacionais pela reflexão crítica com vistas à inclusão de todos os alunos. (...) A educação inclusiva é para todos os alunos e não apenas para os que têm deficiência, implicando, dessa maneira, na revisão das práticas educacionais.

Os autistas não possuem características que possam ser notadas

fisicamente, ou que os impossibilitem de exercer alguma atividade física, não sendo,

portanto, “percebidos” a primeira vista ou em um contato direto. O autismo gera no

indivíduo limitações na comunicação, imaginação e interação, e algumas de suas

32

características é que são crianças arredias e isoladas, que evitam a troca de olhar

com outras pessoas e não interagem com o meio em que estão inseridas, o que

torna a sua inclusão mais difícil e o desafio ainda maior.

O modelo TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Related

Communications Handicapped Children – Tratamento e educação de crianças com

Autismo e Problemas de Comunicação Relacional), desenvolvido nos anos 60 no

Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina

do Norte, Estados Unidos, é uma proposta de trabalho para crianças autistas que

foca a aprendizagem formal.

Este modelo se assenta em sete princípios orientadores: uma melhor

adaptação interna através da adaptação do meio e do desenvolvimento das suas

competências individuais; avaliação e intervenção individualizada; estruturação do

espaço, atividades, tarefas e materiais; enfatiza-se as competências emergentes dos

indivíduos; abordagem terapêutica de natureza cognitivo-comportamental; apelo à

generalização; apelo à colaboração parental; os pais trabalham com os profissionais

numa relação de estreita colaboração.

Esse método utiliza uma avaliação chamada Perfil Psico Educacional

Revisado (PEP-R) para avaliar a criança, aplicada de forma individualizada, e tem

em conta os seus pontos fortes e suas maiores dificuldades.

Segundo Gomes e Silva (2007, p. 03):

Neste método a programação individual de cada aluno é uma das

ferramentas essenciais, pois possibilita o entendimento do que está

ocorrendo, propicia confiança e segurança. As dificuldades de

generalização indicam a necessidade de rotina clara e previsível.

Indica visualmente ao estudante quais tarefas serão realizadas, além

de instrumento de apoio para ensinar o que vem antes, o que

acontece depois, proporcionando o planejamento de ações e seu

encadeamento numa sequência de trabalhos.

33

O objetivo principal deste modelo é ajudar a criança com autismo a

crescer da melhor maneira possível, de modo a atingir o máximo de autonomia

independência pessoal.

Em uma perspectiva educacional, o foco do programa está no

desenvolvimento de habilidades sociais, comunicativas e cognitivas. Centra-se nas

áreas fortes frequentemente encontradas nos autistas – processamento visual,

memorização de rotinas funcionais e interesses especiais – e pode ser adaptado a

necessidades individuais e a diferentes níveis de funcionamento.

Assim, este modelo protagoniza um ensino estruturado, o qual se

traduz num conjunto de princípios e estratégias baseadas na estruturação do

espaço, tempo, materiais e atividades, promovendo uma organização interna de

forma a facilitar os processos de aprendizagem e de autonomia, diminuindo assim,

problemas de comportamento.

3.2 Inclusão por meio da psicomotricidade

A criança autista apresenta dificuldades na comunicação verbal e não

verbal, isolando-se e afastando-se do grupo. Quanto à linguagem corporal, a

impressão é de um corpo rígido, sem expressão ou comunicação, recusando

geralmente o contato físico. Geralmente é a partir da linguagem corporal que surge a

linguagem verbal.

De acordo com Marques (2013), no autismo, a psicomotricidade deve

trabalhar o investimento corporal, de modo a promover a tomada de consciência da

criança, incentivando-a a descobrir o próprio movimento, o que permitirá uma melhor

relação com o meio em que vive e com as pessoas que o cercam.

Nesse sentido, Azambuja (2005) também coloca que através de

atividades lúdicas do interesse da criança, o psicomotricista deve criar situações

passíveis de quebrar o isolamento social do autista, permitindo dar e receber sinais

34

verbais e não verbais e compreendê-los na sua interação, de forma a obter um

desenvolvimento social adequado.

Para Llinares e Rodríguez (apud GONÇALVES, 2012), o

psicomotricista tem a possibilidade de usar o seu corpo, fonte primária do alcance da

empatia e comunicação, e o jogo, ferramenta básica de intervenção, para promover

o desenvolvimento global das crianças.

Em relação ao esquema corporal, o psicomotricista deve evidenciar

sua disponibilidade em estar com a criança autista,

(...) em aceitar muitas vezes sua imobilidade ou suas

movimentações, aparentemente sem sentido, ao mesmo tempo que

mostra, através de comentários e/ou demonstração, que sua ação

mobiliza seu corpo ou partes do seu corpo e, dependendo da

situação, o profissional introduz gradativamente nos comentários,

referências afetivas sobre sentimentos de alegria ou desagrado que

a criança, por ventura, manifesta em alguma situação. À medida que

estas trocas, mesmo que elementares, permitem estabelecer um

vínculo de confiança, as interações tornam-se mais claras e

começam a surgir iniciativas onde é possível identificar uma

intencionalidade, quando, por exemplo, a criança chuta uma bola ou

simplesmente olha em direção ao terapeuta, à professora ou a outra

criança em sala de aula ou qualquer outra situação grupal

(KUMAMOTO, 2012, p. 236).

Llinares e Rodríguez (apud GONÇALVES, 2012) sugere diante da

dificuldade de desenvolvimento social do autista, o psicomotricista deve “ouvir” a

criança, estar disponível para responder às suas necessidades e presente para

corresponder aos seus interesses e modo de relacionamento.

Conforme coloca Gonçalves (2012, p. 24-25):

Ouvir é pois uma tentativa de abordagem corporal, uma forma de

jogo primário e agradável, compartilhado com o outro. Porém, é

35

também saber respeitar a distância do outro e “reconhecer” com o

olhar ou voz. Assim, devem também ser propostas situações ou

materiais com base nos gostos e interesses da criança,

proporcionando, em função das suas peculiaridades, a relação e o

reconhecimento do outro, em virtude do seu reconhecimento.

E acrescenta este autor que:

A resposta a estas necessidades passa também necessariamente

pela capacidade de estar presente na vida da criança, conseguir a

empatia necessária para a retirar da solidão, procurando relações

agradáveis, de modo a que num primeiro contacto reconheça o

técnico e logo depois o procure para participar e jogar. Alcançar esse

diálogo tônico dependerá da disponibilidade corporal do

psicomotricista para o contacto ou da sua capacidade de utilização

dos mediadores corporais da relação, tais como o olhar, a voz e o

gesto (GONÇALVES, 2012, p. 25).

O jogo pedagógico é de grande auxílio no espaço educacional da

criança autista. Pode-se considerar jogo as formas concretas de manuseio dentro ou

fora de sala de aula, ou até mesmo dinâmicas aplicadas dirigidas utilizando de

movimentos do corpo, dos membros, de atividades relacionadas aos ritmos,

trabalhando com sons ou instrumentos musicais, de tal forma que atinjam a

necessidade da criança dentro da escolaridade de maneira diferenciada.

Através dos jogos, a criança cria condições de superar as próprias

limitações, visto que a repetição provoca a segurança de que aprendeu o exercício,

logo depois passa a explorar novo exercício até conseguir dominá-lo e novamente

expandir sua capacidade.

Para Wallon (apud NEGRINE, 1994, p. 29-30),

O jogo para as crianças é expansão, e nesse sentido, se opõe à

atividade “séria” que é o trabalho. (...) A compreensão infantil é tão

somente uma simulação que vai do outro a si mesmo, e de si mesmo

36

ao outro. A imitação como instrumento dessa fusão representa uma

ambivalência que explica certos contrastes nos quais o jogo encontra

alimento.

Segundo Lampreia (2004), a utilização dos jogos é um elemento

significativo no descobrimento do funcionamento mental, pois permite descobrir

quais habilidades são subjacentes a outras habilidades, descobrindo assim um

infindar de habilidades, de maneira a refazer o desenvolvimento do autista, criando

uma conectividade emocional entre o psicomotricista e a criança autista. A partir do

momento em que se desenvolve a capacidade de simbolização, com o

desenvolvimento da atenção compartilhada, torna-se possível o engajamento em

jogos que incorporam aspectos importantes da comunicação.

Também Seixas (2006) refere o jogo, sendo este uma atividade

espontânea da criança, como uma técnica de aproximação essencial na

psicomotricidade, proporcionando uma interação e partilha importante na criação de

uma relação de confiança e bem estar entre o psicomotricista e a criança autista.

Gonçalves (2012) acrescenta que, de forma a facilitar o

desenvolvimento da criança autista, deve ser realizado tanto jogos de conteúdo pré

simbólico (aparecer/desaparecer, perseguições, puxar/dar, cheio/vazio), como jogos

de caráter simbólico, recorrendo previamente a brinquedos que reproduzam objetos

reais.

Segundo Llinares e Rodríguez (apud GONÇALVES, 2012) devem ser

propostos jogos baseados nos gostos e interesses da criança usando os seus

materiais preferidos, de forma a criar uma ligação agradável, disponibilizando a

criança para o reconhecimento do outro. Desta forma é possível criar empatia e

obter respostas e iniciativas da parte da criança. Tendo alcançado esta empatia,

podem ser propostos jogos com uma estrutura básica, criando a possibilidade de

antecipação e intencionalidade na ação; jogos de antecipação, onde a criança

associa uma música a determinados movimentos; e imitação (ora da criança, ora do

adulto) podendo introduzir objetos, proporcionando situações onde a criança

37

necessita de pedir ajuda, incentivando desta forma ao interesse pelo outro e

consciencialização da sua presença.

Assim, cabe ao psicomotricista criar condições, “invadir” o isolamento

social do autista através dos jogos, para romper as barreiras do dar e receber sinais

verbais e não verbais, facilitando a imaginação e a compreensão social que afeta a

habilidade de copiar ações dos outros com compreensão de seu significado e

objetivo, interferindo, assim, no desenvolvimento social da criança autista.

As atividades realizadas na intervenção psicomotora devem ser

processadas por etapas de aquisição, de acordo com o nível de desenvolvimento do

sujeito, ajudando-o a conhecer melhor o seu corpo e a dominá-lo para uma melhor

expressão e orientação no tempo e no espaço. O que no método TEACCH também

é feito através das avaliações iniciais, que são de acordo com o método, considera

não somente a idade, mas também o nível de desenvolvimento em que ela se

encontra.

O TEACCH tem seu trabalho pautado na facilitação comunicacional, o

que pode ser muito útil em um trabalho psicomotor, principalmente se considerar o

“corpo em movimento” como a principal forma de comunicação não verbal, comum

em grande parte das pessoas com autismo. E por ter uma visão neurológica do

indivíduo, a psicomotricidade poderá identificar dentro de tal método disfunções

nestas pessoas.

Corroborando com essa ideia, Santos (2011, p. 66) afirma que “o nível

de desenvolvimento da aprendizagem do autista geralmente é lento e gradativo,

portanto, caberá ao professor adequar o seu sistema de ensino para esses alunos”,

observando a coordenação motora ampla, fina e visuo-motora, percepção, imitação,

performance cognitiva, cognição verbal, e as áreas de relacionamento como: afeto,

brincar, interesse por materiais, respostas sensoriais e linguagem. E, nesse aspecto,

cada vez mais a intervenção do psicomotricista é requerida posto que as atividades

a que a intervenção psicomotora recorre, favorecem uma melhor adaptação da

criança ao meio.

38

A intervenção psicomotora no autismo visa, portanto, promover a

comunicação da criança com o seu meio, considerando o indivíduo como um todo,

respeitando a faixa etária em que ele se encontra. A psicomotricidade privilegia a

representação e a imaginação através do brincar, podendo ser desenvolvida em

diversos ambientes, através da exploração de diferentes situações, entre elas a

afetividade, dificuldade existente na criança autista.

Na escola, torna-se primordial que professores e equipe pedagógica possam ter

acesso aos conceitos de psicomotricidade que podem ser trabalhados com alunos

autistas no sentido de contribuírem com o seu avanço no processo inclusivo e

consequentemente no geral.

Atualmente as escolas particulares , e até mesmo algumas da rede pública

municipal tem adotado neste contexto a figura do “mediador”, profissional treinado

para permanecer em sala de aula no período em que o aluno autista estiver na

escola, mediando as práticas educativas apresentadas, e , na medida do possível,

junto com o professor e a equipe pedagógica adaptando currículos, metodologias e

conteúdos para o mesmo, de acordo com o grau de desenvolvimento dentro de

espectro autista.

39

CONCLUSÃO

O autismo é um transtorno global do desenvolvimento caracterizada

por défices na interação social e comunicação, e comportamentos repetitivos e

interesses restritos. As crianças autistas demonstram dificuldades na capacidade de

utilizar a linguagem como meio de comunicação (incapacidade de falar, ou falar

apenas dos assuntos pelos quais têm interesse, com um vocabulário pouco ou bem

desenvolvido), o que dificulta a sua integração no seio da família, escola e

comunidade.

O Brasil adotou com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº

9.394/96) a proposta da integração escolar preferencial de alunos com necessidades

educacionais especiais, e nesse contexto, tem-se a inclusão de alunos autistas em

classes regulares de ensino. A inclusão escolar exige da escola novos

posicionamentos e para sua concretização é necessário profissionais qualificados,

estrutura física adequada e práticas pedagógicas inclusivas.

A psicomotricidade, ciência que tem como objeto de estudo o homem

através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo,

traz grandes contribuições para a efetivação dos processos de inclusão de alunos

com necessidades educacionais especiais. A psicomotricidade, ao trabalhar os

elementos psicomotores em seus componentes funcionais e relacionais, segundo as

necessidades individuais de cada aluno, buscando um melhor desenvolvimento

motor e de coordenação, promover a integração total do indivíduo.

A psicomotricidade assume grande importância na inclusão do aluno

autista, isto porque, permite a criança autista uma apropriação do seu corpo (que

está no centro das capacidades cognitivas), possibilitando a aquisição das noções

de tempo e espaço.

Os jogos na educação psicomotora trabalham o lúdico, o psicológico, o

físico, o motor, considerado como uma ação livre que possibilita o ser humano

40

expressar a sua imaginação, que promove a relação corporal. Os estímulos poderão

fazer um diferencial no progresso e no desenvolvimento dessas crianças, pois

através das atividades, ocorrem as oportunidades de relacionar-se com o meio em

que estão inseridas.

O Brasil avança gradativamente nas mudanças relativas as políticas públicas para

alunos com deficiência, valendo a pena ressaltar aqui a relevância do Decreto 6571

de 17 de agosto de 2008, que dispõe sobre o Atendimento Educacional

Especializado, contemplando também alunos incluídos e que estejam dentro do

espectro autista, além da Lei Federal 12.764 de 27 de setembro de 2012 que institui

a Política nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro

Autista.

A intervenção da psicomotricidade aliada a inclusão escolar de alunos dentro do

espectro autista apresentam possibilidades infinitas de contribuições se aplicados e

disseminados dentro do campo pedagógico das unidades escolares que estão

recebendo cada dia mais esta gama de alunos.

Que cada um de nós possa ser “ponte” para que a verdadeira inclusão aconteça

realmente de forma eficiente, efetiva e afetiva.

41

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45

ÍNDICE

DEDICATÓRIA................................................................................................ 03

AGRADECIMENTOS....................................................................................... 04

RESUMO......................................................................................................... 05

METODOLOGIA ............................................................................................. 06

SUMÁRIO........................................................................................................ 07

INTRODUÇÃO................................................................................................. 08

CAPÍTULO I

CONSIDERAÇÕES SOBRE O AUTISMO INFANTIL....................................... 10

1.1 Conceito e aspectos históricos.............................................................. 10

1.2 Incidência............................................................................................... 12

1.3 Etiologia.................................................................................................. 12

1.4 Características clínicas.......................................................................... 13

CAPÍTULO II

A PSICOMOTRICIDADE................................................................................... 18

2.1 Conceito e finalidade.............................................................................. 18

2.2 Elementos psicomotores........................................................................ 20

2.3 Campos de atuação da Psicomotricidade.............................................. 24

2.4 Vertentes da psicomotricidade na educação......................................... 26

CAPÍTULO III

CONTRIBUIÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE NA INCLUSÃO DA CRIANÇA

AUTISTA...........................................................................................................

30

3.1 Inclusão de autistas em escolas regulares............................................ 30

3.2 Inclusão por meio da psicomotricidade.................................................. 32

46

CONCLUSÃO.................................................................................................... 38

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................. 40

ÍNDICE.............................................................................................................. 44

47

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: A importância da psicomotricidade na inclusão do aluno

autista

Autor: Daniela

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: