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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MUSICALIZAÇÃO INFANTIL: JUSTIFICATIVAS E ATIVIDADES PARA SALA DE AULA Por: Valéria Pedro da Silva Professor Orientador: Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2009 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL - Cursos de Pós, MBA, Licenciatura e ... · 2012-11-14 · RESUMO O homem sempre esteve próximo da arte musical, mesmo que fosse

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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

MUSICALIZAÇÃO INFANTIL:

JUSTIFICATIVAS E ATIVIDADES PARA SALA DE AULA

Por: Valéria Pedro da Silva

Professor Orientador: Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

2009

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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

MUSICALIZAÇÃO INFANTIL:

JUSTIFICATIVAS E ATIVIDADES PARA SALA DE AULA

Valéria Pedro da Silva

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Instituto A Vez do Mestre como

requisito parcial para a obtenção do título de

licenciado em Pedagogia.

Orientador: Prof. Vilson Sérgio de Carvalho

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao professor Vilson Sérgio de

Carvalho, pela compreensão, carinho e atenção

que dedicou a cada etapa de revisão desse

trabalho. Pessoas como ele é que fazem com

que o mundo seja melhor.

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DEDICATÓRIA

Dedico à minha mãe, que me ensinou a,

desde bem pequenina, associar o prazer da

música ao de estar perto das pessoas que amo.

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EPÍGRAFE

“A música é a alma do universo. Dá voo à

imaginação, alegra o espírito, afugenta a tristeza.

Dá vida a tudo o que é bom e justo.” Platão

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RESUMO

O homem sempre esteve próximo da arte musical, mesmo que fosse um

excluído em sua cultura, procurava aproximar-se intuitivamente ou com ajuda

de outros que não aceitavam tal exclusão. Como desenvolveu-se a educação

musical até os nossos dias, quais as contribuições desta para a criança, quais

foram os principais atores no desenvolvimento da musicalização e algumas

atividades práticas, são os conteúdos deste trabalho. A arte, uma importante

fonte para se conhecer a história da humanidade, pois remete toda história de

um povo. A contribuição de importantes teóricos, músicos e pedagogos, a partir

da valorização da criança na sociedade, foram de suma importância para o

desenvolvimento da musicalização. Pois, foi à partir de seus estudos que

tornou-se possível associar os estágios do desenvolvimento infantil com as

atividades musicais e tornar a aprendizagem muito mais proveitosa e

enriquecedora. Este trabalho conclui que em todas as fases da infância, há

meios de estimular a criança à sensibilização da estética musical, e à aquisição

de conhecimentos musicais de forma intuitiva e natural, e o professor precisa

estar apto e sensível para exercer tal atividade.

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METODOLOGIA

Segundo Pádua (2004), como reflexão sobre a constituição do real,

encontramos, desde a Grécia Antiga, uma disposição dos filósofos para a

organização de sistemas explicativos que pudessem encontrar a verdade.

Constatamos tantas concepções de verdade quantos sistemas organizados,

seja dentro de uma mesma “escola”, seja dentro do mesmo “período” em que

se costuma dividir a história.

Para Macedo (1995), a pesquisa bibliográfica abrange a leitura, análise e

interpretação de livros, periódicos, textos legais, documentos mimeografados

ou xerocopiados, mapas, fotos manuscritos etc. Todo material recolhido deve

ser submetido a uma triagem, a partir da qual é possível estabelecer um plano

de leitura. Trata-se de uma leitura atenta e sistemática que se faz acompanhar

de anotações e fichamentos que, eventualmente, poderão servir à

fundamentação teórica do estudo. Por tudo isso, deve ser uma rotina tanto na

vida profissional de professores e pesquisadores, quanto na dos estudantes.

Isso porque a pesquisa bibliográfica tem por objetivo conhecer as diferentes

contribuições científicas disponíveis sobre determinado tema. Ela dá suporte a

todas as fases de qualquer tipo de pesquisa, uma vez que auxilia na definição

do problema, na determinação dos objetivos, na construção de hipóteses, na

fundamentação da justificativa da escolha do tema e na elaboração do relatório

final.

O método utilizado pela elaboração deste trabalho de conclusão de

curso foi a pesquisa bibliográfica.

Os principais autores que usei para embasar este trabalho foram:

Fonterrada (2005); Frederico (1999) e Jeandot (1990).

Drª Marisa Trench de Oliveira Fonterrada, é pesquisadora, líder de

grupos de pesquisa na UNESP, e as linhas de pesquisa em que atua, são

Abordagens históricas, estéticas e educacionais do processo de criação,

transmissão e recepção da linguagem musical, Educação Musical e

contemporaneidade, Estudos da paisagem sonora, Processos e modos de

cognição do ensino artístico e musical; Maestro Edson Frederico, tem uma

carreira de trinta anos, atuando como diretor musical, pianista e arranjador em

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inúmeros eventos realizados pelas principais emissoras de televisão, e para os

músicos mais bem sucedidos de nosso país; Nicole Jeandot é formada em

Pedagogia, Pedagogia Musical e Música Gregoriana pela Universidade

Católica de Paris. Formou-se em Harmonia Superior e Composição no

Conservatório Nacional (França) e também fez estudos de Teologia, além de

realizar pesquisas sobre a música dos índios brasileiros, e em 1976,

apresentou a tese “O fenômeno musical e paramusical do mito do boi no Brasil”

à Ècole des Hautes Études de Ethnomusicologie.

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SUMÁRIO

Introdução 01

Capítulo I – Breve Histórico da Música e Educação 03

Capítulo II - Estratégias de ensino em Musicalização Infantil 17

2.1 Emile Jacques Dalcroze 19

2.2 Edgar Willems 20

2.3 Zoltan Kodaly 21

2.4 Carl Orff 22

2.5 Schini Suzuki 23

2.6 Maurice Martenot 25

2.7 Educação Musical Hoje 26

Capítulo III – Atividades Musicais correlacionadas com o

desenvolvimento infantil 28

Conclusão 35

Bibliografia 37

Webgrafia 49

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo fazer uma abordagem sobre o

papel da musicalização no ensino infantil para o desenvolvimento da criança.

Através deste, pretende-se analisar estratégias de musicalização e

informar como se dá o desenvolvimento infantil, relacionando o mesmo com

atividades musicais formadoras.

Em diversas instituições de ensino, a utilização dessa arte, de modo

enfadonho, formal e com ausência total do uso das habilidades naturais da

criança. O que produz um desgosto do estudante pela disciplina, e por muitas

vezes, como consequência a desistência desta, por total desmotivação.

O aluno que fica durante a aula, sentado frente a um piano, emitindo

sons repetitivos em uma flauta-doce (instrumento que tem sido largamente

usado em diversas instituições) ou repetindo exercícios de vocalize, respiração

diafragmática e outras técnicas utilizadas no canto, além de cantar clássicos do

canto coral, com as quais, muitas vezes, nunca tiveram contato em seu

ambiente social e familiar, normalmente, desiste das aulas e conclui que a

música é um exercício de paciência, para o qual não está disposto.

Musicalizar, não consiste em ensinar teoria musical. A criança que

frequenta uma classe de musicalização não terá que aprender a ler partituras e

repetir exaustivamente movimentos, manipulando instrumentos convencionais

e pentagramas repletos de melodias que deverão ser memorizadas através de

treinamentos que proporcionarão habilidade de leitura e execução rápidas,

perfeitas, mecânicas, para depois serem somadas às emoções que configuram

interpretação.

Musicalização envolve o binômio menos e mais, ou seja, menos teorias,

mais emoções. Valoriza a criação; a liberdade para conhecer os sons e suas

características em diversos contextos. Criar e recriar sons utilizando o próprio

corpo, sons da cidade, sons da escola, sons dos automóveis e dos bichos,

assim como, imitá-los usando utensílios; identificar a diferença de altura entre

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os diversos sons, emitir sons consciente das variações de altura e duração; os

ritmos, não tecnicamente, como se aprende diferenciar valsa de samba,

marcha de rock, mas os ritmos da batida do coração, ritmo da caminhada,

compreender, que tudo na vida tem um ritmo próprio, e poder brincar com isso;

os diferentes timbres, como o timbre da voz masculina diferencia-se do da voz

feminina, e principalmente criar.

Como sabemos, a criança é dotada de um grande poder criativo, que é

tolhido quando passamos a cobrar-lhe resultados técnicos como a reprodução

exata de uma obra ou lição escrita em partitura.

Por essa razão, a musicalização propõe, o uso dessa criatividade, de

forma dirigida, para que esse “dom” encontre espaço para desenvolver-se

ainda mais, somados ao reforço do desenvolvimento cognitivo, social, do senso

estético, ritmo, percepção sonora, e outras qualidades.

A música é um instrumento de cidadania; serve de motivação

contribuindo para a elevação de sua auto-estima; atrai as crianças; desenvolve,

sem que ela perceba, valores como a integração e disciplina. Também, não

podemos esquecer a contextualização deste ensino, envolvendo a realidade do

aluno e a realidade atual do mundo em que vivemos: um mundo globalizado,

rico em informações rápidas e muitas superficialidades. Para que o ensino da

música chegue a ser um veículo de conhecimento e contribua para uma visão

intercultural e alternativa diante da homogeneização da atual cultura global e

tecnológica, é necessário ter como base, uma idéia clara, concreta, que

viabilize ações conectadas à vida real.

O trabalho dirigido, coerente em sintonia com o universo do aluno pode

levar a integração das capacidades, modos pessoais de pensar, sentir e agir,

na busca de novas experiências e vivências.

Este trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro capítulo é

apresentado uma reflexão sobre a importância da educação musical; no

segundo, discute-se algumas metodologias de ensino voltadas para o processo

de aprendizagem da música; no terceiro e último capítulo, são apresentadas

diferentes atividades musicais correlacionadas com o desenvolvimento infantil.

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CAPÍTULO I

BREVE HISTÓRICO DA MÚSICA E EDUCAÇÃO

MUSICAL E SEUS BENEFÍCIOS

Inicio este trabalho, com uma breve história da música e da Educação

Musical, para que se possa perceber mais claramente o valor da disciplina em

diversas culturas e momentos históricos.

Os elementos formais da música, que são: som, silêncio e ritmo, fazem

parte da natureza e do homem. Por isso, podemos dizer que a música faz parte

da natureza. O homem pré-histórico descobriu os sons que o cercavam no

ambiente e aprendeu a distinguir os timbres característicos dos animais, das

ondas do mar batendo nas pedras, do vento batendo nas árvores, das folhas

vibrando pela passagem desse vento.

Da observação à reprodução, é só uma questão de tempo. Quando o

homem começou a imitar os sons, através da percussão instrumental, corporal,

do uso dos sons orais, e outros instrumentos, nasceu a música.

“Os instrumentos musicais dos primitivos,

assim como seus utensílios, tiveram como princípio o

corpo humano. Da concha da mão ele chegou ao

vaso para beber. Do braço ele chegou ao remo.

Depois o homem descobriu que seu corpo reunia

vários utensílios sonoros. Como a garganta e a boca

já que seu corpo reunia vários utensílios sonoros.

Como a garganta e a boca já produziam uma

melodia, juntaram-se o estalar de dedos, palmas, até

que braços e pernas acabaram produzindo uma

música corporal rítmica.” (Frederico, 1999, p.8)

Quando o homem começou a disseminar tais conhecimentos e criações,

iniciou-se a Educação Musical. Assim, a Educação Musical, como outros

conhecimentos, deu-se pela transferência espontânea, dos adultos às crianças

e destas, umas às outras, através de brincadeiras ou curiosidades, e logo foi

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transformando-se em tradição. Ao passo que, começou-se a utilizar esta arte

em rituais e cerimônias: encorajamento para a caça, evocação das forças da

natureza, cultos dos mortos, etc.

Aos poucos, o homem foi aperfeiçoando instrumentos e técnicas, para a

utilização da música em diversos momentos do cotidiano social.

“Na China, em aproximadamente 2500 a. C. já

existia o conhecimento de escala musical, com 12

notas musicais, e logo, se confeccionaram

instrumentos com todas essas notas, o que

representou uma grande evolução.” (Frederico, 1999,

p.19)

Todo conhecimento chinês passou pela Coréia, chegando ao Japão.

Onde foi rapidamente assimilada e sofreu outras evoluções.

“Para os japoneses antigos o exercício da

música era hereditário, assim como toda a atividade

artística. As famílias sustentavam certo monopólio

distribuindo títulos, ensinando música e organizando

concursos. Havia também o hábito de uma

determinada família, como os Husimi, patrocinar os

tocadores de Biwa (igual ao Alaúde chinês Pi-Pa). Os

Yotsuzi ajudavam os tocadores de So No Koto (a

Cítara chinesa Cheng). Os Zimyo-In protegiam os

cantores e os Yosida amparavam os músicos

cegos.”(Frederico, 1999, p.20)

De acordo com Frederico (1999), na índia, a escala musical evoluiu para

22 notas musicais. O canto era ensinado pelo Guru (líder espiritual) e tinha o

acompanhamento de pequenos sinos e pandeiros.

Frederico (1999), ainda nos diz que, desde o início do terceiro milênio

antes de Cristo, no império agrícola da Mesopotâmia, situado na região entre

os rios Tigre e Eufrates, viviam respectivamente sumérios, assírios e

babilônios. Nas ruínas das cidades desses povos, foram descobertos harpas

de 3 a 20 cordas dos sumérios e cítaras de origem assíria. Na Assíria e na

Babilônia, a música tinha importante significação social e expressiva atuação

no culto religioso, fortaleceu-se tal conclusão, quando C. Saches decifrou um

documento musical de Assur, escrito por volta de 800 a. C. em símbolos

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cuneiformes: era um acompanhamento de harpa, onde se revela uma forma de

escrita a duas e três vozes, com base num sistema pentatônico. Mulheres e

crianças, caso pertencessem a elevado nível social, participavam do fazer

musical e recebiam a melhor educação.

O autor também nos diz que o legado da cultura mesopotâmica, passou

aos persas. Segundo o testemunho de Heródoto, o célebre historiador grego,

eles chegaram a abolir a música do culto, sem deixarem de apreciar os

conjuntos vocais e instrumentais, como é possível constatar nos documentos

iconográficos. Em pinturas encontradas nessa região, que datam deste

período, são vistos vários instrumentos usados por esses povos, já divididos

entre instrumentos de sopro, corda e percussão, entre eles: flautas, tímpanos,

gongo e lira. Os mais destacados eram a harpa e a cítara.

Não se sabe como era a música egípcia, porque não foram deixados

registros, mas sabemos que muito dela foi assimilada pelos gregos. Os

santuários, eram as escolas para as crianças egípcias. E até a Bíblia Sagrada,

menciona uma observação muito interessante sobre isso, quando fala de

Moisés (menino hebreu, que foi adotado por uma princesa egípcia), veja:

“Moisés, tendo sido instruído em toda Sabedoria dos Egípcios era um

homem poderoso em obras e palavras.” (Atos dos Apóstolos Cap. VII, v22)

Moisés estudou em Heliópolis, Cidade do Sol (Andrews 2000). Porém,

não podemos nos esquecer, que foi adotado por uma princesa, logo, era criado

para continuar pertencendo à classe dominante. O acesso à educação era

restrito, e destinava-se às famílias mais favorecidas.

A Educação Musical, em todos os tempos esteve presente na História da

humanidade. Em alguns momentos e culturas, mais valorizadas que outros,

com separação por gênero ou por classe social. Não é possível ignorar sua

presença.

De acordo com Loyn (1990), na Grécia, do final do século VI a. C que é

considerada o berço da pedagogia e cuja educação era centrada na formação

integral (corpo e espírito), mais precisamente em Atenas, que foi onde a cultura

e o conhecimento (no Ocidente) foram mais valorizados, uma vez que Esparta

escolheu como mais importante o preparo para a guerra, priorizava a formação

intelectual sem deixar de lado a educação física que não se reduzia apenas a

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uma simples destreza corporal, mas que vinha acompanhada por uma

preocupação moral e estética.

Ainda com o mesmo autor, vemos que na primeira parte de sua cultura

aparecem formas simples de escolas e a educação deixa de ficar restrita à

família e a partir dos sete anos começava a educação propriamente dita,

quando se desligavam da autoridade materna e eram iniciados na

alfabetização, que compreendia a educação física, a música e a alfabetização.

O pedagogo levava a criança ao citarista (professor de cítara).

De acordo com Lyon (1990), cultivava-se também o canto coral, a

declamação de poesias, geralmente acompanhada por instrumentos musicais.

As meninas, infelizmente não recebiam qualquer educação formal, limitando-se

a aprender artes manuais e os ofícios da mãe, e as crianças que não

pertenciam a famílias abastadas, também não freqüentavam as escolas.

Além da educação física, a Educação Musical era extremamente

valorizada, de acordo com Thomas (2004), não se limitando apenas à música,

mas também a poesia, canto e dança. Os locais que eram praticados eram

geralmente as palestras ou, então, em lugares especiais. O ensino elementar

como a leitura e a escrita durante muito tempo não teve a sua devida atenção

como teve as práticas esportivas e musicais tanto que os mestres eram

geralmente pessoas humildes e mal pagas e não tinham tanto prestígio quanto

o instrutor físico.

Ainda, de acordo com o autor, com o passar do tempo, tornou-se

necessário o aumento da aquisição de conhecimentos, foram delineados então

três níveis de ensino: elementar, secundário e superior. Por volta dos treze

anos, concluía-se a educação elementar, ingressando os que estavam mais

preparados, no nível secundário, onde inicialmente, eram praticados exercícios

físicos e musicais. Dos 16 aos 18 anos, a educação se dava com os sofistas,

que eram muito bem pagos, para preparar os jovens para a oratória. Veja o

trecho do texto de Platão, que reproduz a forma de ensino principalmente da

música e da virtude:

“Logo que a criança começa a compreender o

que lhe dizem, a ama, a mãe, o pedagogo e até o

próprio pai se esforçam por que ela se torne mais

perfeita possível. A cada ação ou palavra lhe

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ensinam ou apontam o que é justo e o que não é,

que isto é belo e aquilo vergonhoso, que uma coisa é

piedosa, e outra ímpia, e ‘faz isto’, ‘não faça aquilo’.

E, ou ela obedece de boa mente, ou então, corrigem-

na com ameaças, como se fosse um pau torto e

recurvo. Depois, mandam-na à escola, com a

recomendação de se cuidar mais da educação das

crianças que do aprendizado das letras e da cítara.

Os mestres empenhavam-se nisso, e, depois de elas

aprenderem as letras e serem capazes de

compreender o que se escreve, (...) põem-nas a

decorar esses poemas, nos quais se encontram

muitas exortações e também muitos elogios e

encômios da valentia dos antigos, a fim de que a

criança se encha de emulação, os imite e se esforce

por ser igual a eles. (...) Depois de saberem tocar,

aprendem as obras dos grandes poetas líricos.

Assim, obrigam os ritmos e harmonias a penetrar na

alma das crianças, de molde a civilizá-las, e,

tornando-as mais sensíveis ao ritmo e à harmonia,

adestram-nas na palavra e na ação. Toda a vida

humana carece de ritmo e de harmonia (...) Assim

fazem os que têm mais posses. Os filhos desses

começam a ir a escola de mais tenra idade, e saem

de lá mais tarde.” (Platão, 325-326 apud Tomás,

2004, p. 21)

A música, para os gregos, tem um significado muito mais abrangente do

que se pode imaginar, ao ler o texto acima. Tem um aspecto educativo e ético.

Acreditava-se que a música exercia uma influência profunda e direta sobre os

espíritos, e consequentemente na sociedade como todo. Como vemos no

trecho a seguir:

“(...) esse poder da música

se fundamenta na crença de que cada harmonia

provoca no espírito um determinado movimento, pois

cada modo musical grego era associado a um éthos

específico, ou seja, a um caráter particular de ser. As

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melodias eram compostas sobre estes modos e, por

isso adquiriam a qualidade específica de cada um

deles, como, por exemplo, lamentoso, heróico, entre

outros.” (Tomas, 2004, p. 17)

Em todas as culturas da antiguidade, há uma unanimidade, que nasce

das sensações: a música, atinge os sentimentos, influenciando-os e até às

nossas ações, mesmo que não estejamos conscientes disso. Por essa razão,

sempre esteve ligada ao plano espiritual.

Com a queda do Império Romano o Cristianismo, a igreja assumiu um

papel fundamental para a evolução da música, pois foram os monges, nos

mosteiros, que assumiram o papel de multiplicadores dos conhecimentos

musicais dominando a escrita e teoria. Como na Bíblia Sagrada, não

encontravam-se parâmetros e nem muitas informações sobre o fazer musical, a

Igreja, inicialmente fazia uso de cantos corais, e aboliu os instrumentos, por

preocupar-se com a sensualidade, e possíveis desvios de pensamentos que

pudessem configurar em “pecados”. A Igreja desenvolveu um tipo de música

conhecida como cantochão, inspirada nos antigos cânticos judaicos. Era

cantada em uníssono e sem acompanhamento de um instrumento. Nessa

época, a música era lecionada em monastérios, em conjunto com outras

disciplinas. Abaixo, um texto de um dos mais proeminentes pensadores

cristãos da Idade Média, nos deixa claro o pensamento estético não só deste

importante representante, mas de boa parte da Idade Média.

“Os prazeres do ouvido prendem-me e

subjugam-me com mais tenacidade. Mas Vós me

desligastes deles, libertando-me. Confesso que ainda

agora encontro algum descanso nos cânticos que as

Vossas palavras vivificam, quando são entoados com

suavidade e arte. Não digo que fiques preso a eles.

Mas custa-me deixá-los quando quero. (...) Às vezes,

parece-me que lhes tributo mais honra do que a

conveniente. Quando ouço cantar essas Vossas

santas palavras com mais piedade e ardor, sinto que

o meu espírito também vibra com devoção mais

religiosa e ardente do que se fossem cantadas de

outro modo. Sinto que todos os afetos da minha alma

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encontram na voz e no canto segundo a diversidade

de cada um, as suas próprias modulações, vibrando

em razão de um parentesco oculto, para mim

desconhecido, que entre eles existe. Mas o deleite da

minha carne, ao qual não se deve dar licença de

enervar a alma, engana-me muitas vezes. Os

sentidos, não querendo colocar-se humildemente

atrás da razão, negam-se a acompanhá-la. Só

porque, graças à razão, mereceram ser admitidos, já

se esforçam por precedê-la e arrastá-la! Deste modo

peco sem consentimento, mas advirto depois. Outras

vezes, preocupando-me imoderadamente com este

embuste, peco por demasia severidade. Uso às

vezes de tanto rigor, que desejaria desterrar dos

meus ouvidos e da própria Igreja todas as melodias

dos suaves cânticos que ordinariamente costumam

acompanhar o saltério de Davi. Nestas ocasiões,

parece-me que o mais seguro é seguir o costume de

Atanásio, Bispo de Alexandria. Recordo-me de

muitas vezes me terem dito que aquele Prelado

obrigava o leitor a recitar os Salmos com tão diminuta

inflexão de voz que mais parecia um leitor que um

cantor (...) Assim flutuo entre o perigo e o prazer e os

salutares efeitos que experiência nos mostra.

Portanto, sem proferir uma sentença irrevogável,

inclino-me a aprovar o costume de cantar na igreja,

para que, pelos deleites do ouvido o espírito

demasiado fraco se eleve até aos afetos de piedade.

Quando, às vezes, a música me sensibiliza mais do

que as letras que se cantam, confesso com dor que

pequei. Neste caso, por castigo, preferiria não ouvir

cantar. Eis em que estado me encontro.” (Santo

Agostinho livro X apud Tomas, 2004, p. 33)

De acordo com Lyon (1990), em comparação até com as fases iniciais

do período moderno, os cantos passaram por diversos estilos, como o canto

Ambrosiano, o Gregoriano (mais conhecido) que foram desenvolvidos por

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cléricos. Como sabemos, a educação era limitada não era aberta a todos. A

escola pública não existia ainda. A música sacra era composta em latim, e a

música profana (popular) era diferenciada por objetivos e pelos instrumentos

utilizados. A Igreja admitia somente o órgão, enquanto a música profana

utilizava: a rabeca, o saltério, o alaúde, a charamela, a flauta, a gaita de foles, a

sanfona, a harpa, os pratos, os pandeiros, os tambores, entre outros. A música

sacra era composta em latim, e a popular no dialeto de cada região. Os

menestréis eram cantores, músicos e malabaristas que andavam de terra em

terra juntamente com os saltimbancos.

“(...) havia desde muito na Europa continental,

uma espécie de cantores estradeiros, classe

rebaixada, vivendo de ciganagem, praticando por

toda a parte feitiçaria, crimes e doce música. Eram os

Histriões (Jograis, Menestréis), tocadores de

instrumentos populares como a Viela (Fiedel), a

Rabeca, o Tambor basco, flautas, Comamusa.

Crescidos em importância quando os trovadores

apareceram e principiaram se utilizando deles como

acompanhadores, os menestréis chegaram a possuir

escolas musicais chamadas Escolas de Menestria.”

(Andrade apud Loureiro, 2007, p. 39)

“Os trovadores eram nobres e cavaleiros

durante as cruzadas, que compunham música e

poesia tendo como tema preferido, para as suas

composições, o amor a saudade e os feitos heróicos

das guerras. (...) (Troubadours, Trouvères) da

França, e da Alemanha (Minnesaenger), a cujo

exemplo se formou o trovadorismo europeu, fixador

de línguas, influenciador de música, primeiro reflexo

étnico das nações na música do Cristianismo.”

(Loureiro, 2007, p. 40)

A Música Renacentista foi caracterizada principalmente pelo surgimento

da polifonia, ou seja, surgiram os primeiros cânticos em duas ou mais vozes.

Enquanto a Igreja perdia controle sobre a música, suas estruturas eram

enfraquecidas pelo surgimento da Reforma, o principal responsável, Martinho

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Lutero (1483-1546), procurou aproximar o povo da celebração do culto, além

de introduzir o canto coral coletivo na igreja. O Canto Gregoriano foi substituído

por canções rimadas e divididas em estrofes, muitas delas oriundas do

cancioneiro popular. Consciente dos grandes valores do canto litúrgico, Lutero

introduziu, na música religiosa, sensíveis modificações, que culminaram com a

popularização dos Corais e da educação como todo.

Depois veio a Música Barroca, quando a música foi se tornando cada

vez mais complexa, exigindo grande habilidade dos executores, dos músicos e

dos cantores. Elaborada e emocional, ideal para integrar-se a enredos

dramáticos. Passou ainda pelo estilo classicista, período que nos deixou

muitos nomes importantes para a história da arte, vários destes, tendo

aprendido com os pais, parentes e tutores, e repassado seus conhecimentos

como professores particulares.

“No pensamento iluminista, a função da

música na sociedade é, fundamentalmente recreativa

e utilitária. O músico serve à Igreja ou à nobreza,

mas não tem qualquer autonomia. A música

pressupõe a oração ou à criação de ambientes

festivos. Não tem conteúdo racional, moral ou

educativo e, por isso, é considerada uma arte

assemântica. O romantismo mantém os mesmos

pressupostos iluministas, mas os vê por outro ângulo.

A música é tudo o que foi afirmado, mas, justamente

por ser assemântica, consegue transmitir o que não é

possível à linguagem comum. Por esse motivo é

superior a qualquer outro meio de comunicação. Ela

expressa o que a linguagem não consegue porque

vai além dela. Mais do que a linguagem verbal, capta

a realidade mais profunda, a essência do mundo, a

idéia, o espírito, o infinito. E quanto mais afastada

estiver de qualquer tipo de semanticidade e de

compreensão (conceitualidade), mais completamente

consegue fazer isso.” (Fubini apud Fonterrada, 2005,

p.56).

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O Romantismo marcou profundamente todas as artes, na música,

nasceu com o pensamento de Bethoven, que exigiu respeito às suas criações,

que não seguiam estruturas tradicionais. Um dos frutos do romantismo foi que

muitos compositores começaram a procurar, de diversas maneiras, expressar

na música os sentimentos de seu povo. O nacionalismo musical desenvolveu-

se de diversas formas em vários países; muitos compositores estudaram o

folclore de seu país e aproveitaram música folclórica em suas obras. Isso

representou mais um avanço na Educação Musical.

A partir desse enfoque de ensino, começaram a surgir diversos

educadores, dispostos a desenvolver métodos e estratégias de Educação

Musical. Entre esses educadores podemos citar: Kodàly, na Hungria; Suzuki,

no Japão; Edwin Gordon, nos EUA e Carl Orff, na Alemanha, entre outros.

“No método do vienense Jaques-Dalcroze

(1865-1950), Eurythmics, o elemento do ritmo é de

importância fundamental, uma vez que os estudantes

são introduzidos na música através do movimento e

da dança. O método criado pelo compositor e

musicólogo húngaro Kodaly (1882-1967), Sol-Fá, é

baseado no princípio de que a música pertence a

todos, e ele defende o ponto de vista que a voz é o

instrumento musical primordial. O sistema criado pelo

alemão Carl Orff (1895-1982), Schulwerke, propõe

uma educação musical na qual a música, o

movimento e a fala são inseparáveis, enfatizando

sempre a criatividade e a improvisação bem como a

noção de começar a educação musical cedo em

tenra idade. O sistema pedagógico de japonês

Suzuki (1899-1999), baseia-se no princípio de que

toda criança tem potencial musical e que a percepção

e técnica musical devem ser adquiridas de forma

semelhante à linguagem: através da repetição e

memorização, e sempre com o envolvimento ativo e

positivo dos pais.” (Abramson, Beckenell, Cowell,

Gagnarde, Labuta & Smith, Suzuki apud Álvares,

1999, p.3).

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De acordo com Álvares (1999), vemos que, o psicólogo, filósofo e

educador norte-americano John Dewey (1859-1952), com sua Aesthetc

Experience, tende em ver a Educação Musical do ponto de vista estético-

experimental, e descreve a música como de importância fundamental na

educação, porque a música expressa os conflitos e resoluções inerentes ao ser

humano. A Declaração de Tanglewood (1967) difunde justificativas filosóficas

para a implementação da Educação Musical numa sociedade moderna e

tecnológica, e estipula estratégias para a implementação da Educação Musical

a nível geral, servindo de base para posteriores movimentos pelo MENC (Music

Educators National Conference) e MMCP (Manhattanville Music Curriculum

Program).

Ainda segundo o autor, Gordon desenvolveu uma teoria de aprendizado

musical, Music Learning Theory, baseado nos princípios gerais da psicologia

educacional e com foco no conceito de Audiation, que significa a habilidade de

imaginar a música quando o som não está presente. Gordon defende a teoria

do conhecimento instintivo de dois elementos auditivos fundamentais:

tonalidade e compasso, e também propõe dois componentes de aprendizado

sequencial: o aprendizado por discriminação, baseado em sílabas e padrões

rítmicos e melódicos; e o aprendizado por inferência, onde o estudante usa

técnicas discriminatórias para inferir resultados em condições não familiares

por comparação ao seu conhecimento musical familiar.

Segundo Haubert (1990), no Brasil, após a música nativa, que era um

legado como aprendemos a respeito da pró-história, os jesuítas trouxeram as

técnicas européias e conhecimentos de teoria e prática musical para o nativo

brasileiro, tornando-se os primeiros educadores musicais de nossa história.

Aqui desenvolveram uma Educação Musical voltada a servir os interesses da

coroa de Portugal e da Igreja. Em 1759, o Marquês de Pombal baniu os

jesuítas do Brasil, e em 1763, a capital foi transferida da Bahia para o Rio de

Janeiro, medidas que contribuíram para o declínio do sistema educacional dos

Jesuítas.

Em seu livro, Gomes (2008), afirma que, em 1807, Napoleão declarou

guerra a Portugal, e Dom João VI desembarcou com sua corte no Rio de

Janeiro em março de 1808, com sua chegada, muitas mudanças ocorreram e

foi um período de prosperidade e desenvolvimento artístico e cultural.

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Mesmo assim, segundo Fonterrada (2005), foi só em 1854 que se

instituiu, oficialmente, o ensino da música nas escolas públicas brasileiras, por

um Decreto; antes disso, encontram-se somente alguns registros de atividades

de música em escolas, dos negros escravos ou as do padre José Maurício. A

partir daí, várias outras apareceram na trajetória do ensino da música na escola

como o decreto federal n. 981, de 1890, que passou a exigir a formação

especializada do professor de música e a profissão parece começar a

estabelecer-se. Depois, na década de 1920, como o movimento modernista, a

música começou a ganhar espaço entre os educadores com uma identidade

brasileira. Surgiu a figura de Heitor Villa-Lobos, que a partir de 1931, instituiu o

Canto Orfeônico, adotado oficialmente no ensino público brasileiro, em nível

federal. Pelo Decreto n 19. 890 tornou-se disciplina obrigatória nos currículos

escolares nacionais (décadas de 1930, 1940 e 1950) e foi idealizado para

garantir grande público.

“(...) foi somente na década de 30, com a

criação do SEMA (Superintendência de Educação

Musical e Artística), que a Educação Musical ganhou

destaque no Brasil.” (Hentschke e Oliveira apud

Gohn, 2003, p. 25).

Em 1942, foi criado o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico,

especializado na formação de professores para a atuação em escolas públicas.

A implantação do projeto, foi parte integrante de novas propostas e concepções

educacionais, um campo ideológico marcado pelo nacionalismo.

“Villa-Lobos afirmava que pela educação e

pelo canto o país se transformaria numa grande

nação. (...) ele dizia: ‘O Canto Orfeônico, praticado

pelas crianças e por elas propagado até os lares, nos

dará gerações renovadas por uma bela disciplina da

vida social, em benefício do país, cantando e

trabalhando e, ao cantar, devotando-se à Pátria.’”

(Fonterrada, 2005, p. 196)

Em 1971 a Educação Musical foi extinta. Somente com a atual

legislação brasileira, a LDB de 1996 é que a arte voltou a fazer parte da grade

curricular do ensino fundamental, como uma área de conhecimento tornando-

se de ensino obrigatório. Mesmo assim, a música continuou desaparecida do

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processo educacional. Uma ação importante foi a criação a partir de 1998, dos

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). A disciplina Arte, por ser

obrigatória no currículo do ensino fundamental, mereceu um volume para servir

de subsídio ao professor. Pode-se observar os parâmetros do terceiro e quarto

ciclos do ensino fundamental da Arte, na área de música, em seus objetivos,

com uma intenção que parece muito próxima ao esperado pelos educadores de

música. Propõe a pesquisa, exploração, desenvolvimento, improvisação,

composição, como se pode notar no fragmento abaixo:

“Aprender a sentir, expressar e pensar a

realidade sonora ao redor do ser humano, que

constantemente se modifica nessa rede em que se

encontra, auxilia o jovem e o adulto em fase de

escolarização básica a desenvolver capacidades,

habilidades e competências em música.” (PCN - Arte,

1998, p. 80).

O que vemos são sugestões ricas e conhecimentos específicos que

podem levar o aluno a reflexões e discussões variadas, como a identificação da

música existente, apreciada por ele e por outras culturas; os efeitos causados

na audição pela poluição sonora; usos e funções da música no cotidiano, entre

outras. O que se busca, com a nova LDB 9394/96, é uma transformação da

escola na qual o ensino da Arte seja encarado com novas possibilidades. A

música é uma das quatro linguagens da Arte no currículo das escolas, mas

ainda aparece muito timidamente na aplicação dos seus conteúdos.

Em 18 de agosto de 2008, o Presidente da República, Luis Inácio Lula

da Silva, sancionou uma lei nº 11.769 que altera a lei nº 9.394, de 20 de

dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a

obrigatoriedade do ensino da música na Educação Básica:

“Lei nº 9. 394 Art 26

§ 2º O ensino da arte constituirá componente

curricular obrigatório, nos diversos níveis da

educação básica, de forma a promover o

desnvolvimento cultural dos alunos.

§ 6º A música deverá ser conteúdo

obrigatório, mas não exclusivo, do componente

curricular de que trata o § 2º deste artigo. (incluído

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pela Lei nº 11.769, de 2008)” (Presidência da

República – Casa Civil – Subchefia para Assuntos

Jurídicos)

A nova lei vale para os ensinos, fundamental e médio, mas as definições

sobre em quantos anos o ensino de música será ministrado e com que

periodicidade, vão caber aos conselhos estaduais e municipais de Educação,

em parceria com os governos locais. De acordo com o Art.3º, as escolas terão

três anos para adaptar seu currículo na área de artes. Essa lei altera a LDB

(Lei de Diretrizes e Bases da Educação) que determina o aprendizado de arte,

mas não especifica o conteúdo.

Hoje há diversas propostas de formação para especialização do docente

na área musical, com pós-graduação em Educação Musical, Educação

Inclusiva, Educação Infantil e outros. E muitos cursos que auxiliam o preparo

do professor para lidar com jovens e crianças nessa disciplina. No entanto é

necessário que se tenha algum conhecimento musical.

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CAPÍTULO II

ESTRATÉGIAS DE ENSINO

EM MUSICALIZAÇÃO INFANTIL

No capítulo anterior, buscamos entender de que modo ocorriam a

música e a educação musical em diversas culturas e períodos históricos,

embora nem sempre seja possível reconstituí-los integralmente. Algumas

vezes não se consegue detectar sequer o valor que a Educação Musical tinha

para o homem por serem anteriores ao próprio conceito de infância.

A Educação Musical, deve seu desenvolvimento a diversos fatores, entre

eles merecem ser mencionados o aparecimento de importantes atores no

estudo do desenvolvimento de teorias educacionais, que são Froebel,

Pestalozzi e Claparède.

“Herdeiros de Rousseau, Pestalozzi e

Froebel, defendem uma educação baseada no

respeito à natureza humana, às suas necessidades e

interesses, e enfatizam a importância da

sensibilidade no desenvolvimento da razão. A

experiência é vista por eles como pré-requisito para a

aprendizagem. Por isso, ambos defendem um ensino

baseado em métodos intuitivos que, colocando os

alunos em contato com a realidade, desenvolviam-

lhes o senso de observação, a análise de objetos e

fenômenos da natureza e a capacidade de

expressão. A ênfase à sensibilidade no processo de

construção do ser humano abre caminho para uma

educação musical mais voltada para a prática que

para a teoria, ensejando a construção de materiais

didáticos com essa finalidade.” (Fonterrada, 2005, p.

41)

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Edouard Claparède, foi um médico e psicólogo que teve entre seus

discípulos, Jean Piaget, que continuou seus estudos seguindo a mesma

vertente, e Sigmund Freud. O cientista suíço defendia a necessidade de

estudar o funcionamento da mente infantil e de estimular na criança um

interesse ativo pelo conhecimento.

“Os educadores musicais do início do século

XX constituem-se em pioneiros no ensino da música.

Como se viu, num período histórico não muito

distante, não havia preocupação específica em cuidar

do desenvolvimento e do bem-estar da criança, ou

mesmo do jovem e do adulto. A intenção do ensino

variava a cada época, de acordo com a maneira pela

qual a criança e o jovem eram vistos em determinada

sociedade, bem como com a visão de mundo e os

valores eleitos por essa sociedade. No século XIX

que findava, essa intenção concentrava-se, antes de

mais nada, na produção de bons intérpretes

musicais; no âmbito acadêmico, o que se buscava

era excelência no conhecimento técnico/instrumental

e científico” (Fonterrada, 2005, p. 109).

“No início do século XX, o ensino da música

na Europa sofre mudanças. Influenciados pelo

movimento escolanovista, em expansão na Europa,

músicos e pedagogos como Edgar Willems, na

Bélgica; Jacques Dalcroze, na França; Carl Orff, na

Alemanha; Maurice Martenot, na França; Zóltan

Kódaly, na Hungria; Shinichi Suzuki no Japão,

desenvolvem propostas inovadoras para o ensino de

música, como uma alternativa para a escolarização

de crianças oriundas de classes sociais

desfavorecidas” (Loureiro, 2007, p. 54).

Os pedagogos impunham aos seus alunos exercícios de técnica

instrumental, sem procurar desenvolver a sensibilidade e gosto, e afirmar a

personalidade. Assim, as escolas de música só serviam aos “dotados”, com

vozes afinadas e bons de ouvido.

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2.1 Emile Jacques Dalcroze (1865-1950)

Criou o método eurrítmico. Que utiliza a resposta do aluno ao ritmo

proposto através de movimentos ritmico-corporais. Para Dalcroze o movimento

corporal é o fator essencial para o desenvolvimento rítmico do ser humano e

contribui para o desenvolvimento da musicalidade.

“As conclusões das teorias de Dalcroze são

baseadas principalmente em sua intuição. Era um

homem observador, atualizado, consciente das

condições em que se encontrava a sociedade a qual

pertencia, e das transformações pelas quais

passavam os valores e sentimentos de seus alunos.

‘É interessante comprovar que você chegou, por

caminhos totalmente diferentes dos da psicologia

fisiológica, a conceber, como ela, a importância

psicológica dos movimentos e o papel que

desempenha o movimento, como suporte dos

fenômenos intelectuais e afetivos’”(Claparède e

Bachman apud Fonterrada, 2005, p. 113).

Para Dalcroze, qualquer fenômeno musical é objeto de uma

representação corporal. Ele apela continuamente à atenção, à memória

auditiva e à capacidade de livre expressão do aluno, mediante a criação de

exercícios rítmicos e melodias com ritmo, de movimentos simples e

coreografados.

“Apoiando-se na tradição das grandes festas

populares de seu país, principalmente os espetáculos

da Paixão, durante a Semana Santa, que,

tradicionalmente, mobilizavam centenas de pessoas,

mostra que os suíços tinham ‘um instinto natural para

a arte de agrupar a turba e de tornar vivas as cenas,

e que podem ser vistos nas festas da Paixão, que

remontam ao séc. XII, em que o entrosamento entre

os diferentes elementos da tríade são perfeitos. ‘”

(Fonterrada, 2005, p. 117)

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O diferencial de Dalcroze, a partir desta observação é o acolhimento da

cultura popular no ensino da música, uma revolução para a Educação Musical,

hoje, bastante comum nas escolas.

Dalcroze dedicou sua vida ao ideal de que as novas propostas de ensino

da música, permitiria o pleno desenvolvimento das capacidades sensório-

motoras, sensíveis, mentais e espirituais da criança e, em consequência, de

toda a população. Concluindo, os fundamentos da Escola Dalcroze são: A

audição musical, que consiste em desenvolver a percepção auditiva da altura

dos sons; senso rítmico, que consiste em fazer e sentir o ritmo pela recriação

motora; despertar o aluno através de atividades concretas e físicas, adequadas

a faixa etária; e fundamentos rítmicos, alcançar o domínio dos ritmos através

de sua mobilidade natural.

2.2 Edgar Willems (1890-1978)

Foi aluno de Dalcroze e como este, tinha o ideal da democratização do

ensino da música, sentimento esse comum a muitos educadores de sua época.

Pedagogo e musicista, acreditava que iniciando a musicalização desde

pequeno (à partir de quatro anos), a aprendizagem mais tarde se tornaria mais

espontânea, dada a intimidade do indivíduo com a arte.

Segundo Fonterrada (2005), criou o método Evolutionary, que se baseia

nas etapas psicológicas do desenvolvimento humano aplicadas à vivência

musical, proporcionando excelente afinação, audição musical e independência

motora. Atualmente, é muito utilizado em países como França, Bélgica,

Alemanha, Noruega, Espanha, Itália, Canadá e Portugal, entre outros, e

chegou ao Brasil em 1963 através do próprio Willems, que o apresentaria nos

Seminário de Música da Escola de Música da UFBA.

Vemos ainda segundo o mesmo autor, que seu método divide-se em

quatro fases evolutivas: A primeira etapa envolve crianças com menos de três

anos de idade. Nessa fase é importante o papel da família e principalmente da

mãe, que representa a mais importante base para o desenvolvimento musical

das crianças. Isso pode ser explorado através das canções de ninar, por

exemplo; na segunda fase, que compreende três a cinco, ou quatro a seis

anos, trabalha-se com pequenos grupos, de quatro ou cinco crianças. Nessa

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fase, Willems dá especial importância às canções. Além disso, baseia-se na

rítmica instintiva natural do movimento do corpo. A audição é trabalhada com

ajuda de diversos instrumentos, como sinos, apitos, trompetes, moedores

xilofones e metalofones, e também com jogos onde as crianças imitam os sons

dos animais, sons da natureza, principalmente as que têm dificuldade de

cantar. Convém salientar, que em seu método não será exigido, nunca da

criança, que cante bem, tenha uma bela voz ou a postura de palco, por

exemplo; de cinco a oito anos, as crianças encontram-se na terceira etapa.

Nesta fase Willems começa a conciliar o conhecimento puramente abstrato

com a teoria. Vai começar a marcar os batimentos e escrever alguns valores

dos números; a quarta etapa, diz respeito à introdução de teoria musical, o

solfejo, que vem após todo preparo anterior.

2.3 Zoltan Kodaly (1882-1967)

De acordo com Fonterrada (2005), o tesouro desvelado por Kodaly,

constitui-se do resgate às canções folclóricas que após inúmeras invasões de

outros povos e a miscigenação cultural, não se perdeu completamente, pois

encontrou no interior, nas propriedades rurais, o resguardo, mantendo-se

intacta até que esse importante representante da Educação Musical chegasse

para dar a importância merecida.

Ainda segundo Fonterrada, o ritmo não é ensinado separadamente da

melodia, mas conjugado a ela. O canto é baseado em modelos melódicos

simples, que as crianças podem cantar, e provém do repertório folclórico

húngaro. O método baseia-se no canto em grupo e no solfejo. E o modo de

trabalhar a memória auditiva é utilizando todas as canções em uma mesma

escala, até que se habituem.

No Brasil, o sistema kodály é difundido pela Sociedade Kodály do Brasil,

em São Paulo, que oferece cursos regulares e de curta duração, e busca

equivalências às constantes encontradas nas canções húngaras, no folclore

brasileiro.

“Sabemos, através das pesquisas realizadas

particularmente na Hungria, na escolas Kodály

(escolas com horário musical reforçado, 45 minutos

por dia desde o primeiro ano), que os alunos dessas

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escolas apresentam resultados significativamente

superiores aos dos outros alunos no que diz respeito

ao cálculo mental, á leitura, à escrita, ao desenho, às

atividades que colocam em jogo a memória e a

imaginação.” (Porcher, 1982, p. 30)

2.4 Carl Orff (1895-1982)

Seu método é conhecido e praticado em todo mundo.

“Este método de auto-descoberta musical incentiva os jovens a fazer sua

própria música, a improvisar e a desenvolver composições próprias (...) a

música precisava ser desenvolvida pelos próprios executantes.” (Pignatari,

1899)

Foi o método mais difundido na França, tem uma peculiaridade, que

vemos no texto de Porcher (1982):

“(...) possui características tão tipicamente germânicas que precisou ser

mais ou menos adaptado pelos que o aplicam, de modo a adquirir uma certa

flexibilidade que o torna talvez mais condizente com o temperamento

francês.”(p. 85)

Como podemos ver em Fonterrada (2005), o folclore alemão não era de

tão fácil execução quanto o húngaro, por essa razão não poderia servir de

motivação para o método de Orff. Mas, este utilizou o mesmo princípio, da

escala pentatônica para trabalhar e elaborar as canções que utilizaria em suas

aulas:

“Como vimos acima, a improvisação é parte

fundamental de seu método. Dentro da proposta,

assumem importante papel as atividades de eco

(repetir o que se ouviu) e pergunta e resposta

(improvisar um segmento musical depois de ouvido um

estímulo). (...) Há também grande ênfase no

movimento corporal e na expressão plástica,

interligados à experiência musical.” (p. 148)

As crianças, desde os primeiros estágios praticavam o fazer musical,

tendo contato ativo com diversos instrumentos, e a liberdade de improvisar.

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“O instrumental Orff (...) é como um grande

conjunto de percussão, cordas e flautas doces. É

composto por uma família de xilofones (soprano, alto,

tenor e baixo), uma família de metalofones,

tambores, pratos, platinelas, pandeiros, maracas e

outros instrumentos de percussão pequenos, além de

violas de gamba e flautas doces. O instrumental é de

excelente qualidade musical, com boa ressonância e

afinação, e permite uma massa sonora importante,

com timbres diversificados, o que faz que as crianças

entrem em contato com princípios básicos de

combinação de timbres, a partir da experimentação.

Nenhum conhecimento de Orff oferecia como técnica

ou teoria, ao invés disso, ao contrário, todo

conhecimento provinha da experiência. As crianças

começam imitando e repetindo, depois são levadas a

reagir a um estímulo, contrapondo a ele outro,

semelhante ou contrastante, e finalmente a

improvisar livremente.” (Fonterrada 2005, p. 151)

Assim, concluímos que a ênfase de seu trabalho está na expressão e

não no conhecimento técnico que surge em detrimento da primeira.

2.5 Shinichi Suzuki (1898-1998)

Criou o método Suzuki para o ensino do violino. Nascido em Nagoya,

filho de um luthier, estudou violino no Japão e na Alemanha. Em 1946, ele

lançou o Movimento de Educação para o Talento no Japão: a sua premissa é

que todo indivíduo possui talentos que podem ser desenvolvidos pela

educação. O método Suzuki se baseia na sua observação do modo rápido e

natural como as crianças pequenas aprendem a língua materna. Sua primeira

escola, fundada em 1950 em Nagano, viu surgirem em curto prazo vários

violinistas famosos. Era filho do dono da maior fábrica de instrumentos de

cordas do Japão, é interessante saber o que diz Nancy Curry, ao fazer uma

breve biografia do mestre:

“(...) as dez crianças Suzuki viam a fábrica

como se fosse um playground, e os violinos,

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brinquedos – até o dia em que o pai trouxe um

gramofone, e eles puderam ouvir, pela primeira vez,

o som do violino, em uma gravação. Suzuki trouxe

para casa um violino da fábrica, determinado a

encontrar aquele lindo som por ele mesmo. Ouvindo

repetidamente a gravação e experimentando

encontrar os mesmos sons no instrumento, aprendeu

sozinho os princípios básicos de como tocar violino e,

depois, teve um ano de lições do instrumento e teoria

da música, em Tóquio.” (Fonterrada, 2005, p. 152).

Assim, Suzuki começou seu aprendizado, foi um autodidata, até ter a

oportunidade de ir aperfeiçoar-se na Alemanha. Um dia, um pai procurou-o

para pedir que ensinasse o instrumento a seu filho de quatro anos, naquela

época as crianças não começavam aprender tocar esse instrumento assim tão

pequenas. Suzuki pôs-se a pensar, o dia todo, como poderia, então concluiu:

“Como? Todas as crianças japonesas falam

japonês! Esse pensamento foi para mim como um

relâmpago numa noite escura... se elas falam tão

fácil e fluentemente o japonês, deve haver algum

segredo no seu aprendizado. Realmente, todas as

crianças do mundo são educadas por um método

perfeito: por sua língua materna.” (Suzuki, 1994, p.

12)

Em sua obra, Fonterrada (2005), nos aponta alguns aspectos do seu

método, a saber:

As crianças são submetidas a um intenso estímulo auditivo; ouvem

muitas vezes a gravação que acompanha o livro de exercícios, até que

conheçam perfeitamente o que vão tocar; a presença dos pais é fundamental,

são eles que desempenharão o papel mais importante, porque em casa,

diariamente, tocarão e estimularão a criança a tocar, transformando o

aprendizado em atividade lúdica.

Assim, vemos a identificação de seu método com a língua materna: Pela

repetição constante, o contato positivo e oferecimento de oportunidade da

criança se expressar também. Ele cria um tipo de reprodução do ambiente que

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proporciona condições de aprender a tocar o instrumento, similares às

condições existentes para a aprendizagem da língua.

Seu método se apóia na repetição e memorização, distanciando-se dos

princípios defendidos pelos modernos educadores que baseiam suas propostas

em outros conceitos de aprendizagem, de construção do conhecimento a partir

de hipóteses.

No Brasil, o método também é conhecido e tem seus representantes,

como a Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul e a professora

Shinobu Saito.

2.6 Maurice Martenot (1898-1980)

Compositor e maestro francês, foi responsável pela criação de um

instrumento que chamou “Ondes Martenot.”

Seu método centra-se no desenvolvimento do sentido rítmico e dá

particular importância ao tempo natural de cada ser humano. Os elementos

teóricos só mereciam atenção de sua parte, caso pudessem ser de aplicação

prática imediata.

Para Martenot, na primeira fase, a criança deve trabalhar

separadamente ritmo, audição, entoação e leitura. Pensava conseguir assim,

um maior aprofundamento de cada conceito musical.

O método Martenot baseia-se na observação da criança. Que é bastante

instintivo como uma jóia ainda não lapidada.

“o início, Martenot escolhia fórmulas rítmicas

curtas e rápidas tendo em atenção o tempo pessoal

das crianças. Como elemento positivo deste método

podemos salientar o despertar de um espírito de

iniciativa e a educação dos reflexos da criança, pois o

processo torna-se muito semelhante ao de “um jogo

de perguntas e respostas entre o professor e os

alunos: a criança cria, então, uma pequena forma

que é apenas rítmica mas que constitui já um

embrião” (Porcher, 1982, p. 75).

Porcher (1982), nos diz ainda sobre as características comuns entre os

métodos mencionados que quaisquer que sejam as diferenças existentes na

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concepção e na aplicação desses métodos, todos eles têm em comum um

certo número de princípios que deveriam, parecer-nos, constituir a base de

uma pedagogia musical renovada:

-Constante solicitação da criação e da improvisação das crianças

(estimuladas pela atitude positiva do professor);

-Concepção aberta da música como função gestual e corporal

integradora (descoberta e domínio de si mesmo através de movimentos

coordenados e controlados, particularmente batendo palmas);

-Prioridade atribuída, sobretudo no método Martenot, à rítmica, em

comparação com os aspectos melódicos, que só intervirão mais tarde. Através

desta opção, a prática musical vincula-se às pulsações profundas do vital, que

deste modo é reconhecido e assumido, e nelas se alimenta;

-Concepção progressiva da aprendizagem de aspectos rítmicos e

melódicos , concretização pelo gesto das diferentes alturas dos sons e da

solmização;

-Solfejar levando em conta somente relações entre os sons, e não a

altura absoluta, em Koldaly, etc).”

-Concepção global e ampla da educação da voz (ligada à criação

corporal e instrumental, pr3eparação necessária às técnicas vocais mais

específicas que mais tarde serão praticadas sistematicamente);

-Introdução de noções de solfejo em estreita ligação com a atividade

musical, como uma formalização imanente à experiência, e não como atividade

a priori sistemática.

-Finalmente, efeito de socialização e, ao mesmo tempo, de

individualização da pessoa (utilizar a comunicação musical para expressar-se,

para dar à auto-expressão um valor de comunicação, quer dizer, uma espécie

de universalidade sensível, através do diálogo musical, da improvisação feita

por várias crianças, a criação coletiva que implica o surgimento de um código

mais ou menos explícito e estruturante...).

2.7 Educação Musical Hoje

Não se pode negar o espaço que a música teve e ainda tem na vida dos

indivíduos, especialmente os mais jovens. De acordo com Gohn (2003), esta

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atividade chega até a definir culturas: Cultura pop, cultura country, cultura rock

etc. entre suas inúmeras funções, ela pode ser associada à expressão de

resistência, celebração de raízes culturais, eventos e figuras importantes de

uma região. Contudo, uma investigação no ambiente escolar, sobre como a

música é feita, transmitida e recebida pelo público parece um ideal a ser

alcançado. Nesse sentido, questiona-se:

-Até que ponto entende-se que o ensino da música proporciona aos

alunos, elementos suficientes para uma análise crítica e reflexiva da produção

sonora do seu próprio ambiente?

-Qual é o significado atribuído à educação musical hoje, frente às novas

tecnologias da comunicação e da informação?

-Quais as potencialidades e limitações dessa disciplina no ensino formal:

Na Antiga Grécia, o ensino da música era mais que a simples transmissão de

conhecimentos, pois o objetivo maior era a formação do caráter da pessoa.

Buscava-se uma educação plena, equilibrada, que harmonizasse o corpo e

mente. Nesse sentido, à música não se dá a devida importância, e no contexto

da educação escolar ela é considerada uma atividade de menor valor se

comparada às outras disciplinas do ensino formal. Tal preconceito, se justifica

porque durante muito tempo associou-se a atividade musical aos aspectos

promocionais da escola, ou seja, montagem de repertório para datas

comemorativas com páscoa, dia das mães, dos pais, festas juninas, eventos

cívicos, natal e muitos outros. Ressalta-se então, a necessidade de uma prática

pedagógica que promova uma reflexão crítica sobre as relações entre música,

sociedade e indivíduo, assegurando assim, uma educação musical significativa

e relevante. A ação docente, portanto, não pode ser um ato irresponsável, pois

se assim o for, as conseqüências serão terríveis. Neste contexto, a função do

educador de um modo geral, e em especial o educador musical, parece ser

duplamente desafiadora, haja vista que também precisam ser consideradas,

durante o processo de ensino/aprendizagem, as complexas questões da

subjetividade de cada homem e mulher, co-participantes na árdua tarefa de

reconstruir os caminhos da própria sensibilidade, emoção e intuição.

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CAPÍTULO III

ATIVIDADES MUSICAIS CORRELACIONADAS

COM O DESENVOLVIMENTO INFANTIL “Desde que nasce, a criança brinca com os

sons e cada nova descoberta lhe dá grande prazer,

sendo repetida muitas e muitas vezes. Na tentativa

de produzi-los, o bebê bate com as mãos na mesa,

com objetos no chão, brinca com chocalhos e outros

instrumentos sonoros. Outro grande prazer é a

descoberta de sua própria voz: balbucia e tenta

pronunciar algumas palavras até chegar a falar. Ao

ouvir uma música, balança e movimenta o corpo na

tentativa de acompanhar o ritmo.” (Reis, 2002, p. 65)

As atividades com sons na educação infantil, como em outras

disciplinas, devem ser dadas de forma gradativa e constante, e têm por objetivo

sensibilizar a criança para o universo sonoro, colocando-a em contato com os

diversos estilos musicais e variados sons, como já foi dito, na introdução deste

trabalho. Para que isso ocorra, é necessário dar a criança liberdade para

experienciar os sons disponíveis em sala de aula e produzidos pelo próprio

corpo. Mesmo que isso torne o ambiente extremamente barulhento, pois só

experimentando as possibilidades, a criança perceberá as rimas. Assim,

permite-se que a criança continue ampliando o que ela já fazia instintivamente

desde bebê.

Antes e depois de realizar uma série de exercícios, o professor deve

levar as crianças a relaxar, fazendo com que cada criança sinta melhor a

música, seu ritmo e o prazer que ela proporciona. Por essa razão, inicio esta

sequência de atividades, com alguns jogos de relaxamento e respiração:

“Relaxamento:

Contrair e soltar todo o corpo; contrair e

relaxar o rosto; balançar as mãos, braços, pernas e

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pés; contrair uma parte específica do corpo e relaxar;

deitar e ouvir música suave enquanto cada parte do

corpo vai sendo relaxada seguindo a sequência dita

pelo professor: pé, coxa, abdômen, até a cabeça.

Espreguiçar e bocejar ao término do relaxamento.

Observação: O professor pode usar algum

instrumento de percussão para dar as ordens de

contrair e relaxar, variando os andamentos, ou usar

um cd com músicas suaves. É bom realizar estes

exercícios de relaxamento com efeitos sonoros.

Respiração:

Inspirar pelo nariz e expirar pela boca,

conscientemente; colocar as mãos sobre o abdômen,

sentindo o movimento a cada respiração; sentados,

imitar uma bexiga enchendo (inspiração) e

esvaziando (expiração); Soprar uma bolinha de

algodão ou de isopor, fazendo-a deslocar-se por uma

mesa; fazer bolhas de sabão; encher uma bexiga;

inspirar (faça de conta que cheira uma rosa na mão

esquerda) e soprar (fazendo de conta que apaga

uma vela na mão direita).” (Reis, 2000, p. 24)

O ritmo, é um importante elemento para a educação integral do

indivíduo e sua inter-relação com os movimentos e habilidades corporais

expressivas. A função motora, o desenvolvimento intelectual e o

desenvolvimento afetivo estão intimamente ligados na criança. Por isso, os

movimentos rítmicos corporais são tão importantes, mas para a música é ainda

mais, pois o ritmo é base de toda obra musical.

Assim sendo, veremos a seguir, de Jeandot (1990), atividades que

envolvem entre outras habilidades, o ritmo:

Atenção - concentração:

A brincadeira “atenção-concentração” é usada para explorar batidas com

as mãos em diferentes partes do corpo. Quando se fala “atenção”, bate-se

palmas três vezes; sem perder o ritmo, diz-se “concentração”, e batem-se mais

três palmas. Faça assim algumas vezes. A seguir, no mesmo ritmo, peça:

1. Batam palmas ***;

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2. Batam nas coxas ***;

3. Batam no rosto ***;

4. Batam no pé ***;

5. Batam na barriga ***;

6. Batam no peito ***.

E assim por diante. Para criar maior dificuldade, faça o jogo cada vez

mais rápido.

Se a criança encontrar dificuldade em bater o ritmo, o professor poderá

bater suavemente o ritmo no ombro ou na palma da mão da criança.

Esta atividade desenvolve a atenção da criança, o conhecimento do

esquema corporal, a noção de andamento do ritmo.

Outra atividade mencionada na obra de Jeandot (2000) chama-se

“Adivinhe quem é”:

Procure, com as crianças, o ritmo do nome de cada uma delas, segundo

o número de sílabas e o acento tônico, percutindo-o, seja na mesa, seja com

palmas.

A seguir, uma criança bate o nome de outra criança, sem pronunciá-lo, e

as demais tentam adivinhá-lo pelo ritmo.

Este jogo é muito bom para a descoberta do acento tônico e do ritmo

das palavras, além de desenvolver o controle da mão para executar o ritmo.

A próxima atividade, apresentada neste trabalho, pretende levar as

crianças a criarem fórmulas rítmicas diversas para elas próprias executarem:

Um material concreto vai nos ajudar a apresentar os valores rítmicos aos

nossos alunos, que, através de jogos, poderão diferenciá-los, não só visual,

mas auditivamente.

No início, as atividades são simples; depois aparecem diversas

combinações, seguindo uma ordem crescente de complexidade, e também as

pausas.

Confeccione cinco cartões verdes de 20 X 10 cm (cartões tá) e outros

cinco de 10 X 10cm (cartões tati).

Apresente às crianças a fórmula “tá”, pedindo que se balancem

regularmente de um pé para o outro, caminhando, sempre no mesmo ritmo,

independentemente do tamanho do cartão ou da palavra (tati – tá)

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Distribua os cartões grandes no chão e peça às crianças que caminhem

segundo a fórmula rítmica.

Depois, confeccione cartões vermelhos para a pausa, quando as

crianças deverão parar com os dois pés juntos:

Com os mesmos cartões, em vez de andar, as crianças poderão tocar

no tamborim as fórmulas rítmicas que você propuser. Utilize também palmas ou

pauzinhos.

Depois, as crianças criam fórmulas rítmicas diversas para elas próprias

executarem.

Os jogos a seguir, segundo Reis (2000), são adequados para crianças

de 2 a 6 anos de idade, o primeiro visa sensibilizar a criança em sua percepção

sonora básica, observação atenção e reconhecimento dos sons ambientes.

Exige uma preparação, que é conversar sobre a audição: que parte do corpo

usamos para ouvir, tampar os ouvidos etc; o segundo, além de melhorar a

acuidade auditiva, ensina a criança a construir seus próprios instrumentos.

Percebendo diferentes sons:

Em roda, orientar as crianças para que fechem os olhos e escutem os

sons do ambiente, tentando identificá-los. Depois, conversar sobre o que

ouviram.

Ir a um jardim ou parque para que as crianças tentem identificar sons da

natureza (pássaros cantando, vento nas árvores e outros).

O professor ou uma criança produzirá sons para que as crianças, de

costas ou com os olhos fechados, tentem adivinhar: rasgar uma folha de papel,

derramar água de um pote para outro, assobiar etc.

Encostar a orelha no chão e tentar ouvir algum som.

Variações:

Brincar de rimar palavras: o professor explica às crianças o que é uma

rima, diz uma palavra e quem quiser poderá dizer uma palavra que rime com

aquela dita pelo professor. Depois, é a vez de cada criança dizer a palavra

inicial.

Brincar de dizer palavras que tenham o mesmo som inicial ou final.

Criando Sons:

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Não há necessidade de preparação, e os materiais são bexiga, jornal,

canudo de refrigerante, saco de papel, e outros objetos que estiverem

disponíveis.

O objetivo é produzir sons de variadas maneiras: com a boca, cantar,

gritar, murmurar, assobiar em voz alta ou baixa.

Ao falar e cantar, encostar de leve os dedos no pescoço, sentindo a

vibração das cordas vocais, imitar um cavalo trotando, uma motocicleta, ou

enchendo as bochechas de ar, esvaziando-as aos poucos.

Com o corpo, bater mãos e pés em ritmos variados, bater com as mãos

em diversas partes do corpo (com as mãos abertas, em forma de concha,

moles, duras etc.), tamborilar na mesa.

Explorar o ambiente da sala de aula, descobrindo objetos que produzam

sons, ou produzir sons usando os objetos: bater objetos de metal, plástico e

madeira observando se ao variar o material há diferenças de som.

Chacoalhar um molho de chaves, soprar dentro de um copo etc.

Produzir sons com outros materiais: agitar uma folha de papel no ar,

encher e estourar um saco de papel, passar os dedos ou bater com um

canudinho plástico em uma bexiga cheia, amassar jornal ou outro papel etc.

Gravar os sons produzidos e ouvi-los em outro momento, tentando

identificar os sons e quem os produziu.

Voltando às sugestões de Jeandot (2000), agora com outras finalidades,

que fazem parte do conteúdo de musicalização infantil temos:

Os sons da boca:

Sentados em roda, peça aos alunos que experimentem os sons que

podem produzir com a boca, que são variados e gostosos.

Cada criança mostra uma possibilidade, e as outras devem imitá-la. Elas

gostam muito de vibrar os lábios com os dedos, de estalar a língua, de bater

nas bochechas cheias de ar.

Pergunte o que acharam de cada som, qual mais gostaram de ouvir e de

fazer.

A seguir, uma das crianças produzirá um som com a boca, sem que as

outras vejam. O jogo consiste em descobrir o que o colega fez e tentar imitá-lo.

Esta atividade incentiva a criança a produzir sons, a se expressar,

verificando as possibilidades sonoras com a boca.

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Passeando entre as casas:

Esta atividade pode ser realizada na sala de aula ou ao ar livre, com o

espaço estruturado por elementos como: pauzinhos, cadeiras, caminhos

traçados com fita crepe, bambolês, ou simplesmente desenhando no chão,

com giz, formas, casas, ninhos.

Em seguida, ande com as crianças por entre as casas, cantando ou

escutando uma música alegre, como se estivessem passeando na rua.

Interrompendo-se a música, todos param e se sentam na casa mais próxima.

Reiniciando-se a melodia, o passeio ou a corrida recomeça, segundo o tempo

da música.

Você pode variar a atividade, pedindo às crianças que se movimentem

para frente, para trás, para a direita ou para a esquerda.

Esta brincadeira incentiva a reação a um sinal sonoro e desenvolve a

noção de tempo e espaço.

Andando no mesmo lugar:

A noção de andamento é fundamental para a música. Os movimentos

básicos são o passo, o trote e o galope. Peça que as crianças realizem esses

movimentos sem sair do lugar.

Essa brincadeira é muito engraçada. Deixe que as crianças a

experimentem à vontade e depois as oriente. A marcha é o passo com a sola

dos pés apoiada no chão. O trote é um pouco mais rápido e ao mesmo tempo

mais leve, e pode ser realizado na ponta dos pés. O galope é a associação de

um salto com um andamento mais rápido. Para saltar, a criança deve se elevar

do chão, alternando a perna com que dá o impulso. Esse movimento pode

parecer fácil, mas as crianças pequenas costumam saltar sempre com a

mesma perna.

É interessante contar uma história ou descrever um passeio, através dos

quais as crianças possam realizar esses movimentos, interpretando o

acontecido.

Esta atividade desenvolve a noção de andamento e facilita o controle e a

expressão gestual.

Gestos sonoros:

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Dê um instrumento a cada criança, e peça-lhes que produzam, através

de gestos diferentes, sons diversos. Elas podem bater, acariciar, esfregar,

sacudir, virar, balançar o instrumento.

A seguir, sugira-lhes que desenhem o som do gesto sonoro produzido

por um colega.

A próxima atividade implica a observação auditiva ligada ao gesto e

desenvolve a criatividade e o simbolismo gráfico.

O mar e a montanha:

Divida a classe em dois grupos; um terá como tema o mar, e o outro, a

montanha.

Inicialmente, as crianças devem fazer o desenho dos dois lugares e

depois tentarão representar o maior número possível de sons que lá existiram.

Os alunos devem desenhar separadamente cada som que irão produzir,

como uma partitura. Por exemplo, quem for representar o som dos pássaros irá

desenhar a forma como percebe esse som. O resultado do trabalho será uma

partitura de gravuras (colagens e fotos também podem ser usadas)sucessivas.

Posteriormente, peça uma história em quadrinhos, que os alunos

interpretarão com a linguagem sonora. Esta última etapa será preparatória para

a elaboração conjunta de uma ópera.

Todos os jogos e experiências musicais podem ser pontos de partida

para desenvolver a imaginação, a criatividade, a escrita. Chega um momento

em que os alunos desejam não apenas produzir, mas também reproduzir,

corrigir, acrescentar, montar uma obra musical. A escrita, o registro gráfico, é

muito útil nessa etapa.

Esta atividade incentiva a socialização e a expressão sonora, além de

iniciar as crianças na escrita da música.

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CONCLUSÃO

O ensino da música tem sofrido transformações constantes. De acordo

com a história, com cada descoberta que o homem faz, tanto sobre si mesmo,

como de possíveis formas de explorar as sensações a partir dos sons e

silêncios dos usos dos diferentes timbres e das combinações de diversos tons.

A educação musical, tem se desenvolvido, acompanhando as necessidades e

desejos dos indivíduos, as novas tecnologias e novas formas de expressar-se

através de ritmos e melodias que são formas de externar toda realidade a de

um povo, comunidade ou crença.

No vasto universo das artes, torna-se de suma importância estarmos

atualizados, atentos a essas questões, à diversidade, às novas possibilidades.

É dever da escola, transmitir os conhecimentos produzidos pelo homem,

tanto os científicos como os artísticos.

O ambiente sonoro, assim como a presença da música em diferentes e

variadas situações do cotidiano fazem com que os bebês e crianças iniciem

seu processo de musicalização de forma intuitiva. Encantados com o que

ouvem, os bebês tentam imitar e responder, criando momentos significativos no

desenvolvimento afetivo e cognitivo, responsáveis pela criação de vínculos

tanto com os adultos quanto com a música. A escuta de diferentes sons

também é fonte de observação e descobertas, provocando respostas. A

audição de obras musicais enseja as mais diversas reações: os bebês podem

manter-se atentos, tranquilos ou agitados; mais tarde, ampliam os modos de

expressão musical pelas conquistas vocais e corporais. Podem articular e

entoar um maior número de sons, inclusive os da língua materna, reproduzindo

letras simples, refrões, onomatopéias etc., explorando gestos sonoros, como

bater palmas, pernas, pés, especialmente depois de conquistada a marcha, a

capacidade de correr, pular e movimentar-se acompanhando uma música e

todo esse desenvolvimento motor é favorecido pelas atividades corporais de

ritmo, pelas atividades que visam estimular a lateralidade, a escuta atenta, a

criação a expressividade a estética, a crítica, a socialização, coordenação

motora, percepção espacial e o raciocínio.

A necessidade de criar é comum a todas as crianças, que, ao

interagirem com o mundo, constroem seu conhecimento.

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O educador não deve perder a oportunidade e aproveitar essa

disposição.

O educador que ama sua técnica, será entusiasmado e confiante,

contagiando assim seus alunos, que se sentirão motivados a realizar novas e

surpreendentes descobertas.

Assim, a música continuará a enriquecer as civilizações futuras.

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