Upload
trinhtram
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Mediação de Conflitos
Por:Laís Hermsdorff Rohem
Orientador
Prof. William Rocha
Rio de Janeiro
2014
DOCU
MENTO
PRO
TEGID
O PEL
A LE
I DE D
IREIT
O AUTO
RAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Mediação de conflitos
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Direito da Energia, Petróleo
e Gás.
Por: Laís Hermsdorff Rohem
3
AGRADECIMENTOS
....aos meus familiares, amigos e
colegas de curso....
4
DEDICATÓRIA
.....dedica-se ao pai, mãe, irmã e aos
amigos....
5
RESUMO
Esse estudo teve por objeto a avaliação do processo de mediação de
conflitos, apresentando soluções e divergências quanto à importância do novo
modelo. Preocupou-se o estudo em mostrar que é um processo baseado em
regras, técnicas e saberes cujo objetivo é gerir a qualidade da comunicação
entre os intervenientes em conflito no sentido de privilegiar a resolução dos
problemas que os opõem, construindo eles próprios as suas soluções.
A mediação proporciona, através da intervenção de um especialista
da comunicação, uma intervenção mais célere, menos onerosa e mais co-
participativa e facilitadora de diálogo, na regulação das situações de conflito e
na manutenção ou reconstrução da qualidade relacional.
Esclarece a pesquisa que os princípios éticos que regem a mediação,
formadores das diretrizes básicas que respaldam o instituto são: a
imparcialidade, flexibilidade, aptidão, sigilo, credibilidade e diligência. Tendo
como finalidade agilizar procedimentos de autocomposição e desafogamento
do Judiciário, permitindo a diminuição dos custos do processo, proporcionando
a rápida e qualitativa solução dos conflitos e dá sentido ao princípio do amplo
acesso à justiça, como ordem jurídica justa, gerando pacificação social
mediante o consenso entre as partes.
6
METODOLOGIA
Na pesquisa bibliográfica para fundamentar o tema proposto desta monografia,
utilizarei os seguintes procedimentos:
1- Consulta bibliográfica de vários autores que pesquisam o conflito e as
técnicas autocompositivas de resolução de conflitos mais indicadas
para mediar conflitos. Tendo como finalidade, agilizar procedimentos de
autocomposição e desafogamento do Judiciário, permitindo a diminuição dos
custos do processo, proporcionando a rápida e qualitativa solução dos conflitos
e dá sentido ao princípio do amplo acesso à justiça, como ordem jurídica justa,
gerando pacificação social mediante o consenso entre as partes.
Para ampliar minha pesquisa, utilizei dados retirados de anotações de aula,
artigos da internet, de documentários, de vídeos, revistas, boletins informativos
2- Reflexão acerca da posição do mediador, que além de advogado,ele exerce
tarefa do ordenamento jurídico, de harmonizar as relações sociais, com o
intuito de reivindicar os valores humanos, sem muito desgaste e sacrifício dos
conflitantes.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - História da Mediação 10
CAPÍTULO II - Mediação Empresarial 23
CAPÍTULO III- Mediação no setor Petrolífero 34
CONCLUSÃO 33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39
ANEXOS 41
ÍNDICE 47
8
INTRODUÇÃO
Esse estudo fala sobre a mediação de conflitos buscando analisar o
forte debate que existe atualmente sobre este relevante tema, em torno da
possibilidade de se implantar um novo método jurisdicional no Brasil.
De um lado, será observada uma corrente favorável à mediação de conflitos
cujos argumentos consistem em afirmar que, o estado seria “desafogado”, uma
vez que o quanto mais nos aproximarmos da solução do conflito, menores os
custos emocionais, financeiros e de tempo.
Neste sentido, há uma ordem crescente desses custos na relação
adiante, em que a mediação ocupa um lugar privilegiado, sendo um método
não adversarial de solução de conflitos que maior crescimento tem
experimentado em todo mundo.
Ademais, estão assegurados os princípios da celeridade, economia
processual e o devido processo legal, previstos constitucionalmente nos arts.
5º, incisos LXXVIII, XLV, LIV. Trata de benefícios aos litigantes, aumentando a
satisfação e confiabilidade dos mesmos e dando uma percepção maior quanto
ao procedimento justo.
Vale ressaltar, que a mediação tem como objetivo diminuir a
quantidade de processos, garantir melhora na prestação jurisdicional e um
amplo acesso à justiça, promover o fortalecimento da consciência da
cidadania, e primordialmente, promover a pacificação social. A principal função
do poder judiciário é a preservação da paz no seio da sociedade e o presente
trabalho busca demonstrar que este intento pode ser alcançado por outras
instituições que não requeiram soluções impostas.
Por outro lado, encontramos uma corrente desfavorável à aplicação
desta técnica onde argumentam não possuir previsão legal, sustentam ainda,
que o fato de que a mediação incidental no processo de conhecimento é uma
9
nova etapa burocrática sendo adicionada ao processo judicial, sem que se
tenha certeza o percentual de solução a ser obtido por acordo prévio nesses
conflitos e que em determinadas demandas, quando não obter a resolução do
conflito, irá prejudicar a velocidade de julgamentos de casos urgentes e que
requerem alta indagação.
O debate ganha relevo, precisamente no momento, em que os fatos se
sucedem demonstrando a eficiência do método da mediação no Brasil,
extraída como modelo no exterior, que asseguraram grande presteza ao novo
sistema.
Sendo assim, faz-se necessário o estudo de ambas as posições para
que então possamos concluir qual a melhor posição a ser adotada perante a
sociedade.
10
CAPÍTULO I
MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
São determinações do século XXI a reavaliação permanente
de nossas crenças e das formas habituais de lidar com as situações,
além da possibilidade para rever o passado e adicionar o novo na
construção da realidade. Ao final da era industrial, o homem tinha que
se adaptar aos produtos oferecidos e se contentar com uma demanda
maior que a oferta.
Neste momento, o foco deixa de ser o produto e passa a ser as
necessidades do homem. Desta forma, começam a surgir
preocupações quanto às relações estabelecidas entre as pessoas e
um olhar mais atento às diferenças entre elas. Este é o início de
propostas de resoluções de conflitos mais direcionadas ao respeito e
diálogo entre as pessoas.
1.1 - Mediação: Educação para a paz
Nas sociedades contemporâneas o sistema normativo é
baseado na regulamentação jurídica da atividade social, econômica,
política, ambiental e considerado indispensável e suficiente para o bem
estar social. Reflete a idéia de que o direito positivo trará a desejada
justiça social, mostrando-se, na atualidade, insuficiente para resolução
eficaz de todos os problemas de convivência humana.
Descendo do plano ideal ao plano real, uma coisa é falar dos
direitos do homem, direitos sempre novos e cada vez mais extensos, e
justificá-los com argumentos convincentes; outra coisa é garantir-lhes
uma proteção efetiva à medida que as pretensões aumentam, a
satisfação delas torna-se cada vez mais difícil.
11
Na dinâmica social atual, onde as relações interpessoais são
inúmeras e variadas, o meio de solução dos conflitos oriundos dessas
relações também deve refletir a multiplicidade característica da
sociedade moderna. Os meios convencionais de solução de conflito já
não satisfazem as necessidades surgidas no seio social, requerendo
novos instrumentos de pacificação social condizentes com a rapidez e
eficácia que a dinâmica social requer.
Nesse sentido, o acesso à justiça implica em remoção dos
obstáculos
que dificultam a efetiva prestação jurisdicional no contexto da
ordem jurídica justa, com base no art. 5° XXXV da Constituição
Federal.
Muitas vezes a solução tradicional que o sistema judiciário
apresenta, mostra-se ineficiente por tratar apenas dos aspectos
formais apresentados no processo judicial sem tocar na face ocultas,
muitas vezes determinantes, dos conflitos interpessoais.
Notoriamente, a angústia e o sofrimento que o conflito causa no
indivíduo requer tratamento diferenciado na resolução da questão
litigiosa. Quanto mais prolongado o processo de resolução do conflito,
mais sofrimento e angústia serão impingidos às partes. Sendo que,
não raro, a solução apresentada através da tutela jurisdicional via
poder judiciário, distancia-se da efetiva pacificação social, tendo de ser
digerida pela parte sucumbente como o direito imposto através de
sentença judicial a ser cumprida.
Nem sempre solução imposta representa efetivamente solução.
As partes envolvidas no conflito muitas vezes terão de continuar
12
convivendo socialmente e não estarão pacificadas entre si, pois em
seu interior a questão não resta solucionada.
O preceito constitucional que assegura o acesso à justiça traz
implicitamente o princípio da adequação; não assegura apenas o
acesso à justiça, mas assegura o acesso para obter uma solução
adequada ao tipo de conflito que está sendo levado ao judiciário.
É nesta seara que surge a mediação como possibilidade de
meio de solução de conflitos, pois possibilita às partes envolvidas a
solução do conflito de forma integral e efetiva, vez que a solução será
buscada através da participação dos conflitantes, que ao decidirem
tornam-se co-responsáveis pela solução apresentada para a questão
conflituosa de forma a não restar ressentimentos.
A prática da mediação traz o resgate da cidadania, quando o
indivíduo toma para si, através de sua vontade, a condução de seu
destino de forma livre, através de um processo mais rápido, menos
oneroso e eficaz.
Enquanto procedimento, que é autônomo e não
necessariamente judicial, representa a possibilidade de se dar a cada
um aquilo que é seu, não através de soluções impostas, mas sim
consensuais, representando um novo paradigma de solução de
controvérsias a ser adotado.
As normas legitimadas num estado de direito refletem a
composição da maioria, princípio democrático básico desse sistema,
sendo que serão essas as normas aplicáveis às questões levadas ao
judiciário. Sabemos ser impossível ao legislador prever todas as
situações para posterior produção legislativa.
13
Assim, temos de considerar que as normas pertencentes ao
ordenamento jurídico de determinado estado não abarca todas as
possibilidades de situações passíveis de se concretizar na vida real.
Nesse sentido o indivíduo pode deparar com situações conflituosas
cujas questões não têm resolução adequadamente prevista no
ordenamento jurídico aplicável.
Mesmo considerando que ao juiz é defeso não apresentar
solução ao caso levado ao judiciário, há consciência que a rigidez e
formalidade processual não atingem os meandros das situações ali
expostas, dificultando a solução da questão de forma eficaz.
Nessa vertente surge, como meio alternativo de resolução de
conflitos, a mediação, que busca, através das partes e suas
particularidades, a solução da questão litigiosa que se apresenta,
sendo este procedimento os meio onde ambos constroem suas
próprias soluções e passam a funcionar com mais esta alternativa em
suas vidas próprias, através de uma meta-aprendizagem, aprendendo
a lidar com a diferença.
São benefícios da mediação a rapidez e efetividade de
resultados; redução de desgaste emocional e de custo financeiro;
garantia de privacidade e sigilo; alternativa a arbitragem e processo
judicial; redução de duração e reincidência dos litígios; facilitação da
comunicação e promoção de ambientes cooperativos, transformação e
melhoria das relações.
É através da construção e escolha das alternativas pelas partes,
que há o aumento da possibilidade de efetividade de resultados,
considerando que as decisões e escolhas pessoais são as que com
maior amplitude nos comprometem.
14
A Mediação pode ser definida como um método de condução de
conflitos, aplicado por um terceiro neutro e especialmente treinado,
cujo objetivo é restabelecer a comunicação produtiva e colaborativa
entre as pessoas que se encontram em um impasse, ajudando-as a
chegar a um acordo, sendo um procedimento que visa à composição
de um litígio, de forma não autoritária, pela interposição de um
intermediário entre as partes em conflito.
De natureza extrajudicial e multidisciplinar, conta com atuação
de profissionais de diversas áreas, como psicólogos, advogados,
psiquiatras, assistentes sociais e tem como característica, a
voluntariedade, pois as partes não são obrigadas a utilizá-la. São
várias as áreas em que a mediação pode ser aplicada, entre elas a
cível, comercial, trabalhista, ambiental e família.
A natureza jurídica da mediação é contratual, sendo firmada na
soberania da vontade das partes, criando, extinguindo ou modificando
direitos, devendo constituir-se de objeto lícito e não defeso em lei,
razão pela qual estão presentes os elementos formadores do contrato,
tem como objeto o comportamento humano, pois sua finalidade é a
resolução dos conflitos relativos à interação do ser na sociedade.
Enquanto procedimento a mediação privilegia a conciliação
entre as partes e o restabelecimento das relações sociais, sendo seu
objetivo principal o apaziguamento das partes envolvidas no conflito
percebendo-se como indivíduos sociais.
Neste sentido, a diferença do que ocorre em um processo
judicial, no qual na realidade são os advogados que intervêm e
manejam o conflito, na mediação são as partes os principais atores, as
donas do conflito que mantêm, em todos os momentos, o controle do
15
mesmo, dizendo quais são as questões que estão envolvidas, assim
como o modo de resolvê-las.
O acordo decorrente de uma mediação, satisfaz, em melhores
condições, as necessidades e os desejos das partes, já que estas
podem reclamar o que verdadeiramente precisam e não o que a lei lhe
reconheceria. Permite o encontro de alternativas que escapam das
possibilidades.
Outras características são apresentadas como vantagens
oferecidas pelo instituto entre elas a privacidade, pois desenvolve-se
em ambiente sigiloso sendo divulgado somente mediante autorização
das partes, a economia de tempo vez o conflito é solucionado no
menor lapso temporal possível, com respaldo no art. 5° LXXVII da
Constituição Federal.
A reaproximação das partes, considerando que enquanto o
processo judicial tem como objetivo impor uma decisão às partes
através da sentença, a mediação, como justiça informal, tem como
objetivo prevenir conflitos pacificando as relações sociais entre as
partes e a autonomia das decisões, dispensando a homologação pelo
judiciário, já que cabe às partes decidirem sobre o conflito, o que farão
conforme for melhor para cada uma, em busca do restabelecimento
social.
Instrumento de pacificação social através da composição de
conflitos, a mediação promove a autonomia do indivíduo, a cidadania e
a concretização da democracia, princípio basilar do estado, pois tem a
virtude de educar para as diferenças entre os indivíduos e estimular a
tomada de decisões sem a intervenção de terceiros que imponham
suas decisões aos litigantes, representando um verdadeiro instrumento
de exercício de cidadania.
16
Atualmente quando falamos de cidadania nos referimos ao
principal fundamento da finalidade do Estado democrático de direito,
cujos pilares de sustentação encontram-se na admissão, na garantia e
na efetividade dos direitos fundamentais da pessoa humana, ou seja, o
estado deve possibilitar aos seus habitantes a possibilidade de
desenvolvimento pleno através do exercício de um grande conjunto de
direitos e deveres.
O aprendizado que a mediação oferece contribui em muito na
formação do indivíduo como cidadão responsável por seus atos e
conseqüências concomitantes, valoriza a responsabilidade de cada
um, a apropriação das escolhas pessoais, o respeito a si e ao outro, a
aceitação do diferente, a cooperação e a tolerância.
Há de se considerar a mediação como um novo paradigma a ser
instituído na resolução de conflitos, visto como uma forma de
resolução de problemas mais ampla e com maior potencial de
transformação da sociedade, educando-a para a aceitação das
diferenças individuais, produzindo crescimento e mais felicidade para
todos.
O procedimento da mediação caracteriza-se pela ausência de
formalidades, salvo a contratação da mediação e o acordo escrito, pela
celeridade e confidencialidade, trata de um processo voluntário entre
duas ou mais pessoas físicas ou jurídicas que buscam o entendimento
consensual entre elas, com a ajuda de terceiro(s) para solução
amigável do conflito.
Os ritos a serem seguidos são os que viabilizem o consenso ou
a realidade do acordo, para se ter o início do procedimento de
mediação as partes precisam estar de acordo quanto a sua utilização.
17
Esse acordo é manifestado por escrito em documento que é
denominado usualmente Termo de Mediação, assinado esse termo,
que deve conter todas as regras que regerão a mediação, tais como
prazos, reuniões, decisões, redação de acordos, em início o
procedimento de mediação.
As partes podem escolher instituições, entidades especializadas
ou os chamados mediadores ad hoc, isto é, aqueles desvinculados de
entidades ou instituições especializadas para o exercício da atividade
do mediador.
Podem as partes serem representadas mediante procuração
repassando poderes de decisão ao representante, sendo, também,
facultada a presença de advogado e assessores técnicos, desde que
se convencionado entre as partes e o mediador considere útil e
pertinente.
Na primeira etapa do procedimento de mediação, haverá uma
entrevista com as partes, separadamente ou em conjunto, para os
seguintes esclarecimentos: descrição da controvérsia e exposição de
expectativas e esclarecimentos sobre o processo da mediação onde
serão determinados os procedimentos e as técnicas empregadas, bem
como o tempo programado para a resolução da disputa.
As reuniões devem ser realizadas preferencialmente em
conjunto com as partes, salvo se houver necessidade e concordância
entre as partes, o mediador poderá reunir-se separadamente com cada
uma delas, desde que respeitado o sigilo e a igualdade de
oportunidades.
18
Se houver um acordo entre as partes, extingue-se o processo de
mediação, que se encerra com a assinatura do Termo de Acordo pelas
partes.
Conclui-se também a mediação por uma declaração escrita do
mediador justificando que a composição teve êxito ou não; por uma
declaração conjunta das partes dirigidas ao mediador com o efeito de
encerrar a mediação ou por uma declaração escrita de uma parte para
a outra e também dirigida ao mediador, manifestando a vontade de
encerrar a mediação.
As informações da mediação devem ser confidenciais e não
devem ser reveladas a terceiros tanto por parte dos mediadores quanto
pelas partes envolvidas. Os documentos apresentados ou produzidos
durante a mediação devem ser devolvidos às partes. Os custos do
procedimento, ou seja, as despesas administrativas e os honorários do
mediador serão rateados entre as partes, salvo disposição diversa no
Termo de Mediação.
Quando não há conciliação, ou seja, as partes não chegarem a
um acordo, pode-se optar pela arbitragem. O mediador, nesse caso,
fica excluído de participar do procedimento arbitral ou mesmo no
processo judicial, pois tal participação não parece oportuna.
Quanto à arbitragem, a mediação dela se distingue quanto à
intervenção do terceiro, a participação do árbitro se dá para a decisão
da disputa, enquanto o mediador visa a aproximação dos interessados,
testando separadamente as suas respectivas posições e procurando
oferecer diversos ângulos talvez não observados no momento da
configuração do litígio.
19
A mediação e a conciliação consistem em métodos
autocompositivos de resolução de litígios, enquanto a arbitragem é
método heterocompositivo.
Como já mencionado, a mediação busca a aproximação das
partes sem se preocupar exclusivamente com a celebração do acordo.
A meta primordial da mediação é o reatamento entre os que estavam
em conflito. Pacificar, eis o objetivo maior pretendido pela mediação.
Diante das exposições, pode-se vislumbrar que uma das
vantagens da mediação é que não importa ganhar ou perder o litígio,
mas sim estabelecer soluções que possam atender efetivamente aos
anseios dos litigantes.
Apesar de não existir no ordenamento brasileiro uma legislação
que discipline por completo a mediação nos tribunais, não há
impedimento legal para a sua aplicação, pois são enunciados no
preâmbulo do art. 4°, VI da Constituição de 1988, tanto a harmonia
social quanto a solução pacífica das controvérsias.
Outrossim, encontramos uma corrente desfavorável à aplicação
desta técnica onde argumentam não possuir previsão em nosso
ordenamento jurídico e, sustentam ainda, que o fato de que a
mediação incidental no processo de conhecimento é uma nova etapa
burocrática sendo adicionada ao processo judicial, sem que se tenha
certeza do percentual de solução a ser obtido por acordo prévio nesses
conflitos e que em determinadas demandas, quando não obter a
resolução do conflito, irá prejudicar a velocidade de julgamentos de
casos urgentes e que requerem alta indagação.
20
1.2 - Princípios éticos basilares da Mediação
Os princípios éticos que regem a mediação, formadores das diretrizes
básicas que respaldam o instituto como sendo a imparcialidade, celeridade,
economia processual, flexibilidade, aptidão, sigilo, credibilidade e diligência.
Centrada na figura do mediador, temos como característica
fundamental a imparcialidade. Enquanto profissional que irá conduzir as partes
na resolução do litígio, não pode o mesmo se deixar envolver pessoalmente
nas questões conflituosas, devendo a imparcialidade perdurar em todo o
processo de mediação, sob pena de o mediador restar impedido no
desempenho da função.
Durante o processo de mediação, situações novas e alterações na
direção da resolução do conflito ocorrem com freqüência, devendo o mediador
ser apto a tais redimensionamentos dos fatos apresentados, devendo a
flexibilidade se mostrar presente na formação do profissional que irá atuar
nesse processo.
O sigilo protegerá os mediandos da exposição do problema a terceiros
não participantes do processo de mediação. Aos envolvidos: partes,
assistentes, advogados, mediador, restam proibidos de divulgação de qualquer
informação a respeito da mediação. Como atributo, o sigilo é imprescindível
ao procedimento.
Fundamental na escolha do profissional que conduzirá o processo de
resolução do conflito é a confiança que as partes nele depositam. Essa
credibilidade deverá ser aprofundada na mediação de forma a fortalecer o
vínculo de confiança entre mediandos e mediador propiciando terreno fértil
para a realização de acordo proveitoso para as partes.
21
A diligência deve estar presente em todo o procedimento aplicável à
mediação, devendo o mediador observar as normas impostas pela instituição a
qual faz parte, a regularidade dos procedimentos, a qualidade dos serviços
prestados, a rapidez, considerando as particularidades de cada caso, evitando
que o processo se alongue desnecessariamente. Todas essas precauções
devem ser tomadas no sentido de assegurar a qualidade do processo.
No Brasil, não há previsão expressa da mediação em nosso
ordenamento jurídico, entretanto, nossa Constituição Federal, em seu
preâmbulo prevê a solução pacífica de conflitos, dentre as quais se inclui a via
da mediação, bem como, em seu artigo 5º, XXXV, estatui a garantia do acesso
à justiça.
O próprio preâmbulo da Constituição Federal de 1988 esclarece que a
justiça e a igualdade são valores supremos e que existe a preocupação com a
harmonia social, afirmando literalmente que tal harmonia está comprometida
com a ordem interna e internacional, com a solução pacífica de controvérsias.
Nesse diapasão, a mediação só pode ser considerada constitucional e de
acordo com os melhores preceitos internacionais para a solução de conflitos.
O plenário do Senado aprovou o projeto de lei 94/03, que torna
obrigatória a tentativa de mediação para solucionar um conflito antes de
submetê-lo ao processo judicial tradicional. Essa iniciativa deverá ampliar as
possibilidades de solução consensual entre as partes e aliviará o volume de
processos junto ao Poder Judiciário.
A principal novidade do projeto torna obrigatória que qualquer pedido
de natureza civil feito ao Poder Judiciário seja submetido a uma tentativa de
mediação, antes de ser apreciado por um juiz. A mediação será feita por
técnicos treinados e cadastrados nos tribunais de justiça e terá um prazo de 90
dias para conclusão. Caso não haja solução pacifica, o processo será
imediatamente encaminhado ao juiz da causa.
22
A tentativa obrigatória de mediação já é aplicada em outros países,
como a Argentina, onde estudos relatam que mais da metade dos casos são
resolvidos dessa maneira. Este procedimento diminui o número de processos
na Justiça e, consequentemente, o tempo de trâmite.
Tais iniciativas legislativas têm finalidade de agilizar procedimentos de
autocomposição e desafogamento do Judiciário, permitindo a diminuição dos
custos do processo, proporcionando a rápida e qualitativa solução dos conflitos
e dá sentido ao princípio do amplo acesso à justiça, como ordem jurídica justa,
gerando pacificação social mediante o consenso entre as partes.
A mediação poderá ser igualmente, judicial ou extrajudicial, sendo que
a mediação incidental poderá ser realizada por entidade privada, devidamente
cadastrada no Tribunal de Justiça, com mediadores independentes e aptos. O
prazo para conclusão da mediação incidental é de 60 dias, salvo desejo
contrário das partes.
23
Capitulo II
MEDIAÇÃO EMPRESARIAL
A mediação empresarial, instrumento contemporâneo de prevenção e
resolução de conflitos adota como proposta básica, a atuação facilitadora da
comunicação e da negociação cooperativa entre as pessoas, para que se
constituam autoras das soluções requeridas. Presente nos conflitos tanto
quanto na negociação de diferenças, a Mediação Empresarial vem sendo
utilizada como ferramenta pelas empresas familiares na coordenação de
diálogos produtivos, auxiliando a discriminar a relação afetiva da relação
empresarial, na dissolução societária e nas negociações sucessórias. A
Mediação Empresarial contribui ainda para uma maior produtividade, advinda
da convivência pacífica que admite e prega a coexistência da diferença e do
diferente, seja ela pessoa, produto ou idéia. Em última análise, o Programa
visa mapear os tipos de conflitos dentro do contexto empresarial e fornecer
ferramentas da comunicação, da negociação cooperativa, da psicologia e do
direito aliando a teoria à prática através de exercícios de simulação e cases.
Podemos considerar os seguintes cenários de atuação: um mediador
trabalhista envolve-se em negociações antes de uma ameaça de greve; um
mediador familiar auxilia um casal a chegar a um acordo de divórcio; um
mediador organizacional ajuda a estabelecer uma cultura de gestão
organizacional que possibilite lidar com conflitos para garantir a produtividade;
um mediador societário interage em conflitos de relacionamento entre sócios
indo além das questões econômicas, considerando os sempre presentes
aspectos emocionais, principalmente quanto da substituição ou destituição de
integrantes da sociedade, ou em conflitos pela participação societária, como
em sucessões nas empresas familiares; um mediador empresarial interage
para a resolução de conflitos originados nos relacionamentos entre seus
colaboradores, fornecedores, clientes e parceiros. Muito temos lido sobre as
novas tendências e perspectivas no campo da Consultoria em MEDIAÇÃO.
24
Todos que atuam direta e indiretamente nas empresas estão cientes
da importância da Mediação dos conflitos dentro de uma organização. Quer
seja nas relações internas ou nas relações com clientes, fornecedores e
parceiros a gestão dos conflitos é peça fundamental para a boa gestão de
qualquer tipo de negócio. A Consultoria em MEDIAÇÃO de Conflitos é uma
atividade que tem por objetivo transformar os conflitos destrutivos em conflitos
construtivos dentro das empresas e organizações. Os custos emocionais,
psicológicos, sociais e financeiros dos conflitos são incalculáveis. Muitas
empresas decretam falência pelo simples fato de não conseguirem Mediarem
seus conflitos, arruinando muitas sociedades empresariais. No contexto atual
de grandes e velozes mudanças, com cenários internos e externos cada vez
mais inconstantes, a conflitualidade se faz cada vez mais presente
necessitando de urgente intervenção por parte dos gestores Mediadores de
conflitos.
2.1 - Mediação empresarial entre empresas
A intervenção de um terceiro facilitador do diálogo entre duas ou mais
pessoas jurídicas parte da premissa da gestão da controvérsia por intermédio
do pressuposto óbvio de que o passado não tem como ser modificado, mas o
presente, com o advento do conflito, e o futuro ou não daquela inter-relação
dependerá de uma maior reflexão das mesmas. São oferecidos neste
momento espaços de diálogo que evitam desgastes e desperdício de tempo
com discussões estéreis, onde muitos falam e quase ninguém se escuta,
durante horas e horas improdutivas. Em alguns casos, o cansaço de alguns
leva à apresentação de propostas favoráveis para um lado em detrimento de
outro. E, muitas vezes, não se procede a uma análise mais detalhada das
questões envolvidas, tomando-se por base unicamente os aspectos
econômicos e objetivos da controvérsia. Isto resulta em acertos superficiais
sem muita consistência, o que poderá ter como conseqüência o
25
descumprimento dos compromissos assumidos, acarretando o agravamento
da controvérsia ou o surgimento de outras até então latentes.
É justamente sobre o aspecto citado no parágrafo anterior que a
intervenção do mediador nas relações empresariais é fundamental. Ao aportar
o questionamento da inter-relação existente entre os empresários, sejam
decorrentes de crédito/débito, transações comerciais, financeiras ou
imobiliárias, empreitadas, relações de franquia (que serão objeto de um
tratamento diferenciado pelas próprias características a serem apontadas
neste artigo mais adiante), operações com seguros, questões societárias,
fornecedor/cliente, prestador de serviço/usuário, quer contratuais, quer
informais sem a existência de um contrato que a regule.
O mediador o faz oferecendo elementos de reflexão baseados em
fatos daquela relação no passado e no presente, com vistas a construir um
futuro seja com a continuidade daquela relação, seja com o fim, que resultará
em um modo mais pacífico em sua resolução.
2.2. - Mediação empresarial intra-organizacional
As empresas, de maneira geral, possuem uma organização interna que
constitui-se em uma enorme e complexa rede de conexões e interações entre
as pessoas que dela fazem parte. Com isso, geram entre si inúmeras inter-
relações, algumas delas decorrentes da própria atividade profissional e outras
resultantes das afinidades pessoais e/ou sociais de cada um de seus
participantes. Este quadro acaba por transformá-las, não importando seu
porte, quer seja micro, pequeno, médio ou grande, em um terreno fértil e
26
privilegiado, onde prosperam diversos conflitos, conflitos estes relativos às
inúmeras e intensas atividades internas decorrentes do seu cotidiano.
Tais conflitos, caso resultem em número muito elevado, comprometem
o crescimento e a evolução natural da própria empresa, criando um círculo
vicioso que se auto-alimenta, resultando na perda da competitividade da
empresa, grupo de empresas ou corporações. Tal fato é decorrente da forma
negativa em que, internamente, o conflito não somente é encarado, mas
sobretudo como é administrado. Nestes casos, é muito comum a negação de
que ele exista, pela fuga ou omissão. Por outro lado, perde-se muito tempo na
sua resolução em reuniões infrutíferas, exigindo de seus dirigentes decisões
próprias desgastantes ou pelo menos um encaminhamento para as mesmas,
acarretando forma impositiva de fazer valer o respeito à hierarquia e ao poder,
o que sem dúvida agravará ainda mais o conflito.
2.3 - Mediação empresarial na área do meio ambiente
Como espécie do gênero direito difuso, o direito ao meio ambiente
equilibrado é caracterizado pela indeterminação dos sujeitos, indivisibilidade de
seu objeto, existência de vínculos fáticos entre os titulares, transição e
mutação no tempo e no espaço e, por derradeiro e não menos importante,
intensa litigiosidade interna. Constitui-se, assim, de direitos dispersos por toda
a sociedade, que poderão se contrapor entre si. Nesse sentido, ao se pensar
na proteção de determinado recurso hídrico, por exemplo, se opõe o interesse
de uma indústria em manter sua atividade econômica, ao mesmo tempo em
que seus empregados buscarão a manutenção de seus empregos e, por outro
lado, a população ribeirinha buscará garantir a possibilidade de usufruir
daquele recurso hídrico. Percebe-se claramente a ampla gama de interesses
contrapostos, todos eles legítimos, ao se fazer uma análise prima facie da
questão.
27
Com todo este cenário acima apresentado e tendo como pressuposto
que se trata de um tema que demanda respostas imediatas, sob pena de
colocar em risco até mesmo a sobrevivência de um determinado território ou
população, devem-se buscar mecanismos ágeis de resolução de conflitos, que
permitam vislumbrar soluções criativas e mais adequadas às necessidades de
todos os envolvidos, bem como o dever prioritário de preservação do meio
ambiente. A mediação de conflitos nestas questões tem se mostrado um
sistema adequado, pois possibilita o diálogo entre todos os atores envolvidos,
proporciona a conservação e melhoria da inter-relação existente e, num
segundo momento, permite a prevenção de futuras disputas, ao mesmo tempo
em que leva à conscientização ecológica daqueles atores pelos compromissos
assumidos ao longo do processo.
Nos últimos anos, tem se notado a valorização de condutas que
privilegiam soluções negociadas por parte dos agentes públicos responsáveis
pela fiscalização e preservação do meio ambiente. O Ministério Público
Federal e Estadual e os órgãos estaduais e municipais ligados ao meio
ambiente têm desempenhado importante papel ao priorizarem o diálogo para
as questões ambientais, baseado na cooperação. Seu objetivo é construir
compromissos a serem efetivamente cumpridos, por estarem identificados os
interesses reais de todos os envolvidos, dentro dos limites impostos pela
norma jurídica e adequados à prioridade de preservar o meio ambiente.
2.4. - Mediação trabalhista
A mediação nas relações capital/trabalho remonta à própria história da
atividade no Brasil. Convém lembrar que, no Brasil, auditores do Ministério do
Trabalho, já em meados da década de oitenta, conscientes de que sua
responsabilidade social extrapolava a simples função de fiscalização,
28
vivenciaram experiências que primavam pelo equilíbrio entre aqueles dois
pólos, por intermédio da flexibilização da aplicação da lei, com a utilização do
diálogo entre os protagonistas. Muitas dessas experiências eram empíricas e
objetivavam a pacificação daquelas relações, por intermédio de um convívio
mais harmonioso, que primasse pelo reconhecimento e respeito do papel que
cabe a cada um.
Tendo em vista estas experiências, tentou-se implementar no país um
papel mais ativo na gestão e resolução de maneira mais pacífica das
controvérsias trabalhistas pelo Ministério do Trabalho. Com este propósito é
que a Lei 10.101/2000 foi sancionada. Ela dispõe sobre a participação dos
trabalhadores nos lucros e resultados das empresas, prevendo, nesses tipos
de negociações entre empregado e empregador, que, caso ocorra impasse, se
estabeleça a possibilidade de utilização da mediação, coordenada por
mediador independente, mediador pertencente ao quadro oficial do Ministério
do Trabalho e Emprego ou, ainda, mediador vinculado a alguma instituição
privada ou independente, escolhido de comum acordo entre as partes. Esta lei,
repetindo a experiência dos anos 40, levou o Ministério do Trabalho e Emprego
a responder pelas tentativas mais pacíficas de resolução daquelas
controvérsias. Este texto legal, por outro lado, tem sido interpretado, na
maioria dos casos, pelas categorias econômicas e profissionais sem seu
principal norteador, qual seja, um programa de envolvimento entre capital e
trabalho em prol do desenvolvimento sustentado da empresa. Seu objetivo é
alavancar as atividades das empresas e, com isso, a própria remuneração de
seus empregados, auxiliado por um sistema inovador de resolução de
disputas, o que não tem ocorrido na prática.
Além disso, com o advento do Plano Real no ano de 1994, foram
adotadas medidas complementares, dentre elas a desindexação da economia,
o expurgo do reajuste automático de salários, com o reajuste anual dos
29
salários com base na variação do IPC-r acumulado dos últimos 12 meses até a
data-base anterior. Esta previsão legal está estabelecida na Lei 10.192/2001,
que manteve a data base das diversas categorias econômicas, porém exige
que sejam entabuladas negociações para regramento das relações capital-
trabalho da categoria. Mais especificamente, o artigo 11 estabelece a
possibilidade de, uma vez frustrada a negociação, as partes utilizarem
mediador, inclusive do Ministério do Trabalho, para estimular uma solução
negociada para as partes, devendo este fazê-lo no prazo máximo de 30 dias.
E, caso não cheguem a um consenso, deverá ser lavrada ata negativa com as
causas motivadoras do conflito e as reivindicações econômicas, documento
este que instruirá a representação para ambas as partes para instauração do
dissídio coletivo. Estes dispositivos foram regulamentados posteriormente pelo
Decreto nº 1.572, de 28 de julho de 1995, e pelas Portarias do Ministério do
Trabalho nºs 817 e 818, de 30 de agosto de 1995.
Como resultado de tudo isso, o Ministério do Trabalho e Emprego,
assim como o Ministério Público do Trabalho, exerceram e exercem hoje um
papel muito importante na administração daqueles conflitos, muito embora, por
estarem à frente da função pública, se encontrem limitados à rigidez prevista
na legislação, suas próprias interpretações sobre as determinações legais e a
restrição a eventuais parcelamentos de débitos trabalhistas. E, com isso,
portanto, por não responderem de maneira imparcial e independente, não
poderão instalar a mediação de conflitos dentro de seus preceitos básicos,
mas sim estimular as soluções negociadas para os conflitos nesta área.
Ademais, as vantagens oferecidas pela mediação, como a análise da própria
relação, hoje não são aproveitadas em sua plenitude. Exemplos positivos são
os de um empregado portador do vírus HIV, após utilizar a mediação,
manifestar sua grande alegria em poder ser readmitido na empresa que havia
lhe demitido por justa causa, ou de um outro empregado acometido de um
acidente de trabalho estar satisfeito por não receber o total indenizatório
30
solicitado, pelo fato de estar prestando seus serviços a outra empresa indicada
por aquela em que se acidentou.
Infelizmente, os exemplos acima são poucos, justamente em razão da
desconfiança mútua entre os atores envolvidos nas relações capital/trabalho,
que ainda é pautada por muito enfrentamento em disputas coletivas e
individuais, o que acarreta a busca do Judiciário para se valer de seus direitos,
sem pensar na efetiva solução do conflito que passa pelos dois pólos da
relação. Até hoje, ambos os lados não reconhecem que são interdependentes.
Em outros termos, capital não existirá se não existir trabalho e trabalho não
existirá sem capital, muito embora possuam interesses, valores e
necessidades distintos. Esta interdependência é pouco valorizada, motivo pelo
qual o Brasil é um dos países do mundo com um dos maiores volumes de
demandas judiciais na área trabalhista.
À luz dos comentários oferecidos, seria importante enfatizar que a
mediação parte de uma premissa de devolução às partes do poder de gerir e
resolver ou transformar o conflito, no sentido de que são elas as mais
indicadas para solucionar suas questões. Elas sabem o que é melhor para
elas próprias e enfrentam momentaneamente dificuldades em administrá-lo de
maneira mais pacífica por força da confusão de papéis que o conflito acaba
provocando.
Costuma-se afirmar que a mediação de conflitos parte de uma atitude
de humildade do mediador em sua intervenção junto às pessoas envolvidas
em controvérsias. A atuação do mediador, portanto, é, na vertente do auxílio
na administração do conflito, a fim de promover como resultado a
responsabilidade, não somente gerada na inter-relação existente ou que
existia, mas, sobretudo, no que poderá ser construído no futuro a partir dele.
31
Estas características oferecem uma ferramenta muito eficiente para a gestão
positiva, resolução e/ou transformação do conflito no segmento empresarial e,
em especial, nas áreas citadas anteriormente.
A celeridade é uma característica marcante do processo, que é
extremamente rápido se forem feitas comparações com o processo judicial e a
arbitragem. Cabe lembrar que a determinante com relação ao tempo é
decorrente das decisões tomadas pelos participantes antes, durante ou após o
processo a que se submeteram. Com base no princípio da voluntariedade,
desde seu início, ao longo do mesmo e até com a possibilidade de ser
interrompido caso as partes assim decidam, preserva-se permanentemente em
seu patamar máximo o princípio da autonomia das vontades, consagrado na
área contratual. Às partes cabe determinar suas disponibilidades,
possibilidades e interesses para o mesmo, podendo, como dito anteriormente,
ser inclusive interrompido.
O processo consiste em média em 5 (cinco) reuniões, de duas a três
horas cada, ou durante o período de tempo que as partes considerarem como
necessário. Esta característica se refere à intervenção do mediador em
questões pontuais e não quando se tratar de um projeto que envolva toda uma
organização, como citado anteriormente na mediação empresarial intra-
empresas, ou mesmo que envolvam questões ambientais, como se verifica na
mediação ambiental, o qual demanda todo um processo em que o mediador ou
talvez uma equipe de mediadores intervirá por um determinado tempo
negociável entre as partes.
A confidencialidade é outra importante marca caracterizadora do
processo. Permite proporcionar aos empresários o necessário conforto em
expressar suas opiniões de maneira aberta, sobretudo relativas à inter-relação
32
existente. Com isso, promove-se o controle total do processo pelo qual
optaram além de permitir-se a previsibilidade do resultado a ser alcançado,
podendo ou não, se o desejarem, dar conhecimento ao mercado futuramente
daquilo que deliberaram.
Convém enfatizar que a legislação brasileira não prevê a mediação
formalmente, posto estar mencionada nas leis citadas anteriormente,
especialmente da área trabalhista. Tramita, por seu turno, desde 1998, no
Congresso Nacional um projeto de lei que a regula, sobretudo no âmbito
judicial. Independentemente disto, diante dos aspectos mencionados, se pode
afirmar que a natureza jurídica da mediação de conflitos é contratual, posto se
originar de duas ou mais vontades orientadas para um fim comum, no sentido
de contratar um profissional para que este as auxilie a produzir conseqüências
jurídicas, extinguindo ou criando direitos, baseadas nos princípios da boa fé e
da autonomia das vontades, preservando durante seu procedimento a
igualdade das partes.
Como contrato, a mediação pode ser classificada como plurilateral, por
estarem ajustadas, no mínimo, 3 (três) pessoas físicas ou jurídicas, isto é, as
partes (pessoas físicas ou jurídicas) e o mediador (sempre pessoa física). É
consensual, uma vez que nasce do consenso entre as partes envolvidas na
controvérsia, que contratam um terceiro independente e imparcial. É também
informal, visto pressupor regras flexíveis, de acordo com os interesses das
partes. E oneroso, posto ser objeto de remuneração ao profissional que
colaborará com as partes. Na verdade, caracteriza-se como um contrato de
prestação de serviços, o qual, de comum acordo, as partes contratam um
mediador para que as auxilie na busca de soluções para o conflito que estão
enfrentando. Ele possibilita, portanto, a criação de um contrato futuro ou
compromissos a serem assumidos no futuro, constituindo-se seu objetivo
principal.
33
E, como contrato, ainda, há que se pensar, a partir de seus
princípios norteadores, nos seguintes requisitos mínimos:
a) qualificação completa das partes e dos seus advogados, devendo
estes apresentarem os documentos que lhes conferem poderes de
representação, nos termos da lei;
b) qualificação completa do mediador e do co-mediador, se for o caso
de co-mediação;
c) regras claras estabelecidas para o procedimento;
d) número indicativo de reuniões para o bom andamento do processo
de mediação;
e) valor dos honorários, bem como das despesas incorridas durante a
mediação e formas de pagamento, os quais, na ausência de estipulação
expressa em contrário, serão suportadas na mesma proporção pelas partes;
f) previsão de que qualquer das partes, assim como o mediador, pode,
a qualquer momento, retirar-se da mediação, comprometendo-se a dar um pré-
aviso desse fato ao mediador e vice-versa;
g) inclusão da confidencialidade absoluta em relação a todo o
processo e conteúdo da mediação, nos termos da qual as partes e o mediador
se comprometem a manter em total sigilo a realização da mediação e a não
utilizar qualquer informação, documental ou não, oral, escrita ou informática,
produzida ao longo de todo o processo de mediação, posteriormente em juízo
arbitral ou judicial.
34
Capitulo III
MEDIAÇÃO NO SETOR DE PETROLÍFERO
3.1 - Mediação nos impactos socioambientais das atividades marítimas de
exploração e produção de petróleo no Brasil.
Os principais impactos da atividade marítima de petróleo são:
• Aumento da taxa de imigração e alteração dos padrões de uso e ocupação
do solo;
• Degradação ambiental marítima e costeira;
• Potencial de acidentes com derramamento de óleo;
• Restrição e exclusão de áreas marítimas utilizadas por outras atividades
econômicas, principalmente a navegação e a pesca artesanal;
• Mudança do comportamento das espécies marinhas em virtude da
presença das estruturas físicas, como exemplo, as plataformas e dutos.
A mudança na dinâmica das pescarias, a percepção dos atores sociais
em virtudes da presença de outra atividade e a incorporação dessas
transformações em seu cotidiano necessitam, também, ser observadas.
Dentre os projetos exigidos à atividade de petróleo tem se:
• A estruturação da área em termos de equipamentos e recursos humanos
para o combate a qualquer emergência relacionada à atividade;
• O monitoramento ambiental;
• A promoção da educação ambiental dos trabalhadores da empresa;
• O controle dos poluentes gerados pela atividade;
35
• A estruturação de mecanismos de comunicação social que informem à
população situada na área afetada pela atividades sobre seus riscos e
medidas implementadas para minimizá-los;
A atividade marítima de petróleo e gás, como saber se os projetos de
caráter participativo trarão resultados verdadeiros e serão eficazes no alcance
dos objetivos de empoderamento e de construção de alternativas reais de
desenvolvimento para aquelas comunidades? Como verificar se os impactos
socioambientais provocados pelos empreendimentos licenciados foram
minimizados e/ou compensados? Como medir os resultados obtidos? Esse é
sempre um grande desafio ao se tratar de ações de caráter qualitativo.
Tentar descobrir em que medida esses projetos de educação
ambiental são
instrumentos de empoderamento e emancipação dos grupos sociais ou são
apenas instrumentos que manterão o status quo das comunidades, gerando
ações tuteladas pelas empresas em atendimento às exigências do Estado é o
desafio atual dos analistas ambientais da CGPEG/IBAMA.
Do que se observou até o momento das experiências de projetos de
educação ambiental relacionados a processos de licenciamento ambiental
federal das atividades marítimas de exploração e produção de petróleo em
andamento no país, é a existência de um limite muito tênue entre ações
emancipatórias e tuteladas, sendo necessária uma reflexão contínua sobre até
onde ir e o que se pode exigir.
A adoção de premissas e de diretrizes claras para nortear os projetos
de educação ambiental exigidos como medidas mitigadoras e compensatórias
do licenciamento ambiental, por exemplo, é uma condição necessária, para
que o Estado cumpra seu papel de gestor, as empresas implementem projetos
comprometidos com a transformação da realidade socioambiental das
36
comunidades e estas sejam coautoras dos projetos e exerçam seus direitos e
deveres na gestão de seu espaço de vida.
Portanto, ainda que os projetos de educação ambiental busquem o
fortalecimento das organizações sociais e o apoio dos movimentos sociais, é
necessário que sejam acompanhados, avaliados e sistematizados, gerando
informações que subsidiem a formulação de políticas públicas que visem
institucionalizá-los como ações obrigatórias no campo da gestão ambiental.
Os processos educativos propostos para o licenciamento de petróleo
pretendem realizar um papel de mediação junto aos grupos e movimentos
sociais impactados, contribuindo para que os sujeitos envolvidos no processo
educativo sejam capazes de desvelar a realidade vivida, em todos os seus
aspectos, incluindo as contradições, as causas da desigualdade, da
vulnerabilidade socioambiental e dos riscos a que estão sendo submetidos.
Espera-se dessa forma, instrumentalizá-los, tornando-os aptos a
defender seus diretos e interesses, motivando-os a reagir e a participar “como
sujeitos políticos” dos espaços públicos de decisão.
Dessa forma, acredita-se que o fortalecimento da proposta de
educação no
processo de gestão ambiental no interior das dinâmicas do licenciamento,
possibilitará ao Estado ampliar o seu papel de mediador de conflitos e
promotor de políticas socioambientais de caráter público e universalizante.
37
Conclusão
Tradicionalmente, nas culturas ocidentais, temos, como meio de
resolução de conflitos, o Poder Judiciário.
Entretanto, enquanto aparelho estatal com fins à pacificação social,
encontra-se sobrecarregado com inúmeros processos ajuizados em função da
complexidade da sociedade atual, tornando-se vagoroso nas resoluções das
causas levadas ao seu conhecimento.
Combinando os fatores acima ao fato de que a pacificação imposta
pelo Estado, coercitivamente, apresenta solução de fora para o íntimo das
partes litigantes, muitas vezes ocasionando sentimento de injustiça, temos
como resultado o comprometimento da efetividade dos procedimentos
judiciais.
Nesse sentido, a mediação é apontada como alternativa à solução de
conflitos via poder judiciário, que vem substituir a resolução da questão através
do conflito pela resolução da questão através do acordo. Na mediação o
acordo é construído inteiramente pelas partes, que através do compromisso
assumido, transformam-se em agentes do próprio destino.
Não há a pretensão de encobrimento do conflito através da mediação
com fins de diminuir a crise que atravessa a Justiça devido à sobrecarga de
processos, mas sim a realização da justiça social e do direito justo, que
humaniza os conflitos, buscando minimizar o sofrimento impingido ao
indivíduo, inerente deste processo, elevando-o à plenitude de sua dignidade.
É necessária uma mudança de paradigma na resolução de conflitos
sociais devendo a mediação se tornar altamente institucionalizada e
38
incorporada como um componente fundamental dos sistemas organizacionais
de resolução de contendas em todos os níveis da sociedade.
A transformação que a prática da mediação traz, resultará numa
sociedade mais justa, mais ética, mais humana, capaz de uma convivência
harmoniosa e educada para a paz.
Nos momentos atuais as mudanças na ordem social, política,
econômica e cultural tem demonstrado ser cada vez mais profundas,
impactantes e paradigmáticas. Os imaginários, ilusórios, preconceitos e
paradigmas sociais existentes são substituídos por outros de uma maneira tão
rápida que os empresários em muitas vezes se surpreendem pelo dinamismo e
radicalismo. Resulta em um convívio diversificado oferecido pelas múltiplas
inter-relações entre os indivíduos e acaba por se constituir em uma fonte
inesgotável de conflitos que exigem respostas imediatas para que a
convivência seja baseada no respeito, reconhecimento mútuo de diferenças e
harmonia nas inter-relações.
A Mediação de Conflitos no contexto empresarial, como observado nas
distintas áreas apontadas anteriormente, promove a busca das respostas
acima pontuadas e contribui para a criação de espaços de diálogo em que se
apresentam as diferenças e se redesenham de maneira participativa, dinâmica
e pacífica os papeis que cabe a cada um nas inúmeras inter-relações
existentes. Permite também estabelecer canais facilitadores da articulação e
ao mesmo tempo convida a todos para uma reflexão responsável sobre a
diversidade das temáticas da realidade atual, constituindo-se num verdadeiro
desafio a preservação das relações de maneira equitativa e integradora.
39
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA AKLAND, Andrew Floyer. Como utilizar la mediación para resolver conflictos en las organizaciones. Buenos Aires: Paidós, 1993. BRAGA NETO, Adolfo. Alguns aspectos relevantes sobre a mediação de conflitos. In: GRINÔVER, Ada Pellegrini; LAGRASTA NETO, Caetano (orgs.). Mediação e gerenciamento do processo. São Paulo: Atlas, 2007. ______. Conflitos em franchising – nova maneira de resolução: mediação. In: Newsletter DGAE. Lisboa: Ministério da Justiça, 2006. ______. Mediação de conflitos. In: PEREIRA JÚNIOR, Antônio Jorge; JABUR, Gilberto Haddad (orgs.). Direito dos contratos. São Paulo: Quartier Latin, 2006. ______. Projeto de lei de mediação paraprocessual em trâmite no Congresso Nacional. Revista Brasileira de Arbitragem. Nº 11. Jul/set 2006. São Paulo: IOB Thomson. BRENNEUR, Beatrice Blohorn. Justice et Médiation – un juge du travail témoigne. Paris: Lê Cherche Midi, 2006. CALCATERRA, Ruben A. Mediación estratégica. Barcelona: Gedisa, 2002. FISHER, Roger; URY, William; PATTON, Bruce. Como chegar ao “sim”. 2a. edição. Rio de Janeiro: Imago, 1994. FOLBERG, Jay; TAYLOR, Alison. Mediación – resolución de conflictos sin litigio. México: Lumisa, 1996. FOLGER, Joseph P.; BUSH, Robert A. Baruch. La promesa de la mediación. Buenos Aires: Granica, 1996. GALTUNG, Johan. Transcender e transformar: uma introdução ao trabalho de conflitos. São Paulo: Palas Athena, 2006. MOORE, Christopher W. O processo de mediação. 2a. edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. MULDOON, Brian. El corazón del conflicto. Buenos Aires: Paidós, 1998. REDORTA, Josep. Como analizar los conflictos: la tipologia de conflictos como herramienta de mediación. Barcelona: Paidós, 2004 . ROSENBERG, Marshall B. Non-violent communication: a language of compassion. 3a. edição. Encinitas: PuddleDancer Press, 2000.
40
SALES, Lília Maia de Morais. Justiça e mediação de conflitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. ______. Mediação de conflitos. São José: Conceito, 2007. SAMPAIO, Lia Regina; BRAGA NETO, Adolfo. O que é mediação de conflitos. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 2007. ______. Solidariedade – a rede como mecanismo de interação social. São Paulo: Interação Rede Social, s/d. SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente. Porto Alegre: EdiPro, 2000. ______. O discurso e o poder. Porto Alegre: EdiPro, 2000. ______; TRINDADE, João Carlos. Conflito e transformação social: uma paisagem das justiças em Moçambique. Volumes 1 e 2. Porto: Afrontamento, 2003. SIX, Jean François. Dinâmica da mediação. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. STONE, Douglas; PATTON, Bruce; HEEN, Sheila. Conversas difíceis. 7ª. edição. Rio de Janeiro: Alegro, 2004.
41
ANEXO 1
PRODUZINDO O MATERIAL
31/10/2013 08h40 - Atualizado em 31/10/2013 - 09h31
Governo quer mediação obrigatória para acelerar processos no Judiciário CCJ do Senado analisa anteprojeto que cria nova audiência para acordos. Conflitos poderão ser resolvidos pelas partes com ajuda de um voluntário.
Rosanne D'Agostino Do G1, em São Paulo
Parte dos processos judiciais que tramitam no país poderão ganhar uma nova audiência - um encontro de mediação com uma terceira pessoa para que as partes tentem resolver seu próprio conflito, sem passar pelo juiz. A medida, encampada pelo governo para tentar conter a morosidade do Judiciário, começa a ser discutida nesta quinta-feira (31) pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado.
Saiba mais
Segundo o Ministério da Justiça, embora adicione uma nova fase à já longa tramitação dos processos, a proposta pode ajudar a diminuir o tempo médio de resolução dos conflitos, de dez anos para três meses.
A CCJ do Senado se reúne nesta quinta para uma audiência pública. O anteprojeto foi finalizado no dia 2 de outubro por uma comissão de juristas instituída pela Casa e encaminhado à CCJ pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL). O Ministério da Justiça já enviou ao Senado suas justificativas defendendo a aprovação.
TIPOS DE MEDIAÇÃO PREVISTOS NO ANTEPROJETO DE LEI
Extrajudicial Todo conflito que não se transforma em processo na Justiça e pode ser resolvido antes disso. Mediação não será obrigatória.
Judicial
Para processos que já estão no Judiciário. Mediação se torna obrigatória: 30 dias para se realizar a primeira sessão e 60 dias finalizar a etapa.
Pública Conflitos que envolverem qualquer dos órgãos do Poder Público devem preferencialmente ser resolvidos por mediação. Não é obrigatória.
Online
Meio de solução de conflitos via internet, nos casos de comercializações de bens ou prestação de serviços via internet no âmbito
42
TIPOS DE MEDIAÇÃO PREVISTOS NO ANTEPROJETO DE LEI
nacional. Não é obrigatória.
* A mesma lei será aplicada a mediações comunitárias, escolares, penais, trabalhistas, fiscais, em serventias extrajudiciais e outras.
Mudanças:
A proposta cria a audiência de mediação em alguns tipos de processos, como os que envolvem patrimônio, contratos, órgãos públicos e empresas privadas.
Pelo projeto, assim que uma das partes entrar com a ação, haverá 30 dias para realizar a mediação, onde uma terceira pessoa escolhida pelo juízo ou eleita pelas partes (veja os requisitos mais abaixo) vai ajudar os dois lados a entrarem num acordo.
O anteprojeto prevê duas hipóteses básicas de mediação: extrajudicial (antes de o conflito virar um processo) e a judicial (quando a demanda já está no Judiciário). No segundo caso, a mediação será obrigatória.
O PL cria ainda a mediação pública, nos litígios envolvendo órgãos públicos ou de direitos difusos (questões ambientais, de consumidor etc.) ou coletivos (causas trabalhistas, sindicais, indígenas etc.); e a mediação online, pela internet.
“Nós estamos muito confiantes. O governo está entusiasmado”, afirma Flávio Caetano, secretário da Reforma do Judiciário, do Ministério da Justiça. “O Brasil está atrasado em relação ao mundo. Estamos com um excesso de litigância, e os processos só aumentam. Com a mediação, conseguiríamos evitar essa enxurrada de ações e ainda resolver os processos em andamento em um prazo muito menor."
Segundo o texto, a mediação é eficaz porque cria nas partes a sensação de poder de solucionar seus próprios problemas, principalmente em questões mais corriqueiras, envolvendo vizinhos, relações de consumo e família.
ONDE PODERÁ SER UTILIZADA
Pode
- direitos disponíveis. Ou seja, os direitos dos quais as pessoas podem abrir mão. Ex: patrimônio, contratos; - direitos indisponíveis, mas que podem ser transacionados. Ex: meio ambiente ou condições para guarda de filhos de casais divorciados (nestes
43
ONDE PODERÁ SER UTILIZADA
casos, sempre com a participação do Ministério Público)
Não pode
- filiação, adoção, pátrio poder, nulidade de patrimônio, interdição de pessoas, recuperação judicial, falência e medidas cautelares (arresto, sequestro, penhora e bloqueio de bens).
No caso da separação de um casal com filhos menores, por exemplo, poderiam ser resolvidas questões de guarda e alimentos em um acordo consensual sem recorrer a um juiz e por decisão do próprio casal.
A presença de advogado é obrigatória, mas pode ser dispensada dependendo do caso. A regra será a mesma dos atuais processos.
"E ainda, se a pessoa comprovar que tentou a mediação fora da Justiça, também terá desconto nas custas, e será assegurada a gratuidade aos mais pobres. Esse acordo tem força de um título executivo. Faz lei entre as partes", explica o secretário.
Estamos com um excesso de litigância, e os processos só aumentam. Com a mediação, conseguiríamos evitar essa enxurrada de ações e ainda resolver os processos em andamento em um prazo muito menor" Flávio Caetano, secretário da Reforma do Judiciário, do Ministério da Justiça
Litígios da União e estados
O governo também tenta amenizar o maior gargalo do Judiciário – hoje, cerca de 50% de todos os processos têm como parte a administração pública, como em questões fiscais e previdenciárias. "Essa lei possibilita que o Poder Público crie centros de mediação dentro dos seus órgãos para buscar acordos. Hoje a regra é recorrer. Temos que mudar isso", diz o secretário.
Para a OAB, o projeto pode estimular resoluções de conflitos dentro e fora do Judiciário. "A mediação no Brasil, embora já praticada, é muito incipiente em termos de abrangência", afirma Silvia Rodrigues Pachikoski, que coordena os trabalhos da Comissão de Mediação e Arbitragem da OAB de São Paulo.
"O entendimento do Senado foi no sentido de que uma lei vai estimular e propagar a mediação como um instituto de solução de conflitos. E, pela prática brasileira, as coisas começam a partir de uma lei”, diz a advogada, que foi membro da comissão de juristas especialmente convocada pelo Senado que redigiu o anteprojeto.
Segundo ela, foram ouvidas 46 entidades para relatar o texto final, e um dos principais pontos foram os litígios envolvendo órgãos públicos. "A administração pública é hoje a
44
maior ré em processos. Existe uma responsabilidade do estado por essa avalanche de ações. Tem que ter uma posição mais ou menos obrigatória em algum momento para que que force a administração, porque hoje cultura é de recorrer de tudo, nada que agilize", afirma.
45
ANEXO 2
ENTREVISTA
Entrevista /Gabriela Asmar ‘Mediar conflito garante processo de paz’ Advogada faz projeto em comunidades pacificadas Amelia Gonzalez [email protected] Conheci a advogada Gabriela Asmar em novembro do ano passado, num evento da Firjan sobre mediação de conflitos. Naquele mesmo dia, depois do evento, Gabriela foi contratada pela Federação para mediar conflitos nas comunidades pacificadas pela Unidade de Policia Pacificadora (UPPS). Apaixonada pelo processo de mediação, prática com a qual fez contato quando estudou nos Estados Unidos, e que chegou aqui no Brasil, via Viva Rio, em 2007, Gabriela ficou animada quando recebeu o convite. Seis meses depois, voltei a ela para saber como foi seu trabalho. O entusiasmo continua, o otimismo também. Para Gabriela, as ferramentas que capacitam pessoas a lidarem com mediação de conflitos pode ser a grande chave para uma sociedade sustentável. Como? Descubra a seguir. O GLOBO: Como foi (ou está sendo) este processo nas UPPs que começou quando você foi convidada pela Firjan? GABRIELA ASMAR: Treinamos 13 líderes comunitários das regiões pacificadas por UPPs em salas de aula para eles aprenderem a usar ferramentas de mediação de conflitos. O que procurei deixar bem claro é que o papel deles não é ser mediador de conflitos entre duas pessoas que estão brigando, mas mediadores entre culturas. Porque eles estão fazendo a história de uma transição entre o mundo anterior às UPPs e este agora, onde se deseja que a comunidade tenha de volta um direito de ir e vir, uma liberdade de gerir seu próprio destino. O GLOBO: O que alguns estudiosos que estão acompanhando o processo de pacificação das comunidades estão dizendo é que esses moradores estão substituindo um jugo pelo outro. Saem os traficantes, que eram um poder, entram os policiais, que passam a ser outro poder a quem eles também terão que obedecer... GABRIELA ASMAR: Veja, para entender melhor esse processo é preciso lembrar a história do país. Fomos uma colônia como tantas outras, só que nem na independência assumimos a responsabilidade pela transição, não passamos por uma revolta violenta na qual o povo tenha tomado nas suas mãos o destino para nos tornamos independentes. A nossa constituição é a única de que eu tenha notícia que fala expressamente em resolução pacífica das controvérsias. E estamos, assim, acostumados a esperar que as mudanças venham de cima. Tomar para si a responsabilidade de um processo decisório é uma coisa à qual não estamos habituados. E o estado, como sempre, acaba sendo muito protetor, mas o papel dele precisa ser emancipador. Os policiais de UPP realmente fizeram melhorar a qualidade de vida dos moradores, por isso eles os querem ali.
46
O GLOBO: Mas ainda existe muita desconfiança por parte da população... GABRIELA ASMAR: É claro que existe desconfiança, é uma mudança muito profunda porque são gerações e gerações com medo da polícia. Mas a presença dela ali é desejada, até para preencher a lacuna deixada pelo traficante, que sempre teve uma função social naqueles territórios marcados pela ausência do estado. Quando o estado vem substituir essa função, ficam lacunas, e a própria comunidade vai pedir que a polícia preencha essas lacunas. Isso é necessário durante um tempo, mas não pode ser para sempre. É preciso pensar numa transição rumo à sustentabilidade dessas comunidades que não dependa da ocupação policial. Os moradores têm que pegar em suas mãos o seu destino com a responsabilidade de quem quer viver em paz. O GLOBO: É aí que entra o seu trabalho? É isso que você vai ensinar? GABRIELA ASMAR: : Sim, fazemos o treinamento dos líderes para que eles possam ser os multiplicadores dessa nova conduta. O GLOBO: Você acha que está dando, ou que já deu certo? Tem alguma forma de medir isso? GABRIELA ASMAR: Sim, eu até ganhei um rap de um deles! (rs) A sério: muitos me disseram que passaram a usar os conceitos e situações aprendidos no curso com suas próprias famílias, no trato com seus filhos. Enfim, uma mudança de postura importante. Além disso, no início eu pedi que eles escrevessem uma situação de conflito e como eles agiriam. E no final eu redistribuí as folhas e pedi que eles contassem diante da mesma situação com o que aprenderam no curso. Muitos contaram até que, nesse ínterim, já tinham agido de maneira diferente inclusive em casa, com os filhos. O GLOBO: Você vai às comunidades? Conversa com os moradores para saber como anda, de fato, a relação com esse novo momento? GABRIELA ASMAR: Vou sim. Uma vez, em conversa com uma pessoa idosa, ela disse que viveu num tempo em que o tráfico ali era visto com vergonha, as pessoas não queriam andar armadas, não gostavam disso. Houve uma transição, sobretudo um rejuvenescimento das pessoas envolvidas com o crime, onde ocupar esse espaço do traficante começou a trazer um status. Foi quando a violência passou a ser regra, não exceção. Hoje, com as comunidades pacificadas, as crianças já dizem que não querem ser traficantes, querem ter outra vida.
47
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
História da Mediação
1.1 – Mediação: Educação para a paz 10
1.2 – Princípios éticos 20
CAPÍTULO II
Mediação empresarial 23
2.1 – Mediação empresarial 24
2.2 – Mediação intra-organizacional 25
2.3- Mediação na área do meio ambiente 26
2.4 – Mediação trabalhista 27
CAPÍTULO III
Mediação no setor Petrolífero
3.1 – Mediação nos impactos ambientais petróleo/gás 34
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39
ANEXOS 41
ÍNDICE 47