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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA Mediação de Conflitos Por:Laís Hermsdorff Rohem Orientador Prof. William Rocha Rio de Janeiro 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Mediação de Conflitos

Por:Laís Hermsdorff Rohem

Orientador

Prof. William Rocha

Rio de Janeiro

2014

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Mediação de conflitos

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito da Energia, Petróleo

e Gás.

Por: Laís Hermsdorff Rohem

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AGRADECIMENTOS

....aos meus familiares, amigos e

colegas de curso....

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DEDICATÓRIA

.....dedica-se ao pai, mãe, irmã e aos

amigos....

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RESUMO

Esse estudo teve por objeto a avaliação do processo de mediação de

conflitos, apresentando soluções e divergências quanto à importância do novo

modelo. Preocupou-se o estudo em mostrar que é um processo baseado em

regras, técnicas e saberes cujo objetivo é gerir a qualidade da comunicação

entre os intervenientes em conflito no sentido de privilegiar a resolução dos

problemas que os opõem, construindo eles próprios as suas soluções.

A mediação proporciona, através da intervenção de um especialista

da comunicação, uma intervenção mais célere, menos onerosa e mais co-

participativa e facilitadora de diálogo, na regulação das situações de conflito e

na manutenção ou reconstrução da qualidade relacional.

Esclarece a pesquisa que os princípios éticos que regem a mediação,

formadores das diretrizes básicas que respaldam o instituto são: a

imparcialidade, flexibilidade, aptidão, sigilo, credibilidade e diligência. Tendo

como finalidade agilizar procedimentos de autocomposição e desafogamento

do Judiciário, permitindo a diminuição dos custos do processo, proporcionando

a rápida e qualitativa solução dos conflitos e dá sentido ao princípio do amplo

acesso à justiça, como ordem jurídica justa, gerando pacificação social

mediante o consenso entre as partes.

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METODOLOGIA

Na pesquisa bibliográfica para fundamentar o tema proposto desta monografia,

utilizarei os seguintes procedimentos:

1- Consulta bibliográfica de vários autores que pesquisam o conflito e as

técnicas autocompositivas de resolução de conflitos mais indicadas

para mediar conflitos. Tendo como finalidade, agilizar procedimentos de

autocomposição e desafogamento do Judiciário, permitindo a diminuição dos

custos do processo, proporcionando a rápida e qualitativa solução dos conflitos

e dá sentido ao princípio do amplo acesso à justiça, como ordem jurídica justa,

gerando pacificação social mediante o consenso entre as partes.

Para ampliar minha pesquisa, utilizei dados retirados de anotações de aula,

artigos da internet, de documentários, de vídeos, revistas, boletins informativos

2- Reflexão acerca da posição do mediador, que além de advogado,ele exerce

tarefa do ordenamento jurídico, de harmonizar as relações sociais, com o

intuito de reivindicar os valores humanos, sem muito desgaste e sacrifício dos

conflitantes.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - História da Mediação 10

CAPÍTULO II - Mediação Empresarial 23

CAPÍTULO III- Mediação no setor Petrolífero 34

CONCLUSÃO 33

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39

ANEXOS 41

ÍNDICE 47

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INTRODUÇÃO

Esse estudo fala sobre a mediação de conflitos buscando analisar o

forte debate que existe atualmente sobre este relevante tema, em torno da

possibilidade de se implantar um novo método jurisdicional no Brasil.

De um lado, será observada uma corrente favorável à mediação de conflitos

cujos argumentos consistem em afirmar que, o estado seria “desafogado”, uma

vez que o quanto mais nos aproximarmos da solução do conflito, menores os

custos emocionais, financeiros e de tempo.

Neste sentido, há uma ordem crescente desses custos na relação

adiante, em que a mediação ocupa um lugar privilegiado, sendo um método

não adversarial de solução de conflitos que maior crescimento tem

experimentado em todo mundo.

Ademais, estão assegurados os princípios da celeridade, economia

processual e o devido processo legal, previstos constitucionalmente nos arts.

5º, incisos LXXVIII, XLV, LIV. Trata de benefícios aos litigantes, aumentando a

satisfação e confiabilidade dos mesmos e dando uma percepção maior quanto

ao procedimento justo.

Vale ressaltar, que a mediação tem como objetivo diminuir a

quantidade de processos, garantir melhora na prestação jurisdicional e um

amplo acesso à justiça, promover o fortalecimento da consciência da

cidadania, e primordialmente, promover a pacificação social. A principal função

do poder judiciário é a preservação da paz no seio da sociedade e o presente

trabalho busca demonstrar que este intento pode ser alcançado por outras

instituições que não requeiram soluções impostas.

Por outro lado, encontramos uma corrente desfavorável à aplicação

desta técnica onde argumentam não possuir previsão legal, sustentam ainda,

que o fato de que a mediação incidental no processo de conhecimento é uma

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nova etapa burocrática sendo adicionada ao processo judicial, sem que se

tenha certeza o percentual de solução a ser obtido por acordo prévio nesses

conflitos e que em determinadas demandas, quando não obter a resolução do

conflito, irá prejudicar a velocidade de julgamentos de casos urgentes e que

requerem alta indagação.

O debate ganha relevo, precisamente no momento, em que os fatos se

sucedem demonstrando a eficiência do método da mediação no Brasil,

extraída como modelo no exterior, que asseguraram grande presteza ao novo

sistema.

Sendo assim, faz-se necessário o estudo de ambas as posições para

que então possamos concluir qual a melhor posição a ser adotada perante a

sociedade.

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CAPÍTULO I

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

São determinações do século XXI a reavaliação permanente

de nossas crenças e das formas habituais de lidar com as situações,

além da possibilidade para rever o passado e adicionar o novo na

construção da realidade. Ao final da era industrial, o homem tinha que

se adaptar aos produtos oferecidos e se contentar com uma demanda

maior que a oferta.

Neste momento, o foco deixa de ser o produto e passa a ser as

necessidades do homem. Desta forma, começam a surgir

preocupações quanto às relações estabelecidas entre as pessoas e

um olhar mais atento às diferenças entre elas. Este é o início de

propostas de resoluções de conflitos mais direcionadas ao respeito e

diálogo entre as pessoas.

1.1 - Mediação: Educação para a paz

Nas sociedades contemporâneas o sistema normativo é

baseado na regulamentação jurídica da atividade social, econômica,

política, ambiental e considerado indispensável e suficiente para o bem

estar social. Reflete a idéia de que o direito positivo trará a desejada

justiça social, mostrando-se, na atualidade, insuficiente para resolução

eficaz de todos os problemas de convivência humana.

Descendo do plano ideal ao plano real, uma coisa é falar dos

direitos do homem, direitos sempre novos e cada vez mais extensos, e

justificá-los com argumentos convincentes; outra coisa é garantir-lhes

uma proteção efetiva à medida que as pretensões aumentam, a

satisfação delas torna-se cada vez mais difícil.

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Na dinâmica social atual, onde as relações interpessoais são

inúmeras e variadas, o meio de solução dos conflitos oriundos dessas

relações também deve refletir a multiplicidade característica da

sociedade moderna. Os meios convencionais de solução de conflito já

não satisfazem as necessidades surgidas no seio social, requerendo

novos instrumentos de pacificação social condizentes com a rapidez e

eficácia que a dinâmica social requer.

Nesse sentido, o acesso à justiça implica em remoção dos

obstáculos

que dificultam a efetiva prestação jurisdicional no contexto da

ordem jurídica justa, com base no art. 5° XXXV da Constituição

Federal.

Muitas vezes a solução tradicional que o sistema judiciário

apresenta, mostra-se ineficiente por tratar apenas dos aspectos

formais apresentados no processo judicial sem tocar na face ocultas,

muitas vezes determinantes, dos conflitos interpessoais.

Notoriamente, a angústia e o sofrimento que o conflito causa no

indivíduo requer tratamento diferenciado na resolução da questão

litigiosa. Quanto mais prolongado o processo de resolução do conflito,

mais sofrimento e angústia serão impingidos às partes. Sendo que,

não raro, a solução apresentada através da tutela jurisdicional via

poder judiciário, distancia-se da efetiva pacificação social, tendo de ser

digerida pela parte sucumbente como o direito imposto através de

sentença judicial a ser cumprida.

Nem sempre solução imposta representa efetivamente solução.

As partes envolvidas no conflito muitas vezes terão de continuar

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convivendo socialmente e não estarão pacificadas entre si, pois em

seu interior a questão não resta solucionada.

O preceito constitucional que assegura o acesso à justiça traz

implicitamente o princípio da adequação; não assegura apenas o

acesso à justiça, mas assegura o acesso para obter uma solução

adequada ao tipo de conflito que está sendo levado ao judiciário.

É nesta seara que surge a mediação como possibilidade de

meio de solução de conflitos, pois possibilita às partes envolvidas a

solução do conflito de forma integral e efetiva, vez que a solução será

buscada através da participação dos conflitantes, que ao decidirem

tornam-se co-responsáveis pela solução apresentada para a questão

conflituosa de forma a não restar ressentimentos.

A prática da mediação traz o resgate da cidadania, quando o

indivíduo toma para si, através de sua vontade, a condução de seu

destino de forma livre, através de um processo mais rápido, menos

oneroso e eficaz.

Enquanto procedimento, que é autônomo e não

necessariamente judicial, representa a possibilidade de se dar a cada

um aquilo que é seu, não através de soluções impostas, mas sim

consensuais, representando um novo paradigma de solução de

controvérsias a ser adotado.

As normas legitimadas num estado de direito refletem a

composição da maioria, princípio democrático básico desse sistema,

sendo que serão essas as normas aplicáveis às questões levadas ao

judiciário. Sabemos ser impossível ao legislador prever todas as

situações para posterior produção legislativa.

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Assim, temos de considerar que as normas pertencentes ao

ordenamento jurídico de determinado estado não abarca todas as

possibilidades de situações passíveis de se concretizar na vida real.

Nesse sentido o indivíduo pode deparar com situações conflituosas

cujas questões não têm resolução adequadamente prevista no

ordenamento jurídico aplicável.

Mesmo considerando que ao juiz é defeso não apresentar

solução ao caso levado ao judiciário, há consciência que a rigidez e

formalidade processual não atingem os meandros das situações ali

expostas, dificultando a solução da questão de forma eficaz.

Nessa vertente surge, como meio alternativo de resolução de

conflitos, a mediação, que busca, através das partes e suas

particularidades, a solução da questão litigiosa que se apresenta,

sendo este procedimento os meio onde ambos constroem suas

próprias soluções e passam a funcionar com mais esta alternativa em

suas vidas próprias, através de uma meta-aprendizagem, aprendendo

a lidar com a diferença.

São benefícios da mediação a rapidez e efetividade de

resultados; redução de desgaste emocional e de custo financeiro;

garantia de privacidade e sigilo; alternativa a arbitragem e processo

judicial; redução de duração e reincidência dos litígios; facilitação da

comunicação e promoção de ambientes cooperativos, transformação e

melhoria das relações.

É através da construção e escolha das alternativas pelas partes,

que há o aumento da possibilidade de efetividade de resultados,

considerando que as decisões e escolhas pessoais são as que com

maior amplitude nos comprometem.

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A Mediação pode ser definida como um método de condução de

conflitos, aplicado por um terceiro neutro e especialmente treinado,

cujo objetivo é restabelecer a comunicação produtiva e colaborativa

entre as pessoas que se encontram em um impasse, ajudando-as a

chegar a um acordo, sendo um procedimento que visa à composição

de um litígio, de forma não autoritária, pela interposição de um

intermediário entre as partes em conflito.

De natureza extrajudicial e multidisciplinar, conta com atuação

de profissionais de diversas áreas, como psicólogos, advogados,

psiquiatras, assistentes sociais e tem como característica, a

voluntariedade, pois as partes não são obrigadas a utilizá-la. São

várias as áreas em que a mediação pode ser aplicada, entre elas a

cível, comercial, trabalhista, ambiental e família.

A natureza jurídica da mediação é contratual, sendo firmada na

soberania da vontade das partes, criando, extinguindo ou modificando

direitos, devendo constituir-se de objeto lícito e não defeso em lei,

razão pela qual estão presentes os elementos formadores do contrato,

tem como objeto o comportamento humano, pois sua finalidade é a

resolução dos conflitos relativos à interação do ser na sociedade.

Enquanto procedimento a mediação privilegia a conciliação

entre as partes e o restabelecimento das relações sociais, sendo seu

objetivo principal o apaziguamento das partes envolvidas no conflito

percebendo-se como indivíduos sociais.

Neste sentido, a diferença do que ocorre em um processo

judicial, no qual na realidade são os advogados que intervêm e

manejam o conflito, na mediação são as partes os principais atores, as

donas do conflito que mantêm, em todos os momentos, o controle do

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mesmo, dizendo quais são as questões que estão envolvidas, assim

como o modo de resolvê-las.

O acordo decorrente de uma mediação, satisfaz, em melhores

condições, as necessidades e os desejos das partes, já que estas

podem reclamar o que verdadeiramente precisam e não o que a lei lhe

reconheceria. Permite o encontro de alternativas que escapam das

possibilidades.

Outras características são apresentadas como vantagens

oferecidas pelo instituto entre elas a privacidade, pois desenvolve-se

em ambiente sigiloso sendo divulgado somente mediante autorização

das partes, a economia de tempo vez o conflito é solucionado no

menor lapso temporal possível, com respaldo no art. 5° LXXVII da

Constituição Federal.

A reaproximação das partes, considerando que enquanto o

processo judicial tem como objetivo impor uma decisão às partes

através da sentença, a mediação, como justiça informal, tem como

objetivo prevenir conflitos pacificando as relações sociais entre as

partes e a autonomia das decisões, dispensando a homologação pelo

judiciário, já que cabe às partes decidirem sobre o conflito, o que farão

conforme for melhor para cada uma, em busca do restabelecimento

social.

Instrumento de pacificação social através da composição de

conflitos, a mediação promove a autonomia do indivíduo, a cidadania e

a concretização da democracia, princípio basilar do estado, pois tem a

virtude de educar para as diferenças entre os indivíduos e estimular a

tomada de decisões sem a intervenção de terceiros que imponham

suas decisões aos litigantes, representando um verdadeiro instrumento

de exercício de cidadania.

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Atualmente quando falamos de cidadania nos referimos ao

principal fundamento da finalidade do Estado democrático de direito,

cujos pilares de sustentação encontram-se na admissão, na garantia e

na efetividade dos direitos fundamentais da pessoa humana, ou seja, o

estado deve possibilitar aos seus habitantes a possibilidade de

desenvolvimento pleno através do exercício de um grande conjunto de

direitos e deveres.

O aprendizado que a mediação oferece contribui em muito na

formação do indivíduo como cidadão responsável por seus atos e

conseqüências concomitantes, valoriza a responsabilidade de cada

um, a apropriação das escolhas pessoais, o respeito a si e ao outro, a

aceitação do diferente, a cooperação e a tolerância.

Há de se considerar a mediação como um novo paradigma a ser

instituído na resolução de conflitos, visto como uma forma de

resolução de problemas mais ampla e com maior potencial de

transformação da sociedade, educando-a para a aceitação das

diferenças individuais, produzindo crescimento e mais felicidade para

todos.

O procedimento da mediação caracteriza-se pela ausência de

formalidades, salvo a contratação da mediação e o acordo escrito, pela

celeridade e confidencialidade, trata de um processo voluntário entre

duas ou mais pessoas físicas ou jurídicas que buscam o entendimento

consensual entre elas, com a ajuda de terceiro(s) para solução

amigável do conflito.

Os ritos a serem seguidos são os que viabilizem o consenso ou

a realidade do acordo, para se ter o início do procedimento de

mediação as partes precisam estar de acordo quanto a sua utilização.

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Esse acordo é manifestado por escrito em documento que é

denominado usualmente Termo de Mediação, assinado esse termo,

que deve conter todas as regras que regerão a mediação, tais como

prazos, reuniões, decisões, redação de acordos, em início o

procedimento de mediação.

As partes podem escolher instituições, entidades especializadas

ou os chamados mediadores ad hoc, isto é, aqueles desvinculados de

entidades ou instituições especializadas para o exercício da atividade

do mediador.

Podem as partes serem representadas mediante procuração

repassando poderes de decisão ao representante, sendo, também,

facultada a presença de advogado e assessores técnicos, desde que

se convencionado entre as partes e o mediador considere útil e

pertinente.

Na primeira etapa do procedimento de mediação, haverá uma

entrevista com as partes, separadamente ou em conjunto, para os

seguintes esclarecimentos: descrição da controvérsia e exposição de

expectativas e esclarecimentos sobre o processo da mediação onde

serão determinados os procedimentos e as técnicas empregadas, bem

como o tempo programado para a resolução da disputa.

As reuniões devem ser realizadas preferencialmente em

conjunto com as partes, salvo se houver necessidade e concordância

entre as partes, o mediador poderá reunir-se separadamente com cada

uma delas, desde que respeitado o sigilo e a igualdade de

oportunidades.

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Se houver um acordo entre as partes, extingue-se o processo de

mediação, que se encerra com a assinatura do Termo de Acordo pelas

partes.

Conclui-se também a mediação por uma declaração escrita do

mediador justificando que a composição teve êxito ou não; por uma

declaração conjunta das partes dirigidas ao mediador com o efeito de

encerrar a mediação ou por uma declaração escrita de uma parte para

a outra e também dirigida ao mediador, manifestando a vontade de

encerrar a mediação.

As informações da mediação devem ser confidenciais e não

devem ser reveladas a terceiros tanto por parte dos mediadores quanto

pelas partes envolvidas. Os documentos apresentados ou produzidos

durante a mediação devem ser devolvidos às partes. Os custos do

procedimento, ou seja, as despesas administrativas e os honorários do

mediador serão rateados entre as partes, salvo disposição diversa no

Termo de Mediação.

Quando não há conciliação, ou seja, as partes não chegarem a

um acordo, pode-se optar pela arbitragem. O mediador, nesse caso,

fica excluído de participar do procedimento arbitral ou mesmo no

processo judicial, pois tal participação não parece oportuna.

Quanto à arbitragem, a mediação dela se distingue quanto à

intervenção do terceiro, a participação do árbitro se dá para a decisão

da disputa, enquanto o mediador visa a aproximação dos interessados,

testando separadamente as suas respectivas posições e procurando

oferecer diversos ângulos talvez não observados no momento da

configuração do litígio.

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A mediação e a conciliação consistem em métodos

autocompositivos de resolução de litígios, enquanto a arbitragem é

método heterocompositivo.

Como já mencionado, a mediação busca a aproximação das

partes sem se preocupar exclusivamente com a celebração do acordo.

A meta primordial da mediação é o reatamento entre os que estavam

em conflito. Pacificar, eis o objetivo maior pretendido pela mediação.

Diante das exposições, pode-se vislumbrar que uma das

vantagens da mediação é que não importa ganhar ou perder o litígio,

mas sim estabelecer soluções que possam atender efetivamente aos

anseios dos litigantes.

Apesar de não existir no ordenamento brasileiro uma legislação

que discipline por completo a mediação nos tribunais, não há

impedimento legal para a sua aplicação, pois são enunciados no

preâmbulo do art. 4°, VI da Constituição de 1988, tanto a harmonia

social quanto a solução pacífica das controvérsias.

Outrossim, encontramos uma corrente desfavorável à aplicação

desta técnica onde argumentam não possuir previsão em nosso

ordenamento jurídico e, sustentam ainda, que o fato de que a

mediação incidental no processo de conhecimento é uma nova etapa

burocrática sendo adicionada ao processo judicial, sem que se tenha

certeza do percentual de solução a ser obtido por acordo prévio nesses

conflitos e que em determinadas demandas, quando não obter a

resolução do conflito, irá prejudicar a velocidade de julgamentos de

casos urgentes e que requerem alta indagação.

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1.2 - Princípios éticos basilares da Mediação

Os princípios éticos que regem a mediação, formadores das diretrizes

básicas que respaldam o instituto como sendo a imparcialidade, celeridade,

economia processual, flexibilidade, aptidão, sigilo, credibilidade e diligência.

Centrada na figura do mediador, temos como característica

fundamental a imparcialidade. Enquanto profissional que irá conduzir as partes

na resolução do litígio, não pode o mesmo se deixar envolver pessoalmente

nas questões conflituosas, devendo a imparcialidade perdurar em todo o

processo de mediação, sob pena de o mediador restar impedido no

desempenho da função.

Durante o processo de mediação, situações novas e alterações na

direção da resolução do conflito ocorrem com freqüência, devendo o mediador

ser apto a tais redimensionamentos dos fatos apresentados, devendo a

flexibilidade se mostrar presente na formação do profissional que irá atuar

nesse processo.

O sigilo protegerá os mediandos da exposição do problema a terceiros

não participantes do processo de mediação. Aos envolvidos: partes,

assistentes, advogados, mediador, restam proibidos de divulgação de qualquer

informação a respeito da mediação. Como atributo, o sigilo é imprescindível

ao procedimento.

Fundamental na escolha do profissional que conduzirá o processo de

resolução do conflito é a confiança que as partes nele depositam. Essa

credibilidade deverá ser aprofundada na mediação de forma a fortalecer o

vínculo de confiança entre mediandos e mediador propiciando terreno fértil

para a realização de acordo proveitoso para as partes.

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A diligência deve estar presente em todo o procedimento aplicável à

mediação, devendo o mediador observar as normas impostas pela instituição a

qual faz parte, a regularidade dos procedimentos, a qualidade dos serviços

prestados, a rapidez, considerando as particularidades de cada caso, evitando

que o processo se alongue desnecessariamente. Todas essas precauções

devem ser tomadas no sentido de assegurar a qualidade do processo.

No Brasil, não há previsão expressa da mediação em nosso

ordenamento jurídico, entretanto, nossa Constituição Federal, em seu

preâmbulo prevê a solução pacífica de conflitos, dentre as quais se inclui a via

da mediação, bem como, em seu artigo 5º, XXXV, estatui a garantia do acesso

à justiça.

O próprio preâmbulo da Constituição Federal de 1988 esclarece que a

justiça e a igualdade são valores supremos e que existe a preocupação com a

harmonia social, afirmando literalmente que tal harmonia está comprometida

com a ordem interna e internacional, com a solução pacífica de controvérsias.

Nesse diapasão, a mediação só pode ser considerada constitucional e de

acordo com os melhores preceitos internacionais para a solução de conflitos.

O plenário do Senado aprovou o projeto de lei 94/03, que torna

obrigatória a tentativa de mediação para solucionar um conflito antes de

submetê-lo ao processo judicial tradicional. Essa iniciativa deverá ampliar as

possibilidades de solução consensual entre as partes e aliviará o volume de

processos junto ao Poder Judiciário.

A principal novidade do projeto torna obrigatória que qualquer pedido

de natureza civil feito ao Poder Judiciário seja submetido a uma tentativa de

mediação, antes de ser apreciado por um juiz. A mediação será feita por

técnicos treinados e cadastrados nos tribunais de justiça e terá um prazo de 90

dias para conclusão. Caso não haja solução pacifica, o processo será

imediatamente encaminhado ao juiz da causa.

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A tentativa obrigatória de mediação já é aplicada em outros países,

como a Argentina, onde estudos relatam que mais da metade dos casos são

resolvidos dessa maneira. Este procedimento diminui o número de processos

na Justiça e, consequentemente, o tempo de trâmite.

Tais iniciativas legislativas têm finalidade de agilizar procedimentos de

autocomposição e desafogamento do Judiciário, permitindo a diminuição dos

custos do processo, proporcionando a rápida e qualitativa solução dos conflitos

e dá sentido ao princípio do amplo acesso à justiça, como ordem jurídica justa,

gerando pacificação social mediante o consenso entre as partes.

A mediação poderá ser igualmente, judicial ou extrajudicial, sendo que

a mediação incidental poderá ser realizada por entidade privada, devidamente

cadastrada no Tribunal de Justiça, com mediadores independentes e aptos. O

prazo para conclusão da mediação incidental é de 60 dias, salvo desejo

contrário das partes.

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Capitulo II

MEDIAÇÃO EMPRESARIAL

A mediação empresarial, instrumento contemporâneo de prevenção e

resolução de conflitos adota como proposta básica, a atuação facilitadora da

comunicação e da negociação cooperativa entre as pessoas, para que se

constituam autoras das soluções requeridas. Presente nos conflitos tanto

quanto na negociação de diferenças, a Mediação Empresarial vem sendo

utilizada como ferramenta pelas empresas familiares na coordenação de

diálogos produtivos, auxiliando a discriminar a relação afetiva da relação

empresarial, na dissolução societária e nas negociações sucessórias. A

Mediação Empresarial contribui ainda para uma maior produtividade, advinda

da convivência pacífica que admite e prega a coexistência da diferença e do

diferente, seja ela pessoa, produto ou idéia. Em última análise, o Programa

visa mapear os tipos de conflitos dentro do contexto empresarial e fornecer

ferramentas da comunicação, da negociação cooperativa, da psicologia e do

direito aliando a teoria à prática através de exercícios de simulação e cases.

Podemos considerar os seguintes cenários de atuação: um mediador

trabalhista envolve-se em negociações antes de uma ameaça de greve; um

mediador familiar auxilia um casal a chegar a um acordo de divórcio; um

mediador organizacional ajuda a estabelecer uma cultura de gestão

organizacional que possibilite lidar com conflitos para garantir a produtividade;

um mediador societário interage em conflitos de relacionamento entre sócios

indo além das questões econômicas, considerando os sempre presentes

aspectos emocionais, principalmente quanto da substituição ou destituição de

integrantes da sociedade, ou em conflitos pela participação societária, como

em sucessões nas empresas familiares; um mediador empresarial interage

para a resolução de conflitos originados nos relacionamentos entre seus

colaboradores, fornecedores, clientes e parceiros. Muito temos lido sobre as

novas tendências e perspectivas no campo da Consultoria em MEDIAÇÃO.

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Todos que atuam direta e indiretamente nas empresas estão cientes

da importância da Mediação dos conflitos dentro de uma organização. Quer

seja nas relações internas ou nas relações com clientes, fornecedores e

parceiros a gestão dos conflitos é peça fundamental para a boa gestão de

qualquer tipo de negócio. A Consultoria em MEDIAÇÃO de Conflitos é uma

atividade que tem por objetivo transformar os conflitos destrutivos em conflitos

construtivos dentro das empresas e organizações. Os custos emocionais,

psicológicos, sociais e financeiros dos conflitos são incalculáveis. Muitas

empresas decretam falência pelo simples fato de não conseguirem Mediarem

seus conflitos, arruinando muitas sociedades empresariais. No contexto atual

de grandes e velozes mudanças, com cenários internos e externos cada vez

mais inconstantes, a conflitualidade se faz cada vez mais presente

necessitando de urgente intervenção por parte dos gestores Mediadores de

conflitos.

2.1 - Mediação empresarial entre empresas

A intervenção de um terceiro facilitador do diálogo entre duas ou mais

pessoas jurídicas parte da premissa da gestão da controvérsia por intermédio

do pressuposto óbvio de que o passado não tem como ser modificado, mas o

presente, com o advento do conflito, e o futuro ou não daquela inter-relação

dependerá de uma maior reflexão das mesmas. São oferecidos neste

momento espaços de diálogo que evitam desgastes e desperdício de tempo

com discussões estéreis, onde muitos falam e quase ninguém se escuta,

durante horas e horas improdutivas. Em alguns casos, o cansaço de alguns

leva à apresentação de propostas favoráveis para um lado em detrimento de

outro. E, muitas vezes, não se procede a uma análise mais detalhada das

questões envolvidas, tomando-se por base unicamente os aspectos

econômicos e objetivos da controvérsia. Isto resulta em acertos superficiais

sem muita consistência, o que poderá ter como conseqüência o

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descumprimento dos compromissos assumidos, acarretando o agravamento

da controvérsia ou o surgimento de outras até então latentes.

É justamente sobre o aspecto citado no parágrafo anterior que a

intervenção do mediador nas relações empresariais é fundamental. Ao aportar

o questionamento da inter-relação existente entre os empresários, sejam

decorrentes de crédito/débito, transações comerciais, financeiras ou

imobiliárias, empreitadas, relações de franquia (que serão objeto de um

tratamento diferenciado pelas próprias características a serem apontadas

neste artigo mais adiante), operações com seguros, questões societárias,

fornecedor/cliente, prestador de serviço/usuário, quer contratuais, quer

informais sem a existência de um contrato que a regule.

O mediador o faz oferecendo elementos de reflexão baseados em

fatos daquela relação no passado e no presente, com vistas a construir um

futuro seja com a continuidade daquela relação, seja com o fim, que resultará

em um modo mais pacífico em sua resolução.

2.2. - Mediação empresarial intra-organizacional

As empresas, de maneira geral, possuem uma organização interna que

constitui-se em uma enorme e complexa rede de conexões e interações entre

as pessoas que dela fazem parte. Com isso, geram entre si inúmeras inter-

relações, algumas delas decorrentes da própria atividade profissional e outras

resultantes das afinidades pessoais e/ou sociais de cada um de seus

participantes. Este quadro acaba por transformá-las, não importando seu

porte, quer seja micro, pequeno, médio ou grande, em um terreno fértil e

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privilegiado, onde prosperam diversos conflitos, conflitos estes relativos às

inúmeras e intensas atividades internas decorrentes do seu cotidiano.

Tais conflitos, caso resultem em número muito elevado, comprometem

o crescimento e a evolução natural da própria empresa, criando um círculo

vicioso que se auto-alimenta, resultando na perda da competitividade da

empresa, grupo de empresas ou corporações. Tal fato é decorrente da forma

negativa em que, internamente, o conflito não somente é encarado, mas

sobretudo como é administrado. Nestes casos, é muito comum a negação de

que ele exista, pela fuga ou omissão. Por outro lado, perde-se muito tempo na

sua resolução em reuniões infrutíferas, exigindo de seus dirigentes decisões

próprias desgastantes ou pelo menos um encaminhamento para as mesmas,

acarretando forma impositiva de fazer valer o respeito à hierarquia e ao poder,

o que sem dúvida agravará ainda mais o conflito.

2.3 - Mediação empresarial na área do meio ambiente

Como espécie do gênero direito difuso, o direito ao meio ambiente

equilibrado é caracterizado pela indeterminação dos sujeitos, indivisibilidade de

seu objeto, existência de vínculos fáticos entre os titulares, transição e

mutação no tempo e no espaço e, por derradeiro e não menos importante,

intensa litigiosidade interna. Constitui-se, assim, de direitos dispersos por toda

a sociedade, que poderão se contrapor entre si. Nesse sentido, ao se pensar

na proteção de determinado recurso hídrico, por exemplo, se opõe o interesse

de uma indústria em manter sua atividade econômica, ao mesmo tempo em

que seus empregados buscarão a manutenção de seus empregos e, por outro

lado, a população ribeirinha buscará garantir a possibilidade de usufruir

daquele recurso hídrico. Percebe-se claramente a ampla gama de interesses

contrapostos, todos eles legítimos, ao se fazer uma análise prima facie da

questão.

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Com todo este cenário acima apresentado e tendo como pressuposto

que se trata de um tema que demanda respostas imediatas, sob pena de

colocar em risco até mesmo a sobrevivência de um determinado território ou

população, devem-se buscar mecanismos ágeis de resolução de conflitos, que

permitam vislumbrar soluções criativas e mais adequadas às necessidades de

todos os envolvidos, bem como o dever prioritário de preservação do meio

ambiente. A mediação de conflitos nestas questões tem se mostrado um

sistema adequado, pois possibilita o diálogo entre todos os atores envolvidos,

proporciona a conservação e melhoria da inter-relação existente e, num

segundo momento, permite a prevenção de futuras disputas, ao mesmo tempo

em que leva à conscientização ecológica daqueles atores pelos compromissos

assumidos ao longo do processo.

Nos últimos anos, tem se notado a valorização de condutas que

privilegiam soluções negociadas por parte dos agentes públicos responsáveis

pela fiscalização e preservação do meio ambiente. O Ministério Público

Federal e Estadual e os órgãos estaduais e municipais ligados ao meio

ambiente têm desempenhado importante papel ao priorizarem o diálogo para

as questões ambientais, baseado na cooperação. Seu objetivo é construir

compromissos a serem efetivamente cumpridos, por estarem identificados os

interesses reais de todos os envolvidos, dentro dos limites impostos pela

norma jurídica e adequados à prioridade de preservar o meio ambiente.

2.4. - Mediação trabalhista

A mediação nas relações capital/trabalho remonta à própria história da

atividade no Brasil. Convém lembrar que, no Brasil, auditores do Ministério do

Trabalho, já em meados da década de oitenta, conscientes de que sua

responsabilidade social extrapolava a simples função de fiscalização,

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vivenciaram experiências que primavam pelo equilíbrio entre aqueles dois

pólos, por intermédio da flexibilização da aplicação da lei, com a utilização do

diálogo entre os protagonistas. Muitas dessas experiências eram empíricas e

objetivavam a pacificação daquelas relações, por intermédio de um convívio

mais harmonioso, que primasse pelo reconhecimento e respeito do papel que

cabe a cada um.

Tendo em vista estas experiências, tentou-se implementar no país um

papel mais ativo na gestão e resolução de maneira mais pacífica das

controvérsias trabalhistas pelo Ministério do Trabalho. Com este propósito é

que a Lei 10.101/2000 foi sancionada. Ela dispõe sobre a participação dos

trabalhadores nos lucros e resultados das empresas, prevendo, nesses tipos

de negociações entre empregado e empregador, que, caso ocorra impasse, se

estabeleça a possibilidade de utilização da mediação, coordenada por

mediador independente, mediador pertencente ao quadro oficial do Ministério

do Trabalho e Emprego ou, ainda, mediador vinculado a alguma instituição

privada ou independente, escolhido de comum acordo entre as partes. Esta lei,

repetindo a experiência dos anos 40, levou o Ministério do Trabalho e Emprego

a responder pelas tentativas mais pacíficas de resolução daquelas

controvérsias. Este texto legal, por outro lado, tem sido interpretado, na

maioria dos casos, pelas categorias econômicas e profissionais sem seu

principal norteador, qual seja, um programa de envolvimento entre capital e

trabalho em prol do desenvolvimento sustentado da empresa. Seu objetivo é

alavancar as atividades das empresas e, com isso, a própria remuneração de

seus empregados, auxiliado por um sistema inovador de resolução de

disputas, o que não tem ocorrido na prática.

Além disso, com o advento do Plano Real no ano de 1994, foram

adotadas medidas complementares, dentre elas a desindexação da economia,

o expurgo do reajuste automático de salários, com o reajuste anual dos

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salários com base na variação do IPC-r acumulado dos últimos 12 meses até a

data-base anterior. Esta previsão legal está estabelecida na Lei 10.192/2001,

que manteve a data base das diversas categorias econômicas, porém exige

que sejam entabuladas negociações para regramento das relações capital-

trabalho da categoria. Mais especificamente, o artigo 11 estabelece a

possibilidade de, uma vez frustrada a negociação, as partes utilizarem

mediador, inclusive do Ministério do Trabalho, para estimular uma solução

negociada para as partes, devendo este fazê-lo no prazo máximo de 30 dias.

E, caso não cheguem a um consenso, deverá ser lavrada ata negativa com as

causas motivadoras do conflito e as reivindicações econômicas, documento

este que instruirá a representação para ambas as partes para instauração do

dissídio coletivo. Estes dispositivos foram regulamentados posteriormente pelo

Decreto nº 1.572, de 28 de julho de 1995, e pelas Portarias do Ministério do

Trabalho nºs 817 e 818, de 30 de agosto de 1995.

Como resultado de tudo isso, o Ministério do Trabalho e Emprego,

assim como o Ministério Público do Trabalho, exerceram e exercem hoje um

papel muito importante na administração daqueles conflitos, muito embora, por

estarem à frente da função pública, se encontrem limitados à rigidez prevista

na legislação, suas próprias interpretações sobre as determinações legais e a

restrição a eventuais parcelamentos de débitos trabalhistas. E, com isso,

portanto, por não responderem de maneira imparcial e independente, não

poderão instalar a mediação de conflitos dentro de seus preceitos básicos,

mas sim estimular as soluções negociadas para os conflitos nesta área.

Ademais, as vantagens oferecidas pela mediação, como a análise da própria

relação, hoje não são aproveitadas em sua plenitude. Exemplos positivos são

os de um empregado portador do vírus HIV, após utilizar a mediação,

manifestar sua grande alegria em poder ser readmitido na empresa que havia

lhe demitido por justa causa, ou de um outro empregado acometido de um

acidente de trabalho estar satisfeito por não receber o total indenizatório

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solicitado, pelo fato de estar prestando seus serviços a outra empresa indicada

por aquela em que se acidentou.

Infelizmente, os exemplos acima são poucos, justamente em razão da

desconfiança mútua entre os atores envolvidos nas relações capital/trabalho,

que ainda é pautada por muito enfrentamento em disputas coletivas e

individuais, o que acarreta a busca do Judiciário para se valer de seus direitos,

sem pensar na efetiva solução do conflito que passa pelos dois pólos da

relação. Até hoje, ambos os lados não reconhecem que são interdependentes.

Em outros termos, capital não existirá se não existir trabalho e trabalho não

existirá sem capital, muito embora possuam interesses, valores e

necessidades distintos. Esta interdependência é pouco valorizada, motivo pelo

qual o Brasil é um dos países do mundo com um dos maiores volumes de

demandas judiciais na área trabalhista.

À luz dos comentários oferecidos, seria importante enfatizar que a

mediação parte de uma premissa de devolução às partes do poder de gerir e

resolver ou transformar o conflito, no sentido de que são elas as mais

indicadas para solucionar suas questões. Elas sabem o que é melhor para

elas próprias e enfrentam momentaneamente dificuldades em administrá-lo de

maneira mais pacífica por força da confusão de papéis que o conflito acaba

provocando.

Costuma-se afirmar que a mediação de conflitos parte de uma atitude

de humildade do mediador em sua intervenção junto às pessoas envolvidas

em controvérsias. A atuação do mediador, portanto, é, na vertente do auxílio

na administração do conflito, a fim de promover como resultado a

responsabilidade, não somente gerada na inter-relação existente ou que

existia, mas, sobretudo, no que poderá ser construído no futuro a partir dele.

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Estas características oferecem uma ferramenta muito eficiente para a gestão

positiva, resolução e/ou transformação do conflito no segmento empresarial e,

em especial, nas áreas citadas anteriormente.

A celeridade é uma característica marcante do processo, que é

extremamente rápido se forem feitas comparações com o processo judicial e a

arbitragem. Cabe lembrar que a determinante com relação ao tempo é

decorrente das decisões tomadas pelos participantes antes, durante ou após o

processo a que se submeteram. Com base no princípio da voluntariedade,

desde seu início, ao longo do mesmo e até com a possibilidade de ser

interrompido caso as partes assim decidam, preserva-se permanentemente em

seu patamar máximo o princípio da autonomia das vontades, consagrado na

área contratual. Às partes cabe determinar suas disponibilidades,

possibilidades e interesses para o mesmo, podendo, como dito anteriormente,

ser inclusive interrompido.

O processo consiste em média em 5 (cinco) reuniões, de duas a três

horas cada, ou durante o período de tempo que as partes considerarem como

necessário. Esta característica se refere à intervenção do mediador em

questões pontuais e não quando se tratar de um projeto que envolva toda uma

organização, como citado anteriormente na mediação empresarial intra-

empresas, ou mesmo que envolvam questões ambientais, como se verifica na

mediação ambiental, o qual demanda todo um processo em que o mediador ou

talvez uma equipe de mediadores intervirá por um determinado tempo

negociável entre as partes.

A confidencialidade é outra importante marca caracterizadora do

processo. Permite proporcionar aos empresários o necessário conforto em

expressar suas opiniões de maneira aberta, sobretudo relativas à inter-relação

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existente. Com isso, promove-se o controle total do processo pelo qual

optaram além de permitir-se a previsibilidade do resultado a ser alcançado,

podendo ou não, se o desejarem, dar conhecimento ao mercado futuramente

daquilo que deliberaram.

Convém enfatizar que a legislação brasileira não prevê a mediação

formalmente, posto estar mencionada nas leis citadas anteriormente,

especialmente da área trabalhista. Tramita, por seu turno, desde 1998, no

Congresso Nacional um projeto de lei que a regula, sobretudo no âmbito

judicial. Independentemente disto, diante dos aspectos mencionados, se pode

afirmar que a natureza jurídica da mediação de conflitos é contratual, posto se

originar de duas ou mais vontades orientadas para um fim comum, no sentido

de contratar um profissional para que este as auxilie a produzir conseqüências

jurídicas, extinguindo ou criando direitos, baseadas nos princípios da boa fé e

da autonomia das vontades, preservando durante seu procedimento a

igualdade das partes.

Como contrato, a mediação pode ser classificada como plurilateral, por

estarem ajustadas, no mínimo, 3 (três) pessoas físicas ou jurídicas, isto é, as

partes (pessoas físicas ou jurídicas) e o mediador (sempre pessoa física). É

consensual, uma vez que nasce do consenso entre as partes envolvidas na

controvérsia, que contratam um terceiro independente e imparcial. É também

informal, visto pressupor regras flexíveis, de acordo com os interesses das

partes. E oneroso, posto ser objeto de remuneração ao profissional que

colaborará com as partes. Na verdade, caracteriza-se como um contrato de

prestação de serviços, o qual, de comum acordo, as partes contratam um

mediador para que as auxilie na busca de soluções para o conflito que estão

enfrentando. Ele possibilita, portanto, a criação de um contrato futuro ou

compromissos a serem assumidos no futuro, constituindo-se seu objetivo

principal.

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E, como contrato, ainda, há que se pensar, a partir de seus

princípios norteadores, nos seguintes requisitos mínimos:

a) qualificação completa das partes e dos seus advogados, devendo

estes apresentarem os documentos que lhes conferem poderes de

representação, nos termos da lei;

b) qualificação completa do mediador e do co-mediador, se for o caso

de co-mediação;

c) regras claras estabelecidas para o procedimento;

d) número indicativo de reuniões para o bom andamento do processo

de mediação;

e) valor dos honorários, bem como das despesas incorridas durante a

mediação e formas de pagamento, os quais, na ausência de estipulação

expressa em contrário, serão suportadas na mesma proporção pelas partes;

f) previsão de que qualquer das partes, assim como o mediador, pode,

a qualquer momento, retirar-se da mediação, comprometendo-se a dar um pré-

aviso desse fato ao mediador e vice-versa;

g) inclusão da confidencialidade absoluta em relação a todo o

processo e conteúdo da mediação, nos termos da qual as partes e o mediador

se comprometem a manter em total sigilo a realização da mediação e a não

utilizar qualquer informação, documental ou não, oral, escrita ou informática,

produzida ao longo de todo o processo de mediação, posteriormente em juízo

arbitral ou judicial.

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Capitulo III

MEDIAÇÃO NO SETOR DE PETROLÍFERO

3.1 - Mediação nos impactos socioambientais das atividades marítimas de

exploração e produção de petróleo no Brasil.

Os principais impactos da atividade marítima de petróleo são:

• Aumento da taxa de imigração e alteração dos padrões de uso e ocupação

do solo;

• Degradação ambiental marítima e costeira;

• Potencial de acidentes com derramamento de óleo;

• Restrição e exclusão de áreas marítimas utilizadas por outras atividades

econômicas, principalmente a navegação e a pesca artesanal;

• Mudança do comportamento das espécies marinhas em virtude da

presença das estruturas físicas, como exemplo, as plataformas e dutos.

A mudança na dinâmica das pescarias, a percepção dos atores sociais

em virtudes da presença de outra atividade e a incorporação dessas

transformações em seu cotidiano necessitam, também, ser observadas.

Dentre os projetos exigidos à atividade de petróleo tem se:

• A estruturação da área em termos de equipamentos e recursos humanos

para o combate a qualquer emergência relacionada à atividade;

• O monitoramento ambiental;

• A promoção da educação ambiental dos trabalhadores da empresa;

• O controle dos poluentes gerados pela atividade;

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• A estruturação de mecanismos de comunicação social que informem à

população situada na área afetada pela atividades sobre seus riscos e

medidas implementadas para minimizá-los;

A atividade marítima de petróleo e gás, como saber se os projetos de

caráter participativo trarão resultados verdadeiros e serão eficazes no alcance

dos objetivos de empoderamento e de construção de alternativas reais de

desenvolvimento para aquelas comunidades? Como verificar se os impactos

socioambientais provocados pelos empreendimentos licenciados foram

minimizados e/ou compensados? Como medir os resultados obtidos? Esse é

sempre um grande desafio ao se tratar de ações de caráter qualitativo.

Tentar descobrir em que medida esses projetos de educação

ambiental são

instrumentos de empoderamento e emancipação dos grupos sociais ou são

apenas instrumentos que manterão o status quo das comunidades, gerando

ações tuteladas pelas empresas em atendimento às exigências do Estado é o

desafio atual dos analistas ambientais da CGPEG/IBAMA.

Do que se observou até o momento das experiências de projetos de

educação ambiental relacionados a processos de licenciamento ambiental

federal das atividades marítimas de exploração e produção de petróleo em

andamento no país, é a existência de um limite muito tênue entre ações

emancipatórias e tuteladas, sendo necessária uma reflexão contínua sobre até

onde ir e o que se pode exigir.

A adoção de premissas e de diretrizes claras para nortear os projetos

de educação ambiental exigidos como medidas mitigadoras e compensatórias

do licenciamento ambiental, por exemplo, é uma condição necessária, para

que o Estado cumpra seu papel de gestor, as empresas implementem projetos

comprometidos com a transformação da realidade socioambiental das

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comunidades e estas sejam coautoras dos projetos e exerçam seus direitos e

deveres na gestão de seu espaço de vida.

Portanto, ainda que os projetos de educação ambiental busquem o

fortalecimento das organizações sociais e o apoio dos movimentos sociais, é

necessário que sejam acompanhados, avaliados e sistematizados, gerando

informações que subsidiem a formulação de políticas públicas que visem

institucionalizá-los como ações obrigatórias no campo da gestão ambiental.

Os processos educativos propostos para o licenciamento de petróleo

pretendem realizar um papel de mediação junto aos grupos e movimentos

sociais impactados, contribuindo para que os sujeitos envolvidos no processo

educativo sejam capazes de desvelar a realidade vivida, em todos os seus

aspectos, incluindo as contradições, as causas da desigualdade, da

vulnerabilidade socioambiental e dos riscos a que estão sendo submetidos.

Espera-se dessa forma, instrumentalizá-los, tornando-os aptos a

defender seus diretos e interesses, motivando-os a reagir e a participar “como

sujeitos políticos” dos espaços públicos de decisão.

Dessa forma, acredita-se que o fortalecimento da proposta de

educação no

processo de gestão ambiental no interior das dinâmicas do licenciamento,

possibilitará ao Estado ampliar o seu papel de mediador de conflitos e

promotor de políticas socioambientais de caráter público e universalizante.

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Conclusão

Tradicionalmente, nas culturas ocidentais, temos, como meio de

resolução de conflitos, o Poder Judiciário.

Entretanto, enquanto aparelho estatal com fins à pacificação social,

encontra-se sobrecarregado com inúmeros processos ajuizados em função da

complexidade da sociedade atual, tornando-se vagoroso nas resoluções das

causas levadas ao seu conhecimento.

Combinando os fatores acima ao fato de que a pacificação imposta

pelo Estado, coercitivamente, apresenta solução de fora para o íntimo das

partes litigantes, muitas vezes ocasionando sentimento de injustiça, temos

como resultado o comprometimento da efetividade dos procedimentos

judiciais.

Nesse sentido, a mediação é apontada como alternativa à solução de

conflitos via poder judiciário, que vem substituir a resolução da questão através

do conflito pela resolução da questão através do acordo. Na mediação o

acordo é construído inteiramente pelas partes, que através do compromisso

assumido, transformam-se em agentes do próprio destino.

Não há a pretensão de encobrimento do conflito através da mediação

com fins de diminuir a crise que atravessa a Justiça devido à sobrecarga de

processos, mas sim a realização da justiça social e do direito justo, que

humaniza os conflitos, buscando minimizar o sofrimento impingido ao

indivíduo, inerente deste processo, elevando-o à plenitude de sua dignidade.

É necessária uma mudança de paradigma na resolução de conflitos

sociais devendo a mediação se tornar altamente institucionalizada e

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incorporada como um componente fundamental dos sistemas organizacionais

de resolução de contendas em todos os níveis da sociedade.

A transformação que a prática da mediação traz, resultará numa

sociedade mais justa, mais ética, mais humana, capaz de uma convivência

harmoniosa e educada para a paz.

Nos momentos atuais as mudanças na ordem social, política,

econômica e cultural tem demonstrado ser cada vez mais profundas,

impactantes e paradigmáticas. Os imaginários, ilusórios, preconceitos e

paradigmas sociais existentes são substituídos por outros de uma maneira tão

rápida que os empresários em muitas vezes se surpreendem pelo dinamismo e

radicalismo. Resulta em um convívio diversificado oferecido pelas múltiplas

inter-relações entre os indivíduos e acaba por se constituir em uma fonte

inesgotável de conflitos que exigem respostas imediatas para que a

convivência seja baseada no respeito, reconhecimento mútuo de diferenças e

harmonia nas inter-relações.

A Mediação de Conflitos no contexto empresarial, como observado nas

distintas áreas apontadas anteriormente, promove a busca das respostas

acima pontuadas e contribui para a criação de espaços de diálogo em que se

apresentam as diferenças e se redesenham de maneira participativa, dinâmica

e pacífica os papeis que cabe a cada um nas inúmeras inter-relações

existentes. Permite também estabelecer canais facilitadores da articulação e

ao mesmo tempo convida a todos para uma reflexão responsável sobre a

diversidade das temáticas da realidade atual, constituindo-se num verdadeiro

desafio a preservação das relações de maneira equitativa e integradora.

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SALES, Lília Maia de Morais. Justiça e mediação de conflitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. ______. Mediação de conflitos. São José: Conceito, 2007. SAMPAIO, Lia Regina; BRAGA NETO, Adolfo. O que é mediação de conflitos. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 2007. ______. Solidariedade – a rede como mecanismo de interação social. São Paulo: Interação Rede Social, s/d. SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente. Porto Alegre: EdiPro, 2000. ______. O discurso e o poder. Porto Alegre: EdiPro, 2000. ______; TRINDADE, João Carlos. Conflito e transformação social: uma paisagem das justiças em Moçambique. Volumes 1 e 2. Porto: Afrontamento, 2003. SIX, Jean François. Dinâmica da mediação. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. STONE, Douglas; PATTON, Bruce; HEEN, Sheila. Conversas difíceis. 7ª. edição. Rio de Janeiro: Alegro, 2004.

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ANEXO 1

PRODUZINDO O MATERIAL

31/10/2013 08h40 - Atualizado em 31/10/2013 - 09h31

Governo quer mediação obrigatória para acelerar processos no Judiciário CCJ do Senado analisa anteprojeto que cria nova audiência para acordos. Conflitos poderão ser resolvidos pelas partes com ajuda de um voluntário.

Rosanne D'Agostino Do G1, em São Paulo

Parte dos processos judiciais que tramitam no país poderão ganhar uma nova audiência - um encontro de mediação com uma terceira pessoa para que as partes tentem resolver seu próprio conflito, sem passar pelo juiz. A medida, encampada pelo governo para tentar conter a morosidade do Judiciário, começa a ser discutida nesta quinta-feira (31) pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado.

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Segundo o Ministério da Justiça, embora adicione uma nova fase à já longa tramitação dos processos, a proposta pode ajudar a diminuir o tempo médio de resolução dos conflitos, de dez anos para três meses.

A CCJ do Senado se reúne nesta quinta para uma audiência pública. O anteprojeto foi finalizado no dia 2 de outubro por uma comissão de juristas instituída pela Casa e encaminhado à CCJ pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL). O Ministério da Justiça já enviou ao Senado suas justificativas defendendo a aprovação.

TIPOS DE MEDIAÇÃO PREVISTOS NO ANTEPROJETO DE LEI

Extrajudicial Todo conflito que não se transforma em processo na Justiça e pode ser resolvido antes disso. Mediação não será obrigatória.

Judicial

Para processos que já estão no Judiciário. Mediação se torna obrigatória: 30 dias para se realizar a primeira sessão e 60 dias finalizar a etapa.

Pública Conflitos que envolverem qualquer dos órgãos do Poder Público devem preferencialmente ser resolvidos por mediação. Não é obrigatória.

Online

Meio de solução de conflitos via internet, nos casos de comercializações de bens ou prestação de serviços via internet no âmbito

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TIPOS DE MEDIAÇÃO PREVISTOS NO ANTEPROJETO DE LEI

nacional. Não é obrigatória.

* A mesma lei será aplicada a mediações comunitárias, escolares, penais, trabalhistas, fiscais, em serventias extrajudiciais e outras.

Mudanças:

A proposta cria a audiência de mediação em alguns tipos de processos, como os que envolvem patrimônio, contratos, órgãos públicos e empresas privadas.

Pelo projeto, assim que uma das partes entrar com a ação, haverá 30 dias para realizar a mediação, onde uma terceira pessoa escolhida pelo juízo ou eleita pelas partes (veja os requisitos mais abaixo) vai ajudar os dois lados a entrarem num acordo.

O anteprojeto prevê duas hipóteses básicas de mediação: extrajudicial (antes de o conflito virar um processo) e a judicial (quando a demanda já está no Judiciário). No segundo caso, a mediação será obrigatória.

O PL cria ainda a mediação pública, nos litígios envolvendo órgãos públicos ou de direitos difusos (questões ambientais, de consumidor etc.) ou coletivos (causas trabalhistas, sindicais, indígenas etc.); e a mediação online, pela internet.

“Nós estamos muito confiantes. O governo está entusiasmado”, afirma Flávio Caetano, secretário da Reforma do Judiciário, do Ministério da Justiça. “O Brasil está atrasado em relação ao mundo. Estamos com um excesso de litigância, e os processos só aumentam. Com a mediação, conseguiríamos evitar essa enxurrada de ações e ainda resolver os processos em andamento em um prazo muito menor."

Segundo o texto, a mediação é eficaz porque cria nas partes a sensação de poder de solucionar seus próprios problemas, principalmente em questões mais corriqueiras, envolvendo vizinhos, relações de consumo e família.

ONDE PODERÁ SER UTILIZADA

Pode

- direitos disponíveis. Ou seja, os direitos dos quais as pessoas podem abrir mão. Ex: patrimônio, contratos; - direitos indisponíveis, mas que podem ser transacionados. Ex: meio ambiente ou condições para guarda de filhos de casais divorciados (nestes

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ONDE PODERÁ SER UTILIZADA

casos, sempre com a participação do Ministério Público)

Não pode

- filiação, adoção, pátrio poder, nulidade de patrimônio, interdição de pessoas, recuperação judicial, falência e medidas cautelares (arresto, sequestro, penhora e bloqueio de bens).

No caso da separação de um casal com filhos menores, por exemplo, poderiam ser resolvidas questões de guarda e alimentos em um acordo consensual sem recorrer a um juiz e por decisão do próprio casal.

A presença de advogado é obrigatória, mas pode ser dispensada dependendo do caso. A regra será a mesma dos atuais processos.

"E ainda, se a pessoa comprovar que tentou a mediação fora da Justiça, também terá desconto nas custas, e será assegurada a gratuidade aos mais pobres. Esse acordo tem força de um título executivo. Faz lei entre as partes", explica o secretário.

Estamos com um excesso de litigância, e os processos só aumentam. Com a mediação, conseguiríamos evitar essa enxurrada de ações e ainda resolver os processos em andamento em um prazo muito menor" Flávio Caetano, secretário da Reforma do Judiciário, do Ministério da Justiça

Litígios da União e estados

O governo também tenta amenizar o maior gargalo do Judiciário – hoje, cerca de 50% de todos os processos têm como parte a administração pública, como em questões fiscais e previdenciárias. "Essa lei possibilita que o Poder Público crie centros de mediação dentro dos seus órgãos para buscar acordos. Hoje a regra é recorrer. Temos que mudar isso", diz o secretário.

Para a OAB, o projeto pode estimular resoluções de conflitos dentro e fora do Judiciário. "A mediação no Brasil, embora já praticada, é muito incipiente em termos de abrangência", afirma Silvia Rodrigues Pachikoski, que coordena os trabalhos da Comissão de Mediação e Arbitragem da OAB de São Paulo.

"O entendimento do Senado foi no sentido de que uma lei vai estimular e propagar a mediação como um instituto de solução de conflitos. E, pela prática brasileira, as coisas começam a partir de uma lei”, diz a advogada, que foi membro da comissão de juristas especialmente convocada pelo Senado que redigiu o anteprojeto.

Segundo ela, foram ouvidas 46 entidades para relatar o texto final, e um dos principais pontos foram os litígios envolvendo órgãos públicos. "A administração pública é hoje a

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maior ré em processos. Existe uma responsabilidade do estado por essa avalanche de ações. Tem que ter uma posição mais ou menos obrigatória em algum momento para que que force a administração, porque hoje cultura é de recorrer de tudo, nada que agilize", afirma.

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ANEXO 2

ENTREVISTA

Entrevista /Gabriela Asmar ‘Mediar conflito garante processo de paz’ Advogada faz projeto em comunidades pacificadas Amelia Gonzalez [email protected] Conheci a advogada Gabriela Asmar em novembro do ano passado, num evento da Firjan sobre mediação de conflitos. Naquele mesmo dia, depois do evento, Gabriela foi contratada pela Federação para mediar conflitos nas comunidades pacificadas pela Unidade de Policia Pacificadora (UPPS). Apaixonada pelo processo de mediação, prática com a qual fez contato quando estudou nos Estados Unidos, e que chegou aqui no Brasil, via Viva Rio, em 2007, Gabriela ficou animada quando recebeu o convite. Seis meses depois, voltei a ela para saber como foi seu trabalho. O entusiasmo continua, o otimismo também. Para Gabriela, as ferramentas que capacitam pessoas a lidarem com mediação de conflitos pode ser a grande chave para uma sociedade sustentável. Como? Descubra a seguir. O GLOBO: Como foi (ou está sendo) este processo nas UPPs que começou quando você foi convidada pela Firjan? GABRIELA ASMAR: Treinamos 13 líderes comunitários das regiões pacificadas por UPPs em salas de aula para eles aprenderem a usar ferramentas de mediação de conflitos. O que procurei deixar bem claro é que o papel deles não é ser mediador de conflitos entre duas pessoas que estão brigando, mas mediadores entre culturas. Porque eles estão fazendo a história de uma transição entre o mundo anterior às UPPs e este agora, onde se deseja que a comunidade tenha de volta um direito de ir e vir, uma liberdade de gerir seu próprio destino. O GLOBO: O que alguns estudiosos que estão acompanhando o processo de pacificação das comunidades estão dizendo é que esses moradores estão substituindo um jugo pelo outro. Saem os traficantes, que eram um poder, entram os policiais, que passam a ser outro poder a quem eles também terão que obedecer... GABRIELA ASMAR: Veja, para entender melhor esse processo é preciso lembrar a história do país. Fomos uma colônia como tantas outras, só que nem na independência assumimos a responsabilidade pela transição, não passamos por uma revolta violenta na qual o povo tenha tomado nas suas mãos o destino para nos tornamos independentes. A nossa constituição é a única de que eu tenha notícia que fala expressamente em resolução pacífica das controvérsias. E estamos, assim, acostumados a esperar que as mudanças venham de cima. Tomar para si a responsabilidade de um processo decisório é uma coisa à qual não estamos habituados. E o estado, como sempre, acaba sendo muito protetor, mas o papel dele precisa ser emancipador. Os policiais de UPP realmente fizeram melhorar a qualidade de vida dos moradores, por isso eles os querem ali.

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O GLOBO: Mas ainda existe muita desconfiança por parte da população... GABRIELA ASMAR: É claro que existe desconfiança, é uma mudança muito profunda porque são gerações e gerações com medo da polícia. Mas a presença dela ali é desejada, até para preencher a lacuna deixada pelo traficante, que sempre teve uma função social naqueles territórios marcados pela ausência do estado. Quando o estado vem substituir essa função, ficam lacunas, e a própria comunidade vai pedir que a polícia preencha essas lacunas. Isso é necessário durante um tempo, mas não pode ser para sempre. É preciso pensar numa transição rumo à sustentabilidade dessas comunidades que não dependa da ocupação policial. Os moradores têm que pegar em suas mãos o seu destino com a responsabilidade de quem quer viver em paz. O GLOBO: É aí que entra o seu trabalho? É isso que você vai ensinar? GABRIELA ASMAR: : Sim, fazemos o treinamento dos líderes para que eles possam ser os multiplicadores dessa nova conduta. O GLOBO: Você acha que está dando, ou que já deu certo? Tem alguma forma de medir isso? GABRIELA ASMAR: Sim, eu até ganhei um rap de um deles! (rs) A sério: muitos me disseram que passaram a usar os conceitos e situações aprendidos no curso com suas próprias famílias, no trato com seus filhos. Enfim, uma mudança de postura importante. Além disso, no início eu pedi que eles escrevessem uma situação de conflito e como eles agiriam. E no final eu redistribuí as folhas e pedi que eles contassem diante da mesma situação com o que aprenderam no curso. Muitos contaram até que, nesse ínterim, já tinham agido de maneira diferente inclusive em casa, com os filhos. O GLOBO: Você vai às comunidades? Conversa com os moradores para saber como anda, de fato, a relação com esse novo momento? GABRIELA ASMAR: Vou sim. Uma vez, em conversa com uma pessoa idosa, ela disse que viveu num tempo em que o tráfico ali era visto com vergonha, as pessoas não queriam andar armadas, não gostavam disso. Houve uma transição, sobretudo um rejuvenescimento das pessoas envolvidas com o crime, onde ocupar esse espaço do traficante começou a trazer um status. Foi quando a violência passou a ser regra, não exceção. Hoje, com as comunidades pacificadas, as crianças já dizem que não querem ser traficantes, querem ter outra vida.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

História da Mediação

1.1 – Mediação: Educação para a paz 10

1.2 – Princípios éticos 20

CAPÍTULO II

Mediação empresarial 23

2.1 – Mediação empresarial 24

2.2 – Mediação intra-organizacional 25

2.3- Mediação na área do meio ambiente 26

2.4 – Mediação trabalhista 27

CAPÍTULO III

Mediação no setor Petrolífero

3.1 – Mediação nos impactos ambientais petróleo/gás 34

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39

ANEXOS 41

ÍNDICE 47