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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA PONTOS INCONGRUENTES DA EDUCAÇÃO NA ESCOLA PÚBLICA DA CONTEMPORANEIDADE Por: Pablo de Souza Pimentel Orientador Prof. Marcelo Saldanha NITERÓI 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · programa de política educacional amplo e integrado lança o Manifesto dos Pioneiros da ... 2 turmas do Programa Autonomia no turno

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

PONTOS INCONGRUENTES DA EDUCAÇÃO NA ESCOLA PÚBLICA DA CONTEMPORANEIDADE

Por: Pablo de Souza Pimentel

Orientador

Prof. Marcelo Saldanha

NITERÓI

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

PONTOS INCONGRUENTES DA EDUCAÇÃO NA ESCOLA PÚBLICA DA CONTEMPORANEIDADE

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como

requisito parcial para obtenção do grau de especialista em

Administração e Supervisão Escolar.

Por: Pablo de Souza Pimentel

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AGRADECIMENTOS

“A todos que direta ou indiretamente

colaboraram para da realização deste

trabalho”.

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DEDICATÓRIA

“É fundamental diminuir a distância entre o que

se diz e o que se faz, de tal forma que, num

dado momento, a tua fala seja a tua prática”.

Paulo Freire

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RESUMO

Desde que o ensino e a aprendizagem passaram a ser planejados e formalizados,

eles sofreram muitas transformações. Nesse sentido, o presente estudo discorrerá

sobre a história da educação no Brasil, assim como, trará à luz um apanhado geral de

pontos pertinentes e incongruentes dessa mesma história, limitando-se a discorrer

sobre algumas diretrizes, tais como: tendências pedagógicas, sujeito crítico x sujeito

alienado; Projeto Político-Pedagógico; dualismo escolar; teoria da curvatura da vara;

etc.

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METODOLOGIA

A fim de enriquecer e subsidiar o tema proposto, fez-se necessário utilizar a

pesquisa bibliográfica em livros, bem como outros artigos e sites disponibilizados nos

meios eletrônicos. Buscou-se também consultar sites específicos, como o site do

Ministério da Educação, onde consta a publicação de toda a legislação educacional,

que é de fundamental importância para o tema em questão.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO 1 - A Instituição 11

CAPÍTULO 2 - As Tendências Pedagógicas 13

2.1 - Pedagogia Liberal Tradicional 14

2.2 - Pedagogia Liberal Renovada Progressista 14

2.3 - Pedagogia Liberal Renovada Não-diretiva 15

2.4 - Pedagogia Liberal Tecnicista 16

2.5 - Pedagogia Progressista Libertadora 16

2.6 - Pedagogia Libertadora Libertária 18

2.7 - Pedagogia Libertadora Crítico-social dos Conteúdos 19

CAPÍTULO 3 - Pontos de Incongruência 20

3.1 - Dualismo Escolar 20

3.2 - Sujeito Crítico x Sujeito Alienado 23

3.3 - Projeto Político-Pedagógico 25

3.3.1 - Avaliação 26

3.3.2 - Organização da sala de aula 29

3.3.3 - Infraestrutura 30

CAPÍTULO 4 - Teoria da Curvatura da Vara 33

CAPÍTULO 5 - Conclusão 36

CAPÍTULO 6 - Bibliografia 37

6.1 - Livros 37

6.2 - Sites 37

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INTRODUÇÃO

A História da Educação Brasileira

O primeiro capítulo deste trabalho fará um apanhado geral sobre a história da

educação brasileira a fim de situar o leitor a respeito de possíveis transformações que

permeiam a educação até os dias de hoje.

A educação no Brasil acontece efetivamente com a chegada dos jesuítas em

1549. Nesse momento, o ensino público se dá na colônia e é constituído por filhos de

índios, órfãos portugueses e, mais adiante, por filhos de proprietários de fazendas de

gado e engenhos de cana-de-açúcar.

Logo em seguida, surge então, o colégio de primeiras letras e o colégio de

formação de sacerdotes, uma vez que os jesuítas já estavam no Brasil e tinham o

propósito de cuidar da educação e difundir a sua religião. Porém, por conta de outros

interesses, o governo de Portugal impunha algumas medidas que cerceavam a

emancipação intelectual e não permitia a criação de universidades. Por esse motivo, a

educação jesuítica ficou restrita apenas ao processo de alfabetização.

Este método funcionou absoluto durante 210 anos, de 1549 a 1759, quando uma

nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por

Marquês de Pombal, político português e verdadeiro dirigente do país, durante o

reinado de José I. Com a expulsão dos jesuítas, alguns estabelecimentos de ensino

deixaram de existir, pois o objetivo das escolas pombalinas era fazer com que as

escolas que serviam exclusivamente aos interesses da fé passassem, então, a ser útil

aos interesses do Estado. A partir daí, surge a implantação do ensino oficial, os

professores passam a ser nomeados pela Coroa e recebem seus subsídios literários.

Outra medida adotada por ele foi o sistema de aulas régias, diz-se das aulas que

compreendiam o estudo das humanidades, sendo pertencentes ao Estado e não mais

restritas à Igreja.

Mais adiante, já no período da Educação no Império, alguns fatos históricos

contribuíram com a estruturação do cenário sóciopolítico no Brasil, são eles: o

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Capitalismo Industrial, com a Revolução Industrial no século XVIII e depois, no século

XIX, a chegada da Família Real no Brasil, a ruptura do Pacto Colonial, a Constituição

de 1823, etc.

Já no século XIX, o ensino passa a ser dividido em elementar, secundário e

superior. No ensino elementar, na Assembleia Constituinte (1823), surge o Sistema

Nacional de Instrução Pública, que nada mais é do que um sistema nacional de

educação.

Em 1824, houve uma outorga de uma Constituição e alguns objetivos do Sistema

Nacional da Instrução Pública não foram executados. Porém, alguns ítens puderam

ser levados adiante. São eles, o princípio da liberdade de ensino sem restrições e a

intenção de uma instrução primária gratuita, isto é, há o comprometimento do Estado

em oferecer o ensino primário.

Poucos anos à frente, em 1930, surge o Ministério da Educação que, até então,

desenvolvia atividades ligadas a vários ministérios, dentre eles, saúde, esporte e meio

ambiente. Naquela época, assuntos pertinentes à educação eram tratados pelo

Departamento Nacional do Ensino.

Em 1932, um grupo de intelectuais conceituado e preocupado em elaborar um

programa de política educacional amplo e integrado lança o Manifesto dos Pioneiros da

Educação Nova, que objetivava organizar um plano geral de educação que

verdadeiramente estivesse condizente com a bandeira de uma escola única, pública,

laica, obrigatória e gratuita. Alguns desses educadores são Fernando de Azevedo,

Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Francisco Campos. Contudo, somente em 1934, com

a nova Constituição Federal, que a educação passou a ser vista como um direito de

todos.

Não menos importante, entre os anos de 1934/1935, o então ministro da

Educação e Saúde Pública, Gustavo Capanema Filho, promoveu uma gestão marcada

pela reforma dos ensinos secundário e universitário. Ele empreendeu algumas

reformas nas leis orgânicas de ensino. Isto é, regulamentava a reforma do ensino

primário; introduziu o ensino supletivo de dois anos, que visava eliminar o

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anafalbetismo da sociedade brasileira na época; estruturou o curso de formação de

professores; etc.

Nesse mesmo ano, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que define e

regulariza o sistema de educação brasileiro com base nos princípios presentes na

Constituição, foi citada pela primeira vez na Constituição. Já o primeiro projeto de lei foi

encaminhado pelo Poder Executivo ao Legislativo em 1948, e levou treze anos de

debates até o texto chegar à sua versão final. Sendo assim, a primeira LDB foi

publicada em 20 de dezembro de 1961 pelo presidente João Goulart, seguida por outra

versão em 1971, em pleno regime militar, que vigorou até a promulgação da mais

recente em 1996.

Não menos importante, já no ano de 2015, mais precisamente no dia dezenove

de março deste mesmo ano, a LDB passou por uma última atualização que poderá ser

facilmente encontrada no sítio1 da câmara legislativa.

1 http://www2.camara.leg.br/documentos-e-pesquisa/publicacoes/edicoes/paginas-individuais-dos-livros/lei-de-diretrizes-e-

bases-da-educacao-nacional.

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1 – A Instituição

A fim de corroborar com o estudo que está sendo desenvolvido, faz-se necessário

situar o leitor sobre a instituição que será mencionada algumas vezes ao longo deste

trabalho.

A Escola Estadual Pinto Lima foi criada em 1918, como Grupo Escolar Pinto Lima.

Regularizado através do Ato de Criação do Poder Executivo de 15 de setembro de

1918 e transformado em Escola Estadual através do Decreto nº 2027 de 10 de agosto

de 1978, devido à implantação do Ensino de Jovens e Adultos, no nível médio.

A escola recebe o nome de Pinto Lima em homenagem ao Barão de Pinto Lima

(Barão por gentileza), nascido em 1832 e que foi o oitavo Presidente do Estado do Rio

de Janeiro.

O espaço interno da escola é dividido da seguinte forma:

→Térreo: Sala da Direção, Secretaria, Departamento de Pessoal, Sala de

Arquivo (documentação de transferência de alunos e funcionários inativos), Sala da

Banda (guarda os instrumentos), Sala de Educação Física (guarda materiais

esportivos), Sala de Recursos (atendimento aos alunos com necessidades

educacionais especiais), 02 Banheiros Femininos (sendo 01 destinado aos alunos com

necessidades educacionais especiais), 02 Banheiros Masculinos (sendo 01 destinado

aos alunos com necessidades educaionais especiais), Refeitório, Cozinha com

dispensa, 01 Quadra de Esportes, Pátio e 01 Rampa (para alunos cadeirantes).

→ Primeiro andar: Sala dos Professores conjugada com a sala da Coordenação

Pedagógica e Orientação Educacional.

→ Segundo andar: Biblioteca, salas de aula (sendo 2 destinadas ao Programa

Autonomia e 1 ao Mais Educação), almoxarifado e Sala de Multimídia.

A escola funciona nos três turnos, oferecendo turmas do ensino regular nos

turnos da manhã e tarde, sendo as turmas de ensino médio oferecidas apenas no 1º

turno, 2 turmas do Programa Autonomia no turno da tarde e turmas da modalidade EJA

e Nova EJA no turno da noite. Sendo o horário organizado da seguinte forma:

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→ Primeiro Turno: 07:00 - 12:20

→ Segundo Turno: 13:00 - 18:20

→ Terceiro Turno: 18:20 - 22:30

A escolha por esta instituição se deu uma vez que tal proposta será analisada por

um docente que pertence ao grupo de funcionários desta unidade escolar.

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2 – As Tendências Pedagógicas

A medida que os estudos relativos à educação avançaram, novos métodos e

metodologias também ganharam novos adeptos. Nesse sentido, a maneira como esse

educador instruía seus educandos veio ao longo dos tempos sofrendo uma

reelaboração crítica, possibilitando um aprimoramento de sua prática educativa escolar

que visava atingir uma parte menos favorecida da sociedade. José Carlos Libâneo, a

esse respeito, nos diz que:

“Para tanto, é imperioso buscar uma pedagogia e uma didática

que, partindo da compreensão da educação na prática social

histórica e concreta, ajudem os professores no trabalho docente

com as camadas populares”. (2012, págs. 12 e 13)

Ademais, é preciso entender que o termo “tendência” não tem o sentido primeiro

que leva a deduzir o significado do vocábulo (Ex. moda, relacionada a maneira de nos

vestirmos). Esse mesmo termo aqui será utilizado como parte de uma ideia, que

assimilada por outros (diferentes homens em diferentes épocas), passa a compartilhá-

la, a fim de criar uma corrente de pensamento (modismos pedagógicos), que ao se

consolidar, torna-se, então, uma tendência. Por tanto, vejamos quais são essas

tendências pedagógicas, que são divididas em duas linhas de pensamento,

vivenciadas na educação brasileira.

A – Pedagogia Liberal

2.1 Tradicional

2.2 Renovada Progressivista

2.3 Renovada Não-diretiva

2.4 Tecnicista

B – Pedagogia Progressista

2.5 Libertadora

2.6 Libertária

2.7 Crítico-social dos Conteúdos

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Vale dizer que essas tendências não são puras em sua essência e nem

exclusivas. Primeiro porque, como o próprio Libâneo (2012) nos diz, as tendências não

conseguem captar toda riqueza da prática concreta. E depois, quando postas em

prática, não há como dizer onde uma termina e a outra começa.

2.1 – Pedagogia Liberal Tradicional

Nas palavras do professor Libâneo (2012), o termo liberal não tem o sentido de

“avançado”, “democrático”, “aberto”, como costuma ser usado. A tendência pedagógica

liberal parte do pressuposto de que as escolas têm como função principal preparar os

indivíduos para o desempenho de funções sociais, visto que o sitema, à época,

capitalista, visava defender interesses individuais de parte dessa sociedade.

Neste tipo de pedagogia, as diferentes classes sociais dos discentes não eram

levadas em conta. Todos, visto como par de igualdade, eram levados a atingir a

realização plena utilizando apenas seus esforços individuais. A relação entre professor-

aluno, os conteúdos aplicados em sala, bem como os procedimentos didáticos, não

tinham relação alguma com o cotidiano desse indivíduo.

Em relação ao exposto, Paulo Freire em seu livro Pedagogia do Oprimido:

Saberes Necessários à prática educativa, traz à luz a seguinte corroborativa:

“Wnão é possível à escola, se, na verdade, engajada na formação

de educandos educadores, alhear-se das condições sociais

culturais, econômicas de seus alunos, de suas famílias, de seus

vizinhos.” (2009. Pág. 63)

2.2 – Pedagogia Liberal Renovada Progressivista

Essa tendência surge como parte do processo de ruptura em relação à anterior.

Nesta proposta escolanovista2, os educandos aprendem a fazer fazendo. O processo

educacional deixa de ter o professor como centro das atenções. Aqui, a função da

2 O escolanovismo acredita que a educação é o exclusivo elemento verdadeiramente eficaz para a construção de uma sociedade

democrática, que leva em consideração as diversidades, respeitando a individualidade do sujeito, aptos a refletir sobre a sociedade e capaz de inserir-se nessa sociedade, então de acordo com alguns educadores, a educação escolarizada deveria ser sustentada no indivíduo integrado à democracia, o cidadão atuante e democrático.

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escola é a de propiciar uma reconstrução permanente, atrelando os conteúdos

ministrados à vida desses educandos.

Esta tendência está intrinsecamente ligada à aplicação de conteúdos que estejam

de acordo com o interesse do aluno. O discente é incentivado a ter uma postura ativa,

curiosa, motivada. A avaliação é somativa e formativa. Não tem como principal

característica a punição do aluno. O professor é visto como facilitador deste mesmo

processo. Ou seja, é mais importante o processo de aquisição do saber do que o saber

propriamente dito.

Libâneo nos diz que:

“Wa educação é um processo interno, não externo; ela parte das

necessidades e interesses individuais necessários para a

adaptação ao meio. A educação é a vida presente, e parte da

própria existência humana. A escola renovada propõe um ensino

que valorize a autoeducação (o aluno como sujeito do

conhecimento)” (2012, pág. 23)

2.3 – Pedagogia Liberal Renovada Não-diretiva

Este tipo de pedagogia tem seu foco voltado para formar um cidadão mais

participativo, no qual a educação tem o papel de oferecer um clima de

autodesenvolvimento e realização pessoal. Educação aqui é entendida como um

processo interno, não externo. Prepara o indivíduo para ocupar seu espaço na

sociedade com maior autonomia.

Neste tipo de escola, não há uma pedagogia própria definida, mas cabe ao

professor ser um facilitador, possibilitando um diálogo em que o indivíduo sinta-se à

vontade e queira buscar ainda mais conhecimento para sua formação pessoal e

interpessoal.

A esse respeito, Demerval Saviani detalha o tipo de indivíduo pertencente a

sociedade daquela época:

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“O marginalizado já não é, propriamente, o ignorante, mas o

rejeitado. Alguém está integrado não quando é ilustrado, mas

quando se sente aceito pelo grupo e, por meio dele, pela

sociedade em seu conjunto”. (2012, pág. 7)

Ainda como forma de complementar a citação anterior, Libâneo (2012) diz que a

educação é a vida presente, é parte da própria experiência humana.

2.4 – Pedagogia Liberal Tecnicista

A tendência liberal tecnicista surge em meados do século XX e tem a intenção de

implementar o modelo educacional vigente à época. Para tal, o tecnicismo busca

ensinar o aluno por meio do treinamento. Cabe a ele, receber, aprender e fixar esse

conteúdo.

Segundo Libâneo (2012), o essencial não é o conteúdo da realidade, mas as

técnicas (forma) de descoberta e aplicação.

E mais,

“À educação escolar compete organizar o processo de aquisição

de habilidades, atitudes e conhecimentos específicos, úteis e

necessários para que os indivíduos se integrem na máquina do

sistema social global” (2012, pág. 29)

Para este tipo de tendência, o conhecimento pertence ao campo da educação,

que está diretamente ligado aos especialistas. O papel da escola é repassar esse

conteúdo e aplicá-lo. Portanto, os conceitos a serem transmitidos já estão claramente

expostos nos manuais, apostilas, livros didáticos, etc. Fica a cargo do professor

assegurar a trasmissão/recepção dessas informações.

2.5 – Pedagogia Progressista Libertadora

A pedagogia progressista libertadora baseia-se nos conceitos do antiautoritarismo

e do desrepressor. Essa pedagogia também ficou conhecida como pedagogia de Paulo

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Freire, pois tem forte ligação com a educação em face à luta e à organização da classe

do oprimido. Esse tipo de proposta só faz sentido em uma prática social junto ao povo

e para o povo. Razão pela qual valorizam as modalidades de educação popular “não-

formal”.

A escola, segundo Libâneo, tem a função de mediatizar esse conhecimento. Isto é,

professores, educadores e demais membros engajados neste mesmo fim, objetivam

atrelar a realidade desse discente à conteúdos ditos “temas geradores”, que nada mais

são do que situações extraídas da prática de vida desses educandos.

Em consonância com a breve explanação anterior, Libâneo endossa:

“Tanto a educação tradicional, denominada “bancária” – que visa

apenas depositar informações sobre o aluno -, quanto a educação

renovada - que pretenderia uma libertação psicológica individual

– são domesticadoras, pois em nada contribuem para desvelar a

realidade social de opressão. A educação libertadora, ao

contrário, questiona concretamente a realidade das relações do

homem com a natureza e com os outros homens, visando uma

transformação – daí ser uma educação crítica”. (2012, pág. 35)

Já o autor Saviani avaliza que:

“A educação, como fator de equalização social, será um

instrumento de correção de marginalidade na medida em que

cumprir a função de ajustar, de adaptar os indivíduos à sociedade,

incutindo neles o sentimento de aceitação dos demais e pelos

demais”. (2012, pág. 8)

Em oposição à Pedagogia Libertadora, Libâneo, diz:

“Com efeito, a Pedagogia tradicional caracteriza-se por privilegiar

o polo da tradição constituída, no qual o saber é transmitido

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unilateralmente, sem possibilidade de se questionar seu sentido e

funçao diante das realidades sociais”. (2012, pág. 103)

Não menos importante, em relação ao método de ensino, o professor é levado a

caminhar junto ao aluno. Educador e Educando se posicionam como sujeitos do ato de

conhecimento. Em outras palavras, o docente se coloca em par de igualdade,

interferindo o mínimo possível no desenvolvimento da atividade, embora não se furte,

quando necessário, a fornecer uma informação mais sistematizada do processo.

2.6 – Pedagogia Progressista Libertária

Está pedagogia está vinculada ao 3anarquismo. Ou seja, a ordem é estipulada por

grupos onde não há o domínio direto do Estado na sociedade. Por esse motivo, a

escola caracteriza-se como uma escola autogestionária. Em outras palavras, com esta

proposta, espera-se que a escola exerça uma transformação na personalidade dos

alunos num sentido autogestionário.

Libâneo define tal metodologia:

“Wpretende ser uma forma de resistência contra a burocracia

como instrumento da ação dominadora do Estado, que tudo

controla (professores, programas, provas, etc.), retirando a

autonomia”. (2012, págs. 37 e 38)

Em relação aos conteúdos, pode-se dizer que tais conteúdos são disponibilizados,

mas não exigidos. O mais importante é o conhecimento que resulta das experiências

vividas.

E é nesse mesmo momento que Projeto Pedagógico passa a ser chamado de

Projeto Político-Pedagógico. Projeto porque traz consigo ações concretas a executar

durante determinado período de tempo. Político por considerar o espaço escolar como

um espaço de formação de pessoas conscientes, responsáveis e críticas, que em

determinado momento terão que lidar não somente consigo, mas também

3 Diz-se do sistema político que defende a anarquia: sociedade constituída sem governo.

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coletivamente na sociedade, construindo o rumo que se deseja seguir e, não menos

importante, Pedagógico porque define e organiza atividades e projetos educativos

necessários ao processo de ensino e aprendizagem.

2.7 – Pedagogia Progressista Crítico-social dos Conteúdos

A proposta dessa pedagogia vai de encontro aos anseios do indivíduo em ter

acesso a conteúdos que estejam ligados à sua prática de vida. Há uma coerência entre

a teoria e a prática. Valoriza-se mais os conteúdos ligados diretamente à realidade

social dos educandos. Espera-se que o educando aprenda a lidar com as contradições

que possivelmente encontrarão no mundo quando adultos.

O professor atua como mediador, considerando o conhecimento prévio já

adquirido pelo aluno e, só após o entendimento entre ambos, é que passa, então, a

existir a aprendizagem significativa. Ou seja, a aprendizagem efetivamente acontece

quando o aluno consegue passar de uma visão fragmentada do todo para uma visão

mais clara e unificadora.

Nesse sentido, Freire afirma que:

“Wquanto mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as

razões de ser de porque estou sendo assim, mais me torno capaz

de mudar, de promover-me, no caso, do estado de curiosidade

ingênua para o de curiosidade epistemológica”. (2009, pág. 39)

Em suma, após perpassar pelo resumo de algumas características das propostas

pedagógicas comumente utilizadas por profissionais da educação, certamente esse

conhecimento reverberará no próximo capítulo deste trabalho. Pois, logo adiante, uma

comparação sucinta será trazida à luz a fim de constatar que alguns pontos

incongruentes ainda são prática comum.

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3 – Pontos de Incongruência

O presente capítulo ter por objetivo mostrar que uma tendência quando posta em

prática, ela não é exclusiva. Isto é, o que a torna passível de dizer se pertence a um

determinado grupo ou não é a junção de técnicas propostas, comportamentos, práticas

didáticas quem vai delimitá-la.

Outro ponto pertinente a ser apresentado está diretamente ligado ao fato de

perceber que não há coerência entre o que se espera e o trabalho que é efetivamente

desenvolvido. Espera-se ter um sujeito crítico, participativo, ciente e consciente do seu

papel enquanto parte pertencente de um determinado grupo, mas, em contrapartida,

ainda que inconscientemente, forma-se um sujeito alienado.

Outrossim, o primeiro ponto a ser observado versará sobre o dualismo escolar,

que embora tenha a nomenclatura pouco divulgada, faz-se saber que sua prática é

comum no sistema de ensino.

3.1 – Dualismo Escolar

Tal termo pode ser basicamente entendido, como avaliza Libâneo (2012), por

uma escola do conhecimento para os ricos, e uma escola do acolhimento social para

os pobres. Assim como para Saviani quando diz:

“Wé uma escola dividida em duas (e não mais do que duas)

grandes redes, as quais correspondem à divisão da sociedade

capitalista em duas classes fundamentais: a burguesia e o

proletariado”. (2012, pág. 24)

Esse dualismo está intimamente ligado aos preceitos expostos nos acordos

internacionais em torno do movimento Educação para Todos, cujo marco é a

Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em Jomtien, Tailândia, em

1990. Essa mesma Conferência produziu um documento histórico chamado de

Declaração Mundial da Conferência de Jomtien.

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Nos dias de hoje, torna-se clara a necessidade de um novo modelo de escola, de

novas práticas de funcionamento. Os objetivos expostos na declaração não condizem

com o que se quer para o educando. Privilegia-se a socialização e a convivência social,

colocando em segundo plano a apredizagem dos conteúdos.

Libâneo corrobora com a seguinte informação:

“Wo problema está na distorção dos objetivos da escola, ou seja,

a função de socialização passa a ter apenas o sentido de

convivência, de compartilhamento cultural, de práticas de valores

sociais, em detrimento do acesso à cultura e á ciência

acumuladas pela humanidade. Não por acaso, o termo igualdade

(direitos iguais para todos) é substituído por equidade (direitos

subordinados à diferença)”. (2012, pág. 23)

E mais,

“W a escola que sobrou para os pobres, caracterizada por suas

missões assistencial e acolhedora (incluídas na expressão

educação inclusive), transforma-se emu ma caricature de inclusão

social. As políticas de universalização do acesso acabam em

prejuízo de qualidade do ensino, pois, enquanto se apregoam

indíces de acesso à escola, agravam-se as desigualdades sociais

do acesso ao saber, inclusive dentro da escola, devido ao impacto

dos fatores intraescolares na apredizagem”. (2012, pág.23)

Enfim, percebe-se que, como o próprio subtítulo da Declaração diz: Plano de ação

para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem; há uma inversão de papeís:

o direito que o educando tem de ter uma educação consistente é substituído por

aprendizagens mínimas para a sobrevivência. Isto explica, inclusive, o comportamento

de alguns docentes em relação ao seu aperfeiçoamento profissional. Se a própria

escola exige apenas necessidades mínimas de aprendizagem, basta aprender algumas

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técnicas didáticas de sobrivência docente, facilmente encontradas nos livros didáticos

dos sistemas de ensino.

Nesse sentido, Freire sintetíza:

“Este saber, o da importância desses gestos que se multiplicam

diariamente nas tramas do espaço escolar, é algo sobre que

teríamos de refletir seriamente”. (2009, pág. 43)

Não menos importante, Saviani nos mostra que a escola é fruto de interesse de

alguns dominantes, logo, há dominados, que a torna incapaz de ter uma escola como

instrumento capaz de contribuir para a superação do problema da marginalidade.

“Wa escola é determinada socialmente; a sociedade em que

vivemos, fundada no modo de produção capitalista, é dividida em

classes com interesses opostos; portanto, a escola sofre a

determinação do conflito de interesses que caracteriza a

sociedade. Considerando-se que a classe dominante não tem

interesse na transformação histórica da escola (ela está

empenhada na preservação de seu domínio, portanto, apenas

acionará mecanismos de adaptação que evitem a transformação),

segue-se uma teoria crítica (que não seja reprodutivista) só

poderá ser formulada do ponto de vista dos interesses dos

dominados. (2012, pág. 30)

Libanêo corrobora com a seguinte afirmação:

“Não está nos planos dos governos a elevação da qualidade da

escola, porque não interessa à classe dominante a formação

cultural verdadeira que libertarian os indivíduos e possibilitaria a

tomada de consciência dos mecanismos de dominação

capitalista”. (2012, pág. 86)

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Em suma, após o exposto deste subitem é possível afirmar que, embora muito

tenha sido feito pela e em nome da educação, ainda há um longo caminho a ser

percorrido a fim de se ter uma educação pública de qualidade, de conhecimento, e não

puramente de acolhimento.

3.2 – Sujeito Crítico X Sujeito Alienado

Muito se ouve falar sobre sujeito crítico em oposição ao sujeito alienado ao que se

refere a que tipo de sujeito se espera formar em uma sociedade cada vez mais

analítica. E sobre esse sujeito, também está a figura do professor, que ocupa um

espaço igualmente importante na composição desse ser.

Em relação ao professor, espera-se que esteja, ao menos, preocupado com as

consequências de suas ações na prática social. À esse respeito, Freire (2009) deixa

claro que saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para

a sua própria produção ou a sua construção. Enquanto parte integrante na formação

desse educando, espera-se que se aperfeiçoe, que se esforçe para estar à altura de

sua tarefa. Freire pontua que:

“Wa educação é uma forma de intervenção no mundo.

Intervenção que além dos conhecimentos dos conteúdos bem ou

mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de

reprodução da ideologia dominante quanto o seu

desmascaramento”. (2009, pág. 98)

E que também:

“Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que,

por não poder ser neutral, minha prática exige de mim uma

definição. Uma tomada de posição. Decisão. Rupture. Exige de

mim que escolha entre isto e aquiloW sou professor a favor da

decência contra o despudor, a favor da Liberdade contra o

autoristarismoW” (2009, pág. 102)

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Já em relação aos dois primeiros tipos de sujeito, o crítico é aquele que está

ciente do seu papel enquanto cidadão, sabe da importância de suas escolhas, é aquele

que pergunta quando não entende, que possibilita o diálogo a fim de ter o

esclarecimento e um posicionamento sobre o assunto em questão. Cabe ainda dizer

que este mesmo ser não é crítico por se posicionar contra ou usar argumento

falaciosos e estereotipados, ou até mesmo por reproduzir recortes de discursos

ideológicos, mas por ter uma educação voltada para a construção do pensamento

crítico, que fará deste mesmo sujeito um ser autônomo e liberto.

A esse respeito, Vasconcellos afirma:

“Se queremos uma escola libertadora, é absolutamente decisivo

que os alunos assumam seu papel de sujeitos, que sejam

protagonistas do seu processo de educação, superando a longa

tradição da maquinaria escolar que tenta, de todas as formas,

ainda que com a melhor das boas intenções, reduzí-los a meros

“receptáculos””. (2013, pág. 77)

Ainda sobre estes mesmos alunos, Vasconcellos ressalta:

“o aluno deve ter preservado seu direito de participar da vida da

escola em todos os níveis: da sala de aula até o relacionamento

com a comunidade, da discussão da proposta de conteúdos à

elaboração do Projeto Político-Pedagógico, da elaboração das

normas de trabalho em sala de aula às normas de convivência da

escola, da prática didática cotidiana às decisões no conselho da

escola, etc.”. (2013, pág. 77)

Já em relação ao educando dito alienado é aquele que, enquanto parte

fundamental de seu processo de desenvolvimento, não se dá conta de que apenas

reproduz o que lhe é passado como verdade. Uma das definições para o termo

“alienação” dá conta de que é o estado de um povo forçado a abandonar seus valores

culturais para assumir os do colonizador.

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Ademais, tem relação direta com o fato de privar esse mesmo sujeito de sua

própria realidade, que anula e invalida o seu livre arbitrio. À esse respeito, cabe ao

professor se orientar e orientar melhor esse sujeito em plena construção. Freire alega

que:

“Ensinar não é transferir a inteligência do objeto ao educando mas

instigá-lo no sentido de que, como sujeito cognoscente, se torne

capaz de inteligir e comunicar inteligido”. (2009, pág. 119)

3.3 – Projeto Político-Pedagógico

O projeto político-pedagógico é o documento global interno de uma unidade

escolar, construído através da participação coletiva do corpo docente, coordenação e

direção. Esse mesmo documento fornece informações a cerca do planejamento,

métodos de avaliação, estrutura física da instituição, assim como o tipo de ação

educativa que se quer realizar, a partir de uma leitura da realidade.

Para Vasconcellos,

“O Projeto deve contemplar a reflexão em três dimensões

fundamentais: Análise da Realidade, Projeção de Finalidades e

Elaboração de Formas de Mediação (Plano de Ação).” (2013, pág.

19)

É pertinente salientar que o projeto político-pedagógico tem esse nome por uma

questão simples. Isto é, é projeto porque é constituído por etapas que devem ser

executadas em um determinado período de tempo. É político pois acontece em um

espaço onde ocorre a formação de cidadãos conscientes e críticos do seu papel na

sociedade, cidadãos esses que atuarão individual e coletivamente, alterando os rumos

que esta sociedade vai seguir. E, por último, é pedagógico porque lida diretamente com

os objetivos educativos necessários ao processo de ensino-aprendizagem.

Não menos importante, cabe ressaltar que, a fim de se ter um projeto bem

elaborado, é esperado que ele seja elaborado com embasamento teórico, aberto a

diferentes tipos de contribuições por parte do equipe diretiva, que tem por função ser o

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grande ele integrador e articulador dos segmentos internos e externos da escola e

corpo docente. Faz-se necessário ainda identificar quais são as reais necessidades de

se desenvolver tal proposta.

“O processo de planejamento, sem dúvida, é complexo. Porque

complexa é a realidade a ser transformada. Não é banalizando

esta complexidade que resolveremos os graves desafios

colocados aos educadores. O Projeto Político-Pedagógico na

linha do Planejamento Participativo é hoje, concretamente, uma

ferramenta téorico-metodológica de transformação da realidade

educacional, ou seja, é uma mediação que ajuda organizar e

expressar o desejado, o vivido, tomar consciência da distância

entre ambos, bem como diminuir essa distância.” (Vasconcellos,

pág. 49)

O Projeto Político-Pedagógico do CEPLIM foi elaborado com a participação da

equipe diretiva, coordenação pedagógica e corpo docente, levando em consideração

alguns tópicos considerados importantes. São eles:

3.3.1 – Avaliação

A avaliação na educação, de modo geral, tem o objetivo de avaliar a aquisição do

conhecimento em relação ao conteúdo explanado em sala de aula. É uma das

maneiras de averiguar se o conteúdo proposto foi efetivamente assimilado pelo aluno.

Cabe ressaltar que a avaliação não deve ser entendida como um meio de separar

os alunos bons dos alunos maus, ou ainda, eliminar àquele que, por algum motivo, não

se saiu bem em determinada etapa dessa avaliação. Vale dizer que a avaliação vai

além de prova ou teste, ela é parte fundamental de um processo contínuo que

acontece no decorrer das aulas, visando a correção de possíveis inadequações

referentes à aquisição dos objetivos propostos.

Existem também diversas maneiras de checar se o processo de ensino-

aprendizagem está efetivamente acontecendo, são elas: atividades de consultas,

atividades em duplas e/ou grupos, trabalhos e pesquisas, resoluções de soluções de

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problemas, etc. Essas são algumas das possibilidades que propiciam o diálogo e,

consequentemente, o redirecionamente desse educando à aprendizagem.

Em relação ao Currículo Mínimo 4 , que é vinculado ao site da Secretaria de

Educação 5 , há informações apenas referentes a habilidades e competências que

devem ser abordadas ao longo do bimestre. Porém, nada acrescenta em se tratando

de avaliação.

Já a LDB – Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional – traz a seguinte

informação na seção V - Artigo 35 – II, quando se refere à avaliação no Ensino Médio:

ü “adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa

dos estudantes;”

O que diz o Projeto Político-Pedagógico do colégio analisado:

• Instrumentos de avaliação

ü O professor deve empregar, no mínimo, três instrumentos diversificados

para verificar se as habilidades propostas em seu planejamento foram

desenvolvidas pelo aluno. A nota final deve ser resultado do somatório das

notas parciais referentes aos instrumentos de avaliação.

ü O professor dispõe da avaliação bimestral diagnóstica/SAERJINHO como

um de seus instrumentos permanentes de avaliação e acompanhamento,

ratificado pela Portaria SEEDUC/SUGEN Nº 316. Portanto, o SAERJINHO

é um dos instrumentos obrigatórios na composição da nota bimestral do

aluno nos níveis de ensino, anos/séries, disciplinas e bimestres em que o

mesmo é aplicado, fica definido que seu valor/nota pode atingir 2,0 (dois)

pontos e será conferido ao aluno mediante a correção dos cadernos de

provas pelos professores que lecionem as disciplinas contempladas nas

turmas que participam da avaliação, no caso da impossibilidade de

correção e como forma de incentivo à participação dos alunos será

conferida pontuação a ser definida pelo professor em função da realização

4 http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/curriculo_identificado.asp

5 http://www.rj.gov.br/web/seeduc

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do Saerjinho. A nota do aluno no Saerjinho deve ser registrada em Diário

de Classe ou outro instrumento indicado pela SEEDUC, como qualquer

outro instrumento de avaliação utilizado para compor a nota final do aluno.

ü Ao aluno que justificar ausência no dia de aplicação da prova do

SAERJINHO, caberá ao professor a elaboração, definição de peso/nota e

aplicação de um outro instrumento com vistas a compor a nota bimestral do

aluno, procedimento comum para os outros instrumentos de avaliação e,

naturalmente, já adotado pelos professores e Unidades Escolares. Como o

SAERJINHO só é aplicado nos três primeiros bimestres, caberá, ainda, ao

professor definir o instrumento de avaliação referente ao 4°bimestre, em

substituição ao SAERJINHO.

ü A realização, participação e apresentação de trabalhos em projetos e feiras

desenvolvidas na escola também constituem instrumento de avaliação da

parte diversificada do currículo, sendo a avaliação realizada por grupos de

professores durante a culminância do projeto e a nota utilizada em todas as

disciplinas.

Não menos importante, em relação ao CEPLIM e demais escolas públicas da

rede, é prática comum solicitar ao professor no mínimo três atividades que devem ser

somadas e pontuadas ao fim do bimestre, de modo que esse educando atinja a média

mínima de 5,0 pontos. Essa característica vai contra ao que deve ser entendido por

avaliação, pois prioriza apenas o resultado e não o processo. Dessa forma o sistema

acaba priorizando o aprendizado em prol de ser avaliado em algum momento pela

instituição.

O que diz o Projeto Político-Pedagógico em relação às avaliações dos alunos com

necessidades educacionais especiais:

• Pressupostos de inclusão

ü A avaliação dos discentes com necessidades educacionais especiais deve levar em conta as potencialidades e as possibilidades de cada indivíduo.

ü A Equipe Pedagógica deverá realizar adaptações curriculares, utilizando recursos didáticos diversificados e processos de avaliação adequados ao desenvolvimento dos discentes com necessidades educacionais especiais e

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pressupostos inclusivos, sob a orientação dos Núcleos de Apoio Pedagógico Especializados, respeitada a frequência obrigatória.

Mais uma vez é possível perceber que o discurso não condiz com a realidade

vivenciada diariamente pelo corpo docente. É prática comum dos professores da rede

Estadual de Ensino entrar em sala de aula sem ter ao menos um pilot para escrever no

quadro. E outra, não há como utilizar recursos didáticos diversificados, uma vez que o

próprio colégio não dispõe de uma copiadora para rodar as atividades elaboradas, de

uma sala de informática equipada e funcionando plenamente, de acesso à internet para

ser utilizada como fonte ampla de pequisa, dentre outros.

Em suma, embora seja prática comum endender avaliação = prova, espera-se

que em algum momento ela seja entendida não apenas como notas, mas como registro

de acompanhamento da progressão acadêmica desse aluno. Ademais, dessa forma

será possível também desenvolver nesse educando uma noção de responsabilidade e

postura crítica, propiciando uma educação dialógica, baseada na construção do

conhecimento.

3.3.2 – Organização da Sala de Aula

A priori, falou-se sobre as tendências pedagógicas, o projeto político-pedagógico,

a avalição, etc., porém, quando se pensa na organização de uma sala de aula nos

moldes atuais, é estranho pensar que o modelo da sala de aula tradicional ainda é

predominante nas escolas brasileiras.

A sala de aula é, por excelência, o espaço de formação tanto do educador quanto

do educando. É nesse espaço que ocorre a interação mútua, pois ambos são

imprescindíveis no processo de ensino-aprendizagem. Já a maneira como esse espaço

será construído está estritamente ligada ao tipo de gestão escolar e a proposta

pedagógica adotadas pela instituição.

À época, quando do surgimento da escola ainda sobre os moldes tradicionais, o

conhecimento se dava do que sabia mais para o que sabia menos. O aluno era mero

depósito à espera dos conteúdos que o professor poderia lhe oferecer. Porém, com o

avanço dos estudos relativos à educação, é sabido que o espaço físico influi no

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interesse e na motivação dos alunos, possibilitando um processo de aprendizagem

mais abrangente.

Sobre o papel do espaço escolar, Zabala afirma:

“Se a utilização do espaço tem sido o resultado de uma maneira

de entender o ensino, tanto em relação à função social como à

compreensão dos processos de aprendizagem, certamente uma

mudança nestes elementos levaria a uma reconsideração das

características que deveriam ter de acordo com outras opções do

ensino”. (1998, p. 130).

A sala de aula tradicional é estruturada como uma série de cadeiras e mesas

postas de duas em duas, ou individualmente em alguns casos, e de frente para o

quadro-negro, onde exatamente está a figura do professor. Esse tipo de organização

tende a manter a disciplina por parte dos alunos, mas, por outro lado, transmite a ideia

de um ensino centrado no professor que possui o controle da turma e, dificilmente,

propiciará a troca entre os aprendentes.

Logo, mais uma vez, fica claro que o discurso que se tem não condiz com a

prática que se espera. Já que se quer um sujeito crítico, reflexivo, é preciso que haja

uma interação e toda interação supõe relação entre sujeitos. E para estabelecer essas

relações é preciso tomar decisões, atuar e promover mudanças dentro desse espaço

chamado sala de aula.

3.3.3 – Infraestrutura

Assim como foi falado anteriormente sobre a maneira como as carteiras são

organizadas no mesmo ambiente influencia a aquisição de um novo saber, o mesmo

acontece com o ambiente destinado a esses alunos.

O MEC – Ministério da Educação disponibiliza um documento 6 chamado de

Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil, elaborado

por um grupo que desenvolve projetos relacionados à qualidade dos ambientes

6 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/miolo_infraestr.pdf

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escolares, priorizando as relações que ocorrem entre o espaço físcio, o projeto

pedagógico e o desenvolvimento da criança, além da sua adequação ao meio ambiente.

O presente trabalho menciona ainda acreditar que ambientes variados propiciam

diferentes tipos de interações e sugere algumas propostas aos dirigentes municipais de

educação, tais como: criar uma equipe multidisciplinar para a definição de diretrizes de

construção e reforma das unidades de Educação Infantil; considerar critérios de

qualidade para a relização das obras em seus vários aspectos: técnicos, funcionais,

estéticos e compositivos, entre outros.

Em contrapartida, na maioria das escolas públicas e, principalmente, na escola

supracitada, algumas dessas características estão muito a quem da realidade que se

espera. Uma escola com uma infraestrutura inadequada pode criar no educando um

quadro mental de desvalorização de si, do espaço físico propriamente dito e, inclusive,

causar uma sensação de abandono pelo Estado.

No CEPLIM, por exemplo, a rampa de acesso destinada aos educandos com

necessidades educacionais especiais só leva até o primeiro andar. Porém, os alunos

do último ano, ou seja, terceiro ano do Esnino Médio, que, por conta de uma

organização realizada no início do ano letivo, deveria ficar em uma das últimas salas

localizada no segundo andar. Por não haver o acesso necessário, a turma foi

novamente realocada em uma sala onde uma aluna cadeirante pudesse ter acesso.

Por conta da falta de estrutura, a aluna não consegue ter acesso à sala de multimidia, à

biblioteca e só tem acesso ao único toalete adptado, que está localizado no térreo.

Ainda como meio de complementar a informação e trazer à luz outro exemplo,

especificamente, nesta escola, apenas o primeiro andar possui aparelhos de ar-

condicionado. Todo o andar superior dispõe de ventiladores de teto, porém, apenas

alguns funcionam adequadamente.

No trecho mencionado acima, fica claro que há uma discrepância se comparado

ao artigo disponibilizado na LDB 9394/96, que diz:

ü Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a

modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede

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regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do

desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.

ü Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com

deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou

superdotação:

I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização

específicos, para atender às suas necessidades;

Enfim, o que se pretende com os exemplos citados acima é verdadeiramente

mostrar que o ambiente escolar também é parte fundamental no processo de ensino-

aprendizagem. É um meio de convívio social que possibilita integração entre as

pessoas. Portanto, há de se ter um ambiente propício, estimulante, que promova um

espaço organizado de modo que atenda as necessidades sociais, cognitivas e motoras

do aluno. Do contrário, estudar em um local com condições adversas pode

desestimular e contribuir para o afastamento do aluno da escola ou ainda tornar-se um

ambiente sem a menor chance de promover algum tipo de atividade produtiva.

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4 – Teoria da Curvatura da Vara

O presente capítulo foi aqui incluído a fim de apresentar os lados opostos da

mesma moeda, por moeda subentende-se “educação”, pois falou-se em Pedagogia

Liberal e Progressista, quando, na verdade, uma não deve se justificar em oposição a

outra. E mais, há de se entender que se deve ir muito além de tendências para que o

processo educacional realmente colabore com a formação dos indivíduos. É preciso

que se entenda de uma vez por todas que, aquilo que por Saviani foi chamado de

Educação Compensatória: educação que cumpre sua função equalizadora, que

compreende um conjunto de programas destinados a compensar deficiências de

diferentes ordens, sejam elas de saúde e nutrição, familiares, emotivas, cognitivas,

motoras, linguísticas, etc., embora esses problemas sejam colocados sob a

responsabilidade direta da educação, eles não são de ordem educacional, isto é,

mesmo como todo avanço no campo da educação, ainda se pratica a ideia central

contida no Dualismo Escolar, que persiste da crença ingênua no poder redentor da

educação em relação à sociedade.

Saviani, nesse contexto, nos diz ainda que:

“Evitemos escorregar para uma posição idealista e voluntarista...

a escola é determinada socialmente; a sociedade que vivemos,

fundada no modo de produção capitalista, é dividida em classes

com interesses opostos; portanto, a escola sofre a determinação

do conflito de interesses que caracteriza a sociedade.

Considerando-se que a classe dominante não tem interesse na

transformação histórica da escola (ela está empenhada na

preservação de seu domínio, portanto, apenas acionará

mecanismos de adaptação que evitem a transformação), segue-

se uma teoria crítica (que não seja reprodutivista) só poderá ser

formulada do ponto de vista dos interesses dos dominados.”

(2012. pág. 30)

Ainda como meio de situar o leitor sobre a teoria da curvatura da vara, observe o

desenrolar dos próximos parágrafos.

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Há algum tempo atrás, já na época moderna, a burguesia já possuía uma

dominação não natural, mas histórica, que coincidia com os seus interesses de

transformação. A nobreza usufruía de privilégios que não eram naturais e sim sociais,

privilégios esses que por si só já configuravam desigualdade, injustiça. É a partir de

meados do século XIX que essa mesma classe dominante instrui a escolarização para

todos. Em outras palavras, era um meio de transformar os homens que, até então,

viviam na condição de servos, em cidadãos e, uma vez cidadão, poderiam participar do

processo político, consolidando a ordem democrática.

A medida que a história evolui, a burguesia deixa de ser uma classe em ascensão

e passa a ser uma classe consolidada no poder, que não mais possui interesses

voltados para a transformação da sociedade; ao contrário, seus interesses agora

coincidem com a perpetuação dessa sociedade no poder. Nesse momento, já não se

considera mais que todos os homens sejam essencialmente iguais; aqui, a classe

dominante diz que os homens são essencialmente diferentes e que essas diferenças

devem ser respeitadas. Considera-se que alguns possuem mais capacidades do que

os outros. Saviani afirma que:

“É nesse sentido que ela já não está mais na linha do

desenvolvimento histórico, mas está contra a história. A história

volta-se contra os interesses da burguesia. Então, para a

burguesia defender seus interesses, ela não tem outra saída

senão negar a história, passando a reagir contra o movimento da

história. ” (2012, pág. 40)

E mais,

“...a burguesia faz, ao defender a oposição que corresponde aos

seus interesses, é contrapô-la ao momento anterior. Assim, no

caso da pedagogia da existência e da essência, a burguesia

constrói os argumentos que defendem a pedagogia da existência

contra a pedagogia da essência, pintando esta última como algo

tipicamente medieval. ” (2012, pág. 42)

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Em outras palavras, o autor nos mostra que sempre ocorreu na história da

humanidade a luta pelo poder, por um lugar de destaque ocupado por poucos na

sociedade. Isto é, um grupo menor que detêm certo poder ou posição de destaque,

aliados a outros que possuem os mesmos interesses, se une de maneira que o povo

não tenha condições de participar de questões que afetam diretamente suas vidas. E

mais, o autor deixa claro que a pedagogia da existência, conhecida como pedagogia

nova, só existe em oposição à pedagogia da essência, ou seja, a pedagogia tradicional.

Para ele, esses procedimentos democráticos dentro da proposta de uma escola nova

não beneficiaram os homens do povo, que continuaram a ser educados basicamente

segundo o método tradicional, à revelia dos métodos novos. E ainda:

“É nesse sentido que o raciocínio habitual tende a ser o seguinte:

as pedagogias novas são as portadoras de todas as virtudes,

enquanto a pedagogia tradicional é portadora de todos os defeitos

e de nenhuma virtude.” (2012, pág. 57)

Não menos importante, Saviani diz que não é identificando-se com um dos lados

que se chegará a um consenso. É preciso questionar, entender os pontos pertinentes

em ambos os métodos, ou seja, curvar a vara para ambos os lados, a fim de se obter o

melhor de cada um deles e, então, colocá-los em prática através de propostas que,

efetivamente, provoquem mudanças.

Por último, sobre a teoria da curvatura da vara, ele define que: quando a vara está

torta, ela fica curva de um lado e se você quiser endireita-la, não basta colocá-la na

posição correta. É preciso curvá-la para o lado aposto. Ou seja, o mesmo pode ser

entendido no embate do campo ideológico, não basta se valer de uma concepção dita

correta para que os desajustes sejam corrigidos; é preciso abalar as certezas,

desestabilizar o senso comum. E para isso nada melhor do que demonstrar a falsidade

daquilo que é tido como obviamente verdadeiro, demonstrando ao mesmo tempo a

verdade daquilo que é tido como obviamente falso.

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5 – Conclusão

Diante dos pontos abordados ao longo do trabalho proposto, conclui-se que,

embora a tendência tradicional tenha uma abordagem mais voltada para aquisição de

conteúdo através da repetição e da memorização de temas que preparam o indivíduo

para fins específicos e, em contrapartida, a Escola Nova que promove um saber que

tem como finalidade transformar um aprendente em formação em um cidadão livre,

preparado para verdadeiramente viver em uma sociedade pluralista e democrática e

sujeito a adaptar-se às sucessivas mudanças decorrentes do meio que o cerca, faz-se

necessário entender que, assim como Saviani explana sobre a teoria da curvatura da

vara, é preciso que se tenha um ponto de equilíbrio, que esse sujeito seja naturalmente

imbuído de um conhecimento profundo acerca das mudanças que, enquanto cidadão, é

capaz de realizar.

Ainda como meio de agregar a proposta desenvolvida, é de fundamental

importância pôr todo conhecimento adquirido em prática e, verdadeiramente, fazer

acontecer, de modo que se tenha uma estrutura de educação consistente e real. De

outro modo, uma educação cujo alicerce não está planejado adequadamente,

certamente não se sustentará por muito tempo e será maquiada por aqueles que

exercem os podres poderes.

Não menos importante, a Educação não deve ser entendida como algo pronto,

acabado, que deve apenas ser apropriado. Ela deve de fato ser adequada à

necessidade real de um grupo social. O novo deve ser descoberto e construído com a

participação ativa de cada indivíduo.

Por último, é esperado que, após a leitura do trabalho proposto, o leitor possa ao

menos ser levado a refletir e repensar sua prática, mesmo que esta não faça parte de

sua realidade diária. O que chamam de escola, não seria escola se cada um de nós,

em algum momento, não tivesse passado por lá.

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6 - Bibliografia

6.1 - Livros

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa.

São Paulo: Paz e Terra. 40º edição. 2009.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra. 56º edição. 2014.

LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública: A pedagogia crítico-

social dos conteúdos. São Paulo: Edições Loyola. 27º edição. 2012.

LIBÂNEO, José Carlos. O dualismo perverso da escola pública brasileira: escola do

conhecimento para os ricos, escola do acolhimento social para os pobres. Educação e

Pesquisa, São Paulo, v.38, n.1, p. 13-28, 2012.

SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia. Campinas: Autores Associados. 42º

edição. 2012.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Coordenação do Trabalho Pedagógico: Do projeto

político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad. 15º edição.

2013.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

6.2 - Sites

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