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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA “O papel do Orientador Educacional na supressão do preconceito no ensino de História e da Cultura afro-brasileiras” ADRIANA CORCINO LAMÔNICA Orientador: FLAVIA CAVALCANTI Rio de Janeiro, RJ - BRASIL FEVEREIRO DE 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · ... (CAMINHA,1500). O achamento da terra dos papagaios não ... deram conta em toda a Europa das riquezas ... carta do capitão-mor

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

“O papel do Orientador Educacional na supressão do preconceito no ensino

de História e da Cultura afro-brasileiras”

ADRIANA CORCINO LAMÔNICA

Orientador: FLAVIA CAVALCANTI

Rio de Janeiro, RJ - BRASIL

FEVEREIRO DE 2014

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA “O papel do Orientador Educacional na supressão do preconceito no ensino

de História e da Cultura afro-brasileiras”

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como

requisito parcial para obtenção do grau de especialista em

Orientação Educacional

Por: Adriana Corcino Lamônica

3

Agradeço a minha mãe, meu esposo e aos amigos

pelo apoio e compreensão na elaboração deste

trabalho.

4

Dedico este trabalho à Deus por conceder-me força

para poder continuar nos momentos em que deseja

desistir.

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RESUMO

O Presente ensaio visa traçar um esboço da trajetória educacional do negro no

Brasil desde sua chegada até a implantação da Lei 10.639 de 2003. Esta abordagem

tem como objetivo geral promover uma mediação significativa no ensino de História e da

Cultura afro-brasileiras nas Instituições educacionais, buscou-se a partir de pesquisa

bibliográfica as causas históricas do preconceito racial. O trabalho propõe uma reflexão

acerca dos eventos que levaram a segregação racial de uma grande parcela dos

brasileiros, assim como o surgimento de um profissional que fosse comprometido com o

Outro.

Cabe ao Orientador Educacional o papel de mediar e equilibrar as relações, entre a

comunidade, a escola e os alunos, contribuindo de forma significativa para a

preservação da riqueza cultural brasileira e a construção de uma sociedade mais

igualitária.

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METODOLOGIA

A metodologia usada terá uma abordagem dialética dentro de um estudo

bibliográfico, fonte de pesquisa na legislação vigente, em artigos publicados em revistas,

em livros e apostilas pertinentes ao assunto.

.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – A História 10

CAPÍTULO ll – A Educação

CAPÍTULO llI – Ressignificando Paradigmas 25

CONCLUSÃO 32

BIBLIOGRAFIA 33

ÍNDICE 39

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INTRODUÇÃO A Carta Magna do Brasil, a Constituição, determina em seu complexo de leis sociais

(...) assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a iberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social (...). (BRASIL, 1988, Preâmbulo.1)

Ratifica com austeridade o alicerce para a construção de uma sociedade pluralista e

multicultural embasada nos direitos básicos do homem, expressos na Declaração Universal

dos Direitos Humanos. Salienta a tolerância às diferenças e repúdio a quaisquer formas de

discriminação dado a um individuo devido a suas convicções religiosas, sua conduta

sexual ou por sua etnia.

Na Educação a Constituição outorga através da LDB - Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional Nº 9394/96 a incumbência de organizar a vida educacional,

destacando as diversidades e suas especificidades, valorizando o respeito ao outro e suas

manifestações culturais, patrocinando a interação entre o Estado e a sociedade na

construção de um currículo educacional mais humanista.

A globalização possibilitou a integração de várias culturas, todavia contribui para o

enraizamento de ideias eurocêntricas. Há todos os momentos os meios de comunicação,

de forma explicita, apontam as características físicas ideais de uma sociedade saudável;

crianças angelicais com traços finos, pele clara e suave tem seus atributos físicos

associados à felicidade, excluindo assim os que não fazem parte desse seleto grupo.

O Brasil por essência define-se em mestiçagem, nem o viril colonizador português

que por essas terras aportaram em meados de 1500 eram considerados de sangue puro,

as experiências no continente africano temperaram o sangue europeu com um pouco de

malemolência.

Estudos realizados em todo país apontam a dificuldade ou timidez que uma grande

parcela de alunos tem em reconhecer sua origem étnica. Uma das razões para esta

depreciação está na carência de referencias afirmativa na história dos negros no Brasil.

Esta mazela histórica persiste devido à negação de muitos profissionais da área de

educação em reconhecer a participação do negro na construção de nossa sociedade.

O presente ensaio visa contribuir para uma reflexão acerca do preconceito que

impera nas Instituições de ensino quando a temática é a história e cultura afro-brasileira,

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que só ressaltam a importância da herança africana no mês de Novembro quando ocorre o

feriado de 20 de Novembro “Dia da Consciência Negra”.

Denominado “O papel do Orientador Educacional na supressão do preconceito no

ensino de História e da Cultura afro-brasileiras”, o trabalho examina a historicização do

Brasil e a trajetória do negro no sistema educacional.

Os capítulos são distribuídos entre apresentação dos personagens envolvidos, a

construção da ideologia da inferioridade do negro assim como sua incapacidade intelectual

e o sistema educacional com a negação da existência do preconceito com sua ideologia

eurocêntrica. A pesquisa será teórica, baseada em fontes bibliográficas, através de livros,

artigos e materiais pertinentes ao assunto.

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1 O achamento do Brasil e seus habitantes

Não obstante a vulgo História do Brasil completou no ano de 2000 o quinto

centenário. O Estado e a mídia deram ênfase ao ano do "Descobrimento do Brasil",

através de campanhas direcionadas ao público em geral, ressaltaram o quanto foi

importante para o povo brasileiro à chegada do português. Todavia, os festejos

deixaram explícitos, mesmo que essa não fosse à proposta, que o processo histórico só

teve inicio após a esquadra de Cabral aportar em terras que um dia seriam batizadas de

Brasil, ignorando assim qualquer indício de grupos existentes e suas manifestações

culturais.

Na atualidade, utilizar o termo “Descobrimento do Brasil” é considerado algo

impreciso, as controvérsias que existem em torno do fato nos obriga a certa prudência.

Afirmar que houve de certo um descobrimento nos faz ignorar a existência dos povos

que aqui habitavam, então nos apropriaremos de uma das principais fontes históricas

para traçar o “esboço”1 do evento. Conforme carta de Caminha enviada a Dom Manuel

I, rei de Portugal, “...e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento

desta vossa terra nova, que ora nesta navegação se achou” (CAMINHA,1500).

O achamento da terra dos papagaios não foi algo isolado, o evento está inserido no

contexto das Grandes Navegações. As potencias do século XV e XVI, Portugal e

Espanha, lançaram-se ao mar em busca de novas rotas de navegação que os

conduzissem ao maior entreposto comercial da época, a Índia. O bloqueio italiano feito

no Mar Mediterrâneo engessava o crescimento econômico dessas nações, o desafio de

encontrar um novo caminho que os conduzisse a Índia tornou-se ponto principal na

política dos monarcas.

A experiência bem sucedida na conquista do importante centro comercial na

cidade de Ceuta, situada ao norte do continente africano, em 1415, serviu como base

para o início do processo da expansão marítima portuguesa. Durante o século XV e

XVI, os lusitanos possuíam status de pioneiros na exploração além-mar, sendo

reconhecidos como um imenso império ultramarino, com rotas de comercio interligando

o Atlântico e entrepostos na costa ocidental da África.

De acordo com Freyre, a experiência lusitana em Ceuta tornou o português um

povo híbrido, fato esse que viabilizou o encontro com as populações indígenas

brasileiras sem grandes conflitos: 1 - A opção pelo termo “esboço” entre aspas expressa uma reflexão acerca da situação real dos fatos. Pesquisas apontam que as terras de Vera Cruz já teriam sido frequentadas por outros estrangeiros antes dos portugueses

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A influência africana fervendo sobre a européia e dando um acre requeime à vida sexual, à alimentação, à religião (...). O ar da África, um ar quente, oleoso, amolecendo nas instituições e nas formas de cultura as durezas germânicas c o r r o m p e n d o a r i g i d e z m o r a l e doutrinária da Igreja medieval; tirando os ossos ao cristianismo, ao feudalismo, à arquitetura gótica, à disciplina canônica, ao direito visigótico, ao latim, ao próprio caráter do povo. A Europa reinando mas sem governar; governando antes a África (FREYRE, 1997, p 86).

Relatos enviados ao rei sobre as terras deram conta em toda a Europa das riquezas

naturais do Novo mundo, conforme carta do capitão-mor Pero Vaz de Caminha, as terras

tinham em sua natureza o próprio Éden, “...a terra em si é de muito bons ares, assim frios e

temperados como os de Entre Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como

os de lá”. (ibidem,1500). Um local paradisíaco, próspero com atributos positivos, todavia seus

habitantes indignos de tanta abundância, gente inocente, desprovidos de pudores,

miseráveis e que somente o Rei com toda sua benevolência poderia intervir e conduzi-los a

fé católica.

Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé! (ibidem,1500)

Em 1576, as riquezas do Mundo Novo foram eternizadas na primeira obra literária

dedicada ao Brasil escrita por um português, História da Província de Santa Cruz por Pero

Magalhães Gândavo , “... sem contradição a melhor pera a vida d.C. homem que cada uma das

outras de America, por ser comumente de bons ares e fertilíssima, e em grão maneira deleitosa e

aprazível á vista humana.” (GÂNDAVO,200, p 8).

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1.1 A Origem africana da humanidade

A origem do homem permanece sendo uma das questões mais intrigantes da

humanidade, um enigma que muitos tentam desvendar. Teorias como o criacionismo,

que defende a criação do homem por Deus ou a evolucionista fundamentada nos

estudos do pesquisador Charles Darwin, que apontam para evolução das espécies

através de uma seleção natural, são fontes inesgotáveis de discussões. Todavia, o que

a ciência tem de sólido são fósseis com cerca de cento e sessenta mil anos

pertencentes ao mais antigo Homo sapiens. Descobertos em um sítio paleontológico na

Etiópia reforçam a teoria que o homem moderno evoluiu do continente africano, com

pigmentação escura e características negróides. Segundo DIOP:

(...) a única parte do mundo em que viviam seres morfologicamente iguais aos homens de hoje era a região dos Grandes Lagos, nas nascentes do Nilo. (...) Contra todas as expectativas e a despeito das hipóteses recentes, foi desse lugar que o homem partiu para povoar o resto do mundo. Disso resultam dois fatos de capital importância: (a) necessariamente, os primeiros homens eram etnicamente homogêneos e negróides. A lei de Gloger, que parece ser aplicável também aos seres humanos, estabelece que os animais de sangue quente, desenvolvendo-se em clima quente e úmido, secretam um pigmento negro (melanina) 2. Portanto, se a humanidade teve origem nos trópicos, em torno da latitude dos Grandes Lagos, ela certamente apresentava, no início, pigmentação escura, e foi pela diferenciação em outros climas que a matriz original se dividiu, mais tarde, em diferentes raças;” (DIOP,1983)

Estudos recentes reafirmam que o primeiro êxodo do ancestral do homem moderno

ocorreu na África. Segundo Petraglia, “Eu creio que múltiplas populações deixaram a

África no período entre 120 mil e 70 mil anos atrás”, embasado em análises científicas

sustenta que “Nossa prova são ferramentas de pedra que podemos datar.” O estudioso

conclui que ao contrário do que existe na atualidade, a geografia era propicia a vida

humana. “Durante o período de que estamos falando, os ambientes eram na verdade bem

hospitaleiros”, complementa “Onde hoje já desertos, costumava haver lagos e rios, e havia

animais e plantas em abundância.” (PETRAGLIA, 2010, BBC News).

1.2 A Construção da ideia de raça inferior

Mello (2003, p 75-76) narra que as primeiras referências de um povo negro na

antiguidade são efetuadas pelo filosofo grego Heródoto no século V a.c. após visita ao

Egito. Uma breve discussão em relação aos vários estereótipos encontrados e seus

costumes, nutriu o imaginário de alguns filósofos grego-romanos, servindo de inspiração

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para várias façanhas artísticas. A epopeia homérica Ilíada e Odisséia imortalizou a

antiguidade da civilização etíope2, “Hoje, Jupiter transportou-se para a beira do oceano, para

visitar a santa Etiópia” (ibidem, 2003, p 77). O historiador argumenta, fundamentado em fontes

como Toynbee e Lord Cromer, que o preconceito tal como vivemos é um fenômeno

moderno que surgiu no século XV com o evento das Grandes Navegações. Antes desse

período não há indícios que uma única raça fosse tão hostilizada por suas características

físicas como foram os africanos, a escravidão dava-se por outros fatores.

Na Idade Média, a principal característica da igreja católica foi à detenção do

conhecimento, interpretando e manipulando conforme suas necessidades. No século VII,

o território Norte de África testemunha a ascensão de uma nova religião, o Islã, sinalizando

um período de grandes transformações nas estruturas políticas e sociais do Ocidente,

assim o povo africano passa a ser encarado com estranhamento. Já no período moderno,

a falta de mão de obra na Europa para cultivar as plantações de cana de açúcar nas terras

ultramar serviu de pretexto para escravizar os africanos. A igreja utilizando-se da

passagem bíblica do Livro de Gênesis 9:20-27 que relata o conflito entre Noé e seu filho

mais novo Canaã condenou à escravidão e ratificou a inferioridade do povo africano. A

vulgo maldição de Cam rendeu muitos lucros a Igreja Católica assim como aos reis que

dela fizeram valer seu poder.

As luzes não abrandaram a deturpação dos escritos sagrados em relação ao negro.

Os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade aclamados pelos ilustres em oposição

aos entraves políticos e econômicos impostos pelo antigo regime não impediram o cativeiro

dos negros, mais uma vez a necessidade de obter mão de obra para trabalhar nas terras

da América ,fizeram com que os filósofos seguissem os valores da igreja. O iluminista

Montesquieu em seu tratado do espírito das leis (1748) lança uma dúvida quanto à

essência humana do negro e reforça a utilização imprescindível de mão de obra negra nas

plantações de cana de açúcar:

Tendo os povos da Europa exteinvnado os da América, tiveram que escravizar os da África para utilizá-los para abrir tantas terras. O açúcar seria muito caro se não fizéssemos que escravos cultivassem a planta que o produz. Aqueles de que se trata são pretos dos pés à cabeça; e têm o nariz tão achatado que é quase impossível ter pena deles. Não nos podemos convencer que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma; principalmente uma alma boa, num corpo todo preto. (...) Uma prova de que os negros não têm senso comum é que dão maior valor a um colar de vidro

2 Estudos do professor Mello alertam que na antiguidade todo território africano era denominado Etiópia – Negros e Escravos na Antiguidade p.75

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do que ao ouro, que, nas nações policiadas, é de tão grande importância. É impossível que suponhamos que estas pessoas sejam homens; porque, se supuséssemos que eles fossem homens, começaríamos a crer que nós mesmos não somos cristãos. (MONTESQUIEU, p116)

Preocupados com a relação de semelhança entre o branco e o negro os filósofos

ilustrados concluem que o clima quente contribuiu de forma negativa na evolução

intelectual e moral do negro. De acordo com SANTOS, Buffon atribui à inferioridade do

negro as condições climáticas da Africa,

(...) num clima inóspito com temperatura excessivamente quente, os negros não encontravam condições ideais para o desenvolvimento corporal, moral, intelectual e estético tal como fizeram os povos europeus, situados num clima temperado. (SANTOS, 2002, p 10).

Assim como fizera o Conde Montesquie ao comparar o europeu com o africano:

(... ) Encontrar-se-ão nos climas do norte povos que têm poucos vícios, bastantes virtudes, muita sinceridade e franqueza. Aproximemo-nos dos países do sul e acreditaremos afastar-nos da própria moral: paixões mais vivas multiplicarão os crimes;(...) ali o clima não tem uma qualidade suficientemente determinada para fixá-los. O calor do clima pode ser tão excessivo que o corpo estará completamente sem forças. Então o abatimento passará para o próprio espírito; nenhuma curiosidade, nenhuma iniciativa nobre, nenhum sentimento generoso; as inclinações serão todas passivas; a preguiça será a felicidade (...) No tempo dos romanos, os povos do norte da Europa viviam sem artes, sem educação, quase sem leis; e no entanto, somente pelo bom senso ligado às fibras grosseiras destes climas,eles resistiram com uma sabedoria admirável ao poder romano, até o momento em que sai de suas florestas; para destruí-lo. (ibidem, p 109)

Hofbauer (2006: pg 115-116) aponta que alguns autores analisam de forma

ambígua a questão da construção da inferioridade em torno da figura do negro, para

alguns a questão central foi à econômica, o intuito principal era de obter mão de obra

escrava barata para trabalhar nas terras da América. Todavia, no Brasil a recém-

sociedade absorveu a filosofia eurocêntrica com novos contornos, a questão social

predominou em detrimento da questão econômica, a quantidade de escravos

determinava a riqueza de uma pessoa. Fica evidente esse comportamento na carta

enviada pelo Visconde de Cairu ao seu professor Dr. Domingos Vandelli (Bahia, 18 de

outubro de 1781):

É prova de mendicidade extrema o não ter um escravo; é indispensável ter ao menos dois negros para carregarem uma cadeira ricamente ornada e um criado para acompanhar este trem. Quem saísse à rua sem esta corte de africanos estaria seguro de passar por um homem abjeto e de economia sórdida. (José da Silva Lisboa. Carta, 1781.)

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1.3 Da escravidão na África para a escravidão no Brasil

África território emblemático, grande porção de terra com paisagem singular que

percorrem uma distância equivalente a 30.259.752 km², sua geografia considerável

distribuída entre oceano, estepes, savanas, florestas, deserto e Mar Vermelho são

características que assinalam a história de um povo.

Ao contrário que muitos acreditam, Portugal não foi o responsável pela

implantação da prática social de subjugar outros homens, ou seja, a escravidão

sempre esteve presente nas sociedades desde as civilizações mais remotas. Na

antiguidade, conforme Aristóteles, cada indivíduo possuía um papel definido em seu

grupo, havia aqueles que deveriam conduzir e os que seriam conduzidos, todos com o

mesmo objetivo, o bem comum.

Quem pode usar o seu espírito para prever é naturalmente um comandante e naturalmente um senhor, e quem pode usar o seu corpo para prover é comandado e naturalmente escravo; o senhor e o escravo tem o mesmo interesse. (ARISTOTELES, 2008, p 15).

Dentre as várias formas de produzir escravos, Souza (2006) nos aponta que a

guerra era a forma mais utilizada para obter um grande contingente de mão de obra que

sustentasse a base do modo de produção.

Desde os tempos mais antigos, alguns homens escravizaram outros homens, que não eram vistos como seus semelhantes, mas sim como inimigos e inferiores. A maior fonte de escravos sempre foram as guerras, com os prisioneiros sendo postos a trabalhar ou sendo vendidos pelos vencedores. Mas um homem podia perder seus direitos de membro da sociedade por outros motivos, como a condenação por transgressão e crimes cometidos, impossibilidade de pagar dívidas, ou mesmo de sobreviver independentemente por falta de recursos. [...] A escravidão existiu em muitas sociedades africanas bem antes de os europeus começarem a traficar escravos pelo oceano Atlântico (SOUZA, 2006, p. 47 apud MOCELLIN; CARMARGO, 2010, p. 174).

Conflitos entre povos rivais pela disputa de territórios possibilitaram o

aprisionamento de homens, que do amanhecer livre, tornaram-se ao entardecer

propriedade.

Durante um longo período, afirmava-se que o deserto do Saara era uma região

inóspita, uma barreira natural para o estabelecimento de relações recíprocas de ordem

comercial e social. Um conceito eurocêntrico observado no discurso do professor Sir

Trevor-Hoper da Universidade de Oxford em 1963, (...) não haver uma história da África

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subsaariana, mas tão-somente uma história dos europeus no continente, porque o resto era

escuridão, e a escuridão não é matéria da história” (SILVA, 2003, p.229). Entretanto, foi

através das caravanas dos árabes que o comércio de escravos se propagou e definiu as

fronteiras de intercâmbio, para Silva (1990, p 20) o deserto do Saara que se estende do

Atlântico ao mar Vermelho torna a África duas Áfricas “É ele que determina no continente

duas realidades: a mediterrânea e a subsaariana.” (SILVA,1990: p 20).

Com o advento das Grandes Navegações, os europeus ao aportarem no continente

africano em busca de ouro vislumbraram na escravidão a chance de obter lucros

vantagosos através da venda de negros para a Europa.Em meados do século XV,

Portugal passa a receber escravos negros, a fim de substituir os portugueses na

agricultura, uma vez que estes estavam obstinados com as conquistas além mar.

O processo de desterritorialização movimentou um grande comércio de escravos,

os valores de venda eram definidos conforme as características do individuo. Melo

(2003, p 78) alerta que as condições de vida do escravo no Egito Antigo era precária, os

indivíduos tinham o mesmo tratamento que os animais com o agravante de serem

utilizados em sacrifícios aos deuses. Em África, por razões econômicas, mulheres e

crianças eram mais valorizadas; as mulheres pela sua capacidade de gerar novos

escravos e por suas habilidades nos trabalhos braçais e as crianças pela facilidade de

adaptação ao novo grupo.

No Brasil Goés evidencia que no primeiro instante os portugueses subjulgaram os

nativos, porém devido a fatores como doenças e a possibilidade de introduzir um comércio

lucrativo na colônia através da importação de mão de obra, fez com que a escravidão

africana fosse adotada,

O que parece ter sido decisivo na substituição da mão de obra indígena pela africana foi a combinação de três fatores: um crescente decréscimo da população indígena (nos anos 1540, mais pela guerra; nos anos 1560, mais por pestes e epidemias), a multiplicação dos engenhos necessitados de cativos e as boas relações dos portugueses com dirigentes e comerciantes africanos envolvidos com o mercado de escravos (GOÉS, 2013)

Ao contrário de África no Brasil, a importância paga por escravos masculinos era

superior, a necessidade de cultivo impunha um ritmo acelerado não sendo vantajosa a

compra de mulheres e crianças, as poucas que aqui aportavam tinham como destino os

trabalhos domésticos.

O martírio negro iniciava-se ainda nos portos africanos, no embarque nos navios

tumbeiros,

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Apresado aos quinze anos em sua terra, como se fosse uma caça apanhada numa armadilha, ele era arrastado pelo pombeio mercador africano de escravos para a praia, onde seria resgatado em troca de tabaco, aguardente e bugigangas. Dali partiam em comboios, pescoço atado pescoço com outros negros, numa corda puxada até o porto e o tumbeiro. Metido no navio, era deitado no meio de cem outros para ocupar, por meios e meio, o exíguo espaço do seu tamanho, mal comendo, mal cagando ali mesmo, no meio da fedentina mais hedionda. Escapando vivo à travessia, caía no outro mercado, no lado de cá, onde era examinado como um cavalo magro. Avaliado pelos dentes, pela grossura dos tornozelos e dos punhos, era arrematado. (RIBEIRO, 1995, p 119)

Após serem entregues nas terras dos senhores, agonizavam com a rotina cruel de trabalho,

Esta era sofrer todo o dia o castigo diário das chicotadas soltas, para trabalhar atento e tensão. Semanalmente vinha um castigo preventivo, pedagógico, para não pensar em fuga, e, quando chamava atenção, recaía sobre ele um castigo exemplar, na forma de mutilações de dedos, do furo de seios, de queimaduras com tição, de ter todos os dentes quebrados criteriosamente, ou dos açoites no pelourinho, sob trezentas chicotadas de uma vez, para matar, ou cinquenta chicotadas diárias, para sobreviver. Se fugia e era apanhado, podia ser marcado com ferro em brasa, tendo um tendão cortado, viver peado com uma bola de ferro, ser queimado vivo, em dias de agonia, na boca da fornalha ou, de uma vez só, jogado nela para arder como um graveto oleoso. (Ibidem, 1995, p 120)

Na História do Mundo Ocidental, o Brasil é tido como o maior receptador de

escravos. A assinatura da Lei Áurea, aboliu a escravidão, mas não o preconceito e nem

tão pouco foi dito o que seria feito com o grande contingente de libertos que

perambulavam pelos centros comerciais.

Encurralados pelas elites que desejavam o reconhecimento social e o crescimento

econômico, para fugir da miséria os alforriados aglomeraram-se nos morros próximos as

oportunidades de algum ganho, surgindo assim às favelas e as comunidades de

palafitas que se estenderam por toda a periferia do país, sendo esse um dos fatores que

levou a um racismo exacerbado.

“Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida,

através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Descendentes de escravos e senhores de escravos seremos sempre servos da malignidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida pra doer

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mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria. A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista. Ela é que incandesce, ainda hoje, em tanta autorida de brasileira predisposta a torturar, seviciar e machucar os pobres que lhes ca em às mãos. Ela, porém, provocando crescente indignação nos dará forças, amanhã, para conter os possessos e criar aqui uma sociedade solidária” (Ibidem, 1995, p 120)

2 Educação

A Educação é definida pelo dicionário Aurélio como “processo de desenvolvimento da

capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua

melhor integração individual e social”

2.1 A Educação e seus Valores

Para Brandão (2007) a educação está presente na vida do sujeito desde o

nascimento, faz parte do cotidiano, é o mecanismo utilizado para transmitir aos mais

novos os valores sociais do grupo que está inserido.

Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias: educação? Educações.(Brandão,2007,p.07)

Em sua teoria funcionalista Emile Durkheim faz uma metáfora orgânica entre o

corpo humano e a sociedade. Assim como os órgãos mantém o equilíbrio do corpo, as

instituições (escola, igreja, família, etc...), mantém o equilíbrio da sociedade. A teoria

atribuiu ao Estado à condição de cérebro, que por excelência estaria acima de qualquer

interesse individual ou de classes, sendo esse o elemento principal de organização da

vida social. Nesse contexto coube à educação ser a ferramenta reprodutora dos

valores e conhecimentos exigidos pela organização social. “...a educação deve existir para

manter a ordem social.” A utopia durkainiana sustenta que a educação perfeita não era

apropriada a todos os homens, o equilibrio e o controle social só poderiam ser

preservados através da hierarquização do processo educacional. A educação tem como

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escopo desenvolver aptidões nos indivíduos para que esses possam atender a

demanda do grupo que o individuo está inserido, ou seja as especificações do Estado.

Contudo, Paulo Freire (1997) aponta a Educação como um processo interno de

descobrimento de sentidos e emoções que deve ser assimilado por todos e não

somente pelo educando, a relação figura-fundo deve ser erradicada não só da sala de

aula mais de toda relação de ensino e aprendizagem, evitando desperdício de tempo em

arrogâncias pessoais e tentativas de aculturação. O cientista salienta que através da

educação ocorre a construção de consciências críticas frente ao mundo.

(...) que saibamos que, sem certas qualidades ou virtudes como amorosidade, respeito aos outros, tolerância, humildade, gosto pela alegria, gosto pela vida, abertura ao novo, disponibilidade à mudança, persistência na luta, recusa aos fatalismos (...) abertura à justiça, não é possível a prática pedagógico-progressista, que não se faz apenas com ciência e técnica (FREIRE,1997,p. 136).

Brandão (2007) arremata o pensamento do sociólogo acrescentando que a

educação por ser uma prática social que tem como objetivo o desenvolvimento humano,

vive em constantes transformações, então pode ser utilizada para atender aos

interesses políticos de determinada classe.

2.2 Segregar para Educar

Assim como a leitura e a escrita à socialização do individuo também faz parte do

processo educacional. O destino da educação no Brasil já era algo definido antes

mesmo de seu achamento em 1500, a coroa portuguesa estava compromissada com a

igreja católica desde á criação da Ordo Militiae Jesu Christi (Ordem Militar de Cristo) no

século XIV a pedido do rei Dom Dinis.

Como guardião perpetuo da ordem todo sucessor lusitano acentua a necessidade

moral de zelar pela doutrina da igreja, sendo responsável pelo financiamento de todas

as empreitadas do pontificado em territórios ultramarinos portugueses.

A bula Romanus Pontifex de 8 de Janeiro de 1455, do papa Nicolau V concede e

legitima o direito do rei em apoderar-se não só dos bens materiais, mas também da vida

dos indivíduos.

Por isso nós, tudo pensando com devida ponderação, por outras cartas nossas concedemos ao dito rei Afonso a plena e livre faculdade, entre outras, de invadir, conquistar, subjugar quaisquer sarracenos e pagãos, inimigos de Cristo, suas terras e bens, a todos reduzir à servidão e tudo aplicar em utilidade própria e dos seus descendentes. Por esta mesma

20

faculdade, o mesmo D. Afonso ou, por sua autoridade, o Infante legitimamente a adquiriram mares e terras, sem que até aqui ninguém sem sua permissão neles se intrometesse, o mesmo devendo suceder a seus sucessores. E para que a obra mais ardentemente possa prosseguir. Poderão fundar nessas terras igrejas ou mosteiros, para lá enviar eclesiásticos seculares e, com autorização dos superiores, regulares das ordens mendicantes... (...) Se alguém, indivíduo ou coletividade, infringir estas determinações, seja excomungado, só podendo ser absolvido se, satisfeitos o rei Afonso e seus sucessores ou o Infante, eles nisso concordarem. (Arquivo da Torres do Tombo, Maço 7, de Bulas, n. 29 – Cópia do Arquivo do Convento de São Francisco da Bahia).

Toda a demanda de evangelização e educação do negro ficou a cargo da igreja,

sendo a Companhia de Jesus umas das precursoras no trato com os índios e negros. O

projeto pedagógico utilizado pelas irmandades tinha como principio potencializar a

atitude do senhor perante o escravo e o adestramento do cativo, como pode ser

observado na pedagogia dos três pês pão, pano e pau, obra do padre jesuíta Jorge

Benci de 1700:

Para o asno forragem, chicote e carga; para o servo pão correção e trabalho. 26 Faze teu escravo trabalhar e encontrarás descanso; deixa livre as suas mãos e ele procurará a liberdade. 27 Jugo e rédea dobram o pescoço, e ao escravo mau torturas e interrogatório. 28 Manda-o para o trabalho, para que não fique ocioso, porque a ociosidade ensina muitos males. 29 Emprega-o em trabalhos, como lhe convém, e, se não obedecer, prende-o ao grilhão (Eclo 33, 25-29).

Benci em seu discurso manifestava sua preocupação quanto ao ócio do negro, a

experiência com o Quilombo dos Palmares em meados do século XVII já anunciava a

capacidade intelectual e de articulação dos africanos.

Numa sociedade essencialmente escravocrata com ambições europeias o negro era tido

como mercadoria, mas ao mesmo tempo era utilizado em tarefas que requeriam

habilidades especificas demonstrando que os negros possuíam algum tipo de

conhecimento. Esse antagonismo manifestava-se na aquisição de escravos, no inicio do

século XVII os sudaneses tinham seu valor de compra maior, muitos senhores os tinham

como os mais fortes e inteligentes após vários levantes já no século XIX os negros bantos

eram os mais procurados devido a sua obediência e pacificidade.

Para cada segmento uma Educação, para os filhos dos senhores abastados uma

educação europeia preparando o indivíduo para o poder, para os brancos pobres somente

o básico - ler, escrever e contar, aos demais a educação tendo com finalidade o trabalho:

(...) os brancos, portugueses, filhos da elite, eram alvo de uma educação formal, longa e diversificada, preparatória para o poder e/ ou para a vida eclesiástica. Essa educação era ministrada nos colégios, nos seminários e

21

na Universidade de Coimbra. Baseava-se em gramática, filosofia, humanidades e artes, e completava-se com o estudo de cânones e da teologia. Outros portugueses, pertencentes aos segmentos restritos das classes populares, tinham acesso apenas aos rudimentos escolares: isto é, ler, escrever e contar; b)para os índios e mestiços, a educação era ministrada nas missões, nos engenhos e nas igrejas. A estes se ensinava, precariamente, o catecismo preparatório para o batismo, para a vida cristã, além de ofícios e tarefas servis que, naquele tempo, por serem consideradas desonrosas, não podiam ser executadas pelos brancos; c) os colonizadores desenvolveram, também, pedagogias para tratar da educação/evangelização dos escravos. (CASIMIRO, 2002).

No período pombalino com a expulsão dos jesuítas do Brasil e o encerramento de

todas as atividades educacionais dos padres missionários, a educação sofreu seu primeiro

lapso. Pombal almejava um sistema educacional mais dinâmico e sistematizado, voltado

para a produção.

Em caráter oficial a Lei do Ventre Livre do Governo Imperial promulgada em 28 de setembro de 1871 seria a primeira que fala em seu artigo 2º, paragrafo (§) 2.º sobre a educação do negro,

A disposição dêste artigo é aplicável às Casas dos Expostos, e às pessoas a quem os juízes de órfãos encarregarem da educação dos ditos menores, na falta de associações ou estabelecimentos criados para tal fim. (Lei nº 2040 de 28.09.1871 - Lei do Ventre Livre)

Todavia, não houve planejamento por parte do Estado para garantir as condições

necessárias para atender na vida educacional as crianças negras que nasceram após a

promulgação da Lei do Ventre Livre.

Em 1878 o Estado na tentativa de amenizar o impacto da crise que ocorria na

produção, sendo um dos motivos à falta de mão de obra escrava, que foi deflagrada com

a promulgação da Lei Eusébio de Queirós de 1850 que proibia a importação de escravos

e preparava a transição para o trabalho livre, convidou os proprietários rurais do Sudeste

para buscarem soluções para recomporem a economia; A educação das crianças negras

foi uma das questões que estavam na pauta do Congresso Agrícola do Rio de Janeiro, o

governo imperial examinava junto aos agricultores ideias e projetos para absolverem a

mão de obra das crianças nascidas livres.

No final do século XIX a região Sudeste estava com a economia em pleno

desenvolvimento merecendo assim toda a atenção do Estado, em contrapartida, a região

Nordeste mantinha sua economia inerte, mas não sua voz política, sendo assim, um mês

após ter ocorrido o evento no do Rio de Janeiro os proprietários do Nordeste elaboraram o

22

Congresso Agrícola de Recife para expressar sua opinião sobre os mesmos temas

abordadas no Sudeste mesmo não tendo o Estado solicitado.

Era unânime para ambas as regiões que o Brasil era pais essencialmente agrícola e

a melhor forma de inserir essas crianças na ordem social seria através do trabalho na

lavoura, frisavam a necessidade da criação de escolas voltadas para o ensino da

agricultura. Entretanto, as propostas educacionais foram diferentes, em resposta a

indagação do Ministério da Agricultura, os agricultores do Nordeste sugeriram que as

crianças frequentassem as escolas destinas a todas as crianças, sem distinção,

“sim; é de esperar que os ingênuos, filhos de escravas, constituam um elemento de trabalho permanente; mas isto não dispensa o Governo de tratar da educação deles em escolas agrícolas, do mesmo modo que a educação dos meninos livres e em comum com estes3”

O Sudeste preferiu não assumir uma postura assim como fizera o Nordeste, mas fica

implícito na argumentação do congressista Cesário Nazianzeno de Azevedo Mota

Magalhães Júnior, que não achavam apropriado que crianças negras dividissem o

mesmo espaço com crianças brancas.

“Criem institutos, que formem professores; fazendas modelos em que eles se exercitem e onde os lavradores possam ir ver os progressos realizados; fundem-se escolas municipais, onde esses professores ensinem teoricamente; fazendas-escolas em que façam os alunos praticar... tais escolas-fazendas receberiam os ingênuos e os órfãos. Sabe-se que aqueles, com uma educação nimiamente abandonada pelo proprietário que já não vê neles um elemento utilitário trarão, em prazo não muito remoto, perturbação na organização do trabalho; educá-los nesses estabelecimentos seria torná-los incontestavelmente úteis.4”

Fonseca salienta que os congressistas do Recife em seu texto final apontavam que a

Educação destinada ao plantio seria um elemento importante no problema de reposição

de mão de obra, porém deveria ser por meio da segregação. Os políticos envolvidos no

debate pretendiam utilizar a Educação dessas crianças como ferramenta de coação e

controle:

3 Relatório Apresentado á Assembléia Geral Legislativa na Primeira Sessão da Décima Sétima Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negócios da Agricultura Comércio e Obras Publicas, João Lins Vieira Cansansão de Sinimbu. RJ, Imprensa Industrial, (1878)

4 Congresso Agrícola[1878], Rio de Janeiro. Anais, Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa (ed. fac-similar) 1988, pg. 38.

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Acreditavam que os ingênuos seriam um elemento importante para o desenvolvimento da agricultura, desde que convenientemente educados em escolas agrícolas. Entre essa posição e a primeira há uma ligeira diferença, pois, se a primeira defendia a educação dos ingênuos junto com as demais crianças, a posição aprovada no final do congresso valorizava a educação, mas retira do texto final a defesa de uma educação conjunta entre ingênuos e as demais crianças livres. (...) As escolas reivindicadas pelos congressistas dos dois eventos são concebidas como um sistema emseparado que priorizava a formação das crianças como trabalhadores agrícolas e longe de qualquer perspectiva de formação de cidadãos, como era freqüente nos discursos sobre o papel da educação durante o Império (FONSECA,Marcus Vinícius – USP).

O lucro era objetivo central dos proprietários rurais, com a intensificação da imigração

europeia as propostas em torno da criação de escolas destinadas às crianças negras

foram deixadas de lado.

O decreto Decreto nº 7.247, de 19 de Abril de 1879 do então Carlos Leôncio de

Carvalho autorizou pessoas sem vinculo com a Coroa abrir instituições destinadas ao

ensino, o mencionado documento obteve criticas ardentes visto que outorgava um

ensino livre onde qualquer individuo poderia abrir uma escola.

Gomes (2005) evidencia que em 1889 os libertos do Vale do Paraíba delataram em

carta ao então jornalista Rui Barbosa que a legislação publica em 1871 na qual o

governo se responsabilizava pela educação das crianças negras, não estava ocorrendo

e alertavam que sem educação o futuro da nação era incerto, “Para fugir do grande perigo

que corremos por falta de instrução, vimos pedi-la (educação) para nossos filhos e para que eles

não ergam mão assassina para abater aqueles que querem a Republica, que é liberdade,

igualdade e fraternidade”. (GOMES,2005,p.10)

Na década de 30 do século XX a Frente Negra Brasileira foi uma das maiores

representantes dos libertos, atuando fervorosamente no combate ao preconceito

assumindo a responsabilidade na luta por cidadania. Em seu Estatuto os

frentenegrinos, de acordo com Araújo, já faziam considerações quanto ao projeto de

educação a ser seguido objetivando a inserção plena do negro na sociedade brasileira

como cidadão. As escolas não atendiam somente as crianças, para os adultos era

ministrado o curso de alfabetização em horários noturnos.

Nos anos que se seguiram a luta por oportunidades educacionais para os negros

foram travadas na esfera política do país. A Lei Afonso Arinos - 1.390/ 51 aprovada em

3 de julho de 1951 foi um grande passo no âmbito educacional apesar de sofrer duras

criticas quanto aos interesses que se encontravam por trás de sua publicação e por

tratar o racismo como mera contravenção penal.

24

Art 5º Recusar inscrição de aluno em estabelecimentos de ensino de qualquer curso ou grau, por preconceito de raça ou de côr. Pena: prisão simples de três meses a um ano ou multa de Cr$500,00 (quinhentos cruzeiros) a Cr$5.000,00 (cinco mil cruzeiros).

Parágrafo único. Se se tratar de estabelecimento oficial de ensino, a pena será a perda do cargo para o agente, desde que apurada em inquérito regular. (1.390/ 51)

Para o juiz de direito Amaury Silva a Lei foi um avanço na legislação brasileira;

“(^) A Lei Afonso Arinos representa um rompimento com o vácuo legislativo de repressão às práticas raciais, introduzindo ineditamente no ordenamento jurídico brasileiro um diploma legal com tal proposição. Mesmo com sua deficiência técnica, é símbolo de avanços necessários, lentos e ascendentes, que nem sequer podem ainda ser tidos como plenos ou aperfeiçoados nos dias de hoje^”(OAB 12º Subseção 04/12/2013).

A Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003,

Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.

(...) § 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. (LEI nº 10.639/2003)

Além disso, estabelece no calendário escolar o dia 20 de novembro, como “Dia

Nacional da Consciência Negra”.

A imposição efetuada pela Lei que estipula o ensino da história da África nas

redes de ensino no Brasil vai de encontro com mundo docente brasileiro. Como um

vicio os profissionais de ensino ao adentrarem na vida educacional pública assimilam o

discurso de que um dos maiores obstáculos que impedem o ensino de qualidade se

deve a fragmentação da gestão pública na área educacional. Aos municípios cabe à

responsabilidade do ensino fundamental e educação infantil, o Estado volta-se

prioritariamente para o ensino médio e a União além de sua participação insignificante

de apoio técnico e financiamento às redes municipais e estaduais fica com ensino

superir.

A Lei de Cotas nº 12.711/2012 que reserva 50% das matrículas por curso e turno

a alunos descendente de africanos é para muitos uma tentativa do governo em ressarcir

25

a comunidade negra pelos anos de omissão e abandono. O sistema de cotas é

originário dos Estados Unidos criado na década de 60 do século XX tinha a finalidade

reverter o racismo histórico, todavia ambos os países possuem trajetórias históricas

opostas. Enquanto Abraham Lincoln em 1861 abolia a escravidão à coroa lusitana fazia

vista grossas para o tráfico interno, a migração de escravos movimentava um grande

contingente de pessoas.

3 Ressignificando Paradigmas

O desafio de vulgarizar para a sociedade num escasso espaço de tempo uma

série de conhecimentos multidisciplinares sobre o mundo africano, estudar a fundo e

divulgar o conhecimento sobre os povos, as culturas e civilizações africanas, os

antecedentes e seus descendentes do que muitos apontam como sendo a grande

catástrofe do tráfico negreiro, e sobre a subseqüente colonização direta ou indireta pelas

sociedades ocidentais a partir do século XIX, são tarefas de grande capacidade ética.

A difusão do ensino da história da África oferece problemas específicos, o

preconceito impera como sendo um dos maiores entraves. Com uma visão eurocêntrica

a sociedade brasileira efetua a seleção dos indivíduos por suas características físicas e

depois sociais, sendo repudiado qualquer indivíduo contrário ao modelo idealizado pelos

recrutadores. O racismo está enraizado nesse preconceito.

3.1 A Função do Orientador Educacional

Quando ouvimos falar no Orientador Educacional na maioria das vezes a menção

está relacionada à desavença de alunos.

A história da Orientação Educacional no Brasil sempre esteve atrelada a política

vigente, no primeiro instantes foi qualificada no período Implementador (1920-1941),

caracterizado pela busca de profissionalizar os alunos para o mercado do trabalho.

A Orientação Educacional ergueu-se num período conturbado da História do Brasil após

a Revolução de 30, por um governo marcado pela centralização do poder e

autoritarismo.

Visando o crescimento e a inserção do Brasil na esfera política econômica mundial o

então Ministro da Educação Gustavo Capanema reestruturou a educação de forma a

atender a demanda do trabalho.

26

O período Institucional (1942-1960) é marcado pela inserção do profissional na

legislação nacional. Na década de 40 recebe suas primeiras referências; a Reforma

Capanema ou Leis Orgânicas de 1942 passou a vigorar através de decretos-lei que

ordenaram o ensino em primário, secundário, industrial, comercial, normal e agrícola.

Através do Decreto-lei nº 4.073 de 30 de Janeiro e Decreto-Lei nº 4.244, de 9 de Abril,

ambos de 1942 a Orientação Educacional entra no panorama nacional com suas

atribuições determinadas:

O Decreto-lei nº 4.073 traz impresso á necessidade de um profissional que haja com

rigor para manter o controle.

Decreto-Lei nº 4.073 de 30 de Janeiro de 1942

Capítulo XIII - Da Orientação Educacional;

Art. 50. Instituir-se-á, em cada escola industrial ou escola técnica, a orientação educacional, que busque, mediante a aplicação de processos pedagógicos adequados, e em face da personalidade de cada aluno, e de problemas, não só a necessária correção e encaminhamento, mas ainda a elevação das qualidades morais.

Art. 51. Incumbe também à orientação educacional nas escolas industriais e escolas técnicas, promover, com o auxílio da direção escolar, a organização e o desenvolvimento, entre os alunos, de instituições escolares, tais como as cooperativas, as revistas e Jornais, os clubes ou grêmios, criando, na vida dessas instituições, num regime de autonomia, as condições favoráveis à educação social dos escolares.

Art. 52. Cabe ainda à orientação educacional valor no sentido de que o estudo e o descanso dos alunos decorram em termos da maior conveniência pedagógica.

O Decreto-Lei nº 4.244 além de ratificar o Decreto-lei nº 4.073, determina que o

Orientador Educacional tenha um curso superior, além de atribuir ao OE a

responsabilidade de direcionar convenientemente5 o aluno a uma profissão.

Decreto-Lei nº 4.244, de 9 de Abril de 1942; Capítulo VI - Da Orientação Educacional;

Art. 80. Far-se-á, nos estabelecimentos de ensino secundária, a orientação educacional.

Art. 81. E' função da orientação educacional, mediante as necessárias observações, cooperar no sentido de que cada aluno se encaminhe

5 O Artigo 81 do Decreto-Lei nº 4.244 revela a necessidade do governo em obter mão de obra qualificada para os postos de trabalho pré-determinados pelo mercado; Orientador Educacional atua como um profissional inflexível.

27

convenientemente nos estudos e na escolha da sua profissão, ministrando-lhe esclarecimentos e conselhos, sempre em entendimento com a sua família.

Art. 82. Cabe ainda à orientação educacional cooperar com os professores no sentido da boa execução, por parte dos alunos, dos trabalhos escolares, buscar imprimir segurança e atividade aos trabalhos complementares e velar por que o estudo, a recreação e o descanso dos alunos decorram em condições da maior conveniência pedagógica.

Art. 83. São aplicaveis aos orientadores educacionais os preceitos do artigo 79 desta lei, relativos aos professores.

Em oposição aos decretos-lei estabelecidos pelo poder Executivo na década de 40,

a Lei de Diretrizes e Bases da educação nº. 4024 de 1961 promulgada pelo poder

Legislativo foi o primeiro ensaio de coletar os princípios básicos estipulados na

Constituição e transporta-los para a Educação, apesar de manter resquícios de uma elite

conservadora. Esse panorama é nomeado como Período Transformador (1961–1970),

momento de reflexão e ordenamento do profissional.

O profissional que antes era responsável por monitorar o aluno-problema

redireciona seu trabalho para todos os alunos, contribuindo assim para a formação

integral da personalidade, bem como a adaptação pessoal e social do jovem. O OE

tinha como âmbito as orientações escolar, psicológica, profissional, da saúde, recreativa

e familiar, além de conduzir o educando em sua formação moral, cívica e religiosa.

((GRINSPUN, 2002)

A então legislação destacou a formação do Orientador Educacional, todavia não

explanou sobre a concepção do oficio desse profissional.

Título VII Capítulo I

Art. 38. Na organização do ensino de grau médio serão observadas as seguintes normas: V - instituição da orientação educativa e vocacional em cooperação com a família;

Título VIII

Art. 62. A formação do orientador de educação será feita em cursos especiais que atendam às condições do grau do tipo de ensino e do meio social a que se destinam.

Art. 63. Nas faculdades de filosofia será criado, para a formação de orientadores de educação do ensino médio, curso especial a que terão acesso os licenciados em pedagogia, filosofia, psicologia ou ciências sociais, bem como os diplomados em Educação Física pelas Escolas

28

Superiores de Educação Física e os inspetores federais de ensino, todos com estágio mínimo de três anos no magistério.

Art. 64. Os orientadores de educação do ensino primário serão formados nos institutos de educação em curso especial a que terão acesso os diplomados em escolas normais de grau colegial e em institutos de educação, com estágio mínimo de três anos no magistério primário.

O periodo disciplinador (1971-1980) é marcado pela LDB de nº Lei nº 5692 de 1971

o Orientador Educacional torna-se figura obrigatoria em todas as instituições de ensino,

em sinergia com professores, familia e comunidade, examina a melhor forma de manter

a harmonia da identidade escolar. Observa-se que diferente do Art 81 do Decreto-Lei nº

4.244 existe uma preocupação de priorizar as escolhas do educando, o professor torna-

se símbolo indispensável nos debates. “Artigo 10 - Será instituída, obrigatoriamente, a

Orientação Educacional incluindo aconselhamento. vocacional em cooperação com professores,

família e comunidade”.

Após várias referencias na lesgislação educacional somente em 1973 é imputado ao

Orientador Educacional uma legislação propria, através do Decreto nº 72.846 é

regulamentada a profissão tendo seus direitos e deveres instituidos. “Decreto nº 72.846,

de 26 de Setembro de 1973 Regulamenta a Lei nº 5.564, de 21 de dezembro de 1968, que

provê sobre o exercício da profissão de orientador educacional”.

Período questionador (1980-1990) é o espelho de uma sociedade que anseia por

mudanças e a Constituição de 1988 surgiu dessa necessidade de uma legislação que

garantisse a redemocratização6 do país, edificou-se num cenário socio politico

fragilizado por uma sucessão de governos militares que utilizavam a força como forma

de impor os demandos do Estado. O referido documento foi o responsavel por romper

os valores de uma sociedade que encontrava-se a margem da falência sócio-moral, os

marginalizados tornaram-se cidadãos com garantia assegurada de seu direitos e

deveres.

Intervir no momento certo e buscar junto ao grupo maneiras de converter ou de

potencializar as ações a fim de captar resultados positivos é uma das característica mais

profundas do período orientador (1991-atualidade). O educador Darcy Ribeiro ao

elaborar a LDB de 1996 teceu uma verdadeira colcha de retalhos, ao formular a mais

6 Redemocratização é um termo utilizado para resgatar uma democracia que existia num pais. No Brasil muitos cientistas questionam esse termo que é utilizado com frequência quando é citado a Carta Magna de 1988, interpelam em que momento da História do Brasil existiu uma democracia para que a mesma fosse resgatada.

29

importante legislação brasileira referente a educação aproximou a elite das classes

populares apaziguando o interesse de todos, o Orientador Educacional que apesar de

não ser mencionado diretamente no texto tem no artigo 64 a obrigatoriedade de um

curso especifico para atuação garantindo um curriculum comum nacional.

Na atualidade o Orientador Educacional é aquele individuo que media as relações

entre escola, familia e comunidade, sendo respeitado e reconhecido no meio academico

como um profissional apto a construir cidadãos criticos.

(...) É fato a necessidade da orientação nas escolas porque é ela que vai permitir avançar - junto com os professores - num conteúdo que possibilite ir além dos conhecimentos programados ao currículo da escola, atingindo um currículo que esteja comprometido com a construção do sujeito/aluno na formação da sua cidadania. (...) (GRINSPUN, Mirian.2006, p 171)

3.2 O Orientador Educacional e as Mudanças

Num passado não tão distante o planejamento era algo que fazia parte do cotidiano

das pessoas, planejava-se de um tudo desde a compra de um imóvel a compra de

pequenos objetos, existia a preocupação de pensar em todas as variáveis no decorrer

da aquisição até a conclusão do projeto.

Na atualidade uma boa parcela da sociedade brasileira contraiu o consumismo

como projeto de vida, acreditam que ao adquirirem um bem tenham uma condição mais

elevada dentro do grupo; você assiste a um comercial de celular, mesmo já possuindo

um com tecnologia similar, sem planejar, logo se envereda numa divida sem atentar-se

para seu orçamento.

Em todas as etapas da vida do individuo, o Planejamento é essencial para alcançar

com êxito seus projetos, logo na vida educacional não é diferente, “O planejamento

educacional é da maior importância e implica enorme complexidade, justamente por estar em

pauta a formação do ser humano” (VASCONCELLOS, 2000, p 15). Mas se a escola está

ciente que o planejamento escolar é uma ferramenta importante na formação de um

individuo crítico, então o que ocorre com nossas escolas?

Os professores alegam que existe uma grande dificuldade em por em prática o que foi

planejado, devido à dinâmica do sistema educacional. Alegam que com a

desvalorização profissional torna-se impossível não ser político em sala de aula

alimentando ainda mais a desigualdade e a injustiça.

30

Para Gomez o professor é um trabalhador social portanto deve refletir sobre suas

escolhas, “(..) pergunta permanente sobre o porquê de educarmos, porque actuamos e

intervimos na sociedade e para que o fazemos, se torna uma questão chave.”, deste modo

seria inevitável não ser ético

“Quando nos referimos à ética e aos significados que ela pode encerrar na nossa vida quotidiana estamos a situar-nos em algo que apela directamente para compromissos e responsabilidades situados, essencialmente, na esfera pública, e principalmente no que se refere ao desempenho profissional. A ética é uma referência no mundo dos direitos mas também no mundo dos deveres profissionais na medida em que através dela definimos ideais, valores, modos de estar e, essencialmente, modos de ser. Ou seja, a ética deverá ser um vector essencial na identidade dos profissionais. É impensável que um profissional se defina apenas como um técnico e se esqueça do porquê do seu saber fazer, especialmente quando trabalha com outros, com a sociedade e para a sociedade”.(GOMEZ, A Página,2003)

Muitos profissionais da área de educação não tiveram como primeira opção o curso

de licenciatura. Dados do Ministério da Educação alertam que a escolha pela sala de

aula entre 2011 e 2012 foi de apenas 0.8%.

A dicotomia que existe na oratória dos professores com relação à dificuldade do

ensino história e da cultura afro-brasileiras reflete o preconceito, de acordo com

Oliveira,

"Nós, professores, temos recebido apoio do governo federal e das secretarias [estaduais e municipais]de Educação para trabalhar o tema em sala de aula. Falta agora a iniciativa de cada professor. Trata-se de um processo de mão dupla, onde os governos fazem a lei, dão o incentivo e os educadores devem corresponder fazendo a sua parte", (OLIVEIRA, Ana de ,Diário do Pará 2013).

Segundo Martins (2013) o preconceito racial é algo presente em todas as camadas

sociais, entretanto cabe à escola explanar a importância dos africanos na construção de

nossa sociedade,

Vivemos uma época onde é preciso reconhecer que o preconceito racial existe e ultrapassá-lo. O trabalho pesado feito pelos primeiros negros no Brasil não é reconhecido como base para o início da construção da sociedade brasileira. Toda escola é formadora de opiniões e local de cidadania. Nesse sentido, tem papel fundamental para o esclarecimento sobre as diferenças existentes na sociedade e para a extinção de preconceitos"(MARTINS,Leniza,Diário do Pará 2013).

Nesse sentido cabe ao Orientador Educacional ter um olhar mais critico e direcionado,

“(...) é necessário que o orientador educacional seja capaz de:

31

• Discutir com a equipe e na equipe, o currículo e o processo de ensino - aprendizagem frente à realidade sócio-econômica da clientela;

• Analisar com a equipe as contradições da escola e as diferentes relações que exerçam influência na aprendizagem;

• Contribuir efetivamente para a melhoria do ensino e da crítica da realidade social, política e econômica do país;

• Fundamentar cientificamente sua ação, buscando nova teoria a partir de sua prática.” .(GRINSPUN, apud COSTA,2012 p.40)

Grinspun indica a importância do Orientador Educacional organizar suas ações em

conformidade com o contexto social em que a escola está inserida,

“O ponto de partida ( a realidade ), o processo ( a orientação ), o ponto de chegada ( a formação ). Ora, como este último por si só é um processo, ( ...) o trabalho orientador é contínuo, dinâmico e permanente.“ (GRINSPUN, 1998,p 155 )

Ações pontuais do OE tendem a esclarecer e desmistificar ações constrangedoras,

assim como a inércia de muitos educadores quando a abordagem é a colonização africana

e sua herança. Deixar de tratar o feriado de 20 de Novembro “O Dia da Consciência Negra”

como hora cívica e passar a conscientizar os professores da necessidade de adquirir

novos princípios consolidando assim uma identidade multirracial são ações prioritárias do

Orientador Educacional.

O Plano de Aula é uma das ferramentas mais importante na abordagem do tema

preconceito racial, em conjunto com o professor o OE pode cooperar para a desconstrução

de filosofias eurocêntricas resgatando memórias reais que dão ao negro a humanidade

negada. O Oe deve com seriedade e responsabilidade estimular o professor a compor

planos de aula que tenham, sempre que couber, a participação do negro na construção da

sociedade brasileira, por meio das atividades lúdicas e sócio-educativas o educador deve

provocar o aluno a refletir sobre sua atuação como ser social; Atividades como jogos,

rodas de leitura, debates sobre assuntos atuais que trazem camuflados atitudes

preconceituosas e eventos que aproximem a comunidade são oportunidades de quebrar a

resistência que impera nas escolas.

32

CONCLUSÃO

Desde os tempos mais remotos da humanidade a escravidão sempre foi praticada,

todavia, não existiam preferências por determinados estereótipos.

Portanto, esse trabalho tenta através da historicidade arguir os elementos que tornaram

possível a escravização de quase todo um continente e que mesmo após a abolição

permaneceram excluídos devido a sua cor.

O preconceito racial é tido como uma das maiores doenças e entraves das

sociedades contemporâneas, todavia, ainda ergue-se como alicerce para a dominação de

um grande contingente de indivíduos, grandes empresas burlam a Lei e protagonizam

cenas deploráveis de preconceito. Acreditar que “A carne mais barata do mercado é a

carne negra”(SOARES, Elza) é a negação de toda uma sociedade, o Brasil teve sua

construção fundamentada no trabalho negro.

Sendo a escola um ambiente de socialização e construção da cidadania, cabe aos

seus profissionais, em especial o Orientador Educacional zelar pela extirpação de

ideologias eurocêntricas, sendo dinâmico e pontual contribuindo assim para a construção

de uma sociedade mais justa.

Concluí-se que o preconceito racial foi utilizado como forma de subjulgar o outro

para obtenção mão de obra barata, que trabalhasse em condições sub-humanas tendo

como finalidade lucros fabulosos que sustentasse o sistema econômico de nações

europeias e instituições religiosas.

33

BIBLIOGRAFIA

ARISTÓTELES.Político. São Paulo: Editora Martin Claret, 2008.

BRANDÃO, C. Rodrigues.O que é educação . São Paulo: Ed. Abril Cultura;

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39

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTOS 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

1 O achamento do Brasil e seus habitantes 10

1.1 A Origem africana da humanidade 12

1.2 A Construção da ideia de raça inferior 12

1.3 Da escravidão na África para a escravidão no Brasil 14

CAPÍTULO ll

2 Educação 18

2.1 A Educação e seus Valores 18

2.2 Segregar para Educar 19

CAPÍTULO llI

3 Ressignificando Paradigmas 25

3.1 A Função do Orientador Educacional 25

3.2 O Orientador Educacional e as Mudanças 29

CONCLUSÃO 32

BIBLIOGRAFIA 33

ÍNDICE 39

40