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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO: POSSIBILIDADE OU
UTOPIA?
Por: Danielle Lopes Domingos da Silva
Orientador
Prof. Mary Sue Pereira
Rio de Janeiro
2014
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO: POSSIBILIDADE OU
UTOPIA?
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Educação Especial e
Inclusiva
Por: Danielle Lopes Domingos da Silva.
3
AGRADECIMENTOS
À DEUS por ter me dado a
oportunidade de viver. Ao meu marido
Marcelo e aos meus filhos, Enzo e Enri,
por me darem o silêncio quando a
concentração pedia; as minhas colegas
de curso e de trabalho que me
ajudaram na pesquisa de campo. Aos
meus professores do curso que direta
ou indiretamente contribuiram para a
realização deste trabalho. Ao Centro
Educacional Acalanto que oportunizou
a retomada dos meus estudos. Ao
apoio de todos, em todos os
momentos.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à todos os
educadores que fazem da inclusão uma
possibilidade, quando se acredita nela.
5
RESUMO
A Educação Inclusiva é, sem dúvida, um dos maiores desafios da
sociedade. Desenvolvida a partir na década de 70, ela envolve muito mais que
a pessoa com deficiência, envolve também a família, a escola, o Sistema e a
sociedade.
A Educação Inclusiva é parte integrante da educação e deve ser
entendida como um direito fundamental e indispensável do ser humano,
principalmente quando se trata de alunos com necessidades educacionais
especiais, pois o seu objetivo é incluir o aluno e contribuir com o trabalho do
professor, preservando o direito de toda a educação. Deste modo, o tema:
“Educação Especial e Inclusiva: Possibilidade ou Utopia?”, busca compartilhar
o conhecimento e a investigação das relações que envolvem os alunos desta
modalidade, seja na falta de acessibilidade, na especialização, falta de preparo
dos profissionais envolvidos neste processo, materiais didáticos pedagógicos
adaptados, e outras dificuldades que são enfrentadas para a inclusão dos
mesmos.
Este trabalho foi efetivado através de pesquisa bibliográfica e pesquisa
de campo feita com professores da rede privada de Educação Infantil e Ensino
Fundamental I do município do Rio de Janeiro.
Conclui-se que a inclusão ainda é um desafio em todas as áreas da
sociedade, principalmente, no âmbito escolar, pois, as dificuldades
encontradas exigem mudança de postura, ideias, práticas e, que o ser humano
de modo geral esteja aberto à aceitação da diversidade encontrada na
sociedade.
6
METODOLOGIA
Na tentativa de responder o questionamento aqui exposto, a
metodologia adotada partiu de uma reflexão em torno de uma consulta
bibliográfica e da realidade prática de professores que lecionam em escolas
das rede privada de Educação Infantil e Ensino Fundamental I. Esses dados
foram obtidos através de questionários que foram aplicados a seis professoras
de escolas diferentes e entrevistas feitas com as professoras do Centro
Educacional Acalanto, escola situada em Botafogo, no Rio de Janeiro.
Para apresentação desta monografia, no Capítulo I concentra-se em
fazer um breve histórico sobre a educação especial e inclusão.
O Capítulo II aborda a educação visando a inclusão e a transformação
do Sistema. Neste capítulo, fala-se também sobre a integração e inclusão, a
questão social e escolar dessa inclusão.
O capítulo III trata a atuação dos professores no processo de inclusão,
o que pensam, como vem agindo diante desta realidade, quais os obstáculos
encontrados, quais os subsídios dados pela própria escola para sua realização.
Esta abordagem está comprovada através de entrevistas feitas com as
professoras do Centro Educacional Acalanto e questionarios aplicados à
professores de outras escolas da rede privada, que seguem transcritos no
capítulo.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................8 CAPÍTULO I - Educação Especial e Inclusão: breve histórico..........................10 CAPÍTULO II - A Educação visando a inclusão e a transformação do
Sistema.............................................................................................................20
CAPÍTULO III – Professor: sua formação X seu papel.....................................34
CONCLUSÃO...................................................................................................46
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................48
ANEXOS...........................................................................................................50
ÍNDICE..............................................................................................................55
FOLHA DE AVALIAÇÃO...................................................................................56
8
INTRODUÇÃO
A Educação Inclusiva é um grande desafio para a sociedade e
segundo Campbell (2009), “a educação brasileira é marcada por dicotomias.
Temos a educação pública e privada; educação comum e especial; educação
para a elite e para as classes populares.” Há pouco tempo, surge a educação
inclusiva para unificar todas as partes dessas divisões.
Atualmente contamos com a LDB 9394/96, capítulo V que torna viável
esse processo de inclusão dos alunos portadores de necessidades especiais
em classes regulares.
A legislação tem avançado e a inclusão na escola é um direito
constitucional, pois, não há mais espaço para a discussão da aceitação, ou
não, destes alunos, como consta na Constituição Federal de 1988, artigo 205,
o direito à educação é para todas as pessoas. A lei é especifica quanto à
obrigatoriedade em acolher alunos com necessidades especiais, contudo, não
é suficiente para ocorrer o pleno desenvolvimento de suas potencialidades.
Algumas escolas privadas já se adequaram ou estão em processo de
adequação das instalações físicas, da metodologia de trabalho e/ou na
formação continuada de seu corpo docente, a fim de incluírem de fato,
crianças portadoras de necessidades especiais. Porém, ainda estamos muito
distantes do que garantem as leis que asseguram esses direitos a essas
crianças.
O objetivo deste estudo, é analisar se as escolas privadas de Educação
Infantil e Ensino Fundamental I, em especial ao Centro Educacional Acalanto,
escola que trabalho há 19 anos, estão preparadas para incluir alunos
portadores de necessidades especiais.
Através desta pesquisa busco também avaliar a inserção desses alunos
em classes regulares de ensino, levando em conta distintas formas de
9
aprender e ensinar, assim como a relação estabelecida entre alunos e
professores e sua formação.
Como metodologia, utilizar-se-á a pesquisa bibliográfica, documentos
oficiais nacionais e internacionais, questionário que será aplicado à
professores de escolas privadas de Educação Infantil e Ensino Fundamental I
e entrevistas com professores do Centro Educacional Acalanto.
No rumo da investigação a pesquisa se organiza em três momentos que
se transformam em três capítulos. O primeiro momento recorre a história da
inclusão e da educação especial. O segundo momento diz da educação
visando a inclusão e as mudanças no Sistema Educacional. Por fim no
terceiro momento trazemos para a discussão a formação do professor e o seu
papel, envolvidos diretamente nesse processo.
10
CAPÍTULO I
Educação Especial e Inclusão: breve histórico
“Visão sem ação não passa de um sonho. Ação sem
visão é só um passatempo. Visão com ação pode
mudar o mundo.” (Joel Arthur Barter)
Pensar em Inclusão e em Educação Especial, é antes de tudo pensar
na História da Educação e na história do conceito de deficiência.
A História da Educação é parte da história geral, história do mundo.
Segundo LUZURIAGA (1981), “a educação atendeu a determinados objetivos,
que correspondiam a visões de homem e de mundo.”
Dentre as principais fases da História da Educação estão: primitiva,
oriental, clássica, medieval, humanista, cristã reformada, realista, naturalista e
nacional.
Falou-se também em educação democrática, pois pressupunha que,
na grande maioria dos países, pelo menos a Educação Primária fosse
universal, gratuita e obrigatória.
Atualmente, diz-se da Educação Inclusiva e Especial, que vem para
aproximar todos os tipos de educação existentes, eliminando preconceitos,
barreiras.
A história do conceito de deficiência acompanha a evolução da
conquista dos direitos humanos, inserida na filosofia humanista. Ao expressar
a evolução dessa ideia, faz-se necessário referir momentos marcantes de
origem teológica, econômica, política ou jurídica.
Os portadores de necessidades especiais, os considerados “diferentes”
da antiguidade até nossos dias, sempre foram marcados pela exclusão,
consequentemente, foram rejeitados.
Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda (2008), rejeitar
significa não aprovar quanto que excluir significa eliminar.
11
Se pensarmos na História do mundo, o processo de rejeição e
exclusão tem início desde o ano de 1.700 a. C. com o código de Hamurabi1
onde a história já registra as primeiras notícias sobre o assunto.
Já o filósofo Aristóteles, escreve notas relacionadas a deficiência
mental como alterações da estrutura cerebral.
Segundo Pessotti (1993), pouco pode-se afirmar com base documental
sobre as atividades relativas a deficiência na Antiguidade. Mesmo na Idade
Média, a documentação é escassa, favorecendo especulações sobre o
assunto.
Na antiguidade predominava o abandono e a eliminação das pessoas
com deficiência. O deficiente na Idade Média era tido como fruto da ação
demoníaca sendo considerado pela Igreja como um castigo merecido aos pais.
O autor afirma que em Esparta, crianças portadoras de necessidades
especiais eram considerados sub-humanas, sendo eliminados ou
abandonados pelas famílias. As características das crianças portadoras de
necessidades especiais não eram condizentes aos ideais atléticos e clássicos
que serviam de base a organização sócio-cultural de Esparta e Grécia.
A pessoa portadora de necessidades especiais, sempre foi
considerada como alguém fora dos padrões normais na visão histórico-cultural.
Baseados nisso, muitos termos foram usados para identificar pessoas
portadoras de necessidades especiais e atravessaram tempos buscando
assumir um sentido de inovação na busca pela superação de preconceitos.
Durante muito tempo usou-se o termo retardo mental, atualmente
ainda presente nos mais importantes códigos de classificação de doenças.
Na década de 1960 a pessoa deficiente ou com retardo era
reconhecida como “excepcional”. Em pouco tempo novas expressões
passaram a circular, como por exemplo, pessoas com necessidades
educacionais especiais, pessoa especial, ou apenas especial, na tentativa de
apagar o sentido da deficiência.
“As diferentes formas de nomear podem apenas representar o
esconderijo de velhas arapucas a maquiar valores sociais contraditórios e a
1 Conjunto de 282 leis da antiga Babilônia escritas pelo rei Hamurabi.
12
encobrir as tensões geradoras de novas formas veladas de exclusão” (PAN,
2010).
Analisando o período histórico da educação inclusiva no Brasil, nos
séculos XVII e XVIII, é possível notar que se evidenciam teorias e práticas
sociais de discriminação, promovendo infinitas situações de exclusão. Essa
época foi caracterizada pela ignorância e rejeição do indivíduo deficiente: a
família, a escola e a sociedade em geral condenavam esse público de uma
forma extremamente preconceituosa, de modo a excluí-los do estado social.
As instituições para pessoas com deficiência continuaram a crescer em
número e tamanho durante o final do século XIX até a década de 1950, ao
mesmo tempo em que surgia uma nova tendência de escola conhecida como
“escolas comuns”, nas quais a maioria das crianças eram educadas, embora
vários grupos de crianças fossem excluídas das escolas públicas regulares.
Já na Idade Contemporânea inicia uma grande preocupação com a
educação das pessoas com deficiência e com os discursos em favor das
diferenças, preocupação essa de pouca valia já que a segregação fazia parte
da realidade dessa época, deixando, até os dias atuais, efeitos ainda
prejudiciais às pessoas com deficiência, às escolas e à sociedade em geral.
A guerra do Vietnã foi responsável por um aumento impressionante de
deficientes, que além de comprometimentos físicos, apresentavam grandes
problemas de readaptação social, problemas emocionais, no pós guerra.
Hoje, sabe-se que não se trata de normalizar as pessoas, mas de
“normalizar” o contexto em que se desenvolvem, ou seja, oferecer aos
deficientes condições de vida mais compatíveis com suas limitações, incluindo-
os no restante da sociedade a fim de que possam desenvolver o máximo suas
potencialidades. Com os avanços dos Direitos Humanos registraram-se
consideráveis progressos na conquista da igualdade e do exercício de direitos
e o que se sente e observa atualmente, tendo como grande enfoque, é a busca
da inclusão destas pessoas historicamente marcadas pela segregação, pelo
preconceito e pela rejeição.
A Educação Especial que irá surgir ao longo dos tempos retrata a
concepção e a visão da deficiência próprios de cada momento histórico,
13
político e social, onde muitas vezes o que predominava era a educação elitista
sendo que poucas instituições ofereciam atendimento aos deficientes
revelando assim a pouca preocupação com sua educação e com o nível de
segregação a que estavam submetidos.
No século XX, em sua primeira metade, o conceito de deficiência incluía
as características do Inatismo2, atribuindo as causas orgânicas presentes no
início do desenvolvimento e dificilmente possíveis de serem modificadas.
As grandes tendências que marcaram o início deste século e
determinaram a direção pedagógica do atendimento educacional das pessoas
com deficiência foram a vertente médico-pedagógica, embora a prioridade
fosse o atendimento médico, mas a questão pedagógica foi significativa.
No Brasil, até a década de 50, praticamente quase não se falava em
Educação Especial, mas na educação de deficientes.
A Educação Especial passa, no final do século XX e início do século
XXI, por grandes reformulações, crises e mudanças. É dentro deste contexto
histórico que se intensifica o processo de exclusão e que o termo excepcional
passa a ser utilizado. Portanto, a história da humanidade, nas diferentes
culturas ocidentais, nos transporta ao resgate das diferentes formas de se
entender a deficiência e, portanto, seus paradigmas de atendimento. Na
década de 70 criam-se então as classes especiais e constata-se a
necessidade de integração social dos indivíduos que apresentam deficiência,
começando um movimento cujo objetivo era integrá-los em ambientes
escolares, registrando nesta época muitos avanços na conquista da igualdade
e do exercício de direito aumentando aos poucos a pressão, de toda uma
comunidade envolvida, para que o Estado reconhecesse cada vez mais, a
Educação Especial como responsabilidade e dever. Surgem programas de
reabilitação global, incluindo a inserção profissional de pessoas com
deficiência.
A trajetória de luta em busca da educação e principalmente da luta
pelos seus direitos como cidadãos, apesar de suas deficiências, deve-se ao
determinante papel exercido pelas instituições particulares e de caráter
2 Doutrina filosófica no qual algumas ideias ou conteúdos mentais estão presentes desde o nascimento.
14
filantrópico. Foram estas que organizaram grandes movimentos pelos direitos
das pessoas com deficiência e trouxeram para o eixo das discussões os
direitos tão sonegados ao longo do tempo, denunciando a discriminação, o
preconceito e a falta de programas educacionais básicos.
Em meados da década de 80 e início dos anos 90, inicia-se no
contexto internacional um movimento materializado por profissionais, pais e por
pessoas com deficiência, que lutam contra a ideia de que a educação especial,
embora colocada em prática junto com a integração social, estivera
enclausurada em um mundo à parte. Surge também mais ou menos nesta
época o movimento que aparece nos EUA denominado “Regular Education
Iniciative” (REI), cujo objetivo era a inclusão na escola comum das crianças
com alguma deficiência (INCLUSÃO – REVISTA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL,
out. 2005).
Segundo o Ministério da Educação e Cultura, a Educação Especial é
uma modalidade de ensino cuja aplicação permeia todo o sistema educacional
do país e visa proporcionar a pessoa com deficiência à promoção de suas
capacidades, o desenvolvimento pleno de sua personalidade, a participação
ativa na sociedade e no mundo do trabalho e aquisição de conhecimentos.
A Educação Especial tem cumprido na sociedade duplo papel, o de
complementaridade da educação regular, atendendo de um lado a
democratização do ensino, na medida em que responde as necessidades de
parcela da população que não consegue usufruir dos processos regulares do
ensino; do outro, responde ao processo de segregação legitimando a ação
seletiva da escola regular (MOSQUERA; STOBAUS, 2004, p. 23).
No final da década de 80, surge o movimento de inclusão que desafia
qualquer situação de exclusão, tendo como base o princípio de igualdade de
oportunidades nos sistemas sociais, incluindo a instituição escolar. Esse
movimento mundial tem como preceitos o direito de todos os alunos
frequentarem a escola regular e a valorização da diversidade, de forma que as
diferenças passam a ser parte do estatuto da instituição e todas as formas de
construção de aprendizagem sejam consideradas no espaço escolar.
15
Registram-se muitos avanços, na conquista de igualdade e do
exercício de direito, através de marcos legais nacionais e internacionais que
vieram fortalecer a Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da
Educação Inclusiva. Merecem destaque:
1. Lei nº 4024/61 aponta que a educação dos excepcionais deve no
que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação. Nesse período
a educação dos deficientes é feita por classes especiais, instituições e oficinas
separadas da educação regular, acentuando com isso as diferenças mesmo
com a possibilidade de desenvolver habilidades nos indivíduos que a escola
regular não conseguia.
2. Lei nº 5692/71 prevê “tratamento especial aos excepcionais”. A
oficialização da educação especial e de classes especiais se deu em
consequência dessa lei, com a criação do Centro Nacional de Educação
Especial.
3. Parecer nº 848/72 do CFE sugere a “adoção” de medidas urgentes
para que também o campo de ensino e amparo ao excepcional seja
dinamizado.
4. A Constituição Federal (1988) assegura que é objetivo da República
Federativa do Brasil “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (Artigo 3º,
Inciso IV). Em seu Artigo 5º, a Constituição garante o princípio de igualdade:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade (...).
Além disso, a Constituição Federal garante em seu Artigo 205 que a
educação é direito de todos e dever do Estado e da família. Em seguida, no
Artigo 206, estabelece a igualdade de condições para o acesso e permanência
na escola. O Atendimento Educacional Especializado, oferecido
preferencialmente na rede regular de ensino, também é garantido na
Constituição Federal (Artigo 208, Inciso III). Portanto, a Constituição Federal
garante a todos os alunos a frequência no ensino regular, com base no
16
princípio de igualdade. Assim, todo aluno tem direito de estar matriculado no
ensino regular e a escola tem o dever de matricular todos os alunos, não
devendo discriminar qualquer pessoa em razão de uma deficiência ou sob
qualquer outro pretexto.
5. Lei nº 7853/89 prevê a oferta obrigatória e gratuita da Educação
Especial em estabelecimentos públicos de ensino, considerando crime a
recusa de alunos com deficiência em estabelecimentos de ensino de qualquer
curso ou grau, público ou privado.
6. Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) foi aprovada
em Jomtien, Tailândia, em 1990. Essa declaração tem como objetivo garantir
o atendimento às necessidades básicas da aprendizagem de todas as
crianças, jovens e adultos. Em seu Artigo 3º a Declaração trata da
universalização do acesso à educação e do princípio de equidade.
Especificamente em relação à educação dos alunos com deficiência, o
documento diz:
“As necessidades básicas de aprendizagem das
pessoas portadoras de deficiência requerem atenção
especial. É preciso tomar medidas que garantam a
igualdade de acesso à educação aos portadores de
todo e qualquer tipo de deficiência, como parte do
sistema educativo” (p. 4).
Assim, essa Declaração afirma o direito de todas as pessoas à
educação, assegurando a igualdade de acesso às pessoas com deficiência.
7. Declaração de Salamanca (julho de 1994) fala sobre a inquietação
que a exclusão de pessoas com deficiência causava nos países da Europa e
também vem para reafirmar o direito de “Educação para todos”. Em 10 de
junho de 1994, representantes de 92 países e 25 organizações internacionais
realizaram a Conferência Mundial de Educação, encontro realizado pelo
governo espanhol e pela UNESCO, dando ênfase a Educação Integradora,
capacitando os professores e escolas para atender as crianças, jovens e
adultos deficientes. Proclama também que as escolas regulares com
orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes
17
discriminatórias e que alunos com deficiência devem ter acesso à escola
regular, tendo como princípio orientador que “as escolas deveriam acomodar
todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais,
sociais, emocionais, linguísticas ou outras” (BRASIL, 2006, p. 330). Fica
evidente que a Declaração de Salamanca realça no princípio orientador o
desafio da educação inclusiva lançado às escolas, no intuito de que devem
acolher e ensinar a todos os alunos.
8. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9394/96
aponta que a educação de pessoas com deficiência deve dar-se
preferencialmente na rede regular, sendo um dever do Estado e da família
promovê-la. O objetivo da escola, segundo a lei, é promover o pleno
desenvolvimento do educando, preparando-o para a cidadania e qualificando-o
para o trabalho. É importante destacar que a LDB garante, em seu Artigo 59,
que os sistemas de ensino assegurarão aos alunos com necessidades
especiais:
8.1. Currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização
específica para atender as suas necessidades;
8.2. Terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o
nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas
deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar
para os superdotados.
9. Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas de
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (Convenção da
Guatemala, 2001). A Convenção da Guatemala foi promulgada no Brasil pelo
Decreto nº 3.956, de 08 de outubro de 2001. Fica claro, nessa Convenção,
que todas as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos das outras
pessoas de não serem discriminadas por terem uma deficiência. Esse
documento tem como objetivo “prevenir e eliminar todas as formas de
discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência e propiciar a sua
plena integração à sociedade” (Artigo 2º).
18
Esse documento deixa claro que pessoas com deficiência não podem
receber tratamento desigual. A discriminação é compreendida como forma de
diferenciação, restrição ou exclusão com base na deficiência.
10. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006).
O Artigo 24 dessa Convenção reconhece o direito à educação sem
discriminação e com igualdade de oportunidades das pessoas com deficiência.
É assegurado, a partir dessa Convenção, o direito de todos os alunos
frequentarem o ensino regular, não podendo haver qualquer tipo de
discriminação por apresentarem uma deficiência. Sendo garantido também o
direito ao apoio necessário para facilitar a aprendizagem do aluno com
deficiência, apoio esse que pode ser oferecido pelo Atendimento Educacional
Especializado (AEE) levando em consideração as necessidades específicas de
cada aluno.
A Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva (janeiro de 2008) estabelece que a Educação Especial seja uma
modalidade de ensino que perpassa todos os níveis (Educação Básica e
Ensino Superior) e realiza o Atendimento Educacional Especializado sendo
este complementar e/ou suplementar no ensino regular, devendo o aluno
receber atendimento de acordo com suas necessidades educacionais
específicas. Esse documento define ainda quem são os alunos atendidos pela
Educação Especial: alunos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento a altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de
ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais,
garantindo: a transversalidade da educação especial desde a educação infantil
até a educação superior; atendimento educacional especializado; continuidade
da escolarização nos níveis mais elevados do ensino; formação dos
professores para o Atendimento Educacional Especializado e demais
profissionais da educação para a inclusão escolar; participação da família e da
comunidade; acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e
equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; e articulação
inter setorial na implementação das políticas públicas (Secretaria de Educação
Especial, 2008, p. 1).
19
Com essa nova visão e nova proposta são dadas um novo enfoque a
Educação Especial, onde são lançados à escola o desafio de questionar e se
ampliar no atendimento das diferentes formas de construção de aprendizagem,
tendo como meta o aluno.
Para que aconteça realmente uma “educação para todos” é primordial
que seja feita uma verdadeira revolução dos conceitos, uma transformação de
mentalidades “cheias” de preconceitos, para que se desencadeie um
movimento realmente inclusivo de respeito, dignidade, integração em prol das
pessoas com deficiência que só será possível quando acontecer uma mudança
de postura de profissionais da educação com programas políticos responsáveis
e competentes.
Devemos, então, conviver, respeitar, tolerar, acolher e aceitar as
diferenças, e para que isto aconteça se faz necessário que seja trabalhado em
crianças desde a mais tenra idade e em todos os níveis do sistema
educacional uma atitude de respeito para com jos direitos das pessoas com
deficiência. Somente dessa maneira, teremos adultos que valorizam e
respeitam a igualdade como um direito básico de todo cidadão e não como
algo que precisa ser conquistado. Nesse contexto, Paulo Freire vem nos dizer
que: “a inclusão não é uma utopia, mas uma oportunidade a ser realizada,
desde que todos nós iniciemos uma luta contra nossos preconceitos e formas
mais mascaradas de práticas de exclusão”.
Para maximizar a aceitação e a paz social, todas as crianças devem
ter a oportunidade de tornaram-se membros regulares da vida educacional e
social.
Esse momento da pesquisa nos remete a reflexão da transformação
do sistema educacional, que se apresenta a seguir.
20
CAPÍTULO II
A Educação visando a inclusão e a transformação do
Sistema
“A escola que queremos é aquela capaz de ajudar o
aluno a exercer, plenamente, sua cidadania.” (Marion
Villas Boas)
A educação que visa à inclusão de pessoas com necessidades
especiais, consiste em um trabalho que tem por objetivo, desenvolver as
oportunidades para que todos tenham acesso ao ensino, apoiando com
recursos pedagógicos, que respeite a diversidade, as diferenças, promovendo
a construção do conhecimento e a inserção deste aluno. Refletir sobre as
questões de uma escola inclusiva e para todos, parte de uma mudança na
perspectiva sociocultural de uma visão ideológica, em contraste com a
realidade apresentada.
2.1. Inclusão e Exclusão
A educação é um fenômeno extraordinário que o ser humano realiza
como necessidade de sua evolução no tempo e espaço para sua
sobrevivência, que ocorre dentro de um processo histórico-cultural, garantindo
a sua própria existência. A humanidade se evolui na formação de uma
estrutura social histórica e cultural em busca de um conhecimento
transformador. A sociedade, através dos anos, apresenta uma história de
preconceitos e discriminação que, vem produzindo movimentos de exclusão
em todos os níveis da sociedade. A exclusão social vem desde a antiguidade,
onde mulheres, estrangeiros, deficientes e demais pessoas consideradas fora
do que é normal pela sociedade eram excluídas. A crise econômica mundial,
que ocorre na idade contemporânea, torna a exclusão social mais visível e com
mais força. Mais tarde, os efeitos dessa exclusão despontam, gerando
desemprego prolongado onde muitos passam a ser socialmente excluídos.
21
Nesta época, a exclusão passa a ser tema centralizador nos diversos meios da
sociedade. A exclusão ocorre devido à práticas e valores da cultura que
orientam as ações do homem. É o resultado de um processo histórico de
construção de valores morais por parte das diferentes culturas. Este
movimento do que é normal/anormal, também parte para a educação e
provoca movimentos no contexto escolar. A escola no seu percurso histórico
se caracterizou como uma educação seletiva em que grupos minoritários
tinham privilégios. Entretanto, sabemos que a escola pode ter um papel
fundamental na construção de valores que auxiliam os membros da sociedade.
A epistemologia como teoria do conhecimento enriquece a existência
humana diante de diferentes concepções de caráter filosófico, sociológico e
histórico nos campos da história e da ciência . A epistemologia é a força que
busca as diversas e diferentes concepções de adquirir, ter e assumir o
conhecimento. A epistemologia e a educação se unem diante dos estudos de
conceitos da verdade e certeza do conhecimento. A sociedade se envolve e
necessita da epistemologia e da educação que nutrem as diversas disciplinas,
formando uma concepção social do conhecimento que produz. Contudo a
humanidade vive hoje, um momento de sua história, marcado por grandes
transformações, decorrentes sobretudo do avanço tecnológico, nas diversas
esferas de sua existência: no âmbito da produção econômico dos bens
naturais, no âmbito das relações políticas da vida social e no âmbito da
construção cultural. Esta nova condição exige um redimensionamento de
todas as práticas mediadoras de sua realidade histórica, quaisquer que sejam,
o trabalho, a sociabilidade e a cultura simbólica . Espera-se, pois da,
educação, como mediação dessas práticas, que se torne, para enfrentar o
grande desafio do terceiro milênio, investimento sistemático, nas forças
construtivas dessas práticas, de modo a contribuir mais eficazmente na
construção da vida tornando-se, fundamentalmente, educação do homem
social.
Falar de educação e da escola como um espaço cultural, é pensar na
diversidade de valores sociais sem distinção alguma. É resgatar todo valor
histórico cultural de cada individuo indistintamente. E sempre que pensarmos
22
em crianças vem-nos à cabeça uma imagem de vigor, de crescimento e de
exuberância. Esta imagem vem junto com uma série de expectativas em
grande parte depositadas em nós por pais e professores.
Partindo desse pressuposto, o que supomos que pensam os pais e os
professores de crianças portadores de alguma necessidade especial? Qual é
a expectativa da mãe que tem uma criança portadora de alguma necessidade ,
ou então o pai, a família?
Hoje, quando se fala tanto em inclusão, o que representa, para a
professora receber em classe um aluno com um problema X? Estará ela
preparada para isso, ou se sentirá despreparada, vítima de uma situação por si
só desesperadora: de um lado, o atual e necessário debate sobre a
importância da inclusão, e de outro, o trabalho a ser desenvolvido com um
aluno que demanda muita atenção, dentro de uma classe abarrotada, tendo
que dar conta de tudo?
Ressaltando que a situação atual do atendimento às necessidades
escolares da criança brasileira é responsável pelos índices assustadores de
repetência e evasão no ensino regular . Entretanto, no imaginário social, como
na cultura escolar, a incompetência de certos alunos (os pobres e os
deficientes) para enfrentar as exigências da escolaridade regular é uma crença
que aparece na simplicidade das afirmações do senso comum e, até mesmo
em certos argumentos e interpretações teóricas sobre o tema. Ainda assim, é
ousado para muitos, ou melhor, para a maioria das pessoas, a idéia de que
nós, os humanos, somos seres únicos, singulares e que é injusto e inadequado
sermos categorizados, sob qualquer pretexto! Todavia, apesar desses e de
outros contrasensos, sabemos que é normal a presença de déficits em nossos
comportamentos e em áreas de nossa atuação, pessoal ou grupal, assim como
em um outro aspecto de nosso desenvolvimento físico, social, cultural, por
sermos seres perfectíveis, que constroem, pouco a pouco e na medida do
possível, suas condições de adaptação ao meio. A diversidade no meio social
e especialmente no ambiente escolar é fator determinante do enriquecimento
das trocas intercâmbios intelectuais, sociais e culturas que possam ocorrer
entre os sujeitos que neles interagem.
23
Sabemos que o aprimoramento da qualidade do ensino regular e a
adição de princípios educacionais validos para todos os alunos resultarão
naturalmente na inclusão escolar dos portadores de necessidades especiais .
Em conseqüência, a educação especial adquirirá uma nova significação.
Tornar-se-á uma modalidade de ensino destinada não apenas a um grupo
exclusivo de alunos, o dos portadores de necessidades especiais, mas
especializada no aluno e dedicada à pesquisa e ao desenvolvimento de novas
maneiras de ensinar, adequadas à heterogeneidade dos aprendizes e
compatível com os ideais democráticos de uma educação para todos .
Nessa perspectiva, os desafios que temos a enfrentar são inúmeros,
pois toda e qualquer investida no sentido de se ministrar um ensino
especializado no aluno, depende de se ultrapassar as condições atuais de
estruturação do ensino escolar para portadores de necessidades especiais,
isto é, depende da fusão do ensino regular com o especial. Ora, fusão não é
junção, justaposição, agregação de uma modalidade à outra. Segundo o
AURÉLIO (2008) fundir significa incorporar em uma só (várias coisas).
Instalar uma classe especial em uma escola regular nada mais é do que
uma justaposição de recurso. Outros obstáculos à consecução de um ensino
especializado no aluno, implicam a adequação de novos conhecimentos
oriundos das investigações atuais em educação e de outras ciências às salas
de aula, às intervenções tipicamente escolares, que têm uma vocação
institucional especifica de sistematizar os conhecimentos acadêmicos, as
disciplinas curriculares. Sendo assim, nem sempre os estudos e as
comprovações cientificas são diretamente aplicáveis a realidade escolar e as
implicações pedagógicas que podemos retirar de um novo conhecimento
também precisam ser testadas, para confirmar sua eficácia no domínio do
ensino escolar. O paradigma vigente de atendimento especializado e
segregativo é extremamente forte e enraizado no ideário das instituições e na
prática dos profissionais que atuam no ensino especial. A indiferenciação
entre os significados específicos dos processos de integração e inclusão
escolar reforça ainda mais a vigência do paradigma tradicional de serviços, e
muitos continuam a mantê-lo, embora estejam defendendo a integração!
24
Ocorre que os dois vocábulos (integração e inclusão), embora tenham
significados semelhantes, estão sendo empregados para expressar situações
de inserção diferentes e tem implícitos posicionamentos divergentes para a
realização de suas metas. A noção de integração tem sido compreendida de
diversas maneiras, quando aplicada a escola. Os diversos significados que lhe
são atribuídos devem-se ao uso do termo para expressar fins diferentes, sejam
eles pedagógicos, sociais, culturas e outros. O emprego do vocábulo é
encontrado para designar alunos agrupados em escolas especiais ,para
portadores de necessidades especiais, ou em classes especiais, grupos de
lazer, residências para portadores de necessidades. Por tratar-se de um
histórico recente, que vem desde os anos 60, a integração sofreu a influência
dos movimentos que caracterizavam e reconsideravam outras idéias, como as
de escolas, da sociedade, da educação. O número crescente de estudos
referentes à integração escolar e o emprego generalizado do termo têm levado
a muita confusão a respeito das idéias que cada caso encerra.
A noção de base em matéria de integração, é o princípio de
normalização que, não sendo específico da vida escolar, atinge o conjunto de
manifestações e atitudes humanas e todas as etapas da vida das pessoas,
sejam elas afetadas ou não por uma incapacidade, dificuldade ou inadaptação.
A normatização visa a tornar acessível às pessoas socialmente desvalorizadas
condições e modelos de vida análogos aos que são disponíveis de um modo
geral ao conjunto de pessoas de um dado meio ou sociedade, implica a
adoção de um novo paradigma de entendimento das relações entre as
pessoas, fazendo-se acompanhar de medidas que objetivam a eliminação de
toda e qualquer forma de rotulação.
Desse modo, o aluno com necessidades especiais ou com dificuldades
de aprendizagem, deve ter acesso à educação, sua formação sendo adaptada
às suas necessidades especificas, porém, existe um leque de possibilidades e
de serviços disponíveis aos alunos, que vai de inserção as classes regulares
ao ensino em escolas especiais. Este processo de integração traduz-se por
uma estrutura intitulada sistema de cascata, que deve favorecer o “ambiente o
menos restritivo possível”, oportunizando ao aluno, em todas as etapas da
25
integração, transitar no “sistema”, da classe regular ao ensino especial. Trata-
se de uma concepção de integração parcial, porque a casca prevê serviços
segregados que não ensejam o alcance dos objetivos da normalização. De
fato, os alunos que se encontram em serviços segregados dificilmente se
deslocam para os menos segregados e, raramente, às classes regulares. A
outra opção de inserção é a inclusão, que questiona não somente às políticas
e a organização da educação especial e regular, mas também o conceito de
integração.
A noção de inclusão não é compatível com a de uma forma mais radical,
completa e sistemática. O conceito se refere à vida social e educativa, e todos
os alunos devem ser incluídos nas escolas regulares. O vocabulário
integração é abandonado, uma vez que o objetivo é incluir um aluno ou um
grupo de alunos que já foram anteriormente incluídos, a meta primordial, da
inclusão é a de não deixar ninguém no exterior do ensino regular, desde o
começo. As escolas inclusivas propõe um modo de se construir o sistema
educacional que considera as necessidades de todos os alunos e que é
estruturado em função dessas necessidades. A inclusão causa uma mudança
de perspectiva educacional, pois não se limita a ajudar somente os alunos que
apresentam dificuldades na escola, mas apóia a todos – professores, alunos,
pessoal administrativo - para que obtenham sucesso no processo educativo
geral.
Existem varias modalidades de inclusão; a inclusão total aplica-se a
todas as crianças, sem excluir as severamente incapacitadas. Há contudo,
outras variedades, que optam pela inclusão apenas do que apresentam
quadros menos graves de capacidades. A abordagem inclusiva pode ser
igualmente considerada como uma “educação integrada a comunidade’’. Essa
é uma variante em que o aluno se insere totalmente a comunidade, em certos
momentos, ele está na escola e, em outros, fora dela, mas sempre buscando
aprender os mesmos conteúdos de aprendizagem que os colegas ditos
normais. Os que praticam a inclusão como educação integrada a comunidade
sugere que seja introduzida uma dimensão funcional nos objetivos de
aprendizagem, levando em conta as características dos alunos com
26
necessidades especais mais acentuadas. Assim sendo, quando os objetivos
educacionais definidos para os alunos regulares têm um grau de complexidade
e de abstração a que os alunos menos capacitados não são capazes de
atingir, propõe-se que existam objetivos funcionais, acessíveis a estes últimos
e que poderão ser alcançados no meio não escolar (os museus, lojas, parques
e outros locais ), daí não localizarem a inserção apenas na classe regular. A
inclusão propiciou a criação de inúmeras outras maneiras de realizar-se a
educação de alunos com anormalidades mais acentuadas nos sistemas de
ensino regular, como as “escolas heterogêneas’’ as “escolas acolhedoras’’ os
“currículos centrados na comunidade’’.
A meta de inclusão é, desde o início, não deixar ninguém fora do
sistema escolar, que terá que se adaptar às particularidades de todos os
alunos. Sem dúvida, a inclusão concilia-se com uma educação para todos e
com um ensino especializado no aluno, mas não se consegue implantar uma
opção de inserção tão revolucionária sem enfrentar um desafio ainda maior,
exigindo mudanças no relacionamento pessoal e social e novas maneira de se
efetivar os processos de ensino aprendizagem. Nesse contexto, a formação
do pessoal envolvido com a educação e de fundamental importância, assim
como a assistência às famílias, em fim, uma sustentação aos que estão
diretamente implicados com as mudanças é condição necessária para que
estas não sejam impostas, mas imponham-se como resultado se uma ciência
cada vez mais evoluída de educação e desenvolvimento humano
A partir de meados do século XX com a intensificação dos movimentos
sociais de luta contra todas as formas de discriminação que impedem o
exercício da cidadania das pessoas com deficiência surge a nível mundial o
desafio de uma sociedade inclusiva (INCLUSÃO – REVISTA DA EDUCAÇÃO
ESPECIAL, 2010, p. 20).
A educação inclusiva assume espaço central no debate acerca da
sociedade contemporânea e do papel da escola na superação da lógica da
exclusão.
Vivemos em uma época em que é possível ser diferente, mas não é
possível viver e demonstrar a diferença, e isto é percebido no momento em
27
que uma sociedade que luta por liberdade de expressão discrimina pessoas
em razão de diferenças de características intelectuais, físicas, culturais,
sexuais, sociais, linguísticas, discriminando ainda as pessoas que não vão às
aulas porque trabalham e também aquelas que de tanto repetir desistiram de
estudar, entre outras estruturantes do modelo tradicional de educação escolar.
Para MILLS (1999) o princípio que rege a educação inclusiva é: “o de
que, todos devem aprender juntos, sempre que possível, levando-se em
consideração suas dificuldades e diferenças”. De fato, todos devem fazer
parte do Sistema Educacional inclusivo onde deve ser proibido a utilização de
práticas discriminatórias para que se garanta igualdade de oportunidades.
Discriminação que, muitas vezes, acontece em condutas veladas que frustram
e que negam ou restringem o direito de acesso a um direito que é de todos. O
movimento em favor da inclusão tem como base o princípio de igualdade de
oportunidades nos sistemas sociais, incluindo a instituição escolar. Significa
que, todos os alunos têm o direito de frequentar a escola regular onde toda
diversidade deve ser valorizada, e a construção de aprendizagem deve ser
oferecida a todos, no mesmo espaço escolar com oportunidades iguais.
O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069/90, artigo 55,
determina que “os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus
filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. Obrigação essa que se dá como
direito de todos, indiferente de qualquer tipo de diferença. Segundo MANTOAN
(2003) “Inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças”, ou seja, é a
nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio
de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação
inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com
deficiência física, para os que têm comprometimento mental, para os
superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por
qualquer outro motivo. Ainda citando a educadora: “Costumo dizer que estar
junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas
que não conhecemos. Já inclusão é estar com, é interagir com o outro”.
28
2.2. Integração e Inclusão
Os mal-entendidos sobre o tema começam justamente aí. As pessoas
usam o termo inclusão quando, na verdade, estão pensando em integração.
Quais são as principais diferenças entre inclusão e integração? O conteúdo
das definições abaixo é de autoria de Claudia Werneck, extraído do primeiro
volume do Manual da Mídia Legal (apud MELERO, 2002).
INCLUSÃO
INTEGRAÇÃO
• a inserção é total e
incondicional (crianças com
deficiência não precisam “se
preparar” para ir à escola
regular)
• a inserção é parcial e
condicional (crianças “se
preparam” em escolas ou
classes especiais para estar
em escolas ou classes
regulares)
• exige rupturas nos sistemas. • pede concessões aos sistemas
• exige transformações
profundas
• contenta-se com
transformações superficiais
• sociedade se adapta para
atender às necessidades das
pessoas com deficiência e,
com isso, se torna mais atenta
às necessidades de TODOS.
• pessoas com deficiência se
adaptam às necessidades dos
modelos que já existem na
sociedade, que faz apenas
ajustes.
• traz para dentro dos sistemas,
os grupos de “excluídos” e,
paralelamente, transforma
esses sistemas para que se
tornem de qualidade para
• insere nos sistemas, os grupos
de “excluídos” que provarem
estar aptos (sob este aspecto,
as cotas podem ser
questionadas como promotoras
29
TODOS. da inclusão).
• o adjetivo inclusivo é usado
quando se busca qualidade
para TODAS as pessoas com
e sem deficiência (escola
inclusiva, trabalho inclusivo,
lazer inclusivo etc.).
• o adjetivo integrador é usado
quando se busca qualidade
nas estruturas que atendem
apenas as pessoas com
deficiência consideradas aptas
(escola integradora, empresa
integradora etc.).
• valoriza a individualidade de
pessoas com deficiência
(pessoas com deficiência
podem ou não ser bons
funcionários; podem ou não ser
carinhosos etc.).
• como reflexo de um
pensamento integrador
podemos citar a tendência a
tratar pessoas com deficiência
como um bloco homogêneo
(exemplos: surdos se
concentram melhor; cegos são
excelentes massagistas)
• não quer disfarçar as
limitações, porque elas são
reais.
• tende a disfarçar as limitações
para aumentar a possibilidade
de inserção.
• Inclusão: não se caracteriza
apenas pela presença de
pessoas com e sem deficiência
em um mesmo ambiente.
• a presença de pessoas com e
sem deficiência no mesmo
ambiente tende a ser suficiente
para o uso do adjetivo
integrador
• defende o direito de TODAS as
pessoas, com e sem
deficiência
• defende o direito de pessoas
com deficiência
O processo de incluir pessoas com deficiência na escola significa uma
revolução educacional e é um caminho fundamental para que se atinja também
30
a inclusão social, constitui uma meta cada vez mais firme nos diferentes
sistemas e envolve o descortinar de uma escola eficiente, diferente, aberta,
comunitária, solidária e democrática onde a multiplicidade leva-nos a
ultrapassar o limite da integração e alcançar o objetivo de uma sociedade que
almeja a igualdade para todos.
A proposta de um sistema educacional inclusivo passa, então, a ser
percebida na sua dimensão histórica, enquanto processo de reflexão e prática,
que possibilita efetivar mudanças conceituais, político e pedagógicas,
coerentes com o propósito de tornar efetivo o direito de todos à educação,
preconizado pela Constituição Federal de 1988. A inclusão é uma
possibilidade que se abre para o aperfeiçoamento da educação escolar e para
o benefício de todos os alunos com e sem deficiência, depende, contudo, de
uma disponibilidade interna para enfrentar as inovações e, essa condição não
é comum aos sistemas educacionais e a maioria dos professores. Incluir não
deve ser uma imposição, mas um modo de pensar. A inclusão de pessoas
com deficiência na escola supõe considerações que extrapolam a simples
inovação educacional e que implicam no reconhecimento de que o outro é
sempre e implacavelmente diferente, embora em alguns momentos,
observamos que muitas escolas e/ou professores não estão vivendo a inclusão
como sinônimo de entender essas diferenças.
Sabe-se que é difícil, muitas vezes devido ao número de alunos que
excede nas turmas, mas é importante compreender o outro com sua diferença
e tentar oferecer um ensino adequado. Devido a todo um percurso histórico e
cultural sabemos que muitos professores ainda não estão preparados para
lidar com as limitações e individualidades a fim de que, realmente todos os
alunos sejam incluídos e, ao mesmo tempo, analisar o que é “estar” excluído
em uma sociedade que se diz “igualitária”. A inserção de alunos com
deficiência em classe comum não acontece como um passe de mágica é uma
conquista que tem que ser feita com muito estudo, trabalho e dedicação de
todas as pessoas envolvidas no processo: aluno com deficiência, aluno sem
deficiência, família, professores e comunidade escolar.
31
A estabilidade é algo que buscamos frequentemente, pois ela nos dá
segurança. Quanto mais conhecemos determinado fato ou assunto, mais nos
sentimos seguros diante dele. O novo gera insegurança e instabilidade,
exigindo reorganização, mudança. É comum sermos resistentes ao que nos
desestabiliza. Sem dúvida, as ideias inclusivas causam muita desestabilidade
e resistência (MINETTO, 2008).
Com certeza, esse medo de mudar, de abandonar o que por muito
tempo nos dá segurança faz com que a educação inclusiva não consiga ainda
se configurar totalmente na educação brasileira, como uma proposta que
verdadeiramente corresponde a uma luta por uma escola que não discrimina,
não rejeita nenhum aluno e que só assim consegue ser justa e para todos. É
bom lembrarmos sempre no fato de que a escola tradicional não dá conta das
condições necessárias às mudanças propostas por uma educação aberta às
diferenças.
A estrutura da instituição educacional ainda é uma grande barreira,
pois apesar de existirem políticas públicas educacionais avançadas, as escolas
regulares, em esmagadora maioria, carecem de recursos físicos e financeiros,
e principalmente humanos (professores especializados), para que aconteça
realmente a inclusão do aluno na sala de aula. A escola deve atuar como
facilitadora da comunicação e da difusão de informações sobre deficiência,
visando a estimular a inclusão social, a melhoria da qualidade de vida e o
exercício da cidadania das pessoas com deficiência. A inclusão é uma
inovação, e muitas vezes, seu sentido tem sido muito distorcido e polemizado
pelos mais diferentes segmentos educacionais e sociais. No entanto, inserir
alunos com déficits de toda ordem, permanentes ou temporários, mais graves
ou menos severos no ensino regular nada mais é do que garantir o direito de
todos à educação e isto está assegurado pela Constituição.
Para descrever o percurso da educação inclusiva, observa-se o cenário
educacional brasileiro sob três ângulos: o dos desafios provocados por essa
inovação, o das ações no sentido de efetivá-la nas turmas escolares, incluindo
o trabalho de formação de professores e, finalmente o das perspectivas que se
abrem à educação escolar, a partir da sua implementação. O princípio
32
democrático da educação para todos só se evidencia nos sistemas
educacionais que se especializam em todos os alunos, não apenas em alguns
deles, os alunos com deficiência. A inclusão, como consequência de um
ensino de qualidade para todos os alunos provoca e exige da escola brasileira
novos posicionamentos e é um motivo a mais para que o ensino se modernize
e para que os professores aperfeiçoem as suas práticas. É uma inovação que
implica num esforço de atualização e reestruturação das condições atuais da
maioria de nossas escolas. O motivo que sustenta a luta pela inclusão como
uma nova perspectiva para as pessoas com deficiência é, sem dúvida, a
qualidade de ensino nas escolas públicas e privadas, de modo que se tornem
aptas para responder às necessidades de cada um de seus alunos, de acordo
com as suas especificidades, sem cair nas teias da educação especial e suas
modalidades de exclusão. O sucesso da inclusão de alunos com deficiência
na escola regular decorre, portanto, das possibilidades de se conseguir
progressos significativos desses alunos na escolaridade, por meio da
adequação das práticas pedagógicas à diversidade dos aprendizes. E só se
consegue atingir esse sucesso, quando a escola regular assume que as
dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam em grande
parte do modo como o ensino é ministrado, a aprendizagem é concebida e
avaliada.
Transformar a escola significa, portanto, criar as condições para que
todos os alunos possam atuar efetivamente nesse espaço educativo, focando
as dificuldades do processo de construção para o ambiente escolar e não para
as características particulares dos alunos (INCLUSÃO – REVISTA DA
EDUCAÇÃO ESPECIAL, 2010, p. 34).
Essa resistência é aceitável e compreensível, diante do modelo
pedagógico-organizacional conservador que vigora na maioria das escolas.
Poucos são os profissionais que se arriscam a encarar a ideia de ministrar um
ensino inclusivo em uma sala de aula de cadeiras enfileiradas, um livro didático
aberto na mesma página, uma só tarefa no quadro e uma só resposta válida e
esperada nas provas. Priorizar a qualidade do ensino regular é, pois, um
desafio que precisa ser assumido por todos os educadores. É um
33
compromisso inadiável da escola, pois a educação básica é um dos fatores do
desenvolvimento econômico e social.
Trata-se de uma tarefa possível de ser realizada, mas é impossível de
se efetivar por meio dos modelos tradicionais de organização do sistema
escolar. Se hoje já pode-se contar com uma Lei Educacional que propõe e
viabiliza novas alternativas para melhoria do ensino nas escolas, estas ainda
estão longe, na maioria dos casos, de se tornarem inclusivas, isto é, abertas a
todos os alunos, indistinta e incondicionalmente. O que existe em geral são
projetos de inclusão parcial, que não estão associados a mudanças de base
nas escolas e que continuam a atender aos alunos com deficiência em
espaços escolares semi ou totalmente segregados (classes especiais, salas de
recurso, turmas de aceleração, serviços de itinerância). As escolas que não
estão atendendo alunos com deficiência em suas turmas regulares se
justificam, na maioria das vezes pelo despreparo dos seus professores para
esse fim. Existem também as que não acreditam nos benefícios que esses
alunos poderão tirar da nova situação, especialmente os casos mais graves,
pois não teriam condições de acompanhar os avanços dos demais colegas e
seriam ainda mais marginalizados e discriminados do que nas classes e
escolas especiais. Em ambas as circunstâncias, o que fica evidenciado é a
necessidade de se redefinir e de se colocar em ação novas alternativas e
práticas pedagógicas, que favoreçam a todos os alunos, o que, implica na
atualização e desenvolvimento de conceitos e em aplicações educacionais
compatíveis com esse grande desafio.
O mérito da escola inclusiva não é apenas proporcionar educação de
qualidade a todos. Sua criação constitui passo decisivo para eliminar atitudes
de discriminação, onde a comunidade escolar acolhe a todos. Implica,
portanto, num processo de mudança que consome tempo para as necessárias
adaptações e requer providências indispensáveis para o bom funcionamento
do ensino inclusivo.
34
CAPÍTULO III
Professor: sua formação X seu papel
“O pensar certo sabe, por exemplo, que não é a partir
dele como um dado dado, que se conforma a prática
docente crítica, mas sabe tambemque sem ele não se
funda aquela.” (Paulo Freire)
3.1. A formação do professor
A educação é a área de formação, discussão, interpretação
redimensionamento, redefinição do ser humano, sociedade, mundo, trabalho,
valores, aspirações e expectativas, dentre tantos outros aspectos que agiliza a
atuação dos sujeitos contextuais. E neste cenário é exigido do trabalho da
educação a formação profissional com base cientifica e tecnológica.
Então, não se pode pensar na formação do professor de educação
especial de maneira isolada. Ao contrário, é preciso considerá-la como parte
integrante da formação dos profissionais da educação em geral. A
Constituição de 1998 garante, em seu art. 206, a igualdade de condição para o
acesso e permanência na escola. A educação como direito de todos e dever
do Estado e da família (art. 205) deve estender-se também ao atendimento
educacional especializado, quer dizer, aos deficientes (art. 208, III),
preferencialmente na rede regular de ensino. Isso quer dizer que quando
pensamos na formação do educador devemos também pensar em uma escola
que dê a todos uma mesma formação básica, uma vez que nesse momento o
que se quer formar, em primeiro lugar, é o professor qualificado, o profissional
preparado para lidar com o aluno, seja ele “normal”ou deficiente.
Mas não é tão simples assim. A história releva de fato como ocorreu e
como ocorre a falta de interesse por essa questão, pois a nossa sociedade é
historicamente cativa das tradições culturais e de práticas sociais
discriminatórias. A educação especial não tem se constituído em geral como
parte do conteúdo curricular da formação básica, comum, do educador. Quase
35
sempre é vista como uma formação especial reservada àqueles que desejam
trabalhar com alunos portadores de necessidades especiais.
Quando pensamos em “educação especial”, quase não lembramos que
ela vem se constituindo historicamente e acompanhando os progressos não só
da Medicina, Biologia e Psicologia, mas também da Pedagogia. Não
esquecendo que, apesar de sua especificidade, ela tem se organizado com e
para sujeitos concretos, pessoas “normais” e portadores de alguma
necessidade especial.
Nesse sentido, a formação diferenciada para professores de uns e de
outros somente vem reforçar o modelo capitalista de produção baseado na
eficiência, na seleção dos melhores e na exclusão social de muitos. Fundado
em uma visão desfocado da realidade do individuo, estamos assim correndo o
risco de estar institucionalizando a discriminação. Porém, já no ponto de
partida da formação dos professores e negando portanto, o principio de
“integração”, não só do portador de necessidades especiais na rede regular de
ensino como também do profissional da educação na realidade educacional
existente (não só escolas, mas também classes especiais, instituições
especializadas). Estamos negando a esses profissionais o privilegio e o
desafio de conviver com a diferença Percebe-se então, que a integração é
uma realidade da prática cotidiana, pelo menos no discurso de teóricos e
especialistas no assunto.
Constata-se, entretanto, que a integração só romperá as barreiras do
discurso acadêmico para assumir seu papel na realidade sócio- educativo,
quando forem superado alguns fatores adversos, tais como: o
descompromisso governamental, o desinteresse do todo social, o despreparo e
a não capacitação dos recursos humanos no que se refere aos programas de
formação de professores da rede regular de ensino.
Os educadores não podem esquivar-se dessa realidade social e, muito
menos, perder de vista a visibilidade histórica de um projeto de transformação
do real. Uma boa formação teórica e prática, básica e comum a todos,
independente da clientela para qual ensinarão no futuro, lhes garantirá uma
leitura critica não só da educação e das proposta de mudança nesse campo,
36
mas também uma consciência clara das determinações sociais, políticas e
econômicas nelas presentes. Dessa maneira o professor poderá contribuir
para a diminuição da segregação e da exclusão dos diferentes pela sociedade
capitalista moderna.
A preocupação em formar professores aptos a trabalhar com crianças
portadoras de necessidades especiais no Brasil é recente. Seu surgimento
liga-se, intimamente, às novas concepções de educação, as quais preconizam
a interação do deficiente nas escolas regulares. Não fosse o aparecimento
dessa teorias, ainda estaríamos a questionar a validade das mudanças
estruturais, teóricas e praticas, no que tange a formação de professores e,
talvez, a ignorar a necessidade de se incluir esse conteúdo nos currículos de
alunos, futuros educadores, que acreditam não precisar trabalhar com a
educação especializada, nas escolas regulares. Nesse sentido, cumpre
ressaltar a portaria do então Ministro da Educação e do Desporto, em que
Murilo de Avelar Hingel (1994) que, nos últimos dias de seu mandato,
recomendou a inclusão da disciplina de educação especial nos currículos dos
cursos de formação de professores, ato que veio favorecer processo de
preparação profissional para o trabalho, dos alunos portadores de
necessidades especiais e a conseqüente integração deles na rede regular de
ensino.
A formação de professores caracteriza-se então, como ação
fundamental, para que a integração ocorra de fato, mudando assim a realidade
da educação especial no país, exterminando preconceitos e ampliando
horizontes. O processo de educação e formação de um profissional não deve
se encerrar nos limites de um curso de graduação ou pós graduação, na
universidade.
3.2. O papel do professor
A escola, em toda a sua trajetória histórica não foi pensada para
atender a desigualdade. Toda a estrutura e funcionamento da escola regular é
mais confortável ao considerar a semelhança do que a diferença entre os
alunos. O número de alunos categorizados como deficientes foi ampliado
37
enormemente nos últimos anos, abrangendo todos aqueles que não
demonstram bom aproveitamento escolar.
A deficiência coloca em xeque a função primordial da escola comum
que é a produção de conhecimento, pois o aluno com deficiência tem uma
maneira própria de lidar com o saber que, invariavelmente, não corresponde ao
ideal da escola.
A resposta educativa à diversidade e a igualdade em educação são,
sem dúvida, um dos desafios mais importantes da atualidade. Alcançar os
objetivos da prática educativa requer trocas nas concepções, atitudes e
envolvimento de todo o quadro docente e, principalmente, das instituições
governamentais, em âmbito de políticas sociais e econômicas, fazendo com
que a realidade do princípio da educação seja, realmente, responsabilidade de
todos.
Para que a inclusão realmente aconteça são necessárias mudanças
sociais, bem como um esforço mútuo de todos os profissionais da educação
na busca pelo aprimoramento da prática educativa. A escola não é apenas um
espaço social de emancipação ou libertador, mas também é um cenário de
socialização e de mudança.
É preciso que a família e a escola estejam preparadas para iniciar e
perseverar o processo de inclusão, pois todo esse processo vai além de
receber o aluno, ele precisa de atendimento e de continuação no processo de
ensino-aprendizagem. Incluir alunos com deficiência requer ajustes e
modificações curriculares, envolvendo objetivos, conteúdos, procedimentos
que propiciem o avanço no processo de aprendizagem. Esse processo é
concebido como um conjunto de procedimentos que visa oferecer experiências
de aprendizagem adequadas aos diferentes níveis de comunicação, de
possibilidades motoras, cognitivas, socioemocionais e de vida diária, tendo em
vista as necessidades específicas dos alunos. É a escola que se modifica para
que o aluno obtenha êxito na aprendizagem e adquira conhecimento.
O novo paradigma de educação prega que devemos considerar a
pessoa de forma integral, favorecendo o seu desenvolvimento global, com
objetivo de inserí-la ativamente na sociedade e para que isto realmente
38
aconteça é importante que o professor compreenda e respeite as diferenças de
seus alunos, possibilitando a inclusão educacional e social através de uma
aprendizagem significativa. Uma escola inclusiva tem muito a ver com um bom
projeto político pedagógico. Nada adianta somente ter uma escola com
rampas e banheiros adaptados. Envolve um processo de reforma e de
reestruturação das escolas como um todo, com o objetivo de assegurar que
todos os alunos tenham acesso às oportunidades educacionais e sociais
oferecidas pela Instituição de Ensino. Isso inclui o currículo, a avaliação, os
registros dos alunos. O simples fato de colocar alunos lado a lado, deficientes
ou não, não garante, por si só, a manifestação de interações e formas de ajuda
“positivas”, podendo continuar ocorrendo atitudes “negativas”. É, sem dúvida,
enorme a capacidade dos alunos de se ajudarem mutuamente. Mas para que
esta capacidade se manifeste em toda a sua plenitude é necessário que os
professores liderem o processo, encorajem e cooperem com os alunos.
Pensando efetivamente no papel do professor, este sempre foi visto
como a fonte do conhecimento, porém isso não tem mais lugar em nossa
sociedade. As mudanças estão acontecendo a cada dia e as informações pré-
concebidas ou fatos não serão suficientes para “satisfazer” os alunos de hoje.
A educação de deficientes permite aos professores reverem sua própria
formação, os seus referenciais teóricos-metodológicos, os incentivando frente
ao enfretamento da diversidade social e das diferenças de seus alunos, a
buscar uma formação continuada e, acima de tudo uma transformação da
cultura pedagógica. É preciso, ainda, que muitos professores tenham
oportunidades para refletir sobre as propostas de mudanças que mexem com
seus valores, com suas convicções, sua prática profissional e também com seu
cotidiano, porque sair do que era durante tanto tempo convencional,
desestabiliza.
Deve ficar claro que bons mediadores de classe são fruto de
aprendizagem, eles não nascem bons. Sempre há aqueles poucos
professores que são mediadores naturais, que tiveram muito pouca
capacitação formal, e que simplesmente parecem saber o que fazer na maioria
ou em todas as situações problemáticas. Entretanto, a maioria dos
39
professores precisam de uma capacitação adequada para um bom
desenvolvimento de uma boa aula.
Como já falamos anteriormente, a falta de preparo dos professores é um
empecilho, mas não é fator determinante para que não haja inclusão de alunos
deficientes em classe regular. Sabe-se que o empenho entre ambos –
professor e alunos – resulta em reconhecer possibilidades e limitações dos
dois lados. E, conhecendo as características físicas, cognitivas, afetivas e
sociais que definem esses alunos, auxilia-os em seu desenvolvimento cultural.
Os professores colocam seus medos, diante do sistema educacional e
social inclusivo, de serem cobrados e avaliados como incapazes se não
conseguirem atingir o objetivo de ensinar ou mesmo trabalhar com os alunos
com deficiência. A forma como o professor vê o seu aluno acaba muitas vezes
por determinar a sua interação com ele, seu desempenho como estudante e
de suas possibilidades de aprendizagem.
3.3. O que pensam os professores
Pensando em comprovarmos o que os teóricos afirmam, um
questionário foi aplicado a seis professoras de escolas privadas de Educação
Infantil e Ensino Fundamental I e entrevistas foram feitas com o quinze
professoras do Centro Educacional Acalanto, em Botafogo, todas no Município
do Rio de Janeiro.
3.1.1. Questionários
Dentre os seis questionários aplicados somente três retornaram, sendo
que um estava incompleto. Os outros três, as professoras recusaram-se a
responder.
O primeiro questionário foi aplicada a uma professora que é sócio
diretora de uma escola na Zona Norte. Esta professora trabalha com
Educação há 40 anos e nesta Instituição há 26 anos. Pensa na Educação
Inclusiva como uma direito repeitado e garantido, quando se acolhe e valoriza
as diferenças. Acredita que uma sociedade inclusiva se promove de modo
abrangente, tanto no desenvolvimento humano quanto na preservação da
40
cultura, envolvendo todos os indivíduos. Com relação à mudança na vida
educacional, ela diz que ocorrerá quando houver inclusão dos alunos com
deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades,
superdotação orientando os sistemas de ensino, garantindo o acesso de todos
os alunos até os níveis mais elevados.
Acredita que inclusão e integração são coparticipativas e
coelaborativas e são múltiplas em suas ações. Uma não existe sem a outra.
Como medida de ação, sugere promover acessibilidade arquitetônica, nos
mobiliários, nas comunicações e informação, formar professores e estimular a
participação das famílias e da comunidade neste processo e as principais
resistências estão na acessibilidade arquitetônica, nos transportes, mobiliários
e na participação da família. Acha que as escolas estão se preparando para
lidar com alunos portadores de necessidades especiais e que na sua
Instituição estão procurando fazer o melhor para que a inclusão aconteça.
Reforça que os professores estão preparados para lidar com o assunto em
questão, porém precisam estudar efetivamente. Quanto a importância do
professor e pais neste processo, acrescenta que estes deverão fazer sua parte
e buscar ajuda sempre que precisarem.
O segundo questionário foi aplicado em uma professora de uma
creche na Zona Sul. Ela trabalha há 23 anos na área de Educação e há 4
anos nesta Instituição. Acredita que Educação Inclusiva é educar com respeito
e desenvolver a crainça portadora de necessidades especiais em todos os
aspectos dentro do processo de aprendizagem. Acredita que uma sociedade
inclusiva se constrói possibilitando a convivência da criança portadora de
necessidades especiais com os indivíduos ditos normais, por meio de trocas,
dando-lhes assim condições necessárias para a aprendizagem e ajustamento
social, baseado em valores morais.
Acredita que não há diferença para as duas situações, pois o
importante é deixar pertencer, ou seja, a intenção é ajudar o portador com
deficiência adaptando-o em todos os aspectos. Como medida de ação, sugere
preparar o educador para receber o aluno com deficiência. As resistências
41
para a inclusão destes alunos estão no despreparo dos educadores diante do
novo, não possuem teoria e nem prática para incluir essas crianças.
Com relação às escolas, acredita que ainda temem receber um aluno
portador de necessidades especiais por falta de preparo dos professores,
material específico e um ambiente favorável principalmente para cadeirantes e
deficientes visuais.
Afirma que na escola na qual leciona a inclusão funciona de verdade,
pois o objetivo é estar junto com a família e equipe multidisciplinar, oferecendo
condições para que o aluno desenvolva-se integralmente de forma prazerosa.
Afirma também que hoje o professor está preparado para receber esses alunos
desde que junto com a equipe da escola, estude e avalie sempre as
possibilidades de melhoria das condições de aprendizagem.
O papel do professor é de muita responsabilidade e doação, pois é
difícil incluir crianças especiais numa sociedade excludente. Já o papel dos
pais é o da aceitação diante do diagnóstico dos seus filhos.
Acredita que o acesso a estudantes com necessidades especiais
acontecerá de fato quando houver consciência de que somos todos iguais e
que temos direitos iguais de viver e sobreviver independentemente das
dificuldades que o nosso corpo apresente.
O terceiro questionário foi aplicado a uma professora de uma escola
bilingue, também na Zona Sul. A professora apresentou o questionário
incompleto, pois julgou-se incapaz de responder algumas das questões.
Essa educadora trabalha na área há 20 anos e exclusivamente nesta
Instituição, 17 anos. Pensa na Educação Inclusiva como uma educação que
percebe e atende as necessidades especiais dos alunos, em salas de aula
num sistema regular de ensino, de forma que promova a aprendizagem e o
desenvolvimento pessoal de todos, levando em conta a estrutura e o
funcionamento das escolas, a formação do corpo docente e a relação família e
escola. Acredita que uma sociedade inclusiva se constrói quando há a
participação de todos os alunos numa Instituição de ensino regular.
42
Avalia que há diferença entre inclusão e integração. A primeira leva a
acreditar que podemos escolher quais crianças têm direito de estar na escola
regular, já a segunda não precisa preparar a criança para ir à escola regular.
Termina o questionário dizendo que para se tornar eficaz a inclusão do
aluno com deficiência na escola regular é necessário uma reformulação
completa, em todo processo educacional dentro de uma instituição para que se
possa aceitar qualquer aluno com qualquer deficiência.
3.1.2. Entrevista
Foram realizadas entrevistas com quinze professoras do Centro
Educacional Acalanto, em Botafogo. Instituição de Ensino que trabalho há 19
anos.
As entrevistas foram feitas individualmente e alguns itens serão
apresentados em forma de gráfico, afim de mensurar tempo de trabalho na
àrea de Educação, tempo de serviço prestado à esta Instituição em específico
e áreas/setores que encontram resistências para uma efetiva inclusão. Os
demais itens serão transcritos em forma de texto.
Tempo de trabalho na área de Educação e tempo de serviço prestado ao
Centro Educacional Acalanto
01234567
Tempo de trabalhona área de Educação
Tempo de trabalhono C. E. Acalanto
0 a 11 meses 1 ano a 5 anos 6 a 10 anos11 a 15 anos 16 a 20 anos mais de 21 anos
43
Áreas/Setores resistentes a uma efetiva inclusão escolar
Avaliando as respostas das entrevistas, no ponto de vista da maioria dos
professores, Educação Inclusiva é aquela em todos têm o direito de buscarem
uma educação que atenda as suas necessidades, do aluno, e que seja de
qualidade, onde conhecer e respeitar as diferenças é o ponto principal. Outros
acreditam que a educação inclusiva, é aquela onde a Instituição se reestrutura,
criando condições de espaço, adequando metolodogias para receber alunos
com algum tipo de necessidade especial.
Ao serem perguntadas sobre como se construir uma sociedade
inclusiva, foram unânimes em dizer que devemos acabar com o preconceito
existente, aceitar e respeitar toda e qualquer diferença. Já no âmbito da área
educacional houve divergência de opiniões. Cinco educadores concordaram
com a ideia de que a principal mudança que deve existir é na preparação de
profissionais para atuarem com essas crianças; oito professores não se
pronunciaram e dois compartilharam da ideia de que as mudanças ocorrerão
quanto ao currículo, estrutura física, recursos e metodologia.
0
2
4
6
8
10
12
Pais Gestores Coordenadores Outras Professores
44
Ao serem perguntadas sobre a diferença entre inclusão e integração dos
portadores de necessidades especiais, duas professoras não responderam a
questão; quatro concordaram que integração e inclusão são ideias que se
complementam e nove das entrevistas afirmaram que são ideias diferentes. A
primeira diz que as escolas regulares recebem os alunos e a partir daí é que
vão adaptando-se, já a segunda compreende preparar o aluno para ser
incluído na escola regular.
Também foram questionadas sobre a ação que julgavam importante
para tornar eficaz a inclusão e elas também dividiram opiniões. Parte do grupo
de professores disse que o fator de maior relevância seria preparar os
professores, através de cursos de capacitação e/ou formação acadêmica. Em
contra partida, o outro grupo defende a ideia de que a ação de importância
seria a reestruturação do sistema de ensino além da adequação arquitetônica,
de metodologia e materais.
Quando questionadas sobre se de fato a inclusão escolar funciova no
Centro Educacional Acalanto e sobre a veracidade de haver adequação do
currículo, metodologia e recursos utilizados para esses alunos, quatro
professoras afirmaram que não acontecia. Porém, dez das profissionais
disseram que havia inclusão escolar e adequação efetiva do currículo,
metodologia e recursos. Uma das professoras preferiu não opinar pois tinha
pouco tempo na Instituição e ainda não havia tido a oportunidade de trabalhar
com uma criança portadora de necessidades especiais.
Perguntei também se elas estavam preparadas para a inclusão escolar.
Três educadores disseram que sim, com convicção; duas, em parte. Precisam
vivenciar na prática o que viram na teoria e dez afirmaram não estarem
preparadas para incluir um aluno portador de necessidades especiais. Quanto
ao papel do educador nesta inclusão, as opiniões foram se somando.
Começaram a dizer que o papel do agente educador era de mediar e facilitar o
processo de ensino-aprendizagem, embasados em conhecimentos teóricos
para que o aluno possa se desenvolver em todas as suas potencialidades e
elas os atenderem em todas as suas necessidades.
45
Finalizei a entrevista perguntando sobre o papel dos pais na visão delas.
Foram categóricas em dizer que primeiro deveria se ter uma aceitação dessa
família para com essa criança. Depois, a parceria entre família e escola é de
suma importância nesse processo e finalizaram dizendo que a família deve
cobrar efetivamente da escola uma pro atividade no sentido de incluir de fato a
criança portadora de necessidades especiais.
46
CONCLUSÃO
Concluo que a expressão ou termo inclusão vem ganhando espaço,
fortalecido pela implementação de leis que asseguram essa prática.
Percebo que a inclusão escolar exige do sistema educacional e dos
nossos legisladores novos posicionamentos e propostas efetivas que implicam
na valorização do educador, cursos de capacitação e a reestruturação do
Sistema de Ensino assim como do espaço físico atual, permitindo o acesso.
Creio que a inclusão possibilita a interação e a integração dos alunos
especiais com aqueles considerados normais, gerando benefício para todo o
grupo, pois a convivência entre eles permite a ampliação de valores e o
reconhecimento de que cada um tem suas particularidades, desenvolvendo
uma percepção de igualdade. O processo inclusivo não é um fim em si
mesmo, é um trabalho coletivo, contínuo, interativo e cooperativo, que abre
possibilidades de compartilhar experiências, tornando nossas escolas lugares
privilegiados para se aprender sobre a inclusão, sendo possível discutir e
construir saberes na diversidade.
Nesse contexto, a formação dos profissionais envolvidos com a
educação é de fundamental importância, assim como a assistência às famílias.
Enfim, uma sustentação aos que estarão diretamente implicados com as
mudanças é condição necessária para que estas não sejam impostas, mas
imponham-se como resultado de uma consciência cada vez mais evoluída de
educação e de desenvolvimento humano. A inclusão realmente acontecerá de
fato quando houver por parte de professores, diretores, orientadores,
supervisores, pais e outros, inclusive da comunidade escolar, uma capacidade
de ousar e pensar diferente.
A formação continuada deve ser objetivo de aprimoramento de todo
professor, porque o educador deve acompanhar o processo de evolução
global, colocando a educação passo a passo no contexto de evolução social,
tornando-a cada vez mais interessante para o aluno. É nesse processo que o
professor pode ver e rever sua prática pedagógica, as estratégias aplicadas na
47
aprendizagem dos alunos, os erros e acertos desse processo para melhor
definir, retomar e modificar o seu fazer de acordo com as necessidades dos
educandos. O professor deve ter a sensibilidade para enxergar o indivíduo
real, com todas as suas potencialidades e possibilidades como qualquer outro
ser humano. Todos somos diferentes, com características particulares e
individuais em busca de aceitação, de parceria e de reconhecimento, em um
contexto de igualdade de oportunidades e não de reprodução em série, de
indivíduos iguais.
Quanto ao Centro Educacional Acalanto, acredito que esteja
engatinhando dentro deste processo de inclusão escolar. O primeiro passo já
foi dado que é o de se ter professores, coordenadores e gestores empenhados
neste processo, na busca de maior capacitação a fim de mediar e facilitar o
processo ensino-aprendizagem e de se ter uma escola que possa atender o
aluno na sua totalidade, respeitando suas limitações.
Outro fator importante é a parceria existente entre familia, escola e
terapeutas, com o objetivo de instrumentalizar os professores oferecendo
recursos e montando estratégias para atender da melhor maneira possível um
aluno que necessite de atendimento especial.
Finalizo dizendo que a inclusão não tem um fim, pois ela representa, em
sua essência, mais um processo do que um destino. A inclusão representa, de
fato, uma mudança conceitual e nos valores culturais para as escolas e para a
sociedade como um todo. E que a escola seja realmente um lugar onde não
são observadas diferenças, como cor, credo, raça, potencialidades, limites, etc.
É preciso que realmente a escola seja um local de aprendizagem da cidadania.
Segundo Villela (2013) “esse processo não é fácil, mas é necessário e
urgente, sobretudo em uma época que nos desafia a ampliar a prática de uma
educação que atenda verdadeiramente a todos os alunos.”
Finalizo dizendo que ainda temos muita coisa para se fazer. Que
realmente será na prática, no fazer cotidiano do professor, seja no ensino
regular ou no ensino especial, que se darão os avanços rumo à educação para
todos.
48
BIBLIOGRAFIA
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49
CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. Organização as Nações Unidas – ONU de 11 de dezembro de 2006. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA E LINHA DE AÇÃO SOBRE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS. Brasília: Corde, 1994.
DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA TODOS. (Conferência de Jomtien). Tailândia – 5 a 9 de março de 1990.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários à prática educativa. 24 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002. HOLANDA, Aurélio Buarque de. Dicionário da Língua Portuguesa. Curitiba: Positivo, 2008. INCLUSÃO – REVISTA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL. Secretaria da Educação Especial, out. 2005; jan./jul. 2010. LUZURIAGA, Lorenzo. História da Educação e da Pedagogia. 13ed. São Paulo: Nacional, 1981 MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar : o que é? por quê? como fazer? São Paulo: Moderna. MELERO, M. L. Diversidade e cultura : uma escola sem exclusões. Espanha: Universidade de Málaga, 2002. MILLS, N. D. A educação da criança com Síndrome de Down. In: SCHWARTZMAN, J. S. et al. Síndrome de Down. São Paulo: Moderna: Mennon, 1999. PAN, M. A. G. S. O direito à diferença : uma reflexão sobre deficiência intelectual e educação inclusiva. Curitiba: IBPEX, 2008. PESSOTTI, Isaias. Deficiência Mental: da Supertição à Ciência. São Paulo: Queiros /EDUSP, 1984. POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA. Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria Ministerial nº 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria nº 948, de 09 de outubro de 2007. VILLELA, Fabio C. B., ARCHANGELO, Ana. Fundamentos da escola significativa. São Paulo: Loyola, 2013
51
ANEXO 1 Modelo de entrevista feita com as professorass de Educação Infantil ao Ensino Fundamental I do Centro Educacional Acalanto como instrumento de análise, sobre o tema: Inclusão Escolar.
Nome: ________________________________________________________
Segmento: _____________________________________________________
1. Há quanto tempo você trabalha na área de Educação?
_____________________________________________________________
2. Há quanto tempo você leciona nesta Instituição de Ensino?
_____________________________________________________________
3. O que você entende como educação inclusiva? _____________________________________________________________
_____________________________________________________________
4. Na sua opinião, como se constrói uma sociedade inclusiva? Que mudanças você acredita existir na área educacional a partir da educação inclusiva? _____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
4. Fala-se muito também na integração do portador de necessidades especiais. Na sua opinião, existe diferença entre inclusão e integração?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
____________________________________________________________
5. Que tipo de ação pode ser sugerida, no sentido de tornar eficaz a inclusão do aluno com deficiência na escola regular?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
____________________________________________________________
52
6. Em que áreas/setores se encontram as principais resistências no sentido de se conseguir uma efetiva inclusão?
( ) Professores ( ) Pais ( ) Gestores ( ) Coordenadores ( ) Outras _____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
7. A inclusão escolar funciona de verdade na escola em que você trabalha? Há uma adequação do currículo, metodologia e dos recursos utilizados para esses alunos?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
8. Você está preparada para a inclusão escolar?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
9. Qual o seu papel neste processo?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
10. Qual é o papel dos pais na inclusão desses alunos?
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
53
ANEXO 2
Questionário aplicado à professores de Educação Infantil ao Ensino Fundamental I como instrumento de análise, sobre o tema: Inclusão Escolar.
Nome: ________________________________________________________
Instituição de Ensino: ____________________________________________
Segmento: _____________________________________________________
1. Há quanto tempo você trabalha na área de Educação?
_____________________________________________________________
2. Há quanto tempo você leciona nesta Instituição de Ensino?
_____________________________________________________________
3. Atualmente, fala-se em Educação Especial e Inclusiva. Para você, o que é educação inclusiva?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
4. . Nas sua opinião, como se constrói uma sociedade inclusiva? O que muda na vida educacional daqui para frente?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
5. Fala-se muito também na integração do portador de deficiência. Existe diferença entre inclusão e integração?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
____________________________________________________________
6. Que tipo de ação pode ser sugerida, no sentido de tornar eficaz a inclusão do aluno com deficiência na escola regular?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
54
7. Onde se encontram as principais resistências no sentido de se conseguir uma efetiva inclusão?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
8. Na sua opiniao, as escolas estão preparadas para lidar com alunos deficientes? Por quê?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
9. A inclusão escolar funciona de verdade na sua escola? Há uma adequação do currículo, metodologia e dos recursos utilizados para esses alunos?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
10. O professor está preparado para a inclusão?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
11. Qual o papel do professor na inclusão escolar?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
12. Qual é o papel dos pais na inclusão desses alunos?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
13. Como é possível aumentar o acesso de estudantes com necessidades especiais às escolas comuns? __________________________________________________________________________________________________________________________
55
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
Educação Especial e Inclusão: breve histórico 10
CAPÍTULO II
A Educação visando a inclusão e a transformação do Sistema 20
2.1. Inclusão e Exclusão 20
2.2. Integração e Inclusão 28
CAPÍTULO III
Professor: sua formação X seu papel 34
3.1. A formação do professor 34
3.2. O papel do professor 36
3.3. O que pensam os professores 39
3.1.1. Questionários 39
3.1.2. Entrevistas 42
CONCLUSÃO 46
BIBLIOGRAFIA 48
ANEXOS 50
ÍNDICE 55