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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Capacidade de Carga Turística de uma Área de Proteção
Ambiental – Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Priscila Gonçalves Costa
ORIENTADOR:
Prof Jean Alves
Rio de Janeiro 2016
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito Ambiental Por: Priscila Gonçalves Costa
Capacidade de Carga Turística de uma Área de Proteção
Ambiental – Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro 2016
3
AGRADECIMENTOS
4
Agradeço a todas as pessoas que se fizeram presentes na organização e
elaboração desse projeto, além dos meus amigos, familiares, e companheiros
de trabalho, que me apoiaram e compreenderam minha ausência em algumas
circunstâncias. Não posso me esquecer de agradecer ao Instituto de Pesquisas
Jardim Botânico, bem como seus funcionários, por conceder-me informações
essenciais para o sucesso desse trabalho.
5
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a meus familiares e pessoas que colaboraram para a
realização desse projeto. Aos professores que tive ao longo da minha formação
acadêmica que, direta e indiretamente, fizeram parte do sucesso deste projeto.
Aos amigos e companheiros de vida, que me ajudaram direta e indiretamente
no sucesso deste trabalho. Aos meus pais, que foram pacientes e
compreensivos no meu momento de ausência e me deram apoio ao longo de
toda esta jornada.
6
RESUMO
O trabalho aborda o cálculo da capacidade de carga turística da área do
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, área a qual foi
considerada com o título de “Área de Proteção Ambiental” e que corresponde a
uma autarquia de ordem federal, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. O
Jardim Botânico recebe, por mês, uma média de 60 mil visitantes, e assim um
estudo detalhado sobre a capacidade dessa área de suportar tamanha
demanda se torna indispensável. Como exemplo tomado como base foi o
trabalho de Cifuentes (1992) feito, justamente, para Cálculo de Capacidade de
Carga Turística para a obtenção de um número considerado adequado de
visitantes em uma determinada área. De acordo com os conceitos de turismo
sustentável, o projeto analisa uma forma equilibrada de coexistir
desenvolvimento econômico com o desenvolvimento ambiental.
7
METODOLOGIA
Este trabalho só foi possível graças aos dados fornecidos pelo
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico e questionários abertos ao acesso do
público em seu endereço eletrônico, sendo essencial para determinar o tipo de
público, suas características e números usados no cálculo para capacidade de
suporte da área. Este cálculo foi baseado na literatura de Cifuentes (1992), e
utilizado em todos os trabalhos e levando a conclusão de todo este projeto.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I
Desenvolvimento Sustentável 11
CAPÍTULO II
O Turismo Sustentável 18
CAPÍTULO III
Ecoturismo 35
CAPÍTULO IV
Turismo Sustentável X Ecoturismo 42
CAPÍTULO V
O Jardim Botânico do Rio de Janeiro 45
CAPÍTULO VI
O Conceito de Capacidade de Carga Turística 49
CONCLUSÃO 72
BIBLIOGRAFIA 74
ÍNDICE 00
ÍNDICE DE FIGURAS 00
9
INTRODUÇÃO
Em 1987 o relatório denominado “Nosso futuro comum” enviado pelas
Nações Unidas para a comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, presidida pela Sra. Brundtland, foi publicado. Este relatório
passou a difundir o conceito de desenvolvimento sustentável, que segundo o
mesmo, trazia a definição:
“O desenvolvimento sustentável é aquele que responde às necessidades
do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
responder às suas necessidades.” (Relatório de Brundtland "Nosso futuro
comum", 1987, in GASTARDELO, 2010).
Desde então, o desenvolvimento sustentável passou a ser amplamente
discutido em três principais aspectos: econômico, social e ecológico. Assumiu-
se que os três estariam intrinsecamente ligados e que a sustentabilidade de
uma atividade só seria fundamentada se estes pilares fossem atingidos com
sucesso.
O equilíbrio ecológico abordado passou a se infiltrar de forma crescente
em todas as vertentes econômicas, sociais e políticas.
No turismo não podia ser diferente. O turismo sustentável passou a ser
valorizado e parte integrante de algumas políticas regionais (como a Lei 7.231,
de sete de janeiro de 2011, que dispõe sobre a política de sustentabilidade do
turismo e a criação de áreas especiais para a prática do mesmo). A ideia de
utilizar um local para visitações e explorações turísticas sem degradar o
mesmo de modo que futuramente àquela mesma atividade pudesse vir a ser
exercida novamente, foi substancialmente aplicada ao ecoturismo. O
ecoturismo é um conceito amplamente difundido e consiste genericamente na
exploração de ambientes naturais através do turismo a fim de buscar uma
experiência prazerosa ao visitante sem desgastar ou prejudicar os fatores
biológicos, químicos e físicos do local.
Esta prática vem ganhando notório crescimento dentro do turismo ao
redor do mundo. Segundo dados da OMT (Organização Mundial de Turismo) o
10
turismo cresce cerca de sete e meio por cento ao ano enquanto o Ecoturismo
aproximadamente 20%. Concomitante ao crescimento da atividade vem à
necessidade de fazê-la de forma sustentável.
11
CAPÍTULO I
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Os ambientalistas mais radicais afirmam, segundo Miriam Goldenberg
(1992), que o desenvolvimento ambiental “é uma antiga aspiração e requer
determinação de novas prioridades pela sociedade, uma nova ética do
comportamento humano e uma recuperação do primado dos interesses sociais
coletivos”.
Nos termos do Relatório de Brundtland, o “Desenvolvimento Sustentável”
é definido como aquele que “atende às necessidades do presente sem
comprometer a capacidade de as gerações futuras também atenderem às
suas” (1988, p.9) e é um “processo de mudança no qual a exploração dos
recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento
tecnológico e a mudança institucional estão de acordo com as necessidades
atuais e futuras” (p.10); é um “desenvolvimento que mantém as opções futuras”
(p.46); é uma “correção, uma retomada do crescimento, alterando a qualidade
do desenvolvimento” (p. 53), a fim de torna-lo “menos intensivo de matéria-
prima e mais equitativo em seu impacto (p.56)”.
Segundo Miriam Goldenberg, o desenvolvimento sustentável dita um
crescimento para todos e o direito das gerações futuras de ter acesso aos
recursos naturais, ou seja, o desenvolvimento reduz o ritmo de exploração da
natureza visando o futuro das novas gerações. Quando apresentada a
Declaração de Política de 2002 da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
Sustentável, realizada em Joanesburgo, a definição de desenvolvimento foi
construída, segundo a própria Cúpula, sobre “três pilares interdependentes e
mutuamente sustentadores: desenvolvimento econômico, desenvolvimento
social e proteção ambiental.” O PII (Projeto de Implementação Internacional)
apresenta quatro elementos principais do Desenvolvimento Sustentável —
sociedade, ambiente, economia e cultura.
12
1.1. Conferência de Estocolmo - O Clube de Roma
Em 1972, aconteceu a famosa Conferência de Estocolmo. Segundo
Mirian Goldenberg (1992), o estopim para o início das preocupações
ambientais e debates foi o desastre ecológico na Baía de Minamata, no Japão,
onde pescadores e moradores foram contaminados por mercúrio pelas
industriais locais. A pressão da Suécia na criação de uma conferência de nível
internacional resultou na primeira conferência voltada 100% para os assuntos
ambientais. Ainda segundo Goldenberg, com a primeira Conferência
internacional sobre meio ambiente surgiu o PNUMA (Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente), o Programa Observação da Terra - Earthwatch
- que monitora as diversas formas de poluição e a CMMAD - Comissão Mundial
para o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
No mesmo ano, um grupo de pesquisadores - Clube de Roma - publicou
o estudo chamado "Limites do crescimento". Ambos os acontecimentos foram
resultado de intensos debates, que tiveram seu início nos anos 60 e ganharem
força nos anos 70, justamente no ano da Conferência.
O Clube de Roma, coordenado por Dennis Meadows declarou
(Meadows, 1972: 19) que “As conclusões que seguem emergiram do trabalho
que empreendemos até agora. Não somos, de forma alguma, o primeiro grupo
a formulá-las. Nestes últimos decênios, pessoas que olharam para o mundo
com uma perspectiva global e em longo prazo, chegaram a conclusões
semelhantes.”.
Além disso, o Clube de Roma tinham como teses e conclusões:
1. Se as atuais tendências de crescimento da população mundial
industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos
naturais continuarem imutáveis, os limites de crescimento neste planeta serão
alcançados algum dia dentro dos próximos cem anos. O resultado mais
provável será um declínio súbito e incontrolável, tanto da população quanto da
capacidade industrial.
2. É possível modificar estas tendências de crescimento e formar uma
condição de estabilidade ecológica e econômica que se possa manter até um
futuro remoto. O estado de equilíbrio global poderá ser planejado de tal modo
que as necessidades materiais básicas de cada pessoa na Terra sejam
13
satisfeitas, e que cada pessoa tenha igual oportunidade de realizar seu
potencial humano individual.
3. Se a população do mundo decidir empenhar-se em obter este
segundo resultado, em vez de lutar pelo primeiro, quanto mais cedo ela
começar a trabalhar para alcançá-lo, maiores serão suas possibilidades de
êxito.
Para atingir a estabilidade econômica e ecológica, Meadows ET AL
propõe uma pausa no crescimento populacional e do capital industrial, sendo
encarada como uma crítica a todas as teorias do desenvolvimento industrial e a
filosofia do crescimento contínuo da população. O Relatório do Clube de Roma
vendeu mais de 30 milhões de cópias em 30 idiomas.
Houve, sem dúvidas, duras críticas às declarações expostas no Clube
de Roma. O prêmio Nobel, Solow (1973 e 1974), foi um dos seus maiores
críticos na época, além de ter sido apoiado por manifestantes dos países
baixos. Segundo o Professor Jorge Rios (UFRJ), como qualquer modelo
matemático global, podem existir equívocos, mas que não invalidam as
conclusões principais.
Atualmente, o Clube de Roma contam com membros honorários,
efetivos e associados, como Fernando Henrique Cardoso e a rainha Beatriz,
dos Países Baixos.
1.2 Eco desenvolvimento
Em 1973, o canadense Maurice Strong utilizou o termo "eco
desenvolvimento" pela primeira vez para caracterizar uma concepção
alternativa de política do desenvolvimento, mas foi Ignacy Sachs quem
formulou os seus princípios básicos, como (Sachas, 1973):
1. A satisfação das necessidades básicas;
2. A solidariedade com as gerações futuras;
3. A participação da população envolvida;
4. A preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral;
5. A elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança
social e respeito a outras culturas;
14
6. Programas de educação.
Para radicalizar a ideia, Ul Haq (1973) E Dieter Sengahass (1977)
afirmaram a necessidade da dissociação entre os países centrais e os países
periféricos para a garantia dos desenvolvimentos nos próximos anos. O
ecodesenvolvimento tem como ramificação a crítica da sociedade industrial e
consequentemente uma crítica da modernização industrial como método de
desenvolvimento. Sachs usa o conceito de eco desenvolvimento como
sinônimo de desenvolvimento sustentável.
1.3 A Declaração de Cocoyok
A Declaração de Cocoyok foi resultado de uma reunião que aconteceu
no ano de 1974, envolvendo a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas
sobre Comércio- Desenvolvimento) e UNEP (Programa de Meio Ambiente das
Nações Unidas). Sua formulação serviu de base para debates com seguintes
hipóteses:
1. A explosão populacional tem como uma das suas causas a falta de
recursos de qualquer tipo; pobreza gera o desequilíbrio demográfico;
2. A destruição ambiental na África, Ásia e América Latina é também o
resultado da pobreza que leva a população carente à superutilização do solo e
dos recursos vegetais;
3. Os países industrializados contribuem para os problemas do
subdesenvolvimento por causa do seu nível exagerado de consumo. Não
existe somente um mínimo de recursos necessários para o bem-estar do
indivíduo; existe também um máximo. Os países industrializados têm que
baixar seu consumo e sua participação desproporcional na poluição da
biosfera.
15
1.4 O Relatório Dag-Hammarskjöld
O Relatório de Dag- Hammarskjold surgiu em 1975 como um
aprofundamento do Relatório de Cocoyok. Segundo Franz Josef, o Relatório
contou com a contribuição do UNEP e de 13 organizações da ONU. Ambos os
relatórios compartilham uma radicalização no momento que exigem mudanças
nas estruturas de propriedade rural, além dos dois relatórios também dividirem
a rejeição por parte dos governos de países industrializados e cientistas
conservadores, já que ambos os relatórios são defensores da ideia do self-
reliance, que significa no contexto um desenvolvimento com as próprias forças.
Ainda segundo Franz Josef, o self reliance aplicado com insucesso na
Tailândia e Tanzânia ou, de forma dramática, no Camboja e a crescente
relativização da experiência chinesa fortaleceram ainda mais esta reação.
O Relatório contém relatos, ainda segundo Franz Josef, da ligação entre
o abuso de poder e a degradação ecológico, remetendo a época quando o
sistema colonial concentrou solos aptos para uma boa prática da agricultura a
uma minoria da população, que consequentemente levou a grande parte da
população se marginalizar e buscar terras inapropriadas para cultivo. Isso
resultou numa devastação na África do Sul, Marrocos e outros inúmeros locais.
1.5 O Relatório de Brundtland
Em 1983 houve uma discussão entre a Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente (elaborado pela ONU) e o UNCED, onde os presidentes da comissão
eram Gro. Harlem Brundtland e Mansour Khalid. Como resultado, surgiu um
relatório a qual deram o nome de Relatório de Brundtland ou "Nosso futuro
comum". Segundo Franz Josef, o Relatório, apresentado em 1987, aborda as
questões socioeconômicas e ecológicas da sociedade, além de interligar a
economia, tecnologia, sociedade e política. Aborda também sobre uma nova
postura ética, responsabilizando as gerações e os membros da sociedade
atual. Ainda segundo Josef, o Relatório contém uma lista de caráter nacional
sobre medidas a serem tomadas:
1. A limitação do crescimento populacional;
16
2. A garantia da alimentação em longo prazo;
3. A preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;
4. A diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de
tecnologias que admitem o uso de fontes energéticas renováveis;
5. O aumento da produção industrial nos países não industrializados à
base de tecnologias ecologicamente adaptadas;
6. O controle da urbanização selvagem e integração entre campo e
cidades menores;
7. As necessidades básicas devem ser satisfeitas.
Além das medidas previstas, há metas de nível internacional, listadas
por Franz, que são complementares as medidas previstas como
indispensáveis, as quais seriam que:
1. As organizações do desenvolvimento devem adotar a estratégia do
desenvolvimento sustentável;
2. A Comunidade Internacional deve proteger os ecossistemas
supranacionais como a Antártica, os oceanos, o espaço;
3. Guerras devem ser banidas;
4. A ONU deve implantar um programa de Desenvolvimento Sustentável.
De todos os relatórios publicados até a data de publicação do
Brundtland, este se torna o mais realista dentre todos, sendo mais diplomático
e tendo, assim, maior aceitação da comunidade internacional. Segundo Franz,
o Relatório de Brundtland descreve o nível de consumo mínimo das
necessidades básicas, porém se omite em relação ao consumo máximo. Sua
ideia se baseia em igualdade no crescimento de todos os países,
desenvolvidos e menos subdesenvolvidos. Para o Relatório Brundtland, a
pobreza e a deterioração ambiental formam um círculo vicioso, no qual cada
termo é causa e efeito do outro.
17
1.6 A UNCED no Rio em 1992
Em junho de 1992, acontece no Rio a Conferência Internacional de Meio
Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como UNCED/92, RIO/92 ou ECO/92.
Segundo Miriam Goldenberg (1992), o Rio 92 foi uma fundamentação das
propostas apresentadas no último relatório publicado, o Relatório de
Brundtland. Ainda segundo Goldenberg, a Rio 92 trouxe a tona conceitos como
desenvolvimento sustentável ligado diretamente a uma nova ordem econômica
internacional. A UNCED 92, como também é conhecida, é destacada por Franz
Josef como um evento que contou com a presença de 35 mil pessoas, nas
quais 106 eram chefes de governos.
18
CAPÍTULO II
O TURISMO SUSTENTÁVEL
Tomando base que o turismo sustentável não é apenas uma questão de
proteção ao meio ambiente, mas relaciona-se também com a viabilidade
econômica e justiça social, além de ser um campo altamente político, esse
termo deve ser tratada como parte de um debate mais amplo, que é o
desenvolvimento sustentável como um todo (John Swarbrooke). Sendo assim,
o turismo sustentável é uma ramificação importante para o chamado
"Desenvolvimento Sustentável", tendo que ser tratado com a importância do
mesmo.
Para listar, então, os fatores que estimulam o crescimento do turismo
sustentável, trabalha-se com cinco "atores" envolvidos, segundo John
Swarbrooke (2000):
(1) Setor Público
(2) Indústria do Turismo
(3) Comunidade Local
(4) Mídia
(5) O turista
Os envolvidos no estímulo do crescimento do turismo podem agir de
forma conjunta, tendo um vínculo entre eles.
2.1. O Setor Público
Definem-se como Setor Público os órgãos destinados a representar a
comunidade, o interesse público e que agem, ou deveriam agir, em nome da
população como um todo (Middlenton, 1998). Tem que se ter clareza que o
Setor Público não se trata de setor comercial, que não tem como objetivo o
lucro, mas sim que gastam o dinheiro obtido em impostos para beneficiar a
população, através de programas e serviços.
19
2.1.1 Participação do setor público na Gestão do Turismo
É de vital importância na organização do turismo que o Setor Público
tenha o papel de liderança no desenvolvimento de formas sustentáveis do
mesmo. As razões para tal fato são que de geralmente o Setor Público tem
papel de representação da população com um todo, não de grupos de
interesses isolados. Explica-se também pelo fato de ser considerado imparcial,
sem ações comerciais e sem interesses protegidos, além de não ficar limitado
a objetivos financeiros de curto prazo, pois tem capacidade clara de adotar
uma visão longínqua.
2.1.2 A política do setor público quanto ao turismo sustentável
A influência exercida pela política no que diz respeito ao turismo
sustentável pode se dar de variadas formas e desempenha função no
desenvolvimento sustentável de vários meios, como, definido por John
Swarbrooke (2000), a legislação e regulamentação do turismo sustentável e o
financiamento de incentivos fiscais.
Na legislação, os órgãos podem ser diretamente responsáveis por tornar
o turismo sustentável com a aplicação de uma legislação e regulamentação.
Apesar de muitos governos terem políticas ligadas ao turismo, poucos deles
produziram uma legislação que as tornem realidade. A única legislação
relevante que tende a existir é a que controla o desenvolvimento da construção
em geral e uma tendência para haver legislação sobre certas questões
ambientais, como a poluição. (Swarbrooke, 2000). Já nos incentivos, eles
estimulam uma ação mais consciente sobre atitudes sob o aspecto
socioambiental, onde governo pode intervir no turismo em termos financeiros,
por meio:
- fornecimento de concessões, empréstimos sem juros e outros
incentivos fiscais para projetos de turismo sustentável;
- arrecadação de impostos incidentes sobre atividades com impactos
considerados negativos;
20
- impostos sobre o turismo que revertem uma quantia fixa a ser paga
pelos turistas para tornar o turismo mais sustentável na área.
Além disso, John Swarbrooke cita outras maneiras de atuação do setor
público no turismo, por meio do o planejamento dos solos, o desenvolvimento e
controle da construção através dos AIA's, o fornecimento de infraestruturas,
atuação na indústria do turismo e a designação de áreas particulares para
proteção especial.
O sistema, que se baseia o planejamento do uso do solo, se organiza de
uma forma circular, segundo John Swarbrooke, em ordem:
(1) Análise da situação atual
(2) Geração de Planos Alternativos
(3) Avaliação de Planos Alternativos
(4) Seleção do Plano Escolhido
(5) Implementação
(6) Avaliação e Demanda
Nível da Política Função
Políticas supranacionais Fornecer orientação sobre diretrizes
políticas
Planos e políticas nacionais Estabelecer metas nacionais,
desenvolver políticas e estratégias amplas
para implantação.
Planos e estratégias regionais Formular políticas e planos gerais
para o desenvolvimento
Planos de desenvolvimento
/planos locais
Planos de uso do solo de bairros
inteiros, que podem incluir propostas
detalhadas de desenvolvimento ou
zoneamento do solo.
Controle de desenvolvimento A coordenação e aprovação das
propostas individuais de desenvolvimento
21
Tabela 1: Um modelo de estrutura de planejamento do solo. (Hunter and Green
– 1996)
Além disso, a maioria dos Planos de Uso se baseia em zoneamento-
alocação de áreas específicas, com finalidade de projetar usos separados que
poderiam criar conflito, caso existissem juntos numa mesma área (Inskeep,
1991). O zoneamento utiliza-se de outros usos do solo pela presença da
indústria pesada e poderia repelir visitas e causar distúrbios aos moradores
locais. É utilizado, também, em parques nacionais, para separar usos
recreativos conflitantes e para separar diferentes tipos de turismo ou de turistas
que possam não ser compatíveis (ex.: idade ou nacionalidade).
Em relação ao desenvolvimento e controle da construção, ele tem como
finalidade regulamentar a localização de um novo desenvolvimento e questões
como o acesso e a existência de infraestrutura adequada para sustentar o
desenvolvimento. O controle da construção age de forma reativa, pois somente
impede a má qualidade ou desenvolvimento indevido e uma determinada
construção. É importante ressaltar que em muitos países não existe um
sistema legal de controle do desenvolvimento e da construção.
Já em relação ao AIA, esse instrumento é considerado de uso crescente
no controle da construção. Segundo Middlenton e Hawkins, a AIA é projetada
para impedir a degradação do meio ambiente, proporcionando às autoridades
que efetuam a tomada de decisões melhor informação sobre as prováveis
consequências que as ações de desenvolvimento podem ter sobre o meio
ambiente (1998).
No fornecimento de infraestruturas, o setor público é o principal
fornecedor da indústria do turismo, com estradas, aeroportos e estações de
tratamento. Então, o setor tem a importância de escolher meios mais
sustentáveis de infraestrutura, além de ser útil na tentativa de redução da
necessidade de novas infraestruturas.
Além disso, o setor público pode ter papel atuante na indústria do
turismo, e termos de:
- atrações turísticas de propriedade Estatal;
- linhas aéreas e ferrovias de propriedade Estatal;
22
- papel desempenhado pelos órgãos turísticos nacionais e regionais.
O setor ainda pode desempenhar um papel positivo, designando áreas
onde as paisagens ou comunidades sejam protegidas do turismo ou ameaças
potenciais. Inclui-se na lista:
-parques nacionais
-parques naturais regionais
- reservas da natureza
-áreas de conservação de edifícios
- áreas de desenvolvimento, onde o turismo pode ajudar a vencer
problemas sociais e econômicos existentes.
Além das várias maneiras de atuação citadas, há ainda a implantação de
Padrões Oficiais e o controle do governo sobre o número de turistas.
Os Padrões Oficiais consistem no estabelecimento de padrões oficiais
para sustentabilidade que permitam aos turistas identificar os produtos mais
sustentáveis do ponto de vista do meio ambiente Há alguns exemplos de
padrões, como ISSO 14001, operada pela International Standards
Organization, mas não há ainda rótulos para produtos de turismos
convenientes ou sustentáveis. Há alguns tratados e regulamentações que vem
ganhando destaque na proteção ambiental, como:
- Convenção das Nações Unidas do Meio Ambiente sobre Mudanças
Climáticas;
- Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Diminuem a Quantidade
de Ozônio;
- Normas das Nações Unidas sobre Atividade Biológica;
- Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies em Vias de
Extinção;
-Normas da Convenção das Nações Unidas sobre Desertificação;
-as Regulamentações para Aeronaves, da Organização de Aviação Civil
Internacional;
-Instruções da União Europeia sobre Qualidade das águas para Banho;
-Convenção da UNESCO relativo à Proteção da Herança Cultural
Mundial e Nacional.
23
- AGENDA 21, que tem implicações importantes sobre turismo, e que, de
acordo com Middlenton e Hawkins: “esta lista resume a ação da AGENDA 21
identificada para o setor público”:
1. Avaliar as estruturas econômicas e de voluntários e a capacidade dos
regulamentos existentes para produzir turismo sustentável;
2. Avaliar as implicações econômicas, sociais, culturais e ambientais das
operações da indústria turística;
3. Treinar, educar e fomentar a conscientização do público;
4. Planejar o desenvolvimento do turismo sustentável;
5. Facilitar o intercâmbio de informação, capacitação e tecnologia
relativas ao turismo sustentável entre países desenvolvidos e países
emergentes;
6. Viabilizar a participação de todos os segmentos da sociedade;
7. Designar novos produtos de turismo com sustentabilidade por
excelência, como parte integrante do processo de desenvolvimento do turismo;
8. Medir o progresso na realização local do desenvolvimento
sustentável;
9. Parcerias para desenvolvimento sustentável.
Já no controle do número de visitas, há muitos países tem que como
meta controlar o número e a quantidade de turistas que recebem, porém
poucos são os que conseguem alcançar o objetivo do controle. Um exemplo de
sucesso quanto a esse controle no turismo é o Reinado de Butão, onde fixa
limites para chegadas de turistas estrangeiros ao país, além de estabelecer
taxa fixa de gasto por dia (no caso U$200 por dia) e proibição de viagens
individuais.
2.1.3 Obstáculos do setor público no turismo sustentável
John Swarbrooke afirma que como em todo campo, o setor público
enfrente obstáculos no planejamento do turismo, como por exemplo:
- Em alguns países, o turismo é tratado em segundo plano pelo setor
público, onde aparentam desinteresse pelo assunto;
24
- Falta de orçamento destinado a planejamento e desenvolvimento do
turismo sustentável;
- Carência profissional no setor público quanto ao turismo;
-Questões políticas atrasam decisões que implicam com a realização e
tomadas de decisões relacionadas com o turismo;
- A lentidão dos sistemas de planejamento junto com a dinâmica de
mudança do turismo;
- A falta de poder atuante do setor público sobre o turismo, com pouco
controle real em relação ao produto turismo;
- A falta de ética dos políticos em alguns países, que limitam o potencial
desenvolvimento do turismo.
2.2. A Indústria do Turismo
O turismo é hoje atividade econômica que movimenta quantias da ordem
de 500 bilhões de dólares anuais no mundo. Os efeitos econômicos positivos
do turismo têm sido largamente estudados pela própria Organização Mundial
do Turismo, que preconiza métodos de avaliação como a metodologia de
contas-satélite (BRASIL, 2005).
Sendo, muitas vezes, tida como a vilã quando se trata de preservação
do meio ambiente, a indústria do turismo tendo papel de liderança nas
questões ambientais dentro do turismo, já que são as responsáveis pelo
mesmo. Com frequência, a indústria do turismo é feita como referência ao
lucro, já que se tem a imagem que o turismo tem somente um objetivo
financeiro, lucrativo, em cima dos turistas em geral. Mas, mesmo sendo a
indústria uma das principais causas dos impactos negativos do turismo, ela é
ao mesmo tempo, parte importante na tentativa de criar novas formas
sustentáveis de turismo.
2.2.1 Críticas a Indústria
As críticas à indústria em relação ao turismo sustentável se apoiam em
como a indústria desenvolve os elementos físicos, como novos hotéis e
25
aeroportos, de como ela opera desde o consumo de energia à política, além
das condições trabalhistas e possíveis explorações da fauna e flora.
De modo geral, as críticas têm como foco, segundo John Swarbrooke:
- e acusações de excessiva procura lucrativa em curto prazo, por parte
da indústria, e não pela sustentabilidade em longo prazo;
- na exploração do meio ambiente, ao invés da procura pela preservação
das mesmas;
- a indústria ser livre e não demonstrar interesse ou compromisso com
determinadas destinações;
- o controle pelas grandes corporações multinacionais;
- a falta de incentivo por parte da indústria pelo aumento da percepção
dos turistas por sustentabilidade;
- pelo uso da palavra “turismo sustentável” para fins publicitários ou para
redução de custos.
Além de acusações, as críticas se estendem sobre vários aspectos,
como o fato das ações voluntárias por partes de algumas indústrias atenderem,
única e exclusivamente, ao meio ambiente, não tratando de assuntos como
aspectos sociais e econômicos, além das ações que geralmente são em prol
do meio ambiente não contarem com investimentos de alto custo, ou seja,
poucos investimentos contam com valores significativos por parte das
organizações turísticas.
2.2.2 Boas práticas da Indústria
Apesar de acusações, há algumas ações voluntárias nas questões do
turismo sustentável adotadas pelas indústrias, dentre elas:
- Seattle Weston Hotel conseguiu uma redução de 66 por cento na
utilização de Watts e uma economia anual de US$400.000 na troca de
lâmpadas incandescentes por lâmpadas compactas fluorescentes poupadoras
de energia e melhorando mecanismos de controle;
- A abordagem da AT&T, que deseja limitar as viagens aéreas de seus
funcionários. A empresa líder nas telecomunicações reduziu as milhas aéreas
26
percorridas por funcionários em 15%, através da implantação de
videoconferências e reuniões on-line;
- atividades da British Airways a respeito do turismo sustentável,
patrocinando, por exemplo, o “Prêmio Turismo para o Amanhã” e a doação de
viagens gratuitas aos que participam de projetos e conservação;
- Taj Group of Hotels usa aquecimento solar para cobrir 50 a 100 por
cento das necessidades de água quente de todos os seus hotéis, e constatou
que os investimentos em energia solar se pagam em apenas dois anos;
- A Nike firmou uma parceria com uma de suas fornecedoras, a Delta
Airlines, em uma iniciativa para compensar a emissão de dióxido de carbono
causada por suas viagens aéreas (uma média de 110 milhões de milhas por
ano). Para cada assento reservado na Delta, seu projeto ecológico investe em
projetos ambientais.
2.2.3 A indústria do turismo e o turista
A relação entre a indústria do turismo e o turista pode ser considerada
como relação entre mercado e produto. Assim sendo, nessa relação é
considerado o produto frente à demanda de mercados disponíveis para definir
estratégias de movimentos a serem executados. Dada então a relação, pode
se considerar que pode haver a segmentação dos usuários, influenciando a
estrutura da oferta e permitindo melhorar a relação custo-benefício. Na prática,
segundo Mario Pretocchi, a segmentação significa identificar:
- estado ou regiões onde se originam os turistas;
- características socioeconômicas, como renda, duração da viagem,
padrão da hospedagem, gasto por turista, local visitado, planejamento da
viagem;
- características sociais, como faixas etárias, famílias com filhos ou sem,
estudantes, etc;
- usuários de linhas aéreas, ferrovias, rodovias, etc;
- grupos atraídos por ecologia, esportes, saúde, aventura, etc;
- turismo de terceira idade;
- turismo de estudantes;
27
- turismo de negócios;
- turismo desportivo;
- turismo de aventura;
- turismo religioso;
- turismo de congressos;
- turismo cultural;
- turismo ecológico;
- turismo científico;
- turismo gastronômico;
- turismo de eventos / festas / feiras;
- turismo de saúde.
Ainda segundo Mario Petrocchi, considera-se:
- Mercado final, representado pelo público em geral, onde o objetivo é
que o usuário turístico conheça novos produtos, recorde-se deles e induza-o a
voltar e recomendar a novos amigos.
- Mercado Intermediário, representado por orientadores e grupos sociais,
veículos de comunicação, operadores e agências de viagens e formadores de
opinião.
Assim, nos dias de hoje, onde o marketing tem maior alcance, o
mercado tenderá a ser bem sucedido se cumprirem as exigências do mercado
final. Por isso, é relevante notar que o turismo, então, faz sentido
comercialmente, protegendo os recursos dos quais o turismo depende, além de
ajudar a melhorar o desempenho financeiro de uma organização em curto
prazo, reduzindo seus custos.
2.3. Comunidade Local
Segundo Coriolano (1998:24), o desenvolvimento local significa, acima
de tudo, um desenvolvimento em escala humana, atendendo às demandas
sociais. Nele, o homem passa a ser a medida de todas as coisas e não apenas
os índices quantitativos e o lucro. Zapata (2004) ainda explica que o
28
desenvolvimento local é um processo em que o social se integra ao econômico.
A estratégia de desenvolvimento endógeno ou desenvolvimento local se
propõe a, além de desenvolver os aspectos produtivos, potencializar as
dimensões sociais, culturais, ambientais e político-institucionais que constroem
o bem-estar da sociedade. Por isso, a importância da comunidade local é
considerada, segundo John Swarbrooke abrangendo questões como:
- População unificada com grupos de interesses diferentes?
- Há uma elite dominante ou ela é administrada por um sistema político
democrático?
-Inclui pessoas que moram fora da área que tem interesse na
comunidade, em termos imobiliários, por exemplo?
-O que dizer sobre as comunidades de minorias étnicas com culturas
marcadamente diferentes da população majoritária?
2.3.1 Comunidade Local e Externa
Considera-se, geralmente, a comunidade local como a maior crítica a
favor da comunidade, porém deve ser considerar também: pessoas que
compraram a segunda moradia na região; aposentados que se mudaram para
a comunidade e operários imigrantes. Há ainda o fato de haver pessoas que
podem legitimamente afirmar que têm o direito de opinar sobre o que acontece
na comunidade, como aquelas que possuem propriedades na área; que são
donos de empresas da área, relacionadas e não relacionadas com o turismo; e
os que nasceram na área, se mudaram, mas ainda tem relações no local.
Porém, a idéia de comunidade parece implicar um elemento de
democracia e uma expectativa de que as decisões que afetam a comunidade
sejam tomadas democraticamente, o que em algumas localidades essa
expectativa é frustrada. Em algumas, as decisões são tomadas por grupos de
elites econômicas e politicamente eleitas, como também por elites que se auto
elegem e por ditadores.
A partir disso, é notório que em uma comunidade há uma série de
grupos de interesses diferentes, dentre eles:
- os proprietários de empresa de turismo;
29
- os empregados na indústria turística local;
- os empresários que não atuam no ramo do turismo;
- os que não estão empregados na indústria do turismo;
- aqueles cuja vida sofre o efeito adverso do turismo, em termos de
ruído.
2.3.2 O Poder da influência da Comunidade
Segundo John Swarbrooke (2000), para a elaboração das políticas é
preciso considerar as situações onde a comunidade pode influenciar
diretamente no envolvimento com o turista, como nas questões ligadas a
geração de estratégias estatuárias, formais e respondendo a opções propostas
por profissionais, além de em casos de recebimento de propostas, especificar
para desenvolvimentos de locais especiais. Ainda segundo John Swarbrooke,
os mesmos responsáveis pelas políticas também precisam conhecer o grau de
influência que a comunidade tem, como:
1. A comunidade tem o controle da política estratégica e das
decisões táticas em relação ao turismo na área;
2. As comunidades têm poder de veto contra todas as políticas e
decisões sobre turismo que estejam nas mãos das entidades do setor público
3. As comunidades estabelecem as prioridades e os parâmetros da
política e/ou das decisões do setor público
4. Às comunidades é permitido escolher uma política ou estratégia
entre um pequeno número de opções, todas as quais foram geradas pelos que
elaboram as políticas do setor público.
5. As opiniões da comunidade são utilizadas para ajudar a justificar
as decisões tomadas pelos órgãos do setor público
6. A comunidade é consultada, mas os seus pontos de vista não
influenciam significativamente a política do setor público.
Porém, se a comunidade, com sua extensa influência no mercado
turístico podem beneficiar aos meio ambiento, o mesmo pode ser prejudicial,
pois pode:
- acrescer o custo do planejamento e desenvolvimento do turismo
30
-estender o período necessário para desenvolver planos ou realizar
projetos controvertidos
- dar uma oportunidade aos grupos de interesse local e recusarem
oportunidades de lazer e emprego a pessoas fora da área, que talvez estejam
em pior situação.
- permitir que a comunidade local majoritária discrimine grupos étnicos
minoritários
2.4. A Mídia
É inegável que a mídia tem um papel de influência enorme da sociedade
em si. Ela ganhou força a partir do século XIX, onde a sociedade se depara
com novos desejos e tecnologias, uma era do consumo e de valorização do
lazer, turismo e entretenimento.
“Mudam os consumidores, seus hábitos e
comportamentos; mudam os produtos, os serviços e os
efeitos que eles causam; muda a concepção de resultado,
de lucro e de desenvolvimento sob novos vínculos
ideológicos. Essas mudanças, amparadas pela ideologia
do capital, têm na mídia seu principal instrumento de
referência, de interferência e de projeção do
comportamento do indivíduo. O tratamento dado pela
mídia a esse atual modelo econômico privilegia uma
classe instruída em favor dos interesses particulares das
grandes corporações que dominam os setores de
produtos e serviços do turismo e exercem forte influência
nos governos e no comportamento das massas,
conduzindo as fantasias e sonhos que alimentam o
turismo, assim como outros tantos setores da economia.”
(DORTA e DROGUETT, 2004, p. 121).
31
A partir da ideologia da mídia ser o portal voz principal da opinião
pública, ela é, então, o principal vinculador entre sociedade e o mercado
turístico. Portanto, segundo
PIOVESAN,G.C (2005), pode se destacar que o turismo e a comunicação
estão, cada vez mais, subentendidos numa ótica de complementaridade, pois o
sistema turístico recorre frequentemente à dinâmica da comunicação ao
estabelecer um contato entre a oferta e a procura, ao influenciar e conduzir o
potencial turista (leitor, no caso) ao consumo do produto gerado por essa
atividade econômica. E para atrair mais os turistas, os meios de comunicação
apresentam o produto turismo de forma chamativa e confortável, onde a
publicidade e a mídia trabalham de forma ilustrativa, para o consumidor criar
uma imagem e um modo de vida de determinado lugar, transmitindo um ideal
positivo e sensação prazerosa, e enfim, a vontade de se transportar para o
local.
Porém, segundo John Swarbrooke, é necessário evidenciar a existência
de dois tipos de mídias, que se limita a serem as que são especialmente
ligadas a viagens e a outra que não. A mídia ligada a viagens, especificamente,
se apresenta em forma de:
- guias de viagens;
- programas de televisão e de rádio vinculados ao turismo;
- revistas especializadas em turismo;
- matérias sobre viagens;
- diários de experiências em viagens;
A partir da listagem, ainda segundo John Swarbrooke, os programas de
televisão, guias ou artigos de revista e de jornal motivam os turistas a
desejarem visitar locais "fora da rota comum" de modo que os impactos
negativos do turismo são espalhados em novas áreas, além de muitas vezes
os locais apresentados em jornais e programas de televisão são pagos para
serem mostrados positivamente.
Já a mídia que não é especializada em turista, o que é caracterizada
pelo restante que não foi apresentado acima, podem apresentam casos de
distúrbios civis, crimes e desastres nacionais e que, em curto prazo, diminuem
o turismo na área. Além de distúrbios, essas mídias podem apresentar
32
programas sobre a vida selvagem, ocasionando uma crescente demanda de
turistas à área, podendo ser prejudicial ao ecossistema do local.
“O turista se alimenta, vê, toca, escuta, lê, fala, cheira
opera cognitiva e emocionalmente em ações com
objetivos específicos, diferentes dos de seu dia a dia,
focado na satisfação de desejos, de fantasias e sonhos”.
No entanto, não se pode desprezar o poder que exerce a
imagem neste.
Processo de comunicação. “O turismo é primordialmente
uma atividade de comunicação visual por meio da qual se
fomentam todas as emoções e efeitos estéticos
individuais e coletivos.” (DORTA e DROGUETT, 2004, p.
120).
2.5 O Turismo
Geralmente, a imagem do turista tem uma menção negativa sob o
aspecto do turismo sustentável. Segundo Doris Ruchman, podemos dividir o
turismo em duas etapas, apresentadas como:
-Fase pioneira, ocorrido no século XVIII, onde a leitura do turista da
época era mais intuitiva, mais curiosa e com leituras diferentes das viagens
atuais. As motivações turísticas eram geralmente em busca dos ambientes
sem industrialização ou pertos do beira mar, onde apresentavam uma forma de
vida mais relaxada.
- Fase conhecia como turismo dirigido, onde se caracteriza por um
turismo mais elitizado marcante do início do século XX. Não havia um
pensamento sustentável e o aumento populacional começou a ser imperante,
onde o meio ambiente é considerado domesticável e a natureza e as
civilizações tradicionais tinham seus diretos garantidos.
Segundo Doris, os visitantes geralmente tem uma cultura turística
caracterizada pela forma alienada em relação à preservação ambiental. É
importante ressaltar que se o turista comece a demonstrar certo interesse pelo
33
turismo de forma sustentável, as iniciativas pouco resultaram positivamente.
Além, segundo Markus Schawaninger (2010), uma conscientização do estreito
relacionamento do homem com seu meio natural ampliará a importância dos
aspectos ambientais, estimulando os movimentos conservacionistas. As
autoridades públicas e as instituições políticas, diante das pressões da opinião
pública, contribuirão para o desenvolvimento dos interesses das comunidades
e do seu ambiente original, definindo um planejamento adequado para cada
caso.
2.6 A Gestão do turismo ambiental
O turismo do século XXI traz um ar contemporâneo para a fuga de
grandes metrópoles, em busca de pseudo paz e conforto. Em consequência,
ocorre um aumento no fluxo de visitas à locais verdes, geralmente com
ecossistemas mais sensíveis e, assim, torna o planejamento da área essencial
para a não degradação da área. Segundo Doris Ruschman, a finalidade do
planejamento turístico consiste em ordenar as ações do homem sobre o
território e ocupa-se em direcionar a construção de equipamentos e facilidades
de forma adequada evitando, dessa forma, os efeitos negativos nos recursos
que os destroem o reduzem sua atratividade. Ainda segundo Doris, o turismo
sustentável incrementará os custos de seu desenvolvimento, que se reverterão
no aumento do preço das viagens para os turistas. Segundo ele, a
determinação da capacidade de carga dos espaços turísticos limitará o acesso
de pessoas em determinadas áreas, o que gerará uma demanda maior que a
oferta. Nos países desenvolvidos, o turismo já é tratado com valor
socioeconômico, como um direito, onde é questionar seus efeitos negativos na
natureza.
A relação entre turismo e meio ambiente é relativamente direta, já que o
meio ambiente é geralmente o produto “vendido” pelo turismo. Porém, sua
relação não tem sido harmoniosa. Por isso, um planejamento se faz importante
para a igualdade dos valores.
34
“O planejamento não representa o domínio mental do
futuro (...). Qualquer tentativa nesse sentido é insensatez.
A pretensão de assenhorear-se do futuro é infantilidade e
nossos esforços nesse sentido só podem desacreditar o
nosso trabalho. Pode-se partir logo da conclusão de que a
previsão, além dos prazos mais curtos, não merece
respeito nem vale a pena. O planejamento em longo
prazo é necessário justamente em virtude da nossa
incapacidade de prever. Existe, porém, outra razão mais
poderosa que faz constatar qual será o mais provável
curso dos acontecimentos ou, no máximo, apurar uma
série de probabilidades. Todavia, o problema empresarial
é o único capaz de modificar as possibilidades, uma vez
que o universo da empresa não é composto de matéria,
mas de valor. Com efeito, a principal contribuição da
empresa, aliás, a única que tem como recompensa o
lucro, é fazer com que haja uma ocorrência exclusiva, a
inovação que altera as probabilidades.” (Ducker, Peter.
“Planejamento em longo prazo: desafio à ciência da
administração” Journal of the Institute of Management
Sciences, 1959).
35
CAPÍTULO III
ECOTURISMO
O ecoturismo vem sendo apontado como uma alternativa econômica
para as áreas em que as atividades de produção tradicionais (como a pesca, a
pecuária, a agricultura, o extrativismo) já não apresentam resultados
expressivos e favoráveis para as populações locais bem como para os
exploradores. No âmbito das unidades de conservação, o ecoturismo têm-se
apresentado de maneira eficiente para garantir a preservação da região, pois
esta se torna mandatória e indispensável para a prática contínua do mesmo.
3.1. Uma visão histórica do Ecoturismo
Segundo Ansarah (2004), se analisar o ecoturismo sob uma perspectiva
histórica, pode-se associá-lo a uma fuga da selva de concreto na qual os
homens estão, cada vez mais, incrustados. Desde os primórdios, o ser humano
tinha uma característica nômade, sem residência fixa, vivendo de pesca e caça
itinerante até a formação das tribos e consequentes conglomerações que
habitavam um determinado espaço até o mesmo alcançar seus limites naturais
(escassez dos frutos, da pesca, dos animais para caça). Esses conglomerados,
com o passar do tempo, foram se desenvolvendo e criando relações
socioeconômicas, bélicas e políticas entre si, originando as cidades e grandes
centros urbanos. Beni (1997) disserta sobre a fuga dos grandes centros
urbanos:
“O homem moderno deste final de século, mergulhado em
uma cultura que não lhe pertence, que tem acesso a
meios de comunicação tecnicamente perfeitos, mas que
não sabem comunicar-se consigo mesmo e com os
outros, que no verão se refresca com ar condicionado e
no inverno se bronzeia com raios ultravioleta, possui uma
mente que resiste a essa nova escravidão e anseia pela
36
liberdade antiga e seu domínio da natureza. O que sente,
na realidade, é um desejo de fuga das cadeias diárias.”
(BENI, 1997).
Beni retrata sob uma visão histórica um motivo para o notável
crescimento do ecoturismo. Porém, temos que abranger de forma substancial a
análise deste fenômeno. A busca por uma experiência que foge o cotidiano
urbano seja por contato com uma natureza “intocada”, por meio de esportes
radicais ou trilhas que proporcionem a sensação de contato direto com a “mãe
natureza”, traz consigo algumas influências socioeconômicas e (in)
consequentes impactos positivos e negativos no meio ambiente.
3.2. O Ecoturismo como agente de dominação
Algumas correntes apontam um caráter “neocolonialista” oriundas das
viagens dirigidas do Primeiro ao Terceiro Mundo. Segundo Diegues (1999),
dentro desta lógica de dependência econômica e das relações centro –
periferia do capitalismo internacional (o mesmo se repetindo internamente em
alguns países, como o Brasil, entre as regiões menos desenvolvidas e mais
desenvolvidas, sendo a origem e destino do ecoturismo, respectivamente), o
ecoturismo vem apenas refinando as antigas práticas de dominação, pois a
imposta conservação ambiental para prática do ecoturismo traz um
aprisionamento das comunidades locais de desenvolver atividades como
indústrias, apropriando-se dos recursos naturais de forma que estes passem a
ser tratados como essenciais para a sobrevivência da fauna, flora e
ecossistemas. Diegues ainda explica que este “neocolonialismo”, presente nas
viagens de turismo ecológico, ultrapassa os fatores econômicos, pois se
tornam agressivos culturalmente à população receptora que passa a receber
massivamente visitas de diferentes culturas e costumes que acabam por
influenciar demasiadamente suas raízes.
37
3.3. A Educação Ambiental e o Desenvolvimento Sustentável
no Ecoturismo
Compilando sucintamente as diversas definições disponíveis para o
ecoturismo, podemos destacar a utilizada pelo IBAMA e EMBRATUR. Para as
entidades, o ecoturismo é:
“(...) um segmento da atividade turística que utiliza de
forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva
sua conservação e busca a formação de uma consciência
ambientalista através da interpretação do ambiente,
promovendo o bem-estar das populações.” (Disponível
em: http://www.ibama.gov.br/revista/apresentacao.htm).
O incentivo a sua conservação bem como a formação de uma
consciência ambientalista citados pelos órgãos supramencionados define a
necessidade da educação ambiental para categorizar o ecoturismo. Segundo
Ansarah (2004), o contexto em que surgiram as práticas ambientais foi o
mesmo que trouxe à tona a também complexa ideia do desenvolvimento
sustentável, hoje já difundido e distorcido para diversas atividades perdendo
inclusive a força e impacto que tinha, porém que teve sua origem relacionada
às boas práticas na apropriação e utilização dos recursos naturais pela
sociedade.
Dentre os eventos relevantes ao contexto do surgimento destas
correntes de ideias podemos citar como pioneira na tratativa do tema meio
ambiente e desenvolvimento a Conferência de Estocolmo em 1972 (organizada
pela ONU), a qual serviu de marco inicial para diversas outras conferências e
reuniões internacionais que viriam nos anos seguintes. A nova percepção que
se instaurava vinha de encontro às práticas capitalistas que visavam apenas à
exploração da natureza, passando a afirmar e aceitar que a sociedade tinha
parcela de responsabilidade nos problemas relativos à natureza, pois esta fazia
parte do meio ambiente. Em 1975, na Iugoslávia, ocorreu outro marco
importante denominado “Encontro de Belgrado”, promovido pela UNESCO
(United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization). Neste
38
tivemos o primeiro anúncio oficial do termo “educação ambiental”, debatendo
as possíveis formas de ações que as populações do planeta deveriam assumir
para encarar a questão ambiental. Abaixo, o primeiro trecho do texto da
resultante “Carta de Belgrado”, em que afirma a necessidade de uma nova
educação e consciência para as novas gerações:
“Governos e formuladores de políticas podem ordenar
mudanças e novas abordagens para o desenvolvimento,
podem começar a melhorar as condições de convívio do
mundo, mas tudo isso não passa de soluções de curto
prazo, a menos que a juventude mundial receba um novo
tipo de educação. Esta implicará um novo e produtivo
relacionamento entre estudantes e professores, entre
escolas e comunidades, e entre o sistema educacional e a
sociedade em geral”. (Disponível em:
http://www.meioambiente.pr.gov.br/modules/conteudo/con
teudo. php? conteúdo = 71).
Após esta emblemática reunião, tivemos diversas conferências e
encontros, como:
- Conferência de Tbilisi na Geórgia em 1977, organizada pela UNESCO
em parceria com a PNUMA – ONU. Nesta foram definidas as estratégias e
princípios para a educação ambiental.
- Conferência Internacional de Moscou em 1987, sugerido pelo próprio
Congresso de Moscou.
- Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Meio
Ambiente denominada ECO-92. Esta fora realizada no Rio de Janeiro e reuniu
mais de 100 chefes de estado do mundo inteiro e deu continuidade ao debate
sobre o tema, indicando os pontos falhos e ressaltando a necessidade da
firmação de novos compromissos de todas as nações.
Estas reuniões foram responsáveis por inserir novas vertentes de
pensamento para a educação ambiental focada nas questões ambientais sob
39
uma ótica realista e abrangente, não apenas assumindo a responsabilidade de
“não jogar lixo na rua” ou “economizar água”, mas sim refletir e promover um
novo olhar do homem a natureza, alterando alguns valores intrínsecos aos
meios de produção atual e ao capitalismo, como o consumismo (comprar e
jogar fora sem a necessidade, de fato, de um novo produto) e a exploração
sem consciência e respeito aos limites da natureza.
Nesse contexto pode-se compreender que a educação ambiental deve
extrapolar as lições cotidianas aprendidas na escola ou em casa e enraizar
culturalmente uma nova visão a respeito da natureza. Sob esta ótica, quando
racionalizamos sobre o impacto que o ecoturismo tem na sensibilização das
relações entre o visitante e o meio ambiente, podemos afirmar que ele se torna
uma poderosa arma na conscientização ambiental.
3.4. Os Antagônicos Impactos Positivos e Negativos
Vale atentar ao fato de que, para todo aspecto, há um impacto. Ou
seja, o ecoturismo por se tratar de uma atividade antrópica praticada
diretamente em ambientes naturais, traz consigo diversos pontos positivos e
negativos com sua prática. Esses possíveis impactos positivos e negativos
devem ser avaliados e estudados em cada caso singularmente para que, com
o devido planejamento e manejo da área, a atividade possa protagonizar
substancialmente maiores impactos positivos que os consequentes negativos.
Ansarah (2004) lista de forma concisa os impactos positivos e
negativos do ecoturismo, enfatizando os casos de Unidades de Conservação, o
objetivo final deste estudo.
Impactos Positivos:
No que tece os impactos econômicos positivos da prática do ecoturismo,
segundo Ansarah (2004), podemos ressaltar:
- Geração de emprego, renda, e estímulo ao desenvolvimento
econômico a níveis regionais, municipais, estaduais e por vezes até nacionais;
- Fixação das populações locais como consequência da geração de
emprego e renda;
40
- Melhoria da infraestrutura do local para atender os visitantes e, por
conseguinte, servindo para a comunidade local, como estrutura viária, sanitária,
médica, de abastecimento e de comunicações;
- No que tange as Unidades de Conservação, crê-se na sustentação
econômica da mesma, pois com sua divulgação e capital entrante dos
visitantes seguidos dos órgãos públicos, que por sua vez também se
interessam pela expansão e manutenção do ecoturismo, torna-se viável
economicamente a conservação da Área Preservada.
No âmbito cultural e ambiental podemos citar:
- Sensibilização dos visitantes e comunidades locais para a preservação
do ambiente bem como da cultura, visto que é indispensável preservá-los para
manter a viabilidade da atividade;
- Circulação de informações sobre o meio ambiente;
- Quando em Unidades de Conservação, a divulgação das informações
como sua fauna e flora concomitante com uma política de educação ambiental
nos moldes já dissertados anteriormente ajuda na preservação ambiental da
mesma, garantindo uma inter-relação antrópica com o meio ambiente sem
prejuízos acentuados na integridade da Área Preservada.
Impactos Negativos:
Os mais relevantes, segundo Ansarah (2004), são em sua grande parte
na esfera ambiental, o que pode ser contraditório com os impactos positivos
supramencionados. Pois bem, vale ratificar que para cada impacto positivo,
gera-se consequentemente um impacto negativo, e a proporção ou intensidade
de cada é regulada e diretamente influenciada pela capacidade de carga da
turística da área bem como o planejamento e manejo executado na mesma,
que quando realizado de maneira exemplar e sustentável, garante-se um
aproveitamento máximo da área antes do limiar que causaria uma degradação
demasiada mantendo a experiência do visitante agradável (o que garante a
manutenção econômica da Unidade de Conservação, já citado anteriormente).
São eles:
41
- Esgotamento do solo mais rapidamente que o que ocorreria de forma
natural e a transformação negativa da paisagem pela necessária implantação
de construções e infraestrutura.
- Aumento da produção de resíduos sólidos, efluentes domésticos que,
sem o devido tratamento, podem vir a degradar o ambiente.
- Aumento do consumo de combustíveis para deslocamento até a área
poluindo o ar.
- Com a massiva presença humana, observa-se uma maior erosão
provocada pelo pisoteamento e compactação do solo conjugados com as
chuvas e fenômenos naturais, bem como um desaparecimento por vezes em
grande escala da fauna presente devido ao estresse ocasionado pela mesma.
- Dentro do universo socioeconômico, citamos a geração de um fluxo
migratório com destino os arredores da área explorada turisticamente, e,
quando este crescimento populacional não vem acompanhado do devido
planejamento e auxílio político, pode vir a ocorrer nos arredores um
adensamento urbano descontrolado ocasionando favelização e problemas
sociais graves.
3.5. O potencial do ecoturismo para o desenvolvimento
sustentável em Unidades de Conservação
Diante de todo o exposto, podemos certificar que o ecoturismo, quando
praticado de maneira sustentável, ou seja, operando de acordo com suas
capacidades de carga naturais, garantindo o desenvolvimento socioeconômico
das populações locais sem comprometer ou interferir demasiadamente suas
raízes culturais e desenvolvendo uma educação ambiental efetiva, pode vir a
ser uma ferramenta de grande valia tanto para a conservação local dos
espaços naturais protegidos como para o desenvolvimento das comunidades
locais.
Para chegarmos a este potencial máximo, devemos atuar de acordo com
as diretrizes que regem o turismo sustentável.
42
CAPÍTULO IV
TURISMO SUSTENTÁVEL X ECOTURISMO
O ecoturismo teve sua primeira atuação no com a criação do Parque
Nacional de Yellowstone nos Estados Unidos da América em 1872.
(LINDBERG E HAWKINS, 1999). O ecoturismo,segundo Hetzer (1965) é usado
para explicar o intricado relacionamento entre turista e o meio ambiente e
culturas nos quais eles interagem,além de identificar quatro peculiaridades
seguidas pelo ele:
- Impacto Ambiental mínimo;
- Impacto ambiental às culturas anfitriãs;
- máximos benefícios econômicos para as comunidades do país
anfitrião;
- Satisfação máxima dos turistas.
A partir dessa ideologia, esse conceito se tornou mais amplo, pois
começou a abranger uma preocupação em impactos adjuntos da ideia do
turismo. Começa-se, portanto, a discussão em longo prazo sobre alternativas
cabíveis de fins preventivos e remediadores para um turismo. A partir do
conceito de surgimento definido por Wearing e Neil (2001), o ecoturismo surgiu
para oferecer uma opção de desenvolvimento sustentável a comunidades,
proporcionando um incentivo para conservar e administrar a regiões naturais,
além de poder ser uma alternativa à extração voraz de recursos florestais. A
partir de tal, o Relatório de Brundtland (Our Common Future), de 1987,
apresenta uma visão mais complexa das causas dos problemas tanto
ecológicos quanto socioeconômicos da sociedade, abrangendo economia,
tecnologia, sociedade e política, contrapondo com uma postura mais ética e
com responsabilidade entre gerações, além propôs, pois, alternativas e
estratégias ambientais que incentivam o desenvolvimento sustentável, Após
sua publicação, a sociedade começa a buscar novos meios de desenvolver
sustentavelmente os processos decorrentes da sociedade atual. Segundo
publicação de Wearing e Neil, o ecoturismo, veio, então, para diminuir a
43
exploração dos recursos florestais, gerando lucro para administrar as áreas de
proteção.
Conceitualmente confundidos, o Turismo Sustentável e o Ecoturismo
possuem aspectos e ideias diferentes, porém complementares. Ambos são
conceitos preliminares básicos que devem ser compreendidos integralmente
para compreensão do conceito de Capacidade de Carga Turística, escopo
principal deste estudo. Segundo Kinker (2000):
“O Turismo Sustentável é aquele que é desenvolvido e
mantido em uma área (comunidade, ambiente) de
maneira e em uma escala que se mantenha viável pelo
maior tempo possível, não degradando ou alterando o
meio ambiente (natural ou cultural), não interferindo no
desenvolvimento de outras atividades e processo, não
degradando a qualidade de vida da população envolvida,
mas, pelo contrário, servindo de base para uma
diversificação da economia local.“ (KINKER, 2000).
Dentro deste universo concluímos que a prática do supracitado não é
intrínseca à natureza, muitas vezes definida erroneamente, podendo este ser
praticado e identificado em todo e qualquer tipo de local (até mesmo em zonas
urbanas), desde que não agrida ou prejudique o meio ambiente e permita que
futuras gerações usufruam do mesmo. A complexidade das inter-relações
socioculturais, econômicas e ambientais que regem o turismo e a necessidade
de fazê-lo de forma sustentável para que não prejudique o meio ambiente, a
comunidade local bem como sua economia e cultura, nos mostra a dimensão
do desafio presente no conceito de Turismo Sustentável. Segundo (Ansarah,
2004):
“O estudo do turismo deve ser redirecionado para o
desenvolvimento sustentável, conceito essencial para
alcançar metas de desenvolvimento sem esgotar os
recursos naturais e culturais nem deteriorar o meio
ambiente. Entende-se que a proteção do meio ambiente e
44
o êxito do desenvolvimento turístico são inseparáveis.”
(ANSARAH, 2004).
Com aspectos e definições diferentes, porém não divergentes e sim
complementares, temos o Ecoturismo como a prática do turismo em ambientes
naturais, não contemplando em sua grande parte construções antrópicas que
se sobressaiam mais que a natureza em si. A definição oficial do Ecoturismo se
dá pela Sociedade Internacional de Ecoturismo (TIES – The International
Ecotourism Society): “... viagens responsáveis para áreas naturais que
conservam o meio ambiente e sustentam o bem estar das comunidades
locais.”.
Vale ressaltar que o Ecoturismo não se trata apenas de preservação
ambiental da área explorada pelo turismo, mas de diversos princípios que são
tratados como premissas e essenciais para o mesmo. Em (TIES, 2004), temos:
- Minimizar de forma substancial os impactos.
- Construir nos visitantes uma consciência ambiental e cultural para/com
a área.
- Proporcionar benefícios de ordem financeira para a conservação da
natureza.
- Proporcionar benefícios para as comunidades locais.
Observa-se um crescimento significativo do Ecoturismo. Sob o aspecto
nacional, facilmente reconhecemos o Brasil como um dos países de maior
potencial para a atividade. Todavia, a necessidade de implantação de uma
política nacional clara e que integre o setor de maneira incisiva, seja com
programas públicos ou privados, dificultam a expansão do mesmo, ainda que a
crescente seja notável.
Assumindo os conceitos de Ecoturismo e Turismo Sustentável, podemos
começar a entender a necessidade e importância de métodos de controle
ambiental e estudos que possam definir de forma efetiva a capacidade de
carga turística dos ambientes naturais de acordo com as idiossincrasias físicas,
biológicas e culturais de cada.
45
CAPÍTULO V
JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO
Com o surgimento das Guerras Napoleônicas na Europa, em 1808, o
então príncipe regente de Portugal, D. João, se refugiou no Rio de Janeiro,
junto com a corte portuguesa. Limitada pelos morros da Urca (hoje conhecidos
como Catacumba, Corcovado e Dois Irmãos), segundo Renato Pizzaro (2007),
e a área ocupada pela corte era um grande engenho de cana de açúcar,
pertencente a Rodrigo de Freitas Mello e Castro. Pizzaro ainda cita que quando
Rodrigo de Freitas, então último dono do engenho, resolvera voltar para
Portugal, deixou a grande área a seus herdeiros, que mantiveram o engenho
até sua compra por D. João, em 1808, para a construção de uma fábrica de
pólvora na região.
Encantado com a beleza do local, em 13 de junho de 1808 , D. João
cria aos arredores da fábrica um "Jardim de Aclimação" para introdução de
especiarias e plantas exóticas de valor econômico. Pizzaro ressalta também
que o local, antes de ser conhecido como "Jardim Botânico", era denominado
"Real Horto" e posteriormente, com a coroação de D. João como Rei de
Portugal, o Jardim ficou denominado como "Real Jardim Botânico", anexando-o
ao "Museu Real".
“As primeiras espécies vindas do estrangeiro, aqui
chegaram trazidas por Luiz de Abreu Vieira e Silva, que
após ter naufragado em Gôa e embarcado posteriormente
com destino ao Brasil, foi aprisionado pelos franceses e
mandado para a Ilha de Maurício, hoje o país Ilha
Maurítias, local em que existia o Jardim Gabrielle, de
onde conseguiu fugir com algumas plantas que trouxe
para o Rio de Janeiro, incluindo a Palmeira Imperial,
presenteando-as a D. João, que mandou plantá-las no
Real Horto.” (Histórico do Jardim Botânico do Rio de
Janeiro - João Conrado Niemeyer de Lavôr, 1983).
46
Com a volta de D. João para Portugal, segundo Pizzaro (2007) , D.
Pedro I desvinculou o Real Jardim Botânico do Museu Real, subordinando-o ao
Ministério do Império, o Real Jardim era totalmente privado, onde a visitação
era feita com autorização do diretor e acompanhados por praças do corpo de
veteranos durantes a visita. Com a administração do Frei Leandro do
Sacramento, primeiro diretor botânico, o "Real Jardim Botânico" foi
denominado "Jardim Botânico" tratando de assuntos mais sérios de
experimentações e estudos. Com a posse do Frei Leandro, Pizzaro (2007)
ressalta o início da plantação de algumas especiarias, como o chá, e a questão
paisagística do Jardim foi ganhando força: Frei Leandro construiu um Lago
conhecido pelo nome de Vitória Régia, projetou aleias, inaugurou um relógio de
sol e etc.
Com o passar dos anos e diretores, em 1859, o Jardim foi subordinado
para o Instituto Fluminense de Agricultura, e o diretor da época, Dr. Custódio
Alves Serrão, abandonou o cargo e essa perda acarretou a troca da mão de
obra escrava pela assalariada. Após alguns diretores, em 1863, foi contratado
diretamente de Viena o professor Karl Glasl para ser diretor do Jardim.
Durante sua administração, os canteiros foram embelezados, foram
colocados bancos pelo jardim e foi construída uma gruta. Essas mudanças
fizeram a procura turística pelo Jardim aumentar significativamente. Após mais
alguns anos e diretores, em 1890 foi nomeado João Barbosa Rodrigues, ex-
diretor do Museu Botânico do Amazonas. Com ele, foi criado o Herbário, o
Museu e a Biblioteca. Com seu falecimento, em 1909, Barbosa Rodrigues foi
substituído pelo seu filho, João Barbosa Rodrigues Junior. Em 1934, após a
saída de Barbosa Rodrigues Junior e administração de Dr. José Cunha
Menezes, Dr. Graciano dos Santos Neves, Dr. John C. Willis, Antônio Pacheco
Leão e Achiles Lisboa, o Jardim passou por uma nova revitalização com a
administração do neto de Barbosa Rodrigues, Dr. Paulo de Campos Porto, que
remodelou o parque, com enfoque mais estético.
Após mais alguns diretores, o diretor Cônego Dr. Raulino Reitz restaurou
o Museu, o portão principal, estufas e ainda reintegrou o Horto ao Jardim
Botânico e recuperou 16 hectares cedidos a Furnas e BNH, além da
construção do Bromeliário, de um playground, do estacionamento, criou a
47
seção de vendas de mudas, guias poliglotas e contratação de empresas de
manutenção e segurança do parque. Com a administração do Dr. Osvaldo
Bastos de Menezes em dezembro de 1975, foi assinado o convênio entre IBDF
e a Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), com a
Fundação Pró Memória para reforma dos prédios. Atualmente, o JBRJ se
encontra sob a administração do presidente substituto João Elisiário Lima de
Rezende.
5.1. Gestão do Jardim Botânico
O Jardim Botânico tem como missão fundamental “promover,
realizar e difundir pesquisas científicas, com ênfase na flora, visando
à conservação e à valoração da biodiversidade, bem como realizar
atividades que promovam a integração da ciência, educação, cultura
e natureza”.
Sendo uma referência nacional de conservação do patrimônio
histórico e cultural e reconhecido internacionalmente por suas
atividades de pesquisa científica, toda esta vitalidade é sustentada
pelas atividades de conservação ambiental promovidos, buscando
integrar as expectativas dos visitantes às finalidades do equipamento
público. Para tal, o gestor deve combinar a visão macroscópica dos
mapas da situação com a análise dos riscos ao patrimônio natural,
observando a dinâmica e fluxo de deslocamento das pessoas sobre
esse traçado.
Com isso, o planejamento da capacidade de suporte do Jardim
Botânico deve considerar suas prioridades institucionais e o
comportamento de seus visitantes, a fim de reduzir os impactos
negativos de seu uso e qualificar e expandir sua oferta de atividades.
Atualmente há, além do Regimento Interno do Jardim Botânico:
- Decreto nº 7.746, cinco de junho de 2012, estabelece critérios,
práticas e diretrizes para a promoção do desenvolvimento
nacional sustentável nas contratações realizadas pela
48
administração pública federal, e institui a Comissão
Interministerial de Sustentabilidade na Administração Pública –
CISAP;
- Instrução Normativa SLTI nº 10 de 14 de novembro de 2012,
estabelece regras para elaboração dos Planos de Gestão de
Logística Sustentável;
- Plano de Logística Sustentável do Jardim Botânico do Rio de
Janeiro.
49
CAPÍTULO VI
O CONCEITO DE CAPACIDADE DE CARGA TURÍSTICA
Segundo Chambers: “o conceito de Capacidade de Carga pode ser
entendido como a habilidade da Terra de suportar a vida” (2000, p.46).
Segundo os dados fornecidos pelo Ministério do Turismo, definido por BOO
(1990) como “a quantidade máxima de visitantes que uma área pode acomodar
mantendo poucos impactos negativos sobre os recursos e, ao mesmo tempo,
altos níveis de satisfação para os visitantes”. Em geral, segundo ainda BOO
(1990), considera-se, também, a expressão para determinar o número máximo
de visitantes (por dia, mês e ano) que o meio ambiente de uma área consegue
suportar ao nível de subsistência, pelos recursos ambientais disponíveis, sem
que ocorram alterações nos meios físicos e sociais. Segundo SOWMAN
(1987):
“Todas as definições de capacidade de carga
relacionadas à recreação, cujas primeiras abordagens
acadêmicas vêm dos anos 40, incorporam dois aspectos
principais: a manutenção da integridade da base de
recursos e a oferta de uma experiência de qualidade
para os usuários.”
Um conceito amplo de capacidade de carga ou suporte reconhecido
pelas instituições International Union for the Conservation of Nature and Natural
Resoucers (IUCN), United Environmental Program (UNEP) e Word Wildlife
Found (WWF) (1991), apud CEBALLOS-LASCURÁIN (1996), define-se como a
capacidade de um ecossistema em suportar organismos saudáveis enquanto
mantém sua produtividade, adaptabilidade e capacidade de renovação, em
outras palavras, capacidade de carga representa o limite de atividade humana
que, se excedido implica na degradação da base de recursos.
Esta capacidade de suporte considera a infraestrutura local, o grau de
satisfação dos visitantes e as alterações aceitáveis nos recursos atuais para o
50
cálculo. Ele cria meios para avaliar o impacto da visitação, que depende da
quantidade de visitantes, o comportamento desses visitantes e o grau de
consolidação do local. Além disso, o estudo do suporte direciona estratégias de
manejo e gestão para minimizar ou prevenir os impactos indesejados.
6.1. Turistas X Visitantes
Aparentemente ambas as palavras têm um mesmo significado, porém,
quando se refere à visitação em áreas de proteção ambiental, utiliza-se o termo
“visitante” ao invés de "turista". O motivo para tal distinção é que a
interpretação do termo "turista" transparece que o mesmo não pertence à
comunidade local e sim de outro lugar, excluindo da análise da comunidade
local que também visitaria a área. Logo, utilizaremos o conceito de visitante
excluindo esta possibilidade de interpretação errônea. Define-se que um
visitante deve compreender e aceitar que, desde o início da visitação, estará
sujeito a condições e regras, sobretudo no que se refere às infraestruturas, aos
serviços e às facilidades da unidade.
6.2. O método de Cifuentes
No trabalho proposto, como forma de comprovação será usado o
Método de Miguel Cifuentes. Cifuentes (1992) ressalta alguns critérios a serem
observados quanto à determinação da capacidade de carga. São eles:
- A determinação da capacidade de carga não deve ser entendida como
a solução para os problemas de visitação em uma área protegida, pois se trata
apenas de uma ferramenta de planejamento que sustenta e requerem decisões
de manejo, decisões estas que sofrerão de pressão de ordem social,
econômica e política.
- A determinação inicial de capacidade de carga pode variar,
aumentando ou diminuindo, porque depende de variáveis que constituem
apreciações e que de acordo com as circunstancias podem mudar, sendo
necessárias revisões periódicas como parte do processo sequencial de
planejamento e ajuste do manejo.
51
-Os objetivos da área devem ser a base para determinação da
capacidade de carga, pois definem a categoria de manejo e limitam o uso que
se pode dar a área.
- A capacidade de carga de um lugar depende das particularidades e
peculiaridades do mesmo, e deve ser determinada para cada local de uso
público em separado. A capacidade de carga para área protegida não pode ser
entendida como a soma das capacidades de todas as áreas, pois as
consequências em cada local da área de proteção ambiental serão diferentes,
podendo ser considerados mais graves ou amenos para o meio ambiente como
um todo.
- Para alguns locais que tenham um só acesso ou formem um complexo
interconectado, a capacidade de carga será determinada pelo local com menor
capacidade real, mesmo que os outros possam absorver uma maior visitação,
pois o contrário poderia significar uma sobrecarga para alguns locais.
- Devem-se considerar visitas/tempo/local, e não visitante/tempo/local, já
que uma mesma pessoa visitando um local, repetidas vezes, causará o mesmo
impacto que diferentes pessoas, e nos interessa a presença de alguém em
algum lugar, em um dado momento, como meio de prever e medir um impacto.
6.2.1. Cálculo da Capacidade de Carga Turística
O cálculo da Capacidade de Carga Turística tem por objetivo efetuar
um estudo estruturado em dados concretos e variáveis (garantindo
embasamento à conclusão do mesmo) para complementar as melhores
práticas a serem utilizadas na manutenção e manejo da trilha do Jardim
Botânico.
Os dados utilizados para o cálculo foram fornecidos pelo engenheiro
responsável do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Marcos Silvestre. Com base
nestas informações preliminares, pode se iniciar os estudos competentes ao
cálculo da Capacidade de Carga Turística da área, administrar o fluxo de
pessoas e orientá-las durante o percurso para mitigar ao máximo os efeitos
negativos desta atividade.
52
O cálculo tomou por base idem o método de Cifuentes (1992), o qual
busca o número máximo de visitas em uma área de proteção ambiental
levando em consideração as condições físicas, biológicas e de manejo.
6.2.2. Capacidade de Carga Física
A capacidade de carga física (CCF) é o limite máximo de visitas que se
podem realizar em um determinado local durante um tempo pré-estabelecido.
Este número é obtido pela relação entre os fatores de visita, onde deve ser
considerado o horário de visitas disponível e o tempo de deslocamento
necessário para cada atrativo. Serão ainda considerados no cálculo o
comprimento total da trilha e a necessidade espacial de cada visitante para
garantir o seu conforto, conforme fórmula abaixo:
CCF = S/SP x Nv
Onde:
S = Superfície disponível em metros lineares
SP = Superfície necessária e ocupada por cada visitante
Nv = Número de vezes que o local poderá ser utilizado pela mesma
pessoa no mesmo dia. Logo:
Nv = Hv / Tv
Onde:
Hv = Horário de visita do local
Tv = Tempo necessário para completar o percurso
Será considerado que a superfície necessária por cada visitante é de
1m², sendo assumido 1 metro quando for trabalhado apenas o comprimento.
No Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o horário disponível para visitação é das
8:00 às 17:00 horas de terça a domingo, e 12h às 17h, onde iremos considerar
o tempo de 9h para visitação por dia.O percurso que será utilizado é o sugerido
pelos guias turísticos quando se chega ao local, onde se passa pelos principais
pontos e o tempo de deslocamento aproximado para completá-lo é de uma
hora e meia. Considerando a informação supracitada de que a área fica aberta
53
ao público por nove horas diárias, logo se pode concluir que o número máximo
de vezes que o local pode ser visitado pelo mesmo visitante será seis. A trilha
principal, escolhida para realização do cálculo, tem 2.170 metros de
comprimento. Segue abaixo o mapa com a trilha principal marcada de verde:
Figura 1: Trilha do Jardim Botânico apresentada no mapa de visitação
Com base nessas informações:
S = 2.170 metros
SP = 1 metro
Nv = 6 vezes
Hv = 9 horas
Tv = 1 hora e 30 minutos
Logo:
Nv = Hv / Tv => 9 horas / 1 hora e 30 minutos => Nv = 6 vezes
CCF = S/SP x Nv => 2.170/1 x 6 => CCF = 13.020
54
Deve-se observar que a trilha acima é um circuito fechado, ou seja, os
2.170 metros são medidos partindo de um ponto e terminando no mesmo, não
tendo a ideia de ida e volta.
6.2.3. Capacidade de Carga Real
A Capacidade de Carga Real obtida através da aplicação de fatores de
correção pertinentes à área e propriamente à atividade de ordem ambiental,
biofísica ou de manejo na já calculada capacidade de carga física. Quanto
maior o número de fatores de correção considerados no estudo, maior será a
restrição da capacidade de carga. Logo, para cada caso estes fatores são
variáveis e seguem um critério preestabelecido. Segundo o Instituto Theoros
(2004) deve-se “selecionar apenas aqueles fatores que realmente implicam
uma redução da visitação.”. No estudo, levam-se em consideração os fatores
de correção: Fator Social (FCsoc), Erodibilidade (FCero), Acessibilidade
(FCac), Precipitação (FCpre), Brilho Solar (FCsol), Fechamento Eventual
(FCeven) e Alagamento (FCal).
Através de uma fórmula geral, considera-se o cálculo dos fatores de
correção abaixo:
FC = 1 - ML / MT
Onde:
FC = Fator de Correção
ML = Magnitude Limitante
MT = Magnitude Total
Tendo em mãos os fatores de correção, aplica-se a fórmula citada
abaixo para definir ao fim a Capacidade de Carga Real:
CCR = CCF (FCsol x FCpre x FCac x FCeven x FCal x FCsoc x FCero)
Onde:
CCR = Capacidade de Carga Real
CCF = Capacidade de Carga Física
55
FCsoc = Fator Social
FCero = Erodibilidade
FCac = Acessibilidade
FCpre = Precipitação
FCsol = Brilho Solar
FCeven = Fechamento Eventual
FCal = Alagamento
- Fator de Correção Social
O fator de Correção Social se refere à qualidade da visitação visando à
manutenção da mesma por grupos. Através de um maior controle e gestão do
fluxo dos grupos formados de visitantes, pode-se proporcionar a eles um
melhor aproveitamento e maior satisfação na atividade. A metodologia de
Cifuentes (1992) que é utilizada propõe o manejo das visitações através da
formação de grupos com limite de pessoas pré-definido bem como a distância
entre os mesmos evitando transtornos no demasiado povoamento provocado
pela junção de grupos.
Dentre estes transtornos se apresentaria o pisoteamento consecutivo
excessivo na área, a falta de controle do grupo como um todo e a consequente
queda da qualidade do passeio. Quanto ao número máximo de pessoas por
grupo, observa-se que este varia no Jardim Botânico, porém pode-se
considerar uma média de 10 visitantes por grupo (média aproximada informada
pelo Centro de Visitantes do JB). Esta média segue a recomendação da
Organização Mundial do Turismo de organizá-los em pequenos números
quando se trata de turismo em ambientes preponderantemente naturais
(ecoturismo).
Seguindo estas instruções, inicia-se a operacionalizar os cálculos,
tomando por base à distância entre grupos e o espaço físico necessário por
cada pessoa. Considera-se 1 metro de comprimento entre visitantes (não se
considera a largura da trilha, pois será assumido que os visitantes
permaneceriam em linha reta e a largura da mesma é menor que 1 metro) e 50
56
metros entre grupos, totalizando 60 metros ocupados por cada grupo. Desta
forma:
N grupos = comprimento da trilha / distância de cada grupo
Define-se, assim, o número de grupos concomitantes na trilha.
Multiplica-se, então, este resultado pelo limite pré-definido de 10 pessoas por
grupo:
NP = N grupos x 10
Onde:
NP = Número de Pessoas
A Magnitude Total assume o valor do comprimento total da trilha e a
Magnitude Limitante a diferença entre a Magnitude Total e o comprimento
espacial utilizado por todas as pessoas, visto acima por NP. Logo,
MT = comprimento da trilha
ML = MT – (NP x 1)
Onde:
MT = Magnitude Total
ML = Magnitude Limitante
Calcula-se, por fim, o Fator de Correção Social da trilha:
FCsoc = 1 – ML / MT
Entendido o raciocínio dos cálculos, podemos aplicá-los:
N grupos = comprimento da trilha / distância de cada grupo => 2.170 / 60
=>
N grupos = 36,1 (aproximadamente)
NP = N grupos x 10 (limite pré-estabelecido de pessoas por grupo) =>
NP = 36,1 x 10 => NP = 361 pessoas
MT = 2.170
ML = MT – (NP x 1) => ML = 2.170 – (361 x 1) => ML = 1.809
Logo:
FCsoc = 1 – ML / MT => 1 – 1809/2170 => 1 – 0,833 (aprox.) => FCsoc
= 0,167
- Fator de Correção Erodibilidade
57
A erodibilidade é outro fator de correção para o cálculo da capacidade
de carga real da área. Considera-se conceitualmente que a mesma está
intimamente ligada à resistência do solo aos impactos hídricos, mineralógicos,
químicos, físicos e morfológicos. Segundo Bertoni e Lombardi Neto (1999,
p.68): “A erosão é o processo de desprendimento e arraste acelerado das
partículas do solo, causado pela água e pelo vento.”.
Trata-se, portanto, de um efeito integrado de processos que regulam a
resistência do solo para desagregação de partículas e propriedades físico-
químicas. É perceptível que a erosão do solo se dá através de um processo
natural, das inter-relações e interações com as ocorrências pluviais, vegetação,
animais terrestres e ventos intensos. Porém, quando este passa a ser
intensificado através de interações com o homem (o que no ecoturismo é um
dos principais agentes de desgaste da área), recomenda-se estudar
cuidadosamente as condições do solo antes do início da atividade turística para
criar um limite que permitam mitigar ao máximo os efeitos negativos antrópicos.
A metodologia adotada por Cifuentes (1992) estabelece como fatores
limitantes da erodibilidade do solo apenas as áreas que estão com erosões
evidentes.
Segundo o engenheiro Marco Silvestre, em 2011, todas as áreas que
apresentavam erosão aparente foram recuperadas. De fato, ao percorrer a
trilha não se percebe nenhum trecho com erosão do solo evidente, estando
todo este em perfeitas condições:
58
Figura 2: Aleia Barbosa Rodrigues, com a trilha sem erodibilidade.
- Fator de Correção Acessibilidade
O fator de correção acessibilidade tem como objetivo mensurar a
dificuldade que os visitantes irão ter que transpor na área. Com intuito de
estabelecer um critério apropriado que possa de forma sucinta garantir um
levantamento verdadeiro do fator dificuldade, considera-se a declividade e
estreitamento em alguns trechos para definir então se a acessibilidade é ruim
(AR) ou média (AM), absorvendo os critérios:
- Declividade acima de 20% será considerada ruim, por sua vez abaixo
consideraremos média.
-Estreitamento com menos de 1 metro de largura será considerado ruim,
constando acima com acessibilidade média.
Garante-se, desta forma, um padrão para prosseguir com os cálculos do
fator de correção acessibilidade.
59
No Jardim Botânico, não fora observado nenhum trecho com
estreitamento acentuado. Todavia, foi medido 259 metros de trilha (conhecida
como “caminho dos bois”) com declividade superior a 20%.
Figura 3: ”Caminho dos Bois”, com declividade superior a 20%.
Segundo Cifuentes (1992) é necessário inserir fatores preponderantes e
pesos diferentes para cada grau de dificuldade. Para os trechos de
acessibilidade ruim (AR), o fato de ponderação é 1,5 e para os de
acessibilidade média (AM), o fato de ponderação é 1,0. Na trilha do Jardim
Botânico, pode ser encontrado um trecho denominado “Caminho dos Bois” com
uma declividade superior a 20% e por sua vez todo o trecho restante é
realizado sem qualquer declividade. Logo:
FCac = 1 – [(Ar x 1,5) + Am / Mt]
Onde:
Mt = Metros totais da trilha
Ar JB = 259 metros
Am JB = 0 metros
Mt JB = 2.170 metros
Logo:
60
FCac = 1 – [( 259 x 1,5) + 0/2.170] => 1 – [388,5 + 0 /2.170] =>
FCac = 1 – 0,179 => FCac = 0,821
- Fator de Correção Precipitação
Levando em consideração que ampla parte dos visitantes não possui
disposição para realizar atividades pertinentes ao ecoturismo durante a chuva,
principalmente caminhadas e trilhas em locais abertos, o fator de correção
precipitação apresenta-se no âmbito de impedimento da visitação normal na
área. Deve-se prover de informações certeiras referentes às ocorrências
médias de chuvas em cada estação e época, sua periodicidade, quantidade e
intensidade (visto que uma garoa pode não ser considerada como fator de
correção precipitação). A avaliação utilizada fora com base nas informações do
website
http://www.wunderground.com/history/airport/SBJR/2011/9/17/CustomHistory.ht
ml?dayend=17&monthend=9&yearend=2012&req_city=NA&req_state=NA&req
_statename=NA (histórico de dias chuvosos no Rio de Janeiro no último ano).
Conforme tabela no anexo 1, do dia 1 de janeiro de 2013 ao dia 31 de
dezembro de 2013 (período de 365 dias utilizado), apresenta 130 dias de
chuva. Não foi efetuado o levantamento da intensidade de todos os dias, logo,
para possibilitar a realização do cálculo, será considerado que para cada dia
chuvoso teremos 4 horas limitantes para visitação no JB.
Adicionalmente, consideram-se também os dias em que o local
permaneceu aberto para os visitantes. Durante o período acima escolhido, o
mesmo ficou 363 dias abertos, fechando somente no dia 1º de janeiro e 8 de
março (terça-feira de carnaval). Desta forma, têm-se:
FCpre = 1 – HL / HT
Onde:
HL – Horas de chuva limitante no ano
HT – Horas em que o parque se encontra aberto no ano.
HL JB = 520 horas
HT JB = 9 horas diárias x 363 dias abertos = 3.267 horas
Logo:
61
FCpre JB = 1 – 520/3.267 => 1 – 0,159 (aprox..) => FCpre = 0,840
- Fator de Correção Brilho Solar
O clima do tipo quente e úmido a superúmido pode trazer em
determinados horários dos dias de calor intenso um desconforto plausível de
ser considerado fator de correção para impedimento da visitação.
Para o fato de correção brilho solar, devem-se analisar as horas de sol
limitantes nos períodos de maior e menor pluviosidade. A avaliação dos trechos
da trilha sem cobertura vegetal é essencial para tal, pois de fato incentivará
mais ou menos os visitantes a enfrentarem as condições adversas do sol
intenso, correndo risco de insolações e efeitos que prejudicam a qualidade da
atividade turística, indo de contra o conceito do ecoturismo como um todo.
É considerado o período limitante do fator de Correção Brilho Solar o
período de quatro horas para os dias sem chuva (10 horas às 14 horas) e de 2
horas para os chuvosos (11 horas às 13 horas).
No Jardim Botânico, toda a trilha é descoberta, pois os trechos que têm
cobertura vegetal não podem ser pisados (Portaria nº 102 do Regulamento de
Uso Público do Jardim Botânico, 2011).
Primeiramente, são analisadas as horas no ano em que o sol
diretamente influenciaria na visitação.
Apresenta-se:
Período chuvoso (PC) = dias x 2 horas
Período sem chuva (PS) = dias x 4 horas
Somando o PC e o OS, encontra-se o total de horas limitantes para o
fator de correção brilho solar.
Período chuvoso JB = 130 dias x 2 horas = 260 horas
Período sem chuva JB = 235 dias x 4 horas = 940 horas
Podemos agora calcular o fator de correção:
FCsol = 1 – Hsl / Ht x Ms / Mt
Onde:
Hsl = Horas de sol limitantes por ano
Ht = Horas por ano em que o parque encontra-se aberto
Ms = Metros da trilha sem cobertura vegetal
62
Mt = Metros totais da trilha
Logo:
Hsl JB = 940 + 260 = 1200 horas
Ht JB = 3267 horas
Ms JB = 2.170 metros
Mt JB = 2.170 metros
Logo:
FCsol = 1 – 1.200 / 3.267 x 2.170 / 2.170 => 1 – 0,376 (aprox..) x 1 =>
FCsol = 0,633
- Fator de Correção Fechamento Eventual
Este fator tem como fundamentação alguma manutenção para
conservação ou até mesmo desastre natural que tenha por consequência
imediata o fechamento temporário do local. Para este, o engenheiro
responsável pela manutenção do Jardim Botânico, Marcos Silvestre, informa
que em 2011 não houve fechamento eventual no parque por motivos
meteorológicos ou de quaisquer outras naturezas salvo exceções: nos dias
01/01 e 12/03 (terça-feira de carnaval) foram fechados em tempo integral e nos
dias 13/03 e 25/12 foram fechados depois das 12h00min horas e antes das
12h00min horas respectivamente.
Calcula-se:
FCeven = 1 – HF / HT
Onde:
HF = Horas por ano em que a o atrativo estará fechado
HT = Horas totais do ano
Onde:
HF JB = 2 dias (9 horas) + 1 dia (5 horas) + 1 dia (4 horas) = 27 horas
HT JB = 3267 horas
FCeven JB = 1 – 27 / 3267 = 0,992 aprox.
- Fator de Correção Alagamento
O fator de correção alagamento verifica os pontos da trilha em que há
tendência de haver acúmulos de água após precipitações na área. O acúmulo
de água adicionado ao pisoteio do solo acentua consideravelmente o desgaste
63
e a erosão do mesmo, sendo este um fator de aceleração da degradação do
solo. Tal análise deve ser realizada no local levando-se em consideração a
declividade do terreno e a permeabilidade do solo.
Para uma análise prática, mediram-se os trechos de alagamento no dia
posterior a uma chuva, encontrando dois trechos substancialmente alagados,
vide abaixo:
Figura 4: trecho de maior alagamento em período de chuva.
64
Figura 5: trecho que apresenta menor alagamento em período de chuva.
A soma do comprimento dos dois trechos alagados foi de 8,5 metros.
Logo:
FCal = 1 – MA / MT
Onde:
MA = Metros da trilha tendenciosos ao acúmulo de água e alagamento
MT = Metros totais da trilha
FCal = 1 – 8,5/2.170 => Fcal = 1 – 0,003 (aprox..) => FCal = 0,997.
- Cálculo Final da Capacidade de Carga Real
Conforme explicado anteriormente, o cálculo da capacidade de carga
real se dá através da utilização dos números obtidos na capacidade de carga
física corrigidos pelas situações-problema acerca das fragilidades do ambiente
e aspectos que dificultam a visitação (fatores de correção). Todavia, este
cálculo ainda não é suficiente para definir a capacidade de carga efetiva da
trilha turística. É necessário considerar ainda a capacidade de manejo, descrita
abaixo.
65
6.2.4. Capacidade de Manejo
A capacidade de manejo se dá na forma de gerenciamento de recursos
pela administração da unidade de conservação. Segundo Matheus (2003):
“leva em consideração as condições e necessidades que a administração da
área possui para cumprir com as funções e objetivos propostos.”. Dentro
destas, pode-se incluir os equipamentos necessários para as atividades
cotidianas, de manutenção da atividade em si, os recursos humanos e
financeiros para viabilização das mesmas, a legislação vigente local, a
infraestrutura encontrada e as facilidades disponíveis. A capacidade de manejo
é resumida como sendo a relação da capacidade e condições administrativas
existentes com a melhor possível para a área protegida. Segundo Cifuentes
(1992) cada variável deve ser valorada de acordo com quatro critérios
fundamentais:
• Quantidade: relação entre a quantidade existente de determinado vetor
e a quantidade ótima.
Avaliou-se a quantidade de lixeiras pelo percurso bem como se as
mesmas separam materiais recicláveis dos não recicláveis. Adicionalmente o
número de funcionários.
Em toda a extensão do Jardim Botânico, são encontradas 42 lixeiras,
número satisfatório para o trecho, além de 45 jardineiros, 30 funcionários
responsáveis pela manutenção de bebedouros, lixeiras, placas, bueiros etc.,
105 seguranças, 12 guias turísticos para atender aos grupos de visitantes e
seis responsáveis por avaliar e cuidar da fauna como um todo. Os números se
mostraram bem significativos, demonstrando um zelo e um cuidado, com a
Unidade de Conservação, bem satisfatório.
• Estado: analisar a condição de conservação e uso de cada
componente da instalação, frisando a manutenção, segurança e limpeza do
mesmo a fim de permitir a utilização adequada desta.
Vide fotos abaixo se observa o estado das lixeiras, placas e bebedouros,
que beiram a excelência:
66
Figura 6: Placas de sinalização em cada esquina das Aleias
Figura 7: Lixeiras ecologicamente corretas e de fácil manejo e limpeza.
67
Figura 8: Bebedouro histórico.
A manutenção destes componentes se dá de forma ostensiva e
frequente bem como os demais serviços necessários para o perfeito
funcionamento do Jardim Botânico como a jardinagem, varredura de folhas
dentre outras atividades, se mostrando bem satisfatória:
Figura 9: Manutenção da Flora local.
68
Figura10: Folha Seca, funcionário do Jardim há 68 anos.
• Localização: se a distribuição espacial dos componentes está
adequada bem como a acessibilidade dos mesmos.
No Jardim Botânico a distribuição espacial destes componentes
supramencionados se dá de forma satisfatória, todavia, em alguns casos
caminhamos longos trechos sem a presença de uma lixeira ou bebedouro e em
outros com uma frequência exacerbada. Considera-se a distribuição
satisfatória, porém não de excelência.
• Funcionalidade: combinando os critérios de localização e estado dos
componentes, analisa-se a utilidade prática que cada um apresenta para os
que o utilizam, tanto para os funcionários quanto para os visitantes.
Em um aspecto geral, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro se
apresentou com uma capacidade de manejo satisfatória, quantidade
significativa de elementos essenciais para a visitação e política local satisfatória
no que diz respeito às manutenções.
Desta forma, podem-se avaliar qualitativamente as variáveis de política
local, equipamentos, recursos humanos, financeiros, estruturais, instalações e
prover assim uma porcentagem do que representaria a capacidade de manejo
ideal.
69
Cifuentes (1999) coloca que o critério apresentado como satisfatório
possui uma capacidade de manejo de aproximadamente 75% do valor ótimo.
Adota-se, então, este percentual para o local seguindo o apresentado por
Cifuentes (1999), o que para desenvolver dos cálculos será:
CM = 0,75
6.2.5. Capacidade de Carga Efetiva
Como o próprio nome insinua, a capacidade de carga efetiva determina
o número máximo de visitas que se pode permitir em um ambiente natural
durante a prática do ecoturismo. Com este valor pode-se indicar o limite de
carga turística em uma área de proteção ambiental que pode ser praticado sem
prejudicar ou degradar demasiadamente a mesma. Para calcular a capacidade
de carga efetiva utiliza-se o resultado já obtido através da capacidade de carga
efetiva, a qual já provê todas as variáveis e fatores de correção utilizados no
estudo. Dar-se-á da forma conseguinte:
Primeiramente, calcula-se a Capacidade de Carga Real da trilha:
CCR = CCF (FCsol x FCpre x FCac x FCeven x FCal x FCsoc)
CCR = 13.020 (0,633 x 0,840 x 0,821 x 0,992 x 0,997 x 0,167)
CCR = 13.020 x 0,072 (aprox..) => CCR = 950,4
CCE = CCR X CM
Onde:
CCE = Capacidade de carga efetiva
CCR = Capacidade de carga real
CM = Capacidade de Manejo
CCE = 950,4 x 0,75 => CCE = 712,80 visitas/dia
A compreensão torna-se facilmente conclusiva a respeito da fórmula
supramencionada: parte-se do pressuposto que a capacidade de carga real já
absorvera todas as variantes e fatores de correção aplicáveis à área e incluí-se
a capacidade de manejo que representa, sinteticamente, a condição de
aproveitamento e administração que a área de fato provê. Desta forma,
70
chegou-se ao resultado de quantas visitas diárias será a ideal segundo o
método de Cifuentes (1992.).
6.2.6. Visitantes diários e anuais
Com a informação da capacidade de carga efetiva, definem-se quantos
visitantes, de fato, a trilha comportará, pois o mesmo poderá usufruir do
passeio mais de uma vez consecutivamente. Com a premissa do estudo de
garantir que o limiar definido não poderá ser ultrapassado, pois senão ocorrerá
a consequente degradação do meio-ambiente bem como depreciação da
qualidade da experiência do visitante, tem-se que utilizar o número de visitas
possíveis que o mesmo poderia potencialmente realizar em um único dia. Para
tal, deve-se levantar o tempo em que a trilha ficará aberta e dividi-la pelo tempo
gasto para concluir todo o percurso, obtendo um coeficiente da quantidade
máxima de passeios possíveis no período de abertura.
Logo:
VD = CCE / QM
Onde:
VD = Visitantes diários
CCE = Capacidade de carga efetiva de visitas em um dia
QM = Quantidade máxima de passeios possíveis em um dia pelo mesmo
visitante
Como pode ser observado no cálculo da Capacidade de Carga Física, o
número de vezes que um mesmo visitante consegue utilizar a trilha em um
mesmo dia são seis, pois o tempo para conclusão de todo o percurso é de 1
hora e meia e o tempo em que o parque fica aberto diariamente é de 9 horas.
Logo:
VD = 712,80 / 6 => VD = 118 visitantes / dia (aproximadamente)
Com os visitantes diários, determinam-se os visitantes anuais:
VA = VD x Dias abertos do Parque no Ano
VA = 118 x 362 => VA – 42.834 visitantes anuais
71
Utilizando a metodologia de Cifuentes (1992), se obteve o resultado de
quantos visitantes diários a trilha comporta de maneira sustentável partindo do
pressuposto que cada um percorreria a trilha consecutivamente seis vezes
diária durante todo o período que o Jardim Botânico estivesse aberto.
Neste ponto do estudo, considera-se, a partir da experiência obtida pela
Priscila Gonçalves Costa como guia turística durante um ano, que cada
visitante percorrera a trilha apenas uma vez ao dia, pois no caso do Jardim
Botânico do Rio de Janeiro a quantidade de vezes que um visitante repete a
trilha consecutivamente é inexpressiva, tendo dias em que não há registro de
repetições no passeio.
Logo, para efeitos de conclusões e resultados, adota-se que a
quantidade máxima de visitantes diários será igual à quantidade máxima de
visitas diárias:
CCE = VD
Onde:
CCE = Capacidade de Carga Efetiva
VD = Visitantes diários
VD = 712 visitantes diários (aproximadamente)
Vale ratificar que para que este resultado possa ser representativo, por
apresentar uma gama de fatores que podem ser mutáveis e alterados com o
passar do tempo, é imprescindível haver um monitoramento periódico para tal a
fim de garantir com convicção que a área de proteção ambiental em estudo
permaneça em condições favoráveis à contínua prática do ascendente e tão
importante ecoturismo.
72
CONCLUSÃO
A metodologia utilizada de Cifuentes teve como objetivo a analise das
limitações de uso turístico aceitáveis para a trilha. Analisou-se não só a
questão ambiental que envolve o ecoturismo no Jardim Botânico do Rio de
Janeiro, mas a sustentabilidade do mesmo como um todo, visando garantir a
qualidade do visitante durante o trajeto, a manutenção das potencialidades
naturais envolvidas bem como a excelência da infraestrutura do local.
Figura 11: Comparativo de visitantes
Logo, no período estudado, o Jardim Botânico teve um total de 955.568
visitantes. Como o mesmo ficara aberto 362 dias no ano, a média de
aproximadamente é de 2.640 visitantes diários.
Com tais dados, pode-se realizar um comparativo com os resultados
alcançados através do método de Cifuentes, vide tabela abaixo:
Valor ideal calculado
Valor no JB
Visitas 712 2.640
73
Observação: valores aproximados utilizados na tabela.
Como se pode observar, o valor ideal calculado está bem abaixo do que,
de fato, ocorre no dia a dia do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Em dias de
semana, o Jardim Botânico recebe até 1.700 pessoas por dia, chegando a
4.500 nos fins de semana (Fonte: Pesquisa sobre o Perfil de Visitantes, 2013).
Constata-se que, através da metodologia de Cifuentes, o local está com sua
capacidade de carga turística sendo ultrapassada diariamente.
7.1. Estratégias para manejo de impactos
MODIFICAR A LOCALIZAÇÃO DE USOS NAS ÁREAS PROBLEMAS - Recomendar caminhadas somente nas trilhas; - Só alocar equipamentos e estruturas nos locais resistentes.
MODIFICAR A FREQUÊNCIA DE USO - Estimular a visitação fora dos horários e dias de pico; - Desestimular a visita quando o potencial de impacto for alto; - Cobrar taxa diferenciada nos períodos mais intensos.
REDUZIR O USO EM TODA A ÁREA
- Requerer determinadas habilidades e/ou equipamentos para o uso da área; - Limitar o número de visitantes em toda a área; - Limitar a duração da visita em toda a área.
diárias Visitas anuais
257.744 955.568
Figura 12: Resultados comparativos
74
AJUSTAR AS EXPECTATIVAS DOS
VISITANTES
- Informar os visitantes sobre os usos permitidos/apropriados; - Informar os visitantes sobre as condições que encontrarão.
INFLUENCIAR O TIPO DE USO E O COMPORTAMENTO DOS VISITANTES - Desestimular práticas agressivas; - Recomendar ética e praticas de mínimo impacto; - Incentivar a formação de grupos pequenos; - Desestimular a permanência em locais ou períodos de intensa atividade da fauna.
REDUZIR O USO NAS ÁREAS PROBLEMAS - Informar aos visitantes sobre a desvantagem de ir a locais que apresentam problemas; - Limitar o uso e o número de visitar nestas áreas; - Estabelecer prazos de permanência nessas áreas; - Melhorar o acesso a áreas alternativas.
1. Com os recursos: manter, recuperar ou aumentar a resistência;
2. Com os visitantes: modificar as expectativas, o tipo de uso e
comportamento;
3. Com o uso: modificar a frequência e a localização, reduzir.
4. comportamento;
5. Com o uso: modificar a frequência e a localização, reduzir.
75
Figura 13: evolução no número de visitantes pagantes
Ao agregar os conceitos do Turismo Sustentável, presentes no estudo,
com os conceitos do Ecoturismo conclui-se que, para garantir o sucesso da
atividade, deve-se atingir a sustentabilidade da mesma nos pilares da
economia, da sociedade e comunidade local e do meio ambiente atingido. Pelo
fato de a atividade ser realizada em uma Área de Proteção Ambiental, grande
parte dos esforços é voltado para a sustentabilidade do meio ambiente
envolvido: sua fauna, flora e relações com os visitantes, porém só esta não é
suficiente.
BIBLIOGRAFIA
190,319
238.824295.875 294.773 301.064
349.096 338.742
422.785476.571
589.814627.162
693.931
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Visitantes pagantesVisitantes pagantes
76
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Artigo científico: http://artigocientifico.uol.com.br/uploads/artc_1164286820_45.doc -
acessado em 19/02/2016
78
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 03 AGRADECIMENTOS 04 DEDICATÓRIA 05 RESUMO 06 METODOLOGIA 07 SUMÁRIO 08 INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I Desenvolvimento Sustentável 11 1.1 Conferência de Estocolmo – Clube de Roma 12 1.2 Eco desenvolvimento 13 1.3 A Declaração de Cocoyok 14 1.4 O Relatório Dag- Hammarskjold 15 1.5 O Relatório de Brundtland 15 1.6 A UNCED no Rio em 1992 17 CAPÍTULO II O Turismo Sustentável 18 2.1. O Setor Público 18 2.2. A Indústria do Turismo 24 2.3. Comunidade Local 27 2.4. A Mídia 30 2.5 O Turismo 32 2.6 A Gestão do turismo ambiental 33 CAPÍTULO III Ecoturismo 35 3.1. Uma visão histórica do Ecoturismo 35 3.2. O Ecoturismo como agente de dominação 36 3.3 A Educação Ambiental e o Desen. Sustentável no Ecoturismo 37
3.4 Os Antagônicos Impactos Positivos e Negativos 39
3.5 O potencial do ecoturismo para o desenvolvimento sustentável em
Unidades de Conservação 41
CAPÍTULO IV
Turismo Sustentável X Ecoturismo 42
79
CAPÍTULO V
Jardim Botânico do Rio de Janeiro 45
5.1 Gestão do Jardim Botânico 47
CAPÍTULO VI O Conceito de Capacidade de Carga Turística 49 6.1 Turistas X Visitantes 50 6.2 O método de Cifuentes 50 CONCLUSÃO 72 BIBLIOGRAFIA 76 ÍNDICE 78 ÍNDICE DE FIGURAS 80 ANEXOS 00
ÍNDICE DE FIGURAS
80
Figura 1 – Trilha do Jardim Botânico apresentada no mapa de visitação 53
Figura 2 – Aleia Barbosa Rodrigues, com a trilha sem erodibilidade. 58
Figura 3 –”Caminho dos Bois”, com declividade superior a 20%. 59
Figura 4 – Trecho de maior alagamento em período de chuva. 63
Figura 5 – trecho que apresenta menor alagamento em período de chuva 64
Figura 6 – Placas de sinalização em cada esquina das Aleias 66
Figura 7 – Lixeiras ecologicamente corretas e de fácil manejo e limpeza 66
Figura 8 – Bebedouro histórico 67
Figura 9 – Manutenção da Flora local 67
Figura 10 – Folha Seca, funcionário do Jardim há 68 anos 68
Figura 11 – Comparativa do número de visitantes 72
Figura 12 – Resultados comparativos 73
Figura 13 – Evolução no número de visitantes pagantes 75