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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O LÚDICO NA APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA Vivian dos Santos Manhães Barbosa Orientador Prof. Marcelo Saldanha Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · O LÚDICO NA APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA Vivian dos Santos Manhães Barbosa Orientador Prof. Marcelo Saldanha Rio de Janeiro

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O LÚDICO NA APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

Vivian dos Santos Manhães Barbosa

Orientador

Prof. Marcelo Saldanha

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O LÚDICO NA APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito

parcial para obtenção do grau de especialista em Docência do Ensino Superior

Por: . Marcelo Saldanha

Rio de Janeiro

2015

AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente a Deus, que providenciou tudo para que eu chegasse

até aqui, a todos que indiretamente contribuíram para a realização deste

trabalho e ao meu professor orientador, por ser um maravilhoso mestre.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha filha Eduarda, com todo o meu amor, pelo fato

de, com sua existência, me impelir a galgar patamares cada vez maiores as

minhas realizações. Aos meus pais, que me deram a vida, e que são a minha

vida, ao meu amado esposo Carlos Eduardo, pelo incentivo e pela paciência, a

minha amiga Carolina Patriota por fazer junto comigo todo o curso e ao meu

patrão Antonio Carlos pelas incansáveis caronas e pela motivação na

realização do curso.

RESUMO

Esta pesquisa investiga a criatividade na educação infantil, e a utilização da matemática na aprendizagem. Jogos pedagógicos têm sido ferramentas largamente discutidas para o ensino de determinados conteúdos, fazendo parte da educação infantil e, também, uma forma diferenciada de se ensinar matemática. O objetivo do presente estudo é analisar o ensino da matemática no ensino infantil através dos jogos matemáticos. Para que tal objetivo pudesse ser alcançado à metodologia utilizada foi à revisão de literatura em educação, educação infantil, jogos e jogos matemáticos. Concluímos que os jogos matemáticos é uma ferramenta eficaz para o ensino de matemática na educação infantil desde que não seja o jogo pelo jogo ou o jogo pelo lúdico, sendo sempre acompanhado, direcionado e finalizado pelo professor que possui papel de destaque nesse processo de aprendizagem.

Palavras-chave: Matemática, Jogos, Educação infantil.

ABSTRACT

This research investigates the creativity in early childhood education, and the use of mathematics learning. Educational games have been widely discussed tools for teaching certain content, making break of early childhood education and also a different way to teach math. The aim of this study is to analyze the teaching of mathematics in kindergarten through mathematical games. For this goal could be reached methodology used was a literature review in education, early childhood education, games and math games. We conclude that the mathematical games is an effective tool for teaching math in early childhood education from other than the play by play or game for playful, always being watched, directed and finalized by the teacher who has a prominent role in this learning process.

Keywords: mathematics, games, children's education.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 09

1. A EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL ................................................................ 11

1.1. RAZÕES PARA O APRENDIZADO DA MATEMÁTICA ..................................... 17

2. ENSINO E JOGOS PEDAGÓGICOS ................................................................... 21

2.1. JOGOS COMO ESTRATÉGIA METODOLÓGICA DE ENSINO ........................ 21

3. JOGOS MATEMÁTICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ......................................... 30

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 39

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INTRODUÇÃO

Podemos dizer que no Brasil, a educação infantil tem sido objeto de

estudos ao longo da história, principalmente após se institucionalizada e

regulamentada pelos governos que a ela deram atenção. Assim, observamos

que durante o início do século XX, praticamente não existia uma política que

regulamentasse o atendimento educacional de crianças, pois geralmente a

educação infantil era tida como algo recreativo, longe do ensino e

aprendizagem sistematizados.

No que concerne nosso país, o atendimento de crianças de zero a seis

anos, em creches e pré-escola, constitui direito assegurado pela Constituição

Federal de 1988, consolidada pela Lei das Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB). Tais documentos estabelecem a educação infantil como a

primeira etapa da educação básica, devendo ser oferecida pelos sistemas de

ensino em complementação à ação da família e comunidade, onde as

propostas pedagógicas devem estar articuladas com a faixa etária de cada

aluno, proporcionando condições totais de desenvolvimento bem como de

aprendizagem sistematizada.

Tendo em vista a sistematização do conhecimento na educação infantil,

diversas questões foram se desenvolvendo em relação à prática pedagógica

voltada para a criança. Assim, observamos a necessidade de uma

ressignificação e organização os espaços educacionais da educação infantil,

de forma a estruturá-los, criticamente, diante das transformações sociais que

afetam a criança na sociedade contemporânea.

O ensino sistematizado na educação infantil nos faz remeter à

necessidade da ressignificação da prática pedagógica do professor em todos

os níveis de ensino, em todas as disciplinas que compõem o currículo escolar.

Ensinar de uma maneira que o aluno veja o significado daquilo de modo prático

e tendo prazer em aprender é um desafio bastante grande e exige grande

dedicação do profissional da educação.

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Ensinar matemática não é tarefa fácil, ainda mais em uma sociedade

que observa esta área do conhecimento como algo bastante complexo e de

difícil desenvolvimento escolar. Imagine, então, uma criança em fase de

alfabetização, ou seja, partícipe da educação infantil, aprender algo que ela,

ainda, não entende como objeto importante em sua vida cotidiana.

Desse modo, pesquisar, desenvolver e aplicar metodologias de ensino

de matemática se faz extremamente importante para que os educandos

entendam o que está sendo ensinado como parte constituinte da sua realidade,

conseguindo parear o conhecimento obtido em sala de aula com aqueles

desenvolvidos fora dela.

Jogos, portanto, demonstram grande possibilidade no processo de

ensino e aprendizagem para crianças – e até mesmo adolescentes – uma vez

que faz com que o conteúdo se torne mais atrativo já que pressupõe

divertimento no momento de seu desenvolvimento.

Na última década vimos que a educação vem buscando novas maneiras

de ensino, tendo em vista que o aluno também é protagonista no processo de

ensino e aprendizagem e jogos vêm sendo considerados como uma maneira

bastante rica e produtiva no processo. Na matemática não é diferente, uma vez

que jogos matemáticos vêm sido desenvolvidos com o intuito de se

desenvolver essa área do conhecimento, mas de forma lúdica.

Assim, o objetivo do presente estudo é analisar o ensino da matemática

no ensino infantil através dos jogos matemáticos. Para que tal objetivo pudesse

ser alcançado a metodologia utilizada foi a revisão de literatura em educação,

educação infantil, jogos e jogos matemáticos.

O estudo foi dividido em três capítulos, sendo que o primeiro trata de um

breve resgate histórico da educação infantil e as principais abordagens de

ensino utilizadas neste segmento educacional. O segundo capítulo fala das

estratégias de ensino e dos jogos pedagógicos. O terceiro, e último capítulo,

tratam da utilização dos jogos matemáticos e como eles influenciam

positivamente no processo de ensino e aprendizagem de matemática.

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1. A EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL

De acordo com Carvalho e Pirola (2004), a educação infantil, no Brasil

foi institucionalizada em meados da década de 1930, quando diversos e

importantes acontecimentos sociais e políticos aconteciam na sociedade que,

segundo os autores, eram atravessados por relações sociais contraditórias e

ambíguas, aconteceram e marcaram a história do desenvolvimento capitalista

brasileiro.

Com o intuito do desenvolvimento social e econômico o governo

brasileiro passa a incentivar o trabalho como força de uma nação e, neste

ponto, mulheres também passam a procurar por trabalhos com remuneração,

fazendo com que a demanda de “cuidadores” de crianças fosse cada vez

maior, demandando um tipo especial de política social: aquela desenvolvida

nas creches, berçários e abrigos.

Outra frente de necessidade era a educação voltada ao mundo

profissional, pois as revoluções capitalistas necessitavam de mão de obra

qualificada para que seu progresso acontecesse e, assim, a educação em

todos os níveis deveria ser melhorada.

Devemos fazer uma ressalva, no entanto. Tais necessidades passaram

a ser demandas socialmente determinadas e articuladas intimamente à

questão social. Estas, porém, tiveram o ocultamento de suas raízes sociais e

econômicas e passaram a ser concebidas como necessidades individuais, de

sujeitos – em especial as mulheres no exercício de sua maternidade – que logo

passaram a ser concebidas como mal adaptadas, disfuncionais, ou seja,

mulheres que ao invés de atuar como a pessoa responsável pela criação dos

filhos e administração do lar passou a se preocupar em trabalhar para adquirir

uma renda, necessitando de alguém que ficasse com sua prole.

10

De maneira interessante, Carvalho e Pirola (2004), colocam que em

relação às mulheres que trabalhavam.

O viés ideológico e moralizante acabou por ocultar as raízes sociopolíticas das necessidades sociais e, no caso particular das creches e pré-escolas, fixou o lugar social da mãe operária como o lugar desenraizado da moral e responsável pela formação de crianças propensas a serem problemáticas. As creches seriam, então, um “mal necessário” um lugar de formação compensatória dos deslizes higienistas e moralistas da então nascente classe operária (CARVALHO e PIROLA, 2004, p. 33).

Ao sair de casa para trabalhar e tendo filhos, as mães e sua prole

passam a ser protagonistas de problemas sociais em pé de desigualdade aos

homens trabalhadores, uma vez que aceitar uma mulher que trabalhasse e,

ainda, tendo que atender à demanda de locais onde estas pudessem deixar

seus filhos tornou-os – mães e filhos – subalternos, pedintes e destituídos de

direitos.

Porém, devemos colocar que tais sujeitos encontram no contexto

contraditório das relações sociais, espaços de luta e ruptura de paradigmas.

Foi na década de 1970 que, no Brasil, o processo de ruptura ideológica e

política de atendimento começam a tomar corpo, a partir da organização de

movimentos sociais que lutaram, segundo Carvalho e Pirola (2004), pela

ampliação de creches, sendo consolidado nos anos de 1990, no

reconhecimento da educação infantil como um direito de toda e qualquer

criança.

A educação e as instituições responsáveis por ela – escola, família

dentre outros – se moldam conforme o momento histórico e as demandas

sociais, ou seja, a educação formará pessoas para aquilo que a sociedade

precisa e a família terá o formato que a sociedade coloca como “padrão”.

Desse modo, podemos dizer que os saberes e as práticas instituídas ao longo

de um processo histórico revelam diferentes formas de legitimidade e de

institucionalidade que envolvem diferentes abordagens sobre a infância e sobre

o desenvolvimento social e cognitivo das crianças, principalmente as mais

11

pobres, já que estas carecem de maior atenção já que são vítimas de fatores

que podem influenciar no processo educacional como, por exemplo, a má

alimentação, má higiene, violência, dentre outros. Segundo Carvalho e Pirola

(2004), em relação à abordagem teórica sobre o que é ter infância as teorias

psicológicas acabam por reproduzir uma concepção prevalente de

conhecimento que segmenta os diferentes níveis da vida em sociedade.

Focando, portanto, a psicologia do desenvolvimento, Rabello (l998) nos

mostra esta área do conhecimento acaba por cristalizar a ideia de etapas de

desenvolvimento, tendo como bases diferentes correntes teóricas. No que

tange a área da sociologia e antropologia, essa segmentação em níveis de

desenvolvimento está nas concepções dominantes sobre os processos de

socialização entendidos como interiorização de hábitos culturais e valores

sociais dominantes em uma dada formação social e isso demonstra que em

cada sociedade a criança é tratada de uma forma. No que concerne à cultura

esta está integrada à personalidade da criança sendo que a mais adaptada à

cultura dominante é a que vai ser considerada como a mais socializada. As

regras da vida, portanto, aparecem como um produto da vontade geral, ou seja,

do que a sociedade como um todo aceitar ser o correto, dando às ações de um

indivíduo o status de sociável ou não, tendo como objetivo conduzir e controlar

a todos eles.

Sobre isso Carvalho e Pirola (2004), colocam que

[...] esses conjuntos de interpretações, hegemônicos até meados dos anos 80 do século passado, tanto na área da psicologia quanto na área da sociologia, materializaram-se em práticas sociais de caráter intervencionista, tutelar e assistencialista que se manifestam em muitas instituições de educação infantil até os dias atuais. Tais práticas se constituem com base numa ideia universal de desenvolvimento humano e de fusão entre o indivíduo e a sociedade, regida por uma plena adaptação às regras da vida social, através da qual a criança terá reconhecida a sua identidade social, cultural e cognitiva (CARVALHO e PIROLA, 2004, p. 34).

De acordo com Carvalho e Pirola (2004), diversas são as abordagens

que indicam a necessidade de existir maior investimento social e econômico na

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área da infância, pois é nesta fase que o indivíduo apreende os padrões de

comportamento e de socialização que são, diga-se de passagem, impostos

socialmente. Segundo os autores anteriormente citados,

A submissão da criança, no interior das creches e pré-escolas a rígidos padrões de controle de comportamento – incluindo-se, aqui, os padrões higienistas – se legitimariam, no plano ídeo-político, dentro de uma concepção de creche como doação, benesse social a que crianças e mães deveriam ser gratas e absolutamente subalternizadas. Ao se cristalizarem em práticas, essas ações criam, nos indivíduos que delas dependem, a ideia de que são, de fato, inferiores e diferentes. Aqui a creche se torna absolutamente funcional à perspectiva de assistência social que tutela os mais pobres e os transforma em sub-cidadãos. Em termos históricos, podemos definir como a grande fase do assistencialismo aquela que vai dos anos 1930 até meados da década de 1970, quando o padrão de política social mais geral da sociedade brasileira começa a mudar. Nesta fase, houve a gradual montagem de um projeto multidisciplinar de intervenção na educação infantil que tinha os seguintes eixos condutores: a) Um rígido controle sobre os hábitos familiares da criança; b) Uma concepção meritocrática da vaga, condicionada ao trabalho da mulher fora do lar; c) Um controle sobre a maternidade, especialmente sobre o período de amamentação; d) Um disciplinamento sobre o modo de vida das famílias, em especial sobre os seus hábitos higiênicos e morais (CARVALHO e PIROLA, 2004, p. 36).

Segundo Nunes (2009), mudanças importantes ocorreram no país nos

anos de 1970 no cenário das relações políticas e sociais, principalmente no

que concerne à saúde e educação. Isso ocorreu devido ao processo de

redemocratização do país e a reorganização do movimento operário e social

serão os principais determinantes destas transformações. Podemos observar

que a área da infância talvez, segundo a autora citada, tenha protagonizado

uma das reviravoltas mais significativas da história recente da política social,

“com o estabelecimento de um amplo debate nacional que indicava a urgente

necessidade de se modificar o então vigente Código de Menores” (NUNES,

2009, 87).

De acordo com a mesma autora, podemos falar que:

[...] a precarização do atendimento a crianças dependentes da ação do Estado, a dinâmica de criminalização e penalização sobre os mais pobres, direcionariam a grande mobilização nacional em prol de mudanças nas leis e nas práticas sociais. Tais mudanças tiveram o seu aparecimento e sua legitimidade nos anos 1990, com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei Federal n. 8.069, de 13 de julho de 1990) e com a Lei de Diretrizes e

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Bases da Educação Nacional (LDB, Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996). Uma e outra chamam a atenção para um novo e significativo avanço: a criança passaria a ser concebida como um sujeito de direitos. É neste cenário que a educação infantil ganhou uma nova roupagem e passou a integrar-se às políticas de educação através da sua integração aos sistemas municipais de ensino, organizados à luz da diretriz descentralizadora das políticas sociais, emanadas e emolduradas no contexto da reforma do Estado e do neoliberalismo (NUNES, 2009, p. 89).

Desse modo, vemos o século XXI como um momento inédito na história

brasileira no que tange a educação infantil, pois ela passa a integrar os

sistemas municipais de ensino, sendo sistematizada e discutida como parte da

educação brasileira. Devemos, no entanto, fazer algumas ressalvas e, dentre

elas, estão a melhorias em termos de atendimento, ampliação de vagas,

qualidade, sistematização de ensino etc., ou sela, a passagem da educação

infantil da área assistencial para a educacional ainda carece de atenção, pois

não aconteceu totalmente.

A educação infantil entra no campo da educação mesmo ainda existindo

um resquício de assistencialismo em sua criação. A educação infantil, portanto

passa a construir uma identidade para fundamentar as ações renovadas dos

trabalhadores da educação, dos movimentos sociais e dos sindicatos,

revertendo ações de cunho paternalista/clientelista e assistencialista.

Interessantemente, Nunes (2009), ressalta que isso demonstra o quanto à

integração da educação infantil aos sistemas municipais de ensino é importante

para a formação do indivíduo e para a melhoria da qualidade da educação

básica e, também, reconhecendo a criança como cidadã, já que é passível de

direitos.

Segundo Nunes (2009), a luta pelo reconhecimento da educação infantil

como direito à cidadania se fez a partir da promulgação do Estatuto da Criança

e do Adolescente (ECA), deve ser reconhecida pelo Estado através da

ampliação de vagas nas escolas públicas, bem como o organizando e

regulamentando-o.

Não há, no entanto, consenso no campo político sobre o qual a

integração da educação infantil está acontecendo, não há ainda normas e

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regulamentações efetivas, pelo menos na educação pública. Sob a ótica

educacional, aos seis anos a criança deve começar seu processo de

alfabetização e chegar aos oito anos alfabetizada. Na rede particular, as

crianças chegam aos seis já alfabetizadas e continuam seu processo de

aprendizagem a partir daí. Na rede pública não há uma obrigatoriedade das

escolas de educação infantil em alfabetizar a criança antes de ela ir para uma

escola de ensino fundamental.

Nunes (2009) coloca que talvez isso ocorra pelo fato de que o processo

de transferência das creches se dá numa conjuntura bastante paradoxal: a

entrada nos sistemas municipais força o Estado a assumir a educação infantil

em um contexto no qual, por força do neoliberalismo, a sociedade civil é

chamada a assumir as responsabilidades sociais típicas do Estado.

Nessa realidade, a incorporação da educação infantil é atravessada por muitas ambiguidades e contradições que repercutem não só no processo de trabalho dos educadores, mas também nas suas formas organizativas de luta. Assim, encontrarmos trabalhadores que, para além da clássica disjunção entre “leigos” e “formados”, possuem diferentes vínculos empregatícios e diferentes identificações ideológicas: funcionários públicos concursados, funcionários contratados pelo Estado para prestação de serviços por tempo determinado, prestadores de serviços terceirizados etc (NUNES, 2009, p. 90).

Mesmo tendo bastante discussões sobre a educação infantil e a

instituições do Fórum Permanente de Educação Infantil, observamos que a

politização do tema existe mas a ação política está difícil de ocorrer

efetivamente, de modo a redefinir os rumos dessa passagem, ou que entre na

negociação dos conflitos a ela inerentes. Assim percebemos que o

assistencialismo e o clientelismo autoritários atuam firmemente nesse estágio

transitório, despolitizando o debate sem ter um diálogo mais comprometido

com os movimentos sociais.

Entendendo que a educação infantil e o educador que nela atua sejam

produtos históricos mediados e condicionados pela maneira que o Estado

enfrenta os desafios postos pelas desigualdades, se torna possível refletir

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sobre a educação infantil como um acontecimento histórico e político.

Interessantemente podemos entender que a educação infantil como sendo um

campo de ideias variadas e diversas, que possui raízes nas práticas cotidianas

e em lugares diferenciados e relacionados com a estrutura de poder. (apud

NUNES, 2009) afirma-nos que a ideologia:

É um corpo sistemático de representações e de normas que nos “ensinam” a conhecer e a agir. É dentro desta concepção que construímos o entendimento de que o ato de educar é um acontecimento político do qual sempre nos falou Paulo Freire em suas inúmeras obras. Assim, entendemos que o educador, ao atuar com a criança, o faz de um lugar mais ou menos crítico, renovador ou conservador (CHAUÍ apud NUNES, 2009, p. 90).

Para Nunes (2009), a educação infantil pode ser definida com um lugar.

[..] que não é produto de uma subjetividade construída à parte das relações sociais, nem à projeção de um ideal romântico de sociedade. Lugar, portanto, habitado por contradições e ambiguidades que envolvem a organização, transmissão e produção de conhecimentos que se manifestam em diferentes tipos de linguagem verbal e não verbal, nos cuidados físicos (saúde, higiene e alimentação), nos jogos e brincadeiras. O desenvolvimento de tais atividades envolve sentimentos, visões de mundo, respeito às diferenças, capacidade de ouvir etc. Lugar que deve combinar, de forma absolutamente indissociável, ética, política e conhecimento, pois sua regulação não depende, na maioria das vezes, de uma esfera pública; trata-se, portanto, de uma ética que se realiza no privado, no espaço muitas vezes restrito do educador com a criança pequena e que tanto pode revelar a grandeza do respeito ao outro e de uma verdadeira concepção de educação como práxis política, como o oposto. No Brasil, a educação infantil transita entre práticas sociais conservadoras, de benemerência e tutela, e práticas comprometidas com a emancipação humana e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária (NUNES, 2009, p. 92).

Assim, nos baseando em Carvalho e Pirola (2004), é que podemos dizer

que no contexto colocado pela autora da citação acima é que podemos

reconhecer a dinâmica do trabalho da educação infantil como sendo um

espaço de construção e manejo de relações de poder, que são expressas na

produção de saberes e práticas sobre a criança, sendo esta considerada como

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um sujeito social portador de uma singularidade histórica ou, em uma visão

pessimista, reduzida a mero objeto – inanimado, diga-se de passagem – de

trabalho.

Tais relações de poder são produzidas no dia a dia, mas refletem algo

mais antigo, de suas raízes, de lutas e valores sociais e éticos vivenciados e

organizados pela sociedade. Hoje, vemos uma sociedade em crise de valores

que são manifestados claramente no comportamento coletivo bem como

individual dos indivíduos.

Segundo Carvalho e Pirola (2004), ao nos depararmos com a educação

infantil brasileira vemos a precariedade do trabalho e à ela juntam-se outras

como a discriminação da pobreza, a violência, e a volta da filantropização da

questão social. A falta de professores, a precariedade dos instrumentos de

trabalho dos educadores reduzem suas atividades a apenas cuidar da criança

e, quando ainda conseguem, dar uma aula bastante conservadora.

Crianças em espera, rígidos horários para alimentação, higiene e sono, excessivos controle dos movimentos, pouca liberdade de circulação, práticas de castigo. Tudo isso marca o cenário de uma forma precária de fazer política que manifesta e naturaliza transgressões de normas mínimas de civilidade que revelam contraditórias relações de poder (NUNES, 2009, p. 92).

Infelizmente a creche ou escola de educação infantil ocupa um lugar

ainda assistencialista na administração educacional, pois ela nasceu para ser o

lugar em que mães trabalhadoras pudessem deixar seus filhos e, ainda hoje,

se configura dessa forma. Segundo Nunes (2009), a cultura política local

influencia na produção de práticas e de saberes sobre o ato pedagógico como

um acontecimento crítico e politizador das diferenças ou como um

acontecimento autoritário e reiterativo das desigualdades sociais, dependerá da

própria população a permanência de um dos tipos. A escola é, de certo modo,

um local socialmente determinado de encontro da educação com a criança.

17

Sobre isso Nunes (2009) coloca que

É, pois, a partir de um lugar socialmente determinado, que o encontro com a criança ocorre. O instrumental técnico operativo do educador e sua formação ídeo-política se entrecruzam num horizonte social que apresenta uma finalidade para a qual se dirige a ação educativa. É neste contexto que se coloca o lugar ocupado pelas relações sociais estabelecidas com a criança e sua família; lugar que pode ser de desenvolvimento de um sentido de pertencimento social ou de exclusão; lugar afirmativo de diferenças e singularidades ou de consolidação de subjetividades marcadas pelo apagamento destas singularidades e de transformação de diferenças em marcas indeléveis de desigualdades (NUNES, 2009, p. 91).

O trabalho cotidiano no educador no ensino infantil reflete possibilidades

como também limites para o manejo das diversas relações existentes neste

âmbito. Devido às condições de ampliação de demanda por educação infantil

num cenário de redução crescente de investimentos públicos na área social, o

acesso a uma vaga acaba sendo extremamente seletivo, o que não significa

que seja democraticamente instituído. A redução de recursos financeiros

reflete-se, também, na redução do número de pessoal e de indistintas formas

de contrato de trabalho, conforme nos informa Nunes (2009).

Partindo de um lugar historicamente contextualizado que o trabalhador

infantil acaba por se concretizar e, neste processo, acaba antecipando

possibilidades criadoras de novas formas de viver a experiência de estar no

mundo. Segundo Nunes (2009), os métodos, os projetos, os instrumentos e

técnicas de trabalho devem estar pautados no horizonte da humanidade

comum e da igualdade.

A assimilação destas noções no trabalho cotidiano do educador é todo o tempo historicizado e determinado por relações que extrapolam os muros da escola e que revelam diferentes caminhos e diferentes projetos. É na escolha política e ideológica destes caminhos que podemos tornar o ato pedagógico na educação em geral e na infantil, em particular, um acontecimento político, tecido nos lugares e nas vozes sociais que dão vida às contradições, às ambiguidades e às imprevisibilidades (NUNES, 2009, p. 92).

18

1.1. RAZÕES PARA O APRENDIZADO DA MATEMÁTICA

Segundo Santos (2007), a matemática contribui, sob vários aspectos,

para a formação dos indivíduos que fazem uso dela, pois esta é uma ciência

que “encontra aplicações nos mais diversos ramos do saber como a

Contabilidade, a Medicina”, bem como podemos observar no Direito, quando se

trata em partilha de bens, heranças etc., e em Engenharia, Arquitetura,

Astronomia e diversos outros campos que geralmente, segundo o referido

autor, parecem não possuir qualquer relação com a matemática. Podemos

dizer, então, que a matemática é uma disciplina que possui um forte caráter

interdisciplinar, evoluindo também no contexto de outras ciências.

Assim, podemos considerar que a contextualização histórica do

conteúdo matemática é uma maneira valiosa de trazer significado dos mesmos,

estimulando o aluno neste aprendizado, podendo ajudá-lo a aprender com

compreensão. O conhecimento da história da matemática, segundo Santos

(2007), e das diferentes teorias de aprendizagem pode levar o professor a

refletir, a analisar, criticar e organizar maneiras de conduzir sua prática

pedagógica.

Duarte (2005) menciona que quando estamos falando em “contextualizar

o ensino de matemática”, nos

Referimos ao fato de que, a partir dos ‘ saberes’ já internalizados pelos alunos, suas vivências e sonhos, se criem condições de problematização pelos alunos e, então, eles se vendo parte dessa construção, (co)auto res desse conhecimento, se colocam como atores principais desse teatro que é o processo contínuo e dinâmico do aprender (p. 18).

Para Santos (2007), seria a partir de situações simples e eu fazem parte

do cotidiano dos alunos, das pessoas em geral, como fazer um presente para o

dia das mães ou dos pais, como menciona o autor, o professor poderá

observar e, desse modo entender, as preferências, desejos e modos de viver

19

dos alunos, levantar junto aos mesmos sugestões para presentes e, então,

tabular os dados, fazer estimativas de presentes que são viáveis para os

alunos darem a seus pais.

Desse modo podemos entender que o ensino da matemática de maneira

contextualizada, ou seja, mostrando ao aluno claramente a razão pela qual o

aluno deve aprender dado conteúdo ou disciplina faz com que o mesmo se

sinta mais motivado para o aprendizado. A história da matemática, portanto,

pode levar à contextualização do ensino dessa disciplina. “Essa é uma

maneira, segundo Santos (2007), de ‘aproximar o mundo matemático ao

universo do aluno e a realidade que o cerca”.

Podemos dizer que dentro de nossa atualidade, a aprendizagem

contextualizada é algo relativamente recente da ciência cognitiva, em

contraposição às teorias essencialmente direcionadas como o behaviorismo,

que predominaram por muitas décadas na educação. O ensino da história da

matemática consiste na representação da matemática em linguagem simbólica

(SANTOS, 2007, p. 28).

Um exemplo acerca do entendimento de como os números – racionais,

irracionais, etc – funcionam hoje, Santos (2007), no remete à história da noção

de números. Tendo conhecimento dos diferentes sistemas de numeração

anteriores ao nosso que datam de séculos e mais séculos atrás, constata-se

também, segundo o autor, “uma enorme variação do significado do número ao

longo da historia”.

D’Ambrósio (1997) afirma que:

Manifestações matemáticas são muito mais que apenas manipular notações e operações aritméticas, ou lidar com a álgebra e calcular áreas e volumes, mas principalmente lidar em geral com relações e comparações quantitativas e com as formas espaciais do mundo real, e fazer classificações e inferências. Assim, encontramos matemática nos trabalhos artesanais, nas manifestações artísticas e nas práticas comerciais e industriais (p. 33)

20

Na perspectiva da importância e da viabilidade do ensino da matemática

através do viés histórico e contextualizador, propomos um plano de aula que

visa o ensino de um determinado tópico, mas contextualizando no tempo e em

local preciso.

Desse modo, o tópico ou tema escolhido foram as formas geométricas,

no caso, a pirâmide. Tendo em vista que esta é uma das figuras mais

conhecidas do mundo devido seu grande destaque principalmente no Egito e

por ser um dos símbolos pagãos mais conhecidos do mundo, essa é uma

forma geométrica bastante interessante de ser estudada dentro do seu âmbito

histórico, pois até mesmo na construção das grandes pirâmides do Egito, foi

necessário cálculos matemáticos até pelo fato de não existir material que una

os blocos sobrepostos como, argamassa por exemplo. Acreditamos que esse

ensino fique mais atrativo aos alunos.

Como estratégia optaríamos simplesmente contar a história das

pirâmides não somente as egípcias mas a dessa forma geométrica observada

como um símbolo extremamente interessante no mundo todo: como símbolo

pagão, símbolo dos maçons e estudaríamos os significados dessa forma e

como a simetria no desenho da mesma é de extrema importância para esse

significado.

Da simetria partiríamos em como desenhá-la, como ela é composta,

como são os ângulos, como estes devem ser calculados, para uma pirâmide

simétrica qual deve ser a medida correta e como a construção nasce de um

modelo menor e, desse modo, estudaríamos a questão de escala e reprodução

e, então, chegaríamos na questão da perfeição das pirâmides do egípcias,

quem envolviam matemáticos, astrólogos e diversos outros cientistas em sua

construção.

Nesta perspectiva de contextualização e historização da matemática a

mesma se tornará muito mais atrativa aos alunos, ao aprendizado e dará um

significado à utilização da mesma na vida prática dos alunos, fazendo com que

o desempenho dos mesmos nessa disciplina se torne melhor e com significado.

21

2. ENSINO E JOGOS PEDAGÓGICOS

Conforme já exposto no capítulo anterior a educação infantil possui

particularidade que a diferem do ensino fundamental, demonstrando que o

educador desse nível de ensino deve estar preparado como estratégias

pedagógicas para o ensino dos conteúdos. No caso, a educação infantil

envolve um público bastante jovem, que ainda não entende que a escola

possui todo um hall de conhecimento sistematizado que deve ser ensinado e

aprendido em determinado período de tempo. Muitas vezes as crianças

entendem que aquele é um espaço para brincar e ver seus colegas. Neste

sentido, o educador precisa trabalhar em conjunto com a criança a partir de

estratégias lúdicas que levem ao aprendizado como é o caso de jogos

pedagógicos, possíveis de serem utilizados para qualquer componente

curricular, inclusive matemática.

Para que seja possível entendermos a eficácia da utilização de jogos

para o aprendizado é preciso, primeiramente, entendermos como se dá a

apropriação do conhecimento pelo indivíduo e, a partir disto, entender como os

jogos pedagógicos podem contribuir para a aprendizagem dos conteúdos.

2.1. JOGOS COMO ESTRATÉGIA METODOLÓGICA DE ENSINO

Segundo Bertoso e Mota (2010), diversos estudos demonstram que, por

meio dos jogos, a criança vê e constrói o mundo. Em função disso, é essencial

que os professores resgatem as atividades lúdicas principalmente na educação

infantil, de modo que esse processo trabalhe com a diversidade cultural e

desperte a vontade para aprendê-lo já que é mais prazeroso para criança e ela

pode ressignificar aquele conteúdo passado pelo professor através do jogo.

Podemos dizer que todo ser humano pode beneficiar-se dos jogos, tanto pelo

aspecto lúdico de diversão e prazer quanto pelo aspecto da aprendizagem.

22

Tendo como base o Referencial Curricular Nacional para a Educação

Infantil (1998,p.27), podemos dizer que

No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos, os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparenta ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhe deram origem, sabendo que estão brincando (BRASIL, 1998, p. 27).

Em outras palavras, é possível dizer que é através do brincar, que a

criança tem em suas mãos a possibilidade de lidar estabelecer relações com os

outros e com ela mesma. Segundo Lopes (2000), a partir de atividades lúdicas,

destaca-se a importância dos jogos para a formação de conceitos de crianças

com idade compreendida entre 5 e 6 anos, justamente o público alvo da

educação infantil. Segundo a autora (idem, p. 35) “a criança sempre brincou.

Independentemente de épocas ou de estruturas de civilização (...), portanto, se

a criança brincando aprende, por que, então, não a ensinarmos de maneira que

ela aprenda melhor?”.

A importância dos jogos na educação não é recente e de acordo com

Kishimoto (1994), já era discutida entre os romanos e gregos, dessa forma, a

relação entre o jogo, a educação e o desenvolvimento da criança é bastante

antiga.

Na Idade Média, a forte influência do Cristianismo impõe uma educação disciplinadora, na qual não há lugar para o jogo, com o Renascimento, no século XVI, surgem novas concepções pedagógicas que reabilitam o jogo. Ele aparece na educação de crianças que aprendem a ler e escrever como um suporte atrativo, utilizam-se os aspectos do jogo que provocam o interesse e a motivação da criança para a realização de seus estudos. Seja como for, a ação da criança durante a participação em jogos passa a ser instrumento para compreender os talentos e a personalidade dos alunos (BERTOSO e MOTA, 2010, p. 9).

Foi no século XVII que a ideia de se utilizar jogos na educação começou,

tendo como precursores Pestalozzi e Rousseau, pois ambos colocam que os

jogos possuem grande importância como instrumentos formativos. Segundo

23

Rizzi e Haydt (1997, p. 14), “além de exercitar o corpo, os sentidos e as

aptidões, os jogos também preparam para a vida em comum e para as

relações sociais”. Assim, podemos dizer que os jogos e brincadeiras utilizadas,

no âmbito escolar, acabam por auxiliar no desenvolvimento das capacidades

infantis, permitindo que a criança construa representações de mundo, já que “o

jogo, nas mãos do educador, é um excelente meio de formar a criança” (IDEM,

1997, p. 14).

Entretanto, ainda existe uma certa distorção em relação à natureza do lúdico, na busca pela sua definição, percebe-se que o jogo, brinquedo e brincadeira apresentam significados distintos. As atividades lúdicas são caracterizadas pela iniciativa, intenção e curiosidade do aluno, pois, os jogos podem ser utilizados para introduzir conteúdos ou formar conceitos, todavia, devem ser escolhidos e preparados com cuidado, levando a criança a adquirir conceitos significativos, VYGOTSKY afirma que “por meio do brinquedo a criança aprende a agir numa esfera cognitivista, sendo livre para determinar suas próprias ações”. Segundo o autor, o brinquedo estimula a curiosidade e a autoconfiança, proporcionando desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção (KISHIMOTO, 1997, p. 51).

De acordo com Fernandes (1993), podemos dizer que brincar e jogar

chegam a ser sinônimos, pois o brinquedo está relacionado à brincadeira, e

esta, à ação de brincar. De um modo geral, o lúdico é relativo a jogos,

brinquedos e divertimento. Segundo Nascimento e Iurk (2008), afirmam que o

ato de brincar é, de certa forma, uma proposta criativa e recreativa de caráter

físico e, também mental, desenvolvido espontaneamente, cuja evolução é

definida e o final nem sempre previsto. Já para Maluf (2004)

As brincadeiras são admiráveis instrumentos de realização para o ser humano, especialmente para as crianças; reúnem potencialidades, desenvolvem iniciativas, exercitam capacidades de concentrar a atenção, descobrir, criar e, especialmente, de permanecer em atividade (MALUF,2004, p.13).

Ao permitir que a criança explore seu ambiente e os objetos à ele

pertencentes, permitimos que ela chegue muito perto de brincar. Kishimoto

24

(1994), coloca que a criança entende o brinquedo como objeto que serve como

suporte ao ato de brincar.

Atualmente há muitos estudos sobre jogos e brincadeiras que acabam

por definir de maneiras diferenciadas estas duas esferas da atividade humana.

Porém, Piaget (1975), utiliza a palavra jogo para se referir ao ato de brincar.

Almeida (2000), autora mais recente, coloca jogo como sendo uma forma

inerente ao ser humano, pois cada povo, sociedade, apresenta sua forma

particular de ludicidade e, dessa forma, o jogo passa a ser um objeto cultural,

demonstrando, portanto, a existência de uma variedade infinita destes em

diferentes culturas e em qualquer momento histórico.

É evidente que, tanto os jogos quanto as brincadeiras inseridas no contexto escolar, auxiliam na formação integral do educando, que se desenvolve de acordo com os estímulos vindos da realidade vivenciada. Sendo assim, brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual de qualquer criança e, se utilizados corretamente, são excelentes instrumentos de aprendizagem. Porém, a introdução destes, no ambiente Pré-escolar, implica em uma revisão de conceitos e atitudes por parte dos educadores. Compara-se por meio das teorias que o brincar é mais do que uma atividade com consequências significativas e formativas para a criança (NASCIMENTO e IURK, 2008, p. 39).

De acordo com os autores da citação acima não se pode contestar o

valor pedagógico dos jogos sendo que estes são indispensáveis para o

desenvolvimento da criança. De maneira bastante evidente vemos que no ato

de brincar e jogar a criança elabora situações, trabalhando seu raciocínio e

lado criativo, reorganizando as situações cognitivas que vivencia. Pode-se

dizer, portanto, que na educação infantil, os jogos podem ser utilizados pelo

professor de forma espontânea ou dirigidos, a fim de propiciar a aprendizagem,

tornando-se necessária uma reflexão por parte de todos os sujeitos envolvidos

nesse nível educacional.

O ato de brincar pode ser considerado como fonte de lazer, mas é,

também, fonte de conhecimento. Segundo Nascimento e Iurk (2008), é esta

dupla natureza que nos pode leva a considerar o jogar e brincar parte

integrante da atividade educativa.

25

Brincando a criança desenvolve a imaginação, fundamenta afetos, explora habilidades e, na medida em que assume múltiplos aspectos, fecunda competências cognitivas e interativas. Nesse sentido, além de possibilitar o exercício daquilo que é próprio no processo de desenvolvimento e aprendizagem, brincar é uma situação em que a criança constitui significados, sendo uma forma, tanto para a assimilação dos papéis sociais e compreensão das relações afetivas que ocorrem em seu meio como para a construção do conhecimento (ANTUNES, 2004, p.31).

Devemos sempre levar em consideração que o jogo e a brincadeira são

sempre situações que a criança realiza, constrói e se apropria de

conhecimentos das mais diversas ordens. Eles possibilitam, igualmente, a

construção de categorias e a ampliação dos conceitos das várias áreas do

conhecimento. Nesse aspecto, o brincar assume papel didático e pode ser

explorado no processo educativo.

De acordo com as teorias de Vygotsky (1991), podemos afirmar que a

aprendizagem precede o desenvolvimento. Assim, tem-se ideia antagônica à

outra difundida de que a criança precisa, primeiramente, adquirir determinada

capacidade para aprender determinado conteúdo, o que equivale dizer que as

habilidades não precedem o conhecimento, mas, é no processo de elaboração

do conhecimento, que se constroem, também, as habilidades.

Ainda de acordo com Vygotsky (1991), a aprendizagem de conteúdos

específicos levaria, portanto, ao desenvolvimento de funções específicas. Esta

formulação do autor supracitado parte de suas pesquisas empíricas, em que

pôde verificar que a criança apresenta um nível de desempenho, quando

realiza algo sozinha, mas, esse nível passa a ser outro, de maior

complexidade, se ela trabalha com um adulto ou com outra criança mais

experiente. Este fato, segundo Nascimento e Iurk (2008), além de revelar a

importância do papel do professor e das interações entre crianças significa que,

por meio da colaboração de um indivíduo mais experiente a criança pode

construir e ampliar conceitos, os quais ela não teria condições de realizar

sozinha, naquele momento de seu desenvolvimento.

26

Tendo como base a concepção de Vygotsky, a educação infantil tem

função de promover a construção de conhecimentos, assim como todos os

outros níveis da educação, pois, desta construção, depende o próprio processo

de constituição dos indivíduos que a frequentam. Para Borges (1994, p.14), “o

objetivo básico da pré-escola é a educação, toda a nossa metodologia estará

atenta aos valores e ao desenvolvimento da criança”.

O que existe de específico, na Pré-escola, é o recorte, que é feito do conhecimento a ser ensinado, de forma que ele se amolde às possibilidades reais e potenciais das crianças. Na forma de encarar o conhecimento, entretanto, a Pré-escola não deve diferir dos outros níveis de ensino, uma vez que a aprendizagem geralmente ocorre, quando se problematiza o conhecimento para o aluno. Quando se fala em problematizar, significa colocar, para a criança, uma questão básica que suscite um processo de aprendizagem. Significa apresentar o jogo de forma que ele constitua uma questão real para o educando, um problema a ser solucionado, seja este de natureza linguística, científica ou estética. Esta forma será uma opção do professor, existem, portanto, inúmeras maneiras de se problematizar um mesmo conteúdo (NASCIMENTO e IURK, 2008, p. 40).

Podemos afirmar, portanto, que o processo de aprendizagem acaba por

implicar na realização de atividades que levem à construção dos conceitos, que

constituem o referido conteúdo, mediante as informações que o jogo contém.

Ou seja, isto significa que todo conteúdo é constituído de uma série de

informações, dados e fatos articulados entre si segundo uma ordem interna,

que deverá ser compreendida pelo educando. A partir do momento que há

domínio desses elementos, a criança desenvolve as funções do pensamento,

assim como constitui noções de tempo, espaço, simultaneidade, dentre outros.

O pensamento vem, portanto, das atividades desenvolvidas. As atividades envolvidas, no processo de aprendizagem, são: observação, experimentação, reflexão e apresentação do conhecimento adquirido. É a partir dessa perspectiva mais abrangente do processo de constituição do indivíduo, como ser social e afetivo, que se deve pensar o papel do jogo e da brincadeira na Pré-escola (NASCIMENTO e IURK, 2008, p. 40).

27

Podemos pensar, portanto, que a escola não pode ser considerada

como sendo um local como outro qualquer. Ela deve ser pensada e

considerada como sendo uma instituição que tem como objetivo possibilitar ao

educando a aquisição do conhecimento formal e o desenvolvimento dos

processos do pensamento. Segundo Nascimento e Iurk (2008), será na escola

que a criança aprenderá a forma de relacionar-se com o próprio conhecimento.

Brincar e/ou jogar, na escola, não é exatamente igual a brincar em outras ocasiões, porque a vida escolar é regida por algumas normas que regulam as ações das pessoas e as interações entre elas e, naturalmente, estas normas estão presentes, também, nas atividades diárias da criança. Assim, as brincadeiras e os jogos têm uma especificidade quando ocorrem na escola, pois, são mediadas pelas normas institucionais (NASCIMENTO e IURK, 2008, p. 41).

Apesar dos jogos e brincadeiras serem um recurso pedagógico de

extrema importância, sua utilização deve ser observada como cautela e

bastante clareza. De acordo com Almeida (2004), brincar é uma atividade

essencialmente lúdica, se deixar de sê-lo, descaracteriza-se como jogo ou

brincadeira e não se pode restringir o brincar a esta função, uma vez que ele

também promove a constituição do próprio indivíduo. O autor ainda coloca que

(idem, 2004, p. 31) “brincando as crianças constroem seus próprios mundos”.

Dessa forma, segundo Nascimento e Iurk (2008), incluir o jogo e a brincadeira

na escola tem como pressuposto, o duplo aspecto da construção do

conhecimento e o desenvolvimento da criança enquanto indivíduo, processos,

estes que estão intimamente interligados.

É função da escola levar a criança, em qualquer nível de ensino e período de desenvolvimento, a obter experiências e informações que enriqueçam seu repertório, bem como procedimentos metodológicos que permitam integrar sucessivamente estes novos conhecimentos àqueles que a criança já detém. Isto implica, necessariamente, trabalhar com o instrumental que a criança dispõe em cada etapa de seu desenvolvimento, ou seja, com as formas de intervir e apreender o real e com o imaginário que o ser humano vai adquirindo ao longo da vida (NASCIMENTO e IURK, 2008, p. 41).

28

Borges (1994), coloca que os jogos, como forma de atividade humana

desenvolvida na escola, têm também uma função informativa para o professor,

além de formativa para as crianças. De acordo com o autor

Ser educador pré-escolar é, antes de tudo, conseguir manter uma profunda relação empática com a criança, é viver com ela, intensamente, cada momento desse processo, num envolvimento tal que possa promover o desenvolvimento de ambos: o professor e aluno (BORGES, 1994, p. 15).

Segundo Nascimento e Iurk (2008), ao observar um jogo ou brincadeira

e as inter-relações entre as crianças em sua realização, o educador aprende

bastante sobre seus interesses, podendo perceber o nível de realização em

que elas se encontram, suas possibilidades de interação, sua habilidade para

se conduzir, de acordo com as regras do jogo, assim como suas experiências

do cotidiano e as regras de comportamento reveladas pelo jogo de faz-de-

conta.

A partir de suas observações, o educador terá condições de programar atividades pedagógicas que desenvolvam os conceitos de número, quantidade, lateralidade, noções de espaço, de direção que as crianças já estão constituindo, que sejam adequadas às possibilidades reais de interação e compreensão que os educandos apresentam em determinado estágio de seu desenvolvimento. A ação do educador deve ser, antes de tudo, refletida, planejada e, uma vez executada, avaliada. É importante que a ação do educador se oriente no sentido de ampliar o repertório das crianças, não só do ponto de vista lingüístico, como também do cultural (NASCIMENTO e IURK, 2008, p. 42).

No momento do planejamento é necessário que os conceitos que serão

desenvolvidos com as atividades de jogos e brincadeiras sejam claros e

especificados, conforme coloca Rizzo (1992, p. 330) “as atividades

proporcionadas pela pré-escola devem permitir cada uma o alcance de vários

objetivos e cada objetivo pode também ser atingido por diferentes atividades”.

Assim, ao se ter clareza sobre o que e como serão trabalhados, deve-se

29

selecionar o tipo de atividade que poderá ser utilizada para atingir tal fim, o qual

poderá ser alguma forma de jogo ou de expressão artística.

Ao educador cabe, então, tendo em vista a compreensão e o conhecimento da evolução das crianças, pensar que tipo de atividade propor, tendo clareza de intenção, isto é, sabendo o que as crianças podem desenvolver com a atividade proposta. Um segundo ponto, também fundamental, é o encaminhamento da atividade, ou seja, a definição de como ela será realizada, prevendo a ocupação do espaço e o limite do tempo, de acordo com a natureza da própria atividade, permitindo a realização dos movimentos em sua amplitude. O brincar da criança, visto do prisma aqui apresentado, não pode ser considerado uma atividade complementar a outras de natureza dita pedagógica, mas sim como atividade fundamental para a formação de conceitos de crianças da pré-escola (NASCIMENTO e IURK, 2008, p. 43).

30

3. JOGOS MATEMÁTICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Matemática não é uma atividade extremamente fácil para o ser humano

relacionar à vida cotidiana, ou seja, fora do ambiente escolar. Sabemos que as

operações básicas (adição, subtração, multiplicação e divisão) são extremamente

necessárias ao dia a dia, mas outros conteúdos matemáticos têm dificuldades em

relacionar às nossas necessidades diárias.

De acordo com Bertoso e Mota (2010), podemos considerar a criança como

sendo um ser em formação. Assim, de acordo com os autores, devemos

educadores, cuidar para que essa formação seja natural e a mais rica possível em

termo de possibilidades. Torna-se necessário, portanto, saber aonde se quer chegar

para escolher os caminhos a seguir, daí a necessidade de estabelecer às razões de

se trabalhar as ideias matemáticas na educação infantil, um momento que serve

para alicerçar a construção dos conceitos matemáticos.

A matemática, segundo as autoras, acaba por desenvolver nas crianças o

raciocínio lógico, a sua capacidade para pensar logicamente e resolver situações-

problema, estimulando sua criatividade. Assim, essa área do conhecimento se faz

útil por permitir o contato permanente com formas, grandezas números, medidas,

contagens, etc.

Tendo em vista a matemática e seu ensino e utilizando o jogo nesse processo

de aprendizagem podemos dizer que de acordo Piaget (1967) o jogo não pode ser

visto apenas como divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele

favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral.

O jogo não é simplesmente um “passatempo” para distrair os alunos, ao contrário, corresponde a uma profunda exigência do organismo e ocupa lugar de extraordinária importância na educação escolar. O jogo é essencial para que a criança manifeste sua criatividade, utilizando suas potencialidades de maneira integral (BERTOSO e MOTA, 2010, p. 2).

Para Bertoso e Mota (2010), quando falamos em aprendizagem significativa

assumimos que aprender possui um caráter dinâmico, exigindo que as ações de

31

ensino se direcionem para que os alunos aprofundem e ampliem os significados que

elaboram mediante suas participações nas atividades de ensino e aprendizagem.

Devemos ressaltar que o professor tem importante papel na determinação da

qualidade dos programas de educação infantil e que ele deve reconhecer isto,

buscando meios de permitir a melhor forma de utilização de jogos matemáticos no

contexto da sala de aula.

Segundo Dante (1994), antes das atividades de ensino da matemática para

as crianças pequenas, devem-se realizar atividades concretas que trabalhem o

corpo da criança e envolvam seu meio ambiente, usando sucata e materiais

estruturados. De acordo com o autor, as atividades concretas são fundamentais no

processo de construção e compreensão das ideias matemáticas.

Segundo Bertoso e Mota (2010), toda atividade na educação infantil deve ser

pensada, planejada e elaborada de acordo com a necessidade apresentada por

cada faixa etária, assim como é feito em qualquer outro segmento educacional. Para

as autoras as atividades devem

[...] permitir que as crianças usem estratégias, estabeleçam planos, descubram possibilidades, isto é, a brincadeira deve ser permeada por diversas situações problema. A ludicidade quando aplicada com objetivos pertinentes permite sua adequação para as demais áreas do conhecimento, representadas nesse contexto pela Matemática (BERTOSO e MOTA, 2010, p. 20).

Antes de aplicar a ludicidade o professor deve ter em mente o objetivo a ser

alcançado, levando os alunos a melhor compreensão do jogo ou brincadeira. Nesse

momento, lembraremos aquela famosa frase “não importa ganhar o que vale é

participar”, para tanto na Educação Infantil, faz-se necessário à participação do

professor em todas as atividades a serem propostas, mostrando aos alunos

entusiasmo e descontração.

Mas as atividades que envolvam jogos, assim como outra qualquer, devem

ser finalizadas tendo o professor o papel de propor aos alunos a reflexão do que foi

aprendido, com relatos de experiências e conflitos e como estes puderam ser

32

resolvidos. A questão da cooperação, vencedor, perdedor e combinados devem ser

sobressaltados neste momento de discussão. Tal momento, portanto, é fundamental

para que todos se sintam estimulados a falar e a ouvir.

De acordo com Bertoso e Mota (2010), O conhecimento matemático está

implícito na ação, no jogo, porém devemos lembrar que ainda não está propriamente

na matemática, como conhecimento sistematizado e culturalmente valorizado.

O conceito matemático é elaborado a partir do processo de Tomada de Consciência. É uma conceitualização da ação. O conceito matemático, assim como a noção matemática e a própria Matemática não existem fora do indivíduo. Existe na interação do indivíduo com o meio e resulta das coordenações das ações do sujeito (conhecimento lógico-matemático). As noções e os conceitos matemáticos formam o conhecimento matemático que é produzido pelo indivíduo, através de suas interações (relações) com outras pessoas ou com objetos (BERTOSO e MOTA, 2010, p. 41).

E para Petty (1995):

O conhecimento não é dado a priori; o sujeito nasce com a possibilidade dele, mas não nasce com ele. O conhecimento é, por isso, trabalho ou construção. Construção social, se considerarmos o conhecimento acumulado (disponível) ou produzido pelas pessoas de uma certa sociedade. Construção individual, se considerarmos que necessita ser refeito pessoa por pessoa [...] O conhecimento, neste sentido, não é diretamente transmissível (PETTY,1995,p.11).

Para Macedo (1994) a intuição se refere a uma forma inicial, primitiva de se

imaginar uma estrutura (modelo), a partir das informações parciais que se obtém

dela. Assim, o papel do professor é extremamente importante, principalmente

quando se trabalha com jogos que necessitam de uma contextualização e

finalização para que este tenha sentido.

Bertoso e Mota (2010), colocam que as Ciências do Racionalismo e do

Empirismo – como já apresentado neste estudo em momento anterior – acabam por

desprezar a intuição, considerando-a não científica, pois não é mensurável.

Entretanto, atualmente, nota-se uma preocupação nas pesquisas científicas em

definir a intuição como um caminho à compreensão do problema. Desta forma, a

33

intuição sobre algum fato, fenômeno ou objeto poderia representar um caminho

inicial para o conhecimento deste, ou seja, para a sua conceitualização.

Segundo Macedo (1997),

quando algo adquire o estatuto de conceito é porque adquiriu independência, pôde ser isolado das ações que o produziram, das intuições que o determinaram, ganhando autonomia. O conceito garante que um objeto adquiriu um certo caráter de absoluto, constante, formal, possuidor de uma lógica interna e que, por isso, pode ser conhecido, estudado (MACEDO, 1997, p. 32).

Assim, podemos caracterizar as duas formas de construção, na ação, que se

apresentam relacionadas: a noção e o conceito. A noção está relacionada à intuição,

é egocêntrica e pode ser estruturada em um nível pré-conceitual do sujeito.

Podemos dizer, portanto, que o conceito já apresenta algo lógico sendo

independente, autônomo, operatório. Segundo Bertoso e Mota (2010), o conceito

tem suas noções organizadas, está na ordem da significação e só existe

subordinado a uma estrutura operatória, em uma ordem lógica, ou seja, possui

método e ao corresponder a um modelo o conceito torna-se aplicável.

Desse modo, podemos dizer que as experiências práticas vivenciadas pelos

indivíduos permitem a exploração de conteúdos diversos. Quando o indivíduo é

capaz de organizar toda essa diversidade para um determinado “rótulo” ou classe

coerente de elementos, que ele próprio vai construindo por comparações

(semelhanças e diferenças), é capaz de conceituar.

Bertoso e Mota (2010) afirmam que de um modo essencial um conceito é

organizado por exemplos e que o conteúdo limitado pelos conceitos é influenciado

por fatores sociais, culturais e históricos. Portanto, segundo as autoras, os

conteúdos vão sendo encaixados a partir da variedade dispersa presente nas

situações concretas, formando classes que, ao serem agrupadas sob um mesmo

rótulo, formam os conceitos.

Conceitos e noções são construções do indivíduo. Na sua interação com os observáveis, o indivíduo estará atuando no caráter nocional e, quando

34

estiver coordenando operatoriamente, estabelecendo relações lógico-matemáticas, estará trabalhando em um nível conceitual (BERTOSO e MOTA, 2010, p. 45).

Tomando como base o que colocamos podemos indagar se através do jogo a

criança conseguiria intuir, abstrair e aplicar no campo matemático aquilo que vai

sendo aprendido no jogo? Bertoso e Mota (2010) questionam também e além:

Será que seria possível uma conceitualização a partir das noções, intuições estabelecidas, pelos sujeitos, diante dos desafios que se colocam numa situação de jogo? Acredita-se que sim. Tem-se que, se conceituar significa “abstrair” e “generalizar”, “dar ouvidos à intuição”, isto é possível no jogo (BERTOSO e MOTA, 2010, p. 45).

Neste sentido é valido colocarmos a afirmação de Petty (1995)

Jogar é uma das atividades em que a criança pode agir e produzir seus próprios conhecimentos. (...)a idéia será sempre considerá-los (os jogos) como uma possibilidade de exercitar ou estimular a construção de conceitos e noções também exigidos para a realização de tarefas escolares. Neste sentido, o jogo serve para trabalhar conceitos que, quando excluídos de seu contexto, são muito abstratos, muito complicados para as crianças entenderem (PETTY,1995,p.11).

Vemos, portanto, que a atuação do professor deve ser constante quando se

utiliza jogos para o ensino de qualquer conteúdo, principalmente matemático, pois é

possível que os indivíduos joguem sem que se estabeleçam esses processos,

atendo-se apenas ao lúdico. Isto pode decorrer de uma visão de jogo inclusive

presente em aulas de matemática, onde o professor não se empenhe em explorar as

possibilidades do jogo em relação às noções e conceitos matemáticos.

Conceitos matemáticos e noções matemáticas podem coexistir na ação no jogo. Estão relacionados e se integram na ação. Das atividades de livre exploração da situação de jogo, denominadas “jogo pelo jogo”, em que as noções matemáticas vão sendo construídas pela intuição, surgem as conceitualizações destas ações, marcadas pela abstração (“pensar fora do objeto”) e determinadas pelo tipo de intervenção pedagógica que é proposta com a atividade de jogo (BERTOSO e MOTA, 2010, p. 46).

35

Assim, tomando como base o exposto por Bertoso e Mota (2010), podemos

dizer que o caráter nocional do jogo está no nível da ação “do fazer”, e o caráter

conceitual do jogo está no nível do compreender e o professor é peça fundamental

nesse processo, pois ele precisa direcionar constantemente o jogo para que o aluno

não perca o foco, mas sempre tomando o cuidado para não retirar o aspecto lúdico

da atividade.

Assim, jogar no nível nocional se trata de jogar até utilizando estratégias, por ensaio e erro, por repetições de jogadas, sem antecipações, sem a preocupação de elaborar estratégias que possam, antecipadamente, ser definidas, como eficientes, apenas o “jogo pelo jogo”, sem definição clara de objetivos, além dos de vencer e de se divertir. A Tomada de Consciência implica que o sujeito compreenda o processo, planeje, antecipe, elabore estratégias, coordenadas entre si, no conjunto, tendo em vista o êxito previsível de cada uma. Assim, o jogo pode desencadear uma possibilidade do indivíduo conceituar ou não (BERTOSO e MOTA, 2010, p. 46).

Podemos perceber, portanto que processo de conceitualização no jogo se dá

no momento em que o sujeito é capaz de elaborar as soluções dos problemas do

jogo “fora” do objeto. É o pensamento independente do objeto. Quando se processa

a análise do jogo, percebe-se que o processo de repensar sobre o próprio jogo,

sobre as várias possibilidades de jogadas, propicia a formulação do conceito. E,

neste sentido, é a intervenção pedagógica que pode vir a garantir este processo de

formulação.

Caso contrário, a criança poderá continuar a jogar num caráter nocional. O objetivo do ensino é levar o aluno a aprender e aprender é mais do que simplesmente fazer ou compreender, é relacionar, coordenar diferentes perspectivas, articular com o objeto do conhecimento, articular com o outro (socialização), socializar conhecimentos (BERTOSO e MOTA, 2010, p. 47).

De acordo com Macedo (1997), no jogo, o fazer não consiste

necessariamente em um ato físico. Para o autor a ação tem a ver com a regra, não

se tratando de uma regra reguladora, mas de organização e limite. O limite da regra

36

de um jogo deve ser libertador. É um limite que faz pensar, que leva ao raciocínio e

que possibilita ao sujeito “dar o máximo de si”, atingir seus próprios limites.

Segundo Bertoso e Mota (2010), devemos entender que o caráter nocional do

jogo está no nível da ação, do “fazer”. Jogar, neste nível, segundo as autoras, tem o

significado de cumprir regras, propor jogadas, aplicar conhecimentos anteriores,

registrar e tomar decisões de ação tática. O sujeito, ao realizar tais ações, explora a

noção matemática contida no jogo.

Trabalhar com o conceito matemático no jogo significa compreender tais ações e reestruturá-las em um nível mental. Assim, significa estabelecer relações, antecipar jogadas, elaborar estratégias, tematizar / fundamentar e encontrar razões para as jogadas, aproveitando as jogadas do adversário, interpretando-as e observando regularidades (BERTOSO e MOTA, 2010, p. 47).

Assim, como já dito anteriormente, podemos afirmar que o jogo é relativo, ou

seja, ele precisa de direcionamento e de correta interpretação o tempo todo para

que sua contribuição para o processo de ensino e aprendizagem não seja perdida.

Segundo Bertoso e Mota (201), a cada jogada, um novo desafio, uma nova situação-

problema. E interpretar significa julgar tanto em termos do conceito – conceitos

necessários para o jogar – quanto em termos de inferência: tomada de decisões,

intuição nas jogadas e abdução.

Segundo Bertoso e Mota (2010), podemos dizer que o processo de raciocínio

evidenciado na situação de jogo é, prioritariamente, o abdutivo, que contém em si

mesmo a possibilidade de risco, a ousadia, propiciando espaços para adivinhações.

De acordo com as autoras, a abdução representa o processo de formulação de uma

hipótese explicativa de algo que não se conhece. Neste sentido, a abdução

representa a única operação de inferência que introduz no raciocínio uma ideia

nova, pois abre espaços para as adivinhações.

Grando (2000) coloca que:

A Abdução contém em si a possibilidade do risco, a ousadia, propiciando espaços para adivinhações [...] O indivíduo, ao jogar, se arrisca, pois existe

37

a possibilidade da vitória ou da derrota, levanta hipóteses, cria estratégias próprias e testa-as a partir de suas jogadas (experimentação) (Grando,2000, p.75).

O jogo é o resultado de um grande processo de raciocínio e a abdução

desempenha um papel predominante nos raciocínios comuns, nas situações reais.

Por isso, pode ser considerado um raciocínio do tipo procedimental. Piaget (1996),

em seu livro “As Formas Elementares da Dialética”, discute o pensamento dialético

para a elaboração de estratégias e procedimentos no jogo. Ele afirma:

Há processos dialéticos em todos os níveis do pensamento, e mesmo da ação, em todos os casos em que se torna necessário construir novas formas que não se deduzem por vias “discursivas” das estruturas ou das propostas já conhecidas anteriormente (PIAGET,1996,p.11)

Segundo Bertoso e Mota (2010), o aspecto inferencial que Piaget nos informa

consiste nas implicações entre meios e fins, em implicações entre regras ou ações,

quando o objetivo é completar ou substituir as já conhecidas por outras a serem

vivenciadas, com antecipação de resultados e manifestação das suas “razões”.

Portanto, pode-se dizer que o jogo apresenta esse aspecto inferencial, pois ele

envolve as previsões, antecipações, testes de estratégias, reformulações e a

dialética de ganhar e perder que definem as ações dos sujeitos no jogo.

Emerique (apud Bertoso e Mota, 2010, p. 47) discute a importância de se

trabalhar com os jogos em situações escolares a fim de desenvolver as noções

antagônicas, como a de ganhar-perder, já que esta se apresenta impregnada nas

várias situações de vida e, neste sentido, pontua que:

Essa capacidade que o jogo tem para reunir as antíteses, representando um elemento pelo se contrário, permite que nele se associem a regra e o arbitrário, o secreto e o partilhado, o incerto e o codificado, em ambivalência, já que, como lembrou Wasserman (1982), na linguagem do jogo, a contradição não existe (EMERIQUE apud BERTOSO e MOTA, 2010, p.47).

38

Devemos ter em mente que o processo de conceitualização matemática está

relacionado à intervenção pedagógica realizada pelo professor que, no momento da

aplicação dos jogos possui o papel de orientador da ação, focando nos aspectos

pedagógicos e conceituais e não apenas na simples ação no jogo.

Assim, podemos dizer que a aprendizagem não está no jogo, mas nas

intervenções realizadas. Enfatizando a importância da intervenção pedagógica no

jogo, Petty (1996) escreve que “qualquer jogo, mas não de qualquer jeito”, deixando

claro, portanto, que o jogo matemática deve sempre ser conduzido de perto pelo

professor.

A intervenção pedagógica no jogo pode ser considerado como fator

determinante na construção do jogo pedagógico, a partir do jogo espontâneo e

dessa forma contribuindo efetivamente para a construção do conhecimento na

disciplina curricular matemática.

Como exemplo, podemos utilizar a interdisciplinaridade entre as aulas de

informática com a matemática. Tendo os anos finais da educação infantil como

público alvo, selecionamos uma proposta de ensino de operações básicas

matemáticas (soma, subtração, multiplicação e divisão) de forma interativa,

utilizando o personagem infantil Bem 10.

No referido jogo o nível pode ser pré-estabelecido pelo professor e, conforme

o grau de conhecimento da criança, este pode aumentar.

Assim, fica evidente a importância do jogo como meio de ensino e

aprendizagem de conteúdos de forma lúdica, que façam com que o aluno se

interesse por aquele conteúdo, mas sempre de forma dirigida e acompanhada pelo

professor.

39

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme o exposto neste estudo pode-se perceber que a educação

infantil passou por diversas formatações até atingir a atual. Anteriormente este

segmento educacional era tratado como algo puramente assistencial, para

mães que necessitassem trabalhar tivessem um local para deixar seus filhos

durante a jornada de trabalho.

Ao se entender que a educação infantil não era somente o fato de cuidar

de crianças, mas sim de educa-las, aceitou-se este segmento na educação,

mas por muito tempo ainda tinha-se a educação infantil como um momento

puramente lúdico, sem caráter formador onde se podiam trabalhar conceitos,

conteúdos, por fim, iniciar o processo educacional.

Ao se discutir – e ainda há discussão sobre a temática – da importância

do estímulo da criança desde os anos iniciais o seu processo de aprendizagem

se torna mais rico e com maior aproveitamento por parte do educando. Dessa

forma, observou-se que a formação do educador é extremamente importante,

já que ele é que irá estimular e encontrar estratégias para inserir a criança

nesse processo educacional.

Tornar o aprendizado mais prazeroso, portanto, é parte integrante dessa

formação do professor e os jogos educativos fazem parte das ferramentas de

aprendizado para esse público tão jovem. Mas o papel do professor é crucial

para que isso dê certo.

O professor deve não somente propor um jogo, mas deve conduzir a

criança a entender a razão pela qual ela está jogando aquele jogo específico e

retomar tudo o que ela aprendeu bem como salientar as relações estabelecidas

no jogo que vão além da construção de um determinado conhecimento como:

vencer, perder, cooperação, adaptação regras etc..

Assim conectar o conhecimento da sala de aula com a vida exterior à ela

se faz de maneira mais fácil o que faz com que o ensino de algumas disciplinas

40

tidas como mais “complicadas” de se ensinar e aprender tenham um grande

aliado no jogo pedagógico.

No caso do ensino e aprendizagem da matemática não poderia ser

diferente, já que ao se ensinar matemática de forma divertida, correlacionando

o conteúdo com a vida cotidiana faz com que a criança entenda a importância

daquele conteúdo, o compreenda e o utilize, mas de forma prazerosa.

Assim, concluímos que os jogos matemáticos é uma ferramenta eficaz

para o ensino de matemática na educação infantil desde que não seja o jogo

pelo jogo ou o jogo pelo lúdico, sendo sempre acompanhado, direcionado e

finalizado pelo professor que possui papel de destaque nesse processo de

aprendizagem.

41

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