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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA TEATRO DO OPRIMIDO E PSICOPEDAGOGIA: POSSÍVEIS INTER-RELAÇÕES Por: Cecilia Vaz Nogueira Orientador Profa. Me. Fátima Alves Rio de Janeiro 2012 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

TEATRO DO OPRIMIDO E PSICOPEDAGOGIA: POSSÍVEIS

INTER-RELAÇÕES

Por: Cecilia Vaz Nogueira

Orientador

Profa. Me. Fátima Alves

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

TEATRO DO OPRIMIDO E PSICOPEDAGOGIA: POSSÍVEIS

INTER-RELAÇÕES

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Psicopedagogia.

Por: Cecilia Vaz Nogueira.

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AGRADECIMENTOS

A todos os professores que passaram

pela minha vida e deixaram sementes,

especialmente aos professores do

curso de Psicopedagogia da AVM.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho à minha família e

aos meus alunos.

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RESUMO

O presente trabalho visa compreender de que maneira o Teatro do

Oprimido pode colaborar na prática psicopedagógica traçando um breve

panorama histórico do Teatro do Oprimido e da Arte na Psicopedagogia e

analisando as interseções entre o papel do professor-curinga-facilitador e o

papel do psicopedagogo além de elencar quais exercícios do TO podem servir

ao trabalho psicopedagógico.

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METODOLOGIA

O processo aplicado no presente estudo é a pesquisa e análise

bibliográfica. Os principais teóricos consultados são: Augusto Boal (teatrólogo e

mentor do Teatro do Oprimido), Paulo Freire (pedagogo e criador da Pedagogia

do Oprimido) e Alicia Fernández (psicopedagoga). O entrecruzamento das

ideias desses pensadores modernos, aliada à experiência de 10 anos como

professora de teatro, possibilita uma visão privilegiada na seleção de exercícios

e técnicas do Teatro do Oprimido que podem ser usados na prática

psicopedagógica.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - O Teatro do Oprimido e a Arte na Psicopedagogia 11

CAPÍTULO II - Interseções entre o papel do curinga-facilitador e o do

psicopedagogo 19

CAPÍTULO III – Exercícios psicopedagógicos do Teatro do Oprimido 24

CONCLUSÃO 38

BIBLIOGRAFIA 40

WEBGRAFIA 41

ÍNDICE 42

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INTRODUÇÃO

O Teatro do Oprimido é uma técnica criada por Augusto Boal, artista

teatral brasileiro, onde o ator-espectador-autor coloca seus anseios, dúvidas e

opressões em cena e ali mesmo tenta entende-los através de debate, ação e

mudanças de ponto de vista, numa oportunidade única de reviver e reorganizar

suas experiências saindo do papel de vítima oprimida para o lugar de ator

realizador de seus desejos. Já a psicopedagogia visa auxiliar o processo de

aprendizagem; com a ajuda da psicopedagogia o discente (psicopedagogia

clínica) e o docente (psicopedagogia institucional) podem olhar para as suas

dificuldades, ultrapassá-las e aprender apesar de e com elas. Nesse sentido,

as duas linhas de atuação (Teatro do Oprimido e psicopedagogia) trabalham na

resolução de problemas, visando a superação deles. A partir dessa visão a

pesquisa pretende elucidar as confluências entre Teatro do Oprimido e

psicopedagogia e de que maneira o primeiro pode instrumentalizar o

psicopedagogo. O estudo também busca compreender como o Teatro do

Oprimido (TO) pode colaborar na prática psicopedagógica tanto

instrumentalizando o psicopedagogo com os exercícios do TO selecionados

quanto ajudando o profissional na sua conduta no trabalho com as dificuldades

de aprendizagem através dos procedimentos do curinga.

A psicopedagogia (compreendida como área multidisciplinar que

pretende ultrapassar a barreira das dificuldades a fim de alcançar o

aprendizado na sua plenitude) facilmente se comunica com a área das artes:

teatro, dança, música e artes plásticas. As diferentes formas de expressão e

comunicação artística cheias de significados e humanidade servem claramente

aos objetivos psicopedagógicos, ajudando o indivíduo a melhor se expressar, a

se escutar e a desenvolver potencialidades adormecidas. O teatro, enquanto

espaço de atuação e de reelaboração do real no plano ficcional é terreno fértil

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para terapias psicopedagógicas. O psicodrama, viés terapêutico do teatro, vêm

sendo amplamento utilizado e estudado como instrumento da psicopedagogia.

A psicopedagoga argentina Alicia Fernandèz em sua obra Psicopedagogia em

Psicodrama evidencia a importância de tal terapia no tratamento das

dificuldades de aprendizagem. O Teatro do Oprimido pode ser entendido como

uma variação do psicodrama. Portanto, Teatro do Oprimido e psicopedagogia

podem andar juntos na direção da compreensão e solução das dificuldades de

aprendizagem, sejam elas de origem afetiva, cultural, cognitiva ou funcional.

Dentro da metodologia do TO, a figura do curinga é de suma

importância, é ele quem media todos os exercícios, além de avaliar quais

atividades e técnicas cabem melhor àquele determinado grupo. O curinga além

de ser professor é artista, pesquisador, mediador, estimulador, coordenador e

atua com todas essas funções ao mesmo tempo durante o processo das

oficinas. A figura do psicopedagogo assemelha-se ao do curinga por ser

também multitarefa e multifacetada. As posições desses dois profissionais se

encontram na necessidade imperativa de mediar sem medir, avaliar sem julgar.

A atuação do curinga oferece rico material de aprendizado para os profissionais

que atuam na psicopedagogia em diferentes áreas, como uma alternativa de

postura e maneira de agir do terapeuta com o paciente ou grupo de trabalho.

O Teatro do Oprimido compreende diversas técnicas criadas através

das experiências coletivas que Boal teve ao redor do mundo. São muitas

variáveis como: Teatro- Jornal, Teatro-Invisível, Teatro-Legislativo, Teatro-

Imagem, Teatro-Fórum e Arco-íris do Desejo. Todas elas podem servir a

psicopedagogia, umas mais, outras menos, dependendo do enfoque e do

objetivo.

Em termos amplos, o Teatro do Oprimido é uma metodologia que

tem como um dos objetivos principais a utilização da expressão teatral como

espaço de possível superação dos problemas que nos impedem de progredir,

de ascender, de sermos livres. Nessa técnica todos somos, porque podemos e

queremos ser, atores das nossas próprias cenas interpretando nossas próprios

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conflitos na tentativa de enfrentá-los ficcionalmente para podermos superá-los

na vida real. Um olhar psicopedagógico sobre o tema brevemente descrito

acima, facilmente identifica uma grande possibilidade de uma intervenção

psicopedagógica, tanto clínica quanto institucional, através do Teatro do

Oprimido como fonte colaborativa na melhora do aprendizado e na

compreensão da maneira de aprender do aluno.

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CAPÍTULO I

O TEATRO DO OPRIMIDO E A ARTE NA

PSICOPEDAGOGIA

O Teatro do Oprimido surgiu a partir da observação de um artista

sobre o papel do espectador e do ator como protagonistas da cena e também

da necessidade de retornar as origens do teatro como transformador social. A

partir daí inúmeras possibilidades nasceram dessa metodologia que é

estudada, aplicada e atualizada em mais de setenta países.

A psicopedagogia visa compreender os processos de aprendizagem,

auxiliando os professores que não conseguem ensinar e os alunos que não

conseguem aprender numa articulação entre Medicina, Psicologia, Psicanálise

e Pedagogia. A psicopedagogia chegou ao Brasil na década de 70 e se

encontra desde então em processo contínuo de construção, tão variadas são

as complexidades e possibilidades na relação ensino-aprendizagem. A

aplicação da linguagem artística junto ao trabalho psicopedagógico pode

colaborar para o desenvolvimento das potencialidades dos alunos nas

dimensões afetiva, cognitiva, sócio-cultural e psicomotora.

A experiência artística, expressão da alma e da percepção que o homem tem do mundo, apresenta-se como recurso importante para ampliar a aprendizagem daquele que se relaciona com o outro, e aprende a partir dessa relação. ALLESSANDRINI (1996, p. 29-30)

O presente trabalho debruça sobre as possibilidades do Teatro do

Oprimido num viés especificamente psicopedagógico, procurando elucidar as

inter-relações dessas duas áreas. Esse primeiro capítulo discorre sobre

metodologia do TO (quais são as técnicas e como funcionam) e sobre as

diversas manifestações artísticas aplicáveis na psicopedagogia.

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1.1 O Teatro do Oprimido

Na década de 70, o diretor teatral Augusto Boal iniciava seu exílio

político, já que ele como muitos artistas da época eram considerados

subversivos e criminosos políticos pelo governo militar. Boal saiu do país com

muitos questionamentos e a certeza de que o Brasil e o teatro que aqui se

produzia estavam indo por um caminho muito negativo, cheios de espaços

vazios, artistas sem voz e afastado das possibilidades de mudanças

libertadoras. Nesse contexto, nasce o Teatro do Oprimido, técnica que Boal

sistematiza e publica em 1973, mas sobre a qual ele já vinha refletindo desde

os tempos em que trabalhava com o Teatro de Arena dos anos 1950 aos 1970.

A força-motriz dessa metodologia e a razão pela qual ela continua

sendo amplamente utilizada nos cinco continentes é “o apoio decidido do teatro

às lutas dos oprimidos” (Boal, 2011). Todos nós, em algum momento das

nossas vidas, nos encontramos ora na posição de oprimido, ora na posição de

opressor. Por tratar de relações tão comuns e caras ao homem, o Teatro do

Oprimido tem muitas e variadas aplicações. No ambiente escolar, hospitais,

prisões, sindicatos, igrejas e em qualquer lugar onde existam pessoas com

desejo de superar suas opressões pode haver teatro do Oprimido.

Para compreender melhor a intrincada metodologia do teatro do

oprimido, Boal resume graficamente as técnicas e suas origens no desenho

que ele nomeia como árvore do teatro do oprimido, que compreende o solo que

nutre, as raízes que originam, o tronco que sustenta, as folhas que crescem e

os frutos que reproduzem a técnica pela multiplicação.

O objetivo de toda árvore é dar frutos, sementes e flores: é o que desejamos para o Teatro do Oprimido que busca não apenas conhecer a realidade, mas transformá-la ao nosso feitio. Nós, os oprimidos (BOAL, 2011. p.21)

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1.2 A árvore do Teatro do Oprimido

(BOAL, 2011, p.17)

Boal (2011) apresenta as variantes do TO na Árvore do Teatro do

Oprimido. Não obstante, todas as técnicas são interdependentes e tem a

mesma origem no solo da Ética, da Política, da História e da Filosofia. A

Palavra, o Som e a Imagem são os meios através dos quais os indivíduos irão

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se expressar. Os frutos do TO caem na terra e se reproduzem pela

Multiplicação. E a Solidariedade é parte essencial na medida em que os

participantes se identificam com as opressões alheias, unindo os diferentes

grupos de oprimidos.

O primeiro item a surgir no tronco da árvore é Jogos, que

desenvolve a criatividade com regras, ajudando a desmecanização do corpo e

da mente tão acostumados às tarefas repetitivas e automatizadas do dia a dia.

Logo em seguida vemos Teatro Imagem e Teatro Fórum seguindo para as

folhas: Teatro Jornal, Ações Diretas, Teatro Legislativo, Teatro Invisível e Arco-

íris do desejo.

1.2.1 Jogos

É através do corpo que o ator se mostra, é com ele que a história

será contada, ele é o seu material de trabalho. E para que esse corpo possa

comunicar diferentes personagens, sentimentos e pontos de vista é necessário

que esteja disponível e consciente. Os jogos têm como objetivo converter o

espectador em ator e para tal o indivíduo precisa conhecer primeiramente seu

corpo e suas possibilidades expressivas.

Só depois de conhecer o próprio corpo e ser capaz de torná-lo mais expressivo, o “espectador” estará habilitado a praticar formas teatrais que, por etapas, ajudem-no a liberar-se de sua condição de “espectador” e assumir a de “ator”, deixando de ser objeto e passando a ser sujeito, convertendo-se de testemunha em protagonista. (BOAL, 2011. P.188)

Através dos jogos, os participantes, além de experimentar a

criatividade e a expressão corporal, rompem as idéias pré-concebidas do teatro

elitizado que muitos têm como referência e também seus preconceitos quanto

ao corpo assim como desfazem a rigidez muscular dos corpos. Os exercícios

podem ser propostos tanto pelo dinamizador quanto pelos alunos e outras

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sugestões de atividades podem ser criadas pelo grupo durante a oficina para

contribuir nesse processo de conscientização corporal dos participantes.

1.2.2 Teatro Imagem

Nessa técnica, o teatro é pensado como uma foto, uma re-

presentação onde os atores são estátuas moldadas por espect-atores

escultores. Através dessa técnica podemos transformar problemas, questões e

sentimentos em imagens concretas e a partir dessas imagens o grupo pode

elaborar a transformação da imagem real (opressiva) na imagem ideal

(libertária). A linguagem verbal é abolida e trocada pela linguagem visual.

1.2.3 Teatro Jornal

O Teatro Jornal é um conjunto de diversas técnicas que permitem

transformar qualquer texto não dramático em cena teatral. O grupo usa o

material escrito para leitura como material escrito para encenação. Pode ser

feito com textos jornalísticos, classificados, contos, etc... Essa técnica tem

como objetivo “desmistificar a pretensa imparcialidade dos meios de

comunicação” (BOAL, 2011).

1.2.4 Teatro Fórum

No Teatro-fórum os espectadores são chamados a entrar em cena

rompendo a barreira entre palco e platéia. Consiste na encenação de uma

situação baseada em fatos reais onde oprimido e opressor entram em conflito.

Nesse confronto, o oprimido fracassa e os integrantes da platéia são chamados

a substituir o ator que representa o oprimido, criando novos possíveis

desfechos para a cena.

1.2.5 Teatro Legislativo

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O Teatro Legislativo tem como objetivo formular Projetos de Leis

viáveis e coerentes com os desejos e necessidades da população. No Brasil, o

Centro de Teatro do Oprimido do Rio de Janeiro já conseguiu aprovação de

quinze leis municipais e duas estaduais com esse método. Consiste em discutir

em plenários legislativos com participação popular os projetos de lei a partir de

uma cena de Teatro-Fórum.

1.2.6 Teatro Invisível

O Teatro Invisível é a representação de uma situação num ambiente

real. É o teatro fora do teatro. Os atores se misturam aos “espectadores”, que

são reais participantes do fato e não sabem que o que se passa é uma

representação. Deve ser realizado num local com grande circulação de

pessoas, as quais devem ignorar o fato de ali estarem atores “representando”.

A encenação deve ocorrer da forma mais natural possível para que a discussão

em torno do tema escolhido envolva as pessoas próximas ao evento

participando ativamente da “cena”. Os atores são “invisíveis” para que os

espectadores atuem livremente como numa situação real. No Teatro Invisível,

diferentemente da performance e do “Flash-mob”, o público não se reconhece

como espectador e os atores não se diferenciam dos transeuntes, não havendo

separação entre palco e platéia.

1.2.7 Arco-íris do desejo

Essa técnica terapêutica-teatral permite a teatralização de opressões

introjetadas, usando palavras e imagens. A partir dela os indivíduos do grupo

podem, além de reconhecer e superar suas opressões internalizadas,

compreender a origem social dos abusos de poder aos quais foram expostos.

1.2.8 Ações diretas

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Consiste em teatralizar (com máscaras, adereços, músicas,

coreografias e o que mais couber) manifestações de protesto, desfiles,

procissões, marchas e quaisquer outros agrupamentos de grupos organizados.

1.3 Arte e psicopedagogia

“A criação artística realiza-se a partir de um diálogo do artista

com sua produção... A atividade artística constitui então um

instrumento indispensável na terapia dos problemas de

aprendizagem...” (PAÍN in FERNÁNDEZ, 2011)

A Arte é parte fundamental no trabalho psicopedagógico. Utilizar as

linguagens artísticas na intervenção psicopedagógica é importante para

desenvolver a percepção, a atenção, a afetividade, a sensibilidade, a memória,

a observação e formar indivíduos que saibam se expressar e compreender a

expressão dos outros. A arte trabalha essencialmente com a comunicação

(entre indivíduos, entre grupos e entre nosso passado, presente e futuro) e por

desenvolver a expressão humana em suas diferentes possibilidades (sons,

imagens e movimentos) amplia a capacidade expressiva dos alunos.

A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas PCN ARTE (1997 p.19)

A Arte na educação, segundo a atual legislação brasileira,

compreende as seguintes linguagens: Artes Cênicas, Artes Plásticas, Dança e

Música. Todos esses componentes contribuem enormemente para a atuação

psicopedagógica. No Teatro e na Dança o corpo é o criador e o suporte para as

criações, podendo assim nas suas especificidades aumentar a auto-confiança,

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o controle e conhecimento dos movimentos, além de catalizar a energia

reprimida na sala de aula, já que historicamente disciplina e imobilidade

caminham juntos nas regras do ambiente escolar.

Assim como a Arte em geral, o Teatro do Oprimido é

reconhecidamente pedagógico e tem no seu cerne o potencial de transformar

os indivíduos que dele participam, na perspectiva de construção de uma

sociedade mais justa, sendo essa a tarefa inicial pretendida por seu criador.

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CAPÍTULO II

INTERSEÇÕES ENTRE O PAPEL DO CURINGA-

FACILITADOR E O DO PSICOPEDAGOGO

Tomando o psicodrama como ponto de partida para compreensão

do Teatro do Oprimido como técnica terapêutica, já que em ambas as

intervenções a matéria prima para as “sessões” são as situações

traumatizantes reais do “paciente” e que a partir delas pretende-se retomar e

reviver esses momentos para que possam ser re-significados, temos então o

curinga-facilitador como psicodramaticista. Se considerarmos que o Teatro do

Oprimido é uma das possíveis práticas de uma intervenção psicopedagógica,

como um equivalente do psicodrama, então o psicopedagogo também pode

absorver atitudes e posicionamentos do curinga-facilitador. Partindo dessas

premissas cabe avaliar quais posições e intervenções podem ser (re)

aproveitadas nas experiências dos dois profissionais.

2.1 A função do curinga-facilitador e a função do

psicopedagogo.

O curinga e o psicopedagogo exercem funções análogas, já que

ambos atuam num ambiente terapêutico educacional onde se objetiva a

superação de dificuldades, no caso do primeiro a dificuldade em enfrentar o

opressor e no segundo a dificuldade de aprendizagem propriamente dita que

também é uma espécie de opressão, visto que impede o indivíduo de viver

plenamente seu papel de aprendente/ensinante.

Ao curinga-facilitador cabe avaliar o grupo participante da oficina de

Teatro do Oprimido e partir daí selecionar e aplicar os exercícios do TO mais

indicados para o grupo avaliado. Ele também tem papel primordial nas

mediações com o grupo: sugere temas, levanta questões, determina o tempo

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para as atividades, coordena as avaliações e auxilia nas criações e ensaios

das cenas.

Também faz parte do trabalho do psicopedagogo analisar o grupo

com o qual será desenvolvido o trabalho. Na psicopedagogia institucional, o

olhar é mais voltado para resolução de dificuldades do grupo como um todo

que abrange professores, alunos e pais. Nesse caso, avaliam-se as relações

entre os pares e entre os grupos e o foco é nas atividades que podem resolver

problemas da instituição, sendo reservadas ao psicopedagogo clínico as

atitudes relativas às dificuldades de aprendizagem individuais. Na clínica, o

diagnóstico debruça sobre o aluno, a família e a escola, porém o

desenvolvimento compreende buscar soluções para as dificuldades de

aprendizagem do estudante. O psicopedagogo atua na seleção e aplicação de

atividades que ajudem a desenvolver as capacidades detectadas como falhas

que podem ter origem cognitiva, emocional ou orgânica. A partir dessas

intervenções o aluno pode encontrar no espaço psicopedagógico as

ferramentas, os caminhos e a possibilidade de ir de encontro às suas

dificuldades para poder superá-las.

2.2 A importância do autoconhecimento e da análise

psicopedagógica pessoal (a experiência)

Alicia Fernández atenta para o fato que os terapeutas não podem

simplesmente repassar uma informação. O psicopedagogo-psicodramaticista

precisa vivenciar aquelas experiências (terapêuticas e de aprendizagem) para

poder ensinar aos seus “aprendentes”.

Os profissionais, ao sentirem no corpo suas próprias descobertas,

modos de aprendizagem, opressões não superadas, podem compreender

melhor o que se passa com seus alunos-pacientes. A avaliarem suas próprias

dificuldades de aprendizagem na sua vida escolar pregressa e atual, podem

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ver com outros olhos as atividades da escola e podem partilhar melhor das

angústias do aluno-paciente através da empatia.

Além das razões elencadas anteriormente, urge um trabalho de

auto-avaliação e de prática terapêutica analítica desses profissionais, pois eles

estão em contato direto com questões de foro íntimo do paciente-aluno (apesar

do teatro do oprimido lidar com questões universais e com a opressão social,

os participantes sempre partem da sua experiência pessoal, a partir da qual os

outros integrantes do grupo se identificam ou não) e ao lidarem com questões

tão delicadas, colocam-se num lugar frágil que merece cuidado e atenção do

próprio terapeuta e de um outro profissional que possa alertá-lo para possíveis

emboscadas nesse caminho.

2.3 A neutralidade.

Outra característica essencial para a atuação tanto do

psicopedagogo quanto do facilitador do Teatro do Oprimido é a neutralidade. É

importante que o mediador assuma uma postura ativa e coerente, porém a ele

não cabe julgar, medir, censurar. Conforme Alicia Fernández (2010): “A

terapeuta permite, mas não consente, acompanha, mas não é cúmplice. O

terapeuta joga e para as crianças se abre o caminho da simbolização.” ( p.37).

Para Augusto Boal, a questão da neutralidade também é complexa e

importante:

...o Coringa, em uma sessão de Teatro-Fórum, por exemplo, deve manter sua neutralidade e não tentar impor suas próprias idéias, porém... só depois de escolhido o seu campo! Sua neutralidade é ato responsável e surge depois da escolha feita; sua substancia é a duvida, semente de todas as certezas; seu fim é a descoberta, não a isenção.(BOAL, 2011, p.26)

Alicia Fernández acrescenta sobre o assunto :

Como psicopedagoga, como terapeuta, como coordenadora grupal, meu lugar de interpretação é simplesmente de colocar-

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me nesse lugar, às vezes conseguindo ler algo dessa rede interpretativa. Outras vezes intervindo também no bordado, no tecido dessa rede,... (FERNÁNDEZ, 2010, p.50)

2.4 O espaço de reflexão sobre a atuação profissional.

Curingas e psicopedagogos devem manter ativos seus espaços de

reflexão sobre sua prática, caso contrário estarão tendo uma atitude incoerente

com seus próprios ensinamentos. Spolin atenta para o fato de que os

instrutores precisam saber dizer “Eu não sei” para que se coloquem lado a lado

como construtores do conhecimento e da aprendizagem. Somente através da

contínua pesquisa e da inquietação própria dos profissionais que reconhecem a

importância do estudo e da atualização dos saberes pode-se chegar a um lugar

ideal de atuação, onde a reflexão, a dúvida e o aperfeiçoamento terão espaço.

“Seguindo essa perspectiva, podemos afirmar que o artista-docente desenvolve seu trabalho também num processo contínuo de desmonte, recomposição e elaboração de atividades e definição de conteúdos a serem trabalhados pelos alunos nas aulas,....” (TELLES, 2012, p.18)

2.5 O ambiente de trabalho.

A criança tende a restringir as suas possibilidades de criação e de

desenvolvimento ao ser exposta às pressões dos adultos, à olhares julgadores

conforme indica Vera Lúcia Bertoni dos Santos no artigo “Atividade simbólica

na infância e abordagens do teatro no meio escolar: convergências e

incompatibilidades.” Portanto o trabalho terapêutico só pode ser desenvolvido

numa atmosfera livre, de aceitação, onde aprendente e aprendiz se colocam

como parceiros em busca da aprendizagem.

Viola Spolin (2001) fala sobre a necessidade de um ambiente onde

reina a confiança mútua entre os participantes da oficina de teatro e o

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autoritarismo é colocado de lado para que o jogo possa verdadeiramente

acontecer. Para Boal (2011) também é preciso uma espécie de

companheirismo entre curinga e alunos, para que exista o espaço ideal onde o

oprimido se sinta livre para expor e discutir sua opressão quanto e para que os

participantes possam realizar suas cenas sem medo de serem criticados.

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CAPÍTULO III

EXERCÍCIOS PSICOPEDAGÓGICOS DO TEATRO DO

OPRIMIDO

Através dos jogos podemos superar as dificuldades de

aprendizagem das mais diversas origens e também é possível melhorar os

ambientes educacionais e as relações entre alunos e entre professores. Assim,

os jogos do Teatro do Oprimido atuam como eficiente recurso

psicopedagógico.

O arsenal de jogos utilizado na metodologia de Augusto Boal é

formado por atividades lúdicas, na sua grande maioria executadas em grupo e

que tem como objetivo principal preparar o corpo para melhor se expressar na

atuação teatral, na transformação do espectador em ator. No presente estudo,

o foco naturalmente recai sobre os jogos que tem melhor aplicação no universo

terapêutico psicopedagógico.

A origem desses exercícios é diversa e vai desde jogos tradicionais

até outros criados pelo próprio Boal, além de outros teóricos que muitas vezes

nem são citados pelo autor. O livro “Jogos para atores e não-atores” serve com

principal fonte, além dos exercícios experimentados em oficinas de teatro do

oprimido com o curinga/professor Luiz Vaz. Vale ressaltar que os mesmos

podem sofrer adaptações de acordo com as necessidades dos grupos, local de

realização do trabalho e outras demandas que visem um melhor

aproveitamento do jogo.

Por serem jogos que são utilizados em grupo, conclui-se que servem

mais facilmente à atuação psicopedagógica institucional, o que não inviabiliza

seu uso na clínica, caso sejam feitas as necessárias adaptações.

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Os exercícios selecionados serão divididos em: jogos de percepção,

jogos de expressão e jogos de criação, não sendo obviamente trabalhadas

somente essas habilidades nos jogos elencados em uma ou outra categoria.

Na tentativa de exprimir mais claramente os objetivos, realização e formas de

utilização das atividades, seguido do nome do jogo haverá: o número de

participantes mínimo e máximo; explicação de como se dá a organização e

desenvolvimento do jogo; e os objetivos psicopedagógicos que podem ser

alcançados com o jogo.

3.1 Jogos de percepção.

3.1.1 Floresta de Sons.

Número de jogadores: 2 a 20 (o jogo deve ter número par de

integrantes; quanto maior o espaço, maior pode ser o grupo).

Organização e desenvolvimento: O grupo deve ser separado em

duplas. Uma pessoa da dupla permanece todo o tempo do jogo de olhos

fechados. O outro integrante da dupla é o guia e ele faz um som que imite um

animal através do qual o “cego” é guiado. Em alguns momentos esse som

diminui e aumenta, e em todo o momento o guia muda de posição na sala,

fazendo com que o seu parceiro se dirija para diversas direções.

Objetivos psicopedagógicos: exercita a acuidade auditiva e a

capacidade de confiança no outro, além de aumentar a parceria entre as

duplas.

3.1.2 Bolinhas, bolas e balões.

Número de jogadores: 4 a 30 (o jogo deve ter número par de

integrantes; quanto maior o espaço, maior pode ser o grupo).

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Organização e desenvolvimento: Cada participante cria uma bola

imaginária com um som vocal e um movimento. As pessoas brincam com as

suas bolas imaginárias quicando-as pela sala sempre acompanhando o

movimento pelo som criado. Num momento determinado pelo (a) dinamizador

(a) o jogador se aproxima de outro, formando dupla. Os integrantes das duplas

observam-se e trocam de bolas. Cada um sai brincando pela sala com a sua

segunda bola. Trocam de bolas mais uma vez, com outro integrante. Agora

cada um com a sua terceira bola tenta encontrar a sua primeira e dá um toque

no ombro daquele que estiver fazendo o som e o movimento da sua primeira

bola. A pessoa só pode parar de fazer o som e o movimento quando for

encontrado por alguém. Quem não for encontrado fará o histórico da bola até

encontrar sua bola original.

Objetivos psicopedagógicos: exercita a acuidade auditiva e a criação

sonora livre; propicia a criação de um ambiente de liberdade criativa; auxilia na

aceitação de identidades vocais.

3.1.3 O jogo do líder.

Número de jogadores: 4 a 30.

Organização e desenvolvimento: Num círculo todos os jogadores

fecham os olhos, o dinamizador diz que vai escolher com um toque nas costas,

uma das pessoas, que a partir desse toque irá se comportar como líder do

grupo. Não se deve dar nenhuma orientação do que poderia ser um

comportamento de líder, deixe que a pessoa atue com as suas próprias

conceituações. O dinamizador não toca em ninguém e pede que o grupo abra

os olhos e perceba quem é o líder. Quando o dinamizador pedir todos devem

apontar o suspeito de ter sido escolhido para ser o líder do grupo. Diferentes

pessoas são escolhidas por diferentes motivos: Uma porque está muito séria,

outra porque ri demais. Com a justificativa de que não houve uma unanimidade

o dinamizador repete o exercício, mas desta vez toca em todos. No final do

exercício, discute-se sobre as observações e sobre a postura do líder. Em geral

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se comenta sobre a diferença da postura dos jogadores nos dois momentos do

jogo.

Objetivos psicopedagógicos: É um exercício muito interessante para

nos flagrarmos em situações de pré-julgamento (preconceito). E sobre as

insígnias e os estigmas sociais. Pode ser utilizado em grupos onde há conflito

de lideranças, dificuldades de reconhecimento de um líder, etc.

3.1.4 Hipnotismo.

Número de jogadores: 2 a 40 (o jogo deve ter número par de

integrantes).

Organização e desenvolvimento: Formam-se duplas. Uma pessoa

fica a frente da outra e põe sua mão na frente do rosto do companheiro como

se estivesse hipnotizando-o. A altura da ponta do dedo acompanha a altura da

testa, assim como o punho acompanha o queixo. Todo o movimento que será

feito pela mão, obrigará ao hipnotizado mudar a posição de todo o seu corpo

para manter a face sempre paralela à mão do hipnotizador. Inverte-se: o

hipnotizador vira hipnotizado. Num segundo momento uma pessoa vai ao

centro do espaço e começa a dançar muito lentamente, sem sair do ponto em

que está na sala, movimentando todo o corpo lentamente. As pessoas em volta

se aproximam hipnotizadas por um ponto escolhido do corpo da pessoa que

está dançando (ombro, joelho, cabeça, barriga, etc.). Pede-se que mantendo o

hipnotismo se afastem ao máximo dos seus pontos de atração. Depois se

aproximam ao máximo do ponto escolhido.

Objetivos psicopedagógicos: Desmecanização e aceitação do corpo,

criação de movimentos, desconstrução das estruturas corporais estratificadas.

3.1.5 Série de nós.

Número de jogadores: 8 a 40.

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Organização e desenvolvimento: O grupo faz um círculo de mãos

dadas. Criam-se nesse círculo vários nós. Pessoas passando por baixo dos

braços das outras. Depois se tenta desatar todos os nós e voltar ao círculo

original. Outra variante: é feito um circulo e cada pessoa deve gravar quem

está a sua direita e a sua esquerda. O grupo solta as mãos e caminha

aleatoriamente pelo espaço de maneira que fiquem misturados na sala. Sem

mudar de lugar, ao comando do dinamizador, o círculo será refeito e cada

pessoa dará a sua mão ao parceiro que estavam à sua direita e à sua

esquerda no primeiro círculo. O jogo termina depois de desfeito todos os nós.

Objetivos psicopedagógicos: Aumenta a consciência de grupo, a

cooperação entre os pares, o equilíbrio entre iniciativa individual e objetivo em

comum. Por ser um jogo onde só se obtém sucesso se todos trabalharem e se

movimentarem para desfazer os nós, todos os jogadores do grupo têm suas

dificuldades colocadas em jogo: os mais impacientes terão que esperar, os

mais acomodados terão que agir, etc.

3.1.6 Ninguém com ninguém.

Número de jogadores: 7 a 33 (o jogo deve ter número ímpar de

integrantes; quanto maior o espaço, maior pode ser o grupo).

Organização e desenvolvimento: O grupo deve movimentar-se

continuamente pela sala mantendo-a equilibrada. Formam-se duplas que a

partir dos comandos do dinamizador juntarão partes dos seus corpos, como:

Ombro com ombro, um dos joelhos no joelho do outro, uma das mãos em uma

das orelhas do outro. Quando a dupla não conseguir mais se locomover, dá-se

a comanda: Ninguém com ninguém. Então cada qual corre para encontrar

outra pessoa do grupo para ser a próxima dupla. Quem ficar sozinho dará os

comandos. É importante começar com partes do corpo que não causem

constrangimentos ao grupo e aos poucos se pode sugerir encontros entre

partes do corpo mais reservados (nariz com nariz, barriga com barriga, etc)

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Objetivos psicopedagógicos: Desmecanização e aceitação do corpo,

criação de movimentos, desconstrução das estruturas corporais estratificadas.

3.1.7 Desenhar o próprio corpo

Número de jogadores: 3 a 40.

Organização e desenvolvimento: Os jogadores ficam deitados ou

sentados de olhos fechados e iniciam um relaxamento. Colocamos próximo a

cada um uma folha de papel e um lápis. Cada um desenha seu corpo na folha

de papel mantendo os olhos sempre fechados. Quando todos tiverem

desenhado, o dinamizador formará uma mandala com os desenhos e pedirá

que as pessoas reconheçam as outras pelos desenhos. É interessante

observar que quase todas as pessoas são reconhecidas pelo grupo. Essa

atividade deve ser realizada com grupos que já tenham algum tempo de

convivência.

Objetivos psicopedagógicos: Aceitação da identidade corporal,

aceitação dos indivíduos pelo grupo; trabalha a auto-imagem e a consciência

corporal.

3.1.8 O meu contrário

Número de jogadores: 4 a 20.

Organização e desenvolvimento: Cada pessoa escreve num

pequeno pedaço de papel uma característica que seja o seu contrário. Ex: Sou

muito tímida, escrevo ousada. Recolhe-se os papéis com as características.

Divide-se o grupo em dois ou mais, dependendo do número de participantes.

Um grupo serão os atores e os outros serão a platéia. Pede-se que a platéia

observe bem, já que não se trata de um jogo de adivinhação e sim de

observação. Ao grupo que está no espaço cênico, pede-se que aja

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normalmente numa ação simples (correr, escrever, comer). Quando o mediador

falar a palavra “contrário” os jogadores devem representar aquilo que

escreveram em seu papel. Terminada a cena a platéia comenta sobre as

impressões e observações do comportamento de cada pessoa que

representou.

Objetivos psicopedagógicos: Reflexão sobre a auto-imagem dos

indivíduos do grupo e a imagem que o grupo tem desses indivíduos. Aceitação

das características comportamentais. Experimentação de possibilidades de

mudança de comportamentos. Mudança de paradigmas comportamentais

dentro do grupo.

3.2 Jogos de expressão.

3.2.1 Circulo rítmico

Número de jogadores: 4 a 30.

Organização e desenvolvimento: Pedimos para que os jogadores

criem individualmente um som com um ritmo. É importante sempre recomendar

que o som seja vocal, pois o som de palmas ou pisadas é impessoal, já o

timbre da voz é pessoal. Depois os jogadores se organizam num círculo e uma

primeira pessoa (A) se dirige para a que está imediatamente ao seu lado direito

(B) e começa a fazer seu ritmo corporal acompanhado de um som vocal. B

imita A. Depois o primeiro jogador (A) caminha e passa para a segunda pessoa

à sua direita (C). C imita A. O jogador A segue seu caminho passando por

todas as pessoas do círculo. Todos devem imitar o ritmo corpo/som daqueles

que passam pela sua frente. Assim que A passar pela frente de B e se dirigir

para C, B cria seu próprio ritmo corpo/som e segue passando pela frente de C

que tem que imitá-la e daí por diante até todos voltarem pros seus lugares no

círculo.

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Objetivos psicopedagógicos: criação de movimentos, relaxamento

corporal, apropriação do movimento alheio, criação sonora livre; propicia a

criação de um ambiente de liberdade criativa; auxilia na aceitação de

identidades vocais.

3.2.2 Lixeira

Número de jogadores: 3 a 40.

Organização e desenvolvimento: Coloca-se uma caixa ou uma cesta

no centro da roda e pede que cada pessoa escreva num pequeno pedaço de

papel o nome de algum objeto do qual esteja querendo livrar-se, ainda não o

fez, mas, sua intenção é jogá-lo fora. Depois que todos jogarem suas coisas

inúteis na lixeira, cada um pode procurar nela algo que lhe seja útil, geralmente

todos saem com alguma coisa. Pode ser feito com sentimentos ao invés de

objetos.

Objetivos psicopedagógicos: O jogo pode gerar uma interessante

discussão sobre apego e desapego. Sobre como nos apegamos a coisas que

não precisamos mais e que muitas vezes nos atrapalham. Pode ser usado em

grupos com dificuldade de socialização, crianças e famílias muito consumistas,

grupos que estejam com dificuldades de deixar algo pra trás (uma professora

que teve que se ausentar, um aluno que mudou de escola, mudança de chefia,

morte etc).

3.3 Jogos de criação.

3.3.1 Quantos As existem no A.

Número de jogadores: 2 a 40.

Organização e desenvolvimento: O grupo se organiza em um

círculo. O dinamizador pergunta: Existem muitas maneiras de dizer a letra A?

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Quem tiver uma idéia vai ao centro e pronuncia o som da vogal junto de uma

expressão qualquer: Cansaço, dor, animação, desespero, surpresa, prazer e

etc. Quando terminarem as vogais, pode-se repetir o jogo utilizando palavras

ou frases. Ex: Quais são as diferentes maneiras de falar o sim? Quais são as

diferentes maneiras de falar o não? Quais são as diferentes maneiras de falar a

frase “eu te amo” ?

Objetivos psicopedagógicos: Jogo de estímulo de criação vocal e de

expressão corporal. Abre caminho para discussão e compreensão das

múltiplas possibilidades expressivas, já que a palavra falada vem

acompanhada de um tom de voz, ritmo, volume, posição corporal, contexto.

Pode ser utilizado para melhorar a compreensão da linguagem simbólica

implícita na comunicação verbal, podendo aprimorar a intenção, a percepção e

a compreensão entre os indivíduos do grupo na comunicação verbal e não-

verbal.

3.3.2 Método Sol.

Número de jogadores: 1 a 20.

Organização e desenvolvimento: Desenha-se numa cartolina um

círculo e o grupo sugere palavras para escrever dentro dele, cabe ao

dinamizador animar o grupo que escolha uma dessas palavras. Essa será uma

palavra-mãe, ou seja, uma palavra geradora de muitas outras. A palavra

colocada dentro do círculo gerará por analogia, diversas outras que se

colocarão como raios de sol no desenho da cartolina. Com a palavra de dentro

do círculo, as de fora do círculo e outras que podem ser incluídas, formam-se

frases, que geram parágrafos, que geram textos.

Objetivos psicopedagógicos: Auxilia na criação de textos e na

compreensão da estrutura textual (palavra- frase- parágrafo- texto). A

disposição das palavras na cartolina e o entendimento do texto como uma

construção de palavras que são unidas paulatinamente, auxiliam os indivíduos

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a ultrapassar o bloqueio criativo que muitas vezes acontece diante da folha de

papel em branco. Ele pode compreender concreta e visualmente que basta

escrever a primeira palavra que as outras virão.

3.3.3 O Gênio da Garrafa ou Homenagem a Magritte.

Número de jogadores: 1 a 30.

Organização e desenvolvimento: Coloca-se uma garrafa no centro

da sala e o grupo em volta dela deve pensar em algo no que ela possa se

transformar. Ex: Uma luneta, um celular, uma caneta, um bebe. Toda a idéia

deve ser apresentada por meio de pantomima (gesto sem fala). Uma pessoa

de cada vez faz a sua ideia. O grupo “lê”. Depois o dinamizador tira a garrafa e

coloca uma cadeira, depois uma mesa, depois um pano. Repete-se a dinâmica

de utilizar o objeto de diferentes maneiras com os novos objetos. Pedindo que

se utilizem os quatro objetos o dinamizador sugere aos jogadores criar cenas

de problemas que aflijam o seu grupo. Pode-se pedir que se construam cenas

sobre qualquer outro tema que interessar ao trabalho.

Objetivos psicopedagógicos: O jogo trabalha e desenvolve a

linguagem simbólica. Além disso, cria um espaço para que o grupo coloque os

problemas em cena com auxílio dos objetos “modificados” ou não. O exercício

também aumenta a capacidade comunicativa não-verbal.

3.3.4 Série modelagem

Número de jogadores: 2 a 40 (o jogo deve ter número par de

participantes).

Organização e desenvolvimento: O grupo será divido em dois,

formando duas filas. Perfilados um dos grupos será de escultores e o outro a

massa de modelagem. As filas ficam uma de frente para a outra. Cada jogador

irá trabalhar com a pessoa que está a sua frente como uma massa de

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modelagem onde o escultor executará sua obra. Exercita-se primeiro sem

tema, invertendo os grupos para que todos experimentem tanto a posição de

escultores como a de massa de modelagem. Num segundo momento as

escultura serão feitas a partir de temas como, por exemplo, a atual situação

política da cidade ou do país, a eleição de um Papa, um título de uma música

que toque ao grupo, uma dificuldade que o grupo esteja enfrentando ou

qualquer outro tema que interesse ao trabalho.

Objetivos psicopedagógicos: O exercício trabalha e desenvolve a

linguagem simbólica e aumenta a capacidade comunicativa não-verbal, além

de propiciar a criação de um ambiente de liberdade criativa e a desconstrução

das estruturas corporais estratificadas.

3.3.5 As duas revelações de Santa Tereza

Número de jogadores: 2 a 30 (o jogo deve ter número par de

integrantes).

Organização e desenvolvimento: O grupo caminha aleatoriamente

pela sala. O dinamizador anuncia uma dupla com uma relação, por exemplo:

Pai e filho. Imediatamente os jogadores se organizam em duplas e continuam

caminhando pelo espaço com a sua dupla e agindo de acordo com a relação

determinada anteriormente. Os jogadores não irão combinar quem será o que,

vão escolher aceitar seus papéis a partir da observação mútua. A partir do

comando do dinamizador, irão improvisar diálogos. Em algum momento o

mediador falará: “Primeira revelação”. Algo de inesperado deverá ser dito no

diálogo, como uma revelação. A quem ouviu cabe reagir à revelação. O

personagem que ouviu a primeira revelação irá falar a sua quando o

dinamizador disser “Segunda revelação”. Várias duplas podem ser formadas:

professor e aluno, médico e paciente, policial e transeunte, político e eleitor,

padre e fiel, celebridade e fã, namorada e namorado entre outras.

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Objetivos psicopedagógicos: esse jogo além de exercitar a

criatividade corporal e verbal dos alunos, também serve com oportunidade para

discutir as relações e experimentar se colocar no lugar do outro possibilitando

aos indivíduos redimensionar e reavaliar seus papéis no grupo e na sociedade.

3.3.6 Agora é tarde!

Número de jogadores: 4 dinamizadores (ou jogadores auxiliares) e

pelo menos 1 jogador-espectador-ator. A platéia pode ter quantos jogadores-

espectadores couber no espaço, ou somente o dinamizador como platéia.

Organização e desenvolvimento: Três jogadores (A, B e C) sentam-

se em uma fileira de cadeira. Uma pessoa (D) dirige-se até a última cadeira da

fileira, ao se aproximar o jogador C fala: Agora é tarde! E sai de cena. A pessoa

(D) vai um pouco mais depressa para a segunda cadeira. Acontece a mesma

coisa, numa inflexão diferente o jogador B fala: Agora é tarde! E sai também. D

corre para a terceira cadeira (primeira da fila) e ouve a mesma resposta do

jogador A. O jogo começa a partir desse momento, quando alguém da platéia

substitui essa pessoa que não consegui ser atendida e tenta dar soluções

inventando situações e argumentos que a permita ser ouvida e convencer os

outros atores nas cadeiras de que não é tarde, de que algo ainda pode ser

feito. Os textos são totalmente improvisados e as situações variam entre

situações de família, trabalho, amizade, paixão. Os atores que estão sentados

devem aceitar as relações criadas pelos que chegam e improvisar a partir das

características que lhes são atribuídas. Por ex: Se a pessoa disse que ele é o

patrão, começa a agir como um patrão.

Objetivos psicopedagógicos: Esse é um jogo da categoria das

IMAGENS PROJETADAS da metodologia do Teatro do Oprimido, exatamente

porque são projetadas várias situações vividas pelos integrantes do grupo. É

um jogo embrião do Teatro-Fórum. Portanto pode servir como terreno para

resolução de questões relacionais do grupo, questões pessoais/ familiares dos

pacientes, preparação para enfrentamento de situações com as quais os

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indivíduos têm dificuldades em lidar, ou qualquer outra situação que sirva ao

trabalho.

3.3.7 O Quadrado e o Redondo

Número de jogadores: 2 a 30.

Organização e desenvolvimento: A turma será dividida em dois

grupos. Um defende apaixonadamente o quadrado e outro o redondo. Um o

dia, outro a noite. Um o rosa e outro o azul. As meninas, as vantagens de ser

menina. Os meninos as vantagens de ser menino. Depois se inverte a defesa.

Meninos defendem a condição de meninas e vice-versa.

Objetivos psicopedagógicos: Trabalha a capacidade de

argumentação, a agilidade verbal, a escuta, além de auxiliar o respeito e a

compreensão das diferenças. Muito interessante ser feito em grupos onde há

enfrentamento de categorias, vitimização das partes e dificuldade de

entrosamento.

3.3.8 Jogos com Jornal

Número de jogadores: 4 a 40.

Organização e desenvolvimento: Com folhas de jornal as pessoas

sentadas num círculo devem fabricar algum objeto sem utilizar tesoura, cola ou

barbante. Trabalhando apenas com as mãos e o jornal. Esse objeto deve ser

defendido pelo seu criador que enaltecerá a qualidade do produto, ou pode ser

dado a outra pessoa do grupo utilizando-se do seu valor simbólico para

presentear, dessa maneira a pessoa que recebeu é quem vai presentear outra

até fechar o círculo. No final do jogo amassa-se o jornal e faz-se com ele um

rabo que é colocado atrás dos jogadores. Depois que todos estiverem com

seus rabos de jornal estenderão os braços para o alto. Após o comando do

mediador começa a “Corrida de caça aos rabos”.

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Na “corrida de caça aos rabos” os corredores não podem encostar

nas paredes, nem segurar o seu próprio rabo, devendo apenas desviar das

mãos caçadoras de rabos. Aquele que terminar com mais rabos na mão é o

ganhador. Esse jogo é um aquecimento para e é inspirado num jogo de

capoeira chamado “O rabo do macaco”.

Agora os jogadores irão recostar do jornal as partes das manchetes

do dia, economia, política, variedades. O dinamizador divide o grupo em

subgrupos de 3 a 7 pessoas e cada subgrupo deverá representar uma notícia

de maneira teatral para o restante do grupo. A primeira apresentação da notícia

será feita “para surdos” e a palavra não será usada, assim os participantes

deverão colocar nos seus gestos expressivos toda a comunicação. A platéia

deverá entender toda a notícia. Logo em seguida se reapresenta a cena

utilizando as palavras.

Objetivos psicopedagógicos: Nas três partes do exercício é

trabalhada a polissemia do jornal, a transformação e criação de novos sentidos

e formas para um mesmo objeto, exercitando a criatividade, a interferência do

corpo na transformação da realidade e o questionamento do estabelecido.

Na primeira parte temos também a interação do grupo, a observação

e aceitação das diferenças e o estímulo a troca e a doação entre os integrantes

do grupo. Na segunda parte, acrescentamos o exercício da mobilidade

corporal, atenção espacial e descontração do ambiente. E na última parte,

podemos trabalhar as diferenças entre comunicação verbal e não-verbal.

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CONCLUSÃO

O Teatro do Oprimido e a psicopedagogia anseiam pela libertação

dos indivíduos das suas dificuldades, nem sempre as superando, mas olhando-

as de frente e criando alternativas para seguir adiante. A arte tem papel

fundamental nessa tentativa de lançar um olhar questionador sobre as

barreiras, propondo novas e inusitadas ideias para problemas que parecem

não ter solução. Ao proporcionar o estranhamento, o deslocamento do olhar

cotidiano e repetitivo a arte auxilia na construção de novas possibilidades. Ao

invés de ficarmos paralisados diante da dificuldade a arte nos permite ousar

apesar dos obstáculos.

O Curinga exerce o papel de mediador do jogo, conciliador,

facilitador do processo, assim como o psicopedagogo. Desenvolve

competências e potencialidades. Existe uma relação de troca horizontal entre

coringa-educador e espectador-educando. Estimular as pessoas a revelarem

para si os seus potenciais é a função primordial dos profissionais da educação

que desejam melhorar o aprendizado dos alunos.

Tanto no diagnóstico quanto na intervenção ou na preparação do

grupo os exercícios do TO aqui descritos podem ser utilizados no trabalho

psicopedagógico, cabendo ao profissional selecionar aqueles que melhor

atendem as necessidades dos indivíduos trabalhados.

O maior ganho da prática do TO é a conquista da autonomia; o

sujeito que antes era passivo espectador, se coloca em cena, intervém nos

exercícios, cria suas próprias histórias, valida sua existência. E aí

psicopedagogia e arte caminham podem se fortalecer e caminhar juntas

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WEBGRAFIA PERRI, Adriana. http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=360 visualizado as 15:31 do dia 02/03/2013 BOAL,Augusto. http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=208 visualizado as 23:40 do dia 13/03/2013 SANTOS, Vera Lúcia Bertoni dos. http://www.seer.unirio.br/index.php/opercevejoonline/article/view/605/604 visualizado as 18:00 do dia 10/01/2013

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

O TEATRO DO OPRIMIDO E A ARTE NA PSICOPEDAGOGIA 11

1.1 O Teatro do Oprimido 12

1.2 A árvore do Teatro do Oprimido 13

1.2.1 Jogos 14

1.2.2 Teatro Imagem 15

1.2.3 Teatro Jornal 15

1.2.4 Teatro Fórum 15

1.2.5 Teatro Legislativo 15

1.2.6 Teatro Invisível 16

1.2.7 Arco-íris do desejo 16

1.2.8 Ações Diretas 16

1.3 Arte e Psicopedagogia

CAPÍTULO II

INTERSEÇÕES ENTRE O PAPEL DO CURINGA-FACILITADOR

E DO PSICOPEDAGOGO 19

2.1 A função do curinga-facilitador e a função do psicopedagogo. 19

2.2 A importância do autoconhecimento e da análise psicopedagógica

pessoal (a experiência) 20

2.3 A neutralidade 21

2.4 O espaço da reflexão sobre a atuação profissional 22

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2.5 O ambiente de trabalho 22

CAPÍTULO III

EXERCÍCIOS PSICOPEDAGÓGICOS DO TEATRO DO OPRIMIDO 24

3.1 Jogos de percepção 25

3.1.1 Floresta de Sons 25

3.1.2 Bolinhas, bolas e balões 25

3.1.3 O jogo do líder 26

3.1.4 Hipnotismo 27

3.1.5 Série de nós 27

3.1.6 Ninguém com ninguém 28

3.1.7 Desenhar o próprio corpo 29

3.1.8 O meu contrário 29

3.2 Jogos de expressão 30

3.2.1 Círculo rítmico 30

3.2.2 Lixeira 31

3.3 Jogos de Criação 31

3.3.1 Quantos As existem no A 31

3.3.2 Método Sol 32

3.3.3 O gênio da garrafa ou homenagem a Magritte 33

3.3.4 Série Modelagem 33

3.3.5 As duas revelações de Santa Tereza 34

3.3.6 Agora é tarde! 35

3.3.7 O quadrado e o redondo 36

3.3.8 Jogos com Jornal 36

CONCLUSÃO 38

BIBLIOGRAFIA 39

WEBGRAFIA 41

ÍNDICE 42