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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA OS EFEITOS DA DESCRIMINALIZAÇÃO DA MACONHA NA SOCIEDADE CIVIL BRASILEIRA Por: Marcelo de Carvalho Velloso Orientador Prof. Jean Alves Rio de Janeiro 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · RESUMO O presente estudo tem a finalidade de se aprofundar no debate sobre os reais efeitos e benefícios da descriminalização

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

OS EFEITOS DA DESCRIMINALIZAÇÃO DA MACONHA NA SOCIEDADE CIVIL BRASILEIRA

Por: Marcelo de Carvalho Velloso

Orientador

Prof. Jean Alves

Rio de Janeiro

2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

OS EFEITOS DA DESCRIMINALIZAÇÃO DA MACONHA NA SOCIEDADE CIVIL BRASILEIRA

Apresentação de monografia a

AVM Faculdade Integrada como

requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito

Penal e Direito Processual Penal.

Por: Marcelo de Carvalho Velloso

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AGRADECIMENTOS

...aos professores, aos meus pais

e minha namorada...

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DEDICATÓRIA

...dedica-se aos meus pais e a

minha namorada que é minha

parceira, amiga e meu grande

amor...

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RESUMO

O presente estudo tem a finalidade de se aprofundar no debate sobre os

reais efeitos e benefícios da descriminalização das substancias entorpecentes,

especificamente a cannabis sativa na sociedade brasileira atual.

Palavras-chave: descriminalização, maconha, cannabis sativa,

legalização.

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METODOLOGIA

Natureza da pesquisa

Trata-se de uma pesquisa de opinião, pois deriva do estudo da atual lei

de drogas, com o surgimento da ideia de descriminalizar a maconha. Requer

pesquisa bibliográfica e demonstração de possíveis problemas que poderão

surgir com a possível legalização do uso da droga ilícita denominada maconha.

Quanto à forma de abordagem

A forma de abordagem da pesquisa é estritamente bibliográfica, através

de textos, livros e artigos.

Coleta de Dados

A coleta de dados foi extraída através de artigos de internet, livros e

dispositivos legislativos. livros de direito Penal, livro de lei de drogas

comentada, livro de Direito Constitucional, além da Constituição Federativa do

Brasil.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A Maconha 12

CAPÍTULO II - Descriminalização 15

CAPÍTULO III – A Descriminalização em outras realidades 22

CONCLUSÃO 33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 37

ÍNDICE 41

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INTRODUÇÃO

O efeito da legalização da maconha em nossa sociedade

A Droga existe desde os primórdios da humanidade. Não se sabe

exatamente porque as pessoas fazem uso dessas substâncias, mas se sabe

que há muitos motivos para o ser humano usar a droga em algum momento da

sua vida, entre eles uma forma de aliviar as frustações do dia a dia, as

angústias, as ansiedades. (SILVA, 2007)

Usada como medicamento, a maconha tem benefícios e contra

indicações, mas por seu uso abusivo e descontrolado acaba por impedir o

usufruto de suas finalidades terapêuticas.

O objetivo geral dessa pesquisa é levantar os efeitos na sociedade civil

da descriminalização da maconha no Brasil.

Os objetivos específicos consistem em avaliar o entendimento atual da

descriminalização da maconha em nossa sociedade civil.

A motivação para investigar este tema de pesquisa surgiu da

constatação de uma crescente mobilização social e da abertura do debate

jurídico sobre a descriminalização de drogas ilícitas em nosso país desde a

promulgação da Lei Antidrogas 11.343 de 23 de agosto de 2006.

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JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA

A relevância deste estudo, na Pós Graduação em Direito Penal e

Processo Penal encontra fundamento na Lei 11.343 de 23 de agosto de 2006 e

na critica de diversos domínios da sociedade à eficácia da legislação nacional

antidrogas.

Não há dúvidas que atual Lei Antidrogas (Lei nº 11.343/2006) derrubou

antigos paradigmas, principalmente no tocante à forma de lidar com usuário de

drogas.

No Brasil, três projetos que propõem a regulamentação do uso de

maconha – para fins medicinais, recreativos e industriais – tramitam no

Congresso Nacional. Um deles, de iniciativa popular, recebeu o apoio de 20 mil

assinaturas e está sendo analisado pela Comissão de Direitos Humanos do

Senado Federal. Outros dois, os projetos de lei 7187/2014 e 7270/2014, foram

apresentados e serão discutidos na Câmara dos Deputados.

Estas iniciativas decorrem de uma mobilização da sociedade civil por

ampliação do debate a respeito da descriminalização. Entretanto, uma

pesquisa nacional recente feita pelo órgão da Secretaria de Pesquisa e Opinião

do Senado Federal, Data Senado (2012 p.4), por telefone com 1.232 cidadãos

de 119 municípios, incluindo todas as capitais, demonstra que, para 89% da

população brasileira, a lei deve proibir que uma pessoa pudesse produzir e

guardar drogas para consumo próprio.

A pesquisa revela, ainda, que a maioria dos que são favoráveis à

liberação do uso de drogas para consumo próprio pertencem à região Sul do

país e, daqueles 9% favoráveis à discriminação, 72% dizem que concordam

apenas em relação ao uso da maconha, sendo a minoria (22%) os que

aprovam a liberação para as demais substâncias entorpecentes.

A validade social da presente pesquisa tem suas bases na discussão

das tentativas fracassadas pautadas no proibicionismo tendo como meta a

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erradicação do uso de drogas ilícitas. Se por um lado houve durante um tempo

prolongado a demonização da cannabis sativa hoje se entende que o problema

do consumo de entorpecentes é muito mais complexo exigindo assim, que tal

questão seja abordada de forma clara, sem ingenuidade nem simplismo.

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HIPÓTESE

Existe nos discursos atuais referentes à descriminalização da

maconha, uma incerteza quanto ao “melhor“ método de se alcançar

normas mais eficazes na atuação contra o avanço das drogas no País.

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CAPITULO I

A MACONHA

... Uma erva natural não pode te prejudicar.

Legalize Já – Planet Hemp

A maconha é uma erva cujo nome científico é cannabis sativa. Em latim

cannabis significa cânhamo, que denomina o gênero da família da planta, e

sativa diz respeito à cultura de como é plantada ou semeada, e indica a

espécie e a natureza do desenvolvimento da planta. É uma planta originária da

Ásia Central, com extrema adaptabilidade no que se refere ao clima, altitude,

solo, apesar de haver uma variação quanto à conservação das suas

propriedades psicoativas, pois essa requer clima quente e seco e umidade

adequada do solo (COUTINHO; ARAUJO; GONTIÉS, 2004).

Segundo o DSM-IV (2000 p.375) a maconha é a substância ilícita mais

consumida no mundo e vem sendo consumido desde a antiguidade, por seus

efeitos psicoativos, e como remédios por uma sucessão de condições médicas.

Ela está entre as primeiras drogas experimentadas pelos jovens geralmente na

adolescência. Como ocorrem com a maioria das outras drogas seus

transtornos ocorrem mais frequentemente em homens, ocorrendo à maior

prevalência entre os 18 e 30 anos de idade.

Três são as espécies de maconha, a mais comum, que é a cannabis

sativa, assume diferentes formas e é cultivada em quase todo o mundo, a

cannabis índica apresenta baixo teor de substância psicoativa (THC), a

cannabis ruderalis, arbusto curto da cannabis, não possui ingredientes

psicoativos (INAVA; COHEN, 1991; PATRÍCIO, 1997 apud COUTINHO,

ARAÚJO, GONTIÉS, 2004).

O THC é um dos 60 canabinóides presentes na maconha e é o

responsável pelos efeitos psicoativos. É a concentração do THC que determina

a potência dos seus efeitos. A sua absorção é rapidamente feita pelos pulmões

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para a corrente sanguínea, onde atinge um pico de concentração 10 minutos

após ter sido inalada (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004 p.107-108).

O seu declínio é igualmente rápido ficando muito baixo o nível de

concentração após uma hora de uso, devido ao rápido metabolismo e a

distribuição no cérebro e as outras estruturas do organismo. Já se tivesse

ingerido oralmente seus efeitos poderia durar uma hora ou mais e permanecer

por até cinco horas (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004 p.109-110).

Desta forma, a maconha tem sido usada para finalidades religiosas,

artísticas e recreativas em diferentes tempos e culturas. Seus efeitos mentais,

embora não sejam normalmente estudados pelo valor clínico; produzem

estados de relaxamento físico e psíquico. No entanto, os canabinóides

presentes na maconha alteram a percepção sensorial e temporal, tornam o

raciocínio veloz e prejudicam o processamento da memória de curto prazo.

Todos esses efeitos parecem ser transitórios, desaparecendo com a

descontinuação do uso da droga (MALCHER-LOPES; RIBEIRO, 2008 p.102).

O principal motivo do uso indiscriminado da maconha é a sensação que

ela proporciona aos seus usuários como; estado alterado de consciência,

euforia, disforia, alteração na percepção do tempo, perda de controle motor,

alteração nas funções sensoriais simples, como comer, ver TV, e ter relações

sexuais. Porém, nem todos os seus efeitos são agradáveis podendo causar

crises de ansiedade, ataque de pânico e alucinação ate mesmo em usuários

mais experientes (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004 p.111).

De acordo com os autores supracitados, além dos efeitos psicológicos

temos também os efeitos físicos decorrente do uso da maconha. Existem

evidencias de que a maconha possa ser altamente carcinogênica. Os

canabinóides prejudicam a imunidade das células e as outras substâncias

prejudicam os alvéolos. O uso da maconha aumenta bastante o trabalho

cardiovascular de indivíduos normais induzindo-os a taquicardias e isso pode

causar vários problemas cardiovasculares. Por outro lado no sistema

respiratório tem efeitos positivos e negativos, o THC age como um bronco

dilatador e por esta razão alivia os sintomas em indivíduos com asma, porém

seu uso crônico diminui o tamanho da passagem de ar nos pulmões causando

asma. No sistema reprodutor a maconha aumenta a vaso dilatação nos genitais

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e retarda a ejaculação. Além disso, ingerida em altas doses leva a diminuição

da libido e a impotência, possivelmente em decorrência da diminuição da

testosterona.

Nos últimos anos o consumo de drogas tem aumentado muito entre a

população jovem brasileira. A precoce relação do jovem com as drogas pode

ser constada em diversos trabalhos registrados na literatura. Os vários fatores

que apontam para o aumento da distribuição e do consumo em nosso país

encontrem um quadro psicossocial do jovem, que busca fugir da realidade, em

busca do prazer rápido e fácil.

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CAPITULO II

DESCRIMINALIZAÇÃO

... Get up, stand up!

Stand up for your rights! Get up, stand up!

Don't give up the fight! (Life is your right!)

Get up, stand up! (So we can't give up the fight!)

Stand up for your rights!

Get up, stand up! (Keep on struggling on!)

Don't give up the fight!

We sick an' tired of-a your ism-skism game -

Dyin' 'n' goin' to heaven in-a Jesus' name, Lord.

We know when we understand:

Almighty God is a living man.

You can fool some people sometimes,

But you can't fool all the people all the time.

So now we see the light (What you gonna do?),

We gonna stand up for our rights!

Get Up Stand Up – Bob Marley

O tema das drogas ganha cada vez mais espaço nos debates públicos.

Pois sempre as drogas estiveram presentes na historia da humanidade, sendo

licitas em alguns momentos e ilícitas em outros, esses períodos podem ser

considerados como ciclo da droga, conceituado como período sócio-histórico,

tempo-dependente, no qual uma nova droga ou um modo ‘inovador’ de

utilização de uma droga é introduzido e adotado por grande número de

pessoas. Seu uso institucionaliza-se em certos segmentos da população

(FERREIRA,1994).

Atualmente diferentes tipos de drogas psicoativas vêm sendo utilizadas

dentro de uma gama de finalidades desde um uso lúcido com fins prazerosos

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até o desencadeamento do estado de êxtase, uso místico ou curativo ou no

contexto científico na atualidade. O experimento e o uso dessas substâncias

crescem de forma desordenada em todos os segmentos no país (SENAD,

SENASP, 2008).

De acordo com dados levantados pelo Escritório das Nações Unidas

Contra Drogas e Crime (UNODC, 2009), apontam que, no mundo todo, cerca

de 200 milhões de pessoas quase 5% da população entre 15 e 64 anos

consome drogas ilícitas pelo menos uma vez no ano. Dentre as mesmas, a

mais consumida é a maconha.

Deste modo o abuso de drogas vem conquistando cada dia mais a

atenção das pessoas, porque é um problema disseminado mundialmente e que

começa a preocupar e a atingir a todos de modo tanto direto quanto

indiretamente. Hoje em dia é comum a discussão do tema em reunião de pais e

educadores, entre os profissionais da área da saúde e mesmo na imprensa em

geral. Uma das questões mais preocupantes no que diz respeito ao abuso de

drogas é o fato de estar atingindo progressivamente as camadas mais jovens

da população. Embora o problema exista também entre os adultos e seja,

também neste caso, alarmante, preocupa por interferir no desenvolvimento

físico e psicológico do individuo (PALMA, 1988).

Com a polêmica que o debate sobre as drogas causam poderíamos

imaginar que a sociedade sempre reagiu de uma maneira eficiente ao longo do

tempo. No entanto ao decorrer da história, a sociedade não tem avaliado

corretamente os usos de uma nova droga, ou uma nova maneira de usar a

velha droga (LARANJEIRA, 2007).

Desta forma observa-se um paralelo entre a violação do tabu, expressa

pelo uso de drogas para busca de prazer, e o caráter de exploração recebido

pelo usuário, principalmente ao tornar o uso compulsivo, fazendo a pessoa

sentir-se castigada pela própria droga, como uma forma clara de vingança pela

violação do tabu.

O uso indevido das drogas tem sido tratado, atualmente, como uma

questão de ordem internacional, objeto de mobilização organizada das nações

em todo mundo. Os seus efeitos negativos afetam a estabilidade, ameaçam

valores políticos, humanos, culturais, e sociais e infligem consideráveis

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prejuízos aos países, contribuindo para o aumento dos gastos com tratamento

médico e internação hospitalar, aumentando o índice de acidentes de trabalho,

de transito, da violência urbana e de mortes prematuras (CARLINI et al, 2001

p.889).

Portanto em nosso país pode se concluir que saúde nunca foi prioridade,

pois o abuso de drogas é também um problema de saúde. E a indiferença com

que à saúde é tratada nos leva a tal constatação (VIZZOLTO, 1992 p.67).

Vimos que a ação policial na repressão, por mais esforços que venham

fazendo, parece fora do alcance de determinadas situações relacionadas ao

trafico. Não queremos nos deter na ação policial nem mesmo nos órgãos

encarregados da fiscalização das drogas, talvez acreditemos que a prevenção

é a estratégia mais eficaz para o problema do abuso e uso indevido de drogas.

Mas também é de suma importância que se faça cumprir a legislação em

relação à produção, á comercialização, ao trafico e é a fiscalização de drogas.

Ao longo dos últimos anos é crescente entre a sociedade civil, meios de

comunicação, política e no âmbito da saúde a reinvindicação do debate sobre a

descriminalização e ou legalização das drogas entorpecentes em nosso país.

Ultimamente, no Brasil, por meio da mobilização social vimos

constantemente manifestações de apoiadores, simpatizantes, e coletivos nas

ruas das principais capitais como a Marcha da Maconha exigindo das

autoridades políticas um debate sobre este assunto. Estas manifestações

podem diferir individualmente quanto as suas intenções, tais como uso

medicinal da cannabis, autonomia para indivíduos que fazem uso recreativo,

bem como combate a violência e o tráfico, mas é unânime ao exigir que este

assunto seja discutido mais amplamente. Antes tida como tabu, essa discussão

hoje se faz necessária.

Frente a essa organização da massa este mesmo assunto tem sido para

muitos um slogan bastante atrativo em suas campanhas políticas. Discursos

destituídos de seriedade e aprofundamento da questão são vistos com

facilidade pautando campanhas eleitorais ou eleitoreiras.

Diante do exposto a quem serve o modelo atual de repressão as

drogas? A quem servirá a descriminalização?

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Países como Portugal, Inglaterra, Holanda, e ultimamente o Uruguai e os

EUA vivem experiências de descriminalização.

Segundo Marcelo Niel o Brasil em 2006, [...] aprovou a Lei no 11.343,

que promoveu diversas mudanças nas políticas públicas relacionadas às

drogas, o que foi considerado um avanço no cenário nacional e mundial,

porque descriminalizou “parcialmente” o uso das drogas, como uma forma de

discriminar aquele que é usuário de drogas, seja ele dependente ou não do

traficante, deixando o usuário a cargo do sistema de saúde, sendo

encaminhado para orientação e tratamento, enquanto a Justiça se encarrega

do traficante.

O ordenamento jurídico brasileiro inovou o tratamento aos usuários e

dependentes de drogas com a criação da Lei 11.343 de 23 de agosto de 2006,

revogando leis anteriores relacionadas às drogas, como as leis 6368/76 e

10.409/02.

No que se refere ao traficante de drogas o seu tratamento criminal se

tornou mais rigoroso, já no tocante ao usuário e dependente de drogas a lei

buscou uma forma de resgate, propiciando tratamento terapêutico ao usuário e

ao dependente.

DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS Art. 3o O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com: I - a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas; II - a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas. Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. § 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

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§ 2o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente. § 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses. § 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses. § 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas. § 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a: I - admoestação verbal; II - multa. § 7o O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator, gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento especializado.

Conforme, o ensinamento de Andreucci (2010, p.643-644):

A Organização Mundial da Saúde adotou, segundo informes contidos em

publicação da Secretaria Nacional Antidrogas – SENAD (Um guia para a

família), a seguinte terminologia, no que se refere a drogas: Experimentador:

pessoa que experimenta droga, levada geralmente por curiosidade. Aquele que

prova a droga uma ou algumas vezes e em seguida perde o interesse em

repetir a experiência. Usuário ocasional: pessoa que utiliza uma ou várias

drogas quando disponíveis ou em ambiente favorável, sem rupturas (distúrbios)

afetiva, social ou profissional. Usuário habitual: pessoa que faz uso frequente,

porém sem que haja ruptura afetiva, social ou profissional, nem perda de

controle. Usuário dependente: pessoa que usa a droga de forma frequente e

exagerada, com rupturas dos vínculos afetivos e sociais. Não consegue parar

quando quer (grifo acrescentado).

A descriminalização é um tema que envolve questões referentes à

saúde e segurança e estudos mais recentes do Escritório das Nações Unidas

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sobre Drogas e Crime como o documento “da coerção à coesão: tratamento da

dependência de drogas por meios de cuidados em saúde e não da punição”

indica que o modelo opressor tem pouco ou nenhum resultado sobre a redução

do uso de entorpecentes e no caso do Brasil ainda leva o aumento da

população carcerária.

“Este documento descreve um modelo de referência que sai do sistema de justiça penal para o sistema de tratamento e que seja mais eficaz do que o tratamento compulsório, o que resulta em menos restrição da liberdade, é menos estigmatizante e oferece melhores perspectivas para o futuro do indivíduo e da sociedade”. (UNODC,2009, p.4)

Diante do exposto cabe-nos definir alguns conceitos utilizados na

discussão da descriminalização de drogas ilícitas:

Entende-se por descriminalização como a exclusão do caráter de

infração penal da conduta considerada como crime, ou seja, uma conduta tida

na lei penal como crime deixa de ser considerada delituosa.

A legalização da droga viabiliza a venda lícita da substância

entorpecente, isto é, a venda controlada e a permissão para o cultivo

doméstico.

Em uma simplificação a descriminalização trata de um comportamento

individual com consequências no âmbito social. Já a legalização trata da droga

em si.

Parece fácil a solução, então: tratemos as drogas como tratamos o

álcool. Há muita pessoas que acreditam nesse ponto de vista dentre eles

economistas, médicos, políticos. Mas, para cada defensor, existe uma opinião

contrária. Afinal, ninguém sabe exatamente quais os efeitos da legalização: ela

jamais foi plenamente colocada em prática. Quais drogas poderiam ser

liberadas? O crime organizado e o tráfico perderiam força? O consumo

aumentaria? Como isso afetaria a sociedade?

Legalizar é, portanto, uma ideia tão sedutora quanto polêmica - existem

incertezas entre a nossa realidade e todos os benefícios que ela promete. Mas,

quando se discute drogas, há duas questões bem distintas. Uma coisa é o

debate sobre a proibição da venda. Outra coisa é condenar quem compra.

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Principais argumentos para proibição:

a) Consumidores de substâncias psicoativas podem causar danos e

sofrimento a outras pessoas;

b) O uso das drogas provoca aumento nos gastos com a saúde pública;

c) Os usuários de drogas são menos produtivos e têm maior chance de

morte prematura;

d) Os usuários de substâncias devem ser protegidos contra eles

mesmos, à medida que eles atuam de forma autodestrutiva;

e) O consumo das drogas é “contagioso”, ou seja, indivíduos usuários

podem “convencer” outros a experimentá-las.

Principais argumentos para legalização:

Segundo os defensores da legalização, algumas das consequências

abaixo seriam possíveis:

a) Reduzir a população penitenciária;

b) Prevenir muitos crimes relacionados ao consumo de substâncias, tais

como roubos, furtos e tráfico;

c) Desorganizar um dos principais pilares do crime organizado;

d) Redirecionar os esforços dos policiais no combate ao crime.

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CAPÍTULO III

A DESCRIMINALIZAÇÃO EM OUTRAS REALIDADES

Um fato a ser considerado quando se trata da descriminalização é de

que quase a totalidade das discussões sobre qual politica de drogas é a melhor

para ser adotada oscilou entre a defesa de políticas e leis de proibição total e a

legalização da maconha ou de outras drogas, muitas vezes, discutindo esses

conceitos sem referi-los a dados e informações de experiências concretas que,

eventualmente, poderiam ser classificadas em um ou outro tipo ideal. Isso, por

vezes, possibilita interpretações ambíguas sobre os diversos termos usados

nesses debates e demonstra uma preocupante falta de informação sobre a

realidade desses fenômenos, ocupando um espaço público que poderia ser

usado para debater políticas e estratégias mais adequadas a diferentes

realidades de consumo de drogas e suas especificidades.

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UMA ANÁLISE DE DUAS REALIDADES

BRASIL E HOLANDA

Em meio às polêmicas discussões sobre a legalização da maconha no

nosso país, nada mais interessante que apresentar a experiência de uma

sociedade cuja realidade, quanto aos efeitos e fatores que englobam esta

temática, é diferente da nossa.

Na década de 70, mais precisamente em 1976 a Holanda foi um dos

países precursores na tolerância do uso da maconha e outras drogas leves,

permitindo a venda e o uso destas drogas em lugares autorizados pelo

governo, conhecidos como “coffeshops” e clubes jovens.

De fato os holandeses não legalizaram a maconha, o que se passa é

que o governo passou a fazer a distinção dos entorpecentes em drogas leves

como a maconha e o haxixe e drogas pesadas como a cocaína, crack e

heroína. Admitindo a compra e o consumo das drogas ditas mais leves, por

pessoas maiores de 18 anos, onde não existem pena para os que compram até

5 gramas de maconha por dia em lugares preestabelecido os “coffeshops”,

criando uma pouco definida, na qual o usuário embora compre a droga em um

estabelecimento lícito não pode consumi-la em lugares públicos ou em

qualquer outro local, que não os permitidos pelo governo, nem muito menos

serem responsável pelo plantio da erva Cannabis Sativa.

A teoria do degrau foi rejeitada pela Holanda, pois foi por conta dessa

rejeição que o país tolerou o uso da maconha. Pois tal teoria entende que o

consumo de drogas leves serve de trampolim para que o usuário passe a

consumir drogas mais pesadas como, por exemplo, a cocaína, heroína e crack.

Diferente da Holanda, o Brasil acredita na teoria do degrau.

O governo holandês ao implementar esta política de controle das

drogas, ainda assim, não impediu que o tráfico existisse, sendo movimentado

pelas drogas pesadas, como a heroína e a cocaína, cujo comércio continua

proibido.

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Com essa facilidade de acesso à compra e ao consumo da droga, a

Holanda recebe “10 milhões de turistas que gastam 2,45 bilhões de euros.

Segundo uma agência europeia (...) a Cannabis, incluídos os derivados,

movimenta anualmente no mercado europeu de 12 a 24 bilhões de euros”.

Não foge do comum a circulação de pessoas tomadas pelos efeitos

alucinógenos das drogas na Holanda, porém estas pessoas não apresentam

nenhum risco, não abordando as demais, isto porque o governo investe em um

sistema de segurança com fiscalização, policiamento e sanções coercitivas,

como multas e recolhimentos, para usuários que extrapolem os limites da

conveniência. Ademais, conta com um sistema de saúde pública eficiente que

da assistência a quase toda população, e se necessário promove internações

obrigatórias em clinicas de reabilitação.

O Brasil possui uma extensão de 9.372,614 km², chegando a ser quase

do tamanho de toda a Europa, além de possuir uma população de 190.755.799

de habitantes, de acordo com o Censo Demográfico do IBGE elaborado em

2010. O Brasil possui uma grande extensão territorial, o que logo de início

compromete comparações com o território holandês, pois o menor estado

brasileiro é bem maior que a Holanda, sem esquecer as peculiaridades e falta

de controle das fronteiras brasileiras, onde os traficantes bolivianos e

colombianos encontram facilidades de entrar com a droga no Brasil, devido a

enorme extensão da fronteira. Para se ter uma ideia, a falta de fiscalização do

nosso governo, o desmatamento da Floresta Amazônica, é motivo de

preocupação de todos ambientalistas, uma vez que temos 333 mil km2

desmatados, que significa 11 Bélgicas, e dois territórios iguais ao Reino Unido.

A Holanda possui uma economia extremamente forte, onde diversos

setores contribuem para o fortalecimento desta economia, como exemplo os

setores da pesca, transporte, comércio, bancos. O porto de Roterdã é

considerado o maior porto do mundo, além de ser um fácil acesso aos enormes

mercados da Alemanha e do Reino Unido. Possui também uma taxa de

desemprego com 3,7% de pessoas ativas fora do mercado de trabalho, sendo

amais baixa taxa entre os Estados membros da União Europeia.

Cabe aqui então um questionamento quanto ao preparo econômico do

Estado brasileiro que parece não estar apto a disponibilizar igualmente a todos

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os estados da Federação, técnicas de “fiscalização para plantio e venda da

droga”, como acreditam os que são a favor da legalização da maconha. O

problema não se resume na forma como se rege este assunto e na sua

descriminalização. Mas também, se há previsão legal para que as redes de

saúde pública assistam os dependentes químicos, forneça-lhes remédios,

implante casas de acolhimentos e invista em postos de saúde e

acompanhamento profissional.

Mesmo com todo o desenvolvimento econômico e cultural a Holanda

pensa em rever essa liberação, pois de acordo com pesquisas, metade dos

crimes ocorridos no país tem ligação com os entorpecentes, e o número de

presos triplicou nos últimos dez anos.

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A QUESTÃO DO URUGUAI

O Uruguai é o primeiro país do mundo a ter a maconha no mercado legal

de compra e venda. Neste país o uso da cannabis sativa se dá sem muita

cerimônia, pois o mesmo nunca foi criminalizado, porém, agora com nova lei e

a liberação, o usuário deverá realizar um cadastro, exigido pelo governo, para a

compra e/ou cultivo da droga e esse é o ponto mais polêmico dessa lei.

Segundo Julio Calzada, secretário-geral da Junta de Drogas esse

cadastro é completamente sigiloso, protegido por uma lei já existente de dados

sensíveis, mas as pessoas não sabem e informá-las sobre isso é um dos

nossos desafios.

Os detalhes sobre o funcionamento da carteirinha ainda não estão

regulamentados, mas a ideia é que ela seja usada para controlar a compra de

maconha na farmácia, legalmente.

Nesta nova etapa na qual o país se lançou os usuários uruguaios terão

duas opções para comprar a droga, a primeira opção é a mais comum, adquirir

através dos traficantes, a segunda opção é a realização do cadastro de forma

gratuita no Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (Ircca) e adquirir a

droga de forma legal, nas farmácias e sem necessidade de receita. A receita só

os usuários medicinais precisarão possuir. O usuário poderá adquirir qualquer

quantidade da droga dentro do limite permitido por lei, que são 40 gramas por

mês, e quem não tiver a carteirinha, menores de idade e turistas, não terão

acesso ao comércio legal. A outra possibilidade que o usuário uruguaio terá é o

cultivo, e há também limite imposto pela lei, o usuário poderá cultivar até 6

plantas por vez, em cada casa.

O governo comercializará uma maconha diferente do mercado negro,

terá em torno de 5 variedades com concentração de THC semelhante à que os

uruguaios estão acostumados, que é de 5% e terá a sua produção com

controle de qualidade, provavelmente orgânica, muito diferente da maconha do

mercado negro, que chega do Paraguai prensada e com mofo. O Uruguai será

o primeiro país no mundo a ter um mercado legal para a produção, a

distribuição e o comércio da maconha e essa reviravolta se deu no meio de

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uma onda inédita de violência, pois várias execuções ocorridas estavam

ligadas a disputas por pontos de venda de droga ou a dívida entre traficantes.

O motivo mais comum eram os “ajustes de cuentas”. Apesar de o país ter o

segundo menor índice de homicídios do continente, só perde para o Chile,

esses casos criavam uma sensação de insegurança muito grande no país. O

governo tinha que tomar uma medida drástica para conter essa onda de

violência, mas ninguém imaginava que a solução ousada encontrada pelo

presidente José “Pepe” Mujica seria a convocação de uma coletiva de

imprensa anunciando que o Poder Executivo encaminharia ao Congresso um

projeto para regulamentar a maconha e diminuir o poder do tráfico, que tem a

maconha como o seu principal fonte de receita.

“Havia um consenso de que a guerra às drogas adotadas em outros

países é um fracasso. Se queríamos diminuir o uso de drogas e combater o

tráfico de modo eficaz, precisávamos de outra estratégia”. Diz Diego Cánepa,

prosecretário da presidência da República Oriental do Uruguai, braço direito de

Mujica e espécie de chefe da Casa Civil.

Houve muita crítica, óbvio. O consumo vai aumentar, a percepção de

risco vai diminuir o tráfico não vai acabar, a maconha legalizada vai parar na

mão de menores e turistas e o pior foi a pesquisa de opinião realizada, que

mostrou que a maioria da população era contra o projeto de lei, mas o governo

estava decidido e foi mantido o processo.

Outra questão a ser combatida no Uruguai é o uso da pasta base de

cocaína, cujo uso dobrou entre 2005 e 2006. No país não existem cracolândias,

mas mesmo assim encontram-se jovens fumando a droga. Nessa região

violenta devido ao tráfico de drogas não existe favela, são conjuntos

habitacionais como os “pombais” do Brasil “los palomares”. Ao longo da década

de 2000, a disputa entre os cartéis mexicanos por rotas de drogas para os EUA

se acirrou, os traficantes colombianos passaram então a diversificar suas rotas

de distribuição da América do Sul, para fazer a cocaína chegar à Europa. A

passagem e o consumo de derivados de coca aumentaram em todo o

continente, inclusive no Uruguai.

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Daí surgiu os “ajustes de cuentas”, com execuções à luz do dia. A

novidade assusta os pacatos uruguaios, que antes só viam coisas assim nos

jornais brasileiros. O aumento desse tipo de violência está associado ao tráfico,

que rompeu códigos existentes dentro da própria criminalidade e a repressão

não solucionou esse problema em vários países.

Em diversos aspectos o problema é parecido com o do Brasil, como nas

cidades do Rio de Janeiro e São Paulo nos anos 80 e 90, quando houve o

surgimento das facções criminosas, Comando Vermelho e o Primeiro Comando

da Capital. A diferença está na solução proposta para o problema.

Enfraquecer os traficantes é um dos objetivos da lei, mas não é só isso,

a lei também pretende reduzir os danos associados ao consumo, e terá como

exemplo a separação no mercado da maconha e da pasta base, este que é

muito mais nocivo e viciante.

A lei também cria uma disciplina nas escolas, de educação sobre as

drogas, e prevê que o lucro obtido com o comércio legal seja usado em

campanhas de prevenção e educação, todas as cidades com mais de 10 mil

habitantes deverão ter centros de informação sobre drogas e assistência para

dependentes e, além disso, a regulamentação da maconha faz parte de um

conjunto de medidas polêmicas que o governo de Mujica colocou em prática

para ampliar as liberdades civis, como a legalização do aborto e do casamento

gay.

Um ponto crucial para a implantação dessa nova lei no Uruguai foi a

realização de vários debates e pesquisas. O governo organizou conferências

com especialistas em direito, política, economia e saúde de diversos países.

O Uruguai NÃO entrou na onda do “liberou geral”, a lei prevê que o

mercado legal da maconha não seja controlado por megacorporações

multinacionais, ao contrário, somente empresas uruguaias poderão explorar e

produção e a distribuição da droga 8e pelo menos uma dezena de licenças de

produção devem ser concedidas, para descentralizar a safra e o poder

econômico dos beneficiados, portanto o (Ircca) assessorará o Poder Executivo

e este irá controlar toda a cadeia produtiva, inclusive o preço, diferentemente

das pessoas que achavam que seria um livre empreendedorismo que costuma

atrair investidores bilionários e é a marca da legalização nos EUA

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A LIBERAÇÃO NOS EUA

Esta já é uma realidade nos Estados do Colorado e Washington e

o que impulsionou essa mudança de opinião pública em relação a cannabis foi

a aprovação do uso medicinal da droga, que emplacou em 19 Estados e no

distrito federal, começando pela Califórnia. Nos EUA não havia uma crise de

segurança como a que motivou a regulação no Uruguai, o tráfico de maconha e

de outras drogas, faz vítimas fora do país, no México, principalmente, então

para os ativistas o que mudou o ponto de vista das pessoas foi essa

aprovação.

Nos EUA, o processo que levou à legalização foi o oposto do que

aconteceu no Uruguai. No país latino-americano, a política mudou por iniciativa

do governo federal e contra a maioria da opinião pública. Nos dois Estados

norte-americanos as leis foram criadas por vontade popular. Ativistas redigiram

projetos de lei e recolheram as assinaturas necessárias para levá-los à votação

por plebiscito. E conseguiram aprová-lo com muito trabalho e graças a uma

mudança e tanto no ponto de vista da população de todo o país sobre a

maconha. Nos anos 80, o apoio público à legalização nos EUA era cerca de

20%, segundo o instituto de pesquisa Gallup. Em 2012, ano da eleição, o apoio

nacional à medida já era de 48% e, no ano passado, esse índice chegou ao

auge de 58%.

O uso medicinal afetou especialmente a saúde e a opinião dos

eleitores mais velhos. Muitos deles passaram a tratar dores e doenças com

maconha, e o medo e a incompreensão associados à droga começaram a

desaparecer.

Vale lembrar que os EUA são os pioneiros da demonização da

cannabis. O governo federal a colocou na ilegalidade com o Ato da Taxa da

Maconha, em 1937, um ano depois do icônico Reefer Madness mostrar nos

cinemas como a erva levava a uma espiral de crimes, violência e loucura.

Desde então, as campanhas antidrogas em escolas tratam a droga como uma

substância tão pesada quanto a heroína e a cocaína e essa percepção persiste

em grande parte da sociedade.

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Mesmo com corações mais abertos pelo uso medicinal, era

preciso convencer as pessoas, racionalmente, de que valia a pena regular a

maconha da mesma forma que o álcool e o tabaco. As diferenças de

abordagem entre campanhas dos dois Estados mostram que não existe uma

regra de ouro, mas é preciso bastante trabalho e um bocado de dinheiro para

investir em publicidade.

Mas o principal mote das campanhas foi mesmo econômico,

alardear que a legalização daria uma levantada nas contas. A lei aprovada em

Washington prevê impostos de 75% sobre a venda e a produção da maconha,

no Colorado ela será de 25%, o governo estima que a venda de maconha vá

lhe render US$ 400 milhões por ano em novos impostos, fora uma economia

de até US$ 60 milhões com segurança. Dá para bancar todas as despesas

anuais do Estado com o poder judiciário (US$ 300 milhões) e com o legislativo

(US$ 155 milhões).

Acima das diferenças, a experiência dos dois Estados tem em

comum seu potencial para colocar a guerra às drogas em xeque dentro do

próprio país que a fundou. Em 2012, 750 mil pessoas foram presas por

maconha e mais um outro montante foi assassinada pelo mesmo motivo. Tudo

porque é um negócio ilegal, com a esperança de que a política mude seu foco

sobre a repressão para o tratamento.

A batalha ainda não está vencida e promete ser longa, a maior

preocupação diz respeito ao consumo, especialmente entre jovens, se ele

aumentar muito a lei pode perder apoio entre camadas importantes da

população. A crise entre a lei federal e a lei estadual também atrapalha os

negócios, pois não há regras claras para atender o setor.

Enquanto essas coisas não se resolvem, e antes mesmo de ver

os resultados de Washington e Colorado, outros Estados já se mexem para

seguir o exemplo. Uma iniciativa similar foi criada no Alasca, foi angariado 45

mil assinaturas, 15 mil a mais que o necessário, para ser votada nas eleições

locais. Outros ativistas de outras seis unidades da federação também redigem

projetos de lei, planejando levar seus plebiscitos às urnas em 2016. Aos

poucos, a autonomia dos Estados pode acabar com a proibição nos EUA.

Jurisprudência não falta. A proibição foi instalada assim. Em 1911,

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Massachusetts baniu a maconha, e foi seguido por diversos Estados, até o

governo central fazer o mesmo em 1937, seguindo a tendência. Foram 26 anos

de intervalo. Agora o processo reverso poder ter começado, se ele se

completar, será uma verdadeira implosão da guerra às drogas.

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NOS QUATRO CANTOS DO MUNDO

Apesar proibida há mais de 50 anos, a maconha é produzida e

consumida em quase todo o mundo, cerca de 180 milhões de pessoas usam

maconha ou haxixe a cada ano, segundo a ONU, e essa conta deve ser ainda

maior, porque se sabe que parte dos usuários não admite o que consome nas

pesquisas sobre o consumo dessa droga e de outras. Como ela é proibida,

muita gente prefere não arriscar a falar a verdade, mesmo sob promessa de

confidencialidade dos entrevistadores.

Em 2009, a ONU estimou a produção global entre 13 e 61 mil

toneladas, na realidade um chute de tão impreciso. A margem de erro grande

tem dois motivos principais: um é a variação de produtividade, dependendo do

clima e das técnicas de produção, a colheita varia de 5 a 17.500 quilos por

hectare. O outro motivo é o fato de a maconha se produzida em qualquer lugar

habitado do mundo, ao contrário da cocaína e do ópio. Hoje é possível plantá-

la indoor até na Antártica, basta ter eletricidade para ligar uma lâmpada. Não é

por acaso que 172 países e territórios plantam maconha, de um total de 197.

Sobre os outros não há dados.

A onipresença das plantações de maconha explica por que ela não é tão

importante para o tráfico internacional, na maioria das regiões, o risco de

atravessar uma fronteira com a erva não compensa, já que os vizinhos

geralmente plantam a sua.

De acordo com a UNODC (2009) a maconha é a droga mais utilizada no

mundo, com cerca de 180 milhões de usuários, seguido pelas anfetaminas,

com 34 milhões, em seguida os opioides, com 32 milhões, o Ecstasy com 19

milhões e por último a cocaína, o crack e os opiáceos, como 17 milhões de

usuários.

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CONCLUSÃO

“... os limites entre drogas lícitas e ilícitas não são absolutos, mas flutuantes e sujeitos à relatividade cultural e histórica” (Richard Bucher – “Drogas e Drogadição no Brasil”)

O consumo de substâncias psicoativas sempre esteve presente na

história da humanidade e substâncias que anteriormente foram lícitas hoje

figuram como ilícitas, ao mesmo tempo em que substâncias ilícitas em alguns

países são totalmente toleradas em outros.

Desta forma, o uso de drogas é um fenômeno global e a droga ilícita

mais amplamente consumida atualmente no mundo é a cannabis da qual é

usada a erva (maconha).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde 10% das populações

que vivem em centros urbanos de todo o mundo consomem abusivamente

substâncias psicoativas, trazendo consequências graves para a saúde pública.

Da mesma forma que uma pesquisa realizada pelo (CEBRID) Centro de

Informações sobre Drogas Psicotrópicas, há uma tendência mundial que

aponta para o uso cada vez mais precoce de substâncias psicoativas,

sendo que tal uso ocorre de forma cada vez mais pesada.

A UNODC, (2009) demonstra que os principais problemas relacionados

ao uso de drogas são: a demanda por tratamento a dependentes; as

emergências, principalmente devido à overdose; incidência de doenças como

AIDS, hepatite, etc.; além da mortalidade causada pelo crime e pela violência

relacionados ao tráfico.

Diante desta realidade entra em cena a questão da legalização ou

não da maconha. Esta discussão toma importância no cenário nacional uma

vez que vem colaborar com estratégias na construção e políticas públicas.

A realidade contemporânea tem colocado novos desafios no modo

como certos temas vêm sendo abordados, especialmente no campo da

saúde. A construção de normas para a saúde deve ser coletiva. Os

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modelos assistenciais devem ser revistos com o objetivo de suprir as reais

necessidades da população.

Até o momento, a quase totalidade das discussões sobre qual política de

drogas é a melhor para ser adotada oscilou entre a defesa de políticas e leis de

proibição total e a legalização da maconha ou de outras drogas, muitas vezes,

discutindo esses conceitos sem referi-los a dados e informações de

experiências concretas que, eventualmente, poderiam ser classificadas em um

ou outro tipo ideal. Isso, por vezes, possibilita interpretações ambíguas sobre

os diversos termos usados nesses debates e demonstra uma preocupante falta

de informação sobre a realidade desses fenômenos, ocupando um espaço

público que poderia ser usado para debater políticas e estratégias mais

adequadas das diferentes realidades de consumo de drogas e suas

especificidades. A princípio, esse fato poderia nos fazer imaginar uma ausência

de dados ou de pesquisas científicas que sugerissem outras formas de

controles dos eventuais riscos e danos causados pelo uso de maconha ou que,

ao menos, revelassem informações sobre as consequências das experiências

que utilizaram políticas de proibição total. No entanto, a profusão de relatórios,

produzidos por equipes multidisciplinares sob encomenda de governos

democraticamente eleitos, que são ignorados na elaboração das políticas

públicas sobre a matéria, torna esse caminho de análise muito difícil.

Cabe aqui nos perguntarmos qual o verdadeiro relacionamento entre o

consumo de substâncias psicoativas como a cannabis sativa e a criminalidade

em um universo com graves problemas sociais como no caso do Brasil?

Em um país que tem uma das piores distribuições de renda do mundo

vivencia-se estereótipos e mantém a exclusão, usuário de drogas, delinquente

apenado, entre outros, tais aspectos são agravados pela falta de investimento

em políticas públicas e pelo desrespeito aos direitos humanos dos cidadãos.

É comum que a violência produza efeitos de horror ou fascínio, porém

necessário se faz que esses fatos sejam assumidos como questão pública,

precisa-se revisitar e redefinir responsabilidade compartilhada, risco,

segurança, controle, redução de danos, leis antiproibicionistas e tráfico, entre

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outros. Estender essa reflexão para as políticas de tolerância zero no combate

à criminalidade ou em relação ao uso de drogas seria uma forma de não fazer

diferença entre o que pode ser um simples apelo de reconhecimento social

voltado à alteridade e o que realmente expõe ao risco.

Proibir com radicalismo não resolve o problema, aí está o maior dos

erros, diante de tanta complexidade, a proibição ultrarradical mais atrapalha do

que ajuda. Ela não impede que as pessoas usem drogas, porque é impossível

vigiar todo mundo o tempo todo. Por outro lado, cria uma infinidade de efeitos

colaterais indesejados. Por causa da proibição da maconha, surgiram

“inovações” no mundo das drogas, como o crack, desenvolvido por traficantes

em busca de substâncias mais discretas e com margem de lucro maior.

Também por causa dela a pesquisa tornou-se quase impossível e a ciência

parou de avançar, prejudicando muita gente. Deixamos de aprender com os

nossos erros, enquanto permitimos que criminosos enriquecessem com aquilo

que o Estado deixou de controlar. A proibição ultrarradical não apenas não

resolve o problema, ela cria vários novos problemas.

Hoje em 2014, está bem claro que fomos ingênuos nos últimos 40

anos. Ao contrário do que se supunha, a história não era simples, era

imensamente complexa, e não há soluções simples para problemas

complexos.

Segundo ensinam os especialistas nas ciências da complexidade,

o único jeito de controlar um sistema complexo é espalhar a inteligência pelo

sistema todo, em vez de acumulá-la no centro. Em outras palavras, jamais dará

certo um sistema inteiramente comandado pela ONU, com regras rígidas que

devem ser aplicadas de maneira idêntica no mundo todo, por meio dos seus

governos nacionais, pois cada país tem a sua própria realidade.

Os males causados pela maconha só serão diminuídos se cada

região do mundo aplicar em encontrar saídas locais para problemas locais.

Cada usuário precisa ser parte da solução. O governo federal não tem a

capacidade de proteger cada pessoa de cada possível mal que possa vir a ser

causado por cada variedade de maconha. Em vez disso, na Califórnia, por

exemplo, maconha é vendida com um rótulo bem detalhado, de maneira a

permitir que cada um proteja a si próprio.

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Aquela história simples na qual tanta gente acreditava quatro décadas

atrás desmoronou. E, em 2014, começaram a entrar em vigor no Uruguai e nos

Estados Unidos os primeiros sistemas realmente complexos para lidar com

essa questão complexa. Juntamente com as soluções que surgiram nos

últimos anos em lugares como a Holanda, a Espanha ou Portugal, esses novos

modelos se propõem a olhar para a questão de frente. É uma nova era

começando.

Tratar situações diferentes de forma diferente evita os equívocos que levam a

um destino fechado, tanto mais fixo quanto maior a falha nas abordagens e na

escuta das instâncias legais e de saúde, bem como do suporte de uma rede

Inter setorial, trânsitos que podem servir de apoio quando outras instâncias

estão fragilizadas.

A correlação drogas/prisão, pela inexistência de acesso dos apenados a

abordagens terapêuticas, aposta na ideia de que o aprisionamento é uma

solução. Retomar tais aspectos na prisão, considerando que o tratamento

penal deveria ter como princípio o respeito aos direitos humanos e de saúde,

significa trabalhar, com as equipes, o desenvolvimento de atividades

incorporadas ao cotidiano, que visem à autoestima, à redução de danos e a

autonomia.

Portanto, não há uma resposta simples para a questão da

descriminalização da maconha no Brasil. O debate está caminhando mas, é

necessária a aproximação das categorias em seus discursos.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

A Maconha 12

CAPÍTULO II

Descriminalização 15

CAPÍTULO III

A Descriminalização em outras realidades 22

CONCLUSÃO 33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 37

ÍNDICE 41