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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
GESTÃO DOS RISCOS ATUARIAIS NOS FUNDOS DE
PENSÃO
Leandro Oliveira Cordeiro
ORIENTADOR: Prof. Aleksandra Sliwowska
Rio de Janeiro 2016
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2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em (MBA em Finanças e Gestão Corporativa). Por: Leandro Oliveira Cordeiro
GESTÃO DOS RISCOS ATUARIAIS NOS FUNDOS DE
PENSÃO
Rio de Janeiro 2016
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pelas
oportunidades que me foram dadas na vida,
principalmente por ter conhecido pessoas
interessantes que me ajudaram bastante e
também por ter vivido fases difíceis, que foram
matérias-primas para meu aprendizado.
Agradeço aos meus pais, pois sem os quais não
estaria aqui e por terem me fornecido condições
para me tornar o profissional e Homem que sou.
Aos amigos pelo amparo da amizade, trocas e
motivações.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho especialmente a minha mãe,
Creusa, que hoje desfruta do melhor de Deus -
sua presença, pelas tantas e tantas provas de
grandeza e de amor por mim em toda sua vida.
Minha fé e alegria perdurarão frente às
tribulações, como me ensinou. A ti mãe, minha
prece silenciosa e meu eterno carinho.
Ao meu pai, Aldemir, que sempre esteve presente
me incentivando a estudar e vibrando junto
comigo a cada conquista.
A minha filha Geovanna e sua mãe Elisa pela
compreensão de minha ausência, ao longo do
curso, necessária para cumprir meus objetivos,
pelo amor que as tenho em meu coração.
5
RESUMO
Este projeto tem por objetivo identificar os principais riscos atuariais
aos quais os planos de benefícios administrados pelas Entidades Fechadas de
Previdência Complementar – EFPC estão expostos, bem como avaliar a
importância do gerenciamento de tais riscos para a garantia dos pagamentos
das obrigações atuariais dos fundos de pensão em relação aos seus
participantes. Também será apresentada uma visão geral da mensuração dos
passivos atuariais de fundos de pensão e resultados de análises de
sensibilidades quando da alteração das principais premissas atuariais utilizadas
na elaboração do fluxo atuarial.
Através dos resultados das observações será possível constituir um
m modelo de gerenciamento para facilitar a administração dos planos
previdenciários, permitindo um melhor controle dos riscos envolvidos. A partir
desse modelo, o gestor do fundo de pensão terá uma base para definir
mecanismos para um acompanhamento mais detalhado em relação ao risco
que a entidade estará exposta durante a gestão dos passivos atuariais, estes
que são variáveis aleatórias e não determinísticas e ainda representam em
geral uma reserva financeira substancial. Tudo isso é necessário para
preservar o equilíbrio dos planos previdenciários e honrar o compromisso de
pagamento dos benefícios até o último participante.
6
METODOLOGIA
A metodologia utilizada no desenvolvimento deste projeto foi,
basicamente, a bibliográfica, através de uma vasta pesquisa em livros, jornais,
revistas e textos publicados na internet.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
A PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR NO BRASIL 11
CAPÍTULO II
OS RISCOS ENFRENTADOS PELAS EFPC 14
CAPÍTULO III
RISCOS ATUARIAIS 17
CAPÍTULO IV
O IMPACTO SOBRE AS OBRIGAÇÕES DOS PLANOS POR AJUSTES DE
HIPÓTESES ATUARIAIS 29
CAPÍTULO V
GERENCIAMENTO DOS RISCOS ATUARIAIS 34
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA 40
ÍNDICE 41
ANEXOS 43
8
INTRODUÇÃO
Os fundos de pensão, também conhecidos como entidades fechadas
de previdência complementar, têm papel importante na economia de um país.
Na administração de planos de benefícios assemelhados aos da Previdencial
Oficial promovem aos empregados da empresa patrocinadora o bem-estar e a
manutenção da qualidade de vida após a perda da capacidade laborativa.
Para que seus objetivos sejam alcançados, é imprescindível que os
fundos de pensão realizem um acompanhamento rigoroso e sistemático dos
diversos riscos que envolvem seus ativos e passivos, que dentre esses
destacam-se o de longevidade e o retorno dos investimentos, ambos adotados
na elaboração dos cálculos atuariais.
Os riscos de longevidade estão relacionados à sobrevida dos
participantes de um plano de previdência, massa essa que deve ser
acompanhada ano após ano com o intuito de se observar se a esperança de
sobrevida da está efetivamente representada pelas tábuas biométricas
selecionadas para o cálculo das obrigações ou reservas matemáticas. Assim,
quanto maior a expectativa de vida dos participantes, maior será a obrigação
do plano para honrar o compromisso assumido com o pagamento dos
benefícios de aposentadoria.
Dentro desse contexto, garantir a solvência futura dos planos é o
grande desafio dos fundos de pensão, principalmente para aqueles que
administram planos de benefício definido. Torna-se cada vez mais necessário
investigar a incerteza relacionada principalmente às obrigações com o
pagamento de benefícios, pois flutuações no comportamento das expectativas
de vida dos participantes representam alto risco para o fundo de pensão, para
a patrocinadora e para os próprios participantes, por isso, recomenda-se a
utilização de novas ferramentas que venham proporcionar aos gestores
informações detalhadas e subsídios para a tomada de decisão.
9
As avaliações atuariais, obrigatórias nas entidades de previdência,
se destinam em mensurar os valores das obrigações dos planos
previdenciários bem como definir a forma de custeio necessário para o
pagamento dos benefícios prometidos, sobretudo nos planos de benefícios
definidos. Através dessas avaliações também é possível estimar o fluxo
esperado de pagamento de benefícios futuros baseados, dentre outras
premissas, nas probabilidades de vida dos participantes em cada ano futuro,
extraídas das tábuas de mortalidade utilizadas pelos planos de benefícios,
gerando as reservas matemáticas e os fluxos de caixas que representem a
saída de recursos até a completa extinção da massa de participantes do fundo
de pensão.
Entretanto, sabe-se que a esperança de sobrevida dos participantes
em cada uma das idades futuras não é uma variável determinística e sim
estocástica, por possuir característica aleatória, uma vez que não se sabe ao
certo até que idade cada indivíduo irá sobreviver. Portanto, qualquer modelo
que empregue um único valor de reservas matemáticas e um único fluxo de
caixa para o passivo atuarial seria pouco recomendado para uma avaliação
mais apurada dos riscos de um plano de benefícios. Metodologias que se
baseiam neste modelo acabavam por mascarar os riscos do plano. Elas
continuam sem incorporar qualquer forma de risco, em se tratando de
variações no fluxo esperado.
Com o desenvolvimento de programas computacionais para cálculo
e simulação atuarial deu-se início a uma nova era na mensuração e gestão de
riscos para os planos previdenciários. Surgiu, portanto, a possibilidade de
prever situações de margem de contingência ou de oscilação de riscos, tendo
como principal objetivo prevenir incertezas oriundas de variações aleatórias
nos fluxos futuros esperados de pagamento de benefícios.
No capítulo a seguir será apresentado um resumo sobre o mercado
de previdência complementar no Brasil e mais a frente, nos próximos capítulos,
será possível conhecer os principais riscos que podem impactar a
administração dos planos de benefícios oferecidos pelos Fundos de Pensão e
10
compreender que através da implementação de controles por meio de boas
práticas é possível mitigar esses riscos. Assim, esse projeto tem papel
relevante e espera contribuir para o gerenciamento e perenidade dos planos de
benefícios.
11
CAPÍTULO I
A PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR NO BRASIL
A previdência privada surge espontaneamente no país na década de
60 como forma de proteção social complementar para garantir renda
equivalente ao padrão de contribuição sem ocasionar descompasso nas contas
públicas. No Regime Geral de Previdência Social o sistema adotado é o de
repartição simples, também denominado “caixa”, em que as contribuições
vertidas pelos trabalhadores são destinadas ao pagamento dos benefícios
mensais dos inativos, estabelecendo uma solidariedade para a cotização do
sistema, o que estaria gravemente comprometido em razão do acelerado
envelhecimento da população, do aumento da vida média e do crescente
desequilíbrio da razão entre ativos e inativos.
A previdência privada, por sua vez, não sofreria desses riscos por
fundar-se na verdade previdenciária, com base no regime financeiro de
capitalização. Neste regime, as contribuições são direcionadas para uma
poupança (individual ou coletiva) que custeará futuramente o benefício do
respectivo segurado.
No Brasil a previdência privada é atendida por Entidades Abertas de
Previdência Complementar (EAPC) e Entidades Fechadas de Previdência
Complementar (EFPC). As EAPC são sociedades com a finalidade lucrativa
que visam instituir planos de pecúlios ou de rendas mediante a contribuição de
seus participantes e administram benefícios que se classificam em individuais,
quando acessíveis a quaisquer pessoas físicas e, em coletivos, quando tenham
por objetivo garantir benefícios previdenciários a pessoas físicas vinculadas,
direta ou indiretamente, a uma ou várias pessoas jurídicas contratantes. Nos
planos coletivos, diferente dos individuais, a empresa empregadora contrata o
plano, podendo custeá-lo integralmente, parcialmente ou, até, isentar-se disso.
As EFPC são constituídas como fundação ou como sociedade civil
sem fins lucrativos e visam a instituir planos privados de concessão de pecúlios
12
ou de rendas, de benefícios complementares ou assemelhados aos da
previdência social, mediante contribuição de seus participantes, dos
respectivos empregadores ou de ambos, sendo-lhes vedado qualquer tipo de
assistência aos beneficiários dos planos. Seu pressuposto inicial é a existência
de um vínculo entre uma coletividade específica e sua patrocinadora, entendida
como a pessoa jurídica que institui plano de benefício de caráter previdenciário
para seus empregados ou pessoas naturais que lhe sejam vinculados direta ou
indiretamente, podendo custear a totalidade do plano para o beneficiário ou ter
a complementação de contribuição por parte do empregado.
Ainda de forma inovadora, a Lei Complementar nº 109 de 29 de
maio de 2001 possibilitou a criação de pessoa jurídica, denominada
instituidora, de caráter profissional, classista ou setorial capaz de instituir para
seus associados ou membros planos de caráter previdenciário.
Dessa forma, as EFPC são criadas para o oferecimento de planos
de benefícios a uma coletividade específica com características comuns
relacionadas a patrocinadores ou instituidores, sendo que, em razão do
princípio da universalidade subjetiva, os planos devem ser ofertados
obrigatoriamente a todos os empregados dos patrocinadores ou associados
dos instituidores que, por sua vez, o adotam de forma facultativa.
Tendo em vista que esse estudo abordará como exemplos, para
demonstrar a inerência dos riscos, os tipos de planos nas modalidades de
Benefício Definido e Contribuição Variável, será comentado, de forma
resumida, o conceito de cada tipo de plano, inclusive o de Contribuição
Definida, que não é o foco deste estudo, pois não agregam riscos em sua
administração por tratar de planos puramente financeiros.
Planos de Benefício Definido - No Art. 2º da Resolução MPS/CGPC
Nº 16, de 22 de novembro de 2005, normatiza que o plano de benefício de
caráter previdenciário na modalidade de benefício definido, é aquele cujos
benefícios programados têm seu valor ou nível previamente estabelecidos,
sendo o custeio determinado atuarialmente, de forma a assegurar sua
concessão e manutenção.
13
Plano de Contribuição Definida - É aquele cujos benefícios
programados têm seu valor permanentemente ajustado ao saldo de conta
mantido em favor do participante, inclusive na fase de percepção de benefícios,
considerando o resultado líquido de sua aplicação, os valores aportados e os
benefícios pagos.
Plano de Contribuição Variável - Art. 4º da Resolução CGPC nº
16/2005, define com sendo aquele cujos benefícios programados apresentem a
conjugação das características das modalidades de contribuição definida e
benefício definido.
Interessante salientar que os planos BD e CD são benefícios
significativamente diferentes. A generalização grosseira frequentemente ouvida
de que o diferencial é o risco, pois “nos planos BD o risco é da empresa e nos
CD o risco é do participante” não é a expressão exata da verdade, visto que o
participante também compartilha deste risco no plano BD, além do que, em
ambos os planos este risco pode ser aferido e mitigado através de uma gestão
eficiente, não devendo se constituir, portanto, no diferencial central dos dois
modelos, mesmo sendo um elemento importante a ser considerado em ambos.
Melhor ou pior, mais caro ou barato, não são afirmações que, a meu ver,
possam ser feitas em relação a nenhum dos dois, já que os custos, tanto de um
quanto do outro, dependem do tamanho e da abrangência do benefício que se
pretende oferecer e o conceito de melhor ou pior depende basicamente da sua
adaptação ao perfil do público que dele fará uso.
Pagar benefícios de forma segura até o último participante é o
objetivo de todas as entidades, mas não é tarefa fácil, pois as obrigações
assumidas são de longo prazo, período esse que as entidades precisam
implementar controles para enfrentar os diversos tipos riscos que podem
comprometer a solvência dos planos.
14
CAPÍTULO II
OS RISCOS ENFRENTADOS PELAS EFPC
Lustosa e Silva (2003, p. 765) afirmam que “[...] o maior risco para
um fundo de pensão é não ter recursos para fazer face aos seus compromissos
e deixar de pagar benefícios.”
Paz (2001, p. 140) enumera as razões pelas quais os fundos de
pensões se tornam incapazes de pagar suas dívidas:
� Cobrança de contribuições inconsistentes com os
compromissos assumidos;
� Ocorrência de mortes, entradas em invalidez e
sobrevivências de participantes em discrepância com as
previstas nas tábuas biométricas;
� Aplicações em investimentos que não proporcionem
rentabilidades no mínimo iguais à taxa de juros atuarial
utilizada;
� Aplicações de recursos que não atendem às
necessidades de liquidez de uma entidade.
A cobrança de contribuições inconsistentes com os compromissos
assumidos é decorrência direta da inadequação das premissas atuariais, como
taxa de juros e tábua biométrica, nos planos na modalidade de benefício
definido. Já na modalidade contribuição variável, as premissas atuariais
afetarão o valor do benefício mensal e, consequentemente, da provisão de
benefícios concedidos. O último tópico mencionado por Paz está relacionado
ao casamento entre o vencimento das aplicações (ativo) e o prazo das
obrigações no (passivo).
Os riscos atuariais podem ser definidos como o risco decorrente do
uso de metodologias que se mostrem inadequadas, adoção de premissas
15
atuariais que não se confirmem ou que se revelem agressivas e pouco
aderentes à massa de participantes. Assim, podemos classificar como
principais riscos que impactam de forma mais acentuada os modelos
matemáticos utilizados nos cálculos e projeções atuariais: biométrico, mercado,
liquidez e operacional, que serão apresentados com mais detalhes no próximo
capítulo, mas antes, vamos conhecer outro risco, que não é menor, relacionado
a demandas judicias.
Ao assinar um plano de previdência, os participantes firmam um
Contrato Previdenciário e a partir deste momento passam a depositar
mensalmente, junto com a empresa patrocinadora, recursos que vão garantir
uma aposentadoria complementar segura no futuro.
Observando a enxurrada de interpelações judiciais promovidas
contra os fundos de pensão e as sentenças destes processos decorrentes,
chega-se facilmente à conclusão de que Judiciário, participantes, assistidos,
advogados e sociedade não entendem o conceito nem as relações jurídicas
inerentes ao Contrato Previdenciário.
O volume crescente das demandas das ações judiciais movidas
contra as EFPC podem provocar desequilíbrio do Plano, que mesmo
superavitários podem se tornar insolventes no futuro, na medida em que a
entidade seja obrigada a assumir um compromisso que não estava previsto
inicialmente no regulamento do plano e, ainda, sem a constituição de reservas
ou recursos necessários para sua garantia - o que acaba gerando déficit.
O equilíbrio do plano, ponto fundamental de todo Contrato
Previdenciário, é defendido por Luiz Carlos Cazetta:
"Em situações ordinárias, não pode o participante pleitear
reajuste de seus benefícios em desacordo com o regime
expressamente previsto no plano e sem a devida
formação de reservas para tanto, sob pena de dar causa
a desequilíbrio atuarial e econômico-financeiro do plano
de que participa em conjunto com outras pessoas".
16
Presente o princípio do mutualismo, quaisquer superávits ou déficits
apresentados pelo plano de benefícios serão distribuídos ou suportados pelo
conjunto de seus participantes, inclusive assistidos, sob a forma de redução ou
elevação dos níveis dos benefícios ou majoração ou diminuição do valor das
contribuições contratadas, na forma prevista no regulamento. Significando que,
muitas vezes, aqueles que demandaram judicialmente e venceram causas
evidentemente atentatórias ao Contrato aqui defendido terão que suportar
também o rateio das despesas, através, por exemplo, do aumento de
contribuições.
Segundo Adacir Reis, advogado e coordenador do Centro de
Estudos Jurídicos da Previdência Complementar (Cejuprev), em entrevista
divulgada no Diário dos Fundos de Pensão, litigar contra o fundo de pensão, à
revelia do regulamento, é como dar um tiro no pé. Havendo déficit no plano,
todos serão obrigados a pagar a conta, prejudicando, inclusive, os próprios
beneficiários da pessoa que moveu a ação. “Isso porque, se o fundo for
condenado a bancar o que não está no contrato, haverá déficit e, pela lei, todos
serão chamados a pagar a diferença da conta”, ressaltou.
Esse compromisso adicional, não previsto em contrato, exige grande
esforço dos fundos de pensão no sentido de garantir a estabilidade de seus
planos e de seus patrimônios, pois acarretam um aumento no pagamento dos
benefícios, refletindo diretamente no resultado dos investimentos, já que é um
compromisso adicional não previsto, que deve ser equacionado com recursos
dos planos, prejudicando a todos os participantes, se expondo ao risco de
ameaçar sua própria aposentadoria.
Para um melhor entendimento dos riscos até aqui relacionados, no
próximo capítulo serão apresentados detalhes sobre as premissas atuariais
adotadas para cálculo das obrigações dos planos de benefícios administrados
pelos fundos de pensão, que representam um conjunto de estimativas de
natureza demográfica, biométrica, econômica e financeira que, durante o
período futuro considerado, espera-se que se realizem com bom nível de
segurança.
17
CAPÍTULO III
RISCOS ATUARIAIS
O risco atuarial pode ser definido como o risco decorrente da adoção
de premissas atuariais que não se confirmem, ou que se revelem agressivas e
pouco aderentes à massa de participantes ou do uso de metodologias que se
mostrem inadequadas. No caso das entidades fechadas de previdência
complementar, as premissas atuariais são utilizadas nos cálculos do valor das
contribuições (na modalidade de benefício definido), do benefício (modalidade
de contribuição variável com benefício na forma de renda) e das provisões
matemáticas de benefícios (nas duas modalidades).
Nos próximos tópicos desse estudo serão comentadas as principais
bases técnicas utilizadas nos cálculos atuariais, que por sua realização, ao
longo do tempo, de forma bem diferente da prevista, acarreta em riscos ao
plano e ao fundo de pensão que o administra.
3.1. Variáveis utilizadas pelos fundos de pensão
3.1.1. Tábuas Biométricas
É o instrumento que mede a expectativa de vida e de morte dos
participantes ou a probabilidade de um participante se invalidar. Como não se
tem certeza do tempo que cada participante irá receber o benefício, o cálculo
atuarial baseia-se em experiências biométricas pré-calculadas. A mesma lógica
aplica-se quando se trata de estimar as expectativas dos participantes em se
aposentarem, se invalidarem ou falecerem.
3.1.2. Tábua de Mortalidade Geral
Em função de dados escassos ou pouco fidedignos dos registros
populacionais, os fundos de pensão tomam emprestadas essas tábuas
americanas para estimação da probabilidade de sobrevivência, por conta,
18
principalmente, da inexistência de tábuas de mortalidade aplicável ao mercado
de previdência privada no Brasil.
À medida que a expectativa de vida da população segurada
aumenta, o risco de longevidade fica mais acentuado. Segundo IBGE, houve
um aumento na esperança média de vida do brasileiro em 5,2 anos, passando
de 70 anos, apurado em 1999, para 75,2 nos anos atuais.
Existem inúmeras tábuas de mortalidade no mercado, mas pela
legislação brasileira em vigor, desde março de 2006, a tábua de sobrevivência
mínima permitida para estimativa de longevidade do participante assistido de
uma EFPC é a tábua AT-83, conforme extrato abaixo transcrito do
Regulamento Anexo da Resolução CGPC nº 18, de 28 de março de 2006 que
estabelece parâmetros técnico-atuariais para estruturação de plano de
benefícios de entidades fechadas de previdência complementar, que a época
tinha a tábua At-49 como a mais representativa.
“(...)
2. A tábua biométrica utilizada para projeção da
longevidade dos participantes e assistidos do plano de
benefícios será sempre aquela mais adequada à respectiva
massa, não se admitindo, exceto para a condição de
inválidos, tábua biométrica que gere expectativas de vida
completa inferiores às resultantes da aplicação da tábua
AT-83.
2.1. No plano de benefícios em que é utilizada tábua
biométrica segregada por sexo, o critério definido neste
item deverá basear-se na média da expectativa de vida
completa ponderada entre homens e mulheres.
2.2. Caso a tábua biométrica adotada seja resultante de
agravamentos ou desagravamentos, estes deverão ser
uniformes ao longo das idades.
19
2.3. No plano de benefícios em vigor na data de publicação
desta Resolução, que adote tábua biométrica que gere
expectativas de vida completa inferiores às
correspondentes a aplicação da tábua AT-83, a EFPC
deverá promover implementação gradual ao disposto no
item 2, até 31 de dezembro de 2008.”
Para melhor ilustrar o impacto da tábua de mortalidade, vamos supor
o seguinte exemplo: um participante de um plano de previdência na
modalidade contribuição variável, ao atingir a idade programada para início de
recebimento de benefícios (60 anos), tem um fundo acumulado de R$
200.000,00. Supondo que ele irá receber seu benefício vitalício em forma de
renda, o valor mensal do benefício, conforme a tábua de mortalidade
considerando a taxa de desconto de 6% será:
Tábua de Mortalidade
Utilizada
Expectativa de Vida (anos)
Valor do Benefício Mensal (R$)
PMBC após 5 anos (R$)
AT 1983 22,12 1.347,81 174.192,03
AT 2000 23,14 1.320,86 176.167,55
Tabela 01 – Impacto das Tábuas de Mortalidade AT-83 e AT-2000. Elaboração do autor.
No exemplo anterior, caso a premissa de sobrevivência fosse a AT
1983, mas a expectativa de vida do participante fosse aderente a AT 2000, a
provisão de benefícios concedidos estaria subavaliada a partir do início da
percepção de benefícios pelo participante. Neste caso, assim que a EFPC
identificar a inadequação da premissa, deve constituir provisão de insuficiência
de contribuições equivalente à diferença entre o valor da provisão de benefícios
concedidos e o valor esperado de desembolso para pagamento de benefício.
3.1.3. Tábua de Mortalidade de Inválidos
A Tábua de mortalidade de inválidos visa basicamente medir a
probabilidade de sobrevida (expectativa de vida), em função da idade, de um
individuo que tenha entrado em invalidez. Apresenta as probabilidades de
20
morte de uma pessoa inválida. Por estes dados pode-se estimar, por exemplo,
a quantidade de benefícios que um aposentado por invalidez receberá.
Um fenômeno muito interessante quando se observa a massa de
inválidos de um plano é o de que a mortalidade de inválidos é forte nos
primeiros anos que seguem o início da invalidez, mas se torna ao final de
alguns anos inferior inclusive a mortalidade da população geral. Tal fenômeno
é geralmente associado ao tipo de vida regular que um inválido se adapta
plenamente se sobreviver aos primeiros anos que seguem o início da invalidez.
Em decorrência do exposto, muitas entidades já adotam para os
participantes inválidos a mesma tábua adotada para massa dos participantes
válidos, uma vez que os resultados de estudos de aderências dão base para
essa decisão.
A atualização periódica das hipóteses de mortalidade, necessária
para reduzir os riscos relacionados à sobrevivência, ainda é prática pouco
comum nos fundos de pensão brasileiros devido ao alto impacto financeiro nos
custos dos benefícios futuros de aposentadorias e pensões. Assim, a
substituição dessa premissa demográfica varia, segundo as condições
econômicas, em média de 8 a 10 anos. Soma-se a essa dificuldade a forma
paritária, pelo menos nos planos de benefícios patrocinados por sociedades de
economia mista e empresas públicas, de custeio e financiamento de prováveis
déficits decorrentes da modificação dessa hipótese.
3.1.4. Entrada em Invalidez
Trata-se de uma variável que indica o número de pessoas expostas
ao risco de invalidar antes de atingir a idade seguinte e que influencia o cálculo
das reservas matemáticas, principalmente para o benefício de aposentadoria
por invalidez. O conceito de invalidez vem se modificando muito ao longo dos
anos, e sua incidência deriva de características pessoais decorrentes da idade,
do gênero, da saúde física, da condição socioeconômica e dos riscos
relacionados ao trabalho.
21
Algumas tábuas de entrada em invalidez já refletem a experiência de
morbidez, ou seja, número de pessoas expostas ao risco de contrair doenças,
o que representa motivo de afastamento das atividades laborais por moléstia e
enseja, assim, o benefício temporário de auxílio-doença.
A população composta de pessoas ativas, além de estar sujeita a
decrementos resultantes de morte em atividade, está sujeita a outros
decrementos tais como a ocorrência de invalidez, onde o empregado perde
prematuramente a condição de continuar trabalhando.
Os decrementos por invalidez podem reduzir ou aumentar os custos
dos planos de um Fundo de Pensão. Se o plano não der cobertura a um
benefício de aposentadoria por invalidez, esses decrementos reduzem os
custos. Se o plano, ao contrário, prever cobertura do benefício de
aposentadoria por invalidez, esses decrementos elevam os custos.
3.1.5. Rotatividade
É o instrumento que mede a expectativa de desligamento do
participante do plano de benefícios, ou ainda, da desistência do plano.
A rotatividade ou o término do contrato de trabalho dos funcionários
com a empresa patrocinadora do plano de benefícios é uma premissa que deve
ser bem dimensionada e guardar relação direta com a movimentação dos
participantes dentro do plano, pois imprecisões nas estimativas dessa variável
têm efeitos expressivos sobre o volume financeiro das reservas matemáticas
desses planos de aposentadoria.
Há pouco tempo atrás, era prática comum nos fundos de pensão
brasileiros a adoção de hipóteses irreais para a rotatividade do plano de
benefícios, com o intuito de obter um menor custo das aposentadorias,
reduzindo, assim, o valor das contribuições, principalmente para as empresas
patrocinadoras, pois em planos que se adotam o mutualismo, o participante
não contribui para o seu próprio benefício e, sim, para um fundo coletivo, são
22
os planos BD, ou em planos CV, quando calculados os benefícios de riscos de
forma coletiva.
Ao desistir de permanecer no plano, o participante poderá optar pelo
resgate de suas contribuições que seriam para custear seu benefício
programado. Portanto, quando que se processam os cálculos atuariais do
plano de benefícios, o Atuário estima os participantes que irão desistir do plano
resgatando suas contribuições e os que receberão o benefício de
complementação de aposentadoria. Essa estimativa é feita com base em
experiência de entradas e saídas do próprio plano ou da empresa que o
patrocina através de uma tabela de rotatividade.
Caso o Atuário estima pagamento de benefícios para todos sem
utilizar uma tabela de rotatividade, ou seja, sem considerar as desistências que
ocorrerão, à medida que elas vão se realizando, teremos ao longo do tempo a
geração de sobras de recursos (superávit). Para não ocorrência desse fato, há
a necessidade de embutir nos cálculos atuariais a previsão de saída de
participantes com a respectiva substituição por um novo participante.
3.1.6. Capacidade dos Benefícios e Salários
A referida capacidade está relacionada ao poder de compra do
Salário ou do Benefício entre duas datas de reajustes, pois na data que são
efetivamente reajustados, sua capacidade é de 100%, porém à medida que se
distancia da data de reajuste, sofrem perdas (achatamentos) e com isso a
capacidade se reduz.
A referida capacidade é utilizada para estimar as perdas
inflacionárias decorrentes da inflação futura, de modo a determinar o valor real,
ao longo tempo, dos salários e benefícios. O cálculo desse fator de capacidade
consiste em converter todos os salários ou benefícios em moeda constante
num determinado período, por uma taxa de inflação.
Aplicando esse mecanismo nos cálculos atuariais reconhecemos as
sobras e as perdas no custo do plano e nas reservas matemáticas, de tal sorte
23
a nos aproximar da realidade. O fator de capacidade de benefício inferior a
100% reduz o custo de um plano, consequentemente o plano gastará menos.
3.1.7. Composição Familiar
Quando o plano de benefícios oferece o pagamento de pensões,
essa variável se torna importante na formação das reservas matemáticas, pois
à medida que se busca estabelecer uma família padrão associada a cada
idade, de modo que, para um participante de idade x, a sua composição
familiar é expressa como composta de cônjuge de idade y e filhos de idade z1,
z2 etc. Desta forma o encontra-se vinculado ao número de dependentes
vitalícios ou temporários da família do participante.
Não existe uma regra legal para os critérios de cálculo da renda de
pensão por morte nas entidades de previdência complementar, mas
observando alguns regulamentos de planos, observa-se que os fundos de
pensão têm adotado, normalmente, como critério dos planos de benefícios,
uma quota familiar de 50% do benefício do participante e 10% para cada
dependente limitada a 5 (cinco).
3.1.8. Idade de Aposentadoria
Essa variável é importante para o cálculo das reservas matemáticas
dos planos de benefícios. Quando os planos estabelecem as condições de
elegibilidade, eles fixam, normalmente, uma idade de aposentadoria combinada
com tempo de contribuição ao plano, inclusive com possibilidade de
aposentadoria antecipada. Quando o plano não prevê uma idade de
aposentadoria, presume-se, com base na análise estatística do grupo de
pessoas participantes do fundo de pensão, uma idade de saída do plano pelo
decremento aposentadoria, permitindo assim a mensuração das reservas
necessárias para pagamento dos benefícios futuros.
24
3.1.9. Benefício da Previdência Social
Tendo em vista o objetivo do fundo de pensão em oferecer um
benefício complementar, seja de aposentadoria ou pensão, ao benefício a ser
concedido pela previdência social, essa variável reflete diretamente nos custos
do plano, geralmente elevando esse custo, pois uma vez que o valor do
benefício da previdência oficial reduz, pode demandar uma maior necessidade
de reserva matemática, ou ainda, pelo seu aumento provocar uma redução das
reservas. Por isso, essa vinculação do benefício da entidade com o benefício
da previdência oficial corresponde a um risco ao equilíbrio atuarial e sugere,
assim, a necessidade de uma criteriosa gestão financeira e atuarial das
hipóteses demográficas e econômicas dos planos previdenciários.
3.1.10. Taxa de Juros e Retorno dos Investimentos
A taxa de juros tem grande impacto na determinação do custeio de
um plano de pensão, dado que ela representa a expectativa de retorno dos
investimentos no longo prazo. Logo quanto maior for a taxa utilizada, menor
será o passivo atuarial e o custeio do plano
A taxa de juros é uma das variáveis mais suscetíveis dentro do
modelo de custeio do fundo de pensão, haja vista envolver processos de
capitalização com períodos de até 60 anos, que vão desde a fase de
acumulação das reservas até o efetivo pagamento dos benefícios de
aposentadoria.
Todo sistema estruturado no regime de capitalização parte do
pressuposto da acumulação de capitais. Como hipótese, considera-se que
esses capitais irão ser aplicados no mercado financeiro e terão um retorno ou
uma rentabilidade real, acima da inflação, equivalente a taxa de juros adotada
nos cálculos atuariais.
Também é importante salientar que os recursos acumulados pelo
plano com finalidade de pagamento de benefícios também deverão ter uma
rentabilidade equivalente à taxa de juros adotada, assim, uma parte dos
25
compromissos será sustentada com os juros que o mercado financeiro estaria
proporcionando.
Lovisotto, Melo, Oliveira e Suaíde (2005, p. 60) advertem que “[...]
em um cenário de estabilidade econômica, com grandes chances de declínio
dos juros, necessariamente haverá aumento de risco se for desejada a
manutenção da rentabilidade.” Rodrigues apud Chan (2004, p. 88) também
chama a atenção para o risco de taxa de juros:
“No Brasil, consolidou-se, há muitos anos e na maioria
das entidades, a fixação da taxa de juros de 6% ao ano,
fazendo-a atingir o limite superior permitido,
proporcionando às entidades de previdência trabalhar
com o nível mínimo relativo de reserva. Se por um lado,
essa opção pode trazer algumas vantagens para o
equilíbrio atuarial do plano, visto que a necessidade
mediata de recursos se reduz, por outro lado, no longo
prazo, essa reserva mínima pode gerar um gap entre
passivos e ativos de difícil recomposição. A assunção de
altas taxas de retorno, como é o caso atual dos 6% ao
ano, pode expor os planos de benefícios a riscos pouco
suportáveis ao longo prazo.”
Como o ordenamento legal em vigor, previsto pelo órgão regulador
por meio da Resolução do CGPC n° 18, de 28/2006, limita a taxa máxima de
juros reais para projeções atuariais dos planos de benefícios em 6% a.a., a
redução da taxa de juros provoca uma elevação no custo estimado das
aposentadorias dos planos de benefícios e está relacionada com as condições
da política macroeconômica do país, que se traduz em aspectos quantitativos e
prudenciais na administração dos ativos financeiros do fundo de pensão.
Pugh, Colin, “a taxa de juros brasileira não é apropriada, pois uma
taxa tão alta quanto essa (6%) é insustentável, especialmente quando se
reconhece o longo prazo implícito nas obrigações do plano de pensão e nos
cálculos atuariais”.
26
O limite estabelecido na regulação é apenas um limite máximo e
nada impede que o patrocinador mais prudente utilize uma taxa de juros mais
baixa.
Muitos fundos têm optado por reduzir de maneira voluntária a sua
taxa de descontos. Por exemplo, o Conselho Deliberativo da Previ, decidiu
aprovar em janeiro de 2010, uma redução ainda maior da premissa referente à
taxa de juros utilizadas nos cálculos atuariais do Plano 1, PREVI Futuro e
Capec, baixando-a de 5,75% para 5,5% ao ano. A decisão foi acarretada pela
tendência de queda da taxa básica de juros da economia, que deverá afetar
negativamente o rendimento das aplicações em renda fixa do fundo.
O impacto da taxa de juros no montante de provisão de benefícios
concedidos pode ser mais bem visualizado com o seguinte exemplo: No cálculo
de um benefício do tipo CD, cujo valor mensal a ser pago em 240 meses
corresponde a R$ 1.000,00 se considerarmos que a taxa de juros será zero,
teremos que ter R$ 240.000,00 de recursos para sustentar o compromisso. Se
utilizarmos uma taxa de 6% a quantidade de recursos que deverão ser
aportado se reduzirá para R$ 141.384,00, pois a diferença para se chegar ao
total que será pago ao final (R$ 240.000,00) será obtida no mercado financeiro.
No plano BD adota-se o taxa de juros “pré-fixada” e no plano CD adota-se a
taxa “pós-fixada”. Nos planos BD promete-se o benefício sem que se tenham
todos os recursos necessários para sustentá-los.
A rentabilidade é fundamental para que esse sistema funcione
normalmente, pois caso não consiga o retorno esperado, certamente faltarão
recursos para honrar os compromissos. Também pode acontecer o contrário,
ou seja, a rentabilidade ser superior ao esperado e sobrarem recursos. Temos,
então a figura do déficit (insuficiências) e superávit (sobras), respectivamente.
Por isso, a escolha da taxa de juros para descontar o valor atual do
fluxo dos benefícios futuros deve ser cuidadosa e estar consoante com a
política de investimentos das contribuições recebidas e já capitalizadas. Desse
modo, a taxa de juros deve representar a expectativa da taxa de rentabilidade
27
dos ativos financeiros do plano no longo prazo, e não resultados de oscilações
no curto prazo.
3.1.11. Crescimento salarial e reajustes dos benefícios
É a hipótese que utilizamos para estimar a remuneração que o
participante terá na data da aposentadoria. É feito um estudo, partindo do
pressuposto que ao longo de sua participação junto ao plano de benefícios,
considerando que o mesmo poderá ter na patrocinadora, promoções,
vantagens ou achatamentos que ter um impacto positivo ou negativo na
remuneração que estaria recebendo na data da aposentadoria e esse efeito
estaria sendo repassado para o benefício.
É muito importante conhecer o salário do participante tanto na época
da aposentadoria, ou na concessão do benefício, como o comportamento dos
salários no período de atividade. As duas projeções devem ser feitas com base
nas informações cedidas pela patrocinadora, lembrando a normalidade da
patrocinadora não ceder essa política salarial ao atuário e, neste caso, ser
idealizados mecanismos para estimar o crescimento salarial da massa de
participantes.
De fato, a identificação do crescimento salarial fica mais fácil quando
a patrocinadora tem uma estrutura de cargos e salários e passa essa
informação. A dificuldade ocorre quando não se tem essa informação. Uma
forma de se conseguir uma primeira estimativa, apesar de ser um mecanismo
rudimentar e falho muitas vezes, ocasionando o risco dessa variável, seria
agrupar os participantes por faixa etária e salarial e tentar por ai identificar o
comportamento dos salários.
A fim de entender melhor a informação mencionada acima,
consideramos o seguinte exemplo: um participante de 20 anos de idade, em
média com um salário de R$ 620,00 e outro participante com 60 anos de idade,
com salário médio de R$ 1.488,00. Grosso modo, estaríamos estimando que o
participante de 20 ao chegar aos 60 aos teria um salário no valor ao
participante de 60 anos.
28
Desta forma, o participante de 20 anos teria um período de atividade
de 40 anos, com um crescimento, no período, de 140%, equivalente a 2,2% ao
mês.
3.1.12. Idade de Aposentadoria
Essa variável é importante para o cálculo das reservas matemáticas
dos planos de benefícios. Quando os planos estabelecem as condições de
elegibilidade, eles fixam, normalmente, uma idade de aposentadoria combinada
com tempo de contribuição ao plano, inclusive com possibilidade de
aposentadoria antecipada. Quando o plano não prevê uma idade de
aposentadoria, presume-se, com base na análise estatística do grupo de
pessoas participantes do fundo de pensão, uma idade de saída do plano pelo
decremento aposentadoria, permitindo assim a mensuração das reservas
necessárias para pagamento dos benefícios futuros.
Esses são os principais parâmetros que são utilizados pelos
gestores para dimensionar as obrigações atuariais dos fundos de pensão e, por
se tratarem de hipóteses adotados para estimar o longo do tempo, podem
apresentar-se de forma diferente ao que se esperava, provocando assim, risco
a solvência dos planos que administram. Nos próximos capítulos, serão
demonstrados exemplos de como a alteração de premissas podem impactar os
resultados, bem como apresentar mecanismos que podem ajudar a mitigar os
riscos e preservar a solvência dos planos.
29
CAPÍTULO IV
O IMPACTO SOBRE AS OBRIGAÇÕES DOS PLANOS
POR AJUSTES DE HIPÓTESES ATUARIAIS
Para demonstrar como a ausência de gerenciamento pode impactar
substancialmente os planos de benefícios, foram realizados estudos
considerando o ajuste de duas das principais hipóteses atuariais adotadas no
cálculo das obrigações de uma EFPC, posicionadas em 31/12/2015,
necessárias para garantir o pagamento presente e futuro do benefício
programado de aposentadoria em um plano de benefício definido e outro de
contribuição variável para os assistidos que optarem pela renda mensal
vitalícia:
Massa de participantes e assistidos:
INFORMAÇÕES GERAIS PLANO BD PLANO CV
1. Quantidade de Participantes Ativos: 40 1.115
2. Quantidade de Participantes Assistidos: 2.167 503
3. Salário de Participação Médio: R$ 3.168,08 R$ 4.636,53
4. Complementação Média de Aposentadorias: R$ 2.158,55 R$ 1.514,48
5. Complementação Média de por Invalidez: R$ 704,66 R$ 1.298,89
6. Complementação Média das Pensões: R$ 623,42 R$ 484,16 Tabela 02 – Dados dos participantes e assistidos da entidade analisada. Elaboração do autor.
Cenários para análise das alterações das hipóteses
Cenário Base: Hipóteses vigentes
HIPÓTESES ATUARIAIS (PLANOS BD E CV)
1. Taxa Real Anual de Juros: 6%
2. Crescimento Real de Salário: 2%
3. Crescimento Real dos Benefícios: 0%
4. Capacidade do Salário: 98%
5. Capacidade do Benefício: 98%
6. Hipóteses sobre Rotatividade: 0%
7. Tábua Mortalidade Geral segregada por sexo: AT-83
8. Tábua Mortalidade de Inválidos segregada por sexo: AT-49 + 6 Tabela 03 – Hipóteses atuariais utilizadas pela entidade. Elaboração do autor.
30
Cenários Simulados:
1. Redução da taxa de juros, mantidas as demais hipóteses.
� Cenário 1: para 5,75% a.a.;
� Cenário 3: para 5,5% a.a.;
� Cenário 5: para 5% a.a.. 2. Alteração da Tábua de Mortalidade conjugada com a redução da taxa de
desconto, mantidas as demais hipóteses.
� Cenário 2: tábua AT-2000 e redução da taxa de juros para 5,75%;
� Cenário 4: tábua AT-2000 e redução da taxa de juros para 5,5%;
� Cenário 6: tábua AT-2000 e redução da taxa de juros para 5%.
Nos quadros abaixo serão apresentados os impactos nas provisões
matemáticas e custos em cada um dos cenários em relação ao Cenário Base.
Plano BD
CONTA CENÁRIO BASE CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 Provisões Matemáticas 579.368.864,94 593.048.798,72 601.004.353,84 Benefícios Concedidos 568.935.974,79 582.333.501,51 590.267.052,55 Benefícios a Conceder 10.432.890,15 10.715.297,21 10.737.302,29 Patrimônio Líquido 511.509.443,32 511.509.443,32 511.509.443,32 Déficit Técnico (-) 67.859.421,62 81.539.355,40 89.494.910,52 Impacto - R$ - 13.679.933,78 21.635.488,90 Impacto - % - 2,36% 3,73% CONTA CENÁRIO BASE CENÁRIO 3 CENÁRIO 4 Provisões Matemáticas 579.368.864,94 607.356.530,74 615.801.054,42 Benefícios Concedidos 568.935.974,79 596.345.396,69 604.636.344,79 Benefícios a Conceder 10.432.890,15 11.011.134,05 11.164.709,63 Patrimônio Líquido 511.509.443,32 511.509.443,32 511.509.443,32 Déficit Técnico (-) 67.859.421,62 95.847.087,42 104.291.611,10 Impacto - R$ - 27.987.665,80 36.432.189,48 Impacto - % - 4,83% 6,29%
CONTA CENÁRIO BASE CENÁRIO 5 CENÁRIO 6 Provisões Matemáticas 579.368.864,94 637.895.673,06 647.138.079,62 Benefícios Concedidos 568.935.974,79 626.249.089,14 635.320.513,95 Benefícios a Conceder 10.432.890,15 11.646.583,92 11.817.565,67 Patrimônio Líquido 511.509.443,32 511.509.443,32 511.509.443,32 Déficit Técnico (-) 67.859.421,62 126.386.229,74 135.628.636,30 Impacto - R$ - 58.526.808,12 67.769.214,68 Impacto - % - 10,10% 11,70% Obs.: impacto em relação ao Cenário Base.
Tabela 04 – Impacto das alterações de hipóteses atuariais no Plano BD. (Elaboração do Autor)
31
Plano CV
CONTA CENÁRIO BASE CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 Provisões Matemáticas 174.562.471,38 176.782.626,83 177.920.330,10 Benefícios Concedidos 89.425.213,70 91.645.369,15 92.783.072,42 Benefícios a Conceder 85.137.257,68 85.137.257,68 85.137.257,68 Patrimônio Líquido 173.684.962,43 173.684.962,43 173.684.962,43 Déficit Técnico (-) 877.508,95 3.097.316,64 4.235.019,91 Impacto - R$ - 2.220.155,45 3.357.858,72 Impacto - % - 1,27% 1,92% CONTA CENÁRIO BASE CENÁRIO 3 CENÁRIO 4 Provisões Matemáticas 174.562.471,38 179.108.487,85 180.305.549,03 Benefícios Concedidos 89.425.213,70 93.971.230,17 95.168.291,35 Benefícios a Conceder 85.137.257,68 85.137.257,68 85.137.257,68 Patrimônio Líquido 173.684.962,43 173.684.962,43 173.684.962,43 Déficit Técnico (-) 877.508,95 5.423.525,42 6.620.586,60 Impacto - R$ - 4.546.016,47 5.743.077,65 Impacto - % - 2,60% 3,29% CONTA CENÁRIO BASE CENÁRIO 5 CENÁRIO 6 Provisões Matemáticas 174.562.471,38 184.089.704,59 185.417.635,23 Benefícios Concedidos 89.425.213,70 98.952.446,91 100.280.377,55 Benefícios a Conceder 85.137.257,68 85.137.257,68 85.137.257,68 Patrimônio Líquido 173.684.962,43 173.684.962,43 173.684.962,43 Déficit Técnico (-) 877.508,95 10.404.742,16 11.732.672,80 Impacto - R$ - 9.527.233,21 10.855.163,85 Impacto - % - 5,46% 6,22% Obs.: impacto em relação ao Cenário Base
Tabela 05 – Impacto das alterações de hipóteses atuariais no Plano CV. Elaboração do autor
Considerando que os Participantes do CV que optarem pela renda
mensal vitalícia terão seus benefícios calculados através da divisão do saldo de
conta acumulado pelo fator atuarial (transformação atuarialmente equivalente
ao saldo de conta), ilustramos a seguir a redução percentual do benefício de
aposentadoria estimado em cada um dos cenários para algumas possíveis
idades de aposentadoria.
Participante do sexo masculino casado (cônjuge quatro anos mais novo)
IDADE FATOR ATUARIAL CENÁRIO BASE
Redução % no valor do Benefício Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3
50 anos 188,3647 -2,91% -3,78% -5,80% 55 anos 180,0608 -2,72% -3,74% -5,42% 60 anos 169,7707 -2,50% -3,73% -4,99% 65 anos 157,0995 -2,27% -3,74% -4,52%
32
IDADE FATOR ATUARIAL CENÁRIO BASE
Redução % no valor do Benefício Cenário 4 Cenário 5 Cenário 6
50 anos 188,3647 -6,67% -11,52% -12,39% 55 anos 180,0608 -6,45% -10,76% -11,79% 60 anos 169,7707 -6,22% -9,91% -11,14% 65 anos 157,0995 -5,99% -8,99% -10,45%
Tabela 06 – Redução do valor do benefício em função das alterações de hipóteses atuariais no Plano CV para participantes do sexo masculino.
Cálculo do Fator Atuarial: ( ax(12) + 0,60 * (ay(12) - axy(12)) ) * 13 * 0,98 )
Onde:
0,60 = Percentual do benefício de pensão sobre o benefício de aposentadoria.
13 = número de parcelas de benefícios anuais.
0,98 = o percentual referente à hipótese de capacidade do benefício
y = resultado da diferença entre o valor de x (idade do participante) e quatro.
Participante do sexo feminino casado (cônjuge quatro anos mais velho)
Idade Fator Atuarial Cenário Base
Redução % no valor do Benefício Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3
50 anos 189,5495 -2,89% -3,28% -5,75% 55 anos 180,8621 -2,68% -3,17% -5,33% 60 anos 169,9656 -2,45% -3,07% -4,88% 65 anos 156,5733 -2,19% -2,96% -4,38%
Idade Fator Atuaria Cenário Base
Redução % no valor do Benefício Cenário 4 Cenário 5 Cenário 6
50 anos 189,5495 -6,15% -11,40% -11,81% 55 anos 180,8621 -5,83% -10,59% -11,09% 60 anos 169,9656 -5,50% -9,68% -10,31% 65 anos 156,5733 -5,14% -8,69% -9,46%
Tabela 07 – Redução do valor do benefício em função das alterações de hipóteses atuariais no Plano CV para participantes do sexo feminino.
Cálculo do Fator Atuarial: ( ax(12) + 0,60 * (ay(12) - axy(12)) ) * 13 * 0,98 )
Onde:
0,60 = Percentual do benefício de pensão sobre o benefício de aposentadoria.
13 = número de parcelas de benefícios anuais.
0,98 = o percentual referente à hipótese de capacidade do benefício
y = resultado do somatório entre o valor de x e quatro.
As simulações apresentaram os impactos das alterações de
algumas hipóteses atuariais, como a redução da taxa de juros e a alteração da
tábua de mortalidade geral por uma mais conservadora, sobre o volume
33
financeiro das reservas matemáticas dos benefícios de aposentadoria e
pensão, por meio da situação de referência (cenário base) dos planos de
benefício definido e de contribuição variável da entidade analisada.
Os impactos sobre as reservas matemáticas dos benefícios de
aposentadoria e pensão oferecidos pela EFPC, indicada nas simulações,
demonstra que no plano de benefício definido o efeito sobre as reservas
matemáticas de benefícios concedidos é bem maior que no plano de
contribuição variável, pois envolve o risco tanto na fase de acumulação de
recursos, quanto no estágio de pagamento dos benefícios aos participantes
assistidos.
O aumento nas reservas necessárias para garantia dos
compromissos da entidade aumenta ainda mais seu déficit já existente no
cenário base, elevando ainda mais o custo da dívida junto aos seus
patrocinadores, uma vez que o plano BD se encontra fechado a novas
inscrições desde a década de 90, tendo quase cem por cento da massa na
condição de assistido (recebendo benefício). No plano CV o impacto fora
apurado tanto no aumento das reservas necessárias para garantias dos
benefícios concedidos como também na redução na expectativa do benefício
de renda mensal inicial, uma vez que é resultado do saldo de conta apurado na
data da aposentadoria pelo fator atuarial correspondente, redução essa que
pode chegar a mais de 12% (doze por cento), dependendo da decisão dos
dirigentes da entidade na escolha do cenário junto ao Atuário responsável pelo
plano.
34
CAPÍTULO V
GERENCIAMENTO DOS RISCOS ATUARIAIS
O acompanhamento profissional e diligente indicará
tempestivamente as medidas necessárias para evitar um grave problema de
insolvência no futuro. Essas medidas podem ser, entre outras, a substituição
da tábua biométrica, a redução da taxa atuarial de juros, a revisão do
Regulamento ou a elevação das contribuições, aplicando-se à medida que os
riscos são identificados.
O Atuário é o profissional qualificado a identificar, mensurar e
gerenciar os riscos dentro de um determinado processo, sendo que, os
principais riscos inerentes a um plano de previdência estão ligados às
variáveis, anteriormente mencionadas, empregadas na estimação do passivo
atuarial e na definição do plano de custeio, sendo que, quaisquer riscos
pertinentes aos processos internos da entidade podem implicar diretamente
nos resultados atuariais do plano.
Os riscos atuariais podem ser definidos como o risco decorrente do
uso de metodologias que se mostrem inadequadas, adoção de premissas
atuariais que não se confirmem ou que se revelem agressivas e pouco
aderentes à massa de participantes. Assim, podemos classificar como
principais riscos que impactam de forma mais acentuada os modelos
matemáticos utilizados nos cálculos e projeções atuariais: biométrico, mercado,
liquidez e operacional.
O risco biométrico é caracterizado pelas ocorrências de desvios
entre as premissas e hipóteses demográficas adotadas nas avaliações
atuariais dos planos; o risco de mercado está relacionado com as perdas no
valor dos ativos decorrentes de flutuações não previstas nos preços e taxas de
mercado; o risco de liquidez refere-se ao descasamento dos fluxos de ativos e
passivos, ou seja, incapacidade do plano cumprir com alguma obrigação,
forçando a liquidação de ativos em condições desfavoráveis; e, o risco
operacional está associado às possíveis perdas resultantes de processos
35
internos, inadequação de sistemas ou mesmo de fraude, que possam
comprometer a fidedignidade dos resultados da avaliação atuarial ou de outros
estudos atuariais.
Os riscos atuariais estão presentes nos tipos de planos avaliados
neste estudo, seja na fase de acumulação ou na fase de pagamento dos
benefícios. A identificação desses riscos deve incluir a verificação dos
seguintes itens: crítica da base cadastral; descasamentos entre ativo e passivo;
aderência das premissas financeiras e demográficas; adequação do plano de
custeio; compatibilidade do método de financiamento adotado; e, resultado do
plano. Os riscos identificados devem ser avaliados com observância dos
princípios de conservadorismo e prudência, sendo recomendável que as
prováveis perdas sejam provisionadas, antes de efetivamente configuradas.
As hipóteses atuariais devem estar adequadas aos riscos que estão
sendo avaliados, às características do plano de benefícios, da sua massa de
participantes, assistidos e beneficiários, ao ambiente econômico, à legislação
vigente e refletir as expectativas de longo prazo, uma vez que se destinam a
aferir os compromissos futuros até o encerramento dos planos de benefícios.
As hipóteses atuariais apresentam diferentes tipos de impacto nos
valores calculados de reservas matemáticas e custeio, assim, para visualizar o
nível de conservadorismo adotado em uma avaliação atuarial, deve-se analisar
individualmente cada hipótese, para depois apurar a sua ponderação no plano
como um todo. Nesse sentido, é possível identificar se o nível de
conservadorismo de cada hipótese é coerente com a realidade de cada plano,
bem como as adequações que devem ser feitas antes de qualquer proposição
de ajustes nas contribuições e benefícios, em virtude da apuração de déficit ou
superávit.
A análise e seleção das hipóteses atuariais devem ser estudadas na
implantação ou nas alterações de planos de benefícios, na reavaliação atuarial
anual, ou por ocorrência de fato relevante. A cada avaliação atuarial, o atuário
deverá analisar e rever as hipóteses adotadas na avaliação anterior e, após
conclusão, emitir relatório objetivando apresentar os resultados das análises
36
efetuadas, bem como a justificativa da adoção de cada hipótese, que devem
estar embasadas em experiências históricas e perspectivas futuras.
Os regimes financeiros e os métodos atuariais têm por objetivo
estabelecer a forma de acumulação dos recursos garantidores dos benefícios
previstos pelos planos, ou seja, a maneira pela qual serão obtidos os recursos
para o pagamento dos benefícios. Após determinar o valor presente dos
benefícios, o atuário deverá identificar a forma de financiamento, o que definirá
o método atuarial, que é a forma utilizada para distribuir o custo do plano ao
longo do tempo.
É fundamental que a base cadastral seja fidedigna e que todos os
envolvidos no processo de atualização e consistência dessa base estejam
cientes de que o gerenciamento dos riscos inerentes ao cadastro tem relação
direta com os resultados do plano de benefícios. O atuário deve realizar uma
crítica detalhada da base cadastral utilizada na avaliação atuarial, emitindo
opinião sobre a sua qualidade e atualização, bem como recomendando os
procedimentos para a sua adequação às necessidades do cálculo atuarial.
As provisões matemáticas, calculadas atuarialmente, retratam o
valor presente dos benefícios oferecidos, descontados à taxa de juros estimada
para o retorno das aplicações, considerando a probabilidade dos assistidos
estarem vivos em cada uma das idades futuras. É importante promover o
contínuo acompanhamento do equilíbrio entre os compromissos do plano de
benefícios e os respectivos recursos garantidores, estabelecendo sistemática
adequada para a evolução das provisões matemáticas no período
compreendido entre duas avaliações atuariais.
Tendo em vista a inviabilidade de apuração mensal das provisões
matemáticas, através de avaliação atuarial, essas podem ser obtidas através
do método de recorrência. Para evolução mensal das Provisões Matemáticas
durante o exercício, deve ser aplicada a metodologia estabelecida na Nota
Técnica Atuarial dos planos, cujo resultado mensal deve ser acompanhado e
aprovado pelo membros responsáveis pelo plano de benefícios.
37
O gerenciamento do risco atuarial deve assegurar os padrões de
segurança econômico-financeira, com fins específicos de preservar a liquidez,
a solvência e o equilíbrio dos planos de benefícios. Nesse sentido, dirigentes,
membros dos conselhos e gestores devem estar atentos a todos os riscos que
possam gerar instabilidade nos planos de benefícios, bem como estabelecer
procedimentos que permitam a sua permanente avaliação, prevenção, controle
e monitoramento.
38
CONCLUSÃO
De acordo com a Constituição Federal, um plano previdenciário deve
obedecer ao princípio do equilíbrio atuarial, significando com isso que o total de
contribuições previdenciárias deve ter absoluta compatibilidade com o total de
benefícios a ser pago pelo plano, nem mais, nem menos, entretanto, em face
das limitações legais, a depender da situação do ente federado, um grave
problema poderá se apresentar: financiamento inadequado para um
determinado custo previdenciário em detrimento ao princípio do equilíbrio
atuarial. Em linguagem simples e direta, a questão poder ser posta nos
seguintes termos: se o plano estiver desequilibrado em algum momento não
haverá disponibilidade de recursos para pagamento de aposentadorias.
Observa-se que o atuário não está limitado a definição do passivo
nem do plano de custeio e sim à identificação, mensuração e gerenciamento do
risco inerente a um processo que se dará ao longo de anos, seja ele na
previdência, no sistema de saúde ou numa seguridade.
Os órgãos fiscalizadores, cada vez mais exigentes, forçam as
entidades criarem estratégias de comprometimento e fortalecimento dos seus
controles internos, por meio de acompanhamento rigoroso dos processos
atuariais e da contratação de auditorias independentes ao final de cada
exercício para validar os resultados atuariais e toda a modelagem atuarial
utilizada pela entidade em seus planos de benefícios, com fins específicos de
assegurar a transparência, a solvência, a liquidez e equilíbrio econômico,
financeiro e atuarial no longo prazo.
De fato não dá para eliminar os riscos por inteiro, mas usando as
ferramentas disponíveis é possível mantê-los em patamares aceitáveis. Por
isso é importante a preparação dos responsáveis para que eles tenham o
domínio das melhores técnicas de gestão de riscos. Como visto nesse estudo,
em alguns casos para se combater os riscos os gestores dos fundos terão que
tomar decisões que inicialmente poderão impactar significativamente as
39
reservas, mas necessárias para que o equilíbrio futuro do plano seja
preservado.
Nota-se a cada ano a evolução da legislação e o esforço cada vez
maior dos órgãos reguladores em monitorar e assegurar a qualidade do
processo de gestão de riscos realizado nos fundos de pensão. As recentes
mudanças têm contribuído para que tenhamos um sistema previdenciário cada
vez mais transparente e seguro para os participantes e assistidos, contudo, e
não menos importante é a disseminação da cultura, porque a gestão está
relacionada com a forma com que as pessoas agem e interagem.
Todo esse gerenciamento dos riscos é extremamente necessário,
pois os fundos de pensão assumem um papel importantíssimo e cada vez mais
presente no orçamento das famílias. É de suma importância a atuação dos
órgãos reguladores nesse processo, assim como a iniciativa dos próprios
fundos de pensão para adoção de melhores práticas que possam mitigar esses
riscos. Espera-se para os próximos anos que esse processo de controle dos
riscos permaneça em constante evolução, com novidades que venham ser
estabelecidas pela legislação e maior dedicação dos gestores dos fundos de
pensão, que são peças importantes para que toda essa engrenagem funcione
cada vez melhor.
40
BIBLIOGRAFIA
ABRAPP - Gestão de fundo de pensão Aspectos Jurídicos. A pedido da
ABRAPP os artigos, foi escrito por 16 advogados com destacada atuação na
previdência complementar brasileira. 1ª Ed. 2006, Fls. 83,95 e 183.
BRASIL. Coletânea de Normas dos Fundos de Pensão. Ministério da
Previdência e Secretaria de Políticas de Previdência Complementar, MPS e
SPPC. Brasília, 2010.
CAZETTA, Luis Carlos. Previdência privada: o regime jurídico das entidades
fechadas. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris Editor, 2006.
CONDE, Newton Cesar; ERNANDES, Ivan Sant’ Ana. Atuária para Não
Atuários. 1ª Edição. São Paulo, 2007.
LUSTOSA, E., SILVA, A. Gerenciamento de riscos em fundos de pensão no
Brasil. In DUARTE JR, A., VARGA, G. Gestão de Riscos no Brasil. Rio de
Janeiro: Financial Consultoria, 2003.
MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL. Previdência social.
Disponível em: <www.mpas.gov.br>. Acesso em 13 de abril de 2016.
PAZ, A. Fundos de pensão – uma introdução à administração da solvência.
Revista do Congresso. 22º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão.
Realização ABRAPP – Trabalho Premiado, p. 132-140. Vitória-ES: 2001.
PINHEIRO, Ricardo Pena. A Demografia dos Fundos de Pensão. Coleção
Previdência Social. Série estudos; v. 24. Brasília, 2007.
Instituto Brasileiro de Atuária (IBA). Seleção de hipóteses demográficas,
biométricas e outras não-econômicas para mensuração de obrigações de um
plano de benefícios. 2008
Instituto Brasileiro de Atuária (IBA). Seleção de hipóteses econômicas para
mensuração de obrigações de um plano de benefícios oferecido por entidade
fechada de previdência complementar. 2009.
PROSPERIDADE e desafios, tema do 31º Congresso Brasileiro dos Fundos de
Pensão. Revista Fundos de Pensão da ABRAPP, São Paulo, ano 29, n. 368, p.
27-31, setembro 2010.
41
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
A PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR NO BRASIL 11
CAPÍTULO II
OS RISCOS ENFRENTADOS PELAS EFPC 14
CAPÍTULO III
RISCOS ATUARIAIS 17
3.1. Variáveis utilizadas pelos fundos de pensão 17
3.1.1. Tábuas Biométricas 17
3.1.2. Tábua de Mortalidade Geral 17
3.1.3. Tábua de Mortalidade de Inválidos 19
3.1.4. Entrada em Invalidez 20
3.1.5. Rotatividade 21
3.1.6. Capacidade dos Benefícios e Salários 22
3.1.7. Composição Familiar 23
3.1.8. Idade de Aposentadoria 23
3.1.9. Benefício da Previdência Social 24
3.1.10. Taxa de Juros e Retorno dos Investimentos 24
3.1.11. Crescimento salarial e reajustes dos benefícios 27
3.1.12. Idade de Aposentadoria 28
CAPÍTULO IV
O IMPACTO SOBRE AS OBRIGAÇÕES DOS PLANOS POR
AJUSTES DE HIPÓTESES ATUARIAIS 29
CAPÍTULO V
GERENCIAMENTO DOS RISCOS ATUARIAIS 34
43
ANEXO1
TÁBUAS DE MORTALIDADE
Tábuas de Mortalidade mencionadas no estudo e utilizadas pela
EFPC analisada.
Idade qx Idade qx
x AT49 AT83 AT2000 x AT49 AT83 AT2000
0 0,004040 0,000000 0,002310 33 0,001210 0,000820 0,000790
1 0,001530 0,000000 0,000910 34 0,001300 0,000870 0,000790
2 0,000890 0,000000 0,000500 35 0,001390 0,000960 0,000790
3 0,000720 0,000000 0,000410 36 0,001490 0,001010 0,000790
4 0,000630 0,000000 0,000360 37 0,001610 0,001070 0,000820
5 0,000570 0,000380 0,000320 38 0,001730 0,001150 0,000870
6 0,000530 0,000350 0,000300 39 0,001870 0,001250 0,000950
7 0,000500 0,000340 0,000290 40 0,002030 0,001380 0,001040
8 0,000490 0,000330 0,000330 41 0,002220 0,001520 0,001170
9 0,000480 0,000320 0,000360 42 0,002480 0,001700 0,001320
10 0,000480 0,000330 0,000390 43 0,002800 0,001910 0,001510
11 0,000490 0,000330 0,000410 44 0,003190 0,002150 0,001720
12 0,000500 0,000340 0,000430 45 0,003630 0,002430 0,001950
13 0,000510 0,000340 0,000450 46 0,004120 0,002750 0,002200
14 0,000520 0,000350 0,000460 47 0,004660 0,003100 0,002460
15 0,000540 0,000360 0,000470 48 0,005250 0,003490 0,002740
16 0,000550 0,000370 0,000480 49 0,005880 0,003900 0,003030
17 0,000570 0,000380 0,000500 50 0,006560 0,004340 0,003330
18 0,000580 0,000390 0,000510 51 0,007280 0,004800 0,003650
19 0,000600 0,000410 0,000530 52 0,008040 0,005280 0,003980
20 0,000620 0,000420 0,000550 53 0,008840 0,005780 0,004330
21 0,000650 0,000440 0,000570 54 0,009680 0,006290 0,004700
22 0,000670 0,000450 0,000600 55 0,010570 0,006810 0,005080
23 0,000700 0,000470 0,000630 56 0,011490 0,007350 0,005470
24 0,000730 0,000490 0,000660 57 0,012460 0,007930 0,005860
25 0,000770 0,000520 0,000690 58 0,013480 0,008580 0,006270
26 0,000810 0,000540 0,000710 59 0,014540 0,009320 0,006690
27 0,000850 0,000570 0,000740 60 0,015660 0,010180 0,007170
28 0,000900 0,000600 0,000760 61 0,016870 0,011180 0,007710
29 0,000950 0,000640 0,000770 62 0,018200 0,012370 0,008350
30 0,001000 0,000670 0,000780 63 0,019670 0,013770 0,009090
31 0,001070 0,000720 0,000790 64 0,021280 0,015410 0,009970
32 0,001140 0,000760 0,000790 65 0,023070 0,017320 0,010990
44
Idade qx Idade qx
x AT49 AT83 AT2000 x AT49 AT83 AT2000
66 0,025030 0,019530 0,012190 91 0,227190 0,198020 0,134860
67 0,027190 0,022000 0,013570 92 0,247330 0,211620 0,145580
68 0,029580 0,024700 0,015160 93 0,268960 0,225560 0,156730
69 0,032200 0,027570 0,016950 94 0,292120 0,242120 0,168290
70 0,035090 0,030590 0,018920 95 0,316830 0,260100 0,180250
71 0,038270 0,033730 0,021070 96 0,343120 0,276040 0,192570
72 0,041770 0,037080 0,023390 97 0,370970 0,293280 0,205230
73 0,045620 0,040760 0,025870 98 0,400350 0,312000 0,218680
74 0,049850 0,044880 0,028550 99 0,431200 0,332390 0,233370
75 0,054500 0,049550 0,031480 100 1,000000 0,354650 0,249740
76 0,059610 0,054880 0,034690 101 1,000000 0,378980 0,268240
77 0,065220 0,060840 0,038230 102 1,000000 0,405610 0,289310
78 0,071370 0,067420 0,042130 103 1,000000 0,436780 0,313390
79 0,078110 0,074580 0,046430 104 1,000000 0,474730 0,340940
80 0,085500 0,082300 0,051130 105 1,000000 0,521700 0,372400
81 0,093590 0,090540 0,056250 106 1,000000 0,579940 0,408210
82 0,102440 0,099240 0,061810 107 1,000000 0,651690 0,448820
83 0,112110 0,108360 0,067830 108 1,000000 0,739190 0,494680
84 0,122670 0,117830 0,074320 109 1,000000 0,844680 0,546230
85 0,134180 0,127600 0,081330 110 1,000000 1,000000 0,603920
86 0,146710 0,137970 0,088860 111 1,000000 1,000000 0,668190
87 0,160330 0,148740 0,096960 112 1,000000 1,000000 0,739480
88 0,175120 0,160080 0,105630 113 1,000000 1,000000 0,818250
89 0,191150 0,172070 0,114860 114 1,000000 1,000000 0,904950
90 0,208490 0,184790 0,124610 115 1,000000 1,000000 1,000000