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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM EDUCACIONAL PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU O SISTEMA LÍMBICO E A AFETIVIDADE COMO FERRAMENTAS PARA UMA APRENDIZAGEM ESCOLAR SIGNIFICATIVA Alessandra Sheila Machado ORIENTADORA: Profª. Me. Marta Relvas Rio de Janeiro 2017 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · memória e o prazer em aprender. Com a Neurociência, a motivação e a afetividade, associadas à aprendizagem, ganharam base científica

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM EDUCACIONAL

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

O SISTEMA LÍMBICO E A AFETIVIDADE COMO

FERRAMENTAS PARA UMA APRENDIZAGEM

ESCOLAR SIGNIFICATIVA

Alessandra Sheila Machado

ORIENTADORA: Profª. Me. Marta Relvas

Rio de Janeiro 2017

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM EDUCACIONAL

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM Educacional como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Neurociência Pedagógica. Por: Alessandra Sheila Machado

O SISTEMA LÍMBICO E A AFETIVIDADE COMO

FERRAMENTAS PARA UMA APRENDIZAGEM

ESCOLAR SIGNIFICATIVA

Rio de Janeiro 2017

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AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente a Deus por estar sempre me fortalecendo e conduzindo minha trajetória de vida, este é mais um grande presente Dele pra mim. “Os sonhos de Deus serão sempre maiores que os meus!”

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus alunos que durante muitos anos tive o imenso prazer de ensinar, aprender e entender a importância do afeto no processo da aprendizagem; ao meu filho João Victor da Silva Araújo, meu presente de Deus, meu amigo, companheiro, que sempre torce por mim e que me faz ser realizada como mãe a cada dia.

Aos meus pais, Cícero Machado da Silva (in memorian) e Helena Luíza Machado da Silva, que sempre tiveram muito orgulho de mim e da minha dedicação, sempre vibraram e se emocionaram com cada conquista.

À minha querida Professora Marta Relvas que me encantou com suas aulas e me fez descobrir esse maravilhoso caminho da Neurociência Pedagógica, que veio confirmar aquilo que eu já acreditava e praticava: a afetividade transforma todo o contexto de uma sala de aula, não importa o problema.

Dedico também este trabalho à todas as pessoas que estiveram ao meu lado direta ou indiretamente, me incentivando e me apoiando. Meu muito obrigado à todos!

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RESUMO

Os avanços da Neurociência e da Tecnologia, principalmente nos últimos anos,

possibilitaram o maior conhecimento da estrutura e do funcionamento do cérebro

humano, o que foi de suma importância para uma das comprovações mais

marcantes que esse conhecimento trouxe, que é a questão de que a razão e a

emoção não podem ser separadas. Dessa maneira, fica mais fácil compreender

que a afetividade é a “mola” propulsora para que a aprendizagem aconteça.

Desafiar o cérebro dos alunos, através de propostas que encantem ou que sejam

prazerosas e significativas, contribui para um maior número de sinapses, através

dos estímulos recebidos. Por isso, é primordial que os professores conheçam as

estruturas cerebrais como ferramentas da aprendizagem na construção de

conhecimentos. A partir desse conhecimento, o professor conseguirá criar

oportunidades e meios para despertar a vontade de aprender do aluno e a

afetividade. O afeto não só ajuda a construir a aprendizagem, como também é

fundamental para a mediação e empatia entre professor e aluno. É no cérebro

afetivo e emocional que as emoções se organizam e determinam a concentração, a

memória e o prazer em aprender. Com a Neurociência, a motivação e a afetividade,

associadas à aprendizagem, ganharam base científica e com isso, mostraram que

propostas prazerosas e desafiadoras levam ao fortalecimento e ao estabelecimento

de redes neurais com muito mais facilidade. A afetividade provoca sensação de

bem estar, satisfação, alegria, desenvolve inteligência, melhora a relação

interpessoal e intrapessoal e a qualidade do registro na memória. É importante que

haja uma integração entre família e escola neste processo de ensino e

aprendizagem transformador, possibilitando que o educando tenha sua

aprendizagem valorizada além do ambiente escolar, onde “muros” de resistência de

pensamentos são desconstruídos, para que sejam construídas “pontes” de

afetividade, congruência e respeito ao ser biopsicossocial existente dentro de cada

criança.

Palavras-chave: Aprendizagem; Afetividade; Neurociência; Emoção.

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METODOLOGIA

O presente trabalho acadêmico aborda a importância da valorização

das emoções dos educandos e educadores na dinâmica da sala de aula e na

construção de uma proposta educacional mais significativa e afetiva. Com tal

proposta sendo fundamentada no conhecimento amplo e atual da neurociência

ligada à educação, será possível realizar uma intervenção pedagógica mais

eficaz e criativa, centrada no aluno e nas diferentes formas de ensinar e

aprender, atingindo assim resultados mais eficazes e duradouros. Somente a

partir da compreensão de que o ser humano é um ser biopsicossocial, é

possível ressignificar as estratégias de ensino e aprendizagem e melhorar a

qualidade na formação e capacitação dos professores.

Este trabalho foi baseado na leitura de livros sobre Neurociência,

Educação, Psicologia, Neuropedagogia e Neuropsicologia, mas também em

alguns artigos das Revistas Mente e Cérebro e Psiqué e de sites

especializados, como o psiqweb e psiquiatria infantil.com.

O estudo alicerçou-se através de pesquisas bibliográficas dos

autores: Marta Pires Relvas, Antônio Damásio, Roberto Lent, Daniel e Michel

Chabot, Jean Piaget, Lev Vigotsky, Ramon Consenza, Serrano Freire, dentre

outros, que serão descritos na referência bibliográfica.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

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CAPÍTULO I

Afetividade e Aprendizagem – Contribuições da Neurociência no Ambiente

Escolar 10

CAPÍTULO II

O Sistema Nervoso e a Aprendizagem – As Bases Neurobiológicas do

Processo de Aprender 20

CAPÍTULO III

O Sistema Límbico e a Afetividade como Ferramentas para a Aprendizagem

- O Uso das Práticas Pedagógicas mais Encantadoras e Eficientes que

Potencializam Resultados Positivos 31

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA 42

WEBGRAFIA 44

ÍNDICE 45

8

INTRODUÇÃO

“A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade

científica, domínio técnico a serviço da mudança ou lamentavelmente, da

permanência do hoje” (Paulo Freire).

As descobertas e os contínuos estudos da Neurociência são de

grande importância para a Educação, pois ajudam a compreender o

funcionamento do cérebro humano e assim, repensar e redimensionar as

práticas pedagógicas, a partir do entendimento que as informações são

processadas, armazenadas e respondidas pelo cérebro cognitivo, emocional,

motor, afetivo e social.

As novas tendências da Educação, embasadas pelas descobertas

da Neurociência apontam para o desenvolvimento de um cérebro que vivencie

incertezas, sabendo lidar com o inesperado e com as frustrações do cotidiano,

confiando em si mesmo, criando soluções e planejando ações, sem perder a

autoestima e a capacidade de reorganização e adaptação. Esse conhecimento

permite aos educadores planejarem atividades apropriadas para ativar áreas

cerebrais que serão importantes no desenvolvimento geral das crianças.

Estimular os neurônios dos bebês, por exemplo, dá início a inúmeras

atividades mentais de suma importância. Os circuitos neurais estabelecidos

nessa fase irão perdurar para toda a vida e subsidiarão outros.

Através da Educação, e nada melhor do que o contexto de uma sala

de aula onde se pode promover vários estímulos que contribuirão para um

maior número de sinapses, que talvez não tenha em situações naturais ou não

planejadas. Assim, habilidades e competências são favorecidas, desde a

entrada da criança na escola. “Desafiar” o cérebro das crianças, de uma forma

geral, é na verdade favorecer uma aprendizagem prazerosa, real, significativa,

criativa e potencializada. Quem está no processo de ensino aprendizagem

como aprendente, é valorizado e respeitado em suas dimensões cognitiva,

afetiva, orgânica e social. Essa nova e importante postura educacional,

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desperta no aluno o desejo de realmente aprender o que tem sentido e

significado.

Se a sala de aula é um espaço tipicamente interativo, cabe ao

professor/educador compreender que seus alunos são formados de uma

biologia cerebral em movimento contínuo de transformação, pois as conexões

nervosas nunca param. Nesse momento, é importante que o professor tenha

um “olhar investigativo”, um olhar diferenciado, para que consiga possibilitar

novas intervenções na sala de aula e preparar atividades de acordo com seu

grupo de alunos, e não só permanecer com a mesma aula que ultrapassa anos

sem modificações.

A cognição é influenciada o tempo todo pelos neurotransmissores e

ao professor caberá o papel de mediar as hipóteses e as ideias de seus alunos.

Assim, as células motoras e sensitivas são estimuladas e produzem energia

celular, mantendo a célula ativa e em melhor condição de novas sinapses, que

irão permitir maior qualidade das informações.

É possível formular aulas agradáveis e prazerosas trazendo para

sala de aula estímulos que sejam capazes de aumentar os níveis de dopamina

para que as crianças se sintam motivadas a aprenderem. Muitas vezes, essa

criança precisa mesmo é de uma atenção especial, um olhar afetuoso, um

toque com carinho, isso faz toda diferença. Na superfície medial do cérebro dos

mamíferos, o sistema límbico é a unidade responsável pelas emoções. É uma

região constituída de neurônios, células que formam uma massa cinzenta

denominada de lobo límbico. Através do sistema nervoso autônomo, ele

comanda certos comportamentos necessários à sobrevivência de todos os

mamíferos, interferindo positiva ou negativamente no funcionamento visceral e

na regulamentação metabólica de todo o organismo. Desta forma, sistema

límbico e afeto tornam-se muito importantes dentro deste estudo onde são

consideradas ferramentas principais para potencializar resultados positivos na

aprendizagem significativa.

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CAPÍTULO I

AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM – CONTRIBUIÇÕES

DA NEUROCIÊNCIA NO AMBIENTE ESCOLAR

Não há educação sem amor. O amor implica e luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar. Não há educação imposta, como não há amor imposto. (Paulo Freire)

Certamente, aprende-se melhor numa esfera de amor. Na educação,

esse amor traduz-se em afeto. O afeto, na sua definição etimológica, tem o

caráter da neutralidade, ou seja, pode expressar sentimento de agrado ou

desagrado. Quando, contudo, ele vem da prática da educação baseada no

amor, se transforma em estímulo para aprendizagem, tanto para aprender,

quanto para ensinar.

Yves de La Taille (1992) disse que “o afeto é uma mola propulsora

das ações, e a razão está a seu serviço.” O afeto estimula a conexão dos

neurônios, a criação e a consequente lembrança de registros, conhecidos

como memória.

Segundo o neurocientista Antonio Damásio (2006), a função

atribuída às emoções na criação da racionalidade tem implicações em algumas

das questões com as quais a nossa sociedade defronta-se atualmente e, entre

elas, a educação.

A aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo estão sempre se

reinventando. Pela plasticidade, o cérebro se remodela para pensar e aprender

e é a mediação afetiva quem vai disparar esses processos, pois o afeto

estimula dois mecanismos fundamentais da memória: a fixação (acréscimo de

informações) e a evocação (informações assimiladas anteriormente).

Segundo a Neurociência, é no cérebro afetivo-emocional que as

emoções se organizam em regiões interconectadas, e determinam a

concentração, a atenção, a memória e o prazer em aprender.

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A emoção, seja ela positiva ou negativa, interfere no cognitivo e nos

pensamentos, afinal o que existem são seres sociais e afetivos. Através do

afeto, as emoções negativas podem ser reeditadas, favorecendo tanto o

aprendizado, quanto a relação entre professor e aluno.

Vygotsky afirma que as reações emocionais exercem influência

sobre o comportamento no processo educativo, porque as funções complexas

do pensamento são efetivas pelas trocas sociais, tendo o afeto como papel

preponderante. Ainda segundo Vygotsky (2004), “sempre que comunicamos

alguma coisa a algum aluno, devemos procurar atingir seu sentimento”.

A escola é um lugar essencialmente de socialização, de convivência

e de integração, onde as relações afetivas têm papel preponderante. Assim, o

ponto de partida do trabalho em sala de aula deve ser a emoção. O afeto, a

curiosidade e o estímulo atuam no início para canalizar a atenção e depois

para ajudar a memória no resgate das informações.

A escola deve ser um espaço que proponha atividades estimulantes

e desafiadoras, que os alunos tenham condições de realizar e que despertem

neles curiosidade e vontade de vencer desafios e de buscar respostas.

Para Vygotsky, o afetivo interfere no cognitivo e vice-versa. Um

exemplo é a motivação para aprender, que está associada a uma base afetiva.

O ensino precisa ser de fato desafiador e proporcionar meios para que o aluno

dê sentido ao que está aprendendo, que saiba relacionar, refletir e dar novos

significados às informações.

Com a Neurociência, a motivação e a afetividade associadas à

aprendizagem, ganharam base científica. As descobertas da Neurociência nos

mostram que através de atividades prazerosas e desafiadoras, acontece o

“disparo” entre as células neurais: as sinapses se fortalecem e as redes neurais

se estabelecem mais facilmente.

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Os estímulos recebidos pela criança, as dificuldades que enfrentam

e as hipóteses que levantam para vencer desafios e se adaptar às muitas

questões do ambiente, vão definir os caminhos de seu desenvolvimento.

Há estudos nos EUA que comprovam que crianças bem estimuladas

na primeira infância, apresentam uma vida escolar mais bem-sucedida e

comportamentos sociais mais desenvolvidos, além de dominar mais palavras,

ter mais habilidades com conceitos matemáticos, falar outras línguas com mais

fluência etc.

Chegando à adolescência, surge o interesse por temas diversos,

como filosofia, formas de lazer, cultura, entre outros. É preciso estimular a

autonomia para que novas experiências surjam e estimulem o jovem a

aprender, através de atividades diversificadas e desafiadoras, que permitam

novas vivências. Educar na diversidade é na verdade, o grande desafio. A

atenção à diversidade de capacidades, habilidades, competências, motivações

e interesses dos alunos é o objetivo dos profissionais da educação.

Professor e aluno que interagem, criam e viabilizam possibilidades,

conseguem construir a aprendizagem juntos. O que vai de fato qualificar ou até

mesmo provocar a mudança no aprendizado é o afeto.

A educação emocional deve fazer parte do currículo escolar,

objetivando ser mais uma habilidade para o educando, que vai ajudá-lo a

vencer desafios e superar dificuldades com mais sucesso e felicidade.

A afetividade provoca sensação de alegria, bem-estar e satisfação

emocional, que provoca o feedback intelectual, desenvolve inteligência e

melhora a qualidade da memória.

1.1. Uma Visão Neurociência do Processo de Ensinar e

Aprender

Os seres humanos são seres diferentes e isso é um fato lógico, mas

será que a escola prepara seus currículos e sua proposta pedagógica tendo

essa visão como principal parâmetro?

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Todos têm direitos, independente de dificuldades e habilidades, a

uma aprendizagem cognitiva, motora, afetiva e social, e a escola tem o dever

de planejar suas aulas para atender as necessidades dessa diversidade. Esse

é o compromisso social da escola.

Com o conhecimento da Neurociência, sabe-se que a criança

aprende a partir das experiências, da estrutura emocional e do

amadurecimento neurofisiológico das células.

É preciso que a escola faça suas respostas voltadas ao

“encantamento” dos alunos. Um aluno “deslumbrado” busca novas

experiências, novos saberes e tem atenção naquilo que está aprendendo. A

atenção é primordial para aprender e essa função é desempenhada pela

formação reticular (encontrada no tronco encefálico), que mantém o córtex em

alerta para receber novos estímulos, interpretá-los e decodifica-los.

Sem esse “encantamento”, vemos cada vez mais crianças e

adolescentes desestimulados ou até com dificuldades de começar uma

atividade ou de concluí-la, cursando até com uma dificuldade de aprendizagem.

É preciso mais do que nunca, nesses tempos de informações

rápidas, pensar nos alunos enquanto pessoas em processo de crescimento e

desenvolvimento individuais.

A Neuroaprendizagem surge como um processo inovador na área

pedagógica, pois busca conhecer as diferentes estruturas cerebrais para

compreender o processo cognitivo de cada um, inclusive daqueles com

distúrbios ou dificuldades de aprendizagem. Nesse contexto, a emoção dá

forma à cognição e à aprendizagem.

O Sistema Límbico comanda os sistemas endócrinos e é

responsável pelas emoções. De acordo com Antonio Damásio, Neurocientista,

razão e emoção estão interligadas.

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Em primeiro lugar, é evidente que a emoção se desenrola sob o controle tanto da estrutura subcortical como da neocortical. Em segundo, e talvez mais importante, os sentimentos são tão cognitivos como qualquer outra imagem (DAMÁSIO, 2012, p.151).

O Sistema Límbico recebe experiências emocionais positivas e

negativas, enviando mensagem ao córtex pré-frontal, que interpretará essas

experiências. A emoção transformará essa mensagem em sentimento, que é

racional. As experiências vividas ficam armazenadas no Hipocampo (estrutura

do Sistema Límbico), responsável pela memória de longa duração.

A razão então age diretamente na emoção. Quando se vivencia e

aprende-se, vincula-se a emoção e a razão. Dessa forma, fica claro que os

alunos podem e querem aprender, cada um em tempos diferentes e

obedecendo a ritmos neurais diferentes, pois há um trajeto químico no cérebro

que operacionaliza cada ação dos educandos.

A Plasticidade Cerebral permite que o cérebro se remodele em

função da experiência de cada um, o que só reforça que os alunos podem

aprender a vida inteira de diferentes maneiras. A afetividade provoca

mudanças químicas e neurais que ocorrem no cérebro emocional e que vão

interferir no ato de aprender. Aprender é uma “mistura” complexa de vários

elementos: pedagógicos, emocionais, culturais, sociais e biológicos.

Plasticidade cerebral é a denominação das capacidades adaptativas do sistema nervoso central (SNC) e sua habilidade para modificar sua organização estrutural própria e funcionamento. É a propriedade do sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em resposta à experiência, e como adaptação a condições mutantes e a estímulos repetidos (RELVAS, 2005, p.45).

São muitos os vínculos entre a cognição, a afetividade, a

sensibilidade e a motricidade. O substrato neurológico responsável por esses

vínculos são os neurônios, que produzem e conduzem impulsos elétricos,

criando a rede neural.

A transmissão desses impulsos nervosos de um neurônio para o

outro nas sinapses e dos neurônios para os músculos, se dá através da

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liberação de neurotransmissores, que são recapturadas pela membrana pré-

sináptica ou destruídas na fenda sináptica. Eles exercem efeito inibidor ou

excitatório nas membranas pós-sinápticas. As sinapses são dotadas de

plasticidade. Da Neuroplasticidade, depende o processo de aprendizagem e

reabilitação das funções motoras e sensoriais.

As principais estruturas nervosas envolvidas no aprendizado

cognitivo são o Hipocampo e o Córtex Pré-Frontal, possível graças à memória

declarativa, cujos substratos neurológicos são o Hipocampo e o Córtex Frontal.

Já as competências emocionais estão ligadas à amígdala cerebral e

ao Córtex Pré-Frontal. Contudo, sabe-se que todas as competências

influenciam-se mutuamente. Um exemplo disso é o fracasso diante de uma

prova escolar devido ao estresse.

O ser humano é totalmente afetivo. A amígdala emite projeções

neurais para a maioria das partes do cérebro, incluindo as responsáveis pelas

funções cognitivas.

A Plasticidade Cerebral é responsável pelas capacidades

adaptativas do SNC. A cada nova experiência de vida de uma pessoa, rede de

neurônios sofrem um rearranjo e outras sinapses são reforçadas e outras

possibilidades de respostas ao ambiente são possíveis.

Os sistemas cerebrais destinados à emoção estão intrinsecamente

ligados aos “sistemas da razão”. Os sentimentos parecem depender de um

sistema de componentes ligados à regulação biológica e a razão; depende de

sistemas cerebrais específicos, sendo que alguns processam sentimentos, o

que clarifica que pode existir uma interligação (em termos de anatomia

funcional) entre razão, sentimento e reações do corpo. O ser humano pensa,

sente e age e o aprendizado escolar requer prontidões neurobiológicas,

cognitivas e emocionais.

A criança nasce, cresce e aprende imersa em um meio social que

influenciará na qualidade de seu aprendizado grandiosamente.

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1.2. A Motivação e o Cérebro da Criança

Motivação no sentido etimológico significa o ato de motivar (motivo +

ação), isto é, um motivo que leve o indivíduo à ação, algo que o faça agir. A

motivação é a mola propulsora da aprendizagem. Há dois tipos de motivação: a

motivação intrínseca e a motivação extrínseca.

A motivação intrínseca refere-se à escolha e a realização de certa

atividade por causa própria, por ser interessante, atraente ou geradora de

satisfação. É uma propensão inata dos seres humanos. A motivação extrínseca

refere-se à motivação para trabalhar em resposta a algo externo à atividade,

como para obtenção de recompensas materiais ou sociais.

A motivação do ponto de vista psicopedagógico e da

Neuroeducação é estimular os aprendentes a realizarem atividades

significativas, desafiadoras e envolventes.

O aluno motivado é aquele que apresenta alta concentração e

emoções positivas. Os educadores devem explorar essa poderosa força

motivacional advinda da motivação intrínseca, destacando e valorizando o

esforço pessoal de seus alunos. Para isso, os próprios educadores precisam

estar motivados, pois não se produz entusiasmo quando não se é capaz de

entusiasmar-se.

O prazer de aprender e vencer obstáculos e desafios são

fundamentais para a criança e vai acompanhá-la durante toda a vida, pois é o

que permanece de forma mais consistente em sua memória. É a curiosidade e

a motivação que levam a criança a querer explorar tudo a sua volta e as

experiências “modelam” o cérebro.

Cada ato mental carrega a complexidade de uma história que é

individual e única, iniciada antes mesmo da concepção e cujos alicerces serão

construídos nos cinco primeiros anos de vida, formando um fascinante

processo de desenvolvimento que é cerebral, subjetivo, cognitivo e social.

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Do ponto de vista cerebral e subjetivo, os seres humanos chegam

incompletos ao mundo e precisam de estímulos e de motivação para ocorrer o

desenvolvimento. O cérebro altamente plástico vai moldando-se às diversas

experiências.

O desenvolvimento cerebral que ocorre até as primeiras duas

décadas de vida, tem no período fetal, na infância e na adolescência suas

etapas mais significativas. Assim que a criança nasce, seu sistema nervoso já

possui a maior parte dos neurônios que ela usará ao longo da vida. Mas, ainda

é preciso desenvolver boa parte das funções cerebrais e organizar a rede

especializada de processamento de informações. Para potencializar o

desenvolvimento funcional do cérebro, a estimulação global e os desafios a

que os bebês são submetidos nos três primeiros anos de vida são

fundamentais.

A criança tem a capacidade bem precoce de perceber e memorizar

estímulos; a partir da primeira metade de vida intrauterina, o ser humano já é

capaz de assimilar estímulos sonoros e gustativos.

A capacidade de aprendizagem já se inicia desde o período fetal e a

memória, uma das funções primordiais para o aprendizado, está presente

desde a fase pré-natal, desenvolvendo-se de forma quantitativa e qualitativa de

acordo com a maturação cerebral.

O desenvolvimento da criança não é um processo contínuo e

homogêneo, mas depende da interação entre o crescimento das áreas

cerebrais, o grau de mielinização de suas estruturas e da capacidade do

cérebro, mesmo ainda imaturo, de reorganizar seus padrões de respostas e

conexões mediante as experiências.

A criança busca compreender o mundo e “experimentá-lo”, testando-

o e explorando-o. Assim, cada interação com pessoas ou objetos vai

construindo e reconstruindo suas experiências e se desenvolvendo. Essa

interação se dá através dos vínculos afetivos, primeiro com os pais e

posteriormente com os professores.

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Então, os primeiros anos de vida são os mais incríveis para o

desenvolvimento infantil: quanto mais estímulos o cérebro da criança recebe,

mais caminhos neurais são formados, e com as experiências, esses caminhos

tornam-se mais fortes. Ou seja, o ambiente com estímulos e afeto pode

maximizar o desenvolvimento do cérebro da criança.

No cérebro, existe um sistema dedicado à motivação e à

recompensa. Quando a criança ou o sujeito já adulto é motivado positivamente

por algo, a região responsável pelos centros de prazer produz a dopamina. A

ativação dessa área gera bem-estar, que mobiliza a atenção e reforça o

interesse do sujeito por aquilo que o afetou.

O circuito cerebral da motivação é uma estrutura complexa

envolvendo múltiplas áreas do cérebro como: o córtex pré-frontal, o tálamo, o

hipocampo, a amigdala cerebral etc., que vai amadurecendo a medida que a

criança vai crescendo. A amígdala emite projeções neurais para a maioria das

partes do cérebro, incluindo as responsabilidades pelas funções cognitivas e

emoções.

A motivação para aprender é uma das maiores ferramentas para o

ser humano desenvolver-se. Ela o ajudará a superar desafios, ser persistente e

ter estímulo para tentar de novo quando experimentar o “fracasso”. Assim, é

fundamental que o ambiente de aprendizado, mobilize emoções positivas

como, entusiasmo, motivação, envolvimento, desafios prazerosos etc., e afaste

as negativas como ansiedade, medo, frustração e apatia.

Segundo a neurologista Suzana Herculano – Houzel, em seu livro

Fique de bem com seu cérebro (2007), tarefas muito difíceis desmotivam e

deixam o cérebro frustrado, sem obter prazer do sistema de recompensa. Por

isso, são abandonadas. Isso ocorre também com tarefas muito fáceis. A

relação entre a obtenção desse prazer e a antecipação desse prazer é um

elemento chave para a motivação. Há múltiplas conexões entre o “centro do

prazer e da recompensa” (o sistema límbico e o córtex pré-frontal).

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Esse “cérebro emocional” é impulsivo e reage espontaneamente,

tanto a motivações positivas, quanto às contrariedades. Emoções positivas

podem melhorar a aprendizagem cognitiva. Uma pessoa motivada tem

interesse, engajamento, perseverança e curiosidade. O ser humano é

fundamentalmente afetivo.

Para Relvas (2011), toda informação inovadora, antes de ser

aprendida, deve passar por três importantes filtros em nosso cérebro, estes

filtros favorecem a discriminação e a atenção do cérebro ao que realmente lhe

interessa absorver como aprendizagem. Os filtros estão presentes no sistema

de aprendizagem RAD: o sistema reticular de ativação (RAS), o filtro positivo

da amígdala e a intervenção de dopamina. Cada um deles se determina pelas

emoções, se são positivas, o acesso da novidade ao cérebro se realizará com

maior eficaz. Se o cérebro detecta estresse, pode combater e bloquear a

informação.

Isto significa que, quanto melhor for o ambiente para aprender,

melhor será a aprendizagem. Cada vez mais, as crianças são mais velozes em

seu pensamento, por isso é necessário e muito importante melhorar as

ferramentas para capturar sua atenção.

Segundo Damásio (2000), aprender então, implica no

desenvolvimento de conexões neurais. Comunicação e aquisição de novas

formas de ver o mundo e a si mesmo, em vários níveis, tornando possível a

mudança de comportamento e a descoberta de outras formas de se relacionar

com os objetos, sentimentos, pessoas, escolhas, situações e desejos.

Graças à contribuição da Neurociência, é possível que salas de aula

deixem de ser cansativas e desgastantes, e a aprendizagem comece a se

tornar uma atividade prazerosa, afetiva, significativa e inesquecível.

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CAPÍTULO II

O SISTEMA NERVOSO E A APRENDIZAGEM – AS

BASES NEUROBIOLÓGICAS DO PROCESSO DE

APRENDER

Nos tempos atuais, o educador encontra na sala de aula, um novo

aluno, com interesses e comportamentos bem diferentes que nos anos

anteriores. As redes sociais, os avanços tecnológicos, que trouxeram

informações cada vez mais rápidas, e as mudanças nos padrões de consumo,

alteraram o modo das pessoas se relacionarem. Contudo, o acúmulo de

informações não significa o real conhecimento, e o modo como ela é

interpretada e compartilhada tem influenciado nos relacionamentos

interpessoais estabelecidos atualmente.

Nesse cenário, estão a escola e o professor, com a responsabilidade

de ensinar e com o desafio de “encantar” os alunos e revitalizar as práticas

pedagógicas. A contribuição da Neurociência faz-se cada vez mais necessária,

pois traz uma visão científica do processo de ensinar e aprender, permitindo ao

educador conhecer o aluno como um ser biopsicossocial, através dos estudos

da anatomia e fisiologia do SNC e dos mecanismos neuronais que sustentam

os atos perceptivos, cognitivos, motores, afetivos e emocionais, ajudando-o na

orientação da sua prática em sala de aula.

Assim, o professor se conscientiza que seus alunos têm uma

biologia cerebral, com sentidos biológicos estimulados e um movimento de

conexões nervosas contínuas, e que a aprendizagem perpassa pelas sinapses,

pelo ritmo neural de cada um e interação social.

Os alunos atuais são plurais, aqueles que questionam, criam

hipóteses, argumentam, criticam e têm autonomia para aprender. São

“cérebros pensantes”, com emoções e afetos que precisam ser respeitados em

21

sua individualidade, em seu ritmo para aprender, em suas competências e

habilidades.

Os educadores atualmente precisam conhecer esse incrível mundo

chamado cérebro humano, para poder elaborar, definir e organizar melhor os

conceitos sobre aprendizagem, identificando, por meio do sistema nervoso

central, seus processos e como produzem modificações mais ou menos

permanentes, que se traduzem por modificação funcional ou comportamental,

permitindo a melhor adaptação do indivíduo ao meio como resposta a uma

solicitação interna do organismo.

Dito de outra forma, quando um estímulo já é conhecido do sistema nervoso central, desencadeia uma lembrança; quando o estímulo é novo, desencadeia uma mudança. Essa é a maneira de se entender a aprendizagem do ponto de vista neurocientífico (RELVAS, 2012, pp. 20-21).

Não se pode esperar que os alunos concentrem sua atenção nas

atividades, se estas não forem estimulantes. A afetividade é uma função

psicológica regulada biologicamente pelo sistema límbico-hipotalâmico. Refere-

se especificamente ao que se ama, ao que se tem cuidado, e está relacionada

à função de registro permanente e evocação da memória, como também aos

valores e à consciência ética. A afetividade implica na relação com o outro, em

afinidades, atua biologicamente no ser e resulta na integração córtico-

diencenfálica. Tem duração no tempo e gera inteligência relacional que

expressa por meio de sentimentos como amor, amizade, empatia,

solidariedade, altruísmo e ternura. As áreas relacionadas aos processos

emocionais ocupam territórios do cérebro, destacando-se o hipotálamo, a área

pré-frontal e o sistema límbico e estão presentes nas habilidades cinestésicas,

verbal, intra e interpessoal, lógico-matemática, visual, auditiva, musical,

espacial e social.

Sendo assim, estimular e desafiar esse cérebro pensante e que está

em constante atividade, permitir o diálogo entre movimento, afeto e emoção,

parece ser o melhor caminho para que a sala de aula fique mais atrativa para

os alunos e para os professores.

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Desta forma, mais do que nunca, a escola precisa ser formada por

profissionais que necessitam se compreender como agentes estimuladores

para formar novas conexões neurais e, por consequência, novas

aprendizagens, mas para isso precisa entender como se dá todo

funcionamento do SNC para poder atuar com qualidade e assertividade.

A Neurociência Cognitiva, ao atuar nos estudos do pensamento, da

aprendizagem, da memória e do uso da linguagem, contribui na formação e na

prática de educadores, pessoas fundamentais na organização do sistema

nervoso do aprendiz. É preciso que cada vez mais o educador conheça o

funcionamento cerebral e se qualifique para que haja uma mudança em sua

prática pedagógica. A partir dessa constatação, ficou clara a necessidade de

estabelecer um diálogo contínuo entre a Neurociência e a Educação.

O cérebro é a parte mais importante do nosso sistema nervoso, pois

é através dele que temos consciência das informações que chegam pelos

órgãos dos sentidos e processamos essas informações, associando-as às

vivências e aos nossos conhecimentos já adquiridos.

Os processos mentais, como o pensamento e a atenção acontecem

através do funcionamento cerebral, por meio de circuitos nervosos, constituídos

por dezenas de bilhões de células, chamadas de neurônios.

Através dos neurônios pode-se perceber uma potencialidade de

suma importância denominada sinapses, que são os impulsos elétricos que

perpassa pelos neurônios.

Neurônios são células especializadas, elas são feitas para receber certas conexões específicas, executar funções apropriadas a passar suas decisões a um evento particular a outros neurônios que estão relacionados com aqueles eventos (RELVAS, 2007, p. 22).

Um neurônio pode disparar impulsos diversas vezes por segundo,

mas a informação para ser transmitida para outra célula depende do axônio,

que é uma estrutura que ocorre geralmente nas porções finas do

prolongamento neural. Os locais onde ocorre a passagem da informação entre

23

as células, são chamados de sinapses e a comunicação é feita pelo

neurotransmissor, através da liberação de substância química. Existem

dezenas de neurotransmissores atuando no cérebro.

A percepção do mundo e de certos aspectos do meio orgânico

interno depende do trabalho dos sistemas sensoriais, que alimentam o SNC

com uma grande variedade de informações. Os receptores sensoriais vão fazer

a ligação entre o Sistema Nervoso e o Meio Ambiente. Cada sistema sensorial

tem suas especificidades.

Na metade posterior do córtex cerebral há regiões que recebem as

informações sensoriais e elas vão sendo processadas de forma cada vez mais

complexas, até que se tornem funções mais sofisticadas.

Os órgãos dos sentidos enviam as informações relevantes até o

cérebro por meio de circuitos neuronais. Se um estímulo importante é captado,

principalmente se tiver valor emocional, mobilizará a atenção e atingirá áreas

corticais específicas. As informações são direcionadas à amigdala cerebral,

envolvendo a emoção e a motivação.

Corpo e mente trabalham juntos o tempo todo. Quando a pessoa

percebe, o pensamento se abre e ela faz associações que a levam à

aprendizagem. O estímulo sensorial dá o disparo para os neurônios

funcionarem. Os estímulos sensoriais são traduzidos em sinais elétricos e

ativam um circuito na amígdala cerebral relacionada à memória.

As vias sensórias chegam ao cérebro por meio das cadeias

neuronais, que levam a informação até uma região do córtex, que é específica

para o processamento daquela modalidade sensorial.

O córtex cerebral é dividido em grandes regiões chamadas lobos,

sendo denominados lobos: frontal, parietal, temporal e occipital, com áreas

especializadas na recepção de algumas das muitas informações sensoriais. É

por intermédio do córtex cerebral que há a percepção de certa sensação.

Assim, há uma estimulação e a informação é levada através da cadeia

24

neuronal, que mobiliza neurônios no córtex cerebral, levando a um

processamento que ativa a consciência.

O cérebro recebe também, informações que vêm do interior do

corpo, como as sensações viscerais. Contudo, boa parte dessas sensações

chega ao córtex cerebral, não se tornando consciente.

O córtex cerebral é organizado em unidades funcionais com regiões

primárias, secundárias e terciárias, que permitem a interação com o ambiente e

o processamento das funções nervosas superiores. Todas as funções do

sistema nervoso dependem do funcionamento de suas células e de seus

neurônios, que se organizam em cadeias ou circuitos interagem para organizar

todas as funções nervosas, inclusive as que dão suporte aos processos

mentais humanos.

A maior parte do sistema nervoso humano é constituída ainda no

período embrionário e fetal e essa formação é fundamental para o

estabelecimento das funções que as diversas estruturas vão desempenhar.

Erros nessa fase, por questões genéticas ou ambientais, poderão gerar

distúrbios ou incapacidades para a vida inteira. Crianças com prejuízos nessa

fase (como os causados por exposição às drogas, medicamentos e má

nutrição), poderão precisar de estratégias e posturas pedagógicas especiais e

inclusivas.

Acreditava-se que novos neurônios não se formavam após o

nascimento e que havia perda progressiva à medida que a idade chegava.

Atualmente, sabe-se que algumas regiões do cérebro mantêm a capacidade de

produzir novas células durante a vida. A formação de novas ligações sinápticas

entre as células no sistema nervoso vai permitir o aparecimento de novas

capacidades funcionais.

O sistema nervoso modifica-se durante a vida, mas tem dois

momentos importantes ao longo do seu desenvolvimento. O primeiro é o

período em torno da época do nascimento, quando ocorre o ajuste do número

de neurônios que serão usados nos circuitos necessários à execução das

25

diversas funções neurais. O segundo período da época é na adolescência,

quando ocorre um grande arranjo, havendo um acelerado processo de

eliminação das sinapses, em diferentes regiões do córtex cerebral. Também há

um aumento de mielinização das fibras nervosas em circuitos cerebrais,

tornando-se mais eficientes.

A permanente plasticidade é um traço marcante do sistema nervoso

e permite fazer e desfazer ligações entre os neurônios como consequência das

interações com o ambiente externo e interno do corpo.

A aprendizagem leva à criação de novas sinapses e facilita o fluxo

da informação dentro de um circuito nervoso. Essa plasticidade em fazer e

desfazer associações é a base da aprendizagem. Pela plasticidade há uma

modificação na estrutura cerebral de acordo com novas experiências do

indivíduo. É a capacidade de adaptação dos neurônios aos estímulos

ambientais, hormônios ou lesões, tratando-se de uma adaptação e

reorganização da dinâmica do sistema nervoso frente às experiências vividas.

Durante o desenvolvimento e a vida adulta, a neuroplasticidade pode

manifestar-se paralelamente de três maneiras distintas: morfológica (mediante

alterações nos axônios, nos dendritos e nas sinapses, detectáveis

principalmente em animais experimentais, por meio de técnicas de

microscopia); funcional (mediante alterações na fisiologia neuronal e sináptica,

detectáveis também em situações experimentais, por meio de técnicas

eletrofisiológicas); e comportamental (mediante alterações relacionadas com os

fenômenos de aprendizagem e memória). O treino e a aprendizagem podem

levar à criação de novas sinapses e à facilitação do fluxo da informação dentro

do circuito nervoso.

Através das conexões entre os neurônios (sinapses), os impulsos

nervosos viajam de uma célula para a outra, servindo para o desenvolvimento

de competências e apoiando a capacidade de aprendizagem. A aprendizagem

é consequência da passagem de informações das sinapses. A aprendizagem,

do ponto de vista neurobiológico, se traduz pela formação e consolidação das

ligações entre células nervosas, sendo fruto de modificações químicas e

26

estruturais do sistema nervoso, sendo um processo individual, que obedece a

história de cada um.

A informação chega ao cérebro através das cadeias neuronais, o

sistema nervoso faz a seleção dessas informações, através de vários

mecanismos, como a atenção por exemplo. Através da atenção, somos

capazes de dar foco a determinado aspecto do ambiente, fazendo o descarte

do que não é necessário.

Os sistemas no encéfalo responsáveis pelas sensações,

percepções, movimentos voluntários, aprendizado, fala e conhecimentos estão

convergidos no córtex cerebral. O córtex cerebral é a parte do cérebro que

sofreu a maior expansão na evolução recente e que está relacionada a

aspectos mais elevados do comportamento.

As funções cognitivas podem ser localizadas dentro do córtex

cerebral, que é dividido em dois hemisférios e subdividido em lobos, onde cada

lobo tem sua função. O lobo frontal está relacionado ao planejamento e

movimento, o parietal com a sensação somática; o occipital com a visão e o

temporal com a audição, bem como a aprendizagem, memória e emoções.

Segundo Lent (2001), a neurociência cognitiva, por exemplo, pode

ser definida como a combinação de métodos que permitem entender os

mecanismos neurais do comportamento. Seu principal objetivo é o estudo das

representações internas dos fenômenos mentais e analisar os processos que

intervêm entre o estímulo e o comportamento.

A superfície do córtex é convoluta e está “dobrada” em cristas que

são os giros. Os giros estão separados por sulcos (ranhuras rasas) ou fissuras

(ranhuras mais profundas). Do córtex cerebral, saem os impulsos nervosos que

iniciam e comandam os movimentos voluntários e chegam os impulsos

provenientes das vias da sensibilidade, fazendo dele uma das partes mais

importantes do SN. Essa estrutura permite ao ser humano a elaboração do

pensamento abstrato e as representações simbólicas. O córtex está no

telencéfalo, estrutura do encéfalo, uma das divisões do SNC.

27

O Sistema Nervoso Central é dividido em duas grandes porções: o

encéfalo e a medula espinhal. O encéfalo é o conjunto de tecidos nervosos

dentro da caixa craniana e é dividido em três grandes estruturas: o cérebro

(formado pelo telencéfalo e pelo diencéfalo), o cerebelo (parte posterior do

encéfalo) e o tronco encefálico (formado por mesencéfalo, ponte e bulbo).

Essas divisões correspondem às porções do tubo neural de onde elas se

originam no desenvolvimento do Sistema Nervoso. O Sistema Nervoso Central

processa e coordena todas as informações recebidas pelos sentidos e todos os

comandos motores enviados aos órgãos, sendo a sede das funções cerebrais

mais complexas (como a memória, a inteligência, o aprendizado e as

emoções).

O encéfalo e a medula espinhal se relacionam com os órgãos

enviando comando para eles em forma de impulsos elétricos que são

transmitidos por nervos e tem a participação de neurônios. O encéfalo e a

medula são formados por células da glia, por corpos celulares de neurônios e

por feixes de dendritos e axônios. A camada mais externa do encéfalo tem cor

cinzenta e é formada principalmente por corpos celulares de neurônios. Já a

região encefálica mais interna tem a cor branca e é constituída principalmente

por fibras nervosas (dendritos e axônios). A cor branca se deve a bainha de

mielina que reveste as fibras.

Na medula espinhal, a disposição das substâncias cinzentas e

branca se inverte em relação ao encéfalo; a camada cinzenta é interna e a

branca é externa. É a parte mais caudal do SNC e recebem informações da

pele, das articulações e dos músculos do tronco e membros e envia comandos

motores para movimentos, sejam eles reflexos ou voluntários. Recebe e emite

sinais ao Sistema Nervoso Central; realiza conexão central com a periferia; é

subdividida em porções cervical, torácica, lombar, sacral, coccígea; realiza

reflexos autonômicos.

Tanto o encéfalo como a medula espinhal é protegido por três

camadas de tecido conjuntivo (as meninges). A meninge externa, mais

espessa, é a dura-máter; a meninge mediana é a aracnoide; e a mais interna é

28

a pia-máter, firmemente aderido ao encéfalo e a medula. A pia-máter contém

vasos sanguíneos responsáveis pela nutrição e oxigenação das células do

Sistema Nervoso Central.

O cérebro contém os centros nervosos relacionados com os

sentidos, a memória, o pensamento e a inteligência. O cérebro é o centro de

controle do movimento, do sono, da fome, da sede e de quase todas as

atividades vitais necessárias à sobrevivência. Todas as emoções também são

controladas pelo cérebro, ele está encarregado ainda de receber e interpretar

os inúmeros sinais enviados pelo organismo e pelo exterior.

A aprendizagem se dá, dessa forma, por um processo que ocorre

através da integração de diversas funções do Sistema Nervoso, e a

compreensão de como o encéfalo está organizado faz-se necessária para o

entendimento sobre como ocorre o processo de aprender.

2.1. O Circuito Cerebral da Aprendizagem

Aprendizagem e comportamento começam no cérebro e são

mediados por processos neuroquímicos. Os circuitos neurais incorporam

experiências aprendidas, que se transformam em conhecimentos em nossa

memória, formando novos repertórios comportamentais.

Os órgãos dos sentidos vão enviar informações até o cérebro, via

circuito neuronal, e se um estímulo importante é captado, principalmente se

tiver valor emocional positivo, vai mobilizar a atenção, que atingirá áreas

específicas do córtex que levarão informações direcionadas a amígdala

cerebral (Sistema Límbico), envolvendo a emoção e a motivação. Esse

mecanismo é então emocional, além de físico. Por isso, o professor, ao

planejar sua aula, precisa pensar na emoção que vai produzir e despertar com

aquela aula.

Neurofisiologicamente, o aprendiz está com os sentidos biológicos

estimulados, num movimento de conexões nervosas que não cessam. As

informações chegam ao cérebro, perpassam por fibras nervosas e são levadas

29

ao tálamo e distribuídas aos locais responsáveis por cada processamento. O

Sistema de Recompensa é acionado, assim como as áreas do hipocampo,

responsável pela memória.

Quando essas informações ou esse estímulo é conhecido do SNC,

desencadeia uma lembrança; quando é novo, desencadeia uma mudança e a

aprendizagem acontece. Para que a aprendizagem aconteça, é preciso

“desafiar” o cérebro de maneira positiva e agradável. “O aprendente atual é o

sujeito cerebral” (Relvas, 2012, p. 54). A aprendizagem acontece no ritmo de

cada um, pois as sinapses neurais perpassam pelo interesse do cérebro de

recompensa e pelo desejo do sistema límbico e cognitivo.

O aprender é então biológico, mas a relação e o estímulo para a

aprendizagem é afetiva, ocorre via interesse, desejo e motivação. O primeiro

estímulo é sensorial, assimilado rápido pelo cérebro e usa a memória de curta

duração. Depois, há associação de fatos e ideias e se aprende; há sentido no

que está sendo apresentado. Nessa fase, usa-se a memória de longo prazo.

Todas as áreas cerebrais são envolvidas no processo de

aprendizagem, inclusive a emoção. Os mecanismos cerebrais responsáveis

pela aprendizagem são o hipotálamo, o sistema límbico e o córtex.

A emoção dá sentido à cognição e à aprendizagem. O sistema

límbico comanda os sistemas endócrinos e os responsáveis pela vida

vegetativa, sendo também responsável pelas emoções. As emoções quando

não racionalizadas, enfraquecem o corpo. A parte do sistema límbico

relacionada às emoções e seus estereótipos comportamentais é o Circuito de

Papez.

Segundo Damásio (2000), os sujeitos são constituídos das suas

emoções, um processo que nasce da interpretação entre corpo e o cérebro, ou

na verdade, de uma sequência de dois processos: ter uma emoção e depois

sentir uma emoção.

30

Quando se aprende, vincula-se emoção e razão, sistemas

biologicamente interligados. Aprende-se quando há o envolvimento ativo no

processo de aprendizagem por meio da mobilização de atividades e na interação

com o outro. Aprender é um ritmo neurofisiológico da célula cerebral, frente aos

estímulos desafiadores.

A amígdala cerebral é uma espécie de conector do cérebro; ela se

comunica com o tálamo e com todos os sistemas sensoriais do córtex, através de

suas conexões. Os estímulos desafiadores (sensoriais) são traduzidos em sinais

elétricos e ativam um circuito entre amígdala e o tálamo. As conexões entre

amígdala e o hipotálamo, permitem que as emoções influenciem a aprendizagem.

A memória armazena e preserva a informação, sendo fundamental

para a aprendizagem. Quando há motivação, a fixação na memória é muito mais

rápida e eficiente. O hipocampo é o local do cérebro especializado em fixar a

memória. A aprendizagem e a memória são o suporte para todo o nosso

conhecimento e nossas habilidades.

Aprender faz parte de um desejo; envolve sonhos, perspectivas,

lógicas e sentimentos; é a experiência singular; gera autonomia de ação; e dá

movimento às tantas operações mentais e funções executivas do cérebro.

Na interação entre emoção e razão, o sistema límbico está presente, personagem importante para o cérebro. Elemento responsável pelo prazer e pelo aprendizado situa-se nesta região. (...) Aprender é um ato desejante e sua negação é o não aprender. (...) A emoção está para o prazer assim como o prazer está para o aprendizado, e a autoestima é a ferramenta que movimenta os estímulos para gerar bons resultados (RELVAS, 2005, pp. 51/52).

O processo de aprendizagem é um estado permanente de confirmação

das tantas atividades cerebrais dentro e fora dos padrões. E isso demanda e

depende do fluxo sensorial, logo, das emoções que transpassam o encéfalo. Os

educadores são profissionais das possibilidades, das potencialidades e dos

desafios cognitivos e emocionais. Logo, estar presente na sala de aula é um

privilégio e por isso essa posição precisa ser valorizada e resinificadas, para que

resultados surpreendentes comecem a acontecer.

31

CAPÍTULO III

O SISTEMA LÍMBICO E A AFETIVIDADE COMO

FERRAMENTAS PARA A APRENDIZAGEM – O USO

DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS MAIS

ENCANTADORAS E EFICIENTES QUE POTENCIALIZAM

RESULTADOS POSITIVOS

Nos tempos atuais, o educador encontra em sua sala de aula um

novo aluno, com interesses e comportamentos bem diferentes. As redes

sociais, os avanços tecnológicos e as mudanças nos padrões de consumo,

alteraram o modo de vida das pessoas em se relacionarem. Contudo, o

acúmulo de informações não significa real conhecimento, e o modo como ela é

interpretada e compartilhada tem influenciado nos relacionamentos

interpessoais estabelecidos no cotidiano social.

Nesse cenário estão também a escola e o professor, com a

responsabilidade de ensinar e com o desafio de encantar os alunos e revitalizar

as práticas pedagógicas. Ainda nesse cenário, a contribuição da Neurociência

se faz cada vez mais necessária, pois traz uma visão científica do processo de

ensinar e aprender, permitindo ao educador conhecer o aluno como um ser

biopsicossocial, através dos estudos da anatomia e fisiologia do SNC e dos

mecanismos neuronais que sustentam os atos perceptivos, cognitivos,

motores, afetivos e emocionais; ajudando-o na orientação da sua prática na

sala de aula.

Assim, o professor se conscientiza que seus alunos têm uma

biologia cerebral, com seus sentidos biológicos estimulados e um movimento

de conexões nervosas contínuas, e que a aprendizagem perpassa pelas

sinapses, pelo ritmo neural de cada um e a interação social.

Os alunos atuais são plurais, aqueles que questionam, criam

hipóteses, argumentam, criticam e têm autonomia para aprender. São

32

“cérebros pensantes”, com emoções e afetos que precisam ser respeitados em

sua individualidade, em seu ritmo para aprender, em suas competências e

habilidades.

Aprender sugere um movimento que abrange tanto a utilização dos

recursos cognitivos combinados com os processos internos, quanto com as

probabilidades sócias afetivas. Logo, a aprendizagem vai acontecendo à

medida que o aprendente vai edificando uma série de significados que são

decorrentes das interações que ela fez e continua a fazer em seu contexto

social.

No sistema nervoso central ocorrem modificações funcionais e de condutas, que dependem dos contingentes genéticos de cada um, associados ao ambiente onde está inserido, sendo este responsável pelo aporte sensitivo-sensorial, que vem por meio da substância reticular ativada pelo sistema límbico, que contribui com os aspectos afetivo-emocionais da aprendizagem (SANTOS, 2013, p. 02).

As dimensões da proposta escolar, igualmente como os seus êxitos,

estão diretamente ligados à construção de seres pensantes, críticos, com

instrumentos apropriados de melhorar o seu papel social promovendo

democratização. A vivência da cidadania plena é estudada e internalizada na

ação social e emocional.

Educar a mão significa educar/desenvolver o hipotálamo através do aprender a fazer; educar a mente/ espírito significa educar/desenvolver o nosso córtex, através do aprender a conhecer; e educar o coração significa educar/desenvolver o sistema límbico, através do aprender a conviver e do aprender a ser. Percebe-se que, geralmente, quando o conhecimento é apresentado de modo significativo ao educando, tende a ser assimilado mais facilmente por ele, por gerar um interesse maior pelo assunto (SANTOS, 2013, p. 02).

As descobertas recentes da Neurociência aprovisionam subsídios

admiráveis para a pedagogia e oferecem boas probabilidades de desvendar as

complexidades do cérebro e compreender, inicialmente, a natureza da

memória, da inteligência e o que acontece quando se aprende algo novo.

Para isso, é necessário pensar em estimular a capacidade de

raciocínio e julgamento, melhorar a capacidade reflexiva, desenvolver as

33

competências do pensar. A Neurociência tem o compromisso com a busca da

qualidade cognitiva da aprendizagem, associada também à aprendizagem do

pensar e da afetividade.

Segundo Salla (2013), a Neurociência e a Psicologia Cognitiva se

ocupam de entender a aprendizagem, mas têm diferentes focos. A primeira faz

isso por meio de experimentos comportamentais e do uso de aparelhos como

os de ressonância magnética e de tomografia, que permitem observar as

alterações no cérebro durante o seu funcionamento. A Psicologia, sem

desconsiderar o papel do cérebro, foca nos significados, se pautando em

evidências indiretas para explicar como os indivíduos percebem, interpretam e

utilizam o conhecimento adquirido.

O saber atual pressupõe que o homem contenha o processo de

origem e desenvolvimento das coisas face ao pensamento crítico. O

pensamento crítico tem seus tipos característicos de generalização e enleio,

seus procedimentos de formação dos conceitos e operações com eles.

Para Mietto (2013), os avanços e descobertas na área da

Neurociência ligada ao processo de aprendizagem é sem dúvida, uma

revolução para o meio educacional. A Neurociência da aprendizagem, em

termos gerais, é o estudo de como o cérebro aprende. É o entendimento de

como as redes neurais são estabelecidas no momento da aprendizagem, bem

como de que maneira os estímulos chegam ao cérebro, da forma como as

memórias se consolidam, e de como temos acesso a essas informações

armazenadas.

Ainda segundo Mietto (2013), vale destacar que uma importante

descoberta das neurociências para viabilizar um aprendizado prazeroso é que

por meio de atividades desafiadoras o “disparo” entre as células neurais advém

com facilidade às sinapses que se fortalecem e as redes neurais que se

estabelecem com mais facilidade.

Os educadores atualmente precisam conhecer mais profundamente,

esse incrível mundo chamado cérebro humano, para conseguir elaborar, definir

34

e organizar melhor os conceitos sobre aprendizagem, identificando por meio do

SNC seus processos e como produzem modificações mais ou menos

permanentes, que se traduzem por uma modificação funcional ou

comportamental permitindo a melhor adaptação do indivíduo ao seu meio como

resposta a uma solicitação interna ou externa do organismo.

Segundo Relvas (2012), quando um estímulo já é conhecido do

Sistema Nervoso Central, desencadeia uma lembrança; quando o estímulo é

novo, desencadeia uma mudança. Essa é a maneira de se entender a

aprendizagem do ponto de vista neurocientífico.

Não se pode esperar que os alunos concentrem sua atenção nas

atividades, se estas não forem estimulantes. A afetividade é uma função

psicológica regulada biologicamente pelo sistema límbico-hipotalâmico. Refere-

se especificamente ao que se ama, ao que se tem cuidado, e está relacionada

à função de registro permanente e evocação da memória, como também aos

valores e à consciência ética.

A afetividade implica na relação com o outro, em afinidades, atua

biologicamente no ser e resulta da integração córtico-diencefálica. Tem

duração no tempo e gera inteligência relacional que se expressa por meio de

sentimentos como amor, amizade, empatia, solidariedade, altruísmo e ternura.

As áreas relacionadas aos processos emocionais ocupam territórios do

cérebro, destacando-se o hipotálamo, a área pré-frontal e o sistema límbico e

estão presentes nas habilidades cinestésicas, verbal, intra e interpessoal,

lógico-matemática, visual, auditiva, musical, espacial, social e naturalista.

Sendo assim, a seleção de experiências interessantes e

estimulantes, a identificação de perguntas reflexivas, a variação de estímulos,

exercícios de aplicação e de revisão, o relacionamento interpessoal que

mantém com os alunos, a adequação de sua comunicação, dentre outros

aspectos, faz-se necessário.

Estimular e desafiar esse cérebro pensante e em constante

atividade, permitir o diálogo entre movimento, afeto e emoção, parece ser o

35

caminho a ser trilhado para uma sala de aula atrativa para os aprendentes e

também para os professores.

Desta forma, mais do que nunca, a escola precisa ser formada por

profissionais que necessitam se compreender como agentes estimuladores

para formar novas conexões neurais e, por consequência, novas

aprendizagens.

As aulas precisam ser prazerosas, atraentes e “com sabor”,

elaboradas e com estratégias para tender os movimentos neuroquímicos e

neuroelétricos do aprendente, estimulados por novas situações e novos

desafios, que despertem a curiosidade, o interesse do cérebro de recompensa

e o desejo do sistema límbico. O professor, ao ter conhecimento de como a

aprendizagem acontece, deve estimulá-la e propor ferramentas para o aluno

aprender a aprender e a pensar. Para isso, precisa oferecer diferentes

estratégias e estimular os sentidos. Algumas dicas importantes ajudam a

melhorar a prática pedagógica em muitos aspectos:

� Criar um clima favorável para a aprendizagem, uma roda de

conversa, um ciclo de debates com dinâmicas de socialização, levando o

aprendente a sentir-se mais seguro em seus questionamentos e em suas

respostas;

� Dividir a aula em espaços curtos de tempo com propostas

diversificadas;

� Criar um quadro de rotina do dia, estimulando os alunos a se

comprometerem com todas as atividades propostas daquele dia e sugerir uma

“recompensa” ao final do dia para o grupo, caso todas as tarefas sejam

concluídas com sucesso;

� Conhecer e respeitar as particularidades de cada aluno e a

forma como sua memória trabalha;

36

� Reservar o último tempo de aula para conversar sobre o que

foi abordado naquele dia, permitindo assim uma releitura e sistematização dos

assuntos tratados;

� Estabelecer relações entre novos conteúdos e aprendizados

anteriores;

� Propor atividades que levem o aluno a relacionar, ressignificar

e refletir sobre as informações, para que os conteúdos sejam de fato

aprendidos e virem memória, dando a ele condições para construir sentido

sobre o que está vivendo em sala de aula;

� Utilizar de gráficos, tabelas, diagramas, slides, desenhos,

vídeos, músicas, entre outros recursos, pois isso faz com que o cérebro tenha

mais facilidade para compreender e armazenar as informações e depois

conseguir resgatá-las.

� Utilizar de brincadeiras, jogos, adivinhações, dramatizações,

atividades ao ar livre, experimentações que levem emoção aos alunos e

favoreçam a aprendizagem, tornando a mesma mais significativa;

� Ter na sala de aula, um espaço rico em estímulos cognitivos,

de diferentes linguagens, com cores, aromas, sons, sabores, que permitam

uma interação ativa e significativa na relação professor/aluno, no

desenvolvimento de atividades pedagógicas planejadas e de acordo com cada

faixa etária;

� Propor atividades que desenvolvam as funções executivas,

que são essenciais para o desenvolvimento de toda a trajetória escolar

(memória de trabalho, flexibilidade cognitiva, controle inibitório).

O professor, ao observar as emoções dos alunos, pode ter sinais de

como o meio escolar os afeta: se o está estimulando e desafiando

emocionalmente ou se o está levando a apatia e ao desinteresse, por ser

desestimulante.

37

A afinidade provoca reações químicas e neurais que ocorrem no

cérebro emocional e irão interferir de forma inigualável na aprendizagem.

Somente a partir da compreensão do aprendente como ser biopsicossocial, se

tornará possível uma intervenção pedagógica mais eficaz, focada no aluno,

pois aprender é um ato emocional.

O aluno deve ser visto como um sujeito ativo, capaz de aprender,

que percebe o ambiente que está inserido e age sobre ele. A mediação do

professor nessas experiências, fornecendo estímulos diversificados e

significativos, vai otimizar a aprendizagem e o desenvolvimento pleno, através

da ampliação das experiências e do aprimoramento das competências e

habilidades dos alunos. Através dessa observação e da mediação com o aluno,

o professor consegue criar um panorama favorável à aprendizagem e até

mesmo, reverter um quadro desfavorável.

Cabe ao professor/educador, propor, orientar e oferecer condições

para que o aluno exerça suas potencialidades. Um dos papéis do professor

emocionalmente inteligente consiste em estimular as competências emocionais

dos alunos.

Os alunos apresentam centros de interesse diversos e cada um

aprende de uma forma. Uns são mais visuais, outros mais auditivos, alguns

mais cenestésicos, uns mais espaciais. Além disso, cada um vai apresentar um

ritmo neural próprio para aprender. Por isso, experiências pedagógicas ricas

em diversos tipos de estímulos são fundamentais para o desenvolvimento de

interesses e capacidades de todos os alunos e suas formas de aprender.

O olhar atento e os registros de observações dos professores os

ajudarão a conhecer e a identificar as áreas de competência e de interesse dos

alunos, assim como avaliá-las, pois assim como a aprendizagem é um

processo contínuo, a avaliação também é.

Quando a avaliação está inserida no ambiente de aprendizagem, ela

permite aos professores observarem o desempenho dos alunos em várias

38

situações, assim como a variação de seus interesses e domínios, possibilitando

aumenta-los e diversifica-los, evitando a limitação de experiências.

A experiência de ser bem-sucedida dá à criança a confiança para

entrar em novos desafios e a motivação para aprender novas habilidades e

persistir em desafios quando o considerarem interessantes e significativos.

O sentimento de competência tem um vínculo direto com o fator

emocional. Esses estímulos provocam transformações em circuitos neurais

levando ao desenvolvimento e reorganização da estrutura cerebral, resultando

em aprendizado.

Quando os alunos chegam a uma conclusão ou descobrem algo

significativo, entra em ação o sistema de recompensa. Ativar esse sistema

significa aumentar o funcionamento de dois componentes cerebrais

importantes: a área Tegmental Ventral (acionada quando recebe um sinal de

que algo positivo tem chances ou acaba de acontecer, no córtex pré-frontal) e

núcleo acumbente (quando esse momento acontece ou está preste a ocorrer,

os neurônios da área Tegmental despejam dopamina sobre o núcleo). Quanto

maior a quantidade de dopamina recebida, maior é a motivação e a sensação

de bem-estar. Dessa forma, temos a tendência de repetir estímulos que

possam ativar nosso sistema de recompensa.

Nesse contexto, o professor é o mediador entre o objeto do saber e

o aluno, para que esse seja o autor do seu próprio conhecimento. Conhecer as

conexões neurais do aluno é fundamental para que sejam elaboradas

atividades que envolvam e desenvolvam suas funções motoras, sensitivas e

cognitivas. Assim, é de vital importância que os educadores compreendam que

a forma de aprender e o comportamento dos alunos são frutos de uma

atividade cerebral e dinâmica.

O professor/educador é sem dúvida, um grande agente do processo

de ensinar e aprender. Por mais que se invista em laboratórios, quadras e

recursos tecnológicos, sabendo que estes também são importantes, é a

motivação do professor que “encanta” e revigora os alunos.

39

A maneira como o professor se comporta com seus alunos, através

da motivação, dos desejos e valores, afeta todo o contexto da sua sala de aula

e perpassa os muros escolares. Assim, torna-se muito importante valorizar

esse vínculo afetivo professor/aluno, para que a aprendizagem se torne cada

vez mais eficaz, favorecendo a autoestima, o diálogo e a socialização. A partir

desse pressuposto, o professor constrói com o aluno e se preocupa com o

processo e não com o resultado. O professor nesse momento se compromete

consigo mesmo em sempre buscar novos e diferentes caminhos para ensinar,

porque entende que os alunos têm diferentes formas para aprender.

Encontrar a melhor metodologia e a melhor prática de trabalho exige

do professor pesquisa, empenho, e um olhar investigativo, um olhar

diferenciado, um olhar atento para avaliar e acompanhar o processo de

desenvolvimento de seus alunos.

Aprende-se melhor quando há integração do sensorial, do

emocional, do racional, do ético, do pessoal e do social. Quando há interação

com os outros e com o mundo e quando há motivação e interesse em conhecer

algo. Aprende-se melhor quando há vivência, experiência, conexão com o real

e com afeto. A busca de novos conhecimentos e a esfera da motivação

favorece ao professor o acompanhamento do processo de aprendizagem de

seus alunos e a compreensão em que ele acontece.

Segundo Relvas (2010), aprendemos com a cognição, mas sem

dúvida alguma, aprendemos pela emoção, o desafio é unir conteúdos

coerentes, desejos, curiosidades e afetos para uma prazerosa aprendizagem.

A afetividade é um componente básico no processo ensino-

aprendizagem, porque dinamiza as interações, facilita a comunicação, promove

a união e multiplica as potencialidades. O afeto é um instrumento pedagógico

primordial, que transforma o educar em formar e informar em forma de amor.

40

CONCLUSÃO

A Neurociência se estabelece como uma grande aliada do docente

para poder coligar o indivíduo como ser pensante, influente, que aprende em

consonância com sua subjetividade. Descobrindo os mistérios que abrange o

cérebro na hora da aprendizagem, a Neurociência disponibiliza ao atual

professor/educador, importantes e adequados conhecimentos acerca de como

se processam a memória, a linguagem, o esquecimento, o humor, o sono, o

temor, como os conhecimentos se agrupam, como se dá o desenvolvimento

infantil, o desenvolvimento cerebral e a importância das emoções.

Logo, é imprescindível pensar na conexão de áreas do

conhecimento para apresentar oportunidades diferenciadas de aprendizagem

para os alunos com dificuldades. O trabalho diversificado ainda configura-se

como alternativa para que o docente tenha condições de dar maior atenção aos

grupos de alunos com dificuldades. Por isso, recomenda-se que o docente

reflita a cerca de sua prática pedagógica, de maneira especial sobre as

atividades recorrentes e sobre as experiências que são apresentadas, que nem

sempre tendem a respeitar a subjetividade dos alunos.

É necessário promover o respeito à diversidade e preocupar-se em

indicar aprendizagens expressivas para todos os alunos, com o objetivo de que

eles possam adquirir o gosto pela aprendizagem e aprendam a aprender.

Somando a isso, é necessário que a escola seja diligente voltada para a

aprendizagem funcional, que tenha emprego prático no cotidiano, tornando a

aprendizagem mais significativa. O ambiente escolar deve ser planejado para

facilitar as emoções positivas.

A Neurociência Pedagógica implica um novo olhar do educador e da

escola sobre a aprendizagem humana e propõe trazer mais clareza acerca dos

mecanismos neuronais que sustentam a percepção e os atos cognitivos e

motores, necessários à aprendizagem.

41

A aprendizagem tem uma estrutura afetiva, estimulada pela

linguagem, pelas sensações, pelo lúdico, pelas artes e pela interação social,

que impulsionarão o desenvolvimento cognitivo e o próprio processo de

aprendizagem. O ser humano pensa, sente e age e o aprendizado escolar

requer prontidões neurobiológicas, cognitivas e emocionais.

É fundamental nos dias atuais o estabelecimento de um diálogo

entre a Educação e a Neurociência, levando o educador a conhecer os

fundamentos neurocientíficos do processo ensino-aprendizagem, que

contribuirão para o sucesso de suas práticas, a melhoria do seu desempenho e

a consequente evolução do aluno.

A proposta da escola no cenário atual deverá se apoiar na

integralidade do aprendente e do professor (razão/emoção), compreendendo

que as informações são processadas, armazenadas e respondidas pelo

cérebro cognitivo, emocional, motor, afetivo e social.

Hoje é possível transformar as salas de aula em lugares acolhedores

e prazerosos, com uma aprendizagem mais significativa e mais emotiva, que

despertem saudades ao final do dia. Só depende do empenho do professor em

buscar essas novas “ferramentas” e se apropriar delas de maneira adequada,

entendendo que isso tudo faz parte de um processo de construção que será

positivo para ambos os lados. É preciso sair da zona de conforto, pois lá pode

parecer cômodo, mas nada de novo acontece e os pensamentos, as ideias, as

vontades ficam sempre atrofiadas.

Quem não experimenta ações afetivas em suas vidas, pode

apresentar falta de interesse pelos demais e “cair” na não adaptação social,

apresentando conflitos e ter uma autoestima inadequada. Por tanto, a

afetividade desempenha um papel fundamental não só na vida, mas

principalmente na trajetória escolar.

42

BIBLIOGRAFIA

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Desvendando o Sistema Nervoso. 3ª ed., Porto Alegre: Artmed, 2010.

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Rio de Janeiro: WAK, 2014.

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Janeiro: WAK, 2014.

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WAK, 2012.

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Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br. Acesso em 09 abr 2017.

SANTOS, Denise Russo dos. Contribuições da Neurociência à aprendizagem

escolar na perspectiva da educação inclusiva. Disponível em:

http://www.faetec.rj.gov.br/. Acesso em 09 abr 2017.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Afetividade e Aprendizagem – Contribuições da Neurociência no

Ambiente Escolar 10

1.1. Uma Visão Neurocientífica do Processo de Ensinar e Aprender 12

1.2. A Motivação e o Cérebro da Criança 16

CAPÍTULO II

O Sistema Nervoso e a Aprendizagem – As Bases Neurobiológicas do

Processo de Aprender 20

2.1. O Circuito Cerebral da Aprendizagem 28

CAPÍTULO III

O Sistema Límbico e a Afetividade como Ferramentas para a

Aprendizagem – O Uso das Práticas Pedagógicas mais Encantadoras e

Eficientes que Potencializam Resultados Positivos 31

CONCLUSÃO 40 BIBLIOGRAFIA 42 WEBGRAFIA 44 ÍNDICE 45