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Doença de Still do Adulto provável, de aparecimento durante a gravidez, refractária ao tratamento e complicada com eclâmpsia e choque séptico. Abril 30 2011 Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa Caso Clínico Nikita Khmelinskii n.º 4074 Clínica Universitária de Doenças Infecciosas Responsável da Unidade: Prof. Doutor Francisco Antunes Tutor: Dr. Fernando Manuel Tavares Maltez

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Doença de Still do Adulto provável, de aparecimento durante a gravidez, refractária ao tratamento e complicada com eclâmpsia e choque séptico.

Abril 30

2011

Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa Caso Clínico Nikita Khmelinskii n.º 4074

Clínica Universitária de Doenças Infecciosas

Responsável da Unidade: Prof. Doutor Francisco Antunes

Tutor: Dr. Fernando Manuel Tavares Maltez

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Probable Adult-onset Still’s Disease, newly diagnosed during pregnancy, refractory to the treatment and complicated with eclampsia and septic shock.

April 30

2011 Faculty of Medicine of the University of Lisbon Clinical Case

Nikita Khmelinskii n.º 4074

Infectious Diseases University Clinic

Head of Unit: Francisco Antunes M.D., Ph.D.

Tutor: Fernando Manuel Tavares Maltez M.D.

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Doença de Still do Adulto provável, de aparecimento durante a gravidez, refractária ao tratamento e complicada com eclâmpsia e choque séptico./ Probable Adult-onset Still’s Disease, newly diagnosed during pregnancy, refractory to the treatment and complicated with eclampsia and septic shock.

Abril 30

2011

A Doença de Still do Adulto (DSA) é uma doença inflamatória sistémica rara e de etiologia desconhecida, caracterizada por picos febris acompanhados de manifestações sistémicas, entrando no diagnóstico diferencial do Síndrome Febril de Etiologia Desconhecida (SFED). Apresenta-se o caso clínico duma mulher de 31 anos, grávida, transferida para o Serviço de Infecciologia do Hospital Curry de Cabral no contexto dum SFED com 3 semanas de evolução, acompanhado de exantema maculo-papular, odinofagia e epigastralgias, e analiticamente com subida dos parâmetros inflamatórios, anemia normocítica normocrómica, trombocitopénia e disfunção hepática. A doente preenchia os critérios de Yamaguchi para DSA, tendo-se iniciando corticoterapia com resposta ligeira ao fim de 2 semanas. Durante o internamento desenvolveu eclâmpsia e choque séptico refractário ao tratamento, e tanto feto como mãe acabaram por falecer.

Caso Clínico

Adult-onset Still’s Disease (AOSD) is a rare systemic inflammatory disorder of unknown etiology characterized by spiking fever accompanied by systemic manifestations, being a differential diagnosis of Fever of Unknown Origin (FUO). A clinical case is presented of a 31 year old pregnant woman, transferred to the Infectology Department of the Curry de Cabral Hospital, in the context of a 3 week old FUO accompanied by a maculo-papular rash, odinofagy and epigastric pain, and analytically an increase of the inflammatory parameters, normocytic normochromic anemia, thrombocytopenia and hepatic dysfunction. The patient met the Yamaguchi criteria for AOSD and was treated with corticotherapy presenting weak response after 2 weeks of treatment. During the internment she developed eclampsia and septic shock refractory to the treatment, and both fetus and mother died.

Clinical Case

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Abreviaturas ac. – anticorpo

acHBc – anticorpo anti-proteína de nucleocápside do vírus da Hepatite B

ADA – adenosine deaminase

agHBs – antigénio de superfície do vírus da Hepatite B

AINE’s – antinlamatórios não esteróides

ANA – antinuclear antibodies

ANN – anemia normocítica normocrómica

ALT – alanina aminotransferase

ARDS – Acute Respiratory Distress Syndrome

AST – aspartato aminotransferase

AR – Artrite Reumatóide

ARA – American Rheumatism Association

bpm – batimentos por minuto

BO – Bloco Operatório

CES – cesariana

CID – coagulação intravascular disseminada

C3 – fracção 3 do complemento

C4 – fracção 4 do complemento

dd(s) – diagnóstico(s) diferencial(is)

DSA – Doença de Still do Adulto

D – dia de internamento no HCC

EBV – Epstein-Barr virus

ECDs – exames complementares de diagnóstico;

ECO – ecocardiografia

ECOCG – ecocardiograma

EV – endovenoso

FA – fosfatase alcalina

FR – factor reumatóide

GGT – gama glutamil transferase

Fencurtamento – fracção de encurtamento

FSG – função sistólica global

HAV – hepatitis A virus

HCC – Hospital Curry de Cabral

HCV – hepatitis C virus

HEV – hepatitis E virus

HIV – human immunodeficiency virus (vírus da Imunodeficiência Humana)

HTA – hipertensão arterial

ICAM-1 – intercellular adhesion molecule 1

HTP – hipertensão pulmonar

IFN-γ – interferão gama

IgD – imunoglobulina D

IgG – imunoglobulina G

IgM – imunoglobulina M

IL-6 – interleucina 6

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ITU’s – infecções do trato urinário

LDH – desidrogenase láctica

LES – Lúpus Eritematoso Sistémico

MAC – Maternidade Alfredo da Costa

MAS – Macrophage Activation Syndrome

MF – morte fetal

NA – noradrenalina

PAS – ácido periódico de Schiff

PCR – proteína C reactiva

PCR HVS 1 – polymerase chain reaction, Herpes Simplex virus 1

PCR HVS 2 – polymerase chain reaction, Herpes Simplex virus 2

PDN – prednisolona

PL – punção lombar

PMN – polimorfonucleares

PTE – parto eutócico de termo

PTT – Púrpura Trombocitopénica Trombótica

RN – recém-nascido

RPR-VDRL – Rapid Plasma Reagin, Venereal Disease Research Laboratory

RX – telerradiografia

SFED – Síndrome Febril de Etiologia Desconhecida

SI – Serviço de Infecciologia

SIRS – Systemic Inflammatory Response Syndrome

SU – Serviço de Urgências

TAd – tensão arterial diastólica

TAs – tensão arterial sistórlica

TC – tomografia computorizada

TC-CE – tomografia computarizada crâneo-encefálica

TNF-α – tumor necrosis factor alfa

TT – temperatura timpânica

trim. – trimestre

UCI – Unidade de Cuidados Intensivos

Unidades S.I. – unidades do Sistema Internacional

VCAM-1 – vascular cell adhesion molecule 1

VE – ventrículo esquerdo

VR – Vasculite Reumatóide

VS – velocidade de sedimentação

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Background A Doença de Still do Adulto, é uma doença inflamatória sistémia rara de etiologia e patogénese

desconhecidas, caracterizada por picos febris diários ou bi-diários acompanhados de

manifestações sistémicas como exantema evanescente, artalgias e envolvimento multi-orgânico.

Em 1971, o termo DSA foi usado para descrever uma série de doentes adultos que não

preenchiam os critérios clássicos para Artrite Reumatóide mas que se apresentavam com

características semelhantes às crianças com Artrite Idiopática Juvenil de início sistémico ou

Doença de Still.

A sintomatologia e as alterações laboratoriais são inespecíficas, sendo o diagnóstico de exclusão

feito tendo por base um conjunto de critérios estabelecidos, dos quais os critérios de Yamaguchi

et al. (vide Tabela 1) apresentam maior sensibilidade em pacientes com diagnóstico definitivo

de DSA.

Pode apresentar-se pela 1.ª vez durante a gravidez como Síndrome Febril de Etiologia

Desconhecida, tendo bom prognóstico materno e fetal, depois do diagnóstico e correcta

instituição da terapêutica.

Caso Clínico

Pré-admissão Grávida de 31 anos de idade, de etnia cigana, transferida da MAC para o Serviço de

Infecciologia do HCC para investigação dum SFED.

Tinha como antecedentes pessoais relevantes: grupo sanguíneo B/Rh+; e história obstétrica com

4 Gesta 3 Para 0 Aborto 0 – 1997 PTE; 1999 CES por sofrimento fetal; 2002 PTE; 2010

gravidez de 25 semanas + 1 dia à data de admissão no HCC, seguida pelo médico de família –

sem outras intercorrências durante as gravidezes, sem intercorrências no pós-parto e recém-

nascidos saudáveis.

À entrada na MAC (11/05/2010) a doente referia uma história de exantema eritematoso macular

difuso com aproximadamente 2 meses de evolução, inicialmente pruriginoso, com início nas

coxas e progressão para o tronco, a face e os membros superiores, que a levou, a recorrer à

Consulta de Dermatologia do HCC (06/05/2010) e à realização de biópsia cutânea com

resultado histológico sugestivo de Urticária Crónica (infiltração inflamatória intersticial muito

ligeira da derme por linfócitos e neutrófilos, sem evidência de vasculite); febre alta (> 39 ºC)

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com cerca de 2 semanas de evolução, sem horário preferencial e com fraca resposta a

antipiréticos; vários episódios de vómitos alimentares, epigastralgias e uma dejecção diarreica;

tosse seca e posterior aparecimento de odinofagia; que levou a doente a recorrer ao SU da MAC

e ao seu internamento, por elevação marcada dos parâmetros inflamatórios – leucocitose

22.600/mm3 com neutrofilia 92% e PCR 30,9 mg/L. A doente negava alergias ou toma

medicamentosa (AINE’s, antibióticos) antecedente ao início do quadro clínico.

Na MAC apresentou urina II com nitritos positivos, iniciando antibioticoterapia empírica com

Ceftriaxone 1 g de 12/12 horas e posteriormente em associação com Gentamicina 80 mg de 8/8

horas por manutenção da febre, que manteve até à data de transferência para o HCC

(18/05/2010), sem melhoria sintomática ou analítica.

Também durante este internamento realizou ECDs com os seguintes resultados: 1) urocultura

(11/05/2010) e hemocultura (13/05/2010) negativas para aeróbios e fungos; 2) ECO-obstétrica

(12/05/2010) com gravidez evolutiva 24 semanas + 2 dias, sem alterações placentárias ou do

desenvolvimento fetal; 3) exsudado faríngeo (13/05/2010) positivo para Streptococcus viridans

(sensível à Penicilina; resistente à Claritromicina, Ampicilina, Co-trimoxazol, Eritromicina,

Amoxicilina/ Clavulunato); 4) RX-tórax (17/05/2010) com reforço hilar bilateral, sem

condensação pulmonar evidente e sem outras alterações relevantes; 5) ECO-abdominal e renal

(17/05/2010) com ligeira fibrose peri-portal e sem outras alterações relevantes; e aguardava

mais três hemoculturas, serologias para Brucella, Coxiella burnetti, EBV, Salmonella tiphy e

paratiphy, HAV, HEV, carga viral HIV 1 e 2, população linfocitária, e teste de Mantoux – testes

que posteriormente revelaram-se negativos/ sem alterações relevantes.

À data da transferência a doente manteve-se febril (38,2 ºC), hemodinamicamente estável, com

dor epigástrica inespecífica e exantema eritematoso maculo-papular, difuso e não pruriginoso.

Admissão e Internamento Inicial À entrada no HCC a doente apresentava-se sub-febril (37,5 ºC); hemodinamicamente estável

(TA – 100/57 mmHg, FC – 115 bpm); com abdómen globoso, doloroso à palpação do epigastro

e hipocôndrio direito, mas sem sinais de irritação peritoneal; com ligeiro edema maleolar

bilateral; com exantema eritematoso maculo-papular morbiliforme (com atingimento simétrico

da face, tronco, membros superiores e coxas, sem atingemento palmo-plantar ou das mucosas) e

lesões herpetiformes nos lábios; sem outras alterações relevantes.

Analiticamente (19/05/2010) apresentava: leucocitose (25.700/mm3) com neutrofilia

(24.300/mm3, 94,6%) e linfopenia (600/mm

3, 2,2%); PCR 28,7 mg/L; VS 92 mm/h;

trombocitopénia 77x103/mm

3; anemia normocítica normocrómica 9,5 g/dL; disfunção hepática

com AST 231 U/L, ALT 49 U/L, GGT 125 U/L, FA 254 U/L, hipoproteinémia (4,7 g/dL) com

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hipoalbuminémia (2,0 g/dL), bilirrubina total 0,4 mg/dL, LDH 4065 U/L, fibrinogénio

551 mg/dL, sem alterações da hemostase; hipoglicémia 59 mg/dL; sem outras alterações

bioquímicas relevantes.

Perante este quadro clínico-analítico, não responsivo à antibioticoterapia e por se suspeitar de

patologia de origem não infecciosa, decidiu-se pela suspensão da antibioticoterapia iniciando-se

terapêutica sintomática.

Durante o internamento realizou ECDs com os seguintes resultados: 1) ECOCG (20/05/2010 e

24/05/2010) com ligeiro derrame pericárdico circunferencial e ligeira dilatação bi-auricular, sem

outras alterações estruturais aparentes; com boa função sistólica global; sem sinais de

compromisso hemodinâmico e sem evidência de vegetações; 2) TC toraco-abdominal superior

(27/05/2010) com formações ganglionares de dimensões aumentadas, especificamente em

ambos os escavados axilares, de características inespecíficas; cardiomegália com predomínio do

VE, derrame pericárdico ligeiro; hepatomegália ligeira à custa do lobo esquerdo; sem alterações

grosseiras do padrão parenquimatoso pulmonar, sem derrame pulmonar; sem esplenomegália;

sem outras alterações relevantes; 3) Biópsia óssea (02/06/2010) inconclusiva por amostra

insuficiente, com hipoplasia medular ligeira (à custa de todas as séries hematopoiéticas, sem

granulomas ou depósitos de ferro observáveis, sem infiltrado linfocitário ou neoplasia, com

pesquisa de microorganismo, pelo PAS, Grocott, Ziehl-Nielsen e Fite, negativa); 4) ECO-

obstétrica sem alterações relevantes; 5) exames bacteriológico, cultural (sangue, urina),

parasitológico e micológico (exsudado vaginal/ endocérvix) negativos; e 6) avaliação

laboratorial que revelou: proteinúria 639 mg/24h; serologias negativas para infecção activa e/ou

recente (com excepção de Herpes Labial por HSV 1); imunologia com ANA positivo, C4

diminuído com C3 normal, e restante pesquisa de auto-anticorpos negativa;

ferritina > 1000 ng/mL (vide Tabela 2).

A doente preenchia os critérios de Yamaguchi et al. (vide Tabela 1) para DSA, após exclusão de

patologia infecciosa, auto-imune ou neoplásica, tendo-se iniciado terapêutica com Prednisolona

a 1 mg/kg/dia (80 mg/dia), com dose inicial de 160 mg (2x 80 mg).

Ao fim de 2 semanas de corticoterpia a doente apresentou melhoria sintomática e analítica

ligeira, com aumento dos períodos assintomáticos e de apirexia, com diminuição parcial dos

parâmetros inflamatórios, e sem melhoria significativa da disfunção hepática (vide Gráfico 1 e 2 – D3-

18) (com ligeira diminuição das transaminases e com shift para um padrão de colestase com

aumento da bilirrubina circulante à custa dum aumento da bilirrubina conjugada); perda

ponderal de 5 kg (94,5 kg para 90 kg); com períodos de náuseas e vómitos alimenates; e

períodos de maior prurido; sem outras intercorrências relevantes (prurido vaginal com disúria,

tratados empiricamente com Co-trimazol vulvar).

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Por manutenção do quadro clínico, pondera-se indução do trabalho de parto, realizando-se

ciclos de maturação pulmonar fetal com Betametasona 12 mg/dia, e pondera-se alteração da

terapêutica para associação com Anacinra.

Evolução e Internamento Final Na madrugada do 04/06/2010 a doente tem uma convulsão tónico-clónica, com pico febril de

40,4 ºC (após 48 horas de apirexia), pico hipertensivo de 243/140 mmHg, frequência cardíaca

de 160 bpm. É realizada uma CES por morte fetal no BO da MAC, sendo de seguida transferida

para a UCI do HCC com necessidade de ventilação artificial, terapêutica anti-arrítmica com

Amiodarona e terapêutica vasopressiva com Dobutamina a e NA. Objectivamente apesar de

sedada a doente despertou apresentando-se agitada e desorientada, com hipotensão (TA –

± 85/ 60 mmHg), conectada em pressão assistida de 15/8/45% com oxisaturações de ~100% e

padrão gasimétrico de acidose metabólica nõa compensada com acidémia – pH 7,331;

pCO2 27,9; pO2 135; HCO3- 14,3; Lactato 5,8 – taquicardia (115-130 bpm) e perdas sanguíneas

exuberantes (epistáxis, sangramento da cavidade oral), embora sem alterações significativas de

hemostase – plaquetas 148.000 mm3, TP 71%, INR 1,3.

Os ECDs realizados revelaram: 1) hemocultura (04/06/2010) positiva para Enterobacter cloacae

(resistente à Ampicilina, Amoxicilina/ Clavulunato, Cefatolina; sensível à

Piperacilina/ Tazobactam, Imipenem, Cefuroxima em administração parentérica, Cefotaxima,

Gentamicina, Ofloxacina, Ciprofloxacina); 2) PL (04/06/2010) com resultado bioquímico e

citológico inespecífico para infecção do SNC; 3) TC-CE (04-06-2010) sem alterações

significativas na distribuição das densidades encefálicas, sem densidades hemáticas

intracranianas ou sinais de efeito de massa, com cisternas da base e sistema ventricular de

densidade e configuração mantidas; 4) ECOCG (04-06-2010) com alterações estruturais

sobreponíveis às detectadas em exames anteriores e depressão da FSG com Fencurtamanto de 22%;

5) ECO-abdominal (05-06-2010) com fígado de dimensões aumentadas à custa do lobo

esquerdo, com calcificação parenquimatosa sequelar, ecoestrutura grosseira sem lesões focais

visíveis, com vesícula biliar, vias biliares, pâncreas, baço sem alterações aparentes, veia porta,

veias supra-hepáticas e artéria hepática permeáveis, sem alterações hemodinâmicas relevantes, e

fina lâmina de líquido peri-renal direito; 7) TC toraco-abdominal (09-06-2010) com áreas de

condensação com broncograma aéreo dispersas por ambos os campos pulmonares, de forma

simétrica, poupando a periferia do parênquima, (em provável relação com ARDS, não se

podendo excluir carácter infeccioso), derrame pleural bilateral, cardiomegália volumosa,

hepatomegália à custa do lobo esquerdo, colecção líquida na parede abdominal do hipocôndrio

direito, entre os planos musculares, pâncreas globoso sem densificação da gordura adjacente ou

líquido peri-pancreático, edema subcutâneo generalizado, sem ascite, adenomegálias nas cadeias

ganglionares abrangidas no estudo, alterações da traqueia, brónquios principais, baço e rins; e 8)

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avaliação laboratorial que revelou aumento progressivo dos parâmetros inflamatórios (PCR,

leucocitose, procalcitonina), estudo da activação de neutrófilos positivo, agravamento da anemia

e da trombocitopénia, aumento das enzimas cardíacas, insuficiência renal aguda com

agravamento da proteinúria e alterações hidro-electrolíticas e do equilíbrio ácido-base

(hiponatrémia, hipocaliémia, hipocalcémia, hipomagnesiémia, acidose metabólica não

compensada) com necessidade de reposição de iões e bases.

Perante este quadro clínico, iniciou-se terapêutica empírica com Linezolide 600 mg de 12/12

horas, Meropenem 1 g de 8/8 horas e Anfotericina B Lipossómica 300 mg de 24/24 horas, para

além da terapêutica sintomática e de suporte.

Nos dias seguintes evolui inicialmente com estabilização hemodinâmica, diminuição dos

parâmetros inflamatórios, normalização da função e da enzimologia cardíaca, normalização da

função renal, e posteriormente com febre, novo aumento dos parâmetros inflamatórios,

trombocitopênia grave, disfunção hepática marcada, insuficiência pancreática (com elevação

marcada dos valores séricos de amilase e lipase, e hiperglicémia) e exsudação sero-hemática da

ferida cirúrgica (vide Gráficos 1, 2, 3 e 4, D18-34).

Com o agravamento clínico da doente, decide-se manter a terapêutica antibiótica/ antifúngica, e

iniciar terapêutica imunossupressora em altas doses com pulsos diários de IgG 40 g/dia (5 dias),

Metilprednisolona 1 g/dia (3 dias) e Ciclofosfamida 500 mg/semana (segundo protocolo de St.

Thomas).

Os ECDs realizados revelaram: 1) uro e hemoculturas (11/06/2010) negativas para aeróbios e

fungos, e exame bacteriológico, micológico, micobacteriológico directo e cultural das secreções

brônquicas (11/06/2010) negativo, exame bacteriológico e cultural do exsudado da ferida

cirúrgica negativo para aeróbios, e hemocultura (15/06/2010) positiva para Staphylococcus

coagulase negativos; e 2) avaliação laboratorial com ANA positivos e β2-microblobulina

aumentada, com restante estudo da auto-imunidade negativo (vide Tabela 3).

A resposta à terapêutica imunossupressora foi moderada com manutenção da febre, diminuição

dos parâmetros inflamatórios, diminuição acentuada das transaminases e LDH com shift para

um padrão de colestase e aumento dos níveis de plaquetas.

Por desaptação ventilatória e deterioração hemodinâmica, no contexto das febres elevadas e

restantes alterações laboratoriais descritas, foi acrescentada Claritromicina e foram realizados

ECDs com os seguintes resultados: 1) exame directo e cultural da urina, sangue e secreções

brônquicas negativo; 2) serologias para Coxiella burnetti e Rickettsia conori negativas

(23/06/2010); 3) Mielograma inconclusivo com cultura de sangue medular (23/06/2010)

positiva para Streptococcus parasanguinis (sensível à Penicilina G, Ampicilina, Imipenem,

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Cefotaxima, Eritromicina, Clindamycina, Vancomicina e Linezolide); 4) Biópsia hepática (23-

06-2010) com alterações reactivas não específicas (arquitectura mantida, com infiltrado

inflamatório misto e moderado dos espaços porta, infiltrado sinusoidal e agregados de células

histiocitárias, colestase parenquimatosa e hemossiderina nas células de Kuppfer hipertrofiadas);

5) Cultura de sangue do catéter positiva para Staphylococcus hominis.

Apesar da terapêutica instituída, a doente não apresenta melhoria clínica ou laboratorialmente

significativa, entrando em choque refractário e falecendo a 24/10/2010. Não foi realizada

autópsia.

Discussão Este caso clínico demonstra a dificuldade de estabelecimento dum diagnóstico de DSA e a nem

sempre linear evolução do quadro clínico mesmo após a instituição da terapêutica adequada.

Sendo um diagnóstico de exclusão, a necessidade do correcto preenchimento dos critérios de

diagnóstico tal como a eliminação de outros diagnósticos prováveis torna-se essencial.

Apresenta-se-nos, inicialmente, uma grávida de 31 anos de idade, gravidez vigiada de 25

semanas e sem outros antecedentes relevantes, com doença sub-aguda caracterizada por picos

febris, odinofagia, exantema eritematoso maculo-papular, leucocitose com neutrofilia, elevação

da PCR e da VS, testes de função hepática anormais e elevação dos níveis de ferritina,

incluindo-se na discussão diagnóstica etiologias infecciosas, reumáticas e neoplásicas.

Doenças Infecciosas Doenças virais agudas podem cursar com febre, exantema e outras alterações sistémicas. A

infecção pelo Parvovírus B19 é um dos diagnósticos diferenciais a ter em conta para DSA,

nomeadamente em mães com crianças jovens, provocando o eritema infeccioso ou 5.ª doença

nas crianças e sendo uma causa de poliartralgias agudas em adultos; a infecção pelo EBV,

sindromaticamente conhecida por Mononucleose Infecciosa, é caracterizada por febre alta,

faringite, fadiga e mal estar geral, hepatite moderada e linfadenopatias cervicais. A presença de

exantema não característico destas patologias com a ausência de artralgias ou linfadenopatias

significativas, e resultados negativos nos testes serológicos realizados, tornam estas hipóteses de

diagnóstico pouco prováveis. Numerosas outras infecções virais podem cursar com um quadro

sintomatológico semelhante ao da doente em causa (ex. primo-infecção por HIV, infecção

aguda por HBV, infecção por CMV, infecção pelo HHV-6, infecção aguda por Rubéola ou

imunização recente), mas contextualmente tratam-se de agentes infecciosos menos prováveis e

os testes de diagnóstico apropriados foram negativos.

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A combinação de doença sub-aguda e febre no contexto de exsudado faríngeo positivo para

Streptococcus viridans (colonizador habitual da oro-faringe), levanta a hipótese de endocardite

bacteriana sub-aguda (sendo o microrganismo isolado o agente etiológico mais frequente da

patologia em questão); no entanto esta doente apresentou-se com hemoculturas negativas e sem

alterações relevante visíveis pelo ecocardiograma.

A Sífilis secundária pode ser causa de febre e eritema difuso, e a Brucelose pode cursar com

sintomatologia sistémica, nomeadamente febre ondulante/ intermitente e linfadenopatias, mas

ambas são excluídas por testes adequados negativos.

O eritema maculo-papular da doente é distinto do eritema migrans da Doença de Lyme, o que

face ao restante quadro clínico e com serologias negativas para anti-Borrelia burgdorferi, exclui

o diagnóstico. Do mesmo modo foram excluídas outras zoonoses possíveis que cursam com

febre e exantema (Febre Q, Leptospirose, Febre Escaro-Nodular).

A possibilidade de pneumonia atípica, de infecção de foco desconhecido e possível bacteriémia/

sépsis é descartada por hemoculturas e serologias negativas, inexistência de foco de infecção

visível pelos métodos de imagem, e níveis de pró-calcitonina normais.

Doenças Neoplásicas As doenças neoplásicas, e nomeadamente os linfomas malignos – seja Doença de Hodgkin ou

Linfoma não-Hodgkin, são as patologias que mais facilmente podem induzir em erro o

diagnóstico, devendo ser das primeiras a serem excluídas. A ausência de linfadenopatias

assimétricas, fixas e duras, e o resultado histopatológico da biópsia óssea e do mielograma

realizados, ajudam na exclusão deste diagnóstico. Apesar de menos frequentemente sintomas

inflamatórios sistémicos terem sido descritos na Leucemia Linfóide ou associados a Síndromes

Paraneoplásicos de tumores sólidos (mama, pulmão), o resultado do estudo imagiológico parece

ser suficiente para excluir esta hipótese.

Doenças Reumáticas Uma vasculite sistémica (ex. Poliarterite Nodosa) pode provocar um quadro sintomatológico

semelhante ao da doente. Apresenta-se no entanto na maior parte das vezes com envolvimento

pulmonar e renal (não verificado neste caso) e com evidência de vasculite.

Artrite Reumatóide com Vasculite Reumatóide é uma possibilidade pouco provável no

diagnóstico diferencial desta doente, apesar de se tratar duma entidade multi-sistémica; isto

tendo em consideração o quadro clínico não característico (regra geral as manifestações

articulares, aparecem antes das manifestações sistémicas na AR) e a presença de FR negativo

(geralmente em altas titulações perante quadros de VR).

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O LES é uma hipótese a considerar em mulheres jovens com SFED. Clinicamente o rash

cutâneo apresentado pela doente não é típico de LES (eritema maculo-papular morbiliforme,

sem atingimento palmo-plantar e sem evidência de fotossensibilidade, e lesões orais herpéticas)

(vide Tabela 4); do mesmo modo as febres altas que não cedem com antipiréticos e o atingimento

hepático, características proeminentes do quadro clínico da doente, são raras no LES. Por outro

lado a doente apresenta linfadenopatias visíveis por TC, pericardite ligeira documentada por

ECOCG, proteinúria > 500 mg/dia, diminuição de C4, linfopénia e trombocitopénia e ANA

positivos, o que fornece critérios suficientes para o diagnóstico de LES. É de considerar no

entanto que a proteinúria desta doente (< 1 g/dia) pode ser explicada pela febre alta da doente;

que caracteristicamente os doentes com LES apresentam ratio T4/T8 aumentado ao contrário do

que acontece com esta doente (vide Tabela 2); e que neste contexto a presença de ANA positivos

mas com o restante estudo da autoimunidade negativo, torna o diagnóstico de LES incerto.

Apesar de ser impossível excluir o diagnóstico de LES, este parece menos certo que outros

diagnósticos alternativos.

A ausência de episódios anteriores e de história familiar sugestiva fornecem argumentos contra

a possibilidade de uma doença autoinflamatória hereditária. A Febre Familiar Mediterrânea

pode ter início na idade adulta, mas a duração dos episódios é de apenas 1-3 dias, em contraste

com a duração de várias semanas do quadro clínico da doente. Na verdade entre as doenças

autoinflamatórias, episódios com duração de várias semanas são caracaterísticos do Síndrome

Periódico Associado ao Receptor 1 do Factor de Necrose Tumoral α (Tumor Necrosis Factor α

Receptor 1-associated Periodic Syndrome ou TRAPS). O TRAPS é herdado duma forma

autossómica dominante mas possui penetrância incompleta, pelo que a história familiar pode ser

enganadora. É caracterizado por febre intermitente, adenopatias, sintomas gastrointestinais (dor

abdominal e vómitos) e rash cutâneo, mas ao contrário deste caso tipicamente causam mialgias,

dor abdominal mais severa, conjuntivie e edema peri-orbitário. E apesar do diagnóstico poder

ser protelado até à idade adulta, o início da doença é na infância.

A presença de alterações dos testes de função hepática numa grávida com sintomas

gastrointestinais (anorexia, náuseas, vómitos, dor abdominal) e febre, levanta a hipótese de

Fígado Agudo Gordo da Gravidez. É uma patologia grave associada a elevada morbilidade e

mortalidade materno-fetal, devido a risco aumentado de pré-eclâmpsia, CID e infecção. No

entanto é uma patologia que tipicamente aparece no terceiro trimestre da gravidez (35ª-36ª

semana), apresentando-se a grávida com aparência doente, com icterícia; laboratorialmente com

hiperbilirrubinémia marcada, hipoglicémia, diminuição dos níveis de fibrinogénio, elevação dos

parâmetros da coagulação (↑PT, aPTT e INR); e biópsia hepática diagnóstica com esteatose

microvesicular dos hepatócitos mais proeminente nas zonas centrais, poupando as áreas peri-

portais; características essas que a doente apresentada não preenche.

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Doença de Still do Adulto

Apresentação e Diagnóstico

A DSA é uma doença inflamatória sistémica de etiologia desconhecida, cujo curso clínico é

dominado por actividade sistémica com exacerbações e/ ou artrite crónica. Não existe teste

diagnóstico nem histopatologia patognomónica, sendo o diagnóstico de exclusão e feito tendo

por base um conjunto de critérios. É uma patologia cujo início típico entre os 16-36 anos é

anunciado por sintomas constitucionais e faringite. A faringite é tipicamente síncrona com o

quadro constitucional e não antecedente como nos síndromes pós-estreptocócicos, não

exsudativa e não responsiva a antibióticos; e o sintomas constitucionais são dominados pelas

mialgias, artralgias, anorexia, náuseas e perda ponderal rápida, observada em 50-60% dos

doentes e que tende a ser paralela à actividade inflamatória medida pela diminuição dos valores

séricos de albumina e de hemoglobina. Da tríade clássica de sintomas, febre/ exantema/ artrite,

o último é a característica que aparece mais tardiamente. Nesta doente a DSA explica a

totalidade dos sintomas iniciais da doente: 1) picos febris diários que não cederam com

antipiréticos ou antibióticos de largo espectro, acompanhados de mal-estar geral e perda

ponderal; 2) exantema eritematoso maculo-papular morbiliforme, com agravamento durante os

picos febris, e que afecta tronco, pescoço e extremidades, sem atingimento palmo-plantar; 3)

odinofagia/ faringite de aperecimento com a febre; 4) dor abdominal e outros sintomas

gastrointestinais; 5) perda ponderal significativa; 6) linfadenopatias e hepatomegália; 7)

pericardite; bem como as alterações analíticas encontradas: 8) leucocitose com neutrofilia; 9)

elevação da VS e PCR; 10) alterações dos testes de função hepática; 11) diminuição marcada

dos valores de albumina e hemoglobina (com estudo da anemia a revelar ANN – anemia de

doença crónica); 12) elevação marcada dos valores de ferritina. O resultado histológico

inespecífico das biópsias realizadas e a ausência de estudos etiológicos dirigidos positivos

parece apoiar esta hipótese. Deste modo a doente preenchia os critérios de Yamaguchi (vide Tabela

1) e também os critérios de Cush (vide Tabela 5), e também segundo estes últimos se enquadrava,

tendo em conta o tempo de evolução da doença, no diagnóstico de DSA provável. Existem no

entanto certas preocupações com este diagnóstico nomeadamente a presença de: 1) prurido,

sintoma raro mas possível da DSA, e que no caso específico desta doente poderia ser explicado

pela elevação dos valores séricos de ácidos biliares (não medidos) no contexto da disfunção

hepática; 2) proteinúria, apesar do envolvimento renal ser raro, a presença deste sinal é possível

e surge geralmente associada aos episódios febris, sendo portanto uma proteinúria intermitente,

transitória e leve (não ultrapassa 1 g/24h), não significando doença renal; 3) trombocitopénia e

linfopénia, são alterações pouco comuns da DSA e evocam a possibilidade duma patologia

concomitante conhecida por MAS*, patologia rara para a qual os doentes com DSA aparentam

estar predispostos e que é caracterizada por activação patológica de macrófagos no contexto

duma desregularização linfocítica, com fagocitose dos elementos das restantes linhagens

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medulares, resultando num quadro caracterizado por febre, exantema, linfadenopatias,

hepatoesplenomegália, citopénia (geralmente pancitopénia), disfunção hepática, disfunção

neurológica, CID*, hipofibrinogenémia, hiperferritinémia marcada e hipertrigliceridémia; no

entanto os valores marcadamente elevados da VS (paradoxalmente diminuídos no MAS, e que

permite distinguir este síndrome duma agudização da doença reumática de base), a ausência de

actividade hemofagocítica na biópsia óssea (diagnóstica deste síndrome), a presença de

leucocitose, a normalização dos valores séricos de plaquetas após um curto curso de

prednisolona, e o aparecimento típico em idades inferiores, são argumentos fortes contra este

diagnóstico; 4) a inexistência de artrite/ artralgias um dos sintomas clássicos, é explicada pelo

aparecimento tardio desta na evolução da patologia; 5) e a presença de ANA positivos, que não

exclui o diagnóstico pois cerca de 7% dos casos têm ANA positivo nas maiores séries.

Evolução/ Prognóstico da DSA

O prognóstivo dum doente com DSA engloba o prognóstico funcional (dependente da erosão e

destruição articular na DSA articular crónica) e o prognóstico vital. O prognóstico vital depende

da gravidade do envolvimento visceral, nomeadamente da presença dos seguintes elementos,

isolados ou combinados: 1) complicações hematológicas como a CID, o MAS ou o Síndrome de

Moschcowitz (PTT*); 2) Hepatite Fulminante com falência hepática aguda; 3) ARDS e

pneumonite aguda; 4) miocardite extensa; 5) tamponamento cardíaco; 6) encefalite, AVC e

meningite asséptica; 7) sépsis; 8) falência multi-orgânica.

Na gravidez a doença parece ter bom prognóstico materno-fetal, com taxa de complicações

aparente não superior ao da população grávida em geral, no entanto esta informação é

proveniente de casos clínicos isolados, existindo falta de grandes séries para melhor estudo da

relação entre DSA/ tratamento da DSA e a gravidez.

Retrospectivamente, a evolução clínica que levou à morte fetal e à necessidade da CES, é

provável resultado de uma complicação rara da patologia subjacente – choque séptico de origem

bacteriana – com sobreposição a uma complicação da gravidez – eclâmpsia.

O diagnóstico de infecção bacteriana num doente com DSA febril é muitas vezes difícil porque

os marcadores tradicionais de infecção são muitas vezes enganadores, aumentando em resposta

a uma agudização da doença de base, sem existência de infecção per se. O uso de novos

marcadores como a procalcitonina permite distinguir inflamação não-infecciosa (actividade da

DSA) de infecção bacteriana. Isto porque a procalcitonina sérica normalmente não é detectável

(< 0,05 ng/mL) e a sua detecção a partir de valores > 0,5 ng/mL permite fazer esta distinção (a

referência do laboratorial utilizada foi < 0,5 – sépsis improvável; 0,5-2 – sépsis possível; 2-10 –

inflamação sistémica; > 10 – choque séptico). Tendo isto em conta a evolução dos níveis de

procalcitonina da doente de valores de 1,57 ng/mL e 0,76 ng/mL (D3 e D9 de internamento)

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para valores de 70,88 ng/mL e > 200 ng/mL (D18 de internamento); com a presença de clínica

sugestiva – 1) febre (> 38 ºC – de difícil valorização nesta doente); 2) taquicardia (115-130 bpm*);

3) hipocápnia (pCO2 27,9); 4) leucocitose (com aumento marcado dos leucócitos em circulação) – os

quatro critérios de SIRS*; 5) hipoxémia com necessidade de ventilação; 6) alteração do estado de

consciência com períodos de confusão e agitação; 7) aumento dos níveis plasmáticos de lactato; e 8)

hipotensão com necessidade de suporte vasopressor -- e o posterior isolamento de Enterobacter

cloacae em hemocultura (patogénio associado a elevada morbilidade e mortalidade no contexto

de importantes infecções nosocomiais – bacteriémia, infecções respiratórias inferiores, pele e

tecidos moles, ITU’s*, infecções intrabdominais, endocardite, osteomielite, infecções

oftálmicas; associadas a internamentos superiores a 2 semanas, antibioticoterapia nos últimos 30

dias, procedimentos invasivos nas últimas 72 horas e catéter venoso central); permitem o

diangóstico de choque séptico vs. uma possível agudização da DSA numa doente com resposta

não-satisfatória aos corticoesteróides. Assim sendo a antibioticoterapia prévia associada à longa

hospitalização e à imunossupressão induzida pelos corticoesteróides nesta doente terão sido os

factores predisponentes para o aparecimento da infecção hospitalar, com evolução para sépsis e

choque séptico, e são as principais razões para a escolha da terapêutica anti-fúngica e antibiótica

empírica de largo espectro utilizada. A manutenção desta após o isolamento do Enterobacter

cloacae é explicada pela existência e/ ou desenvolvimento de resistência a outros antibióticos

por este patógeneo, pela fiabilidade dos carbapenemos no tratamento de infecções graves e pela

elevada incidência (até 50%) de infecção polimicrobiana associada ao mesmo.

Por outro lado, clinicamente a maior parte das doentes com eclâmpsia é caracterizada por

hipertensão (TAs > 160 mmHg ou TAd > 110 mmHg), convulsões, com algum grau de

proteinúria e edema, critérios preenchidos pela doente (D18 de internamento). Classicamente

consideram-se como factores de risco para eclâmpsia os descritos na tabela 7, sendo a mesma

mais comum no último trimestre de gestação. Como a identificação das grávidas de alto risco e

a prevenção do desenvolvimento de pré-eclâmpsia são a única forma de teoricamente reduzir o

risco de eclâmpsia, esta era uma complicação imprevisível nesta grávida (sem factores de risco

major). Por outro lado a patofisiologia da eclâmpsia implica: alterações (inibição) no

desenvolvimento das artérias útero-placentais; fluxo cerebral anormal com o estabelecimento de

HTA extrema*; disfunção endotelial – foi demonstrado o aumento de factores antiangiogénicos

que antagonizam o VEGF e o aumento de outros factores associados à disfunção endotelial na

circulação sistémica e local das mulheres com eclâmpsia (fibronectina, factor de von

Willebrand, VCAM-1*, ICAM-1* e outras adesinas, TNF-α, IL-6* e outras interleucinas); e

stress oxidativo – induzido por um aumento da leptina em circulação, com secreção de factores

antiangiogénicos e aumento da agregação plaquetária (que contribui para a coagulopatia

associada à eclâmpsia), e mediado por um aumento da actividade dos leucócitos sistémicos

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(histopatologicamente nota-se um infiltrado de PMN* da vasculatura). Tendo em conta a via

imunológica na patogénese da DSA com infiltrados policlonais de linfócitos T, marcófagos e

PMN no estudo histopatológico, e o aumento das interleucinas – IL-1, IL-6, IL-18, TNF-α e

IFN-γ* – relacionado com os principais sintomas da doença, postula-se a existência duma

relação entre DSA e risco de eclâmpsia, por estabelecimento dum quadro de inflamação

sistémica que predispõe a stress oxidativo aumentado e disfunção endotelial. Do mesmo modo

alguns estudos demonstram a existência duma relação entre febre e infecção com eclâmpsia,

representando um provável factor de risco.

A restante evolução da paciente da doente está associada tanto a um insuficiente controlo da

actividade da doença de base como às consequências multi-orgânicas do choque séptico e da

eclâmpsia, complicações associadas a elevada morbilidade e mortalidade.

Tratamento/ Resposta Inicial

Após o diagnóstico, iniciou-se terapêutica dirigida, que no caso clínico apresentado tem a

particularidade de ter sido aplicada numa grávida como todos os cuidados que isso implicou na

escolha e monitorização do tratamento. É preciso ter em conta que a maior parte dos

medicamentos utilizados no tratamento desta patologia pertencem às categorias C ou D de risco

teratogénico (vide Tabela 6), significando isto que o seu uso deve ser feito após judiciosa

consideração dos seus riscos vs. os benefícios.

Dado o quadro clínico da doente, gravidez de 2.º trimestre, com febres altas, pericardite e

disfunção hepática, considerados os benefícios da terapêutica vs. os riscos, optou-se pelo uso de

corticoesteróides. Isto porque a terapêutica de 1.ª linha passa pela toma de AINE’s e

corticoesteróides. Os AINE’s raramente são eficientes na DSA, atingindo-se o controlo em

apenas 20% dos doentes; para além disso necessitam de controlo das enzimas hepáticas e do

hemograma pois parecem estar associados com risco aumentado Hepatite Grave e MAS; e a

maior parte dos doentes (88%) irá eventualmente necessitar de corticoterapia, devendo esta ser

administrada desde o início do tratamento nos casos de febre elevadas, sintomas articulares

debilitantes ou envolvimento orgânico interno (PDN 0,5-1,0 mg/kg/dia e pulsos de

metilprednisolona 1 g/dia, em situações de envolvimento hepático grave, tamponamento

cardíaco, CID.

A corticoterapia (vide Gráfico 1 – dias 3 a 18) apresentou efeitos leves/ moderados por um lado com

diminuição dos parâmetros inflamatórios, normalização dos níveis de plaquetas, aumento dos

períodos assintomáticos e de apirexia, e por outro lado com pouco efeito sob a disfunção

hepática (que inicialmente piorou para depois melhorar).

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usã

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Perante esta DSA refractária ao tratamento com corticoesteróides, é de considerar a terapêutica

de 2.ª linha com adição de Metrotrexato (geralmente contraindicado durante a gravidez) e a

terapêutica de 3.ª linha. A experiência com este últimos agentes (Anacinra, inibidores do TNF-

α*) é reduzida a case-reports e pequenas séries, mas parece ser prometedora, com bons

resultados nas DSA com resposta inadequada a corticoesteróides e Metotrexato. Destes a

Anacinra aparenta ter resposta terapêutica mais rápida, com melhores resultados a longo prazo e

menores riscos na gravidez (apoiado pela experiência do HCC), tendo por isso sido a

considerada para a terapêutica da doente.

Casos refractários à terapêutica de 3.ª linha podem ser tratados com imunoglobulinas

policlonais, ciclosporina e ciclofosfamida (contra-indicada na gravidez), apesar de existir

evidência limitada do seu uso.

Conclusão Serve este caso clínico de exemplo ilustrativo da marcha diagnóstica necessária para o

estabelecimento de Doença de Still de Adulto.

Existem poucos estudos sobre o desenlace da gravidez em doentes com DSA e ainda menos

sobre DSA com início durante a gravidez, mas a tendência é a da gravidez ter bom prognóstico.

Postula-se no entanto a possibilidade da existência duma relação entre DSA, inflamação

sistémica e eclâmpsia, e a necessidade de estratificação dos doentes com DSA de acordo com o

risco de desenvolverem complicações graves.

Postula-se também a possibilidade duma terapêutica inicial mais agressiva em doentes grávidas

não responsivas a corticoterapia em altas doses, com o intuito de diminuir as complicações

inerentes à patologia e melhorar o prognóstico individual da gravidez.

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Anexos

Tabela 1: Critérios de Yamaguchi et al. para DSA.

Critérios Major

Febre ≥ 39 ºC, ≥ 1 semana, persistente ou intermitente

Artrite/ artralgias ≥ 2 semanas, exclusão de outra causa

Rash cutâneo típico macular, não pruriginoso, cor de salmão,

concomitante com os picos febris

Leucocitose com neutrofilia ≥ 10.000/mm3 com contagem de neutrófilos

polimorfonucleares ≥ 80%

Critérios Minor

Faringite

Linfadenopatia

Hepatomegália ou esplenomegália

Elevação das enzimas hepáticas transaminases, LDH, não atribuível a toxicidade

ou alergia medicamentosa

Auto-anticorpos negativos ANA, FR

Critériores de Exclusão

Ausência de infecção sépsis, infecção por EBV

Ausência de doenças malignas linfomas

Ausência de doenças inflamatórias poliarterite nodosa, vasculite reumatóide

(5 critérios, no mínimo 2 Major e sem critérios de exclusão)

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Tabela 2: Exames laboratoriais realizados durante o internamento no SI*.

Serologias

(19/05/2010) RPR-VDRL negativo

ac. anti-HAV IgG* positivo

IgM* negativo

agHBs

acHBc

negativo

positivo

IgM negativo

ac. anti-HCV (ELISA) negativo

ac. anti-HIV 1/2 (ELISA) negativo

(28/05/2010) ac. anti-Legionella pneumophila IgG negativo

IgM negativo

ac. anti-Herpes 6 IgG negativo

ac. anti-Borrelia burgdorferi IgG negativo

IgM negativo

ac. anti-Leptospira negativo

ac. anti-Mycoplasma pneumoniae IgG positivo

IgM negativo

ac. anti-Parvovírus B19 IgG negativo

IgM negativo

Teste de Widal negativo

Rosa de Bengala negativo

Teste de Huddleson negativo

ac. anti-HVS 1

ac. anti-HVS 2

ac. anti-HVS 1/2

IgG positivo

IgG negativo

IgM negativo

(02/06/2010) PCR HVS 1

PCR HVS 2

positivo

negativo

Imunologia

(19/05/2010) ANA positivo 1/320

FR negativo < 9,38

Imunocomplexos circulantes negativo < 2,00

anti-dsDNA negativo

anti-SSA negativo

anti-SSB negativo

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anti-SM negativo

anti-centrómero negativo

anti-SCL70 negativo

anti-JO1 negativo

anti-p. ribossómico negativo

anti-histonas negativo

anti-CCP negativo

C3

C4

82,90

2,69

ADA sérica 140

(21/05/2010) Teste de Coombs negativo

Haptoglobina 297 mg/dL

(28/05/2010) anti-β2 glicoproteína

IgG 0,60 USGU (N ≤ 12,0)

IgM 0,60 USMU (N ≤ 7,0)

IgD 1,12 mg/dL

Endocrinologia

TSH 1,5 µUI/mL

fT4 0,8 ng/dL

Estudo da Anemia

(19/05/2010)

(20/05/2010)

Folato sérico

14,1

19,1

Vitamina B12 793,0

Ferritina > 1000

Ferro 80 µg/L

Trasferrina 128 µg/L

Saturação da Transferrina 51,93

Quantificação de Populações Linfocitárias

(19/05/2010) Total CD3+ 76

CD3+/CD4+ 36

CD3+/CD8+ 39

CD3+/CD4+/CD8+ 1

T4/T8 ratio 0,920

Avaliação Bioquímica

(24/05/2010) Proteinúria 24 horas 639 mg/24h (1500 mL)

(26/05/2010) Amilase 63

52

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Tabela 3: Exames laboratoriais realizados durante o internamento na UCI.

Imunologia

(04/06/2010) OMN CD64 Index

(Estudo da activação de neutrófilos)

positivo 2,94 (N < 1,0)

(14/06/2010) ANA positivo 1/320

dsDNA negativo

anti-SSA negativo

anti-SSB negativo

anti-SM negativo

anti-centrómero negativo

anti-SCL70 negativo

anti-JO1 negativo

anti-p. ribossómico negativo

anti-histonas negativo

anti-asma (músculo liso) negativo

ANCA-C < 2,00 U/mL (N < 20,0)

ANCA-P < 2,00 U/mL (N < 20,0)

ACA (anti-cardiolipinas/ anti-fosfolípidos) IgG 2,30 UGPL (N ≤ 12,0)

IgM 1,20 UMPL (N ≤ 12,0)

anti-β2 glicoproteína

IgG 0,70 USGU (N ≤ 12,0)

IgM 1,70 USMU (N ≤ 7,0)

crioglobulinas negativo

(17/06/2010) Pesquisa anticorpos antiplaquetários directa negativa

indirecta negativa

(18/06/2010) C3 122,00

C4 23,80

(14/06/2010)

(19/06/2010)

β2-microblobulina 11,6

7,00

Serologias

(18/06/2010) DNA Citomegalovírus negativo

(22/06/2010) ac. anti-Coxiella burnetti IgG negativo

IgM negativo

(23/06/2010) ac. anti-Rickettsia conori IgG negativo

IgM negativo

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Tabela 4: Critérios ARA para LES.

Eritema malar eritema fixo, plano ou elevado, sobre as regiões malares e dorso do

nariz, que tende a poupar a fenda nasolabial

Eritema discóide placas eritematosas circulares com escamação queratinótica aderente,

comprometimento dos pêlos e cicatrização com atrofia

Fotossensibilidade erupção cutânea que aparece após exposição a raios UV

Úlceras orais ulceração da boca ou nasofaringe, confirmadas por médico

Artrite artrite não erosiva comprometendo 2 ou mais articulações periféricas,

com dor, inflamação ou efusão

Serosite pleurite ou pericardite documentada por ECG ou atrito ou evidência

de efusão

Desordem renal proteinúria > 500 mg/dia ou 3+, ou cilindros celulares

Desordem neurológica convulsão ou psicose na ausência de outra causa

Desordens hematológicas anemia hemolítica, leucopénia < 4000/mm3, linfopénia < 1500/mm

3,

trombocitopénia < 100.000mm3 em 2 ou mais ocasiões na ausência de

outra causa

Desordens imunológicas anti-dsDNA, anti-Sm, anti-fosfolípidos e/ou teste serológico para

Sífilis falso positivo por mais de 6 meses

ANA uma titulação anormal de ANA na ausência de drogas que possam

causar lúpus induzido por drogas

(4 ou + critérios para o diagnóstico;

2 – LES possível, 3 – LES provável, ≥4 – LES definitivo; muitos critérios – LES clássico)

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Tabela 5: Critérios de Cush et al. para DSA.

Critérios Major

Febre ≥ 39 ºC, quotidiana

Anquilose carpal ≥ 2 semanas, exclusão de outra causa

Rash de Still macular, não pruriginoso, cor de salmão,

concomitante com os picos febris, evanescente

Leucocitose + ↑VS ≥ 12.000/mm3 e ≥ 40 mm/h (respectivamente)

Auto-anticorpos negativos ANA + FR

Critérios Minor

Idade de início < 35 anos

Artrite

Faringite prodromal

Serosite pleurite, pericardite

Envolvimento do SRE ou alteração dos testes

de função hepática

hepatomegália, esplenomegália, linfadenopatias

generalizadas, AST, ALT, FA, bilirrubina

(Critérios Major 2 pontos; Critérios Minor 1 ponto

DSA Provável – 10 pontos, 12 semanas de observação;

DSA Definitiva – 10 pontos, 6 meses de observação)

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Tabela 6: Terapêutica da DSA e efeito teratogénico.

Fármaco Observações Trimestre Categoria

Adalimumab O produtor recomenda evitar e usar contracepção

eficaz durante o tratamento e, pelo menos, durante 5

meses após a última dose.

1.º, 2.º e

3.º

DM

AINE’s A maioria dos produtores recomenda evitar; o cetorolac

está contra-indicado durante a gravidez, período de

dilatação e parto. O uso regular pode originar o

encerramento do ductus arteriosus in útero e possível

HTP persistente do RN. Atraso no início do parto e

aumento da duração do mesmo; o uso pontual é, em

geral, seguro.

3.º C/ D (se

usado no 3

trim.*)

Anacinra O produtor recomenda evitar; deve ser usada

contracepção eficaz durante o tratamento.

CM

Anti-maláricos O benefício da profilaxia e tratamento ultrapassa o

risco; usar a primaquina só depois do parto.

1.º e 3.º C

Azatioprina Nas doentes transplantadas e imunodeprimidas com

azatioprina, não devem interromper o tratamento se

engravidarem; não há evidência de ser teratogénica; há

referências a partos prematuros e baixo peso ao

nascimento, em particular, se houver associação com

corticosteróides; tem sido ainda associada a abortos

espontâneos após exposição materna ou paterna.

1.º, 2.º e

3.º

D

Ciclofosfamida Possibilidade de diversas malformações congénitas.

Recomenda-se a contracepção eficaz durante pelo

menos 3 meses após administração a homens ou

mulheres.

D

Ciclosporina Aparentemente não há qualquer risco teratogénico para

o feto, excepto o atraso no crescimento ou

prematuridade; o uso deste fármaco durante a gravidez

deve ser supervisionado por especialista.

CM

Corticosteróides

sistémicos

Em animais provocam fenda palatina e anomalias a

nível do esqueleto que não parecem ter relevância em

humanos; risco de diabetes gestacional e hipertensão;

risco de atraso no crescimento intra-uterino em uso

prolongado ou repetido por via sistémica; risco de

insuficiência suprarrenal; usados só em exacerbações

da asma e na dose eficaz mais baixa se indispensáveis;

1.º D

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a serem usados com frequência, administrar durante o

parto; vigiar se há edemas.

Etanercept Evitar; não há informação disponível. CM

Hidroxicloroquina Evitar para a doença reumática. Quando usada em

doses elevadas e por períodos longos causa alterações

neurológicas e interfere com o ouvido, o equilíbrio e a

visão do feto.

C

Imunoglobulinas

EV*

Não foram observados efeitos adversos no feto ou RNs,

mas deve considerar-se a possibilidade de aborto

espontâneo.

CM

Infliximab Evitar; usar contracepção adequada durante o

tratamento e, pelo menos, até 6 meses após a última

dose.

CM

Leflunomida Evitar; um metabolito activo foi teratogénico em

estudos animais; recomenda-se contracepção eficaz

durante o tratamento e, pelo menos, 2 anos após o

tratamento nas mulheres e, pelo menos, 3 meses no

homem.

1.º CM

Metotrexato Evitar; é teratogénico (anomalias craniofaciais e

digitais); a fertilidade pode ser reduzida durante a

terapêutica, mas este efeito pode ser reversível; o

produtor recomenda contracepção eficaz durante, e

pelo menos, até 3 meses após o tratamento no homem e

na mulher.

1.º, 2.º e

3.º

D

Rituximab Desconhece-se segurança na gravidez; é de evitar; usar

contracepção adequada durante o tratamento

CM

Sulfassalazina Risco teórico de hemólise neonatal; devem ser

administrados à mãe suplementos de folatos em dose

adequada.

3.º D (perto

do termo)

(Categoria A – sem risco fetal; seguro para utilizar na grávida;

Categoria B – ausência de risco fetal, demonstrada em experimentação animal ou em estudos humanos;

Categoria C – risco fetal desconhecido, por falta de estudos alargados;

Categoria D – evidência fetal em animais, mas a necessidade pode justificar o risco;

Categoria X – nocivo para o feto; o risco ultrapassa o benefício e, portanto, está contra-indicado na gravidez;

índice M – classificação com base em informação do fabricante)

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Tabela 7: Factores de risco para Eclâmpsia.

Factores de Risco Gerais

Nuliparidade

Antecedentes de pré-eclâmpsia/ eclâmpsia história familiar, antecedentes pessoais de pré-

eclâmpsia/ eclâmpsia

Mau outcome de gravidezes anteriores atraso de crescimento intra-uterino, abruptio

placentae, morte fetal

Gestação multifetal, hidrópsis fetal, mola hidatiforme,

primigravida

Idade < 20 ou > 35 anos

Classe socio-económica baixa

Factores de Risco Médicos

Obesidade

HTA crónica

Doença renal

Trombofilias hereditárias deficiência de proteína C, de proteína S, de

anti-trombina

Diabetes tipo I, tipo II e gestacional

Doenças vasculares e conectivites

LES com Síndrome Anti-Fosfolípidos

Asma

Enxaqueca

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Gráfico 1: Variação da enzimologia hepática durante o internamento. (eixo do x – dia de internamento; eixo y primário – AST, ALT, GGT, FA em unidades S.I.; eixo secundário – LDH em unidades S.I.)

Terapêutica imunossupressora

Linha de Tempo Infecciologia

Linezolide + Meropenem + Anfotericina B lipossómica

UCI MAC

Ceftrixone +

Gentamicina

PDN 80 mg

Claritromicina

CES por MF

Morte

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Gráfico 2: Variação da TT, dos parâmetros inflamatórios e das plaquetas durante o internamento. (eixo do x – dia de internamento; eixo y primário – TT em ºC, Leucócitos séricos em células x 103/mm3, Procalcitonina, PCR em unidades S.I.; eixo secundário – Plaquetas em células x 103/mm3)

Linha de Tempo Infecciologia UCI MAC

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Gráfico 3: Variação da CK, proacelerina, glicémia, fibrinogénio, amilase e lipase ao longo do internamento. (eixo do x – dia de internamento; eixo y primário – CK, Glicémia, Proacelerina, Fibrinogénio em unidades S.I.; eixo secundário – Amilase, Lipase em unidades S.I.)

Linha de Tempo Infecciologia UCI MAC

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Gráfico 4: Variação dos valores séricos bilirrubina (total, conjugada) e creatinina durante o internamento. (eixo do x – dia de internamento; eixo y primário – Bil. T, Bil. Conj. em unidades S.I.; eixo secundário – Creatinina em unidades S.I.)

Linha de Tempo Infecciologia UCI MAC

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