Dogma 95: quão utópico e quão revolucionário, por Rafael Potenza

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  • 8/14/2019 Dogma 95: quo utpico e quo revolucionrio, por Rafael Potenza

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    FACULDADE CSPER LBERO

    DOGMA95

    QUO UTPICO E QUO REVOLUCIONRIO

    POR RAFAEL POTENZA

    MATRIA

    DIREO DE FOTOGRAFIA

    DOCENTE

    KTIA COELHO

    27 DE MARO DE 2007

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    DOGMA95

    QUO UTPICO E QUO REVOLUCIONRIO

    Hoje, existem inmeros modos de narrar. Acontece de novo uma

    revoluo, mas no tenho certeza se o resultado dela ainda poder ser

    considerado cinema, ainda que grandes filmes de Hollywood, europeus,

    asiticos ou sul-americanos estejam sendo exibidos em iPods. No sei se um

    filme foi feito para ser visto naquele tamanho de tela. Ela to pequena que a

    obra vira outra coisa. O que estamos vendo algo que est sendo reinventado

    agora. (LEITE, Svio. Pg. 10 citando SCORSESE, 2006)

    Com seu documento oficial o Manifesto1 datado de 13 de maro de 1995, o

    movimentoDogma 95 foi apresentado pelo diretor Lars von Trier ao grande pblico em um

    simpsio internacional sobre cinema organizado pelo Ministrio da Cultura da Frana em

    20 de maro de 1995. Um curto perodo de tempo apenas 7 dias separa o ato de

    colocar no papel idias, do ato de divulg-las como revoluo.

    Assinado por Lars von Trier e Thomas Vinterberg, oManifesto constitudo de um

    conturbado texto que mais se assemelha a um desabafo. Um desabafo contra a

    cosmetizao2 dos filmes e sua conseqente capacidade de iludir quem assiste; um

    repudio ao cinema como obra de arte, retirando do diretor qualquer poder como autor; alm

    de invocar uma disciplina a democratizao alcanada graas a avanos tecnolgicos, como

    o cinema digital. O manifesto apresenta o intitulado Voto de Castidade que prega 10 regras

    que devem ser seguidas para se adequar ao cinema proposto peloDogma 95.

    1. As filmagens devem ser feitas em locais externos. No podem ser usados

    acessrios ou cenografia (se a trama requer um acessrio particular, deve-se

    escolher um ambiente externo onde ele se encontre).

    2. O som no deve jamais ser produzido separadamente da imagem ou vice-

    versa. (A msica no poder, portanto, ser utilizada, a menos que no ressoe

    no local onde se filma a cena).

    1 Ver anexoAnexo I Manifesto.2 Termo usado no texto doManifesto, derivado da palavra cosmtico.

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    3. A cmera deve ser usada na mo. So consentidos todos os movimentos -

    ou a imobilidade - devidos aos movimentos do corpo. (O filme no deve ser

    feito onde a cmera est colocada; so as tomadas que devem desenvolver-se onde o filme tem lugar).

    4. O filme deve ser em cores. No se aceita nenhuma iluminao especial. (Se

    h luz demais, a cena deve ser cortada, ou ento, pode-se colocar uma nica

    lmpada sobre a cmera).

    5. So proibidos os truques fotogrficos e filtros.

    6. O filme no deve conter nenhuma ao "superficial". (Em nenhum caso

    homicdios, uso de armas ou outros).

    7. So vetados os deslocamentos temporais ou geogrficos. (Isto significa que

    o filme se desenvolve em tempo real).

    8. So inaceitveis os filmes de gnero.

    9. O filme deve ser em 35 mm, standard.

    10. O nome do diretor no deve figurar nos crditos.

    Devemos avaliar cada uma das trs reivindicaes separadamente para entender a que

    veio e o que apresenta como soluo o Dogma 95.

    1. Contra a cosmetizao dos filmes

    Por cosmetizao dos filmes, o Dogma 95 entende qualquer filme que utilize

    elementos a parte da realidade para explorar a cena, como trilha sonora que induza

    determinado clima, locuo de narrador, efeitos especiais, cenografia e truques de

    fotografia, alm de tcnicas que escondam a verdade da representao, como maquiagem,

    composio de cenrio e marcaes de movimentao dos atores. As regras do Voto de

    Castidade que mais dizem respeito a esta reivindicao vo da primeira at oitava regra.

    Como deixa claro, Dogma 95execra a banalizao da Stima Arte e o

    que se convencionou chamar de cinema de entretenimento desvitaliza o que

    o cinema em sua procedncia tem de mais original: a transgresso, a busca

    pela verdade. Banalizar os filmes, repetir frmulas exausto, criar clichs

    fceis seriam para os fundadores do Dogma 95a excrescncia de um veculo

    trabalhado por muitos anos com o status da arte, expresso da subjetividade

    humana. (LEITE, Svio. Pg 20)

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    Esta bronca com o mainstream cinema3 j vem de outros movimentos

    cinematogrficos como oExpressionismo alemo, na dcada de 1920; o Neo-Realismo na

    Itlia, na dcada de 1950; a Nouvelle Vague na Frana e o Cinema Novo no Brasil, na

    dcada de 1960; alm das produes do cinema iraniano; na dcada de 1990. Mas o

    movimento que mais se assemelha ao Dogma 95 o Soviet Troikh (Conselho de Trs) do

    cineasta russo Dziga Vertov, no final de 1922, com o primeiro manifesto, entitulado Ns,

    redigido neste mesmo ano.

    2. Repudiando o cinema como obra de autor

    O filme um trabalho de equipe e ningum pode assinar sua autoria. Questo

    principal quando o cinema foi elevado ao status de Arte se uma obra de arte, algum

    deve assinar por ele o Dogma 95 pretende quebrar este conceito quando institui na

    dcima regra que o nome do diretor no deve figurar nos crditos. Uma ruptura com a

    chamada, no texto do Manifesto, concepo burguesa de arte vinda do romantismo

    burgus, o filme, quando leva o certificado de filme Dogma 95, deixa de ser arte como

    conhecemos e passa a ser um registro, uma semi-verdade.

    Como diretor prometo prescindir do gosto pessoal. J no sou um

    artista. De hora em diante prometo no criar uma obra, j que considero o

    instante e a hora como mais importantes que o conjunto. Minha meta absoluta

    tirar a verdade dos meus personagens e de meus cenrios. Prometo faz-lo

    por todos os meios disponveis dentro de minhas possibilidades, s custas do

    bom gosto e de toda considerao esttica. (LEITE, Svio. Pg 21 citando

    KELLEY, 2001, p.327)

    3. Disciplinando a democratizao

    Hoje em dia aumenta uma tormenta tecnolgica e o resultado ser

    uma democratizao do cinema. Pela primeira vez, qualquer um pode fazer

    um filme. Porm quanto mais acessvel chega a ser o meio, mais importante

    a vanguarda. (...) Devemos vestir nossas pelculas de uniforme porque o filme

    3. Filmes feitos para entretenimento, principalmente pela cinematografia norte-americana.

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    pessoal decadente por definio (LEITE, Svio. Pg 21 citando KELLEY,

    2001, p.325).

    Com o barateamento dos equipamentos necessrios para realizao de um produtoaudiovisual, o cinema deveria passar por uma experimentao, uma retomada as origens

    onde o limite no era conhecido e o desejo de descobrir algo novo existia. a falta deste

    desejo que o movimento cinematogrficoDogma 95 acha um absurdo e procura retomar, se

    auto afirmando como um exerccio de criatividade para realizadores cinematogrficos que

    sentem que precisam se exorcizar do cinema artificial.

    Another factor is the inherent challenge contained in the Dogma 95

    manifesto itself. It throws down the gauntlet to all filmmakers who read it,

    challenging them to follow the examples provided by the Dogma 95group. This

    is analogous to the typical schoolboy game of daring others to follow ones

    example. (SCHEPELERN, Peter4)

    CONTRADIES

    O movimento tem em suas regras certas ironias e provocaes que, ao mesmo

    tempo em que so perceptveis, devem ser levadas a srio para que tenha sentido o filme

    Dogma 95.

    A criao das 10 regras serve para impulsionar a criatividade, o que parece ser

    contraditrio, afinal, como a imposio de regras pode gerar a liberdade? Usando como

    comparao uma passagem bblica o que combina muito com oDogma 95 seriam as

    regras do movimento como as provaes que J passou em decorrncia de uma aposta do

    diabo com deus, para provar se realmente a humanidade continuaria fiel, mesmo nas mais

    adversas condies. Esse o esprito doDogma 95: testar e levar ao limite a criatividade de

    toda produo audiovisual dogmtica atravs de dificuldades que devem ser contornadase mandamentos que devem ser seguidos.

    O fato do diretor no ser mais um artista e renunciar assim a assinar a obra

    cinematogrfica, no mnimo estranho. Mesmo sem ser creditado no filme, o diretor

    desempenha um papel fundamental no processo e contribui consideravelmente em quase

    todas as etapas criativas e operacionais, sendo ele a dar uma cara ao filme, um ritmo e um

    4 Texto no site http://www.dogme95.dk/news/interview/schepelern.htm

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    aspecto mais humano. Quando promete prescindir do gosto pessoal, o diretor do filme

    Dogma est na verdade prometendo em falso, pois no h como se abster de uma

    preferncia esttica quando decide colocar determinada cmera em determinado local. O

    mais correto seria prometer pensar todo o fazer cinematogrfico em funo do ator,

    buscando a verdade da interpretao com a cmera e no interpretando para a cmera.

    As regras que me parecem mais criativas so as mais concretas: ter

    que filmar com a cmera na mo. No poder colocar inutilidades no cenrio.

    Porm, a de no poder fazer filmes de gnero ou ter de abrir mo de seu gosto

    pessoal, resulta quase impossvel. (LEITE, Svio. Pg 17 citando KELLEY,

    2001, p.217).

    Se eu acabei de falar em busca da verdade, aproveito para perguntar se o ato de

    filmar no algo que modifica o real? No h mais real quando se est olhando atravs

    de uma cmera. No h como escolher o que se quer ver pois h um direcionamento do

    olhar, uma predileo por atos e tempos que no so o total da vida real. O Dogma 95 se

    diz em busca da verdade em um meio mentiroso de nascena. No interferir numa

    interpretao tem seu mrito, mas crer que o ator real deixou de ser personagem e virou

    verdade iluso. Na busca pela distncia do artificial, o Dogma 95 no pensou que o

    prprio meio artificial e ilusrio, no passando apenas de uma brincadeira tica causada

    pela memria retiniana.

    The camera is the object that is most contrary to the natural order! And

    what about the actors? Why should the locations and the props be authentic

    when the people i.e., the actors - are not? No explanation is forthcoming.

    (SCHEPELERN, Peter5)

    Como eu disse, mesmo contraditrias, as regras devem ser seguidas para que o

    Dogma 95 faa sentido. Comparando mais uma vez com a religio, por que os padresprometem o celibato se gerar a vida uma das maiores ddicas da vida? Os seres que

    muitos afirmam, mas ningum comprova esto mais prximos de deus so exatamente

    aqueles no podem realizar o maior dos milagres. O porque simples. O maior dos

    milagres considerado o maior dos pecados, e estes, representantes de deus, devem dar o

    exemplo.

    5 Texto no site http://www.dogme95.dk/news/interview/schepelern.htm

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    No h como o diretor se abster de decises estticas, mas o fato de no assinar o

    conjunto da obra, prezar por regras que sabe que no podem ser totalmente cumpridas e

    depois do filme concludo ter que se confessar (procedimento obrigatrio para submeter o

    seu filme a anlise de um comit para deciso se deve ou no ser considerado um filme

    Dogma 95), mostra que o Dogma 95 como uma religio: sabe-se que utopia, mas

    acreditando no seu poder, coisas melhores acontecero: seja uma beno, ou seja um

    exorcismo no caso dos diretores de cinema.

    O PRIMEIRO DA ESPCIE

    Festa de famlia, filme de 1998, dirigido por Thomas Vintemberg, vencedor do

    Prmio do Jri, no Festival de Cannes a grande revelao do movimento. Sendo o

    primeiro filme a ter um certificado emitido pelo Dogma 95 (documento que aparece no

    comeo da projeo) tem um roteiro estupendo e uma imagem terrvel. Assemelhando-se a

    um registro caseiro em VHS, o filme escuro e tremido, assim como seu enredo que gira

    em torno de uma comemorao ao patriarca da famlia, com todas as geraes reunidas em

    um hotel e revelaes a serem feitas, como as relaes sexuais que o patriarca mantinha

    com seus filhos ainda pequenos e a descoberta de uma carta deixada por uma das filhas,que havia se suicidado recentemente, revelando seus motivos para cometer tal ato.

    No fugindo a nenhuma das regras do voto de castidade, o filme causa uma

    sensao de liberdade e ao mesmo tempo aprisionamento. Estamos em constante

    movimento com a cmera, mas sempre presos aos desdobramentos do roteiro. No temos

    como sair daquele hotel onde est a famlia, no temos pausa para respirar nos campos

    prximos ao hotel. Acontecendo aqui e agora, o filme toma um ritmo alucinado, com

    pausas no menos densas em momentos onde o contedo dramtico to pesado que a cenaparece congelar. Mas a cmera no cessa.

    Em funo do roteiro, nos debatemos no sof, gritamos com a tela, perguntamos

    como pode aquilo acontecer. Estamos to envolvidos com o drama que passamos a pensar

    que conosco. Em funo da terrvel fotografia, em dados momentos no entendemos o

    que se passa na tela e foramos a vista, buscando no quadro algo reconhecvel. Assim o

    filme consegue se adequar a conveno mais absurdas do Dogma 95: a de ser um cinema

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    verdade. Se buscamos no quadro algo para ver, a cmera no mais nos direciona. Se nos

    colocamos no lugar do personagem e sofremos em intensidade igual durante o drama, o

    ator no mais nos engana.

    QUEBRANDO A REGRA

    Criador do Dogma 95, Lars Von Trier lanou em 2000 o filme Danando no

    escuro, um musical... Opa, mas de cara vemos que uma das regras no est sendo

    cumprida. O filme comea e as regras vo caindo uma a uma, todas sendo quebradas. Mas

    no bem assim.

    Contando a histria de Selma, uma operria praticamente cega devido a uma

    doena, acusada injustamente de ter assassinado seu vizinho, o homem que roubou todo o

    dinheiro que ela havia separado para financiar o procedimento cirrgico que iria prevenir

    seu filho de viver tambm na escurido, Danando no escuro foi todo gravado em Digital

    Vdeo e respeita a regra de cmera na mo at que... Selma resolve cantar.

    Quando ela canta, somos transportados para seu inconsciente onde, apaixonada por

    musicais, ela se v danando e cantando, seja qual for o momento de sua vida, em umestado de felicidade estonteante e em total contradio ao estado de sua viso, escura. Do

    mundo bagunado, agitado, trepidante, opaco da realidade da operria, somos levados a um

    mundo esttico, claro, limpo, colorido, da fantasia de Selma. E isso ns entendemos por

    que a cmera nos mostra. Alternando a cmera na mo nas cenas do real com a cmera still

    das cenas fantasia, compreendemos os sentimentos de Selma, seus desejos e suas

    dificuldades. Somos jogados no escuro de sua vida e no colorido de sua fantasia.

    Lars Von Trier pode ter quebrado todas as regras do Dogma 95 com este filme, mascontinua fiel na busca pela verdade no cinema. Unindo o artificial da linguagem ao

    verdadeiro do drama, esquecemos que uma histria, abraamos Selma e vibramos,

    choramos, rimos e nos questionamos junto com ela: por que a vida tem que ser assim?

    Esquecemos do ator e a verdade aparece.

    ODOGMA95 ENTO ...

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    ODogma 95 utpico, uma afronta pelo escrnio ao modelo atualmente existente

    de cinema.

    A radicalidade de Trier reside no fato de ousar dizer que sim. Quando

    todos acreditavam no ser mais possvel fazer arte revolucionria, o cineasta

    prope um cinema utpico, eminentemente poltico, de combate, justamente

    no terreno que o capitalismo de ponta mais deseja controlar: a esfera da

    tecnologia digital. Subvertendo eletronicamente as ntimas relaes que o

    trabalho na sociedade capitalista estabeleceu com os meios de produo

    hollywoodianos, rompendo a monotonia da cadncia, curto-circuitando as

    projees do establishment cinematogrfico, Trier mostrou que ainda h

    esperana. (LEITE, Svio. Pg 19 citando SANTOS, 2003, p.225).

    Se eu acredito na revoluo? No saberia responder esta pergunta de imediato, pois

    no momento o sim e o no me saltam a boca ao mesmo tempo. Mas afirmo que

    enquanto houver gente disposta a experimentar e ousar crer que mesmo distante vale a pena

    buscar o cinema ideal, estarei disposto a me sacrificar em busca de compreender os

    caminhos percorridos, os porqus das questes levantadas e remoer em minha cabea por

    muito tempo: eu acredito na revoluo?

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    ANEXO I O Manifesto

    ODogma 95 um movimento de cineastas, fundado em Copenhage na primavera de 1995.

    O Dogma 95 tem o compromisso formal de levantar-se contra uma "certa tendncia" docinema atual.

    ODogma 95 um ato de resgate!

    Em 1960, tivemos o bastante. O cinema estava morto e invocava a ressurreio. O objetivoera correto, mas no os meios. A Nouvelle Vague se revelava uma onda que, morrendo namargem, transformava-se em lama.

    Os slogans do individualismo e da liberdade fizeram nascer certas obras por algum tempo,mas nada mudou. A onda foi jogada ao colo dos melhores convivas, junto aos cineastas,mas no era mais forte do que aqueles que a haviam criado. O cinema antiburgus tornou-se burgus, pois se baseava em teorias de uma concepo burguesa de arte. O conceito deautor, nascido do romantismo burgus, era, portanto...falso.

    Para oDogma 95 o cinema no uma coisa individual!

    Hoje, uma tempestade tecnolgica cria tumulto. O resultado ser a democratizao supremado cinema. Pela primeira vez, qualquer um pode fazer filmes. Mas quanto mais os meios setornam acessveis, mais a vanguarda ganha importncia. No o caso que o termovanguarda assuma uma conotao militar. A resposta a disciplina ... devemos colocar osnossos filmes em uniformes, porque o cinema individualista ser decadente por definio.

    Para erguer-se contra o cinema individualista, oDogma 95

    apresenta uma srie de regrasestatutrias intituladas "Voto de castidade".

    Em 1960, tivemos o bastante. O cinema havia sido "cosmetizado" exausto, dizia-se. Daliem diante, todavia, a utilizao dos "cosmticos" aumentou de modo inaudito. O objetivosupremo dos cineastas decadentes enganar o pblico. disto que nos orgulhamos? aeste resultado que nos conduziram cem anos de cinema? Das iluses para comunicar asemoes? Uma srie de enganos escolhidos por cada cineasta individualmente?

    A previsibilidade (a dramaturgia) tornou-se o bezerro de ouro em torno do qual danamos.Usar a vida interior dos personagens para justificar a trama muito complicado, no a"verdadeira arte". Mais do que nunca, so os filmes superficiais de ao superficial que solevados s estrelas. O resultado estril. Uma iluso de pathos, uma iluso de amor.

    Para oDogma 95, o filme no iluso!

    Hoje em dia, arma-se uma tempestade tecnolgica. Elevam-se os "cosmticos" ao status dedeuses. Utilizando a nova tecnologia, qualquer um pode - em qualquer momento - sufocar altima migalha de verdade no estreito canal das sensaes. As iluses so tudo aquilo atrsdo qual pode esconder-se um filme. Dogma 95, para erguer-se contra o cinema de iluses,apresenta uma srie de regras estatutrias: o Voto de Castidade.

    Copenhage, 13 de maro de 1995.

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    BIBLIOGRAFIA

    Livros

    MOURO, Maria e LABAKI, Amir. O cinema do real. 2005. Editora Cosac Naify

    Estudos

    LEITE, Svio. Dogma95: Tudo Angstia. Dissertao pela Escola de Belas Artes /

    UFMG

    Sites

    http://www.dogme95.dk/menu/menuset.htm

    http://www.dogme95.dk/news/interview/schepelern.htm

    http://www.revistaetcetera.com.br/18/lars_von_tier/index.html

    FILMOGRAFIA

    VINTEMBERG, Thomas. Festa de famlia, 1998

    TRIER, Lars Von.Danando no escuro, 2000