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DOM DE PROFECIA OU PALAVRA DE PROFECIA Desde a queda de nossos primeiros pais, Deus não cessou de prometer aos homens um Redentor. Mostrou-O em inúmeras figuras que se desenvolviam e se revelavam com o decorrer dos séculos. Para dissipar todas as sombras, determinar todas as figuras, fixar todos os sinais, Deus suscita os Profetas. Deus que é comunidade de amor, está numa constante atitude de doação de si mesmo, o que o impulsiona a ir à procura do homem, participar de sua vida, penetrar na sua história. Associando a inteligência dos profetas à sua inteligência infinita, comunica-lhes os segredos do futuro. Ele lhes põe diante dos olhos o desejado de todas as nações, ordenando-lhes que O retratem com tal fidelidade que seja impossível de não o distinguir entre todos os outros. Assim todas as profecias são um grande círculo, em que todos os raios convergem para um centro comum, Jesus Cristo, o Redentor da humanidade. Todas as circunstâncias desde o nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus foram preditas por homens que viveram quatro, ou sete séculos, ou mil anos antes dele.O que um começava, outro acabava até termos um retrato completo do Messias. Chama-se Profeta o homem que prediz o futuro por inspiração divina. Deus que tudo sabe do passado, presente e futuro dá a eles o conhecimento de certos acontecimentos futuros, que toda a sabedoria humana não poderia prever, para comunicarem ao povo da antiga e da nova aliança (através dos Apóstolos). Temos os profetas que não escreveram suas profecias como: Natã, Gad, Elias e Eliseu. E outros que as escreveram como: Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel e Daniel. Estes seis considerados profetas maiores, devido ao maior número de seus escritos chegados até nós. São considerados profetas menores: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Miquéias, Jonas, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias, devido ao menor número de escritos chegados até nós. Viviam como religiosos, longe das cidades, separados do povo e na solidão. Formavam com seus discípulos comunidades e trabalhavam, estudavam, ensinavam e rezavam. Construíam suas celas de madeira que cortavam, vestiam-se de saco ou cilício (o hábito do penitente), pois faziam freqüentemente penitência pelos pecados do povo. Comiam o que o povo lhes dava. Não profetizavam continuamente, mas quando o Espírito de Deus descia sobre eles, saiam de seus retiros e iam anunciar a vontade Deus aos reis e aos povos. Muitos deles acabaram de morte violenta Para que suas palavras tivessem autoridade, anunciavam em ordem duas coisas: uma próxima e outra remota. O cumprimento da primeira garantia a segunda. Suas palavras eram intercaladas de profecias particulares e das do Messias, afim de que estas últimas não ficassem sem provas, nem aquelas outras sem frutos. Outras vezes provar um fato longínquo anunciava outro que devia cumprir-se mais cedo e ser de tamanha repercussão, que todos os povos testemunhassem sem poderem duvidar mais daquele acontecimento futuro. Refletir sobre o dom da profecia ou da palavra de profecia é poder se admirar da exatidão com que eles traçaram tantos séculos antes, o retrato do Messias, e mais admirável ainda é entender o meio que Deus escolheu para conservar e levar o conhecimento a todos destas profecias. Abaixo transcrevemos algumas abreviaturas inerentes ao texto, que serão encontrados no transcorrer da leitura: DDPP (Ed) = dom da palavra de profecia de edificação. DDPP (Ex) = dom da palavra de profecia de exortação. DDPP(C) = dom da palavra de profecia de consolação. Boa leitura a todos. DOM DE PROFECIA OU PALAVRA DE PROFECIA -Profetizar é falar em nome de Deus. É dizer uma mensagem de Deus para o homem. É revelar ao homem o coração de Deus: sua vontade, seus pensamentos, seus sentimentos, seus plano, tanto de maneira pessoal como comunitária, tanto para uma pessoa individualmente, como para um grupo, para um país.

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DOM DE PROFECIA OU PALAVRA DE PROFECIA

Desde a queda de nossos primeiros pais, Deus não cessou de prometer aos homens um Redentor. Mostrou-O

em inúmeras figuras que se desenvolviam e se revelavam com o decorrer dos séculos.

Para dissipar todas as sombras, determinar todas as figuras, fixar todos os sinais, Deus suscita os Profetas.

Deus que é comunidade de amor, está numa constante atitude de doação de si mesmo, o que o impulsiona a ir

à procura do homem, participar de sua vida, penetrar na sua história.

Associando a inteligência dos profetas à sua inteligência infinita, comunica-lhes os segredos do futuro. Ele

lhes põe diante dos olhos o desejado de todas as nações, ordenando-lhes que O retratem com tal fidelidade que

seja impossível de não o distinguir entre todos os outros. Assim todas as profecias são um grande círculo, em

que todos os raios convergem para um centro comum, Jesus Cristo, o Redentor da humanidade. Todas as

circunstâncias desde o nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus foram preditas por homens que

viveram quatro, ou sete séculos, ou mil anos antes dele.O que um começava, outro acabava até termos um

retrato completo do Messias.

Chama-se Profeta o homem que prediz o futuro por inspiração divina. Deus que tudo sabe do passado,

presente e futuro dá a eles o conhecimento de certos acontecimentos futuros, que toda a sabedoria humana não

poderia prever, para comunicarem ao povo da antiga e da nova aliança (através dos Apóstolos).

Temos os profetas que não escreveram suas profecias como: Natã, Gad, Elias e Eliseu. E outros que as

escreveram como: Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel e Daniel. Estes seis considerados profetas

maiores, devido ao maior número de seus escritos chegados até nós. São considerados profetas menores:

Oséias, Joel, Amós, Abdias, Miquéias, Jonas, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias, devido

ao menor número de escritos chegados até nós.

Viviam como religiosos, longe das cidades, separados do povo e na solidão. Formavam com seus discípulos

comunidades e trabalhavam, estudavam, ensinavam e rezavam. Construíam suas celas de madeira que

cortavam, vestiam-se de saco ou cilício (o hábito do penitente), pois faziam freqüentemente penitência pelos

pecados do povo. Comiam o que o povo lhes dava. Não profetizavam continuamente, mas quando o Espírito

de Deus descia sobre eles, saiam de seus retiros e iam anunciar a vontade Deus aos reis e aos povos. Muitos

deles acabaram de morte violenta

Para que suas palavras tivessem autoridade, anunciavam em ordem duas coisas: uma próxima e outra remota.

O cumprimento da primeira garantia a segunda. Suas palavras eram intercaladas de profecias particulares e

das do Messias, afim de que estas últimas não ficassem sem provas, nem aquelas outras sem frutos. Outras

vezes provar um fato longínquo anunciava outro que devia cumprir-se mais cedo e ser de tamanha

repercussão, que todos os povos testemunhassem sem poderem duvidar mais daquele acontecimento futuro.

Refletir sobre o dom da profecia ou da palavra de profecia é poder se admirar da exatidão com que eles

traçaram tantos séculos antes, o retrato do Messias, e mais admirável ainda é entender o meio que Deus

escolheu para conservar e levar o conhecimento a todos destas profecias.

Abaixo transcrevemos algumas abreviaturas inerentes ao texto, que serão encontrados no transcorrer da

leitura:

DDPP (Ed) = dom da palavra de profecia de edificação.

DDPP (Ex) = dom da palavra de profecia de exortação.

DDPP(C) = dom da palavra de profecia de consolação.

Boa leitura a todos.

DOM DE PROFECIA OU PALAVRA DE PROFECIA

-Profetizar é falar em nome de Deus. É dizer uma mensagem de Deus para o homem. É revelar ao homem o

coração de Deus: sua vontade, seus pensamentos, seus sentimentos, seus plano, tanto de maneira pessoal como

comunitária, tanto para uma pessoa individualmente, como para um grupo, para um país.

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- É uma mensagem de Deus pessoal e para agora, para o momento em que estamos vivendo. É um diálogo de

Deus com os homens: “Aquele que profetiza, fala aos homens, para edificá-los, exortá-los e consolá-los”.

(1Co.14,3).

DDPP(Ed) - dom da palavra de profecia de edificação A profecia de edificação: Fala da presença do Senhor junto ao Seu povo; presença que inunda a comunidade

com um senso especial de Deus. A comunidade percebe que o Senhor está com ela; o que lhe dá segurança na

caminhada e a certeza de continuar perseverante no amor do Senhor;

-EDIFICAR = FORTALECER, EDIFICAR, ABASTECER-Revigorar as forças (carregar a bateria).

DDPP(Ex) - dom da palavra de profecia de exortação A profecia de exortação: o Senhor convida a comunidade a se deixar guiar por Ele; convida ao cumprimento

de Seus divinos mandamentos e deveres religiosos; lembra a importância de se manterem unidos uns aos

outros e, todos, ao Senhor. Recorda, ainda, que Ele é o Pastor que conduz o Seu povo predileto, que é o seu

Deus, Senhor e Redentor; significa também animar, fortalecer, alegrar, pacificar, serenar os ânimos, afugentar

temores e angústias, exortar a crer, a amar, a esperar, a ter ânimo, a se converter.

EXORTAR = CONVITE; CONDUZIR-SE (Deixar-se conduzir).

DDPP(C) – dom da palavra de profecia de consolação A profecia de consolação: o Senhor quer derramar Seu amor sobre Seu povo e curar-lhe as feridas; Ele é o

Consolador do Seu povo, por excelência, e jamais o abandonará; Nele está a paz verdadeira, a plenitude dos

anseios do coração humano. Nele podemos descansar o coração e a alma. Nele podemos confiar.

-CONSOLAR = REACENDER A ESPERANÇA; INFUNDIR A CORAGEM;

-CONSOLAR; recobrar a confiança; restituir a alegria no coração; visar o ensinamento a disdacália.

-É mais uma maneira de Deus derramar seu amor, com o objetivo de edificar a Igreja (1Co.14,4), de construir

o Corpo de Cristo (1Co.12,27).

-É Deus que nos fala através de uma pessoa para nos orientar, corrigir, exortar, encorajar, falar do seu amor e

nos levar a amar mais Ele e a nossos irmãos, ou também revelar o que mais Ele queria, pois o dom é dele, não

nosso.

(Gn.12,1-3) DDPP(Ex) – p.58 – 1.O Senhor disse a Abrão: “Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar.

2.Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos.

3.Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem; todas as famílias da terra serão benditas em

ti.”

-O carisma da profecia é um dom pelo qual Deus conversa com seu povo como um todo. Porém Deus, em sua

infinita misericórdia, manifesta-se também através deste carisma para uma pessoa em particular, quer dizer os

dons espirituais se manifestam tanto em nossas orações comunitárias, como também em nossas orações

espirituais.

-Nós constatamos isso em várias passagens bíblicas onde Deus se revela ao homem através de sua oração

pessoal. É o caso de Abraão, onde Deus revela-lhe sua vocação de Pai de uma grande Nação. A seu tempo

Deus chamou Abraão a fim de fazer dele um grande povo, ao qual depois dos patriarcas ensinou, por meio de

Moisés e dos profetas, a reconhecê-lo como único Deus vivo e verdadeiro Pai providente e justo juiz a esperar

o Salvador prometido. E assim preparou ao longo dos séculos, o caminho para o Evangelho.

(Ex.3,1-15) –pg.102-DDPP(C) - p.102 1.Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Um dia em que conduzira o rebanho para além do deserto,

chegou até a montanha de Deus, Horeb.

2.O anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama (que saía) do meio a uma sarça. Moisés olhava: a sarça ardia, mas não se consumia.

3.“Vou me aproximar, disse ele consigo, para contemplar esse extraordinário espetáculo, e saber porque a sarça não se consome.”

4.Vendo o Senhor que ele se aproximou para ver, chamou-o do meio da sarça: “Moisés, Moisés!” “Eis-me aqui!” respondeu ele.

5.E Deus: “Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras é uma terra santa.

6.Eu sou, ajuntou ele, o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”. Moisés escondeu o rosto, e não

ousava olhar para Deus.

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7.O Senhor disse: “Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores.

Sim, eu conheço seus sofrimentos.

8.E desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que

mana leite e mel, lá onde habitam os cananeus, os hiteus, os amorreus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus.

9.Agora, eis que os clamores dos israelitas chegaram até mim, e vi a opressão que lhes fazem os egípcios.

10.Vai, eu te envio ao faraó para tirar do Egito os israelitas, meu povo”.

11.Moisés disse a Deus: “Quem sou eu para ir ter com o faraó e tirar do Egito os israelitas?”

12.“Eu estarei contigo, respondeu Deus; e eis aqui um sinal de que sou eu que te envio: quando tiveres tirado o povo do Egito,

servireis a Deus sobre esta montanha”.

13.Moisés disse a Deus: “Quando eu for para junto dos israelitas e lhes disser que o Deus de seus pais me enviou a eles, que lhes

responderei se me perguntarem qual é o seu nome?”

14.Deus respondeu a Moisés: “EU SOU AQUELE QUE SOU”. E ajuntou: “Eis como responderás aos israelitas: (Aquele que se

chama) EU SOU envia-me junto de vós.”

15.Deus disse ainda a Moisés: “Assim falarás aos israelitas: É JAVÉ, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o

Deus de Jacó, quem me envia junto de vós. Este é o meu nome para sempre, e é assim que me chamarão de geração em geração”.

- Da mesma forma acontece com Moisés, a quem Deus se revela e dá a missão de tirar do Egito, os israelitas.

(Ex.33,11)- DDPP(C) – p.135 – 11.O Senhor se entretinha com Moisés face a face, como um homem fala ao seu amigo. Voltava depois Moisés ao acampamento,

mas seu ajudante, o jovem Josué, filho de Nun, não se apartava do interior da tenda.

(Nm.11,29) – DDPP(C) -p.188 29.Moisés,porém respondeu: “Por que és tão zeloso por mim?Prouvera a Deus que todo o povo de Senhor profetizasse, e que o

Senhor lhe desse o seu espírito!”

(Nm.12,6) – DDPP(C) – p.188 6. Ouvi bem, disse ele, o que vou dizer: Se há entre vós um profeta , eu lhe aparecerei em visão, eu o Senhor, é em um sonho que

lhe falarei.

-Esta passagem nos ensina muito sobre o dom da profecia, que pode se manifestar através de uma palavra, de

um sentimento, em línguas que requerem uma interpretação com o entendimento espiritual de um sonho, o

que não quer dizer que todos os sonhos sejam proféticos, mas quando é da vontade do Senhor, Ele pode nos

dar uma mensagem em sonhos, ou ainda de maneira que o Senhor quiser revelar.

(Dt.13,2-5)- DDPP(Ex) - p.229 – 1.Se se levantar no meio de ti um profeta ou um visionário, anunciando-lhe um sinal ou prodígio,

2.e suceder o sinal ou o prodígio que te anunciou e te disser: Vamos, sigamos a outros deuses – que e são desconhecidos- e

prestamos lhes culto,

3.tu não ouvirás as palavras desse visionário porque o Senhor vosso Deus , vos põe a prova para ver se o amais de todo o vosso

coração e de toda a vossa alma .

4.Seguirei o Senhor vosso Deus, e o temereis;observareis seus mandamentos, obedecereis a sua voz e o servireis com muito zelo.

- O centro de toda a profecia é Jesus Cristo e o seu Evangelho, portanto as palavras proféticas têm de estar

de acordo com a Palavra de Deus, com a palavra da Igreja e dirigidos à glória de Deus e à salvação dos

homens.

- Aqueles que recebem a confirmação da profecia proclamada, dêem manifestar no meio de assembléia.

Quanto mais uma profecia é conformada, maior a fé que depositamos nela e maior é a abertura que será dada

para a ação do Espírito Santo naquela comunidade ou pessoa.

- A profecia pode revelar acontecimentos futuros desde que seja com o objetivo de fazer as pessoas se

converterem e viverem mais santamente, mas não é que a caracteriza, que é ser uma mensagem de Deus, que

conhece o passado, o presente e o futuro e pode dar uma mensagem sobre acontecimentos passados, presentes

e futuros. Mas o objetivo da profecia não é simplesmente revelar acontecimentos futuros ou presentes. Seu

objetivo é transmitir uma mensagem divina, pelo poder do Espírito Santo, mensagem esta que penetra o mais

profundo do coração do homem, o atrai para uma vida com Deus cada vez mais intensa, passando a viver

aquilo para o qual foi escolhido, predestinado para servir à celebração da gloriam de Deus.

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(1Sm.3,2-14) – DDPP(Ed) – p.307/8 2.Ora, aconteceu certo dia que Heli estava deitado (seus olhos tinham-se enfraquecido, e ele mal podia ver),

3.e a lâmpada de Deus ainda não se apagara. Samuel repousava no templo do Senhor, onde se encontrava a arca de Deus.

4.O Senhor chamou Samuel, o qual respondeu: Eis-me aqui.

5.Samuel correu para junto de Heli e disse: Eis-me aqui: chamaste-me. Não te chamei, meu filho, torna a deitar-te. Ele foi e deitou-

se.

6.O Senhor chamou de novo Samuel. Este levantou-se e veio dizer a Heli: Eis-me aqui, tu me chamaste. Eu não te chamei, meu

filho, torna a deitar-te.

7.Samuel ainda não conhecia o Senhor; a palavra do Senhor não lhe tinha sido ainda manifestada.

8.Pela terceira vez o Senhor chamou Samuel, que se levantou e foi ter com Heli: Eis-me aqui, tu me chamaste. Compreendeu então

Heli que era o Senhor quem chamava o menino.

9.Vai e torna a deitar-te, disse-lhe ele, e se ouvires que te chamam de novo, responde: Falai, Senhor; vosso servo escuta! Voltou

Samuel e deitou-se.

10.Veio o Senhor pôs-se junto dele e chamou-o como das outras vezes: Samuel! Samuel! Falai, respondeu o menino; vosso servo

escuta!

11.O Senhor disse a Samuel: Eis que vou fazer uma tal coisa em Israel, que a todo o que a ouvir ficar-lhe-ão retinindo os ouvidos.

12.Naquele dia cumprirei contra Heli todas as ameaças que pronunciei contra a sua casa. Começarei e irei até o fim.

13.Anunciei-lhe que eu condenaria para sempre a sua família, por causa dos crimes que ele sabia que os seus filhos cometiam, e não

os corrigiu.

14.Por isso jurei à casa de Heli que a sua culpa jamais seria expiada, nem com sacrifícios nem com oblações.

- Diferentemente de Samuel, que não reconheceu logo a voz de Deus dando-nos o exemplo de que muitas

vezes escutamos a vos de Deus, não porque Ele não nos fale, mas porque não entendemos a sua voz.Falta-nos

uma maior união com Ele, através da oração, da Palavra e, hoje, dos sacramentos. (vv.2-10)

-Deus também nos fala através da Igreja, que como instituição nos ensina e exorta através dos documentos e

pronunciamentos oficiais do Papa e daqueles a quem delegar poder. Neste sentido o Magistério é também

profecia para orientar a caminhada do homem de hoje e edificá-lo à luz da Palavra e da Tradição.

(2Sm.5,17-21)–DDPP(Ex).- p.341 17.Quando os filisteus souberam que Davi fora ungido rei de Israel, puseram-se todos em campanha para apoderar-se dele.

Informado disto, Davi desceu à fortaleza.

18.Os filisteus, desde que chegaram, espalharam-se pelo vale dos Gigantes.

19.Davi consultou o Senhor, dizendo: Devo subir ao encontro dos filisteus? Entregá-los-eis nas minhas mãos? Vai, respondeu

o Senhor, eu os entregarei certamente nas tuas mãos.

20.Veio Davi a Baal-Farasim, onde os derrotou. O Senhor, disse ele, rompeu os meus inimigos diante de mim, como as águas

rompem os diques. Por isso chamou àquele lugar Baal-Farasim.

21.Os filisteus abandonaram ali seus ídolos; Davi e seus homens os levaram.

- Davi, o grande rei, não se metia nunca em nenhuma empreitada se antes não perguntasse a Deus e ouvisse

Dele claramente uma ordem para ir em frente, recorre a Deus em todas as situações e Deus lhe dá a graça de

ouvi-lo com clareza e simplicidade, mais com entendimento espiritual e com a experiência do que com

explicações.

(Is.7,14)– DDPP(Ed) – p.948 14. Por isto o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e vos dará à luz um filho, e o chamará “ Deus conosco”.

-Através do profeta Isaías, Deus entre tantas revelações importantes, fala ao mundo sobre Jesus e Maria,

revela ao homem o seu amor, como ele é único e importante para Ele.

-Os Profetas não tinham somente por fim manter a verdadeira religião, mas eram também encarregados de

anunciar o Messias e desenhar sucessivamente as feições características por onde deveriam reconhecê-lo. Foi

Isaías o primeiro e o mais admirável dos profetas maiores a fazê-lo. Isaías profetizou setecentos anos antes do

Messias nascer. O Senhor o escolheu desde a sua infância para chamar o povo à penitência e anunciar

novamente o grande mistério do Messias. Examinemos abaixo o que Isaías profetizou sobre o Messias:

Is.2,2-3.18 – DDPP(C) – 941

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2.No fim dos tempos acontecerá que o monte da casa do Senhor estará colocado à frente das montanhas, e dominará as colinas. Para

aí acorrerão todas as gentes,

3.e os povos virão em multidão: Vinde, dirão eles, subamos à montanha do Senhor, à casa do Deus de Jacó: ele nos ensinará seus

caminhos, e nós trilharemos as suas veredas. Porque de Sião deve sair a lei, e de Jerusalém, a palavra do Senhor.

18.e todos os ídolos desaparecerão.

-Quem converteu as nações e destruiu o reino dos ídolos foi Jesus Cristo. Logo Ele é o Redentor profetizado

por Isaías.

Is.7,14 – DDPP(Ed) – p.948 14.Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco.

-Jesus nasceu da gloriosa e sempre Virgem Maria. Ninguém senão Ele nasceu de uma Virgem, logo Jesus é o

Messias profetizado por Isaías

Is.9,5.6 –DDPP(Ed) – p.950 5.porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro

admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz.

6.Seu império será grande e a paz sem fim sobre o trono de Davi e em seu reino. Ele o firmará e o manterá pelo direito e pela

justiça, desde agora e para sempre. Eis o que fará o zelo do Senhor dos exércitos.

-Isaías prevê as qualidades deste menino, profetizando que será adorado pelos reis e que o nome

incomunicável de Deus será seu nome.

Is.11,1.10-DDPP(Ed) - p.954 1.Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes.

10.Naquele tempo, o rebento de Jessé, posto como estandarte para os povos, será procurado pelas nações e gloriosa será a sua

morada.

-Isaías anunciou o grande sinal do Messias , o sinal marcante por onde o reconheceriam é a conversão dos

pagãos.

(Is.40,3) – DDPP(C) – p.989 3.Uma voz exclama: “ Abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai reta na estepe uma pista para nosso Deus.

-Jesus teve como precursor João Batista, que repetia aquelas mesmas palavras de Isaías. (Mt.3,3).

- Revela ao mundo a missão de João Batista que anunciará e preparará o povo para a libertação messiânica,

para a vinda do Messias.

Is.42,1-4 – DDPP(C) – p.994 1.Eis meu Servo que eu amparo, meu eleito ao qual dou toda a minha afeição, faço repousar sobre ele meu espírito, para que leve às

nações a verdadeira religião.

2.Ele não grita, nunca eleva a voz, não clama nas ruas.

3.Não quebrará o caniço rachado, não extinguirá a mecha que ainda fumega. Anunciará com toda a franqueza a verdadeira religião;

não desanimará, nem desfalecerá,

4.até que tenha estabelecido a verdadeira religião sobre a terra, e até que as ilhas desejem seus ensinamentos.

-Jesus Cristo foi bom pastor; curou os enfermos que vieram reclamar sua bondade. Ninguém senão Ele possui

todos estes sinais.

(Is.43,1-5) – DDPP(Ed) – p.996 1.E agora, eis o que diz o Senhor, aquele que te criou, Jacó, e te formou, Israel: Nada temas, pois eu te resgato, eu te chamo pelo

nome, és meu.

2.Se tiveres de atravessar a água, estarei contigo. E os rios não te submergirão; se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e a

chama não te consumirá.

3.Pois eu sou o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, teu salvador. Dou o Egito por teu resgate, a Etiópia e Sabá em compensação.

4.Porque és precioso a meus olhos, porque eu te aprecio e te amo, permuto reinos por ti, entrego nações em troca de ti.

5.Fica, tranqüilo, pois estou contigo, do oriente trarei tua raça, e do ocidente eu te reunirei.

- Revela ao homem o seu amor, como ele é único e importante para Ele.

(Is.49,14-16)–DDPP(C) - p.1006 14.Sião dizia: O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-me.

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15.Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o

esquecesse, eu não te esqueceria nunca.

16.Eis que estás gravada na palma de minhas mãos, tenho sempre sob os olhos tuas muralhas.

-Por Isaías, Deus revela ao homem o seu a amor, como ele é único e importante para Ele.

(Is.53,2-9) – DDPP(C) – p.1012 2.Cresceu diante dele como um pobre rebento enraizado numa terra árida; não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e

seu aspecto não podia seduzir-nos.

3.Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais

se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele.

4.Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado,

ferido por Deus e humilhado.

5.Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos

curados graças às suas chagas.

6.Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo

das faltas de todos nós.

7.Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do

tosquiador. (Ele não abriu a boca.)

8.Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto

pelo pecado de meu povo?

9.Foi-lhe dada sepultura ao lado de fascínoras e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça

alguma, e em sua boca nunca tenha havido mentira.

-Jesus no dia de sua paixão perdeu todo o seu resplendor. Seu rosto estava desfigurado; era homem de dores;

compararam-no com o malfeitor Barrabás e crucificaram-no entre dois ladrões; foi condenado por Pilatos e

morto no meio dos tormentos; não abriu a boca para se queixar, mas para implorar o perdão para seus algozes.

Era inocente, mas encarregou-se de expiar os pecados de todos os homens; entregou-se por si mesmo à morte,

e os prodígios que acompanharam seu último suspiro provaram que só dependia dele o livrar-se de seus

inimigos. Isto assegura que Jesus é o Redentor, o Messias predito por Isaías.

(Is.58, 3-8) – DDPP(C) – p.1018 3.De que serve jejuar, se com isso não vos importais? E mortificar-nos, se nisso não prestais atenção? É que no dia de vosso jejum, só cuidais de

vossos negócios, e oprimis todos os vossos operários.

4.Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz.

5.O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? Curvar a cabeça como um junco, deitar sobre o saco e a

cinza? Podeis chamar isso um jejum, um dia agradável ao Senhor?

6.Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os

oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo.

7.É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante.

8.Então tua luz surgirá como a aurora, e tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se; tua justiça caminhará diante de ti, e a glória do Senhor seguirá na

tua retaguarda.

-Instrui seu povo sobre o jejum e a justiça que está acima do jejum.

(Jr.1,4-10) – DDPP(Ed) - p.1032 – 4.Foi-me dirigida nestes termos a palavra do Senhor:

5.Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia

designado profeta das nações.

6.E eu respondi: Ah! Senhor JAVÉ, eu nem sei falar, pois que sou apenas uma criança.

7.Replicou porém o Senhor: Não digas: Sou apenas uma criança: porquanto irás procurar todos aqueles aos quais te enviar, e a eles

dirás o que eu te ordenar.

8.Não deverás temê-los porque estarei contigo para livrar-te - oráculo do Senhor.

9.E o Senhor, estendendo em seguida a sua mão, tocou-me na boca. E assim me falou: Eis que coloco minhas palavras nos teus

lábios.

10.Vê: dou-te hoje poder sobre as nações e sobre os reinos para arrancares e demolires, para arruinares e destruíres, para edificares e

plantares.

-Jeremias não se esqueceu do grande sinal do Messias, dizendo que ele ensinará a verdade às nações e fará

com os homens uma nova aliança maior e mais perfeita que a antiga.

Jr.31,15 – DDPP(C) – p.1078

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15.Eis o que diz o Senhor: ouve-se em Ramá uma voz, lamentos e amargos soluços. É Raquel que chora os filhos, recusando ser

consolada, porque já não existem.

-Jeremias é o Profeta das dores, e para dar autoridade sobre suas profecias acerca do Messias e os

acontecimentos futuros, anunciou outros fatos próximos como a ruína de Jerusalém por Nabucodonozor e o

cativeiro da Babilônia.

-Quanto ao Messias prediz Jeremias que no nascimento de Jesus mandarão matar os meninos de Belém e que

suas mães ficarão inconsoláveis. (v.15).

-Jesus nascendo em Belém, Herodes com a intenção de destruí-lo, mandou matar todos os meninos de Belém

e dos arredores, de idade de dois anos para baixo. Então ouviram-se os lastimosos prantos das mães, narrados

por Mateus (2,17).

Dn.9,21-27 – DDPP(Ex) – p.1203 – As “setenta” Semanas 21.não havia terminado essa prece, quando se aproximou de mim, num relance (era a hora da oblação da noite), Gabriel, o ser que

eu havia visto antes em visão.

22.Deu-me, para meu conhecimento, as seguintes explicações: Daniel, vim aqui agora para te informar.

23.Apenas havias iniciado a tua oração e uma palavra foi pronunciada; eu venho desvendá-la a ti, porque és um homem de

predileção. Presta pois atenção a este oráculo e compreende bem a sua revelação:

24.Setenta semanas foram fixadas a teu povo e à tua cidade santa para dar fim à prevaricação, selar os pecados e expiar a

iniqüidade, para instaurar uma justiça eterna, encerrar a visão e a profecia e ungir o Santo dos Santos.

25.Sabe, pois, e compreende isto: desde a declaração do decreto sobre a restauração de Jerusalém até um chefe ungido, haverá sete

semanas; depois, durante sessenta e duas semanas, ressurgirá, será reconstruída com praças e muralhas. Nos tempos de aflição,

26.depois dessas sessenta e duas semanas, um ungido será suprimido, e ninguém (será) a favor dele. A cidade e o santuário

serão destruídos pelo povo de um chefe que virá. Seu fim (chegará) com uma invasão, e até o fim haverá guerra e devastação

decretada.

27.Concluirá com muitos uma sólida aliança por uma semana e no meio da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; sobre a asa

das abominações virá o devastador, até que a ruína decretada caia sobre o devastado.

-Daniel anunciou que o Messias seria tão desejado dali a quatrocentos e noventa anos; que seria morto;que os

judeus o renegariam e deixariam de ser seu povo;que o templo e a cidade de Jerusalém seriam destruídos;que

o Messias estabeleceria uma nova aliança;que os sacrifícios da lei antiga acabariam e que então começaria a

desolação em que o povo judeu passaria.Para entender melhor a profecia, precisamos entender que havia entre

os judeus dois tipos de semanas:a semana de dias e a semana de anos, que serão de sete anos.Esta última se

encontra na profecia de Daniel.

-Por esta profecia fica evidenciado que: o Messias já veio; portanto anuncia que à ruína do templo e da cidade

de Jerusalém deve seguir-se a morte de Cristo (o ungido) será morto (suprimido) e a cidade e o santuário serão

destruídos.

-Como sabemos Jerusalém foi tomada e o seu templo queimado pelos romanos no ano 72 dC. Portanto o

Cristo profetizado por Daniel já tinha vindo e logo também sido morto antes desta época. Em vão os judeus

ainda esperam o Messias. Assim fica demonstrado por Daniel nesta profecia que o Messias profetizado é Jesus

Cristo, nosso Senhor.

(Jl.3,1-5) – DDPP(Ed) - p.1229 1.Depois disso, acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos

anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões.

2.Naqueles dias, derramarei também o meu Espírito sobre os escravos e as escravas.

3.Farei aparecer prodígios no céu e na terra, sangue, fogo e turbilhões de fumo.

4.O sol converter-se-á em trevas e a lua, em sangue, ao se aproximar o grandioso e temível dia do Senhor.

5.Mas todo o que invocar o nome do Senhor será poupado, porque, sobre o monte Sião e em Jerusalém, haverá um resto, como o

Senhor disse, e entre os sobreviventes estarão os que o Senhor tiver chamado.

- Desde o AT, Deus revela ao homem suas intenções seus planos, através do carisma da profecia: fala ao

homem sobre o derramamento do Espírito Santo sobre toda a criatura, sem distinção, sobre os anciãos, sobre

os jovens, escravos e escravas.

-Joel, Profeta contemporâneo de Miquéias, descreveu duas grandes aparências do Messias: a descida do

Espírito Santo e o Juízo final. Para validar a sua palavra, Joel anuncia um fato que os judeus seus

contemporâneos viram cumprir-se: foi a horrível fome que desolou o país. (Jl.1,1-20)

Nos (vv.1- 2) o profeta mostra-nos Jesus derramando o seu Espírito na sua Igreja, e vindo julgar o mundo com

majestade. Efetivamente Jesus segundo a sua promessa enviou o seu Espírito Santo aos seus Apóstolos, e eles

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profetizaram e este Espírito divino comunicou o dom da profecia a grande número de fiéis nos séculos

vindouros. Pedro cita esta profecia de Joel em At.2,14-21.

(Mq.5,1-2) – DDPP(C) – pg.1252 1.Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre os clãs de Judá, é de ti que sairá para mim aquele que é chamado a governar Israel. Suas

origens remontam aos tempos antigos, aos dias do longínquo passado.

2.Por isso, (Deus) os deixará, até o tempo em que der à luz aquela que há de dar à luz. Então o resto de seus irmãos voltará para

junto dos filhos de Israel.

-O Profeta Miquéias, no mesmo tempo de Oséias e Isaías, anuncia dois acontecimentos próximos, as

desgraças e ruínas de Israel e do reino de Judá. Depois passa a falar do nascimento de Jesus em Belém: “da

pequena entre as clãs de Judá, sairá aquele que é chamado a governar Israel”.

-Em conseqüência desta profecia, os judeus sabiam muito bem que o Messias devia nascer em Belém. Quando

os magos chegaram a Jerusalém, Herodes convocou todos os príncipes dos sacerdotes e os doutores do povo e

perguntou-lhes aonde havia de nascer o Cristo. Responderam-lhe sem hesitar: em Belém de Judá, segundo a

profecia de Miquéias. Em Belém nasceu Jesus Cristo, no tempo e com as circunstâncias assinaladas por

Miquéias.

NOVO TESTAMENTO

(Mt.3,1-12) – DDPP(Ex/Ed) - pg.1286/7 1.Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia.

2.Dizia ele: Fazei penitência porque está próximo o Reino dos céus.

3.Este é aquele de quem falou o profeta Isaías, quando disse: Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor,

endireitai as suas veredas (Is 40,3).

4.João usava uma vestimenta de pêlos de camelo e um cinto de couro em volta dos rins. Alimentava-se de gafanhotos e mel

silvestre.

5.Pessoas de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda a circunvizinhança do Jordão vinham a ele. 6.Confessavam seus pecados e

eram batizados por ele nas águas do Jordão.

7.Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e dos saduceus vinham ao seu batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a

fugir da cólera vindoura?

8.Dai, pois, frutos de verdadeira penitência.

9.Não digais dentro de vós: Nós temos a Abraão por pai! Pois eu vos digo: Deus é poderoso para suscitar destas pedras filhos a

Abraão.

10.O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo.

11.Eu vos batizo com água, em sinal de penitência, mas aquele que virá depois de mim é mais poderoso do que eu e nem sou

digno de carregar seus calçados. Ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo.

12.Tem na mão a pá, limpará sua eira e recolherá o trigo ao celeiro. As palhas, porém, queimá-las-á num fogo inextinguível.

- Percebemos claramente os frutos da pregação profética de João Batista. Isto confirma que o carisma de

profecia é manifestado pelo poder do Espírito Santo para a conversão dos homens e maior glória e Deus.

(vv.3.5) – dom da profecia de exortação

-Ao estudarmos o carisma de profecia no Novo Testamento, encontramos João Batista, o último profeta do

AT. Exercia seu ministério de pregação totalmente dirigido à preparação dos corações para a vinda iminente

de Jesus. Nos (vv.11.12) dom da profecia de edificação.

Comentário feito por:

São Gregório Magno (c. 540-604), papa, doutor da Igreja

Homilias sobre o Evangelho, nº20

«Preparai o caminho do Senhor, aplanai as veredas por onde Ele virá» - (v.3)

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È evidente para todo o leitor que João não pregou apenas, mas conferiu também um batismo de penitência.

Não pôde, no entanto, dar um batismo que remisse os pecados, pois a remissão dos pecados só nos é dada no

batismo em Cristo. Por isso o evangelista diz que ele «pregava um batismo de arrependimento para a remissão

dos pecados» (Lc 3,3); não podendo ele próprio dar um batismo que perdoasse os pecados, anunciava esse

ainda por vir. Tal como as suas palavras de pregação eram precursoras da Palavra do Pai feita carne, assim o

seu batismo precedia o do Senhor, como sombra da verdade (Cl. 2,17). Este mesmo João, interrogado sobre

quem era, respondeu: «Eu sou a voz d’Aquele que grita no deserto» (Jo, 1,23; Is 40,3). O profeta Isaías

chamara-lhe «voz», pois ele precedia a Palavra. Aquilo que gritava é-nos ensinado a seguir: «Preparai os

caminhos do Senhor, aplanai as veredas por onde Ele virá». Aquele que prega a fé verdadeira e as boas obras,

que faz senão preparar a estrada nos corações dos ouvintes para o Senhor que vem? Possa a graça toda

poderosa penetrar nestes corações, iluminá-los com a luz da verdade. Acrescenta São Lucas: «Todos os vales

sejam levantados, todas as montanhas e colinas sejam abaixadas». Que designam aqui estes vales, senão os

humildes, e os montes e as colinas, senão os orgulhosos? Com a vinda do Redentor, segundo a sua própria

palavra, «quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado» (Lc 14,11). Pela fé no mediador

entre Deus e os homens, Jesus Cristo feito homem (1Tm.2,5), aqueles que n’Ele crêem receberam a plenitude

da graça, enquanto os que se recusam a crer foram humilhados no seu orgulho. Todos os vales serão

levantados porque os corações humildes, ao acolherem a palavra da santa doutrina, serão cumulados pela

graça das virtudes, segundo o que está escrito: «Das fontes fez jorrar rios, que serpenteiam nos vales» (Sl

104,10).

Mt.(3,13-17) – DDPP(Ed) – p.1287– dom da palavra de profecia de edificação

13.Da Galiléia foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de ser batizado por ele.

14.João recusava-se: Eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim!

15.Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por agora, pois convém cumpramos a justiça completa. Então João cedeu.

16.Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o

Espírito de Deus.

17.E do céu baixou uma voz: Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição.

-Fala da presença do Senhor junto ao seu povo, dando segurança na caminhada e a certeza da perseverança no

amor.

Comentário feito por:

S. Cirilo de Jerusalém (313-350), bispo de Jerusalém, doutor da Igreja

Catequeses batismais, nº 11

“Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência” (v.17)

Acreditai em Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, mas segundo o Evangelho, filho único: “Deus amou de tal

modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo aquele que n’Ele crer não pereça, mas tenha a

vida eterna” (Jo 3,16) .Ele é o Filho de Deus por natureza e por adoção, pois que ele nasceu do Pai… Porque o

Pai, sendo Deus verdadeiro, gerou o Filho à sua semelhança, Deus verdadeiro… Cristo é filho por natureza,

um verdadeiro filho, não um filho adotivo como vós, os novos batizados, que agora vos tornastes filhos de

Deus. Porque vos tornastes também filhos, mas por adoção, segundo a graça, como está escrito: “Mas a todos

os que O receberam, aos que crêem n’Ele, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1,12). Nós

somos gerados pela água e pelo Espírito (Jo 3,5), mas não da mesma maneira que Cristo foi gerado pelo Pai.

Porque no momento do batismo este último levantou a voz e disse: “Este é o meu Filho”, para mostrar que

antes mesmo do seu batismo ele era Filho. O Pai gerou o Filho de maneira diferente daquela que, nos homens,

o espírito gera a palavra. Porque o espírito em nós subsiste, enquanto que a palavra, uma vez pronunciada e

difundida no ar, desaparece. Mas nós sabemos que Cristo foi gerado Verbo, Palavra perene e viva, não

pronunciada e saída dos lábios, mas nascida do Pai eternamente, de modo substancial e inefável. Porque “no

princípio já existia o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1,1), sentado à sua direita

(Sl 109,1). Ele é a Palavra que compreende a vontade do Pai e produz todas as coisas por sua ordem, Palavra

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que desce e que sobe (Ef 4,10. Palavra que fala e que diz: “Eu digo o que vi junto de meu Pai” (Jo 8,38).

Palavra plena de autoridade (Mc 1,27) e que rege tudo, porque “o Pai entregou tudo ao Filho”

Mt.(4,12-17.23-25) – DDPP(C) - p.1287/8 – dom da palavra de profecia de consolação 12.Quando, pois, Jesus ouviu que João fora preso, retirou-se para a Galiléia.

13.Deixando a cidade de Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, à margem do lago, nos confins de Zabulon e Neftali,

14.para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías:

15.A terra de Zabulon e de Neftali, região vizinha ao mar, a terra além do Jordão, a Galiléia dos gentios,

16.este povo, que jazia nas trevas, viu resplandecer uma grande luz; e surgiu uma aurora para os que jaziam na região

sombria da morte (Is 9,1). 17.Desde então, Jesus começou a pregar: Fazei penitência, pois o Reino dos céus está próximo.

23.Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, curando todas as doenças e

enfermidades entre o povo.

24.Sua fama espalhou-se por toda a Síria: traziam-lhe os doentes e os enfermos, os possessos, os lunáticos, os paralíticos. E ele

curava a todos.

25.Grandes multidões acompanharam-no da Galiléia, da Decápole, de Jerusalém, da Judéia e dos países do outro lado do Jordão.

-O Senhor reacende a esperança, infundindo coragem em seu povo.

Comentário feito por:

Odes de Salomão (texto cristão hebraico do princípio do séc. II)

N° 15

«Sobre aqueles que habitavam no país das sombras e da morte, fez-se uma luz» -(v.16)

Tal como o sol é a alegria

dos que procuram a luz,

assim a minha alegria é o Senhor,

pois Ele é o meu sol.

Os seus raios reergueram-me,

a sua luz dissipou todas as trevas da minha fronte.

Graças a Ele foram-me dados estes olhos,

E pude ver a sua luz santa;

Foram-me dados ouvidos

e pude ouvir a sua verdade;

foi-me dado o pensamento da ciência

e por seu intermédio me alegrei.

Abandonei o caminho do erro,

fui junto d’Ele,

e d’Ele generosamente recebi a salvação.

Ele muito me deu, por sua benevolência,

e a sua beleza modelou-me.

Em seu nome, cobri-me de incorruptibilidade,

abandonei a corrupção por sua divina graça.

A mortalidade desapareceu defronte do meu rosto,

A morada dos mortos foi aniquilada pelas minhas palavras,

Ergueu-se uma vida imortal na terra do Senhor.

Ela foi revelada aos crentes

e sem reservas concedida

a todos os que a Ele se entregam.

Aleluia!

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Mt.(5,1-12) – DDPP(C) - p.1288 – As bem-aventuranças. 1.Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele.

2.Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:

3.Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!

4.Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!

5.Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!

6.Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!

7.Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!

8.Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! 9.Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!

10.Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus!

11.Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa

de mim.

12.Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de

vós.

-Neste ensinamento profético de Jesus ele derrama seu amor sobre seu povo curando-lhe as feridas,

consolando-o, transmitindo a paz verdadeira.

Comentário feito por:

Beato Guerric d’Igny (c.1080-1157), abade cisterciense

Sermão para o dia de Todos os Santos

«Felizes os puros de coração, pois verão a Deus» - (v.8)

«Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu». O início do Novo Testamento é de fato alegre

e cheio de graça nova; provoca mesmo um pouco o não crente ou o preguiçoso a que o escute, e também a que

aja, ao prometer a felicidade aos infelizes e o Reino do Céu aos exilados, aos que estão no infortúnio. O

princípio da nova Lei é agradável de ouvir e começa sob felizes auspícios, pois, desde o início, o legislador

tem muitas palavras de beatitude. Os que forem atraídos por estas palavras caminharão então de virtude em

virtude, subirão os oito degraus que o Evangelho construiu e erigiu no nosso coração. Trata-se, é claro, da

elevação do coração e da progressão dos méritos ao longo de oito degraus de virtude, os quais gradualmente

conduzem o homem do mais baixo aos mais altos níveis de perfeição evangélica. Até que aí enfim entrará, e

vislumbrará o Deus dos deuses em Sião (Sl 83,8), no seu Templo, acerca do qual disse o profeta: «Aí se chega

por uma escada de oito degraus» (Ez.40, 37).

A primeira virtude dos principiantes é a renúncia ao mundo, pela qual nos tornamos pobres em espírito; a

segunda é a mansidão, pela qual nos submetemos à obediência, a esta nos habituando; depois vem a dor, pela

qual lamentamos os pecados cometidos ou, em choros, pedimos as virtudes. Provamo-las, claro, naquilo em

que mais temos fome e sede de justiça, tanto para nós como para os outros, e começamos a sentir um ânimo de

verdadeiro zelo contra os pecadores. Ao zelo segue-se a misericórdia, que o tempera, para que imoderados

ardores não se transformem em faltas. Aplicando-nos e exercitando-nos, havemos de aprender a ser justos e

misericordiosos, após o que estaremos capazes da contemplação e de nos dedicar a purificar continuamente o

nosso coração, a fim de vermos a Deus.

Comentário feito por:

Isaac de l'Étoile (? - c. 1171), monge cisterciense

Sermão 1, de Todos os Santos

«Felizes os pobres em espírito»

Todos os homens, sem exceção, desejam a felicidade, a bem-aventurança. Mas têm sobre ela idéias diferentes:

para um, a felicidade está na voluptuosidade dos sentidos e na doçura de vida; para outro, está na virtude; para

outro ainda, está no conhecimento da verdade. É por isso que Aquele que ensina todos os homens começa por

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recuperar os que se afastaram, orientando os que se encontram no caminho certo, e abrindo a porta aos que

batem. Assim, pois, Aquele que é «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo.14, 6) recupera, orienta e abre a porta,

e começa a fazê-lo dizendo: «Felizes os pobres em espírito».A falsa sabedoria deste mundo, que na realidade é

loucura (1Cor 3, 19), pronuncia-se sem compreender o que diz; considera bem-aventurados «os filhos do

estrangeiro, cuja boca só diz mentiras, e cuja direita jura falso», porque os celeiros deles «estão fornecidos

com todas as espécies, os seus rebanhos multiplicam-se aos milhares, em dezenas de milhares os seus

campos» (Sl 143, 11-13). Mas todas estas riquezas são incertas, a paz deles não é a paz (Jr.6, 14), a alegria

deles é estúpida. Pelo contrário, a Sabedoria de Deus, o Filho por natureza, a mão direita do Pai, a boca que

fala verdade, proclama felizes os pobres, que estão destinados a serem reis do Reino eterno. Ele parece dizer:

«Procurais a bem-aventurança, mas ela não se encontra onde a procurais; correis, mas correis fora do

caminho. Eis o caminho que conduz à felicidade: a pobreza voluntária por Minha causa, é esse o caminho. O

Reino dos céus em Mim, eis a bem-aventurança. Correis muito, mas mal; quanto mais depressa avançais, mais

vos afastais da meta.».Não temamos, irmãos. Somos pobres, ouçamos a palavra do Pobre, que recomenda a

pobreza aos pobres. Podemos acreditar na Sua experiência. Tendo nascido pobre, viveu pobre e pobre morreu.

Nunca quis enriquecer; antes aceitou morrer. Acreditemos, pois, na Verdade que nos indica o caminho que

conduz à vida. Trata-se de um caminho árduo, mas curto; e a felicidade é eterna. O caminho é estreito, mas

conduz à vida (Mt.7, 14).

Mt.(5,13-16) – DDPP(Ed) - p.1288 – Sal da terra e luz do mundo 13.Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser

lançado fora e calcado pelos homens.

14.Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha

15.nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos

os que estão em casa.

16.Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso

Pai que está nos céus.

-Profecia de edificação onde o Senhor revigora as forças; (recarrega a bateria)

Comentário feito por:

S. João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia e depois de Constantinopla, doutor da Igreja

Sermões sobre S. Mateus, nº 15

O sal da terra

"Vós sois o sal da terra", diz o Salvador; mostra-lhes assim como são necessários todos os preceitos que acaba

de enunciar. "A minha palavra, diz-lhes, não vos será confiada apenas para a vossa própria vida, mas para o

mundo inteiro. Não vos envio a duas cidades, a dez ou a vinte, nem a um só povo, como outrora os profetas.

Envio-vos à terra, ao mar, a toda a criação (Mc 16,15), a toda a parte onde o mal abunda".

Na verdade, ao dizer-lhes: "Vós sois o sal da terra", indicou-lhes que toda a natureza humana está insossa,

corrompida pelo pecado; é pelo seu ministério que a graça do Espírito Santo regenerará e conservará o mundo.

É por isso que lhes ensina as virtudes das Bem-Aventuranças, as que são mais necessárias, mas eficazes para

eles, que se ocupam da multidão. Aquele que é manso, modesto, misericordioso, justo, não encerra em si

mesmo as boas ações que realiza; preocupa-se que essas belas fontes jorrem também para o bem dos outros.

Aquele que tem o coração puro, que é construtor da paz, que sofre perseguição pela verdade, eis a pessoa que

consagra a sua vida ao bem dos outros.

Comentário feito por:

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Concílio Vaticano II

Decreto sobre a atividade missionária da Igreja (Ad Gentes), 35-36

"Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo" – (vv.13-14)

Dado que a Igreja é toda ela missionária, e a obra da evangelização é um dever fundamental do Povo de Deus,

o sagrado Concílio exorta todos a uma profunda renovação interior, para que tomem viva consciência das

próprias responsabilidades na difusão do Evangelho e assumam a parte que lhes compete na obra missionária

junto dos gentios. Como membros de Cristo vivo e a Ele incorporados e configurados não só pelo Batismo

mas também pela Confirmação e pela Eucaristia, todos os fiéis estão obrigados, por dever, a colaborar no

crescimento e na expansão do Seu corpo para o levar a atingir, quanto antes, a sua plenitude(Ef 4,13). Por

isso, todos os filhos da Igreja tenham consciência viva das suas responsabilidades para com o mundo,

fomentem em si um espírito verdadeiramente católico, e ponham as suas forças ao serviço da obra da

evangelização. Saibam todos, porém, que o primeiro e mais irrecusável contributo para a difusão da fé, é viver

profundamente a vida cristã. Pois o seu fervor no serviço de Deus e a sua caridade para com os outros é que

trarão a toda a Igreja o sopro de espírito novo que a fará aparecer como um sinal levantado entre as nações (Is

11,12), como «luz do mundo» (Mt. 5,14) e «sal da terra» (Mt. 5,13). Este testemunho de vida produzirá mais

facilmente o seu efeito, se for dado conjuntamente com as outras comunidades cristãs, segundo as normas do

decreto sobre o ecumenismo.

Mt.(5,17-19) – DDPP(Ex) - p.1288 – dom da palavra de profecia de exortação

17.Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.

18.Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei.

19.Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino

dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus.

-Nesta exortação o Senhor convida-nos ao cumprimento de seus preceitos divinos (mandamentos e deveres

religiosos).

Comentário feito por:

Catecismo da Igreja Católica

§ 577-581

O cumprimento da Lei – (v.17)

Jesus fez uma advertência solene no começo do Sermão da Montanha, em que apresentou a Lei dada por Deus

no Sinai por ocasião da Primeira Aliança à luz da graça da Nova Aliança: "Não penseis que vim revogar a Lei

e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento".Jesus, o Messias de Israel, portanto o

maior no Reino dos Céus, tinha a obrigação de cumprir a Lei, executando-a em sua integridade até seus

mínimos preceitos, segundo suas próprias palavras. Ele é o único que conseguiu cumpri-la com perfeição... O

cumprimento perfeito da Lei só podia ser obra do Legislador divino nascido sujeito à Lei na pessoa do Filho.

Em Jesus, a Lei não aparece mais gravada nas tábuas de pedra, mas "no fundo do coração" (Jr 31,33) do

Servo, o qual, pelo fato de "trazer fielmente o direito" (Is 42,3), se tornou "a Aliança do povo" (Is 42,6). Jesus

cumpriu a Lei até o ponto de tomar sobre si "a maldição da Lei" in quod illi incurrerant "qui non permanent in

omnibus, quae scripta sunt, ut faciant ea", na qual incorreram aqueles que "não praticam todos os preceitos da

mesma, pois "a morte de Cristo aconteceu para resgatar as transgressões cometidas no Regime da Primeira

Aliança" (Hb. 9, 15)...Jesus "ensinava como alguém que tem autoridade, e não como os escribas" (Mt .,28-

29). Nele, é a mesma Palavra de Deus que tinha ressoado no Sinai para a Moisés a Lei escrita, que se faz ouvir

novamente sobre o Monte Bem-aventuranças. Ela não abole a Lei, mas a cumpre, fornecendo de modo divino

a interpretação última dela: "Aprendestes o que foi dito aos antigos... eu, porém, vos digo" (Mt 5,33-34). Com

esta mesma autoridade divina, Ele desabona certas "tradições humanas" dos fariseus que "invalidam a Palavra

de Deus" (Mc 7,8.13).

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Mt.(5,20-26) – DDPP(Ex) – p.1288/9 - A nova lei comparada à antiga 20.Digo-vos, pois, se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus.

21.Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás, mas quem matar será castigado pelo juízo do tribunal. 22.Mas eu vos digo: todo

aquele que se irar contra seu irmão será castigado pelos juízes. Aquele que disser a seu irmão: Raca, será castigado pelo Grande

Conselho. Aquele que lhe disser: Louco, será condenado ao fogo da geena.

23.Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,

24.deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta.

25.Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao

juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão.

26.Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo.

Comentário feito por:

São Francisco de Sales (1567-1622), bispo de Genebra, doutor da Igreja

Introdução à vida devota, III

“A ira do homem não realiza a justiça de Deus” (Tg.1,20) – (v.20)

O santo e ilustre patriarca José, mandando seus irmãos regressar do Egito a casa de seu pai, deu-lhes um único

conselho: “Não questioneis durante a viagem” (Gn.45,24). E eu digo-vos a mesma coisa: esta vida miserável

mais não é do que um caminho para a vida bem-aventurada; assim, pois, não questionemos uns com os outros

pelo caminho, avancemos com paz e doçura na companhia dos nossos irmãos e dos nossos companheiros.

Mas digo-vos claramente e sem exceção: não questioneis em absoluto, se for possível, nem aceiteis pretexto

algum, seja ele qual for, para abrir as portas do vosso coração às questões. Porque São Tiago diz sem

qualquer reserva nem hesitação que “a ira do homem não realiza a justiça de Deus” (1,20). Convém-nos

resistir ao mal e reprimir os vícios daqueles que temos a nosso cargo, constante e corajosamente, mas suave e

apaziguadoramente. Não se preza tanto a correção que resulta da paixão, ainda que acompanhada de razão,

como a que tem como única fonte a razão. Pois se a cólera se estende até à noite e se “o sol se põe sobre a

nossa ira” (Ef.4,26), convertendo-a em ódio, deixamos de ter maneira de nos desfazermos dela. Porque a ira

alimenta-se de mil persuasões incorretas, pois não houve jamais homem irado que considerasse injusta a sua

ira. É melhor empreender viver sem cólera do que pretender usá-la sábia e moderadamente, e quando, por

imperfeição e fraqueza, formos surpreendidos por ela, é preferível afastá-la prontamente do que pretender

negociar com ela.

Comentário feito por:

S. Cipriano (c. 200-258), bispo de Cartago e mártir

«Vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão»- (v.24)

Deus mandou que os homens sejam pacíficos e vivam em bom acordo, que vivam "unânimes na sua casa" (Sl

67,7 vulg). Quer que perseveremos, uma vez que fomos regenerados pelo batismo, em viver na condição em

que esse segundo nascimento nos colocou. Porque somos filhos de Deus, Ele quer que permaneçamos na sua

paz e, porque recebemos um mesmo batismo, que vivamos em unidade de coração e de pensamentos.

É por isso que Deus não aceita o sacrifício daquele que vive em dissensão. Ordena-lhe que se afaste do altar

para primeiro se reconciliar com o seu irmão, a fim de que Deus possa atender as orações apresentadas em

paz. O maior sacrifício que se pode apresentar a Deus é a nossa paz, é a concórdia fraterna, é o povo reunido

pela unidade que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo

Comentário feito por:

S. João Crisóstomo (cerca 345-407), bispo de Antioquia depois de Constantinopla, doutor da Igreja

Homilias sobre a 1ª Carta aos Coríntios, nº 24

«Vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta»

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«Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos

do mesmo pão» (1Co.10,17). O que é este pão? O Corpo de Cristo. E no que se tornam os que o recebem? No

corpo de Cristo. Não são muitos corpos, mas um só. Quantos grãos de trigo entram na composição do pão!

Mas quem vê esses grãos? Estão no pão que eles formam, mas nada os distingue uns dos outros, de tão unidos

que estão. Assim estamos nós unidos uns aos outros e com Cristo. Não há mais muitos corpos alimentados por

diversos alimentos; nós formamos um só corpo, alimentado pelo mesmo pão. Por isso Paulo disse: «Todos

participamos do mesmo pão». Se participamos todos do mesmo pão, se estamos unidos nele ao ponto de nos

tornarmos um só corpo, porque é que não estamos unidos por um mesmo amor, estreitamente ligados pela

mesma caridade?Voltai a ler a história dos nossos antepassados na fé e encontrareis este quadro notável: «A

multidão dos que abraçavam a fé tinham um só coração e uma só alma» (At.4,32). Mas, infelizmente, hoje não

é assim. Nos nossos dias a Igreja oferece o espetáculo contrário; não vemos senão dolorosos conflitos,

encarniçadas divisões entre irmãos... Estáveis longe dele, mas Cristo não hesitou em vos unir a ele. E agora

vós não vos dignais imitá-lo para vos unirdes de todo o coração ao vosso irmão?... Por causa do pecado, os

nossos corpos formados do pó da terra (Gn 2,7) tinham perdido a vida e estavam sob a escravatura da morte; o

Filho de Deus juntou-lhe o fermento da sua carne, ele, livre de todo o pecado, numa plenitude de vida. E deu o

seu corpo em alimento a todos os homens, para que, renovados pelo sacramento do altar, tenham todos parte

na sua vida imortal e bem-aventurada. .

(Mt.7,15-20) – DDPP(Ex) - p.1291– dom da palavra de profecia exortação 15.Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores.

16.Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figos dos abrolhos? 17Toda árvore boa dá

bons frutos; toda árvore má dá maus frutos.

18.Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos.

19.Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo.

20.Pelos seus frutos os conhecereis.

-A profecia sempre deve passar pelo crivo do DDDE. É essencial examiná-las se são divinas, humanas ou

diabólicas. O próprio Jesus nos adverte.

Comentário feito por:

Santo Inácio de Antioquia (?-c. 110), bispo e mártir

Carta aos Efésios, 13-15

Seremos reconhecidos pelos nossos frutos – (v.16)

Esforçai-vos por vos reunirdes com mais freqüência e por dardes ações de graças e louvores a Deus. Pois,

quando vos reunis com freqüência, o poder de Satanás é abatido e as suas obras de ruína destruídas pela

unanimidade da vossa fé. Nada ultrapassa a paz, que triunfa de todos os assaltos que nos fazem as potências

celestiais e terrestres.

Nada disso vos está oculto, se dais a Jesus Cristo uma fé e um amor perfeitos, que são o começo e o fim da

vida: o começo é a fé e o fim a caridade. Deus é as duas reunidas. Todas as outras virtudes que conduzem à

perfeição decorrem destas duas primeiras. Ninguém peca se professar a fé; ninguém odeia se professar a

caridade. “As árvores conhecem-se pelos seus frutos”; assim também, será pelas suas obras que se

reconhecerão aqueles que fazem profissão de ser de Cristo. Porque a obra que hoje se nos pede não é uma

simples profissão de fé, mas a prática da fé até ao fim.

Mais vale calar-se e ser do que falar sem ser. É bom ensinar, se aquele que ensina age. Temos um único

mestre, aquele que “disse e todas as coisas foram feitas” (Sl.32,9); até as obras que fez no silêncio são dignas

de seu Pai. Aquele que compreende verdadeiramente a palavra de Jesus também pode compreender o seu

silêncio; e então será perfeito: agirá pela sua palavra e dar-se-á a conhecer pelo seu silêncio. Nada está oculto

ao Senhor; até os nossos segredos lhe são conhecidos. Façamos, pois, tudo com o

pensamento de que Ele permanece em nós; seremos assim templos seus, e Ele será em nós o nosso Deus.

Comentário feito por:

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Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano em Estrasburgo

Sermão 7

Dar bons frutos

Numa vinha, revolve-se a terra à volta das vides e mondam-se as ervas daninhas. Também o homem se deve

mondar a si próprio, e estar profundamente atento ao que mais poderá ainda arrancar no fundo do seu ser, para

que o Sol divino possa aproximar-se mais de si e em si brilhar. Se deixares a força do alto fazer a sua obra, o

sol tornar-se-á brilhante, dardejará os seus quentes raios sobre os frutos e torná-los-á mais e mais

transparentes. Maior doçura terão, finíssimas se tornarão as suas finas cascas. Assim é também no domínio

espiritual. Os obstáculos de permeio tornam-se por fim tão tênues, que recebemos ininterruptamente os toques

divinos, de muito perto. E sempre que nos voltarmos para Ele, encontraremos no interior o divino Sol a brilhar

com muito mais intensidade que todos os sóis que alguma vez brilharam no firmamento. E assim tudo no

homem será deificado a tal ponto que ele já não sentirá, não experimentará nem verdadeiramente conhecerá,

com tão profundo conhecimento, mais nada a não ser Deus, e tal conhecimento ultrapassará em muito o modo

de conhecimento da razão. Arrancaremos por fim as folhas aos sarmentos, para que o sol possa bater nos

frutos sem encontrar obstáculo algum. Assim será com os homens: tudo o que estiver de permeio cairá e tudo

receberão de modo imediato. Cairão orações, representações de santos, práticas de devoção, exercícios. Mas

que o homem se livre de rejeitar estas práticas enquanto por si próprias elas não caírem. Só então, atingido

esse estágio, o fruto tornar-se-á tão doce, de uma forma tão indescritível, que não haverá razão capaz de tal

compreender. Seremos já só um com a doçura divina, ainda que o Ser divino penetre completamente o nosso

ser, e que sejamos como uma gota num grande tonel de vinho. Aqui, as boas intenções, a humildade, são a

mera simplicidade, um mistério tão essencialmente pacificador, que teremos, até, dificuldade em tomar

consciência disso.

(Mt.7,21-29) –DDPP(C) - p.1291 - Diversos conselhos 21.Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está

nos céus.

22.Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os

demônios e fizemos muitos milagres?

23.E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!

24.Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua

casa sobre a rocha.

25.Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque

estava edificada na rocha.

26.Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua

casa na areia.

27.Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína.

28.Quando Jesus terminou o discurso, a multidão ficou impressionada com a sua doutrina.

29.Com efeito, ele a ensinava como quem tinha autoridade e não como os seus escribas.

- O Senhor é consolador, paz verdadeira, plenitude dos corações humanos. Infunde coragem e é o descanso do

coração e da alma, nunca nos abandonando.

Comentário feito por:

S. Leão Magno (? - cerca de 461), papa e doutor da Igreja

Serão 82/69 para o aniversário dos apóstolos Pedro e Paulo

"Quando fores velho, levar-te-ão para onde não quererias ir" (Jo 21,18).

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Tu não receias vir a esta cidade de Roma, ó santo apóstolo Pedro!... Não temes Roma, senhora do mundo, tu

que em casa de Caifás tiveste medo diante da criada do sumo-sacerdote. O poder dos imperadores Cláudio e

Nero seria então menor do que o julgamento de Pilatos ou o furor dos chefes dos judeus? É que a força do

amor triunfava em ti sobre as razões do temor; não pensavas dever recear aqueles que recebeste missão de

amar. Essa caridade intrépida, recebeste-a quando o amor que tinhas professado pelo Senhor foi fortalecido

pela sua tripla pergunta (Jo.21,15s)...E, para acrescentar a tua confiança, havia ainda os sinais de tantos

milagres, o dom de tantos carismas, a experiência de tantas obras maravilhosas!... Assim, sem duvidar da

fecundidade da tarefa nem ignorar o tempo que te faltava viver, trazias o troféu da cruz de Cristo a Roma

onde, por divina predestinação, te esperavam ao mesmo tempo a honra da autoridade e a glória do martírio. A

essa mesma cidade chegava S. Paulo, apóstolo contigo, instrumento de escolha (At.9,19) e mestre dos pagãos

(1Tm.2,7), para estar contigo nesse tempo em que toda a inocência, toda a liberdade, todo o pudor eram já

oprimidos sob o poder de Nero. Foi ele que, na sua loucura, decretou em primeiro lugar uma perseguição geral

e atroz contra o nome cristão, como se a graça de Deus pudesse ser extinta com o massacre dos santos...Mas

"preciosa aos olhos do Senhor é a morte dos seus santos" (Sl.115,15). Nenhuma crueldade pôde destruir a

religião fundada pelo mistério da cruz de Cristo. A Igreja não foi diminuída mas acrescentada pelas

perseguições; o campo do Senhor reveste-se sem cessar de uma mais rica seara, quando os grãos, caídos sós,

renascem multiplicados (Jo 12,24). Que descendência deram, ao desenvolver-se, estas duas plantas

divinamente semeadas! Milhares de santos mártires, imitando o triunfo destes dois apóstolos, coroaram esta

cidade com um diadema de pedras preciosas que ninguém pode contar.

Comentário feito por

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (África do Norte) e doutor da Igreja

Sermões sobre S. João, nº 7

Construir na rocha

Será uma coisa surpreendente que o Senhor tenha mudado o nome de Simão,

substituindo-o por Pedro? (Jo 1,24) «Pedro» significa «rocha»; o nome de Pedro é, pois, o símbolo da Igreja.

Quem está em segurança senão aquele que constrói sobre a rocha? E que diz o próprio Senhor? «Todo o

homem que escuta as minhas palavras e as põe em prática é comparável a um homem avisado que construiu a

sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos e investiram contra essa casa e

ela não desabou. É que estava assentada sobre a rocha...»De que serve entrar na Igreja àquele que quer

construir na areia? Esse escuta a palavra de Deus, mas não a põe em prática; Ele constrói, mas na areia. Se não

escutasse, não construiria; Ele escuta, por isso constrói. Mas sobre que fundações? Se ouve a palavra de Deus

e a põe em prática, é sobre a rocha. Pode-se, pois, construir de dois modos muito diferentes... se te contenta,

ouvir sem pôr em prática, constróis uma ruína. Se, pelo contrário, não escutas, ficas sem abrigo, e serás levado

pelo torrente das tribulações... Tenham, pois a certeza, meus irmãos: aquele que escuta a palavra sem agir em

conformidade não constrói na rocha; não tem nenhuma relação com o grande nome de Pedro ao qual o Senhor

deu tanta importância.

Comentário feito por:

Santo Afraate (?-c. 345), monge e bispo em Niínive, perto de Mossul, no actual Iraque

Exposições nº 1

«Porque ninguém pode pôr outro fundamento diferente do que foi posto, isto é, Jesus Cristo» (1Co.3, 11)

Um rei não permanece numa casa que se encontra vazia de tudo. Um rei exige toda uma ornamentação

doméstica, por forma a que nada lhe falte. O mesmo acontece ao homem que se torna uma habitação para

Cristo Messias: provê a tudo quanto convém ao serviço do Messias que nele habita, provê às coisas que Lhe

agradam. Com efeito, começa por construir o seu edifício sobre a rocha, que é o próprio Messias. Sobre esta

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rocha faz assentar a fé, e é sobre a fé que se eleva todo o edifício. Para que a casa se torne Sua morada, é-lhe

exigido o puro jejum, estabelecido sobre a fé. É-lhe exigida a oração pura, recebida na fé. É-lhe exigido o

amor, montado sobre a fé. Tem igualmente necessidade de esmolas, dadas com fé. Que peça a humildade,

amada com fé. Que escolha para si a virgindade, apreciada na fé. Que leve para sua casa a santidade, plantada

sobre a fé. Que medite igualmente na sabedoria, encontrada na fé. Que peça para si a condição de estrangeiro,

proveitosa na fé. Terá de ter simplicidade, combinada com a fé. Que peça igualmente paciência, que é

realizada por meio da fé. Que se torne perspicaz pela doçura, adquirida pela fé. Que ame a penitência, que

aparece à fé. Que peça ainda a pureza, guardada pela fé. Eis as obras exigidas pelo rei Messias, que habita nos

homens que constroem por meio de tais obras. Com efeito, a fé é composta por muitas coisas e adorna-se com

muitas cores, porque é semelhante a um edifício construído com diversos materiais, e o seu edifício eleva-se

até aos céus. O mesmo se passa com a nossa fé: o seu fundamento é a verdadeira rocha, Nosso Senhor Jesus, o

Messias. Este fundamento é a base de todo o edifício. Se alguém acede à fé, está firmado sobre a rocha, isto é,

sobre Nosso Senhor Jesus, o Messias. E o seu edifício não será abalado pelas torrentes, nem colocado em

perigo pelos ventos, nem se abaterá nas tempestades, porque o edifício foi construído sobre a rocha, que é o

verdadeiro fundamento.

Comentário feito por:

Vida de S. Francisco de Assis, dita “de Pérouse” (século XIV)

§ 102

O homem previdente constrói a sua casa sobre a rocha – (v.24)

Desde o início da sua conversão que o bem-aventurado Francisco, sensato como era, quis estabelecer

solidamente, com a ajuda do Senhor, quer a si próprio, quer à sua casa, isto é, a sua Ordem dos Frades

Menores, sobre rocha sólida, a saber, sobre a grande humildade e a grande pobreza do Filho de Deus. Sobre

uma profunda humildade: foi por isso que, desde o princípio, quando os irmãos começaram a multiplicar-se,

lhes prescreveu que permanecessem nos hospícios para servir os leprosos. Assim, era comunicado a todos os

postulantes, fossem nobres ou gente simples, que teriam de servir os leprosos e residir nos respectivos

hospitais. Sobre uma grande pobreza: com efeito, diz na sua Regra que os irmãos devem habitar as suas casas

“como estrangeiros e peregrinos, e que nada devem desejar debaixo do céu”, a não ser a santa pobreza, graças

à qual o Senhor os alimentará neste mundo com alimentos corporais e com virtudes, o que lhes valerá, na vida

futura, a herança do céu. Para si mesmo, escolheu Francisco este fundamento de uma humildade perfeita e de

uma pobreza perfeita; embora tenha sido uma personagem importante na Igreja de Deus, quis, por livre

decisão, ser colocado no último lugar, não somente na Igreja, mas também entre os seus irmãos.

Comentário feito por:

S. Gregório de Nazianzo (330-390), bispo, doutor da Igreja

Discurso 26; PG 35, 1238

Erigidos sobre a rocha- (v.24)

Certa noite passeava eu à beira-mar; como diz a Escritura: «Soprando uma forte ventania, o lago começou a

agitar-se» (Jo 6,18). As ondas agitavam-se ao longe e galgavam a costa, batendo nas rochas, desfazendo-se em

espuma e gotículas. Pequenas pedras, algas e as conchas menores eram arrastadas pelas águas e atiradas para a

praia, mas as rochas ali estavam, mantendo-se firmes e inabaláveis, como se tudo estivesse calmo, apesar dos

açoites que as fustigavam. Tirei uma lição desse espetáculo. Não será esse mar a nossa vida e a própria

condição humana? Também nestas há muita amargura e instabilidade. E os ventos, não serão eles as tentações

que nos assaltam, e os golpes imprevistos da vida?. Era isto, creio, aquilo em que meditava David quando

exclamou: «Salva-me, ó Deus, porque as águas quase me submergem!. Entrei no abismo de águas sem fundo

e a corrente arrastou-me» (Sl.68). Das pessoas que por tal prova passam, umas parecem objetos leves e sem

vida que se deixam levar sem opor a mínima resistência; nelas não há firmeza alguma; não têm o contrapeso

de uma razão sábia que lute contra as investidas. Outras parecem rochedos, dignas do Rocha sobre a qual

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fomos erigidos e que adoramos; formadas pela razão da verdadeira sabedoria, estas elevam-se acima da

fraqueza comum e tudo suportam com uma constância inabalável.

Mt.10,19-20- (DDPP(Ex) – p.1285 – dom da palavra de profecia de exortação

19.Quando fordes presos, não vos preocupeis nem pela maneira com que haveis de falar, nem pelo que haveis de dizer: naquele

momento ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer.

20.Porque não sereis vós que falareis, mas é o Espírito de vosso Pai que falará em vós.

Mt.10,24-33 – DDPP(Ex) - p.1285- dom da palavra de profecia de exortação

24.O discípulo não é mais que o mestre, o servidor não é mais que o patrão.

25.Basta ao discípulo ser tratado como seu mestre, e ao servidor como seu patrão. Se chamaram de Beelzebul ao pai de família,

quanto mais o farão às pessoas de sua casa!

26.Não os temais, pois; porque nada há de escondido que não venha à luz, nada de secreto que não se venha a saber.

27.O que vos digo na escuridão, dizei-o às claras. O que vos é dito ao ouvido, publicai-o de cima dos telhados.

28.Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode precipitar a alma e o corpo na

geena.

29.Não se vendem dois passarinhos por um asse? No entanto, nenhum cai por terra sem a vontade de vosso Pai.

30.Até os cabelos de vossa cabeça estão todos contados.

31.Não temais, pois! Bem mais que os pássaros valeis vós.

32.Portanto, quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos

céus.

33.Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus.

- Nestes dois textos o Senhor exorta-os a afugentar os temores e angústias, a crer, ter ânimo e deixar-se

conduzir por Ele e por seu Espírito Santo.

Comentário feito por:

Beato Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saara

Meditações sobre o Evangelho de São Lucas, 1898

«Mas Eu digo-vos: amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem» (Mt.5, 44)

«A partir do momento em que vos declarardes Meus servidores, tendes de esperar perseguições. Eu fui

perseguido durante toda a vida. Ao nascer, Herodes quis Matar-me; mal comecei a pregar, os Meus

concidadãos quiseram matar-Me; mal Me livrei das mãos deles, vi-Me sujeito às emboscadas dos fariseus e de

Herodes Antipas, que Me perseguiram de cidade em cidade e, durante três anos, todos os dias Me lançavam

novas armadilhas para Me dar a morte. Tendes de receber as perseguições com alegria, como sinais preciosos

da vossa semelhança Comigo, como imitação do vosso bem-amado; de suportá-las com calma, cientes de que

elas acontecem porque Eu as permito, e de que só vos atingirão na medida em que Eu o permitir, de que, sem

Minha autorização, nem um cabelo da vossa cabeça pode cair. De aceitá-las dando as boas-vindas a tudo

quanto vos acontece, dado que tudo aquilo que acontece contribui, de uma maneira ou de outra, para a glória

de Deus. De sofrê-las com coragem, oferecendo os vossos sacrifícios a Deus como holocausto para Sua glória.

De sofrê-las rezando pelos vossos perseguidores, dado que também eles são filhos de Deus, que Deus quer

que se salvem, e que Eu dei o meu sangue para salvá-los. Eu próprio vos dei o exemplo de rezar por todos os

homens,

incluindo os que são nossos perseguidores e nossos inimigos.»

Mt.(11,20-24) – DDPP(Ex) - p.1297 20.Depois Jesus começou a censurar as cidades, onde tinha feito grande número de seus milagres, por terem recusado arrepender-se:

21.Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem sido feitos em Tiro e em Sidônia os milagres que foram feitos em

vosso meio, há muito tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e a cinza.

22.Por isso vos digo: no dia do juízo, haverá menor rigor para Tiro e para Sidônia que para vós!

23.E tu, Cafarnaum, serás elevada até o céu? Não! Serás atirada até o inferno! Porque, se Sodoma tivesse visto os milagres que

foram feitos dentro dos teus muros, subsistiria até este dia.

24.Por isso te digo: no dia do juízo, haverá menor rigor para Sodoma do que para ti!

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-Jesus nesta exortação censura estas cidades por não se arrependerem, nem se converterem e tão pouco

deixarem-se conduzir por Ele.

Comentário feito por:

São Simeão, o Novo Teólogo (c. 949-1022), monge ortodoxo

Hino 29

«Havia de ser anunciada, em seu nome, a conversão para o perdão dos pecados a todos os povos» (Lc.24,47)

A toda a raça dos homens, aos reis e príncipes, aos ricos e pobres, aos monges e laicos: escutai-me agora a

contar a grandeza e o amor de Deus para com os homens! Pequei contra Ele como homem nenhum no mundo

. No entanto, sei-o, Ele chamou-me e imediatamente respondi . Ele chamou-me à penitência, e imediatamente

segui o meu Mestre. Quando Ele se afastava, perseguia-O ... Bem podia Ele partir, vir, esconder-Se, aparecer,

que eu não voltava atrás, jamais desencorajava, sem abandonar nunca o meu caminho. Quando não o via,

procurava-O. Ficava em pranto, perguntava por Ele a toda a gente, a todos quantos, algum dia, o haviam visto.

A quem é que eu perguntava? Não aos sábios deste mundo, mas aos profetas, aos apóstolos, aos padres – os

sábios que possuem na verdade a sabedoria de que Ele é o próprio Cristo, sabedoria de Deus (1Co.1,24). Em

lágrimas e com grande dor no peito, pedia-lhes que me dissessem onde o haviam visto, mesmo que isso só

tivesse acontecido uma vez. E, vendo quão forte era o meu desejo, vendo que, a meus olhos, tudo o que existe

no mundo, e o próprio mundo, era nada, Ele mostrou-Se e fez-Se visível, inteiro. Ele, que está fora do mundo

e que carrega o mundo e todos quantos estão no mundo, tanto as coisas visíveis como as invisíveis (Cl.1,16),

segurando-as com uma só mão, veio ao meu encontro. De onde veio, e como? Não sei . As palavras são

incapazes de exprimir o inexprimível. Só conhece tais realidades quem as contempla. Por isso, não por

palavras, mas por atos, apressemo-nos a procurar, a ver e a aprender a riqueza dos mistérios divinos, riqueza

que o Mestre dá a quem a procura.

Mt(12,14-21) – DDPP(C) - p.1298 – dom da palavra de profecia consolação

14.Os fariseus saíram dali e deliberaram sobre os meios de o matar.

15.Jesus soube disso e afastou-se daquele lugar. Uma grande multidão o seguiu, e ele curou todos os seus doentes.

16.Proibia-lhes formalmente falar disso,

17.para que se cumprisse o anunciado pelo profeta Isaías:

18.Eis o meu servo a quem escolhi, meu bem-amado em quem minha alma pôs toda sua a afeição. Farei repousar sobre ele o meu

Espírito e ele anunciará a justiça aos pagãos.

19.Ele não disputará, não elevará sua voz; ninguém ouvirá sua voz nas praças públicas.

20.Não quebrará o caniço rachado, nem apagará a mecha que ainda fumega, até que faça triunfar a justiça.

21.Em seu nome as nações pagãs porão sua esperança (Is 42,1-4).

- O Senhor derrama seu amor sobre seu povo; cura-lhe as feridas; é consolador, paz verdadeira e plenitude dos

anseios do coração humano

Comentário feito por:

Santo Isac o Sírio (séc. VII), monge em Nínive, perto de Mossul, no actual Iraque

Discursos ascéticos, 1ª série, nº 20

"O meu servidor não quebrará a cana fendida, não apagará a mecha que fumega... As nações colocarão a sua

esperança no Seu nome" – (vv.20.21)

Quero abrir a boca, irmãos, para vos falar do altíssimo assunto da humildade. E estou cheio de temor, como

quem sabe que deve falar de Deus com a língua dos seus próprios pensamentos. Porque a humildade é a

roupagem da Divindade. Fazendo-se homem, o Verbo revestiu-se de humildade. Através dela, viveu conosco

dentro de um corpo. E todo o que vive na humildade torna-se verdadeiramente semelhante Àquele que desceu

das alturas e cobriu a sua grandeza e a sua glória com as vestes da humildade, para que, ao vê-lo, a criação não

fosse consumida. Porque a criação não teria podido contemplá-lo se Ele não tivesse tomado sobre si a

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humildade e não tivesse, assim, vivido com ela. Não teria havido face a face com Ele. A criação não teria

ouvido as palavras da sua boca...

Por isso, quando a criação vê um homem revestido da semelhança do seu Mestre, ela o venera e honra, tal

como o fez ao Mestre, que viu viver revestido de humildade. Com efeito, que criatura não se deixa enternecer

diante do humilde? Contudo, enquanto a glória da humildade não se tinha revelado a todos em Cristo,

desdenhava-se desta visão tão cheia de santidade. Mas agora a sua grandeza elevou-se aos olhos do mundo.

Foi concedido à criação receber, na mediação do homem humilde, a visão do seu Criador. Por isso, o humilde

não é desprezado por ninguém, nem sequer pelos inimigos da verdade. Aquele que aprendeu a humildade é

venerado por causa dela, como se tivesse sobre si uma coroa e vestes de púrpura.

Mt.(20,28) – DDPP(Ex) - p.1309 28. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão.

- Jesus é Deus, Senhor e Redentor de seu povo.

Mt.(27,37-44) –DDPP(C) – p.1320 - Angústia suprema. 37. Por cima de sua cabeça penduraram um escrito trazendo o motivo de sua crucificação: Este é Jesus, o rei dos judeus.

38. Ao mesmo tempo foram crucificados com ele dois ladrões, um à sua direita e outro à sua esquerda.

39. Os que passavam o injuriavam, sacudiam a cabeça e diziam:

40. Tu, que destróis o templo e o reconstróis em três dias, salva-te a ti mesmo! Se fores o Filho de Deus, desce da cruz!

41.Os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos também zombavam dele:

42.Ele salvou a outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é rei de Israel, desça agora da cruz e nós creremos nele!

43.Confiou em Deus, Deus o livre agora, se o ama, porque ele disse: Eu sou o Filho de Deus!

44.E os ladrões, crucificados com ele, também o ultrajavam.

- O Senhor derrama seu amor sobre seu povo, cura-lhes as feridas e nunca abandona-nos, mesmo nesta hora

de agonia, foi até o fim, infundindo a coragem e reacendendo a esperança.

Comentário feito por:

Pedro de Blois (c. 1130-1211), arcediago em Inglaterra

(in Ephata 1, pg. 10-11)

Os três adventos de Cristo

Há três adventos do Senhor, o primeiro é na carne, o segundo na alma, o terceiro, pelo juízo. O primeiro

advento deu-se a meio da noite, como está dito nas palavras do evangelho: «A meio da noite ouviu-se um

grito: eis o Esposo!» (Mt.25,6). E esse primeiro advento já passou, pois Cristo foi visto na terra e conversou

com os homens (Br.3,38). Estamos agora no tempo do segundo advento, contanto que sejamos dignos dele

vir até nós, pois Ele disse que, se O amamos, virá até nós e em nós estabelecerá a sua morada (Jo.14,23). Este

segundo advento de Cristo é portanto para nós uma coisa envolta em alguma incerteza, pois quem, a não ser o

Espírito Santo, conhece os que são de Deus? (1Co.2,11)?. Aqueles a quem o desejo das coisas celestes

transporta para lá de si mesmos sabem quando Ele virá: porém «não sabem de onde vem nem para onde vai»

(Jo.3,8).Quanto ao seu terceiro advento, é certo que acontecerá, mas é incerto quando, pois nada é mais certo

do que a morte, e nada é mais incerto do que o dia da morte. «No momento em que falarmos de paz e de

segurança, então surgirá a morte, repentina, como as dores do parto das mulheres, e ninguém escapará»

(1Ts.5,3).O primeiro advento foi portanto humilde e escondido, o segundo é misterioso e cheio de amor, o

terceiro será magnífico e terrível. No primeiro advento, Cristo foi julgado pelos homens com injustiça; no

segundo, fez-nos justiça pela graça, no último, tudo julgará com equidade – Cordeiro no primeiro advento,

Leão no último, Amigo cheio de ternura no segundo.

Mc.10,17-31 –DDPP(Ex) – p.1363 17. Tendo ele saído para se pôr a caminho, veio alguém correndo e, dobrando os joelhos diante dele, suplicou-lhe: "Bom Mestre,

que farei para alcançara vida eterna?"

18. Jesus disse-lhe: "Por que me chamas bom? Só Deus é bom.

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19. Conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes;

honra pai e mãe."

20. Ele respondeu-lhe: "Mestre, tudo isto tenho observado desde a minha mocidade."

21. Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: "Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás

um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.

22. Ele entristeceu-se com estas palavras e foi-se todo abatido, porque possuía muitos bens.

23. E, olhando Jesus em derredor, disse a seus discípulos: "Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os ricos!"

24. Os discípulos ficaram assombrados com suas palavras. Mas Jesus replicou: "Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus

os que põem a sua confiança nas riquezas!

25. É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus."

26. Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: "Quem pode então salvar-se?"

27. Olhando Jesus para eles, disse: "Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível.

28. Pedro começou a dizer-lhe: "Eis que deixamos tudo e te seguimos."

29. Respondeu-lhe Jesus. "Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou

filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho

30. que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século

vindouro a vida eterna.

31.Muitos dos primeiros serão os últimos, e dos últimos serão os primeiros."

-Jesus convida tanto aquele que cumpria os mandamentos e deveres religiosos, como a Pedro deixar-se

conduzir e guiar-se por Ele.

Comentário feito por:

São João Crisóstomo (c. 345-407), Bispo de Antioquia e, mais tarde, de Constantinopla, Doutor da Igreja.

Homilia 63 sobre São Mateus; PG 58,603 (trad. cf. Marc commenté, DDB 1986, p. 104)

«Terás um tesouro no Céu»

Cristo tinha dito ao jovem: «Se queres entrar na vida eterna, cumpre os mandamentos» (Mt.19,17). E ele

pergunta: «Quais?», não para O pôr à prova, longe disso, mas por supor que o Senhor tem para ele, a par da

Lei de Moisés, outros mandamentos que lhe proporcionem a vida; era uma prova do seu desejo ardente.

Depois de Jesus lhe enunciar os mandamentos da Lei, o jovem diz-Lhe: «Tenho cumprido tudo isso»; mas

prossegue: «Que me falta ainda?» (Mt.19,20), sinal certo desse mesmo desejo ardente. Não são as almas

pequenas as que consideram que ainda lhes falta alguma coisa, aquelas a quem parece insuficiente o ideal

proposto para alcançarem o objeto dos seus desejos.

E que diz Cristo? Propõe-lhe uma coisa grande; começa por propor-lhe a recompensa, declarando: «Se queres

ser perfeito, vai, vende tudo o que possuíres, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro nos céus; depois,

vem e segue-Me». Vês o preço, a coroa que Ele oferece como prêmio desta corrida desportiva?. Para atraí-lo,

propõe-lhe uma recompensa de grande valor e apresenta-lhe o cenário completo. Aquilo que poderia parecer

penoso permanece na sombra. Antes de falar de combates e de esforços, mostra-lhe a recompensa: «Se queres

ser perfeito», diz-lhe: eis a glória, eis a felicidade! «Terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-Me»: eis

a soberba recompensa daqueles que seguem a Cristo, daqueles que escolhem ser Seus companheiros e Seus

amigos! Este jovem apreciava as riquezas da terra; Cristo aconselha-o a despojar-se delas, não para

empobrecer com este despojamento, mas para enriquecer ainda mais.

Comentário feito por:

S. Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja

Sermão 37 sobre o Cântico dos Cânticos

«Neste tempo, já, o cêntuplo»

«Semeai na justiça, diz o Senhor, e recolhei a esperança da vida». Ele não vos remete para o último dia onde

tudo vos será dado realmente e já não em esperança; Ele fala do presente. Claro que será grande a nossa

alegria, o nosso júbilo infinito, quando começar a verdadeira vida. Mas, para já, a esperança duma tão grande

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alegria não pode ser sem alegria. «Alegrai-vos na esperança», diz o apóstolo Paulo (Rm.12, 12). E David não

diz que estará na alegria, mas que ficou nela no dia em que esperou entrar na casa do Senhor (Sl.121,1). Ele

ainda não possuía a vida, mas já tinha colhido a esperança de vida. E experimentava a verdade da Escritura

que diz que, não só a recompensa, mas «a esperança dos justos é plena de alegria» (Pr.10,28). Essa alegria é

produzida na alma daquele que semeou para a justiça, pela convicção que tem de que os seus pecados estão

perdoados...Qualquer um de vós que, após o início doloroso da conversão, tem a felicidade de se ver

consolado pela esperança dos bens por que espera... Colheu, desde agora, o fruto das suas lágrimas, viu Deus

e ouviu-o dizer: «Dêem-lhe o fruto das suas obras» (Pr.31,31). Como é que aquele que «saboreou e viu como

o Senhor é bom» (Sl 33, 9) não havia de ver Deus? O Senhor Jesus parece muito doce àquele que recebe dele,

não só a remissão dos pecados, mas também o dom da santidade e, melhor ainda, a promessa da vida eterna.

Feliz daquele que já fez uma tão bela colheita... O profeta fala verdade: « Aqueles que semeiam nas lágrimas

colhem na alegria» (125,5)... Nenhum proveito nem honra terrestre nos parecerá acima da nossa esperança e

desta alegria de esperar, doravante profundamente enraizada nos nossos corações: «A esperança não engana,

porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm.5,5).

Mc.(10,32-45) – DDPP(Ex) - p.1335 32.Estavam a caminho de Jerusalém e Jesus ia adiante deles. Estavam perturbados e o seguiam com medo. E tomando novamente a

si os Doze, começou a predizer-lhes as coisas que lhe haviam de acontecer: 33."Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do homem

será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas; condená-lo-ão à morte e entregá-lo-ão aos gentios.

34.Escarnecerão dele, cuspirão nele, açoitá-lo-ão, e hão de matá-lo; mas ao terceiro dia ele ressurgirá.

35.Aproximaram-se de; Jesus Tiago e João, filhos de Zebedeu, e disseram-lhe: "Mestre, queremos que nos concedas tudo o que te

pedirmos."

36."Que quereis que vos faça?"

37."Concede-nos que nos sentemos na tua glória, um à tua direita e outro à tua esquerda."

38."Não sabeis o que pedis, retorquiu Jesus. Podeis vós beber o cálice que eu vou beber, ou ser batizados no batismo em que eu vou

ser batizado?"

39."Podemos", asseguraram eles. Jesus prosseguiu: "Vós bebereis o cálice que eu devo beber e sereis batizados no batismo

em que eu devo ser batizado. 40.Mas, quanto ao assentardes à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim: o lugar compete àqueles a quem está

destinado."

41.Ouvindo isto, os outros dez começaram a indignar-se contra Tiago e João.

42.Jesus chamou-os e deu-lhes esta lição: "Sabeis que os que são considerados chefes das nações dominam sobre elas e os seus

intendentes exercem poder sobre elas.

43.Entre vós, porém, não será assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo; 44.e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos.

45.Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos."

- Jesus afugenta os temores e angústias de seus Apóstolos, exorta-os a ter ânimo e deixar-se conduzir.

Comentário feito por:

Beato Guerric d'Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense

Primeiro sermão para o Domingo de Ramos

«O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir» - (v.45)

O homem tinha sido criado para servir o seu criador. Haverá coisa mais justa, que servir Aquele que nos pôs

no mundo, sem o qual não teríamos existência? E haverá coisa mais feliz que servi-Lo, pois que servi-Lo, é

reinar? Mas o homem disse ao seu Criador: «Não servirei» (Jr.2,20). «Então servir-te-ei Eu», disse o Criador

ao homem. «Senta-te, servir-te-ei, lavar-te-ei os pés». Sim, Cristo, «servo bom e fiel» (Mt.25,21), tu foste

verdadeiramente servo, servo em fé e verdade, em paciência e constância. Sem tibieza, lançaste-Te, qual

gigante que corre, na via da obediência (Sl.18,6); sem fingimento, deste-nos sobretudo, depois de tantos

cansaços, a tua própria vida; maltratado, inocente, humilhaste-Te e não abriste a boca (Is 53,7). Está escrito e

é verdade: «O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou e não agiu conforme os seus

desejos, será castigado com muitos açoites» (Lc.12,47). Mas, pergunto-vos, que ações dignas deixaram por

cumprir este servo? Que omitiu Ele do que devia ter feito?

«Fez tudo bem feito», dizem aqueles que observavam a sua conduta; «fez ouvir os surdos e falar os mudos»

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(Mc 7,37). Pois se cumpriu todas as ações que são dignas de recompensa, como sofreu então tanta

indignidade? Ofereceu as costas ao chicote, recebeu uma quantidade inimaginável de chicotadas atrozes, por

todo o lado o seu sangue correu. Foi interrogado no meio de opróbrios e de tormentos, como escravo ou

malfeitor que é submetido a interrogatórios para que lhe seja arrancada a confissão de um crime. Ó detestável

orgulho do homem que desdenha servir, a quem tão só humilha o máximo exemplo da servidão do seu próprio

Deus!Sim, meu Senhor, pois muito sofreste Tu a servir-me; seria justo e equitativo que de ora em diante

tivesses repouso, e que o teu servo, por seu turno, te servisse agora; chegou a sua vez. Venceste Senhor este

servo rebelde; estendo as mãos para que a Ti mas ligues; curvo a cabeça para receber o teu jugo. Permite que

Te sirva. Recebe-me como teu servo para sempre, ainda que servo inútil se não tiver em mim a tua graça;

envia-a do teu santo céu, para que me assista nos meus trabalhos (Sb.9,10).

Comentário feito por:

São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, Doutor da Igreja

Conferência sobre o Credo, 6 (a partir da trad. do breviário francês)

«Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo» -(v.43)

Que necessidade havia de que o Filho de Deus sofresse por nós? Uma grande necessidade, que podemos

resumir em dois pontos: necessidade de remediar os nossos pecados e necessidade de dar o exemplo para a

nossa conduta. A Paixão de Cristo dá-nos um modelo válido para toda a vida. Se procuras um exemplo de

caridade: «Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (Jo.15,13). Se buscas

paciência, é na cruz que a encontramos no grau máximo: Na cruz Cristo sofreu grandes tormentos com

paciência porque «ao ser insultado não ameaçava» (1Pe.2,23), «não abriu a boca, como um cordeiro que é

levado ao matadouro» (Is 53,7). «Corramos com perseverança a prova que nos é proposta, tendo os olhos

postos em Jesus, autor e consumador da fé. Ele, renunciando à alegria que lhe fora proposta, sofreu a cruz,

desprezando a ignomínia» (Hb.12,1-2).Se procuras um exemplo de humildade, olha para o Crucificado.

Porque Deus quis ser julgado por Pôncios Pilatos e morrer. Se procuras um exemplo de obediência, basta que

sigas Aquele que se fez obediente ao Pai «até à morte» (Fl.2,8). «De fato, tal como pela desobediência de um

só homem todos se tornaram pecadores, assim também pela obediência de um só todos tornar-se-ão justos»

(Rm.5,19). Se buscas um exemplo de desapego dos bens terrenos, simplesmente segue Aquele que é o «Rei

dos reis e Senhor dos senhores», «em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do

conhecimento» (1Tim.6,15; Cl.2,3); Ele está nu na cruz, tornado motivo de escárnio, coberto de escarros,

maltratado, coroado de espinhos e, por fim, dessedentado com fel vinagre.

Lc.1,1-25- DDPP(Ed) – p.1345 1. Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós,

2. como no-los transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da palavra.

3. Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio, escrevê-los para ti segundo

a ordem, excelentíssimo Teófilo,

4. para que conheças a solidez daqueles ensinamentos que tens recebido.

5. Nos tempos de Herodes, rei da Judéia, houve um sacerdote por nome Zacarias, da classe de Abias; sua mulher, descendente de

Aarão, chamava-se Isabel.

6. Ambos eram justos diante de Deus e observavam irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor.

7. Mas não tinham filho, porque Isabel era estéril e ambos de idade avançada.

8. Ora, exercendo Zacarias diante de Deus as funções de sacerdote, na ordem da sua classe,

9. coube-lhe por sorte, segundo o costume em uso entre os sacerdotes, entrar no santuário do Senhor e aí oferecer o perfume.

10. Todo o povo estava de fora, à hora da oferenda do perfume.

11. Apareceu-lhe então um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do perfume.

12. Vendo-o, Zacarias ficou perturbado, e o temor assaltou-o.

13. Mas o anjo disse-lhe: Não temas, Zacarias, porque foi ouvida a tua oração: Isabel, tua mulher, dar-te-á um filho, e chamá-lo-ás

João.

14. Ele será para ti motivo de gozo e alegria, e muitos se alegrarão com o seu nascimento;

15. porque será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem cerveja, e desde o ventre de sua mãe será cheio do Espírito Santo;

16. ele converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus,

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17. e irá adiante de Deus com o espírito e poder de Elias para reconduzir os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria

dos justos, para preparar ao Senhor um povo bem disposto.

18. Zacarias perguntou ao anjo: Donde terei certeza disto? Pois sou velho e minha mulher é de idade avançada.

19. O anjo respondeu-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para te falar e te trazer esta feliz nova.

20. Eis que ficarás mudo e não poderás falar até o dia em que estas coisas acontecerem, visto que não deste crédito às minhas

palavras, que se hão de cumprir a seu tempo.

21. No entanto, o povo estava esperando Zacarias; e admirava-se de ele se demorar tanto tempo no santuário.

22. Ao sair, não lhes podia falar, e compreenderam que tivera no santuário uma visão. Ele lhes explicava isto por acenos; e

permaneceu mudo.

23. Decorridos os dias do seu ministério, retirou-se para sua casa.

24. Algum tempo depois Isabel, sua mulher, concebeu; e por cinco meses se ocultava, dizendo:

25. Eis a graça que o Senhor me fez, quando lançou os olhos sobre mim para tirar o meu opróbrio dentre os homens.

- O Senhor faz-se presente junto ao seu povo através das palavras do Arcanjo Gabriel à Zacharias revelando-

lhe o nascimento de João Batista.

Comentário feito por :

São Leão Magno (? - c. 461), Papa e Doutor da Igreja

Carta 31; PL 54, 791 (a partir da trad. Orval)

«A linhagem de Jesus Cristo»

De nada serve dizer que Nosso Senhor, filho da Virgem Maria, é realmente homem, se não se crê que Ele o é

da maneira como o Evangelho o proclama. Quando Mateus nos fala «da genealogia de Jesus Cristo, filho de

David, filho de Abraão», desenha, a partir da origem da humanidade, a linhagem das gerações até José, de

quem Maria estava noiva. Lucas, pelo contrário, sobe os sucessivos graus para conduzir ao início do gênero

humano, e mostra assim que o primeiro e o último Adão são da mesma natureza (3, 23ss.).Seria possível,

certamente, ao Todo-Poderoso Filho de Deus manifestar-se para instrução e justificação dos homens da

mesma maneira que apareceu aos patriarcas e aos profetas sob forma carnal; por exemplo, quando lutou com

Jacob (Gn 32, 25), ou quando estabeleceu um diálogo com Abraão, aceitando a sua hospitalidade a ponto de

tomar o alimento que este Lhe apresentou (Gn 18). Mas estas aparições eram apenas sinais, imagens do

homem de que anunciavam a realidade, alcançada através das origens destes antepassados. Uma imagem não

poderia realizar O mistério da nossa redenção, preparado desde antes do tempo, desde a eternidade. O Espírito

ainda não tinha descido sobre a Virgem, e a força do Altíssimo ainda não tinha estendido sobre ela a Sua

sombra (Lc 1, 35). A Sabedoria ainda não tinha construído uma morada onde o Verbo pudesse encarnar, de

modo que a natureza de Deus e a do escravo se unissem numa só pessoa, o Criador do tempo nascesse no

tempo, e Aquele por Quem tudo foi feito fosse gerado entre todas as criaturas. Se o homem novo não Se

tivesse assimilado à carne do pecador e carregado a nossa decrepitude, se não tivesse condescendido, Ele que

era consubstancial ao Pai, em tomar a substância de Sua Mãe e assumir a nossa natureza, exceto no pecado, a

humanidade seria mantida cativa à mercê do demônio, e não poderíamos gozar da vitória triunfal de Cristo,

porque esta teria acontecido fora da nossa natureza. É, por conseguinte, da admirável participação de Cristo na

nossa natureza que brota para nós a luz do sacramento da regeneração.

Comentário feito por:

Santo Efrém (c. 306-373), diácono na Síria, Doutor da Igreja

Diatessaron, 1, 11-13 (a partir da trad. SC 127, p. 49 rev.)

«Zacarias regressou a casa. Passados esses dias, sua esposa Isabel concebeu»

O anjo disse-lhe: «A tua súplica foi atendida». Se Zacarias acreditava que a sua oração seria atendida, rezava

bem; se não acreditava, rezava mal. Estava na altura de a sua oração ser atendida; contudo, ele duvidou. Foi

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portanto, justificado que a partir desse preciso momento tivesse ficado mudo. Anteriormente, ele rezava para

ter um filho; no momento em que a sua oração foi atendida, mudou e disse: «Como é isso possível?» Dado

que a sua boca duvidou da sua oração, perdeu a fala. Enquanto Zacarias acreditava, falava; assim que deixou

de acreditar, calou-se. Enquanto acreditava, falava: «Eu acreditei, por isso falei» (Sl 115, 10). Porque

desprezou a palavra do anjo, esta palavra atormentou-o, a fim de que ele honrasse pelo seu silêncio a palavra

que tinha desprezado. Convinha que ficasse muda a boca que tinha dito: «Como é isso possível?», para que

aprendesse a possibilidade do milagre. A língua que estava solta foi presa, para que aprendesse que Aquele

que tinha prendido a língua podia desprender o seio. Assim, pois, a experiência instruiu aquele que não tinha

aceitado o ensinamento da fé. Ele aprendeu assim que aquele que tinha fechado uma boca aberta podia abrir

um seio fechado.

Lc.(1,39-56)-DDPP(Ed) - p.1346– 39.Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá.

40.Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.

41.Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.

42.E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.

43.Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?

44.Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio.

45.Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!

46.E Maria disse: Minha alma glorifica ao Senhor,

47.meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador,

48.porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações,

49.porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo.

50.Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem.

51.Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos.

52.Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes.

53.Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos.

54.Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,

55.conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre. 56.Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa.

- A profecia de Maria fortalece, abastece, revigora as forças e dá certeza de segurança na caminhada de todos

nós, falando da presença do Senhor no seu ventre. Descreve em louvor a sua missão na Igreja e a encarnação

do Verbo, Jesus.

Comentário feito por:

Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo

7ª homilia sobre S. Lucas

"Donde me vem esta graça de que a mãe do meu Senhor venha até mim?"- (v.43)

"Tu és bendita entre as mulheres e o fruto do teu ventre é bendito. Donde me vem esta graça de que a mãe do

meu Senhor venha até mim?" Estas palavras: "Donde me vem esta graça?" não são sinal de ignorância como

se Isabel, toda cheia do Espírito Santo, não soubesse que a mãe do Senhor tinha vindo até ela de acordo com a

vontade de Deus. Eis o sentido das suas palavras: "Que fiz eu de bom? Em que é que as minhas obras são tão

importantes que a mãe do Senhor venha ver-me? Serei uma santa? Que perfeição, que fidelidade me

mereceram esta graça, a visita da mãe do Senhor?" "Porque ainda a tua voz não tinha aflorado os meus

ouvidos e já o meu filho exultava de alegria no meu seio". Ele tinha sentido que o Senhor viera para santificar

o seu servo ainda antes do seu nascimento.

Pode acontecer que me chamem de louco os que não têm fé por eu ter acreditado nestes mistérios!... Porque o

que é considerado loucura por essa gente é para mim ocasião de salvação. Na verdade, se o nascimento do

Salvador não tivesse sido celeste e bem-aventurado, se não tivesse tido nada de divino e de superior à natureza

humana, nunca a sua doutrina teria atingido toda a terra. Se, no seio de Maria, tivesse havido apenas um

homem e não o Filho de Deus, como teria sido possível que nesse tempo, e ainda hoje, fossem curadas todas

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as espécies de doenças, não só do corpo mas também da alma?... Se reunirmos tudo o que se diz acerca de

Jesus, podemos constatar que tudo o que foi escrito a seu respeito é considerado divino e digno de admiração,

porque o seu nascimento, a sua educação, o seu poder, a sua Paixão, a sua Ressurreição não são apenas fatos

que ocorreram naquele tempo: eles agem em nós ainda hoje.

Comentário feito por:

Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja

Comentário a S. Lucas 2, 26-27

“Em uníssono exaltemos o Seu nome” (Sl 33, 4)

Que em todos resida a alma de Maria que glorifica o Senhor; que em todos resida o espírito de Maria que

exulta em Deus. Se, fisicamente, há uma só Mãe de Cristo, pela fé, Cristo é fruto de todos, porque todas as

almas recebem o Verbo de Deus se permanecerem sem mancha, preservadas do mal e do pecado, guardando a

castidade numa pureza inalterada. Assim, todas as almas que alcançam este estado exaltam o Senhor, como a

alma de Maria exaltou o Senhor e o seu espírito se alegrou em Deus Salvador.

Com efeito, o Senhor é exaltado, como lestes noutra passagem: “Em uníssono exaltemos o Seu nome” (Sl 33,

4). Não que a palavra humana possa acrescentar seja o que for ao Senhor, mas porque Ele cresce em nós.

Porque “Cristo é a imagem de Deus” (2 Cor 4, 4), de maneira que a alma que faz coisas justas e religiosas

exalta esta imagem de Deus, à semelhança da qual foi criada. E, exaltando-a, participa de alguma maneira na

sua grandeza, na qual é elevada, parecendo reproduzir em si esta imagem através das cores vivas das suas

boas obras, e como que copiá-la pelas suas virtudes

Comentário feito por:

Papa Bento XVI

Encíclica Deus Caritas est, § 41; Libreria Editrice Vaticana

«Maria deu graças ao Senhor» - (v.46)

O Magnificat — um retrato, por assim dizer, da sua alma — é inteiramente tecido com fios da Sagrada

Escritura, com fios tirados da Palavra de Deus. Desta maneira se manifesta que Ela Se sente verdadeiramente

em casa na Palavra de Deus, dela sai e a ela volta com naturalidade. Fala e pensa com a Palavra de Deus; esta

torna-se palavra Dela, e a sua palavra nasce da Palavra de Deus. Além disso, fica assim patente que os seus

pensamentos estão em sintonia com os de Deus, que o Dela é um querer juntamente com Deus. Vivendo

intimamente permeada pela Palavra de Deus, Ela pôde tornar-Se mãe da Palavra encarnada. Enfim, Maria é

uma mulher que ama. E como poderia ser de outro modo? Enquanto crente que, na fé, pensa com os

pensamentos de Deus e quer com a vontade de Deus, Ela não pode ser senão uma mulher que ama. Isto

mesmo o intuímos nós nos gestos silenciosos que nos referem os relatos evangélicos da infância. Vemo-lo na

delicadeza com que, em Caná, se dá conta da necessidade em que se acham os esposos e a apresenta a Jesus.

Vemo-lo na humildade com que aceita ser esquecida no período da vida pública de Jesus, sabendo que o Filho

deve fundar uma nova família e que a hora da Mãe chegará apenas no momento da cruz, que será a verdadeira

hora de Jesus (cf.Jo.2,4;13,1). Então, quando os discípulos tiverem fugido, Maria permanecerá junto da cruz

(cf.Jo.9,25-27); mais tarde, na hora de Pentecostes, serão eles a juntar-se ao redor Dela à espera do Espírito

Santo(cf.At.1,14).

Comentário feito por :

Ludolfo de Saxe (c. 1300-1374), dominicano, mais tarde cartuxo em Estrasburgo

A Vida de Jesus Cristo (a partir da trad. Au Commencement, Parole et Silence 2004, pp. 81ss. rev.)

«Pôs os olhos na humildade da Sua serva» (Lc 1, 48)

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A concepção de Nosso Senhor foi prefigurada pelo arbusto a arder que se queimava sem perder o viço (Ex 3,

2), tal como Maria concebeu o seu divino Filho sem perder a virgindade. O Senhor, que morava nesse arbusto

a arder, habitou igualmente no seio de Maria. Do mesmo modo que desceu ao arbusto para libertar os hebreus

e tirá-los do Egito, Ele também desceu a Maria para resgatar os homens e arrancá-los ao inferno.

A escolha de Maria, feita por Deus entre todas as mulheres para Se revestir da nossa carne, foi também

prefigurada pelo velo de Gedeão (Jz.6,36 ss.). Com efeito, do mesmo modo que só aquele velo acolheu o

orvalho celeste enquanto toda a terra à sua volta estava seca, assim apenas Maria ficou cheia desse orvalho

divino do qual no mundo inteiro se mostrou digna mais nenhuma criatura. A Virgem Maria é este velo com o

qual Jesus fez para Si uma túnica. O velo de Gedeão recebeu o orvalho do céu sem ficar adulterado; Maria

concebeu o Homem-Deus sem alterar a sua virgindade.

Jesus, Filho de Deus vivo, que pela vontade do Pai celeste e a cooperação do Espírito Santo saíste do seio de

Deus Pai assim como o rio manou do Paraíso de delícias (Gn 2, 10), e visitaste as profundidades dos nossos

vales ao olhar para a humildade da Tua serva, descendo assim ao seio duma virgem no qual, por inefável

concepção, foste revestido de carne mortal, suplico-Te, misericordioso Jesus, pelos méritos desta Virgem, Tua

Mãe, que espalhes a Tua graça sobre mim, indigníssimo servo, a fim de que Te deseje com ardor, e pelo Teu

amor Te conceba no meu coração para que, com o auxílio dessa graça, possa produzir o fruto salutar das boas

obras. Amem.

Comentário feito por:

São Beda, o Venerável (c. 673-735), monge, Doutor da Igreja

Homilias sobre o Evangelho, I, 4; CCL 122, 25ss. (a partir da trad. breviário)

«O meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador»

«A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.» O sentido primeiro

destas palavras é a confissão dos dons que Deus lhe concedeu, em especial a ela, Maria; mas logo a seguir

recorda os benefícios universais de que Deus não cessa de rodear a espécie humana. A alma glorifica o Senhor

quando consagra todas as suas potências interiores a louvar e a servir a Deus; quando, pela sua submissão aos

preceitos divinos, mostra que nunca perde de vista o Seu poder e a Sua majestade. O espírito alegra-se em

Deus, seu Salvador, quando coloca toda a sua alegria na memória do seu Criador, de Quem espera a salvação

eterna. Estas palavras exprimem exatamente aquilo que todos os santos pensam, mas convinha muito

especialmente que fossem proferidas pela Bem-aventurada Mãe de Deus que, cumulada de um singular

privilégio, ardia com um amor todo espiritual por Aquele que tinha tido a alegria de conceber na sua carne.

Ela tinha bons motivos, ela mais do que todos os santos, para se alegrar em Jesus - ou seja, no seu Salvador -,

porque sabia que Aquele que reconhecia como Autor eterno da nossa salvação ia nascer no tempo, da sua

própria carne, tão verdadeiramente que na mesma Pessoa estariam realmente presentes o seu Filho e o seu

Deus. É por isso que é um costume excelente e salutar, cujo perfume unge a Santa Igreja, cantar todos os dias,

nas Vésperas, o cântico da Virgem. Podemos esperar que as almas dos fiéis, recordando com tanta freqüência

a encarnação do Senhor, se inflamem com um fervor mais vivo, e que a freqüente recordação dos exemplos da

Santa Mãe as firme na virtude. E as Vésperas são o momento ideal para entoar este cântico, porque a nossa

alma, fatigada da jornada e solicitada em sentido diverso pelos pensamentos do dia, precisa de se recolher ao

chegar o momento em que vai repousar, a fim de poder recuperar a unidade da sua atenção.

Lc.(1,57-66.80) – DDPP(Ed) – pg.1347 - Nascimento de João Batista 57.Completando-se para Isabel o tempo de dar à luz, teve um filho.

58.Os seus vizinhos e parentes souberam que o Senhor lhe manifestara a sua misericórdia, e congratulavam-se com ela.

59.No oitavo dia, foram circuncidar o menino e o queriam chamar pelo nome de seu pai, Zacarias.

60.Mas sua mãe interveio: Não, disse ela, ele se chamará João.

61.Replicaram-lhe: Não há ninguém na tua família que se chame por este nome.

62.E perguntavam por acenos ao seu pai como queria que se chamasse.

63.Ele, pedindo uma tabuinha, escreveu nela as palavras: João é o seu nome. Todos ficaram pasmados.

64.E logo se lhe abriu a boca e soltou-se-lhe a língua e ele falou, bendizendo a Deus.

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65.O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos; o fato divulgou-se por todas as montanhas da Judéia. 66.Todos os que o ouviam

conservavam-no no coração, dizendo: Que será este menino? Porque a mão do Senhor estava com ele.

69.e suscitou-nos um poderoso Salvador, na casa de Davi, seu servo

70.(como havia anunciado, desde os primeiros tempos, mediante os seus santos profetas),

71.para nos livrar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam.

72.Assim exerce a sua misericórdia com nossos pais, e se recorda de sua santa aliança,

73.segundo o juramento que fez a nosso pai Abraão: de nos conceder que, sem temor,

74.libertados de mãos inimigas, possamos servi-lo

75.em santidade e justiça, em sua presença, todos os dias da nossa vida.

76.E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor e lhe prepararás o caminho,

77.para dar ao seu povo conhecer a salvação, pelo perdão dos pecados.

78.Graças à ternura e misericórdia de nosso Deus, que nos vai trazer do alto a visita do Sol nascente,

79.que há de iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.

80.O menino foi crescendo e fortificava-se em espírito, e viveu nos desertos até o dia em que se apresentou diante de Israel.

-Além de João Batista, profetizou Zacharias, que esteve mudo durante nove meses, prorrompendo em seguida

um belíssimo cântico profético, que refere-se a Jesus, o Sol Nascente, o Príncipe da Paz e a João Batista ,cuja

missão é preparar o caminho do Senhor.

Comentário feito por:

Sermão 1 para S. João Baptista, §2

"Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque caminharás diante do Senhor para preparar o seu

caminho" (Lc 1,76)

É com razão que o nascimento deste menino foi para muitos causa de alegria: ainda o é hoje. Dado a seus pais

na velhice, veio pregar a um mundo que envelhecia a graça de um novo nascimento. É bom que a Igreja

festeje solenemente esta natividade, fruto maravilhoso da graça com o qual a natureza se maravilha.

Quanto a mim, esta lâmpada destinada a iluminar o mundo (Jo 5,35), traz-me com o seu nascimento uma

alegria nova, porque foi graças a ela que reconheci a verdadeira Luz, que brilha nas trevas mas que as trevas

não quiseram receber (Jo.1,5-9). Sim, o nascimento deste menino traz-me uma alegria indizível pois é para o

mundo fonte de tão grandes bens. Ele foi o primeiro a instruir a Igreja, começando a formá-la pela penitência,

preparando-a pelo batismo e, quando a tinha já preparada, entregando-a a Cristo e unindo-a a Ele (Jo 3,29).

Ensinou-a a viver na sobriedade e, com o exemplo da sua própria morte, deu-lhe forças para morrer com

coragem. Desse modo, ele preparou para o Senhor um povo perfeito (Lc 1,17).

Comentário feito por:

Santo Agostinho(354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja

Sermão para o nascimento de João Baptista

« É necessário que Ele cresça e eu diminua»- ( Jo 3,30)

O nascimento de João e o de Jesus, e as suas Paixões, marcaram a diferença entre eles. Com efeito, João nasce

quando o dia começa a diminuir; Cristo, quando o dia começa a crescer. A diminuição do dia, para um, é o

símbolo da sua morte violenta. O seu crescimento, para o outro, a exaltação da cruz.Há também um sentido

secreto que o Senhor revela... em relação a esta palavra de João acerca de Jesus Cristo: «É necessário que Ele

cresça e eu diminua». Toda a justiça humana... se consumira em João; acerca dele dizia aVerdade: «Entre os

filhos das mulheres, não surgiu nenhum maior do que João Baptista» (Mt 11,11). Nenhum homem teria, pois,

podido ultrapassá-lo; mas ele era apenas um homem. Ora na nossa graça cristã, é-nos pedido que não nos

glorifiquemos no homem, mas se alguém se glorifica que se glorifique no Senhor» (2Co.10,17): o homem no

seu Deus; o servidor no seu mestre. É por este motivo que João grita : «É necessário que Ele cresça e eu

diminua.» Claro que Deus não diminuiu nem aumentou em Si mesmo, mas nos homens: à medida que

progride o verdadeiro fervor, a graça divina cresce e o poder humano diminui, até que chegue à sua conclusão

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o reino de Deus, que está em todos os membros de Cristo, e no qual toda a tirania, toda a autoridade, todo o

poder estão mortos, e Deus é tudo em todos (Cl.3,11).João, o evangelista, diz: «Havia a verdadeira luz, que

ilumina todo o homem vindo a este mundo» (1,9); por seu lado, João Baptista diz: «Nós recebemos tudo da

Sua plenitude» (Jo 1,16). Assim que a luz que é em si própria sempre total, cresce contudo em quem por ela é

iluminado, esse diminui em si mesmo, à medida que se vai abolindo nele o que estava sem Deus. É que o

homem sem Deus nada pode, a não ser pecar, e o seu poder humano diminui quando triunfa a graça divina,

destruidora do pecado. A fraqueza da criatura cede ao poder do Criador e a vaidade dos nossos afetos egoístas

dissolve-se diante do amor universal, enquanto João Baptista do fundo da nossa angústia, nos grita a

misericórdia de Jesus Cristo: «É necessário que Ele cresça e eu diminua».

Lc.(2,1-14) – DDPP(Ed) - p.1347 1.Naqueles tempos apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra.

2.Este recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Síria.

3.Todos iam alistar-se, cada um na sua cidade.

4.Também José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à Cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de

Davi,

5.para se alistar com a sua esposa Maria, que estava grávida.

6.Estando eles ali, completaram-se os dias dela.

7.E deu à luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na

hospedaria.

8.Havia nos arredores uns pastores, que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite.

9.Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu ao redor deles, e tiveram grande temor.

10.O anjo disse-lhes: Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo:

11.hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor.

12.Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura. 13.E subitamente ao

anjo se juntou uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus e dizia:

14.Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens, objetos da benevolência (divina).

- O Anúncio do anjo do Senhor anunciando aos pastores o nascimento de Jesus confirma a profecia da

presença do Senhor junto ao seu povo na forma humana. Presença que inundou toda a terra.

Comentário feito por:

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense do séc. XII, doutor da Igreja

5º Sermão para a Vigília de Natal

«A glória do Senhor refulgiu em volta deles»

Antes de surgir a verdadeira luz, antes do nascimento de Cristo, a noite envolvia o mundo por completo; a

noite reinava também em cada um de nós, antes da nossa conversão e regeneração interior. Não era aquela a

mais profunda das noites, e aquelas as trevas mais espessas à face da terra, naquele tempo em que nossos pais

honravam falsos deuses?. E não houve depois em nós uma outra noite tenebrosa, nesse período em que sem

Deus vivíamos neste mundo, apenas guiados pelas nossas paixões e por atrações mundanas, fazendo coisas

que hoje nos fazem corar, por serem também obras das trevas? Mas agora saístes do vosso sono, santificastes-

vos, tornastes-vos filhos da luz, filhos do dia, e já não sois das trevas nem da noite (1Ts.5,5) «Amanhã vereis a

majestade de Deus em vós.» Hoje, por nós, o Filho fez-Se justiça vinda de Deus; amanhã, manifestar-Se-á

como vida nossa, para que nos pareçamos com Ele na glória. Hoje nasceu-nos um menino, para nos impedir

de viver na vã glória, e para que, ao convertermo-nos, sejamos humildes como crianças (Mt 18,3). Amanhã

Ele mostrar-Se-á na sua grandeza para nos incitar ao louvor e para que possamos também ser glorificados e

louvados, quando a cada um Deus conceder a sua glória «Seremos semelhantes a Ele, porque O veremos tal

como Ele é» (1 Jo 3,2). Hoje, com efeito, não O vemos em Si mesmo, mas como num espelho (1 Co 13,12);

hoje Ele recebe aquilo que, dependendo de nós, lhe damos. Mas amanhã vê-Lo-emos em nós, quando nos der

o que depende d'Ele, quando Se mostrar tal como é em Si mesmo, e nos tomar para nos elevar até Si.

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Comentário feito por:

Santo Afonso-Maria de Liguori (1696-1787), bispo e Doutor da Igreja

Discurso para a novena de Natal, n.º 10 (a partir da trad. das Eds. Saint Paul, 1993, pp.133ss. rev.)

«Anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo»

«Anuncio-vos uma grande alegria». Tais são as palavras do anjo aos pastores de Belém. Repito-vo-las hoje,

almas fiéis: trago-vos uma notícia que vos causará uma grande alegria. Para uns pobres exilados, condenados

à morte, haverá notícia mais feliz do que a da aparição do seu Salvador, vindo não só para libertá-los da

morte, mas para lhes conceder o regresso à pátria? É precisamente isto o que eu vos anuncio: «Nasceu-vos um

Salvador» Quando um monarca entra pela primeira vez numa cidade do seu reino, são-lhe rendidas as maiores

honras; quantas ruas engalanadas, quantos arcos do triunfo! Prepara-te, pois, ó bem-aventurada Belém, para

receberes condignamente o teu Rei. Que saibas, como te diz o profeta (Mi 5, 1), que de entre todas as cidades

da terra, és a mais favorecida, pois foi a ti que o Rei do céu escolheu para lugar do Seu nascimento aqui na

terra, para depois reinar não apenas na Judéia, mas nos corações dos homens, em todos os sítios. O que não

terão dito os anjos ao verem a Mãe de Deus entrar numa gruta para aí dar à luz o Rei dos reis! Os filhos dos

príncipes vêm ao mundo em aposentos cintilantes de ouro; estão rodeados pelos mais altos dignitários do

reino. Ele, o Rei do céu, quis vir nascer num estábulo frio e sem lume, tendo para Se cobrir apenas uns pobres

farrapos; e, para Se deitar, apenas uma miserável manjedoura com um pouco de palha.Ah! A própria

consideração do nascimento de Jesus Cristo e das circunstâncias que o acompanharam deverá embrasar-nos de

amor; e as próprias palavras «gruta», «manjedoura», «palha», «leite», «gemidos», ao porem-nos diante dos

olhos o Menino de Belém, deverão ter sobre nós o efeito de setas inflamadas ferindo-nos de amor o coração.

Bendita gruta, bendita manjedoura, bendita palha! Mas muito mais benditas ainda sejam as almas que com

fervor e ternura amam este Senhor tão digno de amor, almas que, ardendo de inflamada caridade, O recebem

na santa comunhão. Com que ardor, com que alegria, Jesus vem descansar nas almas que verdadeiramente O

amam!

Comentário feito por:

São Gregório de Nissa (c. 335-395), monge e bispo

Sermão sobre o Natal, passim; PG 46, 1128 (a partir da trad. coll. Icthus, vol. 8, pp. 163ss.)

«Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador»

Irmãos, informados do milagre, vamos como Moisés ver esta coisa extraordinária (Ex 3, 3): em Maria, o

arbusto em chamas não se consome. A Virgem dá ao mundo a Luz mantendo a sua virgindade. Corramos pois

a Belém, a cidade da Boa Nova! Se formos verdadeiramente pastores, se permanecermos despertos em

guarda, ouviremos a voz dos anjos que anunciam uma grande alegria: «Glória a Deus nas alturas, porque a paz

desceu à terra!» Aonde ontem apenas havia maldição, teatros de guerra e exílio, a terra recebe a paz, porque

hoje «da terra brotará a lealdade, desde o céu há de olhar a justiça» (Sl 84, 12). Eis o fruto que a terra dá aos

homens, em recompensa pela boa vontade que reina entre eles (Lc 2, 14). Deus une-Se ao homem para elevar

o homem às alturas de Deus.

Ao ouvirmos esta novidade, irmãos, partamos para Belém, a fim de contemplarmos o mistério do presépio:

uma criança envolta em panos repousa numa manjedoura. Virgem após o parto, a Mãe incorruptível abraça o

Filho. Com os pastores, repitamos a palavra do profeta: «Como nos contaram, assim nós vimos na cidade do

Senhor dos exércitos» (Sl 47, 9).Mas por que procura o Senhor refúgio nesta gruta de Belém? Por que dorme

numa manjedoura? Por que Se sujeita ao recenseamento de Israel? Irmãos, Aquele que traz a libertação ao

mundo vem nascer na nossa submissão à morte. Ele nasce nesta gruta para Se mostrar aos homens,

mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Está deitado numa manjedoura porque é Aquele que faz crescer

a erva para o gado (Sl 103, 14), porque é o Pão da Vida que alimenta o homem com um alimento espiritual,

para que também ele viva pelo Espírito. Haverá festa mais feliz que a de hoje? Cristo, o Sol da Justiça (Mal 3,

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20), vem iluminar a nossa noite. Aquele que tinha caído torna a levantar-se, aquele que fora vencido é

libertado, aquele que tinha morrido regressa à vida. Hoje, cantemos todos a uma só voz em toda a terra: «Por

um homem, Adão, veio a morte; por este Homem, vem-nos hoje a salvação» (cf Rom 5, 17).

Lc.(2,22-35)- DDPPE(C) – p.1348 - Apresentação de Jesus no templo. 22.Concluídos os dias da sua purificação segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor,

23.conforme o que está escrito na lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor (Ex 13,2);

24.e para oferecerem o sacrifício prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos.

25.Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem, justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o Espírito

Santo estava nele.

26.Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem primeiro ver o Cristo do Senhor.

27.Impelido pelo Espírito Santo, foi ao templo. E tendo os pais apresentado o menino Jesus, para cumprirem a respeito dele os

preceitos da lei,

28.tomou-o em seus braços e louvou a Deus nestes termos:

29.Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra.

30.Porque os meus olhos viram a vossa salvação

31.que preparastes diante de todos os povos,

32.como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel. 33.Seu pai e sua mãe estavam admirados das coisas que dele se diziam.

34.Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento

para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições,

35.a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada transpassará a tua alma 36.Havia também uma profetisa chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser; era de idade avançada.

37.Depois de ter vivido sete anos com seu marido desde a sua virgindade, ficara viúva, e agora com oitenta e quatro anos não se

apartava do templo, servindo a Deus noite e dia em jejuns e orações.

38.Chegando ela à mesma hora, louvava a Deus e falava de Jesus a todos aqueles que em Jerusalém esperavam a libertação.

39.Após terem observado tudo segundo a lei do Senhor, voltaram para a Galiléia, à sua cidade de Nazaré. 40.O menino ia crescendo

e se fortificava: estava cheio de sabedoria, e a graça de Deus repousava nele

-O Senhor é consolador, paz verdadeira, plenitude dos anseios do coração e descanso a alma de Simeão.

Comentário feito por:

Beato João XXIII (1881-1963), papa

Diário da Alma, § 1958-1963

“Agora, Senhor, podes deixar partir em paz o teu servo”- (v.29)

Depois da minha primeira Missa no túmulo de São Pedro, as mãos do Santo Padre Pio X pousavam na minha

cabeça em bênção de augúrio para mim e para a minha vida sacerdotal incipiente; mais de meio século depois

(exatamente cinqüenta e seis anos), as minhas pobres mãos abrem-se sobre os católicos – e não só sobe os

católicos – do mundo inteiro em gesto de paternidade universal, como sucessor do mesmo Pio X proclamado

santo, e que sobrevive nesse seu sacerdócio e dos seus antecessores e sucessores, encarregados como São

Pedro do governo de toda a Igreja, una, santa, católica e apostólica.São estas palavras sagradas que superam

qualquer meu sentimento de inimaginável exaltação pessoal, e me deixam na profundidade do meu nada,

elevado à sublimidade de um ministério que ultrapassa em altura toda a minha dignidade humana.Quando, no

dia 28 de Outubro de 1958, os cardeais da Santa Igreja romana me designaram para a suprema

responsabilidade do governo da grei universal de Cristo Jesus, aos setenta e sete anos de idade, foi geral a

convicção de que seria um Papa provisório, de transição. Contudo, aqui estou em vésperas do quarto ano de

pontificado, com um vasto programa diante de mim que é preciso realizar diante do mundo inteiro que olha e

espera. Quanto a mim, encontro-me como São Martinho: “Nem temo a morte, nem recuso a vida.”Devo estar

sempre preparado para morrer, mesmo imediatamente, e para viver o que o Senhor houver por bem deixar-me

aqui em baixo. Sim, sempre. Às portas do meu octogésimo aniversário devo estar disposto: a morrer e a viver;

em qualquer dos casos, a atender à minha santificação. Tal como em todos os lugares me chamam – Santo

Padre – assim devo e quero ser realmente.

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Comentário feito por :

Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo

Homilia 15 sobre São Lucas; PG 13, 1838-1839 (a partir da trad. Orval; cf SC 87)

«Deixarás ir em paz o Teu servo»

Simeão sabia que o único que pode libertar-nos da prisão do corpo, com a esperança da vida futura, é Aquele

que ele tinha nos braços. Foi por isso que disse: «Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o

teu servo, porque enquanto não tive Cristo nos meus braços era como que prisioneiro, estava incapaz de me

libertar das cadeias.» E note-se que isto não se aplica somente a Simeão, mas a todos os homens. Se alguém

abandona este mundo e quer alcançar o Reino, tome Jesus nos braços, aperte-O ao peito, e poderá chegar com

grande alegria aonde deseja ir. [...]

«Todos aqueles que são movidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus» (Rom 8, 14). Assim pois, foi o

Espírito Santo que levou Simeão ao Templo. E tu, se desejas ter Jesus nos braços e tornar-te digno de sair

dessa prisão, esforça-te por te deixares conduzir pelo Espírito, para chegares ao templo de Deus. Desde já te

encontras no templo do Senhor Jesus, ou seja, na Sua Igreja, neste templo de pedras vivas (1P 2, 5). Assim

pois, se vieres ao Templo conduzido pelo Espírito, encontrarás o Menino Jesus, toma-lo-ás nos teus braços e

dirás: «Agora, Senhor, segundo a Tua palavra, deixarás ir em paz o Teu servo». Esta libertação e esta partida

têm lugar na paz. Quem morre em paz, senão aquele que tem a paz de Deus, que sobrepuja todo o

entendimento e guarda os corações e os pensamentos em Cristo (Fl.4,7)? Quem se retira em paz deste mundo,

senão aquele que compreende que Deus veio, em Cristo, reconciliar-Se com o mundo?

Comentário feito por:

São Sofrônio de Jerusalém (?-639), monge, bispo

Homilia para a festa das luzes

“Eu vim como a luz ao mundo, para que todo aquele que crê em Mim não permaneça nas trevas” (Jo 12, 46)

Vamos ao encontro de Cristo, todos nós que veneramos o Seu mistério com fervor, avancemos para Ele de

todo o coração. Quando todos, sem exceção, participarem neste encontro, que todos levem as suas luzes. Se os

nossos círios dão semelhante luz, é antes de mais para mostrar o esplendor divino Daquele que vem, Daquele

que faz resplandecer o universo e o mundo com uma luz eterna, que afasta as trevas do mal. É também, e

sobretudo, para manifestar com que esplendor da nossa alma devemos ir ao encontro de Cristo. Com efeito, tal

como a Mãe de Deus, a Virgem puríssima, trouxe nos seus braços a luz verdadeira, para ir ao encontro

“daqueles que se encontravam nas trevas” (Is 9, 1; Lc 1, 79), assim também nós, iluminados pelos seus raios,

e tendo na mão uma luz visível para todos, apressemo-nos a ir ao encontro de Cristo.É evidente que, dado que

a luz veio a este mundo (Jo 1, 9), iluminando os que estavam nas trevas, porque nos visitou a “luz do alto” (Lc

1, 78), esse mistério é o nosso mistério.Corramos, pois, todos juntos, vamos todos ao encontro de Deus.

Deixemo-nos iluminar a todos por Ele, meus irmãos, tornemo-nos todos resplandecentes. Que nenhum de nós

permaneça afastado desta luz, como se fosse um estrangeiro; que nenhum se obstine em permanecer

mergulhado na noite. Pelo contrário, avancemos para a claridade; caminhemos, iluminados, ao seu encontro, e

recebamos, com o velho Simeão, esta luz gloriosa e eterna. Com ele exultemos de todo o coração e cantemos

um hino de ação de graças a Deus, Pai da luz (Tg.1,17), que nos enviou a claridade verdadeira, para nos tirar

das trevas e nos tornar resplandecentes. Graças a Cristo, também nós vimos salvação de Deus, que Ele

preparou “em favor de todos os povos”, e que manifestou para “glória de Israel” (Lc 2, 30-32). E também nós

fomos libertados da noite do nosso pecado, como Simeão o foi dos laços da vida presente, ao ver Cristo

Comentário feito por :

Bem-aventurado Guerric d'Igny (c. 1080-1157), prior cisterciense

1º Sermão para a Purificação (a partir da trad. cf SC 166, pp. 309ss.)

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«Simeão tomou-O nos braços e bendisse a Deus»

«Tende na mão as vossas lâmpadas acesas» (Lc 12, 35). Mostremos assim, através deste sinal visível, a alegria

que partilhamos com Simeão, que tem nas mãos a luz do mundo. Sejamos ardentes pela nossa devoção e

luminosos pelas nossas obras, e, com Simeão, levaremos Cristo em nossas mãos. Hoje a Igreja tem o hábito

tão belo de nos fazer levar velas. Por conseguinte, quem é que hoje, tendo a sua vela acesa na mão, não se

lembra do bem aventurado ancião? Nesse dia, ele tomou Jesus nos braços, o Verbo presente na carne,

semelhante à luz na cera, testemunhando que Ele era «a Luz para se revelar às nações». É verdade que o

próprio Simeão era «uma luz ardente e brilhante», que prestava homenagem à luz (Jo 5, 35; 1, 7). Foi por isso

que ele veio ao Templo, conduzido pelo Espírito, do qual estava repleto, «para receber, ó Deus, a Tua

misericórdia no meio do Teu Templo» (Sl 47, 10) e para proclamar que ela era a misericórdia e a luz do Teu

povo.Ó ancião cintilando de paz, não tinhas apenas a luz em tuas mãos, foste penetrado por ela. Tu estavas tão

iluminado por Cristo, que vias antecipadamente como Ele iluminaria as nações, como resplandeceria hoje o

brilho da nossa fé. Regozija-te agora, santo ancião; vê hoje o que tinhas entrevisto antecipadamente: as trevas

do mundo dissiparam-se; «as nações caminham à Sua luz»; «toda a terra está repleta da Sua glória» (Is 60, 3;

6, 3).

Comentário feito por:

Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, Doutora da Igreja

O Caminho da Perfeição, Cap. 31/33 (trad. OC, Cerf 1995, p. 814)

«Simeão tomou-O nos braços»

Na oração de quietude, o Senhor começa por nos mostrar que nos ouve e que nos concede o Seu Reino, a fim

de que possamos verdadeiramente bendizê-Lo e santificar o Seu nome e de que incitemos todos os homens e

mulheres a fazer o mesmo. É qualquer coisa de sobrenatural e que não podemos alcançar pelos nossos

esforços, por mais que façamos.

Com efeito, aqui, a alma mergulha na paz ou, melhor, o Senhor envolve-a nela com a Sua presença, tal como

fez com o justo Simeão. Então, todas as potências da alma se apaziguam e ela compreende, com um tipo de

compreensão muito diferente daquele que nos vem por meio dos sentidos exteriores, que está muito perto do

seu Deus e que, por um pouco, conseguiria chegar a ser, pela união, uma só coisa com Ele. Não que O veja

com os olhos do corpo nem com os da alma; o justo Simeão também não viu, exteriormente, mais do que o

augusto Pobrezinho e, pelos panos que O envolviam e pelo pequeno número dos que Lhe faziam cortejo,

poderia tê-Lo tomado pelo filho de pessoas pobres, mais do que pelo Filho do Pai celeste. Mas a própria

Criança o fez perceber Quem era. Aqui, é da mesma maneira que a alma compreende; ainda assim, apreende-o

de forma menos clara, porque ainda não percebe como é que compreende. Sabe apenas que se encontra no

Reino ou, pelo menos, perto do Rei que deve dar-lho, e é presa de um tão grande respeito, que não ousa pedir-

Lhe nada.

Comentário feito por:

Santo Inácio de Antioquia (?-c. 110), bispo e mártir

Carta aos Romanos, 5-7 (a partir da trad. Quéré, Les Pères apostoliques, Seuil 1980, p. 136)

«Agora, Senhor, segundo a Tua palavra, deixarás ir em paz o Teu servo»

Hoje, começo a ser discípulo. Que criatura alguma, visível ou invisível, me impeça de ir ter com Jesus Cristo.

Nem os mais cruéis suplícios me perturbam, a única coisa que desejo é estar com Jesus Cristo. De que me

servem as doçuras deste mundo e os impérios da terra? Mais vale morrer por Cristo Jesus que reinar até aos

confins do universo. É a Ele que procuro, a Ele que morreu por nós; é a Ele que desejo, a Ele que ressuscitou

por nós.Aproxima-se o momento do meu nascimento. Deixai-me abraçar a luz puríssima. Nessa altura, serei

um homem. Permiti-me imitar a paixão do meu Deus. Os meus desejos terrenos estão crucificados, já não

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tenho em mim fogo para amar a matéria, mas apenas a «água viva» (Jo 7, 38) que murmura e me segreda ao

coração: «Vem para junto do Pai.» Não quero continuar a saborear os alimentos perecíveis nem as doçuras

desta vida. É do pão de Deus que tenho fome, da carne de Jesus Cristo, Filho de David, e como bebida quero o

Seu sangue, que é o amor incorruptível

Comentário feito por:

São Romano Músico (?-c. 560), compositor de hinos

Hino 25, Maria na cruz

“Uma espada trespassará a tua alma” – (v.35)

Ovelha contemplando o seu cordeiro levado ao matadouro (Is 53, 7), consumida de dor, Maria segue com as

outras mulheres, chorando: “Para onde vais, meu filho? Por que percorres assim depressa o teu caminho? (Sl

18, 6) Há outra boda em Caná, e é para lá eu Te diriges tão depressa, para transformar a água em vinho? Posso

acompanhar-te, meu Filho, ou será melhor esperar por Ti? Diz-me uma palavra que seja, Tu que és o Verbo,

não passes diante de mim em silêncio, Tu, que és o meu Filho e o meu Deus. “Encaminhas-Te para uma morte

injusta e ninguém partilha o Teu sofrimento. Não Te acompanha Pedro, que dizia: ‘Mesmo que tenha de

morrer contigo, não Te negarei’ (Mt 26, 35). Abandonou-Te Tomé, que exclamara: ‘Vamos nós também, para

morrermos com Ele’ (Jo 11, 16). E os outros, os íntimos, aqueles que julgarão as doze tribos (Mt 19, 28), onde

estão eles? Não está cá nenhum; mas Tu, sozinho, meu Filho, Tu morres por todos. É o salário que recebes por

teres salvado todos os homens, por os teres servido, meu Filho e meu Deus.”Voltando-Se para Maria, Aquele

que saiu dela exclama: “Por que choras, Mãe? Eu, não sofrer, não morrer? Como salvaria Adão? Não habitar o

túmulo? Como devolveria então à vida aqueles que moram na mansão dos mortos? Por que choras? Exclama

antes: ‘Sofre voluntariamente, o meu Filho e meu Deus.’ Virgem prudente, não te tornes semelhante às

insensatas (Mt 25, 1ss.): tu estás no banquete de núpcias, não ajas como se tivesses ficado de fora. Não chores,

pois, diz antes: ‘Tem piedade de Adão, sê misericordioso com Eva, meu Filho e meu Deus.’“Descansa, Mãe,

serás tu a primeira a ver-me sair do túmulo. Virei mostrar-te de que males resgatei Adão, que suores derramei

por ele. Revelarei aos Meus amigos as marcas que trarei nas mãos. Então, verás Eva viva como foi outrora, e

exclamarás cheia de alegria: ‘Ele salvou os meus pais, o meu Filho e meu Deus!’”

Comentário feito por:

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e Doutor da Igreja

2ª homilia sobre o Cântico dos Cânticos, §8 (a partir da trad. Seuil 1953, p. 98)

Pôs-se a louvar a Deus e a falar do Menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.

Ó rebento de Jessé, Tu que és um sinal para todos os povos, quantos reis e profetas desejaram ver-Te e não Te

viram! Feliz daquele que, na sua velhice, foi cumulado com o dom divino da Tua vinda! Ele tremeu em desejo

de ver o sinal, viu-o e alegrou-se. Tendo recebido o beijo da paz, deixou este mundo com a paz no coração,

não sem antes proclamar que Jesus tinha nascido para ser um sinal de contradição. E essa profecia cumpriu-se:

mal apareceu, o sinal da paz foi contraditado, mas por aqueles que têm ódio à paz. Porque Ele é a paz para os

homens de boa vontade, mas para os mal intencionados é pedra de tropeço. Herodes perturbou-se, e toda a

Jerusalém com ele. O Senhor veio a ele, mas os Seus não o receberam. Felizes os pobres pastores que, velando

na noite, foram considerados dignos de ver este sinal!Já nesse tempo Ele Se escondia aos pretensos sábios e

prudentes, revelando-Se aos humildes. Aos pastores, o anjo disse: «Eis o sinal para vós.» Ele é para vós, os

humildes e obedientes, para vós que não vos jactais de ciência orgulhosa, mas que velais noite e dia,

meditando na lei de Deus. Eis o sinal para vós! Aquele que os anjos prometiam, Aquele que os povos

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reclamavam, Aquele que os profetas anunciaram. Eis, pois, o sinal para vós; mas sinal de quê? De perdão, de

graça, de paz, duma paz que não terá fim. Eis o sinal para vós: um Menino envolto em panos e reclinado numa

manjedoura. Mas Deus está Nele, reconciliando o mundo Consigo. Este Menino é o beijo de Deus, o

Mediador entre Deus e os homens, Jesus homem e Cristo, que vive e reina pelos séculos dos séculos.

Lc.3,1-6 – DDPP(C) - p.1349 –Pregação de João Batista 1.No ano décimo quinto do reinado do imperador Tibério, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, Herodes tetrarca da Galiléia,

seu irmão Filipe tetrarca da Ituréia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca da Abilina,

2.sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra do Senhor no deserto a João, filho de Zacarias.

3.Ele percorria toda a região do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para remissão dos pecados, 4.como está escrito no

livro das palavras do profeta Isaías (40,3ss.): Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas

veredas. 5.Todo vale será aterrado, e todo monte e outeiro serão arrasados; tornar-se-á direito o que estiver torto, e os caminhos escabrosos

serão aplainados.

6.Todo homem verá a salvação de Deus.

--Jesus teve como precursor João Batista, que repetia aquelas mesmas palavras de Isaías.(Mt.3,3) e (Lc.3,4).

- Revela ao mundo a missão de João Batista que anunciará e preparará o povo para a libertação messiânica,

para a vinda do Messias.

Comentário feito por:

Orígenes (c. 185-253), sacerdote e teólogo

Homilias sobre São Lucas, nº 22, 1-3

“Preparai o caminho do Senhor”- (v.4)

Está escrito sobre João: “Uma voz grita no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitar as suas veredas”.

Mas o que vem a seguir diz respeito exclusivamente ao Senhor, nosso Salvador. Porque não foi João quem

“aplanou os vales”, mas o Senhor, nosso Salvador. Considere cada um o que era antes de ter fé; e constatará

que era um vale profundo, a pique, mergulhado nos abismos. Mas veio o Senhor Jesus, e enviou o Espírito

Santo em seu lugar; foi então que “os vales foram aplanados”. Foram aplanados com as boas obras e os frutos

do Espírito Santo. A caridade não deixa subsistir em ti vale algum e, se possuíres a paz, a paciência e a

bondade, para além de deixares de ser vale, também começarás a ser montanha de Deus. “As montanhas e as

colinas serão abaixadas”. Nestas montanhas e nestas colinas abaixadas, podemos ver os poderes inimigos que

se erguiam contra os homens. Com efeito, para que os vales de que falamos sejam aplanados, os poderes

inimigos, as montanhas e as colinas, terão de ser abaixados.

Mas vejamos se a profecia seguinte, que diz respeito ao advento de Cristo, se realizou. Com efeito, o texto diz

em seguida: “E todos os caminhos tortuosos serão endireitados”. Todos nós éramos tortuosos – pelo menos se

estivermos a falar do que éramos e não daquilo que somos hoje – e a vinda de Cristo que se realizou na nossa

alma endireitou tudo quanto era tortuoso. Rezemos para que o seu advento se realize todos os dias em nós, e

para que possamos dizer: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 20).

Comentário feito por:

Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo

Homilias sobre São Lucas 22, 4 (a partir da trad. SC 87, p. 303 rev.)

«Preparai o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas»

João baptista dizia: «Toda a ravina será preenchida» (Lc 3,5), mas não foi ele quem preencheu todos os vales,

foi o Senhor, nosso Salvador. «E os caminhos tortuosos ficarão direitos». Cada um de nós era tortuoso e foi a

vinda de Cristo, realizada na nossa alma, que endireitou tudo o que o era. Nada havia de mais irremediável do

que vós. Considerai os desejos desregrados de outrora, o vosso arrebatamento e todas as outras más

inclinações, e vede se desapareceram de vez – compreendereis que nada havia de mais impraticável do que

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vós ou até, para usar uma expressão mais forte, de mais tosco. A vossa conduta era tosca, assim como as

vossas palavras e obras.

Mas o Senhor, o meu Jesus, veio aplainar as vossas rugosidades e transformar todo esse caos numa estrada

plana para fazer de vós um caminho sem sobressaltos, perfeitamente liso e todo cuidado, para que Deus Pai

possa andar em vós e Cristo Senhor possa em vós morar e dizer: «O Meu Pai e Eu viremos a ele e nele

faremos morada» (Jo 14, 23).

Comentário feito por:

São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e Doutor da Igreja

Sobre Isaías, III, 3 (a partir da trad. Sr Isabelle de la Source, Lire la Bible, t. 6, p. 99)

«Preparai o caminho do Senhor»

«O deserto e a terra árida alegrar-se-ão, a terra desolada exultará e florescerá» (Is 35, 1). Aquela a quem a

Escritura inspirada chama em geral desértica e estéril é a Igreja vinda dos pagãos. Ela já existia entre os

povos, mas não tinha recebido do céu o seu Esposo místico, quer dizer, o Cristo. Mas Cristo veio a ela: foi

cativado pela sua fé, enriqueceu-a com o rio divino que jorra Dele, e jorra porque Ele é «fonte de vida,

torrente de delícias» (Sl 35, 10.9). Assim que Ele Se tornou presente, a Igreja deixou de ser estéril e deserta;

ela encontrou o seu Esposo, trouxe ao mundo inumeráveis filhos, cobriu-se de flores místicas. Isaías continua:

«O deserto será atravessado por um caminho puro, que se chamará Caminho Sagrado» (Is 35, 8). O caminho

puro é a força do Evangelho, penetrando a vida, ou, dizendo de outro modo, é a purificação do Espírito.

Porque o Espírito retira a mancha imprimida na alma humana, liberta-a dos pecados e destrói qualquer nódoa.

Este caminho é, pois, justamente chamado santo e puro; ele é inacessível a quem não está purificado. Com

efeito, ninguém pode viver segundo o Evangelho se não foi primeiro purificado pelo santo batismo; portanto,

ninguém o pode sem a fé. Só os que foram libertados da tirania do demônio poderão ter a vida gloriosa que o

profeta ilustra com estas imagens: «Aí não haverá leões, nem animal feroz por aí passará» (Is 35, 9), por esse

caminho puro. Anteriormente, com efeito, como um animal feroz, o diabo, esse inventor do pecado, atacava,

com os espíritos maus, os habitantes da terra. Mas foi reduzido por Cristo ao puro nada, afastado para longe

do rebanho dos crentes, despojado do domínio que exercia sobre eles. É por isso que, resgatados por Cristo e

reunidos na fé, eles caminharão num só coração por este caminho puro (v. 9). Abandonando os seus antigos

caminhos, «chegarão a Sião», quer dizer, à Igreja, «com uma alegria que não terá fim» (v. 10) nem na terra,

nem nos céus, e darão glória a Deus, seu Salvador.

Lc.3,10-18 – DDPP(Ex) - p.1350 10. Perguntava-lhe a multidão: Que devemos fazer?

11. Ele respondia: Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem; e quem tem o que comer, faça o mesmo.

12. Também publicanos vieram para ser batizados, e perguntaram-lhe: Mestre, que devemos fazer?

13. Ele lhes respondeu: Não exijais mais do que vos foi ordenado.

14. Do mesmo modo, os soldados lhe perguntavam: E nós, que devemos fazer? Respondeu-lhes: Não pratiqueis violência nem

defraudeis a ninguém, e contentai-vos com o vosso soldo.

15. Ora, como o povo estivesse na expectativa, e como todos perguntassem em seus corações se talvez João fosse o Cristo,

16. ele tomou a palavra, dizendo a todos: Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou

digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo.

17. Ele tem a pá na mão e limpará a sua eira, e recolherá o trigo ao seu celeiro, mas queimará as palhas num fogo inextinguível.

18. É assim que ele anunciava ao povo a boa nova, e dirigia-lhe ainda muitas outras exortações.

- João Batista exorta o povo se fortalecer, ter ânimo, a se converter a deixar-se conduzir .

Comentário ao feito por

São Máximo de Turim (?-c. 420), bispo

Sermão 88 (a partir da trad. Année en Fêtes, Migne 2000, p. 37)

«Vai chegar alguém mais forte do que eu«

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João não falava apenas do seu tempo quando anunciou o Senhor aos fariseus, dizendo: «Preparai os caminhos

do Senhor, endireitai as Suas veredas» (Mt 3, 3). João brada hoje em nós, e o trovão da sua voz abala o

deserto dos nossos pecados. Mesmo abafada pelo sono do martírio, a sua voz ressoa ainda, e continua a dizer-

nos: «Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as Suas veredas». João Baptista ordenou, pois, que

preparássemos os caminhos do Senhor. Vejamos que caminho preparou ele para o Salvador. Desde o

princípio, traçou e ordenou na perfeição o caminho para a chegada de Cristo, pois foi em todas as coisas

sóbrio, humilde, contido e virgem. É ao descrever todas estas virtudes que o evangelista afirma: «João trazia

um trajo de pêlos de camelo e um cinto de couro à volta da cintura; alimentava-se de gafanhotos e mel

silvestre» (Mt 3, 4). Que sinal maior de humildade pode haver num profeta do que o desprezo pelas vestes

elegantes, em troca de pêlos rugosos? Que mais profundo sinal de fé pode haver do que estar sempre pronto,

de rins cingidos, para desempenhar todas as tarefas servis? Que marca de abstinência mais notável pode haver,

do que a renúncia às delícias desta vida, para se alimentar de gafanhotos e mel silvestre?Todos estes

comportamentos do profeta eram, a meu ver, proféticos em si mesmos. Que o mensageiro de Cristo se vestisse

de pêlos de camelo significava, muito simplesmente, que Cristo, ao vir a este mundo, Se revestiria do nosso

corpo humano, deste tecido grosso, enrugado pelos nossos pecados. O cinto de couro significa que a nossa

frágil carne, orientada para o vício antes da vinda de Cristo, seria por Ele conduzida à virtude.

Lc.6,20-26 - DDPP(C) – p.1354- dom da palavra de profecia de consolação 20.Então ele ergueu os olhos para os seus discípulos e disse: Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o Reino de

Deus!

21.Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis fartos! Bem-aventurados vós que agora chorais, porque vos

alegrareis!

22.Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos ultrajarem, e quando repelirem o vosso nome como

infame por causa do Filho do Homem!

23.Alegrai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu. Era assim que os pais deles tratavam os profetas.

24.Mas ai de vós, ricos, porque tendes a vossa consolação!

25.Ai de vós, que estais fartos, porque vireis a ter fome! Ai de vós, que agora rides, porque gemereis e chorareis!

26.Ai de vós, quando vos louvarem os homens, porque assim faziam os pais deles aos falsos profetas!

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja

Carta a Proba sobre a oração, 9-10

“Passou a noite em oração a Deus”- (v.12)

Diz o apóstolo Paulo: “Apresentai os vossos pedidos diante de Deus” (Fl.4, 6); o que não significa que os

damos a conhecer a Deus, que os conhecia ainda antes de eles existirem; mas que é pela paciência e pela

perseverança diante de Deus, e não pela conversa diante dos homens, que saberemos se as nossas orações são

válidas. Não é, pois, nem proibido, nem inútil rezar durante muito tempo, quanto tal é possível, isto é, quando

tal não impede a realização de outras ocupações, boas e necessárias; aliás, ao realizar estas ocupações,

devemos continuar a rezar por desejo, como já expliquei.

Porque não é por rezarmos durante muito tempo que estamos a fazer, como pensam alguns, uma oração de

repetição (Mt 6, 7). Uma coisa é falar abundantemente, outra coisa é amar longamente. Porque está escrito que

o próprio Senhor “passou a noite em oração” e que “pôs-Se a orar mais instântemente” (Lc 22, 44). Não terá

querido dar-nos o exemplo, ao rezar por nós no tempo, Ele que, na eternidade, acolhe favoravelmente as

nossas orações juntamente com o Pai?Dizem que os monges do Egito fazem orações freqüentes, mas muito

curtas, lançadas como setas, para evitar que, prolongando-se excessivamente, a atenção vigilante necessária a

quem reza se disperse e se dissipe. A oração não deve comportar muitas palavras, mas muita súplica; desse

modo, poderá prolongar-se numa atenção fervorosa. Rezar muito é bater durante muito tempo e com todo o

coração à porta daquele a quem rezamos (Lc.11,5ss.). Com efeito, a oração consiste mais em gemidos e

lágrimas do que em discursos e palavras.

Comentário feito por:

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Leão XIII, papa de 1878 a 1903

Encíclica Rerum novarum, 13

"Felizes vós, os pobres" – (v.20)

Os deserdados da fortuna aprendem da Igreja que, segundo o juízo do próprio Deus, a pobreza não é um

opróbrio e que não se deve corar por ter de ganhar o pão com o suor do seu rosto. É o que Jesus Cristo Nosso

Senhor confirmou com o Seu exemplo. Ele, que «de muito rico que era, Se fez indigente» (2Co 8,9) para a

salvação dos homens; que, Filho de Deus e Deus Ele mesmo, quis passar aos olhos do mundo por filho dum

artesão; que chegou até a consumir uma grande parte da Sua vida em trabalho marceneiro: «Não é Ele o

carpinteiro, o Filho de Maria?» (Mc 6,3). Quem tiver na sua frente o modelo divino, compreenderá mais

facilmente o que Nós vamos dizer: que a verdadeira dignidade do homem e a sua excelência reside nos seus

costumes, isto é, na sua virtude; que a virtude é o patrimônio comum dos mortais, ao alcance de todos, dos

pequenos e dos grandes, dos pobres e dos ricos; só a virtude e os méritos, seja qual for a pessoa em quem se

encontrem, obterão a recompensa da eterna felicidade. Mais ainda: é para as classes desafortunadas que o

coração de Deus parece inclinar-se mais. Jesus Cristo chama aos pobres bem-aventurados: convida com amor

a virem a Ele, a fim de consolar a todos os que sofrem e que choram(Mt 11,28); abraça com caridade mais

terna os pequenos e os oprimidos. Estas doutrinas foram, sem dúvida alguma, feitas para humilhar a alma

altiva do rico e torná-lo mais condescendente, para reanimar a coragem daqueles que sofrem e inspirar-lhes

resignação. Com elas se acharia diminuído um abismo causado pelo orgulho, e se obteria sem dificuldade que

as duas classes se dessem as mãos e as vontades se unissem na mesma amizade.

Comentário feito por:

Paul VI, papa de 1963-1978

Exortação apostólica sobre a alegria cristã «Gaudete in Domino» (© copyright Libreria Editrice Vaticana)

«Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus»

A alegria de estar no amor de Deus começa já aqui em baixo. É a alegria do Reino de Deus. Mas ela é

concedida num caminho escarpado, que exige uma confiança total no Pai e no Filho e uma preferência dada

ao Reino. A mensagem de Jesus promete sobretudo a alegria, esta alegria exigente; não é verdade que começa

pelas bem-aventuranças? «Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino dos Céus. Felizes vós, os que agora

tendes fome porque sereis saciados. Felizes vós, os que agora chorais porque haveis de rir» .Para arrancar do

coração do homem o pecado da presunção e manifestar ao Pai uma total obediência filial, o próprio Cristo

aceita misteriosamente morrer pela mão dos ímpios, morrer numa cruz. Mas doravante, Jesus vive para

sempre na glória do Pai e foi por isso que os discípulos sentiram uma alegria imensa na tarde de Páscoa (Lc

24, 41).Acontece que, aqui em baixo, a alegria do Reino realizado só pode brotar da celebração conjunta da

morte e da ressurreição do Senhor. É o paradoxo da condição cristã, que singularmente clarifica o paradoxo da

condição humana: nem a provação nem o sofrimento são eliminados deste mundo, mas tomam um sentido

novo na certeza de participar na redenção operada pelo Senhor e de partilhar da Sua glória. É por isso que o

cristão, submetido às dificuldades da existência comum, não está no entanto reduzido a procurar o seu

caminho tateando, nem a ver na morte o fim das suas esperanças. Com efeito, e como anunciava o profeta: «O

povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz e sobre os habitantes do país sombrio uma luz

resplandeceu. Multiplicaste o seu júbilo, fizeste brotar a sua alegria» . (Is.9,1-2).

(Lc.6,27-38) – DDPP(C) – pg.1354 - Sermão da Montanha 27.Digo-vos a vós que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam,

28.abençoai os que vos maldizem e orai pelos que vos injuriam.

29.Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. E ao que te tirar a capa, não impeças de levar também a túnica.

30.Dá a todo o que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho reclames.

31.O que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles.

32.Se amais os que vos amam, que recompensa mereceis? Também os pecadores amam aqueles que os amam.

33.E se fazeis bem aos que vos fazem bem, que recompensa mereceis? Pois o mesmo fazem também os pecadores.

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34.Se emprestais àqueles de quem esperais receber, que recompensa mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores,

para receberem outro tanto.

35.Pelo contrário, amai os vossos inimigos, fazei bem e emprestai, sem daí esperar nada. E grande será a vossa recompensa e sereis

filhos do Altíssimo, porque ele é bom para com os ingratos e maus.

36.Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.

37.Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados;

38.dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada e transbordante, porque, com a mesma medida com

que medirdes, sereis medidos vós também.

- No sermão da montanha Jesus reacende a esperança, infunde a coragem, restitui a alegria no coração.

Comentário feito por:

Santo Isaac, o Sírio (séc. VII), monge em Nínive, perto de Mossul, no actual Iraque

Discursos ascéticos, 1ª série, n.º 81

«Sede misericordiosos como misericordioso é vosso Pai»- (v.36)

Não procures distinguir o homem digno do que não o é. Que a teus olhos todos os homens sejam iguais para

os amares e os servires da mesma forma. Poderás assim levá-los a todos ao bem. Não partilhou o Senhor a

mesa dos publicanos e das mulheres de má vida, sem afastar de Si os indignos? Do mesmo modo, concederás

tu benefícios iguais e honras iguais ao infiel, ao assassino, tanto mais que também ele é teu irmão, pois

participa da única natureza humana. Aqui está, meu filho, um mandamento que te dou: que a misericórdia

pese sempre mais na tua balança, até ao momento em que sentires em ti a misericórdia que Deus tem para com

o Mundo. Quando percebe o homem que atingiu a pureza do coração? Quando considerar que todos os

homens são bons, e nem um lhe apareça impuro e maculado. Então, em verdade ele é puro de coração (Mt

5,8).

O que é esta pureza? Em poucas palavras, é a misericórdia do coração para com o universo inteiro. E o que é a

misericórdia do coração? É a chama que o inflama por toda a criação, pelos homens, pelos pássaros, pelos

animais, pelos demônios, por todo o ser criado. Quando o homem pensa neles, quando os olha, sente os olhos

encherem-se das lágrimas de uma profunda, de uma intensa piedade que lhe aperta o coração, e que o torna

incapaz de ouvir, de ver, de tolerar o erro ou a aflição, mesmo ínfimos, sofridos pelas criaturas. É por isso que

na oração acompanhada por lágrimas devemos sempre pedir tanto pelos seres desprovidos de fala como pelos

inimigos da verdade, como ainda pelos que a maltratam, para que sejam salvos e purificados. No coração do

homem nasce uma compaixão imensa e sem limites, à imagem de Deus.

Comentário feito por:

Youssef Bousnaya (c. 869-979), monge sírio

Vida e doutrina de Rabban Youssef Bousnaya, por Jean Bar Kaldoum

«Sede misericordiosos como misericordioso é vosso Pai» - (v.36)

A misericórdia é a imagem de Deus, e o homem misericordioso é, em verdade, um Deus que habita na terra.

Tal como Deus é misericordioso para com todos, sem fazer distinções, também o homem misericordioso

distribui os seus dons por todos de igual forma.

Meu filho, sê misericordioso e distribui por todos os teus dons, para que possas elevar-te

ao grau da divindade. Não te deixes seduzir por este pensamento que poderás achar atraente: « Mais vale ser

misericordioso para com o que tem fé que para com quem nos é estranho». Não é essa a misericórdia perfeita

que imita a Deus e que distribui os dons por todos, sem inveja, «que igualmente faz o Sol levantar-se sobre os

bons e os maus e a chuva cair sobre os justos e os pecadores» (Mt 5,45) «Deus é amor» (1 Jo 4,8); a sua

essência é amor, e o amor é a sua própria essência. Por amor, o nosso Criador foi levado a produzir a nossa

criação. O homem que possui a caridade é verdadeiramente Deus no meio dos homens.

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Comentário feito por:

São Clemente de Roma, Papa entre os anos 90 e 100, aproximadamente

Carta aos Coríntios, 49-50 (trad. AELF rev.)

«Sede misericordiosos como o vosso Pai»

Quem tem amor em Cristo, cumpra os mandamentos de Cristo. Quem poderá explicar em que consiste o

vínculo do amor de Deus? Quem será capaz de exprimir a grandiosidade de sua beleza? As alturas aonde o

amor nos conduz são indizíveis. O amor une-nos a Deus; ele «cobre uma multidão de pecados» (1Ped 4,8).

Foi no amor que o Senhor nos fez vir até Si. Foi por causa de Seu amor por nós, que Jesus Cristo Nosso

Senhor deu o Seu sangue por nós, segundo o desígnio de Deus, oferecendo a Sua carne pela nossa carne, a Sua

vida pelas nossas vidas.

Vede, caríssimos, como o amor é qualquer coisa de grandioso e admirável; é impossível explicar a sua

perfeição. Quem poderá alcançá-lo, senão aqueles que Deus tornou dignos disso? Rezemos, portanto, e

supliquemos a sua misericórdia, a fim de nos encontramos no amor, sem fazer acepção de pessoas,

irrepreensíveis. Desde Adão até aos nossos dias, todas as gerações desapareceram; mas aqueles que, pela

graça de Deus, se tornaram perfeitos no amor permanecem no lugar dos santos, que se tornarão manifestos

quando Cristo aparecer no seu Reino. Somos felizes, caríssimos, se praticamos os mandamentos de Deus na

concórdia que vem do amor, a fim de que, pelo amor, os nossos pecados sejam perdoados.

Lc.7,24-30 – DDPP(Ex) - p1356 24.Depois que se retiraram os mensageiros de João, ele começou a falar de João ao povo: Que fostes ver no deserto? Um caniço

agitado pelo vento?

25.Mas que fostes ver? Um homem vestido de roupas finas? Mas os que vestem roupas preciosas e vivem no luxo estão nos palácios

dos reis.

26 Mas, enfim, que fostes ver? Um profeta? Sim, digo-vos, e mais do que profeta.

27.Este é aquele de quem está escrito: Eis que envio o meu mensageiro ante a tua face; ele preparará o teu caminho diante

de ti (Ml 3,1).

28.Pois vos digo: entre os nascidos de mulher não há maior que João. Entretanto, o menor no Reino de Deus é maior do que ele.

29.Ouvindo-o todo o povo, e mesmo os publicanos, deram razão a Deus, fazendo-se batizar com o batismo de João.

30.Os fariseus, porém, e os doutores da lei, recusando o seu batismo, frustraram o desígnio de Deus a seu respeito.

-O Senhor exorta a ter ânimo, afugentar temores e angústias citando a profecia de Malaquias profetizando que

o Messias teria um precursor. Para fazer reconhecer este precursor , diz o profeta, que ele será um outro Elias,

com a missão de reconduzir o coração dos pais para aos filhos, para preparar ao Senhor um povo bem

disposto.

Comentário feito por :

Bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saara

Carta ao Padre Jerónimo de 19 de Maio 1898

«Que fostes ver ao deserto?»

É preciso passar pelo deserto e aí permanecer para receber a graça de Deus; é lá que nos esvaziamos, que

extraímos de nós tudo o que não é de Deus e que esvaziamos completamente esta pequena casa da nossa alma

para deixar todo o espaço apenas para Deus. Os judeus passaram pelo deserto, Moisés viveu lá antes de

receber a sua missão, São Paulo e São João Crisóstomo prepararam-se no deserto. É um tempo de graça, é um

período pelo qual toda a alma que quer produzir frutos tem necessariamente de passar. Ela precisa deste

silêncio, deste recolhimento, deste esquecimento de todo o criado, no meio dos quais Deus estabelece o Seu

reino e forma nela o espírito interior: a vida íntima com Deus, a conversa da alma com Deus na fé, na

esperança e na caridade. Mais tarde, a alma produzirá frutos exatamente na medida em que o homem interior

se tiver formado nela (Ef 3, 16). Não se dá o que se não tem e é na solidão, nesta vida apenas e só com Deus,

neste recolhimento profundo da alma que esquece tudo para viver exclusivamente em união com Deus, que

Deus Se dá inteiramente àquele que se dá assim a Ele. Dai-vos inteiramente somente a Ele, e Ele Se dará

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inteiramente a vós. Vede São Paulo, São Bento, São Patrício, São Gregório Magno e tantos outros, quão

longos tempos de recolhimento e de silêncio! Subi mais acima: olhai para São João Baptista, olhai para Nosso

Senhor. Nosso Senhor não tinha necessidade disso, mas quis dar-nos o exemplo.

Lc.9,18-24 – DDPP(Ex) - p.1359 18. Num dia em que ele estava a orar a sós com os discípulos, perguntou-lhes: Quem dizem que eu sou?

19. Responderam-lhe: Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros pensam que ressuscitou algum dos antigos profetas.

20. Perguntou-lhes, então: E vós, quem dizeis que eu sou? Pedro respondeu: O Cristo de Deus.

21. Ordenou-lhes energicamente que não o dissessem a ninguém.

22. Ele acrescentou: É necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos

sacerdotes e pelos escribas. É necessário que seja levado à morte e que ressuscite ao terceiro dia.

23. Em seguida, dirigiu-se a todos: Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me.

24. Porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á.

- O Senhor convida os Apóstolos a se deixar guiar por Ele. Lembra a importância de manter a união entre os

outros e o Senhor.

Comentário feito por:

Catecismo da Igreja Católica, §§ 306-308

«Tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me» - (v.23)

Deus é o Senhor soberano dos Seus planos. Mas, para a realização dos mesmos, serve-Se também do concurso

das criaturas. Isto não é um sinal de fraqueza, mas da grandeza e bondade de Deus onipotente. É que Ele não

só permite às Suas criaturas que existam, mas confere-lhes a dignidade de agirem por si mesmas e de

cooperarem, assim, na realização dos Seus desígnios.Aos homens, Deus concede mesmo poderem participar

livremente na sua Providência, confiando-lhes a responsabilidade de «submeter» a terra e dominá-la (Gn 1,

26-28). Assim lhes concede que sejam causas inteligentes e livres, para completar a obra da criação e

aperfeiçoar a sua harmonia, para o seu bem e o dos seus semelhantes. Cooperadores muitas vezes

inconscientes da vontade divina, os homens podem entrar deliberadamente no plano divino, pelos seus atos e

as suas orações, como também pelos seus sofrimentos. Tornam-se, então, plenamente «colaboradores de

Deus» (1 Co.3, 9; 1Ts 3, 2) e do Seu Reino.Esta é uma verdade inseparável da fé em Deus Criador: Deus age

em toda a ação das Suas criaturas. É Ele a causa primeira, que opera nas e pelas causas-segundas: «É Deus

que produz em nós o querer e o operar, segundo o Seu beneplácito» (Fl.2, 13).

Comentário feito por:

Liturgia oriental

Ofício da Exaltação da Santa Cruz (a partir da trad. Mercenier, La Prière de rite byzantin, rev.)

«Tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me»

Salve, Cruz vivificadora, troféu invencível de piedade, porta do Paraíso, conforto dos crentes, muralha da

Igreja. Foi por ti que a corrupção foi aniquilada, o poder da morte anulado e abolido, e que nós fomos

elevados da terra às coisas celestes. Tu és a arma invencível, o adversário dos demônios, a glória dos mártires,

o verdadeiro ornamento dos santos, a porta da salvação. Salve, Cruz do Senhor, através da qual a humanidade

foi liberta da maldição. Tu és o sinal da verdadeira alegria; quando és elevada, esmagas os nossos inimigos.

Nós te veneramos, tu és o nosso socorro, a força dos reis, a firmeza dos justos, a dignidade dos pecadores.

Salve, cruz preciosa, guia dos cegos, remédio dos doentes, ressurreição de todos os mortos. Tu nos levantaste

quando estávamos caídos no lodo. Foi por ti que se pôs fim à corrupção e que a imortalidade floresceu; foi por

ti que nós, os mortais, fomos divinizados e o demônio foi completamente esmagado. Ó Cristo, nós veneramos

a Tua cruz preciosa com os nossos lábios indignos, nós, que somos pecadores. Nós te cantamos, a Ti que

quiseste deixar-Te pregar nela; e Te pedimos, como o bom ladrão: «Torna-nos dignos do Teu Reino!»

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Comentário feito por:

Beata Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade

Something Beautiful for God (trad. La Joie du don, p. 64 rev.)

«Tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me»

Senhor, que a tua crucifixão e ressurreição nos ensinem a enfrentar as lutas da vida quotidiana e a sofrer aí a

angústia da morte, para que vivamos em maior e mais criativa plenitude. Com humildade e paciência aceitaste

os reveses da vida humana, como os sofrimentos da tua crucifixão. Ajuda-nos a aceitar as dificuldades e as

lutas de cada dia como ocasiões para crescermos e para nos tornarmos semelhantes a Ti. Torna-nos capazes de

as enfrentar com paciência e coragem, com plena confiança na Tua proteção. Faz-nos compreender que só

chegaremos à plenitude da vida pela contínua aniquilação de nós próprios e dos nossos desejos egoístas,

porque só morrendo contigo podemos contigo ressuscitar.

Lc.9,46-45 – DDPP(C) - p.1360 43. Todos ficaram pasmados ante a grandeza de Deus. Como todos se admirassem de tudo o que Jesus fazia, disse ele a seus

discípulos:

44. Gravai nos vossos corações estas palavras: O Filho do Homem há de ser entregue às mãos dos homens!

45. Eles, porém, não entendiam esta palavra e era-lhes obscura, de modo que não alcançaram o seu sentido; e tinham medo de lhe

perguntar a este respeito.

-O Senhor profetiza que vai derramar seu amor sobre seu povo na sua paixão.

Comentário feito por :

São Basílio (c. 330-379), monge e Bispo de Cesareia, na Capadócia, Doutor da Igreja

Homilia sobre a humildade, 5-6 (a partir da trad? Brésard, 2000 ans B, p. 232 rev.)

«O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens»

«Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado» (Mt 23, 12. Imitemos o Senhor, que

desceu do céu até ao mais radical abaixamento, para ser depois exaltado, do último lugar até às alturas que

Lhe convêm. Descubramos tudo aquilo que o Senhor nos ensina para nos conduzir à humildade.Acabado de

nascer, ei-Lo numa gruta, deitado, não num berço, mas numa manjedoura. Na casa de um artesão e de uma

mãe sem recursos, é submisso a Sua mãe e ao esposo desta. Deixou-Se ensinar, ouvindo aqueles dos quais não

tinha a mais pequena precisão, interrogando-os de tal maneira que os deixou espantados com a Sua sabedoria.

Submete-Se a João e o Senhor recebe o batismo das mãos do servo. Nunca opôs resistência aos que O

atacavam, nem recorreu ao Seu poder invencível para se libertar das mãos que O prendiam, antes Se deixou

levar como que impotente, e na medida em que tal Lhe pareceu adequado, concedeu poder sobre Si a um

poder efêmero. Compareceu perante o sumo-sacerdote na qualidade de acusado; levado à presença do

governador, submeteu-Se ao juízo deste, e podendo perfeitamente responder aos caluniadores, sofreu as

calúnias em silêncio. Coberto de escarros por escravos e servos indignos, foi por fim entregue à morte, a uma

morte infamante aos olhos dos homens. E foi assim que decorreu a Sua vida desde o nascimento até ao fim.

Mas, depois de tal abaixamento, fez brilhar a Sua glória.Imitemo-Lo a fim de que, também nós, alcancemos a

glória eterna. -

Lc.11,47-54 – DDPP(Ex)- p.1364 47. Ai de vós, que edificais sepulcros para os profetas que vossos pais mataram.

48. Vós servis assim de testemunhas das obras de vossos pais e as aprovais, porque em verdade eles os mataram, mas vós lhes

edificais os sepulcros.

49. Por isso, também disse a sabedoria de Deus: Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos, mas eles darão a morte a uns e perseguirão a

outros.

50. E assim se pedirá conta a esta geração do sangue de todos os profetas derramado desde a criação do mundo,

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51. desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e o templo. Sim, declaro-vos que se pedirá

conta disso a esta geração!

52. Ai de vós, doutores da lei, que tomastes a chave da ciência, e vós mesmos não entrastes e impedistes aos que vinham para entrar.

53. Depois que Jesus saiu dali, os escribas e fariseus começaram a importuná-lo fortemente e a persegui-lo com muitas perguntas,

54. armando-lhe desta maneira ciladas, e procurando surpreendê-lo nalguma palavra de sua boca.

-Exorta os fariseus e doutores da lei a cumprirem os seus preceitos divinos (mandamentos e deveres

religiosos), mostrando-lhes que Ele é o Pastor que conduz seu povo predileto, que é Deus, Senhor e Redentor.

Comentário feito por:

Do Missal Romano

Impropérios de Sexta-feira Santa

«Começaram a pressioná-Lo fortemente, armando-Lhe ciladas e procurando apanhar-Lhe alguma

palavra para O acusarem»

Meu povo, que te fiz Eu? Em que te contristei? Responde-Me (Mi 6, 3).

Povo desvairado pelo azedume, povo de coração fechado, lembra-te!

O Mestre libertou-te. Ficaria tanto amor sem resposta,

Tanto amor de um Deus crucificado?

Desde a aurora do universo que preparo o teu dia de hoje,

E tu recusas a Vida verdadeira, que podia dar-te uma alegria sem sombra.

Meu povo, responde-Me!

Despedacei as correntes da tua escravidão, fiz soçobrar os teus inimigos;

E tu entregas-Me aos teus adversários e preparas-Me outra Páscoa.

Meu povo, responde-Me!

Tomei parte no teu êxodo e conduzi-te com a nuvem densa;

E tu aprisionas-Me na tua noite e nem sabes para onde se dirige a Minha glória.

Meu povo, responde-Me!

Enviei-te os Meus profetas, que chamaram por ti no exílio;

E tu não queres converter-te, ensurdeces quando te chamo.

Meu povo, responde-Me!

Lc.(11,27-38) – p.1363 – DDPP 27.Enquanto ele assim falava, uma mulher levantou a voz do meio do povo e lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e

os peitos que te amamentaram!

28.Mas Jesus replicou: Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam!

29.Afluía o povo e ele continuou: Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não se lhe dará outro sinal senão o sinal

do profeta Jonas.

30.Pois, como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o Filho do Homem o será para esta geração.

31.A rainha do meio-dia levantar-se-á no dia do juízo para condenar os homens desta geração, porque ela veio dos confins da terra

ouvir a sabedoria de Salomão! Ora, aqui está quem é mais que Salomão.

32.Os ninivitas levantar-se-ão no dia do juízo para condenar os homens desta geração, porque fizeram penitência com a pregação de

Jonas. Ora, aqui está quem é mais do que Jonas.

33.Ninguém acende uma lâmpada e a põe em lugar oculto ou debaixo da amassadeira, mas sobre um candeeiro, para alumiar os que

entram.

34.O olho é a lâmpada do corpo. Se teu olho é são, todo o corpo será bem iluminado; se, porém, estiver em mau estado, o teu corpo

estará em trevas.

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35.Vê, pois, que a luz que está em ti não sejam trevas.

36.Se, pois, todo o teu corpo estiver na luz, sem mistura de trevas, ele será inteiramente iluminado, como sob a brilhante luz de uma

lâmpada.

37.Enquanto Jesus falava, pediu-lhe um fariseu que fosse jantar em sua companhia. Ele entrou e pôs-se à mesa.

38.Admirou-se o fariseu de que ele não se tivesse lavado antes de comer.

- Jesus exorta que Ele é Deus, Senhor e Redentor de seu povo. Anima, fortalece. Afugenta temores e

angústias; exorta-os a terem ânimo, a crer.

Comentário feito por:

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja

Sermão 31 sobre o Cântico dos cânticos

«Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor" (Lc

1,45)

Os homens da antiga aliança viviam sujeitos a um regime de símbolos. Para nós, pela graça de Cristo, presente

na carne, resplandeceu a própria verdade. E contudo, por relação ao mundo futuro, vivemos ainda, de certa

maneira, à sombra da verdade. Escreve o Apóstolo Paulo: «A nossa ciência é imperfeita e a nossa profecia

também é imperfeita» (1 Cor 13, 9); e ainda: «Não que eu tenha já alcançado a meta» (Fil 3, 13). Com efeito,

não podemos deixar de distinguir aquele que caminha pela fé e aquele que se encontra já na visão clara.

Assim, «o justo viverá da fé» (Hab 2, 4; Rom 1, 17), enquanto o bem-aventurado exulta na visão da verdade;

agora, o homem são vive à sombra de Cristo. E é boa, esta sombra da fé, que filtra a luz que cega os nossos

olhos ainda mergulhados nas trevas, e os prepara para suportarem a luz. Com efeito, está escrito que Deus

«purificou os seus corações pela fé» (At.15, 9). A fé não tem, pois, como efeito a extinção da luz, mas a sua

conservação. Tudo aquilo que os anjos contemplam a descoberto é preservado para mim pela luz da fé, que o

faz repousar no seu seio, a fim de o revelar no momento ideal. Não será preferível ela manter oculto aquilo

que ainda não és capaz de captar sem véu?

Aliás, a Mãe do Senhor também vivia na sombra da fé, uma vez que lhe disseram: «Feliz aquela que

acreditou» (Lc 1, 45); e, do corpo de Cristo, recebeu também uma sombra, segundo a mensagem do anjo: «a

força do Altíssimo estenderá sobre ti a Sua sombra» (Lc 1, 35). Esta sombra nada tem, pois, de desprezível,

uma vez que é projetada pela força do Altíssimo. Com efeito, a carne de Cristo tinha um poder que cobriu a

Virgem com a Sua sombra, a fim de que o filtro desse corpo vivificante lhe permitisse suportar a presença

divina, sustentar o brilho da luz inacessível, o que seria impossível a uma mortal. Este poder iludiu todas as

forças adversas; o poder desta sombra expulsou os demônios e protegeu os homens. Poder verdadeiramente

vivificante e sombra verdadeiramente refrescante! Quanto a nós, é à sombra de Cristo que vivemos, pois

caminhamos pela fé e recebemos a vida, sendo alimentados pela Sua carne.

Lc.12,39-48 – DDPP(Ex) - p.1366 39. Sabei, porém, isto: se o senhor soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria sem dúvida e não deixaria forçar a sua casa.

40. Estai, pois, preparados, porque, à hora em que não pensais, virá o Filho do Homem. 41. Disse-lhe Pedro: Senhor, propões esta

parábola só a nós ou também a todos?

42. O Senhor replicou: Qual é o administrador sábio e fiel que o senhor estabelecerá sobre os seus operários para lhes dar a seu

tempo a sua medida de trigo?

43. Feliz daquele servo que o senhor achar procedendo assim, quando vier!

44. Em verdade vos digo: confiar-lhe-á todos os seus bens.

45. Mas, se o tal administrador imaginar consigo: Meu senhor tardará a vir, e começar a espancar os servos e as servas, a comer, a

beber e a embriagar-se,

46. o senhor daquele servo virá no dia em que não o esperar e na hora em que ele não pensar, e o despedirá e o mandará ao destino

dos infiéis.

47. O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes.

48. Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis será açoitado com poucos golpes. Porque, a quem

muito se deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém, dele mais se há de exigir.

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-Exorta a crer,a amar, a esperar, a ter ânimo, a se converter, conduzir-se. Lembra a importância de manter a

união entre os outros e o Senhor.

Comentário feito por:

Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão e Doutor da Igreja

Comentário ao evangelho de Lucas, 7, 134 (a partir da trad. cf. SC 52, pp. 55ss.)

«Todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos ou terras por causa do

Meu nome, receberá cem vezes mais» (Mt.19,29)

«Julgais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão. Porque, daqui por

diante, estarão cinco divididos numa só casa: três contra dois, e dois contra três». Em quase todas as passagens

do Evangelho o sentido espiritual joga um papel importante; mas nesta passagem sobretudo, para não ser

rejeitada pela dureza de uma interpretação simplista, é preciso procurar na trama do sentido a profundidade

espiritual. Como é que Ele próprio disse: «Dou-vos a Minha paz, deixo-vos a Minha paz» (Jo 14, 27), se veio

separar os pais dos filhos, os filhos dos pais, rompendo os laços que os unem? Como pode ser chamado

«maldito o que trata com desprezo seu pai ou sua mãe» (Dt 27, 16), e fervoroso o que o abandona? Se

compreendermos que a religião vem em primeiro lugar e a piedade filial em segundo, compreenderemos que

esta questão se esclarece; com efeito, é preciso fazer passar o humano depois do divino. Porque, se temos

deveres para com os pais, quanto mais para com o Pai dos pais, a quem devemos estar reconhecidos pelos

nossos pais? Ele não diz, portanto, que é preciso renunciar aos que amamos, mas que há que preferir Deus a

todos. Aliás, encontramos noutro livro: «Quem amar pai ou mãe mais do que a Mim não é digno de Mim» (Mt

10, 37). Não te é interdito amares os teus pais, mas preferi-los a Deus. Porque as relações naturais são

benefícios do Senhor, e ninguém deve amar os benefícios recebidos mais do que a Deus, que preserva os

benefícios que dá.

Lc.(12,49-53) – DDPP(Ex) - p.1366 49.Eu vim lançar fogo à terra, e que tenho eu a desejar se ele já está aceso?

50.Mas devo ser batizado num batismo; e quanto anseio até que ele se cumpra!

51.Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas separação.

52.Pois de ora em diante haverá numa mesma casa cinco pessoas divididas, três contra duas, e duas contra três;

53.estarão divididos: o pai contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora, e a

nora contra a sogra.

-Exortação a animar-se, fortalecer-se, afugentar temores e angústias, serenar ânimos. .

Comentário feito por:

Dionísio o Cartuxo (1402-1471), monge

Comentário ao Evangelho de Lucas, 12, 72

«Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou» (Jo 14, 27)

«Pensais que vim trazer a paz ao mundo?» É como se Cristo dissesse: «Não penseis que vim dar aos homens a

paz segundo a carne e segundo este mundo, uma paz sem regras, que lhes permitisse viver em harmonia no

mal, e lhes garantisse a prosperidade neste mundo. Não, digo-vos, não vim trazer uma paz deste gênero, mas a

divisão, uma boa e salutar separação entre os espíritos e mesmo entre os corpos. Assim, porque amam a Deus

e procuram a paz interior, aqueles que acreditam em Mim estarão naturalmente em desacordo com os maus;

separar-se-ão daqueles que tentam desviá-los do progresso espiritual e da pureza do amor divino, ou que se

esforçam por lhes criar dificuldades.»

Assim, pois, a paz espiritual, a paz interior, a paz boa é a tranqüilidade da alma em Deus, e a boa harmonia

segundo a justiça. Foi esta paz que Cristo veio trazer. A paz interior, que tem origem no amor, consiste numa

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alegria inalterável da alma que se encontra em Deus. Chamamos-lhe paz do coração. É ela o começo e um

certo antegosto da paz dos santos que se encontram na pátria, da paz da eternidade

Lc.(13,22-30) –DDPP(Ex) - p.1367 22.Sempre em caminho para Jerusalém, Jesus ia atravessando cidades e aldeias e nelas ensinava.

23.Alguém lhe perguntou: Senhor, são poucos os homens que se salvam? Ele respondeu: 24.Procurai entrar pela porta

estreita; porque, digo-vos, muitos procurarão entrar e não o conseguirão.

25Quando o pai de família tiver entrado e fechado a porta, e vós, de fora, começardes a bater à porta, dizendo: Senhor, Senhor, abre-

nos, ele responderá: Digo-vos que não sei de onde sois.

26.Direis então: Comemos e bebemos contigo e tu ensinaste em nossas praças.

27.Ele, porém, vos dirá: Não sei de onde sois; apartai-vos de mim todos vós que sois malfeitores.

28.Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacó e todos os profetas no Reino de Deus, e vós serdes

lançados para fora.

29.Virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e sentar-se-ão à mesa no Reino de Deus.

30.Há últimos que serão os primeiros, e há primeiros que serão os últimos.

-Exorta-nos a fortalecer, afugentar temores, ter ânimo e coragem, fortalecer, converter-se.

Comentário feito por:

Santo Ireneu de Lyon (c.130 - c.208), bispo, teólogo e mártir

Contra as heresias, V, 32, 2

«Virão do Oriente, do Ocidente, do Norte e do Sul, sentar-se à mesa no Reino de Deus»

A promessa feita anteriormente por Deus a Abraão manteve-se estável. Deus tinha-lhe dito, com efeito:

«Ergue os teus olhos e, do sítio em que estás, contempla o norte, o sul, o oriente e o ocidente. Toda a terra que

estás a ver, dar-ta-ei, a ti e aos teus descendentes, para sempre» (Gn.13,14-15). No entanto, Abraão não

recebeu herança alguma durante a sua vida terrena, «nem mesmo um palmo de terra»; foi sempre um

«estrangeiro e hóspede» de passagem (At.7,5; Gn 23,4) Portanto, se Deus lhe prometeu a herança da terra, e se

não a recebeu durante a sua estadia terrena, terá de recebê-la na posteridade, isto é, com aqueles que temem a

Deus e n'Ele crêem, quando da ressurreição dos justos.

Ora a sua posteridade é a Igreja, que, pelo Senhor, recebe a filiação adotiva em relação a Abraão, como diz

João Baptista: «Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão» (Mt.3,9). Também o apóstolo Paulo diz

na sua Epístola aos Gálatas: «E vós, irmãos, à semelhança de Isaac, sois filhos da promessa» (Gl.4,28). Diz

claramente ainda, na mesma epístola, que os que acreditaram em Cristo recebem, de Cristo, a promessa feita a

Abraão: «Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não se diz: «e às descendências»,

como se de muitas se tratasse; trata-se, sim, de uma só: E à tua descendência, que é Cristo» (Gl.3,16). E, para

confirmar tudo isto, diz ainda «Assim foi com Abraão: teve fé em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de

justiça. Ficai, por isso, a saber: os que dependem da fé é que são filhos de Abraão. E como a Escritura previu

que é pela fé que Deus justifica os gentios, anunciou previamente como evangelho a Abraão: Serão

abençoados em ti todos os povos» (Gl.3,6-8) . Se portanto nem Abraão nem a sua descendência, isto é, todos

os que são justificados na fé, não recebem agora herança alguma na terra, recebê-la-ão no momento da

ressurreição dos justos, porque Deus é verídico e estável em todas as coisas. E é por este motivo que o Senhor

dizia «Felizes os mansos, porque possuirão a terra.» (Mt 5,5).

Lc.(13,31-35) –DDPP(C) - p.1367 31.No mesmo dia chegaram alguns dos fariseus, dizendo a Jesus: Sai e vai-te daqui, porque Herodes te quer matar.

32.Disse-lhes ele: Ide dizer a essa raposa: eis que expulso demônios e faço curas hoje e amanhã; e ao terceiro dia terminarei a minha

vida.

33.É necessário, todavia, que eu caminhe hoje, amanhã e depois de amanhã, porque não é admissível que um profeta morra fora de

Jerusalém.

34.Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os enviados de Deus, quantas vezes quis ajuntar os teus filhos,

como a galinha abriga a sua ninhada debaixo das asas, mas não o quiseste!

35.Eis que vos ficará deserta a vossa casa. Digo-vos, porém, que não me vereis até que venha o dia em que digais: Bendito o que

vem em nome do Senhor!

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-Profecia que consola-nos; recende a esperança; infunde a coragem; restitui a alegria no coração, pois Jesus é

Consolador, Paz Verdadeira.

Comentário feito por:

Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano em Estrasburgo

Sermão 21, 4º para a Ascensão

«Quantas vezes quis juntar os teus filhos como a galinha junta os seus pintainhos e vós não quisestes» - (v.34)

Jerusalém era uma cidade de paz, e foi também uma cidade de tormento, pois Jesus sofreu lá imensamente e

morreu lá muito dolorosamente. É nesta cidade que devemos ser suas testemunhas, e não só em palavras mas

em verdade, através da nossa vida, imitando-o tanto quanto possamos. Muitos homens seriam de boa vontade

as testemunhas de Deus na paz, na condição de tudo correr ao seu jeito. De boa vontade seriam santos, na

condição de nada acharem de amargo nos exercícios e no trabalho da santidade. Gostariam de saborear,

desejar e conhecer as doçuras divinas, sem terem de passar por qualquer contrariedade, pena ou desolação.

Quando lhes surgem fortes tentações, trevas, quando já não têm o sentimento e a consciência de Deus, quando

se sentem abatidos interior e exteriormente, então revoltam-se e não são, como tal, verdadeiras

testemunhas.Todos os homens buscam a paz. Por todo o lado, nas suas obras e de todas as maneiras, procuram

a paz. Ah! Pudéssemos nós libertar-nos dessa busca e procurarmos, nós, a paz, no tormento. Só aí nasce a

verdadeira paz, aquela que permanece e dura... Procuremos a paz na angústia, a alegria na tristeza, a

simplicidade na multiplicidade, a consolação na contrariedade; é assim que nos tornaremos verdadeiras

testemunhas de Deus.

Lc.17,20-25 – DDPP(Ed) – p1372 20. Os fariseus perguntaram um dia a Jesus quando viria o Reino de Deus. Respondeu-lhes: O Reino de Deus não virá de um modo

ostensivo.

21. Nem se dirá: Ei-lo aqui; ou: Ei-lo ali. Pois o Reino de Deus já está no meio de vós.

22. Mais tarde ele explicou aos discípulos: Virão dias em que desejareis ver um só dia o Filho do Homem, e não o vereis.

23. Então vos dirão: Ei-lo aqui; e: Ei-lo ali. Não deveis sair nem os seguir.

24. Pois como o relâmpago, reluzindo numa extremidade do céu, brilha até a outra, assim será com o Filho do Homem no seu dia.

25.É necessário, porém, que primeiro ele sofra muito e seja rejeitado por esta geração.

-Jesus fala da presença Deus junto ao seu povo. Presença que ilumina a comunidade. Ele é o próprio Deus. Dá

segurança na caminhada, certeza de continuidade. Fortalece-nos, abastece-nos e edifica-nos.

Comentário feito por :

Santo Isaac, o Sírio (séc. VII), monge perto de Mossul

Discursos ascéticos, 1.ª série (a partir da trad. DDB 1981 rev.)

«O Reino de Deus está entre vós»

Os demônios temem-no, mas Deus e os anjos desejam o homem que com fervor, dia e noite, procura Deus no

seu coração, e que para longe de si afasta as ofensas do inimigo. O lugar espiritual de um homem assim puro

de alma está no interior de si mesmo: o sol que brilha nele é a luz da Santíssima Trindade; o ar que os seus

pensamentos respiram é o Espírito Santo consolador. E os santos anjos estão com ele. A sua vida, a sua

alegria, o seu júbilo, são Cristo, luz da luz do Pai. Um tal homem rejubila a todas as horas da contemplação da

sua alma, e maravilha-se com a beleza que nela vê, cem vezes mais luminosa que o esplendor do céu. É

Jerusalém. É o «Reino de Deus guardado em nós mesmos», segundo a palavra do Senhor. Esse país é a nuvem

da glória de Deus, onde apenas os corações puros entrarão, para contemplar a face de seu Mestre (Mt 5, 8), e o

entendimento que têm do Senhor será iluminado pelos raios da Sua luz.

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Comentário feito por :

Bem-aventurado John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo

Sermão «The Invisible Word», PPS vol. 4, nº13

«O Reino de Deus está no meio de vós»

É difícil à fé admitir as palavras da Escritura respeitantes às nossas relações com um mundo que nos é

superior?. Esse mundo espiritual está presente, ainda que invisível; ele está no presente e não no futuro, não

distante. Não está acima do céu, não está além do túmulo; está aqui e agora: «O Reino de Deus está entre

nós». É disto que fala São Paulo: «Não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, porque as

visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas» (2Co.4,18). Assim é o Reino escondido de

Deus; e, tal como ele está agora escondido, assim será revelado no momento desejado. Os homens julgam ser

os senhores do mundo e poder fazer dele o que querem. Julgam ser seus proprietários e deter poder sobre o

seu curso. Mas este mundo é habitado pelos humildes de Cristo, que eles desprezam, e pelos Seus anjos, nos

quais não acreditam. No fim serão estes que tomarão posse dele, quando forem manifestados. Agora «todas as

coisas», em aparência, «continuam como eram depois do começo da criação» e os ridicularizadores

perguntam: «Onde está a promessa da Sua vinda?» (2Pd.3,4). Mas, no tempo marcado, haverá uma

«manifestação dos filhos de Deus» e os santos escondidos «resplandecerão como o sol no Reino de seu Pai»

(Rom 8, 19; Mt 13, 43).Quando os anjos apareceram aos pastores, foi uma aparição súbita: «De repente,

juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste» (Lc 2, 13). Anteriormente, a noite era como qualquer

outra noite – os pastores guardavam os seus rebanhos;observavam o curso da noite; as estrelas seguiam o seu

curso; era meia-noite; não pensavam de todo em algo parecido quando o anjo apareceu. Tais são o poder e a

força escondidas nas coisas visíveis. Elas manifestam-se quando Deus quer.

Lc.17,26-27 DDPP(Ex) - p.1372 26. Como ocorreu nos dias de Noé, acontecerá do mesmo modo nos dias do Filho do Homem.

27. Comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Veio o dilúvio e matou a todos.

28. Também do mesmo modo como aconteceu nos dias de Lot. Os homens festejavam, compravam e vendiam, plantavam e

edificavam.

29. No dia em que Lot saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu, que exterminou todos eles.

30. Assim será no dia em que se manifestar o Filho do Homem.

31. Naquele dia, quem estiver no terraço e tiver os seus bens em casa não desça para os tirar; da mesma forma, quem estiver no

campo não torne atrás.

32. Lembrai-vos da mulher de Lot.

33. Todo o que procurar salvar a sua vida, perdê-la-á; mas todo o que a perder, encontrá-la-á.

34. Digo-vos que naquela noite dois estarão numa cama: um será tomado e o outro será deixado;

35. duas mulheres estarão moendo juntas: uma será tomada e a outra será deixada.

36. Dois homens estarão no campo: um será tomado e o outro será deixado.

37. Perguntaram-lhe os discípulos: Onde será isto, Senhor? Respondeu-lhes: Onde estiver o cadáver, ali se reunirão também as

águias.

-Exortação a crer, amar, a esperar, a ter ânimo, converter-se deixar se conduzir pelo Senhor.

Comentário feito por :

São Romano, o Melodista (? – c. 560), compositor de hinos

Hino de Noé, str. 11ss. (a partir da trad. SC 99, pp. 117 ss. rev.)

«Como nos dias de Noé»

O sábio Noé embarcou na arca por ordem de Deus, com os seus filhos e as mulheres destes, ao todo somente

oito almas. Sem parar de gemer, este servo rezava assim: «Não me faças perecer com os pecadores, meu

Salvador, pois vejo já o caos apoderar-se da criação e os elementos estão agitados pelo medo. As nuvens estão

preparadas, o céu está tumultuoso, os anjos acorrem à frente da Tua cólera». Ao ouvir estas palavras, Deus

cerrou a arca e selou-a, enquanto o seu fiel gritava: «Salva todos os homens da cólera pelo amor que nos tens,

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redentor do universo».Do alto do céu, o juiz dá uma ordem; de imediato se abriram as comportas, precipitando

as chuvas, torrentes de água e saraiva de um lado do mundo ao outro; e o medo fez brotar as fontes do abismo,

inundando a terra em todo o lado.Foi este o efeito da cólera de Deus, porque os homens haviam perseverado

no seu endurecimento e não se tinham apressado a gritar-Lhe com fé: «Salva todos os homens da cólera pelo

amor que nos tens, redentor do universo». Em seguida, o coro dos anjos, vendo os homens carnais destruídos,

gritou: «Agora, que os justos possuam toda a extensão da terra!» Porque o Criador gosta de ver aqueles que

fez à Sua imagem (Gn.1,26); foi por isso que pôs os Seus santos de parte para os salvar. Noé solta a pomba e

ela regressa ao fim do dia, trazendo no bico um ramo de oliveira, que anunciava simbolicamente a

misericórdia de Deus. Então Noé sai da arca, como que do túmulo, segundo a ordem que recebera, não como

outrora Adão, que comera de uma árvore que dá a morte, pois Noé produzira um fruto de penitência ao dizer:

«Salva todos os homens da cólera pelo amor que nos tens, redentor do universo».Mortas estão a corrupção e a

iniqüidade; o homem de coração reto triunfa pela sua fé, pois encontrou graça . Então, o justo (Gn 6, 9)

ofereceu ao Senhor um sacrifício sem mancha; o Criador aspirou o seu agradável perfume e declarou:

«Jamais o universo voltará a perecer num dilúvio, mesmo que todos os homens levem uma vida má. Hoje

estabeleço uma aliança irrevogável com eles. Mostro o Meu arco a todos os habitantes da Terra para lhes

servir de sinal, para que todos Me invoquem assim: «Salva todos os homens da cólera pelo amor que nos tens,

redentor do universo».»

Lc.19,41-44 - DDPP(C) – p.1375 - Entrada em Jerusalém. 41.Aproximando-se ainda mais, Jesus contemplou Jerusalém e chorou sobre ela, dizendo

42.Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz!... Mas não, isso está oculto aos teus

olhos.

43.Virão sobre ti dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados;

44.destruir-te-ão a ti e a teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o

tempo em que foste visitada.

- O Senhor derrama seu amor sobre Jerusalém, sobre seu povo cura-lhe as feridas. É Consolador, Paz

Verdadeira, descanso do coração e da alma.

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja

A Cidade de Deus

«Ao ver a cidade, Jesus chorou sobre ela»

Dois amores construíram duas cidades: o amor de si próprio até ao desprezo de Deus fez a cidade terrestre; o

amor de Deus até ao desprezo de si próprio, a cidade celeste. Uma gloria-se a si própria; a outra ao Senhor.

Uma procura a glória que vem dos homens (cf.Jo.5,44); a outra coloca toda a sua glória em Deus, testemunha

da sua consciência. Uma, inflada de vanglória, levanta a cabeça; a outra diz ao seu Deus: «És a minha glória e

Quem me faz levantar a cabeça» (Sl 3,4). Numa, os príncipes são dominados pela paixão de dominar os seus

súbditos ou as nações conquistadas; na outra, todos se fazem servidores do próximo na caridade, os chefes

velando pelo bem dos subordinados e estes obedecendo àqueles. A primeira cidade, na pessoa dos poderosos,

admira a sua força; a outra diz ao seu Deus: «Amar-Te-ei Senhor, Tu que és a minha força».É por isso que, na

primeira cidade, os sábios levam uma vida totalmente humana, não procurando senão o bem dos corpos ou do

espírito ou dos dois ao mesmo tempo: «Pois, tendo conhecido a Deus, não O glorificaram nem Lhe deram

graças, como a Deus é devido. Pelo contrário: tornaram-se vazios nos seus pensamentos e obscureceu-se o seu

coração insensato veneraram as criaturas e prestaram-lhes culto, em vez de o fazerem ao Criador» (Rm 1,21-

25). Na cidade de Deus, pelo contrário, toda a sabedoria do homem se encontra na piedade, pois somente ela

presta ao Deus verdadeiro um culto legítimo e, na sociedade dos santos, tanto os anjos como os homens

esperam como recompensa que «Deus seja tudo em todos» (1Co.15,28).

Comentário feito por:

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Santo Isaac, o Sírio (século VII), monge em Nínive, perto de Mossul

Discurso ascético, 1 ª Série, n º 60

Chorando com Cristo

Não desprezes o pecador, porque todos nós somos culpados. Se por amor a Deus pensas em insurgir-te contra

ele, em vez disso chora por ele. Por que o desprezas? Despreza os seus pecados, e reza por ele, para fazeres

como Cristo, que não Se irritou contra os pecadores, mas rezou por eles (cf Lc 23,34). Não viste como Ele

chorou sobre Jerusalém? Porque também nós, mais do que uma vez, fomos joguetes do demônio. Por que

desprezar alguém que foi, como nós, joguete do diabo que troça de todos nós? Por que desprezas o pecador,

tu, que não passas de um homem? Porque ele não é justo como tu? Mas onde está a tua justiça, uma vez que

não tens amor? Por que não choras por ele? Em vez disso, persegue-lo. É por ignorância que alguns se irritam

contra os outros, eles que acreditam ter o discernimento das obras dos pecadores.

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja

A Cidade de Deus . O pranto de Jesus. (41)

A contemplação da cidade santa de Jerusalém deixou Jesus comovido. Símbolo da presença de Deus no meio

do povo, lugar de peregrinação dos fiéis de todos os cantos do mundo, evocação da longa história de amor do

Senhor por Israel, Jerusalém tornara-se símbolo da obstinação de um povo sem disposição para ouvir os

apelos de conversão que lhe eram dirigidos pelo Messias. O Templo fora transformado em casa de câmbio e

lugar de exploração dos pobres. O culto estava longe de agradar a Deus, por se reduzir à mera exterioridade. O

sacerdócio perdera sua característica própria, para se tornar objeto de disputa. Os peregrinos eram vistos como

meio de enriquecimento de um grupo de aproveitadores. Por isso, o Filho de Deus não reconhecia mais aquela

cidade e o Templo como lugares de habitação de seu Pai. Os vaticínios de Jesus contra a cidade santa seguem

os rumos da antiga pregação profética. Já Miquéias e Jeremias haviam anunciado a destruição de Jerusalém,

por causa da idolatria que nela se instalara. E assim aconteceu, por obra do exército babilônico. Já as palavras

de Jesus seriam realizadas pelas mãos do exército romano. O pranto do Mestre sobre Jerusalém foi um apelo

quase desesperado à conversão. Se ela fosse capaz de compreender que estava sendo visitada pelo mensageiro

da paz, haveria de ser solícita em converter-se. Mas isto estava escondido a seus olhos.

Comentário feito por:

Orígenes (c. 185-253), padre e teólogo

Homilia 38 sobre Lucas, Pg 13, 1896-1898

«Ao ver a cidade, Jesus chorou sobre ela» - (v.41)

Quando o nosso Senhor e Salvador se aproximou de Jerusalém, ao vê-la, chorou sobre ela: «Se neste dia

tivesses conhecido, tu também, O que te pode trazer a paz! Mas isso ficou oculto aos teus olhos. Virão dias

para ti em que os teus inimigos cercar-te-ão de trincheiras»... Talvez alguém diga: «O sentido destas palavras

é claro; de fato, elas realizaram-se em relação a Jerusalém; a armada romana sitiou-a e devastou-a até ao

extermínio, e tempos virão em que não ficará pedra sobre pedra».Não o nego, Jerusalém foi destruída por

causa da sua cegueira, mas coloco a questão: não se referem essas lágrimas à Jerusalém em nós? Porque nós

somos a Jerusalém sobre a qual Jesus chorou, nós que imaginamos ter um olhar tão penetrante. Se, uma vez

instruídos nos mistérios da verdade, após ter recebido a palavra do Evangelho e os ensinamentos da Igreja...,

um de nós peca, ele provocará lamentações e lágrimas, porque não se chora sobre nenhum pagão, mas sobre

aquele que depois de ter feito parte de Jerusalém deixou de estar nela.

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As lágrimas são vertidas sobre a nossa Jerusalém porque, devido aos nossos pecados, «os inimigos vão rodeá-

la», quer dizer, as forças adversas, os espíritos do mal. Eles colocarão trincheiras ao seu redor; sitiá-la-ão, e

«não deixarão pedra sobre pedra». É o que acontece assim que, depois de uma longa abstinência e muitos anos

de castidade, um homem sucumbe, vencido pelas seduções da carne... Eis pois a Jerusalém sobre a qual as

lágrimas são derramadas.

Lc.(21,5-11) – DDPP(C) – p.1377 - A ruína de Jerusalém e o fim dos tempos. 5.Como lhe chamassem a atenção para a construção do templo feito de belas pedras e recamado de ricos donativos, Jesus disse:

6.Dias virão em que destas coisas que vedes não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído.

7.Então o interrogaram: Mestre, quando acontecerá isso? E que sinal haverá para saber-se que isso se vai cumprir?

8.Jesus respondeu: Vede que não sejais enganados. Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu; e ainda: O tempo está próximo.

Não sigais após eles.

9.Quando ouvirdes falar de guerras e de tumultos, não vos assusteis; porque é necessário que isso aconteça primeiro, mas não virá

logo o fim. 10.Disse-lhes também: Levantar-se-ão nação contra nação e reino contra reino.

11.Haverá grandes terremotos por várias partes, fomes e pestes, e aparecerão fenômenos espantosos no céu.

-Mesmo profetizando sobe a destruição de Jerusalém pelos romanos no ano 72, Jesus reacende a esperança e

infunde a coragem no final do (v.9).

Comentário feito por:

São Cirilo de Jerusalém (313-350), bispo de Jerusalém, doutor da Igreja

Catequese batismal 15

“Grandes sinais no céu”- (v.11)

O Senhor virá dos céus sobre as nuvens, Ele que subiu acima das nuvens. Com efeito, Ele próprio o disse:

“Verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu, com grande poder e glória” (Mt 24, 30). Mas qual será

o verdadeiro sinal da Sua vinda, não vá o poder do inimigo ousar simulá-lo a fim de nos perder? “Aparecerá,

então, no céu o sinal do Filho do Homem” (Mt 24, 30). Ora, o sinal verídico e próprio de Cristo é a cruz. O

sinal de uma cruz luminosa precede o rei, designando Aquele que tem primeiro de ser crucificado, a fim de

que, à vista disso, aqueles que O tinham perfurado com os cravos e rodeado de emboscadas batam no peito

(Za.12, 10), dizendo: “Eis Aquele que foi esbofeteado, Aquele a Quem cobriram o rosto de escarros, Aquele

que rodearam de correntes, Aquele que outrora humilharam na cruz.” “Para onde havemos de fugir, a fim de

evitar a Tua cólera?” (Ap.6,16). E, cercados pelos exércitos dos anjos, não poderão fugir para parte

alguma.Para os inimigos da cruz, o sinal será o temor; mas para os amigos dela será a alegria, pois terão

acreditado nela e tê-la-ão pregado, ou terão sofrido por ela. Quem terá então a felicidade de ser considerado

amigo de Cristo? Ele não desdenhará os que O serviram, esse rei glorioso que cerca a guarda dos Seus anjos e

que está sentado no mesmo trono que o Pai. Pois, a fim de que os eleitos não sejam confundidos com os

inimigos, “Ele enviará os Seus anjos com uma trombeta altissonante, para reunir os Seus eleitos desde os

quatro ventos” (Mt 24, 31). Ele que não Se esqueceu Lot no seu isolamento (Gn 19, 15; Lc 17, 28), como

poderia esquecer-Se da multidão dos justos? “Vinde benditos de Meu Pai” (Mt 25, 34), dirá àqueles que forem

transportados nos carros de nuvens, depois de terem sido reunidos pelos anjos

Comentário feito por:

São Cirilo de Jerusalém (313-350), Bispo de Jerusalém e Doutor da Igreja

Catequeses baptismais, nº 15 (a partir da trad.Bouvet, Soleil levant 1961, p. 330 rev.)

«O céu e a terra passarão, mas as Minhas palavras não hão de passar» (Mt 24,35)

Nosso Senhor Jesus Cristo virá dos céus e virá no fim deste mundo, no último dia; porque este mundo terá um

fim, e este mundo criado será renovado. Efetivamente, uma vez que a corrupção, o roubo, o adultério e toda a

espécie de faltas se espalharam sobre a terra e «derramam sangue sobre sangue» (Os 4,2), para que esta

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admirável morada não permaneça cheia de injustiça, este mundo desaparecerá e surgirá outro mais belo.

Escutai o que diz Isaías: «os céus enrolam-se como um pergaminho, os seus exércitos extinguem-se e caem

como folhas mortas de vinha ou de figueira» (Is 34, 4). E o Evangelho diz: «o Sol irá escurecer-se, a Lua não

dará a sua luz, as estrelas cairão do céu» (Mt 24, 29). Não nos aflijamos como se fôssemos os únicos que têm

de morrer: as estrelas também morrerão, mas talvez sejam ressuscitadas. O Senhor enrolará os céus, não para

os destruir, mas para os ressuscitar mais belos. Escutai o que diz o profeta David: «Tu fundaste a terra desde o

princípio e os céus são obra das Tuas mãos. Eles deixarão de existir, mas Tu permanecerás; como um vestido

que se muda, assim eles desaparecem. Mas Tu permaneces sempre o mesmo, os Teus anos não têm fim»

(Sl.101,26-28). Escutai ainda as palavras do Senhor: «O céu e a terra passarão, mas as Minhas palavras não

hão de passar» (Mt 24, 35); é que o peso das coisas criadas não se iguala ao das palavras do meu Senhor

Comentário feito por:

São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e Doutor da Igreja

Sobre Isaias, III, 1 (a partir da trad. Sr Isabelle de la Source, Lire la Bible, t. 6, p. 76)

«Quando estas coisas começarem a acontecer, cobrai ânimo e levantai as vossas cabeças, porque a vossa

libertação está próxima» (Lc 21, 28

«Reduzistes a cidade a um montão de pedras; a cidadela dos orgulhosos está aniquilada, jamais será

reedificada. Por isso um povo forte vos glorifica». (Is 25,2-3). Pertence ao desígnio constante de Deus

onipotente e aos Seus conselhos irrepreensíveis reduzir as «cidadelas» a «montões de pedra», abalá-las desde

os fundamentos, sem esperança de voltarem a erguer-se. «Jamais será reedificada», diz o texto. Estas cidades

destruídas não são, a nosso ver, aquelas que são perceptíveis pelos sentidos, nem são os homens que nelas

vivem. Parece-nos que se trata antes das potências más e hostis, e sobretudo de Satanás, aqui chamado cidade

e «cidadela». Quando o Emanuel apareceu e brilhou neste mundo, a tropa ímpia das potências adversas foi

derrubada, Satanás foi abalado nos seus fundamentos e caiu, enfraquecido para sempre, sem esperança de

voltar a erguer-se, de levantar de novo a cabeça.É por isso que o povo pobre e a cidade dos homens oprimidos

bendirá o Senhor. Israel foi chamado ao conhecimento de Deus pela pedagogia da Lei, foi cumulado de todos

os bens por Deus. Sim, Israel foi salvo e obteve em herança a terra da promessa. Mas a multidão das nações

que estão sob o céu estava privada destes bens espirituais. Quando Cristo apareceu em pessoa e, destruindo a

tirania do demônio, as conduziu a seu Deus e seu Pai, foram enriquecidas com a luz da verdade pela

participação na glória divina, pela grandeza da vida do Evangelho. É por isso que cantam hinos de ações de

graças a Deus Pai: «Vós realizastes os Vossos maravilhosos desígnios» (v. 1), tudo recapitulando em Cristo.

Vós iluminastes aqueles que se encontravam nas trevas (cf. Lc 1, 79), derrubando as potências que dominam o

mundo (cf. Ef 6, 12) como se derrubam cidadelas. «Por isso um povo forte vos glorifica».

Comentário feito por :

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja

Discurso sobre o Salmo 95

"Erguei-vos e levantai a cabeça, porque aproxima-se a vossa redenção"

"Então, todas as árvores da floresta saltarão de alegria diante do Senhor, porque Ele vem para julgar a terra"

(Sl 95,12-13). O Senhor veio uma primeira vez e virá de novo. Veio uma primeira vez "sobre as nuvens" (Mt

26,64) na sua Igreja. Que nuvens o trouxeram? Os apóstolos, os pregadores... Veio uma primeira vez trazido

pelos seus pregadores e encheu toda a terra. Não ponhamos resistência à sua primeira vinda se não queremos

temer a segunda...Que deve pois fazer o cristão? Aproveitar este mundo mas não o servir. Em que consiste

isso? "Possuir como se não se possuisse". É o que diz S. Paulo: "Irmãos, o tempo é breve... Desde já, aqueles

que choram seja como se não chorassem, os que são felizes, como se o não fossem, os que compram, como se

nada possuíssem, os que tiram proveito deste mundo, como se não se aproveitassem dele. Porque este mundo,

tal como o vemos, vai passar. Quereria ver-vos livres de toda a preocupação" (1Co 7,29-32). Quem está livre

de toda a preocupação espera com segurança a vinda do seu Senhor. Será que se ama o Senhor quando se

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receia a sua vinda? Meus irmãos, não nos envergonhamos disso? Amamo-lo e receamos a sua vinda? Amamo-

lo verdadeiramente ou amamos mais os nossos pecados? Odiemos então os nossos pecados e amemos Aquele

que virá..."Todas as árvores da floresta rejubilarão à vista do Senhor", porque Ele veio uma primeira vez...

Veio uma primeira vez e regressará para julgar a terra; então encontrará cheios de alegria os que tiverem

acreditado na sua primeira vinda.

Lc.21,12-19 – DDPP(C) - p.1377- dom da palavra de profecia de consolação 12. Mas, antes de tudo isso, vos lançarão as mãos e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-vos à

presença dos reis e dos governadores, por causa de mim.13. Isto vos acontecerá para que vos sirva de testemunho.

14. Gravai bem no vosso espírito de não preparar vossa defesa,

15. porque eu vos darei uma palavra cheia de sabedoria, à qual não poderão resistir nem contradizer os vossos adversários.

16. Sereis entregues até por vossos pais, vossos irmãos, vossos parentes e vossos amigos, e matarão muitos de vós.

17. Sereis odiados por todos por causa do meu nome.

18. Entretanto, não se perderá um só cabelo da vossa cabeça.

19. É pela vossa constância que alcançareis a vossa salvação.

20. Quando virdes que Jerusalém foi sitiada por exércitos, então sabereis que está próxima a sua ruína.

21. Os que então se acharem na Judéia fujam para os montes; os que estiverem dentro da cidade retirem-se; os que estiverem nos

campos não entrem na cidade.

Comentário feito por:

Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão e Doutor da Igreja

Comentário ao Evangelho segundo São Lucas X, 6-8 (SC 52, pp. 158 ss., rev.)

A vinda de Cristo

«Não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído». Estas palavras diziam respeito ao Templo edificado por

Salomão, uma vez que tudo o que é construído pelas nossas mãos sucumbe ao desgaste ou à deterioração e

está sujeito a ser derrubado pela violência ou destruído pelo fogo. Mas dentro de nós também existe um

templo que se desmorona se a fé faltar, em particular se em nome de Cristo procurarmos em vão apoderar-nos

de certezas interiores, e talvez seja esta interpretação a mais útil para nós. Com efeito, de que servirá saber o

dia do Juízo? De que me servirá, tendo consciência de todos os meus pecados, saber que o Senhor virá um dia,

se Ele não vier à minha alma, não crescer no meu espírito, se Cristo não vier a mim, se Cristo não falar em

mim? É a mim que Cristo deve vir, e é em mim que deve realizar-se a Sua vinda.

Ora, a segunda vinda de Cristo terá lugar no nadir do mundo, quando pudermos dizer que «o mundo está

crucificado para mim, e eu para o mundo» (Gl.6, 14). Para quem lhe morreu o mundo, Cristo é eterno; para

esse, o Templo é espiritual, a Lei espiritual, a própria Páscoa espiritual. Então, para esse, realiza-se a presença

da sabedoria, a presença da virtude e da justiça, a presença da redenção, porque Cristo na verdade morreu uma

só vez pelos pecados de todos a fim de resgatar todos os dias os pecados de todos.

Comentário feito por:

Constituições Apostólicas (380), recolha canônica e litúrgica

Recuperação da Didascália dos Apóstolos, texto dos começos do séc. III

“Nem um cabelo da vossa cabeça se perderá”- (v.18)

Se formos chamados ao martírio, teremos de confessar com constância o precioso Nome, e se formos punidos

por isso, alegremo-nos porque corremos para a imortalidade. Se formos perseguidos, não nos entristeçamos

nem nos apeguemos ao mundo presente, nem aos “louvores dos homens” (Rom 2, 29), nem à glória dos

príncipes, como fazem alguns. Esses admiravam as ações do Senhor, mas não acreditavam Nele, por temor

dos grandes sacerdotes e de outros dirigentes, porque “amavam mais a glória dos homens do que a glória de

Deus” (Jo 12, 43). Fazendo “solene profissão” da fé (1Tm.6,12), nós garantimos a nossa salvação, firmamos

na fé os novos batizados e consolidamos a fé dos catecúmenos. Que aquele que for julgado digno do martírio

se alegre, pois, por imitar o mestre, uma vez que foi prescrito: “o discípulo bem formado será como o mestre”

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(Lc 6, 40). Ora, o nosso mestre, Jesus, o Senhor, foi açoitado por nossa causa, suportou com paciência

calúnias e ultrajes, foi coberto de escarros, esbofeteado, espancado; tendo sido flagelado, foi pregado na cruz,

deram-Lhe a beber vinagre e fel e, depois de ter cumprido todas as Escrituras, disse a Deus, seu Pai: “Nas

Tuas mãos entrego o Meu espírito” (Lc 23, 46). Quem quiser ser Seu discípulo aspire, pois, a lutar como Ele,

imite a Sua paciência, ciente de que, será recompensado por Deus de tudo quanto sofrer, se acreditar no único

Deus verdadeiro. Porque Deus onipotente há de ressuscitar-nos por Nosso Senhor Jesus Cristo, de acordo com

a Sua infalível promessa, com todos aqueles que morreram desde o princípio. Mesmo que morramos no mar

alto, mesmo que estejamos dispersos pelo mundo, mesmo que sejamos dilacerados por animais ferozes ou

rapaces, Ele há de ressuscitar-nos pelo Seu poder, porque todo o universo está suspenso da mão de Deus:

“Nem um cabelo da vossa cabeça se perderá.”. É por isso que Ele nos exorta dizendo: “Pela vossa

perseverança salvareis as vossas almas.”

Comentário feito por:

São Gregório Magno (c. 540-504), papa e Doutor da Igreja

Comentário moral do livro de Jó.10,47-48; PL 75, 946 (a partir da trad. bréviaire)

«Pela vossa constância é que sereis salvos»

«Aquele que, como eu, é escarnecido pelo seu amigo invocará a Deus e Ele o ouvirá» (Jó.12, 4 Vulg). Sucede

a alma perseverar no bem, e contudo sofrer a troça dos homens. Agir de modo admirável e receber injúrias.

Então, aquele que os elogios poderiam ter atraído exteriormente, repelido pelas afrontas, entra em si próprio.

Fortalece-se em Deus tanto mais solidamente, quanto não encontra no exterior nada onde possa descansar. Põe

toda a sua esperança no seu Criador e, no meio das troças ultrajantes, só implora o testemunho interior. A

alma do homem afligido aproxima-se de Deus tanto mais quanto é abandonada pelo favor dos homens. Cai

imediatamente em oração, e sob a opressão vinda do exterior, purifica-se para apreender as realidades

interiores. É por isso que este texto diz com razão: «Aquele que, como eu, é escarnecido pelo seu amigo,

invocará a Deus e ele o ouvirá ». Quando estes infelizes encontram armas na oração, voltam a cantar

interiormente a bondade divina: esta dá-lhes satisfação, porque, exteriormente, estão privados dos elogios dos

homens. «Zomba-se da simplicidade do justo» (Jó.12,4). A sabedoria deste mundo consiste em camuflar o

coração debaixo de artifícios, em encobrir o pensamento com as palavras, em apresentar como verdadeiro o

que é falso, em provar a falsidade do que é verdadeiro. Pelo contrário, a sabedoria dos justos consiste em nada

inventar para se valorizar, em transmitir o pensamento com as palavras, em amar a verdade como ela é, em

fugir da falsidade, em fazer o bem gratuitamente, em preferir suportar o mal do que fazê-lo, em nunca

procurar vingar-se de uma ofensa, em considerar como um benefício um insulto que se recebe por causa da

verdade. Mas é precisamente esta simplicidade dos justos que se torna motivo de troça, porque os sábios deste

mundo julgam que a pureza é uma tolice. Tudo que se faz com integridade, eles consideram-no,

evidentemente, como um absurdo; tudo o que a Verdade aprova na conduta dos homens parece uma tolice à

pretensa sabedoria deste mundo.

Comentário feito por:

Jean Tauler (vers 1300-1361), dominicano em Estrasburgo

Sermão 21, para a Ascensão

"Sereis detestados por causa do meu nome, mas nem um cabelo da vossa cabeça se perderá"

Jesus prometia sempre a paz aos seus discípulos, antes da sua morte e após a sua ressurreição, sempre a paz

(Jo 14,27; Lc 24,36). Os discípulos nunca obtiveram esta paz vinda do exterior mas acolheram a paz na luta e

o amor no sofrimento; e na morte encontraram a vida. E encontraram sempre um jubiloso triunfo quando,

antes dessa morte, os interrogavam, julgavam, condenavam. Eram verdadeiras testemunhas.

Sim, há muitos homens que estão totalmente cheios de mansidão no corpo e na alma, a ponto de estarem

penetrados dela até à medula e até às veias, mas, quando chegam o sofrimento, as trevas, a dispersão interior,

já não sabem para onde ir. Param de repente e daí não lhes vem nada. Quando chegarem os terríveis furacões,

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o deserto interior, a tentação exterior do mundo, da carne ou do Inimigo, aquele que souber passar através

disso encontrará a paz profunda que ninguém lhe poderá arrebatar. Mas quem não tomar este caminho fica

para trás e nunca saboreará a verdadeira paz. Eis quais são as verdadeiras testemunhas de Cristo

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja

Sermão 306

«Pela vossa constância é que sereis salvos»

Queres alcançar a vida onde estarás para sempre liberto do engano? Quem não o quererá? Todos queremos a

vida e a verdade. Mas como o conseguir? Que caminho seguir? É verdade que não chegamos ainda ao termo

da viagem, mas vislumbramo-lo, já, aspiramos à vida e à verdade. Ambas as coisas estão em Cristo. Que

direção tomar, para as alcançarmos? «Eu sou o Caminho», disse Ele. «Eu sou o Caminho, a Verdade e a

Vida» (Jo 14, 6).Eis o que os mártires realmente amaram; eis por que motivos ultrapassaram o amor a bens

presentes e efêmeros. Não vos surpreenda a sua coragem; foi o amor que, neles, venceu o sofrimento;

trilhemos os seus passos, de olhos postos n'Aquele que é o seu e o nosso Chefe; se desejarmos alcançar tão

grande felicidade, não temamos passar por caminhos difíceis. Aquele que no-lo prometeu é verdadeiro; Ele é

fiel, Ele não nos enganaria. Por que temer as duras vias do sofrimento e da tribulação? O próprio Salvador as

sofreu.Responderás: «Mas era Ele, o Salvador !» Lembra-te de que os apóstolos também passaram por esses

caminhos. Dirás: «Eram apóstolos !». Eu sei. Mas não te esqueças de que, depois deles, um grande número de

homens como tu passaram por semelhantes provações; e mulheres, também; e crianças, mesmo meninas muito

pequenas, passaram por tal caminho de provação. Será ainda tão duro, esse caminho afinal já aplanado por

tantos que o percorreram?

Lc.(21,20-28) – DDPP(C)– pg.1377 –Volta do Filho do Homem. 20.Quando virdes que Jerusalém foi sitiada por exércitos, então sabereis que está próxima a sua ruína.

21.Os que então se acharem na Judéia fujam para os montes; os que estiverem dentro da cidade retirem-se; os que estiverem nos

campos não entrem na cidade.

22.Porque estes serão dias de castigo, para que se cumpra tudo o que está escrito.

23.Ai das mulheres que, naqueles dias, estiverem grávidas ou amamentando, pois haverá grande angústia na terra e grande ira contra

o povo.

24.Cairão ao fio de espada e serão levados cativos para todas as nações, e Jerusalém será pisada pelos pagãos, até se completarem os

tempos das nações pagãs.

25.Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra a aflição e a angústia apoderar-se-ão das nações pelo bramido do mar e das

ondas.

26.Os homens definharão de medo, na expectativa dos males que devem sobrevir a toda a terra. As próprias forças dos céus serão

abaladas.

27.Então verão o Filho do Homem vir sobre uma nuvem com grande glória e majestade.

28.Quando começarem a acontecer estas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças; porque se aproxima a vossa

libertação.

- Jesus nesta profecia reacende a esperança; infunde a coragem; restitui a alegria no coração.

Comentário feito por:

S. Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja

2º sermão para a Ascensão

O Filho do homem virá buscar-nos consigo – (v.27)

«Esse Jesus que, ao separar-se de vós, se elevou nos céus voltará um dia da mesma forma como o vistes

subir» (At.1,11). Virá, dizem aqueles anjos, da mesma forma. Virá então para nos buscar num cortejo único e

universal, descerá precedido de todos os anjos e seguido de todos os homens para julgar os vivos e os mortos?

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Sim, é bem certo que Ele virá, mas virá da mesma forma como subiu aos céus e não da forma como desceu da

primeira vez. Na verdade, quando veio outrora para salvar as nossas almas, foi na humildade. Quando vier

para arrancar este cadáver ao sono da morte, para «o tornar semelhante ao Seu corpo glorioso» (Fl.3,21) e

encher de honra este vaso que hoje é tão frágil, Ele mostrar-se-á em todo o Seu esplendor. Então veremos em

todo o Seu poder e majestade aquele que outrora estava escondido sob a fraqueza da nossa carne...

Sendo Deus, Cristo não podia crescer, porque não há nada acima de Deus. E, contudo, Ele achou um meio de

crescer - descendo, vindo encarnar, sofrer, morrer para nos arrancar à morte eterna. «Foi por isso que Deus o

exaltou» (Fl.2,9). Ressuscitou-o, e Ele está sentado à direita de Deus. «Quem se exalta será humilhado; quem

se humilha será exaltado» (Lc 14,11).Feliz, Senhor Jesus, será aquele que só Te tem a Ti por guia! Possamos

nós seguir-Te, nós que somos «o teu povo e as ovelhas do teu pasto» (Sl 78,13), possamos nós ir por Ti, para

Ti, porque és «o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14,6). O caminho pelo exemplo, a verdade pelas Tuas

promessas, a vida porque és Tu a nossa recompensa. «Tu tens palavras de vida eterna e nós sabemos e

acreditamos que Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo» (Jo 6,69; Mt 16,16) e, Tu próprio, Deus, mais alto que

todas as coisas, bendito para sempre!

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja

Discurso sobre o Salmo 95

"Erguei-vos e levantai a cabeça, porque aproxima-se a vossa redenção"

"Então, todas as árvores da floresta saltarão de alegria diante do Senhor, porque Ele vem para julgar a terra"

(Sl 95,12-13). O Senhor veio uma primeira vez e virá de novo. Veio uma primeira vez "sobre as nuvens" (Mt

26,64) na sua Igreja. Que nuvens o trouxeram? Os apóstolos, os pregadores... Veio uma primeira vez trazido

pelos seus pregadores e encheu toda a terra. Não ponhamos resistência à sua primeira vinda se não queremos

temer a segunda... Que deve pois fazer o cristão? Aproveitar este mundo mas não o servir. Em que consiste

isso? "Possuir como se não se possuísse". É o que diz S. Paulo: "Irmãos, o tempo é breve... Desde já, aqueles

que choram seja como se não chorassem, os que são felizes, como se o não fossem, os que compram, como se

nada possuíssem, os que tiram proveito deste mundo, como se não se aproveitassem dele. Porque este mundo,

tal como o vemos, vai passar. Quereria ver-vos livres de toda a preocupação" (1Co.7,29-32). Quem está livre

de toda a preocupação espera com segurança a vinda do seu Senhor. Será que se ama o Senhor quando se

receia a sua vinda? Meus irmãos, não nos envergonhamos disso? Amamo-lo e receamos a sua vinda? Amamo-

lo verdadeiramente ou amamos mais os nossos pecados? Odiemos então os nossos pecados e amemos Aquele

que há de vir..."Todas as árvores da floresta rejubilarão à vista do Senhor", porque Ele veio uma primeira

vez... Veio uma primeira vez e regressará para julgar a terra; então encontrará cheios de alegria os que tiverem

acreditado na sua primeira vinda.

Lc.21,20-28 – DDPP(Ex) – p.1377

Comentário feito por :

Catecismo da Igreja católica §§ 668-671

Cristo voltará na Sua glória

«Cristo morreu e voltou à vida para ser Senhor dos mortos e dos vivos» (Rm.14,9). A ascensão de Cristo aos

Céus significa a Sua participação, em Sua humanidade, no poder e autoridade do próprio Deus. Jesus Cristo é

Senhor: Ele possui todo o poder nos Céus e na Terra. Está «acima de todo o principado, poder, virtude e

soberania», porque o Pai «tudo submeteu a Seus pés» (Ef 1, 20-22). Cristo é o Senhor do cosmos e da história.

N'Ele a história do homem e até a Criação inteira encontram a sua «recapitulação» (Ef.1, 10), o seu

acabamento transcendente.Como Senhor, Cristo é também a cabeça da Igreja, que é o Seu corpo. Elevado aos

Céus e glorificado, tendo assim cumprido plenamente a Sua missão, continua na Terra por meio da Igreja. A

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redenção é a fonte da autoridade que, em virtude do Espírito Santo, Cristo exerce sobre a Igreja. «A Igreja, ou

seja, o Reino de Cristo já presente em mistério», «gérmen e principio deste mesmo Reino na Terra» (LG

3.5).Depois da ascensão, o desígnio de Deus entrou na sua consumação. Estamos já na «última hora» (1 Jo

2,18). Já presente na Sua Igreja, o Reino de Cristo, contudo, ainda não está acabado «em poder e glória» (Lc

21, 27) pela vinda do Rei à terra. Este Reino ainda é atacado pelos poderes do mal, embora estes já fossem

potencialmente vencidos pela Páscoa de Cristo. Até que tudo Lhe tenha sido submetido, «enquanto não se

estabelecem os novos céus e a nova terra, em que habita a justiça, a Igreja peregrina, nos seus sacramentos e

nas suas instituições, que pertencem à presente ordem temporal, leva a imagem passageira deste mundo e vive

no meio das criaturas que gemem e sofrem as dores do parto, esperando a manifestação dos filhos de Deus»

(LG 48). Por este motivo, os cristãos oram, sobretudo na Eucaristia, para que se apresse o regresso de Cristo,

dizendo-Lhe: «Vem, Senhor» (1Co.16,22; Ap.22,17.20).

Comentário feito por:

São João Crisóstomo (c. 325-407), presbítero em Antioquia e posteriormente bispo de Constantinopla, Doutor

da Igreja

Homilia sobre a cruz e o ladrão (a partir da trad. de L'Année en fêtes, Migne 2000, p.282)

«Então, verão o Filho do Homem vir numa nuvem»

Saberás o quanto a cruz é um sinal do Reino? É com esse sinal que Cristo virá, quando da Sua segunda e

gloriosa vinda! Para que possamos avaliar até que ponto a cruz é digna de veneração, Ele fez dela um título de

glória. Sabemos que a Sua primeira vinda se fez em segredo, e essa discrição estava justificada: veio, com

efeito, procurar o que estava morto. Mas essa segunda vinda passar-se-á de maneira diferente. Então aparecerá

a todos e ninguém terá necessidade de perguntar se Cristo está neste lugar ou naquele (Mt 24, 26); não será

preciso perguntarmo-nos se Deus está de fato presente. Mas o que será preciso procurar saber, é se Ele vem

com a cruz .«Assim será a vinda do Filho do Homem, o Sol escurecerá, a Lua não dará a sua luz» (Mt 24,

27.29). A glória da Sua luz será tão grande que diante dela obscurecer-se-ão os astros mais brilhantes. «As

estrelas cairão do céu. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem.». (Mt.24,29-30). Vês bem o poder

do sinal da cruz? «O Sol escurecerá e a Lua não dará a sua luz», e a cruz, pelo contrário, brilhará, bem visível,

para que saibas que o seu esplendor é maior que o do sol e o da lua. Tal como, quando entra o rei numa

cidade, os soldados carregam aos ombros os estandartes reais e os levam à sua frente para assim anunciar a

sua chegada, também assim, quando o Senhor descer do céu, a corte dos anjos e dos arcanjos, carregando esse

sinal aos ombros, nos anunciará a chegada de Cristo, nosso Rei.

Lc.21,29-33 – DDPP(Ex) – p.1377 29.Acrescentou ainda esta comparação: Olhai para a figueira e para as demais árvores.

30.Quando elas lançam os brotos, vós julgais que está perto o verão.

31.Assim também, quando virdes que vão sucedendo estas coisas, sabereis que está perto o Reino de Deus.

32.Em verdade vos declaro: não passará esta geração sem que tudo isto se cumpra.

33.Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.

- Exorta-nos a crer, a esperar, a ter ânimo, a se converter.

Comentário feito por:

Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo

Primeira homilia sobre o salmo 38 (39) (a partir da trad. de SC 411, p. 355)

« Ve-lo-ão está próximo»

«Senhor, dá-me a conhecer o meu fim e o número dos meus dias, para que veja como sou efêmero» [Sl.38

(39),5]. Se me permitisses conhecer o meu fim, diz o salmista, e se me desses a conhecer o número dos meus

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dias, poderia só por isso perceber o que me falta. Ou talvez por estas palavras ele esteja ainda a indicar o

seguinte: que todo o trabalho tem uma meta. Por exemplo, o objetivo de um empreendimento de construção é

fazer uma casa; a finalidade de um estaleiro naval é construir um barco capaz de triunfar sobre as vagas do

mar e suportar as investidas dos ventos; e o objetivo de cada trabalho é qualquer coisa de semelhante para o

qual o próprio trabalho foi criado. Por isso, talvez haja também um certo objetivo na nossa vida e na

existência do mundo inteiro para o qual se faz tudo o que se faz na nossa vida ou para o qual o próprio mundo

foi criado ou subsiste. Também o Apóstolo Paulo se recorda desse objetivo quando diz: «Depois, será o fim:

quando Ele entregar o reino a Deus Pai» (1Cor 15, 24) É certamente necessário que nos apressemos para essa

meta, uma vez que o valor da obra é a razão pela qual fomos criados por Deus.Assim como o nosso organismo

corporal é pequeno e reduzido no momento em que nascemos e no entanto se desenvolve e tende para o limite

do seu tamanho crescendo em idade; assim como também a nossa alma recebe primeiramente uma linguagem

balbuciante, que seguidamente vai ficando mais clara, para chegar finalmente a uma forma de se exprimir

perfeita e correta; também da mesma forma toda a nossa vida começa no presente, decerto balbuciante entre

os homens da terra mas se concluí e chega ao seu auge nos céus, perto de Deus.Por este motivo o profeta

deseja conhecer o fim para que foi criado, porque, olhando para o objetivo, examinando os seus dias e

considerando a sua perfeição, vê o que lhe falta em relação a essa meta para a qual tende. É como se aqueles

que saíram do Egito tivessem dito: «Senhor, dá-me a conhecer o meu fim», que é uma terra boa e uma terra

santa, «e o número dos meus dias» que percorro «para que veja como sou efêmero», quanto ainda me falta

caminhar para chegar à terra santa que me foi prometida.

Lc.(21,34-36) –DDPP(Ex) – pg.1378 - Volta do Filho do Homem. 34.Velai sobre vós mesmos, para que os vossos corações não se tornem pesados com o excesso do comer, com a embriaguez e com

as preocupações da vida; para que aquele dia não vos apanhe de improviso. 35.Como um laço cairá sobre aqueles que habitam a face

de toda a terra.

36.Vigiai, pois, em todo o tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer, e

de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem.

-Exorta-nos ao cumprimento de seus preceito divinos; a fortalecer-nos pela oração e vigilância.

Comentário feito por:

S. Bernardo (1091-1153), monge de Cister e doutor da Igreja

Sermão 86 sobre o Cântico dos Cânticos

“Vigiai e orai continuamente”- ( v.36)

Quem quer orar em paz não terá apenas em consideração o local, mas o tempo. O momento do repouso é o

mais favorável e assim que o sono da noite estabelece um silêncio profundo, a oração faz-se mais livre e mais

pura (Lm.2,19). Com que segurança a oração sobe na noite, quando só Deus é testemunha, com o anjo que a

recebe para a ir apresentar ao altar celeste! Ela é agradável e luminosa, pintada de pudor. Ela é calma,

tranqüila, já que nenhum barulho, nenhum grito a vem interromper. Ela é pura e sincera, quando o pó das

preocupações terrenas não a podem sujar. Não há espectador que possa expô-la à tentação pelos seus elogios

ou adulação.É por isso que o Esposo (do Cântico dos Cânticos) agiu com tanta prudência como pudor assim

que ela escolheu a solidão nocturna do seu quarto para rezar, quer dizer, para procurar o Verbo, porque tudo é

um. Tu rezas mal se ao rezar procuras outra coisa que não o Verbo, a Palavra de Deus, ou e tu não pedes que o

assunto da tua oração seja relativo ao Verbo. Porque tudo está nele: o remédio para as feridas, o socorro nas

tuas necessidades, a melhoria dos teus defeitos, a fonte dos teus progressos, em resumo, tudo o que um

homem pode e deve desejar. Não há nenhuma razão para pedir ao Verbo outra coisa que não seja ele próprio,

pois que ele é todas as coisas. Se, como é necessário, nós pedimos certos bens concretos, e se como devemos,

nós os desejamos pelo Verbo, são ao menos essas coisas em si mesmas que nós pedimos, que aquele que é a

causa da nossa súplica.

Comentário feito por

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Santo Afraate (? – cerca 345), monge e bispo em Ninive, perto de Mossoul no actual Iraque

Exposições, n°4 (a partir da trad. SC 349, p. 316)

«Velai, pois, orando continuamente»

Meu amigo, para agradar a Deus, temos a oração. Acima de tudo, sê assíduo à oração sem a abandonares,

como está escrito, porque Nosso Senhor disse: «Orai sempre sem cessar». Sê assíduo às veladas, afasta de ti a

sonolência, permanece vigilante dia e noite, sem te desencorajares.Vou mostrar-te os modos da oração; com

efeito, temos a petição, a ação de graças e o louvor; a petição, quando se pede misericórdia pelos próprios

pecados; a ação de graças, quando se dá graças ao Pai que está nos céus; e o louvor, quando se O louva pelas

Suas obras. Quando estiveres em perigo, apresenta a petição; quando fores provido de bens, dá graças Àquele

que tos dá; e, quando estiveres de humor alegre, apresenta o louvor.Deves apresentar as tuas orações a Deus

de acordo com as circunstâncias. Ouve o que dizia o próprio David a todo o momento: «No meio da noite

levanto-me para Vos louvar, por causa dos Vossos justos decretos» (Sl.118, 62). E, noutro salmo, diz:

«Louvai o Senhor do alto dos céus, louvai-O nas alturas» (S. 148, 1). E diz ainda: «Bendirei o Senhor em todo

o tempo; o Seu louvor estará sempre nos meus lábios» (Sl 33, 2). Porque não deves rezar de uma só maneira,

mas de acordo com as circunstâncias.E eu, meu amigo, tenho a firme convicção de que tudo o que os homens

pedem com assiduidade, Deus lho concede. Mas aquele que oferece com hipocrisia não é atendido, segundo

aquilo que está escrito: aquele que oferece a oração, vire e revire a sua oferenda, para se certificar de que não

encontra nela algum defeito, e ofereça-a em seguida, pois de outra maneira a sua oferenda ficará em terra (cf

Mt 5, 23-24; Mc 11, 25). E que oferenda é esta, senão a oração? Com efeito, de entre todas as oferendas, a

oração pura é a melhor.

Lc.21,25-28.34-36 - DDPP(Ex) – p.1377.8 25.Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra a aflição e a angústia apoderar-se-ão das nações pelo bramido do mar e das

ondas.

26.Os homens definharão de medo, na expectativa dos males que devem sobrevir a toda a terra. As próprias forças dos céus serão

abaladas.

27.Então verão o Filho do Homem vir sobre uma nuvem com grande glória e majestade.

28.Quando começarem a acontecer estas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças; porque se aproxima a vossa libertação.

34.Velai sobre vós mesmos, para que os vossos corações não se tornem pesados com o excesso do comer, com a embriaguez e com

as preocupações da vida; para que aquele dia não vos apanhe de improviso.

35.Como um laço cairá sobre aqueles que habitam a face de toda a terra.

36.Vigiai, pois, em todo o tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer, e

de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem.

Comentário feito por:

Santo Aelredo de Rievaulx (1110-1167), monge cisterciense

Sermão para o Advento do Senhor (PL 195, 363; PL 184, 818)

«Velai, pois, orando continuamente, para aparecerdes firmes diante do Filho do Homem»

Este tempo do Advento representa as duas vindas do Senhor; em primeiro lugar, a dulcíssima vinda do «mais

belo dos filhos dos homens» (Sl 45 (44), 3), do «Desejado de todos os povos» (Ag.2,8 [Vulgata]), do Filho de

Deus que manifestou ao mundo, na carne, visivelmente, a Sua presença, de há muito esperada e desejada

ardentemente por todos os Patriarcas — a vinda que O trouxe a este mundo para salvar os pecadores. Mas este

tempo relembra-nos também a vinda que aguardamos com uma esperança firme e da qual devemos todos os

dias relembrar-nos com lágrimas: aquela que terá lugar quando o próprio Senhor Se manifestar na Sua glória,

ou seja, no dia do Juízo, quando ele Se manifestar para julgar. A Sua primeira vinda foi conhecida por muito

poucos homens; na segunda, manifestar-Se-á aos justos e aos pecadores como o anuncia o profeta: «E toda a

gente verão a salvação de Deus» (Is.40,5; Lc.3,6). Assim, irmãos caríssimos, sigamos o exemplo dos

Patriarcas, reavivemos o seu desejo e inflamemos as nossas almas com o amor e o anseio de Cristo. Bem

sabeis que a celebração deste tempo foi instituída para renovar em nós este desejo que os antigos tinham pela

vinda do Senhor e para que, seguindo o seu exemplo, possamos nós também suspirar pelo Seu regresso.

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Consideremos todo o bem que o Senhor nos alcançou com a Sua primeira vinda — quanto maiores bens nos

alcançará Ele quando regressar! Com este pensamento teremos ainda maior estima pela Sua vinda passada e

um maior desejo pelo Seu regresso!

Se quisermos a paz quando Ele vier, esforcemo-nos por acolher com fé e amor a Sua vinda passada;

demoremo-nos fielmente nas obras que então nos manifestou e nos ensinou; nutramo-nos, do coração, do

amor de Cristo e, por ele, do Seu desejo, para que, logo que chegue o Senhor, o Desejado de todos os povos,

possamos levantar os olhos para Ele com toda a confiança

Comentário feito por:

Bem-aventurado Jan van Ruusbroec (1293-1381), cónego regular

Les Noces spirituelles, 1 (a partir da trad. Louf, Bellefontaine 1993, p. 39 rev.)

«Então verão o Filho do Homem vir»

«Aí vem o esposo» (Mt.25, 6). Cristo, o nosso esposo, pronuncia esta palavra. Em latim, o termo «venit»

contém em si dois tempos do verbo: o passado e o presente, o que não impede de visar também o futuro. É por

isso que vamos considerar três vindas do nosso esposo, Jesus Cristo.Quando da primeira vinda, Ele fez-Se

homem por causa do homem, por amor. A segunda vinda tem lugar todos os dias, freqüentemente e em muitas

ocasiões, em todos os corações que amam, acompanhada de novas graças e de novas dádivas, consoante a

capacidade de cada um. A terceira vinda é aquela que terá lugar no dia do Juízo ou na hora da morte. O

motivo por que Deus criou os anjos e os homens foi a Sua bondade infinita e a Sua nobreza, uma vez que Ele

quis fazê-lo para que a beatitude e a riqueza que Ele próprio é sejam reveladas às criaturas dotadas de razão e

para que estas possam saboreá-Lo no tempo e usufruí-Lo para lá do tempo, na eternidade.

O motivo por que Deus Se fez homem foi o seu amor imenso e o infortúnio dos homens, pois eles estavam

alterados pela queda do pecado original e eram incapazes de se curarem dele. Mas o motivo por que Cristo

realizou todas as Suas obras na terra não apenas segundo a Sua divindade mas também segundo a Sua

humanidade é quádruplo, a saber: o Seu amor divino que não tem fim; o amor criado, ou caridade, que possuía

na Sua alma graças à união com o Verbo eterno e graças à dádiva perfeita que Seu Pai Lhe fez; o grande

infortúnio em que se encontrava a natureza humana; e, por fim, a honra de Seu Pai. Eis os motivos da vinda de

Cristo, o nosso esposo, e de todas as Suas obras.

Jô.(1,1-18) –DDPP(Ed) - p.1384 - O Verbo Divino 1.No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.

2.Ele estava no princípio junto de Deus.

3.Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.

4.Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens.

5.A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.

6.Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João.

7.Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele.

8.Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.

9.[O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem.

10.Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu.

11.Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.

12.Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus,

13.os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.

14.E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça

e de verdade. 15.João dá testemunho dele, e exclama: Eis aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim é maior do que eu, porque existia

antes de mim.

16.Todos nós recebemos da sua plenitude graça sobre graça.

17.Pois a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.

18.Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou.

“Com efeito, Ele enviou seu Filho, o Verbo eterno que ilumina todos os homens, para que habitasse entre os

homens e lhes expusesse os segredos de Deus”.

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- Nesta atitude amorosa, Deus se revela ao homem desde e através da criação, dos Patriarcas, da escolha de

um povo, dos Reis, dos Juízes, mas de forma especial através dos Profetas, homens escolhidos por Deus para

anunciar ao povo a mensagem de Deus.

-Dentre estes, Deus envia seu próprio Filho, o maior dos Profetas, o profeta por excelência o próprio Verbo do

Pai. (Jô.1,14)

-Assim tudo que Jesus ensinou, exortou, regou, pode ser considerado como profético, pois era a Palavra do Pai

dirigida aos homens como ensinamento para nossa edificação. Em Jesus, a revelação assume caráter integral:

“Aquele que me viu ,viu também o Pai”. (14,9).

Comentário feito por:

Cardeal John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo

PPS, t. 2, n° 3

«E o Verbo fez-se carne» - (v.14)

O Verbo era, desde a origem, o Filho Único de Deus. Antes que os mundos fossem criados, mesmo antes que

o tempo existisse, Ele era, no seio do Pai eterno, Deus de Deus e Luz da Luz, supremamente bendito no

conhecimento que tinha do Pai e no conhecimento que o Pai tinha dele, recebendo dele toda a perfeição

divina, mas sempre um com aquele que o tinha gerado. Tal como se diz no início do Evangelho: «No princípio

era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus»...

Ele teria podido, em verdade, quando o homem caiu, permanecer na glória que tinha junto do Pai. Mas esse

amor insondável que se tinha manifestado na origem da nossa criação, insatisfeito por ver a sua obra

estragada, a fez descer do seio de Seu Pai para cumprir a Sua vontade e reparar o mal de que o pecado era a

causa. Com uma admirável indulgência, veio, já não revestido de poder mas de fraqueza, sob a forma de um

servo, sob a aparência do homem caído que Ele tinha por desígnio erguer. Assim se humilhou, sofrendo todas

as enfermidades da nossa natureza, semelhante à nossa carne pecadora, parecido com o pecador à exceção do

pecado, puro de toda a falta mas sujeito a toda a tentação e, por fim, «obediente até à morte e morte de cruz»

(Fl.2,8)...Assim, o Filho de Deus tornou-se Filho do homem - mortal, mas não pecador; herdeiro das nossas

enfermidades, mas não da nossa falta; rebotalho da antiga raça mas «começo da nova criação de Deus»

(Ap.3,14). Maria, sua mãe, deu uma natureza criada àquele que era o seu Criador. Desta forma, veio a este

mundo, não sobre as nuvens do céu mas nascido cá em baixo, nascido de uma mulher; Ele, filho de Maria, e

ela, mãe de Deus... Ele era verdadeiramente Deus e homem, mas uma só pessoa..., um só Cristo.

Comentário feito por:

Beato Guerric d’Igny (c.1080-1157), abade cisterciense

1º Sermão para a Natividade

«Eis o sinal que vos é dado: um recém-nascido deitado numa manjedoura (Lc.2,12)»

«Um menino nasceu para nós» (Is 9,5). E o Deus de majestade, aniquilando-se a si próprio (Fl.2,7) tornou-se

semelhante ao corpo terrestre dos mortais, nele se assumindo na frágil e tenra idade das crianças. Ó santa e

doce infância, que restitui ao homem a verdadeira inocência! Por ti todos os homens podem voltar a uma beata

infância (Mt 18,3) e ser conforme ao Menino Deus, não pela pequenez dos membros, mas pela humildade do

coração e doçura dos hábitos.Que te sirva de exemplo: Deus, sendo o maior, quis tornar-se no mais humilde

e mais pequeno de todos. Para Ele era ainda bem pouco ficar abaixo dos anjos, ao tomar a condição da

natureza mortal; teve pois de fazer-se menor que os homens, assumindo a idade e a fragilidade de uma

criança. Que o homem pio e humilde a isto preste atenção, e em tal encontre motivo de felicidade. Que o

homem ímpio e orgulhoso a isto preste atenção, e com tal se espante. Vejam o Deus infinito feito menino, um

pequenino que devemos adorar.

Nesta primeira manifestação aos mortais, Deus prefere mostrar-se com os traços de uma pequena criança,

suscitando, nessa aparência, mais amor que temor. E, como vem para salvar e não para julgar, ele demonstra

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assim o que o amor poderá suscitar, remetendo para depois o que poderá inspirar o temor. Aproximemo-nos

portanto com toda a confiança do trono da sua graça (He 4,16), nós que trememos só de pensar nesse trono de

glória. Nada de terrível nem de severo há aqui a temer. Pelo contrário, tudo é bondade e doçura, que nos

inspiram confiança. Não há, em verdade, coisa mais fácil de pacificar que o coração desta criança; Ele

precede-te nas oferendas de paz e de satisfação e é o primeiro a enviar-te mensageiros de paz para te encorajar

à reconciliação, a ti, que és culpado. Basta-te querer, e querer com verdade e de forma perfeita. Ele dar-te-á

não apenas o perdão, mas cumular-te-á de graça. Mais ainda: certo de não ser ganho pequeno ter encontrado a

ovelha perdida, celebrará uma festa com os seus anjos (Lc 15,7).

Comentário feito por:

São Basílio (c. 330-379), monge e bispo de Cesareia na Capadócia, Doutor da Igreja

Homilia sobre o nascimento de Cristo; PG 31, 1471s (trad. Bouchet, Lectionnaire, p. 62)

«Nós contemplamos a Sua glória, a glória que possui como Filho Unigênito do Pai»

«Ao ver a estrela, os magos sentiram uma grande alegria» (Mt 2, 10). Hoje, também nós acolhemos essa

grande alegria nos nossos corações, alegria que os anjos anunciam aos pastores. Adoremos com os magos,

demos glória com os pastores, cantemos com os anjos: «Nasceu-nos um Salvador que é o Messias Senhor; o

Senhor Deus que nos apareceu» Esta festa é comum a toda a criação: as estrelas correm no céu, os magos

chegam dos países pagãos, a terra recebe-a numa gruta. Não há nada que não contribua para esta festa, nada

que não chegue lá com as mãos cheias. Façamos rebentar em nós mesmos um canto de alegria; festejemos a

salvação do mundo, o dia do nascimento da humanidade. Hoje foi abolida a condenação que afligia Adão.

Que nunca mais se diga: «Tu és pó e em pó tornar-te-ás» (Gn 3, 19) mas: «unido àquele que desceu do céu

serás exaltado no céu». «Um menino nasceu-nos, um filho nos foi dado, eterno é o seu poderio» (Is 9, 5). Que

abismo de bondade e de amor para os homens! Une-te, então àqueles que, na alegria, recebem o seu Senhor

que desce do céu e que adoram o Grande Deus neste menino. O poder de Deus manifesta-se neste corpo como

a luz através das janelas, e resplandece aos olhos dos que têm um coração puro (Mt 5, 8). Com eles,

poderemos então, «de rosto descoberto, contemplar, como num espelho, a glória do Senhor, e sermos nós

próprios transfigurados de glória em glória» (2Co.3,18), pela graça de Nosso Senhor Jesus Cristo e pelo Seu

amor pelos homens.

Comentário feito por:

São Basílio (c. 330-379), monge e bispo de Cesareia da Capadócia, Doutor da Igreja

Homilia sobre a santa concepção de Cristo, 2.6; PG 31, 1459s (a partir da trad. Delhougne, Les Pères

commentent, p. 172 rev.)

«Deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus»

Deus na terra, Deus entre os homens! Desta vez, Ele não promulga a Sua Lei no meio dos relâmpagos, ao som

da trombeta, numa montanha fumegante, na obscuridade de uma tempestade aterradora (Ex 19, 16ss.), mas

recria-Se, de forma mansa e pacífica, num corpo humano, com os Seus irmãos de raça. Deus encarnado !

Como pode a divindade viver na carne? Como o fogo subsiste no ferro, não deixando o local onde arde, mas

comunicando-se. Com efeito, o fogo não se lança sobre o ferro mas, permanecendo no seu local, comunica-lhe

o seu poder. Ao fazê-lo, não fica minimamente diminuído, mas preenche plenamente o ferro ao qual se

comunica. Da mesma forma, Deus, o Verbo que «vive no meio de nós», não saiu de Si mesmo: «O Verbo que

Se fez carne» não foi submetido à mudança; o céu não foi despojado d'Aquele que contém, e no entanto a

terra acolhe no seu seio Aquele que está nos céus.

Apreende este mistério: Deus está na carne de forma a destruir a morte que nela se esconde. Quando se

«manifestou a graça de Deus, portadora de salvação para todos os homens» (Tt.2,11), quando «brilhou o sol

de justiça» (Ml.3,20), «a morte foi tragada pela vitória» (1Co.15,54) porque não podia coexistir com a

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verdadeira vida. Ó profundidade da bondade de Deus e do amor de Deus pelos homens! Demos glória com os

pastores, dancemos com os coros dos anjos, porque «hoje nasceu o Salvador que é o Messias Senhor»

(Lc.2,11-12).«O Senhor é Deus; Ele tem-nos iluminado» [Sl.118 (117), 27], não sob a Sua aparência de Deus,

para não assustar a nossa fraqueza, mas sob a forma de um servo, a fim de conferir a liberdade àqueles que

estavam condenados à servidão. Quem teria o coração suficientemente adormecido e indiferente para não

exultar de alegria, para não irradiar felicidade, perante este acontecimento? É uma festa comum a toda a

Criação. Todos devem contribuir para ela, ninguém se deve mostrar ingrato. Elevemos nós também a voz para

cantar o nosso júbilo!

Comentário feito por:

São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, doutor da Igreja

Comentário sobre São João, I, 178ss. (trad. Cerf 2002, t. 1, p. 122)

O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina.

«O que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam acerca

do Verbo da vida, isso vos anunciamos» (1Jo.1,1-3). O Verbo encarnado deu-Se a conhecer aos apóstolos de

duas maneiras: eles reconheceram-No, em primeiro lugar, pela vista, recebendo do próprio Verbo o

conhecimento do Verbo; e, em segundo lugar, pelo ouvido, recebendo do testemunho de João Baptista o

conhecimento do Verbo. Acerca do Verbo, João Evangelista começa por dizer o seguinte: «Nós

contemplamos a sua glória.». Para São João Crisóstomo, estas palavras estão relacionadas com a frase anterior

do evangelho de João: «O Verbo fez-Se homem»; o evangelista pretende dizer que a encarnação nos conferiu,

para além do benefício de nos tornarmos filhos de Deus, o benefício de vermos a Sua glória. Com efeito,

olhos fracos e doentes não são capazes de, por si mesmos, contemplar a luz do sol; mas, quando o sol incide

numa nuvem, ou num corpo opaco, já são capazes de o contemplar. Antes da encarnação do Verbo, os

espíritos humanos eram incapazes de olhar diretamente para a luz que «a todo o homem ilumina». Assim, e

para que não fossem privados da alegria de a verem, a própria luz, o Verbo de Deus, quis revestir-Se de carne,

a fim de que fôssemos capazes de vê-lo.Então, estando os homens «voltados para o lado do deserto, a glória

do Senhor apareceu, de repente, na nuvem» (Ex 16, 10); isto é, o Verbo de Deus encarnou. E Santo Agostinho

observa que, para que pudéssemos ver a Deus, o Verbo sarou os olhos dos homens, fazendo da Sua carne um

colírio salutar. Eis por que motivo, logo após ter dito: «O Verbo fez-Se homem», o evangelista acrescenta: «E

nós contemplamos a sua glória», como que para explicar que, mal se aplicou este colírio, os nossos olhos

ficaram sarados. Era esta glória que Moisés desejava ver e da qual viu apenas uma sombra e um símbolo. Os

apóstolos, pelo contrário viram-na em todo seu esplendor.

Comentário feito por:

Guilherme de Saint-Thierry (c. 1085-1148), monge beneditino, depois cisterciense

A Contemplação de Deus, 10 (a partir da trad. AELF; cf. SC 61, pp. 91ss.)

«O Verbo era a Luz verdadeira, que, vindo ao mundo, a todo o homem ilumina»

Sim, Tu amaste-nos primeiro, para que nós Te amássemos. Tu não necessitas do nosso amor, mas só

poderemos atingir os Teus desígnios amando-Te. Por isso, «muitas vezes e de muitos modos falou Deus aos

nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por

meio do Seu Filho», (Hb.1,1), o Seu Verbo. Foi por Ele que «a palavra do Senhor criou os céus, e o sopro da

Sua boca, todos os astros» (Sl 32, 6). Para Ti, falar através do Teu Filho não é outra coisa que mostrares,

fazeres ver com brilho quanto e como nos amas, dado que não poupaste o Teu próprio Filho, mas O entregaste

por todos nós (Rom 8, 32). E também Ele nos amou e a Si mesmo se entregou por nós (Gal.2,20).Tal é a

Palavra, o Verbo Todo-poderoso que nos diriges, Senhor. Enquanto todos mergulhavam no silêncio, ou seja,

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na profundidade do erro, Ele desceu das moradas reais (Sab 18, 14), para abater duramente o pecado e

enaltecer suavemente o amor. E tudo quanto fez, tudo quanto disse na terra, até os opróbrios, até os escárnios

e as bofetadas, até a cruz e o sepulcro, não eram mais que a Tua palavra pelo Teu Filho, palavra que nos incita

ao amor, palavra que desperta em nós o amor por Ti.Sabias com efeito, Deus, Criador das almas, que as almas

dos filhos dos homens não podem ser forçadas a esta afeição, mas que é necessário provocá-las. Porque, onde

houver constrangimento, não há liberdade; e onde não há liberdade, não há justiça. Quiseste que Te

amássemos, porque em justiça não podíamos ser salvos sem Te amar. E não podíamos amar-Te a menos que o

amor partisse de Ti. Por conseguinte, Senhor, como apóstolo do Teu amor o digo, Tu amaste-nos primeiro

(1Jo 4, 10), e primeiramente amas todos os que Te amam. Mas nós, nós amamos-Te pela afeição de amor que

puseste em nós.

Comentário feito por :

São Máximo de Turim (?-c. 420), bispo

Sermão 10, sobre o Natal do Senhor, PL 57, 24 (a partir da trad. Année en fêtes, Migne 2000, p. 78 rev.)

«Nascido do Pai antes de todos os séculos fez-Se homem e nasceu da Virgem Maria (Credo)

Caríssimos irmãos, há dois nascimentos em Cristo, e tanto um como o outro são a expressão de um poder

divino que nos ultrapassa absolutamente. Por um lado, Deus gera o Seu Filho a partir de Si mesmo; por outro,

Ele é concebido por uma virgem por intervenção de Deus. Por um lado, Ele nasce para criar a vida; por outro,

para eliminar a morte. Ali, nasce de Seu Pai; aqui, é trazido ao mundo pelos homens. Por ter sido gerado pelo

Pai, está na origem do homem; por ter nascido humanamente, liberta o homem. Uma e outra formas de

nascimento são propriamente inexprimíveis e ao mesmo tempo inseparáveis. Quando ensinamos que há dois

nascimentos em Cristo, não queremos com isto dizer que o Filho de Deus nasça duas vezes; mas afirmamos a

dualidade de natureza num só e mesmo Filho de Deus. Por um lado, nasceu Aquele que já existia; por outro,

foi produzido Aquele que ainda não existia. O bem-aventurado evangelista João afirma isto mesmo com as

seguintes palavras: «No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus»; e ainda: «E

o Verbo fez-Se homem».Assim, pois, Deus, que estava junto de Deus, saiu Dele, e a carne de Deus, que não

estava Nele, saiu de uma mulher. Assim, o Verbo fez-Se carne, não de maneira que Deus Se diluísse no

homem, mas para que o homem fosse gloriosamente elevado em Deus. É por isso que Deus não nasce duas

vezes; mas, por estes dois gêneros de nascimentos – a saber, o de Deus e o do homem –, o Filho único do Pai

quis ser, a um tempo, Deus e homem na mesma pessoa: «E quem poderá contar o Seu nascimento?» (Is 53, 8

Vulg)

Jo.(1,6-8;19-28) – DDPP(C) - p.1384 6.Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João.

7.Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele.

8.Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.

19.Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar-lhe: Quem és tu?

20.Ele fez esta declaração que confirmou sem hesitar: Eu não sou o Cristo.

21.Pois, então, quem és?, perguntaram-lhe eles. És tu Elias? Disse ele: Não o sou. És tu o profeta? Ele respondeu: Não.

22.Perguntaram-lhe de novo: Dize-nos, afinal, quem és, para que possamos dar uma resposta aos que nos enviaram. Que dizes de ti

mesmo?

23.Ele respondeu: Eu sou a voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como o disse o profeta Isaías (40,3).

24.Alguns dos emissários eram fariseus.

25.Continuaram a perguntar-lhe: Como, pois, batizas, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? 26.João respondeu: Eu batizo

com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis.

27.Esse é quem vem depois de mim; e eu não sou digno de lhe desatar a correia do calçado.

28.Este diálogo se passou em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando.

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja

Sermões sobre o Evangelho de S. João, nº 2, §5-7 (trad. Bibliothèque augustinienne, t. 71, p.183s rev.)

«Ele veio para dar testemunho da Luz»

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Como é que Cristo veio? Apareceu como homem. Porque Ele era homem quase ao ponto de Deus estar

escondido nele, foi enviado à sua frente um homem notável, para obrigar a reconhecer que Ele, Cristo, era

mais do que um homem... Quem era ele, esse que, assim, devia dar testemunho da Luz? Um ser notável, este

João, um homem de um alto mérito, de uma graça eminente, de uma grande elevação. Admira-o, mas como se

admira uma montanha: a montanha fica nas trevas até que a luz venha envolvê-la: «este homem não era a

Luz». Não tomes a montanha pela luz; não vás quebrar-te contra ela, muito longe de aí encontrares socorro.E

o que devemos, então, admirar? A montanha, mas como montanha. Eleva-te até àquele que ilumina esta

montanha que se ergueu para ser a primeira a receber os raios do sol, a fim de os reenviar para os teus olhos...

Dos nossos olhos se diz também que são luz; e contudo, se não se acender a lâmpada à noite, ou o sol não

nascer durante o dia, os nossos olhos abrem-se em vão. João foi também trevas antes de ser iluminado; só se

tornou luz por essa iluminação. Se não tivesse recebido os raios da Luz, teria ficado nas trevas como os

outros.E a própria luz, onde está ela? « A Luz verdadeira que ilumina cada homem ao vir a este mundo»?

(Jo.1,9). Se ilumina cada homem, iluminava também João, através de quem se queria manifestar... vinha para

inteligências enfermas, para corações feridos, para almas com olhos doentes..., gente incapaz de O ver

diretamente. Ela cobriu João com os seus raios. Proclamando que ele próprio fora iluminado, João deu a

conhecer Aquele que ilumina, Aquele que aclara, Aquele que é a fonte de todos os dons.

(Jo.2,13-22) – DDPP(Ex) – p.1386 13.Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.

14.Encontrou no templo os negociantes de bois, ovelhas e pombas, e mesas dos trocadores de moedas.

15.Fez ele um chicote de cordas, expulsou todos do templo, como também as ovelhas e os bois, espalhou pelo chão o dinheiro dos

trocadores e derrubou as mesas.

16.Disse aos que vendiam as pombas: Tirai isto daqui e não façais da casa de meu Pai uma casa de negociantes.

17.Lembraram-se então os seus discípulos do que está escrito: O zelo da tua casa me consome (Sl 68,10).

18.Perguntaram-lhe os judeus: Que sinal nos apresentas tu, para procederes deste modo? 19.Respondeu-lhes Jesus: Destruí vós

este templo, e eu o reerguerei em três dias.

20.Os judeus replicaram: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu hás de levantá-lo em três dias?!

21.Mas ele falava do templo do seu corpo.

22.Depois que ressurgiu dos mortos, os seus discípulos lembraram-se destas palavras e creram na Escritura e na palavra de Jesus.

-Exorta a crer que Ele é o Pastor que conduz seu provo predileto; que é o seu Deus, Senhor e Redentor.

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja

Sermão sobre o salmo, 130 §§ 1-2

O Corpo de Cristo, Templo Santo

«O Senhor expulsou-os a todos do templo». O Apóstolo Paulo disse: «O templo de Deus é santo, e esse

templo sois vós» (1Co.3,17), quer dizer, todos vós que acreditais em Cristo e que credes ao ponto de O amar.

Todos aqueles que assim crêem são as pedras vivas com as quais se edifica o templo de Deus (1Pe 2, 5); são

como essa madeira imputrescível de que foi construída a arca que o dilúvio não pôde submergir (Gn. 6,14).

Este templo, o povo de Deus, os próprios homens, é o local onde Deus nos concede o que Lhe pedimos.

Àqueles que rezam a Deus fora deste templo não será concedida a paz da Jerusalém do alto, mesmo que lhes

sejam concedidos certos bens materiais que Deus também concede aos pagãos. No entanto, ser atendido no

que diz respeito à vida eterna é uma coisa totalmente diferente; isso não é concedido senão àqueles que oram

no templo do Senhor.Porque aquele que reza no templo de Deus reza na paz da Igreja, na unidade do Corpo de

Cristo, porque o Corpo de Cristo é constituído pela multidão dos crentes distribuídos por toda a terra. E aquele

que reza na paz da Igreja, ora «em espírito e verdade» (Jo.4,23); o Templo antigo era apenas um símbolo.

Com efeito, foi para nos instruir que o Senhor expulsou do Templo estes homens que não procuravam senão o

seu próprio interesse, que só lá se dirigiam para comprar e para vender. Se esse Templo antigo teve de passar

por essa purificação, é evidente que também o Corpo de Cristo, o verdadeiro Templo, tem compradores e

vendedores misturados com aqueles que rezam, quer dizer, homens que só procuram «os próprios interesses,

não os interesses de Jesus Cristo» (Fl.2,21). Tempos virão em que o Senhor expulsará todos os seus pecados.

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Comentário feito por:

Bem-aventurado John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo

PPS, vol 6, n° 19

Festa da dedicação de uma catedral, festa da Igreja

Uma catedral é fruto de um desejo momentâneo ou é algo que se pode realizar pela vontade? Com toda a

certeza, as igrejas que herdamos não resultam apenas da gestão de capitais, nem são uma pura criação do

gênio; são fruto do martírio, de grandes feitos e de sofrimentos. As suas fundações são muito profundas; elas

assentam sobre a pregação dos apóstolos, sobre a confissão da fé dos santos, e sobre as primeiras conquistas

do Evangelho no nosso país. Tudo o que é nobre na sua arquitetura, que cativa os olhos e chega ao coração,

não é um puro resultado da imaginação dos homens, é um dom de Deus, é uma obra espiritual.A cruz assenta

sempre no risco e no sofrimento, é sempre regada com lágrimas e sangue. Em parte alguma cria raízes e dá

fruto se a pregação não for acompanhada de renúncia. Os detentores do poder podem fazer um decreto,

favorecer uma religião, mas não a podem estabelecer, podem apenas impô-la. Só a Igreja pode estabelecer a

Igreja. Só os santos, os homens mortificados, os pregadores da retidão, os confessores da verdade, podem criar

uma verdadeira casa para a verdade.

É por isso que os templos de Deus são também os monumentos dos Seus santos. A sua simplicidade, a sua

grandeza, a sua solidez, a sua graça e a sua beleza não fazem senão recordar a paciência e a pureza, a coragem

e a doçura, a caridade e a fé daqueles que não adoraram a Deus apenas nas montanhas e nos desertos; eles

sofreram, mas não em vão, porque outros herdaram os frutos do seu sofrimento (cf Jo 4, 38). Efetivamente, a

longo prazo a sua palavra deu fruto; fez-se Igreja, esta catedral onde a Palavra vive desde há muito tempo.

Felizes os que entram nesta relação de comunhão com os santos do passado e com a Igreja universal. Felizes

os que, entrando nesta igreja, penetram de coração no céu.

Jo.3,7-15 – DDPP(Ed) – p1387 7.Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo.

8.O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que

nasceu do Espírito.

9.Replicou Nicodemos: Como se pode fazer isso?

10.Disse Jesus: És doutor em Israel e ignoras estas coisas!...

11.Em verdade, em verdade te digo: dizemos o que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas não recebeis o nosso

testemunho.

12.Se vos tenho falado das coisas terrenas e não me credes, como crereis se vos falar das celestiais?

13.Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do Homem que está no céu.

14.Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem,

15.para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna

-Fala da presença do Senhor junto a seu povo. Presença que inunda a comunidade. Fortalece dá segurança,

certeza de continuar perseverante no amor; abastece.

Comentário feito por :

São Basílio (c. 330-379), monge e bispo de Cesareia na Capadócia, Doutor da Igreja

Tratado sobre o Espírito Santo, 14 (trad. Bible chrétienne, A. Sigier 1989, t. 1*, p. 227 rev.)

«A fim de que todo o homem que crê obtenha por Ele a vida eterna» -

A figura é uma forma de expor, por imitação, as coisas que esperamos. Por exemplo, Adão é a prefiguração do

Adão que iria chegar (1Co.15, 45) e o rochedo [no deserto, durante o Êxodo] é figurativamente Cristo; a água

que corre do rochedo é a figura do poder vivificante do Verbo (Ex.17,6; 1Cor 10, 4), porque Ele disse: «Se

alguém tem sede, venha a Mim e beba» (Jo.7,37). O maná é a prefiguração do «pão vivo que desceu do céu»

(Jo 6, 51); e a serpente colocada sobre um poste é a figura da Paixão, da nossa salvação consumada na cruz,

pois os que olhavam para ela eram salvos (Nm.21,9). Do mesmo modo, aquilo que as Escrituras dizem dos

Israelitas que saíram do Egito foi narrado como uma prefiguração dos que são salvos através do batismo; pois

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os primogênitos dos israelitas foram salvos pela graça concedida aos que tinham sido marcados com o sangue

do cordeiro pascal e esse sangue prefigurava o sangue de Cristo. Quanto ao mar e à nuvem (Ex.14), nessa

época conduziam à fé pela admiração; mas para o futuro, figuravam a graça que estava para chegar. «Quem

for sábio compreenderá as coisas!» (Sl.106,43) Compreenderá que o mar, prefigurando o batismo, os separava

do Faraó como o batismo nos faz escapar à tirania do demônio. Outrora o mar sufocou em si o inimigo; hoje

morre a inimizade que nos separava de Deus. Do mar, o povo saiu são e salvo; e nós saímos das águas como

que revivendo de entre os mortos, salvos pela graça d'Aquele que nos chamou. Quanto à nuvem, ela era a

sombra do dom do Espírito, que nos refresca os membros ao apagar a chama das paixões.

Jo.(3,31-36) –DDDD(Ex) – p.1387 - Novo testemunho de João Batista 31.Aquele que vem de cima é superior a todos. Aquele que vem da terra é terreno e fala de coisas terrenas. Aquele que vem do céu é

superior a todos.

32.Ele testemunha as coisas que viu e ouviu, mas ninguém recebe o seu testemunho.

33.Aquele que recebe o seu testemunho confirma que Deus é verdadeiro.

34.Com efeito, aquele que Deus enviou fala a linguagem de Deus, porque ele concede o Espírito sem medidas.

35.O Pai ama o Filho e confiou-lhe todas as coisas.

36.Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; quem não crê no Filho não verá a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus.

-Convite a deixar-se guiar por Ele. Exorta a crer; a esperar, a ter ânimo, a se converter.

Comentário feito por:

Santo Afraate (?-c. 345), monje e bispo em Niinive, perto de Mossul, no actual Iraque

Exposições, nº 6

«Dá o Espírito sem medida» - (v.34)

Quando, a partir de uma fogueira, acendes outras fogueiras em vários locais, a primeira nem por isso diminui

de intensidade. O mesmo acontece com Deus e o Seu Messias, que são um, permanecendo embora na

multiplicidade dos homens. O sol também não diminui de intensidade pelo fato de a sua potência se difundir

sobre a terra. E quão maior é a força de Deus, dado que é pela força de Deus que o sol subsiste. Moisés tinha

dificuldade em conduzir sozinho o campo de Israel; então, o Senhor disse-lhe: «Reúne junto de ti setenta

homens entre os anciãos de Israel. Então retirarei parte do espírito que está sobre ti a fim de o pôr sobre eles»

(Nm.11,16-17). Quando retirou parte do espírito de Moisés e os setenta homens ficaram cheios dele, o de

Moisés diminuiu de intensidade? Alguém se apercebeu de que ele tinha menos espírito? Também o bem-

aventurado Paulo diz que Deus partilhou o Espírito do Cristo-Messias e O enviou aos profetas do Novo

Testamento (1Co.12,11.28). Mas o Messias nem por isso ficou lesado, porque o Pai deu-Lhe o Espírito sem

medida.É neste sentido que o Cristo-Messias habita nos crentes. E em nada é lesado por ser partilhado com a

multidão, porque foi o Espírito de Cristo que os profetas receberam, na medida em que cada um podia tê-Lo

em si. E ainda hoje é este mesmo Espírito do Messias que é derramado sobre toda a carne, para que homens e

mulheres, jovens e velhos, servos e servas profetizem (Jl.3,1; At.2,17). O Messias está em nós e o Messias

está no céu, à direita do Pai. Não recebeu o Espírito com limitações; pelo contrário, o Pai amou-O e tudo

entregou nas Suas mãos, dando-Lhe poder sobre todos os seus tesouros. E Nosso Senhor diz também: «Tudo

Me foi entregue por Meu Pai» (Mt.11, 27). E o apóstolo Paulo conclui: «Quando se diz que tudo Lhe está

sujeito, é claro que se excetua Aquele que Lhe sujeitou todas as coisas. E, quando tudo Lhe estiver sujeito,

então também o próprio Filho Se submeterá Àquele que tudo Lhe submeteu, a fim de que Deus seja tudo em

todos.» (1 Co.15,27-28).

Comentário feito por:

Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo e mártir

Contra as heresias, IV, 20, 7

O Filho revela o Pai

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“Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer”

Desde o começo, é o Filho quem revela o Pai, porque Ele está junto do Pai desde o começo. No tempo fixado,

foi Ele quem deu a conhecer aos homens, para proveito destes, as visões proféticas, a diversidade das graças,

os ministérios e a glorificação do Pai, tudo como uma melodia bem composta e harmoniosa. Com efeito, onde

há composição, há melodia; onde há melodia, há tempo fixado; onde há tempo fixado, há proveito. Foi por

isso que, para proveito dos homens, o Verbo Se fez dispensador da graça do Pai, segundo os Seus desígnios.

Ele mostra Deus aos homens e apresenta o homem a Deus, preservando a invisibilidade do Pai, com receio de

que os homens venham a desprezar a Deus e para que eles tenham sempre progressos a fazer, ao mesmo

tempo que torna Deus visível aos homens de numerosas formas, com receio de que, totalmente privados de

Deus, eles acabem por se esquecer da Sua existência.

Porque a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus. Se a revelação de Deus pela

criação já dá a vida a todos os seres que vivem na terra, quanto mais a manifestação do Pai pelo Verbo dá a

vida aos que vêem a Deus!

Jo.4,7-14 DDPP(C) - p.1409 7.Veio uma mulher da Samaria tirar água. Pediu-lhe Jesus: Dá-me de beber.

8.(Pois os discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos.)

9.Aquela samaritana lhe disse: Sendo tu judeu, como pedes de beber a mim, que sou samaritana!... (Pois os judeus não se

comunicavam com os samaritanos.)

10.Respondeu-lhe Jesus: Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente lhe pedirias tu mesma e

ele te daria uma água viva.

11.A mulher lhe replicou: Senhor, não tens com que tirá-la, e o poço é fundo... donde tens, pois, essa água viva?

12És, porventura, maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu e também os seus filhos e os seus

rebanhos?

13.Respondeu-lhe Jesus: Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede,

14.mas o que beber da água que eu lhe der jamais terá sede. Mas a água que eu lhe der virá a ser nele fonte de água ,que

jorrará até a vida eterna.

- Exorta-a deixar se conduzir pelo Espírito Santo.

Comentário feito por:

São Cipriano (c. 200-258), Bispo de Cartago e mártir

A Oração do Senhor, 2-3 (trad. DDB 1982, p. 41 rev.; cf. breviário)

Invocar o nome de Jesus ao pedir

Entre recomendações salutares e preceitos divinos através dos quais proveu à salvação do Seu povo, o Senhor

deu-nos ainda o modelo de oração; Ele próprio nos ensinou o que devemos pedir nas nossas preces. Ele, que

nos dá a vida, também nos ensina a rezar, com aquela mesma bondade que O levou a conceder-nos tantos

outros benefícios. Assim, quando falamos ao Pai através da oração que o Senhor nos ensinou, somos mais

facilmente escutados. Ele previra que viria a hora em que: «os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em

espírito e verdade» (Jo.4,23) e cumpriu o que anunciara. Santificados pelo Espírito e pela verdade que vêm

Dele, podemos igualmente, graças ao que nos ensinou, adorar em espírito e verdade. Uma vez que foi graças a

Cristo que recebemos o Espírito que oração poderia ser mais espiritual do que aquela que Ele nos deu? Que

oração pode ser mais verdadeira do que aquela que saiu da boca do Filho, que é a própria Verdade? .Por isso,

irmãos bem-amados, rezemo-la como o Mestre no-la ensinou. Clamar a Deus com palavras Dele é súplica que

Lhe é amável e filial; é fazer-Lhe chegar aos ouvidos a oração de Cristo. Que o Pai reconheça a voz do Filho

quando Lhe dirigimos o nosso pedido. Que Aquele que vive no nosso coração seja também a nossa voz. Ele é

nosso advogado junto do Pai: intercede pelos nossos pecados quando nós, pecadores, lhe pedimos perdão

pelas nossas faltas. Pronunciemos, então, as palavras do nosso advogado, porque é Ele quem nos diz: «Se

pedirdes alguma coisa ao Pai em Meu nome, Ele vo-la dará» (Jo.16,23).

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(Jô.5,31-47)- DDPPEC(Ex) - p.1390/1 - Jesus se justifica. 31.Se eu der testemunho de mim mesmo, não é digno de fé o meu testemunho.

32.Há outro que dá testemunho de mim, e sei que é digno de fé o testemunho que dá de mim.

33.Vós enviastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade.

34.Não invoco, porém, o testemunho de homem algum. Digo-vos essas coisas, a fim de que sejais salvos.

35.João era uma lâmpada que arde e ilumina; vós, porém, só por uma hora quisestes alegrar-vos com a sua luz.

36.Mas tenho maior testemunho do que o de João, porque as obras que meu Pai me deu para executar - essas mesmas obras que faço

- testemunham a meu respeito que o Pai me enviou.

37. E o Pai que me enviou, ele mesmo deu testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz nem vistes a sua face...

38.e não tendes a sua palavra permanente em vós, pois não credes naquele que ele enviou.

39.Vós perscrutais as Escrituras, julgando encontrar nelas a vida eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de mim.

40.E vós não quereis vir a mim para que tenhais a vida...

41.Não espero a minha glória dos homens,

42.mas sei que não tendes em vós o amor de Deus.

43.Vim em nome de meu Pai, mas não me recebeis. Se vier outro em seu próprio nome, haveis de recebê-lo...

44.Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a glória que é só de Deus?

45.Não julgueis que vos hei de acusar diante do Pai; há quem vos acusa: Moisés, no qual colocais a vossa esperança.

46.Pois se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em mim, porque ele escreveu a meu respeito.

47.Mas, se não acreditais nos seus escritos, como acreditareis nas minhas palavras?

- Jesus convida a se deixar guiar por Ele. Recorda que é Deus, Senhor e Redentor. Exorta a crer, a deixar-se

conduzir por Ele.

Comentário feito por:

S. Jerônimo (347-420), presbítero, tradutor da Bíblia, doutor da Igreja

Carta 53, a S. Paulino, bispo de Nola

"Se acreditásseis em Moisés, acreditaríeis também em mim, porque foi de mim que ele falou na Escritura" –

(v.46)

Há uma "sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que, desde antes dos séculos, Deus antecipadamente nos

destinou". Esta sabedoria de Deus é Cristo; Ele é "poder de Deus e sabedoria de Deus"... No Filho, com efeito,

"encontram-se escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento"; oculto no mistério, destinado

previamente, desde antes dos séculos, Ele é o que foi predestinado e prefigurado na Lei e nos profetas.

Por isso, os profetas tinham o nome de "videntes"; viam Aquele que estava escondido e desconhecido dos

outros. Também Abraão "viu o seu dia e rejubilou". Para Ezequiel, os céus abriram-se, enquanto para o povo

pecador permaneciam cerrados. "Retirai o véu de cima dos meus olhos, diz David, e contemplarei as

maravilhas da vossa lei". Na verdade, a lei é espiritual e, para a compreender, é preciso que seja "afastado o

véu" e que "a glória de Deus seja contemplada de rosto descoberto". No Apocalipse, mostra-se um livro

fechado com sete selos... Quantos homens hoje, que se pretendem instruídos, têm nas mãos um Livro selado!

São incapazes de o abrir, a menos que seja aberto por "Aquele que tem a chave de David; se Ele abrir,

ninguém o fechará e, se Ele fechar, ninguém o abrirá". Nos Atos dos Apóstolos, o eunuco lia o profeta

Isaías...; contudo, ignorava Aquele que venerava no livro sem O conhecer. Surge Filipe; mostra-lhe Jesus

oculto pela letra. Compreende, pois, que não podes comprometer-te com as Sagradas Escrituras sem teres um

guia que te mostre o caminho.

Comentário feito por:

Santo Aphraate (?-c. 345), monge e bispo em Ninive, perto de Mossul no actual Iraque

As Exposições, n° 21

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«Se acreditásseis em Moisés, acreditaríeis também em mim»- (v.46)

Moisés foi perseguido, tal como Jesus foi perseguido. Esconderam-no por altura do seu nascimento para que

não fosse morto pelos perseguidores; a Jesus, obrigaram-no a fugir para o Egito logo que nasceu, para que

Herodes, o seu perseguidor, não o matasse. Na altura em que nasceu Moisés, afogavam as crianças no rio;

quando nasceu Jesus, mataram os meninos de Belém e dos arredores. A Moisés, Deus disse: "Morreram

aqueles que queriam a tua vida" (Ex.4,19); o anjo disse a José, no Egito: "Levanta-te, toma o menino e volta

para a terra de Israel, porque morreram os que queriam a sua vida" (Mt.2,20). Moisés fez o povo sair da

servidão do Faraó; Jesus salvou todos os povos da servidão de Satanás... Quando Moisés imolou o cordeiro,

os primogênitos dos Egípcios foram mortos; Jesus tornou-se o verdadeiro cordeiro quando o crucificaram...

Moisés fez descer o maná para alimentar o seu povo; Jesus deu o seu próprio corpo aos povos. Moisés

amaciou as águas amargas com a madeira; Jesus amaciou a nossa amargura sendo crucificado no madeiro.

Moisés fez descer a Lei para o povo; Jesus deu Testamentos aos povos. Moisés venceu os Amalecitas

estendendo as suas mãos; Jesus venceu Satanás com o sinal da cruz. Moisés fez sair água do rochedo para o

povo: Jesus enviou Simão Pedro levar o seu ensinamento aos povos. Moisés retirava o véu do rosto para falar

com Deus; Jesus retirou o véu que cobria o rosto dos povos para que eles ouvissem e recebessem o seu

ensinamento (2Co.3,16). Moisés impôs as mãos aos anciãos e eles receberam o sacerdócio; Jesus impôs a mão

aos apóstolos e eles receberam o Espírito Santo. Moisés subiu à montanha e aí morreu; Jesus subiu aos céus e

sentou-se à direita de Seu Pai.

Jo.13,16-20 –DDPP(Ex) - p.1403 16.Em verdade, em verdade vos digo: o servo não é maior do que o seu Senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou.

17.Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob condição de as praticardes.

18.Não digo isso de vós todos; conheço os que escolhi, mas é preciso que se cumpra esta palavra da Escritura: Aquele que come o

pão comigo levantou contra mim o seu calcanhar (Sl 40,10).

19.Desde já vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais e reconheçais quem sou eu.

20.Em verdade, em verdade vos digo: quem recebe aquele que eu enviei recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que

me enviou.

-Recorda que Ele é o Pastor que conduz seu povo predileto.Exorta a crer, a ter ânimo.

Comentário feito por :

Concílio Vaticano II

Constituição Dogmática sobre a Revelação, «Dei Verbum», §§ 7-8

«Quem receber aquele que Eu enviar é a Mim que recebe»

Deus dispôs amorosamente que permanecesse íntegro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto

tinha sido revelado para salvação de todos os povos. Por isso, Cristo Senhor, em Quem se consuma toda a

revelação do Deus Altíssimo (2Cor 1, 20; 3, 16-4, 6), mandou aos Apóstolos que pregassem a todos, como

fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes, o Evangelho prometido antes pelos Profetas

e por Ele cumprido e promulgado pessoalmente, comunicando-lhes assim os dons divinos. Isto foi realizado

com fidelidade, tanto pelos Apóstolos que, na sua pregação oral, exemplos e instituições transmitiram aquilo

que tinham recebido dos lábios, do trato e das obras de Cristo, e o que tinham aprendido por inspiração do

Espírito Santo, como por aqueles Apóstolos e varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito

Santo, escreveram a mensagem da salvação. Porém, para que o Evangelho fosse perenemente conservado

íntegro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram os Bispos como seus sucessores, «entregando-lhes o seu

próprio ofício de magistério» (Santo Irineu). Portanto, esta Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura dos dois

Testamentos são como um espelho no qual a Igreja peregrina na Terra contempla a Deus, de Quem tudo

recebe, até ser conduzida a vê-Lo face a face tal qual Ele é (1Jo.3,2). Esta tradição apostólica progride na

Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Com efeito, progride a percepção, tanto das coisas como das

palavras transmitidas, quer mercê da contemplação e do estudo dos crentes, que as meditam no seu coração

(Lc.2,19.51), quer mercê da íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer mercê da

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pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade. Isto é, a Igreja tende

continuamente, no decurso dos séculos, para a plenitude da verdade divina, até que nela se realizem as

palavras de Deus.

Jo.14,1-6 - DDPP(C). - p.1429 1.Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim.

2.Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, e eu vos teria dito; pois vou preparar-vos um lugar.

3.Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais.

4.E vós conheceis o caminho para ir aonde vou.

5.Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?

6.Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.

-O Senhor reacende a esperança; infunde a coragem;restitui a alegria no coração.

Comentário feito por :

São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e Doutor da Igreja

Comentário ao Evangelho de João, 9 ; PG 74, 182-183 (trad. Delhougne, Les Pères commentent, p. 373)

«A fim de que, onde Eu estou, vós estejais também»

«Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um

lugar?». Se as moradas do Pai não fossem numerosas, o Senhor teria dito que falava como precursor, a fim de

preparar as moradas dos santos. Mas Ele sabia que já estavam preparadas muitas moradas, à espera da

chegada dos amigos de Deus. Apresenta, pois, outra justificação para a Sua partida: preparar o caminho da

nossa ascensão para esses lugares do céu abrindo-nos uma passagem para lá chegarmos, quando anteriormente

esta rota era impraticável para nós. Porque o céu estava absolutamente encerrado para os homens, e nunca ser

algum de carne tinha penetrado neste santíssimo e puríssimo domínio dos anjos. Cristo inaugurou este

caminho para as alturas. Oferecendo-Se a Si mesmo a Deus Pai como primícias dos que dormem nos túmulos

da terra, permitiu à carne ascender ao céu e foi o primeiro homem a aparecer aos habitantes lá do alto. Os

anjos não conheciam o augusto e grandioso mistério de uma entronização celeste da carne. Foi com espanto e

admiração que assistiram a esta ascensão de Cristo. Quase perplexos por tão inaudito espetáculo, exclamaram:

«Quem é Esse, que vem de Edom?» (Is.63,1), ou seja, da terra. Assim, pois, Nosso Senhor Jesus Cristo abriu-

nos um caminho novo e vivo (Hb.10, 20). «Cristo não entrou num santuário feito por mão de homem, figura

do verdadeiro, mas no próprio céu, para Se apresentar agora diante de Deus por nós» (Hb.9, 24).

Jo.(14,6-14) – DDPP(Ex) – p.1404 - Adeuses.Despedidas. 6.Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.

7.Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o conheceis, pois o tendes visto.

8.Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta.

9.Respondeu Jesus: Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceste, Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai. Como,

pois, dizes: Mostra-nos o Pai...

10.Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que vos digo não as digo de mim mesmo; mas o Pai, que

permanece em mim, é que realiza as suas próprias obras.

11.Crede-me: estou no Pai, e o Pai em mim. Crede-o ao menos por causa destas obras.

12.Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas,

porque vou para junto do Pai.

13.E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.

14.Qualquer coisa que me pedirdes em meu nome, vo-lo farei. - Jesus exorta a crer; recorda que Ele é o Pastor que conduz o seu povo predileto.

Comentário feito por:

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Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja

Discurso sobre os Salmos, Sl 86

Santos Filipe e Tiago, apóstolos, fundações da Cidade Santa (Ap.21,19)

“O seu fundamento está sobre os montes santos. O Senhor ama as portas de Sião” (Sl. 86, 1-2). “Sois

concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o alicerce dos apóstolos e dos

profetas, com Cristo por pedra angular” (Ef.2,19-20). Cristo, pedra angular, e as montanhas, ou seja, os

apóstolos e os grandes profetas que transportam o conjunto da cidade, formam uma espécie de edifício vivo.

Este edifício vivo tem uma voz que ressoa agora no vosso coração. É Deus, hábil operário, que se serve de

mim para insistir convosco, a fim de que tomeis o vosso lugar nesta construção – quais pedras talhadas, de

quatro lados iguais. Reparai na forma de uma pedra perfeitamente quadrada: é a imagem do cristão. Por

muitas tentações que sofra, o cristão não cai; pode ser violentamente empurrado, como que revirado, mas não

cai. Porque, seja de que lado se faça cair uma pedra quadrada, ela continua de pé. Sede, pois, semelhantes a

pedras quadradas, preparados para todos os choques; e que, qualquer que seja a força que vos empurre, não

consiga fazer-vos perder o equilíbrio. Levantar-vos-eis para tomardes o vosso lugar neste edifício, por meio de

uma vida cristã sincera, pela fé, a esperança e a caridade. A cidade santa é formada pelos seus próprios

cidadãos; os mesmos homens são, simultaneamente, pedras e cidadãos, porque estas pedras são vivas. “Vós

mesmos, como pedras vivas, entrai na construção de um edifício espiritual” (1Pd.2,5). Por que motivo são os

apóstolos e os profetas os fundamentos da cidade? Porque a sua autoridade sustenta a nossa fraqueza. Por eles,

entramos no reino de Deus; eles são, para nós, os pregadores da salvação. E, quando entramos por eles na

cidade, entramos nela por Cristo – porque Ele mesmo é a porta (Jo.10,9).

Comentário feito por:

Santo Hilário (c. 315 - 367), bispo de Poitiers, doutor da Igreja

Sobre a Trindade, 7, 34-36

"Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta" – (v.8)

Jesus disse: "Se me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. Mas já o conheceis e o vistes". Vê-se o

homem Jesus Cristo. Os apóstolos têm diante dos olhos o seu aspecto exterior, isto é, a sua natureza de

homem, ao passo que Deus, liberto de toda a carne, não é reconhecível no miserável corpo carnal. Como é

então que conhecer a Cristo pode ser também conhecer o Pai?Estas palavras inesperadas perturbam o apóstolo

Filipe; a fraqueza do seu espírito humano não lhe permite compreender uma afirmação tão estranha... Então,

com a impetuosidade que lhe permitiam a sua familiaridade e a sua fidelidade de apóstolo, ele interroga o

Mestre: "Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta!" Não é que ele deseje contemplar o Pai com os seus olhos

físicos, mas pede para compreender aquilo que vê com os seus olhos. Porque, vendo o Filho na sua forma

humana, ele não compreende como, desse modo, tinha visto o Pai...

O Senhor responde-lhe então: "Há tanto tempo que estou convosco e não me conheces, Filipe?" Repreende-o

por ignorar quem ele era... Porque é que não o tinham reconhecido, a ele que há tanto tempo procuravam? É

que, para o reconhecerem, era preciso reconhecer que a divindade, a natureza do Pai, estava nele. Na verdade,

todas as obras que ele tinha feito eram próprias de Deus: caminhar sobre as águas, dar ordens aos ventos,

realizar coisas impossíveis de compreender, tais como mudar a água em vinho ou multiplicar os pães...,

afugentar os demônios, expulsar as doenças, dar remédio às enfermidades do corpo, corrigir as malformações

congênitas, perdoar os pecados, devolver a vida aos mortos. Eis tudo o que o seu corpo de carne tinha feito, e

tudo isso lhe permite proclamar-se Filho de Deus. Daí a sua reprimenda e a sua queixa: por causa da realidade

misteriosa do seu nascimento humano, não se tinham apercebido da natureza divina que realizava estes

milagres nessa natureza humana que o Filho tinha assumido.

Jô.(15,9-17) – DDPP(C) – p.1405 - Perseverar no amor de Cristo. Amor fraterno – 9.Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor.

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10.Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e

persisto no seu amor.

11.Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa.

12.Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo.

13.Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos.

14.Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando.

15.Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo

quanto ouvi de meu Pai.

16.Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto

permaneça. Eu assim vos constituí, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos conceda.

17.O que vos mando é que vos ameis uns aos outros.

-O Senhor derrama seu amor sobre seu povo; cura-lhes a s feridas. Infunde a coragem;reacende a esperança.

Comentário feito por:

São Lourenço Justiniano (1381-1455), cônego regular, depois Bispo de Veneza

Sermão para a festa de São Matias

Deus escolheu o apóstolo Matias

Escreve o apóstolo Paulo: «Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Que insondáveis são os

Seus juízos e impenetráveis os Seus caminhos!» (Rom 11, 33). E diz o Salmo: «Todas as Vossas obras são

fruto da Vossa sabedoria» (Sl 103, 24), isto é, feitas no Teu Verbo, na Tua Palavra eterna. Se foi no Verbo e

pelo Verbo que todas as coisas foram feitas (Jo 1, 3), quem poderá duvidar de que foi com sabedoria e

perfeição, e sem parcialidades, que Ele escolheu os Seus discípulos? «Ele nos escolheu antes da constituição

do mundo», diz o apóstolo Paulo (Ef.1,4). Consideremos a escolha de Matias. Os apóstolos tinham escolhido

José Bársabas e Matias; em seguida, apresentaram essa escolha Àquele que julga segundo o coração e que

«conhecia o coração» de ambos, a fim de que Ele desse a conhecer qual dos dois tinha escolhido. E Ele tinha

certamente escolhido Matias para essa honra antes de as sortes serem lançadas, antes mesmo da criação do

mundo. «Tudo quanto pedirdes, orando, crede que o recebereis e o obtereis» (Mc 11, 24), diz o Senhor. É por

isso que a Igreja tem o costume de rezar de comum acordo sempre que considera dever pedir alguma coisa ao

Senhor; meio algum tem tanta influência na vontade de Deus como a oração, se for feita com fé, com

serenidade, com humildade e perseverança. Assim, pois, a sorte em nada prejudicou este glorioso apóstolo

porque, como testemunha a Escritura, os apóstolos começaram por rezar; pelo contrário, foi em resposta à

oração deles que Deus lhes inspirou que tirassem a eleição à sorte. Por outro lado, Matias não obteve uma

graça menor do que a de Pedro ou dos outros apóstolos, ainda que tenha sido chamado em último lugar. Ele

recebeu o Espírito com a mesma plenitude que os outros, e recebeu os mesmos dons espirituais que eles. Ao

pousar sobre ele, o Espírito Santo encheu-o de caridade, concedendo-lhe que se exprimisse em todas as

línguas, que fizesse milagres, que convertesse as nações, que pregasse a Cristo e que recebesse o triunfo do

martírio.

Comentário feito por:

Cardeal Joseph Ratzinger [Papa Bento XVI]

O Deus de Jesus Cristo

"Fiz conhecer o teu nome aos homens"- (v.16)

Que quer dizer esta expressão: nome de Deus?... No livro do Apocalipse, o adversário de Deus, a Besta, não

tem um nome mas um número: 666 (Ap.13,18). A Besta é número e transforma os seres em números. O que

isso significa sabemo-lo bem, nós que fizemos a experiência dos campos de concentração; o seu horror vem

justamente do fato de apagarem os rostos... Quanto a Deus, Ele tem nomes e chama por um nome. É pessoa e

procura a pessoa. Tem um rosto e procura o nosso rosto. Tem um coração e procura o nosso coração. Para Ele,

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nós não somos funções na grande máquina do mundo, mas são precisamente aqueles que não têm nenhuma

função que são os seus. O nome é a possibilidade de ser chamado, é a comunhão. É por isso que Jesus é o

verdadeiro Moisés, o cumprimento da revelação do nome. Não vem trazer-nos, como nome, uma nova

palavra; faz mais: é Ele mesmo a face de Deus. É Ele mesmo o nome de Deus; é a própria possibilidade que

Deus tem de ser chamado "tu", de ser chamado como pessoa, como coração. O seu nome próprio "Jesus" leva

à plenitude o nome misterioso da sarça ardente (Ex 3,14); agora percebe-se claramente que Deus não tinha

acabado de falar, que apenas tinha interrompido provisoriamente o seu discurso. Porque o nome de Jesus

contém a palavra "Yahvé" na sua forma hebraica e acrescenta-lhe outra coisa: "Deus salva". Yahvé, isto é,

"Eu sou aquele que sou" quer agora dizer, compreendido a partir do nome de Jesus: "Eu sou aquele que vos

salva". O seu ser é salvação.

Comentário feito por:

Tertuliano (c. 155-c. 220), teólogo

A Prescrição contra os hereges, 20-22; CCL I, 201s (a partir da trad. breviário rev.)

São Matias, apóstolo, uma das doze pedras dos alicerces da Igreja. (Ap.21,14)

Cristo Jesus, Nosso Senhor, durante a Sua estada sobre terra, afirmou aquilo que era, aquilo que fora, que era

servo da vontade do Pai, e que deveres prescrevia ao homem. Dizia tudo isto abertamente à multidão, ou

dirigindo-Se em particular aos Seus discípulos, de entre os quais escolheu doze principais para viverem a Seu

lado, a quem destinou para irem ensinar às nações. Após a queda de um deles, ordenou aos outros onze, no

momento de partir para o Pai após a ressurreição, que fossem pregar a todos os povos e batizá-los em nome do

Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt.28,19).

De imediato, juntou-se aos apóstolos – palavra que significa «enviados» – o décimo segundo, Matias, para

substituir Judas, tirado à sorte pelos outros e confiando na profecia de um salmo de David. Eles receberam a

força do Espírito Santo que lhes tinha sido prometida, para realizarem milagres e falarem diversas línguas.

Primeiramente testemunharam a fé em Jesus Cristo por toda a Judéia, onde instituíram Igrejas. Seguidamente

partiram pelo mundo e proclamaram pelas nações o mesmo ensinamento da fé.Depois, fundaram Igrejas em

todas as cidades, às quais, conseqüentemente, outras Igrejas foram buscar a estaca da fé e as sementes da

doutrina. O que prova a sua unidade é que comungam na paz, os seus membros tratam-se por irmãos, e

praticam a hospitalidade com reciprocidade. Esta construção não tem outro fundamento a não ser a tradição

única de um mesmo mistério. Aquilo que os apóstolos pregaram foi o que Cristo lhes revelou, e que só pode

ser garantido por estas mesmas Igrejas, fundadas pelos próprios apóstolos, onde eles pregaram de viva voz,

como se diz, e seguidamente por cartas.

Comentário feito por:

Santo Inácio de Antioquia (?-c. 110), bispo e mártir

Carta aos Romanos, 4-8 (trad. cf. breviário)

«Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos»

Escrevo a todas as Igrejas e faço saber a todos que morria de bom grado por Deus se vós não me impedísseis.

Suplico-vos, poupai-me a um bem-querer inoportuno. Deixai-me tornar-me pasto das feras; elas me ajudarão a

alcançar a Deus. Sou o Seu fermento: moído pelos dentes dos animais selvagens tornar-me-ei no puro pão de

Cristo. Que me fariam as doçuras deste mundo e os impérios da terra? É mais belo morrer por Cristo Jesus do

que reinar até aos confins do Universo. É a Ele que procuro, que morreu por nós; é a Ele que desejo, a Ele que

ressuscitou por nós. Aproxima-se o momento em que darei à luz. Por mercê, meus irmãos, não me impeçais

de nascer para a Vida. [...] Deixai-me abraçar a luz inteiramente pura. Quando tiver conseguido fazê-lo, serei

verdadeiramente homem. Aceitai que eu imite a Paixão do meu Deus. O meu desejo terrestre foi crucificado, e

em mim já não há fogo para amar a matéria, mas uma água viva (Jo 4, 10;7, 38) que murmura e me segreda ao

coração: «Vem para o pé do Pai». Já não posso saborear os alimentos perecíveis e as doçuras desta vida. É do

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pão de Deus que estou faminto, da carne de Jesus Cristo, filho de David; e, para bebida, quero o Seu sangue,

que é o amor incorruptível. Rezai pela minha vitória.

Comentário feito por:

Doroteu de Gaza (c.500-?), monge na Palestina

Instruções, VI, 76-78 (a partir da trad. SC 92, p. 281-287)

Amar a Deus e ao próximo

Quanto mais unidos estamos ao próximo, mais unidos estamos a Deus. Vou dar-vos uma imagem retirada dos

Padres para compreenderdes o sentido destas palavras. Pensai num círculo traçado no chão, isto é, numa linha

feita com um compasso, a partir de um centro; ao meio do círculo chama-se justamente centro. Aplicai o

vosso espírito ao que vos digo. Imaginai que este círculo é o mundo, que o centro é Deus, e os raios são as

diferentes vias ou maneiras de viver dos homens. Quando os santos, desejando aproximar-se de Deus, se

dirigem para o meio do círculo, na medida em que penetram no seu interior, aproximam-se uns dos outros ao

mesmo tempo em que se aproximam de Deus. Quanto mais se aproximam de Deus, mais se aproximam uns

dos outros; e, quanto mais se aproximam uns dos outros, mais se aproximam de Deus.

E compreendeis que o mesmo acontece em sentido inverso, quando as pessoas se afastam de Deus para se

retirar para o exterior; é então evidente que, quanto mais se afastam de Deus, mais se afastam uns dos outros,

e, quanto mais se afastam uns dos outros, mais se afastam também de Deus.Tal é a natureza da caridade. Na

medida em que estamos no exterior e não amamos a Deus, nessa medida, distanciamo-nos do próximo. Mas,

se amamos a Deus, quanto mais nos aproximamos Dele pela caridade, tanto mais comunicamos a caridade ao

próximo; e, quanto mais unidos estamos ao próximo, mais unidos estamos a Deus.

Jo.16,20-23s –DDPP(C) - p.1406 20.Em verdade, em verdade vos digo: haveis de lamentar e chorar, mas o mundo se há de alegrar. E haveis de estar tristes, mas a

vossa tristeza se há de transformar em alegria. 21.Quando a mulher está para dar à luz, sofre porque veio a sua hora. Mas, depois

que deu à luz a criança, já não se lembra da aflição, por causa da alegria que sente de haver nascido um homem no mundo. 22.Assim

também vós: sem dúvida, agora estais tristes, mas hei de ver-vos outra vez, e o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a

vossa alegria.

23.Naquele dia não me perguntareis mais coisa alguma. Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele

vo-lo dará

Comentário feito por:

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona, (norte de África) e Doutor da Igreja

Sermões sobre o Evangelho de João, nº 101 (trad. Bouchet, Lectionnaire, p. 199)

« Ver-vos-ei de novo! Então, o vosso coração alegrar-se-á»

Diz o Senhor: «Dentro em pouco já não Me vereis e pouco depois voltareis a ver-Me» (Jo 16, 16). Aquilo a

que Ele chama pouco é o nosso tempo actual, acerca do qual o evangelista João declara na sua epístola: «É a

última hora» (1Jo.2,18). Esta promessa diz respeito a toda a Igreja, como também esta outra promessa: «E Eu

estarei sempre convosco, até ao fim do mundo» (Mt.28,20). O Senhor não tardará em cumprir a Sua promessa:

dentro em pouco, vê-Lo-emos e deixaremos de ter súplicas a fazer-Lhe, perguntas a dirigir-Lhe, porque

deixaremos de ter que desejar, de ter que procurar.

Este pouco parece-nos muito porque ainda está a decorrer; quando tiver terminado, perceberemos quão curto

foi. Que a nossa alegria seja portanto diferente da do mundo, sobre a qual está dito: «O mundo alegrar-se-á».

Ao dar à luz este desejo, não sejamos sem alegria, mas como diz o apóstolo Paulo: «Sede alegres na

esperança, pacientes na tribulação» (Rm.12, 12). Porque a mulher que se prepara para dar à luz, com a qual no

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Senhor nos compara, rejubila muito mais com o filho que vai pôr no mundo do que se entristece com o

sofrimento por que tem de passa

Jo.(17,1-11) – DDPP(C) - pg.1407 – Jesus ora ao Pai em favor de si mesmo 1.Jesus afirmou essas coisas e depois, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora. Glorifica teu Filho, para que teu

Filho glorifique a ti;

2.e para que, pelo poder que lhe conferiste sobre toda criatura, ele dê a vida eterna a todos aqueles que lhe entregaste.

3.Ora, a vida eterna consiste em que conheçam a ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste.

4.Eu te glorifiquei na terra. Terminei a obra que me deste para fazer.

5.Agora, pois, Pai, glorifica-me junto de ti, concedendo-me a glória que tive junto de ti, antes que o mundo fosse criado.

6.Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste. Eram teus e mos deste e guardaram a tua palavra.

7.Agora eles reconheceram que todas as coisas que me deste procedem de ti.

8.Porque eu lhes transmiti as palavras que tu me confiaste e eles as receberam e reconheceram verdadeiramente que saí de ti, e

creram que tu me enviaste.

9.Por eles é que eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.

10.Tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu. Neles sou glorificado.

11.Já não estou no mundo, mas eles estão ainda no mundo; eu, porém, vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que

me encarregaste de fazer conhecer, a fim de que sejam um como nós.

- Jesus derrama seu amor sobre seu povo; reacende a esperança e infundi a coragem.

Comentário feito por:

Irineu de Lyon (c. 130 - c. 208), bispo, teólogo e mártir

Contra as Heresias, IV, 14

"... a fim de que dê a vida eterna a todos os que lhe entregaste" – (v.2)

No princípio, não foi porque precisasse do homem que Deus modelou Adão, mas para ter alguém em quem

depositasse os seus benefícios. Porque, não só antes de Adão mas mesmo antes de toda a criação, já o Verbo

glorificava o Pai, permanecendo n'Ele, e era glorificado pelo Pai, tal como Ele próprio disse: "Pai, glorifica-

Me com a glória que Eu tinha junto de Ti antes do princípio do mundo". Também não foi porque tivesse

necessidade do nosso serviço que Ele nos ordenou que O seguíssemos, mas para nos obter a salvação. Porque

seguir o Salvador é participar da salvação, tal como seguir a luz é tomar parte da luz.Quando os homens estão

na luz, não são eles que iluminam a luz e a fazem resplandecer, antes são iluminados e tornados

resplandecentes por ela; longe de lhe acrescentar o que quer que seja, eles beneficiam da luz e por ela são

iluminados. O mesmo acontece com o serviço prestado a Deus; o nosso serviço não acrescenta nada a Deus,

porque Deus não precisa do serviço dos homens; mas, àqueles que O servem e O seguem, Deus dá a vida, a

incorruptibilidade e a glória eterna...Se Deus solicita o serviço dos homens é para poder, Ele que é bom e

misericordioso, conceder os seus benefícios aos que perseveram no seu serviço. Porque, se Deus não precisa

de nada, o homem precisa da comunhão de Deus. A glória do homem é perseverar no serviço de Deus. É por

isso que o Senhor dizia aos seus discípulos: "Não fostes vós que Me escolhestes, fui Eu que vos escolhi a vós"

(Jo 15,16). Indicava assim que não eram eles que O glorificavam seguindo-O mas que, por terem seguido o

Filho de Deus, eram glorificados por Ele. "Pai, quero que onde Eu estiver eles estejam também comigo, para

contemplarem a minha glória" (Jo.17,24).

Comentário feito por :

São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e Doutor da Igreja

Comentário ao evangelho de João, 11, 7; Pg 74, 497-499 (a partir da trad. Delhougne, Les Pères

commentent)

«Pai, tenho manifestado o Teu nome aos homens»

O Filho não manifestou o nome do Pai apenas revelando-o e dando-nos uma instrução exata sobre a Sua

divindade, uma vez que que tudo isso tinha sido proclamado antes da vinda do Filho, pela Escritura inspirada.

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O Filho também nos ensinou, não só que Ele é verdadeiramente Deus, mas que é também verdadeiramente

Pai, e que é assim verdadeiramente chamado, pois tem em Si mesmo e produz para fora de Si mesmo o Filho,

que é co-eterno com a Sua natureza.O nome de Pai é mais apropriado a Deus do que o nome de Deus: este é

um nome de dignidade, aquele significa uma propriedade substancial. Porque quem diz Deus diz o Senhor do

universo. Mas quem nomeia o Pai específica a característica da pessoa: mostra que é Ele que gera. Que o

nome de Pai é mais verdadeiro e mais apropriado que o de Deus mostra-nos o próprio Filho pelo modo como

o usa. Pois Ele não dizia: «Eu e Deus», mas: «Eu e o Pai somos um» (Jo.10, 30). E dizia também: «Foi a Ele,

ao Filho, que Deus marcou com o Seu selo» (Jo.6,27).

Mas, quando mandou os seus discípulos batizarem todos os povos, ordenou expressamente que o fizessem,

não em nome de Deus, mas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt.28,19)

Jo.(19,25-27) DDPP(C) - p.1348

25.Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena.

26.Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. 27.Depois disse ao

discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa.

-Jesus é descanso do coração e da alma. Nunca abandona.

Comentário feito por:

Beato Guerric d'Igny (c.1080-1157), abade cisterciense

4º sermão para a Assunção

«E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua»

Quando Jesus se pôs a percorrer as cidades e as aldeias para anunciar a Boa Nova (Mt. 9,35), acompanhava-o

Maria, a seus passos presa de maneira inseparável, suspensa de seus lábios sempre que Ele abria a boca para

ensinar. A tal ponto assim era que nem a tempestade da perseguição nem o horror do suplício a fizeram

abandonar a companhia do Filho, os ensinamentos do seu Mestre. «Aos pés da cruz de Jesus estava Maria, sua

mãe». Ela é mãe, verdadeiramente mãe, a que nem nos terrores da morte abandonava o Filho. Como poderia

ela ter sido assustada pela morte, esta cujo «amor era forte como a morte» (Ct.8,6), e mais forte até que a

própria morte. Sim, de pé ela se mantinha aos pés da cruz de Jesus e a dor desta cruz crucificava-a em seu

próprio coração, também; todas as chagas que via no corpo ferido de seu Filho eram gládios que lhe

trespassavam a alma (Lc 2,35). É pois com toda a justiça que ali mesmo é proclamada Mãe, e lhe seja

designado um protector bem escolhido que a tome a seu cuidado, porque foi de fato ali que se manifestaram o

amor perfeito da mãe para com o Filho e a verdadeira humanidade que o Filho recebera da mãe . Tendo-a

Jesus amado, levou o seu amor «até ao extremo» (Jo 13,1). Não só os seus últimos momentos de vida foram

para ela, como também as suas últimas palavras: acabando por assim dizer de ditar o seu testamento, Jesus

confiou a mãe aos cuidados do seu mais querido herdeiro. Pedro recebeu a Igreja; e João, recebeu Maria. Esta

parte da herança coube a João como um sinal do amor privilegiado de que era objeto, mas também devido à

sua castidade . Porque convinha que à mãe do Senhor só prestasse serviços o discípulo bem amado de seu

Filho, e mais ninguém . E por tal disposição providencial, poderia o futuro evangelista de tudo se ocupar com

familiaridade juntamente com a que tudo sabia, aquela que, desde sempre, observava tudo o que a seu Filho

dizia respeito e «conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração» (Lc.2,19).

(At.2,17-18) – pg.1415 – DDPPED 17.Acontecerá nos últimos dias - é Deus quem fala -, que derramarei do meu Espírito sobre todo ser vivo: profetizarão os vossos

filhos e as vossas filhas. Os vossos jovens terão visões, e os vossos anciãos sonharão.

18.Sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei naqueles dias do meu Espírito e profetizarão.

– No Lúmen Gentium lemos: “Cristo, o grande profeta que proclamou o Reino do Pai , quer pelo testemunho

da vida, quer pela força da palavra, continuamente exerce seu múnus profético até plena manifestação da

glória.Ele o faz não só através da hierarquia que ensina em seu nome e com seu poder, mas também através

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dos leigos.Por esta razão constitui-nos testemunhas e ornou-nos com o senso da fé e a graça da palavra, para

que brilhe a força do Evangelho na vida cotidiana, familiar e social”. Cristo abastece-nos, fortalece-nos,

revigora as forças.

At.2,40 –DDPP(Ex) – p.1416 40.Ainda com muitas outras palavras exortava-os,dizendo: “Salvai-vos do meio desta geração perversa!”.

(At.11,27-30) –DDPP(Ex)- p.1427 27.Por aqueles dias desceram alguns profetas de Jerusalém a Antioquia.

28.Um deles chamado Ágapo levantou-se e deu a entender pelo Espírito Santo que haveria uma grande fome por toda a terra. Esta

veio com efeito no reinado de Cláudio.

29. Os discípulos resolveram, cada um conforme suas posses, enviar socorro aos irmãos da Judéia.

30. Assim o fizeram e o enviaram aos anciãos por intermédio de Saulo e Barnabé”.

- O Espírito Santo revela também que haverá uma grande fome e assim leva os discípulos a repartir o que

tinha com os necessitados.

At.13,13-25 – DDPP(Ex)- p.1429.0 13. Paulo e os seus companheiros navegaram de Pafos e chegaram a Perge, na Panfília, de onde João, apartando-se deles, voltou

para Jerusalém.

14. Mas eles, deixando Perge, foram para Antioquia da Pisídia. Ali entraram em dia de sábado na sinagoga, e sentaram-se.

15. Depois da leitura da lei e dos profetas, mandaram-lhes dizer os chefes da sinagoga: Irmãos, se tendes alguma palavra de

exortação ao povo, falai-a.

16. Paulo levantou-se, fez um sinal com a mão e falou: Homens de Israel e vós que temeis a Deus, ouvi. 17. O Deus do povo

de Israel escolheu nossos pais e exaltou este povo no tempo em que habitava na terra do Egito, de onde os tirou com o poder de seu

braço.

18. Por espaço de quarenta anos alimentou-os no deserto.

19. Destruiu sete nações na terra de Canaã e distribuiu-lhes por sorte aquela terra durante quase quatrocentos e cinqüenta anos.

20. Em seguida, lhes deu juízes até o profeta Samuel.

21.Pediram então um rei, e Deus lhes deu, por quarenta anos, Saul, filho de Cis, da tribo de Benjamim. 22. Depois, Deus o

rejeitou e mandou-lhes Davi como rei, de quem deu este testemunho: Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração,

que fará todas as minhas vontades.

23. De sua descendência, conforme a promessa, Deus fez sair para Israel o Salvador Jesus.

24. João tinha pregado, desde antes da sua vinda, o batismo do arrependimento a todo o povo de Israel.

25. Terminando a sua carreira, dizia: Eu não sou aquele que vós pensais, mas após mim virá aquele de quem não sou digno de

desatar o calçado.

- Paulo exorta a crer, a amar,fortalecer, se converter e deixar-se conduzir por Jesus.

Comentário feito por

Concílio Vaticano II

Constituição Dogmática sobre a Revelação, «Dei Verbum», §§ 7-8

«Quem receber aquele que Eu enviar é a Mim que recebe»

Deus dispôs amorosamente que permanecesse íntegro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto

tinha sido revelado para salvação de todos os povos. Por isso, Cristo Senhor, em Quem se consuma toda a

revelação do Deus Altíssimo (2Co.1,20; 3, 16-4, 6), mandou aos Apóstolos que pregassem a todos, como

fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes, o Evangelho prometido antes pelos Profetas

e por Ele cumprido e promulgado pessoalmente, comunicando-lhes assim os dons divinos. Isto foi realizado

com fidelidade, tanto pelos Apóstolos que, na sua pregação oral, exemplos e instituições transmitiram aquilo

que tinham recebido dos lábios, do trato e das obras de Cristo, e o que tinham aprendido por inspiração do

Espírito Santo, como por aqueles Apóstolos e varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito

Santo, escreveram a mensagem da salvação.Porém, para que o Evangelho fosse perenemente conservado

íntegro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram os Bispos como seus sucessores, «entregando-lhes o seu

próprio ofício de magistério» (Santo Irineu). Portanto, esta Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura dos dois

Testamentos são como um espelho no qual a Igreja peregrina na Terra contempla a Deus, de Quem tudo

recebe, até ser conduzida a vê-Lo face a face tal qual Ele é (1Jo 3, 2). Esta tradição apostólica progride na

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Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Com efeito, progride a percepção, tanto das coisas como das

palavras transmitidas, quer mercê da contemplação e do estudo dos crentes, que as meditam no seu coração

(Lc 2, 19.51), quer mercê da íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer mercê da

pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade. Isto é, a Igreja tende

continuamente, no decurso dos séculos, para a plenitude da verdade divina, até que nela se realizem as

palavras de Deus.

At.13,16-33 DDPP(Ex) - p.1429.0 26.Irmãos, filhos de Abraão, e os que entre vós temem a Deus: a nós é que foi dirigida a mensagem de salvação.

27.Com efeito, os habitantes de Jerusalém e os seus magistrados não conheceram Jesus, e, sentenciando-o, cumpriram os oráculos

dos profetas, que cada sábado são lidos.

28.Embora não achassem nele culpa alguma de morte, pediram a Pilatos que lhe tirasse a vida.

29.Depois de realizarem todas as coisas que dele estavam escritas, tirando-o do madeiro, puseram-no num sepulcro.

30.Mas Deus o ressuscitou dentre os mortos.

31.Durante muitos dias apareceu àqueles que com ele subiram da Galiléia a Jerusalém, os quais até agora são testemunhas dele junto

ao povo.

32.Nós vos anunciamos: a promessa feita a nossos pais,

33.Deus a tem cumprido diante de nós, seus filhos, suscitando Jesus, como também está escrito no Salmo segundo: Tu és meu Filho,

eu hoje te gerei (Sl 2,7).

-Paulo exorta aos judeus a se converterem e a crerem que Jesus é Deus, Senhor e Redentor.

Comentário feito por

São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e Doutor da Igreja

Comentário ao Evangelho de João, 9 ; PG 74, 182-183 (trad. Delhougne, Les Pères commentent, p. 373)

«A fim de que, onde Eu estou, vós estejais também»

«Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um

lugar?» Se as moradas do Pai não fossem numerosas, o Senhor teria dito que falava como precursor, a fim de

preparar as moradas dos santos. Mas Ele sabia que já estavam preparadas muitas moradas, à espera da

chegada dos amigos de Deus. Apresenta, pois, outra justificação para a Sua partida: preparar o caminho da

nossa ascensão para esses lugares do céu abrindo-nos uma passagem para lá chegarmos, quando anteriormente

esta rota era impraticável para nós. Porque o céu estava absolutamente encerrado para os homens, e nunca ser

algum de carne tinha penetrado neste santíssimo e puríssimo domínio dos anjos. Cristo inaugurou este

caminho para as alturas. Oferecendo-Se a Si mesmo a Deus Pai como primícias dos que dormem nos túmulos

da terra, permitiu à carne ascender ao céu e foi o primeiro homem a aparecer aos habitantes lá do alto. Os

anjos não conheciam o augusto e grandioso mistério de uma entronização celeste da carne. Foi com espanto e

admiração que assistiram a esta ascensão de Cristo. Quase perplexos por tão inaudito espetáculo, exclamaram:

«Quem é Esse, que vem de Edom?» (Is 63, 1), ou seja, da terra. Assim, pois, Nosso Senhor Jesus Cristo abriu-

nos um caminho novo e vivo (Hb.10,20). «Cristo não entrou num santuário feito por mão de homem, figura

do verdadeiro, mas no próprio céu, para Se apresentar agora diante de Deus por nós» (Hb.9,24).

At.13,44-52 - DDPP(Ex) - p.1429.0 44. No sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus.

45. Os judeus, vendo a multidão, encheram-se de inveja e puseram-se a protestar com injúrias contra o que Paulo falava.

46. Então Paulo e Barnabé disseram-lhes resolutamente: Era a vós que em primeiro lugar se devia anunciar a palavra de Deus.

Mas, porque a rejeitais e vos julgais indignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os pagãos.

47. Porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te estabeleci para seres luz das nações, e levares a salvação até os confins da

terra (Is 49,6).

48. Estas palavras encheram de alegria os pagãos que glorificavam a palavra do Senhor. Todos os que estavam predispostos para a

vida eterna fizeram ato de fé.

49. Divulgava-se, assim, a palavra do Senhor por toda a região.

50. Mas os judeus instigaram certas mulheres religiosas da aristocracia e os principais da cidade, que excitaram uma perseguição

contra Paulo e Barnabé e os expulsaram do seu território.

51. Estes sacudiram contra eles o pó dos seus pés, e foram a Icônio.

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52. Os discípulos, por sua vez, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.

-Paulo e seus companheiros exortam os pagãos a crerem, esperarem, terem ânimo, se converter e deixarem-se

conduzir pelo Senhor. Tem bastante êxito com os pagãos.

Comentário feito por:

São Cipriano (c. 200-258), Bispo de Cartago e mártir

A Oração do Senhor, 2-3 (trad. DDB 1982, p. 41 rev.; cf. breviário)

Invocar o nome de Jesus ao pedir

Entre recomendações salutares e preceitos divinos através dos quais proveu à salvação do Seu povo, o Senhor

deu-nos ainda o modelo de oração; Ele próprio nos ensinou o que devemos pedir nas nossas preces. Ele, que

nos dá a vida, também nos ensina a rezar, com aquela mesma bondade que O levou a conceder-nos tantos

outros benefícios. Assim, quando falamos ao Pai através da oração que o Senhor nos ensinou, somos mais

facilmente escutados. Ele previra que viria a hora em que: «os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em

espírito e verdade» (Jo 4, 23) e cumpriu o que anunciara. Santificados pelo Espírito e pela verdade que vêm

Dele, podemos igualmente, graças ao que nos ensinou, adorar em espírito e verdade. Uma vez que foi graças a

Cristo que recebemos o Espírito que oração poderia ser mais espiritual do que aquela que Ele nos deu? Que

oração pode ser mais verdadeira do que aquela que saiu da boca do Filho, que é a própria Verdade? Por isso,

irmãos bem-amados, rezemo-la como o Mestre no-la ensinou. Clamar a Deus com palavras Dele é súplica que

Lhe é amável e filial; é fazer-Lhe chegar aos ouvidos a oração de Cristo. Que o Pai reconheça a voz do Filho

quando Lhe dirigimos o nosso pedido. Que Aquele que vive no nosso coração seja também a nossa voz. Ele é

nosso advogado junto do Pai: intercede pelos nossos pecados quando nós, pecadores, lhe pedimos perdão

pelas nossas faltas. Pronunciemos, então, as palavras do nosso advogado, porque é Ele quem nos diz: «Se

pedirdes alguma coisa ao Pai em Meu nome, Ele vo-la dará» (Jo.16,23).

At.15,22-31 DDPP(Ex) - p.1433

22.Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos com toda a comunidade escolher homens dentre eles e enviá-los a Antioquia com

Paulo e Barnabé: Judas, que tinha o sobrenome de Barsabás, e Silas, homens notáveis entre os irmãos.

23.Por seu intermédio enviaram a seguinte carta: "Os apóstolos e os anciãos aos irmãos de origem pagã, em Antioquia, na Síria e

Cilícia, saúde!

24.Temos ouvido que alguns dentre nós vos têm perturbado com palavras, transtornando os vossos espíritos, sem lhes termos dado

semelhante incumbência.

25.Assim nós nos reunimos e decidimos escolher delegados e enviá-los a vós, com os nossos amados Barnabé e Paulo,

26.homens que têm exposto suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo.

27.Enviamos, portanto, Judas e Silas que de viva voz vos exporão as mesmas coisas.

28.Com efeito, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor outro peso além do seguinte indispensável:

29.que vos abstenhais das carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne sufocada e da impureza. Dessas coisas fareis bem de

vos guardar conscienciosamente. Adeus!

30.Tendo-se despedido, a delegação dirigiu-se a Antioquia. Ali reuniram a assembléia e entregaram a carta.

31.À sua leitura, todos se alegraram com o estímulo que ela trazia.

32.Judas e Silas que eram também profetas, dirigiram-se aos irmãos com muitas palavras de exortação e animação

At.18,1-11- DDPP(C) - p.1435 1.Depois disso, saindo de Atenas, Paulo dirigiu-se a Corinto.

2.Encontrou ali um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, e sua mulher Priscila. Eles pouco antes haviam chegado da Itália, por

Cláudio ter decretado que todos os judeus saíssem de Roma. Paulo uniu-se a eles.

3.Como exercessem o mesmo ofício, morava e trabalhava com eles. (Eram fabricantes de tendas.)

4.Todos os sábados ele falava na sinagoga e procurava convencer os judeus e os gregos.

5.Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo dedicou-se inteiramente à pregação da palavra, dando aos judeus

testemunho de que Jesus era o Messias.

6.Mas como esses contradissessem e o injuriassem, ele, sacudindo as vestes, disse-lhes: O vosso sangue caia sobre a vossa cabeça!

Tenho as mãos inocentes. Desde agora vou para o meio dos gentios.

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7.Saindo dali, entrou em casa de um prosélito, chamado Tício Justo, cuja casa era contígua à sinagoga.

8.Entretanto Crispo, o chefe da sinagoga, acreditou no Senhor com todos os da sua casa. Sabendo disso, muitos dos coríntios,

ouvintes de Paulo, acreditaram e foram batizados.

9.Numa noite, o Senhor disse a Paulo em visão: Não temas! Fala e não te cales.

10.Porque eu estou contigo. Ninguém se aproximará de ti para te fazer mal, pois tenho um numeroso povo nesta cidade.

11. Paulo deteve-se ali um ano e seis meses, ensinando a eles a palavra de Deus.

-O Senhor reacende a esperança,infunde a coragem em Paulo. Percebemos claramente que esta profecia veio

do dom da palavra de ciência (visão).

-A estadia de Paulo em Corinto estava atribulada e o Senhor tinha preparado a cidade de Corinto para ter um

povo cristão numeroso, embora, para Paulo, naquele momento, isto não fosse claro. Assim mesmo ele

obedece à voz do Senhor e detém-se ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a Palavra de Deus.

Comentário feito por

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja

Sermão Maio, 98, 1, 2: PLS 2, 494-495

Já estamos com Ele

Hoje, Nosso Senhor Jesus Cristo elevou-Se ao céu; que o nosso coração se eleve com Ele. Ouçamos o que nos

diz o apóstolo Paulo: «Portanto, já que fostes ressuscitados com Cristo, procurai as coisas do alto, onde está

Cristo, sentado à direita de Deus» (Cl.3, 1).

Assim como Jesus Se elevou sem com isso Se afastar de nós, do mesmo modo nós estamos já com Ele apesar

de a Sua promessa ainda não se ter realizado na nossa carne. Ele já foi elevado acima dos céus; contudo, sofre

na terra todas as penas que nós, os Seus membros, sentimos. Disso deu testemunho quando exclamou do alto:

«Saulo, Saulo, porque Me persegues?» (At.9, 4), e ainda: «Tive fome, e destes-Me de comer» (Mt 25, 35). Por

que não trabalhamos na terra de modo a descansarmos, pela fé, pela esperança e pela caridade que nos unem a

Ele, desde já com Ele no céu?

Ele, que está lá, está também conosco, e nós, que estamos aqui, estamos também com Ele. Ele pode fazê-lo

devido à Sua divindade, ao Seu poder, ao Seu amor; e nós, se não o podemos fazer pela divindade, podemos

fazê-lo pelo amor. Ele não abandonou o céu quando desceu até nós, e não nos abandonou quando subiu ao

céu. Permanece conosco, mesmo estando no alto, pois prometeu-nos antes da Sua Ascensão, dizendo: «Eu

estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt.28, 20).

(At.19,5-6) – DDPP(Ed) - p.1437 5.Ouvindo isso, foram batizados em nome do Senhor Jesus.

6.E quando Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e falavam em línguas estranhas e profetizavam.

- A manifestação do carisma da profecia era comum na Igreja primitiva, é a que narra o Batismo no Espírito

Santo dos discípulos de João Batista que estavam em Éfeso: “E quando Paulo lhes impôs as mãos, O Espírito

Santo desceu...

- João Batista batizava o povo num batismo de penitência, agora é em nome de Jesus que são batizados para

receber o Espírito Santo. No texto acima, os carismas das línguas e da profecia manifestam a presença do

Espírito Santo. São abastecidos, fortalecidos e edificados.

At.20,17-27 - DDPP(Ex) - vv.22-23 – DDPP(C) - vv.24-25 – p.1439 17.Mas de Mileto mandou a Éfeso chamar os anciãos da igreja.

18.Quando chegaram, e estando todos reunidos, disse-lhes: Vós sabeis de que modo sempre me tenho comportado para convosco,

desde o primeiro dia em que entrei na Ásia.

19.Servi ao Senhor com toda a humildade, com lágrimas e no meio das provações que me sobrevieram pelas ciladas dos judeus.

20.Vós sabeis como não tenho negligenciado, como não tenho ocultado coisa alguma que vos podia ser útil. Preguei e vos instruí

publicamente e dentro de vossas casas.

21Preguei aos judeus e aos gentios a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus.

22.Agora, constrangido pelo Espírito, vou a Jerusalém, ignorando a que ali me espera.

23.Só sei que, de cidade em cidade, o Espírito Santo me assegura que me esperam em Jerusalém cadeias e perseguições.

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24.Mas nada disso temo, nem faço caso da minha vida, contanto que termine a minha carreira e o ministério da palavra que recebi

do Senhor Jesus, para dar testemunho ao Evangelho da graça de Deus.

25.Sei agora que não tornareis a ver a minha face, todos vós, por entre os quais andei pregando o Reino de Deus.

26.Portanto, hoje eu protesto diante de vós que sou inocente do sangue de todos,

27.porque nada omiti no anúncio que vos fiz dos desígnios de Deus. - Paulo é um homem que conduz a sua vida passo a passo, dia após dia, na escuta da orientação de Deus, e isto

ele revela quando faz sua prédica aos anciãos de Éfeso.

- A Expressão de “cidade em cidade” mostra que Deus foi “profetizando” a Paulo a cerca de seu plano para a

vida dele aos poucos, portanto em vários momentos de oração e escuta. Paulo deixa-se conduzir pelo Espírito

Santo.Portanto uma profecia de exortação.

- Outro fato importante, Paulo não teme as cadeias e perseguições, -contanto que termine a sua carreira e o

ministério que Deus lhe deu - sabe perfeitamente que, quando Deus revela algo, ou pede algo, sempre dá ao

homem a graça da consolação, infundindo coragem, reacendendo a esperança pela graça da adesão ao seu

plano perfeito.

Comentário feito por:

São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e Doutor da Igreja

Comentário ao evangelho de João, 11, 7; Pg 74, 497-499 (a partir da trad. Delhougne, Les Pères

commentent)

«Pai, tenho manifestado o Teu nome aos homens»

O Filho não manifestou o nome do Pai apenas revelando-o e dando-nos uma instrução exata sobre a Sua

divindade, uma vez que tudo isso tinha sido proclamado antes da vinda do Filho, pela Escritura inspirada. O

Filho também nos ensinou, não só que Ele é verdadeiramente Deus, mas que é também verdadeiramente Pai, e

que é assim verdadeiramente chamado, pois tem em Si mesmo e produz para fora de Si mesmo o Filho, que é

co-eterno com a Sua natureza.O nome de Pai é mais apropriado a Deus do que o nome de Deus: este é um

nome de dignidade, aquele significa uma propriedade substancial. Porque quem diz Deus diz o Senhor do

universo. Mas quem nomeia o Pai específica a característica da pessoa: mostra que é Ele que gera. Que o

nome de Pai é mais verdadeiro e mais apropriado que o de Deus mostra-nos o próprio Filho pelo modo como

o usa. Pois Ele não dizia: «Eu e Deus», mas: «Eu e o Pai somos um» (Jo.10,30). E dizia também: «Foi a Ele,

ao Filho, que Deus marcou com o Seu selo» (Jo.6,27).

Mas, quando mandou os seus discípulos batizarem todos os povos, ordenou expressamente que o fizessem,

não em nome de Deus, mas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt.28,19).

At.21,8-14 –DDPP(Ex) – vv.10-11 – DDPP(C) – vv.12-14 8.Partindo no dia seguinte, chegamos a Cesaréia e, entrando na casa de Filipe, o Evangelista, que era um dos sete (diáconos),

ficamos com ele.

9.Tinha quatro filhas virgens que profetizavam.

10.Já estávamos aí fazia alguns dias, quando chegou da Judéia um profeta, chamado Ágabo.

11.Veio ter conosco, tomou o cinto de Paulo e, amarrando-se com ele pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: assim os

judeus em Jerusalém ligarão o homem a quem pertence este cinto e o entregarão às mãos dos pagãos.

12.A estas palavras, nós e os fiéis que eram daquele lugar, rogamos-lhe que não subisse a Jerusalém.

13.Paulo, porém, respondeu: Por que chorais e me magoais o coração? Pois eu estou pronto não só a ser preso, mas também

a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.

14.Como não pudéssemos persuadi-lo, desistimos, dizendo: Faça-se a vontade do Senhor!

-A manifestação do carisma da profecia era comum na Igreja primitiva mesmo no meio dos fiéis comuns, da

mesma forma que ela volta a ser hoje entre nós.

- Também nos espantamos quando São Paulo nos diz:

(1Co.14,1-5)- DDPP(Ed)-(Ex)-(C) - p.1477 1.Empenhai-vos em procurar a caridade.Aspirai igualmente aos dons espirituais, mas sobretudo o dom da profecia

2.Aquele que fala em línguas, não fala aos homens, senão a Deus: Ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do

Espírito Santo”.

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3.Aquele, porém que profetiza, fala aos homens, para edificá-los, exortá-los e consolá-los.

4.Aquele que fala em línguas edifica-se a si mesmo; mas o que profetiza, edifica a assembléia”.

5.Ora desejo que todos faleis em línguas, porém muito mais desejo que profetizeis.

- Revelando-nos a superioridade do carisma da profecia sobre os outros dons, pois reconhece que neste dom

de Deus fala claramente e de forma simples mas direta com o homem para edificá-lo, exortá-lo e consolá-

lo.Diante da palavra de Deus, da voz divina devemos nos colocar em atitude de respeito e de obediência.

(1Co.14,22-25)- DDPP(Ex) – p.1478.9 – 22.Assim as línguas são sinal, não para os fiéis e sim para os infiéis. Enquanto que as profecias são sinal não para os infiéis, mas

para os fiéis.

23.Se, pois, numa assembléia da Igreja inteira todos falarem em línguas e se entrarem homens simples ou infiéis não direis que

estais loucos?.

24.Se porém todos profetizarem, e entrar ali um infiel ou um homem simples, por todos é convencido, por todos é julgado;

25.os segredos do seu coração tornam-se manifestos.Então prostrado com a face em terra adorará a Deus e proclamará que Deus

está realmente entre vós”.

- A profecia é uma mensagem de Deus pessoal e para agora, para o momento em que estamos vivendo.É um

diálogo de Deus com os homens.È Deus que nos fala através de uma pessoa para nos orientar, corrigir,

exortar, encorajar falar do seu amor e nos levar a amar mais a Ele e a nossos irmãos ou também revelar o que

mais Ele queira, pois o dom é dele e não nosso.Diante da Palavra de Deus, da voz divina, devemos nos

colocar em atitude de respeito e de obediência. Na carta de S.Paulo aos Coríntios, o apóstolo instrui sobre a

profecia, afirmando que é um sinal para os fiéis, contrapondo-se ao dom de línguas.

(1.Co.14,29-33) –DDPP(Ex)– p.1478 29.Quanto aos profetas, falem dois ou três, e os outros julguem.

30.Se for feita uma revelação a algum dos assistentes, cale-se o primeiro.

31.Todos, um após outro, podeis profetizar, para todos aprenderem e serem todos exortados.

32.O espírito dos profetas deve estar-lhes submisso,

33.porquanto Deus não é Deus de confusão, mas de paz.

-A profecia acontece depois de um louvor a Deus, em línguas, em cânticos ou em palavras, quando a

comunidade se reúne em oração ou quando um cristão se recolhe na sua oração pessoal. Após este louvor,

segue-se um silêncio de escuta a Deus, um impulso,um movimento no íntimo do nosso espírito, um

formigamento nos dedos, um calor pelo corpo todo, um batimento rápido de coração, ou da forma que o

Senhor achar melhor ungir, é então proclamada a mensagem de Deus.Geralmente as profecias são distas na

primeira ou segunda pessoa, pois o Senhor é um Deus pessoal e nos falará diretamente:”Não temas”, “Tu és

meu povo”!,”Eu sou o teu Deus”.Esta mensagem divina é ouvida em nossos corações.Depois que a mensagem

é proclamada todos devem estar em uma atitude de escuta para que o Senhor confirme a profecia (v.29)

através de moções dadas a outros membros da comunidade.Deus pode se utilizar da própria Palavra, de visões,

sentimentos ou palavras para confirmar a veracidade da profecia.

(Ef.4,11-13) –DDPP(Ed) – p.1500.1 11.A uns ele constituiu apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores,

12.para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo,

13.até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a

estatura da maturidade de Cristo.

-S.Paulo aos efésios fala que Jesus dá segurança na caminhada; fortalece; abastece e dá certeza de continuar

perseverante no amor.

- O objetivo da profecia é transmitir uma mensagem divina, pelo poder do Espírito Santo, mensagem esta que

penetra no mais profundo do coração do homem, o atrai para uma vida com Deus cada vez mais intensa

passando a viver aquilo para o qual foi escolhido, predestinado, para servir à celebração da glória de Deus.

1Ts.5,1-6.9-11 – DDPPED – p.1514 1.A respeito da época e do momento, não há necessidade, irmãos, de que vos escrevamos.

2.Pois vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como um ladrão de noite.

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3. Quando os homens disserem: Paz e segurança!, então repentinamente lhes sobrevirá a destruição, como as dores à mulher

grávida. E não escaparão.

4. Mas vós, irmãos, não estais em trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão.

5. Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas.

6.Não durmamos, pois, como os demais. Mas vigiemos e sejamos sóbrios.

7.Porque os que dormem, dormem de noite; e os que se embriagam, embriagam-se de noite.

8.Nós, ao contrário, que somos do dia, sejamos sóbrios. Tomemos por couraça a fé e a caridade, e por capacete a esperança da

salvação.

9.Porquanto não nos destinou Deus para a ira, mas para alcançar a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo. 10.Ele morreu por nós, a

fim de que nós, quer em estado de vigília, quer de sono, vivamos em união com ele.

11.Assim, pois, consolai-vos mutuamente e edificai-vos uns aos outros, como já o fazeis.

-S. Paulo exorta os tessalonicenses crer, a amar, a esperar, a ter ânimo e afugentar temores e angústias, para

reacenderem a esperança, infundirem ânimo e se fortalecerem no Senhor.

Comentário feito por :

Diádoco de Foticeia (c. 400-?), bispo

Cem Capítulos Sobre o Conhecimento, 78-80, da Filocalia (tradução a partir da de Bellefontaine 1987, t. 8, p.

159 rev.)

«Cala-te e sai desse homem!»

O Batismo, banho de santidade, lava as manchas do pecado, mas não altera a dualidade da nossa vontade e

não impede que os espíritos do mal nos combatam ou nos enredem nas suas ilusões. Mas a graça de Deus tem

a sua morada na profundidade da alma, ou seja, no entendimento. Com efeito, diz-se que a filha do rei e as

donzelas suas amigas «avançam com alegria e júbilo e entram com alegria no palácio real» (Sl.44,16): entram

para o interior, não se mostram aos demônios. Por isso, quando nos recordamos de Deus com fervor, sentimos

brotar o desejo do divino do fundo do nosso coração. Mas, nessa altura, os espíritos malignos atacam os

sentidos corporais e aí se ocultam, aproveitando o relaxamento da carne. Desta forma, o nosso interior, como

diz o divino apóstolo Paulo, rejubila continuamente na lei do Espírito (Rm.7, 22), mas os sentidos desejam

deixar-se levar pela propensão para os prazeres «A luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam» (Jo

1, 5): o Verbo de Deus, verdadeira Luz, no Seu incomensurável amor pelo Homem, considerou oportuno

manifestar-Se à Criação em carne e osso, acendendo em nós a luz do Seu conhecimento divino. O espírito do

mundo não acolheu o desígnio de Deus, isto é, não O reconheceu. No entanto, como maravilhoso teólogo, o

evangelista João acrescenta: «O Verbo era a luz verdadeira que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina.

Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não O reconheceu. Veio para o que

era Seu e os Seus não O receberam. Mas, a quantos O receberam, aos que Nele crêem, deu-lhes o poder de se

tornarem filhos de Deus» (vv. 9-12). Quando diz que o mundo não recebeu a verdadeira Luz, o evangelista

não se refere a Satanás, que lhe é estranho, visto que A rejeitou desde o início. Com esta afirmação, São João

acusa justamente os homens que compreendem os poderes e as maravilhas de Deus mas devido aos corações

obscurecidos, não se querem aproximar da claridade do Seu conhecimento.

(1Ts.5,19-21) –DDPP(Ex) –p.1514 19.Não extingais o Espírito,

20. não desprezeis as profecias.

21.Examinai tudo: abraçai o que é bom.

22.Guardai-vos de toda espécie de mal .

- Estas expressões de São Paulo eram manifestadas no meio de instruções como “vivei sempre contentes”,

“orai sem cessar”, “daí graças em todas as circunstâncias”, iniciando que considerava o dom da profecia no

mesmo nível que a graça da oração, o dom da alegria, o louvor e a gratidão, a atenção às moções do Espírito e

o cuidado de não extingui-lo”, isto é, o cuidado de estar sempre crescendo na abertura às suas moções e

inspirações , pois Ele é o motor da Igreja.

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(1Tm.1,17-19) – DDPP(Ex) - p.1517 17.Ao Rei dos séculos, Deus único, invisível e imortal, honra e glória pelos séculos dos séculos! Amém.

18.Eis aqui uma recomendação que te dou, meu filho Timóteo, de acordo com aquelas profecias que foram feitas a teu respeito:

amparado nelas, sustenta o bom combate,

19.com fidelidade e boa consciência, que alguns desprezaram e naufragaram na fé.

- Timóteo, o discípulo diletíssimo de São Paulo, é mais um forte exemplo da importância que se dava à

manifestação do carisma da profecia na Igreja Primitiva. Por acreditarem que Deus falava a eles através deste

dom, conduziam suas vidas inteiramente de acordo com a palavra proferida por Deus. São Paulo teve grande

cuidado em instruir Timóteo, levando-o a sustentar o bom combate, amparando-o nas profecias proclamadas a

seu respeito.O que nos revela que a Igreja primitiva valorizava e levava muito a sério o carisma da profecia,

(1Tm.4,14-15) - DDPP(Ex) - p.1519 12.Ninguém te despreze por seres jovem. Ao contrário, torna-te modelo para os fiéis, no modo de falar e de viver, na caridade, na fé,

na castidade.

13.Enquanto eu não chegar, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino.

14.Não negligencieis o carisma que está em ti e que foi dado pro profecia, quando a assembléia dos anciãos te impôs as mãos.

15.Põe nisto toda a diligência e empenho, de tal modo que se torne manifesto a todos o teu aproveitamento”.

16.Olha por ti e pela instrução dos outros. E persevera nestas coisas. Se isto fizeres, salvar-te-ás a ti mesmo e aos que te ouvirem.

- Ainda em relação a seriedade que davam ao Dom da Profecia,observamos que São Paulo exorta novamente

Timóteo a não negligenciar o que lhe foi dado por imposição das mãos dos anciãos, a viver retamente seu

sacerdócio , através de uma palavra de profecia a ele dirigida.Exorta-o a ter ânimo a fortalecer-se.

Comentário feito por:

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e Doutor da Igreja

Sermão 7 sobre o Cântico dos Cânticos

«Por causa do seu grande amor»

«Beija-me com ósculos da tua boca» (Ct.1,2). Quem fala assim? A esposa do Cântico dos cânticos. E quem é

esta esposa? É a alma associada a Deus. E a quem fala ela? Ao seu Deus. Não se saberia encontrar palavras

mais ternas, para exprimir a ternura recíproca de Deus e da alma, que estas do Esposo e da esposa. Tudo lhes é

comum, não possuem nada próprio nem à parte. Única é a sua herança, única a sua mesa, única a sua casa,

única mesmo a carne que em conjunto eles constituem (Gn 2, 24). Se a palavra amar convém especialmente e

em primeiro lugar aos esposos, não é sem boas razões que se dá o nome de esposa à alma que ama Deus. A

prova de que ela ama é que pede a Deus um beijo. Não deseja nem a liberdade, nem uma recompensa, nem

uma herança, nem mesmo um ensinamento, mas um beijo, ao jeito de uma esposa casta, elevada por um santo

amor e incapaz de esconder a chama que a queima. Sim, o seu amor é casto pois ela deseja apenas Aquele que

ama, e não qualquer coisa que lhe pertença. O seu amor é santo, porque ela ama não num desejo pesado da

carne, mas na pureza do espírito. O seu amor é ardente pois, inebriada por este mesmo amor, esquece a

grandeza de Quem ama. Não é Ele, com efeito, que com um olhar faz tremer a terra? (Sl 103, 32). E é a Ele

que ela pede um beijo? Não estará embriagada? Sim, está embriagada de amor pelo seu Deus. Que força a do

amor! Que confiança e que liberdade no Espírito! Nem há maneira mais clara de manifestar que «o amor

perfeito afasta o temor» (1Jo.4, 18).

2Tm.1,6-8.13-14 – DDPP(Ex) – p.1521.2 6.Por esse motivo, eu te exorto a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos.

7.Pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de sabedoria.

8.Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro, mas sofre comigo pelo Evangelho,

fortificado pelo poder de Deus.

13.Toma por modelo os ensinamentos salutares que recebeste de mim sobre a fé e o amor a Jesus Cristo.

14.Guarda o precioso depósito, pela virtude do Espírito Santo que habita em nós.

-Paulo exorta Timóteo a se animar, fortalece-se, a ter ânimo, a se conduzir pelo Espírito Santo.

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Comentário feito por :

Papa Bento XVI

Encíclica «Deus caritas est», § 35 (trad. © copyright Libreria Editrice Vaticana)

«Somos servos inúteis»

Este modo justo de servir torna humilde o agente. Este não assume uma posição de superioridade face ao

outro, por mais miserável que possa ser de momento a sua situação. Cristo ocupou o último lugar no mundo

— a cruz — e, precisamente com esta humildade radical, redimiu-nos e ajuda-nos sem cessar. Quem se acha

em condições de ajudar a reconhecer que, precisamente deste modo, é também ele próprio ajudado; não é

mérito seu nem título de glória o fato de poder ajudar. Esta tarefa é graça.

Quanto mais alguém trabalhar pelos outros, tanto melhor compreenderá e assumirá como própria esta palavra

de Cristo: «Somos servos inúteis» (Lc.7,. 10). Na realidade, essa pessoa reconhece que age, não em virtude de

uma superioridade ou de uma maior eficiência pessoal, mas porque o Senhor lhe concedeu este dom. Às

vezes, a excessiva vastidão das necessidades e as limitações do próprio agir poderão expô-lo à tentação do

desânimo. Mas é precisamente então que lhe serve de ajuda saber que, em última instância, não passa de um

instrumento nas mãos do Senhor; libertar-se-á assim da presunção de ter de realizar, pessoalmente e sozinha, o

necessário melhoramento do mundo. Com humildade, fará o que lhe for possível realizar e, com humildade,

confiará o resto ao Senhor. É Deus quem governa o mundo, não nós.

Hb.1,1-6 – DDPP(Ed) – p.1527 1. Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas.

2. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas. 3. Esplendor da glória

(de Deus) e imagem do seu ser, sustenta o universo com o poder da sua palavra. Depois de ter realizado a purificação dos pecados,

está sentado à direita da Majestade no mais alto dos céus,

4. tão superior aos anjos quanto excede o deles o nome que herdou.

5. Pois a quem dentre os anjos disse Deus alguma vez: Tu és meu Filho; eu hoje te gerei (Sl.2,7)? Ou então: Eu serei seu Pai e ele

será meu Filho (II Sm 7,14)?

6. E novamente, ao introduzir o seu Primogênito na terra, diz: Todos os anjos de Deus o adorem (Sl.96,7)

Comentário feito por

São Basílio (c. 330-379), monge e bispo de Cesareia da Capadócia, Doutor da Igreja

Homilia sobre a santa concepção de Cristo, 2.6; PG 31, 1459s (a partir da trad. Delhougne, Les Pères

commentent, p. 172 rev.)

«Deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus»

Deus na terra, Deus entre os homens! Desta vez, Ele não promulga a Sua Lei no meio dos relâmpagos, ao som

da trombeta, numa montanha fumegante, na obscuridade de uma tempestade aterradora (Ex.19, 16ss.), mas

recria-Se, de forma mansa e pacífica, num corpo humano, com os Seus irmãos de raça. Deus encarnado !

Como pode a divindade viver na carne? Como o fogo subsiste no ferro, não deixando o local onde arde, mas

comunicando-lhe. Com efeito, o fogo não se lança sobre o ferro mas, permanecendo no seu local, comunica-

lhe o seu poder. Ao fazê-lo, não fica minimamente diminuído, mas preenche plenamente o ferro ao qual se

comunica. Da mesma forma, Deus, o Verbo que «vive no meio de nós», não saiu de Si mesmo: «O Verbo que

Se fez carne» não foi submetido à mudança; o céu não foi despojado d'Aquele que contém, e no entanto a

terra acolhe no seu seio Aquele que está nos céus.

Apreende este mistério: Deus está na carne de forma a destruir a morte que nela se esconde. Quando se

«manifestou a graça de Deus, portadora de salvação para todos os homens» (Tt.2, 11), quando «brilhou o sol

de justiça» (Ml 3, 20), «a morte foi tragada pela vitória» (1Co.15, 54) porque não podia coexistir com a

verdadeira vida. Ó profundidade da bondade de Deus e do amor de Deus pelos homens! Demos glória com os

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pastores, dancemos com os coros dos anjos, porque «hoje nasceu o Salvador que é o Messias Senhor» (Lc.2,

1-12).«O Senhor é Deus; Ele tem-nos iluminado» [Sl 118 (117), 27], não sob a Sua aparência de Deus, para

não assustar a nossa fraqueza, mas sob a forma de um servo, a fim de conferir a liberdade àqueles que estavam

condenados à servidão. Quem teria o coração suficientemente adormecido e indiferente para não exultar de

alegria, para não irradiar felicidade, perante este acontecimento? É uma festa comum a toda a Criação. Todos

devem contribuir para ela, ninguém se deve mostrar ingrato. Elevemos nós também a voz para cantar o nosso

júbilo!

Comentário feito por

Santo Gregório Nazianzo (330-390), bispo e Doutor da Igreja

Hino 32; PG 37, 511-512

Vir à luz

Nós Te bem dizemos, Pai da Luz,

Cristo, Verbo de Deus, Esplendor do Pai,

Luz da Luz, e fonte de Luz,

Espírito de fogo, sopro do Filho e do Pai

Trindade Santa, Luz indivisa,

Tu dissipaste as trevas para criar

Um mundo luminoso, de ordem e beleza,

Feito à Tua semelhança.

De razão e de sabedoria iluminaste o homem,

Iluminaste-o com o selo da Tua Imagem,

De modo que, na Tua luz, veja a luz (Sl 36,10),

E todo ele se torne luz.

Fizeste brilhar no céu inúmeras estrelas,

Ordenaste ao dia e à noite

que se entendessem e partilhassem o tempo

Alternadamente, pacificamente.

A noite põe termo ao trabalho do corpo cansado,

O dia chama às obras que Te agradam,

Ensina-nos a fugir das trevas, a apressar-nos

Para esse dia que não terá ocaso.

(2Pd.1,19-21) – DDPP(Ex) – p.1547 19.Assim demos ainda maior crédito à palavra dos profetas, à qual fazeis bem em atender, como a uma lâmpada que brilha em um

lugar tenebroso até que desponte o dia e a estrela da manhã se levante em todos os corações.

20.Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal.

21.Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da

parte de Deus”.

- A profecia é um dom inspirado pelo Espírito Santo. São Pedro na sua segunda Epístola, diz que a palavra

dos profetas, à qual fazemos bem em entender, é como uma lâmpada que brilha em lugar tenebroso até que

desponte o dia e a estrela da manhã se levante em nossos corações.

- A pessoa que a recebe, sente uma profunda necessidade de transmiti-la aos irmãos, palavra no seu coração e

que não provém do seu raciocínio humano.

- Por isso mesmo é necessário sermos simples como Jesus, para exercemos este dom tão precioso para nós e

para nossos irmãos.

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1Jo.2,3-11 – DDPPE(C) – p.1550 3. Eis como sabemos que o conhecemos: se guardamos os seus mandamentos.

4.Aquele que diz conhecê-lo e não guarda os seus mandamentos é mentiroso e a verdade não está nele.

5.Aquele, porém, que guarda a sua palavra, nele o amor de Deus é verdadeiramente perfeito. É assim que conhecemos se estamos

nele:

6. aquele que afirma permanecer nele deve também viver como ele viveu.

7. Caríssimos, não vos escrevo nenhum mandamento novo, mas sim o mandamento antigo, que recebestes desde o princípio. Este

mandamento antigo é a palavra que acabais de ouvir.

8. Todavia, eu vos escrevo agora um mandamento novo - verdadeiramente novo, nele como em vós, porque as trevas passam e já

resplandece a verdadeira luz.

9. Aquele que diz estar na luz, e odeia seu irmão, jaz ainda nas trevas.

10 Quem ama seu irmão permanece na luz e não se expõe a tropeçar.

11. Mas quem odeia seu irmão está nas trevas e anda nas trevas, sem saber para onde dirige os passos; as trevas cegaram seus olhos.

-João mostra-nos Jesus como o consolador, paz verdadeira e plenitude dos anseios dos corações humanos,

para aqueles que aceitam sua presença.

Comentário feito por

Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo

Homilia 15 sobre São Lucas; PG 13, 1838-1839 (a partir da trad. Orval; cf SC 87)

«Deixarás ir em paz o Teu servo»

Simeão sabia que o único que pode libertar-nos da prisão do corpo, com a esperança da vida futura, é Aquele

que ele tinha nos braços. Foi por isso que disse: «Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o

teu servo, porque enquanto não tive Cristo nos meus braços era como que prisioneiro, estava incapaz de me

libertar das cadeias.» E note-se que isto não se aplica somente a Simeão, mas a todos os homens. Se alguém

abandona este mundo e quer alcançar o Reino, tome Jesus nos braços, aperte-O ao peito, e poderá chegar com

grande alegria aonde deseja ir. «Todos aqueles que são movidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus»

(Rom 8, 14). Assim pois, foi o Espírito Santo que levou Simeão ao Templo. E tu, se desejas ter Jesus nos

braços e tornar-te digno de sair dessa prisão, esforça-te por te deixares conduzir pelo Espírito, para chegares

ao templo de Deus. Desde já te encontras no templo do Senhor Jesus, ou seja, na Sua Igreja, neste templo de

pedras vivas (1P 2, 5). Assim pois, se vieres ao Templo conduzido pelo Espírito, encontrarás o Menino Jesus,

toma-Lo-ás nos teus braços e dirás: «Agora, Senhor, segundo a Tua palavra, deixarás ir em paz o Teu servo».

Esta libertação e esta partida têm lugar na paz. Quem morre em paz, senão aquele que tem a paz de Deus, que

sobrepuja todo o entendimento e guarda os corações e os pensamentos em Cristo (Fl. 4, 7)? Quem se retira em

paz deste mundo, senão aquele que compreende que Deus veio, em Cristo, reconciliar-Se com o mundo?

1Jo.2,18-21- DDPP(Ed) – p.1551 18.Filhinhos, esta é a última hora. Vós ouvistes dizer que o Anticristo vem. Eis que já há muitos anticristos, por isto conhecemos

que é a última hora.

19.Eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos nossos, ficariam certamente conosco. Mas isto se dá para

que se conheça que nem todos são dos nossos.

20.Vós, porém, tendes a unção do Santo e sabeis todas as coisas.

21. Não vos escrevi como se ignorásseis a verdade, mas porque a conheceis, e porque nenhuma mentira vem da verdade.

Comentário feito por:

Guilherme de Saint-Thierry (c. 1085-1148), monge beneditino, depois cisterciense

A Contemplação de Deus, 10 (a partir da trad. AELF; cf. SC 61, pp. 91ss.)

«O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina»

Page 90: DOM DE PROFECIA OU PALAVRA DE PROFECIA - …files.comunidades.net/saopedroapostolocampinas/DOM_DE_PROFECIA_OU... · -Profetizar é falar em nome de Deus. É dizer uma mensagem de

Sim, Tu amaste-nos primeiro, para que nós Te amássemos. Tu não necessitas do nosso amor, mas só

poderemos atingir os Teus desígnios amando-Te. Por isso, «muitas vezes e de muitos modos falou Deus aos

nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por

meio do Seu Filho». (Hb.1,1), o Seu Verbo. Foi por Ele que «a palavra do Senhor criou os céus, e o sopro da

Sua boca, todos os astros» (Sl 32, 6). Para Ti, falar através do Teu Filho não é outra coisa que mostrares,

fazeres ver com brilho quanto e como nos amas, dado que não poupaste o Teu próprio Filho, mas O entregaste

por todos nós (Rom 8, 32). E também Ele nos amou e a Si mesmo se entregou por nós (Gl.2, 20).Tal é a

Palavra, o Verbo Todo-poderoso que nos diriges, Senhor. Enquanto todos mergulhavam no silêncio, ou seja,

na profundidade do erro, Ele desceu das moradas reais (Sb.18, 14), para abater duramente o pecado e enaltecer

suavemente o amor. E tudo quanto fez, tudo quanto disse na terra, até os opróbrios, até os escárnios e as

bofetadas, até a cruz e o sepulcro, não eram mais que a Tua palavra pelo Teu Filho, palavra que nos incita ao

amor, palavra que desperta em nós o amor por Ti.Sabias com efeito, Deus, Criador das almas, que as almas

dos filhos dos homens não podem ser forçadas a esta afeição, mas que é necessário provocá-las. Porque, onde

houver constrangimento, não há liberdade; e onde não há liberdade, não há justiça. Quiseste que Te

amássemos, porque em justiça não podíamos ser salvos sem Te amar. E não podíamos amar-Te a menos que o

amor partisse de Ti. Por conseguinte, Senhor, como apóstolo do Teu amor o digo, Tu amaste-nos primeiro

(1Jo 4, 10), e primeiramente amas todos os que Te amam. Mas nós, nós amamos-Te pela afeição de amor que

puseste em nós.

Comentário feito por:

São Máximo de Turim (?-c. 420), bispo

Sermão 10, sobre o Natal do Senhor, PL 57, 24 (a partir da trad. Année en fêtes, Migne 2000, p. 78 rev.)

«Nascido do Pai antes de todos os séculos fez-Se homem e nasceu da Virgem Maria (Credo)

Caríssimos irmãos, há dois nascimentos em Cristo, e tanto um como o outro são a expressão de um poder

divino que nos ultrapassa absolutamente. Por um lado, Deus gera o Seu Filho a partir de Si mesmo; por outro,

Ele é concebido por uma virgem por intervenção de Deus. Por um lado, Ele nasce para criar a vida; por outro,

para eliminar a morte. Ali, nasce de Seu Pai; aqui, é trazido ao mundo pelos homens. Por ter sido gerado pelo

Pai, está na origem do homem; por ter nascido humanamente, liberta o homem. Uma e outra formas de

nascimento são propriamente inexprimíveis e ao mesmo tempo inseparáveis. Quando ensinamos que há dois

nascimentos em Cristo, não queremos com isto dizer que o Filho de Deus nasça duas vezes; mas afirmamos a

dualidade de natureza num só e mesmo Filho de Deus. Por um lado, nasceu Aquele que já existia; por outro,

foi produzido Aquele que ainda não existia. O bem-aventurado evangelista João afirma isto mesmo com as

seguintes palavras: «No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus»; e ainda: «E

o Verbo fez-Se homem».Assim, pois, Deus, que estava junto de Deus, saiu Dele, e a carne de Deus, que não

estava Nele, saiu de uma mulher. Assim, o Verbo fez-Se carne, não de maneira que Deus Se diluísse no

homem, mas para que o homem fosse gloriosamente elevado em Deus. É por isso que Deus não nasce duas

vezes; mas, por estes dois gêneros de nascimentos – a saber, o de Deus e o do homem –, o Filho único do Pai

quis ser, a um tempo, Deus e homem na mesma pessoa: «E quem poderá contar o Seu nascimento?» (Is.53, 8

Vulg)