214
FACULDADE DE FARMÁCIA UNIVERSIDADE DO PORTO MESTRADO EM CONTROLO DE QUALIDADE Doseamento de Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos em solos florestais CORNELIA GARRIDO SOUSA CASTRO Porto 2000

Doseamento de Hidrocarbonetos Aromáticos … · Os extractos obtidos por Soxhlet foram purificados por cromatografia em coluna. Todos os extractos foram analisados por cromatografia

  • Upload
    vandang

  • View
    221

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • FACULDADE DE FARMCIA UNIVERSIDADE DO PORTO

    MESTRADO EM CONTROLO DE QUALIDADE

    Doseamento de Hidrocarbonetos Aromticos

    Policclicos em solos florestais

    CORNELIA GARRIDO SOUSA CASTRO

    Porto 2000

  • FACULDADE DE FARMCIA UNIVERSIDADE DO PORTO

    MESTRADO EM CONTROLO DE QUALIDADE

    Doseamento de Hidrocarbonetos Aromticos

    Policclicos em solos florestais

    CORNLIA GARRIDO SOUSA CASTRO

    ( :>.(!!! : 'I SAKMAGA U. P.

    BI B L1 O T E C A !MaQ) /

    1% Coifj

    Cr\s

    Porto 2000

  • MESTRADO EM CONTROLO DE QUALIDADE

    REA CIENTFICA: AMBIENTE

    Dissertao de candidatura ao grau de Mestre em

    Controlo de Qualidade na rea de especializao de

    Ambiente, apresentada Faculdade de Farmcia da

    Universidade do Porto.

    DR n. 162 de 16/7/97, II srie, pginas 8485 e 8486

    DR n. 216 de 13/10/92

  • Trabalho realizado em:

    Faculdade de Farmcia da Universidade do Porto

    Servio de Qumica Orgnica

    Servio de Hidrologia

    Orientador:

    Professor Doutor Carlos Manuel Magalhes Afonso

  • Ao Prof. Doutor Carlos Manuel Magalhes Afonso pelas sugestes e correces efectuadas.

    A Prof. Doutora Maria de Lourdes Bastos pelo incentivo.

    Ao Dr. Carlos Gonalves pela contribuio na realizao da parte experimental e pela sua

    disponibilidade.

    Ao Dr. Manuel Pinto e Dra. Edite Cunha por toda a ajuda prestada.

    Ao Sr. sub-chefe Jos Mendes da Corporao de Bombeiros Voluntrios da freguesia de

    Melres, concelho de Gondomar pelas informaes prestadas.

    Aos meus alunos por terem sido o estmulo sempre presente.

    Ao Adelino pelo apoio incondicional.

    Aos meus pais que me ensinaram que "o saber no ocupa lugar".

  • Alguns dos resultados preliminares obtidos durante este estudo constam do

    poster "PAH concentration and composition in soils" apresentado no

    XVII Encontro Nacional da Sociedade Portuguesa de Qumica, que decorreu

    em Lisboa entre 1 e 3 de Maro de 2000, subordinado ao tema "A Qumico

    nas Interfaces".

  • Doseamento de Hidrocarbonetos Aromticos Policclicos em solos florestais

    RESUMO

    Os hidrocarbonetos aromticos policclicos (PAHs) formam-se durante a

    combusto incompleta de matria orgnica e constituem um importante grupo de

    poluentes, quer devido sua ubiquidade e persistncia no ambiente, quer devido

    sua comprovada carcinogenicidade.

    Com o objectivo de determinar o teor de seis PAHs - fluoranteno, ben-

    zo [b]fluoranteno, benzo[k]fluoranteno, benzo[a]pireno, benzo[g,h,/]perileno e in-

    deno[l,2,3-c,d]pireno - analisaram-se amostras de solos provenientes de locais

    sujeitos a incndios florestais e de um outro envolvente dos anteriores mas no

    sujeito a fogo.

    O estudo incidiu sobre solos provenientes da freguesia de Medas, concelho

    de Gondomar (Porto) onde se situam os locais sujeitos a fogos florestais em Junho

    e Julho de 1999.

    Recorreu-se a dois mtodos de extraco: fluido supercrtico (SFE) e So-

    xhlet. Os extractos obtidos por Soxhlet foram purificados por cromatografia em

    coluna. Todos os extractos foram analisados por cromatografia lquida de alta efici-

    ncia (HPLC) com detector de fluorescncia.

    Os resultado obtidos demonstram que a concentrao dos seis PAHs em

    estudo nos solos provenientes do locais onde ocorreram incndios bastante supe-

    rior concentrao dos mesmos compostos num solo proveniente da rea envol-

    vente no ardida.

    Os resultados de estudo realizado demonstram que o uso de SFE para an-

    lise e quantificao de PAHs em amostras ambientais heterogneas e complexas,

    Mestrado em Controlo de Qualidade - rea cientfica: Ambiente

  • Doseamento de Hidrocarbonetos Aromticos Policclicos em solos florestais

    como os solos, pode apresentar vrias vantagens sobre o mtodo clssico que o

    Soxhlet. O mtodo desenvolvido e apresentado preciso, exacto e apresenta uma

    linearidade de resposta e um limite de deteco que permitem a quantificao de

    nveis vestigirios.

    Os nveis de concentrao dos PAHs nos solos devero ser monitorizados

    para identificar situaes que possam ser potencialmente perigosas para a vida

    humana pelo que o estudo realizado poder constituir referncia e motivao para

    estudos ambientais futuros.

    Mestrado em Controlo de Qualidade - rea cientfica: Ambiente

  • Quantification of Polycyclic Aromatic Hydrocarbons in forest soils

    ABSTRACT

    The polycyclic aromatic hydrocarbons (PAHs) are formed during the

    combustion of organic matter and are an important group of pollutants due to

    either their ubiquity and persistence in the environment or to their proved

    carcinogenicity.

    With the aim of quantifying the amount of six PAHs - fluoranthene,

    benzo[b]fluoranthene, benzo[/c]fluoranthene, benzo[a]pyrene, benzo[g,h,i]perylene

    and indeno[l,2,3-cd]pyrene - samples of forest soils showing fire action as well as

    soils from surrounding areas were analysed.

    This study was carried out with forest soils from Medas, Gondomar (Oporto)

    where fires occurred between June and July of 1999.

    In this study two extraction methodologies were compared: SFE and

    Soxhlet. The Soxhlet extracts were purified by column chromatography. The

    quantification of PAHs in every extract was established by high performance liquid

    chromatography (HPLC) with fluorescence detector.

    Results show that the amount of the six PAHs in forest soils showing fire

    action was higher than the one from surrounding areas. Thus, the use of SFE for

    analysis and quantification of PAHs in heterogen and complex matrix like soils may

    have some advantages over the classical Soxhlet methodology.

    The developed methodology is precise and accurate, shows linearity of

    response and a limit of detection that allows the quantification of traces.

    Mestrado em Controlo de Qualidade - rea cientfica: Ambiente

  • Quantification of Po/ycyc/ic Aromatic Hydrocarbons in forest soils

    PAHs should be monitored in soils in order to identifying eventually

    hazardous situations for human life in such a way that the study performed can be

    used as a reference and a motivation for further environmental studies.

    Mestrado em Controlo de Qualidade - Area cientfica: Ambiente

  • NDICE

    NDICE

    Pgina

    PARTE I - INTRODUO 1

    1. Os hidrocarbonetos aromticos policclicos 1

    2. Caractersticas gerais dos PAHs 7

    3. Vias de degradao os PAHs no ambiente 15

    PARTE II - IMPACTE DE PAHs NO AMBIENTE E NA SADE 21

    1. Fontes de PAHs 21

    2. Ocorrncia/Reciclagem no ambiente 23

    3. Os PAHs e a Sade Humana 33

    PARTE III - ANLISE DE PAHs 46

    1. Introduo 46

    2. Mtodos de extraco 49

    2.1. Extraco por Soxhlet 49

    2.2. Extraco por ultra-sons 51

    2.3. Extraco assistida por micro-ondas (MAE) 53

    2.4. Extraco em fase slida (SPE) 55

    2.5. Microextraco em fase slida (SPME) 57

    2.6. Extraco por solvente acelerada (ASE) 59

    2.7. Extraco por fluido supercrtico (SFE) 61

    2.8. Concluses 66

    3. Tcnicas cromatogrficas na anlise de PAHs 68

    3.1. Introduo 68

    3.2. Cromatografia lquida de alta eficincia (HPLC) 70

    3.3. Cromatografia de fase gasosa (CG) 81

    3.4. HPLC uersus CG 87

    3.5. Outros mtodos cromatogrficos 89

    3.5.1. HPLC-CG 89

    3.5.2. Cromatografia de fluido supercrtico (SFC) 92

  • 3.5.3. Cromatografia planar 95

    3.5.4. Outros 97

    PARTE IV - EXPERIMENTAL 99

    1. Objectivos 99

    2. Material 103

    3. Reagentes e padres 104

    4. Instrumentao 105

    5. Amostragem 107

    5.1. Amostras 107

    5.2. Colheita 109

    5.3. Conservao, preparao e armazenamento das amostras 110

    6. Procedimento analtico 111

    6.1. Extraco 111

    6.1.1. Extraco por Soxhlet 111

    6.1.1.1. Purificao dos extractos 112

    6.1.2. Extraco por fluido supercrtico 113

    7. Anlise cromatogrfica 116

    7.1. Condies cromatogrficas 116

    7.2. Identificao 118

    7.3. Quantificao 119

    8. Validao 122

    8.1. Preciso 123

    8.1.1. Repetibilidade da tcnica analtica 123

    8.1.2. Repetibilidade do procedimento experimental global 124

    8.2. Exactido 125

    8.3. Linearidade 126

    8.4. Limite de deteco (LD) 127

    8.5. Limite de quantificao (LQ) 128

    PARTE V - RESULTADOS E DISCUSSO 129

    1. Introduo 129

    2. Preparao das amostras 130

    3. Extraco por Soxhlet 131

  • INDICE

    4. Extraco por fluido supercrtico 132

    5. Soxhlet versus SFE 136

    6. Anlise cromatogrfica 138

    7. Validao 154

    7.1. Preciso 157

    7.1.1. Repetibilidade da tcnica analtica 157

    7.1.2. Repetibilidade do procedimento experimental global 159

    7.2. Exactido 160

    7.3. Linearidade 164

    7.4. Limite de deteco (LD) 166

    7.5. Limite de quantificao (LQ) 167

    PARTE VI - CONCLUSES 169

    BIBLIOGRAFIA 173

    i i i

  • INDICE DE ABREVIATURAS UTILIZADAS

    INDICE DE ABREVIATURAS UTILIZADAS

    apresentada a designao anglo-saxnica nos casos em que a sigla usada no corresponde traduo portuguesa.

    k - Comprimento de onda

    ACN - acetonitrilo

    ADN - cido desoxirribonucleico

    ASE - Extraco por Solvente Acelerada (Accelerated Solvent Extraction)

    ASTM - American Society for Testing and Materials

    BPC - Cromatografia de Fase Ligada (Bonded Phase Chromatography)

    BPDE - Benzo[a]pireno-7,8-dihidrodiol-9,10-epxido

    C18 - Octadecilsilano

    CEPA - Canada Environmental Protection Act (Acto de Proteco Ambiental do Canad)

    CG - Cromatografia de Fase Gasosa

    DAD - Detector de Fotododos (Diode Array Detector)

    DCM - Diclorometano

    1,12-DMBA - l,12-dimetilbenz[a]antraceno

    7,12-DMBA - 7,12-dimetilbenz[a]antraceno

    7,14-DMBajA - 7,14-dimetildibenz[a,j]antraceno

    3,6-DMC - 3,6-dimetilcolantreno

    EC - Electroforese Capilar

    EM - Espectrometria de massa / Espectrmetro de massa

    EPA - Agncia de Proteco Ambiental (Environmental Protection Agency)

    EU - Estados Unidos

    FD - Detector de fluorescncia (Fluorescence detector)

    FFUP - Faculdade de Farmcia da Universidade do Porto

    FID - Detector de Ionizao de Chama (Flame Ionization Detector)

    HPLC - Cromatografia Lquida de Alta Eficincia (High Perfomance Liquid Chromatogra-

    phy)

    HPTLC - Cromatografia em Camada Fina de Alta Eficincia (High Performance Thin

    Layer Chromatography)

    IARC - Agncia Internacional de Pesquisa sobre o Cancro (International Agency for

    Research on Cancer)

    LD - Limite de deteco (Limit of Detection)

  • NDICE DE ABREVIATURAS UTILIZADAS

    LEGC - Ligand Exchange Gas Chromatography (Cromatografia gasosa por troca de

    ligando)

    LQ - Limite de Quantificao (Limit of Quantification)

    MAE - Extraco assistida por micro-ondas (Microwave Assisted Extraction)

    MEKC - Cromatografia Electrocintica Micelar (Micellar Electrokinetic Chromatography)

    Mr - Massa Molecular Relativa

    MSD - Detector de Massa (Mass Selective Detector)

    NIST - National Institute of Standards and Technology

    NP-BPC - Cromatografia de Fase Normal em Fase Ligada (Normal Phase - Bonded

    Phase Chromatography)

    OCDE - Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (Organization for

    Economic Co-operation and Development)

    ODS - Octadecilsilano

    OSHA - Administrao de Segurana e Sade Ocupacional (Occupational Safety and

    Health Administration)

    p.a. - pr-anlise

    PACs - Compostos Aromticos Policclicos (Polycyclic Aromatic Compounds)

    PAHs - Hidrocarbonetos Aromticos Policclicos (Polycyclic Aromatic Hydrocarbons)

    PC - Cromatografia em papel (Paper Chromatography)

    RP-BPC - Cromatografia de Fase Reversa em Fase Ligada (Reverse Phase - Bonded

    Phase Chromatography)

    RP-HPLC - Cromatografia Lquida de Alta Eficincia de Fase Reversa (Reverse Phase-

    -High Performance Liquid Chromatography)

    SFC - Cromatografia de Fluido Supercrtico (Supercritical Fluid Chromatography)

    SFE - Extraco por Fluido Supercrtico (Supercritical Fluid Extraction)

    SIM - Monitorizao Selectiva de Ies (Single Ion Monitoring)

    SPE - Extraco em Fase Slida (Solid Phase Extraction)

    SPME - Microextraco em Fase Slida (Solid Phase Microextraction)

    TIC - Monitorizao Total de Ies (Total Ion Monitoring)

    TLC - Cromatografia em Camada Fina (Thin Layer Chromatography)

    UE - Unio Europeia

    UV - Ultravioleta

    UV-VIS - Ultravioleta-visvel

    V

  • INDICE DE FIGURAS

    INDICE DE FIGURAS

    Pgina

    Figura 1 - Estrutura dos 16 PAHs considerados poluentes prioritrios pela EPA 2

    Figura 2 - Dibenzo[a,/i]antraceno 5

    Figura 3 - Benzo[a]pireno 5

    Figura 4 - 3-metilcolantreno 5

    Figura 5-Alguns PAHs alternantes 8

    Figura 6 - Alguns PAHs no alternantes 8

    Figura 7 - PAHs obtidos por fuso "linear" e por fuso "ramificada" 8

    Figura 8 - Benzo [c]fenantreno 9

    Figura 9 - Estruturas planares do coranuleno e do [7]circuleno 9

    Figura 1 0 - 7,12- DMBA e 1,12-DMBA 10

    Figura 11 - l-metilbenzo[c]fenantreno 10

    Figura 12 - 7,14-DMBajA; 3,6-DMC; ll-metilbenzo[a]pireno 10

    Figura 13 - Dibenzo[de/,p]criseno (ou dibenzo[a,/]pireno) 11

    Figura 14 - PAHs heterocclicos comuns 12

    Figura 15-Azo-PAHs 12/13

    Figura 16 - Tio-PAHs 14

    Figura 17 - Oxo-PAHs 14

    Figura 18 - Reaco de substituio electroflica do antraceno 15

    Figura 19 - Estruturas de nitro-PAHs comummente detectadas 16/17

    Figura 20 - Produtos da reaco do pireno e do benzo [a]pireno com o ozono 18

    Figura 21 - Aceno (antraceno) com regio meso 19

    Figura 22 - Epidixidos do 7,12-DMBA e do 3,4-dihidrodiol-7,12-DMBA 19

    Figura 23 - Algumas fontes de PAHs no ambiente 22

    Figura 24 - Fontes e destino dos PAHs nos solos 25

    Figura 25 - Degradao dos poluentes no solo por bactrias 28

    Figura 26 - Destino qumico, fsico e biolgico de PAHs nos meios aqutico e terrestre 29 vi

  • NDICE DE FIGURAS

    Figura 27 - Epoxidao do benzo[a]pireno 34

    Figura 28 - Reaces de destoxicao do benzo[a]pireno-7,8-epxido 34

    Figura 29 - Biotransformao do 2-acetilaminofluoreno 36

    Figura 30 - Mecanismos para o metabolismo dos PAHs pelas enzimas microssomais ... 37

    Figura 31 - Formao de caties radicais 38

    Figura 32 - Activao metablica do benzo[a]pireno-7,8-diol 39

    Figura 33 - Formao de quinonas catalisada por enzimas dehidrogenases 40

    Figura 3 4 - Anti BPDE e syn-BPDE 40

    Figura 3 5 - Procedimentos usados num processo analtico 46

    Figura 36 - Equipamento para extraco por Soxhlet 49

    Figura 37 -Aparelho de ultra-sons 51

    Figura 38-Aparelho de micro-ondas 53

    Figura 39 - Tubo SPE 55

    Figura 40 - Seringa e fibra para SPME 57

    Figura 41 - Sistema de extraco por solvente acelerada 59

    Figura 42 - Sistema de extraco por fluido supercrtico 61

    Figura 43 - Diagrama de fases do dixido de carbono {COz) 62

    Figura 44 - Diagrama esquemtico de equipamento para HPLC 70

    Figura 45 - Fase ligada 71

    Figura 46 - Esquema de um detector de UV 74

    Figura 47 - Sistema ptico de um detector DAD 74

    Figura 48 - Espectro completo obtido com DAD 75

    Figura 49 - Cromatograma tridimensional de PAHs 75

    Figura 50 - Esquema do detector de fluorescncia Waters 474 76

    Figura 51 - Representao esquemtica de um sistema CG 81

    Figura 52 - Detector FID 82

    Figura 53 - Diagrama esquemtico de CG-MSD 84

    Figura 54 - Diagrama esquemtico do sistema HPLC-CG 89 Vil

  • INDICE DE FIGURAS

    Figura 55 - Aparelho de HPLC-CG-EM 91

    Figura 56 - Diagrama esquemtico do sistema SFC 93

    Figura 57 - Esquema do sistema HPTLC 96

    Figura 58-Se i s PAHs em estudo 100

    Figura 59 - Estratgia usada no procedimento analtico em estudo 102

    Figura 60 - Localizao da zona de colheita das amostras 107

    Figura 61 - Envolvncia dos locais de colheita das amostras 108

    Figura 62 - Colheita das amostras 109

    Figura 63 - Fase mvel e respectivo gradiente 116

    Figura 64 - Procedimento analtico a que cada amostra de solo foi sujeita (Soxhlet) 120

    Figura 65 - Procedimento analtico a que cada amostra de solo foi sujeita (SFE) 121

    Figura 6 6 - Cromatograma obtido para a soluo padro 10,0/xg.L1 138

    Figura 67 - Cromatograma obtido para o solo 2 (Soxhlet) 139

    Figura 68 - Cromatograma obtido para o solo 1 (SFE) 139

    Figura 69 - Concentrao (/xg.Kg1) dos seis PAHs em estudo no solo 1 (Soxhlet) 141

    Figura 70 - Concentrao (/xg.Kg1) dos seis PAHs em estudo no solo 2 (Soxhlet) 141

    Figura 71 - Concentrao (/xg.Kg"1) dos seis PAHs em estudo no solo 3 (Soxhlet) 142

    Figura 72 - Concentrao (/xg.Kgl) dos seis PAHs em estudo no solo 4 (Soxhlet) 142

    Figura 73 - Concentrao (/xg.Kg1) dos seis PAHs em estudo no solo 1 (SFE) 144

    Figura 74 - Concentrao (/xg.Kgx) dos seis PAHs em estudo no solo 3 (SFE) 144

    Figura 75 - Comparao dos resultados obtidos no solo 1 com os do solo 4 146

    Figura 76 - Comparao dos resultados obtidos no solo 2 com os do solo 4 146

    Figura 77 - Comparao dos resultados obtidos no solo 3 com os do solo 4 147

    Figura 78 - PAHs mais representados nos solos em estudo 151

    Figura 79 - Comparao grfica dos resultados SFE versus Soxhlet para o solo 1 163

    Figura 80 - Comparao grfica dos resultados SFE versus Soxhlet para o solo 3 163

    Figura 81 - Curva de calibrao 164

  • INDICE DE QUADROS E TABELAS

    INDICE DE QUADROS

    Pgina

    Quadro I - Extraco de PAHs de solos 54

    Quadro II - Comparao de diversas tcnicas de extraco de PAHs de um solo 60

    Quadro III - Vantagens e limitaes das metodologias utilizadas na extraco de

    PAHs em amostras ambientais 66

    Quadro IV - Determinao de PAHs por HPLC em solos e peixe 78

    Quadro V - Extraco de PAHs em alimentos 79

    Quadro VI - Determinao de PAHs por HPLC em matria particulada 80

    Quadro VII - Determinao de PAHs por CG em solos 85

    Quadro VIII - Determinao de PAHs por CG em matria particulada 85

    Quadro IX- Determinao de PAHs por CG em mexilhes 86

    Quadro X - Massas de cada solo utilizadas em SFE 113

    Quadro XI - Parmetros e condies ensaiadas em SFE 114

    Quadro XII - Condies de extraco SFE finais 114

    Quadro XIII - Fase mvel e gradiente utilizados 116

    Quadro XIV - Programao de comprimentos de onda utilizada 117

    Quadro XV - Tempos de reteno dos padres de PAHs utilizados 118

    Quadro XVI - PAHs a que correspondem as duas concentraes mais elevadas 151

  • NDICE DE QUADROS g TABELAS

    INDICE DE TABELAS

    Pgina

    Tabela 1 - Composio das amostras nos seis PAHs em estudo (fig.Kg1) aps extraco

    porSoxhlet 140

    Tabela 2 - Composio das amostras nos seis PAHs em estudo (fig.Kg ') aps extraco

    porSFE 143

    Tabela 3 - Teor total dos seis PAHs nas amostras em estudo 149

    Tabela 4 - Repetibilidade da tcnica analtica (mesmo dia) 157

    Tabela 5 - Repetibilidade da tcnica analtica (trs dias) 158

    Tabela 6 - Repetibilidade do procedimento experimental global 159

    Tabela 7 - Comparao da eficincia da extraco por Soxhlet e por SFE para os seis

    PAHs em estudo nos solos 1 e 3 162

    Tabela 8 - Equaes das rectas de regresso da curva de calibrao 165

    Tabela 9 - Desvio padro relativo (RSD %) das reas para as determinaes em triplicado

    de cada nvel de concentrao 165

    Tabela 10 - Limite de deteco e limite de quantificao da tcnica analtica 167

    X

  • P^TEJUWTOODUgO

  • PARTE I - INTRODUO

    PARTE I - INTRODUO

    1. OS HIDROCARBONETOS AROMTICOS POLICCLICOS

    A Humanidade inicia o sculo XXI com uma preocupao universal: o meio

    ambiente. Os meios de comunicao social, os programas escolares e os governos

    fazem com que, cada vez mais, todos estejamos conscientes de que a interveno

    do Homem no Planeta pode tambm arrastar consigo a sua destruio. A melhoria

    dos padres de vida, a tecnologia e a chegada do Homem a todos os recantos do

    mundo esto na origem da libertao no ambiente de milhares de novas molculas

    que a Natureza no consegue neutralizar e que criam desequilbrios difceis de

    controlar.

    Os hidrocarbonetos aromticos policclicos (PAHs) ou poliarenos represen-

    tam uma importante classe de tais compostos, resultando o interesse do seu estudo

    da ubiquidade [1] e da mutagenicidade e carcinogenicidade da maior parte deles

    [2]. Mais de 100 PAHs foram j caracterizados na natureza, 16 dos quais foram

    classificados como "poluentes prioritrios" pela Agncia de Proteco Ambiental

    (EPA) americana (Figura 1 - pgina 2) [3].

    Destes 16 PAHs, a Agncia Internacional de Pesquisa sobre Cancro (IARC) consi-

    derou o benzo[a]pireno e o dibenzo[a,/i]antraceno como os mais carcinognicos

    [3].

    Os PAHs, por definio, contm apenas carbono e hidrognio e so apenas

    uma das classes de um grupo mais genrico, os compostos aromticos policclicos

    (PACs). A designao PACs inclui tambm PAHs contendo grupos cloro, ciano,

    carboxi, hidroxilo, amino, nitro ou tio como substituintes nos anis. tomos de

  • PARTE 1 - INTRODUO

    azoto, de enxofre e de oxignio podem, contudo, substituir tomos de carbono nos

    anis e os compostos "heteroaromticos" resultantes agrupam-se com os hidrocar-

    bonetos com os quais se assemelham nas suas propriedades e no seu comporta-

    mento em anlise. Como no existe ainda uma designao universal para descre-

    ver todos estes compostos aromticos colectivamente, encontra-se muitas vezes

    referido na literatura compostos aromticos policclicos (PACs) para designar, no

    s os PAHs, mas tambm os seus anlogos. Historicamente, nesta categoria de

    compostos policclicos, os PAHs foram os primeiros a receber ateno e, conse-

    quentemente, "PAH" passou a ser a designao mais familiar [4,5].

    Figura 1. Estruturas dos 16 PAHs considerados poluentes prioritrios pela EPA

    1 - naftaleno 2 - acenaftileno 3 - acenafteno 4 - fluoreno 5 - fenantreno 6 - antraceno

    7 - fluoranteno 8 - pireno 9 - benzo[a]antraceno 10 - criseno 11 - benzo[b]fluoranteno

    12 - benzo[k]fluoranteno 13 - benzo[a]pireno 14 - dibenzo[a.h]antraceno

    15 - benzo[g,/i.i]perileno 16 - indeno[l,2,3-c

  • PARTE I - INTRODUO

    Os PACs encontram-se numa grande variedade no mundo natural sendo as

    possibilidades do arranjo espacial dos tomos de carbono em grupos, cadeias ou

    anis quase ilimitadas. Constituem uma classe de substncias em que a estrutura

    molecular central mantida unida por ligaes carbono-carbono estveis.

    Os PAHs so os principais produtos da combusto incompleta dos combus-

    tveis fsseis e da matria orgnica resultante, por exemplo, da queima de carvo,

    madeira e lixos, de mquinas de combusto interna e de geradores de calor e

    energia [6].

    As estruturas aromticas policclicas formam-se sempre que substncias or-

    gnicas so expostas a temperaturas elevadas. Neste processo, designado por pir-

    lise, liberta-se energia e os produtos aromticos que se formam so mais estveis

    que os seus precursores [4].

    Alguns minerais orgnicos raros com uma bonita fluorescncia foram en-

    contrados na Califrnia nos Estados Unidos (EU) e na Europa Oriental. O qumico

    francs Jean-Baptiste Andr Dumas estudou estes minerais na primeira metade do

    sculo XIX. Por volta de 1880, qumicos alemes isolaram dois hidrocarbonetos

    aromticos de quatro anis em amostras de mercrio em Idrija, na Jugoslvia. A

    idrialite desta regio, a curtisite da Califrnia e os minerais afins de outros locais

    foram depois objecto de vrias investigaes. Embora a idrialite e a curtisite sejam

    quimicamente diferentes, contm pelo menos centenas de PAHs juntamente com

    os seus anlogos com enxofre e azoto, bem como derivados alqulicos em muitas

    combinaes de substituio [4]. Em 1947, W. Kern identificou o PAH com quatro

    anis aromticos, criseno, num solo de jardim. No final dos anos 60 considerava-se

    3

  • PARTE I - INTRODUO

    que se encontram presentes na maior parte dos solos, se no em todos, 10 a 15

    hidrocarbonetos no substitudos [4].

    Desde o primeiro estudo da idrialite efectuado por Dumas e da descoberta do cri-

    seno no solo por Kern, o conhecimento sobre PAHs no ambiente evoluiu ao passo

    da evoluo da tecnologia analtica [4].

    Em 1775, o mdico e cirurgio ingls Percival Pott do hospital de S. Barto-

    lomeu em Londres, referiu uma relao especfica e causal entre a exposio a

    misturas ambientais e a induo de cancro. Na monografia "Surgical Observations"

    [7], Pott descreveu a ocorrncia de cancro do escroto num nmero de pacientes

    com a profisso de limpa-chamins e concluiu que a ocupao desses homens es-

    tava directamente relacionada com a sua doena maligna [4], tendo ainda sugeri-

    do que a fuligem qual estiveram expostos era o agente causal da sua condio de

    sade. S mais de um sculo depois (1892), Butlin descreveu a relativa raridade

    do cancro do escroto entre os limpa-chamins do continente europeu, comparada

    com a dos de Inglaterra (esta diferena foi atribuda aos relativamente baixos pa-

    dres de higiene no Reino Unido) [5].

    Em 1915, os patologistas japoneses Yamagawa e Ischikawa descreveram,

    pela primeira vez, a produo de tumores na pele de animais, pela aplicao repe-

    tida de alcatro nas orelhas de coelhos durante um certo nmero de meses. Estu-

    dos posteriores demonstraram que o mesmo acontecia em ratinhos. Durante os 15

    anos seguintes foram feitas muitas tentativas para determinar a natureza do materi-

    al responsvel pela malignidade do alcatro.

    4

  • PARTE 1 - INTRODUO

    Em 1930, Kennaway e Cook [5] produzem o primeiro PAH sinttico, o di-

    benzo[a,h]antraceno (Figura 2).

    Figura 2. Dibenzo[a,/i]antraceno

    Foi demonstrado que este composto era um carcinognio potente, depois de apli-

    caes repetidas na pele de ratinhos. O isolamento do alcatro e a sntese do ben-

    zo[a]pireno foi conseguida em 1932 por Kennaway e colaboradores atravs da

    pirlise de compostos orgnicos consistindo apenas em carbono e hidrognio [5].

    Em 1933, Cook e colaboradores conseguiram isolar uma pequena quantidade de

    substncia activa a partir de duas toneladas de peixe. Essa substncia demonstrou

    ser o benzo[a]pireno (Figura 3) cuja estrutura foi confirmada por sntese [5].

    Figura 3 . Benzo[a]pireno

    Ainda em 1933, Wieland e Dane efectuaram a degradao do cido desoxiclico,

    um dos componentes da bile humana e obtiveram o hidrocarboneto aromtico 3-

    -metilcolantreno (Figura 4) e, no ano seguinte, Cook demonstrou que o metilco-

    lantreno era uma substncia com elevado poder carcinognico [8].

    Figura 4. 3-metilcolantreno

    5

  • PARTE I - INTRODUO

    Assim, dado o conhecimento actual sobre a ubiquidade destes compostos

    no ambiente bem como a carcinogenicidade de muitos deles, o seu estudo revela-

    -se assaz importante. Reveste-se, pois, de particular interesse a investigao de

    mtodos de deteco de concentraes cada vez mais pequenas bem como de

    meios para remediar os efeitos no ambiente e os efeitos biolgicos destes compos-

    tos.

    6

  • PARTE 1 - INTRODUO

    2. CARACTERSTICAS GERAIS DOS PAHs

    Os PAHs constituem uma classe de molculas orgnicas extraordinaria-

    mente grande e diversificada. So slidos cristalinos ou lquidos, incolores ou apre-

    sentando cores variadas [7].

    Os tipos de poliarenos produzidos na combusto incompleta da matria or-

    gnica e dos combustveis fsseis variam consideravelmente com a temperatura. A

    temperaturas elevadas, os produtos so misturas relativamente simples de PAHs de

    baixa massa molecular, sem substituintes alqulicos. A temperaturas moderadas, as

    misturas de produtos so mais complexas, contendo j quantidades apreciveis de

    PAHs com substituintes alqulicos. A baixas temperaturas, a aromatizao ocorre a

    uma velocidade marcadamente menor e a fragmentao dos grupos alqulicos est

    menos favorecida. Nestas condies, os poliarenos alquilsubstitudos tornam-se os

    produtos predominantes [4,6].

    Podem considerar-se dois grandes grupos de PAHs: alternantes e no-

    -alternantes. Os primeiros incluem PAHs que derivam do benzeno por fuso de

    anis benzenides adicionais (o mais simples o naftaleno, com 10 tomos de car-

    bono) (Figura 5 - pginas 7/8).

    naftaleno benzo[c]fenantreno piceno

    7

  • PARTE I - INTRODUO

    coroneno pireno

    Figura 5. Alguns PAHs alternantes

    Os PAHs no alternantes, para alm dos anis aromticos, podem conter

    outros anis com menos ou mais de seis tomos de carbono (Figura 6) [6].

    fluoreno acefenantrileno 7H-benzantreno

    r ^ ^ ^ %

    ^S~^S bifenileno acenaftileno ciclopenta[de/]fenantreno

    Figura 6. Alguns PAHs no alternantes

    Os PAHs podem formar-se por fuso "linear" como no caso do antraceno ou

    por fuso "ramificada", como no caso do benzo [a] antraceno, podendo distinguir-se

    nestes as zonas K, L e em baa (Figura 7) [9]. Baa

    antraceno L K

    benzo[a]antraceno

    Figura 7. PAHs obtidos por fuso "linear" e por fuso "ramificada"

    8

  • PARTE 1 INTRODUO

    A maior parte dos poliarenos alternantes so planares mas a densidade es

    pacial intramolecular pode, em alguns casos, resultar numa considervel deforma

    o da geometria molecular. Por exemplo, o benzo[c]fenantreno sofre deformao

    em consequncia de interaco esfrica na regio fjord da molcula (Figura 8).

    Figura 8. Benzo[c]fenantreno

    O coranuleno e o [7]circuleno (que contm anis aromticos fundidos num arranjo

    circular) apresentam um outro tipo de deformao molecular. Como consequncia

    de tenso interna, as ligaes exteriores perifricas so alongadas enquanto que as

    ligaes internas centrais so comprimidas. Estes compostos adoptam ento as es

    truturas planares representadas na Figura 9.

    Coranuleno [7]circuleno

    Figura 9. Estruturas planares do coranuleno e do [7]circuleno

    A deformao dos sistemas de anis policclicos pode tambm seguirse

    introduo de grupos metilo (ou outros mais volumosos) em regies moleculares

    com impedimento estrico. Assim, o 7,12dimetilbenzo[a]antraceno (7,12DMBA),

    que contm um grupo metilo na regio em baa, deformase geralmente em cerca

    de 22 e o ismero 1,12DMBA, que contm dois grupos metilo opostos na regio

    )

  • PARTE 1 - INTRODUO

    em baa, apresenta um grau extremo de deformao - 36 - nessa regio (Figura

    10).

    Regio em baa

    1,12-DMBA

    Figura 10.

    Tambm o l-metibenzo[c]fenantreno que contm um grupo metilo na regio

    fjord, apresenta um desvio significativo da planaridade (Figura 11) [6].

    H,C

    Figura 11. l-metilbenzo[c]fenantreno

    A deformao molecular parece ser um factor na carcinogenicidade. Por

    isso, o 7,12-DMBA (Figura 10), o 7,14-dimetildibenzo[a,j]antraceno (7,14-

    -DMBa,j,A) o 3,6-dimetilcolantreno (3,6-DMC) e o ll-metilbenzo[a]pireno (Figura

    12) so carcinognios consideravelmente mais potentes do que os hidrocarbonetos

    de que derivam, os quais so mais planares.

    CH3

    7,14-DM Ba j A l l -met i lbenzo[a]p i reno

    Figura 12.

    Hl

  • PARTE 1 - INTRODUO

    O PAH carcinognico mais potente estudado at hoje o dibenzo[de/,p]criseno

    (ou dibenzo[a,/]pireno), o qual contm uma regio fjord responsvel pela sua de-

    formao na planaridade (Figura 13) [6].

    11 10 9

    Figura 13. Dibenzo[de/,p]criseno ou dibenzo[a,/]pireno

    Os PAHs so molculas relativamente neutras e estveis. Em geral, tm bai-

    xa solubilidade em gua (da ordem dos ppb) [10], pontos de fuso e de ebulio

    elevados (os dados sobre pontos de ebulio so muito limitados, sobretudo para

    os PAHs lquidos de massa molecular mais elevada) [11] e baixa presso de vapor

    [12]. A medida que aumenta o volume molecular, diminui a solubilidade em gua,

    aumentam os pontos de fuso ou de ebulio e diminui a presso de vapor [13].

    Devido sua relativa insolubilidade em gua, os PAHs e seus anlogos tm

    uma forte tendncia para se adsorver em solos e sedimentos e para bioacumular

    em tecidos gordos de organismos expostos [14]. A sua afinidade lipdica elevada

    quando medida pelo coeficiente de partilha n-octanol/gua. Os PAHs com dois e

    trs anis na sua estrutura so classificados como molculas relativamente no po-

    lares. Como o sistema de electres jt nos PAHs com quatro, cinco e seis anis

    maior, estes PAHs so mais polares [15].

    Os PAHs tm longas semi-vidas no meio ambiente. Num sedimento aer-

    bio, por exemplo, os tempos de semi-vida vo desde trs semanas para o naftaleno

    a 300 semanas para o benzo[a]pireno [13]. Os PAHs so, portanto, poluentes or-i i

  • PARTE I - INTRODUO

    gnicos persistentes no ambiente. Esta persistncia aumenta com o nmero de

    anis e com o grau de condensao [13].

    Os anlogos heterocclicos de PAHs (hetero-PAHs) nos quais um (ou mais)

    tomo de carbono substitudo por azoto (azo-PAHs), enxofre (tio-PAHs) ou oxi-

    gnio (oxo-PAHs) so tambm detectados como poluentes ambientais (Figura 14)

    [6]. Devido presena do heterotomo, os hetero-PAHs apresentam uma polari-

    dade superior dos PAHs correspondentes o que resulta numa melhor mobilidade

    hidrogeolgica [16].

    quinolina acridina carbazol

    quinazolina dibenzofurano dibenzotiofeno

    Figura 14. PAHs heterocclicos comuns

    Os predominantes so os azo-PAHs (Figura 15 - pginas 12/13).

    quinolina acridina isoquinolina fenazina

    carbazol benzo[h]quinolina benzo[/]quinolina fenantridina

    12

  • PARTE I - INTRODUO

    benzo[a]acridina benzo[c]acridina dibenzo[a.h]acridina

    dibenzo[a.j]acridina benzo[c]carbazol dibenzo(c,g]carbazol

    Figura 15. Azo-PAHs

    Os azo-PAHs formam-se na pirlise de materiais orgnicos que contm

    azoto. Encontram-se nveis significativos destes compostos em atmosferas industri-

    ais e urbanas, fumo de tabaco, escapes de mquinas e alcatro, sendo alguns sus-

    peitos de ser carcinognicos (benzo[c]acridina, dibenzo[a,j]acridina, diben-

    zo[a,h]acridina e 7H-dibenzo[c,g]carbazol). Embora os nveis de azo-PAHs pre-

    sentes em amostras de diversas fontes varie consideravelmente, so normalmente

    mais baixos do que os dos PAHs relacionados [6]. A presena do heterotomo im-

    plica naturalmente que os azo-PAHs apresentem uma basicidade superior dos

    PAHs. Esta propriedade til para a separao de azo-PAHs de outros compo-

    nentes presentes em amostras ambientais [6,16].

    Os PAHs contendo enxofre (tio-PAHs) e oxignio (oxo-PAHs) encontram-se

    praticamente nas mesmas fontes ambientais dos PAHs e azo-PAHs, embora nor-

    malmente numa concentrao menor. Entre os tio e oxo-PAHs detectados em

    amostras ambientais encontram-se o benzo[b]tiofeno, dibenzotiofeno, naftotiofe-

    13

  • PARTE 1 - INTRODUO

    nos, benzo[b]naftotiofenos e fenantrotiofenos (Figura 16) e o benzofurano e diben-

    zofurano (Figura 17), respectivamente [6].

    O r ^ N ^ ^ 1 ' S ' "*"" " s '

    benzo[b]tiofeno dibenzo[b]tiofeno nafto[2,3-b]tiofeno nafto[2,l-b]tiofeno

    benzo[b]nafto[2,3-cf]tiofeno benzo[b]nafto[2,l-ci]fjofeno fenantro[9,10-b]tiofeno

    fenantro[ 1,2-b]tiofeno fenantro[2,l-b]tiofeno fenantro[2,3-b]tiofGno

    Figura 16. Tio-PAHs

    i ^ r T ^

    o dibenzofurano

    O

    benzofurano

    Figura 17. Oxo-PAHs

    14

  • PARTE I - INTRODUO

    3. VIAS DE DEGRADAO DOS PAHs NO AMBIENTE

    No ambiente, os PAHs esto sujeitos a vrios processos qumicos e fotoqu-

    micos para originar produtos que apresentam, frequentemente, uma toxicidade

    aumentada em relao ao composto precursor. Entre as principais vias para a de-

    gradao dos PAHs no ambiente esto as reaces com os xidos de azoto e de

    enxofre, reaces com poluentes do ar secundrios produzidos por fotlise como o

    ozono e reaces fotoqumicas com oxignio [6].

    As reaces de substituio electroflica so as reaces dos poliarenos me-

    lhor conhecidas. A substituio nos PAHs alternantes ocorre principalmente por um

    mecanismo de substituio electroflica que envolve ataque inicial por um io elec-

    troflico carregado positivamente (E+) a um poliareno para formar o io arnio.

    Este intermedirio converte-se num produto mais estvel por perda de um proto

    para formar um derivado substitudo (Figura 18) [6].

    E

    Figura 18. Reaco de substituio electroflica do antraceno

    De entre as reaces electroflicas com interesse ambiental destaca-se a ni-

    trao, de que resultam nitro-PAHs.

    Estudos demonstraram que os nitro-PAHs so poluentes distribudos pelo

    ambiente e que representam um perigo significativo para a sade humana [17]. Os

    nitro-PAHs formam-se durante os processos de combusto que tambm originam

    os PAHs ou por reaces com xidos de azoto na atmosfera [17]; no entanto, na

    15

  • PARTE 1 - INTRODUO

    maior parte das amostras, os nitro-PAHs parecem estar presentes em muito meno-

    res quantidades do que os PAHs mais comuns [18]. As estruturas dos nitro-PAHs

    mais comummente detectadas encontram-se na Figura 19 (pginas - 16/17) [17].

    Desde que Pitts et al. e Jager [19] descobriram, independentemente, que os

    PAHs podiam reagir com xidos de azoto para produzir derivados nitro no ar po-

    ludo e em processos de combusto, surgiu um grande interesse pela elucidao do

    papel ambiental e biolgico destes compostos [19]. Tambm a descoberta de que

    uma elevada proporo da mutagenicidade causada por extractos de matria par-

    ticulada do ar e de diesel (demonstrada pelo teste de Ames em Salmonella thyphi-

    murium) era devida a nitro-PAHs [19,20] criou um grande interesse pelo estudo

    destes compostos. O 1-nitropireno tornou-se o composto de referncia, quer para

    estudos analticos quer para estudos de mutagenicidade, uma vez que se descobriu

    ser responsvel por 3 a 23 % da mutagenicidade provocada pelos extractos atrs

    referidos. Alm disso, os nitro-PAHs tm tambm importncia resultante do facto

    de a nitrao poder ser apenas um passo na formao de outros compostos muito

    mutagnicos durante os processos de combusto [19].

    2-nitrofluoreno 9-nitroantraceno

    [6

  • PARTE I - INTRODUO

    1-nitropireno 1,3-dinitropireno 1,6-dinitropireno

    l-nitrobcnzofci]pireno 3-nitrobenzo[Q]pireno 6-nitrobenzo[a]pireno

    Figura 19. Estruturas de nitro-PAHs comummente detectadas [17]

    A sulfonao, embora menos estudada que a nitrao, apresenta tambm

    uma potencial importncia ambiental devido prevalncia dos xidos de enxofre

    como poluentes atmosfricos [6].

    Tambm os processos oxidativos so importantes, quer na bioactivao de

    PAHs para formar espcies carcinognicas, quer como processos de degradao de

    PAHs no ambiente. Assim, os poliarenos so susceptveis a diversos modos de ata-

    que oxidativo para produzir vrios tipos de derivados oxidados incluindo xidos de

    arenos, fenis, quinonas, dihidrodiis, epidixidos e produtos oxidados na cadeia

    lateral [21]. As quinonas so intermedirios oxidados e tm interesse como poten-

    ciais metabolitos activos biolgicos [22].

    17

  • PARTE I - INTRODUO

    Num dos processos oxidativos mais estudado, o ozono, oxidante potente

    que est presente em certas condies no ambiente humano, ataca os PAHs um

    pouco indiscriminadamente para produzir, sobretudo, produtos de clivagem oxida-

    tiva dos anis [6,23]. Dependendo da sua estrutura molecular e das condies re-

    accionais, os PAHs reagem com o ozono resultando produtos quinnicos e deriva-

    dos formilados ou carboxilados. O pireno e o benzo[a]pireno, PAHs dificilmente

    biodegradveis, apresentam estes dois tipos de mecanismo de reaco (Figura 20)

    Figura 20. Produtos da reaco do pireno (A) e do benzo[a]pireno (B) com o ozono

    (R = COOH, COOCH3, CHO)

    18

  • PARTE 1 - INTRODUO

    Os PAHs intervm ainda numa variedade de reaces fotoqumicas sendo a

    foto-oxidao a mais importante em qumica ambiental.

    A foto-oxidao uma importante via de degradao dos PAHs no ambi-

    ente. Os acenos e outros PAHs que contenham uma regio meso (Figura 21), so-

    frem adio de oxignio para formar epidixidos. A reactividade aumentada pela

    presena de grupos metilo naquela regio e pela anelao linear.

    regio meso

    Figura 2 1 . Aceno (antraceno) com regio meso

    O potente carcinognio 7,12-DMBA e o seu metabolito activo 3,4-

    -dihidrodiol so muito sensveis foto-oxidao, originando os epidixidos A e B

    (Figura 22) por exposio ao ar e luz [6].

    A B

    CH3

    Figura 22. Epidixidos do 7,12-DMBA e do 3,4-dihidrodiol-7,12-DMBA

    Quanto s reaces de substituio nucleoflica e de formao de radicais

    dos poliarenos esto menos estudadas do que as reaces de substituio electrof-

    lica.

    19

  • PARTE I - imRODUAO

    Pese embora o facto de as reaces de radicais livres dos compostos benze-

    nides terem sido investigadas, conhece-se pouco para as reaces anlogas dos

    PAHs superiores [6].

    20

  • PARTE II - IMPACTE DE PAHs NO AMBIENTE E NA SADE

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHs no AMBIENTE m SADE

    PARTE II - IMPACTE DOS PAHs NO AMBIENTE E NA SADE

    1. FONTES DE PAHs

    As principais fontes de PAHs classificam-se em naturais e em antropogni-

    cas. Como j referimos (pgina 3), os PAHs so formados durante a combusto de

    matria orgnica e de combustveis fsseis e so ubquos no ambiente, sendo as

    fontes antropognicas as que mais contribuem para isso [20]. Como os fogos natu-

    rais e a formao de petrleo sempre ocorreram, os PAHs circularam atravs dos

    ciclos biogeoqumicos durante milhes de anos [13] e, at ao incio do sculo XX,

    um balano natural entre a formao e a degradao dos PAHs assegurou uma

    concentrao residual natural constante [25]. Todavia, o recurso cada vez maior a

    combustveis fsseis e aos seus produtos de combusto pelos seres humanos, per-

    turbou aquele balano e a concentrao de PAHs no ambiente aumentou cada vez

    mais o que levantou vrias questes acerca dos perigos dos PAHs para os orga-

    nismos vivos [13,25].

    As principais fontes antropognicas de PAHs incluem a produo de coque,

    carvo, alcatro e asfalto, veculos a motor (mquinas de combusto interna),

    aquecimento domstico, fogos a cu aberto como queima de lixos domsticos, fo-

    gos florestais, produo de energia elctrica, derrames e descargas de petrleo e

    incineradoras [20,26,27]. A partir destas fontes, uma quantidade significativa das

    emisses de PAHs entra directamente na atmosfera, na hidrosfera e na litosfera

    (Figura 23 - pgina 22). Devido s suas propriedades biolgicas (mutagenicidade,

    carcinogenicidade), os perigos colocados pela presena de PAHs no ambiente so

    21

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHs NO AMBIENTE E m SADE

    bvios: a sua existncia no ar, na gua e nos solos tem um impacte directo na po-

    pulao humana [20].

    As fontes naturais de PAHs incluem emisses de vulces, fogos florestais,

    infiltraes naturais de petrleo e sntese in situ, a partir de material biolgico por

    degradao (Figura 23) [28].

    1 - Emisses de vulces 4 - Mquinas de combusto interna 7 - Extraco de petrleo (terra)

    2 - Fogos florestais 5 - Descargas municipais 8-Extraco de petrleo (mar)

    3 - Produo de energia pela industria 6 - Derrames de oleodutos 9 - Infiltraes naturais de petrleo

    10 - Acidentes com petroleiros

    Figura 2 3 . Algumas fontes de PAHs no ambiente (adaptado de [28])

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHs NO AMBIENTE E NA SAUDE

    2. OCORRNCIA/RECICLAGEM NO AMBIENTE

    Desde a Revoluo Industrial, a velocidade de deposio dos PAHs excedeu

    a sua velocidade de degradao e, consequentemente, os PAHs acumularam-se

    nos compartimentos ambientais [13]. Os PAHs assim depositados podem, no en-

    tanto, ser libertados para a atmosfera a partir de sedimentos e guas, constituindo

    assim os sistemas aquticos uma importante fonte secundria destes compostos no

    ambiente [29]. Alm disso, devido ao transporte dos PAHs na atmosfera, hidrosfe-

    ra e litosfera estes compostos encontram-se, em consequncia, por todo o ambi-

    ente, mesmo em reas como os Plos porque, ligados a partculas, so levados

    para longas distncias pelo ar na troposfera [13].

    Devido s propriedades biolgicas dos PAHs h, pois, todo o interesse em

    compreender o movimento qumico e o destino destes compostos nos ambientes

    atmosfrico, aqutico e terrestre [30].

    A compreenso do movimento qumico dos PAHs justifica-se pela exigncia

    de caracterizar as suas concentraes no ambiente, contribuindo a avaliao da sua

    presena nos diferentes compartimentos ambientais (ar, gua, solo, etc.) para a

    compreenso e interpretao da toxicidade destes poluentes. A compreenso do

    destino ambiental dos PAHs permite a avaliao do risco ecolgico [14].

    O primeiro processo de poluio atmosfrica por PAHs a combusto da

    matria orgnica [28]. As principais vias de entrada dos PAHs na atmosfera ocor-

    rem por evaporao e por emisses de chamins [14].

    23

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHs NO AMBIENTE E NA SADE

    A poluio aqutica por PAHs causada por derrames, descargas e infiltra-

    es de petrleo, guas residuais industriais e municipais, varreduras das superf-

    cies urbanas e deposio atmosfrica [14].

    A poluio terrestre por PAHs deve-se a emisses de vulces, fogos natu-

    rais, actividades industriais, incinerao de lixos, aquecimento domstico, escapes

    de automveis e a derrames de petrleo [28], por exemplo bem como s condi-

    es de armazenamento, distribuio e transporte de produtos derivados daquele

    [31]. O movimento qumico dos PAHs nos solos, os quais apresentam porosidades

    variveis, ocorre por difuso ou pelo movimento da gua atravs dos espaos entre

    as partculas do solo [14].

    Tendo em conta os objectivos deste trabalho de investigao (pgina 99),

    interessa analisar com particular destaque o compartimento solo pois a ligao dos

    PAHs a um solo pode ocorrer atravs de um certo nmero de mecanismos. Estes

    so, em larga medida, influenciados pela textura do solo assim como pelo seu

    contedo em matria orgnica e em gua. Assim, a extenso da ligao dos PAHs

    a um solo difcil de prever devido extrema variabilidade do solo [32].

    Aps a entrada no solo, os PAHs e os seus produtos de degradao ligam-se

    lentamente matriz por foras mais ou menos fortes podendo ser armazenados,

    transformados e depois transferidos para a atmosfera, para as plantas e para guas

    subterrneas e rios constituindo um reservatrio de substncias perigosas, o que

    representa um risco para todos os seres vivos (Figura 24 - pgina 25) [33].

    24

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHS NO AMBIENTE g m SAUDE

    &

    Figura 24. Fontes e destino dos PAHs no solo (adaptado de [33])

    Apesar dos muitos estudos j levados a cabo, as vias de transferncia do

    poluente para o solo, no solo e do solo para compartimentos como a atmosfera,

    plantas, rios e guas subterrneas so ainda pouco compreendidas embora tenham

    j sido propostos alguns mecanismos [33,34]. Em particular, as condies fsico-

    -qumicas que controlam a migrao dos poluentes nas fases slida, lquida, gasosa

    e coloidal so ainda um assunto controverso, especialmente para as molculas de

    baixa solubilidade em gua [33] como o caso dos PAHs.

    Logo que os poluentes orgnicos chegam ao solo, so sujeitos a processos

    responsveis pela sua dissipao: fotodecomposio (foto-oxidao), volatilizao,

    bioacumulao, degradao microbiana e lixiviao. Usualmente, esta cintica de

    dissipao depende muito das condies climticas e do solo e, muitas vezes, no

    possvel identificar individualmente, quais os processos implicados no desapareci-

    mento do poluente com o tempo. A adsoro , no entanto, o primeiro processo a

    ocorrer quando os poluentes orgnicos chegam ao solo, constituindo um processo

    rpido e reversvel que implica a acumulao do poluente nas interfases slido-

    -lquido. A adsoro um fenmeno muito importante porque a reteno comea

    com a adsoro, ocorrendo posteriormente a estabilizao [35,36].

    25

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHs NO AMBIENTE NA SADE

    A distribuio de poluentes na matria orgnica do solo parece ser um me-

    canismo importante, particularmente para compostos apoiares e hidrofbicos como

    os PAHs [34] e a adsoro destes compostos ao solo pode prolongar grandemente

    o seu tempo de permanncia no ambiente [34,37,38].

    A matria orgnica nos solos pode ser dividida em substncias hmicas e

    substncias no hmicas. As substncias hmicas so "substncias orgnicas natu-

    rais, biognicas e heterogneas que podem ser caracterizadas, de um modo geral,

    com cor amarela a preta, de elevada massa molecular e refractrias" [34]. So

    misturas extremamente complexas de macromolculas que so formadas pela alte-

    rao qumica de substncias no hmicas, por degradao microbiana, polimeri-

    zao (de pequenas molculas como fenis, cidos aminados e acares resultan-

    tes da decomposio dos organismos) e preservao de biopolmeros resistentes

    biodegradao como a lenhina [34,39,40]. Estas macromolculas desempenham

    um papel importante no destino e transporte dos poluentes no solo devido, em

    parte, sua capacidade de complexao, s suas caractersticas de tampo e s

    propriedades de adsoro. As substncias hmicas classificam-se em cido flvico

    (fraco solvel para qualquer valor de pH), cido hmico (fraco solvel para pH

    alcalino) e humina (fraco insolvel, para qualquer valor de pH) [34,39] e apre-

    sentam uma capacidade de movimento menor que a dos resduos orgnicos origi-

    nais [35].

    Esta primeira interaco do poluente com a matria orgnica do solo - ad-

    soro - fsico-qumica e estabelece no s a disponibilidade do poluente orgni-

    co para ser transferido e disperso no ambiente, mas tambm para ser degradado

    pelos micro-organismos dos solos.

    26

  • PARTE II IMPACTE DOS PAHs NO AMBIENTE E m SADE

    Estas interaces fsicoqumicas iniciais responsveis pela adsoro so re

    versveis mas, com o tempo, podem tornarse menos reversveis ou mesmo irrever

    sveis, levando estabilizao dos resduos de poluentes orgnicos em formas me

    nos disponveis e menos biodegradveis. H vrias hipteses para explicar esta

    estabilizao: unio do poluente orgnico aos constituintes orgnicos do solo por

    ligaes covalentes, difuso e aprisionamento em estruturas coloidais do solo e

    incorporao na biomassa microbiana do solo [35].

    Os PAHs ligamse com tenacidade matria orgnica do solo [34] tendo

    Kohl et ai. [34] demonstrado que a ligao de determinados PAHs ao solo rpi

    da, ocorrendo entre o stimo e o trigsimo dia aps o contacto com o solo [34];

    alm disso, a adsoro fica essencialmente completa em 24 horas [41].

    As substncias hmicas absorvem fotes na regio do UV e do visvel do

    espectro solar at 500 nm. A energia absorvida desta forma, na gama de 5898

    KJ.mol \ torna possvel uma srie de processos fotoqumicos e podem ser produzi

    das espcies reactivas capazes de transformar uma grande variedade de compostos

    orgnicos. O interesse no comportamento fotoqumico das substncias hmicas

    devese capacidade daquelas em actuar como agentes despoluentes por fotoin

    duo da degradao dos poluentes [42]. As substncias hmicas so, portanto,

    capazes de transformar uma grande variedade de substratos orgnicos, atravs da

    luz solar, o que contribuir, em certa medida, para a remediao, em termos eco

    lgicos [42].

    O destino e o transporte de poluentes orgnicos hidrofbicos pode, pois, ser

    substancialmente influenciado por processos de adsoro. A questo de se a adsor

    o inibe a biodisponibilidade (considerada em termos de baixa libertao ou liM

  • PARTE II IMPACTE DOS PAHs NO AMBIENTE E m SADE

    mitao de transferncia de massa) dos poluentes orgnicos de grande importn

    cia para o sucesso da bioremediao de solos. Muitos investigadores determinaram

    que medida que os poluentes orgnicos so adsorvidos a colides naturais, tor

    namse menos disponveis para os microorganismos. Pensase que os poluentes

    hidrofbicos fortemente adsorvidos so bastante persistentes no ambiente e repre

    sentam um dos desafios mais difceis na remediao de locais contaminados, pois

    apresentam velocidades de libertao dos solos muito lentas [37].

    Podem tambm ocorrer outros fenmenos como difuso, incorporao por

    microorganismos ou degradao. De facto, os microorganismos podem incorpo

    rar o poluente mais ou menos transformado na biomassa microbiana (Figura 25)

    ou transformar e contribuir para a humificao dos resduos orgnicos introduzidos

    nos solos [35].

    A biomassa microbiana do solo, alm do papel na degradao de poluentes

    orgnicos no polares como os PAHs, representa ainda um potencial adsorvente

    orgnico para aqueles [35].

    POLUENTS

    Figura 25 . Degradao dos poluentes no solo por bactrias (adaptado de [33])

    AS

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHS NO AMBIENTE E NA SADE

    Todos os PAHs produzidos pelas fontes j referidas so, pois, dispersos no

    ar, dissolvidos na gua ou espalhados pelo solo (Figura 26) tornando-se omnipre-

    sentes no ambiente [28].

    TERRA GUA

    Oxidao qumica

    Destino Biolgico

    1 .Degradao pelos micro-organismos do solo 2. Metabolismo pelas plantas 3. Metabolismo pelos invertebrados do solo

    ^emulso gua em leo

    Destino Biolgico

    1. Degradao por micro-organismos 2. Metabolismo por algas 3 . Metabolismo por zooplncton, invertebrados, peixes,

    mamferos e aves

    F i g u r a 2 6 . Destino qumico, fsico e biolgico de PAHs nos meios aqutico e terrestre [28]

    No entanto, existem alguns mecanismos naturais que podero contribuir

    para a reciclagem de PAHs no ambiente. Como os sistemas aquticos e os seus

    sedimentos representam importantes reservatrios de PAHs, as trocas atravs das

    interfaces ar-gua e sedimento-gua desempenham uma aco essencial no balan-

    o de massa e dinmica destes compostos orgnicos. Todavia, nos dias de hoje, a

    extenso da reciclagem ambiental em sedimentos e guas e as condies mediante

    as quais pode ocorrer, no so ainda completamente conhecidas [29]. Pensa-se,

    contudo, que a reciclagem pode eventualmente ocorrer por mecanismos de biode-

    gradao, fitoremediao ou ozonizao.

    29

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHs NO AMBIENTE g NA SADE

    A biodegradao de PAHs ocorre em condies aerbias e anaerbias. A

    biodegradao anaerbia de PAHs um processo lento e o seu mecanismo bio-

    qumico no est ainda esclarecido. Pelo contrrio, as vias degradativas aerbias,

    sobretudo para os PAHs mais simples como o naftaleno e o fenantreno, foram

    bastante estudadas [43]. Embora os PAHs no sejam degradados em condies

    anaerbias em amostras de solos e de sedimentos, so rpida e anaerobiamente

    degradados em sedimentos de zonas porturias, que foram cronicamente poludas

    com elevadas concentraes de PAHs. A capacidade dos micro-organismos em

    degradar os PAHs nestes locais e no nos solos e sedimentos , provavelmente, o

    resultado de uma exposio prvia de longo prazo a PAHs [44].

    Tambm o petrleo, no ambiente marinho, no acumula porque metabo-

    lizado por micro-organismos os quais se desenvolveram para aproveitar as infiltra-

    es naturais de petrleo como sua fonte alimentar. De facto, as bactrias metabo-

    lizadoras de hidrocarbonetos so ubquas na natureza e podem quebrar as mol-

    culas de petrleo mas se o processo demorar muito tempo, pode ocorrer dano con-

    sidervel no ecossistema [45]. Os micro-organismos presentes na gua metaboli-

    zam os hidrocarbonetos estruturalmente simples mas como os compostos mais

    complexos so mais resistentes degradao microbiana, fixam-se nos sedimentos

    do fundo. No entanto, cerca de 40 a 80 % do petrleo bruto pode ser degradado

    por aco microbiana [28].

    Em 1989, Mueller et a. [46] apresentaram, pela primeira vez, um estudo

    sobre uma comunidade bacteriana, isolada dum local de restos de creosote, que

    utilizou este material como nica fonte de carbono e energia para o seu cresci-

    mento. O creosote de alcatro, usado como agente de preservao da madeira nos

    30

  • PARTE 11 - IMPACTE DOS PAHs m AMBIENTE E m SAUDE

    cascos de navios durante mais de 150 anos, contm 85 % de PAHs [46,47]. A bio-

    degradao dos PAHs resultou na remoo de um volume significativo dos po-

    luentes do creosote e, portanto, na reduo significativa dos potenciais perigos

    para a sade associados a ambientes poludos com este material [46].

    Para alm das bactrias, esto tambm identificados fungos e algas como

    micro-organismos especficos que podem degradar os PAHs [30].

    A fitoremediao uma tecnologia natural de custo moderado [33,48]. As

    plantas activam fortemente a biomassa microbiana por injeco de exsudatos ricos

    em nutrientes orgnicos como acares e aminocidos na zona da raiz denomina-

    da rizosfera. Desta forma, os micro-organismos, bem alimentados pelas plantas,

    degradam os poluentes orgnicos [33].

    Simonich et ai. [49] desenvolveram um modelo de balanos de massa para

    PAHs, medindo as concentraes de dez PAHs em 147 amostras de vegetao e

    de solos num local suburbano em Bloomington, Indiana, EU, que permitiu concluir

    que a vegetao uma via importante na remoo de PAHs da atmosfera [49].

    Recentemente, Pradhan et ai. [48] efectuaram um estudo laboratorial para deter-

    minar o potencial de fitoremediao para tratar solos poludos com PAHs de uma

    instalao industrial de produo de gs e verificaram que, em seis meses, ocorreu

    uma diminuio na concentrao total de PAHs de 57 %, com Medicago satiua e

    Panicum uirgatum [48].

    Eberius et ai. [24] propuseram que a tcnica de ozonizao dos PAHs no

    solo pode ser usada para remediao do solo in situ ou em combinao com ou-

    tras tcnicas de bioremediao, uma vez que os produtos de ozonizao (quinonas,

    31

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHs NO AMBIENTE E NA SAUDE

    compostos formilados e carboxilados) so presumivelmente mais solveis em gua

    e biodegradveis do que os PAHs precursores. Referem, no entanto, ser necessrio

    maior conhecimento sobre a biodegradabilidade dos produtos da ozonizao [24]

    para que este tipo de remediao possa ser usado.

    Estes trs mecanismos - biodegradao, fitoremediao e ozonizao - no

    esto, contudo, ainda completamente estabelecidos e, por isso, continuam a ser

    realizadas pesquisas com o objectivo de melhorar quer a eficincia, quer os aspec-

    tos econmicos destes processos, para que possam ser aplicados em caso de aci-

    dentes ambientais [43,44].

    32

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHs NO AMBIENTE E m SADE

    3. OS PAHs E A SADE HUMANA

    Nos anos 40 descobriu-se que a biotransformao no organismo de com-

    postos exgenos (xenobiticos) como os PAHs, que at a se pensava ser um me-

    canismo de destoxicao por facilitar a excreo dos compostos como metabolitos

    polares, estava tambm envolvida na toxicidade dos compostos. Como os PAHs

    requerem transformao metablica a intermedirios reactivos txicos (processo

    que se designa por activao metablica ou bioactivao), a biotransformao

    destes xenobiticos desempenha, aparentemente, uma funo dupla. Assim, em

    circunstncias de ineficiente destoxicao, os PAHs podem induzir mudanas bio-

    qumicas e fisiolgicas que podem levar a efeitos txicos como dano celular, morte

    da clula, mutagnese ou tumorognese. A ocorrncia de efeitos txicos provoca-

    dos por estes xenobiticos, pelos intermedirios reactivos ou pelos metabolitos ,

    pois, geralmente dependente do balano entre os processos de bioactivao e de

    destoxicao [50].

    As reaces metablicas podem dividir-se em trs classes: as reaces de

    fase I (ou de funcionalizao), as reaces de fase II (ou de conjugao) e as reac-

    es de fase III (ou de simplificao) [50].

    As reaces de fase I so reaces de biotransformao que convertem um

    substrato num composto mais polar e ocorrem, sobretudo, nos microssomas do

    retculo endoplasmtico [6,51]. As reaces de fase II so reaces, geralmente, de

    destoxicao que envolvem conjugao e ocorrem essencialmente no citosol da

    clula [14]. As reaces de fase III so reaces de transformao ou de degrada-

    33

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHs NO AMBIENTE E m SADE

    o em que os substratos so conjugados da glutationa ou da cistena que originam

    derivados mercaptricos [50].

    Na Figura 27 encontra-se representada a reaco de epoxidao do ben-

    zo[a]pireno. Trata-se de uma reaco de Fase I em que o diol epxido resultante

    poder ser o metabolito envolvido na ligao ao ADN.

    Benzo[a]pireno Benzo[a]pireno-7,8-epxido Benzo[a]pireno-7,8-diol-9,10-epxido

    Figura 27 . Epoxidao do benzo[a]pireno [14]

    O benzo[a]pireno-7,8-epxido pode, no entanto, sofrer destoxicao por

    reaces de Fase II, nomeadamente por conjugao com a glutationa ou por gluco-

    ronidao, conforme representado na Figura 28.

    Glutationa (GSH)

    GSH- S- transferase

    UDPGA

    Glucoronil transferase

    -glucorondeo

    Figura 28 . Reaces de destoxicao do benzo[a]pireno-7,8-epxido

    (adaptado de [14])

    34

  • PARIE II - IMPACTE DOS PAHS NO AMBIENTE g NA SAUDE

    Os compostos resultantes da conjugao com a glutationa podem ainda so-

    frer reaces de Fase III, originando derivados mercaptricos (Figura 30 - pgina

    37)

    Como j tivemos oportunidade de referir, os PAHs so uma importante

    classe de carcinognios ambientais. As suas propriedades carcinognicas so devi-

    das, em parte, a uma interaco de metabolitos especficos com o ADN. Embora se

    pense que os diol epxidos sejam os metabolitos envolvidos na ligao ao ADN

    [21,52], podem ocorrer outras vias de activao metablica e, consequentemente,

    essencial que os metabolitos de PAHs sejam perfeitamente caracterizados (por

    isso, foram desenvolvidos mtodos de sntese para a preparao desses metaboli-

    tos) [21].

    Em 1951, Elizabeth Miller demonstrou a ligao covalente do ben-

    zo[a]pireno (ou de alguns dos seus metabolitos) s protenas na pele de ratos trata-

    dos com este hidrocarboneto. Em 1962, Abell e Heidelberger descreveram o mes-

    mo fenmeno para o 3-metilcolantreno. Foram estas descobertas que sugeriram

    que o passo mais importante na induo do cancro por estes xenobiticos a in-

    teraco covalente de alguma forma do composto qumico com macromolculas

    [14].

    A verificao da biotransformao do 2-acetilaminofluoreno a um composto

    mais reactivo (N-hidroxi-2-acerJlaminofluoreno) - reage com locais nuclefilos de

    macromolculas - (Figura 29 - pgina 36), levou James e Elizabeth Miller a propor

    que os xenobiticos carcinognicos so ou podem ser convertidos em espcies re-

    activas electroflicas. Estas exercem os seus efeitos carcinognicos por meio de in-

    teraco covalente com as macromolculas celulares [14].

    35

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHS NO AMBIENTE E NA SAUDE

    NHCOCH3 ^ i \ J ^ ^ \ ^ ' ' ^ ^ ' N 0 H C 0 C h i 3

    Fase I - ' ^) N-hidroxilao l ^ _ Ji-

    2-acetilaminofluoreno N-hidroxi-2-acetilaminofluoreno

    F i g u r a 2 9 . Biotransformao do 2-acetilaminofluoreno [14]

    Em 1955, Pullman e Pullman propuseram que a regio K dos PAHs (Figura

    7 - pgina 8) era importante na previso da sua carcinogenicidade. Em 1950,

    Boyland propusera a formao de intermedirios epxidos no metabolismo destes

    xenobiticos. Contudo, s em 1970 que Jerina e colaboradores detectaram a

    formao de tais intermedirios num sistema biolgico e em 1974, Sims e colabo-

    radores propuseram que o diol epxido do benzo[a]pireno era a forma definitiva

    deste carcinognio [14].

    Os PAHs necessitam, portanto, de activao metablica para expressar o

    seu potencial biolgico como mutagnicos e como carcinognicos [6].

    Como evidenciamos com o benzo[a]pireno (Figura 27 - pgina 34), os

    metabolitos principais resultantes das reaces de fase I dos PAHs so os xidos de

    arenos. Estes podem rearranjar-se espontaneamente a fenis ou sofrer transforma-

    o metablica posterior. A hidratao dos xidos de arenos catalisada pela epxi-

    do hidrase origina trans-dihidrodiis e a reaco dos xidos de arenos com a glu-

    tationa, catalisada pela glutationa-S-transferase, origina conjugados que sofrem

    degradao a derivados do cido mercaptrico. Os fenis e os dihidrodiis so

    excretados principalmente na forma de steres glucornicos e steres de sulfato

    solveis em gua. Adicionalmente, o metabolismo oxidativo dos fenis e dihidro-

    diis tambm ocorre para produzir quinonas e diol epxidos (Figura 30 - pgina

    37) [6].

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHs NO AMBIENTE E NA SADE

    conjugado quinona aducto do cido mercaptrico

    Figura 30. Mecanismos para o metabolismo dos PAHs pelas enzimas microssomais nas clulas de mamferos [6]

    A evidncia fundamental para a importncia dos metabolitos diol epxido

    como formas activas dos PAHs carcinognicos a sua identificao como os prin-

    cipais aductos com o ADN formados in uivo e a sua potncia como mutagnicos

    em bactrias e clulas de mamferos [6].

    A formao de aductos com o ADN considerada ser o acontecimento ini-

    cial na carcinognese qumica [193]. Como se pensa que certas mutaes exercem

    uma aco importante no processo de carcinognese, admitiu-se a hiptese de cor-

    relacionar a formao e a persistncia de aductos com o ADN com a formao de

    tumores na carcinognese qumica [53].

    37

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHs NO AMBIENTE E NA SADE

    A induo de mutaes devida principalmente a alteraes qumicas ou f-

    sicas na estrutura do ADN que resultam numa replicao inadequada de uma regi-

    o particular do genoma. A posio de um aducto com o ADN e as suas proprie-

    dades fsicas e qumicas determinam o tipo de mutaes induzidas. Isto indica que

    diferentes aductos podem induzir um distinto espectro de mutaes e que um dado

    aducto pode resultar num grande nmero de diferentes leses no ADN. A extenso

    com que ocorrem os aductos com o ADN aps a exposio a carcinognios qumi-

    cos, depende do metabolismo geral do xenobitico e da reactividade qumica do

    metabolito definitivo. Uma vez o aducto formado, a sua presena permanente no

    ADN das clulas depende principalmente da capacidade da mquina celular em

    reparar a alterao estrutural no ADN [14].

    Existe ainda a evidncia do envolvimento de, pelo menos, outros dois me-

    canismos adicionais para a formao de aductos com o ADN. O primeiro implica

    oxidao dos PAHs para formar caties radicais que podem combinar-se directa-

    mente com o ADN resultando na sua leso (Figura 31) [6].

    p - 4 5 0 " ( + ) 2E . aductos PAH-ADN instveis

    ou peroxidase .S^^^^s^^***.

    catio radical W leso no ADN

    Figura 3 1 . Formao de caties radicais [6]

    Cavalieri e Rogan [3] propuseram que os caties radicais dos PAHs forma-

    dos por oxidao do composto precursor por reaces de Fase I, so tambm im-

    portantes intermedirios na formao dos metabolitos carcinognicos definitivos

    destes xenobiticos [14]. Os radicais livres podem ligar-se covalentemente s ma-

    cromolculas celulares, abstrair tomos de hidrognio daquelas ou doar o seu

    XX

    38

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHS NO AMBIENTE E NA SADE

    electro desemparelhado ao oxignio molecular [50]. Assim, a perda de tomos de

    hidrognio dos lpidos e as subsequentes reaces intramoleculares nestas molcu-

    las ou as reaces entre os radicais lipdicos e o oxignio molecular podem iniciar o

    processo de peroxidao lipdica o qual, por sua vez, tem fortes efeitos na fluidez,

    permeabilidade e integridade das membranas e, consequentemente, em vrios

    processos associados s mesmas [50,51].

    Em 1981, Marnett descreveu a co-oxigenao de cidos gordos poliinsatu-

    rados (sobretudo do cido araquidnico) e de PAHs com bioactivao destes. No

    caso do benzo[a]pireno-7,8-diol a transferncia, catalisada pela peroxidase, do ra-

    dical livre do hidroperxido para o PAH, resulta na formao da forma carcinog-

    nica definitiva do benzo[a]pireno, o benzo[a]pireno-7,8-diol-9,10-epxido (Figura

    32). Esta via de activao metablica dos procarcinognios embora no ubqua,

    importante em alguns tecidos extra-hepticos como, por exemplo, no rim [14].

    I ^ V ' ^ L0O. LO-

    \KAJ Y^ OH 0 H

    Benzo[a]pireno-7,8-diol Bcnzo[a]pireno-7,8-diol-9,10-epxido

    Figura 32 . Activao metablica do benzo[a]pireno-7,8-diol durante a peroxidao do cido ara-quidnico [14]

    O segundo mecanismo envolve a converso de metabolitos dihidrodiol, por

    enzimas dehidrogenases, a ortoquinonas que se podem ligar covalentemente ao

    ADN ou participar num ciclo redox com oxignio para dar origem a espcies reac-

    tivas de oxignio como os radicais hidroxilo e anies superxido, capazes de atacar

    o ADN. A formao de pequenas quantidades de quinonas por esta via pode re-

    39

  • PARTE II - IMPACTE Dos PAHs NO AMBIENTE E m SAUDE

    sultar na produo de grandes quantidades de espcies reactivas de oxignio, le-

    vando a uma extensa leso no ADN (Figura 33) [6].

    OH 0.7-

    H2O2 O' radical semi-quinnico

    Figura 3 3 . Formao de quinonas catalisada por enzimas dehidrogenases [6]

    O benzo[a]pireno tem sido muito usado como composto modelo em estu-

    dos de PAHs carcinognicos que demonstraram que o principal aducto com o

    ADN do benzo[a]pireno o ( + )ani-benzo[a]pireno-7,8-dihidrodiol-9,10-epxido -

    - ani-BPDE [18,195] (Figura 34.A).

    O ani-BPDE o principal metabolite do benzo[a]pireno ligado ao ADN identifica-

    do em roedores, bovinos e clulas humanas.

    ( + ) (7R,8S,9S,10R) ( + |-antl-BPDE

    H

    ( + ) (7S,8R,9S,10R) ( + )-syn-BPDE

    A B

    Figura 34. A - ani-BPDE B - syn-BPDE [6]

    Tambm se formam pequenas quantidades de aductos resultantes do is-

    mero syn-BPDE (Figura 34.B). O anti- e o syn-BPDE exibem ambos forte activida-

    de mutagnica em sistemas celulares de mamferos e em bactrias, embora o anti-

    -BPDE demonstre uma actividade um pouco superior na induo de transforma-

    40

  • PARTE U - IMPACTE DOS PAHS NO AMBIENTE E NA SADE

    o maligna nos fibroblastos e na pele de ratinho e no pulmo do ratinho recm-

    -nascido [6].

    A maior parte das investigaes sobre os mecanismos moleculares pelos

    quais os PAHs exercem as suas actividades biolgicas como a activao metabli-

    ca, formao de aductos com o ADN e induo de mutaes foram realizadas com

    PAHs tetra e pentacclicos, em particular com o benzo[a]pireno [55].

    O benzo[a]antraceno, o criseno, o 5-metilcolantreno e o diben-

    zo[a,j]antraceno sofrem activao metablica com formao de diol epxidos na

    regio em baa e/ou na regio fjord e reagem com o ADN para formar aductos.

    Contudo, as propores de ismeros diol epxidos assim formados, bem como a

    extenso da sua ligao covalente ao ADN, varia consideravelmente. Mais recen-

    temente descobriu-se que os diol epxidos da regio fjord do benzo [g] criseno tam-

    bm se ligam extensivamente a locais especficos no ADN e so potentes carcino-

    gnicos nas clulas bacterianas e de mamferos [56].

    Pelo contrrio, muito pouco conhecido sobre os efeitos biolgicos de

    PAHs com seis anis aromticos, embora alguns membros deste grande grupo de

    PAHs como os dibenzopirenos, apresentem actividade carcinognica significativa

    [55]. Prahalad et ai. [55] e Ralstom et ai. [56] efectuaram estudos com o diben-

    zo[a,/]pireno (Figura 13 - pgina 11) em roedores e verificaram que um carcino-

    gnio mais potente que o 7,12-DMBA (Figura 10 - pgina 10) e que o ben-

    zo[a]pireno (Figura 3 - pgina 5) na induo de tumores na glndula mamria de

    rato e que tambm um carcinognio pulmonar extremamente potente.

    41

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHs NO AMBIENTE m SADE

    Assim, a extrema toxicidade expressa pelas caractersticas carcinognicas do

    dibenzo[a,/]pireno, acompanhada da sua prevalncia no ambiente, pode criar um

    potencial risco para a sade humana. Devido sua estrutura assimtrica, contendo

    quer a regio em baa, quer a regio fjord podem-se formar o l,2-diol-3,4-epxido

    e o 3,4-diol-l,2-epxido e ll,12-diol-13,14-epxido [55]. Ralston et a/. [56] referi-

    ram ainda que tanto o dibenzo[a,/]pireno como o dibenzo[a,/]pireno-ll,12-

    -dihidrodiol so mutagnicos [56].

    A importncia biolgica dos epxidos da regio em baa ou da regio fjord,

    em relao a outros metabolitos xidos de arenos, parece dever-se, no excepci-

    onal reactividade destas regies como foi inicialmente sugerido, mas ao facto de

    estas regies originarem impedimento estrico em relao aco das enzimas

    destoxificantes. Embora este conceito no tenha sido testado com todos os PAHs

    carcinognicos conhecidos, parece ser aplicvel, de um modo geral [6].

    Segundo a IARC, est provado que 11 PAHs so carcinognios em roedo-

    res [53]. Os PAHs de massa molecular superior esto ligados formao de tumo-

    res e cancro em mamferos de laboratrio, peixes e humanos. Pelo contrrio, a

    maior parte dos PAHs de baixa massa molecular evidenciam uma actividade in-

    dutora de tumores mnima [57]. Nos seres humanos, a exposio a PAHs foi cor-

    relacionada com vrios tipos de cancro nomeadamente, pulmo, pele, estmago e

    esfago. Os efeitos no carcinognicos dos PAHs incluem principalmente irritao

    da pele e dos olhos colocando, assim, a exposio a PAHs um problema de sade

    para a populao em geral e, em particular, em zonas industrializadas [53].

    Na ltima dcada, a medio dos metabolitos do pireno em produtos de ex-

    creo de animais e do homem, especialmente do 1-hidroxipireno, ganhou parti-

    42

  • PARTE II - IMPACTE Dos PAHs NO AMBIENTE E m SADE

    cular importncia como potencial biomarcador para a exposio a PAHs. Porque o

    pireno um membro predominante na famlia dos PAHs, a deteco dos seus

    metabolitos fornece uma indicao sobre a exposio a PAHs de um determinado

    organismo. Alm disso, como vimos, porque a oxidao metablica dos PAHs

    responsvel pela formao de intermedirios txicos, a determinao do nvel de

    metabolismo por um organismo pode contribuir para o estabelecimento do risco a

    que uma espcie est sujeita num ambiente poludo com PAHs [58]. Stroomberg et

    a. [58] identificaram e quantificaram, recentemente, todos os metabolitos do pire-

    no produzidos pelo ispode Porcellio Scaber. Porque o pireno predomina no am-

    biente, a anlise dos seus metabolitos um instrumento para o estabelecimento do

    risco ambiental dos ecossistemas no que respeita exposio a PAHs, biodisponi-

    bilidade e biotransformao [58].

    Para alm dos efeitos biolgicos j referidos, foi demonstrado recentemente

    que alguns PAHs inibem a actividade da acetilcolinaesterase de um modo compe-

    titivo. A acetilcolina um dos neurotransmissores mais importantes, quer para o

    sistema nervoso central quer para o sistema nervoso perifrico. Os compostos qu-

    micos que inibem a acetilcolinoesterase (designados agentes anticolinoesterase)

    fazem com que a acetilcolina livre se acumule nos locais colinrgicos do receptor,

    resultando uma sobre-estimulao dos receptores colinrgicos muscarnicos e nico-

    tnicos, no sistema nervoso central e perifrico. Por isso, a inibio da acetilcolina-

    esterase causada por PAHs foi mesmo proposta como um biomarcador para neu-

    rotoxicidade [8,51].

    Tambm estudos recentes com linfcitos humanos do sangue perifrico

    apoiam a hiptese de que o benzo[a]pireno e provavelmente outros PAHs so

    43

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHS NO AMBIENTE E NA SADE

    metabolizados a certas espcies oxidantes reactivas que produzem uma diminuio

    momentnea de glutationa intracelular e atacam os grupos sulfidrilo das protenas

    levando a um aumento do clcio intracelular [5].

    A avaliao dos efeitos dos poluentes no solo tem-se tornado uma priorida-

    de para os pases membros da OCDE. Os biomarcadores podem ser usados para

    detectar e estabelecer os efeitos da poluio, particularmente a provocada por bai-

    xas concentraes de misturas complexas de poluentes, na qualidade ambiental.

    M. Saint-Denis et ai. [51] avaliaram, recentemente, as respostas bioqumicas da

    minhoca Eisenia ftida andrei ao benzo[a]pireno em diferentes concentraes e

    tempos de exposio. As minhocas encontram-se na maior parte dos solos e po-

    dem representar 60-80 % da biomassa total, o que torna estes organismos bioindi-

    cadores apropriados para avaliar os efeitos dos PAHs nos solos [51]. Alm disso, as

    minhocas tm um certo nmero de caractersticas (tamanho, comportamento e

    elevada biomassa) que as torna um dos animais mais adequados para testar a toxi-

    cidade dos xenobiticos nos solos e, por isso, foram adoptadas pela OCDE como

    organismos padro para avaliao ecotoxicolgica [59].

    Existem poucos estudos sobre os mecanismos da carcinognese para PAHs

    heterocclicos. Parece que os mecanismos de activao metablica e de tumorog-

    nese dos azo- e tio- PAHs so, provavelmente, semelhantes aos dos PAHs corres-

    pondentes. Os estudos de biotransformao apoiam, de um modo geral, a hiptese

    de que estes compostos so activados aos correspondentes diol epxidos da regio

    em baa. Contudo, foram observadas algumas diferenas nas actividades biolgicas

    e padres metablicos. Por exemplo, o dibenzo[c,g]carbazol (Figura 15 - pgina

    13) exibe actividade como carcinognio heptico e da pele quando aplicado na

    44

  • PARTE II - IMPACTE DOS PAHS NO AMBIENTE NA SADE

    pele do ratinho. Isto contrasta com os PAHs carcinognicos, os quais so activos

    apenas no local de administrao [6].

    A comparao das propriedades das molculas isostricas ben-

    zo[a]antraceno (Figura 7 - pgina 8), benzo[a]acridina e benzo[c]acridina (Figura

    15 - pgina 13), permite avaliar os efeitos do heterotomo na actividade biolgica

    destes compostos. Em estudos de tumorogenicidade, a benzo[c]acridina geral-

    mente a mais activa e a benzo[a]acridina a menos activa. As tumorogneses relati-

    vas explicam-se, em parte, como consequncia do efeito de substituio do azoto

    nas estabilidades dos correspondentes metabolitos diol epxido da regio em baa.

    Em contraste com a reduzida expresso do efeito carcinognico dos derivados da

    benzoacridina, a dibenzo[a,/i]acridina (Figura 15 - pgina 13) um carcinognio

    potente. Este azo-PAH apresenta um interesse duplo porque possui duas regies

    em baa assimtricas [6].

    Embora no se tenha tido a pretenso de abordar de forma exaustiva a

    problemtica do impacte dos PAHs na sade humana, parece-nos que a breve

    abordagem que foi realizada relativamente s actividades biolgicas dos PAHs jus-

    tifica plenamente o enorme interesse e a grande importncia do estudo analtico (e

    toxicolgico) destes compostos ubquos e persistentes no ambiente.

    45

  • PARTE III - ANLISE DE PAHs

  • PARTE III - ANALISE DE P A H S

    PARTE III - ANALISE DE PAHs

    1. INTRODUO

    Um processo analtico consiste em vrios passos (Figura 35) contribuindo

    cada um para a obteno de resultados o mais precisos, exactos e reprodutveis

    [60,61,62].

    Colheita

    Armazenamento

    Extraco/Isolamento

    ~K

    Concentrao

    Identificao

    Quantificao

    c AMOSTRAGEM )

    C PURIFICAO )

    ( ANLISE ^ \ \CROMATOGRFIC/W

    TRATAMENTO DE

    RESULTADOS

    Figura 35 . Procedimentos usados num processo analtico (adaptado de [63])

    46

  • PARTE III - ANALISE m PAHs

    Com a amostragem o analista qumico pretende obter uma amostra repre-

    sentativa da matriz em estudo. Para tal, passos como a colheita e o armazena-

    mento devem obedecer a critrios estritos que garantam o objectivo pretendido. A

    amostragem , pois, uma etapa delicada a que cada vez se presta mais ateno, j

    que pode pr em causa todos os resultados subsequentes do processo analtico.

    O objectivo da amostragem obter uma boa informao a partir de uma

    amostra da populao em estudo. As amostras devero ser representativas e no

    devero ser contaminadas pelos recipientes ou aparelhos de colheita [64].

    Aps o passo de amostragem, a amostra estar pronta para a extraco e

    isolamento dos analitos pretendidos. Segue-se, portanto, a purificao das amos-

    tras que, sendo ambientais, no podem habitualmente ser analisadas sem uma

    preparao preliminar devido sua complexidade. O objectivo da purificao da

    amostra proporcionar uma amostra enriquecida no/s analito/s de interesse, o que

    pode ser conseguido extraindo-os, concentrando-os e/ou removendo da matriz

    outros componentes que possam interferir na anlise [65].

    No h uma estratgia nica para a purificao de uma amostra. Depende

    sobretudo, da natureza dos compostos a serem determinados (volatilidade, polari-

    dade, etc.), da natureza da matriz e do nvel de concentrao exigido. Apesar dos

    avanos nas tcnicas de separao e quantificao, a purificao da amostra ain-

    da um passo dbil e determinante em todo o processo analtico [65]. Trata-se de

    um passo exigente e, por vezes, longo no estudo das amostras ambientais [66].

    Alm disso, os mtodos de purificao da amostra geralmente usados pelos qumi-

    cos analticos gastam quer solventes, quer tempo, constituindo tambm a principal

    fonte dos erros cometidos durante a realizao de um processo analtico [67].

    47

  • PARTE HI - ANAUSE PAHS

    Uma conscincia global cada vez mais alertada para a poluio do meio

    ambiente e para os perigos causados pelos poluentes orgnicos, resultou em inicia-

    tivas internacionais para tentar reduzir o uso de solventes orgnicos dos quais al-

    guns mtodos actuais continuam a depender [62]. Por isso, a procura de tcnicas

    alternativas que abreviem o tempo de anlise e limitem ao mnimo o recurso a

    grandes quantidades de solvente, tem constitudo uma preocupao dos cientistas

    actuais. A imaginao e o desenvolvimento tcnico tm permitido grandes avanos

    nesta rea possibilitando, em muitos casos, o tratamento de amostras ambientais

    de forma eficiente, segura e reprodutvel [66].

    Aps a etapa de purificao, recorre-se anlise cromatogrfica que permi-

    tir identificar e quantificar os analitos de interesse. Os actuais processos cromato-

    grficos associados a modernos e potentes detectores, originam uma cada vez mai-

    or quantidade de resultados.

    O tratamento dos resultados, ltima etapa de um procedimento analtico,

    tem de considerar, no s a quantidade mas tambm a complexidade dos resulta-

    dos obtidos, sendo ento os mtodos a utilizar os mais modernos da anlise mate-

    mtica e estatstica.

    48

  • PARTE III - ANALISE DE PAHS

    2. MTODOS DE EXTRACO

    2.1. EXTRACO PORSOXHLET

    A tcnica de extraco por Soxhlet um mtodo clssico de extraco con-

    tinua de slidos [63]. Nesta tcnica, um solvente adequado (com elevada afinidade

    para o que se pretende extrair e, de preferncia, com boa volatilidade e baixa vis-

    cosidade) volatiliza, condensa e percola atravs da amostra slida. O lquido con-

    densado sifonado para o recipiente que contm o solvente, aumentando-se assim

    o tempo de contacto da amostra com o solvente [63,68] (Figura 36).

    Figura 36 . Equipamento para extraco por Soxhlet [69]

    A - balo de aquecimento com o solvente B - Soxhlet C - condensador D - amostra E - sifo

    Esta tcnica constitui um mtodo frequentemente eleito para a extraco de po-

    luentes orgnicos no polares [70,71] e tem sido utilizada na extraco de PAHs de

    vrias matrizes (solos - Quadros I e II - pginas 54 e 60 -, sedimentos marinhos,

    49

  • PARTE III - ANALISE DE PAHS

    cinzas produzidas durante a incinerao de lixos municipais e poeiras atmosfricas,

    por exemplo).

    A eficincia da extraco por Soxhlet tem sido comparada com outros m-

    todos, o que tem permitido concluir que este mtodo simples e clssico apresenta,

    por vezes, maior eficincia que outros mais complexos e modernos.

    E, no entanto, uma tcnica morosa, que exige que os compostos a extrair

    sejam estveis temperatura de ebulio do solvente extractor [63,70], que requer

    relativamente grandes volumes de solventes orgnicos, frequentemente txicos,

    caros e de eliminao problemtica em termos ambientais [70,72,73,74,75,76].

    50

  • PARTE III - ANALISE DE PAHS

    2.2. EXTRACO POR ULTRA-SONS

    O mtodo que utiliza os ultra-sons para remover analitos, sobretudo de

    materiais slidos, pode constituir uma alternativa extraco por Soxhlet [77] (Fi-

    gura 37). Trata-se de uma tcnica que recorre extraco por solventes comple-

    mentada e melhorada pela utilizao de ultra-sons.

    Figura 37. Aparelho de ultra-sons

    As vibraes mecnicas produzidas pela transformao de energia elctrica

    em energia ultra-snica de alta frequncia (20 KHz), so amplificadas provocando

    uma alternncia de compresso no lquido e a formao de microbolhas que ex-

    plodem violentamente. Este fenmeno, designado por cavitao, dissipa uma

    energia considervel permitindo assim uma intensa agitao das molculas pre-

    sentes no lquido [69].

    A extraco por ultra-sons tambm envolve o uso de volumes de solventes relati-

    vamente grandes [78] mas a poupana conseguida nos tempos de extraco e na

    limpeza de material de vidro, tornam este mtodo adequado para utilizao em

    estudos de rotina [79].

  • PARTE III - ANALISE DE PAHS

    Esta tcnica apresenta as vantagens da extraco por solvente - afinidade

    para os analitos pretendidos - per