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ARTIGO
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Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 33 - jan-jun 2014
DOSSIÊ
PERCURSOS DA METÁFORA
Recebi, há algum tempo, da Comissão Editorial da Revista Línguas
e Instrumentos Linguísticos, um convite que muito me honrou:
organizar uma nova seção da Revista, uma seção temática que teria
como primeiro assunto a metáfora. Assim, os textos que seguem são de
autores que assumiram comigo esta grande responsabilidade.
Assumiram também, cada um de seu lugar específico, a tarefa de pensar
sobre as questões que envolvem o funcionamento da metáfora em
outras áreas do saber, que não só (mas também) as Ciências da
Linguagem. Contribuíram com suas reflexões um historiador – André
Joanilho; um filósofo – Hélio Rebello Cardoso Jr.; uma psicóloga –
Renata P. Domingues; um psicanalista – Maurício Maliska; e, duas
linguistas – Andréia da Silva Daltoé e Mariângela P. G. Joanilho.
Tivemos também como contribuição para a Seção Resenha da Revista
o texto de Anderson Braga do Carmo sobre um livro do filósofo francês
Paul Virillo, que em suas reflexões, parte de uma metáfora
fundamental; segundo ele, o homem habita o tempo e não o espaço.
Esperamos com isso poder contribuir com os estudos sobre esta sedução
da linguagem, que é a metáfora. Para apresentá-los, deixarei que falem
os autores nos resumos de seus textos, a partir de agora:
Em “O direito de ser esquecido, o direito de ser lembrado: memória,
esquecimento e o funcionamento da metáfora”, Andréia da Silva Daltoé
investiga como se dá o funcionamento da metáfora no interior da
relação entre o chamado direito ao esquecimento e os trabalhos da
Comissão Nacional da Verdade (CNV), a fim de observar de que modo
este deslizamento faz trabalhar as noções de memória e esquecimento.
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Maurício Maliska, em seu “Da condensação freudiana ao
forçage/chiffonage lacaniano: o transbordamento da metáfora na teoria
psicanalítica” busca explorar um percurso da metáfora na psicanálise,
tocando nos seus limites e transbordamentos no ensino de Lacan,
intentando mostrar os limites da metáfora dentro da psicanálise, uma
vez que o psicanalista não busca construir metáforas, nem mesmo
sentidos para o sujeito, mas desconstruí-los, com o objetivo de esvaziar
o excesso de significação que há tanto nos sonhos como no sintoma,
para que o sujeito passe a não mais sofrer com esse excesso de sentido.
Já em “Intoxicação pela Metáfora segundo Gilles Deleuze e Félix
Guattari: os desenhos do pequeno Richard (1941)”, Hélio Rebello
Cardoso Jr. e Renata P. Domingues partem da seguinte questão: quando
um menino de dez anos, que vive em uma cidade sob risco de ser
bombardeada pelo inimigo, desenha um navio de guerra para sua
psicoterapeuta, o que quer ele dizer? Começam com essa questão
simples para dar ensejo à revisão crítica que fazem Deleuze e Guattari
a respeito da utilização de imagens nos escritos e nos desenhos
reproduzidos em Narrativa de uma Análise de Criança de Melaine
Klein, a partir do quê destacam o papel da metáfora para a produção da
alegada intoxicação psicanalítica.
André Luiz Joanilho, em seu “O historiador e a metáfora” trata a
escrita da história como metáfora do passado não reconhecida pelos
historiadores que, ao contrário, buscam o literal nas suas narrativas
formadas por documentos que poderiam ser compreendidos também
como metáforas, mas que são abordados como emulação do real. Do
documento ao texto, a metáfora é esconjurada como ruído não real. No
entanto, conforme o autor, a escrita não é feita de verdades e
literalidade, mas de imaginação e de fatos da linguagem, estando na
origem dos eventos a dispersão e a descontinuidade.
Finalmente, em “Das relações de sentido na linguagem ou sobre
como a metáfora produz o acontecimento” ocupo-me da descrição da
Mariângela P. G. Joanilho
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metáfora na Semântica do Acontecimento em sua relação com a Análise
de Discurso de filiação francesa. Escolhi, como pesquisadora em
Ciências da Linguagem, dedicar-me de modo direto à tarefa de estudar
a instanciação do sentido metafórico. Neste estudo, como parte de meu
percurso anterior, procurei discutir o fenômeno da constituição do
sentido metafórico e sua relação com a memória nas discussões que
envolvem a formulação do conceito de língua nacional e,
consequentemente, na configuração do processo identitário. Veremos
que a metáfora é uma memória que se apresenta em diversos textos. E,
como memória, “lembra e esquece e abre caminho para a mudança”,
como define tão finamente Eduardo Guimarães.
Mais uma vez, quero dizer que esperamos contribuir com as
discussões acerca da metáfora, mostrando, mesmo que parcialmente,
que este fato de linguagem movimenta os sentidos e promove
infindáveis deslocamentos para as questões teórico-epistemológicas nas
Ciências da Linguagem e nas Humanidades.
Mariângela P. G. Joanilho