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DOSSIE SOBRE A LUTA DOS MORADORES DO ASSENTAMENTO CANAÃ (MT) Há dois anos, um grupo de trabalhadores ocupou um local abandonado próximo ao bairro Parque Cuiabá (Mato Grosso). O local era ponto de usuários de drogas, estupros e assassinatos. A partir da ocupação os moradores transformaram o local improdutivo em um local social. Nesses dois anos mais famílias foram se aglomerando. Hoje cerca de 300 famílias moram no local. O assentamento possui várias casas, fruto do trabalhado desses moradores. Ao longo do tempo o local se tornou próspero. Dessa forma, surgiu um suposto dono do terreno, Armindo Sebba Filho, que iniciou um processo para reintegrar o terreno. Entretanto, os moradores afirmam que Armindo não tem a escritura do local. Assim começou a batalha dos moradores do assentamento em defesa da moradia. Muitas famílias compõem esse espaço: trabalhadores, crianças, idosos etc. No dia 6 de fevereiro, os moradores do Canaã ocuparam a Rodovia Palmiro Paes de Barros, uma das principais avenidas de Cuiabá que dá acesso a diversos bairros como Parque Cuiabá, Parque Atalaia, Residencial Coxipó etc. O protesto foi a forma encontrada pelos moradores para chamar atenção para o que está acontecendo no assentamento. A PM e a ROTAM foram acionadas para dispersar os manifestantes que interditaram a rodovia. Diversas entidades e movimentos sociais estiveram presentes em apoio ao assentamento Canaã e mostraram solidariedade ao processo de luta do assentamento Canaã. No dia 11 de fevereiro a comunidade do Assentamento Canaã e os Movimentos Sociais realizaram uma Plenária para organizar a luta em defesa da moradia, contra a decisão de reintegração de posse da terra expedida pela juíza Vandimara Galvão Ramos Paiva, titular da 21ª Vara Cível de Cuiabá. Na ocasião as Entidades expressaram solidariedade à luta dos trabalhadores que residem há cerca de dois anos no local e a iniciativa em contribuir em seu processo de organização e mobilizações. Cerca de 200 pessoas participaram da plenária que discutiu os rumos da mobilização do assentamento. Os moradores assistiram aos vídeos que retrataram a luta travada pelos companheiros da comunidade Pinheirinho em São José dos Campos (SP). A partir dessa plenária os moradores iniciaram o processo de organização interna: montagem de barricadas feitas de pneus e madeiras, vigílias continuas no assentamento, além de artefatos de resistência para uma possível reintegração. No dia 13 de fevereiro os moradores do assentamento realizaram um ato de protesto contra a decisão pela reintegração de posse em favor de Sebba Filho. O ato teve início às 8 horas da manhã. Os moradores interditaram a Rodovia Palmiro Paes de Barros, próximo ao Clube da Caixa, com faixas, cartazes, pneus, caixas de som e palavras de ordem. A manifestação atraiu a imprensa e sensibilizou moradores de bairros próximos que se juntaram a manifestação, gerando uma

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DOSSIE SOBRE A LUTA DOS MORADORES DO ASSENTAMENTO CANAÃ (MT)

Há dois anos, um grupo de trabalhadores ocupou um local abandonado próximo ao bairro Parque

Cuiabá (Mato Grosso). O local era ponto de usuários de drogas, estupros e assassinatos. A partir

da ocupação os moradores transformaram o local improdutivo em um local social.

Nesses dois anos mais famílias foram se aglomerando. Hoje cerca de 300 famílias moram no local.

O assentamento possui várias casas, fruto do trabalhado desses moradores.

Ao longo do tempo o local se tornou próspero. Dessa forma, surgiu um suposto dono do terreno,

Armindo Sebba Filho, que iniciou um processo para reintegrar o terreno. Entretanto, os moradores

afirmam que Armindo não tem a escritura do local.

Assim começou a batalha dos moradores do assentamento em defesa da moradia. Muitas famílias

compõem esse espaço: trabalhadores, crianças, idosos etc.

No dia 6 de fevereiro, os moradores do Canaã ocuparam a Rodovia Palmiro Paes de Barros, uma

das principais avenidas de Cuiabá que dá acesso a diversos bairros como Parque Cuiabá, Parque

Atalaia, Residencial Coxipó etc. O protesto foi a forma encontrada pelos moradores para chamar

atenção para o que está acontecendo no assentamento. A PM e a ROTAM foram acionadas para

dispersar os manifestantes que interditaram a rodovia.

Diversas entidades e movimentos sociais estiveram presentes em apoio ao assentamento Canaã e

mostraram solidariedade ao processo de luta do assentamento Canaã.

No dia 11 de fevereiro a comunidade do Assentamento Canaã e os Movimentos Sociais realizaram

uma Plenária para organizar a luta em defesa da moradia, contra a decisão de reintegração de

posse da terra expedida pela juíza Vandimara Galvão Ramos Paiva, titular da 21ª Vara Cível de

Cuiabá. Na ocasião as Entidades expressaram solidariedade à luta dos trabalhadores que residem

há cerca de dois anos no local e a iniciativa em contribuir em seu processo de organização e

mobilizações. Cerca de 200 pessoas participaram da plenária que discutiu os rumos da mobilização

do assentamento. Os moradores assistiram aos vídeos que retrataram a luta travada pelos

companheiros da comunidade Pinheirinho em São José dos Campos (SP).

A partir dessa plenária os moradores iniciaram o processo de organização interna: montagem de

barricadas feitas de pneus e madeiras, vigílias continuas no assentamento, além de artefatos de

resistência para uma possível reintegração.

No dia 13 de fevereiro os moradores do assentamento realizaram um ato de protesto contra a

decisão pela reintegração de posse em favor de Sebba Filho. O ato teve início às 8 horas da

manhã. Os moradores interditaram a Rodovia Palmiro Paes de Barros, próximo ao Clube da Caixa,

com faixas, cartazes, pneus, caixas de som e palavras de ordem. A manifestação atraiu a imprensa

e sensibilizou moradores de bairros próximos que se juntaram a manifestação, gerando uma

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grande repercussão em Cuiabá e todo o estado. Essa manifestação deu um novo ânimo aos

trabalhadores para permanecerem na luta e organizar as próximas ações.

Na manhã do dia 14 de fevereiro cerca de 40 moradores do assentamento Canaã foram à Câmara

Municipal denunciar os problemas enfrentados pela comunidade. Os moradores ocuparam o

“plenarinho” da Câmara com palavras de ordem e cartazes. Algum tempo depois uma comissão

composta por moradores foi recebida. A proposta dos moradores visava obter um tempo para

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expressar os problemas para os vereadores. Em negociação, foi decidido que na quinta-feira os

moradores teriam acesso a Câmara e um tempo de dez minutos de fala. À tarde os moradores

foram à Assembleia Legislativa (AL) com o mesmo objetivo: divulgar a luta pela terra travada pelos

moradores e cobrar apoio irrestrito a comunidade.

No dia 26 de fevereiro as várias famílias que compõem o assentamento Canaã ocuparam o prédio

da Casa Civil (localizado no Centro Político Administrativo) cobrando uma posição do governo

estadual. Os moradores saíram do assentamento às 8 horas da manhã e seguiram rumo à Casa

Civil gritando “Eu luto hoje, luto amanhã, somos todos assentamento Canaã”. Chegando a Casa

Civil alguns policiais tentaram impedir a entrada dos manifestantes, entretanto, os moradores

tencionaram e ocuparam o prédio. Chegando ao gabinete os manifestantes esperaram cerca de

uma hora para serem ouvidos.

Foi proposto aos moradores a formação de uma comissão de negociação composta por sete

pessoas. A comissão, deliberada pelos moradores presentes, entrou para discutir a situação atual

do assentamento e exigir um parecer do governo.

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José Lacerda (secretário da Casa Civil) e Silval Barbosa (governador do Estado) entraram em

negociação com a comissão, após mais de uma hora de espera. A defensoria, que também estava

presente, disse aos moradores em reunião que tinha provas contundentes que provam que o

terreno não pertence a família Sebba. Ao final, foi discutido que seria feita uma comissão composta

pelos moradores e movimentos sociais para acompanhar o processo. Os moradores avaliaram que

a negociação foi um avanço, pois, o governo se comprometeu a não despejar as famílias, tratar a

questão como um problema social e não econômico e fazer um estudo socioeconômico de cada

família. Ao meio dia os moradores se retiraram da Casa Civil e fizeram uma reunião no

assentamento.

Mesmo com as festividades do Carnaval, a luta dos moradores do assentamento Canaã continuou.

As barricadas continuaram erguidas e as vigílias continuaram sendo feitas. Após uma série de

manifestações realizadas, os moradores continuaram organizados internamente, se preparando

para qualquer possibilidade de uma reintegração de posse. Apesar de ter ocorrido o processo de

negociação, em função do que ocorreu no Pinheirinho, os moradores mantem-se em alerta e

organizados.

No dia 23 de fevereiro a comissão eleita pelos moradores foi convocada a comparecer à Casa Civil

para retomar o processo de negociação. Nesta reunião, estavam presentes o secretário-chefe da

Casa Civil do Estado de Mato Grosso, um representante da Prefeitura de Cuiabá, um representante

do Instituto de Terras de Mato Grosso, um representante da Casa Militar e três representantes da

Defensoria do Estado. Foi apresenta à comissão um mapa de casas localizadas próximas ao bairro

Parque Cuiabá. A proposta feita pelos representantes seria de que essas casas se destinariam aos

moradores do assentamento Canaã, sendo essas, financiadas pelos próprios moradores com 10%

da renda declarada dos respectivos. Foram expostas 266 casas construídas pelo governo municipal

e o governo federal. A comissão dos moradores percebeu que o governo recuou diante dos

compromissos assumidos na reunião anterior, pois, as casas são financiadas pela Caixa

Econômica Federal, portanto, os moradores não preencheriam os pré-requisitos exigidos pelo

banco. Os defensores que estavam na reunião abriram mão de comprovar que a terra seria de

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Armindo Sebba e negaram as provas citadas na reunião anterior. Alguns militantes sofreram

ameaça por parte do representante da Casa Militar que estava presente na reunião.

Considerando o recuo do governo, a comissão composta por moradores e movimentos sociais

levou a proposta para ser avaliada pelos moradores do assentamento. Em assembleia realizada no

dia 25 de fevereiro os moradores decidiram aceitar a proposta seguindo os seguintes critérios:

1. Casas para todos os moradores do assentamento e com isenção do pagamento, tendo em

vista que a grande maioria dos moradores não tem renda fixa e declarada, portanto, são

famílias de baixíssima renda;

2. Enquanto os moradores não receberem as casas, mantem-se suspensa o cumprimento da

liminar da reintegração de posse;

3. Caso haja necessidade de fazer um estudo socioeconômico dos moradores, a equipe

delegada a fazer essa tarefa também deverá ser composta por moradores e movimentos

sociais do assentamento Canaã;

Mesmo a considerar a proposta do governo os moradores do assentamento não reconhecem

Armindo Sebba como dono do terreno.

Paralelamente as negociações com o governo, a comissão de moradores e movimentos sociais

reuniu-se com o Fórum Nacional de Direitos Humanos, composto por diversas entidades, e expôs

os impasses a cerca do assentamento. O defensor de Direitos Humanos que estava presente no

Fórum propôs que os moradores fizessem um levantamento dos dados socioeconômicos das

famílias para apresentar aos órgãos internacionais como forma de denuncia.

A comissão dos moradores foi novamente convocada para outra reunião realizada no dia 28 de

fevereiro para levar o parecer dos moradores. Quando a comissão apresentou a proposta os itens 2

e 3 foram aceitos. A comissão questionou o critério de aquisição das casas dizendo que os critérios

inviabilizariam a inserção dos moradores no projeto das casas. A resposta da Defensoria e do

INTERMAT foi que isso era normal. O que para os representantes é “normal”, para a comissão e

moradores é uma demonstração de irresponsabilidade e a clara negação dos compromissos

assumidos anteriormente. Portanto, diante da posição do INTERMAT e Defensoria, os moradores

exigem um posicionamento do secretário-chefe da Casa Civil. José Lacerda considerou que havia

um impasse e suspendeu a reunião dizendo levar em consideração os critérios apontados pelos

moradores e disse que irá convocar outra reunião nos próximos dias.

Diante dessas circunstâncias criou-se novamente um clima de tensão entre os moradores e o

governo. O que parecia estar encaminhando para uma solução, agora se apresenta na forma de

retrocesso.

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Contamos com a solidariedade irrestrita à luta dos moradores do assentamento Canaã e exigimos

que as autoridades do governo federal se proponham a solucionar esse impasse.

Contato:

Luana – [email protected] (65) 9291-9175

Eduardo – (65) 9905-9650

Paulo – (65) 9216-3193