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DOSSIER TÉCNICO . maio 2020 24 As cerejas e ameixas são dos frutos frescos mais apreciados pelos consumidores pelas suas caracte- rísticas organoléticas e atrativas, bem como pela ri- queza em alguns nutrientes e compostos bioativos, com impacto positivo na saúde humana (McCune et al., 2010). É sabido que um dos principais condi- cionantes associados à produção e comercialização destes frutos é a sua perecibilidade, que faz com que tenham uma vida útil limitada. Em geral, verifica- -se que após a colheita, estes frutos perdem rapida- mente os seus atributos de qualidade, apresentando perda de água e, consequentemente de peso, alte- rações na razão açúcares/ácidos, mudanças de cor, perda de firmeza, entre outros (Zheng et al., 2016). A firmeza é um dos parâmetros de qualidade mais exigidos pelo consumidor, que influencia a capaci- dade de armazenamento e a resistência à deterio- ração dos frutos (Correia et al., 2017). Daí que cada vez mais o produtor opte por plantar cultivares de frutos de polpa firme, sabendo-se que, à partida, a maior parte das características de qualidade dos frutos podem ser influenciadas por fatores externos, dos quais alguns são controláveis adotando práticas culturais adequadas. Neste sentido, várias estraté- gias têm sido testadas com o intuito de manter a qualidade destes frutos ‘frágeis’ e aumentar simul- taneamente a sua durabilidade, permitindo assim o acesso a mercados mais longínquos. Uma delas baseia-se na utilização de películas comestíveis, ao passo que outras recomendam a aplicação de regu- ladores de crescimento para reduzir a deterioração dos frutos e manter a sua qualidade em pós-colheita (Correia et al., 2017; Queirós et al., 2020). Em cere- ja, estudos recentes sugerem que a combinação de cálcio com os reguladores de crescimento não só melhora os parâmetros de qualidade e sensoriais do fruto à colheita, bem como induz alterações nos níveis de fitonutrientes e é benéfica na redução do rachamento da cereja (Correia et al., 2019, 2020). Es- tes resultados são compreensíveis, tendo em conta que o cálcio é um macronutriente fundamental em diversos processos fisiológicos nas plantas, que es- tá envolvido na regulação da permeabilidade mem- branar e pela sua capacidade para se ligar às pec- tinas da parede celular é essencial na estabilidade desta estrutura (Winkler & Knoche, 2019). Daí o cálcio ser o nutriente que mais está associado com a firmeza dos frutos e a sua carência ser uma das causas para a ocorrência de desordens fisiológicas e a reduzida vida útil dos frutos (Wang et al., 2014). A influência dos tratamentos de cálcio na qualida- de dos frutos está bem documentada na literatura (Sánchez, 2016; Solhjoo et al., 2017), assim como na redução do rachamento da cereja e de outros distúr- bios fisiológicos em outras prunóideas (Mangana- ris et al., 2005; Winkler & Knoche, 2019). Contudo, a eficácia das aplicações de cálcio parece depender tanto da concentração utilizada como da forma e do momento em que é feita a sua aplicação. Neste contexto, procedeu-se à aplicação de soluções de Aplicações foliares de cálcio e efeitos na qualidade de cerejas e ameixas Um dos condicionantes associados à produção e comercialização de cerejas e ameixas reside no facto de serem frutos perecíveis, suscetíveis à perda de firmeza, um fator qualitativo muito apreciado pelos consumidores e valorizado pelo mercado. Daí que várias estratégias têm sido utilizadas para beneficiar a qualidade destes frutos e aumentar a sua durabilidade, sendo as aplicações de cálcio em pré-colheita um dos procedimentos referenciados. Filipa Queirós & Claudia Sánchez . INIAV, I.P.

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As cerejas e ameixas são dos frutos frescos mais apreciados pelos consumidores pelas suas caracte-rísticas organoléticas e atrativas, bem como pela ri-queza em alguns nutrientes e compostos bioativos, com impacto positivo na saúde humana (McCune et al., 2010). É sabido que um dos principais condi-cionantes associados à produção e comercialização destes frutos é a sua perecibilidade, que faz com que tenham uma vida útil limitada. Em geral, verifica--se que após a colheita, estes frutos perdem rapida-mente os seus atributos de qualidade, apresentando perda de água e, consequentemente de peso, alte-rações na razão açúcares/ácidos, mudanças de cor, perda de firmeza, entre outros (Zheng et al., 2016). A firmeza é um dos parâmetros de qualidade mais exigidos pelo consumidor, que influencia a capaci-dade de armazenamento e a resistência à deterio-ração dos frutos (Correia et al., 2017). Daí que cada vez mais o produtor opte por plantar cultivares de frutos de polpa firme, sabendo-se que, à partida, a maior parte das características de qualidade dos frutos podem ser influenciadas por fatores externos, dos quais alguns são controláveis adotando práticas culturais adequadas. Neste sentido, várias estraté-gias têm sido testadas com o intuito de manter a qualidade destes frutos ‘frágeis’ e aumentar simul-taneamente a sua durabilidade, permitindo assim o acesso a mercados mais longínquos. Uma delas

baseia-se na utilização de películas comestíveis, ao passo que outras recomendam a aplicação de regu-ladores de crescimento para reduzir a deterioração dos frutos e manter a sua qualidade em pós-colheita (Correia et al., 2017; Queirós et al., 2020). Em cere-ja, estudos recentes sugerem que a combinação de cálcio com os reguladores de crescimento não só melhora os parâmetros de qualidade e sensoriais do fruto à colheita, bem como induz alterações nos níveis de fitonutrientes e é benéfica na redução do rachamento da cereja (Correia et al., 2019, 2020). Es-tes resultados são compreensíveis, tendo em conta que o cálcio é um macronutriente fundamental em diversos processos fisiológicos nas plantas, que es-tá envolvido na regulação da permeabilidade mem-branar e pela sua capacidade para se ligar às pec-tinas da parede celular é essencial na estabilidade desta estrutura (Winkler & Knoche, 2019). Daí o cálcio ser o nutriente que mais está associado com a firmeza dos frutos e a sua carência ser uma das causas para a ocorrência de desordens fisiológicas e a reduzida vida útil dos frutos (Wang et al., 2014). A influência dos tratamentos de cálcio na qualida-de dos frutos está bem documentada na literatura (Sánchez, 2016; Solhjoo et al., 2017), assim como na redução do rachamento da cereja e de outros distúr-bios fisiológicos em outras prunóideas (Mangana-ris et al., 2005; Winkler & Knoche, 2019). Contudo, a eficácia das aplicações de cálcio parece depender tanto da concentração utilizada como da forma e do momento em que é feita a sua aplicação. Neste contexto, procedeu-se à aplicação de soluções de

Aplicações foliares de cálcio e efeitos na qualidade de cerejas e ameixasUm dos condicionantes associados à produção e comercialização de cerejas e ameixas reside no facto de serem frutos perecíveis, suscetíveis à perda de firmeza, um fator qualitativo muito apreciado pelos consumidores e valorizado pelo mercado. Daí que várias estratégias têm sido utilizadas para beneficiar a qualidade destes frutos e aumentar a sua durabilidade, sendo as aplicações de cálcio em pré-colheita um dos procedimentos referenciados.

Filipa Queirós & Claudia Sánchez . INIAV, I.P.

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cálcio aos frutos durante o seu desenvolvimento na árvore, com o objetivo de avaliar o efeito dos trata-mentos nos parâmetros qualitativos dos frutos quer à colheita, quer após terem sido armazenados du-rante um certo tempo.

MetodologiaO estudo decorreu em 2019 e envolveu as cerejeiras da cultivar ‘Sunburst’ de meia-estação, instaladas num pomar comercial localizado na região de La-mego, e as ameixeiras ‘Laetitia’, ‘Royal Diamond’ e ‘Souvenir’ com frutos de maturação na meia-estação a tardia, que fazem parte da coleção varietal insta-lada no Campo Experimental da Quinta Nova, per-tencente ao INIAV, I.P. (Estação Nacional de Fruti-cultura Vieira Natividade), em Alcobaça (Figura 1). Nas duas espécies em estudo foram abordadas es-tratégias diferentes de aplicação do cálcio: no po-mar de cerejeiras habitualmente pulverizadas com soluções de 0,5% de um produto comercial com-

posto por 11,2% de óxido de cálcio e 0,8% de boro (“Borycal”, distribuído pela Nutrifield, Lda), a partir do estado da queda das pétalas e repetidas após um intervalo de 10-12 dias até cerca de 15 dias antes da colheita, também se testou a aplicação de soluções de cloreto de cálcio (CaCl2) a 1% em três momentos do desenvolvimento das cerejas, a 30, 20 e 10 dias antes da data previsível de colheita. Por sua vez, nas ameixeiras foi testada apenas a aplicação de CaCl2 a 1% efetuada por três vezes nos momentos referidos (30, 20 e 10 dias antes da colheita). Em ambas as situações, as árvores controlo foram pulverizadas com água na mesma altura em que foram realizadas as aplicações das soluções de cálcio. Após a colheita, uma parte dos frutos de cereja que chegaram ao laboratório foram conservados no frio (4 °C) durante sete dias, ficando uma amostra à temperatura ambiente (24 °C ± 1 °C durante o dia e 18 °C ± 1 °C à noite) ao longo de quatro dias. Os frutos que restaram foram encaminhados de ime-

Figura 1 – Perspetiva do pomar de cerejeiras instalado na região de Lamego onde decorreu o ensaio (A) e pormenor dos frutos da cultivar de cerejeira ‘Sunburst’ (B), e das ameixeiras ‘Laetitia’ (C), ‘Royal Diamond’ (D) e ‘Souvenir’ (E) utilizados nas análises

A

C D E

B

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diato para a análise dos parâmetros indicadores de qualidade. Por sua vez, as ameixas recolhidas de ca-da cultivar foram aleatoriamente divididas em dois lotes, em que um dos lotes foi mantido à temperatu-ra ambiente (nas condições referidas) durante sete dias, enquanto o outro foi utilizado para a avaliação da qualidade. Assim, determinou-se o peso unitário e mediram-se o calibre e altura dos frutos com um paquímetro digital. A dureza da polpa foi determi-nada usando um durómetro eletrónico (Durofel) e o conteúdo em Sólidos Solúveis Totais (SST), ex-presso em °Brix, obtido através de um refratóme-tro analógico manual. Nas cerejas recém-colhidas ainda se avaliou a acidez titulável (AT) determina-da com recurso à volumetria ácido-base. Logo que terminou o período de armazenamento dos frutos

assim mantidos, determinaram-se os mesmos pa-râmetros analíticos que foram avaliados à colheita, juntamente com a perda de peso dos frutos.

ResultadosJá se referiu que um dos parâmetros importantes na avaliação da qualidade de todos os frutos em geral, mas em particular nas cerejas e ameixas, é a firmeza. As causas para a polpa mole dos frutos são diversas, desde os tratamentos de pré-colheita inadequados, o atraso na data de colheita, a deficiência em cálcio e as más condições de armazenamento/transporte dos frutos (Wang et al., 2014). Segundo Manganaris et al. (2008), os procedimentos efetuados no cam-po são fatores críticos que determinam a qualidade dos frutos, em especial a dureza, de tal forma que

Figura 2 – Ameixeiras das cvs. ‘Souvenir’ (A) e ‘Laetitia’ (B) com sinais evidentes de toxicidade nas folhas após as primeiras aplicações de CaCl2 1%. Pormenor das ameixas ‘Souvenir’ (C) e ‘Laetitia’ (D) não pulverizadas com CaCl2 1% próximas da maturação

A

C D

B

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os tratamentos pós-colheita simplesmente ajudam a preservar as características dos frutos que foram adquiridas no pomar. Neste sentido, os tratamentos de cálcio efetuados durante o crescimento das ce-rejas na árvore tiveram uma ação positiva no au-mento da dureza comparativamente aos frutos das árvores não tratadas. No entanto, a estratégia ba-seada na aplicação de cálcio na forma de cloreto foi mais eficiente do que pela via do produto comercial, verificando-se que os valores de dureza foram su-periores nas cerejas provenientes das árvores pul-verizadas com soluções de CaCl2 a 1% (Quadro 1). Relativamente aos outros indicadores de qualida-de, o teor em sólidos solúveis totais (SST) e acidez (AT) que influenciam o sabor dos frutos parecem ser também afetados pelo tipo de tratamento reali-zado no pomar. Com efeito, o tratamento de cálcio baseado na aplicação do produto comercial “Bory-cal” esteve associado a cerejas com menores valores de °Brix e maiores de acidez comparativamente às cerejas controlo ou às tratadas com CaCl2 (Quadro 1). O calibre também muito valorizado pelo consu-midor, bem como o peso médio surgiram alterados

em consequência dos tratamentos aplicados, ao registarem-se valores médios superiores a 30 mm e 14 g respetivamente, nas cerejas correspondentes à pulverização com o produto comercial (Quadro 1).Um parâmetro importante na avaliação da quali-dade das cerejas quando conservadas ou mantidas em condições de prateleira é a perda de peso, pela consequente perda de água. A 4 °C, os tratamentos de campo não tiveram impacto nas perdas de peso, já que não se registaram diferenças significativas ao fim dos 7 dias de conservação (Quadro 2). Já nas cerejas que estiveram 4 dias em condições de pra-teleira, os resultados sugerem que as pulverizações de cálcio são benéficas na redução das perdas de água. Independentemente do tipo de solução usa-da, nas cerejas tratadas verificou-se uma perda de peso de cerca de 5%, ao passo que nas não tratadas (controlo) a perda foi de 8% aos 4 dias de armaze-namento (Quadro 2). Com base nestes resultados, conclui-se que as aplicações de cálcio reduzem sig-nificativamente a perda de peso nas cerejas man-tidas à temperatura ambiente, enquanto nos frutos conservados em frio não se verifica esse efeito.

QUADRO 1 – VALORES MÉDIOS ( DESVIO PADRÃO, n = 40) DO PESO UNITÁRIO, DIÂMETRO, ALTURA, DUREZA, SÓLIDOS SOLÚVEIS TOTAIS (SST) E ACIDEZ TITULÁVEL (AT) DAS CEREJAS DA CULTIVAR ‘SUNBURST’ ANALISADAS À COLHEITA

TratamentoPeso

(g)Diâmetro

(mm)Altura (mm)

Dureza (UD)

SST (°Brix)

AT (g ác. málico/L)

Controlo 11,88 1,01a 28,73 1,06a 26,23 1,79a 0,039 0,00a 22,47 1,91a 7,57 0,09a

P.C. (Borycal) 14,59 1,14b 32,09 1,73b 28,12 1,08a 0,042 0,00b 19,39 1,43b 8,98 1,04b

CaCl2 1% 12,75 1,27a 29,51 1,33a 27,23 1,03a 0,045 0,00c 22,46 1,22a 7,07 0,52a

P.C. – Produto comercial; UD – Unidades Durofel; PF – Peso fresco. Em cada tratamento, os valores assinalados com letras diferentes são significativamente diferentes (P < 0,05)

QUADRO 2 – VALORES MÉDIOS ( DESVIO PADRÃO, n = 30) DO PESO UNITÁRIO, DIÂMETRO, ALTURA, DUREZA, SÓLIDOS SOLÚVEIS TOTAIS (SST) E E DA PERDA DE PESO NAS CEREJAS DA CULTIVAR ‘SUNBURST’

ANALISADAS APÓS 4 E 7 DIAS DE ARMAZENAMENTO A 24 °C E 4 °C, RESPETIVAMENTE

Condições de armazenamento

TratamentoPeso

(g)Diâmetro

(mm)Altura (mm)

Dureza (UD)

SST (°Brix)

Perda de peso (%)

4 dias a 24 °C

Controlo 10,37 1,34a 25,83 1,40a 24,92 1,12a 0,026 0,07a 23,93 1,11a 8,21 0,21a

P.C. (Borycal) 12,76 1,56a 27,75 1,51a 25,45 1,32a 0,027 0,00a 20,92 1,04b 5,05 0,09b

CaCl2 1% 11,74 1,26a 26,85 1,25a 26,00 1,12a 0,033 0,03a 21,03 0,77b 4,68 0,17b

7 dias a 4 °C

Controlo 12,42 1,28a 28,81 1,50a 26,35 0,87a 0,040 0,11a 23,13 2,43a 2,33 0,59a

P.C. (Borycal) 13,62 1,22a 29,58 1,72a 27,27 1,40a 0,041 0,01a 21,75 1,86a 2,19 1,07a

CaCl2 1% 12,52 1,42a 28,28 1,31a 26,82 1,49a 0,043 0,00a 23,34 1,65a 2,48 0,87a

P.C. – Produto comercial; UD – Unidades Durofel. Em cada tratamento, os valores assinalados com letras diferentes são significativamente diferentes (P < 0,05)

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À semelhança dos resultados verificados à colheita, a firmeza foi também superior nas cerejas mantidas à temperatura ambiente provenientes das árvores pulverizadas com CaCl2, registando-se os maiores valores de °Brix nas cerejas controlo, comparativa-mente às das outras modalidades (Quadro 2). Em geral, os frutos armazenados apresentaram meno-res dimensões relativamente aos valores obtidos à colheita, resultante da perda de peso ocorrida, mas não se registaram diferenças significativas entre as modalidades experimentais (Quadro 2). Nas cerejas acondicionadas no frio, as características dos fru-tos no final do período de conservação foram se-melhantes entre modalidades e não diferiram subs-tancialmente dos valores à colheita (Quadro 2), o que demonstra a importância da refrigeração para a preservação das características físico-químicas da cereja após a sua colheita (Correia et al., 2017). No caso das ameixas em que a análise foi feita à colheita e no final do armazenamento a 24 °C, os

resultados mostram uma resposta aos tratamentos variável com a cultivar. Quer na ‘Royal Diamond’, quer na ‘Laetitia’, os frutos recém-colhidos das árvo-res com três aplicações de CaCl2 1% apresentaram--se mais pesados e com maior firmeza, no entanto, com um menor valor médio de SST em relação aos frutos controlo (Quadro 3). As diferenças detetadas à colheita ao nível da firme-za mantiveram-se nos frutos tratados que estiveram em condições de prateleira, que, para além de serem mais firmes do que os não tratados, revelaram ser os mais pesados e de maiores dimensões, embora me-nos doces (Quadro 4). Resultados diferentes foram obtidos na cv. ‘Souvenir’; os frutos recolhidos das árvores tratadas eram mais leves e de polpa menos firme do que os frutos controlo (Quadro 3). Estas di-ferenças mantiveram-se após o período de armaze-namento, para além dos frutos tratados registarem maiores perdas de água (12%) do que os do controlo (9%), uma tendência que não foi observada nas ou-

QUADRO 4 – VALORES MÉDIOS ( DESVIO PADRÃO, n = 30) DO PESO UNITÁRIO, DIÂMETRO, ALTURA, DUREZA, SÓLIDOS SOLÚVEIS TOTAIS (SST) DOS FRUTOS DE TRÊS CULTIVARES DE AMEIXEIRA, APÓS 7 DIAS DE ARMAZENAMENTO A 24 °C

Cultivar TratamentoPeso

(g)Diâmetro

(mm)Altura (mm)

Dureza (UD)

SST (°Brix)

Perda de peso (%)

‘Royal Diamond’Controlo 79,99 5,19a 56,52 3,08a 48,14 3,71a 0,058 0,00a 14,12 0,75a 9,21 0,23a

CaCl2 1% 92,75 6,46b 66,87 2,19b 51,24 3,08a 0,063 0,00b 12,34 0,34b 6,25 0,19b

‘Laetitia’Controlo 49,49 3,04a 49,92 3,99a 47,75 1,94a 0,061 0,00a 12,63 1,25a 10,26 0,11a

CaCl2 1% 59,74 2,22b 56,81 4,02b 52,65 2,12b 0,069 0,00b 10,48 1,17b 8,48 0,49b

‘Souvenir’Controlo 87,44 5,00a 54,56 3,76a 52,53 3,85a 0,069 0,00a 11,08 1,13a 9,31 0,27a

CaCl2 1% 74,51 6,83b 50,98 3,66a 50,68 3,89a 0,064 0,00b 10,68 1,22a 12,22 0,67b

UD – Unidades Durofel. Em cada tratamento, os valores assinalados com letras diferentes são significativamente diferentes (P < 0,05)

QUADRO 3 – VALORES MÉDIOS ( DESVIO PADRÃO, n = 30) DO PESO UNITÁRIO, DIÂMETRO, ALTURA, DUREZA, SÓLIDOS SOLÚVEIS TOTAIS (SST) DOS FRUTOS ANALISADOS À COLHEITA DE TRÊS CULTIVARES DE AMEIXEIRA

Cultivar TratamentoPeso

(g)Diâmetro

(mm)Altura (mm)

Dureza (UD)

SST (°Brix)

‘Royal Diamond’Controlo 81,00 3,40a 62,75 3,81a 54,40 3,36a 0,061 0,00a 13,96 1,02a

CaCl2 1% 88,65 2,34b 65,94 2,98a 56,75 2,80a 0,066 0,00b 11,38 1,11b

‘Laetitia’Controlo 53,55 4,56a 50,87 3,76a 48,99 3,30a 0,067 0,00a 11,88 0,27a

CaCl2 1% 62,65 2,92b 55,46 4,61a 52,38 4,44a 0,072 0,00b 9,94 0,51b

‘Souvenir’Controlo 76,62 6,43a 49,89 3,21a 47,02 4,06a 0,072 0,00a 10,75 0,92a

CaCl2 1% 64,47 3,89b 51,59 4,14a 49,86 3,97a 0,064 0,00b 9,86 1,19a

UD – Unidades Durofel. Em cada tratamento, os valores assinalados com letras diferentes são significativamente diferentes (P < 0,05)

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tras cultivares analisadas (Quadro 4). Nem todos os trabalhos são unânimes na evidência do efeito posi-tivo das aplicações de cálcio no peso, firmeza, teor em sólidos solúveis e/ou nas dimensões dos frutos. Wermund et al. (2005) verificaram que as pulveriza-ções com cálcio, além de terem um efeito negativo no calibre dos frutos, deixavam resíduos nos frutos e causavam toxicidade nas folhas. Com efeito, nas cvs. ‘Laetitia’ e ‘Souvenir’, sobretudo nesta última, foram evidentes os sinais de toxicidade nas folhas desde que se iniciaram as pulverizações (30 dias antes da data previsível de colheita) (Figura 2), fenómeno que não se registou na ‘Royal Diamond’ (Figura 3). Kirmani et al. (2013) verificaram que a aplicação de cálcio sob a forma de CaCl2 era mais eficaz nas ca-racterísticas qualitativas da ameixa cv. ‘Santa Rosa’ quando aplicado a 0,5% em duas pulverizações. Os resultados globais parecem indicar que o efeito do cálcio varia com a sensibilidade das cultivares, as condições em que decorrem as experiências, o esta-do e a carga das árvores, e até as condições climáti-cas do ano também podem influenciar.

Considerações finaisEmbora os resultados apresentados sejam relati-vos apenas a um ano de observações e envolvam um número reduzido de cultivares, sugerem que os tratamentos de cálcio parecem ser mais efetivos na

melhoria da qualidade dos frutos, sobretudo ao ní-vel do aspeto, do que propriamente na qualidade or-ganolética. Importa destacar o efeito benéfico das aplicações de cálcio sob a forma de CaCl2 na preser-vação das características qualitativas da cereja que entra diretamente nos circuitos de transporte e/ou comercialização, permitindo-lhe aumentar o tempo de prateleira. Nas cerejas refrigeradas, esse efeito é mascarado pela ação do frio, tão importante para baixar atividade metabólica intensa destes frutos. A ação positiva das aplicações de cálcio é extensível às ameixas e parece ser uma boa estratégia para au-mentar a sua vida útil quando armazenadas à tem-peratura ambiente, embora esse efeito seja variável com a cultivar.

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Agradecimentos

Margarida Oliveira pela realização dos tratamentos de cálcio nas

cerejeiras e cedência dos frutos.

Figura 3 – Ameixas da cv. ‘Royal Diamond’ próximas da colheita sem sinais visíveis de toxicidade nas folhas