Doutrina e Jurisprudência Competência Trabalhista

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    ARTIGOS JURDICOS

    ASPECTOS PROCESSUAIS NA NOVA COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO

    PROCESSO DE CONHECIMENTO - PARTE I

    Eraldo Teixeira Ribeiro (*)

    Sumrio

    1. Introduo

    2. A EC n 45/04 e as novas demandas

    3. A interdisciplina de dois diplomas: CPC e CLT

    4. O processo do trabalho aplicado aos conflitos decorrentes da relao de trabalho

    5. Os princpios do Processo do Trabalho

    6. Procedimentos na Justia do Trabalho

    7. Concluso

    1. Introduo

    A finalidade do presente trabalho contribuir de alguma forma com o leitor,

    possibilitando uma viso atualizada e prtica das principais inovaes da Emenda

    Constitucional n 45/04 no mbito da Justia do Trabalho.

    Na verdade, a referida EC, denominada por expoentes da doutrina jurdica como

    reforma do judicirio, trouxe para a competncia da Justia do Trabalho diversos tipos

    de conflitos, antes apreciados somente pela Justia Comum.

    Desse modo, acreditamos que a processualstica passa a interessar

    sobremaneira aos operadores do direito, na medida em que adaptaes devem ser

    feitas, quer no ato da propositura da ao, quer em sua tramitao, sistema de

    recursos e assim por diante.

    Para tanto, a proposta abordar referidos temas, sem que se possa esgotar a

    discusso, qui seja ampliada e, com isso, possamos contribuir de alguma forma para

    o aperfeioamento profissional do leitor.

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    2. A EC n 45/04 e as novas demandas

    A Emenda Constitucional n 45, publicada no Dirio Oficial do dia 30-12-04,

    introduziu imensa alterao no que tange competncia do Judicirio Trabalhista.

    De fato, nova redao foi dada ao art. 114 da CF [que cuida da competncia

    material da Justia do Trabalho], desprezando a antiga terminologia de conflitos entre

    trabalhadores e empregadores, adotando, agora, conflitos decorrentes da relao de

    trabalho.

    A modificao da terminologia empregada pelo legislador constitucional, longe

    de aparentar tratar do mesmo tipo de conflito, ampliou a natureza das aes sub

    judice no mbito trabalhista, passando a englobar todo e qualquer tipo de conflito

    resultante da relao pessoal de trabalho.

    Por outro lado, afora esses conflitos decorrentes da relao de trabalho [tema

    que ser tratado adiante], outros migraram para a Justia do Trabalho, como a

    atuao de rgos de fiscalizao, conflitos entre entidades sindicais [incluindo a

    discusso quanto base de representaes profissional e econmica], assim como

    houve a incluso nominativa das aes de mandado de segurana, habeas corpus e

    habeas data, que j eram admitidas pela legislao infraconstitucional e pela

    jurisprudncia.

    O fato que o Juiz do Trabalho passa, agora, a conhecer e julgar no somente

    aes trabalhistas decorrentes da relao de emprego, cujo ordenamento aplicvel a

    Consolidao das Leis do Trabalho e leis esparsas. Na verdade, as novas aes de

    natureza civilista tambm sero julgadas na Justia do Trabalho, o que importa aos

    operadores do direito, a necessidade de conhecer outros diplomas, como o Cdigo Civil

    Brasileiro e o Cdigo de Processo Civil.

    que diversos conflitos decorrentes da relao de trabalho devem ser

    analisados segundo o Cdigo Civil e leis esparsas, sendo obrigados os que operam na

    Justia do Trabalho, tambm conhecer referidos diplomas, adaptando-os aos

    procedimentos judiciais trabalhista.

    Da nossa preocupao em analisar com os leitores as implicaes trazidas pela

    referida Emenda Constitucional na processualstica laboral.

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    3. A interdisciplina de dois diplomas: CPC e CLT

    O processo do trabalho se orienta pelos dispositivos da Consolidao das Leis do

    Trabalho, especificamente os arts. 770/902, alm de algumas Leis esparsas, dentre

    elas a de n 5.584/70 e 7.701/88.

    Portanto, existem regras prprias para as aes trabalhistas que, at o advento

    da EC, eram aplicveis somente aos conflitos decorrentes da relao de emprego.

    Todavia, essas regras passam a ser adotadas para aes de natureza civil, antes

    julgadas pela Justia Comum.

    A causa trabalhista sempre utilizou subsidiariamente o Cdigo de Processo Civil

    s situaes em que a Consolidao das Leis do Trabalho se mostrava omisso (art.

    795 da CLT1). Realmente, determinadas situaes em que a CLT nada refere, o

    causdico deve se socorrer do CPC, como, i.e., nos casos de interveno de terceiros

    (denunciao da lide chamamento do processo oposio nomeao autoria

    assistncia).

    Em muitas outras situaes processuais o CPC utilizado: (i) ao de

    consignao em pagamento, (ii) ao de prestao de contas, (iii) medidas cautelares

    de arresto, seqestro, produo antecipada de provas, exibio, busca e apreenso e

    inominada, dentre outras, (iv) aplicao de multa por embargos de declarao

    protelatrios (art. 538, pargrafo nico, do CPC), etc.

    Na verdade, pensamos [e pregamos em nossas aulas], que sempre houve a

    necessidade do advogado trabalhista, conhecer e ser, no fundo, um advogado civilista,

    tudo por conta da aplicao do art. 769 da CLT. O que nos afigura agora, a bem da

    verdade, que haver a necessidade de uma maior integrao entre os dois diplomas:

    CLT e CPC.

    Com efeito, maiores desafios tero os operadores do direito a partir das

    modificaes entabuladas pela EC em comento, eis que aes civis, muitas vezes

    decorrentes de empreitada, prestao de servios, enfim, nascidas do Direito Civil,

    passam, agora, a ser apreciadas no mbito da Justia do Trabalho.

    Qual o desafio? Conseguir solucionar os conflitos entregue Justia do

    Trabalho, embora de natureza civil, por meios dos instrumentos autorizados pela CLT

    1 Art.769 da CLT: Nos casos omissos, o direito processual comum ser fonte subsidiria do direito

    processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatvel com as normas deste Ttulo.

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    no que tange aos procedimentos judiciais. Por certo, que a tarefa no se mostra fcil,

    mas assim quis o legislador constitucional e aos jurisdicionados no cabe outra

    providncia, seno enfrentar tal desafio.

    Em que pesem argumentos contrrios, somos da opinio que as regras a serem

    aplicveis a esses conflitos, sero, inexoravelmente, aquelas at ento aplicveis aos

    processos trabalhistas.

    Por isso, melhor seria que nossa Corte Superior (TST) editasse normas

    definidoras dos procedimentos mais complexos ou de dbia interpretao, como fez,

    por exemplo, ao publicar a Resoluo Administrativa n 27, de 22-02-052,

    assegurando honorrios advocatcios em relao s aes de natureza civil que

    migraram para a Justia do Trabalho (art. 6).

    Pensamos, outrossim, que h compatibilidade na aplicao dos dois institutos,

    mas o CPC de forma subsidiria somente para as situaes sem regras definidas na

    CLT.

    4. O processo do trabalho aplicado aos conflitos decorrentes da relao de trabalho

    2 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

    Instruo Normativa 27 (Resoluo n 126/2005 - DJ 22-02-2005) Ementa Dispe sobre normas procedimentais aplicveis ao processo do trabalho em decorrncia da ampliao da competncia da Justia do Trabalho pela Emenda Constitucional n 45/2004. Art. 1 As aes ajuizadas na Justia do Trabalho tramitaro pelo rito ordinrio ou sumarssimo, conforme previsto na Consolidao das Leis do Trabalho, excepcionando-se, apenas, as que, por disciplina legal expressa, estejam sujeitas a rito especial, tais como o Mandado de Segurana, Habeas Corpus, Habeas Data, Ao Rescisria, Ao Cautelar e Ao de Consignao em Pagamento. Art. 2 A sistemtica recursal a ser observada a prevista na Consolidao das Leis do Trabalho, inclusive no tocante nomenclatura, alada, aos prazos e s competncias. Pargrafo nico. O depsito recursal a que se refere o art. 899 da CLT sempre exigvel como requisito extrnseco do recurso, quando houver condenao em pecnia. Art.3 Aplicam-se quanto s custas as disposies da Consolidao das Leis do Trabalho. 1 As custas sero pagas pelo vencido, aps o trnsito em julgado da deciso. 2 Na hiptese de interposio de recurso, as custas devero ser pagas e comprovado seu recolhimento no prazo recursal (artigos 789, 789-A, 790 e 790-A da CLT). 3 Salvo nas lides decorrentes da relao de emprego, aplicvel o princpio da sucumbncia recproca, relativamente s custas. Art. 4 Aos emolumentos aplicam-se as regras previstas na Consolidao das Leis do Trabalho, conforme previso dos artigos 789-B e 790 da CLT. Pargrafo nico. Os entes pblicos mencionados no art. 790-A da CLT so isentos do pagamento de emolumentos.(acrescentado pela Resoluo n 133/2005) Art. 5 Exceto nas lides decorrentes da relao de emprego, os honorrios advocatcios so devidos pela mera sucumbncia. Art. 6 Os honorrios periciais sero suportados pela parte sucumbente na pretenso objeto da percia, salvo se beneficiria da justia gratuita. Pargrafo nico. Faculta-se ao juiz, em relao percia, exigir depsito prvio dos honorrios, ressalvadas as lides decorrentes da relao de emprego. Art. 7 Esta Resoluo entrar em vigor na data da sua publicao.

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    Pensamos que por relao de trabalho, h que se ter em mente o esforo

    pessoal do trabalhador, ou seja, o trabalho prestado por pessoa natural, do trabalho

    humano outra pessoa, essa fsica ou jurdica.

    Nesse compasso, at mesmo o conflito decorrente do trabalho informal, muito

    comum em nossos dias, passa a ser julgado pela Justia do Trabalho. Mas outros

    formalizados tambm pertencem seara trabalhista, como dos profissionais liberais

    (advogados eventuais - corretores de imveis empreitadas - propagandistas

    mdicos dentistas engenheiros, etc.), e os estagirios, dentre outros. O marco

    divisor, a nosso ver ser a prestao pessoal dos servios, mas no se sujeitaro

    Justia do Trabalho os conflitos entre profissionais que prestam servios por meios

    terceiros, como mdicos de um convnio, engenheiros que trabalham para uma

    consultoria, pois o conflito, por certo, ocorreria entre o beneficirio dos servios e a

    empresa que lhe prestou tais servios, fugindo competncia da Justia do Trabalho.

    As aes decorrentes de acidente do trabalho ou doenas profissionais, que

    impliquem a reparao de dano esttico ou moral, assim como as eventuais

    indenizaes pretendidas como prestaes mensais e vitalcias, quando decorrentes da

    relao de trabalho, igualmente integram competncia da Justia do Trabalho.

    Todavia, se a indenizao pretendida ocorrer em face do INSS (Instituto Nacional de

    Seguro Social), a competncia ser da Justia Comum (Estadual ou Federal), porque

    no houve modificao quanto ao foro privilegiado (art. 109, I, da CF3). Mas, atente-

    se, no somente sinistros relacionados existncia de relao de emprego, mas,

    tambm de trabalho.

    Resultado interessante quanto modificao da competncia da Justia do

    Trabalho, diz respeito cobrana de eventuais ttulos decorrentes da relao de

    trabalho. Anteriormente, quando um trabalhador entendia ser credor de verbas

    trabalhistas, embora intitulado representante comercial, ia Justia do Trabalho

    reclamar o vnculo,mas se no lograsse xito na demanda e, tendo a improcedncia de

    sua ao, via-se obrigado a distribuir nova demanda, agora na Justia Comum,

    visando receber o que achava ser credor.

    3 Art. 109 da CF: Aos juzes federais compete processar e julgar:

    I - as causas em que a Unio, entidade autrquica ou empresa pblica federal forem interessadas na condio de autoras, rs, assistentes ou oponentes, exceto as de falncia, as de acidentes de trabalho e as sujeitas Justia Eleitoral e Justia do Trabalho;

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    Em nossos dias, poder o causdico pleitear o reconhecimento do vnculo, mas

    formular pedido sucessivo. Explica-se: no reconhecido o liame empregatcio, o Juiz

    poder analisar o pedido seguinte de cobrana dos eventuais ttulos decorrentes de

    uma representao comercial, resolvendo uma s questo por meio de um s processo

    judicial. Registre-se, por oportuno, que em muitas oportunidades, descartada a

    existncia de vnculo, deixava o Juiz de pronunciar na sentena qual teria sido o tipo

    de relao, o que implicava nova demanda na Justia Comum, visando comprovao

    de contrato de representao comercial que, muitas vezes, tambm no era

    comprovado.

    Doravante, dever o magistrado investigar e analisar as provas produzidas e,

    concluindo pela existncia de contrato de trabalho, condenar o reclamado nos ttulos

    dela decorrente. Entretanto, concluindo pela inexistncia de contrato de trabalho, mas

    sim relao de emprego, nada obsta o prosseguimento da demanda em relao aos

    eventuais crditos decorrentes desse tipo de relao, o que, extreme de dvida,

    prestigia o princpio da unicidade da deciso e da economia processual.

    5. Os princpios do Processo do Trabalho

    As causas sujeitas anlise pela Justia do Trabalho, aplicam-se determinados

    princpios, dentre os quais se destacam: (i) celeridade processual, (ii) gratuidade, (iii)

    protecionismo, (iv) economia processual, (v) impulso oficial, (vi) informalidade, (vii)

    oralidade, (viii) concentrao dos atos processuais e (ix) jus postulandi4.

    Esses princpios pressupem a atuao das partes e do Juiz na conduo da

    causa e podem ser assim delineados:

    a) celeridade processual: a causa trabalhista impe um procedimento, em geral

    mais dinmico que os demais noutras esferas da Justia. Por isso, os prazos so

    menores, mais exguos, inclusive para as manifestaes das partes, do Juiz e dos

    demais serventurios. A explicao basilar, que justifica a aplicao desse princpio

    aos processos trabalhistas, est na necessidade de uma rpida soluo do conflito

    posto Justia do Trabalho, na medida em que na grande maioria das vezes, se

    trata de salrio, traduzido como verdadeira sobrevivncia de um trabalhador;

    b) gratuidade: nas causas sujeitas jurisdio da Justia do Trabalho as custas so

    recolhidas somente ao final, quando da prolao da sentena, no existindo

    4 Art. 791 da CLT: Os empregados e os empregadores podero reclamar pessoalmente perante a Justia

    do Trabalho e acompanhar as suas reclamaes at o final.

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    nenhuma hiptese em que o requerente tenha que dispor de recursos como

    condio para sua propositura. A rigor, grande maioria das causas trabalhistas

    promovida por trabalhadores, esses, tidos como hipossuficientes que, em muitos

    casos, no teriam como arcar com despesas para a propositura da ao. Todavia,

    com clarividncia comum a concesso dos favores da gratuidade aos

    trabalhadores comprovadamente pobres, deferindo-se o requerimento ou ex officio

    (art. 790, 3o da CLT5). Lembre-se dos litigantes que no pagam custas ou fazem

    depsito prvio para a interposio de recursos (art. 790-A da CLT6);

    c) protecionismo: a doutrina trabalhista empresta ao trabalhador a presuno de

    inferioridade econmica, o que justifica a sua superioridade jurdica. Nesse

    compasso, em caso de dvida dever o magistrado decidir em favor da parte

    economicamente fraca e havendo mais de uma norma jurdica aplicvel ao caso sub

    judice, dever aplicar aquela que for mais benfica ao trabalhador;

    d) economia processual: as partes e o magistrado devem zelar pela economia dos

    atos processuais, que no devem ser repetidos, salvo se resultar prejuzos s

    partes7, ainda assim desde que argidas oportunamente (art. 795 da CLT8). Dessa

    maneira, permite-se o litisconsrcio facultativo de trabalhadores contra uma

    5 Art. 790, 3o da CLT: Nas Varas do Trabalho, nos Juzos de Direito, nos Tribunais e no Tribunal

    Superior do Trabalho, a forma de pagamento das custas e emolumentos obedecer s instrues que sero expedidas pelo Tribunal Superior do Trabalho. ... 3 facultado aos juzes, rgos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer instncia conceder, a requerimento ou de ofcio, o benefcio da justia gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, queles que perceberem salrio igual ou inferior ao dobro do mnimo legal, ou declararem, sob as penas da lei, que no esto em condies de pagar as custas do processo sem prejuzo do sustento prprio ou de sua famlia."

    6 Art. 790-A da CLT: So isentos do pagamento de custas, alm dos beneficirios de justia gratuita: I a Unio, os Estados, o Distrito Federal, os Municpios e respectivas autarquias e fundaes pblicas federais, estaduais ou municipais que no explorem atividade econmica; II o Ministrio Pblico do Trabalho. Pargrafo nico. A iseno prevista neste artigo no alcana as entidades fiscalizadoras do exerccio profissional, nem exime as pessoas jurdicas referidas no inciso I da obrigao de reembolsar as despesas judiciais realizadas pela parte vencedora"

    7 Art. 794 da CLT: Nos processos sujeitos apreciao da Justia do Trabalho s haver nulidade quando resultar dos atos inquinados manifesto prejuzo s partes litigantes.

    8 Art. 795 da CLT: Art.795 - As nulidades no sero declaradas seno mediante provocao das partes, as quais devero argi-las primeira vez em que tiverem de falar em audincia ou nos autos. 1 - Dever, entretanto, ser declarada ex officio a nulidade fundada em incompetncia de foro. Nesse caso, sero considerados nulos os atos decisrios. 2 - O juiz ou Tribunal que se julgar incompetente determinar, na mesma ocasio, que se faa remessa do processo, com urgncia, autoridade competente, fundamentando sua deciso.

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    mesma reclamada (art. 842 da CLT9), assim como a utilizao de prova

    emprestada (art. 427 do CPC10);

    e) impulso oficial: uma vez acionado o judicirio, outra providncia no ser

    necessria por parte do requerente, posto que nosso ordenamento jurdico

    j estabelecesse os atos processuais subseqentes, como a designao de

    audincia, a notificao do reclamado, etc. Na fase de execuo, o prprio

    Juiz do Trabalho pode executar o quantum devido, ainda que inerte o

    interessado (art. 878 da CLT11);

    f) informalidade: no se exigem peas processuais com extremo rigor de

    fundamentao, bastando uma breve exposio dos fatos que desencadeie o

    pedido lgico, para que possa o magistrado dar incio do processo de

    cognio (art. 840, 1o da CLT12). De fato, no devem ser rejeitadas

    peties parcialmente ineptas, mas sim ser concedido prazo para a sua

    correo (Smula n 263 do TST13);

    g) oralidade: as audincias trabalhistas, a rigor, so dinmicas, com

    manifestaes orais das partes, sem a necessidade de concesso de maior

    prazo para a elaborao de memoriais, como, i.e., razes finais (art. 850 da

    CLT14);

    h) concentrao dos atos processuais: os atos processuais que necessitam

    ser praticados em audincia resumem-se a uma nica sesso, sem a

    necessidade de adiamento para outra data. Embora essa seja a forma das

    audincias (nicas), o fato que a prpria CLT permite ao Juiz o adiamento

    9 Art. 842 da CLT: Sendo vrias as reclamaes e havendo identidade de matria, podero ser

    acumuladas num s processo, se se tratar de empregados da mesma empresa ou estabelecimento. 10 Art. 427 do CPC: O juiz poder dispensar prova pericial quando as partes, na inicial e na

    contestao, apresentarem sobre as questes de fato pareceres tcnicos ou documentos elucidativos que considerar suficientes.

    11 Art. 878 da CLT: A execuo poder ser promovida por qualquer interessado, ou ex officio pelo prprio juiz ou presidente ou Tribunal competente, nos termos do artigo anterior.

    12 Art. 840, 1o da CLT: A reclamao poder ser escrita ou verbal. 1 - Sendo escrita, a reclamao dever conter a designao do Presidente da Junta, ou do juiz de direito a quem for dirigida, a qualificao do reclamante e do reclamado, uma breve exposio dos fatos de que resulte o dissdio, o pedido, a data e a assinatura do reclamante ou de seu representante.

    13 Smula n 263 do TST: Petio inicial. Indeferimento. Instruo obrigatria deficiente. Salvo nas hipteses do art. 295 do CPC, o indeferimento da petio inicial, por encontrar-se desacompanhada de documento indispensvel propositura da ao ou no preencher outro requisito legal, somente cabvel se, aps intimada para suprir a irregularidade em 10 (dez) dias, a parte no o fizer.

    14 Art. 850 da CLT: Terminada a instruo, podero as partes aduzir razes finais, em prazo no

    excedente de 10 (dez) minutos para cada uma. Em seguida, o juiz ou presidente renovar a proposta de conciliao, e no se realizando esta, ser proferida a deciso.

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    da audincia, como, por exemplo, no rito sumarssimo quando ausentes

    testemunhas convidadas (art. 852-H, 3o e 7, da CLT15); e

    i) jus postulandi: o art. 791 da CLT16 admite que as partes possam atuar

    sem o patrocnio de advogado, fato inexistente no mbito da Justia Comum

    (salvo nos juizados especiais). Dessa maneira, pensamos que, mesmo para

    as causas de natureza civil que migraram para Justia do Trabalho, a

    presena dos advogados, embora desejvel, despicienda.

    Nesse raciocnio, do magistrio do festejado Carlos Henrique Bezerra Leite,

    desume-se outros princpios, igualmente aplicveis s causas trabalhistas: (i) da

    finalidade social, (ii) da busca da verdade real, (iii) da indisponibilidade, (iii) da

    conciliao e (iv) da normatizao coletiva17.

    Pensamos, s.m.j., que referidos princpios passam a ser aplicados tambm s

    causas oriundas da Justia Comum, qualquer que seja o rito procedimental que vier a

    ser adotado.

    Nasce, dessa forma, a necessidade de aprimoramento dos operadores do

    Direito que sabero, de antemo, os procedimentos e princpios que nortearo as

    causas sujeitas Justia do Trabalho.

    6. Procedimentos na Justia do Trabalho

    Inicialmente bom de ver que as aes trabalhistas impem trs tipos de ritos

    procedimentais, a saber:

    a) rito de alada (ou sumrio): diz-se sujeitas ao rito de alada, as causas cujo

    valor que lhe houvera sido atribudo no ultrapasse a dois salrios-mnimos na

    15 Art. 852-H, 3o e 7, da CLT: Todas as provas sero produzidas na audincia de instruo e

    julgamento, ainda que no requeridas previamente. ... 3o S ser deferida intimao de testemunha que, comprovadamente convidada, deixar de comparecer. No comparecendo a testemunha intimada, o juiz poder determinar sua imediata conduo coercitiva. ... 7o Interrompida a audincia, o seu prosseguimento e a soluo do processo dar-se- o no prazo mximo de trinta dias, salvo motivo relevante justificado nos autos pelo juiz da causa.

    16 Art. 791 da CLT: Os empregados e os empregadores podero reclamar pessoalmente perante a Justia do Trabalho e acompanhar as suas reclamaes at o final.

    17 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho, So Paulo: LTR, 2005, p. 70-76

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    data de seu ajuizamento (Lei n 5.584/70, art. 4 18). Nesse tipo de

    procedimento, a audincia haver que ser sempre UNA (nica), no sendo

    passvel de interposio de recurso, salvo quando a sentena contrariar

    dispositivo constitucional (Lei n 5.584/70, art. 4);

    b) rito sumarssimo: em relao s causas com valor superior a dois salrios-

    mnimos, mas limitado a quarenta salrios-mnimos, o rito procedimental haver

    que ser o sumarssimo. Referido rito impe a oitiva de, somente, duas

    testemunhas de cada parte, alm de no ser permitido em face do Poder

    Pblico, i.e., Administrao Pblica direta, autrquica e fundacional (art. 852-A,

    pargrafo nico, da CLT19);

    c) rito ordinrio (ou comum): causas em que o valor atribudo for superior a

    quarenta salrios-mnimos, seguem o rito ordinrio ou comum, sendo possvel

    diviso da instruo em duas audincias, assim como a oitiva de at trs

    testemunhas para cada parte.

    Esses ritos passam a integrar a soluo das causas de natureza civil, agora sob

    a gide da Justia do Trabalho.

    Algumas adaptaes tornam-se necessrias, isso em relao aos procedimentos

    at ento adotados pelos causdicos que atuavam na esfera civil.

    o caso da citao inicial, doravante denominada notificao, que feita, a

    rigor, pelo servio postal, sem a necessidade de entrega na pessoa fsica do titular da

    requerida. Todavia, admite-se a notificao por via Oficial de Justia e, tambm, por

    edital, essa ltima forma excluda quando se tratar de rito sumarssimo.

    Outra modificao que se apresenta como fundamental o ato de defesa. Aqui

    a resposta do reclamado feita em audincia, no mediante protocolo em quinze dias

    da citao, como no cvel. Admite-se no mbito da Justia do Trabalho a contestao

    oral, cujo prazo de vinte minutos (art. 847 da CLT20).

    18 Lei n 5.584/70, art. 4: Salvo de versarem sobre matria constitucional, nenhum recurso caber das sentenas proferidas nos dissdios de alada a que se refere o pargrafo anterior, considerado, para esse fim, o valor do salrio mnimo data do ajuizamento da ao.

    19 Art. 852-A, pargrafo nico, da CLT: Os dissdios individuais cujo valor no exceda a quarenta vezes o salrio mnimo vigente na data do ajuizamento da reclamao ficam submetidos ao procedimento sumarssimo. Pargrafo nico. Esto excludas do procedimento sumarssimo as demandas em que parte a Administrao Pblica direta, autrquica e fundacional.

    20 Art. 847 da CLT: No havendo acordo, o reclamado ter vinte minutos para aduzir sua defesa, aps a leitura da reclamao, quando esta no for dispensada por ambas as partes.

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    Tambm no apresentado rol de testemunhas, as quais so conduzidas

    espontaneamente pela parte interessada (art. 825 da CLT21), salvo do rito

    sumarssimo, onde a parte deve providenciar o convite.

    As demais provas so permitidas, inexistindo discrepncia com o cvel, i.e., as

    percias tcnicas so as mesmas (mdica, contbil, etc.) e a juntada de documentos,

    que deve ser feita com a propositura da ao ou com a apresentao de defesa, mas

    se admite o documento novo (art. 397 do CPC22).

    As razes finais, aqui so orais (art. 850 da CLT23), mas no h proibio para o

    oferecimento por escrito, caso no haja prejuzo quanto ao provimento judicial, a se

    pensar os princpios da celeridade e concentrao.

    7. Concluso

    A Emenda Constitucional n 45 de 30-12-04, dentre outras disposies, deu

    nova redao ao art. 114 da CF, ampliando sobremaneira a competncia da Justia do

    Trabalho.

    Desde ento, os conflitos decorrentes da relao de trabalho passam a ser

    analisados no mbito da Justia do Trabalho. Por relao de trabalho, h que se

    considerar aquela decorrente da prestao pessoal de servios, i.e., os autnomos,

    representantes comerciais, mdicos, engenheiros, etc., mas desde que prestado o

    servio pessoalmente.

    Nesse sentido, as regras processuais at ento aplicadas s reclamaes

    trabalhistas, passam a ser utilizadas nesses novos conflitos. Os princpios basilares da

    causa trabalhista tambm sero aplicados aos processos oriundos da Justia Comum.

    Dessa maneira, h a necessidade de uma interligao entre os dispositivos da

    CLT, relativos ao processo trabalhista e o CPC, desde que haja omisso do Diploma

    21 Art. 825 da CLT: As testemunhas comparecero a audincia independentemente de notificao ou intimao. Pargrafo nico - As que no comparecerem sero intimadas, ex officio ou a requerimento da parte, ficando sujeitas a conduo coercitiva, alm das penalidades do art. 730, caso, sem motivo justificado, no atendam intimao.

    22 Art. 397 do CPC: lcito s partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos novos, quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados, ou para contrap-los aos que foram produzidos nos autos.

    23 Art. 850 da CLT: Terminada a instruo, podero as partes aduzir razes finais, em prazo no excedente de 10 (dez) minutos para cada uma. Em seguida, o juiz ou presidente renovar a proposta de conciliao, e no se realizando esta, ser proferida a deciso.

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    laboral.

    Os novos conflitos relativos s relaes de trabalho devem ser ajuizados na

    Justia do Trabalho, orientando-se pelos ritos processuais l existentes, quais sejam

    (i) de alada, (ii) sumarssimo e (iii) ordinrio.

    Caber ao Tribunal Superior do Trabalho estabelecer critrios e regras para uma

    perfeita adaptao, como o fez parcialmente ao publicar a Resoluo n 126/2005

    (Instruo Normativa n 27).

    Em concluso, entendemos que a Justia do Trabalho passa pela mais densa

    transformao com a ampliao de sua competncia material, e consistir desafio

    maior adequar o recebimento e o processamento das aes civis antes ajuizadas na

    Justia Comum.

    Caber ao operador de direito estudar profundamente as modificaes introduzidas, acompanhar as novas

    regras processuais que advirem, assim como contribuir de toda a forma para essa perfeita adaptao.

    (*) advogado militante, mestrando em Direito do Trabalho pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, professor e coordenador das matrias de Direito e Processo do Trabalho no Curso Del Lavoro (SP), professor convidado como palestrante e debatedor em vrias instituies, autor de

    vrias obras trabalhistas. www.professoreraldo.com.br