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Trimestral Genebra Suíça Ano vI Setembro 2006 n°23 Bilingue encontros culturais Análises Comentários Contos Crónicas Entrevistas Eventos Galeria Opiniões Poesia Roteiros Distribuição gratuita Embaixador de Portugal na Suíça Dr. Eurico Jorge Henriques Paes

Dr. Eurico Jorge Henriques Paes · O dito paradigma de trabalho, dado tratar-se disso mesmo, de trabalho, esgotou-se e cansou-se de percorrer quilómetros de protestos e de gritar

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TrimestralGenebra SuíçaAno vISetembro2006

n°23

Bilingue encontros culturais

Análises

Comentários

Contos

Crónicas

Entrevistas

Eventos

Galeria

Opiniões

Poesia

Roteiros

Distribuição gratuita

Embaixador de Portugal na SuíçaDr. Eurico Jorge Henriques Paes

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ficha técnica sumário

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PropriedadeL.C.

DirectorAntónio Pinheiro

EdiçãoA.P.I.C.

Chefe de RedacçãoLuz Neto

Redactores permanentesAntónio LouçãBenjamin FerreiraCatarina ReisPaulo MorgadoP. BártoloRaquel FerrariRosa Adanjo

Colaboraram neste númeroÁlvaro FernandesClémente PuippeEdite CorreiaEduardo PinhoGabriela SilvaGiuseppe PatanèLuís FlorêncioLuísa CostaLurdes TrindadeMafalda OleiroManuel BernardoMiguel Neves PassarinhoRogério FeitorRose-Mary Magnin

Grafismo e PaginaçãoEduardo Pinho

FotografiaAntónio PinheiroMário PereiraOctávio Xisto

PublicidadeGabriel Bettencourt

Pessoas magazineCP 18771211 Genève 1

Bd. James Fazy 181201 Genève SuisseTel +41 22 738 85 25Fax +41 22 738 88 [email protected]

Periodicidade trimestralAssinatura20 frs / ano – Suíça40 frs / ano – EuropaTiragem deste número5.000 exemplares

Distribuição gratuita

Editorial

Escola para que te quero!

As boas prédicas de Frei Tomás

Notas Soltas

As vacas

Rembrant e Cézanne

À la recherche de la vérité perdue

Dos Otamanes à Turquia de hoje

Observatório de Genebra

Entrevista – Embaixador Dr. Eurico Paes

L’intégration fêtée à Sion

Via Láctea

Pedras da vida

A sorte protege os audazes

Uma história antiga

Spots turísticos

Roteiros – Aigle

Brigada Ligeira

Endereços úteis

Leia a na internet

www.espacoportugues.ch

L E D O S ARue des Gares • 1201 Genève • Tel: 022 740 42 20 • 022 740 20 73 • Fax: 022 740 42 22

J O S É A N T Ó N I O L E D O

Distribuidor, em toda a Suíça, da imprensa portuguesa e espanhola

Distribuida na Suíça por

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Pour la première fois les étrangers de Genève ont été appelés à voter. La presse locale a faitles titres de ce “cadeau” aux émigrants. Mais en définitive, le nombre des nouveaux votants

n’a pas diminué celui des abstentions.Les raisons de cette attitude abstentionniste sont certainement multiples et même acceptées parles Genevois, mais pour les étrangers l’inégalité continue: pouvoir élire mais ne pas pouvoir êtreélu. Merci beaucoup pour cette “ouverture si démocratique”. Les étrangers continueront d’avoirle dos tourné tandis que le nombre “noir” des abstentions se cristallise. La pondération genevoises’impose!…

Les remodelages du système éducatif au Portugal ont amené dans la rue la contestation demilliers d’enseignants. Et dans ce bras de fer, syndicats et ministre se sont répandus en

commentaires et en opinions contradictoires. Y aura-t-il une plateforme d’entente?Un enseignement instable convient-il à la génération future? Une éducation qui ne la responsa-bilise pas? Une école de facilités?... Le monde du travail est compétitif et ne se satisfait pasd’un “laisse tomber, si on ne le fait pas aujourd’hui, on le fera demain”.Gouvernement et Ministère de l’éducation, finissez-en de cette incompatibilité chronique quevous avez avec les professeurs, car le chaos d’irresponsabilité qui s’installe en ce moment n’estpas la seule faute des enseignants. Comme ce n’est pas non plus la faute des chargésd’éducation et des professeurs des Services d’appui de l’enseignement portugais en Suisse si lasituation continue d’être bloquée.L’année scolaire débute comme un voilier à qui on a coupé les voiles, au commencement deson voyage.La négociation du passage de la tutelle de l’enseignement du Ministère de l’education à celuides Affaires etrangères sera-t-elle si difficile? Les élèves/fils des émigrants ne sont-ils pas aussiimportants que les autres? Les documents, dans les “cabinets” de Lisbonne, mettront-ilstoujours trois mois pour passer du troisième au cinquième étage comme cela est déjà arrivé,confiant dans la proverbiale tolérance de l’émigrant?Le moment est venu de résoudre cette situation. C’est notre argent qui finance les salaires deceux qui, de leur propre chef, devraient travailler afin de résoudre nos problèmes, et pas pour depseudo-réunions, pseudo-débats, qui ne se signalent par rien… La patience a des limites!

Nous sommes en plein automne des vendanges et des marrons. Cette année, la récolte vinicole est de qualité selon les experts. La Saint Martin va arriver sous peu et, avec elle,

nous souhaitons à nos lecteurs bonnes dégustations des vins et bonnes brisolées.

édito

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Ler a é saber mais!

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editorial

Pela primeira vez os estrangeiros, em Genebra, foram chamados a votar . A imprensa local feztítulos com essa “oferta” aos emigrantes. Mas, contas feitas, no final, o número dos novos

votantes não diminuiu o número da abstenção.Razões para esta situação abstencionista se manter pode haver muitas e até acatadas pelosgenebrinos, mas para os estrangeiros continua a desigualdade: poder eleger mas não poder ser eleito.Muito obrigado, por essa “abertura tão democrática”. Os estrangeiros continuarão de costas voltadasenquanto o negro número da abstenção cristaliza. Ponderação genebrina , impõe-se...!

As remodelações no Sistema Educativo, em Portugal, trouxeram para a rua a contestação demilhares de docentes. E, num braço de força, sindicatos e ministra desdobram-se em comentá-

rios e pareceres contraditórios. Haverá ou não uma plataforma de entendimento? Convém à geração futura um ensino instável? Uma educação que não a responsabilize? Uma escolade facilidades?... O mundo do trabalho é competitivo , não se compraz com o “deixa lá, se não fazeshoje, fazes amanhã”.Governo e Ministério da Educação, acabem com essa incompatibilidade crónica que têm com osprofessores, porque o caos de irresponsabilidade que se está a instalar, neste momento, não é somen-te culpa dos docentes.Como também não é culpa dos encarregados de educação e dos professores os Serviços de Apoio doEnsino Português, na Suíça, continuarem encerrados.Arranca o ano escolar e, qual veleiro que empreende viagem, cortam-lhe as velas.Será, assim, tão difícil a negociação da passagem da tutela do Ensino do Ministério da Educaçãopara o Ministério dos Negócios Estrangeiros? Será que os alunos/filhos dos emigrantes não são tãoimportantes como os outros? Será que os documentos, nos “gabinetes” de Lisboa continuam a preci-sar de três meses para passarem do 3° andar para o 5°, como já aconteceu, ou confiam na proverbialtolerância do emigrante?Já vai sendo tempo de resolverem esta situação. É que o nosso dinheiro está a pagar salários a quemde direito devia trabalhar para resolver os nossos problemas, não para pseudo-reuniões, pseudo-debates abalizadores de coisa nenhuma... A paciência tem limites!

Estamos em pleno Outono das vindimas e castanhas. Este ano a safra vinícola foi de qualidade,segundo os entendidos. O São Martinho vem aí e, como tal, desejamos aos leitores boas, provas

de vinhos e bons magustos.

António Pinheiro

Pessoa Café Littéraire • Rue Jean Dassier 5 • 1201 Genève Tel. + 41 22 340 22 85 • [email protected]

Café Littéraire

simplesmente diferentePESSOA

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Escola para que te quero!As necessidades de Camões

Benjamim Ferreira

izer-se que o modelo de ensino da línguae da cultura portuguesa no estrangeiroestá com os dias contados, é uma ousadia.

Mas digá-mo-lo com franqueza, digá-mo-losem medo com a brevidade que as coisas sériasexigem. O ensino de português no estrangeiro(EPE) está, obviamente, em processo aceleradode reformulação ou de extinção.O modelo de aprendizagem da língua e dacultura portuguesa – paradigma, como se diznos dias de hoje – destinado aos portuguesesresidentes no estrangeiro, viaja nas águasturbulentas ou incertas de um fim de reino.Reino de excessos e corporativismos, de jogadasmansas e manhosas, de muitas promessas degabinete e pouca consistência no quotidianodas escolas. Ou seja, no quotidiano de centenas,de milhares de alunos, os actores do EPErepresentaram peças políticas e sindicaisimprevistas e, de quando em vez, andarammetidos em guerras de alecrim e manjerona.O dito paradigma de trabalho, dado tratar-sedisso mesmo, de trabalho, esgotou-se e cansou-se de percorrer quilómetros de protestos e degritar centenas de esquemas mentais, bemrodados em escolas portuguesas. Só quetrabalhar no “estrangeiro”, é coisa outra, é outrocompromisso pedagógico e outra respon-sabilidade social. É, obviamente, outro contextocultural, social e, logicamente, salarial.Em entrevista publicada neste número, ninguém

nos disse que estava tudo acabado, ninguém nosafirmou tamanha “aleivosia” – diriam sindi-calistas aguerridos – e ninguém nos pediu parasilenciarmos o que lemos nas entrelinhas: oensino de português no estrangeiro, se mepermitem a asneira, “camonizou-se”.Deixou, ou vai deixar de ser tutelado peloMinistério da Educação, para passar a sê-lopelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.Suponho que quem ganha com esta mudança éo Ministério da Educação já que o InstitutoCamões não deve saber bem no que se mete. Atítulo de exemplo, e mesmo com ventosfavoráveis, o Instituto Camões vai assistir atempestades tropicais por causa da escassez desalas de aula e por causa do elevado/escassonúmero de alunos por turma. Quando chegar aépoca de notas e de exames, os alaridos deprotesto devem prolongar-se até às nevesnatalícias. Anunciam-se aturados “cases studies”para diplomatas estudiosos! Face aos turbulentos momentos que seavizinham e procurando ver esta nova situaçãocom o optimismo que os tempos exigem – cadavez há menos alunos e, cada vez, há maisprofessores disponíveis – os professores terãoque fazer parte da solução e não do problema:grande tarefa para afirmação do bom senso, dafineza do gesto negocial e do enquadramentopedagógico e político de soluções inovadoras..

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comentário

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António Louçã

em prega frei Tomás: faz o que ele diz,não faças o que ele faz”. Cunharam estamáxima resignada os povos que ao longo

de séculos se habituaram a ouvir o clero praticara gula e pregar a frugalidade. O papa esperavatalvez que os críticos potenciais do seu discursona Universidade de Ratisbona fossem desmobi-lizados por esse espírito de resignação. Afinal,enganou-se.Deixemos agora de lado a reacção violenta dealguns muçulmanos repetidamente humilhadospor potências ocidentais, e que agora dão vazãoaos seus sentimentos de frustração. Já aqui cri-ticámos essa mesma reacção a propósito dascaricaturas dinamarquesas e nada haverá agoraa acrescentar. Consideremos apenas as reacçõesao discurso papal que foram fundamentadascom argumentos racionais.Desse ponto de vista, o primeiro problema dodiscurso papal é o de se encontrar ao serviço deuma lógica de “confronto de civilizações”. Aoabrir as hostilidades contra o islamismo,Ratzinger alinhou incondicionalmente na estra-tégia de Rumsfeld e Cheney e fez tábua rasa dasreservas que Wojtila tinha manifestado contra ainvasão do Iraque.O segundo problema é o de cometer uma falsi-ficação histórica, ocultando a floresta por trásduma única árvore. Nem Maomé foi um defen-sor da conversão forçada dos não-muçulmanos,nem o islamismo em geral tem sido menos tole-rante do que as outras grandes religiões do pla-neta. As tendências fundamentalistas que exis-tem na religião islâmica, como em todas asoutras, nunca tiveram nela um papel tãoinfluente como as tendências equivalentes, porexemplo, na igreja católica.E com isto, chegamos a um terceiro problema:bem prega Ratzinger sobre a tolerância religio-sa. Façamos a esse respeito o que ele diz, masnão o que ele faz. Chegados que somos a este

ponto, perguntará operspicaz leitor: oque tem de mal aprática de Ratzinger,se a Inquisição e asCruzadas já lá vão?Não estamos a vivervoltados para o pas-sado? Não seria me-lhor virarmo-nos parao futuro?Tudo perguntas legítimas. Lembremos, noentanto, que foi Ratzinger quem teve a ideia deir buscar para o seu discurso uma citação de hácerca de 600 anos, que por sua vez se referia afactos já então com vários séculos em cima.Passou o passado da igreja católica mais do queo passado do islamismo? Não parece: aindarecentemente, o desastrado presidente norte-americano pedia uma nova Cruzada contra o“Eixo do Mal”. Com esse canto de sereia, nãoconseguiu tocar nenhuma corda sensível noespírito do então papa João Paulo II, mas pelosvistos consegue tocá-la no espírito do hoje papaBento XVI.Claro que não se pode censurar a Ratzinger tersido nazi na sua tenra juventude. Mas pode-secensurar-lhe o ter sido o inquisidor-mor doVaticano na sua maturidade. Foi enquantochefe da “Congregação para a Doutrina da Fé”,o nome actual da Inquisição, que Ratzingermeteu na ordem os padres, como LeonardoBoff, vagamente solidários com os povos espo-liados.Aqui temos, portanto, um cruzado e um inqui-sidor dos tempos modernos, que grita:“Agarrem o ladrão!” Para os católicos que dese-jam uma política de reconciliação com o mundomuçulmano, ou qualquer tipo de política ecu-ménica, está visto que o novo papa só pode serum erro de casting.

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As boas prédicas de Frei Tomás

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A Federação das Associações Portuguesasda Suíça organiza o primeiro jantar-convívio dos“Papos-Secos”, Confraria Gastronómica Portu-guesa que acaba de fundar.Objectivos da Confraria: dar a conhecer a cozi-nha e os vinhos portugueses a um público luso-helvético e, sobretudo, criar um espaço de con-vívio entre a sociedade de acolhimento e aComunidade Portuguesa residente na região;facilitar, assim, a integração da Comunidade e oaprofundamento das relações entre todos.

Um Outono Português (Automne Portugais)Foi com este título que decorreram as actividadesculturais no CAC – Voltaire, Maison des ArtsGrütli, em Genebra.Destaque-se: a exposição de fotografias “OlharesLusitanos” de Eduardo Gageiro, com a presençado artista/fotógrafo/repórter; a conferência doDr. Reto Monico sobre “Le 5 de octobre 1910dans la presse européenne”; projecção do filme OTestamento do Senhor Napumoceno, de ManuelManso.

A projecção deste filme foi a primeira de umconjunto de obras da cinematografia portuguesapresentes na mostra do “Panorama do CinemaPortuguês Contemporâneo”.

Eduardo Antunes GageiroNasceu em Sacavém, concelho de Loures, em 1935.Começou a actividade de repórter em 1957 noDiário Ilustrado.Os seus trabalhos estão publicados , um pouco por

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NOTASSOLTAS

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todo o mundo e têm-lhe granjeado inúmeros prémios.Em 10 de Junho de 2004, foi agraciado com aOrdem do Infante D. Henrique.Alguns dos seus trabalhos são emblemáticos dosmomentos históricos que o país viveu.

Le Musée de l’immigration à LausanneUn musée pour les immigrants, vaste sujet, unelongue histoire.Surtout, celle du déplacement d’êtres humainsd’un lieu, une terre natale vers un autre lieu, unpays riche, plus développé, un pays d’accueil! Notremusée a vu le jour le mois de septembre 2005.Un devoir de mémoire nous incite au travailinlassable de préservation des témoignages detant d’êtres venus en Suisse, hier comme aujour-d’hui, en quête de prospérité.Nous privilégions ici les récits de vie que nous en-registrons sur bande son et vidéo. Nous accueillonsavec plaisir les volontaires (majoritairement, lesimmigrants les plus âgés), dans nos locaux.Nous acceptons des dons, photos, documents,objets tels qu’un vieux passeport périmé, une vali-se, une vieille paire de souliers (les premiers quej’ai achetés en Suisse!).Une bibliothèque et une place du village complè-tent nos modestes installations muséales. Un lieude rencontres, une pause..., découvrez-nous àl’avenue de Tivoli 14, 1007 Lausanne!

Expo VeneziaHommage aux immigrants italiens venus enSuisse pendant des décennies en leur offrant uneexposition de photographie ancienne, d’une deleurs plus belles villes: Venezia!Le Musée de l’immigration (à Lausanne), grâce àun don, a pu mettre sur pied cette exposition,montrant une quareantaine de photochromes,d’une rare beauté.

Couleurs, atmosphères, personnages, artisans etbourgeois!La lagune majestueuse baignant tout en suavitéde somptueux édifices historico-artistiques.A côté de l’exposition permanente visible aumusée sur le thème du roman C.-F. Ramuz “Labeauté sur la terre” nous donnons ici le coup d’en-voi d’un cycle d’expositions temporaires consa-crant les trois pays représentatifs de ce qu’onappellle communément l’immigration ancienne:l’Italie, l’Espagne et le Portugal.

“Parent Smile”: une carte de réductionspour les famillesLe 14 mai 2006, l'association Parent.ch a inauguréune carte de réductions pour les familles, la carte“Parent Smile”. Cette carte est gratuite et peut êtreobtenue auprès du site www.parent.ch/smile.Elle offre aux familles des réductions et des avan-tages financiers dans toute la Suisse romande.Des boutiques en passant par les hébergements, lesport, l’informatique, le cinéma, la beauté en tout85 petites et moyennes entreprises se sont mobi-lisées pour les familles. Ces entreprises sont clas-sées par cantons sur le site www.parent.ch/smile.La carte “Parent Smile” est une initiative dewww.parent.chCette association à but non lucratif fondée par 3mamans bénévoles est reconnue d'utilité publique.Elle s'adresse à toute la Suisse romande et offreaux familles monoparentales, recomposées, enunion libre ou traditionnelles un large éventail deréponses administratives, sociales et juridiquespropres à chaque région ainsi que des dossierscomplets pour la famille.L'association se donne également pour missionde trouver des solutions afin d'alléger le budgetdes familles.Association Parent.ch

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NOTASSOLTAS

14°. Aniversário do jornal Luso HelvéticoO mensário Luso Helvético esteve de parabéns ecomo é um jornal da e para a comunidade, foicom esta que festejou a efeméride.Os leitores participaram nas: Prova Geral e ProvaArtística que convidavam a exercitar os neuró-nios em textos (prosa ou poesia) que versassem otema: “O nosso Luso Helvético”.O jornal, durante o cocktail comemorativo (14 deOutubro) oferecido na Livraria Camões -Genebra, entregou os prémios aos vencedoresagradecendo, também, às entidades e instituiçõesque o apoiaram nas iniciativas.Inserida nas manifestações comemorativas, tevelugar uma prova de vinhos patrocinada pelaSociedade Agrícola da Quinta da Ribeirinha –representada nesta manifestação pelo senhor Dr.Machado Cândido – a pontuar um ex-libris viní-colo , “Vale de Lobos – Trincadeira 2005”.“Nos melhores anos, e só quando a qualidade assim ojustifica, são seleccionadas as melhores uvas que irãodar origem à gama superior da marca “Vale deLobos”.A Sociedade A. da Quinta da Ribeirinha fez paraesta ocasião uma embalagem especial titulada“Arte e Vinho” contendo um “Vale de Lobos(reserva)” e uma serigrafia com Fernando Pessoada autoria de Mário Silva.

Mário SilvaNasceu em Coimbra em 1929. Frequentou aUniversidade de Coimbra e foi co-fundador doCírculo de Artes Plásticas da Associação Académica.Com uma carreira cumulada de êxitos e prémios, temobras em vários museus nacionais e internacionais deArte Moderna e Contemporânea (Rio de Janeiro,Boston, Amsterdão, Estocolmo...). A sua obra mereceujá cinco retrospectivas e, como homem de cultura ecidadão notável, foi objecto de homenagens públicaspromovidas por várias instituições .

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Luisa Costa

esamadas. Maltratadas. Incompreendidas.Instrumentos de dislates. “É uma vaca” –tanto serve para exprimir a raiva por uma

mulher sem escrúpulos, como para referir o seulado libidinoso, estranha associação. Em versãomais apaixonada, exclama-se “C’a ganda vaca!”(“baca” em versão nortenha). Quando a sorte bateà porta, também sói dizer-se “Tive uma vaca!...”(há quem acrescente “do caraças…”).Ora, as vacas não merecem tanta desconsideração.Na minha aldeia, escondida num vale, protegidapela serra d’Arga, cada casa possuía, nos remotostempos da infância, no mínimo, uma vaca. Umaera pouco, era sinal de pobreza. Duas, era razoável,mais de três, sinal de abastança. Nunca chegavamà meia dúzia: quatro, cinco, o máximo.As vacas viviam debaixo das casas, nas cortes, lugarque só mais tarde soube serem próprias dafidalguia. O quarto da minha tia solteira, gorda, depele tão fina que as veiazinhas azuis trans-pareciam, o quarto dessa minha tia tinha umburaco no soalho, disfarçado por um velho tapeteque, afastado do seu lugar e da sua função,permitia espreitar a corte onde se acolhiam asvacas, vizinhas do andar de baixo. Só se via oescuro. E sentia-se o cheiro acre do estrume. Epodia-se imaginar a vaca com o seu grande corpoem repouso.Durante o dia as vacas eram cangadas ao carro e láiam todos, vacas, a tia, a doce Argentina, para asleiras carregar o milho em Agosto, os cestos davindima em Setembro, o mato no Inverno. Nosoutros meses puxavam o arado e percorriam asleiras para cá e para lá, rasgando sulcos, daínascerem os versos, quem havia de dizer.Tambémtinham momentos de lazer – mandavam-nas parao monte. Ide e alimentai-vos. Ordem bíblica. Eelas iam e voltavam à tardinha, os chocalhoschocalhando anunciavam o seu regresso, ocrepúsculo chegava com elas, o sacristão tocava osino para as avé-marias, não seria bem deus com

os anjos, mas era deus com as vacas com certeza.A vida das vacas não era fácil, não só pelo trabalhoa que estavam sujeitas, mas também porque naaldeia não havia bois. Os machos eram vendidospouco tempo depois de verem a luz do dia. Sóficavam as fêmeas, graças ao leite que mãos hábeisde mulheres retiravam das tetas fartas. Quando asvacas desejavam um macho, o que era facilmentepercebido pelo nervosismo que as possuía, entãoeram levadas ao boi. O boi vivia na aldeia seguinte.Onde vais, Maria? Vou levar a vaca ao boi. Era ummistério o que se passava nesse encontro. Noregresso a vaca vinha mais calma, sonolenta até. Edepois começava a engordar, a ficar redonda, cadavez mais redonda. E mais não sei. Um dia apareciaum bezerrinho, de pêlo lambido e perninhastrôpegas.Gosto de vacas. Galegas, piscas e turinas. Aspiscas são mais fidalgas, as turinas têm um ar maisestrangeiro, holandês, imaginava eu, as galegas, asmais bonitas, mas todas têm uns olhos grandes,cheios de uma melancolia nobre. De uma doçurasem fim. Gosto do seu passo lento, dos chifresrecurvados, da barbela macia que lhes descai nopescoço. Gosto de passar a mão pelo seu dorso,devagar. E chamar Bonita, Trigueira, Ruça…Gosto de as ver, metódicas, pastando vagarosas aolongo das leiras e depois, fartas e mansas,descansando na paisagem. Gosto de as ouvirquando regressam à noitinha, guiadas pela certezade que têm uma casa à espera. Quando uma vacase perde, vai-se para o monte e chama-se, procura-se até ser encontrada. Nem que se perca a noite.Como se faltasse alguém da família.As vacas ficaram-me num canto da memória,misturadas com leiras, milho, lenha, verão.

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As vacas

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ois nomes da pintura universal agorajuntos, este ano de 2006, na efeméridecentenária do nascimento de Von Rijn

Rembrandt em 1606 e da morte de PaulCézanne em 1906. No mundo da luz,Rembrandt é insuperável. No da cor, Cézanneestá entre os maiores.Os dois artistas “colhem a luz” que os ilumina eque, envolvendo os objectos e as pessoas, tudotransforma arrancando-as ao tipo convencionalde iluminação e colorido fabricado até então nosateliers. As pinturas de Rembrandt e de Cézannesão criações erguidas e destacadas pelo vigor daluz e da cor e, desse modo, sem técnica figurati-va normal.Não são próximos nem no tempo nem nascorrentes artísticas das escolas. Contudo, os doistinham “olhos para ver” a luz com um desafionunca antes alcançado.

Os dois aspiram à lógica arquitectónica sob aondulação da luz. Um, Rembrandt, corporiza asombra como “uma noite que se debruçara para aluz”. Cézanne organiza a cor como trunfo essen-cial da sua arte.

REMBRANDT, o mágico da luz, pertence àherança da reforma Calvinista no século XVII. Éo pintor dos altos dignitários da aristocracia e daburguesia comercial em ascensão na Holanda,sua terra natal.

A Reforma Protestante a partir de 1517 desen-cadeia um duro golpe na arte sacra europeia pora considerar uma idolatria pagã; Como reacção a

“Pessoas” para as pessoas

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Escritório de Representação em Genebra: Rue de Lausanne, 36 – 1201 GENEVE • Tel. 022 906 17 90 • Fax: 022 906 17 93

Rembrant –Cézanne –

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P. Bártolo

essa onda iconoclasta calvinista nasce um movi-mento nos países católicos da Contra-Reformaque, a partir de 1550, se identifica com o estilobarroco.Rembrandt não é um barroco como o seu conter-râneo Rubens. O seu estilo pessoal desenvolve-sena intimidade de poucas figuras e numa acentua-da e intensa dramaturgia da luz. Cria uma sólidacumplicidade entre a figuração iluminada e osespaços mergulhados numa eloquente penumbra.É o pintor dos afectos humanos sempre em movi-mento de grande tensão. Parece não haver na his-tória da pintura um artista que tenha penetradotão profundamente, “com tanta dúvida e angústia”,no problema das relações entre o homem – ou sejaele próprio – e o mundo que permanentemente oquestiona.

PAUL CEZANNE, o pai da cor vigorosa, é umImpressionista. O conceito Impressionista come-çou por ser usado como um insulto mas depressase tornou o estilo que marca a transição para amodernidade.É no último quartel do século XIX que os pinto-res se desgarram da alçada das academias ondebebiam a sua formação. Nasce a rebeldia em plenarua para onde os pintores trouxeram os seus cava-letes a fim de pintarem o ar e a luz, que envolvemos objectos e as pessoas. Paris foi o palco inicialdessa revolução pictória, cujo objectivo era repre-sentar o mundo de acordo com a “impressão”visual que dele se retinha. A forma, o volume, afiguração passou a valer menos. Idealizou-se oobjecto transportado para a atmosfera envolventeque, muitas vezes, não correspondia à realidade. OImpressionismo é essa revolta duma criação artís-tica puramente visual.Mas cedo nasce um clima reaccionário ao movi-mento da impressão porque agride a sensibilida-de dos admiradores da “arte bela”. E são muitos

os proscritos do “salão dos recusados”: Monet,Van Gogh, Renoir, Degas. Hoje todos consagra-dos Impressionistas.Cézanne foge a tempo duma certa histeria revo-lucionária “vangohguiana” e torna-se o precursorda arte moderna, desenvolvendo outra estruturana arte de pintar. Criou o “volume da cor” comgrande autoridade. Não pinta apenas o que vêmas colhe a visão ocasional do motivo que pintae que é fugaz como a “hora que passa desde amanhã ao pôr-do-sol ou da Primavera aoInverno”. A cor tem mais solidez que a simplesforma linear do desenho.A vida de um homem sobre a terra pode ser coisabem simples. A história de Dante, por exemplo,contada nos limites definidos do desprezo mornodum “Olha e passa”.Certamente o espírito criador de Rembrandt e deCézanne ultrapassa essa conjura da “DivinaComédia” porque, um e outro, entre o nascimen-to e a morte, não deixaram o mundo como oencontraram.

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O mágico da luz O pai da cor vigorosa

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la fin des années 40, au lendemain de laSeconde Guerre mondiale, les étudiants del’Université de Genève ont eu la bonne

fortune de suivre les cours de l’ “iconoclaste”Henri Guillemin, futur conseiller culturel de l’am-bassade de France à Berne.Ses écrits se rapportent souvent à la découverte età l’illustration positive de Jean-Jacques Rousseau,de Flaubert, de Victor Hugo, d’Emile Zola, deJean Jaurès. Mais l’horreur de s’en laisser conter,son fier refus qu’on lui “ monte sur la cervelle”, dese faire emporter par le “mythe napoléonien”, parexemple, né bien après la mort à Sainte-Hélènede l’ambitieux “Petit Caporal”, le pousse à publierpar la suite un Napoléon tel quel. La vérité avanttout!Il termine son étude par une brève conclusiondont voici la fin: “ Ce n’est pas à moi qu’il faut s’enprendre, c’est la vérité qui est coupable”, disait déjàRobespierre. Mais quand elle déplaît à certains,

elle perd pour eux le droit d’exister.” Ce mêmeGuillemin avait dit un jour:“ Pamphlet? Ce mot ne sert qu’à désigner la véri-té qui déplaît.”Ici, deux phrases de Napoléon me viennent à l’es-prit, qu’officiellement on ne désire jamais citer: “Jesuis deux fois Italien; d’abord parce que je suisCorse, et ensuite parce que je suis d’origine tosca-ne” et “Cu tempu a minzogna scianca” (en toscan:“Con il tempo, la minzogna zoppica”; en français:“Avec le temps, le mensonge se met à boiter”.Aux InvalidesUne fois encore, je me suis retrouvé devant le sar-cophage en porphyre rouge, conçu par LuduvicoTullio Visconti, de celui qu’on a voulu proposer àl’admiration universelle: Napoléon (le Grand pourVictor Hugo afin de mieux l’opposer à“Badinguet”, Napoléon III-le-Petit, le bastard!).Un guide, d’une voix monocorde, récite la banaleleçon apprise il y a bien longtemps et qu’il répète

A la recherche de la VéritéConnaissons-nous bien l’Histoire du Petit Caporal?

À

crónica

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Giuseppe Patanè

mécaniquement pour les touristes venus desquatre coins de la Terre. Il termine la visite par lalecture de l’épigraphe gravée sur le porphyre:“Je désire que mes cendres reposent au milieu dece peuple français que j’ai tant aimé”.Dans le silence général, alors que chacun s’apprê-te à sortir son “pourboire” de son porte-monnaie,je ne peux retenir un rire nerveux, irrespectueux.Les touristes en sont un peu surpris, ils se posentdéjà des questions, et le guide, officiellement, semontre fort agacé!A Sainte-Hélène, Napoléon ne dicte pas: “aumilieu de mon peuple”, non! mais “au milieu de cepeuple.” Nuance! Il semble regretter tout ce quis’est passé. Il veut se faire pardonner. Il a sur laconscience l’envoi à la mort sur des lointainschamps de bataille de tout un peuple qui n’est pasle sien, l’avoir dérouté, l’avoir sacrifié sur l’autel deson propre prestige. La vengeance corse mise enmarche, il fut difficile de la contrôler, de la maîtri-ser, de l’arrêter; il a laissé une Francia dissanguata,exsangue, saignée à blanc.Napoléon a été d’un égoïsme monstrueux faitd’insensibilité, de mépris, de cynisme; son orgueildémesuré lui a fait dire: Je ne suis pas un hommed’ici, je suis un personnage historique”.En 1840, Adolphe Thiers persuade Louis-Philippe de ramener les cendres de Napoléon decette île perdue qu’est Sainte-Hélène, de ce “mer-dier de l’Océan”, en France.Cent soixante ans plus tard, on nous dit que ladépouille entreposée aux Invalides n’est pas cellede l’empereur. Les “fils de la perfide Albion“auraient non seulement empoisonné leur pireennemi à l’arsenic, mais ils auraient aussi substi-tué la dépouille de leur prisonnier par celle d’uncertain Cipriani, domestique corse du “monarque”déchu, et aussi espion à la solde des geôliers. Ledomestique-espion, bien que mort, aurait doncusurpé la place du “Grand usurpateur” dans lefroid porphyre offert par le tsar Alexandre deRussie!De nous jours, des historiens soi-disant sérieux

réclament du président Chirac, qui détient la clefdu sarcophage, la visite du corps.Bien qu’un squelette puisse s’allonger un peu lorsdu trépas, précisent les médecins légistes, s’ildépasse 1 m 72 . et si son tour de crâne est infé-rieur à 60 cm (c’était une grosse tête!), alors pasd’hésitation, ce n’est pas lui!Les médecins anglais de l’époque nous ont laisséune bien méchante image de Napoléon: “Il étaitpetit et trapu, avec la tête enfoncée dans lesépaules. La figure était grasse avec un doublementon. Il avait la mine plutôt d’un gros moineavachi que d’un héros des temps modernes. “ Quenous sommes loin des portraits officiels flatteurs,de Jacques Louis David, par exemple!L’impardonnable erreur de La SuperbaEn 1768, Gênes commet une très grave erreur,une bien lâche imprudence: elle en appelle provi-soirement à l’autorité du roi de France pour mettrefin aux légitimes aspirations de liberté des insu-laires corses, indigne mesure d’une républiquemaritime tombée bien bas. Jadis, la patrie deCristoforo Colombo, le découvreur du Nouveau-Monde, avait connu sur mer ses plus grandesheures de gloire. Puis c’est l’édit de Louis XV,digne d’un pirate, du 15 août 1769, qui proclamel’annexion “définitive” de la Corse à la France.Le patriote Pasquale Paoli, qui antérieurementn’avait pas supporté les injustices, les abus de laRépublique génoise, se dresse aussitôt contre lesnouveaux maîtres, des étrangers cette fois. Il s’ex-clame, en italien bien sûr, devant l’assemblée corse:“…On ne sait pas ce que l’on doit détester le plus,du gouvernement qui nous vend ou de celui quinous achète. Confondons-les dans notre hainepuisqu’ils nous traitent avec un égal mépris!”Après le débarquement français, les représentantsde l’Ile de Beauté demandent au gouverneur

Letizia Ramolino, mère de Napoléon

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perdue

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Marbeuf que l’on respecte l’Université de Corte,que tous les actes publics soient rédigés en italien;que l’italien soit également la langue des tribunauxpour la bonne raison que c’est la langue maternel-le, naturelle, de l’ile entière.

La demande est provisoirement accordée maisc’est le français qui est programmé, qui sera tota-lement imposé. Il faut passer au plus vite à la colo-nisation, à l’éradication totale de l’italien, à la tota-le dénationalisation de la Corse. C’est un crimecontre la culture et la liberté de tout un peuple. Ila fallu attendre jusqu’à nos jours qu’un socialiste,Jospin, s’adresse en italien aux Corses sur leur ile.Un prénom inconnu en FranceNapoléone Buonaparte (pronnoncez NapoléonéBou-ona-parté) voit le jour à Aîaccio (pronnoncezAîatscho), avant le débarquement des Français,bien avant que les Isole Rosse ne deviennent les“Iles Rousses”. Son acte de naissance est écrit enpur italien.Le nom de sa ville sera prononcé par les “Pinzuti”,les pointus, les occupants: Ajaksiôôô! par ignoran-ce de la langue locale.Quoi de plus ridicule que d’entendre aujourd’huiun Corse “assimilé” dire “Je suis d’Ajaksiôôô…”Le prénom Napoléone est alors complètementinconnu en France. Ce prénom, nous enseignent

diverses encyclopédies d’Outre-Jura, “est d’originegermanique, il est étymologiquement apparenté àNiebelungen.”Allons donc! Sans blague! De temps fort reculés,il existe à Gênes une église dédiée à SanNapoléone, nom d’origine syriaque d’un saintd’Orient du IIIe siècle de notre ère. Napoléone…Niebelungen… c’est aussi stupide que d’affirmer,le panceltisme aidant, que les mégalithes anthro-pomorphes corses ont été élevés par les Gaulois…nos ancêtres les Gaulois!…En terre étrangèreNapoléone a 9 ans lorsqu’il débarque sur le conti-nent. Il ne sait pas un traître mot de français; ici, oncontinue de remplacer la langue d’Oc par la langued’Oïl. Il ne connaît pratiquement pas la langue dela lointaine Ile-de-France bien qu’elle soit drasti-quement imposée en pays corse conquis. Les droitsde tout un peuple y sont journellement bafoués,comme le sont ceux des Catalans ou des Basques.L’Université de Corte, centre de culture et de saliberté, voulue par Pasquale Paoli, a été fermée. Puispour Napoléone, c’est l’école militaire; ses condis-ciples sont très vulgaires à son égard, les quolibetsfusent pour l’“estranger”, pour l’“Itaïen”; dérisionpar ignorance devant celui qui dit s’appelerNapoléon Buonaparte ou bien Napuliuni, en corse,(pronnoncez Napouli-ouni) d’oú ses surnomsNapolioune, Napolé-au-nez, La paille-au-nez, etc.Dépaysé, solitaire, aigri, l’adolescent dans sa révol-te de “colonisé” dit un jour à son confidentBourienne:“Zé féré à tes français tout le mal que zé pourré!”Pour un psychologue, pour un psychanalyste, c’estici que prend naissance non pas l’empire français,mais son empire sur la France.La connaissance de la langue imposée par l’occu-pant est certainement le dernier de ses soucis.Pour ne pas faire tache parmi ses camarades, ilmène une vie de garnison monotone, isolée. En1786, exemple parmi tant d’autres, il écrit à unlibraire:

A la recherche de la Vérité perdue

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crónica

Exemple d’images édulcorées destinées au mythenapoléonien, dans toutes les chaumières

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“(…) J’entand votre réponse pour vous envoyé l’ar-gent a quoi sela montera…”De 1793, il a 24 ans, autre exemple, en informantun colonel, il note:“(…) Je me trouverai le plus près de voir les nou-velles des commissaires. J’entends de vos nouvelles.Je vairai de travailler a éclairé l’opinion”(…).En Provence, il a d’abord appris à écrire en toscan,la langue littéraire, afin de pouvoir correspondreavec sa mère en corse.Au moment de la prise de la Bastille, Buonapartea 20 ans. Pasquale Paoli, le héros de Pontenovo, ena 64; ce dernier reste bien ancré dans l’âme de tousles insulaires. Après l’échec d’une tentative de car-rière politique en Corse, le jeune ambitieux ne rêvequ’à un rôle important sur des terres plus éten-dues. A son oncle maternel, Giuseppe Fesch,futur cardinal, il confie:“Les Français! Avons-nous assez souffert de leursvexations? qu’ils redescendent au mépris qu’ilsméritent.”Antérieurement, à un greffier des Etats de Corse,il a dit: “Continuerons-nous à baiser la main inso-lente qui nous opprime?Continuerons-nous à voir tous les emplois que lanature nous destinait occupés par des étran-gers”(…)?L’officier Buonaparte, celui-là même qui, à l’ar-ticle de la mort, pris de remord, semblera étalerson amicale reconnaissance pour ce peuple quin’est pas le sien, a pourtant dit à ses débuts:“(…) Féroces et lâches, les Français joignent auxvices des Germains ceux des Gaulois; ils consti-tuent le peuple le plus hideux qui ait jamais exis-té(…)”.Général, il ne sera jamais au service de la France,il l’utilisera seulement. En s’adressant à ses soldats,il dira toujours:“Vous autres Français”Le 11 février 1809, devant Roderer, il reconnaîtque:“La France? Je couche avec elle, et elle me pro-

digue son sang etses trésors.”En août 1769,Louis XV, parson désir de s’an-nexer une île ita-lienne, pouvait-ilprévoir l’immensemalheur qui allait s’abattre sur son pays? Marbeufaurait mieux fait de se rompre la jambe!Napoleone, devenu empereur, continue de don-ner très peu d’importance à la langue française; ilsort méchamment de ses gonds si quelque malélevé se permet de le reprendre. Il confond, parexemple, point culminant avec point fulminant(punto fulminante), session et section, amnistie etarmistice. Il donne sur les champs de bataille, sesordres en italien. Un chroniqueur nous a laissé unprécieux témoignage: jamais il n’avait entenduparler la langue de Dante avec autant de rage etde vulgarité.Tout jeune déjà, voyant fuir Louis XVI, ne s’était-il pas exclamé: “Che coglione!”Plus tard, qu’il donnât ses ordres en italien àMassena, un Niçois, ou à Dessaix, un Savoyard,rien de plus naturel, mais à Kleber, un Stras-bourgeois, il fallait vraiment le faire exprès…

P.-S. Le grand romancier italien AlessandroManzoni (1785-1873), auteur de I Promessi Sposi(Les Fiancés), lié à Genève par son épouseEnrichetta Blondel, composa l’ode Il CinqueMaggio, jour de la mort, à 52 ans, (5 mai 1821) deNapoleone.Après l’évocation de son “épopée”, il termine sonode par “Fu vera gloria ?Ai posteri l’ardua sentenza…”(Ce fut vraie gloire?A nos descendants l’ardue sentence…)Le temps a passé, il est certainement, aujourd’hui,plus aisé d’avoir sa propre idée !

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Napoléone par Jacques Louis David

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eambular está no sangue da nossa raça.Andar por terras, montes, estepes, fez,durante milhões de anos, parte da errân-

cia, do nomadismohumano. O motivo dopartir, hoje, diversifica-se, mas, é, essencial-mente, o desejo deconhecer o que resta degrandes civilizaçõesdesaparecidas, de revisi-tar monumentos histó-ricos, museus, geogra-fia, clima, culinária, quefaz de nós passarinhoem movimento.A facilidade de voo faz-nos arribar, em poucashoras, a milhares dequilómetros do últimoponto de vivência. E oque levamos como guia

na anilha? Se a cultura pode ser definida comoo que fica depois de termos esquecido o queaprendemos, então o apelo desse esquecimentoé grande e ela não ocupa lugar. O rumo de hojeé a antiga terra dos turcos otomanos, a penínsu-la da Anatólia que parece desprender-se docontinente asiático, como bandeja de 1500 Kmsde comprimento por 500/600 de largura, esten-dida em direcção à Europa. No limite dos seusbordos quatro coktails gigantes de tonalidades esabores diversos: Mar Negro, da Mármora,Egeu e Mediterrâneo. Uma toalha, em relevo,sobressai a todo o comprimento a norte e a sul eunindo-se a leste assinala as cadeias Pôntica eTauro e o monte Arat que culmina a 5165metros de altitude. Entre elas encaixa prato ele-vado com aperitivos: azeitonas, grãos torrados,

frutos secos, mel, queijo, picles e pequenoscopos com digestivo: Egirdir Gölü, Tüz Gölü,Beysehir Gölü; entre os acepipes (mezze):camarão; mil folhas, de queijo (peynirli); feijões(börek); ou carne cortada (kiymali); as empadasrecheadas com arroz temperado com especia-rias: pinhões, uvas secas enroladas em folha devideira (yaprak); pimentos (biber); couve (laha-na). No diversificado banquete, uma feliz mis-tura de tradições nómadas e os contributosmais refinados, introduzidos por mestrescozinheiros dos sultões otomanos e a cozinhade povos conquistados nos Balcãs, Ásia,Egipto e Magrebe. Donde o nome evocador decertas iguarias: hünkar begendi (o sultão apre-ciou); imam bayildi (o imam que desmaiou);bülbül yuvasi (ninho de rouxinol); cadin budu(coxa de mulher).A cozinha turca, ao contrário da ocidental,inverte os papéis: os legumes têm um papel pri-vilegiado, formando o centro do prato, e a carnee o peixe o adorno. O peso de tal travessa semmão e braço adequados para a suportar, fá-lamanter em equilíbrio instável. As consequênciasdas pressões, que a placa terrestre árabo-africa-na exerce sobre a placa europeia, provoca, natravessa, terramotos e estragos incalculáveis..Visitar a Anatólia é partir em busca de umamiríade de povos passados ou presentes quechegaram em vagas, aniquilando ou assimilandoa herança do outro. Que elementos comunsentre a civilização bizantina, eminentementecristã e urbana e o islão de tradição nómada e alaicidade republicana tão cara a Ataturk?Aparentemente nada. Mas a República Turca,que emerge na sequência de Primeira GuerraMundial (1914 -18) é um pouco de tudo isso.Como uma espécie de abcesso cravado no pes-coço do Império Romano do Oriente, os turcos

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crónica

D

Dos Otomanos à Turquia

Mustafa Kemal Atatürk Fundador da Turquia moderna

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Miguel Passarinho

otomanos, povo nómada com origem nosmontes Altai, confins da Ásia, fizeram de Bursaa capital, a sul do mar da Mármara, a não mui-tas léguas de Constantinopla. Numa envolvên-cia que dura dois séculos acabaram por dela seapoderar a 29 de Maio de 1453. A beligerânciaprosseguida por todo o Médio Oriente e baciado Mediterrâneo deflagrava numa largaconfrontação. Os sultões otomanos, ao mobili-zarem todas as energias – senhores de umaestratégia de acção e técnica de guerra demoli-dora, assente numa artilharia sem igual e numatropa de choque, os janissários, imbatíveis emterra e mar – conquistaram, em décadas, os ter-ritórios imensos do Oceano Índico a Tunes,quase no Atlântico e do norte da Crimeia aoEgipto. O período áureo coincide com a gover-nação de Solimão o Magnífico (1520-1566).Em 1571, estão às portas de Viena e a batalhanaval de Lepanto mostrou à Santa Liga –Espanha e Veneza – que a marinha otomanatambém podia ser aniquilada. Data símbolo einício de um processo que, ao longo de trêsséculos e meio, a faz soçobrar no mar imensodas suas conquistas. Entretanto, novas relaçõesde forças se estabelecem com o aparecimentode novos ou velhos estados emergentes comrepercussões sobre a roda da fortuna e da histó-ria. O poder do sultão, Osman II, está tão fra-

gilizado , em 1622, que os janissários o assassi-nam sem medo de represálias.Com a paz de Karlowitz (1699) o ImpérioOtomano perde a Hungria e a Transilvânia emfavor da Áustria e outros numerosos territórios,e a hemorragia prosseguiu no século XVIII,com a entrega do Caucaso aos Persas (1736),depois a Crimeia que regressa ao poder daRússia (1783) e o Egipto é invadido porNapoleão (1798). No início do século XIX, aBessarábia é enfeudada à Rússia, a Sérbiatorna-se autónoma (1812), a Grécia indepen-dente (1830). Os russos ávidos atiçam o nacio-nalismo nos Balcãs e com o tratado de St.Estêvão (1878) inicia-se sua hegemonia naregião. No mesmo ano o Congresso de Berlimdesencadeia uma nova hemorragia: a Sérbia e aRoménia tornam-se independentes, a Bulgáriaacede à autonomia e o Império Otomano perdeainda a Bósnia, Hergovina, Tessália, Chipre e aÁfrica do Norte. Aliado da Alemanha durantea Primeira Guerra Mundial, cai no campo dosvencidos. Os aliados pensam ter chegado omomento de dar o golpe definitivo no giganteem agonia. A Grécia, a Itália, a França, aInglaterra talham-no em zonas de influência.Que resta da antiga grandeza? Um arcaísmo desociedade, de economias, de estruturas, legiti-mando assim a fama de homem doente daEuropa... Um personagem entra então nahistória: o general Mustafa Kemal, perante o

Basílica e museu de Santa Sofia

de hoje

Banda de Janissários (mehter)

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imobilismo do sultão. A humilhação faz deleum libertador ao rejeitar o desastroso Tratado deSevres (1920). Kemal é a grade alma de umEstado sem nação, criador de um movimentopatriota que sacode toda a Anatólia. Em doisanos de luta, os gregos são expulsos da Trácia edas cidades que haviam conquistado no litoralegeu. Italianos, franceses e ingleses também. OTratado de Lausana (1923) restabelece a sobera-nia do país. Totalmente desacreditado pela der-rota e ocupação, o sultanato e o califado sãoabolidos. A República da Turquia é proclamadaa 29 de Outubro de 1923, em Ancara, pelaGrande Assembleia Nacional. Em 1924, adinastia otomana parte para o exílio. Mustafatorna-se um republicano convicto e adepto doestado laico, regido por parlamento eleito porsufrágio universal. “Feliz o que se diz turco!”,proclama Kamal à multidão em 1927. Num ter-ritório verdadeiro patchwork, pelas palavras, ins-taura a ideia de uma nação independente à qualdeseja dar uma coesão e identidade turca, isen-ta da herança islâmica da era otomana. Julgandoa tradição islâmica responsável pelo declíniootomano, laicizisa o estado e a justiça, suprimeas escolas corânicas, os tribunais religiosos e asconfrarias dervixes, impõe o alfabeto latino emvez do árabe, os costumes dasociedade ocidental: na cidade, ofez otomano é substituído pelochapéu, abolição do xaile e dapoligamia (1927), direito de amulher poder votar (1934). Noplano económico, nacionaliza asempresas estrangeiras e dota opaís de infra-estruturas moder-nas: minas, barragens, estradas. Acapital otomana, Istambul, é sub-

stituída por Ancara e a basílica de Santa Sofia,símbolo religioso entre todos, torna-se museuem 1935.O balbuciar de uma democracia tem sido difí-cil, pois muitos a tentaram empurrar para ocanto de museu: inflação; desemprego; corrup-ção da hierarquia do estado; agitação dos meiosmarxistas; ressurreição do integrismo muçulma-no; renascimento do Movimento SeparatistaCurdo, no final dos anos 60 do séc. XX; decapi-tação de chefes de partidos políticos; golpes deestado... A Ataturk “pai dos turcos” se deve aideia de Turquia também europeia. Um conjun-to de reformas essenciais procura dar consistên-cia e estabilidade ao futuro: democratização davida política, liberalização da imprensa, estabili-dade monetária. Terra de acolhimento de algu-mas das maiores civilizações mundiais, ponto deencontro do cristianismo e do islamismo, vive asua dualidade com dor e paixão. Mão estendidaà Europa que hesita em aceitá-la como membroda C.E.E. Ponte e barragem entre o mundorusso e as diversas forças do Oriente, não párade forjar a sua identidade. Em 2002 aboliu apena de morte e deu o direito à minoria curdade utilizar a sua língua nos média e no ensino.

Dos Otomanos áTurquia de hoje

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crónica

Punhal (hançer) de “Topkapi” - inspirouo filme de Jules Dassin

Império Otomano

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Manuel Bernardo

egundo o Genesis – primeiro livro daBíblia e primeiro do Pentateuco – Deusteria gasto cinco dias a edificar o Universo.

Ao sexto dia, depois de povoar a Terra com todaa espécie de animais, resolve entregar o governodo que criara a alguém que O assemelhasse. Paratal, fez o homem e a mulher, atribuindo-lhes, res-pectivamente, os nomes de Adão e Eva. Depoisordenou-lhes: “Crescei e multiplicai-vos!”.Ao sétimo dia, feliz mas cansado, o Criador dasestrelas, planetas, cometas, céus e infernos deciderepousar, santificando esse dia. E desapareceupara sempre da nossa vista, o que me leva a suporencontrar-se na situação de reformado. Se assimnão fosse, voltaria à vida activa, não para acres-centar “novos mundos ao Mundo”, que este játem grandeza suficiente, mas para pedir contas dagovernação aos homens. Porque isto anda mal.Mesmo muito mal.Milhões de anos passados sobre o sexto dia dacriação do mundo, e após a multiplicação de Adãoe EvaA se aproximar dos seis milhares de milhõesde exemplares, a desordem é mais que muita.Ninguém se entende, anda tudo à bofetada nesteplaneta que já foi Paraíso. Talvez por isso – essa éa minha fé – Deus esteja triste, tenha vergonhadaquilo que criou e não queira abandonar o can-tinho onde goza uma merecida e eterna reforma.Ou – quem sabe – tenha abalado para além desteUniverso que inventou, indo estabelecer-se numverdadeiro Paraíso onde o homem não pequecontra o seu irmão?Mas voltemos à Terra. A uma terra que, de leite emel, passou a fogo e fel; um sítio povoado de dis-

tintas raças e opostas civilizações, onde passaram areinar intolerância e ódios em vez da comunhãode valores que identificam o ser humano: a bonda-de, o amor, a solidariedade. Mais que nunca, a tra-gédia do assassínio bíblico de Abel por Caím, seudesgraçado irmão, se repete nos conturbados tem-pos que vivemos. Não só na chamada Terra Santae no Médio-Oriente, mas também em muitasoutras partes do nosso planeta. Lutas de liberta-ção, tensões étnicas, guerras político-religiosas etantas outras contendas onde o eu e o outro não nosentendemos, porque damos corpo e voz a distin-tos valores de sociedade: submissão e liberdade,ditadura e democracia, respeito pela diferença, etc.Depois de um verão quente como o que ontemterminou, após nova guerra israelo-libanesa etodo aquele cortejo de massacres, horrores e des-truição a que a região nos habituou, eis-nos che-gados a um outono de incertezas, com as forçasda ONU – neste caso a FINUL – entrando no suldo Líbano para fiscalizar o cessar-fogo e a retira-da das tropas de Israel. Deus permita que acontenda fique por ali... mas duvido. Serãonecessárias muitas concessões, de parte e doutra,para se chegar à paz. Uma palavra que, há quasesessenta anos, é ali timidamente sussurrada. Hajaalguém que grite alto, berrando por ela, casocontrário as armas nunca se calarão nas terras queacreditam no Deus da Criação.Outro conflito – diplomático por enquanto – afazer-nos lembrar a velha guerra-fria entre ospaíses da Nato e os do Pacto de Varsóvia, desen-volve-se actualmente entre as chancelarias dosEstados Unidos, Grã-Bretanha, França, China,

Observatório deGenebra

A reforma de Deus

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Rússia e Alemanha por um lado, e o Irão poroutro, a propósito da energia nuclear que esteúltimo pretende instalar no seu território. Umconflito provocado pelo receio de um possível usomilitar do urânio por parte da República Islâmicado Irão.E muitos outros conflitos, ou guerras, vai omundo conhecendo nestes dias que correm, comoé o caso da guerra civil no Sudão, com as popula-ções negras e cristãs do Darfur a serem vítimasdum genocídio organizado pelo governo árabe emuçulmano do seu próprio país. Ou a interminá-vel guerra do Afeganistão, com os invasores à catados talibãs e de um visionário chamado OssamaBen Laden... por sinal anunciado, hoje, comotendo falecido de doença. E ainda a monstruosaguerra de ocupação do Iraque, onde os america-nos e alguns dos seus aliados se vêem enredados

num conflito de mortíferas guerrilhas simulta-neamente nacionalistas, étnicas e religiosas, semse vislumbrar uma luz ao fundo do túnel...Sobrecarregada com tantas desgraças, ou talvezfruto das divisões no seio do Conselho deSegurança, a ONU já não dá conta do recado e,impotente, vê aumentar o fogo do ódio entrenações que deveriam estar unidas.À humanidadeapenas resta a esperança em Deus. No único.Naquele que se pôs a descansar ao sétimo dia. Eeu, que em tempos fui crente, vejo-me de novo ainvocar o Seu apoio.“Ajuda-nos, Senhor! Deixa a reforma em paz e dáum pulinho até aqui! Trava-se uma guerra devalores entre o Bem e o Mal, mas todos queremter a razão pelo seu lado. Que fez o homem coma liberdade de escolha que lhe deste?”

A reforma de Deus

A sua emissão de rádio em português

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Como surgiu a ideia de abraçar esta profissão?A ideia de ser embaixador surgiu porque é uma fun-ção exercida por diplomatas, quase sempre, e é oculminar de uma profissão. A profissão é a diploma-cia. Foi essa a profissão que eu escolhi e depois,naturalmente, com o passar do tempo e em funçãodas opções que o Governo venha a tomar, alguns denós acabam por ser embaixadores.Não é primeira vez que exerce esta função...Não, não é a primeira vez, o que significa que játenho alguns aninhos, embora haja embaixadoresmuito mais novos que eu.Quais as razões que o levaram a ser diplomata?Ao contrário de outros colegas diplomatas, eu nãotenho ninguém na família com esta profissão.Portanto acabou por ser uma opção resultante docurso que escolhi na altura e que permitia o exercí-cio desta profissão, entre outras. Hoje em dia já nãoé tanto assim, embora continue a haver licenciados

em Direito. Hoje há outros cursos e formações maisespecíficas como Relações Internacionais, CiênciasPolíticas ou sectores mais vocacionados para estaprofissão. Se quer que lhe diga as razões, o porquê,se houve uma motivação específica... não me recor-do. Como disse não tenho familiares ligados a estaprofissão. O meu pai era médico e o meu avô mili-tar.Na Faculdade de Direito de Lisboa sempre meinteressaram as cadeiras ligadas ao Direito Público.A de Direito Internacional interessou-me, especial-mente. Isto não significa que não goste de Direito,mas o Direito exercido pelos advogados e juizes...,nunca me atraiu.Para exercer esta profissão tem que se ter, também,uma grande dose de aventura, não acha?Não é só a pessoa a deslocar-se, é a família, os filhosque mudam de escola, as mudanças...Sim, sim, sem dúvida, é importante e fundamental

Fomos conhecer melhor o lídimo representante de Portugal, na Suíça, o senhor embaixador Dr.Eurico Jorge Henriques Paes. Homem de grande experiência profissional de trato afável e de diálogofluente. Alfacinha de gema, nascido a 3 de Junho de 1946, em Lisboa; casado; dois filhos; licenciadoem Direito pela Universidade de Lisboa em 1971; aprovado no concurso de admissão aos lugares deadido de embaixada, aberto em 30 de Janeiro de 1974. Após ter enveredado pela diplomacia percorreuas “sete partidas” do mundo, granjeando o saber, a experiência e aagudeza de espírito.Do seu extenso curriculum, retirámos apenas alguns locais dos muitosonde trabalhou, bem como algumas honras e condecorações, das maisde duas dezenas, com foi agraciado, ao longo da profissão, pelo exemplardesempenho, postura digna e rectidão de ideias. Representou o país naEmbaixada em Harare, no Malawi, na Zâmbia no Liechtenstein (...).Foi Mestre-de-cerimónias na Cerimónia de transcrição de poderes emMacau (19 de Dezembro de 1999); é Representante Permanente dePortugal junto da União Postal Universal, em Berna (...); condecoradocom a Grande Oficial e depois Grã-Cruz da Ordem do Mérito; Oficialda Ordem do Infante D. Henrique. Comendador da Ordem da Coroae Comendador da Ordem de Leopoldo II, da Bélgica; Comendador daOrdem de Isabel a Católica, de Espanha; Comendador da Ordem daLegião de Honra (...).Hoje, na Embaixada de Portugal, em Berna, continua, nas suasfunções diplomáticas, a dignificar o país de que tanto se orgulha,Portugal.

Sr. Embaixador de Portugal na SuíçaDr. Eurico Jorge Henriques Paes

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que exista uma grande dose de aventureirismo, deentusiasmo, se bem que, depois de 32 anos de car-reira, no meu caso, todas essas coisas esmorecem evão perdendo o seu vigor.Dos sítios onde exerceu esta profissão, e cremos queforam bastantes, em qual deles gostou mais de estar?Olhem, onde gosto mais de estar é onde estou. E,neste momento, é efectivamente o caso. Chegueiaqui à Suíça, ainda não há um ano, e estou contente.Está então satisfeito, neste país...O exercício das funções de Embaixador, na Suíça,satisfazem-me plenamente. Neste trabalho nãobasta o gosto teórico pelas matérias, é essencial aparte psicológica, a vontade e o chamado gosto pelaprofissão. A carreira diplomática é fascinante, tem-se a possibilidade de conhecer outras civilizações,outras pessoas. Andar pelo mundo, como se costu-ma dizer, e com todas as virtudes e vantagens quetem sobre o ponto de vista cultural e de aprendiza-gem. É a forma de uma pessoa se cultivar, para alémda cultura normal que cada um tem. No continenteonde se vive as pessoas falam disso, sobretudo dasculturas exóticas. É útil que haja da parte do diplo-mata ou do candidato à diplomacia essa apetênciapelo enriquecimento cultural.Quais as funções mais importantes do embaixador?Bom, as funções mais importantes...Vou-lhesresponder com a minha experiência e também umpouco formalmente. É representar o país, neste casoPortugal, junto do outro país em que está creditado.Neste caso concreto, eu estou acreditado na Suíça eenquanto aqui estiver sou o representante dePortugal, neste país. É óbvio que se apresenta aochefe do Estado da Suíça, chama-se ao acto: a entre-ga das Credenciais – documento assinado peloChefe de Estado de Portugal que abaliza ou confir-ma a comenda ao Chefe do Estado do país paraonde envia o seu Embaixador. É um momento alto,formalmente importante, porque passa a dar inícioàs funções do embaixador.No fim, o embaixador representa tudo: o Chefe deEstado que o envia, O Governo que o propõe edepois, todas as instituições do seu próprio país, ou

seja, quando eu estou na Suíça, quando eu me pro-nuncio, digo, peço ou faço alguma coisa é Portugalque o está a fazer. Não se é embaixador das 9h. às12h e das 14h. às 17h.; quando se é, é-se integral-mente: no trabalho, no repouso, nas diligências...Portanto há que actuar como tal, manter uma certapostura perante as pessoas com quem se contacta,não esquecendo que essas pessoas olham para nóscomo representantes de Portugal. No fundo é anossa vida que está permanentemente em exposi-ção, bem como a da nossa família, quando a temos.Funções diplomáticas, funções de representação,funções de prestação de serviço... Como se articulatudo isso na profissão de embaixador?Classicamente a representação tem a ver quando énecessário que alguém represente um Estado emdeterminada cerimónia, num determinado momen-to e numa determinada altura.Depois há outro factor que é a negociação.Normalmente quando se fala em negociaçõespensa-se que é a discussão de um problemaconcreto: uns dum lado da mesa outros do outro. Éóbvio que isso também acontece, sobretudo nasorganizações multilaterais, na actividade multilate-ral do Estado. O embaixador bilateral, que é o meucaso, assegura as relações bilaterais entre os doispaíses.A negociação existe quando, por exemplo, nos man-dam dizer de Lisboa que é preciso isto ou aquilo...que vamos precisar do voto da Suíça para a nomea-ção de um português para um organismo internacio-nal.É claro que temos que ir pedir o voto, e isso é umnegócio como outro qualquer. Naturalmente a Suíçaterá também um candidato seu para outra organiza-ção e pode haver uma troca; se for para a mesma éimpossível, pois ambos querem a mesma coisa.Isto faz-se sob a coordenação de Lisboa, mas temque haver alguém no terreno que a apresente.Este exemplo é comezinho e banal mas há outrosmais profundos e com mais significado como quan-do somos intermediários em questões que envolvemterceiros países, aí o assunto tornasse mais profundo.Se lermos os jornais sabemos dos conflitos que há lá

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fora e quando é necessário a nossa posição de país,face a eles, temos obrigação de defender essa posição.Um outro exemplo concreto que se passou comigohá pouco e que se liga com o Ensino Português: oGoverno Português está interessado, já há muitosanos, em instalar na Universidade de Genève umCentro de Língua e Cultura Portuguesas. Comoexiste uma vontade recíproca nessa instalação é pre-ciso negociar. Eles terão de nos dar o espaço, queterá de ser aprovado por nós, e, por sua vez, nós for-necemos o tal núcleo, que vem já preparado commaterial audiovisual, informático, biblioteca, pro-gramas de ensino e tudo o mais que comportarádependendo da procura.Em Genebra, pelo menos, cremos que há muitagente interessada na cultura portuguesa...Pelo que pude aperceber, em Genebra, há muitaprocura. Pois como isso não atava nem desatava, eupróprio tomei a iniciativa de ir a Genebra falar como professor responsável pelo Departamento deLínguas, Dr. Perugia, que, por sinal, também falaportuguês e que, tanto como eu, estava interessadona instalação.E então porque é que ainda não está instalado?Porque, como sabem, a Universidade de Genebraestá com problemas de carácter financeiro que leva-ram à substituição do próprio reitor e da Direcção.Neste momento, estamos à espera que a novaDirecção acabe de se instalar para dar seguimento àproposta.O senhor Embaixador focou há pouco que as nego-ciações multilaterais eram mais profundas, exigemoutra preparação?As negociações multilaterais são de mais peso quan-do abrangem vários países. Nos países amigos ondenão existem contenciosos, a negociação facilita-seum pouco, embora tenhamos que estar sempre pre-parados para efectuar certas diligências. Cada vezque Portugal, ou este ou aquele ministro, nos mandafazer uma diligência, nós fazemo-la. E isto é nofundo a negociação.Um outro vector do seu trabalho, além da represen-tação, das negociações, é a protecção aos cidadãos

nacionais que estãoneste país. Como seprocessa isso?A protecção aoscidadãos nacionais, e éa que se aplica aqui naSuíça, para o embaixa-dor, talvez seja a fun-ção mais importante.Como sabem temos uma comunidade com cercade 200.000 mil pessoas, num país relativamentepequeno, como é a Suíça. É uma comunidademuito forte em termos de número, infelizmente nãotão forte em termos de prestígio e de peso económi-co. O ideal seria que cada vez houvesse mais pessoascom esse peso económico e financeiro.Essa vertente também faz parte do trabalho de umcônsul...Poderão dizer-me: então o senhor é um cônsul!Não, não sou um cônsul. Existem, como sabem, trêsserviços consulares na Suíça (Genebra, Zurique eBerna), como poderiam existir trinta, como nãopoderia existir nenhum, depende do GovernoPortuguês e do Governo local a aceitação das insta-lações consulares.Agora o que fazem os consulados? São essencial-mente, não exclusivamente, agentes de notariado,registo civil, de identificação, tudo o que sejanecessário, sob o ponto de vista formal, tudo o que oportuguês precise de fazer, sem ter que ir a Portugal,mesmo casar... O cônsul para além disso tem outrasactividades. Em tempos, que não os de hoje, tinhaactividades muito viradas para a área comercial.Se formos consultar um arquivo Histórico-Diplomático - em Lisboa temos um muito rico emuito consultado por jornalistas e investigadores –verificamos isso mesmo.O próprio Eça de Queirós, que foi cônsul, comosabem, e na sua actividade profissional verifica-seisso mesmo. No fundo, essencialmente o que fazia,para além de escrever aquelas magníficas obras, eraum trabalho virado para a economia e finanças.Hoje a coisa permanece embora a acção seja dife-

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rente. Existe um organismo específico virado paraisso que é o Icep que não depende do MNE, embo-ra haja uma relação bivalente. Esse organismo temos seus meios, o seu orçamento para participação dePortugal em feiras, exposições e actividades parafomentar os produtos portugueses. Mas isto não tiraque o cônsul, em sintonia com o embaixador, nãopromova acções.

O nosso, em Genebra, sem estar a fazer qualquerdistinção dos outros, é de um dinamismo extraor-dinário, está sempre a promover coisas daqui e dalie eu dou-lhe um grande apoio, porque não só fala-mos muito e trocamos opiniões sobre a conveniên-cia de fazer isto ou aquilo, como eu próprio partici-po e envolvo a embaixada nas iniciativas dele, paralhe dar mais importância.Então os senhores cônsules estão directamente liga-dos, ou seja, sob a alçada do embaixador? E o quefaz o embaixador em relação aos cônsules?Na área consular propriamente dita, nós não temosautoridade sobre os cônsules – existe uma normaque define isso.Por exemplo se o senhor cônsul resolve não inscre-ver determinada pessoa, porque tem dúvidas, embo-

ra seja portuguesa; ou se resolve, em determinadaaltura, fazer alguma coisa, ou realizar determinadoacto, o embaixador não pode interferir.Nessa parte, na chamada gestão consular, propria-mente dita, eles é que dão contas, directamente aoMinistério, do dinheiro que sai, que entra...O embaixador tem a ver com os cônsules quando aactividade entra no campo político, porque oembaixador também tem uma acção política. Omeio onde ele se move é um meio político, generi-camente falando.Hoje em dia, a economia obriga a um acesso rápidoà informação. Como funciona a dita diplomaciaeconómica que é uma das apostas do Ministério dosNegócios Estrangeiros, neste contexto, conhecendoos limites das decisões face à economia moderna? O termo diplomacia económica, pelo menos emPortugal e aplicado ao MNE e aos diplomatas, sur-giu há relativamente pouco tempo. E não foi peloaparecimento dessa designação que me foi atribuídaessa tarefa. A pessoa que falou disso e que resolveumediatizar essa actividade, não o fez na intenção dedizer: os senhores diplomatas não faziam nada nestaárea vão passar a fazê-lo... Nada disso. Como lhesdisse, de entrada, o embaixador e colaboradoressempre fizeram tanto diplomacia económica.Eu tenho um colaborador directo, que é conselhei-ro social, o Dr. Manuel de Matos, que, exclusiva-mente, segue, na medida do possível, todos os pro-blemas que se levantam, de carácter socialrelativamente aos residentes portugueses em toda aSuíça. Teve um papel fundamental na negociaçãodo 2°. Pilar. Eu intervim, aí, só na fase final. Issohoje está assinado, está resolvido à custa do seuempenhamento. Isso pressupôs uma negociaçãocomplexa, longa e maçadora. Os suíços defendiamos seus interesses e nós os nossos.Gostava também de salientar uma coisa a esterespeito, de minha iniciativa: quando cheguei, está-vamos na fase final da história do 2°. Pilar, e aindanão havia brochuras e o grande problema era comotransmitir isso aos portugueses – a 200 000 pessoas édifícil fazer chegar seja o que for. Então lembrei-me

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de fazer umas dezenas de “Jornadas Informativas”.Fomos ter com os imigrantes. Combinei isso com oscônsules, para que as pessoas pudessem e quisessemestar presentes nessas reuniões.Estas resultaram beme o assunto ficou generalizado.Frisei este assunto das “Jornadas Informativas”como exemplo de uma acção de protecção dos inter-esses da comunidade.Explicite o que é a diplomacia económicaÉ um assunto que tem alguma sensibilidade e sobre-tudo faz um pouco de confusão na cabeça das pes-soas. A diplomacia económica é, no fundo, uma pes-soa vender o seu país no aspecto económico e sociale, por outro lado, conseguir investimentos portu-gueses e estrangeiros para Portugal. Portanto, tudo oque seja investimento em Portugal será sempre bem-vindo. A ideia essencial foi essa: que os embaixadorese embaixadas e toda a parafernália de instituições ede pessoal que estão no estrangeiro e que represen-tam Portugal, fosse usada para esse efeito.Já há cerca de 5 ou 6 anos que se começou a falardisso. É claro que tudo isso é muito bonito de dizer,mas, na prática.... Em Portugal há um organismocriado para apoiar esta diplomacia económica que sechama Agência Portuguesa para o Investimento. Éum organismo bastante pequeno mas com técnicosaltamente qualificados, que no fundo acabam porexaminar e decidir os projectos de investimento queexistem para Portugal e fazer as diligências queentenderem, lá em Portugal, para que esses investi-mentos possam ser feitos. O nosso contacto comessa Agência é sempre via ministro dos NegóciosEstrangeiros, não querendo isto dizer que não opossamos fazer directamente.Tenho tido variadíssimos contactos, nessa perspec-tiva, desde os aviões Pilatus, a investimentos para oturismo de Marinhais, no Algarve... e tenho estadosempre em contacto através do meu elemento deligação que é o director do Icep e conselheiro econó-mico e social da embaixada. Eu, pelo meu lado, façoas minhas diligências, às vezes à margem do delega-do do Icep.Já me tem acontecido, devido aos meus contactos

sociais, conhecer a, b, ou c. Ainda há pouco contac-tei um grande empresário suíço, creio que já temcontactos com Portugal, e falei-lhe na hipótese deaumentar esse investimento; estou a referir-me aSchneider Hamnen, como têm ouvido falar.É normal isso acontecer porque o embaixador éconvidado a eventos de carácter social e cultural e,nessas mil coisas, acaba por conhecer alguém se esti-ver desperto para esse tipo de conversas e questões.Emigração. Portugal e a emigração, quer comentar?Somos um país europeu com uma característicainteressantíssima nos tempos que correm: exporta-dor de emigração com e, e importador de imigraçãocom i. A contabilidade é claro que varia de dia paradia, mas creio que hoje temos mais gente a entrar doque a sair, dependendo de épocas, é verdade.Há pessoas que no Verão vêm para a Suíça fazer ascolheitas, são saídas periódicas; outras vêm só cum-prir um contracto de trabalho sem ficarem eterna-mente aqui.Em Portugal temos comunidades enormes de váriasnacionalidades: os famosos ucranianos, cabo-ver-dianos, são-tomenses, brasileiros, angolanos...Isso faz parte do que é hoje vector da globalização. Alivre circulação de pessoas que acompanha a livre cir-culação de capitais, de mercadorias, enfim, de tudo.As pessoas já não estão agarradas ao sítio onde nas-ceram, viveram, estudaram, casaram e por aí fora...E quanto à imigração, concretamente, aqui, na Suíçae o porquê de o número não ter decrescido?Eu não direi que tivesse aumentado. Quando che-guei disseram-me que a imigração estava a aumen-tar, mas eu não verifico isso pelas estatísticas oficiais,dos suíços, que nem sequer são das nossas. Penso atéque tem decrescido. No entanto há um número depessoas mais ou menos estável. Já fomos ultrapassa-dos pelos da ex-Jugoslávia mais os do Cosovo, antesjá tínhamos sido ultrapassados pelos italianos.Agora porque é que os portugueses têm continuadoa vir para cá e para outros sítios? No meu entendi-mento, porque querem encontrar trabalho, emborao desemprego tenha vindo a baixar, mas ainda é umaconstante em todos os países.

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Outra motivação poderá ser o facto da pessoa estar,e hoje acontece muito, sobretudo nas multinacio-nais, deslocada por razão do seu próprio trabalho.Antes, as multinacionais mexiam com meia dúziade executivos; hoje qualquer empresa tem os seusagentes que desloca periodicamente para aqui epara acolá. Os estudantes e alunos do Erasmus...têmsido aos milhares. Não há família nenhuma que nãotenha um primo, um sobrinho que não tenha feitoo Erasmus. Há várias razões pelas quais as pessoassaem, não é?Neste momento, não vejo razões específicas para osportugueses saírem de Portugal, como houve emtempos.Temos muitos emigrantes cá fora porque tivemosdurante nossa História, vários momentos quedeterminaram que, massivamente, houvesse pessoasque preferissem habitar fora do país.Todos estamos a pensar em momentos mais difíceisda nossa vida, em Portugal. Mas, por exemplo,desde os tempos de D. João VI que foi para o Brasila conselho dos ingleses - e ainda bem senão estaría-mos dominados pelos franceses - Portugal ficoudespovoado porque atrás do rei foram os filhos, osduques ,os condes, os criados, os que tratavam doscavalos, os que pilotavam os barcos, os que limpa-vam os convés... Assim o Brasil foi colonizado. Jámuito antes Pedro Álvares Cabral tinha lá chega-

do...deixou três ou quatro pessoas, depois foram ospadres e acabou... A grande leva surgiu com D. JoãoVI que por lá permaneceu 20 anos (ao fim de 20anos já o Napoleão estava morto, há que tempos!).Quando voltou deixou o país independente, que écaso único – quando conto isto às pessoas, dá-nosum grande orgulho porque foi dada a independên-cia a uma colónia a partir do colonizador.No regresso deixou aí o filho mais velho, o que ia serrei de Portugal, (e por circunstâncias que sabemos,acabou por ser mesmo) e lá surgiu o Grito doIpiranga... Não houve luta, não houve levantamen-to que quisesse correr com os portugueses, nãohouve nada... e talvez por isso a nossa relação comos brasileiros seja muito especial.Tivemos o 5 de Outubro e antes disso as GuerrasLiberais, cerca de 20 anos antes, que opusera osapoiantes de D. Pedro aos de D. Miguel e que fize-ram emigrar muita gente.Depois, como disse, o 5 de Outubro, com aRepública... Sempre que houve revoluções sociais,em Portugal, houve saídas. Bom! quando doSalazar, ninguém saiu, mas quando nos anos 60rebentou a guerra no Ultramar, houve uma mobili-zação geral para a guerra e a minha geração foimuito sacrificada, nesse aspecto; mas muitos nãoesperavam pela mobilização, saíam do país para aquie para França.No 25 de Abril também a mesma coisa; houvegente que ficando sem nada, ou por outras razõesdevido à profunda mudança social do país, saiutambém. Estas vagas sucessivas determinaram agrande quantidade de portugueses cá fora.Por outro lado, nós, portugueses, sempre tivemos –e isto não tem nada a ver o actual Governo nemcom o 25 de Abril – uma importância superior (emtermos globais) ao país que somos derivada aosDescobrimentos.Quer dizer, quando se fala em Portugal as pessoasassociam-no aos Descobrimentos – fomos os pri-meiros a ir à África, ao Brasil, grande parte domundo foi descoberto por nós – e isso tem a vercom a nossa maneira de ser, com a nossa idiossin-

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crasia. Somos assim...gostamos de sair!...Tambémestamos ali entalados entre a Espanha, país tãogrande, e o mar... As pessoas das ilhas tambémcontribuíram para isso: estão no meio do mar, entrea Europa e a América; durante muito tempo a vidafoi mais difícil que no continente e muitos delesforam para os Estados Unidos. Há gente espalhadapor todo o lado e temos orgulho nisso. Os portu-gueses orgulham-se dos seus compatriotas que estãofora de Portugal. Não é coisa que cause vergonha,não. A nossa História sempre proporcionou essesêxodos ou essas saídas, não é só por causa das váriasrevoluções. Uns evoluem duma maneira, outrosevoluem doutra! O nosso país parece que evoluiusempre um bocadinho aos sobressaltos. Desde 1383que tem sido assim, com a batalha de Aljubarrota epor aí fora. Durante um certo período está tudomuito sossegadinho e, num repente, Bum! Lá vaiuma subida. Isto determina movimentos de pessoase sobretudo num país onde essa apetência está ládentro!... Não foi por acaso que nós fomos para osDescobrimentos que foi a primeira vaga migratória,se assim quisermos.Isso também determina que as nossas leis, no querespeita à nacionalidade, atribuem, ou fomentamque os portugueses estejam ou não estejam, vivamou não vivam em Portugal, desde que tenham ori-gem portuguesa, continuam a ter direito ao passa-porte, ao bilhete de identidade e a poder votar ondequiserem.Isto faz com que, feitas as contas, a grosso modo, hajaeste número mágico de quatro milhões de portu-gueses no exterior, além dos dez milhões no interior.No fundo, é difícil dizer que a emigração esteja adesaparecer, ou que não existirá, daqui a tempos.As leis da facilidade que as sucessivas autoridadesportuguesas têm vindo a promulgar – e acho muitobem – dão-nos a noção de haver portugueses emtodo o lado.Antigamente havia o passaporte de emigrante,agora isso passou. A pessoa sai quando quer, o emi-grante não é uma espécie, é uma circunstância.Não creio que, neste momento, haja mais pessoas a

sair de Portugal do que nos últimos anos; pelocontrário, temos vindo a receber pessoas de fora eentram cada vez mais fruto da globalização e deSchengen.É um problema de migração. Hoje fala-se mais demigrações do que imigração.Portugal está atento, segundo me disseram, estetema será assunto na nossa presidência, para o anode 2007.Outro tema que gostaríamos que comentasse era oEnsino Português, na Suíça. Sabemos das grandesremodelações que o Governo quer implantar: pro-fessores contratados em vez de destacados, Serviçode Apoio ao Ensino (em Genebra) encerrado,Coordenação sem pessoal de apoio, EnsinoPortuguês a mudar do Ministério da Educaçãopara o Ministério dos Negócios Estrangeiros...Pormenores da situação, infelizmente não tenho,nem tenho respostas conclusivas. Não posso confir-mar nada porque não tenho elementos para issomas estou na convicção de que efectivamente issoque dizem é verdade. Que a Coordenação doEnsino vai passar a depender já não do ME mas doInstituto Camões, do MNE, repito e insisto que nãolhe estou a dar informação nenhuma nem lhe estoua confirmar coisa nenhuma. É aquilo que eu ouçoporque me interesso por esse assunto e estou naconvicção que isso acontecerá e julgo que será essa arazão dessa mudança de competências de umMinistério para outro que originou estas alteraçõesna Coordenação. Sobretudo na Coordenação dasquais tenho tido notícias pela Dra. Madalena Silvaque trabalha onde eu trabalho e,para além de termosuma relação pessoal muito boa, é fácil o contacto.Diariamente, ela me tem vido a dar conta do evoluirda situação. Vamos esperar mais uma semana,depois eu próprio farei uma comunicação dizendoque a situação não se pode manter assim. Agora darapoio à Coordenação com pessoal docente ou comoutro tipo de pessoal, já é uma questão de caráctertécnico onde eu não me vou meter. Limito-me aajudar e animar a Dra. Madalena, mas não me voumeter na Coordenação.

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Estas alterações foram feitas em má altura, nãoacha?. O ano lectivo estava em fase de arranque, osencarregados de educação e professores não tinhamesclarecimentos, presencias, nos locais do costume,todos os problemas a resolver se centralizam numaCoordenação sem pessoal de apoio...Não há que estar pessimista ou derrotista, nestecaso, porque é do conhecimento dos ministérios. OGoverno está consciente da situação. Há que espe-rar, enfim, que em Portugal isso se resolva. Há dos-siês, problemas orçamentais a discutir. É um perío-do de transição.Na parte pedagógica e da educação está tudo nor-mal; na parte administrativa e de informação estácom mais dificuldade, mas as pessoas terão quecompreender e dirigir-se, por telefone ou carta, oupessoalmente, aqui, à senhora Dra. Madalena quefará o que puder.Da perspectiva funcional, à perspectiva estruturaldo ensino, pelo que ouvimos, passará para o MNEe na extraordinária mudança do ensino, nos últi-mos 20 anos, a formação chega-nos cada vez maisinformatizada. O senhor embaixador acha que oensino do português, no estrangeiro, vai continuarnos próximos anos ou isto será um acto pré-anun-ciador do fim?Não me parece, e, dir-lhe-ia, na minha opinião pes-soal - porque é nessa perspectiva que me perguntou– eu próprio ficaria muito admirado que fosse assim.O Governo português, todos os Governos que têmpassado, têm dado particular ênfase e particularempenho ao ensino. Nós próprios também. A nossaLíngua tem sido um dos motivos, dos objectivos,nas próprias embaixadas e nas promoções culturais.No fundo temos orgulho que seja a terceira línguamais falada no mundo.Por outro lado, como falei há pouco, o cuidadosucessivo que o Governo português têm tido emrelação aos portugueses residentes no estrangeiro écada vez maior. Nada indica que um vector comuma importância destas acabe, uma vez que, os filhosdos portugueses residentes no estrangeiro, nãoteriam facilidade de aprender a sua própria Língua.

E isto nunca foi motivo sequer de contencioso entreos partidos políticos. Foi sempre pacífico.Está na Constituição. Somos o único país, pelomenos da UE e penso que do mundo inteiro quetem um Secretário de Estado especificamente voca-cionado para os problemas da comunidade portu-guesa e, portanto, sendo o Ensino uma das valênciasmais importantes, custa-me a crer que desapareça.O que vai acontecer, provavelmente – não sei se bemse mal, mas por mim acho bem – é que o Ensinopasse para o MNE uma vez que se trata de umaacção no estrangeiro e pelo organismo vocacionado,dele dependente, que é o Instituto Camões.Há muitas formas de nos fazer chegar a informaçãoe a cultura, mas os professores serão sempre indis-pensáveis...Eu acho que sim, sobretudo numa comunidadedeste tamanho. Que possa haver adaptações,mudanças de estratégia em relação a determinadospaíses, onde a imigração esteja a diminuir, onde senote que o português já esteja integrado conve-nientemente, que o próprio Governo desse paísassuma esse papel... aí admito, agora, na Suíça?Não acredito.Senhor embaixador, quais são os seus hobies?São poucos, eu confesso que sou um pouco pregui-çoso e como já tenho 60 anos é evidente que não sãotão regulares como gostaria que fossem e a própriasaúde o exige.O que é que eu faço? Joguei golfe no Zimbabweonde é desporto nacional, toda a gente joga e é umsítio ideal para praticá-lo e jogava-o regularmente;aqui tenciono fazê-lo, já tenho propostas de váriosclubes para me associar mas ainda estou em fase deadaptação.Outro hobie é ler. Não sou um leitor compulsivo masgosto e faço-o todos os dias.Gosto muito de escrever, mas nunca escrevi nada(risos). Sinto-me bem quando escrevo. Há pessoasque têm dificuldade em escrever, não gostam... eugosto muito e com a idade que tenho, por vezes,vem uma certa vontade de pôr no papel as coisas quelembram. Escrevo todos os dias, no serviço, não faço

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entrevista

Embaixador Dr. Eurico Paes

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outra coisa. O diplomata escreve muito, relatóriospareceres...Gostaria de escrever, não digo escrever livros porqueisso exige, impõe uma certa vocação que eu nãotenho...Hoje em dia toda a gente escreve livros: jogadores defutebol, actores de novela, manequins...Nunca farei isso porque não tenho vocação. Agorapôr coisas no papel, ponho.E escrever as vivências da sua vida diplomática?Geralmente associam-se as vivências diplomáticas amemórias, recordações daqui e dali. É evidente queeu tenho as minhas recordações, como os meuscolegas têm as suas, da vida diplomática porque éfascinante; se eu quisesse escrever isso fá-lo ia, masestar a escrever memórias para mim próprio, nãofaço. Para depois os meus filhos rasgarem no diaseguinte, depois da minha morte? Não faz sentido.Que género de música aprecia?É a música dos anos 70 que corresponde à minhajuventude e que, naquela altura, até sabia as letras decor, como hoje acontece com os meus filhos e comos mais novos.Continuo a gostar desse género e de música clássi-ca, sem ser um grande entendido, infelizmente, masgosto o suficiente para ir aos concertos e aqui, naSuíça, há uma oferta cultural bastíssima, nessecampo.E o seu prato preferido?Eu sou um “comilão” e agora devido ao colesterol omédico aconselhou-me a fazer dieta: ter cuidadocom as gorduras e com o açúcar - neste aspecto osmédicos são uns chatos! – mas, tirando isto, gosto decomida portuguesa, essencialmente, como todos osportugueses. Ainda não encontrei nenhum que medissesse que não gostava da nossa comida. Eu recor-do-me de quando era miúdo não gostar de “cozidoà portuguesa” e hoje é um dos pratos que mais gosto.Mas não posso dizer, nem quero, que o “cozido” sejao prato predilecto, mas é um dos preferidos.Qualquer desses pratos clássicos a partir do baca-lhau, desde o “bacalhau com todos”, até às outrasvariantes, gosto...

Para férias, em Portugal, escolhe o Norte ou o Sul?Normalmente vou para o sul. Sou de Lisboa, comodisse, e vivo lá. Para mim férias que não tenhampraia, não são férias. Isto não quer dizer que passe otempo todo nela... têm que ser alguns dias, sobretu-do quando estou em países, como este, onde não ashá. Há lagos, passeios lindíssimos, mas não háondas, areia... Em Portugal, há uma praia que fre-quento muito, quando posso, porque é fantástica, éa Caparica. Eu nunca vi uma praia assim, em ne-nhuma parte do mundo; e podem dizer-me: “ estetipo é saloio”. Sei que há praias fascinantes e já esti-ve nelas, do outro lado do mundo, agora acessível anós? É a Costa da Caparica.Toda aquela extensão –35 Kms desde a Barra ao Cabo Espichel – é magní-fica; também gosto das da costa alentejana...Então é cliente da “caldeirada” e do peixe grelhadodo “Barbas”?Ah! Isso com certeza, sou cliente daqueles restau-rantes todos da beira-praia.As esposas dos senhores embaixadores, aqui, rela-cionam-se umas com as outras?Sim, normalmente isso acontece e em Portugaltambém. Por outro lado há, em todos os países, unsgrupos, animados por senhoras locais, que, propor-cionam esse contacto entre elas. Muitas vezes ou amaior parte das vezes com actividades de carácterliterário, cultural, de aprendizagem de línguas, oupasseios... O que é curioso é que cada vez se notamais, no mundo inteiro, que há mais mulheresdiplomatas, quer dizer, no corpo diplomático.Há 32 anos, quando entrei para a carreira, não erapossível que as senhoras fossem diplomatas (depoisdo 25 de Abril passou a sê-lo); nos outros países jáhá mais tempo que isso era possível.Portanto, hoje, quando se fala em mulheres dediplomatas, em toda a parte, tiram a palavra mu-lher e põem cônjuge, porque muitas delas têmmarido e, por sua vez, serão eles que fazem partedesses grupos.

Agradecemos a sua disponibilidade e desejamos-lhe muitos êxitos.Luz Neto, Benjamim Ferreira e António Pinheiro

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ne Fête de l’intégration à Sion a été organi-sée les 25 et 26 août. Une idée excellente.Cette ville de près de 30 000 âmes compte

environ 3000 Portugais, soit la plus importantecommunauté étrangère de la ville. Le portugais estla deuxième langue la plus parlée (8,2%), après lefrançais (70,9%) et avant l’italien et l’allemand. Cejour de fête à Sion, lors des Rencontres d’ici eetd’ailleurs, il y avait dans les stands des différentescommunautés à boire, à manger, avec en prime surdeux scènes de la musique, des chants et de ladanse. Superbe ambiance durant deux jours. Laville de Sion avait mis les petits plats dans lesgrands pour offrir un espace aux communautésétrangères.La déléguée à l’intégration, Céline Maye, est enplace depuis deux mois. Ce poste, qui constitue lepremier du genre en Valais, a été créé par la sous-commission des étrangers de la Ville de Sion. Cettedernière avait prévu un budget modeste: 40 000francs pour cette première Fête de l’intégration(avec en plus 50% des bénéfices des stands reversésau budget). Il a fallu beaucoup d’énergie et d’ima-gination de la part des différentes communautéspour aménager les structures un peu sommairesmises à disposition. Vingt-cinq communautésétaient représentées ainsi que quelques associa-tions. Céline Maye souhaite que la fête conserveune dimension réduite, ne voulant pas imiterMartigny et ses «Journées des 5 Continents». Laville d’Aigle, par exemple, a déjà connu une fête dece genre. Céline Maye souligne également l’impor-tance que revêt la rencontre entre les différentescommunautés qui apprennent à mieux se connaître,ainsi que la rencontre avec les habitants de Sion,qui ignorent souvent que la ville compte une cen-taine de communautés, une véritable richesse peuou pas du tout exploitée.Parmi les associations présentes, l’AVIC, l’Asso-ciation valaisanne pour l’interpréttariat commu-nautaire, profitait de l’occasion pour faire sa publi-cité. Fondée en 2002, à l’initiative d’un groupe de

migrants résidant en Valais, cette association a pourbut la médiation culturelle et l’interprétariat dans26 langues (comme le portugais, l’anglais, l’italienet aussi le guajarati, le pachtoune, le tadjiki ou l’ur-du – langue parlée en Inde du nord et au Pakistan).Cette association aide les migrants confrontés auxobstacles de la langue et aux difficultés d’adaptationet d’intégration, valorisant en même temps lesconnaissances et la culture de ses membres.L’intégration, c’est un maître mot et à la fois untraître mot, qui veut tout dire et ne veut rien dire.Qui peut prétendre être vraiment bien intégré? Etfaut-il absolument rechercher l’intégration com-plète? Notre société n’engendre-t-elle pas davanta-ge d’exclusion que d’intégration? Mais au-delà desmots et des politiques d’intégration (qui passentobligatoirement par l’apprentissage de la langue dupays d’accueil, par la scolarité et par la formationprofessionnelle), cette fête a souhaité mettre l’ac-cent en premier lieu sur la convivialité, les plats tra-ditionnels des diverses communautés, la musique,la danse. Un beau programme qui ne demande qu’àse développer. Cette première Fête de l’intégrationdevrait connaître, selon les organisateurs, une pro-chaine édition dans deux ans. Et pourquoi pas enfaire un rendez-vous annuel, en renforçant quelquepeu les structures et en prévoyant une date un peumoins estivale pour éviter la collision d’événe-ments? Nous sommes certains que les gens de Sionapprécieront. La rencontre des cultures est unvoyage trop passionnant, nécessaire, essentiel, vitalpour ne pas s’y risquer.

On croit qu’on va faire un voyage, mais bientôt c’est levoyage qui vous fait, ou vous défait.

Nicolas Bouvier, dans L’usage du monde

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crónicaEdite Correia e Clément Puippe

LL’intégration fêtée à Sion:se rencontrer et «voyager» entre communautés

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via láctea

Imaginei que hoje iria ser um pintor

Sentada, olhando o marPintei nele um barco a navegarConduzido por uma sereia.Mas inspirei-me no amor,E assim pintei um pescadorQue ia numa traineira.

Quando os dois se cruzaram,Os seus olhares trocaramOnde só o mar foi testemunha.Depois, pintei algumas gaivotasVoando, sobre eles, às voltasÀ procura de coisa nenhuma

Então pensei, porque não?Pintar também um trovãoE o raio com sua luz?Até parece que cegueiMas consegui e pintei.Neste quadro tudo pus.

Entretanto, começava a choverE naquele entardecerO céu tornou-se cinzento.Pintei então o arco-íris.Senti-me muito felizVivendo aquele momento.

Depois pintei um vento forteQue soprava vindo do norte.Batia nas ondas e fugia.Pintei as ondas a bater,E na areia pude ver, pintado,O cheiro da maresia.

Que belo quadro ficou esteQue a minha imaginação pintouLá estava, até, a chuva a cairQuando, por fim, acabei,Por baixo também pinteiO som da minha boca a sorrir.

Lurdes Matias

Carvalhal Formoso

Viver sem raízesé como voar sem asasao sabor do ventoe das brisas passageirasà descoberta do Mundoe dos outrosque nos rodeiam

mas

voltar às origensaonde nada fenecee tudo renascedo princípio ao fimem vida perenena Natureza

é:

voltarmos todos juntosà terra em que nascemoscom certeza.

Álvaro Fernandes

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A viver

A viver tenho andadoNeste mundoDe dúvidas e retrocessosAvanços e sucessosÀ espera de ver

A esperançaSem saudade do futurocompreender o passadoNo presente conseguido

Connosco lutando

AntesOu mesmo depoisde nósTermos ido

saídoOu acabadoMas jamaisdesistido.

Álvaro Fernandes

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o sopé da grande pirâmide, no Egipto,duas personagens, de mão dada, com-templam-na fascinadas.

O miúdo voltado para a pirâmide, olha o avô epuxando-llhe delicadamente a mão questiona-o:– Avô como é que conseguiram colocar aquelaúltima pedra tão alto, em cima de todas asoutras? Eles não tinham máquinas, pois não,avô?– Não. Claro que não tinham máquinas! Meufilho, mas tinham objectivos. O homem temsempre que viver com objectivos. Um objectivotraçado, é um sonho que se perfila no horizonteda vida. O sonho é o caminho a percorrer.Aquela pedra, lá bem no alto, foi um sonho e,para o alcançar, foi preciso colocar todas asoutras, que não têm menos valor que a última.Quando se traça um caminho; quando oinstinto nos diz que é ali que devemos chegar;quando continuamente sentimos uma vozinterior que nos chama para a vontade do nossoquerer; quando o sonho nos impulsiona ocoração...! Meu filho, nada nos poderá deter setivermos a coragem de enfrentar o percurso que,por vezes, poderá ser árduo e doloroso.– Mas então avô, o sonho de que falas não édaqueles que temos quando estamos a dormir...É quando queremos uma coisa e pensamosmuito nela, é isso?– Exacto, falo-te do sonho, dessa voz doinstinto que nunca te largará se não fores aoencontro dele.– Sim... mas, então, sempre que queremos umacoisa e sonhamos muito com ela, temos quesofrer para alcançá-la?– Meu pequeno, aquela pedra lá em cima,representa apenas o culminar do sonho. Antes,todas as outras tiveram que ser colocadas, e,seguramente, cada elemento desta pirâmide

tem a sua história, cada pedra poderia contar oquanto foi sofrida e dolorosa para os homens,mas eles avançaram sempre até poderemcolocar a última. É por isso que tem muitovalor: ela acaba por representar todo osofrimento do percurso. Ao chegarem ali, oshomens, sentiram enorme satisfação por terematingido o sonho. Todo o sofrimento dosatalhos percorridos, só valorizou a coragem dese ter feito o caminho até ao fim. É claro que, àmedida que o sonho se constrói, e face àsdificuldades encontradas, o mais fácil, porvezes, seria abandonar, desistir... mas, nestecaso, a vida seria uma frustração. É precisopersistir, acreditar que montes e vales poderãoser difíceis de atravessar, mas, fazendo-o,saberemos o que nos espera à chegada, sedesistirmos, nunca saberemos, nunca senti-remos a felicidade de um sonho realizado.– Compreendo, avô, as conquistas dos sonhossão difíceis !– Esta pirâmide, diante de nós, pode repre-sentar a vida, porque o sonho é viver e a vidaconstroi-se de sonho e de objectivo. Cadapedra, cada elemento está interligado, e tudo oque fizeres será sempre composto de muitascoisas, e todas elas são importantes. a últimapedra da pirâmide é o atingir do objectivo, mastodas as outras, são os elementos que ocompõem, são o suporte para atingir o cume,são o apoio do sonho. Esta pirâmide, resistiuséculos, meu filho, porque todos os elementosque a compõe são fortes, não foram negli-genciados pormenores para que o seu todoresistisse a tudo e a todos, pelo tempo fora.– Quer dizer avô, que antes de termosconseguido o objectivo temos que passar muitascoisas que, juntas, é que vão fazer com que osonho depois dure muito tempo?

PEDRAS DA VIDA – O instinto de

N

conto

PEDRAS DA VIDA – O instinto de

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– É evidente, não achas? Se umsonho não tiver bases sólidas, senão for composto de muitoselementos, muitas pedras, para omanter sempre vivo, acaba logo.Um grande poeta escreveu um diaesta frase: «Tudo vale a pena se aalma não é pequena». Vês! Setiveres, sempre, muita convicçãonaquilo que fazes e no quepretendes, os elementos que vãocompondo o teu sonho, são ascertezas de que ele vale a pena.– Eu, de facto, também sonhavamuito namorar com aquela menina do nossobairro, mas parece que ela tem um namorado...Eu estava pronto a desistir, mas agora, depoisdo que disseste, acho que vou querer, com todasas minhas forças, e ela irá namorar comigo, nãoachas avô?– Bom, se tu puseres toda a tua convicção efores persistente, terás a certeza de que tudofizeste para o conseguir, não quer dizerforçosamente que consigas o teu objectivo, masficará a satisfacção de que o caminho que deviaspercorrer, foi feito, tinhas que ir por ali e foste.E, se o fizeste, com todas as dificuldades e sofri-mentos, saberás a que resultado chegaste. Apropósito, vou-te dar um pequenino exemplo:imagina que tens um recipiente e muitas pedrasde diversos tamanhos para lá meter; se meteresprimeiro as pequenas e depois as grandes,poucas pedras grandes caberão. Mas se, aocontrário, meteres as maiores e depois aspequenas, estas poderão sempre introduzir-sepelo meio das grandes. Portanto deves sempreprimeiro meter as pedra grandes, percebes?– Não, não percebi bem. O que queres dizercom isso?

– Quero dizer que em todas as construções,sejam elas de uma pirâmide, da vida ou desonhos, todas as pedras são importantes, masalgumas são maiores, mais vitais, insubstituíveise nós temos que saber escolher as melhores, asmaiores, aquelas que vão entrar primeiro norecipiente. Essas pedras são as decisões quetomarás na tua vida.– Ah! As grandes decisões são as grandespedras! E nós temos que pôr as grandes decisõesà frente das pequenas, é isso? Sabes, avô, euquero fazer da minha vida uma pirâmide comoesta. Cada vez que puser aquela pedra, lá emcima, terei a certeza de que valeu a pena.Terminar esta pirâmide, foi importante, valeu apena! A minha vida também tem que valer apena. É isso mesmo!!?– Oxalá, meu jovem construtor, oxalá! Assimpoderás ter uma vida plena e feliz.– Obrigado, avô. A tua pirâmide ensinou-mecoisas muito, muito bonitas...

viver o sonho

Eduardo Pinho

viver o sonho

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arlos Beltrão veio viver para Lisboa a com aidade de três anos. Nascido no Alentejo,mais concretamente em Ponte-de-Sor,

filho de alentejanos dos quatro costados não seapercebeu da mudança. Se pai fora colocado nasede dos Correios Telégrafos e Telefones e sua mãecomo chefe de uma estação dos correios num dosmelhores bairros da capital.A infância foi extremamente feliz e partilhadacom a irmã nascida já em Lisboa. Os pais deCarlos eram muito boas pessoas e rapidamentecriaram uma rede de amizades na zona ondemoravam; o emprego da mãe tornava-a conhecidade toda a gente. Moravam nas traseiras da própriaestação dos correios, num rés-do-chão com quatroassoalhadas, com ligação directa ao local de traba-lho. A localização da estação não podia ser melhor:em frente da paragem de eléctricos e autocarros,perto de um agradável café com esplanada situadoparedes-meias com um cinema muito frequenta-do. Relativamente perto existia uma estação decomboios da linha Cais-do-Sodré – Cascais.Carlos Beltrão frequentou a escola primária oficialdo bairro e com a idade de onze anos ingressou noLiceu D. João de Castro, um dos melhores dacapital, com uma localização soberba no Alto deSanto Amaro. Todas as manhãs não se cansava deadmirar o Tejo e os diversos barcos que o sulca-vam. Por vezes, pensava: - Esta vista maravilhosaconvida ao estudo e dá saúde! O liceu era masculino mas a partir de um determi-nado ano passou a ser misto nos sexto e sétimoanos que precediam a entrada na faculdade. Ascompanhias de Carlos no liceu, até ao quinto ano,eram masculinas, assim como na zona da sua resi-dência, onde jogava à bola, ao berlinde, ao pião,enfim, jogos próprios de rapazes. Foi com expecta-tiva e entusiasmo que aguardou o início d sextoano, pois sempre queria ver que espécie de rapari-gas iriam calhar na sua turma. Ao todo seis, equando o pai lhe perguntou: - Então, as raparigas

são simpáticas? – Respondeu com desdém – Só“frascos”.As semanas foram passando e, no convívio com ascolegas, Carlos começou a notar uma delas,Irineia, moradora em Almada, aparecia invariavel-mente à sua beira. Por obra do acaso, ou não, ocerto é que a rapariga era sempre nomeada paragrupos de trabalho aos quais Carlos pertencia; sur-gia-lhe repentinamente na Rua Luís de Camõesquando se dirigia a pé para as aulas, aparecia-lhemuitas vezes com um queque nas mãos, nos corre-dores do liceu – Toma, comprei-o para ti – e poucoa pouco deu consigo a pensar nela quando estavaem casa, a desejar telefonar-lhe a toda a hora sobqualquer pretexto, a querer ir para a escola no diaseguinte para a ver.O namoro surgiu com naturalidade mas cedo des-cambou numa paixão escaldante; os primeiros bei-jos da sua vida transtornaram-no completamente.– Mas que raio tem o moço? – Perguntava porvezes a Dona Clarisse, sua mãe. O rendimentoescolar de ambos ressentiu-se, contudo consegui-ram equilibrara os estudos. Carlos só queria estar asós com a namorada e sempre que podiam diri-giam-se para a Costa da Caparica, metiam-se nocomboio da praia afastando-se do centro da vila. Oreceio de serem descobertos em atitudes maisousadas inibia-os de fazerem o que ambos tantodesejavam.O atraso de vida da tua avó nunca sai de casa –lamentava-se Carlos. – Se ela fosse até Lisboapodíamos ir para lá…- Na tua casa é impossível estarmos sós – retorquiaIrinei-ainda se houvesse alguém que tivesse umapartamento e to emprestasse … Não conhecesalguém, não?!O mais que Carlos tinha conseguido, tinha sidobeijar-lhe os seios, na praia, mas sempre a medo,com receio de serem vistos. Estavam sempre muitotensos. Depois de, durante semanas sem sucesso,falar com amigos sobre a possibilidade de algum

crónica

AA sorte protege os

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lhe arranjar um apartamento por umas horas e deexplorar sugestões que lhe iam dando, certo diarecebeu um telefonema que o deixou eufórico:– Carlos, fala o Zé Gomes, o Firmino contou-meo teu problema; vou desenrascar-te! Carlos encontrou-se com o amigo nos “Pastéis deBelém” passados minutos. O coração batia célere.– A minha avó morava sozinha na Reboleira.Faleceu há um mês. O meu pai herdou o andar,um rés-do-chão esquerdo, alto. Por enquanto éraríssimo lá ir pois continuamos a viver na Ajuda– disse o Zé Gomes – eu até já lá fui com a minhamiúda … Empresto-te a chave mas na condiçãode te servires da casa a meio da semana, quando osmeus velhos estão a trabalhar.Irineia deu graças a Nossa Senhora de Fátima porter atendido as suas preces. O telefonema deCarlos deixou-a doida de alegria.No dia combinado partiram cedo de camionetapara a Reboleira. No trajecto não trocaram umapalavra tal o nervosismo de que iam possuídos.Carlos nem quase dava conta dos locais por ondepassava; só pensava que dali a pouco tempo estariadeitado numa cama, nu, com Irineia a seu lado.Quando chegaram à paragem indicada por ZéGomes, desceram e dirigiram-se para o local assi-nalado no croqui que o amigo desenhara.Tentando aparentar muita calma fizeram o reco-nhecimento da rua. Não se via praticamente nin-guém. Carlos entrou no prédio. Irineia entrariacinco minutos mais tarde. A porta do rés-do-chãoficaria encostada.Carlos só não soltou dezenas de palavrões porquenão queria fazer o mínimo barulho. Embora asmãos tremessem, o certo é que a chave não entra-va na fechadura! – O safado do Zé Gomes não medeu a chave certa! – pensou. Desesperado saiu doprédio. Irineia ainda descia a rua. – Segue-me dis-cretamente – disse-lhe. Quando viraram a esqui-na, contou-lhe o que se passava. – Nada está per-dido, junto do passeio há uma janela que não está

fechada – disse excitada a rapariga. – E é do ladoesquerdo. Entramos pela janela! Esquece a chave.Carlos estava com o pensamento bloqueado. Sóqueria apanhar-se na cama com Irineia. Numaaltura que lhes pareceu propícia ao passarem juntoda janela empurraram-na e, lestos, saltaram paradentro de casa. O desnível do parapeito não eragrande. – Carlos, vê a casa que eu tenho medo. Ojovem abriu todas as portas; nem viv’alma.– A velha tocava piano – pensou ao espreitar paraa sala.Correu para o quarto, Irineia aguardava-o já des-pida. Passada uma hora os receios abateram-senovamente sobre ambos e decidiram, embora amuito custo, abandonar a casa, tanto mais que, pormais algum tempo, deveriam poder continuar a teracesso ao seu primeiro ninho de amor.Estás a gozar comigo, ou quê?! – exclamou ZéGomes ao receber a chave de Carlos – com queentão a chave não é esta! Gozaste à grande e agoravens com coisas! Carlos contou-lhe tudo o que se passara.– Janela? Entraram pela Janela? Então eu não disseque era um rés-do-chão alto? Ó estúpido, friseibem que era no rés-do-chão esquerdo, rés-do-chão alto – gritou Zé Gomes – Tu entraste foi nacave da Dona Céu. Se a minha avó já faleceu ajanela não podia estar encostada.– Tinha o raciocínio parado – justificou-se Carlos– Não pensava em nada, excepto deitar-me com ela.Já mais calmo Carlos acrescentou: - Quando vi umpiano na sala até pensei que a tua avó tocasse nele.– Coitada dela, até tinha reumático nos dedos dasmãos … Olha, a sorte protegeu-vos, foi o que foi.Ai se a Dona Céu tem regressado a casa maiscedo…

Luís Florêncio

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audazes

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ra uma vez um homem. O homem viviana ilha. A ilha era habitada por muitoshomens como ele que faziam da vida uma

luta constante pela sobrevivência. Era duro viverna ilha. Os dias eram todos muito iguais e ohomem sentia-se asfixiar na pequenez de umhorizonte que acabava logo ali, aos seus pés,numa terra onde enterrava, todos os dias, a suavitalidade.Nem sempre havia sol. Os Invernos eramrigorosos, com ventos fronteiriços e chuvasintensas. Nesses dias o homem parava de lutarcom o corpo, mas a alma enchia-se de tristeza.Ficava à lareira com a mulher e os filhos, mas nãoparava de pensar, ruminar naquela rotina semgraça a que se sentia inevitavelmente preso.Ouvira falar de homens, sonhadores e temeráriosque haviam emigrado e encontrado sucesso emoutras terras. Mas ele nunca ousara fazer omesmo! O mar parecia-lhe tão imenso! Para ládo pego não conhecia nada. As ganhoaspassavam em voo alto, em direcção ao zénite,como se aquele lugar fosse um fim do mundosem direito a paragem para descasar sequer. Mascontinuava cansado daquela espera pelo nada.É certo que sonhava com uma fuga. Mas tinhatanto medo…Porém um dia…Um dia… Foi um dia. Sei que não foi fácil adecisão de deixar a ilha. Sei que, para muitos devós, foi um embarque no vazio. Vivo na ilha hámuitos anos. Nasci numa das mais pequenasparcelas do arquipélago e sei bem o preço dasolidão, num tempo de pouco “conduto” e muitocansaço. Sei como o pão era duro de ganharnaquela época em que poucos tinham acesso amais do que a escolaridade obrigatória, quando opão era garantido pela terra e pelo mar, quevergava homens e envelhecia mulheres, emrotinas desesperantes. Sou do tempo da caça àbaleia, do foguete a anunciar o pão, das mortes

no mar, do medo, da dor, do desespero, da fuga…Sou do tempo em que os homens saltavam embaleeiras desapareciam para só voltarem, muitasvezes, uma década depois duma terra deabundância que sabíamos ficar para lá doMonchique e onde se falava estranha língua masonde o pão se ganhava com menos dor.Alguns de vocês deixaram os Açores numa épocaque se parecia em muito com esta. Maisrecentemente, emigra-se com outras certezas,tem-se alguém à espera do lado de lá do medo, émais fácil começar a vida.Tenho profundo respeito por quem emigra.Todos temos consciência de que na nossa terraaparece sempre um vizinho, um amigo, alguémpara nos socorrer num momento de desdita. Namercearia da esquina da nossa rua, temos créditogarantido. Os nossos vizinhos gostam de meter o“bedelho” nas nossas vidas mas, nos mausmomentos, aparecem todos num gesto único deuma imensa solidariedade. No fundo estamostodos no mesmo barco e essa certeza ajuda-nos asobreviver em irmandade. Tem sido assim que asilhas pequenas têm resistido a catástrofes,derrocadas, acidentes, etc., etc.. O ilhéu sabe sermuito solidário quando é preciso!Emigrar é também resistir. Emigrar é deixar oninho vago e construir um novo espaço para serfeliz. E todo este processo de mudança dói. Atéganhar raízes, noutro país há um tempo para aesperança e outro para a sua concretização e queé, muitas vezes, mais longo do que se desejaria.Que conhece, não raras vezes, os atropelos dadoença ou as contrariedades da má sorte.A dificuldade que muitos adultos encontram naaquisição de conhecimentos básicos da língua dopaís receptor é outro obstáculo, sobretudo setivermos em linha de conta que as gerações maisjovens fazem essa aprendizagem de forma muitorápida, ganhando uma autonomia considerável edesvalorizando, muitas vezes, o enorme potencial

crónica

E

Uma história

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Gabriela Silva

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de cultura de vida dos velhos,dependentes de quem conheçaa língua para resolução dos seusmais elementares problemas dodia a dia.A terceira geração não vai voltara Portugal, por razões culturaise outras. Há apelos mais impor-tantes. Os avós vão ver crescer os netos, ofere-cendo colo e beijos, manifestações únicas de umamor que não conhece fronteiras culturais oulinguísticas. Um abraço bem forte pode dizermais que catadupas de palavras. Aprecio muito asmães açorianas que continuam a fritar torresmos,a assar alcatra e a encher morcelas para ofere-cerem aos filhos nos almoços de domingo. Imagi-no que, na sua maioria, os netos petiscam, semgrande entusiasmo, enquanto se empanturramde hamburgers ou pizzas numa terra descara-cterizada do ponto de vista gastronómico, semperceberem que o resto da família saboreia asaudade no pão de milho que está na origem dealgumas das causas da emigração açoriana.Lembro-me bem do tempo em que o pão detrigo era para os dias de festa.Não estou a pretender caracterizar o emigranteaçoriano. Sei que cada pessoa sente à sua maneiraas coisas e as terras. Cada um é feliz à sua medidae a medida de cada um é subjectiva. Esta éapenas uma carta de flashes e de afectos. E sepretendo dizer alguma coisa, é fundamen-talmente isto: a sociedade Açoriana evoluiumuito nos últimos anos. Aumentou o poder decompra, massificou-se o ensino, democratizou-sea escola, a agricultura conheceu novos rumos(…). Já vou longa nesta carta de simpatia masapeteceu-me contar a história de um país, deuma Região que, desde a abertura das portas daesperança em Abril de 1974, fez um percurso dedesenvolvimento impensável. Não sei se tudoterá sido muito bom. Sei que há uma actua-

lização quase diária na vida de um país emdemocracia e de uma Região que se abre aoexterior. Os jovens estão mais independentes emais reivindicativos. As escolas e Universidadesdebatem-se com problemas de sobrelotação.Todos querem aprender e saber mais. A culturatransforma-se num processo dinâmico e ocrescimento económico é vertiginoso. Estasrazões que determinam o tamanho desta cartaque pretende aproximar-nos o mais possívelduma realidade cuja medalha tem também o seureverso.Há poucos anos atrás, as ilhas não conheciam adroga, a prostituição ou a violência. Hoje sabemos,infelizmente o que todas estas coisas são.Continuam a existir guerras entre ilhas e váriascategorias de ilhas. Não se pense que as pessoasmudam ao mesmo ritmo das coisas. Temos umaherança cultural e uma filosofia de vida quelevaremos até morte. Portugal viveu em regimeautoritário e aprender a viver em democracia éum exercício complicado que nem todosrealizam da maneira adequada…Termino com umas frases que alguém meteu, hádias, no meu E.mail e que quero partilharconvosco porque me parecem uma importantelição de vida para se ser feliz neste Mundo:

Trabalha como se não precisasses do dinheiro.Ama como se nunca ninguém te tivesse feito sofrer.Dança como se ninguém estivesse a olhar para ti..Canta como se ninguém te estivesse a ouvir.Vive como se o Paraíso fosse na Terra.

antiga

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o cinema surgem por vezes aqueles filmesde pacotilha: filmes feitos para publicitarum país, uma região; filmes para apregoar

uma mentalidade dominante, pré-definida;filmes de classe, sobretudo da classe dopersonagem principal, normalmente a médiaburguesia senão for a alta, como se vê em certasnovelas portuguesas onde cozinheiros, moto-ristas, criados abundam. Descansem-se os lei-tores, o filme de que venho vos falar não se en-caixa em nenhum destes padrões, se bem que, porum outro realizador outra coisa não poderíamosesperar. Um filme de autor, como o é RobertGuédiguian, francês de Marselha, militante eamante do cinema e do teatro.

A viagem“Voyage en Armenie”, filme francês de 2006,

realizado por Robert Guediguian, fala dissomesmo, duma viagem à Arménia para descobrirum país, um povo. A personagem principal,médica, com o marido empreendedor, que exibe

o seu Mercedes, após uma análise médica a seupai, descobre-o canceroso.Tem de ser operado. Opai, com um medo natural de ir à faca nestasociedade hiper-medicalizada, foge a sete péspara o seus país de origem, a Arménia. A filha damédica convence a mãe a ir encontrá-lo e esta,mulher d’armas, não hesita: deixa-a e ao maridoe parte com um atraente e suspeito arménio emdescoberta do país dos seus pais. Tudo pareceencaminhar-se para o filme dentro dos padrõesacima assinalados. Engane-se o leitor.

BíblicoA Arménia, antiga república socialista da extintaunião soviética, torna-se independente com aqueda do bloco comunista. Depois disso asituação repete-se como em muitas outras ex-repúblicas socialistas: entrada abrupta no sistemacapitalista, corrupção, decadência e destruição detodos os antigos baluartes dos comunistas, comoa educação e a saúde. E é neste buraco que cai anossa pobre médica, com os seus sapatos de

N

opinião

Spots

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Rogério Feitor

cinderela à procura do seu pai sem saber falar umasó palavra de arménio e não podendo confiar noatraente e mafioso companheiro de viagem. Deconsolação serve-lhe a vista do bíblico monteArarat da janela do seu quarto de hotel. Que éturco, já agora.Mas a nossa médica é uma mulher forte, desangue arménio. E, despedindo-se do seu quartode hotel despe também o filme do seu trajeturístico. E parte ao conhecimento do país e doseu povo.

Às armasO estilo do realizador roça tanto a improvisaçãocomo o complexo: se de repente estamos numahistória de mafiosos, num outro instantedeixamo-nos envolver pela filosofia profunda dospersonagens e da paisagem. Talvez seja essa afraqueza do filme, o constante desequilíbrionarrativo, mas é também a sua grande atracção,como se tratasse dum guia anti-turístico dumautor anti-sistema, contra a sociedade deconsumo. Já dizia Raul Brandão: temo os paísesque se adaptam ao gosto dos turistas.No fim seguimos com ela por essa estrada fora,

por essa Arménia de revolucionários e juventudeperdida, de mafiosos oportunistas e de idealistasque não têm medo de pegar em armas. O écranenche-se de contradições mas rejubila de energiae motivações; pega-se nas armas e pensa-se numoutro mundo; olha-se em frente e vemos os jovensindecisos, perdidos no sistema; fuma-se umcigarro e a utopia mais simples e distante é-nosnarrada por um velho taxista.A grande força do realizador eleva-se como omonte Ararat: estamos sempre a tempo de mudaro destino, de resumir dialecticamente o nossopassado e ensiná-lo ao futuro, a juventude quemais cedo ou mais tarde desencadeará a marchairreversível.

Temos a certeza de que a passa a fazer parte do seu dia-a-dia.Não perca tempo. Este é o cupão de assinaturas.Preencha-o e devolva-o. Já!Pessoas magazine – Case Postale 1877 – 1211 Genève 1

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turísticos

2006

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Outono esfalfa-se a derramar cores pelosvinhedos. Traz as vindimas e os derradei-ros esforços nas caminhadas campestres.

É com roupagens outonais que a capital mundialdo ciclismo – Aigle - se oferece à descoberta.

Cidadezinha calma a cati-var os frequentadores daRiviera Vaudoise ondepontuam Lausanne, Vevey,Montreux e Villeneuve.A nossa visita não escolheuAigle, propriamente dita,para “roteiros”, mas nãoresistimos a percorrê-la nomimoso comboio turístico– Le P’tit Chablaisien –antes de entrarmos no seucastelo, este sim, destinoprincipal.Destacamos a pavimenta-da rua de Jerusalém, reser-vada a peões, ladeada desimpáticas construções comtípicas passagens cobertas

– não vá a chuva estragar as vistas – e montrasoferecendo produtos regionais. A rua do Burgsegue o mesmo enquadramento arquitectónicada anterior. O bairro mais antigo e genuíno éCloître com a igreja de Saint-Maurice. Umaoutra igreja com significado especial para osAiglons é a denominada église allemande – Saint-Jacques, de traça medieval. Nela pregou o gran-de Reformador G. Farel (1489-1565) quando aíhabitava, no n°10 da rua que hoje tem o seunome.Para os amantes de ciclismo existe o espectacu-lar velódromo coberto com uma pista de 200metros. Local de eleição para as provas desta

modalidade – a 8 de Outubro desenrolou-se oCampeonato Suíço de Madison.Rumando, agora, ao castelo de Aigle, em plenaregião vinícola do Chablais, destaca-se pelabeleza da construção e pelo enquadramentopaisagístico. A silhueta granítica emerge, altiva,no mar verde de vinhedos. É um dos maisimportantes do cantão. No conjunto arquitectó-nico albergam-se dois museus: de la Vigne et duVin e o Museé International de L’Étiquette.Os muros bem restaurados preservam 2000anos do património histórico desta região, daSuíça e de dezenas de países, na Maison de laDîme.Aigle, em tempos, cidade savoyarde foi dotadade impostos municipais em 1232. A região sub-dividia-se em pequenos feudos de famíliasnobres e da abadia de St. Maurice d’Agoune.Mais tarde esta zona viria mesmo a adquirir otopónimo de Allio nome da família Allio ouD’Aigis que mandou edificar um centro admi-nistrativo no local onde hoje se ergue a Maisonde la Dîme.Os nomes das famílias: Saillon mandaramconstruir o castelo), Vallise e Chivron transfor-maram-se emtopónimos depovoações dacomuna.Em meados doséc. XIV, poracordos nup-ciais, o domíniode Aigle passada família Sail-lon para a deCompey, de ori-gem genebrina.

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Aigle – capital mundial

Castelo – Museu do Vinho,

roteiros

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Daí que, o Senhor de Aigle, desde 1434 a 1476,tenha sido Jean II de Compey.Esta personagem suscitou rivalidades e ódios, entreos nobres savoyards, por ser o favorito da duquesaAna de Lusignan, esposa de Louis I da Sabóia.Escapando a ciladas e a uma tentativa de assas-sinato, vingou-se assassinando vários nobressaboianos e um deles, François Sales foi enfor-cado no próprio castelo.Mais tarde, as guerras da Bourgogne - opuseramos suíços e o aliado rei de França, Louis IX, aoduque Carlos o Temerário - mudaram radical-mente a face de Aigle.Como era um local de passagem importante dastropas mercenárias, vindas de Itália (atravessan-do o Grand-Saint-Bernard), que se iam juntarao exército de Bourgogne, os Bernois resolveramacabar com essa situação e com a ajuda dosOrmonts (pays D’Enhaut) invadiram a região ecercaram o castelo onde se tinham fortificadoJean Compey e os mercenários. Noite dentro,Compey, consegue evadir-se enfurecendo osBernois. Estes, enraivecidos, incendeiam par-cialmente o castelo.

Em 1476, o duque da Bourgogne é derrotadoem Morat e foge para lá do Jura. Esta situaçãoleva o Congresso de Fribourg a atribuir a regiãodo Chablais (onde se encontra Aigle) aoGoverno de Berna (excepto Villeneuve).Assim, a região, passa a apelidar-se deGouvernement com sede no castelo.Berna, não se contentava com governar o ter-ritório, interessava-lhe, também governar asmentalidades e de 1576 a 1530, destaca um pro-fessor e pregador, Ursinos, que não era outro senão o grande Reformador Guillaume Farelencarregado de “converter” os católicos ao pro-testantismo.Este, organizando o culto e recrutando pastorespara as paróquias, conseguiu que Aigle se tor-nasse no 1° território oficialmente protestante.Em 1798, os Aiglons, ao mesmo tempo que opaís de Vaud declararam a independência e tor-naram-se membros de pleno direito daRepública Helvética.Voltando, de novo, ao castelo crê-se que foiconstruído provavelmente nos princípios doséc. XIII pela já focada família Saillon possui-

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de ciclismo

da Vinha e da Etiqueta

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roteiros

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dora de imensos domínios autorgados peloscondes de Sabóia.Inicialmente, esta fortaleza, era desprovida defortificações mas ao longo dos tempos foram-seerguendo as muralhas, os fossos e outros recan-tos menos expugnáveis.O Museu de la Vigne et du Vin ocupa váriassalas, aí se expõem colecções de objectos devidro, de estanho e de utensílios vinícolas, querecontam a história do séc. XVII até aos dias dehoje. Admire-se a encantadora tapeçaria expos-ta cujos desenhos nos transportam aos vinhedose aos cachos amadurecidos.O Museé International de L’Étiquette ocupa aMaison de la Dîme a poucos passos do castelo,enquadrada pelas vinhas que neste Outono pri-mam pela abundância dos cachos e pela garridi-ce da folhagem. Aqui deparamos com mais de150.000 gravuras provenientes de dezenas depaíses, cada qual a mais apelativa e graciosa insi-nuando através das cores e do grafismo a relaçãocultural que cada um e cada país mantém com onéctar de Baco.Ficamos a saber que a etiqueta apareceu logo queo homem descobriu a escrita. Este marcava nosrecipientes o nome do líquido que guardava.Interpretaram-se textos escritos em ânforas noEgipto, que nos remetem para o séc. XIV a.C. edepois para a Antiguidade, onde constava o tipode vinho e o ano da produção.Hoje, as indicações aparecem-nos gravadas emapelativos papelinhos, mas já desde 1797, osrecepientes vêm alindados com os famosospapelinhos que identificam o conteúdo.Enfim, vale a pena descobrir a relação forte, oufraca, que o homem manteve com o vinho,durante séculos, através destes “Bilhetes deIdentidade Vinícola”.

Aigle – capital mundial de ciclismo

Castelo – Museu do Vinho, da Vinha e da Etiqueta

Catarina Reis

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B r i g a d a L i g e i r a

Benjamim Ferreira

O que parece nem sempre é. Se comerçarmos aver isso quando recebemos a folha de salários,então ficamos mais do que desanimados com opanorama desolador dos descontos para tudo emais alguma coisa. Sempre pensei que pode-ríamos descontar para garantirmos uma velhicetranquila, mas parece que não. Sempre penseique aqueles dinheiros que me levam, à força, domeu bolso, estariam de volta, em anos maiscalmos, para conforto do reumatismo e presentelindo de netos aloirados. Nada disso. É semprea descontar e sempre a desconfiar. Desconfi-ança tal que o país ameaça parar e o PrimeiroMinistro ameaça continuar a fazer mais domesmo.É mesmo teimoso, o homem que manda nascontas, nos contos e nos descontos do país. Emanda nas escolas, e nos professores, e nessacoisa que se chama “Ensino de Português noEstrangeio”- EPE). Mas devia mandar muitomelhor: deixar tudo isto na mesma para que osprofessores não se queixem, para que os alunostenham boas notas de borla, para que o paíscontinue a ser o mais avançado, rico, bonito esedutor do mundo! Mandar muito mais só paraque as coisas fiquem na mesma? P’rá frente é ocaminho.E porque de caminho se trata, nós queremosque a crise acabe – mesmo se aquele que mandae dá pelo nome de Sócrates ande por aí a dizerque isto ainda está para durar – nós, o que

queremos é que a carteira se encha, que o S. Martinho, agora que é um santo modernaço,traga aquilo que deve: castanhas e euromilhões.Com um bocado de sorte, ainda vem aí o vinhoverde, para animar a gente.Desanimados andam os das escolas e os dascâmaras: os primeiros porque parece que hácada vez menos catraios para ensinar e cada vezmais professores sem emprego: é uma pena,dado que ensinar pode-se fazer sempre eaprender, dizem, é até morrer. Os segundos, ossenhores das câmaras municipais, andam decandeias às avessas com o Governo. Parece quecomeça a faltar o dinheiro para coisas sérias eimportantes – a educação, a saúde e coisas dessetipo – e outras bem menos necessárias: os fogosde artifício, as publicações de promoçãopopulista e as campanhas politiqueiras queduram, por vezes, 4 ou mais anos!Não há maneira para que estes senhores seentendam nem há “maneiras” para que serespeitem. Ainda mais: fazer de uma função tãonobre quanto indispensável um palco dechacota e uma arena de ataques políticos demau gosto, é de lamentar. Mas é de afirmar e deconfirmar, apesar do que foi visto e ouvido naconversa da TV sobre a nova Lei das FinançasLocais, que há autarcas empenhados, sérios ecom um profundo sentido de cidadania.Felizmente.

A poucos dias do início de tantas coisas boas,- as castanhas, o aquecimento das casas, o ar de Natal,, as notas escolares

dos nossos filhos - nós oferecemos-lhe este texto de palavra fácil e de quaseffaca na liga.

Leia até ao fim, para que saiba que não escrevemos tantas asneiras comodizem as más línnguas nem merecemos o prémio Nobel como insinuam os

nossos amigos.

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e n d e r e ç o s ú t e i s

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Sabino - Ferreira de Castro - Florbela Espanca - Gastão Cruz - Germano de Almeida -BinaGuilherme de Melo - Helder Costa - Helena Marques - Hélia Correia - João Aguiar -MeuDeus - João de Melo - João Guimarães Rosa - João Melo - João Ubaldo Ribeiro -AmorJosé Almada Negreiros - José Cardoso Pires - José Carlos Ary dos Santos - José Jorge -MinhaAgualusa - José Freire Antunes - José Gomes Ferreira - José Jorge Letria - José Luís Borges- Menina- José Mauro de Vasconcelos - José Régio - José Saramago - José Sarney - Júlia -PrecisoJúlio Dinis - Lídia Jorge - Luísa Beltrão - Luis Filipe - Luísa Costa Gomes - Luísa Ducla - DoLuiz Manuel - Manuel Alegre - Manuel Arouca - Manuel Bernardo - Manuel da Fonseca - TeuManuel Peixoto - Manuel Teixeira Gomes - Manuel Tiago - Maria Alberta Menéres - AmorRosário Pedreira - Maria Isabel Barreno - Maria João Avillez - Maria Judite de Carvalho -ParaMaria Teresa Horta - Maria Teresa Maia Gonzalez - Maria Rosário Pedreira - Mário -ViverCarvalho - Mário de Sá Carneiro - Mia Couto - Miguel Sousa Tavares - Miguel Torga - Nuno -SemJúdice - Paulo Coelho - Pedro Homem de Melo - Pedro Tamen - Pepetela - Rachel de Queiroz - TiRita Ferro - Rosa Alice Branco - Rubem Fonseca - Sarah Beirão - Sebastião Salgado - Soeiro -NadaPereira Gomes - Sophia de Mello Breyner Andresen - Teolinda Gersão - Teresa Rita Lopes -MaisTomáz de Figueiredo - Urbano Tavares Rodrigues - Vasco Graça Moura - Vasco Lourenço -FazVergílio Ferreira - Vinicios de Morais - Vitorino Nemésio - Zélia Gattai -Alexandre -SentidoAlexandre Pinheiro Torres - José Gil - Helder Costa - Alice Machado - Alice Vieira - Almeida - NaoFaria - Almeida Garrett - Almeida Negreiros - Altino do Tojal - Álvaro Guerra - Alves - PercasAna Eduarda Santos - Ana Maria Magalhães - Isabel Alçada - Ana maria Magina - NaMiranda - Ana Paula Tavares - António Alçada Baptista - António Gedeão - António -TuaSaraiva - António Lobo Antunes - António R. Damásio - António Ramos Rosa - António - VidaAntunes da Silva - Aquilino Ribeiro - Augusto Abelaira - Bernardim Ribeiro - Bocage - OBranco - Luís de Camões - Carlos Oliveira - Chico Buarque - Clara Pinto Correia - Daniel - QueSampaio - Darcy Ribeiro - David Mourão Ferreira - Dinis Machado - Eça de Queiroz - TenhoLourenço - Eduardo Prado Coelho - Erico Veríssimo - Eugénio Andrade - Fernando - ParaFernando Echevarría - Fernando Namora - Fernando Pessoa - Fernando Sabino -nge - TeCastro - Florbela Espanca - Gastão Cruz - Germano de Almeida - Guilherme de Melo - DarHelena Marques - Hélia Correia - João Aguiar - João de Deus - João de Melo - Jorge - TensGuimarães - João Melo - João Ubaldo Ribeiro - Jorge Amado - José Almada Negreiros - DireitoJosé Cardoso Pires - José Carlos Ary dos Santos - José Eduardo Agualusa - José -AAntunes - José Gomes Ferreira - José Jorge Letria - José Luís Borges - José Mauro - SerVasconcelos - José Régio - José Saramago - José Sarney - Júlia Nery - Júlio Dinis -FelizJorge - Luísa Beltrão - Luis Filipe - Luísa Costa Gomes - Luísa Ducla Soares - Luiz de -SóManuel Alegre - Manuel Arouca - Manuel Bernardo - Manuel da Fonseca - Manuel Peixoto -EuManuel Teixeira Gomes - Manuel Tiago - Maria Alberta Menéres - Maria do Rosário Pedreira -TeMaria Isabel Barreno - Maria João Avillez - Maria Judite de Carvalho - Maria Teresa - FareiMaria Teresa Maia Gonzalez - Maria Rosário Pedreira - Mário de Carvalho - Mário de - FelizCarneiro - Mia Couto - Miguel Sousa Tavares - Miguel Torga - Nuno Júdice - Paulo Coelho - TuPedro Homem de Melo - Pedro Tamen - Pepetela - Rachel de Queiroz - Rita Ferro - Ros - SabesBranco - Rubem Fonseca - Sarah Beirão - Sebastião Salgado - Soeiro Pereira Gomes - Quede Mello Breyner Andresen - Teolinda Gersão - Teresa Rta Lopes - Tomáz de Figueiredo - TemosUrbano Tavares Rodrigues - Vasco Graça Moura - Vasco Lourenço - Vergílio Ferreira - QueManuel Alegre - Manuel Arouca - Manuel Bernardo - Manuel da Fonseca - Manuel Peixoto -ViverManuel Teixeira Gomes - Manuel Tiago - Maria Alberta Menéres - Maria do Rosário Pedreira - EsteMaria Isabel Barreno - Maria João Avillez - Maria Judite de Carvalho - Maria Teresa Hor - UnicoMaria Teresa Maia Gonzalez - Maria Rosário Pedreira - Mário de Carvalho - Mário de - AmorCarneiro - Mia Couto - Miguel Sousa Tavares - Miguel Torga - Nuno Júdice - Paulo - EuPedro Homem de Melo - Pedro Tamen - Pepetela - Rachel de Queiroz - Rita Ferro - Rosa - QueroBranco - Rubem Fonseca - Sarah Beirão - Sebastião Salgado - Soeiro Pereira Gomes - Muitode Mello Breyner Andresen - Teolinda Gersão - Teresa Rita Lopes - Tomáz de Figueiredo -FazerAlexandre Herculano - Alexandre Pinheiro Torres - José Gil - Helder Costa - Alice - AmorAlice Vieira - Almeida Faria - Almeida Garrett - Almeida Negreiros - Altino do Tojal - ContigoGuerra - Alves Redol - Ana Eduarda Santos - Ana Maria Magalhães - Isabel Alçada - Desejo-teMagina - Ana Miranda - Ana Paula Tavares - António Alçada Baptista - António - HojeAntónio José Saraiva tónio Lobo Antunes - António Damásio - António Ramos Rosa -EAntónio Tabucchi - Antunes da Silva - Aqilino Ribeiro - Augusto Abelaira - Bernardim - SempreBocage - Camilo Castelo Branco - Luís de Camões - Carlos Oliveira - Chico Buarque - Clara -TePinto Correia - Daniel Sampaio - Darcy Ribeiro - David Mourão Ferreira - Dinis Machado - Desejareide Queiroz - Eduardo Lourenço - Eduardo Prado Coelho - Erico Veríssimo - Eugénio Andrade - Amo-teFernando Campos - Fernando Echevarría - Fernando Namora - Fernando Urbano -Muito

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