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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA RENATA DOS SANTOS GALVÃO DRENAGEM URBANA E PLANEJAMENTO AMBIENTAL: VALE DO RIO JOÃO MENDES (NITERÓI/RJ) NITERÓI 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

RENATA DOS SANTOS GALVÃO

DRENAGEM URBANA E PLANEJAMENTO AMBIENTAL: VALE DO RIO JOÃO MENDES (NITERÓI/RJ)

NITERÓI 2008

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G182 Galvão, Renata dos Santos

Drenagem urbana e planejamento ambiental: Vale do Rio João

Mendes (Niterói, RJ) / Renata dos Santos Galvão. – Niterói : [s.n.],

2008. 80 f.

Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade

Federal Fluminense, 2008.

1.Escoamento urbano. 2.Drenagem do solo. 3.Planejamento

ambiental. 4.Crescimento urbano. 5.Bacia hidrográfica. I.Título. CDD 551.4

AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a minha orientadora, Professora Drª Sandra Baptista da

Cunha, pela atenção e cumplicidade ao longo da pesquisa.

Ao arquiteto Ademir Lourenço, da Prefeitura Municipal de Niterói, por todo o material

cedido da Secretaria Municipal de Urbanismo.

Ao Professor Dr. Raul Sanchez pela presença nos diversos momentos da eleboração do

trabalho.

Ao Professor Dr. Reiner Rosas por ter cedido as fotografias aéreas e imagens de

satélites da área de estudo.

Ao Júlio César Regadas (UFF) pela ajuda na delimitação no ArcView das sub-bacias da

bacia hidrográfica do rio João Mendes.

Ao Cristiano Camacho (UERJ/FFP) pelo auxílio na contabilização das ordens

hierárquicas e dos segmentos de canais do rio João Mendes.

Agradeço especialmente ao Felipe Leitão (UFF) que, com toda disponibilidade e

paciência, foi essencial no georreferenciamento das fotografias aéreas e imagens de satélite

da área de estudo, na elaboração dos mapas de uso e cobertura do solo na bacia

hidrográfica do rio João Mendes e na medição das seções transversais do rio.

A secretaria do curso de Pós-Graduação em Geografia da UFF, por toda a atenção ao

longo desses dois anos.

E, por último, a minha família e ao Léo que me apoiaram em todos os momentos.

i

RESUMO

O tema da pesquisa envolve as alterações na rede de drenagem urbana em

ambiente tropical devido ao crescimento urbano, ocasionando modificações dos canais com obras de engenharia e ocupação da faixa marginal de proteção. A bacia hidrográfica do Rio João Mendes, localizada no município de Niterói, estado do Rio de Janeiro, começou a apresentar alterações tanto no uso do solo quanto no sistema de drenagem a partir da década de 1970, quando foi intensificada a ocupação da Região Oceânica de Niterói. Como na maior parte das cidades dos países tropicais, o processo de urbanização se deu de forma desordenada, sem planejamento. Busca como objetivo geral entender a dinâmica das mudanças dos canais na rede de drenagem da bacia hidrográfica do rio João Mendes numa tentativa de fornecer subsídios ao planejamento da área. São objetivos específicos: (1) Classificar o uso e a cobertura do solo na bacia hidrográfica para os anos de 1976, 1996, 2001 e 2003 entendendo que as mudanças ocorridas na escala temporal afetam o comportamento da rede de drenagem, em especial quanto ao crescimento das áreas urbanas; (2) Fazer o levantamento das principais obras de engenharia realizadas no canal principal ao longo de 26 anos (1980 - 2005) e (3) Avaliar as conseqüências espaciais das obras de engenharia nas sub-bacias e nos canais principais de cada uma delas. A metodologia utilizada no trabalho envolve o levantamento histórico da ocupação da bacia hidrográfica (a partir da década de 1970), as mudanças no uso e cobertura do solo (nos anos de 1976, 1996, 2001 e 2003) e as alterações na rede de drenagem (1976 e 1996). Também foram elencadas as principais obras de engenharia realizadas nos canais (de 1980 a 2008). Devido ao grande crescimento urbano, houve o aumento da área impermeabilizada na bacia hidrográfica em detrimento das áreas de brejo e floresta. A rede de drenagem foi substancialmente alterada ao longo de 20 anos, com modificações na quantidade e no comprimento dos canais. Palavras-chave: Rede de drenagem urbana, crescimento urbano, obras de engenharia.

ii

ABSTRACT The theme of the research involves changes in the network of drainage in the urban environment due to the tropical urban growth, causing changes in channels with engineering works and occupation of the band marginal protection. The basin of the River John Mendes, located in the city of Niteroi, state of Rio de Janeiro, began to make changes both in the use of the soil as in the system of drainage from the 1970s, when it was intensified the occupation of the Oceanic Region, Niterói. As in most cities of tropical countries, the process of urbanization happened so disorganized, without planning. Search as general objective understanding of the dynamics of changes in the network of drainage channels of the river basin John Mendes in an attempt to provide subsidies to the planning of the area. They are specific objectives: (1) Sort use and soil cover in the basin for the years of 1976, 1996, 2001 and 2003 and that changes in the time scale affect the behavior of the network of drainage, particularly on the growth of urban areas, (2) take stock of the major engineering works carried out in the main channel over 26 years (1980 - 2005) and (3) assess the consequences of space engineering works in the sub-basins and the main channels of each one. The methodology used in the work involves the removal of the occupation of historic basin (from the 1970s), changes in the use and soil cover (in the years of 1976, 1996, 2001 and 2003) and changes in the network of drainage (1976 and 1996). Also listed were the major engineering works carried out in channels (from 1980 to 2008). Due to the large urban growth, there was an increase of the area sealed in the basin to the detriment of the areas of brejo and forest. A network of drainage has been substantially changed over 20 years, with changes in the amount and length of the channels. Keywords: Network of urban drainage, urban growth, engineering works.

iii

SUMÁRIO PÁGINA

INTRODUÇÃO..........................................................................................................................1

1 – ESTRUTURA TEÓRICO-CONCEITUAL............................................................................5

1.1. Planejamento ambiental..............................................................................................5

1.2. Urbanização ................................................................................................................5

1.2.1. Mudanças no ciclo hidrológico...........................................................................6

1.2.2. Mudanças na morfologia do canal e nas densidades

de drenagem e hidrográfica...............................................................................7

1.3. Ambiente urbano em áreas tropicais..........................................................................8

1.3.1. Crescimento desordenado.................................................................................8

1.3.2. Enchentes, lixo e esgoto....................................................................................9

1.3.3. Produção de sedimentos.................................................................................10

1.4. Obras de engenharia e principais impactos..............................................................11

1.5. Planejamento ambiental urbano e a melhoria do sistema de drenagem..................13

2 – METODOLOGIA...............................................................................................................14

3 – PROCESSO HISTÓRICO.................................................................................................17

3.1. Uso e cobertura do solo na bacia hidrográfica..........................................................22

3.2. Principais obras de engenharia realizadas nos canais..............................................28

4 – CONSEQÜÊNCIAS ESPACIAIS DAS OBRAS DE

ENGENHARIA (1976 A 1996)..........................................................................................32

5 – AMBIENTE DO CANAL E GESTÃO 2008........................................................................51

5.1. Situação do canal principal........................................................................................51

5.1.1. Seções transversais..........................................................................................53

5.1.2. Setores do rio principal.....................................................................................56

5.1.3. Desembocaduras dos afluentes das sub-bacias..............................................58

5.2. Gestão.......................................................................................................................60

5.2.1. Limpeza dos canais..........................................................................................60

5.2.2. Resgate da Faixa Marginal de Proteção...........................................................62

CONCLUSÃO.........................................................................................................................65

RECOMENDAÇÕES..............................................................................................................67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................68

iv

LISTA DE FIGURAS PÁGINA

Figura 1: Localização do município da bacia hidrográfica do rio João

Mendes. Destacam-se os bairros, principais ruas e áreas de

preservação ambiental...............................................................................................3

Figura 2: Principais Loteamentos da bacia hidrográfica do rio João Mendes

em 1976...................................................................................................................17

Figura 3: Estação de Tratamento de Esgoto de Itaipu...........................................................21

Figura 4: Encanamento a ser implantado pela ETE de Itaipu................................................21

Figura 5: Área urbana esparsa da bacia hidrográfica do rio João Mendes.

Ao fundo, a Reserva Ecológica Darcy Ribeiro........................................................23

Figura 6: Área urbana média da bacia hidrográfica do rio João Mendes.

Ao fundo, o Parque Estadual da Serra da Tiririca...................................................23

Figura 7: Área urbana densa da bacia hidrográfica do rio João Mendes:

Avenida Ewerton Xavier...........................................................................................24

Figura 8: Vista parcial da área de brejo da laguna de Itaipu..................................................24

Figura 9: Uso e Cobertura do solo na bacia hidrográfica do rio João Mendes,

nos anos de (A) 1976, (B) 1996, (C) 2001 e (D) 2003...........................................26

Figura 10: Trecho totalmente concretado do rio João Mendes..............................................29

Figura 11: Galeria em formato de binóculo sob a Estrada Francisco da Cruz

Nunes, em Itaipu...................................................................................................30

Figura 12: Mesmo trecho sob a Estrada Francisco da Cruz Nunes após a

retirada da galeria. Destaca-se a quantidade de lixo.............................................30

Figura 13: Execução de obras na seção no rio João Mendes. As margens e o

leito são totalmente concretados............................................................................31

Figura 14: Após anos, a obra não foi concluída.....................................................................31

Figura 15: Sub-bacias da bacia hidrográfica do rio João Mendes em (A) 1976 e

(B)1996....................................................................................................................33

Figura 16: Perfis longitudinais dos afluentes do rio João Mendes nos anos

de 1976 e 1996..............................................................................................40 e 41

Figura 17: Situação atual do rio João Mendes: (1) casa com degraus,

(2a) estruturas de concreto na seção transversal, (2b) troncos e lixo

dificultam a passagem da água, (3) palafitas, (4) moradias de padrão

precário e (5) margem do rio concretada por morador..........................................52

Figura 18: Seções transversais do rio João Mendes em 15/11/2007.....................................54

v

Figura 19: Setores do rio João Mendes: (A-B) canal natural, (B-C) canal com

muro lateral, (C-D) canal natural, (D-E) canal com muro lateral, (E-F)

canal concretado, (F-G) canal natural, (G-H) canal com muro lateral, (H-I)

canal concretado e (I-J) canal com muro lateral...................................................57

Figura 20: Identificação das desembocaduras dos afluentes das sub-bacias do rio

João Mendes com acesso disponível (1) Terra Nova, (2) Argeu

Fazendinha, (4) Soter, (5) Vale das Esmeraldas, (6) Rua 9, (9) Engenho

do Mato I e (10) Engenho do Mato II.....................................................................59

Figura 21: (A) A equipe a serviço da Prefeitura realiza a limpeza da seção

transversal totalmente concretada do rio. Lixo doméstico e sedimentos

são retirados e as margens são capinadas. (B) Mesmo trecho 3 meses

depois....................................................................................................................61

Figura 22: Praças construídas nos terrenos às margens do rio João Mendes

fazem parte do Projeto de Renaturalização da Prefeitura Municipal

de Niterói...............................................................................................................63

Figura 23: Primeiro edifício construído com a troca de terrenos nas margem do rio

João Mendes na esquina da Estrada Francisco da Cruz Nunes com a

Avenida Ewerton Xavier.........................................................................................64

vi

LISTA DE TABELAS

PÁGINA

Tabela 1: Taxa de crescimento populacional, segundo as regiões de

planejamento – Niterói...........................................................................................19

Tabela 2: População residente nos bairros pertencentes à bacia hidrográfica

do rio João Mendes e no município de Niterói (1970-2000)...................................19

Tabela 3: Domicílios com abastecimento de água nos bairros pertencentes à

bacia hidrográfica do rio João Mendes –2000........................................................19

Tabela 4: Domicílios por esgotamento sanitário, segundo os bairros localizados

na bacia hidrográfica do rio João Mendes para o ano de 2000..............................20

Tabela 5: Uso e Cobertura do solo na bacia hidrográfica do rio João Mendes......................25

Tabela 6: Áreas permeáveis e impermeáveis na bacia hidrográfica do rio

João Mendes...........................................................................................................25

Tabela 7: Comprimento da drenagem principal e área das sub-bacias que

constituem a bacia hidrográfica do rio João Mendes em 1976 e 1996...................34

Tabela 8: Morfometria – Sub-bacias Hidrográficas do Rio João Mendes – 1976..................35

Tabela 9: Morfometria – Sub-bacias Hidrográficas do Rio João Mendes – 1996..................36

Tabela 10: Densidade hidrográfica e densidade de drenagem das sub-bacias

do rio João Mendes para os anos de 1976 e 1996...............................................37

Tabela 11: Aumento ou diminuição dos parâmetros morfométricos de 1976 para

1996 das sub-bacias da bacia hidrográfica do rio João Mendes..........................38

vii

INTRODUÇÃO De conhecimento dos cientistas e planejadores, o crescimento espacial urbano

provoca mudanças nos tipos de uso do solo e na drenagem, em especial com relação ao

encurtamento dos canais e mudanças no tipo de padrão dos mesmos. Como conseqüência,

associadas à redução da capacidade do canal, as inundações tornam-se freqüentes.

De acordo com Tucci (1995), a canalização dos pontos críticos é um tipo de solução

que tem uma visão particular de um trecho da bacia e apenas transfere a inundação de um

lugar para outro.

Ainda, quando a área urbana de uma bacia hidrográfica for superior a 10% do valor

de sua área total, os problemas relacionados aos canais começam a tomar volume

(CHRISTOFOLETTI, 1980).

Segundo Ebisemiju (1989), nos trópicos úmidos a grande produção de sedimentos

com rápida deposição no leito reduzem a capacidade dos canais. Isto porque em áreas

urbanas, de maneira geral, os cursos d’água têm pouca velocidade devido ao pequeno

gradiente de declividade favorecendo a formação de bancos e promovendo enchentes.

Muitas vezes, edificações são construídas sobre pequenos canais urbanos, que são

aterrados, desviados ou canalizados. No entanto, tinham importante papel no retardamento

dos efeitos das enchentes, fazendo parte de toda a complexidade hidrológica da bacia,

conforme afirmam Dunne e Leopold (1978).

Na maioria dos casos, a urbanização ocorre no sentido de jusante para montante,

devido às características do relevo. Quando o poder público não controla essa urbanização,

a combinação dos impactos dos diferentes loteamentos aumenta a ocorrência de enchentes

à jusante. As conseqüências dessa falta de planejamento e regulamentação são sentidas

em, praticamente, todas as cidades de médio e grande porte do país (TUCCI, 1995).

Os problemas envolvendo canalização vieram à tona nos anos de 1970, quando os

efeitos adversos no ambiente foram considerados. Desde então, a controvérsia a respeito

das conseqüências das práticas convencionais de engenharia foram estendidas a outros

países, criando esforços para implementar soluções alternativas (BROOKES, 1988).

A renaturalização de rios não significa o retorno a uma paisagem original, mas sim

um desenvolvimento sustentável dos rios e da paisagem. De acordo com Binder (1998), a

recuperação e renaturalização de rios são sempre realizáveis, mesmo quando apresentam

limitações, em trechos onde não há áreas marginais a disposição – fundamentalmente em

áreas urbanas. As possibilidades para que haja a evolução natural são inúmeras.

Localizada na Região Oceânica do município de Niterói, estado do Rio de Janeiro,

entre as latitudes 22° 55’ e 22° 57’ 30” S e as longitudes 43° 03’ 45” e 43° 00’ 00” W, a bacia

hidrográfica do rio João Mendes possui uma área de 17 km2 e abrange os bairros do

1

Engenho do Mato, Itaipu, Maravista, Santo Antônio, Serra Grande e Várzea das Moças

(Figura 1). Esta bacia começou a apresentar alterações no sistema de drenagem a partir da

década de 1970, quando foi intensificada sua ocupação.

O rio João Mendes tem sua nascente na Serra do Malheiro e sua foz na laguna de

Itaipu, sendo seu principal contribuinte.

No trecho do alto curso, compreendido entre a nascente até a Estrada do Engenho

do Mato, seu curso possui boa cobertura florestal e grande declividade.

Deve ser notificado que as encostas dos divisores topográficos das águas da bacia

ainda permanecem preservadas com florestas em virtude da presença do Parque Estadual

da Serra da Tiririca e da Reserva Ecológica Darcy Ribeiro.

Nos médio e baixo cursos, da Estrada do Engenho do Mato até a Estrada Francisco

da Cruz Nunes, o rio apresenta pouca declividade e margens totalmente loteadas. Nesse

trecho da bacia a urbanização varia de esparsa a densa quanto mais próxima às principais

vias de acesso, com ocupações mais antigas.

Devido à ocupação do solo sem planejamento e com a retida da mata ciliar,

processos erosivos se instalaram e provocam o acúmulo de sedimentos no leito,

contribuindo tanto para o seu assoreamento quanto para o da laguna de Itaipu.

A expansão dos loteamentos provocou mudanças nos cursos d’água e deficiências

na drenagem. Obstáculos para a passagem da água no rio como construções, lixo e

acúmulo de sedimentos agravam ainda mais esta situação. Os divisores da bacia

hidrográfica controlam, pela legislação, a expansão urbana com a presença do Parque

Estadual da Serra da Tiririca e da Reserva Ecológica Darcy Ribeiro.

O objetivo geral do trabalho é entender a dinâmica da mudança de canais na rede de

drenagem da bacia hidrográfica do rio João Mendes numa tentativa de fornecer subsídios ao

planejamento da área.

São objetivos específicos:

(1) Classificar o uso e a cobertura do solo na bacia hidrográfica para os anos de 1976,

1996, 2001 e 2003 entendendo que as mudanças ocorridas na escala temporal

afetam o comportamento da rede de drenagem, em especial quanto ao crescimento

das áreas urbanas.

(2) Fazer o levantamento das principais obras de engenharia realizadas no canal

principal ao longo de 26 anos (1980 - 2005).

(3) Avaliar as conseqüências espaciais das obras de engenharia nas sub-bacias e nos

canais principais de cada uma delas.

A presente pesquisa pretende contribuir não só para o estudo da área elegida, mas

também para bacias que apresentem características e problemas similares, tendo em vista o

planejamento ambiental.

2

Figura 1: Localização da bacia hidrográfica do rio João Mendes. Destacam-se os bairros,

principais ruas e áreas de preservação ambiental.

3

No capítulo um faz-se uma discussão teórica acerca do tema. A metodologia

utilizada no trabalho consta no capítulo dois. O terceiro capítulo apresenta a área de estudo:

caracterização, principais problemas, histórico de ocupação, mudanças no uso e na

cobertura do solo na bacia hidrográfica do rio João Mendes. Já no capítulo quatro são

abordadas as conseqüências espaciais das obras de engenharia realizadas na bacia

hidrográfica do rio João Mendes ao longo de 20 anos. O quinto capítulo apresenta o

ambiente do canal atualmente, analisa seções transversais, divide o rio em setores,

identifica as desembocaduras dos afluentes e aborda a gestão em 2008.

4

5

CAPÍTULO 1 ESTRUTURA TEÓRICO-CONCEITUAL

1.1. Planejamento ambiental

Modificações na cobertura do solo durante a urbanização produzem mudanças no

tipo ou na magnitude dos processos de escoamento, e causa ao planejador muitos

problemas complexos. O aumento do escoamento em tempestades leva a dificuldades no

controle de drenagem, manutenção dos canais, recarga de águas subterrâneas e qualidade

da água dos córregos. As soluções para esses problemas são caras, embora muitas das

dificuldades e custos podem ser evitados se os planejadores entenderem os processos de

escoamento de uma região urbana e os levarem em conta nas primeiras etapas do

planejamento (DUNNE e LEOPOLD, 1978).

O termo drenagem urbana é entendido por PORTO et al (1993 In OLIVEIRA, 1999)

como o conjunto de medidas com o objetivo de minimizar os riscos a que as populações

estão sujeitas, diminuir os prejuízos causados por inundações e possibilitar o

desenvolvimento urbano de forma harmônica, articulada e sustentável Com o crescimento

desordenado das cidades, verificado nos últimos anos, a situação tornou-se ainda pior, com

a ocupação nas margens dos rios e com novos valores atingidos pelos picos de cheia

(OLIVEIRA, 1999).

Segundo Santos (2004: 28): “De uma forma geral, o planejamento ambiental consiste na adequação de ações à potencialidade, vocação local e à sua capacidade de suporte, buscando o desenvolvimento harmônico da região e a manutenção da qualidade do ambiente físico, biológico e social. O planejamento ambiental fundamenta-se na interação e integração dos sistemas que compõem o ambiente (...) e que o planejador que trabalha sob esse prisma, de uma forma geral, tem uma visão sistêmica e holística, mas tende primeiro a compartimentar o espaço, para depois integrá-lo”.

1.2. Urbanização Quando uma área é ocupada por construções de casas, prédios ou outro propósito

urbano, as conseqüências hidrológicas imediatas são a diminuição da capacidade de

infiltração e o aumento da eficiência ou velocidade de transmissão da água nos canais ou

condutos (LEOPOLD, 1968; RANTZ, 1971 In DUNNE E LEOPOLD, 1978). Como efeitos

adversos tem-se o aumento na produção de sedimentos – pelo menos temporariamente – e,

6

em muitos casos, uma diminuição na densidade de drenagem ou número de canais para

transportar o aumento da carga de sedimentos.

No Brasil, a crescente urbanização trouxe a necessidade de obras de infra-estrutura.

No entanto, a ineficiência de um planejamento urbano adequado tornou importante o estudo

da morfologia do canal, uma vez que destaca a evolução dos processos na forma do rio. No

decorrer dos anos, o processo de urbanização tem repercussões no rio, no trecho urbano

como em toda a rede de drenagem da bacia hidrográfica, podendo ser identificadas na

própria dinâmica do rio, na área urbana, a montante e a jusante da mesma (VIEIRA, 2003).

1.2.1. Mudanças no ciclo hidrológico

Quando o homem faz mudanças no uso do solo ou em sua vegetação, altera alguns

aspectos do ciclo hidrológico com efeitos na coleta de água nos sistema de canais. Esses

efeitos podem incluir a quantidade, o tempo e a localização do alcance da água nos canais.

A rede de drenagem, como um sistema interconectado, pode sofrer uma variedade de

conseqüências vindas de lugares distantes, onde a mudança foi feita. A essência do

planejamento inclui a antecipação dessas conseqüências (DUNNE E LEOPOLD, 1978).

Com a impermeabilização do solo, o escoamento ocorre, fundamentalmente, pelos

condutos e canais, reduzindo a infiltração e aumentando o volume que escoa pela

superfície. Como a capacidade de escoamento nas redes de coletas pluviais é superior à

das superfícies naturais e dos riachos, devido à urbanização, o escoamento superficial

chega mais rapidamente à seção principal, provocando vazões maiores que as naturais

(TUCCI e GENZ, 1995).

Durante as estiagens, há redução da recarga dos aqüíferos, o que produz o

rebaixamento do lençol freático e a diminuição das vazões (TUCCI e GENZ, 1995).

A mais significativa mudança nos processos de escoamento resulta da cobertura de

áreas com superfícies impermeáveis, telhados, calçadas, ruas e estacionamentos.

Ralos e bueiros são construídos em áreas urbanas para drenar rapidamente a água

para os canais, que são freqüentemente estreitados, aprofundados ou retificados com

concreto para torná-los hidraulicamente eficientes. Cada uma dessas mudanças aumentam

a eficiência do canal, transmitindo o fluxo de cheia para jusante mais rapidamente. Durante

as tempestades, as áreas de baixo curso acumulam água mais rapidamente do que em rios

naturais, produzindo picos de cheia. Há o aumento de velocidade das águas no canal,

diminuindo o tempo de permanência da água em determinado ponto do canal. Áreas

residenciais ribeirinhas sofrem erosão e desvalorização imobiliária. (DUNNE e LEOPOLD,

1978)

7

Em resumo, como impactos hidrológicos advindos da urbanização temos:

inundações e alterações no escoamento, aumento da produção de sedimentos, degradação

da qualidade da água e contaminação dos aqüíferos.

1.2.2. Mudanças na morfologia do canal e nas densidades de drenagem e hidrográfica

As modificações na morfologia do canal, especialmente em áreas urbanas, vêm

ocasionando desajuste no estado de relativa estabilidade do canal, podendo levar décadas

para se adequar à nova realidade. O sistema fluvial, como sistema aberto em relação ao

equilíbrio dinâmico, é dependente da variável geometria do canal (Sala e Inbar, 1992 In

Vieira e Cunha, 2005). Nesse sentido, de acordo com Vieira (2003: 11):

“O estudo das seções transversais ao longo do canal ajuda na verificação da capacidade de escoamento do rio, favorecendo a pesquisa e o desenvolvimento necessários às novas tecnologias apropriadas ao controle de cheias urbanas, que requerem dados mais detalhados, servindo como caminho para projetos e construções adequadas”.

A densidade dos canais em uma paisagem é uma medida facilmente obtida que

revela a dissecação do terreno. A densidade de drenagem é definida como o comprimento

de todos os canais de uma bacia hidrográfica dividido pela área da mesma (DUNNE e

LEOPOLD, 1978).

Esta medida de dissecação é associada a várias condições geomorfológicas e

hidrológicas de interesse do planejador. Áreas com alta densidade de drenagem estão

associadas com altos picos de cheia, grande produção de sedimentos, dificuldade de

acesso e altos custos para construções de prédios e instalação de pontes, estradas, entre

outros (DUNNE e LEOPOLD, 1978).

Nas palavras de Christofoletti (1980: p. 115): “O cálculo da densidade de rios é

importante porque representa o comportamento hidrográfico de determinada área, em um

de seus aspectos fundamentais: a capacidade de gerar novos cursos d’água”.

A densidade de drenagem relaciona o comprimento total dos canais de escoamento

com a área da bacia hidrográfica.

De acordo com Christofoletti (1980: p. 116): “o cálculo da densidade de drenagem é

importante na análise das bacias hidrográficas porque apresenta relação inversa com o

comprimento dos rios. À medida que aumenta o valor numérico da densidade há diminuição

quase proporcional do tamanho dos componentes fluviais das bacias de drenagem”.

8

A densidade hidrográfica é a relação existente entre o número de rios ou cursos

d’água e a área da bacia hidrográfica. O cálculo da densidade hidrográfica tem por objetivo

comparar a freqüência ou a quantidade de cursos de água existentes em uma área de

tamanho padrão, como o quilômetro quadrado, por exemplo.

Problemas enfrentados pelo planejador devem ter ênfase no baixo curso. Quanto

mais a jusante um curso, mais problemas serão colocados pelos usos do solo à montante.

(DUNNE e LEOPOLD, 1978).

1.3. Ambiente urbano em áreas tropicais Ao tentar fazer transições de teorias e práticas de países com clima temperado para

países situados nos trópicos úmidos, é preciso levar em conta três pontos importantes. O

primeiro é que a maioria dos países nos trópicos tem uma taxa de crescimento urbano mais

elevada que nos Estados Unidos ou na Europa. Em segundo lugar, alguns componentes do

ambiente físico podem se comportar de maneira diferente, tendendo a acentuar as

mudanças nos processos geomorfológicos que a urbanização acarreta. E terceiro, há pouca

informação disponível, pelo menos na forma de publicação, sobre hidrologia urbana e

sedimentação nos trópicos (GUPTA, 1984).

Segundo Ebisemiju (1989), nos trópicos úmidos a grande produção de sedimentos

com rápida deposição no leito reduzem a capacidade dos canais. Isto porque em áreas

urbanas, de maneira geral, os cursos d’água têm pouca velocidade devido ao pequeno

gradiente de declividade favorecendo a formação de bancos e promovendo enchentes.

Infelizmente, os trópicos úmidos abarcam um grande número de países em

desenvolvimento, com recursos limitados e problemas maiores que os causados pela

degradação do ambiente em função da urbanização. Estes problemas acabam recebendo

menor prioridade e reconhecimento pela população (GUPTA, 1984).

1.3.1. Crescimento desordenado

O desenvolvimento urbano gera maior impermeabilização do solo – com a

construção de edificações, asfaltamento de ruas, etc. Desse modo, a parcela da água que

infiltrava no solo passa a escoar pelos condutos, aumentando o escoamento superficial. O

volume que escoava lentamente pela superfície do solo e ficava retido pelas plantas, passa

a escoar diretamente para o canal, exigindo maior capacidade de escoamento das seções.

Tucci (1995) aponta como principais efeitos da urbanização o aumento da vazão máxima no

canal, a antecipação do pico de descarga e o aumento do escoamento superficial.

9

Assim, podem ocorrer inundações pontuais provocadas pelo estrangulamento da

seção do rio devido a aterros para aproveitamento da área e assoreamento do leito do rio,

além de erros de execução e projeto de drenagem de estradas, que, muitas vezes, são

projetadas sem considerar seu impacto sobre a drenagem. Tucci (1995: 25) ainda

complementa: “A tendência de controle das cheias urbanas devido à urbanização é que ele seja realizado, na maioria das vezes, através da canalização dos trechos críticos. Esse tipo de solução segue a visão particular de um trecho da bacia, sem que as conseqüências sejam previstas para o restante da mesma ou dentro de diferentes horizontes de ocupação urbana. A canalização dos pontos críticos acaba apenas transferindo a inundação de um lugar para outro na bacia”.

Nesse sentido, faz-se necessário avaliar a variação dos valores de capacidade do

canal em direção a jusante nos canais urbanos, pois são desproporcionais (os valores nem

sempre aumentam em direção à jusante). Isto está relacionado às obras setoriais realizadas

nos canais, que tornam suas capacidades insuficientes em épocas de chuva, ocorrendo

inundações (CUNHA, 2006).

Depois que o espaço está todo ocupado, as soluções disponíveis são extremamente

caras, tais como canalizações, diques com bombeamentos, barragens, entre outras (TUCCI,

1995).

1.3.2. Enchentes, lixo e esgoto

O lançamento de esgoto in natura agrava a situação ecológica e sanitária dos rios,

que deixam de cumprir suas múltiplas funções e usos e passam a ser apenas receptores de

dejetos. A população ribeirinha, que lança seus esgotos diretamente nas águas, sofre com o

mau cheiro e com o perigo das doenças de veiculação hídrica, não podendo aproveitar

essas águas para o lazer. Com isso, verifica-se que a primeira etapa para a recuperação de

rios e córregos, tornando-os mais naturais, é sanear e tratar os efluentes antes de lançá-los.

Sendo assim, quando houver planejamento de novos empreendimentos, deverá ser previsto

logo na primeira etapa o tratamento de esgotos. Torna-se também indispensável a coleta de

lixo e ao mesmo tempo conscientizar a população ribeirinha de dispor o lixo corretamente

(SELLES, et al., 2001).

O impacto da urbanização pode ocorrer sobre a quantidade de água (enchentes),

quantidade de sedimentos e qualidade da água. O controle pode atender a um ou mais

desses problemas. (TUCCI e GENZ, 1995).

10

1.3.3. Produção de sedimentos

O assoreamento em corpos d’água pode ocorrer dentro de um processo natural de

redução da capacidade de transporte sólido, associado, geralmente, à redução dos níveis

de energia de escoamento. Como exemplo desse processo, tem-se o assoreamento em

desembocaduras de rios, em estuários, lagos ou reservatórios artificiais. Esse processo

pode ser acelerado em decorrência de ocupações inadequadas na bacia de drenagem, sem

os devidos cuidados conservacionistas, com o conseqüente incremento no aporte sólido

(RAMOS, 1995).

Alguns fatores afetam a erosão e o transporte de sedimentos em áreas urbanas. Por

exemplo, na implantação de loteamentos e de obras públicas ou privadas de grande porte,

de maneira geral, ocorrem grandes movimentações de terra, onde se altera, de forma

significativa, a topografia local (RAMOS, 1995).

Nas regiões mais críticas na produção de sedimentos, o desenvolvimento urbano é

muito rápido, com taxas de crescimento superiores às previstas. Também é comum

existirem situações de planejamento urbano precário, ou praticamente inexistente, como

agravante do problema (RAMOS, 1995). De acordo com o autor, como conseqüência do

assoreamento, há uma redução na capacidade de descarga líquida do córrego, que faz

parte do sistema de drenagem da cidade, acarretando inundações de áreas urbanas

ribeirinhas.

Segundo Almeida et al. (1993 In RAMOS, 1995), a origem de processos erosivos

como esse pode ser resumida nos seguintes fatores mais importantes:

- o sistema viário, de maneira geral, tem implantação inadequada, com ruas

perpendiculares às curvas de nível, ausência de pavimentação, guias e sarjetas;

- os núcleos habitacionais são implantados com infra-estrutura deficiente;

- a maioria dos loteamentos e núcleos habitacionais não contam com sistemas de

drenagem de águas pluviais e servidas, ou, quando têm são deficientes.

Em áreas com alta susceptibilidade de erosão, Almeida et al. (1993 In RAMOS,

1995) recomendam que, na elaboração dos projetos de drenagem, sejam consideradas

essas características importantes do meio físico, principalmente nas ruas de maior declive.

Recomendam, ainda nesses casos, que se estabeleçam mecanismos institucionais que

disciplinem o parcelamento do solo, com a obrigatoriedade da implantação de obras de

controle de erosão e de infra-estrutura obrigatória do loteamento, entendendo-se essa última

com sendo a pavimentação de ruas e um sistema de drenagem adequado.

11

1.4. Obras de engenharia e principais impactos A canalização é um dos mais significativos impactos do homem no sistema fluvial,

envolvendo a direta modificação da calha do rio. É o termo usado para abarcar todas as

intervenções das obras de engenharia - alargamento, aprofundamento e retificação do canal

fluvial, construção de canais artificiais e de diques, proteção das margens e remoção de

obstruções no canal - com os propósitos de controle de cheias, melhoria da drenagem,

manutenção da navegação, redução da erosão nas margens, desvios para construção de

estradas, entre outros (BROOKES, 1988; CUNHA, 1995).

A história da canalização é muito antiga. Exemplos das primeiras formas da

canalização vêm da Europa, onde canais eram construídos para escoar não apenas água,

mas esgoto e lixo para fora das cidades, além de desvios nos cursos para irrigação. Essas

técnicas se difundiram por todo o mundo (BROOKES, 1988).

Os problemas envolvendo canalização vieram à tona nos anos de 1970 nos Estados

Unidos, quando os efeitos adversos no ambiente foram considerados. Desde então, a

controvérsia a respeito das conseqüências das práticas convencionais de engenharia foram

estendidas a outros países, particularmente na Europa, criando esforços para implementar

soluções alternativas (BROOKES, 1988).

O controle de vazões na macrodrenagem urbana pode ser realizado por medidas

estruturais ou não-estruturais. As medidas estruturais são aquelas que modificam o rio,

evitando prejuízos decorrentes das inundações, enquanto que as medidas não-estruturais

são aquelas em que os prejuízos são reduzidos pela melhor convivência da população com

as enchentes (TUCCI e GENZ, 1995).

As principais medidas estruturais são: canalização, reservatório de amortecimento e

diques. As medidas não-estruturais envolvem o zoneamento de áreas de inundações,

através da regulamentação do uso do solo com risco de inundação, ocupação com áreas de

lazer, seguros contra inundações e previsão em tempo real, entre outras (TUCCI e GENZ,

1995)

Os impactos sobre a biota, que também é reduzida com as obras de engenharia,

também merecem destaque. A vegetação ciliar é de suma importância para proteger e

estabilizar o canal e sua retirada favorece a erosão e a ocupação das margens.

Segundo Ebisemiju (1989), nas áreas tropicais as margens dos rios são compostas

por material intemperizado, que poderia sofrer com processos erosivos, alargando suas

calhas para conter o fluxo. Ocorre que em áreas tropicais urbanas (CUNHA, 2006), em

vários casos, as seções transversais são revestidas com concreto em formato retangular ou

trapezoidal, sendo difícil a manutenção da mata ciliar.

12

A retirada da vegetação e sua substituição por coberturas impermeáveis gera menor

infiltração da água no solo e acarreta escoamento superficial. Nesse sentido, a preservação

dos verdes urbanos e de áreas permeáveis diminuiriam as alterações nos canais urbanos,

com o incremento de sedimentos e picos de cheia, por exemplo. Além da preservação de

espécies vegetais e animais e da melhoria da qualidade ambiental.

As modificações na geometria do canal, especialmente em áreas urbanas, vêm

ocasionando desajuste no estado de relativa estabilidade do canal, podendo levar décadas

para se adequar à nova realidade. O sistema fluvial, como sistema aberto em relação ao

equilíbrio dinâmico, é dependente da variável geometria do canal (SALA e INBAR, 1992 In

VIEIRA e CUNHA, 2005). Nesse sentido, de acordo com Vieira (2003: 11):

“O estudo das seções transversais ao longo do canal ajuda na verificação da capacidade de escoamento do rio, favorecendo a pesquisa e o desenvolvimento necessários às novas tecnologias apropriadas ao controle de cheias urbanas, que requerem dados mais detalhados, servindo como caminho para projetos e construções adequadas”.

“O controle do impacto do aumento do escoamento devido à urbanização, na

macrodrenagem, tem sido realizado, na realidade brasileira, através da canalização. O canal

é dimensionado para escoar uma vazão de projeto para tempos de retorno que variam de 25

a 100 anos”. (TUCCI e GENZ, 1995).

Tucci e Genz (1995) descrevem como se dá a ocupação da bacia hidrográfica e suas

conseqüências:

“No primeiro estágio de ocupação da bacia, ela não está totalmente urbanizada, e as

inundações ocorrem no trecho urbanizado, onde algumas áreas não estão ocupadas,

porque inundam com freqüência.

Com a canalização desse trecho, as inundações deixam de ocorrer. Nas áreas que,

antes, eram o leito maior do rio e sofriam freqüentes inundações, existiam favelas, ou eram

desocupadas. Essas áreas tornam-se valorizadas pela suposta segurança do controle de

enchentes. O loteamento dessas áreas leva a uma ocupação nobre de alto investimento.

Com o desenvolvimento da bacia a montante e o respectivo aumento da vazão máxima, que

não é controlada pelo poder público, voltam a ocorrer inundações no antigo leito maior.

Nessa etapa, não existe mais espaço para ampliar lateralmente o canal, sendo necessário,

aprofundá-lo, aumentando os custos em escala quase exponencial, já que é necessário

estruturar as paredes do canal.

A canalização amplia a capacidade do rio em transportar uma determinada vazão,

através do aumento da seção, diminuição da rugosidade ou aumento da declividade da linha

13

de água. Os trechos de montante e jusante das obras podem sofrer sedimentação ou

erosão, de acordo com a alteração produzida (TUCCI e GENZ, 1995)

Devido aos impactos que podem provocar no ambiente, a tendência é reduzir, ao

máximo, o uso da canalização, procurando aumentar a convivência harmoniosa da

população com o seu meio natural.

1.5. Planejamento ambiental urbano e a melhoria do sistema de drenagem O controle das enchentes urbanas é um processo permanente, que deve ser mantido

pelas comunidades, visando à redução do custo social e econômico dos impactos. O

controle não deve ser visto como uma ação isolada, seja no tempo ou no espaço, mas como

uma atividade em que a sociedade, como um todo, deve participar de forma contínua

(TUCCI e GENZ, 1995).

O controle de enchentes envolve medidas estruturais e não-estruturais, que,

dificilmente estão dissociadas. As medidas estruturais envolvem recursos que a maioria das

cidades não possuem para investir, além disso, resolvem somente problemas específicos e

localizados. Isso não significa que esse tipo de medida seja totalmente descartável. A

política de controle de enchentes, certamente, poderá chegar a soluções estruturais para

alguns locais, mas dentro da visão de conjunto de toda a bacia, onde essas estão

racionalmente integradas com outras medidas preventivas (não-estruturais) e

compatibilizadas com o esperado desenvolvimento urbano (TUCCI e GENZ, 1995).

Depois que a bacia, ou parte dela, estiver ocupada, dificilmente o poder público terá

condições de responsabilizar aqueles que estiverem ampliando a cheia, portanto, se a ação

pública não for realizada preventivamente através do gerenciamento, as conseqüências

econômico-sociais futuras serão muito maiores (TUCCI e GENZ, 1995).

A falta de gerenciamento dos aspectos de enchentes dentro do desenvolvimento

urbano é comum. Nenhum loteador evitará ocupar as áreas ribeirinhas de risco, ou construir

a rede pluvial mantendo a cheia natural, se não for obrigado pela legislação e fiscalizado

pelas administrações municipais. A falta de mecanismos básicos de controle tem transferido

para toda a sociedade, o ônus econômico e, muitas vezes social, de responder por

problemas dessa natureza. A solução encontrada nem sempre resolve o problema; apenas

tem o transferido de um lugar para o outro (TUCCI e GENZ, 1995).

A demora no planejamento de ações de controle racional sobre o impacto das

enchentes tende a agravar os custos de ações futuras, já que, após a ocupação das bacias,

as soluções são sempre muito caras, pois não existe espaço para reservatórios de

detenção, a bacia já está urbanizada e as áreas ribeirinhas já foram ocupadas de forma

inadequada (TUCCI e GENZ, 1995).

14

CAPÍTULO 2 METODOLOGIA

Fazer o levantamento histórico da ocupação da área e das principais obras

realizadas no rio João Mendes a partir da década de 1970, foi a primeira preocupação.

Para avaliar as mudanças na área urbana da bacia hidrográfica decorrentes do

crescimento urbano e comparar as modificações na rede de drenagem para os anos de

1976 e 1996, foram utilizadas as cartas topográficas da FUNDREM (Fundação para o

Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro) do ano de 1976 – folhas 288B,

288D, 289A e 289C – e do PDBG (Programa de Despoluição da Baía de Guanabara) do ano

de 1996 – folhas 288B, 288D e 289A - ambas digitalizadas, na escala de 1:10.000. Também

foi utilizado o mapa, na escala de 1: 35.000, das bacias hidrográficas da Região Oceânica

de Niterói do Plano de Drenagem do ano de 2002, desenvolvido pela Prefeitura Municipal.

Como a carta de 1996 não apresenta a hidrografia completa, a carta de 1976 serviu

de base para a reconstituição da drenagem nas áreas de mata (pois se considera que não

houve alterações na drenagem nas áreas preservadas). O mapa das bacias da Região

Oceânica de Niterói identifica a drenagem que foi alterada e se encontra coberta por casas e

placas de concreto.

Fotografias aéreas dos anos de 1996 (escala de 1: 20.000) e 2003 (escala de 1:

33.500), imagem de satélite Ikonos do ano de 2001 (trabalhada na escala de 1:10.000) e

carta topográfica digitalizada de 1976 foram utilizadas com o auxílio do programa ArcView

para classificar e quantificar as modificações no uso e cobertura do solo da bacia

hidrográfica. Esta classificação vai até o ano de 2003 porque era a última data de fotografia

aérea disponível, por isso não foi até 2008. Na bacia do Rio João Mendes o crescimento

urbano ocorre em diferentes densidades, o que produziu um aumento percentual das áreas

impermeáveis ocupadas anteriormente por matas e brejos. A análise das modificações na

bacia hidrográfica em cada um desses anos gera mapas do crescimento da área urbana, ou

seja, da área impermeável.

Assim temos 5 classes elegidas neste trabalho: ocupação urbana esparsa, ocupação

urbana média, ocupação urbana densa, mata e brejo. As áreas impermeáveis da bacia

correspondem às áreas urbanas (esparsa, média e densa). Serão consideradas áreas

permeáveis as encostas cobertas por florestas e a área de brejo.

As áreas de ocupação urbana densa foram classificadas assim em função da

quantidade de construções e ruas asfaltadas existentes. São as áreas de ocupação mais

antigas e consolidadas. As áreas de ocupação urbana média são áreas com muitas

construções, porém com a presença de terrenos vazios e ruas sem asfaltamento, ou seja,

são áreas de ocupação intermediária. Já as áreas urbanas esparsas são aquelas

15

localizadas nas bases das encostas, de ocupação recente, que podem ser consideradas os

vetores de expansão da bacia hidrográfica. É composta por casas esparsas, pequenos sítios

e muitas ruas sem asfaltamento. As áreas de florestas identificadas localizam-se próximas

aos divisores, em áreas de proteção ambiental. O brejo só é encontrado nos terrenos

adjacentes à laguna de Itaipu.

O registro das principais obras de engenharia realizadas nos canais começa em

1980 porque não foi encontrado nenhum registro anterior (até 1976). A bacia foi dividida em 17 sub-bacias no ano de 1976. Entretanto, em 1996 foram

identificadas apenas 15 sub-bacias – devido às obras realizadas nos canais.

Com o programa ArcView foram calculadas as áreas de todas as sub-bacias. Perfis

longitudinais foram traçados para os principais canais de drenagem da bacia hidrográfica do

rio João Mendes para os anos de 1976 e 1996, com o emprego do programa Excel. Em

suas análises, observam-se mudanças nos canais quanto ao comprimento – aumento ou

diminuição – levando em consideração desvios, aterros e retificações.

O comprimento do rio principal é a distância que se estende ao longo do curso de

água desde a desembocadura até determinada nascente. Foi definido, para este trabalho,

que o critério de definição do curso principal de cada sub-bacia do rio João Mendes seria o

curso de água mais longo, da embocadura da sub-bacia até determinada nascente, medido

como a soma dos comprimentos dos seus ligamentos (SHREVE, 1974). Este critério é

prático e se inter-relaciona tanto com a análise dos aspectos morfométricos quanto

topológicos das redes de drenagem. Mesmo que se os resultados fossem obtidos através de

outros critérios, as diferenças seriam pequenas.

Para a análise da hierarquia fluvial da bacia hidrográfica do rio João Mendes foi

adotado o critério de Strahler, 1952. Para Strahler, são considerados de primeira ordem os

menores canais, sem tributários, estendendo-se desde a nascente até a confluência. Os

canais de segunda ordem se originam da confluência de dois canais de primeira ordem, e

apenas recebem afluentes de primeira ordem. Os canais de terceira ordem surgem do

encontro de dois canais de segunda ordem, podendo receber afluentes de canais de

segunda e primeira ordens. Da confluência de dois canais de terceira ordem, surgem os

canais de quarta ordem – que podem receber tributários de ordens inferiores. E assim por

diante (CHRISTOFOLETTI, 1980).

Foi realizada a contagem e a medição do comprimento de todos os segmentos de

canais por hierarquia para cada sub-bacia para verificar as conseqüências de aterros e

desvios dos cursos d’água na bacia hidrográfica de rio João Mendes.

Foi utilizada a ordenação de canais segundo Horton, onde o número de canais

corresponde à soma de todos os segmentos de cada ordem. O número de canais de

determinada bacia é noção básica para demonstrar a sua magnitude.

16

Nos trabalhos de campo foram identificados trechos que caracterizam o ambiente do

canal (pontos com risco de inundação e ocupação irregular) e estes são destacadas ainda

no ArcView.

Seções transversais foram traçadas nos pontos de controle que foram observados

em todos os trabalhos de campo realizados. As seções transversais foram feitas com o

auxílio do programa Excel.

Ainda, adaptado dos estudos efetuados pela Prefeitura de Niterói (2002), o rio João

Mendes foi dividido em 9 setores distintos quanto à presença ou ausência de concreto –

identificados em trabalhos de campo. Foram identificados no ArcView setores que ainda

guardam características naturais, setores com muro lateral de casas nas margens e também

setores totalmente concretados.

Para ilustrar o estado atual das desembocaduras dos afluentes do rio João Mendes,

foram identificadas em trabalho de campo apenas 7 das 15 desembocaduras dos afluentes

das sub-bacias - pela dificuldade de acesso em certos trechos do rio. Estas

desembocaduras também são mapeadas no ArcView.

17

CAPÍTULO 3 PROCESSO HISTÓRICO

A partir da década de 1970, a construção da ponte Presidente Costa e Silva (Rio-

Niterói) e do túnel que liga o bairro de Icaraí ao de São Francisco facilitaram a ligação entre

os bairros da zona Sul da cidade e melhoraram o acesso a Região Oceânica (PARENTE,

1995). Portanto, a abertura e melhoria da rede de estradas em direção à Região Oceânica

de Niterói intensificaram o processo de ocupação urbana na área estudada. Novos

loteamentos foram licenciados no vale do rio João Mendes pela prefeitura de Niterói -

loteamentos Mar a Vista, Soter, Jardim Itaipu, Jardim Fazendinha Itaipu, Correlândia, Jardim

Central Boa Esperanças, entre outros (Figura 2).

Figura 2: Principais loteamentos da bacia hidrográfica do rio João Mendes em 1976.

No início dos anos de 1980, destaca-se o papel da Avenida Ewerton Xavier (antiga

Avenida Central) que, ligando o bairro de Itaipu à Rodovia Amaral Peixoto (via de acesso

importante à Região dos Lagos), também colaborou para a expansão urbana e estimulou o

crescimento de bairros como Itaipu e Maravista (PMN, 2002). Surgem novas residências e

as existentes, freqüentadas nos fim de semana, passam a ser moradias permanentes.

18

É preciso ressaltar que até 2003, os bairros de Santo Antônio, Serra Grande e

Maravista não existiam. Estes bairros faziam parte do bairro de Itaipu, que foi dividido.

Dados da Prefeitura Municipal de Niterói apontam o grande crescimento populacional

da Região Oceânica de Niterói nas últimas décadas. Enquanto a taxa de crescimento

populacional do município era de 0,50% no ano de 2000, a da Região Oceânica foi de

6,28% (Tabela 1). Podemos afirmar que este crescimento acima da média municipal ocorreu

devido ao deslocamento da população das Regiões de Planejamento do Norte de das

Praias da Baía fundamentalmente em direção a Região Oceânica. Este movimento

contribuiu para o aumento dos preços dos imóveis e para a melhoria da qualidade dos

serviços na região procurada.

Na década de 1970, a população residente na bacia hidrográfica do rio João Mendes

era de pouco mais de 4.000 habitantes (Tabela 2). Nos anos 1980, essa população

aumentou para 6.692 habitantes. Já em 1990 a população quase triplica, atingindo cerca de

18.500 habitantes. Na década seguinte, em 2000, a população ultrapassa a marca dos

31.500 habitantes. Dessa forma, a população residente na bacia hidrográfica aumentou

aproximadamente 7,7 vezes de 1970 para 2000, ou seja, houve o incremento de 27.454

habitantes em 30 anos.

Apesar de uma elevada taxa de crescimento populacional da bacia hidrográfica do

rio João Mendes, 97,87% dos domicílios não possuíam rede de abastecimento de água até

o ano de 2000 (Tabela 3). Destes 97,87% domicílios, 90,82% eram abastecidos com água

de poço (muitas vezes com água salobra) ou de nascente e 7,05% necessitava de pipas

d’água para o consumo.

Com relação ao esgotamento sanitário, nos bairros da referida área de estudo, até o

ano de 2000 eram poucos os registros de domicílios conectados a rede geral de esgoto.

Mais de 95% das residências possuíam fossas ou direcionavam seu esgoto sem tratamento

em valas ou corpos d’água principalmente (Tabela 4). Este fato fez com que houvesse a

degradação dos córregos, rios e lagunas da Região Oceânica.

Hoje, grande parte da Região Oceânica de Niterói (região de expansão da cidade),

diante da crescente urbanização, já possui água encanada desde 2001 e a implantação da

rede de esgoto ainda está em andamento (Figuras 3 e 4). A Estação de Tratamento de

Esgoto de Itaipu deverá diminuir consideravelmente o lançamento de detritos não só no rio

João Mendes, mas também nos demais corpos d’água da Região Oceânica.

19

Tabela 1 – Taxa de crescimento populacional, segundo as Regiões de Planejamento - Niterói

Regiões de Planejamento

População 1996

População 2000

Taxas de crescimento

Oceânica 43.727 55.790 6,28

Leste 4.752 5.581 4,10

Pendotiba 47.682 49.620 1,00

Praias da Baía 193.829 191.464 -0,31

Norte 160.374 156.996 -0,53

Niterói 450.360 459.451 0,50

Fonte: PMN/Subsecretaria de Ciência e Tecnologia, 2000

Tabela 2 – População residente nos bairros pertencentes à bacia hidrográfica do rio João Mendes e no município de Niterói (1970-2000)

SÉRIE HISTÓRICA

1970 % 1980 % 1991 % 1996 % 2000 %

BAIRROS DA BACIA

HIDROGRÁFICA

4.097

1,26

6.692

1,69

18.526

4,25

25.082

5,57

31.551

6,87

NITERÓI 324.246 100 397.123 100 436.155 100 450.364 100 459.451 100

Fonte: PMN/Subsecretaria de Ciência e Tecnologia; IBGE – Censo Demográfico 1970-1980-

1991-2000 e Contagem da População 1996.

Tabela 3 – Domicílios com abastecimento de água nos bairros pertencentes à bacia hidrográfica do rio João Mendes e no município de Niterói- 2000

REDE GERAL

POÇO OU NASCENTE (NA PROPRIEDADE)

OUTRA

TOTAL

Abs. % Abs. % Abs. % Abs. %

BAIRROS DA BACIA

HIDROGRÁFICA

195

2,12

8.354

90,82

649

7,05

9.198

00,00

NITERÓI 112.747 78,34 21.208 14,74 9.969 6,93 143.924 100,00

Fonte: PMN/Subsecretaria de Ciência e Tecnologia; IBGE – Censo Demográfico 2000.

20

Tabela 4 – Domicílios por esgotamento sanitário, segundo os bairros localizados na bacia hidrográfica do rio João Mendes para o ano de 2000

Tinham banheiro ou sanitário

Tipo de esgotamento sanitário

Total

Rede geral de esgoto ou

pluvial

Fossa Séptica

Fossa rudimentar

Vala Rio, lago ou mar

Outro escoadouro

Não tinham

banheiro nem

sanitário

Bairros

Total

Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. %

Itaipu 4.862 4.835 99,44 233 4,79 4.012 82,52 492 10,12 30 0,62 55 1,13 13 0,27 27 0,56

Engenho do Mato

3.750 3.730 99,47 110 2,93 2.250 60 1.242 33,12 67 1,79 7 0,19 54 1,44 20 0,53

Várzea das

Moças

586

564

96,25

10

1,71

361

61,60

185

31,57

6

1,02

0

0

2

0,34

22

3,75

Niterói 143.924 142.530 99,03 105.129 73,04 20.151 14 6.636 4,61 5.010 3,48 4.055 2,82 1.549 1,08 1.394 0,97

Fonte: PMN/Subsecretaria de Ciência e Tecnologia; IBGE – Censo Demográfico 2000.

21

Figura 3: Estação de Tratamento de Esgoto de Itaipu.

Foto: Renata dos Santos Galvão, 23/10/2006

Figura 4: Encanamento a ser implantando pela ETE de Itaipu.

Foto: Renata dos Santos Galvão, 23/10/2006

22

3.1. Uso e cobertura do solo na bacia hidrográfica

A bacia hidrográfica foi mapeada quanto ao uso e cobertura do solo sendo

identificadas 5 classes de uso: área urbana esparsa (Figura 5), área urbana média (Figura

6) e área urbana densa (Figura 7), mata (Figuras 6 e 7) e brejo (Figura 8). Estas áreas foram

contabilizadas nos anos de 1976, 1996, 2001 e 2003.

Em 1976, foram encontradas 4 classes: área urbana média e esparsa, mata e brejo

(Figura 9 A e Tabela 5). A ocupação urbana média é identificada como loteamentos situados

no entorno das principais vias de acesso. Esta ocupação urbana média foi classificada como

única área impermeável da bacia no referido ano (10,95% da área total da bacia). Ela está

localizada no fundo do vale do rio João Mendes, próximas ao rio. A área urbana esparsa,

considerada excepcionalmente para este ano de 1976 como área permeável, apresenta

cobertura de macega (capim) e ruas sem asfaltamento, corresponde a 27,39% da área da

bacia. A área urbana esparsa localiza-se também no fundo do vale até a cota de 25 m de

altitude. A área de brejo no entorno da laguna de Itaipu é a maior de todos os anos

contabilizados com 5,27% de superfície. Somente neste ano de 1976, a mata ocupa mais da

metade da área da bacia - cerca de 56%. A forma da bacia ao sul, na laguna de Itaipu é

ligeiramente menor no ano de 1976 do que nos outros anos. Isto porque, esta área é

dinâmica já que se trata de uma desembocadura em um corpo que sofreu mudanças devido,

não só ao assoreamento, mas também à influência de canalizações. A área permeável

correspondia em 1976 a 89,05% do total da bacia, enquanto a área impermeável não

ultrapassava os 11% (Tabela 6).

Em 1996, o fundo do vale já se encontra bastante ocupado (Figura 9 B e Tabela 5). É

possível identificar uma área urbana mais densa e consolidada mais próxima à jusante do

rio, correspondente a 19,35% da área total da bacia. Existe uma pequena porção na bacia

(5,23%) de área urbana média. A área urbana esparsa localiza-se no fundo do vale e já

avança nas bases das encostas, ocupando 23,94% da bacia. Neste momento, a área

urbana esparsa já é considerada como área impermeável, pois os loteamentos já se

encontram consolidados (com muitas construções e ruas). A área de brejo reduziu 0,09% de

1976 (5,27%) para 1996 (5,18%) em função de aterros para expansão urbana e do

assoreamento da laguna de Itaipu. A mata também sofreu substancial redução para 46,30%

da área da bacia. A área permeável da bacia sofreu brusca diminuição para 51,48% da área

total e a área impermeável aumentou na mesma proporção para 48,52% (Tabela 6).

Em 2001 a área urbana, já bastante consolidada, corresponde a 52,50 % da área da

bacia (Figura 9 C e Tabela 5), onde 22,16 % são área urbana densa, 11,33% de área

urbana média e 19,01% de área urbana esparsa. A área urbana esparsa toma o lugar da

mata e a área urbana média se transforma em área urbana densa. Isto significa que a área

23

Figura 5: Área urbana esparsa da bacia hidrográfica do rio João Mendes. Ao fundo, a

Reserva Ecológica Darcy Ribeiro.

Foto: Renata dos Santos Galvão, 31/03/2008

Figura 6: Área urbana média da bacia hidrográfica do rio João Mendes. Ao fundo, O Parque

Estadual da Serra da Tiririca.

Foto: Renata dos Santos Galvão, 31/03/2008

24

Figura 7: Área urbana densa da bacia hidrográfica do rio João Mendes: Avenida Ewerton

Xavier.

Foto: Renata dos Santos Galvão, 31/03/2008

Figura 8: Vista parcial da área de brejo da laguna de Itaipu.

Foto: Renata dos Santos Galvão, 23/10/2006

25

Tabela 5 – Uso e cobertura do solo na bacia hidrográfica do rio João Mendes

1976 1996 2001 2003 Cobertura

do solo km2 % km2

% km2 % km2 %

Mata 9,53 56,39 7,87 46,30 7,26 42,72 7,22 42,43

Brejo 0,89 5,27 0,88 5,18 0,81 4,76 0,81 4,76

Área

Urbana

Esparsa

4,63

27,39

4,07

23,94

3,23

19,01

3,37

19,85

Área

Urbana

Média

1,85

10,95

0,89

5,23

1,93

11,33

1,66

9,82

Área

Urbana

Densa

-

-

3,29

19,35

3,76

22,16

3,94

23,17

Total 16,90 100 17 100 17 100 17 100

Tabela 6 – Áreas permeáveis e impermeáveis na bacia hidrográfica do rio João Mendes

1976 1996 2001 2003 Área da

Bacia km2 % km2 % km2 % km2 %

Área

Permeável

15,05 89,05 8,75 51,48 8,07 47,48 8,02 47,19

Área

Impermeável

1,85 10,95 8,25 48,52 8,93 52,50 8,98 52,84

Total 16,90 100 17 100 17 100 17 100

26

27

impermeável já ultrapassa a metade da área total, representando 52,50% da bacia (Tabela

6). As áreas de mata e brejo são reduzidas, para 42,72% e 4,76% respectivamente,

seguindo a tendência do crescimento urbano. Com isso, a área permeável, pela primeira

vez, ocupa menos da metade da área da bacia (47,48%).

Embora não houve mudanças significativas, quando comparado ao ano de 2001, ano

de 2003 segue a projeção de crescimento das áreas urbanas em detrimento das áreas

permeáveis de floresta, que diminuem para 42,43% da bacia (Figura 9 D e Tabela 5). A área

urbana densa ocupa 23,17% da bacia hidrográfica, a área urbana média diminui para 9,82%

e a área urbana esparsa aumenta para 19,85%. Apesar de em 2003 a área de brejo ter se

estabilizado em 4,76% da área da bacia, atualmente vem sofrendo forte especulação

imobiliária, com construções avançando cada vez mais (ver Figura 8). A área impermeável

em 2003 corresponde 52,84 % e a área permeável diminui para 47,19% (Tabela 6).

28

3.2. Principais obras de engenharia realizadas nos canais

Diversas obras de canalização foram realizadas na bacia hidrográfica do rio João

Mendes ao longo do tempo. Manilhamento dos canais de 2ª e 3ª ordens, dragagem, muros,

etc. Os próprios moradores alargavam, reduziam e cobriam seções do rio.

O registro das obras de canalização começa em 1980, pois não foi encontrado

nenhum anterior. As obras mais marcantes foram destacadas a seguir.

No início da década de 1980, o canal principal do rio João Mendes foi desviado. Não

foi encontrado nenhum registro desta transposição das águas na Prefeitura Municipal de

Niterói. Porém, ao analisar as cartas topográficas de 1976 e 1996 da área de estudo

percebe-se nitidamente as mudanças na rede de drenagem. Segundo relatos de moradores

locais, antes do desvio, a área era uma espécie de “alagado”, devido aos constantes

transbordamentos das águas, o que dificultava a expansão das construções. Após o desvio,

loteamentos – entre eles: Soter e Ubá II - ocuparam os terrenos onde antes o rio passava.

Problemas relacionados à enchentes persistem no local até hoje. As ruas continuam

alagando em dias de chuva devido à insuficiência de drenagem e a água fica empoçada por

dias – o que dificulta a passagem de pedestres e carros.

No ano de 2001, foi realizada uma obra de canalização num trecho de 148 m (entre a

Avenida 2 e a Rua 12), onde a seção transversal foi concretada em forma de “U” (Figura

10). O arquiteto André Luiz Fidalgo (EMUSA - Empresa Municipal de Moradia, Urbanização

e Saneamento), responsável pelo projeto, afirma que a intervenção foi feita porque casas

estavam com risco de queda na margem do rio. Porém, esta obra não teve continuidade já

que foi embargada pela SERLA (Superintendência Estadual de Rios e Lagoas), que não

permite revestir o fundo do rio com concreto.

Uma outra questão refere-se à colocação, em outubro de 2000, de uma galeria em

formato de binóculo (com duas manilhas), localizada no baixo curso, no trecho em que o rio

passa pela Estrada Francisco da Cruz Nunes, a 1,35 km da laguna de Itaipu (Figura 11). Em

função do acúmulo de lixo que bloqueava a passagem da água, ocasionando inundações

remontantes, a estrutura foi trocada por outra em formato retangular, em 2005 (Figura 12).

De acordo com a EMUSA, nova galeria aumenta em três vezes o volume de água

transportado, em substituição aos antigos tubos. No total, foram investidos R$ 974 mil. Se

por um lado resolveu o problema da inundação, por outro um maior volume de lixo poderá

chegar à laguna de Itaipu, uma vez que a galeria em formato de binóculo atuava como uma

“rede” de retenção do lixo.

No bairro do Engenho do Mato há um trecho onde o rio cruza a Estrada Engenho do

Mato num ângulo de aproximadamente 90°. Foi próximo a este trecho que foi realizado o

desvio da calha principal do rio na década de 1980. Numa tentativa de amenizar os

29

freqüentes alagamentos deste ponto, foi realizada em 2005 uma obra de engenharia onde

as margens e o leito foram totalmente concretados (Figura 13). Porém, esta intervenção não

solucionou o problema, visto que há um estrangulamento na passagem da água antes da

ponte sobre o rio. Moradores relataram que em dias de chuva o volume d’água do rio é

maior do que a calha pode comportar e, como a passagem embaixo da ponte é muito

pequena, as águas transbordam, passam por cima da ponte e invadem casas e terrenos

ribeirinhos. Após 3 anos, a obra não foi concluída. A ausência de muretas de proteção

oferece riscos às pessoas e o problema da inundação não foi solucionado (Figura 14).

Figura 10: Trecho totalmente concretado do rio João Mendes.

Foto: Renata dos Santos Galvão, 23/05/2007

30

Figura 11: Galeria em formato de binóculo sob a Estrada Francisco da Cruz Nunes, em

Itaipu.

Foto: Felipe F. Braga, 25/04/2002 (In: BRAGA, 2002).

Figura 12: Mesmo trecho sob a Estrada Francisco da Cruz Nunes após a retirada da galeria.

Destaca-se a quantidade de lixo.

Foto: Renata dos Santos Galvão, 12/04/2007

31

Figura 13: Execução de obras na seção do rio. As margens e o leito foram totamente

concretados e há uma curvatura no canal de 90°.

Foto: Sandra Baptista da Cunha, 18/10/2005

Figura 14: Após anos, a obra não foi concluída.

Foto: Renata dos Santos Galvão, 12/04/2007

32

CAPÍTULO 4 CONSEQÜÊNCIAS ESPACIAIS DAS OBRAS DE ENGENHARIA

As principais conseqüências espaciais das obras de engenharia de 1976 a 1996

foram: (a) mudanças nas áreas das sub-bacias; (b) mudanças nos valores de comprimento

do canal principal em cada sub-bacia e (c) mudanças nas densidades hidrográfica (número

de canais) e de drenagem (comprimento).

A bacia hidrográfica do rio João Mendes era composta por 17 sub-bacias no ano de

1976 (Figura 15 A) e 15 no ano de 1996 (Figura 15 B). Apesar da pouca diferença quanto ao

número de sub-bacias de 1976 para 1996, houve uma série de alterações na rede de

drenagem que configuraram mudanças nas sub-bacias onde algumas que existiam em 1976

não existem mais em 1996 (Tabela 7).

Em 1976 a soma dos comprimentos de todas as drenagens principais dos afluentes

das sub-bacias era de 27,78 km. Em 1996 essa extensão passou para 28,42. No ano de

1976 foram identificados 126 segmentos de canais, enquanto que em 1996 existiam 101. No

tocante ao comprimento de toda a rede de drenagem, em 1976 foram encontrados 49,40 km

de segmentos de canais. Já em 1996 havia 45,44 km comprimento de segmentos de canais

(Tabelas 8 e 9).

É preciso ressaltar uma mudança significativa quanto a hierarquização da bacia

hidrográfica do rio João Mendes: em 1976 era uma bacia de 5ª ordem - com 87 segmentos

de canais de 1ª ordem, 27 de 2ª ordem, 8 de 3ª ordem, 2 de 4ª ordem e 2 de 5ª ordem

(Tabela 8) - mas, devido às mudanças nos cursos d’água em 1996 passou a ser de 4ª

ordem – com 71 segmentos de canais de 1ª ordem, 23 de 2ª ordem, 6 de 3ª ordem e

apenas 1 de 4ª ordem (Tabela 9).

Quanto às mudanças na densidade hidrográfica, constata-se que em 1976 era de

7,41 e em 1996 reduziu para 5,94. Também observou-se mudanças na densidade de

drenagem: em 1976 era de 2,91 km/km² e diminuiu par 2,67 km/km² em 1996 (Tabela 10).

A seguir a descrição de todas as sub-bacias e as mudanças apresentadas no

comprimento dos canais, em suas áreas e em suas densidades hidrográfica e de drenagem

nos anos de 1976 e 1996.

Sub-bacia do Terra Nova

Com seus limites definidos pelo Morro do Jacaré e pela Serra Grande, esta sub-

bacia possui parte de sua superfície inserida na Reserva Ecológica Darcy Ribeiro,

encontrando-se preservada com densa cobertura vegetal. A área urbana, composta

fundamentalmente por residências unifamiliares, apresenta-se em crescimento e começa a

avançar pela área verde.

33

Figura 15: Sub-bacias da bacia hidrográfica do rio João Mendes em (A) 1976 e (B) 1996.

34

Tabela 7 – Comprimento da drenagem principal e área das sub-bacias que constituem a Bacia Hidrográfica do Rio João Mendes em 1976 e 1996

Sub-bacia

Comprimento

da drenagem

principal 1976

(km)

Comprimento

da drenagem

principal 1996

(km)

Aumento ou

diminuição

do

comprimento

da drenagem

Área

da

Sub-

bacia

1976

(km2)

Área

da

Sub-

bacia

1996

(km2)

Aumento

ou

diminuição

da área da

sub-bacia

1 Terra Nova 2,50 2,42 - 1,58 1,47 -

2a Argeu

Fazendinha I

0,77 1,15 + 0,35

0,70 +

2b Argeu

Fazendinha II

1,08 extinto extinto 0,50 extinta extinta

3 Rua 27 1,56 2,15 + 0,60 0,89 +

4 Soter 0,84 1,31 + 0,34 0,91 +

5 Vale das

Esmeraldas

1,46 2,10 + 1,16 0,95 -

6 Rua 09 0,74 1,33 + 0,12 0,49 +

7 João Mendes I 2,50 2,80 + 2,99 2,31 -

8 Jardim

Fluminense

1,25 0,80 - 0,37 0,25 -

9 Engenho do

Mato I

4,35 2,45 + 3,09 2,62 -

10 Engenho do

Mato II

1,45 1,45 = 0,56 0,53 -

11 Engenho do

Mato III

1,36 1,26 +

0,45 0,46 +

12 Engenho do

Mato IV

- 0,48 + 0,07 0,06 -

13 Engenho do

Mato V

0,57 0,37 - 0,17 0,15 -

14a Rio da Vala I 2,25 4,20 + 1,21 2,71 +

14b Rio da Vala II 1,85 extinto extinto 1,16 extinta extinta

15 João Mendes II 4,00 4,15 + 2,30 2,50 +

Total 27,78 28,42 + 17,00 16,90 -

36

Tabela 8 – Morfometria – Sub-bacias Hidrográficas do Rio João Mendes –1976

Segmentos dos canais por

hierarquia

Comprimento dos segmentos dos canais

por hierarquia (km)

Sub-bacia

Comprimento

da drenagem

principal (km) 1 2 3 4 5

Total

Área da

Sub-bacia

(km2)

1 2 3 4 5 Total

1 Terra Nova 2,50 6 2 1 - - 9 1,58 1,23 1,23 1,24 - - 3,70

2a Argeu Fazendinha I 0,77 2 1 - - - 3 0,35 0,40 0,40 - - - 0,80

2b Argeu Fazendinha II 1,08 4 1 - - - 5 0,50 0,76 0,76 - - - 1,52

3 Rua 27 1,56 8 1 - - - 9 0,60 1,25 1,30 - - - 2,55

4 Soter 0,84 3 1 - - - 4 0,34 0,57 0,60 - - - 1,17

5 Vale das Esmeraldas 1,46 16 5 2 1 - 24 1,16 3,25 1,55 0,40 0,65 - 5,85

6 Rua 09 0,74 1 - - - - 1 0,12 0,60 - - - - 0,60

7 João Mendes I 2,50 20 6 2 1 1 30 2,99 6,20 2,25 2,20 0,16 0,05 10,86

8 Jardim Fluminense 1,25 5 2 - - - 7 0,37 1,00 0,80 - - - 1,80

9 Engenho do Mato I 4,35 3 1 1 - - 5 3,09 3,00 0,65 1,85 - - 5,50

10 Engenho do Mato II 1,45 5 2 1 - - 8 0,56 0,90 0,50 0,65 - - 2,05

11 Engenho do Mato III 1,36 2 1 - - - 3 0,45 0,85 0,75 - - - 1,60

12 Engenho do Mato IV - - - - - - - 0,07 - - - - - -

13 Engenho do Mato V 0,57 1 - - - - 1 0,17 0,50 - - - - 0,50

14a Rio da Vala I 2,25 8 3 1 - - 12 1,21 1,70 0,65 1,50 - - 3,85

14b Rio da Vala II 1,85 3 1 - - - 4 1,16 1,60 1,45 - - - 3,05

15 João Mendes II 4,00 - - - - 1 1 2,30 - - - - 4,00 4,00

Total 27,78 87 27 8 2 2 126 17,00 23,81 12,89 7,84 0,81 4,05 49,40

37

Tabela 9 – Morfometria – Sub-bacias Hidrográficas do Rio João Mendes – 1996

Segmentos dos canais por hierarquia

Comprimento dos segmentos dos canais

por hierarquia (km)

Sub-bacia

Comprimento

da drenagem

principal (km) 1 2 3 4 5

Total

Área da

Sub-bacia

(km2)

1 2 3 4 5 Total

1 Terra Nova 2,42 7 2 1 - - 10 1,47 2,75 1,00 1,00 - - 4,75

2 Argeu Fazendinha 1,15 3 1 - - - 4 0,70 1,26 0,76 - - - 2,02

3 Rua 27 2,15 9 2 1 - - 12 0,89 1,21 0,77 1,26 - - 3,24

4 Soter 1,31 2 1 - - - 3 0,91 0,50 0,76 - - - 1,26

5 Vale das Esmeraldas 2,10 10 4 1 - - 15 0,95 2,25 1,27 1,26 - - 4,78

6 Rua 09 1,33 2 1 - - - 3 0,49 1,28 0,52 - - - 1,80

7 João Mendes I 2,80 19 5 1 - - 25 2,31 4,29 1,50 2,18 - - 7,97

8 Jardim Fluminense 0,80 2 1 - - - 3 0,25 0,74 0,40 - - - 1,14

9 Engenho do Mato I 2,45 4 1 - - - 5 2,62 3,24 0,65 - - - 3,89

10 Engenho do Mato II 1,45 4 2 1 - - 7 0,53 0,51 0,58 0,60 - - 1,69

11 Engenho do Mato III 1,26 2 1 - - - 3 0,46 0,80 0,70 - - - 1,50

12 Engenho do Mato IV 0,48 1 - - - - 1 0,06 0,40 - - - - 0,40

13 Engenho do Mato V 0,37 1 - - - - 1 0,15 0,60 - - - - 0,60

14 Rio da Vala 4,20 5 2 1 - - 8 2,71 2,25 0,50 3,50 - - 6,25

15 João Mendes II 4,15 - - - 1 - 1 2,50 - - - 4,15 - 4,15

Total 28,42 71 23 6 1 - 101 17,00 22,08 9,41 9,80 4,15 - 45,44

38

Tabela 10 – Densidade hidrográfica e densidade de drenagem das sub-bacias da Bacia Hidrográfica do rio João Mendes para os anos de 1976 e 1996

1976 1996

Sub-bacia Densidade

Hidrográfica

(N°/ km2)

Densidade

de drenagem

(km/ km2)

Densidade

hidrográfica

(N°/ km2)

Densidade

de drenagem

(km/ km2)

1 Terra Nova 5,70 2,34 6,80 (+) 3,23 (+)

2a Argeu Fazendinha I 8,57 2,29 5,71 (-) 2,89 (+)

2b Argeu Fazendinha II 10,00 3,04 - (-) - (-)

3 Rua 27 15,00 4,25 13,48 (-) 3,64 (-)

4 Soter 11,76 3,44 3,30 (-) 1,38 (-)

5 Vale das Esmeraldas 20,69 5,04 15,79 (-) 5,03 (-)

6 Rua 09 8,34 5,00 6,12 (-) 3,67 (-)

7 João Mendes I 10,03 3,63 10,82 (+) 3,45 (-)

8 Jardim Fluminense 18,92 4,86 12,00 (-) 4,56 (-)

9 Engenho do Mato I 1,62 1,78 1,91 (+) 1,48 (-)

10 Engenho do Mato II 14,29 3,67 13,21 (-) 3,19 (-)

11 Engenho do Mato III 6,67 3,56 6,52 (-) 3,26 (-)

12 Engenho do Mato IV - - 16,67 (+) 6,67 (+)

13 Engenho do Mato V 5,88 2,94 6,67 (+) 4,00 (+)

14a Rio da Vala I 9,92 3,18 2,95 (-) 3,60 (+)

14b Rio da Vala II 3,45 2,63 - (-) - (-)

15 João Mendes II 0,42 1,74 0,40 (-) 4,01 (+)

Total 7,41 2,91 5,94 (-) 2,67 (-)

39

Tabela 11 – Aumento ou diminuição dos parâmetros morfométricos de 1976 para 1996 das sub-bacias da Bacia Hidrográfica do rio João Mendes

Sub-bacia

Aumento ou

diminuição da

área da sub-

bacia

Aumento ou

diminuição do

comprimento

dos segmentos

de canais

Aumento ou

diminuição da

densidade

hidrográfica

Aumento ou

diminuição da

densidade de

drenagem

1 Terra Nova - + + +

2a Argeu Fazendinha I + + - +

2b Argeu Fazendinha II - - - -

3 Rua 27 + - - -

4 Soter + + - -

5 Vale das Esmeraldas - - - -

6 Rua 09 + - - -

7 João Mendes I - - - -

8 Jardim Fluminense - - + -

9 Engenho do Mato I - - - -

10 Engenho do Mato II - - + -

11 Engenho do Mato III + - - -

12 Engenho do Mato IV - + - +

13 Engenho do Mato V - + + +

14a Rio da Vala I + + + +

14b Rio da Vala II - - - -

15 João Mendes II + + - +

Total - - - -

40

41

42

A densidade de drenagem no ano de 1976 era de 2,29 km/km² e densidade

hidrográfica de 8,57 na Argeu Fazendinha I. Em 1996 sua densidade de drenagem aumenta

para 2,89 km/km², enquanto sua densidade hidrográfica diminui para 5,71 (Tabela 10).

A sub-bacia Argeu Fazendinha II, que só existia em 1976, apresentou densidade de

drenagem de 3,04 km/km² e densidade hidrográfica de 10,00 (Tabela10).

A sub-bacia do Argeu Fazendinha, já unificada em 1996, teve redução apenas da

sua densidade hidrográfica, enquanto houve aumento da área, do comprimento dos

segmentos dos canais e da densidade de drenagem (Tabela 11).

Sub-bacia da Rua 27

Esta sub-bacia tem seus limites definidos por uma das vertentes da Serra Grande,

com densa cobertura vegetal. Grande parte de sua superfície está inserida em área urbana,

com média densidade.

Na principal via de acesso dos moradores, a Avenida Professora Romanda

Gonçalves, o curso apresenta-se como vala, correndo a céu aberto e recebendo lixo e

esgoto (PMN, 2002).

A sub-bacia teve aumento de área de 0,60 km2 em 1976 para 0,89 km2 em 1996

(Tabela 7).

Seu curso principal de drenagem possuía 1,56 km de extensão em 1976, antes do

desvio do rio João Mendes. Em 1996, com 2,15 km de extensão, o comprimento do canal

aumentou em aproximadamente 0,65 km (Tabela 7 e Figura 16). Apresenta-se manilhado e

com alguns trechos assoreados (PMN, 2002).

Em 1976 existiam 8 segmentos de canais de 1ª ordem hierárquica e apenas 1 de 2ª

ordem, que registravam 2,55 km de comprimento de drenagem (Tabela 8). No ano de 1996

foram contabilizados 9 segmentos de canais de 1ª ordem, 2 de 2ª ordem e 1 de 3ª ordem,

atingindo 3,24 km de comprimento (Tabela 9).

A sub-bacia da Rua 27 apresentou redução tanto na densidade de drenagem - 4,25

km/km² em 1976 para 3,64 km/km² em 1996 - quanto na densidade hidrográfica -15,00 em

1976 para 13,48 em 1996 (Tabela 10).

Esta sub-bacia apresentou aumento de área de 1976 para 1996 e diminuição do

comprimento dos segmentos de canais e das densidades hidrográfica e de drenagem

(Tabela 11).

Sub-bacia Soter

Sub-bacia delimitada pelo Morro do Soter e pela Serra Grande. Uma pequena parte

de sua superfície está inserida na Reserva Ecológica Darcy Ribeiro com cobertura vegetal

preservada. Já a maior parte de sua área está em ambiente urbano com média densidade.

43

A área da sub-bacia do Soter em 1976 era de 0,34 km2 e aumentou para 0,91 km2

em 1996 – um ganho de área de 0,57 km2 (Tabela 7).

Seu curso principal em 1976 tinha 0,84 km de extensão. Com o desvio da calha do

rio João Mendes o canal teve um acréscimo de 0,47 m em 1996. Com 1,31 km de extensão

apresenta-se retificado, como galeria de drenagem, escoando pela Rua 23 até o rio João

Mendes (Tabela 7 e Figura 16).

Com 1,17 km de comprimento de drenagem em 1976, apresentava 3 canais de 1ª

ordem e 1 de 2ª ordem (Tabela 8). Em 1996 tinha 1,26 km de drenagem em 2 canais de 1ª

ordem e 1 de 2ª ordem (Tabela 9).

A sub-bacia do Soter sofreu drástica redução de sua densidade hidrográfica: de

11,76 em 1976 para 3,30 no ano de 1996. A densidade de drenagem passou de 3,44

km/km² em 1976 para 1,38 km/km² em 1996. (Tabela 10).

Esta sub-bacia apresentou aumento de sua área e dos comprimentos dos segmentos

dos canais. Contudo, as densidades hidrográfica e de drenagem diminuíram (Tabela 11).

Sub-bacia do Vale das Esmeraldas

Os limites desta sub-bacia são delimitados pelo Morro do Soter e pela Serra Grande.

A maior parte de sua superfície possui cobertura vegetal preservada. Uma pequena parte de

sua área está em área urbana com média densidade.

Seu curso principal possui 2,10 km de extensão e encontra-se em sua maior parte

manilhado, com poucos pontos assoreados. Próximo a sua desembocadura no rio João

Mendes, o curso corre a céu aberto e recebe lixo e esgoto doméstico (PMN, 2002). Houve

aumento em 1996 de 0,64 km no comprimento deste canal em função do desvio do rio João

Mendes (Tabela 7 e Figura 16).

Sua área variou de 1,16 km2 em 1976 para 0,95 km2 em 1996 (Tabela 7).

Os segmentos de canais em 1976 somavam 5,85 km de extensão distribuídos em 16

canais de 1ª ordem hierárquica, 5 de 2ª ordem, 2 de 3ª ordem e 1 de 4ª ordem (Tabela 8).

Em 1996, os 4,78 km de comprimento da rede hidrográfica da sub-bacia estavam divididos

entre 10 canais de 1ª ordem, 4 de 2ª ordem e 1 de 3ª ordem (Tabela 9). Nesta sub-bacia

houve uma redução de 4ª ordem para 3ª ordem.

A sub-bacia Vale das Esmeraldas também apresentou notável redução da densidade

hidrográfica, que em 1976 era de 20,69 passando para 15,79 em 1996. Já a densidade de

drenagem sofreu aumento mínimo de 0,01 km/km² de 5,04 km/km² em 1976 para 5,03

km/km² em 1996 (Tabela10).

A sub-bacia do Vale das Esmeraldas destaca-se pela redução de todos os

parâmetros analisados: área da sub-bacia, comprimento dos segmentos dos canais e

densidades hidrográfica e de drenagem (Tabela 11).

44

Sub-bacia da Rua 9

Sub-bacia pequena que tem seus limites definidos pelas Serras Grande e do

Malheiro. Uma pequena parte de sua superfície possui densa cobertura vegetal. Grande

parte situa-se em área urbana, com média densidade.

Houve um aumento de área de 0,12 km2 em 1976 para 0,49 km2 em 1996 (Tabela 7).

Seu curso principal de drenagem no ano de 1976 possuía 0,74 km de extensão.

Devido ao desvio do rio João Mendes, esse curso aumento seu comprimento em 0,59 km.

Com 1,33 km de extensão, encontra-se manilhado na Avenida Ewerton Xavier (Tabela 7 e

Figura 16). Em alguns trechos está assoreado. Quando cruza a Rua 9 do Loteamento Soter,

segue seu curso em forma de vala a céu aberto, com lixo e esgoto domésticos. Este pode

ser considerado um ponto crítico, pois ocorrem constantes alagamentos (PMN, 2002).

Em 1976 apresentava um único canal de 1ª com 0,60 km de comprimento (Tabela 8).

No ano de 1996 foram encontrados 1,80 km de canais, sendo 2 canais de 1ª ordem e 1 de

2ª ordem – que não existia em 1976 (Tabela 9).

A sub-bacia da Rua 09 apresentou diminuição de ambas as densidades. Em 1976, a

densidade hidrográfica que era de 8,34, passou para 6,12 em 1996. No ano de 1996

apresentou densidade de drenagem de 3,67 km/km², quando apresentava 5,00 km/km² em

1976 (Tabela10).

Esta sub-bacia apresentou aumento de área de 1976 para 1996 e diminuição do

comprimento dos segmentos de canais e das densidades hidrográfica e de drenagem

(Tabela 11).

Sub-bacia do João Mendes I

Sub-bacia delimitada ao norte pela Serra do Malheiro e pela Serra Grande, que faz

parte da Reserva Ecológica Darcy Ribeiro, e ao sul pela Serra da Tiririca. Na cabeceira, a

cobertura vegetal apresenta-se bastante preservada. Seu curso está quase que totalmente

inserido em área urbana e, em alguns trechos, observa-se ocupação desordenada na Faixa

Marginal de Proteção (invasões) e obras de engenharia. Próximo da Estrada do Engenho do

Mato o rio começa a receber despejo de lixo e esgoto domésticos e apresenta pontos

assoreados.

A área da sub-bacia era de 2,99 km2 no ano de 1976 e passou para 2,31 km2 em

1996 (Tabela 7).

O curso principal de drenagem é o rio João Mendes, que sofreu um desvio da calha

principal na década de 1980, com a expansão dos loteamentos. Na década de 1970 o rio

possuía 2,50 km de comprimento. Com o desvio de sua calha o rio teve sua extensão

aumentada em 1996 para 2,80 km (Tabela 7 e Figura 16).

45

A sub-bacia do João Mendes I é a que conta com o maior comprimento e a maior

quantidade de segmentos de canais de toda a bacia hidrográfica do rio João Mendes. Os

segmentos de canais em 1976 somam 30 (20 de 1ª ordem, 6 de 2ª ordem, 2 de 3ª ordem, 1

de 2ª ordem e 1 de 1ª ordem) em 10,86 km de drenagem (Tabela 8). Já em 1996, os

segmentos de canais equivalem a 25 (19 de 1ª ordem, 5 de 2ª ordem e 1 de 3ª ordem) com

7,97 km de comprimento (Tabela 9). Com isso, pode-se perceber o desaparecimento de

duas ordens hierárquicas.

Na sub-bacia do João Mendes I, observa-se um aumento de densidade hidrográfica

de 10,03 em 1976 para 10,82 no ano de 1996. A densidade de drenagem sofreu leve

redução de 3,63 km/km² em 1976 passando para 3,45 km/km² em 1996 (Tabela10).

A sub-bacia do João Mendes I destaca-se pela redução de todos os parâmetros

analisados: área da sub-bacia, comprimento dos segmentos dos canais e densidades

hidrográfica e de drenagem (Tabela 11).

Sub-bacia do Jardim Fluminense

Pequena sub-bacia com limites na vertente de Niterói da Serra de Tiririca e uma

pequena parcela com mata preservada. A maior parte de sua superfície está em área

urbana com baixa densidade ocupacional.

A área desta sub-bacia também diminuiu de 0,37 km2 em 1976 para 0,25 km2 em

1996 (Tabela 7).

Seu curso principal de drenagem possui 0,80 km de extensão e apresenta-se em

forma de vala a céu aberto, recebendo lixo e esgoto doméstico. Encontra-se assoreado em

alguns pontos (PMN, 2002). Este canal, que media 1,25 km em 1976, teve uma redução de

comprimento de 0,45 km, com o desvio do rio João Mendes (Tabela 7 e Figura 16).

Em 1976, possuía 7 segmentos de canais, sendo 5 de 1ª ordem e 2 de 2ª ordem com

1,80 km de drenagem total (Tabela 8). Apenas 3 segmentos de canais (2 de 1ª ordem e 1 de

2ª ordem), contabilizando 1,14 km de extensão foram encontrados em 1996 (Tabela 9).

A sub-bacia do Jardim Fluminense apresentou significativa redução da densidade

hidrográfica de 18,92 em 1976 para 12,00 em 1996. Sua densidade de drenagem reduziu de

4,86 em 1976 para 4,56 km/km² em 1996 (Tabela 10).

Esta sub-bacia apenas apresentou aumento de sua densidade hidrográfica, já que

houve diminuição de sua área, do comprimento dos segmentos de canais e da densidade de

drenagem (Tabela 11).

Sub-bacia do Engenho do Mato I

É a maior das sub-bacias contribuintes à bacia do rio João Mendes. Seus limites são

definidos pelo Morro do Cordovil e pela Serra da Tiririca, apresentando uma área bastante

46

preservada com densa cobertura vegetal e reduzida densidade urbana (com predominância

de sítios).

Na Rua São Sebastião, no Loteamento Terrabraz, este curso foi represado e foram

formados pequenos lagos nas margens desta rua, o que ocasiona alagamentos nas grandes

chuvas (PMN, 2002).

No encontro da Rua 4 com a Rua 27, existe um ponto de alagamento constante, já

que este encontra-se assoreado, além de receber lixo e esgoto das casas do entorno (PMN,

2002).

Seu curso principal de drenagem apresentava 4,35 km de extensão em 1976. Porém,

com o desvio do rio João Mendes, tanto a área de sua sub-bacia quanto a extensão de seu

canal foram diminuídos. Com 2,45 km de extensão, sofreu uma redução de 1,90 km (Figura

16). Com relação à área, houve redução de 3,09 km2 em 1976 para 2,62 km2 em 1996

(Tabela 7).

Em 1976 apresentava 3 segmentos de canais de 1ª ordem, 1 de 2ª ordem e 1 de 3ª

ordem e, juntos, os 5 segmentos mediam 5,50 km de comprimento (Tabela 8). Em 1996 só

existiam 5 segmentos também, porém houve uma diminuição de ordem hierárquica: 5

segmentos de 1ª ordem e 1 de 2ª ordem, que atingiam 3,89 km de extensão (Tabela 9).

A sub-bacia do Engenho do Mato I apresentava no ano 1976 densidade hidrográfica

de 1,62 e densidade de drenagem de 1,78 km/km². Estes valores passaram para 1,91 e 1,48

km/km², respectivamente (Tabela 10).

Esta sub-bacia destaca-se pela redução de todos os parâmetros analisados: área da

sub-bacia, comprimento dos segmentos dos canais e densidades hidrográfica e de

drenagem (Tabela 11).

Sub-bacia do Engenho do Mato II

Esta sub-bacia tem os limites definidos pela Serra da Tiririca. Parte da área

apresenta densa cobertura vegetal por estar inserida no Parque Estadual da Serra da

Tiririca e outra pequena parte de sua superfície está em área urbana com baixa densidade

ocupacional.

Sua área sofreu pequena variação de 0,56 km2 em 1976 para 0,53 km2 em 1996

(Tabela 7).

O curso principal possui, tanto em 1976 quanto em 1996, 1,45 km de extensão e

drena pela Rua 41 por uma galeria que apresenta poucos pontos assoreados (PMN, 2002).

Este canal não teve mudanças de comprimento com o desvio do rio João Mendes (Tabela 7

e Figura 16).

No ano de 1976 os 8 segmentos de canais (5 de 1ª ordem, 2 de 2ª ordem e 1 de 3ª

ordem) equivaliam a 2,05 km de extensão (Tabela 8). Em 1996 havia 1,69 km de drenagem,

47

com 7 segmentos de canais, onde somente um canal de 1ª ordem que existia em 1976 foi

eliminado (Tabela 9).

A sub-bacia do Engenho do Mato II apresentava 14,29 de densidade hidrográfica em

1976, diminuindo para 13,21 em 1996. Sua densidade de drenagem diminuiu de 3,67

km/km² em 1976 para 3,19 km/km² em 1996 (Tabela 10).

Esta sub-bacia apenas apresentou aumento de sua densidade hidrográfica, já que

houve diminuição de sua área, do comprimento dos segmentos de canais e da densidade de

drenagem (Tabela 11).

Sub-bacia do Engenho do Mato III

Pequena sub-bacia que também tem seus limites definidos pela Serra da Tiririca.

Uma pequena parte de sua superfície apresenta mata preservada. Possui uma crescente

área urbana, embora com baixa densidade.

A área desta sub-bacia não variou muito: 0,45 km2 em 1976 para 0,46 km2 em 1996

(Tabela 7).

Seu curso principal possui em 1996 1,26 km de extensão e encontra-se manilhado

em alguns trechos. Segundo a PMN (2002), esta é uma área que requer análise especial,

pois existe uma rede de drenagem (manilhas de 1m) para o escoamento da água, mas não

existe captação (bueiros, ralos “boca de lobo”, etc), o que torna está área um grande ponto

de alagamento. No ano de 1976, o canal tinha 1,36 km de extensão, correspondendo a uma

redução de 0,11 km em 1996 (Tabela 7 e Figura 16).

Muitas construções na faixa marginal degradam a mata ciliar e estrangulam alguns

trechos do curso principal.

Tanto em 1976 quanto em 1976 foram encontrados 3 segmentos de canais; 2 de 1ª

ordem e 1 de 2ª ordem. Com relação à extensão desses canais, em 1976 atingiam 1,60 km

enquanto em 1996 possuem 1,50 km (Tabelas 8 e 9).

A sub-bacia do Engenho do Mato III que no ano de 1976 densidade hidrográfica de

6,67, passou para 6,52 em 1996. Também houve diminuição da densidade de drenagem de

1976 para 1996: de 3,56 km/km² para 3,26 km/km² respectivamente (Tabela 10).

Esta sub-bacia apresentou aumento de área de 1976 para 1996 e diminuição do

comprimento dos segmentos de canais e das densidades hidrográfica e de drenagem

(Tabela 11).

Sub-bacia do Engenho do Mato IV

Menor das sub-bacias contribuintes do rio João Mendes com seus limites definidos

pela Serra da Tiririca. Sua superfície está totalmente inserida em área urbana com média

densidade ocupacional.

48

Apesar desta sub-bacia não apresentar drenagem em 1976, sua área de 0,07 km² foi

apenas identificada no mapa das sub-bacias de 1976 conforme mostra a Figura 7. Com área

de 0,06 km2 em 1996, apresenta curso principal de 0,48 km de extensão (Tabela 7 e Figura

16) escoa pela Rua 76 do Loteamento Fazendinha Terrabraz (PMN, 2002).

Em 1996, possuía um pequeno canal de 1ª ordem medindo apenas 0,40 km de

comprimento.

Na sub-bacia do Engenho do Mato IV, que não apresentava drenagem em 1976,

observa-se em 1996 uma densidade hidrográfica de 16,67 e 6,67 km/km² de densidade de

drenagem. São os maiores valores encontrados entre as sub-bacias do ano de 1996 (Tabela

10).

Esta sub-bacia apresentou diminuição de área de 1976 para 1996 e de densidade

hidrográfica. Houve aumento do comprimento dos segmentos dos canais e da densidade de

drenagem (Tabela 11).

Sub-bacia do Engenho do Mato V

Sub-bacia com limites definidos pela Serra da Tiririca. A totalidade da sua superfície

está inserida em área urbana com média densidade ocupacional.

A área da sub-bacia em 1976 era de 0,17 km2 e em 1996 de 0,15 km2 (Tabela 7).

Seu curso principal possui 0,37 km de extensão e escoa pela Rua 79 do Loteamento

Fazendinha Terrabraz (PMN, 2002). Apresenta uma redução de comprimento de 0,20 km

quando comparado a drenagem de 1976 (Tabela 7 e Figura 16).

Tanto em 1976 quanto em 1996, apresentava um único canal de 1ª ordem

hierárquica, que no primeiro ano tinha 0,50 km de comprimento e no segundo ano aumenta

para 0,60 km (Tabelas 8 e 9).

A sub-bacia do Engenho do Mato V apresentou aumento em ambos os valores de

densidade hidrográfica e de drenagem. A densidade hidrográfica que era de 5,88 em 1976,

passou para 6,67 em 1996. A densidade de drenagem de 2,94 km/km² em 1976 passou

para 4,00 km/km² em 1996 (Tabela 10).

Portanto, a sub-bacia do Engenho do Mato V teve sua área reduzida, porém o

comprimento dos segmentos dos canais e as densidades hidrográfica e de drenagem

aumentaram do ano de 1976 para 1996 (Tabela 11).

Sub-bacia do Rio da Vala

Sub-bacia drenada pela vertente da Serra da Tiririca, com boa cobertura vegetal no

alto curso e grande declividade. Nos médio e baixo cursos apresenta pequena declividade a

áreas urbana de média densidade ocupacional.

49

Em 1976 esta sub-bacia era dividida em 2 que drenavam para o rio João Mendes

(Rio da Vala I e II). Provavelmente por causa da expansão dos loteamentos e da ocorrência

de transbordamentos dos canais, eles foram desviados do rio principal para o rio da Vala,

drenando diretamente para a laguna de Itaipu em apenas um canal, com a extinção da sub-

bacia do Rio da Vala II (Figura 7).

A área da sub-bacia do Rio da Vala I em 1976 era de 1,21 km2 e a sub-bacia do Rio

da Vala II em 1976 era de 1,16 km2. Em 1996 essa área (unificada) passou para 2,71 km2

(Tabela 7).

A drenagem principal do Rio da Vala I media 2,25 km e a da sub-bacia do Rio da

Vala II era de 1,85 km em 1976. Em 1996 o comprimento da drenagem principal era de 4,20

(Tabela 7 e Figura 16).

Os canais da sub-bacia do Rio da Vala I tinham, em 1976, 3,85 km de extensão

divididos em 12 segmentos: 8 de 1ª ordem, 3 de 2ª ordem e 1 de 3ª ordem. A sub-bacia do

Rio da Vala II tinha 3 segmentos de canais de 1ª ordem e 1 de 2ª ordem, totalizando 4

segmentos com 3,05 km de comprimento (Tabela 8). Em 1996 há uma brusca redução de

segmentos dos canais, passando para 8, sendo 5 de 1ª ordem, 2 de 2ª ordem e 1 de 3ª

ordem – que, juntos, somam 6,25 km de drenagem (Tabela 9).

Na sub-bacia do Rio da Vala I observa-se densidade hidrográfica de 9,92 e

densidade de drenagem de 3,18 km/km² em 1976. Na sub-bacia do Rio da Vala II, no ano

de 1976, encontrava-se 3,45 de densidade hidrográfica e 2,63 km/km² de densidade de

drenagem. Em 1996 a densidade hidrográfica era de 2,95 e a densidade de drenagem era

de 3,60 km/km² (Tabela 10). Destaca-se que a sub-bacia do Rio da Vala teve aumento de todos os parâmetros

analisados: área, comprimento dos segmentos dos canais e das densidades hidrográfica e

da drenagem (Tabela 11).

Sub-bacia do João Mendes II

Sub-bacia que é continuação do rio João Mendes encontra-se totalmente inserida na

área urbana. Recebe despejo de lixo e esgoto domésticos e apresenta pontos assoreados.

Esta situação estende-se até a desembocadura, na laguna de Itaipu.

Sua área em 1976 era de 2,30 km² e em 1996 aumentou para 2,50 km² (Tabela 7).

Em 1976 apresenta apenas um segmento de canal de 5ª ordem hierárquica com 4,00

km de comprimento (Tabela 8). No ano de 1996, apresenta 4,15 km de drenagem, porém

seu único segmento de canal se transformou em 4ª ordem (Tabela 9).

A sub-bacia do João Mendes II sofreu poucas alterações no tocante a sua densidade

hidrográfica (de 0,42 em 1976 para 0,40 em 1976). Contudo, sua densidade de drenagem

aumentou de 1,69 em 1976 para 4,01 em 1996 (Tabela 10).

50

A sub-bacia do João Mendes II teve redução apenas da sua densidade hidrográfica,

enquanto houve aumento da área, do comprimento dos segmentos dos canais e da

densidade de drenagem (Tabela 11).

51

CAPÍTULO 5 AMBIENTE DO CANAL E GESTÃO EM 2008

5.1. Situação do canal principal

O rio João Mendes é o principal rio que drena para a laguna de Itaipu. Ao longo de

seu curso, recebe as águas de diversas sub-bacias. No pequeno trecho do alto curso,

compreendido da nascente até a Estrada do Engenho do Mato, possui boa cobertura

vegetal e grande declividade. Nos médio e baixo cursos, da Estrada do Engenho do Mato

até a laguna de Itaipu, apresenta pequena declividade e áreas loteadas, onde o processo de

urbanização vai progressivamente se intensificando.

Em virtude da ocupação do solo sem cuidados especiais e com o desmatamento das

matas ciliares, processos erosivos se instalaram, provocando o acúmulo de detritos nas

galerias e no leito do rio, contribuindo para o seu assoreamento e conseqüentemente da

laguna de Itaipu (PMN, 2002).

São observadas as seguintes características da drenagem do rio João Mendes:

- baixa da declividade,

- trechos cobertos com concreto,

- estrangulamentos das seções transversais,

- assoreamento do leito,

- faixa marginal de proteção ocupada por residências,

- seções transversais concretadas,

- desvio e aterro de cursos d’água,

- despejo de lixo e esgotos domésticos. Na Avenida Bahia há um exemplo de convivência harmônica com a inundação:

moradores construíram o portão em nível mais alto que o nível da rua com degraus para

proteger a residência de inundações (Figura 17 – ponto 1). Esta rua está localizada num

nível mais baixo que o das outras ruas, o que faz com que a água fique retida. Nesta mesma

rua, outras residências reforçaram seus muros e subiram o nível das calçadas para reduzir

os prejuízos causados pelas enchentes.

Outro agravante do problema é que no rio João Mendes, no final da Avenida Bahia

há um estrangulamento da seção transversal pelas estruturas de concreto (Figura 17 - ponto

2a). Moradores constroem quintais e até mesmo residências sobre o rio. Isto diminui a

capacidade da seção transversal, que transborda a montante das construções. A presença

de troncos caídos no leito do rio dificulta ainda mais a passagem da água e forma uma

verdadeira barreira para o lixo (principalmente garrafas PET), que se acumula e obstrui o

52

53

canal (Figura 17 - ponto 2b). Em dias de chuva forte, a água não encontra passagem,

transborda e invade as ruas próximas.

Casas de padrão precário (palafitas) estão instaladas às margens do rio no ponto 3

(Figura 17 – ponto 3). A altura dos alicerces são indicadores da altura máxima do nível da

água. Nas margens há sinais de erosão.

No ponto 4 existem moradias com o padrão mais precário de toda a bacia

hidrográfica. São barracos de madeira localizados às margens do rio (Figura 17).

O ponto 5 tem sua seção transversal mais larga que as abaixo e acima. Isto se deve

ao fato de os próprios moradores alargarem a seção. Neste ponto não há transbordamento,

mas as margens foram concretadas devido à erosão que compromete a estrutura das casas

(Figura 17).

5.1.1. Seções Transversais De acordo com Christofoletti (1980: p. 65): “todos os acontecimentos que ocorrem na

bacia de drenagem repercutem, direta ou indiretamente, nos rios. (...) O estudo e a análise

dos cursos de água só podem ser realizados em função da perspectiva global do sistema

hidrográfico”. Nessa perspectiva, a forma do canal numa determinada seção transversal é a

resposta do ajustamento do rio às suas condições. (CHRISTOFOLETTI, 1980)

Nas áreas urbanas os rios são bastante transformados, perdendo suas

características naturais. No rio João Mendes, há uma desproporcionalidade das seções transversais. Nas

seções mais estreitas a ocorrência de transbordamentos é constante.

Entre as seções transversais mais importantes para este estudo, destaca-se (Figura

14):

- Seção do ponto1: Localizado à jusante do canal na Estrada Francisco da Cruz

Nunes, próximo à desembocadura do afluente da sub-bacia de Terra Nova (ver Figuras 1 e

15). Esta seção com margens concretadas já passou por duas grandes obras de engenharia

pela alta susceptibilidade a transbordamentos (Figuras 11,12 e 18).

- Seção do ponto 2: Localizada próxima à Rua 12, encontra-se totalmente concretada

pois oferecia risco de desabamento às casas de padrão construtivo precário nas margens

(ver Figuras 1, 17 e 18). É uma seção que acumula grande quantidade de sedimentos e lixo,

com necessidade de limpeza constante.

54

Figura 18: Seções transversais do rio

João Mendes em 15/11/2007.

55

- Seção do ponto 3: Localizada no médio curso do rio. Os próprios moradores

alteram as margens do rio construindo muros e lajes. Como é uma seção bastante larga,

não há ocorrência de enchentes (Figuras 17 e 18).

- Seção do ponto 4: Localizada na Estrada do Engenho do Mato, no alto curso do rio.

Uma obra de engenharia mal projetada que gera constantes problemas relacionados a

inundação pela reduzida área da seção totalmente concretada (Figuras 13 e 18).

56

5.1.2. Setores do rio principal Partindo da laguna de Itaipu, local de deságüe do rio João Mendes, é possível

delimitar os trechos de canais com calhas concretadas e não concretadas. Essas mudanças

no interior do canal alteram a dinâmica natural dos mesmos gerando respostas

diferenciadas durante as variações das vazões.

Ao longo dos aproximados 7,0 km do canal principal são identificados 9 setores

distintos quanto às características (Figura 19).

O primeiro setor (A – B), com 0,90 km de comprimento, da foz do rio João Mendes na

laguna de Itaipu até a Rua Osman Corrêa da Silva, não possui casas e o canal apresenta-se

de forma natural (Figura19).

No segundo setor (B – C), da Rua Osman Corrêa da Silva até a Rua Doutor Cássio

Rothier do Amaral, com comprimento de 0,60 km, o canal apresenta muro lateral de casas.

A seção transversal da Rua Cássio Rothier do Amaral, cruzamento com a Avenida Bahia

transborda e ocasiona enchentes (Figura 19)

No terceiro setor (C – D), da Rua Doutor Cássio Rothier do Amaral até a Rua

Professora Angeolina Petrópolis, com 0,30 km de comprimento, as margens e o leito do

canal não apresentam intervenções de concreto. Neste trecho, há a presença de mata ciliar

(Figura 19)

Já o quarto setor (D – E), que começa na Rua Professora Angeolina Petrópolis e

termina na Avenida 2, com 0,50 km de comprimento, o canal apresenta muro lateral das

casas. Seu leito não possui concreto (Figura 19).

O setor cinco (E – F), da Avenida 2 até a Rua 12, com 0,24 km de comprimento,

apresenta o canal totalmente concretado. Essa intervenção de engenharia foi realizada, pois

as residências que estão muito próximas ao rio estavam com risco de queda (Figura 19).

O setor seis (F – G), da Rua 12 até a Rua 58, com comprimento de 1,0 km,

apresenta o canal natural, com mata ciliar. Podemos encontrar moradias de padrão precário

junto a pequeno trecho da margem (Figura 19).

O sétimo setor (G – H), que começa na Rua 58 e

termina na Estrada Engenho do Mato, possui 0,30 km, com muro lateral no canal (Figura

19).

O setor oito (H – I), medindo apenas 0,20 km de comprimento, na Estrada Engenho

do Mato, apresenta uma obra de engenharia, onde leito e margens estão totalmente

concretados (Figura 19).

O nono e último setor que começa na Estrada Engenho do Mato na altura da Rua

Augusto Gomes da Silva Sobrinho e termina na nascente do rio, apresenta muro lateral no

canal, percorrendo uma distância de cerca de 2,90 Km (Figura 19).

57

58

5.1.3. Desembocaduras dos afluentes das sub-bacias Percorrendo o rio João Mendes, foram identificadas em trabalho de campo apenas 7

das 15 desembocaduras dos afluentes das sub-bacias - pela dificuldade de acesso em

certos trechos do rio. São elas: Terra Nova, Argeu Fazendinha, Soter, Vale das Esmeraldas,

Rua 09, Engenho do Mato I e Engenho do Mato II (Figura 20).

Observa-se que todas estas saídas encontram-se canalizadas e seus canais estão,

na maior parte das vezes, cobertos, passando por baixo de ruas e casas.

Um fato que merece destaque é a situação ambiental desses afluentes. Todos eles

já chegam ao rio João Mendes com a qualidade da água ruim devido ao esgoto que é

lançado diretamente nos canais.

59

60

5.2. Gestão

5.2.1. Limpeza dos canais

O lançamento de esgoto doméstico diretamente no rio agrava ainda mais o problema

das inundações e interferem na qualidade de vida da população ribeirinha. A população, que

lança seus esgotos diretamente nas águas, sofre com o mau cheiro e com o perigo da

disseminação de doenças por veiculação hídrica, não podendo aproveitar essas águas para

o lazer. De acordo com moradores, mosquitos, cobras e principalmente ratos são comuns

nas proximidades do rio. Portanto, há a perda de um ambiente para fins recreativos e

paisagísticos.

Nas proximidades do rio há coleta de lixo realizada pela Prefeitura de Niterói. Porém,

o despejo de lixo doméstico – que varia desde embalagens de produtos descartáveis até

móveis e eletrodomésticos grandes – comprova a ausência de educação ambiental dos

moradores. A equipe de Limpeza de Rios e Ralos a serviço da prefeitura executa a limpeza dos

canais a cada seis meses retirando, além do lixo, os bancos marginais construídos por

sedimentos. Este intervalo de tempo é, às vezes, reduzido para quatro meses, em função da

maior quantidade de material acumulado – o que pode obstruir a passagem da água e

favorecer seu transbordamento em períodos chuvosos (Figura 21 A e B). Segundo

informações da Diretoria de Manutenção da Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e

Saneamento (EMUSA), esta equipe também faz a limpeza de galerias, ralos e micro-

drenagens do rio João Mendes. A EMUSA lembra ainda que construções irregulares em

alguns trechos do rio dificultam o acesso e, conseqüentemente, a limpeza.

Infelizmente, nem a empresa encarregada pela limpeza do rio nem a Prefeitura de

Niterói contabilizam o valor da quantidade de lixo e sedimentos retirados periodicamente.

Espera-se também, como dito anteriormente, que a conclusão das instalações da

rede de esgotamento sanitário melhore a qualidade da água com a redução da quantidade

de lançamento de dejetos no rio.

61

A

Foto: Sandra Baptista da Cunha, 13/07/2006

B

Foto: Renata dos Santos Galvão, 23/10/2006

Figura 21: (A) A equipe a serviço da Prefeitura realiza a limpeza da seção totalmente

concretada do rio. Lixo doméstico e sedimentos são retirados e as margens são capinadas.

(B) Mesmo trecho 3 meses depois.

62

5.2.2. Resgate da Faixa Marginal de Proteção

A bacia hidrográfica do rio João Mendes é basicamente composta de residências

unifamiliares, com gabarito máximo de 2 pavimentos. A maioria das construções no fundo

do vale encontra-se na Faixa Marginal de Proteção, cuja mata ciliar foi retirada em diversos

trechos. O padrão construtivo das residências varia de ótimo em seu baixo curso a precário

nos médio e alto curso. Apesar das construções de ótimo padrão estarem ocupando a Faixa

Marginal de Proteção, seus projetos foram aprovados junto à Prefeitura Municipal de Niterói.

As residências de padrão construtivo precário são compostas em alguns casos por invasão.

Há ainda uma quantidade considerável de lotes vazios (com capim) em trechos do médio

curso. O Projeto de Renaturalização do Rio João Mendes da Prefeitura Municipal de Niterói

(2002), que ainda está em andamento, baseia-se na parceria público-privado definida no

Plano Urbanístico Regional, onde o capital privado compra os lotes de interesse à

implantação do Parque Urbano no rio João Mendes, sejam eles vazios ou ocupados, com

posterior doação à municipalidade. Estes lotes, que ocupam a Faixa Marginal de Proteção

(10 metros) serão espaços da prefeitura para a implantação do Projeto de Renaturalização

do rio. Em contrapartida, além desse limite de 10 metros, os gabaritos das construções

passariam a ser de 6 andares para os empreendimentos dos doadores dos lotes que

estavam dentro da FMP.

Até o presente momento, apenas dois terrenos foram trocados nas margens do rio

João Mendes, onde foram construídas duas praças (Figura 22). Na esquina da Estrada

Francisco da Cruz Nunes com a Avenida Ewerton Xavier (ver Figura 1) foi construído o

primeiro edifício com 6 andares da bacia hidrográfica do rio João Mendes (Figura 23).

A permuta dos terrenos vem sendo vista pelos empreendedores como uma

possibilidade do aumento do gabarito dos imóveis e, pelos moradores, como uma

valorização de suas casas, já que o preço das construções às margens do rio João Mendes

aumentou. Se por um lado o projeto visa resgatar a FMP, por outro, pressiona a

intensificação da ocupação da bacia hidrográfica.

O rio João Mendes foi escolhido para o projeto de renaturalização por ser um dos

mais importantes contribuintes do sistema lagunar Piratininga/Itaipu (que se encontra em

elevado estágio de degradação). A indicação de uma área piloto para a implantação de uma

praça pública levou em consideração a ausência de praças com funções diversas –

convivência, lazer, contemplação, prática de esportes e parque infantil - em toda a Região

Oceânica. Um obstáculo ao projeto seria a remoção das edificações de padrão precário de

63

construção. Famílias teriam de ser reassentadas e os custos ficariam mais onerosos ao

poder público.

A

B

Figura 22: Praças construídas nos terrenos às margens do rio João Mendes fazem parte do

Projeto de Renaturalização do Rio João Mendes da Prefeitura Municipal de Niterói.

Fotos: Ademir Lourenço de Oliveira, 27/09/2006

64

Figura 23: Primeiro edifício construído com a troca de terrenos nas margens do rio João

Mendes na esquina da Estrada Francisco da Cruz Nunes com a Avenida Ewerton Xavier.

Foto: Renata dos Santos Galvão, 31/03/2008.

65

CONCLUSÃO

A ocupação do solo desencadeia impactos nos processos hidrológicos devido ao

desenvolvimento da área urbana. Com o revestimento de grande parte da superfície por

construções, ocorre a redução da infiltração pela impermeabilização do terreno, há

eliminação dos pontos de detenção superficial nas áreas construídas, a rugosidade nas

superfícies é reduzida, substitui-se os pequenos canais da drenagem natural por tubulações

subterrâneas, os canais de drenagem natural são retificados, assim como os planos de

escoamento superficial se tornam pequenos. Novos canais e sistemas de canais artificiais

são construídos.

Alguns afluentes foram soterrados para facilitar as novas construções e acessos e/ou

os canais foram encurtados para permitir um rápido escoamento das águas - que carregam

sedimentos vindos das áreas abertas e de superfície da bacia hidrográfica, assoreando o

canal em curto período de tempo. Ainda, outros afluentes foram cobertos por placas de

concreto. A ocupação da bacia hidrográfica do rio João Mendes trouxe como conseqüências

alterações nos cursos d’água que, somadas a baixa declividade do leito do rio, têm

favorecido o transbordamento de suas águas em muitos trechos. As enchentes sempre

trouxeram problemas aos moradores dos vários loteamentos. Lixo e esgoto ao longo do

curso degradam o sistema.

Em virtude da planura do fundo do vale e do regime de vazões que produziam

sucessivas inundações, peixes eram trazidos para o meio da rua e a água ficava empoçada

durante dias. Esses registros dificultavam a expansão urbana, em especial a construção dos

condomínios Soter e Ubá, quando as águas do canal principal do rio João Mendes foram

desviadas para outro afluente (transposição das águas), o que alterou a drenagem.

As drenagens das sub-bacias apresentam-se descaracterizadas em função da

expansão da área urbana. Muitos trechos foram desviados e retificados, escoando junto às

ruas. Outros foram aterrados para dar lugar a construções. A maior parte dos cursos teve

diminuição do comprimento.

As mudanças geram seções transversais mais estreitas, com menor capacidade,

favorecendo o transbordamento dos canais; a retirada da mata ciliar, desprotegendo as

margens contra os processos erosivos e a ocupação; a necessidade de constante

manutenção dos canais, entre outros.

O rio reflete as mudanças nos diferentes usos do solo na bacia de drenagem,

ajustando sua geometria a nova condição existente. A grande quantidade de sedimentos e

lixo no leito do rio gera pontos críticos em seções transversais. O lançamento de esgoto

66

doméstico diretamente no rio sem tratamento juntamente com a ocorrência de inundações,

interferem na qualidade de vida da população que vive nas proximidades.

Portanto, com metodologia utilizada, os objetivos deste trabalho foram alcançados e

os resultados obtidos foram os esperados.

Espera-se que este trabalho seja relevante para o melhor conhecimento sobre as

alterações na rede de drenagem urbana.

67

RECOMENDAÇÕES Há necessidade de novas propostas para a continuação deste trabalho. Estudos

mais detalhados sobre as sub-bacias para o monitoramento do volume de sedimentos,

controle de erosão e taxas de infiltração de água e escoamento superficial, além do

monitoramento da qualidade da água, são algumas sugestões.

Também faz-se importante uma reflexão maior sobre o Projeto de Renaturalização

do Rio João Mendes e sobre os rumos do planejamento da área.

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