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DuarteBeloViajantesCasadaMúsica360ºLoungePorscheGTS Rosslyn, um dos mistérios mais populares da Escócia O primeiro guia de surf e turismo português A França dos bons vinhos e bons queijos em Jura NELSON GARRIDO ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 8216 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012

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A França dos bons vinhos e bons queijos em Jura

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FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012

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Rui Falcão

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Na ponta da línguaMiguel Esteves Cardoso

Omelhor doce português de todos é uma compota feita só com fruta. Não leva um só grama de açúcar. É verdade que está quase 20 horas ao lume e que tem um ingrediente secreto (uma fruta difi cíl de encontrar), pelo que não apetecerá fazer em casa.

É a uvada. Comê-la é voltar à meninice, ao prazer de enfi ar um dedo desobediente numa tigela de marmelada recém-cozida e deixada ao sol a secar e trazer um pedacinho pegajoso para a boca. Sabe a antes de Afonso Henriques, a prazer antigo que o tempo deveria ter levado mas, por sorte, deixou.

A uvada que conheço é feita pelos Doces d’Arada, na Quinta Margem d’Arada, em Olhalvo, perto de Alenquer. Têm um bom site mas não consegui falar com eles através dos números que lá constam.

Quem me aconselhou a uvada foi o gastrónomo José Rocha Lopes, dono da Garrafeira São Pedro em Torres Vedras (tel: 261 322 916) que conhece a senhora inspiradíssima que faz a uvada. É na garrafeira dele que se vende cada tigela a 5,40 euros. Não há maneira mais mágica de gastar uma nota de cinco euros e duas moedas de vinte cêntimos, garanto-vos.

A novidade da uvada é a antiguidade dela. É feita apenas com mosto de uvas. Ferve-se em fogo lento durante horas e horas até perder a água. Fica então o “arrobe” ao qual se acrescenta o tal ingrediente secreto. Há quem faça com maçã bravo de esmolfe mas não é esse o ingrediente secreto da Dona Celeste, esclareço já.

Só ela é que sabe fazer esta uvada e é escusado tentar fazê-la em casa. No site, espreite a cozinha moderníssima onde é feita e fi cará logo desanimado. Felizmente, não se trata de uma senhora idosa a trabalhar numa pequena casa no coração de Trás-os-Montes que só faz uma vez por ano, por altura das vindimas, para os amigos.

Na uvada da Dona Celeste existe uma magnífi ca aliança de uma receita antiquíssima, eximiamente executada sem qualquer concessão, com uma pequena unidade de produção apoiada por uma conhecida companhia de vinhos.

Mosto, peros, lenha, tempo, sabedoria e paciência: são estes os únicos ingredientes. Nenhum dele foi inventado nos dois últimos milénios. Se leva muito tempo a fazer, também dura muito tempo. No site diz-se que a uvada “pode ter longa duração, sendo perfeitamente consumível ao fi m de dois, três ou mais anos, altura em que pode ser fatiado ou cortado aos cubos”.

A Maria João e eu rimo-nos sempre que lemos este parágrafo porque a mais longa duração que uma tigela de uvada

atingiu entre nós foi cerca de duas horas. É deliciosa demais para guardar mais do que uma semana. Só depositando uma dúzia de tigelas num cofre pré-programado só para abrir em 2015 é que poderíamos provar os provavelmente espantosos cubinhos de uvada.

Aqui se vê em prática que o tempo, só por si, é um investimento. Uma receita dura milénios, leva um dia inteiro a fazer e, mesmo assim, num “ambiente arejado e seco”, pode durar mais de três anos.

Os ingredientes da uvada estão todos ali ao pé da cozinha da Dona Celeste: as vinhas e as macieiras. Nem é preciso ir comprar um pacote de açúcar. É incrível.

Até no meio de um pomar de marmeleiros se alguém

quiser fazer marmelada tem de ir buscar açúcar.

Como se diz no site, a uvada “é um testemunho de uma economia frugal, de tempos em que as famílias viviam essencialmente do que produziam nas suas terras”. O açúcar só existe há poucos séculos

e até há pouco tempo o preço era exorbitante. A uvada é muito mais antiga do que o açúcar

e, dadas as tendências do tempo presente, muito mais moderna.

As compotas portuguesas de produção artesanal são muito, muito boas. Não se esquecem certos doces de ginja ou de tomate, tal a profundidade do sabor que deixaram nas nossas bocas.

Mas também se deve celebrar a uvada e outros doces feitos só com os açúcares das nossas uvas — ou com mel. A uvada tem um sabor misterioso, apurado e inesperado. Basta uma colherada e fi ca-se acólito toda a vida. Toda a santa vida.

A novidade da uvada é a antiguidade dela. É feita apenas com mosto de uvas. Ferve-se em fogo lento durante horas e horas até perder a água

FICHA TÉCNICA Di rec ção Bárbara Reis Edição Sandra Silva Costa, Joana Amaral Cardoso, Aníbal Rodrigues (Motores) e Luís J. Santos (Online) Edição fotográ!ica Miguel Madeira, Paulo Ricca e Manuel Roberto (adjunto) Design Mark Porter, Simon Esterson Directora de Arte Sónia Matos Designers Daniela Graça, Joana Lima e José Soares Infogra!ia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, Joaquim Guerreiro e José Alves Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Praça Coronel Pacheco, 2, 4050!453 Porto. Tel.: 226151000. E-mail: fugas@pu bli co.pt . fugas.publico.pt Fugas n.º 646

A melhor compota é a uvada e, sendo di!ícil de encontrar, é impossível separarmo-nos dela

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Situado entre a Borgonha e a Suíça, o departamento do Jura é uma caixinha de supresas, o lugar com que sonham os amantes do turismo de natureza, dos bons vinhos e do bom queijo. Por mais que nos esforcemos, é di!ícil resumir em palavras toda a beleza desta região do leste de França. Pedro Garcias (texto) e Nelson Garrido ( fotos)

CapaJura

O país de Pasteur e da vaca que ri

Há lugares franceses que nos soam familiares, que quase conhecemos de tanto ouvir falar. Mas esse não é o caso de Dole, Jura e Franche Comté. No entanto, aquele queijinho trian-gular e pastoso com o simpático nome A vaca que ri já lhe diz algu-ma coisa, não diz? E Pasteur, quem nunca ouviu falar do inventor da vacina da raiva e da pasteurização? Os apreciadores dos bons queijos certamente que conhecem o Comté e as suas rodas gigantes. E quem gos-ta e percebe alguma coisa de vinhos já deve ter bebido, ou pelo menos conhece de nome, o famoso “Vin Jaune” (vinho amarelo).

Pondo tudo em ordem: Dole é uma das principais cidades do Jura, um departamento da região de Franche Comté, situada no les-te da França, entre a Borgonha e a Suíça. Pasteur, o Vin Jaune e os queijo Comté e a Vaca que ri são algumas das referências do Jura. Louis Pasteur nasceu em Dole e passou a adolescência na casa que possuía na vizinha cidade de Arbois, à qual regressou sempre; a principal

fábrica da Vaca que ri fi ca em Lons-le-Saunier, a sede do departamento; o vinho amarelo é um dos tesouros vinícolas da região e principal ícone de Château-Chalon, uma belíssima aldeia medieval suspensa sobre o precipício; e o queijo Comté pro-duz-se em todo o Jura. É tão bom e famoso que gera mais receitas do que o champanhe.

Quem visita o Jura pela primeira vez não consegue escapar ao espan-to e, logo a seguir, à interrogação. Como é que desconhecíamos esta fantástica região, que reúne um pou-co do melhor da França, a beleza da “campagne”, os grandes bosques, os rios encantadores, a imponência da montanha, o sabor inesquecível dos grandes queijos e vinhos? Na verdade, até há bem pouco tempo, o Jura não era propriamente um lugar acessível. Mas desde a Prima-vera que a Ryanair voa duas vezes por semana entre o Porto e Dole. Os voos têm andado cheios, procu-rados por franceses e, sobretudo, por emigrantes. Genebra fi ca a uma hora de distância de carro, Dijon a cerca de 30 minutos.

O aeroporto de Dole, que antes tinha funções militares, resume-se a uma pista e uma pequena sala de embarque com um bar. O ambiente é rural. As pessoas colam-se à vedação para ver aterrar e descolar os aviões. A cidade fi ca a cerca de sete quilóme-tros de distância. Quando se aterra, é a planura que se avista, os campos re-

talhados e atravessados por uma ou outra linha de água. Até Dole, cidade medieval, pequena e muito francesa, a paisagem é igual a tantas outras de França. As grandes surpresas come-çam quando saímos de Dole a cami-nho do alto Jura e vamos avistando impenetráveis bosques de carvalho, prados bucólicos e pastoris, vinhedos aninhados aos pés de promontórios de calcário onde se elevam mosteiros e até pequenas aldeias. É uma escala fascinante, que permite imaginar-mos desde o fundo dos vales o que se esconde no alto do penhasco, ou contemplarmos desde o alto as paisa-gens a perder de vista, as vinhas e os prados que se multiplicam em torno de aldeias e vilas muito homogéneas.

Quando nos aproximamos da montanha — muito procurada no In-verno pelos amantes do esqui, alpi-no e de fundo, sobretudo —, a paisa-gem vai ganhando contornos ainda mais dramáticos. Bosques admirá-veis suportam grandes massas de calcário que as águas foram talhan-do, criando desfi ladeiros amplos e impressionantes, por onde correm rios cristalinos, fontes de água pura que abastecem lagos e cascatas de uma beleza primordial.

Ao fi m de dois dias na região, já não há forma de a esquecer. Como dizem os “jurassiens”, o Jura não se vê sem nos apaixonarmos. “Quem o abandona, arrepende-se, quem par-te, volta sempre.” Um dia havemos de regressar.

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CapaJura

1 Dole

A cidade de Dole, uma das mais an-tigas de França, é a porta de entrada no Jura, designação com origem na cadeia de montanhas do mesmo nome que atravessa este departa-mento francês e se estende, a norte dos Alpes, por território suíço e ale-mão (o mesmo Jura, pela sua natu-reza geológica, deu também origem ao termo “jurássico”). Não é uma cidade muito grande, mas desfi la a imponência e a espessura histórica de um burgo medieval bem conser-vado, com ruas e ruelas sinuosas, edifícios que preservam os traços daquela época e hotéis charmosos de épocas posteriores. O seu lado mais pitoresco pode ser encontra-do na “velha Dole”, o núcleo origi-nal construído em torno da bonita catedral Notre Dame e que resistiu ao passar dos anos e às inúmeras guerras em que a cidade se viu en-volvida. Dole tem ainda o encanto suplementar de ser atravessada pelo Doubs, um rio que dispõe de um ca-nal navegável com ligação ao Reno.

Foi numa pequena casa situada mesmo junto ao canal que, em 27 de Dezembro de 1822, nasceu Lou-is Pasteur. Filho de um curtidor de couro, Pasteur foi um estudante vulgar em Química (apaixonado pela pintura, completou os estudos secundários em Besançon com uma nota medíocre àquela disciplina). Mais ou menos como Einstein em relação à Matemática. Mas sabe-se o que aconteceu depois. No caso de Pasteur, a dedicação à química e à bacteriologia deu-se após ter ingres-sado na Universidade de Sorbonne, em Paris. O interesse pelas pesquisas científi cas, esse, já tinha começado antes, em Arbois.

2 Arbois e Pasteur

Arbois, comuna vizinha de Dole, é o coração vitícola do Jura, designando uma das quatro apelações da região. Habitada por menos de quatro mil pessoas, a cidade desenvolve-se em torno de uma pequena praça e de um castelo do século XIII e está ro-deada de vinhas, que lhe dão um en-canto muito particular. É atravessada pelo rio Cuisance, em cuja margem direita se ergue a casa onde Louis

Jura em dez passos

Pasteur viveu desde os oito anos e a que fi cou ligado até ao resto da vida. O químico gostava tanto de Arbois que nunca se desfez da casa, a úni-ca que possuiu em toda a sua vida e onde regressava todos os anos para passar férias. Agora está transforma-da em casa-museu, mantendo-se tal e qual como era quando Pasteur a habitava: as salas de leitura e de estar com móveis simples, o singelo labo-ratório particular, a cama estreita e levantada onde dormia, ligada de forma inteligente a uma pequena casa-de-banho.

Foi em Arbois, no contacto com viticultores, que Pasteur se começou a interessar pelos processos micro-biológicos associados à fermentação dos vinhos. Mas já era um doutorado em Química e Física quando fez as primeiras grandes descobertas que o

tornaram mundialmente famoso. Em 1856, tinha então 34 anos, Pasteur foi desafi ado a resolver um problema que assolava uma empresa viníco-la, cujos vinhos avinagravam muito depressa. O problema estendia-se também à indústria da cerveja. Após várias pesquisas, Pasteur descobriu que o problema era provocado pela presença de microorganismos e des-cobriu também que esses microorga-nismos não resistiam às altas tempe-raturas. Aquecendo as bebidas entre os 58ºC e os 75ºC e arrefecendo-as de imediato, o químico conseguiu resolver o problema. Tinha inven-tado a pasteurização.

Seguro de que a geração espontâ-nea não existia, Pasteur protagoni-zou até ao resto dos seus dias outras descobertas relevantes, como a vaci-na contra raiva, a cólera da galinha e

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o anthrax (bactéria que dizimava os rebanhos), tornando-se no precur-sor da microbiologia e da imunolo-gia. Morreu em 1895, aos 73 anos, tendo sido sepultado nos jardins do Instituto que leva o seu nome e de que foi director, em Paris.

3 Pupillin

As vinhas plantadas em suaves en-costas, por entre pequenos bosques, constituem o elemento dominante da paisagem envolvente de Arbois. É um cenário arrebatador que ganha uma beleza acrescida se for contem-plado de um ponto mais elevado. Um dos melhores miradouros fi ca em Pupillin, aldeia situada a três quilómetros de Arbois e que recla-ma o título de “capital mundial da Poulsard”, uma das castas tintas do Jura (também conhecida por Plou-sard). Essa janela de mais de 180º para a maior mancha vitícola da região fi ca mesmo junto à estrada e permite perceber a curiosa estra-tifi cação do Jura, cujo território se desenvolve em amplos e admiráveis “plateaux”. Melhor só mesmo a pa-norâmica ampla que se abre a partir de Château-Chalon, um dos mais fas-cinantes lugares de todo o Jura.

4 Château-Chalon

O nome tem o seu quê equívoco, re-mete-nos para uma casa de vinhos. Mas Château-Chalon é uma aldeia, por sinal uma das mais belas de França, e também dá nome a uma apelação de vinhos. A sua localiza-ção, mesmo sobre a falésia, confere-lhe uma beleza ímpar e uma aura quase sagrada, um lugar que ima-ginamos povoado de ermitas e ou-tros religiosos. Na verdade, a aldeia (hoje com menos de 200 habitan-tes) cresceu em torno de uma aba-dia, por entre muralhas do século XIII, e preserva o charme medieval que ressoa do traçado sinuoso das suas ruas, da cor ocre e gris dos seus edifícios, da harmonia do conjunto.

Rodeado de bosques, Château-Chalon é a pátria do Vin Jaune, feito a partir da casta branca Savagnin (ver ponto 9). As vinhas, plantadas em terrenos de marga, uma mistu-ra de calcário e argila, estendem-se encosta acima até junto da aldeia. A amplitude da panorâmica é prodigio-sa. Ao fundo, estende-se o belíssimo vale do Seille, que conduz à Reculée de Baume-Les-Messieurs, um círculo formado pelo encontro de três va-les, cujos cursos são interrompidos por imponentes escarpas de calcá-rio cobertas de bosques densos, de onde se precipitam cascatas formidá-veis. A beleza e isolamento do lugar atraíram os monges beneditinos, que construíram junto a Baume-Les-Messieurs um mosteiro que é uma das jóias da Ordem de Cluny.

5 Lago Chalain

O Jura está povoado de lagos, a maioria deles naturais. O maior e um dos mais bonitos é o Lago Cha-lain, situado junto à comuna de Marigny, a cerca de 30 quilómetros da sede da região, Lons-le-Saunier, já fora do alto Jura. Tem 2,9 quiló-metros de comprimento e um quiló-metro de largura. De origem glaciar, é abastecido por vários cursos de água de montanha. Está cercado de vegetação frondosa e equipado com instalações de campismo. Ao longo das suas margens existem algumas pequenas praias que, associadas à exuberância da vegetação e à cor azul-turquesa das águas, lembram certos cenários tropicais.

Jura está povoado de lagos, a maior parte deles naturais e onde se faz turismo balnear (acima); na página à esquerda, a casa de Louis Pasteur

Pasteur gostava tanto de Arbois que nunca se desfez da casa, onde regressava todos os anos para passar férias

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CapaJura

6 Saint Claude

Situada na confluência dos rios Bienne e Tacon e cercada de mon-tanhas verdejantes, a cidade pa-rece viver suspensa sobre o vale, ligando-se às margens através de inúmeras pontes e passadiços. Co-nhecida também como “a capital do cachimbo e do diamante” (possui um museu sobre ambos), Saint-Claude teve origem num mosteiro que dois religiosos da região, Ro-main e Lupicin, fundaram no sé-culo V e do qual só restam alguns vestígios. No século XII, de acordo com a história da cidade, o corpo de um monge de nome Claude que tinha morrido há 600 anos foi en-contrado incorrupto. O aconteci-mento começou a atrair milhares de peregrinos ao local, que passou a chamar-se de Saint-Claude. Hoje, a grande atracção da cidade — a par de alguns museus — é a belíssima catedral de Saint Pierre, construída entre os séculos XIV e XVIII em fren-te ao Mont Bayard. Uma das suas jóias é o retábulo, obra-prima da es-cola renascentista. Outra é a capela de Saint-Claude, em cujo relicário está guardado o dedo mindinho do monge Claude.

7 Cascatas do Hérisson

A singularidade da geografi a do Jura, feita de planaltos sobrepostos, e a natureza calcária das suas monta-nhas originam fenómenos naturais de grande beleza. Nas zonas mais acidentadas, pequenos rios de mon-tanha despenham-se em cascata es-carpa abaixo, formando impressio-nantes quedas de água e cachoeiras idílicas. As cascatas são, de resto, um dos principais ímanes do Jura. Há inúmeras, mas as que mais vi-sitantes atraem são as cascatas do Hérrisson, situadas a poucos quiló-metros de distância do Lago Cha-lain. De uma altitude de 850 metros, o rio Hérisson precipita-se por entre falésias monumentais em 31 saltos, formando ao longo da sua queda sete cachoeiras, antes de atravessar os lagos de Val e Chambly. Lugar de ambiências quase religiosas, onde o som dominante e apaziguador é o rugido da água, as cascatas podem ser visitadas em toda a sua exten-são através de um trilho próprio. Na

base, há um serviço de apoio que disponibiliza guias.

8 Salins-Les-Bains

No Jura, quando julgamos já ter visto tudo, somos sempre sur-preendidos com mais um cenário natural de cortar a respiração ou uma cidade encantadora. Salins-Les-Bains, a cerca de 15 quilómetros de Arbois, é um desses lugares. O seu enquadramento na paisagem é assombroso. A cidade está situada no fundo de um vale e é ladeada por dois fortes pousados nas cristas das escarpas que se elevam a pru-mo algumas centenas de metros. Salins-Les-Bains, como o próprio nome indica, está ligada à produção de sal desde a Idade Média. A explo-ração foi interrompida em 1962 e a cidade passou a focar-se no turismo termal, apostando nas qualidades terapêuticas da água salgada. Em 2009, a Unesco classifi cou a grande salina de Salins-des-Bains como Pa-trimónio Mundial. No mesmo ano,

foi inaugurado o Museu do Sal, uma notável peça arquitectónica que, por assentar nas antigas instalações das salinas, dá a conhecer em quase toda a sua dimensão a grande epo-peia da exploração do sal no Jura, bem longe do mar.

9 Vinho

A área de vinha no Jura, perto de dois mil hectares, é quase ridícula no grande mapa vitícola francês. Mas os seus vinhos fazem as delícias dos enófi los. A região já pertenceu à Borgonha e há alguma familiaridade entre as duas zonas. No entanto, os vinhos do Jura são inimitáveis. Por serem menos conhecidos, são tam-bém mais baratos e oferecem uma melhor relação qualidade/preço.

A região possui quatro apelações: Côtes du Jura, Arbois, Château-Cha-lon e L’Étoile. As uvas nativas são as tintas Trousseau (que equivalerá ao nosso Bastardo) e Poulsard (que origina vinhos de cor semelhante ao Pinot Noir) e a branca Savagnin.

Acima, à esquerda, detalhe da casa de Pasteur; acima, os queijo Comté, em forma de roda, que chegam a pesar 80 quilos

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É possível encontrar alguns bons vinhos tintos e espumosos no Jura, mas são os brancos de Savagnin — e alguns de Chardonnay, a casta mais plantada — que valem mesmo a pena, pela sua singularidade e excelência. Além de belos vinhos tranquilos, a região produz também vinhos doces estimáveis, como o Vin de Paille (de uvas colhidas tardiamente e secas em palha) e o Macvin (vinho forti-fi cado com Marc, uma espécie de aguardente).

Mas o mais famoso, e o melhor, é o Vin Jaune, feito unicamente de Savagnin. A sua tipicidade reside no aroma a nozes, amêndoas, manteiga e especiarias e na acidez viciante. As uvas são colhidas tardiamente e o vinho é envelhecido em casco durante seis anos e três meses. Du-rante este tempo, parte do vinho vai-se evaporando — é a chamada “parte dos anjos” — e o restante fi ca protegido por um véu de leveduras que se vai formando à superfície, tal como acontece com o “Fino” em Jerez. O que resta na barrica equi-vale a 62% do total do vinho e, para

respeitar a parte dos anjos, o vinho é engarrafado em garrafas de 0,62 cl, a chamada Clavelin. Por ter sido sujeito a um processo de oxidação suave, o Vin Jaune pode durar uma eternidade. Deve ser bebido entre os 15% e os 17% de álcool, de preferên-cia a acompanhar queijos de pasta dura, como o Comté.

10 Queijo

Para piquenicar, o queijinho pasto-so de A Vaca que ri serve e é con-fi ável. Mas o grande queijo do Jura é o Comté, feito com leite de vaca das raças locais Montbéliarde e Si-mental. Responsável pelo maior volume de produção de todos os queijos que ostentam a classifi ca-ção de Denominação de Origem Protegida em França, o Comté é um queijo de textura fi rme mas fl e-xível, de gosto rico e ligeiramente adocicado. Continua a ser elabora-do praticamente da mesma maneira desde há mil anos. As vacas seguem rigorosos sistemas de alimentação, benefi ciando da existência de abun-dantes e diversifi cados pastos de montanha. A tipicidade do Comté é inconfundível, mas o seu aroma e sabor podem sofrer pequenas varia-ções de cooperativa para cooperati-va, de acordo com o tipo de clima, fl ora e terras onde as vacas pastam.

Os queijos, em forma de roda, che-gam a pesar 80 quilos e são sujeitos a um processo de maturação de vários meses ou anos. Os melhores são os que possuem um selo verde na casca.

Há inúmeros locais onde se pode comprar queijo ou tomar contacto

com a tradição existente em torno do Comté. O mais

extraordinário é o Forte de Saint-Antoine, situ-

ado a 1100 metros de altitude, no coração de uma fl oresta da parte alta do rio Doubs, entre as localidades de Malbuisson e Mé-

tabief. Nas galerias abobadadas deste

antigo forte militar repousam cerca de 100

mil rodas de Comté da casa Marcel Petite.

A Fugas viajou a convite da Rya-nair e do Turismo do Jura

Durante seis anos e três meses, parte do vinho vai-se evaporando — é a chamada “parte dos anjos”

Guia prático

COMO IRA Ryanair voa duas vezes por semana do Porto para Dole (às quartas e aos domingos), a partir de 19 euros por percurso e sem taxas opcionais.

QUANDO IRQualquer altura é boa para visitar o Jura. A Primavera e o Verão, pela abundância de rios, lagos, cachoeiras e bosques, são as estações mais indicadas para os amantes do turismo de natureza. O Outono, quando as vinhas ganham colorações de sangue e fogo, é a época mais romântica. E o Inverno tem como principal chamariz a neve e a possibilidade de praticar vários tipos de esqui.

ONDE FICARAu Moulin des Écources14, Allée Pont Roman Parking de La Commanderie, 39100 Dole +33 03 84 72 72 00Hotel de três estrelas situado num antigo moinho mesmo em cima do rio Doubs. Simples e confortável, dispõe de uma localização soberba.

Residence Charles Sander26 rue de la RepubliqueSalin-Les-BainsHotel simpático e acolhedor situadom mesmo junto ao Museu do Sul e às antigas instalações da Grande Salina, classi!icada como Património Mundial pela Unesco.

Golf Club Val d’AmourChemin du Golf39100 ParceyTel.: +33 03 84 71 04 23Email: [email protected] num ambiente bucólico, o hotel serve um bonito campo de golfe de nove buracos.

ONDE COMERLa Ferme du père François214 Rue Pasteur 39220 Les Rousses, FranceTel.: +33 03 84 60 34 62Restaurante familiar situado em Les Rousses, junto à estância com o mesmo nome. A decoração é um pouco esotérica, mas a comida, de base regional, é muito boa.

Le GrapiotRue Bagier 39600 Pupillin, FranceTel.: +33 03 84 37 49 44Boa arquitectura, grandes vinhos, comida de alto nível. Um belo restaurante situado numa das mais bonitas manchas vitícolas do Jura.

O QUE COMPRARQueijo e vinho. Em qualquer produtor ou cooperativa é possível comprar queijo Comté certi!icado. Em relação ao vinho, aconselha-se a comprar Vin Jaune na sua pátria natural, Château Chalon, e vinhos brancos mais jovens em Arbois e Pupillin. Nesta aldeia, existe uma cave, La Part des Anges, que vende os melhores vinhos da região. De todos, há um produtor cujo nome merece ser memorizado: Pierre Overnoy. Os seus vinhos batem-se com os melhores da Borgonha. E são mais baratos.

OCEANOATLÂNTICO

Paris

e

FRANÇAITÁLIA

ESPANHA

BÉLGICA

SUÍÇADoleJura

Franche-Comté

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Per! l

A terra de José Régio, por onde passaram escritores como Camilo ou Antero de Quental, e onde hoje vive Valter Hugo Mãe, foi também de Ruy Belo. Atraído de Lisboa à foz do Ave pela mulher, a vila-condense Teresa Marques, o poeta de Aquele Grande Rio Eufrates e A Margem da Alegria escondeu o seu coração por aqui. E o fotógrafo Duarte Belo, um dos seus três " lhos, nunca mais esqueceu este lugar. Abel Coentrão (texto) e Adriano Miranda ( fotos)

Duarte Belo e Vila do Conde

A bre Aquele Grande Rio Eufrates, obra poética inaugural de Ruy Belo (n. 1933-1978), com o poema Para de-dicação de um homem. Cujos versos fi nais — “É terrível ter o destino / da onda anónima morta na praia” — pa-recem, premonitoriamente, pô-lo a olhar para aqui. Nesse ano de estreia de 1961, Belo começava uma segunda licenciatura, em Filologia Românica, na Faculdade de Letras da Universi-dade Lisboa, tendo como colega de

curso Maria Teresa Carriço Marques, com quem haveria de casar-se em 1966, na igreja do convento de Santa Clara, em Vila do Conde. A vila dela, que passou a ser de ambos, e dos três fi lhos, nos meses de descanso do tempo passado na capital.

Aqui é, então, Vila do Conde. A Praia da Senhora da Guia, mais pre-cisamente. Onde, um dia, o banhei-ro resgatou das águas um poeta já quase sem sentidos, aturdido da sua vontade imparável de nadar. Onde,

em 1994, Duarte salvou, desse anó-nimo destino lamentado pelo pai no poema, uma onda espumosa com que abriu um dos seus livros de fotografi a, Ruy Belo — Coisas do Silêncio. Se não foi aqui que o poeta escreveu os seus primeiros versos, foi aqui que o fotógrafo começou a fotografar. Numas dessas férias, lon-gas, com a máquina da mãe — uma Voigtländer Vito CD, de onde saíram quase todas as fotos conhecidas de Ruy Belo, tiradas por Teresa.

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Per! l

Ao fi lho Duarte, esse primeiro rolo a preto e branco haveria de lhe durar, parcimoniosamente, até ao fi nal do ano de 1982. Foram as primeiras 36 fotografi as de um homem, nascido em 1968, que hoje guarda o mais vas-to espólio fotográfi co da paisagem portuguesa. Ele percorreu-a toda, freguesia a freguesia, para algumas das suas obras. Portugal Património, cinco anos de trabalho, para dez vo-lumes do Círculo de Leitores, foi a maior delas. Maior ainda só o sonho, gigantesco, de fazer do seu Horizon-te Portugal (www.horizonteportugal.org), um sítio onde possamos encon-trar imagens de um milhão de luga-res deste pais que, mesmo pequeno, tem muito para nos surpreender.

dimensão da sua empreitada de nos abrir uma janela para cada esquina deste país.

Se o trabalho o leva a todo o lado, os afectos levá-lo-iam mais tempo para o único parque nacional do país, a Peneda-Gerês. Ou para esta curva junto à praia, ao Forte de São João Baptista: curva que já foi de pis-ta de corridas — e ele, que até já nem gosta de desportos motorizados, a recordar a entrada clandestina, para ver os treinos, ou os exercícios foto-gráfi cos que foi fazendo, na inicial-mente difícil tarefa de fi xar um carro em movimento. Não está longe da rua Ruy Belo esta curva que, duran-te dezenas de anos, foi a da seca do bacalhau, cujas ruínas, ainda visí-

As contas do fotógrafoQue o diga ele. Antes de se encon-trar com a Fugas na praia que foi sua e do pai, tinha passado onze dias a percorrer o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), retoman-do lugares por onde passara há 20 anos, e de onde trouxe, ainda assim, 17 mil fotografi as. Vantagens da era do digital, elogia, lembrando que, da primeira vez, num mesmo perí-odo de tempo no PNPG fi zera 1260 fotos. As contas estão anotadas num caderninho. Para fazer o mesmo trabalho, Duarte Belo teria, na dé-cada de 1990, de carregar 13 quilos e meio de rolos serra dentro. Um inconveniente, já se vê. Mas nem a evolução tecnológica minimiza a

veis, Duarte colou no seu Facebook após este regresso a Vila do Conde. Como as viu em 1997.

A antiga vila, hoje cidade, man-tém muito do que conhecera. Fal-ta-lhe, é certo, os avós maternos de Duarte, ele de Chaves, ela de Idanha-a-Nova, que tal como Ruy e Teresa se cruzaram em Lisboa. Acabaram a reinventar a doçaria conventual vilacondense, no Salão de Chá Doce de Santa Clara. Quan-do o negócio deixou de estar nas mãos da família, Duarte guardou objectos de trabalho da cozinha da avó. E foi com eles, entre outras imagens — algumas da sua “casa de Verão”, o piso de cima, captadas precisamente nesse seu “primei-

ro ano” de 1982, aos 14 anos — que fez o livro Olívia e Joaquim. Uma obra, editada pela Assírio e Alvim em 2007, que surgiu porque, como diria Olívia, avó e doceira, citada pelo neto, “o trabalho quer amor”.

Em pleno centro histórico de Vila de Conde, por cima do salão de chá, na Rua da Igreja n.º 10, a casa dos longos verões e dos fi ns-de-semana dos anos do curso de Arquitectura no Porto foi um “laboratório” para o jovem fotógrafo. E uma inspiração para o pai. Tem nas costas a matriz quinhentista e, à frente, a Rua de São Bento, merecedora de um po-ema, Esta Rua é Alegre. Que mais parecia um meta-poema — um “fa-lar por falar”, que “alegre sou eu”,

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como escrevia Ruy Belo em Homem de Palavra[s] (1970). Esta é uma das mais típicas ruas da Vila do Conde, a lembrar os idos de 500, em que todos os quelhos não iam dar ao mar mas ao rio, à Ribeira das Naus de onde saíram navios para as rotas do Brasil e da Índia.

Empurrada para um espaço pró-prio — certamente com melhores condições — na margem sul do Ave, a construção naval em madeira ain-da permanecia ali, na marginal ribei-rinha da cidade, nesses verões da adolescência que o fotógrafo veio a Vila do Conde recuperar para a Fu-gas. Desses tempos, recorda o som da carpintaria a marcar o ambiente urbano. Cada bota-abaixo atraía os seus habitantes, como se uma par-te de si de despedisse a caminho do mar, e Duarte Gostava de ver a marginal assim, laboriosa. Hoje, e depois de várias intervenções de re-abilitação, uma nau atraca-nos aos tempos mais antigos e, num edifício envidraçado, celebra-se em silêncio, uma actividade que a penosa crises das pescas, do outro lado do rio, vai pondo em causa.

Um roteiro-poemaAtravés de Ruy, o roteiro por esta cidade podia ser um poema. Um po-ema sobre um lugar onde “o vento norte corta luas brancas no azul do

mar”, onde “o poeta solitário esco-lhe igreja pra casar; sobre o lugar das “luzes a alinhar o rio à noite” — visto certamente do miradouro do convento de Santa Clara, hoje uma gigantesca quase-ruína, a apodrecer por dentro; um poema sobre o sítio “da feira das sextas-feiras”, já sem “gado” e sem “pó”, mas com “povo”, ainda. A Rimar, então como hoje, com esse verso “O lugar onde o cora-ção se esconde”, repetido ao longo de Portugal Sacro-Profano: Vila do Conde, da obra Homem d Palavra[s].

Através de Duarte, o roteiro podia ser uma colecção de imagens. Da-quelas que ele há-de pôr, um destes dias no seu Horizonte Portugal. “Gos-tava de dar um tratamento especial a Vila do Conde”, confessa, prome-tendo levar para ali a capela que nos guia a conversa, o paredão fronteiro, que fotografou batido pelo mar, toda a foz do Ave como o pai a descreveu. “Poria também aquelas rochas” — as mesmas em que se deixou fotografar, estranha sensação, pelo fotógrafo Adriano Miranda, para a Fugas. Ah, e poria a altaneira igreja em que Ruy e Teresa se casaram, com o aqueduto — “intervenção fabulosa no espaço” — a alimentar-lhe a fonte do claustro. Um lugar antigo, granítico, belo.

Recorda o som da carpintaria a marcar o ambiente urbano. Cada bota-abaixo atraía os seus habitantes, como se uma parte de si se despedisse a caminho do mar, e Duarte gostava de ver a marginal de Vila do Conde assim, laboriosa

Na edição de 1 de Setembro da Fugas, no per!il de Carlos Martins, refere-se erradamente que o australiano David Baverstock comprou o espaço da Quinta das Murças em 2008, onde é produzido o vinho Assobio, e que ali investiu 20 milhões de euros. Na realidade a Quinta das Murças é um projecto e investimento de um grupo português — o Esporão. David Baverstock é o director de enologia do Esporão, empresa que a 24 de Outubro de 2008 adquiriu a Quinta dos Murças e o valor de investimento foi inferior a dez milhões. Desde Março de 2011 que o Esporão comercializa as marcas de vinho Assobio DOC Douro, Quinta dos Murças Reserva e Quinta dos Murças Tawny 10 anos, além de um azeite extra virgem. Aos visados, as nossas desculpas.

A FUGAS ERROU

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ViagemEscócia

Na capela de Rosslyn, em cada pedra há um enigmaHá muito cortejada pelos místicos, a Capela de Rosslyn converteu-se num dos principais santuários turísticos escoceses graças ao Código Da Vinci de Dan Brown. Quase tudo o que circula a seu respeito é pura fantasia, mas é mesmo verdade que a pequena igreja ao sul de Edimburgo dimana uma atmosfera especial. Luís Maio

Rosslyn é uma das igrejas esculpidas em pedra mais preciosas da Idade Média. Os seus interiores são decora-dos por toda uma galeria de fi guras enigmáticas, sem óbvia conotação cristã, uma iconografi a rara e nal-guns casos nunca vista noutros tem-plos da época. Daí os rios de tinta esotérica que especulam sobre a sua eventual ligação com os Templários, a Maçonaria ou o Santo Graal. Era, porém, um sítio mais frequentado por místicos, poetas e românticos, até ser chamada ao Código Da Vinci e se converter num lugar de peregri-nação de massas. Hoje rivaliza com Loch Ness no top dos mistérios mais populares da Escócia.

O best-seller de Dan Brown foi pu-blicado em 2003 e cenas da adap-tação cinematográfi ca com Tom Hanks foram aqui rodadas durante uma semana, há dois anos. Antes Rosslyn recebia uns 30 mil visitantes ao ano, depois passaram a ser 120 mil, tanto que teve de sofrer uma intervenção de um milhão de euros, incluindo o restauro e um novo cen-

tro de interpretação. Mesmo assim, apesar das multidões e das restri-ções nas visitas, o sítio continua a exalar uma aura extraordinária, que se torna mais vincada quando se conjuga com a visita do vizinho castelo de Roslin.

A cripta “secreta”“Existe na Grã Bretanha uma capela que contém um texto com centenas de blocos de pedras salientes. Cada bloco é esculpido com um símbolo, aparentemente sem uma ordem, mas criando um código, que os criptógra-fos modernos nunca conseguiram de-cifrar. Mais recentemente ultra-sons geológicos revelaram a presença de um enorme subterrâneo abobadado, escondido por baixo da capela. Essa cave parece não ter entrada nem sa-ída. Até hoje os curadores da capela não permitiram escavações”.

A citação vem da rubrica Factos Bi-zarros do Código Da Vinci, integrada no site ofi cial de Dan Brown (www.danbrown.com/#/davinciCode/bizar-reFacts). A existência de uma cripta

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em Rosslyn veio a confi rmar-se um par de anos mais tarde, quando a ca-pela foi fotografada em pormenor com tecnologia scanner 3D, mas tam-bém já se sabia que no canto sul da igreja havia uma porta que lá ia dar, entretanto fechada. Já a presunção de um código gravado na pedra, mais essa outra tese sugerida no Código — segundo a qual o nome Rosslyn de-clina Rose Line, pretenso meridiano de Paris, que supostamente também passa às portas de Edimburgo — são pura fi cção.

Dan Brown terá, no entanto, in-ventado muito pouco, limitando-se a retomar no seu romance o per-fume místico, decantado por uma profusa literatura esotérica desde meados dos anos 1950. De resto, a extraordinária beleza do sítio, uma vasta área de fl oresta à beira do canal Roslin, onde também se integram um castelo e um cemitério arruinados, há séculos que inspiram admiração e versos apaixonados, incluindo de autores tão marcantes da língua in-glesa quanto Robert Burns, William Wordsworth e Sir Walter Scott (que chegou a viver ali mesmo ao lado).

Rosslyn foi, na verdade, a terceira capela edifi cada na propriedade da família Sinclair, descendente de cava-leiros normandos. Havia a capela do castelo, a do cemitério e fi nalmente esta fundada por William, Príncipe de Orkney, que a projectou como parte de uma igreja mais ampla de planta em cruz, chamada Collegiate Church of St Matthew The Apostle. As igrejas colegiais eram uma moda na época — só na Escócia havia umas

40 — e consistiam em ter um colégio de padres e meninos de coro, incum-bidos de diariamente sagrarem missa e rezarem pelas almas dos proprietá-rios e seus familiares (que nessa me-dida se consideravam melhor coloca-dos para subirem aos céus).

Os trabalhos devem ter arrancado por volta de 1456, mas Sir William faleceu entretanto e o fi lho não quis ou não pôde desenvolver a igreja, limitando-se a mandar colocar um telhado sobre a capela do coro, onde o pai foi enterrado. Daí a exiguidade do templo de 20 metros de compri-mento, dez de largura e doze de al-tura. A Reforma da Igreja Escocesa obrigou à destruição do altares e das fi guras de santos católicos, em 1560, e obviamente ao encerramento da capela como lugar de culto público. Desde aí Rosslyn escapou mais ou menos intacta aos ventos da histó-ria, sendo inclusive renovada — altar novo, vitrais, substituição de pedras quebradas) e reaberta em 1861 pela Igreja Escocesa Episcopal, que nela continua hoje a celebrar culto, ape-sar da crescente pressão turística.

Quebra-cabeças medievalRosslyn pode ser pequena, mas dá pano para mangas. Para onde quer que o visitante se volte descobre esculturas fantásticas e enigmas a condizer. Uma das atracções maio-res é o supracitado conjunto de 213 caixas que se destacam de arcos e pilares, cada um esculpido com o seu próprio padrão. A teoria avan-çada por Dan Brown segundo a qual se trata de um puzzle ainda por

A aura da capela de Rosslyn é reforçada quando as visitas são complementadas com uma ida ao castelo de Roslin

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decifrar parece muito rebuscada. Já a equipa formada por Thomas e Stuart Mitchell, pai e fi lho, investigou a semelhança deste conjunto escul-tórico com os padrões produzidos por corpos em vibração, mais co-nhecidos por ondas Chladni. E assim produziram uma melodia chamada Rosslyn Motet. É engenhoso, mas também pouco convincente: porque raio haviam os arquitectos medie-vais de gravar essa ou, na verdade, qualquer outra melodia na pedra?

Também a peça mais famosa da capela é um quebra-cabeças. Trata-se do Pilar do Aprendiz, um dos três que se erguem na sua ponta oriental (são 14 no total). Cada um desses três pilares recebeu o nome de um grau do progresso maçónico, algures no século XVIII, mas há qualquer coisa que não bate certo quando o pilar mais artisticamente elaborado não é o do Mestre mas o do Aprendiz. A lenda reza que o pedreiro encarre-gue de executar o pilar achou o dese-nho de tal modo complicado que pri-meiro quis ir a Roma ver o original, tempo entretanto aproveitado pelo aprendiz para realizar a obra. Resul-tou numa obra-prima, o que deixou o mestre cheio de inveja, levando-o a dar o castigo máximo ao aprendiz, cuja cabeça rachou ao meio.

É o tipo de conto que faz sorrir meio mundo, mas: 1 — o enredo não era original e conheceu muitas varia-ções entre a malta da construção do século XVIII; 2 — o próprio pilar exibe um apuro artístico realmente só ao alcance de um mestre-pedreiro. Mais pacífi ca é a teoria segundo a qual o Pilar do Aprendiz é uma declinação do mito norueguês de Yggdrasil, a Árvore do Conhecimento, tal como ela sustentado por um colar de dra-gões, de cujas bocas saem os ramos que se vão entrelaçando em torno da coluna. Esta semelhança parece também reforçada pela ligação dos Sinclair a Orkney e aos antecedentes noruegueses desta ilha escocesa.

Muito discutidas também são as esculturas de plantas, que foram identifi cadas com milho e aloé vera, apesar de desconhecidas na Europa na altura da construção da capela. Daí foi um passo até se conjecturar que essas representações vegetais eram uma prova de que os escoce-ses, em particular Henry Sinclair I, avô de William, teria estado secre-tamente do outro lado do Atlântico

muito antes de Colombo lá chegar. Os especialistas consideram, porém, que estas esculturas são demasiado estilizadas para justifi carem conclu-sões tão inusitadas. Mais provável é tratar-se de representações grossei-ras ou descaracterizadas pelo tempo de plantas bem mais familiares.

Há ainda a colecção de mais de uma centena de Homens Verdes (ca-beças de homens envolvidas por fo-lhagem), iconografi a que se sabe ter uma raiz pré-cristã e também se en-contra noutras igrejas medievais, no-meadamente na Catedral de Glasgow. Seriam um produto da época, mas o que mais recentemente se veio a apu-rar é que a colecção de Homens Ver-des de Rosslyn forma uma sequência representando o ciclo das estações (e da vida) desde a Primavera com as cabeças joviais e sorridentes a orien-te, até ao Inverno e às cabeças-esque-leto da ponta ocidental da capela.

Tudo é (im)possívelA profusa decoração da capela jus-tifi ca, mas está longe de esgotar a

extraordinária reputação mística de Rosslyn. A cripta onde ninguém entra há séculos e um cem número de pistas enigmáticas são tão ou mais apelativos. Entramos no domínio do que não se vê, ou não se pode infe-rir do que se vê, mas que por isso mesmo arrasta multidões. Logo a começar pelo tema recorrente em todos os falatórios: a famosa cripta, onde os Sinclair se fi zeram enterrar durante séculos, vestidos a rigor de armas e armaduras.

É suposto a dita galeria subterrâ-nea guardar um tesouro fabuloso, que pode ser muitas coisas. Há uma carta datada de 1546, enviada por Marie de Guise, regente da Escó-cia e mãe da célebre Mary, Queen of Scots, a (outro) William Sinclair, respeitante a um “Segredo” que im-porta ser guardado. Podia ser uma arca cheia de jóias que na altura se dizia ter desaparecido do paço real escocês, mas é esquisito a regente falar em “Segredo” com letra maiús-cula e comprometer-se a ser fi el ao súbdito, quando era suposto ser ele

a declarar-lhe fi delidade. Seria algo bem mais valioso, sustentam os mís-ticos, certamente algo mais do que riquezas materiais — qualquer coisa como o Santo Graal, a cabeça de Je-sus ou papiros secretos, revelando detalhes da vida de Cristo.

Hipóteses que convergem na tese de Rosslyn ter sido um bastião Tem-plário, ordem religiosa que chegou a ser favorecida pela coroa escocesa, construindo o seu quartel–general em Balantrodoch, agora Temple, a dois passos de Rosslyn. A ordem foi dissolvida na Escócia em 1307, mas há quem acredite que depois disso pas-sou à clandestinidade, guardando os seus tesouros religiosos nas profunde-zas da capela vizinha. Chegados ao sé-culo XVIII, o quarto conde Sinclair foi declarado Grande Mestre Maçon na altura em que a Maçonaria se assumiu publicamente na Escócia, sugerindo que a família já detinha esse cargo em segredo, a título hereditário. Os Sin-clair seriam, portanto, o elo perdido entre os Templários e a Maçonaria.

A febre mística tornou-se ainda

ViagemEscócia

É suposto a famosa cripta, uma galeria subterrânea, guardar um tesouro fabuloso

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FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 17

mais delirante quando, em 1982, um trio de “especialistas” britânicos (Baigent, Leigh e Lincoln) publicou O Sangue de Cristo e o Santo Graal, estabelecendo uma conexão até aí insuspeita entre a escocesa Rosslyn Chapel e a francesa Rennes-le-Châte-au. A ligação reconduzia a Pierre Plantard, auto-intitulado Saint-Clair e líder do chamado Priorado do Sião. Autor de um extraordinário embuste, que começou como incentivo turísti-co para um hotel do sul de França, o Priorado do Sião apresentou-se como uma sociedade milenar, encarregue de proteger a linhagem secreta que teria começado na união carnal de Jesus e Maria Madalena, passado pe-la dinastia Merovíngia, para chegar fi nalmente a Plantard. Uma vez que o apelido da família era o mesmo, Rosslyn teria também sido habitada por descendentes de Cristo e poderia muito bem guardar o Santo Graal ou outras preciosidades do género.

Foram estes rumores, que agita-ram os circuitos místicos dos anos 1980, que Dan Brown recriou num

Mais viagens emfugas.publico.pt/

Guia prático

COMO IRLisboa-Edimburgo na Easyjet a partir de 127,52" (www.edreams.pt). O autocarro LRT número 15 liga o centro de Edimburgo (Princes Street — Lothian Road-Brunts!ield) a Rosslyn Chapel sete dias por semana. O trajecto dura cerca de 45 minutos e a frequência dos autocarros em período diurno é de 30 minutos (não fazer confusão com o 15A que não vai à capela). Um táxi cobra pelo mesmo trajecto cerca de 25" (lothianbuses.com).

OCEANO ATLÂNTICO

Mar do Norte

Londres

FRANÇA

REINO UNIDOIRLANDA

Roslin

1000 km

Edimburgo

ONDE FICAR

MAIS INFORMAÇÕES

E que tal !icar no Castelo de Roslin? O conjunto foi restaurado nos anos 1980, em particular, a antiga mansão sobre o promontório, que continua a ser propriedade do Conde de Rosslyn, descendente dos Sinclair. O castelo classi!icado como Monumento Antigo é agora gerido pelo Landmark Trust, que aluga alguns dos seus quartos. Os preços para uma estadia de quatro noites varia entre os 500 e os 900" (www.landmarktrust.org.uk/BuildingDetails/PriceAvailability/242/Rosslyn_Castle) . De resto há vários alojamentos mais económicos na aldeia de Rosslyn e arredores (www.starstay.co.uk/midlothian/hotels_in_and_near_roslin).

www.visitscotland.comwww.undiscoveredscotland.co.ukwww.roslinvillage.comwww.walkit.com

best-seller policial. Claro que nenhum dos “mistérios” em causa resiste à verificação histórica. Os Sinclair foram Cruzados, mas não Templá-rios e, apesar da vizinhança, não hesitaram em denunciá-los, quan-do a ordem enfrentou os tribunais escoceses. A assunção dos Sinclair como maçons no século XVIII deve-se à força das circunstâncias, valendo sobretudo um acto político destinado à Maçonaria escocesa não perder a face em relação à inglesa, que se lhe antecipou na declaração pública. A ligação a Rennes-le-Château e à des-cendência de Cristo não tem, por sua vez, nem pés nem cabeça.

Resta a atmosfera especial que se respira na secular propriedade dos Sinclair. Na capela, mas também no castelo de Roslin, verdadeiro cliché da Escócia romântica, muito menos visi-tado do que ela (fi ca longe da estrada, não há placas a indicar o caminho, o castelo não se vê da capela). O nome Rosslyn deriva da conjugação das pa-lavras gaélicas para rocha e espuma de água, devendo-se à sua localiza-ção nas imediações do rio North Esk. Os rochedos desabaram ou foram re-tirados para construção, de modo que o rio já não é tão estrondoso. Mas o bosque que o rodeia é assim mes-mo de uma beleza extraordinária.

O castelo meio arruinado emerge dessa paisagem frondosa como uma miragem saída de um conto de fa-das. Primeiro construído em 1330, no sítio em que uma pequena força escocesa venceu uma enorme tropa inglesa, o castelo foi edifi cado no alto de um promontório, protegido a três quartos por uma vala profunda. Isso não impediu que fosse várias vezes destruído (pelas armas, mas também pelo fogo) e reconstruído, a aparên-cia actual datando de fi nais do século XVI. Impressiona a ponte de pedra que lhe dá acesso sobre o abismo, a ruína do antigo portão à entrada, o edifício de cinco andares construído a toda a altura do promontório, ainda emoldurado por grossas muralhas defensivas. Também aqui há lendas que falam de um tesouro escondido nas caves, guardado por uma formo-sa dama adormecida. Ou será verda-de que um conde italiano foi lá de-sencantar uma preciosa história da Escócia, desde então guardada a sete chaves na Biblioteca do Vaticano?

O Público viajou a convite do Turis-mo Britânico

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Diário da PikitimVolta ao mundo em família

A Pikitim sabe se estamos em dias de semana ou fi m-de-semana pelo facto de lhe di-zermos que tem ou não de “traba-lhar” — que é como quem diz fazer as fi chas de trabalho enviadas pelos professores da sua escola em Por-tugal. E, claro, há muito que sabe que depois da segunda-feira vem a terça, seguindo-se a quarta e logo de seguida a quinta-feira... e por aí fora. Mas naquela quarta-feira era diferente.

Era o último dia passado em Sa-moa e quisemos avisá-la que o dia iria ser vivido duas vezes. Que irí-amos para o aeroporto já muito à noitinha (o voo era à 01h de quinta),

que iríamos dormir no avião e que, quando chegássemos às ilhas Cook no dia seguinte, depois de esperar-mos algumas horas no aeroporto de Auckland, iria ser outra vez… quarta-feira.

Poderia até parecer coisa impor-tante, mas a Pikitim não se mostrou minimamente interessada. A sua reacção reteve-se noutro aspecto: “Auckland? Isso não é na Nova Ze-lândia?! Vamos lá voltar de novo? Yesssss!”. Nesse momento, muito mais importante do que atravessar a linha do tempo era saber se ia re-gressar ao país de que tanto gostou. Infelizmente, Auckland era apenas uma escala entre voos, mas ainda assim tivemos de lhe responder que sim, que iríamos voltar à Nova Zelândia, porque as ilhas Cook tam-bém pertencem ao país, apesar de estarem tão longe de Auckland. “As-sim como a Nova Caledónia é Fran-ça e os Açores são Portugal?”, res-

Depois de quarta-feira é… quarta-feira

Não entrámos numa máquina do tempo, mas vivemos o mesmo dia duas vezes. Primeiro em Samoa, depois nas ilhas Cook. Mas a Pikitim pouco se interessou, preferindo, em Rarotonga, brincar no The Cook Islands Whale and Wildlife Centre. Mesmo sem avistarmos baleias-jubarte.

Viti LevuYasawasNakula

Matautu’taiVANUATU

Polinésia(FRANÇA)

FIJI

TONGAIlhas Cook

TUVALUSAMOA

NOVA ZELÂNDIA

OCEANO PACÍFICO SUL

NOVA CALEDÓNIA

Tanna

Île des Pins

1000 km

pondeu, perguntando. “E nas ilhas Cook as paisagens são tão bonitas como na Nova Zelândia?”, insistiu, intrigada. “É isso mesmo que vamos descobrir”, respondemos.

As paisagens não são — nem po-deriam ser— iguais às da Nova Ze-lândia, tal a diferença geográfi ca entre os dois territórios. Mas tam-bém são muito bonitas. Foi na ilha de Rarotonga, aliás, que encontrá-mos as praias mais parecidas com os bilhetes-postais imaculados que povoam as imagens promocionais do turismo no Pacífi co Sul. Águas incrivelmente verdes e transparen-tes, areias alvas e fi níssimas e uma vegetação luxuriante. E isto sem visitar a ilha de Aitutaki, abrigo da mais badalada lagoa do arquipéla-go e famosa por conquistar visu-almente o viajante mais exigente, mas demasiado antipática para o nosso orçamento. Ainda assim, a Pikitim estava deslumbrada com as

Luísa Pinto e Filipe Morato Gomes (texto e fotos)

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FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 19

praias que ia vendo ao longo de toda a costa de Rarotonga, conhecidas em duas voltas à ilha montados em scooters alugadas.

O que mais a deslumbrou, para além da transparência da água e da abundância de peixinhos coloridos foi a possibilidade de ver muitas estrelas-do-mar “gigantes e azuis” em lugares como o ponto Fruits of Rarotonga, no sul da ilha, não muito longe da turística povoação Muni. “Posso pegar numa?”, perguntou, sem esperar pela resposta: voltou a colocar a máscara de snorkeling na cara e afundou os braços sem grandes difi culdades, já que a pro-fundidade também era pouca. “São duras! No mar há muito animais bo-nitos, não achas?”, concluiu com simplicidade.

Pérolas como as das sereiasApesar das praias lindas, das águas quentes e calmas e da fauna variada,

Acompanhe o Diário da Pikitim em www.pikitim.com

A travessia da linha do tempo pouco impressionou a Pikitim, mais interessada no centro de baleias com preocupações ambientais e ecológicas

Foi na ilha de Rarotonga que encontrámos as praias mais parecidas com os bilhetes-postais imaculados das imagens promocionais do turismo no Pací! co Sul

assim, todos os dias voltávamos inevitavelmente ao Whale Centre de Rarotonga.

Foi nesse mesmo museu que a Pikitim viu de perto algumas “con-chas”, daquelas em que “dorme a Ariel e todas as suas irmãs” mas que, afi nal, para além de camas de sereias nos fi lmes da Disney são também “ninhos” onde se formam pérolas. “As pérolas são jóias, mãe?” Sim, e demoram quase um ano e meio a crescer debaixo de água para fi carem do tamanho com que as vemos nas lojas. Apesar de ser menina e gostar de colares e pul-seiras, não mostrou muito interesse pelas reconhecidas black pearls das ilhas Cook. “Mas porque é que têm de ser todas pretas? Gostava delas mais coloridas, como as sereias. Não pode haver pérolas de outras cores?” Pode, mas noutros sítios. “Temos de atravessar a linha do tempo outra vez?”

a insaciável curiosidade da Pikitim haveria de ser mais bem alimentada num mini-museu do que dentro de água. E isto porque, desde que, no segundo dia em Avarua passámos no The Cook Islands Whale and Wildlife Centre, a Pikitim começou a pedir uma paragem quase diária no “café das baleias”. Não é um centro gran-de — longe disso —, mas o modesto espólio é enorme na forma como cativa as crianças para a proble-mática da preservação ambiental, proporcionando-lhes várias activi-dades lúdicas e sempre educativas em torno dos grandes cetáceos do planeta.

Foi ao folhear os livros do Wha-le Centre que a Pikitim fi cou a co-nhecer melhor as baleias-jubarte, visitantes assíduos das águas que banham Rarotonga, em especial perto do porto de Avarua.

“Nas ilhas Cook não é preciso procurar as baleias em alto-mar,

são elas que nos vêm visitar”, lê-se nos folhetos turísticos da cida-de. Na esperança de o confi rmar, acostávamo-nos todos os dias no alpendre da bonita casa em que pernoitámos em Avarua, na en-costa de um pequeno monte e com visibilidade privilegiada para o oceano. Luísa e Jam, familiares de amigos samoanos e donos da casa em que graciosamente nos instala-mos, disseram-nos que tinham vis-to duas baleias na semana anterior. Nós tivemos azar e, infelizmente, apesar das elevadas expectativas, não chegamos a ver baleias ao largo de Rarotonga.

“Não faz mal, mãe. Eu também gosto de ver as baleias no museu. Sabes, o que eu mais gosto é daque-les ossos ernooooooooooormes da cabeça da baleia. Elas devem ser mesmo muito inteligentes — se têm um cérebro daquele tamanho, só podem ser muito inteligentes.” E

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20 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012

DesportoGuia

Em Portugal, é época alta de surf o ano inteiro Portugal e o surf nunca pareceram tão apaixonados e o turismo de nicho que resulta da sua união é interessante para a economia. O primeiro guia das ondas portuguesas, que lista mais de 180 spots no continente e ilhas em português e inglês, é lançado dia 11. Os gourmets das ondas estão a chegar? Joana Amaral Cardoso

Surfar em Agosto em… Tavira? Ter uma experiência paradi-síaca nas remotas fajãs de São Jorge? Descer a Avenida da Boavista em ple-no Porto e fazer as ondas da Praia Internacional? Partilhar esperas no mar com o multicampeão Kelly Sla-ter em Peniche ou com Tiago “Sa-ca” Pires na sua Ericeira? Começar na Costa de Caparica, evoluir para Carcavelos, experimentar o cool de Sagres e o ambiente internacional à la Erasmus de Peniche, tiritar no Moledo ou descobrir mais uma onda secreta na zona Centro — o Portugal Surf Guide, o primeiro guia de surf português (e bilingue), lista os 183 pontos para surfar Portugal, uma onda de cada vez.

A viagem (e por conseguinte o me-nos poético “turismo”) está desde sempre ligada ao surf. A sintomática “ride” em inglês é a viagem num tu-bo reluzente e azul, mas também é o carro atulhado de pranchas, fatos e amigos para chegar à praia, passando pelas viagens Endless Summer de free surfers em busca de ondas e, claro, pelas voltas ao mundo dos surfi stas em competição. A surf trip é turismo e o surf português tem época alta o ano inteiro. Ou quase. “O que nos diferencia é a acessibilidade — aterrar em Lisboa e poder surfar logo numa série de sítios —, a qualidade e quan-tidade de oferta. No limite, na penín-sula de Peniche surfa-se todos os dias do ano, esteja o mar grande, peque-no, seja qual for o vento; e em Lisboa diria que há 350 dias de surf por ano.

Nos Açores e na Madeira surfa-se 330, 340 dias por ano, o que é incrível”, diz António Pedro de Sá Leal. “Fa-zer surf todos os dias”, evoca sorri-dente Francisco Cipriano — que sim, surfou em Tavira em pleno Agosto.

E é isso que nos dá vantagem pe-rante a concorrência europeia — sul de França (Hossegor), País Basco es-panhol (Mundaka e companhia) e as Canárias —, defendem os surfi stas e autores do Portugal Surf Guide à con-versa na Praia de Carcavelos. O areal está deserto, um nadador-salvador solitário espera o fi m da época bal-near e só mais tarde chegarão seis rapazes e duas raparigas para testar a subida da maré e umas ondas tími-das que podem desabrochar. Perten-cem a uma escola de surf e o profes-sor cumprimenta António Sá Leal. Surfi sta há perto de 20 anos, tantos quantos Francisco Cipriano tem de função pública, já fez de quase tu-do que o surf pode gerar: escola de surf (uma das cerca de 150 no país) — sim; organizar campeonato nacional — sim; organizar campeonato inter-nacional — sim; ter uma revista — sim. “Sou licenciado em Filosofi a e houve um momento da minha vida em que achei que queria fazer exactamente o que gostava, que era surf, e desen-volvi a minha vida profi ssional toda à volta disso.”

Há três anos, na vertigem dos 40, Francisco Cipriano, hoje assessor do secretário de Estado Adjunto da Eco-nomia e Desenvolvimento Regional, tinha o surf (e a subida ao Kilimanja-ro) como objectivos por cumprir. Já pôs um “visto” em frente a cada um deles na sua lista. Conheceu António como aluno na escola de surf e mais tarde trocavam ideias sobre o que faltava fazer com este mar carrega-

do de potencial, abraçado por uma terra com mais oferta cultural, dos espectáculos à gastronomia, do pa-trimónio ao comércio, do que muitos dos destinos de surf europeus. Uma espécie de Califórnia atlântica, muito pelo clima e pela variedade. Ao dis-por de estrangeiros e de portugueses.

Surf trip dos númerosO guia, que é quase um dicionário português/inglês dos spots do surf made in Portugal, foi em si uma surf trip: 183 locais, Açores e Madeira incluídos, com fotografi a de/ou edi-tada por André Carvalho, mapas, informações sobre cada onda, aces-sibilidades, apoios de praia, ventos, marés, número de pessoas na água e conversas com shapers, surfi stas, do-nos de hotéis, pioneiros ou sonhado-res. É estranho, comenta a Fugas em Carcavelos naquela manhã nublada de fi m de Setembro, que este seja o primeiro inventário do género — que é apresentado dia 11 durante a etapa portuguesa do mundial de surf, o Rip Curl Pro em Peniche. O surf teve um pico de popularidade em Portugal nos anos 1990 e outro na última dé-cada, com o mais internacional dos surfi stas profi ssionais portugueses, Tiago Pires, entre os 20 primeiros do surf mundial. Mas não, não havia um guia total das ondas portugue-sas e país adjacente, apesar de a net compilar informação, de as câmaras produzirem pequenos guias sobre as “suas” praias e de as revistas de surf fazerem a sua divulgação. Portugal Surf Guide é agora editado pela Uzina Books, vai custar 25! e teve apoios de autarquias, companhias aéreas, cerveja, marcas de surf, bancos e grandes empresas portuguesas, mas também do Turismo de Portugal, dos

turismos da Madeira e dos Açores e da Secretaria de Estado do Mar.

Francisco e António viram o po-tencial da natureza, Pedro Bicudo e Ana Horta, do Instituto Superior Técnico, estimaram o do negócio: o seu estudo de 2009 diz que o surf po-de valer perto de três mil milhões de euros por ano ao turismo português. São 1200 quilómetros de costa com ondas de todos os tipos, mas António de Sá Leal não vê nas praias futuras “estâncias em que maciçamente se recebem muitas pessoas”, como na neve, ou “hipermercados de aulas de surf”. “O surf em Portugal é interes-sante e deve ser explorado de forma racional — temos todas as condições para sermos um país destino de surf de qualidade. Estamos longe dos grandes centros de decisão, mas es-tamos no centro do surf”, argumenta geografi camente.

“A maior parte dos surfi stas do mundo ainda não conhece Portugal, mas Portugal é um destino conhecido de surf. Peniche é uma onda que to-

Francisco Cipriano e António de Sá Leal, em Carcavelos, e o guia que chega às livrarias neste mês de Outubro

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FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 21

Melides - “A cultura dos sítios reflecte-os”, diz Francisco Cipriano, como na calma da costa alentejana

Carrapateira - “No Algarve é um surf de paz”, diz António, “uma coisa mais distendida no tempo”, completa Francisco

Fajã dos Cubres, S. Jorge - “Nos Açores a experiência foi fantástica, as pessoas ofereciam-me a onda, porque eu vinha de fora”, sorri Francisco

Jardim do Mar - “A sensação mais forte que fica é a força das ondas e, em alguns casos, o cenário de grandes montanhas verdes”, diz Francisco

Matosinhos - Na região “do Porto há mais pressão, mais gente na água, mas amistosa”, descreve António Sá Leal

Ericeira - “Tem a especificidade de ter o fundo de pedra nas boas ondas e isso selecciona à partida quem vai para lá”, diz António

Caparica - “Esta zona, (linha do Estoril e Costa) concentra 90% dos surfistas em Portugal e isso significa mais gente dentro de água”, explica António

ZONANORTE

CENTRO

LISBOA

ALENTEJO

ALGARVE

MADEIRAAÇORES

As sete zonas do Portugal Surf Guide

Fotos: André Carvalho e André Pontes (Madeira)

dos os surfi stas conhecem por causa do campeonato”, descreve António. “Será que um havaiano vem para Por-tugal fazer férias de surf? Se calhar não. Mas um nova-iorquino sim.”

Hoje, uma surf trip não se faz só de um grupo dentro de uma carri-nha parada sobre uma falésia. Uma família de surfi stas, miúdos incluí-dos, pode, como diz Francisco, fi -car a dormir no Ritz, um dos mais vetustos cinco estrelas de Lisboa, e ir surfar a Peniche e à Costa, voltar a Lisboa para ver um museu, ir às compras e jantar. E o Portugal Surf Guide pensa nessas alternativas. A es-timativa do estudo de Pedro Bicudo e Ana Horta é que cada turista-surfi sta gaste uns mil euros por semana (alo-jamento, deslocações, alimentação e actividades paralelas) e que o nú-mero de estrangeiros que procura as ondas portuguesas ronde os 60 mil por semana — o mesmo número de praticantes portugueses em 2009, de acordo com os académicos. Os mes-mos que podem desconfi ar da veraci-

dade das histórias de um surfi sta de Faro, que podem desconhecer a be-leza selvagem das fajãs de São Jorge. É que este guia também é para eles, para os surfi stas portugueses que “têm por norma viajarem para fora, mas viajarem pouco dentro de Portu-gal”, como descreve António Sá Leal.

Segredos revelados?Francisco e António, autocolante do Portugal Surf Guide no carro e olho no mar que começa a levantar espu-ma, sabem bem como o surf cresceu na última década em Portugal e co-mo a big wave da Nazaré no Guinness, cortesia de Garrett McNamara, po-derá agora trazer um punhado de homens que cavalgam montanhas a Portugal quando houver uma gran-de ondulação atlântica. Há a reserva mundial de surf da Ericeira, os qua-tro Centros de Alto-Rendimento pla-neados para o surf (Viana do Castelo, Aveiro, Nazaré e Peniche), as etapas dos mundiais nos Açores ou em Pe-niche (que criou a marca “capital da

onda”). O surf está cada vez mais li-gado às povoações que o apoiam em terra e as ondas a quem as habita.

Como Carlos Valério, um dos sur-fi stas que lhes abriu portas e ondas para o guia e que marcou Francisco Cipriano. “Uma pessoa que fez aquilo que todos queremos fazer mas que raramente temos coragem, que é che-gar a um sítio — a Fajã de Santo Cris-to, nos Açores — e dizer: ‘vou passar o resto da minha vida aqui’. Vivia nas Caldas da Rainha e decidiu mudar-se para um sítio onde só se chega a pé ou de Moto 4, não há estradas, não havia água canalizada, electricidade, rede de telemóvel. Construiu a sua casa e vida ali. A força que o surf teve para o mover”, suspira. “E falou-nos daquele espaço sem medos, com um espírito de partilha.”

Os secret spots e o localismo, a pro-tecção regional que dá prioridade de usufruto de uma onda a quem a conhece e surfa há mais tempo, são parte integrante da cultura surf. Não é por acaso que algumas ondas fi ca-ram de fora do Portugal Surf Guide. António Sá Leal, que já tinha surfado grande parte dos locais agora listados no guia, é pragmático: “Hoje, com o Google Earth e com uma carta de previsão de marés percebes logo onde podes surfar e onde não há ondas”. Ainda assim, há sítios que são apenas sugeridos no guia — há “pistas, sítios mágicos” —, também porque, por mais apetitosa que seja, se “a onda só aparece duas vezes por ano, as pessoas muito provavelmen-te não iam encontrá-la”, completa Francisco.

O Portugal Surf Guide custou mais de 50 mil euros a fazer e tem pla-nos para o futuro: um site, uma app para smartphones, um pequeno fi l-me para festivais de cinema de surf (Portugal teve o seu primeiro este Verão) e uma série documental so-bre as ondas portuguesas, mas tam-bém sobre a viagem de Francisco e António. Francisco, surfi sta há três anos, descobriu “que Portugal é um destino de surf absolutamente fabu-loso, com cultura de surf própria em cada local” (ver infografi a, em que se destacam alguns spots das sete regi-ões em que se divide o guia). Antó-nio reviu a matéria dada, conhecedor que era de muitas destas ondas, que agora partilhou com Francisco e com os seus anfi triões em cada paragem, conversando no mar.

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22 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012

Viajantes

Francisco Sande e Castro partiu sem saber onde vai dormirÉ uma viagem sem datas nem metas, mas com estimativas: será coisa para dois anos, sempre de mota, à volta do mundo. Marco Vaza (texto) Pedro Cunha ( foto)

O encontro com a Fugas estava marcado para logo a seguir ao almoço. Antes de partir para os primeiros quilóme-tros da sua viagem de dois anos à volta do mundo em moto, Francis-co Sande e Castro almoçou com os amigos num restaurante em Sintra. A moto estava estacionada à porta, Sande e Castro já estava equipado para tirar as fotos para a Fugas com a sua Honda Crosstourer e as chaves estariam num dos bolsos do casaco. Mas qual? Passaram dez minutos e a chave apareceu, depois de ter vira-do o casaco do avesso. Alívio. A par-tida não fi caria adiada. Só leva uma cópia da chave? Sorri. “Sim, mas se calhar, devia pedir outra…”

Francisco Sande e Castro, 57 anos, piloto, empresário, ex-pro-prietário de uma editora discográ-fi ca (foi ele que editou os primei-ros discos dos Delfi ns e dos Sétima Legião) e jornalista ocasional, é o primeiro português que se propõe a dar a volta ao mundo numa moto, uma Honda VFR 1200X Crosstou-rer, cedida pelos representantes em Portugal da marca japonesa. Vai sozinho, não podia ser de outra maneira. Passou anos a pensar no assunto, à espera que as estrelas estivessem alinhadas, à espera do momento perfeito. Que nunca che-gou. “Já há uns anos que pensava

nisso. Como todos os sonhos, uma pessoa tem tendência a pensar: ain-da não é agora. Agora tenho a vida mais ou menos arrumada e decidi que se não fosse agora, já não era. Claro que há coisas que me atra-palham um bocado a vida, mas se estivesse à espera que fi casse tudo certinho, nunca ia”, confessa San-de e Castro.

Serão mais de 70 mil quilóme-tros através de mais de 50 países, um percurso planeado que pode-rá não seguir exactamente à risca. “Não tenho datas nem metas esta-belecidas. E não vou fazer tudo de seguida. Com calma e sem stress”, diz Sande e Castro, que não tem alojamento marcado e leva tenda e saco-cama para aqueles momentos em que não tenha cama para dor-mir — e nunca irá fi car em hotéis de cinco estrelas, a viagem já custou demasiado (cerca de 50 mil euros, suportados pelo próprio quase na íntegra) para ter esses luxos.

A mota está pesada, talvez de-masiado para os percursos em terra que terá obrigatoriamente de fazer, e por isso vai andar em alca-trão sempre que possível. Mas fora das auto-estradas. E viajar de dia. Nunca de noite. “Principalmente fora da Europa é sempre muito pe-rigoso andar à noite”, refere Sande e Castro, que irá fazer pausas entre longas travessias para regressar a casa por uns dias.

Os seus primeiros destinos es-tão mesmo aqui ao lado. Partiu de Sintra, em direcção à Andaluzia, e Barcelona foi o seu destino seguinte.

Primeiro vai apostar no sul da Eu-ropa, um continente que conhece bem, depois começa a verdadeira aventura. Turquia, seguida de Irão, antigas repúblicas russas e Índia. Na Ásia, um continente que pouco co-nhece, não irá passar pela China. “Eles exigiam que levasse um guia local para me acompanhar de carro e eu achei que isso cortava o espírito da viagem.” A Rússia vai ser outro “gigante” por onde não vai passar. E o Paquistão também pode levan-tar alguns problemas, mas Sande e Castro diz que tem um contacto que o está a ajudar. “Há países que são complicados de entrar e pro-vavelmente vou ter de fi car dois e três dias nas fronteiras a tratar de vistos.”

Na América, vai entrar pela cos-ta do Pacífi co, em São Francisco, ir a Los Angeles, fazer a travessia até à costa atlântica, descer para Cuba, atravessar a América Central e descer a América do Sul, visitan-do Brasil, Argentina e outros (mas não todos). “Talvez a Ásia seja o que tenha mais curiosidade de visitar. Mas a Austrália também. Vou fi car lá bastante tempo”, observa. Em África, vindo da América do Sul, vai entrar por Angola até à África do Sul, passar pelo Botsuana, ir a Moçambique, subir pelo Quénia, Tanzânia e Sudão, e passar pela Lí-bia e Tunísia, que será a sua porta de regresso à Europa.

Aos 57 anos, esta é mesmo a grande (e talvez última) aventura de Sande e Castro. Nem pensa, de-pois de acabar esta aventura de dois anos, fazer algo semelhante — ele que já fez travessias de África em automóvel quando participou no rali dos ralis, o Dakar (que, no ano em que participou, saiu de Paris e chegou à Cidade do Cabo), mas nun-ca em duas rodas. Dois acidentes graves em competição no início de carreira como piloto afastaram-no das motos, mas são elas que lhe dá mais prazer conduzir nestes tempos de muitos limites. “É mais divertido andar na estrada de moto do que de carro. Com os limites de velocidade, já não me dá muito gozo andar de carro, de moto, mesmo devagar, dá-me prazer.”

Sande e Castro sente-se mais que preparado para a aventura. “Não faço uma preparação física espe-cial. Nunca fumei, sou saudável… Quando fazia corridas de automó-vel fazia ginásio, corria imenso, mas não gostava nada de fazer exercício, era uma obrigação. Sinto-me linda-mente e espero não ter problemas. Sei que é exigente, mas também é por isso que vou com calma”, diz. Estando sozinho, não vai ter de ne-gociar horários e itinerários. Vai po-der parar quando quiser, seja para dormir, para ler o livro que leva na bagagem — para esta primeira porção da viagem, A Rapariga que sonhava com uma lata de gasolina e um fósforo, o segundo volume da trilogia Millennium de Stieg Larsson — ou para dormir no saco-cama à beira da estrada. E com a chave sempre em sítio seguro.

Aos 57 anos, esta é mesmo a grande (e talvez última) aventura de Sande e Castro. Nem pensa, depois de acabar esta, fazer algo semelhante

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FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 23

Dois homens, 9000 quilómetros e nenhum motorNão é coisa para fracos de pernas nem espíritos timoratos: um britânico e um norte-americano propõem-se atravessar o Brasil apenas com recurso a propulsão humana — de canoa, a pé e de bicicleta. Se conseguirem, serão os primeiros. Luís Francisco

Gareth Jones, bri-tânico, e Aaron Chervenak, norte-americano, ambos de 31 anos, já alcançaram o ponto mais a Norte do território brasileiro. Só por si, isto já é um feito, porque o monte Caburaí (1465 metros de altitude), no estado amazónico de Roraima, é um local remoto, raramente visita-do e localizado em pleno território de tribos nem sempre receptivas a visitas. Mas chegar ao Caburaí foi apenas o prólogo da aventura: Gare-th e Aaron querem ser os primeiros a completar uma travessia Norte/Sul do Brasil com propulsão humana. Terão de percorrer 9000km até ao arroio Chuí, no Rio Grande do Sul.

Esta jornada nunca antes realizada já começou. O seu último tweet, pu-blicado no site da expedição (http://brazil9000.com) a 1 de Outubro con-fi rma: “depois de uma caminhada de 140 km, estamos fi nalmente na nascente do rio Mau river. A nossa viagem para sul através do Brasil co-meça”. O monte Caburaí está situado no maciço montanhoso na fronteira com a Guiana Francesa e a Venezue-la e que culmina no monte Roraima (Venezuela, 2810m). Foi nesta pai-sagem que Conan Doyle se inspirou para o romance O Mundo Perdido.

Algures na fl oresta amazónica, um marco militar assinala o pon-to mais setentrional do Brasil — e

encontrá-lo revelou-se uma odis-seia. Na verdade, só na viragem do século o Caburaí passou a ocupar o seu lugar nos livros de geografi a, depois de uma expedição levada a cabo em 1998 ter demonstrado que fi ca 84,5km mais a Norte do que o cabo Orange, no rio Oiapoque, es-tado do Amapá. Este tardio proces-so de “autenticação” explica que a travessia Norte/Sul do Brasil nunca tenha sido efectuada por meios hu-manos — ou outros, presume-se, porque as escassas dezenas de qui-lómetros de deslocação extra para Norte implicam muitas centenas para o interior do país, forçando o percurso a incluir um longo troço na Amazónia.

Gareth e Aaron pretendem com-pletar a primeira etapa (à volta de 2500km) a bordo de uma canoa, descendo os afl uentes necessários até darem com o curso principal do Amazonas, que percorrerão até à cidade de Belém, já em zona de confl uência com o Atlântico. Aí che-gados, o plano é atravessar a pé a zona da caatinga (zona árida situada no canto Nordeste do país que ocu-pa 10% do território brasileiro) até alcançarem Salvador. Progredindo então pelo litoral, rumarão ao Rio de Janeiro — tudo isto somado, serão 5000km a andar.

A terceira tirada (cerca de 2000km) deverá ser enfrentada sobre rodas. Os dois aventureiros pretendem pedalar, numa rota pre-dominantemente litoral, do Rio de Janeiro até ao ponto mais meridio-nal do país, o arroio Chuí, na frontei-

ra com o Uruguai. A “meta” estará situada num determinado ponto do curso de água, a 2,7km da foz.

A língua de ViniciusMesmo que tudo corra pelo me-lhor, a perspectiva é que a aventura se estenda por mais de 15 meses. E correr pelo melhor não é esperar uma viagem sem incidentes: quem embarca neste tipo de jornadas não vai forçosamente à procura de emoções fortes, mas as difi culdades fazem parte do “pacote”. No caso de Gareth e Aaron, o clima e a vida selvagem nem são as maiores fontes de receio. O grande problema será lidar com os seres humanos. “Dois tipos ocidentais”, “com material fo-tográfi co e vídeo”, “numa canoa no Amazonas” ou “percorrendo a pé os subúrbios pobres das grandes cida-des” fornecem “um alvo tentador”...

Os dois aventureiros não responde-ram ao contacto da Fugas (dispõem de material para comunicar via sa-télite, mesmo na selva), mas numa entrevista ao site Explorersweb falam dos desafi os, da preparação, da logís-tica da expedição e do seu fascínio pelo Brasil. Uma das ideias a reter é que serão “muito rigorosos”: se, por algum motivo, forem forçados a recorrer a algum tipo de ajuda de emergência, marcarão o ponto GPS onde se encontravam e retomarão a

OCEANO ATLÂNTICO

Manaus

Belém

Rio de Janeiro

São Paulo

Chuí

BRASIL

VENEZUELA GUIANA

CHILE

Monte Caburaí

Salvador

Brasília

Recife

PERU

COLÔMBIA

BOLÍVIA

URUGUAI

PARAGUAI

ARGENTINA

viagem a partir daí, logo que possível. A ideia é também documentar a

expedição, em foto e vídeo, de for-ma a criar “um retrato do Brasil” — e isto implicou a criação de uma rede de amigos no país, que possa ir reco-lhendo as imagens recolhidas e guar-dando algum material que não seja necessário nas jornadas seguintes. Será sempre bem vinda a ajuda, não só por razões práticas, mas também emocionais. Uma das coisas que Gare-th e Aaron mais receiam é o desgaste provocado pelo convívio em circuito fechado durante longos períodos de tempo: “É uma parte signifi cativa do desafi o que enfrentamos — como evitar darmos em doidos um com o outro e estragar tudo”, explicou Ga-reth Jones ao Explorersweb.

Mas como é que um britânico e um norte-americano que se conhe-ceram em 2003, em Manchester (Gareth estudava lá e Aaron, vindo da Califórnia, pediu para fi car no apartamento durante uns dias e aca-bou por “acampar” lá durante dez meses), decidem aventurar-se pelo Brasil? A pergunta faz sentido, mas temos de a recuar no tempo, porque em 2010 os dois já tinham feito uma longa incursão pela Amazónia, altura em que receberam dos pescadores locais preciosas lições de sobrevi-vência na zona. Foi uma espécie de prólogo para a aventura de 2012.

Apaixonaram-se de imediato por esses locais de “tranquilidade sem par” e Gareth — que vive há sete anos no Brasil, considera o Rio de Janeiro a sua “segunda casa” e fala português sem problemas — ganhou um aliado na sua paixão pelo gigantesco país sul-americano. E é por isso que, na entrevista ao Explorersweb, quan-do fala dos perigos da expedição, faz questão de salientar que os dois “nunca tiveram problemas graves com criminalidade” nas visitas ante-riores ao Brasil e que “a simpatia das pessoas” foi uma das razões que os levaram a empreender esta viagem.

Ainda no campo das ilusões fi ca o continente africano. Quando lhes perguntam qual o seu destino de sonho, Aaron fala de Madagáscar e Gareth menciona Angola. Ele gosta mesmo de falar português, a língua que começou a aprender, na praia e em bares, para poder compreender os versos de Vinicius de Moraes nas velhas canções que escutava.

O convívio dos dois “é uma parte signi! cativa do desa! o que enfrentamos — como evitar darmos em doidos um com o outro e estragarmos tudo”

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24 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012

Gastronomia

O requinte da cozinha francesa no palco da Casa da MúsicaFoie gras como se fosse trufa, sardinhas como se fossem de barrica e uma vitela com 50 horas de forno. Champanhe, vinho do Porto, queijo da serra, Bach e Brahms. A gastronomia como saborosa manifestação de cultura.

Lugar de cultura e palco privilegiado para as mais di-versas manifestações culturais, a Casa da Música não quis deixar de fora a gastronomia no ano dedicado à França. Foi, assim, por entre con-certos, festivais e palestras, que tam-bém o restaurante e a cultura dos fogões se assumiram como palco no contexto da programação dedicada ao Ano de França.

Mérito para o professor Arnaldo Saraiva e a dinâmica cônsul Aude de Amorim, que optaram mesmo pela disciplina gastronómica para abrir o ciclo de conferências “en-contros (des)encontros”, dedicado às relações entre França e Portugal. E o título “Bon Apetit!” não pode-ria ser mais sugestivo. Como que a

evidenciar, logo à partida, uma das nossas mais vincadas características sociais: é à mesa que tudo começa, se fazem as grandes conversas e se assumem as decisões.

Signifi cativo também o eviden-te sucesso da opção, com todas a iniciativas a ela ligadas a registar entusiástica afl uência e a esgotar rapidamente.

Para além da disponibilidade de um menu cruzando produtos e espe-cialidades dos dois países, o restau-rante da Casa da Música promoveu uma residência gastronómica, com o chef local, Artur Gomes, a convi-dar o estrelado Christophe Girardot, um dos cozinheiros de maior méri-to e reconhecimento da Aquitânia. Terra do magret de pato e do foie gras, a região do sudoeste de Fran-ça orgulha-se ainda pelas ostras de Arcachon e tem também especiais afi nidades com o Porto através dos vinhos de Bordéus.

Quanto às ostras, os franceses

gostam mesmo de dizer que as de Arcachon são as melhores do mun-do, mas diga-se também que nos úl-timos tempos temos provado umas da ria de Aveiro (e também da ria Formosa) que diríamos, muito à nossa maneira: não estão mesmo nada mal! Fresquinhas, graúdas e na companhia dos bons espuman-tes ou verdes que cada vez mais vão aparecendo, os franceses que se entretenham lá com a supremacia mundial que nós por cá também não estamos mal.

E se há coisa que é considerada co-mo uma das maiores iguarias da co-zinha francesa é o foie gras. Foi pre-cisamente com uma demonstração de preparação desta vertente da uti-lização dos fígados de pato ou ganso que tudo começou. A perfeita aliança entre saber e sabor (savoir et saveur), como explicou o chef Girardot.

Primeiro, numa preparação com um tártaro de ostras (as tais de Ar-cachon) e molho de laranja. O es-

calope de foie é corado numa sertã bem quente (para ganhar crosta), sendo depois envolto numa redu-ção de molho de soja doce. Com o sumo e raspas de laranja e os sucos que fi caram na frigideira faz-se um xarope que vai regar o preparado. Por cima coloca-se o tártaro (com cebolinho e um azeite cítrico), coro-ado com umas tirinhas de casca de laranja confi tadas. Como resultado, o aveludado do foie conjugado de forma perfeita e equilibrada com o doce o cítrico e o crocante. As sen-sações que podemos encontrar num champanhe feito a partir de vinhos envelhecidos em madeira, como o Louis Roederer Brut Premier que acasalou com esta versão do foie.

Numa segunda versão, o chef francês optou pela busca de sensa-ções mais marcadas pelos sabores rurais, em contraste com a elegân-cia e delicadeza do primeiro. O foie gras fumado, lembrando a trufa, com tártaro de pêssego e pimenta

O maestro Christoph König escolheu o romantismo de Brahms como companhia para o foie, gordo e pesado; uma sonoridade barroca de Bach, mais arti! cial e artística, para o foie panado lembrando a trufa

José Augusto Moreira (texto) Fernando Veludo/NFactos

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timut. O fígado é moldado em boli-nhas, panadas com farinha de arroz e pão ralado misturados com um pó negro de carvão natural (lembrando a trufa). Às sensações de ruralidade do panado frito junta-se a envolvên-cia fresca do tártaro de pêssego em cubos (vai ao frio com gelatina pa-ra ganhar consistência), conjugados num molho com a gordura do pato e a surpreendente pimenta timut, que vem do Nepal. Tem um atractivo aroma limonado que faz lembrar a nossa erva-limão mas com incom-parável envolvência e intensidade. Para acompanhar só mesmo um grande vinho do Porto como Adria-no White Reserva, da Ramos Pinto, Um blend de vinhos velhos, muitos velhos e também novos, conjugan-do os nobres sabores de evolução e fruta fresca com atraente brilho rosado.

Doutro domínio mas de efeito su-blime, as escolhas musicais do maes-tro Christoph König. A musicalidade

romântica de Brahms como compa-nhia para o foie, gordo, pesado e re-dondo da primeira preparação; uma sonoridade barroca de Bach, mais ar-tifi cial e artística, para o foie panado lembrando a trufa, tal como explicou o maestro titular da Orquestra Sinfó-nica do Porto — Casa da Música.

Sabores autênticosApesar de ter trabalhado ao lado de alguns dos mais prestigiados chefs estrela e ter visto o seu trabalho à frente do restaurante La Table de Montesquieu (La Bréde, Gironde) consagrado pelo famoso guia Mi-chelin, Christophe Girardot é um homem de aparência rural e gostos simples e autênticos. Ficou mesmo deliciado com uma açorda de ovas de peixe e com as pataniscas de ba-calhau que provou num restaurante popular de Matosinhos, como con-fi denciou Bernard Despomadères, o activo director da Alliance Fran-çaise do Porto e um dos mentores

da iniciativa. Para o jantar que coroou a estadia,

que preparou com o chef anfi trião, Artur Gomes, Girardot não esqueceu as sardinhas, produto de idêntica po-pularidade na sua região. Prepara-ram-nas ao estilo das saudosas sardi-nhas de barrica, desespinhadas e um recheio com broa migada e molho de ervas, que é uma das delicias da au-toria de Artur Gomes. O refi namento era dado pelas espinha desidratada (bem saborosa) que acomanhava e um creme de rúcula de claro estilo afrancesado (natas?).

Antes, o sofi sticado ovo a 64º, servido sobre uma cama de creme de cebola e coroado com caviar da Aquitânia, a enquadrar o ambiente de alta técnica culinária. O mesmo estilo no novilho que assou durante mais de dois dias (50 horas) a 65º. Um corte específi co apara peça (pa-leron), extraída transversalmente da zona entre as costelas e o cachaço, plena de sabor. Macia, aveludada e mantendo a textura, acompanhou com deliciosos gnocchi de sabor li-monado que fi zeram as delicias dos comensais.

Para além de uma elaborada sala-da de frutos vermelhos com espuma de arroz doce, as sobremesas jun-taram também especialidades re-gionais como os famosos Canelés de Bordeús e o não menos famoso queijo da serra. Tudo conjugado com vinhos da casa Ramos Pinto. Agradaram especialmente os Duas Quintas Reserva Branco 2010, pela frescura e evidência de aromas, e Porto 20 Anos Quinta do Bom Re-tiro, ao estilo dos melhores Tawny, se bem que alguns dos outros servi-dos padeceram de algum desvio de temperatura.

Além da programação específi ca, a Casa da Música tem no seu restau-rante uma outra destacada valên-cia, que o Porto agradece. Para lá do apuro e comprometimento com a modernidade culinária, o chef Artur Gomes cultiva uma saudável ligação à terra e aos sabores da tradição, de que a lista de petiscos é prova ca-bal. Além da carta sazonal e menus degustação, o restaurante tem um menu diário a preço bem convida-tivo (14 euros), tal como acontece com os jantares associados aos es-pectáculos, que incluem a refeição e o bilhete normalmente abaixo dos 40 euros.

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GastronomiaReceitas

Mousses de Outono, a saber a maçã

Hugo CamposProdução e fotogra! a:

TARTE FOLHADA DE MAÇÃ

Ingredientes1 rolo de massa folhada50g de gengibre em cubos100g de açúcarCasca de 1/2 limão1dl de água700g de maçãs

Preparação:a Num tacho leve ao lume a água com o açúcar, o gengibre cortado em cubos e a casca de limão. Deixe ferver até obter uma calda. Passe por um passador e reserve.a Descasque as maçãs em lâminas fi nas. Recheie a tarteira previamente forrada com a massa folhada.a Regue com a calda e distribua por cima os cubos de gengibre. Leve ao forno.

Ingredientes:1/2l de moscatel colheita tardia 3 folhas de gelatina700 g de maçã1/2l de água150g de açúcar3 claras4 folhas de gelatina

Preparação:a Num tacho leve ao lume o moscatel e deixe ferver até reduzir para metade. Retire do lume e ainda quente junte as três folhas de gelatina previamente hidratadas em água fria. Dissolva bem.a Deite um pouco desta calda no fundo das taças de servir e leve ao frigorifi co até solidifi car.a Descasque e corte a maçã em cubos. Coza-os com a água e o açúcar. Triture e ainda quente, junte as folhas de gelatina previamente hidratadas em água fria. Dissolva bem.

MOUSSE DE MAÇÃ

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TAÇAS DE MAÇÃS SALTEADASIngredientes:3 maçãs 80g de nozes2 colheres de sopa de manteiga2 colheres de sopa de mel1 colher de sopa de açúcarCasca de 1 laranjaCasca de 1/2 limãoCanela q.b.Natas q.b.

Preparação:a Numa frigideira anti-aderente derreta a manteiga e o açúcar. Adicione as cascas dos citrinos e frite um pouco. Junte as nozes grosseiramente picadas, as maçãs em cubos pequenos e frite tudo.a Quando sentir que a maçã está cozida junte um pouco de canela e o mel. Envolva tudo. Sirva em taças com um pouco de natas batidas.

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Vinhos que contam históriasRui Falcão

Um dos axiomas mais reverenciados no mundo da publicidade, repetido até à exaustão por todos aqueles que falam em publicidade de uma forma leiga, é a velha máxima de que toda a publicidade é proveitosa para o anunciante, independentemente de ela se apresentar conotada com uma carga positiva ou negativa. Aos olhos de muitos o simples facto de se comentar uma empresa é motivo sufi ciente para que a promoção seja efectiva, para que o nome seja recordado, para que a semente seja lançada junto dos potenciais consumidores.

Infelizmente, e como tantas vezes acontece na vida concreta, a realidade encarrega-se de refutar esta teoria tão universalmente aceite, envolvendo algumas marcas em processos que se podem transformar em autênticas maldições para a sua estratégia. A publicidade gratuita nem sempre é acolhida com agrado e nem sempre é proveitosa, sobretudo quando posiciona marcas de luxo fora do seu contexto, fora da sua zona de conforto, fora do seu espaço natural.

Uma das vítimas mais conhecidas deste enfado mediático foi a prestigiada marca de roupa norte-americana Abercrombie & Fitch, uma etiqueta indelevelmente conotada com o sportswear com algum status que foi subitamente abalada nos seus alicerces pela presença contínua num reality show norte-americano da cadeia de televisão MTV. Mike Sorrentino, mais conhecido como The Situation, o asnático pequeno delinquente protagonista do famoso reality show Jersey Shore surgia com frequência nos écrans enfarpelado em roupas Abercrombie & Fitch, publicidade muito mal recebida pela marca de roupa que se ofereceu mesmo para pagar ao elenco do reality show para que estes não usassem

as suas roupas.Mas o exemplo mais evidente

das consequências incómodas da publicidade indesejada chega-nos do vinho, mais concretamente do universo restrito das grandes casas de champanhe, vinho intimamente associado ao luxo e à celebração dos grandes momentos da vida. Uma associação directa entre luxo e glamour que todos os produtores de champanhe pretendem promover e conservar a qualquer custo, posição de difícil manutenção quando algumas das marcas mais famosas da região se viram associadas ao movimento da cultura popular hip-hop norte-americana.

A história conta-se em duas penadas e envolve um dos vinhos mais lendários de Champagne, o famosíssimo e caríssimo champanhe Cristal da Roederer, encomendado originalmente no século XIX pelo Czar Alexandre II em garrafa transparente de

cristal, vestido de rótulo dourado e embrulhado em papel dourado com fi ltro UV para protecção total do vinho. Um champanhe de reis e de príncipes, um champanhe de vedetas consagradas e de artistas famosos, de fi guras públicas e de apreciadores dedicados, conotado com o luxo e com uma qualidade irrepreensível.

Mas eis que essa imagem de estatuto social construída ao longo de muitas décadas de publicidade controlada foi arruinada com a súbita paixão da cultura hip-hop por este champanhe de embalagem dourada, uma cultura de rua fascinada por tudo o que seja brilhante ou dourado, uma cultura de imagem tumultuosa que chega a publicitar imagens de armas banhadas a ouro e que subitamente elege o champanhe Cristal a ícone desta cultura, publicitando o champanhe em inúmeras letras de música rap

e apresentando-o em infi nitos vídeos onde o champanhe Cristal é bebido directamente da garrafa entre outros símbolos de sucesso material como as roupas Prada e os automóveis Bentley.

Uma imagem e associação que não agradou aos directores da famosa casa e cujo mal-estar Frederic Rouzaud, o director executivo da Roederer, não conseguiu esconder durante uma longa entrevista concedida à prestigiada revista Economist. Quando interrogado sobre os potenciais confl itos e danos para a casa sobre a associação do champanhe Cristal à cultura rap Frederic Rouzaud respondeu “Eis uma boa questão, mas que podemos nós fazer? Não podemos proibir a comunidade rap de comprar e beber o nosso champanhe”. Uma frase que conseguiu exaltar a cultura hip-hop norte-americana na sua totalidade incitando a inúmeros comunicados e declarações de boicote à marca, garantindo juras de nunca mais mencionar ou comprar o champanhe Cristal.

Quem ganhou com a insurreição da comunidade rapper foi a marca de champanhe Armand de Brignac, um pequeníssimo e até à data quase obscuro produtor, subsidiário da casa Cattier, que subitamente se viu eleito por toda uma cultura hip-hop como novo símbolo de estatuto social e de imagem de luxo brilhante. Para tal contribuiu o facto de os champanhes serem vendidos numa garrafa metálica que no caso do ex-líbris da casa, o Armand de Brignac Brut Gold, também conhecido como Ás de Espadas, ser embrulhado numa garrafa metálica dourada opaca que faz as delícias de uma cultura que aclama os dourados e as imagens exóticas.

Uma decisão salomónica que acabou por fazer a delícia de duas casas, uma por se ver livre de publicidade indesejada que aparentemente banalizava uma marca de luxo discreta, outra por ter ganho uma notoriedade e mercado que desconhecia até então e a que difi cilmente poderia aspirar.

O exemplo mais evidente das consequências incómodas da publicidade indesejada chega-nos do vinho e do universo restrito das grandes casas de champanhe

Publicidade indesejada

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FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 29

VinhoApresentação

O pretexto era a apresentação dos novos vinhos Morgadio da Calçada, feitos pela Niepoort em associação com a Casa da Calçada, de Provesende (Sabro-sa), mas na passada segunda-feira houve mais do que isso. Houve chá Mizudashi frio antes do Porto Bran-co, chá Marimo Sencha a meio da refeição (um creme de cenoura e uma belíssima açorda de alheira) e interpretações de crumble de pêssego em tartelete de amendôa com creme inglês a acompanhar um Porto Colheita 1999 (muito bom) e um Porto Colheita 1954 (excelente) na sobremesa. Não foi um almoço excêntrico, foi antes uma “marida-gem” alargada, um curioso encon-tro entre a arte do vinho, do chá e da doçaria.

Dirk faz os vinhos da Casa da Calçada desde 2004. Quanto mais vinhos conhece e prova, mais in-transigente se diz em relação aos vinhos encorpados, densos e po-tentes que se fazem no Douro. O seu gosto, mais clássico do que as suas múltiplas experiências suge-rem, aproxima-o cada vez mais de vinhos do tipo Baga da Bairrada, região onde a Niepoort tem já um princípio de acordo para a compra da totalidade do capital da Quinta de Baixo, em Cordinhã, Cantanhe-de. Em Provesende e no concelho de Sabrosa, Dirk não encontra os solos calcários da Bairrada, mas tem a frescura da altitude.

É a mesma frescura delicada que se encontra, por exemplo, no chá Mizudashi, uma das várias varie-dades de chá japonês que a alemã Nina Gruntkowski comercializa em parceria com Dirk. Jornalista free-lance, Nina partilha com Dirk o gos-to por chá. Um dia, ao visitarem a única plantação de chá da Europa Continental, no Tessin, no sul da Suíça, fi caram a saber que a planta do chá é a Camellia sinensis. Como o litoral do Norte de Portugal é fértil em camélias, sonharam logo em fa-zer a sua própria plantação de chá. Testaram primeiro uma planta que trouxeram da Suíça para o Porto

Chá e doces com os novos Morgadio da Calçada

e como resistiu plantaram então, em Julho de 2010, as primeiras 200 plantas de chá. Mas por agora ainda só vendem o que importam.

Já Joana Quintas só vende o que cria. Depois de se formar em Res-tauração e Produção Alimentar, esta jovem de 24 anos dedicou-se à pas-telaria gourmet, criando doces com alma (a sua empresa chama-se Swe-et Soul). Há uns tempos esteve na

Casa da Calçada e conheceu um dos proprietários, Manuel Villas-Boas. Este gostou tanto das suas criações que a convidou a estar presente no lançamento das últimas colheitas de Morgadio da Calçada.

E foi assim que Dirk, Nina, Joana e Manuel se juntaram em Provesen-de, na Casa da Calçada — agora tam-bém convertida ao turismo rural e ao enoturismo —, num dia de Verão

tardio. O pretexto eram os vinhos e, na verdade, nem o chá verde de Nina, nem os doces de Joana os ofus-caram. Tanto os brancos de 2011 como os tintos de 2009 repetem as excelentes impressões deixadas pe-las colheitas anteriores. O Morgadio da Calçada Branco Colheita 2001 é um vinho pleno de frescura e fi nesse, com uma mineralidade e uma pure-za de sabores e aromas (cítricos e

fl orais) admiráveis, atributos que o Reserva também mostra mas de for-ma ainda mais refi nada e complexa, tirando partido de um uso criterioso da madeira (é um dos grandes bran-cos do país). Os tintos destacam-se igualmente pela sua verticalidade e frescura natural, em particular o colheita, que, nesta fase, está mais interessante do que o Reserva. Pedro Garcias

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VinhosProvas

ENCOSTAS DO GAVIÃO TINTO 2009

Quinta do Couquinho, MoncorvoCastas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinto CãoGraduação: 14,5% volRegião: DouroPreço: 6,5"

mmmmm

Um (bom) Douro ! lho da crise

uando ocorre uma crise eco-

nómica, o sector dos vinhos é sem-pre um dos mais atingidos. Mas as consequências não afectam toda a gente por igual, porque, se os pro-dutores perdem muito, já os consu-midores fi cam a ganhar. A queda do consumo arrasta a queda dos preços e quanto mais tempo durar a crise mais baratos fi cam os vinhos.

Por causa disso, o mercado inter-no é hoje uma caricatura do que era há meia dúzia de anos. O que ainda se vai vendendo são os vinhos bara-tos. E quando falámos em baratos, falamos em vinhos com um preço da ordem dos dois euros à saída da adega. O grande fenómeno actual é a existência de cada vez mais vinhos de entrada de gama, vinhos acessí-veis e de maior volume, os únicos que, no contexto actual, garantem liquidez aos produtores. Liquidez, não lucro.

Não será propriamente o caso deste Encostas do Gavião, segun-da marca da duriense Quinta do Couquinho. Tendo a sua criação sido “imposta” pelas restrições ac-tuais do mercado, é um tinto com um preço de venda ao público de 6,50 euros, bem acima do preço da maioria dos vinhos que se vende em Portugal. Mas não deixa de ser um preço atractivo. Noutros tempos, pediriam muito mais por ele.

Tinto do Douro Superior, tem um aroma tão intenso que parece saí-do de um frasco de fruta do bosque bem doseada de pimenta. Embora a madureza em excesso em castas como a Touriga Nacional e a Tinta Roriz, duas das variedades presen-tes no lote, tenda a deixar os vinhos exuberantes de mais e até algo enjo-ativos, não chega a ser o caso, por-que na boca o vinho mostra conten-ção, fi neza, suavidade e frescura, dissimulando e equilibrando bem o álcool. Sendo um vinho maduro e aromaticamente efusivo, não é muito extraído, nem está marcado em demasia pela madeira.

Proposta da semana

a Mau mmmmm Razoável

mmmmm Bom mmmmm Bom Mais

mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente

CAZAS NOVAS BRANCO 2011

mmmmm

Cazas Novas, BaiãoCastas: Avesso e LoureiroGraduação: 13% volRegião: Vinhos VerdesPreço: 4,99"

Uma nova marca da região dos Vinhos Verdes, parceria entre Carlos Coutinho, proprietário da Quinta de Guimarães, em Baião, Diogo Lopes e Vasco Magalhães. O primeiro fornece uvas, o segundo faz o vinho, o terceiro assume a sua comercialização. Lote de Avesso com um pouco de Loureiro, é um branco muito perfumado e mineral. Tem um aroma vivo e limpo e é bastante directo e fresco na boca. Impressiona mais pela verticalidade e mineralidade do que pela estrutura e so#isticação. Não é um branco de encher a boca, mas sim de deixar a boca limpa, fresca e preparada para um novo gole. Ou seja, bebe-se muito bem e não cansa. Uma estreia que promete. P.G.

TINTO DA TALHA GRANDE ESCOLHA 2009

mmmmm

Roquevalle, RedondoCastas: Touriga Nacional e Alicante BouschetGraduação: 14% volRegião: AlentejoPreço: 7,45"

Tinto de per#il clássico, com sinais de evolução que apontam para um vinho com mais idade. Isto poderá querer dizer que a sua longevidade não será muito grande, mas, por agora, está interessante, bene#iciando dessa patine precoce. Muito apimentado no nariz, onde também se nota alguma “doçura” do carvalho americano, tem um bom volume e taninos presentes mas redondos. Faz boa #igura à mesa, embora ganhasse com um pouco mais de acidez. P.G.

QUINTA DO ESCUDIAL TINTO 2008

mmmmm

Quinta do Escudial Vinhos, SeiaCastas: Touriga nacional, Tinta Roriz, Alfrocheiro e JaenGraduação: 14% volRegião: DãoPreço: 6,15"

Tinto muito frutado e fresco. Apesar de não ter qualquer contacto com a madeira, não cria nenhum tipo de repulsa na prova de boca. Os quatro anos que já tem ajudaram a temperar os taninos e os seus 14% de álcool também o adamaram. Não sendo muito complexo, bebe-se com bastante prazer. Não cansa e tem boa aptidão gastronómica. P.G.

VALLE PRADINHOS PORTA VELHA 2010

mmmmm

Casal de Valle Pradinhos, Macedo de CavaleirosCastas: Touriga Nacional, Tinta Roriz e outrasGraduação: 13,3% volRegião: Trás-os-MontesPreço: 3,99"

Um clássico de Trás-os-Montes a um excelente preço. É bastante frutado, fresco e equilibrado de álcool. Para um vinho sem madeira e feito sobretudo de Tinta Roriz e Touriga Nacional seria de esperar que fosse um pouco agressivo na boca (devido, acima de tudo, aos taninos difíceis da Roriz). Mas não. O vinho é muito apetitoso e delicado, mostrando taninos surpreendentemente macios, algo só possível com um bom trabalho de enologia. P.G.

Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que estão prestes a chegar ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo com os seus critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada: Fugas - Vinhos em Prova, Praça Coronel Pacheco, n.º 2, 3.º 4050!453 PortoPedro Garcias

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Saber apura o sabor.11 SEMANAS DE DESCONTOS

POUSADA DE VISEU

53% DESCONTONoite para 2 pessoas no Conventodo Desagravo com pequeno-almoço.

Sujeito a reserva mediante disponibilidade até 28/12/2012.Preço original: 200!. Preço com desconto: 89! (IVA incluído).

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Dão

Noite para 2 pessoas com pequeno-almoço.

Sujeito a reserva mediante disponibilidade até 28/12/2012.Preço original: 190!. Preço com desconto: 89! (IVA incluído).

Rua do Hospital, 3500-161 ViseuTELF. 282 240 [email protected] www.pousadas.pt

Validade: Válido para estadias de 6 de Outubroaté 26 de Março de 2013. Excepto de 24 de Dezembroa 1 de Janeiro

POUSADA DE VILA POUCA DA BEIRA

56% DESCONTOPOUSADA DE MANTEIGAS

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2 Noites para 2 pessoas em quarto duplo.

Sujeito a reserva mediante disponibilidade.Preço original: 120!. Preço com desconto: 65! (IVA incluído).

Largo das Moendas, 260 - 3420-178 MouronhoTLM. 962 692 710www.quintarioalva.net

Validade: 31/01/2013, excepto períodos festivos

QUINTA DO RIO ALVA

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Sujeito à disponibilidade dos produtosem stock na loja.

Quinta da Leira, Oliveira de BarreirosS.J. Lourosa, 3500-884 ViseuTLM. 937 015 354

Validade: 31/12/2012

CASA DA PASSARELA

50% DESCONTO EM PROVA

CASA DA PASSARELA

15% DESCONTO EM VINHOS

Válido para compras de 6 ou mais garrafasna loja de vinhos ou para comprasde valor superior a 50!.Sujeito à disponibilidade dos produtos em stock na loja.

Rua de Santo Amaro, 3 - Passarela6290-093 LagarinhosN40’496701 W-7’670174TELF. 238 486 [email protected] www.oabrigodapassarela.pt

Validade: 31/12/2012

QUINTA DO MONDEGO

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Grátis garrafa de Quinta do Mondego Branco,para quem aderir a esta promoção de prova de vinhos.

Sujeito a reserva e limitado ao stock existente.Preço normal: 30!. Preço com desconto: 15!

Estrada do Mondego, Caldas da Felgueira, 3520 [email protected] www.quintadomondego.pt

Validade: 31/12/2012

CHALÉS DE MONTANHA

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HOTEL DO CARAMULO

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Desconto sobre a tarifa de balcão.Pagamento e reserva directamente como prestador do serviço mediante disponibilidade.Não acumulável com outras ofertas ou promoções.

Avenida Dr. Abel Larceda, 3475-031 CaramuloTELF. 232 860 [email protected] www.hoteldocaramulo.pt

Validade: 31/03/2014

HOTEL DOS CARQUEIJAIS

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Desconto sobre a tarifa de balcão. Pagamento e reserva directamente com o prestador do serviço mediante disponibilidade. Não acumulável com outras ofertas ou promoções.Todo o ano excepto programas especiais, Natal,Fim de Ano, Dia dos Namorados, Carnaval e Páscoa.

Estrada Nacional, 339,Serra da Estrela, 6200-073 CovilhãTELF. 275 319 [email protected] www.turistrela.pt

Validade: 31/03/2014

Desconto sobre a tarifa de balcão. Pagamento e reserva directamente com o prestador do serviço mediante disponibilidade. Não acumulável com outras ofertas ou promoções.Todo o ano excepto programas especiais, Natal,Fim de Ano, Dia dos Namorados, Carnaval e Páscoa.

Estrada Nacional, 339, Penhas da SaúdeSerra da Estrela, 6200-073 CovilhãTELF. 275 310 [email protected] www.turistrela.pt

Validade: 31/03/2014

HOTEL DA SERRA DA ESTRELA

OFERTA DA SEGUNDA NOITE,NA COMPRA DA PRIMEIRA

Quarto superior ou júnior-suite. Desconto sobre a tarifa de balcão. Pagamento e reserva directamente como prestador do serviço mediante disponibilidade.Não acumulável com outras ofertas ou promoções.Todo o ano excepto de 15 de Junho a 15 de Setembro,de 15 de Dezembro a 5 de Janeiro e nos feriados.

Rua Principal, 36, 3305-050 Cerdeira, Arganil,TELF. 235 728 125 TLM. 911 017 [email protected] www.qportugal.com

Validade: 31/03/2014

QUINTA DA PALMEIRA

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Pagamento e reserva directamente como prestador do serviço mediante disponibilidade.Não acumulável com outrasofertas ou promoções.

Quinta de São Carlos,Rua São Miguel, 11, 3515-148 Abraveses, ViseuTELF. 232 452 192 TLM. 963 267 [email protected] www.essentials.pt

Validade: 31/03/2014

CALDAS DA FELGUEIRA - TERMAS E SPA

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Validade: 31/03/2014

Sujeito a marcação prévia e ao mínimo de 4 pessoas.

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32 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012

Bar abertoTerrace Lounge 360°

Os 360° do vinho do Porto

A travessamos as entranhas de uma mulher de negro, mas ainda não sabemos. Sabemos, sim, que estamos no topo e não im-porta que seja apenas um quarto an-dar. Este é um daqueles casos em que o nome não engana — ou não engana muito: o Terrace Lounge 360° é ter-raço integral, a atmosfera é lounge e apenas falha, por pouco, os 360° graus de vista. E é nela que percebemos que já só temos o Porto na cabeça. A cida-de, sim, na outra margem, e o vinho, que nos rodeia e nos trouxe até aqui. Ou não estivéssemos no último piso do Espaço Porto Cruz, que tem tudo para se tornar um ícone da ribeira de Vila Nova de Gaia (sobretudo quando visto à noite, brilhante nos LED que o tornam quase uma caixa de luz).

Instalado em edifício do século XVIII e recuperação oitocentista, este espaço tem como ambição celebrar a cultura do vinho do Porto e ao mesmo tempo desmistifi cá-lo e ao seu consu-mo (aperitivo ou digestivo, bebida de sair ou de estar, à lareira ou na pisci-na...). Haverá melhor maneira de fazer cumprir esses desideratos do que com um brinde com o mais famoso vinho português? É aí que entra o Terrace Lounge 360°: foi pensado para fi nal de visita mas também tem vida autóno-ma, à margem dos restantes elemen-tos que compõem esta espécie de or-ganismo, que se quer vivo, do Espaço Porto Cruz — se não, veja-se o horário de funcionamento para percebermos o outro fôlego do lounge.

Não é que falte irreverência no mo-do como se desdobra este espaço, que recorre a elementos multimédia e a al-guma interactividade para nos envol-ver num mergulho que une as raízes ao futuro do vinho do Porto em qua-tro andares: aqui transcende-se o con-ceito de caves (que o Porto Cruz tem, mas não abertas a visitantes) para se aproximar mais de um centro cultural informal, com exposições (destaque à escultura-homenagem de Siza Vieira ao terroir duriense), fi lmes e lazer (res-taurante do chef Miguel Castro Silva incluído). Mas a subversão defi nitiva pode ser vista na carta de cocktails do Terraço Lounge 360°.

É verdade que os cocktails com vi-nho do Porto já não são incomuns; contudo, aqui a criatividade foi dei-xada sem rédeas e sem medida. O resultado conjura uma série de sabo-res aparentemente antagónicos num mesmo copo, sem interditos: o Spicy Pink, por exemplo, é doce e picante (e “rosa”: laranja e chili a harmoni-zar com Pink Cruz, o Porto rosé “da casa”), e, como todos, foi criado por Paulo Ramos — depois sujeito ao crivo de vários degustadores antes de che-gar à carta de cocktails, explica Ana Bolina, assessora do espaço. Uma que não se quer “estagnada”, sublinha, e que, portanto, em breve se vestirá de

sabores mais invernais. Por enquan-to, porém, há Rosemary (poderia ser um já quase prosaico Porto Tónico, não fossem o rosmaninho, o gengibre e a laranja a agitarem a água tónica e o Cruz Branco), Cruz Passion (vinho branco e maracujá) e Pink Mojito (rosé, lima, limão e hortelã) — várias declinações para oferecer o vinho do Porto a degustações por novos (e ve-lhos) públicos.

Claro que não é apenas de cocktails que se faz este Terrace Lounge, que en-contramos tranquilo sob o sol manso de um fi nal de tarde de Setembro. As duas ilhas de sofás e chaises-longues, cor bege e tamanho XL, em torno Andreia Marques Pereira

Mais bares emfugas.publico.pt

ESPAÇO PORTO CRUZLargo Miguel Bombarda, nº 234400 - 222 Vila Nova de Gaia Tel.: 220 92 53 40/220 92 54 01E-mail: [email protected]ário: domingo e segunda

das 12h30 às 19h; de terça a quinta-feira das 12h30 às 24h; sexta e sábado das 12h30 às 02h.Preços: cocktails a 5"; vinho do Porto a copo desde 1,80"; vinho

a copo desde 1,80"; espumante desde 2" (!lûte); sangria (Cruz Pink, vinho tinto e branco) a 2,80" (copo); sangria de cerveja a 2,40" (copo); café a 1"; água a 1"; petiscos entre 1,20" e 7,50".

Esta noite apetece-me

VOLTAR AO RUBIK Esteve oito meses fechado e reabriu com múltipla personalidade. Continua em Alfama, na órbita de Santa Apolónia, este Rubik (Lisboa) que agora é café ao longo do dia, veste-se de bar a partir das 22h e trans!igura-se em discoteca quando o relógio passa a 1h, 1h30.

“ZAZAR”Ao lado da Avenida dos Aliados e a um passo da movida portuense, o Zazá Sandwiches & Bar (Porto) é um oásis de tranquilidade. Oferece refeições ligeiras, petiscos e sobremesas durante todo o dia (de segunda a quinta fecha às 22h, à sexta e sábado às 24h), é pródigo em vinho a copo e cervejas estrangeiras e a insuspeita selecção de 30 de gins premium merece ser descoberta.

de mesas baixas são como dois oásis dentro deste oásis com vista. Diremos apenas que pela frente a vista se abre ao Porto Património da Humanidade, aninhado na Ribeira e trepando até ser apenas o topo da Torre dos Clérigos; por trás, um puzzle de telhados verme-lhos que são as caves do vinho do Por-to; o Mosteiro da Serra do Pilar parece estar ao alcance da mão e o teleférico que o une ao cais de Gaia sobrevoa-nos rasante; a ponte D. Luís exibe-se em toda a sua elegância, observando os barcos que a cruzam.

Entre os encontros inesperados em que se envolvem estes “portos” Cruz (já falamos das sangrias?), espaço so-bra para a “ortodoxia” vínica (a lista de vinhos vai além do Porto, entre re-servas, grandes reservas, colheitas es-peciais) a acompanhar petiscos como requeijão com compota de abóbora ou cordoniz de escabeche, tostadas, presunto pata negra ou salada do mar, rematada com sobremesas.

Voltamos à “mulher de negro”, imagem do Porto Cruz, que estiliza o interior do edifício. São as suas vestes que seguimos para percorrer os inters-tícios o Espaço Porto Cruz com os seus slogans que parecem ganhar vida: pas-samos pelo “país onde o negro é cor” e terminamos em “todas as cores do Douro” — no cenário e no copo.

FERNANDO VELUDO"NFACTOS

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FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 33

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34 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012

Jardinagem

O desa! o: colher e conservar frutas

A produção e o consumo de “fruta da época”, principalmente quando somos nós que a produzimos, tem a vantagem de ser mais barata, ter uma menor pegada ambiental e ter um efeito positivo na economia quer ao nível local, quer nacional. Contudo, se a quantidade de fruta produzida for superior ao seu consumo torna-se necessário proceder à sua correcta conservação. Para se poder conser-var adequadamente a fruta é neces-sário conhecer bem o processo geral do seu amadurecimento, pois esta é constituída por células vegetais que continuam vivas após a colheita, continuando a produzir e a consumir energia através da respiração.

A data da colheita é importante?A determinação do correcto estado de maturação é determinante para se obterem frutos de elevada qualidade.

Saber qual o destino fi nal da fruta ajuda na fi xação da data de colheita: as frutas destinadas ao consumo ao natural devem ser colhidas maduras ou ligeiramente fi rmes, enquanto as que são destinadas à conservação de-vem ser colhidas mais fi rmes.

Como se classificam os frutos quanto ao amadurecimento?É na fase de desenvolvimento, desig-nada por maturação, que ocorrem diversas alterações físicas e químicas ao nível da cor, aroma, sabor e tex-tura que vão infl uenciar a qualidade da fruta.

As mudanças ocorridas nesta fase são desencadeadas, principalmente, pela produção de um gás, o etileno e, em consequência do aumento da respiração do fruto. Este processo ocorre mesmo após a colheita da fruta e, está intimamente ligado com a temperatura. Em geral, tem-peraturas mais elevadas aumentam a respiração reduzindo a longevidade da fruta.

De acordo com o comportamen-to fi siológico as frutas integram dois grupos distintos:

Pouco calóricas, recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (400g por dia) e protagonistas de uma alimentação saudável, as frutas podem estar crescer no seu quintal ou varanda e correr o risco do desperdício. Como conservar — e poupar.

— Um grupo, designado como “cli-matérico”, em que as frutas podem ser colhidas mesmo que não estejam completamente maduras, pois a ma-turação normalmente só é atingida após a remoção dos frutos da árvore. No entanto, não devem ser colhidas muito jovens pois vão conduzir a perdas signifi cativas, principalmen-te do doce. Fazem parte deste grupo a ameixa, banana, fi go, kiwi, maçã, manga, melão, pêra e pêssego.

— No outro grupo, “não clima-térico”, as frutas devem perma-necer na planta até atingirem o amadurecimento completo. Estas frutas não amadurecem depois da colheita, não fi cam mais doces e não melhoram o sabor. Algumas podem até apresentar uma textura mole e mudar de cor, mas se forem colhidas pouco doces, essa carac-terística permanece para sempre. Fazem parte deste grupo: cereja, citrinos, morango, nêspera e uva.

Como evolui a qualidade da fruta?A qualidade da fruta consumida no estado “in natura” (em fresco) não pode ser melhorada, mas somente preservada durante algum tempo. Contudo, a preservação da qualida-de, assim como o período de conser-vação estão intimamente associados ao comportamento fi siológico na pós-colheita. O conhecimento dos processos de morte dos tecidos dos frutos possibilita uma defi nição do período de conservação preservan-do ao máximo as suas características originais.

Como conservar as frutas?Se as frutas estão no grupo “clima-térico”, estas devem ser colocadas num recipiente à temperatura am-biente (numa fruteira, por exemplo) misturadas com frutas do grupo não climatérico para que o etileno pro-duzido pelo primeiro grupo possa amadurecer as outras frutas com menor produção desse gás. Se as frutas são do grupo “não climatéri-co”, a temperatura de conservação deve ser mais baixa (por exemplo, no frigorífi co) para que a velocidade de amadurecimento seja retardada.

Engenheira Agro-Industrial, Mestre em Ciência e Tecnologia dos Alimentos e da Associação Portuguesa de Hor-ticultura

ENRIC VIVES RUBIO

Ana Cristina Correia

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FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 35

Plano de viagem

Quatro dias para descobrir Istambul à mesa, com aulas de cozinha e jantar com uma família turca. Preço: 550# com alojamento, transportes terrestres, transfer e o acompanhamento do guia Francisco Martins. O voo ronda os 300# e alimentação cerca de 40#/dia. Próximas datas: 1 de Novembro e 1 de Maio. www.nomad.pt.

Ar livre

Cá dentro

Lá fora

Régua

Cogumelos na serra da Cabreira

Preço: desde 139" p/pessoa em quarto duplo. Estadia de duas noites no Hotel Régua Douro, com pequeno-almoço e vindimas na Quinta da Avessada, que inclui provas de vinhos, almoço e lanche tradicional e pisa das uvas. Válido até 29 de Outubro. www.abreu.pt

Escapada de !im-de-semana até à serra da Cabreira para descobrir o mundo encantado dos Funghi e os bonitos bosques desta serra. Preço: 219" p/ pessoa, com duas noites de alojamento em quarto duplo, dois dias de caminhadas, acompanhamento por especialista em Micologia, workshop micológico e dois piqueniques. Viagem de Lisboa para a Cabreira com a organização: 35"/pessoa. 27 e 28 de Outubro. www.caminhosdanatureza.pt

Preço: desde 1177" por pessoa em quarto duplo. A bordo do navio Belle de Cadix e durante oito dias parta à descoberta de dois rios: o Guadalquivir e o Guadiana, com partida e chegada de Sevilha e visitas a Cádiz, Jerez de la Frontera, Alcoutim e Vila Real de Santo António. Inclui o cruzeiro em regime de pensão completa, alojamento em cabine dupla e animação a bordo. Partidas a 11 e 18 de Outubro.www.abreu.pt

Pinhão

Cruzeiro das Vindimas Porto/Pinhão Preço: desde 224" e 271" p/ pessoa. A Douro Azul lançou dois programas temáticos para esta época: são dois dias com actividades ligadas às vindimas na Quinta de Campanhã, com refeições a bordo, alojamento e jantar em hotel, almoço regional, degustação de vinho do Porto e participação na apanha e pisa das uvas. O regresso ao Porto é efectuado de comboio. www.douroazul.com

Preço: a partir de 188" p/ pessoa. Oferta válida até 31 de Outubro, com estadia de duas noites no CS Vintage House Hotel, no Pinhão, pequeno-almoço, actividades de vindimas com cantares tradicionais, almoço e lanche e provas de vinhos. http://netviagens.sapo.pt

BTT nas aldeias históricas

De 31 de Outubro a 4 de Novembro, realiza-se mais uma Travessia de BTT- Aldeias Históricas, com um trajecto em quatro etapas, que começa em Celorico da Beira, passa por Trancoso, Marialva, Castelo Rodrigo, Almeida e termina em Castelo Mendo. Preço: 200", com enquadramento técnico, transporte de bicicletas em viatura de apoio, aparelhos de GPS.www.montesevales.com

Israel

Preço: desde 1588" (partida a 12 de Outubro) e 1740" (partida a 22 Março). Circuito de oito dias por Telavive, Nazaré, Galileia, Jerusalém e Belém. Inclui passagem aérea à saída de Lisboa, taxas, alojamento em hotéis, onze refeições e visitas com guia.www.lusanova.pt

Cruzeiro fluvial na Andaluzi

PAULO RICCA

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36 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012

Zoom

Óscares do turismo europeu anunciados hoje no algarvio Conrad

E chegou o gran-de dia. Os “óscares” do turismo europeu são anunciados hoje com Portugal na corrida por 20 estatue-tas com 17 nomeados. E o local de entrega não poderia constituir me-lhor auguro: a cerimónia decorre no novíssimo cinco estrelas algar-vio Conrad, chancela exclusiva da rede Hilton.

A liderar as estrelas nacionais do turismo está Lisboa, que consegue re-petir as cinco nomeações anteriores para melhor destino europeu global, destino de escapadas urbanas (city breaks), aeroporto, porto e destino de cruzeiros. Também em destaque volta a estar a TAP, nomeada para melhor companhia aérea e classe executiva da Europa, o Turismo de Portugal ou a Praia Dona Ana.

Na hotelaria, o Villa Joya — o único nomeado português que conquistou um destes prémios em 2011 e que viria a afi rmar-se como o melhor do mundo na cerimónia global — perfaz duas nomeações: melhores boutique hotel (que dis-puta com o Choupana Hills e o Ho-tel Quinta da Bela Vista) e boutique resort (inclui ainda Choupana Hills, que concorre também a hotel “ver-de” e resort insular — nesta catego-ria, com o Reid’s Palace).

Na categoria luxo, entra o Pesta-na Carlton (Madeira) e a lista dos melhores hotéis design inclui o também madeirense The Vine. Para melhor resort concorre o Sheraton Algarve Hotel; resort tudo incluí-do, o algarvio Da Balaia Club Med e o Pestana Porto Santo; resort de golfe, o Dona Filipa & San Lorenzo e Hotel Quinta do Lago; resort de reuniões, o Vila Sol; e entre os villa resort está o Martinhal Beach.

Os World Travel Awards, organi-zados desde 1993, dividem-se por

Lisboa lidera nas nomeações nacionais, como city break ou destino europeu, entre outras

Esta semana na Fugas onlineNa espuma da festaMunique viveu a maior das festas de cerveja do mundo. Veja as melhores imagens da Oktoberfest, uma fotogaleria onde correm uns sete milhões de litros de cerveja...

Vai um escorpião tostadinho?A comida que para uns é impensável (ou mesmo ilegal), para outras partes do mundo é um acepipe (e petisco sine qua non). Volta ao mundo em 30 comidas radicais, não aconselhável a estômagos sensíveis. World Travel AwardsVeja a fotogaleria e vencedores em fugas.publico.pt

Lady Liberty prepara-se para voltar ao activo

Low-cost asiática cria zona sem crianças

Feira TT ocupa praia de Mangualde

E clássicos mostram-se em Matosinhos

A Estátua da Liberdade em Ellis Island, Nova Iorque, vai reabrir a visitas depois de, no último ano, ter sido vedada para obras que visaram melhorar a segurança de quem visita o monumento e que custaram cerca de 27 milhões de dólares (20,9 milhões de euros). A partir de 28 de Outubro, data em que Lady Liberty comemora 126 anos, devolve-se “um ícone do século XIX para o século XXI”, como sublinhou há um ano o secretário norte-americano do Interior, Ken Salazar. O público poderá assim regressar ao monumento e até visitar a coroa da estátua, agora com novos mecanismos de segurança, nomeadamente contra incêndios, sistema eléctrico renovado e escadas e elevadores a estrear. Para ter acesso à vista da coroa será necessário, além de marcação de visita, escalar 350 degraus. C.B.R.www.nps.gov www.nycgo.com

Voar livre de gritos infantis. Essa é a proposta da companhia de baixo-custo malaia AirAsia X, que anunciou a intenção de vedar o acesso a sete !ilas, entre os corredores 7 e 14 (i.e., logo a seguir aos lugares de primeira classe), a passageiros com menos de 12 anos, especi!ica a empresa no seu site. A “zona de sossego”, como é designada, estará disponível a partir de Fevereiro

e sem quaisquer custos acrescidos, avançou a AFP.

A medida não é inovadora: também a Malaysia Airlines restringiu, em

Junho do ano passado, a entrada de crianças na primeira classe dos

seus A380 na sequência de queixas recebidas e apesar de a companhia ter admitido que a medida implicaria uma

quebra nas receitas.www.airasia.com

Trial, navegação, passeios. O todo-o-terreno está de volta a Mangualde para se mostrar nas suas mais variadas vertentes. A feira, organizada pelos clubes Dá Gás e Rodas no Trilho com o apoio da autarquia local, está instalada na Praia Arti!icial de Mangualde até amanhã. Mas, além dos vários stands presentes, há actividades programadas: depois de ontem ter arrancado com uma prova trial, hoje (a partir das 12h) está previsto um momento para apurar a navegação e amanhã, a partir das 9h30, há passeios, tanto em todo-o-terreno como em BTT.expottmangualde.blogspot.pt

O Autoclássico — Salão do Automóvel e Motociclo Clássico e de Época está de volta à Exponor, em Matosinhos, para a sua 10.ª edição. Até amanhã, há mais de 40 mil metros quadrados para visitar que, repartidos por cinco pavilhões, revelam alguns exemplares clássicos de automóveis e motociclos, abrigam associações e clubes e promovem o mercado de peças e acessórios. Mas as atenções deverão concentrar-se no Motorshow, que ocupa todo o pavilhão 5, onde também se encontra o paddock, e em cujas exibições participam alguns pilotos de renome: em 2011, o destaque foi para Miki Biasion, antigo campeão de rali.www.eventosmotor.com

dez regiões — África, América Cen-tral, América do Norte, América do Sul, Ásia, Austrália, Caraíbas, Europa, Médio Oriente e Oceano

Índico — com as galas de cada divi-são a decorrerem ao longo do ano e culminando numa cerimónia fi nal (com os prémios para os melhores

do mundo), que este ano está mar-cada para Dezembro em Nova Deli, na Índia.

www.worldtravelawards.com

CARLA ROSADO

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FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 37

As 5 coisas

Sydney

1Sydney Fish MarketO Mercado do Peixe de Sydney é o local ideal para juntar uns amigos e comer os mais variadostipos de pratos piscatórios. Desde de o famoso “!ish and chips”, passando por ostras Kilpatrick e acabando com sashimi do mais fresquinho que se pode arranjar. Tudo enquanto se contempla a ponte Anzac e se tenta afuguentar as atrevidas gaivotas aussie.

2Barbecues à beira-marA Austrália tem a bela tradição do churrasco na praia. Todas as praias da cidade como Bondi, Bronte ou Coogee têm instalações de churrasco grátis e à disposição de quem quiser. Por vezes pode-se estar uma boa meia hora à espera de uma vaga para se assar a salsicha, mas, tendo uma geleira cheia de cerveja por perto, a conversa !lui entre amigos e desconhecidos e a tarde passa num instante.

3Livraria KinokuniyaÉ difícil encontrar livrarias em Sydney e a Kinkuniya é quase tão difícil de localizar como depronunciar. Nesta que é a única loja na Austrália de uma cadeia japonesa de livrarias, facilmentese perde horas (e dólares) a saciar os desejos literários. Escondida no terceiro andar de um prédio adjacente à principal estação de comboios da cidade, torna-se um autêntico santuário numa zona de constante movimento e caos urbano.

4Newtown e Surry HillsO lado mais alternativo de Sydney. Seja na longa avenida de King St. ou na rede de perpendiculares e paralelas de Surry Hills, comeca-se o dia com um brunch num café hip, segue-se para uma tarde de compras em lojas de discos ou de roupa em segunda mão, recupera-se com um jantar vietnamita ouafricano mais em conta (para o bolso australiano) para se acabar bebendo uns copos ao som de uma banda local.

5Manly FerryA resposta de Sydney ao cacilheiro. O barco que faz o serviço para Manly, na costa norte de Sydney, permite, pelo preço de um transporte público, ter a vista de um cruzeiro turístico com a ponte de Sydney Harbour e a Casa da Ópera como elementos em destaque num pano-de-fundo de arranha-céus já de si impressionante.

Celso Paiva tem 29 anos, é engenheiro civil e vive e trabalha em Sydney há dois anos.

de que eu mais gosto...

...em

As fugas dos leitores

Os textos, acompanhados preferencialmente por uma foto, devem ser enviados para [email protected]. Os relatos devem ter cerca de 2500 caracteres e as dicas de viagem cerca de 1000. A Fugas reserva-se o direito de seleccionar e eventualmente reduzir os textos, bem como adaptá-los às suas regras estilísticas. Os melhores textos, publicados nesta página, são premiados. Esta semana com um exemplar da colecção Arquitectos Portugueses. Mais informações em fugas.publico.pt

Madrid, Agosto de 2012

Eu e a minha mulher voltámos os dois a Madrid para estar, ver, visitar Madrid. Low-cost, como teríamos feito, mesmo sem crises.

Madrid continua a ter muito que ver — se bem que prefi ro, vá-se lá entender porquê Londres — pelo que começámos pelo Palácio Real, que nos fez pensar que alguém, no caso o actual rei, não sabe ou não consegue deixar o “poder” e está na fase de fazer fi guras que não se coadunam com quem soube tao bem ajudar Espanha a passar da ditadura para a democracia, sem guerras.

Continuámos a pé pelo meio de muitos turistas, espanhóis, italianos, orientais. E fomos passando pela Ópera, Plaza Mayor, Porta do Sol. Pelo caminho comprámos agua e acabámos por fazer sanduiches que comemos em frente ao Congresso dos Deputados, que estão de férias.

Tínhamos dois bilhetes de metro para turistas que nos permitiam viajar indefi nidamente por dia, que havíamos utilizado do aeroporto ao centro da cidade, onde fi cámos num hostal, muito simpático, muito pequeno, muito cómodo e limpo.

Depois um dia para museus: o Prado fez-nos andar para trás de 1899, vendo reis e o cruzamento destes com tantos outros de outras monarquias europeias, para hipoteticamente não se perder o sangue dito azul. Vimos imagens belas de pintores célebres de todo esse período.

A seguir, Museu Rainha Sofi a, que a partir de Janeiro próximo vai contar com o ainda director do nosso Museu de Serralves como seu sub-director. Enorme, arte contemporânea, e o que mais pessoas atrai é sem duvida: Guernica de Picasso. Havia um grupo de orientais ávidos por absorver cultura e conhecimento. Guernica era a centralidade.

Saindo, a estação de Atocha, que foi alvo de um dramático atentado de prepotência da Al- Qaeda, que matou e feriu pessoas

que naquele dia viajavam de metro e de comboio.

De louvar os centros de informação para turistas, bem preparados para nos ajudar. Vá-se lá saber porquê não falo espanhol e não arrisco o espanholês, falo em português; se não me entendem, uso o inglês, a minha mulher faz o espanholês e lá nos compreendemos. Curiosidade: sou Amigo de Serralves, mostrei o cartão, não faziam a mínima ideia no Rainha Sofi a onde era Serralves, mas mesmo assim fi zeram-me 50% de desconto.

Um dia para o Escorial e Vale dos Caídos. O primeiro bem maior do que o nosso Convento de Mafra, sem quartel — ainda bem — e, lá dentro, mais bem conservado. Também lá se deve ter gasto dinheiro que nunca por nunca deve poder faltar à cultura.

De seguida Vale dos Caídos, o único local que me “tocou imenso” nesta estada em Madrid. Um espaço feito no interior de uma montanha no meio do nada, pelo ditador Franco, supostamente em memória dos mortos da Guerra Civil 1936-39. Claro que a ideia foi o ditador deixar obra a lembrá-lo, e é deslumbrante, de tão grande e com um forte silêncio — sente-se o silencio, a doer —, uma excessiva mistura entre a Igreja de Roma

— à época — e o poder de um ditador, e tantas pessoas devem ter morrido a construir aquele monumento. Mas impressiona o silêncio e faz-nos pensar no que de muito bom por vezes o ser humano faz, mas em tantas mais vezes faz o mal.

Andar a pé em Madrid ou noutro local faz-nos estar no meio, ver tudo, sentir tudo. O metro ajuda-nos em certas ocasiões, quando sentimos que já não temos 20, 30, 40, 50 anos e algumas distâncias a pé são-nos impróprias para a idade.

Na ida para o Escorial e Vale dos Caídos, de camioneta, nota-se a crise em Espanha. Um mar de segundas casas, fechadas, abandonadas, à venda sem comprador, sem dinheiro! E espante-se ou não, o tique das rotundas com tralha dentro não é um privilégio de Portugal, de Viseu ou de S. João da Madeira, lá é igual.

E um avião “plantado” em frente ao Ministério do Exército do Ar, em Moncloa, fez-me lembrar quando em trabalho estive no Senegal — tem mais de 25 anos, uma forma estranha, de mostrar força! Bélica!

Madrid continua a ter que ser visitada, vale muito, aprende-se muito, mas já se sente nas ruas, nas caras das pessoas a crise, o desconforto. Ruas menos limpas, mas jardins muito bem tratados.

A Europa não pode fi car-se por ser um museu do mundo. Seria muito pouco.

Aproveitámos ainda, claro, para visitar o Museu Thyssen-Bornemisza, com peças, essencialmente quadros, do século XVIII ao XX, gostei de rever Freud, o neto do homem da psicanálise, que representa a mulher tão da mesma forma como a nossa Paula Rego.

Por fi m regresso a casa, sempre low cost. Ficando sempre a esperança de para o ano, haver mais, para além das crises. Augusto Küttner de Magalhães

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38 | FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012

Motores

As pick-up podem medir-se aos palmos. A Fiat Strada, apesar de bem parecida, é capaz de não encher as medidas num primeiro contacto, mas ao " m de algum tempo deixa revelar o que de melhor possui. Luís Filipe Sebastião (textos) e José Fernandes ( fotos)

A Fiat apregoa que a Strada nasceu para o trabalho, mas como tem vindo a ser costume no segmento das pick-up os seus ar-gumentos vão mais além e também permitem que seja usada no lazer. A motorização 1.3 Multijet, com 95cv, está disponível na confi guração de cabine curta, longa e dupla, e mes-mo o nível de equipamento superior Adventure ainda se faz pagar por um valor atractivo.

A Fiat decidiu produzir a Strada no Brasil, mercado onde a marca italiana é bastante popular, mas concebeu-a para o mercado global. A versão base, designada Working, contempla na exígua lista de equipa-mento da cabine curta (dois lugares) a direcção assistida, o ABS, com dis-tribuição electrónica da força de tra-vagem, os encostos de cabeça ajustá-veis e a roda sobressalente normal. Isto por uns competitivos 16.980!.

A cabine dupla, além do espaço para quatro ocupantes, acrescen-ta pouco mais do que as barras de tejadilho. O nível Trekking, de ca-bine curta ou longa (dois lugares e espaço adicional atrás dos bancos), mantém a vocação de trabalho com

regulação do volante em altura e fa-róis de nevoeiro. No topo da gama surge a Adventure, em cabine longa ou dupla, que já possui ar condi-cionado e airbags para condutor e passageiro.

As protecções em plástico que envolvem a carroçaria, principal-mente em torno das cavas das ro-das, fazem todo o sentido da parte de fora. Assim como as barras me-tálicas associadas à estrutura sobre o tejadilho, ou os estribos junto às rodas posteriores, para facilitar a subida para a caixa de carga e que lhe conferem um ar patusco e re-sistente. Já no interior o abuso dos revestimentos em plásticos rijos acaba por impor um visual demasia-do austero, que pode fazer sentido quando se pretende um veículo à prova de todo o tipo de actividade. O cenário pode animar um pouco com os opcionais bancos e volante forrados em pele (1107!).

Sob o capot, a Fiat acomodou o seu conhecido motor 1.3 litros Mul-tijet, com 95cv. Este turbodiesel de quatro cilindros, muito linear na entrega da potência às rodas dian-teiras, acaba por proporcionar uma utilização bastante prazenteira. A transmissão manual de cinco velo-cidades, com uma boa repartição das relações, contribui para tirar um rendimento muito satisfatório, seja em percursos citadinos, seja

Tem de haver vida para além do trabalho

bom trato, corrige com facilidade eventuais escorregadelas da sec-ção posterior, naturalmente mais pronunciadas com a caixa de carga em vazio. Os pneus de rasto mis-to, montados nos níveis de equi-pamento Trekking e Adventure, também benefi ciam a progressão por caminhos de terra, ao mesmo tempo que reforçam a aderência e dão uma mãozinha extra quando é preciso compensar trajectórias mais fechadas. Os pisos soltos são, aliás, onde a Strada mostra uma notória desenvoltura, que adicio-na uma pitada extra de aventura às escapadelas da rotina diária.

A Strada Adventure parte de um preço base de 20.831!, mas a uni-dade ensaiada somava à factura mais 2521,50! em opcionais, en-tre os quais a pintura metalizada (307,50!), os retrovisores exteriores eléctricos (184,50!) ou o tecto de abrir manual (615!). Os bancos e o volante em pele, também presen-tes, integram um pack LumberJack (1217!), só disponível para o nível superior de equipamento, que in-clui ainda a pintura em vermelho específi co, acredite-se ou não, mui-to catita.

Fiat Strada 1.3 Multijet Adventure cabine dupla

por caminhos no campo. O ma-nuseamento é que podia ser mais preciso, em especial no que toca ao engrenar da quinta velocidade. Os consumos, frugais, fi cam-se pelos 5,5 litros por cada centena de qui-lómetros percorridos.

A suspensão assegura um apoio consistente em curva, mas a car-roçaria adorna. Ainda assim, nada que assuste em demasia, mesmo levando em conta que não está dis-ponível a mais do que banalizada ajuda do programa electrónico de estabilidade (ESP). A direcção, de

s Visual, desempenho em terra apesar de dispor

apenas de tracção dianteira, motor, consumos, preço competitivo

t Alguns plásticos, desenho do tablier, limitada

regulação do banco do condutor, equipamento escasso

BARÓMETRO

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FUGAS | Público | Sábado 6 Outubro 2012 | 39

À VONTADE DO FREGUÊS DIZ!ME POR ONDE ANDASNo topo do painel de instrumentos, visualmente arrumadinho q.b., estão montados três mostradores em plástico, de desenho um pouco duvidoso. Um deles exibe uma bússola, algo que se revela sempre de uma utilidade inquestionável nos casos de umas escapadelas por caminhos pouco habituais. Os outros dois consistem em inclinómetros, laterais e longitudinais, que permitem uma leitura dos graus de inclinação do veículo em percursos mais trialeiros. Tudo muito bem conjugado numa boa ideia, que podia ter sido materializada através de uma estética mais apelativa e até mesmo prática (com sol torna-se difícil visualizar os valores).

A tela de cobertura da caixa de carga faz-se pagar por 307,50" e as !ivelas em plástico para destapar e cobrir o espaço podem não durar muito, mas que são práticas de usar, lá isso são. A capacidade da área de carga varia entre 580 litros (na cabine dupla), 800 litros (cabine longa) e 1100 (na curta). A opção pelo tipo de cabine deverá assim ser ditada pelas necessidades do tipo de transporte de carga ou de passageiros. A altura ao solo da caixa é de 54 centímetros e o peso da carga útil ronda os 700 quilos. A roda sobressalente, em tamanho normal, está arrumada encostada à parte de trás da cabine, do lado de fora.

LIMITAÇÃO TÉCNICAO banco do condutor não regula em altura, limitando o conforto de ocupantes mais altos, que podem bater com a cabeça no tecto. Um condicionamento que não é de menor importância, porquanto a possibilidade de regulação para a frente e para trás e da inclinação das costas do assento podem não ser bastantes para encontrar uma boa posição de condução. Ainda para mais, o volante apenas pode ser ajustado em altura, mas não em profundidade. O acesso aos lugares traseiros também não é famoso; já o espaço é su!iciente. O tecto de abrir manual pode ser um opcional a considerar para dar mais luminosidade ao habitáculo (indispensável sem o ar condicionado).

BOTÃO QUE FAZ DIFERENÇAO botão do sistema ELD (Electronic Locking Di# erential), só disponibilizado na Strada Adventure, está assim como que escondido, do lado esquerdo do volante, junto aos botões de ajuste da altura das luzes dianteiras. O mais natural seria que o E$Locker estivesse posicionado no painel central, mas, en!im, gostos não se discutem... O mais importante é que o comando de bloqueio electrónico do diferencial dianteiro constitui um auxiliar precioso para fazer progredir a Strada por caminhos de de!iciente aderência, o que aumenta as capacidades fora do asfalto desta pequena pick-up com uma alma acima da sua aparência. O sistema desliga-se automaticamente por volta dos 40 km/h.

FICHA TÉCNICAMecânicaCilindrada: 1248ccPotência: 95cv às 4000 rpmBinário: 200 Nm às 1500 rpmCilindros: 4 em linhaVálvulas: 16Alimentação: turbodiesel de injecção directa por conduta comumTracção: dianteiraCaixa: manual de 5 velocidadesSuspensão: independente, do tipo McPherson, com braços oscilantes transversais e barra estabilizadora, à frente; eixo rígido e amortecedores telescópicos de duplo efeito, atrásDirecção: pinhão e cremalheira, com assistência hidráulicaTravões: discos à frente e tambores atrás

DimensõesComprimento: 445,7 cmLargura: 170,6 cmAltura: 163,1 cmPeso: 1285 kgPneus: 205/65 R15Capac. depósito: n.d.Capac. carga: 580 litrosDistância ao solo: 20 cm

PrestaçõesVelocidade máxima: 159 km/hAceleração de 0 a 100 km/h: 13,2sConsumo misto: 5,3 litros/100 kmEmissões CO2: 140 g/km

Preço : 20.831"(unidade ensaiada 23.352,50")*Dados do construtor

EQUIPAMENTOSegurançaABS: Sim, com distribuição eletrónica da força de travagemAirbags frontais: SimAirbags laterais: NãoAirbags laterais traseiros: NãoAirbags de cortina: NãoAirbag de joelho para condutor: NãoControlo de tracção: NãoPrograma Electrónico de Estabilidade: Não

Vida a bordoVidros eléctricos: SimFecho central: SimComando à distância: Sim (com alarme)Direcção assistida: SimRetrovisores eléctricos: Opção (184")Ar condicionado: SimAbertura do depósito interior: NãoJantes de liga leve: SimRádio CD: SimComandos no volante: SimVolante regulável em altura: SimVolante regulável em profundidade: NãoComputador de bordo: SimAlarme: Opção (Oferta em 2012)Bancos dianteiros eléctricos: NãoEstofos em pele: Opção (1107")Bancos aquecidos: NãoTecto de abrir: Opção (615")Navegação por GPS: NãoTelefone integrado: NãoRegulador de velocidade: NãoSensores de chuva: NãoSensores de luminosidade: NãoSensores de parqueamento: NãoFaróis de nevoeiro: SimFaróis de xénon: NãoLava Faróis: Não

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MotoresNovidades

Porsche Panamera e Cayenne estão mais picantesOs tempos não estão de feição para luxos, com o prometido agravamento " scal. Mas seguindo o lema de que “parar é morrer”, a Porsche amplia as gamas Panamera e Cayenne com apimentadas versões GTS. Luís Filipe Sebastião

O Porsche Pana-mera representa uma opção natural para todos aqueles que, sonhando com os pergaminhos desportivos do clássico 911, precisam de um automóvel com quatro lugares. O modelo da marca germânica reforça os seus atributos dinâmicos com a versão GTS (Gran Turismo Sport), a partir do bloco 4.8 litros, que neste caso debita 430cv.

Baseado no motor atmosférico de oito cilindros em V montado no Panamera S (400cv), o bloco do GTS desenvolve mais 30cv de

potência e aproxima-se da versão Turbo (500cv), onde o mesmo V8 é sobrealimentado por dois turbos. O binário desta versão desportiva também sobe 20 Nm, comparando com o S.

Mais potente, o GTS tira também partido da precisa e rápida trans-missão automática de dupla em-braiagem PDK, de sete velocidades, com uma gestão muito linear por sua conta, face ao pisar do acele-rador, mas que pode ser refi nada através das patilhas atrás do volante ou do comando da caixa na consola central. Nas acelerações ou recupe-rações, fi ca a sensação de que sobra sempre fôlego, ainda para mais com uma entrega mais suave do que a “força bruta” da natureza dos Tur-bo. O som roufenho do escape pode

ser “ampliado” mediante um botão próprio na consola.

O pacote Sport Chrono, de ori-gem, acrescenta aos modos Normal e Sport uma terceira confi guração, Sport+, com adaptações específi -cas da forma como a força motriz é transmitida às quatro rodas. E conjuga-se com a eficácia do chassis, que integra a suspensão pneumática adaptativa, que per-mite rebaixar em um centímetro a carroçaria, com o Porsche Active Suspension Management (PASM). É quanto basta para compensar a oscilação e aumentar o apoio do amortecimento em traçados sinu-osos. O bom tacto da direcção ajuda à aparente facilidade em dominar a “fera”. O sistema de travões, usado na versão Turbo, também ajuda à

mas será preciso levar em conta que o preço também fi ca a meio cami-nho entre o 4S (versão com tracção integral, como o GTS), que custa 146.997! e o Turbo (186.749!).

SUV talhado para o asfaltoA nova geração do Porsche Cayenne assume-se cada vez mais como um SUV (Sports Utility Vehicle) estradis-ta, atirando para trás das costas a vocação de todo-o terreno. Por isso, a versão Gran Turismo Sport (GTS) vem reforçar os argumentos mecânicos, através de um aumento de potência do bloco 4.8 litros V8 para 420cv.

A imagem exterior não engana e o GTS apresenta uma a secção frontal muito parecida com o Cayenne Tur-bo, destacando-se ainda as saias late-

confi ança.Em termos estéticos, o Panamera

GTS exibe alguns detalhes específi -cos na dianteira e na traseira, como os faróis bi-xenon e luzes diurnas em LED, mas não foge muito ao visual das restantes versões. No in-terior predomina a qualidade geral esperada, com destaque para os re-vestimentos em pele e alcântara, materiais empregues no volante para assegurar uma aderência ex-tra. A capacidade de carga da mala chega aos 445 litros, enquanto no capítulo da segurança passiva estão disponíveis airbags frontais, laterais e de joelho (condutor e passageiro da frente) e de cortina para todos os ocupantes.

O Panamera GTS, que chega em Novembro, começa nos 160.387!,

PANAMERA GTSMotor: 4806cc, 8 cilindros em V, injecção directa a gasolinaPotência: 430cv às 6700 rpmBinário: 520 Nm às 3500 rpmTransmissão: integral, automática PDK 7 velocidades.Veloc. Máxima: 288 km/hAceleração 0 a 100 km/h: 4,5sConsumo médio: 10,9 l/100 kmEmissões CO2: 256 g/kmPreço: 160.387"

CAYENNE GTSMotor: 4806cc, 8 cilindros em V, injecção directa a gasolinaPotência: 420cv às 6500 rpmBinário: 515 Nm às 3500 rpmTransmissão: integral, automática Tiptronic S de 8 velocidades.Veloc. Máxima: 261 km/hAceleração 0 a 100 km/h: 5,7sConsumo médio: 10,7 l/100 kmEmissões CO2: 251 g/kmPreço: 131.448"

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rais proeminentes, os guarda-lamas salientes e o avantajado “spoiler” traseiro que prolonga o tejadilho com um desenho de dupla asa.

O aspecto “queque” deste SUV que assumiu uma maior predilec-ção pelo asfalto, apesar de ainda possuir atributos que lhe possibi-litam progredir com uma pitada de aventura fora dele, prolonga-se para o interior distinto e luxuoso, onde a qualidade de construção e dos materiais de revestimento (pele e alcântara em destaque) estão ao melhor nível do emblema alemão. Os bancos desportivos à frente, com ajuste em altura, proporcionam uma boa posição ao volante.

A Porsche não esconde que este é um SUV mais vocacionado para as performances desportivas, que ambiciona ser mais do que uma versão entre os Cayenne S e Turbo. Por isso, o bloco V8, de 4,8 litros e 400cv, montado no S, viu reforçada a potência para 420cv, repartida pela efi ciente transmissão auto-mática Tiptronic S de oito veloci-dades. Motor e caixa, que integram a função automática de paragem e arranque (start/stop), com um funcionamento sem mácula, foram optimizados para não descurar as aptidões desportivas, traduzidas no arranque dos 0 aos 100 km/h em 5,7s. Na prática, a força transmiti-da às quatro rodas assegura uma resposta pronta e possante.

O chassis, equipado com o sis-tema de amortecimento variável PASM, que deixa escolher entre a melhor solução do momento – Comfort, Normal e Sport –, apre-senta-se 2,4 centímetros mais bai-xo, em comparação com a altura ao solo do Cayenne S. A direcção, precisa, também ajuda a retirar proveito do apoio fi rme e contro-lado em curva.

A meio caminho entre dois mun-dos um pouco distintos, o Cayen-ne GTS faz-se pagar a partir dos 131.448!, mais 16.803! do que o S e menos 35.607! do que o Turbo.

Um roadster Mercedes também pode gastar gasóleo

As linhas impo-nentes transmitem potência e agres-sividade no bom sentido: o design do SLK, em especial na traseira, com dois escapes, cativa. Os 204cv de potência e 500 Nm de binário deste descapotável de capota rígida, a tracção traseira, a estabilidade em curva, a reacção rápida e precisa às manobras do volante evidenciam o carácter desportivo deste roadster. E, no entanto, o SLK a diesel sente-se mais como um carro normal do que como um desportivo puro.

No caso da versão que conduzi-mos, o ruído percebido no habitácu-lo é o de uma berlina a gasóleo e não o característico de um desportivo puro. Tem força e responde com rapidez e precisão às manobras do volante, mas é uma força tranquila – não se tem a sensação de ser um carro nervoso que desafi a o condu-tor a pisar o acelerador. Dir-se-ia que não ladra, mas com performances superiores às de muitos desportivos, morde muito bem.

Os bancos são simultaneamente desportivos e confortáveis e os dois ocupantes não se sentem acanha-dos no habitáculo. Em contraponto aos pedais de alumínio, a uma caixa manual de 6 velocidades precisa e de relações curtas, às jantes de 18 polegadas com pneus Pirelli PZero de ultra alta performance e medidas diferentes por eixo (225/40 ZR18 à frente e 245/35 ZR 18 atrás), aos tra-vões de grandes discos (ventilados à frente), a suavidade e o conforto da suspensão são mais apanágio de uma limusina.

Este SLK 250 CDI, a iniciação dos

roadster da Mercedes com motor a gasóleo, consegue ser uma coisa e o seu oposto. Pode-se fazer uma con-dução desportiva e, numa estrada sinuosa de montanha, provou as suas potencialidades, mas, pelo conforto que proporciona, convida também a viagens longas (até tem sistema de detecção de cansaço do condutor…) ou, em especial no Ve-rão, a uma condução calma, com a capota recolhida, a velocidades moderadas (a apreciar a paisagem e o carro, numa estrada à beira-mar, até sofremos uma buzinadela de um automobilista mais nervoso).

Sendo desportivo, este descapotá-vel vem dotado da tecnologia Blue-EFFICIENCY (BE) para redução de consumos e emissões, com modo de funcionamento Eco (e dados sobre a efi ciência de condução no computa-dor de bordo), sistema Start & Stop (paragem e arranque automáticos do motor) e indicador de mudan-ça de velocidade. É como aquelas senhoras da alta-sociedade que or-ganizam chás de benefi cência para ajudar os pobrezinhos. Mas, como essas senhoras, a “caridade” do SLK 250 CDI reduz-se a isso: apesar dos apregoados 4,8 l/100 km de média de consumos, a realidade aproxi-mou-se dos 8,0 l/100 km. Talvez em plano e a velocidades comedidas se consigam fazer médias abaixo dos 6,0 l/100 km, mas nunca numa con-dução normal do dia-a-dia.

Apesar de medir apenas 4134 mm

A Mercedes, tal como outras marcas premium, também prova que gasóleo e carácter desportivo não são termos incompatíveis. João Palma

de comprimento, a pouca altura (1301 mm) e os 1801 mm de largura, bem como o capot alongado fazem com que este bilugar pareça maior do que na realidade é. Porém, é fá-cil arranjar uma posição cómoda de condução e a visibilidade a 360º é excelente – quase que não se tornam necessários os sensores de estacio-namento dianteiros e traseiros (op-cionais) para o arrumar. No habitá-culo, a qualidade dos acabamentos e materiais estão à altura de uma mar-ca de prestígio como é a Mercedes e os comandos e instrumentação são de fácil manuseamento e leitura. Um contra é o facto de a capota só se poder accionar com o carro parado. Noutros descapotáveis, é possível

fazê-lo a baixas velocidades.Os puristas consideram que os

descapotáveis têm que ter capota em lona. Porém, a capota rígida poderá ser menos bonita, mas pro-porciona outro conforto acústico e térmico. A desvantagem prática é o espaço requerido para a alojar, quando recolhida. No caso do SLK, a capacidade da mala reduz-se de 335 para 250 litros. Porém, a desmentir a argumentação falaciosa de muitas marcas para impingirem aos clien-tes o kit de “reparação” de pneus (ganhar espaço, poupar peso, etc.) e amealharem uns trocos a custo da segurança e conforto dos utilizado-res, sob o fundo da mala encontra-se uma roda de emergência.

Apesar de razoavelmente equipa-do, o preço-base deste descapotável é uma mentira. No veículo que con-duzimos, o equipamento opcional representava um custo adicional de 13.400!. E se alguns dos opcionais, como os estofos em pele (1900!) ou o sistema de navegação (2050!) se poderão considerar extras, outros como os sensores de estacionamen-to (1200!), de chuva (150!) ou de luminosidade (1400!) deveriam ser de série num veículo deste ní-vel. Exagerado é também o preço da pintura metalizada (1000!). O carro que conduzimos tinha capo-ta de metal, mas a Mercedes, por 3250!, propõe um tecto em vidro com transparência variável de acor-do com a intensidade do sol.

MERCEDES SLK 250 CDI BE*Motor 4 cil. em linha, 16v, 2143cc, gasóleoPotência 204cv às 4200 rpmBinário 500 Nm às 1600$1800/rpmVeloc. máxima 244 km/hAceleração 0/100 km/h 6,5sConsumo médio 4,8 l/100 kmEmissões CO2 124 g/kmPreço 49.950" (unidade ensaiada: 63.350")* Dados do construtor

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Memória fotográ! caLuís Francisco

Oque faço aqui? Como é que isto me aconteceu? Para que lado devo avançar? São perguntas que me vão assaltando a cada passo trôpego pelo solo lavrado fundo há muitos meses, agora ressequido e invisível sob o espesso manto do capim. São válidas e prementes as questões, esclareço já, porque estou aqui à procura de comida e bebida, de livre iniciativa e completamente perdido. Mas há uma dúvida que suplanta todas as outras, enquanto me desgraço aos repelões por uma paisagem que não compreendo rumo a um objectivo cuja localização, para já, ignoro. A pergunta do milhão de dólares é: como é que o capim pode crescer até esta altura?

Capim, sim. Isto não é África, mas bem podia ser. Ou, melhor pensando, ainda bem que não é, sob pena de dar de caras com algum leão esfaimado de cada vez que cambaleio para a frente nesta inusitada selva de caules que me dá por cima da cabeça. Assim como assim, já me bastam o calor, os mosquitos, o suor, as moscas, os arranhões nas pernas, os mosquitos, o calor, a fome, a sede, os mosquitos, o cansaço, o suor, as dores no pé que há bocado acertou num calhau, as moscas...

De onde me saiu esta selva quase impenetrável? Olhei ao longe e parecia uma pradaria suave, conduzindo mais rapidamente à estrada e ao restaurante do que o caminho de terra batida que traça curvas elegantes, mas totalmente desnecessárias, colina acima e colina abaixo. Saí, por isso, do caminho. Optei pelo atalho. Como tantas vezes nos acontece na vida, depressa me arrependi.

É nestas alturas, dizem, que vemos a vida a andar para trás, uma forma bem popular de aludir ao fenómeno comummente descrito pelas pessoas que

experimentaram situações de morte clinica. No meu caso, porém, ou a perspectiva de morte está a ser claramente exagerada ou a memória se apegou estranhamente aos últimos 20 minutos, exactamente aqueles em que selei esta minha triste sina. Alguém se esqueceu de trazer o saco com o farnel e, portanto, era preciso um voluntário para ir buscar comida e bebida.

Que me lembre, éramos três. A mim cabia-me conduzir o carro e, genericamente, liderar a expedição — embora, em termos práticos, isso não quisesse dizer nada, tinha sido ideia minha virmos à pesca. Pai é pai e não íamos mandar o velhote buscar o almoço... Sobrava o irmão mais novo. Devia ter sido ele a vir, eu voluntariei-me. Mas porquê?!

Sim, um dia de pesca sem

carvão, entrecosto e cerveja gelada é como sairmos com uma rapariga para descobrirmos ao longo da noite que ela, apesar de ser gira à brava e não ter namorado, é implacável adepta do partido do Governo e adora falar de macroeconomia... Quem olhe de longe até pode pensar que nos estamos a divertir, quando na verdade a única coisa que queremos é sair dali. Em qualquer dos casos, impõem-se medidas rápidas e é nestas situações que se afi rmam os verdadeiros líderes. Foi isso que pensei quando dei o passo em frente.

Ou nisso ou na cerveja que ia beber ao balcão, largos minutos antes de os outros dois poderem molhar o bico. Não... Na verdade, ao oferecer-me para ir buscar comida e bebida, eu estava a salvar todos os mancebos que

como se não houvesse amanhã. E, já agora, o capim está sequinho e cortante como as frases do ministro Vítor Gaspar.

Se vos conto esta história é porque, naturalmente, lhe sobrevivi. Por pouco. Depois de pedir — e engolir — com maus modos uma caneca de cerveja ao balcão, dirigi-me à casa de banho e vi-me ao espelho. Roxo de calor, olhos raiados de vermelho, palhas e outro diverso material vegetal espetado no cabelo, um fi o de sangue a escorrer de um lanho na testa, as pernas completamente escalavradadas, imaginei que a rapariga do balcão, mal lhe dirigi palavra, em vez de pôr as bifanas ao lume, tenha começado de imediato a procurar a saída de emergência mais próxima ou o alarme de incêndio mais acessível a sabotagem.

Isto não é África, mas bem podia ser. Ou, melhor pensando, ainda bem que não é, sob pena de dar de caras com algum leão esfaimado de cada vez que cambaleio

Um atalho que não valeu a pena

PED

RO C

UN

HA

já se viram, de súbito, a dizer a uma rapariga “Huumm, huum!” enquanto procuram a saída de emergência mais próxima ou o alarme de incêndio mais acessível a sabotagem. Isto era uma missão humanitária.

Já agora, pormenor fi nal nesta crónica de fracasso, o carro estava ali à mão. Mas achei que não valia a pena... Ainda faltava algum tempo para a hora do almoço e sempre esticava as pernas. Tudo isto é uma imbecilidade grotesca, porque estávamos em Julho, no Alentejo e, conforme poderá confi rmar quem tenha relógio, “algum tempo” antes da hora do almoço é qualquer coisa entre as 12h e as 13h. Altura em que, claro, o sol está a pino, os bichos de morder mordem com alma, os de arranhar arranham à bruta e os de chatear exercem a sua tarefa

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