6
E PRECIS0 DOBRAR OFOLEGO

E PRECIS0 DOBRAR OFOLEGO o feito da semana passada em garantia de sucesso na Olimpiada de 2016. "0 resultado em Doha nio 6 um prognostico para o Rio daqui a dois anos, ninguem aqui

Embed Size (px)

Citation preview

E PRECIS0 DOBRAR OFOLEGO

0 sucesso do Brasil no campeonato mundial em piscina curta 6 animador, mas niio garante medalhas no Rio em 2016 - atravessar 25 metros, com direito a um numero maior de viradas, 6 muito diferente de percorrer os 50 metros olimpicos

ALEXANDRE SALVADOR

"N os, nos ganhamos?", perguntou o campeio olimpico e mundial Cesar Cielo, momentaneamen- te gago. "P ri... Primeiro lugar?

Uau!" Deu-se o espanto de Cielo logo depois da vitoria no revezamento 4x100 metros medley no campeonato mundial em piscina curta (25 metros), em Doha, no Catar. 0 podio na derra- deira prova garantiu ao Brasil uma ine- dita primeira posiqio na competiqio. Foram dez medalhas, sete de ouro. Es- pantoso, sim, mas nada que se compa- re a barriga tanquinho, seis gomos de- lineados, do nadador Guilherme Gui- do, alvo de piadas dos prbprios compa- nheiros nas redes sociais. "Respira, Guidio" ou "Guidio fica trincando na hora das fotos. Saio mais do lado dele, nio!" foram algumas das frases publi- cadas pelos campe6es. Guidio, espe- cialista em nado de costas, tem apenas 7,9% de gordura no corpo - a media da seleqio de nataqio chega a 10%. E, no entanto, apesar da anatomia privi- legiada, os amigos revelam, sim, que, do alto de seu 1,94 metro, ele prende a respiraqio para sair bem na foto.

Bem na foto saiu a equipe brasilei- ra, reverenciada pelos adversirios e especialistas. Contudo, nio e possivel transformar o feito da semana passada em garantia de sucesso na Olimpiada de 2016. "0 resultado em Doha nio 6 um prognostico para o Rio daqui a dois anos, ninguem aqui e bobo", admitiu a VEJA Alberto Silva, o Albertinho, chefe tecnico da equipe brasileira que dispu- tou o mundial. "0s atletas, treinadores e organizadores comemoraram muito. Foi um desempenho fantastico, disse- ram que foi historico, mas precisamos ter maturidade e saber que torneios em piscina de 25 metros e de 50 metros, como a da Olimpiada, s io diferen- tes." Um olhar retrospectivo ensina que nem sempre bons resultados em provas com travessia em raia de 25 metros significarn podio em piscinas de dimen- s6es olimpicas. Dos 96 medalhistas do mundial de piscina curta de 2010, em Dubai, nos Emirados kabes, apenas um terqo repetiu o feito nos Jogos de Londres, dois anos mais tarde. 0 ame- ricano Michael Phelps, o maior meda- lhista olimpico de todos os tempos, so tem no curricula uma medalha em mundiais de piscina curta.

A mecdnica dos movimentos dos atletas na hgua e o metabolismo do corpo humano que fazem a beleza da nataqiio ajudam a explicar a discre- pincia de resultados das provas em piscinas de 25 metros, como a de Do- ha, e de 50 metros. A percepqio logi- ca faz crer que, dado o tempo perdido nas viradas, com a inversio do senti- do do nado, os recordes em piscinas curtas seriam marcas mais lentas. E o contrario. Como os nadadores ganham impulso ao tocar nas bordas, ganha-se tempo (veja a compara@o de recordes na pdgina anterior).

Alqam voo, portanto, os craques das viradas, realizadas minuciosa- mente. "Em piscina curta, os funda- mentos s io mais decisivos do que em uma piscina de 50 metros", afirma o ex-treinador Alex Pussieldi, comenta- rista de nataqio do SporTV. "0s atle- tas que possuem uma tecnica mais apurada na saida do bloco e na virada costumam ter melhores resultados nessas provas." Do ponto de vista fi- siologico, usar a parede azulejada co- mo uma mola propulsora faz o nada- dor descansar, desgastando menos seu corpo (veja detalhes no quadro acima).

Se competiqbes em piscina curta siio diferentes das olimpicas, e se nio fun- cionam como termbmetro, por que dis- puta-las? "Servem de base para a prepa- raqio dos atletas", resume Pussieldi. Grandes p o t h i a s como Estados Uni- dos e Australia nio enviam forqa mk i - ma, porque preferem se concentrar no ciclo olimpico. De qualquer forma, para paises emergentes no esporte, como e o caso do Brasil, vitbrias, mesmo curtas, ajudam a romper a barreira mental que separa campeoes de sonhadores. A per- nambucana Etiene Medeiros, vencedo- ra dos 50 metros costas, agora recordis- ta da prova, foi a primeira brasileira a conquistar uma medalha individual em mundiais. E animador, ainda que seja preciso dobrar o fblego. rn

COM REPORTABEM DE RENATA LUCCHESI

Mais viradas, menos tempo 0 ~mpulso dado nos toques nas bordas favorece os recordes mund~a~s nas provas de plsclna curta, de 25 metros

Fonte Fma

mundial (China) (Australia) (Riissia) (Brad) (Africa do Sul)

Diferenqa

EUA Rljssia Cesar Cielo Amaury Leveaux Cameron Cameron van der Burgh van der Burgh

Aaron Peirsol NickThoman (Brasil)

(FranCa) (Africa do Sui) (Africa do ~ u i ) ( W (EUN

u A vimda e compreendida entre o momento em que o atleta para de nadar e submerge e a retomada das brawdas. h e process0 pode tomar de 3 a 6 segundas

Para percorrer a mesma disthcia (200 metros), o nadador de piscina curta executa 7 viradas, enquanto o de piscina longa, apenas 3.18 o nljmero de braqadas cai pela metade na piscina de 25 metros

R A velocidade do nado foi 3% mior no percurso em piscina curta em rela@o a disBncia olimpica de 50 metros

Al6m de ganhar o impulso mecsnicp propiciado pelo toque na borda, ao reatizar a virada o nadador relaxa os mOsculos superiores e dos bra~os, dirninuindo a produqio de lactato e de ions de hidrogenio - estes s i o responsaveis peia fadiga do atleta

ontes: Effect of Pool Lengn on Blood Ladaie. Hean Rate, and Velociry t Swimm~ng e Marcelo Pecheco, hsiologiste Oo Esporte Club? Pinheirus