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ATUALIDADES = 1 Escrevente Técnico Judiciário / TJ-S S ão P aulo ATUALIDADES Seca e falta de água foram previstos em relatório da ONU Mudanças climáticas geraram problemas no Brasil e em outros países do mundo nos últimos anos País 25/01 Notícias da estiagem na Região Sudeste do Brasil impressionam por causa dos dados cada vez mais alar- mantes sobre a escassez de água. Apesar da situação parecer mais grave para os paulistanos, outros estados da região começam a sentir na pele os mesmos problemas pelos quais passam os habitantes das cidades do estado de São Paulo. No Rio, o secretário de Ambiente, André Corrêa, admitiu, na sexta-feira, que pode haver racionamento de água. No entanto, o governador Luiz Fernando Pezão descartou a medida e o possível aumento de tarifa no estado e fez um apelo para que os moradores passem a economizar. Em Minas Gerais, o Centro do estado passa pelo ja- neiro mais quente desde 1910. Algumas cidades estão à beira do colapso, por causa da falta de água e 63 cidades do estado já estão fazendo racionamento ou usando o modelo de rodízio de água. A Companhia de Saneamen- to de Minas Gerais (Copasa) admitiu “o elevado nível de criticidade” da água no estado e emitiu comunicado pedindo que a população e as empresas economizem cerca de 30% no consumo de água. Pezão descarta racionamento de água e aumento de tarifa no Rio de Janeiro Comerciantes de São Paulo sofrem com falta d’água e reclamam de pouca informação Situações como essas são cada vez mais comuns no mundo. No ano passado, alguns países da América Latina passaram por períodos de seca e mudanças climáticas que afetaram a produção agrícola da região. Na época, a ONG alemã Germanwatch, que avalia os países mais frágeis quanto a essa questão, situou Honduras, Haiti e Nicarágua, respectivamente, como os países que mais sofreram com mudanças climáticas e períodos de seca, durante o ano de 2014. Em 2011, a região conhecida como “Chifre da África”, no leste do continente, sofreu com a pior seca dos últimos 60 anos. Em dois anos, o nível de chuvas no local estava abaixo do necessário. Lavouras inteiras foram perdidas, enquanto o gado morreu de fome e sede. Na época, a Organização das Nações Unidas (ONU) chegou a afirmar que os países do “Chifre da África” não viviam uma situação de fome, mas sim uma emergência humanitária que piorava rapidamente. Relatório do IPCC prevê que impactos mais graves no clima virão de secas e cheias Lançado no Japão, em novembro do ano passado, o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), apontou que um dos principais efeitos das mudanças climáticas no país seriam as secas persis- tentes, em algumas regiões, e cheias recordes, em outras. Tudo isso, segundo o relatório, é resultado das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, que aumentaram em 2º C a temperatura do planeta, até 2100. Apesar do “prazo”, a situação alarmante já começa a se refletir principalmente nos países da América Latina, mes- mo sendo os que menos emitem gases de efeito estufa. No Brasil, cada região está sendo afetada de forma diferente, devido a sua extensão territorial. O relatório enumera ain- da que os resultados das mudanças no ecossistema, devido ao aumento de temperatura, afetam a geração de energia, a agricultura e até mesmo a saúde da população. Na época do lançamento do relatório, em novembro do ano passado, o professor da USP Marcos Buckeridge, que foi um dos autores do relatório do IPCC, afirmou que os principais problemas brasileiros vão decorrer da falta de água. Onde houver problemas com a água, outras questões serão geradas a partir daí. Um dos exemplos apontados pelo relatório, foi a alteração nos padrões de chuva na Amazônia, quando a cheia do rio Madeira atingiu 25 m, o nível mais alto da história e afetou cerca de 60 mil pessoas. No Nordeste, o ano de secas sucessivas, por causa das mudanças climáticas, preocupou os especialistas envolvi- dos na elaboração do relatório. Segundo eles os períodos de seca podem se intensificar e, uma das maiores preocu- pações apontadas, é que o semi-árido nordestino se torne árido permanentemente. Além da listagem de riscos, o relatório tentou apresen- tar soluções para os problemas que parecem estar mais próximos do que se imagina. Algumas soluções seriam a diminuição do uso de combustíveis fosseis e investimentos do governo em fontes de energia renovável, além de in- vestimentos em transportes públicos modais nas cidades. As águas subterrâneas poderiam encher os reservatórios da Cantareira? muita água no subterrâneo. O problema é que nem sempre está no local onde a gente quer ou precisa BRUNO CALIXTO 25/01/2015 Reservatório do Sistema Cantareira em Bragança Paulista (Foto: Luis Moura/Estadão Conteúdo)

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AATUALIDADESTUALIDADES = 11Escrevente – Técnico Judiciário / TJ-SSão Paulo

ATUALIDADES

Seca e falta de água foram previstos em relatório da ONU

Mudanças climáticas geraram problemas no Brasil e em outros países do mundo nos últimos anos

País25/01

Notícias da estiagem na Região Sudeste do Brasil impressionam por causa dos dados cada vez mais alar-mantes sobre a escassez de água. Apesar da situação parecer mais grave para os paulistanos, outros estados da região começam a sentir na pele os mesmos problemaspelos quais passam os habitantes das cidades do estadode São Paulo.

No Rio, o secretário de Ambiente, André Corrêa,admitiu, na sexta-feira, que pode haver racionamento de água. No entanto, o governador Luiz Fernando Pezão descartou a medida e o possível aumento de tarifa no estado e fez um apelo para que os moradores passem a economizar.

Em Minas Gerais, o Centro do estado passa pelo ja-neiro mais quente desde 1910. Algumas cidades estão à beira do colapso, por causa da falta de água e 63 cidades do estado já estão fazendo racionamento ou usando o modelo de rodízio de água. A Companhia de Saneamen-to de Minas Gerais (Copasa) admitiu “o elevado nível de criticidade” da água no estado e emitiu comunicado pedindo que a população e as empresas economizemcerca de 30% no consumo de água.

Pezão descarta racionamento de água e aumentode tarifa no Rio de Janeiro

Comerciantes de São Paulo sofrem com faltad’água e reclamam de pouca informação

Situações como essas são cada vez mais comuns no mundo. No ano passado, alguns países da América Latinapassaram por períodos de seca e mudanças climáticas que afetaram a produção agrícola da região. Na época,a ONG alemã Germanwatch, que avalia os países mais frágeis quanto a essa questão, situou Honduras, Haiti e Nicarágua, respectivamente, como os países que maissofreram com mudanças climáticas e períodos de seca, durante o ano de 2014.

Em 2011, a região conhecida como “Chifre da África”,no leste do continente, sofreu com a pior seca dos últimos60 anos. Em dois anos, o nível de chuvas no local estavaabaixo do necessário. Lavouras inteiras foram perdidas, enquanto o gado morreu de fome e sede.

Na época, a Organização das Nações Unidas (ONU) chegou a afirmar que os países do “Chifre da África” não viviam uma situação de fome, mas sim uma emergência humanitária que piorava rapidamente.

Relatório do IPCC prevê que impactos maisgraves no clima virão de secas e cheias

Lançado no Japão, em novembro do ano passado,o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), apontou que um dos principais efeitos das mudanças climáticas no país seriam as secas persis-tentes, em algumas regiões, e cheias recordes, em outras.Tudo isso, segundo o relatório, é resultado das emissõesde gases de efeito estufa na atmosfera, que aumentaramem 2º C a temperatura do planeta, até 2100.

Apesar do “prazo”, a situação alarmante já começa a serefletir principalmente nos países da América Latina, mes-mo sendo os que menos emitem gases de efeito estufa. NoBrasil, cada região está sendo afetada de forma diferente, devido a sua extensão territorial. O relatório enumera ain-da que os resultados das mudanças no ecossistema, devidoao aumento de temperatura, afetam a geração de energia,a agricultura e até mesmo a saúde da população.

Na época do lançamento do relatório, em novembrodo ano passado, o professor da USP Marcos Buckeridge,que foi um dos autores do relatório do IPCC, afirmou queos principais problemas brasileiros vão decorrer da falta de água. Onde houver problemas com a água, outras questões serão geradas a partir daí.

Um dos exemplos apontados pelo relatório, foi a alteração nos padrões de chuva na Amazônia, quando acheia do rio Madeira atingiu 25 m, o nível mais alto da história e afetou cerca de 60 mil pessoas.

No Nordeste, o ano de secas sucessivas, por causa das mudanças climáticas, preocupou os especialistas envolvi-dos na elaboração do relatório. Segundo eles os períodosde seca podem se intensificar e, uma das maiores preocu-pações apontadas, é que o semi-árido nordestino se torneárido permanentemente.

Além da listagem de riscos, o relatório tentou apresen-tar soluções para os problemas que parecem estar mais próximos do que se imagina. Algumas soluções seriam a diminuição do uso de combustíveis fosseis e investimentosdo governo em fontes de energia renovável, além de in-vestimentos em transportes públicos modais nas cidades.

As águas subterrâneas poderiam encher osreservatórios da Cantareira?

Há muita água no subterrâneo. O problemaé que nem sempre está no local onde a gente quer ou precisa

BRUNO CALIXTO25/01/2015

Reservatório do Sistema Cantareira emBragança Paulista (Foto: Luis Moura/Estadão Conteúdo)

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A crise no sistema Cantareira está tomando propor-ções assustadoras. Em pleno janeiro – mês de verão e chuvas – o nível dos reservatórios está abaixo de 6%. O governador Geraldo Alckmin anunciou novas medidas (uma terceira cota do volume morto e captação de águada Billings), mas não apresentou datas ou prazos, e essasmedidas dificilmente resolverão o problema. Se continu-ar nesse ritmo, a Cantareira pode secar.

Tudo sobre a crise de água

Nessa situação extrema, será que não é possível encon-trar uma alternativa? E os aquíferos, por exemplo? ÉPOCA consultou o geólogo Claudio Oliveira, especialista emáguas subterrâneas, para saber qual é a viabilidade – se é que ela existe – de encher a Cantareira com a água do sub-solo. A resposta não é muito animadora. É possível usar as águas do subsolo, mas esses projetos não são tão simples.

Há muita água no subterrâneo. Segundo Oliveira, o volu-me de água que existe debaixo da terra é até cem vezes maior do que as águas de superfície. O problema é que essa águanem sempre está exatamente onde a gente quer ou precisa.

Oliveira explica que são basicamente dois tipos de aquíferos. Os aquíferos porosos, como o Aquífero Guarani, permitem tirar um volume de água de 500 a 1 milhão de litros por hora. Já os aquíferos saturados não permitem tirar muita água. Infelizmente, no subsolo da região da Cantareira encontra-se um aquífero saturado. “A Canta-reira também recebe água do subterrâneo. Essa água que abastece rios e córregos. Só que esse aquífero saturado não permite tirar água na quantidade que a gente neces-sita. Não é um problema de engenharia, é um problemado grau de permeabilidade dessas rochas. Embora tenha água em abundância, a rocha não libera”, diz Oliveira.

Isso não significa que a água do subterrâneo não pos-sa ser usada para ajudar a aliviar a crise em São Paulo.Uma das saídas seria fazer um plano para perfurar poços em posições estratégicas da cidade, não para encher aCantareira, mas para reforçar o sistema de produção. “Estes procedimentos são largamente aplicados emmuitas cidades do país e do mundo, com a vantagem de que não precisam passar por estações de tratamento,pois as águas subterrâneas em geral possuem qualidadeapropriada para o consumo”, diz.

Outro projeto para a obtenção de água do subterrâneo,este muito mais complicado, é o de buscar a água no Aquí-fero Guarani. Para isso, seria necessário fazer perfurações na região do aquífero – a cerca de 150 quilômetros de dis-tância da capital -, construir dutos e bombear a água para São Paulo. O problema é que essa distância não é plana.Os desníveis e mudanças no relevo exigem obras e energiapara o bombeamento, elevando os custos da iniciativa.

Cinco razões (que não a falta de chuva) para explicar a crise hídrica em SP

Por Maria Fernanda ZiegleriG São Paulo|25/01/2015

Desmatamento, ocupação desenfreada, falta de pla-nejamento e perdas estão entre as causas destacadas porespecialistas.

No aniversário de 461 anos da cidade de São Paulo,pouco se tem para comemorar (mesmo que chova), le-vando em conta o tamanho do problema de falta de água.Já no uso do volume morto do Sistema Cantareira e comoutros reservatórios como o Alto Tietê e o Guarapirangaentrando em colapso, a falta de água é iminente na maiormetrópole do Brasil.

Presidente da Sabesp, Jerson Kelman admitiu, no dia15 de janeiro, que o Sistema Cantareira, que abastece6,5 milhões de pessoas pode secar agora em março. Umdia antes, o governador Geraldo Alckmin afirmou pelaprimeira vez que a população do Estado vive sob racio-namento de água. Logo depois, Alckmin disse que haviasido mal interpretado por jornalistas.

Inicialmente, a crise foi justificada por conta da falta de chuvas que atingiu a região. Porém, especialistasafirmam que a falta de água não está relacionada apenas à escassez de chuvas. Veja abaixo os cinco principaismotivos que estão fazendo as torneiras secarem em SãoPaulo.

Falta de planejamento:

Quando o sistema Cantareira foi construído, já eraprevisto que entre 2015 e 2020 ele precisaria ser amplia-do. As obras começaram em 1967. Em 1974, o sistemapassou a enviar 4,5 metros cúbicos por segundo e o pro-jeto foi totalmente concluído em 1982. “Todo o projeto jjtem um prazo esperado para que tenha uma vida útil. NoCantareira a expectativa era que tivesse 30 anos para seroperado”, afirma o especialista em recursos hídricos da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Ilha Solteira (SP), Jefferson Nascimento de Oliveira.

O professor explica que as demandas continuaram, mas a população mudou. “Cresceu não só numericamen-te mas também economicamente, passou a consumirmais água”, afirma.

Um exemplo deste crescimento, de acordo com Oliveira, pode ser notado com a mudança rápida deuma situação de abundância de água para quase totalescassez. “Em 12 de janeiro de 2010, o Cantareira estava com 97% de todo o seu volume. Choveu muito naquelatemporada. Estava muito cheio, mas em cinco anos, não só acabamos com o volume todo como precisamos usarágua do volume morto. De fato está chovendo pouco agora, mas tínhamos um lastro. A falta de água já eraalgo previsto”, completa.

Desmatamento:

O desmatamento que ocorre na Amazônia tem comoconsequência sobre a escassez de água em São Paulo.No estudo “O Futuro Climático da Amazônia”, AntônioNobre, pesquisador do INPE, explica como o desmata-mento na Amazônia altera os padrões de chuva no restodo Brasil.

De acordo com o estudo de Nobre, todos os dias as árvores da floresta transpiram 20 bilhões de toneladasde água (ou 20 trilhões de litros), formando uma espéciede rio vertical que alimenta nuvens e altera a rota dos ventos e das chuvas. No caso de São Paulo, foi analisado

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que os ventos que vêm da floresta amazônica trazem mais chuva que os ventos que não têm relação com a floresta. Quanto menos árvores na Amazônia, menor é o processo que traz chuvas para a metrópole.

Ocupação de área de manancial:

O desmatamento local, no Estado de São Paulo, também tem peso sobre a crise hídrica. Já é sabido que a mata ciliar, aquela na borda dos rios, ajuda a mantera boa saúde (o não assoreamento) dos rios. Portanto, quanto mais degradada a mata ciliar, menos eles contri-buem para as bacias hidrográficas.

Um estudo realizado em outubro do ano passado pela Fundação SOS Mata Atlântica mostrou que a coberturaflorestal nativa na bacia hidrográfica e nos mananciais que compõem o Cantareira é ainda pior que o que se imaginava, principalmente pela ocupação desenfreadanestas áreas. De acordo com o estudo, restam apenas 488quilômetros quadrados (21,5%) de vegetação nativa nabacia hidrográfica e nos 2.270 km2 do conjunto de seis represas que formam o Sistema Cantareira.

Perdas e desperdícios:

Quanto se perde e quanto se desperdiça de água em São Paulo? A balança é importante, pois principalmentecom a crise hídrica, toda a água deve ser usada da manei-ra mais consciente possível. Porém, um antigo problemaainda persiste mesmo com a escassez de água.

De acordo com dados da Sabesp, a região metropolita de São Paulo tem perda de 20 a 25% de água na trans-missão, na tubulação. “Chama a atenção que nenhuma ação para reparar estas perdas tenha sido divulgada. Embora existam lugares no Brasil onde este número éainda mais alto, nós não podemos perder este volumeenorme de água. Sabemos que diminuir a pressão é apenas um paliativo. É preciso melhor a transmissão”,afirma a gerente do Instituto Akatu, Gabriela Yamaguchi.

A campanha fica mais voltada para que o consumoseja reduzido nas residências e que se evite desperdícios,o que também é importante. Especialistas afirmam que com medidas simples é possível economizar 15% de águanas residências.

Gabriela afirma ainda que existem diferentes tipos de grandes consumidores de água, como grandes condomínios,indústria, agronegócio e empresas que necessitam de águapara produzir. “O agronegócio é responsável por 80% doconsumo de água, de acordo com médias mundiais da ONU [Organização das Nações Unidas]. É aí na verdade que a gente deve ter meta de redução de consumo. Mas isso não édo dia para a noite, tem de ser planejado até porque a genteprecisa ter o que comer”, diz. Ela afirma que a redução de desperdício tem de ser objeto em todos os setores e feitode forma planejada. “Não adianta colocar só nas costas do consumidor, que de fato é quem menos consome”, avalia.

Faltou plano e comunicação da crise:

A crise da água só passou a ser admitida pelas auto-ridades no início de 2015. A Proteste Associação de Con-sumidores reclama que além da demora, ainda falta um

decreto oficial de racionamento. “Quando tira a água deforma frequente tem de avisar o dia e o horário, mesmosendo rodízio ou racionamento não oficial”, afirma MariaInês Dolci, coordenadora institucional da Proteste.

Se houvesse mais transparência sobre a crise hídrica, explica Maria Inês, o consumidor poderia economizar mais água e por mais tempo. “O bônus não foi suficiente,nós temos realmente falta de água. O Proteste não é contra a sobretaxa. A gente percebe que está numa crise, mas é preciso deste decreto para que seja cobrada umacobrança adicional, de emergência”, disse.

Na semana passada, a Agência Reguladora de Sanea-mento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) apro-vou uma tarifa adicional na conta de água de mais de 28milhões de consumidores atendidos pela Sabesp, em 364municípios. A sobretaxa será cobrada dos usuários queultrapassarem a média de consumo registrada antes da crise, de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014. “Como oconsumidor pode pagar uma tarifa adicional se ele nãotem informação sobre este histórico?”, disse.

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POLÍTICA: O QUE É SER ESQUERDA, DIREITA,LIBERAL E CONSERVADOR?

Andréia Martins23/01/2015

Nas eleições presidenciais e estaduais de 2014, o Bra-sil assistiu a uma onda de discursos agressivos, especial-mente nas redes sociais, que se dividiam em dois lados:os de esquerda e os de direita, associadas pela maioria aos partidos PT e PSDB, respectivamente.

Definir um posicionamento político apenas pelo viéspartidário pode ser uma armadilha repleta de estereóti-pos, já que essa divisão binária não reflete a complexida-de e contradições da sociedade. O fato é que não existeum consenso quanto a uma definição comum e única deesquerda e direita. Existem “várias esquerdas e direitas”.Isso porque esses conceitos são associados a uma amplagama de pensamentos políticos.

Origem dos termos

As ideologias “esquerda” e “direita” foram criadasdurante as assembleias francesas do século 18. Nessaépoca, a burguesia procurava, com o apoio da populaçãomais pobre, diminuir os poderes da nobreza e do clero. Era a primeira fase da Revolução Francesa (1789-1799).

Com a Assembleia Nacional Constituinte montada para criar a nova Constituição, as camadas mais ricas nãogostaram da participação das mais pobres, e preferiram não se misturar, sentando separadas, do lado direito. Porisso, o lado esquerdo foi associado à luta pelos direitos dostrabalhadores, e o direito ao conservadorismo e à elite.

Dentro dessa visão, ser de esquerda presumiria lutar pelos direitos dos trabalhadores e da população mais po-bre, a promoção do bem estar coletivo e da participaçãopopular dos movimentos sociais e minorias. Já a direita representaria uma visão mais conservadora, ligada a umcomportamento tradicional, que busca manter o poderda elite e promover o bem estar individual.

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Com o tempo, as duas expressões passaram a ser usadas em outros contextos. Hoje, por exemplo, os parti-dários que se colocam contra as ações do regime vigente(oposição) seriam entendidos como “de esquerda” e os defensores do governo em vigência (situação) seriam a ala “de direita”.

Para o filósofo político Noberto Bobbio, embora osdois lados realizem reformas, uma diferença seria que a esquerda busca promover a justiça social enquanto a direita trabalha pela liberdade individual.

Após a queda do Muro de Berlim (1989), que pôs fimà polarização EUA URSS, um novo cenário político se abriu. Por isso, hoje, as palavras ‘esquerda’ e ‘direita’ pa-recem não dar conta da diversidade política do século 21. Isso não quer dizer que a divisão não faça sentido, apenasque ‘esquerda’ e ‘direita’ não são palavras que designam conteúdos fixados de uma vez para sempre. Podem desig-nar diversos conteúdos conforme os tempos e situações.

“Esquerda e direita indicam programas contrapostos com relação a diversos problemas cuja solução perten-ce habitualmente à ação política, contrastes não só deideias, mas também de interesses e de valorações a res-peito da direção a ser seguida pela sociedade, contrastesque existem em toda a sociedade e que não vejo como possam simplesmente desaparecer. Pode-se naturalmen-te replicar que os contrastes existem, mas não são maisdo tempo em que nasceu a distinção”, escreve Bobbio no livro “Direita e Esquerda – Razões e Significados de umaDistinção Política”.

No Brasil, essa divisão se fortaleceu no período da Ditadura Militar, onde quem apoiou o golpe dos militares era considerado da direita, e quem defendia o regime socialista, de esquerda.

Com o tempo, outras divisões apareceram dentro de cada uma dessas ideologias. Hoje, os partidos de direita abrangem conservadores, democratas-cristãos, liberais e nacionalistas, e ainda o nazismo e fascismo na chamadaextrema direita.

Na esquerda, temos os social-democratas, progres-sistas, socialistas democráticos e ambientalistas. Naextrema-esquerda temos movimentos simultaneamente igualitários e autoritários.

Há ainda posição de “centro”. Esse pensamento con-segue defender o capitalismo sem deixar de se preocuparcom o lado social. Em teoria, a política de centro prega mais tolerância e equilíbrio na sociedade. No entanto, elapode estar mais alinhada com a política de esquerda ou de direita. A origem desse termo vem da Roma Antiga, que o descreve na frase: “In mediunitos” (a virtude está no meio).

A política de centro também pode ser chamada de“terceira via”, que idealmente se apresenta não como uma forma de compromisso entre esquerda e direita, mas como uma superação simultânea de uma e de outra.

Essas classificações estariam dividas no que podemoschamar de uma “régua” ideológica:

EXTREMA-ESQUERDA|ESQUERDA|CENTRO--ESQUERDA|CENTRO|CENTRO-DIREITA|DIREITA| EXTREMA-DIREITA

Para os brasileiros a diferença entre as ideologias não parece tão clara. Em 2014, durante as eleições, a agênciaHelloResearch fez um levantamento em 70 cidades dascinco regiões do Brasil perguntando como os brasileirosse identificavam ideologicamente. Dos 1000 entrevista-dos, 41% não souberam dizer se eram ideologicamente de direita, esquerda ou centro.

A porcentagem dos que se declaram de direita e es-querda foi a mesma: 9%. Em seguida vem centro-direita(4%), centro-esquerda e extrema-esquerda, ambas com3%, e extrema-direita (2%). Quando a pergunta foi sobrea tendência ideológica de sete partidos (DEM, PT, PSDB,PSB, PMDB, PV, PDT, Psol, PSTU), mais de 50% nãosouberam responder.

Em determinados momentos da história, ambas as ideologias assumiram posturas radicais e, nessa posição,tiveram efeitos e atitudes muito parecidas, como a inter-ferência direta do Estado na vida da população, uso deviolência e censura para contra opositores e a manuten-ção de um mesmo governo ou liderança no poder.

Ao longo do século 20, parte do pensamento de es-querda foi associada a bases ideológicas como marxismo,socialismo, anarquismo, desenvolvimentismo e naciona-lismo anti-imperialista (que se opõe ao imperialismo).

O mesmo período viu florescer Estados de ideologias totalitárias como o nazismo (1933-1945), fascismo(1922-1943), franquismo (1939-1975) e salazarismo(1926-1974), que muitas vezes se apropriaram de dis-cursos da esquerda e da direita.

Outro tema fundamental para as duas correntes é a visão sobre a economia. Os de esquerda pregam umaeconomia mais justa e solidária, com maior distribuiçãode renda. Os de direita seriam associados ao liberalismo, doutrina que na economia pode indicar os que procurammanter a livre iniciativa de mercado e os direitos à pro-priedade particular. Algumas interpretações defendem atotal não intervenção do governo na economia, a redução de impostos sobre empresas, a extinção da regulamenta-ção governamental, entre outros.

Mas isso não significa que um governo de direita nãopossa ter uma influência forte no Estado, como aconte-ceu na Ditadura. Em regimes não-democráticos, a direitaé associada a um controle total do Estado.

O termo neoliberalismo surgiu a partir dos anos 1980, associados aos governos de Ronald Reagan e MargarethThatcher, que devido à crise econômica do petróleo, privatizaram muitas empresas públicas e cortaram gastos sociais para atingir um equilíbrio fiscal. Era o fim do cha-mado Estado de Bem-Estar Social e o começo do EstadoMínimo, com gastos enxutos.

Para a esquerda, o neoliberalismo é associado à di-reita e teria como consequências a privatização de bens comuns e espaços públicos, a flexibilização de direitosconquistados e a desregulação e liberalização em nome do livre mercado, o que poderia gerar mais desigualda-des sociais.

O liberalismo não significa necessariamente conserva-dorismo moral. Na raiz, o adjetivo liberal é associado àpessoa que tem ideias e uma atitude aberta ou tolerante,

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que pode incluir a defesa de liberdades civis e direitoshumanos. Já o conservador seria aquele com um pensa-mento tradicional. Na política, o conservadorismo busca manter o sistema político existente, que seria oposto aoprogressismo.

Direita e esquerda também têm a ver com questões morais. Avanços na legislação em direitos civis e temascomo aborto, casamento gay e legalização das drogas são vistas como bandeiras da esquerda, com a direita assumindo a defesa da família tradicional. Nos Estados Unidos, muitos eleitores se identificam com a chamadadireita cristã, que defendem a interferência da religiãono Estado.

No entanto, vale destacar que hoje muitos membros de partidos tidos como centro-direita defendem taisbandeiras da esquerda, exceto nos partidos de extrema--direita (como podemos observar na Europa), que sãoassociados ao patriotismo, com discurso forte contra a imigração (xenofobia).

GEOPOLÍTICA INTERNACIONAL

Pena de morte e outras coisas

HENRIQUE SUBI em 23/jan/2015

Marco Archer foi fuzilado na Indonésia após 11 anos de prisão, condenado à pena capital pelo crime de tráfico de drogas.

Em torno desse fato, muito já se discutiu e ainda se discute, principalmente em relação à legitimidade da pena de morte, ao papel do Governo brasileiro nas trata-tivas para evitar a execução e se Marco Archer merecia ou não morrer. Ao fim e ao cabo, tudo acaba se misturando.

Primeiro, é muito importante delimitar quem é quemnesse cenário. Marco Archer era traficante, sempre foi.Nunca foi instrutor de asa delta, trabalhador honesto, pagador de impostos, nunca. Traficava pelo dinheiro e vida luxuosa que poderia levar e no momento da sua prisão carregava cocaína suficiente para receber US$3,5 milhões caso tivesse sucesso. Não estou inventando. Ele mesmo disse isso em uma entrevista que, por ter sidopublicada em um blog de tendências esquerdistas, pou-quíssima gente leu ou ficou sabendo. É o primeiro link dofim do post. Leitura obrigatória para quem quer debatero assunto.

Isso posto, a pena de morte. Sei que o assunto será inevitável nos comentários, mas o foco aqui não é discu-tir se somos contra ou a favor. No fundo, é uma questão extremamente pessoal, como o abortamento (só acho

estranho algumas pessoas serem a favor de um e contrao outro, mas enfim…). O assunto é delicado, porque toca na soberania de um país. A Indonésia tem suas leis, aoque consta foi garantido o devido processo legal e o direi-to de defesa ao acusado, que inclusive sabia que naquele país o tráfico é punido com a morte. Bem, sabendo das regras do jogo, ao resolver jogá-lo estamos correndo orisco. O resultado não poderia ser outro do ponto de vista jurídico.jj

Falando em Direito, o próprio Direito Internacional aceita a pena de morte. Vejamos o que diz o artigo 4,item 2, da Convenção Americana de Direitos Humanos, conhecida como Pacto de São José da Costa Rica:

Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta aos delitos mais graves, emcumprimento de sentença final de tribunal competente e emconformidade com a lei que estabeleça tal pena, promul-gada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco seestenderá sua aplicação a delitos aos quais não se apliqueatualmente.

Note que a preocupação do tratado é evitar que sejamaumentadas as hipóteses de pena de morte. Em nenhumlugar ela está proibida de ser aplicada se prevista em lei.Portanto, gostemos ou não, concordemos ou não, a penade morte é legítima para crimes graves.

Tão legítima que o próprio Brasil a prevê na Consti-tuição Federal: sim, temos pena de morte para alguns crimes praticados em tempo de guerra. Ainda que só na teoria, soou um pouco hipócrita o grito de clemência deum país que tem a pena capital prevista na sua Lei Maiore no Código Penal Militar.

E tráfico é crime grave? Alguns se escoram no fato da Indonésia não prever pena de morte para o homicídio, que seria muito mais grave e demonstraria a barbáriedaquele país. O argumento não é bom. Vamos usar nossopaís uma vez mais como exemplo: a Constituição Federal afirma, no art. 5º, XLIII, que o tráfico de drogas é crimeinafiançável e insuscetível de graça ou anistia. Não diz omesmo sobre o homicídio. Em 1990, quando foi publi-cada a Lei nº 8.072, que define os crimes hediondos, o homicídio não estava entre eles (foi inserido somente em1992, após intensa campanha de Glória Perez em face doassassinato de sua filha Daniela, atriz global da época),mas o tráfico estava. Pelo visto, não é só a Indonésia queconsidera a venda ilícita de drogas delito a ser punido com maior severidade…

Noutro passo, duras críticas foram destinadas a Dilma Rousseff e ao Ministério das Relações Exteriores por te-rem tentado evitar a morte do brasileiro. Notadamente, oassunto ganhou viés político-partidário. O pedido de cle-mência é uma praxe na diplomacia quando um nacional está no corredor da morte de outro país. É, a meu ver, umdever do país tentar evitar a aplicação de pena tão severa quando seu cidadão, caso estivesse em casa, receberia sanção menor. O que não se justifica é o exagero que o Governo brasileiro fez após a recusa, quase uma “birra”infantil: retirar o embaixador brasileiro da Indonésia,envolver o papa… Parece que se esqueceram da sobe-rania do país asiático, parece que se esqueceram que opróprio Brasil não é assim solícito em atender pedidos de

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outros países (vide o caso CesareBattisti)… Mais ainda, há outros tantos estrangeiros no corredor da morte na Indonésia pelo mesmo crime. Como ficaria a situação do presidente de lá caso aceitasse o pedido de Dilma? Teriade libertar todos, obviamente, por conta do princípio da igualdade. E com isso rasgaria as leis de seu país. Não,ele não ia aceitar mesmo…

Por fim, se Marco Archer merecia ou não morrer, setodos merecem uma segunda chance, deixo a discussão para vocês.

Andréia Martins

Papa pop: Francisco leva temas tabus para dentro da Igreja Católica e reforça sua atuação internacional

Carolina Cunha16/01/2015

Um papa pop:

Desde que assumiu o posto de chefe da Igreja Católica, no iníciode 2013, o papa Francisco, 77,chamou a atenção. Uma vez elei-to, não quis usar a cruz de ouronem o papa-móvel e quebrou oprotocolo diversas vezes. Para os

que o admiram, ele trouxe uma liderança mais humana, humilde e próxima da população.

O que mais chama a atenção no Papa é que ele parece não ter medo de tocar em assuntos tradicionalmente polêmicos para a instituição. Seus comentários nessesquase dois anos de papado mostram um pontífice tole-rante com os gays, casais divorciados e com a teoria do Big Bang, que não coloca em lados totalmente opostosciência e religião e ainda insere na agenda de declaraçõesque buscam a humanização das relações entre os paísesque vivem em situação de conflito ou oposição, como é o caso de Israel e Palestina e EUA e Cuba.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Com esse perfil, Francisco tornou-se um papa pop – e polêmico. Estaria ele buscando um caminho para uma Igreja Católica mais acolhedora? Há quem concorde com qesse ponto de vistap . Uns acreditam que, embora as pala-vras do papa Francisco valorizem o perdão ao próximo, na prática, não provocarão mudanças dogmáticas na religião.

A aceitação dos gays, a entrega da comunhão a pessoas divorciadas que se casaram de novo, aborto, o uso de preservativos, a ordenação de mulheres e o fimdo celibato entre padres, temas que já foram alvo dos comentários de Francisco, são marcos morais do Catoli-cismo e dificilmente sofrerão mudanças em breve.

Para outros, a preocupação nestes primeiros anos do pontificado deve ser com uma reforma estrutural e ética do Vaticano. Em 2012,a Cúria Romana, órgão adminis-trativo da Santa Sé, foi alvo de denúncias de corrupção, nepotismo e abusos de poder, no escândalo conhecidocomo Vatileaks.

Neste aspecto, Francisco promoveu mudanças noscargos e implantou rígidos processos contra a lavagem dedinheiro visando dar mais transparência às ações. Umadas ações foi a divulgação do primeiro balanço financeiro do Banco do Vaticano, algo até então inédito. No final de 2014, em uma de suas mensagens, ele chamou a Cúriade “lepra do papado” e pediu que os Bispos e cardeaismudassem sua postura na condução da Igreja.

Com uma presença constante no noticiário, o papa Francisco tornou-se pop e respeitado até por quem nãosegue a religião católica, distanciando-se de uma imagemde poder, reconhecendo os erros da Cúria e falando sobre temas tabus para a Igreja Católica.

Religião mais próxima da política

Francisco é um dos papas que mais aproximaram areligião da política. Constantemente fala sobre os con-flitos entre Israel e Palestina. Ele defende a criação deum Estado Palestino e ofereceu o Vaticano para sediarum acordo de paz entre representantes dos países, fatoinédito.

Na recente abertura anunciada pelos EUA (um país de maioria protestante) a Cuba, o presidente norte--americano Barack Obama fez um agradecimento aoPapa: “Agradeço especialmente ao papa Francisco, porseu exemplo moral, mostrando ao mundo como deveriaser, em vez de simplesmente se conformar com o mundocomo é”.

Nos bastidores, cartas do papa Francisco abriramcaminho para acordo entre os dois países. O pontíficepediu a Obama e Raúl Castro, presidente cubano, que “resolvessem questões humanitárias de interesse comum,incluindo a situação de alguns prisioneiros, para darinício a uma nova fase nas relações”.

O Papa chegou a dar declarações como a de que todocatólico deve se envolver com a política e de que não adianta colaborar financeiramente com a Igreja e roubardo Estado.

Maquiavel (1469-1527), autor do livro “O Príncipe”,dizia que o que confere valor a uma religião não é aimportância de seu fundador, o conteúdo dos ensina-mentos, a verdade dos dogmas ou a significação dos mistérios e ritos, e sim sua função e importância para avida coletiva. A religião ensina a reconhecer e a respeitaras regras políticas a partir do mandamento religioso.

Evolucionismo e teoria do Big Bang

A origem do homem e da vida são grandes questõesda humanidade e sempre foram um embate entre ciênciae religião, por isso, nem sempre foram vistas com bonsolhos pelos papas.

A Teoria da Evolução (evolucionismo) afirma quetodos os seres vivos atuais descendem dos primeirosorganismos celulares que evoluíram ao longo de bilhõesde anos, e que o principal mecanismo responsável pelosurgimento das características desses seres é a seleçãonatural. O principal cientista ligado ao evolucionismo foio inglês Charles Robert Darwin (1809-1882), que publi-cou, em 1859, a obra “A Origem das Espécies”.

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AATUALIDADESTUALIDADES = 77Escrevente – Técnico Judiciário / TJ-SSão Paulo

Já a Teoria do Criacionismo é a explicação cristã paraa criação do homem e afirma que o Universo é tão com-plexo que não foi gerado ao acaso. A história da criação do universo por Deus é contada no livro de Gênesis.Segundo a Bíblia, depois que Deus criou céu e terra, elecriou o homem a partir do barro.

Nos Estados Unidos, alguns municípios com comu-nidades religiosas mais fundamentalistas ensinam ocriacionismo nas escolas e repudiam o ensino da teoriade Darwin nas aulas de ciências. O governo do ReinoUnido, por outro lado, proibiu o ensino do criacionismo como teoria.

Para o papa Francisco é possível a coexistência das teorias do criacionismo e evolucionismo, uma posturarara entre pontífices e católicos em geral. Durante umaassembleia da Pontifícia Academia de Ciências, no Vatica-no, o pontífice disse que a Teoria do Big Bang (segundo aqual uma explosão há 15 bilhões de anos teria originado ouniverso) não se opõe à ideia de um criador divino, já que ela exigiria um criador. Da mesma forma, a evolução das espécies exigiria que os seres tivessem sido criados antes.

Sobre as interpretações da Bíblia, Francisco afirmou que não se deve fazer uma leitura literal e que “quando lemos a respeito da criação em Gênesis, corremos o riscode imaginar que Deus era um mágico, com uma varinha capaz de fazer tudo. Mas isso não é assim”.

Outros papas se mostraram tolerantes a essas teorias, como Pio 12 (1876-1958) e João Paulo 2º (1920-2005),que chegou a declarar que a evolução era um “fato comprovado”. Bento 16, o antecessor de Francisco, não desconsiderava a teoria, mas tinha a crença de que era preciso um elemento maior para colocar o universo em ordem. Para ele, existiria um “design inteligente” naevolução, ou seja, a mão de Deus.

Abertura da igreja para os gays e divorciados

Outros temas já comentados por Francisco e que en-contram resistência na ala mais conservadora da Igreja Católica são a relação com homossexuais e divorciados.

“Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”, disse Francisco a um grupo de jornalistas após a Jornada Mundial da Juventude, em 2013. Depois, afirmou que a igreja tem o direito de expressar suas opiniões, mas não deve “interferir espiri-tualmente” na vida de gays e lésbicas.

Em outubro de 2014, no Sínodo dos Bisposp , convoca-do pelo Papa para discutir temas relacionados à família com autoridades religiosas, foram aprovadas propostas de se estudar um caminho para que os divorciados que se casaram de novo pudessem receber os sacramentos e deque “os homens e as mulheres com tendências homosse-xuais devem ser amparados com respeito e delicadeza” e que se “evitará qualquer marca de discriminação”.

No caso dos gays, o fato de não serem reconhecidoscomo uma família legítima ainda é a principal barreira a ser vencida, já que os bispos enfatizaram “que não se po-dem estabelecer analogias, nem remotas, entre as uniõeshomossexuais e o desenho de Deus sobre o casamento ea família”.

Tolerância religiosa

Os ataques à sede do jornal de sátiras Charlie Hebdo(cujas charges ironizam o Islã assim como outras religiões)e a um mercado judeu em Paris, na França, mostraramcomo a rejeição à crença de outras pessoas pode levar à deterioração da sociedade e provocar violência e morte.

Francisco já condenou diversas vezes os combatentes do Estado Islâmico que mataram ou expulsaram muçul-manos xiitas, cristãos e outros na Síria e no Iraque, por não compartilharem a ideologia do grupo.

Em janeiro deste ano, ele declarou que “as crenças religiosas nunca devem ser alvos de abusos causadospela violência e pela guerra”, pregando que a tolerânciaentre as religiões e que a “liberdade de expressão não dá direito de insultar a fé do próximo”.

Outro passo importante de seu pontificado foi sua aproximação com os judeus ao declarar que eles sãocomo “irmãos mais velhos” do rebanho católico. No en-tanto, ele terá novos desafios em manter essa boa relaçãodevido ao processo de beatificação do Papa Pio 12.

Para líderes religiosos judeus e historiadores, o papa Pio 12 foi passivo ante o Holocausto nazista. Eles pedemque seu processo de beatificação seja interrompido ao menos por uma geração em consideração aos sobrevi-ventes ainda vivos. Representantes da igreja alegam queo não embate e a falta de críticas ao regime nazista era uma forma dos padres poderem ajudar mais judeus.

DIRETO AO PONTO

Desde que assumiu o posto de chefe da Igreja Cató-lica, no início de 2013, o papa Francisco, 77, chamou aatenção. Avesso aos privilégios que o posto lhe propor-ciona, ele trouxe uma liderança mais humana, humilde e próxima da população.

Mas são suas constantes aparições no noticiário comcomentários sobre os mais diversos temas, entre elestabus para Igreja Católica, que chamam atenção. Essesquase dois anos de papados mostram um pontífice tole-rante com os gays, casais divorciados e com a teoria do Big Bang, e que busca a humanização das relações entre os países que vivem em situação de conflito ou oposição,como Israel e Palestina e EUA e Cuba.

Essa postura aponta caminhos de mudança nos dogmasdo Catolicismo? As propostas de abertura trazidas por Fran-cisco – como receber os gays e divorciados – ainda enfrentamresistência da ala conservadora da Igreja, mas apontam,talvez, os rumos que a religião deve tomar no futuro.

Carolina Cunha

Economia: Aumento da dívida pública e baixocrescimento são entraves para 2015

Andréia Martins09/01/2015

Quando o assunto é economia brasileira, as previsões para 2015 não soam animadoras. Para especialistas, o período é visto como um ano difícil. As previsões de arro-cho fiscal e baixo crescimento contribuem para que o ano que mal começou seja classificado como “o ano perdido”.

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E quais são os temas – ou tópicos – importantes para entender melhor as previsões econômicas para 2015?Veja abaixo.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Contas públicas

Hoje um dos grandes problemas do Brasil é o equi-líbrio das contas públicas, ou seja, a diferença entre as receitas e as despesas do governo federal. São essascontas nacionais que oferecem indicadores da “saúde” daeconomia de modo geral.

E como esse equilíbrio é alcançado? O Estado arrecadadinheiro por meio da cobrança de impostos que incidemsobre a renda, a propriedade, serviços e produtos. Existe ainda a receita de dividendos oriundos de empresas públicas ou de alugueis do patrimônio público. Já as des-pesas incluem gastos com obras, previdência, educação,saúde, funcionários, pagamento da dívida pública, entreoutros.

Quando o governo arrecada mais do que gasta,significa que houve superávit primário. Quando asdespesas superam as receitas, ou seja, o governo gasta mais do que arrecada, temos um déficit pri-mário.

Números recentes das contas públicas do Brasil mos-tram um país à beira de uma crise fiscal. Segundo dados do Tesouro Nacional, o ritmo de crescimento dos gastosdo Estado é seis vezes maior que o das receitas.

Entre janeiro e novembro de 2014, o governo federal gastou R$ 933,1 bilhões. No mesmo período do ano ante-rior, o valor foi de R$ 827,7 bilhões. Ou seja, as despesascresceram 12,72%, enquanto as receitas avançaram apenas 2,8% no mesmo período, passando de R$ 890,3bilhões (2013) para R$ 914,7 bilhões.

A diferença entre as contas (receitas menos despesas,excluindo o pagamento da dívida pública) foi de R$ 18,3 bilhões, o pior resultado de janeiro a novembro desde 2001 (início da série histórica desse indicador).

Para especialistas esse resultado se deve ao aumentodos gastos do governo nas eleições, às concessões com desonerações de tributos e ao baixo crescimento da eco-nomia que derrubou a arrecadação.

Se por um lado os gastos do governo “injetam” mais dinheiro na economia, por outro, também influenciam na inflação. Um dos mecanismos usados para “frear” os gastos excessivos de prefeituras, governos estaduais e daUnião é a Lei de Responsabilidade Fiscal, sancionada em 2000.

A Lei estipula o limite máximo de 49% da receitacorrente líquida (RCL) nos gastos com o funcionalismopúblico. Na prática, ela também ajuda a cumprir as metas de superávit, pois obriga o governo a economizar para pagar juros.

Quem estoura o limite máximo fica proibido de con-trair financiamentos, de conseguir garantias de outrasunidades da Federação para linhas de crédito e de obter transferências voluntárias.

Devido ao aumento dos gastos públicos, em dezembro de 2014, o Congresso aprovou um projeto de leig p p j que pou-pa a gestão de ser responsabilizada por descumprimentoda Lei de Responsabilidade Fiscal em 2015.

Contas externas

A situação das contas externas ou da balança co-mercial é pautada pela diferença entre importação e exportação (matérias-primas, produtos e transações de comércio, serviços e renda). O déficit ocorre quando exis-te diferença no balanço de pagamentos em transaçõescorrentes.

Em relação às contas externas, o Brasil está importan-do mais do que exportando. De acordo com o Ministériodo Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em 2014 a importação superou a exportação em US$ 3,93bilhões, sendo o primeiro saldo negativo anual desde2000.

Segundo especialistas, o saldo negativo é devido àdesvalorização do preço de commodities (as matérias--primas que o país exporta, como minério de ferro e soja), cenário internacional desfavorável (como a criseda Argentina) e ao baixo preço do petróleo.

Dívida pública

Quando falta dinheiro em caixa, o governo pode se endividar e pegar recursos emprestados de investidorespara honrar compromissos. Em troca, compromete-sea devolver o dinheiro com alguma correção monetária.Para isso, ele costuma emitir títulos públicos que sãovendidos no mercado financeiro.

A dívida bruta do Brasil saltou para 62% do PIB(produto interno bruto, ou seja, a soma de toda riquezaproduzida pela sociedade). Em dez meses, o endivida-mento total aumentou 8,4 pontos percentuais, já que, emdezembro de 2013, a dívida representava 53,6% de todasas riquezas produzidas pelo país.

O dinheiro que “sobra” nas contas do governo depois de pagar as despesas (exceto juros da dívida pública) échamado de superávit primário. É esse dinheiro que o governo usa como poupança para pagar os juros dadívida pública.

Manter as contas públicas em dia é crucial para o mercado financeiro internacional. Quanto menor a dívida em relação ao PIB, mais o país mostra queé um “bom pagador”. Quanto maior a capacidade depagamento do Brasil, menor é o risco de crédito e as chances de conseguir taxas de juros mais baixas em empréstimos.

A dívida ainda pode aumentar se a cotação do dólarsubir. Quanto mais os encargos da dívida crescerem, piorficará a situação fiscal.

Juros e inflação

O gasto público também pressiona a alta dos preços em geral. Com a inflação mais alta, o governo tambémsobe a taxa básica de juros (Selic). A alta dos juros peloBanco Central é uma forma de conter o consumo dasfamílias e frear a oferta de crédito pelos bancos.

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Apesar disso, os juros altos deixam famílias endivi-dadas em alerta e “travam” financiamentos do setor produtivo, o que freia os investimentos que o país precisapara voltar a crescer.

Austeridade

Numa situação de crise ou recessão, austeridade é o caminho escolhido por muitos governantes. Durante acrise econômica de 2008, a palavra foi muito ouvida nos discursos dos novos ministros europeus que realizaramreformas em meio a déficits, desemprego, calotes em dívidas, entre outras situações. A austeridade nada mais é do que controlar rigidamente os gastos públicos.

E para reequilibrar as finanças públicas, a saída que os governos encontram é cortar gastos ou aumentar re-ceitas (ou as duas coisas ao mesmo tempo). Para ter mais dinheiro, ele pode aumentar impostos ou contar com ocrescimento da economia do país.

A carga tributária brasileira já é considerada alta.Hoje, quase 36% do PIB são destinados ao pagamento de impostos, que também podem vir embutidos no preço de bens, produtos e serviços (como luz, água, carro, gasolina, transporte, imóveis etc).

Quando a economia cresce pouco, o resultado é uma arrecadação de impostos menor do que o esperado. Quando a economia cresce muito, as receitas avançam no mesmo ritmo, impulsionadas pela exportação ou consumo interno.

O problema é que em 2014, a economia do Brasil cres-ceu cerca de 1%. Além do crescimento do PIB abaixo do previsto no último ano, o emprego deu sinais de desgaste,a inflação (em torno de 6,5%) e juros registraram altas sig-nificativas e os brasileiros nunca estiveram tão endividados.

Levantamento feito pelo Banco Central mostra que 45,88% da renda anual acumulada pelas famílias brasi-leiras é para o pagamento de dívidas, quase o dobro do registrado em 2005 (21,47%).

O novo ministro da Fazenda do Brasil, Joaquim Levy,disse que fará um ajuste fiscal e pretende cumprir a meta de superávit primário de 1,2% do PIB para 2015. Como sem crescimento será difícil cumprir essa meta, a tendên-cia é que haja um maior rigor fiscal nas contas públicas.

2015, ano perdido também em outros países?

Na Rússia, a palavra presente em todas as previsões é “recessão”. O motivo são as sanções econômicas impostaspelos países ocidentais e a queda no preço do petróleo,que também deve abalar economias como a do Equador eVenezuela. Estados Unidos e Reino Unido devem manterum crescimento estável, já que estão mais recuperados da crise de 2008.

Com o Japão em recessão e prevendo um cresci-mento de 1% em 2015, a China estabeleceu-se como asegunda maior economia do mundo. Ao mesmo tempo, o país asiático mudou seu modelo de crescimento, antesvoltado exclusivamente para as exportações. Hoje, ele já apresenta um melhor equilíbrio das vendas externas e o consumo interno. Mas a previsão é de que a China tenhaum crescimento sustentável neste ano.

Na Europa, os países da União Europeia (UE) tentammanter o bloco unido. Se em 2014 a zona do euro conse-guiu evitar a recessão, para 2015 a expectativa é crescer apenas 1,1% e evitar a deflação (quando a populaçãopara de consumir à espera de preços mais baixos, levan-do à quebra de empresas e ao desemprego).

No entanto, para esses países, a instabilidade políticatambém influencia a economia. Em janeiro, as eleições antecipadas na Grécia vão definir se o país seguirá ounão no bloco.

Mas é importante lembrar que a difícil situação econômica que muitos países vão enfrentar em 2015 não significa que viveremos um novo momento de criseeconômica em grande escala.

A última grande crise mundial aconteceu em 2008, com o colapso do sistema financeiro norte-americano. Foiconsiderada a pior crise do capitalismo desde a Grande Depressão, em 1929. Antes, nas décadas de 1970 e 1980,o preço elevado do petróleo produziu crises globais. A última vez que o Brasil entrou em recessão foi em 2009, quando o país tentava driblar os efeitos da crise financei-ra mundial.

DIRETO AO PONTO

2015 será um ano difícil para a economia, segundo especialistas. As previsões de arrocho fiscal e baixo cres-cimento para o Brasil contribuem para que o ano já sejaclassificado como “o ano perdido”.

No resto do mundo, embora os EUA retomem seucrescimento, outros países terão pela frente um períodode recessão, como a Rússia, e de crescimento abaixodo esperado, como China, Japão e economias latino--americanas.

No entanto, isto não significa dizer que teremos em2015 um ano de crise mundial. Para entender o quevem pela frente, é fundamental compreender temascomo equilíbrio nas contas públicas, austeridade, juros einflação e o papel da dívida pública na organização das finanças do governo.

Andréia Martins

GEOPOLÍTICA NACIONAL

O sistema previdenciário brasileiro

HENRIQUE SUBI em 8/jan/2015

E 2015 começou com uma grande polêmica: apresidente Dilma Rousseff editou uma Medida Provi-sória no apagar das luzes do ano velho, mudandoradicalmente as regras da

pensão por morte, o benefício que o INSS paga para a família do trabalhador falecido. Isso acendeu umgrande debate em torno do próprio sistema previden-ciário brasileiro, do qual vale a pena conhecer algunsdetalhes.

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Inicialmente, vale lembrar do rombo que assombra ascontas de nossa Previdência Social. O déficit das contas(situação financeira na qual a arrecadação é menor do que os gastos) não é privilégio nosso: não conheço ne-nhum sistema previdenciário que consiga manter o saldobancário positivo. Tal situação decorre, dentre outros fatores, do aumento da expectativa de vida do brasileiro: como estamos vivendo mais, ficamos dependentes doINSS por mais tempo após nos aposentarmos.

Vem daí a necessidade de algumas alterações na le-gislação para tentar equilibrar essas contas. No final dosanos 90, por exemplo, foi criado o Fator Previdenciário, que reduz o valor da aposentadoria proporcionalmente à idade do trabalhador: quanto mais jovem ele for nomomento em que pedir o benefício, menor ele será. A pensão por morte realmente era um ponto sensível nessasobrigações do INSS, na medida em que, até a publicação da medida provisória, ela não tinha período de carência.

Período de carência é o número mínimo de contri-buições mensais que o trabalhador deve fazer ao INSS para ter direito a um determinado benefício, nos mesmos moldes de um plano de saúde, por exemplo. A pensãopor morte não contava com isso: ainda que o trabalhador tivesse pago somente uma contribuição mensal, casoviesse a falecer, sua mulher tinha direito à pensão nomesmo valor do salário do marido, limitado ao teto doINSS, pelo resto de sua vida. Notadamente, isso gerava algumas distorções nas finanças públicas e essa mudançame parece bem-vinda.

As outras, todavia, são mais polêmicas. Pelas regras novas, quanto mais jovem a viúva ou o viúvo, menor será o valor da pensão e menor o tempo pelo qual ela será paga. Aqui não consigo ver razão na medida apli-cada pelo Governo. A uma porque o valor dos benefícios previdenciários, dentro de nosso sistema, deve ser pro-porcional ao valor pago a título de contribuição para o INSS. Quebrar essa lógica permite ao Governo, de certa maneira, se apropriar de valores de tributos pagos pelo trabalhador que não voltarão em seu benefício.

Além disso, tentar equilibrar os gastos cortando daquilo que volta para a população parece um tanto “tipicamente brasileiro”, quando é totalmente viável, e muito necessário, que o Governo Federal corte custos dosincontáveis ministérios, secretarias e cargos em comissãoque proliferam descontroladamente. Há que se destacar, também, que se deixasse de existir a DRU (Desvinculaçãodas Receitas da União – medida que permite ao Governo Federal utilizar 20% de tudo que arrecada livremente, independentemente das razões que o levaram a receber o dinheiro, inclusive as contribuições dos trabalhadores quedeveriam ser utilizadas para pagamento de benefícios) a Previdência Social conseguiria pagar todos os benefíciose sem precisar de novos aportes financeiros. Em outraspalavras, se o Governo parasse de pegar o dinheiro do INSS para gastar em outras coisas, não precisaria dimi-nuir o valor de benefícios. A informação é do Tribunal de Contas da União – TCU.

Com todos esses holofotes sobre a Previdência, sobrou até para o auxílio-reclusão. Há uma fortíssima campanha nas redes sociais para sua extinção, transmitindo a infor-

mação errônea de que “o preso recebe benefício”. Não é isso. Primeiro, o sistema previdenciário brasileiro é con-tributivo: só tem acesso a benefícios quem contribui parao INSS. Logo, para começar a falar de auxílio-reclusão,temos que considerar que é um trabalhador que recolhesuas contribuições previdenciárias regularmente que foipreso. Segundo, o benefício não é para ele, mas para suafamília. Ora, se a pessoa trabalhava antes de ser presa,é de se supor que seu salário sustentava, ao menos emparte, sua família, que se verá desamparada enquantoo contribuinte estiver recolhido. E bradam os mais fer-vorosos: e a família da vítima? Ela tem a possibilidadede exigir indenização do criminoso por meio do Poder Judiciário. Uma coisa não anula a outra.

Andréia Martins e Carolina Cunha

Representação do negro na TV: antigos estereó-tipos e busca de contextos positivos

Andréia Martins02/01/2015 – 12h48

A TV no Brasil existe desde os anos 1950, mas apesar de tanto tempo no ar, os negros (metade da população brasileira) ainda são coadjuvantes quando falamos emtelenovelas, séries, propagandas, programas de entre-tenimento, entre outros produtos, produzidos pela TV brasileira.

No caso das novelas, boa parte dos personagens ne-gros aparece em papeis que reforçam estereótipos tradi-cionais como o negro que gosta de samba, mora na favela ou em bairros periféricos, atua num núcleo violento ouonde há criminalidade, ou ocupa cargos como porteiros,motoristas, secretários ou empregadas domésticas. Muitoraramente associa-se um negro com algum papel de des-taque ou protagonista.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

No livro “A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira” (2001), o autor Joel Zito Araújo cita elemen-tos ouvidos de entrevistados que avaliaram como osmeios de comunicação de massa representam negros eafro-brasileiros na televisão.

Os principais pontos de crítica foram que 1) os negrossão representados através de estereótipos negativos;2) existe uma total invisibilidade da ação positiva dos negros; 3) a cultura negra é vista como folclore, e nãocomo parte da cultura popular e da constituição do ima-ginário e das preferências do povo brasileiro; 4) o negrocomo elemento de diversão para os brancos, e não para si mesmo e seu grupo étnico; e 5) a apresentação do negrocomo pobre e favelado está na estrutura rotineira dos noticiários.

A lógica se repete em séries televisivas, no cinema na-cional, na literatura, publicidade e outras áreas da mídia.A constatação de sociólogos e outros estudiosos sobre otema é que, na TV, o principal veículo de comunicação de massa do Brasil, a falta de representatividade do negro [ou seja, a sua participação neste meio] influencia ativa-mente na constituição da identidade desta população ena forma como ela é vista pelos demais.

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AATUALIDADESTUALIDADES = 1111Escrevente – Técnico Judiciário / TJ-SSão Paulo

A televisão não é o espaço da narrativa do real, masda construção do real. Dessa forma, esse modelo de iden-tidade negra que a teledramaturgia brasileira difunde acaba alimentando um imaginário de exclusão e reforça estereótipos sobre o negro na sociedade brasileira.

Como avalia a professora de antropologia da ECA-USPSolange Martins Couceiro de Lima, no artigo “A persona-gem negra na telenovela brasileira: alguns momentos”(Revista USP, 2001), “a telenovela é, pois, a narrativa que veicula representações da sociedade brasileira, nelasão atualizadas crenças e valores que constituem o ima-ginário dessa sociedade. Ao persistir retratando o negro como subalterno, a telenovela traz, para o mundo da fic-ção, um aspecto da realidade da situação social da pessoa negra, mas também revela um imaginário, um universo simbólico que não modernizou as relações interétnicasna nossa sociedade”.

Se pensarmos nas séries televisivas dos EUA, onde astelenovelas não ocupam horário nobre, podemos elencarrapidamente pelo menos dez programas com a presençade atores negros em papeis de destaque e até mesmoprotagonistas. Isso sem contar os autores negros.

Desde a década de 1960, início das telenovelas brasilei-ras, a participação de atores e atrizes negras evolui pouco.Nos anos 1960, os negros somente atuavam interpretandoafro-brasileiros em situações de total subalternidade, sen-do a mulher constantemente colocada no papel de escravaou empregada. Nessa época, as telenovelas procuravam confirmar o mito da democracia racial brasileira e daconvivência pacífica entre as raças. Os galãs e mocinhasfrequentemente eram brancos e loiros.

Na década seguinte, os anos 1970, as novelas tinham como foco mostrar os conflitos e dramas dos brasileiros na luta pela ascensão social, na década do milagre econô-mico. Foi apenas nos anos 1990 que uma atriz negra (Taís Araújo) desempenhou o papel-título em uma telenovela, Xica da Silva. Em 2004, a mesma atriz protagonizou Da cor do pecado, da Rede Globo, sendo a primeira protago-nista negra da história das novelas da emissora.

Devido ao alcance de público, as telenovelas e séries,bem como as propagandas, são responsáveis por elaborar e propagar modelos de identidade que serão referência para o espectador. Por isso, é necessário que haja uma igualdade racial e papeis de atores e atrizes em contextos mais positivos.

Série com negras protagonistas estreou sob denúncias de racismo

Em 2014, a estreia da série Sexo e as Negas, na TV Globo, protagonizada pela primeira vez por quatro atri-zes negras, foi cercada de muita polêmica. Antes mesmoda estreia, o nome da atração já havia gerado mais de dez denúncias de racismo na Seppir (Secretaria Especialda Promoção da Igualdade Racial).

Tendo como inspiração a série norte-americana Sex andthe City, a série foi protagonizada por quatro amigas negras moradoras da Cidade Alta de Cordovil, no Rio. Além de mostrar o dia a dia de trabalho, a série apre-sentava também as desavenças sexuais e amorosas daspersonagens.

Diversos grupos da comunidade negra repudiaram a série, acusada de “reproduzir estereótipos racistas emachistas” sobre a mulher negra e mostrar mais uma vez o negro como morador de subúrbios ou favelas. O diretore criador da série, Miguel Falabella, explicou que o nome surgiu durante um encontro na própria comunidade de Cordovil, onde uma negra sugeriu o nome com a palavra‘nega’ “substituindo o S do artigo pelo R, como é usual nofalar carioca”, disse o autor em nota.

Segundo ele, a ideia era “um programa que refletisse um pouco a dura vida daquelas pessoas, além de empre-gar e trazer para o protagonismo mais atores negros”. “Qual é o problema, afinal? É o sexo? São as negas? Asnegas, volto a explicar, é uma questão de prosódia. Os baianos arrastam a língua e dizem meu nego, os cariocas arrastam a língua e devoram os S. Se é o sexo, por que as americanas brancas têm direito ao sexo e as negras não?Que caretice é essa?”, questionou ele.

Nesta discussão, cabem diferentes argumentos de ambos os lados. Do lado do programa, tem-se aí uma série na principal emissora do país com quatro protagonistasnegras, vivendo em uma região periférica, mas que nãose veem como vítimas. É um retrato de um determinadotipo de mulher – negra ou branca – que existe na vida real.

O fato do tema da série ser sexo levanta uma questão:quando falamos de Sex andthe City e suas protagonistasclasse média alta, tudo bem falar de sexo, mas quandoenvolve personagens negras, por que isso seria umarazão para diminuir a raça? Não estaríamos impedido amulher negra de também ser vista e de vivenciar seusdesejos, vontades e fantasias?

Do lado dos críticos do programa, tem-se o argumen-to de que, devido à falta de representatividade do negro,colocar um programa logo com esse tema poderia estig-matizar ainda mais a sua imagem já que as personagens repetem o já visto: moram em lugares e ocupam cargos considerados inferiores, destinados a quem tem poucaformação educacional.

Apesar das denúncias, a primeira temporada da série foi ao ar sem restrições, dividindo a audiência. No en-tanto, a emissora não renovou a série para uma segundatemporada.

Quem é o negro no Brasil?

Definir quem é negro não é uma tarefa tão fácil. No Brasil, a atual classificação adotada pelo IBGE (InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística) é usada como oficial.Esta classificação tem como diretriz, essencialmente, ofato da coleta de dados basear-se na autodeclaração, ouseja, a pessoa escolhe, entre cinco itens (branco, preto,pardo, amarelo e indígena) qual deles se considera.

Somadas, as populações que se autodeclaram preta e parda formam a população negra do país. De acordocom os dados da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostrasde Domicílios) 2013, a população negra do país passoude 48,1% em 2004 para 53% em 2013.

Em dez anos, a população autodeclarada preta no país cresceu 2,1 pontos percentuais, passando de 5,9% do totalde brasileiros em 2004 para 8% em 2013. O mesmo acon-teceu com o número de pessoas autodeclaradas pardas.

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12 12 = AATUALIDADESTUALIDADES E nte screven – Técnico Judiciário / TJ-São Paulo

Muitos negros são chamados de afrodescendentes(ou afro-brasileiros) devido à ascendência africana. No entanto, essa não é uma exclusividade dos negros. Mui-tos brasileiros aparentemente brancos são parcialmentedescendentes de africanos, assim como muitos negrossão parcialmente descendentes de europeus.

Projeto de lei propõe cota de mídia

A televisão é uma formadora de opinião, e as propa-gandas são consideradas espelhos para os telespectado-res. Na publicidade veiculada na TV, a lógica da repre-sentação dos negros é a mesma das telenovelas, emboranos últimos anos, mais atores negros estejam aparecendoem comerciais.

Para esta área, o projeto de Lei nº 4370/98, emtramitação no Congresso Nacional, determina que uma porcentagem mínima de negros que deve atuar na publi-cidade, indicando uma preocupação em tornar possível a efetiva inserção do negro nos diversos espaços de atuaçãoda sociedade.

O texto obriga a presença mínima de 25% de afrodescen-dentes entre os atores e figurantes dos programas de televi-são – extensiva aos elencos de peças de teatro – e de 40%nas peças publicitárias apresentadas nas tevês e nos cinemas.

A inserção de mais atores e atrizes negras com papeisde destaque em novelas e propagandas não resolverá as questões raciais da sociedade brasileira. O que se espera disso é uma contribuição para o debate e esclarecimento. No entanto, o fato de a inserção de negros na propagandana TV ser imposta por lei (caso o projeto seja aprovado) já revela muito sobre como nós tratamos essa questão.

DIRETO AO PONTO

Apesar do tempo que separa a abolição da escravaturano Brasil dos dias atuais, os negros (metade da população brasileira) e afrodescendentes ainda são coadjuvantes quando falamos em telenovelas, séries, propagandas,programas de entretenimento, entre outros produtos,produzidos pela TV brasileira.

A constatação de sociólogos e outros estudiosos sobre o tema é que, na TV, o principal veículo de comunicação de massa do Brasil, a falta de representatividade [ou seja, sua participação] do negro influencia ativamente naconstituição da identidade desta população e na forma como ela é vista pelos demais.

Em 2014, a estreia da série Sexo e as Negas, na TV Globo, protagonizada pela primeira vez por quatro atri-zes negras, foi cercada de muita polêmica. Antes mesmoda estreia, o nome da atração já havia gerado mais de dezdenúncias de racismo na Secretaria Especial da Promo-ção da Igualdade Racial (Seppir), acusada de “reproduzirestereótipos racistas e machistas” sobre a mulher negra.

Devido ao alcance de público, as telenovelas e séries,bem como as propagandas, são responsáveis por elaborar e propagar modelos identitários que serão referência para o espectador. Por isso, é necessário que haja uma equi-dade racial, no sentido de fazer com que a ideologia do branqueamento e o desejo de euro-norte-americanização não dominem a maior parte representativa da TV.

Corrupção: uma questão cultural ou falta decontrole?

Por Andreia Martins12/12/20140

Suborno, propina, carteirada, “rouba, mas faz”. Casoscomo Mensalão e Operação Lava Jato estampando man-chetes de jornal. Quem já não escutou alguém dizer que no Brasil a corrupção é algo natural? Muito se fala que ela faz parte de quem somos. No entanto, a corrupção é fenômeno inerente a qualquer forma de governo, seja democrático ou despótico, em países ricos ou em desen-volvimento. Então o que nos faz acreditar que a prática éuma característica brasileira, parte do modo de viver quenós chamamos de “jeitinho brasileiro”?

Bem, primeiro vamos entender o que é corrupção. A palavra corrupção vem do latim corruptus, que significa quebrado em pedaços. Na república romana, ela se refe-ria à corrupção de costumes. No mundo contemporâneo, sua prática pode ser definida como utilização do poder, cargo público ou autoridade – também chamada de trá-fico de influência – para obter vantagens e fazer uso dodinheiro público ilegalmente em benefício próprio ou depessoas próximas.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Engana-se quem acha que a prática ganha essa nomen-clatura apenas quando falamos de grandes corporaçõesou órgãos públicos. A corrupção privada está presente em atitudes do nosso dia a dia, como desviar dinheiro do condomínio, burlar um imposto, pagar um valor extrapara ter um serviço feito antes do tempo legal, subornarum guarda de trânsito para evitar uma multa ou pagarpor um lugar melhor na fila do restaurante.

No último ranking da corrupção, organizado pela Transparência Internacional e divulgado em dezembro de 2014, o Brasil aparece na 69ª posição entre 175 paí-ses. O ranking mede o índice de percepção da corrupção.Para calcular a nota que define a posição, e vai de 100(menos corrupto) a zero (mais corrupto), a ONG per-gunta a entidades da sociedade civil, agências de risco,empresários e investidores qual é a percepção sobre atransparência do poder público.

O Brasil aparece atrás de países como Uruguai e Chile (ambos no 21º lugar), Botsuana (31º) e Cabo Verde(42º). A Dinamarca manteve o primeiro lugar no rankingcom nota 92, seguida da Nova Zelândia (91); Finlândia(89), Suécia (87) e Noruega (86). Na outra ponta databela, Somália e Coreia do Norte aparecem em último,com oito pontos.

O que faz da Dinamarca um país menos corrupto? No documento, o país é citado como uma nação que tem umforte Estado de Direito, apoio à sociedade civil e regras claras de conduta para as pessoas que ocupam cargos públicos. O relatório menciona o exemplo dado pelo paísde criar um registro público com informações sobre osproprietários de todas as companhias dinamarquesas,iniciativa criada pela ONG norte-americana Global Fi-nancial Integrity para o combate à lavagem de dinheiro, à sonegação de impostos e à corrupção. Até agora, apenas Reino Unido e Dinamarca aderiram à campanha.

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AATUALIDADESTUALIDADES = 1313Escrevente – Técnico Judiciário / TJ-SSão Paulo

O ambiente social do país também colabora. O profes-sor dinamarquês GertTingaardSvendsen, especialista emcorrupção, publicou este ano o livro Trust, onde mostra como na Dinamarca a confiança social é alta. Segundoele, quando as pessoas confiam umas nas outras e nasinstituições, há maior cooperação, a burocracia é menor e os investimentos em segurança são reduzidos.

O professor fez uma pesquisa em 2005, em 86 países, perguntando às pessoas se elas confiavam nas outras. NaDinamarca, 78% (três em cada quatro pessoas) disseram que sim. O Brasil aparece no final da lista: apenas 10%dos entrevistados (uma em cada 20 pessoas) disseram que confiam nas outras.

Além dos baixos índices de corrupção, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia têm outra coisa em comum: investem alto em educação. Um levantamento feito pelapFolha, no final de 2013, , apontou que existe sim uma relação entre corrupção e educação.

O estudo cruzou dados do Índice de Percepção da Corrupção e do Pisa, exame internacional que avalia estudantes de 15 e 16 anos em matemática, leitura e ciências. Os dados mostraram que os países menos cor-ruptos estão no topo da lista. O Brasil ficou em 58º na avaliação do Pisa e, em 2013, ocupava o 72º lugar no ranking de corrupção.

Brasil e a corrupção na política

No Brasil, boa parte da percepção de que somos um país corrupto se deve aos sucessivos escândalos políticos de desvios de dinheiro público e à impunidade dos envol-vidos na maioria dos casos. Daí surge outra “máxima” do senso comum: a de que “o poder corrompe”.

A frequência de denúncias e a falta de punições criou uma imagem de que a política aqui é, necessariamen-te, corrupta. Para estudiosos, essa noção é equivocada e contribui para que a corrupção seja aceita de forma quase natural, ou seja, se você foi eleito para um cargo público, já se espera que você não seja honesto.

Entre as práticas de corrupção mais comuns na políti-ca estão o nepotismo (quando o governante elege algum parente para ocupar um cargo público), clientelismo (compra de votos), peculato (desvio de dinheiro ou bens públicos para uso próprio), caixa dois (acúmulode recursos financeiros não contabilizados), tráfico deinfluência, uso de “laranjas” (empresas ou pessoas que servem de fachada para negócios e atividades ilegais),fraudes em obras e licitações, venda de sentenças, improbidade administrativa e enriquecimento ilícito.

Para muitos, a corrupção é um fator moral e cultural.Como descreveu o antropólogo Sérgio Buarque Holanda no livro Raízes do Brasil (1936), o brasileiro (segundoele, um indivíduo cordial, que pensa com a emoção) teria desenvolvido uma histórica propensão à informalidade, o que se refletiria nas suas relações com outros indivíduos,instituições, leis e a política.

Esse comportamento explicaria a origem, mais tarde, do “jeitinho brasileiro”. Nessa predisposição àinformalidade, entre o que pode e o que não pode por meios legais, a malandragem, o “jeitinho” e frases como

“você sabe com quem está falando?”, como cita Roberto DaMatta, surgem como formas de se obter vantagense burlar regras seja no âmbito do poder os nas nossasrelações do dia a dia.

Mudar esse comportamento só seria possível com mecanismos de controle e de fiscalização que coíbam ou reduzam as condições para práticas corruptas. Como pon-tua Claudio Abramo, diretor executivo da TransparênciaBrasil, no texto Corrupção, ética e moral, hoje a corrupção não é apenas uma questão moral, mas entender o cenárioque permite que ela seja tão frequente é fundamental.

“Não é o homem que molda o ambiente, mas o am-biente que molda o homem. São as condições materiais que regulam as interações entre as pessoas que determi-nam a maior ou menor propensão de elas se meteremem tramoias desonestas. Conforme essa perspectivainteressa pouquíssimo se um indivíduo é honesto ou de-sonesto. O que importa é que, se o sujeito for desonesto,as condições em que ele age deixem-lhe pouca margempara que aja desonestamente”, pontua Abramo.

Controle e fiscalização

No Brasil, os órgãos fiscalizadores começaram a surgir principalmente depois da Constituição de 1988. Hoje, oEstado possui diversas instituições de controle e fiscaliza-ção da atividade governamental, como o TCU (Tribunalde Contas da União), os Tribunais de Contas dos Estadose de vários Municípios, e a CGU (Controladoria Geral daUnião), criada em 2003.

O TCU, por exemplo, tem a função de controlar os gastos públicos. Os governantes têm de prestar contas aoórgão sobre suas decisões de gastos. O Ministério Públicotambém recebe denúncias e ajuíza ações penais e civispor improbidade administrativa por meio dos procurado-res da República.

Outra ferramenta é a Lei 12.846/2013, conhecida como lei anticorrupção. De caráter não penal, institui eregula a responsabilidade objetiva e civil de empresaspela prática de atos de corrupção contra a administraçãopública nacional ou estrangeira. Já a Lei da Ficha Limpa, que entrou em vigor em 2010, impede a candidatura em eleições de políticos com condenações por órgãoscolegiados, um passo importante para a ética na política.

A Lei de Acesso à Informação Pública (Lei12.527/2011), que determina que qualquer cidadão temo direito de examinar documentos produzidos ou custo-diados pelo Estado, desde que não estejam protegidos por sigilo ou se referirem a informações de caráter pessoal,também serve para acompanhar os gastos dos governos.

Mas, além da lei, ainda temos que desenvolver o hábito de investigar e acompanhar as atividades dos ocupantesde cargos públicos com ajuda desses mecanismos. NaSuécia, por exemplo, a lei de acesso à informação existe há 200 anos, já sendo parte da rotina dos cidadãos, quem veem na lei uma aliada no combate à corrupção.

E mesmo com esses diversos mecanismos, são muitosos casos em que as brechas na Justiça e legislação permi-tem que políticos e empresas envolvidos em escândalosnão sejam punidos ou cumpram curto período na prisão,

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recebam benefícios em troca de informações e não sejam banidos da vida pública. Daí surge outra famosa expres-são: “o Brasil é o país da impunidade”.

Embora muito se fale que hoje a corrupção no Brasilé mais denunciada do que antigamente, sem a correta punição dos envolvidos é como se de nada adiantassetomar conhecimento das ilegalidades. Se hoje denuncia-mos mais, talvez seja hora de avançar para tempos onde também se puna mais.

DIRETO AO PONTO

Suborno, propina, carteirada, “rouba, mas faz” e o“jeitinho brasileiro”. Quem já não escutou alguém dizer que no Brasil a corrupção é algo natural? Muito se fala que ela faz parte de quem somos. No entanto, a corrup-ção é fenômeno inerente a qualquer forma de governo, seja democrático ou despótico, em países ricos ou emdesenvolvimento.

No último ranking da corrupção, organizado pela Transparência Internacional e divulgado em dezembro de 2014, o Brasil aparece na 69ª posição entre 175 países.O ranking mede o índice de percepção da corrupção.

A corrupção envolve fatores morais, ausência de me-didas punitivas ou do cumprimento delas e, no caso doBrasil, de certa forma trata-se de uma questão cultural. Como descreveu o antropólogo Sérgio Buarque Holanda no livro Raízes do Brasil (1936), o brasileiro teria de-senvolvido uma histórica propensão à informalidade, o que se refletiria nas suas relações com outros indivíduos,instituições, leis e a política.

Hoje, para acompanhar mais de perto os gastos na ad-ministração pública, o Estado possui diversas instituiçõesde controle e fiscalização da atividade governamental. No entanto, no Brasil ainda denunciamos mais do que punimos os envolvidos em escândalos de corrupção.

Andreia Martins

Robôs: Num mundo com eles, o emprego corre risco?

Andréia Martins05/12/2014 – 14h44

23.jul.2014 – A RoboCup 2014 reúne robôs para competirem em diversas categorias, como par-tidas de futebol

Quando falamos de robôs inteligentes, boa parte das pessoas tem como referência os robôs R2D2 e C3PO,que ajudaram Luke Skywalker a derrotar Darth Vaderem “Guerra nas Estrelas”, a babá Rosie, dos Jetsons, a cena do robô B9 jogando xadrez com o Dr. Smith nasérie “Perdidos no Espaço”, ou, mais recentemente, ocaso em que um homem se apaixona por uma voz de computador no filme “Ela”, de Spike Jonze. Isso só para citar alguns.

Essa ideia de ter robôs executando tarefas cansativas e repetitivas e ajudando no nosso dia a dia vai bem até que se levante uma questão: o avanço da produção de robôs pode afetar o mercado de trabalho?

A resposta é sim. Em 2013, um estudo da Universida-de de Oxford chamou atenção ao apontar que 47% dosempregos nos Estados Unidos estariam ameaçados pelosrobôs. Isso mesmo. Essas máquinas criadas para facilitar nossas vidas podem sim disputar vagas de emprego comos humanos. Em um novo levantamento, em 2014, omesmo grupo de pesquisadores concluiu que no ReinoUnido, 35% dos empregos estariam ameaçados entre os próximos 10 a 20 anos pelo avanço da robótica.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Mas, ao mesmo tempo em que a notícia soa alarmante para alguns, o próprio estudo avalia que a automatizaçãonão atingirá a todos os serviços em igual escala. Se umrobô vai (ou não) roubar o seu emprego depende dasua área de atuação, de onde você trabalha e de quantoganha.

Áreas administrativas, de transporte, vendas e servi-ços, construção e fabricação estão entre as atividades que mais correm risco de ver seus funcionários serem substi-tuídos por robôs. Já setores como serviços financeiros,odontológicos, advocacia, engenharia, ciência, educação,artes, e outros, correm menos risco.

A explicação para essa diferenciação, segundo a pes-quisa, é correm menos risco as atividades que envolvem mais criatividade. Ou seja, onde o fator humano é funda-mental para que tais atividades sejam desempenhadas, não há espaço para os robôs.

Um exemplo de como os robôs podem ocupar postos de trabalho nos EUA é o patrulha que já circula na baíade São Francisco, no Vale do Silício. Com 1,5 m de alturae equipados com microfones, alto-falantes, câmeras,scanners a laser e sensores, os robôs são programadospara perceber comportamentos incomuns.

Chamados de Knightscope K5 Autonomous DataMachines, esses robôs também detectam odores, calor, econseguem memorizar até 300 placas de carro por minutoenquanto monitoram o tráfego. O robô percebe barulhose movimentos estranhos e envia todas as imagens a umcentro de controle. Caso alguém tente destruí-lo, ele emiteum alarme até três vezes mais alto que o alarme de carro.A meta é que eles patrulhem shoppings, áreas comerciais,universidades, hotéis, estádios, portos e aeroportos, entreoutros, e reduzam a criminalidade em 50%.

Para os criadores do robô, a Knightscope, ele oferece alternativas de segurança para que as pessoas ocupemcargos e postos intelectuais e corram menos riscos.“Robôs são as ferramentas perfeitas para lidar com o trabalho monótono e perigoso, a fim de libertar os sereshumanos para tratar de forma mais criteriosa de ativida-des que exigem pensamento em nível superior, criativoou planejamento tático”, diz a fabricante.

Robôs na indústria

Como você viu antes, os empregos na indústria são os que mais correm risco com o uso de robôs. Até 2025,estima-se que 60 milhões de postos de trabalho em fábri-cas sejam eliminados em todo o mundo. Nos países ricos,esse impacto será de 25% menos empregos.

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AATUALIDADESTUALIDADES = 1515Escrevente – Técnico Judiciário / TJ-SSão Paulo

É fácil entender o motivo: usando robôs em linhas de montagem, por exemplo, as empresas ganham tempo,reduzem o número de defeitos dos produtos e obtém alta produtividade a baixo custo, já que os robôs estão cus-tando cada vez menos ao mesmo tempo em que ganham novas habilidades e mais produtividade.

Em 2013, 179 mil unidades de robôs industriais foram vendidas em todo mundo, de acordo com a Federação Internacional de Robótica (IRF), um recorde. A China se tornou o maior comprador de robôs para indústrias.

De acordo com o último levantamento da IRF, em 2012, o país mais robotizado do mundo é o Japão, com 306 robôs para cada 10 mil trabalhadores, segundo nú-meros de 2010. Depois vem Coreia do Sul e a Alemanha, com densidades de 287 e 253 robôs, respectivamente. NoBrasil o uso de robôs na indústria ainda é escasso -- na37ª posição entre 45 países, o país tem densidade inferiora 10 robôs para cada 10 mil trabalhadores.

A indústria automobilística está entre as mais robo-tizadas do mundo. Em muitos casos, robôs fazem o tra-balho braçal enquanto funcionários acompanham tudo a distância, supervisionando o trabalho das máquinas. Será possível que os robôs um dia assumam o papel de observadores?

O “ponto de inflexão”

No livro “A Segunda Era das Máquinas”, lançado este ano nos EUA, os professores do MIT Andrew McAfee eErik Brynjolfsson apontam que hoje vivemos um momen-to de inflexão (ou virada).

Para eles, a combinação do poder de computação ma-ciço com redes abrangentes, aprendizado de máquinas,mapeamento digital e a internet das coisas estão pro-duzindo uma revolução industrial completa. No entanto, hoje, mesmo trabalhos cognitivos estão sendo feitos porcomputadores.

Se na Primeira Era das Máquinas – a Revolução In-dustrial, no final dos anos 1700 – o trabalho humano eo das máquinas eram complementares, hoje, na Segunda Era das Máquinas, “nós estamos começando a automa-tizar muito mais tarefas cognitivas, muito mais sistemasde controle que determinam como usar aquela força. Em muitos casos, máquinas de inteligência artificial podemtomar hoje melhores decisões do que os seres humanos”,diz Brynjolfsson.

Exemplos disso são os carros que dirigem sozinhos, os serviços de entregas feitos por robôs, os softwares cui-dadores de idosos, as “serpentes” cirurgiãs, atendentesprogramadas no telemarketing, algoritmos já substituemo professor particular avaliando os pontos fracos do estudante e montando um plano de estudo, sem contarBaxter, um robô que consegue efetuar qualquer tipo de tarefa observando um ser humano e custa menos do que um trabalhador com um salário médio.

Baxter está entre o robô industrial e o doméstico. Aolongo dos anos, diferentes versões de robôs domésticosforam criadas: desde o cão robótico Aibo, ao Roomba, e,para 2015, Jibo, cujo slogan é “o primeiro robô família do mundo”, é a grande novidade. Ele pode ler para crianças,

fotografar, lembrar tarefas, ditar receitas na cozinha, eoutros. Se ele substituirá as babás? Não. Não foi feitopara isso e nem pode executar as mesmas tarefas queuma babá.

Ao contrário dos professores do MIT, outros especia-listas apontam que o impacto dos robôs no emprego não será drástico. “Uma máquina pode fazer uma determi-nada função, mas os trabalhos da maioria das pessoas envolvem várias funções diferentes. Você não podeautomatizar todas as tarefas com uma única máquina”,diz Robert Atkinson, presidente da Fundação Tecnologiada Informação e Inovação dos EUA.

Uma pesquisa feita com especialistas da área pela PewResearch Center Internet Project e divulgada emagosto deste ano, mostrou que a maioria (52%) tambémnão espera um efeito apocalíptico dos robôs no mercadode trabalho. O que não quer dizer que não haverá im-pacto.

Para os entrevistados, até 2025, haverá um protago-nismo cada vez maior de veículos autônomos, drones, operários robóticos e aplicativos telefônicos e até algorit-mos jornalísticos. Em março deste ano, o jornal Los An-geles Times já se adiantou e publicou automaticamenteuma notícia online graças a um algoritmo que gera uma pequena reportagem quando ocorre um terremoto.

Avaliar as consequências e probabilidades dessa tec-nologia depende da realidade social e econômica de cada país. No Brasil, por exemplo, a indústria, embora vivaum momento de desaquecimento, é uma das principaisempregadoras (8,78 milhões em 2012, de acordo como IBGE), e a perda dessas oportunidades teria sérias implicações.

O primeiro problema importante decorrente da nova Revolução Industrial é como assegurar a manutenção de pessoas que perderam seus empregos em consequênciada automação e da robotização da produção e dos servi-ços. Isso criaria oportunidades desiguais?

Por isso, é preciso começar a pensar no tema para evi-tar surpresas. Afinal, na velocidade das mudanças tecno-lógicas e com as inúmeras possibilidades da inteligênciaartificial, não estamos preparados para dar de cara comum simpático robô ocupando nossa mesa no trabalho.A não ser que ele esteja ali para uma partida de xadrez.

DIRETO AO PONTO

Quando se fala em robôs, a primeira pergunta que muitos se fazem é: essas máquinas vão roubar meu em-prego? Especialistas não discordam de um ponto: o usode robôs em fábricas e indústrias e outros postos terá simum impacto na oferta de emprego. No entanto, enquantouns preveem um futuro apocalíptico nesse sentido, ou-tros entendem que o impacto não será tão grande.

Os que esperam uma mudança no mercado apontampara o uso, hoje, de robôs em tarefas cognitivas e nãoapenas em serviços braçais ou de repetição. Nesse caso,os robôs estariam ocupando uma função que seria dos humanos. Do outro lado, há quem acredita que o usode robôs venha ajudar os homens em tarefas cansativas, repetitivas e muitas vezes perigosas.

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A discussão está longe de terminar, mas com o avanço das tecnologias e da inteligência artificial, é bomcomeçarmos a pensar no assunto: a tecnologia será nossaaliada ou estamos construindo nossos próprios inimigos?

Andréia Martins

Participação social: Brasil ainda enfrenta obstá-culos para a democratização da gestão pública

Andréia Martins28/11/2014

Logo após a reeleição da presidenta Dilma Rousseff ff(PT), o Congresso aprovou um projeto que veta o decreto 8.243/2014 proposto pela própria petista e que criavanovas instâncias de participação popular por meio da insti-tuição da Política Nacional de Participação Social (PNPS).

Segundo o texto, o objetivo é “consolidar a participa-ção social como método de governo” e, para isso, sugereque órgãos governamentais e agências reguladoras e deserviços públicos promovam consultas populares.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Entre os tipos de consultas populares que poderiamser utilizadas, o decreto cita nove: conselhos de políticaspúblicas, comissão de políticas públicas, conferência na-cional, ouvidoria pública federal, mesa de diálogo, fórum interconselhos, audiência pública, consulta pública eambiente virtual de participação.

Para a oposição, a proposta é “bolivarianista” e fere prerrogativas do Congresso Nacional. Para o governo, a medida estimula a criação de estruturas de participação social. Outros críticos alegam que o decreto é até “tí-mido” já que não traz muitas alterações em relação aoque está na Constituição de 1988. A polêmica levantoua necessidade de se debater a democracia participativa e a forma como entendemos e de como deve ser, de fato, a participação social.

Democracia: da Grécia ao mundo moderno

Como regime político, a democracia é caracterizadapela participação popular, que pode ser direta (quando todos os indivíduos manifestam sua opinião sobre osassuntos relevantes para eles em assembleias, plebiscitos ou referendos) ou representativa (onde a coletividade vota em seus representantes a quem é delegado o poderpara tomar as decisões).

Dizemos que uma sociedade é democrática quando,além de eleições, partidos políticos, divisão dos trêspoderes, respeito à vontade da maioria e das minorias, ela institui algo que é condição de seu próprio regimepolítico: direitos.

O berço do conceito de democracia é a Grécia antiga. Naquela sociedade, criou-se a tradição democrática coma instituição de três direitos: igualdade, liberdade e par-ticipação no poder.

Quantos aos dois primeiros vale lembrar que as mu-lheres, os escravos e os estrangeiros não eram considera-dos cidadãos e, por isso, estavam excluídos das grandes

decisões. No entanto, como observaram Aristóteles eKarl Marx, embora a instituição desses direitos não osgarantissem imediatamente, abria campo para a criaçãoda igualdade e sua consolidação real.

Já quanto à participação, era dado a todos os cida-dãos o direito de participar das discussões e deliberaçõesda cidade. A política era considerada uma ação coletiva.

A partir do século 18, as revoluções burguesas que derrubaram as monarquias absolutistas, como a Revo-lução Americana (1776) e Revolução Francesa (1789),foram dando novas bases para a criação de um conceitomoderno de democracia. O princípio básico dessa demo-cracia moderna é o direito dos cidadãos de eleger seus representantes pelo voto.

Enquanto a democracia ateniense era direta, a mo-derna é representativa, o que deixou o direito de partici-pação mais limitado ao pleito, na visão de boa parte dos cidadãos. Mas, por definição, a democracia espera umaparticipação social e popular que vá além do voto.

A participação social

A definição de democracia no Dicionário de Políticas Públicas do NUPPS (Núcleo de Pesquisas em PolíticasPúblicas da USP) é “não existe democracia sem demo-cratas, isto é, pessoas comuns que aceitam convivercom as outras no ambiente de tolerância e cooperação que caracteriza a democracia e que alimentam, mesmoquando desejam aperfeiçoar o regime, sentimentos,atitudes e comportamentos favoráveis a ele; para isso, aparticipação é fundamental, assim como a disposição decorrigir distorções como a corrupção”.

Com a Constituição de 1988, que veio após a ditaduramilitar, o direito à participação foi elevado a princípio constitucional, resultado da demanda por uma maiorparticipação e controle público, consolidando o que fica-ria conhecido como “democracia participativa”.

A democracia participativa tem como componentebásico a defesa da participação direta dos cidadãos natomada de decisão dos políticos e órgãos públicos. Elaganha força com a necessidade de novas formas de diálo-go entre o poder público e a sociedade, através de canais e mecanismos de participação social.

A participação social se dá nos espaços e mecanismosdo controle social como conferências, conselhos, ouvi-dorias, audiências públicas, entre outros, que atuam nocontrole, a fiscalização, o acompanhamento e implemen-tação de políticas públicas, bem como para um diálogo mais frequente entre os governos e a sociedade civil.

Os conselhos de políticas no Brasil têm sua origem naslutas sociais travadas no período de democratização políti-ca brasileira, pós-ditadura militar. Segundo levantamento do jornal Folha de S.Paulo, hoje há no Brasil 40 conselhose comissões de políticas públicas, formados por 668 in-tegrantes do governo e 818 representantes da sociedade.

Eles reúnem representantes de entidades empre-sariais, organizações da sociedade e governo, eleitospor voto ou outro mecanismo, acordado com o grupo.Alguns têm décadas de funcionamento, como o ConselhoNacional de Saúde, instituído em 1937. Outros foraminstitucionalizados em 1988.

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AATUALIDADESTUALIDADES = 1717Escrevente – Técnico Judiciário / TJ-SSão Paulo

Sua atribuição não é de veto a uma lei ou decisão (umconselho não pode vetar uma decisão do Congresso, porexemplo), mas de levar para diferentes setores e perfis odebate.

Nessa linha, é importante diferenciar participação social de popular. A participação popular corresponde a formas mais independentes e autônomas de atuação,organizadas em movimentos sociais, associações de mo-radores, entre outras. Aqui, as formas de luta são mais diretas, com a realização de marchas, ocupações, protes-tos (os de junho de 2013, por exemplo), ente outros.

No Brasil, embora tenhamos visto avanços, como orçamento participativo (que permite que a população participe da decisão dos investimentos em obras eserviços a serem realizados a cada ano na cidade, com os recursos do orçamento da prefeitura) e o congresso das cidades, bons exemplos da participação social, a de-mocratização da gestão pública ainda apresenta muitos desafios.

“De fato, constatamos uma participação restrita a poucos segmentos sociais com capacidade de organiza-ção e expressão política, cujo risco é exatamente reforçar o círculo vicioso de produção e reprodução das enormes desigualdades já existente, em razão da crescente dificul-dade de organização e expressão política dos segmentossociais em situação de vulnerabilidade ou exclusão so-cial”, escreve o sociólogo Orlando Alves dos Santos Jr. notexto “Dilemas e desafios da governança democráticag ç ”.

Este é um dos desafios da participação social. Es-taríamos preparados para participar desse debate? O número de pessoas ligadas a associações civis representaa diversidade de indivíduos e necessidades? As práticassão éticas e desvinculadas de partidos e figuras políticas?Ou seja, outras questões também estão ligadas a essaparticipação.

No entanto, ela abre caminho para um diálogo mais próximo entre sociedade e governo. Cabe a essas estru-turas serem idôneas, éticas, representarem diferentessetores, e ao governo (federal, municipal ou estadual), cabe oferecer possibilidades para que tais estruturas participativas sejam criadas e não seja apenas “uma cidadania por decreto”, onde a voz do povo, chamado ao debate, de nada vale.

DIRETO AO PONTO

A polêmica em torno do veto por parte do Congresso brasileiro ao decreto 8.243/2014 proposto pela presiden-ta Dilma Rousseff, em maio deste ano, e que criava novas instâncias de participação popular levantou a necessida-de de se debater o status da democracia participativa e a forma como entendemos e de como deve ser, de fato, a participação social.

A participação social se dá em espaços como con-ferências, conselhos, ouvidorias, audiências públicas,entre outros. Essa forma de atuação organizada é fundamental para o controle, a fiscalização, o acompa-nhamento e implementação de políticas públicas, bemcomo para um diálogo mais frequente entre os governos e a sociedade civil.

Poder ser no formato de conselhos de políticas pú-blicas, comissão de políticas públicas, conferência nacio-nal, ouvidoria pública federal, mesa de diálogo, fóruminterconselhos, audiência pública, consulta pública eambiente virtual de participação.

Para que elas sejam possíveis, deve haver diálogo para a sua criação, implantação e execução. E por outro lado,para fazer valer a democracia, é preciso oferecer bases eoportunidades para que tais estruturas de participação social existam.

Queda do Muro de Berlim: 25 anos depois, saibamais sobre este e outros “muros”

Andréia Martins14/11/2014 – 16h41

7.nov.2014 – Luzes são acesas em balões da instalação ‘Lichtgrenze’ (Muro de Luz) que marca o antigo curso do Muro de Berlim. A instalação é uma homenagem aos 25 anos da queda do Muro de Berlim, que dividiu a capitalalemã entre dois países, a Alemanha Oriental e a AlemanhaOcidental, por quase três décadas

1989 foi um ano em que o mundo mudou. O Brasilrealizava sua primeira eleição direta para presidente de-pois da ditadura; nascia a World Wide Web (www), que só seria difundida para os usuários quatro anos mais de-pois; o mundo se despedia de figuras de referência comoSamuel Beckett e Salvador Dalí. Mas nada marcaria maiso ano como a queda do Muro de Berlim.

Em 1961, a Alemanha viveu uma experiência atéentão inédita em outros países: viu sua capital, Berlim,ser dividida em dois lados por um muro, com cada ladogovernado por regimes politicamente contrários simbo-lizando a divisão do mundo entre os blocos capitalista e socialista, uma herança da Guerra Fria.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

A divisão era resultado do final da Segunda GuerraMundial (1939-1945), quando a Alemanha foi invadidapor todos os lados e ficou dividida em dois países: a Ale-manha Ocidental (ou República Federal da Alemanha, aRFA), capitalista e ocupada pelas tropas de Inglaterra, França e Estados Unidos, e a Alemanha Oriental, cha-mada também de República Democrática Alemã (RDA)– governada pelos comunistas e União Soviética.

Como consequência, a capital, Berlim, também aca-bou dividida. A cidade ocupava uma posição estratégica,no centro da parte oriental da Alemanha. Por isso, osAliados pressionaram para que ela fosse dividida emquatro setores, sendo o russo o maior de todos.

Berlim ocidental, apoiada pelos Estados Unidos, tornou- se capital da RFA, enquanto Berlim oriental,com apoio soviético, era capital da RDA. Como o ladoocidental apresentava melhores índices econômicos ede prosperidade, o governo da RDA temia uma fuga emmassa dos moradores do lado soviético e decidiu sepa-rar a cidade. Primeiro com um arame farpado, depoiserguendo um muro de cimento. O resto da história éconhecido.

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Até 1989, o muro permaneceu dividindo a cidade e só cairia no dia 9 de novembro daquele ano, representado o fim do regime socialista no país. Fato é que 25 anosapós a queda e a unificação do país, ocorrida em 3 de outubro de 1990, a Alemanha saiu de país partido para se tornar líder na Europa, embora ainda veja as regiões leste e oeste divididas economicamente.

Desde a queda do muro, a atividade econômica doleste não acompanha o oeste. Vale lembrar que, logoapós o final da 2ª Guerra, os Estados Unidos lançaram o Plano Marshall, plano de ajuda econômica aos aliados o pós-guerra, ação que beneficiou a Alemanha ocidental.

Hoje, o PIB (produto interno bruto) da área que antesformava a Alemanha Oriental corresponde a 67% da produção do lado ocidental. Outros números corroboram o descompasso das regiões: o índice de desemprego, umterço mais alto no leste, e o salário, 20% mais alto na região oeste. Para especialistas da área econômica, em-bora o leste tenha apresentado certos progressos, essas diferenças ainda são uma herança da divisão do país.

Naquela época, o fim do regime socialista representou o desemprego de 2 milhões de pessoas e enfraqueceu aatividade econômica. Embora algumas cidades do leste tenham apresentado uma evolução – como, por exemplo, Leipzig, que hoje tem negócios de empresas como Ama-zon e BMW–, elas são uma exceção. Segundo o governo federal, apenas 10% das grandes empresas instaladas nopaís oferecem emprego na região leste.

Tentando diminuir esse “atraso”, o governo federal da Alemanha criou um plano de apoio, o Pacto de Solida-riedade. Hoje em sua segunda fase, que se estenderá até2019, o plano prevê o repasse de 156 bilhões de eurospara o leste. A continuidade e ampliação deste pacto geradivergências entre as autoridades e ainda não foi definida.

Outra questão que coloca os dois lados em ritmos opostos é a idade da população. Como muitos jovens saíram da Alemanha oriental para buscar melhores em-pregos e condições de vida no lado ocidental, houve umenvelhecimento do outro lado. Com isso, estima-se queaté 2030 um terço dos moradores do leste tenham mais de 65 anos de idade.

Alemanha: de país dividido ao mais forte da Europa

No ano da queda do muro, a então primeira-ministrabritânica, Margaret Thatcher, fez uma comentário que podemos chamar de profecia: “Vencemos os alemães emduas oportunidades e aqui estão eles de volta”. A decla-ração, dada após a queda do Muro de Berlim em 1989,fazia referência ao receio de que a reunificação resultasseno predomínio da Alemanha na Europa.

Hoje, o país liderado pela presidente Angela Merkel (que veio da antiga Alemanha oriental), é visto como o líder do continente, especialmente pela forma como rea-giu à crise econômica de 2008 e à crise do euro e ainda seu posicionamento frente aos conflitos na Líbia, quandose absteve de votar a favor da intervenção militar, e na Ucrânia, onde o ministro do exterior interveio para evitar uma guerra civil.

A instabilidade de outros países também permitiu que a Alemanha assumisse este papel, como uma Françamergulhada em uma crise econômica, o Reino Unido de-sinteressado pela União Europeia e que enfrenta pedidosde separação de uma parte de seu território, e até mesmo Itália e Espanha, o primeiro com baixos índices de cres-cimento e o segundo tentando minimizar os efeitos dacrise econômica.

Desde 2005, a economia alemã cresceu 11,6% e o país tem uma das mais baixas taxas de desemprego do continente: 5,5%. Como disse o canal de TV alemão Deutsche Welle, um dos mais importantes canais do país,“a Alemanha deixou de ser uma ‘criança problema’ daEuropa, como ainda era vista na virada do milênio, parase tornar o aluno modelo do continente”.

Os outros “Muros de Berlim”

A queda do muro na Alemanha não foi o fim de cida-des ou países divididos por um concreto. Erguer outrosmuros foi a solução que muitos países encontraram para, por exemplo, tentar impedir a entrada de imigrantes em seus territórios ou representar a divisão ideológica de um país.

Na região da Cisjordânia há um muro de concretosendo construído por Israel. Segundo as autoridades isra-elenses, a barreira física seria uma medida de segurança, mas na prática separa os palestinos dos israelenses. Omuro tem 8 metros de altura e cercas elétricas e a pas-sagem é feita apenas em postos militares israelenses.Segundo um relatório da ONU, 62% do muro já foi cons-truído, o que inclui 200 quilômetros. Em 2004, a CorteInternacional de Justiça alegou que a construção é ilegale violaria o direito internacional. Ela apelou a Israel paradestruir o muro, sem sucesso.

A imigração ilegal também levou à construção de mu-ros. No caso dos Estados Unidos, a imigração mexicanasempre foi um problema para o país. O muro construído pelos norte-americanos na fronteira, com 1.130 quilôme-tros, visa aumentar o controle em relação à imigração enarcotráfico, além de coibir as ações dos chamados “coio-tes”, que atravessam clandestinamente pela fronteira.

Conhecido como o muro que divide a Europa doOriente, o muro construído em 2012 pela Grécia nafronteira da Turquia também visa coibir a entrada de imigrantes ilegais. Segundo estimativas, cerca de 90%dos imigrantes que ingressam de forma ilegal na UniãoEuropeia o fazem por meio dessa fronteira.

O Estreito de Gilbratar é uma separação natural entre oMar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico. Os enclaves espa-nhóis de Ceuta e Melilla fazem fronteira com o Marrocos,no norte da África. Ali a Espanha construiu o que ficou co-nhecido como Muro de Ceuta, que separa Ceuta e Melilla do Marrocos. As cercas buscam aumentar a segurança e impedir a imigração ilegal de africanos à União Europeia. São 8 km de cercas em Ceuta, e 11 em Melilla.

Outra situação de divisão persiste entre a Coreiado Norte e a Coreia do Sul. Fruto da Guerra Fria (onorte comunista e o sul capitalista), o muro que divide a península coreana em dois países tem 250 quilômetros

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AATUALIDADESTUALIDADES = 1919Escrevente – Técnico Judiciário / TJ-SSão Paulo

de extensão. A separação também é ideológica. O norte comunista é um dos locais mais fechados do mundo,enquanto o sul capitalista é uma potência econômica. Noterreno onde fica a linha de demarcação, estão enterra-das mais de três milhões de minas. É a fronteira maisvigiada do mundo.

Autoimagem e publicidade: até que ponto chegarpelo “corpo ideal”?

Andréia Martins24/10/2014

Antes e depois do rosto da atriz Renée Zellweger

A imagem corporal é a ideia que cada pessoa temsobre o seu corpo e ela tem papel central na construçãoda nossa identidade. É através do nosso corpo e de seusmovimentos, postura, odores e gostos que projetamos nossa autoimagem aos outros e ao mundo. Essa cons-trução é um processo permanente, que envolve fatoresfísicos, emocionais e sociais.

Exemplo de transformação bastante comentado na segunda quinzena de outubro foi a atriz Renée Zellweger.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Segundo o psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981), a formação da imagem corporal começa nainfância, no que ele descreve como “estádio do espelho”,ou fase do espelho. De acordo com a teoria, essa fase seestende dos seis meses aos dois ou três anos de idade,quando a criança passa se perceber como um corpo unificado, e não mais fragmentado, completado pela mãe. Nessa idade, se colocada em frente a um espelho,a criança se reconhece como indivíduo, iniciando a suaconstrução do “eu”.

Em seus estudos, o norte-americano J.K. Thompson, professor de psicologia na Flórida (EUA) e referência no tema imagem e corpo, elencou três componentes para aformação do conceito de imagem corporal. O primeiro, o componente perceptivo, está ligado à percepção danossa própria aparência física; o segundo, o subjetivo,envolve aspectos como satisfação com a aparência, o nível de preocupação e ansiedade a ela associada; e oúltimo, o comportamental, que destaca as situações que as pessoas evitam por sentirem-se desfavoráveis devido àsua aparência corporal.

O grande dilema do mundo moderno é adequar essa imagem corporal aos padrões estéticos difundidos pelasociedade. Uma pessoa com peso ideal ou malhada é

sinônimo de pessoa saudável? Nem sempre. No entanto,a ideia de saúde que se fortaleceu no século 20 foi a da cultura da “boa forma” e da exibição do corpo impulsio-nada pelo boom da indústria do fitness e pelos modelosde comportamento e beleza adotados pela indústria da publicidade.

Magreza obesidade: efeitos de diferentes con-sumos pelo corpo

Quando falamos de corpo, consumimos não só alimentos, mas padrões, comportamentos, roupas eatitudes sempre buscando a (auto) imagem dita ideal.Nessa busca, obesos sofrem por serem considerados “forado padrão”; jovens insatisfeitas com sua aparência e pesorecorrem a dietas inadequadas e acabam desenvolvendotranstornos alimentares em busca de uma magreza exa-gerada. Há quem recorra a cirurgias plásticas para alteraro corpo, muitas vezes, sem necessidade, ou em busca daeterna juventude.

No final de outubro, a atriz Renée Zellweger chamou gatenção e virou notícia em todo o mundo após aparecer ç p pem um evento com uma aparência completamente difep p -rente, levantando especulações sobre o uso de interven-ções como plástica e botox.

Especialistas levantaram inúmeras possibilidades para explicar a mudança radical da atriz, como perdade peso em excesso, redução do volume de cabelo, aplicação de botox, retirada de pele e bolsas das pál-pebras superiores, inserção de próteses no rosto, entreoutros procedimentos. A atriz divulgou um comunicadono qual se diz “feliz” pelas pessoas terem reconhecidoque ela está diferente e que ela está cuidando da saúde como nunca.

Nessa discussão, duas práticas ligadas à construção da nossa imagem corporal não podem ficar de fora: adieta e o exercício físico, comportamentos saudáveis quando feitos com equilíbrio, prazer e acompanhamen-to profissional, mas que às vezes tornam-se inimigos dasaúde.

A decisão de fazer uma cirurgia plástica ou umadieta costuma estar relacionada à insatisfação com nossocorpo. No entanto, quando feita de modo radical, a dietapode levar a transtornos alimentares devido a maus hábitos como beber apenas água, pular refeições, tomar remédios, entre outros.

Não à toa, transtornos alimentares como a anorexiae bulimia são, hoje, considerados também reflexos de uma distorção da imagem corporal. Esses transtornos são caracterizados por um padrão de comportamentoalimentar gravemente perturbado, um controle patoló-gico do peso corporal e por distúrbios da percepção da imagem corporal. No caso da anorexia nervosa, a pessoadesenvolve um medo de ganhar peso mesmo estandoabaixo ou com o peso considerado ideal.

A febre das dietas atinge especialmente as adolescen-tes, que aderem à prática sem estimar suas consequên-cias. Essas dietas são facilmente encontradas na internete compartilhadas nas redes sociais, hoje, o principal meio p pde exposição da autoimagem entre esse públicop ç g p .

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Sobre essa questão, Phillippa Diedrichs, pesquisadorado Centro para Pesquisa em Aparência da Universidade do Oeste da Inglaterra, vê uma ligação entre redes sociaise a preocupação com o chamado “look”. Para ela, “quanto mais tempo se passa no Facebook, maior a probabilidade das pessoas se enxergarem como objetos”. Esse excessode exposição e interação – nem sempre positiva com aopinião alheia – favorece a ansiedade.

Na opinião de Diedrichs, a resposta para amenizar a ansiedade com relação à aparência é defender uma di-versidade maior na mídia, pois não há apenas uma forma de ser saudável e não há uma aparência ideal.

Na outra ponta do consumo, temos o problema da obesidade, acúmulo de gordura no corpo. A obesidade é um dos principais desafios de saúde pública do século21 e o problema é grave quando falamos de obesidade infantil.

Crianças com sobrepeso e obesidade são mais propen-sas a desenvolver diabetes e doenças cardiovascularesainda jovens e, numa idade mais avançada, doenças çcrônicas associadas à alimentaçãoç . Além desses proble-mas, uma pesquisa realizada em 2014 pela Faculdade de Medicina da UNESP, em Botucatu (SP), encontrou evidências de que o excesso de peso pode, a longo prazo,aumentar o risco de desenvolver osteoporose.

No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS)reconhece que, para resolver o problema, é precisovencer um adversário de peso: a propaganda. Segundo a OMS-Europa, a propaganda de alimentos nocivos a crianças se mostrou “desastrosamente eficaz” em estimu-lar a obesidade, em especial com o uso das redes sociaispara promover alimentos ricos em gorduras, sódio e açúcar, mas pobres em vitaminas, minerais e outros mi-cronutrientes saudáveis. Daí a necessidade de, detectaro problema durante a infância para tentar reverter esse quadro, evitando o consumo frequente de alimentos calóricos e gordurosos.

A pressão sobre o corpo feminino

O culto do corpo e a exigência de um padrão de beleza não é um dilema do mundo moderno. Ele está relacionado com o ideal de beleza grego, para quem o belo estava associado à aptidão física e a um modo de vida do cidadão grego. O homem belo tinha valores, era culto e politizado, e o conceito de beleza estava mais ligado ao sexo masculino.

Como elenca o filósofo e professor francês Gilles Lipo-vetsky, a visão da mulher não foi sempre ligada à beleza. “Nas pinturas pré-históricas, as mulheres são retratadascom enormes seios e nádegas, símbolo de fecundidadee não de beleza. Na cultura grega, obcecada pela de-finição da beleza absoluta e marcada por uma cultura homossexual, Apolo certamente é mais importante do que Vênus. Por fim, na cultura cristã, a beleza da mulher é considerada perigosa, ‘a porta do diabo’”.

Ao longo do tempo, as mulheres se livraram do ex-cesso de roupas e do espartilho, item que vai além deuma simples peça do vestuário quando se fala de padrões para o corpo feminino. Do Renascimento ao início do

século 20, os espartilhos representaram um código socialao qual a mulher deveria se adequar. Para uns, a peçaque alongava o corpo feminino e reduzia seu contorno curvilíneo mostrava submissão e disciplina. A partir da segunda metade do século 19, o espartilho passou ater função moral, atribuindo à mulher um aspecto mais respeitável.

Com a emancipação feminina, as mulheres consegui-ram se libertar do uso opressivo do espartilho. A peça voltou a ser usada, mas hoje, com materiais flexíveis e ao gosto da mulher. No entanto, novos sofrimentos esacrifícios passaram a ser submetidos ao corpo feminino.

“A verdade é que a especialização de tipo físico e mo-ral da mulher, em criatura franzina, neurótica, sensual, religiosa, romântica, ou então, gorda, prática e caseira, nas sociedades patriarcais e escravocráticas, resulta, em grande parte dos fatores econômicos, ou antes, sociais eculturais, que a comprimem, amolecem, alargam-lhe asancas, estreitam-lhe a cintura, acentuam-lhe o arredon-dado das formas, para melhor ajustamento de sua figuraaos interesses do sexo dominante e da sociedade orga-nizada sobre o domínio exclusivo de uma classe, umaraça e de um sexo”, escreveu o cientista social brasileiro Gilberto Freyrey , em “Sobrados e mucambos: decadênciado patriarcado e desenvolvimento do urbano”.

Para a escritora e historiadora brasileira Mary DelPriore, a identidade do corpo feminino corresponde ao equilíbrio entre a tríade beleza-saúde-juventude. No casodo corpo feminino, os padrões para compor essa tríade mudam com o tempo. Como escreve Liliany Samarãono artigo “O espetáculo da publicidade: a representaçãop p p çdo corpo feminino na mídiap ”, “o corpo da mulher foi submetido a um ritmo acelerado – e padronizado – demudanças, seja nos padrões, nas medidas, nos estilos,nas épocas históricas. O corpo é o efeito dos discursosque dão consistência simbólica à vida social. (...) O corpovirou o capital da mulher no século 21”.

Dentro dessa lógica e obsessão por corpos magros oumusculosos, nosso corpo parece se aproximar cada vezmenos de um corpo humano, para se tornar cada vezmais um objeto de design.

Geopolítica: Quais são e o que querem os terri-tórios que brigam por independência?

Andréia Martins17/10/2014

Não é de hoje que territórios e países em diferentes partes do mundo buscam independência. O ano de 2014foi agitado neste quesito. Da Crimeia, que foi recente-mente anexada à Rússia em um controverso processo,à Escócia, que desejava a independência em relação ao Reino Unido, assim como Irlanda do Norte e País de Gales, à Catalunha, na Espanha, vários movimentostentaram obter ou persistem na ideia de separação.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Os movimentos separatistas surgem por diferentesmotivos. Podem ter cunho político, étnico ou racial, reli-gioso ou social. Em sua maioria, trata-se de colônias ou

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AATUALIDADESTUALIDADES = 2121Escrevente – Técnico Judiciário / TJ-SSão Paulo

territórios pequenos que se sentem desvalorizados pelosgovernos principais de seus países e buscam na indepen-dência uma forma de valorizar e garantir mais direitos e investimentos à sua população.

A Europa é o continente que mais vivencia essa situa-ção de “desejo de independência”. Tal situação preocupaa União Europeia, que teme que caso um grupo separatis-ta ganhe a causa provoque um efeito cascata nos demaismovimentos.

Quando uma região ou território se torna independen-te mudam-se fronteiras, alianças, relações econômicase blocos, e os “novos” países têm que iniciar uma sériede reformas, criando instituições próprias como Banco Central, Forças Armadas, entre outras, e o “novo” país precisa ser reconhecido por outros países.

Conheça os principais territórios e países que, atual-mente, desejam a separação ou ainda buscam o reconhe-cimento de sua independência, e os objetivos de cada um.

REINO UNIDO

O Reino Unido é um país europeu formado por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Nor-te. Sua capital é Londres, a mesma da Inglaterra, o que já aponta uma lide-rança desse país no bloco. Essa liderança, enxergada

como favorecimento por uns, é um dos motivos do sur-gimento de movimentos separatistas nos demais países.

Escócia: Em 2014, a Escócia realizou um plebiscito para se tornar independente em relação ao Reino Unido.Em um dia histórico, 53% dos 3,6 milhões de eleitores votaram pelo “não”. Os partidários da independência, liderados pelo SNP (Partido Nacional Escocês), maioria no parlamento, buscam mais liberdade constitucionale autonomia fiscal, o que, segundo os críticos, estãocentralizadas demais na Inglaterra. Outro objetivo é criar um fundo de reserva com o valor obtido na exploração de petróleo do Mar do Norte, cerca de £1 bilhão, ou US$ 1,6 bi, de acordo com os cálculos da ala favorávelà separação.

País de Gales: Também deseja se separar do Reino Unido. Em um referendo em 2011, 63,49% dos eleitoresvotaram a favor da atribuição de maiores poderes à Assem-bleia Nacional de Gales. O partido Plaid Cymru é um dos principais promotores da ideia de separação. O objetivo da campanha é construir um Estado Nacional Autônomo.

Irlanda do Norte: Os irlandeses devem realizar um plebiscito sobre a independência em relação ao ReinoUnido em até quatro anos. Em 1921, após a guerra de independência irlandesa contra o Reino Unido, Londresassinou uma trégua com Dublin e, dois anos depois, fun-dou o Estado Livre Irlandês. Nesse processo, o governo britânico ficou com seis dos nove condados que compõem a região do Ulster, província irlandesa. O objetivo da in-dependência é juntar esses seis territórios à República daIrlanda. A independência é também uma das principaisbandeiras do IRA (Exército Republicano Irlandês).

ESPANHA

O país convive há anos com os desejos de independência dos catalães e bascos, moti-vados, principalmente, pelo desejo de manter suas tradições culturais.

Catalunha: Um referendo sobre a independênciaacontece em novembro de 2014; a Espanha já declarou que o referendo é inconstitucional. O movimento de inde-pendência catalão é antigo. A Catalunha se considera umterritório a parte. É uma comunidade autônoma, tem au-tossuficiência legislativa e competências executivas, alémde ter o próprio idioma, o catalão. Com a independência querem mais autonomia e o fortalecimento da sua cultura. Caso isso ocorra, Barcelona, uma das principais cidades turísticas da Espanha, se tornará a capital do novo país.

País Basco: Localizado no norte da Espanha, aoeste da França, busca separação desde 1959, quando nasceu o grupo separatista ETA (sigla para “País Basco e Liberdade”). O grupo propagou pela luta armada o de-sejo de independência, o que o fez ser considerado umaorganização terrorista pela União Europeia e EUA. Em2011, o ETA anunciou o fim da luta armada, mas segueem busca da separação. Com língua própria e um Parla-mento desde 1980, os bascos ainda não têm território.Embora a região tenha autonomia desde a constituição espanhola de 1978, os separatistas querem que Espanhae França reconheçam a independência do País Basco quecompreende os territórios de Álava, Guipúzcoa, Vizcaya,Navarra e Baixa Navarra, Lapurdi e Zuberoa, esses trêsúltimos, territórios do País Basco Francês.

EX-UNIÃO SOVIÉTICA

Muitos movimentos separatistas que exis-tem hoje na área daantiga União Soviética(composta pelos paísesRússia, Ucrânia, Bielor-rússia, Transcaucásia,

Estônia, Lituânia, Letônia, Moldávia, Geórgia, Armênia,Azerbaijão, Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão,Quirguizão e Tadjiquistão) ainda remontam da épocado final do país, em 1991, que deu à região uma novaconfiguração, com novos países. Muitos territórios aindabrigam pelo reconhecimento de sua independência.

Ossétia do Sul (Geórgia): Com o fim da URSS essa área foi entregue à Geórgia. A partir daí, uma série de con-flitos ocorreu entre russos e georgianos pelo controle daregião. A Ossétia do Sul declarou independência em 2008,reconhecida apenas por Rússia, Venezuela, Nicarágua,Nauru e Tuvalu. EUA, UE (União Europeia) e ONU nãoreconhecem a separação. Os ossetianos do sul querem sejuntar à Ossétia do Norte, uma república autônoma denjj -tro da federação russa. A independência valorizaria maisa tradição dos ossetianos, que têm identidade e cultura diferentes dos georgianos e uma língua própria.

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22 22 = AATUALIDADESTUALIDADES E nte screven – Técnico Judiciário / TJ-São Paulo

Abecásia (Geórgia): A Abecásia se considera um Es-tado independente desde a derrota das forças georgianasna guerra de 1992-1993. No entanto, sua independêncianão foi reconhecida pela ONU.

Nagorno-Karabakh (Azerbaijão): Em Nagorno--Karabakh a maioria da população é armênia. O territóriodeclarou sua independência em relação ao Azerbaijão, mas esta não foi reconhecida por nenhum país. O desejodos separatistas é unir-se ao território da Armênia.

Transdnístria (Moldávia): Localizada na fronteirada Ucrânia com a Moldávia, a região do Leste Europeu declarou independência do governo moldávio em 1990. Moscou, apesar de não reconhecer a independência deuapoio econômico e político. Em um referendo de 2006, a região reiterou sua vontade de se separar e de uma even-tual anexação à Rússia – quase metade da população é de etnia russa. A Transdnístria tem sua própria moeda, Constituição, Parlamento e bandeira, mas quer ser reco-nhecida como um Estado independente e a anexação àRússia.

OUTRAS PARTES DA EUROPA

Flanders (Bélgica): Com uma população de6,4 milhões de habitan-tes, Flandres busca sua independência comple-ta da Bélgica. A causa édefendida por partidos da ala conservadora,

como o Vlaams Belang. A crise econômica que abala o país desde 2009 ajudou esses partidos a reforçarem a necessidade da separação. O objetivo é instituir a Repú-blica de Flandres, que seria composta pelas regiões deFlandres, Bruxelas e Valônia.

Ilha de Córsega(França): Na terra natalde Napoleão Bonaparte a vontade de tornar-se um território indepen-dente existe desde 1976. Quem mais difunde esse ideal é a FLNC (Frente

de Libertação Nacional da Córsega), movimento político nacionalista e de luta armada. Os moradores da ilha tem seu próprio idioma e se referem ao resto da França como “continente”. Em 2013 o FLNC reiterou que continuará sua luta pela separação. Os nacionalistas querem maisautonomia em relação à França, que consideram enxer-gar a ilha apenas como reduto turístico e de exploração imobiliária.

Padania (Itália): A unificação da Itália nasegunda metade do sé-culo 19 não eliminou as diferenças regionais de seus territórios. Desde 1991 a Liga Norte (LegaNord), grupo criado pelopolítico Umberto Bossi,

defende a separação de uma área da região norte chama-da de ‘Padania’. Para o grupo, a região sul atrapalharia oprogresso no norte do país. De acordo com a proposta, aPadania seria constituída por onze regiões da atual Itália(Lombardia, Veneto, Piemonte, Emilia-Romagna, Ligú-ria, Friuli, Trentina, o vale de Aosta, Úmbria, Marcas eToscana), com uma população de 34 milhões de pessoas.

Kosovo (Sérvia): Declarou sua indepen-dência da Sérvia em2008, é reconhecido por vários países, mas não é membro da ONU.Sérvia, Rússia, China e outros países também não reconhecem a

separação. Por esse motivo, sua independência não étida como bem-sucedida. A separação visa preservar egarantir direitos e liberdades para a majoritária popu-lação albanesa do Kosovo, que não era vista com bons olhos pelo governo sérvio, que operou várias ofensivasmilitares contra o território.

OUTRAS PARTES DO MUNDO

Quebéc (Canadá): O movimento de inde-pendência é liderado pelo PQ (Parti Qué-bécois). No entanto, contra eles pesam os resultados de dois refe-rendos sobre a questão, um em 1980 e outro

em 1995, onde o “não” saiu vitorioso. Mesmo assim, o PQ quer convocar um terceiro referendo. A principalmotivação é cultural. A maioria da população da provín-cia do Quebéc descende de franceses – o que faz do francês a língua principal –, ao contrário das outras pro-víncias, onde a maioria descende de ingleses ou escoce-ses. A forte influência francesa tornaria a província sensi-velmente diferente do resto do país. Os separatistasconsideram ainda que a província não é beneficiada economicamente pelo governo canadense.

Tibete (China): OTibete manteve o status de país independente entre 1911 e 1950. A situação mudou com achegada de Mao Tsé--tung ao poder. Em1963, a região foi no-

meada Região Autônoma e hoje tem um governo apoiadopela China, que não abre mão de controlar o território. Osque defendem a independência consideram que a regiãoestá em atraso em relação às demais províncias costeiraschinesas, embora a China alegue ter levado progresso ebenefícios materiais ao Tibete. Além disso, a populaçãolocal enfrenta uma forte concorrência por emprego comos chineses e veem na ‘dura’ política chinesa uma ameaçaàs tradições religiosas e a liberdade.

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AATUALIDADESTUALIDADES = 2323Escrevente – Técnico Judiciário / TJ-SSão Paulo

República Turcado Chipre do Norte(Chipre): Parte doterritório da ilha deChipre que se consi-dera independentedesde 1983 e vive de

acordo com as próprias leis sem, no entanto, ter suaindependência reconhecida pela comunidade internacio-nal. A região foi invadida pela Turquia em 1974 após um golpe militar greco-cipriota. A independência é reconhe-cida apenas pela Turquia, o que impossibilita a entrada do país na União Europeia, grupo do qual o Chipre faz parte.

Curdistão (Ira-que): Consideradaa área mais estáveldo Oriente Médio, oCurdistão iraquianojá é uma região au-tônoma, mas aindabusca sua plena in-

dependência. Além do Iraque, a área do Curdistão se distribui pela Turquia, Irã, Síria, Armênia e Azerbaijão.Os curdos são um grupo étnico com sua própria língua e cultura, diferentes das populações árabe, persa e turcapredominantes na região. As diferenças culturais, a esta-bilidade econômica (a área é rica em petróleo) e a visão não tão radical da religião motiva os curdos iraquianos a desejarem a independência.

Racismo: Preconceito não é página virada no Brasil; país vive ‘falsa democracia racial’ se-gundo ONU

Carolina Cunha10/10/2014

Jogadores do Grêmio entram em campo para o jogo com o Bahia com faixa contra o racismo

Uma cliente que se recusa a ser atendida por uma funcionária negra. Um homem negro que entra em uma loja e é seguido pelo segurança. Um goleiro é chamadode “macaco” pela torcida adversária ou uma menina que tem o cabelo afro chamado de “cabelo ruim”. Situações como essas são vividas diariamente por muitos afrodes-cendentes no Brasil. Os negros são 50,7% da populaçãobrasileira, mas 126 anos após a edição da Lei Áurea, que aboliu a escravatura no Brasil, o país ainda enfrenta o preconceito racial de parcela da sociedade.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Em setembro deste ano, o Grupo de Trabalho dasOrganizações das Nações Unidas sobre Afrodescendentespublicou um relatório apontando que no Brasil o racismo é “estrutural e institucional”. Para a organização, nossopaís viveria em uma “falsa democracia racial”, que negaa existência do racismo devido à miscigenação entrediferentes povos e raças.

No documento, a ONU sugere medidas como ga-rantir a permanência de estudantes negros cotistas nasuniversidades, prevenir a violência contra mulheres ejovens negros, elaborar um plano nacional de controlejje treinamento das Polícias Militares (PMs), abolir o auto de resistência, aprimorar o ensino de história e culturaafrobrasileira nas escolas, agilizar e desburocratizar atitulação de terras quilombolas e prover recursos finan-ceiros e humanos para os órgãos municipais e estaduaisde combate ao racismo.

Algumas das medidas sugeridas pela ONU já foramimplantadas no país, como a instituição das cotas para ç pnegros na educação e no serviço públicog ç ç p , a Política Na-cional de Saúde Integral da População Negra, o PlanoJuventude Viva, a lei de 2003 que tornou obrigatório oensino da história e cultura afrobrasileira e africana nas escolas, entre outros.

No entanto, dados do IBGE reforçam a dimensão doproblema mostrando a grande desigualdade social entre raças no país. O desemprego entre negros é 50% maiordo que entre a população branca – que têm expectativade vida seis anos maior do que os afrodescendentes. A população negra tem 1,6 ano de estudo a menos que abranca; representa 65,1% das vítimas de homicídios; esustenta taxa de mortalidade infantil 60% maior que ada população branca.

Leia mais: Apartheid: 20 anos após seu fim na África p pdo Sul, ele “sobrevive” em outros países, p .

São recorrentes os episódios de racismo nas ativida-des desportivas do Brasil, principalmente em partidas defutebol. O último deles envolveu o goleiro Mário LúcioDuarte Costa, o Aranha, do Santos, vítima de agressões racistas em disputa pela Copa do Brasil contra o Grêmio, em Porto Alegre (RS), em agosto deste ano. A torcida dotime adversário comparou o jogador a um macaco, entreoutros insultos racistas.

Três torcedores gaúchos foram indiciados por injúria racial, crime caracterizado por agressões verbais direcio-nadas a uma pessoa com a intenção de abalar o psicoló-gico dessa vítima, utilizando elementos referentes a raça,cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosaou portadora de deficiência (art. 140, § 3.º, CP).

Foi em 1988, com a promulgação da Constituiçãoque está em vigor, que a prática do racismo passou aser considerado um crime inafiançável e imprescritível.Ao contrário da injúria racial, os crimes de racismo,expressos na Lei n. 7.716/89, são inafiançáveis. O crimede racismo consiste em praticar, induzir ou incitar adiscriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A pena prevista é de reclusãode 1 a 3 anos, além de multa.

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24 24 = AATUALIDADESTUALIDADES E nte screven – Técnico Judiciário / TJ-São Paulo

A lei considera diversas condutas como crimes de racismo. São exemplos o ato de impedir ou dificultar o acesso de pessoas a serviços, empregos ou lugares, im-pedir a matrícula em escola, o acesso às forças armadas e, inclusive, obstar por qualquer meio o casamento ou a convivência familiar por razões de preconceito.

Há, ainda, a previsão de crime de fabricação, distribui-ção ou veiculação de símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.

Em 2003, o governo federal brasileiro criou a Secre-taria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Sep-pir). De acordo com a Seppir, o número de denúncias deracismo dobrou nos últimos anos. Em 2011, a ouvidoria do órgão recebeu 219 denúncias. Em 2012, esse númeropulou para 413 e, no ano passado, chegou a 425, prati-camente o dobro dos registros de 2011. Existem diversas interpretações para esse aumento, mas especialistasapontam que quanto mais conscientes as pessoas estãosobre seus direitos, mais elas denunciam.

A violência racista não é apenas verbal. Delegacias também registram a violência física a afrodescendentes,como no caso de agressões por skinheads. Existe ainda aperseguição religiosa e cultural. Alguns templos de ma-triz africana, como da umbanda e camdomblé, são alvos de depredação e perseguição.

A representatividade na política também é uma das bandeiras do movimento negro, visto que hoje, o Con-gresso Nacional é composto por 8,3% de negros. Paralideranças do movimento, aumentar a participação polí-tica dos representantes negros é passo fundamental paraa criação de políticas e ações que visem encerrar e com-bater o preconceito e permitir a igualdade de direitos.

Da Abolição à República Velha

Depois da queda da monarquia, o fim da escravidãono Brasil, em 1888, e a mudança do regime político--administrativo, as antigas ordens sociais vigentes noImpério ainda permaneceram por alguns anos, como aseparação entre brancos e negros.

Durante a Repúblicap Velha (1889-1930), a doutrinado racismo científico vinda da Europa considerava o negro e índio como raças inferiores e o povo mestiçocomo “improdutivo e amoral”, que não se adaptaria ao progresso que o Brasil precisava. O negro era visto como uma causa do fracasso da nação e por isso era preciso “branquear” a população.

A época foi marcada pela chegada da mão de obraimigrante para a expansão da lavoura cafeeira e pela ex-clusão de muitos negros das oportunidades de empregoe educação. O ex-escravo ficou desassistido. Já no campo cultural, havia uma legislação que proibia as manifesta-ções culturais negras tais como o batuque, o candomblé e a capoeira.

A ideia de inferioridade determinada pela cor dapele só foi questionada abertamente em 1932, com a publicação de Casa Grande & Senzala, do sociólogo Gilberto Freyre. Apesar disso,o acadêmico foi alvo de duras críticas pela sua visão “açucarada” da mestiçagem

brasileira, que não considera a violência e a dominação cruel contra o povo negro. No Brasil, foi nessa época queo movimento negro começou a ganhar corpo, buscando a integração à sociedade, preservação da história e cultura negra e a igualdade de direitos.

DIRETO AO PONTO

Uma cliente que se recusa a ser atendida por uma funcionária negra. Um homem negro que entra em uma loja e é seguido pelo segurança ou um goleiro chamado de “macaco” pela torcida adversária.

Situações como essas são vividas diariamente por muitos afrodescendentes no Brasil. Os negros são50,7% da população brasileira, mas 126 anos após aedição da Lei Áurea, que aboliu a escravatura no Brasil,o país ainda enfrenta o preconceito racial de parcela dasociedade.

Em setembro deste ano, um relatório da Organizaçãodas Nações Unidas (ONU) apontou que no Brasil o ra-cismo é “estrutural e institucional”. Para a organização, nosso país viveria em uma falsa democracia racial, quenega a existência do racismo devido à miscigenaçãoentre diferentes povos e raças.

O relatório fez algumas recomendações ao Brasil, como garantir a permanência de estudantes negros cotistasnas universidades, prevenir a violência contra mulheres ejovens negros, elaborar um plano nacional de controle ejjtreinamento das PMs, abolir o auto de resistência, aprimo-rar o ensino de história e cultura afrobrasileira nas escolas,agilizar e desburocratizar a titulação de terras quilombolase prover recursos financeiros e humanos para os órgãos municipais e estaduais de combate ao racismo.

Algumas dessas medidas já estão em andamento no país, como as cotas e a obrigatoriedade do ensino da cultura afrobrasileira e africana nas escolas, enquanto outras ainda precisam ser concretizadas, como a própria lei que criminaliza o racismo, mas enfrenta barreiras na hora de seu cumprimento.

Carolina Cunha

Saúde: Brasil realiza vacinação em massa contra HPV. Você conhece esse vírus?

Andréia Martins03/10/2014 – 06h00

Quando se fala de política de saúde pública, a vacina ocupa um lugar de destaque por ser, segundo a OMS (Or-ganização Mundial da Saúde), um dos principais meios de prevenção de doenças e de redução do impacto das epidemias.

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AATUALIDADESTUALIDADES = 2525Escrevente – Técnico Judiciário / TJ-SSão Paulo

No Brasil, as campanhas de vacinação contra a varíola(erradicada no mundo em 1980, e que no país, em 1904, motivou a Revolta da Vacina) e contra a poliomielite, hoje adotada em vários países, são alguns exemplos de bons resultados dos programas de imunização com vacina. Aqui, desde 1973, a política de vacinação foi consolidada com a criação do PNI (Programa Nacionalde Imunização), que instituiu um calendário nacional de vacinação.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Este ano, a vacina contra o vírus do HPV entrou para esta lista. O Brasil começou em março a sua primeira campanha nacional de imunização em massa contra o vírus, que apresenta mais de 100 tipos. A vacina aumentaa proteção contra quatro deles. O foco desta campanha são adolescentes do sexo feminino na faixa de 11 a 13anos, pois para ter melhores resultados, a vacina deve seraplicada antes do início da vida sexual e nessa faixa etária.

A iniciativa causou polêmica. A aplicação da vacinacomo forma de prevenção aocâncer de colo de útero divide médicos que consideram o exame papanicolau o modo mais eficaz da prevenção, além de questionarem os efeitos colaterais da vacina. Somado a isso, muitospais se posicionaram contrários à vacinação de adoles-centes contra DST (doenças sexualmente transmissíveis) ( ç )com receio de que isto pudesse induzir à prática sexual precoce.

As objeções ganharam força depois que três adoles-centes que tomaram a vacina perderem temporariamente o movimento das pernas. Assim como toda vacina, a contra o HPV também possui efeitos colaterais levescomo dor no local de aplicação, febre, dores musculares e mal-estar geral.

Os casos aconteceram em Bertioga, litoral de São Paulo. A investigação descartou a possibilidade de ocor-rência de problema com o lote do medicamento usado e que, provavelmente, a paralisia temporária foi uma rea-ção psicológica de ansiedade em relação à imunização. Ainda assim, qualquer efeito colateral deve ser relatado ao médico.

Nos EUA, alguns casos também questionaram a segu-rança da vacina, mas nenhuma relação foi comprovada. Em 2009, os CDC (Centros para o Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA afirmaram que algumas pacientes tinham constatado um aumento no número de coágulosde sangue depois de receberem a vacina tetravalente(que protege contra três tipos de câncer). Um estudo rea-lizado por cientistas dinamarqueses e publicado este anono “JAMA (Journal(( of the American Medical Association)”indica que a vacina em mulheres não aumenta o risco de formação de coágulos sanguíneos.

Japão e França também registraram casos de efeitos colaterais mais graves, o primeiro até retirou o apoio à vacina. Doenças como síndrome de Guillain-Barré, efeitos colaterais no sistema nervoso, falência ovariana,sintomas como convulsão e desmaios têm sido associadosà vacina, mas nenhuma relação foi oficialmente compro-vada até agora.

No Brasil, a campanha oferece gratuitamente a vacina quadrivalente, que protege contra quatro tipos de HPV (6, 11, 16 e 18). Ela continua em 2015, quando serãovacinadas adolescentes de nove a 11 anos e, a partir de2016, as de nove anos de idade. Cada adolescente deverátomar três doses da vacina para completar a proteção,sendo a segunda, seis meses depois da primeira, e aterceira, cinco anos após a primeira dose.

Para mulheres na faixa etária dos 25 aos 64 anos, aorientação é que elas façam anualmente o exame preven-tivo papanicolau. A vacina não substitui o exame e nem ouso do preservativo nas relações sexuais. São formas deprevenção complementares, não excludentes.

A vacina contra o HPV tem eficácia comprovada demais de 90% para proteger mulheres que ainda não tiveram contato com o vírus, ou seja, antes do início da vida sexual.

O foco da campanha no público feminino se deve à existência de um ambiente mais favorável para o de-senvolvimento e multiplicação do HPV. No entanto, oshomens também correm risco: a infecção pelo vírus estárelacionada, em média, a 40% dos casos de câncer depênis e 90% do câncer anal em homens.

A implantação da vacina no Brasil

Em junho de 2006, foi aprovada pela FDA (Food AndDrug Administration), dos Estados Unidos (EUA), umavacina quadrivalente contra o HPV, sendo a primeiravacina projetada para prevenção de câncer de colo deútero e lesões vaginais.

Fabricada por um laboratório farmacêutico, essavacina foi licenciada no Brasil no mesmo ano, para serutilizada em mulheres com idades entre 9 e 26 anos.Inicialmente, ela era oferecida apenas em clínicas par-ticulares e cada uma das três doses chegava a custar R$300,00, sendo inacessível para mulheres de baixa renda.

A vacina foi incluída ao calendário do SUS (SistemaÚnico de Saúde) em 2014 e hoje é produzida nacio-nalmente, fruto da parceria entre o laboratório público Instituto Butantã e o laboratório privado Merck SharpDohme, detentor da tecnologia.

Atualmente, existem duas vacinas comercializadas no Brasil. Uma delas é quadrivalente e previne contra os tipos 16 e 18, de alto risco e presentes em 70% doscasos de câncer de colo do útero, e contra os tipos 6 e 11,presentes em 90% dos casos de verrugas genitais. A outraé específica para os subtipos 16 e 18. Na rede pública sóestá disponível a vacina quadrivalente.

O que é HPV e a importância da prevenção docâncer

HPV, sigla em inglês para o Papilomavírus Humano, é um vírus cujo contágio acontece em contato com a pele e que causa lesões e verrugas genitais. Além deser a doença sexualmente transmissível mais comumatualmente, a infecção pelo HPV é a principal causa docâncer de colo de útero, o terceiro mais frequente entreas mulheres no Brasil (atrás do câncer de mama e docolorretal).

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26 26 = AATUALIDADESTUALIDADES E nte screven – Técnico Judiciário / TJ-São Paulo

O vírus pode ser transmitido por meio da relação sexual com uma pessoa infectada ou durante o parto, de mãe para o filho, pela contaminação da vagina. Estima-se que 80% das mulheres entrarão em contato com o HPV Vao longo da vida. O Instituto Nacional do Câncer prevê o surgimento de 15 mil novos casos da doença no Brasil ecerca de 4.800 mortes provocadas pela patologia.

Quando o HPV causa lesão no colo do útero, a doença pode progredir para o câncer (importante dizer que estar infectado pelo vírus não garante que ele evolua para umcâncer), que em estágio avançado, só pode ser curado com a retirada do útero ou trompas.

O HPV pode ser detectado precocemente por exames simples, como o papanicolau, em consulta médica derotina, além de não interferir na capacidade da mulher de ter filhos. Para isso, é necessária prevenção, como osexo seguro e mudanças de hábito. Fumar e beber menos e consumir mais alimentos saudáveis podem fortalecer osistema imunológico e diminuir a incidência da doença.O tratamento inclui métodos como a eliminação de lesões por agentes químicos ou cauterização e fortalecimento do sistema imunológico para a eliminação do vírus.

Embora a camisinha não seja 100% eficaz com rela-ção a esse vírus, ela é essencial na prevenção contra ovírus HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis.No caso do HPV, a camisinha não cobre toda a área que pode estar contaminada, como a pele que fica em volta do órgão sexual masculino ou o saco escrotal, que podem estar infectados com o vírus HPV.

Como age a vacina

As vacinas, em geral, contém o antígeno (corpo es-tranho ou vírus) em forma atenuada ou com micro-orga-nismos mortos (inativo). Ao ser inoculado no organismo humano, estimula a produção de anticorpos e a formação de células de memória que protegerão o organismo em futuras infecções, com a produção de grande quantidade de anticorpos em curto espaço de tempo.

A vacina do HPV é do tipo Vacina de DNA. É produzi-da a partir de um fungo que recebe o material genético do vírus. O fungo vai produzir proteínas típicas do vírus construindo uma estrutura chamada capsídeo (capa), que não apresenta o genoma em seu interior e vai serinserido no organismo humano. Essa capa é reconhecidacomo antígeno e o sistema imunológico vai criar uma memória, estimulando a produção de anticorpos especí-ficos para cada tipo de HPV.

Existem mais de 100 tipos diferentes do vírus do HPV e estima-se que 16 possam evoluir para um tipo decâncer. No entanto, em até 70% dos casos, segundo oMinistério da Saúde, quem é infectado com o vírus não desenvolve câncer.

Na maioria dos casos o HPV é eliminado pelo sistema imunológico do organismo sem que a pessoa percebaque estava infectada. No caso de infecção, quando há sintomas como coceira ou quando existe associação a lesões precursoras do câncer, estas devem ser tratadas.Se o diagnóstico for positivo, as opções são o tratamentoclínico (com medicamentos) ou cirúrgico.

A Organização Mundial de Saúde estima que haja290 milhões de portadoras da doença no mundo e que, a cada ano, 270 mil mulheres morram devido ao câncer decolo do útero. Cerca de 51 países optaram pela vacinaçãomaciça de meninas como forma de prevenir o HPV. Na Austrália, país que adotou a medida há quatro anos, avacina reduziu em 90% a incidência de verrugas genitais.

DIRETO AO PONTO

Em março de 2014 teve início no Brasil a campanha de vacinação contra o vírus do HPV. Além de ser a doen-ça sexualmente transmissível mais comum atualmente, ainfecção pelo HPV é a principal causa do câncer de colode útero, o terceiro mais frequente entre as mulheres noBrasil. O Instituto Nacional do Câncer prevê o surgimen-to de 15 mil novos casos da doença no Brasil e cerca de4.800 mortes provocadas pela patologia.

A vacinação maciça em meninas entre 11 e 13 anos vem causando polêmica no Brasil. Especialistas se divi-dem quanto à forma de prevenção e os pais acreditamque a vacina pode influenciar o início da vida sexual dosfilhos. Para a OMS (Organização Mundial de Saúde), avacina é a melhor forma de prevenção, principalmentepara quem ainda não iniciou a vida sexual.

De outro lado, a vacina contra o HPV reforça a im-portância do acesso público a essa forma de prevençãoe imunização.

Getúlio Vargas: 7 temas para entender seu legado

Andréia Martins e Carolina Cunha22/08/2014

No dia 24 de agosto de 2014 completam-se os 60 anosda morte do ex-presidente Getúlio Vargas (1882-1954). O político gaúcho, nascido em São Borja (RS), encerrou sua trajetória política dando um tiro no peito, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, então sede da Presidência daRepública. Vargas foi o presidente que mais tempo ficouno poder, entre 1930 e 1945, e depois entre 1950 e 1954.

No dia 24 de outu-bro de 1930, Getúlio Vargas chegou ao poder por meio de um golpe de Estado desferido pe-los tenentes. Inaugurou um período de trans-formações políticas e econômicas e rompeu com o federalismo daRepública Velha. Em

1934, ele assumiria a presidência da República, eleitoindiretamente pela Assembleia Constituinte. Ficariaaté 1945, quando foi deposto pelos militares, e retor-naria para um novo mandato entre 1951 e 1954.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Com realizações e ações que fizeram dele um dos per-sonagens mais controversos e importantes da história doBrasil, Vargas conseguiu cumprir o que escreveu em suacarta de despedida: “Deixo a vida para entrar na história”.

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AATUALIDADESTUALIDADES = 2727Escrevente – Técnico Judiciário / TJ-SSão Paulo

De olho neste legado, com ajuda do coordenador de História do cursinho do Objetivo, Daily de Matos Oliveira, listamos 7 temas que ilustram as principais realizaçõesde Vargas no Brasil.

1. A inauguração do populismo no Brasil

O termo “populismo” se refere a uma forma de gover-nar com uma influência muita grande sobre as massaspopulares. A palavra já foi usada para designar regimes de líderes na América Latina como Juscelino Kubitschek (Brasil), Eva Duarte Perón (Argentina), Evo Morales (Bolívia) e Hugo Chávez (Venezuela).

Getúlio Vargas é considerado o precursor e o maior exemplo do populismo no Brasil. Ele foi identificadocomo defensor das causas sociais e interesses nacionais, incorporando as massas urbanas ao processo político.Sua liderança carismática, o culto à sua personalidade e o grande apoio popular fez com que ele ganhasse oapelido de “pai dos pobres”.

Segundo o professor, Getúlio inaugurou o populismono Brasil. No entanto, Daily ressalta que ao mesmo tempoem que beneficiou os trabalhadores e camadas mais po-pulares “ele foi um dos presidentes que mais beneficiouo empresariado brasileiro”. Foi dele, por exemplo, os primeiros usos das palavras ‘miséria’ e ‘pobreza’ em dis-cursos políticos, hoje tão presentes nas falas de políticos.

2. O impulso ao desenvolvimento industrial

Antes do Getúlio, o Brasil era um país majoritaria-mente agrário e rural e depois passou a ser um país industrial. A crise mundial de 1929 afetou a exportação agrícola do Brasil, principalmente a cafeicultura, base da economia nacional. Depois da Segunda Guerra Mundial(1939-1945), a oferta de produtos industrializados e importados foi reduzida.

Para o país ter mais autonomia, o governo interferiu intensamente na economia e criou uma série de medidasvoltadas para o desenvolvimento da indústria brasileira. Foi adotado o modelo de Substituição das Importações e implantada a chamada indústria de base, com infra-estrutura que ajudariam outros setores industriais a se desenvolverem.

Getúlio criou empresas estatais em atividades estratégicas como siderurgia (Companhia Siderúrgica Nacional), mineração (Companhia Vale do Rio Doce) e geração de energia (Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco).

O professor ressalta ainda outra criação positiva do governo Vargas, que beneficiou indústria, comércio e opoder público: o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), criado em 1938. “Hoje é praticamente impossí-vel imaginar a elaboração de projetos e programas sociais,por exemplo, sem recorrer aos dados e levantamentos do instituto. Talvez Getúlio, quando o criou, não tivesse adimensão de quanta utilidade essa ferramenta traria”.

3. O Petróleo é nosso

Um dos marcos do segundo Governo Vargas (1951-1954) foi a imposição do monopólio estatal sobre a produção do petróleo, considerada fundamental para o

desenvolvimento da nação. A industrialização crescenteaumentou a demanda por petróleo. No Brasil, a produçãoe a distribuição dele eram controladas por companhias norte-americanas. Influenciados pela política nacionalis-ta, setores da sociedade brasileira se mobilizaram paracriar a campanha ‘O Petróleo é nosso’, contra a participa-ção de empresas do exterior. Depois de muita polêmica,em 1953, Vargas sanciona a lei que cria a

4. Consolidação das leis trabalhistas

“A relação entre o trabalhador e o Estado pode serdividida em antes e depois de Getúlio”, ressalta Daily.Getúlio Vargas promoveu um conjunto de leis voltadas para a proteção do trabalho. A CLT tornou-se um marcoao estabelecer o salário-mínimo, férias remuneradas,pensões, semana de trabalho de 48 horas no máximo,entre outras medidas que davam direitos e garantias aos trabalhadores urbanos. As leis trabalhistas foram reunidas, em 1943, na Consolidação das Leis do Traba-lho (CLT), regulamentando as relações entre patrões eempregados. Ele também legalizou os sindicatos, emborasuas atividades ficassem sob a rígida fiscalização do Es-tado.

5. Investimento na educação pública

“Até Getúlio entrar no poder, na primeira era Vargas, o Brasil ainda era muito elitizado no quesito educação.Ele criou o conceito de educação pública em 1931, assim como criou o conceito de saúde pública”, comenta ocoordenador de história.

O governo de Getúlio realizou importantes reformas educacionais. Durante o primeiro governo (1930-1945) Vargas criou o Ministério da Educação e Saúde (1930)voltado para a construção de um sistema nacional públi-co de ensino.

Em 1934 foi aprovada uma nova Constituição, quepassou a considerar a educação um direito de todos e atribuía ao Governo Federal a função de definir diretrizespara a educação nacional. Foram criados fundos paragarantir recursos para a educação e concursos públicos para professores.

Já no Estado Novo, após a Constituição de 1937, de inspiração fascista, o Estado buscou difundir as ideias na-cionalistas e tornou obrigatória a disciplina de Educação Moral e Cívica para crianças e jovens nas escolas.

6. Os fundamentos da atual Justiça Eleitoral

Durante a República Velha, as eleições foram mar-cadas por fraudes nas urnas. A moralização do sistemaeleitoral foi uma bandeira da Revolução de 30. Em 1932,o governo provisório promulgou o primeiro Código Elei-toral do Brasil, que regulamentou as eleições federais, estaduais e municipais e as diversas fases do processoeleitoral. O Código instaurou o voto secreto, o voto das mulheres e os dois turnos de eleições.

“Ele criou mecanismos e bases para a atual justiça”, diz o professor, embora as mesmas bases tenham sidorevogadas anos depois no período do Estado Novo (1937-1945), quando Getúlio Vargas centralizou aindamais o poder.

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28 28 = AATUALIDADESTUALIDADES E nte screven – Técnico Judiciário / TJ-São Paulo

A Constituição de 1937 extinguiu a Justiça Eleitoral e os partidos políticos existentes, suspendeu as eleições livres e estabeleceu eleição indireta para presidente daRepública, com mandato de seis anos.

7. A propaganda do Estado: censura, culturae ufanismo

O Estado Novo (1937-1945) investiu em novas for-mas de comunicação com a população, como a televisão e o rádio. O regime utilizou intensamente a promoção da cultura brasileira e a propaganda para mostrar uma imagem positiva do regime e buscar uma identidade nacional. O órgão responsável pela propaganda dogoverno era o Departamento de Imprensa e Propaganda p p p g(DIP)( ), que controlava os órgãos de imprensa e meios decomunicação, por meio da censura.

“Antes de Getúlio o Brasil era um amontoado de feu-dos de famílias no poder. Ele tentou mudar isso, para res-saltar a sua figura única, e usou muito a política cultural, por exemplo, financiando o vídeo da Carmen Miranda nos EUA, tivemos a composição da Aquarela do Brasil, composta por Ary Barroso em 1939, com tom ufanista e favorável a Getúlio já no período do Estado Novo, e o uso extensivo das mídias que ele tinha época, como o rádio ea TV, seguindo, por exemplo, Hitler e Stalin, que usavamesses meios de forma intensa”.

QUESTÕES

1) André Correa é secretário do ambiente do estado de:

a) SP d) RSb) MG e) N. D. A.c) RJ

2) País em que foi lançado o IPCC (Painel Intergo-vernamental de Mudanças Climáticas):

a) Japãob) Áfricac) Alemanhad) Brasile) N. D. A.

3) Número de represas que formam o SistemaCantareira:

a) 3b) 4c) 5d) 6e) N. D. A.

4) No que diz respeito à politica, observe as afirma-ções abaixo:

I. Promove a liberdade individual.

II. Promove a justiça social.

III. Abrange conservadores e liberais.

IV. Abrange progressistas e ambientalistas.

a) I e III relacionam-se à “esquerda”.

b) Apenas a alternativa III relaciona-se A “direita”.

c) II e III referem-se à “esquerda”.

d) Todas referem-se à “direita”.

e) N. D. A.

5) Como ficou conhecido o escândalo proferidocontra a Cúria Romana em 2012:

a) Vatileaks

b) Big Bang

c) Holocausto

d) Vatiworld

e) N. D. A.

6) Sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal as afir-mações estão corretas, exceto:

a) Foi sancionada em 2005.

b) Ajuda a cumprir as metas do superávit.

c) Estipula o limite médio de 49% da receita líquidacom os gastos públicos.

d) Todas as alternativas.

e) N. D. A.

7) Commodities são as matérias prima que nossopaís exporta. Segundo especialistas, o saldo ne-gativo de nosso país em 2014 estava relacionado à desvalorização do preço de commodities como:

a) Milho e café.

b) Café e petróleo.

c) Minério de ferro e soja.

d) Milho e soja.

e) N. D. A.

8) Em 2014 a economia do Brasil:

a) Cresceu 1%

b) Diminuiu 1%

c) Cresceu 6,5%

d) Diminuiu 6,5%

e) N. D. A.

9) Atual ministro da Fazenda do Brasil

a) Guido Mantega

b) Antonio Palocci

c) Pedro Malan

d) Joaquim Levy

e) N. D. A.

10) País considerado a segunda maior economia domundo

a) Japão

b) China

c) Rússia

d) Venezuela

e) N. D. A.

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AATUALIDADESTUALIDADES = 2929Escrevente – Técnico Judiciário / TJ-SSão Paulo

11) Ano em que ocorreu a última grande crise mun-dial com o colapso do sistema financeiro norte--americano.

a) 2007b) 2008c) 2009d) 2010e) N. D. A.

12) O Fator Previdenciário (que reduz o valor da aposentadoria proporcionalmente à idade do trabalhador) foi criado em:

a) 1985b) 1989c) 1990d) 2001e) N. D. A.

13) Não é considerado uma prática de corrupção:a) Nepotismob) Peculatoc) Cleintelismod) Todas as alternativase) N. D. A.

14) Com relação à vacina HPV podemos afirmar que:a) É aplicada apenas em pessoas do sexo feminino.b) Previne as DST.c) Previne o câncer de colo de útero.d) Todas as alternativas.e) N. D. A.

15) Em 2014 completou-se 60 anos da morte deGetúlio Vargas. Dos termos que ilustram as prin-cipais realizações de Vargas no Brasil podemoscitar:

a) Inauguração do populismo.b) Implantação da CLT.c) Criação do Ministério da Educação e Saúde.d) Todas as alternativas.e) N. D. A.

GABARITO

1 – C 6 – A 11 – B

2 – A 7 – C 12 – E

3 – D 8 – A 13 – E

4 – E 9 – D 14 – D

5 – A 10 – B 15 – D

ANOTAÇÕES

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