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e um diário ve lho, i > Depois do sucesso de A História de San Michele, edi- ção portuguesa, c í / í 0 que o Livro de San Michele não contou, edição br ai leira, vai aparecer um novo livro de Áxel Munthe: Homens e Bi- chos (Menories and Vaga- ries) — tradução e prefácio de António Sérgio. O Sr. Toiiaz Ribeiro Colaço, em entrevista conce- dida à •• Humanidade ••, falou de cinema e, entre outras coi- sas, declarou que, a escrever um argumento de um super- - filme, o tentava muito a figa- ra de D. Sebastião; disse também que gostaria de en- terpretar o papel principal dum filme cómico. Deve ser fácil. O Sr. To- maz Ribeiro Colaço, por vezes, é dum cómico irresistí- vel — haja e n vista os recita- tivos de improviso no Rivoli... «Sol Nascente- i licia hoje nas suas colunas a publicação do ensaio A Cultura e a Té- cnica, da autoria do jovem e nosso querido camarada Ál- varo Salema- Vai êste valioso trabalho constituir o primeiro número de uma série de "Folhetos de Vulgarização Cultural-, que *Sol Nascente- a seu tempo editará, no desejo cada vez maior de alargar, noutras acti- vidades, o campo da sua acção. Recebemos ó"> revistas: «Nosotros» Buenos-Ai- res, n.°* 17 e 18, com cola- boração de muito interesse, entre a qual: Azorin, José A. Bolseiro; Humanismo e Técnica, Juan Cuatrecasas e El Sentido Heróico de la Vida en el Arte Wagneriano. Ardoino Martini; e «Revista Portuguesa» - de S. Paulo, tomos I e II. fase. V, com colaboração de Ricardo Severo, Sarmento Pimentel, Sarmento dc Beires, Nuno Si- mões, Marques da Cruz, etc. por JOÃO FALCO Amor! Muito secundariamente entra o coração, a sentimentalidade pura c desobrigada, no amor... Até noto que quem desperta para o a m o r , os excitados pelo amor, amam... quem quer que seja! simultanea- mente mais d e u m excitador! uma força de instintos, uma coisa qualquer que Be desencadeia, tão abrupta e tão complexa, nas sa- zõos d o a m o r 1 Um desejo delicado, mas efervescente, de Bcduçáo e dc domínio, e de posse e de capitu- lação... uma ansiedade t u m a a h a e tão complicada, tão confusa, de vida e dc morte, de extremos! E as cumplicidades subtis que o amor gera entre seres vivos c coi- sas... O a r , a á g u a e a l u z , a s pró- prias formas das coisas, parecem combinadas com o espirito dos amorosos, parece que sensualmen- te os afagam! Não n a d a , n ã o palavms, nem nazoes que definam o q u e de positivo e minaz e extraordinaria- mente subtil, amodorra, circuns- creve e di • a atmosfera dos amorosos; nem a finura da cor- respondência dos seus desejos. E cu não falo senão como de- sencantada o cerebral. Apareço-te quási sempre com os a: es do filho pródigo, o que andou por fora, entre a gente ímpia... E tu sempre mc entendes. O nosso mau viver, o de cudu uma de nós, tira. inteligência, c não sei sc conforto, se resignação, d o q u e presenceia... Ao pé do tl alnto-me às vezes a criança, a criança serôdia, de que tu tens dó. Para a consolares re- vetes-te d e u m a g r a v i d a d e delica- da, muito compreensiva e exten- sa. Mas 6 isto que cu t e q u e r o di- zer? No outro dia disseste que mes- mo cm .presença do estranhos nós falávamos sempre uma paru a ou- tra. E ' v e r d a d e . E o m e s m o s e com o que escrevemos. E' para 0 entendimento d u o u t r a . . . — - E se nunoa nos tivéssemos en- contrado? Teria sido muito pior, sobretudo paia mim, que nâo te- nho família, que não tenho amo- 1 es na vida. Ontem visteme soturna c con- solosto-me, bem discretamente! No domingo passado, à conta dc uns ditos c dc uns casos que co- mentávamos, puseste-mc material- m e n t e a m ã o n o coração. Com as tuas razões tão naturais c tão elaboradas, tão pensadas, afinal corroboraste, justificaste os meus sentimentos. E ficaste comigo de- pois dos teus terem saldo. Vias-me agitada e qnorlas-me serenar. Ai, ê consolador, é, haver onde se poise o c o t a ç ã o ! E e r a o que o u c m todo o dia sentia- -que des- cansava em tl. Desprcsos, aborrecimentos, per- manentes i a oitos e cansaços, sos- segavam, calavam-se, porque tu os entendias. Minha filha, nve c h a m a s à s ve- zes. Sim, o a m p u r o é m a t e r n a l , c tu mo tens dispensado. bocado, antes d e c o m e ç a r a escre.-er Isto, ouvi um pássaro. Sempre a voz, inesjterada, repen- tina, dos pássaros me tem impres- sionado. Esta transportou-me não sei a que tempos. Lem- brei-me do fmdcaco, aquele, alac:e fradeoco que noa da- va os bons dias, com um trilo vivíssimo, no ermitério do Facho, quásl 20 anos, 17! •"orno éramos nós? Como éra- m >s... E também me lembrei do monge e da lenda. Convencionalmente, f.aalmcntc... O monge, cm resu- mo, é a vida do contemplação, lias é, deve ser fantástica e feliz, uma vi.la que kc passe no dea- .!ob.amento de qualquer sereno e exclusivo ideal... Pensei no monge sem paixões, com a sua única e lírica paixão, e reoonheci. .percebi que as nossus >'id'is i' os nossos gõsos são outros. Serão b r e v « s c o m o o g r i t o d a ave mas são mais ambiciosos, e mui- to mais profundos, embora lnex- pandidos, que a simbólica contem- plação. Aquele pássaro cantou... O que quererá dizer? Nada. E' sinal de um apelo, unia fantasia, qualquer incerta solicitação? Não é nada... mas ainda é bom ser-sc sensível, inquieto... Ai, quando de todo tivermos ensurdecido e cegado, por dentro e por fora! Pensur nisso é que me aperta mlsérrimamente o co- ração! Hoje, que ainda tenho vi- gor; depois .nem o perceberei... Mas pensar que assim há-de ser, dá-mc uma espécie dc antecipação moral da monte. No e n t a n t o , n ã o é s ó o m e d o de não vir a sentir que mc aflige; afligc-mc, ou antes apoucu-mc, a desconfiança dc quem não sente suficientemente. . £ , Aquela gente... Mas aqui está um ussunto que sc não pode tratar como os sen- timentais! que é muitíssimo mais confuso, e m b o r a c o m u m , v u l g a r e até burlesco... Que poderá fazer rir n galeria longínqua, defendi- da; que pode t e r o a r d e episódi- co, de peço Ce coatumos; que oscila entre o ridículo c o grave, etc... Aqui está um bocado do tecido social, tão grosseiro, que pede realmente uma arma rija para o decalcar. E' grosseiro, e fará rir os delicados, mas a mim, que es- tou apertada nele, confrange-mo, sufoca-mo! A a m b i ç ã o a c a u t e l a d a m a s vio- lenta... a miséria que a adula, teme o expio;n. com receios e pe- quenos confortos, pequenos pro- veitos... O cinismo acanalhado, disfarçudo, quásl Infantilizado, ar- vorado cm Indiferença e moa aco- modação, dos novos. À mnnha soez c*os m a i s velhos. A a u d á c i a , a tei- ma e a perfídia das mulheres. A irrespirável a t m o s f e r a d e s t a falsa sociedade, d o a c a s o , m a s viva! uma coisa, sobre todas as outras, q u e m a i s mo incomoda. A falta de respeito d c u n s pelos ou- tros... Cada um se julgar a si o superior e t e r e m mínima conta o valor dos .outros. Não haver mesmo uma idea dc valores. Mas a idea, única, dc predomínio! E a atitude, correlativa, da Indiferen- ça, do desapreço, do estúpido des- dém. E saio disto... c entro no meu grande néant, o mundo dos dis- persos c dos estranhos. .'• :f.//..'•: Rlam-se, paredes ! A boa da senhora Cel, querc-me casar c o m o filho, uni tapaz todo pupo arco, n a s u a boca. que ando pelos bailes... Coitada! c que lho não cruza a porta, que lhe não dá um chavo, que a despreza dc todo em todo. Mas ela que me acha muito a seu gosto e que teve dois maridos, dois homens que ganha- ram para ela, e que me estima, lem- brou-se de me oferecer o filho... Mas acrescentou, modestamente: a senhora não qucuo rapazes po- bres! E" só essa a dificuldade... Quando eu lho digo que mu- lheres que não casam porque não têm com quem, o Cel. ri-sc. Real- mente, ela que está à porta dos 50, ainda tem quem u requesto! E a Isménia, ainda mais velha do que ela, também. Para a Cel. não coisas confusas. E o seu cora- ção é bom, inocente. O s s e u s mo- dos, um pouco atabalhoados, dc mulher que não bem c teve sempre muito pouca lida casas multo pequenas, se tornaram para mim uma característica sim pática e nutuial du sua pessou. A Cel. é t a m b é m o s í m b o l o da fran- queza c da lealdade, sem sombra de grosseria. Quando se vai em- bora, a m e l o d a tarde, faz-me fal- ta... Mas vai para a sua rua da C o s t a , n ã o a posso d e t e r . E J á estou tão habituada à sua salda! Sc cu lhe contasse um dia, por amável correspondência, quando ela se põe com as suas discretas conversas dc homens, a história d o s m e u s pretendentes, a Cel. não a aoi editava, ou lhe dava volta à cabeça. Porque é q u e aquele homem de elmo, perro, mais velho do que cu. mc havia dc achar insuficien- te para êle? E porque é quo outro, íalsamen- to complicado c egoísta, me havia dc mandar casar com outros, soli- citando èle os meus favores? E porque é que o simplório do tenente me havia de escrever que me queria d<*N|M>Mor? (A Cel. a Isto não faria nenhuns comentários). E .porque é que um o u t r o m e ha- via de rejeitar, falando de liga- ções sérias... Basta! HA coisas que pedem tão finas c esforçadas referências! Ora, todos os meus CBcapadi- ços pretendentes (quanto tenho que lhes agradecer não terem sido mais pertinazes! que misérias a arrastar pelo vida!), tirando o te- nente, coitado, que era viuvo e precisava de mulher em casa. per- ceberam que comigo se podia fa- zer jogo franco, c que era dócil, talvez. Nâo os tentava a minha intimidade, os meus mistéi ios nfe- ctuosos, nem qualquer graça ou bondade especial (cada um tem as suas). Creio que não tinham alma para esses interesses. E acharam inúteis, dispensados os subterfúgios. A minha situação, também, não lhes merecia o sacri- fício da liberdade, o que os ho- mens c h a m a m a s u a Uberdade. E para mais, eu nem cru uma da- quelas mulheres aparatosas crijas que são capazes dc fazer fi- gura, de ser gente para os ou- tros... Enfim, somado tudo isto c o m o q u e me não ocorre, c u e r a uma lebre a correr sem cerimónias, depressa! Abençoados... Ainda lhes sou iriata, pelo que disse. Mas todas estas razões, é ver- dade que breves, deixariam a Cel. completamente desorientada. Sc eu era, pelo testemunho dos seus olhos, uma mulher sem dc- preambular de outro C^tUa feito! s a b i a g o v e r n a r u m a c a s a , e tratnva b e m a s pessoas! E o mis- tério subsistiria... Talvez que o esclarecesse aquela pequena cha- ve: a senhora não quere rapazes pobres! Talvez que a minha am- bição mo perdesse... Coitado da Cel.! Também lhe não havia de entrar na cabeça quo o prejuízo das pessoas (pois quo lho hei-do chamar?) possa es- tar na sua falta dc ambição... Como havia ela do entender que a minha tolerância, ou o meu fantasioso interesse pelas coisas fugazes c d c pouco valor, me de- sanimasse c me inhabilitasse, por fim, a esperar outras, melhores? Esperar... é sempre um acto forçado c intimamente tão descon- solado! Talvez tivesse r a z ã o u m homem de crueldade afectada em me di- zer, aqui h á a n o s : porque espera ainda? Ele nada mc oferecia, na verdade; mos pura que havia eu dc esperar? O Bac, quando me conheceu, com excessiva franqueza, que lhe não levo a mal, o q u e depois, quando reconsiderei, me deu a nota da difusão dc uma das mi- nhas bem poucas, mas ainda as- sim mesquinhas aventuras, lamen- tou na m i n h a c a i o a minha esco- lha de maridos... O seu dito creio que envolvia simpatia e censura. Eu, na h o r a d e o ouvir nem o percebi bem, julguei que ridiculari- sava o meu celibato. Depois, en- tendi-o. Mas. pura os comentado- res, tudo é simples. A delicadeza do assunto o a nossa pouca inti- midade inlbia-mc, no entanto, dc dizer àquele, de lhe pedir, que mc não culpasse o gosto, o entendi- m e n t o e a sensibilidade... que miseráveis, pohres, Inconfortáveis, tãolncorfortáveis e ansiosas con- dições de vida, que tudo que elas regulam o produzem é aceitável, justificável! Nada é simples! Simples é a lín- gua, por exemplo. Pois aquele outro... Aquele bru- to quo dizia iiiin eh sol, que tinha uma alma árida, áspera, selva- gem, e ainda era vaidoso e auto- ritário, bravio, não me abriu, não me provocou perspectivas dc es- pirito contemporlsantes e benévo- lus? A sua Impulsiva, hreve do- çura, que me parecia virgindade sentimental, não era nele, para os meus olhos, uma gala, uma in- consciente virtude, uma oferta, um valor? Vida. és generosa, és... Isto é generosidade da vida, c du nossu condição humana, do a todos e a tudo nos adaptarmos! E tudo o que passou, como os relâmpagos, sem durabilidade nem remanso; que passou, posso dizer, estúpida c fantasticamente, devia ter passado. Ofendeu-mc, sem duvida, mas foi como uma fatali- dade, o ouso ou a circuns- tancia inevitável, natural. Não ha culpas. a brutalidade Irremediável, a violência e a gros- seria indomáveis, e a fraqueza lireflexiva, acobardada, curiosa e sempre vencida. / / Esta noite estive imenso tem- po acordada. Estarei como os velhos? Acordada, sentia o tempo pesar sobre mim, avançar. Somos uns náufragos, nâo so- mos? Naufragados, perdidos, no tempo o a t é na cama! Desampa- rados dc todo! Mas tive um pequeno sonho, an- tes ou depois da minha Insónia. Sonhei que n o m e u tinteiro havia água... Não me lembro do resto do sonho, mas isto impxesslonou- mc. Acua, sim, água! E' c o m o que escrevemos... Ti- ramos a ç ô r a t u d o q u e comnôsco se passa reduzlndo-o a escrita. / / Lillo! C o m o o s e u n o m e m e a c u - diu... tantos anos tocava ela p l a n o c o m a Mali! E a mãi dela? Vojo-a tal qual. Pintada, agarrada com paixão aos seus restos, mui- to fanados, de beleza e de elegân- cia... Elegância burgueza, com al- gum requinte. A Lllla, com mais 7 o u 8 a n o s que cu, que tinha 19, se não me engano, era muito sua- ve, bem educado e baixinha. Mas tinha uma pele admirável, que .ainda conserva. E uma boca es- quisita, sinuosa, fechando dc mais. A sua lingua parcela muito seca. Os olhos muito rasgados e um pouco fechados eram bondosos, discretos, sorriam sem grande ale- gria. P a r e c e q u e a m ã l a domina- va. Pouco soube da sua vida. Casou com um parente africanista, foi Infeliz com êle cm A'frlca, e nâo sei do resto. A Lllla... Fizemos quo nos não conhecemos. Realmente cia com quem se dava e r a c o m a Mali. Está uma senhora pesada, pata, capaz dc s e r a v ó ! Quem sabe se o é!... Ruins c frios tempos, aqueles! A Lilia ainda mora no mesmo sitio, notei. Banalissimos sítios. / / Ai, tempo, tudo corroerás e dis- solverás, realmente? Talvez não. Passa, p o r c i m a de nós, vais-nos deixando para traz, para traz, e abrindo espaços novos. Fechar portas! Eu saberei fe- char portas? Creio que não. Aque- le movimento breve de ir para a frente, dc arredar, ou de mudar, dc procurar, até. nâo me é pró- prio. A alteração voluntária, a volubilidade estudada, explorada, também não. Mas c u n ã o poBso dizer, em to- d o o c a s o , q u e s o u c o n t r a a volu- bilidade, quo a desdenho o u q u e a combato. A monotonia pesado do minha vida, sem «roças, sem alí- vios amáveis, sem ocidentes reno- vadores não mc instiga a tendên- cia à volubilidade, é o q u e 6. / / Como hcl-do dizer o que é, e não sei se é, som regulamento nem ordenação possível? Quelxar-mc de um mui que se mc Insinua no espírito como a sua própria e fatal mecânica? P a s s o u J á a h o r a d a violência... Como eu sou intimamente violen- ta o infeliz! E também passa- ram, creio, as horas higiénicas... as dos pensamentos acomodantes, da resignação. Hão-de vir, mas ainda não vieram (o espirito re- pousa, divago c distrái-se involun- tariamente) os da critica. Critica, crítica, praticamente Inútil! E" repúdio, é consoço? Este de- sespero, c esta teima d e d a r no- mes à s m a i s miúdas e familiares coisas! Quem dera poder vencer, ani- quilar a maldade da vida. E a tal mecânica, sua derivada... Fe- char portas, afinal, sim! Deitar fora, ser Impassível, Indiferente, talhar novas vidas, sempre novas vidas, vidas pessoais! As belas tardes de solidão, por- que horas boas de solidão... s ã o d e v e z c m q u a n d o o meu tris- tonho bálsamo. 10' oatúplda a vida que me tor- na absolutamente u m s e r passivo, sem autoridade, sem vontade! Um espectador cansado, onnervado e desinteressado dos torvelinhos dos outros. / / Reg é triste, c suponho que vo- lúvel. Alguma coisa lhe falta para inspirar Inteira confiança. Pare- ce, mesmo, que desdenha desta confiança. E' multo intelectual '-. para - querer cultivar. O seu pen- | samento é repousado e de um amargor benigno, destes pensa- mentos q u e a c o m p a n h a m c acari- n h a m c o m altivez, rejeitando Tes- postas. E ' u m produto raro num mundo dc cspcctaculosos, como o nosso. E, no entanto, contra sua vontade, eu, e talvez outros, o vamos acompanhando c cstalielc- cendo com êle irredutíveis, inevi- táveis compromissos. / / Catavento de S. Francisco. Nu- vens. Escuridão e claridade. Tar- de. A minha vida vai para baixo. Sinto que vai! um ano J á q u e isto sinto... Ninguém faria d e m i m um re- trato como fez Voe daquela mu- lher 10 anos mais velha do que eu. A intelectual portuguesa é uma mulher pobre. Desinteressante- mente pobre, irrespcltável, tími- da. E então quando perde o fres- Cadecnos da Juuentu.de Deve aparecer por estes dias o primeiro volume dos «Cadernos da Juvcntudot, que são uma Ini- ciativa editorial destinada a reve- lar a actividade dos novos nos três géneros principais da produção li- terária—ensaio, novela, poesia—e a divulgar, numa secção de inqué- rito, depoimentos das mais cate- gorizadas figuras da cultura por- tuguesa actual. E' o seguinte o Índice do pri- meiro volume: ENSAIO: Considerações sobre a missão do Intelectual e o pro- blema da cultura, por Manuel Fi- pc; NOVELA: A bigorna, por Frederico Alves; POESIA: Poe- ma do mninhu clara, por Alvaro Bandeira; Poema do sacrifício su- blime, por Mário Dionísio; Géne- sis, par Poliblo Gomes dos San- tos; I N Q U É R I T O : Q u a i s o s Ideias q u e e m Biologia mais Interessam a juventude de hoje?—Resposta do Prof. Abel Salazar. Os «Cadernos da Juventude», que terão em regra cerca dc 64 páginas, serão postos & venda, ao preço dc 5J00, om tòdaa os livra- rias do pois. Podem também roqulsitar-se à Administração (Arco do Bispo, 1, Coimbra) que os enviará à co- brança, sem o a c r é s c i m o d o nor- te. por SERGIO AUGUSTO VIEIRA Negar a legitimidade da cri- tica cu obstinar-se em lhe re- cusar a independência e li- berdade é ser-se partidário do obscurantismo. Quieim de- negar a crítica lnferioriza-se e reprova o esclarecimento. A verdadeira crítica não po- de ser amorfa ou a expressão de amorfos seres; ela será sempre o melhor auxiliar da evolução, porque sendo previ- dente e observadora, expres- são e vida, conduzir-nos-á à aproximação do conhecimen- to verdadeiro do tradicional triptíco de todos os valores últimos—valores éticos, lógi- cos e estéticos, do beim, da verdade e do belo. Sem crítica não haveria valorização das coisas. Ela é a ifilosofia dos valores. O homem e as sociedades sem a critica não se elevariam ãlóm duma existência vege- tativa, grosseira. precária, desconhecendo a noção do bom e do mau. As épocas em que é mani- festa a ausência de critica podem considerar-se épocas medíocres, de desagregação, de decadência, de vida infaus- ta para a humanidade. Ela é a expressão humana e vi- vente. De si promana a ver- dade. A literatura tem na critica o seu melhor ideal e o mais sólido fundamento. O critico é um escritor de acção e pen- samento. A sua missão não consistirá apenas em atalhar palavras sem sentido, que os medíocres, por ausência de senso-critico, utilitarismo e egoísmo, .poderão aplaudir; mas, consistirá e m colocar-ise, com todas as suas faculdades de homem, com a sua razão e a sua sensibilidade, em fren- te da obra para a valorizar e orientar o senso comum. A supressão da critica equi- valeria a coartar a Uberdade de pensar, e a ausência desta representaria o afastamento do meio que, parece, melhor poderá encaminhar a huma- nidade a aproximar-se do co- nhecimento do justo, do ver- dadeiro e do real.

e um diáriolho, ve preambular de outro C^tUa · ... c í/í 0 que o Livro de San Michele não ... E saio disto... c entro no meu grande néant, ... Talvez que a minha am biçã o

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Page 1: e um diáriolho, ve preambular de outro C^tUa · ... c í/í 0 que o Livro de San Michele não ... E saio disto... c entro no meu grande néant, ... Talvez que a minha am biçã o

e um diário ve lho, i > Depois do sucesso de A História de San Michele, edi­ção portuguesa, c í / í 0 que o Livro de San Michele não contou, edição br ai leira, vai aparecer um novo livro de Áxel Munthe: Homens e Bi­chos (Menories and Vaga-ries) — tradução e prefácio de António Sérgio.

• O Sr. Toiiaz Ribeiro Colaço, em entrevista conce­dida à •• Humanidade ••, falou de cinema e, entre outras coi­sas, declarou que, a escrever um argumento de um super-- filme, o tentava muito a figa-ra de D. Sebas t ião ; disse também que gostaria de en-terpretar o papel principal dum filme cómico.

Deve ser fácil. O Sr. To-maz Ribeiro Colaço, por vezes, é dum cómico irresistí­vel — haja e n vista os recita-tivos de improviso no Rivoli...

• «Sol Nascente- i licia hoje nas suas colunas a publicação do ensaio A Cultura e a Té­cnica, da autoria do jovem e nosso querido camarada Ál­varo Salema-

Vai êste valioso trabalho constituir o primeiro número de uma série de "Folhetos de Vulgarização Cultural-, que *Sol Nascente- a seu tempo editará, no desejo cada vez maior de alargar, noutras acti­vidades, o campo da sua acção.

• Recebemos ó " > revistas: «Nosotros» Buenos-Ai­

res, n.°* 17 e 18, com cola­boração de muito interesse, entre a qual: Azorin, José A. Bolseiro; H u m a n i s m o e Técnica, Juan Cuatrecasas e El Sentido Heróico de la Vida en el Arte Wagneriano. Ardoino Martini; e

«Revista Portuguesa» - de S. Paulo, tomos I e II. fase. V, com colaboração de Ricardo Severo, Sarmento Pimentel, Sarmento dc Beires, Nuno Si­mões, Marques da Cruz, etc.

por J O Ã O F A L C O

A m o r ! M u i t o s e c u n d a r i a m e n t e e n t r a o

c o r a ç ã o , a s e n t i m e n t a l i d a d e p u r a c d e s o b r i g a d a , n o a m o r . . . A t é n o t o q u e q u e m d e s p e r t a p a r a o a m o r , o s e x c i t a d o s pe lo a m o r , a m a m . . . q u e m q u e r q u e s e j a ! s i m u l t a n e a ­m e n t e m a i s d e u m e x c i t a d o r ! H á u m a f o r ç a d e i n s t i n t o s , u m a c o i s a q u a l q u e r q u e Be d e s e n c a d e i a , t ã o a b r u p t a e t ã o c o m p l e x a , n a s s a -z õ o s d o a m o r 1 U m d e s e j o d e l i c a d o , m a s e f e r v e s c e n t e , d e B c d u ç á o e d c d o m í n i o , e d e p o s s e e d e c a p i t u ­l a ç ã o . . . u m a a n s i e d a d e t u m a a h a e t ã o c o m p l i c a d a , t ã o c o n f u s a , d e v i d a e d c m o r t e , d e e x t r e m o s !

E a s c u m p l i c i d a d e s s u b t i s q u e o a m o r g e r a e n t r e s e r e s v i v o s c c o i ­s a s . . . O a r , a á g u a e a luz, a s p r ó ­p r i a s f o r m a s d a s c o i s a s , p a r e c e m c o m b i n a d a s c o m o e s p i r i t o d o s a m o r o s o s , p a r e c e q u e s e n s u a l m e n ­t e o s a f a g a m !

N ã o h á n a d a , n ã o h á p a l a v m s , n e m nazoes q u e d e f i n a m o q u e d e p o s i t i v o e m i n a z e e x t r a o r d i n a r i a ­m e n t e subt i l , a m o d o r r a , c i r c u n s ­c r e v e e di • a a t m o s f e r a d o s a m o r o s o s ; n e m a f i n u r a d a c o r ­r e s p o n d ê n c i a d o s s e u s d e s e j o s .

E c u n ã o fa lo s e n ã o c o m o d e ­s e n c a n t a d a o c e r e b r a l .

A p a r e ç o - t e q u á s i s e m p r e c o m os a : e s d o f i l h o p r ó d i g o , o q u e a n d o u p o r f o r a , e n t r e a g e n t e í m p i a . . . E t u s e m p r e m c e n t e n d e s .

O n o s s o m a u v i v e r , o d e c u d u u m a d e n ó s , t i r a . i n t e l i g ê n c i a , c n ã o s e i s c c o n f o r t o , s e r e s i g n a ç ã o , d o q u e p r e s e n c e i a . . .

A o p é d o t l a l n t o - m e à s v e z e s a c r i a n ç a , a c r i a n ç a s e r ô d i a , d e q u e t u t e n s d ó . P a r a a c o n s o l a r e s r e -v e t e s - t e d e u m a g r a v i d a d e d e l i c a ­d a , m u i t o c o m p r e e n s i v a e e x t e n ­s a .

M a s 6 i s t o q u e c u t e q u e r o di­z e r ?

N o o u t r o d i a d i s s e s t e q u e m e s ­m o c m . p r e s e n ç a do e s t r a n h o s n ó s f a l á v a m o s s e m p r e u m a p a r u a ou­t r a . E ' v e r d a d e . E o m e s m o s e d á c o m o q u e e s c r e v e m o s . E ' p a r a 0 e n t e n d i m e n t o du o u t r a . . . — -

E s e n u n o a n o s t i v é s s e m o s e n ­c o n t r a d o ? T e r i a s i d o m u i t o p ior , s o b r e t u d o p a i a m i m , q u e n â o t e ­n h o f a m í l i a , q u e n ã o t e n h o a m o -1 e s n a v i d a .

O n t e m v i s t e m e s o t u r n a c c o n -s o l o s t o - m e , b e m d i s c r e t a m e n t e !

N o d o m i n g o p a s s a d o , à c o n t a d c u n s d i t o s c d c u n s c a s o s q u e c o ­m e n t á v a m o s , p u s e s t e - m c m a t e r i a l ­m e n t e a m ã o n o c o r a ç ã o . C o m a s t u a s r a z õ e s t ã o n a t u r a i s c t ã o e l a b o r a d a s , t ã o p e n s a d a s , a f i n a l c o r r o b o r a s t e , j u s t i f i c a s t e o s m e u s s e n t i m e n t o s . E f i c a s t e c o m i g o d e ­p o i s d o s t e u s t e r e m s a l d o . V i a s - m e a g i t a d a e q n o r l a s - m e s e r e n a r .

Ai, ê c o n s o l a d o r , é, h a v e r o n d e s e p o i s e o c o t a ç ã o ! E e r a o q u e o u c m t o d o o d i a s e n t i a - -que d e s ­c a n s a v a e m t l .

D e s p r c s o s , a b o r r e c i m e n t o s , p e r ­m a n e n t e s i • a o i t o s e c a n s a ç o s , s o s ­s e g a v a m , c a l a v a m - s e , p o r q u e t u o s e n t e n d i a s .

M i n h a f i lha , nve c h a m a s à s v e ­zes . S i m , o a m p u r o é m a t e r n a l , c s ó t u m o t e n s d i s p e n s a d o .

H á b o c a d o , a n t e s d e c o m e ç a r a e s c r e . - e r I s to , o u v i u m p á s s a r o . S e m p r e a voz , i n e s j t e r a d a , r e p e n ­t i n a , d o s p á s s a r o s m e t e m i m p r e s ­s i o n a d o . E s t a t r a n s p o r t o u - m e n ã o sei a q u e t e m p o s . L e m -b r e i - m e d o f m d c a c o , a q u e l e ,

a l a c : e f r a d e o c o q u e n o a d a ­v a o s b o n s d i a s , c o m u m t r i l o v i v í s s i m o , n o e r m i t é r i o d o F a c h o , h á q u á s l 2 0 a n o s , h á 17!

•"orno é r a m o s n ó s ? C o m o é r a -m >s...

E t a m b é m m e l e m b r e i d o m o n g e e d a l e n d a . C o n v e n c i o n a l m e n t e , f . a a l m c n t c . . . O m o n g e , c m r e s u ­m o , é a v i d a do c o n t e m p l a ç ã o , l i a s é, d e v e s e r f a n t á s t i c a e feliz, u m a v i . l a q u e k c p a s s e no d e a -. ! o b . a m e n t o d e q u a l q u e r s e r e n o e e x c l u s i v o i d e a l . . .

P e n s e i n o m o n g e s e m p a i x õ e s , c o m a s u a ú n i c a e l í r i c a p a i x ã o , e r e o o n h e c i . . p e r c e b i q u e a s n o s s u s >'id'is i' os n o s s o s g õ s o s s ã o o u t r o s . S e r ã o b r e v « s c o m o o g r i t o d a a v e m a s s ã o m a i s a m b i c i o s o s , e m u i ­t o m a i s p r o f u n d o s , e m b o r a l n e x -p a n d i d o s , q u e a s i m b ó l i c a c o n t e m ­p l a ç ã o .

A q u e l e p á s s a r o c a n t o u . . . O q u e q u e r e r á d i z e r ? N a d a . E ' s i n a l d e u m a p e l o , u n i a f a n t a s i a , q u a l q u e r i n c e r t a s o l i c i t a ç ã o ? N ã o é n a d a . . . m a s a i n d a é b o m s e r - s c s e n s í v e l , i n q u i e t o . . .

A i , q u a n d o d e t o d o t i v e r m o s e n s u r d e c i d o e c e g a d o , p o r d e n t r o e p o r f o r a ! P e n s u r n i s s o é q u e m e a p e r t a m l s é r r i m a m e n t e o c o ­r a ç ã o ! H o j e , q u e a i n d a t e n h o vi­g o r ; d e p o i s .nem o p e r c e b e r e i . . . M a s p e n s a r q u e a s s i m h á - d e s e r , d á - m c u m a e s p é c i e d c a n t e c i p a ç ã o m o r a l d a m o n t e .

N o e n t a n t o , n ã o é s ó o m e d o d e n ã o v i r a s e n t i r q u e m c a f l i g e ; a f l i g c - m c , o u a n t e s a p o u c u - m c , a d e s c o n f i a n ç a d c q u e m n ã o s e n t e s u f i c i e n t e m e n t e .

. £ , „

A q u e l a g e n t e . . . M a s a q u i e s t á u m u s s u n t o q u e

s c n ã o p o d e t r a t a r c o m o o s s e n ­t i m e n t a i s ! q u e é m u i t í s s i m o m a i s c o n f u s o , e m b o r a c o m u m , v u l g a r e a t é b u r l e s c o . . . Q u e p o d e r á f a z e r r i r n g a l e r i a l o n g í n q u a , d e f e n d i ­d a ; q u e p o d e t e r o a r d e e p i s ó d i ­c o , d e p e ç o Ce c o a t u m o s ; q u e o s c i l a e n t r e o r i d í c u l o c o g r a v e , e t c . . . A q u i e s t á u m b o c a d o d o t e c i d o s o c i a l , t ã o g r o s s e i r o , q u e p e d e r e a l m e n t e u m a a r m a r i j a p a r a o d e c a l c a r . E ' g r o s s e i r o , e f a r á r i r o s d e l i c a d o s , m a s a m i m , q u e e s ­t o u a p e r t a d a n e l e , c o n f r a n g e - m o , s u f o c a - m o !

A a m b i ç ã o a c a u t e l a d a m a s v i o ­l e n t a . . . a m i s é r i a q u e a a d u l a , t e m e o e x p i o ; n . c o m r e c e i o s e pe­q u e n o s c o n f o r t o s , p e q u e n o s p r o ­v e i t o s . . . O c i n i s m o a c a n a l h a d o , d i s f a r ç u d o , q u á s l I n f a n t i l i z a d o , a r ­v o r a d o c m I n d i f e r e n ç a e m o a a c o ­

m o d a ç ã o , d o s n o v o s . À m n n h a s o e z c*os m a i s v e l h o s . A a u d á c i a , a t e i ­m a e a p e r f í d i a d a s m u l h e r e s . A i r r e s p i r á v e l a t m o s f e r a d e s t a f a l s a s o c i e d a d e , d o a c a s o , m a s v i v a !

H á u m a c o i s a , s o b r e t o d a s a s o u t r a s , q u e m a i s m o i n c o m o d a . A f a l t a d e r e s p e i t o d c u n s p e l o s o u ­t r o s . . . C a d a u m s e j u l g a r a si o s u p e r i o r e t e r e m m í n i m a c o n t a o v a l o r d o s . o u t r o s . N ã o h a v e r m e s m o u m a i d e a d c v a l o r e s . M a s a i d e a , ú n i c a , d c p r e d o m í n i o ! E a a t i t u d e , c o r r e l a t i v a , d a I n d i f e r e n ­ç a , d o d e s a p r e ç o , d o e s t ú p i d o d e s ­d é m .

E s a i o d i s t o . . . c e n t r o n o m e u g r a n d e n é a n t , o m u n d o d o s d i s ­p e r s o s c d o s e s t r a n h o s .

• • .'• • : f . / / . . ' • :

R l a m - s e , p a r e d e s ! A b o a d a s e n h o r a Cel , q u e r c - m e

c a s a r c o m o f i lho, u n i t a p a z t o d o p u p o a r c o , n a s u a b o c a . q u e a n d o p e l o s b a i l e s . . . C o i t a d a ! c q u e lho n ã o c r u z a a p o r t a , q u e lhe n ã o d á u m c h a v o , q u e a d e s p r e z a d c t o d o e m t o d o . M a s e l a q u e m e a c h a m u i t o a s e u g o s t o e q u e t e v e d o i s m a r i d o s , d o i s h o m e n s q u e g a n h a ­r a m p a r a e la , e q u e m e e s t i m a , l e m -b r o u - s e d e m e o f e r e c e r o f i l h o . . . M a s a c r e s c e n t o u , m o d e s t a m e n t e : a s e n h o r a n ã o q u c u o r a p a z e s po­b r e s ! E " s ó e s s a a d i f i c u l d a d e . . . Q u a n d o e u lho d i g o q u e h á m u ­l h e r e s q u e n ã o c a s a m p o r q u e n ã o t ê m c o m q u e m , o C e l . r i - s c . R e a l ­m e n t e , e l a q u e e s t á à p o r t a d o s 50 , a i n d a t e m q u e m u r e q u e s t o ! E a I s m é n i a , a i n d a m a i s v e l h a d o q u e e la , t a m b é m . P a r a a C e l . n ã o h á c o i s a s c o n f u s a s . E o s e u c o r a ­ç ã o é b o m , i n o c e n t e . O s s e u s m o ­d o s , u m p o u c o a t a b a l h o a d o s , d c m u l h e r q u e n ã o v è b e m c t e v e s e m p r e m u i t o p o u c a l i d a • c a s a s m u l t o p e q u e n a s , j á s e t o r n a r a m p a r a m i m u m a c a r a c t e r í s t i c a s i m p á t i c a e n u t u i a l du s u a p e s s o u . A Cel . é t a m b é m o s í m b o l o d a f r a n ­q u e z a c d a l e a l d a d e , s e m s o m b r a d e g r o s s e r i a . Q u a n d o s e v a i e m ­b o r a , a m e l o d a t a r d e , f a z - m e fa l ­t a . . . M a s v a i l á p a r a a s u a r u a d a C o s t a , n ã o a p o s s o d e t e r . E J á e s t o u t ã o h a b i t u a d a à s u a s a l d a !

S c c u l h e c o n t a s s e u m d i a , p o r a m á v e l c o r r e s p o n d ê n c i a , q u a n d o e l a s e p õ e c o m a s s u a s d i s c r e t a s c o n v e r s a s d c h o m e n s , a h i s t ó r i a d o s m e u s p r e t e n d e n t e s , a Ce l . n ã o a a o i e d i t a v a , o u l h e d a v a v o l t a à c a b e ç a .

P o r q u e é q u e a q u e l e h o m e m lõ d e e l m o , p e r r o , m a i s v e l h o d o q u e c u . m c h a v i a d c a c h a r i n s u f i c i e n ­t e p a r a ê l e ?

E p o r q u e é q u o o u t r o , í a l s a m e n -t o c o m p l i c a d o c e g o í s t a , m e h a v i a d c m a n d a r c a s a r c o m o u t r o s , sol i ­c i t a n d o è le o s m e u s f a v o r e s ?

E p o r q u e é q u e o s i m p l ó r i o d o t e n e n t e m e h a v i a d e e s c r e v e r q u e m e q u e r i a d<*N|M>Mor? ( A C e l . a I s to n ã o f a r i a n e n h u n s c o m e n t á r i o s ) . E . p o r q u e é q u e u m o u t r o m e h a ­v i a d e r e j e i t a r , f a l a n d o d e l i ga ­ç õ e s s é r i a s . . . B a s t a ! HA c o i s a s q u e p e d e m t ã o f i n a s c e s f o r ç a d a s r e f e r ê n c i a s !

O r a , t o d o s o s m e u s C B c a p a d i -ç o s p r e t e n d e n t e s ( q u a n t o t e n h o q u e l h e s a g r a d e c e r n ã o t e r e m s i d o m a i s p e r t i n a z e s ! q u e m i s é r i a s a a r r a s t a r pe lo v i d a ! ) , t i r a n d o o t e ­n e n t e , c o i t a d o , q u e e r a v i u v o e p r e c i s a v a d e m u l h e r e m c a s a . p e r ­c e b e r a m q u e c o m i g o se p o d i a fa ­z e r j o g o f r a n c o , c q u e e r a d ó c i l , t a l v e z . N â o o s t e n t a v a a m i n h a i n t i m i d a d e , o s m e u s m i s t é i ios n f e -c t u o s o s , n e m q u a l q u e r g r a ç a o u b o n d a d e e s p e c i a l ( c a d a u m t e m a s s u a s ) . C r e i o q u e n ã o t i n h a m a l m a p a r a e s s e s i n t e r e s s e s . E a c h a r a m i n ú t e i s , d i s p e n s a d o s o s s u b t e r f ú g i o s . A m i n h a s i t u a ç ã o , t a m b é m , n ã o lhes m e r e c i a o s a c r i ­f í c i o d a l i b e r d a d e , o q u e o s h o ­m e n s c h a m a m a s u a U b e r d a d e . E p a r a m a i s , e u n e m c r u u m a d a ­q u e l a s m u l h e r e s a p a r a t o s a s c r i j a s q u e s ã o c a p a z e s d c f a z e r fi­g u r a , d e s e r g e n t e p a r a o s o u ­t r o s . . . E n f i m , s o m a d o t u d o i s t o c o m o q u e m e n ã o o c o r r e , c u e r a u m a l e b r e a c o r r e r s e m c e r i m ó n i a s , d e p r e s s a ! A b e n ç o a d o s . . . A i n d a l h e s s o u i r i a t a , pe lo q u e j á d i s s e .

M a s t o d a s e s t a s r a z õ e s , é v e r ­d a d e q u e b r e v e s , d e i x a r i a m a C e l . c o m p l e t a m e n t e d e s o r i e n t a d a .

S c eu e r a , p e l o t e s t e m u n h o d o s s e u s o l h o s , u m a m u l h e r s e m d c -

preambular de outro C^tUa

f e i t o ! s a b i a g o v e r n a r u m a c a s a , e t r a t n v a b e m a s p e s s o a s ! E o m i s ­t é r i o s u b s i s t i r i a . . . T a l v e z q u e o e s c l a r e c e s s e a q u e l a p e q u e n a c h a ­v e : a s e n h o r a n ã o q u e r e r a p a z e s p o b r e s ! T a l v e z q u e a m i n h a a m ­b i ç ã o m o p e r d e s s e . . .

C o i t a d o d a C e l . ! T a m b é m l h e n ã o h a v i a d e e n t r a r n a c a b e ç a q u o o p r e j u í z o d a s p e s s o a s ( p o i s q u o lho he i -do c h a m a r ? ) p o s s a e s ­t a r n a s u a f a l t a d c a m b i ç ã o . . . C o m o h a v i a e l a d o e n t e n d e r q u e a m i n h a t o l e r â n c i a , o u o m e u f a n t a s i o s o i n t e r e s s e p e l a s c o i s a s f u g a z e s c d c p o u c o v a l o r , m e d e ­s a n i m a s s e c m e i n h a b i l i t a s s e , p o r f im, a e s p e r a r o u t r a s , m e l h o r e s ?

E s p e r a r . . . é s e m p r e u m a c t o f o r ç a d o c i n t i m a m e n t e t ã o d e s c o n ­s o l a d o !

T a l v e z t i v e s s e r a z ã o u m h o m e m d e c r u e l d a d e a f e c t a d a e m m e d i ­z e r , a q u i h á a n o s : p o r q u e e s p e r a a i n d a ? E l e n a d a m c o f e r e c i a , n a v e r d a d e ; m o s p u r a q u e h a v i a e u d c e s p e r a r ?

O B a c , q u a n d o m e c o n h e c e u , c o m e x c e s s i v a f r a n q u e z a , q u e l h e n ã o l e v o a m a l , o q u e d e p o i s , q u a n d o r e c o n s i d e r e i , m e d e u a n o t a d a d i f u s ã o d c u m a d a s m i ­n h a s b e m p o u c a s , m a s a i n d a a s ­s i m m e s q u i n h a s a v e n t u r a s , l a m e n ­t o u n a m i n h a c a i o a m i n h a e s c o ­l h a d e m a r i d o s . . . O s e u d i t o c r e i o q u e e n v o l v i a s i m p a t i a e c e n s u r a . E u , n a h o r a d e o o u v i r n e m o p e r c e b i b e m , j u l g u e i q u e r i d i c u l a r i -s a v a o m e u c e l i b a t o . D e p o i s , e n -t e n d i - o . M a s . p u r a o s c o m e n t a d o ­r e s , t u d o é s i m p l e s . A d e l i c a d e z a d o a s s u n t o o a n o s s a p o u c a i n t i ­m i d a d e i n l b i a - m c , n o e n t a n t o , d c d i z e r à q u e l e , d e l h e p e d i r , q u e m c n ã o c u l p a s s e o g o s t o , o e n t e n d i ­m e n t o e a s e n s i b i l i d a d e . . . q u e h á m i s e r á v e i s , p o h r e s , I n c o n f o r t á v e i s , t ã o l n c o r f o r t á v e i s e a n s i o s a s c o n ­d i ç õ e s d e v i d a , q u e t u d o q u e e l a s r e g u l a m o p r o d u z e m é a c e i t á v e l , j u s t i f i c á v e l !

N a d a é s i m p l e s ! S i m p l e s é a l ín­g u a , p o r e x e m p l o .

P o i s a q u e l e o u t r o . . . A q u e l e b r u ­t o q u o d i z i a i i i i n eh sol , q u e t i n h a u m a a l m a á r i d a , á s p e r a , s e l v a ­g e m , e a i n d a e r a v a i d o s o e a u t o ­r i t á r i o , b r a v i o , n ã o m e a b r i u , n ã o m e p r o v o c o u p e r s p e c t i v a s d c e s ­p i r i t o c o n t e m p o r l s a n t e s e b e n é v o -l u s ? A s u a I m p u l s i v a , h r e v e d o ­ç u r a , q u e m e p a r e c i a v i r g i n d a d e s e n t i m e n t a l , n ã o e r a n e l e , p a r a o s m e u s o l h o s , u m a g a l a , u m a in­c o n s c i e n t e v i r t u d e , u m a o f e r t a , u m v a l o r ?

V i d a . é s g e n e r o s a , é s . . . I s t o é g e n e r o s i d a d e d a v i d a , c

d u n o s s u c o n d i ç ã o h u m a n a , do a t o d o s e a t u d o n o s a d a p t a r m o s !

E t u d o o q u e p a s s o u , c o m o o s r e l â m p a g o s , s e m d u r a b i l i d a d e n e m r e m a n s o ; q u e p a s s o u , p o s s o d i z e r , e s t ú p i d a c f a n t a s t i c a m e n t e , d e v i a t e r p a s s a d o . O f e n d e u - m c , s e m d u v i d a , m a s foi c o m o u m a f a t a l i ­d a d e , o o u s o o u a c i r c u n s ­t a n c i a i n e v i t á v e l , n a t u r a l . N ã o h a c u l p a s . H á a b r u t a l i d a d e I r r e m e d i á v e l , a v i o l ê n c i a e a g r o s ­s e r i a i n d o m á v e i s , e a f r a q u e z a l i r e f l e x i v a , a c o b a r d a d a , c u r i o s a e s e m p r e v e n c i d a .

/ /

E s t a n o i t e e s t i v e i m e n s o t e m ­p o a c o r d a d a . E s t a r e i j á c o m o o s v e l h o s ?

A c o r d a d a , s e n t i a o t e m p o p e s a r s o b r e m i m , a v a n ç a r .

S o m o s u n s n á u f r a g o s , n â o s o ­

m o s ? N a u f r a g a d o s , p e r d i d o s , n o t e m p o o a t é n a c a m a ! D e s a m p a ­r a d o s d c t o d o !

M a s t i v e u m p e q u e n o s o n h o , a n ­t e s o u d e p o i s d a m i n h a I n s ó n i a . S o n h e i q u e n o m e u t i n t e i r o h a v i a á g u a . . . N ã o m e l e m b r o d o r e s t o d o s o n h o , m a s i s t o i m p x e s s l o n o u -m c .

A c u a , s i m , á g u a ! E ' c o m o q u e e s c r e v e m o s . . . T i ­

r a m o s a ç ô r a t u d o q u e c o m n ô s c o s e p a s s a r e d u z l n d o - o a e s c r i t a .

/ / L i l l o ! C o m o o s e u n o m e m e a c u ­

d i u . . . H á t a n t o s a n o s t o c a v a e l a p l a n o c o m a M a l i ! E a m ã i d e l a ? V o j o - a t a l q u a l . P i n t a d a , a g a r r a d a c o m p a i x ã o a o s s e u s r e s t o s , m u i ­t o f a n a d o s , d e b e l e z a e d e e l e g â n ­c i a . . . E l e g â n c i a b u r g u e z a , c o m a l ­g u m r e q u i n t e . A L l l l a , c o m m a i s 7 o u 8 a n o s q u e c u , q u e t i n h a 19 , s e n ã o m e e n g a n o , e r a m u i t o s u a ­ve , b e m e d u c a d o e b a i x i n h a . M a s t i n h a u m a pele a d m i r á v e l , q u e . a i n d a c o n s e r v a . E u m a b o c a e s ­q u i s i t a , s i n u o s a , f e c h a n d o d c m a i s . A s u a l i n g u a p a r c e l a m u i t o s e c a . O s o l h o s m u i t o r a s g a d o s e u m p o u c o f e c h a d o s e r a m b o n d o s o s , d i s c r e t o s , s o r r i a m s e m g r a n d e a l e ­g r i a . P a r e c e q u e a m ã l a d o m i n a ­v a .

P o u c o s o u b e d a s u a v i d a . C a s o u c o m u m p a r e n t e a f r i c a n i s t a , foi Infe l iz c o m ê le c m A ' f r l c a , e n â o sei d o r e s t o .

A L l l l a . . . F i z e m o s q u o n o s n ã o c o n h e c e m o s . R e a l m e n t e c i a c o m q u e m s e d a v a e r a c o m a M a l i . E s t á u m a s e n h o r a p e s a d a , p a t a , c a p a z d c s e r a v ó ! Q u e m s a b e s e o é ! . . .

R u i n s c f r i o s t e m p o s , a q u e l e s ! A L i l i a a i n d a m o r a n o m e s m o

s i t i o , n o t e i . B a n a l i s s i m o s s í t i o s .

/ / Ai, t e m p o , t u d o c o r r o e r á s e d i s ­

s o l v e r á s , r e a l m e n t e ? T a l v e z n ã o . P a s s a , p o r c i m a d e n ó s , v a i s - n o s d e i x a n d o p a r a t r a z , p a r a t r a z , e a b r i n d o e s p a ç o s n o v o s .

F e c h a r p o r t a s ! E u s a b e r e i fe ­c h a r p o r t a s ? C r e i o q u e n ã o . A q u e ­le m o v i m e n t o b r e v e d e ir p a r a a f r e n t e , d c a r r e d a r , o u d e m u d a r , d c p r o c u r a r , a t é . n â o m e é p r ó ­p r i o . A a l t e r a ç ã o v o l u n t á r i a , a v o l u b i l i d a d e e s t u d a d a , e x p l o r a d a , t a m b é m n ã o .

M a s c u n ã o p o B s o d i z e r , e m t o ­d o o c a s o , q u e s o u c o n t r a a v o l u ­b i l i d a d e , q u o a d e s d e n h o o u q u e a c o m b a t o . A m o n o t o n i a p e s a d o d o m i n h a v i d a , s e m « r o ç a s , s e m a l í ­v i o s a m á v e i s , s e m o c i d e n t e s r e n o ­v a d o r e s n ã o m c i n s t i g a a t e n d ê n ­c i a à v o l u b i l i d a d e , é o q u e 6 .

/ / C o m o hc l -do d i z e r o q u e é, e

n ã o s e i s e é, s o m r e g u l a m e n t o n e m o r d e n a ç ã o p o s s í v e l ?

Q u e l x a r - m c d e u m m u i q u e s e m c I n s i n u a n o e s p í r i t o c o m o a s u a p r ó p r i a e f a t a l m e c â n i c a ?

P a s s o u J á a h o r a d a v i o l ê n c i a . . . C o m o e u s o u i n t i m a m e n t e v i o l e n ­t a o in fe l i z ! E t a m b é m j á p a s s a ­r a m , c r e i o , a s h o r a s h i g i é n i c a s . . . a s d o s p e n s a m e n t o s a c o m o d a n t e s , d a r e s i g n a ç ã o . H ã o - d e v i r , m a s a i n d a n ã o v i e r a m ( o e s p i r i t o r e ­p o u s a , d i v a g o c d i s t r á i - s e i n v o l u n ­t a r i a m e n t e ) o s d a c r i t i c a . C r i t i c a , c r í t i c a , p r a t i c a m e n t e I n ú t i l !

E " r e p ú d i o , é c o n s o ç o ? E s t e d e ­s e s p e r o , c e s t a t e i m a d e d a r n o ­m e s à s m a i s m i ú d a s e f a m i l i a r e s c o i s a s !

Q u e m d e r a p o d e r v e n c e r , a n i ­q u i l a r a m a l d a d e d a v i d a . E a t a l m e c â n i c a , s u a d e r i v a d a . . . F e ­c h a r p o r t a s , a f i n a l , s i m ! D e i t a r f o r a , s e r I m p a s s í v e l , I n d i f e r e n t e , t a l h a r n o v a s v i d a s , s e m p r e n o v a s v i d a s , v i d a s p e s s o a i s !

A s b e l a s t a r d e s d e s o l i d ã o , p o r ­q u e h á h o r a s b o a s d e s o l i d ã o . . . s ã o d e v e z c m q u a n d o o m e u t r i s ­t o n h o b á l s a m o .

10' o a t ú p l d a a v i d a q u e m e t o r ­n a a b s o l u t a m e n t e u m s e r p a s s i v o , s e m a u t o r i d a d e , s e m v o n t a d e ! U m e s p e c t a d o r c a n s a d o , o n n e r v a d o e d e s i n t e r e s s a d o d o s t o r v e l i n h o s d o s o u t r o s .

/ / R e g é t r i s t e , c s u p o n h o q u e v o ­

lúve l . A l g u m a c o i s a l h e f a l t a p a r a i n s p i r a r I n t e i r a c o n f i a n ç a . P a r e ­c e , m e s m o , q u e d e s d e n h a d e s t a c o n f i a n ç a . E ' m u l t o i n t e l e c t u a l '-. p a r a - q u e r e r c u l t i v a r . O s e u p e n - | s a m e n t o é r e p o u s a d o e d e u m a m a r g o r b e n i g n o , d e s t e s p e n s a ­m e n t o s q u e a c o m p a n h a m c a c a r i ­n h a m c o m a l t i v e z , r e j e i t a n d o T e s -p o s t a s . E ' u m p r o d u t o r a r o n u m m u n d o d c c s p c c t a c u l o s o s , c o m o o n o s s o . E , n o e n t a n t o , c o n t r a s u a v o n t a d e , e u , e t a l v e z o u t r o s , o v a m o s a c o m p a n h a n d o c c s t a l i e l c -c e n d o c o m ê le i r r e d u t í v e i s , i n e v i ­t á v e i s c o m p r o m i s s o s .

/ /

C a t a v e n t o d e S. F r a n c i s c o . N u ­v e n s . E s c u r i d ã o e c l a r i d a d e . T a r ­d e . A m i n h a v i d a v a i p a r a b a i x o . S i n t o q u e v a i !

H á u m a n o J á q u e i s t o s i n t o . . . N i n g u é m f a r i a d e m i m u m r e ­

t r a t o c o m o f e z V o e d a q u e l a m u ­l h e r 10 a n o s m a i s v e l h a d o q u e e u .

A i n t e l e c t u a l p o r t u g u e s a é u m a m u l h e r p o b r e . D e s i n t e r e s s a n t e ­m e n t e p o b r e , i r r e s p c l t á v e l , t í m i ­d a . E e n t ã o q u a n d o p e r d e o f r e s -

Cadecnos da Juuentu.de D e v e a p a r e c e r p o r e s t e s d i a s o

p r i m e i r o v o l u m e d o s « C a d e r n o s d a J u v c n t u d o t , q u e s ã o u m a Ini­c i a t i v a e d i t o r i a l d e s t i n a d a a r e v e ­l a r a a c t i v i d a d e d o s n o v o s n o s t r ê s g é n e r o s p r i n c i p a i s d a p r o d u ç ã o li­t e r á r i a — e n s a i o , n o v e l a , p o e s i a — e a d i v u l g a r , n u m a s e c ç ã o d e i n q u é ­r i t o , d e p o i m e n t o s d a s m a i s c a t e ­g o r i z a d a s f i g u r a s d a c u l t u r a p o r ­t u g u e s a a c t u a l .

E ' o s e g u i n t e o Í n d i c e d o p r i ­m e i r o v o l u m e :

E N S A I O : C o n s i d e r a ç õ e s s o b r e a m i s s ã o d o I n t e l e c t u a l e o p r o ­b l e m a d a c u l t u r a , p o r M a n u e l F i -p c ; N O V E L A : A b i g o r n a , p o r F r e d e r i c o A l v e s ; P O E S I A : P o e ­m a d o m n i n h u c l a r a , p o r A l v a r o B a n d e i r a ; P o e m a d o s a c r i f í c i o s u ­b l i m e , p o r M á r i o D i o n í s i o ; G é n e ­s i s , p a r P o l i b l o G o m e s d o s S a n ­t o s ; I N Q U É R I T O : Q u a i s o s I d e i a s q u e e m B i o l o g i a m a i s I n t e r e s s a m a j u v e n t u d e d e h o j e ? — R e s p o s t a d o P r o f . A b e l S a l a z a r .

O s « C a d e r n o s d a J u v e n t u d e » , q u e t e r ã o e m r e g r a c e r c a d c 6 4 p á g i n a s , s e r ã o p o s t o s & v e n d a , a o p r e ç o d c 5 J 0 0 , o m t ò d a a o s l i v r a ­r i a s d o po i s .

P o d e m t a m b é m r o q u l s i t a r - s e à A d m i n i s t r a ç ã o ( A r c o d o B i s p o , 1, C o i m b r a ) q u e os e n v i a r á à c o ­b r a n ç a , s e m o a c r é s c i m o d o nor­t e .

por SERGIO AUGUSTO VIEIRA

Negar a legitimidade da c r i ­t ica cu obstinar-se em l h e re­cusa r a independência e l i ­berdade é ser-se partidário do obscurantismo. Quieim de­negar a crí t ica lnferioriza-se e reprova o esclarecimento.

A verdadeira cr í t ica não po­de ser amorfa ou a expressão de amorfos seres; ela será sempre o melhor auxi l iar da evolução, porque sendo previ­dente e observadora, expres­são e vida, conduzir-nos-á à aproximação do conhecimen­to verdadeiro do tradicional triptíco de todos os valores últimos—valores éticos, lógi­cos e estéticos, do beim, da verdade e do belo.

Sem cr í t ica n ã o haveria valorização das coisas. E la é a ifilosofia dos valores.

O homem e as sociedades sem a cri t ica n ã o se elevariam ãlóm duma existência vege­tativa, grosseira. precária, desconhecendo a noção do bom e do mau.

As épocas em que é mani ­festa a ausência de cr i t ica podem considerar-se épocas medíocres, de desagregação, de decadência, de vida infaus­t a para a humanidade. Ela é a expressão humana e v i ­vente. De si p romana a ver­dade.

A l i teratura tem na cr i t ica o seu melhor ideal e o mais sólido fundamento. O cri t ico é um escritor de acção e pen­samento. A sua missão não consist irá apenas em a ta lhar palavras sem sentido, que os medíocres, por ausência de senso-critico, uti l i tarismo e egoísmo, .poderão aplaudir; mas, consist irá e m c o l o c a r - i s e ,

com todas as suas faculdades de homem, com a sua razão e a sua sensibilidade, em fren­te da obra para a valorizar e orientar o senso comum.

A supressão d a cr i t ica equi­valeria a coar tar a Uberdade de pensar, e a ausência desta representaria o a fas tamento do meio que, parece, melhor poderá encaminhar a huma­nidade a aproximar-se do co ­nhecimento do justo, do ver­dadeiro e do real .