E2-A Formação de Professores e Gestores

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  • RBPAE v.23, n.2, p. 199-227, mai./ago. 2007 199

    A formao de professores e gestores para os anos iniciais da educao bsica: das

    origens s diretrizes curriculares nacionais

    The preparation of teachers and administrators for early elementary school

    La preparacin de maestros y administradores para los aos iniciales de la escuela bsica

    MAGALI DE CASTRO

    Resumo: A formao universitria de professores para a escola bsica tem sido objeto de crescente discusso at a aprovao das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o curso de Pedagogia, em 2006. Este curso de licenciatura, destina-se formao de professores para a escola bsica com ampliado sentido de docncia, que ultrapassa a sala de aula e inclui a gesto da escola. Pretende uma formao multidisciplinar que, a partir da docncia, desenvolva a gesto escolar colegiada. Este artigo analisa as DCN em relao formao, projeto pedaggico e atividades prticas e de estgio; explora estratgias de implementao das novas diretrizes.

    Palavras-chave: formao de professores; administrao escolar; gesto democrtica da escola; licenciatura em Pedagogia.

    Abstract: In Brazil, elementary-school teacher preparation, at the college level, has been a matter of increasing debate until 2006, when the new National Curriculum Guidelines for this program has been approved. The guidelines refer to a college de-gree in education - a Licentiate for pre-school and elementary-school teachers, based upon an expanded teaching concept that overcomes the classroom to include teacher participation in school management. It is a multidisciplinary program based on teaching and a collegial perspective of school administration. This article analyses the National Curriculum Guidelines for teacher education, in its different curricular components.

    Keywords: teacher preparation; school administration; democratic school manage-ment; Licentiate in Pedagogy

    Resumen: En Brasil, la formacin universitaria de profesores para la escuela bsica ha sido objeto de creciente debate hasta que, en 2006, fueron aprobadas las Directrices Curriculares Nacionales (DCN) para el curso de Pedagoga. Tratase de un curso de licenciatura, destinado a la formacin de maestros con un ampliado sentido de la docencia, que ultrapasa el saln de clase e incluye la participacin en la gestin de la escuela. Requiere una formacin multidisciplinaria, a partir de la docencia y perspec-tiva colegiada de gestin escolar. Este artculo analiza las Directrices Curriculares en relacin a la formacin, el proyecto pedaggico de la escuela y las actividades prcticas de enseanza, y explora estrategias de implementacin de las nuevas directrices.

    Palabras clave: formacin de maestros; administracin escolar; gestin democrtica de la escuela; Licenciatura en Pedagoga.

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    A FORMAO DE GESTORES E PROFESSORES PARA OS ANOS INICIAIS DA ESCOLA BSICA NO INCIO

    DO SCULO XX: AS ORIGENS DO CURSO DE PEDAGOGIA

    No incio do sculo XX, os professores da escola primria eram formados nas Escolas Normais de nvel mdio e os diretores de escola eram recrutados en-tre professores mais experientes ou indicados por polticos partidrios, no sendo necessrio outro curso alm do curso normal de nvel mdio. Entretanto, muitos diretores dessa poca j eram formados em cursos especficos de Administrao Escolar, em nvel ps-mdio, os quais tiveram como uma de suas pioneiras a Escola de Aperfeioamento em Minas Gerais, criada em 22/02/1929, atravs do Decreto n. 8.987/1929. Posteriormente, os administradores escolares passaram a ser formados nos cursos de Pedagogia e em cursos de ps-graduao lato sensu.

    A Escola de Aperfeioamento era de nvel ps-normal e tinha como objetivo aprimorar a formao do professor nos aspectos tcnico e cientfico, preparando o corpo docente das escolas normais e os administradores das escolas primrias. Essa Escola foi um dos pontos altos da reforma efetivada por Francisco Campos e Mrio Casasanta, na medida em que, alm de formar os especialistas para a rea de educao, desenvolvia pesquisas na rea de Psicologia Educacional e Metodologia de Ensino. Segundo Peixoto,

    Seu corpo docente, constitudo de professores europeus (especialmente contratado pelo governo mineiro) e brasileiros, especializados no Teachers College da Universidade de Columbia, nos EEUU, fez da Escola de Aperfeioamento um laboratrio de pesquisas e experimentao na rea de metodologia do ensino e num importante centro de irradiao das idias da Escola Nova no pas. Em funo de seus objetivos foram criadas, junto a ela, as Classes Primrias Anexas e o Laboratrio de Psicologia Educacional, um dos primeiros a serem instalados no Brasil (2003, p. 103).

    A Escola de Aperfeioamento foi responsvel pela introduo, em Minas Gerais e no Brasil, de uma srie de inovaes na rea educacional. Para ilustrar essa afirmao, recorremos a Peixoto que, em Relatrio de Pesquisa realizada no Instituto de Educao de Minas Gerais, relacionou algumas das grandes contribuies de professores dessa Escola:

    Helena Antipoff criou e fez funcionar um dos primeiros laboratrios de Psicologia Educacional de que se tem notcia no pas. Lcia Monteiro Casasanta testou e divulgou, para todo o Brasil, o Mtodo Global para o ensino da Leitura e da Escrita e uma de suas alunas, Anita Fonseca, produziu, durante o curso, o famoso Livro de Lili, manual que alfabetizou toda uma gerao de mineiros. Jeanne Milde imprimiu um novo rumo ao ensino das Artes Plsticas, retirando-lhe o carter de disciplina destinada a preparar as alunas para as prendas domsticas. Iago

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    Pimentel introduziu uma nova abordagem ao ensino da Psicologia, rompendo com a tradio aristotlica, que norteava seu estudo em nossas escolas (PEIXOTO, 2003, p. 111).

    O Curso de Administrao Escolar pode ser considerado como a gnese do Curso de Pedagogia, que tem suas razes na dcada de 1930, quando comearam a surgir propostas de criao de Faculdades de Educao.

    O Decreto-Lei n. 19.851/1931, que estabelecia normas gerais para a orga-nizao das universidades, propunha que o ensino superior, no Brasil, poderia ser ministrado em institutos isolados, mas deveria obedecer, prioritariamente, ao sistema universitrio. Em seu artigo 196, propunha a criao da Faculdade de Educao, Cincias e Letras, que tinha objetivos voltados para a formao de professores:

    A Faculdade de Educao, Cincias e Letras incumbida de ministrar o ensino superior de diversas disciplinas com os objetivos de ampliar a cultura no domnio das cincias puras; promover e facilitar a prtica das investigaes originais; desenvolver e especializar conhecimentos necessrios ao exerccio do magistrio; sistematizar e aperfeioar, enfim, a educao tcnica e cientifica para o desempenho profcuo das diversas atividades nacionais (Decreto 19.851, art. 196).

    Ainda em 1931, foi promulgado o Decreto-Lei n. 19.852, que legislava es-pecificamente sobre a Universidade do Rio de Janeiro, a qual serviu como modelo para o estatuto das Universidades Brasileiras, institudo em 11/04/1931.

    A Universidade de So Paulo, proposta por intelectuais como Fernando de Azevedo, em 1934, previa a Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras e uma Faculdade de Educao, que foi a pioneira no sistema universitrio.

    A Universidade do Distrito Federal, proposta por Ansio Teixeira, em 1935, visando criao de instituies complementares para a experimentao pedaggica, prtica de ensino e difuso cultural, previa uma Escola de Educao, para formar uma cultura pedaggica nacional, promovendo a formao do magistrio primrio e do futuro tcnico em educao e demais especialistas.

    Essas propostas voltadas para a formao do magistrio, envolvendo a criao de instituies superiores que se preocupassem com a formao, desenvolvimento e especializao de professores, representaram um grande avano da legislao vigente e um ambiente propcio criao dos Cursos de Pedagogia, que se deu em 1939, atravs do Decreto-Lei n. 1.190/1939, que organizou a antiga Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, criada pela Lei n. 452/1937. Esse curso sur-giu como conseqncia da preocupao com a formao de docentes para o curso Normal e foi uma das principais sees da Faculdade Nacional de Filosofia.

    Oferecido no esquema 3 + 1, o Curso de Pedagogia conferia o diploma de bacharelado e licenciatura, formando o tcnico em educao e o professor da Escola Normal. O bacharel em Pedagogia ou Tcnico em Educao era formado em trs

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    anos e podia atuar em reas no-docentes de Administrao Escolar. O diploma de licenciado, que permitia a atuao como professor da Escola Normal, era obtido atravs de uma complementao de um ano, de Didtica. Essa separao entre ba-charelado e licenciatura implicava em uma diviso entre contedo e mtodo, teoria e prtica, em um currculo que inclua os seguintes estudos: Administrao Escolar, Complementos de Matemtica, Educao Comparada, Estatstica Educacional, Filosofia da Educao, Psicologia Educacional, Fundamentos Biolgicos da Educao, Sociologia, Fundamentos Sociolgicos da Educao, Histria da Educao, Histria da Filosofia, Didtica Geral e Didtica de Ensino.

    Nos anos 1940, foram criadas as Leis Orgnicas do Ensino Primrio (Decreto-Lei n. 8.529/1946) e do Ensino Normal (Decreto-Lei n. 8.530/1946). Nessas, observava-se indcios de atuao do pedagogo. A primeira o considerava como um tcnico em educao, um diretor de estabelecimentos de ensino e um docente. Atuando como tcnico, o pedagogo aproximava-se de um perfil profissio-nal no-docente, ou seja, aquele que exercia atividades administrativas vinculadas educao, segundo nos aponta Souza (2005).

    O cargo de diretor da escola estava previsto no artigo 36 da Lei Orgnica do Ensino Primrio, que apontava para o concurso de diretores, onde eram priorizados os egressos do curso de Administrao Escolar, oferecido em nvel ps-mdio. Esse Decreto no fazia referncia ao Curso de Pedagogia para a formao de diretores:

    Art. 36. Os diretores de escolas pblicas primrias sero sempre escolhidos mediante concurso de provas entre professores diplomados, com exerccio anterior de trs anos, e, de preferncia, entre os que hajam recebido curso de administrao escolar.

    A Lei Orgnica previu, tambm, o docente que trabalharia com a capacitao de professores nas regies perifricas ou rurais, conforme artigo 50. Esse profissional formaria e orientaria professores leigos em seus campos de atuao, beneficiando as escolas isoladas e capacitaria professores nas campanhas de jovens e adultos:

    Art. 50. Os Estados e os Territrios podero organizar, com o fim de preparar docentes de emergncia, classes de alfabetizao em zonas de populao muito disseminada, e com o fim de divulgar noes de higiene e de organizao de trabalho, misses pedaggicas itinerantes, bem como campanhas de educao de adolescentes e adultos.

    A Lei Orgnica do Ensino Normal preocupava-se com uma formao de qualidade para os docentes do ensino primrio, em especial os das reas rurais, pois mais de cinqenta por cento dos professores no possuam formao adequada. Entretanto, no considerava as funes do profissional da educao, bem como no especificava o curso superior que poderia formar os docentes do curso normal (SOUZA, 2005, p. 54).

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    Embora no se referisse explicitamente Pedagogia, a Lei Orgnica do Ensino Normal apontava para diversas atuaes do pedagogo, tais como a adminis-trao escolar e a docncia no curso normal e em contedos especializados.

    A Lei Orgnica do Ensino Agrcola, Decreto-Lei n. 9613/1946, apesar de no se referir expressamente ao Curso de Pedagogia, apresentava dispositivos relativos Orientao Educacional e Profissional e formao de professores e orientadores de ensino, apontando para a conveniente formao desses profissionais.

    No que diz respeito Orientao Educacional e Profissional, o Decreto-Lei n. 9.613/46 determina, em seus artigos 45, 46 e 47:

    Art. 45. Far-se-, nos estabelecimentos de ensino agrcola, a orientao educacional e profissional.

    Art. 46. funo da orientao educacional e profissional, mediante as necessrias observaes, velar no sentido de que cada aluno execute satisfatoriamente os trabalhos escolares e em tudo o mais, tanto no que interessa sua sade quanto no que respeita aos seus assuntos e problemas intelectuais e morais, na vida escolar e fora dela, se conduza de maneira segura e conveniente, e bem assim se encaminhe com acerto na escolha ou nas preferncias de sua profisso.

    Art. 47. A orientao educacional e profissional estar continuamente articulada com os professores e, sempre que possvel, com a famlia dos alunos.

    O CURSO DE PEDAGOGIA E A FORMAO DE GESTORES E PROFESSORES PARA OS ANOS INICIAIS DA ESCOLA BSICA NA PRIMEIRA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAO

    NACIONAL: DOS ANOS SESSENTA AOS ANOS OITENTA

    Em 20 de dezembro de 1961, a Lei n. 4.024/1961 L.D.B.E.N. foi pro-mulgada, com o objetivo de padronizar a educao brasileira. Essa lei atribua ao Curso Normal de nvel mdio a tarefa de formar os professores para o magistrio primrio, no se referindo ao Curso de Pedagogia (art. 52):

    Art. 52 O ensino normal tem por fim a formao de professores, orientadores, supervisores e administradores escolares destinados ao ensino primrio, e o desenvolvimento dos conhecimentos tcnicos relativos educao da infncia.

    Tambm a formao de Orientadores Educacionais e a de Inspetores Escolares no era tarefa do Curso de Pedagogia, conforme evidenciam os art. 63 a 65:

    Art. 63 Nas Faculdades de Filosofia ser criado, para a formao de orientadores de educao do ensino mdio, curso especial a que tero acesso os licenciados em

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    Pedagogia, Filosofia, Psicologia ou Cincias Sociais, bem como os diplomados em Educao Fsica e os inspetores de ensino, todos com estgio mnimo de trs anos no magistrio.

    Art. 64 Os orientadores de educao do ensino primrio sero formados nos Institutos de Educao, em curso especial e que tero acesso os diplomados em escolas normais de grau colegial e em institutos de educao, com estgio mnimo de trs anos no magistrio primrio.

    Art. 65 O inspetor de ensino, escolhido por concurso pblico de ttulos e provas (vetado)... deve possuir conhecimentos tcnicos e pedaggicos demonstrados, de preferncia no exerccio de funes de magistrio de auxiliar de administrao escolar ou na direo de estabelecimento de ensino.

    A partir dessas determinaes da Lei n. 4.024/1961, foram elaborados, em 1962, os Pareceres CFE n. 374/1962 e CFE n. 251/1962. O primeiro tratou da orientao educativa, ou seja, estabelecia o currculo mnimo e a durao para o curso especial de orientao educativa, em nvel de ps-graduao, com durao de um ano, e o segundo, cujo autor foi o conselheiro Valnir Chagas, estabeleceu a primeira regulamentao especfica para o Curso de Pedagogia, fixando currculo mnimo e durao desse curso.

    Segundo Martelli e Manchope (s/d), nesse perodo questionou-se a existn-cia do Curso de Pedagogia no Brasil. Na medida em que os professores da escola primria eram formados pelos cursos Normais de nvel mdio e os tcnicos em educao, em estudos posteriores ao da graduao, o Curso de Pedagogia perdia sua razo de ser.

    O Parecer CFE n. 251/1962, indicava o tcnico em educao como profissional a ser formado atravs do bacharelado, como um profissional capacitado para a realizao das tarefas no-docentes da atividade educacional sem fazer meno a quais seriam essas (MARTELLI e MANCHOPE, s/d). Propunha uma durao de 4 anos, com formao do pedagogo generalista, sem separao entre bacharelado e licenciatura.

    Esse Parecer, ao mesmo tempo em que afirmava que o Curso de Pedagogia no seria para preparar professores para o ensino primrio, se referia a perspectivas para a futura formao desses professores em nvel superior:

    No h dvida, assim, de que o sistema ora em vigor ainda representa o mximo a que nos lcito aspirar nas atuais circunstncias: formao do mestre primrio em cursos de grau mdio e, conseqentemente, formao superior, ao nvel de graduao, dos professores desses cursos e dos profissionais destinados s funes no-docentes do setor educacional.

    O Curso de Pedagogia (...) enseja a preparao de um bacharel realmente ajustvel a todas as tarefas no-docentes da atividade educacional, (...) no apenas torna mais autntico o professor destinado aos cursos normais como abre perspectivas

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    para a futura formao do mestre primrio em nvel superior (...) (Parecer CFE n 251/62, p. 61-64).

    Para Neto (1999), esse Parecer era uma lei transitria, tendenciando para a formao de tcnicos e/ou professores, no consistente, que seria estabelecida con-forme o mercado, de acordo com as polticas educacionais de cada Estado.

    Em 1968, ocorreu a Reforma Universitria, atravs da Lei n. 5.540, de 28/11/1968, cujos objetivos foram os de fixar normas de organizao e funcionamento de ensino superior e sua articulao com a escola mdia. Cinco meses aps essa reforma, foi aprovado o Parecer n. 252/1969, de 11/04/1969, tambm de autoria de Valnir Chagas, que direcionou a formao do pedagogo para a Licenciatura, eliminando o bacharelado e conferindo-lhe o diploma nico de licenciado. De acordo com esse Parecer, o Curso de Pedagogia formava professores para ensino de 1 grau e ensino normal e os espe-cialistas nas reas de orientao, administrao, superviso e inspeo para o exerccio das funes em escolas e em sistemas escolares. A Resoluo n. 2/1969, anexa a esse Parecer, aprovada em 12/05/1969, explicitou essa formao em seu art. 1:

    Art. 1. A formao de professores para o ensino normal e de especialistas para as atividades de orientao, administrao, superviso e inspeo, no mbito de escolas e sistemas escolares, ser feita no curso de graduao em Pedagogia, de que resultar o grau de licenciado com modalidades diversas de habilitao.

    Essa Resoluo define seis habilitaes de licenciatura plena e trs de licencia-tura curta1 e, em seu artigo 7, determina, como uma das capacidades do pedagogo, a atuao como professor do ensino de primeiro grau:

    Pargrafo nico: a capacitao profissional resultante do diploma de Pedagogia incluir: (...)c) O exerccio de magistrio na escola de 1 grau, na hiptese do nmero 5 (cinco) do artigo 3 e sempre que haja sido estudada a respectiva metodologia e prtica de ensino. (Resoluo CFE n. 2/1969, art. 7, pargrafo nico, alnea C)

    Segundo Martelli e Manchope, o Parecer CFE n. 252/69 (...) parecia dirimir a impreciso da identidade do pedagogo, na medida em que direcionava a sua atuao e lhe conferia o diploma nico de licenciado... (Martelli e Manchope, s/d).

    1 Licenciatura plena (2200 horas cada habilitao): Magistrio das disciplinas especializadas do Curso Normal de nvel mdio; Educao de Excepcionais Deficientes da Audio-comunicao; Orientao Educacional; Administrao Escolar; Superviso Escolar e Inspeo Escolar para atuar no 1 e 2 graus. Licenciatura curta (1200 horas cada habilita-o): Administrao Escolar; Superviso Escolar e Inspeo Escolar, para atuao apenas no ensino de 1 grau.

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    A habilitao de Educao de excepcionais deficientes da audio-comunica-o, proposta pelo Parecer n. 252/1969, levou o CFE a aprovar um novo Parecer, de autoria de Clvis Salgado, o Parecer n. 295/1969, que props a designao de uma Comisso Especial para fixar os mnimos a serem exigidos na formao de profes-sores especialistas destinados Educao de Excepcionais, em habilitao especfica do curso de graduao em Pedagogia. De acordo com esse Parecer:

    (...) o ensino de excepcionais se tem limitado, como especialidade, ao nvel primrio, nos estabelecimentos federais. Por isso, os professores so, geralmente, normalistas especializados na prtica, ou em cursos promovidos pelos prprios estabelecimentos. claro que devemos evoluir, preparando a professora primria em nvel superior, no mbito das Faculdades de Educao. Enquanto no for isso possvel, de um modo geral, bom que faamos experincia em reas limitadas. Comecemos com o professor primrio de excepcionais. A prpria deficincia dos alunos dificultando a tarefa est a indicar a necessidade de professores altamente preparados, menos para emprego de tcnicas especiais de que para as tarefas de orientao, superviso e pesquisas no campo especfico.

    Essa habilitao s foi regulamentada em 1972, pelo Parecer CFE n. 7/1972, de 10/01/1972 e Resoluo n. 7/1972, de 03/08/1972. Apesar de ser regulamentada, a habilitao no teve grande expanso, limitando-se a poucos cursos de Pedagogia.2

    Nos anos 1970, foi promulgada a Lei n. 5692, de 11/08/1971, que fixou diretrizes e bases para o ensino de 1 e 2 graus. Embora no incidisse diretamente sobre o ensino superior, trouxe conseqncias para os cursos de Pedagogia, na medida em que, em seu artigo 30, ao definir as exigncias de formao do corpo docente, apontava o curso de licenciatura plena em nvel superior como formador de profes-sores para atuarem em todo o ensino de 1 e 2 graus, considerando que quem pode o mais pode o menos e desconhecendo, de certa forma, as especificidades dos anos iniciais da escolarizao. Nesse perodo, os nveis salariais eram relacionados aos nveis de formao, independente do grau de ensino, em que o professor atuasse:

    Art. 29. A formao de professores e especialistas para o ensino de 1 e 2 graus ser feita em nveis que se elevem progressivamente, ajustando-se s diferenas de cada regio do Pas, e com orientao que atenda aos objetivos especficos de cada grau, s caractersticas das disciplinas, reas de estudo ou atividades e s fases de desenvolvimento dos educandos.Art. 30. Exigir-se- como formao mnima para o exerccio do magistrio:a. no ensino de 1 grau, da 1 4 sries, habilitao especfica de 2 grau;

    2 Nos anos 1970, a PUC de So Paulo ofereceu esta habilitao, a qual obteve parecer favo-rvel ao reconhecimento, por Comisso Verificadora indicada pela Portaria CFE n. 260/79, de 29/10/1979. No temos notcias sobre sua continuidade nessa IES ou sobre sua oferta por outras IES.

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    b. no ensino de 1 grau, da 1 8 sries, habilitao especfica de grau superior, ao nvel de graduao, representada por licenciatura de 1 grau obtida em curso de curta durao; c. em todo o ensino de 1 e 2 graus, habilitao especfica em curso superior de graduao correspondente a licenciatura plena.Art. 36. Em cada sistema de ensino, haver um estatuto que estruture a carreira de magistrio de 1 e 2 graus, com acessos graduais e sucessivos, regulamentando as disposies especficas da presente Lei e complementando-as no quadro de organizao prpria do sistema.

    A Lei n. 5692/71, em seu artigo 33, determinava que a formao de admi-nistradores, planejadores, inspetores, supervisores e demais especialistas de educa-o seria feita em curso superior de graduao, com durao plena ou curta, ou de ps-graduao.

    Os anos 1980 foram marcados pela reflexo crtica do modelo educacional da poca, apontando para a necessidade de se redefinir as polticas de formao dos profissionais da educao. Assim, a nfase at ento dada formao do especialista diminuiu em prol da formao de um profissional mais generalista.

    No perodo de 1980 a 1983, estudos e discusses que visavam subsidiar o CFE na reformulao dos cursos de formao de recursos humanos para a educao foram reativados pelo MEC, atravs da Secretaria de Ensino Superior SESu. Na primeira etapa desse trabalho, que ocorreu entre os anos de 1980 e 1981, foram realizados contatos e reunies com profissionais da Educao de diversas regies do pas. A partir da, foram realizados Seminrios Regionais em sete universidades, para discutir, em nvel nacional, a formao do educador brasileiro. Tinha como objetivo o estabelecimento de uma poltica de ao, com vistas conexo entre Pedagogia e as outras licenciaturas, organizao de idias-chave para a formao dos alunos de Pedagogia e anlise de propostas relativas reformulao desse curso.

    Na segunda parte do trabalho, que ocorreu entre os anos de 1982 e 1983, a publicao sobre os Seminrios Regionais foi encaminhada a todas as instituies de ensino superior que mantinham o curso de Pedagogia, assim como s Delegacias do MEC, Secretarias de Educao dos Estados e aos Pr-Reitores de Graduao das Universidades. Nessa mesma etapa, foram organizados encontros estaduais, que foram preparatrios para o Encontro Nacional, realizado em novembro de 1983, em Belo Horizonte, Minas Gerais.

    Esse encontro teve como resultado o Documento Final do Encontro Nacional Projeto: Reformulao dos Cursos de Preparao de Recursos Humanos para a Educao, no qual no foram mencionados, especificamente, os especialistas, havendo apenas a denominao genrica de profissionais da educao.

    Durante o Encontro Nacional, os educadores formaram a Comisso Nacio-nal de Reformulao dos Cursos de Formao dos Educadores CONARCFE, que passou a se reunir freqentemente e a constituir fonte importante de gerao de co-

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    nhecimento sobre a formao do educador. Em 1990, essa comisso transformou-se em ANFOPE Associao Nacional pela Formao do Profissional da Educao, que passou a reunir-se a cada dois anos e a estabelecer, a partir de seus encontros, princpios para a estruturao e/ou re-estruturao dos cursos de formao dos profissionais da educao. Tais princpios apontavam para o compromisso do Curso de Pedagogia com a construo de uma escola pblica de qualidade e com o atendimento s novas exigncias colocadas pelas demandas sociais e pelos avanos cientficos e tecnol-gicos; com a formao docente garantida por um caminho de aperfeioamento e especializao continuadas, pela formao do pedagogo que ultrapasse a concepo fragmentada de escola, de sociedade e do trabalho pedaggico inerente formao nas habilitaes do especialista em educao e uma formao terica, concreta, que assegure novos meios de abordagem da relao teoria-prtica, do trabalho coletivo e interdisciplinar e da gesto da escola.3

    Em 1986, foi aprovado o Parecer MEC/SESu n. 161/1986,4 de autoria da Conselheira Eurides Brito da Silva, o qual afirmava a necessidade de redefinio do curso de Pedagogia, acreditando que nele se apoiariam os primeiros ensaios de formao superior do professor primrio.

    Citando Valnir Chagas (relator do Parecer n. 1.304/73), a autora afirma que o professor estar habilitado especificamente para lecionar nas sries iniciais do 1 grau, quando a sua formao inclua a problemtica muito especial de tal faixa de escolarizao (...) (CHAGAS, apud MEC/SESu, Parecer n. 161/86)

    O Parecer n. 161/86 defendeu o incentivo s experincias pedaggicas, afirmando que as instituies interessadas poderiam elaborar projetos de currculos experimentais de Pedagogia, levando em considerao a formao de professores e especialistas. Segundo a relatora, as experincias pedaggicas deveriam ser autorizadas pela SESu/MEC e acompanhadas pelo CFE.

    O CURSO DE PEDAGOGIA E A FORMAO DE GESTORES E PROFESSORES PARA OS ANOS INICIAIS DA ESCOLA BSICA

    NA DCADA DE NOVENTA

    A dcada de 1990 foi declarada como a Dcada da Educao. De acordo com o MEC, em 1994, no Brasil, haviam 851 Instituies de Ensino Superior IES, sendo 127 universidades, 87 Federaes de Escola e Faculdades Integradas e 637 estabelecimentos de ensino superior isolados. Desse total, 452 instituies ofereciam cursos de graduao em Pedagogia. A maior concentrao de cursos de Pedagogia estava na Regio Sudeste e a menor na Regio Norte. Ainda, segundo o MEC, nesse ano, a rede pblica concentrou 70% da Ps-Graduao, e a rede privada 75% da

    3 Descrio do Curso de Pedagogia. Site do MEC: http://www.mec.gov.br, 1999.4 Parecer MEC/SESu n. 161/86, de 05/03/1986: Reformulao do Curso de Pedagogia.

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    graduao do pas. A rea de Pedagogia contava com um nmero expressivo de doutores e esses se concentravam no Sudeste.5

    Essa dcada foi marcada pela promulgao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional Lei n. 9.394/1996, de 20 de dezembro de 1996,6 a qual fez uma reviravolta na formao de professores para os anos iniciais da educao bsica, definindo como prioritria a formao, em nvel superior, de todos os professores, conforme determinao de seu artigo 62.

    A formao de docentes para atuar na educao bsica far-se- em nvel superior, em curso de licenciatura de graduao plena, em universidades e institutos superiores de educao, admitida, como formao mnima para o exerccio do magistrio na educao infantil e nas quatro primeiras sries do ensino fundamental, a oferecida em nvel mdio, na modalidade normal (LDBEN, Lei n. 9394/96, art. 62).

    O artigo 64 dessa Lei aponta o Curso de Pedagogia como instncia de for-mao dos profissionais de educao para as tarefas no-docentes:

    A formao de profissionais de educao para administrao, planejamento, inspeo, superviso e orientao educacional para a educao bsica, ser feita em cursos de graduao em Pedagogia ou em nvel de Ps-graduao, a critrio da Instituio de Ensino, garantida, nesta formao, a base comum nacional (LDBEN, Lei n. 9394/96, art. 64).

    No que concerne formao de gestores e especialistas em educao, uma das questes discutidas nessa dcada dizia respeito inadequao dos cursos ao mercado de trabalho para o pedagogo. Enquanto o curso de Pedagogia continuava oferecendo as habilitaes tradicionais: Superviso Pedaggica, Administrao Escolar, Orientao Educacional e Magistrio, o mercado de trabalho do pedagogo j se configurava de forma diferente, situao que ainda perdura. O cargo de diretor vem sendo exercido por professores ou especialistas da escola, atravs de eleies diretas e o Supervisor Escolar divide o seu espao com o coordenador de rea que, na maioria das vezes, um professor licenciado, que no possui formao especfica em Pedagogia. Tambm a nfase nos Projetos Polticos Pedaggicos coletivos altera a gesto e a atividade dos profissionais da escola, que passam a atuar de forma inter-relacionada, sem a diviso rgida do trabalho.

    No que diz respeito formao docente, a nova perspectiva de formao de todos os professores em nvel superior altera o estatuto do curso normal de nvel mdio, que era at ento a instncia de formao dos professores para o incio da

    5 Descrio do Curso de Pedagogia site do MEC 1999.6 Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996: estabelece as Diretrizes e Bases da Educao Nacional (publicada no Dirio Oficial da Unio, de 23/12/1996).

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    escolarizao e passa a ser apenas admitido como formao mnima, perdendo um pouco mais de sua importncia, enquanto curso de formao de professores.

    Para a formao dos professores da escola bsica, em nvel superior, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional criou, em seu artigo 63, os Institutos Superiores de Educao, que deveriam manter cursos formadores de profissionais para a educao bsica, inclusive o Curso Normal Superior. Esses Institutos foram regulamentados pela Resoluo n. 01/99, de 30/09/99, cujo artigo 1 estabelece que os ISEs visam formao inicial, continuada e complementar para o magistrio da educao bsica. No artigo 6 da mesma resoluo, so regulamentados os cursos Normais Superiores.

    A desejabilidade da formao de todos os professores em nvel superior reforada pelo pargrafo 4 do artigo 87, das disposies transitrias da LDB, segundo o qual at o fim da Dcada da Educao somente sero admitidos profes-sores habilitados em nvel superior ou formados por treinamento em servio (Lei 9394/96, art. 87, 4).

    Se, por um lado, essa determinao legal se mostrava inadequada a um pas com as dimenses do Brasil, com a tremenda desigualdade entre as regies e cidades, por outro lado, devemos admitir que a elevao do nvel exigido para a formao acabou funcionando como um horizonte desejvel, que serviu de norte para todos os professores da escola bsica, nem sempre porque as pessoas realmente desejassem o nvel superior, mas pelo entendimento inadequado do pargrafo 4 do artigo 87: a expresso somente sero admitidos professores habilitados em nvel superior foi entendida como sero demitidos aqueles que no o tiverem.

    A partir da LDB, a maioria dos professores de Educao Infantil e Ensino Fundamental estabeleceu como projeto de vida a formao em nvel superior, dei-xando de procurar os cursos normais de nvel mdio porque, supostamente, eles no valeriam mais a partir de 2006. Pressionados pelas escolas e pelos sistemas de ensino, os professores em exerccio buscaram complementar sua formao nas instituies que foram se criando e em cursos rpidos, nem sempre de boa qualidade. Para atender a essa grande demanda, o Ministrio da Educao e o Conselho Nacional de Educao autorizaram centenas de Cursos Normais Superiores e cursos rpidos distncia, em sua maioria oferecidos por Instituies Particulares de Ensino Superior, que se disseminaram em vrias regies do pas. O nmero de cursos normais superiores cresceu assustadoramente, a partir da promulgao da LDB. Segundo dados de pes-quisa de CAMPOS,7 constante em documento da ANFOPE, enviado ao CNE em 10/09/2004, em 2001, havia aproximadamente 500 cursos de Pedagogia e Normal Superior e, em 2004, esse nmero foi ampliado para 1.372 cursos de Pedagogia e 716 cursos Normais Superiores (ANFOPE, 2004, p. 1). At mesmo os sistemas es-

    7 Dados de pesquisa de Roselane Campos, UDESC, apresentados no XII Encontro Nacional da ANFOPE, em 2004.

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    taduais de ensino criaram cursos semi-presenciais para formao, em nvel superior, de professores em exerccio nas redes pblicas estaduais e municipais, tais como o Projeto Veredas em Minas Gerais e o Magister, no Cear.

    Apesar dessa corrida para os cursos superiores, em detrimento do curso normal de nvel mdio, a existncia desse curso era atestada pelo prprio Conselho Nacional de Educao que, em 19 de abril de 1999, atravs da Resoluo n. 02/99, instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formao de docentes da educao infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, em nvel mdio, na modalidade normal. Segundo essas diretrizes, a durao desse curso de 3.200 horas, distribudas em quatro anos letivos, podendo ser cumprida a carga horria em trs anos, com jornada diria integral.

    Por falta de clientela, apesar de existirem oficialmente, os cursos normais de todo o pas foram, gradativamente, fechando suas portas, restando alguns poucos. Essa falncia dos cursos normais de nvel mdio foi acompanhada pela expanso rpida dos Cursos Normais Superiores.

    Esses fatos trouxeram grande polmica em relao ao Curso de Pedagogia que, desde suas origens, vinha formando professores para a Escola Normal e, a partir de 1969, por fora da Resoluo n. 02/69, que criou o Currculo Mnimo de Pedagogia, passou a formar, tambm, os professores para o Ensino de 1 grau. O ponto crucial dos debates estava na coexistncia entre Institutos Superiores de Educao e Cursos de Pedagogia e, principalmente, no fato dos primeiros serem considerados como instncias preferenciais de formao de professores.

    Diante desses fatos, a ANFOPE apontou para a criao de uma outra con-cepo de pedagogo, que superasse a formao do mesmo para o magistrio e para a especializao, proposta no Parecer n. 252/1969.

    Um pedagogo cuja formao bsica na docncia das sries iniciais do ensino fun-damental seja abordada em uma dimenso mais ampla e articulada a um conjunto terico e prtica de conhecimentos que contribuem para a compreenso, a anlise e a crtica do todo que constitui o administrativo e o pedaggico da prtica escolar (ANFOPE, 1998).

    De acordo com essa abordagem, seria garantida uma slida formao te-rica, que preparasse o professor para o exerccio da docncia nas sries iniciais do ensino fundamental e para as funes pedaggicas e administrativas na escola, sendo complementada e ampliada posteriormente para a atuao em outros espaos institu-cionais de educao escolar e no-escolar. Nessa perspectiva, a ANFOPE propunha a formao de um profissional que, alm de atuar na docncia, fosse capaz de:

    estudar, refletir e pesquisar temas e problemas da educao; articular, organizar e desenvolver atividades pedaggicas dentro da escola e em outros espaos de educao no-formal; coordenar a formao continuada de profissionais da

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    educao; planejar a educao distncia, pesquisar novas tecnologias e sua aplicao nos diferentes campos de atuao profissional (ANFOPE, 1998).

    Essa foi a tnica das Diretrizes Curriculares de Pedagogia, aprovadas em 15 de maio de 2006,8 que definem como atribuio bsica do curso a formao de professores, ampliando o conceito de docncia, que extrapola a sala de aula e envolve a participao na gesto e em todas as atividades escolares

    DO FINAL DA DCADA DE NOVENTA AO INCIO DO SCULO XXI: A LUTA PELAS DIRETRIZES CURRICULARES

    A primeira verso das Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia, divulgada pela Comisso de Especialistas de Ensino de Pedagogia,9 em 6 de maio de 1999, cujos princpios gerais vm sendo reafirmados em documentos posteriores, apresenta, claramente, como formao bsica do pedagogo, as opes de Magistrio na Educao Infantil e nas sries iniciais do Ensino Fundamental. Em funo dos acirrados debates em torno da formao de professores para a escola bsica no Curso de Pedagogia, paralelamente sua formao nos Cursos Normais Superiores, previstos na LDB, a proposta da Comisso de Especialistas no foi oficializada pelo Conselho Nacional de Educao, continuando o curso sem suas Diretrizes aprovadas at o ano de 2006.

    Preocupadas com a poltica de formao dos educadores, a ANPED, ANFOPE, ANPAE, FORUNDIR, CEDES10 e Frum Nacional em Defesa da Formao de Professores realizaram inmeras reunies, encontros e documentos, que foram enviados ao CNE, com o objetivo de interferir na poltica de formao dos educadores.

    Em 1999, foi elaborado o Documento Norteador para Elaborao das Diretrizes Curriculares para os Cursos de Formao de Professores. Nesse, a ANFOPE e a Comisso de Especialistas de Pedagogia, indicavam claramente a necessidade de se tratar simul-

    8 Resoluo CNE/CP n. 1, de 15/05/2006: institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduao em Pedagogia, licenciatura.9 As comisses de especialistas de ensino foram criadas atravs da Portaria n. 972/97, em decorrncia do Decreto n. 2.306/97, com o objetivo de assessorar a Secretaria de Educao Superior do Ministrio da Educao e do Desporto, no que diz respeito organizao e verificao dos respectivos cursos. 10 ANPEd: Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao; ANFOPE: Associao pela Formao dos Profissionais da Educao; ANPAE: Associao Nacional de Poltica e Administrao da Educao; FORUMDIR: Frum de Diretores das Faculdades/Centros de Educao das Universidades Pblicas do Pas; CEDES: Centro de Estudos Educao e Sociedade.

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    taneamente e de forma integrada, a formao de todos os profissionais da educao, licenciados e pedagogos.

    Em novembro desse mesmo ano, no I Encontro Nacional dos Fruns de Licenciaturas, ANFOPE e FORUMDIR foram contrrios proposta da Conselheira Eunice Durhan, que pretendia eliminar a possibilidade de formao de docentes para as sries iniciais e Educao Infantil dos Cursos de Pedagogia.

    A defesa dessa formao continuou mobilizando entidades, associaes e profissionais da rea, que se uniram na luta contra o Decreto n. 3.276/1999,11 que estabelecia a exclusividade dos Cursos Normais Superiores para a formao dos professores para esses nveis de ensino.

    Oito meses aps a promulgao desse Decreto, diante das presses das associaes cientficas e da comunidade acadmica em geral, em agosto de 2000 foi promulgado o Decreto n. 3.554/2000,12 que substitua a expresso exclusiva por preferencial, facultando aos cursos de Pedagogia a formao de professores para os anos iniciais da educao bsica, apesar dos Cursos Normais Superiores serem considerados instncias preferenciais dessa formao.

    Ao mesmo tempo em que se encontravam paralisadas as Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia, encaminhadas ao CNE em 1999, foram definidas as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Formao de Professores da escola bsica, em maio de 2001, pelo Parecer CNE n. 09/2001, evidenciando uma ntida separao entre a formao de professores e a formao dos outros profissionais da educao. Essas diretrizes apresentam parmetros que ampliam o processo de formao do professor, no sentido de prepar-lo para lidar com as diversidades polticas e sociais, inerentes ao processo pedaggico, e tm como ponto central o desenvolvimento de competncias e habilidades.

    Em 07 de novembro de 2001, ANPED, ANFOPE, ANPAE, FORUNDIR, CEDES e Frum Nacional em Defesa da Formao de Professores, durante uma reunio de consulta com o setor acadmico, no mbito do Programa Especial, Mobilizao Nacional por uma nova Educao Bsica, se posicionaram sobre a importncia de se definir uma poltica nacional global de formao dos profissionais da educao e sobre a valorizao do magistrio. Assim, apresentaram o documento Posicionamento Conjunto das Entidades que serviu de base para a Proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduao em Pedagogia, encaminhada ao CNE em abril de 2002, pelas Comisses de Especialistas de Ensino de Pedagogia e de Formao de Professores. Essa proposta foi formulada a partir de amplo processo de construo

    11 Decreto n. 3276/99, de 6/12/1999: dispe sobre a formao em nvel superior, de pro-fessores para atuar na educao bsica e d outras providncias.12 Decreto n. 3.554, de 7/8/2000: altera a redao do Decreto n. 3.276 e d outras provi-dncias.

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    democraticamente conduzido em nvel nacional, retomando teses subjacentes aos documentos elaborados em 2001.

    Reitera-se que a formao dos profissionais da educao no Curso de Pedagogia, constitui reconhecidamente um dos principais requisitos para o desenvolvimento da educao bsica no pas e apresenta-se, mais uma vez, ao Conselho Nacional de Educao/CNE, a proposta de Diretrizes Curriculares para este curso, formulada pela Comisso de Especialistas de Pedagogia em um processo de participao democrtica (Posicionamento conjunto das entidades ANPED, ANFOPE, ANPAE, FORUMDIR, CEDES e Frum Nacional em Defesa da Formao do Professor, p. 2).

    O silncio do CNE em relao s Diretrizes Curriculares de Pedagogia de-sagradou profundamente aos profissionais da rea e s associaes cientficas, que continuaram mobilizadas em prol desse Curso. Enquanto isso, continuava a corrida de professores em exerccio para as Instituies de Ensino Superior, especialmente os Cursos Normais Superiores, em busca da formao apontada no artigo 62 da LDB.

    Em fevereiro de 2003, o Conselho Nacional de Educao, a pedido de uma instituio de ensino superior de Poos de Caldas, Minas Gerais, emitiu parecer sobre o nvel de formao de professores das sries iniciais do ensino fundamen-tal.13 Respaldado nos artigos 64 e 87 da LDB, esse parecer apontava a formao em nvel superior como desejvel, defendendo, entretanto, o direito lquido e certo dos portadores de diploma de normal de nvel mdio exercerem a profisso at o fim de suas vidas, mesmo que a legislao viesse a ser alterada.

    Os portadores de diploma de nvel mdio, bem como os que vierem a obt-lo, sob a gide da Lei n. 9.394/96, tm direito assegurado (e at o fim de suas vidas) ao exerccio profissional do Magistrio nas turmas de Educao Infantil ou nas sries iniciais do Ensino Fundamental, conforme sua habilitao (Parecer n. 1/2003).

    Ao reconhecer o curso normal de nvel mdio como aceitvel para a forma-o de professores da educao infantil e das sries iniciais do ensino fundamental, esse Parecer dava outro carter corrida dos professores em exerccio para os cursos de nvel superior: essa opo passou a ser uma iniciativa individual para ampliarem suas competncias e sua formao e no para assegurarem seu lugar no mercado de trabalho. Assim, apesar dos documentos legais apontarem o nvel superior como desejvel para a formao do professor da educao infantil e das sries iniciais do ensino fundamental, ele no constitui uma condio para o exerccio da docncia nesses nveis.

    13 Parecer CNE/CEB n. 01/2003, de 19/02/2003: consulta sobre formao de profissionais para a Educao Bsica.

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    Outro fator que veio interferir na formao dos docentes da escola bsica foi o Sistema Nacional de Formao Continuada e Certificao de Professores. Em 4 de junho foi lanado, pela Secretaria de Educao Infantil e Fundamental, o programa Toda Criana na Escola e em 9 de junho foi institudo o Exame Nacional de Certificao, pela Portaria n. 1.403/2003. Esse exame, que estava previsto para o segundo semestre de 2004, mas no chegou a acontecer, era de carter voluntrio para os professores das sries iniciais do ensino fundamental e obrigatrio para os estudantes que concluram as licenciaturas, constituindo-se em instrumento de avaliao das instituies formadoras. Sendo obrigatrio aos concluintes das licen-ciaturas, o exame feria frontalmente a proposta para a avaliao do ensino superior, que apontava para o fim do Exame Nacional de Cursos o Provo.

    Diante da demora na aprovao das Diretrizes do Curso de Pedagogia e da persistncia da polmica em torno da questo da formao de professores para a escola bsica, em julho de 2002, visando consolidar todos os documentos legais relativos poltica de formao de professores no pas,14 o presidente do Conselho Nacional de Educao instituiu uma comisso para estabelecer as bases para um siste-ma nacional de formao. Essa comisso consolidou os documentos legais existentes em um projeto de resoluo, divulgado em setembro de 2003, que dispunha sobre as diretrizes curriculares nacionais para a formao de professores da educao bsica, em nvel superior e sobre os Institutos Superiores de Educao.

    Esse projeto, que propunha a integrao dos Cursos de Pedagogia aos Institutos Superiores de Educao, no teve continuidade, na medida em que sofreu

    14 Resoluo CNE/CP n. 02/97, de 26/06/1997 Dispe sobre os programas especiais de formao de docentes para as disciplinas do currculo do Ensino Fundamental, do Ensino Mdio e da Educao Profissional em nvel Mdio Resoluo CNE/CP n. 01/99, de 30/09/1999 Dispe sobre os Institutos Superiores de Educao, considerados os artigos 62 e 63 da Lei n. 9.394/96 e o artigo 9, 2, alneas C e H, da Lei n. 4.024/61, com a reda-o dada pela Lei n. 9.131/95 Decreto n. 2376, de 06/12/1999 Dispe sobre a formao em nvel superior de professores para atuar na Educao Bsica, e d outras providncias Decreto n. 3.554/00 D nova redao ao 2 do art. 3 do Decreto n. 3.276/99, que dispe sobre a formao em nvel superior de professores para atuar na educao bsica Parecer CNE/CP n. 009/2001 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formao de Professores da Educao Bsica, em nvel superior, curso de licenciatura, de graduao plena Parecer CNE/CP n. 027/2001 D nova redao ao item 3.6, alnea c, do Parecer CNE/CP n. 09/2001 Dispe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formao de Professores da Educao Bsica, em nvel superior, curso de licenciatura, de graduao plena. Parecer CNE/CP n. 028/2001 D nova redao ao Parecer CNE/CP n. 21/2001, que estabelece a durao e a carga horria dos cursos de Formao de Professores da Educao Bsica, em nvel superior, curso de licenciatura, de graduao plena. Resoluo CNE/CP n. 1/2002 Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formao de Professores da Educao Bsica, em nvel superior, curso de licenciatura, de graduao plena Resoluo CNE/CP n. 2/2002 Institui a durao e a carga horria dos cursos de licenciatura, de graduao plena, de formao de professores da Educao Bsica em nvel superior.

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    grande resistncia das associaes cientficas e dos profissionais da rea. No ms de outubro desse mesmo ano, participantes da 26 Reunio Anual da ANPEd, em Poos de Caldas, requereram a interrupo imediata dos processos legais desse Projeto de Resoluo; o compromisso do CNE em realizar audincias pblicas regionais e nacionais, com o objetivo de garantir uma discusso democrtica sobre as polticas de formao de professores; bem como garantia de participao das entidades re-presentativas nas instncias de deliberao de polticas educacionais brasileiras.

    A partir de maio de 2004, com a reforma peridica dos membros do CNE, a Comisso Bicameral foi refeita, recebendo a obrigao de tratar das disciplinas referentes formao docente, priorizando as diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia. A comisso submeteu apreciao da comunidade educacional, uma primeira verso de Projeto de Resoluo, recebendo em resposta crticas e sugestes, encaminhadas ao CNE, de maro a outubro de 2005, por correio eletrnico e postal ou por telefone.

    As associaes tinham a expectativa de que o CNE ampliasse a discusso sobre as diretrizes curriculares de Pedagogia, revendo suas formulaes anteriores, diante das concepes expressas nos diferentes documentos. Entretanto, tal no aconteceu. Depois de um longo silncio, em 17 de maro de 2005, o CNE se manifestou a respeito das Diretrizes Curriculares de Pedagogia, divulgando um Projeto de Resoluo que no levava em considerao as Propostas de Diretrizes Curriculares enviadas, oficialmente, pelas Comisses de Especialistas de Pedagogia e de Formao de Professores em maio de 1999 e em abril de 2002. A proposta apresentada pelo Conselho, de forma tcnica e simplista, reduzia o Curso de Pedagogia licenciatura para a formao de profes-sores para a educao infantil e escola bsica, tirando dele a competncia de formar os profissionais da educao, explicitada no artigo 64 da LDB. As competncias do licenciado em Pedagogia, descritas no artigo 3 desse projeto, muito se aproximavam daquelas que vinham sendo adotadas nos Cursos Normais Superiores e essa resoluo sugeria a transformao desses cursos em Curso de Pedagogia, buscando resolver de forma simplista e arbitrria a problemtica da superposio dos dois cursos para a formao dos professores das sries iniciais da escolarizao formal.

    Alm disso, a proposta evidenciava uma indeciso em relao formao do professor da escola bsica e identidade do Curso de Pedagogia, expressa em proposies contraditrias dos rgos definidores da poltica de formao: na pro-posta anterior era sugerida a integrao dos Cursos de Pedagogia aos ISEs e nessa era cogitada a transformao dos Cursos Normais Superiores em Pedagogia. Esse vai e vem trazia insegurana aos profissionais da rea e uma indefinio cada vez maior da identidade dos cursos envolvidos.

    Em junho de 2005, foi realizado o VII Seminrio Nacional Sobre a Formao dos Profissionais da Educao, no qual estiveram presentes mais de 200 educado-res de 18 Estados brasileiros e todas as mesas trouxeram os debates mais atuais sobre a questo das Diretrizes da Pedagogia. Nesse seminrio, ANFOPE, ANPEd,

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    CEDES e FORUMDIR apresentaram contribuies para a elaborao das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia.

    Aps muitas negociaes das entidades de classe e associaes cientficas com o Conselho Nacional de Educao, em 13 de dezembro de 2005, foi aprovado o Parecer CNE/CP n. 5/2005, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de graduao em Pedagogia, Licenciatura. Essas Diretrizes apresentavam uma grande incoerncia em relao ao artigo 64 da LDB, na medida em que no se referiam formao dos profissionais da educao no curso de Pedagogia, conforme estabelecido na referida lei.

    Assim, o Conselho Nacional de Educao voltou a examinar a Resoluo e o Parecer CNE/CP n. 5/2005, que tratam das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduao em Pedagogia, Licenciatura, no-homologados pelo Ministro da Educao, em virtude de questionamento jurdico quanto a um possvel conflito entre o dispositivo 14 da Resoluo e o artigo 64 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, de 1996.

    A Comisso Bicameral do CNE convocou as entidades do campo edu-cacional para examinarem e contriburem com a redao de emenda retificativa ao art. 14 do Projeto de Resoluo contido no Parecer CNE/CP n. 5/2005. Para essa reunio, a presidente da ANPEd encaminhou um comunicado, reiterando as posies firmadas anteriormente pela entidade, mediante documentos e participa-es em reunies e audincias pblicas sobre as diretrizes do curso de Pedagogia. A forma final da ementa apresentada pela relatora contemplou, em parte, tais posicionamentos.

    A Comisso Bicameral revisou detalhadamente o texto do Projeto de Resoluo, bem como as disposies legais vigentes e resolveu propor a seguinte emenda retificativa ao art. 14, buscando observar o disposto no art. 64 da Lei n. 9.394/96 e estabelecer condies em que a formao ps-graduada deve ser con-cretizada:

    Art. 14. A Licenciatura em Pedagogia nos termos do Parecer CNE/CP n. 5/2005 e desta Resoluo assegura a formao de profissionais da educao prevista no art. 64, em conformidade com o inciso VIII do art. 3 da Lei n. 9.394/98. 1 Esta formao profissional tambm poder ser realizada em cursos de ps-graduao, especialmente estruturados para este fim e abertos a todos os licenciados. 2 Os cursos de ps-graduao indicados no 1 deste artigo podero ser completamente disciplinados pelos respectivos sistemas de ensino, nos termos do Pargrafo nico do art. 67 da Lei n. 9.394/96.15

    15 Relatrio do Parecer CNE/PC n. 3/2006.

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    O Parecer CNE/CP n. 3/2006,16 aprovado pelo CNE em 21 de fevereiro de 2006, mantm a Licenciatura em Pedagogia, nos mesmos moldes do Parecer anterior, mas assegura a formao dos profissionais da educao, prevista na LDB.

    Finalmente, em 15 de maio de 2006, foi aprovada a Resoluo CNE/CP n. 1, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduao em Pedagogia, Licenciatura. Segundo essa Resoluo,

    O Curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se formao de professores para exercer funes de magistrio na Educao Infantil e nos anos inicias do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Mdio, na modalidade Normal, de Educao Profissional na rea de servios e apoio escolar e em outras reas nas quais sejam previstos conhecimentos pedaggicos (Resol. CNE/CP n. 1/2006, art. 4).

    O pargrafo nico do artigo 4 define a ampliao do conceito de atividades docentes, nas quais se inclui a participao na organizao e gesto de sistemas e instituies de ensino.

    Pargrafo nico. As atividades docentes tambm compreendem participao na organizao e gesto de sistemas e instituies de ensino, englobando:I planejamento, execuo, coordenao, acompanhamento e avaliao de tarefas prprias do setor da Educao;II planejamento, execuo, coordenao, acompanhamento e avaliao de projetos e experincias educativas no-escolares;III produo e difuso do conhecimento cientfico-tecnolgico do campo educacional, em contextos escolares e no-escolares.

    Essa proposta de formao de um professor capaz de participar das ati-vidades administrativas condiz com a nova configurao do mercado de trabalho do gestor, que vem praticando uma gesto colegiada, sendo as atividades de todos os profissionais da escola previstas nos Projetos Polticos Pedaggicos, elaborados coletivamente. Nas diretrizes curriculares, essa preparao prevista tambm nas atividades de estgio, conforme inciso II do art. 8, que trata da integralizao de estudos no Curso de Pedagogia:

    II prticas de docncia e gesto educacional que ensejem aos licenciandos a observao e acompanhamento, a participao no planejamento, na execuo e na avaliao de aprendizagens, do ensino ou de projetos pedaggicos, tanto em escolas como em outros ambientes educativos;

    Alm da formao de professores, a Resoluo n. 1 prev, no Curso de Pedagogia, a formao dos profissionais da educao, apontada no art. 64 da LDBEN.

    16 Parecer CNE/CP n. 3/2006, de 21/02/2006: Reexame do Parecer CNE/CP n. 5/2005, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia.

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    A Licenciatura em Pedagogia, nos termos do Parecer CNE/CP n. 5/2005 e 3/2006 e desta Resoluo, assegura a formao de profissionais da educao pre-vista no art. 64, em conformidade com o inciso VIII do art. 3 da Lei n. 9394/96 (Resoluo CNE/CP n. 1/2006, art. 14).17

    A formao especfica para a gesto, no Curso de Pedagogia, ser feita atra-vs do ncleo de aprofundamento e diversificao de estudos, previsto no artigo 6 o da Resoluo 1:

    Art. 6. A estrutura do curso de Pedagogia, respeitadas a diversidade nacional e a autonomia pedaggica das instituies, constituir-se- de:I um ncleo de estudos bsicos que, sem perder de vista a diversidade e a multiculturalidade da sociedade brasileira, por meio do estudo acurado da literatura pertinente e de realidades educacionais, assim como por meio de reflexo e aes crticas, articular (...)II um ncleo de aprofundamento e diversificao de estudos voltado s reas de atuao profissional priorizadas pelo projeto pedaggico das instituies e que, atendendo a diferentes demandas sociais, oportunizar, entre outras possibilidades:a) investigaes sobre processos educativos e gestoriais, em diferentes situaes institucionais: escolares, comunitrias, assistenciais, empresariais e outras;b) avaliao, criao e uso de textos, materiais didticos, procedimentos e processos de aprendizagem que contemplem a diversidade social e cultural da sociedade brasileira;c) estudo, anlise e avaliao de teorias da educao, a fim de elaborar propostas educacionais consistentes e inovadoras;III um ncleo de estudos integradores que proporcionar enriquecimento curricular e compreende participao em (...).

    Assim, no momento atual, a base da identidade do pedagogo a docncia, a partir da qual feita a preparao para a gesto educacional.

    DA PROPOSTA ENCAMINHADA AO CNE EM 2002 S DIRETRIZES CURRICULARES DE 2006: ALGUMAS REFLEXES

    De acordo com as Diretrizes Curriculares, os cursos de Pedagogia conti-nuaro formando os professores para a escola bsica, ao lado dos Cursos Normais Superiores. Como as diretrizes so muito recentes, ainda no se sabe o que ser feito dos Institutos Superiores de Educao e dos Cursos Normais Superiores. Como foram definidos na LDB, os ISEs no podem, simplesmente, serem eliminados. Quanto aos Cursos Normais Superiores, a Resoluo CNE/CP n. 1/2006, em seu artigo 11, determina que eles podem ser transformados em Curso de Pedagogia:

    17 Artigo 3 da Lei n. 9394/96, de 20/12/1996: O ensino ser ministrado com base nos seguintes princpios: (...) inciso VIII: gesto democrtica do ensino pblico, na forma desta Lei e da legislao dos sistemas de ensino.

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    As instituies de educao superior que mantm cursos autorizados como Normal Superior e que pretenderem a transformao em curso de Pedagogia e as instituies que j oferecem cursos de Pedagogia, devero elaborar novo projeto pedaggico, obedecendo ao contido nesta Resoluo (Resol. CNE/CP n. 1/2006, art. 11).

    O primeiro contato de muitos profissionais com as diretrizes provocou sentimentos de perda e de frustrao em relao luta histrica pela formao dos profissionais da educao. Muitos lamentam o fato do Curso de Pedagogia ter perdido o bacharelado e outros afirmam que a proposta atual no atende s reivindicaes histricas das associaes cientficas e dos profissionais da rea.

    A perda do bacharelado no se deu em 2006, com a aprovao das diretrizes. Na verdade, h trinta e sete anos, o Parecer n. 252/1969 j caracterizou o curso de Pedagogia como uma licenciatura, portanto no se justifica esse lamento agora.

    Quanto ao atendimento s reivindicaes histricas dos educadores, deci-dimos analisar as Diretrizes Curriculares aprovadas em 2006, tomando como base a Proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduao em Pedagogia, encaminhada ao CNE em abril de 2002, pelas Comisses de Especialistas de Ensino de Pedagogia e de Formao de Professores. Como essa proposta foi formulada a partir de um processo de construo democrtica, acreditamos que ela reflete o pensamento de profissionais da rea. Assim, buscamos analisar os aspectos das atuais Diretrizes que, de alguma forma, se aproximam daqueles propostos em 2002. Tomamos como referenciais de anlise os Eixos de formao e atuao, o Projeto acadmico e o currculo, a carga horria total de integralizao do curso e a Prtica de Ensino e Estgio.

    No que diz respeito aos Eixos de Formao e atuao, as duas propostas apresentam pontos em comum: a docncia na Educao Infantil e nas sries iniciais do Ensino Fundamental; a participao na organizao e gesto de sistemas e insti-tuies de ensino e a produo e difuso do conhecimento cientfico (Quadro 1).

    O Projeto Acadmico e o Currculo tambm apresentam aspectos comuns, nas duas propostas: a relao entre teoria e prtica e a estrutura do curso em ncleos. Pode-se observar que, embora o nmero e nome dos ncleos no sejam exatamente os mesmos, seu contedo similar: o ncleo de contedos bsicos corresponde ao ncleo de estudos bsicos das diretrizes, o ncleo de contedos especficos coberto pelo ncleo de aprofundamento e diversificao de estudos e os estudos indepen-dentes da proposta anterior esto especificados no ncleo de estudos integradores das Diretrizes (Quadro 2).

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    QUADRO 1

    Proposta de abril de 2002 diretrizes Curriculares Res. CnE/CP n. 1/2006

    O eixo da formao o trabalho pedaggico, escolar e no-escolar, que tem na docncia, compreendida como ato educativo intencional, o seu fundamento.

    Atuao Profissional do Pedagogo:

    docncia na educao infantil, nas sries ini-ciais do ensino fundamental e nas disciplinas pedaggicas para a formao de professores;

    gesto educacional, entendida como a orga-nizao do trabalho pedaggico em termos de planejamento, coordenao, acompanhamento e avaliao nos sistemas de ensino e nos pro-cessos educativos formais e no formais;

    produo e difuso do conhecimento cient-fico e tecnolgico do campo educacional;

    Atuao docente/tcnica em reas emergen-tes no campo educacional, em funo dos avanos tericos e tecnolgicos.

    Art. 4: O Curso de licenciatura em Pedago-gia: for mao de professores para: Educao Infantil, anos iniciais do Ensino Fundamental, Curso Normal de nvel mdio, Educao Profissional na rea de servios e apoio escolar e em outras reas nas quais sejam previstos conhecimentos pedaggicos

    Pargrafo nico: atividades docentes compreendem participao na organizao e gesto de sistemas e instituies de ensino, englobando:

    I/II: planejamento, execuo, coordenao, acompanhamento e avaliao de tarefas prprias do setor da Educao e de projetos e experincias no-escolares

    III: produo e difuso do conhecimento cientfico-tecnolgico do campo educacional, em contextos escolares e no escolares.

    QUADRO 2

    Proposta de abril de 2002 diretrizes Curriculares Res. CnE/CP n. 1/2006

    Relao teoria e prtica como eixo arti-culador da produo do conhecimento. A estrutura curricular dever abranger: ncleo de contedos bsicos, articula-

    dores da relao teoria e prtica, que desenvolvam reflexo crtica sobre educao, escola e sociedade;

    ncleo de contedos especficos, relati-vos ao exerccio da docncia, resultante da opo institucional (nveis ou reas da docncia);

    tpicos de estudo de aprofundamento e/ou diversificao da formao;

    estudos independentes: monitorias e estgios, iniciao cientfica, participao em eventos, etc.

    Art. 3: O estudante de Pedagogia trabalhar com um repertrio de informaes e habilidades com-posto por pluralidade de conhecimentos tericos e prticos, cuja consolidao ser proporcionada no exerccio da profisso (...).Art. 6: A estrutura do curso de Pedagogia, res-peitadas a diversidade nacional e a autonomia pedaggica das instituies, constituir-se- de:1. Ncleo de estudos bsicos (12 especifica-es);2. Ncleo de aprofundamento e diversificao de estudos, voltado s reas de atuao profissional priorizadas pelo Projeto Pedaggico das IES (3 especificaes);3. Ncleo de estudos integradores, que proporcio-nar enriquecimento curricular (3 especificaes).

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    Tambm a carga horria total de integralizao do curso a mesma 3.200 horas sendo que, nas Diretrizes Curriculares, especificada a distribuio dessa carga horria.

    QUADRO 3

    Proposta de abril de 2002 diretrizes Curriculares Res. CnE/CP n. 1/2006

    Slida formao profissional, acompa-nhada de possibilidades de aprofunda-mentos e opes realizadas pelos alunos, propiciando tempo para pesquisas, leituras, participao em eventos e outras atividades.Mnimos desejveis: 200 dias letivos 4 horas de atividades dirias Durao de 4 anosTotal de 3.200 horas

    Carga horria mnima de 3.200 horas de efetivo trabalho acadmico, assim distribudas:

    2.800 horas de atividades formativas: aulas, seminrios, pesquisas, estudo em bibliotecas, visitas, atividades prticas, trabalhos de grupos, etc.

    300 horas de estgio supervisionado, prioritariamente na Educao Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

    100 horas de atividades de aprofundamento em reas especficas de interesse dos alunos: iniciao cientfica, extenso e monitoria.

    Quanto Prtica de Ensino e Estgio, as duas propostas apresentam diferen-tes abordagens. Enquanto a Proposta de 2002 refere-se a aspectos dinmicos dessas atividades, as Diretrizes Curriculares abordam os tipos de prticas e estgios. Na verdade, esses aspectos dinmicos podero ser implementados pelas Instituies de Ensino, quando da elaborao de seus Projetos Pedaggicos, onde devero ser propos-tos os tipos de prticas previstos nas Diretrizes Curriculares do curso. Consideramos interessante a proposta de participao de todos os professores nas atividades prticas, mediante a elaborao de um projeto de prtica, envolvendo todos.

    QUADRO 4

    Proposta de abril de 2002 diretrizes Curriculares Res. CnE/CP n. 1/2006

    Prtica pedaggica no deve ser respon-sabilidade de apenas um professor, mas configurar-se como trabalho coletivo da IES. Todos os professores devero participar. Isso implica na elaborao de um Projeto de Prtica que envolva mltiplas dimenses e etapas do desenvolvimento.

    Deve ser iniciada nos primeiros anos do curso e deve possibilitar aos estudantes a efetiva iniciao nas atividades de pesquisa.

    A IES deve estabelecer, ao longo do curso, mecanismos de orientao, acompanhamento e avaliao das atividades relacionadas produ-o do Trabalho de Concluso do Curso.

    Art. 8: Integralizao de estudos:1. atividades tericas;2. prticas de docncia e gesto educacional:

    observao, acompanhamento, participao em planejamento, execuo e avaliao em escolas e outros ambientes educativos;

    3. atividades complementares envolvendo o planejamento e desenvolvimento progressivo do Trabalho de curso, monitoria, iniciao cientfica e extenso;

    4. estgio curricular, ao longo do curso, de modo a assegurar experincia de exerccio profissional em ambientes escolares e no-escolares.

  • RBPAE v.23, n.2, p. 199-227, mai./ago. 2007 223

    Considerando que o fato de termos Diretrizes Curriculares aprovadas aps tantos anos de luta j uma conquista dos movimentos dos educadores e que os pontos convergentes que encontramos so tambm conseqncias da luta histrica que procuramos relatar neste artigo, apontamos alguns aspectos que consideramos positivos, nas Diretrizes aprovadas em 2006:

    a docncia como base da identidade do pedagogo, no se limitando aos anos iniciais da escolarizao formal, mas se estendendo ao ensino mdio, edu-cao profissional e s reas que tenham previso de contedo pedaggico em espaos escolares e no escolares. Afinal, a experincia docente pr-requisito para exerccio profissional das outras funes de magistrio;18

    eliminao das habilitaes, que fragmentavam o curso; possibilidade de contemplar a formao para participao na organizao

    e gesto de sistemas e instituies de ensino; possibilidade de superar a organizao curricular por disciplinas fragmen-

    tadas e isoladas.

    De acordo com as Diretrizes Curriculares, o Curso de Pedagogia tem como ncleo bsico a formao do professor da educao infantil e das sries iniciais do ensino fundamental, o que implica em uma reformulao dos atuais projetos peda-ggicos, no sentido de adequ-los a essa necessidade. Os egressos de Pedagogia tm como uma de suas competncias legalmente estabelecidas a formao de crianas da faixa etria de zero a dez anos e necessrio que o curso os prepare, efetivamente, para essa tarefa, abordando questes como alfabetizao e letramento, que tm sido pouco privilegiadas nos atuais currculos de Pedagogia. Na reformulao dos projetos pedaggicos e na implementao das diretrizes, alguns cuidados so necessrios:

    aprofundar o debate sobre as novas diretrizes curriculares, envolvendo alunos de Pedagogia e das licenciaturas;

    formar efetivamente um professor que, alm de dominar os referenciais tericos relativos escola, ensino e educao, seja capaz de lecionar para os anos iniciais da escolarizao formal e de exercer atividades educativas em outros espaos sociais;

    buscar uma articulao com as demais licenciaturas oferecidas pela Instituio e, principalmente, com as escolas de ensino fundamental e mdio, no sentido de aprimorar as condies de trabalho pedaggico entre professores e alunos.

    18 Lei n. 9394/96, art. 67, pargrafo nico: a experincia docente pr-requisito para o exerccio profissional de quaisquer outras funes de magistrio, nos termos das normas de cada sistema de ensino.

  • 224 RBPAE v.23, n.2, p. 199-227, mai./ago. 2007

    EXEMPLO DE UMA PROPOSTA CURRICULAR DE ACORDO COM AS DIRETRIZES

    Apresentamos, a seguir, um exemplo de Proposta Curricular, que poderia ser planejada, a partir do currculo em vigor. A Instituio de Ensino Superior que oferece Curso de Pedagogia dever tomar como referncia o currculo que vem sendo implementado, para planejar os ncleos propostos pelas Diretrizes.

    O Ncleo de Estudos Bsicos constitudo de disciplinas, seminrios e ati-vidades que formem, efetivamente, o professor de educao infantil, do 1 ao 4 anos do ensino fundamental e das matrias pedaggicas do Ensino Normal de nvel mdio. Para planej-lo, necessrio buscar, no currculo das nfases ou habilitaes oferecidas, os contedos bsicos de formao do pedagogo-professor.

    Os Ncleos de Aprofundamento sero propostos a partir da formao do pro-fessor. A escolha desses ncleos deve ser feita de acordo com as opes da Instituio, decididas a partir de anlise do mercado de trabalho do pedagogo e do contexto social. Para planej-los, dever ser analisada a convenincia de se continuar ou no oferecendo as nfases em vigor. Uma vez escolhidas as reas a serem priorizadas, preciso decidir sobre os contedos especficos para a atuao respectiva.

    O Ncleo de estudos integradores perpassa todos os outros ncleos, fazendo uma integrao entre eles.

    Quanto integralizao curricular, acreditamos que, em princpio, os n-cleos de aprofundamento no seriam superpostos ao ncleo de estudos bsicos da formao do professor. A estrutura curricular deveria prever a formao paralela: ao lado da formao docente, os alunos fariam opo por um ncleo de aprofun-damento, que seria oferecido atravs de oficinas especficas, sendo suas atividades prticas oferecidas desde o primeiro semestre do curso, partindo do conhecimento e observao at a prtica efetiva.

    O trabalho de concluso de curso marcaria a relao entre a formao docente e a opo de aprofundamento (ex.: docncia e gesto docncia e atuao junto a alunos de necessidades especiais docncia e atuao na educao de jovens e adultos).

  • RBPAE v.23, n.2, p. 199-227, mai./ago. 2007 225

    Esquema da Proposta

    NOTAS CONCLUSIVAS

    Essa anlise retrospectiva do curso de Pedagogia evidencia que, desde sua criao, em 1939, esto presentes em sua regulamentao plos distintos da for-mao do educador: professor x especialista, bacharelado x licenciatura, generalista x especialista, tcnico em educao x professor. Os diferentes documentos legais evidenciaram a contnua indefinio quanto especificidade dos estudos pedaggicos e quanto identidade do pedagogo. Essa indefinio foi e vem sendo motivo de debates, polmicas e discusses em diversos fruns nacionais e nas instituies de ensino superior, que mantm o curso de Pedagogia.

    Consideramos que a formao do professor e do gestor, nesse curso, vem evoluindo, conforme a configurao do mercado de trabalho da rea, em escolas dos anos iniciais da educao bsica.

    Em um tempo em que o gestor era o orquestrador do processo decisrio na escola, definindo e tomando todas as decises administrativas, sua formao era feita em cursos especficos de administrao escolar, em nvel ps-mdio e em cursos de Pedagogia.

  • 226 RBPAE v.23, n.2, p. 199-227, mai./ago. 2007

    No momento atual, em que uma nova atuao se configura, tendo como parmetro a gesto democrtica, em que as atividades administrativas contam com a participao de todos os atores da comunidade escolar, cujas responsabilidades so definidas em Projetos Polticos Pedaggicos, coletivamente elaborados e con-tando com diretores eleitos pelos membros da comunidade escolar, as propostas de formao evoluem. Pelas diretrizes curriculares de Pedagogia, o curso se prope a formar um docente que tenha condies de participar das atividades de gesto, o que consideramos positivo: afinal, a experincia docente pr-requisito para exer-ccio profissional das outras funes de magistrio.19 Alm disso, o curso apresenta a possibilidade de contemplar a formao especfica do gestor, como um ncleo de aprofundamento. Assim, se a proposta das diretrizes for efetivada nos cursos de Pedagogia, todos os professores formados nesse curso estaro em condies de participar das atividades de gesto da escola.

    Entretanto, o mercado de trabalho do pedagogo no se restringe docncia e gesto de instituies escolares, sendo muitas as possibilidades de trabalho que esse profissional pode desempenhar. Dentre elas, destacam-se: docncia nas sries iniciais do Ensino Fundamental, na Educao de Jovens e Adultos EJA, na Educao Infantil, no curso de Magistrio disciplinas pedaggicas e em outros cursos; ao supervisora, em articulao com os outros profissionais da escola; participao na gesto de instituies e programas escolares e no-escolares; pesquisas de cunho sociocultural e educativo.

    Acreditamos que, para as associaes cientficas e profissionais que participa-ram ativamente da luta pelas diretrizes curriculares de Pedagogia, sua aprovao pode ser considerada como o resultado dos esforos que vm sendo empenhados desde a dcada de 1980. No entanto, dadas as polmicas e controvertidas interpretaes quanto natureza do curso de Pedagogia e ao campo de atuao do pedagogo, a aprovao das diretrizes no dever por fim s discusses e polmicas em torno desse curso. Espera-se que as discusses que ocorrerem daqui para a frente no se fixem no lamento do que foi perdido e nos aspectos negativos das diretrizes aprovadas, mas sirvam para aprimorar o Curso de Pedagogia e a formao de professores.

    REFERNCIAS

    ANFOPE. Proposta de Novas Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia. In: REUNIO ANUAL DA ANFOPE, Belo Horizonte, 1998. Proposta..., Belo Horizonte: [s. n.], 1998.

    BRASIL. Ministrio da Educao. Conselho Nacional de Educao. Conselho Pleno. Resoluo CNE/CP n 1/2006, aprovada em 15 de maio de 2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduao em Pedagogia, licenciatura.

    19 Lei n. 9394/96, art. 67, pargrafo nico: a experincia docente pr-requisito para o exerccio profis-sional de quaisquer outras funes de magistrio, nos termos das normas de cada sistema de ensino.

  • RBPAE v.23, n.2, p. 199-227, mai./ago. 2007 227

    BRASIL. Ministrio da Educao. Conselho Nacional de Educao. Conselho Pleno. Parecer CNE/CP n 3/2006, aprovado em 21 de fevereiro de 2006. Reexame do Parecer CNE/CP n. 5/2005, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia.

    BRASIL. Ministrio da Educao. Conselho Nacional de Educao. Conselho Pleno. Resoluo CNE/CP n. 5/2005, aprovado em 13 de dezembro de 2005. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia.

    BRASIL. Presidncia da Repblica. Subchefia para Assuntos Jurdicos. Lei n. 9394/96, de 20/12/1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educao Nacional.

    BRASIL. Presidncia da Repblica. Subchefia para Assuntos Jurdicos. Lei n. 5692/71, de 11/08/1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1 e 2 graus e d outras providncias.

    BRASIL. Ministrio da Educao. Conselho Federal de Educao. Resoluo 2/69, de 12/05/1969. Fixa os mnimos de contedo e durao do Curso de Pedagogia.

    BRASIL. Ministrio da Educao. Conselho Federal de Educao. Parecer CFE no 252/69, aprovado em 11 de abril de 1969. Sobre mnimos de contedo e durao do Curso de Pedagogia.

    MARTELLI, Andra Cristina; MANCHOPE, Elenita C. P. A histria do curso de Pedagogia no Brasil: da sua criao ao contexto aps a LDB 9394/96. Disponvel em: www.presidentekennedy.br. Acesso em: 20 dez 2005.

    NETO, Alexandre Shigunov; MACIEL, Lizete S. Bomura (Orgs.). Reflexes sobre a formao de professores. Campinas: Papirus, 2002.

    PEIXOTO, Ana Maria Casasanta (Coord.). O permanente e o provisrio na profisso docente: constituio histrica, transformaes e perspectivas. Minas Gerais, 2003.

    SOUZA, Sandra Medina de. O perfil profissional do Pedagogo e sua atuao na educao bsica: uma construo. Dissertao (Mestrado em Educao) - Programa de Ps-Graduao, Faculdade de Educao, Univer-sidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

    MAGALI CASTRO Professora do Programa de Ps-Graduao em Educao da PUC-Minas; Doutora em Educao pela Universidade de So Paulo (USP). E-mail: [email protected].

    Recebido em janeiro de 2007. Aprovado em maio de 2007.