11
61 Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000 Resumo: O artigo apresenta os fundamen- tos mais importantes do ecofeminismo, esco- la de pensamento que tem orientado organi- zações ecologistas e feministas de vários paí- ses desde a década de 70, buscando entender as contribuições e os limites que esta aborda- gem traz para a prática social no Brasil, em particular para os movimentos que tentam articular as lutas das mulheres com as lutas ambientais. Analisa as principais autoras des- se movimento, e apresenta dados sobre o tra- balho de algumas organizações que se inspi- ram nos seus princípios. Por fim, propõe re- flexões sobre as formas de incorporar as pro- postas e os anseios das mulheres rurais nas discussões sobre o desenvolvimento susten- tável e assim contribuir para o progressivo for- talecimento da posição das mulheres no con- junto da sociedade. Palavras-chave: Ecologia, Meio Ambiente, Mulher Rural, Desenvolvimento Rural Susten- tável, Gênero 1 Introdução O ecofeminismo pode ser definido como uma escola de pensamento que tem orientado movimentos ambientalistas e feministas, des- de a década de 1970, em várias partes do mun- do, procurando fazer uma interconexão entre a dominação da Natureza e a dominação das mulheres. Hoje em dia, como definido por uma de suas representantes 2 , pode ser considera- do mais como uma corrente que trabalha com mulheres dentro do movimento ambientalista, do que propriamente parte do movimento fe- minista, que, como veremos mais adiante, não compartilha totalmente de suas teses sobre a Natureza enquanto “princípio feminino”. Ecofeminismo: contribuições e limites para a abordagem de políticas ambientais Siliprandi, Emma * * Engenheira Agrônoma (UFRGS), Especialista em Economia Agroalimentar (CeFAS, Itália) e em Formula- ção e Análise de Políticas Públicas (Unicamp), Mestre em Sociologia Rural (UFPb). Assessora da Coordenado- ria Técnica da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]. A rtigo

Ecofeminismo: contribuições e limites para a abordagem de

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

61Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000

Resumo: O artigo apresenta os fundamen-tos mais importantes do ecofeminismo, esco-la de pensamento que tem orientado organi-zações ecologistas e feministas de vários paí-ses desde a década de 70, buscando entenderas contribuições e os limites que esta aborda-gem traz para a prática social no Brasil, emparticular para os movimentos que tentamarticular as lutas das mulheres com as lutasambientais. Analisa as principais autoras des-se movimento, e apresenta dados sobre o tra-balho de algumas organizações que se inspi-ram nos seus princípios. Por fim, propõe re-flexões sobre as formas de incorporar as pro-

postas e os anseios das mulheres rurais nasdiscussões sobre o desenvolvimento susten-tável e assim contribuir para o progressivo for-talecimento da posição das mulheres no con-junto da sociedade.

Palavras-chave: Ecologia, Meio Ambiente,Mulher Rural, Desenvolvimento Rural Susten-tável, Gênero

1 IntroduçãoO ecofeminismo pode ser definido como

uma escola de pensamento que tem orientadomovimentos ambientalistas e feministas, des-de a década de 1970, em várias partes do mun-do, procurando fazer uma interconexão entrea dominação da Natureza e a dominação dasmulheres. Hoje em dia, como definido por umade suas representantes2, pode ser considera-do mais como uma corrente que trabalha commulheres dentro do movimento ambientalista,do que propriamente parte do movimento fe-minista, que, como veremos mais adiante, nãocompartilha totalmente de suas teses sobre aNatureza enquanto “princípio feminino”.

Ecofeminismo: contribuições e limites paraa abordagem de políticas ambientais Siliprandi, Emma*

*Engenheira Agrônoma (UFRGS), Especialista emEconomia Agroalimentar (CeFAS, Itália) e em Formula-ção e Análise de Políticas Públicas (Unicamp), Mestre

em Sociologia Rural (UFPb). Assessora da Coordenado-ria Técnica da Secretaria de Agricultura e Abastecimento

do Estado do Rio Grande do Sul. E-mail:[email protected].

A r t i g o

62Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000

apenas reivindicações isoladas.Entre as organizações que sepropõem a fazer esta articula-ção, destacam-se algumas quetêm no ecofeminismo as prin-cipais referências teóricas parao seu trabalho prático.

O auge da visibilidade sociale política dessas posições se deuno início da década de 90, coma realização da Conferência Meio

Ambiente e Direitos Humanos no Rio de Ja-neiro - a Eco-92 (Castro & Abramovay, 1997),em que organizações como a REDEH (Rede deDefesa da Espécie Humana) e RME (Rede Mu-lher de Educação) fizeram parte da coordena-ção do Planeta Fêmea, no Fórum Global. De-fendendo “um olhar feminino sobre o mundo”,faziam críticas ao estilo predatório de consu-mo vindo do Norte, que agravava a pobreza doSul, ressaltavam a importância das ações lo-cais para recuperação do ambiente, a relaçãoentre saúde e ambiente e a problemática dasmulheres, que alijadas dessas grandes discus-sões, sofriam as conseqüências desses proces-sos. Desde então, pode-se dizer que suas pro-posições vêm influenciando parte do movimen-to social, de mulheres e de agricultores.

Que contribuições essa corrente de pensa-mento pode nos trazer, seja pela visão teóricaque lhe dá suporte, seja pela prática das suasintegrantes, para pensarmos propostas demudanças nas relações de gênero que este-jam articuladas com a passagem para umoutro paradigma produtivo, mais sustentável,mais equilibrado? Elas nos dão pistas de açõesque sejam capazes de, ao mesmo tempo, in-cluir as mulheres rurais nas decisões impor-tantes da sociedade e da família, assim comofazer avançar a luta ambiental?

Este artigo procura trazer uma contribui-ção para esta reflexão. Serão apresentadas al-gumas idéias que estão na origem do pensa-mento ecofeminista, e uma breve descrição daatuação das duas organizações citadas acima,

No Brasil ainda são poucasas organizações ou movimentossociais que se preocupam emfazer essa relação, seja na teo-ria, seja na prática. Entre aque-les e aquelas que desenvolvemtrabalhos na área da preserva-ção ambiental e da Agroecolo-gia, é bastante comum verifi-carmos um enfoque mais “pro-dutivo” ou voltado para “a natu-reza” do que focado nas questões sociais – queincluiriam uma preocupação com o papel es-pecífico que as pessoas, e em especial as mu-lheres, desempenham nos sistemas produti-vos em questão e com a sua situação de su-balternidade no meio rural. Assuntos como adivisão de tarefas que ocorre entre os mem-bros das famílias rurais e os valores associa-dos a cada uma dessas tarefas, a rígida hie-rarquia patriarcal, as formas de divisão dosbens por herança, por exemplo, que afetamdiferentemente homens e mulheres, jovense idosos, dificilmente são tratados como pro-blemas. Não é raro encontrarmos situaçõesem que deliberadamente se jogam estasquestões para o campo da “ética cultural”,como se, em nome de um suposto respeito aoshábitos e culturas locais, não fosse lícito to-car em questões que dizem respeito às for-mas de organização social, e em particular, àfamília. Essas posições, no entanto, sãodesmentidas pela própria prática, já que qual-quer processo de mudança social provoca, deuma forma ou de outra, mudanças nos papéisde gênero (não existe essa suposta “neutrali-dade”).

Os movimentos feministas e de mulheres,por outro lado, também têm tido dificuldadesem articular essas questões, de forma a apre-sentar, nos fóruns e instâncias onde se deba-tem propostas mais globais de desenvolvimen-to, plataformas de ação e posições que refli-tam uma perspectiva feminina de progresso ede desenvolvimento para a humanidade, e não

A r t i g o

63Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000

ponto de vista de gênero ou ambientais. A pró-pria forma de pesquisar a história tem segui-do esses princípios, e portanto não tem evi-denciado como se deu a exclusão das mulhe-res do mundo do conhecimento “científico” ecomo a sua visão de mundo (de integração coma Natureza) foi sendo subjugada pela idéia dedominação.

O pensamento ecofeminista apareceu pelaprimeira vez enquanto tal a partir dos movi-mentos feministas da década de 1970 (a cha-mada “segunda onda” do feminismo), a estaaltura já influenciados pelos movimentos paci-fistas, antimilitaristas e antinucleares queeclodiram em toda a Europa e Estados Unidosnos anos 60 e que deram origem aos movimen-tos ambientalistas como os conhecemos hoje.Em comum com esses movimentos, BarbaraHolland-Cunz identifica que a “utopia ecofe-minista primitiva” apresentava:

ideais de descentralização, não-hierarqui-zação, democracia direta;

apoio a uma economia de subsistênciarural como modelo de desenvolvimento;

insistência na busca de tecnologias “su-aves”, não-agressivas ao meio ambiente;

superação da dominação patriarcal nasrelações entre os gêneros.

Por outro lado, esses movimentos tambémquestionavam o dualismo entre cidade e cam-po, entre trabalho intelectual e manual, entreo público e o privado, assim como entre osespaços ditos “produtivos” e aqueles “repro-dutivos”. Faziam parte dessas primeiras uto-pias também a idéia de que muitas vezes ariqueza material estava acompanhada de “mi-séria moral e emocional” e resgatavam-se ex-

periências devida simples, emque a pobrezanão era identifi-cada com misé-ria ou privação.

Nesse senti-do, havia na ori-

assim como de uma articulação internacional,a WEDO (Women’s Environment and Develop-ment Organization), que serve de referência avários movimentos no Brasil. Por fim, são apre-sentadas as críticas e questionamentos queessa abordagem tem recebido, assim como ascontribuições que, na opinião da autora, omovimento têm feito às lutas feministas e am-bientais. O intuito é de fazer um convite a to-dos e todas que compartilham estas preocupa-ções, para construírem esse debate.

2 Princípios Geraisdo Ecofeminismo

De uma forma bastante simplificada, po-deríamos identificar os princípios do pensa-mento ecofeminista nas seguintes questões:

do ponto de vista econômico, existe umaconvergência entre a forma como o pensamen-to ocidental hegemônico vê as mulheres e aNatureza, ou seja, a dominação das mulhe-res e a exploração da Natureza são dois ladosda mesma moeda da utilização de “recursosnaturais” sem custos, a serviço da acumula-ção de capital;

para o ecofeminismo, o pensamento oci-dental identifica, do ponto de vista político, amulher com a Natureza e o homem com a cul-tura, sendo a cultura (no pensamento ociden-tal) superior à Natureza; a cultura é uma for-ma de “dominar” a Natureza; daí decorre a vi-são (do ecofeminismo) de que as mulheres te-riam especial interesse em acabar com a do-minação da Natureza, porque a sociedade semexploração da Natureza seria uma condiçãopara a libertação da mulher.

As políticas científicas e tecnológicas quetêm orientado odesenvolvimen-to econômicomoderno sãopolíticas que re-forçam essa vi-são, não sendo“neutras” do

A r t i g o

A sociedade sem exploração daNatureza seria uma condição para a

libertação da mulher

64Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000

A r t i g o

cebe, a principal dirige-se à idéia de que estaidentificação viria do fato das mulheresencarnarem um chamado “princípio feminino”,cuja origem está nas tradições hindus trazidasà tona em 1988, com a publicação do livro“Staying alive: women, ecology and survival”,de Vandana Shiva (Shiva, 1991). O “princípiofeminino” seria uma forma “essencialista” dever essas relações, já que traz uma visão de“essência humana imutável e irredutível”(Garcia, 1992:164), associada às mulheres, queas coloca fora de qualquer relação econômica,política ou social, construída historicamente.

É preciso lembrar que dentro do que se cha-ma ecofeminismo existem muitas correntes,que vão desde aquelas com tradição mais anar-quista (“radicais”), socialistas, até aquelas maisliberais, as que privilegiam as ações institucio-nais, no parlamento etc. Há também verten-tes espiritualistas e mesmo esotéricas, que en-tendem como necessário resgatar as práticas“mágicas” de conhecimento da realidade queas mulheres exerciam desde a antigüidade,como formas de reconstruir uma identidade fe-minina que foi perdida ao longo do tempo.

3 Vandana Shiva: um olharfeminista, ecológicoe terceiro-mundista

Avançando um pouco além das discussõesideológicas, Vandana Shiva4 fez uma análise,em 1988, de como a violência contra as mu-lheres e a Natureza, na Índia e também emoutros países do terceiro Mundo, tinha origemem bases materiais. Ela relaciona as formasde dominação sobre os povos desses países,através das quais se orientavam os progra-mas de “desenvolvimento”, com a destruiçãoda Natureza, cuja conseqüência principal foi(e é) a destruição das condições para a pró-pria sobrevivência das mulheres (pelaextinção das fontes de alimentação, água, dabiodiversidade etc).

Para a autora, a origem desses problemasestá no paradigma desenvolvimentista que

gem desses movimen-tos elementos co-muns entre uma“utopia feminista” euma “sociedadeecológica”, assimcomo entre essesmovimentos e os“ecologistas so-cialistas”. Dife-rentes pontos

de vista teóricos, as-sim como práticas de organiza-

ção e ação política fizeram com que essaidentidade não fosse permanente.

Do ponto de vista do movimento feminista,a cisão se verificou quando da comemoraçãodo Ano Internacional da Mulher (1975), inau-guração da Década da Mulher instituída pelaONU, quando ocorreu pela primeira vez o de-bate público entre o que se chamaria de mo-vimento “igualitarista” e o “feminismo da dife-rença” (corrente dentro da qual se insere o eco-feminismo).

A tradição igualitarista (em que pese suasenormes diferenças internas) reivindicava “auniversalidade da dignidade humana contra asdesigualdades de poder estruturadas ao redordas diferenças sexuais” (Sorj, 1992:144) e lu-tava pela expansão dos direitos civis, a entra-da das mulheres no mundo público e a suaautonomia do ponto de vista econômico, soci-al, político etc.

Os movimentos identificados com “a dife-rença” criticam essa visão, considerando queo mundo público, tal como está, reflete umavisão masculina de ser, e que as mulheres (de-positárias de um outro modo de ser, outrosvalores, outra cultura, decorrentes da mater-nidade e da sua condição de reprodutoras davida) teriam outras contribuições a dar parauma nova forma de estruturação da socieda-de que incorporasse a riqueza do universo fe-minino, ao invés de desvalorizá-lo3 .

Entre as muitas críticas que essa visão re-

65Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000

A r t i g o

ou princípio feminino, seria a fonte de toda acriação na Natureza, animada ou inanima-da. Este princípio ou força criativa estaria pre-sente em toda a diversidade da vida, e se ca-racterizaria pela criatividade, atividade, pro-dutividade; pela conexão entre todos os seres(inclusive os humanos); e pela continuidadeentre a vida humana e a vida natural. A rup-tura dessa visão, ou a subjugação do princípiofeminino, é que estaria então na origem dosdesequilíbrios ecológicos existentes, assimcomo na dominação das mulheres e dos po-vos do Terceiro Mundo.

Somente a recuperação do princípio femini-no poderia reverter esse quadro de violência edominação:

“A recuperação do princípio feminino se ba-seia na amplitude. Consiste em recuperar naNatureza, a mulher, o homem e as formas criati-vas de ser e perceber. No que se refere à Natu-reza, supõe vê-la como um organismo vivo. Comrelação à mulher, supõe considerá-la produtivae ativa. E no que diz respeito ao homem, a recu-peração do princípio feminino implica situar denovo a ação e a atividade em função de criarsociedades que promovam a vida e não a redu-zam ou a ameacem.” (Shiva, 1991: 77).

É inegável que a visão de Vandana Shiva éuma visão feminista, pois enfoca a necessida-de de um movimento ativo por parte das mu-lheres para serem ouvidas, para participaremdas instâncias de decisão com o intuito decontraporem-se a essa visão de desenvolvi-mento, considerada predatória, violenta, não-sustentável e fonte de opressão sobre as pró-prias mulheres. Do ponto de vista ecológico,traz uma visão de defesa da biodiversidade ede questionamento do paradigma “produtivis-ta” do desenvolvimento. Suas posições trazemtambém uma forte vertente “terceiro-mundis-

orienta essas ações, que vê o meio ambientecomo um “recurso” separado e à disposiçãoda humanidade, algo “inerte, passivo, unifor-me, separável, fragmentado, e inferior, a serexplorado” (Shiva, 1991: 65). Esta forma depensar foi, paralelamente, responsável pelaexclusão das mulheres do seu papel protago-nista na agricultura, já que ela deixou de servista como agricultora, silvicultora, adminis-tradora de recursos hídricos etc. Seu conhe-cimento, que era ecológico, plural, foi sendoinferiorizado e perdido.

Segundo ela, o trabalho das mulheres erabaseado na estabilidade e sustentabilidade, nadiversidade, na descentralização, no trato deplantas que não tinham retorno comercialimediato, e buscava o sustento de todos (a ali-mentação, em particular), sem que houvessenecessidade de excedentes (vistos em algumasdessas culturas como um “roubo” à natureza,uma vez que eram recursos que não necessi-tavam ser usados). A contraposição é o mode-lo da privatização dos lucros e da exploraçãoambiental, cujo principal símbolo é a mono-cultura. Com a quebra das relações tradicio-nais, as mulheres perderam o acesso à terrapara as culturas alimentares, perderam aces-so aos bosques, à água, e passaram a ter me-nos renda, emprego, e menos acesso ao poder.

A monocultura é vista como símbolo des-sas mudanças, porque além de expulsar asformas de cultivo tradicionais (baseadas nadiversidade e complementariedade), com asconseqüências ecológicas que isso traz (ero-são, fragilidade dos ecossistemas, poluição daágua e do solo, dependência de insumos ex-ternos etc), é sobretudo uma forma de pen-sar, na qual a intervenção do homem sobre aNatureza, visando ao lucro, é o princípioorientador.

A cosmologia hindu, que vê o mundo comosendo produzido e renovado pelo jogo dialéticode criação e destruição, coesão e desintegra-ção, e tensão entre opostos, é chamada a ex-plicar os desequilíbrios existentes. Prakriti ,

A cosmologia hindu, que vê o mundocomo sendo produzido e renovado pelo

jogo dialético de criação edestruição, coesão e desintegração, e

tensão entre opostos, é chamada a expli-car os desequilíbrios existentes

66Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000

ção por Bella Abzug(ex-deputada ame-ricana, advogadamilitante dos mo-vimentos civis,falecida em 1998)e traz no seu con-selho de direção,entre outras, aprópria Vanda-na Shiva. A vi-

ce-presidente daWEDO é u-ma brasileira, Thaís Corral,

também membro da REDEH. Em 1991, a WEDOrealizou um congresso internacional de mulhe-res em Miami, com cerca de 1500 participan-tes de 83 países, com o tema “Mulheres por umplaneta saudável”.

A WEDO define como seus objetivos “trans-formar o planeta em um lugar saudável e pací-fico, com justiça social, política, econômica eambiental para todos, através do empowerment6

das mulheres em toda a sua diversidade, e pelasua participação eqüitativa com os homens emtodos os espaços de decisão, desde a base atéas arenas internacionais” (http://www.wedo.org, 24/11/1998). As principais for-mas de ação definidas pela WEDO como redesão o monitoramento dos resultados das Con-ferências Internacionais da ONU7 , assim comodas ações da Organização Mundial do Comér-cio (OMC) e do Banco Mundial (Bird).

A avaliação que a WEDO faz dos problemasambientais atuais (degradação da terra, ari-dez, salinização erosão, etc; desmatamento,principalmente das florestas tropicais; mudan-ças de clima, destruição da camada de ozônio,aquecimento do planeta decorrente das emis-sões de CO2 etc) identifica nos padrões de con-sumo dos países do Norte a origem dessesdesequilíbrios. As mulheres são vistas, ao mes-mo tempo, como alimentadoras desse modelode consumo (no Norte) e maiores prejudicadaspor ele (no Sul). Do ponto de vista dos consu-midores, é feita uma conexão bastante forte

ta”, à medida que questionam as relaçõesentre os países que dominam a ciência con-temporânea e aqueles que sofrem mais deperto as suas conseqüências.

No entanto, embora ela descreva e anali-se concretamente como essa mudança de pa-radigma se deu em diversas situações con-cretas no Terceiro Mundo, e suas conseqü-ências sobre as condições de vida das mulhe-res, as explicações que ela apresenta do pon-to de vista teórico sobre o porquê da separa-ção entre homens, mulheres e natureza, ocor-rida no pensamento contemporâneo, colocam-na claramente no campo do essencialismo. Umoutro problema que a sua visão apresenta, eque será retomado no ponto 5 deste texto, é ofato de que as relações tradicionais às quaisela se refere não eram isentas de opressão ediscriminação entre os sexos.

4 As agendas ecofeministasinternacionais e nacional

Para entender melhor o desdobramentodessas posições, vou citar exemplos de pro-gramas que vêm sendo desenvolvidos por or-ganizações que compartilham princípios doecofeminismo (embora, às vezes, não se defi-nam como tal). Em nível internacional, voutomar a organização não-governamentalWomen’s Environment and DevelopmentOrganization (WEDO), e no Brasil, a Rede deDefesa da Espécie Humana (REDEH) e RedeMulher de Educação (RME). Existem aindaoutras organizações que também mantêm tra-balhos vinculando às questões de gênero commeio ambiente, mas dado o objetivo específi-co deste artigo, não serão abordadas aqui5 .

A WEDO é uma rede internacional formadapor ativistas e lideranças de vários países, so-bretudo do Terceiro Mundo, para fazer pressãosobre órgãos internacionais e monitorar a exe-cução de políticas que promovam o melhoramen-to da situação das mulheres nos programas dedesenvolvimento. Foi criada em 1990, com sedeem Nova Iorque, presidida desde a sua funda-

A r t i g o

67Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000

A r t i g o

institucionalizadas perspectivas de gênero nasações desses organismos e assegurar umapresença maior de mulheres nas suas instân-cias de direção. No caso do Banco Mundial,também são reivindicados mais recursos paraprogramas de saúde, educação, projetos deagricultura sustentável, acesso à propriedadeda terra, emprego e financiamentos voltadosespecificamente para as mulheres.

Em linhas gerais, em termos de análise daproblemática ambiental e da necessidade dasmulheres mobilizarem-se e procurarem in-fluenciar nos organismos de decisão sobre aspolíticas públicas, pode-se dizer que as orga-nizações brasileiras REDEH e RME situam-seno mesmo campo que a WEDO. Nos seus pro-gramas de trabalho específicos, no entanto,as ênfases são um pouco diferentes.

No caso da REDEH, uma ONG criada em1987, com sede no Rio de Janeiro, os eixos de

trabalho foram população e ambiente, comforte ênfase na discussão dos mecanismos decontrole da reprodução humana, contra a in-gerência dos organismos internacionais sobreas políticas de população. Suas ações concre-tas após a Rio-92 foram no sentido de traba-lhar com instâncias locais de discussão, comoos Conselhos Municipais da Condição Femi-nina, onde eram prestadas assessorias paraprocurar formas de colocar em prática a Agen-da 21. No caso dos municípios, buscou-se de-

entre saúde, alimentação e meio ambiente.As propostas passam por trabalhos com os

consumidores visando a uma readequação doconsumo, estímulo a experiências que bus-quem aproximar os consumidores dos produ-tores, assim como maior descentralização eregionalização da produção. Do ponto de vis-ta do maior acesso das mulheres ao poder, aWEDO levanta a problemática da rígida divi-são sexual do trabalho nas sociedades ociden-tais como um dos fatores que impedem a par-ticipação das mulheres nos espaços públicosde decisão.

Quando da Cúpula Mundial da Alimenta-ção, em Roma (1996), a WEDO participou deum manifesto8 em que colocava suas posiçõessobre a problemática da segurança alimen-tar. Nesse manifesto, era criticada a falta decoerência da FAO9, que nas propostas paraacabar com a fome, aceitava as diretivas daOMC (liberalização do comércio internacional,manipulação genética de alimentos etc) comopossíveis soluções. Para a WEDO, a seguran-ça alimentar deve estar acima dos objetivosdo comércio internacional. Como a produçãoe a comercialização dos alimentos está cadavez mais nas mãos das grandes multinacio-nais, caso se coloque em prática as propostasapresentadas no Plano de Ação da FAO, “asmultinacionais serão capazes de controlar aalimentação mundial globalmente, determi-nar os preços, gerar escassez artificial e uti-lizar a alimentação como arma” (RME, 1997:5).Isto significaria a marginalização ainda mai-or das mulheres dos países do Terceiro Mun-do, que têm sido expulsas do campo. A mani-pulação genética dos alimentos, por outro lado,seria mais uma ameaça ao direito de umaalimentação saudável, problema que a FAOnão estaria enfrentando.

Enquanto ações visando ao empowermentdas mulheres, suas propostas se dirigem tam-bém à OMC e ao Banco Mundial. A rede man-tém dois programas permanentes de traba-lho10 cujas metas são lutar para que sejam

“. . . as multinacionais serão capazesde controlar a alimentação mundialglobalmente, determinar os preços,gerar escassez artificial e utilizar a

alimentação como arma”

68Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000

A r t i g o

das Conferências Internacionais e, no caso domeio ambiente, a Agenda 21 das mulheres.

Como exemplos concretos de trabalhos so-bre os quais têm influência, são citadas aslutas das quebradeiras de coco babaçu nonorte do país, as experiências de introduçãode multimisturas como complementação ali-mentar na merenda escolar de vários municí-pios, projetos de plantas medicinais levadosadiante por grupos de mulheres e trabalhosde reciclagem de lixo em parcerias com pre-feituras. A RME participa de vários fórunsnacionais e internacionais em defesa da se-gurança alimentar, da reforma agrária, peladefesa da Biodiversidade e outras lutas rela-cionadas com a questão agrária e ambiental.

5 Balanço das contribuiçõesO ecofeminismo, como uma corrente de

pensamento que procura incorporar a visãodas mulheres às discussões acerca da proble-mática ambiental, pode trazer a este campovárias contribuições inovadoras, à medida quechama a atenção para aspectos que não cos-tumam ser considerados nas políticas de de-senvolvimento, tais como as implicações quedeterminadas atividades econômicas têm so-bre as condições de vida e trabalho das mu-lheres, assim como sobre outros segmentosda população (populações tradicionais, indíge-nas etc). Ao dar importância para o que nãoera “economicamente relevante”, tais comoa cultura local, a qualidade de vida, os valo-res das populações-alvo dessas políticas (quepassam despercebidos nas estatísticas ofici-ais), ajuda a questionar visões de desenvolvi-mento baseadas unicamente em critérios comorenda, produção, produtividade.

A crítica que desenvolve com relação aosmodelos de desenvolvimento e às relações in-ternacionais, sobre as causas estruturais dapobreza e da destruição ambiental, o colocamao lado dos movimentos sociais que hoje con-testam a “ordem mundial” e a atuação de ins-tituições multilaterais tais como o Banco Mun-

senvolver ações liga-das ao saneamentobásico, coleta delixo e educaçãoambiental que po-deriam ser im-pulsionadas pe-las mulheres.

A discussãosobre saúde edireitos repro-

dutivos teve como li-nha a pressão sobre os governos

pela implantação do PAISM (Programa deAtendimento Integral à Saúde da Mulher). AREDEH mantém também trabalhos de capaci-tação para grupos de mulheres (sobre conhe-cimento do corpo, saúde, direitos reprodutivos,sexuais, esterilização, aborto) e realiza progra-mas de rádio (Natureza Mulher, na Rádio Na-cional da Amazônia, entre outros) que abor-dam a condição feminina e a interação entremeio ambiente, trabalho e a saúde das mulhe-res.

A Rede Mulher de Educação (RME) foi fun-dada em 1983, tem sede em São Paulo e seusistema de trabalho é de associação com gru-pos de mulheres que têm atuação local, emvários pontos do país, que se tornam “pontosfocais” da rede. Sua atuação dirige-se princi-palmente para mulheres pobres, trabalhado-ras rurais e movimentos populares, com osquais desenvolve atividades de capacitação,assessoria, pesquisa e comunicação (produ-ção de materiais como cartilhas, vídeos etc).

Seus temas de trabalho quanto à proble-mática agrícola/rural têm sido: impacto dosagrotóxicos sobre o ambiente e sobre a saúdedas mulheres; educação ambiental; produçãoalternativa de alimentos; formação de lideran-ças; geração de renda para mulheres. Comoorientação mais geral, suas integrantes defen-dem a necessidade dos grupos de mulheresinfluenciarem as políticas, buscar parceriaspara poder implementar as Plataformas de Ação

69Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000

A r t i g o

dial, a OMC e o FMI. Ao mesmo tempo, procu-ra dar uma ênfase ao caráter local das suasações, na realização de experiências alterna-tivas de recuperação ambiental, de seguran-ça alimentar etc. Nesse sentido, comungacom a lógica de vários movimentos sociais quese propõem hoje a “pensar globalmente e agirlocalmente”.

Do ponto de vista do ideário feminista, pode-se afirmar que o ecofeminismo se inscreve comoum movimento de luta pela eqüidade de gêne-ros na sociedade, identificando a necessidadede estímulo à participação das mulheres nasmais diversas as esferas de decisão.

O que parece ser mais problemático – maisdo que a forma como esses movimentos atu-am – é a visão que orienta essa ação, baseadana idéia de que as mulheres seriam depositá-rias de um “princípio feminino” dado por suacondição de mães, que as identificaria com aNatureza, com a fertilidade, com a criação, eportanto, teriam um lugar privilegiado na lutaecológica.

Autoras como Bila Sorj (1992), Sandra MaraGarcia (1992) e outras, já criticaram essa vi-são, tanto do ponto de vista das relações en-tre natureza e cultura, quanto do ponto de vistado essencialismo implícito a essas visões, e decomo isso significa uma visão a-histórica.

Para Bila Sorj, a principal debilidade dessaargumentação está no reforço que faz às ca-racterísticas que foram construídas históri-camente e socialmente como sendo mais ade-quadas ao papel social das mulheres(afetividade, docilidade etc), cujas conseqüên-cias principais foram a dominação e a opres-são no espaço público e privado, a segregaçãoao espaço doméstico etc.

Garcia critica em especial os trabalhos deVandana Shiva por terem uma visão unifor-me das mulheres do Terceiro Mundo (sem dis-tinção de raça, classe, etnia etc), assim como,ao localizarem a imposição de um modelo dedesenvolvimento colonialista sobre esses pa-íses como fonte das violências ambientais e

de gênero, ignoram que esse processo se deusobre bases preexistentes de desigualdadessociais e econômicas, inclusive de gênero.

Para esta autora, “o debate ecofeministaenfatiza o efeito das construções ideológicas nasrelações de gênero e nas formas de ação em re-lação ao meio ambiente. No entanto, precisamosir mais adiante e examinar criticamente as ba-ses materiais que são subjacentes a estas cons-truções, ou seja, analisar o trabalho que a mu-lher e o homem produzem, a divisão sexual dapropriedade e do poder e a realidade materialdas mulheres das diferentes classes, raças ecastas (no caso da Índia), pressupondo que es-sas diferentes inserções sociais devem afetarde forma diferenciada a vida dessas mulheres,possibilitando diversas respostas à degradaçãodo meio ambiente” Garcia, (1992: 165).

Pensando no Brasil de hoje e na tentativados movimentos populares (em especial nocampo) de buscar outros modelos de desen-volvimento, Maria Emília Pacheco (1997) apre-senta uma outra visão sobre as relações degênero e meio ambiente. Para esta autora, autilização do conceito de sistema de produçãopoderia ajudar a dar uma maior visibilidadepara o trabalho das mulheres na agriculturae na conservação ambiental. Partindo do tra-balho que hoje é feito pelas mulheres, dandoimportância para o que hoje é desprezado, sepoderia trazer as mulheres para as lutas soci-ais/ambientais, incorporando as suas preo-cupações e os seus conhecimentos nas pro-postas de mudanças. Porém, fica ainda a ques-tão: esta valorização seria suficiente para pro-vocar uma mudança mais profunda na divi-são sexual do trabalho e na hierarquizaçãoentre os gêneros existente no campo?

Maria Emília defende o resgate do que noNorte do país é chamado de “quintais” – aquela

Poderia-se trazer as mulheres para aslutas sociais/ambientais, incorporando as

suas preocupações e os seusconhecimentos nas propostas

de mudanças

70Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000

área em torno da casa onde são criados os ani-mais domésticos, é feita uma pequena horta,um pomar, e são realizadas as tarefas de agro-industrialização caseira. São hoje espaço porexcelência da atuação das mulheres. Servemcomo área de produção de uso múltiplo, espaçode complementação de renda e enriquecimen-to da dieta alimentar, e campo de aclimataçãoe experimentação de espécies. Segundo ela, oapoio a estas atividades poderia ser combina-do com as culturas comerciais, em uma pro-posta de agricultura sustentável, tendo comoprincípio a agroecologia. Esta proposta teria acaracterística de evidenciar o valor do traba-lho das mulheres na agricultura familiar hoje,e sua situação dentro da família, em um pers-pectiva de resgate da biodiversidade e de for-mas alternativas de produção.

Talvez como um exercício de inclusão, sejainteressante pensarmos em como incorporarestas questões aos nossos diagnósticos e pla-nos de desenvolvimento comunitários ou mu-nicipais, começando por incorporar as própri-as mulheres nos processos de discussão emque esses diagnósticos e planos são elabora-dos. Se elas não estão presentes ou não semostram interessadas, poderíamos nos per-guntar as razões dessas ausências.

Em artigo anterior, (Siliprandi, 1999), co-mento sobre esses problemas e proponho for-mas de contorná-los: realizar atividades comas mulheres que permitam que elas se vejamefetivamente como trabalhadoras (e não como“ajudantes” dos maridos); promover a sua ca-

CASTRO, Mary G. & ABRAMOVAY, Miriam. Gê-Gê-Gê-Gê-Gê-nero e meio ambientenero e meio ambientenero e meio ambientenero e meio ambientenero e meio ambiente. . . . . São Paulo-Brasília:Cortez-Unesco-Unicef, 1997.

GARCIA, Sandra M. Desfazendo os vínculos na-turais entre gênero e meio ambiente. Estu-Estu-Estu-Estu-Estu-dos Feministasdos Feministasdos Feministasdos Feministasdos Feministas, Rio de Janeiro, v.0, p.163-167, 1992.

KULETZ, Valerie. Entrevista a Barbara Holland-Cunz. Ecología PEcología PEcología PEcología PEcología Políticaolíticaolíticaolíticaolítica, Madrid-Barcelona,

5 Referências Bibliográficas

n. 4, p.9-20, set. 1992.MIES, Maria. Os modelos de consumo do Nor-

te – causa da destruição ambiental e da po-breza do Sul. Cadernos da Rede de Defe-Cadernos da Rede de Defe-Cadernos da Rede de Defe-Cadernos da Rede de Defe-Cadernos da Rede de Defe-sa da Espécie Humana (REDEHsa da Espécie Humana (REDEHsa da Espécie Humana (REDEHsa da Espécie Humana (REDEHsa da Espécie Humana (REDEH))))), Salvador,v.1, especial, p.35-44, 1991. (ConferênciaMulher, Procriação e Meio Ambiente – Con-tribuições das participantes)

PACHECO, Maria Emília L. Sistemas de produção:

pacitação em temas que vão além daquelesconsiderados “tipicamente femininos”, quealarguem os seus conhecimentos sobre a co-munidade e a sociedade em que estãoinseridas; introduzir, nos processos de capaci-tação e organização de agricultores(as), a dis-cussão sobre as desigualdades de gênero, parapoder avançar na reflexão sobre formas desuperá-las; criar condições especiais (de ho-rário, local, pauta, transporte, creche etc) paraque as mulheres efetivamente possam parti-cipar das atividades coletivas (cursos, reuni-ões, viagens de intercâmbio), em que os te-mas da agricultura e desenvolvimento são dis-cutidos.

Não é por terem nascido mulheres, no sen-tido essencialista do termo, que elas têm a con-tribuir na discussão de propostas. É porque setornaram mulheres - e estão inseridas social-mente em atividades específicas, porque têmpontos de vista históricamente e socialmenteconstruídos, que podem oferecer visões sobreo desenvolvimento social que o pensamento ea prática masculinas não são capazes de abar-car. É preciso que se assuma que a invisibili-dade do trabalho das mulheres na agriculturaé um dos entraves para que as propostas alter-nativas de desenvolvimento sejam efetiva-mente coerentes, amplas e eqüitativas. A par-tir da incorporação dessas questões, com cer-teza, irão aparecendo novos desafios, e progres-sivamente se avançará no sentido de um ver-dadeiro empowerment das mulheres rurais.

A r t i g o

AAAAA

71Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.1, n1, jan./mar.2000

5 Referências Bibliográficas

uma perspectiva de gênero. PropostaPropostaPropostaPropostaProposta, Rio deJaneiro, v.25, n. 71, p.30-38, dez./fev. 1997.

REDE MULHER DE EDUCAÇÃO (RME). Alimentan-do a vida. Cunhary InformaCunhary InformaCunhary InformaCunhary InformaCunhary Informa, São Paulo, v.5, n.

25, p.5-8, set./out. 1997.SHIVA, Vandana. Abrazar la vidaAbrazar la vidaAbrazar la vidaAbrazar la vidaAbrazar la vida::::: mujer, ecología

y supervivencia (trad. Ana E. Guyer e BeatrizSosa Martinez). Montevideo: Instituto del TercerMundo, 1991

SHIVA, Vandana. Monocultivos y biotecnologíaMonocultivos y biotecnologíaMonocultivos y biotecnologíaMonocultivos y biotecnologíaMonocultivos y biotecnología(amenazas a la biodiversidad y la(amenazas a la biodiversidad y la(amenazas a la biodiversidad y la(amenazas a la biodiversidad y la(amenazas a la biodiversidad y lasupervivencia del planeta)supervivencia del planeta)supervivencia del planeta)supervivencia del planeta)supervivencia del planeta) (trad. Ana E.Guyer). Montevideo: Instituto del Tercer Mun-do, 1993.

SILIPRANDI, Emma. Para pensar políticas de for-mação para mulheres rurais. In: BRACAGIOLI

NETO, A. (org.) Sustentabilidade e Cidada-Sustentabilidade e Cidada-Sustentabilidade e Cidada-Sustentabilidade e Cidada-Sustentabilidade e Cidada-nianianianiania: : : : : o papel da extensão rural. Porto Alegre:EMATER/RS, 1999. p.175-187 (Série Programade Formação Técnico-social da EMATER/RS).

SORJ, Bila. O feminino como metáfora da natu-reza. . . . . Estudos FeministasEstudos FeministasEstudos FeministasEstudos FeministasEstudos Feministas, Rio de Janeiro, v.0,p.143-150, 1992.

WOMEN’S ENVIRONMENT AND DEVELOPMENTORGANIZATION (WEDO). New world foodpolicies could displace rural women farmers.News and ViewsNews and ViewsNews and ViewsNews and ViewsNews and Views, New Y, New Y, New Y, New Y, New York, vork, vork, vork, vork, v.9, n.9, n.9, n.9, n.9, n..... 3/4, p. 3/4, p. 3/4, p. 3/4, p. 3/4, p.6, nov6, nov6, nov6, nov6, nov./dez. 1996../dez. 1996../dez. 1996../dez. 1996../dez. 1996.

WOMEN’S ENVIRONMENT AND DEVELOPMENTORGANIZATION (WEDO). About WEDO...Disponivel na Internet: http://www.wedo.org,24/11/98.

Notas2 Barbara Holland-Cunz, professora da Univer-

sidade de Frankfurt, em entrevista a KULETZ (1992).3 Várias autoras publicaram livros e artigos sobre

estas questões neste período, tais como, Françoised’Eaubonne (França, 1974), Sherry Ortner (EstadosUnidos, 1974), Gabriele Kuby (Alemanha, 1975),Susan Griffin e Mary Daly (Estados Unidos, 1978).Posteriormente, outras como Carolyne Merchant (Es-tados Unidos), Maria Mies (Alemanha) também re-tomaram o tema da identificação da mulher com aNatureza devido à sua condição de reprodutora davida, dentro do ideário do “feminismo da diferen-ça”.

4 Doutora em Física e Filosofia, é diretora daFundação Dehra Dun de Pesquisa sobre Políticasde Ciências, Tecnologia e Recursos Naturais na Ín-dia, e membro da Rede Terceiro Mundo (Third WorldNetwork).

5 Ver a respeito Castro & Abramovay (1997).6 Embora este termo pudesse ser traduzido por

“fortalecimento”, é mais comum aparecer na formade “empoderamento” das mulheres; como ações quevisam dar às mulheres mais poder de decisão, maisacesso às instâncias reais de poder na sociedade.

7 A WEDO realizou acompanhamento de todas

essas conferências: Meio Ambiente (Rio de Janeiro,1992), Direitos Humanos (Viena, 1993), População(Cairo, 1994), Pobreza e Desenvolvimento Social(Copenhague, 1995), , Mulheres (Pequim, 1995),Assentamentos Humanos (Istambul, 1996) e Ali-mentação (Roma, 1996).

8 O chamado Apelo de Leipzig foi redigido eapresentado por Vandana Shiva e Maria Mies noDia Mundial das Mulheres sobre a Alimentação. Otexto completo pode ser obtido no site da WEDO.Há uma tradução resumida no Boletim Cunhary no25 (RME, 1997).

9 A FAO é a Organização das Nações Unidaspara Agricultura e Alimentação, responsável pelarealização da Cúpula.

10 Os Programas são: Women Take on WorldTrade Organization e Women’s Eyes on the WorldBank. O primeiro poderia ser traduzido como “mu-lheres tomam conta da OMC”; quanto ao segun-do, existe uma articulação no Brasil formada porrepresentantes de ONGs e movimentos sociais quetêm assumido o nome de “Mulheres de Olho noBanco Mundial”. Essa articulação, embora com pro-pósitos semelhantes, não é uma representação di-reta do programa mantido pela WEDO.

A r t i g o