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“A arte de ensinar Economia de uma maneira simples, sem mistérios”. De Maria Eulália, uma ex-aluna. AULA 7: AS CONTAS DO SISTEMA FINANCEIRO Observação: Este é, a rigor, o único tópico que faltava para cobrirmos todo o programa de Economia do concurso de AFRFB e, com ele, nós encerramos os textos de Economia 2. Com estes sete textos mais os dez textos de Economia 1 (afora o de exercícios), nós podemos dizer que cobrimos todo o vasto programa de Economia daquele concurso. E mais: Podemos afirmar com certeza que nenhum outro curso ou apostila ou livro – cobre ou cobriu tão exaustivamente aquele programa como estes nossos dois cursos e com uma vantagem a mais para vocês: os textos foram escritos numa linguagem fácil, dirigida principalmente aos não-economistas, e, temos certeza que, se você conseguiu assimilar bem o conteúdo desses textos, você tem excelentes condições de fazer uma boa prova de Economia. Assim, só me resta lhe desejar uma boa sorte! 1. Introdução O sistema financeiro nacional é constituído de dois grupos de instituições: o chamado sistema monetário e o sistema não- monetário. O sistema-monetário é constituído pelas instituições financeiras que criam moeda, ou seja, é constituído de apenas o Banco Central – que emite moeda – e dos bancos comerciais – que recebem depósitos à vista. Já o sistema não-monetário é constituído de todas as demais instituições financeiras (as que não criam meios de pagamento), aí compreendidos os bancos de investimento, os bancos de desenvolvimento, as sociedades de crédito, financiamento e investimento (financeiras), o sistema brasileiro de

Economia – as contas do sistema financeiro

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“A arte de ensinar Economia de uma maneira simples, sem mistérios”. De Maria Eulália, uma ex-aluna.

AULA 7: AS CONTAS DO SISTEMA FINANCEIRO

Observação: Este é, a rigor, o único tópico que faltava para cobrirmos todo o programa de Economia do concurso de AFRFB e, com ele, nós encerramos os textos de Economia 2. Com estes sete textos mais os dez textos de Economia 1 (afora o de exercícios), nós podemos dizer que cobrimos todo o vasto programa de Economia daquele concurso.

E mais: Podemos afirmar com certeza que nenhum outro curso ou apostila ou livro – cobre ou cobriu tão exaustivamente aquele programa como estes nossos dois cursos e com uma vantagem a mais para vocês: os textos foram escritos numa linguagem fácil, dirigida principalmente aos não-economistas, e, temos certeza que, se você conseguiu assimilar bem o conteúdo desses textos, você tem excelentes condições de fazer uma boa prova de Economia. Assim, só me resta lhe desejar uma boa sorte!

1. Introdução

O sistema financeiro nacional é constituído de dois grupos de instituições: o chamado sistema monetário e o sistema não-monetário. O sistema-monetário é constituído pelas instituições financeiras que criam moeda, ou seja, é constituído de apenas o Banco Central – que emite moeda – e dos bancos comerciais – que recebem depósitos à vista.

Já o sistema não-monetário é constituído de todas as demais instituições financeiras (as que não criam meios de pagamento), aí compreendidos os bancos de investimento, os bancos de desenvolvimento, as sociedades de crédito, financiamento e investimento (financeiras), o sistema brasileiro de

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poupança e empréstimo (cadernetas de poupança), as distribuidoras, as corretoras e tantas outras.

No programa de Economia do concurso de Auditor Fiscal da Receita Federal contém, como um de seus tópicos “As contas do sistema financeiro nacional” – o que, evidentemente, parece ser um engano. Certamente, o elaborador deste programa cometeu um ato falho ao se referir às contas do sistema financeiro quando, na verdade, queria dizer “As contas do sistema monetário”.

Dizemos isso porque seria inimaginável se exigir num programa de concurso público o conhecimento das contas de inúmeras e tão diversas e díspares instituições financeiras que compõem o sistema financeiro como um todo, especialmente as que compõem o sistema não-monetário. Tratando-se de instituições com objetivos e ações tão diferentes uma da outra, torna-se impraticável, senão impossível por irrealista, a consolidação de seus balancetes.

Assim considerado, o que vamos fazer aqui é uma descrição das principais contas das duas instituições do sistema monetário: o Banco Central e os bancos comerciais. Após apresentar de forma sintética as contas de cada um, faremos uma consolidação dos dois balancetes para mostrar as contas do sistema monetário como um todo. Comecemos pelos Bancos Comerciais.

2. Balancete consolidado dos Bancos Comerciais

As contas do sistema monetário aparecem no balancete consolidado deste sistema, destacando-se as principais contas do passivo (fonte dos recursos) e do ativo (aplicação ou destino dos recursos) dos bancos públicos e privados e da autoridade monetária – o Banco Central.

Seguindo os princípios contábeis, o balancete dos bancos comerciais apresenta, de um lado, as contas (operações) ativas, isto é, aquelas que dizem respeito à aplicação dos recursos e, do outro, as contas (operações) passivas – que se referem à captação ou origem dos recursos.

Assim entendido, quando um banco faz um empréstimo, esta operação é registrada no lado do Ativo, pois trata-se de uma

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operação de aplicação de recursos. Já o recebimento de depósitos à vista é registrado no lado do Passivo pois trata-se de uma operação de captação de recursos. Em síntese, os recursos registrados no Passivo se destinam ao financiamento das operações ativas do banco, observando-se, sempre, a regra contábil de que o total do Passivo deve sempre se igualar ao total do Ativo.

A Tabela 1 mostra as principais contas que normalmente aparecem no balancete consolidado sintético de todos os bancos comerciais (os números são fictícios). Do lado do Passivo, para financiar suas aplicações, os bancos comerciais contam com recursos de depósitos (principal fonte), os redescontos e outros empréstimos obtidos junto Banco Central, as operações cambiais (resultado de empréstimos externos e transações internas com exportadores/importadores), os recursos próprios, as obrigações por arrecadações (impostos, luz, água, telefone, etc) considerando-se a defasagem entre o recebimento dessas contas pelos bancos comerciais e o seu posterior recolhimento ao Banco Central ou à empresa credora do recurso.

Do lado do Ativo, as diversas rubricas mostram o destino dos recursos: um percentual dos depósitos permanece em caixa, como moeda corrente, para atender, principalmente, cheques à vista ou saques no caixa eletrônico; outro percentual se destina aos depósitos voluntários dos bancos comerciais no Banco Cetral (principalmente para cobertura da compensação de cheques); e um terceiro percentual corresponde ao recolhimento compulsório de parte dos depósitos à vista ao Banco Central.

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TABELA 1

BALANCETE CONSOLIDADO SINTÉTICO DOS BANCOS COMERCIAIS

Saldo em R$ bilhões

Ativo (Aplicações) Dez/ 2004

Passivo (Recursos) Dez/ 2004

1. Encaixe total 239,0 1.Depósitos 1.200,0

a) Caixa (moeda corrente) 29,0 a) À vista (Rec. Monetários) 907,0

b)Dep. Voluntário no Bacen 18,0 b) A prazo 183,0

c) Depósito Compulsório 192,0 c) Judiciais e outros 110,0

2. Empréstimos 1.585,0 2. Obrig. junto ao Bacen. 410,0

3. Títulos e Val. Mobiliários 306,0 a) Redescontos de liquidez 76,0

4. Imobilizado 139,0 b) Outros empréstimos 334,0

5.Outras contas (Saldo líq.) 131,0 3.Obrigações por Arrecadações 141,0

4. Operações cambiais (S.Líq.) 329,0

5. Recursos próprios 320,0

TOTAL 2.400,0 TOTAL 2.400,0

Uma outra importante aplicação dos bancos comerciais são os empréstimos ao público e a entidades governamentais. Além desses, os bancos possuem aplicações em títulos públicos federais e outros valores mobiliários, incluindo aí LFT, LTN, NTN, letras de câmbio, letras imobiliárias, etc. O restante dos recursos está aplicado em diversas outras pequenas contas e sob a forma de ativo fixo, ou seja, o imobilizado.

Vale observar que, de todas as fontes de recursos dos bancos comerciais, a única que constitui “recursos monetários” são os depósitos à vista do público que são parte dos meios de pagamentos (M1). Todos os demais são recursos não monetários.

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3. O Balancete do Banco Central

As contas que aparecem no balancete consolidado do Banco Central refletem claramente as funções que lhe são atribuídas, no Brasil.

Pelo modo como o sistema financeiro brasileiro foi (e está) estruturado, o Banco Central, diferente dos países capitalistas mais adiantados, além de exercer as funções típicas de um banco central, ainda exerce (melhor diríamos, exercia até pouco tempo atrás) funções de fomento, administrando uma série de programas para a agricultura, o turismo, o comércio exterior. É verdade que, caminhando rapidamente para a tão sonhada autonomia e independência em relação ao governo ou ao Ministério da Fazenda, o Banco Central tem repassado esta função de fomento para outros bancos oficiais de desenvolvimento (BNDEs) e Caixa Econômica Federal e outros, mas em seus balancetes há ainda resíduos dessas operações (que, por serem, assim, residuais, não estão mostradas no balancete mostrado na Tabela 2).

Tradicionalmente, as funções típicas de um Banco Central são:

i) banco emissor de papel-moeda;

ii) banqueiro dos bancos comerciais;

iii) agente depositário dos recursos do Tesouro Nacional; e

iv) depositário das reservas internacionais do país.

Todas estas funções típicas de Banco Central aparecem em algumas contas do balancete consolidado da Autoridade Monetária, tal como mostrado na Tabela 2.

Como se pode ver pela Tabela 2, as contas do passivo do Banco Central estão divididas em dois grupos: o passivo não-monetário e o passivo monetário, conforme a natureza da conta. Os recursos que fazem parte do passivo não-monetário são aqueles que não se encontram à disposição do público e, como tal, não são exigíveis a curto prazo. Já os recursos monetários se constituem de todos aqueles valores exigíveis a curto prazo (o Papel-moeda em circulação – PMC -, os depósitos voluntários e compulsórios dos bancos comerciais).

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TABELA 2

BALANCETE CONSOLIDADO SINTÉTICO DO BANCO CENTRAL

Saldo em R$bilhões

Ativo (Aplicações) Dez/ 2004

Passivo (Recursos) Dez/ 2004

1. Crédito ao Setor Financeiro 410,0 A – Passivo não-monetário 1.104,0

a) Redescontos de liquidez 76,0 1. Oper. Com T.N. , ligadas à execução orçamentária

(13)

b) Outros Empréstimos 332,0 2. Reserva monetária (iof, etc) 105,0

2. Créd. A Inst. Não financeir. 216,0 3. Depósitos diversos 642,0

3. Contas cambiais (s. líquido) 181,0 4. Depósitos a prazo 134,0

4.Títulos e valores mobiliários 676,0 5. Recursos próprios 223,0

5. Imobilizado 65,0 B- Recursos monetários 529,0

6. Demais contas (saldo) 95,0 6. Papel-moeda em circulação 319,0

a) Caixa dos bcos. comerciais 29,0

b) Papel-moeda em p.público 290,0

7.Depósitos dos Bcos. Comerc. 210,0

a) Voluntários 18,0

b) Recolh. compulsório 192,0

TOTAL 1.643,0 TOTAL 1.643,0

Feita esta colocação, vamos voltar ao Balancete do Banco Central. Como órgão emissor de papel-moeda, o total emitido deve aparecer no lado do passivo (monetário) como uma das fontes de financiamento das operações do Banco Central.

Observe que, na Tabela 2, aparece apenas o papel-moeda em circulação (PMC) de vez que, na consolidação deste balancete, no

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Ativo deveria aparecer o “dinheiro em caixa” existente naquele Banco. Deste modo, subtraindo-se, na consolidação, este encaixe de ambos os lados, este dinheiro em caixa do Bacen desaparece do lado do Ativo, e, do lado do Passivo, o papel-moeda emitido vira PMC (lembre-se que “papel-moeda emitido” menos dinheiro em caixa do Banco Central é igual a moeda em circulação – PMC).

Como banqueiro dos bancos, aparecem no passivo os depósitos voluntários e recolhimentos compulsórios dos bancos comerciais, enquanto, no ativo aparecem os redescontos de liquidez e outros empréstimos e adiantamentos que o Banco Central faz àqueles bancos.

Como banqueiro do Tesouro Nacional, aparecem no passivo os depósitos da União (geralmente, recursos tributários) e, no ativo o saldo dos títulos públicos federais e empréstimos ao Tesouro.

Na função de depositário das reservas internacionais do país, aparece no ativo o contra-valor, em reais, dessas reservas.

Feitos estes registros, podemos observar que, se subtrairmos do Ativo Total do Banco Central o total do Passivo-não monetário, obtemos o passivo monetário que, por definição, é igual à base monetária.

Para guardar: o PASSIVO MONETÁRIO do Banco Central é, por definição, igual à BASE MONETÁRIA!

4. O Balancete Consolidado Sintético do Sistema

Monetário

Sinteticamente, o balancete consolidado do Sistema Monetário consiste na soma algébrica dos valores das contas comuns constantes dos balancetes consolidados do Banco Central e dos bancos comerciais (como, por exemplo, é o caso dos “recursos próprios”, “depósitos a prazo”, “contas cambiais”, etc.) repetindo-se, por outro lado, os valores daquelas contas peculiares a cada balancete (por exemplo, “obrigações por arrecadações”, “recursos do Tesouro Nacional”, etc., conforme é mostrado na Tabela 3.

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TABELA 3

BALANCETE CONSOLIDADO SINTÉTICO DO SISTEMA MONETÁRIO

Ativo (aplicações) Dez/ 2004

Passivo (recursos) Dez/ 2004

1. Empréstimos 1.585,0 A) Passivo não-monetário 1.868,0

2. Títulos e valores mobiliários 982,0 1. Rec. Tesouro Nacional (13)

3. Contas Cambiais (s.líquido) (148,0) 2.Depósitos a prazo e outros 1.069,0

4. Imobilizado 204,0 3. Obrigações por arrecadaç. 141,0

5. Outras contas (saldo líquido) 226,0 B) Passivo monetário 1.197,0

1. Papel-moeda em poder do público (PMP)

290,0

2. Depósitos à vista 907,00

TOTAL 3.065,0 TOTAL 3.065,0

Um ponto importante a observar é que, nesta consolidação, as contas que aparecem no ativo do Banco Central e, correspondentemente, no passivo dos bancos comerciais, e vice-versa, são automaticamente eliminadas – como é o caso dos encaixes e depósitos voluntários e compulsórios - que aparecem no ativo dos bancos comerciais e no passivo do Banco Central – como também é o caso dos outros empréstimos e adiantamentos do Banco Central aos bancos comerciais.

Mais uma vez, aqui também o passivo está decomposto em dois grupos de recursos: os recursos não-monetários e os recursos monetários.

Observe-se que, com as eliminações feitas, os recursos monetários restantes correspondem exatamente ao total dos Meios de Pagamento (M1) – que são constituídos pelo Papel-moeda em Poder do Público mais os Depósitos à vista do Público nos bancos comerciais.

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Para guardar: O PASSIVO MONETÁRIO do sistema monetário é igual, por definição, aos MEIOS DE PAGAMENTO!

* * *

Feitas estas colocações, encerramos este nosso último texto de Economia 2. Como dissemos no início, com este texto, podemos afirmar que todo o programa de Economia do concurso de AFRFB foi coberto – algo que você não encontrará em nenhum outro livro, ou apostila ou “cursinho preparatório”.

Assim, mais uma vez, só nos resta lhe desejar muito sucesso.

Boa sorte e muito obrigado! Vou ficar torcendo por você!

E até uma nova oportunidade.

Prof. Mozart Foschete.

_______________________ Bibliografia consultada: Este Texto foi extraído, com as devidas adaptações de redação, de: Foschete, M. – MANUAL DE ECONOMIA – Ed. Vestcon, Brasília, 3ª Edição, 1996. ______________________