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Economia e produção do espaço urbano precário: um olhar para o processo de urbanização da cidade de Manaus Roberto Fontes de Souza 1 , FAUUSP, [email protected] 1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade de São Paulo

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Economiaeproduçãodoespaçourbanoprecário:umolharparaoprocessodeurbanizaçãodacidadedeManaus

RobertoFontesdeSouza1,FAUUSP,[email protected]

1MestrandodoProgramadePós-GraduaçãodaFaculdadedeArquiteturaeUrbanismo-UniversidadedeSãoPaulo

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SESSÕES TEMÁT ICA 7 : C IDADEE H ISTÓRIA

DESENVOLVIMENTO,CRISEERESISTÊNCIA:QUAISOSCAMINHOSDOPLANEJAMENTOURBANOEREGIONAL? 2

RESUMO

Este trabalho busca investigar de que forma as mudanças nos modelos de acumulação de capitalafetarama produção do espaço urbanoprecário e segregadona cidade deManaus ao longo de suahistória.Interessarecuperarasraízesdoprocessodaocupaçãoflutuanteepalafíticanaregiãocentraldacidade.Destacoaolongodotextoopapeldasredesdeinfraestruturacomoobjetoextemporâneo,entendidooracomoelementodeprojeçãodepoderpolítico,oracomovetordereproduçãodocapitale construção de uma imagemde cidade exclusiva. Busco uma reflexão sobre onde pousamas baseshistóricas do modelo urbano e das tipologias da exclusão atual em Manaus, que dê lastro a umaposterioranálisedasrotinasdeintervençãonosassentamentosprecáriosdacidade.

A pesquisa bibliográfica realizada neste trabalho é parte de dissertação de mestrado emdesenvolvimento na FAUUSP. Foram pressupostos no levantamento destas referências os temas dodesenvolvimento urbano da cidade de Manaus e região norte do território nacional, de forma acontribuirparaaproduçãodeconhecimentosobreotemadaurbanizaçãoemáreasalagadasdaregiãoamazônica,matériaquerevelaaspectosedesafiospróprios,complementaresaoconhecimentocríticosobreaurbanizaçãodefavelasemprodução.

PalavrasChave:Precariedade,Manaus,Palafitas,Amazônia

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ECONOMIA E PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO PRECÁRIO: UM OLHAR PARA OPROCESSODEURBANIZAÇÃODACIDADEDEMANAUS

A aproximação de uma realidade complexa como a que nos propomos neste exercício, nãopoderiapartirdeumreferencialcircunscritoaumadeterminadaáreadoconhecimento.Seessapremissa tenta estabelecer uma leitura abrangente e plural do objeto, ela encerra tambémpossibilidades de verificação e contextualização, capazes de produzir convergências temáticasinteressantesaonossoobjetivo.

Resvalar com o que se insinua como uma excepcionalidade entre as cidades brasileiras pareceinevitávelemuitosedutor,masnãoaprofundaremosnainvestigaçãodessetema,empreendendocomparações que comprovem que o processo de urbanização estudado se deu sob condiçõesespecíficasouúnicasnocenárionacional.

Aziz Ab’Saber (2004) apresenta termo poderoso para descrever a situação geográfica deimplantaçãodeManaus,centripetismohidrográfico.Segundoele

“(...)atravésdaconfluênciadoNegrocomoSolimões,tantoparaoeste,comonoroeste e sudoeste, o esqueleto geral da rede hidrográfica do Amazonasapresentaaspectocentrípeto,convergindodetodosessesquadrantesparaopequeninofragmentodetabuleiro,ondeacidadefoiimplantada.”(Ab’saber,2004,p.201)

No mesmo trabalho, Ab’Saber, descreve 4 elementos fundamentais na topografia do sítio dacidade:(1)abarreirafluvialqueseelevaquasecontinuamentenamargemesquerdadoRioNegro;(2)praiasde10a20mdelarguranabasedessabarreiraequeseinundamtotalmentenoperíododecheias;(3)colinassuavesqueseestendempeloreversodabarreira.4)níveisdeterraceamentonas encostas dos igarapés, caminhos d’água de largura variada, que entrecortam o terreno emdireçãoaoNegro,suscetíveisasvariaçõesdassuascheias.

A hidrografia da Manaus se organiza em quatro principais bacias: Tarumã, São Raimundo,Educandos e Puraquequara. Nesta ordemde apresentação, de oeste para leste, a ocupação doterritórioaconteceuaolongodahistória,conformeindicadopelaFigura1.

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Poucos por ali andaram e deixaram relatos que nos deem sinais das estruturas mínimas queatuaramoriginalmentenaproduçãodoespaçourbano.Sabe-sequeamissãomilitareaempresadacapturademãodeobraescravaconcorreramparaanularqualquer intençãodepovoamentooucolônia.Algumasreferênciasprefiguramafortaleza-ancoradouropré-urbana,distante1.400kmdomar, ocupadapormilitares e índios, emproporções que se invertemao longodos anos.Decerta forma, tudo se assemelha mais com um “antes” alongado, que perdura inerte em umafunçãoregionalseculardelocalintermediário,umpontonomeiodocaminho.

Os depoimentos ou memórias de viagens no final do século XVIII, em sua maioria, partem deindivíduos rumo a outros destinosmais internos na floresta ou em retorno ao litoral, e que aliparavamemudavampara embarcações que subiriamo RioNegro ou percorreriamo Solimões.Mas registram-se importantes relatos de oficiais, funcionários e enviados da Corte, entre elesFrancisco Xavier Ribeiro de Sampaio (1777), ouvidor da capitania de São José do Rio Negro;AlexandreRodrigues Ferreira, naturalistabrasileiro autordeViagemFilosóficapelaCapitaniadeSãoJosédoRioNegro(1783-1792);eManueldaGamaAlmada(1787),governadordacapitaniadeSãoJosédoRioNegro.

OficialmenteaocupaçãodosítiodeManauscomeçaem1669quandooFortedeSãoJosédoRioNegro é construído a mando do governador do Pará no “Logar da Barra”, trecho da margemesquerda do Rio Negro. Desde o início do século XVII expedições já faziam seu pouso nestas

Figura1-BaciashidrográficasurbanizadasdeManaus,comdestaquepara(1)Tarumã,(2)SãoRaimundo,(3)Educandos-Quarentae(4)Puraquequara.Fonte:SEMMAS(2007)in:COSTA,2012.

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paragens, a princípio derampreferência à boca do Tarumã, 20 km amontante da barra do RioNegro.

Ao longo do XVIII, Lugar da Barra se justifica apenas como ponto de parada compulsória paraaqueles que seguem para os núcleos fundados no Alto Rio Negro. Nos diários de sua ViagemfilosóficapelascapitaniasdoGrão-Pará,RioNegro,MatoGrossoeCuiabá(1783-1792),AlexandreRodrigues Ferreira (1885) registra a população do povoado em1786 composta por 47 brancos,243 índios e 11 negros, totalizando 301 indivíduos, distribuídos em40 habitações e produzindoalimentos apenas para seu próprio abastecimento.Um crescimento irrisório para os quase cemanosdeexistênciadaquelalocalidade,principalmentesecomparadaaorestantedaregião.

Durante esse século, a atividade econômica da região experimentou um avanço altamentedependentedocomércioexteriore concentradonascidades litorâneasdeBelémdoParáeSãoLuiz doMaranhão, principais portos exportadores da produção de cacau e algodão.Organizadanum modelo muito rudimentar, a coleta se dispersava por grandes extensões com difíciltransporte, gerando um alto custo real. O funcionamento da Companhia Geral do Grão-Pará eMaranhão entre 1755 e 1778, possibilitou a expansão da produção de algodão para outrascapitanias (Santos, 1980). Sua criação se percebe também, como contraponto da administraçãopombalinaàpresençamissionárianaregião,obstáculonaempresadacaçaaoíndio,essencialnofornecimentodemãodeobraescravaparaosplantiosdealgodão,cacaueoutros.

AaçãoadministrativaduranteogovernodeLoboAlmadanacapitaniamarcouaviradadoséculoXIXnaBarradoNegro.Ab’Saber(2004)indicaqueforamconstruídasumafábrica,olaria,estaleiro,cordoaria,tecelagem,padariaeoPaláciodosGovernadores.Apósanosdealternâncias,aViladaBarraéconfirmadapelogovernadorcomocapitaldaCapitaniadeSãoJosédoRioNegroem1804.Tal fato, porém não alterou a condição urbana como um povoado equipado de alguns prédiospúblicosjuntoaorio,eaumaantigacasa-fortejáemruínas.

Assim, recorto alguns aspectos da ocupação da região amazônica ao longo do século XVIII,interessantesparanossosobjetivosiniciais:

(i) Foi um período de consolidação do território colonial português, já fortificadoduranteoséculoXVII;

(ii) Mesmo com uma crescente produção agrícola no final do período, de formageralacaçaaoíndiotempapelfundamentalnaeconomiaenodesenvolvimentoterritorial;

(iii) DuranteoséculoXVIII,multiplicaramasocupaçõesportuguesasaolongodovaledoAmazonasedoRioNegro;

(iv) Naplanícieamazônicasedesenvolveuumaeconomiafluvial.

A queda dos preços do cacau na primeirametade do XIX, levou ao colapso de toda sua cadeiaprodutiva expondo as condições miseráveis de vida da sua população. Em seu artigo O EnsaioGeral da Cabanagem, Luís Balkar Pinheiro (2009) relata um ensaio de conflagração rebeldeocorridoemManausem1832,àépocaViladaBarra,quandoum levantedesoldadoscontraosrecrutamentos forçados,maus tratoseatrasosnos soldos, seespalhoupelo lugaremobilizouapopulação insatisfeita com as condições de taxação impostas pelo recente Império. Segundo oautor, mesmo duramente reprimido, esse episódio consolidou ressentimentos profundos eduradouros,queemergiriamnovamente.

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EmseutrabalhoAcidadedeManaus,Ab’Saber(2004)recuperaestatísticaeapontaqueem1839a vila contava com4.188almas, com379escravos acrescidos, representandouma inversãodosnúmerosde1786,quandoparaumarestritaquantidadedeindivíduoslivres,haviaumapequenamassadeescravos.Asdemandaspolíticasadministrativasassumidaspelaelevaçãoà capital eodesenvolvimento de atividades secundárias e de serviços portuários, apresenta-se como umaspecto importante dessa inversão e no aumento da população. As moradias da cidade nesseperíodoaindanãocontavam500casas.“Manaus,nessetempo,erasobretudoumacidadeíndia,ondeapopulaçãodeorigemíndiaeosresíduosdecostumeseatividadesdoíndioeramumfatonamovimentaçãodavidaurbana”(Ab’saber,2004).

A Revolta da Cabanagem confrontou, entre os anos de 1835 e 1840, os antecedentes dedescontentamento da oligarquia agrária conservadora com a condição degradante de vida detapuias,cabanos,negroseíndios,comatomadaecontroledeBelémpelosrevoltososporquase1ano. Além do genocídio da população pobre e destruição do patrimônio de colonizadores enativos,decorretambémdarevoltacabanaadivisãodaProvínciadoGrão-Paráemduasunidadesem 1852, formando as Província do Pará e a Província do Amazonas. É nessemomento que acidadedeNossaSenhoradaConceiçãodaBarradoRioNegro,anteriorLugardaBarra,depoisViladaBarra,setornaManaus.

Proponhoumacortinanesteponto,ao fimdaprimeirametadedoséculoXIX,paraverificarmosalgumasquestõeslevantadasnoresumodeintençõesdestetrabalho.

Atardiamudançadafunçãoregionaldeentrepostofluvialdepassagemparacentroadministrativodaprovínciadoimpério,quase200anosdepois,nãosereproduziucomoexplosãodemográficaousensível desenvolvimento da economia local. A análise da precariedade urbana em núcleosavançados do sistema colonial encerra chaves diferentes das queutilizamosna aproximaçãodacidade industrial.Mesmo considerados os relatos pesquisados, não foi possível apontar de queformasematerializavamnoespaçodolugarasexternalidadesnegativasdaexploraçãodomeioedo índio escravo. E, se houve essa materialidade, qual a tipologia assumida pelo fenômenoduranteosseus200primeirosanos.

Entretanto, nos é cara a percepçãodeque amudançadopapel regional da cidadenaprimeirametade do século XIX se faz no espaço urbano para validar e simbolizar essa nova ordem,equipandodeterminadaregiãodacidadecomnovosprédiospúblicosemcontraposiçãoàruínadafortalezaoriginal,porsisóumaimagemdeencerramento.Asubstituiçãodoacampamentomilitarestratégicopelaintençãodeumaordemurbanaregional,decertaformaantecipaamudançanapolíticaregionalnadécadade1860.

Adécadade60ficamarcadapeloincentivodeaçõesdecolonizaçãopreventivapelogovernodoImpério(Palm,2009),eaaberturadoRioAmazonasparaanavegaçãoem1867,comoincrementodaligaçãotransatlânticaentreosportosdeBelémeLiverpool(Tavares,2008).Masantesdissonode1853,é lançadooprimeirovaporde linhanavegandoentreManauseBelémem22dias,daCompanhiadeNavegaçãoeComérciodoAmazonasdepropriedadedoBarãodeMauá (Santos,1980).AentradadatecnologiadobarcoavapornoAmazonasalterouostemposecaminhospelosriosdaregiãoefoio iníciodeumlongoperíododanavegaçãoavaporpelabaciadoAmazonas.Quandodaaberturaparaanavegaçãointernacional,jáhaviadomíniodosempresáriosbrasileirosdasrotaseequipamentosdessaatividade.

Segundo Celso Furtado, o aspecto demográfico é uma das chaves para o entendimento dadinâmica econômica da região amazônica. EmFormação Econômica doBrasil (1956) ele aponta

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quetantoaspequenas lavourasquantoacoletadasdrogasdosertãoesbarraramquasesemprena inexistência de população e na dificuldade de organizar a produção com base no escassoelemento indígena local. Entre as pequenas culturas prejudicadas pela escassez de braços,encontra-seaborrachaquedesdeosanos1820 já registrava ínfimaprodução. FurtadodefendequesóoaumentodapopulaçãofoicapazdeaumentarestaproduçãonospatamaresalcançadosnofinaldaprimeiradécadadoXX.

Essecenáriosetornafavorávelapartirdedoiscomponentesprincipais:(i)aumentodospreçosdaborrachanomercadointernacionalapartirde1870;e(ii)umasecagigantescanoNordesteentre1877-1880, quando todo o rebanho é perdido e pelo menos 100 mil pessoas morrem. Oalistamento de flagelados pela seca nas cidades litorâneas do Nordeste e transporte para asprofundidades da Amazônia foi patrocinado por governos e fazendeiros interessados emaproveitarascondiçõesdomomento.

EmAurbanizaçãobrasileira(1994),MiltonSantosdestacaqueaevoluçãodemográficadascapitaisbrasileirasexperimentadanosúltimosdecêniosdoséculoXIXenosprimeirosdoséculoXX,esteveem muitos casos sujeita a oscilações em determinados períodos intercensais, estabilizando-seapenasaofimdasegundaguerramundialcomaconsolidaçãodeumabaseeconômicafundadanaindústria(p.25).Segundooautor,abaseeconômicadascapitaisatéasegundaguerraerafundadanaagriculturapraticadaemseuentornoenassuas funçõesadministrativaspúblicas.ATabela1apresentaavariaçãodepopulaçãodeManauseBelémentre1872,quandoserealizaoprimeirorecenseamentogeraldoBrasil,e1940.AtabelanãoapresentaapopulaçãodeManausestimadaem 80 mil habitantes em 1910, o que resultaria em decréscimo em 1920 quando a crise daeconomiadaborrachajáhaviaexplodido.

Tabela1-VariaçãodepopulaçãopresentedeManauseBelém

1872 1890 1900 1920 1940

Belém 61.997 50.064 96.560 236.402 206.331

Manaus 29.334 38.720 50.300 75.704 106.399Fonte:IBGE,CensoDemográfico1872,1890,1900,1920e1940.

Ab’Saber (2004) identifica que o crescimento demográfico registrado em Manaus no final doséculoXIX,aindaémenosrepresentativodoqueafisionomiadegrandecidadequeaospoucosvaitomandoforma,comaconsolidaçãodasua importante funçãocomercial eportuária.Corroboracom isso,o relato recuperadopeloautordasobservaçõesdePaulWalle,queempassagemporManausem1908,registrouqueacidadepareciarecém-construídaequeduranteosperíodosdecolheitaedeembarquedaprodução,“unepopulationflottanteénorme”ocupaacidade,podendochegara75milpessoas.Mesmosemrelatosdiretos,podemosimaginarquepelasdimensõesdacidadeepeladinâmicadaeconomiadaépoca,essapopulaçãoprovavelmentese instalava juntodoportoedomercado,emembarcaçõesusadastantoparaotransportedastonelagensextraídasnaflorestaquantoparasuaacomodaçãoduranteosperíodosdepouso.

ManausfoiduranteesseperíodoaportadeentradaparaessamãodeobravindadoNordeste.Sepor um lado, conforme Milton Santos coloca, nos estados em que a atividade extrativa foipredominanteaparceladapopulaçãovivendonascidadeseramaior–fenômenotípicodaregiãoNorteeCentro-OesteemManaus,BelémeCuiabáduranteesseperíodo–poroutrosepercebequeafluênciadamãodeobraimigranteparaasáreasinternasdosestadosdiminuiuaparticipaçãoda capital na população total dos respectivos estados até a primeira década do século XX. Essa

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contraposição reforça a condição da cidade de centro político-administrativa e sede comercial,com variação sazonal da população que pendulava entre a floresta e a cidade nos períodos decoletanosinteriores,carregamentoeenviodasafrapeloportocentral.

A economia da borracha se organiza por sistema de aviamentos, por um mecanismofinanciamentoesecuritizaçãodedependênciamúltiplaque iadocomercianteaotrabalhadornaselva(Cardoso&Muller,2008).Assim,acidadesetornaasededaformalizaçãodessasrelaçõesdedependências, onde se instalam armazéns, agiotas e grandes casas exportadoras-importadorasestrangeiras.

Tabela2-CrescimentopopulacionaldeManaus,AmazonaseBrasil.

1872 1900 Crescimentonoperíodo

Manaus 29.334 50.300 71%

Amazonas 57.610 249.756 334%

Brasil 9.930.478 17.438.434 76%Fonte:IBGE,CensoDemográfico1872e1900

Furtadoreforçaqueoaumentodaproduçãosedeuexclusivamentepeloaumentodamãodeobradisponívelenãopelamodificaçãodosmétodosdeprodução.AsestimativasapresentadasporeleemrelaçãoaquantidadedetrabalhadoresquechegaramaregiãovindosdoNordesteindicamnãomenosque500milimigrantes,noperíodoentre1870e1910.

Ao contráriode SãoPauloondea culturado cafée avanços técnicos comoaexpansãoda redeferroviária,a imigraçãoestrangeiraeumaindustrializaçãocrescente,atribuíramnovadinâmicaaeconomiaeproduzirammudançasnosistemasocial;asituaçãogeográficadeManauseosmeiostécnicos disponíveis a época produziramum crescimento sob o impulso da economia de coletaextensiva, dependente de correntes de imigração interna e de um mecanismo de circulaçãomorosoligadoexclusivamenteaosrios.

“NaAmazôniaaaberturadaáreaàexploraçãodaborrachadeu-sedepoisdaextinção da escravidão (o tráfico terminara em 1850 e o preço do escravonacional subira muito, graças à demanda do centro-sul) e sem que fossepossível–pelascondiçõesapontadas–estabelecerosistemadetrabalholivreassalariado.Foinestascondiçõesqueseexpandiramasrelaçõesdeproduçãoquaseescravas.”(Cardoso&Muller,2008)

Chamo atenção nesse ponto para o aparecimento e justaposição de alguns elementos maisadequados às chaves utilizadas recorrentemente para a análise da desigualdade na cidade docapitalismoindustrial.Seriameles:(i)oaparelhamentodedeterminadafraçãodoespaçourbanocom edificações e estruturas sofisticadas, (ii) as condições de escravidão compulsória ouescamoteadaquepersistemnaeconomiadaborracha,e(iii)o“sistemadeaviamento”(CardosoeMuller,2008)ondeumaredecomplexaeextensadeatoresparticipamdaeconomia,tornandoacidadeummeropontodepassagemdoscapitaisreproduzidos.

Claroquea“máquina”urbanaemqueseapoiavaaeconomiaquemoviaacidadeearegiãoeraoportodoRioNegro.Aevoluçãodoespaçourbanoapartir dasmodificaçõesmelhoramentosdaestruturaportuáriaéevidenteedestacadaporMariaLuziaUgartePinheiroemAcidadesobreosombros(1999).Segundoela,amodernizaçãodosportosbrasileirosnaviradadoséculoXXocorreu

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emManausdeformaexcepcionalemrelaçãoaorestantedopaís.Mesmosendolentoegradual,esseprocesso,emqueseinstalaramequipamentoseestruturascomparáveisapenasaoportodeSidneyemtodoomundo,dotouacidadenãosócomumequipamentoúnicoeessencialparaaeconomiafluvialdaborracha,mastambémcomumobjetourbanosofisticado,queemanavaumaordem distinta e exclusiva. Construído como concessão a empresa inglesa Manaós HarbourLimited (Pinheiro, 1999), em pouco tempo se tornou um local de passeio e “footing” da elitemanauara,conhecidocomo“Roadway”.Aampliaçãodoportoporsisó,expulsoudaqueletrechodacidadelavadorasderoupa,carregadoresdeágua,catraieirosepescadores,quealimoravamerealizavamseutrabalho.

Adescriçãodocrescimentoeconsolidaçãodos trabalhadoresdosetorportuárioemManausnavirada do século XX feita pela autora, amplia o entendimento da diversidade da exploração dotrabalho no período, acrescentando aos seringueiros, trabalhadores rurais dedicados a coletaextrativa;a figuradoestivador,comomão-de-obrasubmetidaapéssimascondiçõesdetrabalhourbano, similares ao operariado das fábricas e industrias. Ambas as categorias reproduziam nacidade,suacondiçãoapartadadorestantedacidade.OcrescimentodonegóciodaborrachaeoaumentodaimportânciaesofisticaçãodeManauscausaramumaumentonopreçodosaluguéisapartirde1899,oqueexpulsavadaregiãocentraldacidadeaspopulaçõesmaispobres.

EmManaus,esseselementosseconjuravamnasocupaçõesflutuantes,abrigodostrabalhadoresque vinham e voltavam da floresta, entre colheitas e vendas, compras e partidas. A região emfrente ao porto e ao Igarapé do Educandos, lentamente foi atraindo essas embarcações que seligavame seescoravamumasasoutras,ocupandoa faixapróximadamargemesquerdadoRioNegro. Aos poucos os armazéns e empresas que controlavam a logística do porto de Manauscomeçamaacomodarseusestivadoresemembarcaçõesfundeadasali.Muitosnaviosabrigavamapenastrabalhadoresespanhóiseportugueses(Pinheiro,1999).Mesmocomapresençadoíndioedotapuianessasáreas,quemrealmentesevaliadesseslocaiseraomigrantenordestino,emsuamaioria cearense, homem e branco, que afluía incessantemente a região para o trabalho nosseringais.

Repetem-se também elementos que já haviam contribuído para a decadência prolongada daregiãonomomentoemquecessaramosincentivoseinteressesexternos,comonofinaldoséculoXVIII. Falamos aqui sobre o modelo monoprodutor, vulnerável as flutuações dos preços nomercado internacional; e sobre o desaparecimento de praticamente todas as outras atividadesagrícolas, criando situações de desabastecimento para a população de todos os gênerosalimentícios.

Na virada do século XX, a cidade já havia ultrapassado os igarapés próximos ao centro e sereorganizado nas colinas adiante em umamalha ortogonal, deslocada em relação ao relevo dolugar.Suaexpansãosefezapartirdeaterrodecursosenascentes,edaconstruçãodepontesquecruzaram por sobre os igarapés. No final do século XIX, a cidade passou pela primeira grandeexpansãourbana,quandoentãoforamaterrados,somentenapartecentral,seteigarapés(Valle,1999),oquepossibilitouaexpansãoparaolesteeparaonorte.(Oliveira,2008).Aspontes,quevinhamsendoconstruídasdeformarudimentaremmadeira,setornaramsímbolosdeprogressoedesenvolvimentoduranteomandatodogovernadorEduardoRibeiro(1892-1896).Feitasdeaço,elasultrapassaramigarapésmaislargosedistantesdocentrodacidade,consolidandonovoseixosdecrescimento.

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Em1912aborrachaatingeseumaiorpreçonomercadointernacional.E,apartirdaí,éodeclínio,comoafirmaCaioPradoJúnior,emHistóriaEconômicadoBrasil(1945).Segundoele,ascondiçõesdaborrachabrasileiranãoresistiramaconcorrênciadoprodutooriental,aprimoradoduranteanosdepesquisaseplanejamentopelasnaçõescentrais.Oocasodesseciclosemostracomumaoutrosdahistóriabrasileiracomoaculturadoaçúcaredocacau.

“É claro que desfeito o castelo de cartas em que se fundava toda estaprosperidadefictíciaesuperficial,nadasobrariadela.Empoucosanos,menosainda que se levara para constituí-la, a riqueza amazonense se desfará emfumaça. Sobrarão apenas ruínas. Nas cidades, setores inteiros de casasabandonadasedesfazendo-seaospoucos;amata,voltandoaoisolamento.Aterra se despovoa. Vão se os aventureiros e buscadores de fortuna fácilprocurar novas oportunidades em outro qualquer lugar. Ficará a populaçãomiserável de trabalhadores que aí se reunira para servi-los, e que traráestampadonofísicoosofrimentodealgumasgeraçõesaniquiladaspelaagruradomeionatural;maisainda,pelodesconfortodeumacivilizaçãode fachadaque roçará apenas de leve as mais altas camadas de uma sociedade deaventureiros...“(PradoJunior,1945)

Arepresentaçãofísicadessemomentonoterritóriodacidadesedápelaativaçãodosvetoresdeprecariedadeeexclusãoadormecidosouincompletosatéentão.Aspalafitasaindaocorriamcomouma projeção dos fundos das parcelas formais da cidade sobre a orla do Rio Negro, semnecessariamente estarem associadas a um processo de exclusão por localização. As ocupaçõesflutuantesporoutroladojáhaviamgravadosuafraçãodoespaçourbano–porsobreaságuasdoRioNegro,éverdade–relegadaaaquelesquenãotinhamseulugarnacidadeformal,conformeveremosmaisadiante.Dessaforma,sãoessasestruturasquerecebemnessemomentoasmassasdesocupadasqueabandonamosseringais.

EmentrevistaaLenoJoséBarataSouza(2005),JoãoCesáriodaSilva,velhofazedordebarcosdequase80anosdeidadeemorador,desde1955,asmargensdoigarapédosEducandos,ex-vizinhodacidadeflutuante,reforça:

“Não! Em 1920 já tinha flutuante. Até no ano em que eu nasci já existiaflutuante, mas eram alguns, era raro de se vê (sic). Aí as pessoas foramachandoimportanteaquelamoradiaemcimad’águaeforamfazendoné,efoi

Figura 2- Ponte sobre o Igarapé da Cachoeira Grande em Manaus. Série de postaiscoloridos,1907.Fonte:AlainCoix–coleçãoJorgeHerrán.

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aumentando devagar. Depois foi que inventaram de botar aí na frente dacidade[norioNegro]porqueencostavamuitomotor[barcos]derecreio,essesmotoresque transportagentepro interior,que trás (sic)produtoe tudopravendereelesacharamporbembotaraí,porquealieraumpontomelhorpraeles,ealifoiaumentando.”

OliveiraeGurgel(2010)apontamquenofinaldadécadade20jáhaviaseestabelecidosobreoRioNegro,emfrenteaoportoeaomercado,umapopulaçãodemigrantes,ex-soldadosdaborracha.Os autores também lembram que nesse núcleo buscaram abrigo as populações atingidas pelagrande cheia ocorrida no ano de 1953. Segundo Salazar (1985), a presença daquele núcleoincomodavaaclassedominanteeosadministradores,paraosquaisaspopulaçõeserammarginaisesuasatividadesdesobrevivêncianãocorrespondiamàlegalidade.

ACidadeFlutuantesetornoudefinitivamenteumsímbolodadecadênciadaeconomiadaborrachaeprecariedadenacidadedeManaus,poroutroladoéaliqueocorregrandepartedasatividadescomerciaisduranteoperíodo.Comonorelatoacima,essasocupaçõesseconfirmamcomopontode interface entre a economia urbana e regional, ainda totalmente dependente da rede decirculação fluvial. A Tabela 3 abaixo mostra dados da população da Cidade Flutuante em seusúltimosanosdeexistência.

Tabela3-Censodemográficodacidadeflutuante2

Ano NúmerodeFlutuantes NúmerodeMoradores1961 1.389 -1964 2.145 9.7881966 1.950 11.400

Fonte:LenoJoséBarataSouzainA“CidadeFlutuante”deManaus:rediscutindoconceitos,2010

Segundo Serra e Cruz (1964), em 1964 existiam 182 grandes flutuantes comerciais na cidadeflutuante,alémdosflutuantesresidenciaisquetambémpossuíamumapequenavendadefrutasourefeições.SegundoSouza (2010),asprincipais redesdecomérciovarejistaatuaisdeManaus,comoACasadoÓleo,tiveramsuaorigemnaCidadeFlutuante.Noanode1967quandoocorreuaimplantaçãodaZonaFrancadeManaus(ZFM)asocupaçõesdasmargensnosigarapésaindaerampontuais. Em seus últimos anos a Cidade Flutuante, chegou a contar 12 mil moradores e seestendia da foz do igarapé até a frente do porto e abrigava grandes comércios, estaleiros,moradiaseoutrosusos(Souza,2009).

2QuadroorganizadoporLenoJoséBarataSouzainA“CidadeFlutuante”deManaus:rediscutindoconceitos,2010,apartirdosdadosde1961,“ReivindicaçãodoAmazonasaVIReuniãodeGovernadores”apudSALAZAR,JoãoPinheiro.Op.Cit.,p.77;dadosde1964emSERRAeCRUZ.Op.Cit.,p.37e41;dadosde1966emLENZ,MatiasMartinhoet.al.Op.Cit.,p.07.

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Sua remoção definitiva acontece em 1966 quando as intenções de integração do territórionacionalpelosgovernosmilitaresimplantamnacidadeumazonafrancadecomércio,“cujasmetasde modernização e progresso da capital amazonense não incluíam a “cidade flutuante”, pelocontrário,passavampelasuacompletadestruição.”(Souza,2009)

O desmantelamento da cidade flutuante se deu sob a promessa de construção de conjuntoshabitacionais,nuncacumprida.Osmoradoresseespalharampelosnovosloteamentosirregularesconstruídosnaregiãonorteepelaspalafitasnasmargensdosigarapéscentrais,quedesdeoiníciodoséculoXXjáexistiamdeformadispersa.

A ZFM foi, justificada pelo regimemilitar brasileiro pela necessidade de se ocupar uma regiãodespovoadaeobjetivandoinstauraralicondiçõesde“rentabilidadeeconômicaglobal”(Seráfico&Seráfico,2005,p.100), comoumavanguardada regionalizaçãododesenvolvimentocapitalistaedoprocessodetransnacionalizaçãodocapital.

Dessaforma,aimplantaçãodaZFMextrapolaaescalaregionalenacional.Incorporaaoespaçodacidadetodaacomplexidadedeumparqueindustrialdegrandeporteesuasestruturasdeapoio(portodecargas,pátio,aeroporto)aomesmotempoemquegravasobreo territóriomanauaraumazonade isençãotributáriade10milKm²paraaprodução industrial,encravadanoterritóriomunicipalecarregadaporreceitaseinvestimentosinéditosnaregião,aSuperintendênciadaZonaFrancadeManaus(SUFRAMA).(Seráfico&Seráfico,2005)

Apartirdosanos70,oDistritoIndustrialiniciasuainstalaçãodefinitivanaporçãoLestedacidade,junto ao Igarapé do Quarenta, principal contribuinte da Bacia do Educandos. Àmedida que asindústrias iniciam sua produção, a falta de investimentos públicos de infraestrutura e políticas

Figura3-Vistaaéreada“cidadeflutuante”deManaus.Fonte:PostaldeManaus(circa1964)doArquivoParticulardoProfessorDr.OtoniM.deMesquita.

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habitacionais e, também, de controle sobre o uso e ocupação do solo, associada àindisponibilidadedeáreashabitacionaisacessíveisparaapopulaçãodebaixarenda,culminounaocupação de áreas ambientalmente vulneráveis, em particular as margens dos igarapés maispróximosaocentrodacidade(Magalhães&Villarosa,2012).

Comonaascensãoedecadênciadaeconomiadaborracha,asestruturasprecáriaspreexistentes,nessecasoaspalafitas,setornamodestinoprincipaldoscontingentesquenovamentechegavama cidade em busca de trabalho, dessa vez nas indústrias recém-implantadas. A precariedade semanifesta na ocupação das palafitas, uma vez que são umaoportunidade demoradia perto dotrabalho e do centro da cidade, mas também ocorrem nos loteamentos irregulares que seexpandempelasperiferiasdacidade.

O desenvolvimento doDistrito Industrial promove um crescimento semprecedentes da cidade,tornandoumpolodeatraçãodeumgrandefluxomigratóriodointeriordoEstadodoAmazonasedo Nordeste. Ehnert (2011) destaca um crescimento de mais de 900%, subindo de 175.343habitantes em 1960 para 283.673 habitantes, em 1970, para 633.383 habitantes em 1980,1.011.501 habitantes em 1991, 1.405,835 habitantes em 2000 e 1.802.525 habitantes em 2010(SIDRA/IBGE).

Aocupaçãodasmargensdosigarapésexpõeoshabitantesdessasmoradiaspalafíticasaumasériederiscosambientais.PorestarememáreasdeinfluênciadoregimeanualdecheiasdoRioNegro,estãosujeitosainundaçõesdegrandesproporçõesqueperdurampormeses,alémdisso,sofremcom eventuais enxurradas que podem arrastar suas casas no período de fortes chuvas. Estesmoradorestambémseexpõemaexternalidadesdafaltadesaneamentobásicoecoletadelixodacidadeumavezqueosigarapéssãosumidourosurbanosdosesgotoseefluentesindustriais.

EmAssentamentosprecários:ocasodeManaus(2016),FrancieleBurlamaqueMaciel,apresentaanálise doAtlas deDesenvolvimentoHumano emManaus (2006) a partir da decomposição emmapasdealgunsfatoresqueestruturamoconceitodevulnerabilidadesocial.Omapeamentodosníveisdeatendimentodapopulaçãonoespaçourbanodealgunsserviçospúblicoscomoacoletade lixo e abastecimento de água, permitem visualizar o padrão da dispersão pelo território dacidadenaviradadoséculoXXIdosaspectosdavulnerabilidadesocial,equedemarcamtambémoespaçodaexclusãoeprecariedade.

Figura4-OcupaçãodepalafitasnamargemesquerdadoIgarapédoQuarentajuntoafozdoIgarapédaLiberdade.Fonte:arquivopessoal,mar/2007.

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Figura6-Percentualdedomicíliosurbanossemserviçodecoletadelixo,2000.DestaqueparaIgarapésdaBaciadoEducandosnaregiãocentraldeManaus.Fonte:Caracterizaçãoetipologiadeassentamentosprecários:estudosdecasobrasileiros.IPEA,2016.

Figura5-Percentualdedomicíliosurbanosseminstalaçãosanitária,2000.DestaqueparaIgarapésdaBaciadoEducandosnaregiãocentraldeManaus.Fonte:Caracterizaçãoetipologiadeassentamentosprecários:estudosdecasobrasileiros.IPEA,2016.

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Os destaques nas figuras acima indicam vetores de precariedade na região central da cidadeassociadosàsmargensde igarapésnaBaciadoEducandoscomo IgarapéManaus,MestreChico,Bittencourt, Quarenta e Cachoeirinha. Percebe-se a interrupção da extensão de padrões maiselevadosdeatendimentopor faixasque indicamamaior incidênciadedomicíliosnãoatendidosemdeterminadarededeinfraestrutura,sejaelaacoletaderesíduossólidos,oabastecimentodeáguaoumesmoapresençadesanitáriosnasmoradias.Asituaçãodasregiõesperiféricasde“terraseca” semostraaindapior,umavezqueas redesde infraestruturaexistente se concentramnaregião central, deixando essa população naturalmente a margem de qualquer atendimentopúblicos.

Aconcentraçãodeassentamentoprecáriosnasmargenseporsobre igarapéssujeitosaoregimede cheias do Rio Negro no início do século XXI foi a princípio enfrentada como um problemaambiental,umavezqueexpunhaapopulaçãoresidenteariscoshidrológicos.Entretantopodemosdepreender, a partir do percurso histórico do processo de urbanização da cidade apresentadonesteartigo,queumaaçãodeordenaçãourbanaexcludente,ondenovamentenãohaviaespaçopara determinada população no processo de desenvolvimento da cidade, também esteve emcurso.

OProgramaSocialeAmbientaldosIgarapésdeManaus–PROSAMIM,apresentouumconjuntodeestratégias e ações do Governo do Estado do Amazonas para o enfrentamento dos problemassociais,urbanísticoseambientaisqueafetamacidadedeManausapartirdasocupaçõesdeseusigarapés. Entre 2006 e 2011, o PROSAMIM I destinou aproximadamente US$ 700 milhões emintervenções de saneamento ambiental, provisão habitacional e sistema viário (Magalhães &Villarosa,2012).EstesvaloresforamcaptadoscomoempréstimosjuntoaoBancoInteramericanodeDesenvolvimento–BID,comoparticipaçãodoEstadodoAmazonasnacontrapartidafinanceira.

Nãoéobjetivodestetrabalhooestudoaprofundadodoselementospolítico-administrativosquedefiniramos padrões de intervenção nesses territórios precários a partir dessemomento. Cabeapenas destacar que o programa referido tem encerrado a grande estratégia do governo doestadodoAmazonasparaatuaçãonosassentamentosprecáriosemáreasalagáveisdeManaus.Os

Figura7-Percentualdepessoasquevivememdomicíliossembanheiroseáguaencanadasimultaneamente,2000.DestaqueparaIgarapésdaBaciadoEducandosnaregiãocentraldeManaus.Fonte:Caracterizaçãoetipologiadeassentamentosprecários:estudosdecasobrasileiros.IPEA,2016

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objetivos de sanar déficits urbanos e ambientais merecem ser analisados cuidadosamente. Hásinaisdequeoprograma tenhaensejado importantes liçõesquantoàurbanizaçãodos igarapésintraurbanos em Manaus (Magalhães & Villarosa, 2012), mas merecem também atenção osentraves à sua implementação, e sobretudo uma avaliação mais cuidadosa sobre o seu realpotencialderecuperaçãoambiental.

CONCLUSÃO

A busca pelas raízes de determinadas tipologias da precariedade urbana em Manaus nosconfrontousemprecomduasquestõesprincipais:aprimeira,apróprialocalizaçãodosítiourbano,distante do litoral 1400 km, com acesso e circulação restritos aos rios e igarapés da planícieamazônica. A outra, a dependência da migração inter-regional como possibilidade defornecimento de mão de obra para desenvolvimento das atividades extrativas e produtivas,mesmotendohavidoumlongoprólogonahistórialocalondeacaçaaoíndiofoiatividadecentral,mas que se mostrou inadequada e insuficiente para as necessidades das atividades que seapresentavam.

Aquestãodalocalizaçãoalternousoluçõesinfraestruturaisnasdiferentesescalasdoproblema.Naescalaregional,seasfortificaçõesecriaçãodefeitoriasaolongodovaleamazônicopossibilitaramum avanço e posse gradual do território durante os séculos XVII e XVIII; a implantação danavegaçãoavaporapartirdametadedoséculoXIX,comatentativafrustradadeconstruçãodeuma linha férrea no início do século XX, indicava a necessidade da inserção da velocidade ediminuiçãodos temposdetransportedaeconomiadaborracha.Nessecontexto,oportoe todasuaestruturadearmazéns,plataformas,caiseequipamentos,setornamelementosorganizadoresdaestruturafísicaesimbólicadacidadeedaregião.

EmManaus,verificamosaassociaçãodaconstruçãodeumavariedadedeedifíciosadministrativospúblicos a momentos de elevação política do lugar, como no início e final do século XIX. Asintervençõespúblicas foramemsuamaiorpartedirecionadasparaa construçãodeumacidadesimbólica, que ancorasse de alguma forma no território, ummomento de riquezas efêmeras evoláteis.Aomesmotempo,forados limitesdocentro iluminadoporcandeeirosearticuladoporlinhas de bondes, crescia uma cidade apartada, que flutuava nos rios ou ocupava as bordas daformalidade.A inserçãotardiada indústrianoúltimoquartodoséculoXXvemacompanhadadaconsolidação do transporte aéreo regional e internacional, e da modernização dos portosexportadores, sem,contudo, representarumavançonadisseminaçãodosserviçospúblicosenainserçãonasredesdeinfraestruturadaspopulaçõesdebaixarenda.

Achegadadegrandesmassastrabalhadorasvindasdeoutrasregiões,principalmentenofinaldoséculo XIX e a partir dos anos 1970, combinou-se com este ambiente urbano segregado edesestruturado. A implantação da ZFM apresentou um quadro de migração diferente dosprocessosanteriores,umavezqueodestinoprincipaldaquelesquechegavamfoiaprópriacidade,enãointerioresdaregiãoamazônica.Acaracterísticajáconhecidadomodelodeindustrializaçãodebaixossaláriosconcorreaindamaisparaoacirramentodosprocessosdeexclusãourbana.

Podemos concluir então que o processo de ocupação precária emManaus, em suas tipologiasflutuanteepalafítica,emsuaorigemestáintimamenteligadoanecessidadedeacomodaçãodasmassasdesempregadasnacidadequandodadecadênciaeocasodoscicloseconômicosextrativos.A fragilidade dos modelos produtivos dessas economias - no caso, o cacau e a borracha -combinadas ao modelo de urbanização que privilegiou determinadas frações da cidade,negligenciandoorestanteao improvisoetransitoriedade,tambémforamelementosvetoriaisna

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expansãodaprecariedade.Aimplantaçãodeumprojetodeindustrializaçãoemescalanacionalnoinício dos anos 1970 provocou um crescimento urbano desordenado da cidade e aumentouconsideravelmenteonúmerodehabitaçõesprecáriasdesdearegiãodasorlasepalafitas,atéasperiferiase“terraseca”,emgrandesloteamentosirregulares.

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