141
ECONOMIA II PARTE I 1 - O PROBLEMA ECONOMICO FUNDAMENTAL 1.1 DEFINIÇÃO DE ECONOMIA Economia é a ciência social que estuda a produção, a circulação e o consumo de bens e serviços que são utilizados para satisfazer as necessidades humanas. A Economia não é uma ciência exata cujas leis ou proposições sejam passíveis de verificação ou de experimentação em laboratórios. Por essa razão, embora os 1

Economia II

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Economia II

ECONOMIA II

PARTE I

1 - O PROBLEMA ECONOMICO FUNDAMENTAL

1.1 – DEFINIÇÃO DE ECONOMIA Economia é a ciência social que estuda a produção, a circulação e o consumo

de bens e serviços que são utilizados para satisfazer as necessidades humanas.A Economia não é uma ciência exata cujas leis ou proposições sejam

passíveis de verificação ou de experimentação em laboratórios. Por essa razão, embora os economistas estejam de acordo entre si sobre muitos fatos relativos à ciência, também discordam sobre muitos outros.

1

Page 2: Economia II

1.2 - A LEI DA ESCASSEZ

A Economia estuda, pois a relação que os homens têm entre si na produção dos bens e serviços necessários à satisfação dos desejos e aspirações da sociedade.

Ocorre que as necessidades humanas são infinitas ou ilimitadas. Isto porque o ser humano, pela sua própria natureza, nunca está satisfeito com o que possui e sempre deseja mais coisas.

Por outro lado, os recursos produtivos (ou fatores de produção) que a sociedade conta para efetuar a fabricação de bens e serviços ( a extensão de terra agriculturável e demais recursos naturais, o volume de mão-de-obra disponível para o trabalho e a quantidade de máquinas e equipamentos que a sociedade possui) têm caráter finito ou limitado.

Há, portanto, uma contradição. Os desejos e necessidades da sociedade são ilimitados e os recursos para efetivar-se a produção dos bens e serviços que devem atendê-los são limitados.

Isto nos leva à seguinte proposição: por mais rica que a sociedade seja (por mais recursos produtivos de que disponha), os fatores de produção serão sempre escassos para a fabricação de todos os bens e serviços que essa mesma sociedade deseja. Ou seja, ela terá que efetuar escolhas sobre quais os bens e serviços deverão ser produzidos, da mesma forma que o cidadão comum, contando com um salário de determinado valor, não pode naturalmente consumir todos os bens e serviços que deseja, devendo escolher entre eles quais poderá adquirir e que estejam ao alcance de sua renda.

2

Page 3: Economia II

Logo, em Economia, tudo se resume a uma restrição – A Lei da Escassez – isto é, produzir o máximo de bens e serviços a partir dos recursos escassos disponíveis a cada sociedade.

Se uma quantidade infinita de cada bem pudesse ser produzida, se os desejos humanos pudessem ser completamente satisfeitos, não importaria que uma quantidade excessiva de certo bem fosse de fato produzida. Nem importaria que os recursos disponíveis, trabalho, terra e capital, fossem combinados irracionalmente para a produção de bens. Não havendo o problema da escassez , não faz sentido se falar em desperdício ou em uso irracional dos recursos e na realidade só existiriam os bens livres. Bastaria fazer um pedido e, pronto, um carro apareceria de graça.

Na realidade, ocorre que a escassez dos recursos disponíveis acaba por gerar a escassez dos bens – chamados “bens econômicos”. Por exemplo: as jazidas de minério de ferro são abundantes, porém, o minério pré-usinável, as chapas de aço e finalmente o automóvel são bens econômicos escassos . Logo, o conceito de escassez econômica deve ser entendido como a situação gerada pela razão de se produzir bens com recursos limitados, a fim de satisfazer as ilimitadas necessidades humanas. Todavia, somente existirá escassez se houver uma procura para a aquisição do bem. Por exemplo: o hino do Botafogo escrito na cabeça de um alfinete é um bem raro, mas não é escasso porque não existe uma procura para sua aquisição.

Poder-se-ia perguntar: por que os bens são procurados (desejados)? A resposta é relativamente simples: um bem é procurado porque é útil. Por utilidade entende-se “ a capacidade que tem um bem de satisfazer uma necessidade humana”. Então, resta-nos conceituar o que são bens e necessidade humana.

“Bem” é tudo aquilo capaz de atender uma necessidade humana. Eles podem ser materiais – pois se pode atribuir-lhes características físicas de peso, forma, dimensão etc. Por exemplo: automóvel, moeda, borracha, café, relógio etc.; imateriais – são os de caráter abstrato, tais como: aula ministrada, a hospedagem prestada, a vigilância do guarda noturno etc.(em geral todos os serviços prestados são bens imateriais, ou seja, se acabam quase que simultaneamente à sua produção).

“Necessidade humana” é toda e qualquer manifestação de desejo que envolva a escolha de um bem econômico capaz de contribuir para a sobrevivência ou para a realização social do indivíduo. Assim, sendo, ao economista interessa a existência das necessidades humanas a serem satisfeitas com bens econômicos, e não a validade filosófica das necessidades.

Para se perceber a dificuldade da questão, é melhor exemplificar: para os muito pobres, a carne seca pode ser uma necessidade e não o ser para os mais ricos; para os pobres um carro pode não ser uma necessidade, porém, para os da classe média já o é; para os ricos a construção de uma mansão pode ser um necessidade, ao passo que pode não o ser para os de renda média.

O fato concreto é que no mundo de hoje todos pensam que desejam e necessitam de geladeiras, esgotos, carros, televisão, rádios, educação, cinemas, livros, roupas, cigarros, relógios etc. As ilimitadas necessidades já se expandem para fora da esfera biológica da sobrevivência. Poder-se-ia pensar que o suprimento dos bens destinados a atender às necessidades biológicas das sociedades modernas seja um problema solucionado e com ele também o problema da escassez. Todavia, numa contra-argumentação dois problemas surgem: o primeiro é que essas necessidades renovam-se dia a dia e exigem contínuo suprimento dos bens a atendê-las; o segundo é a constante criação de novos

3

Page 4: Economia II

desejos e necessidades, motivadas pela perspectiva que se abre a todos os povos, de sempre aumentarem o padrão de vida. Da noção biológica, devemos evidentemente passar à noção psicológica da necessidade, observando que a saturação das necessidades, e sobretudo dos desejos humanos, está muito longe de ser alcançada, mesmo nas economias altamente desenvolvidas de nossa época. Consequentemente, também o problema de escassez se renova.

1.3 – SISTEMA ECONÔMICO

Sistema econômico é a forma como a sociedade está organizada para desenvolver as atividades econômicas (produção, circulação, distribuição e consumo de

bens e serviços).Tendo em vista que as necessidades humanas são ilimitadas e os recursos

produtivos são limitados, qualquer sistema econômico terá que enfrentar três problemas básicos:

a) O Que e Quanto Produzir? – ou seja, a sociedade terá que fazer uma escolha, dentro do leque de possibilidades de produção que tenha, quais os produtos e respectivas quantidades que serão fabricados.

b) Como produzir? - a sociedade terá que escolher também quais os recursos produtivos que serão utilizados para a fabricação dos produtos elegidos, dado o nível tecnológico nela existente; como esses recursos são escassos, é sempre conveniente que sejam utilizados da forma mais eficiente para que o custo de produção seja o menor possível.

c) Para Quem produzir? – a sociedade terá também que decidir como seus membros participarão da distribuição dos resultados de sua produção, ou

4

Page 5: Economia II

seja, se todos participarão igualmente desses resultados ou, em caso contrário, quais deles serão os mais ou menos beneficiados.

1.4 – A CURVA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO

A análise conjunta da escassez dos recursos e das ilimitadas necessidades humanas conduz à conclusão de que a Economia é uma ciência ligada a problemas de

escolha. Com a limitação do total de recursos capazes de produzir diferentes mercadorias impõe-se uma escolha para a produção entre mercadorias relativamente escassas.

Para melhor entendimento, suponha-se uma economia onde haja certo número de indivíduos, certa técnica de produzir, certo número de fabricas e instrumentos de produção e um conjunto de recursos naturais (terra, matérias-primas, etc.). Considerem-se todos esses dados como constante (hipótese coeteris paribus), isto é, não se alteram durante a análise.

Ao decidir “o que” deverá ser produzido e “como”, o sistema econômico terá realmente decidido como alocar ou distribuir os recursos disponíveis entre as milhares de diferentes possíveis linhas de produção. Quanta terra destinar-se-á ao cultivo de mandioca? Quanta a pastagem? Quantas fábricas para a produção de calcinhas? Quantas para a produção de cuecas? Analisar todos esses problemas simultaneamente é por demais complicado, sendo a Curva de Possibilidade de Produção (CPP) ou Curva de Transformação um recurso utilizado pelos economistas para ilustrar o problema da escassez.

Para simplificar, vamos fazer uma aproximação do que seria a CPP numa situação mais próxima da realidade: suponhamos que uma empresa tenha 10 máquinas e 40 trabalhadores e que tenha apenas dois produtos na sua linha de fabricação: calcinhas fio

5

Page 6: Economia II

dental e cuecas samba canção. Adicionalmente, suponhamos também que, por um determinado prazo de tempo, a empresa não possa comprar mais máquinas e nem contratar trabalhadores adicionais e que não haja nenhuma inovação tecnológica no processo de fabricação do produto.

Assim, os pressupostos são:a) Os recursos produtivos são fixos ou constantes;b) O conhecimento tecnológico é constante;c) Somente dois produtos são passíveis de fabricação.O diretor da empresa encomenda ao responsável pelo Departamento de

Produção um levantamento de quais são as possibilidades de produção da empresa utilizando-se plenamente e da forma mais eficiente possível todos os fatores de produção da empresa (ou seja, os 40 trabalhadores e as 10 máquinas – todos os trabalhadores e máquinas plenamente utilizados e efetuando-se a produção da forma mais eficiente possível).

O responsável pelo Departamento de Produção, obedecendo tais ordens, faz o seguinte levantamento de produção:

CALCINHAS FIO DENTAL CUECAS SAMBA CANÇÃO

20 018 115 211 36 40 5

Se todos os recursos produtivos da fábrica fossem utilizados somente para a produção de calcinhas, obter-se-iam 20 unidades de calcinhas. Caso se desejasse produzir uma unidade de cuecas, recursos produtivos alocados na produção de calcinhas deveriam ser deslocados para cuecas e haveria uma perda de 2 unidades de calcinhas. Aumentos sucessivos na produção de cuecas levariam a reduções também sucessivas na fabricação de calcinhas até atingir-se um outro ponto-limite: caso todos os fatores fossem utilizados na produção de cuecas, obter-se-iam 5 unidades deste tipo de produto.

O seguinte gráfico poderia ser montado para ilustrar as possibilidades de produção contidas no mapa levantado pelo responsável pelo Setor de Produção, colocando-se no eixo horizontal a produção de calcinhas e no eixo vertical a produção de cuecas:

Cuecas 5 4 3 2 1

Calcinhas

6

Page 7: Economia II

6 11 15 18 20No gráfico, os pontos de produção são unidos por uma curva a CPP no

pressuposto de que a fabricação possa ser contínua, ou seja, possam produzir-se quantidades fracionadas de calcinhas e cuecas, tais como 2 ¼, 3 ½ etc.

Algumas constatações podem ser tiradas da análise do gráfico da CPP da empresa:

a) A produção de cuecas é mais difícil de ser feita do que a de calcinhas; de fato, a produção máxima possível de cuecas é de 5 unidades enquanto que a de calcinhas é de 20 unidades.

b) Os pontos da curvatura de possibilidade de produção expressam a quantidade máxima possível da produção de um dos bens, dada a produção do outro. Por exemplo, se a empresa desejar produzir 11 unidades de calcinhas, ela poderá fabricar, no máximo, utilizando todos os fatores de produção da forma mais eficiente possível, 3 unidade de cuecas.

c) Um ponto dentro da curva significa uma produção abaixo ou aquém das possibilidades da empresa, se ela resolver produzir, digamos, 6 unidades de calcinhas e 3 de cuecas, alguns dos recursos produtivos ficarão ociosos ou não serão utilizados da forma mais eficiente, já que a empresa poderia perfeitamente aumentar a produção de calcinhas para 11 unidades sem ter que diminuir a produção de cuecas.

d) Um ponto fora da curva significa uma produção acima ou além das possibilidades da empresa; por exemplo, não é possível que ela produza 11 unidades de calcinhas e 4 de cuecas, já que o máximo possível de cuecas, quando se fabrica 11 calcinhas, é de 3 unidades. Esse ponto de produção só poderia ser atingido se houvesse um aumento na quantidade dos fatores de produção ou uma inovação tecnológica, fatos que aumentariam as possibilidades de produção da empresa; lembremo-nos, entretanto, que ambas as variáveis foram supostas constantes para traçarmos a curva.

e) O fato mais importante a ser constatado é de que aumentos na produção de um bem, se a empresa estiver trabalhando em pontos situados na CPP, só poderão ser efetuados à custas de decréscimos na produção do outro.

Tudo o que foi falado até agora a respeito desta hipotética empresa poderia ser aplicado a uma sociedade em que apenas dois tipos de bens pudessem ser produzidos e para qual a quantidade de fatores de produção e o nível tecnológico fossem dados constantes. Desse modo, a CPP ilustra o problema da escassez; os recursos produtivos são limitados e não podem atender à produção de todos os bens e serviços que seriam precisos para satisfazer as necessidades humanas. A sociedade, para obter mais cuecas, precisaria sacrificar a produção de calcinhas e vice-versa.

A quantidade perdida de calcinhas que a sociedade precisa incorrer para aumentar a produção de cuecas é denominada de Custo de Oportunidade ( ou de transformação)

7

Page 8: Economia II

Observamos, no exemplo numérico, que a quantidade de calcinhas que a empresa (ou a sociedade) deve abandonar para obter uma unidade adicional de cuecas é crescente.

UNIDADE ADICIONAL DE CUECAS PERDA DE CALCINHAS (CUSTO DE OPORTUNIDADE)

1ª 2 (20 – 18)2ª 3 (18 – 15)3ª 4 (15 – 11)4ª 5 (11 – 6)5ª 6 (6 – 0)

A razão do custo de oportunidade ser crescente é de que, à medida que se deslocam fatores de produção que são adequados à produção de calcinhas para a fabricação de cuecas ou vice-versa, estes fatores serão cada vez menos eficientes.

Assim, trabalhadores especializados na produção de calcinhas ao serem transferidos para a produção de cuecas serão bem menos produtivos. Da mesma forma, a terra que é utilizada no cultivo de um produto agrícola não necessariamente se presta, com a mesma eficiência, a cultura de outro.

1.5 – MUDANÇAS NA CURVA DE TRANSFORMAÇÃOVariações nos fatores considerados constantes determinarão um

deslocamento da curva para a direita.- Primeiro: Quanto maiores forem as disponibilidades de recursos produtivos da

economia, mais afastada da origem a curva estará.

cuecas

Calcinhas

8

Page 9: Economia II

- Segundo: Variações tecnológicas iguais para os processos de produção dos dois bens deslocarão a curva para a direita e paralelamente.

Cuecas

Calcinhas

- Terceiro: Se a variação tecnológica for maior para o processo de produção de calcinhas, maior será o deslocamento em relação a esse eixo.

Cuecas

Calcinhas

9

Page 10: Economia II

1.6 - OS FATORES DE PRODUÇÃOA maioria dos economistas classifica os fatores de produção da sociedade

em três categorias: 1) Recursos naturais ou terra;2) Mão-de-obra ou trabalho3) Capital.

São considerados Recursos Naturais somente os elementos da natureza suscetíveis de serem incorporados às atividades econômicas. O volume desses recursos depende, entre outros fatores, da evolução tecnológica (que determina a possibilidade de aproveitamento de matérias-primas e fontes de energia, do avanço da ocupação territorial, das facilidades de transporte e do levantamento de existências). Assim, um recurso mineral numa grande floresta cuja exploração é inviável por não existir um meio de transporte adequado para levá-lo aos grandes centros consumidores não faz parte do estoque de Recursos Naturais (não é fator de produção) da economia. Exemplo: A existência de petróleo e de gás natural na Serra do Môa.

É considerada, como fator de produção Trabalho, a População Economicamente Ativa (PEA) da sociedade.

A população de um país é constituída pelos seus habitantes. Se da população subtrairmos as pessoas que não estão em idade de trabalhar (os muito jovens ou os muito idosos), chegaremos ao conceito de População Ativa. Se da população ativa computarmos apenas as pessoas que estão procurando emprego no mercado formal de trabalho (excluído, por exemplo, estudantes e donas de casa), obteremos a População Economicamente Ativa(PEA).

A PEA é constituída por empregados e desempregados. A parcela da PEA que está empregada é denominada População ocupada. O quociente entre a parcela desempregada da PEA e o seu total é denominada de taxa de desemprego da economia.

O fator de produção Capital, corresponde ao conjunto dos edifícios, máquinas, equipamentos e instalações que a sociedade dispõe para efetuar a produção. Esse conjunto é denominado de estoque de capital da economia. Quanto mais bens de capital dispuser a economia, mais produtiva ela será (ou seja, mais bens e serviços poderá produzir). Observem que o conceito de Capital como fator de produção é um pouco diferente da palavra capital usada na linguagem comum, quando é utilizada para designar uma quantia em dinheiro (ou outro ativo financeiro) que determinada pessoa possui para iniciar um determinado negócio.

1.7 – FLUXOS ECONÔMICOS NUMA ECONOMIA DE MERCADO – OS MERCADOS DE FATORES E DE BENS.

Numa versão simplificada do funcionamento de uma economia de mercado, há que se distinguirem dois agentes econômicos fundamentais: as unidades produtivas ou empresas e as unidades consumidoras ou proprietários dos fatores de produção (famílias).

As unidades produtivas, como próprio nome indica, são as unidades produtoras de bens e serviços. Numa economia de mercado, tal produção é efetuada por pessoas jurídicas denominadas empresas, utilizando os fatores de produção (recursos naturais, trabalho e capital) que são cedidos a elas pelos proprietários dos mesmos em troca de uma remuneração, que é denominada renda.

10

Page 11: Economia II

Os proprietários dos fatores de produção (os capitalistas que detém a propriedade do capital, os assalariados e demais trabalhadores que possuem o fator de produção trabalho e as pessoas que são donas dos recursos naturais) utilizam a renda originária da cessão de seu uso para as empresas para comprar os bens e serviços que estas produzem e que satisfaçam às suas necessidades. O valor total destas compras é denominado dispêndio.

Observe que a empresa é um agente econômico distinto do capitalista, seu proprietário, que faz parte das famílias (os proprietários de empresas individuais e os profissionais liberais participam simultaneamente dos dois grupos: enquanto unidades produtoras são considerados integrantes do agente econômico empresas e, enquanto proprietários de fatores de produção, das famílias).

O diagrama a seguir resume o que foi exposto:

Pagamento pela compra de bens e serviços = Dispêndio

Bens e Serviços

UNIDADE DE PRODUÇÃO: UNIDADES CONSUMIDORAS: EMPRESAS FAMÍLIAS

Fatores de Produção

Pagamento pelo uso dos fatores de produção = Renda

A renda, a remuneração paga pelas empresas pelo uso dos fatores de produção, é classificada pelos economistas em quatro grandes categorias:- os salários, que são a remuneração do fator de produção trabalho; nesta categoria

são incluídas também as comissões, os honorários de profissionais liberais, os ordenados dos executivos, enfim todas as remunerações relativas ao trabalho, mesmo que não-assalariado.

- Os juros e lucros, que são a remuneração do fator de produção capital; observe que o lucro das empresas, mesmo que não distribuído, é considerado renda dos sócios ou acionistas da empresa pois, em última análise, pertence a eles.

- Os aluguéis, que são a remuneração dos proprietários dos recursos naturais e de bens de capital arrendados a terceiros.

A distribuição dos benefícios resultantes da produção (para quem produzir) dependerá da quantidade de cada fator de produção utilizado e da contribuição de cada um deles para a efetivação da produção, ou seja, de sua produtividade. Assim, por exemplo, países em que o trabalho não-qualificado seja abundante e o capital escasso, tendem a pagar salários bastante baixos, embora os juros e os lucros sejam mais elevados.

11

Page 12: Economia II

Os trabalhadores qualificados, por sua vez, por serem menos abundantes e mais produtivos, tendem a receber remunerações mais altas.

A decisão de quais produtos deverão ser produzidos pela economia é tomada em conjunto pelas unidades consumidoras (que constituirão a demanda por bens e serviços) e pelas unidades produtoras (que farão a oferta de bens e serviços). O mecanismo de equilíbrio entre essas duas forças se dá no mercado, onde são determinados os preços e quantidades transacionados dos diversos bens e serviços.

A resposta à questão de como produzir será dada pela concorrência entre os produtores, que deverão adotar a combinação de fatores de produção que proporcione o menor custo da produção.

Numa economia privada de livre iniciativa, nenhum agente econômico (indivíduo ou empresa) se preocupa em desempenhar o papel de gerenciar o bom funcionamento do sistema de preços. Preocupam-se em resolver isoladamente seus próprios negócios. Procuram apenas sobreviver na concorrência imposta pelos mercados, tanto na venda e compra de produtos finais como na dos fatores de produção. Esse jogo econômico é todo ele baseado nos sinais dados pelos preços formados nos diversos mercados, como um sistema de semáforos para controlar o trânsito. Todos correm riscos, porém riscos previstos. O futuro é incerto, mas as prospecções se apoiam nas probabilidades de ocorrência, daí o risco estimado. O lucro pode ser o prêmio pelo risco assumido.

Acontece que todos agindo dessa forma egoísta, no conjunto se resolvem inconscientemente os problemas básicos da coletividade.

Os economistas do século XVIII acreditavam que a ação de cada indivíduo era dirigida por uma “MÃO INVISÍVEL”, a fim de contribuir para o bem-estar geral e o bom funcionamento do sistema econômico.

Na verdade, a ação conjunta dos indivíduos e empresas permite que centenas de milhares de mercadorias sejam produzidas como um fluxo constante, mais ou menos voluntariamente, sem uma direção central.

Por exemplo, sem um constante fluxo de produtos entrando e saindo ver-se-ia a população de Cruzeiro do Sul ameaçada pela fome em uma semana. Assim, é possível que milhares de pessoas possam dormir sossegadamente à noite sem que as sobressalte o terror mortal de uma paralisação do abastecimento do qual depende a própria existência dos indivíduos e da cidade. Tudo é realizado sem coação ou direção centralizada de qualquer organismo consciente.

Isso é o bastante para argumentar que um sistema de concorrência de mercados, por mais imperfeitamente que possa funcionar, não é um sistema caótico ou anárquico. Há nele esta ordem e coordenação. Trabalha e funciona.

Como funciona esse mecanismo de preços automático e inconsciente? Por sabermos que todos os bens econômicos têm seu preço.

Suponha-se agora que por uma razão qualquer todos os homens desejem uma quantidade maior de cuecas. Se a quantidade disponível for limitada e inferior à procura, então a disputa entre os indivíduos para aquisição de cuecas acabará por elevar o seu preço, eliminando os que não tiverem meios de comprar. Com a alta do preço, mais cuecas serão produzidas, podendo posteriormente baixar o preço. Da mesma forma, imagine-se que há um excesso de calcinhas no mercado, além da quantidade procurada. Como resultado da concorrência entre os vendedores o seu preço baixará. Um preço mais baixo estimulará o consumo de calcinhas e os produtores procurarão ajustar-se à quantidade adequada.

12

Page 13: Economia II

O desejo dos indivíduos determinará a magnitude da demanda, e a produção das empresas determinará a magnitude da oferta. O equilíbrio entre a demanda e a oferta será sempre atingido pela flutuação do preço.

O mecanismo de preços é um vasto sistema de tentativas e erros, de aproximações sucessivas, para alcançar o equilíbrio entre oferta e demanda.

Isso tanto é verdade no mercado de bens de consumo quanto no de fatores de produção, tais como trabalho, terra e capital. Se houver maior necessidade de administradores do que de advogados, as oportunidades de trabalho serão mais favoráveis aos primeiros. O salário do administrador tenderá a elevar-se e o do advogado, a cair.

Pode-se notar que os problemas básicos da economia – o que, quanto, como e para quem – podem ser resolvidos pela concorrência dos mercados e pelo mecanismo dos preços. O consumidor tentará maximizar utilidade e o produtor, o lucro. - Que bens serão produzidos será decidido pela procura dos consumidores no mercado.

O dinheiro pago ao vendedor será redistribuído em forma de renda como salários, juros ou dividendos aos consumidores. O consumidor sempre procurará maximizar a utilidade ou a satisfação.

- Quanto produzir será determinado pela atuação dos consumidores e dos produtores no mercado com os ajustamentos dados pelo sistema de preços.

- Como produzir é determinado pela concorrência entre os produtores. O método de fabricação eficiente ou mais barato deslocará o ineficiente e o mais caro, podendo assim o concorrente sempre sobreviver no mercado produtor. O objetivo do produtor será sempre de maximizar os lucros.

- Para quem produzir será determinado pela oferta e procura no mercado de serviços: por salários, juros, aluguéis e lucros, que em conjunto, formam a renda individual, relativa a cada serviço e ao conjunto de serviços. A produção destina-se a quem tem renda para pagar e o preço é o instrumento de exclusão.

13

Page 14: Economia II

1.8 – PREÇO E QUANTIDADE DE EQUILÍBRIO

No mercado onde se formam os preços, os consumidores estabelecem os preços máximos que estão dispostos a pagar por cada quantidade a ser demandada. Essa avaliação é subjetiva (psicológica) e deriva do conceito de utilidade que o consumidor procura maximizar. Assim, a curva de demanda de mercado delimita o “preço máximo”. Ao contrário, os produtores estabelecem seus preços mínimos que estão dispostos a receber por cada quantidade ofertada, diante da restrição dos custos incorridos e seu objetivo de maximizar lucros. Assim a curva de oferta representa o limite mínimo. Desta forma, a área de negociação do preço e da quantidade se dará na região ABC do gráfico, mas o equilíbrio será em B. O mercado é a solução civilizada mais barata, logo a mais eficiente, para se realizar trocas, que em última instância é a essência do problema econômico.

14

Page 15: Economia II

1.9 – ECONOMIA MISTA DE MERCADO – A PRESENÇA DO ESTADONa verdade, o sistema descrito no gráfico apresenta inúmeras imperfeições

no seu funcionamento, além de uma grande simplificação da vida real. As falhas no funcionamento da economia de mercado impedem-na de atingir suas metas:- Eficiente alocação dos recursos;- Distribuição justa de renda (não confundir com igualdade, que não existe);- Estabilidade dos preços (baixíssima inflação);- Crescimento econômico.

As falhas são basicamente duas:- Imperfeições na concorrência dos mercados, caracterizada pela presença de poucos

produtores (monopólio ou oligopólio e sindicatos), que transformam os mercados impessoais em pessoais para deles tirar vantagens econômicas, pela cobrança de preços muito acima dos custos de produção;

- Efeitos externos que o mercado é incapaz de internalizar no cômputo dos seus benefícios e/ou custos. Por exemplo, o custo da poluição das fábricas sobre as famílias não é cobrado nos preços dos produtos. Existem custos para alguns que não são pagos por ninguém. Outro exemplo é o caso do uso das estradas públicas por usuários que não são os virtuais pagadores, porque essas são construídas com tributos em geral.

As imperfeições da concorrência levam a má distribuição de renda e de bem-estar, e somente a atuação do Estado pode corrigir, regulamentando a ação dos oligopólios ou investindo nas áreas sociais para reduzir os focos de pobreza. Muitas vezes a presença do Estado na economia se dá através das empresas estatais, produzindo o que o setor privado poderia fazer, mas não o faz por falta de capital (Petrobrás, Eletrobrás etc.), ou por medida de segurança nacional, ou mero nacionalismo político. Assim a intervenção do Estado na economia multiplica-se e vai além das suas funções convencionais de educação, saúde, infra-estrutura (transporte, saneamento), justiça, defesa nacional etc.

15

Page 16: Economia II

1.10 – ELEMENTOS DE UMA ECONOMIA CAPITALISTA

O capitalismo caracteriza-se por um sistema de organização econômica baseada na propriedade privada dos meios de produção, isto é, os bens de produção ou de capital.- Capital – O termo “capital” usualmente tem diferentes significados, inclusive na

linguagem comum é entendido como “certa soma em dinheiro”. Todavia, o conceito a ser aprendido aqui é: Capital é o conjunto(estoque) de bens econômicos, heterogêneos, tais como, máquinas, instrumentos, fábricas, terra, matérias-primas etc., capaz de reproduzir bens e serviços”.

O uso do capital na produção introduz os métodos indiretos, além de contribuir para o aumento da produtividade do trabalho. Tome-se o clássico exemplo: “um camponês habita uma cabana distante da fonte de água. Se deseja saciar a sede, poderá dirigir-se a ela e apanhará água com as mãos. Poderá, também, despender seu tempo e alguns recursos para fabricar um balde, podendo fazer sua provisão de água e diminuir seu número de viagens à fonte. Finalmente, poderá despender mais tempo e recursos, para construir uma adutora de maneira a canalizar a água, desde a fonte até a cabana”. Tanto o balde como a adutora passam a fazer parte do estoque de capital. Assim, o camponês teve de destinar tempo e poupar recursos para a ampliação do seu estoque de capital.

- Propriedade privada – Nossa economia recebe o nome de capitalismo, porque esse capital é essencialmente propriedade privada de alguém: o capitalista. É através da propriedade que o capitalismo se apropria de parte da renda gerada nas atividades econômicas. Dessa forma fica garantido o estímulo à criatividade e à concorrência.

O capital na sua forma física (equipamentos, edificações etc.) é chamado capital tangível. Todavia, cada pedaço de terra, cada parcela de equipamento ou de edifício, tem um documento ou um título de propriedade mostrando que pertence diretamente a

16

Page 17: Economia II

alguém. O mesmo conjunto de capital representado por meio de documentos é chamado capital intangível. As patentes dos processos tecnológicos são outra forma desse último tipo de capital.

No sistema capitalista, são os indivíduos que recebem os juros, os dividendos, os lucros, os aluguéis e os direitos de exploração (royalties) dos bens de capital e das patentes.

- Divisão do trabalho – As economias de produção em massa, sobre as quais se baseiam os padrões modernos de vida, não seriam exeqüíveis se a produção ainda se processasse individualmente ou por núcleos familiares. A produção massificada deve-se principalmente à “divisão do trabalho”, ou seja, à “especialização” de funções que permite a cada pessoa usar, com a máxima vantagem, qualquer diferença peculiar em aptidões e recursos. Pois a especialização, além de se basear nas diferenças individuais de aptidões, cria e acentuam essas diferenças Um exemplo que ilustra o aumento de produtividade devido à especialização é o da montagem de automóveis. Um só indivíduo, na melhor das hipóteses, poderia montar um automóvel por mês, e 100 indivíduos, 100 automóveis por mês. Mas se se subdividir as funções numa linha de montagem, de tal forma que cada indivíduo execute operações simples e repetidas, o grupo, em conjunto, poderá montar, no mesmo prazo milhares de automóveis semelhantes.

Além disso, a simplificação de funções, tornada possível pela especialização, se presta à mecanização, isto é, ao uso mais intensivo de capital por trabalhador. Ao mesmo tempo evita a duplicidade antieconômica de instrumentos e poupa o tempo perdido de se passar de uma tarefa para outra.

É evidente, contudo, que a especialização e a divisão do trabalho levam a uma elevada interdependência de funções.

- Moeda – Ao lado do capital e da especialização, a moeda é um terceiro aspecto da vida econômica moderna. A importância da moeda é ressaltada quando se imagina uma economia de escambo, onde uma espécie de mercadoria é trocada diretamente por outra. Teria que haver dupla coincidência de necessidades, de tal forma que um alfaiate faminto encontrasse um agricultor que tivesse, ao mesmo tempo, comida e o desejo de possuir uma cueca samba canção; caso contrário, não haveria negócio.

O escambo já representa um grande avanço sobre a situação em que cada homem teria de assobiar e chupar cana. Todavia, o puro escambo se realiza sob tão grandes desvantagens, que não seria concebível divisão do trabalho, altamente elaborada, sem a introdução de um segundo grande progresso: o uso da moeda. Em quase todas as culturas, os homens não trocam mercadorias, mas vendem uma delas por moeda e, então, usam a moeda para comprar as mercadorias que desejam.

A moeda é uma das maiores invenções da humanidade e tem na economia quatro funções básicas: meio de troca, reserva de valor, unidade de conta e padrão para pagamentos diferidos no tempo. Como meio de troca ela facilita enormemente os negócios. Para que seja aceita deve manter o seu poder de compra ao longo do tempo e também ser facilmente reconhecida, divisível e transportável.

17

Page 18: Economia II

1.11 - ELEMENTOS DE UMA ECONOMIA CENTRALIZADA – COMUNISTA

Nas economias centralizadas, os três problemas básicos – o que e quanto, como e para quem - são determinado pelos órgãos planejadores centrais e não pelo sistema de preços como nas economias de mercado.

O planejamento é, grosso modo, formulado da seguinte maneira:- Primeiro: Faz-se um “ inventário” das necessidades humanas a serem atendidas.- Segundo: Faz-se um “inventário” dos recursos e das técnicas disponíveis para a

produção.- Terceiro: Com base nessas disponibilidades, faz-se uma seleção das necessidades

prioritárias e fixam-se as quantidades a serem produzidas de cada bem – são as chamadas “metas” de produção-consumo.

O órgão planejador fixa as metas a serem cumpridas, transmite-as aos órgãos setoriais, e estes, diretamente às unidade produtoras da atividade econômica.

O sistema de preços não funciona como um mecanismo orientador, mas sim para facilitar a consecução dos objetivos de produção estabelecidos pelo Estado. Na realidade ele tem duas funções diferentes, uma durante o processo de produção, e outra no momento da venda e distribuição do produto ao consumidor:

- Os preços durante o processo de produção – Durante o processo de produção, os preços não passam de recursos contábeis que facilitam o controle da eficiência com que os produtos são manufaturados, calculados com base em empresas de eficiência média. Assim, se uma fábrica qualquer estiver produzindo de modo pouco eficiente, os prejuízos financeiros logo acusarão essa falha. No caso de uma eficiência maior do que a média, aparecerão os lucros inesperados (A maior parte destes lucros vai para os cofres governamentais. Uma outra parte é usada para expandir a empresa, se tal expansão não entrar em conflito com os planos governamentais. A outra parte é repartida entre administradores e operários, como prêmio pela eficiência demonstrada).

18

Page 19: Economia II

Em resumo, durante o processo de produção, os preços fixados dos recursos disponíveis são usados como recursos de contabilização dos custos de produção do processo, para que se possa julgar a eficiência de operação das diversas empresas.

No regime capitalista, os prejuízos exigem uma restrição da produção, o que significa que alguns serão desviados da indústria em causa; por outro lado, o aparecimento de lucros indica que a indústria está em expansão, isto é absorvendo novos recursos. Numa economia centralizada, a expansão e a contração industriais são determinadas pelo Governo, não pelo sistema de preços. Portanto, se o Governo achar que determinada indústria é vital para a economia do país, essa indústria prosperará, apesar de apresentar uma relativa ineficiência de produção e, consequentemente prejuízos. Da mesma forma o governo poderá decretar a contração de uma indústria altamente eficiente, apesar de ela estar dando margem a grandes lucros.

No setor industrial, a produção é predominantemente organizada através de fábricas individuais, administradas por um “diretor” (com aprovação do partido comunista local). O diretor pode parecer soberano perante os trabalhadores, mas suas ordens com respeito a como e o que produzir também quanto, qual e como substituir equipamentos ou mesmo expandir a empresa, são determinadas por órgãos planejadores hierarquicamente superiores. Assim, o diretor é mais um burocrata do que um empresário.

Numa economia centralizada, a agência planificadora central desenvolve os planos econômicos gerais, os quais são transferidos aos escritórios regionais, que os destinam aos ministros particulares. Estes finalmente os encaminham aos diretores empresariais para as respectivas execuções.

As firmas individuais recebem suas cotas de produção, de acordo com as metas quantitativas setoriais e globais para cada produto. Cada firma recebe um máximo de fatores de produção e não há possibilidades do diretor conseguir mais recursos além dos fornecidos. Os salários oferecidos pelas empresas são de acordo com a maximização da produção, e em geral dependem diretamente da produtividade e da grande especialização do trabalhador, de tal forma que ele estará monetariamente motivado para produzir e para desenvolver as suas capacidades.

Os trabalhadores são livres na escolha profissional e têm mobilidade para a execução do trabalho entre empresas ou regiões.

A agricultura é composta pelas “fazendas estatais” e pelas “fazendas coletivas”. As primeiras pertencem e são totalmente dirigidas pelo Governo. Na realidade são fazendas de cereais e de carne e são responsáveis pela maior parte da produção agrícola. As segundas pertencem às famílias-membros e são responsáveis pelo restante.

- os preços durante o processo de venda e distribuição – A segunda função dos preços resume-se no caso dos mesmo serem empregados para auxiliar a distribuição dos diversos produtos, evitando, assim, que o Governo seja obrigado a lançar mão do sistema de racionamento. Em outras palavras, os preços dos bens de consumo são determinados pelo Governo para eliminar qualquer excesso ou falta persistente de produção. Desta forma, pode haver uma diferença muito grande entre o preço de produção de um bem e o seu preço de venda. Quanto maior for a falta (escassez) de um bem, maior será a taxa de imposto de consumo incidida sobre ele.

Por exemplo: digamos que o preço de produção de uma calcinha fio dental seja R$ 50,00. Sendo a demanda desse bem de consumo maior que a oferta, como forma de se evitar a presença do racionamento, o Governo estabelece R$ 100,00 como preço de venda. Desta maneira o equilíbrio entre a demanda e a oferta se restabelecerá.

19

Page 20: Economia II

Em outros casos, os preços de venda podem ser inferiores aos custos de produção, numa tentativa do Governo encorajar o consumo de alguns produtos particularmente abundantes, como por exemplo, batata e outros vegetais. Nesse caso o Governo está subsidiando o consumo de tais produtos. Os consumidores são livres na escolha dos produtos postos a venda nas lojas governamentais, ou nas cooperativas de consumo.

- Propriedade pública – os meios de produção – máquinas, edifícios, matérias-primas, instrumentos, tratores, caminhões, terra, minas, bancos, etc. – são considerados como pertencentes a todo o povo, isto é, propriedade coletiva. Todavia existem os meios de produção de propriedade privada de pequenas atividades artesanais (sapateiros, alfaiates etc.) e camponesas (sítios, instrumentos agrícolas rudimentares etc.).

Os meios de sobrevivência como roupas, automóveis, eletrodomésticos, móveis, etc. pertencem aos indivíduos, exceto as residências, que pertencem ao Estado.

1.12 – VARIÁVEIS ECONÔMICASAs variáveis econômicas podem ser divididas em dois tipos: variáveis-fluxo

e variáveis-estoque. As variáveis-fluxo são aquelas que são medidas em determinada unidade de

tempo (ano, semestre, trimestre, mês, semana, dia, etc.). São exemplos de variáveis-fluxo:- Consumo de bens e serviços- Salários pagos- Lucro das empresas- Compras de matéria-prima- Renda paga aos fatores de produção- Exportações e importações- Nascimentos e óbitos- Empréstimos e respectivas amortizações- A taxa de variação dos preços de um país

As variáveis-estoque são aquelas medidas em determinada data: São exemplos:- Estoques de mercadorias- Estoque de matérias-primas- Capital nominal investido numa empresa- A população de um país- A população economicamente ativa- Estoque de capital de um país- Dívida interna e externa de um país- A quantidade de moeda em circulação no país- Os preços dos bens e serviços- A taxa de câmbio

A inter-relação entre as variáveis-fluxo e estoque pode ser retirada da Hidráulica (ramo da física): conhecendo-se a vazão de água de uma torneira aberta, pode-se calcular o tempo em que um reservatório, que receba essa vazão, fica cheio, bastando dividir-se a capacidade do reservatório em litros pela vazão, medida em litros por unidade

20

Page 21: Economia II

de tempo. Assim, se uma torneira despeja 50 litros de água por hora (variável fluxo), o reservatório, cuja capacidade é de 500 litros por hipótese, ficará cheio em 10 horas.

Observe que o volume de água no reservatório é uma variável-estoque contínua. A cada momento do tempo, o nível do reservatório se altera em função da vazão de água da torneira no interregno entre eles. A variável-estoque, portanto é influenciada pelo valor da variável-fluxo.

Em economia, há também vários exemplos de inter-relação entre essas variáveis. Veja-se o caso da dívida externa de um país. Trata-se de uma variável-estoque (é medida numa determinada data) e seu valor é influenciado pelos fluxos dos empréstimos e amortizações dos mesmos (que são medidos em intervalos de tempo). Outro exemplo é a relação entre a produção de bens de capital (investimento) e o estoque de bens de capital de um país.

PARTE II

MICROECONOMIA

1.0 – CONSIDERAÇÕES INICIAISGenericamente, a microeconomia é concebida como o ramo da Ciência

Econômica voltado ao estudo do comportamento das unidades de consumo representadas pelos indivíduos e/ou famílias (estas desde que caracterizadas por um orçamento único), ao estudo das empresas, suas respectivas produções e custos e ao estudo da geração e preços dos diversos bens, serviços e fatores produtivos. Desta maneira distingue-se da macroeconomia, porque esta se interessa pelo estudo dos agregados como a produção, o consumo e a renda da população como um todo.

A bifurcação da Ciência Econômica nesses dois grandes ramos, isto é, a microeconomia e a macroeconomia, data dos primórdios da década de 1930. Ambos os segmentos gravitam em torno do problema da limitação e do caráter finito dos recursos produtivos em face das necessidades vitais e de civilização, infinitas e ilimitadas, subjacentes ao ser humano, problemática essa que embasa e justifica a razão da existência da economia como ciência. Entretanto a micro e a macroeconomia caminham, conforme

21

Page 22: Economia II

salientamos, por canais distintos, possíveis de serem identificados e/ou distinguidos segundo certos parâmetros.

Os critérios adotados para a distinção são, entretanto, frágeis, dado que a compreensão de qualquer fenômeno econômico requer, inevitavelmente, o inter-relacionamento das teorias que se inserem tanto no âmbito do segmento micro como no do ramo macro da Ciência Econômica. Entre esses critérios, o primeiro deles fundamenta-se no nível de abstracionismo envolvido. Efetivamente, a microeconomia, ao estabelecer princípios gerais, revela-se muito mais abstrata do que a macroeconomia, a qual se encontra voltada ao exame de questões e medidas peculiares a um dado lugar e instante do tempo.

Secundariamente, a microeconomia apresenta uma visão microscópica dos fenômenos econômicos, e a macroeconomia, uma ótica telescópica, isto é, esta última possui uma amplitude muito maior, apreciando o funcionamento da economia no seu global. A título comparativo se fosse considerada uma floresta, a microeconomia estudaria as espécies vegetais que a compõe, ou seja, a composição do produto como um todo, enquanto a macroeconomia preocupar-se-ia com o nível do produto total.

Uma terceira forma de distinguir a microeconomia e a macroeconomia abrange a análise das formas de comportamento de variáveis agregadas e de variáveis individuais. Entretanto a agregatividade aqui explicitada deve ser entendida em termos da homogeneidade ou não do conjunto considerado. Dessa maneira, se do agregado pudesse ser extraído, ao acaso, um elemento como representativo do padrão de comportamento dos demais, ter-se-ia a área de atuação da microeconomia; caso contrário, se não houvesse a possibilidade de isolar um elemento do grupo de modo tal que refletisse o padrão de comportamento dos demais, adentrar-se-ia no campo da macroeconomia. Exemplificativamente, os grandes agregados estudados pela macroeconomia, como a renda, o emprego e o desemprego, o consumo, o investimento, a poupança, o nível geral de preços, são todos de natureza, na forma como considerada, heterogênea. Já a microeconomia está devotada à apreciação das unidades individuais da economia. Assim, o estudo da Teoria do Consumidor considera o comportamento do indivíduo (ou da família, desde que a unidade de consumo e/ou gasto seja única) e vai subsidiar a análise da procura; igualmente, na Teoria da Firma, que se desdobra em Teorias da Produção, dos Custos e dos Rendimentos e alicerceia a Análise da Oferta, novamente se tem o enfoque das formas de comportamento de unidades individuais, no caso, as empresas.

O derradeiro e não menos relevante critério de distinção entre a microeconomia e a macroeconomia repousa no aspecto “preços”. A macroeconomia quando muito aborda os níveis absolutos de preços, enquanto os preços relativos (ou seja, como os preços de alguns produtos variam em relação aos demais) são a preocupação, por excelência, da microeconomia. Efetivamente, a microeconomia é igualmente conhecida por Teoria dos Preços, pois procura evidenciar a formação dos preços dos bens e serviços, assim como dos recursos produtivos.

Na Teoria do Consumidor, a microeconomia enaltece a intenção dos indivíduos, em face das respectivas rendas, de se apropriarem de uma combinação de quantidades de bens tal que lhes propicie a maximização de suas satisfações. Em outras palavras, originam-se aí as procuras (individuais e de mercado) que se traduzirão em rendimentos para as firmas.

Na Teoria da Firma, tem-se a figura do indivíduo-empresário esforçando-se para combinar os fatores de produção, dada a sua limitação orçamentária, com a intenção de maximizar o nível de lucro de sua organização. Colocado de outra maneira, obtêm-se a

22

Page 23: Economia II

partir da análise desse procedimento os elementos necessários à derivação das ofertas individuais e de mercados.

A combinação das quantidades de fatores de produção, bens e/ou serviços que os consumidores estariam dispostos a adquirir, que geralmente são, como já anteriormente realçado, infinitas e ilimitadas, enquanto as quantidades desses elementos que os empresários teriam condições de vender se traduzem sempre em uma oferta finita e limitada, em face da escassez dos recursos produtivos, impõe a determinação de um denominador comum, que nada mais será do que o preço. A determinação deste preço, cujo nível em muito dependerá do arcabouço econômico ou, ainda, da estrutura mercadológica envolvida, é a tarefa a que se propõe a microeconomia ao estudar a questão tanto no âmbito dos fatores de produção como no caso dos bens e/ou serviços.

Resumindo:Microeconomia – é o ramo da Teoria Econômica que estuda o

funcionamento do mercado de um determinado produto ou grupo de produtos, ou seja, o comportamento dos compradores e vendedores de tais bens, tais como o mercado de automóveis, de produtos agrícolas etc.

Macroeconomia – é o ramo da Teoria Econômica que estuda o funcionamento da economia como um todo, procurando identificar e medir as variáveis que determinam o volume da produção total, o nível de emprego e o nível geral de preços do sistema econômico, bem como a inserção do mesmo na economia mundial.

1.2 – CARACTERÍSTICAS GERAISAs características gerais da microeconomia se confundem com aquelas

inerentes à própria economia, da qual é um dos segmentos. Como ponto inicial a destacar e a exemplo do que ocorre no campo das

Ciências Exatas e mesmo na área das próprias Ciências Sociais, onde o conceito de cultura nada mais é do que a caracterização e simplificação da estrutura da sociedade, a microeconomia também lança mão de modelos.

O que são os modelos? Globalmente, estes retratam uma construção composta de uma série de hipóteses a partir das quais as conclusões são extrapoladas. O abstracionismo presente nesses instrumentais não ignora a complexidade do mundo real, mas constitui, sem dúvida, uma alternativa factível e necessária para delinear uma realidade que, de outra maneira, permaneceria demasiadamente obscura ao conhecimento humano. Segundo o ponto de vista dos economistas, os modelos são formas auxiliares na compreensão das complexidades econômicas, retratando a forma como os indivíduos efetuam decisões, a maneira como as firmas pautam os seus procedimentos etc.

Os modelos utilizados pela microeconomia são precipuamente de natureza dedutiva, o que caracteriza consequentemente, como uma ciência de natureza dedutiva ou teórica. Dentro dessa tônica, a partir de uma situação do mundo real, são selecionadas as variáveis mais relevantes ao fenômeno sob análise, permitindo a manuseabilidade das complexidades desse mundo real; obtido assim o modelo lógico, mediante deduções adequadas, são inferidas conclusões de natureza abstrata, as quais, convenientemente interpretadas com argumentos realistas, tornam plausível o retorno ao mundo real. Se as conclusões não forem coerentes com a realidade, impõe-se a reestruturação do modelo inicialmente concebido.

23

Page 24: Economia II

A microeconomia é uma ciência teórica ou dedutiva em função, inicialmente, da própria complexidade e entrelaçamento das influências subjacentes às situações nela presentes, tornando difícil desembaraçá-las por meio de técnicas estatísticas e, mesmo, em função da impossibilidade de condução de experimentos controlados, ao contrário do que ocorre das Ciências Exatas.

Secundariamente, o caráter dedutivo da microeconomia é realçado na medida em que se desejar formular deduções teóricas sobre variáveis que não podem ser observadas ou mensuradas. Por exemplo, como não é disponível nenhum “utilitômetro”, não se pode mensurar a utilidade ou a desutilidade que os consumidores desfrutam ao disporem de um bem ou serviço.

Complementarmente, na microeconomia são defrontadas constantemente situações hipotéticas de causa e efeito, isto é, ponderações do tipo “o que aconteceria se...?”, e nestes casos os fatos não podem ser observados. Assim o sendo, só a condução da solução ao problema de forma teórica ou dedutiva é que permitirá chegar a uma conclusão da análise a que o economista se propõe.

Verificada a característica da microeconomia como ciência de caráter teórico ou dedutivo, não deve ser subestimada a sua utilidade na explicação dos fatos do mundo real. Efetivamente, o papel desempenhado pela microeconomia em pouco difere daquele de um mapa rodoviário que, embora não descreva toda a imperfeição física ou o acidente geográfico de uma rodovia, é de utilidade inconteste ao motorista que dele se venha a utilizar.

A microeconomia apresenta uma natureza estática comparativa. Isto significa que sempre tendem a ser confrontadas duas ou mais posições de equilíbrio sem qualquer preocupação com o que possa Ter ocorrido durante o período que demandou a passagem da situação inicial para a final. Assim procedendo, não são considerados os ajustamentos entre ambas as situações, nem a extensão do período de tempo em si. O exemplo comumente referido para ilustrar esta característica da teoria microeconômica é o do lançamento de um tributo; os pontos relevantes consistem em comparar a situação de equilíbrio presente antes da decisão governamental de lançar o tributo e aquela situação de equilíbrio após o tributo haver surtido os seus efeitos, positivos ou negativos; os ajustamentos resultantes do confronto entre as duas situações em apreço, bem como o lapso de tempo incorrido, são irrelevantes à microeconomia.

Uma terceira característica a ser realçada na microeconomia é o seu enquadramento dentro do ramo da economia positiva ou científica. Realmente o enfoque desse ramo da Ciência Econômica é o estudo da situação tal e qual ela se apresenta, descrevendo-a sem se posicionar favorável ou desfavoravelmente a ela. Isso significa afiançar que inexiste qualquer juízo de valor ou conotação ética na microeconomia, e que ela mantém uma índole exclusivamente descritiva. A título exemplificativo, o profissional, diligenciando com assuntos microeconômicos, não argumenta que uma firma deva maximizar os seus lucros, mas, unicamente, que entre as políticas possíveis de seguir, na expectativa de maximizar os seus resultados, estaria a hipótese de maximização de seus lucros. Em síntese, caso a microeconomia adira firmemente a um determinado objetivo, ela perderá a sua essência científica ou positiva.

A característica Quarta da teoria microeconômica é de se constituir, fundamentalmente, em uma análise de equilíbrio parcial. Esta análise pressupõe a adoção de condições de “coeteris paribus”, ou seja, uma hipótese segundo a qual todas as demais condições que possam influenciar no relacionamento entre duas variáveis, funcionalmente

24

Page 25: Economia II

dependentes, sejam mantidas constantes. O objetivo desta premissa é aproximar o modo de agir dos economistas com aquele dos profissionais que atuam no campo das Ciências Exatas. Efetivamente, estes últimos, ao desenvolverem os seus experimentos, fazem-no em ambientes passíveis de controle; quanto aos economistas, os resultados que inferem de qualquer situação microeconômica são válidos desde que aceita a hipótese do coeteris paribus, caso contrário, será relutada a veracidade desses resultados.

Uma análise de equilíbrio parcial, contrariamente a uma de equilíbrio geral, pressupõe a abordagem de todas as situações econômicas de forma isolada ou individual; considera um setor específico de economia e não esta em sua globalidade. Apresenta uma série de vantagens, a saber:a) exige uma menor disponibilidade de tempo do que a análise de equilíbrio geral;b) é menos complexa, mais maleável e, didaticamente, de uso mais recomendado;c) propicia a obtenção de uma primeira aproximação dos resultados globais a que se esteja

almejando;d) tem uma adequação e utilidade tanto maior quanto mais tênues ou frágeis forem as

conexões entre a situação particular sob estudo e o restante da economia;e) operacionalmente é mais exeqüível do que a análise de equilíbrio geral cujo

desenvolvimento ocorre quase sempre efetivado com o auxílio da matemática, dada a quase total impossibilidade de conduzi-la graficamente.

1.3 – USOS FREQUENTESSão vários os usos a que se pode prestar a microeconomia. Em um primeiro

plano, tem-se essa ciência sendo utilizada como conjunto de proposições convenientemente alicerçadas. Essas proposições permitem sejam inferidas explicações e previsões de comportamento para as várias situações que lhes sejam inerentes ou peculiares. São possíveis de serem efetuadas proposições condicionais no sentido de que, à medida que ocorrerem determinados eventos e baseando-se em proposições já previamente verificadas, então um determinado conjunto de conseqüências deveria seguir-se.

A microeconomia como linguagem é outra forma relevante de sua utilização. Sempre que ela descrever, ordenar e estabelecer limites a uma determinada circunstância, estará favorecendo a comunicação entre os estudiosos em geral e os seus especialistas em particular. E essa comunicação é, portanto, possível por meio da linguagem que pode assumir diferentes formas. A primeira delas é a forma literal, ou seja, apresentar uma proposição em forma de prosa. Assim, a Lei Geral de Procura é enunciada como: “a quantidade procurada de um bem ou serviços qualquer varia na razão inversa da variação de seus preços mantidas as demais influências constantes”.

Mas a linguagem pode ser também colocada de forma tabular ou estatística. Efetivamente, sabe-se existir a possibilidade de estimar, no tempo, as relações entre os possíveis níveis de preço de um bem ou serviço e as respectivas quantidades que serão procuradas. Os dados associados entre si e convenientemente alinhados em uma tabela de procura retratariam, tal e qual o caso anterior, a Lei Geral da Procura.

TABELA DE PROCURA PELO PRODUTO XNÍVEIS DE PREÇO ( REAIS ) QUANTIDADE PROCURADA (UNIDADES)

40 2030 80

25

Page 26: Economia II

20 14010 200

Existe também a linguagem sob a forma gráfica. A representação gráfica de um tabela de procura em um diagrama cartesiano de preços-quantidades procuradas dá origem a uma curva de procura que, dependendo das circunstâncias, poderá ser linear ou não. De qualquer maneira, o resultado obtido traduz, como nos casos anteriores, a Lei Geral de Procura.

A linguagem ainda pode ser expressa sob a forma matemática ou algébrica.

Matematicamente, uma função expressa uma relação entre uma variável dependente e a(s) variável(eis) independente(s) ou explicativa(s). Dessa forma, correlacionando-se a quantidade procurada, no caso para o produto X, designada por Qd e o seu preço, representado por P, algebricamente se dirá que, coeteris paribus, a quantidade procurada depende do preço, ou seja:

Qd = f(P)Nessa expressão, que é uma versão simplificada da função procura, denota-

se a quantidade procurada como dependente unicamente do preço.Em resumo, a microeconomia, quando utilizada como linguagem, embora

esta podendo assumir diferentes formas, conduz sempre a um mesmo resultado, na comunicação entre os estudiosos da matéria, na enunciação dos mais diversos vocábulos a ela inerentes, cada vez que estes sejam citados ou referidos. Exemplificativamente, entre dois economistas, a menção da expressão procura, dispensa a enunciação do que possa significar o vocábulo, uma vez que ambos devem saber, de forma adequada e precisa, o que ele traduz tanto literalmente como matematicamente, de forma tabular ou, ainda, via gráfica.

1.5 – OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARESAs características gerais da teoria microeconômica não diferem

substancialmente daquelas da Ciência Econômica em si, da qual, como visto, constitui um de seus segmentos. Admitida a necessidade de utilização de modelos microeconômicos,

26

Page 27: Economia II

observa-se serem estes de natureza dedutiva ou teórica, com a ciência microeconômica enquadrando-se no campo da estática comparativa, dotada de cunho positivo ou científico, e se constituindo, primordialmente, em uma análise de equilíbrio parcial, embora, circunstancialmente, também possa sê-lo de equilíbrio geral.

A microeconomia encontra bastante aplicabilidade no mundo atual. Referimo-nos a essa teoria como elemento de previsão condicionada à ocorrência de determinado evento, bem como importante na elaboração de modelos que retratariam, de forma simplificada, as situações presentes no mundo real. Entretanto não pode ser deixada de lado a sua aplicação no rol das demais ciências.

Em um primeiro plano destacar-se-ia o papel que desempenha na Teoria do Comércio Internacional. Aliás, o comportamento dos países em nada difere do comportamento dos indivíduos sempre ávidos em maximizar as suas satisfações, condicionados a certas restrições.

A microeconomia se acha igualmente presente no mundo dos negócios como auxiliar na formulação de decisões administrativas calcadas no comportamento da procura, na estrutura dos custos empresariais, em métodos de fixação de preços etc.

Finalmente, mas não menos importante e longe de cogitar o esgotamento pleno do assunto, a aplicação do instrumental microeconômico se faz também presente no campo da Política Econômica. Como ciência de natureza estático-comparativa, por meio da microeconomia é possível avaliar os possíveis resultados de diretrizes e/ou medidas governamentais comparando-se as situações pré ou pós-adoção destas; analogamente a microeconomia torna factível prognosticar, condicionalmente, o resultado de decisões políticas que possam vir a ser tomadas como, por exemplo, no caso do lançamento de um tributo.

2 - A DEMANDA E A OFERTA Neste capítulo queremos explicitar alguns conceitos utilizados na ciência

econômica, que servirão de base para o aprofundamento do estudo da microeconomia, por isso pessoal, toda atenção é de suma importância, então vamos parar de lero-lero e mandar brasa.

2.1 – CLASSIFICAÇÃO DOS MERCADOSO mercado é o local onde se encontram os vendedores e compradores de

determinados bens ou serviços. Antigamente, a palavra mercado tinha uma conotação geográfica que hoje não mais subsiste, uma vez que os avanços tecnológicos nas comunicações permitem que haja transações econômicas até sem contato físico entre o comprador e o vendedor, tais como vendas por telefone e pela Internet.

Os mercados são classificados da seguinte forma:a) Concorrência perfeita – trata-se de um mercado caracterizado pelos

seguintes fatores:- existência de um grande número de pequenos vendedores e compradores, de tal

forma que cada vendedor e cada comprador, individualmente, representam muito pouco no total do mercado (mercado atomizado).

- O produto transacionado é homogêneo, ou seja, todas as empresas participantes do mercado fabricam produtos rigorosamente iguais que não se distinguem um dos outros por qualidade, marca, rótulo e quaisquer outras características (produto padronizado);

27

Page 28: Economia II

- Há livre entrada e saída de empresas no mercado; qualquer empresa pode entrar ou sair do mercado a qualquer momento, sem quaisquer restrições dos demais concorrentes, tais como práticas desleais de preços, associações de produtores visando impedir a entrada de empresas novas, etc.

- Perfeita transparência, ou seja, perfeito conhecimento, pelos compradores e vendedores, de tudo o que ocorre no mercado; assim por exemplo, se uma empresa obtiver uma inovação tecnológica no processo n produtivo, as outras saberão deste fato imediatamente;

- Perfeita mobilidade dos recursos produtivos; isso significa que a mão de obra e os outros insumos utilizados na produção podem ser facilmente deslocados da fabricação de uma mercadoria para outra; além disso, no mercado dos fatores de produção vigora também a concorrência perfeita, de tal forma que cada empresa poderá adquirir a quantidade desejada do fator por um preço que será fixado concorrencialmente.

Como se pode perceber por suas características, o mercado de concorrência perfeita não é facilmente encontrado da prática, embora possa se afirmar que os mercados que mais se aproximam de são os de produtos agrícolas.

O mercado de concorrência perfeita é estudado pelos economistas para servir como um paradigma (referencial de perfeição) para análise dos outros mercados. Ou seja, o mercado de concorrência perfeita é o mercado ideal, ao qual serão referenciados os mercados de concorrência imperfeita (existentes no mundo real listados a seguir) para se verificar no que diferem do modelo idealizado.

b) Monopólio – é o mercado que se caracteriza pela existência de um único vendedor. O monopólio pode ser legal ou técnico.

- Monopólio Legal ocorre quando uma lei assegura ao vendedor a primazia no mercado. Exemplo: até 1995, no Brasil, a empresa Petróleo Brasileiro S/A (Petrobrás) possuía por lei, o monopólio das atividades de extração e refino do petróleo.

- Monopólio técnico ocorre quando a produção através de uma única empresa é a forma mais barata de fabricação do produto. Ou seja, quanto maior for o tamanho da empresa, menor o custo médio de fabricação do produto. As atividades de geração e a distribuição de energia elétrica são apontadas na literatura especializada como exemplo deste tipo de monopólio.

b) Oligopólio – é o mercado em que existe um pequeno número de vendedores ou em que, apesar de existir um grande número de vendedores, uma pequena parcela destes domina a maior parte do mercado. São exemplos de oligopólios a industria automobilística e a industria de bebidas, entre muitas outras. Embora não haja barreiras explícitas, o poderio das grandes firmas que dominam o mercado é um fator desestimulante à entrada de novas empresas no oligopólio.

d) Monopsônio – é um mercado em que há apenas um único comprador. Imaginemos, por exemplo, uma região em que há um número expressivo de pequenos produtores de leite e apenas uma grande usina onde este leite poderá ser pasteurizado. A usine será a única opção de venda para os produtores, de modo que ela terá condições de impor preços para a compra de leite.

c) Oligopsônio – é o mercado caracterizado pela existência de um pequeno número de compradores ou ainda em que, embora haja um grande número de compradores, uma pequena parte deles é responsável por uma parcela bastante expressiva das compras ocorridas no mercado. A industria automobilística, por exemplo, constituída por um

28

Page 29: Economia II

pequeno número de empresas, tem um poder oligopsonista em relação à industria de autopeças, uma vez que é responsável por um grande volume das compras da produção desta última. As grandes empresas beneficiadoras de produtos agrícolas também formam um oligopsônio em relação aos agricultores, já que compram uma parcela expressiva da produção destes.

d) Concorrência monopolística – trata-se de um mercado em que, apesar de haver um grande número de produtores (e, portanto, ser um mercado concorrencial), cada um deles é como se fosse monopolista de seu produto, já que este é diferenciado dos demais. A diferenciação do produto se dá por meio de características do mesmo, tais como, qualidade, marca (griffe), padrão de acabamento, existência ou não de assistência técnica, etc. Exemplos de mercados de concorrência monopolista são as lojas de confecções e os restaurantes. Neste últimos, por exemplo, o produto ( a comida) é diferenciada pela natureza (pode ser comida chinesa, japonesa, italiana, brasileira típica, etc.), qualidade (boa, regular, ruim, etc.), pelas instalações (luxuosas, simples, médias) e por variados outros fatores.

Esta não é a única classificação possível dos mercados, embora seja a mais utilizada. Uma importante diferenciação entre as estruturas de mercados reside no grau de controle que vendedores e compradores têm sobre o preço pelo qual o produto é transacionado no mercado.

Na concorrência perfeita, nenhum vendedor ou comprador, considerado isoladamente, tem influência (ou seja, poder de determinação) sobre o preço de mercado. De fato, nenhum vendedor conseguirá vender o produto por um preço superior ao preço de mercado, já que, existindo um grande número de outros vendedores e o produto sendo homogêneo, o comprador simplesmente fará a aquisição numa outra empresa concorrente. Similarmente, nenhum comprador conseguirá comprar o produto a um preço abaixo do de mercado, já que existindo um grande número de consumidores, o vendedor sabe que, se não vender para ele, venderá para outro.

Neste mercado, portanto, é somente a influência conjunta de todos os vendedores (representada pela oferta do produto no mercado) quem determina o preço de mercado.

Nas demais estruturas de mercado, ou o vendedor ou o comprador, isoladamente, pode impor um preço ao mercado. No monopólio, por exemplo, o único vendedor tem poder quase absoluto ( é claro que mesmo o monopolista tem que respeitar as condições da demanda para fixar seus preços. Se Petrobrás estabelecer o preço da gasolina em R$ 1.000,00 o litro, praticamente nada venderá pois tornará o custo do transporte absurdamente elevado) para fixar o preço para o produto que lhe for mais conveniente. No oligopólio, os poucos vendedores existentes podem se unir para evitar a concorrência entre eles e impor um preço ao mercado. Na concorrência monopolística – embora o poder o vendedor em fixar preços seja menor que no monopólio e no oligopólio, uma vez que existe um grande número de concorrentes – o fato de seu produto ser diferenciado dos demais lhe dá uma certa autonomia para determinar o seu preço. Da mesma forma, no oligopsônio e monopsônio, o comprador tem o poder de impor seu preço aos vendedores, já que é responsável por uma parcela significativa da demanda do mercado.

2.2 – A DEMANDAA demanda de um determinado bem é dada pela quantidade deste bem que

os compradores (consumidores) desejam adquirir num determinado período de tempo.

29

Page 30: Economia II

A demanda de um bem depende de uma série de fatores. Consideramos como mais relevantes os seguintes:

a) o preço do bem – de fato, esta é a variável mais importante para que o consumidor decida o quanto vai comprar do bem; se o preço for considerado barato, provavelmente ele adquirirá maiores quantidades do que se for considerado caro;

b) a renda do consumidor – embora muitas vezes o consumidor considere atrativo o preço do bem, ele poderá não ter renda suficiente para comprá-lo, por exemplo, se o bem for um carro de luxo; por outro lado, se a renda do consumidor aumentar num período de tempo, provavelmente ele adquirirá maiores quantidades do bem a um determinado nível de preço do que antes e menores, se a renda diminuir, de forma que esta é uma variável que condiciona a decisão de consumo;

c) o preço de outros bens – se o consumidor deseja adquirir manteiga, por exemplo, ele não olhará somente o preço desta mas também o preço de bens substitutos tais como a margarina ou o requeijão cremoso; da mesma forma, se ele deseja adquirir arroz, considerará não somente o preço do arroz, mas também o do feijão já que, em nosso país, o consumo destes bens está freqüentemente associado um ao outro.

d) Os hábitos e gostos dos consumidores – esta é uma das variáveis mais importantes porque, embora o preço do bem esteja adequado, inclusive comparado ao de bens substitutos e o consumidor possua renda para adquiri-lo, muitas vezes deixa de fazê-lo por não estar habituado ou condicionado ao seu consumo.

A demanda de um bem é, portanto, a resultante da ação conjunta ou combinada de todas essas variáveis. Entretanto, para que se possa analisar o efeito na demanda de uma mudança no valor de uma variável considerada isoladamente, recorreremos à hipótese do “coeteris paribus”. Assim, por exemplo, caso se deseje saber o que ocorre com a demanda de determinado bem se o preço do mesmo aumentar, é preciso supor que todas as demais variáveis que influenciam a demanda permaneçam com o mesmo valor, de modo que a variação da demanda seja atribuída exclusivamente à variação do preço.

Logo, em função do preço, matematicamente pode-se dizer que a demanda ou procura de um bem é uma função inversa ou decrescente do seu preço.

Embora seja perfeitamente aceitável ao bom senso comum que a quantidade procurada de um bem varie inversamente ao seu preço, os economistas justificam tal comportamento da demanda em função de dois efeitos:- efeito-renda- quando o preço de um bem aumenta, o consumidor fica, em termos reais,

mais pobre e, portanto, irá reduzir o consumo do bem; o inverso ocorrerá se o preço do bem diminuir.

- Efeito-substituição – se o preço de um bem aumenta e o de outros bens ficam constantes, o consumidor procurará substituir o seu consumo pelo de outro bem similar; se o preço do bem diminuir, o consumidor aumentará o consumo daquele bem às expensas da diminuição do consumo dos bens substituídos;

2.3 EXCEÇÕES Á LEI DA DEMANDA/PROCURAHá duas exceções à lei da procura: os chamados bens de Giffen e bens de

Veblen.Os bens de Giffen são bens de pequeno valor, porém de grande importância

no orçamento dos consumidores de baixa renda. Caso haja uma elevação em seus preços, seu consumo paradoxalmente tende a aumentar, uma vez que, embora seu preço tenha sido

30

Page 31: Economia II

majorado, são ainda mais baratos que os demais bens; como ao consumidor após o aumento, sobra menos renda, ele não poderá adquirir outros bens (por serem mais caros) e acabará consumindo maiores quantidades do bem de Giffen. “ O economista e estatístico inglês chamado Robert Griffen deu origem ao nome de bens de Giffen: no século XIX, ele observou que o consumo de pão nas classes mais pobres de Londres paradoxalmente aumentava quando seu preço subia; a explicação era de que, antes do aumento do preço do pão, os consumidores pobres ainda podiam comprar alguns outros bens que eram mais caros do que o pão; após a elevação do preço do pão não sobrava renda suficiente aos pobres para adquirir os outros produtos mais caros e, consequentemente, acabavam consumindo maiores quantidades do pão, que ainda era o bem mais barato que podiam comprar.

Os bens de Veblen são bens de consumo ostentatório, tais como obras de arte, jóias, tapeçaria e automóveis de luxo. Como o objetivo de seu consumidor é mostrar aos outros que é possuidor de grande renda ( e não o consumo do bem em sí), quanto mais caros, mais são procurados.

2.4 – CURVA DE DEMANDA DO MERCADOTudo o que foi exposto até agora referia-se ao consumidor individual, mas

vale também para o mercado como um todo, já que a curva de demanda do mercado resulta da agregação das curvas individuais.

Assim, por exemplo, se o mercado for composto por dois consumidores(A e B), Ter-se-ia.

Ao preço de 10, a demanda do mercado é de 35 unidades do bem X (20 unidades demandadas pelo consumidor A mais 15 pelo consumidor B). Ao preço de 8 a demanda do mercado é de 68 unidades (40 por A e 28 por B). Portanto, agregando-se as demandas individuais a cada nível de preço possível, obtém-se a demanda do mercado.

2.5 – A OFERTAÉ a quantidade de um bem, por unidade de tempo, que os vendedores

desejam oferecer no mercado. Similarmente à demanda, a oferta também é influenciada por diversas variáveis, entre elas:- O preço do bem – para se decidir qual será a quantidade a ser oferecida no mercado,

sem dúvida em primeiro lugar, os vendedores levarão em consideração o nível de preço do bem;

31

Page 32: Economia II

- O preço dos insumos utilizados na produção – alterações nos níveis de preços das matérias-primas, dos combustíveis, da energia e de outros insumos terão como conseqüência alterações na quantidade a ser ofertada no mercado;

- Tecnologia – inovações tecnológicas que reduzam o custo da produção do bem ou propiciem sua produção em maiores quantidades ao mesmo custo tornarão sua oferta mais abundante;

- Preço de outros bens – o agricultor por exemplo, ao considerar quanto produzirá de milho levará em conta não apenas o preço do mesmo mas também o preço de uma cultura alternativa tal como o feijão; este mesmo fato pode ocorrer também com produtos industriais, quando a fábrica tem a opção de produzir mais de um bem.

Logo, a Oferta de um bem é, portanto, a resultante da ação conjunta ou combinada de todas essas variáveis. Entretanto, para que se possa analisar o efeito na oferta de uma mudança no valor de uma variável considerada isoladamente, recorreremos à hipótese do “coeteris paribus”. Assim, por exemplo, caso se deseje saber o que ocorre com a oferta de determinado bem se o preço do mesmo aumentar, é preciso supor que todas as demais variáveis que influenciam a oferta permaneçam com o mesmo valor, de modo que a variação da oferta seja atribuída exclusivamente à variação do preço.

Assim, matematicamente, pode-se expressar a oferta de um bem X(Ox) pela seguinte função:

Ox = f(Px, Pi, T, Pz, etc.(sendo outras possíveis variáveis que possam influenciar a oferta tal como, por exemplo, o clima no caso de produtos agrícolas.).

Assumindo-se a hipótese do “coeteris paribus”: Ox = f(Px), a sua representação gráfica é a seguinte:

Assim, quanto maior o preço, maior será a quantidade que os produtores desejarão oferecer no mercado.

Da mesma forma como a demanda, a oferta de mercado resulta da somatória das ofertas individuais de cada produtor.

2.6 – O EQUILIBRO DE MERCADO NA CONCORRÊNCIA PERFEITAVeremos agora, como a oferta e a demanda de um bem X conjuntamente

determinam o preço de equilíbrio no mercado de concorrência perfeita. O preço de equilíbrio é definido como o preço que iguala as quantidades demandadas pelos

32

Page 33: Economia II

compradores e as quantidades ofertadas pelos vendedores, de tal modo que ambos os grupos fiquem satisfeitos.

Vejamos o gráfico a seguir:

O gráfico apresenta as curvas de demanda e oferta de um bem X e sua interação no mercado.

Suponha-se que o mercado comece trabalhando ao preço de R$ 20,00. A este preço, os vendedores estarão dispostos a oferecer 150 unidades do bem X, porém os compradores só desejam adquirir 60 unidades. A quantidade transacionada no mercado ao preço de R$ 20,00 será portanto, de 60 unidades e haverá um excedente(excesso de quantidade ofertada sobre a demanda) de 90 unidades (150 unidades ofertadas menos 60 adquiridas pelos compradores).

Nesse caso, os vendedores não estarão satisfeitos porque ficaram com um estoque indesejado de 90 unidades nas mãos. Para livrar-se do excedente, oferecerão o bem X a preços mais baixos, de modo que a tendência que será observada no mercado é a baixa do preço do bem X. Logo, o mercado não está em equilíbrio, já que o preço está flutuando.

Ao inverso, suponha-se agora que o mercado iniciou trabalhando ao preço de R$ 10,00. Ocorrerá uma escassez (excesso de quantidade demandada sobre a ofertada) no mercado, já que os compradores desejarão adquirir 170 unidades do bem X, enquanto os vendedores estarão dispostos a oferecer apenas 40 unidades( escassez de 130 unidades). Os compradores ficarão insatisfeitos e, para adquirir o produto que está escasso no mercado, oferecerão preços maiores pelo mesmo para induzir a oferta a aumentar. A tendência no mercado será, portanto, a de elevação do preço do bem X.

Ao preço de R$ 14,00 correspondente à intersecção das duas curvas, ocorrerá o equilíbrio no mercado. Nesse caso, tanto os vendedores desejam oferecer quanto os compradores tencionam adquirir 100 unidades do bem X. Ambos os grupos estarão satisfeitos e a tendência do mercado será que o preço de R$ 14,00 e a quantidade de 100 unidades fiquem estáveis(ou seja, em equilíbrio).

33

Page 34: Economia II

O preço e a quantidade de equilíbrio somente serão alterados no mercado se ocorrer um deslocamento das curvas de oferta e procura, como veremos adiante.

2.7 – TABELAMENTOA definição teórica de mercado em concorrência perfeita pressupõe a não

intervenção governamental no processo de fixação de preços. Entretanto é possível que o Governo, por razões de política econômica, julgue conveniente tabelar os preços de um mercado em concorrência perfeita que perderá, portanto, essa condição. Nesse caso, se o governo tabelar o preço num valor inferior ao de equilíbrio, ocorrerá escassez do bem (excesso de quantidade demandada sobre a ofertada).

Tendo em vista que a solução adequada para esta escassez, que seria a elevação do preço de mercado, não é possível pois o mesmo está tabelado, não há outra alternativa a não a administração da escassez. Esta pode assumir a forma de filas no mercado(os primeiros a chegar ao mercado são atendidos e os demais não) ou o surgimento de um mercado paralelo (mercado negro), onde a mercadoria é negociada com o pagamento de um sobrepreço que é denominado de ágio. Outra forma de administrar a escassez seria a imposição de um racionamento por parte do governo, em que a cada consumidor seria permitida uma determinada cota máxima de aquisição do produto para que todos (ou quase todos) possam ser atendidos.

2.8 – DESLOCAMENTOS DAS CURVAS DE DEMANDASA curva de demanda se desloca em relação à sua posição original quando

uma daquelas variáveis que supusemos constantes quando traçamos a curva( renda do consumidor, preço dos outros bens e hábitos e gostos) mudar de valor. Ela se deslocará para a direita da posição original quando a mudança do valor da viável contribuir para aumentar a demanda e para a esquerda da posição original quando contribuir para diminuir a demanda.2.8.1 – MUDANÇA NA RENDA DOS CONSUMIDORES (Y)2.8.1.1 – Bens Normais

Bens Normais são aqueles cujo consumo aumenta à medida que a renda (Y) do consumidor se eleva.

Suponha-se que a um determinado nível de renda dos consumidores, a curva de demanda do bem X apresente os seguintes pares de preços e quantidades procuradas:

Px QPx10 10011 9012 8113 76

A representação gráfica desta curva seria:

34

Page 35: Economia II

Caso a renda dos consumidores se eleve (portanto, estão mais ricos), provavelmente eles aumentarão também as quantidades demandadas do bem X de tal forma que, para os possíveis níveis de preços:

Px QPx QPx’10 100 11011 90 10012 81 9113 76 86

Onde QPx = quantidades procuradas ao nível de renda antigo QPx’= quantidades procuradas ao nível de renda novo.

No gráfico, a situação ficaria assim:

A nova curva de demanda (D’x) situa-se à direita da curva de demanda antiga(Dx), indicando que, para cada nível de preço de mercado possível, os consumidores estarão dispostos a adquirir maiores quantidades do bem X, porque estão com maior nível de renda que antes.

Qual será o reflexo no mercado do deslocamento para a direita da curva de demanda? O gráfico a seguir demonstrará isso:

35

Page 36: Economia II

Como a curva de demanda nova (D’x) está à direita da antiga (Dx), a intersecção da curva de oferta de X (Ox) com D’x dará origem a um preço e quantidade de equilíbrio (P’e) e (Q’e) maiores que o preço e a quantidade de equilíbrio antigos (Pe e Qe). Ou seja, o aumento da demanda do bem X em função da elevação da renda dos consumidores (refeltido no deslocamento da curva de procura para a direita de sua posição original) tem como conseqüência uma elevação no preço de mercado e na quantidade nele transacionada.

Caso a renda monetária dos consumidores diminua ao invés de se elevar, o raciocínio é inverso: a diminuição da demanda do bem X em função do decrescimo da renda, que será refletido no deslocamento da curva para a esquerda de sua posição original, provocará uma diminuição no preço de mercado e na quantidade transacionada.

2.8.1.2 – Bens inferioresBens inferiores são bens cuja demanda diminui quando o nível de renda do

consumidor aumenta e aumenta quando o consumidor fica mais pobre. Um exemplo típico é a carne de segunda. Se o consumidor tiver sua renda aumentada, ele diminui a procura por carne de segunda, substituindo o seu consumo por carne de primeira, mais cara (por ser de qualidade melhor) porém agora acessível graças ao aumento da renda. Se a renda do consumidor diminui, ocorre o fenômeno inverso: ele reduz o consumo de carne de primeira e aumenta o de carne de segunda.

Se o bem X for um bem inferior, o aumento de renda dos consumidores reduz a sua demanda, a curva desloca-se para a esquerda e o preço e a quantidade de equilíbrio diminuem. Um decréscimo na renda dos consumidores terá conseqüência inversas.

36

Page 37: Economia II

2.8.2 – MUDANÇAS NOS PREÇOS DE OUTROS BENSUm determinado bem Z pode Ter as seguintes relações com o bem X:a) Z é um bem independente de X;b) Z é substituto de X;c) Z é complementar de X.

Quando Z e X são independentes, o preço de Z nada tem a ver com a demanda de X. Assim , por exemplo, feijão e automóveis são bens de consumo independentes: alterações no preço do feijão não provocarão nenhuma modificação na demanda de automóveis e vice-versa.

2.8.2.1 – Bens substitutosSão aqueles bens em que o consumo de um deles exclui (mesmo que

parcialmente) o consumo do outro. Exemplos: manteiga e margarina, café e chá, carne de vaca e carne de porco, etc. Observe que a substituição não precisa ser total, ou seja, se o consumidor adquirir manteiga ele necessariamente não deixa de comprar margarina, basta o fato de ele comprar maiores quantidades implicar uma certa redução do seu consumo de margarina.

Se Z e X são substitutos, o aumento no preço do bem Z tornará seu consumo menos atrativo que o do bem X, de maneira que a demanda deste último deverá se elevar e seu preço e a quantidade de equilíbrio no mercado também aumentarão. Efeitos inversos ocorrerão no mercado de X se o preço de Z diminuir.

2.8.2.2 – Bens complementaresSão os bens cujo consumo é feito geralmente de forma simultânea, ou seja, o

consumo de um complementa o do outro. Exemplos: pão e manteiga, café e leite, caderno e caneta, microcomputador e impressora, etc. Observe que, da mesma forma que a substitubilidade, a complementariedade não precisa ser total, ou seja, o consumo de

37

Page 38: Economia II

implicar necessariamente no consumo do outro, bastando que o consumo de ambos seja associado de alguma forma.

Se Z e X são complementares, o aumento no preço de Z provocará uma diminuição no seu consumo no mercado; como o seu consumo está associado ao de X, a demanda deste também tenderá a diminuir, deslocando a curva para a esquerda e provocando uma queda no preço e na quantidade de equilíbrio do mercado de X. Efeitos inversos ocorrerão se o preço de Z diminuir.

2.8.3 – HÁBITOS E GOSTOS DOS CONSUMIDORESEsta variável é influenciada principalmente por campanhas de publicidade e

propaganda do bem X. Por exemplo, se a campanha publicitária convencer o consumidor que o consumo de um determinado produto faz bem a saúde, a demanda deste deverá aumentar e, consequentemente, elevar seu preço e quantidade de equilíbrio.

2.9 – DESLOCAMENTOS DA CURVA DE OFERTAA curva de oferta se desloca em relação à sua posição original quando uma

daquelas variáveis que foram supostas constantes ao se traçar a curva ( preços dos insumos, tecnologia, preço de outros bens, etc.) mudar de valor. Se a mudança do valor da variável aumentar a oferta, ela se deslocará para a direita e se diminuir para à esquerda da posição original.

38

Page 39: Economia II

Suponhamos, por exemplo, que a curva de oferta do bem X apresentasse os seguintes preços e quantidades:

Px QOx

10 11011 12012 13013 140

e que um dos insumos que é utilizado na produção de X ( na proporção de um para um) tivesse seu preço aumentado em R$ 1,00. Como o custo de produção unitário do bem X está mais caro em R$ 1,00, os produtores, para fabricar as mesmas quantidades di bem X, desejarão elevar os preços em R$ 1,00 também para que seu lucro permaneça inalterado. Logo, a nova curva de oferta será:

Px QO’x11(10+1) 11012(11+1) 12013(12+1) 13014(13+1) 140

No gráfico, teríamos:

Verifica-se que a curva de oferta deslocou-se para a esquerda de sua posição original. Tecnicamente, diz-se que a oferta diminuiu, pois para os mesmos preços possíveis, os produtores estão dispostos a oferecer menores quantidades do bem no mercado. ( por exemplo, ao preço de R$ 11,00, os produtores ofereciam 120 unidades do bem X no mercado; após o aumento do preço do insumo, eles oferecem apenas 110 unidades.

39

Page 40: Economia II

Em princípio, sempre que o custo de produção é aumentado, a oferta diminui e sua curva se desloca para a esquerda de sua posição original; se o custo de produção é reduzido, ocorre o inverso. A oferta também poderá aumentar ou diminuir em função da variação do número de empresas no mercado; se entrarem no mercado mais empresas produzindo o bem X, sua oferta aumentará e a curva de oferta deslocar-se-á para a direita, se empresas desistirem de fabricar o bem X, saindo do mercado, ocorrerá o inverso.

A conseqüência da diminuição da oferta é um aumento do preço e redução da quantidade transacionada do bem X no mercado:

Se a oferta tivesse aumentado, o deslocamento da curva para a direita provocaria a diminuição do preço e elevação da quantidade de equilíbrio no mercado:

2.10 – DIFERENÇA ENTRE VARIAÇÃO NA DEMANDA E NA QUANTIDADE DEMANDADA

Mudanças no preço da X não provocam o deslocamento da curva de demanda. A mudança no valor da demanda ocorre, nesse caso, ao longo da própria curva. Suponhamos, por exemplo, que a oferta diminui e a curva respectiva se desloca para a esquerda.

40

Page 41: Economia II

Observe que a diminuição da oferta deslocou a respectiva curva para a esquerda, ocasionando a mudança do preço de equilíbrio Po para P¹, mais alto. A conseqüência é que a quantidade demandada se reduziu de Qo para Q¹.

Quando os consumidores reduzem a quantidade adquirida do bem X em virtude da elevação de seu preço no mercado, a curva de demanda não se desloca. Nesse caso, fala-se que houve uma redução da quantidade demandada do bem X.

Caso os consumidores reduzam a quantidade adquirida do bem X porque ocorreu uma diminuição de preço do bem Z, que é substituto de X, a curva de demanda do bem X se desloca para a esquerda.

Nesse caso, fala-se que houve uma redução na demanda do bem X. Observe que a redução da demanda do bem X ocorreu apesar de seu preço de equilíbrio Ter caído de Po para P¹. Isso não significa, entretanto, uma negação de lei da demanda.

De fato, a lei da demanda assevera que a quantidade procurada do bem X é função inversa de seu preço. A lei é demonstrada pela inclinação negativa da curva de demanda. Note que a nova função de demanda de X (Dx’) continua negativamente inclinada, à semelhança de Dx, confirmando a vigência da lei que, como vimos, depende da hipótese coeteris paribus.

O que ocorreu é, como o preço do bem substituto variou de valor, a hipótese coeteris paribus deixou de existir e a curva de demanda inteira se deslocou para a esquerda, ocasionando a coexistência de preço de mercado mais baixo e, apesar disso, redução na quantidade adquirida do bem X.

Em resumo:- se a curva de demanda se desloca, houve uma variação da demanda do bem X.- se a variação ocorre na própria curva de demanda, então houve uma variação na

quantidade demandada do bem X.

2.11 – TRATAMENTO MATEMÁTICO DAS FUNÇÕES DEMANDA E OFERTA

2.11.1 – FUNÇÃO DEMANDA E OFERTA NO EQUILÍBRIO DE MERCADO NA CONCORRÊNCIA PERFEITA.

41

Page 42: Economia II

Embora os economistas refiram-se às curvas de demanda e de oferta, estas também, podem ser expressas linearmente (ou seja, na forma de uma linha reta) como, por exemplo:

QDx = 280 – 4Px ( demanda )QOx = -20 + 2Px ( oferta )

Onde:QDx = quantidade demandada (ou procurada ) do bem XQox = quantidade ofertada do bem XPx = preço do bem X

Estas duas retas evidenciam as funções de procura e oferta do bem X. De fato, supondo-se diversos possíveis níveis de preço no mercado, aplicando-se a função, obter-se-iam as respectivas quantidades procuradas e ofertadas ( na realidade, infinitos preços são possíveis. Na tabela, colocou-se apenas quatro).

Px QDx = 280 – 4 Px QOx = -20 + 2Px30 280-(4x30) = 160 -20 + (2x30) = 4040 280-(4x40) = 120 -20 + (2x40) = 6050 280-(4x50) = 80 -20 + (2x50) = 8060 280-(4x60) = 40 -20 + (2x60) = 100

Observando-se a tabela acima, percebe-se facilmente que o preço de equilíbrio é de R$ 50,00, já que, nesse caso, as quantidades ofertadas e demandadas são iguais em 80 unidades. Preços maiores que R$ 50,00 teriam como conseqüência um excedente no mercado e menores que R$ 50,00, uma escassez e, portanto, não seriam de equilíbrio.

Para se obter o preço de equilíbrio, dadas as funções da oferta e da demanda (procura), ao invés de construir a tabela, seria mais fácil igualar-se as quantidades demandadas e ofertadas (já que o preço de equilíbrio iguala as duas quantidades).

QDx = QOx

280-4Px = -20 + 2Px 280 + 20 = 2Px + 4 Px 300 = 6Px Px = 300/6

Px = 50

2.11.2 – FUNÇÃO DEMANDAConforme visto anteriormente, a demanda do bem X pode ser expressa

matematicamente da seguinte forma:Dx = f( Px, Y, Pz, H, etc.)

Assumindo-se que a função demanda seja linear, pode-se ter, por exemplo:QDx = -2Px + 0,05Y – 1,5Pz

Supondo-se que as variáveis assumam os seguintes valores:Px = 10Y = 1.000

42

Page 43: Economia II

Pz = 8Segue-se que:

QDx = (-2 x 10 ) + ( 0,05 x 1000 ) – ( 1,5 x 8 )QDx = -20 + 50 – 12QDx = 18

Ou seja, caso a renda dos consumidores seja de 1.000, o preço de um outro bem seja 8 e o preço do bem X seja 10, a quantidade demandada do bem X será de 18 unidades por unidade de tempo.

Aplicando-se a hipótese do coeteris paribus, se for suposto que a renda do consumidor e o preço do outros bem permaneçam constantes em 1.000 e 8, respectivamente, obter-se-á a curva de demanda do bem X:

QDx = -2Px + (0,05 x 1.000) – ( 1,5 x 8)QDx = -2Px + 50 – 12QDx = 38 – 2PxA representação gráfica da reta seria:

Note que a quantidade de 38 unidades seria a quantidade máxima possível demandada pelos consumidores caso o preço do bem X (hipótese altamente irrealista) fosse zero, ou seja, o bem X não tivesse custo algum para o consumidor.

Observe também que 19 é o preço que anula a demanda do bem X, ou seja, nenhum consumidor estaria disposto a pagar este preço para adquiri-lo.

Caso a renda dos consumidores aumentasse para 1.200, a curva da demanda se deslocaria para a direita, pois:

QDx = -2Px + ( 0,05 x 1.200 ) – ( 1,5 x 8 )QDx = -2Px + 60 – 12QDx = 48 – 2Px (nova curva de demanda D’x)

O aumento da renda deslocou a curva de demanda para a direita de sua posição original, logo X é um bem normal, conforme análise teórica vista anteriormente.

43

Page 44: Economia II

Se, em vez do nível de renda, o preço do outro bem é que tivesse variado, por exemplo de 8 para 10, Ter-se-ia:

QDx = -2Px + ( 0,05 x 1.000) – ( 1,5 x 10 )QDx = - 2Px + 50 – 15QDx = 35 – 2Px (nova curva de demanda D’x)

E a curva de demanda deslocou-se para a esquerda da posição original. Logo, conforme análise anteriormente vista, X e Z são complementares, pois o aumento do preço de 2 diminuiu a demanda de X.

Poderíamos ter chegado às mesmas conclusões apenas analisando os sinais dos coeficientes das variáveis na função demanda:

a) o sinal do coeficiente da variável renda é positivo ( + 0,05): isso significa que se a renda aumentar, o valor de QDx aumentará também; logo, o bem X é normal.

b) Caso o sinal do coeficiente da variável renda fosse negativo ( - 0,05), um aumento da renda diminuiria QDx; logo, o bem seria inferior.

c) O sinal do coeficiente do preço do outro bem é negativo ( - 1,05); isso significa que se o preço do outro bem aumentar, QDx diminuirá; logo, X e Z são complementares. Se o sinal do coeficiente fosse positivo, um aumento em Pz aumentaria também QDx e X e Z seriam substitutos.

d) X não é um bem de Giffen; de fato, o coeficiente Px é negativo, indicando uma relação inversa entre o preço e a quantidade demandada do bem X. Caso o sinal do coeficiente de Px fosse positivo, X seria uma bem de Giffen, pois o aumento do seu preço ocasionaria uma elevação na sua quantidade demandada.

Note que a função demanda também pode ser expressa colocando-se o preço do bem X como função da quantidade demandada. Assim, se:

QDx = 48 – 2PxEntão:

2Px = 48 – QDxPx = 48 – 1 QDx

2 2 Px = 24 – 0,5 QDx

2.11.3 – A FUNÇÃO OFERTA (O) – ( S – do inglês supply = oferta)Se assumirmos uma função oferta linear, poder-se-ia Ter, por exemplo:QOx = 6Px – 3PiOnde Pi = Preço dos insumos

44

Page 45: Economia II

Supondo-se Pi = 10 constante, a função passa a ser:QOx = 6Px – 3x10QOx = 6Px - 30

Observe que, para preços inferiores a 5, os produtores nada oferecerão ao

mercado, uma vez que o custo do insumo torna proibitiva a produção.Se Pi baixasse de 10 para 6, Ter-se-ia:QOx = 6Px – ( 3x6)QOx = 6Px – 18

Px

QOx = 6PX - 30

QOx = 6PX - 18

5

3

QOx

A curva da oferta se desloca para a direita, uma vez que a redução do preço do insumo tornou a produção mais barata.

2.12 – ELASTICIDADES

2.12.1 – CONCEITO DE ELASTICIDADENa teoria econômica, o termo elasticidade significa “SENSIBILIDADE”.

Assim, em economia, quando se afirma que a demanda do bem X é elástica em relação a seu preço, o que se pretende dizer é que os consumidores do bem X são sensíveis a

45

Page 46: Economia II

alterações de seu preço; caso este aumente, por exemplo, os consumidores diminuirão de forma significativa a quantidade procurada do bem X.

Ao reverso, quando se afirma que a quantidade do bem X é inelástica, quer-se dizer que os consumidores do bem X mudarão muito pouco a sua quantidade procurada mesmo que o preço se eleve substancialmente.

Desta forma evidenciaremos quatro conceitos de elasticidade, três deles relativos à demanda e um à oferta:- Elasticidade – preço da demanda;- Elasticidade – renda da demanda;- Elasticidade – cruzada da demanda;- Elasticidade – preço da oferta.2.12.2 – ELASTICIDADE – PREÇO DA DEMANDA

Suponha-se o seguinte comportamento da demanda de dois bens A e B:

DEMANDA DE A DEMANDA DE BPA QDA PB QDB

1º momento 10 100 20 802º momento 12 60 24 76

Observe que ambos os bens tiveram seus preços majorados em 20%, já que PA passou de 10 para 12 ( o aumento de 2 representa 20% do preço antigo de 10) e PB passou de 20 para 24 ( o aumento de 4 representa 20% do preço antigo de 20).

Entretanto, o comportamento da quantidade demandada dos dois bens foi radicalmente diferente. Enquanto a QDA diminuiu 40% (decresceu de 100 para 60 e a redução de 40 representa 40% da quantidade anterior de 100), a QDB diminuiu apenas 5% (passou de 80 para 76, a redução de 4 representa 5% da quantidade original de 80).

À vista deste comportamento, pode-se afirmar que a demanda de A é elástica, ou seja, sensível a variações dos preços enquanto a demanda de B é inelástica ou pouco sensível à citada variação.

2.12.2.1 – COEFICIENTE DE ELASTICIDADE – PREÇO DA DEMANDA (Epd)O coeficiente de elasticidade-preço da demanda – Epd é uma medida

numérica da sensibilidade da demanda em relação ao preço. É definido pela seguinte razão:

Epd = variação percentual da quantidade demandaVariação percentual do preço

Assim, no caso do bem A citado anteriormente:

EpdA = 40% = 2 20%

E no caso do bem B:

46

Page 47: Economia II

EpdB = 5% = 0,25 20%

Se o valor absoluto de Epd² for:a) maior que 1, a demanda do bem é considerada elástica em relação a seu preço;b) menor que 1, a demanda do bem é considerada inelástica em relação a seu

preço;c) igual a 1, a demanda do bem apresenta elasticidade unitária em relação ao

preço.

2.12.2.2 – FATORES QUE INFLUENCIAM EPD

Embora rigorosamente, somente se possa afirmar que a demanda do bem X é elástica ou não em relação a seu preço a partir de uma comprovação empírica, existem algumas regras práticas que permitem uma avaliação do valor de Epd:

1) quanto maior o grau de utilidade do produto para o consumidor, menos elástica será sua demanda; de fato, se o bem X é um produto essencial para o consumidor, aumentos em seu preço reduzirão muito pouco a sua quantidade adquirida e, ao reverso, diminuições no seu preço aumentarão muito pouco o seu consumo. Desse modo, produtos de primeira necessidade, tais como gêneros alimentícios, roupas e serviços de escola, tendem a ter demanda inelástica e produtos de consumo supérfluos, tais como perfumes e jóias, apresentam geralmente demanda elástica em relação a seu preço.

2) Quanto menos bens substitutos tiver o bem, menos elástica será sua demanda: se o preço do bem X aumentar e houver substitutos para o seu consumo, o consumidor poderá reagir adquirindo maiores quantidades dos bens substitutos e menores quantidades do bem X; caso, entretanto, isto não seja possível pela ausência de bens substitutos, o consumidor terá que continuar adquirindo o bem X e sua demanda será pouco afetada pelo aumento de seu preço.

3) Quanto menor o preço do bem X e, portanto, seu peso no orçamento do consumidor, menos elástica será sua demanda; uma caixa de fósforo, por exemplo, custa R$ 0,10; se seu preço dobrar (aumentar 100%), é pouco provável que seu consumo diminua significativamente já que continua a ser um produto muito barato, pouco representativo no orçamento do comprador; ao contrário, se o preço de um automóvel de luxo aumentar, é quase certo que sua demanda será significativamente afetada.

2.12.2.3 – RELAÇÃO ENTRE EPD E A RECEITA TOTAL DOS PRODUTORESA receita total dos produtores (RT) corresponde ao seu faturamento, ou seja,

resulta da multiplicação das quantidades vendidas do bem X pelo seu preço de venda.É importante lembrar que, como o valor da venda é igual ao valor da

compra, a receita total dos produtores (RT) também é igual ao dispêndio total dos consumidores.

2.12.2.4 - DEMANDA ELÁSTICASe a demanda do bem X é elástica, um aumento do preço no mercado

reduzirá a receita total dos produtores e, uma diminuição do preço elevará a receita total dos produtores.

47

Page 48: Economia II

Embora aparentemente paradoxal, a explicação destes fatos é simples: se a demanda é elástica (Epd maior que 1 ), a variação percentual da quantidade procurada é maior, em valor absoluto, que a respectiva variação do preço.

Como RT resulta da multiplicação dessas duas variáveis, que atuam em sentido contrário, a variação da quantidade procurada, por ser maior, prevalece e faz com que RT varie na sua direção, que é inversa ao preço.

Por exemplo, vejamos o caso anterior:PA QDA RT10 100 10 X 100 = 1.00012 60 12 X 60 = 720

O preço aumentou 20%, mas a quantidade se reduziu numa proporção maior (40%), fazendo com que a receita total dos produtores diminuísse de 1.000 para 720.

2.12.2.5 – DEMANDA INELÁSTICASe a demanda do bem X é inelástica, um aumento ou diminuição do seu

preço no mercado acarretarão mudanças no mesmo sentido na receita total dos produtores, ou seja, ela se elevará ou se reduzirá, respectivamente.

Assim, por exemplo, no caso anterior:PB QDB RT20 80 20 X 80 = 1.60024 76 24 X 76 = 1.824 O preço aumentou 20% e a quantidade demandada reduziu-se em apenas

5%. Nesse caso, a variação do preço prevalece e a RT aumenta de 1.600 para 1.824.

2.12.3 – ELASTICIDADE RENDA DA DEMANDAO coeficiente de elasticidade-renda da demanda (procura) tem por objetivo

medir a sensibilidade da demanda do bem X em relação as variações na renda do consumidor (Y).

Er = variação percentual da quantidade procurada (QP) Variação percentual da renda do consumidor (Y)

Assim, por exemplo, se a renda dos consumidores se elevar de 1.000 para 1.300 e as quantidades demandadas dos bens A, B, C e D apresentarem o comportamento exposto na tabela a seguir:

BENS QUANTIDADE DEMANDADAY = 1.000 Y = 1.300

A 40 36B 50 60C 60 78D 20 30

48

Page 49: Economia II

Temos que:1) Er (bem A) = -10% = -1/3 30%Observe-se que a quantidade procurada do bem A diminuiu quando a renda

aumentou. Logo, A é um bem inferior. O coeficiente de elasticidade-renda dos bens inferiores é negativo, refletindo o comportamento inverso entre QD e Y. Percebe-se também que a renda diminuísse, a quantidade demandada do bem inferior teria aumentado e Er seria, nesse caso, negativa também.

2) Er (bem B) = 20% = 2/3 (menor que 1). 30%O coeficiente do bem B é positivo (logo B é um bem normal). Entretanto, ele

é menor que 1, indicando que B tem demanda inelástica (pouco sensível) em relação à renda.

3) Er (bem C) = 30% = 1 30%Neste caso, o bem C apresenta elasticidade-renda da demanda unitária.

4) Er (bem D) = 50% = 5/3 maior que 1 30%O bem D apresenta elasticidade-renda maior que 1, logo sua demanda é

elástica em relação à variação da renda. Este tipo de bens são denominados de bens superiores (supérfluos ou de luxo).

2.12.3.1 – RELAÇÃO ENTRE Er E A IMPORTÂNCIA DO BEM X NO ORÇAMENTO DO CONSUMIDOR

O quadro abaixo sintetiza essas relações:

VALOR DE Er IMPORTÂNCIA NO ORÇAMENTOMAIOR QUE 1 - Aumenta quando a renda se eleva.

- Diminui quando a renda decresceIGUAL A 1 - Permanece a mesma, quer a renda

diminua ou aumente.MENOR QUE 1 ( inclusive negativa) - Diminui quando a renda se eleva.

- Aumenta quando a renda decresce

2.12.4 – ELASTICIDADE – CRUZADA DA DEMANDAA elasticidade-cruzada da demanda mede a sensibilidade da demanda do

bem X e a variação nos preços de outros bens (Pz).

Elasticidade cruzada = variação % da quantidade procurada do bem X Variação % do preço do bem Z

49

Page 50: Economia II

Como visto anteriormente, X e Z podem ser substitutos, complementares ou de consumo independente.

A tabela a seguir sintetiza as relações entre X e Z e o respectivo coeficiente de elasticidade-cruzada:

Relação entre X e Z Valor relativo da elasticidade cruzada.

Valor absoluto da elasticidade-cruzada

Substitutos Maior que 0, positivo Maior que 1, demanda elástica.Menor que 1, demanda inelásticaIgual a 1, elasticidade unitária.

complementares Menor que 0, negativo

Consumo independente Igual a 0

Assim, por exemplo, se o preço do bem Z aumenta 10% e a quantidade procurada do bem X diminui em 15%:

Ecruzada = -15% = -1,5 10%

Como o sinal da elasticidade-cruzada é negativo, X e Z são complementares. De fato, o preço do bem Z aumentou e a quantidade procurada de X diminuiu, o que indica que X e Z têm uma relação de complementaridade em seu consumo.

O valor absoluto da elasticidade-cruzada é maior que um( 1,5 sem o sinal de menos) , logo, a demanda de X é elástica em relação ao preço de Z.

2.12.5 – ELASTICIDADE PREÇO DA OFERTAA elasticidade-preço da oferta (Epo) mede a sensibilidade da oferta à

variações no preço do bem X.

Epo = Variação % da quantidade ofertada do bem X Variação % do preço do bem X

Valores de Epo Grau de ElasticidadeMaior que 1 Oferta ElásticaMenor que 1 Oferta InelásticaIgual a 1 Oferta de elasticidade unitária

Os: observe que Epo é sempre um número positivo, pois o preço e a quantidade ofertada variam na mesma direção.

2.13 – ALGUMAS APLICAÇÕES DAS TEORIAS DO CONSUMIDOR E DE FUNCIONAMENTO DO MERCADO

50

Page 51: Economia II

Vejamos agora, a utilidade das teorias que acabamos de estudar. Verificaremos se com a teoria poderemos fazer predições sobre o comportamento dos agentes econômicos. Por exemplo, viu-se que, se a oferta aumentar, coeteris paribus, o preço de equilíbrio deve cair e a quantidade aumentar. Esta conclusão, além de ser uma dedução lógica da teoria, é também uma previsão do que ocorrerá, quando a oferta aumentar.2.13.1 – FIXAÇÃO DE PREÇOS MÍNIMOS

É muito comum a fixação de preços mínimos, ou garantia de preços mínimos. Estas medidas visam proteger os produtores, em geral agrícolas, das flutuações de mercado, ou melhor, defendê-los de uma possível queda acentuada nos preços de seus produtos.

Antes de analisar o mecanismo de preços mínimos, vamos ver o que ocorreria se não houvesse esta política e as conseqüências disso. Raciocinemos com produtos agrícolas. Em um dado ano, houve uma grande safra de amendoim e, portanto, haverá uma grande oferta. Os preços de equilíbrio serão baixos e algumas vezes inferiores ao custo de produção. O que ocorrerá com a receita total dos agricultores? Irá diminuir?

Como já sabemos essa redução não é causada apenas pela queda do preço, mas também pelo fato de a demanda ser elástica ou inelástica.

Os produtores, ao verem sua renda diminuir, alterarão seus planos em referência ao próximo ano. Sentir-se-ão desestimulados a plantar amendoim, e alguns, ou muitos, passarão a plantar, por exemplo, cebolas, cujo preço é mais alto. A oferta de amendoim do ano seguinte cairá e a de cebolas aumentará. O preço do amendoim sobe. Haverá escassez no mercado e prejuízo para os consumidores e para a indústria de óleos e outros derivados. No mercado de cebolas dá-se o inverso: os preços caem e a renda dos plantadores se reduz. Talvez no outro ano a situação se inverta, e assim por diante.

Para evitar estas flutuações e os prejuízos decorrentes, o governo interfere no mercado e fixa preços mínimos para o amendoim. Ou seja, garante aos produtores uma dada remuneração mínima.

Vamos analisar esta política por meio de gráficos:

Px O

Po

Pm

D

Qo Qx

51

Page 52: Economia II

Percebemos que o preço mínimo é inferior ao preço de equilíbrio, logo ninguém vai usar esta garantia. De fato, é melhor para o produtor vender diretamente ao mercado, onde recebe Po por cada unidade vendida, do que recorrer as autoridades para receber Pm por cada unidade. A única vantagem do preço mínimo, nestas circunstâncias, é psicológica. Os produtores estão garantidos contra uma queda acentuada no preço.

Px O

Pm

Po

Percebemos que o preço mínimo é superior ao preço de mercado. Neste caso, vai surgir um excesso de oferta. Os produtores preferirão vender ao preço Pm do que ao preço Po. A quantidade oferecida a este preço é superior a quantidade demandada.

Assim, o governo precisa então intervir neste mercado, podendo fazê-lo por meio de dois programas:

1º - Programa de Compras – O governo compra o excedente ao preço Pm. Podendo representar essa intervenção por meio de um deslocamento para a direita da curva de demanda. Pois com o governo comprando surge mais um elemento procurando o bem. Logo a curva de demanda do mercado, sendo a somatória das curvas de demanda individuais, se desloca para a direita. Graficamente teremos:

OPx

Pm A B

Po

D D

52

Page 53: Economia II

Qd Qo Qs Qx

2º) Programa de subsídio – O governo permite que os preços caiam, mas, para manter a receita dos produtores, paga a estes um subsídio. Este é exatamente a diferença entre o preço mínimo e o preço de mercado.

Px

Pm B

Po

P1 A

Logo, para que os consumidores adquiram a Quantidade Qs, é preciso que o preço seja P1, então os produtores recebem dos consumidores o preço P1 e governo paga um subsídio por unidade vendida igual a (Pm – P1), de forma que os produtores mantenham suas receitas.

Assim, para o governo adotar a política de compras ou de subsídios, deverá verificar se a demanda é elástica ou inelástica.

a) Se for inelástica, o programa de compras deverá ser utilizado. É o caso do café. A demanda de café no Brasil é inelástica. Se os preços caíssem a receita também cairia. Por isso, o governo do Brasil mantém o seu preço alto e compra a safra excedente e estoca.

b) Se a demanda for elástica, dá-se o oposto. A queda de preços aumenta o gasto dos consumidores, e, é o programa de subsídios que deve ser adotado.

2.13.2 – CONTROLE DE PREÇOS E RACIONAMENTOA política de preços mínimos visa defender o produtor, em geral agrícola.

Vamos analisar o tabelamento ou controle de preços cujo objetivo é defender o consumidor. Em certas ocasiões, o governo entende que o preço que vigoraria no mercado seria muito alto e intervém, fixando um preço máximo pelo qual a mercadoria pode ser vendida. É obvio que este preço deve ser inferior ao preço de equilíbrio de mercado.

O controle de preços foi uma prática muito utilizada no Brasil. Devido ao processo inflacionário, o governo visando a defesa do consumidor e o controle da inflação, interveio no mercado e fixou ou tabelou os preços de várias mercadorias. Tornaram-se bastante conhecidos a SUNAB, o CIP – Conselho Interministerial de Preços e outros órgãos encarregados do controle de preços.

53

Page 54: Economia II

Quais serão as conseqüências deste controle de preços? Podemos analisá-las utilizando o instrumental de oferta, procura(demanda) e equilíbrio.

Sendo o preço fixado inferior ao equilíbrio, surgirá um excesso de demanda. Graficamente teremos:

Px O

Po

D

Qs Qo Q¹

Ao preço P¹ haverá demanda insatisfeita. Nem toda a quantidade desejada pelos consumidores ( Q¹) pode ser adquirida, pois os ofertantes só desejam vender a quantidade (Qs). Sem o tabelamento surgiriam pressões para os preços aumentarem, de forma a tornar a quantidade procurada igual à oferecida. Em outras palavras, o mecanismo de preços é responsável ou é a forma pela qual a quantidade oferecida se distribui entre os consumidores. Com o aumento de preços, desaparece o excesso de demanda.

Havendo o tabelamento, os preços não podem subir. Serão necessários outros mecanismo para distribuir a quantidade oferecida entre os consumidores. Vamos apresentá-los por meio de um exemplo. Suponhamos que joguem no Maracanã, Botafogo e Flamengo decidindo o campeonato carioca (o Botafogo irá ganhar, nem que seja no meu exemplo). Os ingressos serão tabelados e limitados. O público que deseja apreciar o espetáculo é maior que a capacidade do estádio. Surge o excesso de demanda. Como este problema pode ser resolvido? Existem várias possibilidades:

1) Surgem filas nas bilheterias. Os primeiros que chegarem serão contemplados. As filas aparecem não só no futebol, mas nos cinemas, nos ônibus etc. É um critério que surge quando aparece um excesso de demanda (procura).

2) São feitas vendas por debaixo do pano. A Federação Carioca de Futebol reserva certo número de ingressos e vende aos amigos. Em geral a Federação reserva uma parte dos ingressos aos clubes, e estes os vendem a seus diretores e conselheiros. Estes elementos por serem amigos do presidente da Federação ou dos presidentes dos clubes, adquirem ingressos sem precisarem entrar em filas. Mas não é só neste caso que surgem estas vendas. Podem surgir para qualquer produto onde existe certa escassez. Um vendedor qualquer recebe uma produção limitada de certo artigo de grande procura. Para quem ele vai vender? Em geral, vai dar preferência aos fregueses antigos, aos amigos ou a outras pessoas por outras razões. Para os demais consumidores a mercadoria “está em falta”.

54

Page 55: Economia II

3) Surge o mercado negro. Alguns elementos (cambistas) compram certa quantidade de ingressos e os vendem a preços maiores que os fixados, daí auferindo lucros. O mercado negro surge quando a autoridade não dispõe de meios adequados para fiscalizar as vendas. O mercado negro pode surgir no atacado ou no varejo, dependendo das condições de mercado e fiscalização.

Estas três são as formas mais comuns e surgem espontaneamente no mercado. O governo, por sua vez, pode entender que estas formas de distribuição ou alocação da quantidade oferecida entre os consumidores não são adequadas e intervir no mercado, determinando um racionamento.

Este racionamento pode ser feito de várias formas e sob diversos critérios. Pode ser por meio de cupões de consumo. Cada família recebe um determinado número de cupões, usando-os para comprar as mercadorias discriminadas. Pode ser feito por meio da fixação de um consumo máximo. Cada família pode consumir tantas unidades do bem por mês, e assim por diante. Pode-se proceder à distribuição destes cupões ou destas cotas segundo o sexo e a idade, o estado civil, o número de filhos, etc.

2.13 – A TEORIA DA FIRMAEm uma economia de mercado, os consumidores, por um lado, e as firmas, por

outro lado, se constituem respectivamente nas unidades do setor consumo e do setor da produção. Ao desenvolverem suas atividades básicas de consumir e produzir, ambas se inter-relacionam, por intermédio do sistema de preços.

Quando se analisa a Teoria da Firma na parte específica em que trata do problema da produção, dos custos e dos rendimentos da firma, em última análise está se estudando o que na Teoria Microeconômica é conhecido como Teoria da Produção. De certa forma, o grande título Teoria da Firma é geral e abrange a Teoria da Produção, a Teoria dos Custos, e a análise dos Rendimentos da Firma.

2.13.1 – A IMPORTÂNCIA DA TEORIA DA PRODUÇÃOO estudo da Teoria da Produção tem importância para análise dos custos e da oferta

dos bens produzidos. Além disso, seus princípios se constituem também em peças fundamentais para a análise dos preços e do emprego dos fatores, assim como da sua alocação entre os diversos usos alternativos na economia.

2.13.2 – CONCEITOS BÁSICOS DA TEORIA DA PRODUÇÃOO estudo da Teoria da Produção e o desenvolvimento de sua análise exigem, de

início, o conhecimento de alguns conceitos fundamentais. O primeiro conceito básico ou fundamental refere-se ao conceito de empresa ou de

firma.É importante ressaltar que esse conceito abrange um empreendimento de modo

geral, que além de atividades industriais e agrícolas também engloba atividades profissionais, técnicas e de serviços. Ademais, quando se fala em firma em geral, devem-se fazer algumas abstrações. Assim, as diferenças entre firmas serão ignoradas, considerando-se apenas as características comuns existentes entre elas.

É possível definir a empresa ou firma do ponto de vista da Teoria dos Preços. Nesse conceito não há vinculações jurídicas ou contábeis. Portanto é possível definir a empresa ou firma como sendo uma unidade técnica que produz bens.

55

Page 56: Economia II

Deve-se, entretanto, entender que a forma de organização da firma não apresenta relevância para a Teoria dos Preços e, consequentemente, para a Teoria da Produção. Assim, ela tanto pode ser individual como coletiva. A idéia essencial é de que a firma seja uma unidade de produção, que atue racionalmente, procurando maximizar seus resultados em termos de produção e lucro.

O segundo conceito básico é o de fator de produção. É possível conceituar os fatores de produção como sendo bens ou serviços transformáveis em produção.

Além do conceito, é conveniente que se analise também algumas distorções entre eles. Existem os primários, isto é, os que não são produzidos por outra empresa, e os secundários, cuja existência deriva do processo produtivo realizado por alguma empresa ou firma. Portanto os fatores primários são os fatores naturais que existem independentemente da ocorrência de um processo produtivo anterior. Já os fatores secundários são os que necessitam da realização de um processo produtivo para criá-los.

O terceiro conceito básico é o de produção. Podemos defini-la como sendo a transformação dos fatores adquiridos pela empresa em produtos para a venda no mercado. É importante que se entenda que o conceito de produção não se resume em identificar transformações físicas e materiais. Seu sentido é mais amplo, abrangendo também a oferta de serviços, como transporte, financiamentos, comércio e outras atividades.

2.13.3 – A PRODUÇÃO

2.13.3.1 – A FUNÇÃO DE PRODUÇÃO O empresário, ao decidir o que, como e quanto produzir, vai, na medida das

respostas advindas do mercado consumidor, variar a quantidade utilizada dos fatores, para com isso variar a quantidade produzida do produto. Esse tipo de ação do empresário não é, todavia, totalmente independente. Está sujeito a algumas restrições econômicas, financeiras etc. Além dessas, existe uma outra muito importante e que se caracteriza como uma restrição técnica: é a função de produção.

A função de produção identifica a forma de solucionar os problemas técnicos da produção, por meio da apresentação das combinações de fatores que podem ser utilizados para o desenvolvimento do processo produtivo. Podemos conceituá-la como sendo a relação que mostra qual a quantidade obtida do produto, a partir da quantidade utilizada dos fatores de produção.

É interessante observar que, normalmente, na análise microeconômica, a função de produção assim definida admite sempre que o empresário esteja utilizando a maneira mais eficiente de combinar os fatores e, consequentemente, obter a maior quantidade produzida do produto. Todavia, a fim de que o empresário possa realizar esse tipo de ação da maneira mais eficiente possível, ele precisa utilizar determinado processo de produção.

Assim, é interessante que aqui também se conceitue processo de produção: técnica por meio da qual um ou mais produtos vão ser obtidos a partir da utilização de determinadas quantidades de fatores de produção. Se esse processo de produção for simples, obter-se-á, a partir da combinação dos fatores, um único produto; quando, a partir da combinação dos fatores, for possível produzir mais de um produto, Ter-se-á um processo de produção múltiplo, ou uma produção múltipla.

56

Page 57: Economia II

É possível perceber, pelos conceitos apresentados, que a função de produção indica o máximo de produto que se pode obter com as quantidades dos fatores, uma vez escolhido determinado processo de produção mais conveniente. A diferença entre os conceitos de função de produção e processo de produção é extremamente sutil. O processo de produção, na realidade, indica quanto de cada fator se faz necessário para obter certa quantidade de produto. Por seu turno, a função de produção indica o máximo de produto que se pode obter a partir de uma dada quantidade de fatores, mediante a adequada escolha do processo de produção. Em outras palavras, podem existir diversas formas de combinar os fatores para se obter certa quantidade de produto. Cada uma dessas formas caracteriza um processo de produção. Por conseguinte, quando se fala em função de produção no sentido genérico, admite-se implicitamente que o processo ou a forma escolhida de combinar os fatores é a mais eficiente.

Na análise microeconômica, representamos a função produção da seguinte forma analítica:

q = f( x1,x2, x3, .......xn)Onde q é a quantidade produzida do bem e x1,x2, x3,......Xn, identificam as quantidades

utilizadas de diversos fatores, respeitado o processo de produção mais eficiente escolhido.Com o objetivo de tornar essa função de produção genérica operacionalmente

didática no âmbito da Teoria dos Preços é necessário realizar uma simplificação, reduzindo-a a uma função de apenas duas variáveis:

q = f( x1, x2)Convém observar que a função de produção é, por hipótese, uniforme e contínua e

se constitui em um fluxo de fatores do qual resulta um fluxo de produtos. Assim sendo, sempre deve ser definida no tempo. Ainda é preciso lembrar que a função de produção é unicamente definida para níveis positivos dos fatores e do produto, ou seja:

q maior que zero;x1 maior que zero;x2 maior que zeroOutra observação importante é que a função de produção vai modificar-se à medida

que se modificar o nível de tecnologia existente, isto é, aprimorando-se o conhecimento tecnológico, evidentemente alterar-se-á a composição da função de produção. Esse conhecimento constitui-se no conjunto de informações que se encontram à disposição dos empresários e possibilitam a melhor maneira de combinar os fatores de produção, com vistas à obtenção de certa quantidade do produto.

A Teoria Econômica, na sua análise, considera dois tipos de relações entre a quantidade produzida do produto e a quantidade utilizada dos fatores. A primeira delas ocorre quando, na função de produção, alguns fatores são fixos e outros variáveis. Esse tipo de relação identifica o que a teoria denomina de curto prazo. O segundo tipo de relação identifica o longo prazo e ocorre quando todos os fatores são variáveis.

2.13.3.2 – A FIRMAO objetivo básico da firma é a maximização dos seus resultados quando da

realização de sua atividade produtiva. Assim sendo, procurará sempre obter a máxima produção possível em face da utilização de certa combinação de fatores.

Contudo, em uma economia monetária, os fatores de produção, sendo bens escassos, não podem ser obtidos gratuitamente. Possuem um preço que a firma necessita pagar para poder utilizá-los. Portanto, a quantidade utilizada de cada um, multiplicada pelos

57

Page 58: Economia II

respectivo preço, constituirá a despesa total que a firma realizará para poder dar andamento à produção. Essa despesa é normalmente denominada Custo Total de Produção.

A otimização dos resultados da firma poderá ser obtida quando for possível resolver um dos problemas seguintes: maximizar a produção para um dado custo total ou minimizar o custo total para um dado nível de produção. Em qualquer uma das situações a firma estará maximizando ou otimizando os seus resultados. Estará, pois, em uma situação que a Teoria Econômica denomina Equilíbrio da Firma.

2.13.3.2.1 – Os Custos de ProduçãoSendo as posições de equilíbrio da firma uma situação de otimização, é fácil

compreender que a cada uma dessas posições corresponderá uma despesa total ou um custo total de produção ótimo. Dessa forma, conhecidos os preços dos fatores, é sempre viável determinar um custo total de produção ótimo; para cada nível de produção.

Assim, é possível definir Custo Total de Produção como o total das despesas realizadas pela firma com a utilização da combinação mais econômica dos fatores, por meio da qual é obtida uma determinada quantidade do produto.

Os custos totais de produção são genericamente classificados em dois tipos: Custos Fixos Totais (CFT) e Custos Variáveis Totais(CVT). Os primeiros correspondem à parcela dos custos totais que independem da produção. São decorrentes dos gastos com os fatores fixos de produção.

Os Custos Variáveis Totais são parcelas dos custos totais que dependem da produção e assim mudam com a variação desta última. Representam por sua vez as despesas realizadas com os fatores variáveis de produção.

2.13.3.2.2 – Os Rendimentos da FirmaAo realizar o processo de produção de bens, as firmas almejam uma

compensação para a sua atividade criadora de riquezas. Assim , os Custos de Produção, identificando o esforço para realizar a produção, têm uma contrapartida que se constitui na sua própria compensação: o rendimento ou receita recebida pela venda da produção no mercado. Claro está que, quanto maior for esse rendimento, maior será o incentivo para a firma continuar produzindo e assim manter o suprimento do produto no mercado consumidor.

Podemos definir o Rendimento Total ou Receita Total das Vendas de uma firma como sendo o resultado da multiplicação da quantidade total do produto oferecida e vendida no mercado pelo seu respectivo preço de venda. Representativamente o Rendimento ou Receita Total seria assim identificado:

RT = p . q Onde:p = preço de venda do produtoq = quantidade vendidaRT = Rendimento ou Receita Total das Vendas.

2.14 – ESTRUTURAS DE MERCADOO preço e a quantidade de equilíbrio nos mercados é resultado da ação da

oferta e da demanda. Entretanto, a oferta e a demanda interagem de modo a apresentar resultados muito distintos em cada mercado, pois cada um tem características específicas de produto, condições tecnológicas, acesso, informação, tributação, regulamentação,

58

Page 59: Economia II

participantes, localização no espaço e no tempo que o torna único. Porém, existem características comuns que permitem classificar as diferentes estruturas de mercado. Nosso objetivo é expor as estruturas de mercado mais comuns.

As estruturas de mercado são modelos que captam aspectos inerentes de como os mercados estão organizados. Cada estrutura de mercado destaca alguns aspectos essenciais da interação da oferta e da demanda, e se baseia em algumas hipóteses e no realce de características observadas em mercados existentes, tais como: o tamanho das empresas, a diferenciação dos produtos, a transparência do mercado, os objetivos dos empresários, o acesso de novas empresas etc.

As estruturas básicas são divididas em três:- estruturas básicas clássicas;- outras estruturas clássicas; e - modelos marginalistas de oligopólio.

As estruturas clássicas básicas contém duas estruturas:a)monopólio – um único vendedor que fixa o preço de seu produto; eb)concorrência perfeita – muitos vendedores e muitos compradores, onde nenhum deles tem uma influência significativa no preço.

As outras estruturas clássicas mais comuns são:a) concorrência monopolista;b) oligopólio;c) monopsônio e oligopsônio;d) monopólio bilateral

São estruturas derivadas dos modelos clássicos básicos, mas diferem um pouco em algumas hipóteses que os fundamentam.

Em todas as estruturas clássicas, o mercado é transparente – ou seja, todos têm informação perfeita – e os agentes são maximizadores de lucro.

Os modelos marginalistas de oligopólio principais são:a) Modelo de Cournot;b) Modelo de Sweezy;c) Cartel perfeito; ed) Modelos de liderança-preço.

Cada estrutura acima mencionada ressalta algumas características do funcionamento dos mercados. O entendimento das estruturas facilita a compreensão do funcionamento de mercados diversos como o mercado de hortifrutigranjeiros acreano, o mercado de cobre chileno, entre outros. Embora o preço e a quantidade sejam as variáveis mais importantes a ser determinada na interação da oferta e da demanda, aspectos como a eficiência e a regulamentação de mercados devem também ser objeto de atenção.

2.14.1 – Estruturas clássicas básicasAs estruturas clássicas básicas contêm os dois casos extremos: o monopólio,

que é o único provedor de um produto no mercado, e a concorrência perfeita, onde a dimensão de cada empresa é insignificante em relação às demais empresas.

2.14.1.1– MonopólioNo monopólio, o setor é a própria firma, porque existe um único produtor

que realiza toda a produção. Dessa forma, a oferta da firma é a oferta do setor, e a demanda

59

Page 60: Economia II

da firma é a demanda do setor. É importante ressaltar que o monopólio “puro” é uma construção teórica; porque, na prática, ele não existe. O monopolista vende um bem, ou conjunto de bens, de maneira a concorrer com outros bens perante a renda disponível do consumidor. É mister destacar que, em muitas circunstâncias, é a estrutura mais apropriada para a produção de certos bens e serviços.

Na estrutura de mercado monopolista, a firma é única, de maneira que a entrada de novas firmas alteraria a estrutura do mercado. Em conseqüência, o monopólio somente se mantém se a firma conseguir impedir a entrada de outras firmas no mercado. Diversos fatores podem concorrer para a manutenção do monopólio, representando barreiras ao acesso de novas firmas, dentre os quais destacamos:a) a dimensão reduzida do mercado;b) a existência de patentes, o que impede a produção de um dado produto por firmas

concorrentes;c) a proteção oferecida por leis governamentais; ed) o controle das fontes de suprimento de matérias-primas para a produção de seu produto.

Em razão dessas vantagens, o monopólio pode apresentar um lucro maior que outros setores. Nesse sentido, é interessante distinguir lucro normal e lucro extraordinário. O lucro normal inclui a remuneração do empresário, seu custo de oportunidade; o lucro extraordinário é resultado dos fatores que criaram a situação de monopólio, e que permite ao monopolista auferir um lucro acima do lucro normal.

Contudo é pouco provável que um monopólio se perpetue no longo prazo: as patentes tornam-se obsoletas; novos produtos, e mais refinados, são desenvolvidos por outras firmas; matérias primas substitutas tornam-se disponíveis etc. A manutenção do monopólio somente é factível quando o mercado é garantido por meio de leis governamentais como, por exemplo, serviços de utilidade pública de telefone e energia elétrica.

Se o mercado de uma firma é muito reduzido, é provável que ele permaneça no regime de monopólio, mesmo auferindo lucros vantajosos. Se outra firma entrasse no mercado, o preço do produto poderia tornar-se tão baixo que as duas sofreriam prejuízo. Adicionalmente, a longo prazo, o desenvolvimento tecnológico dá origem à produção de novos métodos e técnicas que determinam o surgimento de novos produtos de melhor qualidade, e substitutos daqueles bens anteriormente monopolizados. Existem, entretanto, alguns instrumentos que podem exercer um certo controle sobre o poder do monopólio como, por exemplo, a regulamentação do preço do produto e a imposição fiscal.

2.14.1.2 – Concorrência perfeitaA estrutura de mercado caracterizada por concorrência perfeita é uma

concepção mais teórica, ideal, porque os mercados altamente concorrenciais existentes, na realidade, são apenas aproximações desse modelo, posto que, em condições normais, sempre parece existir algum grau de imperfeição que distorce o seu funcionamento.

O seu conhecimento é importante não só como estrutura ideal, que é empregada em muitos estudos que procuram descrever o funcionamento econômico de uma realidade complexa, como também pelas inúmeras conseqüências derivadas de suas hipóteses, que condicionam o comportamento dos agentes econômicos em diferentes mercados.

As hipóteses do modelo de concorrência perfeita são:a) existe um grande número de compradores e vendedores;

60

Page 61: Economia II

b) os produtos são homogêneos, isto é, são substitutos perfeitos entre si; dessa forma não pode haver preços diferentes no mercado;

c) existe completa informação e conhecimento sobre o preço do produto; esta hipótese também é conhecida como transparência do mercado;

d) a entrada e a saída de firmas no mercado são livres, não havendo barreiras. Essa hipótese também é conhecida como livre mobilidade. Isto permite que firmas menos eficientes saiam do mercado e que nele ingressem firmas mais eficientes.

2.14.2 – Outras estruturas clássicasAlém das duas estruturas anteriores, existem outras estruturas clássicas

muito importantes.

2.14.2.1– Concorrência monopolistaEmbora apresente, como a concorrência perfeita, uma estrutura de mercado

em que existe um número elevado de empresas, a concorrência monopolista (também chamada concorrência imperfeita) caracteriza-se pelo fato de que as empresas produzem produtos diferenciados, embora substitutos próximos. Por exemplo, diferentes marcas de cigarros, de sabonetes, de refrigerantes etc. Trata-se, assim, de uma estrutura mais próxima da realidade que a concorrência perfeita, onde se supõe um produto homogêneo, produzido por todas as empresas.

Nesta estrutura, cada empresa tem certo poder sobre a fixação de preços, porém, a existência de substitutos próximos permite aos consumidores alternativas para fugirem de aumentos de preços.

A diferenciação de produtos pode se dar por características físicas (composição química, potência etc.), pela embalagem, ou pelo esquema de promoção de vendas (propaganda, atendimento, fornecimento de brindes, manutenção etc.). Da mesma forma que o modelo de concorrência perfeita, prevalece a suposição de que não existem barreiras para a entrada de firmas, o que significa que, a longo prazo, haveria uma tendência para a existência de lucros normais, não surgindo lucros extraordinários.

2.14.2.2 – OligopólioO oligopólio é uma estrutura de mercado que, hoje, prevalece no mundo

ocidental (inclusive no Brasil), como por exemplo, na indústria do transporte aéreo, rodoviário, química, siderurgia, etc. Esta estrutura de mercado caracteriza-se pela existência de um reduzido número de produtores e vendedores, produzindo produtos que são substitutos próximos entre si.

A noção fundamental subjacente ao oligopólio é a interdependência econômica. Então, se todos os produtores são importantes, ou possuem uma faixa significativa do mercado, as decisões sobre o preço e a produção de equilíbrio são interdependentes, porque a decisão de um vendedor influi no comportamento econômico dos outros vendedores.

2.14.2.2- Monopsônio e oligopsônioO monopsônio é caracterizado pela existência de muitos vendedores e um

único comprador. É uma estrutura que pode prevalecer especialmente no mercado de trabalho. É o caso, por exemplo, da empresa que se instala em uma determinada cidade do

61

Page 62: Economia II

interior e, por ser única, torna-se demandante exclusiva da mão-de-obra local. Portanto, ou os trabalhadores empregam-se no monopsônio, ou precisam trabalhar em outra localidade.

Oligopsônio é o mercado onde existem poucos compradores, que dominam o mercado, para muitos vendedores.2.14.2.3 – Monopólio bilateral

No monopólio bilateral defrontam-se um monopolista e um monopsonista. Tipicamente, o monopolista deseja vender uma dada quantidade de produto por um preço, e o monopsonista pretende obter a mesma quantidade por preço diferente daquele pretendido pelo monopolista.

Como ambas as posições são conflitantes, somente a negociação recíproca permite a definição do preço. “Inicialmente, concordam que a quantidade a ser transacionada será a que ambos querem, respectivamente, comprar e vender e que o monopolista nada venderá por um preço abaixo, digamos de P, e o monopsonista não pagará nenhum preço acima de P”.

Entre os limites de P e P”, no qual o preço em princípio é indeterminado, monopolista e monopsonista negociarão o preço final que dependerá do poder de barganha de cada um dos oponentes: o monopsonista tentando pagar o preço mais baixo, por ser o único comprador, e o monopolista querendo vender por um preço mais elevado, tentando usar a força de ser o único vendedor.

2.14.3 – Modelos Marginalistas de OligopólioO oligopólio se refere a uma estrutura de mercado onde existem poucos

vendedores com poder de fixar preços e muitos compradores.A preocupação central das abordagens a seguir descritas é de alguma forma

explicar seu funcionamento, e, principalmente, mostrar a natureza da interdependência entre os oligopolistas.

2.14.3.1– O modelo de CournotO modelo de Cournot, de 1838, é um modelo de duopólio (duas empresas

produtoras no mercado), mostrando como as empresas são dependentes da ação de outras no oligopólio.

Suponhamos que existam duas fontes de água mineral, pertencentes a dois empresários. Cada empresário supõe que seu rival nunca mude seu preço, em razão da atitude tomada pelo concorrente. Em outras palavras, a característica básica desse modelo é que os empresários não reconhecem a interdependência que têm entre si.

Cada empresário irá supor que sua venda será a demanda total menos a quantidade vendida pelo concorrente e, fixará seu preço maximizando o lucro, porém se o concorrente baixar o preço, ele terá que também baixá-lo como forma de elevar suas vendas, pois com isso sua demanda foi afetada.

2.14.3.2- O modelo de SweezyO modelo de Sweezy também conhecido como modelo da procura

quebrada, busca explicar porque os preços dos oligopólios são relativamente estáveis, isto é, permanecem constantes por longos períodos de tempo, mesmo quando os custos mudam.O modelo supõe que cada oligopolista tem uma curva de demanda “quebrada”. A curva de demanda é elástica para preços acima do preço de equilíbrio e inelástica para preços abaixo do preço de equilíbrio.

62

Page 63: Economia II

A explicação para a curva de demanda ser elástica, para aumentos de preços, seria a de que, se um oligopolista aumentasse seu preço, não seria acompanhado pelos demais oligopolistas, e, dessa forma, perderia parte do mercado para os concorrentes. Por outro lado, todos os oligopolistas reconheceriam o fato de que, se um deles baixasse os preços para aumentar a sua fatia no mercado, provocaria uma reação idêntica à dos demais, desencadeando uma “guerra de preços”. Essa reação idêntica faria não só com que cada um deles permanecesse com a mesma fatia de mercado, como também diminuiria o lucro extraordinário de todos.

P

Ramo elástico

P* Ramo inelástico

D

Q* Q

Dessa forma, os oligopolistas, reconhecendo a interdependência, veriam a curva de demanda inelástica para quedas de preços. Portanto, não haveria nenhuma razão para que baixassem os preços. O modelo, portanto, seria uma das explicações para a estabilidade de preços observada nos oligopólios.

2.14.3.3- O Cartel PerfeitoCartel é uma organização (formal ou informal) de produtores dentro de um

setor que determina a política de preços para todas as empresas que o compõe.O cartel perfeito nada mais é do que os oligopolistas, reconhecendo a

interdependência que têm entre si, procuram se unir e maximizar o lucro do cartel. A solução a que se chega é a do monopólio puro. Fixando-se o preço, a questão é como dividir as quantidades entre os diferentes membros do cartel. A repartição de cotas pode dar-se de diferentes formas, e vai depender em última instância da capacidade de negociação dos diferentes membros do cartel.

De maneira geral, os cartéis são instáveis. Considerando que em geral operam com certa capacidade ociosa, o incentivo para que individualmente os membros tentem burlar os demais é grande.

2.14.3.4- Os modelos de liderança-preçoÉ uma coalizão, imperfeita (cartel imperfeito), onde as empresas de um setor

oligopolista decidem tacitamente (isto é, não é necessário um acordo formal) estabelecer o mesmo preço, aceitando a liderança de uma empresa da indústria.

A líder – a empresa que fixa o preço – pode tanto ser a firma de custo mais baixo, como também a maior firma do mercado.

63

Page 64: Economia II

A firma líder fixa o preço e é seguida pelas demais. Todas maximizam o lucro reconhecendo a interdependência que têm entre si. Na hipótese da firma líder ser a de custo mais baixo, entra em consideração a regulamentação anti-monopólio.

Pelas leis anti-monopólio, uma firma não pode, em muitos casos, deter a totalidade das vendas de um mercado. Dessa forma, ao fixar seus preços, a firma de custo mais baixo descarta a possibilidade de práticas predatórias de preço que levem seu concorrente à bancarrota, para então apoderar-se da totalidade do mercado.

No modelo de liderança-preço pela firma de maior tamanho no mercado, a solução de equilíbrio é obtida através da suposição de que as demais firmas são apenas tomadoras de preço.

2.14.3.5 – Aspectos Alocativos – Observações FinaisO exame desses modelos mostra que, dada uma estrutura particular, é

possível determinar o preço e a quantidade de equilíbrio. Evidentemente que existem outros modelos. A questão é: comparando-se as estruturas entre si, quais seriam as respectivas vantagens e desvantagens?

Sem dúvida nenhuma, comparando-se as diferentes estruturas, verifica-se que no regime de concorrência perfeita, o mercado é mais eficiente economicamente, pois sendo livre o fluxo de entrada e saída do setor, a sua produção será ampliada à medida que existirem oportunidades de investimentos lucrativos, de maneira, que no longo prazo, o preço diminuirá e a disponibilidade de produto será maior.

Suponhamos que um setor operando em regime de concorrência perfeita seja monopolizado. O efeito da monopolização seria a elevação do preço e a redução da produção, pois haverá a possibilidade de existência de lucro monopolista em razão das barreiras à entrada de novas firmas no setor.

A eficiência econômica sob o monopólio não é máxima, porque o monopolista não produz necessariamente a quantidade ótima para atendimento da demanda.

Evidentemente, em muitos mercados existem ineficiências. Muitas dessas ineficiências são causadas por restrições tecnológicas, embora muitas outras sejam causadas por restrições regulatórias. A falta de informação e as barreiras à entrada de novas firmas no setor são responsáveis por ineficiências que oneram toda a sociedade, em benefício de poucos.

Outro ponto importante é que o mercado por si só não garante a eficiência. Por um lado, o governo é fundamental para que o mercado exista, pois o mercado existe porque existe propriedade, e a propriedade é tal porque assim é definida e defendida pelo governo.

Por outro lado, existe uma série de bens em que o mercado não assegura uma alocação eficiente. Um exemplo são os bens públicos ( bens cuja característica principal é a impossibilidade de excluir determinados indivíduos de seu consumo – Ex. Prestação de serviços meteorológicos). – defesa nacional, etc. – que fazem com que a quantidade a ser produzida e os recursos a serem alocados sejam decididos de forma mais eficiente num processo político.

2.15 – REGULAMENTAÇÃO DOS MERCADOSNum sistema de mercado em que os produtores e consumidores

transacionam numa estrutura de mercado em concorrência perfeita, os recursos escassos são empregados com o máximo de eficiência alocativa. Tal resultado é uma situação de

64

Page 65: Economia II

equilíbrio para cada agente e para a economia como um todo, pois nenhuma transação voluntária entre agentes poderia melhorar a situação sem piorar a de outros.

Na hipótese de que todas as estruturas dos mercados em uma economia sejam de concorrência perfeita, e de que não existam outras falhas de mercado, pode-se assegurar que um sistema de mercado é capaz de conduzir ao melhor uso dos recursos numa sociedade em que cada agente econômico procura seus próprios interesses. Tal sistema, mesmo sendo apenas uma possibilidade teórica, serve ao economista como guia para a discussão das situações concretas em que vivemos.

Nas sociedades de mercado modernas, predominam estruturas de mercado de concorrência imperfeita. Isso nos leva à necessidade de discutir, quando nos defrontamos com essa e outras falhas de mercado, se o uso eficiente dos recursos escassos requer intervenção governamental. Caso seja constatada a necessidade de intervenção, o economista deve ser capaz de apontar também de que maneira tais intervenções devem ocorrer.

2.15.1- Direitos de propriedade e o uso dos recursos no mercadoMesmo numa sociedade hipotética, em que todas as estruturas de mercado

operam em concorrência perfeita, podem existir falhas de mercado que impedem a ocorrência de solução de eficiência na alocação de recursos escassos.

Ao encararmos os negócios da vida cotidiana, em que os produtores e consumidores não estão isentos da incerteza, do oportunismo e dos custos de obter e processar informações, podemos esperar então que as soluções dadas pelo mercado sejam sempre inadequadas? O ambiente de incerteza em que se realizam as transações é facilmente constatado, pois fazemos negócios que nos comprometem com circunstancias futuras que não temos nem como antecipar ou controlar. Também não é preciso recorrer a exemplos para demonstrar que existem pessoas oportunistas, dispostas a renunciar a um contrato quando uma oportunidade melhor lhes aparecer. E, por último, o fato de que, para tomar uma decisão, temos de investir tempo e recursos para obter as informações necessárias. Será que, mesmo nessas circunstâncias, a sociedade de mercado oferece uma solução adequada para a organização dos recursos escassos na satisfação das necessidades materiais dos indivíduos?

É tarefa do economista investigar as circunstâncias que levam à utilização eficiente dos recursos numa sociedade. Se esperarmos dar respostas às indagações feitas, devemos ampliar a perspectiva e discutir um pouco as próprias regras que regem o funcionamento dos mercados.

Os mercados são convenções sociais regidas por leis gerais, basicamente aquelas que estabelecem os direitos de propriedade e troca entre os indivíduos, e também por estatutos específicos instituídos com o objetivo de restringir ou ampliar o conjunto de transações possíveis para determinados bens ou serviços.

Na base das regras que moldam a operação dos mercados, encontramos o sistema de atribuições de direitos, que define os termos mais gerais da contratação voluntária de recursos entre os membros de uma sociedade. O objetivo é apresentar os principais elementos do sistema de atribuição de direitos e discutir como as regras de distribuição de direitos exercem papel fundamental na alocação de recursos numa sociedade de mercado.

2.15.2-O sistema de atribuições de direitos e a alocação de recursos

65

Page 66: Economia II

Grande parte dos negócios realizados são feitos por meio de contratos. Para trabalhar, firmamos contratos de trabalho ou de prestação de serviços; para morar, fazemos contratos de aluguel ou de financiamento; e assim por diante. As lei e regulamentos definem limites bem claros para que esses contratos sejam considerados válidos, ou seja, as transações de mercado definem preços e quantidades envolvidos segundo as restrições legais.

Ao realizar tais transações, incorremos, além do pagamento dos bens e serviços propriamente ditos, em outros custos como os de confecção, monitoramento e de implementação dos próprios contratos. Quando discutimos eficiência alocativa em mercados em concorrência perfeita, esses custos, ou os recursos empregados na atividade de conceber e fazer cumprir contratos, foram ignorados. Isso ocorre porque se pressupõe que o sistema legal sancione, sem custos, qualquer transação realizada entre os agentes privados, desde que respeitados os princípios da propriedade privada.

Portanto, as regras condicionam o funcionamento dos mercados, impondo limites ao emprego de recursos e afetando diretamente os custos de realizar e cumprir contratos. A alocação de recursos em uma sociedade está sempre associada a um sistema de atribuição de direitos. Um sistema de atribuição de diretos tem como principal função atribuir autoridade, aos titulares dos ativos, de escolher o uso específico desejado entre uma classe de usos possíveis e não proibidos, bem como de impedir que outros tenham acesso a esses recursos, ou seja, que tal atribuição seja exclusiva do titular.

A atribuição dos direitos de comando sobre um ativo comporta três categorias: O direito de uso, o direito de exploração e o direito de alienação. Ao receber o direito de uso, o titular pode decidir como irá usufruir, transformar ou mesmo destruir o ativo. Se recebe também o direito de exploração, o titular pode decidir de que maneira irá auferir de renda do ativo, seja explorando-o diretamente, seja contratando outros para fazê-lo. A terceira categoria é a que define a capacidade do titular transferir de forma permanente o ativo a outros, ou seja, o direito de alienação.

Quando os três direitos sobre o mesmo ativo são atribuídos ao mesmo titular, diz-se que existem direitos de propriedade plena. Porém, não é uma tarefa simples delimitar os ativos a que uma propriedade plena diz respeito. Vejamos a dificuldade de se atribuir direitos sobre o ativo terra:- Diversas pessoas têm, ao mesmo tempo, uma parcela de direitos de uso da terra.

A – pode ter o direito de cultivar mandioca sobre ela;B – pode ter o direito de atravessá-la;C – pode ter o direito de fumar e jogar cinzas sobre ela;D - pode ter o direito de voar com um avião sobre ela;E – pode ter o direito de submetê-la a vibrações em conseqüência do uso de equipamentos nas vizinhanças.

O exemplo aponta também para a dificuldade de se identificar numa única pessoa a titularidade desses direitos; quando isso é possível, falamos de propriedade individual plena. Mas existem outras três possibilidades: a Propriedade Plena Estatal, a Propriedade Plena Coletiva, e a Propriedade Comum ou de Livre Acesso.

No caso da propriedade estatal, aqueles que controlam o Estado exercem de fato a titularidade dos direitos. Na propriedade coletiva, a titularidade dos recursos é

66

Page 67: Economia II

exercida por uma comunidade ou por seus representantes, excluído o acesso dos de fora e controlando o uso pelos seus membros.

A propriedade comum ou de livre acesso surgem também quando o estado é incapaz ou se recusa a garantir contrato entre agentes econômicos que disputam a utilização dos mesmos recursos, por exemplo o direito de pesca no rio Juruá.2.15.3- Regulamentação e incentivos

Num sistema econômico em que todos os agentes dispõe das informações necessárias e não têm razões para esperar que os outros não cumpram o contratado, todos os recursos de valor econômico poderiam ser delineados e a titularidade dos direitos de propriedade atribuídas. Uma vez estabelecidos os direitos exclusivos de propriedade, pode-se garantir que todos os recursos sejam empregados em atividades em que o rendimento econômico(custo de oportunidade) seja máximo, não sendo necessária a interferência do Estado.

Já nas condições da sociedade em que vivemos, as transações envolvendo bens de consumo, serviços e ativos produtivos, sejam temporárias ou permanentes, são realizadas por meio de contratos que estipulam os seus termos. Estes, ou a estrutura dos contratos, especificam a distribuição de renda entre os participantes e as condições de uso dos recursos, e são escolhidos levando em consideração os custos da própria transação, os riscos econômicos e os arranjos políticos e legais em vigor.

Cabe sempre ao Estado determinar o conjunto dos arranjos contratuais que são considerados legítimos, definindo ou limitando as regras do jogo de mercado. As intervenções específicas, a que chamamos de regulamentação dos mercados, são exatamente aquelas que restringem a oferta e procura num mercado, tais como controle de preços, restrições à entrada de novos produtores, imposição de atendimento aos consumidores de uma determinada área, especificação de características de produtos ou de tecnologias a serem empregadas na fabricação, e imposição de padrões de qualidade e ambientais no local de trabalho e fora da firma.

2.15.4 – Regulamentação dos mercadosRegulamentação é o conjunto de regras particulares ou de ações específicas

implementadas por agências administrativas para interferir diretamente no mecanismo de alocação de mercado, ou indiretamente, alterando as decisões de oferta e procura de consumidores e produtores.

Se o mercado assegura o uso eficiente dos recursos para a produção de bens de caráter privado, a regulamentação tem como condição necessária a existência de falhas de mercado.

Os instrumentos de regulamentação são genericamente classificados em comando e controle ( C&C) e incentivos financeiros (IF). Os instrumentos financeiros estão associados a transferências de recursos através de impostos e subsídios. Já os instrumentos de comando e controle são aqueles associados a regras particulares implementadas por agências do governamentais especialmente concebidas para esses fins, fazendo uso de regulamentos e sanções.

Cada tipo de falha de mercado pode ser associada a uma instituição, ou conjunto de instituições, que varia de país para país e ao longo do tempo.

No Brasil o papel da regulamentação foi bastante revigorado com a promulgação da Constituição de 1988, que afirma a organização econômica do País

67

Page 68: Economia II

pautada na livre iniciativa, no direito à propriedade como parte dos direitos fundamentais, resguardado o cumprimento de sua função social.

2.15.4.1 – Regulamentação de serviços de utilidade pública.O problema :Os mercados falham na presença dos chamados bens públicos, que são

aqueles para os quais o consumo por parte de um indivíduo não reduz a capacidade de outros de usufruir dos seus serviços, porque como as empresas privadas não dispõem de elementos para cobrar de cada contribuinte, também não terão incentivos em ofertar tais bens.

Os bens com características de bens públicos, como defesa nacional, lei e ordem, saúde pública, ciência básica, infra-estrutura de transporte e urbana, tais como parques, vias e iluminação não seriam produzidos nas quantidades que os consumidores estariam dispostos a pagar se fossem ofertados por empresas privadas. Isso se deve em parte por que as empresas não dispõe de meios de identificar o valor econômico das apropriações individuais. Tal dificuldade tem origem ou no fato de o uso do bem por um indivíduo não impedir que outros o usem, ou mesmo havendo rivalidade no uso, o custo de obter tal informação é muitas vezes superior ao valor econômico do bem. Para a produção de alguns bens públicos como defesa nacional, lei e ordem a solução quase universal tem sido a produção direta pelo estado. Para outro grupo de bens, como saúde pública, educação, ciência básica e serviços de infra-estrutura, as soluções variam de país para país e ao longo do tempo, desde a produção direta pelo Estado, passando pela contratação governamental dos serviços de empresas privadas, até a concessão para exploração por monopólio privado.

A contratação de serviços de empresas privadas para prestação de serviços públicos ocorre mediante licitação, cabendo ao governo determinar quantidade, qualidade e limites de preços para os serviços a serem contratados. A licitação é o processo através do qual as empresas privadas competem pela prestação do serviço ao governo.

O sistema de atribuição de direitos:Tomando a Constituição Federal de 1988 como base do nosso sistema de

atribuição de direitos, encontramos vários dispositivos que tratam dos serviços de utilidade pública. Em vários desses dispositivos estava incluída a obrigatoriedade de que os serviços fossem prestados diretamente pelo Estado ou por concessão exclusiva a empresas estatais. Entre esses casos encontravam-se os serviços de correios e telégrafos, telefonia, transmissão de dados e demais serviços públicos de comunicação, distribuição de gás canalizado, pesquisa e lavra de petróleo e gás natural, refino, importação, exportação e transporte marítimo de petróleo. As reformas recentes têm aberto a participação das empresas privadas nesses setores.

A Constituição Federal, em seu artigo 175, diz que “ Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos”. No ano de 1995 foram aprovadas duas leis federais que procuram definir o regime de concessões de serviços públicos: a Lei n. 8.987 e a Lei n. 9.074. Assim, um contrato de concessões é definido como:

... contrato administrativo pelo qual a Administração Pública delega a outrem a execução de um serviço público, para que execute em seu próprio nome, por

68

Page 69: Economia II

sua conta e risco, mediante tarifa paga pelo usuário ou outra forma de remuneração decorrente da exploração do serviço”.

Embora seja um contrato, a concessão trata da prestação de um serviço público e é função do Poder Público organizar tais serviços. Assim sendo, caberá ao governo, como poder concedente, regulamentar os objetivos, a forma de execução do serviço, a fiscalização, os direitos e deveres das partes, as circunstâncias em que poderá ocorrer rescisão, as multas e os direitos dos usuários.

Por outro lado, para que existam empresas legitimamente interessadas em tais contratos de concessão, o poder concedente deverá ser capaz de garantir remuneração dos ativos a serem empregados pela empresa concessionária compatível com aquela existente em outras atividades de características semelhantes.

Agências e instrumentos:No artigo 30 da lei n. 8.987, está previsto que o controle poderá ser exercido

diretamente pelo poder concedente, por meio de órgão técnico a ele subordinado ou por entidade com ele conveniada. Assim, a lei reconhece a necessidade de especialização técnica por parte da agência que irá exercer o controle e a fiscalização das ações da concessionária.

Mesmo quando critérios para definição e reajustes de tarifas estiverem definidos nos contratos de concessão, os órgãos fiscalizadores devem manter papel discricionário, fundamental na avaliação da qualidade dos serviços prestados.

Os instrumentos empregados na concessão são basicamente instrumentos de comando e controle (C&C) previstos no contrato de concessão. Entre eles encontra-se o principal instrumento do governo ou da agência técnica de controle, que é a capacidade de determinar as tarifas e as outras formas de remuneração do concessionário. Ao invés de adotar uma regra única de determinação de tarifas, a Lei n. 8.897, optou pelo critério da menor tarifa oferecida num processo de licitação pública, ou seja, as empresas competindo pelo direito de produzir bens fazem a oferta da tarifa que consideram mais adequada, dados os requisitos de qualidade e de quantidade especificados. Como o processo de licitação é um processo competitivo, o vencedor será aquele que oferecer a menor tarifa. A agência pode se recusar a validar um resultado se a tarifa mínima for considerada muito elevada, e para isso a competência técnica da agência de controle é fundamental, pois ela deverá Ter informações sobre os custos de produção.

Como a concessão dura vários anos, um outro aspecto crucial é o mecanismo de reajuste das tarifas. As regras de reajustes tarifários mais empregados ultimamente em vários países tendem a combinar a manutenção do valor real da tarifa constante com incentivos e ganhos de produtividade.

Assim, as agências técnicas de regulamentação dos serviços públicos devem ser capazes de determinar o número de concessionários que poderão operar, e os controles de preços a serem feitos de modo a minimizar as rendas de monopólio que serão auferidas pelos concessionários.

2.15.4.2. – Sistema de defesa da concorrência

O problema:Os mercados falham na presença de concorrência imperfeita, ou seja, quando

firmas podem atuar num mercado específico de modo a fixar seus preços acima dos custos

69

Page 70: Economia II

marginais de produção. Em tais estruturas de mercado, os preços estarão acima e as quantidades produzidas abaixo daqueles associados ao nível de eficiência. As razões que dão origem ao poder de monopólio podem ser muito variadas, mas seus efeitos podem ser resumidos em dois grandes grupos de mercados imperfeitos: monopólios naturais e oligopólios.

Nas estruturas oligopolistas, o pequeno número de grandes empresas pode dar margem a três tipos de comportamento que levam a alocação de recursos a se distanciar da alocação de uma estrutura competitiva. O primeiro tipo é a possibilidade de atuação conjunta ou cartelização; o segundo conjunto de práticas são aquelas ações voltadas a restringir a concorrência, seja por parte de empresas que já operam no mercado, seja de potenciais ingressantes; o terceiro tipo são as práticas desleais em relação a consumidores e fornecedores.

As práticas de ação conjunta e cartelização estão associadas a uma diminuição da rivalidade entre as empresas operando em determinado mercado. Com menor rivalidade, as empresas tenderão a acomodar participações no mercado e a coordenar a fixação de seus preços de modo a manter as participações estáveis e aumentar conjuntamente os lucros. Dizemos que existe um Cartel quando é formalizado um acordo explicito de fixação de preços e/ou participações no mercado. Porém a coordenação nesse sentido pode ser tácita, ou seja, exercida por uma empresa líder ou simplesmente por tentativa e erro ou acomodação das empresas que atuam tempo suficiente sem pressão competitiva de novos entrantes. Uma estrutura de mercado, com tais características se afasta da solução competitiva e se aproxima da solução de monopólio.

Para que uma situação como essa perdure no tempo, sendo um equilíbrio estável, sem que novas empresas sejam atraídas pelos lucros de monopólio existentes, é necessário que existam barreiras à entrada. Essas barreiras são custos que as empresas entrantes tem de incorrer, mas as que já estão instaladas não. Estas podem ser de natureza tecnológica, como domínio de marcas, patentes e Know-how, devido a restrições de suprimentos, como direito de lavra de minérios, ou ainda devido à conquista das preferências dos consumidores, obtidos por meio de propaganda ou da simples antiguidade de uma marca.

Numa situação como essa caberá ao órgão regulamentador impedir e punir acordos explícitos e prevenir a coalizão tácita estimulando e intensificando a rivalidade das empresas instaladas.

Existem, contudo, barreiras à entrada que são resultados de ações estratégicas das empresas dominantes para expulsar as menores ou para impedir a entrada de novos concorrentes. Guerras de propaganda têm muitas vezes esse objetivo, ao impor ao competidores menores, o ônus de responder a uma campanha apenas para manter sua participação no mercado. Da mesma forma, as várias campanhas publicitárias ao longo do tempo ajudam a estabelecer e a fixar a reputação de uma empresa. Para uma empresa entrante, e sem reputação estabelecida, o esforço e os custos de propaganda e fixação de reputação serão maiores do que para as que já operam.

A caracterização de práticas como essas, estratégias de restringir a concorrência, é das mais difíceis de ser analisada e exige uma avaliação caso a caso por parte das agências de regulamentação. Das ações estratégicas das empresas para restringir a concorrência, três são mais claramente identificadas: a prática de preços predatórios, as vendas casadas e o controle das fontes de suprimento.

70

Page 71: Economia II

Sistema de atribuições de direitos:A base de organização de um sistema de defesa da concorrência está

presente na Constituição Federal de 1988, logo no artigo 1º, inciso IV, no título dos princípios fundamentais, em que se afirma que o Estado Democrático de Direito tem como fundamento “os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa”. No titulo seguinte, dos Direitos e Garantias Fundamentais, artigo 5º, incisos XXII e XXIII, “ é garantido o direito de propriedade” e que “ a propriedade atenderá sua função social”.

É no título Da Ordem Econômica e Financeira, no capítulo dos Princípios Gerais da Atividade Econômica que encontramos, no artigo 170, a reafirmação de que “ a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

I – soberania nacional;II- propriedade privada;III- função social da propriedade;IV- livre concorrência;V – defesa do consumidor;VI- defesa do meio ambiente;...”

A lei n. 8.884, de 11 de junho de 1994, trata da prevenção e repressão às infrações à ordem econômica, define a natureza administrativa da agência de regulamentação da concorrência, o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

No artigo 1º da Lei n. 8.884, fica estabelecido que a finalidade é tratar da prevenção e repressão de infrações à ordem econômica, tendo como base os princípios da livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder econômico. O artigo 20 da Lei n. 8.884 aponta como infrações os atos, mesmo aqueles que não surtem o efeito pretendido, direcionados a:

I- limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa;

II- dominar o mercado relevante de bens e serviços;III- aumentar arbitrariamente os lucros;IV- exercer de forma abusiva posição dominante”.

Agencias e instrumentos:Como vimos, o CADE é a agência brasileira responsável pela política de

defesa da concorrência, também chamada de política Antitruste. Pela Lei n. 8.884, o CADE foi transformado em uma autarquia vinculada ao Ministério da Justiça, e os seus seis conselheiros são nomeados pelo Presidente da República para um mandato de dois anos, podendo ser reconduzidos por igual período. A destituição de um conselheiro do cargo é uma decisão do Senado. Dessa forma, procurou-se investir o Conselho de liberdade de ação perante o governo, tornando o órgão uma agência que executa sua função livre das injunções de outros interesses.

Cabe ao CADE zelar pela observância da lei, decidir pela existência de infrações, aplicar as penalidades quando houver infrações e ainda exercer controle dos atos e contratos que possam levar uma empresa a Ter posição dominante. O CADE é, portanto, um órgão decisório, auxiliado na investigação e instauração de processos pela Secretaria de Direitos Econômicos do ministério da Justiça (SDE).

71

Page 72: Economia II

Os principais instrumentos de punição de que o CADE dispõe, caso seja caracterizado uma infração à ordem econômica, são multas, proibições de contratar com órgãos públicos, inclusive financeiros, exibição pública através de divulgação dos atos na imprensa e inclusão no Cadastro de Defesa do Consumidor. As multas podem chegar até 30% do valor do faturamento anual da empresa, podendo ser aplicadas também aos administradores.

2.15.4.3 – Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC)

O problema:Os mercados falham quando, dado um sistema de atribuições de direitos, os

custos e benefícios de uma transação, para cada agente envolvido, não são explicitamente definidos nos termos do contrato. Nesse caso, os contratos entre os agentes, mesmo sendo voluntários e respeitando o sistema de atribuição de direitos em vigor, não conduzem ao emprego eficiente dos recursos.

Duas circunstâncias podem gerar contratos com esse tipo de ineficiência, levando a soluções de mercado não eficientes: a primeira delas ocorre quando as ações de pelo menos uma das partes contratantes não podem ser observadas pela outra; a Segunda ocorre quando uma das partes contratantes possui maior informação que outra sobre um elemento crucial para a determinação dos benefícios e custos da transação.

O primeiro caso está presente em contratos como aluguel e seguros de veículos. Por não poderem ser observadas, as pessoas tendem a dirigir um veículo alugado de forma mais displicente do que fariam no seu próprio veículo. Da mesma forma, a pessoa, uma vez que tenha segurado seu veículo, tende a arriscar mais, dirigindo ou parando em locais mais arriscados a roubo, em relação à situação sem o seguro. Na ausência de regulamentação, o resultado nos dois mercados são preços mais elevados para os serviços.

O segundo caso está presente também em mercados competitivos, como o de carros usados, em que os vendedores conhecem melhor que os compradores as condições do veículo. A existência de informações assimétricas não requer uma regulamentação específica para cada tipo de mercado, podendo ser controlada por legislação ampla, como o Código de Defesa do Consumidor. Entretanto, se a assimetria de informação estiver associada a outras falhas de mercado, pode levar ao surgimento de regulamentação específica, com agências próprias. Regulamentação de atendimento médico e escolas privadas são exemplos possíveis.

O sistema de atribuição de direitos:O papel do Estado na promoção da defesa do consumidor está presente no

título dos Direitos e Garantias Fundamentais da Constituição Federal, artigo 5º, inciso XXXII, “ O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”.

O sistema legal que implementou essas disposições constitucionais é composto pela Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990, que trata dos direitos do consumidor, das sanções administrativas, das infrações penais, das formas de defesa desses direitos e da organização do Sistema de Defesa do Consumidor. Esse último é complementado pelo Decreto n. 407, de 27 de dezembro de 1991, que regulamenta o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, um importante instrumento financeiro para a operação do sistema, e ainda pelo Decreto n. 861, de 9 de julho de 1993, que trata da organização do sistema e das normas gerais para a aplicação de sanções administrativas.

72

Page 73: Economia II

No artigo 6º da lei n. 8.078 estão definidos os direitos básicos do consumidor, como a proteção contra os riscos provocados por produtos perigosos e nocivos; direito a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços; direito a informação adequada e clara contendo as especificações qualitativas, quantitativas e de preços de bens dos bens, direito a proteção contra publicidade enganosa, métodos e práticas comerciais e contratuais desleais e abusivas. Esse conjunto de direitos reconhece a existência de assimetrias de informações e de poder econômico entre fornecedores e consumidores.

Ainda no artigo 6º, encontramos entre os direitos do consumidor, a garantia de prevenção e reparação de danos sofridos na aquisição de produtos ou serviços. Tal garantia é prevista no acesso do consumidor aos órgãos judiciários e administrativos e na “facilitação” da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor”, isto é, cabe ao fornecedor provar que a reclamação do consumidor é improcedente. Trata-se, pois, de uma forma de contrabalançar as assimetrias de poder e de informação.

Agências e instrumentos: O Sistema Nacional de Defesa do Consumidor é integrado por órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais, e as entidades privadas de defesa do consumidor. A agência governamental encarregada de executar uma Política Nacional de Defesa do Consumidor é o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), subordinado à Secretaria de Direito Econômico (SDE).

A fiscalização das relações de consumo é exercida pelos fiscais do DPDC e dos órgãos de proteção e defesa do consumidor criados com essa finalidade nos Estados e Municípios. Cabe também aos órgãos estaduais e municipais, no âmbito de cada jurisdição, exercer atividades de avaliação e encaminhamento de denúncias, incentivar a criação de entidades de defesa do consumidor e firmar convênios para fiscalizar praticas mercantis abusivas. O desrespeito às normas da Lei n. 8.078 constitui infração administrativa sujeita a penalidades como:

I- multa;II- apreensão do produto; III- inutilização do produto;IV- cassação do registro do produto junto ao órgão competente;V- proibição de fabricação do produto;VI- suspensão de fornecimento de produtos ou serviços;VII- suspensão temporária de atividade;VIII- revogação de concessão ou permissão de uso;IX- cassação de licença do estabelecimento ou atividade;X- interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou atividade;XI- intervenção administrativa;XII- imposição de contrapropaganda.

Os processos administrativos motivados por denúncia de consumidores ou por ação fiscalizadora dos agentes dos órgãos de defesa do consumidor constituem-se no principal instrumento de comando e controle (C&C) que essas agências dispõe. As sanções administrativas estão relacionadas às violações aos direitos básicos do consumidor e às boas práticas comerciais e contratuais. A multa não pode ser confundida com um

73

Page 74: Economia II

instrumento financeiro, pois mesmo sendo aplicada em proporção à vantagem obtida pelo fornecedor, trata-se de um mecanismo de sanção como os demais.

2.15.4.4 – Sistema de proteção ao meio ambienteO problema: Os mercados falham quando as transações num mercado produzem efeitos

positivos ou negativos a terceiros, ou seja, causam externalidades. Tais efeitos dão origem a custos ou benefícios para terceiros, não refletidos nos custos de transacionar dentro do mercado, levando à super ou subexploração dos recursos. O papel da regulamentação nesses casos é de avaliar os custos externos e redistribuí-los aos que lhe deram origem.

Em grande parte das atividades econômicas pode-se identificar a presença de resíduos gerados nos processos produtivos. Por exemplo, na agricultura, o uso de pesticidas pode contaminar os trabalhadores ou as águas subterrâneas; na indústria, temos o lançamento de gases na atmosfera e os resíduos sólidos e líquidos contendo materiais nocivos à saúde; nos sistemas de transporte urbano, que empregam ônibus com motores diesel, ocorre a intoxicação de cidades com os gases de escape. Portanto, externalidades negativas são um fenômeno bastante comuns em nosso cotidiano.

Se é fácil notar a presença de externalidades, o mesmo não pode ser dito no que diz respeito a corrigi-las. Existem dificuldades de natureza técnica, relativas ao conhecimento dos elementos prejudiciais da poluição: mesmo quando conhecidos os elementos maléficos das substâncias poluentes, existem problemas em se identificar o quanto as pessoas foram de fato afetadas por uma determinada fonte de poluição, ou seja, como evitar o comportamento oportunista quando se oferece dinheiro para quem for afetado por determinado tipo de poluição.

Às dificuldades técnicas e informacionais sobrepõe-se a dificuldade de identificar corretamente os direitos de propriedade em questão. Como repartir a responsabilidade pela poluição atmosférica numa grande cidade? Quanto caberá aos proprietários de veículos, aos industriais etc.? Se a responsabilidade civil dos que causam a poluição fosse facilmente identificada, o conjunto geral de leis que disciplina o assunto seria suficiente para que qualquer dano causado a terceiros viesse a ser compensado. Nesse caso não haveria necessidade de regulamentação e de agências governamentais especificamente concebidas para esse fim.

Assim, a regulamentação do meio ambiente e a definição dos melhores instrumentos para tornar os custos externos a ele relacionados como parte dos custos privados de produção, é um dos grandes desafios que vêm sendo encarados pelas sociedades modernas.

Sistema de atribuição de direitosNa Constituição de 1988, no título da Ordem Econômica e Financeira, no

capítulo dos Princípios Gerais da Atividade Econômica, artigo 170 temos que: “ a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:..

VI – defesa do meio ambiente; ...É no título da Ordem Social da Constituição Federal que vê-se um capítulo

dedicado ao Meio Ambiente. No artigo 225 lemos: “ todos têm direito ao meio ambiente

74

Page 75: Economia II

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as gerações futuras.

No parágrafo primeiro do referido artigo definem-se as atribuições do Poder Público no sentido de garantir tal direito. No que diz respeito à regulamentação dos mercados destacam-se dois incisos:

IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V – controlar a produção, comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.”

As atribuições de órgãos específicos para cumprir as funções de controle definidas nos incisos acima já haviam sido previstas na Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, que instituiu o Sistema Nacional de Meio Ambiente. Nesse sistema cabe aos Estados, entre outras atribuições de natureza ambiental, o controle da poluição e o licenciamento de atividades potencialmente causadoras de degradação ambiental, recaindo para a esfera federal o controle e licenciamento de atividades de interesse interestaduais. É através do exercício do controle da poluição, estabelecendo-se padrões de emissão de poluentes, e do fornecimento de licenças de funcionamento, que as agências ambientais exercem a regulamentação dos mercados.

Agências e instrumentos:O Sistema Nacional de Meio Ambiente é dirigido por um Conselho Nacional

que assessora o ministro no estabelecimento da Política Nacional de Meio Ambiente.. Da mesma forma no âmbito estadual, existem os Conselhos Estaduais, responsáveis pelas políticas estaduais. No âmbito federal, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente – IBAMA – é a agência federal encarregada de estabelecer programas e exercer a fiscalização da legislação ambiental. Nos Estados, as agências estaduais cumprem o mesmo papel, porém seguindo legislações e parâmetros ambientais fixados em cada Estado. Diante dos parâmetros ambientais estabelecidos as agências dispõe de três instrumentos de controle:

a) Os estudos e relatórios de impacto ambiental – EIA/RIMA;b) As licenças de funcionamento;c) A fiscalização das emissões de poluentes.

Os EIA/RIMA aplicam-se a novos projetos ou a expansão de projetos já existentes, sendo custeados pelo proponente e submetido à avaliação do órgão ambiental competente.

O segundo instrumento é a licença de funcionamento, que pode ser aplicada inclusive a plantas existente anteriormente à legislação ambiental. Na hipótese de um projeto Ter seu EIA/RIMA aprovado, a obtenção da licença não é automática, dependendo da inspeção da planta e das condições de funcionamento efetivo. A concessão de licenças não depende apenas do projeto em si, mas das condições do meio ambiente em que estará instalado. Desse modo a agência pode impor compromissos mais ou menos rigorosos de padrões de lançamentos de diferentes poluentes.

75

Page 76: Economia II

O terceiro instrumento de controle é a ação fiscalizadora, que pode impor diversas sanções, como multas, interrupção da produção, suspensão temporária das atividades e até cassação da licença e conseqüente fechamento da empresa.

A esses instrumentos de controle, a legislação brasileira vem acrescentando nos últimos anos um novo conjunto de instrumentos econômicos genericamente associados aos princípios do poluidor-pagador e consumidor-pagador. Entre eles encontram-se os Royalties de compensação financeira pela utilização de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica, Royalties de compensação financeira pela utilização de recursos minerais, compensações financeiras para municípios inundados por barragens, compensações financeiras para exploração de recursos florestais, e ainda em implementação, a cobrança pelo uso dos recursos hídricos.

2.16 – A TEORIA DOS JOGOS

É inegável a familiaridade que as pessoas têm com o termo jogo. Todos os dias vemos nos jornais ou televisão reportagens inteiras sobre futebol, basquete, vôlei, etc. É difícil também não encontrar pessoas que pelo menos uma vez na vida não tenha experimentado jogar “palitinho”- (porrinha), “par ou ímpar”, dama ou mesmo xadrez. O termo jogo, no entanto, pode deixar de ser apenas uma palavra relacionada com lazer para ter uma importância fundamental como instrumento de análise econômica. Por exemplo, uma empresa oligopolista, tal como num jogo de xadrez, deve estar atenta às possíveis estratégias de seus concorrentes, para não acabar em posição difícil ou em xeque. Deve também decidir se adota uma estratégia mais agressiva, qual um ataque mais ofensivo no futebol, ou se mantém um comportamento mais moderado ou de espera em relação aos adversários, o que poderia ser comparado com uma estratégia defensiva de um time, esperando as oportunidades proporcionadas pelos “contra-ataques”.

Inúmeras situações podem ser tratadas como um verdadeiro jogo, tal como ele é conhecido popularmente. Como por exemplo, suponha uma situação em que você possua uma empresa que produza sabão em pó. Em determinado momento, você deve decidir se lança um novo tipo de sabão em pó no mercado. Para tornar isso possível você ainda precisa desenvolver o produto, investindo em Produção e Desenvolvimento, além de empreender uma campanha de marketing, o que implica custos. Por sua vez, as receitas vão depender da participação desse novo produto no mercado (quanto desse novo produto será vendido – substituindo os antigos sabões em pó que continuam no mercado) e até que ponto os concorrentes vão reagir ao seu lançamento, lançando produtos semelhantes. Afinal, você deve ou não incorrer nos custos iniciais e lançar o produto no mercado? Ele trará lucros ou não?

Podemos apresentar ainda outra situação interessante. Suponha que, numa determinada faculdade, o serviço de xerox é realizado por apenas uma pessoa, e que seja possível outra pessoa, você, por exemplo, explorar esse serviço. Assim, na decisão de entrar no “mercado” de xerox na faculdade, você poderá dar início a uma verdadeira guerra de preços, já que a pessoa que até então monopolizava esse serviço tentará manter sua posição, podendo, para tanto, baixar os preços com o objetivo de inviabilizar os serviços do concorrente. Até que ponto vale a pena você entrar no mercado? Essas são situações econômicas, dentre as várias possíveis, que podem ser analisadas em termos da Teoria dos Jogos.

76

Page 77: Economia II

Os jogos que são objetos de análise econômica, por constituírem um método de investigação científica, têm uma conotação específica e um tratamento formal que é dado pela Teoria dos jogos. Esta tem como objetivo a análise de problemas em que existe uma interação entre os agentes, onde as decisões de um indivíduo, firma ou governo afetam e são afetadas pelas decisões dos demais agentes ou jogadores. A Teoria dos Jogos, definida como o estudo das decisões em situação interativa, não se restringe à Economia, sendo também bastante utilizada em Ciência Política, Sociologia, estratégia militar etc.

Dentro da economia, ou da microeconomia, a Teoria dos Jogos procura analisar o processo de tomada de decisão em uma situação um pouco diferente daquela preconizada pela concorrência perfeita. Do mesmo modo que a concorrência perfeita, parte-se do pressuposto que os agentes tomam decisões intencionalmente, ou seja, procurando atingir um objetivo; e racionalmente – as ações tomadas são consistentes com a busca do objetivo. Além disso, em Teoria dos Jogos, assim como em microeconomia clássica, pressupõe-se um comportamento maximizador, ou seja, o agente toma as decisões procurando maximizar seus objetivos, buscando o máximo lucro, máxima satisfação, etc. O que diferencia a Teoria dos Jogos é o ambiente onde essas decisões (intencionais, racionais e maximizadoras) são tomadas. Na microeconomia tradicional, o agente decide a partir de um conjunto de informações, em um ambiente em que o resultado depende apenas de sua decisão, não importando as ações dos demais agentes. Já em Teoria dos Jogos, trabalha-se com o chamado ambiente estratégico, no qual o resultado de uma determinada ação depende não apenas dela, mas também das ações dos outros tomadores de decisão.

É importante destacar que a Teoria dos Jogos, assim como o restante da teoria econômica, trabalha com modelos, abstrações teóricas simplificadas da realidade. Um “jogo” também é um modelo, é uma abstração teórica da realidade.

2.16.1 – O “Dilema dos Prisioneiros”Talvez o mais comum dos exemplos de Teoria dos Jogos seja o chamado “

Dilema dos Prisioneiros”, que trata de uma situação onde dois indivíduos devem tomar uma decisão e a conseqüência dessa decisão depende da interação das duas decisões. Nesse “Jogo”, duas pessoas são aprisionadas, suspeitas de terem cometido, conjuntamente, um crime. Os policiais colocam os dois suspeitos em celas separadas, de modo que a comunicação entre eles não seja possível; a cada um é perguntado se cometeram ou não o crime. Os policiais, para induzi-los a confessar, propõem as seguintes situações:a) Se o suspeito não confessar e o seu parceiro confessar, denunciando o outro, a pena será

máxima para aquele que não confessou: dez anos de reclusão, enquanto aquele que confessou terá a pena reduzida a zero;

b) Se ambos confessarem, a pena será reduzida pela metade: cinco anos de reclusão para cada suspeito;

c) Se nenhum deles confessasse o crime, eles apenas continuariam presos por mais algum tempo (um ano por exemplo).

O que deveriam fazer os dois prisioneiros?A partir desse exemplo dado podemos estudar o comportamento dos

jogadores, as estratégias possíveis e suas conseqüências. Se um dos suspeitos confessar, poderá ficar preso cinco anos ou estar livre, caso o outro não confessasse. Se não confessar, poderá ficar apenas um ano preso, se o outro não confessar, ou dez anos, caso o outro confesse. Também pode-se analisar o resultado do jogo, a chamada solução de um jogo. Neste caso parece, a princípio, melhor para ambos não confessarem e ficarem presos

77

Page 78: Economia II

apenas um ano. Porém, pelo fato de os dois suspeitos estarem incomunicáveis, existe uma grande ameaça: se um deles confessar poderá conseguir a liberdade imediata. Assim, sabendo da possível traição de seu companheiro, ambos têm fortes estímulos a confessar o crime, procurando reduzir a pena (ou até ser livre). Desse modo, a solução final acaba sendo a confissão dos dois, com cinco anos de cadeia para cada um, o que, evidentemente, não é a melhor solução para ambos. Para que possamos melhor compreender esse e outros resultados de jogos, temos de avançar em outros conceitos importantes.

O jogo “Dilema dos Prisioneiros” representa um tipo no qual existem dois jogadores que tomam a decisão simultaneamente, sem possibilidade de cooperação, conhecendo perfeitamente os resultados a que cada uma das combinações de decisão conduz. Porém, podem existir outras possibilidades, dependendo do número de jogadores, da seqüência em que as ações são efetivadas (num jogo de xadrez, cada jogador toma a decisão depois da jogada do outro, configurando-se um jogo seqüencial), da possibilidade de cooperação (acordos, conversas), das informações disponíveis etc. Além disso, o que ocorreria se essa situação fosse repetida mais vezes? Será que o comportamento dos agentes continuaria sempre o mesmo? Assim, existem vários tipos de jogos com suas especificidades. Porém vamos definir claramente o que vem a ser um jogo, em seguida poderemos classificar os seus vários tipos e examinar alguns deles.

2.16.2 – Caracterização de um jogoUm jogo é caracterizado por um conjunto de regras e um conjunto de

resultados. As regras “descrevem” a realidade, delimitando as ações possíveis dos agentes (jogadores). Nesse campo de ação, os agentes tomam suas decisões de modo racional e maximizador com base no conjunto de resultados.

Entende-se como o conjunto de regras de um determinado jogo a especificação de cada um dos seguintes elementos:a) os jogadores (agentes econômicos);b) o conjunto de ações possíveis para cada jogador;c) o conjunto de informações disponíveis para cada agente.

Além desses elementos, a caracterização do jogo se completa com o conjunto dos resultados possíveis, também denominados payoff’s decorrentes da interação das ações.

2.16.2.1 – Os jogadoresOs jogadores são agentes econômicos que tomam as decisões. São

consumidores buscando maximizar sua satisfação, empresas que procuram maximizar seu lucro ou aumentar sua fatia de mercado, investidores que devem decidir entre tomar ou não um empréstimo, bancos que têm de decidir se concedem ou não os empréstimos, ou mesmo o governo que tem de tomar a decisão de implementar uma determinada política econômica. Esses jogadores são, a princípio, considerados racionais e têm preferências em relação aos resultados do jogo. Na tomada de decisão eles procuram maximizar suas preferências.

Em relação aos jogadores, o principal problema é a definição do seu número. Os jogos podem variar de um até “n” jogadores, podemos inclusive Ter jogos com infinitos jogadores. Os jogos de dois jogadores são os mais comuns e os mais estudados. Quando existe apenas um jogador, dizemos que é um jogo contra a Natureza. A Natureza é um jogador especial, pois não tem interesses nem intenções; trata-se do acaso. Este acaso pode

78

Page 79: Economia II

ocorrer com alguma certeza, com alguma probabilidade ou com nenhuma certeza, quando se pode atribuir nenhuma probabilidade a determinado evento. Por exemplo, no jogo de “cara ou coroa” o resultado cara ou coroa é determinado pela Natureza. Quando um empresário deseja realizar algum investimento, procurando aumentar sua capacidade de produção, deverá levar em conta a demanda futura pelo bem produzido; essa demanda, para a Teoria dos Jogos, seria determinada pela Natureza.

2.16.2.2 – Ações e estratégiasEm um jogo devem estar definidas as ações possíveis de serem levadas a

efeito por parte dos jogadores, como a possibilidade ou não de cooperação, acordo ou coalizões entre eles. Os jogos em que os acordos são permitidos são chamados jogos cooperativos. Quando os acordos não são possíveis, temos os jogos não cooperativos. Estes últimos foram os mais estudados e apresentam resultados mais conhecidos.

Um jogo pode estar composto por várias ações, como xadrez, onde existem vários lances. Define-se estratégia como sendo o conjunto de ações a ser executado ao longo do jogo. Ainda usando o xadrez como exemplo, a princípio o jogador deveria saber como responder a cada lance do adversário, e a estratégia seria definida como o conjunto de ações a ser levado a efeito em resposta aos lances do adversário. Assim, a estratégia consiste num plano de ações que pode se resumir a apenas uma ação, como no caso do “dilema dos prisioneiros”, ou a um complexo conjunto de alternativas do tipo “se ele fizer isto, eu faço aquilo, e se ele responder assim, eu respondo assado etc., como no jogo de xadrez.

Note-se que as estratégias no jogo do “par ou ímpar” são quatro, sendo que cada estratégia é composta de duas ações:a) pedir par e jogar par;b) pedir ímpar e jogar par;c) pedir par e jogar ímpar; d) pedir ímpar e jogar ímpar.

Porém como um dos jogadores escolhe primeiro, restam ao adversário apenas duas estratégias.

No caso do “Dilema dos Prisioneiros”, para cada jogador existem apenas duas estratégias com uma ação cada:a) confessar;b) não confessar.

No xadrez, existe um número imenso de estratégias para as peças brancas e outro tanto para as pretas, sendo exatamente em função do grande número de estratégias que o jogo de xadrez é tão interessante.

2.16.2.3 – As informações disponíveisUm jogo também deve definir que tipo de informações está disponível para

os jogadores. Em outras palavras, deve-se ter respostas para perguntas do tipo “o que o jogador sabe?” ou “ele sabe sobre as preferências dos outros jogadores, sobre as ações permitidas aos outros jogadores, sobre os resultados a serem alcançados?”. Chamam-se de jogos de informação completa os jogos onde os jogadores possuem todas as informações necessárias para a tomada de decisão. Estes são os mais conhecidos e mais facilmente

79

Page 80: Economia II

analisados. Quando parte das informações não está disponível, temos um jogo com informação incompleta.

Também existem os jogos de informação perfeita ( ou seqüenciais) e os de informação imperfeita ( ou simultâneos). Nos jogos em que a jogada é simultânea, como o “par ou ímpar”, a informação é imperfeita, já que um jogador não sabe o que outro vai fazer. Nos jogos cujas ações ocorrem em seqüência, como o xadrez, a informação é perfeita, pois o jogador sabe o que o outro fez antes de fazer sua ação.

2.16.2.4 – Os resultados (payoff’s)O conjunto de estratégias interagindo nos leva aos resultados, que podem

assumir várias formas. Por exemplo, no “Dilema dos Prisioneiros”, temos os seguintes resultados possíveis:a) a estratégia confessar de um prisioneiro e confessar do outro leva a um resultado de

cinco anos de cadeia para ambos;b) a estratégia confessar de um prisioneiro e não confessar de outro leva a um resultado de

liberdade para aquele que confessou e dez anos de cadeia para quem não confessou;c) a estratégia não confessar para ambos leva a um ano de cadeia para ambos.

Os resultados são avaliados de acordo com as preferências dos jogadores. No exemplo acima, a avaliação parece óbvia: quanto menos anos de cadeia, melhor. Porém, nem sempre os resultados e sua avaliação se colocam de forma simples. Na maior parte das vezes os resultados são apresentados numericamente para facilitar o entendimento do jogo. Esses números geralmente representam lucro ou nível de satisfação do jogador ao final do jogo (evidentemente, quanto maior o número, maior o nível de satisfação).

Podemos Ter os chamados jogos de soma zero, que representam aqueles jogos nos quais aquilo que um grupo de jogadores ganha é exatamente aquilo que o outro perde, como no jogo do “par ou ímpar”. Os jogos de soma zero são um caso particular dos jogos de soma constante, que são aqueles em que a soma dos resultados obtidos é sempre a mesma, contrapondo-se aos jogos de soma variável, como o “Dilema dos Prisioneiros”.

2.16.3 – Tipos de JogosA partir das diferentes características que possuem os jogos, podemos Ter

diferentes modelos, ou tipos de jogos em Teoria dos Jogos. Assim temos: a) quanto ao número de jogadores:- jogos envolvendo um, dois, ou mais jogadores;b) quanto às ações possíveis:- jogos cooperativos ou não cooperativos;c) quanto às informações disponíveis:- jogos com informação completa ou incompleta;- jogos seqüenciais ou simultâneos;d) quanto aos resultados- jogos de soma constante (zero) ou variável.

Na verdade um jogo é uma combinação dessas possibilidades. O modelo pode assim ser o de um jogo de dois jogadores, não cooperativos, com informação completa, simultâneo e de soma constante; ou um jogo com cinco jogadores, cooperativo, com informação incompleta, seqüencial e de soma variável, e assim por diante.

80

Page 81: Economia II

2.16.4 – A representação de um jogoExistem basicamente duas formas de se representar ou formalizar

graficamente um jogo: a forma extensiva, usando a chamada “ árvore de um jogo” ou a forma normal, também chamada estratégica, utilizando matrizes para a representação gráfica.

2.16.4.1 – A forma extensivaOs jogos seqüenciais em geral são representados graficamente através do

que se chama de “árvore de decisão”, também conhecida como forma extensiva. Trata-se de uma forma de representar seqüencialmente cada uma das ações dos jogadores. Uma árvore de decisão é um gráfico orientado com um único módulo inicial, em que cada módulo representa um ponto de ação de um determinado jogador e as ligação entre os módulos são as ações possíveis.

Tomando a situação descrita anteriormente dos serviços de xerox de uma faculdade: uma determinada empresa tem a intenção de entrar num determinado mercado (de serviços de reprodução) já dominado por apenas uma empresa (mercado monopolista). As estratégias disponíveis para a empresa desafiante consiste em “entrar” ou “não entrar” no mercado. Caso entre, o monopolista deverá decidir se abre ou não uma guerra de preços contra o desafiante. Percebemos assim que a ação da empresa desafiante de entrar no mercado é seguida pela ação do monopolista em retaliar ou não essa ação. A decisão do desafiante de entrar ou não no mercado precede a do monopolista, de abrir uma guerra ou não contra o desafiante. Temos um jogo com dois jogadores, não cooperativo, seqüencial com informação completa. A árvore de decisão pode ser representada da seguinte forma:

Jogador Ação Jogador Ação Resultados

Nessa árvore de decisão os números entre parênteses representam os resultados, que podem ser os lucros obtidos com a operação, por exemplo, da empresa desafiante e do monopolista, respectivamente. Na situação inicial o monopolista tem cem mil reais de lucro. Se a empresa desafiante decide entrar no mercado, e o monopolista decidir não abrir guerra, o mercado será dividido, porém a empresa que estava estabelecida

81

Empresa desafiante

Entra no Mercado

Monopolista

Não entra no mercado

Abre Guerra

Não abre Guerra

Resultado 1( -10,80)

Resultado 2( 30,70)

Resultado 3( 0,100)

Page 82: Economia II

anteriormente tem um lucro superior ao da desafiante, dada a sua antigüidade no mercado (acordos firmados com alunos etc.). Por outro lado, se a empresa entra e a monopolista abre guerra, os lucros se reduzirão em função da queda de preços e a empresa desafiante acaba por ter prejuízo e os lucros da monopolista são substancialmente reduzidos. O que deve fazer a empresa desafiante?

2.16.4.2 – A forma normal ou estratégicaA forma normal ou estratégica de um jogo é aquela em que os resultados são

apresentados na forma de matrizes. Tal representação é comum para jogos simultâneos, especialmente de dois jogadores. Neste caso as linhas e colunas representam as estratégias dos jogadores e os elementos (duplos) os respectivos resultados. Podemos representar o “Dilema dos Prisioneiros” da seguinte forma:

Prisioneiro 2

Confessa Não Confessa Prisioneiro 1 Confessa ( 5, 5 ) ( 0, 10 )

Não Confessa ( 10, 0 ) ( 1, 1 )

Cada prisioneiro tem duas estratégias possíveis: confessar ou não confessar o crime. Os números entre parênteses são os resultados, em termos de anos de cadeia, que são avaliados pelos jogadores (quanto maior, menos desejável).

2.16.4.3 – SoluçõesDepois de estabelecida a caracterização de um jogo e sua forma de

representação, cabe agora sua solução. Esta consiste em saber qual a melhor forma de jogar o jogo ( a melhor estratégia) para cada jogador e assim até o resultado final.

Existem vários conceitos de solução ou de tomada de decisão. Aqui, analisaremos três dos mais conhecidos:a) dominância;b) maxmin;c) o conceito de Nash.

De todo modo a idéia central é sempre a de que a melhor decisão ( a melhor estratégia) é sempre aquela que garanta o melhor resultado, dadas as estratégias dos adversários. Utilizando basicamente jogos não cooperativos de informação completa e dois jogadores poderemos estudar brevemente estes conceitos.

2.16.4.3.1 – Estratégias dominantesUma estratégia é chamada de dominante em relação a outra quando os

resultados obtidos com sua utilização são melhores em relação aos resultados obtidos com outra estratégia, qualquer que seja a atuação dos demais jogadores. Essa estratégia é, assim, melhor que as outras e pressupõe-se que é aquela que deverá ser escolhida pelo jogador.

No caso do “Dilema dos Prisioneiros”, ambos os jogadores possuem uma estratégia dominante. Para o prisioneiro 1 a estratégia dominante é confessar. Esta

82

Page 83: Economia II

estratégia leva a resultados melhores que a outra, não importando o que o prisioneiro 2 fizer. Assim, se o prisioneiro 2 confessar, a melhor resposta para o prisioneiro 1 é confessar. Por outro lado, se o prisioneiro 2 não confessar, continua sendo a melhor resposta (dominante) confessar. De modo análogo, podemos verificar que a estratégia dominante para o jogador 2 é confessar.

Uma observação importante é que a solução encontrada não necessariamente é a melhor possível para os jogadores, como no caso deste último exemplo. Existe um resultado melhor para ambos: se não confessarem, ficarão apenas um ano presos. A solução ótima ( um ano para cada) certamente seria alcançada se houvesse possibilidade de comunicação ou de acordo entre as partes. Porém, dada a estrutura do jogo, essa comunicação não é possível.

Suponha uma outra situação: a batalha do mar do Caribe. O almirante cruzeirense Zé Carlos quer tomar as Ilhas Margaritas e para tal deve enviar uma esquadra naval. Existem dois caminhos para a frota: a rota norte, mais curta, levando dois dias até o alvo, e a rota sul, mais longa, levando três dias. Este almirante sabe que no caminho até o alvo a frota será bombardeada por aviões inimigos e tentará minimizar o tempo de exposição ao bombardeio. O almirante inimigo, Neto, procurará destruir parte da frota antes de chegar às Ilhas Margaritas e para isso envia aviões para bombardear a esquadra. O problema deste almirante é saber para onde enviar os seus aviões: para a rota norte ou para a rota sul, pois se, por exemplo, os enviar para a rota norte e a esquadra for pela sul, os aviões deverão retornar, perdendo assim um dia de bombardeio.

Podemos formalizar a situação, usando a forma estratégica. Temos duas estratégias possíveis para cada almirante, as duas rotas, e a rota escolhida sem que o adversário saiba da decisão. Os resultados serão o número de dias de bombardeio a que a frota do almirante Zé Carlos estará submetida. Quanto maior este número melhor para Neto e pior para Ze Carlos.

Almirante Ze Carlos Rota Norte Rota Sul

Rota norte 2 ( 2, -2 ) 2 (-2; 2)Almirante Neto

Rota Sul 1( 1, -1) 3(-3; 3)

Obs: Este é um jogo de soma zero, o que um ganha o outro perde. Como os resultados, em módulos, são iguais para ambos os jogadores, podemos representá-los com apenas um número.

Nesta situação o que Neto deve fazer? Para onde enviar seus aviões? Notemos que ele não possui nenhuma estratégia dominante. Se os navios forem para o sul, sua melhor resposta será enviar os aviões para o sul. Por outro lado, se os navios forem para o norte, sua melhor resposta será enviar os aviões para o norte.

Porém ao observar as opções que Ze Carlos tem, percebe-se que para este almirante é melhor enviar sua frota para o norte, sendo esta sua estratégia dominante. Os navios indo pela rota norte estarão submetidos a dois dias (se os aviões também foram para

83

Page 84: Economia II

o norte) ou a apenas um dia de bombardeio (se os aviões forem para o sul), o que é melhor do que os enviar pela rota sul e estar submetido a dois( se os aviões forem para o norte) ou três dias de bombardeio ( se os aviões também forem para o sul). Assim, Ze Carlos elimina a opção da rota sul e enviará seus navios pela rota norte. Percebendo isso, Neto agora poderá decidir com mais facilidade e enviará seus aviões também para o norte. Assim, a solução é um bombardeio de dois dias na rota norte.

A situação da empresa que desafia a outra no mercado de xerox da faculdade é semelhante. Se acompanharmos os resultados, a princípio a empresa desafiante não tem uma estratégia dominante, pois se entrar poderá perder dinheiro ou ganhar dinheiro, dependendo do que a monopolista fizer. Porém, olhando os resultados disponíveis para a empresa monopolista fica claro o que ela fará: não abrirá guerra de preços, pois seu lucro será superior não abrindo guerra. Como o desafiante sabe disso, ele, por indução retroativa, decide entrar no mercado. Assim, a situação final é a entrada no mercado da nova empresa, sem guerra de preços.

Há situações, porém, em que não existem estratégias dominantes, inviabilizando a solução do jogo por esse critério. Suponha o exemplo a seguir: Florentina e Tiririca se amam e detestam ficar separados. No entanto, nos finais de semana, ambos gostam de programas distintos. Tiririca gosta de ir ao futebol, enquanto Florentina gosta de ir ao costumeiro baile no clube Magid. O problema é que ambos detestam fazer programas sozinhos. A situação comumente chamada de “Batalhas dos sexos”, pode ser representada a partir da seguinte matriz:

Florentina

Futebol Baile

Tiririca Futebol ( 3,2 ) ( 1,1 )

Baile (-1, -1 ) ( 2, 3 )

Se ambos forem ao futebol, ambos estarão felizes, porém Tiririca um pouco mais. Se ambos forem ao baile, também ambos ficarão felizes, mas Florentina mais. Contudo, se cada um for fazer um programa diferente, não estarão tão felizes; pior ainda se Tiririca for ao baile e Florentina ao futebol. Se cada tiver que escolher individualmente ( sem se comunicar com o outro mas procurando imaginar o que o outro fará), percebe-se que nenhum deles possui uma estratégia dominante, assim o jogo fica sem solução pelo critério de dominância.

2.16.4.3.2 – “Maxmin”Uma outra forma de escolher a estratégia, quando não existe estratégia

dominante, é o chamado maxmin. Neste caso o jogador procura maximizar o mínimo que ele pode assegurar para si, independentemente das estratégias dos outros jogadores. A estratégia maxmin é a que garante um ganho mínimo para o jogador. A idéia aqui é a seguinte: não sei o que fazer, farei aquilo que me der “ o menos pior” dos piores resultados possíveis.

No exemplo acima, usando o conceito maxmin temos: para Tiririca: se ele escolher a estratégia de ir ao futebol, o pior que pode ocorrer é Florentina escolher ir ao baile, de modo que o resultado para Tiririca seja (1). No caso de escolher a estratégia ir ao

84

Page 85: Economia II

baile, o pior que pode ocorrer é Florentina ir ao futebol, cujo resultado para Tiririca será (-1). Procurando obter a menor perda possível Tiririca, então escolherá a estratégia ir ao futebol. Fazendo o mesmo raciocínio para Florentina, ela acabará escolhendo ir ao baile.

Assim, a solução do jogo por maxmin será o par de estratégias Tiririca vai ao futebol e Florentina ao baile, com resultado mediano para ambos ( 1 , 1 ). Note que essa solução não é a estratégia ótima.

Supondo um hipotético jogo de soma zero (aquilo que um ganha o outro perde; na matriz o número é positivo para o jogador A e será considerado negativo para o jogador B) como o descrito abaixo, a estratégia maxmin de A é IA, e de B é IB, de modo que o resultado final será 15 para A, e –15 para B.

Jogador B

Estratégia IB Estratégia IIB

Jogador A Estratégia IA 15 10

Estratégia IIA 5 20

O conceito de maxmin está baseado na idéia de que o jogador age da maneira mais prudente possível. Para muitos autores, esta idéia é muito forte, pressupõe-se que os jogadores vivem constantemente na retranca ou que são sempre muito pessimistas. Além do mais, pode conduzir a resultados que geram arrependimento dos jogadores: eles poderiam ter feito melhor. No jogo descrito anteriormente tanto Florentina quanto Tiririca se arrependem de suas escolhas, dada a escolha feita pelo outro. Tais criticas fazem com que este conceito seja pouco usado como forma usual de solucionar jogos pelos teóricos, que preferem um outro conceito: o equilíbrio de Nash.

2.16.4.3.3 Nash

O conceito de equilíbrio ( ou solução ) de Nash é também conhecido como o de não arrependimento. A combinação de estratégias escolhidas leva a um resultado no qual nenhum dos jogadores individualmente se arrepende, ou seja, este jogador não poderia melhorar a sua situação unilateralmente modificando a estratégia escolhida. Numa situação em que se utiliza o conceito de Nash, um jogador escolhe a melhor estratégia dada a escolha do outro. Voltemos ao dilema dos prisioneiros.

Vimos que a solução por estratégias dominantes é ambos confessarem e, assim, ficarem presos por cinco anos. Esta também é uma solução de Nash. O prisioneiro 1 tem uma decisão melhor do que a de confessar, dado que o prisioneiro 2 confessou? Não, pois a outra opção seria não confessar, e se o fizesse ficaria 10 anos preso. Assim para o prisioneiro 1, confessar é a melhor estratégia se 2 confessar. O mesmo ocorre para o prisioneiro 2, pois confessar é a melhor resposta que ele pode dar à estratégia de confessar escolhida por 1. Nesta situação nenhum dos prisioneiros se arrepende do que fez, dado o que o outro fez. Cada um deles individualmente, não poderia ter feito nada melhor. Esta

85

Page 86: Economia II

solução é portanto uma solução de Nash, que é a mesma solução encontrada pelo critério de dominância.

Examinando o resultado de apenas um ano de cadeia para os prisioneiros, caso nenhum deles confesse, percebe-se que este não é uma solução pelo critério de Nash. O jogador 1 se arrepende de não ter confessado, pois se o tivesse feito estaria livre àquela hora, uma vez que o prisioneiro 2 não confessou. Assim, ele poderia melhorar sua situação (ficar menos tempo preso), dada a opção do outro. Existe, neste caso, uma forte tendência de se fugir desta situação, não configurando uma solução estável. Os outros resultados possíveis que não o de Nash têm o mesmo problema, pois sempre ao menos um dos jogadores se arrepende da opção escolhida.

Olhando agora para o exemplo da batalha dos sexos, vemos que a solução de Maxmin não é a solução para Nash: se Tiririca escolheu ir ao futebol era melhor que Filomena também o fizesse. Do mesmo modo, já que Filomena escolheu ir ao baile era melhor que Tiririca também ter ido. Porém olhando para a situação em que ambos vão ao futebol, nenhum deles se arrepende da estratégia adotada, dado o que o outro fez. Esta é uma solução de Nash.

O problema que surge neste jogo é que a combinação de estratégias “ambos irem ao baile” também é uma solução de Nash. Assim são possíveis mais de um equilíbrio de Nash, o que constitui um problema para a teoria e exige refinamentos para poder desenvolver a solução do jogo (como por exemplo, considerar o cavalheirismo do homem).

2.16.4.4 – Outras aplicaçõesA Teoria dos Jogos constitui-se num instrumento de grande utilidade na

compreensão de fenômenos ou problemas econômicos. Vejamos três exemplos.a) Vida curta dos cartéis – Os cartéis são organizações de produtores ou industrias dentro

de um determinado setor ou atividade, e determinam a política de preços para todos os associados, fixando cotas de mercado para cada um. É estabelecido como forma de evitar guerra de preços que pode trazer resultados ruins para todos. Sua sobrevivência, no entanto, depende da cooperação de cada um em seguir a política comum. Nesse contexto, um produtor individualmente pode melhorar sua situação se romper o acordo, reduzindo seu preço e conquistando assim uma maior fatia no mercado. Tal possibilidade pode se constituir num desestímulo à formação do cartel se os produtores pensam estrategicamente como num jogo.

b) Inflação inercial – A inflação inercial pode ser tratada como um jogo não cooperativo. Numa situação onde todos os preços e salários são indexados pela totalidade da inflação passada, cria-se uma situação de inércia inflacionária que só pode ser rompida com o fim da indexação. Em outras palavras, o fim da inflação inercial só poderá ocorrer caso todos abram mão da indexação. No entanto, problemas de coordenação, credibilidade da política antiinflacionária, poder de fixação de preços e salários diferenciados na economia etc. criam situações de não cooperação entre os vários agentes econômicos, o que mantém a situação de indexação. Os agentes só aceitariam abrir mão do reajuste em seus preços se todos também abrirem mão. Como existem ameaças de não cooperação por parte dos demais agentes, podemos, tal como no dilema dos prisioneiros, chegar ao resultado de não cooperação por parte de todos os agentes.

86

Page 87: Economia II

c) Credibilidade da política econômica - Muitas medidas de política econômica requerem a cooperação entre Governo e os partidos no Congresso Nacional por depender de leis ou mesmo de alterações na Constituição. Em várias situações, as medidas impõe algum custo para a sociedade no curto prazo, como no caso das políticas de combate à inflação. No longo prazo, porém, é de se esperar que toda a sociedade melhore. Os partidos no Congresso enfrentam um dilema. Se colaborarem com o governo, perdem popularidade no curto prazo. Se o Governo mantiver coerência na condução da política, no entanto, a sociedade estará melhor num prazo mais longo, aumentando assim a popularidade dos partidos em relação à situação anterior às medidas. O problema surge quando o governo não é confiável na condução de suas políticas. Nesse caso, a política implementada pode não ser bem sucedida, o que é ruim para os partidos tanto no curto quanto no longo prazo. Essa situação pode ser tratada como um jogo cujo resultado depende da credibilidade do governo.

2.16.4.5 – Considerações finaisTeoricamente, a maior parte dos jogos que são modelados pela teoria

econômica, como os exemplos dados até aqui, são definidos como jogos não cooperativos, onde cada agente econômico busca maximizar seu payoff efetivando ações sem se preocupar com o “ bem estar ” do oponente ou estabelecer acordos. Não se pode concluir, no entanto, que o mundo real seja não cooperativo. Existem inúmeras situações cooperativas na sociedade. A criação de associações, sindicatos, cooperativas são exemplos de cooperação entre os agentes. Tais situações são consideradas, pela Teoria dos Jogos, como jogos cooperativos, cuja sofisticação matemática e complexidade dos conceitos escapa dos objetivos de uma simples introdução didática. Os jogos não cooperativos, no entanto, ainda são os mais utilizados nos livros-textos e cursos, dada a facilidade com que são aplicados a inúmeras situações estudadas em economia.

Outra questão importante diz respeito ao número de vezes que o jogo é realizado. A repetição de um jogo pode dar início a um processo de aprendizagem acerca das estratégias dos jogadores, levando a resultados diferentes caso fosse realizado apenas uma única vez. Imagine sucessivas repetições do jogo “ Dilema dos Prisioneiros”. Nesse caso, é difícil imaginar que sempre o resultado será os dois confessarem. Enfim, são inúmeras as possibilidades na Teoria dos Jogos, o que talvez explique a crescente popularidade que ela vem tendo dentro da Teoria Econômica.

PARTE III

MACROECONOMIA

1 – OBJETIVOS DA TEORIA MACROECONÔMICAO principal objetivo da teoria macroeconômica é analisar como são

determinados os preços e as quantidades de bens produzidos e dos fatores e produção existentes na economia. Assim, na tentativa de se determinar como os preços e as

87

Page 88: Economia II

quantidades são estabelecidos, desenvolveram-se dois métodos de análise básicos: a chamada abordagem de equilíbrio parcial e a do equilíbrio geral.

A abordagem do equilíbrio parcial analisa um determinado mercado sem considerar os efeitos que esse mercado pode ocasionar sobre os demais mercados existentes na economia. Admite-se que os demais mercados afetam o mercado analisado, mas julga-se que esse mercado não afeta os demais. Por outro lado, na abordagem de equilíbrio geral, acredita-se que tudo depende de tudo, e assim, se quiséssemos determinar como são formados os preços dos bens, deveríamos inicialmente listar todos os bens que são produzidos pela economia e todos os diferentes tipos de insumos que são utilizados, e considerarmos que, nas demandas e ofertas de cada um dos bens, todos os preços dos demais bens são importantes.

Desta forma, nota-se a necessidade de darmos um tratamento mais agregativo e empírico à análise econômica, sendo o objetivo maior da teoria macroeconômica analisar como são determinadas as variáveis econômicas de maneira agregada.

Se considerarmos uma economia fechada, ou seja, uma economia que não mantém relações com outros países, a Macroeconomia a observa como se ela fosse constituída por quatro mercados: O mercado de bens e serviços; o mercado de trabalho; o mercado monetário e de títulos, e o mercado cambial.

No mercado de bens e serviços, para tentar responder como se tem comportado o nível de atividades, efetua-se uma agregação de todos os bens produzidos pela economia durante um certo período de tempo e define-se o chamado produto nacional. Esse produto representa a agregação de todos os bens produzidos na economia. O preço desse produto, que representa uma média de todos os preços produzidos, é o chamado nível geral de preços. Observe-se que o nível geral de preços e o produto nacional representam entidades abstratas criadas pelos economistas.

De maneira semelhante, o mercado de trabalho também representa uma agregação de todos os tipos de trabalhos existentes na economia. Neste mercado, determinamos como se estabelece a taxa salarial e o nível de emprego.

Pode-se observar, que, a partir dessa agregação, a Teoria Macroeconômica esquece as características individuais de cada produto, bem como de cada tipo de trabalho. Evidentemente, caso de queira efetuar alguma desagregação, isso é possível. Poderíamos, por exemplo, destacar a produção dos chamados bens agrícolas dos bens industriais. Entretanto, a natureza básica da Macroeconomia é a discussão da economia em termos agregados.

Adicionalmente, discute-se o mercado monetário, pois a análise será desenvolvida numa economia cujas trocas são efetuadas utilizando-se sempre um elemento comum. Esse elemento comum é o que se conhece por moeda. É intuitivo perceber que, se as trocas utilizam sempre a moeda, ela deve ter alguma importância na determinação dos preços e quantidades produzidas.

Nas economias, existem agentes econômicos superavitários e agentes deficitários. Agentes superavitários são aqueles que possuem um nível de renda superior aos seus gastos e deficitários aqueles que possuem um nível de gastos superior ao da renda. Para tal, idealiza-se um mercado no qual os agentes superavitários emprestam para os deficitários, que é o mercado de títulos. Em qualquer economia, existe uma série de títulos que fazem essa função ( títulos do governo, ações, debêntures, duplicatas etc.). Entretanto a Macroeconomia, mais uma vez, agrega todos esses títulos e define um título

88

Page 89: Economia II

( tradicionalmente é representado por algum título do governo) e nesse mercado se procura determinar o preço e a quantidade de títulos.

Como a economia mantém transações com o resto do mundo, existem mercados de divisas ou de moeda estrangeira. A oferta de divisas depende das exportações e da entrada de capitais financeiros, enquanto a demanda de divisas é determinada pelo volume de importações e saídas de capital financeiros. A variável determinada nesse mercado é a taxa de câmbio, que é o preço da divisa, em termos de moeda nacional.

Assim, podemos resumir os objetivos da análise macroeconômica como sendo e de estudar como se determinam as seguintes variáveis agregadas: nível geral de preços, nível de produto, taxa de salários, nível de emprego, taxa de juros, quantidade de moeda, preço dos títulos e quantidade de títulos, taxa de câmbio e quantidade de divisas.

3 – EVOLUÇÃO DA TEORIA MACROECONÔMICA A Teoria Macroeconômica ganhou grande impulso, a partir da década de 30,

com Keynes, que inclusive é considerado seu fundador. Evidentemente, os economistas anteriores a Keynes sempre tiveram preocupações a respeito do desempenho da economia no seu agregado. Entretanto, a linha predominante dos economistas acreditava que as economias de mercado tinham a capacidade de, sem a interferência do governo, utilizar de maneira eficiente todos os recursos disponíveis, ou seja, produzir a nível de pleno emprego desses recursos.

A partir do momento que as economias tivessem esta capacidade, o nível de produto e de emprego já estariam determinados, representando a efetiva disponibilidade de recursos. Assim, duas das principais variáveis que a Teoria Macroeconômica tinha por objetivo analisar já estariam determinadas.

Dessa forma, as principais variáveis objeto da Macroeconomia resolviam-se de maneira muito fácil. Assim, a preocupação dos economistas voltava-se fundamentalmente para o desenvolvimento da Teoria Microeconômica.

Pode-se perceber o grau de insatisfação que existia naquela altura com tais resultados que a Macroeconomia oferecia, ou seja, a existência de uma tendência automática ao pleno emprego e consequentemente inexistência de desemprego dos trabalhadores. Isso porque a evidência empírica mostrava pessoas buscando constantemente emprego sem alcançarem sucesso.

Nesse ambiente, em 1936, surge outra teoria, com a publicação do livro Teoria Geral do Emprego, Juros e Moeda, elaborado por Jonh Maynard Keynes, que mostrava que contrariamente aos resultados apontados pela teoria neoclássica, as economias capitalistas não tinham a capacidade de promover automaticamente o pleno emprego. Assim, abria-se a oportunidade para a ação governamental, através de seus clássicos instrumentos de política econômica, para direcionar a economia rumo à utilização total dos recursos. Enquanto para os neoclássicos a ação governamental deveria restringir-se à produção dos chamados bens públicos ( como por exemplo, segurança, saúde, educação, etc.), a partir de Keynes, o governo tinha não apenas a oportunidade, mas também a necessidade de orientar sua política econômica no sentidos de promover a plena utilização dos recursos disponíveis da economia.

4 – MEDIDAS DA ATIVIDADE ECONÔMICA

89

Page 90: Economia II

Ao se medir produto nacional, o que se está tentando fazer é avaliar o desempenho da economia no sentido de satisfazer as necessidades da sociedade. Esse processo de avaliação pode, na verdade, ser feito de outras maneiras. Poder-se-ia, por exemplo, medir o desempenho da economia pelo número de falências e concordatas, ou pelo consumo de energia etc. De fato, estes outros indicadores são largamente utilizados como instrumentos auxiliares na tentativa de ter uma idéia do desempenho de uma economia num determinado período.

Ao optarmos por medir o desempenho econômico pelo produto nacional, estamos na verdade optando por medir esse desempenho por meio do valor total das transações feitas com bens finais durante um certo período de tempo.

Analisando um modelo simplificado de uma economia sem governo e sem transações com o exterior, teríamos dois agentes básicos que seriam as empresas e os indivíduos, sendo esta economia capitalista os agentes se relacionariam por meio dos mercados, da seguinte forma:- Os indivíduos vendem para as empresas no mercado de fatores de produção ( força de

trabalho, terra, recursos naturais, edificações, máquinas etc.), recebendo contrapartida monetária.

- As empresas vendem para os indivíduos no mercado de produtos bens e serviços de que necessitam, recebendo contrapartida monetária.

5 – RENDA E PRODUTOO modelo anterior é uma visão simplificada do funcionamento da economia.

Resta, ainda, responder à pergunta de como medir o desempenho dessa economia. As atividades no mercados de bens e de fatores são atividades contínuas, isto é, estão sendo realizadas continuamente no tempo, assim como num rio a água passa por um certo ponto continuamente. Para medirmos a atividade de um rio, o que se costuma fazer é medir a quantidade de água que passa por um certo ponto num determinado lapso de tempo. Essa atividade seria então medida em m3/h, isto, é metros cúbicos por hora.

Da mesma forma para medirmos a atividade de uma economia, poderíamos então medir o valor dos produtos finais transacionados no mercado de bens durante um certo período de tempo( por Ex. ano, semestre, trimestre, etc.), entretanto é importante que tenhamos períodos de referências homogêneos, a fim de que possamos fazer comparações com a atividade dessa economia em outras épocas e com outras economias.

Por outro lado, assim como decidimos medir o desempenho da economia pelo valor das transações realizadas no mercado de bens finais num determinado período, poderíamos também medir essa mesma atividade por meio do mercado de fatores. O total de pagamentos aos serviços dos fatores de produção contratados pelas empresas num determinado período de tempo serve também como medida de atividade dessa economia nesse período.

Resumindo, poderíamos então definir de uma maneira mais formal os conceitos de produto e renda nacional.

PRODUTO NACIONAL é o valor monetário de todos os bens finais produzidos numa economia num período de um ano.

RENDA NACIONAL é o valor total dos pagamentos feitos aos fatores de produção que foram utilizados para a obtenção desse produto.

6 – DESPESA NACIONAL

90

Page 91: Economia II

Despesa Nacional é o gasto dos agentes econômicos com o Produto Nacional. Revela quem são os setores compradores do produto nacional. Nesse sentido, apresenta o mesmo valor do produto nacional, só que medido pela ótica de quem comprou o produto, e não de quem vendeu.

Como o Produto Nacional, refere-se apenas às despesas com bens e serviços finais, excluindo as transações intermediárias ( já incorporadas nos produtos finais).

Temos então um resultado interessante, denominado identidade básica das contas nacionais, qual seja.

Produto Nacional = Renda Nacional = Despesa Nacional

7 – FORMAÇÃO DE CAPITAL: POUPANÇA E INVESTIMENTOConsiderando que as famílias não gastam toda a sua renda em bens de

consumo (elas também poupam para o futuro), e as empresas não produzem apenas bens de consumo, mas também bens de capital, que aumentarão a capacidade produtiva da economia. Isso nos conduz aos seguintes conceitos:- Poupança Agregada (S) – ( do inglês saving) – È a parcela da Renda Nacional (RN) que não é consumida no período, isto é: S = RN – C.

Onde C é o Consumo Agregado, sendo S a Poupança Agregada. Ou seja, de toda a renda recebida pelas famílias, na forma de salários, juros, aluguéis e lucros, a parcela que não for gasta em consumo num dado período é a poupança agregada, não importando o que será feito posteriormente com ela ( se fica embaixo do colchão, se é aplicada, se é transformada em investimento etc.). Poupança é o ato de não consumir no período, deixando para consumo futuro.

- Investimento Agregado (I) – É o gasto com bens que foram produzidos, mas não foram consumidos no período, e que aumentam a capacidade produtiva da economia para os períodos seguintes. O Investimento ( também chamado de Taxa de Acumulação do Capital) é composto pelo investimento em bens de capital (máquinas e imóveis) e pela variação de estoques de produtos que não foram consumidos. Os bens de capital são chamados, nas Contas Nacionais, de Formação Bruta de Capital Fixo.Tem-se então que: Investimento Total = Investimento em Bens de Capital + Variação de estoques

8 – OUTRAS MEDIDAS AGREGADAS

Além das medidas de renda nacional e produto nacional, existem outras derivadas dos mesmos conceitos básicos e que são largamente utilizadas.

1) Produto Nacional Bruto –PNB – Considera o total geral de bens e serviços finais produzidos pela economia.

2) Produto Nacional Líquido – PNL – Considera o total geral de bens e serviços finais produzidos pela economia, descontada a depreciação das máquinas e equipamentos utilizados no processo produtivo.

3) Produto Interno – PI – Considera o total geral de bens e serviços finais produzidos pela economia, descontada a renda líquida enviada ao

91

Page 92: Economia II

exterior ( pagamento dos fatores de produção utilizados no processo produtivo e que são de propriedade de residentes no exterior e os recebimentos de rendas de outros países oriundos de bens econômicos de propriedade de nacionais que tenham produção em outros países).

4) Produto Interno Bruto – PIB – É o total geral dos bens e serviços finais produzidos pela economia + o valor da renda líquida enviada ao exterior.

92