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ECONOMIA nOMEIO AMBIENTE Aloísio Ely I _1_1 Recursos Naturais .--------- I I I I I I I I I ~:I~I I 1-1_lal Reciclagem Resíduos Progresso Técnico e Econômico Comportamento dos agentes de produção e de consumo I I I ~!!!!!!!!!!!!!!!~ ! I-.- ---' ~!!!!!!!!!!!!! .•• !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!~. SECRETARIA DE COORDENAÇÃO E PLANEJAMENTO I :::J :::J :::J FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATI8TICA n :::J -, Siegfried Emanuel Heuser Ql'ALlDADE DO MFlü AMBIENTE Padrões de bem estar social 4!! EDlCÃO Porto Alegre, RS - 1990

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ECONOMIAnOMEIO

AMBIENTEAloísio Ely

I_1_1

Recursos Naturais

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1-1_lalReciclagem ResíduosProgresso Técnicoe Econômico

Comportamento dosagentes de produção

e de consumo

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I :::J :::J :::J FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATI8TICAn :::J -, Siegfried Emanuel Heuser

Ql'ALlDADE DO MFlü AMBIENTEPadrões de bem estar social

4!! EDlCÃO Porto Alegre, RS - 1990

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Não deixa de ser curioso comoo homem, na sua luta incessantepelo produzir e pelo reproduzirsocial, foi se alienando de sua pró-pria origem material, como se suasfaculdades superiores lhe assegu-rassem vôos independentes. A apre-ensão e o domínio da naturezalhe fizeram esquecer que o fazere o refazer se dão com ela que,como ele, também integra as foro'ças produtivas e, portanto, a estru-tura social. As intervenções na na-tureza, que lhe modificam a com-posição sem formas compensató-rias de restituir-lhe a funcionali-dade e o equilíbrio, terminam porcobrar seu preço, cujo limite má-ximo reside na própria possibili-dade da existência humana. Res-tituir funcionalidade e equilfbriosignifica dirigir trabalho para re-por, sob formas históricas especí-ficas, todas as subtrações que, aolongo dos anos, a natureza genero-samente se permitiu. Parece cadavez mais claro que, assim como oreproduzir social pressupõe o re-produzir humano, implica tam-bém o reproduzir da natureza. Épreciso que a natureza mantenhacertos predicados, mesmo na suametamorfose constante. Assim, pa-ra o homem. A unidade do mun-do se estriba em sua materialidade.

Este livro cuida desse aspectodo reproduzir social. E o faz deuma forma clara, simples, didáti-ca, de quem espera não ficar soli-tário no pioneirismo entre nós.Mais ainda, de quem vem para con-tribuir na formação da consciên-cia sobre o assunto e para mobili-zar capacidades em tomo de algoque, sem dúvida, vai ocupar, co-mo alhures, primeiro plano nasanálises e critérios de alocação derecursos. Veio em muito boa horae con tri bui singularmen te parauma nova visão social e técnica dasimbiose entre homem c natureza.

Claudio F. A ccurso

Teses publicadas pela FEE:

ALONSO, José Antonio Fialho(1984). Evolução das desigual-dades inter-regionais de rendainterna no RS - 1930-1970.furto Alegre, Fundação de Eco-nomia e Estatística. (Teses, 9).

AZEVEDO, Beatriz Regina Zagode (1985). A produção nãoca-pitalista - uma discussão teó-rica. Porto Alegre, Fundaçãode Economia e Estatística. (Te-ses, 10).

BENETTl, MariaDomingues(1985).Origem e formação do coope-rativismo empresarial no RS.Porto Alegre, Fundação deEconomia e Estatística. (Te-ses, 5).

BRUMER, Sara (1981). Estrutura.conduta e desempenho de mer-cado da indústria metal-mecâ-nica gaúcha - 1977. Porto Ale-gre, Fundação de Economia eEstatística. (Teses, 2).

CARRION, Rosinha (1984). Par-ticipação ou manipulação: umestudo de caso. Porto Alegre,Fundação de Economia e Es-tatística. (Teses, 8).

CONCEIÇÃO, Octávio Augusto(1984). A expansão da soja noRio Grande doSul- 1950-1'J75.furto Alegre, Fundação de Eco-nomia e Estatística. (Teses, 6).

CORAZZA, Gentil (1986). TeoriaEconômica e Estado (de Ques-nay a Keynes). Porto Alegre,Fundação de Economia e Es-tatística. (Teses, 11).

FISCHER, Sérgio (1982). Sériesunivariantes de tempo-metodo-logia de Box & Jenkins. PortoAlegre, Fundação de Economiae Estatística. (Teses, 4).

LENZ, Maria Heloisa(1983). Aca-tegoria econômica renda da ter-ra. Porto Alegre, Fundação deEconomia e Estatística. (Te-ses, 1).

PEREIRA, José Maria Dias (1984).A participação da alimentaçãona inflação brasileira nos anos70: uma contribuição ao deba-te. Porto Alegre, Fundação deEconomia e Estatística. (Te-ses,7).

TARGA Luiz Roberto Pccoits(I98:!). Ensaio sobre a totali-dade econômica. Porto Alegre,Fundação de Economia e Es-tatística. (Teses, 3).

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[FEE-GEDQC

SECRETARIA DE COORDENAÇÃO E PLANEJAMENTO

_J _l -J FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICAn "1 ~| Siegfrted Emanuel Heuwr

ECONOMIADO MEIO

AMBIENTEUMA APRECIAÇÃO INTRODUTÓRIAINTERDISCIPLINAR DA POLUIÇÃO,

ECOLOGIA E QUALIDADE AMBIENTAL

Aloísio Ely

4! EDIÇÃO

Porto Alegre, RS -1990

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E52 Ely, AloísioEconomia do meio ambiente: uma apreciação intro-

dutória interdisciplinar da poluição, ecologia e quali-dade ambiental. 3.ed. rev. ampl. Porto Alegre,Fundação de Economia e Estatística Siegfried EmanuelHeuser, 1988.

180p. ilust.1. Economia: Meio Ambiente. 2. Meio Ambiente:

Economia. L Fundação de Economia e EstatísticaSiegfried Emanuel Heuser. II. Título.

CDU: 33:577.4577.433

F E E - C E D O C. UC-TECA

Tiragem: l .000 exemplares Código: 4.028.01

Toda correspondência para esta publicação deverá ser endereçada à:FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICASiegfried Emanuel HeuserRua Duque de Caxias,1691 - 90.010 - Porto Alegre - RS

As opiniões emitidas neste trabalho não expressam, necessaria-mente, o ponto de vista da Fundação de Economia e EstatísticaSiegfried Emanuel Heuser.

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GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPedro Simon

Governador

SECRETARIA DE COORDENAÇÃO E PLANEJAMENTOTeimo Borba Magadan

Secretário

FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA

Siegfried Emanuel Heuser

CONSELHO DE PLANEJAMENTO: Presidenta: Wrana Maria Panizzi. Membros: Hélio Henkin,Gervásio Rodrigo Neves, Manoel Luzardo de Almeida, Achyles Barcelos da Costa, Nery SantosFilho, Derbi Bordin.

CONSELHO CURADOR: Armando Carlos Hennig, E liana Donatelli Del Mese, Darcy Braga Lages.

PRESIDENTA:

Wrana Maria Panizzi

DIRETOR TÉCNICO:

Rubens Soares de Lima

DIRETOR ADMINISTRATIVO:

Antônio César Gargioni Nery

CENTRO DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAISOctavio A. C. Conceição

CENTRO DE CONTABILIDADE SOCIAL E INDICADORESAdalberto Alves Maia Neto

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃOMarilene Brunel Ludwig

CENTRO DE PROCESSAMENTO DE DADOSNilson Henrique Elias

CENTRO DE EDITORAÇÃOElisabeth Kurtz Marques

CENTRO DE RECURSOSNora Ângela Gundlach Kraemer

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Para Mariana e Daniela, bem como para todas asgerações futuras, esta obra seja um argumento de fé ede esperança de que as mudanças sócio-econômicaspromoverão a melhoria da qualidade do meio ambien-te deste planeta Terra fmito que cada um de nós aju-dou a poluir de uma forma ou de outra.

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FEE-CEDOC

PREFÁCIO DA TERCEIRA EDIÇÃO

A ciência do meio ambiente, em particular a economia ambiental, continuaembrionária na literatura brasileira, apesar da forte demanda institucional por essesconhecimentos. A FEE lançou.com pioneirismo nacional, a primeira edição deste li-vro na primavera de 1986, foi necessária uma segunda edição no início de 1987, aqual se esgotou no final do mesmo ano.

O interesse demonstrado pelo assunto estimulou-nos para ampliar a terceiraedição, introduzindo um capítulo sobre a política do meio ambiente no Brasil. Essecapítulo — Política do Meio Ambiente: Fundamentos e Princípios — induz a umareflexão normativa sobre os princípios que devem orientar a formulação de umapolítica ambiental nacional, que englobe as esferas regional, estaduá e municipal,servindo como marco de referência teórica para uma ação política efetiva e para oplanejamento com vistas à promoção e à melhoria da qualidade do meio ambiente.

Fatos da maior relevância na história ambiental brasileira registraram-se desdea primeira edição. A questão ambiental foi incorporada, pela primeira vez na histó-ria, do planejamento do País através do I Plano Nacional de Desenvolvimento daNova República 1986-89, que reservou um capítulo especial para o meio ambiente.Esse foi substituído pelo Plano de Ação do Governo 1987-91 (PAG) em 1987, oqual deu ainda maior destaque ao meio ambiente, chegando a definir uma políticaambiental brasileira, explicitando objetivos, diretrizes políticas, metas e dotaçõesorçamentárias para os correspondentes programas e projetos ambientais seleciona-dos dentro de um critério de prioridades nacionais.

Entretanto consideramos a Resolução n9 01/86 do Conselho Nacional doMeio Ambiente (CONAMA) o avanço mais significativo e de maior relevância para apreservação e melhoria da qualidade do meio ambiente no Brasil. A ResoluçãoCONAMA n9 01/86, como um instrumento de ação política, é, sem dúvida, o mar-co de referência, sem similar nacional, que, na prática, representa um freio à genera-lizada degradação ambiental neste País. Trata-se de um forte dispositivo jurídico einstitucional para o controle do meio ambiente no Brasil. Essa Resolução impõeuma análise de Estudos do Impacto Ambiental (EIA), bem como pareceres técnicose Relatórios de Impacto do Meio Ambiente (RIMA) para todos os programas e pro-jetos significativos, sejam eles da iniciativa do setor privado ou do setor público.

A integração e a interdisciplinariedade institucionais e científicas não são sóquestões intrínsecas dos EIA/RIMA, pois é uma exigência legal que esses sejam ela-borados por uma equipe integrada e interdisciplinar. Essa exigência surpreendeu omundo científico e institucional brasileiro, totalmente despreparado para atendê-la.O caos decorrente da não-integração da produção científica na Universidade brasi-leira é uma realidade, bem como é caótica a situação da não-integração institucionalentre os órgãos públicos e privados que fazem prática científica. Vemos, na Resolu-

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cão CONAMA n° 01/88, um grande mérito a curto e médio prazos, pois a mesmaforçará uma mudança de mentalidade para uma maior integração científica e insti-tucional, evitando incalculáveis desperdícios no atual sistema de fazer e refazer ascoisas, com substanciais benefícios para a sociedade brasileira. Além disso, a mesmaresolução abre um amplo mercado para todas as classes profissionais, inclusive paraos economistas e sociólogos brasileiros. Isto significa uma imediata ação de treina-mento e atualização profissional, principalmente no que diz respeito à integraçãocientífica e institucional. Todos os profissionais, sejam eles cientistas, políticos, go-vernantes ou empresários, terão que romper com suas "cercas corporativistas" eaprender o "esperanto científico", se sentar numa mesa redonda, colocando ohomem como o centro de suas preocupações e atenções, falando a mesma lingua-gem, para viabilizar um mínimo de entendimento e comunicação. O economistabrasileiro, em particular, tem uma parcela importante para contribuir nesse universoharmônico, sem o qual a qualidade do meio ambiente encontra pouco espaço paraavançar. O bem-estar coletivo depende do prazer de viver de cada cidadão e do nívelda qualidade ambiental que este constrói e desfruta no seu dia-a-dia. Esperamos quea Constituinte e a futura Constituição garantam esses direitos naturais básicos para asociedade brasileira e para o cidadão em particular.

Porto Alegre, agosto de 1988AloísioEly

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PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO

Os atuais e crescentes interesses e preocupações em torno da questão ambien-tal vêm redimir e redimensionar a persistente ação agressiva do homem na degrada-ção ecológica do passado para um maior respeito e convivência harmônica com a na-tureza. Embora existam muitos comentaristas de ecologia e do meio ambiente, há,contudo, poucos especialistas. Na área econômica, virtualmente nada existe publica-do em português — com exceção de alguns artigos — que possa atender ao espíritoda interdisciplinaridade do meio ambiente. As disciplinas de política e economia domeio ambiente continuam excluídas do "curriculum" nos cursos brasileiros de eco-nomia, fazendo com que o profissional de economia sequer receba uma mensagemsobre a ecologia e o meio ambiente. Isso, além de lamentável, é uma prova do quan-to a universidade brasileira está desligada da sua realidade sócio-econômica. Nessecontexto, o que se pode esperar dos economistas e planejadores quando da elabora-ção de planos e propostas de desenvolvimento, na formulação e avaliação de políti-cas que realisticamente irão confrontar-se com os problemas sérios da poluição e de-gradação da qualidade ambiental?

Os estudos e pesquisas do meio ambiente vêm recebendo uma atenção crescen-te, principalmente nos países desenvolvidos. Eles englobam interesses interdisciplina-res das ciências biológicas, exatas e sociais. Existem excelentes livros disponíveis naliteratura estrangeira, bem como periódicos especializados nos diferentes camposcientíficos. Todavia a literatura ambiental na língua portuguesa é incipiente, em es-pecial na área das Ciências Econômicas. Preencher parte dessa vital lacuna do conhe-cimento estimulou-nos a elaborar esta introdução e abordagem conceituai sobre aeconomia do meio ambiente. Não se trata de um texto puramente acadêmico, masvisa a um público mais amplo, estudantes e profissionais interessados na questão domeio ambiente. Embora o texto seja dimensionado para a disciplina de economia domeio ambiente — como uma contribuição conceituai e introdutória -, procuramossubstituir o "economês" por uma linguagem interdisciplinar mais universal.

O meio ambiente é, por definição, uma temática interdisciplinar, e, como tal,ela está preocupada com o bem-estar do homem. Nossa preocupação no transcursodeste texto, às vezes intencionalmente repetitivo, é colocar o homem no centro detodas as atenções. E este, entendemos, deve ser o comportamento do mundo cientí-fico, cujo esforço deve estar voltado para o homem. Assim, o espírito do trabalhoprocura deixar claro que existe a necessidade de um esforço interdisciplinar requeri-do pelos problemas reais da nossa sociedade. Mesmo que a nível teórico se justifiqueuma estrutura científica departamental, na prática, contudo, quando se trata daciência aplicada, não há como encontrar soluções sem uma visão interdisciplinar.Nesse sentido, a Economia tem uma importante contribuição para dar.

Outra idéia transparente ao longo dos capítulos é a necessidade de se organi-zar um sistema econômico compatível com os ecossistemas para que seja possíveluma sociedade mais humana, justa e estável.

O livro está dividido em oito capítulos. O Capítulo l - Aspectos Concei-tuais — apresenta alguns conceitos fundamentais da ciência do meio ambiente, incluin-do a Economia e a ecologia. No Capítulo 2 — Considerações sobre Ecologia — são

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tratadas noções básicas de ecologia, como também se dimensiona um paralelo entrea Economia e a ecologia. Por sua vez, o Capítulo 3 - Problemas, Causas e Fontes daPoluição Ambiental — discute os principais problemas da poluição, suas causas eefeitos. Esse capítulo inclui, também, a dimensão econômica da poluição. O Capítu-lo 4 — A Questão Ambiental e o Pensamento Econômico — apresenta um resumodas principais correntes do pensamento ambiental. Já no Capítulo 5 — Os SistemasEconômicos e o Meio Ambiente —, procuramos interpretar o meio ambiente comoum recurso e um serviço num sistema econômico, além de interpretar o conceito desistemas, desenvolvendo algumas características de um sistema econômico nos senti-dos restrito e amplo do seu significado. Esse capítulo inclui modelos de inter-rela-ções, tais como o Modelo do Balanço de Matéria (MBM) e os Modelos dos Professo-res Forrester e Meadows (MFM). No Capítulo 6-0 Sistema de Livre Mercado e oMeio Ambiente - procuramos analisar aspectos das falhas do mercado capitalista esuas implicações num sistema econômico. O Capítulo 7 - Níveis e Tendências daQualidade Ambiental - apresenta algumas tendências e experiências de controle dapoluição nos Estados Unidos e na Inglaterra. Finalmente no Capítulo 8 — Pensandono Futuro: Considerações e Especulações sobre o Controle Ambiental — fazemos al-gumas especulações em torno da questão ambiental e propomos uma nova ordemeconômica internacional e nacional para a organização de um sistema econômico.

É oportuno registrar que este trabalho não é fruto exclusivo do autor, apesarde as opiniões e interpretações nele emitidas serem de sua inteira responsabilidade.Queremos agradecer à Fundação de Economia e Estatística e ao Governo do Estadodo Rio Grande do Sul, através de sua Secretaria de Coordenação e Planejamento,bem como à Universidade Federal do Rio Grande dó Sul que nos deram o supor-te financeiro indispensável, na qualidade de bolsista, para desenvolver o nosso pro-grama de doutoramento na Universidade de Reading, na Inglaterra. Essa extraordi-nária oportunidade viabilizou nossa pesquisa e o desenvolvimento dos conhecimen-tos nessa fronteira científica das ciências ambientais, cujo tema, além de desafiante,nos estimula e nos apaixona pelo seu conteúdo humanístico, pela certeza que temosdos benefícios transferidos às gerações futuras. Em particular, ficamos gratos ao De-partment of Environment, do Ministério do Governo Inglês, responsável pela admi-nistração, planejamento e coordenação da qualidade ambiental na Inglaterra, quenos franqueou, sem restrições, o uso de sua riquíssima biblioteca interdisciplinar,em particular seu acervo de periódicos, acima de 2.500 títulos. Devemos tambémagradecimentos ao nosso orientador da Universidade de Reading, Mr. David Anseln,por sua paciência, sabedoria e estímulos a nosso trabalho de pesquisa.

Agradecemos, ainda, à Direção da Fundação de Economia e Estatística, ondedesenvolvemos nossas atividades profissionais, pelo apoio logístico em viabilizar aeditoração deste trabalho. Aos colegas, Economistas Duílio de Ávila Bérni da FEEe Eugênio M. Cánepa da CIENTEC, agradecemos as críticas objetivas indispensáveispara melhorar a qualidade técnica deste trabalho. Agradecemos, também, a todosaqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a publicação deste texto.Uma especial gratidão ao reconhecido cientista social, Economista Iguacy Sachs,que nos soube sensibilizar, motivar, bem como convencer de que o estudo sobre aqualidade do meio ambiente é uma grande idéia: ela é boa para ti, para mim, paranós todos, assim como para as Ciências Econômicas.

Aloísio Ely

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS

l^ ASPECTOS CONCEITUAIS 3-17

1.1 — Conceito do meio ambiente 31.2 — A ciência do meio ambiente e a Economia 4l .3 — Conceito econômico do meio ambiente 81.4 — Economia ambiental e disciplinas auxiliares 111.5 — O homem e o meio ambiente 131.6 — 0 problema da economia e do meio ambiente 14

2- CONSIDERAÇÕES SOBRE ECOLOGIA 19-45

2.1.— Conceito e natureza da ecologia 202.2 - Ecossistemas 22

2.2.1 — Conceito de ecossistema 222.2.2 — Os ciclos naturais do meio ambiente 262.2.3 — Cadeia e rede alimentar 31

2.3 — Produtividade do ecossistema 362.4 — Estabilidade do ecossistema 382.5 — A poluição e a estabilidade do ecossistema 392.6 — Economia, ecologia e política 41

3- PROBLEMAS, CAUSAS E FONTES DA POLUIÇÃO AM-BIENTAL 47-70

3.1 - O que é poluição? 473.2 — O homem poluidor e produtor de resíduos 493.3 — Fontes e causas da poluição ambiental 53

3.3.1 — Fontes da poluição 533.3.2 — Causas globais da poluição 573.3.3 — Os efeitos biológicos da poluição 62

3.4 — "Flash" histórico dos problemas ambientais 633.5 — A dimensão econômica da poluição 643.6 — Os ganhadores e perdedores com a poluição 67

4- A QUESTÃO AMBIENTAL E O PENSAMENTO ECONÔMICO . 71-77

4.1 — Escola pessimista 724.2 — Escola minimalista 734.3 - Escola coletivista (socialista) 73

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4.4 — Escola de crescimento zero 744.5 — Escola da austeridade 764.6 — Escola de prioridades públicas 76

5- OS SISTEMAS ECONÔMICOS E O MEIO AMBIENTE 79-95

5.1 — O meio ambiente como um recurso escasso 795.2 — Serviço do meio ambiente 805.3 — Uma visão do sistema econômico 815.4 — Os significados restrito e amplo do sistema econômico . . 835.5 - O Modelo do Balanço de Matéria (MBM) 84

5.5.1 - O MBM simplicado 845.5.2 - O MBM esquematizado 86

5 . 6 - 0 Modelo de Forrester e Meadows (MFM) 89

6- O SISTEMA DE LIVRE MERCADO E O MEIO AMBIENTE . . 97-111

6.1 — A função do mercado e dos preços 986.2 - O meio ambiente e as externalidades 1026.3 - O meio ambiente, produção e consumo 1046.4 — O meio ambiente e o bem-estar: os custos e benefícios

privados sociais 1056.5 — As falhas de mercado e o meio ambiente 105

6.5. l - Falhas do mercado e o direito da propriedade . 1066.5.2 — Falhas do mercado e bens coletivos 1086.5.3 — Falhas do mercado e o Estado 109

7- NÍVEIS E TENDÊNCIAS DA QUALIDADE AMBIENTAL . . . 113-129

7.1 — Casos de melhoramento da qualidade ambiental 1167.1.1 — O caso das águas de Nova Iorque 1167.1.2 — Algumas tendências da qualidade do ar nos Es-

tados Unidos 1187.1.3 — Tendências da qualidade do ar e água na Ingla-

terra 1217.2 — Casos de deterioração da qualidade ambiental 123

7.2.1 — Uma visão alternativa da qualidade do ar urbano . 1237.2.2 — Tendências da poluição do chumbo 1247.2.3 — Acumulação de resíduos sólidos 1267.2.4 - Deterioração do meio ambiente social e psicoló-

gico 128

8- POLÍTICA DO MEIO AMBIENTE: FUNDAMENTOS E PRIN-CÍPIOS 131-157

8.1 - Introdução 1318.1.1 — Fundamentos da política ambiental 1318.1.2 — Princípios para diretrizes e estratégias ambientais 132

8.2 — Problemas do meio ambiente 1348.2.1 — Problemas e causas globais 1348.2.2 — Problemas ambientais locais 137

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8.3 — Diretrizes e estratégias ambientais 1388.3.1 - Diretriz geral: desenvolvimento sustentado . . . 1388.3.2 - Diretrizes setoriais 1398.3.3 — Diretrizes para recursos naturais 143

8.4 - Prioridades 1438.4.1 — Prioridades regionais e locais 1448.4.2 - Ações emergenciais setoriais 146

8.5 — Estratégias de implantação 1478.6 - Resumo de mecanismos e instrumentos de políticas am-

bientais com base em Baumol e Oates 1488.7 — Política ambiental no Brasil 150

8.7.1 — Aspectos institucionais 1508.7.2 - Base legal 1528.7.3 — Ação política e planejamento ambiental 152

9- PENSANDO NO FUTURO: CONSIDERAÇÕES E ESPECULA-ÇÕES SOBRE O CONTROLE AMBIENTAL 159-166

9.1 — Perspectivas futuras 1619.2 — Uma nova ordem econômica 163

ANEXO - ONU: DECLARAÇÃO SOBRE O AMBIENTE HUMANO . 167

BIBLIOGRAFIA 173

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LISTA DE FIGURAS

Figura l — O ciclo da biosfera 27Figura 2 — 0 ciclo aquático (hidrológico) 28Figura 3 — 0 ciclo do nitrogênio 30Figura 4 — 0 ciclo do oxigênio e do dióxido de carbono 31Figura 5 — Cadeia alimentar linear simplificada na terra 32Figura 6 — Cadeia alimentar simplificada na água 32Figura 7 — Pirâmide dos números numa cadeia alimentar 33Figura 8 — Teia ou rede alimentar na terra 34Figura 9 - Cadeia aliment." natural africana 35Figura 10 — Hierarquia e prioridades de objetivos e metas nacionais . . . . 42Figura 11 — Esquema analítico entre sistema natural e sistema econômico . 52Figura 12 - Fontes de materiais residuais no meio ambiente 54Figura 13 — Os significados amplo e restrito do sistema econômico 83Figura 14 — O MBM simplificado 85Figura 15 — Retrato esquematizado do MBM e o fluxo da matéria 87Figura 1 6 — 0 sistema de produção na concepção do MFM 90Figura 17 — Relações demográficas no MFM 92Figura 18 — O MFM completo 94Figura 19 — Os efeitos ambientais no sistema de produção 104Figura 20 - Médias móveis de cinco anos de oxigênio dissolvido anual-

mente para os principais rios da bacia hidrográfica de NovaIorque - 1910-75 117

Figura 21 — Partículas de matérias para cinco distritos da Cidade de NovaIorque - 1940-75 118

Figura 22 — Qualidade doareSO2 para seis cidades americanas—1967-72 . 119Figura 23 — Registro do número de horas-sol-dia no inverno — 1946-75 . . 121Figura 24 — Percentagem de saturação do oxigênio dissolvido na água do

RioThames- 1930-39,1954 e 1969 122Figura 25 — Concentrações de monóxido de carbono na Cidade de Nova

Iorque - 1958-76 124Figura 26 — Poluição industrial do chumbo em Camp Century na Green-

land - 800 a.c.-1950 125Figura 27 — Evolução dos resíduos sólidos depositados nos arredores da

Cidade de Cincinnati - Ohio - 1931-75 127

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FEE-CEüOG

l - ASPECTOS CONCEITUAIS

Um conceito bem definido é meio caminho andado. Uma precisa defi-nição conceituai e operacional, além de necessária para uma interpreta-ção univoca, evita prolongadas e desgastantes discussões improdutivas.

Talvez pela imprecisão terminológica, o meio ambiente tornou-seum assunto polêmico e não raras vezes vem sendo confundido com a eco-logia, biologia ou mesmo com a imagem da natureza. Faz parte deste ca-pítulo a definição, discussão e interpretação de alguns termos relevan-tes à economia do meio ambiente.

1.1 — Conceito do meio ambienteEmbora existam várias interpretações do meio ambiente, pois são

muitos os autores que vêm abordando este assunto, com enfoques cientí-ficos diferentes, há uma concordância unânime quanto ao significado eà amplitude do termo: sua abrangência e interdisciplinaridade. Gilpin(1976, p. 51) define o meio ambiente como: "Todo o meio exterior ao or-ganismo que afeta o seu integral desenvolvimento".

O meio ambiente contém três elementos-chaves, a saber:

a) meio exterior: significa que o meio ambiente é tudo aquilo quecerca um organismo (o homem é um organismo vivo), seja o físi-co (água, ar, terra, bens tangíveis feitos pelo homem), seja osocial (valores culturais, hábitos, costumes, crenças), seja opsíquico (sentimentos do homem e suas expectativas, segurança,angústia, estabilidade);

b) organismo: o conceito não especifica o organismo, mas trata dosorganismos bióticos (vivos), tais como as plantas e animais,entre os quais se destaca o homem;

c) integral desenvolvimento: os meios físico, social e psíquicosão que os dão as condições interdependentes necessárias e su-ficientes para que o organismo vivo (planta ou animal) se de-senvolva na sua plenitude, sob o ponto de vista biológico, so-cial e psíquico.

O homem, como um organismo vivo, só pode desenvolver-se integral-mente quando convive num ambiente sadio. A ação poluidora do homem éum suicídio, pois ele destrói e degrada o próprio meio onde encontra ascondições para se desenvolver biológica, social e psiquicamente. Todavez que a ação do homem deteriora seu meio ambiente ao ponto de compro-meter o seu integral desenvolvimento, cria-se um problema de qualidadeambiental que só o próprio homem pode resolver.

Conforme o conceito acima, o meio ambiente efetivo é todo o meioexterior ao ser vivo. Esse meio exterior inclui os fatores abióticos(não vivos) da terra: água, atmosfera, clima, sons, odores e gostos; os

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fatores bióticos dos animais, plantas, bactérias e vírus; os fatoressociais de estética e os fatores culturais e psicológicos.

O caráter de integração e interdisciplinaridade dá ao meio ambien-te uma imagem totalista, sistêmica e abrangente. No meio ambiente cabepraticamente tudo: o físico, o social e o psicológico que acompanham aevolução do homem no seu dia-a-dia. Assim, a idéia da interdisciplina-ridade e interdependência sistêmica do meio ambiente fica bastante evi-denciada. Isso sugere que toda e qualquer tentativa para soluções práti-cas aos problemas do homem deve receber um tratamento interdisciplinare global. Além de tudo, o homem é o centro de todas as ações- e aconte-cimentos no planeta Terra.

1.2 — A ciência do meio ambiente e a EconomiaO caráter da interdisciplinaridade científica é, talvez, a questão

mais importante da ciência do meio ambiente que se preocupa com as cau-sas e com os efeitos das relações interdependentes de tudo aquilo quecerca e afeta o desenvolvimento do homem para que este obtenha a suaplenitude biológica, sociológica e psicológica. Essa ciência vem cres-cendo em importância na medida em que o homem se convence de que qual-quer solução prática para os seus problemas requer um tratamento in-terdisciplinar. Assim, como qualquer outra ciência, a Economia tem umaimportante contribuição a dar para a melhoria da qualidade do meio am-biente e, conseqüentemente, para que o homem construa seu meio de for-ma a que possa encontrar todas as condições físicas, biológicas, so-ciais e psicológicas para desenvolver-se integralmente.

A ciência do meio ambiente já está consolidada no mundo científi-co, e sua importância é destacada pelo sistema de educação formal nospaíses desenvolvidos, onde é matéria obrigatória nos cursos secundáriose universitários. O cidadão recebe uma adequada educação ambiental queo conscientiza da importância e da influência da qualidade ambiental.Esse é o passo mais importante que uma sociedade pode dar em prol deuma melhoria na qualidade de vida. Lamentavelmente, nos países em viade desenvolvimento, apesar de sua crescente manifestação ecológica, asescolas ainda desconhecem a disciplina do meio ambiente.

Uma das principais características do meio ambiente diz respeitoao princípio e ao caráter interdisciplinar que a coloca como uma ciên-cia integradora das demais ciências, quando sua principal preocupaçãoé a qualidade de vida do cidadão. É o que realmente importa para umasociedade estável e pacífica. O mundo científico busca uma consolida-ção integrada através da ciência do meio ambiente, onde cada ciênciaindividual tem uma importante contribuição para o aprimoramento da qua-lidade do meio ambiente e, conseqüentemente, para a melhoria da quali-dade de vida. Isso vem confirmar que o esforço do homem para o desen-volvimento científico, seja através das ciências exatas, seja atravésdas ciências biológicas ou das agrárias e humanísticas, etc., tem ape-nas uma razão de ser: contribuir para a melhoria de vida e bem-estar so-cial do homem. É nesse contexto que cresce a importância do papel daciência do meio ambiente no esforço do homem de integrar e consolidaro mundo científico para a mais digna aspiração humana. A qualidade do

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meio ambiente é, portanto, não uma questão exclusiva de ecologistas,biologistas ou conservanionistas. Ela é igualmente importante para ofísico, o matemático, o engenheiro, o médico, o agrônomo, o jurista, osociólogo, o político, o economista, etc. Não existem soluções puramen-te ecológicas, biológicas, jurídicas, agronômicas ou políticas, pois omeio ambiente, além de seu físico (solo, água, ar), também é social epsíquico e está inserido numa estrutura político-econômico-social. Omundo que cerca o homem é um mundo complexo, onde o físico, o so-

. ciai e o psíquico se integram e constituem o ambiente no qual elese desenvolve.

A tomada de decisão para uma eficiente alocação dos recursos nu-ma sociedade já ultrapassa as fronteiras puramente econômicas, pois nemtudo que é econômico necessariamente é bom para a sociedade e para ohomem. De outro lado, nem tudo pode ser conservado, pois os recursosdevem ser usados para satisfazer as crescentes necessidades humanas.Entre os extremos — de um lado, a viabilidade econômica e, de outro, aconservação absoluta dos recursos naturais —, existe um amplo espaçopara uma adequação tecnológica e econômica e uma adequação racionalde consumo, para o qual a ciência do meio ambiente pode sugerir solu-ções eficientes num esforço interdisciplinar das ciências para a melho-ria da qualidade do meio ambiente. A deterioração desta qualidade nãoé puramente um fenômeno de poluição física do solo, das águas, do ar,do resíduo, mas sobretudo a poluição social e psíquica. Por exemplo, ocongestionamento urbano e os cinturões da miséria metropolitana levamao "stress", à instabilidade e à desintegração social. Isso caracteri-za um ambiente de desintegração ao invés de integração social e, natu-ralmente, é uma resultante do sistema econômico-político maior entre asrelações de produção e de consumo da sociedade moderna.

Vale a pena registrar aqui que é profunda a nossa ignorância so-bre uma visão global do meio ambiente, como se deveria proceder e comonos afeta. Até a década passada, a visão do meio ambiente restringia-sea problemas locais, particularmente se tratando de problemas físicos,tais como a poluição das águas, do ar e da terra, problemas estes quesão de soluções relativamente fáceis. Porém, a própria experiência e oconceito de meio ambiente ensinam ao homem que existe um só meio ambi-ente global para trabalhar, estudar e pesquisar. Nesse contexto, a vi-são de sistema global, de como é constituído o meio ambiente, é de vi-tal importância para promover a melhoria da qualidade de vida. Assim, aação do homem através das relações de produção e de consumo afeta con-comitantemente a integração dos sistemas ecológicos, biológicos, eco-nômicos e sócio-psicológicos.

A Terra é um sistema finito formado por uma complexidade de ecos-sistemas perfeitamente integrados. Ela é uma só. As necessidades huma-nas crescem em função da explosão geométrica da sua população e dosajustamentos às mudanças tecnológicas de produção e da evolução e docomportamento social do consumo. Isso significa uma ação humana ultra-dinâmica na tomada de decisões para combinar os recursos escassos noseu melhor uso alternativo.

O problema central da economia é buscar alternativas eficientespara alocar os recursos escassos da sociedade. O meio ambiente é um re-curso escasso como qualquer outro na concepção do economista.

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Na medida em que a ação do homem avança tecnologicamente e a po-pulação se multiplica a taxas geométricas (características dos paísespobres, em particular das populações de baixa renda), jogando crescen-tes resíduos agrícolas, industriais e urbanos no ar, na água e nos so-los, poluindo o seu meio físico, social e psíquico, o meio ambientetorna-se cada vez mais escasso ao ponto de o planeta Terra se tornarinabitável, ficando comprometida a relação sócio-psicológica da socie-dade. É exatamente nesta crescente escassez do recurso meio ambienteque a Economia, como uma ciência, pode e tem condições de dar sua re-levante contribuição na busca e na melhoria da qualidade de vida.

Como já se afirmou, não existem soluções parciais para o meio am-biente e não cabe ao economista as apresentar isoladamente. Mas, dentroda visão interdisciplinar, a economia pode dar o seu recado. Isso ficamuito claro por uma simples analogia: a natureza não polui, é o "homosapiens" quem polui. O homem, pelo seu comportamento animal, faz partedo sistema natural que, pelo ciclo vida e morte, tem uma capacidade ex-traordinária de produzir resíduos (plantas e animais mortos) e trans-formá-los, por um processo de reciclagem (decomposição orgânica), em no-vas formas de vida vegetal e animal. Apesar de produzir resíduos em es-cala incalculável, a natureza é incapaz de poluir o meio ambiente, poisreintegra totalmente os resíduos à dinâmica do ciclo produtivo. Está aíuma lição fundamental da natureza que parece merecer uma maior atençãona organização político-econômica do "homo sapiens" — a persistir naprodução de crescentes resíduos, através da sua irracional e inadequa-da estrutura de produção e de consumo. Como o homem usa tecnologias nãoadequadas, padrões não adequados de consumo, produz uma exagerada po-luição — degradando o meio ambiente — por falta absoluta de reciclagemdos resíduos e por falta de respeito à capacidade de absorção destes pe-lo meio ambiente. Por isso, diz-se que a poluição é uma conseqüêncialógica da ação do homem na sua irracionalidade produtiva e na sua ir-racionalidade de consumo que é determinado pelo sistema político-eco-nômico-social vigente. Aqui nasce o mais simples e básico princípio pa-ra o economista ambiental: a melhoria de qualidade ambiental está di-retamente correlacionada ao aproveitamento dos resíduos decorrentes daprodução e do consumo. Em outras palavras, se o"homo sapiens" reciclas-se todos os seus resíduos, tal como a natureza procede, a sociedade mo-derna estaria livre da poluição.

Para aqueles de compromisso neutro, ideológica e politicamente, areceita e a solução do problema ambiental, sob o ponto de vista sócio--econômico, são simples: elas se baseiam na reciclagem dos resíduosproduzidos pelo homem através das relações tecnológicas adequadas deprodução e estrutura adequada de consumo. Logicamente, para alcançar es-ses parâmetros, a sociedade obrigatoriamente terá que optar por uma no-va ordem econômico-social, isto é, mudanças na organização político--econômica que levariam a uma adequação tecnológica e' de consumo. Osprincípios que regem a estrutura político-econômica da sociedade mo-derna são princípios poluidores. Nessa sociedade não há lugar para me-lhoria de qualidade de vida, a não ser que haja.mudanças político-so-ciais que permitam uma nova ordem econômica na adequação tecnológica ena do consumo.

O que é importante frisar aqui é que a sociedade moderna deveriapreocupar-se mais com o lixo que produz, reciclando-o e incorporando-o

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FEE-CEDOG

ao sistema como fontes alternativas de energia e matérias-primas, talqual acontece com a natureza. Por isso é difícil imaginar (mais difícilé acontecer) uma sociedade estável, pacífica e de pleno emprego de re-cursos. Trata-se da sociedade capitalista, caracterizada pela instabi-lidade de ciclos e pela quebra de sistemas ecológicos,fenômeno eviden-ciado principalmente no Terceiro Mundo. É uma sociedade em confrontocom a natureza. Lamentavelmente, o homem moderno não quer assimilar ascoisas mais simples, óbvias, que a natureza lhe ensina: transformar sempoluir.

A questão econômica de importância, em contraste com a ecológica,não é só produzir e consumir economicamente, alocando recursos escas-sos de uma sociedade, mas sim utilizar os recursos desta sociedade detal forma que minimize a depredação dos recursos naturais e a deterio-ração da qualidade do meio ambiente. Até recentemsnte, os recursos na-turais eram explorados sem maiores restrições, e os resíduos da produ-ção e do consumo eram descartados livremente no ar, na água e no solo.Os recursos naturais eram considerados não exauríveis, porque muitosdeles tinham capacidade de auto-regeneração. Há pouco,foi observado ereconhecido que o processo de auto-regeneração é algo lento e muito com-plicado; se alguns recursos naturais são superexplorados, o estoquecairá rapidamente, podendo levar à completa destruição. Também estáevidenciado que o ar, a água e a terra têm capacidade limitada para ab-sorver e assimilar o lixo humano. E, finalmente, há o reconhecimentocientífico universal de que medidas de controle de poluição precisamsalvaguardar a qualidade do meio ambiente e a qualidade da vida humana.

Por isso é importante, para manter uma sociedade estável e sadia,avaliar os custos e os benefícios sobre o meio ambiente de qualquertentativa ou processo de desenvolvimento. Em outras palavras, a socie-dade deve analisar os efeitos positivos e negativos sobre o meio ambi-ente de qualquer projeto que envolva a atividade humana na produção eno consumo. Isto parece ser uma tarefa extremamente difícil, pois al-guns efeitos ambientais podem ser identificados e analisados qualita-tivamente e outros não. Todavia não existe justificativa para que nãose faça uma avaliação econômico-social do impacto da atividade do ho-mem sobre o meio ambiente, utilizando-se processos alternativos. Só as-sim é possível evitar a depredação dos recursos naturais que também nãopodem ser usados como se fossem recursos livres ou sem preço no merca-do. Um bom sistema administrativo do meio ambiente deveria basear-se noprincípio de evitar a poluição em vez de despoluir. Isso é certamentemais apropriado do que os altos custos requeridos pelos investimentospara despoluir.

Certamente, é mais sábio prevenir do que remediar. Métodos preven-tivos são universalmente mais eficientes do que os curativos, principal-mente quando se trata de fenômenos irrecuperáveis e irreversíveis.

O centro do debate econôrnico-ambiental dos anos recentes diz res-peito aos custos da deterioração do meio ambiente e aos custos de con-trole ambiental. Para tal, a economia de mercado (sistema capitalista)e a economia de planejamento central (sistema socialista) precisam re-visar seus princípios para uma reorganização e reestruturação econômi-ca: o critério do respeito ecológico, como um princípio universal naorganização econômica, deve fazer-se presente em toda e qualquer ati-

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vidade do homem. Nesse sentido,a teoria do ecodesenvolvimento1, recente-mente consolidada, é uma proposta alternativa de desenvolvimento paraas relações dos problemas da degradação ambiental, onde a economia e aecologia se complementam, harmonizando-se na construção de uma socie-dade sustentável e estável.

A economia do meio ambiente é um importante ramo da Economia, poispermite discussões de problemas ambientais numa linguagem interdisci-plinar para a formulação de políticas econômicas e tomada de decisões.Em outras palavras, ela permite conjugar, com as demais ciências, preo-cupações ambientais concernentes à mais digna aspiração humana, istoé, a melhoria da qualidade de vida do homem. Dessa forma, sua importân-cia reside na contribuição da escolha de políticas, na adequação tec-nológica do sistema de produção e na adequação dos padrões do compor-tamento de consumo para a melhoria da qualidade do meio ambiente. Fi-nalmente, não é de todo infrutífero enfatizar que,se a organização só-cio-política da sociedade não for capaz de colocar a qualidade do meioambiente como prioridade nos seus objetivos básicos de desenvolvimen-to, a qualidade de vida da população, além de ficar ameaçada, não pas-sará de um sonho social.

1.3 — Conceito econômico do meio ambienteA existência da escassez é uma das mais marcantes características

do fenômeno econômico. As Ciências Econômicas vêm concentrando sua aten-ção na alocação ótima de recursos escassos, buscando maximizar a efi-ciência econômica e social.

A economia do meio ambiente é o ramo da Economia que estuda e sepreocupa com o meio ambiente no seu mais amplo sentido, isto é, o pro-blema da escolha material do homem e Ha -sociedade e o quanto estes es-tão relacionados com o físico, o socj.dl e o natural. Freeman III (1973,p. 19) escreveu que "(...) como economistas nós estamos interessadosnas influências externas da natureza global somente se estas afetam ohomem direta ou indiretamente". Por exemplo, o efeito da poluição do arna saúde humana é um efeito direto sobre o homem. Assim, isso reduzi-ria indiretamente o bem-estar daqueles que experimentam uma perda casoa floresta (flora) e a vida selvagem (fauna) sejam reduzidas ou des-truídas pela poluição do ar.

O ecodesenvolvimento é uma proposta alternativa de desenvolvimento bastante recente,que desde os meados da década de 70 vem produzindo uma expressiva literatura. A im-portância do ecodesenvolvimento é expressa pelo periódico trimestral EcodevelopmentNews (1985). Na língua inglesa, recomenda-se ver Riddell (1981), o resumo objetivoe direto de Cumming (1980), em particular Sachs (1978), um de seus mentores. Já exis-te alguma bibliografia disponível em português, destacando-se Sachs (1979 a e b e1983), Oasmann (1973) e Mayer (1984).

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A economia do rffeio ambiente vem crescendo em importância desde oinício da década de 70. Segundo Nijkamp (1981, p. 9), isso se deve, en-tre outras explicações, a duas razões básicas:

a) as externalidades e os custos sociais dos processos produtivosnão são incorporados pelas atividades econômicas. Do ponto devista da economia do bem-estar, seria interessante colocar eaplicar o conceito tradicional das externalidades, das econo-mias e das deseconomias externas;

b) os problemas da exaustão energética, resíduos nucleares, depre-dação de recursos naturais, poluição, etc. são de tamanha mag-nitude que a Economia tem que providenciar uma instrumentaçãoanalítica para enfrentar esses sérios problemas.

Durante a última década, a questão ambiental tem atraído um núme-ro crescente de economistas2 que não mediram esforços para desenvolverum instrumental analítico e operacional, teórico e prático. Assim, aeconomia do meio ambiente tem-se fundamentado num largo espectro devisões alternativas e tratamentos amparados em uma ampla gama de prin-cípios e métodos de outras ciências (item 1.4 —Economia ambiental edisciplinas auxiliares). A economia ambiental,pelo seu caráter cientí-fico abrangente, requer, na prática, um tratamento interdisciplinar.As soluções para os problemas ambientais devem ser concebidas numa vi-são totalista do conjunto em que o homem se inter-relaciona. Nesse sen-tido, a ciência do meio ambiente tem uma tarefa árdua de integrar oo mundo científico, considerando que este está estruturado num sistemadepartamental estanque. No momento, o esforço científico parece desen-volver-se para suas próprias necessidades, e não há preocupações maio-res por parte dos departamentos científicos atomizados em integrar-se.Essa é uma dura realidade dentro das universidades brasileiras.Talvez,para a pesquisa básica, seja razoável, mas para a pesquisa aplicada is-to é inadmissível. A integração científica inexiste entre os departa-mentos da mesma faculdade, por exemplo entre os cursos de Ciências Con-tábeis, Administração e Economia. A pergunta é como um contador, ad-ministrador ou um economista vai tratar isoladamente de uma empresadoente? A nível do Estado, os governos agem de forma pior ainda. Criamum "monstro" administrativo suportado por ministérios ou secretariasdesintegradas. A nível acadêmico e de aplicação científica, é precisocolocar o homem no centro das atenções e preocupações, e o desenvolvi-mento científico e a aplicação da ciência devem ser feitos para o bem--estar deste homem.

2São muitos os economistas que vêm contribuindo significativamente para o desenvol-vimento teórico da disciplina de economia ambiental. Entre eles destacamos alguns:Sachs (1979a, 1978); Kneese (1971, 1977); Mishan (1981, 1972) Nijkamp (1980); Sene-ca (1979); Jacoby 4 Pennance (1972); Pearce (1976); Boulding (1962, 1978); Ihjalte(1977); Freeman III (1973); Maler (1976); Bohm 4 Kneese (1971); Bohn (1973); Meade(1973); Meister (1977) e outros. Na língua portuguesa, praticamente está tudo por fa-zer. Até o momento, a melhor contribuição certamente é a de Araújo (1979). Além des-sa bibliografia, existe uma relação bibliográfica por assuntos em Ely (1983).

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Os economistas do meio ambiente já manifestaram publicamente quea economia não pode sozinha oferecer uma resposta final a todos os pro-blemas ambientais, uma vez que esses problemas em si levantam questõessobre a relevância dos valores sobre os quais as prescrições econômi-cas se baseiam. Existe uma relação entre a população e o seu global meioambiente que inclui o rural e o urbano, os oceanos, a atmosfera ter-restre e outros espaços. Como todos os elementos do sistema interagemde uma forma e outra (veja Capítulo 6), seria ideal e realista que o'sistema fosse diagnosticado, interpretado e administrado como um todo.Os economistas e outros cientistas sociais que queiram fazer prática so-cial e de desenvolvimento devem se dar conta dessa dura realidade e sepreparar para trabalhar numa equipe científica integrada, falando, tam-bém, uma linguagem interdisciplinar e socialmente universal.

O conceito geral do meio ambiente enquadra-se entre dois limitesde avaliação: o primeiro inclui as mudanças de produção e de consumo eo impacto sobre o homem no curto e longo prazos; no segundo, o meio am-biente é visto como um patrimônio ou um tipo de capital não renovávelque produz uma cadeia de vários serviços para o homem. Esses serviçossão tangíveis — tais como as correntes de água e os minerais — ou fun-cionais — como a remoção, dispersão, armazenagem e degradação de resí-duos —, ou podem ser intangíveis, tal como uma visão panorâmica (bele-za de vales, montanhas ou encostas de águas fluviais, lacustres ouoceânicas).

Nijkamp (1980, p. 4) definiu as relações entre a Economia e o meioambiente de forma simples, como mostra o quadro abaixo.

RELAÇÕES ENTRE A ECONOMIA E O MEIO AMBIENTE

ECO

MA

ECO

A

C

MA

B

D

ECO = EconomiaMA = Meio Ambiente

O bloco A mostra as relações intra-econômicas que podem ser consi-deradas como o objeto da economia tradicional e convencional. O bloco Bmostra o impacto da Economia sobre o meio ambiente, tal como a polui-ção decorrente da atividade econômica sobre a qualidade ambiental. Obloco C representa os efeitos do meio ambiente sobre a Economia, como,por exemplo, os investimentos feitos numa área natural de beleza pai-sagística. O bloco D mostra as inter-relações no meio ambiente, consi-derados assuntos tradicionais da biologia e da ecologia.

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O quadro acima, como um todo, aponta claramente o campo de estudoda economia do meio ambiente que concentra sua atenção nos Blocos B eC. Por isso, pode-se concluir que a economia do meio ambiente é o ramoda Economia que se ocupa com os problemas da escolha material do homeme da sociedade, visto que eles estão relacionados com o físico e o na-tural. O conceito ambiental inclui o comportamento social e psíquicodo homem, razão pela qual é extremamente difícil conceber soluções pa-ra os problemas do homem sob o ponto de vista estritamente econômico.A economia ambiental, por isso, é uma parte da Economia voltada à mul-tidisciplinaridade dos problemas econômicos que desenvolve um métodomultidimensional para os problemas do ser vivo. Nesse sentido, a econo-mia do meio ambiente tem uma mensagem importante para o homem, uma vezque sua preocupação central consiste em melhorar as condições de vidaanimal e vegetal e, em particular, a vida humana. Esse detalhe da eco-nomia ambiental é básico, pois constituir e melhorar a vida do ser hu-mano é algo extraordinário quando comparado ao sistema econômico or-ganizado sobre princípios que permitem a deterioração e a destruiçãodesta mesma vida. O economista do meio ambiente coloca o bem-estar dohomem como peça central de suas preocupações no processo de desenvol-vimento e no de organização econômica. Admite que os princípios univer-sais da satisfação das necessidades básicas, autodeterminação e parti-cipação do indivíduo no processo de organização político-social e res-peito ecológicos devem ser satisfeitos por um sistema econômico paragarantir o bem-estar social.3

1.4 — Economia ambiental e disciplinas auxiliaresJá foi referenciado que a economia ambiental, por si só, não é su-

ficiente para resolver os problemas do homem. Existe uma profunda in-ter-relação científica que permite uma apreciação e um melhor entendi-mento dos diferentes aspectos que dizem respeito aos problemas ambi-entais. Essas disciplinas podem originar-se das ciências exatas, so-ciais e biológicas. Uma sucinta descrição de algumas importantes dis-ciplinas selecionadas e seus métodos foi elaborada por Nijkamp (1980,p. 5 e 6), a seguir4.

Física: os princípios físicos são baseados no Modelo do Balançode Matéria (veja detalhes adicionais no Capítulo 6). Aqui faz sen-tido mencionar especialmente a primeira lei da termodinâmica (alei da inversão da matéria e energia) e a segunda lei da termodi-

0 ecodesenvolvimento baseia-se em três princípios básicos que têm uma profunda re-percussão sobre a organização do sistema econômico. Esses princípios são: a) satisfa-ção das necessidades básicas; b) auto-suficiência e participação; e c) respeito eco-lógico. Ver os trabalhos de Cumming (1980) e Mayer (1984) e Sachs (1979a).

4Além de Nijkamp (1980), é útil ver Meister (1977) e Sachs (1979a) que unânimes des-tacam a importância do tratamento interdisciplinar e multidimensional para os proble-mas ambientais.

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nâmica (a escassez da baixa entropia) que são extremamente úteisno entendimento e na explicação da minimização do fluxo (matériae energia), ao invés da maximização da produção.

Ecologia: a base dos princípios da ecologia é o sistema. A energiae o fluxo da matéria são os elementos centrais para a dinâmica eo equilíbrio de um ecossistema. Isso permite uma perfeita compa-ração entre o sistema ecológico e o econômico. Os princípios eco-lógicos que determinam a estabilidade do ecossistema devem mere-cer maior atenção por parte dos economistas para organizar um sis-tema econômico, cuja estabilidade dependerá, além da ecologia, deprincípios de organização política e social.

Legislação: princípios jurídicos associados com a propriedade dosbens. Aqui, a noção de bens coletivos é importante para a análisee a avaliação do impacto ambiental da poluição e degradação domeio ambiente.Sócio-psicologia: os princípios sócio-psicológicos defendidos nateoria da escolha social. Modernos enfoques mostram que as prio-ridades dos homens são passíveis de uma adequada mensuração mesmopara bens ambientais isentos de preços. A derivação de uma funçãopreço da demanda não é necessariamente suficiente para se alcan-çarem níveis satisfatórios de escolha de bens ambientais. Os mo-dernos métodos de escolha psicométrica oferecem uma grande pers-pectiva para um tratamento não tradicional.5

Sociologia: princípios sociais relacionados com a capacidade dasociedade. Parece que a formulação da tolerância do princípio so-cial é considerada um fenômeno de maior importância no processo detomada de decisão social do que o princípio de tolerância ecoló-gica advindo da biologia.Pesquisa operacional: princípios de pesquisa operacional deriva-dos da decisão matemática teórica. Os princípios dos modernos mul-ticritérios6 oferecem maiores perspectivas para se chegar a umbalanço de crescimento econômico do que o tratamento unidimensio^-nal baseado em funções de custo, embora este tratamento seja con-dizente com as análises neoclássicas7.Geografia: princípios de geografia espacial são gerados pela exis-tência do espaço físico, onde as ações e as externalidades podemser transferidas, enquanto estas são, concomitantemente, restri-ções no tempo para o crescimento de muitas atividades econômicas.Muitas deteriorações ambientais surgem em função da limitação doespaço. Escassez do espaço, entretanto, é um problema relativo,porque as invenções tecnológicas levam ao uso mais eficiente doespaço físico. O descongestionamento urbano, a nível de concentra-ção de resíduos, é uma questão espacial.

Maiores detalhes sobre estes métodos podem ser encontrados em Nijkamp (1979 a e b).

Para uma leitura objetiva recomenda-se ver Nijkamp (1980).

Para informações adicionais ver Nijkamp (1977).

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Matemática: princípios matemáticos, da matemática aplicada não-li-near. Análises de situações de risco, perturbações e desequilí-brios de longo prazo podem ser estudados pela matemática não-li-near, particularmente pelos princípios de bifurcação das teoriasdas catástrofes. Nesse sentido, os caminhos de transição num sis-tema dinâmico podem ser tratados e analisados de forma satisfatória8

Esse breve resumo de princípios e visão de algumas disciplinas se-lecionadas oferece uma base mais integrada e compreensível que carac-teriza o tratamento multidimensional dos problemas concernentes à eco-nomia do meio ambiente.

1.5 — O homem e o meio ambienteUma das preocupações centrais do homem moderno diz respeito à qua-

lidade de seu meio ambiente. O próprio conceito do meio ambiente colo-ca o homem como o elemento central do sistema global, comunicando-se,de uma forma ou de outra, com todo e qualquer subsistema através de suasrelações. O homem é o foco principal das atenções e, como tal, tem umaposição de destaque nos demais subsistemas através do progresso eco-nômico e do avanço tecnológico. Isso, de um lado, vem beneficiando oseu bem-estar social e, de outro, muitas vezes vem colocando em riscosua própria sobrevivência, pelo desrespeito às leis fundamentais da na-tureza, ao deteriorar a qualidade de seu meio ambiente a níveis into-leráveis. A história dos problemas de poluição e catástrofes ecológicasé antiga. A poluição vem avançando aceleradamente, após a Segunda Guer-ra Mundial, principalmente nas regiões metropolitanas congestionadase nas áreas industriais. Os altos investimentos impostos ao homem peloprocesso de despoluição para lhe assegurar uma melhor qualidade de vi-da são fatos reais nos países ricos que estão pagando um preço exage-radamente alto. Há regiões no mundo, inclusive nos países do TerceiroMundo, onde a poluição anda desenfreada e descontrolada. Só para citarum exemplo, a cidade industrial de Cubatão, em São Paulo, é hoje con-siderada o ponto geográfico mundial mais poluído, onde o organismo vi-vo (homem) já não encontra um meio ambiente para se desenvolver inte-gralmente. O cidadão de Cubatão não tem mais condições humanas normaisde vida.

Os problemas de poluição e seus efeitos negativos sobre o homemlevaram a reconhecer que a qualidade do meio ambiente é um pré-requi-sito para prosperar econômica e tecnicamente. Não há como melhorar aqualidade de vida do homem sem uma concomitante preservação ou melho-ria da qualidade ambiental. Hoje, praticamente todos os países do mun-do desenvolvido têm definida a qualidade ambiental como um objetivoprioritário nos seus planos de desenvolvimento econômico e social. Des-de o final da década de 60, os governos, conscientes do problema da de-gradação da qualidade ambiental, decidiram investir na despoluição, e o

Pode ser visto, também, em Isard (1979).

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cidadão dessas sociedades vem experimentando uma crescente melhoria naqualidade do seu meio ambiente.9

Nota-se que, na dinâmica dos ciclos naturais,transformação da ma-téria e fluxos energéticos, a natureza produz incalculáveis quantida-des de resíduos, mas os incorpora ao ciclo produtivo através da reci-clagem. O homem, pela sua dinâmica econômica, também produz incalculá-veis quantidades de resíduos, mas, ao contrário da natureza, não sepreocupa com a reciclagem. Contrariamente, insiste em produzir resíduosem escala crescente, ignorando a importância da reciclagem. Conseqüen-temente, a degradação da qualidade ambiental é um fato. Se o homem qui-ser conviver com uma qualidade ambiental no nível de seus próprios re-querimentos humanos, é só aceitar humildemente o exemplo singelo da na-tureza. O homem precisa entender o meio ambiente e não procurar simples-mente conquistá-lo. O meio ambiente é como uma grande força da natu-tureza que possui um processo próprio de rejeição de todos os corposestranhos que o invadem. Ele poderá aceitar o homem, porém dentro desuas regras e de suas condições. Como o homem persiste em transgredir,violentar essas regras ele se incompatibiliza em conviver harmonicamen-te com a natureza.

1.6 — O problema da economia e do meio ambienteA degradação do. meio ambiente, interpretada como um problema eco-

nômico, é uma das conseqüências diretas da falha do sistema de mercadona na alocação eficiente dos recursos ambientais nos seus usos alter-nativos Freeman III,(1973, p. V). O sistema de mercado falha para osditos bens coletivos ou recursos públicos que não podem ser efetivamen-te apropriados e manejados na ótica do privatismo individual. A bios-fera, os recursos hídricos e os expressivos ecossistemas são bons exemplos.

É do conhecimento geral que os bens coletivos vêm sendo mal usadose deles se vem abusando desde a Idade Média. Nos tempos contemporâneos,o enfoque tem sido substituído pelo problema dos bens coletivos por umnão-enfoque, pois existe a necessidade de adaptar as instituições eco-nômica e política para tanto, o que foi iniciado pelos países desen-volvidos na década de 70.

Uma maior preocupação pela deterioração da qualidade ambiental vemcrescendo a níveis internacional e nacional. Essa preocupação vem ques-tionando a tecnologia e o crescimento econômico: "Crescer para quê?Crescer a qualquer preço?" Então, também se pergunta,se o público estágenericamente tão preocupado com a questão da deterioração da qualida-de ambiental, por que o sistema econômico em vigor continua a produzircrescentes deteriorações ambientais ao invés de melhoramentos? Mesmoque alguns países ricos tenham obtido resultados positivos pelo contro-

9Informações sobre programas de melhoria e política do meio ambiente e perspectivasfuturas podem ser vistas em Dix (1981); 0'Riordan (1981); U.S. Council on Environment

Qualily (1980); HSMO (1980, 1979). Relatórios de Avaliação da UNEP, ECSC/EEC e OECD.

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lê da poluição — especialmente a melhoria da qualidade ambiental físi-ca (melhoria da qualidade das águas, ar, ruído, etc.) —, contudo outrosaspectos de deterioração ambiental vêm evidenciando crescentes proble-mas, tais como: altos índices de desemprego; aumento da criminalidade;crescentes protestos, agitações e violências públicas; greves; desagre-gação racial; um estado ambiental de insatisfação, instabilidade, etc.Nos países do Terceiro Mundo, somam-se a tudo isso analfabetismo, .as-saltos, fome, concentrados nos cinturões da miséria metropolitana. Em-bora essa seja uma questão complexa e difícil, o fato é que o proble-ma existe, portanto tem suas causas. Averiguar e dimensionar essas cau-sas, bem como indicar soluções apropriadas é o problema central. Háeconomistas que dizem que a maioria das respostas retorna às externa-lidades, isto é, o fato de serem excluídos os custos sociais dos pro-cessos de produção do setor privado.

O setor público vem assumindo crescente poder de intervenção naEconomia, porque, no todo, através de seus agentes, sejam eles empre-sas públicas, estatais, institutos, fundações, etc., tem a seu favor aforça da polícia que a lei lhe confere, além de concessões de monopó-lios públicos. A ineficiência do setor público, adicionada aos proble-mas do setor privado, afeta seriamente o meio ambiente sob o ponto devista do sistema econômico global. O problema das externalidades e aincorporação dos custos sociais deverão ser considerados tanto pelo se-tor público quanto pelo setor privado, numa visão global do sistema10.

A nível das respostas da demanda de mercado, agentes econômicosdeixam de incluir os custos sociais nas operações produtivas e nos pre-ços dos bens e serviços. O resultado disso é que os preços dos bens deconsumo se mantêm baixos demais, e os consumidores compram quantidadesexcessivas de certos produtos, cujos processos de produção são polui-dores; por exemplo, as indústrias de papel e curtumes, localizadas nasperiferias residenciais urbanas e próximas a vias aquáticas. Dessa for-ma, os perdedores da poluição subsidiam os consumidores de papel e cal-çados. Ao mesmo tempo, o preço dos automóveis não reflete o custo so-cial para a sociedade. Os usuários dos carros não pagam pela poluiçãodo ar que eles criam. Poluição e deterioração da qualidade ambientalrefletem, em grande parte, a falha do sistema de preços pela presençade externalidades e custos sociais substancialmente mais elevados doque os custos privados.

Em princípio, sob o ponto de vista da eficiência alocativa dosrecursos para os desejos da sociedade, o preço final de consumo deveriaincluir os custos privados e sociais. Por exemplo os carros, que deve-riam incluir uma taxa de purificação dos motores, bem como um preço pa-ra a despoluição do ar que se deseja manter puro e respirável. Situa-ções similares podem ser identificadas e aplicadas para poluições aéreas,terrestres e hídricas em muitas áreas industriais.

Segundo os mentores do ecodesenvolvimento,as teorias convencionais de desenvolvimen-to devem ser repensadas. Ver notas 1 e 3 deste capítulo para maiores informações.

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O controle da poluição confronta-se com um misto de fatores eco-nômicos e políticos na maior parte dos problemas ambientais.Bach (1971.p. 580) argumenta na sua obra de economia clássica que o sistema de li-vre mercado não tem condições de oferecer um mecanismo adequado paraeliminar a poluição nos Estados Unidos; as externalidades são expres-sivas e as falhas do sistema de livre mercado são esperadas em tal ca-so. Por outro lado, também não fica evidenciado que o regular processopolítico oferece uma alternativa efetiva. O autor ainda enfatiza que atarefa para eliminar a poluição nos Estados Unidos será um caminholongo e duro tanto econômica quanto politicamente. "Você precisará de-cidir o quanto de dinheiro e conforto deseja pagar para um nível de des-poluição e o quanto desejará estar envolvido no processo político pa-ra alcançar as metas propostas."

Os diagnósticos sobre a deterioração do ambiente físico explicamque existe um custo externo nos livres contratos privados em mercadoscompetitivos alicerçados no lucro que conduz os contratantes a negli-genciarem os efeitos sobre a sociedade. O Professor Jacobyà Pennance(1972, p. 6) escreveu que a degradação da qualidade ambiental é um re-sultado de três influências básicas: primeiro, a crescente concentra-ção populacional; segundo, o crescimento da economia; e, terceiro, oavanço tecnológico. Ele também confessa, dadas as relações do Governocom a Economia, que é pouco provável que o sistema econômico incorporecom sucesso as externalidades. Jacoby admite a existência de uma so-fisticada e complexa rede de relações entre o Governo, a indústria e opúblico em geral, que o leva a duas premissas: a população ter cresci-do a taxas incompatíveis com o bem-estar, pela falha do^sistema políti-co através da ação governamental que estabelece padrões desejados deprodução e consumo; e, se o Governo falha, não se pode esperar que omercado competitivo atenda à demanda pública sem agredir e deterioraro meio ambiente.

O problema econômico da crise ambiental muitas vezes é difícil deseparar de outros efeitos sociais e políticos. Mas,para Pennance(1971,p. 9), o problema central do assunto é descobrir algum caminho para in-troduzir as externalidades na tradicional economia de escolha, incor-porando custos externos de tal forma que os custos totais da socieda-de sejam considerados pelos indivíduos na sua escala de consumo. Issoimplica a redução de escalas daquelas atividades que geram altos cus-tos externos e o estímulo àquelas que geram benefícios externos.

O critério do que é econômico e do que não é econômico, na opiniãode Meister (1977, p. 1), tem jogado uma regra básica na configuraçãodas atividades do mundo moderno. Pearce (1976) escreveu que o homemeconômico deixa de ser um bem atrativo animal. A visão do homem sobreo mundo está condicionada pelo interesse individual, apesar de ele re-conhecer suas obrigações e direitos, obedece a sua consciência, cuida-dos com outros e mesmo atos sem malícia, ele tende a existir fora dasdiretrizes da teoria da economia ambiental. O mesmo autor argumenta queninguém gostaria de sugerir que o comportamento humano é norteado so-mente por interesses pessoais; a Teoria Econômica convencional é neces-sariamente incompleta como uma teoria que descreve o comportamento dohomem quando confrontado com situações de escolhas alternativas.

A colocação de Pearce torna-se bastante relevante no momento emque se pretende usar a Teoria Econômica para resolver problemas corren-

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tes do meio ambiente. Meister (1977, p. 2) coloca, neste contexto, qua-tro generalizações:

a) para existir e satisfazer suas necessidades, o homem, sem dú-vida, terá que interferir no meio ambiente;

b) essas interferências têm crescido em número e magnitude com ocrescimento econômico e com o avanço tecnológico;

c) existe uma finita disponibilidade de recursos (incluindo o meioambiente natural) para satisfazer as necessidades do homem;

d) a alocação desses recursos finitos dependerá da multiplicidadede interesses e metas da sociedade, tais como o aumento e a dis-tribuição da renda, o pleno emprego, o aumento da melhoria am-biental, etc.

A razão fundamental dessas proporções é mostrar que o homem, natentativa de satisfazer suas necessidades, fatalmente virá perturbar oequilíbrio do meio ambiente natural, segundo os atuais padrões e com-portamento de consumo e produção. Na hipótese de uma densidade popula-cional baixa e recursos abundantes, a capacidade do meio ambiente nãoserá afetada ao absorver os efeitos da atividade econômica do homem.Aqui, talvez, faça sentido indagar sobre a função do economista. O Ca-pítulo 4, que trata da evolução do pensamento econômico ambiental, aju-dará a esclarecer melhor essa colocação, pois o uso dos critérios eco-nômicos dentro dos limites das restrições físicas, sociais e institu-cionais leva a que se perceba que uma longa caminhada terá que ser tri-lhada para um claro entendimento e compreensão dos problemas econômicosambientais. O sucesso de políticas para a melhoria da qualidade ambi-ental depende muito da clareza do pensamento e da consistência da Teo-ria Econômica.

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FEE-GEOOC

2 - CONSIDERAÇÕES SOBRE ECOLOGIA

A ecologia e a Economia integram-o mesmo meio ambiente. Por isso épraticamente impossível falar da economia do meio ambiente sem uma re-ferência correspondente à ecologia. Seja onde for, toda a ação econômi-ca e social do homem tem um impacto positivo ou negativo sobre o meioambiente. O homem depende da natureza e sempre continuará a dependerdela: em uma região particular, ele compartilha as características como ecossistema, com o qual ele se envolve, bem como é influenciado,bio-lógica e socialmente. Existe uma relação muito íntima entre a ecologiae a Economia, pois o uso de recursos naturais escassos, pelas ativida-des diversificadas do homem, afeta diretamente os ecossistemas. Essa éa questão central que deve motivar os estudantes de Economia, assim co-mo de outras ciências sociais, a se interessarem pela ecologia e pelanatureza, uma vez que toda e qualquer proposta prática para as soluçõesdos problemas do homem, necessariamente, se confronta com a ecologia ecom o meio ambiente.11

O que é ecologia? E quais são suas relações com o meio ambiente ecom a Economia? As crises ecológicas já foram apocalipticamente proje-tadas e associadas à imagem do "dia do juízo final".12 Os movimentosecológicos e de preservação da natureza vêm crescendo em importânciano mundo inteiro, particularmente nos países desenvolvidos,onde já evo-luíram para agremiações político-partidárias. Na Inglaterra existe oGreen Party, na Alemanha são conhecidas como Die Grünen. Os políticosnão ignoram a potencialidade desses grupos de pressão que lutam por umamelhoria ambiental e por alternativas de organização econômica para asociedade.

A consciência ecológica está inclusive pressionando a revisão demuitas teorias tradicionais nas ciências sociais e,também, dos concei-tos de eficiência na alocação dos recursos numa sociedade. No campo daEconomia, vêm-se questionando os sistemas econômicos e os princípiosque regem a organização econômica e as relações com o sistema político--social.

Não cabe aqui escrever um tratado de ecologia,13 mas fazer algu-mas referências à mesma que se julgam necessárias à economia do meio am-

Em princípio, não existe conflito entre o homem e a ecologia: como animal, o homemintegra-se perfeitamente às regras do ecossistema; como "honra sapiens", o homem, nousu de sua intsligência, cria toda a sorte de problemas com a natureza. A destruiçãoirracional dos recursos naturais é o exemplo mais típico_ da irracionalidade humana.

Para uma leitura adicional sobre esse assunto, sugere-se The Ecologist (1972); IUCN(1980); Brandt (1980); Mesdows et alii (1972b);

Existem muitos lr<ros-texto de ecologia. Para iniciantes reco.nenda-se Watt (1973);Odum (1969); Avila-Pires (1983); Dajoz (1978).

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biente. Assim, tratar-se-á de alguns conceitos básicos de ecologia e derelações importantes entre a Economia, a ecologia e o meio ambiente.14

2.1 — Conceito e natureza da ecologiaA ecologia é um ramo das ciências humanas bastante antiga, Avila-

-Pires (1983, p. 17) escreveu que

"(...) a ecologia, como disciplina, tornou-se independenteno século XX. Entretanto, por abranger o estudo das inter--relações dos organismos com o ambiente,alguns dos seus as-pectos e de suas aplicações podem ser identificados nas ob-servações empíricas do homem das cavernas (...) Hipócratesde Cos (400 A.C.) lançou os fundamentos da Ecologia Médica,no seu ensaio: ' Águas, Ares e Lugares'. Lamarck e Darwin desenvol-veram, no século passado, as duas linhas fundamentais daecologia, enfatizando, respectivamente, a influência dos fa-tores do meio físico sobre os organismos e o papel de compe-tição biológica na seleção natural. Haeckel, divulgador dasidéias de Darwin, batizou a nova ciência em 1866. Claude Ber-nard distinguiu o meio interior do meio ambiente, abrindo,as-sim, um novo campo à pesquisa ecológica: a ecologia dos mi-croorganismos".

Em 1974, o I Congresso Internacional de Ecologia foi realizado emHaia, quase dois milênios e meio após Hipócrates estabelecer os funda-mentos de ecologia médica. Um importante resultado desse congresso dizrespeito à uma nova filosofia de trabalho que cristalizou a moderna vi-são integrada do universo. O homem, finalmente, ganhou consciência desua posição e do papel que desempenha na biosfera e compreendeu a suaresponsabilidade para com a sua própria espécie e para com a naturezaque o cerca.

Holister & Porteous (1976, p. 83) definem a ecologia como sendo"(...) o estudo das relações entre organismos vivos, entre os organis-mos entre si e entre eles e o seu meio ambiente, especialmente comuni-dades de animais e de plantas, seus fluxos energéticos e suas inter--relações com a circunvizinhança". Como se vê, o conceito de ecologiaé complexo e abrangente. Para o cidadão comum, a imagem da ecologia mui-tas vezes não vai além da natureza (das plantas, das águas e dos solos),quando não se limita ao símbolo da árvore verde.

A ecologia preocupa-se com o estudo dos organismos vivos e suascircunvizinhanças (o meio ambiente). Além do caráter de inter-relações

14O Instituto de Biociências da UFRGS administra cursos de ecologia inclusive a nívelde mestrado. Todavia as ciências sociais, entre elas a Economia, não oferecem disci-plinas voltadas ao meio ambiente ou à ecologia. Lamentavelmente, ainda não há disci-plinas formais de economia do meio ambiente nas faculdades de Ciências Econômicas doBrasil.

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dos organismos vivos entre si e com o meio ambiente, é preciso desta-car duas características importantes: primeiro, a ecologia trata de or-ganismos vivos, e, portanto, é impossível referir-se à ecologia de umapedra ou de um copo de água; segundo, o homem não é explicitamente men-cionado nesse conceito (PLOEG, in NIJKAMP, 1976, p. 18). O homem é vis-to como um dos componentes da biosfera, isto é, a parte da terra ondeexiste vida. Mas o homem, sem dúvida, é o organismo mais importante, oqual,por definição, ocupa um lugar de destaque em qualquer ecossistemaonde ele se faz presente.

Tanto no campo prático como no teórico, a ecologia pode ser sub-dividida em ecologia humana e bioecologia. Subdivisões adicionais daecologia são possíveis,como a ecologia humana que se preocupa com o ho-mem ecológico e social. Para a Biologia, a distinção entre plantas eanimais parece ser menos relevante do que uma classificação de acordocom os níveis de uma cadeia alimentar (ODUM, 1971, pp.8-11). A ca-deia alimentar faz parte de um ecossistema. Dentro de um sistema po-de ser distinguida uma série de subdivisões que são, até certo pon-to, independentes de um ou de outro, assim chamado, ecossistema (veritem 2.2).

Odum (1962, p. 211) introduziu os conceitos de estrutura e de fun-ção do ecossistema na i>finição da ecologia, dando-lhe maior precisãoconceituai:

"(...) ecologia é muitas vezes definida como o estudo dasinter-relações entre os organismos e o meio ambiente. Eusinto que esta definição convencional não é apropriada: elaé por demais vaga e aberta. Pessoalmente, eu prefiro defi-nir a ecologia como o estudo da estrutura e função dos ecos-sistemas.

"Em outras palavras menos tecnológicas: o estudo da estru-tura e da função da natureza".

Odum entende por estrutura o seguinte:

- a composição da comunidade biológica, incluindo espécies, núme-ros, biomassa, história da vida e distribuição espacial das po-pulações;

- a qualidade e a distribuição de materiais abióticos, tais comoos nutrientes, água, etc.;

- a amplitude das condições de existência, como a temperatura, aluz,.etc.

Esses três grupos da estrutura ecológica apenas são convenientespara o estudo de situações aquáticas e terrestres.

Como função ecológica o autor considera:

- a taxa do fluxo da energia biológica através do ecossistema, is-to é, as taxas de produção e as de respiração das populações eda comunidade;

- a taxa da ciclagem da matéria ou dos nutrientes, ou seja, os ci-clos bioquímicos;

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- a população biológica ou ecológica, incluindo a regulação dosorganismos pelo meio ambiente (por exemplo, no fotoperiodismo)ea do meio ambiente pelos organismos (por exemplo, na fixação donitrogênio por organismos).

Os tipos comunitários terrestres e aquáticos têm várias caracte-rísticas estruturais comuns. Entretanto todas as espécies aquáticas,como também as terrestres, necessariamente têm os mesmos três componen-tes biológicos: produtores ou plantas verdes fixadores de energia lu-minosa; animais ou macroconsumidores que consomem partículas de matériaorgânica; e microorganismos decompositores que dissolvem a matéria or-gânica, liberando nutrientes. Os ecossistemas devem ser supridos com osmesmos materiais vitais, tais como nitrogênio, fósforo, minerais, etc.,e são regulados e limitados pelas condições de existência da luz e datemperatura.

2.2 — Ecossistemas

2.2.1 — Conceito de ecossistema

O conceito de sistema vem crescendo em importância no mundo ci-entífico. Em tempos mais recentes, a Teoria Geral dos Sistemas15 vemtomando espaço no meio científico e no planejamento econômico-social,dada a sua visão totalista das coisas, principalmente no campo das ci-ências sociais e naturais. A teoria baseia-se nas relações e na depen-dência entre os elementos de um particular sistema. Entende-se por sis-tema um conjunto de elementos concretos ou ideais, entre os quais exis-tem relações ou é possível definir relações. Esse é um conceito gené-rico e passível de aplicação para qualquer sistema particular. Confor-me o conceito acima, qualquer sistema tem dois componentes básicos:

- um conjunto de elementos - estes elementos são identificadosquando se fala de um sistema específico, por exemplo, num sis-tema econômico identificam-se facilmente o produtor e o consu-midor como elementos concretos. Num sistema natural, podem seridentificadas facilmente água, terra, ar, plantas e animais co-mo elementos concretos;

- a existência de relações ou a possibilidade de definir rela-ções - a existência de relações entre os elementos de um sis-tema caracteriza a sua dinâmica, pois a intensidade dessas re-lações confere ao sistema a sua vitalidade. Essas relações, porexistirem no próprio sistema, são fáceis de identificar. No sis-tema econômico, percebe-se que existe uma série de relações en-tre o consumidor e o produtor, sendo a relação de trocas (comprae venda de bens) a mais comum. É possível também definir rela-ções econômicas não existentes, tais como trocas de lazer e re-

0 artigo de Freitas (1980) é uma boa síntese e revisão de literatura soDic a eoriaGeral dos Sistemas, o qual se recomenda para principiantes e interessados no assunto.

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creação entre produtores e consumidores. Na natureza, existem re-lações e regras bem definidas entre o ar e a terra, entre o are a água, entre a água, o ar e a terra, e todas estas relaçõescom os animais e plantas, os quais por sua vez interagem.

Na medida em que novos elementos são introduzidos na análise, au-menta o número de relações existentes e passíveis de definição, e osistema cresce em complexidade. Na natureza, esse elementos e suas re-lações são bem definidos e dão consistência e estabilidade ao sistemanatural. Entretanto, na área social, principalmente na Economia, o ho-mem tem uma grande capacidade de definir relações e redimensioná-las.No sistema político, isso é uma prática muito comum: o homem mexe noselementos e nas suas relações para satisfazer suas necessidades ou in-teresses pessoais imediatos.

Entende-se que o aspecto mais importante do conceito diz respeitoàs causas e aos efeitos de participar na intensidade qualitativa dasrelações entre os elementos. As causas e os efeitos estão sempre asso-ciados aos elementos e às suas relações. Esse é um argumento convin-cente de que toda a solução prática para os problemas do homem deve co-meçar com a denominação do sistema e com a conseqüente identificação deseus elementos e das respectivas relações em termos de intensidade equalidade. O diagnóstico desse quadro possibilita mensurar qualitativae quantitativamente as causas e os efeitos que vêm auxiliar ou preju-dicar o homem.

Essas considerações genéricas sobre sistemas permitem uma melhorcompreensão de um sistema particular, seja ele político, econômico, so-cial ou ecológico. A terra, como um subsistema do sistema universal, éfinita e engloba os subsistemas naturais,sociais, econômicos e políti-cos. Como tal, todos os recursos naturais, bióticos e abióticos, limi-tam a expansão dos sistemas humanos, em particular o sistema econômicoque se confronta com a expansão da espécie humana.

Com esses elementos básicos de sistemas,torna-se uma tarefa fácildefinir um ecossistema. Genericamente, um ecossistema pode ser defini-do como as coisas vivas (bióticas) em relação com o seu meio ambiente.Segundo o conceito de Holister e Porteous (1976 p. 85), as plantas, osanimais e os micróbios que vivem e habitam uma área bem definida (quepode variar de desertos a oceanos) e o meio ambiente em que e]°« vivemcomportam juntos um ecossistema.16

Evans (1956) considera o ecossistema como a unidade básica na eco-logia.17 O termo ecossistema foi proposto por Tansley como um nome paraas interações sistêmicas compreendendo coisas vivas juntamente com o

Uma visão prática e detalhada das implicações de um ecdssistema é encontrada no es-tudo de caso de Odum (1971), no qual o autor analisa a estrutura do ecossistema, suaprodutividade, etc. Esse estudo de caso dá uma clara idéia da complexidade das in-ter-relações que sustentam o equilíbrio de um ecossistema.

O artigo de Evans (1956), é uma ótima avaliação que trata o assunto objetivamente.

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seu habitat de coisas não vivas. Esse conceito sugere a inclusão nãosó do complexo orgânico, mas também de todo o complexo de fatores fí-sicos, b que é denominado de meio ambiente.

Nos seus aspectos fundamentais, um ecossistema envolve a circula-ção, a transformação e a acumulação de energia e matéria através dainter-relação das coisas vivas e de suas atividades. Fotossíntese, de-composição, pastagem, predaçãoe outras atividades simbióticas são res-ponsáveis pelo transporte e pela armazenagem da matéria e da energiaque estão entre os principais processos biológicos. As inter-relaçõesdos organismos ocupados nessas atividades caracterizam os caminhos dadistribuição. A cadeia e rede alimentar (ver item 2.2.3) é um exemplodessa distribuição. A parte não viva do ecossistema, circulação de ener-gia e matéria, é completada por tais processos físicos, como,por exem-plo, evaporação e precipitação das águas, erosão e sedimentação.Assim,a preocupação primária do ecologista é com as quantidades de matéria eenergia que passam pelo ecossistema e com as taxas de transformação.Ao mesmo tempo, talvez em igual importância, estão as espécies de or-ganismos que se fazem presentes num ecossistema e as funções que essesocupam na sua estrutura e organização. Portanto, tanto os aspectos quan-titativos como os qualitativos devem ser considerados na descrição e nacomparação de ecossistemas.

Todo e qualquer ecossistema é um sistema aberto. Energia e maté-ria continuamente escapam de um ecossistema no transcurso do processa-mento da vida e precisam ser repostas para a continuidade do ecossiste-ma. Os caminhos da perda e da reposição da matéria e da energia fre-qüentemente conectam um ecossistema com o outro, o que prova a existên-cia de inter-relações entre os próprios ecossistemas. Esse inter-re-lacionamento existente entre ecossistemas sugere que a Economia, e mes-mo a política, não pode dar um tratamento isolado a um ecossistema in-dividual, apesar de este ser considerado a unidade básica da ecologia.

Existem correntes alimentares (ver item 2.2.3) pelas quais flui aenergia juntamente com os ciclos biológicos necessários para a recicla-gem da matéria. Assim, um ecossistema tem a capacidade de produzir aenergia e a matéria para que naja continuidade de vida. Animais e plan-tas são fatores essenciais da dinâmica do ecossistema. Existem relaçõesbem definidas entre eles: ambos vivem e sustentam o processo de vida eum depende do outro. O homem faz parte integrante desse processo e deleo homem depende. As fases da vida animal e vegetal, suas decomposiçõesorgânicas e inorgânicas resultam em novas formas de vida animal e vege-tal. A morte da planta e do animal é a fonte de uma nova vida. Por is-so, diz-se que a morte, no processo biológico, é tão importante quan-to a vida. Assim, o ecossistema é um complexo interdependente com suaprópria forma de equilíbrio, isto é, um balanço é mantido entre a pro-dução total de matérias vivas e a taxa de morte e decomposição num pe-ríodo de tempo. Isso significa um equilíbrio ecológico. Quanto maiscomplexas forem as interações e os elementos de um ecossistema, maiortende a ser a sua estabilidade.

O ciclo de vida e morte num ecossistema não é estático, pelo con-trário, apresenta uma extraordinária e permanente dinâmica. Os ecossis-temas são afetados por fatores exógenos, tal como o clima, e por fato-res endógenos, tais como as espécies de animais e plantas que são ca-pazes de alterar seu próprio habitat. Em termos de ecossistemas, é-se

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obrigado a pensar em constantes mudanças. Há ecologistas que admitemque o processo de mudança nos ecossistemas converge para uma particularcomunidade, chamando-a de estado de clímax do sistema. O processo, nasua essência, é o seguinte: se uma área natural, diga-se uma duna deareia, é deixada intocada, inicia-se a formação de uma particular es-pécie de vegetação; essas são as plantas pioneiras que, eventualmente,são sucedidas (o processo dinâmico das plantas serem substituídas cha-ma-se sucessão) por outras plantas, e assim por diante, até que se for-mem florestas naturais. A partir daí, não é observada nenhuma suces-são, quando, então, o estado de clímax do ecossistema é alcançado. Umestado de clímax é definido como sendo o do ecossistema no qual nãoocorrem mudanças de sucessão, ou, se tal mudança ocorre, é devida a umajustamento de microciclos para a perpetuação natural do sistema. Adi-cionalmente, a ausência da sucessão no estado de clímax assegura queo ecossistema está no estado constante de biomassa. Biomassa é uma me-dida da quantidade de matéria no sistema. Se a biomassa está aumentan-do, o sistema tem um ganho na produtividade, isto é, matéria orgânicaestá sendo adicionada ao sistema,(ver maiores detalhes no item 2.3). Aocontrário, quando a biomassa está decrescendo, o sistema apresenta umaperda na produtividade. Assim, a biomassa é um conceito de estoque e aprodutividade é um conceito de fluxo, algo análogo aos conceitos eco-nômicos do fluxo real e financeiro da riqueza e dos estoques de capi-tal. O estado de clímax, no qual a biomassa se encontra, é chamado de"steady-state system". A prescrição do crescimento econômico zero fun-damenta seus argumentos nesse estado de clímax do ecossistema.

Essa analogia poderia até ser consistente para sociedades madurasque possuem populações estáveis. Mas, o crescimento econômico zero éuma utopia, se não um suicídio coletivo para economias em desenvolvi-mento com altas taxas de expansão populacional. No caso brasileiro, aeconomia deveria crescer a taxas suficientemente altas para incorporaruma força de trabalho anual de 1,5 milhão de pessoas,estando excluídosos desempregados e subempregados. Isso não significa que se concordecom o método e modelo de crescimento econômico em curso, o qual igual-mente pode ser considerado suicida. Cada país, estado ou região deveapresentar um crescimento econômico adequado,exigido pela realidade só-cio-econômica, mas todos devem ter um profundo respeito pela ecologiae sensibilidade ecológica. Ninguém pode negar que o crescimento eco-nômico é possível, mesmo a taxas elevadas, sem deteriorar a qualidadeambiental. Além do mais, é possível crescer economicamente e, ao mesmotempo, promover uma melhoria na qualidade do meio ambiente, mas istoexige uma revisão dos princípios que regem a organização do sistemaeconômico e, principalmente, uma política de tecnologias apropriadas,a qual deveria ser a base para a promoção do crescimento econômico e doprogresso tecnológico. O homem é capaz, hábil e tem o conhecimentoacumulado para conciliar o crescimento econômico e a questão ambiental.

Existe um consenso de que a sociedade (espécie) humana ocupa umaposição muito especial no sistema da biosfera. As relações do homemcom seu meio ambiente (em particular o não humano) e até certo pontoa biologia humana podem ser vistas de alguma maneira como uma ligaçãoentre a bioecologia e a ecologia social humana. Se isso é verdadeiro,seria certamente melhor descrever a ecologia como o estudo da estrutu-ra e da função dos ecossistemas.

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Na opinião de Odum (1971, p. 5), um bioecossistema inclui as re-lações de todos os grupos de organismos entre si e com o meio ambienteabiótico (não vivos), enquanto um ecossistema humano representa a re-lação de uma comunidade de pessoas de uma com a outra e com seu meioambiente.18 A intervenção do homem muitas vezes simplifica dramati-camente os ecossistemas. Desenvolve suas atividades econômicas e so-ciais, promovendo o progresso econômico e tecnológico, sem dar a de-vida atenção, guando não as ignora completamente, a composição e a es-trutura dos ecossistemas. Isso afeta e compromete o equilíbrio e a es-tabilidade natural do ecossistema. Um exemplo típico é o desenvolvimen-to da monocultura (normalmente produtos agrícolas de exportação dos paí-ses do Terceiro Mundo) associado ao uso crescente e indiscriminado defertilizantes químicos e pesticidas. A substituição de florestas e cam-pos nativos por culturas anuais é uma maneira de destruir completamen-te a estrutura e o equilíbrio dos ecossistemas. Daí por que são coloca-dos em dúvida os benefícios a curto prazo dessas atividades em detri-mento dos riscos e ônus a longo prazo, principalmente pela destruiçãogenérica dos bancos genéticos vegetais e animais, irreversivelmenteperdidos para sempre.

2.2.2 — Os ciclos naturais do meio ambiente

O meio ambiente do homem, no seu mais amplo senso, é chamado debiosfera. Compreende a crosta terrestre,a atmosfera e as várias formasde vida que existem na zona de 600 metros acima e 10.000 metros abai-xo do nível do mar. A biosfera é muito vasta, complexa e, usualmente,está dividida em unidades menores ou ecossistemas, os quais foram des-critos na seção anterior.

Como já foi visto,dentro de cada ecossistema (por exemplo, um rioou um lago), existem inter-relações dinâmicas entre as formas de vidae o meio ambiente físico. Esses relacionamentos podem ser expressos co-mo ciclos naturais que suprem a contínua circulação necessária para avida. Os ciclos operam em estado equilibrado com pequenas variações nomeio ambiente natural despoluído. Caso esse balanço natural não exis-ta, muitos processos de sustentação da vida não podem ser mantidos e,em conseqüência,os ecossistemas tornam-se variáveis e instáveis. A ope-ração equilibrada dos ciclos naturais e dos ecossistemas contribui pa-ra a estabilidade de toda a biosfera, o que é fundamental para umaexistência permanente e um desenvolvimento da vida na terra.

A intervenção do homem através de desmatamento, preparo dos solos,reflorestamento, poluição atmosférica, aquática e terrestre, etc., ine-vitavelmente, muda o equilíbrio do ecossistema. Outras formas usuais comque o homem interfere no equilíbrio são as monoculturas e o uso inten-sivo de fertilizantes químicos e de pesticidas.Essas tecnologias modi-

1 Q

O recente livro do Prof. /Wila-Pires (1983) é uma leitura adicional útil para o as-sunto que introduz os aspectos humanitários na ecologia tradicional.

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ficam o meio natural, intervém no equilíbrio dos ecossistemas dos so-los, podendo produzir um desequilíbrio que requer, por si, constantesajustamentos pela aplicação de quantidades adicionais de substânciasquímicas potencialmente poluentes.

É importante que se entenda a operação de vários tipos de ecossis-temas quando se analisam os efeitos da poluição a curto e longo prazos.O efeito geral da poluição dentro de um ecossistema é alterar o pre-estabelecido balanço dos ciclos naturais, e isto é particularmente re-levante para certos ciclos que operam na atmosfera, na terra e na água.Os ciclos naturais vitais à sobrevivência do homem, entre outros, sãoos do hidrogênio, do nitrogênio, do fosfato, do oxigênio, etc., todosfazendo parte de um ciclo maior que é o ciclo da biosfera que está re-presentado na Figura 1. Todos os processos de transformação biótica serealizam entre o limite superior (estratosfera) e o limite inferior("bedrock" ou subsolo).

FIGURA l

O CICLO DA BIOSFERA

Insumos de energia solar

\ >s/

n nLimite superior da biosfera (estratosfera)

J L J Lf \ 7 \ 7 \V.^ — -A/i t\/

—7

— Biosfera —— (atmosfera, fio- —— rã, fauna, solos —

= dricos) =

7^ —

*DomínioBiótico

(flora e fauna)

-̂ -̂ Matéaa -^-^—reciclada

^

*

Abrótico

(minerais,ar e água)

4

— Biosfera -— (atmosfera, fio- -— rã, fauna, solos -— e recursos hidri- —~ cos) =

L i m i t e in te r io r da biosfera (subsolo)

l O N U i R i d d c l l ( 1981. p. 3.?l .

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O ciclo hidrológico

A Figura 2 ilustra a dinâmica do ciclo hidrológico. Trata-se deum contínuo processo natural pelo qual a água é movimentada entre aatmosfera, a terra, o mar e entre todas as plantas e os animais vivos.Pode-se observar ainda, na mesma Figura 2, a existência de um contínuoprocesso equilibrado de evaporação, transpiração, precipitação e mo-vimentos de fluxos aquáticos no solo e no subsolo.

O volume do ciclo global do movimento das águas aparece na Tabe-la 1. Estima-se que anualmente 507Tm3 de água são evaporadas e a mes-ma quantidade é precipitada sobre a superfície do globo terrestre. Omontante de água que flui da terra para os oceanos é de 44,5Tm3 por ano,e isso representa o volume de água disponível para suprir as necessi-dades humanas.

FIGURA 2

O CICLO AQUÁTICO (HIDROLÓGICO)

Água no solo

—Água subterrânea (lençóis de águãj

Água evaporada do solo. vegetação, águas superficiaise oceanosVapor de água precipitado em forma de chuva, grani-zo ou neveMovimento da água na terra

K ) N ' I T : D i x ( l 9 8 1 . p . 9 ) .

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FEE-CEPQC29

Tabela 1

Volume global do ciclo hidrológico

SOBRE A TERRA SOBRE O MAR

Água precipitada

Água evaporada

Absorção ( "Run--Off")

Diário(km5)

260

160

100

Anual(Tm>)

120

80

40

Diário(km3)

775

875

100

Anual(TM3)

380

420

40

FONTE: Dix (1981, p. 10).

NOTA: 1m3 = 1.000 litros; 1 km3 = 1.OOO.OOO.OOOm3, e 1Tm3 ("terácubic meter") = 1.000.OOO.OOO.OOOm3.

O ciclo do nitrogênio

A presença do nitrogênio e de seus compostos na biosfera é essen-cial para a manutenção da vida. As mudanças que sofre o nitrogênio nosecossistemas são chamadas de "ciclo do nitrogênio". A Figura 3 mostraos elementos e as relações do ciclo de nitrogênio. As plantas e os ani-mais produzem constantemente proteínas, que são compostos orgânicos con-tendo nitrogênio. As plantas absorvem nitratos do solo para produzirproteínas, e muitos animais produzem proteínas pela alimentação vege-tal. A morte e os dejetos de organismos contribuem para o solo com re-síduos orgânicos que contêm proteínas. No solo existem diferentes tiposde microorganismos que utilizam compostos nitrogenados para seus meta-bolismos. As proteínas são progressivamente transformadas por bacté-rias numa cadeia de compostos intermediários, tais como a amônia, e onitrito, onde, finalmente, o nitrato é produzido. O nitrato é absorvi-do pelas plantas e assim, novamente,entra no ciclo do nitrogênio. Alémdisso, existe também uma troca de nitrogênio entre o ciclo e a atmos-fera através da ação de outros microorganismos do solo. Algum nitrato,pelo processo de denitrificação, é transformado em nitrogênio e absor-vido pela atmosfera. Outra parte do nitrato é incorporada pelos fluxosdas águas.

A moderna agricultura faz uso de crescentes quantidades de fer-tilizantes nitrogenados para aumentar a produtividade dos solos.Exces-sivas quantidades de nitrogênio estão causando sérios problemas de po-luição das águas. Estimou-se, em 1970, que o mundo despejou 8,5 mi-lhões de toneladas nos oceanos (Dix, 1981, p. 12).

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FIGURA 3

O CICLO DO NITROGÊNIO

Nitro jênio

Denitrifí cação

! 'ONTE:Dix(1981 ,p . 11) .

O ciclo do oxigênio e do dióxido de carbono

Um adequado suprimento de oxigênio é vital para a sobrevivência dequalquer espécie de vida. Durante o dia,as plantas liberam oxigênio eo homem consome-o. Esse ciclo existe pelo fato de que o gás é absorvi-do do meio ambiente natural durante a respiração aeróbia e devolvidoao mesmo como resultado da fotossíntese. Existe uma contínua troca deoxigênio entre 20,9% da atmosfera e todas as áreas aquáticas da terra.A Figura 4 mostra essas relações entre o oxigênio e o dióxido de carbono.

O volume total de oxigênio na biosfera é relativamente constante,e assim o ciclo do oxigênio é estável. Efeitos da poluição podem cau-sar uma deficiência de oxigênio em situações aquáticas localizadas.

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FIGURA 4

O CICLO DO OXIGÊNIO E DO DIOXIDO DE CARBONO

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l Oxigênio

L

Oxigênio criado pela açãosolar, água e fotossíntese

Insumo de oxigênio paradecomposição aeróbica

Biomassa viva (principalmente plantas)

Decomposiçãoda b i om assa

Depósitos pequenosde carvão, gás o óleo

Plataforma minerale água

Insumo de dióxido decarbono para o cresci-mento das plantas

Geração de dióxido decarbono pela decompo-sição (e combustão)

Dióxido 'de l

carbono l

FONTl. :Riddel l (1981,p . 35).

2.2.3 — Cadeia e rede alimentar

Existe uma interdependência entre as espécies dos grupos de orga-nismos em qualquer ecossistema relacionado à comida e à energia. Emtermos nutricionais, os organismos dividem-se em três classes:

- pastagem (por exemplo, a gramínea) que constitui a classe pro-dutora;

- consumidores primários que comem e se alimentam dos produtores.O homem é um consumidor secundário na condição de comer consumi-dores primários;

- decompositores que usam restos mortais dos produtores e consu-midores como fonte de alimentação.

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Segundo Dix (1981, p. 14), "(...) a interdependência nutricionalentre espécies de organismos pode ser mostrada pelo conceito da cadeiaalimentar. Esta é definida como a série de organismos através dos quaisa energia é transferida". A Figura 5 mostra como se dá o processo nu-tricional numa cadeia alimentar.

Holister & Porteous (1976, p. 116) definem a cadeia alimentar co-mo "(...) uma série de organismos através da qual a energia é transfe-rida". Cada elo da corrente alimenta-se do elo anterior, com exceçãodo primeiro, conhecido como produtor, que transforma energia solar edióxido de carbono em açúcares via fotossíntese. Os demais elos são con-sumidores e estes se classificam em primários, secundários, etc.Assim,uma cadeia alimentar de três estágios é constituída pelo produtor, pe-los consumidores primários, secundários e pelos decompositores. A Fi-gura 6 ilustra esses níveis de interdependência numa cadeia alimentarlinear simplificada na água.

FIGURA 5

CADEIA ALIMENTAR LINEAR SIMPLIFICADA NA TERRA

NÍVEIS OU CLASSES TIPOS EXEMPLOS

Produtor

4Consumidor primário

4Consumidor secundário

4Consumidor terciário

Pastagem

1Herbívoros

4Pequenos carnívoros

4Grandes carnívoros

Grama

4Gafanhoto

4Passarinho

4Falcío

FONTE:Dix (1981,p. 15).

FIGURA 6

CADEIA ALIMENTAR LINEAR SIMPLIFICADA NA ÁGUA

NÍVEIS OU CLASSES TIPOS EXEMPLOS

Produtor4

Consumidor primário

4Consumidor secundário

4Consumidor terciário

Fitoplancton

4Zooplancton

4Peixe

4Ave

Algas4

Larvas

4Vairão (peixe)

4Alciâ"o (pássaro)

FONTE: Dix (1981 , p. 16).

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A partir da composição e da classificação da cadeia alimentar,três aspectos apresentam especial relevância para o economista: a den-sidade de cada espécie (pirâmide dos números); o fluxo de dependênciaentre as espécies nos diferentes elos (rede ou teia alimentar; o flu-xo energético (ganhos e perdas de energias entre os elos alimentares).Passa-se, a seguir, a examinar cada um deles com maior profundidade.

Pirâmide dos números

Considerando uma cadeia alimentar linear,começando com os produto-res, esta apresenta um número decrescente de organismos nos diferentes elosao longo da corrente.A pirâmide de números, expressa na Figura 7, mostrao relacionamento entre seus organismos. Na verdade, esse diagrama de-veria incluir a classe dos decompositores, formada por grandes popula-ções de bactérias e fungos existentes em qualquer ecossistema. Essesdecompositores são de vital importância ecológica, uma vez que decom-põem o material orgânico morto da cadeia do ecossistema, reciclando-o,bem como impedindo que seja acumulado.Eles têm uma função muito especialquanto à redução do volume de material poluente na água.Os dois tipos-chefede decompositores são o tipo aeróbio que requer oxigênio para sua nutriçãoe o tipo anaeróbio que sobrevive em condições de baixo teor ou sem oxigênio.

O número de relações de uma espécie entre si e entre a cadeia ali-mentar varia muito, e existe, muitas vezes, mais do que uma espéciecompetindo pela comida em cada nível de consumo.

FIGURA 7

PIRÂMIDE DOS NÚMEROS NUMA CADEIA ALIMENTAR

TIPOSNÍVEIS

OUCLASSES

TAMANHO NÚMERO BIOMASSA ENERGIA

Pássaro

Peixe

Zooplancton

Consumidoresterei ários

(carnívoros)

Consumidoressecundários

Consumidoresprimários

.-, .Grandes

, .(pequeno numero)*^M

0,lgm-2

(carnívoros) (topo dos carnívoros)

354 904 yr0,6gnT

(carnívoros)

Fitoplancton Produtores , Pe,qUenOS .(grande numero)

708624

5842429

/(herbívoros) l 478 Kcal m~2 yr~(herbívoros)

33 Kcal m~2 y(produtores) (produtores)

FONTE: Dix (1981, p. 16) e Holister & Porteous (1976, p. 82).

NOTA: Como se pode observar no diagrama acima, uma pirâmide de números mostra o total de orga-nismos individuais encontrados numa área limitada, em época determinada. A pirâmide da biomassa mos-tra o peso total, em gramas por metro quadrado, de organismos em área e época determinadas. Uma pirâ-mide de energia mostra o montante de energia, em quilocalorias por metro quadrado/ano, disponível pa-ra outros organismos (Pringle, 1971).

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Rede ou teia alimentar

Trata-se da interdependência das espécies entre os elos da cadeia ali-mentar. Numa rede alimentar, o princípio básico operacional é o de quecada espécie depende pelo menos de uma outra espécie, e o número paracada relação de espécies obrigatoriamente deve ser suficiente para aexistência e a perpetuação na outra espécie. Assegurada a manutenção des-sas condições, a teia alimentar tende a um equilíbrio ecológico expres-so na Figura 8.

As cadeias alimentares possuem também certa vulnerabilidade fa-ce a mudanças que possam afetar o suprimento de alimentos, as taxas dereprodução, etc. Existe uma densidade populacional crítica para cadaespécie, baseada na pirâmide dos números (Figura 7). As espécies de pe-queno tamanho existem em grande número, e as espécies de grande tama-nho são em pequeno número (Figura 7).

FIGURA 8

TEIA OU REDE ALIMENTAR NA TERRA

PlantasProdutores

„ . , , Afídio InsetosConsumidores l (puigãO) (larvas)

Consumidores 2 Pardal

Consumidores 3

Húmus 4 Grãos (cereais)

Camundongo Perdizdo campo

íTn°e± Coruja RapHomem

Falcão Texugo

l'ONTl.:Dix ( 1 9 8 1 , p . 1 7 ) .

Níveis e fluxos energéticos

Existem ganhos .e perdas na inter-relação alimentar da cadeia. Estaé essencialmente um esquema de conversão energética, onde existem con-versões eficientes, transferências e perdas. Como regra, a energia fi-xada pelos produtores será sempre maior do que a energia fixada peloconsumidor primário, que, por seu turno, também será sempre maior do quea de um consumidor de segunda ordem,etc.Isso pode ser observado na Figura 7.

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As espécies que se alimentam da mesma fonte numa cadeia alimentarsão consideradas do mesmo nível trófico ou energético. Assim, o bovinoe o coelho fazem parte do mesmo nível trófico. Quanto mais curta a ca-deia, mais alimentação estará disponível. Por exemplo, 5kg de grãos po-dem produzir, na melhor das hipóteses, 1kg de peso vivo de gado, e, porpor sua vez,10kg de carne bovina podem aumentar o peso do homem em 1kg. Aeficiência da conversão alimentar é usualmente muito menor do que isso.

A eficiência natural, medida pela minimização do fluxo energético,para transformação da matéria na cadeia alimentar é um ponto importan-te para os economistas no que concerne à organização eficiente do sis-tema econômico. Por exemplo, o homem consumindo grãos diretamente (mes-mo que necessite ainda de uma suplementação protética), com 5kg de grãospode obter 1kg,ao invés de 0,1kg como na cadeia anterior. Isso mostraao homem caminhos alternativos de maior eficiência para o seu sistemaalimentar.Conhecendo a cadeia alimentar de ecossistemas regionais,o homempode organizar a base alimentar que lhe seja mais conveniente ecológica eeconomicamente.As necessidades de energia e a relação de peso são bem ilus-tradas na Figura 9 que representa uma cadeia alimentar natural africana.

FIGURA 9

CADEIA ALIMENTAR NATURAL AFRICANA

Carnívoro:predado

alimentandode herbívoro

l-ONTt::Rklddl (198 l , p. 39).

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As teias alimentares e as produtividades das cadeias podem ser afe-tadas pelo rompimento do equilíbrio ecológico através da ação do homemao poluir o meio ambiente. A presença de resíduos químicos tóxicos epesticidas pode reduzir, quando não eliminar completamente, a populaçãode certas espécies e suas relações. No caso das águas frescas, a maté-ria orgânica poluente oriunda do despejo excessivo de esgotos domésti-cos e dos resíduos industriais e agropecuários reduz o conteúdo do oxi-gênio dissolvido das condições aeróbias, promovendo, assim, um aumentodas espécies que não requerem água oxigenada. Em outros casos, podemproliferar excessivamente certas plantas que também comprometem o equi-líbrio ecológico. Portanto, o homem precisa avaliar o quanto ele real-mente pode poluir o meio ambiente para não comprometer a estabilidadeda teia alimentar e o equilíbrio dos ecossistemas.

2.3 — Produtividade do ecossistemaUm ecossistema possui uma dinâmica permanente de transformação de

insumos em produto, a qual exige um constante fluxo energético. Numsistema econômico, a dinâmica é análoga, pois a matéria-prima (insumos)é processada, transformada em outros produtos. Ao fluxo real (de insu-mos e bens) contrapõe-se o fluxo financeiro.No ecossistema,o fluxo da maté-ria (insumos) acompanha o fluxo de energia. Enquanto na economia se fala emeficiência econômica, na ecologia fala-se em eficiência natural,sendo estamedida pela relação entre a massa transformada e a energia consumida.

As duas categorias de insumos num ecossistema são a energia e amatéria. Ambas apresentam um fluxo através do ecossistema, mas um deta-lhe importantíssimo é observado: a energia, uma vez usada, não pode serreutilizada. Por exemplo, a energia armazenada nos alimentos, uma vezingerida, não está mais disponível;ela é inutilmente dissipada para aatmosfera. O fluxo da energia através dos ecossistemas (analogamente aofluxo real na economia) assume um único sentido. As matérias, por suavez, podem ser usadas sucessivamente. O processo de fixação de nitro-gênio da atmosfera nas raízes de leguminosas é um belo exemplo. O ni-trogênio existe naturalmente na atmosfera. Bactérias extremamente es-pecializadas presentes no ecossistema, por exemplo, nas raízes de soja,são capazes de fixar o nitrogênio, e assim ele é transformado em com-postos de nitrogênio para a sobrevivência de espécies vivás.Uma vez fi-xado dessa maneira e usado pelas plantas e animais, o nitrogênio voltanovamente à atmosfera. Partes são liberadas para cursos de água.

O fluxo circular do nitrogênio através de um ecossistema é um exem-plo de ciclo bioquímico. Outros existem, igualmente vitais, como o ci-clo do oxigênio, o do carbono, etc. Naturalmente, a atividade econômi-ca que interrompe ou perturba a estabilidade desses ciclos — talvez pe-la crucial redução das populações de bactérias (ciclo do nitrogênio)ou por qualquer outra forma — afeta obrigatoriamente a produtividade doecossistema, sua habilidade de gerar a produtividade da matéria orgâ-nica. Logicamente, quando isso acontece, o homem precisa ajudar o ecos-sistema através do suprimento e da manutenção artificial de matérias.Isso acontece com os fertilizantes artificiais e químicos que têm comofinalidade suprir deficiências nutricionais de fósforo,potássio,nitro-gênio e de outros micronutrientes. Entretanto o julgamento dos efeitos

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FEE-CEPÜCjr.-r-LioTec*

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de tais controles é de extrema dificuldade, tendo em vista a existênciade interdependências entre os ecossistemas. O que pode-se alertar é queo homem, nas atividades econômicas diversificadas, deve levar em con-sideração, nas suas decisões, a questão ecológica, isto é, avaliar oimpacto sobre a natureza e a ecologia, bem como sobre si mesmo, além dosrestritos elementos de custos e receitas. A variável lucro econômiconão pode ser usada exclusivamente como uma medida de eficiência no con-texto de um ecossistema.

A produtividade do ecossistema depende, portanto, do fluxo de ener-gia e da circulação da matéria. O fluxo da matéria num ecossistema cor-responde, analogamente, ao fluxo real num sistema econômico, com a di-ferença de que a matéria residual é totalmente reciclada e incorporada noecossistema. Na economia,enquanto não houver uma consciência de recicla-gem, as perdas de matérias serão expressivas, sendo representadas pe-los crescentes montantes de resíduos jogados no meio ambiente. Esse pro-cedimento humano afeta tremendamente a produtividade econômica e repre-senta um considerável desvio de energia e matérias para fora do siste-ma econômico. A reciclagem, dessa forma, é de vital importância tantopara o ecossistema quanto para o sistema econômico. As constantes re-ciclagem e incorporação de resíduos capacitam o ecossistema a proversua própria necessidade de matéria sem precisar de qualquer abasteci-mento de fonte externa. O fluxo de energia, por sua vez, requer uma con-tínua fonte externa de suprimento. No caso dos ecossistemas, isso é al-cançado pela energia solar.

Alguma energia solar captada pelas plantas é convertida em gli-cose pela ação da fotossíntese. Parte da glicose é utilizada pelas plan-tas para o processo de respiração, pelo qual os produtores primárioscrescem por si. Os produtores primários têm uma taxa de produtividadebruta que é igual à produtividade líquida mais a respiração, tudo me-dido em unidades de energia. Os produtores primários (plantas) são afonte de alimentos para as próximas formas de vida: os consumidores pri-mários. O produto líquido dos produtores primários está potencialmentedisponível como um suprimento de alimentos para o seguinte nível de con-sumidores na cadeia alimentar. Percorrendo toda a cadeia alimentar, osherbívoros (consumidores primários) são fonte de alimentação para oscarnívoros que podem ser comidos pelos próprios carnívoros.O homem car-nívoro ocupa o topo da cadeia alimentar e, assim, pode utilizar toda arede como fonte de sua sustentação.19

Sob o ponto de vista da produtividade de um ecossistema e da efi-ciência natural20, é preciso examinar a quantidade de energia consumi-

19Recomenda-se Dix (1981) para uma leitura sobre as correntes e cadeias alimentares.

A eficiência natural é uma maneira de medir a relação do fluxo energético e a quan-tidade de matéria (massa) transformada por unidade de tempo num ecossistema. A maioreficiência natural está correlacionada à minimização de consumo energético por uni-dade de massa transformada. A eficiência natural é análoga à conhecida "eficiênciatécnica" que mede a relação de produto e fatores nos processos de produção e trans-formação. Aqui entram esses dois conceitos fundamentais, a eficiência natural e tec-nológica como suporte para a eficiência econômica e social.

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da e perdida no processo de conversão energética, numa cadeia alimen-tar. Como já se observou, a energia é transferida de um nível para ou-tro na rede de produtores e consumidores, sendo que a maior parte daenergia é perdida neste processo. Se a cadeia alimentar é bastante lon-ga, pode-se esperar que o consumidor, no topo da cadeia alimentar, es-teja consumindo um produto cujo conteúdo energético é somente uma pro-porção mínima do nível original do produtor primário. Odum(1971, p. 40)evidencia a importância dessa questão quando escreve: "(...) muito maishomens poderiam sobreviver numa determinada superfície se funcionassemcomo consumidores primários em vez de secundários". Em outras palavras,o homem vegetariano necessita uma área menor para se auto-sustentar doque o homem carnívoro. Só para ilustrar a colocação de Odum, se as plan-tas, como produtores primários,absorvem 1.500 calorias de energia lu-minosa por mVdia, então, pode-se estimar que 15 calorias (1%) termina-rão como produção líquida primária, refletindo enormes perdas respira-tórias dos produtores primários; 1,5 caloria é reconstituída pelos con-sumidores primários e apenas 0,15 caloria pelos consumidores secundá-rios. A Figura 9 pode ajudar a interpretar esses dados. Convém novamen-te evidenciar a vantagem do homem ao se abastecer de proteínas vege-tais em vez de proteínas animais. A eficiência e a produtividade ao lon-go da cadeia alimentar é sem dúvida uma das referências que o homem de-verá considerar para a organização de um sistema econômico eficiente.Os conceitos de eficiência natural e produtividade dos ecossistemas de-vem ser levados em consideração como ponto de partida para • uma eficazorganização econômica.

2.4 — Estabilidade do ecossistemaO ecossistema tende à estabilidade no longo prazo. As relações en--

tre os elementos de um ecossistema garantem um ajustamento no tempo quetende a dar uma característica de estabilidade ao mesmo. O homem, en-tretanto, seja através de sua ação econômica, seja pela sua ação so-cial, é o único agente que pode interferir no equilíbrio e na estabi-lidade de um ecossistema.

Qualquer ecossistema natural é caracterizado por um processo demudança contínua, enquanto as condições do habitat são alteradastanto por fatores externos como pelas espécies que ocupam o ha-bitat. A relação das espécies com o habitat e das espécies entre si épositiva e harmônica. Existem evidências de que todas as espécies, alémdo homem, possuem mecanismos de auto-regulação, razão pela qual suaspopulações são internamente reguladas face à disponibilidade de alimen-tos. Então, o tamanho da espécie e da população num ecossistema é deter-minado pela disponibilidade alimentar.

Quanto mais complexo e maduro for um ecossistema, maior será suaestabilidade. Há ecologistas que acreditam serem as mudanças na^suces-são determinadas pelo crescimento da diversidade das espécies. À medi-da que amadurece um ecossistema, isto é, mais próximo do estado de clí-max, maior quantidade de espécies o habitam. Em conseqüência, o ecos-sistema torna-se mais complexo pelo aumento de suas inter-relações.Umadas relações básicas entre as espécies é que cada uma ocupa um estra-to, isto é, um nível na cadeia alimentar; as espécies alimentam-se uma

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da outra ou, então, dos produtos de uma para outra. Nessa cadeia alimentar(item 2.2.3), os mecanismos de auto-regulação tornam-se mais complexos. Asinter-relações podem tornar-se mais frágeis, mais delicadas, mas evitamgrandes flutuações tanto no tamanho quanto no número geral de espécies.

A estabilidade do ecossistema é crucial para a atividade do homem,pois ele, como espécie animal no topo superior da cadeia alimentar,fazparte integrante desse sistema. Muitos ecologistas usam o argumento daestabilidade do ecossistema para criticar duramente os tratamentos eco-nômicos dados aos problemas do homem, em particular o crescimento eco-nômico e a inovação tecnológica. Há uma corrente de cientistas que su-gere um crescimento econômico zero (ver a Escola de Crescimento Zero noCapítulo 4) como justificativa para manter a estabilidade dos ecossis-temas. Como já foi afirmado, volta-se a dar ênfase ao fato de que o cres-cimento econômico e a mudança tecnológica devem ser adequados a uma rea-lidade ecológica e social. No caso barsileiro, não há como concordar coma política suicida do FMI que impõe uma recessão econômica (crescimen-to econômico negativo) para a realidade brasileira com altas taxas decrescimento populacional, altas taxas de desemprego e um enorme contin-gente de empregados. Uma política coerente, no mínimo, deveria estimu-lar a expansão econômica ao nível da taxa de crescimento da PopulaçãoEconomicamente Ativa, que está requerendo atualmente ao redor de 1.500mil novos empregos anuais, acompanhada por uma política da controle daexpansão vegetativa da população.

A questão do problema não é crescer ou não crescer, mas a maneirade crescer e os tipos de tecnologia associados a este crescimento eco-nômico. Uma adequação do crescimento econômico e tecnológico de formaalguma vem contrariar os princípios ecológicos da estabilidade dos ecos-sistemas. O homem, ao invés de violentar e desrespeitar as regras quelevam à estabilidade do ecossistema, pode muito bem servir de fator exó-geno ao sistema ecológico, assegurando sua estabilidade.

O homem precisa introduzir mudanças no seu modo de crescer. Asatuais degradação e poluição ambientais e o constante confronto com aestabilidade dos ecossistemas vêm comprometendo os padrões de qualida-de de vida do cidadão. O que de imediato se pode pedir ao homem é queele tenha respeito ecológico nos seus procedimentos de consumo e de pro-dução; que este respeite as regras básicas (direito natural) da natu-reza que regem a sua própria situação biológica, econômica e social.Insistir nos atuais interesses e benefícios imediatos pessoais e degrupos é aceitar a poluição e a instabilidade dos ecossistemas, bem co-mo a instabilidade dos sistemas políticos e econômicos.

Resumindo, o ecossistema é um complexo arranjo de interdependên-cia do sistema natural, e é a sua própria forma de equilíbrio que lhesustenta a estabilidade no tempo. Quanto mais maduro e complexo for oecossistema, maior é a sua estabilidade e equilíbrio.

2.5 — A poluição e a estabilidade do ecossistemaA estabilidade de um ecossistema implica a sua habilidade de con-

viver com os choques exógenos, tais como mudanças climáticas e choquesproduzidos pela atividade do homem. A poluição é um tipo de choque pá-

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rã o ecossistema, porque a essência da poluição, no significado biofí-sico, é que ela interfere nas relações entre as espécies existentespela necessidade de auto-regulação e sobrevivência. A poluição afeta asinter-relações dos elementos do ecossistema e, portanto,compromete suanatural estabilidade.

Um dos efeitos da poluição sobre o ecossistema é acelerar o pro-cesso de sucessão ecológica, particularmente com a adição de enormesquantidades de nutrientes ao meio ambiente num período de tempo muitocurto, se comparado ao comportamento natural do sistema.O problema prin-cipal da poluição está então vinculado à aceleração das mudanças nassucessões que não são acompanhadas por qualquer mudança correspondentenas populações associadas. Além do mais, a poluição, se não inibe oudificulta a ação das espécies, até mesmo eliminando-as pela morte, re-duz a diversidade, transformando a habitat de forma a favorecer uma es-pécie dominante. Um exemplo clássico são as algas, favorecidas pela po-luição, que desalojam outras espécies, reduzindo, assim, a diversifi-cação.

A poluição também interfere em vários processos e ciclos bioquí-micos num ecossistema, afeta os ciclos naturais de oxigênio, nitrogê-nio, etc. não absorvidos pelas espécies vivas. Como todas as formas devida dependem criticamente dos fluxos desses nutrientes, a instabili-dade do ecossistema é consideravelmente aumentada.

Há poluntes diretamente tóxicos para o homem. Efeitos danosos dapoluição presente podem ser transferidos para gerações futuras.Existemefeitos da poluição tóxica, gerados pelos processos químicos artifi-ciais, que o próprio homem é incapaz de prever.

Quais são os pontos centrais dessa superficial revisão para um eco-nomista ou cientista social que esteja preocupado em organizar uma so-ciedade estável?

Três pontos de relevante significância parecem ser evidentes. Pri-meiro, a poluição tem uma dimensão física, pois afeta o meio ambientefísico, induzindo mudanças pela alteração da composição das espéciesdo ecossistema. Segundo, a poluição não é somente um produto do cresci-mento econômico, ela também possui uma dimensão qualitativa que refle-te as tecnologias correntes utilizadas no sistema produtivo. A adequa-ção tecnológica é um requerimento qualitativo para proporcionar taxasadequadas de crescimento econômico compatível com o ecossistema. Ter-ceiro, talvez o mais importante de todos, a poluição tem um circuitovicioso que reduz a maturidade do ecossistema,diminuindo a habilidade ea capacidade de absorver choques de mudanças endógenas e exógenas aomesmo. A própria poluição reduz a capacidade do sistema de absorverpoluições adicionais. Nesse sentido, é precido revisar a filosofiade crescer, poluir e despoluir, modelo adotado pelos países desenvol-vidos. Para os países em desenvolvimento, esse deve ser um antimodelo,pois os custos sociais da poluição e da degradação ambientais irrever-síveis são tão altos que sociedade nenhuma pode suportá-los. Imaginemos custos de repor tudo que foi degradado na região de Cubatão, cidadepaulista que ostenta o título de cidade mais poluída do mundo. O Brasilnão dispõe desses recursos.

Há evidências de que a sociedade jamais terá os recursos financei-ros para sua repleta limpeza física, social e psíquica, tão alto é o

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custo social da poluição. Desconhece-se qualquer avaliação do custo so-cial global da poluição em uma sociedade. Os economistas não a fizeram,e tampouco os governos têm interesse em conhecer essa dura realidade, poisnão seria surpresa se o ônus da poluição ultrapassasse, em muitos ca-sos, o valor da riqueza e os benefícios gerados pelas atividades eco-nômicas. Existem indicadores suficientemente sérios para o que se acabade afirmar. Por exemplo, o Governo grego fechou, em 1982, 50% da capa-cidade industrial de Atenas para assegurar a sobrevivência humana nes-ta região, onde os índices de poluição já ultrapassaram os limites detolerância biológica. Qual é o custo dessa decisão? Quem paga esse ônus?

É preciso reconhecer que a natureza é sábia e muito paciente. To-davia toda a sabedoria é limitada e toda a paciência tem limites de sa-turação.

2.6 — Economia, ecologia e políticaJá foram feitas várias referências e analogias entre a Economia e

a Ecologia. O que foi exposto nos itens anteriores mostra que,teorica-mente, não existem conflitos entre as Ciências Econômicas e a ecologia.A analogia dos fluxos de energia e do balanço da matéria num ecossis-tema com o fluxo monetário e de bens e serviços num sistema econômico(ver Capítulo 4) é um elemento evidente da perfeita compatibilização econvivência harmônica entre as Ciências Econômicas e as biológicas.Cientificamente, ambas integram-se e complementam-se com vistas à cons-trução de uma sociedade estável e auto-sustentável. Embora existam cho-ques ecológicos de graves conseqüências para a humanidade e críticascoerentes por parte de ecologistas à Economia, existem também economis-tas que revidam a mentalidade conservacionista de ecologistas. SegundoSachs (1979 a e b), não tocar na natureza é querer o impossível, poisohomem busca na natureza a principal fonte de sua sobrevivência, satis-fazendo suas crescentes necessidades básicas. Por outro lado, explorara natureza sob o princípio imediato do lucro e do livre mercado é com-prometer as gerações futuras e a estabilidade dos ecossistemas e dossistemas econômicos. A realidade mostra evidências suficientes de queo desrespeito ecológico e a conseqüente deterioração ambiental estãoassociados aos sistemas econômico e político de uma sociedade. Por ou-tro lado, os problemas de poluição não são uma questão exclusiva do sis-tema capitalista e do livre mercado, mas ocorrem em intensidades seme-lhantes, apesar de terem carcaterísticas diferenciadas, nas economiasde planejamento central.21 Problemas ambientais sérios estão presentesno mundo inteiro, independente do sistema capitalista ou socialista.Isso nos leva a refletir sobre as causas reais dessa situação mundial.0'Riordan (1979) coloca muito bem essa questão que está resumida na Fi-gura 10. A questão ambiental e a poluição do mundo atual devem ser en-tendidas num quadro mundial amplo,onde a hierarquia nacional define as

21Para informações adicionais sobre problemas de deterioração da qualidade ambiental ede poluição nos países de planejamento central, ver o livro do cientista russo Fedo-nov (1980), bem como os artigos de Goldman (1973) e 0'Riordan (1979).

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prioridades, uá objetivos e as metas. No cenário mundial, ambos os lí-deres dos dois sistemas políticos e econômicos, no caso o dos EstadosUnidos e o da União Soviética, têm no topo de suas prioridades a se-gurança nacional. Nesse contexto institucional do cenário mundial temprioridade a decisão pelo uso dos recursos para a indústria bélica, eestes recursos são sacrificados sem atender às necessidades básicas,entre as quais se encontra a qualidade do meio ambiente. Deve-se en-tender que a questão de segurança nacional é uma questão pura e simples-mente política, nada tendo a ver essa decisão com as Ciências Econômi-cas e com a ecologia. A qualidade ambiental, bem como mostra a Figura 10,fica colocada longe do topo das prioridades nacionais, e esta é a ra-zão básica que explica porque lhe é dada pouca atenção em termos deprioridades nos contextos universal, nacional e regional.

FIGURA 10

HIERARQUIA E PRIORIDADES DE OBJETIVOS E METAS NACIONAIS

Segurança, Saúde, Crescimento

Prioridade nQ lSegurançanacional

Saúdepública

Crescimentoeconômicoe emprego

Re distribuição

Prioridade nQ 2

Desenvolvimentoregional

Distribuiçãoda renda

Igualdadede oportunidadessociais

Qualidade ambiental

Prioridade nQ 3

Qualidade ambiental(acompanhamento econtrole)

Harmoniaecológica

FONTE: O'Riordan (1979, p. 20).

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Considerando as prioridades dentro da hierarquia nacional, não édifícil entender porque ocorrem problemas de poluição na Rússia e nosEstados Unidos. A qualidade ambiental está muito longe do topo das prio-ridades e diretrizes nacionais. Nesse contexto, é importante que se di-ga que o problema da poluição e da degradação ambiental é uma questãode decisão política e foge da alçada dos economistas eecologistas.Tam-bém não se trata de tal quadro ter algum respaldo nas Ciências Econô-micas ou na ecologia. A prioridade da segurança nacional é fixada pelosistema maior por interesses de grupos e pessoas que compartilham como sistema. Esse quadro das hierarquias e prioridades estabelecidas pe-las lideranças mundiais tem um reflexo direto sobre os países de suaárea de influência. Assim, as prioridades dos líderes são transferidaspara os países satélites de sua liderança, e a qualidade ambiental fi-ca ainda mais longe do topo das prioridades nacionais nos países do ter-ceiro mundo. O atual quadro mundial é bastante sombrio e oferece pou-cas perspectivas para os países liderados tanto pela órbita socialistaquanto pela capitalista. Simplesmente, não há opção política e nem li-berdade para definir a organização econômica e social, dadas as rela-ções de dependência e a imposição das regras do jogo pelo líder. Um paísque procura livrar-se do imperialismo capitalista cai na tutela do im-perialismo socialista. Onde não há opção de escolha e alternativas denegociação, a liberdade e o diálogo são uma farsa, pois os vereditossão impostos pelo líder. Assim, a decisão pelo uso dos recursos natu-rais renováveis e não renováveis no mundo inteiro e o conseqüente im-pacto na qualidade ambiental estão condicionados: em primeiro lugar, aosinteresses das lideranças mundiais; em segundo, aos interesses de pes-soas físicas e jurídicas representadas pelos grupos e companhias trans-nacionais no sistema capitalista e pelo próprio governo no sistema co-munista. As relações de dependência entre os países ricos e nobres sãobem definidas. Ambas as lideranças,através dos poderes político e econô-mico, impõem suas decisões e seus interesses aos países submissos nasua área de influência. Nesse contexto, entende-se facilmente os pro-blemas de ordem econômica, social e política com os quais os países doTerceiro Mundo convivem. Entre os problemas de poluição do Terceiro Mun-do, agrava-se a situação pela destruição indiscriminada dos recursosnaturais e pela geração de miséria humana nos cinturões das áreas me-tropolitanas. As indústrias poluentes e muitos produtos químicos tóxi-cos e pesticidas intoleráveis e até proibidos nos países ricos são sim-plesmente transferidos para os países satélites que se transformam emverdadeiros hospedeiros da indústria poluente rejeitada pelas socie-dades dos países ricos. O Estado e os grupos multinacionais estão so-lidários com seu cidadão, garantindo-lhe o bem-estar social às cus-tas da miséria e da poluição dos cidadãos do Terceiro Mundo. Além domais, a imposição de um modelo econômico de produzir-poluir— despo-luir, adotado pelos países ricos, oportuniza excelentes perspectivas denegócios para a venda da tecnologia antipoluição que foram obrigados adesenvolver, investindo enormes recursos financeiros em pesquisas. Alémdisso, os governantes dos países liderados (raros governos civis) têmum compromisso firmado com as lideranças mundiais, pouca sensibilidadee nenhuma solidariedade com seus concidadãos. Assim, não se deve estra-nhar que a Cidade de Cubatão, em São Paulo, seja hoje o ponto geográ-fico mais poluído do mundo, que a ex-Borregard (hoje Riocel) esteja lo-calizada às margens do rio Guaíba (na "boca" de Porto Alegre), cuja ori-gem é escandinava, região que possui extraordinária abundância de ma-

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téria-prima (50 a 60% do território florestado) quando comparada com aescassez de madeira no Rio Grande do Sul, com menos de 8% de seus ter-ritório florestado e com menos de 2% de suas florestas naturais.

Esse cenário mundial vigente não pode ser ignorado quando se pra-tica ciências sociais. Não adianta pintá-lo diferente. As relações dedependência internacional são cuidadosamente acompanhadas e planejadaspor quem de interesse, conscientes dessa necessidade para manter o ní-vel e o bem-estar material e social nas nações ricas. A questão ambien-tal está inserida nesse contexto. Os Governos Federal e Estaduais de ho-je não têm a mínima liberdade para implantar uma política de melhoriada qualidade ambiental, reclamada e aspirada pela sociedade brasileira.Também não será de estranhar que brasileiros sejam obrigados a convi-ver com tal cenário por muito tempo, até que se forme uma consciêncianacional da liberdade econômica, política e social. Enquanto esse pro-cesso perdurar, não se pode esperar que haja um concenso científico, eos conflitos de pensamento teórico entre profissionais serão inevitá-veis. A liberdade científica, de certa forma, está subordinada a in-teresses maiores. Daí porque existem teorias econômicas e de desenvol-vimento contraditórias com uma realidade,pois há profissionais que têmcompromissos com as instituições a que estão servindo: os direitistas,esquerdistas, liberais e anarquistas fazem-se presentes nos debates.Todavia a organização econômica é uma simples questão de princípios,nosquais uma lógica se postula. Aqui está o cerne da questão: se alguémorganiza a economia baseado nos princípios ecológicos, nas necessidadesbásicas e na participação, terá sérias discussões e conflitos com umcolega que parta do princípio do livre mercado. Antes de interpretar osresultados dos dois sistemas, é preciso examinar se os princípios sãofalsos e se têm aceitação universal. E, quando esses princípios foremrestritivos e falsos, toda a teoria não passará de um mero exercícioacadêmico, não tendo validade prática nenhuma, a não ser para justifi-car, argumentar e defender restritos interesses pessoais,de grupos eco-nômicos e governos. Se o nosso objetivo é assegurar a estabilidade dosecossistemas e uma sociedade integrada e auto-sustentável, o princípiodo livre mercado é parcialmente falso. Então, o mercado como um meca-nismo da organização do sistema econômico falha, como também falha o go-verno (ver detalhes adicionais nos Capítulos 5 e 6). O problema da po-luição é, em parte, um resultado da ineficiência do sistema econômico:suas falhas devem ser identificadas e corrigidas em função de princí-pios universalmente aceitos. A ciência do meio ambiente vem oferecendocontribuições relevantes para essa questão.

A nossa principal preocupação em confrontar a Economia e a ecolo-gia é examinar algumas de suas características comuns, bem como iden-tificar incompatibilidades existentes. Tal procedimento se justificapara debater assuntos ambientais tendo em vista sua interdisciplinari-dade. Resolver problemas econômicos, políticos e sociais significa re-solver problemas ambientais. Não existem soluções isoladas, pois a in-terdisciplinaridade deve ser utilizada para tratar problemas interde-pendentes.

Uma rápida revisão de literatura, principalmente a partir de 1970,mostra a existência de ataques desfavoráveis aos economistas. Taylor(1970) falou sobre a "bancarrota da Economia", argumentando que a Eco-nomia procura falsamente colocar um preço em tudo, incluindo coisas na-

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turais, e igualmente atribui significados normativos para estes preços.Mcharg (1969) refere-se aos economistas que vêem o mundo como uma mer-cadoria, uma visão que falha em incorporar e avaliar processos físi-cos e biológicos. Talvez porque relativamente poucos economistas esti-vessem trabalhando em assuntos ambientais,pouco freqüentemente os ataqueseram revidados (Pearce, 1976). Mas Beckerman (1975) fala sobre as atitu-des "arrogantes" de certos cientistas em comentar a Economia, um assuntoque muitos deles parecem ter uma "ignorância astronômica". O mesmo au-tor, entretanto, afirma que não existem dúvidas de que o problema dapoluição do meio ambiente é uma questão aparentemente simples:trata-sede corrigir as distorções na alocação de recursos através da taxação dapoluição. Todavia a taxação da poluição é uma das grandes polêmicas en-tre os economistas. Os críticos da política de taxação argumentam queessa é uma maneira de oficializar a poluição, uma vez que o ônus da ta-xação é transferido para o consumidor via preços, e o problema da po-luição continua sem solução.

Essas críticas e colocações pessoais de ambos os lados parecem su-gerir que, se a ecologia e a Economia realmente forem ciências, algu-ma coisa vem ocorrendo de errado com a compreensão de cada disciplinaem relação ao conteúdo da outra. Caso as mesmas sejam incompatíveis,tem-se o direito de conhecer qual é a disciplina certa quando do pla-nejamento da alocação dos recursos e da administração dos resíduos. Sea ecologia realmente for falsamente desvirtuada pelas políticas de con-servação, as políticas ecológicas reduzirão obrigatoriamente os padrõesmateriais de vida. Se a Economia é falsamente otimista, o uso de prin-cípios econômicos para orientar o planejamento pode propiciar riscospara a qualidade de vida e, talvez, comprometer a sobrevivênvia. Nessesentido, argumenta Pearce (1976), é de suma importância saber quem es-tá com a verdade. Mas, para a questão ambiental, essa é uma discussãodesgastante e infrutífera, totalmente dispensável. Sabe-se,pelo próprioconceito de meio ambiente, que a ciência ambiental é uma disciplina in-terdisciplinar onde os esforços das Ciências Econômicas e da ecologiadevem convergir, se integrar e complementar. Elas não só são compatí-veis dentro dos princípios universais, como também se complementam per-feitamente.22 No momento que o esforço científico das disciplinas seconcentrar e colocar individualmente seu serviço para a melhoria dascondições de vida do homem social, não haverá mais campo e nem espaçopara tais discussões.

Segundo Rossetti (1976, p. 36), as conclusões das Ciências Econô-micas não podem ser transformadas "sic et simplicita" em normas de po-lítica econômica. Entretanto existe um concenso entre os economistas queos princípios das Ciências Econômicas constituem importantes elementospara a solução de problemas concretos, mas eles não são os únicos ele-mentos que devem ser considerados.

22Um paralelo entre Economia e ecologia encontra-se nos textos de Pearce (1976 e 1974)e Ploeg (1976).

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FEE-OEOOC

3 - PROBLEMAS, CAUSAS E FONTES

DA POLUIÇÃO AMBIENTAL

O meio ambiente é um assunto que vem tendo uma crescente parti-cipação nas discussões diárias, mais intensamente a partir dos anos 70,não apenas nos países industrializados; também, nos últimos anos, vemrecebendo destaque nos países em desenvolvimento. Essa realidade não so-mente é vivida no meio científico e acadêmico, mas também no meio po-lítico, bem como tornou-se uma preocupação dos governantes e uma res-ponsabilidade de todos nós. O fenômeno da deterioração da qualidade em-biental vem se agravando numa escala cada vez maior, em particular a po-luição que vem despertando um interesse crescente de todos os segmen-tos da sociedade. Todos estão temerosos nos dias atuais pelo fato de apoluição ser um sério problema para o ser humano, considerando que seusefeitos danosos recaem sobre todos e afetam toda a nossa vida profunda-mente, não só física e biologicamente, mas com profundas repercussõessobre a vida psicológica e social.

3.1 — O que é poluição?Gilpin (1976, p. 124) define a poluição como

"(...) qualquer alteração direta ou indireta nas proprieda-des físicas, térmicas, biológicas ou radiológicas em qual-quer parte ambiental pelo descarte, emissão ou depósito deresíduos ou substâncias tóxicas, afetando e criando condi-ções adversas que não são propícias para a saúde pública,se-gurança ou bem-estar, ou para a vida animal e vegetal".

O mundo está repleto de substâncias tóxicas e venenosas. Muitasdelas ocorrem naturalmente, independente da ação humana. Assim, as la-vas de um vulcão ativo podem conter sulfurosos em cujas circunvizinhan-ças as plantas não encontram condições de crescimento. Os rios que cor-rem pelas florestas podem tornar-se desoxigenados pelo excessivo depó-sito de matéria orgânica. O resultado dessa decomposição é similar auma alta contaminação de materiais naturais nos esgotos. O mercúrio na-tural dos oceanos pode ser concentrado por peixes a níveis tais que pos-sa trazer preocupações às autoridades sanitárias; mas a poluição carac-teriza-se usualmente pela presença de materiais tóxicos introduzidosdentro do ambiente pelo próprio homem. A natureza produz incalculáveisquantidades de resíduos no processo permanente de transformação de vi-da-morte pelos ecossistemas. Todavia a dinâmica dos ecossistemas incor-pora todos os resíduos via reciclagem e tende, ao longo prazo, para aconhecida estabilidade do ecossistema. O homem também é um grande pro-dutor de resíduos, porém, em vez de reciclá-los, joga-os na água,no so-lo e no ar. Aqui está uma diferença fundamental entre os procedimentos

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do homem e da natureza. A ausência de reciclagem nos sistemas econômi-cos torna o sistema instável, improdutivo, e a conseqüência mais sériaé a deterioração da qualidade ambiental. O homem simplesmente violentaa capacidade de absorção do meio ambiente pelos crescentes volumes deresíduos que ele insiste em jogar na natureza. No momento em que a ca-pacidade da reciclagem da natureza é ultrapassada pelos resíduos do ho-mem, surgem os problemas da poluição da água, do ar e dos solos e, emdecorrência, a poluição psíquica e social. Assim nascem a poluição dossolos, a das águas e a do ar que são a origem básica dos modernos pro-blemas ambientais, cujos impactos mais amplos sobre o homem se tradu-zem na deterioração do meio ambiente social e psicológico do indivíduoe da sociedade como um todo. Daí chega-se a conclusão: a natureza em sinão polui e, a longo prazo, constitui um sistema estável; o contrárioacontece com o sistema econômico, da forma como vem sendo organizado époluente e instável. Suas crises periódicas, ciclos de contração eexpansão econômica, são características que medem a instabilidade daseconomias capitalistas. Isto é um argumento convincente de que o homemdeve acreditar na natureza, respeitá-la e humildemente seguir seu maissingelo exemplo: reciclar seus resíduos para evitar e controlar os in-desejados problemas de poluição. Isso certamente exige uma revisão doatual sistema econômico e a adoção de novos critérios na organizaçãodo sistema, entre eles, destaca-se o respeito ecológico.

Em termos de poluição, é preciso diferenciar a poluição perigosae a contaminação não tóxica. Quando um veneno está presente a um cer-to nível e agudos efeitos tóxicos podem ser reconhecidos ou projetados,então trata-se de um caso claro de poluição. Isso pode ser observadonuma corrente de água que recebe uma carga excessiva de esgotos, porémtorna-se mais difícil ter certeza absoluta com relação a níveis infe-riores aos tolerados. É o caso dos sulfurosos, pois quantidades meno-res usualmente desaparecerão antes que algum irreconhecido dano possaocorrer. Porém, com os tóxicos cumulativos, a história é diferente.Essespodem estar concentrados nas células de animais vivos ou plantas, e paracada mínima exposição pode surgir um efeito adicional. Assim, uma sim-ples exposição ao chumbo, arsênico ou DDT pode não ser um perigo ime-diato, embora uma porção do veneno possa ser armazenada no corpo da ví-tima. Exposições adicionais podem levar a uma acumulação de veneno a umnível perigoso e fatal. Crônicas exposições a baixos níveis de radia-ção podem reagir de alguma forma diferente, mas com um resultado apa-rentemente similar. A questão mais séria desse tipo de poluição é a suainvisibilidade aparente — tem efeitos ocultos, cujos resultados sériose irreversíveis surgirão com o passar do tempo.

A maioria dos poluentes não são permanentes, ou seja, biodegradá-veis. O controle ambiental para tais poluentes é relativamente fácil.Tudo o que deve ser feito é muito simples: "respeitar as regras funcio-nais dos ecossistemas, isto é, a capacidade da 'máquina natural de re-ciclagem"1. Se a capacidade de reciclagem de um ecossistema é de 100toneladas/dia de esgoto, qualquer quantidade adicional a este volume im-plica poluição. Todo e qualquer ecossistema tem um limite de capacidadepara receber resíduos humanos, para absorvê-los, dilui-los,reciclá-lose incorporá-los ao próprio ciclo produtivo do sistema natural. Os gran-des problemas ambientais das águas e do ar (em menor escala do solo) sãooriginados pelo desrespeito a esta lei básica da natureza: o homem pro-duz excessivos resíduos domésticos, industriais e agrícolas e joga-os

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simplesmente fora, mesmo sabendo que isto lhe custará caro. É o benefí-cio das gerações presentes transformado em ônus para as gerações futuras.

O esgoto pode ser jogado nos oceanos e rios sem problemas de po-luição. O gás tóxico de dióxido sulfúrico pode ser lancaHn na atmosfe-ra e ser diluído a níveis não perigosos, pois cedo voltará à terratransformado em sulfato de amônia sem a toxidez original. Obviamen-te tais esquemas podem, eventualmente, não dar certo. Condições climá-ticas podem impedir a diluição e a absorção desejadas. Mas, no contextogeral, esse procedimento de controle da poluição é o método socialmen-te mais eficiente para a grande maioria dos poluentes degradáveis.

Os poluentes persistentes e duradouros, mais conhecidos como nãodegradáveis, tornam o problema da poluição muito mais sério e complica-do. Mesmo que essas substâncias sejam diluídas em níveis não tóxicos,elas permanecerão no meio ambiente com possibilidades de serem concen-tradas, talvez por organismos vivos, na cadeia alimentar, ao ponto quesua toxidez alcance novamente níveis perigosos. A propósito, um peixepode concentrar o inseticida organoclorado a níveis de alta toxidez.Esses persistentes poluentes são muito sérios para aquelas pessoas quesão obrigadas a conviver com eles e, lamentavelmente, a indústria quí-mica está aumentando a produção ao invés de diminui-la.

Há autores que consideram os poluentes não degradáveis a fonte dapior poluição, principalmente aqueles que permanecem indefinidamenteinalterados devido à sua composição química irreversível.Há produtos quí-micos com uma cadeia molecular permanente e irreversível, isto é, nãohá processo natural ou artificial (sabedoria humana) que possa decomporou quebrar essa cadeia química. A verdadeira e pior poluição é exatamen-te aquela que tem origem em poluentes não agradáveis e quimicamente irre-versíveis. A melhor política de controle ambiental e da poluição para taiscasos é a proibição pura e simples de sua fabricação, comercialização e uso.

3.2 — O homem poluidor e produtor de resíduosO homem tem uma excepcional capacidade para produzir resíduos e

conseqüentemente poluir o seu meio ambiente, esteja ele em atividadesfísicas, intelectuais ou mesmo dormindo. O homem libera energia e ma-téria constantemente nas suas atividades rotineiras,e o lugar comum dosresíduos é o meio ambiente. Por isso, grande parte da poluição é causa-da pela necessidade do homem de se ver livre dos resíduos. Aqui o re-síduo significa qualquer material gasoso, sólido, líquido ou ruído queé descartado porque não tem utilidade ou valor imediato para o dono.Esse conceito sugere que o resíduo humano pode ser eliminado uma vezque ele é um produto complementar da vida biológica,econômica e socialdo homem. Mas os resíduos descartados no meio ambiente global podem pro-duzir efeitos danosos, então eles são poluentes potenciais.

Os resíduos não podem ser eliminados, poiseles fazem parte integrante e são inevitá-veis à atividade do homem biológico, eco-nômico e social. Esses resíduos obrigato-riamente serão descartados e retidos no meioambiente global.

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Entretanto o homem não é o único produtor de resíduos.Toda e qual-quer forma de vida para sua sobrevivênvia no nosso finito planeta Ter-ra depende da liberação de energia e de matéria. Uma folha de grama res-pira gases da atmosfera e expira oxigênio. Existem ciclos naturais nabiosfera, tais como o do oxigênio, do nitrogênio, etc., todos interliga-dos e interdependentes num sistema de cadeia alimentar. Isso significaque a morte é integrada no metabolismo ambiental tão efetivamente comogases respirados e água evaporada. Plantas e animais mortos decompõem--se como se estivessem munidos de um sistema próprio de autodestrui-ção. Na verdade, trata-se de uma conversão e não de destruição. As for-ças de decomposição transformam a matéria orgânica morta em novas for-mas de vida animal e vegetal. Nesse processo dinâmico de decomposiçãoe transformação natural, a morte é tão importante quanto o sexo na per-petuação da vida humana. Nesse contexto, não há como se preocupar comos resíduos no meio ambiente natural. Este está preparado para receberos resíduos, tal como é sua função, para diluir, degradar, decompor ereciclar produtos residuais da energia e da matéria em processos de vi-da. Dessa forma, o meio ambiente natural é dependente e estruturado pa-ra cumprir sua função de receptador de resíduos, reciclá-los ereincor-porá-los ao processo produtivo.

Não tema a morte, pois ela é tão importan-te quanto a reprodução para perpetuar a vi-da. Sem morte, não há vida. O meio ambien-te natural está preparado para diluí r, dis-persar , assimilar e reciclar resíduos ener-géticos e materiais liberados pelos proces-sos da vida. O meio ambiente funciona comoreceptador e reservatório dos resíduos na-turais e do homem.

O homem tem vivido por muito tempo em harmonia e beneficiando-segratuitamente da ecologia. Na civilização dos caçadores, a natureza nãotinha problema algum em assimilar a modesta produção de resíduos huma-nos. Todavia o homem vem evoluindo e suas atividades crescem em comple-xidade e número. Ele aprendeu a se defender, a superar doenças e a seadptar em meio ambientes hostis até que se tornou o mais numeroso detodos os animais e a única espécie animal espalhada pelo mundo inteiro.Nessa corrida, o homem mudou seus hábitos nômades por assentamentos per-manentes. Essa tendência da crescente concentração populacional e eco-nômica e o desordenado crescimento urbano caracterizaram a moderna ci-vilização, obrigada a conviver com sérios problemas de poluição do ar,da água, dos solos e de ruído, como efeitos da concentração e descartede resíduos a níveis muito superiores à capacidade natural do meio am-biente. Vivendo em cidades, o homem aprendeu e expandiu suas habilida-des para conversão energética. Aprendeu a gerar energia a partir do car-vão, do óleo, do gás e do átomo. Ele aprendeu não só a explorar a ri-queza orgânica, mas também a riqueza inorgânica, como zinco,ferro, co-bre, alumínio, ouro, prata, chumbo, etc. Aprendeu também a produzir pro-dutos sintéticos, tais como plásticos, náilon, fibras,pesticidas, etc.Para converter matérias-primas em produtos de consumo final e interme-diário, ele aprendeu e vem desenvolvendo máquinas' sofisticadas e com-plexas. Ele está hoje convivendo numa fascinante revolução da informática

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e da genética, o que irá redimensionar profundamente seus hábitos ecostumes nas próximas gerações, bem como os tipos de poluentes.

Todo esse crescimento de conversão energética e da matéria gera umproduto residual cuja diversidade, volume e complexidade excedem em mui-to os resíduos provenientes da incontrolada concentração populacionalurbana. Os nossos rios estão recebendo, além dos detritos das plantase dos animais e o esgoto humano, incalculáveis quantidades de resíduosquímicos, tóxicos de fabricação do homem. Os rios são impiedosamente mor-tos, a terra infiltrada com tudo que é tipo de tóxicos e a atmosfera vem sen-do sobrecarregada de exagerados volumes de gases tóxicos, de partícu-las, etc. O homem moderno vem usando e abusando do meio ambiente, satu-rando-o a níveis intoleráveis de todos os tipos de poluentes, colocan-do em risco a saúde pública e a sua própria sobrevivência em nome doprogresso econômico e tecnológico. Ele insiste em jogar todos os seusrestos no meio ambiente, sem a mínima preocupação em reciclar ou mini-mizar a produção desses resíduos.

Na moderna estrutura econômico-social, a atividade econômica do ho-mem pode ser classificada em três setores básicos: produção energética;produção de produtos manufaturados e agrícolas; e consumo. Todos essessetores produzem resíduos que podem ser incorporados ao sistema produ-tivo ou simplesmente descartados e jogados no meio ambiente. A produçãode resíduos é inevitável nos processos de produção e de consumo, res-tos que não têm imediata utilidade para os padrões de produção e de con-sumo vigentes. Teoricamente, todos os detritos, rejeitos industriais edomésticos podem ser reaproveitados e/ou reciclados, assim reincorpo-rados ao ciclo produtivo. Mas as estruturas mental, social e econômicado homem moderno impõem que ele se livre desses resíduos, jogando-os noar, na água e nos solos. Em conseqüência, a capacidade natural de absor-ção do meio ambiente é afetada e sobrecarregada, quando, então, a po-luição das águas, a do ar e a dos solos se tornam um problema sério pa-ra o próprio homem. A qualidade do meio ambiente é deteriorada, e ascondições de sobrevivência e o desenvolvimento integral do homem ficamcomprometidos. A Figura 11 mostra claramente essas relações. Isso fazconcluir que, enquanto não existir uma contrapartida proporcional nareciclagem dos resíduos produzidos pelas atividades do homem face aoprogresso econômico nos moldes atuais, a poluição crescerá a taxas maisaceleradas,e a qualidade do meio ambiente ficará totalmente comprometida.

Ninguém nega os benefícios que o avanço tecnológico e o progressoeconômico promovem para o bem-estar social do homem. Todavia ninguémpode ignorar os malefícios da poluição e a degradação ambiental resul-tantes desse processo e seus prejuízos ao próprio homem. Este precisaadequar a tecnologia e o crescimento econômico para minimizar a produ-ção de resíduos e o impacto ambiental. Todo o seu esforço científicodeve visar ao bem-estar do homem. O ponto de partida para uma melhoriana qualidade ambiental reside numa observação básica do que a naturezatão clara e singelamente nos mostra (Figura 11.a): reciclar os resíduosincorporando-os ao sistema produtivo. O homem animal compartilha e par-ticipa desse processo. Todavia o "homo sapiens" não está disposto aaprender essa tão simples lição do sistema natural — uma regra funda-mental para garantir a estabilidade do ecossistema —, mas insiste comum sistema econômico (Figura 11.b) produtor de resíduos e poluidor domeio ambiente. A observação de que o sistema natural é um sistema es-

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tável e não poluidor deve servir de base e como um princípio para or-ganizar um sistema econômico-social. Portanto, o homem, queira ou nãoqueira, deverá assimilar esse princípio, reciclando seus resíduos paraconstruir uma sociedade despoluída e estável.

FIGURA 11

ESQUEMA ANALÍTICO ENTRE SISTEMA NATURAL E SISTEMA ECONÔMICO

a) Sistema natural (um sistema despoluído e estável)

b) Sistema econômico (um sistema poluidor e instável)

RECURSOS NATURAIS

PRODUÇÃO

ENERGIA

PRODUÇÃO

MANUFATURADOSCONSUMO

RECICLAGEM RESÍDUOS

DESCARTE

ÁGUA AR SOLO

POLUIÇÃO

IQUALIDADE

DOMEIO AMBIENTE

FONTE: Adaptação de Dix (1981, p. 19).

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3.3 — Fontes e causas da poluição ambiental

3.3.1 — Fontes da poluição

Um bom início para a identificação das fontes e das causas da po-luição é fazer a seguinte pergunta: se a natureza, apesar de grande pro-dutora de resíduos, não polui, por que o homem insiste em poluir a ní-veis que comprometem a sua própria vida?

Como já foi dito, a poluição é um efeito resultante da interven-ção do homem no sistema global e, como tal, não pode ser explicada ex-clusivamente pela política econômica, pela tecnologia, pela sociologia,pela psicologia, etc. Todavia seria extremamente útil examinar algunsdos aspectos globais do sistema econômico (ver Capítulo 6) para iden-tificar posteriormente as fontes e causas da poluição.A literatura mos-tra que as fontes globais da poluição podem ser resumidas em quatro:crescimento econômico; crescimento da taxa de concentração e da popula-ção; mudança e avanço tecnológico; e interdependência institucional eeconômica. Esses pontos interdependentes podem ser resumidos em doisenfoques: inadequação de produção (apropriação inadequada de tecnolo-gia) do sistema econômico e comportamento inadequado de consumo. Entre-tanto há economistas, como Mansfield (1975, p. 508), que resumem as cau-sas da poluição em: crescimento econômico; crescimento da população; emudança tecnológica. Na verdade existem outras colocações. Segundo Sa-vage (1974, p. 9), as causas da poluição resumem-se em: níveis de ren-da nacional; concentração e crescimento da população; competição indus-trial; competição locacional; crescente uso de água e produtos quími-cos; e competição entre bens coletivos e privados. Porém Dahmen (1971,p. 68) lembra que é preciso dar atenção a progresso tecnológico e eco-nômico, desenvolvimento populacional, urbanização e condições geográ-ficas e climáticas. Dahmen afirma que a tecnologia, a industrializaçãoe a urbanização, por si sós, são os fatores básicos da poluição e queas condições geográficas e de clima podem ser consideradas causas con-tributivas, mas jamais suficientes para causar degradação ambiental.

Há economistas que colocam as origens da poluição na inadequaçãode produção e de consumo, aspectos que devem ser vistos no cenário ins-titucional internacional, os quais, na prática, vêm determinar as prio-ridades na alocação dos recursos (ver item 2.6 e Capítulo 4) e o com-portamento geral do consumidor. Essa é uma questão de princípios que re-gem a organização do sistema econômico de livre mercado, que está in-timamente associado aos padrões e ao comportamento de consumo de uma so-ciedade. Assim, é preciso questionar primeiro o sistema político — queimpõe as prioridades — e os princípios para organizar o sistema eco-nômico.

Dix (1981, p. 20) mostra, em termos bastante gerais, tipos e mé-todos de descarte das matérias residuais, ilustradas na Figura 12. Ma-téria gasosa e partículas são emitidas para a atmosfera de todos os ti-pos de atividades domésticas, comerciais, industriais e agropecuárias.Tais resíduos são uma crescente fonte de poluição atmosférica, e par-te desses materiais residuais eventualmente retornam para a terra, de-positando-se na superfície dos solos e nas águas. Resíduos sólidos sãodepositados principalmente nos solos, mas, por subseqüentes processosde transformação, podem escapar substâncias químicas como fonte da pó-

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luição das águas. Resíduos líquidos podem ser descartados diretamentenos cursos de águas ou nas águas centrais de oceanos e lagos,tornando--se uma fonte de poluição aquática. O tipo de resíduos e os métodos dedistribuição estão todos interligados na biosfera como mostra a Figu-ra 12. Enquanto seja conveniente considerar resíduos no solo e na águaseparadamente, é importante perceber que a poluição causada é essencial-mente um efeito integrado.

A maioria dos resíduos podem ser classificados em sólidos e líqui-dos, ou em uma mistura desses estados físicos. Os líquidos são, muitasvezes, chamados de efluentes, os quais significam uma corrente de lí-quidos descartados usualmente produzidos por atividades industriais oudomésticas (esgotos). Existem muitos tipos de efluentes, mas basicamen-te eles consistem de um líquido viscoso contendo substâncias químicassolúveis e insolúveis.

FIGURA 12

FONTES DE MATERIAIS RESIDUAIS NO MEIO AMBIENTE

Mineraçãoi ' Casas

residenciaise comerciais

\

Atmosfera

Propriedadesindustriais

/ \

Propriedadesrurais .

Resíduos Chuva Descartes Efluentes Resíduos Cinzas Pesticidas,danosos e (lixo) líquidos tóxicos e fertilizantes

descarte e pasta fluida

FONTE: Dix (1981, p. 20).

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Os produtos sólidos residuais podem ser descritos de acordo com otamanho da partícula (entulho, cascalho, brita, areião, cinza, pó) oude acordo com a sua origem (operações de mineração e processos indus-triais). A constituição química dos resíduos sólidos classifica-os ge-nericamente em substâncias orgânicas e inorgânicas.Muitos resíduos com-postos orgânicos são de origem de organismos vivos, mas outros decor-rem da atividade manufatureira. Os demais compostos químicos são deno-minados de não orgânicos ou inorgânicos. Pequenas quantidades dos assimchamados resíduos biológicos são produzidas por plantas de processa-mento (indústria) alimentar, instituições médicas e de pesquisa. Essesresíduos sólidos e líquidos são caracterizados pela presença de micro-organismos e de um amplo campo de compostos do complexo orgânico. Umadicional tipo de resíduos sólidos e líquidos é caracterizado separa-damente por conter material radioativo e necessita ser descartado sobespeciais medidas de precaução e segurança para resguardar a saúde e aqualidade do meio ambiente.

Dix (1981, p. 21) classifica a origem dos resíduos sólidos e lí-quidos em oito setores, de acordo com o tipo de produtores ou indústria.

Setor doméstico

Este setor compreende as atividades domésticas e de consumo liga-das às necessidades do homem biológico, social e psíquico. As quantida-des de resíduos sólidos e líquidos que o homem moderno descarta diaria-mente dependem diretamente de seu comportamento de consumo e da vidacultural, cujos padrões são impostos pelo sistema econômico e por in-teresses nacionais maiores. Esses resíduos variam desde o descarte demóveis, equipamentos eletrodomésticos, automóveis, embalagens de con-sumo doméstico, etc. Inclui-se o esgoto doméstico, contendo fezes,gor-duras, graxas, lavagem, detergentes e outros elementos químicos tóxi-cos. O comportamento do consumidor, produtor dos resíduos domésticos,é livrar-se deles e entregá-los ao setor público, às prefeituras, que,por sua vez, os administra ineficientemente, usando o meio ambiente co-mo receptador. Nesse sentido, o Governo é um dos maiores agentes polui-dores nas regiões urbanizadas.

Setor manufatureiro industrial

Os resíduos industriais apresentam-se na forma sólida, de efluen-tes líquidos e de pastas líquidas, compostas de material orgânico,inor-gânico e químico. Processos industriais estão em constante mudança ati-vados pelo avanço tecnológico. Conseqüentemente, produtos, plantas in-dustriais e equipamentos tornam-se obsoletos e,- assim, surgem os pro-blemas de descarte e abandono.

Muitos processos industriais utilizam água para propósitos de re-frigeração e jogam água quente nas correntes, rios e lagos, provocandoa conhecida poluição térmica. Este é um dos problemas das usinas termo-elétricas e atômicas.

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Setor comercial

Este setor produz principalmente resíduos sólidos oriundos do des-carte de embalagens e restos que perderam o valor comercial.Inclui res-tos de papel, papelão, plástico, madeira, móveis e equipamento obsole-to. Nos terminais do comércio atacadista e do varejista,registram-se ex-cessivas quantidades de resíduos, em particular na comercialização deprodutos da lavoura e dos hortigranjeiros. A inadequação dos produtose suas embalagens — armazenamento, manuseio e conservação—são funçõescomerciais que carecem de melhorias qualitativas consideráveis.Po-de-se perguntar por que transportar os ossos para os centros de consu-mo, quando o consumidor só come carne? Por que a palha e o sabudo domilho não ficam na lavoura, quando o consumidor só deseja grãos? Umarápida investigação nesse setor mostrará o quanto o processo de comer-cialização é irracional e quanto poderia ser feito para aumentar a efi-ciência do setor e diminuir a produção de resíduos.

Setor da indústria de construção

O setor da construção civil produz usualmente, além do ruído, re-síduos sólidos constituídos de restos de materiais usados,como tijolospedras, cimento, madeira, vidro, metais, plásticos e materiais obso-letos. Os resíduos resultam de quatro operações principais: construçãode novas residências e prédios; adaptação e modificação (reforma) deimóveis existentes; demolição de edificações para limpeza e desenvolvi-mento de terrenos; e construção, reparos de ruas e de infra-estruturasanitária e elétrica.

Setor da indústria extrativa

Trata-se das operações de produção de minérios, incluindo carvão,pedras, areia, etc., além das operações de tratamento, produzindo pas-tas pelo tratamento do material.

Setor agropecuário

Os resíduos orgânicos provenientes da criação de gado e restos deplantas, bem como efluentes de silagens e lavagens de laticínios, sãoas fontes principais de poluição da pecuária e da lavoura. O indiscri-minado uso de adubação química e de pesticidas vem constituindo um dos maissérios problemas da poluição rural, afetando sobremaneira outros seto-res importantes da economia pela deterioração e toxicação das águas edas cadeias alimentares.

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FEE-CEDÜC

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Setor de indústria de alimentos

Inclui a transformação e a industrialização de carne:lacticínios,congelados e enlatados e a agroindústria em geral. Algumas agroindús-trias são muito poluentes, tais como a celulose, que não só polui o arcomo contamina a água, e a indústria de curtumes que é outra que apre-senta sérios problemas de poluição das águas.

Indústria nuclear e de energia

Produz sérios problemas de poluição pelo processo de resfriamentode águas, sólidos, efluentes e partes líquidas que são radiativas porperíodos de tempo, variando de poucos dias a milhares de anos. lodososprogramas de energia atômica enfrentam sérios problemas para depositaro lixo atômico.

3.3.2 — Causas globais da poluição

Se a capacidade do meio ambiente fosse ilimitada em absorver osresíduos, não haveria problemas de poluição. Os resíduos poderiam serjogados no meio ambiente sem limite e sem custos adicionais. Entretan-to a assim chamada capacidade assimilativa do meio ambiente está limi-tada de várias formas. Por exemplo, a água, para manter certo nível depadrão de qualidade e sem comprometer sua pureza e o sistema biológi-co, tem um limite para receber resíduos. Até esse limite a própria na-tureza e o meio ambiente encarregam-se de transformar e assimilar osresíduos. Todavia existem poluentes para os quais a capacidade ambien-tal de absorção é nula, isto é, não existe lugar na natureza para taiselementos químicos por causa de sua toxidez. Isso acontece com os me-tais pesados e produtos químicos de cadeia química irreversível e nãodegradáveis em geral. Esses exemplos são suficientes estabelecer a pro-porção em que a capacidade assimilativa do meio ambiente está limitada.

Na opinião de Kneese (1971, p. 2), os problemas da poluição devemser vistos como um problema global da sociedade. Por outro lado,trata--se de um problema regional ao invés de um problema intralimite de es-tados. Isso se deve à escala de poluição resultante das emissões de ma-téria e energia, cujos fluxos estão submetidos aos sistemas meteoroló-gicos e hidrológicos e não podem ser limitados às fronteiras políticas deum país. Os problemas globais da poluição geralmente estão associadosà biosfera e à atmosfera, enquanto os regionais estão presentes tradi-cionalmente nas águas, nos solos e no ar.

O Professor Jacoby & Pennance (1972, p. 11) afirma que a degrada-ção ambiental é o resultado de três influências principais: primeiro,a crescente concentração populacional, principalmente nas áreas urba-nas congestionadas; segundo, o crescimento da afluência; e, terceiro,oavanço tecnológico. Jacoby destaca que essas são as fontes de polui-ção, as causas gerais que afetam seriamente o meio ambiente físico-ur-bano, bem como o meio ambiente rural em proporções menores. De qualquer

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forma, existe uma interdependência entre essas fontes gerais de polui-ção. A seguir vamos abordar algumas causas globais da poluição.

Concentração da população

A história registra uma tendência de superconcentração populacio-nal nas cidades metropolitanas. Apesar de todas as conseqüências malé-ficas conhecidas pela experiência dos países industrializados, o fenô-meno do congestionamento urbano continua a persistir de forma mais cruelnos países em desenvolvimento. Estes apresentam um agravante adicionalque é o "cinturão de miséria" urbana que as metrópoles dos países de-senvolvidos desconhecem. A deterioração da qualidade ambiental decor-rente do congestionamento populacional é traduzida por tráfico conges-tionado, superaglomerações populacionais, transporte de massa ultra-sa-turado, atrasos e perda de tempo, formação de filas impacientes, faltade infra-estrutura de toda ordem, principalmente de saúde e recreação.Como resultado, o homem é obrigado a conviver num ambiente comprimidoe o seu estado neurótico é inevitável, ainda mais quando se adicionamos fatores de segurança e estabilidade. Nessa atmosfera, não se podeencontrar um indivíduo sadio. Não há como um organismo se desenvolverintegralmente sob o ponto de vista biológico, social e psíquico. É umambiente para produzir neuróticos e loucos e não para criar e educar umser humano sadio.

Só para ilustrar a concentração populacional, durante meio sécu-lo, de 1910 a 1960, a percentagem de americanos vivendo em áreas urba-nas de 2.500 ou mais pessoas passou de 45,7% para 70%, enquanto os ha-bitantes triplicaram de 42 para 125 milhões.

Sabe-se que existem limites e tamanhos ótimos para tudo. Existemtamanhos ideais e ótimos sob o ponto de vista ecológico,biológico,eco-nômico e social. Transgredir esses limites é comprar problemas. Os cus-tos sociais são maiores que os benefícios. Dimensionar e planejar a áreaurbana não é segredo para os técnicos. Mas os sistemas econômico e po-lítico impedem que se harmonizem as funções de uma cidade, que se criemo meio ambiente físico, o social e o psíquico que o homem necessita pa-ra o seu desenvolvimento integral. A especulação imobiliária consenti-da pelas prefeituras, autoridades públicas e governos é a alavanca mes-tra do crescimento desordenado e maluco das áreas urbanas. Não existedisciplina nenhuma no uso dos solos. Enquanto não houver controle sobreo uso dos mesmos, é sonho e ilusão fazer planejamento urbano e regional.

Os princípios da urbanização de cidades, altas densidades popula-cionais, o traçado urbano e das ruas, a localização dos parques públi-cos e os padrões de zoneamento em grande parte determinam estilos devida aos residentes urbanos e a correspondente oferta de amenidades. Aatrocidade do péssimo planejamento na maioria das cidades do sistema ca-pitalista e a perversão do zoneamento e das habitações são requerimen-tos para servir aos interesses econômicos no curto prazo, os quais es-tão muito bem documentados. As cidades não crescem, nem são construí-das para preencher necessidades físicas, biológicas e psico-sociais dapessoa humana, mas aparecem estimuladas pela especulação imobiliária.Em tais circunstâncias, a deterioração da qualidade do meio ambiente

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urbano é um produto natural, conseqüente e inevitável. As cidades e aurbanização, bem como o uso racional dos solos, não podem ser desenvol-vidas exclusivamente sob o critério do livre mercado, pois este falha(ver Capítulo 7) e não é competente para suprir os bens coletivos de-mandados pela sociedade, ainda mais que uma cidade, por definição, é umbem coletivo.

Crescimento da riqueza material

A qualidade do meio ambiente é afetada pelo crescimento da rique-za material, traduzida pela expansão anual da renda e pela despesa "percapita". O crescimento da renda tem elevado o consumo "per capita". Es-te aumento de consumo pressiona diretamente o aumento do crescimentode resíduos sólidos domésticos e industriais. Cada pessoa tem viajadomais por ano, multiplicado seus contatos com outras e expandido rapi-damente o uso de energia. Tudo isso tem contribuído para o aumento dapoluição da água, do ar e do ruído, bem como complicado mais o trans-porte pelo aumento de congestionamentos e aglomerações urbanas.

Entretanto a deterioração ambiental não é somente uma herança docrescimento da riqueza, mas também está ligada diretamente à forma deproduzir e consumir os produtos. Esse crescimento deveria contribuirpara a melhoria da qualidade ambiental, o que somente é possível comuma concomitante correspondência no processo produtivo, via adequaçãotecnológica e de consumo, para minimizar os impactos sobre o meio am-biente. Muitas vezes se superestima que o investimento "per capita" re-sulta igualmente num crescimento de demanda por amenidades ambientais.Certamente, na medida em que aumenta a renda, as pessoas demandam me-lhores bens coletivos, maior conforto, conveniência e beleza em suascomunidades, e adquirem melhores bens e serviços privados que o cresci-mento da renda permite realizar. Uma das razões da crise ambiental estábaseada na frustração do público pela inadequada oferta de amenidadesambientais, especialmente as da responsabilidade do setor público na de-cisão de investir na despoluição, convertendo os males públicos em benscoletivos.

Mudança tecnológica

O impacto sobre a qualidade ambiental e os conseqüentes problemasambientais podem ser explicados, em parte, pela mudança tecnológica. Atecnologia em contínua inovação e mudança tem provocado uma expansão davariedade de produtos e serviços disponíveis para o consumo, faz pro-dutos mais complexos, eleva as taxas de obsolescência e,portanto, pres-siona o crescimento e o descarte de resíduos. Igualmente,a inovação tec-nológica, em especial a revolução da informática nesta década,vem ofe-recendo crescentes informações aos consumidores para fazerem escolhasracionais de mercado, como também vem criando imperfeições de mercado.

Entretanto a mudança tecnológica, tal como o crescimento da rique-za, é uma espada de dois gumes: ela pode servir tanto para melhorar co-mo para prejudicar a qualidade ambiental. A tecnologia pode reduzir o

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consumo de matéria e reciclar resíduos danosos. A preservação e a me-lhoria da qualidade ambiental dependem em muito do avanço e do progressotecnológico, uma vez que a tecnologia está intimamente associada aos pa-drões de produção e ao comportamento dos padrões de consumo numa so-ciedade.

O avanço tecnológico é um imperativo na sociedade moderna. O im-portante da questão é que o progresso tecnológico promove a melhoria daqualidade do meio ambiente; e isso exige que se fale em adequação tec-nológica. De nada adianta invocar uma tecnologia avançada e moderna pa-ra justificar programas de aumentos de produtividade física se estamesma tecnologia é poluidora. Tampouco faz sentido falar em tecnologiaatrasada ou mesmo intermediária. O que faz sentido é que o homem com-bine as tecnologias atrasadas, intermediárias, avançadas e de ponta den-tro de uma realidade sócio-ecológica imposta.23 Sabe-se que essa rea-lidade muda de região para região segundo as características sócio-cul-turais e dos ecossistemas regionais. Concluindo, não faz nenhum senti-do importar pacotes tecnológicos que os países ricos costumam impor aospaíses pobres, pois seus efeitos podem ser catastróficos sobre a socie-dade regional. Uma sociedade local deve fazer um esforço integrado nointuito de adequar a tecnologia a sua realidade sócio-ecológica.

Interdependência

A interdependência das sociedades e indivíduos é um outro aspectoimportante da questão ambiental global. De forma geral, as atividadesde cada um afetam outras pessoas e, assim, também as relações entrepaíses no cenário institucional mundial. Á interdependência crescenteentre os segmentos e as pessoas de uma sociedade é uma maneira de vi-sualizar o que os economistas chamam de efeitos externos, isto é, todoo ato de produção e de consumo pode ter efeitos externos que prejudi-cam ou beneficiam terceiros: os conhecidos custos e benefícios exter-nos. O exemplo típico é o automóvel, que causa poluição do ar, ruído,acidentes de transporte, os quais impõem gastos com hospitais,médicos,segurança (polícia) e serviços de engenharia, etc., todos eles susten-tados principalmente pelo Estado.24

A interdependência deve ser vista também entre as nações. As rela-ções econômicas, educacionais, sociais e políticas entre as lideranças in-ternacionais dos sistemas capitalista e socialista estão muito bem docu-mentadas (ver item 2.6 e Capítulo 4). Destaca-se aqui a condição de hospe-

Uma tentativa de adequação tecnológica e de um processo integrado de produção a nívelde pesquisa experimental está sendo conduzida pela Secretaria da Agricultura do RioGrande do Sul (CEPA-RS) através do projeto piloto Sistema Integrado de Produção Bio-energia - Produção Animal, localizado em Capela, Município de São Sebastião do Caí.Ver detalhes em Porto (1981). Outros exemplos brasileiros podem ser vistos em In-terior (1984, p. 42-6) e Solnik (1984).

24O livro de Haveman (1970) seria uma leitura adicional útil para esse assunto.

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deiros da poluição dos países do Terceiro Mundo face às imposições e re-lações de dependência aos países ricos. Como foi argumentado no Capí-tulo 2, o meio ambiente deve ser visto e interpretado pela ótica dosistema, dado seu caráter de interdisciplinaridade e de interdepen-dência.

O crescimento econômico e a qualidade ambiental

Há fortes evidências de que o crescimento econômico está associa-do à poluição e à degradação do meio ambiente pelo menos nos países on-de inexiste o controle da poluição. Existe uma correlação direta en-tre o crescimento econômico e a degradação da qualidade ambiental. Essacolocação merece um exame mais profundo, pois o crescimento econômicopode perfeitamente promover a melhoria da qualidade ambiental.Isso con-vence de que é preciso identificar as causas e medir os efeitosda poluição, bem como examinar como é promovido o progresso econô-mico.

Há economistas que argumentam que as ecolhas da sociedade para me-lhorar a qualidade ambiental são escolhas econômicas. Eles fundamentamseu raciocínio na Teoria da Economia do Bem-Estar Social.O conhecimen-to da Economia ajuda a entender o problema e pode propor e avaliar pro-postas nesse sentido.

A medição da qualidade ambiental em princípio é o valor que as pes-soas atribuem aos serviços não receptadores de resíduos ou a disposi-ção para pagar por eles. Existem muitos serviços ambientais (ver item5.2), entre eles a qualidade do meio ambiente, que não se enquadram nomecanismo de preços do sistema de mercado, isto é, eles não podem sercomprados ou vendidos. Para esses casos, não há mecanismos de mercadoque possam fixar e estabelecer preços. O fato de os valores não serematribuídos via preços não significa que os valores não existem. O fatode que os preços não sejam estabelecidos para serviços ambientais e deque as pessoas não possam, e tampouco o fazem, pagar por esses servi-ços reflete a falha do sistema de mercado (ver Capítulo 7).

A sociedade moderna vem sendo acompanhada pela degradação ambien-tal, o que tem evidenciado dúvidas sobre a significância da interde-pendência incontrolada entre o homem econômico e a natureza. D'Arge(1971, p. 25) expõe que existem fortes evidências de que o fluxo de re-síduos cresce a uma taxa mais rápida do que o crescimento econômico.Isso é particularmente verdadeiro para aquelas indústrias com altos ín-dices de resíduos e para as congestionadas aglomerações populacionais.Isso se evidencia muito mais claramente nos países em desenvolvimento,onde o crescimento econômico é promovido a qualquer custo e a qualida-de ambiental é ignorada completamente nos objetivos (práticos) dos pro-gramas de desenvolvimento. Esse fato é tão verdade que, mesmo queessas economias estejam vivendo suas mais graves depressões econômicascom taxas de crescimento do produto nacional negativas,as taxas de po-luição continuam a crescer assustadoramente.

A longo prazo, a humanidade vai confrontar-se com finitos recur-sos e um infinito horizonte de planejamento. O crescimento econômico ea qualidade ambiental são compatíveis, pois a capacidade de assimila-

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cão e a melhoria ambiental impõem significantes investimentos, princi-oalmente numa dimensão temporal. Como já foi referido, a economia podeajustar-se para promover um crescimento econômico adequado 2 ao mesmotempo experimentar melhorias na qualidade ambiental. Para certas eco-nomias, a proposta de crescimento zero é um suicídio social. Por exem-plo, no caso brasileiro, a economia deveria crescer a taxas expressi-vas para absorver um batalhão de 1,5 milhão de pessoas que ingressamanualmente no mercado de trabalho, sem considerar o alto desemprego e oemprego disfarçado. Além disso, um crescimento zero não garantiria ne-nhuma melhoria na qualidade ambiental face à estrutura tecnológica po-luente instalada.

Finalizando, o crescimento econômico deve se adequar à realidadesócio-econômica de um país e ajustar sua tecnologia e padrões de con-sumo para uma efetiva melhoria na qualidade do meio ambiente, conside-rando as características sócio-econômico-ecológicas regionais.

3.3.3 - Os efeitos biológicos da poluição

Poluição significa danos ao homem e a outras formas de vida ani-mal e vegetal. Alguns efeitos da poluição podem ser identificados, de-terminados e mensurados facilmente, como os danos físicos nos prédios emetais. A corrosão pela poluição da água é outro exemplo fácil de men-suração. Todavia existem efeitos que afetam a saúde pública, social epsicológica de difícil mensuração, entre os quais se incluem os efei-tos biológicos da poluição. Por exemplo, como se pode avaliar a des-truição dos bancos genéticos de animais e plantas que o homem não estu-dou, pesquisou e conheceu? A destruição indiscriminada das florestas ea conseqüente destruição das cadeias alimentares no mundo inteiro fa-zem parte desse cenário. O mesmo vem acontecendo com o grande biomaamazônico, onde a destruição avança agressivamente, com uma rapidez quea história humana desconhecia.

A verdadeira razão do controle ambiental é a preservação da saúdehumana e que, nesse caso, o dano à saúde pública é obviamente um parâ-metro biológico. Os biólogos têm uma grande contribuição para dar parao controle e a melhoria da qualidade ambiental bem como a sociedade de-veria tentar evitar que algum poluente alcance níveis que afetem qual-quer reação biológica, mesmo que esta não seja aparentemente perigosa.

Tantas vezes, no passado, os efeitos crônicos de substâncias tóxi-cas, como o Raio X, foram subestimados. Os efeitos não conhecidos depoluentes tóxicos persistentes e outros efeitos que a investigação cien-tífica e os laboratórios desconhecem certamente recairão sobre as ge-rações futuras. Literalmente, a mensuração dos efeitos da poluição so-bre a vida humana, em especial sobre a saúde biológica de gerações fu-turas, continua um dos maiores desafios para as ciências. A mensuraçãodos efeitos da poluição biológica requer um tremendo esforço científi-co interdisciplinar para que se possa formular e implantar programaseficientes de controle e melhoria da qualidade ambiental para as gera-ções presentes e futuras.

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3.4 — "Flash" histórico dos problemas ambientaisA poluição, nas suas diversas formas,segundo Fisher (1981, p. 164),

é amplamente preocupante, sendo um dos nossos maiores problemas ambien-tais. Só a partir da década de 70, um maior número de economistas vemse interessando pelo assunto, mesmo que Pigou, em 1932, tenha sido oprimeiro economista acadêmico a considerar o problema da poluição maisseriamente. Mas fatos históricos comprovam que a preocupação pelo meioambiente é bastante antiga. Por exemplo, o uso do carvão foi proibidoem Londres em 1273.25 Por que os cientistas, em particular os econo-mistas, levaram tanto tempo para reconhecer o problema?

Além de Pigou, praticamente nada foi adicionado até o fim da dé-cada de 60, embora elementos da economia do bem-estar, em particular aTeoria das Externalidades, incluindo a abordagem dos bens coletivos,fossem amplamente debatidos mais intensivamente na década de 50. Todaviaas abordagens e discussões em torno dessas questões, principalmente daeconomia do bem-estar, foram tratadas a nível profissional, entre eco-nomistas com pouco resultado prático, ao ponto de o estudo da economiado bem-estar não se adaptar até hoje às necessidades e ao nível dos es-tudantes de graduação.

A deterioração ambiental foi primeiramente analisada sob o enfo-que das externalidades estáticas no trabalho de Pigou (1952), em seusexemplos das faíscas de locomotivas da viação férrea,fumaça industrial,etc. Nos anos 50, alguns economistas se ocuparam em desenvolver os ele-mentos da moderna teoria das externalidades inspirados nas referênciase nos exemplos de Pigou. Scitowsky (1954) fez a. distinção entre ex-ternalidade monetária e tecnológica, enquanto que Meade (1952) e Bator(1958) distinguiram as externalidades entre fatores não pagos e bens co-letivos. Esses exemplos ilustram economias externas de produção. Fisher(1981, p. 128) chama atenção de que estas ignoram os efeitos diretosentre um ou mais produtores de um lado e muitos produtores do outro, oque é caracterizado pela poluição da água e do ar e outras formas dedegradação do meio ambiente.

Somente no início da década de 60, o tratamento de Pigou foi apli-cado sistematicamente para cursos de poluição da água e,mais tarde,pa-ra a poluição do ar. Mais recentemente, uma série de estudos estendeu--se para a bordagem da conhecida técnica de análise de custo e benefí-cio que vem sendo usada com uma alternativa para avaliar o impacto am-biental global.26 Os Economistas Isard (1977) e Nijkamp (1980) têm con-tribuído e melhorado modelos de análise espacial, regional e multidi-mensional para analisar problemas de poluição e de degradação ambien-tais. Meadows et alii (1972a) preocupou-se em desenvolver modelos glo-

25Para uma revisão histórica da poluição do ar na Inglaterra, ver Gilpin (1976), bemcomo HMSO (1979), que inclui uma revisão dos procedimentos legais e administrativos.

Maiores detalhes sobre análise de custo e benefício, ver em Pearce (1976), Mishan(1972 e 1977) e Ahmad (1981).

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bais de impacto ambiental.27 Todavia Mills (1978, p. 18) diz-se impres-sionado pelo lento progresso em atender aos assuntos e problemas am-bientais desde o nascimento das Ciências Econômicas, em 1776, há maisde dois séculos.28 Entretanto o autor reconhece que o progresso tem si-do definitivo e de firme continuidade.29

O problema da poluição, desde o início da década de 70, vem sendoamplamente tratado, e uma preocupação substancial tem sido atribuídaaos problemas globais do meio ambiente, principalmente tendo em vistaa formulação de políticas de desenvolvimento. A níveis internacionaiscriaram-se programas: a ONU criou o Programa do Meio Ambiente das Na-ções Unidas (UNEP) em 1975; a Organização para a Cooperação Econômica eDesenvolvimento (OECD) criou um programa ambiental para os países mem-bros. A nível regional, surgiu o Programa Ambiental da Comunidade Eco-nômica Européia. A nível nacional, praticamente todos os países vêmcriando suas agências nacionais,alguns, como a Inglaterra em 1974, fi-zeram uma ampla reforma administrativa nacional para colocar em práti-ca uma política de melhoria da qualidade ambiental. Os países do Ter-ceiro Mundo estão formando uma estrutura institucional com a criação doministério e de secretarias de meio ambiente a níveis nacional, regio-nal, estadual e municipal.

O reconhecimento acadêmico, bem como o político e o governamental,de que a poluição é um sério problema para a sociedade moderna é um dosaspectos mais positivos que alimentam nossas esperanças de que os pro-blemas ambientais venham receber crescentes atenções. Um dos melhoresindicadores dessa perspectiva diz respeito à crescente e volumosa li-teratura sobre o meio ambiente que o mundo científico vem produzindo,inclusive na área econômica. Lamenta-se, contudo, que a maioria das uni-versidades brasileiras continue a ignorar completamente essa realidade,omitindo do seu currículo a disciplina do meio ambiente.

3.5 — A dimensão econômica da poluição

O atual e crescente interesse pela poluição pode criar a impressãode que houve uma súbita deterioração do meio ambiente que não se fezpresente antes da década de 70. Esse não é o caso, argumenta Dix (1981,p. 3), pois a poluição acompanha a história da ação do homem. Mas o im-pacto da poluição sobre a qualidade ambiental é algo mais recente,o queé explicado basicamente por três fenômenos globais: a a explosão demo-

27Meadows e seus colegas publicaram na revista The Ecologist (1972) um amplo debate so-bre a questão ambiental. Ver também IUCN (1980).

9R0'Riordan (1981) discute o problema filosófico que envolve a maioria dos assuntos am-bientais.

29Parece que o problema da avaliação do impacto ambiental, por exigir um esforço e umentendimento interdisciplinar, se confronta com uma estrutura científica departamen-tal que impede um progresso mais rápido da avaliação ambiental.

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gráfica, conglomerados e congestionamentos urbanos; o avanço tecnoló-gico; e o crescimento econômico. Estes três fenômenos, que alguns au-tores classificam de pontos globais da poluição e degradação do meio am-biente, estão inter-relacionados de tal forma que a explosão demográ-fica pressiona o aumento de produção, e este está associado a alterna-tivas tecnológicas em constante inovação. Apesar dessa estreita inter-dependência, o interesse deste trabalho está voltado ao aspecto econô-mico, embora já se tenha feito referências ao assunto (item 3.3).

Sob o ponto de vista econômico, Freeman III (1973, p. 7) classifi-ca os problemas ambientais em três dimensões.

A primeira dimensão relaciona-se com a produção e o consumo. A po-luição e a degradação ambiental estão diretamente associadas não só aosvolumes de produção e de consumo, mas principalmente à -maneira de seproduzir e consumir. Como já argumentou em outras passagens, os resí-duos são inevitáveis no processo produtivo e de consumo, todavia os ní-veis destes e a conseqüente poluição dependem da adequação tecnológicada produção e do comportamento do consumo.

Sabe-se que existe uma relação entre o uso de automóveis, fornos,condicionadores de ar e a poluição.É relativamente fácil fazer uma trans-posição a partir dessa observação de que a única maneira de barrar apoluição é eliminar a produção e o uso do automóvel. Entretanto essa éuma lógica muito simplista. Terminar com o automóvel numa "sociedade deautomobilística" é uma utopia. É preciso lembrar que a poluição, a pro-dução e o consumo, apesar de suas estreitas relações, não estão combi-nados em proporções fixas. Pela simples alteração de processos de pro-dução e pela inovação tecnológica, é possível aumentar a produção comuma correspondente escala decrescente de poluição.

Uma das funções da Economia é colaborar para entender melhor esseprocesso. Para o caso dos Estados Unidos, Freeman III (1973, p. 8) es-creveu que a degradação do meio ambiente não pode ser explicada pelosatuais níveis populacionais, tampouco pelas presentes taxas de cresci-mento demográfico. Também pode-se ponderar que não foi o crescimentoeconômico por si que causou o problema ambiental, mas a maneira comofoi admitida e conduzida a forma desse crescimento. O importante é iden-tificar maneiras que possibilitem alterar as relações entre o cresci-mento da população, o crescimento econômico e a poluição. Esse conhe-cimento é fundamental e ajudará a formular políticas para controlar emelhorar a qualidade do meio ambiente.

A segunda dimensão econômica da poluição diz respeito às teoriaseconômicas sobre o comportamento humano. Parte da teoria econômica ocu-pa-se em analisar o comportamento dos tomadores das decisões econômi-cas (as unidades que tomam decisões num sistema econômico são as fir-mas, os governos e os consumidores) quando eles são motivados pelo ga-nho e pelo lucro e quando eles estão sujeitos aos sinais econômicos ge-rados pela economia de mercado. A meta da teoria econômica é explicare prever o comportamento nessas situações. Essa teoria é necessária pa-ra explicar porque a poluição ocorre numa economia de mercado.Esta in-dica que a poluição aparece de forma geral porque os incentivos econô-micos e estímulos do comportamento das firmas e dos consumidores sãoinapropriados a tal ponto que encorajam a superutilização, o mau uso eo abuso do meio ambiente.

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Esse tipo de enfoque será extremamente útil para a avaliação dealternativas políticas de melhoria da qualidade ambiental.Tanto isso éverdadeiro que um dos objetivos do setor público é modificar ou contro-lar o comportamento das unidades econômicas e de consumo. Tendo em vis-ta que os resíduos jogados no meio ambiente são gerados por essas uni-dades decisórias do sistema econômico, é preciso examinar com muitocuidado como são afetadas as estruturas de incentivos pelas políticasde controle da poluição. Daí porque o conhecimento da economia tem oseu valor em assessorar a implantação de uma política efetiva de con-trole ambiental no sentido de induzir mudanças de comportamento das uni-dades decisórias, produção e consumo, para uma direção e magnitude de-sejadas.

As escolhas num sistema econômico são a terceira dimensão econô-mica da poluição. A Economia é vista como o estudo das escolhas que sãofeitas entre os desejos ilimitados e os recursos escassos limitados.Desejo ilimitado significa que o indivíduo poderia ter tudo aquilo de-sejado ao custo zero, logo, sem esforço. Escassez significa que o in-divíduo não pode ter tudo. Quando os desejos são confrontados com a es-cassez, alguns dos desejos provavelmente não podem ser satisfeitos com-pletamente. Os recursos escassos deverão ser alocados nos seus usos al-ternativos para satisfazer os desejos e as necessidades.

Sob o ponto de vista ambiental, as escolhas devem ser satisfeitasem função dos níveis de qualidade ambiental escolhidos e desejados. AEconomia torna-se relevante para analisar a efetividade dessas escolhasou a alocação eficiente dos recursos escassos com vistas à melhoria daqualidade ambiental.

Assim como o indivíduo, a sociedade como um todo enfrenta proble-mas de escolhas face aos seus recursos -escassos disponíveis.Isso é ver-dadeiro quando uma sociedade decide qual o nível de controle de polui-ção ou qualidade ambiental deseja alcançar. Focalizando o problema am-biental sob essa ótica, fica claro que a meta para eliminar completa-mente a poluição é um tanto irreal, pelo menos na dimensão temporal, acurto prazo. Os custos para alcançar um completo controle da poluiçãosão provavelmente maiores do que uma sociedade desejaria incorrer facea outros problemas sociais e econômicos prioritários. Alguém já cal-culou o ônus e os recursos necessários para limpar o meio ambiente daárea metropolitana de São Paulo ou de Cubatão? A sociedade brasileiracertamente não teria esses recursos disponíveis, mesmo com financiamen-tos internacionais. Por outro lado, parece claro que existe um crescen-te desejo de não conviver com os atuais insuportáveis níveis de polui-ção. Controle de poluição,como qualquer outra coisa,impõe que se deva esco-lher o quanto de poluição se deseja.A escala de escolhas fica entre uma po-luição zero e um controle nulo de poluição.A escolha,certamente,não é de fácildecisão política, uma vez que isso envolve um amplo conflito de inter-resses entre grupos, pessoas e mesmo entre países no cenário mundial.Conquanto a análise econômica não possa fazer essas escolhas para a so-ciedade, ela poderá iluminar e orientar o problema da escolha atravésdas concepções de benefícios e custos, custos de oportunidade e nívelótimo de controle da poluição.

Adicionalmente, as escolhas devem ser feitas para alcançar um ní-vel de qualidade ambiental fixado. Por exemplo, está-se diante de dife-rentes opções de escolhas tecnológicas disponíveis para o controle da

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poluição. A opção tecnológica é um passo que pode ser dado para redu-zir ou controlar o descarte de resíduos no meio ambiente. Assim, a efi-ciência de controle da poluição varia com as opções tecnológicas. Con-seqüentemente, é extremamente importante a escolha das opções tecnoló-gicas que minimizam o custo para um dado nível de controle da poluição.Além do mais, o controle da poluição custará mais do que o necessário.Entretanto, com orçamentos limitados, gostar-se-ia de ter um melhor ní-vel de qualidade ambiental do que se poderia ter com recursos disponí-veis. Essa colocação, contudo, deve ser confrontada com a questão de serealmente vale a pena poluir para depois despoluir, ou crescer economi-camente sem poluir, o que realmente impõe a escolha de tecnologias ade-quadas que minimizam o descarte de resíduos no meio ambiente. Na ver-dade, essa é uma situação extremamente difícil para os países em desen-volvimento, os quais dependem da importação e da imposição tecnológicados países desenvolvidos. Nessas circunstâncias, a estratégia da esco-lha tecnológica não existe simplesmente porque os países em desenvol-vimento não têm essa liberdade. Certamente a experiência sugere que ne-nhum país desenvolvido optaria novamente por um modelo de produzir-po-luir-despoluir. Por incrível que pareça, esse modelo vem sendo impos-to aos países em desenvolvimento. Com certeza, a Cidade de Cubatão deSão Paulo, ponto geográfico mais poluído do mundo,simplesmente não en-contraria lugar e espaço em qualquer país europeu, Estados Unidos ouJapão. Quando se fala em opções e escolhas e em uma formulação de po-lítica ambiental, não se pode ignorar essa dura realidade internacional.

Finalmente, seria oportuno relatar que as dimensões econômicas, dapoluição são apenas alguns aspectos do problema para o melhoramento daqualidade ambiental, uma vez que a questão ambiental está envolvida comaspectos sociais, legais, biológicos, ecológicos, etc. Savage (1974,p. 3) deixa muito claro que a qualidade do meio ambiente é também umadimensão social porque envolve as instituições sociais que fazem partedo meio ambiente. A questão fundamental é: pode uma moderna sociedadedesenvolvida, tal como os Estados Unidos, a Europato Japão, etc., e umasociedade periférica da América Latina, África e Ásia organizarem-sede tal forma que sejam compatíveis com a preservação de seus ecossis-temas e com o melhoramento da qualidade ambiental? Se o presente esta-do de organização das sociedades ocidentais não está apropriado para omelhoramento da qualidade ambiental do global físico, social e psico-lógico, que tipos de mudanças e escolhas são esperadas para se concre-tizar e também desejadas? Tem-se certeza, a resposta não é exclusiva-mente econômica; é preciso ir além das dimensões econômicas da polui-ção e levar em consideração as dimensões sociais, ecológicas e bioló-gicas para uma efetiva solução para o controle da poluição.

3.6 — Os ganhadores e perdedores com a poluiçãoSe o fenômeno da poluição continua a persistir em provocar tão pro-

funda inquietação na nossa sociedade, devem haver pessoas ou grupos in-teressados, entre os quais são distribuídos seus benefícios e seus cus-tos. Uma pergunta então é relevante: quem são os ganhadores e os per-dedores com a crescente deterioração de qualidade ambiental causada pelapoluição?

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Talvez não seja um exagero afirmar que na nossa sociedade a dis-tribuição dos custos e benefícios é uma das questões centrais da polí-tica de desenvolvimento e, em particular, da política de melhoria daqualidade ambiental. Enquanto os economistas estão usualmente preocu-pados com a eficiência econômica, outros observadores estão mais inte-ressados na eqüidade distributiva das riquezas. Baumol & Oates (1979,p. 174) argumentam que muitos não-economistas, se confrontados com umprojeto de impostos para reduzir o consumo da gasolina, estão menospreocupados com sua efetividade na redução de vendas de gasolina do quecom os efeitos sobre a pobreza e os consumidores que não têm alterna-tiva prática com o seu automóvel e, portanto, não podem reduzir seusgastos de gasolina.

Embora sendo economista, com preconceitos dos economistas, acei-ta-se sem reserva a importância da questão distributiva de uma políti-ca ambiental. Acredita-se também que o assunto deva ser tratado obje-tivamente, não apenas porque o tema é uma boa estratégia, mas sobretu-do porque o assunto é de crucial importância para uma política de bem--estar social para a sociedade com um todo. Na opinião de Baumol &Oates(1979), os efeitos distributivos da política ambiental estão ainda noseu estágio infantil e muita coisa deve ser feita antes que se possareunir um quadro abrangente no que diz respeito à distribuição dos cus-tos e benefícios dos programas de melhoria e controle da qualidade am-biental. Certamente considerações distributivas não podem ser ignoradas,devem estar constantemente presentes nas análises de determinação po-lítica para a proteção ambiental. Em todo e qualquer programa e projetode desenvolvimento, os efeitos externos, bem como o impacto ambiental,por suas conseqüências serem distribuídas entre os indivíduos e grupossociais, são fundamentais para dimensionar uma política de melhoriaambiental.

Savage (1974, p. 11) deduz que, na realidade, todos tem ganhado eperdido com os crescentes níveis da poluição. Ele explica que as empre-sas comerciais foram capazes de omitir ou proteger os custos adicio-nais requeridos pelo investimento de equipamento antipoluente. Mas apoupança de custos empresariais não se transformou automaticamente emlucros. Argumenta ainda o autor que a poupança de custos tem sido di-vidida entre os acionistas através de mais altos dividendos e lucros re-tidos; entre os empregados das empresas através de salários mais altos;e entre os consumidores dos produtos através de preços mais baixos.Assim,a redução dos custos tem sido distribuída pelo mecanismo dos preços pa-ra o capital, o trabalho e os consumidores. Nem todas as empresas têmtido ganhos pela ausência do controle da poluição. Por exemplo,aquelasfirmas dependentes de suprimento de água pura como matéria-prima parao seu produto final devem arcar com custos mais elevados pela purifi-cação dessa água poluída, sendo estes custos repassados para os consu-midores via preços mais altos. Esse exemplo também tem reflexos em di-videndos mais baixos para os acionistas e salários menores para os em-pregados.

A ausência de controle da poluição tem beneficiado de alguma for-ma os consumidores e proprietários de imóveis. O consumidor tem sido ca-paz de comprar mais produtos a preços inferiores que não refletem oscustos reais de produção. Por exemplo, o consumidor de papel não pagaos custos reais de produção do papel pelo fato de que alguns itens do eus-

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to total, como a poluição das águas e a do ar, têm sido omitidos e nãoincorporados ao preço final do produto. Como pagador de impostos, o ci-dadão comum tem ganhos, pois seus impostos são menores do que deveriamser se o setor público tivesse construído instalações para a prevençãoda poluição. Como proprietário, ele escapou de um aumento real de im-postos imobiliários que são a fonte de recursos normalmente utilizadospara o tratamento de resíduos e dos esgotos. Assim, os ganhos da po-luição realmente foram distribuídos.

Há os que argumentam que os únicos beneficiados com a poluiçãosão os proprietários das indústrias. Savage (1974, p. 11) sustenta que,enquanto os produtores da poluição têm benefícios financeiros no curtoprazo, também a sociedade se beneficia. É preciso deixar bem claro queSavage pensa a curto prazo e, como tal, o raciocínio é correto. Mas aquestão ambiental é sobretudo uma questão de longo prazo. Assim, as ge-rações futuras obrigatoriamente terão que pagar o ônus das gerações be-neficiadas no presente.

Por outro lado, os perdedores com a poluição provavelmente sofremefeitos redistributivos bem mais amplos. A diferença fundamental entreganhadores e perdedores reside em que a maioria dos ganhos são reduzi-dos em benefícios monetários, enquanto que as perdas represemtam par-cialmente valores monetários e os demais de difícil mensuração e ava-liação. As perdas monetárias decorrem das indústrias que dependem de ummeio ambiente despoluído. A indústria de pesca, por exemplo, fica su-jeita a perdas, bem como as de lazer e recreação sofrem prejuízos quan-do áreas de recreação são poluídas. Essas são perdas financeiras de fá-cil mensuração e avaliação monetária. Mas outros efeitos da poluição sãode difícil, existindo casos de extrema dificuldade para avaliar, taiscomo a já citada exterminação de bancos genéticos de plantas e animais,efeitos sobre a saúde pública, etc.

Há casos em que as gerações atuais pagam altos preços e que pro-dutores estão submetidos a altos custos pelo fato de as gerações pas-sadas terem falhado em proteger o meio ambiente. O custo para o supri-mento de água industrial e potável certamente seria bem inferior se ti-vesse sido protegida da poluição no passado. O preço de uma residênciade veraneio é aviltado pelo fato de muitas regiões mais apropriadas es-tarem demasiadamente poluídas para usos de lazer. Um projeto de lazer es-tá oorigado a procurar uma região despoluída ou adicionar custos ele-vados pela melhoria e despoluição ambiental. Em ambos os eventos,o con-sumidor terá que pagar um preço maior.

A agricultura é talvez um exemplo mais comum de onde as geraçõespassadas repassaram o ônus da poluição para as gerações futuras. A fal-ta de conservação de solos e o uso indiscriminado de fertilizan-tes químicos e pesticidas requerem às gerações presentes um alto inves-timento adicional para recuperar a erosão dos solos e para a reposiçãoda fertilidade natural.

Outro aspecto dos custos resultantes da poluição ambiental diz res-peito ao valor das propriedades. Suponha-se um caso extremo em que umapessoa constrói sua casa num meio ambiente despoluído.A instalação pos-terior de uma indústria poluidora de ar (por exemplo, a indústria de ce-lulose) nas suas vizinhanças, o que torna o cheiro do ar insuportável,reduz expressivamente seu valor de mercado. Para pessoas residentes em

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áreas industriais, tais tipos de perdas são muito importantes. Os va-lores de mercado das residências, no caso uma cidade inteira,podem de-crescer expressivamente pela presença de um poluidor.

Os casos de perdas de difícil ou impossível mensuração também exis-tem. Não se tem a mínima idéia sobre quantas horas de trabalho são per-didas anualmente ou valores gastos em saúde resultantes da poluição daágua, do ar e dos solos. Tampouco tem-se a mínima noção sobre quanto aexpectativa e a longevidade humana vêm sendo alteradas pela ação dospoluentes químicos que se vem acumulando na cadeia alimentar. Não sesabe o quanto as gerações presentes perdem de inteligência porque sãoconstantemente expostas ao chumbo oriundo da combustão da gasolina nosautomóveis. Há poluentes cujos efeitos só aparecerão e poderão ser ob-servados e avaliados no transcurso de séculos. Assim, é compreensívelque a poluição do meio ambiente desafie a sobrevivência da raça 'huma-na. Menos dramáticas são as perdas estáticas causadas pela inalação doar poluído e pelo consumo de água potável, altamente clorifiçada paraeliminar as bactérias. Para a perda da pureza da água e do ar não podeser dado um valor monetário, apesar de ser uma perda.

Os exemplos acima citados deveriam ser suficientes para ilustraro fato de que cada um em particular é afetado direta ou indiretamentepela existência da poluição. Cada indivíduo pode não receber perdasiguais aos ganhos, mas cada indivíduo está sujeito a perdas e ganhospela deterioração ambiental. Por isso, é de vital importância que seavalie o impacto ambiental da poluição, bem como se identifiquem os ga-nhadores e perdedores da poluição, não só para as gerações presentes,mas também para as futuras. É preciso que sejam avaliados os aspectosredistributivos dos custos e benefícios de qualquer programa de melho-ria da qualidade ambiental e, inclusive, de programas governamentais,bem como de projetos particulares de empresas comerciais.

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4 - A QUESTÃO AMBIENTAL

E O PENSAMENTO ECONÔMICO

Desde os fins da década de 1960, um número crescente de economis-tas vem se interessando pela questão ambiental e ecológica. Uma expres-siva literatura da economia ambiental, desde então, vem sendo produ-zida.30 A evolução do pensamento econômico não somente redimensionou otratamento econômico tradicional, como também novas teorias e pro-postas de desenvolvimento foram pensadas a exemplo do ecodesenvolvi-mento.31

Meister (1977, p. 3) define três posições fundamentais no que con-cerne a privilegiar os aspectos econômicos dos problemas ambientais.Essas posições são:

- um grupo de economistas argumenta que os problemas do meio ambientesão problemas econômicos e que as Ciências Econômicas dispõem deteorias,instrumentação e propostas de políticas para resolvê-los;

- em oposição à visão deste grupo, há os que reconhecem um desa-fio na aplicação da teoria econômica para a questão ambiental.Estes argumentam que, sob o ponto de vista das idéias não fa-miliares de "estados estáveis", critérios ecológicos venham a sersubstituídos por critérios econômicos;

- entre esses dois grupos aparece um terceiro que aceita as limi-tações quanto à capacidade das Ciências Econômicas de prescre-ver políticas para os problemas ambientais. Mas acredita que, pa-ra uma grande parte dos problemas do meio ambiente, os critériosde formulação de políticas ambientais devem basear-se nas Ciên-cias Econômicas.

O interesse pelo assunto ambiental não só vem preocupandoos economis-tas e outros cientistas, especialmente da área biológica e ecológica,mas a velocidade com que o público em geral tem aumentado seu interes-se pelo tema é atribuída primeiramente ao rápido declínio de certasamenidades (lugares agradáveis) abaixo de níveis toleráveis; em segun-do lugar, ao crescente reconhecimento das desigualdades sociais, pois

30 Um resumo objetivo sobre a evolução do pensamento econômico-ambiental no século XXencontra-se na obra de Araújo (1979, cap. 2).

A proposta do ecodesenvolvimento é um resultado concreto de como é possível redimen-sionar o pensamento clássico econômico no contexto da ciência ambiental. Um dos men-tores do ecodesenvolvimento é o conhecido e renomado cientista social, EconomistaIguacy Sachs, que dirige o Instituto Internacional do Desenvolvimento Ambiental daEscola de Estudos Avançados de Paris. A importância do ecodesenvolvimento é expressapela revista bilíngüe (inglês e francês), trimestral, Ecodevelopment News, (1985).

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certos grupos recebem os benefícios da poluição através do custo e dosofrimento da maioria da população (ver item 3.6).

O conflito do pensamento econômico ambiental é tão natural quantoos conflitos existentes entre as próprias teorias econômicas. Atrás decada teoria existe um ponto de interesse particular de um grupo de pes-soas ou mesmo de interesse global de uma sociedade. E a nossa socieda-de é, na verdade, um "caldeirão de interesses" que dá origem a uma so-ciedade de conflitos. Interessados poderosos impõem seus interesses e,quando lhes convém, usam a estrutura política da Nação, quando não di-retamente os governos.32 Os conflitos do pensamento econômico ambien-tal, na opinião de Jacoby (1972, p. 17), podem ser classificados e re-sumidos em seis escolas, quais sejam:Escola Pessimista, Minimalista,Coletivista, de Crescimento Zero, da Austeridade e de Prioridades Pú-blicas. Na verdade, são -enfoques e maneiras diferentes de perceber oproblema da degradação ambiental e apontar soluções alternativas parauma melhoria da qualidade do meio ambiente. Já foram feitas algumas re-ferências quanto à evolução histórica do pensamento econômico-ambien-tal (ver item 3.4). A preocupação deste capítulo é dar uma compreensãomais ampla e interdisciplinar da evolução do pensamento ambiental queestá associado de uma forma ou de outra a um mundo científico particu-lar quando o enfoque não é interdisciplinar. A filosofia e a ideologia fazemparte desse contexto e fundamentam de uma forma ou de outra as posições dosautores, desde as mais radicais às mais conservadoras,quando apontam solu-ções para os problemas da degradação ambiental por todos reconhecidos.

4.1 — Escola pessimistaChamada em inglês de Doomsdey School, é afinada com a terrível

imagem do quadro do "juízo final". Os membros desta escola acham que oproblema da degradação ambiental é insolúvel. Há os que argumentam queé tarde demais para interromper a trajetória inexorável do homem naextinção racial através da superpopulação,subnutrição, fome e doenças.Outros que pintam o quadro do "juízo final" são alguns cientistas na-turais que prevêem mudanças de temperatura da Terra como um resultadoda acumulação de dióxido de carbono na atmosfera em conseqüência do de-gelo glacial e outros desastres de grandes proporções.34O grande méri-to desta escola é a divulgação de uma série de relatórios, entre osquais, de expressiva repercussão mundial, está o do Clube de Roma.35

Boulding (1962), retrata com muito realismo o problema das lutas conflitantes entregrupos de interesses numa sociedade.

São vários os autores que abordam a questão do pensamento ambiental, entre os quaisdestacam-se 0'Riordan (1981), Meister (1977), Erhlich (1970) e Mills (1978).

34Garrett (1976) aborda os famosos desastres naturais ocorridos no mundo.

Há vários relatórios que sustentam tal pensamento pessimista e preocupante e aler-tam para o grave problema da degradação ambiental no mundo. Destacam-se o relatórioFounex (1971), de Meadows et alii (1972a) e IUCN (1980).

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O fato é que conseguiram formar mundialmente uma maior conscien-tização, não só do mundo científico, mas também sensibilizaram os go-vernos e as instituições internacionais, como a própria ONU que, noCongresso dos Direitos Humanos e do Meio Ambiente, em Estocolmo, em1972, criou o Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP), hojeem plena atividade, com sede em Nairobi, Kenya. Essa conscientizaçãocertamente deverá mudar o quadro do "juízo final" e redimensionar astendências projetadas e previstas pelos membros desse grupo.

Por outro lado, é preciso reconhecer que existe uma evidência his-tórica acumulada de que o crescimento populacional nas nações indus-trializadas tem, se não estacionado, diminuído apreciavelmsnte, e umavisão apocalíptica do futuro deve ser rejeitada.Além do mais, se real-mente se acredita num futuro sem esperanças, não se pode esperar quealgum esforço seja feito para melhorar o bem-estar social presente etampouco o futuro.

4.2 — Escola minimalistaO ponto de vista desta escola opõe-se ao da Pessimista. Seus adep-

tos argumentam que a deterioração da qualidade ambiental é um problemamenor quando comparado com os problemas contemporâneos da sociedade,tais como a pobreza, a miséria, os direitos civis e a integrarão educa-cional. Afirmam que os líderes políticos advogam uma melhoria ambien-tal porque estão desviando a atenção do público pelas suas falhas emresolver problemas prioritários e crucialmente mais sérios.

Os membros desta escola esquecem que uma maior atenção para com omeio ambiente não significa negligenciar outros problemas sociais. Pe-lo contrário, a melhoria da qualidade de vida pressupõe uma melhoriana qualidade ambiental. A sociedade não tem como zelar por qualidade emelhoria ambiental para que o homem possa desenvolver integralmentesuas faculdades psíquicas, sociais e biológicas, onde não há lugar pa-ra pobreza, miséria e desigualdades sociais e econômicas.

4.3 — Escola coletivista (socialista)Esta escola explica a deterioração da qualidade ambiental como

conseqüência inevitável da exploração capitalista. Argumenta que a so-lução dos problemas ambientais consiste no planejamento central. Suge-re que a livre iniciativa de mercado e o incentivo do lucro devam sersubstituídos pelo planejamento estatal. Os problemas ambientais desapa-receriam sob a tutela, apropriação e administração dos recursos pelo Es-tado.

Com mais de meio século de experiência, os países socialistas vêmdemonstrando que a posição dessa escola não é tão efetiva assim. Ospaíses de planejamento central, em particular a União Soviética,con-frontam-se com problemas de poluição em graus tão sérios quanto os paí-ses capitalistas. Administradores de empresas estatais estão sob a pres-são de seus planejadores na busca de produtividade e melhoria, eficiên-

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cia operacional quando a questão da minimização de custos internos é oelemento central básico para a tomada de decisões na alocação de recur-sos. Outros fatores, como a pirâmide das prioridades nacionais e da li-derança mundial (item 2.6), explicam grande parte dos problemas ambien-tais tanto no sistema capitalista quanto no socialista.

A experiência histórica dá fortes evidências de que a questão am-biental não vai ser resolvida com uma disputa ideológica e de lideran-ças sobre o mundo. Ambos os sistemas dão primazia ao uso dos recursos paraatender a prioridades de segurança nacional, e a poluição encontra campoaberto para deteriorar, em proporções crescentes, o meio ambiente.

Com isso não se pretende isentar de culpabilidade o sistema de li-vre mercado que, por suas falhas (ver Capítulo 7),é um incentivador dapoluição. A questão ambiental deve harmonizar a função política e a eco-nômica (de mercado) que adota sistemas de produção e consumo que con-tribuam para uma melhoria ambiental. Para melhorar a qualidade ambien-tal, não é preciso ser capitalista ou socialista,36 pois a organizaçãoestável de ecossistemas está baseada em regras claras e dispensa qual-quer inspiração ideológica.

4.4 — Escola de crescimento zeroO grupo mais expressivo de novos adeptos ambientalistas parece es-

tar associado a esta escola.37 A tese é simples: sendo a degradação am-biental causada pelo aumento de consumo de bens, é preciso conter ocrescimento da população e, como conseqüência, o da produção. Um argu-mento adicional desse grupo é o de que a terra é fjnita e que a natu-reza fixou as dimensões do meio ambiente natural,e, portanto, o homemdeveria fixar seus números e sua atividade econômica. É preciso esta-belecer uma relação estável e equilibrada entre a sociedade humana eseu mundo natural. Essa posição parece estar inspirada na estabilidadedos ecossistemas (ver item 2.A), no seu "estado de clímax".

Na verdade essa escola vem recebendo críticas pela sua inconsis-tência real. os críticos à escola do crescimento econômico zero argu-mentam que a questão da qualidade ambiental não é uma pura questão decrescer ou não crescer economicamente. A questão central está na qua-lidade desse crescimento econômico e, então, se o crescimento econômicoé adequado a uma realidade e propulsionado por uma adequação tecnológi-ca, ele até contribuirá para uma melhoria na qualidade ambiental. Paraque isso seja efetivo, a adequação tecnológica de produção e a de con-sumo tornam-se pré-requisitos para a questão da melhoria ambiental.

Sobre a questão ideológica e política do problema ambiental, ver Sachs (1977) e Rid-dell (1981). Ver, também, Antipode (1978, p. 22-32) e Graziano Neto (1982).

O crescimento econômico, não muitas vezes, foi bem interpretado, se não duramente cri-ticado. Pearce (1976) faz uma revisão crítica em especial à escola do pensamento docrescimento zero. Ver também o artigo de Sandbach (1978, p. 22-34) e Mishan (1973 e1981).

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O crescimento econômico zero por si não é um argumento suficientepara restaurar e controlar o meio ambiente. Mesmo a um crescimento eco-nômico zero, sem as devidas mudanças tecnológicas e comportamento noconsumo, os problemas da poluição continuarão a subsistir nos mesmosníveis e, talvez, crescerão para a surpresa de muitos, na medida em quea poluição vem saturando o meio ambiente.

Na verdade, a solução para os problemas ambientais não é tão sim-ples assim. O Capítulo 6 — 0 sistema de livre mercado e o meio ambien-te — mostra a complexidade das relações interdependentes e das múlti-plas inter-relações de variáveis que afetam o meio ambiente. Isso é de-monstrado pelo Modelo do Balanço de Matéria (MBM) e pelos Modelos deForrester e Meadows (MFM). Caso forem tomadas duas variáveis básicas,população e produção, conclui-se que o crescimento zero é uma meta im-possível. O crescimento econômico é um produto da expansão populacio-nal, de níveis mais altos de investimentos e de mudanças tecnológicas.Uma taxa de crescimento zero implicará para a mudança de todas essasvariáveis. Isso é querer o impossível para o futuro próximo, inclusivepara a economia americana. Estatísticas americanas mostram que, se ca-da família americana tivesse sido limitada em dois filhos desde 1975,um heróico pressuposto, as dinâmicas populacionais seriam tais que, so-mente no ano 2050, o processo pararia de adicionar pessoas,quando,en-tão, os Estados Unidos alcançariam aproximadamente 300 milhões de habi-tantes. Embora um declínio nas poupanças líquidas e investimentos nu-los sejam viáveis, é extremamente difícil conceber, sob o ponto de vis-ta das taxas de poupanças e investimentos, que os americanos tenham man-tido, durante o presente século, um resultado de expressivos incremen-tos nas suas rendas reais e riquezas acumuladas. No caso brasileiro,que sustenta um crescimento populacional anual em torno de 2,8% — si-tuação que exige incorporar 1,5 milhão de novos empregos anuais —, se-ria um suicídio coletivo pensar em crescimento econômico nulo.

Resumindo, crescimento econômico zero, além de inviável, é indese-jável. Além disso, o crescimento do PIB capacitará a economia a enfren-tar os altos custos de despoluição que o modelo econômico de produzir— poluir — despoluir vem impondo. Ademais, o exemplo americano acimadescrito mostra que o crescimento nulo da população está bastante dis-tante da realidade. Portanto, os problemas ambientais devem ser resol-vidos pelo redimensionamento do crescimento econômico e o uso alterna-tivo dos recursos na economia deve obedecer a critérios baseados na ade-quação do progresso tecnológico e do comportamento de consumo. Na ver-dade, o problema da questão ambiental não é crescer ou crescer econo-micamente, mas promover o progresso econômico sustentado numa mudançatecnológica e de consumo^que tenha o profundo respeito ecológico queos ecossistemas exigem. É perfeitamente viável uma economia crescer ataxas compatíveis com sua realidade social sem que os equilíbrios dosecossistemas sejam violentados pela poluição e que ao mesmo tempo pro-mova uma melhoria na qualidade do meio ambiente. Isso só pode ser umarealidade quando o sistema econômico for organizado em outros princí-pios, tais como satisfação das necessidades básicas dos cidadãos, par-ticipação e auto-suficiência dos indivíduos na política e um profundorespeito ecológico. Isso sugere mudanças profundas no atual sistema delivre mercado do sistema capitalista e também no sistema das economiasde planejamento central.

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4.5 — Escola da austeridadeA idéia central desta escola está associada à da escola de cres-

cimento Zero. Seus membros asseguram que o declínio da qualidade am-biental é produzido pelo excessivo e abusivo uso dos recursos. Acredi-tam que a austeridade é o melhor remédio, propondo menor consumo paraconservar os recursos, diminuindo a produção e a poluição. Sugerem quea sociedade deveria converter-se de uma sociedade de "produtores de re-síduos" em uma sociedade de "afinados poupadores".

Essa escola recebe críticas à semelhança da escola de crescimentozero. Seu erro básico reside no fato de que não é o montante de produ-ção e consumo "per capita" que deteriora o meio ambiente, mas a falhado Estado em controlar os processos de produção e consumo. Sem uma açãopolítica de adequação da produção e do consumo, não se pode esperar pormelhorias na qualidade do meio ambiente. Um segundo erro dessa escolaque a distingue da do crescimento zero é a noção e a consciência de queo mundo enfrenta uma escassez de recursos naturais básicos. Estudosexaustivos sobre recursos para o futuro têm revelado o contrário: ine-xiste uma previsão de ofertas limitados de recursos básicos naturais,incluindo a energia. O progresso tecnológico está produzindo constante-mente novos substitutos para matérias convencionais (por exemplo, fi-bras e borrachas sintéticas) com custos decrescentes para fontes deenergia alternativa. Entretanto os teóricos da escola da austeridadeapontam um aspecto extremamente válido quando observam que a regulamen-tação governamental para incorporar custos externos pode promover ne-gócios para desenvolver caminhos para recuperar e reciclar material re-sidual.

4.6 — Escola de prioridades públicasOs defensores desta escola vêem os problemas ambientais na ação do

Governo, nos excessivos e maciços gastos com defesa nacional e explo-ração espacial, dando pouca atenção à proteção ambiental. A solução daquestão ambiental está na realocação dos gastos públicos.

Certamente o quadro atual para a restauração ambiental requer ex-oressivos incrementos nas despesas públicas para tratamento de esgotos,purificação das águas, criação e manutenção de parques naturais, habi-tação, saúde, educação, desenvolvimento urbano e rural e transporte demassas. Além disso, faz-se necessária uma realocação das despesas dosetor privado como um resultado da ação do setor público para incorpo-rar custos externos. Por exemplo, o preço de compra de um carro e suasdespesas operacionais, como um livre poluidor, é indiscutivelmente maiordo que o de um veículo que polui, porque o motorista (proprietário) pa-gará os custos totais para o seu transporte individual. Com a incorpo-ração dos custos sociais no preço do carro, espera-se um declínio nosgastes de transporte individual. Ao mesmo tempo, espera-se que gastosprivados com educação, habitação e saúde, que produzem benefícios ex-ternos, crescerão relativamente. No nível agregado da sociedade, os rea-justes dos gastos privados aliviarão o peso da realocação do dispêndiopúblico num programa global de restauração ambiental.

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Como se viu, existem muitas correntes de pensamento (escolas) preo-cupadas com o problema da qualidade ambiental, sugerindo soluções. Sobo ponto de vista da teoria geral dos sistemas e do próprio conceito domeio ambiente, a questão ambiental deve ser tratada numa visão tota-lista e de forma interdisciplinar. Cada escola individual apenas foca-liza e se concentra num determinado ponto do problema ambiental global,portanto suas sugestões e soluções são parciais e não efetivas. Na ver-dade, os aspectos religiosos e ideológicos não podem ser excluídos daquestão ambiental. Na opinião de Graziano Neto (1982), as correntes deecólogos "reformistas", "socialistas" e "anarquistas" são mais um mo-dismo de expressão dentro do atual quadro ideológico internacional.

Independentemente da validade dos enfoques parciais das escolas in-dividuais mencionadas, é preciso introduzir princípios universais paraorganizar a vida política e econômica de uma sociedade que queira pro-mover o progresso econômico e tecnológico em prol de uma sociedade har-mônica, estável e auto-sustentada. Esses princípios universais que re-gem o comportamento político, econômico e social, uma vez respeitados ecumpridos por todos os segmentos da sociedade, suportarão essa socie-dade estável que todos os cidadãos capitalistas ou socialistas aspiram.Esses princípios resumem-se nas necessidades básicas, participação,au-to-suficiência e respeito ecológico, que são os princípios que susten-tam a proposta do ecodesenvolvimento (ver nota de rodapé 1).

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5 - OS SISTEMAS ECONÔMICOSE O MEIO AMBIENTE

A preocupação básica das Ciências Econômicas é dar aos recursos(termo geral aplicado, na Economia, para tudo aquilo que contribui pa-ra produzir bens e serviços disponíveis para o consumo) seu melhor usoalternativo, atendendo aos objetivos primários da sociedade como um to-do, melhorando a qualidade de vida dos seus cidadãos. O meio ambiente,entendido como um recurso escasso, enquadra-se perfeitamente na preo-cupação da Economia como qualquer outro tradicional recurso, tal comoo trabalho e o capital.

5.1 — O meio ambiente como um recurso escasso

Problemas econômicos são problemas de alocação de recursos escas-sos nos seus usos alternativos para maximizar o bem-estar social. Essaafirmação parece um tanto trivial, mas permitirá estabelecer o ponto departida para discussões sobre o meio ambiente, como um recurso econômi-co. Através desse enfoque genérico de problemas econômicos, não existeum conflito real entre os benefícios do bem-estar decorrentes da alo-cação de recursos via mecanismos de mercado e o bem-estar criado,atra-vés da alocação dos recursos, por outros mecanismos de organização dosistema econômico. Se esse ponto de vista é aceitável, então os pro-blemas ambientais fazem parte do problema econômico geral de alocação edistribuição dos recursos. Os efeitos da poluição e o impacto ambientalsobre o bem-estar social em diferentes situações ambientais devem sertratados conjuntamente com outras alternativas buscando a melhoria des-te bem-estar.

Outra maneira de interpretar a escassez é quando a demanda porqualquer coisa excede sua oferta ao preço zero; contrariamente, todo equalquer bem e/ou serviço que seja livre não é, por definição, um recur-so escasso e não é, portanto, um bem ou serviço econômico. Com poucasexceções, os recursos são relativamente limitados para os desejos e ne-cessidades da sociedade.

Sachs (1978, p. 967) escreve que "(...) de alguma forma o meio am-biente — o habitat global do homem — é o recurso potencial do qual ahumanidade depende". Esse recurso potencial está se tornando cada vezmais escasso em função do rápido crescimento populacional, da riquezagerada e acumulada pelo crescimento econômico e inovação tecnológicacrescente nas sociedades industrializadas. A preocupação humana com omeio ambiente como um recurso escasso vem crescendo em importância des-de o início da década de 70. Meister (1977, p. 10) argumenta que o ho-mem, quando da escolha entre os usos alternativos dos recursos,incluin-do o uso do meio ambiente natural, tem sido guiado predominantementepelo interesse imediato próprio, ignorando a dimensão espacial (o que o

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cerca, isto é, a cultura comunitária, a Nação e/ou o mundo) e a dimensãotemporal (dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos, milênios, etc.).

Mas a preocupação do homem moderno tem dois focos distintos: um éo meio ambiente natural, onde o homem busca usos alternativos de extra-ção da riqueza e de lazer; o outro concentra-se na poluição. A ênfasede ambos os enfoques da preocupação humana diz respeito à importânciado meio ambiente como elemento fundamental para a qualidade de vida.Assim, o meio ambiente, como um todo, vem sendo visto como um recursoglobal no melhoramento dos padrões de vida da sociedade.

Há autores que concordam que o recurso meio ambiente pode ser vis-to como um patrimônio natural ou um bem de capital não renovável, comoum serviço economicamente valorizado e fonte econômica de serviços di-retos e indiretos para o homem. Esses serviços incluem a absorção e aintegração natural, receptores de resíduos humanos, bem como uma qua-lidade ambiental estável.

O recurso, na ótica da ecologia, é tudo o que um organismo, popu-lação ou ecossistema exige que, pela sua crescente disponibilidade atéum nível ótimo e suficiente, permite uma crescente taxa de conversãoenergética. Assim, matéria, energia, espaço, tempo, etc. são todos ca-tegorias de recursos (Watt, 1973, p. 20). Já o conceito de biologia nãose afasta tanto do conceito econômico: para ambas as ciências, o recur-so é algo que é necessário e exigido por um processo produtivo. Os bió-logos concentram o seu conceito na. taxa de conversão energética na ca-deia alimentar (veja item 2.2.3), e os economistas enfocam a escassez.Assim, o esquema de conversão de energia, em termos de eficiência, emqualquer sistema de produção, deverá ser considerado (ainda mais na cri-se energética atual) para suprir e melhorar a qualidade ambiental. Éoportuno registrar que, quando se trata de medir e avaliar a eficiên-cia dos recursos, se tornam necessárias várias unidades de medida,alémda eficiência econômica, pois a unidade monetária é muito restrita e nãosuficientemente abrangente, o que a impossibilita de medir muitos fenôme-nos e recursos que não são monetarizaveis. Nesse sentido, a eficiência na-tural pode ser um conceito útil para auxiliar a tomada de decisão na aloca-cação eficiente dos recursos, em particular o recurso meio ambiente.

5.2 — Serviços do meio ambienteServiços ambientais são aqueles afetados pelas atividades de pro-

dução e consumo e pela maneira como o homem maneja seus resíduos. Talcomo é demonstrado pelo Modelo do Balanço de Matéria (ver item 5.5), omeio ambiente desempenha serviços de valor inestimável para a economiaao distribuir, assimilar, e armazenar os resíduos gerados pela ativi-dade econômica. Freeman III (1973, p. 21) classifica os serviços am-bientais em três classes: a primeira ele chama de recepção de resíduos.Trata-se da capacidade do meio ambiente de servir como um receptor deresíduos decorrente do processo natural que transforma ou dispersa pro-dutos residuais em áreas inofensivas. O mesmo autor adverte que:"(...) se a capacidade do meio ambiente em absorver ou assimilar resí-duos for ilimitada, não há porque temer por problemas de poluição. Osresíduos, então, podem ser jogados no meio ambiente em escala infinita

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sem custos adicionais". Infelizmente, o que é do conhecimento do pú-blico em geral é que a chamada capacidade assimilativa do meio ambien-te é bastante limitada. A segunda mais importante classe de serviçosambientais diz respeito ao suporte da vida humana.O meio ambiente ofe-rece e supre um habitat hospitaleiro para o homem e todas as outrasformas de vida vegetal e animal. Entretanto,a biosfera, em particular,uma vez afetada pela poluição, pode alterar dramaticamente os sistemasecológicos naturais, causando efeitos danosos para o homem, não só acurto, mas também a longo prazo. A terceira classe de serviços ambien-tais refere-se à recreação e ao lazer. Pontos agradáveis podem suprirserviços escassos simplesmente porque são agradáveis e elevam o bem-es-tar social. Os lugares geográficos que dispõem desses serviços são im-portantes fontes de atividades recreativas. Lazer e recreação é uma in-dústria em franco crescimento, e sua importância vem recebendo o reco-nhecimento da sociedade moderna, contribuindo em importantes assuntosde estudo para todos os cientistas sociais. A economia do lazer e re-creação é, para o economista, uma área nova de especialização tanto nocampo teórico como no prático38. O interesse dos economistas na recrea-ção e lazer, como um problema econômico, deve-se à necessidade da ava-liação dos vultosos recursos aplicados na manutenção e nos investimen-timentos pelos setores público e privado. A indústria de turismo, se ain-da não é a mais importante para o homem europeu, sem dúvida, o será nofuturo próximo. A recreação e lazer tornou-se uma necessidade básicapara o homem da sociedade moderna que vive em conflitos com a deterio-ração dos ambientes urbanos inadequados para o seu integral desenvol-vimento biológico e social. Existem evidências de que o homem modernoestá disposto a deslocar cada vez mais tempo para as atividades de la-zer. Ele tem consciência de que o lazer é uma atividade que lhe per-mite desenvolver a sua personalidade, iniciativa e criatividade pes-soal, muitas vezes impedidas na rotina de trabalho diário,especialmen-te nas linhas de montagens industriais.

Freeman lembra ainda uma quarta classe de serviços ambientais quese refere à fonte de recursos para a economia. O fluxo de matéria nosistema econômico e natural pode ser visto sob os pontos qualitativo equantitativo pelo descarte dos resíduos. O meio ambiente é um recepta-dor desses resíduos naturais e humanos.

Resumindo, o meio ambiente é definido como sendo um recurso eco-nômico que supre serviços considerados bens econômicos, para os quais ohomem está disposto a pagar ou a evitar sua redução na qualidade ouquantidade dos recursos oferecidos.

5.3 — Uma visão do sistema econômicoExistem profundas diferenças no nível de degradação do meio am-

biente entre os países com patamares de desenvolvimento diferenciados.Dahmen (1972, p. 67) explica essas diferenciações nacionais pelas con-

"ZQ

Veja a importância que assume a Economia do Lazer e Recreação em Vickerman (1975).

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dições geográficas e climáticas próprias de um ecossistema, associadasaos níveis de urbanização e densidade demográfica, além das peculiarescaracterísticas sócio-culturais. Mesmo que estas sejam idênticas, é di-fícil acreditar que dois países apresentem as mesmas condições ecoló-gicas. O ecossistema tem suas características próprias, e na sua exis-tência natural é onde o homem encontra como organizar a vida política eeconômica de uma sociedade. O comportamento econômico necessariamentevai se confrontar com o comportamento natural dos ecossistemas. Nessecontexto, os sistemas econômico e ecológico fazem parte de um todo, ea lógica indica que deve existir harmonização entre os mesmos.Natural-mente, a história da poluição está aí para demonstrar que os sistemaseconômicos têm pouco respeito pela ecologia.

Por outro lado, é oportuno adicionar que nem a organização polí-tica, seja ela democrática ou autoritária, tampouco a cor política dosgovernos parecem ter um significado maior na questão ambiental. Além domais, companhias estatais e outras denominações do"setor público nãotêm sido diferentes das companhias privadas no seu comportamento face àpoluição e às formas de degradação do meio ambiente. O comportamentoinadequado parece ser a melhor explicação para a ausência de qualquercorreção entre o sistema econômico e a deterioração ambiental. Isso sedeve, talvez, ao fato de que se tem dado prioridade absoluta ao con-sumo às expensas da deterioração ambiental, particularmente nos paísesque vêm apresentando rápidos índices de crescimento econômico. Como umaconseqüência de mudanças tecnológicas, a expansão da industrializaçãoe a desordenada urbanização por si explicam grande parte da deterio-ração do meio ambiente. Esse fenômeno não só vem sendo observado nospaíses que organizam sua vida econômica baseados no princípio do livremercado, mas também nos países de planejamento central. Assim, a polui-ção e a conseqüente degradação ambiental são um fenômeno universal in-dependente do sistema político e ideológico, quaisquer que sejam os sis-temas econômicos e políticos que vêm sendo praticados.Lamentavelmente,a experiência de um sistema de mercado que suporte.uma sociedade des-poluída e estável ainda está para ser construída.

Os problemas científicos e tecnológicos que envolvem o meio ambien-te são enormes: muitos deles serão sanáveis, outros de difícil solução.O que vai acontecer à sociedade no futuro dependerá fundamentalmente damaneira como serão desenvolvidas as atividades de produção e de consumonas complexas inter-relações tecnológicas da ecologia com o meio ambien-te. O problema fundamental consiste em conhecer como reagem entre si osaspectos políticos, econômicos, ecológicos e sociais de uma sociedade.Em assim pensando, tem-se que visualizar o sistema como um todo, urnavisão totalista, pelo fato de que é de comprovada experimentação quevisões e análises parciais sempre levam a soluções parciais. Uma solu-ção global sempre exige uma interpretação do sistema global. A seguir,o meio ambiente será tratado nesse sentido globalista, numa abordagemsistêmica e de modelos, como os conhecidos Modelo do Balanço de Matéria(MBM) e Modelos de Forrester e Meadows (MFM).

Tendo em vista esse propósito, a abordagem dos modelos leva emconsideração apenas algumas relações básicas, ainda simplificadas - co-mo passo inicial —, julgadas suficientes para o entendimento dos prin-cípios envolvidos que estabelecem as inter-relações dentro de um sis-tema social dinâmico que diz respeito ao problema do meio ambiente glo-bal e da Economia.

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FEE EDOC.TECA

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5.4 — Os significados restrito e amplo do sistema econômicoA escassez dos recursos é uma questão-chave para as Ciências Eco-

nômicas. Micro e macroeconomia são ramos clássicos da Teoria Econômica.Como é usual, elas representam o suporte teórico para todos os camposda Economia, entre eles a economia do meio ambiente. Vale registrar queinexiste um único tipo de sistema econômico como alternativa de organi-zação da vida econômica de uma sociedade. Existem, isto sim,princípiossobre os quais se organiza um sistema econômico. Por exemplo, as econo-mias capitalistas todas são organizadas no princípio do livre mercado,enquanto os países de planejamento central se baseiam no princípio daimposição. Assim, outros princípios poderiam ser considerados,tais co-mo a satisfação das necessidades básicas,respeito ecológico, etc, paraorganizar o sistema econômico. Logicamente, cada sistema econômico apre-sentará resultados diferentes, bem como problemas econômicos e sociais,porque os princípios que regem a organização econômica impõem políti-cas globais e organizacionais à vida econômica de uma nação.

É importante ter presente que num sistema econômico nem a matéria--prima nem o produto final precisam ser necessariamente econômicos nosignificado restrito de que tudo deva ser medido em unidades monetáriase tampouco requer que sejam distribuídos via mercados, onde o dinheirotroca de mãos. Isso deve ser considerado na conceituação ampla do pro-blema econômico quando alguém desenvolve análises de problemas ambien-tais e formulação de políticas na alocação de recursos escassos, taiscomo os recursos naturais e o meio ambiente. A idéia é bastante sim-ples , uma vez que o meio ambiente é incluído como um recurso no proces-so de produção, distribuição e consumo, o sistema econômico deve serinterpretado nos seus significados restrito e amplo (Figura 13).

OS SIGNIFICADOS AMPLO E RESTRITO DO SISTEMA ECONÔMICO

O SISTEMA ECONÔMICO NO SEU SIGNIFICADO AMPLO

J ó SÍSTEMA\ÍCO'NÔM'IÇÒ NO sÊy SÍGNIFIC^DO RESTRITO,'

FONTE: Hjalte (1977, p. 2).

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Na Figura 13, evidencia-se um sistema econômico dividido em doisblocos: um mostra as relações dos elementos de produção, distribuiçãoe consumo sob a ótica tradicional da Teoria Econômica, que se denominasignificado restrito do sistema econômico; o outro bloco, que englobaeste e suas relações com o meio ambiente, é denominado significado am-plo do sistema econômico. Esse enfoque do sistema econômico mostra ain-da que, do ponto de vista físico, nada desaparece no fluxo da matéria.A totalidade da matéria de todos os bens produzidos, em todos os ní-veis de produção, é sempre igual ao peso dos bens nos estágios ante-riores de transformação, bem como ao peso dos produtos finais mais osprodutos secundários e os resíduos. Maiores detalhes do mecanismo defuncionamento encontram-se nas próximas seções, na abordagem do MBM.

5.5 - O Modelo do Balanço de Matéria (MBM)5.5.1 - O MBM simplificado

O MBM também é conhecido como f luxo de matéria, expressando a quan-tidade de matéria retirada do meio ambiente para a economia e o fluxode retorno dessa matéria para o meio ambiente na forma de resíduos.Es-sa situação é mostrada pela Figura 14, o MBM simplificado. O meio am-biente é visto como supridor de matérias e serviços para a Economia. Ofluxo de retorno tem um impacto inverso no volume e na qualidade de ou-tros serviços ambientais. O meio ambiente, visto como fonte de insumose como um receptáculo de resíduos, é descrito como sendo um recurso aser administrado de tal forma que possibilite maximizar os benefíciospara a sociedade.

A facilidade de identificação dos elementos e seus fluxos, bem co-mo a complexidade de suas inter-relações, constitui a grande utilidadedo MBM para os economistas. Além do mais, o Modelo permite visualizare examinar as causas e os efeitos da poluição decorrentes das ativida-des econômicas do ponto de vista do fluxo de materiais e do meio am-biente. Em síntese, o MBM possibilita uma fácil compreensão da impor-tância do meio ambiente num sistema econômico.

Como é mostrado pela Figura 14, todas as atividades produtivas dosistema econômico são resumidas pelo elemento setor de produção e pelosetor doméstico que representa as ações individuais do consumidor. Ofluxo circular do meio ambiente engloba os setores e suas inter-rela-ções. Sob a perspectiva do MBM, tal ponto de vista do sistema econômi-co tradicional é incompleto, uma vez que ele ignora o importante fluxode matéria e as leis básicas da Física que as governam. Dado que os bense serviços são feitos de alguma coisa,o modelo econômico deve incorpo-rar de onde algo vem e para onde este algo vai.

O meio ambiente pode ser visualizado como uma extensa casca envol-vendo o sistema econômico no seu significado restrito(Figura 13). Ana-logamente, a relação é semelhante a uma gestante,mãe e feto: ela, alémde suprir as necessidades do feto, se encarrega de eliminar e absorveros resíduos. Esses fluxos de insumos e resíduos são também expressos naFigura 14. As matérias-primas provenientes do.meio ambiente são proces-sadas no setor de produção e, via distribuição,chegam ao setor de con-

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sumo. A matéria descartada no meio ambiente pelos setores de produçãoe consumo são restos de produtos chamados resíduos. Estes, sem valor eutilidade imediata para o produtor e consumidor, devem ser descartadose jogados em algum lugar. Similarmente, nem toda a matéria que entrano setor de produção é incorporada nos produtos de consumo final e in-termediário. Essa matéria não incorporada é o resíduo da produção. As-sim, existe um fluxo de resíduos originados em ambos os setores, no deprodução e no de consumo, que retornam de uma forma ou outra para o meioambiente.

Esses fluxos de matéria devem obedecer às leis básicas da Físicaque governam a conservação da matéria (massa). Numa economia fechada,que não importa e nem exporta e onde não existe a acumulação de estoques(plantas de fábricas, equipamento, bens duráveis de consumo, constru-ções residenciais, etc.), a massa de resíduos jogada no meio ambientedeve ser igual à massa de insumos básicos, alimentos, minerais e outrasmatérias-primas que entram no sistema de produção,acrescidos aos gasesretirados da atmosfera. Esse princípio deve ser respeitado na sua ín-tegra para cada setor produtivo no sistema econômico nos seus signifi-cados restrito e amplo. Esse é o princípio do MBM. A partir desse prin-cípio, pode-se concluir que o fluxo de bens de consumo do setor de pro-dução e do setor de consumo deve ser igualado por um fluxo idêntico dematéria de volta ao meio ambiente.

FIGURA 14

O MBM SIMPLIFICADO

O MEIO AMBIENTE

A ECONOMIA

Produto final

SETORDOMÉSTICO

Resíduos

FONTE: Freeman III (1973, p. 12).

NOTA: O setor de produção no MBM é representado porA- B + C; o setor doméstico (famílias) por C = D; e a Economia por A = B + D(os fluxos sã"o medidos por unidade de massa).

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O MBM simplificado (Figura 14) demonstra que o meio ambiente é deconsiderável valor para o homem como uma fonte de insumos de matériapara as atividades dos setores de produção e de consumo numa economia.Entretanto, até a década de 70, não foi reconhecido que o meio ambien-te funciona como um receptador valorizado para os correspondentes flu-xos dos resíduos. Além do mais, o meio ambiente tem uma enorme capaci-dade de receber, absorver e assimilar a maior parte da matéria que re-torna após passar pelos processos de produção e de consumo. Mas, comoserá visto posteriormente, quando essa natural capacidade assimilativaé sobrecarregada, mal-usada e mal-administrada, a poluição e a degra-dação da qualidade ambiental serão fatos inevitáveis, que compromete-rão a qualidade e padrões de vida de uma sociedade.

5.5.2 — MBM esquematizado

A Figura 15 mostra um retrato esquematizado do MBM com maiores de-talhes do fluxo de matéria e correspondentes inter-relações entre seuselementos. Nessa Figura, desdobrou-se o setor de produção, isolando osetor de energia, tendo em vista sua reconhecida importância como fon-te de um significado fluxo de resíduos no sistema econômico. Assim, aFigura 15 revela três setores — produção, energia e consumo — que sãovitais em qualquer sistema econômico. Adicionais subsetores tornariamo quadro demasiadamente complexo para identificar os fluxos e suas re-lações.

Os insumos num sistema econômico incluem minerais,produtos de re-centes fotossínteses, produtos agrícolas, madeira para construção, mó-veis, papel, combustíveis fósseis, que são produtos de reservas da fo-tossíntese passada, e água. Finalmente, a atmosfera é constituída degases, tal como o oxigênio para a combustão e respiração animal e ve-getal.

O setor de conversão energética, através de arranjos químicos dosinsumos da matéria, libera energia útil para o setor de processamentode produção e de consumo. No entanto, virtualmente,todos os insumos damatéria para a conversão energética retornam para o meio ambiente naforma de gases, óxidos e sólidos. O setor de produção faz uso do ar,água e produtos de fotossíntese e energia útil do setor energético eabastece o setor de consumo com uma variada gama de bens e serviços. Osetor de processamento da matéria produz, por sua vez, uma variada ga-ma de matérias residuais, desde resíduos orgânicos e líquidos,incluin-do poluentes químicos e tóxicos (ver item 3.3).

Como bem ilustra a Figura 15, os resíduos sólidos, líquidos e ga-sosos derivados dos setores de produção e consumo podem passar por ou-tros estágios de processamento antes de retornarem ao meio ambiente.Porexemplo, a incineração é uma alternativa para converter resíduos sóli-dos em gases. Tal processo apenas muda a forma na destinação do fluxoresidual. A massa que retorna ao meio ambiente é a mesma, porém em for-mas diferentes.

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FIGURA 15

RETRATO ESQUEMATIZADO DO MBM E O FLUXO DA MATÉRIA

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PRODUTOS DA FOTOSSlVTESE

T

Ai e Águaj*» Carvãoí l GásNatura

CO2 e CO-»Cinzasterrestres*—e aéreas

Radiação •«

ResíduosDiversos "*

PerdaEnergética1*

Ruídos

CONVERSÃOENERGÉTICA

Eletricidade Térmicae Nuclear

Transporte

Indústria (aquecimentoe refrigeração)

Comercial e Institucio-nal

Doméstico

EnergiaÚtil

Respiração

Esgoto

PetróleoCarvão Cape

Gás e óleoRefinado

Are Água

EnergiaÚtil

Recuperaçãoie Resíduos

. ?/ Recicla-

PROCESSAMENTODA MATÉRIA

• Produtos Diretos e Indiretosda Fotossíntese

— Materiais de Alimentação

— Produtos Florestais

- Produtos Orgãnico-Quí-micos e de Refinamentode Petróleo

— Produtos de Pesca

• Química Inorgânica

• Metais Primários

— Ferrosos

— Não-Ferrosos

• Materiais Estruturais(pedras,areia, vidro, cimento, etc.)

CONSUMOFINAL

aumento_ dejístoques

Petroquímicos, Plásticos,.Fibras

.Produtos _de__Ajimentacjo__

.Produtos de Metal

^Materiais de Estrutura^

^Produtos Têxteis, Papel e Madeira

Resi'duos Mistos, Lixo, Materiais de Descarte, etc.

RECUPERAÇÃODE RESÍDUOS

P/ RECICLAGEM

AUMENTODE

ESTOQUES

»Perdas no Processa-mento: orgânicos einorgânicos

^Refugos Diversos, Li-xo, Máquinas Obsole-

EstruturasQuímicas, etc.

ResíduosMistos

Energia Ar e Águ;

PROCESSAMENTO DE RESÍDUOS:INCINERAÇÃO, ATERRO, TRATA-

MENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS

l TCO Cinza EnergiaCO2 Perdida

FONTE:Knce sc(1971,p.20).

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Pode-se observar, também na mesma Figura 15, o fluxo energéticoadicionado ao fluxo da matéria. Balanços energéticos podem ser proje-cados, dividindo-se a produção de energia num trabalho útil,levando-seem consideração o ruído, energia residual dissipada no ar e na água. Alei de conversão energética prescreve que todo o insumo energético numsistema econômico, bem como os insumos de matéria, obrigatoriamente,devem encontrar o caminho de retorno ao meio ambiente. Segundo FreemanIII (1973, p. 15), há quem sugere que o limite(do crescimento econômiconão seja dado pela escassez de recursos ou pela superpopulação, mas pe-lo limite da capacidade do meio ambiente em absorver resíduos calorífi-cos decorrentes da atividade econômica.39

A principal lição que dá o MBM diz respeito aos processos de pro-dução e de consumo e à maneira como os recursos são utilizados: de umlado, a produção e, de outro, o consumo, mutuamente interdependentese dando origem à poluição pelo descarte dos resíduos no ar, na água ena terra. O MBM sugere o resumo de alguns princípios importantes quan-to à questão da qualidade do meio ambiente:

a) talvez a mais importante validade e utilidade do MBM é que elepossibilita a identificação e o levantamento de alternativastecnológicas, pois existem muitos caminhos pelos quais a polui-ção pode ser controlada, via alternativas de produção que mi-nimizam a produção de resíduos;

b) a interdependência entre os diferentes fluxos de resíduos deveser vista e tratada sob a ótica sistemêmica para a questão am-biental;

c) o MBM evidencia implicitamente as relações entre o crescimentopopulacional e a poluição. O Modelo sugere que,permanecendo asdemais coisas constantes, quanto maior a pressão do consumo,maiores quantidades de insumos são canalizadas ao sistema deprodução e, conseqüentemente, maiores quantidades de resíduossão lançadas no meio ambiente;

d) o MBM também evidencia os problemas institucionais para admi-nistrar o meio ambiente.

Finalmente, uma lição de importância maior é o fato de que o MBMadverte que é preciso ter-se uma ampla visão do sistema econômico, domeio ambiente e, em particular, dos problemas da poluição. A poluiçãoda água, a do ar e a da terra não podem ser tratadas separadamente, poissuas relações interdependentes exigem um tratamento e soluções tambéminterdependentes. Tampouco pode o meio ambiente ser administrado isola-damente do sistema econômico. Os níveis de renda, gostos e preferên-cias, tecnologia e preços que orientam as decisões de produção e deconsumo num sistema econômico de livre mercado têm efeitos correlatesnos fluxos de matéria e no meio ambiente. A ação governamental, estra-tégias e políticas ambientais só serão bem sucedidas quando levarem emconsideração esses fatores.

39 OMBM de Kneese, aaui reproduzido e adaptado do livro ú<' Freeman III (1973, cap. 2),co-menta o trabalho originalmente publicado pelo Sweedish Economic Journal (1972).

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5.6 - O Modelo de Forrester e Meadows (MFM)Outra maneira útil para mostrar os problemas ambientais relaciona-

dos com o sistema econômico pode ser a descrição detalhada das relaçõesespecificadas no MFM. Os recursos econômicos são bastante familiaresnos trabalhos dos Professores Forrester (1971) e Meadows (1974). Essesautores argumentam que o crescimento econômico é pressionado por trêsdiferentes tipos de restrições: a primeira diz respeito ao limite es-pacial da terra (a terra é finita); a segunda contempla o limite dos es-toques de certas matérias irrecuperáveis, tais como os recursos naturaisnão renováveis (RNNR), incluindo os estratégicos recursos energéticos, mi-nerais fósseis, combustíveis, etc.; e a terceira restrição é o limiteda capacidade de absorção dos efeitos da poluição pelo meio ambiente.Os autores sugerem que seria útil adicionar uma quarta restrição quetrataria da oferta disponível de capitais criados pelo homem, tais co-mo máquinas, construções e outros.

O primeiro grupo de fatores limitantes — a terra — pode também serchamado de recursos naturais renováveis (RNR). A pressão da populaçãosobre o limite disponível da terra e seus efeitos, em qualquer época,está associada à lei dos rendimentos decrescentes em escala. Existemoutras características não econômicas, tais como a pressão populacio-nal sobre o tema que origina consideráveis problemas humanos. Como exem-plo, podem-se mencionar doenças físicas e mentais decorrentes de con-gestionamentos de áreas superpovoadas. Mesmo assim, tal situação reper-cute em problemas econômicos.

O segundo grupo diz respeito aos recursos naturais não renováveis(RNNR). Considerando que esses RNNR se encontram em .estoques limitados,então uma adequada política demográfica deve considerar seriamente ocontrole da natalidade em função da oferta desses recursos não renová-veis, não importando a existência de populações numerosas no curto pra-zo ou uma população no longo prazo. Nesse contexto, existe uma dife-rença significativa entre os RNNR e os RNR.

Ativos de capital constituem um possível fator limitante, mas,por sua natureza, não se trata de uma limitação rígida tal como é aoferta de RNNR. Existe uma forte relação entre esse fator e as restri-ções dos RNNR e RNR.

A poluição do meio ambiente é um sério fator limitante para o cres-cimento e expansão da economia. Como já foi abordado (veja Capítulos 2e 3), o meio ambiente tem capacidade limitada para absorver e reciclarresíduos. Existe um limite de capacidade ambiental que impõe sériasrestrições ao crescimento econômico fundamentado no modelo produzir-po-luir-despoluir.

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FIGURA 16

O SISTEMA DE PRODUÇÃO NA CONCEPÇÃO DO MFM

Relações positivas

Relações negativas

FONTE: Meade (1973, p. 12).

DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS RELAÇÕES DAS VARIÁVEIS

D: População em número de pessoasT: Quantidade de terra (RNR)R: Quantidade de recursos esgotáveis (RNNR)K: Quantidade de equipamento de capitalCt: Estado do conhecimento tecnológico

A: Quantidade da poluição do meio ambienteP: Produto total de bens e serviçosN: Número de nascimentosM: Número de mortes

^: Produção "per capita";

T—: montante de RNR "per capita";

p—: estoque remanescente dos RNNR "per ca-

pita;

v—: montante dos ativos de capital "per capita";

Cj: estado do conhecimento tecnológico;

A: nível da poluição.

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A Figura 16 mostra relações simplificadas de um sistema de produ-ção na concepção de MFM. As relações positivas e negativas são repre-sentadas, respectivamente, por linhas cheias e pontilhadas. Como qual-quer modelo teórico, a funcionalidade lógica do MFM tem alguns pressu-postos que devem ser considerados para interpretá-lo e entendê-lo. Es-ses pressupostos são:

a) o setor de produção industrial gera, de uma forma ou de outra,fluxo de poluentes que varia segundo a proporção do nível daatividade industrial;

b) os sistemas naturais dos ecossistemas dispersam e eliminam ofluxo de poluentes no reservatório ambiental até o limite desua capacidade de absorção. É o vento que dispersa a fumaça, oleito do rio encarrega-se dos efluentes líquidos e há resíduosque são degradados pela ação.das bactérias, etc. A poluição am-biental aparece no momento em que se ultrapassa o limite da ca-pacidade natural-dos reservatórios ambientais em transformar,incorporar e absorver os resíduos;

c) as forças de limpeza natural são completamente inoperantes apartir de certo nível de poluição atmosférica. Nesse ponto, ofluxo de poluentes para fora do reservatório não mais progride,enquanto o estoque de poluentes cresce e se acumula; pelo con-trário, quando o fluxo de poluentes entra no reservatório am-biental, cresce o nível de poluição além do ponto crítico desaturamento, o fluxo de saída, então, é praticamente reduzido.A partir daí emerge a crise da qualidade ambiental, pois umexplosivo crescimento na poluição ambiental choca e comprometea atividade econômica e a própria sobrevivência humana.

As relações existentes entre as variáveis do MFM são de fácil esimples identificação. A rede de relações do Modelo torna-se mais com-plexa na medida em que novas -variáveis são introduzidas. Assim, porexemplo, podem-se visualizar as repercussões no sistema decorrentes deum crescimento populacional (Figura 17). Um crescimento demográfico re-presenta um crescimento na taxa da população e será tanto maior quantomaior for o número de nascimentos (N) e quanto menor for o número de mor-tes (M). Pressupõe-se que existem três fatores básicos que afetam o ní-vel de nascimentos e de mortes: a) o total de nascimentos e mortes serámaior quanto maior for a população total sujeita às forças de natali-dade e mortandade; b) os nascimentos serão reduzidos e as mortes au-mentadas pela crescente poluição ambiental; o congestionamento e super-lotações populacionais pressionam índices crescentes de poluição; c) oaumento nos padrões e na qualidade de vida reduzirá a mortalidade e po-derá ter um aumento de fertilidade nos níveis de subsistência básica euma redução na fertilidade nos níveis mais altos de renda.O crescimen-to demográfico, além de pressionar o mercado de trabalho, impõe o au-mento da produção, e conseqüentemente necessidades adicionais de in-vestimentos se fazem necessárias, cujos resultados finais afetam a qua-lidade do meio ambiente. A Figura 17 mostra de uma forma mais completaessas repercussões no MFM.

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FIGURAI?

RELAÇÕES DEMOGRÁFICAS NO MFM

I ; O N T I : : M c a d e ( 1 9 7 3 , p . 14).

NOTA: Ver convenções da Figura 16.

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Na medida em que o MFM é completado (Figura 18) pela introdução denovas variáveis e relações, o nível da atividade econômica indica asrelações qualitativas e quantitativas sobre os RNR, sobre os estoquesde capital pelo homem e sobre o nível da poluição ambiental. Assim, oMFM da Figura 18 indica que, quanto maior é o produto total, maioresquantidades de RNR são usadas pelos processos produtivos e conseqüen-temente há uma queda nos estoques de tais recursos. O estoque de capi-tal crescerá à proporção que o produto não é consumido, mas este é usa-do em novas formas de investimento. A medida que a população poupa umaporcentagem da sua renda, a taxa de crescimento do estoque de capitalserá tanto maior quanto maior o nível do produto real. Assim, é possí-vel associar outras variáveis e identificar suas repercussões no siste-ma. Todavia o impacto na qualidade do meio ambiente é inevitável pelasvariações e ajustamento das demais variáveis no Modelo. As taxas decrescimento dos níveis de poluição ambiental no reservatório de polui-ção serão por si maiores quanto maior for o nível do produto total. Co-mo já foi dito, faz parte dos pressupostos do Modelo que um moderadobaixo nível de poluição, considerando as forças de despoluição natural,provocará um fluxo para fora do reservatório que será maior quanto maiorfor o montante de poluição no reservatório. Mas é preciso lembrar que oprocesso de despoluição natural pode tornar-se incompatível a tal pon-to que o fluxo para fora do reservatório seja reduzido, e, como conse-qüência, haverá um crescimento nos níveis da poluição ambiental.

Na opinião do Economista Meade (1973, p. 15), três elementos fun-damentais devem ser considerados quando se pretende projetar o cursofuturo dessas variáveis: primeiro, como ponto de partida é preciso co-nhecer o tamanho atual da população, montante atual de estoques dosRNNR, estoque atual de ativos do capital feito pelo homem, o presenteestado do conhecimento tecnológico, atual estado da poluição ambiental,bem como a disponibilidade de RNR; segundo, a forma e intensidade dasrelações definidas no Modelo — por exemplo, a taxa de degradação dosestoques dos RNNR aos níveis do produto mundial; terceiro, o comporta-mento futuro das mudanças e do conhecimento tecnológico.

O MFM mostra claramente que uma coisa de certa forma depende e serelaciona com outra. Se realmente se soubesse, escreve Meade, como umavariável individual afeta e é afetada nas suas inter-relações e comoqualquer outra variável externa — tal como tecnologia—se comportaria,então se estaria, em princípio, capacitado para prever os movimentosde todas as variáveis no futuro. Poder-se-ia, então, programar o com-putador para executar essa tarefa trabalhosa, e assim prever como secomporta o desenvolvimento. Esse procedimento metodológico possibili-taria examinar e prever efeitos decorrentes nas mudanças de várias po-líticas com o auxílio do computador. Por exemplo, o computador poderiadar uma resposta rápida sobre as possíveis mudanças e influências quepoderão ser observadas no modelo dinâmico global decorrente de uma po-lítica e de um programa de controle de natalidade. Mesmo que existamproblemas sérios quanto a disponibilidade qualitativa e quantitativade informações estatísticas, principalmente nos países em desenvolvi-mento, e mesmo sem um prático modelo operacional de MFM, ainda vale apena raciocinar em termos do MFM; embora ele não forneça as intensida-des das relações, pelo menos indica a direção e o caminho a serem se-guidos na formulação de políticas e estratégias de desenvolvimento.

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FIGURA 18

O MFM COMPLETO

FONTE: Meade (1973, p. 16).

NOTA: Ver convenções da Figura 16.

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Existem algumas verdades reconhecidas que os Professores Forrestere Meadows evidenciam no seu trabalho: primeiro,cedo ou tarde, é preci-so determinar o crescimento exponencial da população e do produto, poiso limite desse crescimento afetará a qualidade ambiental,a não ser queas devidas providências e cuidados sejam tomados para redimensionar es-se crescimento a fim de minimizar o'impacto ambiental; segundo, o limi-te do crescimento pode tornar-se efetivo, seja pela exaustão dos RNNR,seja pela pressão sobre a oferta dos RNR, ou mesmo porque existem efei-tos da excessiva poluição sobre o meio ambiente.Mesmo que não se cons-trua um modelo dinâmico completo para essa demonstração, fica claro quea escassez dos recursos naturais e a saturação dos resíduos no meio am-biente fixarão os limites máximos do crescimento. Faz-se necessário ummodelo dinâmico bem elaborado para demonstrar quão cedo e subitamenteos limites são alcançados, que limite aparecerá primeiro, quão rápidosão os efeitos para alcançar esses limites, quão efetiva será uma po-lítica de mudança para diminuir esses efeitos, etc. É para responderquestões relativas a esses assuntos que se justifica a tentativa deconstruir modelos de relações dinâmicas do tipo NFM.

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6 - O SISTEMA DE LIVRE MERCADO

E O MEIO AMBIENTE

Seja qual for o princípio que orienta a organização de um siste-ma econômico, os elementos centrais para a tomada de decisões são osetor de produção (as firmas públicas ou privadas) e o setor de consu-mo (famílias). Num sistema econômico alicerçado no princípio do livremercado, as decisões de consumir e produzir são orientadas,teoricamen-te, pelas forças do mercado, sendo o preço uma variável importante queorigina as decisões dos agentes de produção e de consumo. Presume-se,também, que os produtores e consumidores comportam-se de maneira aatender aos seus próprios interesses. Esse tipo de comportamento afeta,necessariamente, terceiros — consumidores ou produtores — de forma po-sitiva e negativa. Quando esses sofrem prejuízos, não existe a indeni-zação dos danos, como também não pagam pelos benefícios gratuitos rece-bidos. Os produtores e consumidores não tomam conhecimento desses efei-tos externos nas suas decisões. Dessa situação surge um paradoxo:a pro-dução e o consumo também impõem produção e consumo de males. Ainda queo consumo e a produção estejam orientados e vinculados aos desejos in-dividuais, a produção dos males é um efeito que não pode ser controla-do pelo sistema econômico de livre mercado.

A teoria econômica ensina que, sob certas condições,o mercado po-de resolver os problemas da alocação e da distribuição de recursos deuma maneira eficiente e ótima. Segundo a Teoria Econômica, quando to-dos os bens, serviços e recursos passam pelos mercados competitivos sobas condições da concorrência perfeita, os preços servem para guiar aalocação dos recursos no seu melhor uso alternativo. Mas.se essas con-dições falharem, então as decisões tomadas pelos produtores e consumi-dores, relativas aos preços dos bens, serviços e recursos, não levam àeficiência e ao ótimo, por exemplo, falhas de mercado têm ocorrido quan-do as forças do mercado impossibilitam a alocação ótima dos recursosnos seus melhores usos alternativos, tal como acontece com os recursose serviços ambientais e todos os bens e recursos sem preço no mercado,incluem-se aqui os resíduos de produção e de consumo, por não terem va-lor e utilidade imediata para seus donos que os jogam no ar, na água eno solo, criando sérios problemas de poluição. Tais falhas de mercadoocorrem em escalas maciças quando se trata de recursos e serviços am-bientais, bens coletivos (públicos) e processos de produção e de con-sumo geradores de externalidades. Desde que os recursos do meio ambien-te deixam de passar pelo comando do sistema de preços, então o meca-nismo de mercado falha em fixar seus preços e, conseqüentemente, estesrecursos não podem ser alocados eficientemente'pelas forças deste mer-cado. O significado amplo e restrito do sistema econômico (Figura 19)representa muito bem essa situação.

Embora a teoria microeconômica trate, principalmente, com bens,serviços e recursos de produção, nem sempre os recursos e serviços têmformado seus preços dessa maneira. Isso, porém, não significa que a

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Teoria Econômica e os princípios das Ciências Econômicas não possam seraplicados para a oferta e a demanda de bens e recursos ambientais. Omeio ambiente pode suprir uma expressiva variedade de recursos,bens eserviços (ver itens 5.1 e 5.2), seja no estado natural, seja em formatransformada pela ação do homem.Tal como qualquer outra forma de capi-tal, o meio ambiente compõe fluxo de bens, serviços e recursos que es-tão integrados no sistema econômico. Como o sistema de livre mercadoé incapaz ou opera com restrições limitadas em dimensionar uma aloca-ção eficiente do meio ambiente, então é preciso desenvolver esforçosno sentido de aperfeiçoar e enriquecer a Teoria Econômica para superarsuas deficiências e falhas em relação ao problema do meio ambiente. Oque não se admite é que a Ciência Econômica, sendo uma ciência social,não tome conhecimento dessa realidade e continue a insistir em teoriascheias de pressupostos conflitantes com essa realidade.

Na opinião de Baumol & Oates (1979, p. 112), o nosso mundo realé, por excelência, um mundo econômico imperfeito, e não existem razõespara esperar que o sistema de preços atue perfeitamente no sentido depreservar quantidades de recursos suficientes para o futuro.Muitos,se-não todos os recursos que sofrem o abuso indiscriminado pela atividadehumana, são propriedades que pertencem total ou parcialmente à comuni-dade. Cursos de água e atmosfera são exemplos óbvios. Os autores argu-mentam, também, que a visão do sistema de livre mercado como única fon-te dos problemas da degradação dos recursos naturais e do meio ambien-te pode ser uma interpretação unilateral e uma visão enganosa. Os au-tores reconhecem a existência das falhas do sistema de preços,mas pro-põem que é preciso desenvolver e prover a Teoria Econômica de instru-mentos e mecanismos de análise para os aspectos da degradação ambien-tal. Nas próximas seções serão discutidos e desenvolvidos esses pro-blemas, em particular as falhas do sistema de mercado.

6.1 — A função do mercado e dos preçosO significado do sistema de mercado refere-se,de um lado, ao apa-

rato funcional assentado sobre arranjos institucionais e culturais queservem para guiar a alocação dos recursos pela formação de seus preços;de outro, o termo é usado pelos economistas para se referirem à ideali-zação intelectual ou "modelo" do sistema e às funções que desempenham(Freeman, III,1973, p. 65).

Uma rápida verificação das funções de um sistema econômico,em par-ticular como o sistema de preços opera, é extremamente útil para aquestão da qualidade do meio ambiente. Como todo e qualquer sistemaeconômico, seja ele planejado, de livre mercado ou tradicional,tem co-mo objetivo promover e organizar a estrutura operacional para a tomadade decisões, seja na oferta de bens e serviços, seja na sua demanda.

A tomada de tais decisões é originada pelo parâmetro da escassezno setor produtivo e pelos desejos e necessidades no setor de consumo.As restrições das tomadas de decisões estão sujeitas aos limites ou àdisponibilidade finita dos recursos, bens e serviços no mercado.As es-colhas a serem feitas prendem-se às questões fundamentais tia Economia:oque, come quando, quanto e para quem? Nenhum sistema econômico já pra-

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ticado pelo homem pode produzir tudo para todos, utilizando qualquertécnica conhecida.

A escolha do tipo de sistema econômico que deverá orientar e alo-car os recursos de uma sociedade é, em grande parte, uma escolha deque grupo na sociedade efetivamente determina as escolhas.O sistema demercado para a alocação de recursos numa sociedade e a escolha econômi-ca estão baseados em duas premissas de valores: a primeira premissa dizque os desejos pessoais dos indivíduos na sociedade deveriam orientara utilização dos recursos no sistema produtivo, na distribuição e nastrocas; a segunda premissa refere-se aos indivíduos em si que são osmelhores juizes de seus desejos e preferências e capazes de agir deacordo com estes.

Os economistas idealizaram vários modelos de mercado para desen-volver as suas análises e explicar o comportamento do sistema de pre-ços. Entre eles, destacam-se dois tipos de mercados: concorrência per-feita e concorrência imperfeita, incluindo esta última as formas mono-polistas e oligopolistas. Trata-se de teorias econômicas e como teoriaspermanecerão até que sua prática efetiva mostre um sentido universal.Asteorias funcionam e operam numa lógica perfeita face aos pressupostosque sustentam a coerência do modelo. Mas o artifício dos pressupostos,apesar de viabilizar o raciocínio e a lógica econômica e seus modelosde análise, na maioria dos casos, não encontra sustentação numa reali-dade econômica. Isto é, eles são pressupostos falhos e por isso a Teo-ria Econômica que os adota também é falha para uma realidade, ou seja,não tem validade prática para explicar, interpretar e recomendar solu-ções para os problemas econômicos. A concorrência perfeita, com um mo-delo de organização ideal de mercado,dada sua eficiência na alocação dosrecursos, é um exemplo típico neste contexto. Seus pressupostos nadatêm a ver com a realidade econômica e tampouco já foram testados. Mes-mo assim, a concorrência perfeita continua a ocupar o maior espaço de temponas atividades acadêmicas da disciplina microeconômica nos cursos de Eco-nomia. A seguir, discorrer-se-á sobre algumas de suas principais proprie-dades, totalizando os presupostos dentro de uma realidade sócio-econômica.

A teoria da concorrência perfeita pressupõe que todos os segmentosdo sistema de mercado são competitivos. Isso significa que nenhuma fir-ma ou indivíduo particular podem influenciar qualquer preço de mercadopressionando aumentos ou decréscimos na oferta e na demanda de uens eserviços. Todas as firmas e indivíduos são tomadores de preços ao in-vés de fazedores de preços.Esse pressuposto naturalmente não encontrarespaldo na realidade econômica atual, apesar de os empresários costu-marem usar a livre concorrência como argumento-base para defender osistema de livre mercado. Todos sabem que o nosso mundo econômico é,porexcelência, um mercado imperfeito com características mono e oligopo-listas, onde os arranjos dos grupos econômicos, juntamente com os go-vernos, são a prática mais comum. Assim sendo, a concorrência e a com-petição não passam de uma falácia econômica.

Todos os participantes do mercado estão perfeitamente informadossobre as características e as qualidades dos produtos e serviços e ostermos de troca das mercadorias e serviços. Esses termos chamam-se pre-ços. Este é outro pressuposto afastado de realidade econômica, pois,emparticular, o consumidor é o agente mais desinformado no mercado, e asfirmas que partilham o poder político manipulam os governos para satis-

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fazer interesses próprios. A sonegação40 e o desvirtuamento das infor-mações são características das sociedades modernas: quando não é se-gredo industrial, trata-se de segurança nacional.O cidadão é o maisprejudicado para a tomada das suas decisões.

As decisões que os indivíduos tomam são motivadas pelo interesseparticular e pelos ganhos econômicos. Os proprietários de recursos ten-tam maximizar os lucros, e os consumidores distribuem sua renda procu-rando maximizar sua satisfação e seu bem-estar.

Todos os recursos e bens são individualmente possuídos, e os in-divíduos têm condições para controlar o uso destes de tal forma que nãoocorrem externalidades e efeitos externos de produção e de consumo.

Uma vez satisfeitas essas condições por um sistema econômico, en-tão um Ótimo de Pareto é alcançado, ou seja, a alocação dos recursos éeconomicamente eficiente. Em outras palavras, num estado de Ótimo dePareto não existe outra combinação na alocação de recursos que possamelhorar o bem-estar de uma pessoa sem, contudo,piorar o estado de bem--estar de uma outra pessoa.

Entre outras condições de menor importância, esses quatro postu-lados preencherão as condições para que um sistema de mercado competi-tivo seja economicamente eficiente na alocação de recursos numa econo-mia. Mas é preciso reconhecer que existem duas importantes limitaçõespara tal afinação. A primeira diz respeito ao que está implícito naafirmativa. A segunda limitação provém das diferenças entre o sistemaeconômico do mundo real e o modelo idealizado. Mesmo que a eficiênciapossa ser atingida num mundo real, o modelo desconsidera a questão daeqüidade, a distribuição do produto gerado pelo sistema econômico, bemcomo as externalidades e a questão ambiental.

Quanto a este segundo conjunto de limitações, essas decorrem dascaracterísticas dos pressupostos do modelo. O mundo real, como já foireferido, é, por excelência, um mundo econômico imperfeito que violen-ta esses pressupostos. Como acontece a qualquer teoria, os economistastiveram que lançar mão desse artifício no sentido de condicionar aospressupostos toda a lógica de concorrência perfeita. Somente lançandomão desses pressupostos, os economistas teóricos conseguiram construirum modelo lógico consistente para explicar e analisar como um sistemade mercado é capaz de organizar a vida econômica da sociedade na óti-ca da alocação eficiente dos recursos. Mas, mesmo assim, o modelo deconcorrência perfeita ignora e não incorpora problemas fundamentais efenômenos econômicos relevantes: a distribuição eqüitativa da riquezagerada pelo sistema econômico, bens coletivos, externalidades e o meioambiente. Mesmo que uma sociedade adotasse o modelo idealizado da con-corrência perfeita para organizar o sistema econômico, um esforço adi-

40A sonegação ou economia não oficial, também conhecida como "A Economia Subterrânea",é um tema econômico atual que vem despertando a atenção dos economistas, dada a suaexpressiva expansão e participação na economia. Um livro útil que introduz compreen-sivelmente a "Economia subterrânea" é de Bawly (1983). Só em 1985, foram publicadasmais três obras em francês sobre esse assunto.

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cional seria necessário para superar suas falhas. Por isso a Teoria Eco-nômica vem evoluindo,não ficando somente nos modelos de'concorrência;ao incorporar o conceito ambiental, novos enfoques teóricos e econômi-cos vêm sendo modelados.

Há consciência de que se vive num mundo econômico que caminha pa-ra a imperfeição. É um mundo que se distancia cada vez mais dos pres-supostos da concorrência perfeita, e o termo "competição" entre osagentes econômicos vem sendo substituído pelo fenômeno de "arranjos" e"livres jogos" entre os agentes de decisão, com importância e partici-pação crescentes da figura do Estado que, não raras vezes, é o agenteque mais perturba e caracteriza as imperfeições do mercado.Ninguém po-de ignorar ou deixar de observar que os estados modernos das democra-cias capitalistas, quando não ditaduras militares, estão profundamentecomprometidos na sua ação política e econômica com as gigantes corpo-rações do poder econômico das empresas privadas, sejam ela nacionais outransnacionais. Os governos são as próprias corporações econômicas,se-jam países desenvolvidos ou subdesenvolvidos, onde os primeiros impõemas regras nas relações de dependência internacional. Assim, não se po-dem separar estados, governos e empresas privadas. Eles governam e ad-ministram juntos o sistema de mercado e controlam os preços e os pro-dutos no mercado. A função do Estado e a ação dos governos devem serrepensadas urgentemente para redimensionar e reorganizar sistemas demercado para que melhorem as eficiências aspiradas pela sociedade glo-bal na alocação de seus recursos.

A informação é uma questão de fundamental importância para a or-ganização de um sistema econômico. Na concorrência imperfeita,a infor-mação é de importância vital para que o sistema econômico mantenha suaoperacionalização. A revolução da informática nesta década de 80 vemfortalecer mais ainda os agentes do mercado imperfeito. Quando o con-trole não fica nas mãos do Estado, as corporações econômicas privadascontrolam, em conivência com o setor público, todas as informações eas manipulam de acordo com o seu exclusivo interesse. A fluidez e o li-vre fluxo de informações são fundamentais para que se organize um sis-tema de mercado que vise à eficiência social dos recursos numa economia.

Ninguém possui informações perfeitas para todas as alternativas deprodução e de consumo. Em particular, o setor mais descoberto de infor-mações é o consumo: os consumidores, de modo geral, são os mais mal in-formados. A desinformação a nível do consumo é alarmante, enquanto osetor de produção, juntamente com o Estado,administra a informação. Es-sa é a característica mais forte das imperfeições dos modernos merca-dos. Aqui cabe o princípio de que quanto mais desinformado for o con-sumidor, maior será a eficiência do mercado imperfeito, no sentido deorganizar a fluidez do mercado com vistas a maximizar os lucros dosayentes econômicos. A propaganda é o grande veículo de informações pa-ra dimensionar o consumo. O modelo de concorrência imperfeita é,por ex-celência, um modelo de oferta, e a propaganda, complementada por polí-ticas de subsídios, viabiliza o consumo da produção. A oferta,extrema-mente organizada, institucionalizada e informada, contrapõe-se ao se-tor de consumo totalmente atomizado, desorganizado e desinformado. Es-se desequilíbrio caracteriza a fragilidade e a instabilidade do sistemaeconômico imperfeito.O sistema econômico é um modelo de oferta que falhaem não atender a uma demanda efetiva, mas procura alimentar um mercado nu-

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ma demanda por desejos. As necessidades básicas ficam descobertas pelosistema de concorrência imperfeita, pelo menos nos países do Terceiro Mun-do, onde a maioria da população analfabeta sequer se alimenta,habita, etc.

Existem evidências de que nem todos os tomadores de decisões eco-nômicas são motivados pelo lucro da corporação. Não é difícil entenderque o administrador de uma corporação de grande porte tome decisões pa-ra aumentar sua renda própria às custas dos lucros da empresa.Diretoresde departamentos tomam decisões para garantir sua estabilidade e suces-so futuros na carreira profissional, quando não visam a construir seuspróprios impérios. Os executivos das corporações públicas são exemplosque se enquadram perfeitamente nesse contexto. Essas situações reais nomundo das decisões econômicas fazem com que o sistema de mercado percasuas fontes naturais, ou o incapacitam para guiar e orientar a aloca-ção dos recursos escasssos nos seus usos alternativos em busca de umaeficiência econômica sob o prisma do bem-estar social de uma sociedade.

6.2 — O meio ambiente e as extemalidadesSob o ponto de vista econômico, a externalidade é caracterizada

quando a produção de uma firma ou o consumo de um indivíduo afeta ter-ceiros de forma positiva ou negativa. Em outras palavras, em qualquerprocesso de produção e de consumo existem efeitos externos que preju-dicam ou beneficiam terceiros. A poluição das águas e do ar são bonsexemplos de extemalidades negativas. Uma fábrica que emite fumaça naatmosfera ou joga resíduos diretamente no rio prejudica outras firmasou pessoas que dependem de água e ar puro. Por outro lado, os prejudi-cados não são ressarcidos pelo agente poluidor. Um exemplo de externa-lidade positiva é quando um proprietário de uma residência ou fábricamantém seu jardim agradável e o prédio conservado, o que melhora os pa-drões de vida da vizinhança e leva à valorização real dos imóveis. Osbeneficiários,por sua vez,também nada pagam pelos benefícios recebidos.

As extemalidades estão presentes em maior ou menor grau em todas asformas de produção e de consumo. A maneira de produzir é uma questão tec-nológica, e a maneira de consumir depende do comportamento do consumidor.

A poluição é um resultado das extemalidades. Estas ocupam uma po-sição central no estudo da economia do meio ambiente. Muitas das dis-cussões ambientais na última década têm sido analisadas em termos deextemalidades ou em termos das falhas do sistema de mercado. Por queas extemalidades existem?

Se não é possível dar uma resposta satisfatória para essa questão,pode-se, pelo menos, indicar a direção das respostas. Como já se dis-se, a origem das extemalidades encontra-se na produção e no consumo:no lado da produção, as extemalidades dificilmente podem ser evitadas,pois a própria presença econômica do homem, em qualquer circunstância,traz algum impacto ao meio exterior, isto é, sobre o meio ambiente. Asextemalidades de produção dependem diretamente da tecnologia usada noprocesso produtivo, isto é, da maneira como se processam e se combinamos recursos; do lado do consumo, as extemalidades dependem diretamen-te do modo como o consumidor se comporta orientado pelos valores so-ciais, costumes e hábitos e educação. Então, a questão crucial das ex-

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ternalidades no mundo econômico é uma importante questão tecnológica eeducacional, ambas envolvem conhecimento e, portanto, precisam de umsuporte de pesquisa. A melhoria da qualidade ambiental em muito depen-de de duas estratégias de políticas que não implicam maior ônus para asociedade: primeiro, estimular as atividades de produção e de consumoque apresentam externalidades positivas; segundo, desestimular qual-quer atividade de produção e de consumo com externalidades negativas.Este é um ponto de partida para qualquer política de melhoria da qua-lidade ambiental.

Existe um consenso entre os economistas ambientais de que os re-cursos do meio ambiente têm custos de mercado extremamente altos.A teo-ria das externalidades pode auxiliar com instrumentos poderosos de aná-lise para indicar como ajustamentos podem melhorar a eficiência socialdos recursos. A questão dos problemas ambientais, especialmente a pre-sença das externalidades, reduz a eficácia do sistema de mercado naalocação eficiente de recursos, carecendo de estudos e pesquisas empí-ricas abrangentes e compreensíveis.

Baumol e dates (1979, p. 79) deixam bem claro que a maioria dosproblemas ambientais derivam do que pode ser descrito como as limita-ções e falhas do sistema de preços.Os autores afirmam que não se tratade um grupo particular de externalidades, mas é algo que faz parte in-trínseca da própria organização econômica, permitindo que agentes eco-nômicos (firmas, indivíduos e agentes do Governo) façam uso dos recur-sos, degradem o meio ambiente sem responsabilidade dos custos sociaisque impõem à sociedade. Assim, uma política de preços para que os po-luidores paguem o prejuízo seria uma visão unilateral do problema am-biental. Os autores concluem que as externalidades englobam uma questãobem mais ampla na sociedade, e só uma política efetiva globalizante po-de aliviar seus danos sociais. Essa visão torna-se ainda mais impor-tante na medida em que se registra uma expansão populacional e um cres-cimento econômico.

Apesar de as externalidades enfraquecerem o poder e o mecanismode mercado na alocação ótima dos recursos, isso não significa que osproblemas ambientais façam parte somente de um sistema econômico orga-nizado no princípio do livre mercado. Pelo contrário, existem evidên-cias fortes de que as economias de planejamento central apresentam pro-blemas similares, talvez de caráter pouco diferente,mas iqualmente sé-rios. Entretanto as razões para a ocorrência de problemas ambientaissão de alguma forma diferentes das causas numa economia de livre mer-cado. As externalidades, como efeitos externos à produção e ao consumo,dependem diretamente dos padrões de produção e de consumo.A tolerânciae a presença das externalidades numa sociedade é uma questão de adequa-ção tecnológica e de consumo pelos quais uma sociedade terá que optar,independentemente da sua prática religiosa, credo e ideologia, paraconviver com um nível de poluição tolerável e aceitável. Isso signifi-ca que as escolhas tecnológica e de consumo caberão à sociedade quefixa seus próprios parâmetros de conveniência ambiental.Nas realidadeseconômica e política isso não acontece;ao contrário, é uma minoria queimpõe à sociedade um sistema econômico, tanto as sociedades democráti-cas capitalistas quanto as socialistas comunistas, onde as externali-dades e a qualidade ambiental têm prioridades menos importantes em de-trimento das prioridades de segurança nacional (item 3.3).

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6.3 — O meio ambiente, produção e consumoA Figura 19 ilustra uma cadeia de produção que indica a natureza

de diferentes esquemas que podem ser usados para a formulação de umapolítica ambiental. Essa figura evidencia a natureza do problema e ofluxo das substâncias perigosas que se encaminham para o consumidor.Se os recursos econômicos forem incorporados no sistema econômico,mui-tos dos problemas ambientais poderão ser evitados. Mas os altos custosde tal incorporação levam a custos diferenciados entre o social e o priva-do.41 É uma missão de rara dificuldade taxar os produtos responsáveis pelepoluição da água, ar e solos, porque seus efeitos muitas vezes ocorrem nu-ma distância espacial e temporal muito grande do real ponto de emissão.

A escolha entre taxação e regulamentação, na opinião de muitoseconomistas, é principalmente uma questão de custos dos controles ad-ministrativos. Na verdade, existe uma gama de instrumentos de políticaambiental à disposição do setor público para coibir o abuso e a expansãoilimitada de poluição. Como o problema ambiental é causado pela tecno-logia empregada no processo produtivo, a melhor estratégia de políticagovernamental é incentivar tecnologias de produção apropriadas que mi-nimizem o impacto ambiental. De outro lado, faz-se mister elaborar umapolítica de desestímulo para tecnologias poluidoras. Isso não signifi-ca a proibição da atividade econômica, mas o Governo deve promover pa-ra si e para o setor privado o uso de tecnologias adequadas que mini-mizem a produção de resíduos, externalidades e que contribuam para umamelhoria n. qualidade ambiental.

FIGURA 19

OS EFEITOS AMBIENTAIS NO SISTEMA DE PRODUÇÃO

_ EFEITOS ESTÉTICOS

FONTE: Hjalte( 1977, p. 9).

41 Quanto à questão de benefícios e custos privados e sociais no sistema econômico delivre mercado, recomenda-se a síntese no Capítulo 1 de Nicol (1985) e, para uma lei-tura mais abrangente, Mishan Í1972 e 1981).

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6.4 — O meio ambiente e o bem-estar: os custose benefícios privados sociais

O bem-estar de um indivíduo depende em muito da qualidade de bense serviços tangíveis e intangíveis que consome, bem como do nível daqualidade ambiental de que desfruta. A medição tradicional do bem-es-tar considera aqueles produtos que são comprados e vendidos no sistemade mercado ou providos pelo Estado. O produto nacional e a renda na-cional são comumente utilizados para medir o bem-estar do cidadão,sen-do o indicador da renda "per capita" o mais usual, apesar de suas res-trições práticas.

Poder-se-ia incluir nessa medida outros valores, tais como os ser-viços ambientais, para conferir à medida de bem-estar uma conotação maisrealística.42 Segundo Hjalte (1977, p. 11), na prática, a escolha estáentre um aumento na qualidade e na quantidade de bens e serviços produ-zidos e um correspondente decréscimo do bem-estar social medido tradi-cionalmente. Não existe um conflito entre a economia do bem-estar noseu amplo significado e o cuidado ambiental; pelo contrário, o proble-ma econômico com o qual se lida é como o consumidor pode encontrar umbalanço ótimo entre essas duas alternativas.

O problema da medição do bem-estar carece de uma atenção maiorpelos profissionais. O cálculo das estimativas tradicionais do produ-to nacional e da renda nacional e a conseqüente mensuração da taxa decrescimento econômico já são uma tarefa complexa e de difícil execu-ção. Embora existam essas dificuldades, não se pode admitir que as con-tas nacionais ignorem a realidade do fenômeno econômico que diz rés-,peito às externalidades e degradação ambiental. Não computar toda asorte de externalidades que o sistema econômico produz e a deteriora-ção da qualidade ambiental é, no mínimo, apresentar uma realidade in-completa. A lógica determina que é preciso descontar do valor do pro-duto os prejuízos que ele origina. Nos atuais níveis de poluição e de-gradação ambientais resultantes do sistema econômico,as taxas de cres-cimento da economia brasileira certamente serão bem inferiores se des-contados todos os custos sociais que o modelo gera.

6.5 — As falhas de mercado e o meio ambienteEmbora a Teoria Econômica trate com bens e serviços cujos preços

são estabelecidos pelo sistema de mercado, muitas vezes os preços debens e serviços ambientais não são fixados e formados dessa maneira.Isso, porém, não significa que a Economia e seus princípios não possamser aplicados para a oferta e a demanda de bens e serviços ambientais.Como já foi definido (ver itens 5.1 e 5.2), recursos ambientais podem

42"Todo o ônus (custo) e o benefício sociais deveriam estar incluídos na medida doprogresso econômico e bem-estar social de uma determinada nação. Lecomber (1975) su-gere uma reformulação metodológico do cálculo do produto e da renda nacionais."

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suprir uma variedade de bens e serviços, seja na sua forma natural,se-ja na processada. As externalidades associadas às falhas do mercado oudeficiências do mercado, na expressão de Meister (1977, p. 6), ocorrem,quando as operações do sistema de mercado não direcionam a alocação dosrecursos no seu melhor uso alternativo. Exemplos dessas falhas são: aexclusão, nos registros, de todos os custos e benefícios resultantesde uma atividade econômica; o conflito entre os interesses individuaise os interesses coletivos da sociedade, da qual o indivíduo é uma par-te integrante; a falha em tratar integralmente o conflito entre as ne-cessidades atuais e as das gerações futuras. As restrições e falhas domercado são uma realidade no sistema do livre mercado e existe uma preo-cupação geral com isso. Passa-se a examinar algumas dessas falhas, bemcomo verificar o papel da Economia para recuperar essas dificuldades.

Na opinião de Freeman III (1973, p. 71), existem duas principaisfontes das falhas do mercado relevantes aos problemas da poluição am-biental. A primeira diz respeito à lacuna existente na exata definiçãodos direitos privados da propriedade (que serão examinados mais deta-lhadamente no item 7.5) na maioria dos recursos ambientais. Isso estáassociado ao fato de ninguém possuir — ser dono de — recursos ambien-tais e estes não terem preços estabelecidos pelo mercado. Como conse-qüência, os tomadores de decisões econômicas deixam de receber os si-nais corretos no que diz respeito ao uso desses recursos.Não são dadosos adequados incentivos econômicos na alocação desses recursos no seumelhor uso alternativo.

A segunda fonte das falhas do mercado é a característica de benscoletivos que possuem a maioria dos serviços ambientais. Como será vis-to no item 7.5.2, os bens coletivos (públicos) requerem a intervençãodo Estado para garantir sua oferta em quantidades apropriadas. O sis-tema de mercado é incompetente em alocar os recursos necessários paraa produção de tais bens, resultando em uma má alocação dos mesmos.

Assim, é útil examinar as falhas do mercado,considerando os direi-tos da propriedade, bens coletivos (públicos) e a própria falha do Es-tado, parte integrante de qualquer sistema econômico.

6.5.1 — Falhas do mercado e o direito da propriedade

O direito da propriedade de um bem de consumo ou de um recurso pre-cisa estar devidamente definido para que o mercado funcione apropria-damente. Isso é válido para o direito de posse individual, da firma edo Estado. Assim, com uma clara definição da propriedade, direito deposse e uso, o proprietário pode evitar — e ter amparo para tal — queterceiros o usem para benefício próprio ou danifiquem o bem sem a de-vida compensação. Quando tais benefícios e danos não compensados ocor-rem, se está tratando de feitos externos ou externalidades.

O corpo legal na maioria das nações ocidentais está baseado na ne-cessidade de definir os direitos de propriedade, protegendo seus danos,proporcionando sua transferência entre os indivíduos e, em alguns ca-sos, estabelecendo limitação nas transações, uso e posse. Sociedadesmodernas, sejam elas capitalistas ou socialistas, não têm como funcio-nar sem um bem desenvolvimento e definido sistema de direito à proprie-

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dade. O controle e alocação de recursos, que é uma parte integrantefuncional de qualquer sociedade moderna, requer tal sistema.43

Por várias razões, os direitos da propriedade são imperfeitamentedefinidos ou encontram-se numa situação de difícil exigência prática.Apessoa que possui um automóvel pode impor seus direitos de propriedadedo carro. O dono pode restringir o uso para si mesmo; ele pode excluiroutras pessoas de usufruírem de qualquer benefício do carro e pode pro-teger o carro contra eventuais danos. Entretanto, com a terra por exem-plo, outras pessoas podem ter aumentado ou diminuído seus níveis desatisfação, dependendo de como o proprietário decidir usar a terra. Osefeitos no uso da terra afetam outras pessoas além do proprietário.Es-ses efeitos são externos às decisões econômicas do proprietário que nãorecebe incentivos econômicos para considerá-los nas suas decisões.

Agora, considere-se um rio do qual o cervejeiro supre suas neces-sidades de água para fabricar a cerveja. Caso uma fábrica de celuloseseja implantada acima do fluxo do rio e descarta os resíduos no mesmo,isto afetará negativamente o cervejeiro. Mas a ação da indústria de ce-lulose em poluir as águas do rio não é levada em consideração. O cer-vejeiro incorre em custos adicionais para purificar a água.Esses cus-tos adicionais são externos à atividade da fábrica de celulose e nãosão incorporados ao seu custo industrial e ao preço do papel.Por outrolado, a indústria de papel não tem estímulos para economizar no uso dosserviços do rio como receptador de seus resíduos: Ambos os industriaissentem que suas localizações industriais nas margens do rio lhes dãoo direito de usar a água. Na verdade, esses direitos não estão clara-mente definidos em lei.

Os exemplos da terra e do rio têm em comum o fato de que as açõesde uma parte afetam a segunda parte, seja de forma favorável ou desfa-vorável. Contudo não existem expedientes legais que imponham pagamen-tos apropriados de compensação. Sem os pagamentos, que efetivamente sãopreços — sinais de mercado —, inexistem estímulos para ambas as partestomarem as melhores e apropriadas decisões no uso desses recursos.

Quando ocorrem as externalidades, elas criam uma divergência en-tre valores sociais e privados ou valores de mercado, e estes sempresurgem quando os direitos de propriedade não estão claramente defini-dos. Essa situação é quase universalmente aplicável à questão do meioambiente. Caso o descarte de resíduos imponha outro fluxo de serviço— tal como a recreação — ou cause danos — tal como à saúde — , entãoterceiras partes são prejudicadas. Estas são obrigadas a arcar com oônus da poluição. Mas, desde que os seus direitos de propriedade nãosejam aplicáveis, elas não podem esperar uma compensação. Na ausênciade qualquer instrumento legal para compensar aqueles que são prejudi-cados pela poluição, os receptadores de resíduos permanacem livres pa-

43 Para uma abordagem mais detalhada e aprofundada em torno da questão das falhas domercado e do Estado na organização econômica e alocação eficiente dos recursos es-cassos, veja Haveman (1976), Freeman III (1973), Seneca 4 Taussig (1974).Veja tambémuma revisão do sistema de mercado no livro-texto de microeconomia de Heilbroner (1973).

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rã os poluidores. Freeman III (1973, p. 76) conclui que,enquanto o pre-ço desse serviço for zero, os poluidores expandirão seu uso até o li-mite onde o valor marginal do serviço seja zero mesmo que o custo mar-ginal social possa exceder expressivamente esse valor. E conclui quenessas condições o uso do meio ambiente para o descarte de resíduos se-rá excessivo e abusivo.

6.5.2 — Falhas do mercado e bens coletivos

Os bens coletivos, também conhecidos como bens públicos ou comu-nitários, são aqueles bens e serviços que, uma vez disponíveis para umapessoa, estão igualmente disponíveis para todas as outras e por issonão podem ser vendidos ou comprados no mercado. Assim, numa economia demercado não se mandam contas para produtores e consumidores para taltipo de despesas. Muitos serviços ambientais possuem elementos e ca-racterísticas de bens coletivos.

Existem vários critérios para classificar os bens coletivos. Umadas características, implícita no seu próprio conceito, é que, uma vezdisponível para uma pessoa,automaticamente este bem ou serviço fica dis-ponível, sem custo adicional, para outras pessoas. Um exemplo clássicoé o farol: enquanto a luz do farol estiver a serviço de um navio, elapoderá ser vista, sem custo adicional, por outros navios, pelo menosaté um ponto em que a área não se torne congestionada. A defesa nacio-cional é outro exemplo: uma vez que os serviços do Exército e da Mari-nha estão protegendo alguém, os demais indivíduos estão igualmente de-fendidos .

Outro critério para caracterizar um bem coletivo é que pratica-mente é impossível taxar o uso do mesmo. Por exemplo, é quase impos-sível impedir que algum navio use o serviço de orientação do farol,sen-do extremamente difícil cobrar uma taxa de serviços para o navio.

O meio ambiente, segundo Freeman III (1973, p. 77),

"(...) é um recurso comunitariamente mantido, pelo que en-tendemos ser um estimável capital natural que não pode, oupode imperfeitamente, ser reduzido para a propriedade pri-vada. Exemplos são a camada de ar, cursos de água, sistemasecológicos, belezas paisagísticas naturais. Tais recursos,pelo uso e abuso, sofrem crescentes degradações quantitativas".

Essas características dos bens coletivos significam que é poucoprovável que o mecanismo do livre mercado esteja apto para produzir esuprir as quantidades socialmente demandadas. Conseqüentemente, o Es-tado ou outras formas de organização comunitária terão que tomar ainiciativa para preencher essa lacuna do sistema de mercado.

Para Beckerman (1975, p. 59), a poluição é um mal público. E ar-gumenta que um indivíduo que respira ar poluído ou suporta um rio po-luído usualmente não reduz a quantidade de poluição do ar ou do riopara terceiros. Controversalmente, a despoluição do ar e da água sãouma forma de um bem coletivo. Assim, todos os males públicos podem ser'transformados em bens públicos. A melhoria da qualidade ambiental,seja

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ela física, biológica ou social, é o exemplo da mais ampla repercussãopara todos os indivíduos de uma sociedade particular. Investimentos dedespoluição para a melhoria da qualidade ambiental transformam malespúblicos em bens públicos. Estes são socialmente recomendados pela suaampla repercussão social e pelo seu caráter de distribuição eqüitativados benefícios. Investir na melhoria da qualidade ambiental, seja pelocontrole da poluição ou pela despoluição, é colocar indiscriminadamen-te os bens coletivos à disposição da população em geral e, portanto, éuma forma de distribuição da renda.

Outra forma objetiva para distinguir um bem coletivo de um bemprivado é através dos princípios de exclusão e rivalidade: o primeirodiz respeito ao fato de que quem paga pelo bem ou serviço tem assegu-rados sua posse e uso; quem não paga não tem. O princípio da rivalida-de significa que, se alguém consome um bem ou serviço, este não podeser consumido por um terceiro. Todo o bem privado satisfaz simultanea-mente as condições de exclusão e rivalidade, o que lhe permite ser alo-cado pelo mecanismo do mercado. Todavia, quando falham um ou ambos osprincípios, o bem ou serviço é considerado um bem coletivo, e, portan-to, o mecanismo de mercado torna-se inoperante e é inadequado para tra-tar-se de alocar eficientemente esses bens. O meio ambiente é um re-curso e serviço que tem as características de um bem coletivo. Essa éuma preocupação da economia ambiental que vem desenvolvendo esforços pa-ra dar um suporte teórico e instrumental analítico.

O sistema de mercado falha também em relação ao descarte dos re-síduos no meio ambiente e no uso de recursos comunitariamente manti-dos. Como resultado, o impacto sobre a sociedade se dá pela poluição,pelo mau e abusivo uso dos bens coletivos, pela degradação crescentedos recursos naturais e pelos investimentos para conservação e melho-ria e inovação tecnológica. Consequentemente, o sistema econômico criasérios problemas para a sociedade, tais como a inadequação do suprimen-to de bens coletivos, depredação e desperdício de recursos e de ener-gia. Face a todos esses problemas, o homem não pode confiar sua orga-nização econômica exclusivamente ao sistema do livre mercado, havendonecessidade de introduzir outros princípios para que o sistema econô-mico possa aumentar sua eficiência.

6.5.3 — Falhas do mercado e o Estado

Estados, governos e mercados fazem parte integrante de um únicosistema maior. Já foram vistas as principais falhas do sistema do li-vre mercado. A realidade mostra uma crescente intervenção dos gover-nos em assuntos econômicos nas economias ocidentais. E como se compor-ta o Estado como um agente econômico? Ele tem falhas? É eficiente? Es-sas são algumas questões que serão abordadas nesta seção.

Independentemente dos regimes e das formas de organização e deideologias e credos, a figura do Estado sempre esteve ativamente pre-sente no sistema econômico. Mesmo que os economistas clássicos apre-goassem a não-participação do Estado na economia, ele, na prática, ja-mais se desvinculou das atividades econômicas. O Estado, em qualquercircunstância, sempre foi um agente econômico, e por esta simples rã-

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zão é impossível organizar um sistema econômico sem considerar a pre-sença do Estado. Porém, na evolução do pensamento econômico, a figurado Estado, ora rejeitado pelos clássicos, ora aceito como único donoabsoluto de todos os recursos pelos soviéticos, assume uma posição degrande importância nessas posições extremas exemplificadas. A bem daverdade, o Estado vem assumindo crescentes funções econômicas nas eco-nomias capitalistas, em particular a partir da crise mundial de 1930.A4

Nas economias modernas, sejam elas desenvolvidas ou em desenvol-vimento, o Estado é um agente econômico, ocupando funções ao ponto demonopolizar muitos setores importantes da economia. Se o próprio mer-cado se mostra ineficiente, até que ponto se pode esperar alguma efi-ciência do Estado? Será que se pode supor que o Estado procura maximi-zar a eficiência social da sociedade como um todo. Ou os governos con-tribuem para agravar ainda mais a ineficiência do sistema do livre mer-cado?

Como já foi mencionado,o Estado é uma instituição formada por umgrupo de pessoas. Estas estão vinculadas e comprometidas com outraspessoas e grupos econômicos, sendo a instituição do Estado e a formaçãodo governo urna expressão de arranjos que refletem os interesses dosgrupos influentes e poderosos de uma sociedade.Assim,o governante ape-nas é uma figura representativa dos grupos de interesse. Dessa manei-ra, é difícil separar Estado, governo e mercado, uma vez que o governoé formado por pessoas que expressam os poderes políticos e econômicosconcomitantemente. Então, não é difícil aceitar a argumentação de queo agente pessoal a nível do governo é o mesmo agente pessoal (represen-tado ou não) a nível do setor privado. Essa íntima relação de pessoasa nível dos setores público e privado conduzem a aceitar-se que as ine-ficiências do sistema do livre mercado estão atreladas à ineficiênciado setor público. Se o sistema do livre mercado falhar, o governo nãopode ser diferente na lógica dos fatos, principalmente no que diz res-peito à melhoria da qualidade ambiental. A questão ambiental faz partedesse amplo jogo entre o Estado e os agentes do setor privado.

O mercado falha na alocação eficiente dos recursos e nada se podeesperar dele para uma expressiva melhoria da qualidade ambiental aspi-rada pela sociedade. Pelo contrário, sob as forças exclusivas do mer-cado só se pode esperar níveis crescentes de deterioração ambiental.Opior é que as democracias capitalistas, pelo menos nos países do Ter-ceiro Mundo, são coniventes com tais cenários deprimentes, que Cubatãoreflete muito bem. Não dá para confiar ao Estado a solução dos proble-mas ambientais. A ação coletiva da comunidade deve chamar a si a res-ponsabilidade de promover os investimentos para melhorar a qualida-de ambiental. O meio ambiente é uma questão primordialmente regional elocal, cabendo aos residentes a iniciativa de zelar pela sua melhoria.Isso somente será possível quando for permitida a participação do ci-dadão nas decisões de usar os recursos regionais, incluindo o meio am-biente. A solução para a questão ambiental, no sentido de uma melhor

44Uma abordagem objetiva do papel do Estado pode ser encontrada na tese de mestrado doeconomista Corazza (1985).

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alocação de recursos ambientais, bens coletivos e externalidades, ésubstituir os mecanismos ineficientes do sistema do livre mercado, in-cluindo outros princípios,como o respeito ecológico e a participaçãodos cidadãos na reestruturação e organização do sistema econômico. Co-mo existem mercados ineficientes, existem também Estados ineficientes,cuja organização, por sua vez, requer reestruturações no sentido deintroduzir princípios universalmente aceitos, tais como a auto-sufi-ciência e a participação do indivíduo nas decisões relativas à socie-dade. A identificação dessas falhas e as causas da deterioração é jus-tamente o primeiro grande passo a ser dado para a solução dos proble-mas ambientais. Essa colocação, naturalmente,exige que o atual cenárioeconômico e político internacional, nacional e regional seja repensadoem função de uma nova ordem e estruturação da vida econômica de uma so-ciedade45.

45A idéia de repensar o atual cenário econômico e a necessidade de implantar uma novaordem econômica é uma preocupação expressa por muitos cientistas sociais. Destacamosentre eles o Relatório de Brandt (1980) e Todaro (1979, cap. 25) Sachs (1983)eBuar-que (1980).

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7 - NÍVEIS E TENDÊNCIAS

DA QUALIDADE AMBIENTAL

O homem, em função de suas necessidades biológicas, aplica pesti-cidas em seus jardins e lavouras, ou quando acelera os motores de seusveículos, não se lembra que está gerando formidáveis substâncias tóxi-cas que alteram a qualidade do ar, da água e solos.Se os produtos fos-sem consumidos no seu verdadeiro sentido, livros e cursos sobre a po-luição dos resíduos e o meio ambiente seriam desnecessários. Na verda-de, o problema é que está sendo consumido somente o valor mercantilis-ta do produto, e o resto é abandonado no meio ambiente.

Alguns resíduos tornam-se bastante visíveis, como o descarte dolixo, de sólidos ao longo das rodovias e terrenos baldios e hidrovias.Muitos deles são incolores, tais como o produto combinado da combustãodos motores. Alguns resíduos, como o ruído, são facilmente identifi-cados, mesmo sem uma forma física tangível. Também podem ser altamentemóveis e convivem indiscriminadamente entre a terra, a água e o ar,talcomo os resíduos de DDT que podem ser encontrados em lugares virtualmen-te desconhecidos pelo homem.

Marx (1971, p. 9) escreveu que as toneladas, os metros cúbicos eos decibéis de resíduos que vêm sendo gerados pela produção de energiae pelos processos de transformação da matéria são atualmente prodigio-sos e sem precedentes.

o mesmo autor registrou que os Estados Unidos descartam anual-mente sete milhões de carros; 20 milhões de toneladas de papel;25 mi-lhões de libras de tubos de pasta de dente; 48 milhões de latas;26 bi-lhões de garrafas e jarras. Os cursos de água recebem algo em torno de50 trilhões de galões de resíduos químicos e orgânicos das fábricas,dasindústrias alimentadoras, das granjas e das cidades.

O consumismo ocidental e a dinâmica inovadora do nudismo pressionama indústria a cortar linhas de produtos e a planejar a obsolescência.A tendência nos propósitos das mudanças da moda redicionam-se para umúnico ("one way") uso dos bens. Essa opulência em dar um único uso aosbens acrescenta novas dimensões para uma crescente descarga de resíduosno meio ambiente. Por exemplo, os consumidores da carne frita de gali-nha nos Estados Unidos descartam 22 milhões de embalagens de polieste-reno, 31 milhões de sacos de papelão e 10 milhões de latas-padrão. Osbebês americanos têm suas fraldas trocadas 15,6 bilhões de vezes numano. As fraldas, sendo de pano, são usualmente lavadas e reusadas. Ago-ra, as corporações gigantes estão deslanchando uma campanha publicitá-ria multimilionária pela televisão para substituir as fraldas conven-cionais pelas descartáveis. Máquinas de extraordinária capacidade con-vertem polpa de madeira em 300 fraldas descartáveis por minuto. Argu-mentos publicitários são suficientemente fortes para que a mãe aceiteo apelo das corporações e use as fraldas descartáveis, sem que, no en-tanto, haja uma mínima sensibilidade de ambos os agentes a respeito do

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exagerado aumento de resíduos agregados ao já saturado fluxo do siste-ma ae esgotos, bem como da indústria poluente de celulose, sem falar noimpacto ambiental do desmatamento.

Através de tais avanços, como, é o caso das fraldas descartáveis,cada americano produz cerca de cinco libras (dois quilos) de coisas semutilidade por dia. A indústria, pelos seus processos químicos, elevaesta cifra para 10 libras (quatro quilos) "per capita" de acordo comuma reportagem da American Chemical Society em 1969. Resíduos de ani-mais, de fertilizantes químicos e de pesticidas em geral são fontes depoluição primária tanto em áreas rurais como em urbanas.

Se se comparar a população com os níveis de consumo, observa-seque tradicionalmente a conversão de energia e de matéria em larga es-cala vem sendo praticada por uma minoria populacional do mundo. Os Es-tados Unidos, com seus 6% da população mundial, consomem cerca de 50%da matéria-prima utilizada no mundo inteiro. Essa minoria populacionaldo mundo, segundo Marx (1971, p. 11), produz 70% dos resíduos sólidosmundiais. Um consumo desproporcional de recursos pela sociedade afluen-te é uma das realidades chocantes entre o mundo rico e o pobre. Segun-do a International Union for Conservation of Nature and Natural Re-sources (IUCN) (1980, p. 12), um suíço consome tanto quanto AO somalisjuntos.

Baumol & Oates (1979, p. 9) alertam que o crescimento da popula-ção e dá atividade econômica vêm provocando virtualmente todas as for-mas de danos ambientais. Na ausência de um poder que possa impor ade-quadas medidas de controle da poluição, a deterioração ambiental con-tinuará a crescer aceleradamente.

Publicações sistemáticas sobre a qualidade do meio ambiente sãorelativamente recentes e assim mesmo encontram-se somente nos paísesdesenvolvidos. A experiência quanto à questão da qualidade ambientalcobre apenas um período muito curto de tempo, uma vez que sua importân-cia tem sido reconhecida com maior determinação só a partir do inícioda década de 70. Também não surpreende a ninguém a considerável lacunade informações e estatísticas sobre o meio ambiente, bem como a neces-sidade do avanço científico e conhecimento acumulado em torno das cau-sas e efeitos da deterioração do meio ambiente.

A pujança do crescimento econômico, promovido a qualquer custo so-cial a partir da segunda Guerra Mundial, obrigou os governos dos paí-ses industrializados a implantarem programas vultosos de controle depoluição a partir dos fins da década de 60. Os Estados Unidos, segui-dos pelos países da Europa, tiveram que investir grandes somas paradespoluir seu ar, água e solos. Entretanto nos países do Terceiro Mun-do, por sua condição de hospedeiros da poluição que anda solta e semfreios. Só para mencionar dois exemplos, a cidade de Cubatão, em SãoPaulo, é hoje apontada como a região mais poluída do mundo, onde os ní-veis de poluição vêm comprometendo a saúde pública e o próprio desen-volvimento integral do homem; em 1982, o Governo da Grécia foi obriga-do a diminuir em 50% a capacidade de produção do parque industrial deAtenas para viabilizar condições de vida humana nesta cidade.Isso mos-tra que, enquanto os países desenvolvidos vêm apresentando uma melho-ria na qualidade ambiental para seus cidadãos, os cidadãos dos paísesdo Terceiro Mundo, além de estarem submetidos a uma crescente deterio-

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FEE-CEDOC

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ração da qualidade ambiental, ainda são obrigados a conviver com a ins-tabilidade econômica, desemprego, fome e outras formas de miséria cul-tural, econômica e social.

Os problemas da poluição evoluíram a níveis insuportáveis da dé-cada de 60 para a de 70, ao ponto de desafiar instituições internacio-nais e governos. Todos os países desenvolvidos definiram e implantaramuma política de proteção ambiental para evitar ou pelo menos refrear oritmo acelerado da poluição. Assim nasceu todo um aparato institucio-nal para cuidar dos problemas ambientais. A ONU criou, em 1975, a Uni-ted Nations Environmental Programme (UNEP). Os membros da ComunidadeEconômica Européia criaram a Comissão do Meio Ambiente para os PaísesEuropeus; Organização de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD)igualmente criou um organismo específico para estudos de política am-biental. A nível de nações surgiram até reformas administrativas na-cionais, tal como aconteceu na Inglaterra, onde a reforma administra-tiva pública de 1974 criou um supra ministério para cuidar a questãoambiental: o Departamento do Meio Ambiente. Os Estados Unidos, já em1969, criaram sua Agência Nacional de Proteção Ambiental. Cada país ar-mou-se institucionalmente, declarando guerra à poluição; decretos eleis, desde então, vêm se acumulando e agregando cada vez maior comple-xidade à legislação ambiental.

No Brasil não foi diferente, com a criação da Secretaria Especialdo Meio Ambiente (SEMA), a nível nacional, e a proliferação de secre-tarias, departamentos e fundações a nível estadual e municipal -no RioGrande do Sul foi criado o Departamento do Meio Ambiente (DMA) e a Se-cretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA) na prefeitura municipal dePorto Alegre —, ampliando-se, a partir deste quadro institucional, umaparato complexo de decretos, leis e normas a nível federal, estaduale municipal. Os efeitos imediatos da posição política no mundo no con-trole da questão ambiental foi a produção de um complexo sistema legalque vem sendo incrementado desde sua institucionalização.

Apesar de todo esse crescente aparato legal, o processo da polui-ção está em franca expansão no Terceiro Mundo, e todo o esforço nessespaíses é pouco para evitar, frear e despoluir o meio ambiente.A melho-ria da qualidade ambiental está num ritmo muito aquém do esperado. Osresultados gerais ainda são considerados fracos comparativamente aos es-perados mesmo nos países ricos apesar de sucessos extraordinários em al-guns tipos de despoluição física, como é o caso do ar e das águas emLondres. Porém, nos países do Terceiro Mundo, ainda não se pode falarem melhoria da qualidade ambiental. Pelo contrário,-a poluição encon-tra-se completamente descontrolada. A violência à natureza é práticacomum, assim como existe um desrespeito total à legislação de proteçãoambiental em vigor. No caso brasileiro, diga-se de passagem, a práticado desrespeito e de todos os escândalos que vêm aparecendo a nível na-cional são silenciosa e impunemente presenciados pelas autoridades pú-blicas. Para a questão ambiental não é diferente. Quando grupos de pres-são, como a Associação Gaúcha de Proteção Ambiental (AGAPAM),denunciamcasos de poluição que ameaçam a saúde pública, lançando mão de provasinternacionalmente aceitas e reconhecidas, os desmentidos de autorida-des públicas são uma constante. O consumidor fica comprimido entre amentira e a verdade e não tem direito e acesso à informação correta.Comissões técnicas são, então, instaladas,enquanto as multinacionais

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vêm faturando alto em cima dos agrotóxicos e de produtos farmacêuticos.Na verdade isso não é assunto agradável, mas também não pode ser ig-norado na realidade cotidiana.

7.1 — Casos de melhoramento da qualidade ambientalO mundo industrializado já tem uma certa experiência no controle da

poluição. Em alguns casos vêm-se registrando resultados extraordiná-rios, como a limpeza das águas, dos solos e do ar. Em outros casos,po-rém, vêm-se registrando crescentes níveis de poluição que alarmam asautoridades, tal como é o caso do chumbo na atmosfera,decorrente de com-bustão dos motores. Essa poluição é tão séria que a Inglaterra proibiu,a partir de 1985, o uso do chumbo na comercialização da gasolina.

A seguir vamos apresentar algumas experiências na melhoria da qua-lidade ambiental em países desenvolvidos, uma vez que estes apresentamuma experiência e uma política de controle ambiental bem definidas. Oscasos de melhoria da qualidade ambiental vêm confirmar que é viávelorganizar a vida econômica de uma sociedade sustentada pelo princípiodo sistema de livre mercado e, ao mesmo tempo, manter um controle am-biental onde o homem possa encontrar melhores condições humanas e me-lhorar seus padrões de vida biológica, social e psíquica.

7.1.1 — O caso das águas de Nova Iorque

Na opinião de Baumol & Oates (1979, p. 20), a qualidade das águasna área vizinha de Nova Iorque tem uma história mista.A Figura 20 mos-tra a tendência das concentrações de oxigênio dissolvido em seis cur-sos de água nas cercanias da cidade para o período 1910-70. Os processosnaturais de biodegradação dos resíduos orgânicos jogados na água con-somem oxigênio. Os cursos de água demasiadamente saturados e poluídospor emissões biodegradáveis tenderão a ter relativamente um baixo ní-vel de oxigênio dissolvido46. O declínio de oxigênio indicado na Figu-ra 20. Para o período anterior a 1920 sugere que a poluição tem aumen-tado rapidamente nos cursos de água da cidade nos primeiros anos da dé-cada de 20. Em torno de 1920, entretanto, o processo de deterioraçãosubitamente parou. Para as próximas três décadas o nível de oxigêniodissolvido permaneceu relativamente estável ou pelo menos progrediusuavemente. Tem sido sugerido que o decréscimo no oxigênio absoluto até1977 resultou não do aumento da atividade industrial na região,mas simdo crescimento rápido da população e sua concentração na Área Metropo-

Kneese (1977) atribui o melhoramento da qualidade do ar não à política do meio am-biente, mas sim aos fatores econômicos que forçaram a substituição do carvão por óleoe por gás natural. Essa substituição deu-se, primeiramente, no aquecimento domésticoe, posteriormente, no setor industrial e de geração de energia elétrica.

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1 17

litana de Nova Iorque. Esse crescimento populacional gerou um aumentoexcessivo de resíduos jogados no esgoto, passando aos cursos de água.Essa expansão populacional continuou até os anos 3047.

FIGURA 20

MÉDIAS MÓVEIS DE CINCO ANOS DE OXIGÊNIO DISSOLVIDO ANUALMENTEPARA OS PRINCIPAIS RIOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DE NOVA IORQUE 1910-75

(n/< de saturação dooxigênio dissolvido)80, —

70

60

50

40

30

1910 1915 1920 1925 1930 1935 1940 1945 1950 1955 1960 1965 1970 1975(anos)

K)N'I l :Haunml & Oatcs ( 1979. p 2 2 ) .

Através de um programa de controle ambiental mais intensivo umtratamento mais intensivo de resíduos foi aplicado,no início da décadade 1950, primeiramente no rio East e posteriormente no rio Hudson. Emmeados de 1960.as concentrações dos níveis de oxigênio têm aumentadorapidamente em todos os cinco cursos de água descritos na Figura 20.Foram observados melhoramentos consideráveis no leito do rio Hudson. Amaioria dos pescadores, biologistas marinhos,"técnicos ambientais e

47Referências sobre o melhoramento ambiental nos Estados Unidos podem ser encontradasnos relatórios anuais do U.S. Council on Environmental Quality (1980).

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agentes do Governo concordam que as águas dos rios de Nova Iorque sãohoje mais puras e claras que nos anos passados. Além destes depoimen-tos, quase todas as medidas e os indicadores disponíveis — tais como ototal de investimentos e gastos, o número de plantas de tratamento deesgotos construídos, o número e o tamanho dos peixes,a visibilidade deresíduos, o número de pessoas nadando — comprovam o melhoramento daágua nas 115 milhas do rio Hudson, entre a Cidades de Nova Iorque eTroy. De acordo com Baumol & Oates (1979 p. 21), os pescadores volta-ram a pescar espécies de peixes em maiores quantidades e tamanhos pelaprimeira vez, nos últimos 30 anos.

7.1.2 — Algumas tendências da qualidade do ar nos Estados Unidos

A qualidade do ar na Cidade de Nova Iorque tem mostrado melhoramen-tos em termos de certos poluentes. Essas tendências são apresentadas naFigura 21 para todos os cinco distritos da cidade no período pós-guer-ra. Em Brooklyn, os números têm decrescido cerca de um sexto relativoaos níveis de 1945, enquanto que em Manhattan declinaram por mais dedois terços. Similarmente se registrou um declínio no conteúdo do dió-xido de enxofre na atmosfera, não somente na Cidade de Nova Iorque,mastambém em outras cidades maiores.

FIGURA 21

PARTÍCULAS IJE MATÉRIA PARA CINCO DISTRITOS DA CIDADE DE NOVA IORQUE - 1940-75

(mi l ig ramas /cm 2 )60

50

40

10

l Manhat tan

QueenBrooklyn\ \ A /

Broiix ...Richmond

_1 L1940 1445 1950 1955 1960 1965 1970 1975

— (anos)

l ONTI. : Baumol &0ates (1979. p.23).

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Os dados da Figura 22 mostram um dramático melhoramento em NovaIorque e Chicago e ganhos mais modestos em outras cidades, como Bos-ton e St. Louis, embora essas duas cidades tenham exibido uma peque-na reversão entre os anos de 1971 e 1972. Esses melhoramentos mostrame sugerem como políticas ambientais podem ser efetivas e podem produ-zir resultados substanciais e rápidos.

FIGURA 22

QUALIDADE DO AR E S0: PARA SEIS CIDADES AMERICANAS - 1967-72

(miligramas/m3)

900

800

700

600

500

400

300

100

1967 1968 1969 1970 1971 197:-(anos)

FONTE: Baumol &Oate^ 1979, p. 24) .

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O Conselho de Qualidade Ambiental dos Estados Unidos manifestou-seassim: desde 1970 os programas de controle da poluição do ar parecemvencer o crescimento da poluição. As estimativas das emissões nacio-nais de partículas e monóxido de carbono têm sido reduzidas significa-tivamente, e outros principais poluentes regulares têm mantido seusníveis iguais aos de 1970. A Tabela 2 mostra que entre os anos de 1970e 1974 os níveis de emissão de partículas caíram ao redor de 29%, odióxido de enxofre declinou 8%, o monóxido de carbono caiu em 12% e asemissões de hidrocarbono declinaram em cerca de 5%.Entretanto emissõesde oxido de nitrogênio têm experimentado um acréscimo estimado em 10%no mesmo periodo4 .

Tabela 2

Emissões e poluição do ar a nível nacional nosEstados Unidos - 1940-1974

(105 t)

ANOS

1940

1950

1960

1968

1969

1970

1971

1972

1973

1974

SULFÚRICO

22

24

23

31

34

34,3

33,5

32,6

33,2

31,4

PARTÍCULAS

27

26

25

26

27

27,5

25,2

23,2

21,0

19,5

MONÓXIDODE

CARBONO

85

103

128

150

154

107,3

104,9

104,9

100,9

94,6

HIDROCARBONOS

19

26

32

35

35

32,1

31,4

31,3

31,3

30,4

ÓXIDOSDE

NITROGÊNIO

7

10

14

21

22

20,4

20,8

22,2

23,0

22,5

FONTE: Baumol & Oates (1979, p. 25).

48 Uma visão ampla da política de controle de poluição nos Estados Unidos está no rela-tório: do U.S. Council on Environmental Quality (1980).

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7.1.3 — Tendências da qualidade do ar e água na Inglaterra

A melhoria da qualidade do ar em Londres exibe resultados parale-los à experiência de Nova Iorque. A longa história da poluição do arde Londres deve-se, em grande parte, ao uso generalizado do carvão pa-ra o aquecimento industrial e doméstico. Uma das conseqüências da po-luição do ar em Londres é o conhecido "fog" (combinado de fumaça e ne-blina) que se tornou um símbolo da cidade mais expressivo e conhecidomundialmente do que o Big-Ben. Somente após o desastre em dezembro de1952 — quando num período de duas semanas o efeito de uma excessiva con-centração de dióxido sulfúrico e fumaça resultou na morte de quatro millondrinos além da mortalidade normal —, é que o Parlamento adotou me-didas regulamentares efetivas para a proteção da atmosfera. Em conse-qüência foi criado, em 1956, o Código do Ar Puro,e uma legislação adi-cional regulamentou um rigoroso controle de fumaça. Os resultados têmsido surpreendentes: nevoeiros densos desapareceram e o número de ho-ras-sol tem crescido significativamente. A Figura 23 mostra claramenteque desde 1950 a iluminação do sol de inverno tem aumentado .em 50% naárea central de Londres. O fenômeno do "fog" ficou na História,sendo, ocarvão mineral, como fonte energética,praticamente substituído pelo gásnatural e eletricidade no consumo doméstico.

FIGURA 23

REGISTRO DO NÚMERO DE HORAS-SOL-DIA NO INVERNO - 1946-75

(média de horas/dia)

2.0

1.6

0.8

O

Observatório de Kew

Centro Meteorológico de Londres

r~

_l_ J_ _l_

1946 1950 1955 1960 1965 1970 1975(anos)

M)N' lT . :Haumul & O a t e s < 1979. p. 2bi.

NO IA : Iníormacws obtidas no C entro Meteorológico de Londres e Observatório de K e u . Me'dias móveis de l ü a n onos meses de dezembro a leverciro.

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Os ingleses têm feito, também,um extraordinário progresso na des-poluição de seus rios e estuários. A Figura 24 mostra os níveis deoxigênio dissolvidos no rio Thames perto de Londres.Em contraste com operíodo de deterioração, de 1930 a 1954, quando o conteúdo dissolvidode oxigênio do rio Thames, justamente abaixo de Londres,era próximo dezero, a curva indica que houve uma melhoria até 1969.A poluição e des-poluição do rio Thames,na cidade de Londres, é hoje um exemplo clás-sico de melhoria ambiental. A Comissão de Poluição Ambiental (RoyalComission) relatou que o conteúdo do oxigênio do Thames para 10 milhasacima e 30 milhas abaixo da Ponte de Londres vem diminuindo há déca-das, e suas conseqüências vêm se tornando um sério problema. Em 1949,o Laboratório de Pesquisa de Poluição da Água iniciou a investigaçãosobre as causas da deterioração das águas do rio Thames. A partir dodiagnóstico, a autoridade portuária de Londres deslanchou um programaimpacto de despoluição. O sucesso deste programa tem sido comprovadopelo aparecimento de muitos tipos de peixes que o levantamento de 1957--58 mostrou estarem ausentes entre Richmond (15 milhas acima da Ponte)e Gravasend (25 milhas abaixo da Ponte). Em 1967-68, novo levantamentoidentificou nessa área 42 espécies de peixes,e outros tipos migrató-rios mostraram-se capazes de cruzar a zona mais poluída49.

FIGURA 24

PERCENTAGEM DE SATURAÇÃO DO OXIGÊNIO DISSOLVIDONA ÁGUA DO RIO THAMES MÉDIA DE JUL-SET 1930-39, 1954 E 1969

1001-

50

K) Acima () Abaixo ]Q

K)NTI : Baumol & Oatcs ( 1979, p. 28 ) .

:o 30 40 só(milhas da Ponte de Londres)

A experiência inglesa de controle e melhoramento ambiental está avaliada nos suces-sivos relatórios da HMSO (1979 e 1980).

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Esses casos revelam o quanto boas políticas ambientais podem sereficientes para a melhoria da qualidade ambiental. Isso não significaque a batalha contra a poluição esteja ganha e que o melhoramento sejauniversal. Existem casos sérios e fatos documentados do progressivo de-clínio da qualidade ambiental, mesmo nos países desenvolvidos.Por exem-plo, o caso da poluição crescente do chumbo,imposto pela indústrias au-tomobilística e do petróleo, mostra a fraqueza dos governos face aopoder econômico e político e interesses das corporações transnacionais,os quais estão acima dos interesses das nações. Os estados e governossimplesmente são inoperantes e fracos face ao problema, mesmo sabendodos graves males que o chumbo causa às pessoas, com alguns casos dedeterioração da qualidade ambiental a seguir descritos.

7.2 — Casos de deterioração da qualidade ambientalAqui é preciso lembrar que o sucesso de despoluição é particular-

mente dirigido para poluições físicas, principalmente a melhoria daqualidade da água, do ar e solos. Mesmo assim, alguns poluentes vêmapresentando crescimentos consideráveis e preocupantes, tais como ochumbo no ar e os agrotóxicos e pesticidas em geral nos solos e águas.Além desses, o meio ambiente social e psicológico tem sido deterioradoa níveis nunca vistos, pois o homem vem crescendo em angústias, doen-ças psicológicas e, pela insegurança dos sistemas políticos e econômi-cos, sente-se intranqüilo e sem garantias nas perspectivas futuras.

7.2.1 — Uma visão alternativa da qualidade do ar urbano

A qualidade do ar deve ser analisada pelas suas impurezas e pelospoluentes que contém. No caso de Nova Iorque e Londres, foi visto odióxido de enxofre. Entretanto, usando outras medidas e outros indica-dores ambientais da qualidade do ar,as tendências não são tão satisfató-rias, conforme mostra a Figura 25, onde se observa que a concentraçãode monóxido de carbono na cidade de Nova Iorque, apesar de flutuaçõestemporárias, manteve-se desde 1958. Isto é genericamente válido para amaioria das cidades européias30. Um índice da qualidade do ar que pon-deraria todos os poluentes seria mais útil para compará-lo à compo-sição de um ar puro exigido pelos organismos vivos.

A avaliação global da poluição atmosférica de uma cidade individual ou de um estuá-rio de um rio é algo bastante difícil e complexo, tendo em vista que os dados de umpoluente ou de um conjunto de poluentes podem facilmente ser distorcidos. Tornam-setarefas ainda mais árduas o cálculo e a interpretação de um índice de gualidade doar, uma vez que os poluentes mudam na composição e no tempo: ver Baumol 4Oates (1979, p.29).

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FIGURA 25

CONCENTRAÇÕES DE MONÓXIDO DE CARBONO NA CIDADE DE NOVA IORQUE - 1958-76

(anos)1958 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1978

I-ON TI : Baumol & Oates (1979, p. 29).

7.2.2 — Tendências da poluição do chumbo

A poluição do chumbo que apresenta um firme crescimento e umaconcentração na atmosfera provocados pelo crescente uso do automóvelna sociedade moderna é um dos problemas ambientais mais sérios queafeta a humanidade. Seus efeitos perniciosos sobre a inteligência hu-mana estão cientificamente comprovados e preocupam profundamente asautoridades de saúde no mundo inteiro, a tal ponto que a Inglaterraproibiu o uso do chumbo na gasolina a partir de 1985. Análises e pes-quisas mostram que mesmo as regiões mais distantes do Ártico e do An-tártico apresentam concentrações de chumbo. A Figura 26 mostra resul-tados certamente surpreendentes,cobrindo mais de 25 séculos. As re-giões mais remotas no norte de Greenland têm apresentado um persis-tente aumento de poluição acelerado do chumbo; hoje em Camp Centuryde Greenland os níveis de concentração de chumbo encontram-se 500 ve-zes acima dos níveis naturais. As medições do estudo de outras impure-zas nas amostras do gelo mostraram não existirem tendências perceptí-veis, isto é, dos sete itens cujas concentrações foram medidas retros-pectivamente até 800 a.C., somente o chumbo apresentou um crescimentono longo prazo51.

51 Os estudos e pesquisas de Greenland têm sido criticados pelo fato de resultados simi-lares nãn serem encontrados nas amostras do Antártico.

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FIGURA 26

POLUIÇÃO INDUSTRIAL DE CHUMBO EM CAMPCENTURY NA GREENLAND - 800 A.C. - 1950

chumbo Y/kg de neve(microgramas/kg)

20

18

16

14

12

10

08

06

04

02

0080B.C. 1750A.D. l 800 1850 1900 1950

(idade das amostras)

FONTK:Baumol & Oatcs (1979 , p. 31 ) .

O chumbo é um tipo de poluente invisível e tem efeitos sérios emuito graves para ser ignorado pela política de saúde pública. A des-crição abaixo dá uma idéia de problema da poluição do chumbo e constitui,por si só, motivos suficientes para deixar uma sociedade preocupada.

"O chumbo é um dos mais tóxicos metais pesados ao qual to-dos nós estamos expostos, caracterizando-se pela habilidadee facilidade de se acumular no corpo e danificar o sistemanervoso central, incluindo todo o sistema cerebral. Sua açãoinibe o sistema de enzima necessário para a formação de he-moglobina e interfere, praticamente, em qualquer processovivo. Crianças e jovens parecem especialmente sujeitos a so-frerem mais ou menos permanentes avarias cerebrais, condu-zindo, entre outros efeitos, para um retardamento mental,irritação e alteração nos padrões de comportamento (...) Ex-posição ocupacional mais séria do chumbo pode levar para ainsanidade, loucura e a morte"52.

52O artigo de Bryce-Smith (1971) fornece detalhadas informações sobre as implicações dapoluição do chumbo.

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Recentes estudos e pesquisas no Peru em esqueletos humanos deseis séculos comparados com esqueletos mais recentes provam que a con-centração de chumbo vem aumentando no período. Os esqueletos mais re-centes mostram ser essa concentração 10 vezes maior do que nos an-tigos53. Entretanto há pesquisas, como as realizadas na Polônia, quemostram que os níveis de chumbo dos ossos do polonês moderno não dife-rem significativamente daqueles encontrados no terceiro século. Há re-ferências que buscam explicar uma alegada loucura e megalomania de al-gum imperador romano pela excessiva quantidade de chumbo ingerida pelaágua e pelos vinhos. Sabe-se que na época o chumbo era usual na fabri-cação de cálices e reservatórios54. Como qualquer crise é um sistemade esperanças, a crise do petróleo vem beneficiando os brasileirosatravés do Programa Nacional do Álcool que é isento desse poluente tó-xico. As autoridades governamentais brasileiras, muito satisfeitas, ma-nifestaram-se, conforme recentes manchetes jornalísticas nacionais,pelo sucesso econômico da balança comercial, onde a importação dochumbo está em franco declínio. Certamente as geraçSes futuras enalte-cerão as vantagens poluitivas da substituição da gasolina pelo álcool.Esse é um assunto dos mais relevantes para uma pesquisa de avaliaçãodos custos e benefícios da política de substituição de fontes energé-ticas, em particular as externalidades positivas do Programa Nacionaldo Álcool para a população brasileira.

7.2.3 — Acumulação de resíduos sólidos

A quantidade de resíduos sólidos que a sociedade está produzindoé uma das fontes indiscutíveis de deterioração ambiental. O cresci-mento desordenado da população e crescimento da renda "per capita",associados à inadequação produtiva e de consumo, constituem os fatoresglobais que explicam o crescente descarte dos resíduos sólidos no meioambiente. Enquanto séries temporais de longo prazo não são fáceis dese obter, a evidência mostra esta realidade. Relatórios mostram que ofluxo de resíduos sólidos na cidade de Nova Iorque vem crescendo a 4%por ano. Baumol & Oates (1979) mostram algumas estatísticas da evolu-ção do crescente volume de resíduos sólidos, conforme evidencia a Fi-gura 27.

O problema da poluição causada pelos resíduos sólidos, domésticose industriais aumenta na medida em que as cidades crescem e explo-de na medida em que as áreas metropolitanas se congestionam. Um dosproblemas centrais é a destinação do lixo sólido, devido à crescenteescassez de terrenos adequados e próximos, associada ao tratamento deesgotos^industriais e domésticos. Métodos alternativos para o descartedos resíduos sólidos também são reconhecidamente problemáticos. O

Veja o artigo "Lead in ancient and modem bonés", (Scient. Citiz., 1968, p.89).54

A poluição do chumbo tem uma história muito antiga. Recentemente, a Revista Veja(1983, p.70) relata bem esta situação.

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FEE-CEDOC,B1BUOTECA

127

exemplo da queima e incineração do lixo apenas é um método de conver-são de poluentes da terra em aéreos. A poluição das águas tem tambémseu custo social. A composição do lixo sólido e a inter-relação da po-luição da água, ar e solos é um problema adicional do descarte. Osplásticos com propriedades perigosas de combustão, além de não degradá-veis, vêm fazendo parte crescente do lixo sólido. -Na • verdade, os re-síduos sólidos estão se convertendo num dos mais sérios problemas am-bientais para as grandes cidades, na medida em persiste a inadequaçãotecnológica dos processos industriais e a inadequação no comportamentodo consumo. Para minimizar o impacto ambiental da p'oluição de resíduossólidos, existem duas alternativas políticas: a primeira estratégia éredimencionar e adequar os processos de produção e o comportamento deconsumo; a segunda, sugerida pelo sistema ecológico, é a reciclagem.

FIGURA 27

EVOLUÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DEPOSITADOSNOS ARREDORES DA CIDADE DE CINCINNATWHIO - 1931-75

Resíduos sólidos(X l O3 toneladas)

500 r-

400

300

200

100

O1935 1940 1945 1950 1955 1960 1965 1970 1975

(anos)

K)NTE:Baumol&Oates(1979, p.33).

As estratégias políticas de proteção e controle ambiental exigemque o Governo precisa criar mecanismos e estímulos para que as indús-trias e a agricultura adotem tecnologias que minimizem a produção deresíduos, isto é, escolher tecnologias que produzem o mínimo de efeitosexternos ou resíduos sólidos. Como o setor de consumo está intimamenteligado ao de produção, concomitantemente é preciso incentivar e redimen-cionar o comportamento do consumidor. Nesse inter-relacionamento, exis-tem questões muito simples: o consumidor deseja e precisa consumiralimentos e todos os complementos ao produto são para ele supérfluose, portanto, são jogados no meio ambiente. Então, a indústria de ali-

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mentação deve atender a este princípio básico de suprir alimentos aoconsumidor e evitar ao máximo os resíduos. Um exemplo de extraordiná-ria clareza é o milho: o consumidor deseja grãos e só grãos; então aindústria deverá colocar o grão na mesa do consumidor, pois o sabugo ea palha são resíduos importantes para serem incorporados ao sistemaprodutivo da lavoura e não jogados e usados para saturar o meio am-biente urbano. Da mesma forma, o consumidor consome carne, e o osso éinutilmente transportado para os centros urbanos, quando ele é impor-tante no processo alimentar do sistema produtivo da pecuária. Assim,cada produto tem suas características, e a eficiência nas funções deprodução, comercialização e consumo podem ser enormemente aumentadaspara um concomitante controle e melhoria na qualidade ambiental.

7.2.4 — Deterioração do meio ambiente social e psicológico

Grande parte da literatura ambiental ocupa-se com problemas am-bientais físicos, tais como a poluição das águas, ar, solos e barulho.Entretanto existem alguns autores que dão importância muito grande aomeio ambiente social e psicológico, argumentando que o ser humano sópoderá desenvolver-se integralmente convivendo num adequado meio am-biente social e psicológico que, como partes integrantes do meio fí-sico, expressam todo o meio que cerca o homem. Algumas simples pergun-tas impõem uma reflexão mais profunda das condições psicológicas e so-ciais que cercam o homem: o que é mais importante para o ser humano:ar puro para respirar? água limpa para beber? solos limpos para se lo-comover? ou uma sociedade angustiada e instável sem definições clarasde padrões de comportamento e perspectivas futuras? Na verdade o meioambiente é um único todo, e todos esses aspectos físicos, sociais epsicológicos devem ser equilibrados e suprir as condições ambientaisonde o homem possa encontrar as condições para se desenvolver inte-gralmente sob o ponto de vista biológico (animal) e sociológico (huma-no) .

Como já se teve oportunidade de mencionar nos itens anteriores, ospaíses industrializados, através de programas onerosos de despoluição,experimentaram uma significativa melhoria na qualidade ambiental, atra-vés do controle de alguns tipos da poluição física, tais como o ar e aágua. Todavia o mesmo é difícil de afirmar para a poluição social epsicológica, fruto global do sistema político-econômico. Essa asserti-va baseia-se em alguns indicadores sócio-econômicos da qualidade devida e de bem-estar social. Alguns indicadores correntes evidenciamuma crescente deterioração do meio ambiente social e psicológico, nãosó nos países ricos, mas também nos países do Terceiro Mundo. Os altosíndices de desemprego nas economias ocidentais não podem dar estabili-dade emotiva a nenhum cidadão do mundo; a neurose do holocausto atômi-co europeu é uma realidade; a generalizada degradação da instituição eunidade familiar; o crescente índice de criminalidade; a instabilidadepolítica e o crescente terrorismo; a desinformação do cidadão; asperspectivas das gerações futuras; a inquietação dos pais que colocamem dúvida e começam a questionar a validade em investir dinheiro, tem-po e amor nos filhos, cujos padrões presentes do comportamento tumul-tuados, impostos pelo sistema sócio-político-econômico vigente, não

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oferecem nenhuma garantia e tampouco esperança se este filho ou filhagratificará o esforço dos pais; não há pais no mundo que possam assegu-rar que seu filho não seja um homossexual, louco, viciado ou se seráestupidamente sacrificado numa guerra qualquer, como no caso recente,a das Malvinas. Essas questões estSo associadas à realidade do dia--a-dia e implicam a grave e profunda poluição social e psicológi-ca que inquieta, perturba e deixa o homem moderno sem ambiente para sedesenvolver integralmente. A poluição social e psicológica, sem desme-recer a importância das demais poluições físicas, são profundamentemais angustiantes para o homem, requerendo providências e soluçõesprioritárias relativamente à questão da degradação do meio ambiente.Não se pode vacilar em sugerir que as atuais instituições político--econômicas carecem de uma urgente nova ordem política e econômica pa-ra organizar o sistema econômico do mundo ocidental que não sirva ex-clusivamente para acumulação de benefícios para poucas corporações eco-nômicas gigantescas e uma minoria de países do mundo rico. A atual or-dem econômica e política deve ser repensada para uma nova ordem querespeite princípios universalmente aceitos, tais como as necessidadesbásicas, a auto-suficiência, a participação dos cidadãos e o respeitoecológico.

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8 - POLÍTICA DO MEIO AMBIENTE:FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS

8.1 - Introdução

O crescimento econômico brasileiro, tanto no setor agrícola como noindustrial, em particular a acelerada e desorganizada urbanização, vemse processando de forma predatória e extremamente agressiva ao meio am-biente físico, social e psicológico. Essa situação vem exigindo provi-dências para a melhoria e o controle de qualidade ambiental, a manuten-ção do patrimônio cultural e natural do País, das regiões, dos estadose dos municípios.

A degradação da qualidade ambiental atingiu níveis preocupantes.Chegou o momento de parar, redimensionar esta tendência e repensar oprocesso. Isto requer uma política nacional, bem como regional, estaduale municipal que busque reparar a dívida com a natureza, no sentido depreservar os sistemas ecológicos básicos e essenciais à sobrevivênciahumana, mediante a preservação dos recursos naturais, culturais e so-ciais. É preciso reconstruir a degradação ambiental, bem como contro-lar a qualidade do meio ambiente a níveis favoráveis ao integral desen-volvimento do ser humano.

A melhoria e preservação da qualidade do meio ambiente, além de ne-cessárias, são fundamentais para a sociedade como um todo e para o ci-dadão em particular, que aspira melhores condições e padrões de vida,e, como tal, deve ser uma prioridade máxima das políticas de desenvol-vimento nacional e regional.

8.1.1 — Fundamentos da política ambiental

A concepção do meio ambiente como um princípio de orientação paraa formulação e definição de polit-icas e estratégias de desenvolvimentonacional, regional e setorial é urna prática generalizada nos países de-senvolvidos. Estes possuem uma política ambiental bem definida, que ser-ve de base para orientar o processo de planejamento e de desenvolvimen-to econômico-social. A qualidade ambiental não constitui uma priorida-de nacional nos países em desenvolvimento, como o Brasil, projetado co-mo a 4̂ Economia Mundial no virar do século, que ainda está para defi-nir uma política ambiental nas escaladas das hierarquias nacional, re-gional, estadual e municipal. A qualidade ambiental fica longe do topodas prioridades nacionais, regionais e estaduais e, tampouco, a Consti-tuição assegura aos brasileiros o direito elementar de satisfazer suasnecessidades essenciais, respirar um ar puro, beber uma água cristali-na bem como conviver num ambiente propício ao seu integral desenvolvi-mento biológico, social e psicológico. Apesar de os governos nacional eestadual reconhecerem publicamente a necessidade de uma política de con-

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trole da qualidade ambiental, o I P.lano Nacional de Desenvolvimento daNova Republicai I PNDNR) - 1986-1989 dedica à Parte VI a questão da qua-lidade ambiental, como um ensaio para a definição e formulação de umapolítica ambiental nacional. O I PNDNR, além de definir algumas diretri-zes gerais nacionais, sugere como diretriz regional a definição e im-plementação de uma política ambiental que dê ênfase à identificação eao correto aproveitamento dos recursos naturais de cada região. Alémdisso, nem os estados, tampouco os municípios, têm definida uma polí-tica ambiental para suas áreas de competência. Cabe, então, às autori-dades regionais, estaduais e municipais tomarem as iniciativas para suasregiões, bem como coordenarem a implantação dessas políticas nas suasáreas de jurisdição.

Não se pode esperar que o desenvolvimento econômico promova auto-maticamente o bem-estar social sem que haja uma política de controle daqualidade ambiental que dimensione esse desenvolvimento. Adicionalmen-te, o Brasil, como qualquer país do Terceiro Mundo, segue à risca o his-tórico modelo do desenvolvimento econômico capitalista "produzir-con-sumir-poluir" das economias desenvolvidas. Dois aspectos de políticasambientais evidenciam-se neste cenário mundial:

1) por força de uma política de controle ambiental nos países de-senvolvidos, o Terceiro Mundo assume o papel de hospedeiro dapoluição;

2) a política de despoluição nos países ricos vem exigindo inves-timentos vultosos em pesquisa e tecnologia de despoluição, quejá vem sendo exportada para o Terceiro Mundo, um mercado asse-gurado e promissor.

Duas constatações da política de controle de qualidade ambientalmundial são conclusivas: enquanto as sociedades desenvolvidas vêm usu-fruindo crescentes benefícios pela promoção da melhoria e pelo contro-le ambiental, as sociedades em desenvolvimento, em contrapartida, vêmpagando um ônus crescente e insuportável pela acelerada e desenfreadadegradação ambiental. Isto evidencia o quanto uma política de melhoriae controle da qualidade ambiental nacional e do regional está sujeitaàs relações de interdependência mundial.

8.1.2 — Princípios para diretrizes e estratégias ambientais

Pelo menos dois princípios básicos devem ser considerados para ori-entar a formulação e a definição de diretrizes e estratégias para umapolítica de melhoria e controle da qualidade ambiental.

1S princípio: desenvolvimento sustentado e estávelFundamenta-se na natureza, no bioma e nos ecossistemas que está or-

ganizada numa dinâmica diversificada, perfeitamente integrada entre seuselementos, suas relações e funções, que suportam a tendência do equilí-brio e a estabilidade do sistema natural em se produzir e reproduzir deforma sustentada.

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As ciências ambientais definem o meio ambiente como sendo "todo omeio exterior que afeta o organismo [o ser humano] no seu integral de-senvolvimento", o que sugere que a questão ambiental deve ser vista deforma globalista e totalista, por tudo aquilo que cerca o ser humano,incluindo os aspectos físicos, biológicos, sociais e psicológicos. Quan-do esses elementos afetam negativamente o integral desenvolvimento doser humano, criam-se problemas ambientais. Portanto, soluções parciaise isoladas estão fora de cogitação para o controle ambiental. Essa é amensagem máxima das ciências ambientais, que é uma visão totalista e in-tegrada. Uma regra básica de ecologia diz que nada existe por si, tudointegra-se, interdependente de uma forma ou de outra. Na natureza tudose integra-se, complementa-se e soma-se, o que garante a sustentação daestabilidade, o equilíbrio do ecossistema. Isso vale, também, para o ho-mem econômico e social, pois, para organizar sua vida econômica e so-cial, ele obrigatoriamente compartilha com a interdependência da natu-reza. Todos os seus sistemas especializados — a monocultura agropecuá-ria e a especialização industrial, assim como a indústria de calçadosda região do Vale dos Sinos no RS — são extremamente frágeis e instá-veis, por violarem esse princípio de interdependência e de integração.

Esse princípio mostra o quanto uma política de melhoria e contro-le da qualidade ambiental depende da integração científica, da inter-disciplinariedade do conhecimento e do esforço institucional adminis-trativo-político integrado. É preciso conciliar e compatibilizar os in-teresses e forças econômicas (da maximização dos lucros) com as forçasdo Estado e dos políticos (da maximização do poder) com as forças so-ciais e da sociedade como um todo, na busca da maximização do bem-estarsocial. Enquanto persistir essa base de conflitos econômico-político--social e não houver compatibilização e harmonização entre os mesmos, amelhoria da qualidade ambiental não passará de um sonho.

2e princípio: adequação do uso do espaço

Baseia-se em que a natureza, o bioma e os ecossistemas têm uma ca-pacidade natural limitada para absorver, reclinar e incorporar resíduosnaturais e humanos degradáveis. Porém sua capacidade é nula para resí-duos não degradáveis. No momento em que o homem econômico e social trans-gredir a capacidade de absorção do ecossistema ou descartar resíduosnão recicláveis, cria-se um problema de poluição e de degradação da qua-lidade ambiental.

Esse princípio traduz a visão temporal e espacial da questão ambi-ental, uma vez que toda a ação humana interfere e se envolve obrigato-riamente num determinado espaço físico, num ecossistema particular, quetem uma estrutura e dinâmica própria de funcionamento através de suascadeias alimentares, aperfeiçoadas e estruturadas através dos séculos emilênios. É de conhecimento público que o homem destruiu, em menos de200 anos, na região sul do Brasil, todos os grandes biomas e ecossiste-mas. Para repor e pagar essa dívida com a natureza, ele vai precisar deséculos ou milênios e, certamente, jamais poderá repor os bancos gené-ticos da flora e da fauna que destruiu, sem contudo conhecê-los.

A qualidade ambiental depende por demais da capacidade natural daabsorção dos resíduos, colocando em evidência que as atividades econô-

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micas e sociais humanas devem ser distribuídas no espaço segundo a vo-cação natural dos ecossistemas, incluindo-se a necessidade para dimen-sionar os tamanhos ótimos, principalmente as concentrações da populaçãonas cidades.

O homem insiste em transgredir esses dois princípios gerais, obri-gando-se a conviver com problemas gravíssimos de poluição, de degrada-ção ambiental, conseqüentemente compromete o seu integral desenvolvi-mento biológico, social e psíquico.

8.2 — Problemas do meio ambientePara promover a melhoria e o controle da qualidade ambiental, é

preciso remover as causas da poluição e da degradação ambiental, que po-dem ser vistas globalmente e especificamente numa cadeia de causas-efei-tos.

8.2.1 — Problemas e causas globais

Toda política ambiental confrontar-se-á, necessariamente, com a vi-da institucional político-administrativa, que imprime o caráter quali-tativo ao crescimento econômico, progresso tecnológico, crescimento po-pulacional, distribuição e ocupação espacial. A qualidade ambiental de-pende diretamente dessas questões básicas, de sua integração harmônicae qualitativa.

A questão central para uma política ambiental é adequação e inte-gração interdisciplinar: integração institucional do setor público como setor privado; integração e adequação do crescimento econômico e eco-lógico que lhe está associado; integração e adequação dos fluxos popu-lacionais e crescimento demográfico; integração e uso racional do espa-ço físico, segundo a capacidade natural dos ecossistemas locais. Todaesta adequação qualitativa e sua integração, além de fundamental, é bá-sica para promover a melhoria e o controle da qualidade ambiental parauma sociedade e região.

As causas globais da problemática ambiental, poluição e degradaçãoambiental das economias capitalistas e mesmo socialistas, têm origem naexagerada produção de resíduos agropecuários, industriais e urbanos que,na "economia da utilidade" imediatista, contrapõem-se à "economia da inu-tilidade". A produção de resíduos deve-se ao comportamento dos agentesde produzir, de consumir e dos governos que não têm a mínima sensibi-lidade e compromisso com a natureza. Além disso, esses agentes econô-micos, motivados pelos interesses imediatistas, atuam e agem desinte-gradamente. No fundo, numa linguagem simples, a questão da qualidade am-biental resume-se na variável comportamental dos agentes econômicos deprodução, de consumo e dos governos, "na maneira melhor ou pior em fazeras coisas" no dia-a-dia. O estímulo para fazer as coisas melhor — tan-to no produzir, quanto no consumir e no governar (diga-se coordenar) — de-ve ser orientado por um profundo respeito à natureza para que a quali-dade ambiental possa ser resguardada.

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8.2.1.1 - A questão institucional

a) científica

O histórico sistema educacional promoveu o desenvolvimento cientí-fico de forma desintegrada, departamentalizado, com vistas à especia-lização. Assim, vivem a Universidade Brasileira e o Estado. Esse quadrocontraria frontalmente os princípios e a recomendação das ciências am-bientais. As soluções dos problemas ambientais exigem um esforço cien-tífico integrado. O caos da desintegração científica chegou nos seus li-mites extremos, ao ponto de cada ciência desenvolver sua própria lin-guagem. Os cientistas não se entendem porque não falam uma linguagem co-mum, tampouco entendem o homem social e seus problemas. A aplicação ci-entífica e o meio ambiente impõem a interdisciplinariedade e que os ci-entistas falem uma linguagem universal — a do ser humano — (o esperan-to científico). Não há como promover a melhoria da qualidade do meio am-biente sem que antes se promova a integração científica, através de umaeducação ambiental integrada, em particular quando se trata da ciênciaaplicada, resguardando-se a necessidade de produção de conhecimentos ci-entíficos da pesquisa básica.

b) político-administrativa

A vida instituciona^ da administração pública é a própria eficiên-cia da desintegração, chegando ao extremo de ministérios, secretarias,órgãos diretos e indiretos, incluindo instituições privadas, ignora-rem-se e degladiarem-se publicamente. Funcionam como se fossem insti-tuições autônomas, células sem sistemas. Não há a mínima coordenaçãodas atividades públicas, prova é que o planejamento global, regional,setorial só subsiste no papel, sendo inviável tecnicamente e imprati-cável enquanto não se mudarem os atuais cenários político-institucio-nais.

A situação da desintegração administrativa pública e privada é tãograve que a questão do meio ambiente encontra espaço limitado para atuar.Os partidos políticos, através de seus filiados, tornam a administraçãopública ainda mais caótica, uma vez que a escolha pública é administra-da pelos políticos com o objetivo de se manterem no poder. Essa tese,defendida pelo professor e economista James Mcgill Buchanan, valeu o Prê-mio Nobel de Economia em 1986. A desintegração institucional político--administrativa deve ser redimensionada para viabilizar uma política am-biental brasileira e regional. Vale a pena registrar que os estados, na-cional e regional, montaram uma complexa estrutura institucional-admi-nistrativa a partir de 1973, ano de criação da SEMA. A partir dessa da-ta, surgiu, no Brasil e nos respectivos estados, conselhos, secretariasestaduais e municipais, um complexo aparato jurídico para combater a po-luição sem, contudo, receberem um suporte de conhecimentos científicosdas universidades que continuam alienadas dessa realidade, ignorando agravidade da crescente degradação ambiental que atingiu limites insupor-táveis de sobrevivência humana em certas regiões, tal como em Cubatão,hoje ostentando o título triste da cidade mais poluída do mundo. O Es-tado antecipou-se e continua desarmado de conhecimentos e recursos hu-manos para operar sua onerosa máquina administrativa.

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8.2.1.2 - A questão econômica

A organização da vida econômica baseada no princípio de livre mer-cado, da livre iniciativa nas economias ocidentais, joga um papel pre-ponderante sobre a questão ambiental. Esse sistema econômico não tem ne-nhum compromisso e respeito com a natureza e com o ônus social decorren-tes de suas externalidades. O comportamento dos agentes econômicos deprodução e de consumo, e suas decisões, são orientados pelo lucro e be-nefícios imediatos do negócio mercantilista. É um modelo de "produzir——consumir—poluir" e assim agem seus agentes nas decisões de alocar re-cursos. A "economia da utilidade" — do lucro e satisfação pessoal- con-trapõe-se a "economia da desutilidade" - de livrar-se com o menor es-forço e custo das inúteis. Assim procede quem produz e quem consome. Éuma "economia de guerra sistematizada", da destruição generalizada danatureza — matéria — o ser humano, à qual segue obrigatoriamente a re-construção da matéria — natureza e sociedade. Uma guerra militar con-vencional não é diferente: destrói para reconstruir. A poluição, degra-dação ambiental, é uma conseqüência natural do sistema econômico, quefalha e é incompetente para lidar com os bens coletivos (externalidades)e o meio ambiente. Não tem respeito e compromisso com a natureza. É pre-ciso corrigir essas falhas e cabe ao Estado e à sociedade promoverem eredimensionarem o comportamento dos agentes econômicos que, além de ma-ximizarem lucros e utilidades imediatistas, também incorporem o meio am-biente e a natureza nas suas decisões. Isto exige uma melhor integraçãodo setor público e privado, no sentido de fazer uso adequado do espaçofísico e dimensionar o tamanho da economia, das cidades residenciais eindustriais em função da vocação natural dos ecossistemas e suas capa-cidades .de absorção de resíduos.

8.2.1.3 - A questão tecnológica

O processo tecnológico está intimamente associado ao problema eco-nômico, científico e institucional. Do comportamento dos agentes econô-micos de produção e de consumo derivam a produção dos resíduos que sãojogados no ar, água e solos, degradando a qualidade do meio ambiente pe-las variadas formas de poluição. A tecnologia inadequada, pelo excessode produção de resíduos, é um desafio à capacidade natural de absorçãodesses resíduos pelos ecossistemas locais na ausência de uma recicla-gem. A tecnologia deve ser desenvolvida com vistas a uma adequação aosecossistemas e se este não é possível, só a reciclagem dos resíduos po-de evitar a degradação do meio ambiente. Não há espaço no meio ambien-te para resíduos não degradáveis, que fogem do controle, do conhecimen-to humano e da capacidade de reciclagem da natureza. Devem ser simples-mente proibidos: a produção e seu uso.

8.2.1.4 - A questão demográfica e espacial

Altas taxas de crescimento da população associadas ao fluxo migra-tório incontrolado vêm pressionando, cada dia mais, o meio ambiente, de-

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gradando-o física, social e psicologicamente pela irracional ocupaçãodos espaços e destruição acelerada dos recursos naturais. As cidades,em geral, particularmente as regiões metropolitanas, apresentam um meioambiente terrível, onde se encontram os mais sérios problemas da degra-dação ambiental física, social e psicológica. Por que 50% da populaçãogaúcha se congestiona na área metropolitana? Como pode o ser humano sen-tir-se bem num ambiente urbano cercado por um cinturão de miséria, defamintos e assaltantes potenciais? O Estado tem 282 mil km2, e o Brasil,mais de 8 milhões de km2.

Igualmente encontramos cidades do litoral congestionadas, como Ca-pão da Canoa, Tramandaí, Camburiú, que deixam de cumprir suas reais fun-ções de lazer e recreação.

É preciso um controle de fluxo demográfico e ti~> crescimento da po-pulação, bem como dimensionar limites e funções urbanas, pars aliviara constante pressão sobre o meio ambiente. Os mapas das atividades hu-manas deverão sofrer mudanças, para que o uso racional do espaço físi-co distribua melhor as áreas industrial, urbana, agropecuária, trans-porte, lazer e recreação. Um zoneamento ecológico e ambiental é funda-mental, como também a definição dos tamanhos ótimos das cidades, con-glomerados industriais e comerciais, tendo em vista a perfeita integra-ção entre suas funções e setores com os respectivos ecossistemas.

8.2.2 — Problemas ambientais locais

P maioria dos problemas ambientais, originados pelas variadas for-mas de poluição do ar, da água, dos solos, da poluição sonora e degra-dação da fauna e flora são facilmente identificados e localizados no es-paço físico, havendo casos que desrespeitam as fronteiras políticas dosmunicípios, estados, países e até continentes. Embora haja uma cadeiade causas-efeitos da degradação ambiental, a maior parte deles são ex-plicados pelas causas globais, associadas, de uma ou outra forma, aocrescimento econômico e progresso tecnológico inadequados; ao descon-trolado fluxo e crescimento demográfico; à desintegração institucionalcientífica e político-administrativa; e ao inadequado uso dos solos pe-las atividades econômico-sociais. Para melhorar e controlar a qualida-de ambiental, é preciso remover as causas da poluição. Uma política am-biental de sucesso deve concentrar suas estratégias e prioridades nascausas globais da degradação ambiental, embora, em certas circunstân-cias, só seja possível remover causas específicas na cadeia de causas——efeitos. Por exemplo, a estratégia para reciclar resíduos industriais,agrícolas e urbanos, embora melhore a qualidade ambiental, não eliminaa produção de resíduos que têm origem na tecnologia inadequada. Apro-priar tecnologias adequadas seria uma estratégia mais eficiente. Nessequadro, é preciso separar as causas e os efeitos.

As causas da poluição apresentam características semelhantes em mu-nicípios, estados e regiões, variando apenas na intensidade e compJexi-dade, segundo o nível dos resíduos e a capacidade dos ecossistemas lo-cais. Assim, existem problemas ambientais urbanos em todas as capitaisbrasileiras, embora mais sérios nas regiões metropolitanas. Existem pro-blemas ambientais mais agudos na região carbonífera de Santa Catarina

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do que nos demais estados. O mesmo pode-se afirmar sobre a erosão dossolos no Paraná.

Na ausência de um perfil e diagnóstico ambiental mais precisos, lis-tamos os problemas ambientais em evidência:

- degradação do meio ambiente urbano, através da poluição do ar esonora, nas cidades médias e grandes, particularmente nas regiõesmetropolitanas, onde se evidenciam, também, os mais graves pro-blemas de poluições sociais e psicológicas;

- degradação e destruição generalizada dos recursos naturais, des-tacando-se a fauna, flora, solos e água;

- poluição química pelo uso inadequado e indiscriminado de agro-tóxicos e insumos químicos na exploração agropecuária;

- degradação ambiental nas áreas de produção de energia hidroelé-trica e termoelétrica e respectiva linhas de transmissão;

- poluição dos mananciais de água e comprometimento biológico dasbacias hidrográficas pela poluição agrícola, industrial e urbana;

- uma das fontes geradoras da poluição generalizada decorre do trans-porte, principalmente o barulho e emissão de carburantes no ar.

Os problemas ambientais localizados nos respectivos ecossistemasafetam diretamente os seus habitantes, que pagam pelo ônus da poluiçãoe são, portanto, os mais interessados em usufruir dos benefícios da melho-ria da qualidade ambiental. A política de controle ambiental deve ser exe-cutada pela autoridade municipal e pela sociedade local, com ampla li-berdade de decisão na sua área de competência, dentro de uma política na-cional e regional. A política do meio ambiente, por isso, deve ser promovi-da como uma filosofia de descentralização e fortalecimento do poder local.

8.3 — Diretrizes e estratégias ambientais

8.3.1 — Diretriz geral: desenvolvimento sustentado

A diretriz máxima da política ambiental é promover o desenvolvi-mento econômico-social sustentado e estável, ajustando os setores pro-dutivos de bens e serviços de forma harmônica e integrada às reais ne-cessidades das demandas regionais. Essa estratégia geral fundamenta-senos dois princípios de orientação das ciências ambientais: a interde-pendência e interdisciplinariedade e a capacidade limitada dos ecossis-temas. Para orientar a melhoria e o controle da qualidade do meio am-biente com vistas ao desenvolvimento sustentado, destacam-se as seguin-tes estratégias:

- promover a integração científica, institucional epolítico-admi-nistrativa, com base num planejamento nacional, regional, esta-dual e setorial integrado, compatibilizando os níveis de podere de competência hierárquicos;

- promover a integração de todos os segmentos de interesse da so-ciedade local e regional, em particular os setores públicos eprivados, para a melhoria e controle da qualidade ambiental;

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FEE-CEDOC139

promover a conscientização e a participação comunitária local eregional para a preservação da natureza e dos recursos naturais,protegendo as culturas sociais, em particular as culturas indí-genas remanescentes das regiões;aperfeiçoar o sistema jurídico e viabilizar o cumprimento legalno controle ambiental, compatibilizando as leis dos códigos na^tural e humano;promover o crescimento econômico e o desenvolvimento tecnológi-co adequados às condições e necessidades reais da região e seusecossistemas;incentivar alternativas de organização da vida econômica e so-cial com base nos ecossistemas e princípios da natureza, visan-do à racionalização e à eficiência no uso alternativo dos recur-sos naturais e qualidade de vida;promover o controle demográfico e orientar seus fluxos migrató-rios, visando à racionalização no uso e distribuição do espaço,compatibilizando os setores produtivos agropecuários,industriais,urbanos, lazer e recreação e as redes de transportes e elétri-cas, respeitando a vocação e a capacidade dos ecossistemas;ampliar e implementar o sistema de unidades de conservação da na-tureza que represente a diversidade dos ecossistemas regionais,garantindo a integridade de seus bancos genéticos, cadeias e re-des alimentares e a auto-regulação do meio ambiente;promover uma regionalização institucional político-administrati-va, segundo critérios ambientais, em especial, as bacias hidro-gráficas;promover e acelerar a recuperação e a melhoria da qualidade am-biental nas atuais áreas críticas degradadas.

8.3.2 - Diretrizes setoriais

a) setor agropecuário- incentivar a implantação de sistemas integrados de produções ve-getal e animal com aproveitamento dos resíduos orgânicos;

- estimular a agropecuária, mantendo um rigoroso controle das mo-noculturas e do uso indiscriminado de agrotóxicos e adubação quí-mica, eliminando tudo que é tipo de poluente não degradavel;

- promover o uso e manejo adequado dos solos, ajustando a distri-buição da atividade agropecuária, segundo a vocação natural dosecossistemas;

- acelerar a melhoria e o controle ambiental rural das áreas ruraiscríticas, degradas pela erosão e pela destruição da fauna e flora.

- promover e ampliar a função do meio ambiente rural, integrando-aaos setores industriais e urbanos, particularmente como fonte delazer e recreação, aproximando o homem do campo ao homem urbano;

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- estimular pesquisas sobre o uso dos recursos naturais, funciona-mento e potencialidades dos ecossistemas como fonte de alimenta-ção e lazer humano, em particular os animais e aves silvestres,ervas e plantas frutíferas e medicinais;

- promover e estimular pesquisas tecnológicas para a produção agro-pecuária, usando adequadamente os recursos naturais que minimi-zam a produção dos resíduos;

- promover e incentivar a melhoria da qualidade ambiental ruralatravés da reconstrução da natureza, aperfeiçoamento e cumpri-mento da ordem jurídica.

b) setor industrial

- estimular pesquisas e uso de tecnologias de controle e despolui-ção das indústrias, minimizando a produção de resíduos indus-triais;

- promover a melhoria da qualidade ambiental através de um rigo-roso controle da poluição ambiental e responsabilizar socialmen-te os agentes industriais poluidores;

- promover o desenvolvimento industrial, compatibilizando-o tecno-logicamente com os ecossistemas locais, em particular a locali-zação e a distribuição espacial;

- incentivar a reciclagem dos resíduos industriais.

c) setor urbano

- promover o desenvolvimento urbano numa base ecológica e ambien-tal, distribuindo, adequadamente no espaço, as múltiplas funçõesda cidade, respeitando os limites de crescimento e os tamanhosótimos para as condições ecológicas locais;

- incentivar a conscientização ecológica e a participação comuni-tária para minimizar a produção de resíduos domésticos e a reci-clagem dos mesmos;

- promover a valorização das comunidades rurais e urbanas, propor-cionando-lhes melhores condições de vida, destacando um rígidocontrole dos fluxos migratórios e crescimento da população;

- intensificar um rígido controle da poluição das águas, do ar, dapoluição sonora, bem como suprindo os serviços básicos de infra--estrutura e saneamento básico;

- promover a melhoria ambiental, descongestionando as áreas urba-nas superpovoadas.

d) setor de infra-estrutura e saneamento básico

- promover os serviços de infra-estrutura e saneamento básico ur-bano e rural;

- promover as condições de segurança e tranqüilidade à populaçãoem geral;

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- estimular e assistir os governos locais para que estes, dentrode suas condições ecológicas, encontrem as soluções ambientaise sanitárias de baixo custo.

e) setor de transporte

- intensificar o controle da poluição sonora e do ar em áreas detráfego intenso, estimulando o uso de transporte coletivo;

- viabilizar e incentivar alternativas quanto a redes de transpor-tes, tendo em vista as condições ecológicas locais;

- promover a eliminação de chumbo na gasolina;

- incentivar pesquisas e alternativas tecnológicas de transportepara minimizar os resíduos, dando preferência ao sistema elétri-co;

- implantar um rigoroso controle do tráfego de cargas perigosas epoluentes.

f) setor de energia

- incentivar a economia de energia em todos os níveis, como formade preservar os recursos naturais;

- promover e incentivar o uso alternativo de fontes energéticas se-gundo as disponibilidades dos ecossistemas regionais, controlan-do e preservando o meio ambiente;

- definir critérios ambientais para utilização das reservas de car-vão mineral e xisto e para a construção de barragens;

- incentivar novas formas de produção de energia, como a eólica ea solar, o uso da biomassa, particularmente os resíduos agríco-las e dos esgotos, nas concentrações urbanas de forma integradae complementar, para melhoria da qualidade ambiental;

- incentivar o uso de energia elétrica, prioritariamente em locaisde atmosfera poluída, e promover estudos de impacto ambiental de-correntes da geração de energia elétrica em usinas hidroelétri-cas e térmicas convencionais.

g) ciência e tecnologia

- promover o desenvolvimento da pesquisa básica e aplicação cien-tífica interdisciplinar na área das ciências ambientais para oflorestamento e promoção de tecnologias adequadas e apropriadasàs condições dos ecossistemas locais;

- incentivar as pesquisas de avaliação dos impactos globais da açãohumana sobre o meio ambiente, tendo em vista o desenvolvimentode tecnologias agropecuárias e industriais que minimizem a pro-dução de resíduos;

- promover o desenvolvimento tecnológico para substituir as tec-nologias agrícolas e industriais produtoras de poluentes não de-gradáveis;

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- incentivar a pesquisa e utilização tecnológica da produção quevalorizem o trabalho humano, os recursos naturais e as fontes deenergia não poluidoras.

h) educação ambiental

- promover uma ampla e persistente consciência ecológica e ambien-tal nos agentes econômicos para incorporarem, nas suas decisõesde produzir e de consumir, o respeito à natureza e à qualidadedo meio ambiente;

- incentivar a introdução das ciências ambientais nos programas doscursos da rede oficial e particular de ensino em todos os graus;

- incentivar o envolvimento da comunidade na melhoria e controleda qualidade ambiental, através de programas de educação infor-mal;

- promover a difusão de princípios de educação ambiental e cons-cientização ecológica através dos meios de comunicação de massa,prioritariamente o rádio e a televisão educativos;

- incentivar o uso das áreas de parques, reservas e estações eco-lógicas, organizando programas de acesso da população para finsde educação ambiental;

- apoiar, incentivar e ativar a formação de profissionais do meioambiente, promovendo a integração científica interdisciplinar.

i) participação comunitária

- promover e incentivar as autoridades locais e a população a secomprometerem na administração do meio ambiente e dos recursosnaturais;

- promover a conjugação de esforços entre órgãos públicos federais,estaduais e municipais, com a participação da população e enti-dades de defesa do meio ambiente, com a finalidade de controlara qualidade ambiental e preservação dos ecossistemas locais.

j) planejamento ambiental

- promover a integração institucional, estabilizando e harmonizan-do os poderes hierárquicos federais, regionais, estaduais e mu-nicipais para viabilizar técnica, política e administrativamen-te um processo de coordenação e planejamento integrado da qua-lidade ambiental, reforçando o poder das autoridades regionais elocais para promoverem e controlarem o meio ambiente;

- promover o zoneamento e a regionalização ambiental, incorporan-do critérios ecológicos, em particular as bacias hidrográficas,como base do planejamento para dimensionar e distribuir harmoni-camente o uso do espaço para as atividades urbanas, industriais,agropecuárias e recreação;

- desenvolver e implantar um eficiente sistema de informações e ban-co de dados ambientais (memória científica ambiental), que per-

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mita agilizar a promoção de diagnósticos para conhecer a reali-dade ambiental local, regional e estadual;planejar o uso racional dos recursos naturais e ocupação adequa-da do espaço de acordo com as características e potencialidadesdos ecossistemas, assegurando uma melhoria ambiental para asatuais e futuras gerações;incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de instrumentos de ava-liação global e específico da qualidade ambiental, análise de cus-to-benefíciOi do impacto ambiental; matrizes de integração ins-titucional de decisão, atuação e ação, bem como uma matriz de in-sumo-produto ambiental, que possa medir as repercussões quali-tativas e quantitativas intersetoriais.

8.3.3 — Diretrizes para recursos naturais

- promover a atualização e aplicação da legislação de conservaçãoda natureza e dos recursos naturais, respeitando as regras do có-digo natural e organizando um eficiente sistema de fiscalização;

- incentivar a exploração integrada dos recursos naturais sem rom-per as relações interdependentes entre a água, ar, solos, florae fauna, minerais e paisagens intra e entre ecossistemas de umbioma;

- ativar e ampliar a manutenção de unidades ecológicas, parques na-cionais e regionais, áreas de proteção ambiental, como fontescientíficas, culturais, educacionais e recreativas;

- proceder inventários dos recursos naturais e seus ecossistemas,incentivando estudos e pesquisas para conhecer melhor suas es-truturas e características internas de funcionamento;

- criar estímulos e programas, visando à recuperação dos recursosnaturais e ecossistemas degregados, especialmente os bancos ge-néticos de plantas e animais, através de um rigoroso controle douso de agrotóxicos e demais substâncias químicas, proibindo asatividades que produzem poluentes não degradáveis;

- desenvolver o uso integrado e racional de toda a zona costeira ea exploração dos recursos marítimos com especial atenção à pre-servação da natureza, bem como a integração e compatibilizaçãodo lazer e recreação com outras atividades econômicas no litoral;

- promover e criar as condições para as autoridades locais deci-direm o controle ambiental, orientadas por uma política regionale nacional do meio ambiente.

8.4 — PrioridadesÉ mister que a qualidade do meio ambiente seja uma prioridade má-

xima nos objetivos de desenvolvimento de uma sociedade. Este é o primei-ro passo para a formulação e definição de estratégias e diretrizes de

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ação política regionais e locais. Num modelo econômico de "produzir--consumir-poluir", é imperativo que, a curto prazo, a prioridade se-ja despoluir, o que significa uma política de despoluição para reduziros resíduos agrícolas, industriais e urbanos, implicitamente uma firmepolítica de reciclagem destes resíduos, uma vez que é impossível rever-ter o atual quadro tecnológico e o comportamento dos aqentes econômi-cos de consumo e de produção. A longo prazo, as políticas de melhoria e ma-nutenção da qualidade ambiental devem concentrar-se na ciência e tecnolo-gia e na educação para redimensionar o comportamento dos agentes econômicos.

8.4.1 — Prioridades regionais e locais

As linhas prioritárias de ação que envolvem as regiões, os estadose os municípios de forma geral resumem-se nos seguintes programas:

a) Programa de integração e coordenação institucional- efetuar estudos e levantamentos da vida institucional político-ad-ministrativa das instituições federais, estaduais, municipais e pri-vadas através de uma matriz de interações de atuação e de decisão;

- criar, implantar e operacionalizar os conselhos do meio ambientea níveis regional, estadual e municipal, como meio de agilizara integração institucional regional, definir e coordenar a im-plantação de políticas ambientais;

- implantar um sistema de planejamento integrado regional, promo-vendo as reformas administrativas necessárias e compatibilizan-do hierarquicamente a viabilidade técnica da coordenação de con-trole da qualidade do meio ambiente;

- efetuar o diagnóstico da qualidade do meio ambiente entre regiões,definindo os problemas ambientais, segundo os níveis de gravi-dade, e implantar um sistema de informações e bancos de dados am-bientais (memória científico-institucional).

b) Programa de uso integrado do espaço físico- diagnosticar o uso atual do espaço físico e sua compatibilizaçãocom os ecossistemas e disponibilidade dos recursos naturais;

- zonear e regionalizar com vistas à distribuição adequada das ati-vidades sócio-econômicas, segundo critérios ecológicos, em par-ticular as bacias hidrográficas;

- descomprimir os atuais congestionados espaços urbanos e indus-triais, com medidas de rigoroso controle do fluxo e crescimentodemográfico, estimulando um limite ótimo para as cidades.

c) Programa de ciência e tecnologia

- formular um programa de ação para integrar o desenvolvimento cien-tífico-tecnológico interdisciplinar entre as universidades lo-cais e as instituições governamentais e privadas;

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- imprimir ao desenvolvimento tecnológico e às pesquisas aplica-das um caráter ecologicamente orientado, poupadoras de recursosnaturais e insumos químicos, bem como tecnologias apropriadas ebrandas, que minimizem a produção de resíduos e a degradação domeio ambiente;

- desenvolver pesquisas tecnológicas para a reciclagem dos resí-duos agropecuários, industriais e do transporte, bem como estu-dos de uso alternativo, criando a bolsa de resíduos;

- apoiar a capacitação de profissionais na área de ciência e tec-nologias ambientais.

d) Programa de educação ambiental

- propor estudos e introduzir a disciplina ambiental nos currículosdos cursos da rede oficial e particular de ensino em todos osgraus;

- preparar recursos humanos para o desenvolvimento de atividades eprogramas de educação ambiental;

- formular e implementar programas de educação ambiental e capa-citação de profissionais, através de cursos de curta e longa du-ração, em todos os setores da atividade pública e da privada;

- sensibilizar os diversos meios de comunicação para a dissemina-ção dos princípios de educação ambiental e difusão de uma cons-ciência ecológica para a população em geral;

- envolver as comunidades e suas lideranças para que promovam pro-gramas de educação ambiental, bem como integrar a participaçãocomunitária nos programas de controle ambiental;

- elaborar materiais técnico e didático voltados para a difusão etransferência de conhecimento à população em geral.

e) Programas de controle e preservação da natureza

- apoiar e acelerar a implantação dos programas de recuperação dosrecursos naturais degradados: água, solos, ar, fauna, flora eruídos;

- inventariar os recursos naturais remanescentes e implantar umplano emergencial de reservas naturais na região;

- envolver as autoridades locais e a comunidade na ação conserva-cionista e de controle da natureza;

- promover o manejo racional e a pesquisa da fauna e flora silves-tres, em particular as espécies que apresentam um potencial pa-ra a alimentação humana.

f) Programa de legislação e fiscalização

- desenvolver o aperfeiçoamento do aparelho legal, inventariandoe atualizando as leis de proteção ambiental, bem como melhorar ascondições e a eficiência da aplicação e fiscalização;

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- ajustar a estrutura administrativa do ministério público, além deimplantar suporte técnico de assessoria para a apuração dos da-nos ambientais, compatibilizando os poderes das autoridades lo-cais.

8.4.2 — Ações emergenciais setoriais

a) setor agropecuário

- implantar e dimensionar as pesquisas agronômicas com uma orien-tação ecológica;

- diversificar e integrar a produção vegetal e animal, promovendoa policultura integrada;

- desenvolver e implantar tecnologias brandas evitando a produçãode resíduos;

- controlar rigorosamente o uso de agrotóxicoseinsumos químicos,proibindo o uso de poluentes não degradáveis;

- elaborar um plano de emergência para recuperação dos recursos na-turais degradados: água, solos, fauna e flora;

- promover a regionalização espacial e o uso adequado dos solos.

b) setor industrial

- controlar com rigor e proibir os poluentes não degradáveis;

- desenvolver e implantar tecnologias de despoluição industrial;- distribuir e localizar adequadamente as indústrias;

- incentivar a reciclagem dos resíduos e tratamento de efluentesindustriais, criando centrais e bolsas de resíduos.

c) setor urbano

- tratar preventivamente e reciclar os resíduos domésticos;

- controlar rigorosamente o fluxo migratório, o crescimento da po-pulação e a expansão urbana, fixando limites ótimos das cidades;

- suprir os serviços básicos de saneamento;

- criar um "banco de terras" para o desenvolvimento urbano.

d) setor de transporte

- aperfeiçoar o sistema de transportes, estimulando o elétrico;

- intensificar a fiscalização e o controle da poluição sonora e doar nas áreas de tráfego intenso;

- compatibilizar o sistema viário com os ecossistemas locais;

- assegurar a máxima segurança ao transporte e armazenagem de car-gas químicas perigosas.

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e) setor de energia- desenvolver campanhas para poupar energia em todcs os setores;- estimular a eletrificação do transporte coletivo urbano;- desenvolver e estimular o uso de fontes alternativas energéti-cas, de forma integrada e complementar;

- recuperar e controlar as áreas degradadas pela indústria energé-tica, especialmente de origem térmica.

f) setor de turismo- preservar o ambiente natural e os recursos paisagísticos nas re-giões turísticas por vocação;

- planejar e ocupar o espaço físico das regiões turísticas com umaorientação ambiental e ecológica para o exercício das funções derecreação e lazer;

- redimensionar e disciplinar o atual uso e ocupação das regiõesturísticas com uma firme legislação e fiscalização, substituin-do a atual especulação imobiliária por estímulos ecológicos e na-turais para preservar as funções do lazer e recreação.

8.5 — Estratégias de implantaçãotransformar a política ambiental em ato normativo dos governosregionais, estaduais e municipais;encaminhar o presente documento para discussão pelas AssembléiasLegislativas dos estados e câmaras municipais;encaminhar este documento a todos os organismos federais e se-cretários dos estados para o equacionamento de sua aplicação noâmbito de suas competências;estruturar e operacionalizar os conselhos do meio ambiente re-gionais, estaduais e municipais para acompanhar, aperfeiçoar eimplantar as políticas ambientais;realizar e promover seminários e encontros interdisciplinares emultisetoriais entre órgãos da administração pública e institui-ções privadas, para a maior integração de suas ações;promover a elaboração dos programas e projetos para captar recur-sos extra-orçamentários particulares, federais e internacionais;estimular a complementação das ações governamentais, através deuma firme atuação dos políticos e da participação comunitária nadiscussão da questão ambiental.

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S. 6—Resumo de mecanismos e íntnunentos de políticasambientais com base em BaumoleOates(1979,p.218-19)

1 - Instrumentos de políticas ambientais

1.1 - Persuasão moral (propaganda e publicidade, campanhas epressões de grupos, etc.).

1.2 - Controles diretos

a) regulamentação, limitando níveis permitidos de emis-sões;

b) especificação tecnológica dos equipamentos e proces-sos de poluição.

1.3 - Processos de mercado

a) taxação da degradação ambiental- alíquotas baseadas na avaliação do dano social;- estipulação de níveis para alcançar padrões de qua-lidade ambiental;

b) subsídios

- pagamentos específicos por unidade de redução naemissão de resíduos;

- subsídios para despesas de custeio de controle an-tipoluição;

c) licenças e limitação de níveis de poluição

- vendas licenciadas;

- distribuição igualitária de licenças com revendaslegalizadas;

d) depósitos reembolsáveis contra danos ambientais;

e) especificação e atribuição de direitos da proprieda-de para despertar nos indivíduos o interesse à pro-priedade e o conseqüente melhoramento ambiental.

1.4 - Investimentos governamentais

a) facilidades de prevenção de danos (plantas locais -municipais de tratamento de resíduos);

b) atividades regenerativas (reflorestamento, saneamen-to básico);

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c) difusão da informação (técnicas de controle da po-luição, oportunidades de reciclagem, etc.);

d) pesquisa (alternativas de produção e consumo de pro-dutos que minimizem a produção de resíduos);

e) educação

- para o público em geral;- para o público especificado e profissional.

2 - Mecanismos administrativos

2.1 - Unidade administrativa

a) agência nacional;

b) agências regionais e locais.

2.2 - Financeiro

a) pagamento por aqueles que provocam os danos;

b) pagamento por aqueles que se beneficiam das melho-rias ambientais;

c) receitas gerais.

2.3 - Mecanismos legais

a) organização da regulamentação;

b) processos civis.

Os mesmos autores citam um exemplo prático para o controle da po-luição das águas:

a) apelar aos poluidores para eliminarem todos os seus descartesresiduais para o bem-estar social geral;

b) leis que determinem e especifiquem aos poluidores para cessaremo descarte de resíduos ou instituírem procedimentos para tra-tamentos específicos;

c) imposição de taxas que variem diretamente com o nível das emis-sões de resíduos;

d) a construção de facilidades de tratamento de resíduos por partedo setor público.

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A escolha dos instrumentos de ação política para o controle ambi-ental fica sujeita aos objetivos ambientais definidos para uma realida-de nacional, regional, estadual e municipal. A vasta gama de instrumen-tos alternativos e sua eficiência prática dependem, em muito, da liber-dade de escolha e da vida institucional de uma nação. Assim, a taxaçãoda emissão de poluentes na água pode ser um instrumento eficaz para umarealidade institucional da sociedade sueca e ser virtualmente ineficazpara uma realidade brasileira.

8.7 — Política ambiental no Brasil8.7.1 — Aspectos institucionais

A ciência do meio ambiente continua embrionária, em prolongada ges-tação no Brasil, em comparação com o acelerado e avançado desenvolvi-mento científico e tecnológico ambiental nos países desenvolvidos. A vi-da institucional brasileira, desde os meados da década de 70, vem se es-truturando e aperfeiçoando num complexo aparato institucional e legalcom vistas à promoção da melhoria da qualidade ambiental, sem, contudo,receber o suporte dos conhecimentos científicos das universidades e cen-tros de desenvolvimento científico e tecnológico do País.

A vida institucional ambiental no Brasil, por estímulos do Congres-so da Organização das Nações Unidas (ONU), realizado em Estocolmo em 1972,sobre os Direitos Humanos e o Meio Ambiente e a criação do Programa Am-biental da ONU em 1975, começa pela implantação da Secretaria Especialdo Meio Ambiente (SEMA) em 1975. Em 1981, criou-se o Sistema Nacionaldo Meio Ambiente (SISNAMA) e o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CO-NAMA), órgão de normatização da política ambiental brasileira. Mais re-centemente, foi fundado o Ministério de Desenvolvimento Urbano e MeioAmbiente (1985). O I Plano Nacional de Desenvolvimento Sócio-Econômi-co da Nova República— 1986-89 define, na parte VI, a política ambien-tal brasileira. Diga-se que esse é um marco histórico para a questão am-biental neste País, pois foi o primeiro plano nacional a incorporar omeio ambiente com destaque que o assunto merece. Hoje o Programa de AçãoGovernamental (PAG) 1987-91 substitui o anterior e define com maior pre-cisão a política ambiental brasileira, chegando a níveis de detalhes naespecificação de diretrizes de ação política, objetivos e metas claras,bem como a definição dos recursos orçamentários para a implantação dapolítica do meio ambiente no Brasil.

O efeito de imitação e por forças da hierarquia federativa incen-tivou os estados a implantarem sua máquina institucional ambiental atra-vés de secretarias e departamentos ambientais e conselhos estaduais domeio ambiente. O mesmo verifica-se a nível dos municípios.

A vida institucional ambiental neste País é uma realidade tanto anível dos Governos Federal, Estadual e Municipal. Estes pressionam e de-mandam ansiosamente a consolidação de conhecimentos científicos e tec-nológicos ambientais, que pela sua própria natureza e definição, exi-ge um tratamento integrado e interdisciplinar do ponto de vista cientí-fico e profissional. No entanto, as universidades brasileiras e as ins-tituições de pesquisa que têm a função e obrigação social em produzir

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os conhecimentos científicos, básicos e aplicados continuam imobiliza-das e omissas na questão ambiental. A falta de integração institucio-nal e científica e a conseqüente escassez de conhecimentos produzidospara a nossa realidade é o problema central e, portanto, a restrição 11-mitante para implantar a política ambiental brasileira. O fato mais con-creto e marcante, para exemplificar, diz respeito à Resolução CONAMA n51, de 23.01.86, que obriga e exige a realização de Estudos de ImpactoAmbiental (EIA) e Relatórios de Impacto sobre o Meio Ambiente (RIMA) pa-ra um variado leque de empreendimentos e projetos. Seminários nacionais,estaduais e cursos sobre a gestão ambiental estão em evidência nestePaís.

A exigência dos EIA/RIMA evidenciam uma angústia expressiva dos em-presários, que são obrigados a elaborar os EIA/RIMA, empresas de con-sultorias e os próprios órgãos estaduais ambientais que emitem os pa-receres técnicos para o licenciamento e implementação dos projetos e em-preendimentos. Todos os profissionais envolvidos nesse processo recla-mam, em consenso, a falta de conhecimentos, informações e metodologiaspara a elaboração e análise. É marcante a ausência de recursos humanosespecializados e preparados para atender as exigências da Resolução CO-NAMA ne 1/86, agravando-se este quadro pelo tratamento interdiscipli-nar e profissional da questão ambiental, uma vez que os profissionaiscostumam, por força histórica de formação científica departamental, fa-lar sua própria língua científica. Numa equipe interdisciplinar só ço-de haver comunicação e entendimento quando se fala a mesma língua. É omomento de aprender o "esperanto científico", uma exigência intrínsecados EIA/RIMA, que envolve empresários, consultores, funcionários públi-cos, professores e a própria comunidade de modo geral. Para exemplifi-car o problema, a maioria dos órgãos ambientais estaduais, obrigados aemitir pareceres técnicos sócio-econômicos dos EIA/RIMA, sequer tem eco-nomistas e sociólogos nos seus quadros técnicos. Na verdade, a Resolu-ção CONAMA ns 1/86, além de abrir um amplo mercado de trabalho, terá umarepercussão imediata, forçando as instituições de pesquisa e as univer-sidades a se atualizarem e incorporarem à ciência ambiental no desen-volvimento científico e tecnológico do País.

A política do meio ambiente já é uma realidade no Brasil. Espera--se que o desenvolvimento científico-tecnológico, a ciência e a tecnolo-gia sejam suficientemente sensíveis para dar a sua contribuição exi-gida para a efetiva implantação da política nacional do meio ambiente.A ciência do meio ambiente está aí na prática e vem indicar os caminhose as reformas institucionais e científicas das universidades brasilei-ras. Pelo próprio conceito das ciências ambientais, o futuro das uni-versidades é claro no sentido de consolidar de forma integrada e inter-disciplinar os conhecimentos básicos produzidos a nível departamental.A aplicação científica só pode ser feita de forma integrada. Os CentrosIntegrados de Aplicação Científica são o futuro das universidades, que,obviamente, devem produzir este conhecimento para uma realidade regio-nal em que atuam. O ser humano só se desenvolve integralmente do pontode vista biológico, social e psicológico quando ele receber um trata-mento e soluções integradas, seja institucional e cientificamente. Nãohá como promover a qualidade ambiental para o integral desenvolvimentodo ser humano fora de uma visão totalista e de uma ação integrada. Açõessetoriais e isoladas levam a soluções parciais e incompletas. A poli-

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tica ambiental brasileira e seus instrumentos de ação política clamame, de fato, pressionam reformas profundas no mundo científico e insti-tucional para uma maior integração de esforços. Certamente este é o fa-to mais marcante e relevante da atual política ambiental brasileira.

8.7.2 - Base legal

- Lei ns 6.938, de 31.08.81 — complementa a Lei na 6.902, de27.04.81, publicada no Diário Oficial da União (DOU), no dia2.09.81 - ANO CXII, ns 167, que formula e define a Política Na-cional do Meio Ambiente no Brasil.

- Decreto ne 88.351, de 01.06.83, regulamenta as Leis nSs 6.938 e6.902, definindo a ação normativa da política ambiental brasi-leira vigente.

- Resolução CONAMA ns 1, de 23.01.86, é o instrumento de ação po-lítica de maior importância para o controle e promoção da melho-ria da qualidade ambiental atualmente no Brasil. Essa Resoluçãotorna obrigatória os EIA/RIMA para projetos e programas, sejameles do setor público ou do privado. Além disso, define os ins-trumentos da política nacional do meio ambiente e dá uma positi-va orientação normativa ao planejamento nacional, regional e se-torial.

- Lei ns 7.486, de 06.06.86, publicada no DOU, em 12.06.86, (I Pla-no Nacional de Desenvolvimento da Nova República 1986-89), subs-tituído pelo Decreto-Lei, publicado no DOU, no dia 15.10.87 —Programa de Ação Governamental (PAG) 1987-91, que explicita pe-la primeira vez na história do planejamento brasileiro, com cla-reza única, os objetivos, diretrizes, prioridades e metas, inclu-sive a previsão e dotação orçamentária, a política nacional domeio ambiente.

8.7.3 — Ação política e planejamento ambiental

Na história do planejamento brasileiro, a questão ambiental foi in-corporada e contemplada objetivamente, pela primeira vez, no PAG em 1987--91. Trata-se de um plano nacional, global, regional e setorial da apli-cação de uma política ambiental brasileira. Mesmo que seja duvidosa suaefetiva prática, trata-se de um plano que merece o maior respeito pelasua lesura técnica e clareza como trata a questão do meio ambiente. Aseguir, transcreve-se, na íntegra, o PAG no que diz respeito à políti-ca e o planejamento do meio ambiente.

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8.7.3.1 - Programa de Ação Governamental (PAG) — Meio Ambiente (1987-91)

Diagnóstico

Os benefícios gerados pelo avanço tecnológico não foram comparti-lhados por toda a sociedade brasileira na mesma proporção dos malefíciosfísicos, sociais e econômicos que lhe foram impostos. A esses deve-seacrescentar, dando-lhe o relevo indispensável, a agressão ao meio am-biente natural e construído.

Os desastres ecológicos, que se sucederam no território nacional,decorreram quase que diretamente do processo de implantação de proje-tos econômicos, sem a preocupação de suas externalidades negativas. Dodesequilíbrio mesológico surgiram: enchentes, secas, desabamentos, po-luições no litoral, contaminação dos cursos de água, desmatamento, pra-gas e outras conseqüências.

Além dos efeitos de ordem puramente econômica, o desprezo ao pa-trimônio natural levou a extremos a degradação do ambiente. É exemplo,hoje, o município de Cubatão, onde ocorrem diariamente os mais nocivosefeitos gerados pela sociedade urbano-industrial. A tragédia da Vila So-co e a poluição da Vila Parisi atestam a gravidade da situação.

Caminham para resultados semelhantes, como conseqüências de errosacumulados do passado:

- a baía de Vitória, no Espírito Santo, que está sendo afetada poroxido de ferro;

- as lagoas Mundaú e Manguaba, em Maceió, que, com a instalação de uni-dade de fabricação de soda, estão perdendo as condições propícias à repro-dução de espécies aquáticas indispensáveis ao sustento da população pobre;

- a ilha de São Luís, no Maranhão, com um quinto de sua superfíciecomprometido pela produção de alumina e alumínio metálico, empreendi-mento previsto para dar emprego a 2 mil pessoas e que já deslocou de seuhabitat 7 mil famílias; e

- Camaçari e Aratu, na Bahia.

Outras devastações ao meio ambiente ocorrem, com efeitos igualmen-te danosos, seja pela utilização irracional dos recursos da natureza -desmatamentos na Amazônia e cerrados, implantação do Projeto Carajás,pesca industrial de espécies em extinção, contaminação química dos rios —,seja pela poluição urbana.

A falta de tratamento das águas servidas, tanto de uso industrial co-mo doméstico, está deteriorando os recursos hídricos, indispensáveis à vi-da nas grandes concentrações urbanas e às próprias atividades produtivas.

Nas grandes metrópoles, apenas uma parcela ínfima dos esgotos é tra-tada — cerca de 20% no Rio de Janeiro e em São Paulo, a despeito de nes-sas capitais habitarem mais de 15 milhões de pessoas.

A instalação de estabelecimentos industriais não foi precedida deestudos de uso e aptidão de seus espaços e da avaliação dos impactos de-correntes de seu funcionamento. Adicionalmente, o aumento acelerado dafrota automotora, sem a necessária atenção às condições climáticas e me-

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teorológicas das cidades e regiões, levou ao registro de índices de po-luição insustentáveis e a mudanças indesejáveis no ar.

As cidades brasileiras com mais de 1 milhão de habitantes apresen-tam, em sua maioria, atmosfera com concentrações médias anuais de ácidosulfídrico e material particulado acima do padrão de 80 mg/m3. Nas áreasurbanas centrais, as concentrações de monóxido de carbono formam a chamada"névoa das cidades", reduzindo a visibilidade em medida inferior a 15 km.

Completando esse diagnóstico, cabe mencionar o tratamento dos resí-duos sólidos, mediante emprego de "lixões" ou enterramento, sem técnicassanitárias adequadas e em locais impróprios. A rapidez com que se processaa expansão da malha urbana constitui fator duplamente problemático, poisacarreta aumento do volume de resíduos e saturação dos aterros existentes.

Outras formas de poluição, como a sonora e a visual, estão igualmen-te a requerer equacionamento.

Na parte institucional, registra-se a criação da Secretaria Espe-cial de Meio Ambiente (SEMA), em 1973, mas somente com o advento da Lein2 6.938, em 1981, é que se instituiu o instrumental básico necessáriopara a implementação do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA).

Esse sistema estabelece que a União, os estados e municípios são osorientadores e fiscalizadores do processo de intervenção no meio ambi-ente, de forma a assegurar, para as gerações do presente e do futuro,condições satisfatórias de qualidade ambiental.

Por outro lado, a identificação dos problemas ambientais e o grau deprioridade atribuído à sua resolução devem decorrer de um processo contínuo,do qual também participa a sociedade civil, mediante manifestação pública,na forma de denúncias, ou através de mecanismos institucionais apropriados.

A partir da criação, em 1985, do Ministério do Desenvolvimento Ur-bano e Meio Ambiente, o Governo enfatizou a necessidade de ações maisagressivas no setor, através do fomento direto e do apoio técnico, ins-titucional e financeiro aos órgãos estaduais e municipais, buscando in-cluir a preocupação com essa problemática do cotidiano da comunidade.

Objetivos

No período 1987/91, em esforço inusitado ante tantos desafios ao de-senvolvimento harmônico do País, o Governo empenhar-se-á,particularmente,na compatibilização do desenvolvimento econômico e social com os propósitosde conservação e preservação do patrimônio natural e cultural, através de:

- implantação de um processo contínuo de gestão ambiental a nívelnacional, com o fortalecimento dos órgãos e instituições do SISNAMA;

- controle dos vários tipos de poluição, especialmente em áreas ondeatingem níveis críticos e passam a constituir risco à saúde das popu-lações locais;

- desenvolvimento de tecnologias de controle da poluição;

- estabelecimento de um sistema de informações sobre o meio ambi-ente, a nível nacional;

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- implantação, manutenção ou ampliação de áreas representativas dosecossistemas brasileiros; e

- desenvolvimento de estudos e pesquisas dos ecossistemas repre-sentativos, promovendo o desenvolvimento científico e tecnológico dosetor.

Estratégias

- Elaborar programas específicos, com linhas de ações e atividadesque compreendam todas as áreas deficientes do setor;

- elaborar e apoiar propostas de trabalho, em conjunto com os di-versos organismos e instituições, buscando a maior descentralização pos-sível dessas ações; e

- consolidar a posição da SEMA como órgão coordenador do SISNAMA,transferindo a operação dos programas aos órgãos estaduais e municipais.

Metas

- Implantar 20 estações ecológicas no País, dotando-as de infra--estrutura básica para as atividades de pesquisa, vigilância, proteçãoe preservação ambiental;

- promover programas nacionais para conscientizar a sociedade desua responsabilidade na preservação dos recursos naturais, mobilizando,para isto, a comunidade;

- criar mecanismos de interação do Governo com os diversos segmen-tos da sociedade para a gestão ambiental;

- implantar ações de recuperação do meio ambiente nos municípios,incentivando o papel das prefeituras na implantação e recuperação de áreasverdes, jardins botânicos, parques, e no controle de mananciais;

- treinar 2.320 técnicos de 20 estados em avaliação do impacto am-biental, em gerenciamento e elaboração de projetos de sistemas de tra-tamento e na construção de equipamentos de controle ambiental; e

- equipar e melhorar a infra-estrutura de laboratórios para a rea-lização de análises e controle da qualidade da água e de emissões gaso-sas industriais e atmosféricas.

Programas Prioritários

. SISTEMA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE

A implantação do Sistema Nacional de Meio Ambiente concederá ao se-tor o instrumental necessário para, juntamente com os órgãos estaduais,implementar efetivamente a política de meio ambiente em âmbito nacional.

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Coordenado pela SEMA/MDU, o sistema deverá aplicar recursos no to-tal de Cz$ 804,9 milhões no período 1987/91, assim distribuídos: em 1987,5,4 milhões; em 1988, 145,6 milhões; em 1989, 213,7 milhões; em 1990,214,7 milhões; e, finalmente, em 1991, 225,5 milhões.

CONTROLE DA POLUIÇfiO INDUSTRIAL

Esse programa visa incentivar, apoiar e promover ações para recu-peração de áreas deterioradas e preservação de novas áreas da poluiçãoambiental, provocada por atividades industriais. Realizar-se-á análiselaboratorial para avaliação da qualidade do ambiente, bem como rigoro-so controle do licenciamento, ao lado de fiscalização de atividades in-dustriais potencialmente poluidoras.

No período 1987/91, o programa mobilizará cerca de Cz$ 1,1 bilhão,beneficiando 79 milhões de pessoas.

IMPLANTAÇÃO E AMPLIAÇÃO DE ESTAÇÕES ECOLÓGICAS E DE UNIDADES DE CON-SERVAÇSO

As estações ecológicas cumpre o papel de preservação de áreas re-presentativas dos ecossistemas brasileiros e nelas se desenvolvem pes-quisas básicas e aplicadas, inclusive com o objetivo de subsidiar pro-gramas regionais de desenvolvimento integrado.

Esse programa visa implementar 20 estações ecológicas já criadas,dotando-as de infra-estrutura básica indispensável às atividades de pes-quisa, vigilância, proteção e preservação do ambiente.

Além disso, prevê-se a complementação e reposição de equipamentose infra-estrutura das estações ecológicas já existentes.

Os investimentos programados nesse projeto, para o período do Pro-grama de Ação Governamental, somam Cz$ 774,1 milhões.

Programa de Controle da Poluição Industrial: Metas Físicas e Financei-ras - 1987/91

METAS 1987 1988 1989 1990 1991

População Beneficiada (Milhões) 2 7 10 20 40Laboratórios Capacitados 6 8 10 15 23Avaliação da Qualidade Ambiental deCidades 8 12 25 40 50

Recuperação de Áreas Degradadas 40 60 100 150 200Licenciamento d e Atividades 4 6 8 5 -Realização de Estudos 4 8 15 20 20

Investimentos Programados (Cz$Milhões) 77,5 225,6 255,5 269,6 293,3

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FEE-CEDGC1

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MEIO AMBIENTE: DIRETRIZES PARA IMPLANTAÇÃO

O princípio da formulação e implementação desta política baseia-sena compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a utiliza-ção racional dos recursos naturais e a preservação e melhoria da qua-lidade do meio ambiente, visando, em última análise, a melhoria do bem--estar da população brasileira.

Nesse sentido, entende-se que o fortalecimento de uma política demeio ambiente é compatível com a execução de políticas e programas deexploração racional dos recursos naturais renováveis. Seu objetivo nãovisa restringir indiscriminadamente as atividades econômicas, mas, emconsonância com estas, estabelecer as condições e limites para uma ex-ploração racional daqueles recursos.

As seguintes diretrizes nortearão a política nacional do meio am-biente no período 1987/91:

- manutenção dos sistemas ecológicos essenciais, vitais à produçãode alimentos, à saúde e à sobrevivência humana, e ao desenvolvimento dossistemas agrícolas, florestas nativas, sistemas costeiros e de água doce;

- preservação da diversidade e riqueza do patrimônio genético;

- utilização não-prt datória das espécies e dos ecossistemas;

- atendimento adequado às necessidades básicas das populações ur-banas; e

- defesa do patrimônio natural.

A implementação da política de preservação do meio ambiente repre-sentará um significativo salto quantitativo, pois injetará recursos nocombate à poluição, e ordenamento do uso e ocupação dos espaços, prin-cipalmente amazônicos e costeiros, e na promoção da saúde. Além disso,mobilizará a sociedade brasileira a partir da criação de programas deeducação formal e informal sobre meio ambiente. O modelo a ser adotadoserá posto em prática através da mobilização de canais de comunicaçãosocial, envolvendo diretamente a comunidade, dentro de uma postura par-ticipativa.

Na instrumentação de uma política nacional, impõe-se o fortaleci-mento institucional dos órgãos responsáveis para, em processo de descen-tralização administrativa acompanhado de fomento direto, apoio técnico,institucional e financeiro, operarem-na a nível estadual e municipal.Assim dinamizada, a política concebida assumirá o papel e a dimensão quelhe cabem na promoção do desenvolvimento.

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9 - PENSANDO NO FUTURO:

CONSIDERAÇÕES E ESPECULAÇÕESSOBRE O CONTROLE AMBIENTAL

A poluição e a qualidade ao meio ambiente foram objeto de dis-cussões em várias partes deste texto associando-se alguns princípiosfundamentais da Economia. Por insistentes repetições intencionais pro-curou-se evidenciar que o estudo da poluição e da qualidade ambientalnão pode ser feito isolamente devido ao caráter interdisciplinar e deinterdependência que envolvem os problemas da poluição e do meio am-biente. Estes devem ser vistos num contexto amplo e global em que to-dos nós existimos. Insiste-se, por diversas vezes, que a solução dosproblemas ambientais não é exclusivamente uma questão econômica, masdepende de um esforço científico interdisciplinar integrado. A polui-ção integra uma complexa matriz de fatores inter-relacionados que in-clui o crescimento da população mundial, a produção de alimentos ebens de capital, a energia, a oferta de recursos naturais, o consumoe o desenvolvimento tecnológico. A pressão sobre o crescimento econô-mico nos países em desenvolvimento é uma realidade devido a suas altastaxas de expansão demográfica que, por sua vez, implicam uma crescentedemanda de bens e serviços básicos.

Um modelo de crescimento econômico substanciado por processos pro-dutivos, utilizando tecnologias inadequadas, em regra impostas pelaordem das relações de dependência internacional, somado à inadequaçãodo comportamento e de padrões de consumo, igualmente criados pelas con-dições em que opera o sistema econômico, são, em síntese,a problemáticacentral da poluição e da deterioração da qualidade ambiental pelo me-nos nos países do Terceiro Mundo. A questão ambiental deve ser perce-bida no cenário mundial e é preciso considerar a realidade, em parti-cular as relações entre países ricos e pobres. Também é preciso reco-nhecer que a conjuntura e a estrutura diferenciadas entre os paísescarecem de um suporte teórico e tratamento individualizados para aformulação de políticas para a questão ambiental.55

No Capítulo 7 foram examinadas algumas tendências da poluição,bem como se fez referência a algumas experiências de melhoria na qua-lidade ambiental. Relataram-se alguns progressos feitos nas últimas dé-

Existe hoje uma bibliografia significativa disponível que trata das teorias institu-cionais P de dependência entre o mundo rico e pobre. Para maiores informações reco-menda-se Todaro (1979, p. 549-76); Ichyio (1985) ;Street & James (1982); Furtado (1985)e Sachs (1983).

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cadas pela ação política e por programas de despoluição nos países in-dustrializados56. Todavia os resultados de melhoria da qualidade ambien-tal consistem apenas de ações isoladas como uma resposta às pressõessociais, face, principalmente, aos problemas da deterioração do meioambiente físico, tais como a redução de poluentes do ar, controle deresíduos tóxicos descartados no solo; controle do uso de detergentesinorgânicos, proibição de uso de pesticidas organoclorados e aditivosalimentares. Outras mudanças ocorreram, tais como a redução da polui-ção dos rios e a poluição do ruído de aviões. Uma ampla legislação eestatutos legais têm sido formulados, mas suas efetividades têm sidoreduzidas pelo atraso da sua implementação e aplicação. Entretanto,apesar da legislação vigente, os resultados de controle da poluiçãonos países do Terceiro Mundo são pouco expressivos, havendo, mesmo,casos em que a poluição se encontra desenfreada e incontrolada, como éo exemplo de Cubatão, que sustenta o título mundial da cidade mais po-luída

Na verdade, o fenômeno da degradação ambiental vem sendo questio-nado como um sério problema pela sociedade em geral. A atual atitudeem relação à poluição pode ser resumida como: afinal, quanta poluiçãouma sociedade pode suportar?, face aos custos e necessidades de inves-timentos de programas dedespoluição. Este certamente é um fator limi-tante de políticas de controle ambiental num sistema econômico de"produzir-poluir—despoluir" que é uma das características das econo-mias ocidentais capitalistas. A visão dos governos e as políticas decontrole ambiental nas economias de mercado geralmente se baseiam emque "o controle ambiental deveria depender do balanço entre os benefí-cios, custos e riscos envolvidos na poluição do meio ambiente". Issoimplica medir os custos e benefícios sociais, bem como os riscos decontrole da poluição, o que vem a ser uma tarefa extremamente difícilpela ausência restrita de informações e instrumentos adequados de me-dição e de análise e avaliação, acrescidos dos julgamentos subjetivose éticos que são implícitos e devem ser feitos com respeito aos bene-fícios sociais. Além do mais, a eficácia e o valor do método da análi-se de custos e benefícios vem sendo questionados para decisões ambien-tais, por converterem tudo numa unidade de medida monetária e que as-socia as decisões de controle ambiental com a idéia de que "o polui-dor paga". Consequentemente, o agente poluidor deveria, também, serfinanceiramente responsável pelo controle da poluição sem acesso afundos e disponibilidades subsidiadas por recursos públicos.Essa é umadas razões por que as medidas de controle da poluição não são padroni-zadas, o que deixa uma grande margem de manobras para o agente poluidor.

Para maiores informações sobre programas de despoluição e de melhoria na qualidadedo meio ambiente a nível de países, veja os relatórios de controle ambiental dasagências e comissões nacionais do meio ambiente dos Estados Unidos, da Inglaterra eda Comunidade Econômica Européia. Em particular, sugere-se U.S. Council on Enviro-nmental Quality (1980). No contexto mundial, as Nações Unidas, através do seu Pro-grama do Meio Ambiente (UNEP), publica anualmente um relatório. Projeções de algumasimportantes variáveis de impacto ambiental para os próximos cinqüenta anos são en-contrados em Cotrell (1978).

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Talvez o resultado mais expressivo do movimento ambiental na dé-cada de 70 tem sido um crescente, se bem que ainda limitado, reconheci-mento dos efeitos da poluição e as futuras implicações ambientais. Hojehá uma maior percepção a respeito da crescente deterioração do meioambiente e da qualidade de vida. É inegável que existe um desejo cres-cente para reduzir a poluição e melhorar a qualidade do meio ambientepara as gerações presentes e futuras. Essa preocupação é elogiável co-mo também deveria ser encorajada e estimulada. Todavia isso é apenasuma mudança nas atitudes mostradas em alguns setores da sociedade epelo público geral. O atual estado do meio ambiente é insatisfatório demodo geral, porque a poluição, em todas as suas formas, continuacruelmente deteriorando a qualidade ambiental, em especial nos paísesdo Terceiro Mundo. A estes são impostos, pela conjuntura internacio-nal, um modelo de "produzir—poluir—despoluir", a experiência dos paí-ses industrializados que deveria ser o antimodelo para as nações emdesenvolvimento. Muito mais seria para os países do Terceiro Mundo ésua condição de hospedeiros das indústrias poluentes de alto risco quenão encontram espaço físico nos seus países de origem por força dosprogramas de controle ambiental.

9.1 — Perspectivas futurasExistem muitas alternativas para resolver problemas de poluição.

Idéias não faltam. Porém a experência mostra que todo o esforço desen-volvido pelo homem no controle ambiental apresenta resultados poucosatisfatórios no contexto global de melhoria da qualidade ambiental.Por que a poluição continua a persistir a índices tão alarmantes, aoponto de transformar Cubatão na cidade mais poluída do mundo? ondeestá o aparato institucional, legal e enfim a quem cabe proteger omeio ambiente? ao Governo Federal? ao Estadual? ao Municipal? à comu-nidade? ao indivíduo e cidadão?

Propostas não faltam, desde as mais radicais às mais conservadoras,muito bem traduzidas pelas escolas do pensamento econômico ambiental re-sumidos no Capítulo 4. Há os que sugerem o crescimento econômico zeropara compatibilizar o sistema econômico com o estado de estabilidade dosecossistemas; há os que propõem uma política de redução na taxa de cres-cimento da população; outros sugerem um racionamento edescongestionamen-to do espaço urbano; há os que preferem uma distribuição regional dasatividades econômicas; há os que culpam a tecnologia e o comportamentodo consumidor. Enquanto se discutem causas da poluição e prioridadesde ação política para controlar a poluição, a deterioração da qualida-de ambiental vem afetando gerações presentes e comprometendo geraçõesfuturas. Neste estado ambiental nenhuma nação individual aceitaria umaação unilateral para lidar com os problemas ambientais, tendo em vistaa interdisciplinaridade e multidimensionalidade dos problemas ambien-tais. Os problemas ambientais obrigam a pensar numa dimensão temporal,isto é, no curto e longo prazos, como o impacto ambiental afeta as ge-rações presentes e as futuras. Não é uma ação unilateral na redução dataxa de crescimento que vai resolver o problema da poluição, tampoucouma ação unilateral de controle da população. Não existe uma únicacausa, mas existem causas interdependentes que devem ser equacionadas

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globalmente, dentro de um enfoque sistemático. Então, é preciso veri-ficar as possibilidades no curto prazo, uma vez que o processo de po-luição está em andamento, e definir as estratégias e as políticas deação no longo prazo.

Antes de partir para medidas efetivas de controle da poluição,é preciso retomar algumas considerações de ordem geral e colocar ascoisas no seu devido lugar, tal como requer o tratamento de um ecos-sistema. Já foi explicado que a poluição não é exclusiva do sistemacapitalista, pois a Rússia está lidando com problemas de poluiçãoigualmente sérios em relação aos Estados Unidos. Vê-se que o sistema eco-nômico capitalista está organizado e estruturado no princípio de livremercado, e o modelo econômico caracteriza-se por "produzir—poluir—des-poluir"; vê-se, também, que tanto o mercado quantos os governos falhampara tratar eficientemente o problema ambiental. Insiste-se em que osistema econômico deverá ser reorganizado em novos princípios univer-salmente aceitos e reconhecidos, tais como o respeito ecológico, auto--suficiência e participação do indivíduo nas decisões políticas-econô-micas. Uma teoria não pode servir a duas realidades distintas, isto é,aos interesses dos países ricos e dos pobres. A teoria deve deixar cla-ra e limitar a realidade que ela pretende explicar: a de uma sociedadeque domina ou a de uma sociedade que é dominada.Assim,as soluções pro-postas devem ir ao encontro dessas realidades. Obviamente, as políti-cas de ação não podem ser as mesmas para os países desenvolvidos e sub-desenvolvidos, por uma pura e simples razão: os países pobres tão cedonão disporão do mínimo de recursos financeiros para se despoluírem etampouco desenvolvem pesquisas necessárias para criarem a tecnologiaantipoluição. Adicionalmente, as características dos ecossistemas lo-cais diferem entre as regiões, estados, países e continentes, pois assoluções devem considerar a peculiaridade dos ecossistemas locais.A Eu-ropa não têm uma amazônia e tampouco a têm os Estados Unidos. Só existeuma Amazônia no mundo que pertence ao Brasil. Cabe,portanto, ao Brasilconhecer o seu grande bioma amazônico, protegê-lo e conservá-lo. Vistoo sistema econômico neste contexto, ver-se-á que as origens e fontes dapoluição têm pontos comuns, cujas causas globais residem na inadequa-ção do sistema de produção e no comportamento inadequado de consumo.Adicionalmente, a tecnologia assume um papel crucial na produção de re-síduos, bem como a ausência da reciclagem destes dá origem à maioriados problemas de degradação ambiental. Esse quadro suficientemente cla-ro indica que as estratégias de controle ambiental devem concentrar-se:primeiro, na tecnologia de produção, promovendo tecnologias eficientesque minimizam a produção de resíduos; segundo, na impossibilidade deevitar a produção de resíduos, a melhor alternativa seria a reciclagemdestes, incorporando-os novamente ao sistema econômico produtivo; ter-ceiro, adequar o comportamento do consumidor no sentido de evitar aprodução exagerada de resíduos nas congestionadas áreas urbanas.

No curto prazo, o cenário econômico-político brasileiro exige me-didas de controle e da poluição. Isso é essencial para que problemasagudos de poluição sejam resolvidos para salvaguardar a população deriscos imediatos & potenciais. Alguns exemplos de melhoria da qualida-de ambiental foram mencionados no Capítulo 7. Por exemplo, a poluiçãodo ar pode ser reduzida pelo uso eficiente de fontes energéticas al-ternativas; resíduos sólidos podem ser reciclados em outros produtose energia e incorporados ao sistema de produção ao invés de jogá-los

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no solo e na água; a recuperação de resíduos industriais reduzem a po-luição das águas. Uma adequada localização de plantas industriais éuma medida eficiente para diminuir o impacto ambiental, especialmenteconsiderando os centros urbanos supercongestionados. Por outro lado,uma maior e mais estreita cooperação institucional entre as váriasagências internacionais e nacionais envolvidas no controle ambientalpode auxiliar mais eficientemente o controle ambiental local.

Paralelamente às medidas de ação política de curto prazo, é ne-cessário que se defina uma estratégia e as políticas de controle am-biental no longo prazo. Pois só no longo prazo é possível redimensio-nar o atual modelo econômico, reorganizando-o a partir de princípiosuniversalmente aceitos e reconhecidos que minimizam o impacto sobre omeio ambiente. Se nada for feito neste sentido, restam realmente pou-cas esperanças para assegurar uma melhoria substancial na qualidadeambiental para as gerações futuras,e muitas gerações pagarão caro de-mais nossa experiência. Um dos mais importantes males da poluição nofuturo provavelmente seja o efeito sobre a população de estar exposta abaixas concentrações de poluentes e baixas radiações em longos perío-dos de tempo. Esses fatores poluidores invisíveis instalam-se no orga-nismo humano através de sua exposição direta ou através dos caminhosda poluição via sistemas naturais das cadeias alimentares. Os efeitosacumulativns no organismo destas substâncias tóxicas, segundo Dix(1981, p.273), são,.muitas vezes, desconhecidos no presente, mas de-terminar sua incidência, grau de seriedade e efeitos futuros não é sóum compromisso, mas um dever que a pesquisa impõe. Essa lacuna do co-nhecimento deve ser preechida pela pesquisa bioquímica, com a tarefa,inclusive, de acompanhar sistematicamente a ação de tais poluentes,seus caminhos e suas concentrações nos ecossistemas. Só assim, uma vezconhecidos os efeitos reais e suas causas, medidas de políticas efe-tivas podem ser associadas para assegurar uma qualidade ambiental àsgerações futuras. Para tal, as estratégias e as políticas de ação de-vem ficar claramente definidas e ser universalmente reconhecidas.

9.2 — Uma nova ordem econômicaO homem precisa resguardar a qualidade da biosfera na qual ele

garante sua própria existência. Tem uma extraordinária capacidade paraexercer um controle sobre suas taxas reprodutivas, estilos de vida eprodutividade nacional, mas não pode controlar completamente o meioambiente. Ele somente pode tentar modificar o meio ambiente ao pro-curar satisfazer suas aspirações e objetivos. As atividades dos homenstendem a criar a poluição, colocando em risco ou rompendo os ciclos na-turais do meio ambiente. Isto pode afetar diretamente o estado de equi-líbrio da biosfera. Assim, o descarte de crescentes resíduos no meio am-biente pode comprometer seriamente a estabilidade da biosfera no fu-turo. Claramente, o objetivo último do controle da poluição no longoprazo é reduzir os efeitos desta a níveis tais que não haja uma ameaçapotencial à estabilidade da biosfera. Isso significa que a quantidadee os tipos de poluentes descartados no meio ambiente não podem ultra-passar a sua capacidade assimilativa natural, assim preservando a vidaanimal e vegetal.

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Existe um profundo ceticismo quanto a essas metas ambientais delongo prazo no atual quadro do sistema econômico, na forma como ocrescimento econômico, progresso tecnológico e comportamento do consu-mo são promovidos.

A pergunta central é: como pode a poluição ser substancialmentereduzida no contexto atual de uma crescente produção de resíduos di-versificados? Uma resposta correta a esta questão inclui uma certezauniversal: mudanças na organização do sistema econômico devem alteraros atuais padrões de produção e consumo, onde o crescimento econômicodeve ser redimencionado, bem como o progresso tecnológico e o compor-tamento de consumo em função de outros princípios além dos princípiosatuais do sistema de livre mercado. Isso pressupõe também mudanças nasatuais relações internacionais entre os países ricos e pobres. Nascondições atuais que regem as relações de produção e de consumo nocontexto nacional e internacional, pouco pode-se esperar quanto à me-lhoria da qualidade ambiental no Terceiro Mundo, pelo contrário, osefeitos da poluição vão impor um ônus social maior às gerações futurasem relação aos níveis atuais. Isso é certamente válido para os paísesdo Terceiro Mundo que, pelo seu sacrifício e privação de melhores con-dições da qualidade ambiental, estão financiando e subsidiando parado-xalmente a melhoria de qualidade de vida dos cidadãos nos países ri-cos. Assim, as mudanças no sistema econômico são um imperativo naspróximas décadas para que haja esperanças de uma melhoria significati-va na qualidade ambiental e uma conseqüente melhoria na qualidade devida nas nações em desenvolvimento. As nações devem assumir uma claraposição sobre o quanto o meio ambiente pode estar poluído ao invés dapresente visão: quanta poluição a nação pode suportar. Isso não é umaquestão exclusiva do Estado ou dos governos, mas, em particular, é umaquestão que diz respeito a qualquer cidadão. Ninguém escapa do ar po-luído e da água contaminada. A poluição afeta ricos e pobres e não temfronteiras políticas geográficas. Isso, certamente, é uma questão im-portante para uma sociedade. Todos estamos hoje seriamente preocupadoscom o fato de que a poluição e a degradação do mrio ambiente é um sé-rio problema para a sociedade. Cada cidadão, independentemente de suafunção econômica e classe social, aspira conviver numa melhor qualida-de ambiental, onde possa se desenvolver integralmente sob o ponto devista biológico, social e psicológico. Isso já não é uma questão dedireito social, mas é uma questão do direito natural, e é sobretudo umdireito humano universal. Todo o cidadão tem o direito de respirar umar puro, beber uma água pura e sentir-se bem num meio social e psico-lógico. Acredita-se que a violência e o desrespeito deste fundamentaldireito humano universal é uma estupidez desumana imposta pelo atualcenário econômico e político internacional. A natureza não precisa deuma inspiração ideológica capitalista ou socialista para operar e or-ganizar um sistema que tende ao equilíbrio a longo prazo, tampouco pa-ra operar um ecossistema estável. Deve-se perguntar: e o homem preci-sa?

Crê-se que os cientistas sociais deveriam entender e discutirmais ecologia, ao invés de se perderem nas discussões ideológicas ca-pitalistas e socialistas. É impossível organizar um sistema econômicoe político fora de um ecossistema e também não se pode ignorar quesuas relações econômicas e sociais devem estar baseadas em princípiosuniversalmente aceitos que conduzem o sistema econômico a uma estabi-

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lidade no longo prazo. Mudanças são necessárias no curto e longo pra-zos para mudar o atual cenário e essa é uma questão de uma nova ordemeconômica nacional e internacional para reorganizar o sistema econômi-co. Há relatórios e autores de renome mundial57 que sugerem uma novaordem econômica face aos problemas políticos, econômicos e sociais diag-nosticados.

Além disso, justifica-se a nova ordem econômica pelas profundasfalhas do sistema de livre mercado nas economias ocidentais, que con-tribuem para a instabilidade do sistema econômico e conseqüente ins-tabilidade da vida política, como também afetam a qualidade ambiental.O modelo de oferta do sistema econômico deve converter-se num mode-lo de demanda que estrutura o sistema de produção em função das neces-sidades básicas dos indivíduos; a adequação tecnológica e de consumosó pode ser concebida num profundo respeito ecológico. Como também nãoé difícil imaginar um sistema político-econômico-social sem auto-sufi-ciência e participação do indivíduo no processo das decisões políticase econômicas, parece que tanto as democracias capitalistas quanto associalistas de planejamento central desrespeitam estes princípios bá-sicos fundamentais na organização do sistema econômico. Há necessidadede aprimorar teorias de desenvolvimento consistentes com esta rea-lidade nacional e internacional. O ecodesenvolvimento58, como uma pro-posta alternativa de desenvolvimento para uma nova ordem econômica na-cional e internacional, , aseado nesses princípios universais vem des-pertando um crescente interesse entre os cientistas sociais e políti-cos.

Finalmente, a pergunta formulada inicialmente carece de uma res-posta objetiva. Quem pode garantir os direitos individuais para que ocidadão possa conviver numa qualidade ambiental indisppnsável paraseu integral desenvolvimento biológico, social e psíquico? Somente aConstituição. Se as Constituições Nacional, Estadual e Municipal nãoassegurarem o direito natural e legítimo de que: "Todo o cidadãotem o direito de respirar um ar puro, beber uma água pura, convivercom um solo natural e sentir-se bem numa atmosfera social e psíquica",não se pode esperar que as atuais instituições político-econômicasofereçam isto. Tal como acontece em muitos países, por exemplo, o ci-dadão espanhol tem as garantias institucionais para conviver num -r.eio

Relatórios de comissões independentes, tais como Brandt (1980); em português o deba-te de Canela s^re o Relatório Brandt (diálogo ou confronto?) organizado por Buargue(1980), tornaram-se "best-seller" internacionais. Ainda sobre este assunto sugere-seTodaro (1980, ,..540-76).

SftO ecodesenvolvimento, como uma proposta alternativa de desenvolvimento, foi formula-da a partir da crise ambiental e da necessidade de uma nova ordem econômica nacionale internacional para organizar a vida econômica e política nacional e, em particular,as relações entre os países pobres e ricos, líderes e liderados. Veja bibliografia daNota 1. Esta proposta alternativa de desenvolvimento vem crescendo em importância en-tre os cientistas sociais, visto o assunto ser objeto de um periódico trimestral Eco-development News (1985).

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ambiental adequado. E o brasileiro, o que pode esperar da atual cons-tituinte no que diz respeito ao seu meio ambiente? Considerando o atualcenário institucional nacional e internacional, crê-se que as mudançasesperadas devem partir da ação individual e que cada cidadão deveriafazer um esforço para buscar uma alternativa de vida pessoal que, numsomatório progressivo e global, pressionaria as mudanças político-eco-nômicas aspiradas.

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FEE-CEDOCBIBLIOTECA

ANEXO

ONU: DECLARAÇÃOSOBRE O AMBIENTE HUMANO

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DECLARAÇÃO SOBRE OAMBIENTE HUMANO

A Assembléia Geral dasNações Unidas reunida emEstocolmo, de 5a 16 de junhode 1972, atendendo ànecessidade de estabelecer umavisão global e princípioscomuns, que sirvam deinspiração e orientação àhumanidade, para a preservaçãoe melhoria do ambientehumano através dos vinte e trêsprincípios enunciados a seguir,

expressa a convicção comum de que:

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1 — O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e aodesfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qua-lidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem es-tar e é portador solene de obrigação de proteger e melhorar o meioambiente, para as gerações presentes e futuras. A esse respeito,as políticas que promovem ou perpetuam o "apartheid", a segregaçãoracial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas deopressão e de dominação estrangeira permanecem condenadas e devemser eliminadas.

2 — Os recursos naturais da Terra, incluídos o ar, a água, o solo, aflora e a fauna e, especialmente, parcelas representativas dosecossistemas naturais, devem ser preservados em benefício das ge-rações atuais e futuras, mediante um cuidadoso planejamento ouadministração adequados.

3 — Deve ser mantida e, sempre que possível, restaurada ou melhorada acapacidade da Terra de produzir recursos renováveis vitais.

4 — O homem tem a responsabilidade especial de preservar e administrarjudiciosamente o patrimônio representado pela flora e fauna silves-tres, bem assim o seu "habitat", que se encontram atualmente emgrave perigo, por uma combinação de fatores adversos. Em conseqüên-cia, ao planificar o desenvolvimento econômico, deve ser atribuídaimportância à conservação da natureza, incluídas a flora e a faunasilvestres.

5 — Os recursos não renováveis da Terra devem ser utilizados de formaa evitar o perigo do seu esgotamento futuro e a assegurar que to-da a humanidade participe dos benefícios de tal uso.

6 — Deve-se por fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outras ma-térias e à liberação de calor, em quantidades ou concentrações taisque não possam ser neutralizadas pelo meio ambiente, de modo a evi-tarem-se danos graves e irreparáveis aos ecossistemas. Deve serapoiada a justa luta de todos os povos contra a poluição.

7 — Os países deverão adotar todas as medidas possíveis para impedir apoluição dos mares por substâncias que possam por em perigo a saú-de do homem, prejudicar os recursos vivos e a vida marinha, cau-sar danos às possibilidades recreativas ou interferir com outrosusos legítimos do mar.

O — O desenvolvimento econômico e social é indispensável para assegu-rar ao homem um ambiente de vida e trabalho favorável e criar, naTerra, as condições necessárias à melhoria da qualidade da vida.

9 — As deficiências do meio ambiente decorrentes das condições de sub-desenvolvimento e de desastres naturais ocasionam graves proble-mas; a melhor maneira de atenuar suas conseqüências é promover odesenvolvimento acelerado, mediante a transferência maciça de re-cursos consideráveis de assistência financeira e tecnológica quecomplementem os esforços internos dos países em desenvolvimento ea ajjda oportuna, quando necessária.

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10 — Para os países em desenvolvimento, a estabilidade de preços e pa-gamento adequado para comodidades primárias e matérias-primas sãoessenciais à administração do meio ambiente, de vez que se deve le-var em conta tanto os fatores econômicos como os processos ecoló-gicos.

11 — As políticas ambientais de todos os países deveriam melhorar e nãoafetar adversamente o potencial desenvolvimentista atual e futurodos países em desenvolvimento, nem obstaro atendimento de melhorescondições de vida para todos; os Estados e as organizações inter-nacionais deveriam adotar providências apropriadas, visando che-gar a um acordo, para fazer frente às possíveis conseqüências eco-nômicas nacionais e internacionais resultantes da aplicação de me-didas ambientais.

12—Deveriam ser destinados recursos à preservação e melhoramento domeio ambiente, tendo em conta as circunstâncias e as necessidadesespeciais dos países em desenvolvimento e quaisquer custos que pos-sam emanar, para esses países, a inclusão de medidas de conserva-ção do meio ambiente, em seus planos de desenvolvimento, assim co-mo a necessidade de lhes ser prestada, quando solicitada, maiorassistência técnica e financeira internacional para esse fim.

13 —A fim de lograr um ordenamento mais racional dos recursos e, assim,melhorar as condições ambientais, os Estados deveriam adotar um en-foque integrado e coordenado da planificação de seu desenvolvimen-to, de modo a que fique assegurada a compatibilidade do desenvol-vimento, com a necessidade de proteger e melhorar o meio ambientehumano, em benefício de sua população.

14 — A planificação racional constitui um instrumento indispensável pa-ra conciliar as diferenças que possam surgir entre as exigênciasdo desenvolvimento e a necessidade de proteger e melhorar o meioambiente.

15—Deve-se aplicar a planificação aos agrupamentos humanos e à urba-nização, tendo em mira evitar repercussões prejudiciais ao meio am-biente e à obtenção do máximo de benefícios sociais, econômicos eambientais para todos. A esse respeito, devem ser abandonados osprojetos destinados à dominação colonialista e racista.

16—Nas regiões em que exista o risco de que a taxa de crescimento de-mográfico ou as concentrações excessivas de população prejudiquemo meio ambiente ou o desenvolvimento, ou em que a baixa densidadede população possa impedir o melhoramento do meio ambiente humanoe obstar o desenvolvimento, deveriam ser aplicadas políticas demo-gráficas que representassem os direitos humanos fundamentais e con-tassem com a aprovação dos governos interessados.

17—Deve ser confiada, às instituições nacionais competentes, a tare-fa de planificar, administrar e controlar a utilização dos recur-sos ambientais dos Estados, com o fim de melhorar a qualidade domeio ambiente.

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18 — Como parte de sua contribuição ao desenvolvimento econqmico e so-cial, devem ser utilizadas a ciência e a tecnologia para descobrir,evitar e combater os riscos que ameaçam o meio ambiente, para so-lucionar os problemas ambientais e para o bem comum da humanidade.

19—É indispensável um trabalho de educação em questões ambientais, vi-sando tanto as gerações jovens como os adultos, dispensando a de-vida atenção ao setor das populações menos privilegiadas, para as-sentar as bases de uma opinião pública bem informada e de uma con-duta responsável dos indivíduos, das empresas e das comunidades,inspirada no sentido de sua responsabilidade, relativamente à pro-teção e melhoramento do meio ambiente, em toda a sua dimensão hu-mana.

20—Deve ser fomentada, em todos os países, especialmente naqueles emdesenvolvimento, a investigação científica e medidas desenvolvi-mentistas, no sentido dos problemas ambientais, tanto nacionais co-mo multinacionais. A esse respeito, o livre intercâmbio de infor-mação e de experiências científicas atualizadas deve constituirobjeto de apoio e assistência, a fim de facilitar a solução dos pro-blemas ambientais; as tecnologias ambientais devem ser postas à dis-posição dos países em desenvolvimento, em condições que favoreçamsua ampla difusão, sem que constituam carga econômica excessiva pa-ra esses países.

21— De acordo com a Carta das Nações Unidas e com os princípios do di-reito internacional, os Estados têm o direito soberano de explorarseus próprios recursos, de acordo com a sua política ambiental,desde que as atividades levadas a efeito, dentro da jurisdição ousob seu controle, não prejudiquem o meio ambiente de outros Esta-dos ou de zonas situadas fora de toda a jurisdição nacional.

22 — Os Estados devem cooperar para continuar desenvolvendo o direitointernacional, no que se refere à responsabilidade e à indeniza-ção das vítimas da poluição e outros danos ambientais, que as ati-vidades realizadas dentro da jurisdição ou sob controle de taisEstados, causem às zonas situadas fora de sua jurisdição.

23 — Sem prejuízo dos princípios gerais, que possam ser estabelecidospela comunidade internacional e dos critérios e níveis mínimos quedeverão ser definidos em nível nacional, em todos os casos será in-dispensável considerar os sistemas de valores predominantes em cadapaís, e o limite de aplicabilidade de padrões que são válidos pa-ra os países mais avançados, mas que possam ser inadequados e dealto custo social, para os países em desenvolvimento.

Ministério do InteriorSecretaria Especial do Meio Ambiente

Brasília, junho de 1982

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