Economia - Unidade 01

Embed Size (px)

Citation preview

UNIDADE I - ECONOMIA O estudo dos aspectos econmicos da vida faz parte de uma das mais

abrangentes categorias do conhecimento humano, as cincias sociais. As cincias sociais ocupam-se dos diferentes aspectos do comportamento

humano. A economia pode ser definida como cincia social que estuda como o

indivduo e a sociedade decidem utilizar os recursos produtivos escassos, na produo de bens e servios, de modo a distribu-los entre as vrias pessoas e grupos da sociedade, com a finalidade de satisfazer s necessidades humanas. A economia centra sua ateno nas condies da prosperidade material, na

acumulao de riqueza e em sua distribuio aos que participaram do esforo social de produo. Para fundamentar compreenso de economia destaca-se:

As ligaes da economia com outras cincias sociais; A fixao dos pontos bsicos em que se apia o estudo da economia; As diferentes concepes da economia, envolvendo seu objeto e conceito; A metodologia de desenvolvimento do conhecimento econmico; As divises usuais da economia; O significado e as limitaes das leis econmicas. ECONOMIA COMO CINCIA SOCIAL 1. Economia compete o estudo da ao econmica do homem, envolvendo essencialmente o processo de produo, a gerao e a apropriao da renda, o dispndio e a acumulao. 2. Direito compete fixar com a preciso ditada pelos usos, costumes e valores da sociedade, as normas que regularo os direitos e as obrigaes individuais e sociais. 3. Sociologia ocupa-se das relaes sociais e da organizao estrutural da sociedade. 4. Antropologia Cultural volta-se para o estudo das origens e da evoluo, da organizao e das diferentes formas de expresso cultural do homem. 5. Psicologia ocupa-se do comportamento do homem, de suas motivaes, valores e estmulos.1

6. Cincia Poltica trata das relaes entre a nao e o Estado, das formas de governo e da conduo dos negcios pblicos. No se pode considerar a economia fechada em torno de si mesma, por

implicar na ao econmica sobre outros aspectos da vida humana, como na abertura de suas fronteiras s demais reas das cincias humanas. Esta abertura se d em dupla direo, assumindo assim um carter

biunvoco. Por qu? 1. A economia buscar alicerar seus princpios, conceitos e modelos tericos no apenas na sua prpria coerncia, consistncia e aderncia realidade, mas ainda nos desenvolvimentos dos demais campos do conhecimento social. 2. A economia pode influir no questionamento dos princpios e das aquisies conceituais desses mesmos campos.

Antropologi a cultural Direito Psicologia

Filosofia

Sociologia

tica

Poltica

Economia

Figura 1.1 - Carter biunvoco das relaes da economia com outros ramos do conhecimento social 2

Os problemas econmicos no tem contornos bem delineados. Eles se estendem perceptivelmente pela poltica, pela sociologia e pela tica, assim como h questes polticas, sociolgicas ou ticas que so envolvidas ou mesmo decorrentes de posturas econmicas. No ser exagero dizer que a resposta final s questes cruciais da economia encontra-se em algum outro campo. Ou que a resposta a outras questes humanas, formalmente tratadas em outras esferas das cincias sociais, passar necessariamente por alguma reviso do ordenamento real da vida econmica ou do conhecimento econmico. Kenneth Boulding

Fatores condicionantes da ao, das relaes e do comportamento econmico

Formas de organizao poltica da sociedade

Posturas tico-religiosas

Modos de relacionamento social

Condies limitativas do meio ambiente Estruturao da ordem jurdica Padres das conquistas tecnolgicas

Formao Cultural da sociedade

Fatores que podem ser condicionados pela ao, pelas relaes e pelo comportamento econmico

Figura 1.2. A ao econmica e seus principais condicionamentos. 3

DE QUE SE OCUPA A ECONOMIA

Escassez Emprego Produo Agentes Trocas Valor Moeda Preos

Mercados Concorrncia Remuneraes Agregados Transaes Crescimento Equilbrio Organizao

1. Escassez: a escassa disponibilidade de recursos para o processo produtivo. Sua conformao. Seus custos. Sua exausto ou capacidade de renovao. 2. Emprego: o emprego dos recursos. A ociosidade dos que se encontram disponveis. O desemprego, suas causas e conseqncias. 3. Produo: o processo produtivo como categoria bsica. Decorrncias da produo: a gerao de renda, o dispndio e a acumulao. A riqueza, a pobreza e o bem-estar. 4. Agentes: como se comportam os agentes econmicos. Em que conflitos de interesse se envolvem. Quais suas funes tpicas. Quais suas motivaes. 5. Trocas: fundamentos do sistema de trocas: diviso do trabalho, especializao, busca por economias de escala. 6. Valor: fundamentos do valor dos recursos e dos produtos deles decorrentes. Razes objetivas e subjetivas que definem o valor. 7. Moeda: como e por que se deu seu aparecimento. Como evolui. Formas atuais e futuras de moeda. Razes da variao de seu valor. Conseqncias das duas categorias bsicas de variao do valor da moeda: a inflao e a deflao. 8. Preos: diferentes abordagens. Os preos como expresso monetria do valor. Como resultado da interao de foras de oferta e de procura. Como orientadores para o emprego dos recursos. Como mecanismos de coordenao do processo econmico como um todo. 9. Mercados: tipologia e caractersticas dos mercados. A procura e a oferta: fatores determinantes. O equilbrio, as funes e as imperfeies dos mercados.4

10. Concorrncia: diferentes estruturas concorrncias: da concorrncia perfeita ao monoplio. Impactos sociais de cada uma delas. Funes da concorrncia. Razes para controle de suas imperfeies. 11. Remuneraes: tipologia e caractersticas das diferentes formas de remunerao pagas aos recursos de produo. Os salrios, os juros, as depreciaes, os alugueis, os royalties, o lucro. Natureza de cada uma dessas formas. Conflitos que decorrem de suas diferentes participaes na renda da sociedade como um todo. 12. Agregados: denominao dada s grandes categorias da contabilidade social, como o produto interno bruto. Como medi-los. O que significam. Como empreg-los para aferir o desempenho da economia como um todo. 13. Transaes: categorias bsicas: reais e financeiras. Abrangncia: internas, de mbito nacional; externas, de mbito internacional. Meios de pagamento envolvidos. Causas e conseqncias de desequilbrios, notadamente no mbito externo. 14. Crescimento: a expanso da economia como um todo. Crescimento e desenvolvimento: diferenas conceituais. Crescimento e ciclos econmicos. 15. Equilbrio: como se estabelece o equilbrio geral, esttico e dinmico do processo econmico. Quais mecanismos do sustentao ao processo econmico. 16. Organizao: formas alternativas, do ponto de vista institucional, para a organizao econmica da sociedade. Antagonismo entre o capitalismo liberal e o socialismo centralista. Matrizes ideolgicas que os suportam. Padres e desdobramentos das alternativas extremadas. Os objetivos e resultados. QUANTIFICAO DA REALIDADE ECONMICA O que distingue a economia de outros ramos do conhecimento social a

possibilidade de alguma forma de mensurao. Em economia possvel: Quantificar os resultados. Construir identidades quantificveis. Estabelecer relaes quantitativas entre diferentes categorias de transaes. Desenvolver modelos explicativos da realidade, baseados em sistemas de equaes simultneas. Proceder a anlises fundamentais em parmetros quantificados. Desenvolver sistemas quantitativos para diagnstico e prognstico.5

Esta particularidade da economia possibilitou o surgimento de correntes

econmicas fundamentadas no mtodo matemtico, com destaque para a econometria. A econometria um ramo da economia que combina a anlise econmica,

a matemtica e a estatstica. Trabalha com a determinao, por mtodos matemticos e estatsticos, de leis quantitativas que regem a vida econmica. A anlise economtrica hoje especialmente til tanto para prever o futuro,

como para analisar polticas pblicas. Com a expanso das atividades econmicas dos governos nacionais, tornou-se crescente a necessidade de determinar com exatido os efeitos da atuao do setor publico sobre os indivduos e as organizaes empresariais. UNIDADES ADOTADAS Base do processo de quantificao econmica:

Moeda (unidade de conta e denominador comum de valores) Unidades no monetrias completam as quantificaes em unidade monetriasMonetrias Unidades adotadas No monetrias Variveis-fluxo Distino fundamental entre variveis econmicas Variveis-estoque quantificveis Relaes funcionais Lineares No lineares Relaes entre variveis Relaes incrementais Moeda corrente do pas Divisas externas Relaes cambiais Sistemas metrolgicos usuais e suas converses Indicam magnitudes medidas ao longo de determinado perodo de tempo. Ex: PIB anual Indicam magnitudes medidas em determinado momento. Ex: Reservas cambiais de um pas Indicam relaes entre duas variveis, expressando a correspondncia funcional entre elas. Ex: Relao consumo e renda Indicam variaes cumulativas, no decurso de sries histricas, entre duas variveis. Ex: Relao renda nacional e a massa salarial. Indicam a interdependncia de conjuntos interconsistentes de variveis. Ex: Matriz insumo/produo

Relaes matriciais

6

Formas usuais de indicaes quantitativas

Indicam variaes de grupos, de conjuntos ou de agregaes de dados econmicos. Ex: INPC ndice Nacional de Preos ao Consumidor Medidas de tendncia Expressam em termos mdios, central medianos ou modais a observao de determinada situao ou transao econmica. Ex: Taxas de Juros Quocientes Resultado da diviso de variveis econmicas, expressando: Variaes ao longo do tempo. Propores em determinado momento. Ex: Taxa de Desemprego Coeficientes Expressam parmetros de correlao, simples ou mltipla, entre variveis econmicas. Expressam graus de concentrao (ou de disperso) de determinadas condies estruturais da economia. Ex: Coeficiente de Pareto Valores absolutos Expressam resultados de transaes Especficas, de um dado agente, ou interagentes. Da atividade econmica agregativamente considerada Ex: Censos Demogrficos Nmeros-ndices

Quadro 1.1 A quantificao da realidade e as variveis econmicas: formas usuais de indicaes quantitativas

CONCEITO DE ECONOMIA No incio, a denominao usual da economia era economia poltica. Da Antiguidade ao Renascimento, as questes econmicas de maior

relevncia eram os sistemas de posse territorial, arrecadao de tributos, a organizao das primeiras concesso de mercados, o comercial inter-regional, a emprego de moedas. Cada uma dessas questes era ngulos da poltica, da filosofia e do direito.

a servido, a corporaes, a cunhagem e o tratada sob os

As dimenses da economia, enquanto ramo do conhecimento, s

alargaram com maior complexidade aps o renascimento, com o desenvolvimento dos novos Estados - Naes mercantilistas. Nesse perodo observa-se o nascimento do primeiro conjunto de idias mais sistematizadas sobre o comportamento econmico.

7

Essas idias estavam baseadas numa definio de economia como o

ramo do conhecimento essencialmente voltado para a administrao do Estado, sob o objetivo de promover seu fortalecimento. CONCEITO CLSSICO No sculo XVIII, novas concepes se desenvolveram. A preocupao

central j no era com o fortalecimento do Estado, mas com a riqueza das naes. Duas obras foram importantes foram publicadas e, com elas, segundo se

convencionou, abriu-se uma nova era no estudo da economia: 1. Franois Quesnay e seu Quadro Econmico de 1758. 2. Adam Smith e suas obras Sentimentos Morais (1759) e A Riqueza das Naes (1776). O polinmio base do conceito clssico de economia : A Formao, A

Acumulao, A Distribuio, O Consumo da Riqueza. Definio de Jean Baptiste Say:

A economia poltica torna conhecida a natureza da riqueza; desse conhecimento de sua natureza deduz os meios de sua formao, revela a ordem de sua distribuio e examina os fenmenos envolvidos em sua distribuio, praticada atravs do consumo. CONCEITO NEOCLSSICO Os

neoclssicos no estavam preocupados com o processo de acumulao capitalista e nos mecanismos de repartio dos esforos sociais. Eles buscaram entender o equilbrio do processo econmico, tal como se apresentava.

Estavam preocupados com a iniqidade social, mas no propuseram

formas alternativas e revolucionrias para a organizao econmica da sociedade. Eles sintetizaram os temas cruciais da economia em um novo trinmio:

riquezapobrezabem-estar. E anteciparam os fundamentos da conduta econmica do homem: a escassez de recursos diante de necessidades ilimitveis, cujo principal elemento era a maximizao da utilidade. Alfred Marshall sintetizou os pontos fundamentais da abordagem

neoclssica:8

1. As necessidades e os desejos humanos so inmeros e de vrias espcies. 2. As mudanas nos estgios culturais das sociedades organizadas implicam maior quantidade e diversidade de utilidades. 3. A economia um estudo dos homens tal como vivem, agem e pensam nos assuntos ordinrios da vida. A PERSPECTIVA SOCIALISTA O binmio produo-distribuio a base a partir da qual a perspectiva

socialista construiu sua concepo sobre a matria de que se ocupa a economia. Figura de maior destaque foi Karl Marx(1818-1883). O estudo das leis sociais que regulam a produo e a distribuio dos

meios materiais destinados a satisfazer s necessidades humanas resume o campo de que se ocupa a economia. A SISTEMATIZAO DE ROBBINS Menos influenciada por sistemas ideolgicos, uma tentativa mais recente

de caracterizar os fatos econmicos e delimitar com maior nitidez os aspectos econmicos da vida social foi empreendida em 1930, em um notvel ensaio de Lionel Robbins sobre a natureza e o significado da economia. Os pontos que a sistematizao de Robbins se fixou foram:

1. Multiplicidade de fins que a humanidade procura alcanar. 2. A priorizao de fins possveis: podem ser classificados por ordem de prioridade 3. A limitao dos meios para alcanar os fins possveis 4. O emprego alternativo dos meios. O fator de maior importncia e que faz a ligao entre as quatro

condies acima a capacidade humana de fazer escolhas. O fato econmico resume-se, assim, nos atos de escolha entre fins

possveis e meios escassos aplicveis a uso alternativos. Qualquer escolha feita pelos indivduos, empresas, governos ou outros

agentes econmicos quanto alocao de recursos implica, portanto, uma relao entre custos (meios empregados) e benefcios (fins alcanados), bem como a ocorrncia de custos de oportunidade (outros fins que, com os mesmos recursos, poderiam ter sido alcanados). Desta sistematizao resulta, um conceito de economia essencialmente vinculado ao fato econmico.9

A economia a cincia que estuda as formas de comportamento

humano resultantes da relao existente entre as ilimitadas necessidades a satisfazer e os recursos que, embora escassos, se prestam a usos alternativos. COMPARTIMENTALIZAO USUAL DA ECONOMIA Economia Positiva Trata a realidade como ela .

Ex: A ciso do tomo impossvel Ex: Quais so as medidas que reduzem o desemprego e quais as que evitam a inflao. Economia Normativa Considera mudanas nessa mesma realidade,

propondo como ela deve ser. Ex: Os cientistas no devem proceder ciso do tomo Ex: Devemos dar mais importncia ao desemprego do que inflao. A economia descritiva e a teoria econmica situam-se no campo da

economia positiva. A poltica econmica normativa.

Figura 1.3: Compartimentos usuais da economia: conexes entre principais segmentos 10

A MICROECONOMIA: ABORDAGEM MICROSCPICA Estuda o consumidor e a empresa Comportamento do consumidor Comportamento da empresa Oferta e procura dos produtos A estrutura e os mecanismos de funcionamento dos mercados As funes e as imperfeies dos mercados As remuneraes pagas aos agentes que participam do processo

produtivo e a conseqente repartio funcional da renda social A interface entre custos e benefcios privados e o interesse maior do bem

comum A MACROECONOMIA: ABORDAGEM MACROSCPICA Comportamento da economia em seu conjunto O desempenho totalizado da economia Os agregados econmicos As relaes entre macrovariveis Variveis-fluxo e variveis-estoque As trocas internacionais de bens e servios As finanas pblicas As grandes disfunes da economia O crescimento e o desenvolvimento das economias nacionais Os

indicadores bsicos para comparaes desempenho totalizado das economias nacionais

internacionais

do

11

POLTICA ECONMICA um ramos da economia normativa que integra o universo maior da

poltica pblica. Formulao e execuo da poltica econmica: A determinao dos principais objetivos que se pretendem alcanar,

consistentes com outros fins polticos e sociais A escolha dos instrumentos que sero manejados para a consecuo dos objetivos determinados. OBJETIVOS BSICOS DA POLITICA ECONMICA O crescimento econmico

A melhoria ou expanso das disponibilidades de recursos para expanso econmica. A implantao da infra-estrutura adequada. A adequao da capacidade de financiamento para as necessidades de investimento. A estabilidade econmica

A estabilidade geral do processo econmico. A estabilidade do nvel geral dos preos. O equilbrio nas transaes econmicas com o exterior. A equidade

Uma distribuio equitativa da renda e da riqueza. A reduo ou a total remoo dos bolses de pobreza absoluta. A reduo do contingente dos excludos do quadro socioeconmico. INSTRUMENTOS DA POLITICA ECONMICA Instrumentos fiscais Manejo de finanas pblicas. Instrumentos monetrios Manejo de operaes que regulam o

suprimento de meios de pagamento. Instrumentos cambiais Manejo de taxa de cmbio da moeda

nacional. Intervenes diretas Intervenes exercidas sobre as atividades de

agentes econmicos individuais, sobre remuneraes dos recursos de produo, sobre os preos dos produtos e mesmo sobre o comportamento das empresas dos consumidores.12

O SIGNIFICADO E AS LIMITAES DA ECONOMIA A economia uma cincia social que no se pode considerar como

fechada em torno de si mesma Os problemas econmicos tm contornos que no se limitam apenas a

realidade investigada pela economia A sistematizao da realidade econmica envolve sistemas de valores e

matrizes ideolgicas As leis econmicas so leis sociais e no relaes exatas Os

modelos empregados probabilsticas da realidade.

pelos

economistas

so

simplificaes

CARTER PROBABILSTICO DAS LEIS ECONMICAS Diferencia as formas como suas leis so estabelecidas e aplicadas

daquelas que se estabelecem e se aplicam do campo das cincias experimentais: 1. No possvel isolar, para observao, nem controlar por completo, qualquer aspecto particular da realidade econmica. 2. As leis econmicas tm carter probabilstico. 3. As teorias e os modelos econmicos so simplificaes da realidade. BIBLIOGRAFIA

ROSSETI, Jos Pascoal. Introduo Econmica. 20ed., So Paulo: Ed.

Atlas. 2003.

13