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ECOSISTEMAS E BEM ESTAR HUMANO: CONDUZINDO E USANDO AVALIAÇÕES INTEGRADAS MANUAL DE FORMAÇÃO 1

ECOSISTEMAS E BEM ESTAR HUMANO: CONDUZINDO E … · dos ecosistemas para o alívio da pobreza e bem estar humano. O módulo está ... 2. Importância das ... de resposta para alcançar

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ECOSISTEMAS E BEM ESTAR HUMANO: CONDUZINDO E

USANDO AVALIAÇÕES INTEGRADAS

MANUAL DE FORMAÇÃO

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ÍNDICE

Agradecimentos ………………………………………………………………......3

Como usar este manual de formação .………………………………………….....4

Introdução …………………………………………………………………….......5

Sub-módulo 1: História, contexto e definições das avaliações ecosistémicas …..7

Sub-módulo 2 : Importância das Avaliações Ecosistémicas para o Alívio da

Pobreza e Bem Estar Humano ……………………………………………….......21

Sub-módulo 3: Quadro Conceptual da Avaliação Ecosistémica do Milénio …...34

Sub-módulo 4: Introdução às abordagens para avaliar as condições e tendências, cenários e respostas ……………………………………………………….............45

Sub-módulo 5: Como desenhar um curso de formação: notas …………………76

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AGRADECIMENTOS

Os materiais de formação apresentados neste manual baseiam-se no trabalho da Avaliação Ecosistémica do Milénio para a África Austral (SAfMA) e da Avaliação Ecosistémica do Milénio (MA). O apoio financeiro para a elaboração e teste destes materiais foi fornecido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) através do Instituto de Estudos Avançados (IAS) da Universidade das Nações Unidas (UNU).

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COMO USAR ESTE MANUAL DE FORMAÇÃO

Este manual faz parte de um pacote de materiais composto por (para além do manual): um DVD e cópias dos relatórios do SAfMA e MA, assim como outros materiais de leitura. O manual deve ser usado com os outros componentes do pacote dado que se complementam entre si. As referências completas dos vários relatórios e materiais de leitura são dadas na secção “Referências” no final de cada sub-módulo. Estes materiais de formação foram testados num Curso de “Treino para Formadores” que foi realizado na Universidade de Rhodes, África do Sul, em Setembro de 2005. O curso teve a participação de pessoas do Quénia, Mali, Mauritânia, Moçambique, Ruanda, Tanzania e Uganda. O DVD contém o curso completo ministrado na Universidade de Rhodes, incluindo as apresentações em áudio e ‘power point’ de cada sub-módulo. Algumas das secções no manual podem parecer muito pequenas, mas se o manual for usado em conjunto com os outros componentes do pacote, será possível perceber a amplitude dos materiais.

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INTRODUÇÃO Todas as pessoas em toda o lado estão completamente dependentes dos ecosistemas da Terra e dos serviços que eles prestam tais como alimentação, água, regulação do clima, satisfação espiritual e prazer estético. Os seres humanos influenciam e são influenciados pelos ecosistemas através duma cadeia de processos interactivos, múltiplos e complexos. O bem estar humano e a redução da pobreza dependem do melhoramento da gestão dos ecosistemas da Terra para garantir a sua conservação e uso sustentável. Enquanto que a procura de serviços ecosistémicos tais como comida e água limpa têm vindo a aumentar, as acções humanas têm vindo ao mesmo tempo a reduzir a capacidade de muitos ecosistemas de satisfazer essa procura. Intervenções correctas no campo da política e da gestão podem reverter a degradação ecosistémica e melhorar as contribuições dos ecosistemas para o bem estar humano. Tais políticas e intervenções precisam de ser fundamentadas em avaliações integradas dos ecosistemas, envolvendo a identificação, avaliação e realização de acções práticas que podem melhorar o bem estar sem prejudicar os ecosistemas. As acções realizadas devem abranger o nível de acesso e sustentatibilidade dos recursos naturais e sistemas, junto com os seus produtos, para benefício das sociedades humanas assim como para a manutenção destes sistemas por direito próprio. Elas têm também de examinar de que forma as capacidades dos ecosistemas têm sido comprometidas ou melhoradas, e quais os mecanismos que podem ser usados para melhorar o acesso e a oferta de serviços para o bem estar humano. Estas acções devem examinar ainda todos os recursos simultaneamente e de forma integrada, e devem avaliar os trade-offs passados e potenciais no futuro junto com as respectivas consequências. Dadas as ligações complexas entre os ecosistemas e o bem estar humano, um pré-requisito para a análise e acção é haver um acordo sobre um quadro conceptual básico. Um quadro bem desenhado, tanto para a avaliação como para a acção, fornece um estrutura lógica para avaliar o sistema, garante que os componentes essenciais do sistema são abordados assim como as relações entre esses componentes, dá um peso apropriado aos diferentes componentes do sistema, e destaca as suposições e lacunas importantes no conhecimento (MA, 2003). Sem uma tal abrangência, contudo, não é possível que a avaliação atinja o seu objectivo de compreender os factores de mudança, naturais e sociais, múltiplos e complexos, que afectam os ecosistemas e como a sociedade pode responder de forma positiva para manter os serviços ecosistémicos que são essenciais para o bem estar humano. Um dos esforços para fornecer aos dirigentes informação sobre as consequências da mudança ecosistémica para o bem estar humano foi a Avaliação Ecosistémica do Milénio (MA). O MA foi uma avaliação global levada a cabo entre 2001 e 2005 para analisar as consequências da mudança ecosistémica para o bem estar humano. O objectivo geral do MA era fornecer informação científica que pudesse estimular e orientar as decisões e acções de políticas para conservar os ecosistemas, melhorar o bem estar humano e reduzir a pobreza. O MA também procurou aumentar a capacidade institucional para executar e usar a informação proveniente das avaliações ecosistémicas integradas. O MA desenhou um quadro (o Quadro Conceptual do MA) para apoiar os analistas e dirigentes a enfrentar o desafio de incluir os factores ecosistémicos na planificação e gestão. A Avaliação Ecosistémica do Milénio na África Austral (SAfMA) foi uma das principais avaliações ao nível sub-global do processo do MA. O SAfMA consistiu num conjunto de avaliações integradas e pluri-escalares ao nível regional, ao nível de bacias hidrográficas e ao nível local na região da África Austral. O MA estava excepcionalmente bem colocado para contribuir para o desenvolvimento da capacidade institucional para realizar avaliações

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ecosistémicas integradas, em particular por se basear na experiência e conhecimentos técnicos do SAfMA. O MA beneficiou também de uma extensa base de experiências de mais de trinta avaliações sub-globais em vários locais de todo o mundo, que no seu conjunto representaram um recurso importante de métodos, instrumentos e abordagens relevantes para as avaliações. O presente módulo de formação “Ecosistemas e Bem Estar Humano: Conduzindo e Usando Avaliações Integradas” baseia-se no Quadro Conceptual do MA assim como, em grande parte, nas experiências do SAfMA. O Quadro Conceptual do MA associa explicitamente os serviços ecosistémicos com o bem estar humano e a redução da pobreza. Os materiais neste módulo foram desenhados para serem usados em cursos de formação destinados a aumentar a capacidade de conduzir e usar as avaliações ecosistémicas integradas nos países africanos. Por isso, faz-se uma referência explícita aos ‘alunos’ em muitas secções do módulo. Este módulo é uma contribuição para o projecto ‘Fortalecimento da Política e Capacidade de Gestão Ambiental aos Níveis Local e Nacional como Contribuição para o Alívio da Pobreza e Desenvolvimento Sustentável em África’ do Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP). Este módulo é uma introdução aos conceitos e abordagens de avaliação e examina as ligações e efeitos retroactivos entre o bem estar humano e os serviços ecosistémicos. O módulo usa o quadro conceptual da Avaliação Ecosistémica do Milénio (MA) para avaliar a importância dos ecosistemas para o alívio da pobreza e bem estar humano. O módulo está dividido nos seguintes sub-módulos:

1. História, Contexto e Definições das Avaliações Ecosistémicas. 2. Importância das avaliações ecosistémicas para o alívio da pobreza e bem estar humano 3. Quadro Conceptual da Avaliação Ecosistémica do Milénio (MA). 4. Introdução às abordagens para avaliar as condições e tendências, cenários e respostas. 5. Como organizar e conduzir um curso de formação sobre avaliações ecosistémicas.

Neste módulo são destacados os seguintes temas:

• As características únicas do quadro conceptual do MA e como ele se diferencia de outros quadros para avaliação de ecosistemas;

• Importância das avaliações ecosistémicas para o alívio da pobreza e bem estar humano;

• Abordagens para avaliar as condições e tendências dos serviços ecosistémicos assim como do bem estar humano e da redução da pobreza;

• Desenvolver e divulgar cenários de mudanças plausíveis nos factores de mudança dos ecosistemas e seus serviços, assim como do bem estar humano;

• Avaliar as respostas para identificar as acções – nomeadamente políticas, mudanças tecnológicas, instrumentos económicos ou comportamentos - que podem ser dadas para melhorar o bem estar humano e conservar os ecosistemas; e

• Organizar cursos de formação sobre como conduzir e usar avaliações integradas dos ecosistemas e do bem estar humano.

Os materiais apresentados neste módulo não são exaustivos, mas destinam-se a fornecer uma estrutura à volta da qual se pode desenhar cursos individuais de formação. O módulo deve ser enriquecido com exemplos locais, informação sobre os vários relatórios da Avaliação Ecosistémica do Milénio e outros recursos. No final de cada sub-módulo são dadas referências e materiais para leituras posteriores.

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SUB-MÓDULO 1

HISTÓRIA, CONTEXTO E DEFINIÇÕES DAS AVALIAÇÕES ECOSISTÉMICAS

Christo Fabricius

Universidade de Rhodes, Grahamstown, África do Sul

INTRODUÇÃO Objectivo do Sub-módulo O objectivo deste sub-módulo é introduzir os alunos às realidades concretas de uma avaliação em escalas múltiplas. Resultados específicos No final deste sub-módulo, os alunos estarão aptos a:

1. Definir conceitos importantes relativos aos ecosistemas 2. Demonstrar um conhecimento sobre as principais abordagens nas avaliações

ecosistémicas 3. Demonstrar um conhecimento sobre os avanços científicos ao conceber a avaliação de

sistemas integrados complexos 4. Demonstrar uma compreensão sobre a importância da cultura e perspectiva mundial

ao definir o conhecimento ecológico Conteúdo do sub-módulo Neste sub-módulo serão abrangidos os seguintes tópicos: 1. A necessidade de avaliações integradas 2. Questões abordadas nas avaliações integradas 3. Tipos de avaliações 4. Características das avaliações integradas 5. Ligações entre os ecosistemas e o bem estar humano 6. Algumas definições e conceitos 1. Porquê a necessidade de avaliações ecosistémicas integradas? Usos das avaliações ecosistémicas integradas As avaliações ecosistémicas integradas são úteis para: • Identificar prioridades para acção; • Servir como um ponto de referência para avaliações futuras; • Fornecer um enquadramento e uma fonte de instrumentos para avaliação, planificação e

gestão; • Fazer uma previsão em relação às consequências das decisões que afectam os

ecosistemas; • Identificar opções de resposta para alcançar os objectivos de desenvolvimento humano e

sustentatibilidade; • Desenvolver a capacidade individual e institucional para realizar avaliações ecosistémicas

integradas e agir de acordo com as constatações; e • Orientar futuras investigações.

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2. Questões abordadas nas avaliações integradas As perguntas apresentadas em baixo são exemplos do tipo de questões que as avaliações ecosistémicas integradas podem encontrar: • Quais são as actuais condições e tendências dos ecosistemas, serviços ecosistémicos e

bem estar humano? • Quais são as mudanças plausíveis no futuro nos ecosistemas e seus serviços ecosistémicos

e as mudanças consequentes no bem estar humano? • O que pode ser feito para melhorar o bem estar e conservar os ecosistemas? • Quais são as forças e fraquezas das opções de resposta que podem ser tomadas em conta

para atingir ou evitar futuros específicos? • Quais são as incertezas principais que dificultam a tomada de decisões relacionadas com

os ecosistemas? • Quais os instrumentos e metodologias desenvolvidos e usados no MA que podem reforçar

a capacidade de avaliar os ecosistemas, os serviços que eles fornecem, os seus impactos sobre o bem estar humano e as forças e fraquezas das opções de resposta?

Questões de gestão Os gestores podem ter um conjunto diferente de perguntas, por exemplo:

• Que componentes do sistema são essenciais para o bem estar humano? • Que componentes são críticos para a integridade ecosistémica? • Quais os processos que são essenciais? • Como funcionam estes processos? • Quais são os principais inputs e resultados? • Onde estão os principais furos no sistema, o que os provoca, e como podem ser

‘tapados’? • A que escalas espaciais e ritmos temporais o processo funciona? • Quais são os limites superiores e inferiores, antes ou a partir dos quais os processos

críticos cessarão de funcionar ou irão funcionar de forma diferente? • Que outros processos estão associados a estes processos críticos, e de que forma?

3. Exemplos de outros tipos de avaliações Existem muitas técnicas diferentes para avaliar as relações entre as pessoas e os ecosistemas, por exemplo: • Avaliações de Impacto Ambiental (AIAs): avaliar os impactos que as actividades

associadas a um projecto particular podem ter sobre o meio ambiente e a sociedade. • Avaliações Ambientais Estratégicas (AAEs): a um nível mais estratégico, para

desenvolver políticas, planos e programas de gestão dos recursos naturais aos níveis nacional e por vezes regional, incorporando muitas vezes objectivos de desenvolvimento sustentável.

Relatórios sobre o Estado do Meio Ambiente (SOE) • Os relatórios do SOE costumavam tradicionalmente destacar as condições do ambiente

biofísico. • Os relatórios do SOE usam normalmente o quadro ‘SPIR’ (Estado, Pressão, Impacto e

Resposta) • Estado: condições e tendências • Pressão: factores determinantes, causas de mudança • Impacto: mas que não corresponde verdadeiramente a cenários • Resposta: o que está sendo feito e com que resultados; quais são as outras opções.

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• Três características fundamentais dos relatórios do SOE de boa qualidade: - Analisar e apresentar informação ambiental para apoiar a planificação e a gestão - Mostrar as mudanças nas condições ambientais ao longo do tempo e do espaço - Descrever as ligações entre os factores biofísicos e socio-económicos – dentro do

contexto do desenvolvimento sustentável. Diferença entre o MA e os relatórios do SOE Existem algumas semelhanças • O processo de avaliação analisa as constatações da ciência para servir as necessidades dos

decisores • Os factores determinantes, as condições e tendências, assim como as respostas, são

elementos importantes do quadro conceptual do MA e não ocorrem necessariamente nos relatórios do SOE.

O MA oferece um paradigma e um kit de ferramentas significativamente diferentes • Serviços ecosistémicos: os benefícios que as pessoas obtêm dos ecosistemas • Bem estar humano: as dimensões do bem estar humano e como elas dependem dos

ecosistemas • O uso de cenários como uma componente importante da avaliação • Uma abordagem integrada multi-sectorial que combina as ciências naturais e sociais • Desenho e abordagem numa escala múltipla • Avaliação vs Revisão 4. Características das avaliações integradas • Transparência • Legitimidade • Saliência (ou utilidade prática), e • Credibilidade Os produtos resultantes das avaliações (tais como os relatórios) devem ser relevantes para as políticas, mas não defensores das políticas. Uma avaliação relevante para as políticas consiste num processo social para analisar as constatações da ciência para servir as necessidades dos decisores. Interpretação da ‘montanha informativa’ Um dos desafios principais das avaliações integradas é combinar diferentes fontes de dados formais, informais, qualitativos e quantitativos para informar os dirigentes. A Figura 1.1 mostra a transformação dos dados através da adição de valores.

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Figura 1.1 A montanha informativa

Formas de integrar a informação • Comparação • Avaliação • Sumarização • Síntese • Análise As Avaliações Integradas têm Maior Capacidade de Examinar os Trade-offs Envolvidos nas Decisões sobre a Gestão dos Recursos Existem muitas vezes trade-offs entre as intervenções para promover o bem estar humano e a conservação dos ecosistemas (Figura 1.2). Os diferentes serviços ecosistémicos muitas vezes ‘disputam’ o mesmo recurso. As avaliações integradas permitem aos decisores basear estes trade-offs na melhor informação disponível, e ter consciência dos custos e benefícios envolvidos.

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Figura 1.2 As avaliações integradas têm maior capacidade para examinar os trade-offs envolvidos na decisões sobre a gestão dos recursos Uma Avaliação Integrada Examina os Vários Factores de Determinantes da Mudança Ecosistémica As avaliações integradas reconhecem a existência de vários factores de mudança, como mostra a Figura 1.3, e que eles trabalham em sinergia, além de que os diferentes factores determinantes têm efeitos em escalas espaciais diversas.

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Figura 1.3 Uma avaliação integrada examina os múltiplos factores determinantes da mudança ecosistémica. A natureza pluri-escalar das avaliações integradas – As avaliações integradas devem ser desenhadas para recolher informação em várias escalas espaciais. Na Avaliação Ecosistémica do Milénio na África Austral (SAfMA), por exemplo, os ecosistemas e o bem estar humano foram avaliados em três escalas espaciais (regional, bacia hidrográfica e local) como mostra a Figura 1.4.

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Figura 1.4 A Avaliação Ecosistémica do Milénio na África Austral em múltiplas escalas e o seu desenho integrado. O MA é uma Avaliação Pluri-Escalar com Vários Níveis de Integração– Os processos e os utentes relevantes variam nas respectivas escalas (Figura 1.5). Algumas questões em termos de escala a considerar numa Avaliação Pluri-Escalar: • A escala envolve tanto a extensão espacial como a duração – Os processos "grandes" são muitas vezes “lentos”; os processos "pequenos" são muitas vezes "rápidos" • Algumas variáveis dependem da escala – Necessidade de traduzir para uma escala comum para fazer uma comparação entre as escalas – Não se pode assumir que os resultados numa determinada escala sejam automaticamente válidos noutra escala. • Os processos ecológicos e humanos apresentam escalas características. – A extensão/duração média em que o processo tem impacto – Intuitivamente: a extensão e profundidade de um “footprint ecológico” • É importante escolher a escala apropriada para uma avaliação – A escolha pode ser subjectiva mas não deve ser arbitrária

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Figura 1.5 O MA é uma avaliação pluri-escalar com vários níveis de agregação – Um ecosistema bem definido tem fortes interacções/retroacções dentro do sistema, com interacções mais fracas através das fronteiras Combustível lenhoso: síntese trans-escalar – as faltas e a abundância de combustível lenhoso, por exemplo, mostram padrões geográficos semelhantes nas três escalas espaciais, como mostra a Figura 1.6. A disponibilidade de água, por outro lado, está distribuída de modo irregular em todas as três escalas.

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Figura 1.6 Síntese trans-escalar do Combustível Lenhoso 5. Serviços Ecosistémicos: Benefícios obtidos pelas pessoas a partir dos ecosistemas Abastecimento Bens produzidos ou fornecidos pelos ecosistemas

• Comida • Água doce • Lenha • Recursos genéticos

Reguladores Benefícios obtidos da regulação dos processos ecosistémicos

• Regulação climática

• Regulação de doenças

• Regulação de cheias

Culturais Benefícios não materiais dos ecosistemas

• Espirituais • Recreativos • Estéticos • Inspiradores • Educacionais

Apoio Serviços necessários para a produção de outros serviços ecosistémicos

• Formação dos solos • Produção regular de nutrientes

• Produção primária Uma visão genérica da construção do bem estar – A finalidade das intervenções e as respostas das políticas são para promover tendências que afastem o ‘mal estar’ (p. ex. falta de poder, faltas materiais, vulnerabilidade) e que favoreçam o ‘bem estar’ (liberdade, segurança, bens materiais para uma vida boa) (Figura 1.7).

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Fonte: MA 2003 Figura 1.7 As principais dimensões do bem estar e do seu oposto, o mal estar As dimensões do bem estar e do seu oposto, o mal estar, reforçam-se umas às outras, seja em termos negativos ou positivos. A mudança de uma, provoca mudanças nas outras. O MA analisa as Consequências da Mudança Ecosistémica para o Bem Estar Humano, e particularmente as relações e efeitos retroactivos entre o bem estar humano e a integridade ecosistémica (Figura 1.8). Os ecosistemas estão associados ao bem estar humano através dos serviços de abastecimento, de regulação, culturais e de apoio, visto que estes dão contribuições insubstituíveis para o bem estar humano (Figura 1.9). Os ecosistemas também possuem valores económicos directos, que vão além da simples produção agrícola. Estes valores são em grande parte superiores aos valores agrícolas.

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Figura 1.8 O MA analisa as consequências da mudança ecosistémica para o bem estar humano

Figura 1.9 Ligações entre o bem estar humano e o ecosistema

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6. Definições e conceitos Factor de Mudança

• Qualquer factor natural ou induzido pelo homem que directa ou indirectamente provoca uma mudança no ecosistema.

• directo: influencia inequivocamente os processos ecosistémicos e pode portanto ser identificado e medido com diferentes graus de precisão.

• endógeno: a magnitude pode ser influenciada pelo decisor. A característica endógena ou exógena de um factor de mudança depende do grau organizacional.

• exógeno: não pode ser alterado pelo decisor. Ver também factor de mudança endógeno.

• indirecto: opera alterando o nível ou o ritmo de mudança de um ou mais factores de mudança directos.

Ecosistema • Um complexo dinâmico de comunidades de plantas, animais e microorganismos e o ambiente não vivo que os rodeia interagindo como uma unidade funcional.

• .avaliação…: um processo social através do qual as constatações da ciência referentes às causas das mudanças ecosistémicas, suas consequências para o bem estar humano, assim como as opções de gestão e de políticas são analisadas para atender às necessidades dos decisores. • saúde…: medição da estabilidade e sustentatibilidade do funcionamento ecosistémico ou dos serviços ecosistémicos que dependem de um ecosistema ser activo e manter a sua organização, autonomia e resiliência ao longo do tempo. A saúde ecosistémica contribui para o bem estar humano através de serviços e condições ecosistémicos sustentáveis para a saúde humana.

Podemos definir ecosistemas como sendo “(de) qualquer tamanho desde que possam existir dentro dele organismos, ambiente físico e interacções...[Ele pode] portanto ser tão pequeno como um pedaço de terra contendo plantas e micróbios, ou tão grande como toda a biosfera da Terra.” Esta definição reforça a importância do lugar e da escala hierárquica da biosfera. Além disso, facilita os estudos ecosistémicos humanos nas escalas regional e mundial. Os ecosistemas são “Sistemas Complexos” – compostos por muitos componentes heterogéneos que interagem uns com os outros em paralelo (Abel e Stepp 2003). Os ecosistemas não estão “em equilíbrio”. Eles estão constantemente adaptando-se, mudando, auto-organizando-se e reorganizando-se, em resposta aos ‘factores de mudança’ (tanto endógenos como exógenos) e ás adaptações humanas. Alguns ecosistemas adaptam-se e auto-organizam-se rapidamente, enquanto que outros são ‘frágeis’ e não possuem capacidade de adaptação. Resiliência “Resiliência é a capacidade de um sistema absorver distúrbios e reorganizar-se ao mesmo tempo que passa por mudanças de modo a reter essencialmente a mesma função, estrutura, identidade e retroacções. Como é referido mais em baixo, o foco está na dinâmica do sistema quando ele sofre distúrbios bem diversos do seu estado modal. A noção de velocidade do retorno ao equilíbrio (Pimm 1991) leva-nos àquilo que tem sido chamado de “engenharia da resiliência” (Holling 1996) e, embora relacionado com um aspecto da “resiliência ecológica”,

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não pode ser considerado como medida de resiliência. Dada a possibilidade de múltiplos estados estáveis, ao analisar até que ponto um sistema pode ser mudado, o tempo de retorno não mede todas as formas pelas quais um sistema pode não conseguir – permanente ou temporariamente – reter as suas funções essenciais. Também é importante ter em conta que os “sistemas” consistem em dinâmicas integradas operando em determinadas escalas organizacionais – “sub-sistemas”, por assim dizer, das famílias às aldeias até às nações, das árvores a pequenas zonas até às paisagens. Resistência: a facilidade ou dificuldade de mudança de um sistema; até que ponto ele é “resistente” às mudanças. Precariedade: até que ponto o estado actual do sistema está perto do limite ou do “ponto crítico.” Panarquia: interacções entre as escalas que afectam a resiliência do ecosistema. Por exemplo, políticas externas opressivas, invasões, mudanças no mercado, ou mudanças climáticas globais podem acelerar a mudança ao nível local (Walker et al. 2004). Adaptabilidade é a capacidade do ser humano para gerir a resiliência. Serviços ecosistémicos Os benefícios que as pessoas obtêm dos ecosistemas. O conceito “bens e serviços dos ecosistemas” é sinónimo de serviços ecosistémicos.

• Serviços de abastecimento: produtos obtidos dos ecosistemas, incluindo, por exemplo, recursos genéticos, comida e fibras, e água doce.

• Serviços reguladores: benefícios obtidos da regulação dos processos ecosistémicos, incluindo, por exemplo, a regulação do clima, água e algumas doenças humanas.

• Serviços culturais: os benefícios não materiais que as pessoas obtêm dos ecosistemas através do enriquecimento espiritual, reflexão, recreação e experiência estética. – P. ex. sistemas de conhecimento, relações sociais, valores estéticos.

• Serviços de apoio: necessários para a produção de todos os outros serviços ecosistémicos.

Exemplos: – Produção de biomassa, – Produção de oxigénio atmosférico, – Formação e retenção de solos, – Produção regular de nutrientes, – Abastecimento regular de água, – Fornecimento de habitat.

Instituições As regras que orientam a forma como as pessoas vivem, trabalham e interagem entre si dentro das sociedades. As instituições formais são regras escritas ou codificadas. Exemplos de instituições formais podem ser a constituição, as leis judiciais, o mercado organizado e os direitos de propriedade. • as instituições informais são regras governadas por normas sociais ou comportamentais da sociedade, família ou comunidade. Uso da terra A utilização pelo homem dum pedaço de terra para um determinado fim (tal como agricultura de regadio ou recreação). Influenciada, mas não sinónimo, de cobertura terrestre.

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Paisagem Área terrestre que contém um mosaico de ecosistemas, incluindo ecosistemas dominados pelo homem. O termo paisagem cultural é frequentemente usado quando se fala de paisagens contendo uma quantidade significativa de população humana. Resiliência A capacidade de um sistema de tolerar os impactos dos factores de mudança sem alterar de forma irreversível os seus produtos ou estrutura. A capacidade de um sistema socio-ecológico aguentar a mudança e a surpresa. Respostas Acções humanas, incluindo políticas, estratégias e intervenções, para abordar questões, necessidades, oportunidades ou problemas. • podem ser legais, técnicas, institucionais, económicas e comportamentais. • podem operar ao nível local ou micro, nível regional, nacional ou internacional, e em várias escalas temporais. Escala Dimensões físicas, quer no espaço ou no tempo, de fenómenos ou observações. Cenário Descrição plausível e muitas vezes simplificada da forma como o futuro pode evoluir, • Com base num conjunto de pressupostos sobre as principais forças de mudança (p. ex.

ritmo de mudança tecnológica, preços) e relações. • Pode ser derivado de projecções, mas é normalmente baseado em informação adicional

proveniente de outras fontes. • Por vezes baseia-se numa “linha histórica narrativa”. Bem estar Um estado dependente de um contexto ou situação, incluindo o material básico para uma vida boa, liberdade e escolha, saúde, relações sociais boas e segurança. Componentes do bem estar: os aspectos práticos do bem estar, tais como saúde, felicidade, liberdade para ser e fazer e, em termos mais gerais, liberdades básicas.

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SUB-MÓDULO 2

IMPORTÂNCIA DAS AVALIAÇÕES ECOSISTÉMICAS PARA O ALÍVIO DA POBREZA E BEM ESTAR HUMANO

A Experiência da Avaliação Ecosistémica do Milénio na África Austral (SAfMA)

Constancia Musvoto

Instituto de Estudos Ambientais, Universidade do Zimbabwe

INTRODUÇÃO

Finalidade do sub-módulo A finalidade deste sub-módulo é examinar o significado das avaliações ecosistémicas para o alívio da pobreza e o bem estar humano. O sub-módulo abrange as ligações entre a pobreza e os serviços ecosistémicos, a relação entre o bem estar humano e os serviços ecosistémicos, a degradação dos ecosistemas, a perda de biodiversidade e seu impacto sobre os limites humanos. Os custos e benefícios assim como os trade-offs associados com a mudança ecosistémica também são analisados. O módulo também realça o papel das avaliações ecosistémicas no alívio da pobreza. Resultados Específicos No final deste sub-módulo, os alunos estarão aptos a:

1. Identificar as relações entre a pobreza e os serviços ecosistémicos 2. Identificar os impactos dos serviços ecosistémicos sobre o bem estar humano e

explicar as relações entre os serviços ecosistémicos e o bem estar humano. 3. Analisar a degradação, perda de biodiversidade e seus impactos sobre o bem estar

humano. 4. Reconhecer e analisar as retroacções entre o bem estar humano e os serviços

ecosistémicos. 5. Identificar os custos e benefícios associados às mudanças nos ecosistemas. 6. Compreender os trade-offs em termos de tempo e espaço resultantes da alteração dos

ecosistemas para a prestação de serviços. 7. Reconhecer o papel das avaliações ecosistémicas no alívio da pobreza.

Conteúdo do Sub-módulo Este sub-módulo irá cobrir os seguintes tópicos:

1. Ligações entre o bem estar humano e os serviços ecosistémicos. Os componentes do bem estar e as suas relações com os serviços ecosistémicos.

2. Degradação, perda de biodiversidade e seus impactos. Os impactos da degradação sobre o bem estar humano e sobre os ecosistemas, incluindo alguns exemplos específicos, o papel da biodiversidade, substitutos para os serviços ecosistémicos.

3. Ligações entre a pobreza e os serviços ecosistémicos. Meios de subsistência e uso/dependência dos recursos naturais.

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4. Custos e benefícios e trade-offs. Quais são as perdas e ganhos resultantes da mudança ecosistémica? Trade-offs em termos de tempo e espaço, trade-offs negativos e sinergias positivas. Conflitos e mediação de trade-offs.

5. Retroacções entre o bem estar humano e os serviços ecosistémicos. Inter-relações entre e dentro dos ecosistemas e a ligação humana. Retroacções positivas e negativas; retroacções e a gestão dos ecosistemas.

6. O papel das avaliações ecosistémicas no alívio da pobreza. Importância da gestão integrada.

Ligações entre o Bem Estar Humano e os Serviços Ecosistémicos Os ecosistemas são essenciais para o bem estar humano através dos seus serviços de abastecimento, de regulação, culturais e de apoio dado que eles dão contribuições insubstituíveis para o bem estar humano, para todas as pessoas em toda a parte. Componentes e/ou determinantes do bem estar estreitamente relacionados com os ecosistemas:

1. Ter condições para se alimentar adequadamente 2. Poder estar livre de doenças evitáveis 3. Poder viver num abrigo limpo e seguro do ponto de vista ambiental 4. Ter acesso a água potável e segura 5. Ter acesso a ar limpo 6. Ter condições para se manter quente e cozinhar 7. Ser capaz de usar a medicina tradicional 8. Poder continuar a usar os elementos naturais encontrados nos ecosistemas para fins

tradicionais, culturais e espirituais 9. Ser capaz de enfrentar fenómenos naturais extremos, incluindo cheias, tempestades

tropicais e deslizamentos de terra 10. Ser capaz de tomar medidas de gestão de carácter sustentável que respeitem os

recursos naturais e permitam alcançar um fluxo sustentável de rendimentos (Duraiappah, 2002) As ligações entre os serviços ecosistémicos e o bem estar humano ou entre a pobreza e o meio ambiente são estabelecidas ao relacionar os componentes relevantes do bem estar com os três serviços (regulação, abastecimento e cultural) que os ecosistemas fornecem, p. ex. :

• Ter condições para se alimentar adequadamente: o abastecimento de alimentos naturais e silvestres são essenciais para melhorar as dietas, fornecendo alívio durante períodos de fome, destruição de culturas, ataques de pragas e secas.

• Poder estar livre de doenças evitáveis: muitas doenças estão associadas a condições ecológicas, tais como a malária provocada por projectos de irrigação, águas paradas e áreas com pouca drenagem. Os impactos destas doenças são muito maiores sobre os pobres do que sobre os ricos.

• Ter acesso a ar limpo: com a libertação excessiva de poluentes na atmosfera e a conversão desproporcionada de ecosistemas naturais em sistemas dominados pelo homem, os pobres têm estado demasiado expostos à poluição do ar. Para ter acesso a ar limpo, há necessidade também de melhorar a ventilação dentro das casas e passar a usar combustíveis mais limpos.

• Ter acesso a energia limpa suficiente para se manter quente e cozinhar: os pobres utilizam a lenha porque é mais barata e fácil de arranjar que os combustíveis mais

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limpos. A crescente escassez de lenha tem um impacto mais forte nas mulheres e crianças, que têm de caminhar mais para procurar lenha.

Veja a Figura 1.9 para outras ligações entre o bem estar humano e os serviços ecosistémicos. A natureza imediata da relação entre os serviços ecosistémicos e o bem estar humano é bastante óbvia para as pessoas que vivem “perto da natureza”, tais como os agricultores, assim como para os que vivem nas áreas rurais. É muitas vezes ignorada pelas populações urbanas que normalmente não estão em contacto directo com as verdadeiras origens dos alimentos que consomem ou da água que bebem. Este corte aparente cria um grande risco de políticas e acções inadequadas, dado que as pessoas ‘modernas’ e urbanas são frequentemente mais poderosas do ponto de vista político e económico e em termos de padrões de consumo, do que as pessoas que vivem nos meios tradicionais e rurais. Sempre que as pessoas estão separadas por espaço, tempo ou classe das consequências das suas acções, há uma tendência para transformá-las em coisas externas ou custos suportados por outros. Quais são os efeitos da criação de substitutos para os serviços ecosistémicos? Embora a procura humana de serviços ecosistémicos continue a crescer em termos agregados, a procura de serviços particulares em regiões específicas está a diminuir à medida que são criados substitutos. Por exemplo, o petróleo, a electricidade e outras fontes energéticas estão cada vez mais substituindo a lenha (ainda a fonte primária de energia para aquecimento e preparação de alimentos para cerca de 2.6 bilhões de pessoas). Embora o uso de substitutos possa reduzir a pressão sobre serviços ecosistémicos específicos, isto nem sempre traz efeitos totalmente positivos para o meio ambiente. A substituição da lenha pelos combustíveis fósseis, por exemplo, reduz a pressão sobre as florestas e diminui a poluição do ar dentro das casas, mas pode aumentar a emissão de gases de estufa. Os substitutos são muitas vezes mais dispendiosos de fornecer do que os serviços ecosistémicos originais. O aumento do comércio tem muitas vezes ajudado a responder à procura crescente de serviços ecosistémicos tais como os cereais, peixe e madeira em regiões onde a oferta é limitada. Embora isto diminua as pressões sobre os serviços ecosistémicos dentro da região importadora, por outro lado isso aumenta as pressões na região exportadora. Degradação, Perda de Biodiversidade e seus Impactos Degradação Embora a maioria dos impactos das actividades humanas sobre os ecosistemas possa ser considerada benéfica para o bem estar humano, existem cada vez mais evidências da degradação dos serviços ecosistémicos. A degradação dos serviços ecosistémicos causa muitas vezes danos significativos para o bem estar humano.

• Os impactos duma mudança ecosistémica negativa não recaem de modo igual sobre as populações humanas, sendo normalmente mais vulneráveis as comunidades indigentes, com poucos recursos e de um modo geral menos favorecidas. Para algumas pessoas, especialmente aquelas protegidos por uma abundância relativa, o problema mal é notado, ou pelo menos não lhe é atribuída grande prioridade.

• A maioria das pessoas que vivem nos países em desenvolvimento, particularmente as que se encontram nas áreas rurais, dependem dos recursos naturais para a sua subsistência. Estas pessoas dependem desproporcionadamente da integridade e funções dos ecosistemas locais e geralmente não possuem meios para importar serviços ecosistémicos.

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• A degradação ecosistémica está a prejudicar a subsistência actual e as oportunidades futuras de subsistência de grande número de pobres, p. ex. a degradação dos solos e da água é uma grande ameaça para o aumento da produtividade agrícola, que constitui a base da subsistência da vasta maioria dos pobres rurais e é um pilar fundamental para as estratégias de redução da pobreza em muitos países.

• O comércio internacional pode amortecer as deficiências locais para os mais favorecidos, mas para os mais pobres esta não é uma opção.

• Mesmo entre os pobres, a degradação ecosistémica afecta alguns grupos mais do que outros. Em África, por exemplo, a degradação das zonas arborizadas tem mais impacto sobre as mulheres e meninas que estão encarregues de procurar lenha do que sobre outros grupos.

• Á medida que cresce a procura de serviços ecosistémicos, são particularmente as pessoas pobres que perdem o acesso a esses serviços, p. ex.: grandes quantidades de peixe são apanhadas por frotas estrangeiras nas águas da África Ocidental, sem benefícios locais substanciais.

• O uso insustentável dos recursos ameaça os pobres de forma mais imediata: 5% da população mundial depende de peixe para o consumo de proteínas, no entanto 75% das reservas pesqueiras mundiais são usadas em excesso ou usadas perto do seu limite biológico.

• Os ecosistemas também trazem muitas consequências para o bem estar humano devido aos serviços culturais que prestam – através, por exemplo, das espécies totémicas, florestas sagradas, árvores, paisagens cénicas, formações geológicas, ou ainda rios e lagos. Estes atributos e funções dos ecosistemas influenciam os aspectos estéticos, recreativos, educacionais, culturais e espirituais da experiência humana.

• Muitas mudanças nos ecosistemas através de processos de interrupção, contaminação, esgotamento e extinção, têm impactos negativos sobre a vida cultural e a experiência humana.

Perda de Biodiversidade A biodiversidade, variedade de organismos vivos e os complexos ecológicos dos quais eles fazem parte, é fundamental para muitos ecosistemas. A oferta e a resiliência dos serviços ecosistémicos são afectadas pelas mudanças na biodiversidade. A biodiversidade oferece sustentatibilidade e resiliência para a subsistência e estratégias de sobrevivência de muitas pessoas, especialmente os pobres rurais, que muitas vezes obtêm serviços ecosistémicos e reduzem portanto a sua vulnerabilidade através de uma combinação diversa e complexa de actividades ao longo das estações. Para os pobres rurais, a biodiversidade tem uma função estabilizadora e amortecedora. Ela oferece fontes múltiplas de serviços ecosistémicos assim como opções alternativas para alimentos e outros recursos em épocas difíceis.

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Fonte: Relatório de Síntese da Avaliação Ecosistémica do Milénio, 2005 Figura 2.1. As mudanças nos ecosistemas e nos serviços que eles fornecem afectam o bem estar humano. A biodiversidade está a mudar mais rapidamente do que nunca em resultado de fenómenos tanto naturais como humanos. Embora hajam benefícios derivados destas mudanças, muitas pessoas são prejudicadas, especialmente os pobres, que não têm alternativa a não ser continuarem dependentes de ecosistemas biologicamente diferentes para obter alimentos, medicamentos e abrigo. A degradação dos serviços ecosistémicos está a prejudicar muitas das pessoas mais pobres a nível mundial, e é algumas vezes o principal factor responsável pela pobreza. A redução do bem estar humano tende a aumentar a dependência imediata sobre os serviços ecosistémicos e as pressões adicionais consequentes podem prejudicar a capacidade desses ecosistemas prestarem serviços, criando-se assim uma espiral descendente de pobreza crescente e maior degradação dos serviços ecosistémicos. A degradação dos serviços ecosistémicos levanta uma barreira importante para a realização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs) e para as metas dos ODMs para 2005. Muitas das regiões que enfrentam os maiores desafios para alcançar os ODMs coincidem com as regiões que enfrentam os maiores problemas relacionados com o fornecimento sustentável de serviços ecosistémicos. Na África Austral, pelo menos quatro dos oitos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (diminuir a fome e a mortalidade infantil, combater as doenças e garantir a sustentatibilidade

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ambiental) não serão atingidos a não ser que sejam tomadas acções decisivas para estabilizar os serviços ecosistémicos (Biggs et al., 2004). Evitar as perdas dos recursos ambientais tem um impacto mais directo sobre a erradicação da pobreza. A existência de recursos naturais geridos de forma mais produtiva e sustentável, a partir dos quais as pessoas pobres possam obter sustento e rendimentos, é um elemento importante na redução da pobreza rural. Embora a degradação ecosistémica tenha impactos mais negativos sobre os pobres do que sobre os ricos, mesmo as populações ricas não estão totalmente protegidas dos impactos da degradação ecosistémica:

• A degradação da terra nos países pobres, por exemplo, tem contribuído para a degradação da qualidade do ar (poeira e fumo) nos países ricos.

• A degradação dos serviços ecosistémicos intensifica a pobreza nos países em desenvolvimento, o que pode afectar os países industriais vizinhos pelo facto de atrasar o crescimento económico e contribuir para a eclosão de conflitos ou a migração de refugiados.

• As mudanças nos ecosistemas que contribuem para a emissão de gases de estufa provocam uma mudança climática global que afecta todos os países.

As populações ricas estão protegidas dos efeitos prejudiciais de alguns aspectos da degradação ecosistémica, mas não de todos. Por exemplo, normalmente não há substitutos disponíveis quando os serviços culturais se perdem. A substituição não pode continuar indefinidamente, e por fim, quando todas as alternativas se tiverem esgotado, as pessoas ricas ficam tão dependentes dos ecosistemas quanto as pessoas pobres. A informação disponível para avaliar as consequências das mudanças nos serviços ecosistémicos para o bem estar humano é relativamente limitada. A maioria das decisões sobre a gestão dos recursos é fortemente influenciada pelos serviços ecosistémicos com valor comercial e, em resultado disso, os benefícios sem valor comercial são frequentemente eliminados ou degradados. A dependência dos pobres rurais em relação aos serviços ecosistémicos raramente é medida e consequentemente não é considerada nas estatísticas nacionais e nas avaliações da pobreza. Isto dá origem a estratégias inapropriadas que não tomam em conta o papel do meio ambiente na redução da pobreza. Tem sido difícil fazer uma análise clara destes impactos indesejáveis e das suas consequências para as pessoas devido à existência de numerosas outras causas que operam e interagem em diferentes escalas sociais, geográficas e temporais. De que forma a pobreza está associada aos serviços ecosistémicos? Para as pessoas pobres, muitos componentes e determinantes do bem estar estão estreitamente associados aos serviços ecosistémicos:

• Os ecosistemas fornecem um fluxo de bens tais como alimentos, água doce e combustíveis, assim como serviços que regulam os processos ecosistémicos que apoiam o bem estar humano, através, por exemplo, da purificação do ar e água e da renovação dos solos e sua fertilidade, para além de serem também valiosos na medida em que contribuem para a identidade espiritual e cultural das comunidades.

• As percepções que as pessoas pobres têm sobre o bem estar estão fortemente relacionadas com o ambiente em termos de subsistência, vulnerabilidade do estado de saúde e sentido de poder e capacidade para controlar as suas vidas.

Subsistência: as pessoas pobres tendem a estar mais dependentes do ambiente e do uso directo dos recursos naturais, e portanto são as mais severamente afectadas quando o ambiente se

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degrada ou o acesso aos recursos naturais é limitado ou negado. Um número crescente de pesquisas mostra que os agregados familiares pobres obtêm normalmente uma parte significativa do seu rendimento a partir dos recursos naturais. Saúde: as pessoas pobres sofrem mais quando a água, terra e ar ficam poluídos, e os factores de risco ambiental são uma causa importante dos problemas de saúde nos países em vias desenvolvimento. Vulnerabilidade: os pobres encontram-se frequentemente sujeitos aos perigos ambientais e conflitos relacionados com o ambiente e são os que estão menos preparados para os enfrentar quando estes ocorrem.

• As pessoas pobres sofrem mais do que os mais favorecidos sempre que a degradação ambiental limita a capacidade dos ecosistemas fornecerem esses serviços, porque eles têm poucas posses e dependem de recursos de propriedade comum para a sua subsistência. Por exemplo, os agricultores mais desenvolvidos são capazes de compensar a diminuição da fertilidade do solo utilizando mais fertilizantes, mas o uso de fertilizantes pelos pobres é diminuto.

• As ligações entre pobreza e serviços ecosistémicos são dinâmicas e dependem do contexto, reflectindo tanto a localização geográfica como as características económicas, sociais e culturais dos indivíduos, agregados familiares e grupos sociais.

• Diferentes grupos sociais podem dar diferentes prioridades às questões ambientais. Nas áreas rurais, as pessoas pobres estão particularmente preocupadas em garantir o acesso e a qualidade dos recursos naturais – terra arável, água, diversidade de culturas e criação de animais, fontes de peixe e carne de caça, produtos florestais e biomassa para combustível.

• Para os pobres urbanos, a água, energia, saneamento e remoção do lixo, drenagem e garantia de emprego são as preocupações principais.

• Os recursos naturais podem ser uma fonte primária de subsistência ou podem ser um complemento para as necessidades diárias e rendimentos dos agregados familiares. Tem sido argumentado que devido ao horizonte e riscos a curto prazo fundamentalmente inerentes, a pobreza encoraja a sobre-exploração do ambiente físico e isto provoca um empobrecimento ainda maior.

Mudanças ecosistémicas, tais como a maior produção de alimentos, têm ajudado a tirar milhões de pessoas da pobreza, mas estas mudanças têm prejudicado muitas outras comunidades cujas dificuldades têm sido largamente ignoradas. Exemplos destes impactos incluem:

• Metade da população urbana na África, Ásia, América Latina e Caraíbas sofrem de uma ou mais doenças associadas a deficiências de abastecimento de água, saneamento e higiene. Aproximadamente 1.7 milhões de pessoas morrem anualmente em resultado de problemas de água, saneamento e higiene.

• O declínio da captura de peixe está a reduzir uma fonte barata de proteínas nos países em desenvolvimento. O consumo per capita de peixe nestes países, excluindo a China, diminuiu entre 1985 e 1997.

• A desertificação afecta a subsistência de milhões de pessoas, incluindo uma grande quantidade de pobres que vivem em terras áridas.

Custos, Benefícios e Trade-offs Custos e Benefícios As mudanças nos ecosistemas normalmente produzem benefícios para algumas pessoas e infligem custos sobre outras que podem perder o acesso aos recursos ou a sua subsistência. A questão de quem ‘ganha’ e quem ‘perde’ em resultado da mudança ecosistémica não tem sido tomada devidamente em conta nas decisões de gestão:

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• As pessoas que dependiam de recursos comunitários, tais como florestas, perderam os direitos a estes recursos devido à privatização.

• As comunidades locais foram deslocadas para deixar espaço para projectos nacionais, p. ex. barragens hidroeléctricas das quais elas recebem poucos ou nenhum benefícios.

• Certas pessoas e lugares são altamente vulneráveis e estão fracamente equipadas para enfrentar os grandes mudanças que podem ocorrer nos ecosistemas.

• Diferenças significativas entre as funções e os direitos das mulheres e homens em muitas sociedades tornam as mulheres mais vulneráveis às mudanças nos serviços ecosistémicos. Na maior parte de África, as mulheres rurais são os principais agentes produtores das culturas básicas, e são muitas vezes também responsáveis pelas actividades diárias do agregado familiar. Portanto, as mudanças ecosistémicas podem resultar numa maior exigência de trabalho para as mulheres, diminuindo o tempo dedicado às outras actividades tais como a preparação de alimentos e a assistência às crianças.

Trade-offs Quando os seres humanos modificam um ecosistema para melhorar um determinado serviço por ele prestado, isto geralmente provoca mudanças noutros serviços ecosistémicos. Os trade-offs ocorrem quando a melhoria de um serviço ecosistémico provoca efeitos negativos noutros serviços, resultando muitas vezes em benefícios líquidos mais pequenos do que o previsto inicialmente. O relacionamento entre a mudança ecosistémica e o bem estar humano tem uma dimensão tanto actual como futura. A sobre-exploração dos ecosistemas pode aumentar temporariamente o bem estar material e aliviar a pobreza, mas pode ser insustentável. Os trade-offs entre os serviços ecosistémicos são bastante frequentes, mas raramente são considerados integralmente na tomada de decisões. Os trade-offs podem ser entre:

• Serviços ecosistémicos diferentes (representando modos de subsistência ou benefícios económicos diversos);

• Benefícios actuais e futuros dos serviços ecosistémicos; • As necessidades da sociedade e dos ecosistemas (relacionado com o ponto anterior,

pois a sociedade está normalmente preocupada primeiro e acima de tudo com as suas necessidades actuais, e em segundo lugar com as necessidades futuras);

• A prestação de serviços ecosistémicos e a melhoria do bem estar humano para uma população numa determinada época e local com prejuízo para outra.

Os trade-offs negativos são vulgarmente encontrados entre serviços individuais de abastecimento e entre serviços de abastecimento e o conjunto dos serviços de regulação, culturais e de apoio e a biodiversidade. Se estes trade-offs forem tomados em conta, os benefícios aparentes das várias intervenções de gestão são menores. Por exemplo, as acções para aumentar a produção alimentar envolvem muitas vezes um ou mais do seguinte: maior uso de água, degradação da qualidade da água , redução da biodiversidade, redução da cobertura florestal, perda de produtos florestais ou libertação de gases de estufa. Parte da dificuldade de lidar com os trade-offs deve-se ao facto de que eles se reduzem quase universalmente a um trade-off dos valores ou desejos dos diferentes grupos de detentores de interesse. Muitos trade-offs associados aos serviços ecosistémicos manifestam-se em áreas distantes do local da degradação. Por exemplo, a conversão de florestas em agricultura pode afectar a qualidade de água e a frequência das cheias muito a jusante do local onde a mudança

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ecosistémica ocorreu. Também uma maior utilização de fertilizantes com nitrogénio nas terras cultivadas pode ter impactos negativos na qualidade da águas costeiras. Raramente os trade-offs são integralmente tomados em conta na ocasião da tomada de decisões, em parte devido à natureza sectorial da planificação e em parte porque alguns dos efeitos estão deslocados no tempo, tais como os impactos climatéricos a longo prazo. Para resolver os problemas existentes hoje, a sociedade é muitas vezes tentada a esgotar a base ecológica do amanhã. Isto pode pôr em perigo o bem estar futuro e nalguns casos até mesmo a sobrevivência. É necessário haver um desenvolvimento sustentável, i.e. ‘um desenvolvimento que satisfaça as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades’. Os trade-offs não são apenas negativos, dado que também se pode alcançar sinergias positivas quando as acções para conservar ou melhorar um componente particular dum ecosistema ou dos seus serviços beneficiam outros serviços ou detentores de interesse: p. ex. a actividade agro-florestal pode satisfazer as necessidades humanas de alimentos e combustível, recuperar os solos e contribuir para a conservação da biodiversidade enquanto que os parques urbanos ou outros espaços verdes urbanos fornecem benefícios espirituais, estéticos, educacionais e recreativos assim como também serviços de purificação da água, habitat para a fauna selvagem, gestão de resíduos e sequestração do carbono. Existem muitas vezes sinergias positivas entre os serviços de regulação, culturais e de apoio por um lado e a conservação da biodiversidade por outro. Lidando com os trade-offs Na maior parte de África, é preciso fazer muitas vezes trade-offs em função do pano de fundo das pressões que surgem da necessidade de alcançar os objectivos de desenvolvimento social e económico mantendo ao mesmo tempo as funções ecosistémicas. As decisões mais difíceis dizem respeito aos trade-offs onde a promoção de um benefício resulta na redução de outros benefícios. Dado que estão envolvidos diversos actores com diferentes valores e objectivos, a mediação de trade-offs pode ser um processo contencioso e cheio de conflitos. Os decisores têm uma responsabilidade especial quando a perda de benefícios afecta os desfavorecidos ou os detentores de interesse não representados, incluindo a juventude e as gerações futuras. Estas situações podem ser resolvidas tornando estes trade-offs e as suas implicações (de carácter ecológico, social e económico) transparentes para os decisores com vista a apoiar o processo de escolha entre várias opções e as consequências prováveis de optar por outras alternativas (Bohensky et al. 2004). A tomada de decisões informada sobre estes trade-offs requer especificidade em relação a escalas temporais e espaciais de interesse e necessita de capacidade de resposta às seguintes perguntas:

• Os impactos futuros nos serviços ecosistémicos estão sendo tomados em conta na tomada de decisões actual?

• Ao longo de quanto tempo estes impactos irão ocorrer? A alteração nos serviços ecosistémicos afecta o bem estar humano em zonas distantes da mudança ecosistémica prevista? (p. ex. através de efeitos a jusante ou transporte atmosférico?)

• Os impactos atravessam as fronteiras administrativas ou ecosistémicas? As decisões precisam de, na medida do possível, avaliar os custos e benefícios totais das acções que promovem e as políticas de preço devem reflectir o custo total do recurso. É preciso considerar diferentes perspectivas, p. ex.:

• Compensação para as pessoas negativamente afectadas – o que é uma compensação justa e quem determina os níveis de compensação?

• Que prioridades estão em primeiro lugar – das pessoas pobres ou dos ecosistemas?

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• Benefícios a curto prazo contra a sustentatibilidade a longo prazo Exemplos de gestão de trade-offs entre a produção alimentar e a conservação tirados do SAfMA Na África Austral, as necessidades de subsistência e de conservação da biodiversidade entraram em choque. Em muitos casos, a necessidade de alimentar uma população em crescimento e na sua maioria pobre e subnutrida tem sido considerada como mais urgente do que a necessidade de conservar a biodiversidade.

• Tem-se registado a privatização da conservação em países como a Namíbia e África do Sul, onde a legislação tem permitido que os proprietários de terra possam usar e gerir a fauna bravia nas suas terras. Isto resultou na conversão da criação de gado bovino e caprino em criação de animais selvagens, o que era mais rentável e permitia a conservação da fauna bravia indígena, através de caça de trofeus e depois turismo da natureza. Na Namíbia, esta iniciativa tem-se expandido para terras sob gestão comunitária (Barnes et al. 2001). Isto tem sido considerado um sucesso pois tem permitido simultaneamente obter benefícios económicos para as comunidades e conservar a fauna bravia.

• O programa Campfire no Zimbabwe foi lançado nas áreas comunitárias na periferia dos parques nacionais ou coutadas de caça, onde a agricultura e a criação de gado estavam a entrar em conflito com a fauna bravia. Aqui, o uso comunitário e sustentável da fauna bravia, principalmente a caça de trofeus, conseguiu gerar mais rendimentos do que as outras formas principais de subsistência. O rendimento gerado era distribuído entre os membros das comunidades.

O Sub-módulo 4 contém mais informação sobre os trade-offs (Introdução às abordagens para avaliar as condições e tendências, cenários e respostas). Retroacções entre o Bem Estar Humano e os Serviços Ecosistémicos Os ecosistemas estão bastante interligados, tanto no seu interior como uns com os outros, e também com os sistemas humanos que lhes estão associados. Devido à interdependência entre os componentes dos serviços ecosistémicos, a colheita excessiva, o uso excessivo, o uso indevido ou a conversão excessiva de ecosistemas em sistemas humanos ou artificiais prejudicam o serviço de regulação, o que por sua vez reduz o fluxo dos serviços de abastecimento fornecidos pelos ecosistemas. Loops retroactivos Assim que a mudança ecosistémica se inicia, ela pode ser ampliada ou reduzida por loops retroactivos, dependendo do tipo e força da retroacção. Nos sistemas complexos, ocorrem retroacções quando os processos ou respostas múltiplas (humanas ou ecológicas) interagem.. Há dois tipos básicos de loops retroactivos: positivo (ampliador) e negativo (redutor). O efeito de uma retroacção negativa é reduzir a magnitude do distúrbio original. Os loops retroactivos negativos são influências estabilizadores sobre os ecosistemas, p. ex. a recolha de lenha – à medida que os recursos próximos se esgotam, os custos (em dinheiro ou tempo) da recolha aumentam, de modo que as pessoas recolhem menos e a área florestal cortada estabiliza a uma determinada distância do local de consumo. Uma retroacção positiva ocorre quando o efeito do componente original é mudá-lo um pouco mais na mesma direcção que o distúrbio original. Isto tem o efeito de estabilizar o sistema, p. ex. a degradação da terra pelo pasto excessivo. O gado doméstico, se for em número superior ao que a produtividade da vegetação pode suportar, reduz a quantidade de vegetação existente. Isto provoca o aumento da erosão do solo, que por sua vez reduz ainda mais a produtividade da vegetação. Se o nível de criação de gado se mantiver inalterado, o impacto

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sobre a vegetação torna-se ainda maior, levando a mais erosão e maior perda de produtividade. Em princípio, a redução de gado abaixo do nível de produtividade da vegetação tem o efeito oposto, levando a uma cobertura vegetal cada vez maior e cada vez menos erosão. Assim, as retroacções positivas podem ter consequências tanto benéficas como prejudiciais, consoante elas se situam acima ou abaixo de um determinado limite. Por esta razão, as retroacções positivas são por vezes classificadas em ‘ciclos viciosos’ ou ‘ciclos virtuosos’. As retroacções positivas são mais frequentemente ‘viciosas’ do que ‘virtuosas’ por causa dos atrasos e assimetrias no loop retroactivo. Um atraso significa que o efeito retroactivo não é sentido imediatamente, mas só algum tempo depois. Os criadores de gado podem, por exemplo, não detectar a gravidade do impacto que estão a causar e não ajustar o nível de gado criado, até que seja demasiado tarde. Os atrasos causam inércia no sistema e resultam numa tendência para ultrapassar as metas. Devido às assimetrias nos loops retroactivos, é muitas vezes mais fácil provocar uma mudança do que combatê-la (um fenómeno chamado ‘histerese’). Por exemplo, a perda de solos pode ocorrer em poucas horas, mas leva alguns séculos a repor. A formação de solos é uma variável ‘lenta’, enquanto que a perda de solos é uma variável ‘rápida’. Quando a histerese é extrema, chamamos a isso ‘mudança irreversível’. Poucas mudanças, talvez nenhuma a não ser a extinção global de espécies, são verdadeiramente irreversíveis, mas muitas são tão lentas que do ponto de vista humano o sistema está efectivamente preso ao seu novo estado. Certos processos, uma vez iniciados são difíceis de abrandar ou interromper. Estes são os ciclos descontrolados do colapso institucional, erosão acelerada dos solos, invasões de plantas ou animais alienígenas, fragmentação de paisagens ou ‘desertificação’. Estes processos chamados irreversíveis, uma vez iniciados, podem possuir tanta inércia que é necessário um input externo fortíssimo para os abrandar ou interromper. É essencial que estes processos de inércia elevada sejam bem compreendidos e identificados com antecedência, para permitir a sua gestão antes de atingirem um estado descontrolado. As retroacções positivas são uma característica da ‘armadilha da pobreza’, o ciclo inescapável de pobreza, exploração de recursos e bem estar humano deficiente. Os sistemas humanos e ecológicos podem falhar quando as retroacções que os devem regular são interrompidas ou cortadas. Pode haver separações no tempo quando as consequências negativas das acções actuais são suportadas pelas gerações futuras. Noutros casos, os impactos negativos sobre os serviços ecosistémicos são desproporcionadamente sentidos por um sector da sociedade que não está a beneficiar da acção causadora do impacto. Por exemplo, os detentores de interesse urbanos podem tirar proveito duma exploração mineira, mas os pescadores locais podem ser afectados pela poluição que ela provoca no sistema fluvial. Numa outra situação comum, as consequências negativas estão separadas espacialmente das acções. Por exemplo, as mudanças no uso da terra na parte superior duma bacia hidrográfica pode ter um grande impacto junto à costa. A sustentatibilidade dos sistemas geridos pode ser aumentada através da manutenção de controles interactivos para que eles formem retroacções negativas dentro dos ecosistemas e através do uso de leis e regulamentos para criar retroacções negativas entre os ecosistemas e as actividades humanas, tais como entre os ecosistemas oceânicos e a pesca no mar. Os ecosistemas degradados podem ser recuperados através de práticas que intensifiquem as retroacções positivas para trazer o ecosistema para um estado onde os controles interactivos são compatíveis com as características ecosistémicas desejadas.

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Papel das Avaliações Ecosistémicas Integradas no Alívio da Pobreza e Bem Estar Humano

• O quadro conceptual do MA considera que as pessoas são parte integrante dos ecosistemas e que existe uma interacção dinâmica entre elas e as outras componentes dos ecosistemas, na medida em que as mudanças nas condições humanas provocam, quer directa ou indirectamente, mudanças nos ecosistemas e portanto causam mudanças no bem estar humano. Ao mesmo tempo, factores sociais, económicos e culturais não relacionados com os ecosistemas alteram as condições humanas, e muitas forças naturais influenciam os ecosistemas.

• Os decisores defrontam-se com a grande complexidade dos sistemas socio-ambientais em quase todas as decisões que tomam. Estas escolhas difíceis envolvem trade-offs entre vários sectores, objectivos ou prazos e influenciam o bem estar humano. Muitas vezes envolvem trade-offs entre benefícios nacionais e locais. Além disso, envolvem acções para abordar as causas estruturais de problemas como a pobreza, e não apenas os sintomas.

• O MA refere que uma possível abordagem para estes conflitos e trade-offs é um quadro que combine conceitos de equidade, sustentatibilidade, capacidade de subsistência e serviços ecosistémicos.

• A gestão integrada é essencial. Os problemas em sistemas complexos exigem respostas complexas e os decisores precisam de desenhar respostas que tomem em conta as diferentes dimensões dos sistemas com os quais estão lidando. É necessário haver uma gestão integrada – isto permite uma resposta única e coordenada para satisfazer os múltiplos objectivos e torna possível integrar completamente o meio ambiente dentro da tarefa de alívio da pobreza. As respostas dadas isoladamente não podem ser bem sucedidas, e é necessária uma coordenação entre aqueles que escolhem e aqueles que implementam as respostas em todos os sectores e escalas (Biggs et al., 2004). As avaliações ecosistémicas integradas fornecem orientações para os decisores na medida em que destacam não só os problemas relacionados com os serviços ecosistémicos e o bem estar humano que merecem atenção, mas também os aspectos de governação e gestão que contribuem para a maior resiliência dos serviços ecosistémicos e do bem estar humano. O significado da contribuição desta abordagem ecosistémica para o debate internacional reside em:

Uso de um conceito multidimensional da pobreza, baseado na perda de capacidades Desenvolvimento de um quadro integrado de instrumentos, instituições e organizações

para abordar a concessão de liberdades Foco sobre as ligações entre a pobreza e o meio ambiente.

Processos de decisão eficazes O MA constatou que as decisões que afectam os ecosistemas e os seus serviços podiam ser melhoradas ao alterar os processos usados para atingir tais decisões (relatório de síntese do MA, 2005). Embora os processos de tomada de decisão variem consoante as jurisdições, instituições e culturas, o MA identificou os seguintes elementos dos processos de decisão relacionados com os ecosistemas e os seus serviços, que podem ajudar a melhorar as decisões alcançadas assim como os resultados sobre os ecosistemas e o bem estar humano:

Uso da melhor informação disponível, incluindo considerações sobre o valor dos serviços ecosistémicos com e sem valor no mercado.

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Garantir a transparência e a participação eficaz e informada dos detentores de interesse importantes. Reconhecer que nem todos os valores em jogo podem ser quantificados, e portanto a

quantificação pode fornecer uma objectividade falsa nos processos de decisão que têm elementos subjectivos importantes. Lutar pela eficiência, mas não à custa da eficácia. Considerar a equidade e a vulnerabilidade em termos de distribuição de custos e

benefícios. Garantir a prestação de contas e realizar monitorias e avaliações periódicas. Considerar os efeitos cumulativos e em várias escalas e, em particular, avaliar os

trade-offs entre diferentes serviços ecosistémicos. Referências Barnes, J., MacGregor, J. e Weaver, L. 2001. Economic analysis of community wildlife use

initiatives in Namibia. DEA Research Discussion Paper 42, 26 pp. Biggs, R., Bohensky, E., Desanker, P.V., Fabricius, C., Lynam, T. Misselhorn, A.A. Musvoto,

C., Mutale, M., Reyers, B., Scholes, R.J., Shikongo, S. e van Jaarsveld, A.S. 2004. Nature Supporting People: The Southern African Millennium Ecosystem Assessment Integrated Report. Council for Scientific and Industrial Research, South Africa.

Bohensky, E., Reyers, B., van Jaarsveld, A.S. e Fabricius, C. (eds.) 2004. Ecosystem

Services in the Gariep Basin: A Basin-Scale Component of the Southern African Millennium Ecosystem Assessment (SAfMA). African Sun Media, Stellenbosch, South Africa.

Duraiappah, A.K. 2002. Poverty and ecosystems: a conceptual framework. UNEP Division of

Policy and Law Paper. UNEP Nairobi. 49pp. WRI, UNDP, UNEP e World Bank, 2000. World Resources 2000-2001: People and

Ecosystems: The fraying web of life. World Resources Institute, Washington, DC, 389pp. MA, 2003. Ecosystems and Human Well-being: A framework for assessment. A report of the

Conceptual Framework Working Group of the Millennium Ecosystem Assessment. Island Press, Washington D.C., USA.

MA, 2005. Ecosystems and Human Well-being: Synthesis. A Report of the Millennium

Ecosystem Assessment. Island Press, Washington D.C., USA.

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SUB-MÓDULO 3 QUADRO CONCEPTUAL DA AVALIAÇÃO ECOSISTÉMICA DO MILÉNIO

Erin Bohensky

Centro de Estudos Ambientais, Universidade de Pretória Grupo de Pesquisa de Biocomplexidade, Universidade de Stellenbosch

INTRODUÇÃO Finalidade do sub-módulo A finalidade deste sub-módulo é apresentar o quadro conceptual da Avaliação Ecosistémica do Milénio (MA), mostrar as suas características únicas e diferenciá-lo dos outros quadros de avaliação. Este sub-módulo irá também abordar os critérios para um bom quadro, e irá incluir exemplos de como este quadro foi usado ou modificado por algumas avaliações sub-globais. Embora este quadro conceptual seja essencial para o processo da Avaliação Ecosistémica do Milénio, reconhece-se que ele não é o único quadro disponível ou possível através do qual se pode conduzir uma avaliação. Este sub-módulo explica também porque é necessário um quadro e quais os aspectos do quadro que o tornam útil. Resultados Específicos No final deste sub-módulo, os alunos estarão aptos a: 1) Compreender e explicar o quadro conceptual do MA e as suas

características únicas; 2) Diferenciar o quadro do MA de outros quadros para avaliação, e

conhecer os critérios para um bom quadro; 3) Citar ou sugerir exemplos do uso ou modificação do quadro pelas

avaliações sub-globais do MA; 4) Discutir a forma como poderão usar ou modificar o quadro para

avaliar os serviços ecosistémicos e o bem estar humano nos seus países ou noutro contexto.

Conteúdo do Sub-módulo Este sub-módulo cobre os seguintes tópicos: 1. O quadro conceptual da Avaliação Ecosistémica do Milénio (MA) e as suas características únicas. Os elementos do quadro conceptual (factores de mudança indirectos e directos, serviços ecosistémicos, bem estar humano e redução da pobreza, estratégias e intervenções) são descritos detalhadamente. As características únicas incluem a aplicação do quadro em múltiplas dimensões espaciais e temporais, organização do trabalho em quadros grupos de trabalho, abordagem integrada para lidar com os trade-offs, e envolvimento dos utentes. 2. Diferenças entre o quadro conceptual do MA e outros quadros de avaliação, particularmente na abordagem multi-sectorial e multi-escalar, e também critérios para um bom quadro, tais como definição de escalas, saliência, relevância, acessibilidade e legitimidade para os utentes. 3. Exemplos de como o quadro foi usado ou modificado por algumas das avaliações sub-globais. Isto inclui o mapeamento de dois cenários do SAfMA (para a escala piloto/regional) dentro do quadro conceptual, e a modificação da avaliação Peruana do

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quadro do MA para torná-lo mais acessível e credível para as comunidades locais que estiveram envolvidas no processo de avaliação. 4. Tarefa: desenhar um quadro conceptual para avaliar os serviços ecosistémicos e o bem estar humano, ou mostrar como usariam o quadro do MA no seu país. O Quadro Conceptual da Avaliação Ecosistémica do Milénio O quadro conceptual, descrito no relatório da Avaliação Ecosistémica do Milénio (MA 2003), teve como objectivo organizar o trabalho dos cientistas que conduziam a avaliação, estruturar a análise, e enquadrar as questões relevantes que seriam abordadas. Para além dos cientistas, foram envolvidos vários decisores na elaboração do quadro para garantir que ele fosse relevante assim como cientificamente credível. Este quadro representa uma abordagem que pode ser usada para compreender melhor as ligações entre os ecosistemas, os seus serviços e o bem estar humano. Embora o quadro considere o bem estar humano como foco central, ele reconhece que os ecosistemas e a biodiversidade também possuem um valor intrínseco e que as pessoas decidem como usar ou conservar os ecosistemas com base nestes dois elementos (MA 2003). O foco do MA incide nos serviços ecosistémicos e na forma como eles beneficiam as pessoas. Os serviços podem ser classificados como sendo de abastecimento, regulação, culturais e de apoio (Figura 3.1).

Figura 3.1 Serviços ecosistémicos: benefícios que as pessoas obtêm dos ecosistemas

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Figura 3.2 Consequências da mudança ecosistémica para o bem estar humano Em particular, o MA foca as consequências da mudança ecosistémica para os vários componentes do bem estar humano. A Figura 3.2 descreve a força das ligações entre as categorias dos serviços ecosistémicos e os vários componentes do bem estar humano, e indica até que ponto é possível os factores socio-económicos mediarem esta ligação. Por exemplo, se é possível adquirir um substituto para um serviço ecosistémico degradado, então existe um grande potencial de mediação. A força das ligações e o potencial de mediação variam segundo os diferentes ecosistemas e regiões. Para além da influência dos serviços ecosistémicos sobre o bem estar humano aqui descrita, outros factores – incluindo factores ambientais assim como factores económicos, sociais, tecnológicos e culturais – influenciam o bem estar humano, sendo por sua vez os ecosistemas afectados pelas mudanças no bem estar humano. O quadro conceptual do MA parte do princípio de que existe uma interacção dinâmica entre as pessoas e os ecosistemas, na medida em que novas condições humanas contribuem directa e indirectamente para impulsionar mudanças nos ecosistemas assim como alterações nos ecosistemas causam mudanças no bem estar humano. Ao mesmo tempo, muitos outros factores, independentes do meio ambiente, mudam a condição humana, e muitas forças naturais estão a influenciar os ecosistemas (MA 2003).

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Fonte: Relatório de Síntese da Avaliação Ecosistémica do Milénio, 2005 Figura 3.3 Quadro Conceptual do MA Os componentes principais do Quadro Conceptual do MA são os Factores de Mudança Indirectos, os Factores de Mudança Directos, os Serviços Ecosistémicos e o Bem Estar Humano & Redução da Pobreza, assim como as relações entre todos (Figura 3.3). Os Factores de Mudança Indirectos incluem a demografia, a economia, as instituições, a tecnologia e a cultura e religião, os quais influenciam o comportamento humano. Eles podem afectar o Bem Estar Humano directa ou indirectamente através de Factores de Mudança Directos. Estes últimos incluem processos ambientais tais como mudança climática, mudança do uso da terra e mudanças hidrológicas. Por sua vez, estes afectam os Serviços Ecosistémicos. Em qualquer dos casos, o Bem Estar Humano por sua vez tem uma retroacção sobre os factores de mudança indirectos. Dentro do quadro, há oportunidades para estratégias e intervenções que podem interromper, contrariar ou de qualquer modo alterar um processo com vista a melhorar o bem estar humano e a conservar os ecosistemas. Este ciclo opera em todas as escalas, desde a local à global e através de todas elas. Por exemplo, (MA 2005), as mudanças nos factores que afectam indirectamente a biodiversidade, tais como a população, tecnologia e estilo de vida (canto superior direito da figura), podem provocar mudanças nos factores que afectam a biodiversidade, tais como a pesca ou a utilização de fertilizantes (canto inferior direito). Isto resulta em mudanças nos ecosistemas e serviços que eles fornecem (canto inferior esquerdo), afectando por conseguinte o bem estar humano. Por exemplo, a procura internacional de madeira pode provocar a destruição da cobertura florestal numa região, o que aumenta a magnitude das cheias ao longo das margens de um rio. Um quadro conceptual permite-nos analisar e compreender mais claramente estas questões centrais dos serviços ecosistémicos e as suas ligações com o bem estar humano. Mais importante ainda, pelo facto de captar estas ligações, possibilita uma análise explícita dos trade-offs – ou seja, as escolhas que temos de fazer entre necessidades, desejos ou aspirações diferentes.

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Especificamente, o quadro permite a investigação de três tipos de trade-offs: entre os serviços ecosistémicos e o bem estar humano, entre os diversos serviços ecosistémicos, e entre os diversos componentes do bem estar humano. A teoria e aplicação do Quadro Conceptual foram descritas no primeiro relatório do MA,

publicado em 2003, que serviu de orientação para o processo de avaliação subsequente. Este

manual serve de “guia prático” para qualquer grupo que queira usar este tipo de quadro para

conduzir uma avaliação ecosistémica integrada.

É preciso ter em conta que ele foi escrito primariamente para orientar o processo de avaliação

global abrangente, de modo que as avaliações sub-globais podem de facto ter achado ou vir a

achar que algumas particularidades, tais como as que se relacionam com as abordagens e

dados analíticos, por exemplo, precisarão de ser modificados para responder a algumas

questões específicas.

Tal como foi descrito no manual do Quadro de Avaliação, o MA marca uma nova tendência relativamente às outras avaliações globais sob muitos aspectos:

• Está orientado para os utentes, baseado nas necessidades de informação dos governos, sector privado, sociedade civil e o público. O MA realizou uma análise das necessidades dos utentes antes de iniciar a própria avaliação.

• Baseia-se no estado actual de conhecimento, e não na realização de novas pesquisas. • Serve de ponto de referência, distinguindo os níveis de certeza associados ao

conhecimento actual. Quando não há acordo sobre uma determinada constatação, o MA menciona o facto.

• Destaca a relevância das políticas, mas não pretende dar receitas; o MA não advoga determinadas políticas mas apresenta informação detalhada sobre os custos e os benefícios associados com uma série de políticas.

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Figura: 3.4 A avaliação integrada leva em conta os múltiplos benefícios e trade-offs entre os sectores O MA é uma avaliação integrada, ou seja, cobre vários sectores. Como exemplo simples, podemos considerar os serviços múltiplos fornecidos por uma bacia hidrográfica. Uma avaliação climática pode analisar o serviço de sequestração do carbono numa área, uma avaliação da biodiversidade pode analisar a riqueza das espécies numa outra área, enquanto que uma avaliação da água urbana poderá investigar a água numa outra zona ainda. (Figura 3.4). Uma avaliação integrada também abrange várias disciplinas, baseando-se nos conhecimentos técnicos dos ecologistas, sociólogos e economistas com vista a compreender as interacções entre as pessoas e os ecosistemas. Este tipo de abordagem evidencia os trade-offs inerentes ao explorar os vários serviços que um ecosistema oferece, preservando a integridade do ecosistema e assegurando o bem estar humano. O MA também se distingue pelo facto de ter sido realizado em escalas múltiplas no espaço e no tempo. A sua extensão espacial vai do nível global até à aldeia, e em termos temporais cobre o passado, presente e futuro. Isto é importante por muitas razões: primeiro, os processos responsáveis pela disponibilidade dos serviços ecosistémicos operam em escalas características; segundo, embora as escalas mais grosseiras de análise possam cobrir áreas vastas, os estudos a uma escala mais minuciosa conseguem uma resolução maior, isto é, revelam mais detalhe. Ao conduzir uma avaliação em ambas as escalas, grosseira e fina, as constatações de uma escala podem ser validadas de forma independente pelas constatações das outras escalas. Finalmente, e mais importante ainda, muitas vezes as respostas aos problemas ecosistémicos não são desenhadas ou implementadas à escala na qual o problema ocorre, o que pode inadvertidamente exacerbar o problema. Uma análise multi-escalar ajuda a realçar estes desencontros escalares entre os problemas e as soluções.

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Em última análise, o MA é um processo social no qual a ciência é chamada a abordar eficazmente os desafios relacionados com o aumento da procura de serviços ecosistémicos e a redução ou deterioração da oferta. A monitoria e a pesquisa enriquecem o processo de avaliação e a avaliação por sua vez identifica as áreas prioritárias para posterior monitoria e pesquisa.

Figura 3.5 Características principais duma avaliação científica Cada um dos quatro grupos de trabalho do MA organizou o seu trabalho dentro do quadro conceptual à volta dos seguintes temas: (i) condições e tendências dos serviços ecosistémicos e do bem estar humano; (ii) opções de resposta para gerir os ecosistemas; (iii) cenários das formas como os serviços ecosistémicos se podem transformar no futuro; e (iv) avaliação dos primeiros três temas nas escalas sub-globais.

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Figura 3.6 Características principais da AM: quatro componentes da avaliação e respectivos grupos de trabalho As avaliações sub-globais foram conduzidas por mais de trinta equipes, tendo todas elas usado o quadro do MA e estado ligadas ao processo do MA (Figura 3.7). Elas cobriram uma grande variedade de tipos ecosistémicos e serviços, abordaram uma variedade igualmente grande de necessidades dos detentores de interesse, e as suas abordagens foram bastante variadas. A selecção dos locais para avaliação sub-global foi um processo que decorreu da “base para o topo”: as avaliações realizaram-se onde havia interesse, capacidade e uma boa mobilização das pessoas e recursos no local da avaliação. A Avaliação Ecosistémica do Milénio na África Austral (SAfMA) cobriu uma das maiores áreas de avaliação sub-global e foi conduzida em escalas múltiplas por cinco equipes de avaliação baseadas em diferentes instituições, mas que trabalharam em conjunto para desenhar e realizar a avaliação.

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Figura 3.7 As avaliações sub-globais do MA Muitos de vós devem estar familiarizados com os Relatórios do Estado do Meio Ambiente (SOE)/Agenda 21 e com o quadro de DPSIR (factores de mudança, pressões, estado, impacto e resposta) já discutido no Sub-módulo 1. Certos componentes do SAfMA, particularmente aqueles funcionam à escala dos países ou cidades, baseiam-se nos relatórios do SOE como uma fonte de dados extremamente valiosa. Embora eles sejam semelhantes pelo facto de envolverem processos de avaliação destinados a apoiar a política e pelo facto dos seus quadros terem vários elementos comuns, é preciso fazer uma distinção entre os quadros do SOE e do MA.

• O mais importante, o MA foca os serviços ecosistémicos, não o meio ambiente ou os recursos naturais.

• Ele foca também especificamente o bem estar humano. • O MA é também único no que respeita ao uso de cenários para explorar o futuro,

integração trans-sectorial, e escalas múltiplas de análise. Os autores do quadro do MA tinham vários objectivos em mente quando o desenharam, com base na experiência e na pesquisa das avaliações anteriores.

• Primeiro, o quadro tinha de ser saliente ou relevante para a compreensão das ligações entre os serviços ecosistémicos e o bem estar humano.

• Segundo, tinha de ser credível – aceite pela comunidade científica (assim como pelas comunidades “não científicas” que também possuem informação importante sobre os serviços ecosistémicos).

• Terceiro, tinha de ser legítimo para os olhos dos utentes (decisores). • Quarto, tinha de ser acessível para os decisores e para o público. • Por último, tinha de poder ser usado em várias escalas – global, regional ou local.

O quadro destinava-se a ser usado como um guia para o processo de avaliação. Algumas avaliações consideraram o quadro útil “tal como é” . Contudo, algumas avaliações sub-globais acharam que ele precisava de modificações com vista a ser aplicável às suas questões particulares e a satisfazer as necessidades dos seus detentores de interesse.

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A equipe do SAfMA usou o quadro conceptual existente para desenvolver dois cenários, ou duas visões plausíveis do futuro, e suas implicações para os serviços ecosistémicos e bem estar humano. Duas visões distintas foram mapeadas dentro das caixas do MA e identificadas intervenções possíveis em pontos diferentes. Nos casos em que se previa que os objectivos das políticas para a região seriam comprometidos pela degradação dos serviços ecosistémicos, os elementos foram realçados (Biggs et al. 2004). Algumas avaliações sub-globais acharam mais apropriado adaptar o quadro. No Peru, muitos membros da comunidade local de Quechua foram envolvidos no processo de avaliação. A equipe adaptou o quadro para integrar os conceitos de ecosistema e bem estar humano do MA com a visão do mundo de Quechua. O quadro conceptual resultante foi obtido em parte da visão cósmica dos Incas e em parte do quadro do MA, que foi re-interpretado pelas comunidades de Quechua. O quadro resultante tem muitas semelhanças com o quadro do MA (MA 2005) (Figura 3.8).

Fonte: Avaliação Sub-global Vilcanota, Avaliação Ecosistémica do Milénio Figura 3.8 Adaptação do quadro: Vilcanota, Avaliação do Peru. Houve um forte envolvimento da comunidade de Quechua no processo de avaliação. O novo quadro reflecte melhor as cosmologias locais e a relação do homem com o mundo natural. Tarefa: Como vocês usariam o quadro? A tarefa para este sub-módulo é trabalhar individualmente ou em equipes para mostrar como vocês usariam o quadro do MA para realizar uma avaliação dos serviços ecosistémicos e do bem estar humano nos vossos países. Ou, se preferirem, podem desenhar um quadro alternativo, desde que isso seja justificável. Para este exercício, para o manter simples, tentem se concentrar em apenas um ou poucos serviços chave, e não em todos eles. Escolham também apenas um ecosistema ou tipo ecosistémico.

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REFERÊNCIAS Biggs, R., E. Bohensky, C. Fabricius, T. Lynam, A. Misselhorn, C. Musvoto, M. Mutale, B.

Reyers, R. J. Scholes, S. Shikongo, and A.S. van Jaarsveld. 2004. Nature supporting people: The Southern African Millennium Ecosystem Assessment. CSIR, Pretoria, South Africa. Disponível em http://www.millenniumassessment.org/en/subglobal.safma.aspx.

Bohensky, E., B. Reyers, A. S. van Jaarsveld, and C. Fabricius (eds). 2004. Ecosystem

Services in the Gariep Basin: A component of the Southern African Millennium Ecosystem Assessment (SAfMA). African Sun Media, Stellenbosch, South Africa. Disponível em http://www.sun-e-shop.co.za and http://www.millenniumassessment.org/en/subglobal.safma.aspx.

Duraiappah, A.K. 2002. Poverty and ecosystems: a conceptual framework. UNEP Division of

Policy and Law paper. Nairobi: UNEP. 49p. Millennium Ecosystem Assessment (MA). 2005. Ecosystems and human well-being:

Synthesis. Island Press, Washington, D.C. Millennium Ecosystem Assessment (MA). 2003. Ecosystems and human well-being: a

framework for assessment. Island Press, Washington, D.C. Pretorius, R. E. Muller & A. Balance. 2002. The South African Guide to Producing a State of

the Environment Report. Online em: http://www.environment.gov.za/soer/resource/soeguide/index.htm

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SUB-MÓDULO 4

INTRODUÇÃO ÀS ABORDAGENS PARA AVALIAR AS CONDIÇÕES E TENDÊNCIAS, CENÁRIOS E RESPOSTAS

PARTE 1

Erin Bohensky Centro de Estudos Ambientais, Universidade de Pretoria

Grupo de Pesquisa sobre Biocomplexidade, Universidade de Stellenbosch Finalidade do sub-módulo A finalidade deste sub-módulo é introduzir as abordagens disponíveis para avaliar as condições e tendências dos serviços ecosistémicos, do bem estar humano e da redução da pobreza, a fim de desenvolver e divulgar cenários e avaliar as respostas nas escalas sub-globais (locais a regionais). A avaliação das condições e tendências procura descrever as condições actuais e as tendências históricas dos ecosistemas e dos seus serviços, assim como as consequências das mudanças nos ecosistemas para o bem estar humano. A componente dos cenários examina as consequências das alterações plausíveis nos factores de mudança sobre os ecosistemas, seus serviços e bem estar humano no futuro. A avaliação das respostas visa identificar as acções – sejam elas a nível de políticas, mudanças tecnológicas, instrumentos económicos ou mudanças comportamentais – que podem ser tomadas para melhorar o bem estar e conservar os ecosistemas. Dado que este é um sub-módulo introdutório, será feita uma descrição geral das abordagens para cada componente de avaliação em vez de uma análise exaustiva (que se espera que seja o tema de cursos futuros). Contudo, os alunos receberão referências de documentos relevantes caso queiram aprofundar qualquer dos tópicos cobertos com mais algum detalhe. No final deste sub-módulo, os alunos estarão aptos a:Resultados Específicos

1. Descrever o fluxograma ilustrando o processo de avaliação e os seus elementos; 2. Explicar as abordagens para avaliar as condições e tendências; 3. Explicar as abordagens para desenvolver e divulgar cenários; 4. Descrever as abordagens para avaliar as respostas; 5. Identificar as ligações entre os serviços ecosistémicos, o bem estar e a redução da

pobreza; 6. Sintetizar as constatações da avaliação, explicar como identificar os pontos sensíveis,

as áreas com recursos importantes e as áreas ou serviços prioritários. Conteúdo do Sub-módulo Neste sub-módulo serão abordados os seguintes tópicos: 1. Fluxograma do processo de avaliação. Serão descritos com detalhe os elementos do fluxograma (selecção dos serviços ecosistémicos, identificação das ligações entre os serviços ecosistémicos e o bem estar humano, identificação dos factores de mudança, selecção dos indicadores, avaliação das tendências históricas, avaliação do impacto sobre o bem estar humano, elaboração de cenários, avaliação das opções de resposta, e análise e divulgação das contingências). 2. Avaliação dos inputs. Discussão dos tipos de dados, incluindo formas alternativas de conhecimento (p. ex. indígena, técnico), aquisição, desenvolvimento de indicadores.

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3. Abordagens para avaliar as condições e tendências. Isto inclui métodos para avaliar os dados básicos (tendências recentes), comparação e análise de trade-offs. São dados exemplos do SAfMA. 4. Abordagens para elaborar e divulgar cenários. Isto faz uma introdução ao conceito de planificação de cenários, selecção das contingências importantes e desenvolvimento de linhas históricas. Os métodos para divulgar os cenários são debatidos através de exemplos do SAfMA (i.e. peças teatrais). 5. Abordagens para avaliar as respostas. São apresentados métodos analíticos diferentes para avaliar as respostas, através de exemplos das avaliações sub-globais assim como da avaliação global. 6. Conhecer as ligações entre os serviços ecosistémicos, o bem estar humano e a redução da pobreza. Dados gerais dos métodos e abordagens, e discussão das insuficiências de alguns indicadores standard. 7. Sintetizar as constatações da avaliação. Discussão sobre como extrair as mensagens importantes a partir da informação da avaliação, e como identificar os pontos sensíveis e as áreas de recursos importantes, e como definir as áreas ou serviços prioritários. Uma actividade de grupo irá permitir aos alunos trabalhar em equipe para mostrar como estas áreas prioritárias se podem mapear. Cinco perguntas abrangentes: Antes de descrever detalhadamente como foi realizada a avaliação, será analisada de novo a finalidade da avaliação. Cinco perguntas abrangentes, junto com as listas detalhadas das necessidades dos utentes fornecidas pelos secretariados convencionais e pelo sector privado, serviram de orientação para as questões a serem avaliadas (MA 2003): 1. Quais são as condições e tendências actuais dos ecosistemas e do bem estar humano que

lhes está associado?

2. Quais são as mudanças futuras plausíveis nos ecosistemas e na oferta e procura de serviços ecosistémicos e quais as mudanças consequentes na saúde, subsistência, segurança e outros componentes do bem estar?

3. O que podemos fazer para melhorar o bem estar e conservar os ecosistemas? Quais são as forças e fraquezas das opções de resposta, acções e processos que podem ser considerados para realizar ou evitar determinados futuros? Quais são as constatações mais seguras e as

contingências mais importantes que afectam o fornecimento dos serviços ecosistémicos (incluindo as consequentes mudanças na saúde, subsistência e segurança) e as outras decisões de gestão e formulações de políticas? Que instrumentos e metodologias desenvolvidos e usados no MA podem melhorar a capacidade de avaliar os ecosistemas, os serviços que eles fornecem, os seus impactos no bem estar humano e as implicações das opções de resposta? Componentes do MA

Como foi explicado no módulo sobre o quadro conceptual, cada um dos grupos de trabalho do MA organizou o seu trabalho dentro do quadro conceptual à volta dos seguintes temas: • condições e tendências dos serviços ecosistémicos e do bem estar humano; • opções de resposta para gerir os ecosistemas; cenários das formas possíveis de mudança

dos ecosistemas no futuro;avaliação dos primeiros três temas nas escalas sub-globais. As

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primeiras três perguntas abrangentes foram atribuídas a grupos de trabalho específicos: condições e tendências, cenários e respostas. As outras duas eram perguntas transversais que todos os grupos abordaram. A componente sub-global abordou todas as perguntas, nas escalas sub-globais. O foco deste sub-módulo está nas avaliações sub-globais, e em particular na avaliação da África Austral (SAfMA)..

Figura 4.1: Componentes do MA O SAfMA foi uma das avaliações sub-globais ligadas ao MA. Ela visava avaliar vários serviços importantes fornecidos pelos ecosistemas na África Austral, e o seu impacto na vida das pessoas da região. O mapa da área abrangida pelo SAfMA é apresentado na Figura 1.4. A estrutura multi-escalar é uma característica importante do SAfMA (o SAfMA foi uma de apenas duas avaliações sub-globais no MA). Foram realizadas cinco avaliações comunitárias à escala local dentro destas duas avaliações em bacias hidrográficas (Gariep e Zambeze), as quais por sua vez se situam dentro da avaliação regional da África a sul do equador. O SAfMA foi realizado entre 2001-2004 e foi a primeira avaliação sub-global a ser concluída no processo do MA. A equipe do SAfMA era composta por um coordenador e cinco equipes de avaliação para cada componente de avaliação: regional, bacia do Gariep, bacia do Zambeze, subsistência local no Gariep, e Gorongoa-Marromeu. Fluxograma das Tarefas de Avaliação O MA (2003) define 9 tarefas de avaliação principais. Embora uma avaliação comece normalmente com as tarefas à esquerda (1-4) (Figura 4.2) e continue para o centro (5-6) e direita (7-9), muitas destas tarefas são feitas em simultâneo e estão sujeitas a um permanente aperfeiçoamento e revisão à medida que as constatações mudam com a adição de nova informação.

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1) Identificar e classificar os ecosistemas e seus serviços. Embora os ecosistemas sejam

complexos, pode ser útil começar por classificá-los de acordo com os serviços que eles oferecem; por exemplo, um ecosistema lacustre pode sustentar a pesca, assim como oferecer oportunidades de recreação e turismo. Os serviços ecosistémicos são identificados e agrupados em categorias funcionais: abastecimento, regulação, cultural e de apoio.

Figura 4.2: Fluxograma das tarefas de avaliação do MA 2) Identificar as ligações entre os serviços e as sociedades humanas. Aqui, são descritas as ligações entre as sociedades humanas e os serviços ecosistémicos particulares que elas usam ou dos quais beneficiam. Isto inclui definir os componentes do bem estar humano que são afectados pelos serviços (tais como saúde, subsistência, cultura e equidade), assim como as actividades humanas que por sua vez afectam a oferta de serviços (tais como crescimento populacional, consumo e governação). 3) Identificar os factores de mudança indirectos e directos. Nesta tarefa, é elaborada uma lista de factores de mudança indirectos e directos do estado dos ecosistemas e dos seus serviços, assim como as formas como os factores indirectos e directos interagem. Por exemplo, as mudanças demográficas (um factor indirecto) podem afectar os ecosistemas através de mudanças no uso da terra (um factor directo), mas também podem influenciar outros factores indirectos tais como valores e instituições sociais. 4) Seleccionar os indicadores das condições ecosistémicas, serviços, bem estar humano e factores de mudança. Devem ser seleccionados indicadores que sejam capazes de representar

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o estado ou as alterações nos ecosistemas, serviços ecosistémicos, bem estar humano e factores de mudança. Como exemplo, se o serviço ecosistémico for o fornecimento de alimentos, então um indicador potencial para o estado do ecosistema seria a área cultivada; para o serviço, a quantidade de alimentos produzidos; para o bem estar humano, a taxa de subnutrição; e para os factores de mudança, o crescimento populacional. 5) Avaliar as tendências históricas e o estado actual dos ecosistemas, seus serviços e factores de mudança. O estado actual dos ecosistemas e seus serviços é avaliado através da recolha e análise de dados sobre os indicadores seleccionados. O significado de “condições actuais” envolve algum debate. Por vezes isto refere-se aos dados recolhidos mais recentes, mas para a maioria dos ecosistemas ele tem de tomar em conta a variação de ano para ano e talvez de uma década para outra. (Por exemplo, não é útil referir a disponibilidade de água doce para um determinado ano por causa da grande variação de ano para ano). 6) Avaliar o impacto sobre o bem estar humano. Nesta tarefa, a informação sobre os ecosistemas e seus serviços (tais como o estado da água doce, solos e florestas) é “traduzido” em variáveis de interesse para a sociedade (saúde, subsistência, riqueza e segurança, por exemplo). Um desafio é que um dado serviço pode afectar vários componentes do bem estar humano. Outro desafio está em descobrir os muitos trade-offs possíveis entre os serviços. Finalmente, a distribuição dos benefícios dos serviços entre os grupos da sociedade precisa de ser analisada cuidadosamente. 7) Desenvolver cenários. Um objectivo importante do MA foi identificar as tendências futuras a médio e a mais longo prazo e ser capaz de antecipar as mudanças críticas nos ecosistemas assim como desenvolver estratégias de respostas. O objectivo desta tarefa é identificar um conjunto de futuros plausíveis ou “cenários” para os ecosistemas, serviços e factores de mudança. 8) Avaliar as respostas possíveis. Nesta tarefa, são identificadas as várias “opções de resposta” possíveis com vista a prevenir a deterioração dos serviços ecosistémicos ou recuperar os serviços perdidos. Isto inclui avaliar o sucesso de opções anteriores de resposta e desenvolver princípios orientadores para desenhar as políticas necessárias. 9) Analisar e divulgar as contingências. Muitas das constatações sobre os ecosistemas e especialmente as suas ligações com o bem estar humano são incertas. Avaliar e divulgar o nível de certeza numa forma clara e consistente constitui portanto uma tarefa central do MA. Note que há variações possíveis neste processo: uma avaliação pode começar com os cenários e caminhar em sentido inverso, por exemplo. Selecção de Serviços Ecosistémicos do SAfMA A selecção de serviços ecosistémicos do SAfMA dependeu da escala, na medida que determinadas escalas de análise envolvem diferentes serviços de interesse. Contudo, todas as equipes concordaram em avaliar três “serviços centrais”: água, alimentos e biodiversidade. Pelo menos 3 equipes avaliaram também a energia e a pecuária. A maioria destes serviços são de facto conjuntos de serviços, por exemplo: • Água doce inclui águas superficiais, águas subterrâneas e qualidade da água. • Alimentos inclui culturas de carbohidratos, carne, pesca e alimentos silvestres. • Energia inclui lenha, electricidade (carvão, nuclear e hidroeléctrica), gás e petróleo. .

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• Para avaliar a biodiversidade, realizámos análises da cobertura terrestre, abundância das espécies e pontos sensíveis, entre outras técnicas.

• Serviços culturais incluem o turismo baseado na natureza e locais sagrados. Tabela1. Serviços ecosistémicos avaliados pelo SAfMA REGIONAL

BACIA LOCAL

Água X X X Alimentos X X X Biodiversidade X X X Cultura X X Pecuária X X X Qualidade do ar X X Minerais X Plantas medicinais X Materiais de construção X Árvore de Informação A informação provem de várias fontes, constituindo cada uma destas um ramo da “árvore da informação”. Dado que o MA se baseia no estado actual do conhecimento, o ponto de partida lógico é a literatura existente, tanto a publicada como a “cinzenta” ou semi-científica. As bases de dados existentes nos departamentos governamentais ou institutos de investigação são um repositório de muita informação que ainda não foi publicada. Dadas as muitas lacunas informativas sobre os serviços ecosistémicos e suas ligações com o bem estar humano, pode ser necessário recolher alguns dados “de campo” novos, fazer uso de modelos e registar o conhecimento local. Finalmente, os debates trans-disciplinares podem estimular a análise integrada dos processos ecológicos e sociais e podem ajudar a alcançar mudanças paradigmáticas importantes no pensamento.

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Figura 4.3: Árvore da Informação Incorporação do Conhecimento Tácito O MA coloca um ênfase significativo na incorporação do conhecimento indígena e tradicional, uma componente importante nos estudos de sistemas de adaptativos complexos. O conhecimento indígena não é necessariamente quantitativo, embora estejam sendo cada vez mais desenvolvidos métodos para tornar os dados qualitativos recolhidos desta fonte mais quantitativos ou mais compatíveis com os dados quantitativos. Dado que o conhecimento não publicado, “tácito” ou informal, é potencialmente um depósito de informação vasto sobre os serviços ecosistémicos, as abordagens para extrair e incorporar este conhecimento são essenciais. Estas abordagens incluem inquéritos semi-estruturados e exercícios de avaliações rápidas participativas (ARP) tais como o mapeamento e a classificação dos serviços ecosistémicos segundo a sua importância

Figura 4.4: Incorporando o Conhecimento Tácito: entrevistas e mapeamento participativo na Avaliação da Subsistência Local no Gariep no âmbito do SAfMA

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Indicadores Os indicadores são medidas seleccionadas com as quais podemos observar as condições, tendências e mudanças de interesse. Os indicadores que são seleccionados devem ser capazes de transmitir o estado ou alterações nos ecosistemas, serviços ecosistémicos, bem estar humano e factores de mudança. Por exemplo, se o serviço ecosistémico for o abastecimento de alimentos, então um indicador potencial para o estado do ecosistema seria a área cultivada; para o serviço ecosistémico, a quantidade de alimentos produzidos; para o bem estar humano, as taxas de subnutrição; e para os factores de mudança, o crescimento populacional (MA 2003). Dado que o SAfMA era uma avaliação multi-escalar, procurámos seleccionar ou desenvolver indicadores que fossem:

• Escaláveis: para poderem integrar os resultados das avaliações à escala local e regional

• Mapeáveis: para garantir que a análise fosse espacialmente explícita • Possíveis de comparar com os resultados de outras avaliações • Capazes de abordar ameaças específicas, p. ex. desertificação

Quando existem Relatórios do Estado do Meio Ambiente, eles são geralmente um bom ponto de partida para rever os indicadores, mas, como referimos anteriormente, eles normalmente não capturam todos os elementos do quadro conceptual do MA. Experiência do SAfMA: Dificuldades Porque uma avaliação não é apenas um processo científico mas também social, conduzido por seres humanos, ela é influenciada por características e percepções humanas. Isto tem muitas vantagens, mas também traz algumas dificuldades, como o SAfMA observou. Por exemplo, os cientistas e outros profissionais são normalmente formados numa única disciplina, cada uma com um paradigma distinto. A natureza inter-disciplinar das avaliações integradas obriga a que as fronteiras disciplinares sejam ultrapassadas, o que pode ser muito difícil. Além disso, a forma como cada pessoa vê o mundo, ou a visão do mundo de cada um, dá cores diferentes às abordagens dos problemas científicos e sociais. Mesmo dentro duma disciplina como a ecologia, as visões do mundo podem divergir bastante, causando mais um obstáculo à integração. Muitas áreas da África Austral beneficiam de excelentes bases de dados, mas noutras existe uma grande falta de dados de boa qualidade sobre os serviços ecosistémicos. Isto é ainda mais dificultado por um conhecimento geralmente fraco e por muito poucas evidências empíricas em relação às ligações entre os serviços ecosistémicos e o bem estar humano. O desafio de conduzir uma avaliação na ausência de tais dados pode ser enfrentado através de modelos e recorrendo a fontes de informação alternativas tais como o conhecimento local ou de especialistas, mas isto tem as suas limitações. Porque o SAfMA abrangeu escalas e serviços múltiplos, foi impossível chegar a uma metodologia comum que pudesse ser adoptada para todos os componentes da avaliação, embora alguns métodos fossem de facto escaláveis. Quando as metodologias diferem, é preciso dar especial atenção as estas diferenças e às suas implicações para a interpretação e divulgação dos resultados.

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Experiência do SAfMA: ultrapassando as dificuldades A maioria destas dificuldades eram ultrapassáveis, através duma comunicação regular, interacção cara a cara, discussão de ideias e pensando “fora da caixa”. Os membros das equipes foram desafiados a aprender a respeitar maneiras de pensar diferentes daquelas a que estavam habituados. Componentes da Avaliação A maioria das equipes começou com a componente de condições e tendências, achando que era necessário obter dados básicos sobre as actuais condições e as tendências recentes (Figure 4.1). São discutidas em seguida algumas abordagens usadas para avaliar as condições e tendências e as suas implicações para as constatações do SAfMA Análise Trans-escalarA vantagem de conduzir uma avaliação em escalas múltiplas pode ser vista na seguinte análise sobre a disponibilidade de água, por exemplo. O mapa da procura vs oferta de água a nível regional, obtido a partir de modelos globais e regionais de runoff, mostra que a escassez de água constitui um problema a sul do Rio Zambeze. Quando usamos os dados hidrológicos nacionais para a bacia do Gariep, contudo, verificamos que a procura vs oferta à escala da bacia parece ser assim (Figura 4.5). Quando colocados um ao lado do outro, o quadro da disponibilidade de água diverge bastante consoante olhamos sob um prisma regional ou mais local. Nenhum deles está “certo” ou “errado”. A escolha da escala depende simplesmente de uma questão de interesse.

Figura 4.5 Análise Trans-escalar: Disponibilidade de Água Doce Conhecimento local Podemos levar isto um pouco mais adiante, ao fazer uma aproximação a um lugar da escala local, onde as comunidades no vale do Great Fish River fizeram registos da qualidade da água durante as últimas quatro décadas, e informam que a qualidade da água tem diminuído nas

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terras comunitárias, embora tenha permanecido na mesma numa floresta estatal próxima que eles usam como ponto de referência. As mensagens importantes a retirar deste exemplo são:

• Que este tipo de informação importante existe fora das bases de dados oficiais. • É provável que isso tenha um papel importante na futura definição de políticas com o

advento da descentralização que está ocorrendo no sector de águas sul africano. • Precisamos de avaliações à escala local para complementar o grande quadro composto

pelas avaliações regionais, a nível das bacias ou à escala nacional. Síntese da Informação A função duma avaliação é sintetizar a informação existente. A Figura 4.6 mostra os resultados de uma síntese de 49 estudos de caso sobre segurança alimentar na África Austral (Biggs et al. 2004).

Figura 4.6: Os processos que determinam a insegurança alimentar na África Austral, identificados a partir duma síntese de 49 estudos de caso ao nível local A insegurança alimentar foi considerada como sendo um elemento que faz parte dum ciclo entrincheirado e crescente de fragilidade e vulnerabilidade socio-económica, associado sobretudo a elementos crónicos e contínuos na vida das comunidades, sobre o qual crises de curta duração contribuíram ainda mais para exacerbar a vulnerabilidade. A impossibilidade de ter acesso a alimentos através da compra foi considerada como mais proeminente do que a

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insegurança alimentar causada por déficits na produção local. Muitos factores contribuem para prejudicar a resiliência comunitária, nomeadamente: despesas menores em bens e serviços essenciais (educação, alimentos básicos, cuidados de saúde, agricultura e pecuária), imigração e emigração (regresso à comunidade por motivos de poupança ou procura de trabalho noutro local), venda de património (tal como gado a preços reduzidos), assim como redução no número e variação dietética de refeições. Pressões climáticas e ambientais e a pobreza foram alguns dos factores de mudança directos que mais contribuíram para a insegurança alimentar. A pressão da pobreza, clima e ambiente assim como a instabilidade social e política e a guerra foram responsáveis por metade do impacto dos factores de mudança indirectos. Avaliação da biodiversidade Avaliar a biodiversidade e o seu papel na sustentação dos serviços ecosistémicos foi mais um desafio, pois os dados existentes sobre o padrão da biodiversidade são insuficientes para abordar esta questão. Aqui encontramos alguns dos problemas principais associados aos indicadores de biodiversidade vulgarmente utilizados. Como avaliar a biodiversidade? Indicador Falhas Número de espécies extintas A informação chega demasiado tarde para

tomar alguma medida. Número de espécies ameaçadas Alguns grupos estão melhor estudados

que outros. Alguns técnicos estão mais inclinados a classificar uma espécie de “ameaçada” do que outros.

Número de espécies ou espécies endémicas

Não é em si um indicador de condição, e é bastante insensível a mudanças.

Tamanho das área protegidas Alguns parques existem apenas no papel. Este indicador ignora os outros 90% de terra. Não é provável que a área de parques aumente muito nesta região futuramente.

Mudança na cobertura terrestre Necessário mais tempo, a fragmentação é muitas vezes ignorada, muitas vezes associa diferentes usos de terra como tendo o mesmo impacto na biodiversidade.

(Biggs et al. 2004) O SAfMA explorou novos métodos para avaliar a biodiversidade. Um deles, o Índice de Integridade da Biodiversidade (IIB) (Scholes & Biggs 2005), estima os impactos das actividades de uso da terra sobre o tamanho da população de grupos de espécies ecologicamente semelhantes (‘tipos funcionais’). Esta estimativa baseia-se na opinião dos especialistas. A Figura aqui apresentada (Biggs et al. 2004) mostra que o impacto do ser humano sobre a biodiversidade manifesta-se de forma muito selectiva. O pequeno número de espécies de mamíferos, aves e répteis de grande porte, e portanto fáceis de caçar ou apanhar, são os que sofreram maior impacto. A grande maioria das espécies são afectadas principalmente pela perda de habitat para terras cultivadas ou áreas urbanas, ambas as quais são fracções relativamente pequenas da paisagem na África Austral.

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Figura 4.7. Cálculo da biodiversidade na África Austral através do Índice de Integridade da Biodiversidade (Biggs et al. 2004) Os resultados do IIB sugerem que a política com maior potencial para impedir uma perda ainda maior de biodiversidade na África Austral é impedir que as terras que estão actualmente a ser usadas de forma sustentável, fiquem degradadas. A terra usada sustentavelmente (p. ex. pastada dentro das normas para criação de gado ou cortada selectivamente usando métodos de baixo impacto), que constitui cerca de 80% da área terrestre da África Austral, apresenta quase o mesmo nível de biodiversidade que as áreas protegidas. A degradação, na forma de sobre-pastoreio ou abate descontrolado de árvores, reduz as populações das espécies numa média de 40-60%. Dado que a reabilitação é incerta e dispendiosa, impedir a degradação é a melhor opção. Trade-offs A avaliação integrada tem a ver fundamentalmente com o conhecimento dos trade-offs que precisam de ser compreendidos com vista a identificar as prioridades: ao dar prioridade a certas coisas, estaremos a retirar a prioridade a outras? O trade-off mais importante na África Austral é muitas vezes entre satisfazer os objectivos ambientais ou de desenvolvimento. Como podemos atingir ambos? Os trade-offs podem tomar muitas formas, sendo alguns dos mais frequentes entre: • Serviços ecosistémicos diferentes - Produção alimentar vs. biodiversidade • Uso de um serviço - Água para conservação vs. irrigação • Serviços ecosistémicos e bem estar humano - Produção de energia vs. boa qualidade de ar • Localização no espaço - montante vs. jusante • Períodos de tempo

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- estação seca vs. húmida, agora vs. no futuro Como o SAfMA avaliou os trade-offs? O SAfMA explorou novos métodos para avaliar os trade-offs. Um foi a análise da impossibilidade de substituição ou o carácter único de um elemento em termos de alcançar um objectivo específico (Ferrier et al. 2000). Apesar deste conceito tenha sido usado no campo da planificação da conservação durante algum tempo, ele foi muito pouco aplicado em relação aos serviços ecosistémicos. Um dos trade-offs mais frequentes ocorre entre o serviço ecosistémico de produção alimentar e a biodiversidade. Contudo, não tem havido grandes esforços para quantificar estes trade-offs ou mapeá-los no espaço.

Figura 4.8. Mapas da impossibilidade de substituição para a Bacia do Gariep com base em metas de proteínas e calorias assim como de biodiversidade. Nos mapas da Figura 4.8, os valores da impossibilidade de substituição (ou o carácter único) variam entre 0, significando que a célula tem muito pouca importância para alcançar os objectivos definidos e existem muitas opções alternativas para os atingir, até 1, significando que a célula é totalmente insubstituível, por outras palavras, se esta célula não estiver incluída no fornecimento dos serviços, os objectivos destes serviços não serão alcançados. Esta abordagem tem várias vantagens que a tornam um instrumento eficaz para dialogar com os decisores. Primeiro, é flexível. As metas podem ser definidas de acordo com objectivos específicos para a biodiversidade ou outros serviços. Segundo, é dinâmica – as opções são actualizadas à medida que as decisões são tomadas. Por último, é visual e transparente, permitindo ver e compreender claramente as várias opções.

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Estes mapas individuais podem ser combinados numa só imagem da singularidade do serviço ecosistémico. Na Figura 4.9, as células vermelhas representam as áreas onde a biodiversidade (espécies ou tipos de vegetação) e um ou mais serviços ecosistémicos se sobrepõem. As células azuis representam as áreas onde a água ou um ou mais serviços de produção alimentar se sobrepõem, e as células verdes ilustram as áreas onde diferentes serviços de produção alimentar (calorias e proteínas) se sobrepõem. Nestas áreas é mais provável que seja necessário fazer trade-offs porque elas suportam diversos serviços ecosistémicos.

Figura 4.9 Áreas sobrepostas da impossibilidade de substituição na Bacia do Gariep Limites Os limites são uma questão relacionada. Embora seja muito útil conhecer onde os vários serviços ecosistémicos se sobrepõem, a análise da impossibilidade de substituição não nos diz até quando a sobreposição é aceitável. Em que ponto se ultrapassa o limite a partir do qual dois serviços ecosistémicos sobrepostos não podem mais coincidir? Tomemos um estudo feito na região noroeste do Zimbabwe (Hoare and du Toit 1999) sobre a coexistência de homens e elefantes, um problema que existe em muitas partes de África. Esta pesquisa indica que a densidade máxima de elefantes (ver linha contínua na Figura 4.10) permanece a mesma a 1 elefante por km2 enquanto a densidade humana estiver crescendo a partir de níveis baixos, mas quando chega ao limite de 16 pessoas por km2, os elefantes de repente desaparecem.

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Figura 4.10 Relação entre as densidades humana e de elefantes Esta figura ilustra a falta de linearidade das relações entre as densidades humana e de elefantes na área do estudo (du Toit et al. 2003). A mensagem importante é que a capacidade desta região para suportar elefantes diminui rápida e irreversivelmente quando um determinado nível do limite do povoamento humano é excedido. A implicação em termos de gestão é que é possível os elefantes e as pessoas coexistirem se este limite for reconhecido e a planificação for pre-emptiva, ou seja, se destine a áreas para conservação de elefantes que actualmente suportam baixas densidades humanas. Respostas Uma das características únicas do MA é a forma como ele lida com as respostas. O que entendemos por respostas? O MA define respostas como acções humanas para abordar problemas específicos. Elas podem assumir uma série de formas, desde aquelas que mudam os ecosistemas até às que mudam a visão do mundo e as formas de pensamento sobre os ecosistemas. Avaliar as respostas é importante porque elas fazem parte de sistemas socio-ecológicos complexos que englobam os serviços ecosistémicos e as pessoas que os usam. Precisamos de melhorar o nosso conhecimento sobre as respostas e as suas consequências. O SAfMA usou uma série de abordagens para avaliar as respostas, que incluíram: - examinar as respostas que foram usadas no passado ou que foram implementadas

recentementeexplorar respostas possíveis no futuro sob diferentes cenários; - comparar estratégias de sobrevivência usadas pelas pessoas locais. Também desenvolvemos um novo quadro baseado no impacto, conhecimento e poder que esperávamos que fosse capaz de fazer uma avaliação mais sistemática das repostas. (Bohensky & Lynam 2005). Com este quadro, criámos uma lente através do qual podíamos observar e avaliar as respostas humanas – uma simples metáfora: primeiro, há um impacto – digamos uma mudança climática que afecta as taxas de crescimento da vegetação no deserto do Kalahari. Chamamos a isto de “âmbito do impacto”, pois se refere à extensão em termos de espaço e tempo do impacto e dos actores afectados. Existe também um “âmbito do conhecimento”. É provável que uma comunidade do povo San vivendo no Kalahari não saiba que está a ocorrer este impacto – eles podem conhecer as mudanças na vegetação, mas não as causas. O âmbito do conhecimento é portanto incongruente com o âmbito do impacto. Por fim, existe o “âmbito do poder”. O poder de responder ao impacto da mudança climática fica com actores tais como governos e instituições que se encontram bem distantes do local. Neste exemplo, porque o poder fica fora da comunidade San, o âmbito do poder é portanto incongruente com o âmbito do impacto (Figura 4.11).

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Figura 4.11 Incongruência Ao contrário, numa situação óptima, o âmbito do impacto, conhecimento e poder seriam congruentes – talvez não totalmente, mas na maior parte, como mostramos na Figura 4.12. As respostas recentes de gestão das águas em partes da África Austral têm em vista fazer isto, quer devolvendo a gestão ao nível da bacia hidrográfica ou levando-a para toda a escala da bacia hidrográfica através da criação de organizações internacionais de gestão de bacias hidrográficas. Depois aplicámos este quadro ao exemplo da gestão de águas nas bacias dos rios Gariep e Zambeze. As respostas anteriores eram normalmente incongruentes, ao passo que as respostas actuais estão-se tornando cada vez mais congruentes, embora isto continue sendo ainda um grande desafio em quase toda a região.

Figura 4.12 Congruência

A avaliação regional do SAfMA observou que a África Austral tem desenvolvido várias respostas inovadoras em termos de políticas de água, e é um líder mundial em vários aspectos da gestão de águas. A gestão dos recursos hídricos da região está fortemente associada à economia da região (em grande parte dependente da África do Sul onde a água é escassa) e a questões de segurança alimentar nacional (a irrigação é responsável por 75% do consumo de água). As respostas importantes em termos de políticas na região, nomeadamente a Lei de Águas Sul Africana, têm consistido em: proteger as necessidades mínimas das pessoas e os ecosistemas ribeirinhos; tornar o abastecimento de água mais ligado ao mercado: e estabelecer uma série de autoridades nacionais e transfronteiriças para a gestão das bacias hidrográficas. Enquanto que as políticas anteriores não reconheciam as estratégias locais de sobrevivência,

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os novos arranjos promovem um fluxo de informação trans-escalar. De acordo com o nosso quadro, a congruência entre os âmbitos do impacto, conhecimento e poder tem portanto aumentado. Respostas Integradas A fotografia em baixo reflecte a nova era de gestão das águas na África do Sul, e mostra uma equipe do programa “Trabalhando por Água”, que faz parte de um programa conjunto de conservação de água e de redução da pobreza envolvendo várias agências.

A abordagem sector por sector na gestão dos recursos naturais está sendo substituída por políticas mais integradas – assim como mais sustentáveis e equitativas – baseadas no conceito de ecosistema. A gestão integrada permite uma resposta única e coordenada para satisfazer vários objectivos. O Programa “Trabalhando por Água” na África do Sul, por exemplo, cria uma sinergia entre o desenvolvimento social, através da criação de emprego, alívio da pobreza e reabilitação ecosistémica. Este modelo está sendo igualmente aplicado na gestão das terras húmidas, queimadas e ecosistemas costeiros. Que lições aprendemos? As respostas constituem uma oportunidade para aprender, especialmente se as avaliarmos ao longo de um espaço de tempo mais longo. Idealmente, deveríamos combinar as abordagens de avaliação usadas nos estudos do SAfMA de forma a incluir as respostas passadas, presentes e futuras possíveis. Fazer trade-offs significa escolher algumas respostas e outras não, por isso é importante reconhecer os limites dos sistemas. Manter as opções é de grande importância. Verificámos ao fazer as avaliações locais que os recursos são muitas vezes geridos através de práticas culturais para que as opções de subsistência sejam preservadas. Alguns aspectos são considerados sagrados e portanto mantidos fora do alcance de todos com excepção de alguns indivíduos seleccionados que são autorizados a ter acesso a eles para fins espirituais ou culturais. Contudo, se surgir uma crise, estes aspectos podem servir de alívio temporário. O conceito de gestão adpatativa, ou o método de “aprender fazendo”, está relacionado com isto. Ele baseia-se na aceitação de que temos um conhecimento incompleto dos ecosistemas e que existem ainda grandes incertezas.

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Assim, se gerirmos os ecosistemas de forma a que sejam fortes para uma série de resultados, teremos mais chance de continuar a obter os seus benefícios. Desta forma nos garantimos contra as incertezas do futuro. Esta tem sido a prática local durante milénios pelo menos, e está cada vez mais sendo incorporada nas práticas de gestão das agências de conservação e recursos naturais na região da África Austral. Conselhos práticos do SAfMA: avaliando as respostas Avaliar as respostas pode ser um dos maiores desafios dentro duma avaliação. O SAfMA compreendeu que os nossos objectivos deviam ser mais claros. Ao avaliar as respostas, precisamos de decidir se estaremos a tentar compreender como as pessoas respondem de facto, ou como elas deviam ou iriam responder sob determinadas condições? Em segundo lugar, um pré-requisito para avaliar a eficácia duma resposta é ter critérios claros: estaremos a tentar alcançar a sustentatibilidade do uso dum serviço ecosistémico, a resiliência ecosistémica ou a equidade social? Ou não será mais importante que o resultado seja, digamos, a inclusividade do processo? Também constatámos que teria sido benéfico um processo mais iterativo de avaliação de cenários e respostas. Neste tipo de processo, apresentado na Figura 4.13 (Biggs et al. 2004), são identificados os factores de mudança, explicadas as incertezas importantes e é desenvolvido um conjunto de cenários representando os futuros alternativos. Em cada cenário, são identificadas e avaliadas as respostas possíveis. A avaliação das respostas é usada para aperfeiçoar os cenários, ou, ao nível da implementação, para abordar ou alterar os factores de mudança.

Figura 4.13: Processo iterativo da avaliação dos cenários e respostas Explorando o futuro com cenários Cenários são visões do futuro – não aquilo que pensamos que possa acontecer, mas o que poderá acontecer se surgirem determinados factores de mudança. Os cenários destinam-se a estimular o pensamento, a imaginação, e até o debate.

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O método de planificação por cenários tem uma história proeminente nas esferas de economia e política, onde os cenários tem sido influentes na tomada de decisões estratégicas. Os cenários, contudo, não têm sido muito usados para aumentar o conhecimento da mudança ecosistémica. Os cenários podem ser quantitativos, envolvendo o uso de dados e modelos, ou podem ser descrições qualitativas ou então ilustrações de futuros diferentes. Contudo, o método de planificação por cenários tende a funcionar melhor se for estruturado, concentrar-se numa ou duas incertezas importantes, e incluir apenas 2-4 cenários (Peterson et al. 2003). As equipes do SAfMA apresentaram algumas divergências quanto às abordagens de cenários por causa das diferenças relacionadas com a escala de análise e os grupos de utentes. No entanto, apesar dos cenários terem sido criados de forma independente, todos eles se debruçaram sobre o tema comum das incertezas relacionadas com a governação. Abordagens de Cenários Os cenários são não apenas um método de avaliar a informação mas também de divulgar as constatações e engajar os detentores de interesse aos diversos níveis. O desenvolvimento de cenários, portanto, funciona bem se for feito através de formatos inovadores tais como encenações teatrais, tal como aconteceu numa das avaliações locais na bacia do Gariep, em que se usou um grupo de teatro para representar as histórias do cenário. Alternativamente, a planificação dos cenários pode ter lugar num ambiente informal de workshop que permite um debate criativo entre os participantes. Cenários da Bacia do Gariep Os cenários da bacia do Gariep foram construídos ao longo de dois eixos de incertezas, semelhantes aos arquétipos globais que estavam sendo usados na Avaliação do Milénio: a força da governação nacional e a força da sociedade civil na gestão dos factores da mudança ecosistémica e suas consequências. Isto deu origem a quatro cenários que puderam ser “mapeados” em cada um dos quatro quadrantes. Depois, num processo guiado pelos utentes, foram desenvolvidas quatro histórias que eram relevantes para a bacia do Gariep. Foram apresentados aos detentores de interesse do Gariep quatro “futuros”: um em que predominam as forças do mercado, outro em que as políticas ambientais e sociais ganham raiz, outro em que as redes da comunidade local e a sociedade civil se tornam auto-confiantes e organizadas, e um outro que se parece um pouco com o passado, caracterizado por um retorno ao método de comando e controle na gestão dos ecosistemas e uma maior desigualdade social. Os quatro futuros e as suas características principais foram definidos da seguinte forma: Forças do Mercado

- economia forte facilitada por um quadro de governação nacional - má distribuição da riqueza - governação local fraca - políticas sociais e ambientais fracas

Reforma de Políticas

- governação democrática eficaz - economia forte e ligada globalmente num regime comercial equilibrado - redução significativa da pobreza - investimentos substanciais nos sectores de saúde, educação e tecnologia

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Mundo Fortaleza - governação fraca e ineficaz - colapso económico - sociedade civil fraca - maior diferença entre os ricos e os pobres, que vivem, respectivamente, dentro e fora

da “fortaleza”. Recursos Locais

- governação nacional fraca - economia fraca - sociedade civil forte - gestão comunitária dos recursos - forte dependência dos sectores informais

Fazemos uma chamada de atenção em relação à interpretação dos cenários: embora à primeira vista possa parecer simples atribuir preferências e probabilidades, a estes cenários, houve algumas surpresas. Por exemplo, no cenário ideal gerido por políticas, podem surgir tensões entre os que advogam uma política mais social e os que querem uma política mais favorável aos aspectos ambientais. E no futuro em que as iniciativas locais se desenvolvem, as comunidades locais que conseguirem comunicar e coordenar com sucesso são capazes de trocar experiências – elas tornam-se essencialmente uma experiência em gestão adaptativa se conseguirem aprender umas com as outras. O processo de construir cenários foi muitas vezes tão ou mais importante do que os resultados dos cenários, por causa da oportunidade que as pessoas tiveram de visionar e influenciar potencialmente o seu futuro. A descrição de futuros alternativos é uma maneira extremamente poderosa de divulgar a importância dos serviços ecosistémicos e as suas relações com o bem estar humano. Verificámos que é preciso um grande cuidado ao decidir como comunicar as linhas históricas dos cenários e as suas implicações. Na bacia do Gariep, por exemplo, os utentes rejeitaram a abordagem de modelos de sistemas que inicialmente utilizámos em favor de histórias qualitativas que eles acharam mais acessíveis, e de facto preferiram as narrações descritivas às ilustrações gráficas dos cenários. Os cenários são também um instrumento excelente para obter respostas dos utentes, e algumas, embora não todas, equipes de avaliação no SAfMA, utilizaram os cenários desta forma. Avaliando o Bem estar Humano Ao avaliar o bem estar humano, vimos mais uma vez que a escala é importante. Na escala local, os indicadores nacionais ou regionais não reflectem adequadamente o bem estar porque o bem estar depende de definições e contextos. Os trade-offs entre os serviços ecosistémicos que observámos têm ramificações para os grupos populacionais que dependem destes serviços ecosistémicos. Isto torna-se visível quando conduzimos avaliações trans-escalares múltiplas. Em particular, existem grandes disparidades entre as populações: as ricas e urbanas estão normalmente menos ligadas directamente aos serviços ecosistémicos, e têm estilos de vida que os protegem das mudanças negativas – a curto prazo. Avaliando as Ligações Como se pode avaliar as ligações entre os serviços ecosistémicos e o bem estar humano? Os serviços ecosistémicos forneceram sem dúvida benefícios para o bem estar humano em todas as escalas. A avaliação da bacia do Gariep também procurou compreender de que forma a diminuição ou a deterioração dos serviços ecosistémicos pode por vezes estar ligada a

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declínios no bem estar humano. Nesta avaliação, identificámos quatro razões (embora não sejam de modo nenhum as únicas) para a incapacidade dos ecosistemas oferecerem benefícios de bem estar às pessoas (Bohensky et al. 2004):

1. Nalguns casos, é de facto a insuficiência de serviços que resulta na incapacidade de satisfazer as necessidades humanas mínimas, por exemplo, quando a procura de lenha (talvez por causa do crescimento populacional) ultrapassa a capacidade dos recursos existentes.

2. Noutros casos, um serviço não é fornecido porque os canais de distribuição são ineficazes ou inexistentes.

3. Ainda noutros casos, os benefícios do serviço implicam custos para o bem estar humano. Isto é ilustrado pelos serviços minerais: embora a mineração forneça um serviço ecosistémico de valor para alguns membros da população ao gerar receitas e criar emprego, ele envolve processos que geram efeitos negativos grandes sobre a saúde humana os quais, pelo menos nalguns casos, ultrapassam os seus benefícios. Os pesticidas usados para melhorar a eficácia da produção alimentar podem ser prejudiciais para a pecuária, assim como as construções hidráulicas que alteram as características ecosistémicas naturais.

4. Por fim, o uso insustentável dos serviços ecosistémicos pode comprometer a capacidade do ecosistema continuar a fornecer serviços, ameaçando o bem estar das gerações futuras.

Identificando as prioridades As equipes de avaliação em todas as escalas identificaram de forma independente áreas que: são importantes para um só serviço, produzem serviços ecosistémicos múltiplos, ou têm problemas ligados com os serviços ecosistémicos e o bem estar humano. A escala regional mapeou a sobreposição de diferentes tipos de degradação dos serviços ecosistémicos (i.e. desflorestação, sobrepastoreio). Na escala da bacia (Figura 4.14), “os pontos frágeis” representam as áreas com altos níveis de prestação de serviços ou características únicas.

Figura 4.14. Mapa síntese de áreas com serviços ecosistémicos importantes na bacia do Gariep em termos de águas superficiais (azul), produção de cereais (laranja), produção de proteínas (castanha) e aspectos de biodiversidade que são impossíveis de substituir (verde); a intensidade da cor aumenta com o valor da impossibilidade de substituição. (Bohensky et al. 2004)

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A tomada de decisões no passado não tem de um modo geral reconhecido ou reflectido a importância das áreas com recursos chave que contribuem para o bem estar humano ao nível local. Na bacia do Gariep (Bohensky et al. 2004), as avaliações comunitárias revelaram que a distribuição desigual dos serviços ecosistémicos permite às pessoas locais sobreviverem e beneficiarem dos ecosistemas em ambientes aparentemente hostis. Por exemplo, no Great Fish River, as pessoas percorrem até três quilómetros para apanhar lenha e materiais de construção em determinadas paisagens, conhecidas pela sua capacidade de fornecer estes bens. Estas paisagens são muitas vezes abandonadas quando se esgotam, e voltam a ser visitadas muitos anos depois assim que se recuperam. Áreas inacessíveis, distantes ou fiscalizadas servem de refúgio para reservas genéticas de espécies de lenha e kraalwood muito procuradas. Porque certos produtos de plantas medicinais, como a casca das árvores de crescimento lento, se encontram no interior das grandes florestas, podem estar protegidos por tabus que permitem que apenas ervanários ou curandeiros autorizados os possam recolher. Certos recursos animais, como o mel e a fauna bravia, são normalmente encontrados em florestas mais remotas e densas e em pequenas bosques, e apenas por aqueles com experiência e conhecimentos locais. As nascentes, lagos e riachos sagrados representam áreas de recursos importantes para a segurança de água quando surge uma crise - por exemplo, quando as autoridades governamentais não conseguem manter as infra-estruturas de abastecimento de água. Estas áreas de recursos e as práticas culturais que as governam normalmente não são capturadas nas avaliações ou pesquisas realizadas em grandes escalas (i.e. em grandes áreas) e não procuram explicitamente incluí-las. Por esta razão, elas são muitas vezes ignoradas quando se tomam decisões de gestão. O SAfMA reconheceu que havia algumas lacunas na nossa abordagem. Algumas das mais vulgarmente citadas foram:

• Muito pouca representação na nossa equipe de indivíduos com formação em ciências sociais, ciências políticas e economia; por isso houve alguns casos de pouco destaque nos aspectos sociais, políticos e económicos da nossa análise.

• Interacção insuficiente com os utentes e pouca participação destes, ou grupos de utentes “não equilibrados”, compostos principalmente por funcionários de departamentos chave do governo e institutos de pesquisa ou por académicos.

• Pouca representação nos grupos de utentes do sector privado, sociedade civil, ou do público.

Dedicámos muito tempo à avaliação das condições e tendências, incluindo os trade-offs, e menos tempo aos cenários e respostas, que inicialmente considerámos como tarefas “secundárias” que podiam ser realizadas somente quando as condições e as tendências estivessem totalmente documentadas. Contudo, isto levou a que não só acabássemos por “passar apressadamente” pelos exercícios de cenários e respostas, mas também não pudemos reconhecer a vantagem de conduzir diversas componentes de avaliação simultaneamente e fazer uma abordagem mais interactiva. Houve uma integração insuficiente entre as equipes de avaliação trabalhando em escalas diferentes, em grande parte porque foi adoptada uma abordagem “post-hoc” à integração, em que as equipes trabalharam independentemente e depois tentaram integrar os resultados após as tarefas terem sido concluídas. No entanto, houve muito pouco incentivo para uma integração mais profunda (em cada equipe de avaliação, a primeira tarefa era produzir um relatório individual de avaliação), embora houvessem benefícios óbvios de trabalhar independentemente.

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INTRODUÇÃO ÀS ABORDAGENS PARA AVALIAR AS CONDIÇÕES E TENDÊNCIAS, CENÁRIOS E RESPOSTAS

PARTE 2

Avaliações das Políticas para Avaliações Ecosistémicas Integradas

W. Bradnee Chambers UNU-IAS

1. Definição Clara dos Termos: Confusões Comuns O que é uma Resposta: todo o conjunto de acções humanas, incluindo as políticas, estratégias e intervenções, para abordar questões específicas, necessidades, oportunidades ou problemas. As respostas podem ser desenhadas ou implementadas em níveis de decisão individual, local ou micro, regional, nacional ou internacional e podem ser relevantes para diferentes escalas temporais. Este termo abrange um contexto mais amplo do que o termo “política”. A política está muitas vezes associada com o governo, enquanto que as respostas podem vir de vários sectores e actores, incluindo a indústria empresarial, consumidores e sociedade civil. Instituições vs. Organizações Instituições: as regras que definem como as pessoas dentro das sociedades vivem, trabalham e interagem entre si. Instituições formais são as regras escritas ou codificadas. Exemplos de instituições formais seriam a constituição, as leis judiciais, o mercado organizado e os direitos de propriedade. Instituições informais são as regras definidas por normas sociais e comportamentais da sociedade, família ou comunidade. De acordo com O. Young, as instituições diferem das organizações, sendo estas “entidades materiais com escritórios, pessoal, equipamento, orçamentos e por aí adiante.” (Young, Oran R. 1994) 2. Necessidade de uma Tipologia das Respostas, Tipologia do MA, Limites das Tipologias (CH 1 Volume das Respostas de Políticas) As respostas são muito variadas e não existe uma tipologia facilmente reconhecida e uma metodologia geralmente aceite para avaliar de forma concisa a eficácia e as consequências das respostas. A tipologia e a metodologia usadas dependem da perspectiva disciplinar de cada estudo, seus objectivos e âmbito. As respostas tecnológicas funcionam através de produtos, instrumentos, processos e práticas adoptados directamente na gestão ecosistémica e noutras actividades humanas que afectam indirectamente os ecosistemas. As respostas económicas funcionam através do interesse próprio das pessoas e seus esforços para melhorar o bem estar económico, um componente importante do bem estar geral. As respostas legais têm a função geral de fornecer as regras formais através das quais todas as outras respostas são enquadradas e implementadas. As respostas legais são desenhadas a diversos níveis, nomeadamente ao nível internacional, nacional e sub-nacional e têm uma

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jurisdição espacial predefinida. Elas vão desde as leis rígidas para uma variedade de regras flexíveis, consuetudinárias e codificadas. As respostas sociais, comportamentais e cognitivas provocam mudanças ao afectar as normas, valores, atitudes e conhecimento dos indivíduos e da sociedade. As instituições não são respostas em si mesmo, mas criam o quadro e o meio através do qual as respostas podem convergir sobre factores de mudança directos e indirectos. As respostas integradas (CH 14 Volume de Respostas de Políticas) são respostas que “abordam a degradação dos serviços ecosistémicos através de vários sistemas em simultâneo, ou que também incluem explicitamente objectivos para melhorar o bem estar humano. As respostas integradas ocorrem em escalas diferentes e através das escalas, e usam vários instrumentos para a sua implementação. Cada vez mais elas estão associadas com a aplicação de processos que envolvem vários detentores de interesse e com a descentralização, assim como podem incluir actores e instituições do governo, sociedade civil e sector privado. Como exemplos temos alguns acordos multi-laterais sobre o meio ambiente, integração de políticas ambientais dentro dos governos nacionais, e abordagens multi-sectoriais tais como a Gestão Integrada das Zonas Costeiras e a Gestão Integrada das Bacias Hidrográficas. Embora muitas respostas integradas façam afirmações ambiciosas sobre os seus prováveis benefícios, na prática os resultados da implementação podem ser mistos em termos de impactos ecológicos, sociais e económicos. Muitas das tentativas de integração são a nível sectorial e raramente abordam serviços ecosistémicos múltiplos e o bem estar humano simultaneamente. Muitos tipos de respostas, considerados normalmente para serem integrados, focam um único serviço ecosistémico. As melhorias noutros serviços ecosistémicos acontecem quase sempre por acidente em resultado das ligações inerentes entre os diferentes serviços ecosistémicos e não através do desenho explícito.” (CH 14 Volume de Respostas de Políticas) Existem outras tipologias, veja: Dietz, Thomas e Paul Stern, eds. 2002. New Tools for Environmental Protection: Education, Information and Voluntary Measures. Washington: National Academy Press. 3. Avaliando as Respostas (do CH 3 Volume de Respostas de Políticas) A avaliação das respostas é complexa por causa do impacto multi-dimensional de qualquer estratégia escolhida e por causa dos actores e interesses múltiplos que estão envolvidos no processo. O Quadro Conceptual do MA define genericamente as respostas como acções humanas, incluindo políticas, estratégias e intervenções, para abordar questões específicas, necessidades, oportunidades ou problemas. Uma definição tão geral cobre uma grande variedade de estratégias e intervenções. Uma avaliação integrada como o MA é particularmente difícil, dado que lida com o interface entre os serviços ecosistémicos e o bem estar humano, ambos os quais são conceitos multi-dimensionais, com implicações através duma grande variedade de escalas espaciais e temporais. Dado que os detentores de interesse serão afectados de forma diferente, e pode haver diferenças de opinião sobre a necessidade relativa das diferentes estratégias de resposta, será difícil chegar-se a um consenso. Esta desigualdade é particularmente verdadeira quando existe conflito entre os detentores de interesse em relação aos objectivos da intervenção e aos meios para alcançar estes fins. Por exemplo, embora os ministérios do ambiente possam dar prioridade à integridade ecosistémica, os ministérios económicos podem privilegiar o

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crescimento económico. As burocracias podem preferir estruturas de poder centralizadas, ao passo que as organizações de base podem se sentir mais confortáveis com abordagens inclusivas e participativas. Algumas destas diferenças podem ser reconciliadas, mas noutros casos pode não ser possível alcançar um consenso entre os detentores de interesse. As avaliações deviam distinguir entre os constrangimentos que tornam uma opção de política inviável, e as consequências não desejadas ou os efeitos laterais de uma determinada estratégia que pode ser considerada aceitável. É necessário um processo de avaliação com várias fases, que foque primeiro os factores que podem ter impedido uma resposta particular, ou que constituíram pré-condições críticas para o seu sucesso (constrangimentos obrigatórios). Na segunda fase do processo de avaliação, as respostas são comparadas entre as várias dimensões com vista a identificar os impactos não desejados, concentrando-se na identificação de compatibilidades ou conflitos entre objectivos de políticas diferentes. Estas considerações, ainda que importantes, podem ser custos aceitáveis associados à implementação de uma opção (trade-offs aceitáveis). Avaliar o sucesso relativo das respostas requer uma análise das condições favoráveis, constrangimentos obrigatórios e trade-offs aceitáveis através de vários domínios, nomeadamente: o político, que inclui a legitimidade e o contexto político da resposta; o institucional, que se refere à capacidade para governação e implementação; o económico, que avalia a disponibilidade dos recursos assim como o contexto de implementação mais amplo; o social, que se refere ao ambiente social geral e às pré-condições para a resposta; e finalmente o ecológico, que define as pré-condições e constrangimentos sistémicos para a resposta. A avaliação das respostas precisa de reconhecer os trade-offs entre os objectivos. É pouco provável que todas as estratégias consigam satisfazer os diversos e muitas vezes opostos objectivos de políticas. Resolver os trade-offs entre estes objectivos diferentes representa um desafio importante para a determinação das respostas apropriadas. Nalguns casos, pode ser possível tomar uma decisão “binária”: desde que alguns padrões sejam satisfeitos, a escolha entre as abordagens pode ser feita com base noutros motivos. Noutras situações, a vantagem em atingir um objectivo pode precisar de ser avaliada em função do resultado negativo nalgum outro domínio. Algumas respostas podem constituir oportunidades com vantagens para todos. Embora seja provável que ocorram trade-offs entre os objectivos, este facto não significa que nunca aparecem sinergias. Algumas respostas podem constituir oportunidades com vantagens para todos; os políticos têm de ficar alerta para essas oportunidades e agir de forma enérgica quando elas surgem. Agregar os impactos das respostas através de várias dimensões é um processo subjectivo. As técnicas de avaliação quantitativa não são necessariamente mais adequadas do que os métodos qualitativos. É difícil agregar os impactos através de várias dimensões (política, institucional, económica, social e ecológica). A quantificação pode fornecer uma objectividade “falsa” para aquilo que é essencialmente um processo subjectivo. Os decisores devem, na análise final, fazer uma avaliação dos “pesos” a serem atribuídos a cada factor, e comparar os impactos ao longo das dimensões que são tipicamente incomensuráveis. Os métodos de avaliação devem ser sensíveis a uma pluralidade de perspectivas. A avaliação de respostas precisa de ser multi-dimensional, envolver contribuições de várias disciplinas e tentar integrar as perspectivas dos vários decisores. As técnicas que adoptam uma perspectiva

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disciplinar pluralista são particularmente pertinentes, visto que tais técnicas não privilegiam nenhum ponto de vista em particular. O processo de avaliação é tão bom quanto o ambiente geral de tomada de decisões no qual está inserido. Os trade-offs, escolhas e sinergias estão muitas vezes escondidos ou são neglicenciados no diálogo sobre políticas. As soluções para muitos problemas espinhosos dependem normalmente do contexto onde se encontram, e pode não ser fácil alcançar um consenso entre os detentores de interesse sobre as vantagens de respostas específicas. É desejável um processo no qual as escolhas e os trade-offs são transparentes, pois isso deverá permitir aos decisores escolherem respostas apropriadas locais que sejam congruentes com os objectivos desejados. 4. Domínios de Critério (do CH 3 Volume de Respostas) É importante analisar se uma resposta é ou não viável através de vários domínios: - Político, que analisa a legitimidade da resposta e o contexto político para a resposta; - Institucional, que se refere à capacidade para governação e implementação; - Económico, que analisa a disponibilidade dos recursos assim como o contexto de

implementação mais amplo; - Social, que se refere ao ambiente social geral e ás pré-condições para a resposta; - Ecológico, que define as pré-condições e constrangimentos sistémicos para a resposta. Se a resposta não for considerada viável em todos estes domínios, isso pode servir de explicação para o seu fracasso (numa análise retrospectiva de políticas), ou pode impedir a sua adopção (nos processos de planificação prospectiva). É difícil agregar os impactos através das diferentes dimensões (política, institucional, económica, social e ecológica). Por vezes, a quantificação pode dar uma objectividade “falsa” para aquilo que é essencialmente um processo subjectivo. Os decisores devem, na análise final, fazer uma avaliação da importância a ser dada (ou o “peso” a atribuir) a cada factor, e comparar os impactos ao longo das dimensões que são tipicamente incomensuráveis. 5. Gerindo as Incertezas (do CH 1 Volume das Respostas de Política) Os decisores são confrontados com incertezas ao escolher as respostas – incertezas tanto nos métodos de avaliação como nos resultados da resposta. Cada tipo de resposta tem incertezas de origens diferentes. Além disso, todas as estratégias de resposta dependem da sua legitimidade entre os detentores de interesse, de modo que as estruturas de governação introduzem novas incertezas. A incerteza pode surgir devido aos sistemas complexos dentro dos quais as medidas de resposta para o serviço ecosistémico estão inseridas. Em resultado disso, as respostas podem trazer consequências imprevistas e muitas vezes negativas para outros componentes dos sistemas social e natural. Os ecosistemas possuem limites intrínsecos de modo que as mudanças na função ecosistémica e as retroacções na sua condição são frequentemente episódicas e associadas a mudanças na função ecosistémica. Podem surgir consequências imprevistas mesmo quando muitas das consequências da acção são previsíveis,

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dado que os órgãos de decisão têm objectivos diferentes que, ao serem cumpridos, podem causar impactos negativos em outras áreas. As incertezas levam a limitações na avaliação económica em relação à tomada de decisões colectiva e aos serviços sem valor comercial. Ao validar as avaliações de vulnerabilidade, surgem incertezas por causa da escala e especificidade do contexto. Finalmente, existem incertezas associadas aos cenários das respostas futuras devido à ignorância sobre os processos de resposta ecológica e humana. Isto implica que eles podem limitar o grau a que as constatações de um determinado contexto podem ser transportadas para outro. Certos quadros analíticos de decisão tais como a avaliação dos riscos, as análises baseadas em critérios múltiplos e avaliação da vulnerabilidade fornecem metodologias para o tratamento das incertezas. Toda a avaliação de respostas e intervenções deve fornecer uma descrição explícita e perceptível das incertezas dentro dos métodos. As descrições explícitas das incertezas previnem os decisores sobre os perigos potenciais e até as surpresas potenciais na implementação. As incertezas dentro dos indicadores e cenários como elementos de muitos quadros analíticos de decisão também podem ser tratadas. 6. Gerindo as Escalas Temporais e Espaciais (do Relatório de Síntese do MA, páginas 84-91) Muitos impactos do ser humano sobre os ecosistemas (tanto prejudiciais como benéficos) demoram a se tornarem resultados visíveis nos custos associados às mudanças ecosistémicas que afectam as gerações futuras. As diversas categorias de serviços ecosistémicos tendem a mudar com diferentes escalas temporais, tornando difícil para os gestores avaliar totalmente os trade-offs. A inércia dos vários factores de mudança directos e indirectos varia consideravelmente, e isto influencia fortemente o prazo para resolver os problemas relacionados com os ecosistemas assim que são identificados. Existe uma inércia significativa no processo de extinção das espécies resultante da perda de habitat. Mesmo que a perda do habitat acabasse hoje, seria preciso centenas de anos para os números das espécies atingirem um equilíbrio novo e de nível inferior devido às mudanças de habitat que tiveram lugar nos últimos séculos. Mudanças não lineares, incluindo mudanças rápidas, abruptas e potencialmente irreversíveis, têm sido vulgarmente encontradas nos ecosistemas e seus serviços. A maior parte das vezes, a mudança nos ecosistemas e nos seus serviços é gradual e incremental. A maioria destas mudanças são detectáveis e previsíveis, pelos menos em princípio (certeza elevada) (S.SDM). Contudo, existem muitos exemplos de mudanças não lineares e por vezes abruptas nos ecosistemas. Nestes casos, o ecosistema pode mudar gradualmente até que uma determinada pressão nele atinge o limite, altura em que as mudanças ocorrem relativamente rápidas enquanto o sistema muda para um novo estado. Quando a incerteza pode ser quantificada, podem ser aplicados limites padrões para declarar uma confiança muito alta, alta, baixa ou muito baixa. Quando só há descritores qualitativos de incerteza disponíveis, a confiança pode ser traduzida em termos do grau em que as conclusões são ou não bem definidas em teoria e/ou bem fundamentadas por dados e outras evidências.

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Conclusões: Escolhendo as Respostas (do CH 1 Volume das Respostas de Política) Está bem claro que as respostas e estratégias são muitas vezes tão boas quanto o ambiente geral de tomada de decisões dentro do qual elas se inserem. Os trade-offs, escolhas e sinergias estão muitas vezes escondidos ou são neglicenciados no diálogo sobre políticas. É desejável um processo no qual as escolhas e os trade-offs são transparentes, dado que isto irá provavelmente permitir aos decisores escolher as opções de resposta localmente apropriadas que são congruentes com os objectivos desejados. O processo de escolha duma intervenção estratégica ou duma política mais global em resposta aos problemas ambientais potenciais e emergentes precisa de estar apoiado na melhor informação disponível que vá ao encontro das preocupações daqueles que podem estar interessados ou ser afectados pela decisão final. Os processos de tomada de decisão e de análise das decisões em seu apoio devem usar a melhor informação disponível sobre as características biofísicas, o contexto social e os valores envolvidos no problema ecosistémico, incluindo os efeitos cumulativos e trans-escalares. Ambos os tipos de processo precisam de considerar as incertezas, adoptar quadros analíticos e processos de tomada de decisão capazes de acomodar novas informações e correcções de trajectória. Eles também precisam de tomar em conta as questões de equidade, eficiência e vulnerabilidade, exigir responsabilidades e lutar pela eficácia. Os decisores devem criar um processo que seja justo e realista de modo a observar e acomodar os costumes e práticas locais, a realidade económica, as situações políticas, as condições tecnológicas e a situação institucional. Todos estes aspectos serão diferentes consoante os vários detentores de interesse. Além disso, eles determinam a variedade de opções que podem ser avaliadas significativamente para ajudar a tomada de decisões porque só as estratégias e medidas que serão viáveis num determinado contexto social e político podem ser consideradas. Um conjunto sólido de informação sobre os ecosistemas e as suas funções no sentido mais lato constitui o primeiro e mais importante requisito para qualquer resposta com sucesso em relação aos serviços ecosistémicos. Isto implica a transformação dos dados e informação recolhidos sobre as propriedades biológicas, químicas, geológicas, etc. dos ecosistemas em conhecimento útil, isto é, um conhecimento que aborde as preocupações específicas dum utente, tenha em conta as diferentes escalas espaciais, prazos e níveis organizacionais. Isto inclui não só a informação científica formal como o conhecimento tradicional ou local. As incertezas chave resultantes das lacunas de conhecimento também precisam de ser identificadas como parte deste processo. Algumas opções de resposta podem ser excluídas devido a estas incertezas. Os decisores devem seguir um processo que seja (1) eficiente e focado, satisfazendo deste modo os constrangimentos em termos de custo e tempo e (2) eficaz ao promover a participação, flexibilidade, compromisso, sinergia e trade-off. Contudo, a eficiência e a eficácia podem ser objectivos divergentes caso os processos de participação sejam ineficientes e atrasem o processo de tomada de decisão. Os critérios de eficiência típicos incluem equilibrar os custos e benefícios ou identificar as soluções menos custosas sob um determinado conjunto de constrangimentos. No que respeita à eficácia, os processos de tomada de decisão devem ser desenhados de modo a permitir uma troca rápida e clara de informações e opiniões, para que possa haver flexibilidade para mudar de posição e avançar para soluções de compromisso.

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A forma mais directa de julgar o problema da equidade é criar um processo de tomada de decisões justo e envolver os detentores de interesse directamente nele. Isto implica dar uma oportunidade justa a todos os grupos afectados de participarem, apresentarem os seus valores e preocupações e protegerem os seus interesses (equidade processual). Mesmo que a participação de todos os detentores de interesse seja inviável ou impossível, o processo de decisão precisa de estar aberto de modo a que todas as partes afectadas possam compreender como surgem os resultados, qual é a justificação lógica por detrás disso, e como isso afecta diversos grupos sociais ou detentores de interesse (transparência). Independentemente da participação directa ser possível e/ou significativa ou não, o resultado da decisão precisa de obedecer a princípios de imparcialidade na sociedade (equidade consequencial). O uso de técnicas participativas é particularmente importante em situações de decisão complexas e controversas. Diferentes detentores de interesse trazem diferentes combinações de valores para circunstâncias, problemas ou decisões particulares – portanto a participação e a transparência na tomada de decisões é a forma mais eficaz de obter a melhor informação sobre os valores e respectivos interesses. Os “valores” nestas respostas não são apenas os custos e benefícios económicos possíveis de quantificar, mas incluem também uma grande variedade de determinantes do bem estar humano, i.e. tudo o que o ser humano valoriza ou precisa. Portanto, os “valores” variam desde a segurança pessoal, subsistência e saúde, passando pelos bens materiais e económicos até às crenças, tradições, rituais e estética. Contudo, os “valores” também se estendem do indivíduo para o colectivo, para incluir organizações, empresas, comunidades e mesmo nações, e introduzir os conceitos de influência, poder, propriedade e reputação. A tomada de decisões precisa de atribuir responsabilidades claras e criar condições para a monitoria e avaliação. As decisões são tomadas em níveis diferentes de governação, em vários sectores e em diversas escalas. Além disso, as consequências das decisões podem ser tão remotas, indirectas e retardadas no tempo que é muito difícil atribuir claramente a responsabilidade por elas. O mais importante é lutar pela máxima transparência do processo de tomada de decisões de modo a poder exigir responsabilidades aos verdadeiros decisores tanto quanto possível. Um pré-requisito claro para esta função é uma avaliação geral das políticas com base em monitorias eficazes. A avaliação dos efeitos de uma medida requer a criação dum elo causal entre a acção e o seu impacto. O cumprimento das metas é uma das considerações importantes aqui. Referências Biggs, R., E. Bohensky, C. Fabricius, T. Lynam, A. Misselhorn, C. Musvoto, M. Mutale, B.

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SUB-MÓDULO 5

COMO DESENHAR UM CURSO DE FORMAÇÃO: NOTAS

Por Christo Fabricius e James Gambiza Universidade de Rhodes, Grahamstown, África do Sul

INTRODUÇÃO Finalidade do Sub-módulo A finalidade desde sub-módulo é familiarizar os alunos com a estrutura básica para organizar cursos de formação e ajudá-los a reflectir sobre o processo de administrar um curso. Resultados Específicos No final deste sub-módulo, os alunos estarão aptos a organizar cursos de formação e especificamente a:

1. Descrever os resultados de aprendizagem de um curso de formação 2. Identificar quais os métodos de aprendizagem e actividades que melhor ajudarão a

alcançar o conjunto de resultados da aprendizagem 3. Seleccionar o conteúdo dos cursos 4. Seleccionar os materiais de formação 5. Desenvolver os métodos de avaliação 6. Identificar e preparar o pessoal de apoio 7. Planificar a logística e atender a todas as necessidades 8. Elaborar um orçamento 9. Avaliar um curso de formação

Qualquer curso de formação devia informar claramente o seguinte:

• Objectivos e resultados da aprendizagem do curso • Ensino e métodos de aprendizagem que serão empregues • Como avaliar a aprendizagem, e • Avaliação do programa de formação

Conteúdo do Sub-módulo Neste sub-módulo serão cobertos os seguintes tópicos:

• Determinação dos resultados da aprendizagem de um curso e escolha dos métodos de aprendizagem e actividades;

• Como seleccionar os materiais de formação, os participantes e as pessoas de apoio; • Organização da logística; • Como elaborar um orçamento para formação.

Componentes de um programa de formação 1. Resultados da aprendizagem Os resultados da aprendizagem são as intenções específicas de cada programa ou módulo e focam o que é que um estudante deve ser capaz de fazer e não aquilo que ele deve conhecer no final do programa ou módulo (Boughey, 2004). Isto representa uma mudança fundamental

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em relação ao ênfase tradicional dado ao conhecimento da matéria a que a maioria dos académicos está habituada. Foram identificadas duas grandes vantagens de um sistema de formação baseado nos resultados (Boughey, 2004). Primeiro, o acto de desenhar cursos ou módulos usando como base os resultados da aprendizagem conduz a uma abordagem mais focada nos estudantes em oposição a uma abordagem mais centrada nos professores (ex, Biggs, 1999). Isto assinala uma mudança fundamental do ênfase sobre o conteúdo do módulo ou curso (i.e. aquilo que é ensinado) para os resultados da aprendizagem (i.e. aquilo que o estudante está apto a fazer após concluir o curso ou módulo com sucesso). Boughey (2004) argumenta que existe actualmente necessidade de uma força de trabalho que seja composta por indivíduos que podem aplicar os seus conhecimentos aos problemas práticos, trabalhar em equipe, comunicar bem e usar a tecnologia de informação. Segundo, os resultados da aprendizagem podem ajudar tanto os estudantes como os professores durante o processo de formação, e também informar os empregadores sobre os conhecimentos técnicos potenciais e o conhecimento geral que o aluno irá possuir. Os alunos terão mais probabilidades de sucesso na aprendizagem se estiverem informados sobre o que se espera deles (Biggs, 1999). Especificar os resultados da aprendizagem também ajuda os professores a concentrarem-se sobre o que pretendem alcançar em termos de conhecimentos e técnicas. Apesar das vantagens claras do ensino baseado nos resultados acima descritas, tem havido críticas intensas do sistema de aprendizagem baseado nos resultados (p. ex., Bartlett, 2000; Knight, 2001; Hussey e Smith, 2002). Hussey e Smith (2002) realçaram duas limitações em relação aos resultados da aprendizagem. Primeiro, há quem afirme que os resultados da aprendizagem são afirmações precisas e específicas que podem ser avaliadas objectivamente. Eles argumentam que estas declarações de precisão e objectividade são basicamente falsas. Eles argumentam que a precisão e a objectividade são verdadeiras para descrições simples do comportamento dos alunos mas não são aplicáveis para especificar atributos complexos tais como o conhecimento, compreensão, técnicas e capacidades. Por exemplo, eles afirmam que os resultados da aprendizagem usam descritores tais como descrever, nomear, lembrar, definir, etc., para descrever o conhecimento factual, no entanto o conhecimento pode variar do superficial para o profundo ou do geral para o vago. A segunda limitação dos resultados da aprendizagem é que eles podem de facto restringir os resultados do ensino. Hussey e Smith (2002) afirmam que esta restrição pode acontecer de duas formas. Primeiro, se for usada para determinar o limite entre aprovação/reprovação, então os estudantes podem querer atingir esse nível. Segundo, o ênfase em resultados de aprendizagem planificados ignora e pode abafar resultados de aprendizagem emergentes que podem ser benéficos. Hussey e Smith (2002) destacam que “não existem fórmulas (sic) para definir o perfil dum curso ou módulo, nenhum substituto para a experiência e capacidade técnica dos educadores e nenhuma forma de dar aos estudantes instruções exactas e úteis sem pressupor a sua capacidade de as interpretar devidamente. Quando muito, os resultados da aprendizagem podem ser apenas declarações sobre qual o tópico ou fragmento do programa que será coberto numa determinada aula, e que tipos de técnicas e capacidades se espera que os estudantes possuam em relação a isso”. 2. Métodos de ensino É importante considerar que tipo de conhecimento nós queremos que os estudantes adquiram. Diferentes tipos de conhecimento requerem diferentes métodos de ensino. Por exemplo, Luckett (1995) argumenta que o conhecimento epistémico e o conhecimento inquiridor requerem uma abordagem profunda do sistema de aprendizagem. Isto pode envolver uma

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discussão num grupo pequeno e cara a cara entre os professores e os facilitadores seguida de uma análise retroactiva detalhada e demorada sobre o seu trabalho individual (Luckett, 1995). Têm sido realizados muitos estudos sobre a filosofia do ensino e aprendizagem (p. ex., Fox, 1983; Biggs, 1999; Pratt, undated; Light and Cox, 2001). As filosofias de ensino variam dos métodos concentrados no professor para métodos centrados nos estudantes. Os métodos de ensino incluem as perspectivas de transmissão, desenvolvimento de capacidades, aprendizagem, educação e reforma social (Fox, 1983). É importante notar, contudo, que não existe um método de ensino que seja considerado o melhor (Pratt, sem data). A natureza dos estudantes, a disponibilidade de recursos, a experiência do professor e a matéria (disciplina) são alguns dos factores que podem influenciar o sucesso do ensino. Existem evidências irrefutáveis de que a aprendizagem activa promove uma abordagem mais profunda da aprendizagem (p. ex. Biggs, 1999). Além disso, os estudantes que estão activamente envolvidos no seu próprio processo de aprendizagem actuam e retêm informação bem melhor do que aqueles que encaram a aprendizagem como um acto de “receber” informação.

Avaliação da Aprendizagem Esta secção baseia-se no documento de Race (sem data). Questões importantes na avaliação Em baixo indicamos as questões importantes a considerar numa avaliação da aprendizagem. Uma avaliação deve ser:

• válida • séria • transparente • justa • equitativa • formativa • oportuna • incremental • recuperável • exigente • eficiente e manejável

Porque devemos avaliar? As razões que levam a uma avaliação ajudam-nos a escolher os métodos que melhor se adaptam a essa finalidade (Race, sem data). Estes incluem:

• classificar ou graduar os professores • promover melhorias • diagnosticar defeitos e permitir aos estudantes rectificar os erros • dar informação sobre como está a decorrer o ensino • motivar os professores.

Técnicas de avaliação Race (sem data) discute os prós e os contras de catorze técnicas de avaliação. Os alunos são encorajados a ler o documento. Avaliação A avaliação é uma componente importante de qualquer programa de formação. É importante para os professores saberem se o curso de formação alcançou os resultados de aprendizagem

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previstos. Ramsden (1992) faz uma análise excelente sobre a avaliação. Os métodos de avaliação incluem questionários e diagnósticos educacionais em pequenos grupos (SGIDS)(small group instructional diagnosis). Arranjos práticos Selecção dos participantes Os participantes devem ser seleccionados com base em

• sua formação anterior (p. ex. qualificações e experiência) • seus interesses e desejo de aprender • seus níveis de motivação – até que ponto estão motivados para frequentar o curso, e

que vantagens podem tirar daí • seu potencial para contribuir para a experiência de aprendizagem dos outros • sua vontade, ou dos empregadores, de investir na formação.

Ter em conta as expectativas dos participantes As expectativas dos participantes do curso têm de ser consideradas desde o princípio. Os cursos de formação e conferências são populares e competitivos, e as expectativas dos participantes são guiadas pela sua melhor experiência anterior. Deste modo, se alguém participou num seminário ou conferência onde recebeu comida e alimentação “cinco estrelas”, esperará o mesmo na vez seguinte, a não ser que, logo no início, tenha sido definido claramente como serão as facilidades, etc. Mal-entendidos comuns incluem:

• os participantes estão a espera dum seminário, quando é oferecido um curso de formação formal;

• os participantes subestimam a quantidade de tempo e esforço que o curso exige; • mal-entendidos sobre o tema principal e as áreas geográficas; • os alunos não têm capacidade ou conhecimentos anteriores para atingir os resultados

do curso; • grandes expectativas sobre a acomodação, comida, ajudas de custo e outras

facilidades; • grandes expectativas sobre os materiais do curso e “extras adicionais”, p. ex. livros,

sacos, canetas, etc.; • alguns participantes podem estar á espera de serviços de tradução – esclareça a língua

do curso logo no início, na brochura. Como lidar com as expectativas? A brochura do curso deve esclarecer o tipo de curso de formação, método de ensino, avaliação, materiais fornecidos, etc. Em seguida deve-se enviar um e-mail ou uma circular aos participantes confirmados, explicando claramente tudo o que possa ser mal entendido. Esclareça as expectativas no início – Desde o Dia 1 do curso, dê aos participantes bastante tempo para apresentarem as suas expectativas; corrija todos os mal entendidos Avaliação contínua – dedique 30 minutos no início das actividades de cada dia para fazer uma breve avaliação dos pontos fortes e fracos dos dias anteriores de formação. Responda às reacções positivas e negativas. Atenção individual – procure identificar participantes felizes e infelizes e, em privado, pergunte-lhes qual a razão porque estão felizes ou infelizes.

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Avaliação – Faça uma avaliação adequada no final do curso, e tire daí as devidas lições. Materiais do curso Os materiais do curso devem ser da melhor qualidade possível. Os erros mais comuns na preparação dos materiais do curso incluem:

• textos que não foram devidamente revistos; • materiais fracamente fotocopiados e de difícil leitura; • materiais que não estão actualizados; p. ex. palestras antigas que são duplicadas; • materiais que focam apenas a teoria e não contêm exemplos práticos e estudos de caso

suficientes. Garantir a qualidade dos materiais do curso

• Organizar a distribuição dos materiais de formação: nomear um indivíduo específico para tratar da sua distribuição

• Emitir instruções claras para os professores sobre a qualidade e a apresentação dos materiais do curso

• Dar o feedback necessário aos professores, a tempo para que eles possam incorporar os comentários

• Dar aos professores o tempo necessário para prepararem os materiais • Usar uma pasta para o curso, à qual os participantes possam acrescentar materiais, em

vez de um documento já encadernado • Complementar as pastas dos cursos com materiais já publicados • Deixar espaço suficiente para tomar notas e acrescentar páginas • Verificar se as pastas do curso estão devidamente indexadas e se é fácil encontrar as

diferentes secções • Contratar alguém para fazer a revisão final dos textos e da apresentação geral de todos

os materiais Local É importante seleccionar um local apropriado que promova a reflexão e o estudo, e onde os participantes possam trabalhar sem serem perturbados. Seleccione um local que seja:

• Suficientemente grande para que os participantes não estejam em filas apertadas; • Um pouco distante, para manter a atenção dos participantes; • Longe das multidões, i.e. numa área sossegada, longe de barulhos; • Num local esteticamente aprazível, para promover a calma e a reflexão; • Bem ventilado; • Bem iluminado; • Com o número suficiente de tomadas e instalações eléctricas; • Com instalações sanitárias perto.

As facilidades básicas devem incluir:

• Projector de dados e computador; • Projector de livros/imagens; • Écran(s) de projecção; • Quadros brancos;

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• Flip-charts e suportes para flip-chart; • Espaço nas paredes para fixar as folhas dos flip-charts; • Quadros para pregar cartões com alfinetes; • Blocos de notas ou cartões para cada mesa; • Canetas de feltro (grossas) para cada participante; • Quadro para colocar avisos.

Deve haver uma área separada para as refeições e chás, e um espaço separado onde os participantes possam preparar e organizar debates. Os locais devem ser limpos no fim de cada dia e preparados para o dia seguinte. Coordenação e facilitação Os facilitadores e coordenadores são importantes para o sucesso de um curso de formação. Os facilitadores devem comunicar com os professores e alunos antes do curso, e estabelecer uma boa relação com os alunos desde o dia 1. Funções do coordenador:

• Definir os objectivos e resultados do curso e verificar se eles estão sendo alcançados; • Controlar o orçamento; • Elaborar a brochura do curso; • Assegurar que os materiais de ensino são entregues conforme o combinado; • Promover um estilo comum de ensino entre os professores; • Verificar se os resultados e a avaliação do curso estão alinhados; • Acompanhar o andamento do curso, ao longo de todo o tempo; • Reunir regularmente com os professores;

As funções do facilitador são:

• Estabelecer uma relação com os alunos, e procurar ir ao encontro das suas expectativas (razoáveis);

• Ser o elo de ligação entre os alunos e os professores; • Atender às expectativas e “resolver” os conflitos e diferenças de opinião, no seio dos

alunos e entre os alunos e os professores; • Recomendar mudanças nos métodos de ensino, em colaboração com o coordenador do

curso; • Fazer a apresentação dos palestrantes; • Facilitar as actividades de aprendizagem, em colaboração com os professores; • Introduzir “brincadeiras” no curso de formação, e manter os alunos motivados; • Fazer um sumário e uma reflexão no início de cada dia.

Funções do pessoal de apoio O pessoal de apoio é essencial para:

• Discutir questões de logística com os professores antes do curso; • Compilar e duplicar os materiais de aprendizagem; • Tomar conta da organização logística diariamente; • Atender aos pedidos específicos dos alunos (em colaboração com o coordenador e

facilitador do curso); • Apoiar nas reservas de avião e de acomodação;

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É importante ter um pessoal de apoio bem dedicado e disponível todo o tempo. O pessoal de apoio adicional deve incluir uma pessoa “polivalente” que possa também conduzir carros e fazer recados. Excursões ao campo As excursões ao campo são componentes essenciais dos cursos de formação ambiental. Elas oferecem aos participantes oportunidades para “sair”, conhecerem-se uns aos outros e discutir problemas num ambiente informal ao mesmo tempo que estão em contacto directo com os ecosistemas e as comunidades locais. As excursões ao campo devem, contudo, ser devidamente preparadas para obter o máximo de benefícios. Algumas dicas sobre como planificar uma excursão de campo são:

• Nomear um organizador da excursão dedicado e que tenha um bom conhecimento da área a ser visitada;

• Fazer uma visita de contacto inicial, para reunir com as pessoas locais e avaliar se o local é adequado para uma excursão;

• Reservar as viaturas com antecedência; • Orçamentar devidamente, incluindo a contribuição para a comunidade local. • Perguntar às pessoas locais se eles terão condições para fornecer as refeições; • Assegurar que existem instalações sanitárias adequadas e água potável disponível; • Visitar a área pouco tempo antes da excursão a fim de avaliar as condições da estrada

e a logística local, e para “ensaiar” alguns dos exercícios de campo; • Incluir tempo suficiente para perguntas e debates; • Deixar sempre algum tempo para ouvir as reacções; • Dar uma breve informação aos participantes no dia anterior, de modo a que saibam o

que lhes espera; • Produzir um documento informativo da viagem de campo, que sirva como leitura de

base. LISTA DE CONTROLE PARA PLANIFICAR UM CURSO DE FORMAÇÃO SECÇÃO A : INFORMAÇÃO GERAL A1 Nome do curso: A2 Nome e contactos do coordenador do curso: A3 Departamento/Instituto/Divisão ‘base’ A4 Data proposta para a realização do curso: A5 Como o curso será dado (por contacto / à distância / modo misto): A6 Períodos e local em que o curso será dado: A7 Matrículas previstas: (quantos participantes) A8 Qual o nível atribuído a este curso (p. ex. Diploma, Bachalerato, Mestrado, PhD) A9 Condições para registo: (qualificações académicas anteriores e/ou anos de experiência) A10 O curso está aberto ao público em geral ou é restrito aos funcionários ‘internos’? A11 O curso é reconhecido por quaisquer outras organizações (p. ex. conselhos profissionais)? Se sim, indique os nomes:

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A12 Liste quaisquer materiais especiais que os estudantes precisarão de ter para tirar o curso: A13 Liste todas as facilidades que serão utilizadas durante a realização deste curso: A14 Comente sobre a duplicação ou sobreposição com outros cursos semelhantes oferecidos A15 Breve descrição e finalidade do curso: A16 Indique se o certificado emitido será um certificado de competência ou de participação.

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SECÇÃO B: PLANO FINANCEIRO Número mínimo de estudantes necessários para garantir que o curso seja finaceiramente viável

B1 Receita:

Custo da matrícula por estudanteReceita total do curso:Patrocínios (contracto da UNU quer cobre todos os custo de transporte, acomodação e matrícula)Outros (especificar):Receita total: 0 0B2 Despesa:10% taxa administrativa (baseado na receita bruta):Custos de publicidade:Materiais do curso*: (1500 / participante)Aluguer sala / equipamento:TransporteAcomodação: (incluindo ajudas de custo determinadas pelo patrocinador)Refeições:Entretenimento:Pagamentos totais a todo o pessoal**:Contingências:Outros (especificar) Excursão ao campo: pagamento aos guias da excursão Despesa total: 0Excedente previsto: 0Distribuição do excedente (distribuição percentual pelos vários recipientes, p. ex. Universidade/Departamento/Indivíduo):B3 Pagamentos ao pessoal :NOME1Número de horas dispendidas no curso: Remuneração por hora: Remuneração total: 0NOME2Número de horas dispendidas no curso:Remuneração por hora: Remuneração total: 0NOME3Número de horas dispendidas no curso:Remuneração por hora: Remuneração total: 0NOME4Número de horas dispendidas no curso:Remuneração por hora: Remuneração total: 0PAGAMENTOS TOTAIS: 0

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SECÇÃO C: GARANTIA DE QUALIDADE Penso que esta secção precisa de ser melhorada porque não está claro a que é que se refere.

C1 Qualificações e experiência do pessoal docente: A informação que se segue é necessária para o coordenador do curso assim como para todas as outras pessoas que ensinam e orientam o curso. Nome e posição: Qualificação relevante mais alta: Registo profissional: Anos de experiência relevante: C2 Condições de entrada: Que condições de entrada em termos de qualificação, experiência, idade, etc., foram definidos para os candidatos poderem participar no curso? C3 Desenho do Curriculum: C4 Avaliação da aprendizagem dos alunos: C5 Avaliação do ensino e do curso: C6 Monitorização do Curso: C7 Informação aos alunos:

REFERÊNCIAS

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