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Ecoturismo e Meios de Hospedagem no Entorno do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (SP)

Ecotourism and Hotels around Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (SP)

Zysman Neiman∗ Erica Onishi∗∗

RESUMO

Esse artigo apresenta um estudo de caso de alguns empreendimentos hoteleiros no Bairro da Serra - Iporanga – SP, no entorno do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira – PETAR, com a finalidade de analisar informações que podem ser observadas entre os diversos personagens no cenário turístico. Para a coleta de informações foram realizadas entrevistas com os proprietários de três importantes empreendimentos locais: a Pousada da Diva, a Pousada Caeté e a Pousada das Cavernas. Os resultados sugerem que a hotelaria local apresenta perfis muito distintos e, pode estar demonstrando o rumo do turismo regional. No Bairro da Serra não se pode concluir que o turismo sustentável seja praticado na sua íntegra. O fluxo de turistas, e conseqüentemente do capital, está muito concentrado em alguns empreendimentos, sendo que as pousadas menores não concorrem diretamente com o movimento das maiores, aumentando a desigualdade sócio-econômica no Bairro.

Palavras-chave: Hospitalidade. Populações tradicionais. Sustentabilidade. Ecoturismo. PETAR.

ABSTRACT

This article presents a case of some hotels in Bairro da Serra - Iporanga - SP, around the Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira - PETAR, with the purpose of examining information that can be observed between the various characters in the scene tour. For the collection of information was conducted interviews with the owners of three major local undertaking: the Pousada da Diva, the Pousada das Cavernas and Pousada Caeté. The results suggest that the hotels presents profiles very different, and may demonstrate the direction's tourism regional. In the Bairro da Serra can not be concluded that sustainable tourism is practiced in its entirety. The flow of tourists, and consequently the capital, is highly

∗ Professor adjunto da Universidade Federal de São Carlos, (UFSCar), Campus Sorocaba, onde coordena o Laboratório de Ecoturismo, Percepção e Educação Ambiental. [email protected] ∗∗ Professor adjunto da Universidade Federal de São Carlos, (UFSCar), Campus Sorocaba, onde coordena o Laboratório de Ecoturismo, Percepção e Educação Ambiental. [email protected] Bacharel em Hotelaria formada pelo Centro Universitário SENAC - SP. [email protected]

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concentrated in some enterprises, and the smaller hotels do not compete directly with the movement of the largest, increasing the socio-economic inequality.

Keywords: Hospitality. Traditional peoples. Sustainability. Ecotourism. PETAR.

Introdução

O Ecoturismo pode ser um grande aliado na preservação de áreas naturais.

Influenciado por uma nova tendência mundial de preocupação ambiental, o turismo tem a

vantagem de ser uma atividade econômica altamente lucrativa e, além disso, se implementada

com planejamento adequado, causadora de baixos impactos ambientais, quando comparado à

atividade industrial tradicional, por exemplo. Nesse sentido, o turismo está adequado às

propostas de desenvolvimento sustentável sugeridas nos tratados e convenções internacionais

a partir da década de 1980.

Além disso, ele é classificado, de uma maneira geral, como um movimento pacifista e

integrador, não se associando diretamente a seus congêneres industriais e sendo logo definido

como uma “indústria limpa” (RUSCHMANN, 1994). Uma alternativa aos impactos causados

pelas atividades do setor é a implementação do Turismo Sustentável,

[...] aquele que é desenvolvido e mantido em uma área (comunidade, ambiente) de maneira que, e em uma escala que, se mantenha viável pelo maior tempo possível, não degradando ou alterando o meio ambiente que usufrui (natural e cultural), não interferindo no desenvolvimento de outras atividades e processos, não degradando a qualidade de vida da população envolvida, mas pelo contrário servindo de base para uma diversificação da economia local. (WALL, 1988 apud MURPHY, 1997, p. 14)

Essa noção de turismo sustentável ajudou a impulsionar ainda mais a “indústria do

turismo” a partir da década de 1990. Algumas estimativas apontam que o setor já emprega

10% da população economicamente ativa mundial, com um crescimento regular de

aproximadamente 4 a 5 % ao ano (SERRANO; BRUHNS, 1997). Obviamente que não só

esse novo conceito foi o responsável por tal crescimento. Outros fatores são bem mais

importantes no delineamento dessa tendência, como, supomos, o marketing maciço

empregado pelas agências de turismo e a constituição do turismo como elemento de status

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para as populações urbanas em geral. O importante, porém, é apontar a trajetória comum e

imbricada entre o discurso ambientalista e as diferentes formas de turismo.

O turismo e a problemática do meio ambiente têm, portanto, uma trajetória bastante

parecida e confundida de crescimento ao longo do século XX. Uma das modalidades de

“turismo sustentável” – o Ecoturismo – é inclusive citado por agências e/ou órgãos oficiais do

governo brasileiro como uma das alternativas de promover o desenvolvimento sustentável:

Ecoturismo é a atividade que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas. (EMBRATUR/ IBAMA, 1994)

A atividade do Ecoturismo deve abranger, em sua conceituação, a dimensão do

conhecimento da natureza, a experiência educacional interpretativa, a valorização das culturas

tradicionais locais e a promoção do desenvolvimento sustentável. Dessa forma, para os fins de

implementação de uma política nacional, conceitua-se, o Ecoturismo como um segmento da

atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva

sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da

interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas (BARROS;

LA PENHA, 1994).

O interessante é frisar que, na maioria das definições do Ecoturismo, os critérios

ecológicos atentam mais para o “equilíbrio com o meio” do que para justiça social. Segundo

Serrano e Bruhns (1997), as atrações do Ecoturismo, geralmente associado aos esportes

radicais, desviam o olhar do turista da real vivência da população local. Além disso, muitos

autores tratam o Ecoturismo inserido num conjunto de “diversificações mercadológicas para

garantir um amplo leque de consumidores” (DEPREST, 1997 apud SERRANO; BRUHNS,

1997, p. ???), o que talvez até ajude no fortalecimento do conceito.

Um agente importante na difusão dessas noções de desenvolvimento sustentável é o

setor hoteleiro, que lida diretamente com a interface entre os discursos ambientalistas e a

indústria do turismo. Existem iniciativas da parte de algumas redes hoteleiras de implantações

operacionais de gestão ambiental como redução do consumo de energia, reciclagem, etc.,

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muitas vezes não tão atenta aos valores sociais (SWARBROOK, 2000), mas o mais

importante é seu papel como difusora dos ideais de sustentabilidade.

Segundo Duarte (1996) a hotelaria teve a função inicial básica de alojar aqueles que,

por estarem fora de seus lares, necessitavam de um quarto, uma cama e um bom banho. Com

a evolução da área, os novos empreendimentos hoteleiros procuravam entender todas as

necessidades das pessoas em trânsito e a atrair a população da microrregião para consumir

seus produtos e serviços. Foram essas características da hospitalidade que fizeram dos meios

de hospedagem os responsáveis pela maior permanência dos turistas nas localidades visitadas,

possibilitando o desenvolvimento da atividade turística no mundo, juntamente com outros

fatores como, por exemplo, o avanço tecnológico dos meios de transportes e as leis de férias

que garantiram ao cidadão maior tempo livre.

As pousadas são consideradas como meios de hospedagem de pequeno porte, mas isso

depende de vários fatores de classificação, como tamanho e quantidade de unidades

habitacionais existentes, ou luxo, característica e qualidade dos serviços prestados.

Pérez (2001) considera que as pousadas são estabelecimentos com quantidade limitada

de quartos, muitas vezes instalados em construções antigas restauradas, com serviços de

alimentação regional e grande luxo.

Para o Ministério do Turismo (BRASIL, 2007) pousadas são locais turísticos,

normalmente fora do centro urbano, predominantemente construídas em partido arquitetônico

horizontal e que oferecem hospedagem em ambientação simples e integrada à região. Há,

portanto, uma identificação da pousada como um meio de hospedagem que se estabeleça

como parte da região onde está instalada, não destoando das características regionais. A

decoração e a prestação de serviços devem estar relacionadas à responsabilidade ambiental, e

à realidade da região, utilizando recursos disponíveis para que se integre ao seu local de

origem.

O Vale do Ribeira e a Região do Bairro da Serra

No Vale do Ribeira estão localizadas as maiores áreas contínuas dos remanescentes de

Mata Atlântica do Brasil, cerca de 20% de todas as áreas de Mata existentes no território

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brasileiro (WWF; ING-ONG, 2002). Sendo reconhecido pela UNESCO, em dezembro de

1999, como sítio do Patrimônio Natural da Humanidade. O Vale do Ribeira está situado no

sul do Estado de São Paulo e é composto por vinte e três municípios e três sub-regiões: Baixo,

Médio e Alto Ribeira. Trata-se da região menos urbanizada do Estado e a de menor Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) (IBGE, 2003).

A Região do Vale do Ribeira possui uma riqueza cultural muito significativa, com

artesanatos locais (cerâmicas, cestarias e entalhes em madeiras), produção de alimentos

derivados das plantações locais (doce de banana), festas e comemorações tradicionais, grande

conhecimento de plantas medicinais e comunidades tradicionais muito importantes para a

cultura brasileira, como quilombolas, caiçaras e ribeirinhos. As cidades de Iporanga e Apiaí

foram marcos da colonização européia e, recentemente, a região foi considerada Reserva da

Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) pela UNESCO, como patrimônio da humanidade, sendo

o Alto Ribeira considerado uma área piloto, ou seja, prioritária para que sejam desenvolvidos

projetos modelo que propiciem o aprendizado e demonstração na prática dos conceitos e

funções da RBMA.

A região do Vale do Ribeira é considerada a mais pobre do Estado de São Paulo. Passa

por constantes conflitos relacionados à ocupação da terra e da conservação do meio ambiente.

Seu desenvolvimento econômico foi afetado negativamente devido ao grande número de

Unidades de Conservação existentes, todas criadas em resposta às pressões preservacionistas

que se iniciaram no final da década de 1950. No Vale do Ribeira há 25 unidades de

conservação de uso indireto e direto, totalizando 1.462.504 hectares, correspondendo 51% da

região hidrográfica do Ribeira, sendo destas 18 estaduais (BONDUKI, 2002), por isso, é

muito procurado para a prática do Ecoturismo.

No ano de 1958, foi implantado o decreto de criação do Parque Estadual do Alto

Ribeira (PEAR), mais tarde transformado no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira

(PETAR). É um dos Parques mais antigos do Estado de São Paulo e está localizado à 330

quilômetros ao sul da capital, entre os municípios de Iporanga e Apiaí (BONDUKI, 2002;

WWF; ING-ONG, 2002).

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Sua maior atração do Parque é sem dúvida a riqueza espeleológica. São mais de 250

cavernas cadastradas, o que faz do PETAR a maior concentração deste gênero no Brasil.

A implantação do Parque na região causou conflitos, que duram até os dias de hoje,

com os moradores das regiões que o circundam. Muitas pessoas tiveram suas terras

demarcadas dentro do perímetro do parque e assim obrigadas a obedecer às leis impostas pela

Unidade de Conservação. Essas restrições não deixaram outra opção aos moradores das

localidades afetadas, se não, iniciar o desenvolvimento do turismo na região como fizeram.

Segundo Campos (1990 referência???) e Bonduki, (2002) o Bairro da Serra teve sua

origem por uma trilha de tropeiro que transportavam ouro de Apiaí até Iporanga para ser

escoado pelo Rio Ribeira de Iguape e também pela movimentação populacional causada pelo

declínio da extração do ouro. As pessoas saiam à procura de novas terras para que as famílias

pudessem desenvolver a sua própria cultura de subsistência formando as capuavas (posses de

domínio familiar).

A família Rodrigues de Mota possuía grande parte da região chamado de Serra dos

Mota, incluindo o que atualmente é o Bairro da Serra. Em sua fazenda eram produzidos

farinha e curtume, e como se situava na rota dos tropeiros o comércio de farinha, cachaça e

rapadura, ocasionou o crescimento da região.

Segundo relato de moradores locais a vida naquela época, antes da criação do parque,

era de fartura, todos tinham suas roças para plantar vários tipos de produtos, e aquilo que a

população não conseguia produzir, era trocado, com os tropeiros, pelo excedente da produção.

A população localizava-se dispersa, mas bastante unida. Mutirões eram organizados para

preparar a terra para o plantio, era um verdadeiro bairro rural. (QUEIROZ, 1967 apud

BONDUKI, 2002)

Em 1937, foi aberta a estrada Apiaí – Iporanga, para a implantação de duas

mineradoras que empregou muitas pessoas, mas provocou impactos econômicos, sociais e

culturais muito fortes, essa mudança gradual dos hábitos da população foi intensificada com

as ações de implantação do parque. (BONDUKI, 2002)

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A visita de cientistas para a pesquisa nas estruturas naturais onde, futuramente seria o

PETAR, cresceu bastante, especialmente, com a implantação efetiva deste, em 1958. As

pessoas tiveram, assim, que se adaptar as novas regras importas pela UC. O turismo começara

a dar sinais como alternativa de desenvolvimento local, com essa pequena demanda de

espeleólogos e arqueólogos, poucas iniciativas turísticas foram apresentadas, apenas, um casal

que abrigava os visitantes em sua própria casa, e mais tarde viriam ser os pioneiros da

hotelaria local.

A Associação Serrana Ambientalista, no final de 1996, produziu um levantamento

sócio-econômico do Bairro da Serra. Esta pesquisa apresentava o Bairro com 528 moradores,

destes, 193 entre 0 e 15 anos, 172 entre 15 e 35 anos e 163 com mais de 35 anos. Segundo

esse levantamento, o número de jovens tem se reduzido bastante devido ao êxodo de pessoas

dessa faixa etária para outras cidades, dada a falta, no bairro, de perspectivas e infra-estrutura

para absorção das mesmas.

Em relação à escolaridade, este mesmo levantamento demonstra que somente 6

moradores do bairro têm nível superior (que são turistas que resolveram residir na região), 35

têm o segundo grau, 384, o primeiro grau, do qual, muitas sabem escrever apenas o nome, e

103 freqüentaram a pré escola, ou são analfabetos.

Uma parcela dos idosos da população vivia, e ainda vive, da aposentadoria rural e os

mais jovens com poucas perspectivas de emprego, mudavam-se para as cidades maiores em

busca de trabalho. O turismo na região, que só começou a se desenvolver efetivamente na

década de 90 com o crescimento do ecoturismo, mudou relativamente esse perfil. As pousadas

que foram sendo implantadas foram absorvendo uma parcela desses jovens, muito pouco para

promover uma melhora geral na economia local, mas o suficiente para diminuir com o êxodo

rural da região.

Segundo FERREIRA; et al (2004), existe no Bairro da Serra dez meios de

hospedagem, dos quais sete são pousadas e os outros três são campings. Deste ultimo,

somente um deles está já implantado e recebe efetivamente turistas, possuindo capacidade

para abrigar 50 barracas e algumas pessoas na casa do proprietário. Dos outros dois, um é

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base de apoio para alunos em viagens educativas, promovidas por professores e não está

aberta ao público em geral, mas já está em funcionamento e tem capacidade para 70 barracas.

O outro ainda em fase de implantação, terá capacidade para 20 barracas e fornecerá refeições

e café da manhã.

Objetivo do estudo

O estudo dos empreendimentos hoteleiros no Bairro da Serra - Iporanga - SP - tem

como finalidade discutir e analisar algumas informações que podem ser observadas entre os

diversos personagens no cenário turístico. O turismo como meio de desenvolvimento

econômico na região surgiu com a implantação do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira -

PETAR, e as restrições impostas pela criação desta Unidade de Conservação UC fizeram com

que os hábitos e a cultura dos habitantes do Bairro mudasse drasticamente, tornando-se o

turismo uma das únicas fontes de renda de grande parte da comunidade, principalmente no

Bairro da Serra,.

O aumento pela procura turismo de aventura e Ecoturismo, de acordo com a temática

ambiental que desenvolvida nas ultimas décadas, ajudou a promover um pequeno crescimento

econômico na região. Observando e analisando o crescimento da demanda hoteleira no Bairro

pode-se demonstrar, de outra forma, esse movimento.

Metodologia aplicada

Nesta pesquisa foram realizadas visitas ao Bairro da Serra para verificar a oferta de

meios de hospedagem existente. Além disso, foram realizadas entrevistas com os

Proprietários de três importantes empreendimentos locais: a Pousada da Diva, a Pousada

Caeté e a Pousada das Cavernas. As entrevistas semi-estruturadas combinaram perguntas

abertas e fechadas, tendo os informantes a possibilidade de discorrer sobre cada tema

proposto (SELLTIZ; et al, 1987). Foram elaboradas algumas questões previamente definidas,

mas o contexto foi muito semelhante ao de uma conversa informal, sendo que os

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pesquisadores dirigiram a discussão para os assuntos que interessavam, fazendo perguntas

adicionais para elucidar questões que não ficaram claras. As entrevistas semi-estruturadas,

neste caso, foram utlizadas devido à dificuldade que algumass pessoas do Bairro da Serra têm

de responder por escrito a um questionário.

Além disso, este método possibilitou uma interação entre o entrevistador e o

entrevistado que favoreceu respostas espontâneas e permitiu tocar-se em assuntos mais

complexos e delicados, pois havia o favorecimento de uma troca mais afetiva entre as duas

partes. As entrevistas colaboraram muito na investigação dos aspectos afetivos e valorativos

dos informantes que determinaram significados pessoais de suas atitudes e comportamentos.

As entrevistas foram realizadas nos meses de abril e maio de 2006.

Principais resultados

Em visita técnica ao Bairro da Serra pôde ser constatada a existência de 13

estabelecimentos. Os campings localizados no Bairro da Serra são bastante expressivos,

especialmente porque os seus hóspedes são os que mais tem contato com o Bairro

efetivamente, utilizando mais as estruturas como restaurantes, pousadas que servem

alimentação, mercados locais e contato com os moradores da região, mas não serão estudados

neste trabalho.

Alguns dados da pesquisa de Ferreira et. al. (2004) não são os mesmos recolhidos

neste estudo. Segundos os autores, as principais pousadas do Bairro da Serra são:

• Pousada da Dona Diva - Primeira pousada do bairro, hospeda pesquisadores desde

1968. Seus proprietários são do bairro, nascidos e criados nele. Nela trabalham os seis

filhos do casal que ainda residem ali e mais algumas funcionárias contratadas para os

períodos de maior movimento.

• Pousada Rancho da Serra - Segunda pousada mais antiga do bairro. Sua proprietária

é de São Paulo, mas já freqüenta a região há muitos anos. Esta pousada evoluiu da

casa que ela possuía e hospedava amigos. Nela trabalham dois funcionários fixos, e

mais um ou dois são contratadas para os períodos de maior movimento.

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• Pousada da Helena - Mais conhecida por Pousada do Abílio. Seus proprietários são

do bairro, ali nascidos e criados. Nela trabalham as pessoas da família.

• Pousada das Cavernas - Seus proprietários são de São Paulo, mas freqüentam a

região há alguns anos. Nela trabalham os dois funcionários permanentes e mais três

são contratados nos períodos de maior movimento.

• Pousada do Didi – Seus proprietários são do bairro, nascidos e criados ali mesmo.

Nela trabalham somente os proprietários, sendo que a esposa toma conta de tudo pois

o marido trabalha fora, no Parque.

• Pousada da Idati - Sua proprietária é do bairro, nascida e criada nele. Somente a

proprietária trabalha e toma conta da pousada.

• Pousada do Quiririm - Seus proprietários moram em São Paulo, mas já freqüentam a

região há muitos anos. Nela trabalham dois funcionários contratados.

• Pousada Caeté – Seu proprietário era gerente da Pousada das Cavernas, mas, nascido

e crescido na região, resolveu abrir seu próprio negócio.

Vamos analisar três pousadas que apresentam perfis bastante distintos e proporcionam

vasto material para análises.

Pousada da Diva

De acordo com entrevista concedida por Sr. Wandir (hoje falecido), marido de Dona

Diva, ambos nascidos e criados no Bairro da Serra, o casal entrou no ramo de hospedagem

abrigando espeleólogos nos anos 60 que visitavam o PETAR em sua própria casa, em

pequenos casebres de pau-a-pique e chão batido. O Sr. Wandir trabalhava, na época, na

prefeitura e indicava a sua moradia para acomodar os cientistas em camas feitas de esteira de

folha de bananeira e servia refeições feitas pela D. Diva no fogão à lenha. Alguns anos depois,

já com a chegada de alguns turistas, graças às divulgações feitas pelos trabalhos científicos, as

pessoas eram acomodadas nas mesmas esteiras, mas agora em formato de beliche. O casal

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oferecia o único meio de hospedagem do Bairro. Além deles, somente algumas hospedarias

funcionavam em Apiaí e Iporanga. Dona Diva e Sr. Wandir já recebiam algumas excursões de

escolas paulistas e apresentavam para os estudantes um pouco da vida simples da roça, que

esses desconheciam. Com o tempo foram substituindo as esteiras por espumas, e mais tarde

por colchões aprimorando as suas acomodações construindo alojamentos de alvenaria.

A pousada foi, e vai, até hoje, se adaptando de acordo com as exigências dos turistas.

Banheiros foram colocados dentro dos quartos, beliches com colchão de espuma (não há

roupa de cama, portanto os hóspedes têm de trazê-las), ventiladores de teto foram

implantados, mas mantiveram a essência inicial, recebendo as pessoas em sua casa (a

residência da família é uma das edificações dentro da pousada) de maneira informal e

hospitaleira. A comida de D. Diva, muito bem conceituada e caseira, é feita, ainda, em fogões

à lenha.

Os alimentos são servidos em travessas fartas e só colocadas na mesa quando a

maioria das pessoas do grupo está sentada à mesa, como uma “mãe” servindo sua “família”

no momento da refeição. Este procedimento não agrada muito a alguns dos seus clientes, que

ao sentarem-se à mesa, exigem que a comida seja servida imediatamente. No entanto, o

serviço de D. Diva faz com que, desta maneira, o desperdício de alimento seja menor e dá um

valor maior às refeições, que em outros tempos, era o momento mais importante da relação de

uma família. Esse cuidado simples atualmente é esquecido com a correria e fast foods da vida

moderna. Todas as operações da pousadas são elaboradas a partir do conhecimento pessoal e

vivência no Bairro, sabendo seus proprietários exatamente o que é essencial para aqueles que

freqüentam a região e seus atrativos.

No início da década de 90, mais uma via de acesso à região foi asfaltada, e isso

impulsionou o turismo fazendo com que o parque chegasse a documentar “32 mil pessoas no

ano de 2001 em seu livro de registro” (BONDUKI, 2002, p. 68). O movimento turístico

estava em alta, e as pessoas perceberam que o investir no Ecoturismo no Bairro da Serra era

um bom negócio para a época. Muitas pessoas do Bairro e de fora dele começaram a

implantar pousadas, quase todas inspiradas nos padrões da Pousada da Diva, com beliches nos

quartos, a mesma arquitetura com redes na varanda, refeitórios, etc.

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Atualmente a Pousada da Diva é a que mais emprega pessoas no Bairro, todas da

família ou parentes dos proprietários. Ocasionalmente, quando o movimento é muito grande

são chamadas pessoas do bairro, mas nenhuma delas trabalham de maneira regulamentada

conforme as normas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Somente as pousadas já conceituadas no mercado conseguem sobreviver à baixa no

fluxo de turistas que vem crescendo a cada ano. A alta freqüência de desistência dos grupos

que fazem reserva e cancelam prejudica muito o caixa das pousadas, segundo Sr. Wandir.

Mas, pousadas com uma rotatividade maior não são tão atingidas, pois os produtos adquiridos

para a recepção desses grupos desistentes são utilizados pelos grupos seguintes. Esse é mais

um motivo para que as pousadas maiores consigam um melhor desempenho, mantendo-se no

mercado.

D. Diva tem outros investimentos no turismo regional, como o aluguel de

equipamentos para atividades nas cavernas. Monitores ambientais são contratados por ela

mesma, além dela administrar e organizar atividades de bóia-cross feita nos rios locais, e uma

loja que vende souveniers, materiais para a prática de esportes de aventura entre outros

produtos.

Hoje, com 48 quartos (divididos em apartamentos, quarto simples e suíte casal) e

aproximadamente 250 leitos, a Pousada da Diva é a maior do Bairro da Serra e capta o seu

maior fluxo de turistas: as excursões organizadas. Por conseguir alojar grupos grandes e

manter pequenas características locais, boa comida, mantendo as origens da hospitalidade,

esta pousada se destaca na região, oferecendo um serviço especial, não só por ser a pioneira

na área, mas por ser a mais lucrativa.

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Pousadas das Cavernas

A Pousada das Cavernas é outro empreendimento muito significativo, devido ao

número de turistas que atende e as características das suas instalações. Sua história

contrastante com a da Pousada da Diva serve de bom exemplo das diversidades e contradições

ocorridas no Bairro da Serra.

Aberta em 1992, por um casal de paulistanos, segundo o gerente que nos forneceu uma

entrevista e trabalha desde 1996, a pousada começou com poucos quartos e atingiu 24

atualmente, num total de 100 leitos. Todos os quartos da pousada possuem, no mínimo,

banheiro, varanda com rede e ventilador no teto. Quatro são suítes luxo (possuem cama de

casal, televisão e ar condicionado); Oito são chalés para quatro pessoas; Quartos com beliche

e suíte standart. Todos os preços são cobrados por pessoa e incluem pernoite, café da manhã e

uma refeição.

Toda a estrutura do local é projetada para fornecer ao hóspede muito conforto e bom

gosto, comparado às instalações das outras pousadas. É fornecida roupa de cama, há uma

lavanderia, uma piscina natural, sauna, churrasqueira, sala de televisão, além de outras

estruturas como refeitório, bar e uma pequena loja que vende souveniers e diversos outros

produtos (tênis, lanterna, mochila, etc.).

O refeitório serve o café da manhã e o jantar, e o cardápio é bastante variado, com

pratos mais tradicionais, como refogado de legumes, e outros não tão comuns na região, como

strogonoff com batata palha.

Fora dos limites da pousada, mas ainda pertencente aos mesmos donos, há um

restaurante e uma danceteria que funcionam em alguns finais de semana e feriados. No

restaurante são servidos pratos como pizza, picanha fatiada e drinks. Na danceteria, gêneros

musicais como reggae, rock’n roll, e forró são tocados nos dias de funcionamento - a placa de

entrada menciona até mesmo uma “balada” mostrando a forte influência paulistana,

promovendo um lazer pouco característico no local em que está inserido.

O público que freqüenta a pousada é em grande parte gerado pelas excursões de

escolas nos finais de semana e durante alguns dias úteis. Nos feriados, em menor proporção, a

pousada é freqüentada por grupos menores e casais. Este fluxo de turistas, que segundo o

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gerente é bastante exigente, é emitido basicamente por cidades paulistas. Isso pode explicar,

em parte, as instalações e atividades direcionadas para um tipo de público que, ao viajar,

procura um padrão de ambientes para se divertir, padrão este que se aproxima daquele

encontrado em sua cidade de origem.

A pousada emprega cinco pessoas (incluindo o gerente), sendo a maioria natural do

Bairro e alguns de Apiaí, todos com registros em carteira de trabalho. Já os diaristas, que

trabalham nos dias de maior movimento, são contratados como free-lancers. Os monitores

ambientais que acompanham os grupos nas atividades são contratados por uma operadora

local (Aventura Radical), que administra esses prestadores de serviços advindos do Bairro da

Serra. Essas posturas administrativas indicam uma maior profissionalização na operação da

pousada. O investimento em marketing é facilitado pela existência de um escritório na cidade

de São Paulo, que se encarrega de cuidar da imagem da pousada e como ela está inserida no

segmento ecoturístico, o que exige certos cuidados com o meio ambiente. Assim, a Pousada

das Cavernas cuida da coleta seletiva de lixo além de ceder parte do seu terreno para o plantio

de palmito (Euterpe edulis) promovido juntamente com alunos que se hospedam na pousada.

O grande contraste entre a Pousada da Diva e a Pousada das Cavernas pode nos dizer

muito sobre as relações de trabalho, costumes e contribuir no debate pela busca da

autenticidade turística.

Pousada Caeté

A Pousada Caeté compõem uma parte da hotelaria local pouco destacada: pousadas

menores implantadas por empreendedores locais. Natural de Iporanga, Cidão, o seu dono,

vive no Bairro da Serra há 15 anos. Começou trabalhando na Pousada das Cavernas, onde

aprendeu muitas coisas sobre hotelaria, até decidir construir a sua própria pousada em 1997.

Como líder da comunidade, Cidão desenhou e construiu com suas próprias mãos sua

pousada, e em 9 meses ela estava pronta para começar a funcionar. Com apenas 24 leitos, a

pequena, mas muito simpática pousada começou com uma boa porcentagem de ocupação,

mas nos últimos quatro meses anteriores à entrevista que concedeu, não havia recebido

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nenhum hóspede. Com a falta de clientes, Cidão trabalha como monitor ambiental de

excursões, atividade que já exercia anteriormente.

A queda da ocupação pode ter sido ocasionada por diversas razões como: a diminuição

no número de turistas que freqüentam a região, e também, por problemas políticos no qual o

dono da Pousada Caeté acaba se envolvendo: por ser um líder local, ele luta pelos direitos dos

moradores do Bairro. O telefone de contato com a Pousada era feito através de uma linha

comunitária, mas que foi retirada pela prefeitura desde fevereiro de 2005. Assim passou a

fazer suas reservas através do telefone da casa de sua mãe, que fica em Iporanga. Isso tudo

pode ter contribuído para a crise na pousada que acumula dívidas, desestimulando o

proprietário, que já recebeu propostas de compra de seu empreendimento. Muito preocupado

com o rumo do turismo local, Cidão pensa muitas vezes em vender tudo aquilo que construiu

e recomeçar sua vida em outro lugar. Tenta com seus parceiros (algumas ONGs e outras

instituições) a implantação de um certificado local chamado Selo Verde, mas ainda não foi

possível. Comentou que há um outro selo de certificação que classificou apenas algumas

pousadas como a das Cavernas, A Pousada do Tatu e a Pousada Quiririm, todas de donos de

fora da região (não que isso tenha sido um dos critérios a serem utilizados) e com instalações

mais “luxuosas” (mais tarde verificou-se se tratar da publicação no Guia 4 Rodas de turismo).

Até mesmo a pioneira pousada da Dona Diva não foi classificada, fazendo assim com que

apenas as pousadas mais profissionais fossem coroadas com a divulgação neste veículo. Isso

promove, cada vez mais, a concentração dos turistas em algumas poucas pousadas, deixando

as pequenas (com menor poder de propaganda como a Pousada Caeté) com dificuldades para

se manter no mercado.

Além da pousada, Cidão trabalha com o GAPMA (Grupo de Ação e Preservação do

Meio Ambiente) com ações sociais como coleta de lixo no Bairro, distribuição de cestas

básicas, aquisição de um aparelho de ultra-som para o posto de saúde, entre outros projetos

que visam a melhoria na qualidade de vida da população local.

“O turismo individualizou as pessoas do bairro” diz Cidão. Muitos dos projetos

efetuados pelo GAPMA não têm apoio das pousadas, algumas delas são grandes poluidoras,

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degradaram parte das matas ao redor de seus terrenos e pouco fazem pela comunidade local e

para o desenvolvimento de um turismo sustentável, tão necessário na região.

A criação do parque, que causou grande parte do conflito que hoje existe no Bairro da

Serra, foi “apertando a comunidade e roubando as suas terras” fala Cidão. Em entrevista, ele

comenta que “no começo o turismo era bom para todos e agora está muito segmentado”.

Somente as pousadas que conseguem se adaptar ao novo fluxo de turistas (que antes

da crise era um público mais disposto a “viver” a localidade) e oferecer os serviços exigidos,

como a busca por decoração e infra-estrutura padrão, sobrevivem. Esses serviços não são

condizentes com a realidade local, tornando irrelevante a experiência vivida e o contato com

os habitantes da comunidade, distanciando-se do conceito de ecoturismo já discutido

anteriormente.

Conclusão

Com a implantação do Parque uma parte bastante significativa da Mata Atlântica foi

preservada, além de diversas riquezas espeleológicas, rios e mananciais, mas pouca atenção

foi dada a população que vivia nos arredores, causando conflitos entre os dois. O turismo na

região está em desenvolvimento e trazendo uma alternativa de desenvolvimento, mas vem

causando forte desigualdade social, pequenos conflitos e desunião na comunidade.

A hotelaria local apresenta perfis muito distintos e, pode estar demonstrando o rumo

do turismo regional. A Pousada da Diva é a pioneira no Bairro, começou com quartos de chão

batido e esteiras de palha, é agora o maior empreendimento hoteleiro da região, mas com a

concorrência e a queda de demanda turística está se adaptando para atender o que os turistas,

cada vez mais, estão procurando: empreendimentos padronizados e com o perfil da Pousada

das Cavernas.

Atualmente, devido à falta de propaganda intensiva que divulgue adequadamente o

PETAR e seus atrativos, incidentes envolvendo visitantes, a má conservação das vias de

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acesso e a falta de infra-estrutura para atender freqüentadores, são alguns dos fatores que

fizeram com que a movimentação turística caísse na região. Conseqüentemente, algumas

pousadas foram obrigadas a fecharem as suas portas e desempregar uma série de pessoas que

não tinham onde trabalhar. As restrições impostas pela implantação do parque, que impediam

com que essas pessoas voltassem a trabalhar na agricultura de subsistência, agravaram a

situação. Segundo Sr. Wandir, a Pousada Rancho da Serra, de proprietários paulistanos, tem

de se sustentar com o capital de atividades paralelas, para suprir ao menos as despesas básicas

e os salários dos dois funcionários que emprega.

No Bairro da Serra não se pode concluir que o turismo sustentável seja praticado na

sua íntegra. O fluxo de turistas, e conseqüentemente do capital, está muito concentrado em

alguns empreendimentos. Somente as pousadas têm participado economicamente da atividade

do turismo, e mesmo neste, segmentado pela captação de grande parte dos turistas somente

pelas pousadas maiores (Diva e Cavernas). As pousadas menores, como a Pousada Caeté, têm

pouca participação. Sem poder de divulgação, não concorrem diretamente com as outras duas,

aumentando a desigualdade sócio-econômica no Bairro.

Há uma grande falta de estímulo a outros segmentos como restaurantes e eventos e aos

costumes locais. Uma parcela muito pequena da população trabalha com a hotelaria local com

emprego fixo, havendo uma outra menor ainda, que é convocada apenas nos dias de maior

movimento. O incentivo às atividades paralelas ao turismo poderia contribuir com uma maior

oferta de postos de trabalho e, consequentemente, em uma melhor distribuição de renda, uma

vez que no Bairro da Serra tudo gira ao redor do turismo (mercado, lojas, bares etc.).

Em entrevista com moradores locais, realizada durante a pesquisa em campo, fica

evidente o potencial da segmentação do turismo. O Sr. Antônio, proprietário do Mercado

Local, há 18 meses no Bairro, é favorável ao turismo como alternativa às restrições impostas

pelo parque. Mas para ele, os visitantes que compram pacotes nas pousada não dão lucro ao

seu empreendimento, ao contrário daqueles que se hospedam nos campings. Como opção de

lazer, instalou uma mesa de bilhar que, atualmente, compete com o mesmo equipamento

instalado na pousada da D. Diva. Assim, menos turistas freqüentam seu estabelecimento com

conseqüente queda na venda de produtos.

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Os turistas quase não saem das pousadas, pois as mesmas providenciam tudo para que

eles lá permaneçam. Os bares do Bairro competem pelos poucos freqüentadores que restam.

As atividades dentro das próprias pousadas fazem com que os outros segmentos não ganhem

com o turismo, tornando até mesmo o contato com a comunidade superficial.

Para alguns moradores, o turismo só favorece aqueles que estão envolvidos com esta

atividade. Pousadas menores, como a Pousada do Abílio, só possuem movimento durante os

feriados, ficando quase vazia nos demais períodos, funcionando eventualmente para atender

freqüentadores escassos. Segundo Cidão: “se houver ocupação por pelo menos um final de

semana na pousada, já dá para sobreviver”. Segundo ele, “passar dois ou três meses sem

hóspedes, fica difícil.” Esta frase mostra um pouco do que pode ocorrer com várias outras

pousadas locais se não houver o desenvolvimento planejado do turismo.

Algumas alternativas são propostas pelos próprios moradores para fazer com que os

benefícios do turismo atinjam mais pessoas e se torne uma economia melhor distribuída. Por

exemplo: O parque precisa de vigilantes para controlar a entrada e saída de turistas nas trilhas

e cavernas, necessidade esta, que poderia se converter em oferta de trabalho alternativo para

alguns moradores.

Há o incentivo para os adolescentes locais trabalharem como monitores mirins para

futuramente poderem trabalhar como monitores ambientais, já que em dias de muito

movimento muitas pessoas desrespeitam as regras do parque e fazem as visitações sem o

acompanhamento dos monitores locais que já são poucos. Com a ajuda de ONGs esta

havendo um incentivo aos adolescentes para que também conheçam as cavernas e trilhas do

parque para futuramente trabalharem como monitores. Muitas crianças da mesma idade e de

outros lugares conhecem atrativos que esses moradores, que vivem a apenas 3 km de

distância, desconhecem, segundo Cidão, líder da comunidade.

O desenvolvimento do turismo sustentável é imprescindível para manter a atividade na

economia do local. Há que se estimular a ação da comunidade, o aproveitamento da cultura

local (como fabricação de farinha, beiju, picles, rapadura, agro florestas como o cultivo de

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pupunha, tradições quilombolas, artesanato com matéria-prima local etc.) e os projetos de

Educação Ambiental.

As agências não deveriam pressionar os donos de meios de hospedagem, exigindo

certos “luxos” incompatíveis com a realidade local. Ao mesmo tempo, a análise das

necessidades dos hóspedes deve ser bem criteriosa: exigir banheira com hidromassagem pode

ser exagero, mas qualquer pessoa que chega a um “pouso” precisa de um bom banho e local

limpo e higiênico. Ou seja, por outro lado, os donos de meios de hospedagem devem ser

“pressionados” sim, em casos de não oferecerem certos serviços básicos como conforto,

higiene, segurança. O “nível” dos serviços oferecidos varia de acordo com a proposta de cada

meio de hospedagem (sua classificação como pousada ou hotel de lazer) e de acordo com

quanto os hóspedes estão pagando pelos mesmos, desde que se interfira o mínimo nos

costumes locais.

O ideal é que haja um equilíbrio, ou seja, que certas necessidades básicas dos

ecoturistas sejam garantidas, mas que outros aspectos sejam considerados essenciais para a

constituição das unidades habitacionais e dos serviços a serem oferecidos no estabelecimento

hoteleiro. No caso do Bairro da Serra, esta preocupação se torna essencial.

Todas as partes envolvidas no processo do Ecoturismo (ecoturistas, responsáveis pelos

meios de hospedagem e agências/operadoras de viagem) tendem a estar cada vez mais

integrados, informados e conscientes a respeito de como praticar o verdadeiro ecoturismo.

Entretanto, deve-se reconhecer que ainda há muito trabalho a ser realizado, principalmente no

Bairro da Serra.

É importante que as áreas possuidoras de grandes potenciais para o Ecoturismo, como

é o caso do PETAR, recebam várias formas de apoio (órgãos privados e particulares), a fim de

que esse desenvolvimento se dê de forma sustentável e garanta sua conservação.

Por fim, para que tudo isso seja possível, é preciso que haja planos regionais de

Ecoturismo. Há que se investir, também, na formação de profissionais na área de Turismo e

Hotelaria, de modo que ela seja consistente, consciente e voltada para esse lado da

valorização da conservação da natureza, além de dar uma maior atenção às comunidades

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receptoras, seguindo os conceitos de desenvolvimento e turismo sustentável. Isso sem falar na

elaboração do Plano de Manejo do Parque, outra necessidade que há anos vem se arrastando e

ainda não se resolveu.

Referências

BARROS, Silvio Magalhães; LA PENHA, Denise Hamu M. de (Coords.). Ecoturismo:

diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo. Brasilia: Embratur, 1994.

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Serra – Iporanga - SP. Dissertação (Mestrado) - Programa de Ciência Ambiental,

Universidade de São Paulo, 2002.

DUARTE, Vladir Vieira Duarte. Administração de sistemas hoteleiros: conceitos básicos.

São Paulo: SENAC, 1996.

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MURPHY, Peter (Ed.). Quality management in urban tourism. Chichester: John Willey

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Paulo: Hucitec, 2000.

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ambiente. Campinas: Papirus, 1997.

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PETAR, Iporanga e Apiaí/SP”. São Paulo: CBR123, 2002.

WWF-BRASIL; VITAE CIVILIS. Sociedade e ecoturismo: na trilha do desenvolvimento

sustentável. São Paulo: Peirópolis, 2003.

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Ecoturismo e Meios de Hospedagem no Entorno do Parque ... · Existem iniciativas da parte de algumas redes hoteleiras de implantações operacionais de gestão ambiental ... que fizeram