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7/29/2019 EDICAO 191 CADERNO1 http://slidepdf.com/reader/full/edicao-191-caderno1 1/16 Ano 30 • número 191 • Abril  de 2013 • Belo Horizonte/MG    C   a    d   a   r    i    b   a   n   c   e    i   r   a  ,   u   m   a   n   a   ç    ã   o     R    e    p    o    r    t    a    g    e    m     r    e    v    e     l    a     â    n    g    u     l    o    s    p    o    u    c    o    c    o    n     h    e    c     i     d    o    s     d    o     A    g     l    o    m    e    r    a     d    o     d    a     S    e    r    r    a  .     P     Á     G     I     N     A     S     4    a     1     1     C    a         e    r    n         d     o     !     s   -     T    e    a     t    r      ,    c     i    n    e    m    a  ,     h    u    m        r    n    a     i    n     t    e    r    n    e     t  ,    r    e        e    n     h    a        e         i    n    a     l     i    z    a             r    e        F    O    T    O    :    N    A    T    A    N    A    E    L    V    I    E    I    R    A

EDICAO 191 CADERNO1

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7/29/2019 EDICAO 191 CADERNO1

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Ano 30 • número 191 • Abril  de 2013 • Belo Horizonte/MG

   C  a   d

  a  r   i   b  a  n  c  e   i  r  a ,

  u  m  a  n

  a  ç   ã  o

    R   e   p   o

   r   t   a   g   e   m    r   e   v   e    l   a    â   n   g   u    l   o   s   p   o   u   c   o   c   o   n    h   e   c    i    d   o   s    d   o    A

   g    l   o   m   e   r   a    d   o    d   a    S   e   r   r   a .    P    Á    G    I    N    A    S    4   a    1    1

    C   a       e   r   n       d    o    !    s  -    T   e   a    t   r    ,   c    i   n   e   m   a ,

    h   u   m      r   n   a    i   n    t   e

   r   n   e    t ,   r   e      e   n    h   a      e       i   n   a    l    i   z   a          r   e   

   F   O   T   O   :   N   A   T   A   N   A   E   L   V   I   E   I   R   A

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piia aava Impressão2 Belo HorIzonTe, ABrIl de 2013

pArA seGUIr o JornAl

Facebook 

Impressão - Jornal Laboratório

do UniBH

Site:

www.jornalimpressao.com.br

Twitter:

twitter.com/impressaounibh

@

eXpedIenTe

REITORProf. Rivadávia C. D. de Alvarenga Neto

INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E DESIGNProf. Rodrigo Neiva

COORDENAÇÃO DO CURSODE JORNALISMOProf. João Carvalho

LABORATÓRIO DEJORNALISMO IMPRESSO

EDITORESProf. Leo CunhaProf. Maurício Guilherme Silva Jr.

PRECEPTORAProfa. Ana Paula Abreu

(Programação Visual)

ESTAGIÁRIOSCamila FreitasGuilherme PacelliJéssica Amaral

MONITORESAndré ZulianiDany Starling

LAB. DE CONVERGÊNCIA DE MÍDIASEDITORAProfa. Lorena Tárcia

ParceriasLACP – Lab. de Criação PublicitáriaLaboratório de Convergência de MídiasLaboratório de Fotograa

Ilustrações

Izaías Guerra

Modelo da capa do Caderno DO!SAndré Zuliani

IMPRESSÃO / TIRAGEMSempre Editora2000 exemplares

eit h Ja-abatói aí a exc 2009

2º h a exc 2003

O jornal IMPRESSÃO é um projeto deensino coordenado pelos professoresMaurício Guilherme e Leo Cunha, com osalunos do curso de Comunicação Social- Habilitação em Jornalismo - do UniBH.

Mesmo como projeto do curso de Jorna-lismo, o jornal está aberto a colaboraçõesde alunos e professores de outros cursosdo Centro Universitário. Espera-se que osalunos possam exercitar a prática e divul-gar suas produções neste espaço.

Participe do IMPRESSÃO e faça contatocom a nossa equipe:

Rua Diamantina, 463Lagoinha – BH/MGCEP: 31.110-320Telefone: (31) 3207 -2811Email: [email protected]

 A frase usada como tí-tulo desse editorial é umdos mais velhos chavõesutilizados nas escolas dejornalismo do Brasil. Dezentre dez professores se va-lem dela na hora de ensi-nar a seus alunos a arte deapurar. Conclamam, reite-radamente, sobre a neces-sidade de estar próximoda fonte, conversar olhan-do nos olhos, sempre aten-tos a gestos, expressões eao que acontece ao redor.

Mestres do jornalismo,como o norte-americanoGay Talese e o brasileiríssi-mo Ricardo Kotscho, repe-tem essa frase como se fos-se um mantra, uma reza.

Redações enxutas emeios de comunicação mo-dernos impedem, contudo,que tal prática ocorra nojornalismo tradicional. A reportagem, verdadeira tra-dução do que se espera dotrabalho de um repórter,está cada vez mais vilipen-diada, aviltada, achincalha-

da. Jogada às traças, esque-cidas por jornais, revistas e

meios eletrônicos. “Dá mui-to trabalho”, dizem uns.“Custa muito dinheiro”,

justificam outros. “Nin-guém quer ler textos tãolongos”, lembram os pre-guiçosos. Bobagem.

Sim, bobagem. A edi-ção 191 do IMPRESSÃOestá aí para provar isso.Que lugar de jornalistaé na rua. E que uma boareportagem sempre teráseu lugar garantido nopanteão do bom jornalis-mo. Textos que exigiramapuração esmerada dosalunos, idas e vindas embusca de uma informação

mais precisa, de uma fontemais preparada. Sem con-tar o cuidado na hora deescrever, de pôr no papeltodo o trabalho de inves-tigação realizado ao longode dias e dias.

O IMPRESSÃO, pelaprimeira vez, apresentadois grandes dossiês, umem cada caderno. No pri-meiro, André Zuliani,

 Jéssica Amaral e Natana-el Vieira desvendaram o

 Aglomerado da Serra, au-têntica moldura de Belo

Horizonte. No DO!S,coube aos alunos Camila

Freitas, Guilherme Pacellie Hiago Soares ir em bus-ca de uma resposta para a

polêmica existente entre o“teatro comercial” e o “te-atro de experimentação”,há anos discutida por es-tudiosos, críticos e fãs daarte dramática.

 Além da dedicação dosalunos na hora de apurare redigir, é preciso salien-tar a sensibilidade eviden-ciada nas fotografias queilustram as matérias. Des-de as capas, quando nãopensamos duas vezes nahora de ousar e apresen-tá-las de maneira pouco

convencional. O dossiê do Aglomerado, cujo títulofoi inspirado na canção“Estação Derradeira”, deChico Buarque, rendeuimagens tão belas que foipreciso aumentar o nú-mero de páginas para queesse material não se per-desse impunemente.

O trabalho desenvolvi-do pelos alunos que pro-duzem o IMPRESSÃO fazjus às palavras proferidaspelo professor Edmundode Novaes Gomes, em seu

discurso de homenagemàs turmas que, no último

mês de março, colaramgrau em jornalismo noUniBH. “Quando acha-

rem que podem vos per-suadir com soluções fáceise cretinas é o não que en-contrarão (...). Não à con-

 versa fiada quando não éhora dela, não à falsidadee à fraude, não ao boatoe à fofoca, não ao insultoe à injúria, não à malevo-lência e à impiedade, aopreconceito e à intolerân-cia, ao fingimento e à ini-quidade, à comunicaçãoque não faz nada além deiludir, não ao jeitinho quenunca define a coisa intei-

ra, não à corrupção que in-festa o País e não tambémà arrogância que é sempreinimiga da boa vontade. A tudo isso, não. Por maisinfernal e difícil que seja,não. Pois, se na hora de-cisiva a palavra vos faltar,parodiando o Cristo deLucas, só restará pedir àspedras que clamem (...).Só assim, depois de dizer egritar tantos difíceis nãos,só assim vós podereis olharde frente para o espelho,ao final dessa caminhada

que começa mesmo agorae dizer: sim, sim, sim!"

Lugar de jornalista é na rua

Equipe em trabalho. Natanael, Jéssica e André. Jornalistas à cata de informações

 ARQUIVO IMPRESSÃO

Dany Starling8° PERÍODOEdição: André Zuliani

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Vi cíticaImpressão 3Belo HorIzonTe, ABrIl de 2013

 Já faz algum tempo que nenhumapessoa pública rende tanto assunto ediscórdia como Marco Feliciano, elei- to presidente da Comissão de DireitosHumanos. As indagações e manifesta- ções populares permeiam justamente aincongruência do cargo com tal perso- nagem em uma mesma sentença. Mui- tos questionam sobre como é possívelalguém com tantas declarações cruéischegar a tal posto, outros tantos pro- testam contra o pastor, afirmando queele não representa essa nação plural,

repleta de contrastes.Tem sido grande a pressão pela sa- ída do racista-homofóbico-metrossexualFeliciano do poder. E esses são termosainda pouco chulos. Andam dizen- do muito mais a respeito do lunático

 gospel que assumiu nada mais, nadamenos, o posto mais importante dostratados a favor dos direitos humanosno Legislativo brasileiro e que, precipu- amente, deveria lutar, justamente, emprol das diferenças.

Só que, ao contrário de unir, Feli- ciano vetou o acesso do povo ao parla- mento; ao invés de ouvir, fala aquémde um catedrático de teologia; e no

lugar de enxergar, bom, ao que tudo in- dica, prefere pinçar as sobrancelhas. Ecomo se não bastasse todo o escárnio,ainda ludibria a crença da sociedadequando declara que os desígnios divi- nos aferiram sua fúria nos tiros quemataram John Lennon e no ‘manche’que fulminou o grupo Mamonas As- sassinas, segundo ele, pelo modo comodesafiaram Deus. Com base nisso, sea voz do povo é mesmo a voz de Deus,ele deveria, então, pensar em tirar osvidros do teto e blindá-lo de concreto,

assim como o carro importado e seu

caro paletó.Mas, dia após dia, ele vai ficando,como que vencendo uma batalha acada 24 horas, travada pelo orgulhode exercer tal posto, pelos minutos de

 fama que parecem não ter fim. E osmanifestantes deitam no chão, se des- nudam em passeatas, abaixo assinamtudo o que há de possível, emboranada pareça deter tal soberba do ho- mem nascido há 41 anos, em Orlân- dia, cidadezinha nas cercanias do inte- rior paulista.

E, se não bastassem tantas de- clarações pregressas à eleição, eleainda fomenta a fúria dos povos

ao questionar a imprensa antes deuma declaração – “O cabelo ‘tá’ di- reito?” –, reverenciando-se, e eviden- ciando a excessiva preocupação como visual. Sem pensar o quanto issoatribui a seu estigma duplo peso etriplo asco.

Fato é que, em meio a tantas no- tícias e revoltas, se faz possível notar como o brasileiro tem reagido melhor,e mais agressivamente, à afronta dopoder público. Milhares de pessoastêm tomado as ruas, organizando-seem protestos, articulando-se nas mídiassociais e ido além nas manifestaçõespara exonerar o pastor que foi eleito

por muitas outras ovelhas que seguemseu exemplo. Que sirva de despertador social, e de lição a todo aquele queacredita que somos tolos o suficientepara deixarmos pra lá, para os deixar- mos lá.

Dessa forma, caro leitor, é que épossível mudar a história. Em formade ação, de manifestação, de não acei- tação e tantos outros nãos que se fazempresentes na indignação. E pensar queele saiu de Orlândia querendo ganhar o mundo... Pois deixa estar!

 A infelicidadede Feliciano

Smoking Gun

ou Bullets?

Uma boate na Savassi, regiãoCentro-Sul de Belo Horizonte, deci- diu alterar o tema principal de uma

 festa intitulada “Smoking Gun”,que promoveria no mês de março,após repercussão negativa na mí- 

dia e nas redes sociais. O evento,anunciado na página do Facebookda casa de shows Velvet, foi vistocom maus olhos, pois ia contra asatuais leis antitabagistas e campa- nhas contra o fumo, oferecendo a li- beração de cigarros dentro do local.Porém, o mesmo canal usado para adivulgação foi o algoz da Velvet. Por lá, depois de vários jovens e algumasempresas de comunicação manda- rem seu recado, veio a mudança de“Smoking Gun” para “Bullets”. Édoce ou não é?

O sol argentino

 brilhou mais forte

O mundo parou para ver a fu- maça branca no dia 13 de março e,

 finalmente, o novo Papa foiescolhido. O anúncio da nacio- nalidade do pontífice, bastanteaguardado, foi frustrante para os

brasileiros. O novo papa, aqueleque comandará a Igreja Católicapelos próximos anos, é argentino.

 A rivalidade Brasil-Argentina,eterna no futebol, (vide a disputaPelé-Maradona e Messi- Neymar),saiu agora dos gramados e ganhou umnovo palco, o religioso. Foi como perder uma final de Copa do Mundopara os argentinos. O que nosresta é desejar ao Papa escolhidoboa sorte, engolir o orgulho e acei- tar que, no final, não deu samba,deu tango.

Suicídio a menos

de um metro

Depois de 38 anos, a famíliade Vladimir Herzog recebeu, emmarço, o novo e legítimo atestadode óbito do jornalista, torturado emorto nas dependências do DOI- 

 -Codi, durante a ditadura militar.No documento anterior, avaliadapelo Exército em 1975, a causa damorte foi dada como asfixia mecâ- nica por enforcamento, indicando

suicídio. O atual e real atestadoapresenta, como causa da morte,lesões e maus-tratos sofridos duranteinterrogatório. É como diz o ditado:“Antes tarde do que nunca”. Apóspífia montagem de um suicídio

 fictício, o Estado tenta reconhecer o que já era de conhecimento até deum garoto de 10 anos: ninguém sesuicida a menos de um metrodo chão!

Descanse em paz,

cabrón!

O líder socialista venezuela- no Hugo Chávez, morto no dia5 de março, não mais teráseu corpo embalsamado. Parte-sedo pressuposto de que houveuso abusivo de formol, componentequímico utilizado, principalmente,para conservar cadáveres. Mesmomorto, o presidente da Venezuelaqueria continuar entre nós. A

natureza, porém, é sábia e nãopermitiu. Embora quase umditador, Chávez era adorado pelamaioria da população, o que,contudo, não dá a ele o direito dequerer continuar “vagando” por aqui. Os venezuelanos devem com- preender que ele precisa descansar eé importante deixá-lo ir. Seu reinadoacabou. Vá, Hugo Chávez. Descan- se em paz e se comporte, onde estiver.

Lúcia MirandaShirley Assunção7º Período

MONTAGENS:GUILHERME PACELLI

Barbara Goulart Cotrim

6° PERÍODOEdição: Dany Starling

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Taa ctâa Impressão4 Belo HorIzonTe, dezemBro de 2012

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“Muito prazer, sou o Aglome-rado da Serra. Aglomerado é issoque, no Rio de Janeiro, chamamde complexo, como o Alemão oua Rocinha. E sou mesmo muitocomplexo. Um emaranhado debecos, ruas estreitas, algumas maislargas, praças meio tortas, meio

sujas. São meu sistema nervoso.E bota nervoso nisso. Para alguns,possuo 50 mil moradores; para ou-tros, 60 mil. O que importa? Achoque ninguém está tão interessadoassim em saber quantas pessoas háem mim. A depender da páginada Prefeitura de Belo Horizonte(PBH), acessada pela internet, te-rei seis ou oito vilas. A dependerdessas mesmas páginas, a PBH vaidizer que tenho 27 ou 33 mil habi-tantes. O Censo 2010 diz que são34.510. Não me conhecem, nãome conheço.

E não sou pequeno. Para quem

chega pela entrada Norte da cida-de, pela Avenida Antônio Carlos,logo me mostro. Chegue a BH eolhe para a Serra do Curral. Qua-drada, ao mesmo tempo harmo-niosa. Emoldura a antiga cidadejardim. Depois, se olhar um pou-quinho para a esquerda... ‘O que éaquilo?’ Aquilo, minha gente, soueu! O Aglomerado da Serra. Nascino início dos anos 1960 e me in-tensifiquei nos anos 1980.

Em meados dos anos 1970, aSerra do Curral começou a ser des-figurada pela atividade extrativistadas Mineradoras Brasileiras Reuni-

das (MBR). A opinião pública pres-sionou e esse patrimônio paisagís-tico natural e simbólico da cidadeacabou protegido pela criação dareserva do Parque Municipal dasMangabeiras, em 1966. Um catali-sador para isso foram os adesivoscolados nos carros que dissemina-

 vam o slogan criado pelo artistaplástico Manfredo SouzaNeto: ‘Olhe bem as mon-tanhas’.

 Alto e gordo, numa conti-nuação da Serra do Curral, sou

 vizinho da Fundação BenjaminGuimarães (Hospital da Baleia),dos bairros Mangabeiras, Paraíso,Santa Efigênia, São Lucas e, claro,da Serra, na região Centro-Sul. Se-gundo a Urbel (sigla para Compa-nhia Urbanizadora e de Habitaçãode Belo Horizonte), tenho quaseum milhão e quinhentos mil me-tros quadrados. É preciso outro

Manfredo Souza Neto para vocêolhar bem as montanhas? Poisbem, vou mostrar uma coisa: umraio-x, a imagem de um velho altoe gordo.

 Vamos falar das minhas filhas,digo, das minhas vilas. São elas:Nossa Senhora de Fátima, Chá-cara, Del Rey, Marçola, Fazendi-nha, Novo São Lucas e a maior,Santana do Cafezal. Há tambémmicrorregiões entre as vilas, comoa Primeira, a Segunda e a Terceira

 Água, que têm esses nomes em vir-tude dos cursos d’água que nascemnos altos dos morros e passam por

mim. Um senhor chamado Goo-gle diz que toda a minha área é ummesmo bairro, o Vila Cafezal. Essagente sabe mesmo confundir ascoisas. O nome que me deram é,na verdade, o título de uma das fa-

 velas constitutivas do meu sistema,do meu complexo, do aglomeradoque sou.

Seguindo com o raio-x... Abri-go cinco escolas de ensino funda-mental, uma delas fica numa con-fluência entre várias vilas. O localé comumente chamado, por aqui,de ‘Volta’. Trata-se de confluênciaentre as ruas Serenata, São Sebas-

tião, Bandoneon, que se segue atéa Dr. Camilo. Como essa articula-ção me dá problemas! Um joelhode velho. Experimente passar emhorário de pico. O mesmo quese vê na Cristiano Macha-do ou na Pra-

ça Sete: uma confusão! É uma áreade comércio efervescente. Dro-garias, supermercados, açougues,sacolões, padaria, academia, sorve-terias, restaurante, vestuário, calça-dos e, claro, muitos salões de beleza.Ônibus e vans escolares entrandoonde caminhões e caminhonetestentam sair, bicicletas e motosonde estariam pedestres. Carrosse enfileiram de saída para o traba-lho. Um verdadeiro nó. Mas como

todo nó, acaba por se desfazer. Va-mos levando nossas crianças às es-colas e a nós mesmos para... Ondemesmo? Quase tudo se acalma e odia recomeça.

 Abrigo, também, cinco centrosde saúde. E, se querem saber, insu-ficientes. Capengam, minha gente.São motivo de uma das minhas do-res de cabeça. E onde me remediar?O posto do Cafezal, por exemplo,ficou inativo – sobre protestos emanifestações – por cerca de trêsanos. Sem explicações aprofunda-das que dissessem coisas diferentesdo sacado ‘é para reforma’. Enfim,

foi reaberto. Coleta de lixo, var-rição e capina também não estãoem todas as vilas, mas isso tem me-lhorado. Muitos moradores foramempregados nessa tarefa.

Igrejas? Muitas. Católicas,pentecostais, quadrangulares,testemunhas, cristãs do Brasil,metodistas, batistas, e por aí vai.Cada qual com sua missão, ca-minhando junto a seus fiéis. Hátambém grupos espíritas, como a

 Associação Christopher Smith, eos cristãos em ação conjunta, casodo Jovens Com Uma Missão(Jocum). Muitas prestam

serviços que de- veriam estarn a

esfera do poder público, ou-tras fazem coro às reivindicaçõesacerca da inoperância.

Não posso me esquecer: temosiniciativas como a OrganizaçãoNão Governamental ‘Projeto Ita-mar’. A ONG trabalha a cidadaniapor meio do esporte e da cultura,busca a integração entre as comu-nidades. A sede do Projeto abrigauma locadora de filmes (única fon-te de renda, os fundos são rever-

tidos na compra de bolas, coletesde futsal, quimonos e troféus paracampeonatos), um mural com fo-tos e outros registros de diferentesmomentos da ONG e do Aglo-merado, e uma biblioteca comu-nitária, que reúne Daniel Defoe,

 Ariano Suassuna, Aluísio Azevedoe Carlos Heitor Cony.

Este jornal seria pequeno parafalar desta cidade que sou. E, defato, um raio-x apenas não é sufi-ciente para dar conta do meu com-plexo e nervoso sistema. Gostaria,porém, de levantar uma questão.Comentei há pouco acerca de co-

mércio e da presença das igrejasno Aglô. O que essas instituições,ou empresas, dizem delas, desuas presenças em mim? A que

 vieram? Recorro, novamente, aocaríssimo Manfredo Sou-za Neto: “Olhe bem asmontanhas; olheo Aglomeradoda Serra.”

diêImpressão 5Belo HorIzonTe, ABrIl de 2013

“Olhe bem

as montanhas”Natanael Vieira7° PERÍODOEdição: Dany Starling

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Muito prazer, sou Natanael Vieira, morador do Aglomera-do da Serra. Estudo jornalismono Centro Universitário de BeloHorizonte – UniBH e integro aequipe de repórteres deste dossiê.Recebemos a missão de falar dolugar onde vivo desde 6 de outu-bro de 1992. Cada um segundo asua ótica, ao seu modo de expres-são. Não é fácil, mesmo para mim.

Mas aí vai.O primeiro olhar que se lançaao Aglomerado da Serra revelaconfusão. Falo isso por ter perce-bido a reação de vários amigos quemoram em outros lugares, às vezesbairros completamente estrutura-dos segundo o padrão que AarãoReis adoraria ver circunscrito aoslimites do “Projeto Belo Horizon-te”. Mas a cidade precisava abri-gar, também, quem a construiu.Como no plano não havia lugarpara eles, foram se arranjando damaneira que conseguiam. Esseolhar não está de todo errado.

 Você leu acima sobre a complexi-dade das vias e das relações quenelas se constroem.

Os morros são resultados dosanseios elitistas da nova capital.

 Anseios que não previam pobrezae sequer sabiam de que modo lidarcom ela. As primeiras invasões fo-ram registradas dois anos antes deBelo Horizonte ser inaugurada. Eos primeiros registros de ações paracoibir a proliferação de favelas re-montam aos anos de 1898 e 1900,quando a administração expediuordem de demolição de barracosimprovisados (madeira, lona, telas

de zinco ou amianto), as chamadas“cafuas”, em regiões próximas à La-goinha, São Cristóvão e a morrosnas imediações da capital da Con-torno – cujo primeiro nome foi

 Avenida 17 de Dezembro.Com o passar do tempo, os

assentamentos tomaram corpo e

fugiram ao controle do poder pú-blico. Eram novas cidades sendoedificadas ao redor da urbe plane-jada. A Contorno perdeu seu sen-tido original. Os locais periféricosconstruíam suas próprias identida-des e a avenida passou a contornarapenas velhos ideais, um anel abra-çando uma cidade fadada a perderseu ar elitista.

Contudo, meu tema centralnão é a questão fundiária, territo-rial, mas um âmbito mais abstra-to, mais relacionado ao aspecto daidentidade. Ao contrário de boa

parte dos morros cariocas, aqui no Aglô as religiões influenciadas pe-las raízes africanas, ou destas origi-nárias, não foram preponderantespara a formação do mosaico reli-gioso local. Antes, a igreja católicae as denominações evangélicas semostraram mais presentes. Arrai-garam-se. A Paróquia de Santana,no bairro da Serra, data de 1930 eera a responsável pela Comunida-de Nossa Senhora Aparecida, umadas mais antigas do Aglomerado.Quanto à primeira evangélica,não se tem notícia. Estas são in-contáveis. Até a década de 1990,

aqui perto da minha rua eu con-tava quatro. Hoje, são duas, mas,no morro inteiro, seria uma tarefapara o IBGE.

Jesuítas modernosReginaldo José do Nascimento

está barbudo, fazendo jus à ima-gem construída de Jesus. Não àtoa: ele é o Cristo a ser crucificadona Sexta-Feira Santa. Pelo menosno teatro da Paixão. Ele conta queestá ensaiando há pelo menos doismeses e todos se empenham, decorpo e alma, para que tudo dêcerto. Reginaldo participa assidu-

amente da Comunidade NossaSenhora Aparecida, uma das cin-co igrejas que compõem a nova Pa-róquia de Belo Horizonte, a Bem--Aventurada Dulce dos Pobres.

 Até meados de 2012, as Co-munidades (igrejas católicas comcongregação relativamente menor)

do Aglomerado da Serra – SantaTerezinha, São Miguel e as Nos-sas Senhoras Aparecida, Rosário,Conceição, Lourdes e Fátima –pertenciam a diferentes Paróquiasnas imediações do morro, nos bair-ros de classe média e classe médiaalta. O que se vê agora é uma redede igrejas sem uma matriz.

Os templos católicos do Aglôem nada se assemelham às grandescatedrais pelo mundo, ou mesmoà Catedral da Nossa Senhora daBoa Viagem, em estilo neogótico,no bairro Funcionários, ou ainda,

à Igreja São José, em estilo manue-lino, no centro da capital. Algunsnão tão pequenos, mas nada queassuste ou quebre a relativa uni-formidade das casas sem reboco esem pintura, em sua maioria.

Reginaldo diz que a Paróquiade Santana, no bairro Serra, nuncateve relação direta e contínua coma Comunidade Nossa Senhora

 Aparecida. “Isso, a meu ver, contri-buiu para a busca de uma missãoprópria, com base na identidade

que já temos”, analisa. No caso doteatro, por exemplo, ele conta queo padre responsável pela adminis-tração da Paróquia, Wagner Cale-gário, sabe do que está acontecen-do de maneira geral, mas preferenão interferir, e incentiva os fiéis acaminharem por si.

 A visita ao grupo Jovens ComUma Missão (Jocum) foi num diade muita chuva e vento – o quedeu um pouco de medo, pois viuma torre de transmissão de ener-gia no terreno. Uma senhora quetrabalha na Casa Luzeiro foi quememprestou a chave do portão. Elaestava de saída e, mesmo sem sa-ber a quem cedera a chave, reco-mendou que desse a volta e en-trasse pelo outro lado. “Não temproblema”. Assim o fiz.

Marcelo Henrique também usabarba, mas não tem a ver com tea-

tro, antes porque gosta. O que nãogosta é do termo “coordenador”.Todavia, é mais ou menos essa afunção que desempenha. A insti-tuição conta com missionários de

 vários países e denominações pro-testantes. A unidade local é cha-mada de Casa Luzeiro e existe, des-de 1992, na Vila Novo São Lucas(conhecida como Favelinha). Umcasarão com marcos e janelas emmadeira densa e outras instalaçõesno terreno. O trabalho é desenvol-

 vido, principalmente, com jovens(com ênfase na evangelização, trei-namento missionário e desenvolvi-

mento social) e senhoras. Estas es-tão, no momento, sem condiçõespara serem atendidas. Faziam hi-droginástica, mas o equipamentoda piscina estragou e o conserto ébem caro.

Marcelo disse que nunca ti- veram problemas com a torre detransmissão. Fiquei mais tranqui-lo. Ele logo nos explicou que a mis-são à qual a instituição se dedica –e que conta com outras sete casasem Belo Horizonte, todas manti-das com ajuda de amigos e doa-ções da sociedade – surgiu a partirdo sonho de um holandês, Loren

Cunningham, em 1960. Não so-mente um sonho no sentido de de-sejo ou anseio, mas um sonho defato, uma visão enquanto dormia.

 As missões de Cunningham chega-ram ao Brasil, em Contagem, 15anos após a fundação do Youth

 With A Mission. Suas atividades

diê Impressão6 Belo HorIzonTe, ABrIl de 2013

Em busca da

“A Contorno

perdeu seu

sentido original.

 A periferia construiu

sua própria identidadee a avenida passou a

contornar apenas

 velhos ideais”

Natanael Vieira7° PERÍODOEdição: Dany Starling

FOTOS:NATANAEL VIEIRA 

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diêImpressão 7Belo HorIzonTe, ABrIl de 2013

são traduzidas num versículo dolivro de Marcos que diz: “Ide portodo mundo e pregai o evangelhoa toda criatura”.

Myriam Heilbuth Vercoza nosatendeu na Associação Christo-pher Smith, no bairro Santa Efi-gênia. O sobrenome complicado,de origem alemã, não faz jus aomodo como esta senhora lida, há18 anos, com a creche da Associa-ção que atende a crianças carentesdo morro. Ou melhor, “Criança écriança, não existe criança de co-munidade ou criança rica. Criança

tem direito à educação”. É a visãode Myriam, que se desloca do An-chieta, passando por dentro do

 Aglomerado, até Santa Efigênia,sem cobrar nada por isso. “A dou-trina espírita ensina a viver olhan-do sempre o próximo. Minha mis-são é tomar conta da creche”. Masela lembra que antes dessa incum-bência, também participou dasreuniões da Associação com mora-dores num espaço na Vila Santanado Cafezal. Não participa mais pornão conseguir fazer esforço físico.

Ela afirma que o trabalho dosespíritas é sempre em comuni-

dade, em grupos, mas sem a in-tenção de “espiritizar ninguém”(sic). Myriam conta que, em de-terminada ocasião, quando falavadessa maneira de trabalhar a umjornalista, percebeu que ele dei-

 xava escapulir um riso de vez emquando. “Ele dizia que o foco damatéria estava em mim. Então eudisse que ele não conseguiria ter-minar. Aqui, nós fazemos, nós tra-balhamos. Nós. Não apenas eu”,recorda.

Depois de muita conversa, per-cebi que já era hora de ir. Na saída,um notebook começou a emitir

um alerta. Parecia que era de ba-teria fraca. Myriam olhou e disseque não sabia mexer naquele, quenão tinha muita intimidade comcomputadores portáteis, só no quetinha em casa. Em seguida, reve-la que comprou um tablet e estátentando aprendendo a usá-lo, do

alto de seus 68 anos.Estes missionários agem com

base em conhecimentos própriose nos ensinamentos de suas religi-ões. Reginaldo José do Nascimen-to chegou ao local de nossa entre-

 vista com uma vela na mão. Eleacabara de participar da procissãode outra igreja. “Gosto de ir paraprestigiar. Iremos nos encontrarna Comunidade Nossa Senhorade Fátima para uma celebraçãomaior. Antes, cada uma faria suacelebração em separado”. MarceloHenrique viu seus pais traçarem

seus caminhos na missão cristãdo Jocum, para onde também sedirecionou. “As coisas aqui são

 voluntárias. Respeitamos a identi-dade da comunidade local. Todossão bem vindos, sem distinção dereligião”, pontua. Ele vê com bonsolhos a entrada de pessoas “es-trangeiras” em locais em nome deuma missão.

Missões comerciais?Outro olhar lançado sobre o

 Aglô pode revelar um tipo de mis-são diferente. São investidas co-merciais. Exitosas pelo aumento

do poder aquisitivo das classes C,D e E. Bares, mercearias, lancho-netes e toda a sorte de estabeleci-mentos. Todos exibem plaquinhase cartazes que indicam a aceitaçãode cartões de crédito – e todas asbandeiras, praticamente, são acei-tas. Pouco se usa o caderninho comanotações. Um corte de cabelo aR$ 10 pode ser pago com cartão decrédito ou débito. Eu que o diga,já o fiz quando estava sem notasna carteira.

Se por um lado não há lojas degrandes redes varejistas (supermer-cados, vestuário, drogarias, entre

outros tipos), por outro, as queexistem encontraram meios parasuprir a necessidade de consumoda população local. Uma delas é,como mencionado, a aceitaçãode cartões. Algumas lojas, comoas de móveis, possuem linhas decrediário próprias. Tornou-se im-

produtiva a venda dos pequenoscomerciantes apenas a dinhei-ro. O importante é não perdero cliente, ou melhor, o freguês.Entretanto, nos arredores do

 Aglomerado, é muito comum en-contrar grandes supermercados,hipermercados e shoppings. Nãosobem o morro, mas o morro vaiaté eles.

Outra missão que tem se mos-trado bem sucedida diz respeitoàs empresas de televisão por assi-natura. Ande por qualquer ruaou beco. Se seu intuito for contar

dez antenas, em dez minutos, serácumprida com louvor. Se o objeti- vo for contar todas as residênciasnas quais constam tais antenas,precisará de bons dias para os cál-culos. Não faço, entretanto, umaanálise aqui de cunho qualitativoda programação que mais agre-ga audiência na região. Ande, denovo, pelas ruas e becos, entre 18he 22h, e atente aos sons que saemdas janelas. Por experiência pró-pria, posso dizer que, seguramen-te, você ouvirá as músicas-tema dasaberturas das novelas. O que nãoé algo, categoricamente, negativo.

Sabemos, é cultural.Enquanto “passeávamos” pelomorro, mostrei aos colegas Jéssica

 Amaral e André Zuliani algumaslojas mais específicas. Numa delas,de moda feminina, você encontrapeças de mesmo valor e aparên-cia daquelas vendidas na Savas-si. Quem é cliente dela não tem

 vergonha de pedir para parcelar.Quer ter. Próximo a essa loja, umaespecializada em moda evangélica.Sim, existe! A loja, na verdade,mescla roupas mais discretas, semdecotes arrojados ou vestidos cur-tos, a roupas ousadas (mas não

tanto). Nesse sentido, o consumi-dor é que é evangélico. A moda équase a mesma.

Questões públicasO processo de produção da re-

portagem coincidiu com um perí-odo conturbado no Aglomerado.

Um homem foi assassinado a tirosdurante um evento na Praça doCardoso e outras 13 pessoas fica-ram feridas. No dia seguinte, du-rante uma intervenção da PolíciaMilitar para investigações e for-mação de cerco para localizar sus-peitos, um jovem foi baleado naperna pelos PMs. Os moradores eparentes da vítima que estavam nolocal não permitiram que os poli-ciais levassem o ferido ao hospitale o fizeram num carro particular.

Foi difícil conversar com aspessoas, perguntar nome e o so-

brenome. Mesmo sendo morador,simples perguntas soavam comoinvestigação. A câmera fotográfi-ca intimidava, despertava olharesdesconfiados. Não é de se espan-tar. Os moradores vêem desdesempre a confusão que os jorna-listas fazem quando da apuraçãode matérias no morro. Dizem queo crime foi numa vila quando, na

 verdade, foi em outra. Mostramimagens que, nem sempre, condi-zem com o que se vê no cotidianodo local. É preciso mais que umamatéria, mais que um dia para en-tender as missões particulares dos

que passam por estes becos.Ter uma missão, de maneirageral, significa abdicar de si ou dealgo em favor de alguém ou mes-mo de um coletivo. Pude perceber,nos dias mais intensos da apura-ção, que os missionários – sejamreligiosos, sejam comerciais – en-contram-se em diferentes níveisde comprometimento com suasatividades. Algumas missões estãoem ascensão, outras em declínio.Missões, missionários e moradoresse misturam no ambiente “sub-ur-bano” do morro e criam, sem mui-to alarde, novas formas de atribui-

ção de sentido àquilo que vivem.Não é preciso forçar. Na verdade,é preciso observar. É um processocontínuo de busca e reconstruçãodo que é ser morador do Aglome-rado da Serra. Mas é também umprocesso de aceitação do outro, doque é diferente em cada um.

feli(z)cidade

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diê/eai Impressão8 Belo HorIzonTe, ABrIl de 2013

Nas quebradas esculpidas pela história,

as relações se entrelaçam

Entre natureza e contruções do homem

a serra emoldura o belo horizonte

Ruas e lojas possuem um jeito todo próprio de ser,

repleto de prosas, curvas e acontecimentos

Longe da geograa ocial,

o Aglomerado possui traços do interior

No sobe-e-desce, crianças brinc

o vento

Textos e fotos de Jéssica Amaral5° PERÍODO

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diê/eaiImpressão 9Belo HorIzonTe, ABrIl de 2013

O domingo ecoa nos becos.

Pelos raios da manhã, a Serra acorda

O ágil e o pacato se misturam

e fazem parte da mesma matéria

Becos, vielas e escadas.

Suas linhas costuram o caminho das casas

Placas indicam nomes e

rumos de uma caminhada pouco conhecida

m, a música toca, as vozes se misturam,

orquestra a vida

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diê Impressão10 Belo HorIzonTe, ABrIl de 2013

 André Zuliani8° PERÍODOEdição: Dany Starling

 Aos olhos de quem está aqui embaixo na ci-dade, a impressão que se tem do Aglomeradoda Serra é a de um paredão habitado. Quandose está lá, é perceptível e bastante expressiva aquantidade de ruas íngremes e inúmeras vielas,escadarias, becos e, sobretudo, passadiços quefazem parte do itinerário dos moradores.O que podemos perceber é que – não importaa direção para onde você vá – existem apenas

duas opções: subir ou descer. Essa rotina “ele-trocardiogrâmica”, na qual os moradores cami-nham do sopé do Aglomerado até seus lares e otrajeto inverso, das casas até o trabalho, faz comque as panturrilhas sejam a parte mais definidade seus corpos.

Nascido e criado em uma cidade do interior– Lavras, localizada no sul de Minas Gerais –,com “intercâmbio” aos fins de semana e fériasletivas na fazenda de familiares, sempre tive

 vínculos de amizade com várias pessoas, desdecolegas de escola a famílias de empregados dasfazendas de tios, avós e do meu pai. O contatoe a convivência com gente diversa em todos ossentidos, mas, principalmente, com indivíduosque prezam pelo diálogo presencial e intimista,

muitas vezes sentado na calçada ou escorado emuma janela da casa de um conhecido, me reme-teu à ideia de déjà vu, ao caminhar pelas vielassinuosas do Aglomerado da Serra.

Casas, lojas, barracos, mercearias, salões debeleza, igrejas evangélicas, barbearias, locadorasde filmes foram construídos, em sua maioria,à moda de cidades do interior. Aquela famosaresidência comercial: comércio embaixo e resi-dência em cima ou fachada de loja e interiorde casa. O que quero dizer é que a arquitetu-ra do Aglomerado foi desenvolvida e efetuada,ao modo e molde dos moradores, com único

objetivo, o beneficiamento do indivíduo. Mas veja bem, do indivíduo pessoa/ser humano, naessência da palavra, não do individualismo.

Essa cidade que há lá em cima possui umasimetria arquitetônica tão peculiar que propi-cia a criação de laços e vínculos afetivos. Vide oabundante número de pessoas conversando pe-

las ruas, idosos sentados em cadeiras de plástico

e tamboretes de madeira no passeio. Moradoresalmoçando com pratos em mãos sentados nomeio fio e proseando com o vizinho de frente.O cheiro de feijão fervendo e carne assando,dependendo da esquina que se dobra, criançasbrincando pelas sinuosas e tortuosas vielas ecuriosos nas janelas a assuntar o que acontecena vizinhança. Sem esquecer, claro, das cons-tantes janelas abertas para a rua, sem grades,com uma televisão ligada ao fundo. Quandonão, o companheiro é o rádio, não apenas domorador, mas de quem passa na rua. Isso “écagado e cuspido paisagem de interior”. (Essa

expressão é derivação popular de origem bélica,em carrara esculpido. A versão que empreguei éutilizada pelo poeta paraibano Jessier Quirinono poema Paisagem de interior, que descreve asminúcias da vida interiorana).

 Vizinhos e conhecidos A vida no Aglomerado é ditada por uma má-

 xima do interior que diz: “Todo mundo conhe-ce todo mundo”. Essa classificação concede aosseus moradores uma vida singular daquela quetemos. Aqui, muitas vezes, não conhecemosnosso vizinho de porta, não sabemos quem nos

acompanha no elevador. Em “nossa” cidade, ar-quitetura e engenharia são idealizadas em bene-fício às máquinas e, sobretudo, dos automóveis.

 As vias são largas, longas e sinalizadas. Lá no Aglomerado é completamente o contrário, no-ta-se que apenas as avenidas feitas pelo governo– após desabrigar moradores e remanejá-los –são largas. As demais, onde o poder público nãose meteu, são ruas naturais, como as primeirasestradas, nas priscas eras, que surgiram devidoao incessante transitar de pessoas. Isso se tornaclaro e significativo quando se observa as viasde ligações daquela cidade. Estreitas, espremi-das, tão íngremes que, ao subir, os dedos do péencostam na canela. Apertadas, as vielas pare-cem ser todas de mão única, ou exclusivas para

motocicletas. Mas não se engane: ali há pontosde ônibus, passam caminhões, bicicletas, carros,motos, muitos motos, e, claro, pela ausência depasseio, todos os pedestres.

Não há semáforos, faixas de pedestres, rota-tórias e muito menos canteiros com árvores. Écostumeiro dar a vez para um carro ou ônibuspassar enquanto se exila ou equilibra em umcanto ou beira do suposto meio-fio. O trânsitolembra o da Índia, de tão confuso. Mas, no finaldas contas, todos se entendem. O trânsito lem-bra o da Índia, de tão confuso. Mas, no final dascontas, todos se entendem.

O interior é logo aliCostumes e vida pacata aproximam o Aglomerado da Serra das pequenas cidades

O autor da reportagem observa a vida no morro, dos cidadãos às antenas de TV 

“Essa rotina

“eletrocardiogrâmica”,

na qual os moradorescaminham do sopé do

 Aglomerado até seus lares

e o trajeto inverso, das casas

até o trabalho, faz com que

as panturrilhas sejam a parte

mais denida de seus corpos.”

FOTOS:NATANAEL VIEIRA 

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 A quantidade de pessoas e crianças pelasruas não é o único indício de que, naquela ci-dade, a mudança é constante. A metodologiade arquitetura da favela é inacabada, constan-te e interminável. Os tijolos à mostra, órfãosde reboco e tinta, vergalhões sobressalentesaguardando por um concreto, lajes carentesde madeiramento e telhas, todos estão expos-tos ao intemperismo, mas, acima de tudo, àcontinuidade. Um eterno convite ao “puxadi-nho”. Uma arquitetura que disponibiliza, nomesmo lote, casas para todos os membros dafamília. Ou seja, a avó mora embaixo, a filha

em um barraco nos fundos, o tio ao lado, oneto em outro acima da laje daquele da avó.Não é um prédio, é um exemplo de arquiteturado puxadinho.

Destroços e lixeiras A sujeira das ruas é acompanhada por al-

guns animais domésticos. Cachorros, galinhase pintinhos são frequentes em alguns passeiose barracos. A quantidade de lixo espalhadoàs vezes é absurda, assim como seu conteúdo.Pedaços de bonecas, um velotrol, embalagensde alimentos, trapos de panos e alimentos seacumulam em barrancos e matagais vizinhos àscasas, mas não só neles. As próprias ruas sãodepósitos de entulhos e matérias de construção,

há sempre montes de areia, brita ou terra peloscantos. Alguns barracos, rodeados ou vizinhosde vegetação – mangueiras, bananeiras e pés deurucum –, são obrigados a conviver com velhostanquinhos, ou mesmo destroços de máquinasde lavar roupas.

Toda essa poluição se deve, grande parte, àinexistência de lixeiras. Encontrar uma é coisarara. É necessário andar quarteirões e, quandoencontro, ela é de madeira e claramente feitapelo próprio morador daquela residência demuro chapiscado. A intervenção do governo,nesse ponto é exclusiva às obras de realojamen-to de moradores do Programa Vila Viva. Vistospor fora, os apartamentos populares são arru-madinhos, belos e possuem passeios e lixeiras

conservadas. Sua arquitetura e coloração desto-am do restante do Aglomerado.O Vila Viva corresponde a, no máximo,

10% de todo o Aglomerado, ou seja, o governooferece aos moradores a mesma porcentagemde lixeiras. É impossível, mesmo com todo otrabalho de coleta de lixo feito pelos garis, o da

 varrição pelos varredores e da capina por fun-cionários da prefeitura, manter aquele emara-nhado de ruas sem lixeiras, limpas.

Essa cidade, assim como todas as outras, pos-sui um centro comercial bastante característico,como tudo que é natural de lá. Em um com-

plexo de vielas – que de tão tortuosas, estreitase próximas, mais parecem tentáculos de polvo– precisamente na encruzilhada das ruas NossaSenhora de Fátima, São Sebastião, Bandonione Serenata, encontra-se o centro comercial do

 Aglomerado. Aos domingos, o movimento depessoas não fica atrás do da Feira Hippie. Assimcomo acontece na tradicional feira da Avenida

 Afonso Pena aqui os clientes e comerciantesdisputam espaço e mercadorias, a proximidadedo concorrente é bastante similar.

Mercearia do Tatu, Padaria Canarinho, Su-

permercado Goiabal, Açougue do Paulo, Açou-gue Goiabal, Verdurão Safra, Hortifruti doSerjinho e algumas barracas estilo feira com cai-

 xotes de madeira cobertos por verduras, frutase legumes disputam a clientela que faz compraspré-almoço. Buscando evitar a rotina de ônibus,motos e carros da semana que terminou, as ruas

 viram calçadões devido à quantidade de pedes-tres transitando para cima e para baixo comcaixas e sacolas de compras, enquanto outrosconversam e observam o movimento daquela“cidade interiorana” localizada na capital.

diêImpressão 11Belo HorIzonTe, ABrIl de 2013

 Apesar de o laranja tijolo predominar, mil cores destacam a energia dessa “cidade”

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“E eu vos declaro mari-do e mulher”. “Que sejamfelizes, até que a morte ossepare”. Frases como essassofreram grandes modifi-cações ao longo dos anos,principalmente, com o de-senvolvimento da socieda-de. Hoje, o “eu vos declaromarido e mulher” passapor adaptações. Em mui-tos casos, para o simples“eu vos declaro ‘maridoe marido’” ou “mulher emulher”. Para falar da mu-dança desses paradigmas,

 vale pensar em quais mo-tivos levavam os casais aomatrimônio, desde o iníciodas gerações. Por volta dosséculos XIX e XX, os casa-mentos eram concretizadospor objetivos-padrão: cons-tituir família e manter ahonra perante a sociedade.

Com a evolução da so-ciedade, os matrimôniostomaram outras diretrizes,com o fim de preconceitose mitos. No século XIX,as famílias arrumavam osmaridos para as filhas e,

na maioria dos casos, emtroca dos dotes – bens,dinheiro ou terras oferta-dos às famílias da noiva.Casava bem a moça cujodote do pretendente fosseo mais “gordo”, de maior

 valor. Fazendas, lotes, ca-beças de gado e tudo omais que valesse dinheiroera entregue em nome daunião. Em não raros oscasos, muitas famílias fali-das trocavam as filhas pordinheiro no ato da nego-ciação. As noivas, então,

casavam, muitas vezes, semconhecer o marido. Àquela época, a socieda-

de impunha a ideia de quemulheres solteiras não me-reciam respeito. Por isso, amaioria sentia a necessida-de de casar para não ficarmal falada, ou ser conheci-da por “solteirona”. Aque-la que não casasse até os 15ou 16 anos era vista, pelasociedade machista, como

“mulher sem serventia”.

Novos temposOs movimentos popu-

lares pela igualdade dosdireitos, manifestados aolongo de muitos anos, de-ram às mulheres, em mea-

dos da década de 60, o queelas tentavam conquistar:liberdade de expressão, deescolha e igualdade, alémdo direito de construir re-lacionamento conjugal ede planejar sua família. A partir dessa legislação (quegarante vários outros direi-tos defendidos pela mu-lher), muita coisa mudou.

 Atualmente, as mulheres éque escolhem seus namo-rados, noivos e maridos.O casamento é feito peloamor que une o casal, e

não mais em troca de al-guma coisa, ou para andarde acordo com as regras dasociedade. Hoje, se o ma-trimônio não anda bem, sehá traição, não se omite ese abaixa a cabeça peranteas dificuldades. A mulherque se sentir desconfortá-

 vel numa relação não temmais a obrigação de levaro enlace adiante, comoantigamente, quando o di-

 vórcio era visto como algoterrível.

 A jornalista Lidiane

Oliveira, de 26 anos, co-menta que hoje as pessoassão livres e se casam poramor, assim como plane-jam cada detalhe, da ceri-mônia à convivência diá-ria. Ela se sente realizadapor escolher alguém comos mesmos pensamentos eideais de vida. “Tenho cer-teza de que escolhi a pessoacerta. Ele se parece muitocomigo em pensamentos eperspectivas. Fiquei noivaem maio e vamos nos casarem breve. Sou romântica e

pretendo fazer tudo comomanda o figurino”, conta,entusiasmada.

 Até pouco tempo, ocasamento homossexualnão era cogitado. Homense mulheres que amavampessoas do mesmo sexotinham de esconder suasexualidade – em todos ossentidos. A minoria queia à luta por seus direitosenfrentava grande cruelda-

de e preconceito. Ante osmovimentos de liberdade eigualdade, em 2001, algunspaíses, principalmente daEuropa, regularizaram osdireitos dos homossexu-ais de se casar, seguindoos mesmos padrões da lei

para heterossexuais: pri-meiramente, o reconheci-mento como união estável,logo seguido da oficializa-ção do casamento no civil.

No Brasil, em meados doano passado, após o reco-nhecido da união estável,passou-se a reconhecer ocasamento civil entre pes-soas do mesmo sexo.

O artista e dramaturgoRodrigo Dias vive com seu

companheiro há cerca deseis anos. Após muitas di-ficuldades – até a própriaaceitação sexual –, ele con-ta o que vivencia em uma

sociedade ainda machistae preconceituosa, mas comcontínuo avanço de ideias:“Acredito que muita coisamudou. Há mais visibilida-de, o assunto está em pau-ta na mídia, no dia a dia,e muitos mitos estão sendo

desconstruídos. Mas é sóo início de um processo.Os direitos civis para ho-mossexuais ainda têm queavançar muito. Precisamos

Metamorfose

ambulante

Taa ctâa Impressão12 Belo HorIzonTe, ABrIl de 2013

 A transformação da sociedade tem permitido casamentos e uniões antes inimagináveis

 Aline OliveiraJuliana SoaresLéia CândidoPatrícia Alves

 Wilson Reynaud Jr.6° PERÍODOEdição: Dany Starling

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tornar nossa visibilidadecotidiana, para que um dianão haja mais tanta distin-ção na vida em sociedade”,afirma.

O dramaturgo aindaconta que, com a revoluçãodos protestos pela igualda-

de de direitos, pensa emoficializar sua união embreve. “Acho que esses mo-

 vimentos abrem preceden-tes para outros vários. Nãose percebe que isso reforçao gueto e a discriminação.Sou a favor de lutarmos pe-los direitos de igualdade enão ressaltar o que temosde diferente. A discussão éampla e profunda, mas pre-firo pensar sempre pela ca-tegoria da ‘igualdade’ e nãoda ‘diferença’”, acredita.

Para o padre e psicólogo

Márcio Nicolau, os relacio-namentos, em especial osmatrimoniais, ainda passa-rão por várias transforma-ções. “O amor romântico,aquele que tudo supera, é oobjetivo a ser hoje alcança-do pela maioria das pesso-as. Contudo, o mundo mu-dou muito, jovens sonhamcom esse amor romântico ese casam. Mas, pela infeli-cidade conjugal, separam ese casam de novo, sempreem busca da felicidade, oque os deixa frustrados por

 vezes, pois a felicidade deum não depende somentedo outro”, conclui.

Taa ctâaImpressão 13Belo HorIzonTe, ABrIl de 2013

Um casamento muito louco!

Casamentos entre pessoas do mesmo sexo: vitória de uma sociedade mais justa

Os americanos AbrilPignataro e Michael Cur-ry casaram-se em junhode 2010. Apesar de usar

trajes adequados para acerimônia, optaram por“roupas de mergulho”nas cores tradicionais: anoiva estava de vestidobranco e o noivo de preto– tudo, porém, adaptadoà vida aquática.

O local escolhido paraa união foi um tanque de120 mil litros, localizadono Atlantis arine Worldem Riverhead, Nova Yor-que (EUA). Como sãomergulhadores, os noi-

 vos decidiram fazer os

 votos em um local quefosse significativo paraambos.

O casal estava prote-gido por uma gaiola ecomo “convidados” tu-barões, enguias, raias,cavalos marinhos, lagos-tas e outros peixes. Alémdisso, os pombinhos, oumelhor, peixinhos, usa-

 vam equipamentos demergulho e microfonespara transmitir suas pala-

 vras um ao outro – assimcomo para os familiares e

amigos que acompanha- vam o enlace matrimo-nial, mas do lado de fora

do tanque. Afinal, nin-guém queria se arriscar eacabar virando “comidapara peixe”.

Casando nas nuvensEm Bruxelas, na Bél-

gica, o casal Jeroen e Ki-ppers foi erguido numaplataforma a quase 49 milmetros do chão para a ce-rimônia de casamento,na qual compareceram20 convidados e o padreque realizou a cerimônia.Em uma plataforma aolado, ficaram os músicos.

 Após os votos, os recém--casados pularam paraoficializar a união.

Responsável pela rea-

lização do casamento nasalturas, a empresa Marria-ge The Sky assegura querealiza várias celebrações

desse tipo. Se puderemdesembolsar um poucomais, os noivos podemoptar por fazer uma fes-ta suspensa, com direitoa jantar com três pratosdiferentes. O valor, po-rém, chega às alturas, £25 mil libras esterlinas,uma quantia referente à77.500 reais por um casa-mento nas nuvens.

Casamento de “índio”Os australianos Ellie

Barton e Phil Hendicott

realizaram um dos mais

inusitados casamentosde que se tem notícia. Onoivo vestia, aliás, segura-

 va um chapéu estrategica-

mente. A noiva “usava”uma calcinha pintadacom tinta branca e doiscírculos brancos desenha-dos entorno dos mami-los, sem esquecer do véubranco, claro. Os noivosexibicionistas fizeram os

 votos diante de 250 con- vidados que foi transmiti-do ao vivo por uma rádioaustraliana. Se você temdúvida quanto ao bolodo casal “Adão e Eva”,sim, os bonequinhos queretratam o casal também

estavam nus.

Na China, há mais de dois mil anos, o arroz representava o símbolo da “fartura”. O gestode jogar os grãos sobre os noivos signica o desejo de fartura para a vida do casal e simbo-liza a fertilidade. Portanto, nunca se esqueçam do arroz!

O truque que algumas noivinhas têm usado, para variar, é tingir o arroz com as cores dadecoração da festa. Não é difícil, mas certique-se de que os grãos estão bem secos, paraque não borre o vestido ao tocá-lo.

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miha BH Impressão14 Belo HorIzonTe, ABrIl de 2013

Corredores lotados, assentos es-cassos e trânsito lento. Esta é a situ-ação do transporte coletivo na capi-tal mineira. Nos últimos meses, asprincipais vias de acesso da cidadese encontram em obras para rece-ber o BRT – sigla em inglês paraBus Rapid Transit (transporte rápi-do por ônibus). Esse foi o sistemaescolhido para desafogar o trânsito

e que promete resolver boa partedos problemas de mobilidade urba-na com custo de implantação dez

 vezes menor que a de um metrô. Andar pelas ruas de Belo Ho-

rizonte de carro ou transporte pú-blico não tem sido fácil. De 2005para 2010, a frota de veículos pra-ticamente dobrou de 82.799 para163.489. Os dados são do Sistemade Informação da Mobilidade Ur-bana (SisMob) de Belo Horizontee revelam que o aumento de 80mil veículos nas ruas da capital am-pliou o tempo gasto nas viagens.

 A auxiliar administrativo Pollia-

ne Shiveck, 27 anos, é moradorada região da Pampulha e precisapegar dois ônibus diariamente para

chegar ao trabalho, no bairro Gu-tierrez, região centro-sul da capitalmineira. Ela revela que, nos últi-mos meses, a situação do trânsitosó tem piorado, “antes eu chegavacom 1hora no trabalho, agora levoquase duas. A quantidade de obrasespalhadas pela cidade tem prejudi-cado o acesso dos ônibus, que pre-cisam dar muitas voltas para sairdos canteiros de obras ou acabamficando presos em engarrafamen-tos quilométricos. Está insuportá-

 vel ir trabalhar todos os dias.”Para o motoboy Glaydston

Oliveira, 23 anos, a situação estámuito ruim. “Em qualquer horá-rio que vou fazer minhas entregaspego trânsito. Tenho demoradomais tempo para conseguir aten-der meus clientes” diz ao destacarque ir de um ponto a outro da ci-dade leva, nos últimos meses, mui-to mais tempo. “Sempre precisopegar caminhos alternativos. Docontrário, fico atrasado.”

BH está na lista das cidadesque receberão verbas do PAC Mo-bilidade. Em maio deste ano, oMinistério das Cidades anuncioua liberação de R$ 3,1 bilhões para

a expansão do metrô. Após a con-clusão das obras a projeção é deque o veículo que hoje transporta

215 mil passageiros por dia passea levar 980 mil. No último mês desetembro, a Empresa Pública TremMetropolitano de Belo Horizonte(Metrominas) publicou no DiárioOficial do Município (DOM) oaviso de licitação do projeto básicode engenharia das linhas 1, 2 e 3 –sendo 18,5 milhões destinados àslinhas 1 e 2, e de R$ 14,6 milhõesàs obras da linha 3. De acordo coma assessoria de imprensa da Metro-minas, o projeto é fundamental,pois assim será possível apontar oscustos e elaborar o edital para exe-

cução das obras. Analista técnico da CompanhiaBrasileira de Trens Urbanos (CB-TU-Metrô-BH), Adão Guimarães,afirma que a expansão é a única so-lução para os problemas de super-lotação do sistema metroviário dacapital e uma alternativa ao alíviodo trânsito nas principais vias dacidade. “A linha 1 está no limite dacapacidade instalada. Não temoscomo ofertar mais lugares. Trans-portamos uma capacidade muitoacima de passageiros” declarouGuimarães. Segundo ele, o cres-cimento ocorreu em função das

mudanças que aconteceram emBelo Horizonte na última década eressaltou que o trânsito, hoje, está

muito mais complicado, sobrecar-regado, e com isso, as pessoas, pordiversas razões, optam por se des-locar de metrô. “Quando falamosem expansão, pensar em só levartrilhos para outras regiões é cairem erro, pois precisamos pensarem melhorias para a linha na qualestamos operando hoje. É precisoampliar, melhorar, comprar maistrens, modernizar e mudar algunssistemas de controle”, explicou.

Itinerário das linhas A previsão é de que a linha 1

seja reformada e ampliada até aestação Novo Eldorado, em Con-tagem. A 2, por sua vez, terá umaextensão de 10,5 km, ligando aregião do Barreiro ao bairro Ca-lafate, na Região Oeste da capital.Calcula-se que sejam implantadassete estações. Quanto à linha 3,que, segundo o projeto será total-mente subterrânea, com 4,5 km,ligando a Savassi à Lagoinha, comcinco novas estações.

Estudante de nutrição, JulianaSoares, 35 anos, é moradora daregião de Contagem e utiliza o me-trô para trabalhar e voltar da facul-

dade todos os dias. “O problemaé a lotação. Depois de sete horasda manhã os vagões ficam extre-

Imobilidade urbanaFrota de veículos e transportes coletivos dicultam o trânsito em Belo Horizonte

 Afunilamento de vias no centro da cidade, devido às obras do BRT, causam deciências no trânsito que reverberam no Complexo da Lagoinha

Caroline PassosRoberta Garcia7° PERÍODOEdição: André Zuliani

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mamente cheios, é difícil transitar,embarcar e desembarcar do trem,”revela. Apesar disso, ela acreditana eficiência e rapidez do veícu-lo, uma vez que não é necessárioenfrentar o trânsito e seus impre-

 vistos. “Aumentar a quantidade detrens nos horários de pico já seria

um grande passo e tornaria a via-gem confortável. Não adianta ex-pandir as linhas e construir maisestações se a capacidade continuara mesma,” opina. BRT

 As principais vias de acesso dacapital estão em obras para recebero BRT. A implantação do sistemapromete tirar das ruas aproximada-mente 800 ônibus nos horários demaior concentração de veículos.Inicialmente, o BRT circulará emdois corredores exclusivos, nas ave-nidas Antônio Carlos/Pedro I e

Cristiano Machado, integrandoa área central da Paraná e SantosDumont, onde estão sendo im-plantadas seis estações de embar-que e desembarque de passageiros.

 As avenidas Santos Du-mont e Paraná receberão osônibus municipais do BRTque chegarão das Estaçõesde Integração Venda Nova,Pampulha, Vilarinho, São Gabriele José Cândido. O tráfego nas

 vias será exclusivo para o BRT. A previsão é que após a inaugu-ração do sistema o número delinhas que chegam das regiões

norte, nordeste e leste hoje com136, diminuirão quase oito vezes,chegando a 18 linhas.

Um centro de controle auto-matizado deve inspecionar todoo funcionamento do sistema, oque de acordo com técnicos daBHTrans, representará melhoria

da qualidade das informações pres-tadas aos usuários e permitirá ges-tão eficiente no que se refere à so-lução dos problemas de operação.

 Ângela Gomes, 23 anos, analistade atendimento, não acredita queo BRT será a solução, pois apesarde retirar veículos das principais

 vias, em alguns casos, os usuáriosgastarão mais tempo para chegarao destino. “Como moro em SantaLuzia pego dois ônibus para chegarao trabalho. Com o BRT precisa-rei pegar três linhas diferentes, ouseja, vou gastar mais passagens etempo,” contesta.

O sistema escolhido é alvo demuitas críticas por especialistas.Entretanto, a BHTrans argumentaque o BRT apresenta o menor cus-to de implantação e o menor tem-po para viabilizar o funcionamen-to. O investimento é, por exemplo,dez vezes menor do que o exigidopara a instalação de um metrô eo tempo é pelo menos dois terçosmenor.

Década do caosO presidente da CBTU- Metrô

BH e especialista em transportes,Nilson Nunes, comenta que o

transporte público na capital é ine-ficiente. “A solução para os proble-mas da capital seria o planejamen-to de um sistema Wde transportepúblico integrado, introduzindomodalidades de alta e baixa capa-cidade na matriz de transportes dacidade,” profetiza.

De acordo com ele, os proble-mas de mobilidade são mais sériosdo que parecem, além de afetara qualidade de vida dos usuárioscom falhas em questões como tem-po de viagem, superlotação, irregu-laridade do serviço, além de acar-

retar ocorrências como aumentoda poluição do ar e do número deacidentes.

Nunes destaca, ainda, que oproblema não só agravou nos úl-timos anos, como tende a piorar.“Os investimentos necessáriospara resolver os problemas de mo-bilidade urbana são usualmentealtos e os municípios e estadosnão têm capacidade financeira su-ficiente. Adotam-se medidas queapenas resolvem parte da questãoe a solução mais abrangente éadiada,” conclui.

miha BHImpressão   15Belo HorIzonTe, ABrIl de 2013

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 Já foi bombeiro, eletricista,ambulante, trabalhou em gráfica,

 Jorginho já se arriscou em mui-tas profissões ao longo da vida.Definitivamente ele não tem

medo do trabalho. Foi justamen-te a insistência em fazer o quegosta e, sobretudo, o que acre-dita que transformou sua vidade artista ambulante. Sempreem busca de uma barraca na fei-ra para expor seus produtos, porsinal, bastante requisitados, queatualmente não precisa ir atrásde trabalho, são os clientes quebatem à porta.

 A vida fez de Jorginho um ar-tista. Desde jovem, com base nosconhecimentos adquiridos como pai, tecelão, desenvolveu traba-lhos em couro, principalmente,

fazendo sapatilhas. Andava pelasruas da cidade, de preferênciapelas feiras populares, vendendoseus calçados e, como ele conta,“vendia tudo rapidinho. Os caras

 viam a qualidade do produto e jácompravam tudo de uma vez, prarevender”.

Pode até parecer que era fácil,mas a vida seria mais dura comesse artista. Logo ao entrar emseu ateliê, Jorginho já corre paramostrar a pilha de cheques semfundo que adquiriu ao longo da

 vida. Principalmente na época emque vendia na rua e era obrigado

a confiar nas pessoas. Por isso, to-mou vários canos, passou necessi-dade e teve de recorrer à mãe para“salvar os meses mais difíceis”.

Certa vez, quando trabalhavaem uma confecção de couro, teve aoportunidade de aprender a fazerchinelos. O fato é que um dia apa-receu um baiano na rua com umpar de chinelos na mão. Como oschinelos eram bonitos e de quali-dade, foi chamado para trabalharna confecção. Eis que o baiano en-tra no ateliê, corta todo o couroque tinha, usa o necessário parafazer uma amostra do chinelo e

some no mundo, deixando todoo material para trás. Ao perceberque o viajante havia “abandonadoo barco”, o dono da confecção sedesesperou ao ver que tanto mate-rial seria jogado no lixo. Jorginhocom sua habilidade de artesão,não fugiu à responsabilidade econseguiu recriar os chinelos dobaiano. Dito e feito: os chinelosfizeram sucesso e Jorginho deci-

Com o passar do tempo ficoudesanimado com o trabalho, pro-duziu muitos “chinelos do baia-no”, mas continuava a levar ca-nos. Pensou em desistir do ofícioe buscar alternativas para ganhardinheiro. Mas o acaso estava nocaminho deste artista.

Certa vez, quando voltava de

bicicleta para casa, a roda diantei-ra topou com um pé de chuteira velha, ela se enroscou nos aramese catapultou Jorginho diretamen-te ao chão. Assim como o rostooutras partes do corpo ficaramesfoladas com a queda. Indignadodecidiu pegar aquele pé de chutei-ra e levá-lo para casa. Por fim resol-

 veu que iria reformar aquele velhoimpasse. E assim, de forma catas-trófica, começava sua história comas chuteiras.

 Apoiado por um amigo, clienteantigo, dedicou de corpo e almaao novo ramo. Já familiarizado

com o manejo do couro rapida-mente começou a produzir chutei-ras de boa qualidade, sendo requi-sitado pelos boleiros da Lagoinha.Não demorou e começou a ficarconhecido não apenas na região,mas por toda a capital.

No final da década de 1990, che-gou a criar um modelo de chuteiraexclusiva para seu xará, camisa 10do Atlético-MG. A partir dela, a

 vida do ex-ambulante mudou radi-calmente. Nas duas horas que es-tive em seu ateliê, quatro clientesapareceram para buscar encomen-das e solicitar novas chuteiras. Sem

contar, claro, os amigos que pas-sam apenas para um bate-papo. Olugar é realmente movimentado.

Clientes renomadosHá 18 anos no mercado das

chuteiras, sua lista de clientes éde invejar até mesmo um vende-dor de loja renomada. Além dasdezenas de boleiros anônimos, aschuteiras de Jorginho chegam agrande parte do elenco profissio-nal dos clubes mineiros: Atlético e

 América. Do time verde e branco, Jorginho guarda a chuteira do ata-cante Alessandro, já do alvinegro

a coleção é numerosa. Atleticanofanático que é, deixa bem à vista,como um troféu de honra ao mé-rito, às chuteiras de Danilinho, Jô,Réver, Diego Tardelli, Neto Bero-la, Diego Alves, Renan Ribeiro,Marques e uma raridade, a do go-leiro Bruno. Tal currículo acaboupor ratificar a profissão ao próprionome. Hoje, todos conhecem o

 Jorge Abuid Moreira. Quem? O

proporcionou fazem dele um ver-dadeiro contador de histórias.Sempre tem um bom causo envol-

 vendo algum jogador de futebol,sobretudo do atlético, óbvio. Masnão pense que este sujeito simplesse curva ante tantas personalida-des. Já desdenhou de jogadoresque se diziam amigos, mas fingiamque não o via na rua.

 A cabeleira farta e a barba cul-tivada há longos anos, (ambas jámeio grisalhas) as roupas sujas degraxa, as mãos calejadas, a falapausada, porém constante, sãocaracterísticas que definem o ar-tista. E ele desdenha de quem lhejulga pela aparência: “eu almoço,

 vou ao banco, trabalho, faço tudoassim. Por que vão me tratar dife-rente? Se não gosta de mim, tudo

 Apesar de ser reconhecidono meio futebolístico, ainda temprejuízo com alguns clientes. Atémesmo dos famosos que rece-bem milhares de reais por mês,

 Jorginho já foi vítima. Hoje emdia, tem condições de recusar tra-balho. Se um cliente não paga oserviço, não precisa procurá-lo, elenão lhe atenderá novamente. Ape-

sar de colecionar prejuízos, assimcomo chuteiras, é bem humoradoe continua confiando nas pessoas.

Amigo dos clientes, ele prezahonestidade a dinheiro. Paide duas filhas, uma com três aoutra com 14 anos, Jorginhoda Chuteira já passou por pou-cas e boas nessa vida. A maishonrosa é que mesmo em umuniverso dominado pela alta

Ja daqui Impressão16 Belo HorIzonTe, ABrIl de 2013

 À sombra

das chuteiras mortaisSimplicidade e perseverança são marcas de Jorge Abuid Moreira, o Jorginho da Chuteira

 Até mesmo clientes famosos dão cano em Jorginho

Fernando Dutra6° PERÍODOEdição: André Zuliani