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Edição 2010 - UNICAMP · Isabel Cristina Araujo Floriano . ... menores e na etapa inicial da organização do livro, ao Gabriel ... que Zeferino costumava recompensar os mensageiros

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Dezembro de 2010

ReitorFernando Ferreira Costa

Coordenador Geral da UniversidadeEdgar Salvadori De Decca

Pró-Reitor de Desenvolvimento UniversitárioPaulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva

Pró-Reitor de GraduaçãoMarcelo Knobel

Pró-Reitor de Pós-GraduaçãoEuclides de Mesquita Neto

Pró-Reitor de PesquisaRonaldo Aloise Pilli

Pró-Reitor de Extensão e Assuntos ComunitáriosMohamed Ezz El Din Mostafa Habib

Chefe de GabineteJosé Ranali

Chefe de Gabinete AdjuntoRicardo de Oliveira Anido

Coordenadora da DGRHPatrícia Morato Lopes

Coordenador do GGBSEdison Cardoso Lins

Comissão OrganizadoraProjeto Memória

Profissionais Unicamp Ex- patrulheiros / guardinhas / mensageiros

Aguinaldo Dias RodriguesClaudir Rodrigues da Cruz

Edison Cardoso LinsIsabel Cristina Araujo Floriano

Jessé Targino da SilvaJosé Rodrigues de Oliveira Luciana Rodrigues

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SIMARA BUSSIOL MANFRINATTI BITTARMARISTELA CARDOSO DIAS

1a Edição2010

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Copyrigh by ©GGBS - Grupo Gestor de Benefícios Sociais / UNICAMP, 2010. Nenhuma parte dessa publicação pode ser gravada, armazenada em sistema eletrôni-co, fotocopiada, reproduzida por meios mecânicos ou outros quaisquer sem autoriza-

ção prévia do editor.

Diretor: Antonio Fernando BoniniProdução Executiva: Marco Antonio Cruz FilhoGerente Editorial: César BittarEntrevistas, Preparação e Revisão Final: Simara B. Manfrinatti Bittar e Maristela Cardoso DiasCapa: Sergio MittoDiagramação: Sergio Mitto

Rua Prof. José Toledo, 20Jardim do Trevo

Campinas SP(19) 3305 6526

www.ecoloreditora.com.br

Bittar, Simara Bussiol Manfrinatti.

M263s Faço parte desta história / Simara Bussiol Manfrinatti Bittar. - Campinas: E-Color, 2010. 260p.

ISBN 978-85-63058-12-6

1. Universidade estadual de Campinas – Unicamp - História. 2. Unicamp – Depoimentos de funcionários. I. Título.

CDD 378.8161Catalogação na publicação: Sonia Gomes Pereira – CRB-8/7025

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AGRADECIMENTOS

A todos os reitores da Unicamp, começando pelo seu fundador, Zeferino Vaz, e pelos que lhe sucederam, a saber, Plínio Alves de Moraes, José Aristodemo Pinotti, Paulo Renato Costa Souza, Carlos Vogt, José Martins Filho, Hermano Tavares, Carlos Henrique de Brito Cruz, José Tadeu Jorge e pelo atual, Fernando Ferreira Costa que, na forma legal estabelecida, com as adaptações necessárias em cada época, nunca fecharam as portas para que adolescentes pudessem iniciar sua vida profissional neste privilegiado ambiente.

Às instituições AEDHA – Associação de Educação do Homem de Amanhã e CAMPC – Círculo dos Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas e à Unicamp, no tocante aos mensageiros, pelo trabalho que desenvolvem no encaminhamento dos adolescentes para a vida e para o trabalho.

Menção honrosa às sras. Maria Angélica Barreto Pyles, Maria Helena Rodrigues e Sheila Karoly Pulino que, neste projeto, representam as respectivas instituições.

Menção especial ao ProSeres – Programa Institucional de Apoio ao Servidor Estudante, que há quase duas décadas incentiva funcionários da Unicamp na obtenção de Graduação e de Pós-Graduação. No primeiro encontro dos ex-menores hoje profissionais, em novembro de 2009, um indicador ganhou destaque: 52% dos participantes do referido encontro, possuíam graduação. Os relatos contidos neste livro atestam a importância do programa citado na vida desses profissionais. Assim o reconhecimento ao Prof. José Tadeu Jorge, pela visão que teve em apoiar a implantação do programa em 1993 e consolidá-lo nos cargos que viria a ocupar posteriormente e aos reitores das gestões subsequentes pela continuidade de um programa exemplar para o desenvolvimento educacional de profissionais da Unicamp. Da mesma forma, reconhecimento a todas as Instituições de Ensino Superior, parceiras do ProSeres.

Reconhecimento a todos os funcionários e docentes da Unicamp que, de alguma ou de várias formas, acolheram, em cada época, os menores que aqui chegaram – e continuam chegando – apoiando-os, motivando-os, integrando-os, sendo-lhes conselheiros e incentivadores. Como atestam os diversos depoimentos.

Este livro se tornou possível......primeiramente, pela adesão significativa dos profissionais da

Unicamp, que nela ingressaram sendo adolescentes, a este projeto acalantado e construído em muitos anos...

...pela relevância da participação da comissão – todos profissionais aqui

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ingressantes adolescentes que organizou o 1º Encontro e, na sequência, definiu estratégias visando a produção do livro, a saber, Aguinaldo, Claudir, Edison, Isabel, Jessé, José Rodrigues e Luciana, e também...

...pelo trabalho do Celso Augusto Palermo, de tratamento das fotos enviadas pelos autores dos depoimentos e pela valiosa colaboração do SIARQ, disponibilizando fotos do rico acervo, que se constituíram em imagens importantes para o livro. Também pelo...

...imprescindível apoio da Reitoria da Unicamp na gestão Fernando Ferreira Costa...

...que, através do GGBS, com aprovação do Conselho do órgão, presidido pelo Prof. José Ranali, compreendendo a importância do projeto pelos aspectos de registro e reconhecimento liberou recursos para seu custeio.

Um especial agradecimento às profissionais Simara B. Manfrinatti Bittar e Maristela Cardoso Dias, pelo cuidadoso trabalho de audição dos depoimentos, captando passagens interessantes e significativas de histórias de vidas, depois transformados em textos.

Da mesma forma aos estagiários de jornalismo do GGBS, Luiz Gustavo, Luiz Ricardo da Silva, Aline Ramos, na organização do 1o. Encontro de ex-menores e na etapa inicial da organização do livro, ao Gabriel Santana pela participação e, em especial, à estagiária de jornalismo, Raquel Calefi, pelo importante trabalho na finalização desta obra.

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A comissão organizadora do 1º encontro e do ponta pé inicial para a produção deste livro: Bel, Lins, Aguinaldo, Jessé, Rodrigues, Claudir e Luciana.

Mesa de Abertura do I Encontro de Funcionários Trabalhadores da Unicamp. Maria Helena Rodrigues, Edison Cardoso Lins, Patricia Morato Lopes, Fernando Ferreira Costa,

Paulo Celso Motta, Maria Angélica Barreto Pyles e Erika Bueno.

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Momento do I Encontro de Funcionários Trabalhadores da Unicamp em Setembro de 2009.

Foto recente dos trabalhadores, hoje profissionais da Unicamp, que participam do livro com depoimentos.

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Grupo de trabalhadores da Unicamp que participam do livro com depoimentos

Grupo de trabalhadores da Unicamp que participam do livro com depoimentos

Grupo de trabalhadores da Unicamp que participam do livro com depoimentos, em momento recente.

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Debate Permanente: cena de um dos muitos eventos que ocorrem na Unicamp, dos quais participam profissionais, inclusive aqueles ingressantes quando menores.

Paulo Renato Costa Souza e José Aristodemo Pinotti (In memorian) ex-reitores, cujas gestões houve expressiva chegada e registro formal de menores.

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Pedra Fundamental. O começo de tudo

Muitos menores, hoje profissionais, começaram por aqui, a Santa Casa de Misericórdia de Campinas, uma das moradas da Unicamp, e onde concentrou a maior parte das atividades clinico - cirúrgicas.

Visita do Prof. Ataliba Nogueira, Secretário da Educação à Universidade de Campinas. Vista da Faculdade de Medicina, instalada na maternidade de Campinas. História de vários momentos e

muitas participações. Campinas, 17 de junho de 1964.

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APRESENTAÇÃO

Esta obra, articulada e construída sempre em perspectivas coletivas, traz histórias interessantes e significativas, alegres, pitorescas, tristes ou de agradecimentos da parte de profissionais da Unicamp que aqui ingressaram, em cada uma das décadas de história da Unicamp.

Traz ainda, além de fotos de registros pessoais e momentos históricos significativos da Unicamp ou com a participação de algum de seus segmentos. Momentos dentro da linha histórica do tempo, em que situações individuais ocorriam simultaneamente a situações e desafios da própria Unicamp, em construção, como espaço de resistência e de luta, para esses menores e pela democratização do país.

Cada texto, cujo tecer não segue necessariamente ordem cronológica, respeitando a sequencia dos depoentes, possui um título, cujo sentido está no texto. É preciso ler com atenção e com sensibilidade. Há em cada texto aspectos importantes que demonstram o papel da Unicamp como espaço de desenvolvimento pessoal e profissional para centenas de jovens. E o compromisso desses, com seu trabalho, para que a Unicamp cumpra seu papel de excelência junto à sociedade.

Você tem em mãos um livro de grande valor individual e institucional, cujas situações relatadas ratificam a importância da Unicamp, como fator ímpar de desenvolvimento abrangente para os que aqui ingressaram como menores e hoje se encontram inseridos, de forma efetiva, no ambiente organizacional da universidade, em todas as suas dimensões. Tudo isso tem a ver também com você, que recebe este livro, mesmo não fazendo parte deste contexto. Há pontos em comum na sua trajetória de vida com os percursos aqui narrados.

Boa leitura!

Comissão OrganizadoraProjeto Profissionais da Unicamp – ingressantes adolescentes

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PREFÁCIO

Este livro presta homenagem aos mais de 600 funcionários da Unicamp que ingressaram na Universidade ainda adolescentes e dentro dela construíram uma sólida e respeitável carreira profissional.

Colhidos e transformados em texto pela escritora Simara B. Manfrinatti Bittar, os cerca de 90 depoimentos de ex-mensageiros, guardinhas, patrulheiros e office boys que preenchem as páginas a seguir conquistam o leitor ora pelo lado divertido, ora pela emoção que transmitem.

É impossível não se divertir com histórias como a do guardinha que, recém-admitido, percorreu diversos setores da Unicamp em busca de “papel carbono quadriculado” e de um “alicate que não cortasse fio” sem se dar conta de que havia caído em uma brincadeira dos colegas. Da mesma forma, não há como não se emocionar com os relatos de pessoas de origem humilde que conseguiram completar o ensino superior, fizeram cursos de pós-graduação ou especialização e hoje ocupam cargos importantes em faculdades, institutos e áreas da administração da Universidade.

Também merecem destaque os casos protagonizados por grandes personalidades da história da Unicamp, como o fundador e primeiro reitor da Universidade, professor Zeferino Vaz. Em um dos depoimentos, descobrimos que Zeferino costumava recompensar os mensageiros que carregavam sua pasta com pequenos presentes, o que provocava acirradas disputas entre os jovens pelo privilégio de ajudar o Reitor.

Mas o que realmente chama a atenção em todos os depoimentos é a gratidão expressa pelos funcionários que chegaram à Unicamp antes de atingir a maioridade. Gratidão aos colegas que os ensinaram a dar os primeiros passos dentro da Universidade; gratidão aos chefes que os incentivaram − algumas vezes até mesmo financeiramente − a continuar estudando; gratidão à própria instituição por haver-lhes oferecido tantas oportunidades de crescimento pessoal e profissional.

Tenho a satisfação de trabalhar com alguns dos personagens deste livro na Reitoria da Unicamp e sei o quanto a Universidade foi beneficiada com a permanência de cada um deles aqui no campus.

Que os depoimentos da Srta. Elisete, minha secretária; do Sr. Edison Lins, coordenador do Grupo Gestor de Benefícios Sociais; e de todos os demais funcionários entrevistados para este livro sirvam de exemplo e inspiração para as centenas de mensageiros, guardinhas, patrulheiros e office boys que contribuem diariamente para o bom funcionamento da Unicamp.

Boa leitura!

Fernando Ferreira CostaReitor da Unicamp

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SUMÁRIO

- SUPERANDO BARREIRAS............................................................................................23

- REALIZAÇÃO DE UM SONHO.....................................................................................25

- FARDA RASGADA E UNIÃO........................................................................................27

- SOLIDARIEDADE PARA ESTUDAR..............................................................................29

- SÓ EU FIQUEI BRAVO................................................................................................31

- CIRCULANDO..............................................................................................................33

- RATINHOS ESTRESSADOS............................................................................................35

- REVOLUCIONÁRIOS....................................................................................................37

- DONA SULTANA.........................................................................................................41

- SAUDÁVEL RIVALIDADE.............................................................................................43

- MEU QUERIDO, MEU VELHO, MEU AMIGO..............................................................45

- AYRTON SENNA RACING DAY.....................................................................................47

- DIRETAS, JÁ!..............................................................................................................49

- UM DOUTOR..............................................................................................................51

- CHEFE DA ESPOSA!....................................................................................................55

- PESCA NO PARQUE ECOLÓGICO ................................................................................57

- PERCURSO E FOTOGRAFIA........................................................................................59

- APAIXONADO PELA UNICAMP...................................................................................61

- SOBRE FILMES? FALE COM ELE!.................................................................................63

- NAS TRILHAS DA UNICAMP........................................................................................67

- LEMBRANÇA DE ROGÉRIO FERNANDES....................................................................69

- TUDO SOBRE A UNICAMP...........................................................................................71

- LANCHE NA ORLY.......................................................................................................73

- O FRETADO DA ALEGRIA............................................................................................75

- VIVENDO OPORTUNIDADES COM PRAZER..............................................................77

- CRESCIMENTO............................................................................................................79

- DESBRAVANDO A UNICAMP.......................................................................................81

- MÚLTIPLAS EXPERIÊNCIAS .......................................................................................83

- CONHECI CÉSAR LATTES.............................................................................................87

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- UM PONTO DE ENCONTRO.........................................................................................89

- EU ANDAVA MUITO....................................................................................................91

- UNIVERSIDADE ABERTA..............................................................................................93

- ATENÇÃO AOS PACIENTES.........................................................................................95

- DONA MARIA ANGÉLICA............................................................................................97

- APRENDENDO A TER RESPONSABILIDADE................................................................99

- NO ARQUIVO POR ACASO.........................................................................................101

- SISTEMA EM PHP......................................................................................................103

- DESCONTRAÇÃO NO FRETADO.................................................................................105

- VIRTUDE RECOMPENSADA.......................................................................................107

- PAULO FREIRE COMO REFERÊNCIA...........................................................................111

- REALIZADO E NUNCA ACOMODADO.........................................................................113

- FILHO OU IRMÃO MAIS NOVO?...............................................................................115

- A HISTÓRICA CAIXA POSTAL 1170............................................................................117

- TRONCO HUMANO E CAMUNDONGOS....................................................................121

- TRIPLO ALMOÇO......................................................................................................123

- DISCO VOADOR NO ALMOÇO.....................................................................................125

- O SAUDOSO ENSATUR...............................................................................................127

- MUITAS OPORTUNIDADES........................................................................................129

- HASTEANDO NOSSA BANDEIRA................................................................................133

- TER TALÃO DE CHEQUES..........................................................................................135

- UM ETERNO GAROTO...............................................................................................137

- DIÂMETRO E PERÍMETRO..........................................................................................139

- PROJETOS PÓS-APOSENTADORIA.............................................................................141

- VIABILIZANDO SONHOS...........................................................................................145

- ESPAÇO PARA VIOLÃO..............................................................................................147

- QUASE EM XEQUE POR UM CHEQUE........................................................................149

- ATAQUE DE ABELHAS...............................................................................................153

- FUTEBOL E PAGODE.................................................................................................155

- UMA MÃE POSTIÇA.................................................................................................157

- PSICOLOGIA E TEOLOGIA.........................................................................................159

- TROCAS ESTRATÉGICAS............................................................................................163

- SECANDO PAPÉIS COM VENTILADOR.......................................................................165

- ENCONTRO NO BANDEJÃO.......................................................................................167

- A PREMIADA.............................................................................................................169

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- PÂNICO NO LABORATÓRIO!.......................................................................................173

- NA ERA MANUAL......................................................................................................175

- MASCOTE E XODÓ....................................................................................................177

- OPORTUNIDADES INTERNACIONAIS........................................................................179

- LAUDAS PARA O DIÁRIO OFICIAL.............................................................................181

- IMPRESSÕES.............................................................................................................183

- INÍCIO COM GREVE..................................................................................................185

- APOIO NA TRAJETÓRIA............................................................................................187

- BIBLIOTECAS.............................................................................................................189

- INOVAÇÃO................................................................................................................191

- UM SONHO REALIZADO.............................................................................................193

- SEM DESÂNIMO.......................................................................................................195

- DA SENZALA À CASA GRANDE..................................................................................197

- UM CAFÉ GOURMET NO BERÇO DO CONHECIMENTO..............................................199

- FORMIGA ATÔMICA E BARATAS ALBINAS...................................................................203

- CURIOSIDADE E A PRAÇA DA PAZ .............................................................................207

- RETOMANDO OS ESTUDOS......................................................................................209

- UM VENCEDOR.........................................................................................................211

- A MENINA DO RG.....................................................................................................213

- DIA DE PAGAMENTO................................................................................................217

- O HC É UMA ESCOLA................................................................................................219

- EUSTÁQUIO GOMES..................................................................................................221

TAMBÉM FAZEMOS PARTE DESTA HISTÓRIA

- LUTAS E VITÓRIAS.....................................................................................................225

- ERA UMA VEZ...........................................................................................................229

- QUANDO LUTAMOS POR CAUSAS NAS QUAIS ACREDITAMOS, A VIDA ADQUIREUM SENTIDO MAIOR..................................................................................................235

- APRENDIZAGEM E PROFISSÃO..................................................................................247

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SUPERANDO BARREIRASADRIANA DE MORAES DOS SANTOS

Devido ao falecimento do pai, Adriana tomou a iniciativa de entrar na Associação de Educação do Homem de Amanhã, a “Guardinha”, com a intenção de ajudar sua mãe.

Fez um treinamento por três meses e, em junho de 1981, aos 15 anos, foi encaminhada à Unicamp.

Apenas uma pessoa de seu grupo de guardinhas, que se formou no mesmo pelotão, também foi trabalhar na Unicamp.

Dois anos depois com 17 anos, passou a ser mensageira e, aos 18, tornou-se oficial administrativo na área de Recursos Humanos, na DGA (Diretoria Geral da Administração). Como era de praxe, passou por um processo com psicólogo, que a considerou apta a assumir o cargo.

Três anos após seu ingresso, já então maior de idade, em 01 de outubro de 1983 obteve carteira assinada.

A equipe que trabalhava era muito boa, mas três pessoas marcaram sua vida de maneira especial, e até hoje a amizade permanece. Cássia, que se tornou madrinha de sua filha, além de serem madrinhas de casamento uma da outra, e também o Jurandir e o Edison.

Na DGA trabalhou no Expediente; quando passou a ser DGRH (Diretoria Geral de Recursos Humanos), Adriana trabalhou na Frequência de Funcionários. Depois foi para o Atendimento ao Cliente, que era o setor de Protocolo.

Permaneceu de 1981 a 1985 na DGRH, no setor de Recursos Humanos, quando então participou de um processo interno de transferência para o Hospital das Clínicas, onde permaneceu de 1986 a 2004.

Como toda sua trajetória tinha sido na área de recursos humanos, surgiu o desejo de aprender coisas novas.

Prestou, então, um processo interno e foi trabalhar na área de Faturamento, no Gastrocentro, onde permaneceu de 2004 a 2007. Tinha muita dificuldade com o serviço, pois realizava sua função sem ter muitos conhecimentos, o que lhe gerava grande insatisfação. Porém não desistiu e lutou para absorver os conhecimentos e dominar as tarefas. Pôde contar com o apoio e motivação de sua supervisora, Maria Cristina Pirra, e também com Maria José, que lhe ensinou tudo sobre faturamento, além de ajudá-la a superar certas barreiras. Dione, da Regional, também lhe deu muita força.

Essa transição entre setores foi uma das coisas mais marcantes em sua carreira. “A luta e as dificuldades foram edificantes, pois hoje eu ensino outras pessoas que chegam ao setor”, ressalta Adriana.

A partir de 2007 passou a ser secretária da área de Secretaria e Expediente (Protocolo), onde está até hoje.

Ao longo de sua trajetória na Universidade, adquiriu experiências e

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amizades que lhe causaram grande alegria. Rosalina, Luciene e Silvana são amigas, sempre prontas a ouvir. O Sérgio também é considerado uma pessoa especial, pois é espontâneo e brincalhão. “São pessoas assim que tornam o ambiente de trabalho alegre. É muito gostoso trabalhar com eles”, diz Adriana.

Com uma família estruturada e unida, Adriana costuma dizer que não tem do que reclamar. Suas duas filhas trabalharam na Unicamp, mas seguiram outras carreiras e estão terminando suas faculdades; a Cibele faz Análises de Sistemas e a Gislaine faz Têxtil. Seu marido tem uma microempresa, é um bom administrador e líder em uma igreja.

Formada desde 2009 em Gestão de RH, Adriana acredita que quando o funcionário tem perspectivas de ser valorizado no trabalho, ele se motiva a estudar e a buscar especialização. Ela atribui a Rose o incentivo de sua motivação, por ter acreditado em seu potencial e empenho, oferecendo-lhe a oportunidade de estudar e adquirir maiores conhecimentos. Acredita que cada vez mais os funcionários têm que se especializar, pois o mundo é muito competitivo.

E conclui: “Sou muito grata à Unicamp por tudo que conquistei”.

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REALIZAÇÃO DE UM SONHOAGUINALDO RODRIGUES DIAS

O Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas tinha como regra que sempre que um jovem trabalhasse em mais de quatro lugares, obrigatoriamente seria desligado da Instituição. Isso acabou ocorrendo com Aguinaldo, inscrito no Patrulheirismo desde 1983. Conseguiu, por conta disso, realizar um desejo que tinha desde quando começou a trabalhar.

Através da informação de um amigo, soube a respeito de um concurso na Unicamp. Sua mãe, por sua vez, mandou que fosse ver outro emprego em Barão Geraldo. Sem que ele soubesse, ela o aguardava no endereço que o enviou. Ao descer do ônibus no Terminal Barão Geraldo, Aguinaldo deu de cara com a mãe. Como seu sonho era trabalhar na Unicamp, esperou que ela fosse para o trabalho e se dirigiu à Universidade, onde começou em 25 de junho de 1986, no Instituto de Filosofia.

Muitas foram as experiências vividas ao longo de sua trajetória. Quando bem jovem, Aguinaldo gostava de mexer com computador, e

como tinha conseguido um joguinho, tentou fazer uma cópia. Sem saber ao certo, fez tentativas aleatórias e, a cada nova mensagem que aparecia na tela, ele avançava uma etapa do processo de reprodução. Em determinado momento, clicou em disc copy e foi passo a passo conseguindo gravar o disquete.

A partir dessa experiência que lhe despertou um interesse maior por informática, passou a trabalhar nesta área, em 1987.

Muitas são as lembranças do tempo em que era ainda jovem. Acredita que os melhores acontecimentos se davam no horário do almoço, devido ao tempo de folga. O Restaurante abria cedo. Os jovens saíam para fazer serviço dentro da Universidade e aproveitavam para almoçar, por volta das 10h30. Depois, à tarde, o outro Restaurante servia refeição, e almoçavam novamente, por volta das 14 horas.

“Estávamos em fase de crescimento, trabalhávamos bastante e aproveitávamos para nos alimentar bem”, brinca Aguinaldo.

O banco era um ponto de encontro, onde vários mensageiros se encontravam, era um momento de troca e brincadeiras. Porém, recorda-se que havia um funcionário que ligava para os diversos setores onde cada um trabalhava e dizia à chefia que ‘tal’ funcionário estava bagunçando. Várias foram as broncas que levaram por conta disso.

Muitas pessoas passaram por sua vida e algumas deixaram marcas positivas. Entre elas, Dª Rosali, uma pessoa especial. “Faço questão de registrar o respeito e afeto que sinto por Dª Rosali, que foi dentro da escola para me buscar e me encaminhar à Unicamp, fato que mudou minha vida”, ressalta Aguinaldo.

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Raquel Aguiar foi quem o incentivou a entrar na área de Cabeamento, sendo também uma pessoa muito importante em sua carreira.

Aguinaldo fez colégio técnico com ajuda da Unicamp, além de outros cursos oferecidos pela Universidade.

Atualmente está no setor de Informática, tem a função de programador de sistema de informação. E conclui: “Sou muito grato à Unicamp pelas oportunidades”.

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FARDA RASGADA E UNIÃOAILTON APARECIDO BOBLIANO

Apesar do receio em iniciar no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas, Ailton foi levado pelo pai à Instituição, aos 12 anos.

Iniciou sua carreira com mérito. Através de uma carta dos seus superiores, elevou-se, devido aos grandes elogios que lhe foram atribuídos.

Foi parabenizado, recebeu graduação e foi transferido para a Unicamp, em 1973, quando já estava com 14 anos de idade.

Recorda-se que ao chegar na Universidade estranhou, pois existiam poucos prédios e havia bastante mato no campus, mas logo se acostumou.

Foi até o departamento de Recursos Humanos e lá o encaminharam à DGA (Diretoria Geral da Administração) para substituir o Luiz Carlos, que estava prestando serviço militar. Algum tempo depois conseguiu o registro em carteira, fato este considerado o mais marcante do início de sua carreira profissional.

O ambiente de trabalho possibilitou que fizesse bons amigos, entre eles, Edison (FCM), Jacinto, Renato Pires, Arsênio, entre outros que foram importantes em sua trajetória. Dona Sonia, que apesar de ser dura, direcionou seu caminho e o ajudou em seu crescimento profissional, assim como o Seu Manoel, já falecido, que também o ajudou muito.

Geraldo, que também foi patrulheiro, e Sandro são seus amigos e trabalham todos no mesmo setor atualmente.

Outra pessoa importante foi Marcos Frold, que o ensinou como trabalhar na função relacionada ao correio, inclusive com passagens aéreas que fazia parte de suas tarefas.

Fato curioso ocorreu no início de sua carreira, quando Humberto, seu companheiro de função, que fazia o trabalho de entrega de jornais, pediu-lhe para que entrasse na sala de Biologia para levar algum documento. Ailton se recorda pelo fato desse pedido ter lhe tirado o sono, pois sentiu medo de passar entre os cadáveres, onde eram feitas as autópsias.

Ailton se lembra como os patrulheiros eram unidos em sua época, estavam sempre juntos, almoçavam, jogavam bola.

Em uma dessas ocasiões, ao jogar bola, ele e um colega rasgaram a farda e foram até a sala de Dª Sonia que, assustada pelo estado de suas roupas, pensou que tivessem sido atropelados.

Ao chegar em casa levou uma bronca de sua mãe, pois teve que comprar novo uniforme.

Muitas são as recordações da época em que era patrulheiro.Lembra-se quando foi para Petrópolis através de uma seleção que

premiava vários meninos; quatro ônibus saíram rumo ao Rio de Janeiro.Foram ao teatro no primeiro dia, mas vários patrulheiros dormiram, pois

tinham viajado por muitas horas e estavam exaustos. Visitaram o Pão de Açúcar

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à noite. “Foi uma viagem muito boa”, relembra Ailton. Através da Instituição Patrulheiros, foram diversas vezes a Santos. Ailton procurava estar sempre com sua turma para aproveitar melhor

as viagens.Tem muito respeito pela Unicamp, pois sempre houve grande

consideração por ele ao longo de sua trajetória. Recorda-se de um período que ficou afastado por trinta dias e Dª Sonia pediu para que outros funcionários fossem até sua casa e verificassem o que estava acontecendo, e se ele estava bem ou se precisava de alguma coisa.

Muitas foram as oportunidades oferecidas pela Unicamp, e Ailton sempre procurou aprender mais e mais. Fez com que as tarefas atribuídas o fizessem crescer.

Está há 37 anos na mesma área e atualmente exerce função administrativa. Faz a parte de Expedição e tem muito contato com o pessoal do Correio.

Seus três filhos usufruíram, desde muito cedo, dos benefícios educacionais oferecidos pela Unicamp, o que lhe traz orgulho. Conclui, dizendo: “Sou muito grato ao grande aprendizado conquistado dentro da Universidade”.

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SOLIDARIEDADE PARA ESTUDARALCEBÍADES RODRIGUES JUNIOR

Muitas eram as lutas e barreiras a serem superadas. Criado pelos tios, devido ao falecimento de sua mãe, Alcebíades

trabalhou, inicialmente, no Albergue Noturno.Posteriormente, a Associação de Educação do Homem de Amanhã, a

“Guardinha”, deu-lhe uma carta de apresentação, e foi encaminhado ao IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) da Unicamp.

Foi então para a Pós-Graduação, onde se encontra até hoje.Recorda-se de seu desejo na época em que começou a trabalhar na

Universidade, que era ficar na Administração do IFCH, pois trabalhava no barracão e tinha que subir a pé para encaminhar documentos; já quem estava na Administração tinha bicicleta e circular interno para fazer o serviço. Ele queria essa “regalia”.

Quando estava cerca de duas semanas na Unicamp, apareceu um amigo da Guardinha, que veio para trabalhar na Administração. Enquanto muito jovens que eram, inúmeras brincadeiras faziam.

Tinham mania de brincar com clipes e elástico, em que um tentava acertar o outro. Faziam uma espécie de estilingue e brincavam de acertar as aranhas.

Recorda-se de certa vez que desceu para fazer um serviço no Protocolo e, bem na entrada do prédio, tinha um cacho de marimbondo. Mirou o estilingue improvisado no cacho e o acertou em cheio. Só não contava com a má sorte de um aluno que passava pelo local.

Saiu correndo e, tempo depois, ao entrar no setor que trabalhava, avistou sua chefe passando álcool no tal aluno, que estava com o rosto inchado de tanta picada.

Outra “arte” comum na época de garoto era a troca das tampas do saleiro e do azeite no refeitório. Quando os outros iam se servir, caía tudo sobre eles.

O irmão de Alcebíades também foi trabalhar na Unicamp, no Restaurante, o que foi muito bom, pois conseguiu ajudar no orçamento da casa.

Ao longo do tempo, Alcebíades foi aprendendo coisas, fez arquivos, ofícios, sempre querendo entender sobre o conteúdo dos documentos e dos processos.

Quando abriu um concurso para mensageiro, prestou e passou.Fato que marcou bastante foi quando, ao completar 18 anos, obteve

registro em carteira, pois não sabia se isso aconteceria ou não. Ficou como auxiliar administrativo e depois passou a técnico.

Ao longo de sua vida, teve grandes incentivadores, que lhe mostraram a necessidade de voltar a estudar.

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Um grupo de professores o ajudou a pagar os primeiros seis meses de faculdade. Formou-se então em Administração de Pequenas e Médias Empresas.

Devido a seus esforços, o reconhecimento vinha em forma de gestos. Sua chefe, antes mesmo de se aposentar, disse que ele assumiria seu lugar.

Várias pessoas marcaram sua trajetória.A Sandra o ajudou muito, e lhe ensinou como lidar com o arquivo. O

Eduardo foi também uma pessoa muito importante e o professor Marcos Nobre acreditou em sua capacidade e enviou muitos ofícios para resolver sua situação dentro da Universidade.

Teve uma chance na Coordenação da Pós e tornou-se ATD (Assistente Técnico de Direção), em 2008.

Sua função é tranquilizar e viabilizar as condições, para que o setor funcione da melhor maneira possível.

Hoje, com tantos anos de Unicamp, sente-se grato por todas as oportunidades oferecidas, inclusive com relação à educação de seus filhos, que utilizaram o CECI (Centro de Convivência Infantil) e o Prodecad (Programa de Integração e Desenvolvimento da Criança).

“Ao ingressar na Universidade, não imaginava a grandeza e o que representava esta entidade para a sociedade. Não precisou passar muito tempo para que eu compreendesse sua imensa importância”, conclui Alcebíades.

Alcebíades Rodrigues Junior e colegas no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas em festa de aniversário, acolhida e integração.

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SÓ EU FIQUEI BRAVO!ALCEU LOZAPI VIANA

Alceu soube através de vizinhos que já eram patrulheiros, a respeito do Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas (CAMPC).

Fez um curso preparatório, aos 12 anos, e foi encaminhado a empresas.Trabalhou primeiro numa loja de quadros e depois na Bendix, de 1980

até 1983.Quando o jovem já tinha um tempo como patrulheiro, fazia um novo

curso e os bem disciplinados eram graduados. Foi assim que Alceu passou a ser graduado na CAMPC.

Esse benefício permitia que quando o patrulheiro graduado não estivesse bem em uma empresa, poderia ser remanejado. Foi o que ele fez. Como a Bendix não registrava, quis sair. Se fizesse 18 anos e ainda não tivesse registro, seria dispensado do Patrulheirismo.

Através de amigos, soube o que a Unicamp era uma Universidade, um bom lugar para se trabalhar, e que registravam quando se completasse maior idade. Não teve dúvida em pedir seu encaminhamento, e seu ingresso se deu em 25 de fevereiro de 1983, quando estava com 16 anos de idade.

Começou na DGA (Diretoria Geral da Administração), onde se processava tudo ligado ao departamento de Recursos Humanos. Era uma espécie de informática. O departamento era o Datacentro, a principal função era a folha de pagamento, a inserção dos novos contratados.

Alceu se recorda que tinha uma bicicleta com bagageiro e saía do Centro de Computação, onde ficava a impressora, para buscar relatórios. Fazia a separação dos documentos e os distribuía para os devidos setores.

Certa vez, tinha chovido muito e por não ter asfalto na rua, formara-se um lamaçal. Alceu tinha que levar de bicicleta vários formulários, mas acabou derrapando e ele e os documentos ficaram cheios de lama. Ao chegar todo sujo, as pessoas do departamento o ajudaram a se limpar e entenderam que foi um acidente. “Ninguém ficou bravo, só eu”, comenta.

O ambiente era acolhedor e muitas amizades foram conquistadas.Edson Luis Penteado, chamado carinhosamente de Amaral, foi seu

primeiro amigo. Dividiram a mesma mesa quando trabalharam na Bendix e, quando veio à Unicamp, foi a primeira pessoa que encontrou. “É um grande amigo, um ser humano espetacular”, ressalta.

Jogaram futebol, frequentaram bares juntos. A irmã de Edson cuidou de Bruna, filha de Alceu, na recreação da Unicamp. Atualmente, a filha de Bruna também utiliza a escolinha da Unicamp.

Foi registrado em 1983, como patrulheiro, e permaneceu até completar 18 anos.

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Em 1984 passou a exercer a função de perfurador conferidor, o princípio de reinserção de dados da informática. Ficou até 1986 e depois passou a trabalhar como operador de computador de grande porte, terminais e processamento de folhas, até 1993.

Muitos nomes poderiam ser citados na lista de pessoas que passaram e deixaram alguma marca em sua vida. João Carlos Curti foi um mestre em Ciências da Computação. Junto com Alceu começou a trabalhar com microinformática. Ganhavam lotes grandes de computadores, juntavam dois e faziam um. Logo criaram a primeira rede de microcomputadores, que se iniciou por volta de 1993 e foi evoluindo ao longo dos anos.

“João Carlos Curti é uma pessoa engraçada, um espelho de vida. Gostaria que meu filho fosse como ele, uma pessoa que começou do zero e hoje exerce uma função muito importante dentro da Universidade. Tudo que sei hoje devo a João”, conclui Alceu. Foi seu mensageiro um dia e, atualmente, é seu chefe. Ensina, não deixa de fazer, incentiva e motiva. Uma frase que Curti costuma dizer e Alceu adotou é: “Atenda primeiro as necessidades de seus usuários e depois poderá fazer o que quiser”.

Outro grande amigo é Jessé, inclusive desde a infância, e também o Carlos Henrique (Chop).

Alceu aproveitou ao máximo as oportunidades. Fez vários cursos oferecidos pela Unicamp, dentro de sua área, inclusive alguns fora da Universidade.

Atualmente é técnico de suporte computacional, onde atende as necessidades dos usuários. Administra a rede, as contas de e-mails, entre outras.

Alceu conclui: “Meu pai me deu o maior valor que um ser humano pode ter: respeitar o próximo, viver o bem, não fazer mal a ninguém. Não tive bens materiais, mas tive a formação de meu caráter”.

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CIRCULANDOALDREY CARNAUSKAS DE SOUZA

Entrou na Unicamp em 15 de maio de 1986, aos 15 anos, no CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher), no setor de Enfermaria Obstétrica e Alojamento Conjunto. Prestava serviços aos médicos, enfermeiros e amigos de outros departamentos, quando precisavam de ajuda para algo mais urgente.

Fez um processo seletivo para mensageira. Com 18 anos foi contratada.O começo foi difícil devido à inexperiência do primeiro emprego.

Perdeu-se várias vezes pelos corredores do HC (Hospital das Clínicas), pois tinha vergonha de perguntar e pedir ajuda.

O serviço era duro, e passou por alguns percalços. Uma das tarefas que os mensageiros tinham na época era levar exames de pacientes. Eram vidros grandes, tampados somente com gaze e, muitas vezes, o líquido do interior do recipiente molhava quem o transportava.

Aldrey, certo dia, atrasou-se para o colégio, pois derramou urina em sua roupa e teve que ir para casa se trocar. Chorou de raiva, pois precisou pedir autorização à professora do colégio em que estudava, para fazer a prova na terceira aula.

Outro fato marcante em sua trajetória foi saber que uma amiga, também mensageira, que trabalhava no Centro Obstétrico, tinha que levar vários bebês em óbito para o HC, embrulhados em sacos. Naquela época, essa tarefa fazia parte do trabalho e tinha que cumpri-la.

Foram várias as emoções e tristezas que, infelizmente, permeavam aquele universo.

Quando tinha 17 anos, quase completando 18, houve uma mudança e os mensageiros não puderam mais ficar dentro da ala hospitalar. Passaram então ao SAME, um setor de arquivo. Começaram a mexer com papeladas, arquivos, etc.

Aldrey acredita que apesar de todos os problemas, aquela foi uma fase boa.

Havia solidariedade por parte de alguns funcionários e médicos com relação aos jovens que estavam iniciando a carreira; ajudavam sempre que podiam.

Trabalhou no setor de contas médicas; teve licença gestante e, quando voltou, um diretor que gostou de seu trabalho a recrutou novamente para o setor.

Ao longo de sua vida contou com pessoas importantes. O Dr. Verdiane foi um médico que a apoiou em seus estudos. Quando ia bem na prova, ele lhe dava bombom como incentivo. Aldrey ressalta: “Eu gostava muito do Dr. Verdiane”.

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O pessoal que entrou na época de mensageiros também tem grande valor. Norma Maria Barbosa Carnaúba e Denilza Nicolucci são amigas especiais, trabalham na mesma sala; a Luciana de Estefano também é uma grande amiga, pegavam ônibus fretado juntas e frequentam a casa uma da outra; a Giane, uma boa amiga; Maria Goreti Coelho Stolf, na época diretora do RH, também foi alguém que a ajudou muito; o Carlos Roberto Carducci, seu padrinho de casamento é uma pessoa extremamente boa, que a ajudou muito e lhe deu apoio na época em que precisou se afastar para cuidar da saúde do filho.

Vários momentos marcaram sua trajetória. Lembra-se das vezes que derrubou o carrinho do almoxarifado, quando ainda era bem jovem. Era um carrinho de supermercado cheio de papelada, vidros de exames, entre outras coisas. Quando andava pela chuva, colocava um saco plástico preto sobre o material que transportava, para tentar protegê-lo.

Outra lembrança era de quando tinha que levar documentos do HC para outros setores, e por inúmeras vezes se perdeu. Ligava então para a Enfermaria que trabalhava, e pedia às enfermeiras que explicassem como deveria fazer para voltar ao CAISM.

Após o trabalho, muitas vezes saía correndo para não perder o fretado e levou alguns tombos por conta disso.

Lembra-se de derramar suco na hora da refeição, o que lhe causava muita vergonha.

Após o almoço, era comum sair do refeitório com outras colegas mensageiras para darem uma volta de circular. Aproveitavam para passear, até dar o horário de retornar ao serviço.

Aldrey admira o trabalho de duas enfermeiras, Rosane e Luiza, e as considera pessoas especiais, que inclusive a ajudaram na época que ingressou na Unicamp. Sempre foram divertidas e responsáveis, existe muito carinho e respeito entre elas.

Ao longo da carreira pôde fazer vários cursos dentro da Unicamp. Computação, inglês básico por seis meses, redação, entre outros. Participou também de várias palestras.

Aldrey é grata por tudo o que a Universidade proporcionou em sua vida, inclusive com relação à educação dos filhos. Tem uma filha que frequentou o CECI e a creche, e um filho que usufruiu da escola. Até hoje gosta do que faz, aprendeu muito e tem muito mais a aprender. É responsável pelo faturamento do hospital e pela internação hospitalar. E conclui: “A Unicamp é nossa segunda casa”.

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RATINHOS ESTRESSADOSALEXANDRE DOMINGOS FARIA

Alexandre trabalhou em uma Gráfica, onde ingressou aos 13 anos de idade. Permaneceu por um ano, quando então realizou uma prova para um processo seletivo da Unicamp. Foi chamado duas semanas depois. Pediu demissão da Gráfica e ingressou na Unicamp em 1987, como mensageiro, na área de Suprimentos do setor de Importação, aos 14 anos.

Recorda-se do apoio oferecido por sua mãe, que o acompanhou em seu primeiro dia de trabalho, por ser ainda muito novo, fato que lhe marcou e lhe fez muito bem.

Ao chegar na Universidade, passou pelo departamento de Recursos Humanos, e tamanha foi sua surpresa quando lhe disseram que naquele mesmo dia já começaria a trabalhar. Iniciava-se então sua carreira profissional.

Entrou fazendo o serviço de técnico administrativo. Não teve muito contato com serviço de expediente. Aprendeu diretamente o serviço de técnico; viajava bastante entre os aeroportos e portos, pois a Universidade importava material que tinha que ser retirado.

Alexandre se lembra de uma vez que a Unicamp importou Césio, e ele teve que ir buscar o material logo que chegou, pois o mesmo tinha que ser retirado rapidamente do aeroporto.

Recorda-se de certa vez que chegou a ir duas vezes para Santos no mesmo dia. Os materiais chegavam ao porto e era necessário que fossem retirados. Ele já dirigia e tinha autorização para utilizar o carro oficial da Unicamp.

Nessas idas e vindas, episódios nem sempre agradáveis aconteciam. Lembra-se de um dia que precisou buscar produtos químicos e teve uma

experiência desagradável. Ao chegar com o material, verificou-se que estava todo quebrado. Levou uma bronca séria, apesar de não ser o responsável pelo desastre ocorrido.

Certa vez, foi buscar ratinhos que vieram importados. Foram transportados com suprimento de oxigênio, e chegaram arrepiados. A professora que os recebeu disse: “Vocês estão estressando meus ratinhos!”, e Alexandre respondeu que “ele era quem estava estressado, pois dirigiu por longa distância e durante muito tempo”.

Outro acontecimento marcante foi quando, ao transportar certo material na carroceria do caminhão, olhou para trás e uma das caixas tinha caído. Eram vidrarias para pesquisa, e chegaram totalmente quebradas. O professor responsável disse que tinham matado toda sua pesquisa. Foi um episódio desagradável, e precisaram importar novamente o material.

Muitas foram as aventuras e medos nas viagens à noite. Em algumas ocasiões era o primeiro a chegar ao aeroporto ou porto, mas o colocavam por último para receber a carga. Até hoje não sabe ao certo por que isso acontecia.

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Certa vez, foi ao aeroporto para buscar um material perecível, que tinha que ficar em temperatura bem baixa. No caminho, o carro quebrou. Pediu ajuda à Polícia Rodoviária, que lhe deu carona até o aeroporto. Conseguiu cumprir sua função e pegar o material em tempo certo.

Ficou 13 anos na Área de Suprimentos - Departamento de Importação, dentro da Diretoria Geral de Administração, no setor de Compras.

Teve que aprender a ler e a se comunicar em inglês, na época que trabalhou na Importação. A maioria dos estagiários sabia se comunicar em inglês e espanhol, o que lhe ajudou bastante.

Gostava muito do setor de Importação, mas sentiu que era importante conhecer novas realidades profissionais.

Foi então para a Assessoria Financeira, dentro da DGA (Diretoria Geral da Administração), onde cuidava do orçamento e dos recursos que o Governo oferecia à Universidade. Controlava os gastos e compras da Reitoria.

Depois, recebeu um convite do Diretor para trabalhar na AFPU, onde está há sete anos.

Fez muitos cursos na Universidade e fora também. Procurou aproveitar as oportunidades oferecidas.

Algumas pessoas foram importantes em sua trajetória, entre elas, Vânia Aparecida Massarão, Edvran e Marcos Francisco dos Santos. Eduardo Spinelli foi um chefe especial, que pôde se espelhar muito.

Entre algumas facilidades que a Unicamp oferece, o fretado é uma delas, e vem utilizando há mais ou menos dois anos.

Alexandre conclui, dizendo: “Só tenho a agradecer por tudo que vivi, e o que tenho ainda para aprender”.

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REVOLUCIONÁRIOSALEXANDRE REBAC DE PAULA

Uma experiência nova iria acontecer quando Alexandre estava com 15 anos de idade. Já tinha trabalhado em outros lugares, desde os 9 anos, mas “a Unicamp foi o início de sua formação profissional”, como costuma dizer.

Como mensageiro, em 31 de julho de 1985, recepcionado por Dª Dora, Dª Neli e Lúcia, começou o seu trajeto profissional, sua estrutura e alicerce.

Iniciou na Coordenadoria Geral dos Institutos, onde ficou por mais ou menos nove anos.

Sua adolescência foi vivida praticamente na Unicamp. Cultivou muitas amizades.

Não demorou muito tempo e começou um processo político. Conheceu várias correntes partidárias, buscou sua politização e, a partir daí, muitas sementes germinaram dentro e fora da Universidade.

Fundou a comissão de mensageiros da Unicamp, com apoio muito grande da chefia e também de outras pessoas, que o ajudaram na parte estrutural e retaguarda política. As coisas tomaram corpo, tratavam de assuntos relacionados a adolescentes.

Na época, havia um interesse enorme por parte dos menores em continuar a trabalhar e fazer carreira na Universidade, e como não existia um programa de contratação, Alexandre encabeçou um grupo que reivindicaria essa condição. O principal foco da comissão passou a ser que os menores fossem absorvidos pela Instituição.

Foi presidente da comissão por quatro anos, que só se extinguiu quando houve a conquista e os mensageiros foram absorvidos no plano de carreira.

Tratavam de vários assuntos, os conflitos dos adolescentes, seus anseios e direitos; eram muito revolucionários. Existiam vários guetos, correntes de várias tendências, sentimentos próprios da adolescência.

“Conseguir um ponto de consenso entre os jovens era algo muito difícil, mas cada um teve seu valor. Era um grupo muito bom, todos de alguma forma contribuíram”, ressalta Alexandre.

A assistente social se surpreendia da forma como a comissão conseguia fazer a ponte entre os jovens e a Universidade. Conseguiram muitos entendimentos e grandes conquistas na época. “A comissão somou em vários momentos”, completa.

Alexandre é grato à Unicamp, pois o ajudou muito em sua formação profissional. Teve a oportunidade de fazer vários cursos. Participou do projeto de montagem dos XTs dos setores, feito importante para a evolução tecnológica da Universidade.

Recebeu um convite do Dr. Joaquim, cirurgião pediatra, para montar e estruturar o Laboratório de Informática da Faculdade de Ciências Médicas

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(FCM). Tinha sido transferido do Instituto de Ciências (IFCH), onde ficou por

apenas trinta dias. Trabalhou com Evaldo, o que julga “ter sido uma honra”. Ele foi quem desenvolveu a topologia inicial de rede do Laboratório, recebendo apoio de Alexandre para a sua implantação. Foram juntos para a FCM.

Tempo depois, recebeu um convite da Procuradoria Geral para integrar a equipe de informática.

Muitas pessoas foram importantes em sua trajetória, entre elas, um chefe de peso, ressaltado com respeito: “O Dr. Otacílio é uma pessoa que devo muito, sempre recebi seu apoio, é mais que um chefe, é um ‘paizão’!”

Alexandre costuma dizer que a Procuradoria Geral é um ótimo lugar para se trabalhar, pois há pessoas maravilhosas e um ambiente muito bom.

Entre vários amigos, o Adriano foi especial e um grande companheiro. A Evelyn, que foi uma espécie de “braço direito” na época da comissão, é muito competente e foi determinante em vários momentos, e também o vice-presidente da época da comissão, Jefferson, que também o ajudou muito, e até hoje são amigos.

Alexandre se recorda das inúmeras dificuldades que ele e os outros colegas passaram na época enquanto eram mensageiros, pois o jovem era tido como irresponsável. Mas conseguiram mostrar que tinham valor e que eram a base para a formação da Universidade, através de várias ações, entre elas, um informativo da comissão de mensageiros, o “The Mensa”, criado por Alexandre e seus colegas. O Adriano era o cartunista. Criou o personagem “The Mensa”, que representava o que seria um mensageiro da Unicamp. “Era pouco politizado, desencanado de tudo, uma espécie de antimensageiro, um personagem muito despojado, com trejeitos. Era muito interessante”, relembra Alexandre.

Esse informativo alertava sobre as coisas que deveriam ser mudadas internamente em cada jovem, não só para atingirem os objetivos enquanto mensageiros, mas também para a formação pessoal de cada um. Os informativos aconteciam a cada trinta ou quarenta e cinco dias. O logotipo era o símbolo da Unicamp pontilhado, com a ideia de que estava sendo construído com vários tijolos, pelas mãos dos mensageiros.

Muitas foram as conquistas, e acabaram servindo de exemplo para outros segmentos dentro da Universidade.

Lembra-se de certa vez que, para chamar a atenção, subiram a rua batendo tambor, a marcha fúnebre, com as bocas lacradas com fitas, em silêncio. Isso foi uma ideia dos mensageiros, que até hoje é utilizada nas manifestações.

Momento marcante também era o dia de pagamento, considerado por ele como um evento.

Tinha um mensageiro que trabalhava no setor do pagamento, que trazia os holerites e, muitas vezes, era escoltado por outros mensageiros, que o ajudavam a cumprir sua tarefa.

Alexandre se considera privilegiado pela adolescência que teve. “Enquanto mensageiro, tive uma das melhores fases da minha vida”.

Preocupa-se com a posição dos jovens de hoje, e faz um importante

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comentário: “Os jovens têm que ser valorizados, pois fazem parte do alicerce de toda a Universidade”.

Recorda-se de como os mensageiros de sua época representavam a juventude de maneira muito nobre, com força, energia e garra. Acredita que isso tenha feito a diferença em suas buscas e conquistas. Julga ser necessário que haja apoio aos menores que ingressam na Universidade, para que tenham maior comprometimento e vínculo com o trabalho.

É tecnólogo em rede de computadores, um administrador de redes de computadores e, atualmente, exerce a função de programador de suporte na Procuradoria Geral.

Sente-se realizado, e conclui: “A dignidade em minha vida me faz ser feliz. Tenho um filho maravilhoso, um ótimo emprego e sou grato à Unicamp e a todos que participaram dos importantes momentos da minha trajetória”.

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DONA SULTANAAMAURI ROBERTO DIAS

Em 1975, por recomendação de seus pais, Amauri entrou na Associação de Educação do Homem de Amanhã, a “Guardinha”.

Fez um curso de três meses, participou da formatura e foi encaminhado à empresa, devidamente uniformizado.

Da Sultana, a responsável pelo encaminhamento, enviou Amauri à Unicamp, com 14 anos, para a Diretoria de Pessoal, antiga DGA1. Perguntou-lhe se sabia “bater a máquina” e ele entendeu “se sabia matemática”, o que hoje relembra achando graça.

O meio de transporte utilizado era o ônibus fretado (via bairro), onde faziam batuque e cantavam durante o trajeto, sendo um momento muito agradável de descontração.

Lembra-se com carinho do horário de almoço, das vezes que ia até o lago dar pão aos peixes e das partidas de futebol que jogava com seus amigos.

Viu ser colocada a Pedra Fundamental na construção do Hospital das Clínicas, fato que marcou sua vida.

Trabalhou na DGA11 até os 18 anos, quando passou a contínuo porteiro, posto ocupado até prestar um concurso para oficial de administração e ser promovido.

Em 1980 foi para o Hospital, na área de Arquivo Médico, onde viu por várias vezes animais como cobras, aranhas, escorpiões, entre outros insetos, que eram encaminhados à Biologia.

Aproveitou as oportunidades que a Unicamp lhe proporcionou, e tornou-se encarregado do setor em 1987.

Finalmente, em 1998, foi promovido a Diretor do SAME, onde ajudou na modernização do Arquivo Médico.

Em 2003 foi transferido para o serviço de Faturamento, onde está até hoje.

Com o objetivo de aperfeiçoar suas habilidades, fez curso de especialização em PDGS (Programa de Desenvolvimento Gerencial para Supervisor), onde aprendeu metodologias do processo e julgou ser de grande importância: “O PDGS é uma forma de a Universidade dar oportunidade aos funcionários e valorizar seu trabalho.”

Homem de boa conversa, gosta bastante do campo e das coisas simples da vida. Como bom ouvinte, está sempre disposto a ajudar os amigos. Tem como principal característica o bom-senso.

Com 35 anos de Unicamp, é uma pessoa realizada tanto no trabalho como na vida pessoal. Como fruto de seu casamento, tem um filho cujo nome também é Amauri.

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E conclui: “Agradeço a Deus pelas oportunidades de trabalho, pelos amigos que fiz e pelas pessoas que muito me ajudaram. Considero a Unicamp como uma ‘mãe’, que me direcionou, capacitou e me permitiu ter inúmeras conquistas”.

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SAUDÁVEL RIVALIDADEAMAURY FERNANDES

Amaury ingressou na Unicamp aos 15 anos de idade, através de uma classe especial experimental da AEDHA (Associação de Educação do Homem de Amanhã), a “Guardinha”, que após um curso específico de três meses, preparava candidatos para serem encaminhados a diversas empresas.

Sua escolha pela Universidade se deu pela diversidade de possibilidades na área de humanas, pois sonhava em fazer a faculdade de Administração de Empresas.

Foi lotado na Faculdade de Educação, onde permaneceu por 22 anos, aprendendo várias coisas pelos setores que passava. Seu maior aprendizado se deu na Biblioteca, onde passou a maior parte de sua formação profissional, ajudando e aprendendo com as pesquisas de monografias, teses de mestrado e doutorado, descobrindo nessa prática uma maneira de “fazer” uma faculdade por osmose, pois até então não tinha feito nenhum curso superior.

Com tantos anos na Biblioteca da Educação, pôde aprender muito. “Foi um tempo importante, com pessoas especiais, que fizeram a diferença em minha vida”, conclui ele.

Entre diversos nomes relevantes, vale citar: Luis Carlos Freitas, Rubem Alves, Arlete Ivone Piterello, Ademir Canoas, Guilherme Do Val Toledo Prado, Márcia Strazacapa, Sueli Bonato, Pedro Ganzeli, Corinta Gerardi e Antonio Brian, todos de grande importância em sua trajetória.

Através de autodidatismo, ampliou seus conhecimentos e conheceu outros caminhos, pois como desde cedo foi arrimo de família, buscar fontes de renda se fazia necessário.

Por conviver com diversos profissionais, acabou conhecendo o mundo das Artes Cênicas e Corporais, e descobriu sua real vocação. É professor de dança de salão há 22 anos, considerado uma referência na área em Campinas, graças aos impulsos incentivadores de docentes, chefias e colegas com quem trabalhou e que fazem parte do seu dia a dia.

Vários momentos foram marcantes ao longo da história dos menores trabalhadores da Unicamp. Recorda-se da eterna ‘rivalidade’ entre guardinhas e patrulheiros, em que várias vezes no centro do Ciclo Básico, onde tinha o chafariz, diversas coisas aconteciam. A forma que um grupo lidava com o outro era através de zombarias. Viviam com os uniformes sujos devido às brincadeiras, jogavam laranja um no outro e saíam correndo. Um ex-patrulheiro, considerado “pavio curto”, era alvo fácil, e todos gostavam de irritá-lo para ver sua reação.

Lembra-se também de um momento desagradável. Em uma disputa pessoal, dois guardinhas brigaram e rolaram no chão, até caírem dentro do lago. Suas roupas ficaram encharcadas. Foram disciplinados e, como forma de

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castigo, tiveram que se secar junto às roupas. Esse episódio serviu de alguma maneira para diminuir a rivalidade entre patrulheiros e guardinhas.

Algumas situações constrangedoras fizeram parte da vida de um ou outro jovem, no início de carreira. Levar bloco de concreto embrulhado, sem saber, por longos trajetos entre os setores; ficar à procura de papel carbono com pauta, sem perceber o absurdo da solicitação. Várias eram as brincadeiras dos veteranos com os recém-chegados, e Amaury considera-se com sorte por não ter sido submetido a isso.

Apesar das boas recordações da época enquanto guardinha, também sente que em alguns momentos era difícil essa condição. Ele acredita que havia certo preconceito com relação aos guardinhas da Unicamp, principalmente nos bancos do centro da cidade. Também sentia certa discriminação e rivalidade dentro da Instituição, pois os que não eram da Universidade achavam que os outros eram privilegiados por estarem lá.

Um fato que marcou, por ser rotineiro, era o “delivery”. Os guardinhas iam buscar lanches para os funcionários, e levavam um bloquinho, uma caixa e dinheiro. Recorda-se que, certa vez, tropeçou e deixou tudo cair. Misturou todos os lanches e sucos e chegou todo sem jeito, com “cara de cachorro que caiu do caminhão”, como ele mesmo diz.

Outro momento marcante foi quando, no ano de 1979, houve uma grande greve do funcionalismo público. Amaury, por estar fardado e andando no centro da cidade, acabou tendo que correr da polícia. Teve muito medo, além de causar grande preocupação à sua mãe que estava em casa. “Foi uma experiência nada agradável! Nunca quis participar de nada que envolvesse esse tipo de ato”, conclui ele.

Atualmente é técnico em administração no GGBS/Reitoria, sendo corresponsável pelo posto de atendimento do GGBS/HC, além de ministrar oficinas de danças de salão aos funcionários da Unicamp, dentro do Programa de Qualidade de Vida no Trabalho. À noite é diretor administrativo e professor de dança de salão da Academia Giras.

Está cursando o primeiro ano da Faculdade de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos, visando aprimorar seus conhecimentos e pensando em seu futuro profissional.

“Posso dizer, sem ser piegas, que sou feliz com o que tenho − e vou mais além –, com o que conquistei e com quem sou hoje”, conclui Amaury.

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MEU QUERIDO, MEU VELHO, MEU AMIGOAMÉRICO GARCIA FILHO

Ao entrar na Unicamp, em 1975, como mensageiro, Américo se considerou com sorte, pois foi logo efetivado. Estava com quase 15 anos.

Foi encaminhado à DGA (Diretoria Geral da Administração), onde trabalhou no Departamento Pessoal, na Contabilidade e no Financeiro. Dentro da DGA teve várias oportunidades. Trabalhou como comprador, comprador júnior e sênior, supervisor de setor e de sessão.

Em 1997 surgiu uma oportunidade e foi para o antigo Centro de Comunicação, hoje a Rádio TV Unicamp. Concorreu com outras pessoas, e acabou assumindo o cargo de ATD (Assistente Técnico de Direção), função que exerce há 15 anos, tendo passado por cinco gestões.

Adquiriu experiência administrativa na própria Universidade e fez vários cursos, como importação, compras, finanças, redação, informática, sempre procurando investir em sua área para ter noções gerais sobre os diversos assuntos que seu cargo gerencia.

Trabalhou em vários projetos: FAPESP, CNPQ, entre outros.Foi mensageiro na época do Prof. Zeferino Vaz e se recorda de que era

uma briga entre os menores, pois todos queriam carregar sua pasta. O professor, como forma de incentivo e agradecimento pela ajuda, dava aos jovens um valor simbólico. “Era uma alegria total poder ajudar o Prof. Zeferino”, relembra Américo.

Lembra-se das sirenes (DGA), que anunciavam o café e o almoço, como se fosse uma empresa.

Vários exemplos de pessoas marcaram presença em sua trajetória, entre elas, Jurivaldo Foregatti, que lhe transmitiu grandes ensinamentos e foi uma referência no início de sua carreira.

Américo comenta que Jurivaldo deixava o ambiente agradável, e costumava dizer que “todos devem manter seu lado profissional, sem nunca deixar de ter seu lado humano na relação com o outro”. Prezava as boas relações, em que cumprimentar, estar feliz e trabalhar com prazer deveriam ser atitudes constantes.

Quando mensageiro, já na transição a contínuo porteiro, Américo saiu para uma viagem a Trindade, onde foi passar um feriado e acabou ficando por dois meses. Ficou deslumbrado com o lugar, e demorou a voltar, o que deixou sua chefia muito brava. Encontrou Sonia Braga, Fernando Gabeira e ficou encantado. Uma turma levou sua mochila por engano, e o deixou sem seus documentos. Quando retornou, com uma calça de pescador, cabelo comprido, a chefia quis saber como tinha sido a aventura e como era o lugar. Pergun-taram-lhe se tinha tirado foto e brincaram que por não ter fotografado nada,

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levaria advertência. Pôde retornar ao serviço.Vários episódios marcaram sua vida. Enquanto mensageiro, recorda-se

que utilizava um caminho de acesso rápido entre o Departamento Pessoal e a Contabilidade, exatamente o local onde ficava a Anatomia, dentro do prédio da Biologia. Ia por essa passagem para encurtar caminho, mesmo não sendo permitido.

Certo dia, um senhor que trabalhava no setor se escondeu atrás da porta, com um braço (peça da Anatomia) e começou a correr atrás de Américo. “Foi um aprendizado, pois nunca mais passei por ali”, comenta ele.

Américo se recorda que eram os mensageiros que davam encaminhamento a todos os processos da DGA.

Com uma trajetória de responsabilidades e crescimento profissional, pôde participar de mudanças importantes. Foi o caso de sua participação no processo de transição do Centro de Comunicação para a TV Unicamp. Participou primeiro do planejamento estratégico e depois do plano de certificação. Várias pessoas deram opiniões e apresentaram objetivos, o que tornou o trabalho ainda mais completo. Na TV pôde atuar como produtor executivo e não só na parte administrativa. Teve oportunidade de entrevistar várias pessoas, participou de alguns festivais. “Os resultados foram muito gratificantes”, conclui.

É representante de funcionários, atualmente como suplente, e exerce a função de Assistente Técnico de Direção.

E ressalta: “É uma história de vida dentro da Universidade. Tenho um carinho muito grande pela Unicamp”.

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AYRTON SENNA RACING DAYANTONIO CARLOS DA SILVA

Tunico, Pinduca ou Toninho, apelidos carinhosos de Antonio Carlos, descrevem o pequeno garoto que, aos 15 anos, veio de Poços de Caldas-MG, por indicação de uma tia, a quem é muito grato, para trabalhar na Unicamp.

Iniciou sua carreira como mensageiro, no Arquivo Médico (SAME), onde ficou por três anos. Aos 18 anos foi registrado como contínuo porteiro, permanecendo por dois anos e, em seguida, foi para o setor de Contas e Convênios como técnico administrativo, onde ficou por mais ou menos cinco anos. Teve uma diretora muito especial nessa época, que o ajudou muito. Na sequência, foi para o setor de Informática, onde se encontra até hoje.

Começou na Santa Casa, no centro da cidade. Pediu então transferência e, depois de muito diálogo, conseguiu seguir para a Universidade.

Muitas foram as amizades conquistadas ao longo de sua trajetória. Era uma turma animada, que almoçava junto, escutava música e dançava,

além de compartilhar o ônibus interno que levava os mensageiros do HC ao Restaurante. Edvilson, Claudemir, Jessé, Carlinhos, Marcelo e Antonio Donizete são alguns dos nomes que compõem a lista de amigos, além de Tiãozinho (in memorian) da Guardinha, que era muito animado e deixou saudade. Daniel, do Instituto de Computação, também é lembrado como um amigo muito importante.

Antonio Carlos encarou as dificuldades sempre com determinação, conseguindo alcançar inúmeros objetivos.

Deixando sua família em Minas, veio trabalhar e morar com sua tia Ana Cleuza. Quando tinha uma colocação já engatilhada, trouxe o restante da família para morar em Campinas.

Formou-se em Tecnologia de Redes, em 2009. Nesse mesmo ano, seu pai se aposentou como funcionário da Universidade, após ter vivido uma bela história. Começou como carpinteiro, depois prestou um concurso para faxineiro e, devido ao seu bom desempenho, foi promovido a supervisor de serviços gerais. “Sinto orgulho de meu pai”, ressalta Antonio Carlos.

Uma irmã também entrou como mensageira e trabalha na Unicamp.Sua esposa trabalhou por 16 anos como funcionária da Funcamp no HC

(conheceu-a quando fazia teatro). Tem dois filhos. Pessoa versátil, Tunico gosta de correr, tocar violão e brincar com os

amigos.Certa vez, no ímpeto da juventude, apostou uma corrida com Dércio,

seu amigo, para ver quem chegaria primeiro no Restaurante. Antonio ganhou. Até hoje, os “sarros” por conta dessa brincadeira acontecem entre eles.

Havia um grupo que fazia enduro a pé, chamado “Digalô”, no qual

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mulheres também participavam. Quando elas não mais competiram, e somente os homens passaram a integrar a equipe, o nome mudou para “Patada de Cobra”.

Chegou a participar de várias corridas, como a da Lua, a Integração. Formou uma pequena equipe e correram a Ayrton Senna Racing Day.

Muitos foram os momentos marcantes que viveu. Lembra-se da época das “diretas já”, que julgou ser um período interessante da história.

Atualmente é operador de computador, mas está em desvio de função, aguardando o diploma para assumir o cargo de analista de rede.

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DIRETAS, JÁ!ANTONIO DONIZETE NOGUEIRA

Antonio Donizete começou sua carreira aos 11 anos e meio de idade. Através de seus primos, soube que haveria inscrição para o curso de patrulheiro. Ingressou então no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas, onde concluiu o curso em três meses.

Vindo de Divinolândia-SP, lugar que brinca ser a “8ª maravilha do mundo”, trabalhou em uma metalúrgica. Em seguida, foi para a Unicamp trabalhar no HC - Santa Casa, na Enfermaria de Emergência.

Dados importantes para Donizete são: sua Matrícula de nº 801, o ano de 1975, e os seus 15 anos de idade.

Muitas foram as experiências vividas no HC da Unicamp. Recorda-se que carregava órgãos, cadáveres, levava exames ao

laboratório, buscava soro e medicamentos na Farmácia. Chegou a ajudar na pintura da Enfermaria de Emergência, fazia de tudo um pouco.

Adquiriu maturidade e certa frieza diante do que via.Dalva, sua primeira chefe na Universidade, já falecida, dava-lhe muita

força e incentivo.Nos patrulheiros, uma figura marcante por ser enérgica, porém justa,

foi Dª Maria Angélica. “Grande é o respeito que tenho até hoje pelo seu pulso forte, capaz de formar cidadãos de bem”, ressalta Donizete.

Como patrulheiro honorário, foi graduado para dar exemplo aos demais. Na 1ª graduação como Cabo tinha que andar fardado, mas na Universidade não era necessário utilizá-la. Foi subinspetor, passou a diretor de esporte, inspetor, monitor e instrutor, diretor de disciplina e presidente da Associação dos Graduados.

Com resquícios do regime militar, regras duras eram indispensáveis, como os cabelos cortados quatro dedos acima das orelhas, “inclusive cortados por Luzia, que era como se fosse uma mãezona”, comenta Donizete, e a farda apresentada de maneira impecável.

Certo dia, ao fazer uma enorme força para carregar soro e medicamentos de farmácia, ao agachar, sua calça rasgou. Totalmente sem jeito e sem saber o que fazer, foi mais uma vez socorrido por Luzia, que lhe pediu para aguardar no banheiro enquanto costurava sua calça.

Donizete sempre procurou retribuir tudo de bom que recebeu. Tinha o apelido de “ligeirinho”, pois realizava vários feitos antes mesmo

que lhe pedissem.Por quatro anos permaneceu na Enfermaria, sendo convidado a exercer

o cargo de contínuo porteiro, na Divisão de Enfermagem. Era o único homem do setor, em meio a 14 mulheres. Trabalhava na Frequência. Permaneceu por

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14 anos na Divisão de Enfermagem. Passou então a oficial de administração. Mudou-se quando o HC já estava quase pronto.

Fato marcante foi quando o convidaram a gravar com pirógrafo as placas e instrumentos do Hospital. Recentemente, um amigo lhe mostrou um relógio de pulso que estava usando, e que tinha sido gravado por Donizete. Disse-lhe que levará para sempre esta marca e lembrança. Detalhe: a gravação foi feita há 31 anos.

Com 35 anos de Unicamp, Donizete teve apenas nove faltas justificadas. Sempre foi disciplinado, não faltava ao serviço.

Enquanto ainda jovem, apesar da boa conduta, alguns episódios engraçados fizeram parte de sua trajetória. Ele e seu amigo Carlinhos, certo dia, como de costume, brincavam com uma bola feita com elásticos, que pulava muito. Jogavam um para o outro e, de repente, o chefe da Santa Casa surgiu. Pegou Donizete pelo braço e o colocou em uma sala, juntamente com o amigo, e foi chamar a diretora. Os dois se entreolharam e, mais que depressa, fugiram. Ficaram escondidos até a chefia esquecer o ocorrido.

Outro episódio lembrado com certo humor, mas que na época causou constrangimento, foi o que ocorreu no Almoxarifado da Santa Casa. Quando o caminhão descarregou os alimentos, uma batata caiu no chão, veio rolando e parou perto de Donizete que, por instinto, chutou-a sem rumo. Por total infelicidade, a batata acertou em cheio o peito de um médico muito respeitado e importante, o que acarretou a Donizete uma tremenda bronca. Porém, para sua alegria, não foi dispensado.

No setor de Divisão de Materiais, em um dia de festa, outro fato engraçado aconteceu. Donizete comeu quase todos os brigadeiros antes mesmo do início da festa, sobrando apenas seis doces. Os amigos ficaram muito bravos quando procuraram os doces e não tinha quase mais nenhum.

Gostava muito de brincar e isto fez com que conquistasse muitas amizades. A prova disso é que o antigo Tenente é seu padrinho de casamento.

É grato por todas as experiências vividas em sua trajetória.

Formatura no Sesi em 1982

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UM DOUTORCARLOS APARECIDO ZAMAI

A Unicamp sempre foi um lugar muito almejado para se trabalhar, porém antigamente nem todos a conheciam ou faziam ideia de sua dimensão.

As instituições que encaminhavam os jovens ao mercado de trabalho geravam grande expectativa com relação ao emprego na Universidade. Quando surgia uma vaga, todos corriam para fazer a inscrição, com Carlos não foi diferente.

Ainda muito jovem, ingressou na Associação de Educação do Homem de Amanhã, conhecida como “Guardinha”, devido à necessidade de conseguir um emprego. Tinha um ano que chegara da lavoura, morava em um sítio, advindo de uma família muito carente.

Apesar de pouco conhecer a respeito da Unicamp naquela época, quando entrou na Guardinha passou a ouvir comentários de como era um bom lugar para se trabalhar. Mal sabia que, tempos depois, estaria completando 28 anos dentro da Universidade.

Após curto período na Guardinha, Carlos ficou sabendo, através de seu primo Toninho, que trabalha no HC, que estavam abertas as inscrições para concorrer a uma vaga na Universidade. Fez logo sua inscrição e, tempo depois, foi chamado.

A Unicamp foi seu primeiro emprego com registro. Ao chegar, no dia 15 de dezembro de 1980, assustou-se: “Fiquei pasmo com o tamanho da Universidade!”

Encaminhou-se ao departamento de Recursos Humanos, onde foi muito bem recebido por uma funcionária, que lhe explicou como chegaria ao prédio da Biologia, de onde seria encaminhado ao departamento de Anatomia.

Quando chegou na Secretaria da Anatomia, entregou uma carta de apresentação da Guardinha, e lhe passaram qual seria sua função: entre outras atividades, faria serviços de banco.

Carlos não imaginava a experiência que viveria a partir dali. Certo dia, um senhor que trabalhava na Anatomia disse a Carlos para que na hora do almoço fosse pegar o serviço a ser executado, em uma sala do andar inferior. Ele, sem saber o que havia na tal sala, abriu a porta e avistou cerca de seis cadáveres. Mais que depressa saiu do local e disse ao chefe que não mais voltaria. O chefe teve muita paciência, voltou com ele até a sala e o fez se acostumar com o ambiente.

Passado o primeiro impacto, encarou o trabalho da melhor forma. Começou a catalogar os livros do setor e cada foto que via das peças dissecadas, despertava-lhe mais interesse por aquela área. Iniciava-se, então, sua carreira no laboratório.

Por três anos permaneceu sem ser registrado, e aos 18 anos foi contratado

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como escriturário. Apesar de não gostar muito de trabalhar com papeladas e documentos, cumpria devidamente sua função. Porém, ficava impressionado com as coisas do Laboratório. Achava incrível pegar um fragmento e transformar numa lâmina colorida, bonita, para ser analisada no microscópio. Sem dúvida, almejava trabalhar naquela área.

Na época, conversou com o chefe do departamento de Anatomia sobre seu desejo de trabalhar no Laboratório, e como levava jeito para o serviço, pôde assumi-lo. Permaneceu por seis anos como auxiliar de laboratório.

As atividades que eram desenvolvidas naquele setor (corte, inclusão e coloração) eram de grande importância para que as pessoas (estudantes e pesquisadores) realizassem suas experiências e pudessem desenvolver suas próprias pesquisas. Isso era motivo de orgulho para Carlos, pois sabia que quando dissecava os cadáveres e entregava o material pronto aos alunos, estava colaborando de alguma maneira com a preparação das teses e dissertações. Percebia a grandeza de seu trabalho. Sabia que sua função era como um ponto de apoio que colaborava para o estudo da medicina.

O trabalho sempre foi executado com responsabilidade e disciplina, obtendo os melhores resultados.

Ao longo de sua trajetória, vários fatos tornaram-se marcantes, entre eles, a Universidade Aberta, quando o setor era aberto ao público. O interesse pela sala da Anatomia era grande. Recorda-se que várias pessoas desmaiavam ao chegar no local.

Um acontecimento que marcou bastante essa fase na Anatomia foi quando um professor de São Paulo veio para realizar sua pesquisa na Unicamp. Enquanto Carlos preparava uma grande quantidade de ácido, utilizado para limpar as lâminas, a solução caiu sobre o professor, que acabou perdendo seu terno de casimira, e ficou muito bravo. “Foi um grande constrangimento!”

Os produtos que utilizava eram muito fortes e vivia com os olhos vermelhos, a boca ressecada e as mãos coloridas, mas sabia que isso fazia parte do trabalho.

Ficou na Anatomia de 1980 a 1986. Depois foi para o Biotério Central, onde permaneceu por oito meses, até que outras oportunidades surgiram e foi transferido. Com a possibilidade de novos projetos, obteve apoio do Prof. João Andreotti Gomes Tojal e da Drª Antonia Bankoff, pessoas importantes para o seu crescimento profissional, e passou a se dedicar ao projeto de construção de um novo laboratório. Em 1989, conseguiram um prédio e começaram a construção do laboratório. Em 1990, ele foi inaugurado.

A partir daí ficou então responsável por vários laboratórios, exercendo a função de técnico até 1991, quando pediu para ser transferido ao Laboratório da Educação Física, na área de avaliação postural. Foi autorizada sua transferência, e está há 22 anos no setor.

Carlos sempre foi esforçado e buscou seus objetivos. Em relação aos estudos, recebeu vários estímulos, inclusive da Drª Antonia e, através do ProSeres, pôde ingressar na Faculdade de Pedagogia, concluída em 1995.

Em 1996, inscreveu-se no programa de Pós-Graduação da Faculdade de

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Educação Física, como aluno especial, e cursando uma disciplina por semestre, pôde concluir o mestrado em 2000.

Em 27 de julho de 2009 defendeu sua tese de doutorado, intitulada “Impacto das atividades físicas nos indicadores de saúde de sujeitos adultos: Programa Mexa-se”.

Coordena desde 30 de maio de 2004 o “Programa de Convivência e Atividade Física na Unicamp”, que já ultrapassou a marca dos 70 mil atendimentos, em cinco anos.

Foram realizados dois encontros nacionais a respeito desse projeto de avaliação de pessoas, além de o programa gerar dados que resultam em publicações de congressos, monografias, teses e artigos científicos.

Carlos ressalta: “A Unicamp e as pessoas que nela trabalham me ofereceram apoio. Tudo que precisei, obtive. Consegui realizar meus estudos e toda a minha formação através dos incentivos e apoios recebidos”.

Atualmente é coordenador técnico do programa “Mexa-se”, e a Drª Antonia Bankoff é a coordenadora geral.

Carlos está sempre engajado em algo que promova oportunidades, e diz: “Se eu tive oportunidades, também posso oferecer oportunidades. As pessoas precisam de apoio”.

Trabalha no Laboratório de Avaliação Postural, como profissional especializado de laboratório. É também pesquisador do Laboratório, ajuda a tabular os dados e a publicar as pesquisas, além de dar aula para curso universitário. Um de seus objetivos é realizar um congresso em 2011.

Diante dessa rica trajetória, fica aqui seu agradecimento: “Orgulho-me por fazer parte desta importante Universidade, que além de formar profissionais nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, contribui para a transformação de homens. Menores trabalhadores que nem sempre tinham esperanças, e sofriam com as dificuldades, puderam sonhar e um dia vencer, tornando-se alguém na sociedade. Muito obrigado a todos que contribuíram para a minha formação pessoal e profissional, e por eu ter podido me transformar em um Pedagogo e Professor Doutor na área de Educação Física”.

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CHEFE DA ESPOSA!CARLOS HENRIQUE GOMES DE OLIVEIRA

Carlos Henrique foi mensageiro, iniciando sua carreira aos 14 anos.Começou na Unicamp em 1987, na Superintendência do Hospital das

Clínicas. Sentiu grande apoio familiar, que o fez amadurecer e estudar. Seu pai, até hoje, aos 82 anos, dá conselhos e o incentiva a fazer o bem para outras pessoas.

Recebeu muita orientação também na Universidade, que o ajudou a galgar uma importante trajetória. Aos 18 anos de idade, passou de mensageiro a técnico básico.

Em 1992, foi trabalhar na secretaria da Farmácia do HC. Assumiu a função de supervisor de estoque e planejamento, onde ficou por aproximadamente dois anos e meio. Sua principal tarefa era atuar no planejamento, visando evitar desperdícios e gastos.

Ficou um mês na área de Medicina Nuclear, no ano de 1998, na parte administrativa. Seguiu então para o Almoxarifado da Radiologia, onde organizou o setor, e devido a essa organização, de quatro funcionários que compunham o quadro, foram necessários apenas dois, sendo que os outros dois puderam seguir para novos postos de trabalho.

Tempo depois, foi para a Administração da Radiologia e Almoxarifado.Em 2002 houve uma importante reviravolta profissional em sua vida. Foi

convidado a trabalhar na área administrativa da Divisão de Imagem, atuando na Gerência Administrativa.

Sempre procurou aproveitar as oportunidades oferecidas pela Universidade.

Teve duas oportunidades de fazer curso de gestão hospitalar, uma pelo Ministério da Saúde, promovido através da Superintendência e, em 2009, foi novamente convidado para fazer especialização na mesma área, junto a Extecamp. Adquiriu conhecimento e qualificação, além de obter crescimento e uma visão ampla de todos os processos.

Fato marcante em sua vida foi quando conheceu sua esposa, foi seu chefe. Começaram a se relacionar quando estavam na Farmácia do HC, ela era secretária. Casaram-se e continuaram na Universidade, em setores diferentes. Dessa união nasceu sua filha Grazieli, que desde pequena está no Ceci da Unicamp. Conhece outros ex-mensageiros que também têm filhos na creche, e acha muito interessante o convívio entre eles.

Com muito respeito, lembra-se do incentivo de seu irmão (que mora em Salvador), que sempre o aconselhou a fazer faculdade. Através dessa motivação, Carlos Henrique se formou em Administração, juntamente com sua esposa. “Foi uma experiência maravilhosa poder me formar, e devo isso à orientação de meu irmão”, ressalta.

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Entre várias lembranças de quando era mais jovem, recorda-se que aproveitava o horário do almoço para frequentar a piscina da Universidade. Divertia-se muito.

Fez várias amizades. Robson, um grande companheiro, sempre frequentou sua casa. Junto a esse grande amigo, passou por um momento engraçado. Tinham uma colega de setor que sempre comprava bolacha na feirinha e oferecia a eles. Certa vez, como não tinham almoçado, começaram a comer bolachas e, sem noção, acabaram com todas. Ficaram calados quando se deram conta do que fizeram e, quando a dona do pacote de bolachas ofereceu para outro colega, tomou o maior susto. Ao abrir a gaveta, ela viu que não tinha mais nenhuma bolacha ali e ficou muito brava com os dois.

Lembra-se também de quando recebia o pagamento no banco. Todo mês chorava muito, pois seu salário nunca era pago junto com o dos outros colegas. “Era frustrante ir até o banco e não receber, ainda mais sem entender na época o que se passava”, comenta ele. Tempos depois entendeu que era algo referente a alguma modalidade contratual.

Desde 2002, Carlos Henrique atua na função de Assistente Técnico de Direção da Divisão de Imaginologia/HC. Tem o prazer de trabalhar no Hospital, pois pode ajudar as pessoas. Ministra cursos e tem grande preocupação com a qualificação do pessoal, principalmente em melhorar o atendimento ao público e garantir um relacionamento saudável entre funcionários e pacientes. Julga que seu papel como líder é incentivar o grupo e manter um bom ambiente de trabalho.

Hoje se recorda que, no seu início profissional, aos 14 anos de idade, chorava, pois não queria trabalhar. Porém, graças ao incentivo e orientação de sua mãe, teve uma trajetória vitoriosa, e lhe é muito grato.

Agradecimentos especiais também ao seu atual superior imediato e a todas as chefias anteriores, compostas por pessoas que foram importantes em sua história. E conclui: “Quero registrar meu agradecimento, de coração, por poder trabalhar em um local como a Unicamp, e ter recebido incentivo do Dr. Fernando Lopes Gonçalves Junior e da Gláucia Maria Quaresma em vários momentos”.

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PESCA NO PARQUE ECOLÓGICOCARLOS LUIZ

Carlos Luiz trabalhou em quatro empregos antes de ingressar na Unicamp. Fazia parte do Círculo de Amigos dos Menores Patrulheiros de Campinas (CAMPC).

Foi patrulheiro na empresa “Chapéus Vicente Cury” por um ano e dez meses, mas como havia dificuldade em obter registro em carteira e aumento de salário, quis se desligar.

Trabalhava com o amigo Jessé, que também pediu para sair da empresa e solicitou seu encaminhamento para a Unicamp.

Quando Jessé foi convocado para trabalhar na Universidade, Carlos também queria ir, mas a princípio seria enviado a outra empresa.

A moça que fazia a carta de encaminhamento dos patrulheiros o chamou e lhe disse que era para ele tomar o ônibus em frente à padaria “Bola de Mel” e seguir rumo à Unicamp. Pouco conhecia a respeito da Universidade, mas sabia que era um bom lugar para se trabalhar.

Ao chegar, em 28 de novembro de 1983, a primeira pessoa que encontrou foi Jessé, que aguardava o momento de fazer a entrevista. Foi uma alegria muito grande encontrar o amigo. Ambos foram encaminhados ao departamento de Recursos Humanos do Hospital das Clínicas, que funcionava no 6º andar. Existia apenas a estrutura do prédio, e o atendimento era na Santa Casa.

Sua função era datilografar o cartão ponto do Hospital, o que realizava em máquina “Olivetti” e se propôs a fazer muito bem. Para aperfeiçoar sua técnica, colocava fita adesiva sobre as teclas, para teclar sem olhar. Conseguia datilografar um documento que levaria dez minutos, em apenas quatro.

Em 01 de dezembro de 1983 passou a patrulheiro honorário.Permaneceu por um ou dois anos trabalhando com computadores. Resolveu então fazer um curso de Contabilidade, porém, mudou para

Informática (Processamento de Dados), estava com 18 anos. Concluiu o curso de PD em três anos, formando-se em 1989 como programador de sistemas. Toda a digitação dos manuais era realizada por ele.

Em 1992 se casou. Tinha a responsabilidade de sua família e ainda ajudava a mãe e a irmã.

Sua esposa trabalha no CAISM e sua filha usufruiu do Prodecad, um dos benefícios gerados pela Universidade.

Ótimas recordações fazem parte do início de sua carreira enquanto patrulheiro.

Ele e seu amigo Jessé, que eram considerados os “fortões” da época, após o almoço desciam a pé até a Praça da Paz, onde jogavam capoeira e davam pães aos peixes da lagoa. Para voltar ao trabalho, na tentativa de camuflar o cheiro de suor, passavam desodorante “Avanço”.

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Outra diversão era a pescaria. Certa vez, trouxe de casa um pedaço de carne, amarrou-a num anzol e este em uma linha e foi até o Parque Ecológico para tentar pescar. Como não conseguiu, deixou ali sua isca. No dia seguinte, ao voltar, viu que havia pescado uma enorme traíra, mas não tinha como levá-la embora. Então, um amigo levou o peixe para casa e o limpou. Entregou-o a Carlos dentro de uma vasilha, que feliz da vida deu a sua mãe, dizendo: “O almoço de hoje está garantido!”

As amizades sempre foram muito boas entre os patrulheiros, sendo Chop e Jessé seus amigos mais próximos. Passavam mais ou menos uma hora dentro do ônibus, e aproveitavam o tempo para jogar truco, bingo, cantar e tocar pagode, entre outras brincadeiras.

Carlos sempre foi determinado e batalhador. Sua garra e determinação o fizeram ir além.

Em 1999, apesar do conhecimento sobre Análise de Sistemas, era programador, o que impedia qualquer ascensão. Resolveu então cursar Análise de Sistemas (Tecnologia da Informação), e ficou aguardando uma possível vaga na área. Durante a Graduação, vendia sua mão de obra qualificada para pagar a faculdade.

Por volta de 2004, houve uma seleção no SAME para diretor de serviço. Carlos H. O. Paula passou e, assim que assumiu como diretor, chamou Carlos para ser supervisor. Após concluir um projeto que estava em andamento no setor que trabalhava, foi autorizada sua transferência e pôde assumir sua nova função, onde ficou por mais ou menos quatro anos e meio.

Carlos tem grande liderança e seu lema é o “Vamos Fazer”. Não gosta de dar ordens e ficar esperando acontecer. Prefere trabalhar em equipe e realizar feitos que contribuam para a melhoria do sistema.

Atualmente é diretor de serviço, no setor de Serviço de Patrimônio. Com 27 anos de Unicamp, e muita experiência de vida, Carlos tem um lema: “Nunca pise nas pessoas quando estiver subindo, pois poderá encontrá-las quando estiver descendo”.

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PERCURSO E FOTOGRAFIACELSO AUGUSTO PALERMO

Celso entrou no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas com o objetivo de ajudar no orçamento familiar. Tinha por volta de 14 anos.

Em 5 de junho de 1973 ingressou na Unicamp, enviado pelo Patrulheirismo, devido ao seu bom comportamento. Foi encaminhado ao Instituto de Matemática. Quando chegou não conhecia ninguém, mas logo fez vários amigos, entre eles, o Nelson da Biblioteca.

Muitas foram as aventuras vividas. Dormiu embaixo da marquise, empinou “maranhão” no telhado. No horário do almoço ia para a Escola Normal olhar as meninas, juntamente com outros garotos que trabalhavam na cidade. “Passamos bons momentos”, relembra Palermo. Achava a comida da Universidade muito boa.

Passou por diversos setores, exercendo diferentes cargos. No Instituto de Matemática esteve como mensageiro. No IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) exerceu a função de mensageiro, mas logo passou a contínuo porteiro. Trabalhou na Secretaria Geral, no registro de diplomas, em 1978, onde fez um concurso, virou escriturário e acabou entrando também para o sindicato. Em 1983 foi para o Instituto de Artes, onde está até hoje.

Estudava à noite, e como sempre gostou de estudar, nas folgas lia muito e ia às bibliotecas. Adora temas como a história da Roma antiga, da Grécia, entre outras coisas.

Fez Matemática, Ciências, mas não concluiu nenhuma Graduação nestas áreas. Acabou se formando em Jornalismo, na Área de Comunicação.

Sua formação dentro da Unicamp o fez crescer. Fez cursos de extensão na área de Fotografia e especialização em Artes Visuais. Em 1986 quis aprender fotografia para fotografar sua filha que nasceu em 1987.

Ficou até 1990 como secretário do Departamento de Multimeios no IA (Instituto de Artes). Fez então uma proposta para sua chefe e foi para a área técnica.

Até 1997 ficou no Laboratório Fotográfico, foi para o Estúdio de Multimeios trabalhar com fotografia de cinema, vídeo, fazer televisão. Permaneceu no setor até o final de 2007.

Em 2008 foi para a área de Informática e assumiu atividades relacionadas à sua formação como Jornalista. É o responsável pela página que divulga o que acontece no Instituto de Artes. Soube que as coisas que ocorriam no Instituto eram pouco divulgadas, e fez um projeto para promover esses eventos. “É um site dinâmico, com 36 mil visitas por mês, é super gratificante”, comenta Celso.

Teve a honra de saber que sua chefe o manteve no cargo por sua competência e por ser considerado como ‘insubstituível’, devido ao seu empenho e trabalho realizado com grande seriedade.

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Em 1989 participou de uma semana nacional em Campinas e fez uma proposta de criação do Núcleo de Fotografia de Campinas, onde ficou como coordenador. Desligou-se por um tempo, mas atualmente voltou à coordenação.

Ficou na cidade e começou a articular a área de fotografia. Continuou na Universidade e conseguiu conciliar as várias tarefas.

Mantinha interatividade com alunos que passavam por suas orientações técnicas. Muitos hoje trabalham na área, inclusive alguns no Japão. O Tenisson foi um profissional que passou por sua orientação e sempre lhe tece elogios. Atualmente é presidente de uma importadora de produtos brasileiros, mas cobriu vários eventos no Japão. “Esses profissionais estão oferecendo um diferencial no mercado”, orgulha-se Celso.

Várias são as lembranças de fatos que marcaram sua vida. Certa vez, a mata em volta do Instituto de Artes (cuja instalação ficava em um barracão) pegou fogo, e como Celso era da CIPA, foi apagá-lo. O fogo não podia chegar perto do barracão e um segurança foi ajudá-lo a conter as chamas, mas, infelizmente, tropeçou e bateu em um cacho de abelhas. Enfurecidas, as abelhas se voltaram para Celso e seu amigo, que precisaram parar de apagar o fogo para jogar água um no outro, com a finalidade de espantá-las. “Foi engraçado, dois caras jogando água um no outro”, brinca Palermo.

Com uma intensa trajetória na Universidade, Celso concilia inúmeros afazeres.

Atualmente é fotógrafo, presidente do Núcleo de Fotografia de Campinas, entidade associada à Confederação Brasileira de Fotografia e à Rede de Produtores Culturais de Fotografia do Brasil. É cadastrado na Escola de Extensão como professor convidado. “É uma conquista poder ministrar cursos de extensão em fotografia”, ressalta.

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APAIXONADO PELA UNICAMPCLÁUDIO JOSÉ SERVATO

Cláudio trabalhou em um comércio atacadista antes de ingressar na Unicamp. Não era registrado.

Começou a trabalhar desde cedo, pois perdeu sua mãe precocemente, o que gerou um amadurecimento prematuro. “Minha mãe faleceu quando eu tinha seis anos de idade e meu pai não era muito presente, então, a Universidade foi pai e mãe para mim. Sou apaixonado pela Unicamp”, ressalta Cláudio.

Em 22 de julho de 1985, começou a trabalhar na Universidade como mensageiro. Iniciou sua carreira no Instituto de Biologia, sendo muito bem recebido. Foi ‘paparicado’ por todos, pois era o mais jovem, estava prestes a completar 16 anos. Permaneceu no setor até 1989, quando então recebeu um convite para trabalhar no CEMEQ (Centro para Manutenção de Equipamentos). “O Zezinho foi quem abriu as portas do CEMEQ pra mim e sou bastante agradecido a ele”, comenta Cláudio.

Trabalhava bastante e se recorda como tudo era longe no campus, o que o obrigava a caminhar muito, fato que contribuiu para conhecer diversos setores e fazer grandes amigos. Havia um elo entre os jovens daquela época.

Cláudio teve o privilégio de conhecer pessoas que fizeram a diferença em sua vida. Logo quando entrou na Unicamp, trabalhou com o Dr. Vidal e a Profª Luisa, pessoas que sempre o ajudaram. Os funcionários do Instituto de Biologia também foram importantes. O Eli (in memorian), o Marcílio e o Mário, que é seu amigo inclusive fora da Unicamp, sempre o aconselharam e lhe deram apoio.

Boas lembranças permeiam sua vida. As rodas de futebol e os bate-papos eram momentos agradáveis entre os amigos.

No Banco existiam funcionárias muito bonitas, e na fila havia flertes entre os jovens. Todos ficavam sentados no chão, durante horas, aguardando para serem atendidos. “Aproveitávamos muito esse momento”, relembra.

Sua lista de amigos é grande. André, Paula, Edison Lins, Sandra, Cássia, Raquel, Marcelo, Ronei, Jessé, Américo, Rodrigues, Aguinaldo, entre tantos outros, que desde a época de mensageiros mantêm um relacionamento de confiança.

Entre suas funções, é também conselheiro no CONSUL (Conselho Universitário), representante dos funcionários há oito anos.

Há seis anos é supervisor do Serviço de Atendimento ao Cliente no CEMEQ.

Foi desde técnico de manutenção até técnico em informática, enfim, passou por diversos setores e funções.

É formado em Recursos Humanos. Fez cursos importantes ao longo da carreira. Lembra-se que o curso de datilografia marcou muito, pois realizou

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quando ainda era mensageiro.Em sua trajetória, muitos fatos foram marcantes. Considera ser um

privilégio trabalhar com diversos professores, reitores e funcionários, além de conhecer vários setores. É grato pelas oportunidades e pela paciência com que foi acolhido.

Sente-se feliz dentro da Universidade, e comenta: “As amizades e experiências adquiridas desde quando entrei, até hoje, foram importantes para mim. O IB, o CEMEQ, o Conselho Universitário, enfim, toda a convivência dentro da Universidade foi e é de grande valia”.

Faz questão de registrar a importância de seus irmãos em sua vida, pois foram a base de sustentação quando ainda era criança: “Agradeço a meus irmãos, que foram fundamentais em minha vida, principalmente quando perdi minha mãe. Somos muito unidos”.

É grato também à família do Denilson, um ex-mensageiro, o Sr. Darci, a Dª Bete e as filhas, que muito o aconselharam e foram importantes para direcionar sua vida, logo que entrou na Universidade.

Com várias conquistas pessoais e profissionais, Cláudio se sente realizado.

Mora em Artur Nogueira, é casado com Solange e tem um filho, o Renan, que faz estágio na Unicamp. Gosta muito de futebol. É torcedor assíduo da Ponte Preta e do São Paulo.

Valoriza a Unicamp em vários aspectos, inclusive pela iniciativa da composição deste livro, e conclui: “Esse trabalho realizado pelo GGBS é um marco. Estamos todos apaixonados pelo projeto”.

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SOBRE FILMES? FALE COM ELE!CLÁUDIO PEREIRA PLATERO

Cláudio entrou na Unicamp como mensageiro, aos 13 anos, em 2 de junho de 1988 . A Universidade foi seu primeiro e único emprego.

Recorda-se que a DGRH (Diretoria Geral de Recursos Humanos) tinha um critério para selecionar o funcionário. Fazia entrevista com o menor, que era ou não escolhido para o setor que requisitava a vaga.

Inicialmente, houve convocação para a Engenharia Elétrica, e outro mensageiro um pouco mais velho assumiu a função.

A segunda chamada foi para um Núcleo, e novamente outro garoto mais velho foi encaminhado.

Na terceira vez, já no IEL (Instituto de Estudo da Linguagem), Vera Aggio (in memorian) fez a entrevista, e Cláudio foi escolhido.

Lembra-se que em seu primeiro dia de trabalho, logo que chegou pela manhã, estava acontecendo uma reunião, e Cláudio foi apresentado coletivamente a todos os funcionários: “Este é o novo mensageiro do IEL”. Foi designado para trabalhar no prédio onde tinha a Biblioteca, o Centro de Documentação, a Secretaria de Pós-Graduação e o Setor Financeiro.

Atendia o serviço interno e eventualmente era convocado para algum serviço externo. Sua mesa ficava logo na entrada do prédio, onde havia uma espécie de recepção. O almoxarifado do IEL ficava no porão do prédio.

Recorda-se que quando alguém precisava de algum material, ele tinha que buscar no porão. “As pessoas estranhavam, pois não sabiam por que eu entrava e saía tantas vezes do porão. Era engraçada a reação delas”, relembra Cláudio.

Na época, eram quatro mensageiros no IEL. Faziam muita coisa juntos e tornaram-se amigos.

Recorda-se que tinha receio dos chamados ‘trotes’ que aconteciam entre os mensageiros. Os mais velhos submetiam os recém-chegados a tarefas inusitadas. Mandavam para lugares que não existiam, pediam para entregar papel em lugar que não havia ou mandavam furar papéis, que não seriam utilizados para nada. Por conta disso, nos primeiros meses teve receio de realizar algumas tarefas, como, por exemplo, quando lhe pediam para furar algum papel e arquivá-lo, e não sabia se era ou não trote.

No último ano como mensageiro, quando ia completar 18 anos, a chefia pensava como poderia aproveitar Cláudio em algum setor.

Quando a Graduação foi para o prédio do IEL, ele servia a este setor. Começaram então a pensar na ideia dele ficar no lugar de Fátima, secretária da Graduação, que ia se aposentar. Sua mesa foi deslocada para dentro da Graduação, de forma que Cláudio aprendesse as atividades com Fátima, de quem recebeu também muitos conselhos, incentivando-o a se empenhar. Houve um

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período de transição, e nos primeiros meses de sua maior idade teve que passar o serviço ao novo patrulheiro que ingressou, concomitantemente com sua nova função, que era bem mais complexa e já exigia bastante responsabilidade e atenção.

Ficou seis meses sozinho na Graduação, por conta da licença-prêmio de Fátima, exercendo na prática a função de chefe da Secretaria, porém sem ainda ter assumido efetivamente, fato que ocorreu assim que ela se aposentou.

Após a Secretaria de Graduação, a pedido do diretor, passou para a Secretaria de Pesquisas e Projetos. Tempos depois, surgiu uma vaga para a Diretoria de Serviços, e após passar em um concurso interno, Cláudio foi designado a diretor de serviço. Trabalhou na Direção juntamente com Gilmar e Roseli, durante a gestão do Prof. Dantas, até o começo da gestão da Profª Charlote.

Foi então convidado a trabalhar na Pós-Graduação, acumulando dois cargos. Como gostaram muito do seu serviço, acabou deixando o cargo de diretor de serviço para assumir o de assistente técnico de Pós-Graduação.

O interessante de sua trajetória foi no sentido de ter começado como mensageiro e passar a ocupar um cargo de grande responsabilidade, em um período curto. Respondeu pela Secretaria de Graduação, pela Secretaria de Projetos, depois como diretor de serviços e agora responde pela Pós-Graduação do Instituto.

“Não tive uma transição, saí de uma fase enquanto menor e passei para uma fase de responsabilidade total, num cargo de chefia. Foi um aprendizado no meio do furacão, sem chance de errar”, ressalta Cláudio.

O IEL como um todo foi de grande importância em sua vida. Várias foram as pessoas que lhe deram a fundamentação para sua trajetória, para que depois pudesse andar sozinho. A Vera Aggio foi a primeira pessoa que apostou em seu potencial, assim como o Prof. Rodolfo Ilari (já aposentado). A professora Raquel, sua primeira coordenadora na Secretaria de Graduação, foi alguém que o ensinou bastante, e também a Fátima (já aposentada), que lhe deu a base no início de sua carreira. Outra pessoa importante foi o Gilmar, que por vezes lhe transmitia experiências.

Trabalhou na mudança que aconteceu no IEL, da Biblioteca para a Graduação. Carregou muitas caixas e livros e ajudou na transição de prédios. É um setor onde sempre acontecem mudanças, o que julga ser um processo que gera motivação.

Enquanto ainda jovem, na época em que era mensageiro, trabalhava durante o dia e estudava à noite. Fez colegial técnico em Sumaré. Lembra-se que tomava banho na Universidade, não jantava, pegava o ônibus fretado e descia na Rodoviária, de onde seguia a pé até a escola. Fazia o mesmo caminho na volta, e chegava em casa meia noite.

Por mais ou menos 15 anos ia trabalhar de ônibus fretado. Era uma troca de experiências. “Era quando você via como se passavam as diferenças entre os setores, era um momento de confraternização, onde pude perceber as diversidades de dentro da Universidade”, comenta.

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Os mensageiros que vinham de ônibus fretado moravam no mesmo bairro e sempre foram muito amigos. Flávio era um deles. A Márcia e a Sandra têm filhos que estudam na mesma escola dos filhos de Cláudio. Formou-se em Administração, juntamente com Gilmar, e concluiu um curso de especialização, o Programa de Desenvolvimento Gerencial (PDG), durante um ano e meio, que julga ter sido de grande importância.

Sempre teve contato com professores, alunos e pesquisadores, e valoriza esse convívio diário como forma de crescimento pessoal e profissional.

Na época da Graduação participava das colações de grau como funcionário homenageado. Vários foram os agradecimentos especiais ao IEL e a ele também na Pós. “Os agradecimentos aparecem dentro das teses, em meu nome, com relação às atividades de apoio que desenvolvi junto aos alunos, isso é muito legal”, comenta Cláudio.

Gosta de assistir futebol. Lembra-se de quando brincava com os colegas, formavam times pequenos, mas julga que nunca teve vocação para jogar. Gosta de cinema, lê muito sobre filmes. “Quando outras pessoas querem saber se o filme é bom, perguntam para mim” ressalta.

Relembra da época de mensageiro, quando tinham que fazer expediente externo. De manhã faziam relação de remessa, pegavam coisas de bancos e saíam para fazer o serviço. Despachavam e voltavam para a hora do almoço. Alguns faziam o serviço e voltavam com muita rapidez, e outros demoravam bastante. Isso em função de uma sala da Reitoria, onde passavam filmes, e muitos jovens ficavam por ali assistindo. “Gilmar cortou o barato de todo mundo quando passou a fazer tudo com uma enorme rapidez. Não dava mais para fazer hora e assistir filmes”, brinca Cláudio.

Há 23 anos na Unicamp, foi o último mensageiro do IEL, do ciclo de mensageiros concursados. Julga ser uma pena que isso não mais aconteça, pois acredita que quando o funcionário ingressa ainda muito jovem, cria um vínculo interessante com a Universidade.

Fato interessante que acontece com certa frequência é quando professores da época em que Cláudio era mensageiro, que já aposentaram, voltam à Universidade e estranham ao vê-lo. E também quando ex-alunos vêm para defesas de teses, na condição de professores.

Com uma trajetória virtuosa, conclui: “Gosto muito de conhecer pessoas e o IEL dá oportunidade para isso, você consegue aumentar sua rede de contatos. É o que me traz maior satisfação, conhecer pessoas diferentes, de outros Estados e até de outros países, com diversas culturas. Tivemos a felicidade de passar como mensageiros e deixar um lugarzinho na história do IEL. Em vários momentos do Instituto tem alguma coisa que participei, e isso é muito bacana”.

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NAS TRILHAS DA UNICAMPCLAUDIR RODRIGUES DA CRUZ

Com o desejo de ter uma profissão, Claudir entrou no ‘Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas’.

Trabalhou em dois lugares antes de seguir à Unicamp, onde começou aos 16 anos de idade, como patrulheiro. E ao completar a maior idade, prestou um concurso interno para poder se efetivar.

Desde o primeiro momento que entrou na Universidade sempre foi muito bem tratado. Teve o prazer de trabalhar desde o início de sua carreira com o mesmo diretor, pessoa esta que sempre o apoiou.

Ao longo de sua trajetória fez vários cursos e participou de palestras dentro da Unicamp, que lhe foram de grande valia para seu desenvolvimento profissional.

Em 1997, quando houve a abertura de uma vaga para secretário de departamento, devido ao afastamento de uma secretária, Claudir foi convidado ao cargo. Passou por um período de experiência e assumiu a função, que é a de cuidar da agenda do diretor, auxiliar os pesquisadores, além da parte administrativa do setor.

Sente orgulho em dizer que apresenta bons resultados nas avaliações e tem boas perspectivas de crescimento profissional.

Desde que entrou na Unicamp, procurou conciliar o trabalho com a realização de atividades físicas. Recebeu apoio de seu diretor, que o incentivou a participar dos eventos esportivos no horário do almoço.

Certa vez, ao se preparar para correr, não viu que tinha um ninho de passarinho ‘quero-quero’ no gramado, e começou sua corrida. Sem que esperasse, o passarinho começou a correr atrás dele e a tentar bicá-lo. Os alunos que se encontravam no local começaram a rir, enquanto ele se abaixava e corria cada vez mais, para que o passarinho não o alcançasse. Passou uma tremenda vergonha, mas agora se diverte ao lembrar.

Outra recordação é de quando trabalhava na FEAGRI (Faculdade de Engenharia Agrícola) e tinha que descer a pé para almoçar, por uma trilha de terra. Demorava de vinte a trinta minutos para conseguir chegar ao Restaurante, e isso o fez desistir muitas vezes de comer.

Muitas foram as amizades conquistadas dentro da Universidade. Marcos Luciano Neayme era um grande amigo, foi também mensageiro. Estava sempre com Claudir, inclusive corriam juntos, mas não está mais na Unicamp. Outra amiga é a Rosana, a quem julga dever muito, pois teve um peso importante em sua vida e o ajudou bastante.

Também considera muito o professor Ilton, que o incentivou, motivou e lhe deu todas as condições, na questão profissional, para ser o que é hoje.

Sua trajetória sempre foi de muita luta, e fazer faculdade era uma meta

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antiga, que acabou atingindo. Está cursando a Faculdade de Tecnologia e Gestão de Recursos Humanos, e faz questão de dizer: “Devo muito à minha esposa, aos meus filhos e aos meus amigos por terem me apoiado”.

Sente orgulho da família que tem, e recorda-se dos bons momentos em que contava histórias para seus filhos antes de dormir. Sente-se orgulhoso por ser um pai presente, e ressalta: “Meus filhos são prioridades em minha vida!”

Com grande emoção conclui: “Não tenho palavras para agradecer a todos. Em especial, ao Edison Lins, que dentro das possibilidades oferecidas pela Universidade e com seu profissionalismo, sempre procura ajudar. É um grande ser humano e amigo de verdade!”

Claudir Rodrigues Cruz e amigos participando da Corrida Integração

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LEMBRANÇA DE ROGÉRIO FERNANDESCRISTIANE BRAGA

A inserção de Cristiane no mercado de trabalho se deu aos 14 anos, em 1986, quando sua mãe soube que haveria inscrição para mensageiros na Unicamp, e a inscreveu.

Começou no CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher), na Divisão de Enfermagem, onde fez amizade com as enfermeiras Silvana, Ana Maria e Ianê.

Em 1988 foi para o departamento de Recursos Humanos, onde está até hoje.

Vários acontecimentos permearam sua trajetória, entre eles, a recordação de quando ainda bem jovem, participava de jogos de vôlei. E comenta: “Vôlei sempre foi minha vida!” Adorava ver os campeonatos que aconteciam na Unicamp, e aproveitava o horário do almoço para assistir aos jogos.

Outra boa lembrança é a do momento de encontro dos mensageiros em frente ao banco, onde havia uma troca e muito bate-papo. “Vários foram os momentos bons dentro da Unicamp”.

Recorda-se de quando ainda era bem jovem e houve uma situação que lhe causou certo constrangimento: levou um tombo, bem onde havia uma terra vermelha. Este fato a marcou muito, mas hoje sorri ao se lembrar do episódio.

Sua trajetória foi de constante crescimento dentro da Universidade. Foi supervisora por três anos no RH, entre tantas outras experiências. E ressalta: “A bagagem que consegui na Unicamp é para a vida toda!”

Além da aprendizagem e do crescimento pessoal e profissional, pôde também conhecer pessoas especiais. Cristiane considera dois diretores como sendo de grande importância em sua trajetória: “Rogério Fernandes, já falecido, tinha uma luz especial, tive grande admiração por ele. Maria Goreti Coelho Stolf me abriu as portas e acreditou em meu potencial. Foram pessoas verdadeiramente especiais para mim!”

Outras pessoas também merecem um carinho especial, como o Osmar da Cruz Ferreira, um supervisor que muito lhe ensinou, e as amigas Liuzange Vitalino Albuquerque (Liu), Elisabeth Correa Toledo (Betinha), Eugênia Ferreira Batista, Aldrey Carnauskas de Souza e Sandra Regina Batistel Godoi, entre outros tantos mensageiros. E conclui: “Foi uma equipe muito legal, que marcou pela união, por ser uma classe única que estava sempre lutando por suas causas”. A prova disso era que mesmo estando juntos todos os dias da semana, também aos finais de semana gostavam de sair. Frequentavam a “Stratosphera”, que era o point dos mensageiros fora da Universidade.

Entre tantas outras recordações, relembra também quando certa vez participou de uma autópsia, realizada por um amigo da Anatomia, e diz: “Foi marcante, mas não fiquei com medo”.

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A Universidade Aberta também marcou bastante.Cristiane tem um filho de seis anos que vem com ela diariamente à

Unicamp, pois frequenta a creche desde pequeno. Considera isso um privilégio.Está concluindo a Faculdade de Gestão em Recursos Humanos, e acredita

ter plantado bons frutos, que está colhendo dia após dia. É muito grata à Unicamp: “A Unicamp nos dá muitas oportunidades e

isso é para sempre em nossas vidas!”

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TUDO SOBRE A UNICAMPDELCIO ANTONIO RIBEIRO DA SILVA

Desde muito cedo, Delcio começou a trabalhar na Associação de Educação do Homem de Amanhã, a “Guardinha”.

Seu pai trabalhava na Unicamp e ficou sabendo que abririam vagas para menores. Como não podia estar vinculado a outra instituição, Delcio precisou se desligar para poder se inscrever para a seleção da vaga de mensageiro.

Em 1986, ingressou no Laboratório de Ótica da Física, aos 16 anos. Ficou por um ano, sendo pago por um projeto do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), mas até então sem vínculo empregatício com a Unicamp.

Somente em 1987 começou a trabalhar pela Universidade, por ter sido admitido como mensageiro da Instituição. Foi encaminhado à Faculdade de Engenharia de Campinas (atual Engenharia Mecânica), para o departamento de Graduação. Depois foi para a Engenharia de Materiais e atualmente se encontra na Engenharia de Petróleo. Ao chegar no campus, assustou-se com o tamanho da Universidade. Achou o início muito tranquilo, tudo era novidade e gostava do que fazia; realizava serviços de escritório.

Lembra-se que seu pai fazia com que soubesse tudo sobre a Universidade, o que na época lhe causava certo aborrecimento, mas que depois veio a entender como aquilo lhe seria de grande valia. E comenta: “Tenho muito orgulho do meu pai! Fazia coisas que, apesar de seu pouco estudo, sabia como ninguém. Foi sempre muito esforçado e me ensinou muito!”

Delcio conhece muita gente. Entre tantas pessoas especiais, vale destacar o amigo José Rodrigues, que considera como um irmão. Aprendeu muito com ele, têm uma amizade grande e estão sempre em contato, inclusive são vizinhos de bairro. Eles têm uma história bonita de amizade dentro e fora da Unicamp. Houve ajuda financeira, tiraram carta no mesmo local, e até o primeiro talão de cheque foram receber juntos, enfim, muitas experiências. Delcio ressalta: “Passamos muito tempo trocando ideias e várias aventuras. O Rodrigues é uma pessoa que considero muito; estamos sempre juntos e temos uma amizade de irmãos!”

Recorda-se do tempo que andavam no circular, no horário do almoço, e independente de estar ou não lotado, várias eram as brincadeiras, e se divertiam bastante. “O ônibus parecia que ia tombar e achávamos graça nisso”, lembra Delcio.

Outro bom momento era quando assistiam a filmes, passados onde hoje é a Biblioteca do IG (Instituto de Geociências). Todos iam para lá, mas somente alguns assistiam, pois outros acabavam dormindo.

Muito aprendeu ao longo de sua vida na Universidade. Pôde fazer um curso de computação oferecido pela Unicamp aos

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mensageiros, que achou muito importante, pois permitiu que os menores adquirissem noções gerais sobre computação. A maioria quase não tinha contato com computador.

Delcio é grato pelas oportunidades que teve: “Tudo que sei sobre computação, entre outras tantas coisas, aprendi na Unicamp”.

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LANCHE NA ORLYDENISE APARECIDA VILLELA

Denise começou no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas aos 9 anos de idade. Mas antes mesmo de se formar − fato esse que marcaria história, pois seria o primeiro pelotão composto por meninas −, sua mãe pediu para que saísse, para cuidar de sua irmã mais nova. “Fiquei triste por não ter continuado, pois adorava a farda, e seria uma novidade, pois só existiam homens patrulheiros. Chorei muito”, recorda-se ela.

Tentou voltar com 10 anos, mas foi-lhe informado que só poderia ingressar novamente quando estivesse na 5ª série. Então, quando completou 11 anos, retornou ao Patrulheirismo, onde se formou em maio de 1976.

Estudava no período da tarde e isso dificultava para arrumar um trabalho devido a esse horário. Foi então que sua mãe conseguiu um emprego no Hospital Irmãos Penteado, onde entrava todos os dias às 7h.

Seu Santos, responsável pelo recrutamento dos patrulheiros, foi quem a encaminhou à Unicamp. “Sou agradecida a ele, pois foi o responsável por eu estar na Unicamp”, enfatiza Denise.

Seu ingresso na Unicamp se deu em 22 de agosto de 1978, aos 13 anos.Foi registrada em 1983, com 18 anos, pois devido à nova lei, houve uma

mudança com relação ao registro dos jovens.Trabalhou na Faculdade de Engenharia de Campinas, que abrangia várias

engenharias (Química, Mecânica e Elétrica).Em 1987 optou por ficar na Pós da Engenharia Mecânica, onde

permaneceu por 18 anos.Exerceu a função de mensageira, escriturária, e secretária da Subcomissão

em 1989. Em 1997 ficou como Secretária de Departamento na Mecânica.Em 2005, tornou-se Assistente Técnico de Direção da Pós, onde está até

hoje.É formada em Administração, desde 2006.Fez um curso no período de setembro de 2008 a dezembro de 2009, o

PDG (Programa de Desenvolvimento Gerencial) com especialização em gerência.Entre várias recordações, um episódio ocorrido no primeiro dia de

trabalho no Hospital Irmãos Penteado marcou bastante. Na sessão feminina, tocaram a campainha, e a enviaram ao quarto de

uma senhora que tinha acabado de operar o intestino. A paciente apontava para baixo da cama e dizia: “comadre”. Denise achou que a mulher estivesse louca, pois como tinha apenas 11 anos de idade, não sabia que “comadre” não era uma pessoa e sim um recipiente para coleta de excrementos.

Outra lembrança é que quase levou vassourada de paciente com doença mental.

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Uma tarefa difícil, principalmente para uma criança, era quando no hospital acontecia alguma amputação de membro de paciente e, muitas vezes, os jovens patrulheiros tinham que levar o membro amputado, enrolado numa toalha, para outro setor.

Havia também bons momentos. Recorda-se que ia com sua amiga Jandira Aparecida Silva Campos receber o pagamento e, no caminho, aproveitavam para comer um lanche na “Padaria Orly”, no centro da cidade. Só depois é que levavam o restante do salário para as respectivas famílias.

“O Restaurante I é algo que dá muita saudade! Era muito boa a comida, os doces, o pedaço de frango bem grande, tinha muita variedade”, comenta.

A Unicamp oferece oportunidades, entre elas, benefícios educacionais aos filhos de funcionários que, no caso de Denise, puderam utilizar a creche, sendo que um deles frequentou também a EMEI.

Seu marido, José Raimundo, também trabalha na Universidade. Conheceu-o no Rio de Janeiro, onde ele era Fuzileiro Naval. Ele acabou vindo para uma entrevista de emprego em Campinas. Foi chamado como estagiário e, tempos depois, prestou um concurso na Unicamp, onde passou em primeiro lugar. Começou o curso de Biologia na USF, em Bragança Paulista, e concluiu em Campinas. Prestou um concurso para Biólogo e hoje trabalha na Biologia da Unicamp. “Ele tem uma história muito bonita, foi sempre muito esforçado”, orgulha-se.

Denise é grata pelas oportunidades que teve, e ressalta: “Sou muito agradecida às experiências que vivi, mesmo as que foram fortes e difíceis, pois contribuíram para o meu crescimento pessoal e profissional”.

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O FRETADO DA ALEGRIADENISE MARIA VILELA

Denise começou no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas, o Patrulheirismo, devido à indicação de amigos que já pertenciam à Instituição.

Trabalhou inicialmente em uma clínica, onde ficou por um ano e pouco. Ouviu que havia aberto uma vaga na Unicamp, mas que na verdade queriam um menino.

Sempre via reportagens na televisão sobre a Unicamp e sonhava em trabalhar na Universidade. Ofereceu-se para assumir a função e sendo a única disponível naquele momento, além também de poder contar com o auxílio de uma psicóloga que interveio a seu favor, ligaram para a Universidade e foi aceito que enviassem uma menina ao invés de um menino. Assim Denise ingressou na Unicamp, em dezembro de 1980, aos 14 anos.

Fez o curso e foi à Universidade para reposição, pois surgiu uma vaga na DGA1, sendo enviada para supri-la. Entrou como patrulheira, mas foi registrada como mensageira.

Lembra-se de uma cena que a marcou em seu primeiro dia de trabalho: a sala tinha uma mesa escura, cheia de processos, onde a chefe, que fumava muito, havia esquecido o cigarro aceso no cinzeiro; apenas o formato da cinza queimada e o filtro apoiado compunham o ambiente. Denise comenta: “Foi uma cena que me marcou muito, não consigo me esquecer”.

Logo que chegou, disseram-lhe que iria trabalhar com “chefes muito bravas”. Começou receosa, mas logo pôde constatar que estava cercada de pessoas prontas a ajudá-la.

Há 30 anos na DGRH (Diretoria Geral de Recursos Humanos), passou por diversas funções. Foi auxiliar administrativa, técnica em administração, supervisora de sessão e atualmente é analista de recursos humanos.

Entre as várias experiências vividas, muitas são as lembranças que carrega.

Recorda-se de quando os jovens se reuniam na praça, que era um ponto de encontro dos patrulheiros; das filas do banco, do fretado, do restaurante. As reuniões eram basicamente no horário do almoço. “Eram vários pontos de encontro e muitas amizades”, diz Denise, inclusive citando uma grande amiga, a Edenilza, já falecida, uma pessoa muito importante, que a apoiou e ensinou muitas coisas.

Fez cursos dentro da Universidade, como o de Informática e de Recepcionista.

Muitos episódios engraçados aconteceram ao longo de sua trajetória. Lembrou-se de uma ocasião que um menino que ela paquerava se

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aproximou e lhe deu uma bala. Ela ficou feliz, porém todo mundo começou a rir e, quando foi ver, sua língua estava completamente azul. Na hora ela se sentiu mal, mas depois acabou achando engraçado.

Recorda-se também do fretado, que era outro momento de encontro. O pessoal do bairro ia junto. Quando tinha aniversário de alguém, faziam festinhas dentro do ônibus, o que acontecia também no Natal, no final de ano, enfim, tudo era motivo para festa. Cantavam e se divertiam muito.

Maria Inês, Lourdes, que eram mensageiras na época, o Amaral, enfim, muitos foram os amigos da época de patrulheiros e que até hoje estão na Unicamp.

“A coisa mais marcante pra mim for ter vindo para a Unicamp. Só o fato de ter sido convocada já foi motivo de muita alegria. A realização de um sonho”, comenta Denise.

Uma coisa que a marcou, entre tantas outras, nesses 30 anos na Unicamp, foi a primeira greve ocorrida. Seu grupo que nunca participava desses eventos, ao chegar numa assembleia, foi ovacionado pelo comando de greve e por todos ali presentes. Acharam engraçado e, sem dúvida, uma conquista inédita.

Denise conclui: “Trabalhamos em equipe. Estou bastante satisfeita!”

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VIVENDO OPORTUNIDADES COM PRAZERDIVALDO FARIA DE MELLO

Amigos indicaram a Associação de Educação do Homem de Amanhã, a “Guardinha”, para Divaldo, que já trabalhava em outras funções desde os nove anos de idade.

Em 1974, teve seu primeiro emprego como guardinha, ficando por três meses na Chiarini Turismo. Por indicação da diretora da Associação, Da. Sultana, foi para a CATI, onde ficou por dois anos. Após este período, recorreu novamente à diretora, para que o transferisse à Unicamp, devido à proximidade de sua casa. Ela pediu para que aguardasse, e assim que tivesse uma vaga ele seria transferido.

Em 31 de abril, seguiu então para a Unicamp, aos 15 anos. E, no dia 3 de maio de 1976 começou em definitivo, devido ao feriado de 1º de maio. Foi designado a trabalhar no Departamento Pessoal. A diretora Da. Maria de Lourdes Pretti, da DGA-13 foi uma pessoa muito importante em sua vida profissional, que insistiu para que ele voltasse a estudar. Divaldo lembra-se de Da. Lourdes com gratidão.

Após a maioridade, contratado pela Universidade, permaneceu na Diretoria Geral de Recursos Humanos; e já concursado como oficial de administração. Admir Pedrossanti foi um diretor que cobrava bastante, mas passava funções de escriturário, o que beneficiou sua carreira profissional.

Foi para o Sindicato em 1988, permanecendo lá por três anos.Em 1991 passou a trabalhar no Centro de Convenções, onde ficou até

1995, como diretor do Ginásio Multidisciplinar. Na época, foi responsável por toda a logística no ginásio, inclusive a supervisão dos promotores do evento e os bombeiros. “Era bem dinâmico trabalhar lá.”

Foi convidado a trabalhar no SAS (Serviço de Apoio ao Servidor). Subordinado à Diretoria Geral de Recursos Humanos, era o Diretor da DAB (Diretoria de Assistência e Benefícios), que em 2008 se transformou em GGBS (Grupo Gestor de Benefícios Sociais), pertencente ao Gabinete do Reitor.

Vários bons momentos ocorreram ao longo de sua trajetória na UNICAMP. Recorda-se de quando, em 1978, estava acontecendo a Copa do Mundo, e o expediente era suspenso para assistirem juntos os jogos. Os funcionários traziam televisão e pipoca. Outra boa lembrança era o momento de confraternização de fim de ano, com as brincadeiras de ‘amigo-secreto’, que eram realizadas nos setores.

Divaldo passou por várias transformações ao longo dos anos, na Unicamp. Percebe que hoje, devido à internet, há a facilidade de comunicação com um número maior de pessoas. Julga que isso foi determinante para o crescimento da Universidade. “Foi tudo muito inovador; ninguém imaginava que a informática fosse crescer tão rápido e possibilitar outras formas de

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comunicação e desenvolvimento”. Fez importantes amigos, entre eles, o Amauri Roberto Dias, o Jurandir

e o João Carlos Curti. “São boas amizades, que ultrapassam o ambiente de trabalho, ressalta Divaldo”. Gosta de caminhar, de futebol e viajar. Seus filhos participaram da Escola Sérgio Porto e Prodecad, por dois anos, o que julga ter sido uma fase importante.

Muitas são as lembranças do tempo em que ingressou na Universidade. Relembra que a maioria dos jovens, ao começar a trabalhar, sempre “pagavam algum mico”: foi lhe pedido um ‘papel carbono quadriculado’ e um ‘alicate que não cortasse fio’. Não sabia muito sobre a vida e ficava de um setor a outro para conseguir o material solicitado, até descobrir que nada daquilo existia.

Outro episódio marcante, que na época causou constrangimento, e hoje é motivo de riso, foi o fato de uma senhora que se sentava no banco da frente do ônibus não permitir que os patrulheiros e guardinhas se sentassem, pois dizia que, como já não pagavam a passagem, deveriam se manter em pé.

Divaldo sempre busca aproveitar as oportunidades.Em 2006 fez o curso de Tecnólogo em Recursos Humanos, formando-se

em 2007. Gosta muito de trabalhar com gestão de pessoas. Costuma dizer que

“tem como característica a função de líder, e não a de chefe”. Organiza seu pessoal da melhor forma, mostrando ao grupo as mudanças necessárias e possíveis, sempre com muito respeito.

A gestão é sua função principal. Por vezes, mediante um novo cronograma de atividades, e mesmo que haja certa resistência com relação às novas formas, principalmente com relação à informatização, é sua função administrar possíveis conflitos e implantar os novos sistemas, de forma a garantir que a equipe se mantenha produtiva, unida e um possa ajudar o outro.

Preocupa-se com os funcionários, incentivando-os a trabalhar, mesmo diante de dificuldades pessoais, de forma a utilizar o trabalho como forma de recuperar sua vitalidade e sair da preocupação ou até de uma possível depressão.

“Fico feliz, quando me sinto útil. Gosto de poder ajudar e servir às pessoas”, conclui Divaldo.

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CRESCIMENTODONIZETE BARBI

Donizete tem 26 anos de Unicamp. Entrou com 15 anos, na DGRH14 (Diretoria Geral de Recursos Humanos), como guardinha. “Lembro como se fosse hoje”, comenta ele.

Desde criança ajudou sua mãe em casa, e não teve dificuldade em trabalhar.

Na Instituição, como eram muitos guardinhas e havia muitos banheiros, os jovens eram separados por grupos e as funções eram distribuídas. Em um dia lavava a louça, outro varria o pátio, outro lavava o banheiro.

Certo dia o selecionaram para substituir um patrulheiro na Unicamp. Ele desconhecia onde ficava a Universidade. Ensinaram-lhe, então, a pegar o ônibus fretado que passava perto de sua casa e ia até o campus.

Trabalhou como office boy e o chefe lhe solicitou que fosse aprendendo o serviço. Depois de uma semana, foi chamado a voltar para a sede da Guardinha.

Donizete pediu para permanecer na Unicamp, pois havia gostado de trabalhar na Universidade. Realizou suas tarefas com responsabilidade, o que gerou funções de maior confiança. Por ser muito honesto e trabalhar direito, o Sr. Arquibaldo Luiz Ventura Filho, diretor da DGRH5 na época, sempre lhe dava cheques assinados para que fizesse pagamentos na cidade. Ele confiou muito no trabalho de Donizete e quis registrá-lo. “Graças ao Sr. Ventura e a mim, vários menores passaram a ser registrados”, ressalta, recordando que, ao completar 16 anos, foi registrado como mensageiro. Permaneceu apenas seis meses como guardinha e conseguiu o registro, fato que o marcou, além de deixá-lo muito feliz, pois sentiu como se tivesse sido promovido. Três anos depois foi para o CECOM (Centro de Saúde da Comunidade), já estava com 19 anos. Trabalhou na área da cozinha e, por muito tempo, fazia plantões com horas extras.

Ao longo de sua trajetória fez muitos amigos e se considera muito querido por todos. É muito grato a Arquibaldo, pois julga que foi um grande amigo e incentivador. “Sem ele não teria conseguido o que tenho hoje”.

Considera-se uma pessoa racional, que sempre procurou usar a inteligência para desenvolver seu trabalho.

Uma de suas principais características é saber ouvir o que os outros têm a dizer, dando-lhes a devida atenção. Com isso, conseguiu aprender e realizar diversas tarefas.

Fez vários cursos, entre eles, o CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e o de Primeiros Socorros.

Atualmente é técnico em administração, na área de Medicina Nuclear, que é a mesma área do Raio X.

Costuma dizer que “todas as pessoas têm um lado bom, e que devemos procurar isso nelas”. Com outra frase que lhe é peculiar, conclui: “O sofrimento é sinal de crescimento”.

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DESBRAVANDO A UNICAMPEDER MENEZES

Em agosto de 1985, Eder entrou na Unicamp como mensageiro, aos 16 anos.

Começou sua trajetória no expediente da RCC, na parte de liquidação de despesas. Recebia documentos, fazia relação de remessas, entre outros serviços administrativos.

Com 18 anos serviu exército e, quando voltou à Unicamp, foi para o Adiantamento, como auxiliar administrativo, onde tinha a função de conferência de notas fiscais, verificava se estavam dentro da lei.

Ao longo de sua trajetória fez vários cursos. “Não diga alô”, informática, entre outros, mas como sempre gostou da área de informática, foi em busca de sua formação para trabalhar no setor.

Formou-se em Informática, e está há dez anos nesta área na DGA.Boas lembranças permeiam sua vida, e episódios engraçados, prin-

cipalmente na época em que foi mensageiro, fazem parte desse universo.Quando jovens, tinham a função de buscar o lanche servido pelo

restaurante aos funcionários que faziam horas extras. Como gostavam de passar o tempo, iam a pé, pegavam os lanches e os sucos servidos em galões. Chutavam o frasco de suco pelo trajeto, como se fosse bola. Com o lanche não faziam nada. “Era coisa de moleque! Hoje conto e todos riem”, comenta.

Outro motivo de risada era uma campainha que existia no setor em que trabalhava. A diretora, para chamar determinado chefe (existiam três), apertava a campainha, e o número de toques representava qual chefe estava sendo chamado. Por muitas vezes, Eder e outros mensageiros imitavam o som da campainha com a boca. “Era divertido, dávamos muita risada com isso”, recorda-se.

Quando entrou, encontrou pessoas muito interessantes. Um chefe tinha barba e cabelos compridos e uma chefa usava um corte de cabelo, em formato de capacete. Hoje são amigos e se lembram com alegria daquela época.

Lembra-se que os jovens mensageiros, inclusive ele, almoçavam rapidamente, para caminharem no meio do mato. Voltavam suados, entravam na sala para trabalhar e levavam bronca do chefe, mas adoravam desbravar o campus. Às vezes apanhavam laranja, goiaba, abacate e amoras, que deixavam suas mãos vermelhas. Conversavam com alguns agricultores pelo caminho. Certa vez, ao voltar do final de semana, ficou indignado ao ver que várias árvores frutíferas tinham sido arrancadas. Comenta com pesar: “Lembro-me com tristeza desse fato.”

Muitos foram os amigos conquistados ao longo de sua vida, entre eles o Serginho e o Marivaldo, que já tinham uma amizade de infância e que permanece até hoje.

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As lembranças são diversas, entre boas e, às vezes, nem tanto. O banco, em dia de pagamento, foi algo que marcou de forma não tão agradável. Passavam o dia todo pagando contas dos outros e aguardando o próprio pagamento. “Foi marcante, porém eu não gostava, pois era muito cansativo”, ressalta.

Outro fato marcante foi o jogo de truco no fretado, que considerava muito bom.

Gosta de jogar futebol; desde muito novo sempre esteve participando de campeonatos. Quando era menor, para ter um lugar no time, jogava como goleiro. Quando saía com o time dos adultos, eles pagavam tudo para ele. Depois cresceu e quis outra posição.

Eder conclui: “Foi uma fase muito legal, valeu a pena!”

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MÚLTIPLAS EXPERIÊNCIASEDISON CARDOSO LINS

Edison entrou no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas com 13 anos, para ajudar em casa, uma família com nove irmãos. A mãe o orientou para que fizesse a inscrição. Foi aprovado, começou a trabalhar como empacotador em uma farmácia, onde conheceu Geneci, do IB, por quem tem grande respeito, e que trabalhava na farmácia, e depois foi também para a Unicamp. Edison ao seguir para a Unicamp, não imaginava a riquíssima experiência de vida que desenvolveria nessa comunidade.

Pensando em seu futuro, pediu para sair da farmácia, algo não aceito, mas contou com a compreensão de Dª Maria Angélica, que sem deixar de adverti-lo o encaminhou para uma substituição num órgão da Reitoria da Unicamp. Foi para a ET-GPS – Grupo de Planejamento Setorial, substituir o José Luiz Moreira. Acabou depois permanecendo, foi enviado para o IMECC (Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica), para a Diretoria. Seguiu depois para o IB (Instituto de Biologia), unidade onde conseguiu conciliar trabalho e estudo (era aluno de graduação na Unicamp), após rápida passagem pelo curso de Direito. Aqui, turma de 1982 obteve graduação – bacharelado e licenciatura em Letras pelo IEL (Instituto de Estudo da Linguagem).

“Ter ingressado profissionalmente na Unicamp, ainda adolescente, permitiu-me diversas oportunidades profissionais e pessoais. Muitos, como eu, éramos arrimos de família, e isso me fez perceber que a Unicamp, ao acolher menores, promovia algo de alcance social muito relevante”, comenta Edison.

Vivenciou a fase de constituição dos quadros profissionais da Universidade, em que os menores, na época apenas patrulheiros ou guardinhas, juravam a Bandeira, na praça em frente à Reitoria e depois, pelo desenvolvimento proporcionado pelo ambiente acadêmico, assumiam funções de responsabilidade. Os desafios trouxeram crescimento.

“No meu caso, embora aqui há muitos anos, posso dizer que nunca fui acomodado, ou como se designa atualmente, na ‘zona de conforto’. Acho que isso vale também para vários de meus colegas que aqui ingressaram na mesma condição”, ressalta.

Os fretados foram pontos de contato e integração. Tem boas memórias do tempo em que ouviam, no percurso, as músicas do Roberto Carlos. Dª Edite, funcionária bastante conhecida, era como uma coordenadora do ônibus, exigente, não queria bagunça. Os jovens não gostavam muito da disciplina imposta, mas quando ela não estava, até sentiam falta das broncas. “A energia era algo necessário, o que ajudou a moldar o caráter e a conduta dos jovens naquele momento”.

Passar a ter maioridade, saindo da proteção do “ser menor”, foi marco para uma outra etapa. A partir daí as coisas aconteceram de forma mais rápida.

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Lembra de incentivos e apoios na trajetória, sobretudo dos funcionários, em eleições disputadas e ganhas com votação expressiva. Tem orgulho de ter feito parte da primeira representação eleita, dos funcionários, em 1987, uma novidade e um avanço democrático, a instalação do Conselho Universitário, que substituiu o antigo Conselho Diretor. Mas lembra do apoio de alguns docentes, como o do Prof. Rubens Murillo Marques, hoje diretor da Fundação Carlos Chagas, militante posicionado contra a ditadura, isso por volta de 74. Edison cita que ele e outro colega patrulheiro tinham muita necessidade financeira, em família, e o professor Murillo os ajudou com um pequeno empréstimo. Foram devolver no dia combinado e o professor transformou o empréstimo em doação, ato com o qual não contavam. Lembra ainda dos Profs. Aníbal Vercesi, então do IB, e Hiroshi Aoyama, pelo incentivo aos estudos e, posteriormente, do Prof. Carlos Vogt e Prof. Daniel Hogan pela acolhida no Nepo em um momento desafiador na sua trajetória na Unicamp.

Edison sempre gostou de frequentar as bibliotecas da Unicamp, especialmente para consultar as revistas de informação, como a “Veja” e a “Isto é”. Nos tempos livres, a leitura era seu lazer. As bibliotecas do IEL ou IFCH foram muito frequentadas por ele na hora do almoço.

O ambiente acadêmico influenciou a postura de Edison frente à vida. Terminada a graduação, diante da falta de perspectiva na carreira existente na Unicamp, então a mesma de todo o funcionalismo estadual, prestou um concurso para professor do Estado, em 1986, foi bem classificado, mas surgiram novas perspectivas de revisão da carreira, na gestão do Prof. Paulo Renato, que depois de uma luta coletiva dos funcionários para correção dos chamados desvios de função, trabalho coordenado pelo então vice-reitor Carlos Vogt, foi determinante para a implantação de uma nova carreira, específica da Unicamp. Edison ressalta: “para tratar da questão dos chamados desvios de função, uma comissão de funcionários foi recebida pela Reitoria”. Isso, como não era comum, acabou abrindo canal que depois se ampliou. O diálogo era com a ASSUC (entidade representativa, na prática sindical, da qual foi o último presidente, sendo hoje substituída pelo STU). “A comissão se organizou, de forma legítima, e foi respeitada pela Reitoria por representar efetivamente os funcionários nesta questão de carreira”, diz. Foi recebida pelo interlocutor da Reitoria para este assunto, carreira de funcionários, o Prof. Carlos Vogt, e isso tudo resultou em um amplo trabalho de revisão das funções, decisivo para a posterior implantação de uma carreira específica, que veio dar efetivos e significativos ganhos salariais. Outras carreiras de funcionários foram implantadas depois, “... entretanto, a essência da primeira carreira específica se mantém”, avalia. Terminado o mandato na ASSUC , não se candidatou à reeleição; foi convidado para implantar e dirigir o SAS (Serviço de Apoio ao Servidor), embrião pioneiro de uma área institucional de apoio social, benefícios e desenvolvimento humano. Pela sequência, os órgãos institucionais para tais questões foram o SAS, CAF, DAB e hoje o GGBS (Grupo Gestor de Benefícios Sociais). Edison também trabalhou no NEPO (Núcleo de Estudos da População), onde teve contato mais direto com a realidade de realização de pesquisas interessantes, que resultam em melhorias para a sociedade, papel da Unicamp, com qualidade e excelência

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reconhecidas mundialmente.Voltando no tempo, Edison lembra que em 1988, na presidência

da ASSUC, esteve à frente da mais longa greve já realizada aqui, que teve uma conquista de extrema relevância: a autonomia universitária, da maior importância aos destinos da Unicamp, USP e Unesp. Naquele momento também houve conquistas na carreira. Hoje encontra colegas aposentados que falam sobre a importância daquelas lutas e sentem efeitos positivos, apesar de muitas dificuldades, das lutas e conquistas através da ASSUC.

Destaca o trabalho onde foi desbravador e articulador, com apoio do Prof. José Tadeu, na busca por parcerias entre Unicamp e diversas instituições, que proporcionam muitas oportunidades para a qualificação dos funcionários. É a síntese do trabalho do ProSeres – Programa Institucional de Apoio ao Servidor Estudante, implantado quando o ex-Reitor, José Tadeu Jorge era Chefe de Gabinete. Programa que já contribuiu com a graduação universitária de mais de mil funcionários. Orgulha-se do trabalho que faz hoje, no GGBS, órgão implantado, de forma discutida mais amplamente, na gestão do Reitor José Tadeu Jorge. Cita entre os casos que passam pelo órgão, dois bem recentes, o de uma funcionária que foi solicitar bolsa de estudos em cursinho para a filha. Foi atendida através de parceria. Três dias depois esta funcionária faleceu. A filha contou com a bolsa, expressão do desejo da mãe quase no fim da vida. Outra situação exemplificadora é a do impressionante desenvolvimento profissional de uma funcionária da Editora que, com muito esforço pessoal, apoio direto do atual diretor da editora e do GGBS, ela graduou-se, aprendeu uma segunda língua e hoje participa da ação internacional de expansão da Editora. Considera exemplos representativos do desenvolvimento humano nesta grande instituição, que também torna grande cada um dos segmentos que a compõem, incluindo as famílias. Cita ainda o trabalho de pesquisa e de relacionamentos que desenvolveu, resultando na fundação da CooperUnicamp da qual é um dos fundadores. Orgulha-se de ter participado da organização do I SIMTEC – Simpósio dos Profissionais da Unicamp e de ter coordenado, por designação do Reitor, as edições seguintes de um evento de grande relevância para todos os profissionais da Unicamp, mostrando vínculo e comprometimento com as atividades fins da Universidade. Atualmente dedica-se ao planejamento de um encontro similar entre profissionais da USP e da Unesp.

Entre boas lembranças, há também algumas tristes. A saudosa lembrança, que também lhe causa muito orgulho, é a história de sua falecida irmã, Arlete Cardoso Lins. Foi alguém que batalhou muito por conquistas na Universidade. Deixou sua marca pela luta em relação às moradias, no DIC, para funcionários da Unicamp, um conjunto que recebeu seu nome.

Edison tem uma importante realização enquanto ser humano, e ressalta: “ter hoje a guarda de três meninas, são motivos de muita alegria em minha vida, e uma realização como ser humano”. Sua relação com a família, numerosa, é bastante percebida pela dedicação, assim como sua relação com vivência religiosa. Acredita na religião como propulsora de transformação pessoal, e isso é individual, cada um deve olhar para si, sem querer ditar regras, usos e costumes, e social, isso tem dimensão coletiva, ampla. Não dá para ficar inerte

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diante de injustiças. Com tanto envolvimento comunitário, fez muitos amigos na Unicamp, não mencionará nenhum em especial para não correr risco de deixar de citar um ou outro.

Edison considera que tanto para os patrulheiros quanto para os guardinhas e mensageiros, no início de suas carreiras profissionais, a energia, a rigidez, a competência e a grandiosidade de pessoas tidas como referências foram necessárias para a construção do futuro de inúmeros jovens. Começou com o Prof. Zeferino Vaz (in memorian), um visionário, tanto pelo investimento permanente na construção de uma instituição com a importância da Unicamp, em todos os sentidos, e ainda por receber os menores e dar rumo às suas vidas, acolhendo-os quando aqui chegaram, encaminhados pelas Instituições. Agradece ao atual Reitor, Fernando Ferreira Costa, o apoio ao projeto de encontro dos ex-menores e também para este livro. Estudar é decisivo. Além do trabalho na Unicamp, Edison é professor concursado da rede estadual (atua no ensino médio período noturno). Sempre se emociona ao encontrar ex-alunos que, com os estudos, conseguiram melhorar de vida. Fez Mestrado em Educação e está desenvolvendo um projeto de doutorado sobre a relação educação e trabalho que permeiam as histórias de vida. É grato a Deus e à Unicamp, pelas oportunidades diferenciadas que, a partir dela, vivenciou e vivencia. E pela oportunidade do trabalho que hoje desenvolve.

Múltiplas experiências de vida na Unicamp. Em 1985 Edison Lins recebe diplomas de Bacharel e Licenciatura em Letras, pelo IEL. A turma de 1982 teve como patrono o

Prof. Sirio Possenti.

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CONHECI CÉSAR LATTESEDISON NUCCI

“Matrícula 1703-5”. Tornou-se guardinha aos 12 anos, teve dois ou três empregos antes da Unicamp, onde ingressou em 1º de abril de 1976, na Coordenadoria Geral dos Institutos (CGI).

Edison se recorda que no primeiro dia que chegou na Universidade deu de cara com o Prof. Zeferino Vaz. Lembra-se que o Professor olhou a carta da Guardinha e brincou: “Até os guardinhas são maiores do que eu?”

Sua permanência no CGI foi um período interessante e rico. Trabalhou com muitos físicos, pessoas brilhantes, com rapidez de pensamento, que acabou contribuindo para que também se tornasse ágil para achar soluções e resolver problemas.

Com 16 anos de idade, Edison foi para o Serviço de Apoio aos Estudantes.Como era graduado na Guardinha, tinha a função de olhar como os

jovens se comportavam, e se estavam vestidos de acordo ou não, mas nunca entregou nenhum amigo por má conduta.

Várias histórias engraçadas fazem parte de sua trajetória. Em certa ocasião, um professor ganhou um casal de cisnes negros, e Edison foi até o aeroporto buscá-los. Ao levar os animais ao sítio do professor, um deles bicou Edison, que o grudou pelo pescoço. A esposa do professor ficou muito brava com sua atitude. Edison se recorda das palavras do professor quanto ao fato: “Você até pode matar o cisne, mas longe de minha mulher”, e ambos riram.

Recorda-se do Prof. Cesar Lattes que tinha o costume de ficar com o pensamento elevado. Edison demorava um tempo para realizar as tarefas e, quando voltava, o professor se encontrava totalmente absorto. “Era uma de suas características e eu achava interessante”, comenta.

Muitas coisas bizarras também aconteceram. Edison se lembra de certa vez que um marido ciumento veio atrás de seu amigo, que tinha se envolvido com a mulher do sujeito. O homem parecia violento, e foi preciso esconder o amigo embaixo da mesa, até o homem desistir de encontrá-lo.

Edison tem uma carreira de vitórias. Foi para a Escola de Extensão, cuja ideia começou em 1988, sendo inaugurada em 1991. Ficou até 2003, e é lotado na EXTECAMP. Foi para a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, que trabalha com comunidades carentes, onde permaneceu até 2008.

Presta serviço como coordenador de aplicação de exames vestibulares, espaço raramente ocupado por funcionários. Trabalhou em Campinas por um tempo e depois foi chamado para servir em Belo Horizonte, onde tem coordenado todo o processo do vestibular nacional da Unicamp na capital mineira.

Considera-se uma pessoa privilegiada por todos que cruzaram seu caminho.

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O Prof. Miguel Juan Bacic foi muito importante, pois pagou sua Faculdade de Administração. Formou-se em 2007. Há uma imensa gratidão nas palavras de Edison: “Não teria como fazer o curso se tivesse que pagar. Foi uma oportunidade de ouro!”

O Prof. Carlos Alberto da Silva Lima também foi alguém que lhe ensinou muito e abriu muitas portas em sua carreira.

O Edison Lins é muito importante, próximo e que lhe apoiou muito. Consideram-se “irmãos de luta” e têm uma amizade muito bonita. Edison Nucci brinca: “Dizemos que somos uma dupla de peso”.

Pai de duas filhas que o apoiam muito, Edison será avô neste final de 2010, o que é motivo de orgulho e alegria.

Muitas são as lembranças também da época de guardinha. Uma delas é que o ônibus fretado nunca saía no horário correto.

Certo dia, Edison estava indo à cidade quando, de repente, ouviu-se um barulho no ônibus. O freio tinha caído, mas o motorista seguiu assim mesmo. Quando em uma parada abriu a porta, ela também caiu. Dessa vez o motorista parou e pediu ajuda aos guardinhas para carregá-la para dentro do ônibus.

Outra lembrança engraçada foi quando fez 18 anos e comprou um carro. No primeiro dia que foi dirigindo ao trabalho, esqueceu-se e, ao sair do serviço, tomou o ônibus para a cidade. Teve que pegar uma carona de volta à Universidade para buscar seu carro.

Fato engraçado também ocorreu com o Prof. Zeferino Vaz, que ia sempre para São Paulo e, certa vez, o motorista não viu que ele tinha descido do carro para comprar amendoim, e foi embora. Quando percebeu, ficou desesperado e ligou de um orelhão para a Unicamp, onde informaram que o professor já tinha telefonado e estava na Praça da Sé, esperando para irem buscá-lo.

Edison tem um processo de luta e conquistas em sua vida. Quando ingressou na Faculdade de Administração estava com 42 anos. O que o deixa orgulhoso é o fato de terem marcado história como sendo uma das melhores turmas já formadas. Fazia plantões de dúvidas, cultivou muitas amizades e achava tudo muito bom.

Na Unicamp, foi enquadrado na carreira como administrador, assim que se formou.

Uma frase do Prof. Zeferino Vaz marcou muito sua vida: “Têm missões que damos ou para o melhor amigo ou para o pior inimigo.” E com isso moldou sua trajetória, tendo encarado sempre como desafio positivo as missões institucionais que tem chegado para ele. Conclui: “Tive muita sorte em minha vida profissional. Ainda bem que minha escolha profissional foi a Unicamp”.

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UM PONTO DE ENCONTROELENIZE MARIA ALONSO DAVID

Elenize soube, através de uma vizinha, que estavam contratando menores para trabalhar na Unicamp. Fez sua inscrição em 1986 e em fevereiro de 1987 foi chamada.

Estava com 15 anos quando foi para o ET-GPS (Escritório Técnico do Grupo de Planejamento Setorial), atual AEPLAN (Assessoria de Economia e Planejamento), trabalhou com o Sr. Nelson Camacho, pelo qual tem grande consideração. Elenize está até hoje no setor.

Costuma dizer que: “os patrulheiros de hoje não conhecem metade do que os patrulheiros de antigamente conheciam. Caminhávamos muito dentro da Universidade e tínhamos muitas responsabilidades”.

Recorda-se que o banco era o ponto de encontro dos menores. Era uma fila só para eles, no máximo dois caixas para atendê-los, então, ficavam muito tempo nas filas. O sistema bancário caía várias vezes, e demorava muito para efetuar os pagamentos. Várias vezes tinham que correr para pegar o fretado na hora de ir embora.

Havia muito companheirismo entre os mensageiros, além de lealdade e confiança, pois várias vezes podiam deixar o serviço de banco para um amigo fazer, enquanto realizavam outros trabalhos e iam para outros setores.

Até mesmo os funcionários tinham muita confiança, pois deixavam pagamentos, cheques, dinheiro e até senhas com os mensageiros para cumprirem as tarefas bancárias.

Pessoas importantes marcaram sua carreira, entre elas, Antonio Felix Duarte, seu chefe, assessor do Reitor na Assessoria de Economia e Planejamento. Apesar de sua rigidez, sempre teve muita paciência para ensinar e corrigir.

Elenize se recorda da época que entrou na Unicamp, quando os ex-mensageiros que já eram oficiais de administração ou porteiros contínuos passavam “pegadinhas” aos recém-chegados. Faziam com que os menores ficassem de setor em setor atrás de uma “máquina de escrever em inglês”, ou procurando um “papel carbono pautado”. Tiravam “sarro” e brincavam com os mais novos. Elenize foi uma das vítimas: “Eu era bobinha e ingênua na época, nunca tinha visto nada na vida e acabava caindo na deles”.

Ela se sente honrada por trabalhar na Unicamp: “Foi motivo de grande alegria vir à Unicamp. Conquistei minha independência financeira e consegui ajudar em casa”.

Desde cedo aprendeu a ter respeito pelos mais velhos, pelos pais, por outros profissionais, o que julga ser essencial aos jovens que estão iniciando sua carreira profissional.

Devido às oportunidades oferecidas, fez cursos de informática e desenvolveu um banco de dados dentro do setor. Fez também um curso de redação oficial.

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Passou por todas as áreas do setor: Secretaria, que cuida também da Área de Recursos Humanos (férias, licenças, faltas, etc.); Área Orçamentária, que cuida das unidades orçamentárias dentro da Universidade (Faculdades e Institutos); Área de Indicadores e Custos, que elabora o anuário estatístico (coleta dados); Área Econômica, que planeja e controla as despesas da Universidade (horas extras, plantões e reajustes salariais). “É um setor importante, que amo trabalhar!” conclui.

Começou a fazer Bioquímica, mas descobriu tempos depois que não era isso que queria.

Em 2002 começou a Faculdade de Administração e terminou em 2006. Teve incentivo e direcionamento de Toninho, seu chefe, para a escolha do curso. Atualmente é administradora.

O filho frequentou o CECI e o Prodecad e a filha utilizou o CECI maternal, o que julga ter sido muito bom.

Passou muita dificuldade na vida, mas é muito grata às oportunidades oferecidas: “Foram muitas as conquistas através do trabalho na Universidade”.

Pessoas importantes passaram e deixaram marcas em sua vida. A Vera Lúcia de Andrade foi uma pessoa que a ajudou muito em sua trajetória, compartilhou bons e maus momentos.

Seu Valdemar Morandi era um senhor aposentado, que trabalhava na Unicamp, e havia muitas brincadeiras em relação a ele. Enquanto passeava em volta do prédio, o pessoal escondia seu tapete. Ele ficava muito bravo, mas todos se divertiam.

José Eduardo entrou na mesma época que Elenize, é um bom colega e também está no setor até hoje. Agradecimentos a seu chefe imediato, Roberto Bosso, que muito a ajudou em seu crescimento, bem como Floriano Farina e Mari Comini, amigos de todas as horas.

Rosangela, da FEAGRI (Faculdade de Engenharia Agrícola), Ednilson Tristão, da Editora, Edson Tristão, do CECOM, Kely, da PRPG (Pró-Reitoria de Pós-Graduação), Osmar e Marquinhos Zanata, da DGA, Silvaninha, da FEM, e Marcos Inácio, da DGA, entre outros tantos amigos da época de mensageiros, que merecem ser lembrados. Luis Fernando de Donato, que trabalha na FCM (Faculdade de Ciências Médicas) e Maria de Fátima também foram especiais: “Muitas foram as brincadeiras, eram bem-humorados, foi muito bom trabalhar com eles”. Lembra-se de um fato marcante, entre tantos outros.

O episódio aconteceu quando o Luis Fernando, muito brincalhão, pegou uma seringa pequena, sem agulha, e veio para o lado de Elenize, fingindo que ia furá-la. Infelizmente, ele a furou de verdade, sem querer, pois mesmo sem agulha, acabou ferindo-a. “Ele ficou muito sem jeito e eu não conseguia parar de dar risada”, relembra.

Oberdan foi também um grande amigo. Elenize comenta que ele é uma “figuraça”, muito bonzinho, mas não gosta que tirem sarro dele”.

“Oito horas por dia dentro da Universidade, acabamos sendo como uma família, como se estivéssemos em nossas casas, onde muitas coisas são compartilhadas: desânimo, cansaço, mas também alegrias, brincadeiras, amizades. Grande beijo e abraço a todos que trabalharam na AEPLAN. Foram momentos marcantes e gratificantes”, conclui.

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EU ANDAVA MUITOELISETE OLIVEIRA SILVA

Elisete sempre foi determinada. Queria trabalhar e começou com um emprego no Mc Donald’s.

Através da abertura de vagas para mensageiros na Unicamp, viu uma nova oportunidade profissional e foi com suas irmãs fazer a inscrição. Como elas eram mais velhas e tinham mais que 15 anos, não puderam se inscrever. Depois de um ano da realização da prova, acabou sendo chamada. Entrou na Unicamp em novembro de 1986.

Recorda-se que ao chegar foi muito bem recebida, sendo encaminhada à FCM (Faculdade de Ciências Médicas), no setor de Protocolo.

Vários mensageiros entraram na mesma época, e cada qual foi para um setor. Elisete brinca que foi encaminhada para o lugar com mais trabalho: “Havia uma demanda muito grande na Unidade, inúmeros processos tinham que ser encaminhados. Eu andava muito!”

Recorda-se do motorista, o Padre, já aposentado, que nada a ajudava com relação aos inúmeros documentos que tinha que transportar: “Não me esqueço dele, pois não me ajudava a carregar as pilhas de documentos. Eu ia duas a três vezes até o carro para conseguir descarregar tudo.” Ficou aproximadamente oito anos no Protocolo. Fez muitos amigos.

Lembra-se também de quando ficavam na escada da FCM, conversando. Adoravam jogar baralho (Can Can). Faziam churrascos, participavam de gincanas, onde brincavam e se divertiam muito.

Passados 19 anos na FCM, recebeu um convite e foi então para a Comissão de Extensão, que era junto com a Comissão de Ética Médica. Tinha uma responsabilidade muito grande, pois era uma comissão de professores. E conclui: “Foi nesse setor que comecei a crescer, pois adquiri uma postura e aprendi a ter ética profissional”.

Sua trajetória foi repleta de pessoas essenciais. A Cleusa Filipini foi uma pessoa que acreditou em seu potencial e lhe abriu as portas para trabalhar com o Prof. Fernando, na secretaria da Diretoria: “A Cleusa foi um espelho para mim. É uma grande amiga!” A Maria Inês também a ensinou muito, devido a grande bagagem enquanto secretária.

Elisete faz questão de ressaltar: “Tudo que sei devo à Faculdade de Ciências Médicas”.

Recorda-se de ter feito parte do informativo “The Mensa”, cujos movimentos promovidos pelos jovens julgava ser de grande valor: “Foram boas conquistas!”

Com uma trajetória permeada por confiança e bom desempenho, permaneceu como secretária na FCM em várias diretorias.

Em 2005, assumiu como secretária do Prof. Fernando, no então cargo de

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Coordenador Geral. Quando o mesmo passou a Reitor, Elisete continuou como sua secretária.

Uma de suas maiores virtudes é gostar do que faz. Considera-se uma pessoa realizada. Tem vários amigos. Sua prima Soraia e a Gislaine são suas amigas inclusive fora da Universidade, possuem um vínculo forte, pois saem juntas e têm intimidade.

Trabalha de forma transparente, faz questão de cumprir suas tarefas com alegria.

Sua formação é Tecnólogo em Administração. Chegou a cursar a Faculdade de Educação Física, mas não concluiu. Faz curso de inglês e adora viajar.

Pretende, em um futuro próximo, começar uma especialização, fazer uma Pós-Graduação.

É grata por todas as oportunidades que lhe foram oferecidas na Unicamp. “Quero deixar um agradecimento especial ao Prof. Fernando, por

acreditar em mim. Tenho-o como um segundo pai e lhe sou muito grata”, conclui.

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UNIVERSIDADE ABERTAELISABETH CORREA TOLEDO

Elisabeth prestou um concurso para a função de mensageiros, na Unicamp. O CAISM estava sendo inaugurado e jovens estavam sendo contratados.

Em 1986, Betinha, como também é chamada, começou a trabalhar na Universidade, no setor de Recursos Humanos do CAISM, onde está até hoje.

Desde o início de sua carreira, julga-se com sorte, pois teve contato com pessoas que muito lhe ajudaram.

Sua primeira chefe do Departamento Pessoal, Rosemary Lima Anastácio (já aposentada), foi uma pessoa especial, que a apoiou muito.

Carlos Antonio Dias foi um diretor muito importante, um “paizão”, como ela costuma dizer, sempre direcionou seu caminho. Está de volta junto à equipe, na Sessão de Pessoal. Os patrulheiros são muito acolhidos por ele, e todos o consideram muito especial.

Oscar dos Santos Martins, um antigo diretor, que está na PG (Procuradoria Geral), foi alguém que muito a ensinou, e foi também muito importante em seu amadurecimento profissional.

Momentos marcantes fizeram parte de sua história, entre eles, o dia de pagamento, considerado por ela como sendo de grande importância. Ajudava em casa com parte do salário, mas podia gastar seu dinheiro com coisas pessoais, o que lhe trazia muita felicidade. Podia ir ao cinema, à “Stratosphera”, além de sair com amigas.

Eugênia Ferreira Batista e Cristiane Braga, que foram também mensa-geiras, tornaram-se amigas de Betinha desde aquela época, e o relacionamento se estende até hoje, inclusive fora da Universidade.

Recorda-se que participavam da ‘Universidade Aberta’ e foram monitoras por várias vezes.

Outra boa lembrança era dos tempos livres, normalmente no horário do almoço, em que pegava o circular com outras mensageiras, para aprender como andar pelo campus e aproveitar para conhecer a Universidade. Mesmo agora, com vários anos de trabalho, existem muitos lugares que ainda não conhece.

Em sua trajetória profissional teve a oportunidade de ser supervisora do Setor de Pessoal, exercendo a função por 11 meses.

Fez muitos cursos e palestras dentro da Universidade, o que julga ter sido uma grande bagagem.

Betinha conclui: “Tudo que aprendi na vida profissional e pessoal foi a Unicamp que me proporcionou”.

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ATENÇÃO AOS PACIENTESENEAS SILVA PARREIRA

Eneas tinha 15 anos quando começou a trabalhar na Unicamp. Seus irmãos já trabalhavam na Universidade, e foi um deles que o inscreveu quando soube que haveria inscrição para uma nova vaga.

Fazia parte da Associação de Educação do Homem de Amanhã, a “Guardinha”.

Trabalhou na parte de fotocopiadoras, na Administração, e ficou aproxi-madamente dois anos no setor. Passou a ser mensageiro e foi para o HC, na parte administrativa, assistência burocrática ao pessoal da enfermagem. Passou ao setor de Arquivo, onde ficam as pastas dos pacientes.

No início da carreira tinha muito medo de não se adaptar, pois a inexperiência e o fato de ser muito jovem geravam insegurança. Queria agradar e ser admitido após o período de experiência. No Hospital das Clínicas entrava às 7h da manhã, era tudo muito corrido e necessitava ter garra e determinação.

Eneas considera ter sido um período muito difícil, pois trabalhava durante o dia e estudava à noite. Tinha muitas responsabilidades. Porém sabe também que foi uma fase de grande importância em sua vida, pois permitiu seu crescimento pessoal e profissional.

Pôde fazer muitos amigos ao longo de sua trajetória.Atualmente está no Agendamento de Consulta, onde tem uma vivência

importante devido ao contato com os pacientes, suas histórias e problemas. Sua função tem grande valor, pois pode ajudar quanto ao bom atendimento aos pacientes.

Recorda-se que, no início da carreira, tinha muita curiosidade com relação ao setor de Anatomia. Certa vez assistiu a uma autópsia e achou o procedimento normal.

Eneas teve várias experiências ao longo de sua vida, fez um pouco de cada coisa. Está satisfeito com sua trajetória dentro da Unicamp.

Gosta de dançar e ouvir música dos anos 60, flash back, samba rock, pagode.

Ia muito a bailes na época em que era mais jovem, aos finais de semana. Tem um filho de sete anos que usufruiu dos benefícios educacionais

oferecidos para filhos de funcionários da Universidade.Está cursando Gestão em RH, na FAC. Eneas é muito grato à Unicamp, e diz: “Sou muito grato por ter conseguido

entrar na Unicamp e estar até hoje. Tenho a esperança de me aposentar, com saúde, na Universidade”.

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DONA MARIA ANGÉLICAEURÍPEDES DE LIMA TAVARES

Vindo de Itajubá-MG, aos quatro anos de idade, Eurípedes passou por inúmeras dificuldades financeiras.

Aos 14 anos ingressou na Associação de Educação do Homem de Amanhã, a “Guardinha”, para ajudar no sustento da casa.

Trabalhou quatro anos na Singer, quando então pediu dispensa, para ingressar no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas, por questão de salário.

Teve boa orientação nos Patrulheiros. “Havia rigidez, porém, eu tirava proveito daquela linha dura”, refere-se Eurípedes ao sistema da Instituição.

Durante o tempo em que permaneceu como patrulheiro, procurou ser correto em sua conduta, transformando a severidade em algo que o fazia crescer.

Desfilava todos os anos no dia 7 de setembro no qual a disciplina era muito cobrada.

Tornou-se sargento, por bom comportamento, e mudou sua conduta. Procurou fazer com seus subordinados, aquilo que gostaria que fizessem com ele.

Era arrimo de família, e devido à sua postura e disciplina, ganhou prêmio. Teve muito apoio de todos os seus superiores.

Lembra com carinho e saudosismo, de uma vez que vários patrulheiros foram contemplados com uma viagem à colônia de férias em Santos-SP. Na época, a música “Jesus Cristo”, de Roberto Carlos, estava em seu auge e a escutaram no ônibus durante o trajeto de ida e volta.

Permaneceram quatro dias na praia, o que foi motivo de muita alegria, pois nunca tinha viajado.

Entre tantas amizades, Vanderlei Gerlac, Sidney Roberto de Lima e João se destacam.

Passado algum tempo, através de Dª Maria Angélica, foi encaminhado à Universidade, já com 18 anos, onde teve seu primeiro registro em carteira, como mensageiro. Ingressou em 03 de julho de 1973. “Eurípedes, você irá para a Unicamp do Professor Zeferino Vaz” – esta frase de Dona Maria Angélica marcou sua vida, pois ingressar em uma Instituição renomada como a Unicamp era simplesmente uma honra.

Ainda em 1973 passou a contínuo porteiro e, em 1974, a escriturário.Prestou um concurso público para desenhista projetista em 1977, onde

passou em primeiro lugar, assumindo o cargo.Teve uma vasta trajetória. Foi para o ESTEC (Escritório Técnico de

Construção e Obras) em 1983; para o Centro de Tecnologia, na Mecânica; passou para a Faculdade de Educação Física, trabalhando com desenho artístico,

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desenhando vísceras e partes do corpo humano.Participou de um projeto voltado à construção de um bairro, onde pôde

acompanhar de perto a construção de casas feitas para funcionários.No HC, preocupa-se em dar atenção aos pacientes que por ali passam. Pai de dois filhos e com uma visão altruísta, Eurípedes preocupa-se com

a atual situação dos jovens patrulheiros: “Um motivo de tristeza para mim é saber que os menores de hoje, ao completarem 18 anos, são dispensados dos cargos que ocupam enquanto patrulheiros, e obrigados a seguirem caminhos em outros lugares. Muitos se perdem nessa nova trajetória, o que é uma pena!”

Um exemplo de como possui um olhar voltado ao próximo, é o caso de sua atenção com os pacientes do HC. Mateus, um garoto de nove anos, com hidrocefalia, ficou hospedado por várias vezes em sua casa, assim como outros pacientes, aguardando o dia para retornar à consulta. Criou afeição especial pela família do garoto, que inclusive recentemente o encontrou e a criança se lembrou dele, chamando-o de “tio”, fato que o deixou muito emocionado.

Recorda-se de um período curioso que ocorreu em 1989. No Campus não estavam sendo servidas refeições, devido a uma greve que estava acontecendo. Somente nos restaurantes do centro da cidade eram servidas refeições. Sendo assim, os funcionários alimentavam-se com misto-frio, pão com manteiga e muita “Tubaína”, e várias brincadeiras surgiam a partir disso. Diziam que “os funcionários que não aderiram à greve acabaram engordando muito, por causa do excesso de sanduíches que comiam e os refrigerantes que bebiam”.

Atualmente Eurípedes assessora o Diretor do HC.Sente-se privilegiado pela oportunidade que teve de conhecer o Prof.

Zeferino Vaz, que sempre foi muito presente e interessado pela situação dos funcionários e setores, cuja morte prematura marcou muito e foi uma grande perda.

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APRENDENDO A TER RESPONSABILIDADEFÁBIO FERNANDO THOMAZ

Fábio soube da seleção para mensageiro que a Unicamp estava promo-vendo, através de seu pai, Reinaldo Thomaz, funcionário já aposentado da Universidade.

Foi chamado para o trabalho em setembro de 1984, aos 14 anos de idade.

Ingressou no Instituto de Biologia, onde permaneceu por quatro anos. Afastou-se para cumprir o serviço militar, retornando com 19 anos, onde passou a escriturário, no departamento de Recursos Humanos.

Tempo depois, surgiu uma vaga no Instituto de Física, para trabalhar com um professor que era Consultor da ONU na África. Fábio foi então para o Núcleo Interdisciplinar para Melhoria do Ensino em Ciências, com convênio com o Planetário no Parque Taquaral. Trabalhou por mais ou menos três anos.

Por achar o serviço pouco intenso, resolveu aceitar o convite de um amigo que trabalhava no Almoxarifado do HC. Ficou por mais ou menos 12 anos, em função administrativa, como almoxarife, na parte operacional de Estoque e Distribuição. Passou então ao controle do Estoque, e depois foi supervisor do Almoxarifado. Com a terceirização do Almoxarifado, foi trabalhar na Divisão de Suprimentos, onde participou do projeto de implantação de controle direto nas enfermarias. Com a mudança de diretoria do hospital, esse projeto acabou e ele foi ser responsável pelo controle dos materiais médico-hospitalares. Trabalhou na parte de contratos, administrando-os, por quatro anos.

Mudou para o setor de licitação, onde está até hoje. Todo o equipamento que o Hospital de Clínicas adquire através de licitação é de sua responsabilidade, onde atua desde a elaboração dos Editais, até a entrega.

Fez alguns cursos de formação pessoal, que ajudaram a formar sua personalidade.

Trabalhou com Sonia Maria Marcelino, assistente técnico de direção na época, que foi uma pessoa importante em sua vida. E ressalva: “A Sonia me ensinou a ter responsabilidade, a separar o que quero e o que posso no trabalho.” Foi através dela que aprendeu a cumprir regras. Era uma pessoa muito correta, dedicada e bastante rígida. “Aprendi que no trabalho o querer não é o poder”, completa Fábio.

Tem também grande consideração por Cláudio Roberto Forner, do escritório da Unicamp em São Paulo, pelo exemplo de perseverança: “Mesmo com as dificuldades, sempre agradecia pelo emprego e nunca reclamava”.

Uma de suas filhas frequentou a creche da Unicamp, foi importante para ela, pois teve um convívio com outras crianças mais cedo, o que a tornou menos desinibida.

Sempre foi muito responsável, muitos chamam isso de “ser careta”,

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comenta Fábio. Várias foram as experiências ao longo da carreira. Após uma sindicância, assumiu o cargo de supervisor de seção do Almoxarifado.

Mesmo sendo uma pessoa mais quieta, fez muitas amizades. Sempre trabalhou com bons profissionais e pôde aprender com eles.

Edvaldo Aparecido dos Santos foi um diretor que lhe ensinou muita coisa. Certo dia, quando Fábio descarregava um caminhão de papel higiênico, embaixo de muita chuva, Edvaldo arregaçou as mangas da camisa (trabalhava sempre com roupa social, era muito vaidoso) e o ajudou a descarregar o material. Esse gesto foi de grande ensinamento, e Fábio passou a admirá-lo ainda mais.

Criaram um vínculo de amizade e quando a mãe de Edvaldo esteve internada no HC, por várias vezes Fábio a visitou. Quando faleceu, esteve presente e apoiou o amigo.

Outra experiência marcante em sua vida foi quando trabalhou diretamente com as enfermarias e conheceu um paciente com câncer na perna. Era um jovem com problema sério de rejeição à doença, e que não se relacionava bem com a família, tinha apenas uma irmã que o acompanhava. Fábio passou a visitá-lo, e ele, por sua vez, chegou a presentear os filhos de Fábio. Almoçavam juntos, e se tornaram grandes amigos. Infelizmente o jovem veio a falecer. Foi uma passagem marcante em sua vida, pois aprendeu muito com essa amizade.

Seu “momento lazer” é quando joga futebol nas quadras da Universidade.Fábio trabalha atualmente na Divisão de Suprimentos do HC, realiza

trabalhos diretamente com a assessora da Diretoria, e devido à sua experiência e aos seus conhecimentos na área, consegue informalmente dar andamento a vários processos quando necessário.

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NO ARQUIVO POR ACASOFÁBIO RODRIGO PINHEIRO DA SILVA

Fábio ingressou aos 12 anos de idade no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas, entidade muito conhecida na cidade por encaminhar os jovens ao mercado de trabalho.

No Patrulheirismo, falava-se muito a respeito da Unicamp, considerada um bom lugar para se trabalhar. Porém, Fábio não conhecia a Universidade, e como era ainda muito jovem, não tinha dimensão de toda a sua estrutura.

Houve então seu encaminhamento à Unicamp, fato interessante, pois havia completado 13 anos em maio, e seu ingresso se deu no dia 12 de junho de 1995. Foi seu primeiro emprego.

Logo ao chegar, foi encaminhado ao Arquivo Central, pois tinha uma demanda urgente. Teve uma primeira boa impressão do setor. Desde muito cedo pôde perceber o quanto era rico trabalhar com o arquivo de uma Universidade do porte da Unicamp.

Teve a oportunidade de trabalhar com pessoas que lhe ajudaram a entender a grandiosidade de sua função, entre elas, a Neire Martins, que acreditou em seu potencial e lhe deu grande apoio. Fábio costuma dizer que ela é sua “mentora profissional”, pois o conduziu ao longo de sua trajetória. E conclui: “A Neire é até hoje uma referência pra mim.”

Quando era ainda muito jovem, através da orientação de sua chefe, aprendeu como agir diante das diversas situações ocorridas no ambiente de trabalho. Aprendeu a não se limitar em determinada atividade, o que possibilitou grande abertura e crescimento.

Recorda-se do tempo dos desfiles de 7 de setembro, enquanto era patrulheiro. Reuniam-se aos domingos para ensaiar. Lembra-se que estudavam a história da Instituição, além de conhecer pessoas que faziam parte do início do patrulheirismo, como Dª Maria Angélica e Sr. Wilson.

Fábio passou por inúmeras experiências ao longo de sua trajetória, que o fizeram amadurecer. Quando completou 18 anos ainda estava no ensino médio e não podia prestar vestibular. Foi então contratado para um projeto, financiado pela FAPESP, de digitalização de documentos do acervo da Unicamp. Ficou como “serviços de terceiros” até poder prestar o vestibular e ser admitido como estagiário.

Em 2005 prestou seu primeiro concurso público, com contrato temporário, conhecido hoje na Unicamp como processo seletivo sumário. Ficou até meados de 2006 nessa condição, quando prestou outro concurso. Passou e foi admitido efetivamente para a função de profissional em organização de arquivos.

Há aproximadamente um ano assumiu o cargo de assistente técnico de direção, no qual assessora a coordenação do sistema de arquivos. É um

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profissional da área de Arquivo, um profissional arquivista. Sua função é justamente organizar toda documentação da Universidade. Julga-se regrado e disciplinado, além de manter rigor em relação à ordem do setor que trabalha. Preza muito o senso de organização.

É formado em Ciência da Informação, pela PUCC. O curso estuda a informação e seus suportes, que seriam os locais de registros, livros, onde atuam os bibliotecários, os arquivistas, as peças, os museólogos, enfim, um estudo muito interessante e próximo ao universo em que estava inserido.

Fábio faz parte de vários importantes movimentos dentro da Universidade.

Participa de um movimento muito interessante que é a Gestão por Processos (GEPRO), coordenado pela Pró-Reitoria de Desenvolvimento Universitário, um projeto que há uma metodologia, um conjunto de ferramentas para revisar processos de trabalho, visando apontar melhorias e otimizar esses processos.

Outro importante movimento é o PDG (Programa de Desenvolvimento Gerencial), coordenado pela Agência de Formação Profissional da Unicamp, onde se capacitam os gerentes, todos que ocupam cargos gerenciais, supervisores de seção, diretores de serviço, assistentes técnicos de direção, e assim por diante.

Há também, enquanto Arquivo Central, uma disciplina, Gestão de Documentos, ministrada por ele e pela Neire, na qual os gerentes aprendem a lidar com os documentos e inseri-los em sua rotina de trabalho.

Enquanto integrante do movimento GEPRO, Fábio também participa do PDG nessa frente, ensinando as ferramentas que compõe a metodologia GEPRO.

“Conviver com diversas pessoas, de diferentes áreas, é algo muito importante”, ressalta.

Fábio tem como hobby o hábito da leitura, gosta muito do que faz e, com orgulho, costuma dizer: “Minha trajetória profissional na Universidade foi sempre uma crescente”.

É muito grato à Neire e à Unicamp, por toda sua trajetória profissional. E conclui: “Em nome da Neire, agradeço a toda a Universidade. Se não fosse por ela, não estaria na Unicamp e não seria o profissional que sou hoje. Sua característica de multiprofissionalismo é muito bacana, e esse convívio possibilita um grande aprendizado”.

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SISTEMA EM PHPFERNANDY EWERARDY DE SOUZA

A maioria das famílias tinha o sonho de que seus filhos ingressassem em alguma entidade que facilitasse a possibilidade de emprego.

Não foi diferente com Fernandy. Sua mãe o fez realizar a prova para ser patrulheiro por quatro vezes. Ele, por sua vez, como ainda era muito jovem, não tinha o mesmo desejo. Na verdade, Fernandy queria trabalhar na Unicamp.

Quando surgiu a oportunidade de uma vaga para mensageiro na Universidade, fez a prova e passou. Foi seu primeiro emprego, tinha 14 anos. Ingressou na DAC (Diretoria Acadêmica), em 1986, no atendimento ao público, onde ficou por oito anos. Depois seguiu para uma área interna.

Durante 24 anos esteve nesse mesmo setor, onde entrou como mensageiro e está atualmente como diretor da Documentação Acadêmica.

Fernandy se recorda do apoio que recebeu no início de sua carreira, os alunos eram colaboradores e ajudavam na realização de algumas tarefas.

Na época em que era mensageiro, passava por diversos departamentos para realizar o serviço, o que facilitou conhecer várias pessoas e a fazer muitas amizades, que perduram inclusive fora da Universidade.

Várias foram as pessoas especiais que fizeram parte de sua trajetória profissional, entre elas, a diretora Maricilda, uma pessoa muito importante, pois foi quem o ensinou a trabalhar. Foi uma diretora que o direcionou e o ajudou em seu crescimento profissional. A Inês Haruko Teramoto também foi muito importante. Fernandy se recorda da forma como se tratavam: “Ela me chamava de filhinho e eu a chamava de mainha”.

Sempre teve muitas amizades. A Walkiria é muito amiga. Fernandy estudou com o cunhado dela; sempre saem e participam de churrascos juntos.

O Toninho (Antonio Fagiane) brinca que Fernandy é “filhinho dele”, e é também um grande amigo.

Lembra-se de um fato engraçado, a forma como ele e seus amigos mensageiros eram chamados: Dede (André), Dudu (Eduardo) e Didi (Fernandy). O Dede e o Dudu já saíram da Universidade.

Certa vez, os três amigos, Dede, Dudu e Didi, faziam um trabalho externo de bicicleta, um ia na garupa, um na cestinha e o outro pedalando. De repente, caíram dentro de um buraco, derrubaram todos os documentos e ficaram muito ralados. Ao voltar para o departamento, precisaram se explicar.

Outro episódio que se recorda foi de uma festa que seus amigos fizeram para ele, antes de se casar. Foi uma despedida de solteiro, e o vestiram de mulher. Casado há 15 anos, tem uma filha de 13 anos e sonha que ela curse a Unicamp. Sua esposa também é funcionária da Universidade.

Fernandy sempre foi em busca de seus objetivos. Fez curso de qualidade, atendimento ao público, especialização em gestão de pessoas, segurança do

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trabalho, onde conheceu muita gente. Reuniam-se sempre. Formou-se em Administração; fez um curso de especialização em Gestão

de Pessoal e pretende fazer Logística, pois é a sua área, já que trabalha no setor de Matrículas.

Gosta muito de mexer com computador e adora novidades. Lembra-se de algo importante em sua trajetória profissional. Tudo que chegava ao atendimento da DAC tinha que ser registrado em um livro, mas mesmo no antigo sistema era difícil localizar o documento do aluno. Fernandy resolveu então fazer em PHP um novo sistema, e conseguiu desenvolvê-lo de forma a facilitar o trabalho. Sente orgulho do trabalho desenvolvido e é muito grato por sua trajetória. E conclui:

“Sou muito grato à Unicamp e a todos os amigos que estiveram comigo ao longo desses 24 anos de trabalho”.

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DESCONTRAÇÃO NO FRETADOFLÁVIO RODRIGUES DE ANDRADE

Flávio entrou como mensageiro no IMECC (Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica) aos 15 anos, em 26 de abril de 1986.

“Lembro-me de chegar ao DGRH (Diretoria Geral de Recursos Humanos), onde fui orientado a comparecer ao Instituto de Matemática. Assustado por não ter ideia do que era e nem onde ficava, dirigi-me ao RH, passando boa parte da tarde. Aquele momento foi engraçado, pois todos que passavam por ali perguntavam: é guardinha novo? “Todos os menores trabalhadores eram chamados de guardinha naquela época”, relembra. Após responder que sim, as pessoas lhe perguntavam para onde seria encaminhado, e quando ele respondia que iria para a Biblioteca, diziam: “xiii, coitado!”. Na verdade tudo não passava de uma brincadeira.

Ao chegar no setor, foi muito bem recebido pelos companheiros de trabalho (a maioria já se aposentou). Sua primeira missão foi aprender a tirar cópia.

Fez vários amigos. Recorda-se de quando abria o “bandejão” e iam almoçar rapidamente para sobrar tempo de jogar baralho com o pessoal. Passavam de meia hora a quarenta minutos jogando caxeta e pif-paf. Tempos depois, utilizava o horário de almoço para correr e fazer ginástica. Tomava banho e voltava ao trabalho.

Lembra-se que na época do pagamento uma enorme fila se formava em frente ao banco, onde os mensageiros se reuniam e aproveitavam para por a conversa em dia.

Boa recordação também de quando utilizava o fretado. Muitas eram as bagunças durante o trajeto. Cantavam e brincavam muito.

Apesar de gostar do serviço da Biblioteca, tirar xerox tinha se tornado monótono, pois estava realizando essa tarefa há um ano e meio. Surgiu então uma vaga para trabalhar no Recursos Humanos do Instituto. Flávio se candidatou, sendo aceito para a função.

No RH aprendeu muitas coisas, inclusive datilografia em máquina manual, graças a um curso que a Unicamp ofereceu. Permaneceu por um ano, seguindo para o exército. Ao retornar, no início de 1990, foi designado a trabalhar na sessão de datilografia especializada. Cinco anos se passaram e sua supervisora, Maria de Lourdes, ia se aposentar e lhe passou a responsabilidade da supervisão. “Foi muito difícil assumir a função, mas também muito importante para meu desenvolvimento profissional”, relembra Flávio. Com gratidão, faz questão de ressaltar: “Maria de Lourdes Soares da Silva foi uma pessoa muito importante em minha vida, inclusive porque através dela conheci minha esposa. Nós a consideramos como uma mãe”.

Aprendeu muito nessa seção, inclusive foi um dos primeiros locais a

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utilizar a tecnologia da Informática. Após sete anos de SDE (Seção de Datilografia Especializada), ela foi extinta, transformando-se em uma área da nova Seção de Informática, onde Flávio trabalha até hoje, e é técnico de apoio ao usuário de HD no IMECC.

Digitou muitos trabalhos para professores do Instituto, diversos artigos, livros, teses, manuais, entre outros.

Fez vários cursos. O primeiro foi o de datilografia, sendo muito útil, pois adquiriu agilidade para depois aproveitá-la na Informática. Fez inglês no IEL (Instituto de Estudo da Linguagem).

Gosta de correr e pedalar; começou na FEF (Faculdade de Educação Física) e há vinte anos está participando de corridas, inclusive as que são patrocinadas pelo GGBS (Grupo Gestor de Benefícios Sociais).

Com gratidão, conclui: “Quero agradecer ao GGBS pela iniciativa da produção deste livro, pois será algo importante, que deixará registrada a nossa história. Devo muito à Unicamp por todas as coisas que conquistei. Graças a ela consegui construir uma família, sou casado e tenho dois filhos, e uma profissão da qual me orgulho e executo com muita dedicação e amor”.

O ambiente de trabalho de Flávio Rodrigues no Instituto de Matemática e Estatística (IMECC)

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VIRTUDE RECOMPENSADAFRANCISCO DE ASSIS DA SILVA

Francisco, quando criança, ouvia falar sobre guardinhas e patrulheiros. Seu pai lhe deu uma chance de arrumar algum trabalho, antes de ingressá-lo em alguma dessas instituições.

Sua mãe o levou para tentar um emprego em algumas firmas, mas como Francisco tinha apenas 13 anos, não conseguiu colocação. Como havia a necessidade de trabalhar, foi então aos patrulheiros. Fez um cursinho por dois meses e passou.

Seu primeiro emprego foi na empresa Brasilit, onde era tratado como se fosse funcionário deles, e ficou por três anos. Era conhecido como Chiquinho, o “caçulinha”. Todos os benefícios que os funcionários tinham, ele enquanto patrulheiro também tinha. Sempre ajudou em casa, metade do salário era para pagar o uniforme e fazer algumas viagens e o restante ajudava seus pais. Passado algum tempo, como não conseguiu ser efetivado nessa empresa, que inclusive começou a reduzir o número de funcionários devido a uma crise, Francisco decidiu sair, e como já tinham lhe falado a respeito da Unicamp, encaminhou-se para lá. Os amigos Wilson Otávio, Paulo Cesar e Evandro que já estavam na Universidade o influenciaram a trabalhar e foram seus grandes incentivadores e companheiros.

Dois meses depois que Francisco saiu da Brasilit, soube que o outro patrulheiro que foi para ficar em seu lugar havia sido demitido, pois lhe disseram que não mais teriam patrulheiros na empresa.

Francisco ingressou na Unicamp como mensageiro em 1982, aos 16 anos.Ao completar 18 anos, foi registrado. Costuma dizer que teve muita sorte por ter ingressado na Unicamp naquele período, pois tudo aconteceu na hora certa.

O primeiro setor dentro da Universidade por onde passou foi o SERCA (onde todos os alunos pegam o atestado de matrícula, histórico, diploma, etc.), no Ciclo Básico I, que é a DAC (Diretoria Acadêmica) atualmente. Fazia o controle de pagamentos dos históricos, diplomas, cópias de material dos alunos.

Recorda-se de quando começou nos Patrulheiros, era muito magrinho, pequeno, e ficava muito triste caso levasse alguma bronca. Achava o sistema muito rígido, mas com o tempo percebeu que tudo aquilo era para que aprendesse a se comportar, e julgou ter sido importante para moldar seu caráter.

Ao longo de sua trajetória, pessoas especiais passaram por seu caminho, dando-lhe conselhos, o que foi de grande valor.

Logo que ingressou, a Unicamp era muito pequena em termos de prédios construídos.

Trabalhava junto com outro patrulheiro, o Serginho, e revezavam a função, um ficava no balcão e o outro fazia o serviço de bicicleta e depois trocavam. “A

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bicicleta era vermelha, tinha um cesto na frente e éramos responsáveis por sua manutenção.”

Um dia, perto do prédio da Faculdade de Educação Física, viu quando uma moça passou de moto e sua bolsa caiu. Quis devolvê-la, mas teve medo de acharem que havia roubado. Pediu ajuda para as amigas do setor, que o auxiliaram a localizar a dona da bolsa. Ela agradeceu muito e o recompensou com um valor muito grande, o dobro do salário que ganhava nos patrulheiros.

A Dª Lai, que trabalhava no setor junto a Francisco, sugeriu que ele abrisse uma caderneta de poupança com o dinheiro que havia ganho, e o levou a um banco. Tempos depois, o banco faliu. Ela se sentiu culpada, trabalhou muito e lhe devolveu o valor que havia perdido.

Outra boa recordação é do Restaurante II, um ponto de encontro dos patrulheiros. Francisco chegava com sua bicicleta e parava para almoçar às 10h30. Fazia todo o trabalho, ia para o SERCA, fechava o setor e almoçava pela segunda vez no Restaurante I. Brinca que “acabou ganhando bastante peso por isso”.

Um fato marcante da época como patrulheiro é que existia um jovem, aparentando ter uns 25 anos, conhecido entre os garotos por “meninão”, já que não sabiam o seu nome, e que lhes causava medo. Ele ordenava que os patrulheiros sentassem em sua garupa, e saía pedalando, fazendo curvas e correndo muito. Tinham pavor dele e não sabiam de onde surgia. “Era um mistério!”

Entre várias lembranças, Francisco tem uma em especial, que é a de um lugar de terra, com um pó vermelho, onde adorava andar de bicicleta com os amigos. Chamavam esse lugar de “Serra Pelada”.

Ao longo da carreira, Francisco sempre quis trabalhar no Laboratório de Química. Uma cena de novela foi gravada nesse setor da Universidade, o que aumentou ainda mais o seu desejo de ser encaminhado para lá.

Foi então trabalhar no Biotério, trabalhou como operador de máquina 3. Depois passou a técnico de laboratório. Tratava dos animais, que depois seriam encaminhados para outra área. Permaneceu por 20 anos no Biotério.

Fez curso em São Paulo para aperfeiçoar as condições de trabalho no setor. Ele e sua equipe fizeram uma apostila que foi encaminhada para os congressos, mostrando como eram as condições de trabalho no Biotério e como poderiam melhorar o que já existia.

Posteriormente quis ir para a FEA (Faculdade de Engenharia de Alimentos) e foi liberado por sua chefe. Foi para testar rações junto às pesquisas da Profª Débora. O trabalho foi muito bom e a tese foi comprovada.

No departamento de Parasitologia, onde a professora estava, houve a possibilidade de Francisco desenvolver um importante trabalho.

Pelos cursos que havia feito, foi convidado a trabalhar com necropsia dos ratos para verificar parasitas nos animais, além de verificar o sangue, as vísceras, etc. Procurou vários estágios em setores na Biologia, gostaram de seu trabalho e permaneceu por 14 anos.

Em finais de semana fazia trabalhos com lobo-guará, coletava material para verificar parasitologia, vírus, bactéria, etc. Existe uma publicação sobre

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isso em que Francisco participou como coautor. Fez uma apresentação sobre o tema em São Paulo e tem várias publicações em revistas.

Foi para o setor do Canil, onde ficou por quatro anos. Atualmente está no CEMA (Centro de Monitoramento Animal), onde foi

convidado a trabalhar desde 2005. Enfrentou o desafio de realizar o trabalho nesse novo setor, trabalhando diretamente com um veterinário. Os animais não são sacrificados, são cuidados e encaminhados à natureza.

Hoje é técnico em bioterismo, o que o deixa orgulhoso e feliz: “É uma conquista com relação a essa função”.

Francisco adora fotografia e diz: “Montamos um grupo amador na Unicamp, tenho isso como hobby, sou apaixonado por fotografia!”

Os filhos usufruíram da creche e EMEI oferecidos pela Unicamp, e sua esposa também trabalha na Universidade.

“Agradeço a meu pai (in memorian), que foi o espelho de toda a minha trajetória e onde ele estiver hoje, tenho certeza, estará muito orgulhoso de mim, e também à minha mãe, que mesmo sem muito recurso, sempre me acompanhou”, conclui.

Francisco de Assis Silva na Praça Zeferino Vaz (no bolsão do Ciclo Básico) com colegas de trabalho da Diretoria Acadêmica da Unicamp. Inês, Sônia, Lai (in memorian) e Maricilda.

Os menores foram sempre bem acolhidos.

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PAULO FREIRE COMO REFERÊNCIAFRANCISCO GENÉZIO LIMA DE MESQUITA

Francisco Genézio foi motivado pelo pai a arrumar um emprego. Sua mãe procurou a Associação de Educação do Homem de Amanhã, a “Guardinha”, onde passou por um treinamento. Após um mês já pegou o uniforme, o que era raro, pois na maioria das vezes os menores ficavam por um ano antes de receber o uniforme. Seu primeiro emprego foi em uma drogaria, onde permaneceu por apenas um mês.

Começou a questionar e exigir seus direitos desde muito cedo.Voltou para a Guardinha e uma semana depois a coordenação o enviou

à Unicamp, no ano de 1983.Foi encaminhado à Faculdade de Educação. Passou por várias fases,

atendimento ao público, entrega de processos, banco para pagamentos de professores e funcionários. Fazia um trabalho básico, que não exigia tanto sacrifício.

Os guardinhas daquela época tinham um olhar de perspectiva profissional. Ao completar 18 anos os jovens passavam por um concurso básico, exame psicológico e psicotécnico para serem contratados. Esse processo aconteceu com Francisco Genézio, que na época preocupava-se muito mais em ganhar o seu salário do que investir em seus estudos.

Onde trabalhava existia muita gente gabaritada, inclusive Paulo Freire, que sempre tinha umas 50 pessoas com o desejo de falar com ele. Genézio achava isso muito interessante. Não tinha a ideia, naquela época, de procurá-lo, mas achava incrível como ele se comportava e como se doava às pessoas.

“Era um professor que não tinha estrelismo, colocava-se no mesmo nível que todos. Quando despertei para esse olhar sobre Paulo Freire, comecei a me tornar mais humano”, comenta.

Passou a trabalhar por um período na Biblioteca, e pôde também verificar a importância de Paulo Freire.

O mais marcante foi quando Paulo Freire, por unanimidade, foi apontado como Reitor da Universidade, sem movimento político, apenas com sua forma de agir e ser.

Trabalhando na Biblioteca, passou a servir os alunos em suas pesquisas, e começou a obter mais conhecimentos.

Resolveu montar uma Biblioteca Popular em seu bairro, que era muito carente, e deu o nome de “Paulo Freire”. Chegou a falar com o educador, foi até sua casa para lhe pedir autorização com relação a dar seu nome à biblioteca que havia criado. Para sua surpresa, o educador concordou. Francisco se emociona ao dizer: “Foi a experiência mais marcante da minha vida!”

O projeto foi bem estruturado, para poder trabalhar com as diferenças existentes no local. Ele ressalta: “Achei que uma biblioteca poderia ajudar na

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formação das crianças e mudar o triste quadro de criminalidade, evasão escolar e drogas existentes na comunidade”.

A unidade, que nasceu na sala de sua casa no Jardim Santa Rosa, periferia de Campinas, já expandiu para outros sete bairros e está prestes a surgir em Hortolândia, com apoio da prefeitura local.

Francisco se recorda que certa vez sua biblioteca foi roubada, mas como sabia quem eram os assaltantes, levou a polícia até eles e conseguiu resgatar seus livros.

Sempre foi um homem persistente e de coragem. Montou depois uma Rádio Comunitária. Já estava cursando a Faculdade de Educação. A maioria dos livros de seu acervo da Biblioteca Popular foram doações através da Unicamp.

Francisco Genézio sempre se envolveu com movimentos que lutam por causas sociais e que se preocupam com os menos favorecidos.

Dedicou-se a área de educação, no período de 2003 a 2009, e passou a viajar pela América Latina para propagar seu trabalho com a formação das bibliotecas populares.

Teve uma feliz experiência, entre tantas outras, quando seus três filhos cantaram em espanhol junto a uma cantora cubana. O intercâmbio com Cuba e Peru abriu muitas portas a Genézio, e através do reconhecimento de seu trabalho, ele e a Universidade receberam títulos de cidadãos cubanos.

Atualmente é técnico em Biblioteconomia, e se formará na Faculdade em 2010. Seu trabalho de conclusão de curso é relacionado a bibliotecas populares, bibliotecas na periferia, espaços de leitura em postos de saúde e em hospitais públicos de Campinas. Montou também bibliotecas itinerantes.

Genézio é determinado e voltado aos benefícios sociais. Seu trabalho é reconhecido e de grande importância. Conclui dizendo: “Sou grato à Unicamp e também a Paulo Freire”.

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REALIZADO E NUNCA ACOMODADOGILMAR DIAS DA SILVA

No dia 7 de julho de 1988, Gilmar ingressou como mensageiro na Unicamp, aos 15 anos. Seu pai era funcionário da Universidade na época (agora já está aposentado) e lhe avisou sobre a inscrição para o processo seletivo.

Gilmar realizou a prova, passou e foi convocado pelo IEL (Instituto de Estudos da Linguagem).

Fato interessante ocorreu quando a Assistente Técnica da Diretoria, Vera Aggio (in memorian), escolheu Gilmar para trabalhar em sua área. Desde o primeiro momento houve uma identificação entre os perfis, a começar por ambos terem formação em contabilidade, ele como técnico e ela como contabilista. Houve uma boa receptividade e, como a Diretoria estava precisando de um mensageiro, Gilmar assumiu a função.

A Vera era ATU (Assistente Técnico da Unidade) de Gilmar no início de sua carreira. Hoje, por estar na mesma colocação que ela, percebe o quanto tiveram empatia, pois a relação entre eles sempre foi de muito respeito. Gilmar ressalta: “Vera foi um dos pilares da minha formação, tínhamos confiança mútua”.

Gilmar fazia serviço bancário de forma prestativa e ajudava a resolver os problemas com presteza.

Em 1991, aos 18 anos, foi convidado pelo Diretor Prof. Dr. Rodolfo Ilari a ser Secretário de Diretoria, fato inovador para os padrões da época.

Algumas secretárias e funcionários mais antigos ficaram admirados por existir um secretário. Fato curioso era quando ligavam de outros órgãos e setores e pediam para falar com a secretária, e quando Gilmar dizia que ele era o secretário, estranhavam muito. Porém, sempre foi respeitado e tratado cordialmente por todos, dentro e fora do IEL.

Gilmar, enquanto mensageiro, fazia todo o serviço bancário,considerava-se como um “solucionador de facilidades”, o que conquistou a confiança das pessoas.

Em 1995 foi aberto um processo de seleção interno, onde passou a exercer o cargo de Diretor de Serviço Administrativo. Assumiu esse cargo com 22 anos, fato raro novamente. Ficou por aproximadamente três anos e meio, quando passou a ser então ATU, em 1998, aos 25 anos.

O “gerente geral” normalmente é alguém acostumado com o setor, com envolvimento na área, afinidades com as pessoas e suas trajetórias. Como já estava aliado à equipe, houve apoio de todos.

Está como ATU há 12 anos, com o privilégio de atuar na Universidade, passando por diferentes gestões de Direção. Gilmar faz sempre o seu melhor, trabalha diariamente para cumprir sua função de forma completa.

É graduado em Administração de Empresas, com ênfase em Marketing,

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formado em 1999.Participou da primeira turma piloto do PDG (Programa de

Desenvolvimento Gerencial), entre 2006 e 2008, considerado um curso de Pós-Graduação lato sensu, na Unicamp. Considera ser um programa muito importante, que vem nivelar a questão de visão estratégica e sistêmica dentro da Universidade.

Gilmar está na administração do IEL desde quando ingressou, inclusive enquanto mensageiro. Acabou sempre convivendo em um ambiente de diretoria.

Desde que passou a exercer um cargo de influência de decisões, sempre se preocupou em garantir o cuidado com os funcionários e suas trajetórias.

Busca o melhor para as pessoas, entendendo a relação de trabalho, as normas da Unicamp e o convívio com os docentes, alunos e funcionários. Dando orientações gerais, procura garantir o bem-estar de cada um dentro da Universidade.

É o atual presidente da CSA (Comissão Setorial de Acompanhamento de RH), que é uma comissão fundamental no cuidado com o profissional, seus direitos e deveres na Unidade. Faz parte da Câmara de Recursos Humanos, desde 1999, quando ela foi criada.

Lembra-se de um fato curioso que ocorreu: existia o Gil, ATU em 1992, e o Gilmar (ele), Secretário do Diretor, e por inúmeras vezes aconteceram confusões com relação aos nomes, na hora de abordar certas questões e pendências. Algumas pessoas confundiam quem era quem, principalmente nos contatos com órgãos da Reitoria.

Tem amigos da época de mensageiro e costuma dizer: “A Roseli e o Cláudio são pilares de plena confiança, digo que fazemos parte de um tripé”. São amigos inclusive fora da Universidade, as famílias se conhecem.

“Com a Creuza, minha antiga chefe, tenho uma amizade muito especial! Também são amizades muito valiosas, conquistadas ao longo dos anos de convívio em diferentes gestões, as que tenho com Rodolfo Ilari, João Wanderley Geraldi, Raquel Fiad, Maria Augusta e Alcir Pécora, este com uma integração fantástica e de total confiança nos últimos quatro anos à frente da Direção”.

Gosta de futebol, de andar de bicicleta e de ouvir música clássica, inclusive toca violino. Tem uma vida regrada e muito boa. É casado, tem um filho de 15 anos e sua residência é em Monte Mor. Sente-se um homem realizado, porém sempre aberto a novas realizações.

E conclui: “Defender o IEL é algo que priorizo, pois trabalho para realizar o melhor. As contratações para os cargos são definidas por mérito profissional, e isso garante a qualidade do trabalho desenvolvido na Unidade em que cresci e tanto aprendi em 22 anos de serviço na UNICAMP”.

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FILHO OU IRMÃO MAIS NOVO?HAROLDO BATISTA DA SILVA

Aos 10 anos, a mãe o levou até a Instituição dos Patrulheiros, onde fez um treinamento. Em seguida, aos 11 anos, começou a trabalhar em uma loja na cidade e aos 14, ingressou na Unicamp, onde está desde 10 de julho de 1975.

Naquela época, já ouvia de outros patrulheiros que era muito bom trabalhar na Unicamp e que existia a possibilidade de permanência após a maior idade. Então, como queria ser registrado, solicitou à Instituição sua transferência e, por sorte, conseguiu tal solicitação.

Iniciou sua caminhada profissional no IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas), no Departamento de Linguística, onde foi recebido como um filho ou como um irmão mais novo. O relacionamento no setor era muito bom.

Lembra-se que para chegar ao Instituto teve que caminhar através da Unicamp por ruas onde ainda havia muito mato. O departamento tinha vários outros menores, por isso faziam muitas brincadeiras entre eles. Uma delas era o futebol entre professores e funcionários; eles jogavam bola, no final do expediente, no gramado do balão do Ciclo Básico, o que ele achava muito bom.

Recorda-se de um episódio engraçado que ocorreu com o grupo do futebol: o diretor tinha uma chácara e convidou os patrulheiros para passarem o dia. Jogaram bola, almoçaram e depois foram ao pomar comer frutas no pé.

Passeando pela casa da chácara, ao entrarem em uma sala, viram que havia uma garrafa sobre a mesa e acharam que era água, mas ao beberem, descobriram que era cachaça: “Só se via meninos cuspindo!”

Haroldo salienta a importância do vínculo entre funcionários e professores naquela época, e conclui: “Havia uma interação bem saudável e um ambiente muito bom entre nós”.

A partir de 1975, vários professores do departamento de Linguística resolveram criar o IEL e, em 1977, foi criado o Instituto de Estudos da Linguagem, quando os antigos funcionários do Departamento de Linguística (IFCH) foram incorporados ao IEL, inclusive Haroldo, que costuma brincar: “Sou anterior ao IEL, vi o Instituto nascer e ajudei a construí-lo”. Várias foram as funções exercidas por Haroldo. Foi registrado como mensageiro. Depois foi para o Laboratório de Línguas, como auxiliar de laboratório; depois ajudou um senhor na manutenção do Instituto, como reparador geral; foi para a Biblioteca trabalhar como auxiliar. Passado um tempo, a diretora, Deise, incentivou-o a fazer Biblioteconomia.

Em 1988, foi fazer Biblioteconomia e se formou. Como já trabalhava na Biblioteca, permaneceu no setor e em 1991 passou a ser bibliotecário.

Várias pessoas foram muito importantes e o incentivaram em sua trajetória. Entre elas: a amiga Esmeralda, a Vera e a Deise, que lhe deu o “empurrão” em relação aos estudos e é também uma grande amiga. Outra

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pessoa que lhe deu muita força foi o Prof. Carlos Franchi: “Foi um dos primeiros diretores do IEL, uma pessoa fantástica”, completa Haroldo, que sempre busca criar motivação para trabalhar e renovar as amizades, com bons relacionamentos que promovam bem-estar no ambiente de trabalho.

Toda a parte profissional e afetiva foi vinculada à Universidade. Por ter ingressado tão novo, sua vida toda foi cercada por pessoas ligadas à Unicamp. Costuma dizer que o “vínculo é total com a Unicamp e com o IEL”. Sua companheira, Carmem, também trabalha no IEL.

Haroldo considera que “caminhar junto com o crescimento do Instituto foi algo muito marcante”, e ressalta a importância do vínculo que a Universidade criava com os patrulheiros, a questão do registro em carteira e as oportunidades oferecidas, proporcionando um futuro aos jovens e diz: “Abriam espaço para as pessoas estudarem e se qualificarem profissionalmente, o que era muito bom!”

Ele afirma ainda que considerava a Instituição “Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas” rígida, pois era regida por um sistema quase militar. Desfilavam, tinha que manter o uniforme impecável, o cabelo cortado, a farda em ordem e o sapato engraxado. Havia muito rigor e se cobrava muita disciplina.

Recorda-se que certa vez dois meninos foram punidos, pois fizeram algo que não estava de acordo com as regras e foram obrigados a passar por um corredor onde pessoas batiam e davam “cascudos” neles. Esse fato marcou, por ser algo brusco e violento. Todos ficavam com medo, mas ao mesmo tempo aprendiam a respeitar as regras.

O funcionário Haroldo é muito agradecido à sua mãe: “Foi muito importante que minha mãe tenha me levado à Instituição dos Patrulheiros, pois me encaminhou na vida! Valeu a pena, sou muito grato ao Patrulheirismo e à Universidade pelas oportunidades!”

Haroldo Batista em solenidade de formatura do curso de Biblioteconomia da PUC - Campinas

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A HISTÓRICA CAIXA POSTAL 1170HUMBERTO CARLOS OLIVIERI FILHO Humberto ingressou na Unicamp em 25 de novembro de 1968, aos 16

anos, como office boy, matrícula 180. Não pôde ser jogador de futebol, como era seu sonho, e nem avançou

nos estudos, pois começou a trabalhar muito cedo para ajudar no sustento familiar.

Lembra-se do uniforme que usava e que, ao final do expediente, a camisa branca estava rosada, devido à terra vermelha da região.

Começou a trabalhar com o responsável por toda a mão de obra de pessoal, sendo um setor cheio de responsabilidades. Sua função era entregar vale-combustível, no depósito do Almoxarifado. Era o “braço direito do chefe”.

Em 1970, já como auxiliar, mudou-se para a Reitoria, localizada na Av. Barão de Itapura.

No mesmo ano, foi felicitado com o prêmio de um “bolão”, pois acertou o maior número de pontos. Ajudou na construção da casa do pai, com parte do dinheiro.

Com a sorte a seu favor, Humberto novamente ganhou um prêmio, acertou na loteria, fato que o deixou muito feliz, pois pôde ajudar muita gente.

Em 1972, passou a ser auxiliar da Gráfica. No início de 1973, trabalhou como faxineiro da Faculdade de Engenharia.

Nesse cargo teve uma experiência desagradável. Partiu em defesa de duas funcionárias que estavam sendo injustamente agredidas verbalmente por um chefe, e isso quase lhe custou o emprego. Apesar do episódio, teve novas oportunidades e, ainda em 1973, passou a auxiliar de eletricista, na Manutenção.

Seguiu para o setor de Protocolo e ficou na DGA por 25 anos. Separava e entregava os jornais e revistas nos departamentos. A caixa postal 1170 era de sua responsabilidade, de onde retirava os documentos e os trazia à Unicamp e à Santa Casa. Era o responsável pelo malote.

Certa vez, uma pessoa estava no Centro Cirúrgico e precisava de um medicamento que seria entregue através da Viação Cometa. Humberto aguardou até duas horas da madrugada, quando o medicamento chegou, para poder entregá-lo ao hospital e atender o paciente.

Em 1974 foi chamado para assumir uma agência de correio, como funcionário da Unicamp. Participou de como seria a montagem da agência, permaneceu por um tempo, porém não assumiu o cargo, pois tinha parentes que trabalhavam em correios.

Um episódio marcante em sua curta permanência na Agência do Correio foi quando ocorreu um assalto; homens vestidos com jalecos brancos de médicos apontaram uma arma para sua cabeça e exigiram dinheiro. Houve tiroteio, mas ninguém se feriu. A diretora de Humberto, ao presenciar a cena,

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desmaiou.Outro fato interessante foi quando ganhou três concursos de criati-

vidade, na época do Natal. Em 1993 chegou a ser apelidado de “Joãozinho Trinta”, pois fez um lindo enfeite. Recebeu vários elogios, ganhou um troféu por sua criatividade, porém não ganhou o concurso, e ainda teve a sua filmadora roubada.

De 1995 a 2010 está fazendo parte de uma comissão responsável pelo evento do campeonato para funcionários de futebol society, juntamente com Armando e Fubá; seis campeonatos já foram realizados.

Num desses jogos, Humberto levou um chute de seu colega João Batista, que é alto e forte, numa disputa de bola. Acha graça ao comentar: “Fui arremessado a uma altura enorme”.

Ao longo de sua vida, sempre procurou fazer o bem e ter amigos.Lembra-se que na época do CAF foi feito um contrato com o Ceasa, no

qual os alimentos que não fossem vendidos seriam repassados ao setor. Ele ia até o Ceasa e retirava frutas, verduras e legumes e os trazia para doar entre 180 famílias cadastradas, que retiravam os alimentos semanalmente, sempre com a sua organização.

Há 15 anos está entre o CAF e o GGBS. E conclui: “Desde 2008 eu poderia me aposentar, mas tenho prazer e orgulho de poder continuar trabalhando na Universidade”.

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Grupo de amigos em 1974: Sidney Roberto de Lima, Luiz Carlos Correa e Eurípedes Lima Tavares, com Terezinha Ribeiro.

Grupo de amigos em 2005: Sidney Lima Tavares, Humberto Carlos Olivieri, Luiz Carlos Correa e Eurípedes Lima Tavares.

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TRONCO HUMANO E CAMUNDONGOSISABEL CRISTINA ARAÚJO FLORIANO

Isabel entrou como mensageira na Unicamp aos 15 anos, em 3 de abril de 1986. Foi encaminhada ao setor de treinamento da DGRH (Diretoria Geral de Recursos Humanos), na área de secretaria, que capacitava os profissionais da Universidade inteira. Hoje é a DPD (Diretoria de Planejamento e Desenvolvimento), dentro da DGRH.

Ficou na DPD até 2006, seguindo para a DAP, onde ficou um ano, trabalhando com processo de estagiários.

Está desde dezembro de 2007 na Secretaria do PRODECAD (Programa de Integração e Desenvolvimento da Criança e do Adolescente).

Em 1987, com os rumores de que mandariam embora os menores por conta da nova Constituição, Isabel participou de sua primeira comissão, que com a ajuda do sindicato, pleiteou para que os menores permanecessem na Universidade. O Reitor da época firmou um compromisso de ficar com os menores, que ao completarem 18 anos seriam absorvidos, pois já tinham registro em carteira, e a partir de então só seriam contratados patrulheiros.

Sempre, a partir daí, participou de várias comissões, pelo Conselho Universitário, que foi eleita por várias vezes, representando os funcionários da Área de Administração da Universidade, foi membro da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e hoje é membro do Conselho Gestor do GGBS.

Sempre teve uma vida ativa dentro da Universidade, participando de vários movimentos em prol dos funcionários. E ressalta: “É gostoso poder trabalhar em benefício dos funcionários, com a responsabilidade de representá-los. Acredito ter feito um bom trabalho”.

Vários foram os momentos inusitados vividos dentro da Universidade.Lembra-se do curso que um fisioterapeuta ministrava aos funcionários

da limpeza, e que para as aulas eram necessários ossos do tronco trazidos da Anatomia. Pediram então para que Isabel, enquanto mensageira, fosse buscar um tronco humano, já que o funcionário responsável por isso tinha faltado. Quando ela chegou para pegar a peça, o responsável pelo setor abriu a porta e veio ao seu encontro, era um senhor com a pele muito branca, os cabelos brancos, todo vestido de branco e que caminhava lentamente. O lugar cheirara a formol e o ambiente era inquietante, cheio de pedaços de esqueletos, mas o senhor era muito simpático, queria conversar e mostrar tudo. Entregou-lhe o tronco e quis lhe mostrar outra coisa. Ao abrir a porta, Isabel avistou um caixão. Mais que depressa saiu correndo, sem olhar para trás. Tremia e chorava muito, afirmando que nunca mais voltaria naquele setor.

Em outro dia, foi enviada ao Biotério, onde ficavam os ratinhos. Chegou para entregar a programação de treinamento e ninguém aparecia. De repente começou a escutar um barulho esquisito e procurou algo que justificasse

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o ruído, sentindo pavor. Quando olhou ao seu lado, viu uma caixa cheia de camundongos, saiu correndo novamente, dizendo que nunca mais voltaria ali.

Isabel se recorda, com pesar, de certa vez que chegou ao setor que trabalhava e seu supervisor tinha mudado sua mesa de lugar, estava virada para a parede. Tentou falar com o chefe para entender a situação, mas como se não bastasse a terrível atitude inicial, ainda a destratou.

Isabel chorou muito, mas teve ajuda e apoio. E comenta: “Devo muito às pessoas que trabalharam comigo, que me apoiaram e acolheram, principalmente no início da minha carreira”.

Atualmente é profissional de administração, formada em Administração de Empresas. Obteve o reconhecimento da Universidade. Chegou a ser supervisora.

Foi inscrita e apoiada pelo ProSeres.Tem o reconhecimento dos colegas, é muito conhecida e se sente muito

respeitada dentro da Universidade. Já representou os funcionários junto ao Consu, para isso foi votada de forma expressiva.

Sente-se formada como pessoa, criou valores que a transformaram num ser humano melhor. “Tudo que vivi tanto de bom quanto de ruim me fez crescer como pessoa e como profissional”, comenta.

Pôde levar para casa coisas boas que aprendeu na Unicamp, e possibilitar uma vida melhor às suas irmãs menores e, posteriormente, aos seus dois filhos. Eles inclusive puderam usufruir dos benefícios educacionais da Unicamp, o que considera de grande valor.

“Agradeço a minha família que sempre esteve presente. Olhar para trás e verificar o tanto de coisas que foram realizadas e conquistadas é motivo de orgulho para mim! É uma honra participar da vida da Universidade, principalmente no que diz respeito aos direitos dos nossos trabalhadores”, conclui.

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TRIPLO ALMOÇOIVALDO MONTEIRO DE SOUZA

Ivaldo, desde muito jovem, sempre quis trabalhar. Inscreveu-se então no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas, aos 13 anos de idade. Fez um cursinho, uma espécie de “prova” e passou. Seu primeiro emprego foi no Pão de Açúcar, onde ficou por apenas dois meses. Depois, uma pessoa da Instituição dos patrulheiros o encaminhou à Unicamp. Foi para a DGA, que depois passou a DGRH, em maio de 1982. Em outubro de 1983 foi registrado como mensageiro.

Passado algum tempo, houve uma reforma administrativa, e foi encaminhado para a Engenharia Civil, em 1989, permanecendo até 2002. Recebeu então um convite e foi para a AEPLAN (Assessoria de Economia e Planejamento), onde ficou por um ano e meio, e depois foi para a DGA cuidar da parte de orçamento. Posteriormente, para a Biologia, por dois anos, e atualmente está no IEL, é administrador de orçamento, mas cuida do Almoxarifado e Patrimônio.

Quando começou como patrulheiro, Ivaldo, como todos, era muito jovem e, em certos momentos, a falta de maturidade determinava seu comportamento. Episódios como quando chegava a almoçar três vezes no mesmo dia. Às 10h30 da manhã, logo que abria o Restaurante, já estava na fila para almoçar. Depois, comia no horário normal, ao meio dia e meia e, por último, às 14h. E comenta: “Os dias que tinha feijoada e sorvete eram os melhores!”

Recorda-se de uma chefe que o chamava através de uma campainha, e ele saía correndo para atendê-la. No início atendia no primeiro toque, mas depois, com o tempo, deixava a campainha soar várias vezes, e dizia que não ia atender, pois estava cansado. “Era coisa de moleque”, justifica Ivaldo.

Quando terminou o colégio, trabalhava durante o dia na Unicamp e depois foi trabalhar com produção de jornal, dobrar e empacotar jornais. Sentiu vontade de fazer faculdade em 1995, porém, o dinheiro não dava. Trabalhou e se esforçou bastante para conseguir se formar em Administração de Empresas. Sua chefe Naira Zutim Sangali foi uma grande incentivadora para que continuasse a estudar. “A Naira foi importante pra mim e me deu muito apoio”, conclui.

Um amigo que Ivaldo nunca se esquece é o Silas Yoshioka Dias, que não está mais na Unicamp, mas deixou saudades, pois infelizmente não têm mais contato: “Fico emocionado quando me lembro do Silas, pois foi um grande amigo da época dos patrulheiros”.

Outro grande amigo é o Robson Andes de Oliveira Kaneko, que também não está mais na Unicamp, mas ainda mantém contato. Ivaldo o considera muito e recorda que devido à sua inteligência, ganhou vários prêmios.

Gosta de jogar futebol, brinca em alguns campeonatos do sindicato ou do GGBS. Gosta de bater papo com os amigos e tomar uma cervejinha. Tem um

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filho de nove meses e outros dois maiores, que inclusive frequentaram a creche da Unicamp.

Ivaldo conclui, dizendo: “Sou grato a tudo que sou e conquistei por intermédio da Unicamp. Devo tudo à Unicamp”.

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DISCO VOADOR NO ALMOÇOJACQUES GAMA

Jacques sempre trabalhou muito. Antes de entrar no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas trabalhou em uma fábrica, que era perto de sua casa, atendia telefone e ajudava na reposição de materiais para árvores de Natal. Trabalhou na roça também. Formou-se patrulheiro em 1979, com 13 anos e foi trabalhar no Penido Burnier.

Passado um tempo, foi ao serviço social dos Patrulheiros e disse que não estava satisfeito no Penido, pois não havia a perspectiva de ser registrado quando completasse 18 anos.

Ficou sabendo então que a Unicamp oferecia a oportunidade de registro, e fez a opção por trabalhar na Universidade, onde ingressou em 24 de setembro de 1982, na Reitoria, no Gabinete do Reitor. Estava com 16 anos.

Recorda-se dos bons momentos vividos na época em que era patrulheiro.Participava dos encontros, tomava muito achocolatado com soja. Todos

os domingos, às 8h da manhã, aconteciam encontros na sede, e Jacques e seus amigos saíam às 6h30, pegavam o ônibus e seguiam a pé até a sede.

O sistema era rígido. Quando andavam com a jaqueta aberta, o sapato não engraxado ou qualquer outra irregularidade eram multados pelos graduados.

O cabelo tinha que ser cortado bem baixo, a farda sempre bem apresentada, em estilo militar, os sapatos engraxados (007), meia preta, o cordão tinha que ter o nó direitinho, se isso não fosse respeitado, era cobrada uma multa.

Os desfiles foram marcantes para Jacques, além das grandes amizades conquistadas.

Tem um amigo, Carlos Roberto de Souza, do Centro de Memória, que foi a primeira pessoa que encontrou quando chegou à Unicamp. Ajudou-lhe a conhecer a Universidade e lhe deu grande apoio. Wanderlei Pereira, do CAISM, também foi um grande amigo. Amigos que já faleceram, outros que não se encontram mais na Universidade, todos são lembrados com carinho.

Outras recordações lhe são muito agradáveis, e comenta: “A comida era muito boa! Tinha uma pizza muito gostosa, que chamávamos de “disco voador”, servida no almoço; o suquinho, o leite, a turma que se encontrava para um papo na Praça das Bandeiras, era tudo muito bom!”

Outra boa recordação da época como patrulheiro era a corrida das “Monarks” com bagageiro, a maioria de cor azul, do pessoal que trabalhava nas unidades. “Era divertido e não dá pra esquecer o ‘azulão’ das bicicletas”, diz ele.

Lembra-se com saudade da ordem unida. Muita gente desmaiava por fome, por fraqueza. Então, adotaram o leite de soja, de baunilha ou chocolate

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e serviam com biscoito.Várias foram as conquistas dentro da Universidade. Ficou um tempo no

Gabinete do Reitor, trabalhava na Assessoria, e como sempre teve facilidade com informática, foi convidado para trabalhar com mala direta. Foi então para o CAISM, onde ficou na Assessoria até 1990. “Praticamente inauguramos o CAISM, em 1986”, comenta.

Passou então para a área de Planejamento de Materiais, assumiu a supervisão do Almoxarifado por três anos, e foi para a área de Compras.

Surgiu uma vaga no departamento de Recursos Humanos, que acabou assumindo.

Inscreveu-se no curso para Técnico de Segurança do Trabalho, no Cotuca, em 2002. Era um grupo com apenas funcionários da Unicamp e foi a primeira turma a se formar. Em 2004 fez um processo seletivo para a DGRH, para técnico de segurança do trabalho.

É formado em Administração de Empresas. Atualmente trabalha com a integração de segurança de todos os novos funcionários, a parte de treinamento nas unidades, responde tecnicamente pelo HC.

Tem uma filha de 21 anos, e um filho de 7 que usufrui dos benefícios do programa educativo da Unicamp. A filha é ex-patrulheira. Jacques ressalta: “Participei, com emoção, da formatura de minha filha como patrulheira”.

Tem irmãos que também foram patrulheiros. Sua irmã que trabalhou por um tempo na FEAGRI, mas não se encontra mais na Universidade.

Algumas mudanças estratégicas ocorreram ao longo de sua carreira, e sonha em fazer Faculdade de Direito, que tinha começado, mas parou.

Procurou aproveitar as várias oportunidades que surgiram ao longo de sua vida.

Adora pescar, pelo menos a cada 15 dias faz uma pescaria, joga bola todo final de semana e adora caminhar. Faz aniversário junto com o filho, no dia 01 de julho, com quem gosta de colecionar álbum de figurinhas, tampinhas, bolas de futebol, carrinhos e motos.

Jacques conclui: “Surgir a Unicamp em minha vida, em 1982, foi excelente, fiz a escolha certa! Estou me realizando profissionalmente e pretendo me realizar muito mais!”

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O SAUDOSO ENSATURJAYME DE SOUZA FILHO

Jayme começou a trabalhar com 11 anos, pois queria ter condições de poder comprar suas próprias coisas. Estudava em um colégio estadual, localizado num bairro bom da cidade e tinha um amigo mais velho de classe, que já trabalhava e lhe ofereceu serviço. Aceitou e começou a trabalhar de madrugada, contrariando seus pais, que se preocuparam devido ao horário. Ficou por cinco anos. Comprava o pão e o leite para sua família todos os dias, e tinha dinheiro para seus consumos pessoais.

Quando estava com quase 16 anos já não queria mais trabalhar de madrugada, e resolveu ir até o Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas, onde fez sua inscrição. Foi do primeiro pelotão de 1979, na sede nova, na Av. das Amoreiras. Conseguiu conciliar o curso que fazia, com o estágio na Indústria Gessy Lever Ltda. “Esse momento começou a ser o marco da minha experiência com trabalho administrativo, pois era uma empresa muito séria, rígida e cheia de normas”, comenta.

Permaneceu na Gessy de abril de 1979 até 21 de outubro de 1980. Como estava prestes a fazer 17 anos e queria ser registrado, começou a

pensar nos amigos que trabalhavam na Unicamp. Ailton, Célio e João passavam no ônibus da Ensatur e ele achava o máximo. “Aquilo me fascinava!”, ressalta.

Foi então aceita sua solicitação para trabalhar na Unicamp. Mal sabia onde ficava a Universidade, mas no dia 22 de outubro de 1980 entrou no ônibus e seguiu para o campus. Quando resolveu perguntar ao cobrador onde era a Unicamp, ele respondeu que já estavam nela. Jayme desceu em frente à Faculdade de Engenharia de Alimentos e precisava ir até o departamento de Recursos Humanos.

Não sabia ao certo como se informar e, por sorte, encontrou seu amigo Mário, que já trabalhava na Engenharia de Alimentos. Pediu para que ele indicasse onde era o RH, e como já era hora do almoço, almoçaram e depois foram ao setor.

Jayme se recorda do susto que levou ao chegar no departamento de Recursos Humanos, pois as mesas tinham pilhas de processos e papeis.

Foi encaminhado para trabalhar na FEA (Faculdade de Engenharia de Alimentos), que coincidentemente era o mesmo local onde tinha descido do ônibus, ao chegar à Universidade. Jayme ressalta: “Minha ida para a FEA não poderia ter sido melhor”. Encontrou pessoas especiais, entre elas, Maria José Pereira, uma chefe que o ajudou muito.

Recorda-se de algo marcante do tempo em que era bem jovem e almoçava no Restaurante I com outros amigos. Em um dos dias da semana a sobremesa foi laranja, estava muito calor. Após o almoço, quando Jayme, Amaury, Wilson e Reinaldo estavam indo embora e desciam a Praça da Paz, avistaram uma árvore

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com um cacho de abelha enorme e resolveram tacar uma laranja nele, que caiu bem onde as pessoas transitavam. Saíram correndo e ficaram de longe olhando as pessoas que passavam e eram picadas pelas abelhas. Quando ele estava trabalhando em sua mesa, entrou um funcionário com o rosto todo inchado, transfigurado pelas picadas de abelhas, e muito bravo. O funcionário foi logo socorrido. “Analisando hoje, acho que foi pura maldade nossa, não tínhamos noção das consequências de nossos atos. Serviu de lição. Nunca mais fiz maldade nenhuma em minha vida”, conclui.

Em sua trajetória passou por diferentes funções. Ao completar 18 anos tornou-se escriturário, e depois secretário, num total de 16 anos na FEA.

Jayme faz questão de ressaltar o apoio recebido por dois professores, Theo Guenter Kieckbusch e Kil Jin Park, pessoas que o incentivaram a investir em seu potencial e lhe deram um impulso importante para que pudesse crescer na carreira.

Ao sair da FEA foi para o Instituto de Artes, onde está há 14 anos na coordenação de Pós-Graduação, cuja função até 2009 foi a de assistente técnico da Pós-Graduação. “É um trabalho bastante minucioso, porém muito gratificante também”, comenta.

A partir de 01 de julho de 2010 assumiu a função de secretário junto ao Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação, no Instituto de Artes.

Teve filhos gêmeos, Jayme e Jefferson, e o Leonardo, que hoje é estagiário dentro da Universidade. Com o apoio da mãe, Jayme direcionou seu caminho e se manteve na Unicamp, com um emprego muito bom e seguro. E faz questão de ressaltar: “Quero agradecer a todos e, em especial, à minha mãe, que me incentivou e apoiou, além de me aconselhar. Na Universidade tive inúmeras oportunidades e pude crescer profissionalmente”.

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MUITAS OPORTUNIDADESJESSÉ TARGINO DA SILVA A história de Jessé começa como a de muitos outros menores, que como

ele, vieram de famílias humildes, mas muito corretas, cujos pais, provenientes da zona rural, desde cedo precisaram inserir seus filhos no mercado de trabalho. No seu caso, isso se deu aos 12 anos de idade. Lembra-se, com carinho, do dia em que sua batalhadora mãe enfrentou fila na madrugada para fazer sua inscrição no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas. Essa iniciativa possibilitou toda sua trajetória profissional.

Teve a oportunidade de trabalhar na sede dos patrulheiros e depois foi encaminhado ao “Chapéus Vicente Cury”, juntamente com Carlos Luiz, seu amigo.

Como o sonho dos patrulheiros era ter registro em carteira, e isso não acontecia, Jessé e Carlos resolveram sair da empresa.

Com o apoio de seu pai, seguiu até a Instituição para comunicar sobre o desejo de ser desligado do Patrulheirismo. Ao chegar à sede, recebeu a notícia de que seria encaminhado à Unicamp.

Recorda-se do dia 1 de dezembro de 1983, quando ele, um jovem garoto fardado de azul-marinho, pedia informações de como chegar à Unicamp e, ao chegar, vendo aquele nome escrito com letras maiúsculas, como também era o seu significado, vista como uma Instituição de nome respeitado, uma grande “empresa”, e uma grande oportunidade, que deveria ser agarrada com “unhas e dentes”.

Fato curioso foi que seu amigo Carlos também foi encaminhado à Unicamp e ambos começaram a trabalhar no mesmo dia.

Por vezes Jessé se põe a pensar nas dificuldades que enfrentou, com a pouca idade que tinha. Ter que trabalhar de dia e estudar à noite, em escola da periferia, lugar perigoso, parando em ponto de ônibus já bem tarde, enfrentando muitos medos e desafios.

Entre tantas lembranças, recorda-se de momentos que constituíram sua trajetória.

Enquanto patrulheiro, desfilava, participava das reuniões e tinha grande acesso à sede, por ter trabalhado lá. Chegou a ser convidado para se graduar, mas não aceitou.

Como a dificuldade financeira era grande, muitas vezes fazia lanche no restaurante, na hora do almoço, para garantir o jantar; o pão com carne moída era considerado o melhor. Pegava das mesas as frutas esquecidas pelas pessoas e quando a sobremesa era gostosa, almoçava duas vezes no dia.

Quantas mangas, amoras e abacates foram saboreados, logo após as divertidas “colheitas” realizadas no campus.

Na hora do almoço, que às vezes se estendia um pouco, após uma

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manhã de muita responsabilidade e longas caminhadas para fazer os serviços bancários, de malote no correio e protocolos, nada melhor do que um bom descanso e muitas sonecas nas sombras das árvores da Praça da Paz. Nem sempre dava para dormir, porque às vezes a ocupação era ir até o chafariz do Básico ou até as lagoas para jogar pedaços de pão aos muitos peixes que havia, sem contar algumas pescadinhas escondidas, só com linha e anzol para o segurança não ver.

Jessé sempre foi muito observador, gostava de ver chegar os caminhões de boias-frias, que vinham fazer colheita na fazenda.

Viu também quase todos os prédios serem construídos e as mudas de árvores serem plantadas.

Na fila do banco, embora fosse momento de trabalho, era também de lazer. Lembra-se dos bate-papos agradáveis, onde falavam de futebol, das namoradas e outras intimidades. Frequentava as quadras da Faculdade de Educação Física.

Acompanhou a conclusão da obra do prédio do Hospital das Clínicas. Lembra-se de ter ficado admirado com o tamanho de algumas aranhas que apareciam no teto naquela época.

Ao completar 18 anos, apresentou-se ao serviço militar, mas por ser arrimo de família e também por excesso de contingência, foi dispensado.

Retornou então à Unicamp, já como oficial de administração, com um salário melhor, o que foi uma grande surpresa, além de um importante passo em sua carreira. Nesse mesmo período, casou-se.

Tempos depois, a área de “Apontamento de Cartão”, que muitos julgavam ser complexa, estava precisando de uma pessoa e Jessé se prontificou a ir como fiscal do Registro de Ponto. Ficou pouco tempo, até abrir uma vaga para comandar o mesmo setor, como supervisor.

Foi evoluindo e chegou a Diretor da Área de Administração de Pessoal do Recursos Humanos, onde trabalhou com profissionais com visão administrativa e operacional. “Ser corajoso, audacioso e ter atitude me ajudou muito”, ressalta.

Formou-se em Gestão de Recursos Humanos, o que possibilitou sua ascensão.

Fez muitos cursos, mas o que mais impactou foi o PDG (Programa de Desenvolvimento Gerencial), ministrado quase que 100% por pessoas da Unicamp.

Após 26 anos no HC, atualmente está no GGBS.Jessé gosta de se relacionar com pessoas, ajudá-las e aconselhá-las, e

costuma dizer que “ser um bom cristão o ajudou a ser um bom profissional, assim como ser um bom profissional o ajudou a ser um bom cristão”.

Ama estar em família; tem um casal de filhos, Rafael e Camila, que usufruíram da Escola Sérgio Porto, CECI e Prodecad. Lembra-se, com carinho, das diversas vezes que almoçou com sua esposa no Parque Hermógenes Filho Leitão.

Ao longo de sua trajetória, várias pessoas foram especiais. E Jessé conclui: “Agradeço a todos que tiveram significado em minha vida profissional,

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mas como não seria possível listar o nome de cada um, deixo minha gratidão na pessoa da Psicóloga, amiga, Maria Christina Mendes dos Santos Guaraldo. Agradeço a Deus por ter me aberto as portas, sou grato em todos os minutos da minha vida”.

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HASTEANDO NOSSA BANDEIRA JOÃO BATISTA DA SILVA FILHO

João Batista entrou no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas com 10 anos, em 1965. Ainda não existia a sede, a Instituição ficava na parte de baixo do Palácio da Justiça, no centro da cidade.

Chegou a exercer cargo de chefia nos patrulheiros, onde havia graduação, participava de reuniões e treinamentos dos mais novos. Foi graduado Sargento. Era um comando, com uma mulher e dois militares da guarda civil. João foi várias vezes em eventos, pois era convocado a ajudar no comando, montar acampamentos, barracas, organização e controle dos mais jovens. “Foi uma época maravilhosa”, relembra.

Tocava na fanfarra com mais outros amigos. Certa vez, em uma das apresentações, um dos patrulheiros, ao fazer uma manobra com o bastão do surdo, teve o rompimento da corda que, ao se soltar, atingiu outra pessoa. “Foi um grande susto”, recorda.

Seu primeiro emprego foi em uma metalúrgica, onde ficou por dois anos. Ia trabalhar de bicicleta, pois ficava próxima à sua casa. Porém, devido às mãos estarem machucadas pelo serviço duro, além da fuligem liberada pelo ferro, que não possibilitava que os machucados sarassem, resolveu sair.

Fez um contato na Instituição e comunicou seu interesse em seguir para outro lugar. Dias depois havia três envelopes, que significavam três novas empresas precisando de patrulheiros, a Bosh, a Mercedes e a Universidade de Campinas (nome da Unicamp na época). Outro colega patrulheiro escolheu primeiro e, a seguir, João Batista fez sua opção pela Universidade, onde ingressou em 03 de maio de 1968.

Ao ser encaminhado, mal sabia onde se localizava a Unicamp. Foi então à rua Culto à Ciência, nos porões do antigo Bento Quirino, onde fica o Cotuca atualmente. A parte de compras, setor que iniciou, localizava-se naquele prédio. Os diretores ficavam no Palácio dos Azulejos (antiga Sanasa), ao lado do Corpo de Bombeiros, no centro da cidade.

O trajeto que João fazia enquanto trabalhava era entre o Palácio dos Azulejos e a rua Culto à Ciência. Sua função era levar uma mala com documentos para serem assinados. A maior parte do tempo atuou fazendo serviço externo e pedido de cotação nas empresas.

Tempos depois, houve a transferência para a av. Barão de Itapura e, somente em 1970, o campus da Universidade começou a se formar. Existia o prédio da Reitoria, onde foram instalados a princípio. Posteriormente foi então construído o prédio da Biologia.

A Unicamp era um lugar descampado, com pouca construção e havia vários animais que vez ou outra apareciam. João chegou a ver cobras e jaguatiricas passeando pelo campus.

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Recorda-se que o “Tapetão”, como assim é chamada a rodovia que interliga Campinas a Barão Geraldo, era uma estrada de terra e quando chovia, somente ônibus conseguia passar.

Na sequência de sua trajetória profissional, foi para o HC (Hospital das Clínicas), a convite da Superintendência do hospital.

Sua carteira profissional foi assinada pelo Professor Zeferino Vaz, assim como a de Humberto Carlos, seu amigo.

Recorda-se de como as coisas eram precárias no início de sua carreira, não existia computador, e os documentos, as listagens para comparação de preços, medidas, etc. eram feitos manualmente ou em máquina de escrever especial, que era bem grande.

Um episódio que o marcou foi o caso de uma funcionária que ao fazer uma grade para compra de vidros, confundiu-se. Onde teria que colocar o nome da empresa “Valtecs”, escreveu “Valter”. Toda a planilha saiu errada, mais de 500 itens. “Ela chorou muito e teve que refazer tudo manualmente, além de aguentar as brincadeiras dos colegas”, recorda João.

Quando ainda era bem jovem, ele e os colegas tinham receio de alguns chefes considerados bravos. Várias tarefas solicitadas geravam ansiedade entre os patrulheiros, e um esperava o outro para ver quem executaria o serviço.

Muitas são as boas lembranças do início da carreira. Recorda-se que diariamente havia o hasteamento à Bandeira na

Universidade. Havia também o prazer de andar de bonde. Os patrulheiros tinham passagem livre, porém, não podiam se sentar. “Eu adorava passar horas no centro da cidade, era outra Campinas, como a dos filmes, dá muita saudade”, comenta.

Logo que entrou nos patrulheiros, tinha também o momento em que ficavam no Palácio da Justiça, uniformizados e de quepe, pelo menos umas três ou quatro horas por dia. Para não ficarem sem fazer nada, pois estudavam no período diurno, eram utilizados para fazer o controle dos semáforos. Os guardas civis eram os responsáveis e, no horário do almoço deles, os patrulheiros assumiam o controle.

No almoço, os patrulheiros que trabalhavam no centro da cidade seguiam de perua Kombi à Universidade, onde a refeição era gratuita.

Considerava o Patrulheirismo como uma família, pelo tempo que ficavam juntos.

Um episódio engraçado ocorreu em um jogo de futebol com o colega Humberto. “Fui atingido com certa ‘violência’ por ele num passe de bola”, lembra-se disso como uma grande brincadeira.

Atualmente é estatutário tem três carteiras profissionais, pois teve valorização salarial e reconhecimento. ao longo de sua carreira.

“Eu poderia estar aposentado, mas quero continuar trabalhando, conheço bem a minha área e sinto que tenho muito a oferecer”, conclui João Batista.

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TER TALÃO DE CHEQUESJOSÉ APARECIDO STELUTTI

Em 28 de novembro de 1983, aos 16 anos, José passou a trabalhar na Unicamp como mensageiro. Soube da inscrição para vagas através de um cunhado que era funcionário da Universidade.

A princípio foi enviado ao Centro de Engenharia Biomédica, mas como tinha outra pessoa que assumiria a vaga, seguiu para o Núcleo de Informática Biomédica (NIB), onde ficou até o início de 1986, quando completou 18 anos e foi servir o exército. Ao voltar do quartel, tinha outro mensageiro em seu lugar e ele acabou sendo enviado ao setor de Finanças.

Muitas são as lembranças da época em que era mensageiro. Recorda-se da alegria quando ele e seus colegas frequentavam a piscina da Universidade. Aproveitavam o horário do almoço, nadavam, arrumavam-se e logo voltavam ao trabalho. “Eram bons momentos de descontração”, conclui.

O dia de pagamento é uma das melhores lembranças que tem da época em que era mensageiro. Sentia-se importante por ser ainda tão jovem e ter talão de cheque.

Ele e os amigos recebiam o pagamento e imediatamente seguiam até um carrinho que ficava na esquina do banco e compravam amendoim. Subiam no circular interno e passeavam por Barão Geraldo comendo amendoim. “Era uma festa!”, ressalta.

José sempre se envolveu com o trabalho de forma positiva. Enquanto muitos se queixavam do serviço que prestavam, ele se divertia.

Relembra da fase em que foram desenvolvidas melhorias no setor de compras e enquanto várias pessoas reclamavam em uma reunião, achando complicado e ruim a nova forma, ele se levantou e disse: “Estou adorando e achando divertido todo mundo telefonando para cá, fazendo cobranças”. Todos o olharam assustados. Pôde aprender com diversas situações.

Teve grande crescimento profissional ao longo de sua trajetória. Trabalhou durante dez anos com custo hospitalar. Nos últimos dois anos, mudou de área, e atualmente é técnico administrativo, formado em Processos Gerenciais, com ajuda do ProSeres.

José gosta de sua área de atuação, e comenta: “Estou adorando a área de planejamento, é um setor dinâmico e gosto disso”.

Em sua vida profissional pôde contar com pessoas que lhe apoiaram, como foi o caso de uma secretária da época em que estava no NIB. Ela o ajudou muito, e chegou a cuidar de uma anemia que teve. José ressalta: “Quando a gente é jovem acaba sendo meio descabeçado, e essa secretária foi quem me colocou na ‘linha’. Sou grato a ela pelo apoio.” E conclui: “Meu ingresso na Unicamp foi algo excelente e agradeço por tudo”.

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UM ETERNO GAROTOJOSÉ CARLOS DE CAMPOS JÚNIOR

Quando começou a trabalhar na Unicamp, em março de 1977, tinha apenas 14 anos.

Pelo fato de gostar muito de futebol, chegou perguntando para outros jovens que ali se encontravam, quem era o “bom de bola”. Todos ficaram em silêncio, tentando entender onde José Carlos queria chegar com a pergunta, e ele, batendo no peito, brincou: “A partir de agora, o bom de bola será o garoto aqui!”

As pessoas riram muito, e por esse motivo, desde aquele dia, após vários anos de trabalho no IQ (Instituto de Química), seu apelido ficou marcado como “Garoto”, e é assim que é conhecido dentro e fora do Instituto, pela maioria dos amigos que tem na Unicamp.

Hoje, após dedicar boa parte da sua vida sempre trabalhando no IQ, pode tirar proveito do apelido de “Garoto”, pois brinca que seus amigos já estão mais experientes e ele continuará a ser o eterno garoto.

Achou a ideia do I Encontro de Funcionários ex-Menores Trabalhadores da Unicamp muito importante, e espera que muitos outros venham a ser promovidos. E conclui:

“Parabéns a todas as pessoas que colaboraram direta e indiretamente com essa brilhante ideia!”

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DIÂMETRO E PERÍMETROJOSÉ LUIZ LISBOA

José Luiz sempre via amigos da escola com o uniforme da “Guardinha” (Associação de Educação do Homem de Amanhã), e achava bonito.

Como havia a necessidade de ajudar no sustento da casa, o objetivo imediato foi seu ingresso na Instituição, que se deu quando tinha 12 anos de idade.

Trabalhou, inicialmente, em um escritório de advocacia no centro de Campinas, mas pediu para sair, pois queria ser transferido para Barão Geraldo, onde morava. Foi então encaminhado à Unicamp, em 1983, para a Engenharia Mecânica, sendo efetivado em 1984.

O emprego lhe trazia grande prazer. Achava o ‘bandejão’ uma delícia e confessa gostar até hoje.

José Luiz cultivou amigos, alguns inclusive desde a época da Guardinha. Outro convívio importante era com os professores. E comenta: “Sentia-me privilegiado por estar próximo a pessoas tão inteligentes”.

Sempre teve grande satisfação em trabalhar na Universidade e costuma dizer que não queria tirar férias, de tanto que gostava de trabalhar.

Trabalha atualmente em um dos maiores departamentos da Universidade, onde além de conhecer muita gente, sempre recebeu muito apoio.

Vários professores o ajudaram e influenciaram positivamente em sua profissão.

Um determinado professor sugeriu que fizesse Senai, em Valinhos, o matriculou e conseguiu sua dispensa na Universidade para poder estudar de manhã. Antes de se formar, o mesmo professor o colocou em um laboratório para estagiar.

Trabalhou como torneiro antes de ser transferido para um laboratório de ensaios mecânicos, onde o serviço era mais sofisticado. A mudança de função marcou bastante, inclusive porque foi fazer um treinamento nos EUA. Fez um intensivo de inglês e viajou em 1996. Ficou duas semanas, uma treinando e outra em férias. O professor responsável por sua viagem deu-lhe algum dinheiro para poder usufruir. “Não contava com essa oportunidade, mas aproveitei e fui torrar a grana em Miami”, brinca José Luiz.

Ele se recorda de um episódio inusitado na oficina que trabalhou teve um chefe muito inteligente, que já aposentou. Uma vez estava com várias peças redondas, de diâmetros diferentes, e barbantes à sua volta. Chamou um colega e falou sobre a relação do diâmetro e do perímetro, que tinha achado o valor de “três e mais um pouco” para essa relação. O colega lhe disse que isso já existia, que era o valor de (Pi), deixando-o muito triste, pois estava certo de que tinha feito uma grande descoberta. (Pi) passou a ser chamado de “Constante de Le” por eles do setor, para brincar com a “grande descoberta de Le”.

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Lembra-se de uma ocasião que ocorreu algo engraçado: José Luiz presenciou a conversa entre um chefe de setor na Engenharia Civil (já aposentado) e um jardineiro. O jardineiro, com toda a simplicidade, questionou que certa pessoa havia mudado as ordens anteriormente dadas, quando o chefe de setor explicou que a mudança tinha sido feita pelo diretor, o jardineiro, sem dar a mínima importância, perguntou: “Quem ele pensa que é?” O chefe respondeu para que cumprisse as ordens do diretor, porém não o repreendeu, pois entendeu ter sido uma atitude inocente. Tempos depois, José Luiz contou ao diretor o ocorrido e deram boas risadas.

Ao longo de sua carreira fez vários cursos de aperfeiçoamento. Fez curso de inglês no CEL (Centro de Estudo de Línguas) e também de ensaios mecânicos e estruturas de materiais. Atualmente é técnico em laboratório.

José Luiz conclui: “Sinto alegria por trabalhar na Unicamp. É tudo bem estruturado, arborizado, além de muito bonito!”

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PROJETOS PÓS-APOSENTADORIAJOSÉ LUIZ MOREIRA FILHO

José Luiz conhecia a Universidade desde 1967, pois seu irmão Paulo José Moreira entrou na primeira turma de patrulheiros da Unicamp.

Para conseguir trabalho imediato, fez a inscrição no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas, em 1970, e trabalhou de março a dezembro como porteiro do Edifício Itatiaia, elaborado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

Como achava que não daria certo continuar nessa função, pediu na sede para ser transferido, o que ocorreu em 12 de janeiro de 1971, quando ingressou na Unicamp.

Ao chegar na av. Barão de Itapura, onde ficava a Reitoria, com a carta dos Patrulheiros, tinha 15 anos e meio. Iniciou exercendo atividades na ET-GPS, onde ficou por aproximadamente seis meses.

Enquanto aguardava na diretoria de pessoal, o economista do ET-GPS, Antonio José Romão Neto, passou e o convidou para trabalhar. Perguntou-lhe se tinha curso de datilografia, e José respondeu que não. Como o serviço do escritório exigia, o professor acabou pagando o curso para ele, que aprendeu em três meses. José comenta: “Eu era bem tímido e comecei a trabalhar na raça”.

Foi se desenvolvendo, encaminhando processo, aprendeu a redigir ofício, etc.

Recorda-se do tempo que levavam marmita de casa, que era colocada em um recipiente ao lado da copa da Reitoria. A copeira era Da Ana Bulgarelli, que esquentava as marmitas, e as deixavam em banho-maria; na hora do almoço cada um apanhava a sua e almoçavam juntos no pátio. Após seis meses, a Unicamp colocou à disposição dos menores uma perua Kombi que os levava para o restaurante no campus universitário.

Na ET-GPS trabalhou de 1971 a janeiro de 1974, e de novembro de 1974 a abril de 1978.

Quem tinha uma boa formação, quando completasse a maior idade teria a oportunidade de mudar a função. Seria passado a contínuo porteiro.

Neste meio tempo, surgiu um concurso público na Unicamp para estagiário/escriturário. José Luiz pediu uma autorização para prestar o concurso, mas não foi aceito, pois seria uma exceção à regra.

Apesar de ter sido negado seu pedido, em 1973, quando completou 18 anos, recebeu um ofício que informava sua nova função, a de estagiário/escriturário.

Em 1974 serviu exército, chegou a ser Cabo. Com sua ausência, foi pedida uma substituição, e o patrulheiro que ficou em seu lugar foi Edison Cardoso Lins.

Optou por voltar para a Universidade, mesmo com a oportunidade de seguir carreira no exército e o salário sendo o dobro.

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Começou a trabalhar na parte técnica, fazendo orçamento, no GGBS. Passou a ser escriturário e depois oficial de administração.

No período de 1974 a 1977 trabalhavam com máquinas de escrever, datilografavam grandes relatórios e enviavam a São Paulo.

José discutia muito com o pessoal de fora, da fazenda, os assuntos de interesse da Universidade.

Em 1978 passou na Unicamp, em Ciências Econômicas (RA 780514). Como não havia curso noturno, precisou abandonar. Estudou até 1985, levou algumas matérias, mas perdia aulas e provas, pois tinha que trabalhar. E lamenta: “Não conclui o curso, e hoje sei que faltou maturidade para tomar decisões. Eu podia ter pedido um afastamento para estudar, mas tentei fazer as duas coisas juntas e não consegui, era humanamente impossível”.

Em 1978 começou a trabalhar no IEL, na parte orçamentária, com muita habilidade em lidar com o pessoal devido às suas experiências anteriores.

Foi para o Almoxarifado, Patrimônio, Compras, tornou-se encarregado de setor, supervisor de sessão e trabalhou na Diretoria de Serviço, onde mantinha muito contato com as pessoas da Diretoria.

Em 1971, logo que José entrou, havia o Sr. Hugo Crespi, um diretor de contabilidade de São Paulo, que recebeu o apelido de “Conde”, pois existia o “Conde Rodolfo Crespi” na época, e todos brincavam com isso.

Em 1977 tinha o Nelson Malessi, que cuidava da parte de expediente e estudava hebraico. Ele dava para cada office boy um apelido. José Luiz achava muito interessante um chamar o outro pelo nome em hebraico.

José Luiz acredita que existia um objetivo comum entre os funcionários da Unicamp e que todos aplaudiam as promoções e o sucesso dos amigos. Teme que atualmente não aconteça exatamente dessa forma.

Em tempos atrás, os diversos setores tinham o intuito de que a Universidade se desenvolvesse da melhor forma. Havia a preocupação em fazer com que a Universidade crescesse, seguindo a legislação e seus interesses. Objetivo esse que acredita ter sido alcançado.

Lembra-se que participou das primeiras discussões para a construção da creche, houve reivindicações para que ela acontecesse.

Outra lembrança foi a greve de 1979, que havia muita repressão. Foram vaiar e jogar ovo quando o governador Maluf chegou à ferroviária.

Pessoas especiais passaram em sua vida. Teve como colega de trabalho Dª Ana Bulgarelli, lotada na mesma

unidade, e a Srta. Ester Marçola Mendes, que trabalhava na mesma seção que ele; em determinado momento houve a saída de uma e a mudança da outra. Após alguns anos, em 1995, ao entrar na FEEC reencontrou a Srta. Ester Marçola Mendes, e passou a ter como colega de trabalho, lotado na mesma unidade, o Sr. Antonio Oriente Contarelli, esposo de Dª Ana Bulgarelli, fato esse que julga ser uma grande coincidência da vida.

Em 1995 entregou o cargo de diretor de serviço e pediu transferência. Fez várias entrevistas, passou a trabalhar na Engenharia Elétrica, na área de compras, onde permanece até hoje como comprador.

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Fez Economia na PUCC, até o quinto ano, mas não pegou o diploma por não ter feito a monografia.

Formou-se em 2003, em Tecnologia em Recursos Humanos, pela FAC. Na colação de grau recebeu uma homenagem, um certificado de melhores notas e maior frequência da turma. Fez Pós-Graduação em Recursos Humanos.

Muitos são os agradecimentos que José Luiz faz questão de registrar: “Sou grato ao ProSeres, que me ajudou com o desconto para pagar a faculdade e também ao SAS, que através do desconto oferecido, pude comprar minha prótese de ouvido. Agradeço ao professor Romão, pois foi quem me proporcionou crescimento profissional e econômico, e me deu oportunidade”.

Está em fase de conclusão de uma pesquisa sobre os portadores de necessidades especiais e o processo de inclusão. E conclui: “Sonho que, após me aposentar em 2011, eu possa estudar para criar uma agência de Recursos Humanos para encaminhamento dos portadores de deficiências ao mercado de trabalho”.

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VIABILIZANDO SONHOSJOSÉ RODRIGUES DE OLIVEIRA

Rodrigues, como é conhecido, era guardinha e prestava serviço na Santa Casa de Campinas que era, naquela época, o braço logístico do Hospital das Clínicas, através de parceria − uma parte era da própria Santa Casa e a outra do Hospital Irmãos Penteado.

Prestou um concurso para mensageiro, e começou na Unicamp em 30 de outubro de 1984, aos 14 anos de idade. Ingressou na FEC (Faculdade de Engenharia de Campinas), mais especificamente na Biblioteca das Engenharias.

Acha engraçado quando se recorda do fato dele tão novo, tímido, magro, com uma mecha no cabelo, entregar documentos de setor em setor.

Viu a Universidade crescer e acha interessante ter ocorrido todo esse avanço tecnológico e ainda estar em andamento e, de alguma forma, fazer parte desse movimento.

A Profa Francisca, da Elétrica, o incentivou a estudar. É grato a ela por isso.

Formou-se em Geografia pela PUCC, em 2001. É como ele avalia uma grande conquista. Resultado de muita luta e esforço. Hoje, além do trabalho na Unicamp, é professor da rede estadual à noite. Ciente da importância da educação, é pai zeloso, assim acompanha, atento, a filha nas tarefas escolares da mesma. Tem também orgulho pelo fato de uma sobrinha, aluna da Fatec, uma instituição púbica paulista de ensino superior, certamente se inspirando no tio, até então o único de uma família digna e lutadora, a ter curso superior.

Trabalha no GGBS (Grupo Gestor de Benefícios Sociais), onde realiza parcerias com faculdades e escolas para promover ações educacionais e incentivar pessoas a estudar − de preferência na Unicamp −, mas como nem sempre é possível, há o incentivo para outras instituições também. Então, contratos são firmados a fim de reduzir custos, para que os funcionários possam se formar em cursos de graduação e outras etapas. Rodrigues ressalta: “O ProSeres, implantado pelo Prof. José Tadeu Jorge junto com uma comissão de funcionários, a qual gerencio há cinco anos, viabiliza o sonho para que as pessoas possam estudar, com um custo menor”. Isso possibilita algo diferenciado para que amplie o número de funcionários qualificados e com nível superior, a principal meta do programa.

Rodrigues relaciona-se muito bem com os funcionários da Unicamp. Têm pessoas importantes que agregaram valores e conhecimentos à sua carreira e vida. Procurou sempre preservar seus ideais e princípios.

Conquistou seu espaço honestamente, valorizou buscar as oportunidades e não ganhá-las de “mão beijada”. Como costuma dizer: “O importante é ter força de vontade para superar os desafios. Tem hora que baqueamos, mas é sempre possível dar a voltar por cima em todos os aspectos”.

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Preza a religião e a família, e ressalta: “Se você se fortalece nesses dois pilares, o resto é consequência do trabalho e do dia a dia”.

Uma de suas maiores alegrias foi quando conseguiu se formar. “Quando você busca um sonho e consegue realizá-lo, é muito bom! A graduação mudou minha vida, foi verdadeiramente um diferencial”, enfatiza.

Está em fase de conclusão do Mestrado na área de Planejamento Energético, na Engenharia Mecânica, um braço da Geografia que estuda o meio ambiente e as questões da energia no país, tema contemporâneo e recorrente.

Acredita que através do estudo é possível realizar um trabalho melhor, o que julga ser muito gratificante.

“É bom viabilizar sonhos para as pessoas, e o meu trabalho possibilita isso”, conclui.

A formatura em 2001, pela PUC - Campinas. O sonho de José Rodrigues de Oliveira, depois de muita luta, se viabiliza e traz orgulho para a família.

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ESPAÇO PARA VIOLÃOJOSEFINA ELIANE RIBEIRO Conhecida pelo apelido de “Lilica”, Josefina começou desde muito cedo

a trabalhar. Aos 12 anos, seu primeiro emprego foi em uma loja de quadros. Através de uma amiga, soube da inscrição para o Patrulheirismo.

Após o término do curso de um mês, ingressou na Unicamp, na Faculdade de Engenharia Mecânica, onde permaneceu por 15 anos. Começou no Xerox e na Encadernação. Tempos depois, passou a trabalhar na Pós-Graduação e depois na Secretaria.

Ao longo de sua trajetória, Eliane sempre fez boas amizades e contou com a ajuda de muita gente.

Cleuza e Silvana, da Engenharia Mecânica, foram amigas bem especiais, também foram patrulheiras, e Soraia, do HC (Hospital das Clínicas), grande amiga, sempre a apoiou nos momentos difíceis.

Já no CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher), trabalhou na Recepção e, posteriormente, no Agendamento de Consulta no HC, onde se encontra atualmente.

Quando ainda patrulheira, teve grande influência de alunos que a ajudaram a estudar e a realizar seus deveres, além de incentivos dos amigos que a fizeram adquirir o gosto pela leitura. Pôde aprender computação e secretariado, entre outras coisas.

Recorda-se que quando era patrulheira, no horário de almoço, tocava seu violão azul, na Praça da Paz.

Uma lembrança que marcou sua trajetória foi o fato de que todos os meses, quando recebia seu salário, como tinha muito medo de ser assaltada, escondia o dinheiro em suas meias, dentro dos sapatos “757 da Vulcabrás o ‘salarinho’ era sagrado, metade era pra minha mãe e a outra pra mim”, comenta.

Lilica passou por situações especiais ao longo de sua vida e, com muita fé, viveu momentos de emoção, afeto e solidariedade.

Certa vez, trabalhando no Agendamento de Consultas, sensibilizou-se com um jovem paciente vindo da Bahia, que não tinha dinheiro e a abordou perguntando se conhecia um lugar baratinho para que ele pudesse ficar por uma semana, tempo em que faria os exames necessários para a realização de um transplante de medula óssea. Sensibilizada e não vendo outra saída, ofereceu-lhe sua casa, onde ficou por uma semana, juntamente com o irmão doador e o tio que veio para cuidar deles.

Uma semana depois, o paciente retornou à Unicamp para realizar a cirurgia e novamente Lilica o acolheu. Acompanhado de sua namorada e seu irmão, ficaram hospedados por aproximadamente um ano, tempo de duração do tratamento.

Houve uma paciente que também permaneceu em sua casa por longo

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período, devido a tratamentos realizados no HC da Unicamp. Vinda da Bahia, toda vestida de rosa (inclusive os sapatos), cheia de malas com comidas típicas, foi recebida por Eliane com afeto, e até hoje são amigas e se visitam.

Com enorme gratidão, Eliane conclui: “Desde o ônibus fretado, a refeição servida, as oportunidades, até as amizades conquistadas ao longo dos anos, tudo é motivo de orgulho. A Unicamp foi uma benção em minha vida”.

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QUASE EM XEQUE POR UM CHEQUE JOSEMAR RODRIGUES DE ANDRADE

Josemar nasceu em Recife/PE, casado, pai de dois filhos, adotou Campinas desde muito pequeno, mal se lembra dos poucos anos que passou em Recife. Considera Campinas a sua cidade.

Em 1981 entrou na Guardinha, tinha apenas 13 anos, não demorou muito estava sendo convocado para cantar o Hino Nacional para se formar na Guardinha. Tinha que cantar o Hino todinho na frente de um militar do exército, aposentado. Gaguejou muito e errou, pois na maioria das vezes era cantado por um grupo que se formava, e como ele tinha sido requisitado pela Unicamp, em função da mãe já trabalhar na Universidade naquela ocasião, tinha que cantar sozinho, pois apenas ele estava sendo convocado. Apesar de se embananar muito com o Hino, livrou-se do tão temido militar aposentado.

Dias depois estava indo para a Reitoria da Unicamp, cheguou junto com outro guardinha, a reitoria tinha convocado dois para o mesmo dia. Foram atendidos pela secretária do Reitor, a Maria José Bueno da Silva, que em 1982 era o Dr. José Aristodemo Pinotti.

Ficou muito entusiasmado com a grandiosidade da Universidade, até então nunca havia pisado naquele chão.

“Por sorte minha (na época não sabia se era sorte ou azar) a Maria José era esposa do Antônio Bueno da Silva, que na ocasião era o administrador financeiro do Centro de Pesquisas e Controle das Doenças Materno-Infantis de Campinas, Cemicamp. Não sei que critério a Maria José usou para mandar, segundo ela, o “melhor” guardinha para o Sr. Bueno, então eu fui o escolhido”, ressalta Josemar.

Isso aconteceu às 9h da manhã, ele tinha que se apresentar ao Cemicamp às 14h do mesmo dia. Pegou um ônibus, foi para o centro e ficou fazendo hora no trabalho da mãe, que era no Raio-X do Hospital, na ocasião a área médica era toda na Santa Casa, atrás da prefeitura.

O Cemicamp, para quem não conhece, é um centro de pesquisas sem fins lucrativos, que tem membros da Unicamp em seus quadros de diretoria, mantém convênios com a Unicamp/CAISM; na ocasião, funcionava em uma casa alugada no Cambuí, na Rua Guilherme da Silva, 75.

Josemar, desde muito pequeno, já demonstrava muito interesse por máquinas, ferramentas e tudo que fosse equipamento. E logo no início, começou a fazer tudo o que era tipo de manutenção de máquinas de escrever e outras máquinas que tinham no Cemicamp.

No começo foi um pouco difícil, a diretora era a Dra Ellen Elizabeth Hardy, mais conhecida como “Dona Ellen”, nascida na Argentina, tinha um forte sotaque. Havia também a Maria Fé de Algaba Fernandez, argentina e de sotaque ainda pior. Logo se acostumou ao “portunhol”.

Recorda-se que a Maria Fé tinha um carro da Volks, uma TL, muito velha por sinal. Conta: “Ela, vendo minha destreza com máquinas e ferramentas,

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pediu-me um favor. Queria que eu olhasse o para-choque de seu carro, estava quase caindo. Por fim, abaixei-me no carro e fiz o reparo, apenas tinha todos os parafusos soltos; lembro-me de estar abaixado no carro quando passou uma senhora e quis saber o que eu estava fazendo ali. Rapidamente expliquei, visto que a senhora perguntou em tom ríspido, achando que estava fazendo algo errado com o carro”.

Já há algum tempo trabalhando como mensageiro, achava-se um expert no assunto. Certa ocasião, esta mesma Maria Fé pediu para levar um cheque. Ficou irritado, pois ela fez dezenas de recomendações para ter cuidado com o cheque, visto que não estava nominal e nem cruzado. “... ficou me perturbando com aquilo. Pensei comigo: já levei cheques maiores e ninguém me encheu tanto, o que é que essa ai está preocupada? “A partir desse dia, serviu como um alerta”.

Pegou uma pastinha, levou entre outras coisas o dito cheque; após uns 3 Km, olhou para trás e viu um homem já se levantando e percebeu que ele tinha pego algo do chão... Caminhou mais um metro, e resolveu abrir a pasta.... Cadê o cheque? Havia perdido o tão recomendado cheque...

Mais que depressa voltou e teve a impressão de ter sido pelo cara que se abaixou. No começo este relutou, disse não ter pego, mas depois de Josemar muito insistir, mostrar a carteirinha da Unicamp, ele devolveu. O resto do trajeto prosseguiu mais do que abraçado com a pasta e por fim o cheque chegou ao seu destino.

Como o Dr. Pinotti era o Reitor da Unicamp e, ao mesmo tempo, Presidente do Cemicamp, conseguiu um novo local para abrigar o Cemicamp. A Cruzada das Senhoras Católicas, em prédio então pertencente a Unicamp, que fica próximo a parte de trás da CPFL, da Avenida Anchieta.

Neste período já era mensageiro da Unicamp, e não mais guardinha; ficou menos de um ano como guardinha em seguida a Unicamp o incorporou como funcionário da casa.

Logo no início, estando na cruzada, recorda de um fato. Iria acontecer o Congresso da ALIRH (Associação Latino-Americana de Investigadores em Reprodução Humana), no Brasil e como Dra Ellen e o Dr. Faundes eram membros da Alirh, eram os organizadores. Nesta ocasião teve muito trabalho no Cemicamp para que as coisas acontecessem, tudo ao gosto da Dra Ellen Hardy, que era extremamente exigente. Ficou encarregado de organizar os slides dos participantes, tudo tinha que estar pronto para que na hora do palestrante falar, os slides já estivessem no carrossel e pronto para projeção. A reunião aconteceu no Novotel, que hoje tem outro nome, próximo à Rodovia D. Pedro, entrada para o bairro Padre Anchieta. “Tudo era novo para mim, as comidas, o clima no hotel que nunca havia presenciado... Recordo-me que um determinado dia o Dr. Faundes apareceu no hotel de shorts, camisetas e tênis, ia se preparar para mais um dia de palestras, ele acabara de chegar da corrida integração. Fiquei abismado ao ver que ele, com aquela idade, ainda corria maratonas”, ressalta.

Ia trabalhar de ônibus, descia no terminal que hoje é um prédio da Guarda Municipal no centro, ia caminhado até perto do final da Avenida Anchieta, uma distância boa, mas como era mensageiro de centro de cidade, estava acostumado. Em dias anteriores, no hotel experimentou várias comidas que não era acostumado. Resultado: ainda no ônibus queria ir logo ao banheiro,

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e do bendito terminal até o Cemicamp na Cruzada, foi uma verdadeira tortura... “Ia segurando o intestino ao máximo que podia... Cheguei a sentar por várias vezes nas guias da rua para ver se dava uma aliviada, caminhava novamente... E fui aos trancos e barrancos, faltou pouco para não dar tempo de pegar a chave e ir para o banheiro do Cemicamp...”, relembra.

O último dia de reunião internacional foi uma verdadeira festa. Danças, comes e bebes à noite toda com uns 15 ou 16 anos, dançando no meio dos gringos e com as gringas. Nunca pensou que iria passar por uma experiência como aquela.

Da cruzada, a única reclamação que tinha era que o almoço chegava muito tarde, pois vinha do restaurante da Unicamp em marmitas, até fazer o almoço no campus da Unicamp, colocar tudo nas marmitex, só chegava após às 13h.

Pelo menos a cada duas semanas tinha que se deslocar do centro até a Unicamp; os guardinhas e patrulheiros eram atendidos por psicólogas, fazia parte da rotina, como um acompanhamento. Hoje em dia encontra com a psicóloga, na Unicamp, que o atendia na época.

Uma recordação daquela época quando ia à psicóloga, é que às vezes era necessário cruzar todo o HC, para cortar caminho entre a rampa do Hospital e a Reitoria, pois não tinha aquelas ruas laterais que tem hoje. Era um prédio enorme, em obras, passava por corredores escuros e sem ninguém. “Era amedrontador!”, relembra.

Neste período, o limite da Unicamp era a rua em frente a rampa do HC, acima dessa rua era matagal, não pertencia ainda à Universidade.

A proprietária do terreno ia doar esse restante da área para a Unicamp. Uma pequena parte foi doada ao Cemicamp, certamente através do Dr. Pinotti. Atualmente está ali instalado, sendo talvez a única área dentro da Unicamp que não pertença a ela, tanto que tem um estacionamento particular.

Passou certo tempo e a construção da sede do Cemicamp ficou pronta, que está localizada no último piso do prédio, como mantém um convênio com a Unicamp, o térreo é usado para a área de Planejamento Familiar, o andar do meio é usado pela Casa de Repouso, onde ficam algumas pacientes do CAISM, parte de trás do prédio está a Policlínica e a frente é hoje ocupada para um laboratório particular.

No tempo do prédio da Cruzada das Senhoras Católicas, o Cemicamp entrou na era dos computadores. Conseguiu comprar um, de marca mais moderna, visto que a maioria era de grande porte, a própria Unicamp tinha uns que ocupavam salas inteiras, com refrigeração a água.

O Cemicamp comprou e o Dr. Anibal Faúndes também comprou um para uso particular, em sua residência. Diz Josemar: “Foi contratada então uma pessoa para “comandá-lo”. Eu, apenas um mensageiro, não tinha nem como chegar perto daquilo, embora minha curiosidade fosse tanta, e nada mais me interessava, até que eu pudesse por a mão naquilo e saber como funcionava ...com o passar do tempo, fui aprendendo algo aqui e ali sobre essas máquinas de tela preta e letras verdes.... Em pouco tempo passei a ser um usuário e ensinava outras pessoas a usar”. Depois disso, o Cemicamp comprou mais alguns computadores.

No novo prédio, antes mesmo de completar 18 anos, deixou de fazer

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trabalhos de mensageiro, foi trabalhar na parte administrativa do Cemicamp, cuidava de frequência, folha de pagamento, etc... Mas não era o que gostava, seus olhos estavam voltados para os computadores. Passou então a trabalhar meio período na Administração e após o almoço era funcionário do setor de Informática, que na ocasião estava se expandindo, tendo passado por ali vários alunos de Computação da Unicamp. Acabou indo trabalhar em definitivo na Informática.

Numa segunda-feira, já devia ter uns 23 anos, chegou cedo para trabalhar, subiu as escadas, chegando ao último andar, onde fica o Cemicamp, encontrou as duas portas que dão acesso as corredores, fechadas, achou bem estranho, forçou a abertura, mas estavam trancadas. Não chamou por ninguém; desceu deparou com dois homens subindo, querendo saber se ali estavam abertas, e quem era ele. Respondeu que estavam fechadas e que tinha acabado de chegar. Esses dois homens tentaram entrar no banheiro, ambos fechados, desceram então. Josemar começou a achar a situação um pouco estranha. Voltou para o andar de cima, para o Cemicamp, agora tentando abrir a porta do lado da Administração e Presidência. Abriram a porta e o puxaram para dentro rápido, dizendo que tinha ladrões escondidos no prédio. Eram aquelas caras com os quais havia cruzado no corredor. A polícia subiu para o andar de cima, achando que o prédio havia sido evacuado, porém algumas pessoas ficaram ali presas e acuadas. Viu que alguém forçava a porta, identificaram-se como policiais. A porta foi aberta lentamente, tinha uma meia dúzia de policiais fortemente armados. Por fim, os marginais foram presos. Passado o susto, voltara à rotina.

Reconhece que a experiência no Cemicamp foi muito importante para ele, um grande formador de opinião, responsável pelo seu desenvolvimento intelectual e o grande incentivador para que apostasse na educação como instrumento para que atingisse seus objetivos. E diz: “Devo muito a eles e guardo um carinho especial pelo Prof. Dr. Aníbal Faúndes, nunca conheci profissional como ele! Outra pessoal especial para mim no Cemicamp foi a Profa Dra. Ellen Elizabeth Hardy, que faleceu em março de 2010”.

Graduou-se em Matemática pela Puc-Campinas, mas sempre traba-lhando com computação. Partiu para uma especialização em Sistemas no Instituto de Computação da Unicamp. Resolveu que deveria colocar os estudos em prática e deixou o Cemicamp para ir para a Informática do CAISM. Já era mesmo funcionário do CAISM, apenas emprestado ao Cemicamp.

No CAISM, desenvolve sistemas para a gestão do hospital, para o atendimento médico, internações agendamento com o objetivo de desburo-cratizar, agilizar e eliminar papéis. Usam ali as últimas tecnologias de desen-volvimento de sistemas, lado a lado com a iniciativa privada no tocante a sistemas e redes de computadores. Avalia Josemar, “que com uma vantagem, por serem profundos conhecedores do próprio negócio, pois “não existem soluções prontas de sistemas para vender, é absurdamente caro, e a empresa teria que começar do zero”.

Casou-se aos 30 anos com Luisa, professora de Matemática. Nunca havia pensado em ser professor, mas certo dia resolveu experimentar e, assim, desde 1997, acumula o cargo de professor de Matemática e Física para o Ensino Médio na rede estadual.

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ATAQUE DE ABELHASJOSUÉ TABOSSI

Josué nasceu em Campinas, no dia 29 de setembro de 1970.Com 12 anos de idade fez o curso para ingressar na Associação de

Educação do Homem de Amanhã, a “Guardinha”. Através da indicação de seu pai, que trabalhava na Unicamp, foi admitido em 1982 pela Universidade.

Em 1983 passou a exercer a função de mensageiro. No mês de março deste mesmo ano, sofreu um acidente de automóvel, ficando preso entre as ferragens. Teve traumatismo craniano e passou por duas cirurgias. Foi desenganado pelos médicos, mas sobreviveu e ficou completamente restabelecido. Após seis meses, retomou suas atividades no trabalho e na escola.

Josué nunca se arrependeu de começar a trabalhar com pouca idade, pois julga ter sido importante obter responsabilidade desde muito cedo.

Quando completou 18 anos passou a fazer parte do quadro de carreia da Universidade, e em 1988 concluiu o Segundo Grau (atual Ensino Médio).

Fez estágio no Departamento de Eletrificação Rural na Faculdade de Engenharia Agrícola (FEAGRI), e em 1989 concluiu o Colégio Técnico em Eletrotécnica/Eletrônica. Tinha a expectativa de seguir carreira nessa área, mas como a remuneração (referência inicial) era incompatível com a responsabilidade, optou pela área de Informática.

Em 1992 passou a trabalhar no Núcleo de Informática do Hospital das Clínicas, onde trabalhou na Operação, contribuindo, entre outras atividades, para o desenvolvimento e implantação do sistema que gerencia todas as “Rotinas Batchs”. Em 2002 foi promovido a programador.

Concluiu a Graduação em Tecnologia de Informação em dezembro de 2005, e foi promovido a Analista de Sistemas em 2006.

Ocorreram vários fatos engraçados, mas Josué relembra dois que julgou serem marcantes. O primeiro foi quando era guardinha. Havia um cacho de abelhas sobre a porta de entrada do prédio da Administração. O Sr. Dario pediu a Josué que arremessasse uma toalha molhada e derrubasse o cacho. Como ele era um menino obediente, fez exatamente o que lhe foi pedido. Porém, aconteceu o pior. As abelhas atacaram os dois. Ele correu muito, mas o Sr. Dario não conseguiu, porque tinha dificuldades para caminhar e acabou levando muitas ferroadas no rosto. No dia seguinte, apareceu com o rosto engraçado, “parecia um unicórnio” com um dos olhos fechado.

O segundo fato engraçado também ocorreu quando ainda era guardinha. No departamento, usavam um pote de água com filtro. Josué pegava água de uma torneira no jardim externo, para encher o pote. O recipiente cheio de água, pesado, escorregou de suas mãos e ele levou o maior banho. “Fiquei encharcado e os colegas riram muito. Nunca me esqueci desse episódio”, comenta.

Muitos são os agradecimentos que faz questão de ressaltar: “Agradeço

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a Deus pela saúde e por esta porta que Ele abriu. Aos meus pais que sempre estiveram ao meu lado e me encaminharam desde cedo ao trabalho, à minha querida esposa, Luciane Franceschini Tabossi, que sempre me apoiou e me inspirou a desenvolver o sistema que é executado há 14 anos na Operação/CPD e aos meus colegas de trabalho, que colaboraram comigo”.

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FUTEBOL E PAGODE JURANDIR ROQUE DUTRA DA SILVA

Jurandir começou a trabalhar desde muito cedo. Sua mãe o inscreveu no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas.

Inicialmente trabalhou em uma gráfica na cidade. Depois, a assistente social dos patrulheiros indicou que tinha aberto uma vaga na Unicamp, para onde foi encaminhado. Seu ingresso se deu em 1981, aos 13 anos de idade.

Apesar de nunca ter ouvido falar sobre a Unicamp, aceitou o aconselhamento da assistente social. Foi então para a DGRH (Diretoria Geral de Recursos Humanos) com uma carta, não conhecia ninguém, mas com o tempo fez várias amizades. No setor que ingressou havia quatro menores. Foi fácil se adaptar.

Em 1983 foi registrado como mensageiro. Depois passou a escriturário e, posteriormente, a supervisor de setor.

Serviu exército e, ao retornar, ficou um tempo ainda como supervisor. Ao mudar de setor, passou a técnico administrativo. Tempos depois, quando foi para a Informática, assumiu a função de técnico de informática. Estudou, formou-se, e é atualmente analista de sistemas. Fez especialização na Unicamp e está há muito tempo na área de Rede de Computadores.

Jurandir contou com o apoio de pessoas especiais ao longo de sua trajetória. João Carlos Curti foi sempre um grande exemplo para ele, além de ter sido quem o motivou a retomar os estudos, pois pediu ajuda a vários professores e arrumou uma bolsa para poder concluir sua especialização.

Várias são as amizades adquiridas no dia a dia. Alceu, Amaral, José Emílio, Adagilson e Denise são alguns dos nomes, entre tantos outros, que compõem a lista de grandes amigos que cultivou. E completa: “Desde a época dos patrulheiros nossa amizade continua, e isso é muito bom!”

Várias são as lembranças de quando ingressaram na Unicamp.Havia árvores frutíferas na Universidade, e no horário do almoço

aproveitavam para apanhar várias frutas.Lembra-se dos bons tempos em que na hora do almoço jogavam bola.

Hoje pergunta aos patrulheiros como conseguem trabalhar suados, mas sabe que fazia a mesma coisa em sua época como patrulheiro.

Jurandir e seus amigos têm um time de futebol, jogam dentro e fora da Unicamp. Às vezes se reúnem na casa de um ou outro para um churrasco.

Um fato que marcou bastante foi o falecimento de seu grande amigo, Rogério Fernandes, que teve câncer. Todos gostavam muito dele, era do grupo, jogavam bola e estavam sempre juntos.

Jurandir é muito grato à Unicamp, e ressalta a importância dos benefícios educacionais proporcionados aos filhos de funcionários. Tem um casal de filhos,

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e sua filha utilizou o Prodecad, o que julga ter sido muito positivo.Algo interessante que vem acontecendo é que o grupo de amigos, ex-

patrulheiros, há uns três anos estão desfilando, usam uma camisa que mandaram fazer em homenagem aos patrulheiros. E completa: “Depois do desfile vamos para uma chácara, passamos o dia, as famílias se unem, curtimos um pagode e muita conversa. É bem legal!”

Jurandir acredita que é importante realizar o trabalho com alegria e manter sempre boas amizades. E conclui: “A Unicamp é considerada como uma família para mim. Passo a maior parte do meu dia dentro da Universidade, e procuro manter um bom ambiente de trabalho”.

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UMA MÃE POSTIÇALUCIANA RODRIGUES

Luciana entrou na Unicamp em 1988 como mensageira, estava com 14 anos.

Foi para a Engenharia Agrícola, onde permaneceu até 1999 e depois para a Faculdade de Educação, onde está até hoje.

Exerceu a função de mensageira até 1992, posteriormente passou por várias funções, trabalhou em RH bastante tempo, acompanhava algumas atividades de uma pessoa que assessorava a Direção e depois prestou um processo seletivo interno, indo para a Educação, num setor de eventos. Trabalhou 11 anos com eventos.

Vários acontecimentos interessantes permearam suas atividades.Um episódio que Luciana se recorda ocorreu em um evento onde D.

Paulo Evaristo Arns ia ser homenageado. Luciana e o mestre de cerimônias fariam juntos o cerimonial, dividiriam

a tarefa da leitura, devido ao extenso conteúdo a ser lido. Na hora do evento, com tudo pronto e certo, disseram que apenas um poderia fazer o cerimonial, pois aquilo não era o “Jornal Nacional” (no sentido de ter um casal a apresentar a cerimônia). Ficaram assustados, pois tudo estava ensaiado para acontecer com a leitura dos dois. No ínicio da cerimônia, o Reitor autorizou que ambos participassem. “Foi um stress, mas tudo acabou bem”, recorda-se ela.

Por um período de três anos, trabalhou na Prefeitura, pois foi requisitada. Ficou de licença na Unicamp para prestar o serviço. Trabalhou com crianças da rede pública, um universo diferente do que estava acostumada.

Vários foram os eventos que promoveu.Certa vez, no Largo do Rosário em determinada data, lanches seriam

direcionados às crianças, uma fila imensa se formou com moradores de rua, que queriam comer também. “Tive que falar com eles e dizer que os lanches estavam contados e não poderiam comer”, relembra.

Outra situação foi quando precisou arrumar comida para um evento com professores. “Tive que ‘virar’ marmitex para atender ao pedido”, brinca ela.

Teve apoio de diversas pessoas ao longo de sua carreira.Dalva Vianna Oioli (in memorian) foi uma chefe especial. Vários foram

os eventos e seminários em que levou Luciana, que faz questão de tecer uma homenagem: “Sou grata a ela por ter me encaminhado. Era uma pessoa incrível a quem tive grande carinho”.

Rosemary Pacheco Jardini foi alguém que a incentivou, inclusive pagou algumas mensalidades da faculdade, em um período difícil. Luciana costuma brincar que ela é sua “mãe postiça”.

Várias pessoas confiaram em seu potencial e lhe deram “carta branca”

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para trabalhar de sua maneira.Rosemary Passos é uma grande amiga, que frequenta sua casa e Roberta

Pozzuto é como uma irmã. “São pessoas próximas e temos uma relação íntima”, enfatiza.

Enquanto mais nova, Luciana era tímida e retraída. Gostava de dar pão aos peixes, deitava na grama para descansar e dormir. Lia bastante. Gostava de almoçar no “bandejão”.

Continua amando ler, e brinca que “viaja através dos livros”. Gosta de escrever para amigos, já escreveu diversas poesias. Gosta das relações pessoais, principalmente de entregar cartas em mãos para amigos.

Já participou de corais da Unicamp, pois adora cantar.Viajou para diversos lugares através da Unicamp. “Sempre procurei

abraçar as oportunidades”, conclui. Sonha também em estar num trabalho mais rotativo, como, por

exemplo, voltar a trabalhar com eventos. Vários foram os acertos e erros ao longo de sua trajetória, mas julga ter

crescido com as dificuldades e críticas.É formada em Administração. Começou outras faculdades, mas não

concluiu.Há três meses é assistente técnico da Pós-Graduação. E comenta: “Minha

vida está agitada, mas está sendo muito bom, estou gostando”. Um momento que considera importante foi o evento que reuniu os

funcionários que ingressaram ainda jovens na Universidade, e estão até hoje. “Foi um encontro marcante, que deixou registrada a escolha que todos nós fizemos pela Unicamp. Construímos a história da Universidade, e valeu a pena”, ressalta.

Várias foram as reuniões da comissão para que este projeto pudesse ser realizado. Luciana faz questão de salientar: “Edison Lins, Rodrigues, Jessé, Claudir, Bel, Aguinaldo, Luis Carlos, Gilmar Dias e eu formamos a equipe da comissão, responsável para que tudo acontecesse da melhor maneira possível, o que nos dá muito orgulho”.

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PSICOLOGIA E TEOLOGIALUCIENE RODRIGUES DE OLIVEIRA BORGES

A história de Luciene com a Unicamp teve início antes mesmo de ela ser contratada, pois sua mãe já trabalhava no Restaurante da Universidade e ela se recorda de muito cedo participar das festas juninas, festas de final do ano e outras atividades que aconteciam por lá. Juntamente com os filhos dos outros funcionários, brincava no “RU” naquelas ocasiões.

Lembra-se de quando era adolescente, com 15 anos, que um dia pela manhã sua mãe telefonou em casa para avisar que estavam selecionando mensageiros na Unicamp e perguntou se ela queria participar. Luciene foi fazer a prova e a entrevista juntamente com outros dois colegas da rua onde morava, porém apenas ela e mais um foram chamados para trabalhar, a terceira não.

Iniciou o seu trabalho no dia 20 de maio de 1986 no HC. Deveria trabalhar no Serviço de Protocolo, mas o Engº Reinaldo, diretor da Divisão de Engenharia e Manutenção do HC – DEM soube da chegada de vários mensageiros naquele dia e negociou com a Meire, diretora do Protocolo, para deixar uma trabalhar lá na DEM, já que o Carlos tinha completado 18 anos e, portanto, não seria mais patrulheiro. E assim foi que Luciene caminhou pelos corredores imensos do HC com o Reinaldo até seu novo local de trabalho. Foi bem recebida pela Beyla que seria sua chefe imediata e pelo Carlos a quem iria substituir. As ansiedades, medos e susto do primeiro dia foram dando lugar a uma tranquilidade e alegria de trabalhar ali, aprendeu muito com aquelas pessoas, fez grandes amigos. Tempos depois, o Carlos e sua esposa Noêmea se tornaram padrinhos do seu casamento, mesmo não mais trabalhando juntos na ocasião.

A convivência e interação entre os jovens mensageiros eram positivas, a DGRH promovia a prática de esportes entre eles no espaço físico da Faculdade de Educação Física, recorda-se que os meninos jogavam futebol e as meninas vôlei, havia a participação de mensageiros de todas as unidades do campus.

O grupo daquela época 87/88 se articulou e formou a Comissão de Mensageiros da Unicamp, na qual o Alexandre era o presidente, a Evelyn vice e a Luciene também fazia parte. Essa comissão tinha o objetivo de articular os mensageiros; para isso criaram até um “jornalzinho informativo” chamado “The Mensa”. Luciene conta que até era legal o “The Mensa”, que ela ajudava a escrever. Na primeira página costumava ter um texto mais sério, para refletir, depois algumas informações, fofocas e até uns quadrinhos, tudo elaborado pelos próprios mensageiros. Um fato muito marcante para ela foi uma manifestação que fizeram em frente à Reitoria, na qual reuniram grande parte dos mensageiros e conseguiram algumas conquistas. Ela se recorda: “Optamos por fazer algo organizado, uma manifestação silenciosa, apenas com cartazes, e deu certo, fomos até elogiados e recebidos pela direção. É engraçado que o marcante foi à forma da manifestação, porque o que a gente estava pleiteando

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mesmo eu nem me lembro mais”.Em 1989 prestou vestibular para Psicologia e, tendo passado, achou que

teria de pedir demissão porque o curso era integral. Entretanto a direção da DEM permitiu que Luciene trabalhasse à noite, fazendo inserção de informações no sistema de ordens de serviços, para que ela pudesse cursar a sua faculdade. Não foi fácil estudar no período da manhã e tarde, correr pra não perder o fretado e trabalhar à noite toda, mas valeu a pena o sacrifício e esforço. Por esta possibilidade de estudar que lhe foi dada, Luciene se diz muito grata.

Logo após ter se formado em 1994, recebeu um convite para ajudar a realizar as avaliações psicológicas dos grandes concursos públicos que eram abertos principalmente para a área de enfermagem do complexo hospitalar da Unicamp. Mesmo assustada com tamanha responsabilidade de aprovar ou reprovar um candidato do concurso, Luciene aceitou o desafio e foi trabalhar, a princípio, temporariamente na Diretoria Geral de Recursos Humanos – DGRH/Recrutamento e Seleção, mas um ano depois foi transferida definitivamente do HC para aquela área, a qual lhe proporcionou um grande crescimento profissional como Psicóloga. Teve a oportunidade de fazer vários cursos de aperfeiçoamento e inclusive algumas disciplinas de mestrado na Unicamp.

Em sua trajetória pessoal sempre gostou de se envolver e ajudar em comunidades carentes. Foi a partir do desenvolvimento do seu lado espiritual e religioso que participou de alguns projetos nesse sentido, tanto em Campinas como em outros estados do Brasil (Minas Gerais e Rio de Janeiro, por exemplo) e até em países da África, como Moçambique. Comenta que teve a oportunidade de conhecer pessoas e culturas muito diferentes, tanto ricas em países da Europa, quanto bastante pobres no Norte, Nordeste do Brasil e também em vários países da África. “Esse fato por si só já gera uma grande transformação em qualquer ser humano, a gente passa a enxergar a nossa realidade e os nossos problemas de forma muito diferente”, diz. Por acreditar que investir nesse lado era também importante e que poderia ampliar a sua visão de homem e de mundo, Luciene resolveu cursar Teologia, e se formou em 2004. Hoje utiliza esses conhecimentos e auxilia no desenvolvimento de alguns projetos em sua comunidade, pois entende que a igreja deva ter um papel de transformação das realidades sociais.

O seu local de trabalho, a DGRH, passou por muitas mudanças e transformações ao longo dos anos. O Recrutamento e Seleção deixou de existir dando lugar à Diretoria de Planejamento e Desenvolvimento, por isso o seu perfil profissional também mudou com o tempo. Deixou de trabalhar com os concursos, passou a realizar acompanhamento psicoprofissional e transferência de funcionários dos seus locais de trabalho. Essa atividade realizou por mais de dez anos, mas nos últimos cinco anos sua atuação profissional está bastante voltada para o desenvolvimento de pessoas e equipes.

Atuou como professora auxiliar do Salazar e Magda nas disciplinas de Cultura Organizacional e Relações Interpessoais do Programa de Desenvolvimento Gerencial – PDG turma 6; atua como facilitadora das relações de trabalho em setores que foram reestruturados; é professora do Programa de Excelência no Atendimento ao Cliente – PEAC; ministra oficinas de

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capacitação para preparar os gerentes para a chegada de novos funcionários, realiza a integração desses funcionários ingressantes; é uma das idealizadoras e coordenadoras do Programa de Preparação para Aposentadoria – PPA da Unicamp. Esta última é uma das atividades que mais gosta de realizar, e para a sua alegria, tem tido grande reconhecimento interno, por parte dos usuários, como também externo, pois através do site tem recebido pessoas e/ou e-mails de vários órgãos públicos e privados do Brasil inteiro parabenizando e desejando orientações sobre como realizar PPA.

Atualmente o seu trabalho lhe possibilita um olhar para quem entra na Universidade como também para quem sai, comenta que é muito interessante observar de um lado a juventude que tem chegado cheia de expectativas e sonhos e do outro, aqueles que têm se preparado para sair através da aposentadoria porque já “cumpriram” suas trajetórias na Universidade, tiveram muitas conquistas por causa dos seus trabalhos e se dizem gratos.

Conclui dizendo que assim como os seus pré-aposentandos, sente-se muito grata pelas oportunidades aproveitadas, conquistas obtidas, amigos que ganhou ao longo dos 24 anos de sua história na Universidade e pela possibilidade que tem de ver suas duas filhas crescendo e usufruindo dos programas educativos que tem aqui. A Unicamp é uma grande família!

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TROCAS ESTRATÉGICASLUCILIA CUSTÓDIO RIBEIRO

Lucilia foi para a Unicamp substituindo um guardinha, José Luis Lisboa, que tinha sofrido um grave acidente de bicicleta. Ficou um período trabalhando em seu lugar. Tinha 14 anos.

Depois foi embora da Universidade e voltou após longo período. Fez um concurso para mensageiro e foi para a Engenharia Mecânica em 1985, quando foi registrada como mensageira.

Trabalha no Protocolo, e inclusive auxi l ia os patrulheiros,ensinando-lhes o serviço. Dos seus irmãos, quatro passaram pela guardinha. A irmã foi a única

que passou pelos patrulheiros, e trabalha na Unicamp.Lucilia sempre teve amigos. Andando pela Universidade, atualmente,

encontra colegas que têm diferentes colocações, outros cargos e funções, e acha isso muito interessante.

A Cleusa Lima, a Eliane Ribeiro e o Rodrigues foram companheiros da época enquanto eram patrulheiros e guardinhas, e são amigos até hoje.

Naquela época, reuniam-se na DGA e trocavam documentos para agilizar o trabalho e poupar a caminhada. Direcionavam os documentos, para facilitar o trabalho entre os guardinhas amigos. Marcavam um horário e se encontravam para fazer a troca dos documentos a serem distribuídos.

Quando ia ao banco, outro menor revezava com ela no horário do almoço. Esperava o dia todo para realizar pagamentos e saques de docentes. Achava cansativo, porém gostava daquele momento e achava tudo muito divertido.

Lucilia acha necessário instruir os novos patrulheiros, mostrando-lhes o que é bom e ajudando em seu direcionamento. Por ter iniciado sua carreira como guardinha, acha importante mostrar aos jovens que estão começando, como hoje eles são mais amparados e têm melhores condições de trabalho. Acredita que naquela época havia maior rigidez e menos facilidades.

Lembra-se que realizavam as tarefas a pé, coisa que hoje em dia não acontece, pois os patrulheiros têm condução dentro da Universidade. Outra dificuldade era que não havia malote, tudo era no dia, na mão, era trabalhoso, mas mesmo assim cumpriam as tarefas. “Atualmente os patrulheiros têm mais informações e respaldo da lei, e é importante que tenham direcionamento”, comenta.

Apesar de oportunidades e convites para trabalhar em outros setores, Lucilia preferiu permanecer onde está, pois acha importante transmitir o que aprendeu aos que estão iniciando e dar continuidade a seu trabalho. E conclui: “Comecei na FEM e estou até hoje. Gosto do que faço. Quero também dizer que achei a ideia deste livro muito interessante. Tem muita história boa, engraçada e importante dentro da Universidade, e essa iniciativa de registrar os fatos foi muito bacana”.

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SECANDO PAPÉIS COM VENTILADORLUIZ CARLOS CORRÊA

Com quase 15 anos, Luiz Carlos estava tentando ser jogador de futebol. Chegou a ser jogador profissional, mas de segunda divisão.

Seu pai, preocupado em arranjar-lhe um emprego, fez sua inscrição no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas, e através da Instituição, foi encaminhado para trabalhar, inicialmente no Rotary. Como não registravam e Luiz estava prestes a completar 18 anos, resolveu sair. Foi então enviado à Unicamp, onde começou a trabalhar no dia 04 de outubro de 1971, ainda com 17 anos.

Entrou na antiga Coordenadoria (DGA, atualmente), era office boy da Administração Geral da Unicamp. Passados alguns meses, completou 18 anos e foi servir o exército. Quando voltou, assumiu a função de auxiliar de serviços administrativos, no mesmo setor que estava anteriormente. Permaneceu por mais ou menos três anos, até que sua chefe lhe pediu para que fosse suprir provisoriamente a falta de uma funcionária no Protocolo. Este eventual passou a ser permanente, período que durou 18 anos.

Na área de Protocolo teve grande crescimento profissional; passou a escriturário, escriturário I e II, encarregado de setor, depois a chefe de sessão e diretor de divisão, onde permaneceu por bastante tempo. Costuma dizer que “toda a carreira na Unicamp se deu nessa etapa”. Era autodidata, não tinha faculdade, mas gostava muito de informática.

Recebeu então o desafio de treinar um pessoal. Com seus conhecimentos de informática, foi para a Coordenadoria. Montou uma apostila, na área de informática, e começou a dar curso para os funcionários da Administração.

Julga a época em que foi patrulheiro como “uma fase boa”, mesmo que não tenha ingressado por vontade própria, procurou aproveitar as oportunidades e crescer com elas.

Teve dois amigos que também foram patrulheiros e, infelizmente, já faleceram.

Cláudio Jamaitis (chamado de “Alemão”) trabalhou na Unicamp, era um grande amigo. Jogavam bola juntos. Foram para Santos, entre outras viagens, para jogar bola, através da Instituição. “Deixou saudades”, lamenta Luiz.

Muitas são as lembranças do passado. Recorda-se de ter sido graduado dentro dos Patrulheiros, chegou a Sargento. Achava aquele período bom.

Entre muitos fatos ocorridos, lembra-se que tempos atrás a Administração da Unicamp era na av. Barão de Itapura, e o coordenador que ficava nesse prédio tinha que despachar com o Reitor, que se encontrava no campus. Era tarefa dos patrulheiros levar os processos a ele. No seu primeiro dia de trabalho chovia muito e o motorista da perua que foi buscá-lo parou fora da cobertura. Quando Luiz foi passar com os processos para entrar no veículo, derrubou tudo.

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Ao chegar à Universidade, não sabia ao certo o que fazer. Uma senhora que servia café o ajudou. Pessoas do setor ligaram vários ventiladores para secar os papéis. Da Dirce, a funcionária da área, o chamou de “filhinho”, disse-lhe para ter calma e o ajudou muito. Isso o marcou, devido à atenção e cuidado dispensados, inclusive por ninguém o conhecer direito, afinal, era seu primeiro dia de trabalho. E comenta: “Eu tremia igual vara verde. Tive sorte de encontrar pessoas que me ajudaram”.

Recorda-se de quando jogava na segunda divisão e a chefia o liberava para alguns jogos.

Certo dia, um funcionário que estava com dor de dente pediu para se ausentar do trabalho, mas não permitiram. Ele questionou por que “outras pessoas” tinham privilégios e saíam para jogar bola, e ele, doente, não podia. Com esse comentário, Luiz acabou sendo prejudicado. Sua chefe lhe pediu para tomar uma decisão, pois não poderia mais permitir suas saídas.

Aos 24 anos tomou a decisão de parar de jogar, o que julgou ter sido um dos momentos mais difíceis de sua vida, porém a coisa mais sensata a fazer. Não via grande futuro como jogador. E conclui: “Tomei a decisão certa, permaneci na Unicamp!”

Luiz tem um filho e uma filha, ambos casados e formados. O filho é engenheiro e trabalha na Engenharia Elétrica e a filha trabalha no Banco. Faz questão de dizer: “Um fato importante que quero registrar é que me tornarei avô de Daniel, em novembro de 2010, motivo de orgulho e alegria pra mim!”

Luiz recebeu incentivo de sua chefe com relação a cursar a faculdade, porém, devido às dificuldades da época, não pôde realizá-la. Independente disso, sente-se realizado.

Recordações engraçadas também fazem parte de sua trajetória profissional.

Sempre que entravam funcionários novos na Unicamp, no prédio antigo da Biologia (DGA), eram assustados pelos veteranos, que colocavam medo neles, dizendo que existia uma loira apavorante no banheiro. Também zombavam dos novatos, mandando pegar coisas que não existiam, como “chave de fenda para desentupir fios”, “caixa com papel carbono quadriculado”, etc. Luiz comenta que eram brincadeiras engraçadas e saudáveis que faziam na época.

É muito grato à Unicamp, pois tudo que tem hoje julga ter sido graças às oportunidades conquistadas no trabalho: “Quero que fique registrado meu agradecimento à Unicamp”.

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ENCONTRO NO BANDEJÃOLUIZ GAMA

Luiz entrou no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas em 1972. Com 14 anos de idade ficou sabendo sobre a Instituição, achava bonito o quepe, a farda, o cordão amarelo, o distintivo (lustravam para ficar mais brilhante), o sapato engraxado. Chegou a ser graduado nos Patrulheiros, patamar atingido por quem tirava boas notas e tinha disciplina.

Inicialmente foi encaminhado para trabalhar na Bendix do Brasil, uma multinacional de freios, entre julho de 1972 e janeiro de 1974. Depois disso foi enviado à Unicamp, onde ingressou em 08 de fevereiro de 1974, já com carteira assinada.

Luiz costuma brincar que teve apenas uma frustração enquanto patrulheiro, “nunca ter ganho o radinho de pilha que era sorteado em festas na Instituição”.

Recorda-se de certa ocasião em que os patrulheiros ganharam uma viagem para Pedro Taques, no litoral. Lembra-se de quando tiraram foto sobre uma moto 125, verde-abacate, que ficava na praia, e depois mostraram para as meninas, dizendo que tinham moto, mas na verdade era apenas um moço que a cedia para os turistas fotografarem. “A foto era revelada em um ‘binóculo’ e achávamos muito divertido”, relembra.

Entre tantas recordações, lembra-se da hora do almoço, o famoso ‘bandejão’, que se tornara um ponto de encontro entre os patrulheiros. Era um momento de bate-papo e união entre eles.

Apesar de ser graduado e, por isso, ter muita obrigação com relação à aparência de todos os patrulheiros, Luiz nunca foi “dedo-duro”, apenas dava um alerta para que cumprissem as regras.

Um episódio marcante e muito triste em sua vida aconteceu no primeiro dia de trabalho. Tinha acabado de chegar à Bendix e recebeu a informação de que seu pai tinha falecido. Ele já estava muito doente, mas não quis que a mãe contasse aos filhos, o que aumentou ainda mais o susto e a dor. “Tinha um carinho enorme pelo meu pai. Ele foi um ‘senhor’ pai”, ressalta.

Em meio à dor pela perda precoce do pai, Luiz recebeu apoio especial de Da Maria Angélica, naquele momento tão difícil de sua vida. Ela foi ao enterro de seu pai. Além disso, dava-lhe conselhos, sempre perguntava se ele estava precisando de alguma coisa, enfim, foi importantíssima. Deu-lhe apoio para não desistir de lutar. Luiz faz questão de enaltecê-la: “Dª Maria Angélica foi uma segunda mãe pra mim, ela é uma pessoa muito especial, uma ‘santa’, que amo muito! Estarei sempre pronto a atendê-la no que precisar”. A Instituição “Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas” foi também muito importante para ele.

A trajetória profissional de Luiz é moldada por muita garra e determinação.

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Formou-se como técnico mecânico pelo Cotuca, e também foi gráfico. Sempre conseguiu realizar trabalhos que requeriam muita experiência

e conhecimento. Dizem que é muito criativo, adora inventar, criar, corrigir e se desenvolver.

Depois de dez anos trabalhando como gráfico, foi transferido para a FEM (Faculdade de Engenharia Mecânica), onde é técnico mecânico.

Trabalha em várias funções, pois gosta de “por a mão na massa”, como costuma dizer, e desenvolve diferentes métodos de trabalho. Aceita ideias, inclusive de alunos.

É muito grato por ter sido reconhecido nos setores que passou. Sempre foi interessado, teve empenho e conquistou seu espaço na Universidade, além de ter constituído família. “Sinto-me respeitado como pessoa e como profissional”, orgulha-se.

Talvez se aposente num futuro próximo, mas gosta do que faz. Sente-se feliz e agradecido. “Hoje consigo entender as regras e a forma

como educavam no Patrulheirismo, a ordem unida, a questão da disciplina rígida. Tudo foi conduzido para moldar nosso caráter. Devo o que conquistei e tenho hoje à Instituição “Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas, à Unicamp e à minha família”, conclui.

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A PREMIADA LUZIA GOMES FERREIRA PAVANI

Luzia tornou-se patrulheira aos 12 anos, sendo a patrulheira de número 02F da 1ª Cia. O ingresso no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas -CAMPC se deu de forma inusitada, pois ao levar o resultado do exame médico do seu irmão que já era patrulheiro, despertou a curiosidade da secretária da Sra. Maria Angélica, coordenadora do CAMPC, isso pelo fato da pouca idade e mesmo assim estar realizando a tarefa sozinha. Por esta razão foi convidada para se inscrever e participar do teste de seleção da primeira turma de patrulheiras. Luzia fez o teste e foi aprovada para iniciar o treinamento. Nas aulas que eram ministradas na sede do CAMPC havia as disciplinas de português, matemática, boas maneiras e ordem unida, por ser a educação daquele local espelhada no ensinamento utilizado pelos policiais militares, que ajudavam a coordenar a garotada. No final do treinamento foi encaminhada para trabalhar no Fundo de Social do Governo Municipal de Campinas, ligado à Prefeitura Municipal de Campinas. Após receber a designação de encaminhamento, a Sra. Maria Angélica em conversa com Luzia, perguntou-lhe onde ela iria trabalhar. Em resposta, Luzia toda feliz informou-lhe que iria trabalhar com a mulher do Prefeito. Imediatamente, a Sra. Maria Angélica, que sempre foi muito enérgica, corrigiu-a dizendo “mulher não, esposa”! Esse fato marcou para sempre a vida da menor patrulheira, pois a fez entender a escolha e a diferença entre as palavras a serem usadas.

Em abril de 1975 foi então encaminhada ao seu primeiro emprego, no gabinete da Primeira Dama de Campinas, Sra. Maria Lázara Duarte Gonçalves. Lá fazia o serviço de mensageira e outras atividades que lhe eram atribuídas. Permaneceu neste local até o final de 1976 quando o Sr. Santos, soldado responsável pelo encaminhamento dos menores às empresas da região de Campinas, chamou-a na sede dos patrulheiros e a encaminhou para prestar serviços na Clínica Eduardo Lane. Na clínica existia a promessa de registrá-la em CLT, isso era sempre um prêmio para os menores que eram disciplinados. Passado três meses, novamente o Sr. Santos verificou que a promessa não havia se concretizado, então a chamou novamente na sede, e avisou que no dia seguinte ela iria para a Unicamp. Foi então que começou a relação profissional da menor com a Universidade, em um momento muito feliz e gratificante, pois só ia para lá quem era considerado “o melhor”, visto que todos queriam ser encaminhados para trabalhar na Unicamp, porém, poucos eram os felizardos que conseguiam.

Em 17 de fevereiro de 1977, já com 14 anos de idade, foi encaminhada para trabalhar no Laboratório de Eletrônica e Dispositivos – LED, junto à Faculdade de Engenharia de Campinas. Ao chegar naquele local e se apresentar ao coordenador do LED, Prof. Dr. Carlos Ignácio Zamitti Mamanna, recebeu a informação de que eles não estavam mais precisando de seus préstimos,

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devido o tempo decorrido entre a solicitação e a chegada dela naquele local. Entretanto, em seguida, para a sorte de Luzia, o coordenador do laboratório voltou atrás e disse: “bem, já que ela estava ali, podia ficar e se apresentar no RH para ser contratada pela Fundação Tropical de Pesquisas e Tecnologia”. Essa fundação administrava os recursos recebidos pelo projeto Telebrás, para apoio de pesquisas em microeletrônica na Unicamp. Conta que, com isso, ela ficou feliz da vida, pois faria parte do universo da Unicamp.

Fato curioso é que seu primeiro registro em carteira se deu com a função de office boy. O salário que recebia era compartilhado para ajudar na manutenção e sustento da família, parte do valor era entregue para sua mãe e a outra metade ficava em seu poder, para utilização na aquisição de material escolar, transporte e demais necessidades básicas do dia a dia.

Ainda no LED, foi promovida a auxiliar de escritório, escriturária, responsável por custos e patrimônio e mais tarde como técnica especializada em documentação técnico-científica.

Luzia recorda que saía da Unicamp de ônibus, com cheques para realizar pagamentos no centro da cidade e que na maioria das vezes, devido a distância e à dificuldade de transporte para o centro da cidade, não era possível ir e voltar para a Universidade no mesmo dia. Assim a sua chefia determinava para que levasse com ela, para sua casa, em uma pastinha tudo o que deveria ser feito no dia seguinte, pela manhã, antes de vir para a Unicamp, permanecesse no centro de Campinas para realizar os serviço e só depois de tudo realizado, dirigir-se à Unicamp. Lembra que a responsabilidade era muito grande, além do medo de ser assaltada ou deixar extraviar algum documento. Porém, isso jamais aconteceu. Comenta que com isso aprendeu muito a ter responsabilidade e zelar pela confiança que lhe era atribuída.

Sempre muito centrada e disposta a ajudar, Luzia juntamente com outros patrulheiros graduados, alguns que também trabalham na Unicamp e outros de diferentes empresas da região metropolitana de Campinas, decidiram fundar a Associação dos Patrulheiros Graduados, com o apoio da Sra. Maria Angélica. Esta foi a forma que os menores encontraram para manter uma rede de relacionamentos e troca de experiências vividas por eles. Além da associação, Luzia usava também seu tempo para fazer parte da fanfarra, tocando nos desfiles que aconteciam nas datas comemorativas em que os patrulheiros eram convocados para fazer parte, como primeiro de maio e sete de setembro. Mais tarde, com a sólida estrutura da Associação dos Graduados, a organização dos desfiles passou a ser coordenada por eles e os demais menores respeitavam e obedeciam, sabiam da hierarquia e o papel de cada um no contexto. Lembra que nos eventos que aconteciam, ela era sempre destacada para entregar prêmios aos militares e autoridades presentes.

No período entre 1975 e 1977, Luzia recebeu duas graduações em seu prontuário, sendo a última graduação a de “monitora instrutora”, solenidade realizada com todas as honras e glórias aos menores que faziam jus. Tais honrarias eram concedidas aos menores que eram exemplares e disciplinados na família, escola e no trabalho. A disciplina sempre fez parte de sua rotina no patrulheirismo. Recorda-se das reuniões que aconteciam aos domingos, uma

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vez por mês na sede dos patrulheiros. Nessas reuniões todos os menores eram colocados enfileirados para receber o comando de ordem unida e os avisos de seus superiores. Conta que perdeu viagens com a família, para não perder a reunião e ficar com falta em seu prontuário.

No final de 1977, Luzia recebeu homenagem de honra às virtudes pela Non Scholae Sed Vitae como destaque por tudo que assumia na vida profissional, escolar e familiar. Em 1979 conheceu seu esposo, por volta dos 17 anos, ela trabalhando no LED/FEC e ele cursando o segundo ano de engenharia elétrica e estagiando no mesmo local onde ela trabalhava.

Em três de dezembro de 1983 passou a fazer parte do quadro de funcionários da Unicamp, após acordo para se desligar da Fundação. Permaneceu no LED até 1990 quando pediu transferência para trabalhar na Faculdade de Engenharia Mecânica – FEM, após ser convidada pela segunda vez. Na FEM Luzia foi Secretária de Departamento de Projeto Mecânico – DPM, Secretária da Diretoria e Assistente Técnico de Unidade – ATU, cargo gerencial da Universidade. Lembra que após passar por entrevista para transferência para o DPM, um dos entrevistadores era temido por todas as secretárias que trabalhavam no departamento, mas que apesar do medo de enfrentar a situação, saiu-se muito bem e foi a escolhida para trabalhar. O desafio de mudar de um setor da Universidade para outro foi gratificante, principalmente quando foi secretariar a primeira reunião do conselho daquele departamento, foi recebida com flores pelo seu chefe e demais colegas presentes na reunião, desejando-a boas vindas.

Por estar no meio universitário, decidiu que ela também faria uma faculdade, pois queria crescer como profissional; decidiu então prestar vestibular. Inicialmente optou por Educação Física, porém, devido à distância de sua casa até o campus aonde iria frequentar, mudou de ideia e prestou vestibular para Letras, motivada pela facilidade que tinha em aprender línguas. Formou-se em Letras e mais tarde pós-graduou em Administração Hoteleira e mais recente em Gestão de Pessoas. Diz que sempre gostou de estudar e sempre aproveitou a estrutura da Unicamp e os cursos extracurriculares oferecidos .

Casou-se em 1984 e mais tarde viajou pela Europa acompanhando o esposo em seus estudos de pesquisas. Conheceu vários países na Europa e também nos USA.

Luzia lembra que o fato de saber falar inglês a ajudou muito no desenvolvimento de suas atividades como secretária na Unicamp. Conta que pode ajudar com sucesso pesquisadores de outros países que visitavam o Departamento em que ela trabalhava. Mais tarde teve conhecimento que foi elogiada por um pesquisador na Alemanha, após tê-lo ajudado aqui no Brasil. Fatos como esse sempre motivavam a seguir em frente, vencendo vários obstáculos e crescendo profissionalmente. Sempre acreditou que o sucesso profissional depende de três coisas: “fazer o que gosta, com quem gosta e no lugar que gosta”. Acredita que pelos três diferentes locais na Unicamp em que prestou serviços teve a chance de vivê-los intensamente, sem deixar de perder grandes oportunidades para o engrandecimento de sua bagagem profissional.

Várias são as lembranças na rotina da Unicamp, as amizades, as

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conversas as curiosidades em conhecer o universo da Universidade. Uma delas era conhecer o setor da Medicina Legal que ficava próximo ao restaurante universitário na área central da Universidade, onde fez amizade com o pessoal que preparava o material para os alunos de medicina e biologia. Eles brincavam muito com ela quando passava próximo ao local em suas idas e vindas ao banco, também, na área central. Um dia pediu para entrar e ver o que estava sendo feito lá, como os amigos perceberam a curiosidade e ao mesmo tempo o medo, chegaram por trás dela e deu um pulo, assustando-a, fazendo com que ela saísse correndo do local amedontrada. Passado o susto e depois de muitas risadas, voltou ao local e matou a curiosidade, o que é pertinente a qualquer jovem que está descobrindo o mundo. Por essas e outras brincadeiras, deixou de comer algumas comidas preparadas no restaurante, pois sempre lembrava o que diziam seus amigos, “olha esse material aqui é o que já foi utilizado nas aulas e agora está indo para o restaurante”. O churrasco também era tema de gozação entre eles, pois diziam que a faca utilizada para cortar a carne era a mesma usada para cortar os cadáveres. Luzia sempre procurou tratar as pessoas com respeito e educação e com isso, cultivou muitas amizades no local de trabalho, bancos, restaurante e fila do ônibus onde todos se reuniam no final do expediente no retorno para casa.

Usa os espaços da Unicamp para seus momentos de lazer, onde faz condicionamento físico pela manhã e para a prática de esporte na condição de zagueira do time de futsal, onde joga desde 2004.

Costuma dizer que é grata por sua trajetória na Unicamp, pois tudo que tem conseguiu através do seu trabalho na Universidade e termina dizendo que tem uma relação de amor com a Unicamp.

Luzia entregando flores para primeira dama Maria Lázara Duarte Gonçalves

Luzia no estágio de Pós-Graduação no Grande Hotel São Pedro

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PÂNICO NO LABORATÓRIO!MARCELO ALEXANDRE DE OLIVEIRA

Completando 24 anos de trabalho, Marcelo ingressou na Unicamp como mensageiro aos 17 anos, em 26 de junho de 1986.

Sua mãe, Ervira de Lima Oliveira, já aposentada da Universidade, foi quem o motivou a trabalhar na Unicamp.

Pelo acaso do destino, após alguns anos de tratamento de bronquite quando criança no Hospital das Clínicas, passou a ser funcionário no mesmo local em 1987, já com 18 anos, passou a atividade de oficial administrativo na Enfermaria de Retaguarda do HC, fazendo o trabalho de reposição de soro, seringa e outros materiais necessários para o funcionamento do Posto de Enfermagem, e apesar de ser um ambiente carregado de muitas tristezas, havia também muita alegria dos pacientes curados e, em alguns casos, a visita deles à Enfermaria.

Por algumas vezes ajudou a retirar pacientes obesos das macas, em ajuda às enfermeiras e atendes de enfermagem.

Em 1989, a Enfermaria de Retaguarda passou a atuar no 4º andar do HC, dividindo-se em Enfermaria de Emergência Clínica e Cirurgia do Trauma. Nesse período, conheceu vários amigos, inclusive o seu padrinho de casamento Edson Fortuna.

Um fato interessante é que na mesma ala existe a Enfermaria de Psiquiatria, e alguns pacientes autorizados a caminhar pelo jardim ali existente, algumas vezes ficavam conversando com os funcionários, e precisavam ser encaminhados novamente para a Enfermaria de Psiquiatria, por estarem abusando da liberdade.

Na época, os oficiais administrativos na Enfermaria tinham que levar os exames coletados dos pacientes, como sangue, urina, etc. para o laboratório localizado no 2º andar do HC. Certa vez, Marcelo tomou um susto grande, pois ao tentar fechar um dos frascos de sangue que transportava, o mesmo se abriu e virou, derramando o sangue sobre sua camisa. A responsável pelo recebimento dos exames o ajudou, fornecendo-lhe um jaleco enquanto sua camisa era encaminhada à lavanderia. Felizmente, pelo diagnóstico do paciente, nada de grave aconteceu.

Em meados de 1988 iniciou suas atividades no setor de Contas e Convênios, onde era conferente das fichas azuis ambulatoriais do HC. Ainda em 1989, a psicóloga Loide, do departamento de Recursos Humanos, convidou Marcelo para ser operador de sistemas no recém-criado Centro de Processamento de Dados do HC. Permaneceu na função até 1993, quando passou então a exercer a função de Scheduler (gerente de tarefas) do MainFrame.

Ao longo de sua trajetória, foi galgando novas funções. Passou a programador de suporte e administrador de redes. Em 2006 houve um episódio

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que causou grande preocupação, quando um vírus afetou toda rede de dados do HC, e toda a equipe de Informática teve que atualizar os sistemas, as estações de trabalho, os servidores de dados e toda rede em 24 horas. Na época, o HC contou com o forte auxílio do Centro de Computação da Unicamp.

Recentemente, Marcelo passou a ser Supervisor da Área de Atendimento ao Cliente e Redes.

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NA ERA MANUALMÁRCIA DOS REIS ALEXANDRE Márcia entrou na Unicamp como mensageira, aos 15 anos, em 1986.Veio para a APG (Associação de Pós-Graduação), onde ficou por um ano. Como nunca tinha trabalhado, achava tudo estranho a princípio, mas foi

se acostumando com o tempo.Teve um chefe no seu início de carreira, que com o objetivo de que ela

conhecesse todos os pavilhões da Universidade, pediu-lhe para colocar cartazes por toda a unidade. Apesar de não ter gostado, acabou conhecendo melhor as unidades.

Seguiu então para a Diretoria Acadêmica, onde passou por diversos setores. Está lá até hoje.

Recorda-se da época de mensageira e de fatos engraçados que ocorriam. Dentro do fretado tinha um homem muito implicante, Seu Ubaldo (in memorian), que se incomodava com a bagunça dos jovens. Quanto mais ele se incomodava, mais os mensageiros provocavam, cantavam e falavam alto. No final, Márcia acabou fazendo amizade com ele, que passou a frequentar sua casa.

Suas três filhas usufruíram dos benefícios educacionais da Unicamp, vinham diariamente no fretado com ela, o que considera um privilégio.

Márcia fez curso de computação oferecido pela Universidade. Ao longo de sua trajetória, conquistou algumas amizades. Atualmente está cursando a Faculdade de Recursos Humanos.

Gosta de frequentar a igreja junto à sua família.Atualmente é técnico administrativo da Diretoria Acadêmica. Trabalha

com a documentação de teses que geralmente vão sair do país, as matrículas e emissão de documentos.

Lembra-se do início de carreira, tudo era feito de forma manual, inclusive as matrículas. “As filas eram gigantescas e trabalhávamos muito!”

Acha o ambiente de trabalho agradável, gosta do setor que está e de seus colegas, que a fazem rir em alguns momentos: “Passamos a maioria do tempo na Universidade, por isso é importante estarmos bem e felizes”.

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MASCOTE E XODÓMÁRCIO JOSÉ DOS SANTOS

Amigos resolveram fazer a inscrição na Guardinha e Márcio foi com eles. Apesar de jovens, queriam trabalhar.

Logo que acabou o curso, em 1981, foi encaminhado à Unicamp aos 12 anos, seu primeiro emprego, para a DGA (Diretoria Geral da Administração), no setor de Protocolo. Foi registrado em 1983. Era chamado de “mascote” pelo pessoal do setor que trabalhava, e por ser o único menor, passou a ser considerado o “xodó” de todos.

Do setor de Protocolo, Márcio seguiu para a Sessão de Arquivo, depois para a Expedição e, a seguir, para o Setor de Transportes. Tempos depois voltou para a Expedição, retornando novamente ao Setor de Transportes, onde atualmente é técnico administrativo na Diretoria de Transporte, responsável pelo agendamento de veículos da Universidade, que faz parte da DGA.

Recorda-se do tempo de garoto, onde ele e seus amigos faziam algumas peraltices.

Certa vez, ele e outro garoto queimaram um barbante, que tinha um cheiro forte, e colocaram no corredor. “Era coisa de moleque, achávamos graça em ver a expressão das pessoas que passavam e sentiam aquele cheiro estranho”, relembra.

Algumas vezes pegavam misturas de outros guardinhas, só para brincar. Jogavam laranja um no outro, punham a cabeça para fora do fretado e mexiam com outras pessoas que passavam na rua, enfim, muitas eram as brincadeiras.

Em outra ocasião, numa “pesca proibida”, ele e alguns amigos foram até uma lagoa dentro da Universidade. Amarraram um pedaço de cordão a clipes, jogaram na água e iniciaram uma pescaria. Punham a linha no pé e disfarçavam. Se os vigias vissem dariam bronca. Pegaram uns dez peixes, limparam, fritaram e comeram. A pescaria continua sendo um de seus passatempos. “Porém, não mais na lagoa da Unicamp”, brinca Márcio.

Ao longo dos anos, foi cultivando amigos, que hoje frequentam sua casa, entre eles o Ailton e o Marivaldo, pessoas que julga serem especiais. Gosta de se reunir com os amigos, mas é bastante caseiro.

Tem uma filha que usufruiu dos benefícios educacionais da Unicamp, e dá muito valor a isso.

Márcio tem grande consideração pela Universidade e costuma dizer que “jamais abriria a boca para falar qualquer coisa contra a Unicamp”. Considera que talvez não tenha crescido mais dentro da Universidade por falta de vontade própria, pois muitas oportunidades sempre foram oferecidas. E conclui: “A trajetória dentro da Unicamp, em especial na DGA, onde sempre trabalhei, está sendo uma passagem muito boa em minha vida. Foram bons acontecimentos ao longo desses anos. Só tenho boas coisas a dizer”.

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Marcio José dos Santos no ambiente de trabalho na Diretoria Geral de Administração da Unicamp.

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OPORTUNIDADES INTERNACIONAISMARCIO ROBERTO DO CARMO

Marcio foi guardinha antes de ingressar na Unicamp. Através da indicação de uma funcionária que trabalhava em seu antigo emprego, Marcio soube que a Unicamp estava abrindo vagas para menores. “Ela achou que eu vindo para a Unicamp seria bem melhor para mim, por isso fez a indicação, e foi melhor mesmo”, comenta ele. Porém, para poder se inscrever, não poderia ser nem patrulheiro nem guardinha, pois era uma exigência na época. Optou então por sair da guardinha, realizou a prova para o processo de seleção da Unicamp e passou.

Em 7 de agosto de 1974 ingressou como mensageiro no Hospital das Clínicas e tempo depois passou a contínuo porteiro.

O Hospital das Clínicas funcionava na Santa Casa, e na Enfermaria de Emergência foi feito um isolamento devido ao surto de meningite que estava ocorrendo na época. Depois do surto foi construído o MI (Moléstias Infectocontagiosas).

A farmácia ficava num casarão antigo, onde hoje é o Giovanetti, e a função de Marcio era fazer o trabalho externo ao isolamento, como transportar medicação, exames, etc.

Trabalhou também no Ambulatório de Ortopedia, tudo meio improvisado, pois o hospital não estava ainda funcionando totalmente. Ajudava a fazer e retirar gesso, além do serviço de office boy.

Fato marcante e que chamava a atenção no ambulatório era quando engessavam andarilhos, que não tinham nenhum tipo de convênio. Eram atendidos e desapareciam do hospital. Quando voltavam, muito tempo depois, para a retirada do gesso, a perna estava com miise e mau cheiro. “Infelizmente, isso acontecia com certa frequência”, comenta Marcio.

Trabalhava na Santa Casa, no centro da cidade, e achava muito bom, pois eram vários jovens que trabalhavam juntos e, além disso, aproveitavam para ver vitrines das lojas quando tinham que realizar serviços externos, além de aumentar um pouco o período do almoço.

Lembra-se também da bagunça que faziam quando se reuniam na Santa Casa e seguiam de perua para almoçar na Unicamp. “Foi um tempo muito bom”, conclui ele.

Vários foram os movimentos importantes dentro da Universidade, e Marcio destaca a primeira greve do funcionalismo público, em 1979, como sendo marcante.

Em meados de 1980 começaram as transferências da Santa Casa para a Unicamp. Passou ao Procedimento Especializado, um setor do hospital que existe até hoje.

Atualmente trabalha no Centro Cirúrgico, na equipe de Cirurgia Cardíaca.

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Formou-se em Biologia. Foi contratado como Biólogo em 1987 e fez especialização em Circulação Extracorpórea (Perfusão) por um ano em São Paulo. A Universidade proporcionou a possibilidade de especialização.

Foi aluno da Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas. Fez todos os créditos.

Participou de congressos fora do Brasil. Foi para o Chile, México e Cuba onde ganhou um prêmio de melhor trabalho experimental.

Houve incentivo de algumas empresas que ajudaram a patrocinar parte de algumas viagens para que pudesse participar de congressos, sempre dentro da área de Circulação Extracorpórea.

É vice-presidente da Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea. Tem vários artigos publicados, inclusive internacionais, como segundo

autor, e isso graças à equipe de Cirurgia Cardíaca que o ajudou muito nesse crescimento.

Várias pessoas especiais fizeram parte de sua trajetória, entre elas, o Dr. Gottfried Köberle, antigo chefe da Ortopedia, já aposentado, que foi o primeiro docente com quem trabalhou, e o Dr. Reinaldo Wilson Vieira, da Cirurgia Cardíaca, considerado uma figura ímpar, um “paizão” e a quem respeita muito. Outra pessoa importante é o Jorge, seu compadre, padrinho do seu filho e amigo desde o tempo da Santa Casa. Ele já não se encontra mais na Unicamp. Possuem uma amizade que surgiu na Universidade e foi além.

Marcio faz questão de ressaltar: “Trabalho com uma equipe muito aberta, que incentiva o estudo, o que proporciona crescimento profissional e dá espaço para o crescimento pessoal de cada membro, e isso favorece a todos”.

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LAUDAS PARA O DIÁRIO OFICIALMARCO ANTONIO PIO

Marco Antonio entrou no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas com 11 anos. Um amigo da família já trabalhava e indicou para que ele começasse também. Passou por dois empregos antes de seguir à Unicamp, onde ingressou em 13 de junho de 1977. Em março de 1978 foi contratado, aos 13 anos. Matrícula 2408-2.

Sempre trabalhou muito e tem uma vida bastante ocupada. Foi encaminhado à DGA12/13 (Diretoria Geral da Administração), na Diretoria de Docentes (os departamentos eram separados, um só para os funcionários e outro para os docentes).

Ficou na DGRH (antiga DGA) até 1993. Assumiu a atividade de publicação da Imprensa do Diário Oficial, onde fazia matérias e preparava as laudas, ou seja, o material para ser publicado na Imprensa.

Seguiu para a Engenharia Mecânica, no departamento de Recursos Humanos, e depois foi como chefe para a Sessão de Finanças e Compras.

Pessoas se destacaram ao longo de sua carreira, entre elas, Maria de Lourdes Malta Prety, que foi alguém especial. Ela acompanhava os patrulheiros, cuidava, tinha muita paciência e sabia lidar com eles, tarefa nada fácil, pois bagunçavam muito e precisavam ser direcionados. Marco faz questão de ressaltar: “Ela foi como uma mãe para mim. Estou na Unicamp hoje graças a ela”.

Recorda-se de seu início na Unicamp. A Universidade estava começando. Lembra-se que havia muita festa e diversão. O restaurante era aberto ao

público de fora, que pagava para almoçar. Na DGRH (Diretoria Geral de Recursos Humanos) existiam vários

menores e era grande o entrosamento entre eles. Brincavam, participavam de greves, jogavam bola e almoçavam juntos. Subiam no pé de caju. Iam longe para pegar laranja.

Os patrulheiros eram muito unidos, e Marco costuma dizer: “Fazíamos do trabalho um lazer, por sermos muito moleques”.

Recorda-se de quando trabalhou com o Divaldo, o Rodrigues e o Mané. “Bons tempos”, comenta ele.

Jogou bola em clubes de bairro, mas devido ao pouco tempo que sobrava por conta das inúmeras tarefas, acabou perdendo contato com amigos da época de patrulheiros.

Entre várias pessoas importantes ao longo de sua carreira, Naira Zutim Sangali foi uma chefe muito especial, que Marco tem um enorme respeito. Em sua gestão, ele foi contratado e assumiu um cargo como encarregado de setor e depois de sessão.

Era uma área com muito serviço, várias vezes trabalhou aos sábados,

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sempre com muita responsabilidade.Quando trabalhou na Publicação, praticamente contratou o HC inteiro.

Quase todos os funcionários, em três dias, tiveram que ser inseridos no quadro de contratação. Foram feitas as publicações, antes da alteração da lei, de quem iria trabalhar no hospital. Fazia as laudas, o reitor tinha que conferir, ia para São Paulo de carro, tudo era datilografado na máquina de escrever IBM, com formulário padrão e depois ia para a impressão. “Trabalhei 24 horas por dia para que tudo fosse publicado em tempo”, relembra Marco.

É formado em Administração, pela PUCC. É casado e tem uma filha, que inclusive utilizou a creche da Unicamp

por nove meses, benefício que julga ter sido muito importante. Conheceu sua esposa Maria Célia na DGRH, que atualmente está na Pós-Graduação da Biologia.

Fato curioso ocorreu quando foi fiscal do concurso que sua esposa participou. Ela ergueu a prova para ler e Marco chamou sua atenção; eles não se conheciam. Depois de muito tempo, quando começaram a namorar, acabaram falando sobre esse episódio, e da grande coincidência em suas vidas.

Com uma longa e importante trajetória dentro da Universidade, Marco conclui: “Cresci com a Unicamp e a Unicamp cresceu comigo”.

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IMPRESSÕESMARIA ALICE DA CRUZ PAULA

Maria Alice entrou com 13 anos no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas. Trabalhou inicialmente em uma empresa, em 1980, que fazia locação de máquinas musicais e jogos eletrônicos, onde passou a ter contato diário com a música. Recorda-se que aprendera a andar de ônibus sozinha quando já estava no primeiro emprego, inclusive à noite, e na época não tinha tanto medo, sentimento este muito comum hoje em dia.

Depois foi para a DPO, uma litográfica do Diário do Povo, onde era mensageira contratada como patrulheira. Conheceu ali as impressões, os fotolitos, a arte final dos jornais, revistas, convites, pois era quem levava esse material para a equipe de arte. Foi sua segunda experiência profissional.

Aos 14 anos, Alice, como é conhecida na Unicamp, foi para o Instituto de Tecnologia e Alimentos (Ital), de onde tirou as melhores impressões do mundo do trabalho, aprendendo muitas coisas importantes. Recorda-se do antagonismo de seu ingresso no Ital, pois se sentia feliz pelo emprego, mas como estava indo substituir uma amiga, foi também um momento difícil.

Sua permanência no Ital foi de aproximadamente dois anos e meio. Considera essa passagem como sendo uma experiência muito importante, em que pôde crescer e amadurecer.

Entre tantos bons acontecimentos nesse período, o que se destacou foi o fato de ter conhecido o amigo Dalmo Cesar de Paula, que é hoje seu marido. O namoro e o casamento vieram a acontecer muitos anos depois, ao se reencontrarem em Campinas. Alice se recorda que no Ital, guardinhas e patrulheiros formaram uma Associação de Patrulheiros e Guardinhas (Assopag). Eram muito responsáveis, e o significado de amizade se intensificou.

Em 19 de janeiro de 1984, Alice estava com 16 anos, quando começou a trabalhar na Unicamp, no Instituto de Biologia, onde foi muito bem acolhida. Desde muito nova, já gostava de escrever. Escreveu uma peça de teatro, numa festa de final de ano do Ital, e recebeu incentivo dos colegas e de funcionários mais velhos, alguns artistas amadores, o que foi bastante importante.

Queria fazer música, mas por se afastar das aulas de violão, formou-se em Jornalismo, pela PUC-Campinas, e trabalha na Assessoria de Imprensa e Comunicação da Unicamp. E ressalta: “É uma responsabilidade muito grande trabalhar na Assessoria. Não é fácil escrever sobre ciência, mas é muito enriquecedor e gratificante.” Terminou a especialização em Jornalismo Científico na Unicamp, no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), em julho de 2010.

A jornalista diz ter feito muitos amigos na Universidade, que considera serem para a eternidade. Valoriza as relações pessoais. Recorda-se do amigo Benedito de Paula (Benê), já falecido, um dos primeiros patrulheiros de Campinas, quando a sede era perto do Instituto dos Cegos. Uma pessoa muito especial, cuja morte chocou a todos: “Ele desenhava muito bem; vivia com uma

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caneta de nanquim, era muito carinhoso e atencioso. Tinha muito talento e inteligência”.

Sua formação humanística sempre a ajudou muito. Na Subárea de Armazenamento e Patrimônio do Instituto de Biologia, conquistou vários amigos, que foram muito importantes. Assim como no Coral da Unicamp, na época, regido pelo maestro Paulo Rocco.

Recorda-se de um momento muito triste de sua vida, mas em que pôde contar com pessoas especiais. Recebeu apoio de sua coordenadora, Mercedes Bueno Costa Leite, que a acolheu quando seu pai esteve hospitalizado, antes de falecer. Ela lembra que, no dia em que o pai morreu, Mercedes esteve ao seu lado por muito tempo, inclusive em sua casa, amparando-a. “É raro ter um chefe que se preocupa com questões pessoais do funcionário, mas aqui na Universidade encontrei isso. Naquele setor, as pessoas estavam prontas para o cuidado com o outro”, comenta Alice.

Na Editora da Unicamp, onde permaneceu por sete anos e seis meses, também encontrou bons amigos e um trabalho enriquecedor. O contato com os livros, com a imprensa, o trabalho de divulgação e, no Correio Popular, em 2002, a função de revisora foram importantes experiências profissionais. Na mesma época, publicou crônicas por um curto período; escrevia coisas da infância, do dia a dia, homenagem à Ponte Preta e ao avô. Fez isso por seis meses. Da Editora, seguiu para a Assessoria de Imprensa.

Uma importante experiência veio fazer parte do universo de Maria Alice, que desde os 9 anos de idade cantava em um coral, no qual tinha aulas de teoria, partitura e técnica vocal. Pôde participar do Coral da Unicamp na década de 1990, onde o maestro Paulo Rocco a ensinou muito: “Foi uma experiência muito rica e me aguçou os ouvidos. A música me toca demais! Sou muito grata por essa oportunidade rara que me foi oferecida. Só mesmo a Unicamp para me proporcionar esse reencontro com a música”. Atualmente faz aula de canto com o maestro e professor Demerval Keller. Tem uma filha que toca violino e outra que toca violão e flauta transversal. Entre 2005 e 2008 frequentou a disciplina de canto coral do curso de música da Unicamp, coordenada pelo professor Carlos Fiorini.

Maria Alice preocupa-se com a situação dos menores de hoje e comenta: “Desejo que os jovens tenham a oportunidade de ficar na Universidade, que as pessoas tentem transmitir e imprimir na vida deles alguma coisa boa. Cada unidade deve ter o compromisso de direcionar e sentir o que os jovens querem, para que um dia cresçam profissionalmente e sigam um caminho feliz”.

Outro ponto que considera importante é com relação ao apoio oferecido, principalmente no início da carreira, além de uma estrutura familiar sólida: “Tudo que realizei devo à minha família. Desde meus pais até minhas filhas. Todos se envolveram na minha história profissional. Agradeço a todos que fizeram e fazem parte da minha vida na Unicamp e, em especial, a duas pessoas que me olharam como amiga desde o primeiro momento, a Marinês, que abriu um sorriso largo assim que entrei na Unicamp, e a Paulete, que me mostrou tudo dentro da Universidade logo no primeiro dia. Sou o que sou porque tive apoio. Aprendi a valorizar o ser humano, independentemente de ter ou não graduação, pois cada um tem seu valor e deve ser respeitado”.

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INÍCIO COM GREVEMARIVALDO BAPTISTA DE OLIVEIRA

Marivaldo entrou na Unicamp, na DGA53 (Diretoria Geral da Adminis-tração) em 1987, como mensageiro, através de processo seletivo. Estava com 14 anos de idade.

Trabalhou no arquivo até completar 18 anos. Apesar de sua transição a contínuo porteiro não ter sido automática como o processo da maioria dos mensageiros, assumiu o cargo e se tornou efetivo.

Passou a ser técnico operacional básico A ainda com 18 anos, em 1990. Trabalhava com arquivo e microfilmagem.

Concluiu o ensino médio em 1990 e parou de estudar. Fez vários cursos de programação, despertando o gosto pela Informática.

Em 1993, data da implantação do sistema de Protocolo, um sistema de administração de rede, foi convidado a auxiliar o administrador do sistema, e assumiu o cargo.

Em 2000 foi implantado o PCVS (Plano de Carreira, Vencimentos e Salários), onde para assumir cargos gerenciais na Universidade seria necessário ter nível superior.

Em 2001, percebeu que deveria voltar a estudar. Inscreveu-se no Programa de Identificação de Interesse e Potencial Gerencial, mas não foi selecionado. Após dois anos, fez nova inscrição e foi aceito.

Trabalhava no Protocolo e participava do Programa, que era como um “banco de futuros gerentes”, na DGA, e passou a fazer parte desse banco.

Foi estudar nas Faculdades Fleming, fez Administração com ênfase em Sistemas de Informação, um curso voltado ao gerenciamento. Iniciou em 2002 e se formou em 2005.

Assim que fez a matrícula na faculdade, foi convidado a trabalhar em outro setor da DGA.

Na faculdade ouvia dizer que ficar muito tempo em um setor podia ser sinônimo de que alguma coisa estava errada. Resolveu então aceitar a proposta para trabalhar na Diretoria de Transporte, em 2002.

Como se sentia na chamada “zona de conforto” onde trabalhava anteriormente, quando foi para o setor de transporte tudo era novidade, além de muito dinâmico. Assumiu como responsável pelo agendamento de transporte.

Atualmente é supervisor de transporte, cargo que ocupa desde 2005.Houve grande melhoria do setor através da implantação do agendamento

eletrônico, em 2008, sistema esse que Marivaldo ajudou a informatizar e implantar, juntamente com outros profissionais, o que lhe causa orgulho.

Passou por dificuldades e se lembra de certa vez que dormiu sobre papelões, dentro do arquivo, devido ao cansaço de sua jornada. Ficou fechado,

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pois todos tinham ido embora. Precisou pular a janela e correr muito para não perder o ônibus fretado.

Muitos foram os profissionais que incentivaram sua carreira, entre eles, Maria Roseli, Diretora da Área de Suprimentos, e Sebastião, atual Diretor de Transporte, com um jeito “mineiro” de administrar e que está sempre pronto a ajudar. Marivaldo faz questão de ressaltar: “Sempre exigiram bastante, porém são grandes responsáveis por minha trajetória, com contribuições significativas no sentido de mostrar o caminho para que eu pudesse gerenciar de forma coerente, sabendo o momento certo para me apresentar”.

Fato marcante em seu ingresso na Unicamp foi ter começado a trabalhar no dia em que se iniciava uma grande greve.

Ao longo dos 30 dias de greve, havia pouco trabalho a fazer. Neste período, aprendeu a jogar pif-paf, que na época era considerado o jogo “oficial” do funcionário público.

Brincadeiras a parte, orgulha-se de sua trajetória e conclui: “Sou muito grato a todos que de alguma forma contribuíram para que eu chegasse onde estou”.

Marivaldo Baptista no ambiente de de trabalho na Diretoria Geral de Administração da Unicamp.

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APOIO NA TRAJETÓRIAMAURO ROMERA

Mauro entrou como mensageiro na Unicamp com 16 anos. Antes disso era patrulheiro, e trabalhou em um depósito de materiais para construção.

Havia pessoas conhecidas na Universidade que lhe avisaram sobre a prova de seleção para mensageiro. Em 1987 assumiu a função na área administrativa, na DGRH (Diretoria Geral de Recursos Humanos), onde permaneceu até 1998.

Cultivou muitos amigos nessa época, entre eles, o compadre Paulo Humberto Fozatti, ambos são padrinhos de casamento um do outro.

Mauro sempre quis trabalhar na área técnica. Em 1995 foi fazer um curso no Senai. Para poder estudar foi preciso pedir demissão, pois os horários não eram compatíveis e não conseguiria manter as duas coisas. Dois chefes foram muito importantes nesse momento de sua vida, Marilda, que não o demitiu e José Luiz Boer, que diante de sua determinação, autorizou a mudança de horário para que pudesse estudar e trabalhar. Mauro faz questão de registrar seu agradecimento: “Sou grato pelo apoio recebido e pela compreensão dos meus chefes, e à Universidade por permitir a flexibilidade do horário de trabalho.”

Trabalhou à noite durante três anos. Conseguiu dar conta do trabalho e do estudo, e adquirindo assim a confiança dos chefes.

Graças a um convênio entre o Senai e a Unicamp, firmado pelo SAS e dirigido por Edison Lins, os funcionários interessados puderam cursar o colégio técnico, o que proporcionou crescimento profissional para várias pessoas.

Recorda-se dos bons tempos enquanto mensageiro: “Eu e meus amigos entrávamos na fila várias vezes para tomar sorvete. Foi um tempo muito bom!”

Mauro é formado em Instrumentação, no Ensino Médio. Há 12 anos está na Engenharia Mecânica, como técnico em eletrônica.

E costuma dizer: “Aproveitei todas as oportunidades que passaram por mim, e consegui realizar o sonho de estar na área técnica”.

Fez curso superior, formou-se em Ciências da Computação através de uma bolsa concedida pela Unicamp. E ressalta: “Acho que se não fosse por esse incentivo, não teria conseguido me formar”.

Vários foram os apoios recebidos durante sua trajetória pessoal e profissional. E conclui: “Edison Lins sempre ‘correu’ atrás de benefícios para os funcionários. É uma pessoa importante em minha vida. Sou grato a ele e a todos que me apoiaram”.

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BIBLIOTECASOSCAR ELIEL

Oscar perdeu sua mãe quando tinha 11 anos de idade. A partir daí, começou a querer trabalhar. Recebeu apoio do pai e do irmão mais velho, e acabou adquirindo responsabilidade precocemente.

Soube a respeito do Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas e se inscreveu. A Instituição o encaminhou à Unicamp, em outubro de 1991, aos 13 anos. Foi seu primeiro emprego.

Ingressou na Procuradoria Geral, onde foi tratado com muito respeito, e que julga ter sido uma passagem muito importante para adquirir experiência profissional. Ficou até outubro de 1994, data essa que marcou sua saída da Universidade, pois assumiu uma vaga na empresa onde seu irmão trabalhava.

Em junho de 1998, já cursando a Faculdade de Biblioteconomia, retornou à Universidade como estagiário em Biblioteconomia, na Biblioteca da Medicina. Permaneceu até janeiro de 2000, e passou num teste da Tess Celular, onde ficou até 2002, quando foi para um projeto da Biblioteca do IFCH, ficando até 2003, onde prestou um concurso para funcionário temporário. Em 2004, prestou novo concurso e passou a ser bibliotecário efetivo da Biblioteca do IEL.

Desde cedo teve incentivo em relação à leitura. Estudou no Colégio Culto à Ciência, onde tinha biblioteca e brinquedoteca, que frequentava com amigos e achava um ambiente acolhedor e gostoso.

Oscar se recorda de como achava boa a época em que era patrulheiro.Eles eram em muitos e quando se encontravam era agradável e divertido,

pois aconteciam muitas brincadeiras e conversas. Era uma experiência nova para ele, por conta de ser seu primeiro emprego. E comenta: “A Unicamp tinha um ambiente muito bom. Havia muitos jovens. Estávamos saindo para o mundo naquele momento. Vínhamos trabalhar, mas parecia também que tudo era uma grande diversão. Era um momento legal, de integração total”.

No horário do almoço, os menores se reuniam para jogar cartas e pescar no lago. Pescavam e soltavam novamente e, às vezes, davam os peixes para outras pessoas que estavam no local.

Os garotos adoravam ver as meninas de biquíni na piscina da FEF. Muitos fatos foram marcantes e os relacionamentos também.Outra diversão, enquanto patrulheiro, era ir à Biblioteca Central, o que

contribuiu para a escolha da profissão. Sempre gostou de frequentar bibliotecas, o ambiente sempre foi um incentivo e adquiriu o gosto pela leitura.

Um de seus maiores desejos era ser efetivado na Unicamp, e conclui: “Meu retorno como estagiário, três anos após ter saído da Universidade, foi algo que me deixou muito contente, pois estava concretizando o sonho de poder fazer parte do quadro de funcionários da Unicamp”.

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Muitas pessoas foram importantes e o incentivaram. O Aparecido, a Lúcia, o Wellington e o Toninho foram pessoas que o apoiaram muito quando começou a trabalhar.

O Cristiano é um grande amigo. Entraram no mesmo período, trabalham juntos e se relacionam fora da Unicamp também.

No início da carreira, estudava à noite e trabalhava durante o dia. Apesar de ter sido um período difícil, adorava, e se sentia como adulto por viver aquelas experiências.

Fez cursos e participou de palestras na Unicamp. Foram passados valores, como conscientização quanto a drogas e doenças sexualmente transmissíveis, fatos fundamentais para nortear a vida dos jovens. Acha importante esse papel que a Unicamp sempre teve, no sentido da construção de valores junto aos funcionários. E conclui: “Quero agradecer a todos que me ajudaram desde o início da minha jornada. Em especial, o pessoal da Procuradoria, das Bibliotecas da Medicina, do IFCH e do IEL”.

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INOVAÇÃOPEDRO ERMERSON DE CARVALHO

Pedro Ermerson entrou na Unicamp com 15 anos, como mensageiro, através de um recrutamento de seleção na DGRH (Diretoria Geral de Recursos Humanos).

Com 21 anos, em 1991, foi para o Centro de Computação, através de um concurso interno para programador de sistemas.

Em 1998, já formado em Direito, foi para o serviço de apoio ao estudante, a convite, para uma área de atendimento a discente, e eventualmente docente, no apoio jurídico do Serviço de Apoio ao Estudante.

Ainda em 1998, a convite do Dr. Otacílio e do então Prof. Douglas Zampiere, foi para o antigo EDISTEC (Escritório de Difusão de Serviços Tecnológicos), o antecessor do que é hoje a Agência de Inovação.

Em 2001 prestou um concurso interno e foi para a Auditoria, como auditor interno.

Com a implantação da Agência de Inovação, em 2003, na gestão do Prof. Brito Cruz, foi chamado para estruturar a agência o Dr. Alberto Duque Portugal, ex-presidente da Embrapa e atual secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado de Minas Gerais, que mapeou algumas competências na Unicamp na área de transferência de tecnologia (área de atuação de Pedro) e o chamou para estruturar a área de Contratos e Parcerias. As pessoas que eram da EDISTEC foram incorporadas à Agência de Inovação.

Todas as etapas que enfrentou, sempre a convite, foram marcadas de maneira significativa, representando sempre um novo desafio.

“Participar do processo de estruturação e implementação da Agência de Inovação foi um desafio e, certamente, uma experiência gratificante, pois me possibilitou abertura e amplitude de conhecimentos muito grandes. Uma inserção no cenário internacional e em outras instituições, de norte a sul do Brasil”, ressalta Pedro.

Ministrou, em outras instituições, cursos e palestras, e acompanha a evolução do Sistema de Inovação no país.

A lei de inovação foi promulgada em 2004 e regulamentada em 2005; portanto em pleno ambiente de estruturação da Inova-Unicamp. A Unicamp já tinha essa visão, foi precursora na área de inovação e gestão de estratégia de conhecimento e busca de interação entre diversas instituições.

A partir de 2009, a inserção internacional num projeto com a União Europeia foi de forte crescimento profissional.

Algo engraçado aconteceu com Dª Maria de Lourdes Malta Prety, que era então Diretora do Departamento de Recursos Humanos na DGRH.

Pedro, ainda muito jovem, aprendendo que a linguagem de comunicação das relações profissionais é diferente das pessoais e afetivas, frente a uma

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solicitação de Dª Lourdes, respondeu-lhe algo parecido com “não dá, pois não estou disponível”. Foi sua primeira experiência contundente de aprendizado quanto às deficiências de comunicação. “Não me fiz entender de que não havia tempo para executar a tarefa solicitada, sendo meu primeiro grande aprendizado das falhas de comunicação, muito comum em todas as áreas”, comenta Pedro.

Muitos foram os desafios ao longo de sua trajetória. Situações tensas e outras muito alegres.

Em relações profissionais, teve experiência com diversos profissionais, pesquisadores de renome, e pôde participar de momentos importantes da vida de cada um deles, momentos de tensão, mas também de alegrias, além de suas conquistas.

Um desses importantes profissionais foi o Prof. Yon Park, da FEA (Faculdade de Engenharia de Alimentos), um imigrante, com uma história impactante de dedicação à pesquisa, que conseguiu transferir sua tecnologia para empresas e lançar produtos no mercado. Foi recentemente reconhecido num prêmio de inventores da Universidade, e Pedro faz questão de salientar: “Ver a satisfação do professor por suas realizações e conquistas foi um aspecto bastante marcante, pois sua história realmente me encantou”.

Pedro é atualmente assessor técnico na Agência de Inovação da Diretoria Executiva, cargo formal, no entanto gerencia uma equipe, agentes de transferência de tecnologia, analistas, com perfis diversificados, formação técnico-científica, com advogados que auxiliam na parte de contratos e engenheiros. Coordena também essa área de contratos, que são inerentes à atividade de transferência de tecnologia, de propriedade intelectual, de licenciamento dentro da INOVA.

Além da satisfação pelo trabalho, aprecia muito estar em família, com a esposa e filho. Os estudos também permeiam o seu dia a dia. Está fazendo disciplinas de mestrado. Fez duas especializações pela Unicamp. É professor numa Universidade particular, ministrando uma disciplina de propriedade industrial e intelectual, em um curso de Engenharia Ambiental.

Tem um pequeno hobby, que é colecionar coisas de onde passa.Através dos projetos realizados, conheceu a Inglaterra − a Universidade

de Oxford − em 2009, sendo por ele considerado um grande aprendizado. No segundo semestre de 2009 conheceu a Espanha, a Argentina, o

Peru e a Colômbia, onde teve contato com diversas pessoas, culturas e línguas. “Foram experiências importantes”, ressalta Pedro Ermerson.

Fez o PDG (Programa de Desenvolvimento Gerencial). Achou o curso muito bom e enfatiza: “Seria interessante que todos pudessem participar desse curso, para adquirir uma visão ampla da importância de uma Universidade Estadual e da pesquisa para o desenvolvimento do país”.

Muitos são os agradecimentos, e conclui: “Sou muito grato a todas as pessoas com quem tive a grata possibilidade de dividir o trabalho. Tenho uma enorme dívida de gratidão pelas oportunidades oferecidas, inclusive dentro da Agência de Inovação e na Auditoria. Fiz grandes amigos e agradeço pelo apoio recebido”.

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UM SONHO REALIZADORAQUEL TEIXEIRA GOMES MAGRI

Raquel teve seu primeiro contato com a Unicamp no ano de 1981, quando seu pai precisou de um tratamento de saúde e recorreu ao Hospital das Clínicas para receber atendimento médico. Ela o acompanhava às consultas, juntamente com sua mãe.

Recorda-se com carinho dessa época. Tinha apenas doze anos de idade. Porém, algumas lembranças ficaram bem nítidas em sua memória: ficava encantada com a visão da paisagem do campus da Unicamp, quando o ônibus circular fazia seu trajeto. Observava atentamente pela janela do veículo e pensava: “que lugar lindo!” Não imaginava que um dia este cenário faria parte do seu cotidiano.

Quando iniciou o ano de 1982, Raquel não mais precisou acompanhar seu pai ao Hospital das Clínicas, pois as consultas médicas não eram mais necessárias.

A vida seguia seu rumo e aconteceu a primeira experiência de trabalho que foi rápida e a obrigou a refletir sobre o seu futuro, e assim o fez. Até que uma forte motivação veio ao seu encontro e Raquel pensou: “Eu gostaria muito de trabalhar na Unicamp”.

Enquanto alimentava seu sonho, imaginava-se trabalhando na Unicamp. As imagens que tinha de quando acompanhava seu pai, voltaram aos seus pensamentos com intensidade.

Sua vontade foi tanta que, em outubro de 1984, então com 15 anos de idade, Raquel realizou seu desejo, o de ser admitida para trabalhar na Universidade Estadual de Campinas.

Para sua felicidade, não precisava mais sonhar acordada. Ela era funcionária efetiva desta conceituada Universidade e tinha até registro na carteira profissional, o que era motivo de muito orgulho.

Ao chegar, foi encaminhada para atuar na Reitoria, onde está até hoje. Primeiramente exerceu atividades na CADI e, atualmente, na Coordenadoria Geral da Universidade.

Raquel se considera uma pessoa privilegiada por ter tido a oportunidade de ser admitida na Unicamp.

Sente-se muito feliz, gosta de realizar um bom trabalho e adora o que faz. Sempre se empenha em fazer tudo com amor, dedicação e responsabilidade, desde a mais simples até a mais complexa tarefa.

Acredita que a Universidade permite um horizonte e comenta: “O importante é não desistir dos sonhos, dos objetivos e querer sempre aprender, cada vez mais e mais. Nunca sabemos o suficiente, sempre teremos algo novo para acrescentar”.

Raquel sente-se realizada e conclui: “A Unicamp ajudou a estruturar minha vida e tem contribuído significativamente para esta continuidade. Sou imensamente grata à Unicamp”.

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SEM DESÂNIMOROBERTO CARLOS CUSTÓDIO

Roberto Carlos se recorda de quando entrou no Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas, em meados de 1978, quando a sede ainda era na Vila Marieta, na rua Vitoriano dos Anjos.

Conheceu várias pessoas que lhe deram muito apoio e facilitaram sua integração à sociedade.

Nasceu de uma família humilde, morava em um bairro perigoso da periferia, mas graças à educação dada por sua mãe, ele e seus irmãos seguiram por um bom caminho.

Lembra-se com carinho do escritório de contabilidade, situado no Cambuí, onde trabalhou como patrulheiro.

Foi tratado com muito respeito. Teve apoio do patrão e dos funcionários, que muitas vezes faziam a despesa de sua casa, garantindo-lhe alimentação e roupas, além de levá-lo para almoçar em restaurantes ou até em suas casas.

Foi ali que viu como é ser honesto e ter caráter, pois aprendeu muito com eles. Até seus estudos foram financiados por seus antigos chefes. E ressalta: “Jamais esquecerei o apoio que recebi dessas pessoas tão especiais em minha vida”.

Em 1981 saiu do escritório, pois como estava para completar 18 anos, precisava de um trabalho em que fosse registrado.

Então, seguiu à sede, relatou seu problema e foi prontamente atendido.Chegou à Unicamp em 1982, como patrulheiro, no Instituto de Física,

onde permaneceu por 15 anos aproximadamente.Depois houve sua transferência para o IEL (Instituto de Estudo da

Linguagem), onde está até hoje, como técnico administrativo.Roberto Carlos completa, deixando um conselho aos jovens traba-

lhadores: “Dificuldades virão, mas lutem, não desanimem! Os frutos serão colhidos mais tarde”.

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Roberto Carlos Custódio e Norma Suelli Alegretti registram sua amizade na foto.

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DA SENZALA À CASA GRANDEROBSON JOSÉ DE ALMEIDA

Robson conhecia o fundador da Instituição, Dr. Rui Rodriguez, pois ele era assíduo frequentador do Centro de Ciências, Letras e Artes, onde sua mãe trabalhava. Foi ela quem pediu ao Dr. Rui para que Robson entrasse na Associação de Educação do Homem de Amanhã, a “Guardinha”.

Seu primeiro emprego foi aos 13 anos, numa Eletrotécnica. Trabalhou também no antigo Eldorado, que pegou fogo.

Depois, seria encaminhado para a PUCC, devido à proximidade de sua casa, mas outros guardinhas acabaram indo para lá, e ele foi para o Citibank.

Passado algum tempo, no ano de 1981, foi encaminhado à Unicamp. Estava com 17 anos. Ao chegar, levou um susto com o tamanho da Universidade.

Foi encaminhado para trabalhar no Restaurante, onde permaneceu por mais ou menos 15 anos.

Trabalhava com pessoas que moravam em bairros próximos, eram conhecidas, o que tornou sua adaptação mais fácil.

Robson tem boas recordações daquela época. Lembra-se que no intervalo do almoço, jogavam bola na FEF (Faculdade de Educação Física). Iam atrás do ‘bandejão’, colocavam pauzinhos para simular uma trave de gol, juntavam uns garotos e se divertiam. O momento de lazer dos jovens era o futebol.

Grande parte de sua vida foi na Universidade.Fez cursos no Senai e tentou ser metalúrgico. Na época, buscou um novo

momento, e foi trabalhar numa Indústria Química, mas acabou se queimando com ácido e resolveu então voltar para a Unicamp. Prestou um concurso e passou em segundo lugar, retornando ao Restaurante em 1989.

Trabalhava como operador de máquina na copa, na saída do Restaurante. Sua função era limpar as bandejas, tirar os resíduos de alimentos, colocar os talheres, pratos e bandejas para serem lavados na máquina e retornar as bandejas na fila. “Não trabalhava como cozinheiro, porque de cozinha não entendo, só sei comer e mais nada!”, brinca Robson.

Trabalhou um período de dia e também à noite. Foi ajudante de cozinha e também trabalhou no Almoxarifado.

Saiu do Restaurante e trabalhou na Gráfica do IMECC (Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica) com mimeógrafo, xerox e off set, por cerca de dois anos. Depois do IMECC saiu por um tempo da Universidade.

Ao retornar, exerceu a função de técnico de laboratório no Instituto de Física. Prestou serviço para o Cartório Eleitoral e depois voltou para a Universidade, na Secretaria de Graduação do Instituto de Biologia, onde está atualmente.

Vários foram os bons momentos da juventude. Na época do Restaurante tinha várias amizades, frequentavam a casa um do outro, faziam churrasco,

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jogavam bola juntos. Foi jogador da Ponte Preta, disputou vários jogos como amador e alguns

com um time que foi premiado. Como veteranos, foram campeões em Paulínia, com reportagem, fotos e um bonito troféu.

Vários foram os momentos engraçados que o futebol proporcionou. Jogavam bola com botas sete léguas brancas, para proteger os pés. Certa vez, Robson foi jogar bola descalço e quebrou o dedão. Um senhor colocou seu dedo no lugar e mesmo com dor voltou para o jogo.

Recorda-se de outra ocasião, em que seu colega Quico chutou a bola, sua bota saiu do pé e acertou em cheio a boca de Robson, que ficou inchada. Daí para frente começaram a chamá-lo de “Bicudinho”, apelido esse que não o agradava.

Já havia no grupo vários apelidos, o ‘Fanta’, o ‘Morrendo’, o ‘Patuá’, e Robson comenta: “Eu achava horrível os apelidos e não queria fazer parte daquele time”.

Além do futebol, outros esportes também o agradam bastante, como o tênis de mesa e a natação.

Ao longo de sua trajetória, procurou aproveitar as oportunidades que surgiram.

Fez alguns cursos, como o de computação MS DOS, e o de auxiliar técnico de enfermagem, sendo da última turma do curso realizado dentro da Unicamp, pois agora acontece somente no Cotuca.

Por um tempo trabalhou com transporte de pacientes, inclusive para internação em hospitais psiquiátricos, e como auxiliar de enfermagem da Ponte Preta e do Guarani. Como achou a área da saúde bastante complexa, acabou optando por continuar na área administrativa.

Através de incentivo, acabou por fazer Faculdade de Recursos Humanos. Foi enquadrado na carreira e trabalha na área até hoje.

Tem três filhos, que inclusive utilizaram a creche da Unicamp, benefício este que considera como sendo de grande importância. E comenta: “A Universidade proporciona recursos e benefícios para promover o lado profissional e enquadrá-lo com o pessoal, o que é muito importante”.

Robson trabalhou em outros locais, sempre buscando melhorar sua condição. Tentou ser policial, mas não deu certo. Fez curso de Segurança Patrimonial, trabalhou por um ano, mas desistiu.

As inúmeras experiências ao longo de sua vida profissional o fizeram amadurecer. E conclui: “Agente precisa de chão em nossa vida, de estabilidade, e a Universidade proporciona isso. Sinto-me realizado em trabalhar na Unicamp”.

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UM CAFÉ GOURMET NO BERÇO DO CONHECIMENTORONEI APARECIDO THEZOLIN

Ronei ingressou na Unicamp em 1987. Atuou no CEMEQ e na DGRH e, atualmente, na ASCOM. Soube, por meio de uma vizinha, que estavam abertas as inscrições para o processo seletivo, no qual seriam admitidos menores para trabalhar na área administrativa da Universidade.

Mesmo não sabendo o local na Unicamp, foi sozinho (de ônibus) fazer a sua inscrição.

Realizou a prova e, alguns meses depois, recebeu uma carta que o convocava a trabalhar. Tinha uma experiência de trabalho de dois meses em uma gráfica. A Unicamp foi o segundo emprego.

Assim que chegou à Unicamp, assinou o contrato e, no mesmo dia, começou suas atividades no Centro para Manutenção de Equipamentos (CEMEQ), local que permaneceu até 1999. Fez muitos amigos durante os 12 anos que lá permaneceu. Após esse período, foi trabalhar na Diretoria Geral de Recursos Humanos (DGRH).

Já formado em Jornalismo (1997), atuou como jornalista na DGRH, onde produzia boletins, informativos, publicações expressas, notícias para o site na internet e publicações especiais ao público da Unicamp. A experiência adquirida foi um dos aspectos positivos nessa área da Administração da Universidade. Conheceu várias pessoas nos setores e aprendeu muito com elas. Vislumbrou nova oportunidade na área jornalística e atuou até 2002 na DGRH. Fez muitos amigos. “Participamos de várias atividades. Também, promovemos eventos entre os amigos. Até hoje temos encontros com certa frequência”.

Ao longo de sua carreira exerceu diversas funções: como auxiliar administrativo, técnico administrativo, secretário e supervisor de seção. As oportunidades favoreceram seu profissionalismo.

Durante sua carreira encontrou várias dificuldades, mas sempre procurou fazer o melhor em suas funções e atividades. Foi e está sendo um aprendizado trabalhar na Universidade. A cada dia uma novidade, uma inovação, uma tecnologia.

Na Faculdade (PUC-Campinas), aprendeu as técnicas de produção de textos, produção de jornais, programas de rádio e tv, além das disciplinas práticas em laboratórios de Jornalismo. Também, disciplinas teóricas e práticas na área de Artes Cênicas.

Na Assessoria de Imprensa (ASCOM), lida com a comunidade acadêmica e com a imprensa/mídia do Brasil – rádios, tvs, jornais, revista, portais de internet e, também, publicações especializadas tanto nacionais como internacionais.

Fez pós-graduação em Comunicação Jornalística, na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Por dois anos viajava a São Paulo toda semana. Também, cursos na área de Jornalismo Científico, ambiental de internet.

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Todos os cursos que a Unicamp ofereceu, aproveitou. O primeiro foi datilografia. Depois fez “não diga alô, diga Unicamp”. Ainda, informática, internet, editor de texto, Word, Excel, PowerPoint, inglês, editoração de jornal, fotografia, edição de vídeo, liderança, coaching gerencial além de outros cursos na área de qualidade, que julgou ser mais importantes entre outros.

Várias passagens interessantes aconteceram ao longo da sua vida na Universidade. Uma delas curiosa. É quando as pessoas que serão entrevistadas, por conta de uma pesquisa ou estudo, perguntam se a divulgação sairá na TV, se aparecerá na Globo (TV Globo), e se “dará no Fantástico ou pegadinha do Faustão”. Ronei ressalta: “O bom humor vale muito para lidar com as pessoas”.

Recorda-se do início da carreira, de como foi difícil começar a trabalhar em um universo novo e desconhecido, a complexidade da Unicamp.

Teve a chance de conhecer pessoas que lhe deram apoio. O professor Joni foi especial quando atuava na DGRH. Ele foi o responsável pela sua transferência para a ASCOM, num momento oportuno. “Só tenho a agradecer ao Joni e ao Eustáquio. O Eustáquio me recebeu com o maior carinho na Assessoria de Imprensa. A partir de 2002, novas oportunidades surgiram na minha profissão e na minha vida na ASCOM. Agradeço outras pessoas que colaboraram e me incentivaram ao longo da carreira, como o Arsênio Lente de Carvalho, Laisez Cabral P. Hernandes, Carmem Puia, Paulo, Marino, Fábio Lemos, entre outros”.

Quando da sua saída do CEMEQ, o grupo de amigos preparou uma festa de despedida. “Foi muito bacana e emocionante”.

Ronei almejou sua carreira e buscou sua qualificação e aperfeiçoamento. Ao longo dessa estrada, atuou e atua com diversos públicos, tanto na Unicamp quanto fora. Professores, alunos, pesquisadores, funcionários e colegas da profissão de jornalista estão na rotina de trabalho. Desses, muitos são amigos. Também fez muitos amigos jornalistas fora da Universidade. A atividade permite esses contatos e amizades.

Adora viajar. Já conheceu alguns países da Europa e da América do Sul. Costuma dizer: “É preciso abrir mão de algumas coisas para conseguir outras. Mas não se pode esquecer de planejar aquilo que quer fazer. Seja motivado e determinado para com seus objetivos”. Sempre procurou aproveitar as oportunidades profissionalmente e, também, da sua vida privada.

Fez disciplinas como aluno especial no Núcleo de Estudos de População (Nepo), na área de migração. Pretende fazer mestrado e doutorado.

Trabalhou com o Alexandre que dizia: “Às vezes não basta você ensinar a pessoa, tem de pegar na mão da pessoa e ensiná-la a fazer”.

Na Assessoria de Imprensa, tem que ter equilíbrio em tudo, ser preciso e claro, pois você atua com a informação. É ter responsabilidade por suas atividades. Procura aprender e crescer com esse aprendizado, sempre.

Encara o trabalho com seriedade e profissionalismo. Considera um privilégio trabalhar na Unicamp. Por conta da diversidade que se encontra cada momento nas faculdades, institutos, centros, núcleos e administração.

Acredita que trabalhar com vontade, carinho, paixão e qualidade é um dever: “O trabalho é como se fosse um presente que damos a alguém, temos

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que presentear da melhor maneira, como se o presente fosse seu”.Ronei conseguiu auxílio para cursar a faculdade. Um programa da

Unicamp aos funcionários colaborou nos dois primeiros anos.Além do trabalho, tem como hobby a fotografia e a gastronomia. Prepara

e inventa receitas, prepara receitas dos chefs famosos. Fotografa os pratos para publicação na internet. Adora café. É um gourmet em café. Inclusive, busca o café no sítio, em Divinolândia-SP. Costuma dizer: “É um café da roça”.

Também é um apreciador de cervejas artesanais e especiais. Fez curso na área de preparação. Pretende realizar outros cursos nessa área de gastronomia.

Agradece, e muito, a todas as pessoas que ofereceram as oportunidades e o que foi proporcionado pela Universidade. “A Unicamp é um berço do conhecimento, por sua diversidade em pesquisa e ensino, de pessoas e por sua atuação. Os caminhos estão em todo lugar, basta aproveitar cada um deles. Depende muito de você aproveitar cada uma dessas oportunidades”, conclui.

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FORMIGA ATÔMICA E BARATAS ALBINASROSELI DA SILVA LOPES

Roseli trabalhava como guardinha na Sanasa. Soube então que estavam abertas as inscrições para um processo seletivo na Unicamp. Fez a prova quando tinha 13 anos e aproximadamente um ano depois, foi chamada.

Para poder assumir a função na Unicamp, precisou pedir demissão na Associação de Educação do Homem de Amanhã, a “Guardinha”. Desligou-se da Instituição em julho de 1987, onde supostamente seria admitida pela Universidade. Porém, devido a um erro de exame no CECOM, por conta de um homônimo, ficou desempregada de julho a novembro, algo que lhe causou grande frustração. Todo o processo burocrático foi refeito, o erro corrigido, e Roseli pôde começar a trabalhar em 24 de novembro de 1987.

Foi encaminhada ao Instituto de Química. Ao chegar à Unicamp, achou tudo maravilhoso, o ônibus, as pessoas, o local. Permaneceu no IQ por exatos dez anos.

Tem muitas recordações agradáveis do seu início de carreira na Universidade.

Lembra-se de uma vez que estava na Praça da Paz, próxima ao restaurante, descansando, quando um rapaz se aproximou e lhe deu uma bonequinha. Em meio a elogios lhe disse que a achara linda e que queria lhe presentear. Roseli achou muito interessante, e guardou a bonequinha por muitos anos.

Recorda-se de ter feito muita “molecagem” na época de mensageira. Subia em árvores, apanhava frutas para comer. Dormia no banco da praça.

Tinha um banheiro enorme no Instituto de Química e, na hora do almoço, várias pessoas colocavam papelão no chão e dormiam para descansar. Além disso, havia venda de diversos itens. Roseli costuma dizer que “era montado um verdadeiro ‘circo’ para a venda de coisas”.

Recorda-se também da brincadeira com barbante nas mãos que fazia com seus amigos, como o Flavinho.

Enquanto ficou no Instituto de Química, frequentou muito a Biblioteca do IEL (Instituto de Estudo da Linguagem). A Biblioteca Central também foi bastante utilizada. Existia um projeto que se chamava “Biblioteca do Lazer”, o que era muito bom, pois podia retirar livros. Leu muito naquela época, e até hoje lê no banco da praça, em seu horário de almoço.

Teve momentos muito felizes na época do Instituto de Química.Recorda-se que fizeram um chá de bebê quando Roseli teve sua primeira

filha, que agora já está cursando o primeiro ano do Ensino Médio. A filha utilizou o CECI, a EMEI, o Prodecad, o Sérgio Porto. O filho menor, com nove anos, fica meio período no Prodecad e outra parte do dia no Sérgio Porto, benefício este que considera de grande valor.

Chegou a começar a Faculdade de Administração de Empresas, mas foi

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numa fase difícil de sua vida, era muito nova, não tinha recursos financeiros e não pôde levar adiante o curso. Fez então, tempos depois, a Faculdade de Recursos Humanos.

Após anos no IQ, Roseli foi aprovada em um processo seletivo e passou a ser secretária de direção, assumindo o cargo no Instituto de Estudo da Linguagem em 1997.

Em 2007 assumiu como diretora de serviços da AFAO (Área Financeira Administrativa Operacional).

Vários foram os cursos e treinamentos que participou. Treinamento para secretária, para técnico administrativo, curso de relações interpessoais, relações humanas, o SISA (Semana de Integração e Soluções Administrativas) e palestras.

Na parte de informática fez tudo que o Centro de Computação ofereceu.Fez também cursos de secretariado, inglês, vários módulos com apoio

do CEL e o PDG (Programa de Desenvolvimento Gerencial), que considera muito importante para lidar com as questões gerenciais do dia a dia.

Algo que marcou muito seu início de carreira foi quando aos 15 anos viu pela primeira vez uma máquina Olivetti Eletrônica, que era a sensação do momento. Em uma ocasião, quando estava datilografando, errou, e usou o “branquinho” para a correção, mas sem querer borrou a tela da máquina. Ficou desesperada, mas a chefe nunca comentou nada sobre o assunto e Roseli também não. Permaneceu apenas na memória aquele episódio, além do medo que sentiu de ser demitida.

Muita gente foi importante em sua trajetória. O Prof. Fernando Galembeck, que considera um espelho de competência e trabalho, e que permitiu sua ida ao IEL; a Maria Alzira; a Cleonice que foi uma base muito forte de aprendizado e a ensinou muito; as meninas da limpeza do Instituto de Química; a Alice; o pessoal do Xerox; a Normélia; a Paula; a Yara, que infelizmente faleceu prematuramente, mas foi uma senhora que a recebeu com muito carinho. O Prof. Luis Dantas, a Profª. Raquel Fiad, o Prof. Wanderley Geraldi, a Creuza e o Gilmar são pessoas que a ajudaram muito. Atualmente tem muito contato com o pessoal da área operacional e sente um carinho muito grande por eles, e conclui: “Respeito muito a todos que desenvolvem um trabalho sério, de grande importância. O pessoal que ajuda na manutenção, os pedreiros, os eletricistas, os encanadores, as meninas da limpadora, Seu Francisco, uma pessoa do bem, que já se aposentou e faz uma falta enorme com seu profissionalismo, enfim, a todos, cada qual com seu valor”.

Roseli é chamada de “Formiga Atômica”, porque sempre foi muito agitada e corre de um lado a outro, batalha pelos projetos e para colocá-los em prática.

Está há 13 anos no IEL. Nos últimos três anos pôde perceber como o IEL vem conquistando

espaços. Muitas são as mudanças de salas e até de prédios inteiros. “O IEL, como canteiro de obras, é uma conquista, resultado de muita luta”, comenta.

Entre tantas habilidades, Roseli tem também facilidade em escrever.

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Já escreveu um livro intitulado “Joaquim Neres Pereira: parte, baluarte, mas a sua história continua”, sobre a história de um ministro da igreja que frequenta, já falecido. Sua filha também adora escrever, o que lhe causa muito orgulho.

Fez a conversão de um manuscrito de 1960 em material digital, de Luís Galho, sobre os primórdios da igreja. Na Unicamp, sua experiência relacionada à escrita foi em anotar as atas e transcrever as reuniões.

Roseli desenvolve um trabalho muito sério e voltado à resolução de problemas, para que de fato as melhorias aconteçam. Luta pelos professores, pelos jardineiros, pela melhoria estrutural e desenvolve projetos para que tudo isso ocorra.

Vários acontecimentos permearam sua experiência profissional. Lembra-se de algo que marcou, logo que assumiu como diretora de serviços em 2007. Havia uma caixa de contenção num local em obra. Engenheiros e estagiários chegaram para verificá-la, pois fazia parte do projeto de um novo prédio. Era uma enorme caixa e foi preciso muita força para retirar a tampa sobreposta a ela. Quando conseguiram, o susto foi grande, pois havia uma enorme quantidade de baratas albinas que começaram a sair. Ninguém nunca tinha visto nada igual. A estagiária que estava no local saiu correndo, tamanho o susto que levou.

Em outra ocasião, chamou uma empresa para fazer a limpeza dos telhados. Novamente uma surpresa, pois havia uma família de urubus que morava ali. Um macho e uma fêmea desceram para “namorar” na escada do prédio, em frente à sala de aula, e todo mundo ficou olhando. O órgão responsável pelo meio ambiente foi chamado e disseram que os urubus são animais protegidos e que nada pode ser feito contra eles. Somente tamparam o alçapão onde eles ficavam. Gambás também foram encontrados muitas vezes.

Outro fato marcante foi quando, certo dia, uma árvore seria retirada da praça, no Ciclo Básico, mas uma turma enorme de alunos abraçou seu tronco e não permitiu que ela fosse cortada. Até hoje ela permanece no mesmo lugar.

Roseli conclui: “Muitas foram as vivências dentro da Universidade. Literalmente cresci dentro da Unicamp”.

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CURIOSIDADE E A PRAÇA DA PAZSARA APARECIDA RODRIGUES DA SILVA

Sara entrou na Unicamp como mensageira, com 16 anos, na CGI, em 1984. Foi substituir um mensageiro que estava de férias. Depois seguiu para o departamento de Recursos Humanos, onde ficou por cinco anos.

Tempos depois houve um bolsão e Sara se inscreveu para uma vaga no Instituto de Matemática. Fez a entrevista e foi aceita. Ficou por onze anos, como administrativo de um setor de informática, exercendo as duas funções, administrativa e informática.

Surgiu então um concurso interno para trabalhar à noite, no Instituto de Artes. Prestou e passou, ficando por quatro anos. Neste período engravidou, mas teve algumas complicações devido a um derrame. Quando voltou de sua licença, não conseguia se lembrar de nada do Instituto de Artes, e teve que voltar para o Instituto de Matemática, pois de lá tinha total memória. Está há cinco anos nesse setor.

Onde trabalhava havia mais de sessenta moças, ficavam em um grande galpão, eram poucos meninos. Sara fazia serviço para essas moças, na época em que era mensageira. Realizava serviço de banco.

Andava muito pelos jardins na Praça da Paz, lembra-se com carinho dessa época: “Relembrar da época de mensageiros é muito gostoso, pois havia muita conversa e brincadeiras. Estávamos sempre juntos, foi uma fase boa”.

Achava a hora do almoço a mais gostosa.Recorda-se que certa vez, na Praça da Paz, ela e suas amigas viram

uma turma saindo de um lugar redondo da praça, e no chão havia vários tocos de cigarros jogados. Todos os dias passaram a observar a movimentação no local. Quando eles saíam do buraco, elas entravam para verificar o que tinham deixado ali.

“Morríamos de medo, mas passamos a vigiá-los todos os dias. Era divertido, pois parecia uma investigação, que chamávamos de ‘operação papa-capim’. Achávamos o máximo”, comenta ela.

Sara mantém alguns contatos através da internet, e tem maior contato com o Val e a Adriana, do Instituto de Geografia, que são seus amigos da época de mensageiros e atualmente frequentam a mesma igreja aos finais de semana.

As filhas utilizaram os benefícios educacionais que a Unicamp ofereceu, o Prodecad e o Sérgio Porto. O filho não teve a mesma oportunidade, pois como Sara trabalha no período noturno, não daria certo o horário.

Está no setor de informática do Instituto de Matemática. É técnica de apoio ao usuário. Trabalha com o usuário e resolve os problemas relacionados à informática. Recebe o serviço do setor e o encaminha para as pessoas executarem.

Fez muitos cursos de informática oferecidos pelo Centro de Computação

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na Unicamp. Aproveitou as oportunidades que surgiram. Formou-se em Tecnologia da Informação.

Pensa muito em quando se aposentar. Quer continuar trabalhando, talvez em algo novo e, se possível, ainda na Universidade, que parece ter um novo programa a oferecer para quem se aposentar. E completa: “Foi muito gostosa e alegre a época como mensageira”.

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RETOMANDO OS ESTUDOSSIDNEI DOS SANTOS

Sidnei foi contratado como mensageiro da Unicamp em 1 de outubro de 1983, mas iniciou suas atividades em 17 de novembro de 1983. Tinha 14 anos. Tudo aconteceu por acaso, em um dia tirou seu documento e, no outro, já estava empregado.

Ingressou na Unicamp por indicação de um cunhado que era patrulheiro na Universidade, cujo chefe perguntou se conhecia algum menor que quisesse trabalhar, pois havia uma vaga. Entrou no Instituto de Biologia, na Genética Vegetal, trabalhou por 15 dias e depois foi para a Reitoria, na DGRH (Diretoria Geral de Recursos Humanos), onde ficou 18 anos e 7 meses.

Sidnei preserva até hoje amizades especiais da época enquanto mensa-geiro.

Conhecia quase todo muito, pois trabalhava em uma área de expediente, que era responsável por enviar documentos para outros setores, o que contribuía para fazer novos contatos.

Recorda-se das inúmeras brincadeiras, apelidos e formas dos jovens se chamarem: ‘pasteleiro’ (guardinha), ‘pastel’ (patrulheiro), ‘the mensa’ (mensageiro).

A turma se encontrava no Protocolo ou no Banco, eram points, onde as conversas aconteciam. Havia muito bate-papo entre eles. Quase não saíam, os encontros aconteciam mais dentro da Universidade.

Naquela época, a fase boa para a maioria dos jovens era até os 18 anos, depois havia certa ansiedade se continuariam a trabalhar na Unicamp ou não, se conseguiriam passar pela avaliação que era feita e continuar a carreira na Universidade. Sidnei comenta: “Tive sorte, pois quando entrei na Universidade logo fui contratado. Mas não gostava de ver a ansiedade dos meus amigos em relação à contratação”.

Ficou um tempo sem estudar, mas pessoas especiais como João Carlos Curti, chefe da DGRH, e Paulo Ferreira, ambos ex-mensageiros, deram-lhe muito apoio e conselho, e o motivaram . “Chegou uma hora que não deu mais e tive que voltar a estudar. Via meus amigos e tentei me espelhar neles”, comenta.

Formou-se em Recursos Humanos, trabalhou 17 anos e 6 meses nesta área. E ressalta: “A faculdade foi uma escola muito valiosa, tinha muitas amizades importantes, era uma grande família, havia pessoas preocupadas”.

Sidnei e a esposa fizeram faculdade juntos. Foram espelhos para os jovens alunos da turma. Tem uma filha que passou pelo CECI da Unicamp; hoje está com 19 anos e é universitária.

Amigos antigos ainda conseguem manter o vínculo, e Sidnei se orgulha ao dizer: “Temos um grupo que até hoje se frequenta. Combinamos saídas, passeios, aniversários, almoçam juntos. Ainda conseguimos manter esse laço”.

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O Marcelo e o Paulo fazem parte dessa turma de amigos, ex-mensageiros, que trabalharam muito tempo juntos. São grandes amigos.

Como sempre valorizou muito as amizades conquistadas, recorda-se com pesar dos amigos que se perderam no caminho. Alguns casos de mortes prematuras ocorreram entre os menores. José Benedito Boa Nova (conhecido como ‘Zezinho do CEMEQ’) foi mensageiro, entrou junto com Sidnei, e faleceu ainda jovem, deixando muita saudade.

Um momento considerado importante foi o encontro dos ex-mensageiros /patrulheiros e guardinhas. “Foi maravilhoso e emocionante aquele evento”, ressalta.

Ao longo de sua trajetória profissional teve chefes que lhe deram muitas oportunidades, entre eles, Maria Gorete S. Coelho, uma pessoa que marcou muito por lhe oferecer muitas oportunidades e incentivos.

Outra pessoa importante, considerada como uma “mãezona” por Sidnei, foi Da Irma, que era a responsável pelo Protocolo Central da DGA. Às vezes ficava um pouco brava com o barulho que os mensageiros faziam ao chegar, mas geralmente tinha muita paciência.

Sidnei trabalhou em quatro ou cinco departamentos, oportunidade rara que procurou abraçar. Sempre buscou melhorar os processos e ir atrás de novas tecnologias.

Atualmente está na área de treinamento na AFPU (Agência para Formação Profissional da Unicamp), como secretário. O setor dá treinamento a todos os funcionários da Universidade, menos aos docentes. A infraestrutura para que aconteçam os treinamentos é de sua responsabilidade.

Sidnei procurou, ao longo de sua vida, melhorar e progredir. Aprendia e repassava seu aprendizado. E conclui: “Fomos uma geração mais ‘cabeça’, com responsabilidade. Tínhamos direcionamento, pessoas que aconselhavam e davam apoio. Devo muito à Universidade, que é para mim como uma grande família”.

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UM VENCEDORSILVIO LIMA

A Associação de Educação do Homem de Amanhã, com sede no bairro Ipaussurama, tinha cerca de 30 alunos; Silvio Lima era um deles. Garoto humilde, ingressou na Guardinha com 12 anos, por orientação de uma assistente social, com a finalidade de ajudar no sustento da casa. Fez um curso preparatório durante nove meses. Trabalhou inicialmente em um escritório de contabilidade; depois permaneceu por dois meses no antigo Eldorado, que pegou fogo, e depois seguiu à Unicamp.

Aos 13 anos foi enviado para trabalhar na Santa Casa, em 22 de junho de 1982. Seu registro em carteira se deu no dia 13 de maio de 1985.

Iniciou sua carreira profissional como guardinha, permanecendo por um período de três anos, e depois se tornou mensageiro, por mais ou menos três anos também. Passou então a escriturário, exercendo esta função por mais ou menos uns dez anos e, posteriormente, assumiu como secretário, função que exerce até hoje.

Ficou no setor de Anestesia até os 18 anos de idade, quando foi recrutado pela Aeronáutica.

Ao longo de sua trajetória, Silvio passou por inúmeras dificuldades. Lembra-se de quando estava na aeronáutica e tinha que marchar três quilômetros para ir rumo ao refeitório e três para voltar, no horário do almoço. O sol a pino tornava a tarefa ainda mais desgastante.

Por inúmeras vezes optou por não comer, devido ao cansaço e falta de interesse pela refeição. Recorda-se de um episódio desagradável. Certo dia, apesar da fome que o acometia, decidiu não marchar os seis quilômetros. Mas, independente de não querer almoçar, lembra-se de ter sido obrigado a marchar, como punição. Quase desmaiou.

Comida sempre foi um problema para Silvio, tanto que quando estava na aeronáutica, achava a comida péssima e chegou a sentir saudade do ‘bandejão’ da Universidade. Hoje, alimenta-se na lanchonete diariamente, porém, de tempos em tempos almoça no refeitório, para estar com os colegas.

Cumprido seu tempo na aeronáutica, retornou à Unicamp aos 19 anos, novamente na área de Anestesia, onde trabalhou 24 anos na Secretaria do Centro Cirúrgico. Trabalha atualmente no HC como secretário, e costuma dizer que “acredita que o HC tenha os melhores profissionais de saúde do Brasil”.

Embora tenha passado por inúmeras situações difíceis, considerando-se uma pessoa firme e com poucos amigos, no fundo é um ser humano lutador e capaz de proporcionar uma educação de qualidade aos filhos, dando-lhes carinho, atenção e boa qualidade de vida.

Apesar da Guardinha ter sido o início de um crescente processo profissional, Silvio vivenciou situações nem sempre agradáveis. Certa vez,

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seu chefe da época o incumbiu de comprar um “churrasquinho”. Ao efetuar o pagamento, recebeu de troco uma bala, e a chupou. Entregou o lanche ao chefe, que lhe pediu o troco. Como ele havia chupado a bala, foi obrigado a vender seu passe de ônibus, para entregar a moeda de dez centavos ao chefe.

Outro episódio marcante em sua vida foi quando teve que levar documentos do Hospital Irmãos Penteado à Maternidade. Chovia muito, e perguntou ao chefe se podia aguardar a tempestade passar, tendo uma recusa. Para proteger os documentos, enrolou-os em saco plástico; porém, foi obrigado a retornar ao local por três vezes, pois o chefe alegava que estavam amassados.

Chorou muito neste dia e pediu ao seu pai para sair da Guardinha. O pedido foi recusado, pois seu salário era necessário para o sustento da casa.

Uma vez por mês tinha que passar na sede da Guardinha. Um dia, passando pela fila do bandejão foi abordado pelo chefe, que lhe deu uma bandejada na mão por achar que estava demorando demais para se servir. E recorda-se: “Fiquei muito bravo, a bandeja caiu no chão, e quase saímos no tapa”.

Embora tenha tido muitas lutas no decorrer de sua trajetória, sente-se vencedor pelas conquistas: “Sofri muito quando era jovem, não foi fácil! Lutei muito para chegar até aqui”.

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A MENINA DO RGSOLANGE DE BRITO ARAÚJO

Solange adorava brincar com os amigos. Sua mãe, preocupada por ela ficar muito na rua, resolveu inscrevê-la no processo seletivo para mensageiros da Unicamp. Solange comenta ter sido de uma das últimas levas de mensageiros a ingressar na Universidade. Começou em agosto de 1987, estava com quase 15 anos de idade.

Foi encaminhada direto para o IA (Instituto de Artes), e ao longo de sua carreira só mudou de departamento, porém sempre dentro do mesmo Instituto.

Quando Solange começou a trabalhar, mal sabia tomar um ônibus. Aprendeu a descer do circular em frente ao HC, e de lá seguia a pé até o IA. Recorda-se que morria de medo de se perder.

Quando foi liberado o uso do ônibus fretado, aproximadamente duas semanas depois que já estava na Unicamp, encontrou conhecidos, que eram guardinhas e patrulheiros. Sua mãe também trabalhava na Unicamp, como enfermeira do HC.

Iniciou sua trajetória profissional na comissão de Pós-Graduação, onde ficou por muitos anos, até que houve uma troca de coordenador e Solange foi para a Diretoria. Depois foi para o Centro de Produções, onde agendava e organizava os eventos. Ficou por aproximadamente cinco anos.

Entre várias pessoas que tiveram uma significativa passagem por sua vida, recorda-se de João, do Centro de Comunicação, e Maria Inês Galvão, do IA, ambos muito queridos por ela. Agiam como se fossem seus pais. Faziam compras para ela, e estavam sempre muito presentes em sua vida. Ela passava os finais de semana com eles, que por não terem filhos, parecia que a tinham adotado. Maria Inês lhe ensinou várias coisas, até a comer com garfo e faca. Ambos faleceram com câncer e deixaram saudade. Solange ressalta: “Tive vários ‘pais’ e várias ‘mães’ no IA, pois como sou pequenininha, entrei muito nova, sempre fui bem cuidada e protegida por todos. Era a ‘mascote’ do Instituto”.

Desde que entrou no IA teve incentivo em relação à dança, uma de suas grandes paixões, inclusive de sua chefe. Dá aula de dança para crianças. Participa do projeto “Descobrindo Talentos”, no Jardim do Lago, onde incentiva várias meninas da comunidade a fazerem aulas de dança, ginástica olímpica e natação. Algumas alunas ficam até um pouco mais do que a idade máxima permitida no projeto, que é 18 anos, tamanho o envolvimento. Procura manter contato com ex-alunos, que até hoje telefonam e vão à sua casa.

O foco da Universidade sempre foi “estudar para progredir”, e Solange cresceu com esta meta, contando sempre com o apoio de pessoas que ajudaram a direcionar seu caminho.

O Prof. Etienne Samain foi alguém especial que a ajudou na escolha pela Faculdade de Educação Especial. Foi um grande incentivador em sua vida.

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Solange se recorda que antes mesmo que ela ou seus pais fossem pegar o resultado do vestibular, o professor já tinha visto que ela havia passado.

O pai, dentro de sua simplicidade, achava que por Solange trabalhar com crianças portadoras de necessidades especiais, ela fosse médica. Sente muito orgulho da filha.

Sua primeira graduação foi em Pedagogia/Educação Especial e, atualmente, está cursando a Faculdade de Direito.

Cultivou algumas amizades, e se lembra que no início da carreira, muitas eram as brincadeiras a que era submetida.

Recorda-se de quando entrou no IA e o Elcio Marcelino e o Alexandre Carmona ficaram responsáveis por lhe ensinar o serviço. Ensinavam tudo errado, como brincadeira. Colocavam Solange na máquina de escrever ruim. Ela fazia coisa errada por conta de ter aprendido errado com eles, que riam muito. Faziam com que ela pegasse o circular interno, e seguisse com pilhas de documentos e processos e a mandavam para o lugar errado. “Outros mensageiros é que acabavam me ajudando a resolver”, relembra.

Hoje são muito amigos, mas Solange se lembra do tanto que sofreu com as “pegadinhas” dos dois, porém eram brincadeiras inocentes, que nunca atrapalharam o andamento do trabalho. Paulinha também brincou algumas vezes com Solange. “Hoje damos risada quando nos lembramos das brincadeiras.”

Participavam de danças e festivais com o pessoal do fretado. O “Kojak”, um amigo do IEL, cantava, dançava e agitava as brincadeiras.

Participava de reuniões, churrascos e os amigos diziam: “Vamos chamar a Sol, pois ela fotografa tudo”.

Ivaldo Cobra, o “Cobrão” e Talari foram amigos de aventuras fora da Unicamp. O Ivaldo Pessoa foi alguém que lhe ensinou muitas coisas.

Fez muitos cursos. Todas as chances que a Universidade lançava, Solange participava. Fez curso para secretária, inglês básico, além de participar do encontro de secretárias em São Pedro, que acontece todo ano em setembro, e também de inúmeras palestras.

No banco, quando iam receber, não gostava de mostrar seu RG, pois tinha vergonha da foto. O caixa questionava que precisava confirmar se era ela mesma. Ele a via e falava: “Olha a menina do RG”. A fila ficava emperrada, pois ela só mostrava o verso do documento. “Ele sabia quem eu era e fazia essa tortura comigo, só porque eu ficava vermelha de vergonha”, comenta. Outro fato marcante acontecia por conta de trabalhar toda maquiada, com salto alto. Os outros funcionários, para mexer com ela, diziam que o fretado estava no ponto, e que se ela não corresse, o perderia. Na verdade, o ônibus não havia chegado, e ela corria sem necessidade.

Momentos bons permearam sua vida, porém Solange tem duas tristes recordações. A primeira diz respeito a Serginho, que foi mensageiro na Reitoria, e morreu ainda muito jovem. Morava no mesmo bairro que ela e no dia que faleceu houve grande confusão em frente à sua casa, com carro de polícia e ambulância. Ela acompanhou tudo e se lembra com pesar. Outro triste episódio

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foi quando encontrou um ex-mensageiro que trabalhou na Unicamp, pedindo dinheiro no meio da rua. Ela conversou com ele e soube que saiu da Universidade, pois se envolveu em um furto, por conta de ser usuário de drogas. “Foi muito triste esse encontro. Ele teve dois caminhos e, infelizmente, escolheu o errado”, conclui.

Solange é determinada. Gosta de sempre começar alguma coisa e ir até o fim. Adora viajar e comer fora. Vai à chácara dos pais sempre que pode, gosta de reuniões com amigos. Já conquistou seu apartamento. Sente-se uma pessoa realizada.

Tem alegria ao lembrar quando pegou um bolo de dinheiro do décimo terceiro salário e foi comprar seu carro. Não conseguiu encher o tanque no dia que foi buscar o carro, e seu pai precisou lhe dar dinheiro para a gasolina. Mesmo assim, lembra-se da emoção que sentiu.

Sempre procurou aproveitar as oportunidades que surgiram. Quando abriu um concurso interno para secretária do Departamento de Cinema, prestou e passou em primeiro lugar. Está há quatro anos no setor, que julga ser tranquilo e muito bom. Trabalha diretamente com seis professores.

É grata pelas inúmeras conquistas e realizações profissionais e pessoais alcançadas. E conclui: “Minha mãe acertou quando me incentivou a ingressar na Unicamp. Tive a base necessária para moldar minha trajetória”.

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DIA DE PAGAMENTOSONIA MARA CAMARGO DOS SANTOS

Sonia Mara entrou como mensageira na Unicamp, com 15 anos, em 6 de abril de 1987.

Ficou 13 anos na Pró-Reitoria de Pesquisa e saiu para poder adequar o horário de trabalho às suas necessidades. Foi então para o HC, na recepção da Radiologia, cuja carga horária era reduzida. Tempos depois foi para a Medicina Nuclear e faz três anos que está na Divisão de Imagem, como supervisora de sessão dentro da Radiologia.

Sua supervisora gostou do seu trabalho e a colocou em vários setores para aprender diferentes funções.

Fazia horas extras, chegou a trabalhar por 12 horas seguidas durante uma semana toda, o que considera ter sido uma experiência positiva, pois aprendeu muito.

Ao ingressar na Unicamp foi muito bem recebida. Teve facilidade de adaptação, pois já conhecia algumas pessoas que trabalhavam na Universidade.

Sonia nunca teve problema com colegas e chefes ao longo de sua trajetória, pelo contrário, tem amigos da época de mensageira, mas que infelizmente pouco os encontra atualmente, pois trabalhando no hospital os horários são restritos.

Entre muitos que passaram pelo seu caminho, Olga, da Pró-Reitoria de Pesquisa, foi uma chefe que sempre a elogiou e proporcionou oportunidade de melhoria em sua carreira. “Tudo que aprendi foi com ela. Devo-lhe muito”, ressalta.

Várias são as recordações do tempo que era mensageira. Um fato que achava ruim era o dia de pagamento. Os mensageiros queriam furar fila, mas os funcionários do Banco não deixavam. “Tinha uma fila só para os mensageiros, mas como era demorada e comprida, tentávamos entrar em outras, só que não permitiam e nos mandavam voltar”, relembra.

A parte que julgava boa era estar com os amigos. Lembra-se das brincadeiras de Dário. Subia a calça e falava para que olhassem suas meias, mas ninguém nunca conseguia olhá-las. Também imitava pessoas com perfeição. A forma como brincava, arrancava sorrisos de todos à sua volta.

Os momentos de greves também fazem parte da memória de Sonia, pois além de tudo, ainda sofria ao ter que comer “marmitex”, pois não gostava da comida.

Algo que considera muito importante são os benefícios educacionais oferecidos pela Unicamp aos filhos de funcionários. Seus dois filhos fizeram até o infantil e depois seguiram para outras escolas. Hoje o mais velho está com 20 anos e o mais novo com 15.

Entre acontecimentos marcantes, Sonia recorda-se do assalto com

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tiroteio que aconteceu no Banco. “Eu tinha acabado de sair e soube do assalto. Senti muito medo”, relembra.

Com uma boa trajetória, sente-se grata pelas oportunidades oferecidas. E conclui: “Tudo que sei hoje aprendi aqui na Universidade”.

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O HC É UMA ESCOLASORAIA ALESSANDRA DAMIÃO ALCÂNTARA RICARDO

Soraia ingressou na Unicamp em 9 de maio de 1986. Com quase 14 anos prestou o concurso para mensageiros, junto com alguns amigos.

Vários também ingressaram no mesmo período e estão na Universidade até hoje, inclusive uma de suas amigas é secretária do Reitor atualmente.

Entre tantas amigas estão a Andrea, Mônica, Sonia, Elizete e Gislaine, que ainda trabalham na Unicamp, e Regiane e Rosana, que já saíram.

Logo que chegou à Unicamp, Soraia foi para o Instituto de Física, na Secretaria do Estado Sólido, onde ficou em período de adaptação por três a quatro meses.

Tem uma lembrança muito boa da época em que comia “bolinho de chuva” feito pelas senhoras da copa do IFGW (Instituto de Física ‘Gleb Wataghin’), achava delicioso.

Passou para a DGRH3 (Diretoria Geral de Recursos Humanos), no Expediente, onde havia um ambiente muito familiar para se trabalhar.

Quando ainda jovem, participava de festas promovidas na Universidade. “O ambiente era agradável e me divertia muito”, relembra.

Os superiores tinham paciência, inclusive para atenderem as ligações de sua mãe, que se preocupava em saber se ela estava trabalhando direito. “Coisas de mãe”, como costuma dizer.

Conheceu Cleide, considerada uma mulher incrível, que a tratava como filha. Lembra-se com carinho quando ela fazia uma lista de coisas gostosas e mandava comprar na feira interna da Unicamp, para distribuir entre os mensageiros. “A Cleide cuidou muito bem da gente. Era como uma ‘mãezona’. Foi uma pessoa importante em minha trajetória, que deixou saudade, pois já faleceu”, ressalta Soraia.

Apesar de trabalhar muito, achava o ambiente agradável, pois existia muita integração. Passado um tempo, houve um quadro de carreira. A Mariza era uma das diretoras e foi quem ajudou no enquadramento inicial de Soraia, que continuou na DGRH.

Aos 19 anos, através de um bolsão de recolocação, seguiu para a Engenharia Elétrica como secretária. Ficou curto período, indo para o atendimento do CECOM (Centro de Saúde da Comunidade), com a condição de cobrir uma vaga temporária.

Recorda-se que nessa época muitos foram os bons momentos em que tomava café na “Padaria Alemã” com algumas de suas amigas que eram enfermeiras do HC.

Passado um tempo, foi encaminhada ao Hospital das Clínicas, para a Secretaria do Almoxarifado, onde ficou por dois anos.

Quando a Funcamp assumiu, foi para o Serviço Social, a convite de uma

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amiga.Ao longo de sua trajetória profissional, teve a oportunidade de trabalhar

com pessoas especiais, que lhe ensinaram ética, técnicas de secretaria, entre outras coisas. Sandra Regina de Angelis Terra e Odete Tavares Coutinho, ambas aposentadas, foram importantes e lhe ofereceram várias oportunidades. “Foram pessoas que me fizeram crescer profissionalmente e que aprendi muito”, ressalta.

Vários foram os cursos oferecidos pela Unicamp e que Soraia aproveitou, como inglês no IEL (Instituto de Estudo da Linguagem), datilografia e computação, assim como aulas, eventos, viagens (inclusive com o pessoal da USP e UNESP), palestras e técnicas gerenciais. “Considero todas essas modalidades como sendo de grande importância para nosso crescimento profissional e pessoal”, enfatiza.

Costuma dizer que “o HC é uma escola”, e conclui: “Quando trabalhamos em um hospital, ficamos aptos a trabalhar em qualquer outro lugar, pois se vê de tudo um pouco nesse ambiente. Carências, dificuldades financeiras, doenças, enfim, várias coisas complicadas. Não tem como não nos envolvermos”.

Teve experiência própria em relação às dificuldades causadas por doença. Ficou afastada por um ano por conta de um problema grave da tireoide, perdeu a força muscular e quase não andava. “Foi um período muito difícil, mas tive afeto, apoio e dedicação de pessoas especiais que trabalhavam comigo”, enfatiza.

É grata à Universidade, pois teve todo suporte necessário para se recuperar. Recebeu apoio e carinho de várias pessoas, entre elas, Maria Virgínia Righetti, que foi muito especial em sua fase de superação.

Atualmente está na Secretaria do Serviço Social, como técnico administrativo.

“Trabalhar na Unicamp é uma dádiva, um presente”, conclui.

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EUSTÁQUIO GOMESWANILDE BARBOSA DE MORAIS

Wanilde entrou na Unicamp como patrulheira, aos 17 anos de idade. Foi seu segundo emprego, mas com registro em carteira foi o primeiro. Dois irmãos mais velhos foram patrulheiros, um deles trabalhava na Unicamp, e foi por seu intermédio que Wanilde conheceu a Universidade.

Em 1984 foi para o Gabinete do Reitor, trabalhava direto com a secretária do Reitor, realizando serviço de banco e sendo responsável pelo malote do pessoal do Gabinete.

Teve a oportunidade de trabalhar com três segmentos da Universidade: as pessoas da Reitoria, os funcionários e os alunos.

Trabalhou inicialmente no Gabinete. Depois com funcionários, através do SAS (Serviço de Apoio ao Servidor) e também com alunos, em momentos pontuais. Não chegou a trabalhar no SAE (Serviço de Apoio ao Estudante) diretamente, mas foi várias vezes convidada a ajudar nesta área. Ajudava a fazer a seleção para moradia estudantil, e também a “bolsa trabalho” de alunos, sempre a convite de pessoas dos setores, além de trabalhar com usuários do hospital.

Achou gratificante realizar essas tarefas, principalmente os onze anos que trabalhou com os funcionários, conhecendo muita gente. Ao passar pelos corredores da Universidade, cumprimenta e conversa com muita gente. Os amigos brincam que ela deveria se candidatar.

Quando era patrulheira e trabalhava no Gabinete, ainda adolescente, teve um momento em que estava fazendo trabalho interno, e outro colega também patrulheiro (Cobra, seu apelido), ouvindo música, dançava, e ela graduada “sargento”, deveria chamar-lhe a atenção, o que não fez.

Quando se formou Assistente Social teve certa dificuldade para exercer a profissão e pediu afastamento de um ano. Foi trabalhar em Itatiba, junto à sua professora, que conhecia seu empenho e a convidou. Depois desse tempo voltou à Unicamp e teve a oportunidade de assumir sua função como assistente social no SAS, junto com a assistente social Marisa, já falecida. Antes disso foi escriturária, secretária e técnico administrativo.

Realizava-se ao ver um funcionário conseguir êxito em sua função, e também as conquistas do ProSeres (servidores e estudantes), em que cada bolsa conseguida era uma vitória. “Era muito gratificante quando o aluno conseguia concluir o curso e recebia o diploma”, comenta Wanilde.

Outro momento gratificante era quando o funcionário conseguia sua moradia e ia pegar a chave do imóvel, junto com a família.

Recorda-se do tempo em que trabalhava no telex com uma amiga, onde nos momentos vagos ambas liam e escreviam.

Certa vez, Eustáquio Gomes, que era jornalista da Universidade, fez uma

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matéria sobre as poesias de Wanilde e sua amiga Giselda. Gostaram muito de a matéria ter saído no boletim, ficaram felizes pela iniciativa dele.

Outra boa recordação é de quando se locomovia da Unicamp à PUCC para poder concluir seu curso universitário. “Tanto a pé quanto de fretado, os momentos junto aos amigos, quando seguíamos para a faculdade, foram muito marcantes”, completa.

Com uma trajetória bastante significativa, Wanilde ressalta: “Este é um momento importante de nossa história. Muitas são as lembranças e situações que passaram por nós e deixaram marcas muito mais positivas do que negativas. Deixo aqui o meu abraço a todos os ex-guardinhas, patrulheiros e mensageiros da Unicamp”.

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TAMBÉM FAZEMOS PARTE DESTA HISTÓRIA...

Patrícia Maria Morato Lopes – DGRH/Unicamp

Maria Helena Novais Rodriguez – AEDHA

Maria Angélica Barreto Pyles – CAMPC

José Tadeu Jorge – Secretário de Educação de Campinas – Reitor da Unicamp 2005/2009

Sheila Karoly Pulino – Unicamp – Recepção de patrulheiros e guardinhas e selecionadora das primeiras turmas de mensageiros.

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LUTAS E VITÓRIASPATRICIA MARIA MORATO LOPES

Ingressou na Unicamp como escriturária, em 8 de agosto de 1983, estava no último ano da Faculdade de Direito. Fazia faculdade, estágio e dava aula à noite.

Foi contratada para trabalhar na DGRH, que era uma diretoria de pessoal e que posteriormente se transformou em uma diretoria de recursos humanos. Permaneceu por cerca de três anos.

Recorda-se de como foi bem recebida ao ingressar na Universidade. Era um universo diferente do que já conhecia, e muitos foram os desafios a vencer.

Seu primeiro trabalho foi produzir um “caderninho indicador” do que tinha na Unicamp. Deram-lhe listagens enormes para resumir e como não sabia ao certo como realizar a tarefa exigida, chorou muito. Pensou que deveria ultrapassar aquela barreira, caso contrário, não poderia permanecer ali. Começou então a desvendar aquele universo, e julgou ser aquele um desafio importante a ser vencido. Foi sua primeira tarefa difícil, mas serviu para que ganhasse a confiança das pessoas.

“Os desafios aparecem, mas não podemos parar. Temos quevencê-los pouco a pouco, sem prepotência, nunca imaginando que sabemos tudo, e contando com os parceiros”, ressalta.

Numa mudança de diretoria, foi convidada a trabalhar na Prefeitura do campus, em 1986, ficou lá por aproximadamente um ano. Logo após, prestou serviços ao Hospital das Clínicas por um período de seis meses.

Em 1987, foi encaminhada à Procuradoria, para exercer o cargo de Procuradora. Trabalhava com convênio, licitação e contrato, e com a parte regimental interna da Universidade.

Em 2002, foi convidada a assumir a Secretaria Geral, que é um órgão da Reitoria, onde permaneceu até dezembro de 2009. Desligou-se em janeiro de 2010, quando assumiu a DGRH (Diretoria Geral de Recursos Humanos), um órgão importante, que demanda muita responsabilidade e empenho, pois cuida basicamente da vida das pessoas.

A princípio teve medo de viver uma experiência tão diferente da rotina que estava acostumada, porém tem procurado exercer a função da melhor maneira, buscando se aperfeiçoar a cada dia. Sente-se muito feliz por assumir esse desafio. “Tem sido uma experiência muito gratificante, tenho aprendido muito. Encontrei pessoas comprometidas e dedicadas”, comenta.

Seu papel é organizacional, de gerência e suporte, que exige também conhecimento técnico, mas fundamentalmente sua função é voltada a dirimir as divergências e reorganizar o trabalho, para que as coisas sejam produtivas. “É um setor dinâmico e muito gratificante”, ressalta.

Pôde reencontrar vários amigos do passado, além de conviver com

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pessoas bastante interessantes, como a Susy, a Maristela, a Rita e a Maricélia, entre outras tantas.

Trabalhou com ex-mensageiros que hoje ocupam cargos de chefia, como é o caso do Jober e do Amaral. Conviveu com Edison C. Lins, que sempre teve espírito de liderança, além de outros que ingressaram como “menores trabalhadores” e estão em cargos importantes, desenvolvendo ótimos trabalhos.

Patrícia sempre foi muito ligada aos mensageiros, tanto para dar bronca quando necessário, quanto para ouvi-los, com a intenção de compreender suas histórias.

Nunca conviveu com nenhum menor que lhe desse problema, inclusive atualmente, que há menos vínculo devido ao curto espaço de tempo que passam na Universidade.

Tempos atrás, o menor fazia carreira na Unicamp. Ingressava com 12 ou 13 anos e praticamente sua formação pessoal acabava sendo concluída no trabalho.

Com a mudança da legislação, já não podia permanecer na Universidade após os 18 anos. Hoje, o jovem só pode ingressar com 16 anos, o que ela julga ser uma pena. “A sociedade não o acolhe, e ficar nas ruas nessa idade é ruim”, lamenta Patrícia. A oportunidade de trabalhar e ter contato com o universo de uma empresa é algo que considera imprescindível, além do relacionamento com diversas pessoas, que o ajudará a amadurecer e crescer profissionalmente.

Sente que o jovem de hoje passa realmente por um sistema de aprendizado dentro da Unicamp, mas seu foco é o mercado de trabalho, e acaba por não se fixar. Patrícia costuma dizer que “a Universidade é uma passagem para os adolescentes” que, na maioria das vezes, têm histórias de vida com muitas lutas e sofrimentos.

Patrícia se recorda de um mensageiro que era muito bom, responsável, batalhador e morava apenas com o pai. Certo dia chegou ao trabalho sem uniforme, pois como seu ferro de passar havia queimado, não pôde passar sua roupa. Ele pediu desculpas a Patrícia, e também sua tolerância, pois como estava sem dinheiro para consertar o ferro, não tinha como deixar o uniforme em ordem. Prometeu que daria um jeito na situação o quanto antes. Prontamente ele foi compreendido. Era um garoto esforçado, e quando fez 18 anos, entrou na faculdade. Em seguida, passou a ser estagiário de Informática no setor de Patrícia, e conseguiu se formar. “Histórias como essa me deixam muito feliz”, conclui ela.

Patrícia julga ser fundamental ter um comportamento “visível”, o que resume em chamar atenção quando necessário e ser tolerante na mesma proporção.

As reclamações quanto ao comportamento dos menores são diversas. Sempre existiram. Porém, Patrícia acredita que estão em uma fase complexa e precisam ser direcionados. A Universidade tem esse cuidado, por isso oferece palestras e orientações de diversas formas. Os jovens devem ter respeito e responsabilidade, pois isso lhes será cobrado, mas essa cobrança se dará sempre com muito diálogo.

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A trajetória de Patrícia é de luta e vitórias, o que lhe causa satisfação. Orgulha-se ao dizer: “O que sou hoje devo a muita ajuda que tive. Pessoas que passaram por mim e foram verdadeiramente especiais, como o Dr. Otacílio Machado Ribeiro, que é um parceiro e amigo. Profissionalmente me ensinou muitas coisas, além de me oferecer oportunidades e noções gerais sobre vários aspectos, que me ajudaram a amadurecer”.

Em sua trajetória, procurou aproveitar as oportunidades oferecidas e recebeu apoios oportunos em momentos difíceis. E ressalta: “Tudo que conquistei foi dentro da Universidade, que me deu oportunidade de crescimento pessoal e profissional, remunerando-me dignamente. Até quando passei por problemas pessoais difíceis, encontrei apoio incondicional”.

Sente-se uma profissional mais madura e acredita que este é o momento de contribuição, em retorno a tudo que conquistou dentro da Unicamp. Costuma dizer que “no que puder colaborar para que a Universidade seja melhor, estará sempre pronta”.

Trabalha na DGRH com satisfação, pois é um setor que não há rotina. “Na DGRH, jamais sentirei tédio”, brinca ela. Todos os dias têm momentos engraçados. Sempre tem alguma novidade, ou com as crianças (são 1100 atendidas) ou com os quase 9 mil funcionários.

Patrícia diz não ter relato ruim a respeito dessa relação com patrulheiros, mensageiros e guardinhas. Acredita que as experiências são muito importantes, tanto para eles quanto para a Universidade. E conclui: “Agradeço, indistintamente, desde os mensageiros até os Reitores, que me acompanharam nessa longa trajetória, pela gentileza com que me trataram e pelo crescimento que me proporcionaram dentro da Universidade. Sou absolutamente grata à Unicamp, pois tudo que tenho hoje foi graças a ela”.

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ERA UMA VEZ...MARIA HELENA NOVAES RODRIGUEZ

Mas esta não é uma história de fadas... É uma história... de fatos de grande repercussão. Fadas? Sensibilidade social, dedicação, perseverança... E também idealismo, lucidez, liderança genuína e muita, muita alegria de viver o amor verdadeiro por sua cidade, por sua família, por seus muitos e muitos amigos.

Posso começar assim a falar de RUY RODRIGUEZ, o fundador da ASSOCIAÇÃO DE EDUCAÇÃO DO HOMEM DE AMANHÃ (AEDHA), que todos conhecem como a “Guardinha” de Campinas. E se vão aqui muitas particularidades às quais me permito, é porque conheço bem essa história, a história do meu pai.

Apresento-a assim, com um tom familiar, exatamente porque os próprios meninos, que começaram a integrar a instituição fundada em 1965 passaram quase a ser da nossa família... Afinal, até ciúmes dos ‘guardinhas’ a gente tinha, os quatro filhos de Ruy Rodriguez e de Heleninha Novaes Rodriguez, Rachel, Raul, Maria Helena e Beatriz.

Cuidando da cronologia, registro primeiro que Ruy Rodriguez foi por quinze anos (até 1965) o Presidente da ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DE CAMPINAS (ACIC). Nos anos 50 era comerciante, proprietário da Eletro Rádio, na rua Barão de Jaguara, herança familiar de seu pai, o espanhol Eleutério Rodriguez, proprietário – com seu irmão Olympio – da Companhia Telefônica de Campinas, no início do século XX. Ruy, o sexto de onze irmãos, numa família de esportistas, já tinha exercitado, a esse tempo, sua capacidade de liderança, como presidente do Clube Campineiro de Regatas e Natação.

Sua capacidade agregadora de pessoas em torno de ideias traduz-se maximamente na dinâmica das ações do CONSELHO DE ENTIDADES DE CAMPINAS, que se reunia na ACIC, já na década de cinquenta, em cuidados relevantes com a cidade.

Foi na sede da ACIC que se desenrolaram reuniões essenciais para que se trouxesse para Campinas a Faculdade de Medicina, embrião da UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, a UNICAMP. Confiram a história da Universidade, e o nome de RUY RODRIGUEZ está destacado como uma das figuras em prol de sua fundação, ao lado de amigos de grande presença social e gabarito profissional, entre os quais Roberto Franco do Amaral e, depois, Zeferino Vaz.

A Federação das Entidades Sociais (FEAC) hoje referida como Fundação FEAC também surgiu dessas lideranças.

Voltemos, porém, ao foco básico e talvez mais relevante destas reflexões. Em 1939, temos o registro do início de funcionamento da “Guarda de Automóveis de Campinas”, vinculada simultaneamente à Delegacia de Polícia e à ACIC, pois por questão estatutária daquele órgão, a presidência cabia ao presidente da ACIC, numa articulação muito significativa entre comércio, indústria, visando à

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segurança naquela época.Mas por todos aqueles quinze anos à frente da ACIC, um sonho começou

a se delinear mais e mais fortemente, até se concretizar: para Ruy Rodriguez era muito pouco cuidar de crianças nas ruas... Tomar conta de carros, ajudar a transportar pacotes... isso era muito pouco e certamente prejudicial para o desenvolvimento de jovens, que ficavam à mercê de gorjetas pouco educativas.

E vieram muitas reuniões (há diversas atas disponíveis para análise) para reflexão e consolidação dos princípios em que se iriam organizando as propostas de caráter formativo para os ‘garotos’, como gostava de referir Ruy.

E, em 12 de novembro de 1965, ocorreu a transformação da “Guarda de Automóveis de Campinas” na “Associação de Educação do Homem de Amanhã”.

Pressupostos básicos da nova instituição? Saúde, lazer e educação para todos, na melhor condição possível. O processo de desenvolvimento das crianças e adolescentes, com vistas a um futuro saudável e feliz, produtivo e harmonioso, com muitas oportunidades de ampliação de horizontes: essa era a essência.

Vale cotejar com fato posterior: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Federal nº 8069, de 13 de julho de 1990 consolidou esses princípios para toda ação com crianças e adolescentes no Brasil.

Pretensiosa a referência? Por óbvio que não! Afinal o ECA configura os anseios construídos por décadas pela comunidade jurídica, pelos órgãos de classe, pelos pensadores teóricos, pelos técnicos de serviço social, pedagogia e psicologia, pela população que o referendou com mais de um milhão de assinaturas. Ruy Rodriguez já não estava entre nós (faleceu em 1987), mas certamente estaria liderando grupos para que os princípios do ECA fossem amplamente implementados.

Este é o ponto que merece o principal destaque: o pressuposto básico que, 25 anos mais tarde, passou a ser a linha mestra do ECA já sustentava, desde 1965, as ações da Associação de Educação do Homem de Amanhã: proteção integral para crianças e adolescentes, incluindo saúde, educação, lazer, esporte e o que mais se identificasse como necessário.

Talvez algumas pessoas levantem supostas contradições nos registros que faço aqui. Fatos têm que ser contextualizados ou nos provocam avaliações equivocadas. A história das conquistas sociais, da implementação de políticas públicas com embasamento teórico e visão de mundo ampliada, dá conta das mudanças.

Por exemplo: nos final dos anos 90 e início desta primeira década que se encerra, ouviram-se críticas ferozes porque tinha havido em anos anteriores ‘guardinhas’ com onze, doze anos... Entretanto, todos se lembram, paralelamente, de que não havia escolas para todos? Depois do quarto ano primário, quantos “ginásios” havia em Campinas? E as crianças deviam ficar na rua? A universalização da escola de oito anos deu-se apenas em 1971, quando se ampliou o número de quintas séries. E hoje há os núcleos de atendimento, para os horários alternados com a escola regular. Por conta dos fatos é que a AEDHA também acolhia, àquela época, os mais jovens (agora, só a partir dos quinze anos e meio).

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Ruy Rodriguez pensou sempre em educação. Consultemos os documentos originais da fundação da AEDHA: na formatação do Estatuto da nova entidade aparecem registros feitos por ele, de próprio punho, onde escreve ‘aprendizado’ ou ‘aprendizagem’ substituindo ‘serviço’ ou ‘trabalho’.

E não era, de fato, apenas questão retórica. A preparação das pessoas que iam receber os jovens nas empresas também era orientada. Em grandes empresas, foram criados departamentos especiais para o acompanhamento dos adolescentes (Telebrás, CPFL, Bosch), ou advogados ou empresários, por exemplo, dedicavam-se pessoalmente a orientar os meninos.

Na UNICAMP, certamente, todos os jovens devem ter em sua lembrança a figura de um docente em particular, de um administrador especial, que tenha cuidado de acompanhá-los, de aconselhá-los. A pessoa responsável.

E os jovens há mais tempo (agora talvez com quarenta anos ou mais) hão de se lembrar de figuras marcantes em sua vida como ‘guardinhas’, das educadoras, do responsável pela disciplina, Joaquim, de cozinheiras tão queridas como Tia Nair, Tia Anastácia, da secretária muito firme e sempre dedicada, Da Sultana (de 2004 a 2008 ela compôs a Diretoria Executiva).

Certamente não se esqueceram de que havia comida saudável e farta (muitas vezes a receita era da Da Heleninha, sabiam?).

Os cuidados com o processo educativo eram intensos, tanto que foram realizados, por iniciativa da Guardinha, três seminários, que renderam um vasto estudo na Divisão Regional e na Secretaria de Estado da Educação para a humanização dos cursos noturnos. Houve sempre a preocupação com os jovens que faziam seus estágios educativos e tinham que estudar à noite. Alguns dos tópicos tratados: atividades diversificadas, metodologia especial e até o alongamento dos cursos para a necessária compensação de horas de efetivo estudo.

Muitas outras questões sobre a defesa da criança e do adolescente tematizaram encontros. E de tal forma articulada isso ocorria que os padrões de funcionamento da AEDHA foram se disseminando naquilo que costumo chamar de “franquia sem franqueador”. Isso porque a metodologia era integralmente oferecida a quem por ela se interessasse em outros municípios, sempre de modo gratuito, incluindo assessoria técnica. E a Associação de Educação do Homem de Amanhã tem, assim, diversas outras homônimas em outros municípios do Estado de São Paulo (São João da Boa Vista, Jundiaí, Araras, por exemplo), e mesmo em outras unidades federativas (Barra do Piraí – RJ) , incluindo Brasília. E o mesmo logo é compartilhado.

Para promover esses produtivos debates, em busca de melhores metodologias, estratégias e parcerias, sob a liderança de Ruy Rodriguez constituíram-se a Federação das Associações do Menor / FAM – que congregava as ‘guardinhas’ e o Conselho das Associações do Menor do Estado de São Paulo / COAMESP. E a sede da “Guardinha” de Campinas, já em seu espaço cedido pelo Governo do Estado de São Paulo na Avenida das Amoreiras, 165 (Parque Itália) acolheu a grande maioria desses eventos.

É importante destacar que integram o Estatuto da AEDHA, desde seu formato original, essas estratégias de ações educativas não só para seus usuários

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e suas famílias, mas também para a população. Assim, a história da AEDHA, agora em seus 45 anos, registra centenas de eventos tais como seminários, congressos, palestras para a construção de políticas públicas em benefício das crianças e dos jovens.

E muitos eventos também transformadores e ampliadores dos horizontes de vida dos jovens, tais como competições esportivas, viagens orientadas, vivências especiais.

Historicamente a instituição se constitui num centro de reflexões em relação à defesa dos direitos da criança e dos adolescentes, na perspectiva da proteção integral preconizada modernamente pelo ECA. Ou seja: muitos e muitos foram (e continuam sendo) os eventos sediados na Instituição, congregando lideranças, profissionais de áreas específicas de forma a pensar estratégias de superação das dificuldades que ainda são enfrentadas no município e na região em relação a nosso público.

Atualmente, por exemplo, em parceria com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e a Cooperativa de Profissionais do Serviço Social, desenvolve-se capacitação para profissionais que atuam em programas de acolhimento (abrigos, casas lares, famílias acolhedoras), objetivando a construção de metodologia tecnicamente sustentada.

E nossos músicos? Quantos deles encontramos profissionais de grande mérito? O maestro Wílson Dias é exemplo fundamental! Com mais tempo na instituição, tiveram a oportunidade de se formarem efetivamente nessa área. Muitas fotos estão em nossos arquivos: das formaturas dos jovens, cheias de pompa, no Largo do Rosário ou na Escola de Cadetes.

Agora, na quadra poliesportiva, a formatura tem tido, além do clima solene, contornos de forte emoção, como em julho de 2010, quando duzentos jovens, em belo coral, cantaram para seus pais “Como é grande o meu amor por você”.

A história é... a história... Temos que aprender com ela. Vejam se não é deste modo. Inicialmente, só meninos eram aceitos na “Guardinha”. Mas as escolas não eram assim mesmo? Havia classes masculinas, classes femininas... Havia escolas inteiras só masculinas ou só femininas... Em 1974, as meninas passaram a integrar a instituição. Novos cuidados, novas estratégias pedagógicas, novas preocupações. Desenvolvimento social nas mesmas proporções dos avanços culturais da humanidade. A coordenadora dessa nova frente foi Da Sylla Pompêo de Camargo, esposa de nosso atual tesoureiro da Diretoria Executiva Senhor Raphael Pompêo de Camargo.

Foi nessa época que a AEDHA, administrada de forma a ser autossustentável financeiramente (tinha ações específicas de captação de recursos por sua cozinha industrial, por sua confecção, entre outras) passou a perceber a necessidade de ampliar seu foco de ação. A sensibilidade de seus diretores, sempre liderados por Ruy Rodriguez ou por seu grande amigo Caio Affonso da Rocha Leme, promoveu a instalação de um abrigo para crianças, que passou a ser um novo braço das ações institucionais: o “CONVÍVIO APARECIDA”, mantido também por toda a gestão do presidente Dátis Alves de Almeida.

Para finalizar o texto, repercutindo nele a história de que eu, Maria

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Helena, faço parte ativa, registro que, no início de maio de 2004, coube-me a presidência da Diretoria Executiva da “Guardinha”, por eleição na Assembleia Geral. Assumi o compromisso de revitalizar a instituição, trazendo para ela os conceitos mais atuais, incorporando o conjunto de minhas experiências e estudos, quer como docente de Língua Portuguesa e Linguística na PUC-Campinas, como professora efetiva de Língua Portuguesa do ensino público estadual, como conselheira eleita para o Conselho Municipal dos Diretos da Criança e do Adolescente / CMDCA (de que cheguei a ser presidente e vice-presidente) e ainda como doutoranda de Análise Crítica do Discurso no Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP. E, no meu “curriculum” explicitamente estava minha história familiar, que me permitiu o aprendizado informal do conteúdo, da vivência e, primordialmente do exemplo, da dedicação, do entusiasmo, da inquietude para a superação de dificuldades. Ou seja: a gente nasce onde precisa aprender para fazer valer a nossa vida... (Ouvi isso em algum lugar).

Ninguém atua sozinho, se quer fazer vingar boas ideias. Assim, com apoio do Conselho de Assistência Social, do CMDCA, da Secretaria Municipal de Assistência Social, da Fundação FEAC e de tantos amigos idealistas, iniciamos, em 2004, nova etapa da história da “Guardinha”, colocando-a em alto patamar de respeitabilidade, modernidade e consistência teórica.

E de tal forma isso ocorreu que, em 2007, sediamos a Conferência Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, com elevado público participante, jovens e adultos, refletindo e propondo diretrizes para a política municipal.

A Instituição é mantida (com grandes esforços administrativos) com recursos das parcerias, aluguéis de imóveis, doações, cofinanciamento público, subvenção da FEAC, contribuições de associados e voluntários. Cite-se, por exemplo, que a Escola Técnica de Comércio “Bento Quirino” – que comemora neste ano CEM anos de fundação – é propriedade da “Guardinha, por doação das cotas de seus antigos proprietários (na década de 80). No momento está arrendada para uma instituição privada de ensino, cujo compromisso é repassar mensalmente os valores do arrendamento.

Esta é a proposta da Associação de Educação do Homem de Amanhã: prosseguir em sua história vitoriosa de atenção aos jovens e às crianças de Campinas e da região. O que mais temos que fazer: proporcionar oportunidades valiosas para os jovens e também para as crianças, para que todos, por si mesmos, por seus méritos, conquistem sua própria trajetória vitoriosa em novos espaços.

O nome é esse: Associação de Educação do Homem de Amanhã. Mas quem é que, tendo feito história, vai desconsiderar a referência respeitável – e, mais ainda, profundamente carinhosa – do nome GUARDINHA?

Para nossos jovens “guardinhas”, hoje respeitáveis profissionais da UNICAMP fica aqui uma proposta de máxima significação: entre nossas ações de cidadania, há um dever constitucional a cumprir, como está expresso na Constituição Federal (artigo 227). Que tal nos unirmos em reconhecimento para compartilharmos nossas habilidades e competências, e nos irmanarmos todos construindo novas etapas de nossa história aqui mesmo na “Guardinha”?

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Hoje temos três programas de atendimento em que você pode se engajar:

• o Programa Socioeducativo “Guardinha – Cidadania Hoje”/Aprendizagem Profissional (desde 1965), já conhecido de vocês;

• o Programa de Acolhimento Institucional “Convívio Aparecida” – Unidades I e II (1977 e 2007);

• o Programa ‘ConViver” de Acolhimento Familiar (desde 2006).As conquistas da vida de cada um de vocês pode se traduzir e repercutir

em benefícios para muitos outros nossos concidadãos. Venham ser nossos voluntários! A história continua em cada uma de

nossas ações! E se a solidariedade social foi o início, que seja também nosso presente

e nosso futuro!

Grupos menores da Associação do Homens do Amanhã em formação durante atividades na Instituição. Disciplina válida para a vida.

Grupos menores da Associação do Homens do Amanhã em formação durante atividades na Instituição.

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QUANDO LUTAMOS POR CAUSAS NAS QUAIS ACREDITAMOS, A VIDA ADQUIRE UM SENTIDO MAIORMARIA ANGÉLICA B. PYLES

Nascida na cidade de São Paulo, considera-se campineira de coração e de direito.

De coração, por ser esta a cidade que adotou para viver. De direito, por ser Cidadã Campineira desde 1970.

Viúva do empresário Carlos Wilson Pyles (Bill), tendo uma única filha, Karina. Formou-se no Curso de Magistério, pelo Instituto de Educação em Casa Branca-SP (1951).

Veio para Campinas a fim de cursar a Faculdade, diplomando-se em Pedagogia (1955) e Orientação Educacional (1962) pela PUCCAMP, com Pós-Graduação em Psicologia da Criança e do Adolescente (63/64). Psicóloga aposentada da Secretaria de Promoção Social do Estado. Diretora Presidente da Bill’s Rock Shop. Presidente do Conselho Deliberativo do CAMPC.

Lecionou em colégios tradicionais da cidade, distinguindo-se pela sua dedicação ao ensino. Mesmo jovem, ministrou aulas nos Cursos de Pós-Graduação do Magistério. Regente de muitos cursos intensivos de Psicologia e Higiene Mental promovidos pelo Estado, Prefeitura Municipal e Clubes de Serviço.

Participou e liderou exaustivamente campanhas, grupos de estudo e planejamentos no campo do menor.

Em todas as etapas de sua vida, quer como Pedagoga, Psicóloga, Orientadora e Empresária, como resultado do seu dinamismo, entusiasmo e empenho, conseguiu concretizar suas metas com sucesso. Seu currículo é extenso e rico no seu conteúdo.

A benemerência é por excelência o seu campo de atuação, e por essas quatro décadas de dedicação tem recebido um reconhecimento ímpar da comunidade campineira.

Maria Angélica

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Grupo menores do Círculo dos Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas em formação durante solenidade da Instituição

No Círculo dos Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas, um momento de formação de nova turma.

Grupo de mães de menores do Círculo dos Amigos do Menor Patrulheiro de Campinas em formação durante solenidade da Instituição.

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Considerações Prévias

“O futuro da nossa Pátria está sendo plasmado dia a dia, no presente da nossa infância e juventude”.

Há premência de soluções objetivas e concretas para que não percamos o Brasil de amanhã.

E este é um investimento em que todos somos responsáveis. Há necessidade de estímulos adequados no momento oportuno para

não perdermos as nossas possibilidades funcionais. A pólvora encaixotada perde a sua função. Não há medida mais prática e urgente do que instrumentalizar, preparar

e despertar o amor ao trabalho (aprendendo e se ocupando) nos nossos jovens, especialmente aqueles com vulnerabilidade econômica.

Esta iniciação é de extrema importância numa época em que o mercado de trabalho está mais seletivo e competitivo.

Exige-se cada vez mais uma experiência profissional anterior. A iniciação do jovem através de uma Obra credenciada pode sanar esta

lacuna. É a forma do jovem colocar em prática a sua capacidade e responsabilidade

e de conhecer os seus direitos e deveres. Certamente o fruto mais importante que estamos sentindo é a criação

de uma nova mentalidade mais preventiva do que punitiva. Daí o aumento cada vez maior de obras como a dos Patrulheiros,

Guardinhas, Mensageiros e outras entidades congêneres, sugerindo medidas que, em nosso entendimento, poderão contribuir para deter, amenizar e mesmo equacionar, em parte, esta temática de abrangência nacional.

Fundação do Patrulheirismo

Em 1965, quando fui designada para o gabinete do Juiz da 1a. Vara Criminal e de Menores, a situação era preocupante.

Os jornais locais noticiavam com relativa constância, delitos cometidos por menores, sendo alguns de alta periculosidade.

A comunidade campineira não ficou de braços cruzados. Foram formados grupos de trabalho, comissões técnicas com a

participação do Poder Judiciário, Prefeitura Municipal, FEAC e de outros órgãos representativos da cidade.

O objetivo precípuo era detalhar o problema do menor em Campinase sugerir as reivindicações necessárias junto aos poderes competentes. Era também de substancial importância que o Poder Judiciário através

da 1a. Vara Criminal e de Menores além de sua adesão ao movimento, tivesse uma ação mais efetiva.

Nesta ocasião, sob a minha responsabilidade, foram elaborados dois projetos quase simultâneos (março/65): o dos Engraxates e o dos Vigilantes.

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Os engraxates eram dispostos nas praças públicas e os vigilantes empurravam os carrinhos nos supermercados. Eles eram distinguidos pelo uniforme e pelas carteirinhas de identificação (nelas eram destacados o horário de atividade e o horário escolar).

Estes projetos, apesar da boa aceitação da comunidade, não tinham uma supervisão assídua, não evitavam o contato constante e negativo da rua e os menores não recebiam uma iniciação profissional adequada.

De outro lado, evitavam a ociosidade, permitiam uma integração com as famílias e também foram importantes para evidenciar uma mobilização

do poder judiciário. Madre Thereza de Calcutá dizia que “às vezes sentimos que o que nós

estamos fazendo é apenas uma gota no oceano, mas o oceano seria menor se faltasse essa gota”.

Eu perseguia um sonho, e este sonho começou a se concretizar quando fui designada pelo Juiz Substituto Dr. Roland Peres para conhecer uma obra bem sucedida, idealizada pelo Dr. Marino da Costa Terra, Juiz de Direito, de grande competência na Comarca de São Carlos. De imediato, eu me encantei com o Dr. Marino e o seu projeto.

Estava pronta para assumir um novo desafio. Às vezes os desafios são tão benfazejos que são verdadeiras missões. Após dois meses, o trabalho de implantação do Patrulheirismo estava

pronto e aprovado. E no dia 6 de maio de 1966 foi reunida no Fórum de Campinas a imprensa

escrita e falada. Nesta ocasião, Dr. Roland Peres falou sobre a magnitude de um novo

planejamento e eu fiquei responsável pelo detalhamento do mesmo, em seus aspectos básicos.

A fundação do Patrulheirismo em Campinas estava assim concretizada e oficializada.

Com a responsabilidade de implantar e de por em execução o novo projeto, passamos a seguir as linhas mestras do mesmo, mas fizemos algumas adaptações dentro da nossa realidade e adquirimos um perfil próprio.

Numa de suas visitas à Instituição, Dr. Marino deixou uma mensagem no livro de registro que muito me sensibilizou: “Primeiro eu vim para ensinar, agora eu vim para aprender. Parabéns à Da Angélica e sua equipe! Continuem e que Deus os abençoe”.

O Patrulheirismo é uma obra sócio-educativa e de iniciação profissional que atende os jovens na faixa etária de 15 a 18 anos, em situação de vulnerabilidade econômica, visando a sua inserção na comunidade em que vivem.

A filosofia de ação é baseada no trinômio “Educação Bem Dirigida”, “Recreação Sadia” e “Trabalho Bem Orientado”.

Concluído o Curso Básico de Formação, o menor é encaminhado às empresas para um Estágio Educativo Profissionalizante.

Com a fundação do Patrulheirismo, Campinas passou a ganhar uma obra

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abrangente, preventiva e promocional que unifica o menor, a família,a escola e a comunidade.

Unicamp É um universo sólido e exemplar, de cultura, de educação, de ciência, de

pesquisa e de prestação de inúmeros serviços à comunidade. Desde o início, despontou-se como uma das principais instituições

de ensino superior do país, e atualmente é uma das Universidades de maior destaque da América Latina.

Todas as empresas parceiras têm o seu próprio valor, mas é claro que a parceria com a Unicamp era uma meta muito desejada, pela multiplicidade de oportunidades que poderiam ser oferecidas e desbravadas pelos nossos patrulheiros.

Dois fatores foram fundamentais para que fosse sacramentada a parceria com a Unicamp: 1) Dr. Zeferino Vaz sempre esteve atualizado com os assuntos da nossa comunidade e era muito aberto para os problemas sociais. Ele estava predisposto em conhecer a nossa instituição e introduzir os nossos menores na Universidade. 2) Tínhamos um amigo em comum, o Deputado Dr. Salvador Jullianeli, que na ocasião presidia a Comissão encarregada da reforma universitária na Câmara Federal.

E, a partir de 1971, formou-se um elo indissolúvel entre o Patrulheirismo e a Unicamp. Naquela ocasião nós estabelecemos um critério de encaminhamento para a Unicamp. Como incentivo e prêmio, eram selecionados os Patrulheiros de maior destaque, especialmente os Graduados.

No universo da Unicamp, eu me permitiria fazer um destaque especial ao ProSeres e ao seu Presidente, Edison Cardoso Lins (ex-Patrulheiro) que com o seu idealismo, garra e eficiência consegue concretizar as metas traçadas.

Fiquei impressionada com o número de ações diversificadas que são oferecidas aos funcionários da Unicamp e com as parcerias do ProSeres com as Faculdades, permitindo a conquista tão sonhada de um diploma universitário.

Finalizando, um momento de aplauso e de gratidão ao Magnífico Reitor Fernando Ferreira Costa.

Já houve quem dissesse que “não há exagero mais belo do que o exagero da gratidão”.

E é com gratidão plena que todos nós indistintamente que participamos do I Encontro e, neste momento, do lançamento deste livro carregado de emoção, devemos interagir.

Dr. Fernando, sem o seu apoio incondicional, nada seria realizado. Além da sua competência tão decantada, somente pessoas com a sua grandeza de alma sabem avaliar a importância ímpar destes dois eventos.

Expansão do Patrulheirismo

Não é possível neste espaço, fazer um retrospecto fidedigno dos 44 anos

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de existência do Patrulheirismo de Campinas. É uma longa caminhada, com um riquíssimo conteúdo. Para mim, os números e datas são frios e desinteressantes se não forem

associados a um sentimento ou significado especial e acoplados da sua história. No jogo de alternativas, optei por destacar alguns acontecimentos mais

significativos num descritivo relâmpago dando saltos na cronologiae enfatizando um pouco mais a Obra, no seu instante presente.

1- Primeiro Presidente – Dr. Roberval Baptista Sampaio, Magistrado

exemplar, empossou-se como Titular da 1a. Vara Criminal e de Menores e assumiu simultaneamente a Presidência da Instituição. Seu apoio incondicional foi de suma importância. Na sua gestão, passou a Obra do Poder Judiciário para a comunidade, ficando eu, responsável pelos passos desta transição (1966-1976).

2- Porão abençoado (1966) – Nossa sede inicial foi no porão do Palácio da Justiça, em duas salas de multiuso. Nela formou-se a 1a. Turma de Patrulheiros, com 16 menores que, após a conclusão de um curso de três meses, foram encaminhados para um estágio educativo profissionalizante junto ao comércio local. A partir deste momento, os próprios menores e as empresas passaram a procurar a entidade. As reuniões semanais eram realizadas no final do expediente, na escadaria do 1º andar e assistidas com entusiasmo por algumas autoridades do poder legislativo e judiciário.

3- Com a aprovação e registro dos Estatutos, passou de Sociedade de Fato para Sociedade Jurídica (1968).

4- Inauguração da nova sede num prédio da Secretaria da Promoção Social do Estado, que nos foi cedido durante dez anos, para usufruto e, ao mesmo tempo, assinado o comissionamento de nove funcionárias daquela pasta para prestação de serviços no Patrulheirismo. Este casarão foi palco de inúmeras formaturas, eventos e comemorações (1969-1979).

5- Iniciada a parceria com a Unicamp (1971).6- Doação de um terreno de 19,950 m2, na gestão do Exmo. Prefeito

Municipal, Dr. Orestes Quércia. Nada acontece por acaso. Ouvi de um ascensorista do Palácio da Justiça sobre a disputa entre várias Associações,

por uma grande área de terreno da Prefeitura, na Avenida das Amoreiras. Entramos de imediato com o nosso pedido e saímos vencedores (1972).

7- Conselho Promocional Feminino (fundado em 1972 e oficializado em 1974) – formado por 15 senhoras pertencentes a vários Clubes de Serviço, que tiveram um trabalho da maior expressão, criaram campanhas em prol da sede própria, promoveram bazares, chás, jantares para atingir metas prioritárias como equipar a cozinha, a oficina de costura, etc. Seus eventos eram noticiados nas colunas dos jornais e sempre muito disputados. Foram as nossas abelhinhas operosas e as minhas inesquecíveis amigas.

8- Fundação do Patrulheirismo Feminino (1975) formam um agrupa-mento garboso e valoroso, pois disputam com a mesma eficiência lado a lado com os seus companheiros, o mercado de trabalho.

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9- Inauguração da sede própria (1975) – Foi uma inauguração solene, iniciada com uma programação desenvolvida pelos nossos Patrulheiros e que emocionou os presentes. Presença maciça de Autoridades Municipais, Estaduais e Federais, representantes das mais diversas Associações e convidados em geral. Elogio especial e de real mérito ao Presidente Wilson pelo esforço intenso, despendido no erguimento dos vários blocos de construção da nossa sede e pela colaboração dedicada durante longos anos.

10- O namoro do Rotary Clube Campinas Sul (1976 até a presente data) com os Patrulheirismo começou com o Sr. Wilson Vieira Alves. Eleito Presidente da Diretoria do CAMPC, como Rotariano convicto, convidou seus companheiros do Clube para compor com ele, os quadros da Administração. O namoro virou casamento e a adoção foi concluída. Sem dúvida, uma parceria de sucesso. Uma adoção de amor e eficiência.

11- Administração atual (2008-2010). Sob o comando do Sr. Paulo Mota, a sede está fervilhante, sempre

fincada com os pés no presente, mas com os olhos no futuro. Recentemente foi inaugurado um prédio com 2370 m2 de área

construída, visando atender um número maior de jovens interessados em ingressar na Obra.

Quando é feita a inscrição para a seleção, há um comparecimento maciço de cerca de 4 mil candidatos.

Os projetos e cursos que beneficiam os nossos patrulheiros englobam as mais variadas frentes de atividades: inclusão digital, inglês, Banda

Sinfônica, oficinas profissionalizantes (biscuit, patch-work), alfabetização de adultos, hip-hop, kung-fu, violão, etc.

Nesta administração concluiu-se um sonho, uma meta trabalhada durante muitos anos e que é um marco da maior importância.

Trata-se da Lei de Aprendizagem (Decreto 5598 - Lei 10.0097) do Programa Auxiliar Administrativo, que permitiu aos nossos Patrulheiros o registro em Carteira de Trabalho e Previdência Social e, consequentemente,

acesso a todos os benefícios do trabalhador. Iniciamos com 16 menores. Estamos com 1.300 exercendo as suas

atividades em todos os cantos de Campinas. Passaram pela Entidade mais de 50 mil menores. Este número é

surpreendente! Há uma força que não se desintegra que é a fraternidade espiritual. O meu reconhecimento imenso a todos, que com este espírito, derama sua contribuição para transformar o Patrulheiros de Campinas nesta

Obraabençoada por Deus e aplaudida em âmbito municipal, estadual e

nacional.

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Dois Momentos Inesquecíveis

Não consigo tirar a emoção, dentro de mim, quando se trata de Patru-lheirismo, e estas emoções têm uma força motriz indescritível.

É muito gratificante poder olhar para trás e reviver um passado revigorante e produtivo.

Neste meu retrospecto eu evidenciaria dois acontecimentos dentre uma multidão de muitos outros:

1- Visita a Petrópolis (RJ) – 1973. Uma comitiva de 150 patrulheiros e mais 15 representantes da nossa

entidade foi a Petrópolis apadrinhar a primeira turma de formandos, ocasião em que fomos agraciados com um belíssimo Troféu como gratidão por todo o nosso carinho e suporte na implantação do Patrulheirismo naquele Município.

Tivemos uma programação intensa (colaboração nos ensaios da formatura, entrada solene dos nossos Patrulheiros cantando o Hino de Campinas, desfile pelas ruas da cidade na Semana do Colono, com faixas de boas vindas, etc.).

No programa também constou visitação ao Museu Imperial, ao Palácio de Cristal e ainda a célebre visita ao Quitandinha.

No retorno, fizemos um tour pelos pontos turísticos principais (Maracanã, Corcovado, Quinta da Boa Vista, etc.).

Muitos Patrulheiros nunca tinham visto o mar e o conheceram logo na Avenida Atlântica, quando eu, assessorada pelos guardas-civis, paramos o trânsito para a travessia dos nossos jovens e foi uma comoção geral.

2- 15º Aniversário do CAMPC, no Teatro Castro Mendes – 1981. Para mim, nos meus 21 anos como Coordenadora Geral, foi a mais

bonita, a mais arrojada e a mais inovadora comemoração festiva. Mais bonita, pela programação muito elaborada e pela participação

brilhante dos mais de mil menores que lotaram o Teatro Castro Mendes. Muito arrojada porque tivemos que contar com a colaboração especial

de São Pedro, os lanches foram servidos na praça em frente, os toaletes foram usados na escola ao lado e nossos patrulheiros aguardaram muito tempo em pé para entrar no recinto. Eles eram valentes e estavam entusiasmados.

Mais inovadora porque as autoridades e convidados foram acomodados no palco e a plateia inteiramente tomada pelos Patrulheiros.

Eles foram preenchendo os seus lugares gradativamente, com cruzamento de Bandeiras dos Estados, evolução rítmica musicada (mãos com luvinhas brancas acenando), movimentação das bandeirolas coloridas do alto do balcão superior, jogo de luzes na entrada do estandarte alusivo ao aniversário, etc.

Infelizmente houve um problema técnico com a filmagem, mas esta festa está perpetuada na memória do meu coração.

Recadinho aos meus ex-Patrulheiros

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Umas pessoas influenciam-nos como o sol, numa manhã de verão. Outras podem ser comparadas a uma geada num campo verde.

O importante é não perdermos de vista o negativo, mas concentrarmo-nos no positivo para que o sol possa ressurgir.

Que vocês continuem lutadores e íntegros, desbravando com entusiasmo o caminho que vem pela frente. Nada de grande é realizado sem entusiasmo.

Aceitem os desafios, o inevitável, e vivam vigorosamente porque a vida renasce todos os dias.

Se os contratempos forem maiores, sempre resultará um amadurecimento que poderá transformar-se num trampolim, na etapa seguinte.

Os nossos sonhos somente serão grandes, na medida em que nós lutarmos por eles. É agradável sonhar grandes sonhos, mas para realizá-los é preciso planejamento, ação, entusiasmo, esforço e persistência.

As almas fracas se encolhem nas adversidades. As almas fortes não se enclausuram, sempre encontram saídas.

O pensamento do escritor irlandês Bernard Shaw sintetiza bem a minha mensagem: “Quando eu morrer quero sentir que esgotei todos os meus recursos. Quanto mais trabalho, mais vivo. Para mim, a vida não é apenas uma vela efêmera. É como uma tocha esplêndida que me é dada por algum tempo. Quero que esta tocha, nas minhas mãos, queime com o maior brilho possível, antes de passá-la às gerações futuras”.

O amor que eu transmiti a vocês, não foi o amor piegas, mas o amor de uma mãe enérgica que quer estimular o filho, dentro da disciplina, do enrijecimento de caráter, da confiança em si mesmo, do civismo, da integridade e do amor pelo trabalho.

Vocês são e sempre serão os grandes homens de hoje e de amanhã. Quando falo em grandes homens, não me refiro apenas aqueles que

adquiriram fama, mas ao bom filho, o bom cidadão, o bom chefe de família e ao profissional dedicado.

Tenho enorme orgulho de vocês! O depoimento sincero e autêntico de cada um ajudará a alavancar

muitas vidas estagnadas. Visitem a nossa sede, porque ela é parte integrante de vocês. Espero que um pouquinho de mim esteja no coração de cada um, porque

vocês estarão sempre no meu coração.

Reflexão Final

Agradeço comovida a Deus, por permitir que eu ainda com vida, saúde, lucidez e alegria de viver possa participar deste lançamento, tão esperado e desejado.

O inverno da minha vida não é cinzento. Ele é produtivo e com uma multiplicidade de direcionamentos.

A verdadeira longevidade é ativa, física e mentalmente.

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Ninguém deve ficar à margem dos acontecimentos, especialmente no mundo em que vivemos, onde as transformações são imensamente rápidas.

A vida perde o sentido quando não se sabe por que e para que viver. O tempo é o mesmo para todos nós. O que é diferente em cada pessoa é o que ela faz com o tempo de que

dispõe. Na passagem dos anos vividos, vamos formando a nossa coleção de

felicidade. É preciso saber valorizá-la. Na minha coleção de felicidade, este evento terá um lugar especial. Será um momento para sempre. A semente foi plantada. Quando a semente é plantada com amor e fé inquebrantável, os frutos

serão sempre viçosos. Eu, mais uma vez, tenho sido abençoada, porque continuo recebendo

os louros do meu plantio. Nunca deixarei de sentir e vibrar com a grandiosidade do Patrulheirismo

de Campinas. A história não deve ser apagada. Tenho a satisfação imensa de ser uma mola viva desta história. No dia do Supremo Confronto não estarei de mãos vazias.

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APRENDIZAGEM E PROFISSÃOJOSÉ TADEU JORGE

A história da Unicamp é repleta de inovações e características muito peculiares ao seu processo de implantação. Desde o início, graças aos conceitos e princípios seguidos pelo Professor Zeferino Vaz, as pessoas ocuparam o papel de protagonistas, quase únicos, dos resultados qualificados que a Universidade buscava alcançar. Sua famosa frase, “a universidade se constrói com cérebros, cérebros e cérebros”, certamente referia-se aos docentes, mas passou a incutir na atmosfera universitária o respeito ao ser humano e a valorização do trabalho cotidiano.

Nos primeiros anos de funcionamento, para compor o quadro de funcionários, a Unicamp recrutou pessoas para as mais diversas funções, priorizando a vontade de trabalhar em uma universidade e o indício de que criariam um vínculo afetivo com a instituição. Essa sistemática contribuiu para estabelecer significativa heterogeneidade em vários aspectos do conjunto de recursos humanos: formação profissional, experiência, idade, valores e outros.Nesse contexto, assume singular significado a presença do que se convencionou chamar de “ingressantes adolescentes”. O objetivo de preparar menores de idade para o mundo do trabalho configura-se como missão nobre e humanista, pois busca dotar os adolescentes dos valores responsáveis pela formação do caráter, que leva ao exercício pleno da cidadania e do entendimento de que todos devem contribuir para o estabelecimento da justiça social e da qualidade de vida.

Carinhosamente reconhecidos como “guardinhas” ou “patrulheiros” ou “mensageiros”, ingressavam na Universidade com cerca de 14 anos de idade e podiam exercer suas atividades até completarem 18 anos. Enquanto pôde, a Unicamp incorporou-os ao seu quadro de funcionários, assim que atingida a idade limite. Espalhados por todo o campus, passaram a trabalhar nas faculdades, institutos, órgãos da administração e área da saúde.

A oportunidade oferecida contribuiu para fortalecer os laços de identidade com a instituição, já marcados por uma adolescência vivida no cotidiano da geração do conhecimento, em atmosfera de valorização do saber, de colaboração e de valorização da perseverança, dedicação e atuação em equipe. Vida e trabalho estavam unidos através do elo mais forte e representativo para o ser humano, o de acreditar no seu potencial.

Foi, portanto, com naturalidade que essas pessoas começaram a buscar suas trajetórias profissionais na Unicamp. Em um ambiente que valoriza a aprendizagem, foram conquistando espaços, acumulando conhecimentos, aperfeiçoando suas formações e sintonizando seus objetivos com os da própria instituição.

Com a conquista da autonomia universitária, a Unicamp estava pronta para responsabilizar-se pelo seu futuro. A qualificação da Universidade passava, obrigatoriamente, pelo crescimento qualitativo dos seus recursos humanos. O

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projeto qualidade permitiu o grande salto para o quadro docente.Em relação aos funcionários, consolidada a implantação de uma carreira

que permitia contemplar a valorização do esforço em busca do aprimoramento profissional, era necessário estimular a efetiva procura pela formação de nível superior. Nasceu o ProSeres (Programa do Servidor Estudante) e com ele a oportunidade de aprender e crescer profissionalmente.

É fácil compreender porque aqueles que ingressaram na Unicamp ao mesmo tempo em que iniciaram a adolescência aproveitaram tanto o citado programa. O valor da educação estava na formação inicial que receberam. E a Unicamp só fez consagrar os princípios aprendidos desde cedo.

Esta publicação é um relato histórico. Elaborado pelas próprias perso-nagens. Depoimentos que confundem vida e instituição, até porque, em vários casos trata-se de uma só realidade. É, também, uma história única! Que permite entender uma das razões pelas quais a qualidade da Unicamp é tão destacada.

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Edison Lins, Sheila Karoly Pulino e Isabel. Dois integrantes da comissão organizadora do livro com Sheila, que fazia a Recepção de patrulheiros e guardinhas e selecionadora das primeiras

turmas de mensageiros

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