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Edição 2015

Edição 2015 - Cultura.rj · estruturas operacionais – os poderes constituídos, estabelecidos na Constituição de 1988, a lei máxima do nosso país. Atual organização do Estado

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planejamento

e gestão pública

da cultura

disciplina 20

Administração

pública – gestão e

orçamento

Elaboração e texto Eveli Ficher

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Eveli Ficher

Administração

pública – gestão e

orçamento

Objetivos Ao final da disciplina, você deverá ser capaz de:

• Identificar os elementos principais da

organização político-administrativa do Estado

brasileiro.

• Reconhecer as características essenciais das

leis orçamentárias no Brasil: Lei de Diretrizes

Orçamentárias, Lei Orçamentária Anual e Plano

Plurianual.

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Administração pública – gestão e

orçamento

Introdução

A premissa de que cada nação tem um Estado que a representa e que cada povo tem

sua identidade nacional foi construída, historicamente, por meio dos mais variados arranjos

sociopolíticos. Esses arranjos geraram – e continuam gerando – dinâmicas das mais diversas

dimensões, que resultaram, e seguem resultando, em pactos sociais de toda a ordem.

Hádiversosestudosacadêmicossobretaisdinâmicasedimensões, quetambémapresentam

definições para os conceitos de Estado, nação e identidades. Esses estudos demonstram que

a identidade nacional foi e ainda é construída com base em questões subjetivas e objetivas de

um povo, privilegiando o coletivo, não o individual, e, portanto, não o sujeito como indivíduo.

Segundo o historiador Eric Hobsbawm1 o Estado, por intermédio das suas instituições e dos

seus representantes, atua como elemento ativo para a construção dessa identidade, gerando

um sentimento de pertencimento e identificação da nação por seus sujeitos.

Com sua representatividade em contínua construção, o Estado começa, então, a usar seus

equipamentos e suas normas, padrões e políticas públicas para criar a identidade nacional,

como também as suas futuras revisões, partindo, sempre do coletivo em direção a um “Ser”

nacional. Os processos de construção da nação e de sua identidade são identificados em

diferentes cenários e épocas, entre eles as lutas pela independência das antigas colônias da

América, a ruptura dos regimes monárquicos europeus, as alternâncias dos regimes ditatoriais

e democráticos nos países da América Latina e o estabelecimento dos estados africanos.

O processo inicial de elaboração deste Ser Social e os futuros desdobramentos relacionados

a essa figura simbólica invocam a possibilidade de pensar a cultura por diferentes aspectos.

Três abordagens se apresentam, então: de povo ou comunidade, diante de seus valores,

costumes, expressões e diversidades culturais, além da forma de agrupamento sociofamiliar;

de Estado, por meio de sua organização político-administrativa; de país ou território, por

pertencer à mesma região.

1 Eric Hobsbawm (1917–2012), historiador britânico. Dentre sua ampla produção, destacamos os livros: A era dos impérios; Era dos extremos; A era das revoluções; Era do capital.

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A partir desta introdução e com o objetivo de apresentar conteúdo de suporte aos estudos

e às futuras elaborações de ações de planejamento de gestão pública da cultura e de projetos

culturais, vamos refletir sobre uma das abordagens relacionadas acima – a organização político-

administrativa do Estado. Veremos, a seguir, o processo histórico e a atual organização do

Estado brasileiro – União, estados/Distrito Federal e municípios: federalismo cooperativista;

da atual organização dos Poderes no Brasil – Constituinte (derivado), Legislativo, Executivo

e Judiciário: funções típicas e atípicas, e ainda, noções essenciais das leis orçamentárias no

Brasil – Lei de Diretrizes, orçamento anual e plano plurianual.

Estado e constituição

Constituído por três elementos – povo, território e governo soberano – o Estado é uma

pessoa jurídica de direito público, legitimado internacionalmente, que organiza política e

administrativamente a nação. Em termos administrativos, caracteriza-se por ter um governo

próprio que o controla, sendo gerido por diversas instituições. O Estado é um produto da

sociedade e dos contextos socioeconômicos internos e externos a ele.

A organização política e administrativa de um Estado pode se dar nas formas unitarista e

federativa. O Estado brasileiro foi instituído, originalmente, como unitário e, a partir de 1891,

reorganizado como uma federação. Para se entender as diferentes formas de organização

do Estado brasileiro, regulamentadas por suas constituições desde a sua formação, é

preciso conhecer os contextos nos quais cada uma delas foi redigida. Também é necessário

compreender o que é uma Constituição e a sua dimensão.

A Constituição é o documento que concentra, em seu texto, o conjunto de regulamentos

de governo, orientando o ordenamento jurídico-político de um país. Numa democracia, ela

é gerada e redigida por uma Assembleia Constituinte ou um Congresso Constituinte, ambos

formados por representantes selecionados pelo povo.

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O processo da organização do Estado brasileiro

O Brasil se constituiu como país em 7 de setembro de 1822, com a proclamação de sua

independência, deixando, então, de ser parte do reino de Portugal. Em 1823, foi convocada a

primeira Assembleia Constituinte, dissolvida após oito meses de trabalho por D. Pedro I, que

assumiu a redação do documento.

Concentrando o poder na figura do imperador, a Carta Magna de 1824 dá ao país o nome

oficial de Império do Brasil, estabelecendo-o como uma monarquia hereditária. O Estado

passa ter quatro poderes: executivo, legislativo, judiciário e moderador. Fica, assim, instituída

no Brasil a forma do Estado Unitário.

Um estado unitário se caracteriza por centralizar os poderes em um único, sem permitir

que suas unidades territoriais tenham autonomia de governo ou o direito a estabelecer suas

próprias leis e regulamentos, suas fontes de recursos para custear suas despesas. Desta

forma, qualquer decisão é submetida ao poder central. As unidades territoriais também não

elegem suas autoridades. No caso brasileiro, com a proclamação da República, em 1889, o

estado unitário sairá de cena em 1891 para nunca mais retornar a ela.

Em 1891, o Brasil tem a sua segunda constituição – a primeira das seis constituições

republicanas. Nela, o país recebe um novo nome oficial, Estados Unidos do Brasil – que

vai vigorar até a Constituição de 1967 trocá-lo para República Federativa do Brasil. O texto

extingue o Poder Moderador, pondo fim ao poder centralizador do Imperador, mas mantém

os poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e institui o presidencialismo no país.

A mudança do Estado unitário para um Estado federalista, na nova Carta, é colocada no

seu Art. 1º, pelo qual o Brasil “adota como forma de Governo, sob o regime representativo, a

República Federativa, proclamada a 15 de novembro de 1889, e constitui-se, por união perpétua

e indissolúvel das suas antigas Províncias, em Estados Unidos do Brasil”. O federalismo dá

início ao processo de descentralização política e administrativa do Brasil, com o objetivo de

encerrar o modelo de poder centralizador vigente de até então.

Entretanto, a partir do estabelecimento do Federalismo no Brasil, o Estado foi

institucionalizado e regulamentado pelas constituições brasileiras, de diferentes modos:

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• Centralizado em um governo central, restringindo a autonomia

política e administrativa dos seus estados membros.

• Descentralizado do governo central, garantindo mais autonomia às

unidades da federação.

• Cooperativista, pela mútua colaboração entre as partes, e, em alguns

períodos históricos, além de estabelecido como direito, na prática, tem

seus princípios sufocados – como ocorreu no Brasil nos períodos dos

regimes ditatoriais, nos governos do Presidente Vargas (1937–1945) e

dos militares (1964–1985).

Podemos visualizar na linha do tempo das Constituições brasileiras, abaixo relacionada, a

implantação histórica dos modelos de Federalismo no Brasil:

Figura 1: Linha do tempo das Constituições brasileiras.

Mas o que é essa forma de organização do Estado, o federalismo? Qual sua origem,

características, tipos e qual a estrutura vigente nos dias de hoje? Vejamos, a seguir.

O federalismo

A palavra Federação é originária do latim e significa “aliança, acordo”. Para que um acordo

possa vigorar é preciso que exista um “outro”. Desta forma, no campo da organização do

estado de um país, das articulações políticas e/ou administrativas das diversas unidades

pertencentes ao mesmo território, a Federação é uma forma de governo do Estado, distinta

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do Estado unitário, pois o federalismo não retira a autonomia de poder dos seus estados

membros centralizando-os em um poder central. Ao contrário, o federalismo é um sistema de

distribuição de poderes de governo entre as partes em aliança entre si e entre o poder central.

Estruturalmente, a unidade de um Estado federalista é o estado federado, cuja jurisdição

envolve o seu território, que, junto aos outros membros da federação, constituem o conjunto

federativo – a União, que é governada por um governo federal com jurisdição sobre todo o

território nacional.

É na Constituição Federal que se concentram os regulamentos do federalismo. Nela é

determinada, entre outros temas, a distribuição das competências das unidades nacionais

entre si e o poder central e dos recursos, da União, para cada um deles, sem estabelecer,

juridicamente, uma hierarquia entre eles. As regras constitucionais balizam a organização

da administração pública da União e estabelecem as atribuições e autonomia dos estados,

conceitualmente por reconhecer as diferenças regionais, para se autogovernarem e para se

auto-organizarem por meio da escolha dos seus próprios governantes e gestores, da produção

e gestão das fontes próprias financeiras, da criação das leis e da forma de legislá-las, desde

que o façam dentro dos limites definidos pela Constituição.

Historicamente, o federalismo surge nos Estados Unidos da América após a independência

das treze colônias inglesas da América do Norte, que se declararam como estados livres, em

1776. Inicialmente, as antigas colônias se organizaram como uma Confederação, na qual cada

um dos estados era independente dos outros, soberanos, portanto. A Convenção da Filadélfia,

em 1787, reorganiza a estrutura do país como uma Federação, denominando-se os Estados

Unidos da América.

Assim, com o regime federalista como forma de governo, os EUA foram organizados,

inicialmente, em treze estados, que mantiveram a autonomia anterior. Entretanto, essas

unidades perdem a soberania para delegarem ao poder central as atribuições da produção

de leis sobre os assuntos transversais a todos os estados. Desta forma, com os acordos

sacramentados na Constituição de 1787, foi instalado nos Estados Unidos da América o modelo

de federalismo dual, o mesmo estabelecido na primeira Constituição brasileira, redigida sob

forte influência dos ideários americanos.

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No federalismo dual, os estados membros da federação reconhecem a jurisdição do

governo central, mas têm autonomia política de governo em relação aos outros estados

e em relação ao próprio governo federal. Praticamente não existe cooperação entre eles.

Contrário a esse modelo é o federalismo nominal, que atribui a maioria das competências à

União, centralizado no governo central, esvaziando as atribuições dos estados federados. Um

exemplo de federalismo dual, ainda em vigor, é o dos Estados Unidos, onde a pena de morte

ou a permissão do consumo da maconha para fins medicinais são permitidos juridicamente

somente em alguns estados norte-americanos.

Como destacado na linha do tempo das Constituições brasileiras, o Brasil adotou vários

modelos de federalismo, mas é na atual Constituição, promulgada em 1988, que passamos a

ser uma federação cooperativa e sui generis: cooperativa, porque tanto os aspectos legislativos,

administrativos e tributários estão inseridos numa matriz de cooperação de atribuições e

de colaboração entre os seus entes e o governo central; e sui generis, porque reconhece o

município como um ente federativo, lhe conferindo autonomia política e administrativa.

Desta forma, o Brasil de hoje é uma federação cooperativa e sui generis, que se organiza

como Estado a partir das regras de distribuição de competências e recursos e das suas

estruturas operacionais – os poderes constituídos, estabelecidos na Constituição de 1988, a

lei máxima do nosso país.

Atual organização do Estado brasileiro

e dos Poderes no Brasil

O Estado brasileiro como uma República Federativa presidencialista é constituído político-

administrativamente, a partir da Constituição de 1988, pela União, os estados, o Distrito

Federal e os municípios, que têm competências exclusivas, somente para o caso da União,

e comuns a todos, que devem ser desenvolvidas em regime de colaboração, entre si (arts. 21–

30 da CF/882). Sob o ponto de vista jurídico, não existe uma hierarquia entre as unidades da

federação. Elas têm autonomia de atuação das suas atribuições, em seus territórios. Apesar

de autônomos, tanto o estado quanto o município, poderão sofrer intervenção por

2 CF/88 = Constituição Federal de 1988.

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parte da União (arts. 34 e 35 da CF/88) quando descumprirem as normas estabelecidas pelas

constituições Federal e Estadual, ou a Lei Orgânica – no caso dos municípios.

O artigo 2 da Constituição de 1988 estabelece a independência entre os três poderes da

União – o Legislativo, Executivo e o Judiciário –, ressaltando que todos devem funcionar em

harmonia em relação um ao outro. As estruturas tanto das federadas como dos Poderes, são

formadas por sistemas normativos, administrativos e judiciais, podendo ser autônomas ou

hierarquizadas entre si, mas de extrema complexidade. Esses sistemas são operacionalizados,

objetivamente, por meio de normas, processos e leis produzidos e geridos pelos agentes da

Administração Pública que representam, subjetivamente, a Sociedade brasileira. Fazer girar

essa grande estrutura, exige processos múltiplos, nem sempre contínuos e pacíficos.

Desta forma, vejamos, abaixo, algumas noções básicas de cada Poder e conhecer suas

funções; seus órgãos representativos e suas jurisdições.

O Poder Legislativo

O Poder Legislativo é constituído por casas legislativas, representativas dos seus territórios,

que exercem a função, típica3 de elaborar as leis a respeito de temas relacionados ao povo

brasileiro, em geral, e especificamente aos relacionados à sua jurisdição4, além de fiscalizar as

suas execuções. Seus órgãos representativos exercem também o Poder Constituinte Derivado

por meio da competência que têm para modificar as Constituições Federal e Estadual e a Lei

Orgânica Municipal, na criação de leis e emendas.

Na dimensão da União, o legislativo é formado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado

Federal. As duas casas formam o Congresso Nacional, constituído por deputados e senadores,

representantes dos estados e do Distrito Federal. Organizados em comissões temáticas

(temporárias ou fixas), os deputados e senadores desenvolvem o trabalho legislativo,

elaborando e aprovando projetos para encaminhamento à votação. Além do Congresso

Nacional, o Tribunal de Contas da União também integra o poder Legislativo, com a função de

controlar e fiscalizar a Administração Pública.

3 A função típica de um Poder é aquela que corresponde à natureza da sua atribuição, mas todo Poder exerce, além da função típica, a função atípica, executando atribuições da natureza de outros poderes. Um exemplo de função atípica do Legislativo: ele administra seus órgãos, uma função típica do Executivo. 4 Elas podem ser de abrangência de poder e territorial da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.

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A Câmara dos Deputados é composta por 513 deputados, com mandato de quatro anos,

cuja distribuição das cadeiras é equivalente à população dos estados e do Distrito Federal e

o Senado Federal é formado por 81 senadores, três por estado e pelo Distrito Federal, que

exercem mandatos de oito anos.

Como exemplo de ações do Poder Legislativo Federal no campo do incentivo à Cultura, em

1991, o Congresso Nacional, fundamentado no Art. 174, da CF/88, estabelece que “como agente

normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções

de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e

indicativo para o setor privado”, decretou as leis 8.313/91, que instituiu o Programa Nacional

de Cultura (Pronac), a Lei Rouanet e, em 1993, a lei do Audiovisual, a Lei nº 8.685/93. Ambas

estão em vigor, com objetivo de promover o incentivo ao fomento à Cultura pela destinação

de impostos de renda e proventos de qualquer natureza, IR.Na dimensão dos estados, do

Distrito Federal e dos municípios, os poderes legislativos atuam em sistema unicameral – sem

duas instâncias, como no sistema bicameral (Câmara dos Deputados e Senado) da União. A

casa legislativa dos estados é a Assembleia Legislativa, formada por seus deputados estaduais,

com jurisdição sobre o seu estado; a do Distrito Federal, integrada por deputados distritais, é

a Câmara Legislativa, e a dos municípios é a Câmara Municipal, composta por seus vereadores

que atuam na jurisdição do seu município.

A cultura também tem sido pauta dos poderes legislativos estaduais e municipais, sofrendo

influências ou resultando de acordos assumidos por cidades e países. Em 2004, o governo

federal assinou a agenda 21 da Cultura, em Barcelona, comprometendo-se, perante as demais

cidades do mundo e seus governos, a tornar o documento um norteador da formulação das

políticas públicas no setor e para o desenvolvimento cultural de cada cidade. Outro documento

que também pauta as iniciativas culturais, por exemplo, é a Declaração Universal sobre a

Diversidade Cultural, aprovada pelos estados-membros da Organização das Nações Unidas

para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2001.

Para cumprir as orientações legislativas sobre essa matéria, encontramos em quase todo

território brasileiro, leis estaduais e municipais de incentivo à cultura que utilizam, a exemplo

da União, de parte dos seus recursos fiscais, como do imposto sobre operações relativas

à circulação de mercadorias e sobre prestação de serviços e transporte interestadual e

intermunicipal e de comunicação (ICMS), no nível estadual, e do Imposto sobre Serviços de

qualquer natureza, (ISS), no nível municipal.

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O Poder Executivo

O Poder Executivo tem a função de planejar, elaborar e executar programas e políticas

públicas de governo, além de prestar o serviço público ao contribuinte. Atua junto ao Poder

Legislativo na participação da elaboração de leis e orçamentos. É o Poder que, por intermédio

de seu representante – presidente da República, governador e prefeito –, sanciona ou veta

projetos elaborados pelo Legislativo; adota medidas provisórias e propõe emendas às

constituições Federal e Estadual ou à Lei Orgânica do Município. Ele é estruturado por órgãos

de administração direta e indireta, geridos por seus agentes e dirigentes.

O Poder Executivo Federal é chefiado pelo presidente da República, que também é o chefe de

Estado e de Governo. Para colocar em prática o planejamento, a execução e o acompanhamento

de programas e políticas públicas federais, e gerir a “máquina do Estado”, ele é constituído de

ministérios, secretarias especiais, autarquias, agências reguladoras e conselhos, órgãos da

Administração Pública Federal, organizados e reorganizados pelo Governo Federal, sempre

relacionados às demandas políticas, sociais, econômicas e administrativas de cada gestão.

Como exemplo, atualmente, após a reforma ministerial realizada, em outubro de 2015, pelo

governo Dilma Rousseff, com a extinção e a reorganização de ministérios e secretarias, o Brasil

passa a ter 31 ministérios, oito a menos do que na estrutura anterior.5

O Poder Executivo Estadual é chefiado pelo governador do estado; o municipal, pelo prefeito

do município. Estruturalmente, o Executivo estadual pode ser constituído por secretarias,

autarquias, agências reguladoras e conselhos; e o municipal por secretarias, subprefeituras,

empresas públicas, autarquias e fundações.

Os executivos estadual e municipal exercem funções similares às do executivo federal.

Restritos às suas jurisdições, eles planejam e executam programas e políticas de governo,

elaboram orçamentos, prestam o serviço público aos seus contribuintes, mas também têm

outras atribuições mais específicas. O Executivo estadual representa a sua unidade federativa

perante o Estado brasileiro e aos outros estados, enquanto o Executivo municipal pode “criar,

organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual (Art. 30. IV da CF/88)”.

5 Disponível em http://www.brasil.gov.br/governo/2015/10/entenda-a-reforma-ministerial-e-saiba-como-fica-a-

esplanada. Acesso em 15 out 2015.

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O Poder Judiciário

O Poder Judiciário é aquele Poder que pode solucionar conflitos entre cidadão, entidades

e o Estado. Por intermédio dos seus Juízes e Tribunais distribuídos na União, nos estados e

no Distrito Federal6, ele tem a função essencial de garantir os direitos individuais e coletivos,

como também os sociais, e é formado pelos seguintes órgãos:

1. o Supremo Tribunal Federal e o Conselho Nacional de Justiça (incluído

pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004);

2. o Superior Tribunal de Justiça;

3. os tribunais regionais federais e juízes federais;

4. os tribunais e juízes do trabalho;

5. os tribunais e juízes eleitorais;

6. os tribunais e juízes militares;

7. os tribunais e juízes dos estados e do Distrito Federal e territórios.

As atribuições de cada órgão do Judiciário estão no quadro a seguir7:

Quadro 1: Atribuições de cada órgão do Judiciário

ORGÃO FUNÇÃO

Supremo Tribunal Federal e Conselho Nacional de Justiça

É o orgão máximo do Judiciário brasileiro e tem como atribuição fazer cumprir a Constituição Brasileira e dar a última palavra nas causas criminais e nas questões relacionadas ao texto constitucional. O Supremo é formado por 11 ministros indicados pelo presidente da República e nomeados após serem aprovados pelo Senado Federal.

Superior Tribunal de Justiça

Na hierarquia do poder, está abaixo do Supremo Tribunal Federal e julga causas criminais que envolvam autoridades como governadores de estados, desembargadores e juízes de Tribunais Regionais Federais, Eleitorais e Trabalhistas.

6 Os municípios não têm o Poder judiciário. 7 Disponível em: http://www.brasil.gov.br/governo/2009/11/conheca-os-orgaos-que-formam-o-poder-judiciario. Acesso em: 10 de out de 2015.

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Justiça Federal

Julga e processa causas, com exceção às relacionadas às trabalhistas ou eleitorais, em que os orgãos da administração direta ou indireta sejam autores, réus ou oponentes.

Justiça do Trabalho

Julga processos relativos às legislações trabalhistas, individuais e coletivas, tanto de empregados e empregadores.

Justiça Eleitoral

Regulamenta os procedimentos eleitorais e garante os direitos constitucionais do voto direto e sigiloso, dando garantias judiciais para o processo eleitoral e julga as irregularidades do processo.

Justiça Militar Julga e processa os crimes militares.

Justiça Estadual

Cada estado e o Distrito Federal têm a competência de organizar sua Justiça Estadual, que tem a função de processar e julgar causas que não sejam matérias da Justiça Federal comum, do Trabalho, Eleitoral e Militar.

Recursos e leis orçamentários do Brasil

Como já vimos anteriormente, cada integrante da Federação tem suas competências

determinadas naConstituição.Aautonomiadessesintegranteséasseguradanotextoconstitucional,

que determina as origens dos recursos financeiros e os seus processos de distribuição, e o direito

de instituir e arrecadar tributos, conforme especificado no Art. 145 da CF/88.

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios poderão instituir os seguintes tributos:

I – impostos;

II – taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou

pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos

específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a

sua disposição;

III – contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.

§ 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter

pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica

do contribuinte, facultado à administração tributária,

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especialmente para conferir efetividade a esses objetivos,

identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da

lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas

do contribuinte.

§ 2º As taxas não poderão ter base de cálculo própria de

impostos.

Enquanto a criação de tributos é permitida constitucionalmente, há algumas restrições

sobre a geração de impostos para determinadas matérias. No campo da Cultura, hoje, como

exemplo, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituírem

impostos sobre:

VI – Instituir impostos sobre: (Vide Emenda Constitucional

nº 3, de 1993) [...]

d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua

impressão.

e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no

Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores

brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas

brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais

que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial

de mídias ópticas de leitura a laser (incluída pela Emenda

Constitucional nº 75, de 15.10.2013) ( Art. 150, CF/ 1988).

Para ter uma visão global sobre os atuais impostos do país e os exemplos da prática de

cooperação financeira, um dos princípios do federalismo cooperativista, veja, a seguir, o

quadro dos impostos da União, dos estados e dos municípios e os valores de participação,

obrigatórios, que cada um deles tem nos resultados do outro8:

8 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Arts. 153 a 162.

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Quadro 2: Impostos da União, dos estados e dos municípios e valores de participação

Os repasses acima apresentados não são os únicos realizados, pois existem, em fluxos

constantes, os repasses voluntários. As colaborações voluntárias são aquelas firmadas,

juridicamente, por meio de convênios, que não estão previstas em lei como ações obrigatórias.

Constituem uma prática constante de cooperação financeira entre os entes da federação.

Elas são feitas, ora como medidas emergenciais para atendimento a mudanças de cenários

socioeconômicos, ora como reforço a projetos integrados, de comum interesse a todos.

Para fazer a gestão de todos os recursos financeiros acima citados são necessárias leis que

ditem as regras e desenhem os processos de planejamento orçamentários públicos da União,

estado, distrito federal e do município, definindo, entre outras questões a política fiscal do país.

Cabe ao Poder Legislativo do Brasil e aos chefes do Poder Executivo trabalharem, norteados pela

Constituição Brasileira, pela elaboração, aprovação e execução das leis orçamentárias brasileiras.

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Os instrumentos de planejamento – como definição de

objetivos, metas, desafios e riscos – são relevantes para

compor uma estratégia de desenvolvimento, porém é a

política macroeconômica o alicerce desse processo, com as

definições monetárias, cambial e fiscal. Cabe ressaltar que a

política fiscal foi priorizada, estrategicamente, como parte

no processo decisório de elaboração dos projetos de lei do

Plano Plurianual (PPA), de Diretrizes Orçamentárias (LDO)

e da Lei Orçamentária Anual (LOA), visando estabilizar a

economia do país após a publicação da Lei Complementar nº

101, de 4 de maio de 2000, também conhecida como Lei de

Responsabilidade Fiscal (LRF) (ABREU; GOMES, p. 517).

Vejamos, a seguir, as orientações essenciais das três leis orçamentárias brasileiras,

estabelecidas no Art. 165 da CF/88, subordinadas entre si9:

O Plano Plurianual – “§ 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma

regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas

de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada.”

Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) – “§ 2º lei de diretrizes orçamentárias compreenderá

as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para

o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá

sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências

financeiras oficiais de fomento.

”Lei Orçamentária Anual (LOA) – É a lei que apresenta o planejamento orçamentário anual

do poder público, determinando como realizar as prioridades elencadas no PPA. “Nenhuma

despesa pública pode ser executada fora do Orçamento, mas nem tudo é feito pelo Governo

Federal. As ações dos governos estaduais e municipais devem estar registradas nas leis

orçamentárias dos Estados e Municípios.”10

9 Disponível em http://www.brasil.gov.br/governo/2009/11/orcamento-da-uniao-e-plano-de-gastos-do-governo- federal. Acesso em: 10 de out de 2015. 10 Disponível em http://www.orcamentofederal.gov.br/perguntasfrequentes/o-que-e-lei-orcamentaria-anual-loa. Acesso em: 19 out 2015.

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Conclusão

Conhecer os fluxos e processos, origens e destinos dos recursos públicos é fundamental

para o exercício dos agentes da Administração Pública e do setor privado. É construindo um

acervo de conhecimento sobre as legislações, metodologias e ferramentas de elaboração de

planejamento e gestão orçamentária que os gestores públicos e os agentes culturais podem

ter base para a elaboração de projetos, programas e políticas públicas e realizarem suas

atividades com suportes mais estruturados.

Já para o exercício pleno da cidadania, conhecer o binômio Estado e sociedade, mesmo

que minimamente, é indispensável para as ações de cidadania participativa. É sabendo sobre

as estruturas político-administrativas, legislações e o modo de operar do Estado que podemos

contribuir, fiscalizar e reivindicar direitos sobre as mais diversas matérias, como a Cultura, por

exemplo.

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